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FUNDAMENTOS DA DIDÁTICA: da antiguidade aos nossos dias EBE CAMARGO PUGLIESE FUNDAMENTOS DA DIDÁTICA: da antiguidade aos nossos dias 1ª Edição 2018 Copyright©2018. Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitora Profa. Dra. Nara Lucia Perondi Fortes Vice-reitor Prof. Dr. Jean Soldi Esteves Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Jean Soldi Esteves Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. Francisco José Grandinetti Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Profa. Dra. Letícia Maria P. da Costa Pró-reitora de Graduação Profa. Ma. Angela Popovici Berbare Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dra. Sheila Cavalca Cortelli Coordenação Geral EaD Profa. Dra. Patrícia Ortiz Monteiro Chefe do Setor EAD Coordenação Pedagógica Profa. Ma. Sanmya Feitosa Tajra Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Coordenação de Regulação Coordenação Acadêmica de Polos Coordenação de Tecnologias de Informação e Comunicação Profa. Ma. Rosana Giovanni Pires Aline Cristina da Silva Prazeres Wagner Barboza Bertini Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Dra. Suzana Lopes Salgado Ribeiro Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Coord. de Objetos de Aprendizagem Supervisão Pedagógica de Objetos de Aprendizagem Supervisão de Linguística dos Objetos de Aprendizagem Supervisão de Impl. de Objetos de Aprendizagem Supervisão de ACC Supervisão de TCC Supervisão de Estágio Supervisão de Tutoria Eletrônica/Presencial Supervisão de Avaliação Supervisão ENADE Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico Diagramação Autor Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Prof. Dr. João Carlos Nordi Profa. Dra. Mariana Aranha Souza Profa. Esp. Antônia Lucineire de Almeida Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Amaral Profa. Ma. Andréa Maria Giannico de Araujo Viana Consolino Profa. Ma. Simone Guimarães Braz Profa. Ma. Eliana de Cássia Vieira de Carvalho Salgado Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Profa. Ma. Jeniffer de Souza Faria Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Profa. Ma. Juraci Lima Sabatino Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Amaral Me. Benedito Fulvio Manfredini Bruna Paula de Oliveira Ortiz Siani Ebe Camargo Pugliese Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março, 432, Centro Taubaté – São Paulo. CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté – Sede Avenida Marechal Deodoro, 605, Jardim Santa Clara Taubaté – São Paulo. CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12) 3622-6050 Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU P978f Pugliese, Ebe Camargo Fundamentos da didática: da antiguidade aos nossos dias. / Ebe Camargo Pugliese. Taubaté: UNITAU, 2018. 74f. : il. Bibliografia 1. Didática. 2. Pedagogia. 3. Planejamento escolar. I. Universidade de Taubaté. II. Título 1 PALAVRA DA REITORA Palavra do Reitor Como gestora da Universidade de Taubaté (UNITAU), instituição que você escolheu para fazer seu curso superior a distância, tenho a grata satisfação de acolhê-lo na maior Universidade da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, a RMVale. Com o compromisso de levar ensino de qualidade e inovador para cada canto desse país, o Ensino a Distância da UNITAU tem como principal diferencial uma equipe qualificada de professores mestres e doutores empenhados em proporcionar aulas dinâmicas, por meio de um material didático com conteúdo rico e abrangente. Nessa perspectiva, este livro-texto aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social e profissional. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão da nossa equipe de professores, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, fornecer conhecimento atualizado para sua formação teórico-prática. Como Universidade, nossa missão é construir conhecimentos que se intercalem na tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, sempre de forma planejada, responsável e pautada no respeito. Temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valor. Seja bem-vindo à maior Universidade Municipal do Brasil! Bons estudos! Prof. Dra. Nara Lucia Perondi Fortes Reitora 2 3 Prefácio O livro-texto Fundamentos da Didática: da antiguidade aos nossos dias, que agora apresento, traz uma viagem em torno do pensamento sobre os processos de ensino que transformaram a educação e se transformaram ao longo do tempo. A autora, profa. Ebe Pugliesi, guia-nos por esses caminhos pelos quais as formas de ensino, hoje tão discutidas, foram evoluindo até nossos dias. Apresenta-nos conceitos e ideias que nos fazem refletir e fundamentar nossas propostas práticas sobre como ensinar, sobre a arte de ensinar e sobre como desenvolver em nossos alunos as competências e habilidades para aprender a aprender e saber lidar com a informação cada vez mais disponível nessa sociedade do conhecimento. Podemos, pelas palavras da professora e por vários autores por ela selecionados, conhecer as origens da Didática do berço da Civilização Ocidental aos nossos dias, em um contexto contemporâneo; os precursores da didática – Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Herbart; as contribuições de Dewey e Freire, para a democratização da educação no Brasil, nos séculos XX e XXI; e os elementos da Didática necessários para a efetivação do ensino e da aprendizagem, com o propósito de contribuir para a formação de professores que possam intervir de forma construtiva e eficiente em seu cotidiano de trabalho, formando crianças e jovens mais autônomos para tomar decisões e buscar soluções exigidas por sociedades que clamam por transformação, inovação e justiça. Desejo a vocês, professores e gestores em formação, bons estudos e profundas aprendizagens. Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Coordenadora do Curso de Pedagogia EAD-UNITAU 4 5 Sobre o autor EBE CAMARGO PUGLIESE – Graduada em Pedagogia pela Universidade de Taubaté (1981), iniciou o curso de Pedagogia na Universidade de São Paulo em 1977, onde cursou os dois primeiros anos. Em 1979 transferiu-se para a cidade de Taubaté, concluindo o curso de Pedagogia, na Universidade de Taubaté (UNITAU), em 1981. Especializou-se em Educação: História, Política e Sociedade, na Universidade de Taubaté (UNITAU), em 2006. Mestra em Educação: Didática, teorias e práticas de ensino, pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), em 2016. Possui experiência na área de Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio),na rede pública e privada. Atuou de 2005 a 2009 como Professora, Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos, Diretora e Supervisora da Rede Municipal de Ensino de Taubaté. Atuou no Ensino Superior, na Universidade de Taubaté, nos cursos de Pedagogia, Letras, História, Geografia, Serviço Social, Educação Física, Psicologia, Biologia, Direito e Comunicação Social. Atuou como Supervisora de Estágio da Educação a Distância da Universidade de Taubaté (EAD-UNITAU), em 2009. Coordenou as Atividades-Acadêmico-Científico-Culturais do Departamento de Pedagogia da Universidade de Taubaté, de 2013 a 2016. Atualmente é Coordenadora Pedagógica de Projetos do Ensino Fundamental Integral do Município de Taubaté por meio do Convênio 14.882/2017, efetivado entre a Universidade de Taubaté e a Prefeitura Municipal de Taubaté. E-mail: ebepugliese3@gmail.com 6 7 Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das Unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU 8 9 Sumário Palavra do Reitor .............................................................................................................. 1 Prefácio ............................................................................................................................. 3 Sobre o autor ..................................................................................................................... 5 Caros(as) alunos(as) ......................................................................................................... 7 Ementa ............................................................................................................................ 11 Objetivos ......................................................................................................................... 13 Unidade 1 As origens da Didática na História: Etimologia, Sociedade, Educação17 1.1 A didática na grécia clássica ..................................................................................... 17 1.2 A Educação em Roma .............................................................................................. 22 1.3 A Didática na Idade Média ....................................................................................... 24 1.4 A Didática no Renascimento .................................................................................... 25 1.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 27 1.6 Para saber mais ......................................................................................................... 27 1.7 Atividades ................................................................................................................. 28 Unidade 2 A Didática e a Infância: Precursores, Perspectivas e Concepções........ 31 2.1 João Amós Comenius – Didática Magna ................................................................. 32 2.2 Jean Jacques Rousseau - Emílio ............................................................................... 34 2.3 Pestalozzi – Pedagogia Social .................................................................................. 35 2.4 FROEBEL: o brincar e a infância............................................................................. 37 2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 39 2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 40 10 Unidade 3 A Didática no Século XX e XXI No Brasil: Influências e Desafios ....... 41 3.1 Democratização do ensino: John Dewey e Paulo Freire .......................................... 41 3.2 A Pedagogia e a Didática: uma triângulação praxiológica ....................................... 44 3.3 Didática em ação: dimensões linguística, pessoal e cognitiva ................................. 46 3.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 48 3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 48 3.6 Atividades ................................................................................................................. 49 Unidade 4 Didática - Planejamento Escolar ............................................................. 51 4.1 Plano de escola, plano de ensino, plano de aula ....................................................... 51 4.2 Metodologia ativa ..................................................................................................... 58 4.3 Avaliação escolar ...................................................................................................... 62 4.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 64 4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 65 4.6 Atividades ................................................................................................................. 66 Referências ..................................................................................................................... 71 11 ORGANIZE-SE!!! Você deverá dispor de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. Fundamentos da Didática: da antiguidade aos nossos dias Ementa EMENTA A didática como espaço de diálogo entre formação, docência e pesquisa. Asteorias pedagógicas e os conceitos didáticos. Dimensões do processo didático na ação docente: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Elementos estruturantes para o planejamento de aulas, sequências didáticas, atividades e projetos educativos em função de uma aprendizagem significativa: a definição dos objetivos; a seleção dos conteúdos; a escolha de estratégias de ensino, de recursos didáticos e de instrumentos de avaliação; os agrupamentos dos alunos e a organização do ambiente; a distribuição do tempo e do espaço. 12 13 Objetivo Geral • Conhecer as teorias pedagógicas e os conceitos didáticos, de forma a compreender o processo de ensino e aprendizagem e suas relações. • Analisar planos de ensino na área de atuação do curso, a partir de referenciais teóricos que as fundamentam. Obj eti vos Objetivos Específicos • Valorizar as dimensões do processo didático e o planejamento didático para o bom desenvolvimento das atividades pedagógicas. • Subsidiar o processo de planejamento educacional, propiciando-lhes conhecimentos teóricos e práticos para a elaboração dos planos de ensino, das sequências didáticas, de atividades e do processo de avaliação da aprendizagem. • Compreender como a relação professor-aluno influencia na aprendizagem e na construção do conhecimento. 14 15 Introdução A sociedade contemporânea impõe um olhar inovador e inclusivo a questões centrais do processo educativo: o que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado. No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo de informações. Requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades (BRASIL, 2017). Considerando a pertinência do documento referido, Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), este livro-texto foi elaborado com o propósito de contribuir com os leitores por meio da aquisição de elementos que lhes possibilitem uma compreensão mais alargada dos contextos nos quais venham a atuar para que possam intervir de modo satisfatório e intervindo, provocar as genuínas transformações e mudanças necessárias (PUGLIESE, 2016, p. 105). Para tal empreitada o livro-texto foi escrito em 4 Unidades, conforme seguem as sínteses abaixo. Na 1ª Unidade, estudar-se-ão as origens da Didática: etimologia, sociedade e educação. Neste momento, procurou-se apresentar ao leitor qual era o fim e quais os meios da educação no berço da civilização Ocidental, Grécia e Roma, na antiguidade clássica. Perpassar-se-á pela Idade Média e Renascimento, períodos nos quais, examinar-se-ão os contextos históricos, políticos, econômicos e educacionais, para que se possa ter uma 16 visão abrangente das formas de educação e dos tipos de homem que se pretendia formar. Na 2ª Unidade, avançar-se-á para os precursores da didática, na Idade das Luzes, com o intuito de perceber-se como a infância passou a ser vista e, em decorrência disto, quais os ideais de formação instaurados para o homem. Examinar-se-ão Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Herbart. Na 3ª Unidade, desenvolver-se-á uma análise da democratização da educação no Brasil, nos séculos XX e XXI; dos contributos de Dewey e Freire, adentrando aos elementos estruturantes do trabalho docente, a saber, do processo ensino e aprendizagem e seus condicionantes. Na 4ª Unidade, focalizar-se-ão os elementos da Didática no contexto contemporâneo, necessários como fundamentos de organização, estruturação e viabilização do ensino e aprendizagem e da valorização dos professores. Foram, propostas ainda, em cada Unidade, reflexões, atividades e sugestões para ampliação do repertório de conhecimentos sobre a didática e de seus fundamentos. No final do livro-texto estão elencadas as referências utilizadas, as quais poderão contribuir sobremaneira com as reflexões no âmbito da Didática. Bons estudos! 17 Unidade 1 As origens da Didática na História: Etimologia, Sociedade, Educação 1.1 A didática na grécia clássica Não pretendo fazer a história da didática ou do ensino de didática no Brasil. Considero que esta é uma tarefa importante e urgente. Vera Maria Candau A autora e organizadora do livro “A didática em questão”, Vera Maria Candau, ao escrever o 1º capítulo do livro, “A didática e a formação de educadores – Da exaltação à negação: a busca da relevância”, nos propõe a seguinte assertiva no item 2 – “Ensinando didática”: “Não pretendo fazer a história da didática ou do ensino de didática no Brasil. Considero que esta é uma tarefa importante e urgente” (CANDAU, 2013, p. 16). Partindo de tal assertiva e refletindo sobre sua relevância, iniciaremos nossos estudos sobre os Fundamentos da didática: da antiguidade aos nossos dias cumprindo o que nos assevera Vera Maria Candau. Nós, brasileiros, somos um povo ocidental greco-latino. O que isto significa? Significa que nossas origens, nossa tradição e nossa cultura estão plasmadas na Grécia e Roma Clássicas. Segundo Arendt (1972, apud GAUTHIER, TARDIF, 2014, p. 17), “a crise atual da cultura é uma das consequências do desabamento da tradição, da religião e da autoridade. Por quê? Essencialmente porque esses três fenômenos são a fonte, no Ocidente, de modelos de vida, de pensar e agir relativamente estáveis...”. Este fato é 18 relevante, pois a base de nossa cultura está assentada em dois contextos sociais, políticos, econômicos éticos e estéticos, a saber: Grécia e Roma, nos quais se configura o que somos, ou seja, nossa identidade. Por isso, iniciaremos nossos estudos trazendo à memória nossas origens grega e romana para uma melhor compreensão dos fundamentos da Didática. A etimologia da palavra didática é relevante para a compreensão do vocábulo, ainda que este tenha passado por uma considerável evolução de seu significado, no tempo. A palavra “didática” provém do grego e deriva do verbo didasko, que significa “ensinar, instruir, expor claramente, demonstrar”. O termo didactika é o nominativo neutro, do adjetivo didaktikós (ANTOLÍ, apud FAZENDA, 2006, p.80). Desse modo, a didática pode ser definida como a ciência ou arte do ensino. Assim, numa síntese, temos: Didática: Arte de ensinar Didaticamente: adv. De maneira didática ou própria de ensinar. Didático: adj. Pertencente ou relativo ao ensino; próprio, adequado para ensinar, instruir. Partindo da origem grega da palavra didática, podemos perceber que a “arte de ensinar” é histórica, ou seja, desde os primórdios de nossa civilização já havia uma preocupação em se transmitir os conhecimentos necessários para os recém chegados ao mundo, para que eles, inseridos em determinado contexto, pudessem se socializar, trabalhar, enfim, cumprir seu papel social. Para Gauthier e Tardif (2014, p. 18), “O tempo da tradição ...corresponde ao tempo vivido. Para o homem tradicional. Viver corresponde de fatoa tocar uma vida semelhante à do pai e da mãe, à dos membros da sua família, do seu clã, da sua tribo; é respeitar os ancestrais e os costumes (...)”. Como no nosso caso nos esforçaremos para buscar as nossas origens, os fundamentos da própria “arte de ensinar”, a Grécia constitui o nosso ponto de partida e isso significa que procuraremos desvelar esta sociedade para “descobrir o porquê e o como, é tentar situar nossa própria origem no lugar que lhe cabe no curso da história humana” (VERNANT, 2001, p. 53). 19 No período homérico, do século VIII- VI a. C, vale ressaltar a imitação do herói, como forma de ensino, cujos exemplos estão contidos na obra “Ilíada e Odisséia”, de Homero, poeta grego. De acordo com Marrou (1975): “é em Homero que começa, para não mais interromper-se, a tradição da cultura grega: seu testemunho é o mais antigo documento que podemos, proveitosamente, compulsar acerca da educação arcaica” (MARROU, 1975, p. 17). Os valores do cavalheirismo Homérico, como a polidez e a cortesia eram esboçados por meio da imagem ideal do “perfeito cavalheiro”. As figuras de Quirão (o sapientíssimo centauro) e Fênix (velho preceptor) são expressões de como os valores da sociedade arcaica grega ensinava e instruía por meio de seus exemplos. Num episódio da Ilíada, a fim de contribuir com o êxito de Aquiles, Fênix, para ser ouvido, julga que deve recordar a Aquiles toda a sua história, num longo discurso e reafirma: “Fui eu quem fez de ti o que tu és!” (MARROU, 1975, p. 23 e 24). Na Grécia Clássica, Homero nos deixa por meio de sua obra a imitação do herói como forma de ensinar. “Esses modelos Dica de Leitura: Título da Obra: A Pedagogia – Teorias e Práticas da Antiguidade aos nossos dias Autores: Clermont Gauthier e Maurice Tardif Editora: Vozes Figura 1.1: Odisseu/Ulisses. É um personagem da Illiada e Odisséia de Homero. Fonte:https://educacaonantiguidade.wo rdpress.com/2017/02/05/a-educacao- grega-na-poesia-de-homero/ Acesso em: 01 jul. 2018 20 forneceram aos seres humanos há mais de dois milênios, ideais e símbolos altamente significativos, que se encontram em práticas concretas e instituições duradouras” (GAUTHIER; TARDIF, 2014, p. 16). A pertinência de revisitarmos essa sociedade arcaica reside no fato de olharmos com atenção para seu contexto, para os valores que a constituíam, os quais muitos deles nos nossos dias se perderam, e pensarmos: o que de fato não deve mais fazer parte de nossa identidade, mas o que, apesar do contexto em que vivemos ser outro, precisa ser considerado. Dessa forma, “as mudanças culturais substantivam-se, decantam-se em uma determinada direção e firmam-se de alguma forma ao serem subjetivadas através dos significados aprendidos” (SACRISTÁN, 2002, p. 33). Na Grécia do século VII-V a.C., em Esparta, cidade-estado, tinha-se como ideal educativo o militarismo, o desenvolvimento e a busca da perfeição física por meio dos exercícios físicos. Plutarco, historiador, resume o conteúdo dessa educação nestas palavras: “Em relação à instrução eles recebiam apenas exatamente o que era absolutamente necessário. Todo o restante de sua educação tinha em vista torná-los sujeitos ao comando, suportar os trabalhos, lutar e conquistar” (MARROU, 1983, p. 36). Destarte, o sentimento de compaixão era pouco desenvolvido, as crianças que nasciam com algum defeito físico eram “expostas” à morte. A inclusão não era praticada na sociedade espartana clássica. Este fato pode nos causar repugnância. Apesar disso, é preciso compreender, embora não justifique, que o ideal de formação deste povo naquela época era o militarismo, ou seja, formar o soldado ideal. Assim sendo, as crianças que nasciam com algum defeito físico eram jogadas dentro de vasos nos precipícios, do alto das montanhas. Os exercícios físicos eram praticados desde os sete anos. As crianças ficavam em casernas, longe de seus lares, onde recebiam desde a mais tenra idade a formação para se tornar o soldado ideal. O Estado tinha total domínio sobre elas. 21 Em Atenas, durante o período do século VII-V a. C, a educação tinha como objetivo a formação intelectual. Praticavam a ginástica; estudavam a música, a dança, a leitura, a escrita e o elemento literário. Mediante estes estudos prosseguia-se com a dialética e a retórica. O paradigma era antropocêntrico “O homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras). Segundo Gauthier e Tardif (2014, p. 27), “O ideal educativo grego é dominado pelas ideias de harmonia, equilíbrio e autodomínio, que constituem virtudes cuja realização passa obrigatoriamente pelo conhecimento dos nossos próprios limites”. Todo o restante da educação dos atenienses tinha em vista o ideal de ordem ética, a kalokagathia: “o fato de ser um homem belo e bom”. Para tal fim, as formas e conteúdos utilizados podem ser assim sintetizados: educação literária, educação musical, educação física. A criança ateniense participava de uma educação que consistia antes de mais nada em fazer; só em segundo lugar era um processo de ensino. Nas escolas: o menino aprendia a correr, saltar, lutar, salientar-se em exercícios físicos e disputas, tocar harpa, recitar poesias ao acompanhamento da harpa, ler e declamar, dançar... Uma vez formado o hábito pelo exercício, a educação deve ser seguida pela instrução, a fim de tornar Figura 1.2: Vaso com cena de carrera. Metropolitan Museum of New York. Fonte: http://www.efdeportes.com/efd169/jogos-olimpicos- gregos-discussoes-historicas.htm Acesso em: 01 jul. 2018. 22 o hábito permanente e fazê-lo racional (MARROU, 1983, p. 50-51). Destarte, o objetivo da educação ateniense era equipar o espírito do cidadão para a carreira de homem de Estado, formar a personalidade do futuro dirigente da (pólis) cidade (MARROU, 1975, p. 83, grifo nosso). Será que em nossos dias ainda encontramos esses traços nas ações de formação do cidadão? 1.2 A Educação em Roma Em Roma, no período clássico, o lar constituía o centro da educação. O objetivo deste povo era claro: formação do caráter. Segundo Marrou (1983, p. 80), “a influência do lar se completava com os exemplos concretos da virilidade romana. Nenhum outro povo usou tão eficazmente as personalidades de importância de sua própria história para formação do caráter da juventude de cada geração”. Os romanos tinham como ideal de Figura 1.3: Vaso com cena do cotidiano de Atenas. Fonte: http://jornal.usp.br/cultura/livros-didaticos-ensinam- historia-antiga-de-forma-desatualizada-dizem-professores-da- usp/ Acesso em: 01 jul. 2018. 23 educação os direitos e deveres dos cidadãos, os quais eram definidos por lei. De acordo com Marrou (1983, p. 78), temos: • 1º O direito do pai sobre os filhos (patria potestas); • 2º O direito do marido sobre a esposa (manus); • 3º O direito do senhor sobre os escravos (potestas dominica); • 4º O direito de um homem livre sobre um outro que a lei lhe dava por contrato ou por condenação judiciária (manus capere); • 5º O direito sobre a propriedade (dominium). A educação no lar era relevante, pois para cumprir esses deveres e ter esses direitos eram indispensáveis determinadas virtudes. Essas virtudes podem ser sintetizadas em: piedade, obediência, varonilidade ou firmeza (constantia), bravura e coragem, prudência, honestidade e seriedade (gravitas). Todas essas virtudes retratam a vida explicitadaem termos de deveres, concepção moral da vida formulada pelo homem prático, as quais eram ensinadas no seio familiar, ou seja, no próprio lar, por meio de exemplos concretos de vida. E, hoje, como vivemos a educação no lar? Quais os valores que permeiam as práticas educativas vivenciadas na escola e na sociedade? Figura 1.4: Quintiliano e sua proposta de uma Escola Romana Fonte: http://pgl.gal/quintiliano-proposta-ensinar- jogando/ Acesso em: 01 jul. 2017. 24 1.3 A Didática na Idade Média A Idade Média é um período histórico que se estende do século V ao XV d. C e que tem um significado educacional bastante diverso dos períodos anteriores, dado que neste estão impressos valores religiosos e instituições da igreja consolidadas, o que traz uma marca indelével em alguns valores sedimentados naquele tempo. O pluralismo antigo cedeu lugar a uma nova forma de cultura que domina toda a Idade Média: o cristianismo, explícito no campo religioso e educativo, fazendo emergir a escola como “ambiente moral organizado” (DURKHEIM, apud, GAUTHIER; TARDIF, 2014, p. 77). O paradigma educacional era o teocentrismo – Deus no centro de todas as coisas. Os mosteiros eram depositários da literatura e do saber. Devemos lembrar que o povo daquela época, em sua grande maioria, não tinha acesso a esses saberes; eles eram analfabetos. Apesar disso, não podemos negar o valor do trabalho dos monges na cópia dos livros antigos; para Monroe (1983, p. 111), “Um serviço que o monaquismo prestou ao saber não pode ser negado. Tudo que de saber e de literatura antigos temos hoje devemos, em grande parte, aos monges”. A herança literária deixada pelo monaquismo 1compreende as Sete Artes Liberais. Estas são constituídas pelo trivium: gramática, retórica e dialética e o quadrivium: aritmética, geometria, música e astronomia. Esses conhecimentos são relevantes pois definem uma didática própria daquele período. 1 MONAQUISMO: não foi um sistema de educação no sentido literário ou escolar. A sua concepção de educação referia-se apenas à formação do caráter moral e religioso (MONROE, 1983, p. 106). Figura 1.5: Mosteiro de Cluny- Borgonha, França Fonte:https://gloriadaidademedia.blogsp ot.com/p/a-cavalaria-medieval.html Acesso em: 01 jul. 2017. 25 Cassiodoro 2(490-585), por exemplo, escreveu, para uso dos monges, comentários, livros didáticos e um tratado de educação sobre as Sete Artes Liberais. Em seu convento deu relevância aos estudos clássicos, onde “estimulava os monges a se devotarem aos estudos clássicos e determinou que os que não tivessem interesse pelas letras se dedicassem à agricultura” (MONROE, 1983, p. 114). Ao olharmos atentos para o mundo de hoje, o que pensamos sobre o ideal teocêntrico medieval? Quais os matizes dessa cultura em nosso tempo? Que tipo de formação o homem de hoje tem, considerando-se as Sete Artes Liberais? 1.4 A Didática no Renascimento O que foi o Renascimento? A Renascença Clássica dos séculos XV e XVI, em primeiro lugar, foi um movimento intelectual, estético e social. Como tal, causou modificações profundas em todas as fases do pensamento e da prática educativa (MONROE, 1983, p. 146). O traço principal do Renascimento é o individualismo, permitindo aos seres humanos uma volta ao passado clássico grego e romano valorizando-se a cultura greco- latina. O paradigma é antropocêntrico. Foram três as tendências gerais das atividades renascentistas, praticamente desconhecidas na Idade Média: • 1ª A vida real do passado; • 2ª O mundo subjetivo das emoções – da alegria de viver, dos prazeres e satisfações contemplativas desta vida e da apreciação do belo; • 3º o mundo da natureza física – desconhecido dos povos medievais (MONROE, 1983, p. 146-147). 2 CASSIODORO (490-585): primeiro ministro de pelo menos quatro dos primeiros imperadores bárbaros ou rei godos, servindo-os não só como intérprete da cultura latina, mas como expositor da vontade deles junto aos romanos conquistados (MONROE, 1983, p. 114). 26 O conhecimento destes pontos é extremamente pertinente à uma compreensão dos processos educativos e das formas de pensamento, então desenvolvidos. Desse modo, podemos compreender que a didática, mais do que “arte de ensinar”, traduz uma necessidade de desvelo da realidade, dos contextos, aos quais se aplica. É preciso que se conheça o contexto social, político, econômico, ético, estético, educacional no qual se está inserido para que se possa pensar nas estratégias de ensino. A didática na renascença é diferente do período medieval. É preciso considerar a transcendência do homem daquele tempo: deixou para trás um paradigma teocêntrico para adentrar um novo paradigma – o antropocêntrico. Neste horizonte as práticas educativas e formas de ver o mundo e o homem são outras. Adentra-se num outro campo, o qual exige reestruturação da sociedade e consideração de outros fins da humanidade. Aqui devemos registrar as grandes conquistas desse período, tais como bússola, imprensa, geocentrismo, para que possamos efetivamente compreender e avançar nos modos de ensinar e aprender do homem. Assim, desvela-se que os avanços conseguidos nesse tempo estão imbricados em formas de ver e compreender o homem renascentista como detentor de uma razão que precisa ser considerada e respeitada. Figura 1.6: “A Criação”, afresco de Michelangelo no teto da Capela Sistina Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/porsche-aluga-capela-sistina-para-concerto- 14304252 Acesso em: 01 jul. 2018. 27 1.5 Síntese da Unidade Nesta Unidade discutimos a etimologia da palavra “didática”, por meio de uma reflexão histórica acerca do berço da civilização ocidental da qual fazemos parte, a qual refere-se à época arcaica e clássica: período homérico, Esparta, Atenas e Roma. Avançamos para o período medieval e renascentista. Estes conhecimentos são profícuos dado que por meio deles entendemos quais eram os ideais de formação que essas sociedades almejavam, quais os elementos que privilegiavam e como agiam para atingir tais fins. Numa palavra, explicitavam a Didática utilizada tanto para formar o herói, o militar, o intelectual, o prático, o homem de fé e o homem de razão. 1.6 Para saber mais Filmes e telenovelas • O Nome da Rosa Título original: The Name of the Rose Gênero: Investigação País/Ano: EUA/ 2006 Diretor: Jean – Jacks Annaud Duração:131 min. • Agonia e Êxtase Título original: The Agony and the Ecstasy Gênero: Drama 28 País/Ano: EUA/ 1965 Diretor: Carol Reed Duração:138 min. Livros • Ilíada e Odisséia para crianças – Ruth Rocha – Companhia das Letrinhas. • As Nuvens – Aristófanes • O Nome da Rosa – Umberto Eco Sites Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos, teses e/ou dissertações nos sites abaixo indicados: • http://www.teses.usp.br BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES (USP) • http://www.capes.gov.br BANCO DE TESES E DISSERTAÇÕES DA CAPES 1.7 Atividades Para aprofundar seu conhecimento sobre o conteúdo desta Unidade, você poderá: 29 1. Elaborar uma peça Teatral, na qual explicite a diversidade de ideais educativos na Grécia Clássica, utilizando para isto as obras sugeridas Ilíada e Odisséia, As Nuvens, O Cavalo de Tróia (filme), Odisséia (filme), bem como outros materiaispertinentes ao tema. 2. Elaborar jogos com materiais recicláveis, de papelaria, tecidos para que possam ser utilizados por crianças do Ensino Fundamental com o objetivo de saberem localizar e distinguir as cidades-estado gregas, no tempo e espaço, suas respectivas formas de educar e seus ideais. 3. Assistir ao filme: “Odisséia” e extrair dele elementos para debate. 4. Ler o livro de Ruth Rocha – Ilíada para crianças e extrair valores que podem e devem ser trabalhados com as crianças de 6 a 14 anos – Ensino Fundamental. 5. Ler o livro de Ruth Rocha – Odisséia para crianças e extrair valores que podem e devem ser trabalhados com as crianças de 6 a 14 anos – Ensino Fundamental. 6. Escrever sobre sua história de vida e procurar identificar valores, formas de ensino-aprendizagem, costumes que lhes remetam as formas e ideais de educação da Grécia Clássica. 7. Assistir ao filme: “O Nome da Rosa” e extrair os principais pontos da vida monástica. 8. Assistir ao filme: “Agonia e Êxtase”; elaborar uma reflexão acerca da Arte na Renascença como expressão da razão e sensibilidade. 30 31 Unidade 2 A Didática e a Infância: Precursores, Perspectivas e Concepções Já entendemos, a partir dos estudos da Unidade anterior, que segundo Ariès (1973), a visão da infância e o modo como os adultos as veem sempre variou ao longo da história. Na sociedade medieval, por exemplo, esse sentimento e cuidado com a infância não existiam. Desde a mais tenra idade, superado o período de risco de vida, as crianças eram consideradas como parte do mundo dos adultos. Apesar disso, as crianças eram amadas, mas não se tinha o olhar necessário para as suas próprias especificidades, distinguindo-as do mundo adulto (ARIÈS, 2014, p. 110). Com o decorrer da história, ao adentrarmos o século XVI, o renascer da cultura clássica, começa-se a olhar para a infância como uma fase da vida considerada como divertimento. Já no século XVII, o qual estudaremos agora, a infância, vista como um período de leviandade, vícios, que deve ser objeto de tratamento, torna-se uma preocupação moral. Para corroborar essa ideia, Ariès (1973, p. 185), nos adverte que: Mas no século XVII aparece um novo sentimento da infância, que vem do exterior, dos homens da igreja, preocupados em policiar os costumes. Eles se tinham tornado também sensíveis ao fenômeno outrora negligenciado da infância, mas negavam-se a considerar essas crianças como brinquedos encantadores, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus, que tinham necessidade de ser preservadas e, ao mesmo tempo, corrigidas (ARIÈS, apud GAUTHIER; TARDIF, 2014, p. 110). É nessa perspectiva do século XVII, de olhar para a infância como um ser que necessita de cuidados, que João Amós Comenius nos deixará seu legado. 32 2.1 João Amós Comenius – Didática Magna João Amós Comênio (1592 – 1670) é um dos representantes mais importantes do Realismo. Nasceu na Morávia, em 28 de março de 1592. Homem de fé, desempenhou cargos importantes dentro da sua comunidade religiosa. Percorreu grande parte da Europa, sonhando com uma Sociedade Internacional que garantisse a paz. Professor, reitor de colégios e escritor fecundíssimo, foi talvez o pedagogo mais significativo do século XVII. A Didática Magna é o primeiro tratado de pedagogia e didática. A sua defesa do “ensino para todos” e dos processos intuitivos de aprendizagem parece ter sido escrita em nossos dias. Ainda hoje, em muitos aspectos, “regressar a Comenius é progredir” (COMENIUS, 1997). Faleceu em 15 de novembro de 1670, sendo sepultado na igreja valônica de Naarden. Deixou-nos um legado inestimável intitulada ODO (Opera didactica omnia ), que é a obra “Didática Magna”, publicada em 1657, na qual aponta: a arte universal de mostrar tudo a todos, ou seja, o modo certo e excelente para criar em todas as comunidades, cidades ou vilarejos de qualquer reino cristão, escolas tais que a juventude dos dois sexos, sem excluir ninguém, possa receber uma formação em letras, ser aprimorada nos costumes, educada para a piedade e, assim, nos anos da primeira juventude, receba a instrução sobre tudo o que é da vida presente e futura, de maneira sintética, agradável e sólida (COMENIUS, 1997, p. 11). Figura 2.1: Didática Magna - Comenius Fonte:http://www.ebooksbrasil.org/eLi bris/didaticamagna.html Acesso em: 01 jul. 2018. 33 Os princípios de tudo o que se aconselha são extraídos da própria natureza das coisas; a verdade é demonstrada através de exemplos paralelos das artes mecânicas; a ordem (dos estudos) é disposta segundo anos, meses, dias, horas; o caminho, enfim, fácil e seguro, é mostrado para pôr essas coisas em prática com bom êxito (COMENIUS, 1997, p. 11). A obra Didática Magna é belíssima e merece ser lida. São XXXIII capítulos, dos quais, aqui, examinaremos o capítulo XVI – Requisitos gerais para ensinar e aprender: Como se deve ensinar e aprender com a certeza de atingir o objetivo. Segundo Princípio, 11, A natureza prepara a matéria antes de começar a introduzir-lhe a forma. Na sequência, 13. As escolas contrariam esse princípio: I. Porque não cuidam previamente de ter os vários instrumentos, livros, quadros, exemplos e modelos, sempre prontos para o uso, mas só quando há necessidade é que isto ou aquilo é procurado, feito, ditado ou transcrito; e quando isso é feito por um instrutor inexperiente ou negligente (e essa raça é sempre a mais numerosa), os resultados são escassos; é como se um médico, precisando administrar um remédio saísse pelos campos e bosques à cata de ervas e raízes, pondo-se a cozê-las e destilá-las, ao passo que seria mais prático ter os remédios já prontos para todos os casos (COMENIUS, 1997, p.149-150). Observemos a seguir, por meio do excerto, a profundidade da obra de Comenius escrita em meados do século XVII e que parece ter sido escrita em nossos dias. Assim, Comenius inicia sua obra: Didática Magna: “Que a proa e a popa da nossa didática sejam: buscar e encontrar um método para que os docentes ensinem menos e os discentes aprendam mais; que nas escolas haja menos conversa, menos enfado e trabalhos inúteis, mais tempo livre, mais alegria, e mais proveito; que na república cristã haja menos trevas, menos confusão, menos dissensões, mais luz, mais ordem, mais paz e tranquilidade.” Salmo LXVII, 1,2. 34 Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe! Faça resplandecer seu rosto sobre nós. Para que se conheça na terra o teu caminho, e em todas as nações a tua salvação (COMENIUS, 1997, p. 12). 2.2 Jean Jacques Rousseau - Emílio Nesta subunidade, abordamos um pensador do século XVIII, também chamado de Século das Luzes, cujas ideias são fecundas para a Pedagogia: Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778). Rousseau introduziu efetivamente na educação uma visão positiva da criança e, de maneira mais fundamental, ele elaborou uma verdadeira Teoria da Infância, na qual se instaurava um projeto que visava por meio da educação melhorar os aspectos corruptos da sociedade de seu tempo. Jean-Jacques Rousseau nasceu em 28 de junho de 1712, na Suíça, na cidade de Genebra e faleceu em Ermenonville, na França, em 2 de junho de 1778. Em 1762, publicou a obra prima Emílio. Antes de Rousseau, “a criança era considerada apenas como um adulto em miniatura – sem nenhum valor e sem nenhum direito até que pudesse imitar o adulto. Falava como um adulto, pensava como um adulto, agia como um adulto” (MONROE, 1983, p. 265). Uma leitura atentado Emílio permite-nos entrever, por meio dessa assertiva, que Rousseau (1966, p.43) tinha como proposição educativa “adotar a atitude de não interferir e deixar a natureza ser o que ela é (a natureza é um modelo, um guia que o pedagogo deve seguir)”. Podemos avançar nessa análise examinando, ainda o seguinte excerto: A educação não deve superpor à criança uma cultura como segunda natureza artificial, mas deixar a criança se desenvolver livremente, sem entravar o seu desenvolvimento... a educação deve imitar a natureza e seguir o desenvolvimento natural da criança em todos os pontos de vista: afetivo, moral, intelectual. Assim, poderá nascer um homem melhor em uma sociedade melhor (ROUSSEAU, 1996, p. 43). 35 Desse modo, segundo a pedagogia rousseauísta, a criança, à semelhança do adulto, é livre e essa liberdade deve ser respeitada. Isso tem um significado profundo sobre o seu papel na educação: a criança é um ser ativo e responsável pela sua educação e não um ser passivo, o qual recebe do exterior o conhecimento (GAUTHIER; TARDIF, 2014, p. 146). 2.3 Pestalozzi – Pedagogia Social Johann Heinrich Pestalozzi, nasceu em 12 de janeiro de 1746, em Zurique, na Suíça. Faleceu em 17 de fevereiro de 1827, em Brugg, Suíça. Educador pioneiro da reforma educacional nos séculos XVIII e XIX, conhecido entre nós como Henrique Pestalozzi (1746-1827), foi influenciado pelo movimento naturalista, por meio da obra de Jean Jacques Rousseau, Émile. Segundo ele, “as reformas sociais e políticas deviam surgir pela educação – não da educação corrente, mas de um novo processo de desenvolvimento que resultaria na reforma moral e intelectual do povo” (MONROE, 1983, p. 280). O mais popular de seus trabalhos, publicado em 1781, foi Leonardo e Gertrudes, cujo teor era descrever a vida simples do povo rural e as grandes modificações causadas ali pela inteligência e devotamento de uma simples mulher ignorante, Gertrudes. Segue, abaixo, explicitação breve desta obra: Pela sua paciência e habilidade na educação dos filhos ela salva o marido, Leonardo, da indolência e da embriaguez. Os vizinhos, os filhos, e as famílias próximas são por fim conquistados pela influência das novas ideias, e pelos métodos simples desta mulher aldeã. Este novo propósito na educação produz uma reforma de toda a aldeia. O que foi feito em Bonal, Pestalozzi sustentava que poderia ser feito em todas as aldeias (MONROE, 1983, p. 281). Figura 2.2: Rousseau, um dos principais filósofos do Iluminismo. Pintura de Maurice Quentin de La Tour. Fonte:https://www.infoescola.com/filo sofia/a-filosofia-de-rousseau/ Acesso em: 01 jul. 2018. 36 Esta foi sua missão na vida: elaborar em detalhes os métodos desta educação que se destinava a regenerar a sociedade, e assegurar a todas as crianças o desenvolvimento moral e intelectual que são um direito e herança naturais. O ideal de Pestalozzi era ‘psicologizar” a educação. Quanto ao novo significado da educação, Pestalozzi o reitera nas seguintes palavras: Uma educação perfeita é para mim simbolizada por uma árvore plantada perto de águas fertilizantes. Uma pequena semente que contém o germe da árvore, sua forma e suas propriedades é colocada no solo. A árvore inteira é uma cadeia ininterrupta de partes orgânicas, cujo plano existia na semente e na raiz. O homem é como a árvore. Na criança recém nascida estão ocultas as faculdades que lhe hão de desdobrar-se durante a vida, os órgãos do seu ser gradualmente se formam, em uníssono, e constroem a humanidade à imagem de Deus. A educação do homem é um resultado puramente moral. Não é o educador que lhe dá novos poderes e faculdades, mas lhe fornece alento e vida. Ele cuidará apenas de que nenhuma influência desagradável traga distúrbios à marcha do desenvolvimento da natureza. Os poderes morais, intelectuais e práticos do homem devem ser alimentados e desenvolvidos em si mesmo e não por sucedâneos artificiais. Deste modo, a fé deve ser cultivada pelo nosso próprio ato de crença, e não com argumentos a respeito da fé; o amor pelo próprio ato de amar, não por meio de palavras a respeito do amor; o pensamento, pelo nosso próprio ato de pensar, não por mera apropriação dos pensamentos de outros homens e o conhecimento, pela nossa própria investigação, não por falações intermináveis sobre os resultados da arte e da ciência (PESTALOZZI, apud, MONROE, 1983, p. 284-285). Destarte, a educação concebida por Pestalozzi preconizava o desenvolvimento orgânico do indivíduo – mental, moral e físico. Assim, priorizava o desenvolvimento dos indivíduos independentemente de sua posição social, mas enaltecia que a educação deveria alcançar a porção ínfima da humanidade até a maturidade intelectual e moral a Figura 2.3: Pestalozzi e crianças órfãs Fonte:https://br.pinterest.com/danecna ne/pestalozzi/ Acesso em: 01 jul. 2018. 37 que são destinados e não apenas os escolhidos, como ocorria no pensamento dos períodos anteriores à reforma educacional. 2.4 Froebel: o brincar e a infância Friedrich Froebel nasceu em Oberweissbach, aldeia da Turíngia, principado de Swartzburg-Rudolstadt, Alemanha Meridional, e faleceu em Marienthal, na Saxônia (CAMBI,1999, apud, KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p.38). Foi um pensador que viveu diversas experiências (filosofia, química, mineralogia, linguagem, artes, e, especialmente, as ciências naturais...). Froebel tomou conhecimento das ideias do pensador Pestalozzi, o que o levou a se interessar pelas questões da educação do homem, ao ter sido convidado para trabalhar numa escola em que as ideias pestalozzianas eram difundidas (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 39). Em 1808, viajou para Yverdon e foi ao encontro de Pestalozzi, permanecendo no Instituto em que desenvolvia seus trabalhos educacionais, onde teve a oportunidade de observar de perto os procedimentos de ensino, observando a falta de sistematização do método de ensino. Na tentativa de sanar esses problemas, interessou-se por dois tipos de atividades desenvolvidas com as crianças em Yverdon: os passeios realizados por Pestalozzi colocavam os alunos em contato com a natureza e possibilitavam lições práticas, e os jogos ao ar livre. Causaram-lhe profunda impressão o Livro das mães (1803) e Como Gertrudes ensina seus filhos (1803), do educador suíço (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 40). O projeto pedagógico de Froebel foi instituído em 1839, em Blankenburg, ao inaugurar um instituto educativo intitulado Instituto de Jogos e Ocupações, destinado a crianças e jovens, o qual em 1840 passou a ser chamado de Jardim Geral da Infância Alemã ou, como ficou conhecido, Jardim-da-Infância (Kindergarden) (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 40-41). 38 Segue-se a este objetivo froebeliano, o Jardim-da-Infância, o de preparar as pessoas que iriam participar do desenvolvimento das crianças. Desse modo, as mulheres – mães e jovens educadoras teriam de passar por uma formação, a fim de exercerem uma “prática educativa baseada no desenvolvimento, na compreensão, na criatividade e na formação da personalidade da criança, tanto no plano individual quanto no coletivo” (FROEBEL, 1899, apud KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 41). A pedagogia froebeliana, no que tange à educação infantil não objetiva o conhecimento, mas, sim, a promoção do desenvolvimento. Por isso, as brincadeiras e os jogos ocupam um lugar central, como segue no excerto de Dewey (1958, p. 120), acerca da contribuição de Froebel: Há muitas evidências de que Froebel estudou cuidadosamente– de forma indutiva, poderíamos dizer hoje em dia – as brincadeiras das crianças de seu tempo e os jogos que as mães jogavam com suas crianças. Ele fez um grande esforço – como em seu texto Mother play – para mostrar que certos princípios de grande importância estavam envolvidos. Ele teve que conscientizar sua geração de que essas coisas não eram meramente triviais e infantis porque feitas por crianças, mas eram fatores essenciais em seu crescimento (DEWEY, apud KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 48). Figura 2.4: Jardim da Infância Fonte: https://nutrimento.pt/noticias/alimentacao-nos-jardins-de-infancia/ Acesso em: 01 jul. 2018. 39 Vale ressaltar ainda, a aquisição da linguagem por meio do brincar, a qual Froebel reconhecia que a mãe, mesmo sem instrução, brinca com a criança e a educa, trazendo o significado da linguagem no contexto da brincadeira. Atentemos para o excerto, segundo Froebel (1896, p. 64): A mãe natural faz tudo isso instintivamente, sem instrução e direção; mas isso não é suficiente: é preciso que ela faça isso conscientemente, como um ser humano agindo sobre outro que está crescendo em consciência (...) e conscientemente levando para o contínuo desenvolvimento do ser humano, em uma certa vida de conexão interna (FROEBEL, apud KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 50). Dessa forma, torna-se visível a valiosa contribuição de Friederich Froebel para o desenvolvimento das crianças pequenas, bem como das pessoas que as educam. 2.5 Síntese da Unidade Nesta Unidade estudamos os pensadores: Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel. Pudemos ter contato com suas ideias sobre a educação e ter uma visão dos contextos nos quais estavam inseridos. Assim, suas obras refletem e reforçam suas formas de pensar a educação do homem. Comenius em a “Didática Magna” traz o teor de uma sistematização do ensino, com prerrogativas religiosas. Rousseau em Emílio nos confere o legado do respeito à liberdade e à natureza. Pestalozzi, em “Leonardo e Gertrudes”, trata sobre a paciência e a fé para atingir o objetivo da formação humana. Froebel, por meio do “Kindergarden”, discute o valor do Jardim-da-Infância. Este capítulo é de uma densidade que merece todo o nosso esforço em compreendê-lo e ampliá-lo por meio de leituras, filmes e o contato com as obras originais. Figura 2.5: As Meninas de Rosa e Azul - Renoir Fonte:https://www.wikiart. org/pt/pierre-auguste- renoir/rosa-e-azul-1881 Acesso em: 01 jul. 2018. 40 2.6 Para saber mais Filmes e telenovelas • Fernão Capelo Gaivota Livros • Didática Magna – Comenius • Emilio – Rousseau • Leonardo e Gertrudes – Pestalozzi • Como Gertrudes ensina seus filhos – Pestalozzi Sites Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos, teses e/ou dissertações nos sites abaixo indicados: • http://www.teses.usp.br Biblioteca digital de teses e dissertações (USP) • http://www.capes.gov.br Banco de teses e dissertações da capes 41 Unidade 3 A Didática no Século XX e XXI no Brasil: Influências e Desafios Estudamos na Unidade anterior os grandes pensadores do ensino: Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel. Nesta Unidade daremos sequência aos nossos estudos, avançando em direção aos pensadores Dewey e Freire, que contribuíram para alavancar o ensino no Brasil nos séculos XX e XXI. 3.1 Democratização do ensino: John Dewey e Paulo Freire No Brasil, o pensamento de Dewey e seu modo de estruturar o ensino teve grande repercussão entre os educadores, dentre os quais Anísio Teixeira, que estudou com o educador. Por meio desta experiência, Anísio Teixeira trouxe ao Brasil traços marcantes deweyanos tanto na produção intelectual quanto política, os quais se fazem presentes e podem ser observados na implementação de alguns de seus conceitos no sistema escolar brasileiro. Trata-se de uma pedagogia comprometida com a prática social e com o oferecimento de oportunidades iguais para os indivíduos, base para a construção e continuidade de uma sociedade democrática (CORDEIRO, 2012, p. 173). John Dewey, filósofo, psicólogo e educador, nasceu em 1859, na pequena cidade de Burlington, estado de Vermont, nos Estados Unidos da América. Dewey faleceu em 1952, aos 92 anos (CUNHA, 2007, p. 133-134). “Sua pedagogia baseia-se nas noções de experiência e de atividade. Dewey insiste que só se pode realmente aprender aquilo 42 que corresponde a um interesse verdadeiro e espontâneo, que conecta o indivíduo ao objeto do conhecimento” (CORDEIRO, 2012, p. 172). Para ele, esse interesse só será autêntico quando, ao realizar uma tarefa e deparar-se com obstáculos, a pessoa busca superar essa dificuldade. Desse modo, para Dewey, “a Educação deve consistir numa reconstrução ativa pela criança da experiência humana” (CORDEIRO, 2012, p. 173). O modo de estruturar o ensino, segundo Dewey, deveria seguir os seguintes passos, que descrevo a seguir: 1. Atividade – o ponto de partida é sempre uma atividade espontânea em que a criança esteja envolvida, baseada nos seus interesses. O papel do professor é o de fazer a interferência para propiciar a emergência dessas atividades. 2. Problema – durante o desenvolvimento da atividade, surge um obstáculo, uma dificuldade que a criança sozinha ou em grupo não consegue resolver. Formulação do problema. 3. Dados – nessa etapa, a criança, preferencialmente em equipes, vai em busca das informações que possam dar conta de ajudar a responder a questão anterior. Cabe aqui ao professor auxiliar as crianças, sugerindo fontes de informações. 4. Hipótese – a partir do recolhimento dos dados, as crianças chegarão à formulação de hipóteses que representam tentativas de solução ao problema. 5. Experimentação – o processo completa-se com o teste das hipóteses, o qual deve produzir uma resposta adequada (CORDEIRO, 2012, p. 173-174). A implementação no Brasil de um sistema escolar, no início do século XX, foi um grande desafio que as ideias e proposições de John Dewey contribuíram para que pudessem ser equacionadas de forma a possibilitar o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Dewey fala de processos educativos e refere-se à criança, nos planos individual e social, antes de tratá-la como aluno. No pensamento de Dewey, a educação Figura 3.1: John Dewey Fonte:https://www.comunidadecultura earte.com/john-dewey-o-pai-da- educacao-moderna-dos-eua/ Acesso em: 01 jul. 2018. 43 progressiva não deve ocupar-se somente dos aspectos sociais que permeiam as existências individuais. Com o olhar na sociedade e na escola de seu tempo, Dewey (1940a, p. 62) identifica a democracia e a liberdade com o processo individual de pensar inteligentemente, que só pode ser efetivado mediante uma educação que valorize o indivíduo e suas experiências pessoais: A vida moderna significa democracia; a democracia significa a liberação da inteligência para uma efetividade independente; a emancipação da mente como um órgão individual para realizar sua própria obra. Nós naturalmente associamos democracia com a liberdade de ação, porém a liberdade de ação, sem uma capacidade livre de pensamento por detrás dela é só caos. Se renuncia-se à autoridade externa, tem que ser porque substitui pela autoridade interna da verdade, descoberta e conhecida pela razão (DEWEY, apud PINAZZA, 2007, p. 81). Numa sociedade como a do século XX, no Brasil, é preciso salientar que para que a “educação tenha um significado social,é preciso que as mudanças da sociedade sejam acompanhadas de transformações no plano educacional” (PINAZZA, 2007, p. 82). Para tal empreitada as contribuições do educador pernambucano Paulo Freire precisam ser trazidas à memória. Nesse contexto do século XX, no Brasil, Paulo Freire é certamente o educador brasileiro mais conhecido tanto aqui quanto no exterior. Nasceu no estado de Pernambuco, em 1921 e faleceu em 1997. Freire foi inicialmente professor de Português, mas desde cedo interessou-se pelas questões da educação popular e da alfabetização de adultos (CORDEIRO, 2012, p. 182). No início dos anos 1960, elaborou um método de alfabetização de adultos experimentado inicialmente em Recife e mais tarde, em 1962, em Angicos, Rio Grande do Norte, por meio do qual um grupo de jovens monitores conseguiu sucesso na alfabetização de 300 trabalhadores rurais em 45 dias. Para Freire, a alfabetização é um processo de aquisição de consciência e deve ter como ponto de partida a realidade social e cultural vivida pelos educandos. Observemos como era proposto o trabalho: 44 A classe é transformada no chamado círculo de cultura, em que, por meio de debates coordenados por um monitor, os educandos podem se apropriar da sua própria cultura, elevar o seu nível de compreensão da realidade e, ao mesmo tempo, adquirir um poderoso instrumento intelectual e político representado pelo letramento (CORDEIRO, 2012, p. 183). O objetivo de todo esse trabalho era cooperar no processo de conscientização e de libertação dos oprimidos, no sentido da instauração de condições para a construção coletiva e autônoma de uma sociedade nova, em que não houvesse mais dominantes e dominados, conforme nos assevera Cordeiro (2012). Como no século XXI, em nosso país, são vistas estas colocações de Paulo Freire? É o que nos esforçaremos para compreender no próximo subtítulo. 3.2 A Pedagogia e a Didática: uma triângulação praxiológica Ao refletirmos sobre as influências e desafios da democratização do ensino no Brasil nos séculos XX e XXI, não podemos desconsiderar o relevante papel da didática no processo de inserção e desenvolvimento dos indivíduos e da própria sociedade neste mundo globalizado e plural. Desse modo, devemos alargar nossa concepção sobre a Didática, não nos restringindo apenas aos seus aspectos técnicos. Quando se fala de ensino e aprendizagem, corre-se o risco de adotar uma descrição idealizada, que tende a considerar isoladamente os atores sociais envolvidos. Muitas vezes pode-se pensar que basta um professor com bom domínio de conteúdos e de métodos, bom planejamento, alunos dotados de condições, disposições, enfim, Figura 3.2: Paulo Freire Fonte:http://www.infowarsbrasil.o rg/2017/11/paulo-freire-o-patrono- do-fracasso.html Acesso em: 01 jul. 2018. 45 preparados com pré-requisitos cognitivos e tudo resultará em um bom ensino por parte do professor e bom aprendizado por parte dos alunos. Essa é uma visão restrita sobre a Didática, concebendo-a simplesmente como técnica. A Didática é mais que técnica do processo de ensino e aprendizagem. É preciso ressaltarmos aqui que o que dá sentido ao que acontece na sala de aula e que permite que o trabalho docente se realize e que a aprendizagem aconteça é o “fato irrecusável de que o ensino e a aprendizagem se dão como e resultam de uma relação social, de um conjunto de interações humanas, portanto, que não se podem resumir a simples procedimentos isolados” (CORDEIRO, 2012, p. 98). Aqui, chamaremos a esse conjunto de relações humanas, as quais representam relações sociais e históricas imbricadas nas formas de ensino e aprendizagem, de triangulação praxiológica3. Tanto quando nos referimos à Pedagogia, quando nos referimos à Didática a Triângulação Praxiológica exprime o valor de considerarmos o espaço ambíguo em que se fecundam. Em outras palavras, de acordo com Oliveira-Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007), temos que: convocar crenças e valores, analisar práticas e usar saberes pedagógicos constitui um movimento triangular de criação de um espaço ambíguo – o espaço da pedagogia – que nos reenvia para uma triangulação praxiológica. Ser profissional reflexivo é fecundar, antes, durante e depois da ação, as práticas nas teorias e nos valores, interrogar para ressignificar o já feito em nome da reflexão que constantemente o reinstitui (OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 14). Na relação pedagógica, a Didática entra em ação por meio das dimensões: linguística, pessoal e cognitiva. É o que analisaremos no próximo subtítulo. 3 Triângulação Praxiológica: A pedagogia organiza-se em torno dos saberes que se constroem na ação situada em articulação com as concepções teóricas e com as crenças e os valores (OLIVEIRA- FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p.14 ). 46 3.3 Didática em ação: dimensões linguística, pessoal e cognitiva Um aspecto muito relevante da relação pedagógica diz respeito ao fato de que ela se estabelece em grande medida por meio do discurso, do diálogo ou da linguagem, nas diversas práticas que se desenvolvem na sala de aula. Os conhecimentos teóricos e metodológicos, assim como o domínio dos modos do fazer docente, contribuem sobremaneira para o trabalho profissional do professor. O trabalho docente, entendido como atividade pedagógica do professor, busca os seguintes objetivos primordiais, conforme Libâneo (2013) nos assevera: • Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possível dos conhecimentos científicos; • Criar as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de modo que dominem métodos de estudo e de trabalho intelectual visando a sua autonomia no processo de aprendizagem e independência de pensamento; • Orientar as tarefas de ensino para objetivos educativos de formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e convicções que norteiem suas opções diante dos problemas e situações de vida real (LIBÂNEO, 2013, p. 75). Para tanto, o diálogo na sala de aula é condição sine-qua-nom. Se o diálogo não resume todo o processo educacional, certamente constitui grande parte da estruturação da relação pedagógica. Disso decorre que enquanto educadores, pedagogos, professores, é preciso cuidar das interações sociais para que os alunos, os aprendizes, não permaneçam numa atitude passiva, mas ativa na produção dos conhecimentos. No que diz respeito à dimensão pessoal da relação pedagógica, os vínculos que se estabelecem entre professor(a) e alunos(as) são fatores marcantes no desenvolvimento 47 de ambos. Alguns estudos e pesquisas desenvolvidos nos Estados Unidos em torno da ideia do desvelo, isto é, da dedicação do(a) professor(a) aos seus alunos, mostram que assumem conscientemente essa perspectiva e não abrem mão dos seus compromissos políticos nem técnicos, procurando mobilizar todas essas dimensões em favor dos seus alunos e da promoção da sua aprendizagem (CORDEIRO, 2012, p. 104). Quanto à dimensão cognitiva, trata-se de admitir que “A escola e o ensino: núcleo da Didática”, para além de ser uma instituição destinada à socialização das crianças e dos jovens, tem a função precisa de propiciar acesso ao saber (CORDEIRO, 2012, p. 109). Para Bernard Charlot (1996), apreender as relações com o saber implica criar mecanismos que permitam apreender a história singular de cada um dos alunos no sistema escolar. Portanto, de acordo comCordeiro (2012), o fundamental é tentar perceber o que leva crianças e jovens para a escola, o que os faz permanecer nela e tentar aprender e quais as relações que eles estabelecem com a própria escola e o saber (p. 111). É preciso ser um profissional reflexivo para perceber e se atentar ao fato de que os alunos têm um papel ativo na relação pedagógica. E ao participar ativamente do processo estabelecem hierarquias sobre o que é mais e menos relevante para eles. O professor precisa considerar tal fato. Essas hierarquias são singulares e devem fazer sentido para a prática docente. Não se trata de facilitar a assimilação dos saberes e nem de torná-los prazerosos, mas sim do tipo de relação que se estabelece com os mesmos. Como nos assevera Meirieu (2006, p. 19): “o professor deve possibilitar a cada aluno confrontar-se com um saber que o ultrapassa e, ao mesmo tempo, fornecer-lhe a ajuda necessária para se aproximar dele”; e deve solicitar o comprometimento da pessoa e, simultaneamente, colocar à sua disposição os recursos sem os quais não poderá ter êxito em suas aprendizagens. 48 3.4 Síntese da Unidade Nesta Unidade, pudemos avançar e nos situar no Brasil dos séculos XX e XXI e visualizarmos as contribuições de Dewey e Freire, nas ideias e reflexões que fizeram acerca do ensino e de como acreditavam ser possível fomentar tais propósitos. 3.5 Para saber mais Filmes e telenovelas • Curta metragem – Vida Maria • Curta metragem – Cuerdas • Filme - Preciosa Livros • Educação como Prática de Liberdade – Paulo Freire • Educação e Mudança – Paulo Freire • Democracia e Educação – John Dewey Sites Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos, teses e/ou dissertações nos sites abaixo indicados: • http://www.teses.usp.br 49 Biblioteca digital de teses e dissertações (USP) • http://www.capes.gov.br Banco de teses e dissertações da CAPES 3.6 Atividades 1. Assistir a uma aula em uma escola nos primeiros anos do ensino fundamental, ciclo I, e observar como o docente atua com relação às suas práticas pedagógicas, procurando identificar elementos da prática educativa sinalizados por Dewey e Freire. 2. Assistir a uma aula em uma escola que tenha salas de Educação de Jovens e Adultos e observar como o docente atua com relação às suas práticas pedagógicas, procurando identificar elementos da prática educativa sinalizados por Dewey e Freire. 50 51 Unidade 4 Didática - Planejamento Escolar Na Unidade anterior foi possível identificar no Brasil dos séculos XX e XXI, algumas apropriações e avanços no que tange à sistematização do ensino e elementos significantes, significativos e que produzem significados no processo de ensino e aprendizagem, por meio das colaborações de Dewey e Freire. 4.1 Plano de escola, plano de ensino, plano de aula O Plano de Escola é o plano pedagógico e administrativo da unidade escolar, onde se explicitam a concepção pedagógica do corpo docente; as bases teórico metodológicas da organização didática; a contextualização social, econômica, política e cultural da escola; a caracterização da clientela escolar; os objetivos educacionais gerais; a estrutura curricular, diretrizes metodológicas; o sistema de avaliação do plano, a estrutura organizacional e administrativa (LIBÂNEO, 2013, p, 255). A seguir, descrevo sugestões de estruturação e dos elementos para a elaboração do Plano de Escola, baseados nas proposições de Libâneo (2013, p. 256-257): 1. Posicionamento sobre as finalidades da educação escolar na sociedade e na nossa escola. 2. Bases teórico-metodológicas da organização didática e administrativa constituem o nosso entendimento sobre a. O tipo de homem que queremos formar; 52 b. As tarefas da educação geral; c. O significado pedagógico-didático do trabalho docente: as teorias do ensino e da aprendizagem; d. As relações entre o ensino e o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos; e. O sistema de organização e administração da escola. 3. Caracterização econômica, social, política e cultural do contexto em que está inserida a nossa escola: a. Panorama geral do contexto; b. Aspectos principais desse contexto que incidem no processo ensino- aprendizagem. 4. Características socioculturais dos alunos: a. Origem social e condições materiais de vida; b. Aspectos culturais: concepção de mundo, práticas de criação e educação das crianças, motivações e expectativas profissionais, linguagem, recreação, meios de comunicação etc.; c. Características psicológicas de cada faixa etária em termos de aprendizagem e desenvolvimento. 5. Objetivos educacionais gerais da escola quanto à(s): a. Aquisição de conhecimentos e habilidades; b. Capacidades a serem desenvolvidas; c. Atitudes e convicções. 6. Diretrizes gerais para a elaboração do plano de ensino: a. Sistema de matérias – estrutura curricular; 53 b. Critérios de seleção de objetivos e conteúdos; c. Diretrizes metodológicas gerais e formas de organização do ensino; d. Sistemática de avaliação. 7. Diretrizes quanto à organização e à administração: a. Estrutura organizacional da escola; b. Atividades coletivas do corpo docente: reuniões pedagógicas, conselho de classe, atividades comuns; c. Calendário e horário escolar; d. Sistema de organização de classes; e. Sistema de acompanhamento e aconselhamento dos alunos; f. Sistema de trabalho com os pais; g. Atividades extraclasse: biblioteca, grêmio estudantil, esportes, festas, recreação, clubes de estudo, visitas a instituições e locais da cidade; h. Sistema de aperfeiçoamento profissional do pessoal docente e administrativo; i. Normas gerais de funcionamento da vida coletiva: relações internas na escola e na sala de aula. Há, aqui, uma observação extremamente relevante a ser feita, no que diz respeito às concepções pedagógicas assumidas pelo coletivo escolar e explicitadas no documento, designado, Plano de Escola, o qual podemos denominar, também, Projeto Político- Pedagógico. 54 Essas observações dizem respeito aos teóricos elencados como fundamentos e pressupostos que norteiam o documento, os quais deverão estar articulados aos itens que compõem o documento. Em outras palavras, os fundamentos teóricos devem corroborar todos os itens que integram o documento. Mais que isso, o Plano de Escola ou Projeto Político-Pedagógico é um guia de orientação para o planejamento do processo de ensino. Ainda mais, deve ser consensual entre o corpo docente e ficar disponível o tempo todo na unidade escolar para eventuais consultas por parte do corpo docente, bem como supervisores de ensino, comunidade e interessados em pesquisa educacional. Este documento tem um caráter público, democrático e configura a espinha dorsal da escola. Nesta sequência de estudos, abordaremos o Plano de Ensino. O Plano de Ensino é um roteiro organizado das unidades didáticas para um ano ou semestre. Para Libâneo (2013), é denominado também plano de curso ou plano de unidades didáticas e contém os seguintes componentes: justificativa da disciplina em relação aos objetivos da escola; objetivos gerais; objetivos específicos; conteúdo (com a divisão temática de cada unidade) e desenvolvimento metodológico (atividades do professor e dos alunos). 55 PLANO DE ENSINO (ANUAL/SEMESTRAL) Disciplina: ..................................................................................................Série/Ano: .................................................................................................. Nº de aulas no ano: ..............................no semestre: ............................... Professor:.................................................................................................... Justificativa da disciplina (uma ou mais páginas) Objetivos gerais: Objetivos específicos: Conteúdos: Unidades Desenvolvimento metodológico: Bibliografia (do professor) Livro adotado para estudo dos alunos(as): O componente justificativa da disciplina pode ser explicitado com considerações sobre as funções sociais e pedagógicas da educação na nossa sociedade escolar, tendo em vista os objetivos que pretendemos alcançar com os alunos. Quanto à delimitação dos conteúdos, é preciso que haja uma conexão entre os temas abordados numa dada unidade didática. A seleção e a organização dos conteúdos 56 passam por determinados requisitos e critérios, considerando-se a especificidade da matéria. Os conteúdos estão imbricados em conhecimentos, habilidades, capacidades, atitudes e convicções a serem desenvolvidos. Os objetivos específicos serão descritos a partir dos conteúdos, isto é, explicitar-se-ão os resultados a serem obtidos partindo-se do processo transmissão-assimilação ativa de conhecimentos, conceitos e habilidades. Geralmente, os objetivos são descritos por meio de verbos que se referem a operações mentais simples (definir, listar, identificar, reconhecer, usar, aplicar, reproduzir) e operações mais complexas (comparar, relacionar, analisar, justificar, diferenciar, etc.). Vale uma observação quanto aos objetivos formativos, os quais referem-se à formação de traços de personalidade e caráter, os quais não podem ser comprovados e constatados objetivamente, pois não são alcançados de imediato mas ao longo do desenvolvimento humano. O componente desenvolvimento metodológico é o que dará vida aos objetivos e conteúdos e apontará o que os alunos e professores farão no desenrolar, seja numa aula ou num conjunto de aulas. O conteúdo refere-se às atividades que visam à reação favorável dos alunos e que deverá estar articulado aos interesses dos alunos. Dever-se-á esclarecer aos alunos objetivos, formas de trabalho, duração, material de estudo que será utilizado, quando serão dados exercícios de avaliação, etc. Por fim, abordaremos o Plano de Aula, o qual norteará a organização do processo de ensino. O Plano de Aula dissecará o Plano de Ensino, ou seja, a partir do que se identificou como elementos pertinentes ao aprendizado dos alunos far-se-á um detalhamento em unidades e subunidades, também chamados tópicos, por meio dos quais se procurará tratar as especificidades dos temas selecionados. A preparação da Aula é uma tarefa indispensável e, como o plano de ensino, é um documento. Vale ressaltar a arquitetura escolar no que tange ao tempo e espaço. Toda aula estará condicionada a um tempo e a um espaço, os quais o professor deverá 57 considerar. Desse modo, todo cuidado e atenção deverão ser dispensados nesse momento. Dependendo do conteúdo a ser trabalhado, o professor poderá utilizar formas de organização diferentes dentro da própria sala de aula ou utilizar outros espaços disponíveis na escola, quando houver. Assim, a arquitetura escolar no que tange ao espaço e tempo é de fundamental relevância, pois muitas aulas poderão ser desenvolvidas de forma satisfatória, variando-se os espaços e dividindo-se os tempos de maneira adequada. O professor reflexivo procurará avaliar cotidianamente suas aulas. Procurará observar atenção, interesse e engajamento dos alunos; participação deles de forma ativa, propondo soluções e reconhecendo problemas de natureza variada, enfim, de maneira ativa e não como meros expectadores do processo. Para tal conhecimento na ação torna- se necessário que este docente o faça de forma habitual e, mais que isso, que se torne um professor pesquisador de sua prática. Com isso, abre perspectivas para a valorização da pesquisa na ação dos profissionais, colocando as bases para o que se convencionou denominar o professor pesquisador de sua prática (PIMENTA, 2012, p. 23). O educador engajado, como outros profissionais contextualizados, é um construtor da história, na medida em que, para isso, aja conscientemente. Esse projeto “histórico, forjado no dia a dia, se traduz, para o educador, num projeto pedagógico, em um plano de ação, racional e consciente, que, no seu espaço geográfico e temporal, manifesta as aspirações e o processo de crescimento e desenvolvimento do povo” (CANDAU, 2013, p.27). Desse modo, é preciso como sujeito da história que o educador, o autêntico educador, como ser humano que constrói pedra sobre pedra, o desenvolvimento do povo, seja engajado. Não que será construtor sozinho por meio da educação de todo um projeto histórico. Temos consciência de que não é a educação, por si, que cria um modelo social, mas que ela atua dentro de um modelo social existente ou por existir. Assim Candau (2013, p. 27) nos convida a pensar: “creio que, na intimidade do sistema social, o educador, ao mesmo tempo humilde e grandioso, tem papel fundamental no desenvolvimento e execução de um projeto histórico que esteja voltado para o homem”. 58 4.2 Metodologia ativa Tratemos agora sobre quais os elementos que no ambiente escolar podem contribuir para aprendizagens plurais, tais como: atitudes, valores, dimensões do gênero, da sexualidade, a raça ou etnia. “As relações sociais entre professores e alunos, entre a administração e os alunos, entre alunos e alunos, a organização do espaço escolar, do tempo são componentes estruturais por meio dos quais as crianças e jovens aprendem certos comportamentos sociais” (SILVA, 2017, p. 79). Assim sendo, as metodologias ativas podem ser empregadas possibilitando aos alunos e professores(as) agrupamentos, diálogos, debates, discussões, apresentações, explanações, narrações, nas quais crianças, jovens e adultos podem desenvolver e aprimorar seus conhecimentos de forma socializadora, permitindo-lhes um papel de atores e autores na trajetória, na viagem e no percurso de forjar suas próprias histórias e identidades. Para elucidarmos de forma mais aprofundada os fundamentos da metodologia ativa, tomemos como base as ideias de José Moran (20154) A educação formal está num impasse diante de tantas mudanças na sociedade: como evoluir para tornar-se relevante e conseguir que todos aprendam de forma competente a conhecer, a construir seus projetos de vida e a conviver com os demais. Os processos de organizar o currículo, as metodologias, os tempos e os espaços precisam ser revistos (MORAN, 2015, p. 1). 4 José Moran. Professor Doutor da Universidade de São Paulo e pesquisador de mudanças na educação. Contato: www2.eca.usp.br/moran Figura 4.1: Roda Infantil – Cândido Portinari Fonte:http://portaldoprofessor.mec.gov.br /fichaTecnicaAula.html?aula=25659 Acesso em: 01 jul. 2018. 59 Houve tempo, como vimos, por exemplo na Idade Média e mesmo na Idade Moderna, em que o acesso ao saber era difícil. Poucos podiam ter acesso ao conhecimento. Nessa perspectiva, pode-se compreender que os métodos tradicionais que privilegiam a transmissão do saber pelos professores faziam sentido. Entretanto, na atualidade, com a internet e a divulgação aberta de materiais e cursos, bem como informações “podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e com muitaspessoas diferentes. Isso é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos modelos prévios bem- sucedidos para aprender de forma flexível numa sociedade altamente conectada” (ALMEIDA & VALENTE, 2012). Nesse sentido torna-se necessário nos apropriarmos de alguns elementos mais abrangentes sobre o que vem a ser metodologia ativa. Para Moran (2015), num primeiro momento não podemos nos esquecer de que: As metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodologias em que os alunos se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa (MORAN, 2015, p. 17). Percebemos, portanto, que as metodologias precisam estar em congruência com os objetivos de formação pretendidos. Dessa forma, tanto as atividades quanto os desafios devem ser planejados, acompanhados e avaliados com equilíbrio, podendo ser, também, subsidiados por tecnologias. Com o planejamento prévio das atividades e dos desafios torna-se possível “mobilizar as competências desejadas, intelectuais, emocionais, pessoais e comunicacionais. Exigem pesquisar, avaliar situações, pontos de vista diferentes, fazer escolhas, assumir alguns riscos, aprender pela descoberta, caminhar do simples para o complexo” (MORAN, 2015, p. 18). Ao participarem do processo de formação ativa os alunos precisam de pessoas mais experientes que os orientem nas conexões, nas reflexões mais avançadas e inferências acerca de conhecimentos subjacentes. Nesse tipo de proposta de ensino, quanto mais 60 próximos das circunstâncias da vida os alunos forem inseridos para aprender, melhor será a elaboração de novas práticas. Teóricos como Dewey (1950), Freire (2009), Rogers (1973), Novak (1999), entre outros, enfatizam, há muito tempo, a importância de superar a educação bancária, tradicional, e focar a aprendizagem no aluno, envolvendo-o, motivando-o e dialogando com ele (MORAN, 2015, p. 18). Para nos apropriarmos de alguns modos como as metodologias ativas podem contribuir na organização e estruturação de material, tempo, espaço, dentre outros elementos, necessários para o processo de formação, observemos o que nos propõe Moran (2015), autor eleito para nos subsidiar em nossas reflexões: Alguns componentes são fundamentais para o sucesso da aprendizagem: a criação de desafios, atividades, jogos que realmente trazem as competências necessárias para cada etapa, que solicitam informações pertinentes, que oferecem recompensas estimulantes, que combinam percursos pessoais com participação significativa em grupos, que se inserem em plataformas adaptativas, que reconhecem cada aluno e ao mesmo tempo aprendem com a interação, tudo isso utilizando as tecnologias adequadas. Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos cada vez estão mais presentes no cotidiano escolar. Para gerações acostumadas a jogar, a linguagem de desafios, recompensas, de competição e cooperação é atraente e fácil de perceber. Os jogos colaborativos e individuais, de competição e colaboração, de estratégia, com etapas e habilidades bem definidas se tornam cada vez mais presentes nas diversas áreas de conhecimento e níveis de ensino (MORAN, 2015, p. 18). Para ilustrar a aplicação das metodologias ativas, tomemos por exemplo os projetos das escolas Summit (Summit Schools) da Califórnia, os quais equilibram tempos de atividades individuais, com as de grupo; sob a supervisão de dois professores que se debruçam sobre projetos que permitam olhares abrangentes, integradores, sem disciplinas: As salas de aula podem ser mais multifuncionais, que combinem facilmente atividades de grupo, de plenário e individuais. As escolas 61 como um todo precisam repensar esses espaços tão quadrados para espaços mais abertos, onde lazer e estudo estejam mais integrados. O que impressiona nas escolas com desenhos arquitetônicos e pedagógicos mais avançados é que os espaços são mais amplos, agradáveis. Há escolas mais em contato com a natureza, que têm vantagens inegáveis para projetos de ecologia de aprendizagem mais integral (MORAN, 2015, p. 19-20). O que pretendemos ao trazer este exemplo proposto por Moran (2015), das escolas Summit (Summit Schools) da Califórnia, de aplicação das metodologias ativas, não é apresentar apenas um único modo de aplicação delas, mas pensar sobre esse modelo e extrair os contributos que podem nos auxiliar em novas circunstâncias de ensino e de aprendizagem, as quais favoreçam uma postura mais centrada nos alunos, permitindo- lhes uma atitude mais proativa, independente, autônoma e resiliente diante da vida e do saber. Destarte, os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos cada vez estão mais presentes no cotidiano escolar. Moran (2015) afirma que para as gerações acostumadas a jogar “a linguagem de desafios, recompensas, de competição e cooperação é atraente e fácil de perceber. Os jogos colaborativos e individuais, de competição e colaboração, de estratégia, com etapas e habilidades bem definidas se tornam cada vez mais presentes nas diversas áreas de conhecimento e níveis de ensino” Aqui vale ressaltar que todas essas proposições são férteis, pertinentes e relevantes, desde que não percamos de vista considerações primordiais acerca do respeito, da dignidade, da consideração, enfim, elementos de ordem ética para com o ser humano que nos é confiado. E assim, termos condições efetivas de ao disponibilizarmos materiais, espaços, tempos e conteúdos escolares, priorizemos um ideal de formação humana, centrado no equilíbrio, como já nos asseverava Aristóteles, na antiguidade clássica grega. 62 4.3 Avaliação escolar O objetivo neste momento de nossos estudos é “compreender o significado da avaliação da aprendizagem como um ato de investigar a qualidade do seu objeto de estudo e, se necessário, intervir no processo da aprendizagem, tendo como suporte o ensino, na perspectiva de construir os resultados desejados” (LUCKESI, 2011, p. 150). O significado etimológico da palavra “avaliar”, do latim é avaliare, dar valor a. Assim sendo, para que o professor, ao avaliar seus alunos, possa contribuir para o seu desenvolvimento, é necessário que assuma uma perspectiva de valorização do que eles trazem consigo como bagagem de conhecimentos prévios e, mais que isso, que veja seus avanços e não apenas seus retrocessos. Nesse processo, ainda é preciso que saiba diferenciar verificar de avaliar. Numa avaliação espera-se, diferentemente da verificação, que não se olhe apenas o que está certo ou errado, mas que se possa valorizar os avanços evidenciados. Conforme nos ensina, por exemplo, com relação à Educação Infantil, Hoffmann (2014)): Entendo que a ação avaliativa deva assegurar, na Educação Infantil, um clima sem tensões e limitações. O que será possível se o professor se distanciar definitivamente do modelo de avaliação do ensino regular e perseguir, de fato, uma perspectiva de acompanhamento, confiante nas possibilidades de as crianças se desenvolverem e vivenciarem as situações de forma própria e diferenciada do adulto (HOFFMANN, 2014, p. 132). O processo avaliativo engloba, ainda, considerações de ordem ética e não apenas técnica. Ao avaliar um aluno, seja ele uma criança, um jovem ou um adulto, não se pode prescindir de considerar que se está diante de um ser humano. Segundo Luckesi (2011,p. 183), temos que: Para o avaliador da aprendizagem, o aprendido interessa somente como diagnóstico do estado do desempenho hoje; interessa como um retrato da aprendizagem atual. O foco do avaliador é o presente, na perspectiva de construção do futuro. Nesse caso, o passado serve exclusivamente como fonte explicativa do presente, que, por sua vez, 63 serve de base para o futuro. (...) O aprisionamento no passado não permite soluções para os impasses, pois, nesse caso, a atração pelo passado toma mais tempo e energia do que a atração para o futuro. Para Luckesi (2011), mediante essas reflexões é preciso acrescentar que dizer que a avaliação é diagnóstica constitui um pleonasmo, uma tautologia. Toda avaliação pelo próprio fato de ser avaliação, deve ser diagnóstica. Trata-se de característica constitutiva sua (p.197). A avaliação, por ser diagnóstica, é inclusiva, o que significa dizer que ninguém pode ou deve permanecer sem aprender. Para Luckesi (2011): O ato de avaliar “traz para dentro”. Incluir, então significa convidar o outro para juntos ir em busca de uma solução ou de um resultado que seja satisfatório. Para incluir, em educação, o educador deve ir até onde o educando está em suas dificuldades a fim de, então, caminhar com ele rumo a uma solução possível (LUCKESI, 2011, p. 199). Finalizamos, assim, nossos estudos. Que possamos ser cuidadosos e atentos às necessidades de nossos alunos, e de fato, avaliarmos seus progressos, suas defasagens, avanços e retrocessos sem julgá-los de fora, mas com eles descobrirmos as possibilidades de acertos e encontrarmos a solução. Quanto à avaliação do trabalho docente reitero as palavras de Gatti (2013): Faz-se necessário neste ponto deixar claro que consideramos relevante a avaliação do trabalho docente apenas quando ela é concebida e realizada com propósitos de valorização desse trabalho, de oferecer elementos para o desenvolvimento profissional de professores na direção de um avanço contínuo em suas condições profissionais. Sobretudo, propiciar a construção de novas competências no movimento do complexo contexto da educação escolar, em que aspectos comunitários internos e externos à escola, aspectos das culturas dos estudantes que sucessivamente chegam a ela, se modificam no tempo. Enfatizamos que ela tem de ser do interesse dos próprios professores em busca de uma profissionalidade docente não fossilizada. Constitui-se na perspectiva de oferecer elementos para 64 crescimento pessoal, profissional de uma dada coletividade escolar (GATTI, 2013, p. 158). A avaliação do trabalho dos docentes será profícua quando vista e focalizada pelo ângulo de desenvolvimento pessoal e profissional. 4.4 Síntese da Unidade Chegamos ao fim do nosso estudo e nesta última Unidade pudemos ampliar os nossos conhecimentos sobre a Didática, fazendo uma incursão no Planejamento Escolar. Nesta viagem pudemos nos aproximar do Plano da Escola, do Plano de Ensino, do Plano de Aula. Mais que isso, nos apropriamos de conhecimentos sobre a Metodologia Ativa e Avaliação. Esperamos, assim, ter contribuído para o desenvolvimento pessoal e profissional dos leitores. Figura 4.2: Os Operários – Tarsila do Amaral Fonte: https://movimentorevista.com.br/2016/07/jornadas-de-junho- greves-trabalhadores/ Acesso em: 01 jul. 2018. 65 4.5 Para saber mais Filmes e telenovelas • Pequena Miss Sunshine Título original: Little Miss Sunshine Gênero: Comédia País/Ano: EUA/ 2006 Diretor: Jonathan Dayton e Valerie Faris Duração: 102 min. Disponível em DVD. Livros • O Pequeno Príncipe – Exupéry Título original: Le Petit Prince Gênero: Romance País/Ano: França / 1943 Autor: Antoine De Saint-Exupéry Sites Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos, teses e/ou dissertações nos sites abaixo indicados: • http://www.teses.usp.br 66 Biblioteca digital de teses e dissertações (USP) • http://www.capes.gov.br Banco de teses e dissertações da CAPES 4.6 Atividades Proponho aos professores um exercício de reflexão sobre suas crianças (cada uma em particular), extraído da obra de Jussara Hoffmann, Avaliação: Mito e Desafio: • Localize uma criança do seu grupo; • Reflita sobre ela: sua idade, algumas características individuais, sua família, suas preferências quanto a pessoas ou brincadeiras; • Recorde fatos do seu cotidiano; • De que forma brincou com determinado material? • O que fez ao acordar da sesta? • Pense em alguma reação curiosa dessa criança. • Reflita sobre suas conversas com ela, suas brincadeiras, cuidados necessários. Esse exercício é o ponto de partida para escrever a história das crianças na Educação Infantil. Significa, ao fazê-lo, que o professor estará prestando atenção nelas, individualmente. Esse exercício, por si só, representa uma ação avaliativa. Não tem por base listas de comportamento definidas e não se dirige a elas. (...) O acompanhamento da criança é uma responsabilidade permanente de todos os adultos que convivem com ela. O seu desenvolvimento depende fortemente de um ambiente favorecedor, da disponibilidade dos adultos em conversar, brincar com ela, prestar-lhe, de fato, atenção (HOFFMANN, 2014, p. 133-134). 67 Referências ALMEIDA, M. E. B. Integração de currículo e tecnologias: a emergência de web currículo. Anais do XV Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Belo Horizonte: UFMG, 2010. ANTOLÍ, B. V. A Didática como Espaço e Área do Conhecimento: Fundamentação Teórica e Pesquisa Didática. In: Didática e Interdisciplinaridade. In: Ivani C. A. 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