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■ ■ 11. DURAÇÃO DO TRABALHO As normas sobre duração do trabalho têm por finalidade estabelecer limite temporal ao trabalho executado pelo empregado em favor do empregador, visando à proteção da saúde e da integridade física do trabalhador. A obrigação do empregado de prestar serviços como decorrência do contrato de trabalho não pode ser indefinida no tempo, sob pena de serem causados prejuí zos inegáveis tanto à sua saúde física como à sua saúde mental e, ainda, de ser exposto a um considerável risco à sua integridade física decorrente de acidentes do trabalho. As normas sobre duração do trabalho podem ser divididas em dois grupos: a) normas sobre jornada de trabalho; e b) normas sobre períodos de repouso. 11.1. Jornada de trabalho Jornada de trabalho é o período de um dia no qual o empregado permanece à disposição do empregador, trabalhando ou aguardando ordens (art. 4º, CLT). Assim, desde o momento que o empregado chega à empresa até o momento em que vai embora está à disposição do empregador e, portanto, está cumprindo jornada de trabalho (teoria do tempo à disposição do empregador). Não se consideram como tempo à disposição do empregador os períodos em que o empregado, por escolha própria, buscar proteção pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou más condições climáticas, bem como adentrar ou permanecer ■ ■ a) nas dependências da empresa para exercer atividades particulares como, entre outras: práticas religiosas, descanso, lazer, estudo, alimentação, atividades de relacionamento social, higiene pessoal e troca de roupa ou uniforme, quando não houver obrigatoriedade de realizar a troca na empresa (art. 4º, § 2º, CLT). Não é incluído na duração da jornada de trabalho o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, por não ser tempo à disposição do empregador (art. 58, § 2º, da CLT). 11.1.1. Jornada normal É o lapso de tempo durante o qual o empregado deve prestar serviço ou permanecer à disposição do empregador. A duração da jornada normal é limitada a 8 horas diárias e 44 horas semanais (art. 7º, XIII, CF) – jornada normal máxima. 11.1.2. Jornadas especiais Jornada especial é a fixada por lei, por acordo coletivo de trabalho, por convenção coletiva de trabalho ou por contrato de trabalho, com duração inferior à jornada normal máxima. São exemplos de jornadas especiais: turnos ininterruptos de revezamento – o trabalho em turnos de revezamento é o que é prestado com alternância de horário de trabalho, estabelecida a partir de uma escala de revezamento determinada pelo empregador. A jornada de trabalho neste caso é de 6 b) horas diárias, salvo negociação coletiva (art. 7º, XIV, CF). Observação: O trabalho em turnos fixos (sem alternância do horário de trabalho) não gera direito a esta jornada especial; neste caso, a jornada aplicável é a máxima (8 horas diárias e 44 horas semanais). Súmula 423, TST Estabelecida jornada superior a seis horas e limitada a oito horas por meio de regular negociação coletiva, os empregados submetidos a turnos ininterruptos de revezamento não têm direito ao pagamento da 7ª e 8ª horas como extras. Súmula 360, TST A interrupção do trabalho destinada a repouso e alimentação, dentro de cada turno, ou o intervalo para repouso semanal, não descaracteriza o turno de revezamento com jornada de 6 (seis) horas previsto no art. 7º, XIV, da CF/88. Súmula 675, STF Os intervalos fixados para descanso e alimentação durante a jornada de seis horas não descaracterizam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento para o efeito do art. 7º, XIV, da Constituição. trabalho em regime de tempo parcial – é aquele cuja duração não exceda a (art. 58-A, CLT): ■ trinta horas semanais, sem a possibilidade de horas suplementares semanais; OU ■ vinte e seis horas semanais, com a possibilidade de acréscimo de até seis horas suplementares semanais. Em contrato de trabalho em regime de tempo parcial que estabeleça jornada semanal inferior a vinte e seis horas, as horas suplementares a este quantitativo serão consideradas horas ■ ■ extras, estando também limitadas a seis horas suplementares semanais (art. 58-A, § 4º, CLT). As horas suplementares à duração do trabalho semanal normal: serão pagas com o acréscimo de 50% sobre o salário hora normal (art. 58-A, § 3º, CLT). poderão ser compensadas diretamente até a semana imediatamente posterior à da sua execução. Caso não sejam compensadas, a quitação das mesmas deverá ser feita na folha de pagamento do mês subsequente (art. 58- A, § 5º, CLT). O salário a ser pago aos empregados sob o regime de tempo parcial será proporcional à sua jornada, em relação aos empregados que cumprem, nas mesmas funções, tempo integral (§ 1º). OJ SDI-1 358, TST I – Havendo contratação para cumprimento de jornada reduzida, inferior à previsão constitucional de oito horas diárias ou quarenta e quatro semanais, é lícito o pagamento do piso salarial ou do salário mínimo proporcional ao tempo trabalhado. II – Na Administração Pública direta, autárquica e fundacional não é válida remuneração de empregado público inferior ao salário mínimo, ainda que cumpra jornada de trabalho reduzida. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Para aqueles que já sejam empregados da empresa, o regime de tempo parcial somente pode ser adotado após opção expressamente manifestada pelo empregado perante a empresa, na forma prevista em instrumento decorrente de negociação coletiva (§ 2º, art. 58-A, CLT). As férias anuais dos empregados contratados a tempo parcial têm duração normal de 30 dias corridos, podendo excepcionalmente a duração ser reduzida dependendo do número de faltas injustificadas que o empregado tiver durante o período aquisitivo, nos exatos termos do art. 130 da CLT (art. 58-A, § 7º, CLT). Sobreaviso: Empregado em sobreaviso é aquele que permanece fora de sua jornada de trabalho em local previamente ajustado com o empregador, aguardando eventual convocação para execução de serviços. Tal conceito decorre do art. 244, § 2º, da CLT, que estabelece o regime de sobreaviso para os ferroviários. Admite-se, porém, por analogia, a aplicação desta regra a qualquer tipo de empregado, desde que verificada em concreto a situação que caracteriza o sobreaviso. Súmula 428, TST I – O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados fornecidos pela empresa ao empregado, por si só, não caracteriza o regime de sobreaviso. II – Considera-se em sobreaviso o empregado que, à distância e submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço durante o período de descanso. A remuneração do período de sobreaviso é de 1/3 do salário normal (§ 2º, art. 244, CLT), mas se o empregado for chamado ao serviço, deverá ser remunerado de acordo com a remuneração normal, com a incidência dos adicionais cabíveis (de hora extra e/ou noturno). ■ Cada escala de sobreaviso será, no máximo, de 24 horas. Súmula 229, TST Por aplicação analógica do art. 244, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho, as horas de sobreaviso dos eletricitários serão remuneradas à razão de 1/3 sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial. Prontidão: Considera-se como tempo de prontidão aquele em que o empregado fica nas dependências da empresa, aguardando ordens (§ 3º, art. 244, CLT). Previstas originalmente para os ferroviários, as regras sobre prontidão aplicam-se analogicamente a todos os demais tipos de empregados que tenham tal condição. A remuneração do período de prontidão é de 2/3 do salário-hora normal e a escala de prontidão será de, no máximo, 12 horas (§ 3º, art. 244, CLT). 11.2. Jornada e horário de trabalho Jornada de trabalho é o tempo que o empregado fica à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, em dado período (dia ou semana), como decorrência do contrato de trabalho. Horário de trabalho éa identificação de início e de término do período no qual se desenvolve a jornada de trabalho, considerando-se o intervalo intrajornada para repouso e alimentação. ■ Assim, por exemplo, um determinado empregado tem uma jornada de trabalho de 8 horas diárias e 44 horas semanais, cumprindo-a de 2ª a 6ª feira, das 9 às 18 horas, com uma 1 hora de intervalo para repouso e alimentação, e aos sábados das 9 às 13 horas. 11.3. Controle de horário Os estabelecimentos com mais de 20 empregados são obrigados a efetuar o controle de horário de entrada e saída dos trabalhadores (§ 2º, art. 74, CLT). O controle de horário pode ser feito de forma manual (livro de ponto), mecânica (relógio de ponto) ou, ainda, eletrônica (cartões magnéticos ou biometria), conforme instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho e Previdência, permitida a pré-assinalação do período de repouso. Se o trabalho for executado fora do estabelecimento, o horário dos empregados constará de registro ma nual, mecânico ou eletrônico em seu poder, também sendo permitida a pré- assinalação do período de repouso (§ 3º, art. 74, CLT). É permitida a utilização de registro de ponto por exceção à jornada regular de trabalho, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho (§ 4º, art. 74, CLT). A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho podem dispor sobre modalidade de registro de jornada (art. 611-A, X, CLT). Na hipótese de reclamação trabalhista através da qual o trabalhador alega trabalho em horas extras e pleiteia o respectivo pagamento, a não apresentação injustificada pelo empregador dos registros da jornada de trabalho gera ■ a) b) presunção relativa de veracidade da jornada alegada pelo trabalhador, a qual poderá ser elidida por prova em contrário (Súmula 338, I, TST). Não serão descontadas nem computadas como jornada extraordinária as variações de horário no registro de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dez minutos diários (§ 1º, art. 58, CLT). No entanto, os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova relativo às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir (Súmula 338, III, TST). 11.4. Jornada extraordinária É aquela prestada além da jornada normal de cada empregado, máxima ou especial. A jornada extraordinária deve ser prestada apenas excepcionalmente e sua regularidade depende do cumprimento dos requisitos previstos em lei (art. 59, CLT e art. 7º, XVI, CF): existência de acordo de prorrogação de jornada – deve ser necessariamente escrito e pode ser celebrado individualmente (entre empregado e empregador) ou coletivamente (mediante negociação coletiva de trabalho); cumprimento de no máximo 2 horas extras – nos dias em que houver trabalho em horas extras, este não poderá ultrapassar de 2 horas; c) ■ pagamento das horas extras – as horas extras deverão ser remuneradas com, no mínimo, 50% a mais do que a hora normal (adicional de horas extras). Assim, o valor de cada hora extra corresponde ao valor da hora normal acrescida do adicional. Súmula 376, I, TST I – A limitação legal da jornada suplementar a duas horas diárias não exime o empregador de pagar todas as horas trabalhadas. Súmula 340, TST O empregado, sujeito a controle de horário, remunerado à base de comissões, tem direito ao adicional de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebidas no mês, considerando-se como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas. Com a revogação do art. 384 da CLT pela Lei n. 13.467/2017 (Reforma Trabalhista) não há mais que se falar em concessão obrigatória de descanso de 15 minutos antes da prorrogação do horário normal de trabalho da mulher e do menor de 18 anos. No entanto, para o período anterior à Lei n. 13.467/2017, o STF definiu a Tese de Repercussão Geral 528, estabelecendo que: “O art. 384 da CLT, em relação ao período anterior à edição da Lei n. 13.467/2017, foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, aplicando-se a todas as mulheres trabalhadoras”. 11.4.1. Compensação da jornada de trabalho Ocorre compensação de jornada sempre que o acréscimo de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, desde que não seja ultrapassada a jornada semanal. Havendo compensação não será devido o adicional de horas extras (§ 2º, art. 59, CLT). O § 2º do art. 59 da CLT instituiu o chamado “banco de horas”, prevendo que a compensação de jornada pode ser feita no período máximo de um ano, não podendo neste período ser ultrapassada a soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem ser ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. Período de compensação Forma do acordo de compensação Anual Convenção coletiva (CCT) ou acordo coletivo de trabalho (ACT) – art. 611-A, II, CLT Semestral CCT, ACT ou acordo individual escrito – art. 59, § 5º, CLT Mensal CCT, ACT ou acordo individual, tácito ou escrito – art. 59, § 6º, CLT O não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando estabelecida mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não ultrapassada a duração máxima semanal, sendo devido apenas o adicional. Paga-se apenas o adicional para cada hora, e não o valor da hora normal mais o adicional (art. 59-B, CLT). ■ A prestação de horas extras habituais não descaracteriza o acordo de compensação de jornada e o banco de horas (art. 59-B, parágrafo único, CLT). Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, o empregado fará jus ao pagamento das horas não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão (§ 3º, art. 59, CLT). É facultado às partes, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho de 12 horas seguidas por 36 horas ininterruptas de descanso (jornada 12x36), observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação (art. 59-A, CLT)12. Nesse caso, a remuneração mensal pactuada abrange os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso em feriados e serão compensados os feriados e as prorrogações de trabalho noturno, quando houver (parágrafo único). 11.4.2. Horas extras decorrentes de força maior ou de serviços inadiáveis Considera-se como força maior todo acontecimento inevitável em relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este concorreu, direta ou indiretamente. A imprevidência do empregador exclui a razão de força maior (art. 501, CLT). Serviços inadiáveis são aqueles que devem ser terminados no mesmo dia, sob pena de se causar um prejuí zo manifesto ao empregador (art. 61, CLT). As horas extras decorrentes de força maior ou de serviços inadiáveis podem ser prestadas independentemente da existência de acordo de prorrogação de horas, podendo ser ■ exigidas independentemente de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho (§ 1º, art. 61, CLT). Por força do disposto no art. 7º, XVI, da Constituição Federal, as horas extras prestadas em decorrência de força maior ou de serviços inadiáveis serão remuneradas com adicional de, no mínimo, 50% da hora normal. Nestas hipóteses de força maior ou de serviços inadiáveis não poderá ser ultrapassada duração de 12 horas de trabalho (duração esta que abrange a jornada normal máxima mais as horas extras = 8 + 4). Recuperação de horas: eventualmente em razão de força maior ou de causas acidentais pode ocorrer a paralisação temporária das atividades da empresa. Nestes casos poderá a jornada normal de trabalho ser posteriormente prorrogada pelo número de dias indispensáveis à recuperação do tempo perdido com a interrupção, até o máximo de 45 dias por ano. Esta compensação não poderá exceder de 2 horas pordia e depende de autorização do Ministério do Trabalho (§ 3º, art. 61, CLT). 11.4.3. Integração das horas extras As horas extras habituais devem ser integradas à remuneração do empregado para o fim de cálculo de FGTS, férias, 13º salário, repouso semanal, aviso-prévio e indenização de 40% dos depósitos do FGTS. Súmula 347, TST O cálculo do valor das horas extras habituais, para efeito de reflexos em verbas trabalhistas, observará o número de horas efetivamente prestadas e a ela aplica-se o valor do salário-hora da época do pagamento daquelas verbas. ■ ■ a) Súmula 376, II, TST O valor das horas extras habitualmente prestadas integra o cálculo dos haveres trabalhistas, independentemente da limitação prevista no caput do art. 59 da CLT. 11.4.4. Supressão das horas extras A prestação de serviços em horas extras pode ser suprimida pelo empregador, caso em que o empregado deixará de receber o pagamento pelo trabalho extraordinário. No entanto, na hipótese de supressão total ou parcial, pelo empregador, do serviço suplementar prestado com habitualidade durante pelo menos um ano, o empregado terá direito a uma indenização correspondente ao valor de 1 mês das horas suprimidas, total ou parcialmente, para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de prestação de serviço acima da jornada normal. O cálculo deverá observar a média das horas suplementares nos últimos 12 meses anteriores à mudança, multiplicada pelo valor da hora extra do dia da supressão (Súmula 291, TST). 11.4.5. Empregados excluídos das regras de limitação de jornada Por força do disposto no art. 62 da CLT, não fazem jus à percepção de horas extras: empregado que exerce atividades externas incompatíveis com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser anotada na sua CTPS. Havendo controle de horário de qualquer tipo a exclusão não será b) c) aplicável, tendo o empregado direito às horas extras eventualmente prestadas. os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão, aos quais se equiparam os diretores e chefes de departamento ou filial (cargos de confiança). A exclusão do direito a horas extras neste caso somente ocorrerá quando o salário do cargo de confiança, compreendendo a gratificação de função, se houver, não for inferior ao valor do respectivo salário efetivo acrescido de 40% (parágrafo único, art. 62, CLT). os empregados em regime de teletrabalho que prestam serviço por produção ou tarefa – considera-se teletrabalho ou trabalho remoto a prestação de serviços fora das dependências do empregador, de maneira preponderante ou não, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não configure trabalho externo (art. 75-B, caput, CLT). O comparecimento, ainda que de modo habitual, às dependências do empregador para a realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho ou trabalho remoto (art. 75-B, § 1º, CLT). O empregado submetido ao regime de teletrabalho ou trabalho remoto poderá prestar serviços por jornada ou por produção ou tarefa (art. 75-B, § 2º, CLT). Na hipótese da prestação de serviços em regime de teletrabalho ou trabalho remoto por produção ou tarefa, o empregado não terá direito a hora extra (art. 75-B, § 3º, e art. 62, III, CLT). O tempo de uso de equipamentos tecnológicos e de infraestrutura necessária, bem como de softwares, de ferramentas digitais ou de aplicações de internet utilizados para o teletrabalho, fora da jornada de trabalho normal do empregado, não constitui tempo à disposição ou regime de prontidão ou de sobreaviso, exceto se houver previsão em acordo individual ou em acordo ou convenção coletiva de trabalho (art. 75-B, § 5º, CLT). Acordo individual poderá dispor sobre os horários e os meios de comunicação entre empregado e empregador, desde que assegurados os repousos legais (art. 75-B, § 9º, CLT). Aos empregados em regime de teletrabalho aplicam-se as disposições previstas na legislação local e nas convenções e nos acordos coletivos de trabalho relativas à base territorial do estabelecimento de lotação do empregado (art. 75-B, § 7º, CLT). Ao contrato de trabalho do empregado admitido no Brasil que optar pela realização de teletrabalho fora do território nacional aplica-se a legislação brasileira, excetuadas as disposições constantes da Lei n. 7.064/82, salvo disposição em contrário estipulada entre as partes (art. 75-B, § 8º, CLT). O regime de teletrabalho ou trabalho remoto não se confunde nem se equipara à ocupação de operador de telemarketing ou de teleatendimento (art. 75-B, § 4º, CLT). O regime de teletrabalho ou trabalho remoto pode ser realizado por estagiários e por aprendizes (art. 75-B, § 6º, CLT). Os empregadores deverão dar prioridade aos empregados com deficiência e aos empregados com filhos ou criança sob guarda judicial até 4 anos de idade na alocação em vagas para atividades que possam ser efetuadas por meio do teletrabalho ou trabalho remoto (art. 75-F, CLT). ■ A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho, podendo ser realizada a alteração entre regime presencial e de teletrabalho desde que haja mútuo acordo entre as partes, registrado em aditivo contratual (art. 75-C, caput e § 1º, CLT). Poderá ser realizada a alteração do regime de teletrabalho para o presencial por determinação do empregador, garantido prazo de transição mínimo de 15 dias, com correspondente registro em aditivo contratual (art. 75-C, § 2º, CLT). O empregador não será responsável pelas despesas resultantes do retorno ao trabalho presencial, na hipótese de o empregado optar pela realização do teletrabalho ou trabalho remoto fora da localidade prevista no contrato, salvo disposição em contrário estipulada entre as partes (art. 75-C, § 3º, CLT). As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito, sendo que tais utilidades não integram a remuneração do empregado (art. 75-D, caput e parágrafo único, CLT). Visando a preservação da saúde e da integridade física dos empregados, o empregador deverá instruir os mesmos, de maneira expressa e ostensiva, quanto às precauções a tomar a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho, devendo o empregado assinar termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir as instruções fornecidas pelo empregador (art. 75-E, caput e parágrafo único, CLT). 11.5. Jornada noturna ■ ■ ■ ■ Jornada noturna é aquela prestada em horário noturno. O horário noturno é definido por lei, sendo diferenciado para os empregados urbanos e para os empregados rurais. empregados urbanos e empregados domésticos – considera-se trabalho noturno aquele realizado entre as 22 horas de um dia até as 5 horas do dia seguinte (§ 2º, art. 73, CLT + art. 14, LC n. 150/2015); empregados rurais – o horário noturno para os empregados que trabalham na agricultura é definido entre as 21 horas de um dia até as 5 horas do dia seguinte. O trabalho noturno dos empregados que trabalham na pecuária é aquele realizado entre as 20 horas de um dia até as 4 horas do dia seguinte (art. 7º, Lei n. 5.889/73). Nos termos do art. 7º, IX, da Constituição Federal, a remuneração do trabalho noturno será superior à do diurno. Assim, o trabalho noturno é remunerado com o adicional noturno (hora diurna + adicional noturno). O valor do adicional noturno é: para os empregados urbanos e empregados domésticos – pelo menos 20% sobre a hora diurna (art. 73, CLT + art. 14, LC 150/2015); para os empregados rurais (tanto da agricultura como da pecuária) – 25% sobre a remuneração normal (parágrafo único, art. 7º, Lei n. 5.889/73). O empregado que deixa de trabalhar no horário noturno, sendo transferido para o horário diurno, perde o direito ao adicional.Não há que se falar em direito ■ adquirido (Súmula 265, TST). O adicional noturno pago com habitualidade integra a remuneração do empregado para todos os efeitos: férias, 13º salário, aviso-prévio, FGTS, descanso semanal remunerado (Súmula 60, I, TST). Hora noturna reduzida – para os empregados urbanos e para os empregados domésticos a lei instituiu uma ficção jurídica no sentido de que a hora noturna é considerada reduzida, ou seja, a hora noturna equivale a 52 minutos e 30 segundos (§ 1º, art. 73, CLT). Assim, cada hora noturna trabalhada corresponde a 52 min e 30 s e não como uma hora de 60 min, constituindo uma vantagem ao empregado. Aos empregados rurais não se aplica a redução da hora noturna. O trabalho em horas extras noturnas gera direito ao empregado de recebimento dos dois adicionais, considerando-se, ainda, para o trabalhador urbano e para o doméstico, a hora extra reduzida. O adicional noturno integra a base de cálculo das horas extras prestadas no período noturno (OJ SDI-1 n. 97, TST). As horas extras prestadas após o integral cumprimento da jornada normal no período noturno serão remuneradas como horas extras noturnas (Súmula 60, II, TST). 11.6. Períodos de repouso A concessão pelo empregador de períodos de repouso tem por objetivo a preservação da saúde e da integridade física do trabalhador. Os períodos de repouso, também chamados de ■ ■ intervalos, são previstos por normas de ordem pública e devem obrigatoriamente ser concedidos pelo empregador ao empregado. 11.6.1. Intervalos intrajornada Períodos de descanso que ocorrem durante a jornada de trabalho. Podem ser não remunerados ou remunerados, conforme não sejam ou sejam computados na jornada de trabalho. Intervalo intrajornada não remunerado – previsto no art. 71 da CLT, é o intervalo para repouso e alimentação. O cumprimento pelo empregado de jornada de trabalho de duração de 4 a 6 horas de trabalho dá direito a um intervalo obrigatório de 15 minutos (§ 1º, art. 71, CLT). Jornada superior a 6 horas, até o limite de 8 horas, dá direito a um intervalo de, no mínimo, 1 hora e, no máximo, 2 horas (art. 71, caput, CLT). Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT (Súmula 437, IV, TST). Referidos intervalos não são computados na duração da jornada de trabalho, ou seja, são deduzidos da jornada normal de trabalho, não sendo considerados como tempo à disposição do empregador (§ 2º, art. 71, CLT). ■ a) O intervalo mínimo de 1 hora para quem trabalha mais de 6 horas pode ser reduzido por ato do Ministério do Trabalho, ouvida Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, desde que a empresa possua refeitório próprio de acordo com os padrões exigidos e que os empregados não estejam sob regime de horas extras (§ 3º, art. 71, CLT). Convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho podem dispor sobre intervalo intrajornada, reduzindo-o, desde que respeitado o limite mínimo de 30 minutos para jornadas superiores a 6 horas (art. 611-A, III, CLT). Duração do intervalo superior ao máximo de 2 horas somente poderá ocorrer em decorrência de previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho (art. 71, caput, CLT). A não concessão ou a concessão parcial de referidos períodos de descanso a empregados urbanos e rurais sujeita o empregador a pagamento de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de no mínimo 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (§ 4º, art. 71, CLT). Intervalos intrajornada remunerados – a lei trabalhista estabelece algumas hipóteses nas quais o intervalo concedido durante a jornada de trabalho é computado na duração da jornada de trabalho, contando como tempo à disposição do empregador, sendo, portanto, remunerados. São exemplos de tais intervalos: serviços de mecanografia (art. 72, CLT): nos serviços permanentes de mecanografia (datilografia, digitação) – a cada 90 minutos de trabalho consecutivo haverá um intervalo de 10 minutos, que não será deduzido da duração normal de trabalho. b) c) ■ Súmula 346, TST Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da CLT, equiparam-se aos trabalhadores nos serviços de mecanografia, razão pela qual têm direito a intervalos de descanso de 10 minutos a cada 90 minutos de trabalho consecutivo. serviços frigoríficos (art. 253, TST): nos serviços no interior de câmaras frias, ou com movimentação de mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, após 1 hora e 40 minutos de trabalho consecutivos, haverá um intervalo de 20 minutos, que não será deduzido da duração normal de trabalho. trabalho em minas de subsolo (art. 298 CLT): nos serviços no interior de minas, após 3 horas de trabalho consecutivo, haverá um intervalo de 15 minutos, que não será deduzido da duração normal de trabalho. Súmula 118, TST Os intervalos concedidos pelo empregador, na jornada de trabalho, não previstos em lei, representam tempo à disposição da empresa, remunerados como serviço extraordinário, se acrescido ao final da jornada. 11.6.2. Intervalos interjornadas Períodos de descanso que ocorrem entre o término de uma jornada de trabalho e o início de outra. Podem ser não remunerados ou remunerados, conforme não sejam ou sejam computados na jornada de trabalho. ■ ■ Intervalo interjornadas não remunerado – o art. 66 da CLT estabelece que entre duas jornadas de trabalho deve haver um intervalo mínimo de 11 horas consecutivas, que não podem ser interrompidas. Súmula 110, TST No regime de revezamento, as horas trabalhadas em seguida ao repouso semanal de 24 horas, com prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas para descanso entre jornadas, devem ser remuneradas como extraordinárias, inclusive com o respectivo adicional. OJ SDI-1 355, TST O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT e na Súmula n. 110 do TST, devendo-se pagar a integralidade das horas que foram subtraídas do intervalo, acrescidas do respectivo adicional. Intervalo interjornadas remunerado – trata-se do descanso semanal remunerado (DSR), que vem a ser o período de 24 horas consecutivas em que o empregado deixa de prestar serviços ao empregador, uma vez por semana, preferencialmente aos domingos, mas continua recebendo a remuneração. O direito ao repouso semanal remunerado é garantido pelo art. 7º, XV, da Constituição Federal e regulamentado pelo art. 67 da CLT e pela Lei n. 605/49, regulamentada pelo Decreto n. 10.854/2021, e é assegurado aos empregados urbanos, rurais e domésticos. Algumas empresas, em razão do interesse público (transporte, saúde, energia elétrica etc.) ou de atividades peculiares (hotel, hospital, comunicação, fundição, usinas etc.) funcionam ininterruptamente, ou seja, suas atividades não são paralisadas aos domingos, razão pela qual o descanso semanal deve ser concedido aos empregados em outros dias da semana, através de escala de folgas. No entanto, o trabalho aos domingos, seja total ou parcial, depende de prévia autorização do Ministério do Trabalho, que poderá ser concedida em caráter temporário ou permanente (art. 68, CLT). O direito ao descanso semanal remunerado depende do cumprimento integral da jornada de trabalho durante a semana, ou seja, as faltas injustificadas do empregado ao serviço durante a semana implicam a perda da remuneração do descanso semanal, além do desconto da remuneração do dia da falta (art. 6º, Lei n. 605/49). São consideradas faltas justificadas ao serviço, e que, portanto, não implicam a perda da remuneração do descanso semanal, aquelas previstas no art. 473 da CLT13 e no § 1º do art. 6º da Lei n. 605/49.14 No caso de doença do empregado, a justificativa da falta depende de apresentação de atestado médico, na ordemprevista no § 2º do art. 6º da Lei n. 605/49. Durante o período de emergência em saúde pública decorrente da Covid-19, a imposição de isolamento dispensará o empregado da comprovação de doença por sete dias (§ 4º, art. 6º, Lei n. 605/49). No caso de imposição de isolamento em razão da Covid- 19, o trabalhador poderá apresentar como justificativa válida, no oitavo dia de afastamento, além do disposto neste artigo, documento de unidade de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) ou documento eletrônico regulamentado pelo Ministério da Saúde (§ 5º, art. 6º, Lei n. 605/49). Súmula 15, TST A justificação da ausência do empregado motivada por doença, para a percepção do salário-enfermidade e da remuneração do repouso semanal, deve observar a ordem preferencial dos atestados médicos estabelecida em ■ ■ ■ lei. Súmula 155, TST As horas em que o empregado falta ao serviço para comparecimento necessário, como parte, à Justiça do Trabalho, não serão descontadas de seus salários. A remuneração do DSR é, para quem trabalha: por dia, semana, quinzena ou mês: igual a um dia de trabalho, computadas as horas extraordinariamente prestadas (art. 7º, a, da Lei n. 605/49); por hora: equivale à sua jornada normal de trabalho, computadas as horas extras habitualmente prestadas (art. 7º, b); por tarefa ou peça: equivale ao salário correspondente às tarefas ou peças feitas durante a semana, no horário normal de trabalho, dividido pelos dias de serviço efetivamente prestados (art. 7º, c). Súmula 27, TST É devida a remuneração do repouso semanal e dos dias feriados ao empregado comissionista, ainda que pracista. Os feriados não se confundem com o descanso semanal. São dias sem trabalho em razão de comemorações cívicas ou religiosas previstas em lei. Os feriados são remunerados da mesma forma que se remunera o descanso semanal. Nos termos da Lei n. 9093/95, são feriados civis os declarados em lei federal e a data magna do Estado fixada em lei estadual. São feriados religiosos os dias de guarda, declarados em lei municipal, de acordo com a tradição local e em número não superior a quatro, neste incluída a Sexta-Feira da Paixão. O trabalho realizado no repouso semanal ou em dia feriado civil ou religioso, desde que não compensado em outro dia, mediante a concessão de descanso, deverá ser remunerado em dobro (art. 9º, Lei n. 605/49). Súmula 146, TST O trabalho prestado em domingos e feriados, não compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuízo da remuneração relativa ao repouso semanal.