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Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Unidade 1
Filoso�a e Educação
Aula 1
Conhecimento e Educação
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Olá, estudante!
Nesta aula você irá re�etir a respeito da origem do conhecimento e como os �lósofos, desde a
Antiguidade, pensaram a construção do conhecimento humano. Esse conteúdo é importante
para a sua formação pro�ssional, pois o levará ao entendimento da relação existente entre
ciência, conhecimento e educação. Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Partida
A Filoso�a é um conhecimento que marca, signi�cativamente, a história ocidental. Tendo sua
origem por volta do século VII a.C., ao longo dos séculos ela deu luz a um conhecimento singular
da realidade. A Filoso�a mostra sua importância ao problematizar o homem e a produção de
conhecimento. A teoria do conhecimento é uma disciplina �losó�ca que busca compreender
como acontece a complexa relação entre o sujeito que aprende e o objeto que ele busca
aprender, além de esclarecer quais são os múltiplos fatores que estão envolvidos nesse
processo.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Sendo um dos pilares mais fundamentais da prática pedagógica, entre os seus temas de estudo
estão os relacionados à origem dos saberes, isto é, à forma como o ser humano se apropria do
conhecimento sobre o mundo físico e social. Por ser uma teoria que trata de elementos mais
subjetivos do que objetivos, não é possível encontrarmos uma única abordagem nesse campo de
estudo, pois nesse território convivem múltiplas e antagônicas concepções.
Para compreendermos melhor tais questões e conseguirmos olhar mais especi�camente para
essas questões, vamos pensar na seguinte situação: você está no momento de cursar os
estágios obrigatórios do seu curso de graduação. Você inicia suas horas de estágio
acompanhando o professor Carlos, responsável pela disciplina de Ciências em turmas do Ensino
Fundamental em uma escola da rede pública de ensino.
As aulas são expositivas quase em sua totalidade, com questionários e atividades que devem ser
realizados no caderno ou livro, individualmente ou em grupo. Motivado pelo que tem estudado
nas disciplinas da faculdade, você começa a perceber que a prática da sala de aula, observada
no cumprimento do estágio, está bem distante daquilo que se pensa como boa prática pelos
teóricos. Re�ita o seguinte: qual a utilidade da teoria, já que ela parece não ser aplicável?
Vamos Começar!
A origem do conhecimento
Como sabemos o que sabemos, ou conhecemos aquilo que julgamos conhecer? Essa é uma
questão que ocupa a mente dos �lósofos desde a Antiguidade, e desde então eles vêm tentando
desvendar os aspectos que envolvem a interação do ser humano com o ambiente social, físico e
cultural. A origem do conhecimento sempre foi um enigma para o ser humano. A �loso�a
centrada no ser humano, que teve seu início praticamente com Sócrates na Grécia Antiga, já
apresentava, desde o princípio, a clássica formulação epistemológica "sujeito-objeto". Isso
signi�ca que, desde o momento em que adquiriu consciência de sua existência como uma
entidade autônoma em relação aos elementos da natureza, o ser humano passou a dedicar-se à
busca da verdade (conhecimento).
Se falamos em ensinar, temos, em contrapartida, a ideia de que há quem deve aprender. Também
de modo primário, entenderemos que no processo educativo deve haver quem provoca (ensina) e
aquele que é provocado (aprende). “Aprender” signi�ca, aqui, “apreender um objeto”. Desse modo,
ao tratar da educação, necessariamente, temos de tratar da relação que ocorre entre aquele que
aprende (chamemos de “sujeito”) e aquilo que é apreendido (chamemos de “objeto”). A essa
relação entre um sujeito que apreende um objeto, damos o nome de conhecimento. Dito isso,
podemos concluir não ser possível falar de educação sem falar do conhecimento.
Por diferentes motivos, os seres humanos têm o desejo de explorar e compreender o mundo em
todos os seus aspectos, pois o conhecimento proporciona uma sensação de segurança à sua
existência. Essa busca pela segurança pode ser facilmente compreendida ao considerar o
seguinte argumento: se nada é conhecido, não há expectativas e a falta de previsão prevalece; se
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
tudo permanece imprevisto e inesperado, os perigos se tornam inevitáveis. Assim, a ausência de
conhecimento resulta em falta de segurança, transformando a própria vida em uma situação
perigosa. Portanto, o ato de conhecer coloca o ser humano em uma posição diferente na
existência, distanciando-o das surpresas que afetam outros animais.
Aristóteles (384-322 a.C.) foi um dos grandes pensadores do auge da Filoso�a Grega. Uma de
suas monumentais obras, que recebeu o título de Metafísica, é iniciada com a seguinte ideia:
Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos proporcionam
os nossos sentidos, pois, ainda que não levemos em conta a sua utilidade, são estimados por si
mesmos; e, acima de todos os outros, o sentido da visão. Com efeito, não só com o intento de
agir, mas até quando não nos propomos a fazer nada, pode-se dizer que preferimos ver a tudo
mais. O motivo disto é que, entre todos os sentidos, é a visão que põe em evidência e nos leva a
conhecer o maior número de diferenças entre as coisas (Aristóteles, 1969, p. 36)
Não entraremos na discussão da escolha do pensador pelo sentido da visão, embora possamos
perceber claramente a supremacia desse sentido ao trazer o mundo até nós: ao abrir os olhos,
não demandamos energia, pois o mundo se revela a nós por meio deles. A ideia principal reside
no desejo inato do ser humano de conhecer. Independentemente do local ou do tempo, esse
desejo emerge como uma característica natural do homem, que, enquanto animal dotado de
racionalidade, anseia por conhecer.
O ato de conhecer proporciona satisfação, semelhante a outros desejos e necessidades, como
comer, ser reconhecido, ser amado, entre outros. A Filoso�a se desdobra em várias disciplinas, e
uma delas se dedica à re�exão sobre o problema do conhecimento, conhecida como Teoria do
Conhecimento. No entanto, surge a pergunta: por que o conhecimento se torna um problema
�losó�co?
Siga em Frente...
Teoria do Conhecimento
É importante ter em mente que tudo pode se tornar “problema �losó�co”. Essa classi�cação é
atribuída a algo que passa a ser de maior preocupação para os �lósofos. Eles se preocupam com
aquilo que não é totalmente claro, deixando dúvidas sobre seu ser ou funcionamento de algo.
Nesse caso, o conhecimento se torna problema, pois não se sabe de modo exato como ele
funciona. Por exemplo, podemos observar o impasse que existe entre duas concepções da
Teoria do Conhecimento: o racionalismo e o empirismo.
A Idade Moderna é o marco histórico que de�ne o início da teoria do conhecimento como
disciplina autônoma, pois, na Antiguidade e na Idade Média, esse tipo de estudo estava vinculado
à metafísica (área da Filoso�a que se ocupa de questões como a existência do ser, a causa e o
sentido da realidade e a natureza).
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Na Idade Moderna, portanto, Descartes, Locke, Hume e Kant procuraram sistematizar questões
sobre a gênese, a essência e a verdade sobre o conhecimento, apontando algumas questões,
como:
Qual o critério fundamental para se chegar ao conhecimento?
O sujeito pode apreender o objeto?
O conhecimento investigado é fechado deixando brecha para a descrença?
A fonte (origem) do conhecimento seria a experiência ou a razão?
Como consequência dessas indagações, durante a Idade Contemporânea, surgem outras teorias,
de natureza menos cientí�ca e de caráter mais próximo do existencialismo, pois percebemos que
responder a todapois nós estamos inseridos em um contexto especí�co,
somos in�uenciados por ele e o in�uenciamos de volta.
Para fornecer um respaldo teórico fundamental para uma prática docente re�exiva, a história
surge nesse contexto como um campo do conhecimento cientí�co sólido que nos permite
estudar o desenvolvimento do homem ao longo do tempo e analisar processos históricos,
personagens e fatos. Assim, é possível proporcionar aos educadores um corpo substancial de
saberes, que consegue promover uma melhor compreensão dos períodos históricos, das
diferentes culturas e civilizações e, como consequência, tornar a prática pedagógica mais crítica
e re�exiva.
Portanto, por ser a educação uma prática mediadora das práticas históricas sob as quais o ser
humano constrói sua existência subjetiva e social, é fundamental que haja uma re�exão mais
elaborada sobre os pressupostos �losó�cos da formação e da atuação didática dos professores.
A qualidade da prática pedagógica só é garantida se, ao longo de sua formação, o educador tiver
acesso a um conjunto articulado de elementos formativos que lhe tragam no futuro uma
competência técnica e cientí�ca, a ser desenvolvida com criatividade, sensibilidade ética e
criticidade política.
Dessa forma, a teoria sempre deve estar presente como subsídio na prática do professor. No
entanto, ela não deve ser vista como ponto único do processo de ensino-aprendizagem. O ser
humano, a partir do que apresentamos, deve ser entendido sempre tomando-se a situação na
qual ele está inserido, não podendo ser compreendido a partir dos parâmetros de outra época. O
professor é entendido como “ensinante”, mas isso não signi�ca que ele deva ser reconhecido
como o único detentor do conhecimento. Ele sabe determinado conteúdo e tem uma vivência de
ensino a partir dele. O aluno, como “aprendente” traz a capacidade de aprender, mas não uma
mente vazia, pois ele já tem uma vivência e um conteúdo que adquiriu ao longo do tempo.
É Hora de Praticar!
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Precisamos pensar no potencial transformador da educação e na forma como ela é ofertada
para compreender a estrutura e organização da nossa sociedade. A sociedade nunca é um grupo
homogêneo e toda tentativa de fazer com que ela fosse assim, ao longo da história, terminou em
“catástrofes sociais” – é só pensarmos em um simples exemplo, que foi o nazismo. No entanto,
não podemos entender a realidade social como condenada a uma divisão impossível de ser
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
superada. Vamos re�etir sobre a educação no período da Segunda Guerra Mundial a partir da
Teoria Crítica. A vivência social, marcada pela guerra, tornou-se objeto de profunda re�exão, por
conta da recon�guração de valores que se impunha à sociedade. Viver em guerra é viver tendo o
outro como inimigo real, mesmo que ele nada faça.
Uma das ocorrências históricas mais brutais contra a humanidade foi gerenciada pelo nazismo.
A construção de campos de concentração para a segregação – e posterior extermínio –
daqueles que não participavam ou não concordavam com as ideias e os ideais difundidos por tal
ideologia. Tomando-se um desses campos (Auschwitz) por objeto, responda aos seguintes
questionamentos: como foi possível Auschwitz? O que fazer para evitar que Auschwitz se repita?
Como subsídio para elaborar a sua resposta, faça a leitura dos seguintes textos:
Educação após Auschwitz - Theodor Adorno.
Por uma ruptura do processo cíclico da história: uma leitura de "educação após Auschwitz
– LIMA, J. C. de.; SOBREIRA JUNIOR, V. J.; SOUZA, A. I. L. de.
Pense sobre a realidade na qual você vive. A educação sozinha teria a capacidade de transformá-
la?
Quais con�itos sociais expressam a defesa, pela força, de interesses que não são coletivos?
O processo educativo obedece, simplesmente, às políticas vigentes, sendo, muitas vezes, força
de barbarização?
A educação é fundamental nesse contexto em que a barbárie domina os indivíduos, em que a
agressividade é tamanha e o ódio chega a ter um viés primitivo, nos remetendo a um contexto
pré-civilizatório. Aqui, não tomamos a ideia de “civilização” como um modelo determinado de
sociedade, mas um tipo de pensamento sobre a vivência coletiva. Nesse sentido, o civilizado não
é aquele que propaga determinados valores, de determinada sociedade, mas aquele que
compreende a vivência comum como parte de si e que, assim, deve ser preservada na defesa de
valores individuais. Nesse sentido podemos entender como Auschwitz foi possível.
A educação deve criar novas possibilidades ao homem, para que ele tenha condições de lidar
com a própria liberdade, que abrisse espaço para uma liberdade comum e que contivesse o
espírito autoritário (que pode ser visto em determinados indivíduos do grupo social). Assim, a
educação deve ser processo de inclusão aberta do indivíduo no grupo, a partir de interesses que
sejam coletivos e que levem à humanização, ao contrário da barbárie.
O aprendizado (educação) deve ser pensado para que o indivíduo seja preparado para sua
realização na vida coletiva – uma vivência que, ao invés da preservação da própria vida,
objetivasse a conservação da vida comum. A educação deve ser liberta do caráter manipulador
das forças políticas para que possamos evitar que Auschwitz ocorra novamente.
Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:
https://campuscastanhal.ufpa.br/wp-content/uploads/2018/arquivospdf/02.fevereiro/texto-1.pdf
http://congressos.ifal.edu.br/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/193/172
http://congressos.ifal.edu.br/index.php/connepi/CONNEPI2010/paper/viewFile/193/172
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Figura 1 | Filoso�a e educação
ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
,
Unidade 2
Sociologia e Educação
Aula 1
Sociedade e Educação
Sociedade e Educação
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Nesta aula você re�etirá sobre as diferentes classes sociais sob a perspectiva do marxismo e
sobre a fabricação de produtos culturais, à semelhança do processo industrial. Essas re�exões
são cruciais para a compreensão da divisão da sociedade em diferentes classes sociais e para
entender como o capitalismo “invade” até o meio artístico, promovendo uma massi�cação das
obras de arte, distorcendo a realidade. Vamos lá?!
Ponto de Partida
A educação é um processo intrinsecamente ligado à nossa integração na sociedade, sendo
moldada por regras, normas morais, éticas, costumes e línguas compartilhadas pelos nossos
antepassados. Os valores legados pelas gerações anteriores funcionam como um guia
especí�co para a vida coletiva, sendo transmitidos ao longo da história das diversas sociedades.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Cada sociedade, com suas identidades sociais distintas, contribui para uma essência única,
enriquecendo a tradição e a herança cultural que são passadas de geração em geração. O ato
educacional é uma forma essencial para que esses valores sejam transferidos de uma geração
para a próxima, desempenhando um papel crucial na manutenção da estrutura e dos
fundamentos de uma sociedade, proporcionando segurança aos indivíduos.
Para nos aprofundarmos no assunto, vamos re�etir sobre a seguinte situação: na aula de
Sociologia, a professora apresenta aos alunos reportagens que tratam domesmo assunto
(político), no entanto, publicadas por diferentes veículos de comunicação de massa: jornais,
revistas, blogs e sites jornalísticos. Considerando-se que 1) os materiais apresentados trazem
visões diferentes sobre o mesmo fato (às vezes, contraditórias) e 2) os estudantes apresentam
uma concepção de mundo aprendida na vivência cotidiana (principalmente, familiar), a atividade
dá origem a um acirrado debate. Os educandos passam a identi�car algumas fontes e notícias
como “verdadeiras”, dividindo-se em, praticamente, dois grupos de posicionamento.
A professora elenca com o corpo discente alguns pontos que deveriam ser pesquisados, para
tirar a dúvida que repousava sobre ele e todos vão para o laboratório de informática para realizar
a pesquisa. De volta à sala de aula, a educadora retoma o debate a partir dos resultados das
pesquisas realizadas. Alguns alunos começam a perceber que o posicionamento que adotam
diante de alguns fatos não tem fundamento plausível – alguns preferem se calar, e outros,
mesmo assim, querem fazer valer sua opinião, dizendo que as fontes são manipuladas para que
se pensasse o contrário do que eles entendem.
O que esta atividade mostra para a professora? E para os próprios estudantes? Qual é o sentido
de uma atividade como esta?
Vamos Começar!
As interações entre sociedade e educação são complexas e variadas, uma vez que a escola
busca constantemente na sociedade os temas e as tendências contemporâneas para
desenvolver e estruturar sua proposta curricular. Ao mesmo tempo, a sociedade, com
expectativas semelhantes, busca na escola os elementos necessários para se atualizar e
preparar seus membros para as demandas do mundo do trabalho e da cidadania
contemporânea.
Nesse contexto, podemos a�rmar que os eventos históricos e sociais exercem uma in�uência
mútua entre a educação e a sociedade. Os acontecimentos históricos, como eventos sociais
signi�cativos, têm o poder de moldar e direcionar as práticas educacionais. Dessa forma, a
educação, por sua vez, desempenha um papel fundamental na resposta e adaptação da
sociedade a esses acontecimentos, contribuindo para a formação de indivíduos capazes de
enfrentar os desa�os do seu tempo.
A sociedade capitalista
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
A transição da Idade Média para a Idade Moderna marcou também a queda do sistema Feudal e
a ascensão do sistema Capitalista. É importante compreender que as Revoluções Burguesas
(Revolução Industrial e Revolução Francesa) foram in�uenciadas pelos ideais iluministas. Esses
ideais trouxeram uma nova maneira de interpretar o mundo, proporcionando uma racionalização
dos conhecimentos, deixando de lado explicações atreladas a questões supersticiosas e
fantasiosas. As mudanças foram profundas em todos os setores da sociedade, desde a maneira
como o trabalho passou a ser organizado, nas relações entre patrões empregados, nas relações
políticas, culturais, etc.
Karl Marx (1818-1883) é um dos autores que nos oferece uma profunda re�exão sobre o sistema
capitalista e seus desdobramentos. A lógica capitalista, fundamentada na propriedade privada,
estabelece a necessidade de obtenção de lucro nas atividades empreendidas, uma vez que é por
meio desse lucro que há a possibilidade de que os indivíduos tenham acesso às benesses
produzidas e ofertadas pelo sistema. Entretanto, nem todos os indivíduos possuem propriedades
ou capital, resultando em disparidades no acesso aos bens.
Essa dinâmica econômica, baseada na busca pelo lucro, cria uma divisão entre aqueles que têm
propriedades e capital (burguesia) e aqueles que não possuem esses recursos (proletariado).
Essa disparidade de acesso aos benefícios econômicos e sociais é uma característica intrínseca
ao sistema capitalista, gerando desigualdades signi�cativas na distribuição de recursos e
oportunidades.
Os bens são econômicos, �nanceiros, culturais, etc., a falta de um acarreta a falta do outro –
embora essa relação não seja plenamente necessária. A sociedade é desigual e, para que o
capitalismo funcione, deve continuar desigual. É a propriedade privada que dá origem à situação
na qual as classes se opõem e vivem em luta constante. Eis a luta de classes, um dos conceitos
mais importantes do pensamento de Marx.
O autor observa que, ao analisarmos a história da humanidade, estruturada em sociedades,
identi�camos um tema constante em todas as épocas: a persistente existência de classes
sociais especí�cas que competem pelo controle, ou, no mínimo, procuramos impedir que outras
classes alcancem tal controle. Segundo Marx (1996, p. 66), “homem livre e escravo, patrício e
plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e
oprimidos, em constante oposição”. Essa oposição sempre tem como base a propriedade
privada, que é vista como o elemento crucial para garantir a sustentação da vida material. A
classe mais privilegiada, em qualquer sociedade, será aquela que detém o controle sobre os
meios de produção.
Educação e classes sociais
Ao longo da história, as sociedades se desenvolveram divididas em classes ou castas. Em
alguns momentos, essas divisões foram determinadas por questões religiosas, enquanto em
outras foram in�uenciadas por fatores econômicos. Por serem fatores distintos que
determinaram e determinam essa divisão, a sociedade nunca se caracterizou como um grupo
homogêneo (Marx, 1996). Se uma sociedade exibisse uma característica de homogeneidade,
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seria viável um único projeto educativo abrangendo toda a sociedade. No entanto, o que é
possível observar é uma homogeneidade dentro de cada grupo (classe) que compõe uma
sociedade. Na realidade, cada grupo é geralmente de�nido por elementos comuns que são
especí�cos, sendo um conjunto de pessoas que se identi�cam entre si.
A questão a ser re�etida é: como a divisão da sociedade em grupos leva à realização da
educação de maneiras diferentes? Pensar a educação como um processo único que se realiza de
forma objetiva em qualquer realidade é um discurso ideológico. Essa realidade persiste porque
parte do pressuposto de que todos os indivíduos em uma sociedade recebem um nível de
instrução uniforme e enfrentam oportunidades sociais equivalentes, sendo as diferenças entre as
pessoas atribuídas apenas ao mérito individual. No entanto, na prática, as políticas educacionais
frequentemente implementam processos que estabelecem modelos diversos de educação, o que
acaba por contribuir para disparidades nas oportunidades e nos resultados educacionais.
É preciso reconhecer que a in�uência dos contextos é tão signi�cativa que é difícil resistir às
tendências predominantes. Uma sociedade dividida em classes é estruturada de maneira que a
educação acaba reforçando essa divisão. A presença de diferentes modelos de escola re�ete e
reproduz os diversos interesses das classes sociais distintas. Essa dinâmica é tão arraigada que
passa a ser percebida quase como algo inerente ou natural. Sob tal perspectiva, Durkheim (2007,
p. 47) entende que
cada sociedade, considerada num momento determinado do seu desenvolvimento, tem um
sistema de educação que se impõe aos indivíduos com uma força geralmente irresistível. É inútil
pensarmos que podemos criar nossos �lhos como queremos. Há costumes com os quais temos
de nos conformar; se os infringimos, eles vingam-se nos nossos �lhos. Estes, uma vez adultos,
não estarão em condições de viver no meio dos seus contemporâneos, com os quais não se
encontram em harmonia.
É importante ressaltar que Durkheim ao longo de sua obra não se preocupou em re�etir sobre as
diferentes classes sociais, essa não foi uma questão para o autor assim como foi para Marx. No
entanto, Durkheim analisou profundamente o funcionamento da sociedade e das diferentes
estruturas que a compõe e in�uenciam. Dito isso, é possível a compreensão de que a escola é o
lugar em que a sociedade se mostra por meio de valores que guiam a prática e que são
transmitidos diretamente aos alunos. As classes sociais, por sua vez, utilizam-sedos meios que
dispõe para manter ou tentar transformar a situação vigente.
Podemos interpretar que, por um lado, há uma instituição que visa formar estudantes com
autonomia e liberdade para escolher seus caminhos de realização. Trata-se de uma escola
privada, que oferece um conteúdo mais abrangente ao considerar a formação humana. Para essa
instituição, o sistema é e�caz e deve ser mantido, pois traz constantes benefícios. Por outro lado,
temos uma escola pública que, devido a vários fatores, em sua maioria in�uenciados por
questões econômicas, oferece uma instrução básica que, de certa forma, predetermina os
futuros caminhos possíveis dos estudantes, restringindo as suas opções. Para essa instituição, a
situação necessita de alterações (Marx, 1978).
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De certa maneira, entende-se que existe uma correlação entre tipos de escola e classes sociais.
Inicialmente, devemos considerar os projetos políticos que delineiam as direções possíveis para
a educação. Em segundo lugar, mesmo em uma escola pública, que teoricamente possui um
único projeto educacional, o meio social em que está inserida exerce uma grande in�uência em
suas práticas, relacionando-se à perspectiva de vida dos estudantes, às características
socioculturais da comunidade, entre outros aspectos (Marx, 1978).
Dessa forma, é de suma importância compreender que a escola não é um ambiente neutro,
exigindo uma análise profunda para re�etir sobre sua função na sociedade. A educação possui
uma in�uência tão signi�cativa que pode ser um elemento de superação das desigualdades
sociais, mas também pode simplesmente reproduzi-las.
Siga em Frente...
Indústria cultural
Outro ponto que merece nossa re�exão é a maneira pela qual a sociedade transmite ao indivíduo
uma determinada visão da realidade. Mesmo que ele não perceba, acaba internalizando
diferentes abordagens para interagir com o mundo ao seu redor, in�uenciado pelo conteúdo que
recebe, seja de maneira formal (através da disseminação de informações "o�ciais" pelos meios
de comunicação e outros instrumentos) ou informal (no cotidiano, no âmbito do senso comum,
por meio de opiniões que parecem ser pessoais). Para nos aprofundarmos nessa re�exão,
tomemos como base os pensadores da Escola de Frankfurt.
A Escola de Frankfurt foi, originalmente, uma instituição �losó�ca que se originou com
pensadores marxistas, mas não no sentido de simples prolongamento e reprodução. A Escola
deu origem à chamada Teoria Crítica da Sociedade, como proposta de uma nova re�exão sobre a
sociedade, a partir dos âmbitos econômicos, históricos, psicológicos e sociais. Foi no bojo da
Escola de Frankfurt que surgiu o conceito de Indústria Cultural, pois uma das maneiras de
dominação capitalista se daria pela cultura.
De acordo com Theodor Adorno e Max Horkheimer (1985), desde o início do século XX, temos
testemunhado um fenômeno cultural mundial marcante, o capitalismo industrial, que teve origem
no contexto da Revolução Industrial. Para ser assimilado pelas pessoas, esse sistema
econômico necessitou de uma vigorosa força de propaganda ideológica. Esse fenômeno não
apenas transformou as estruturas econômicas, mas também in�uenciou profundamente as
perspectivas culturais, sociais e ideológicas em todo o mundo. A disseminação de ideias e
valores associados ao capitalismo industrial desempenhou um papel crucial na aceitação e
adoção desse modelo econômico em diversas sociedades ao redor do globo.
Assim, podemos entender o conceito de Indústria Cultural como se ela fosse um vasto aparato a
serviço da sociedade contemporânea, essencialmente tecnológica. Ela se vale dos meios de
comunicação de massa (televisão, rádio, jornais, revistas e hoje em dia internet) para transmitir
os valores e ideais que são úteis ao sistema. A divulgação ocorre sem a devida preocupação
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com o nível de veracidade que está sendo transmitido. Na verdade, a massa receptora muitas
vezes não compartilha dessa preocupação, pois, ao observar as intenções de quem transmite (ou
�nancia os meios de comunicação), torna-se evidente que a intenção, muitas vezes, é justamente
não transmitir a verdade de forma intencional.
Essa dinâmica destaca como a manipulação da informação pode ser utilizada estrategicamente
para atender a interesses especí�cos (do sistema) e mostra a necessidade de um pensamento
crítico por parte do público. Nesse sentido, a indústria cultural desempenha um papel
fundamental na disseminação e consolidação de determinadas narrativas, normas e padrões
culturais que contribuem para moldar a visão de mundo e as atitudes das pessoas na sociedade
contemporânea.
Essa transmissão não é simplesmente "oferecida", mas sim imposta aos indivíduos de uma
maneira que muitas vezes passa despercebida por eles. As mensagens são apresentadas de
forma pronta e simpli�cada ao extremo, de modo a evitar que as pessoas precisem re�etir
profundamente sobre elas. Os problemas, as re�exões e até mesmo as respostas são entregues
de maneira predeterminada, buscando criar uma aceitação quase automática por parte das
pessoas. Esse fenômeno evidencia como a indústria cultural pode in�uenciar sutilmente a
maneira como as pessoas percebem o mundo ao seu redor.
A indústria cultural se limitaria a levar o entretenimento como se fosse arte ao consumidor, que
se sentiria satisfeito ao se deparar com elementos aparentemente agradáveis e de fácil
consumo. A ideia de “indústria” cultural é bem interessante: a cultura deixa de ser a manifestação
humana em diversos âmbitos para ser a produção em série de algo que deve servir para um �m.
A partir daí, podemos pensar o conceito de cultura de massa.
Cultura de massa
Adorno e Horkheimer entenderam que havia dois tipos de cultura autêntica: a cultura erudita e a
cultura popular. A cultura erudita é aquela produzida por uma elite intelectual, mais re�nada e
menos intuitiva. Essa cultura teria um valor estético maior, visto que é mais elaborada. A cultura
popular é uma forma autêntica de se fazer arte e cultura vinculadas às culturas tradicionais dos
povos. Ela é autêntica, porém composta por menor re�namento técnico e intelectual, sendo mais
intuitiva.
Por outro lado, a cultura de massa, ao contrário dos outros dois tipos, é considerada inautêntica.
Resultante da fusão de elementos da cultura erudita e da cultura popular, além da viabilidade de
reprodução técnica em larga escala, ela é vista como um instrumento da sociedade capitalista
para comercializar uma forma inferior de arte. Simultaneamente, argumenta-se que a cultura de
massa serve para manter a população sob controle, manipulando suas preferências culturais e
oferecendo produtos padronizados que não incentivam a re�exão crítica. Essa perspectiva
destaca as implicações sociais e econômicas associadas à produção e ao consumo da cultura
de massa.
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Para Walter Benjamin, o processo de reprodução técnica é o meio pelo qual a produção de arte
em escala industrial se torna possível. Ele se refere à capacidade de reproduzir em massa uma
obra de arte, como uma música que pode ser gravada e reproduzida in�nitas vezes, ou uma
imagem que pode ser capturada por fotogra�a ou uma �lmagem que pode ser replicada.
Benjamin argumenta que esse fenômeno retira da arte sua "aura", que é a autenticidade e
singularidade associadas a uma obra de arte original. A reprodutibilidade técnica, ao criar cópias
em grande escala, transforma a natureza da obra de arte e sua relação com o espectador.
A cultura de massa, produzida pela indústria cultural, opera com uma fórmula que combina
elementos da cultura erudita com elementos da cultura popular, adicionando componentes que
agradem ao público. O resultado é uma obra de arte produzida em escala industrial. Para
representantes da Escola de Frankfurt, o capitalismo não apenas utilizou a indústria cultural para
promover um movimento de consumismo, mas também transformou a própria arte em um
produto a ser consumido. Dessa forma, cinema, músicae até as artes plásticas passaram a
seguir uma fórmula que agrada aos espectadores pela facilidade de assimilação do conteúdo da
obra. O espectador médio da indústria cultural é alguém que busca apenas entretenimento,
contribuindo para uma massi�cação absoluta dos produtos culturais.
Qual o papel da escola nesse contexto?
Nesse contexto, a educação, regulada por legislação, é um instrumento do Estado e um aparato
utilizado pelo sistema. Cada vez mais, busca-se garantir que os pro�ssionais da educação,
principalmente os professores, sigam integralmente os planos de ensino, transmitindo um
conteúdo que é considerado "neutro" e importante para a formação geral do indivíduo, visando
garantir condições para uma vida social plena. No entanto, é dentro desse mesmo cenário que a
escola, como "o lugar" da educação, pode ser um instrumento de emancipação.
Em vez de simplesmente reproduzir os interesses do sistema, a escola tem o potencial de
capacitar o indivíduo a enxergar a realidade em seus detalhes e a superar as desigualdades. Isso
implica compreender que as desigualdades não são um fenômeno natural, mas sim socialmente
construídas e, portanto, passíveis de transformação.
A escola e seus educadores desempenham um papel crucial ao oferecer esclarecimento aos
alunos que vivem imersos na sociedade consumista. Essa função educativa visa romper com a
alienação imposta pela indústria cultural. Ao proporcionar uma compreensão crítica sobre o
processo de produção cultural e seus impactos na sociedade, os educadores podem capacitar os
alunos a desenvolverem uma postura re�exiva em relação aos produtos culturais que
consomem. Essa abordagem educacional pode contribuir para a formação de indivíduos mais
conscientes e capazes de fazer escolhas mais racionais em meio à cultura de massa.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: em uma aula de Sociologia, a professora
apresenta aos alunos reportagens que tratam do mesmo assunto (político), no entanto,
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
publicadas por diferentes veículos de comunicação de massa. Os educandos passam a
identi�car algumas fontes e notícias como “verdadeiras”, dividindo-se em, praticamente, dois
grupos de posicionamento. Após algumas pesquisas, alguns alunos reveem o seu
posicionamento e outros ainda mantêm a mesma posição, dizendo que as fontes são
manipuladas para que se pensasse o contrário do que eles entendem. O que essa atividade
mostra para a professora? E para os próprios estudantes? Qual é o sentido de uma atividade
como esta?
A atividade realizada mostra à professora que o aprendizado que o aluno traz de suas vivências
dentro de sua classe social é muito marcante e constrói sua visão de mundo de modo muito
forte. Ela percebe que devem ser realizadas atividades como esta, mas que deve tomar o
cuidado necessário para que os resultados não sejam apenas a discórdia entre os educandos.
Os alunos percebem – concordando ou não – que há certa possibilidade de que as informações
que são divulgadas abertamente para a sociedade sejam manipuladas; percebem que, muitas
vezes, são sem fundamento e que podem ter força apenas pela repetição.
A atividade é importante por mostrar ao estudante que o pensamento diferente também tem
fundamento para o indivíduo que o defende, levando ao questionamento sobre a possibilidade de
que os meios de comunicação estejam a serviço de interesses que não são propriamente os de
toda a sociedade. Quando bem trabalhada, uma atividade assim auxilia na construção do senso
crítico do aluno, em uma autoanálise.
Saiba mais
Para se aprofundar na re�exão sobre a escola e a maneira como o ensino é ofertado aos
alunos, assista ao documentário:
A educação está proibida. Direção: Germán Doin. Coprodução: Maria Farinha Filmes. 145 min.
Colorido. Idioma: espanhol. Legenda: português. Título original: La educación prohibida. 2012. O
documentário critica a forma como estão constituídos os projetos pedagógicos em diferentes
países latino-americanos. Na maioria dos casos, seguindo modelos inadequados para as
diferentes realidades, a escola não é lugar que ensina a pensar, mas que ensina conteúdo.
Compreender mais sobre as classes sociais existentes na sociedade capitalista e as
relações antagônicas que as regem é de suma importância para perceber seus re�exos nas
demais instituições sociais, como a escola, por exemplo. Para se aprofundar no assunto
assista ao �lme:
A classe operária vai ao paraíso. Direção: Elio Petri. 125 min. Colorido. Idioma: italiano. Legenda:
português. 1971. O �lme clássico do cinema italiano apresenta a trajetória de um "operário
padrão" que, ao sofrer um acidente de trabalho que resulta na perda de um dedo, inicia um
processo de tomada de consciência, possibilitando a reconstrução de sua identidade.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Referências
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos �losó�cos. Rio de
Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1985.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. 3. ed. Trad. Paulo Neves. São Paulo, SP: Martins
Fontes, 2007.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da Educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978.
MARX, K. Manifesto do partido comunista. Pretópolis: Vozes, 1996.
MATOS, O. D. F. A escola de Frankfurt. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005.
PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.
Aula 2
Ideologia e Educação
Ideologia e Educação
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Dica para você
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Olá, estudante!
Nesta aula você re�etirá sobre o poder que a ideologia tem de distorcer a realidade, tornando
“natural” tudo aquilo que é histórico. Essas re�exões são imprescindíveis para a percepção de
como a força da ideologia se in�ltra na escola e nos materiais didáticos utilizados pelos
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
professores, com o intuito de alienar os alunos para atender aos interesses do capital. Vamos
lá?!
Ponto de Partida
A ideologia pode ser descrita como um conjunto de representações e normas que
predeterminam como as pessoas devem pensar, agir e sentir. Seu propósito é favorecer os
interesses especí�cos de uma classe dominante sobre outra classe dominada, buscando
universalizar esses interesses. Para alcançar e�cácia, a ideologia se apoia na habilidade de criar
um imaginário coletivo no qual os indivíduos possam se situar e se identi�car, involuntariamente
legitimando a divisão social. Sua coesão está vinculada a uma lógica de omissão e silêncio em
relação à sua própria origem, ou seja, à divisão social entre as classes.
Para nos aprofundarmos no assunto, vamos pensar sobre o seguinte: em muitas situações, o
professor se verá em meio a con�itos que, no fundo, ocorrem por conta de ideologias diferentes.
Muitos dos problemas de uma escola giram em torno de questões ideológicas que não são bem
administradas. Em uma sala de aula, as diferenças sociais aparecem muito claramente no grupo
de alunos, em sua percepção interna, ou seja, todos que não fazem parte do grupo podem não
conseguir enxergar o que ocorre nas entrelinhas.
Diante de um con�ito de grupos, o que o docente deve fazer? Pode ser sobre os interesses na
organização de um festival da escola, ou até mesmo sobre um projeto que tenham de
desenvolver para a disciplina. Além disso, pode surgir um con�ito a partir de uma temática, por
exemplo, sobre o aborto como problema de saúde pública. Ele pode interferir? Sim, mas a
interferência pode acabar com as chances de que os próprios estudantes aprendam a resolver
seus con�itos, desenvolvendo uma habilidade social muito importante. Pode não interferir, mas a
não ação do educador pode deixara imaturidade dos educandos agravar a situação pela qual,
posteriormente, o docente pode ser cobrado. O con�ito de classes é sempre ideológico.
Vamos Começar!
Provavelmente você já ouviu o termo “ideologia” sendo utilizado em diferentes contextos. Talvez
o que você não saiba é que muitas vezes as pessoas utilizam o termo com uma conotação
errônea. Frequentemente, as pessoas recorrem a esse conceito para discutir assuntos
relacionados à política. No entanto, nem todos se empenham em compreender a sua de�nição
precisa. Quando isso acontece, surge um discurso que pode estar permeado por uma ideologia.
Para compreendermos melhor, vamos começar com a de�nição da palavra.
Termo que se origina dos �lósofos franceses do �nal do século XVIII, conhecidos como
“ideólogos” (Destutt de Tracy, Cabanis, dentre outros), para os quais signi�cava o estudo da
origem e da formação das ideias. Posteriormente, em um sentido mais amplo, passou a
signi�car um conjunto de ideias, princípios e valores que re�ete uma determinada visão de
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política. Ex.: ideologia fascista, de
esquerda, dos românticos etc. (Japiassú; Marcondes, 1996, p. 136)
Uma ideologia pode ser compreendida como um conjunto de ideias que sustenta uma visão de
mundo, seja ela de natureza política, religiosa, cientí�ca, literária ou de outras categorias. Não é
possível conceber uma visão de mundo que não seja respaldada por tal conjunto. Nossa
interpretação do mundo é moldada pela maneira como o recebemos e o consideramos, sendo
formada por diversas ideias provenientes de experiências pessoais e sociais. Essas ideias são
adquiridas em diversos contextos, desde a convivência familiar até o ambiente acadêmico.
Até este ponto, não identi�camos problemas inerentes à ideologia. No entanto, a complexidade
surge ao considerarmos que:
1) a representação da realidade expressa pelo conjunto de ideias pode ser falaciosa, implicando
que se uma das ideias carece de fundamento, todo o conjunto �ca comprometido;
2) essa construção ideal pode ser motivada apenas pela defesa de interesses pessoais ou de
classe, isto é, quando há a intenção de importar uma determinada ideologia.
Dito isso, é fundamental a compreensão de que não existe um contexto que escape à in�uência
de ideologias – aquele que prevalece geralmente é o que possui mais poder de persuasão ou
imposição. O problema surge quando se proclama a existência de uma ideologia totalmente
verdadeira, rejeitando todas as outras. Vamos olhar de maneira mais especí�ca para a ideologia
e como ela in�uencia no ambiente escolar a partir dos escritos de Marx e Gramsci.
Ideologia para Marx
O alemão Karl Marx (1818-1883) analisou profundamente a sociedade capitalista de sua época,
buscando compreender a sua organização e os seus desdobramentos. Os conceitos elaborados
pelo autor ainda hoje são válidos e totalmente aplicáveis para a nossa realidade, principalmente
porque as relações na sociedade capitalista se aprofundam e se tornam cada vez mais
antagônicas. Dentre os diferentes conceitos elaborados pelo autor, como mais valia, alienação,
luta de classes, etc., vamos nos ater ao de ideologia.
Foi com a contribuição de Marx que o entendimento desse conceito foi aprimorado,
enriquecendo o debate acerca do assunto e de sua aplicação. De acordo com o autor, é
necessário considerar as maneiras ilusórias de conhecimento que conduzem à ocultação dos
con�itos sociais quando os seres humanos tentam explicar a realidade e estabelecer normas de
ação. Conforme a visão marxista, a ideologia adquire um sentido negativo, pois é utilizada como
uma ferramenta de dominação.
A oposição entre as diferentes classes sociais sempre estará fundamentada na propriedade
privada, que é o elemento que deve garantir a sustentação da vida material. Os detentores dos
meios de produção sempre serão a classe mais privilegiada. No entanto, podemos nos
questionar como eles conseguem manter a dominação sobre a outra classe, já que, em termos
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
numéricos, a classe dominada teria condições de alterar a situação. Nesse ponto, é importante
compreender o signi�cado da ideologia no pensamento de Marx.
A ideologia é um conjunto de ideias e conceitos que sustenta uma determinada visão de mundo.
Dessa forma, cada classe social possui uma ideologia, já que cada uma enxerga o mundo de
forma distinta. O poder econômico dos dominantes (burguesia) alimenta o desejo de dominar
cada vez mais, enquanto do outro lado se encontra a classe subjugada (proletariado), que
sustenta a economia com seu trabalho e sua falta de recursos, impossibilitada de desfrutar dos
benefícios oferecidos pela sociedade capitalista.
As ideias têm o poder de transformar a realidade. Seja na classe dos proprietários ou na dos
trabalhadores assalariados, ambos sempre buscam proteger seus direitos e conquistar mais.
Sendo a classe assalariada numericamente maior, hipoteticamente teria mais poder e seria
dominante na sociedade. No entanto, isso não acontece devido ao poder econômico que permite
à classe dos proprietários controlar a disseminação das ideias na sociedade. Em outras palavras,
esse poder garante que certas ideias tenham mais força e presença, tornando os mais ricos
sempre a classe dominante.
Nesse contexto, a ideologia é uma distorção da realidade, pois considera apenas uma
perspectiva como a correta e a melhor. Um discurso é ideológico quando transmite uma ideia
que é tomada como a única aceitável, sem levar em consideração todos os elementos possíveis.
Em suma, esse tipo de discurso objetiva manter os poderosos no poder, não possibilitando que a
ordem social seja alterada.
Siga em Frente...
A escola sob o viés ideológico
A escola como instituição social carrega em si a potência de transformar a realidade social por
meio da educação. Entretanto, ela é utilizada como instrumento de dominação e manutenção do
status quo, quando é apenas reprodutora de ideias propostas pela classe dominante. A educação
deixa de ser ideológica quando possibilita a emancipação do ser humano, dando-lhe a
oportunidade de lutar pela igualdade social e melhores condições de vida. A capacidade de ler e
escrever de forma e�caz, aliada ao desenvolvimento do pensamento crítico em relação à
realidade, é a maneira pela qual a educação liberta o aluno. A conscientização da realidade torna-
se o caminho para a libertação (Marx, 1978).
É evidente que o discurso ideológico é tão poderoso que mesmo a classe menos favorecida
acaba endossando ideias que perpetuam o domínio da classe dominante. Por exemplo, o
discurso meritocrático é ideológico embora não sejam proporcionadas as mesmas
oportunidades a todas as pessoas, o que signi�ca que, por mérito, é difícil conquistar algo sem
uma base sólida para enfrentar a realidade.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Discursos do senso comum, como "basta trabalhar muito para conquistar a riqueza, pois o
capitalismo é regido pela livre concorrência", são ideológicos, pois são usados para angariar
mais apoiadores ao sistema. Essas ideias são ideológicas porque são falsas, uma vez que o
sistema não oferece as mesmas oportunidades para todos, mesmo que trabalhem arduamente
(não há espaço para que todos se tornem ricos, pois é necessário que haja indivíduos que
trabalhem e produzam uma riqueza). Aqueles que acreditam que “é natural existirem pobres e
ricos”, simplesmente aceitam a divisão social e corroboram a ideologia dominante.
Os intelectuais e seu papel na sociedade
O italiano Antonio Gramsci (1891-1937) entende que o marxismo não pode servir simplesmente
como análise intelectual que encaminha o homem para a transformação da sociedade
(revolução). Para ele, o conceito de práxis, como “ação com sentido, re�exiva, com �nalidade
própria”, é central para a construção de uma nova sociedade. A sociedade deve ser entendida
como uma construção coletiva permeada por contradições. Não existe uniformidade na maneira
como os eventos históricosse desenrolam. Em um processo dialético, a sucessão de momentos
revela que, na busca por um poder hegemônico, são os interesses de dominação que governam a
sociedade.
Segundo Gramsci (1979), as ideologias desempenham um papel fundamental para organizar as
massas humanas, constituindo o terreno no qual as pessoas se movem, adquirem consciência
de sua posição na sociedade e se engajam em lutas e ações. Sob tal perspectiva, os intelectuais
têm um papel fundamental na sociedade. Cada classe social tem os seus intelectuais (embora
sejam em número menor e em espaço não organizado na classe dos proletários). Eles
desempenham um papel crucial na construção e a�rmação de suas respectivas ideologias,
utilizando meios como a educação, a religião, o direito, entre outros.
Visto que eles surgem das próprias classes sociais, o seu papel é imprescindível para a formação
de ideologias a partir delas. Gramsci os denomina de "intelectuais orgânicos". Isso evidencia a
presença de várias instituições de ensino externas para a formação ideológica de diferentes
classes que buscam alcançar a hegemonia. Em particular, Gramsci argumenta que os
intelectuais orgânicos se organizam como um grupo estruturado principalmente na classe
hegemônica, que, no caso, é uma burguesia.
Por um lado, existe uma classe intelectual que reforça os ideais dos proprietários do capital; por
outro, há aquela que trabalha para a emancipação das massas. A classe operária (as massas)
enfrentou desa�os por não contar com um grupo robusto de intelectuais orgânicos envolvidos,
semelhante ao que existe na classe hegemônica. Na sua atuação, o intelectual orgânico das
massas busca elevar o pensamento do senso comum, transformando um conjunto desordenado
de ideias em algo mais coeso. Isso implica atribuir valor ao que emerge do seio das massas e
precisa ser re�nado. Esse intelectual tem a capacidade de fazê-lo, pois parte do mesmo contexto
e compartilha da mesma visão de mundo.
Hegemonia social
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Um dos conceitos fundamentais no pensamento de Antonio Gramsci é o de hegemonia. As
classes sociais são distintas e buscam estabelecer seu domínio sobre a sociedade. A dominação
refere-se à força política exercida por uma classe, muitas vezes através do Estado, que pode agir
de maneira coercitiva. Por outro lado, a direção diz respeito ao poder ideológico, envolveu a
formação do pensamento que orienta a sociedade. Uma classe só ascende ao poder quando sua
visão de mundo passa a guiar a sociedade, tornando-se dominante.
Para manter-se no poder, uma classe precisa controlar tanto a dominação política quanto a
direção ideológica. A situação só muda quando outra classe assume uma liderança no
pensamento da sociedade. Sem a direção do pensamento, uma classe não consegue manter seu
domínio por muito tempo. A situação de hegemonia ocorre quando uma classe não apenas
domina, mas também dirige o pensamento da sociedade. Assim, para que uma classe se torne
hegemônica, é necessário orientar a direção do pensamento. Os responsáveis por essa direção
na sociedade são os intelectuais.
A escola unitária
Para Gramsci, a divisão das classes decorrente da divisão do trabalho também se re�etiu na
divisão da escola, resultando em uma instituição pro�ssionalizante e outra humanista. A escola
humanista, proposta exclusivamente para a classe hegemônica, tem como objetivo oferecer uma
instrução de qualidade superior, envolvendo a formação integral do indivíduo. Essa educação
humanista é orientada pelos mais elevados valores culturais, preparando o indivíduo para atuar
conscientemente em sua realidade. A perspectiva de uma revolução das massas torna-se viável
quando estas se organizam em torno do objetivo comum de estabelecer uma educação que
promova a formação integral do ser humano. Para que isso seja possível, são necessários os
intelectuais orgânicos.
A escola unitária ou de formação humanista (entendido este termo, 'humanismo', em sentido
amplo e não apenas no sentido tradicional) ou de cultura geral deveria se propor a tarefa de
inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um certo grau de maturidade e
capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e na iniciativa.
(Gramsci, 1979, p.121)
Segundo o pensamento gramasciano, é a escola que pode desencadear a transformação social,
tornando-se uma instituição singular na qualidade da formação oferecida aos alunos,
independentemente da classe a que pertençam. Embora o autor tenha apontado outros domínios
nos quais a transformação social pode ser gerada, como igrejas, partidos políticos e outros, a
escola recebe atenção especial.
Para Gramsci, a escola é fundamental na criação do modelo de ser humano que uma sociedade
busca estabelecer, mesmo que a divisão entre instituições pro�ssionalizantes e humanistas
perpetue um processo de exploração de uma classe sobre outra. A transformação a partir das
bases é crucial para desestruturar o movimento de luta pela hegemonia, no qual apenas uma
classe permanece hegemônica. Dentro das escolas, são constituídos indivíduos que podem
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
construir a possibilidade de uma nova hegemonia, por meio da promoção de uma
contraideologia.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: em muitas situações, o professor se verá
em meio a con�itos que, no fundo, ocorrem por conta de ideologias diferentes. Muitos dos
problemas de uma escola giram em torno de questões ideológicas que não são bem
administradas. Diante da existência de con�itos entre os alunos o professor pode interferir?
Costumeiramente, a ideologia é usada para classi�car algo como “negativo”. Na verdade, ela se
torna negativa quando é utilizada como maneira de favorecer apenas uma classe. Considerando-
se a sociedade capitalista, a classe favorecida é a dominante no aspecto econômico. Não é
possível viver sem ideologia, pois toda pessoa pertence a uma determinada classe social e
aprendeu a lançar um olhar especí�co sobre o mundo. Além disso, cada pessoa busca defender
seus interesses que, em última instância, mostram-se como interesse de classe.
Em sala de aula, a astúcia do educador deve ser tamanha para perceber os con�itos ideológicos
que podem surgir. Não há regra segundo a qual ele deva pensar sua ação ou inação: a prática o
fará perceber quando é necessário agir. A instituição deve ser lugar não apenas de convivência
pací�ca, mas também local em que se desenvolve a sociabilidade e se respeita a alteridade.
Ninguém nasce culpado por pertencer a uma ou outra classe, mas não se pode achar que as
divisões sociais são algo natural. O professor tem de desenvolver maneiras de lidar com esse
tipo de con�ito.
Saiba mais
Para se aprofundar na re�exão sobre a educação para Marx e Gramsci, leia o texto a seguir:
FERRETI, C. J. O pensamento educacional em Marx e Gramsci e a concepção de politecnia.
Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, supl. 1, p. 105-128, 2009. O texto aborda o tema
da educação no pensamento dos dois autores apresentados, buscando compará-los e identi�car
o que é a escola para cada um deles.
Pensar sobre o conceito de hegemonia e como ela se faz presente em nossas vidas é
importante para compreendermos a organização da nossa sociedade. Para se aprofundar
no assunto, assista ao �lme:
FAHRENHEIT 451. Direção: Ramin Bahrani. 100 min. Colorido. Idioma: inglês. Legenda:
português. 2018. A obra Fahrenheit 451 de Ray Bradbury é considerada um clássico do século
XX, descreve a realidade de uma sociedade distópica onde os livros são proibidos e portá-los é
grave crime.
https://www.scielo.br/j/tes/a/GTK93QB5JvKdccpjXjyfNyP/#
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Referências
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
FERRETI, C. J. O pensamento educacional em Marx e Gramsci e a concepção de politecnia.
Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, supl. 1, p. 105-128,2009. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/tes/a/GTK93QB5JvKdccpjXjyfNyP/#.
GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1979.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de �loso�a. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1996.
JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1997.
MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978.
MARX, K. Manifesto do partido comunista. Petrópolis: Vozes, 1996.
PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.
Aula 3
Diversidade e Educação
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Olá, estudante!
Nesta aula você irá compreender o conceito de cultura, entendendo como ela molda os
indivíduos que estão inseridos em um contexto e perceber o motivo de falarmos em “culturas”,
no plural. Essas re�exões são importantes para que você compreenda o papel da educação na
promoção da diversidade. Vamos lá?!
Ponto de Partida
A a�rmação de que o ser humano não existe fora da cultura destaca a ideia de que a cultura é
intrínseca à existência humana. Cada indivíduo carrega consigo sua própria cultura, sendo capaz
de criar e construir formas de difusão. Nesse contexto, a relação entre cultura e educação torna-
se fundamental, uma vez que uma prática pedagógica deve ter como base a responsabilidade
social de formar cidadãos competentes, capazes de se desenvolver em suas atividades
cotidianas e de contribuir para os valores essenciais da vida coletiva.
Para ampliarmos nossa visão de mundo sobre o assunto, vamos pensar sobre a seguinte
situação: em uma determinada escola, há um grupo de alunos que vem da área rural para estudar
na cidade. Enquanto estavam no ensino fundamental, havia uma instituição rural frequentada por
todos, no entanto, para o ensino médio era necessária essa mudança. Os professores percebem
que o grupo nem sempre tem uma convivência “plena” junto aos demais estudantes, pois
acabam conversando apenas entre si, sentando-se próximos uns dos outros na sala de aula e
estando juntos na hora do intervalo.
No momento que devem fazer trabalhos com os colegas, sempre escolhem pares de seu grupo,
alegando que moram próximos uns dos outros e �ca mais fácil de se reunirem. Além de tudo, são
os mais quietos durante as aulas. Em uma determinada ocasião, uma das docentes está
conversando com uma das meninas que vem daquele grupo: a aluna relatou que eles sentem
certa vergonha na exposição diante da classe, pois, em uma das primeiras aulas, um deles foi
responder a uma questão e todos começaram a rir do seu jeito de falar e das comparações que
ele fez. Eles passaram a ser chamados pelos outros de “o pessoal do sítio”.
A educadora levou o caso para a reunião de professores e todos entenderam que deveriam
pensar em ações de integração. De que modo poderia ser pensado algo nesse aspecto?
Vamos Começar!
A diferença fundamental entre o animal e o homem reside no fato de que o animal permanece
imerso na natureza, enquanto o homem tem a capacidade de transformá-la, possibilitando assim
o surgimento da cultura. O mundo resultante da ação humana não é mais puramente natural, pois
é moldado e modi�cado por essa ação.
O termo "cultura" possui diversos signi�cados, abrangendo desde a cultura da terra até a cultura
de um indivíduo letrado. Em Antropologia, cultura refere-se a tudo o que o homem produz ao
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
construir sua existência: práticas, teorias, instituições, valores materiais e espirituais. Dado que o
contato do ser humano com o mundo é mediado por meio de símbolos, a cultura é composta por
um conjunto de símbolos escritos por um grupo em um determinado tempo e lugar.
Considerando a in�nita capacidade de simbolização, as culturas das diferentes comunidades são
diversas e múltiplas, permitindo a utilização do termo "culturas" no plural.
Cultura: um conceito antropológico
A Antropologia é o ramo da ciência que tem como objetivo chegar a um conhecimento mais
completo sobre o homem, tomando-o em seus aspectos histórico, biológico e psíquico. Ter a
cultura como objeto central não implica que a Antropologia tenha feito uma de�nição última do
conceito de "cultura". Assim, podemos considerar a cultura como aquilo que representa o modo
de ser do ser humano, além de ser a produção de seu mundo. Isso inclui a transmissão do
conhecimento adquirido ao longo do tempo, os vestígios materiais e imateriais deixados, bem
como as modi�cações no meio natural realizadas pela ação humana. A cultura, portanto, é um
conceito dinâmico e abrangente, re�etindo a complexidade das atividades e expressões
humanas ao longo da história.
O ser humano é caracterizado como um ser que fala, trabalha e, por meio do trabalho, transforma
a natureza e a si mesmo. No entanto, é importante destacar que a ação humana é
signi�cativamente coletiva, e o trabalho é realizado como uma tarefa social, enquanto a palavra
ganha signi�cado no contexto do diálogo. O mundo cultural é percebido como um sistema de
signi�cados previamente estabelecido por outros. Assim, ao nascer, a criança se deparará com
um universo de valores já existentes, nos quais ela se situará. Desde a língua que aprende até a
maneira como se alimenta, senta-se, anda, corre, brinca, o tom da voz nas conversas e nas
dinâmicas familiares, tudo está codi�cado.
Nesse sentido, considerando a existência de uma diversidade cultural, surge o conceito de
pluralidade cultural, que nos permite analisar as origens e características especí�cas dos
diversos povos. O ser humano atribui signi�cados às suas ações: para cada detalhe, responde às
necessidades éticas, estéticas ou funcionais, buscando alcançar algo que transcende a utilidade
mais básica. Por exemplo, uma casa, além de ser funcional como abrigo, é projetada para trazer
conforto à vida. Ela é idealizada e se torna um símbolo de realização, representando não apenas
um espaço habitável, mas também um local que incorpora valores éticos e estéticos, atendendo
a necessidades mais amplas e signi�cativas.
Vamos pensar em outro exemplo: a experiência de vida de um homem que reside no Alasca pode
ser semelhante à de outro que vive na África em muitos aspectos. No entanto, as peculiaridades
e vivências ao longo de suas histórias individuais levam a diferentes possibilidades de
simbolização. É por isso que as culturas são diversas. Além da necessidade primordial de
sobrevivência, que deu origem ao trabalho como uma consequência, a cultura representa o
estabelecimento de um modo de ser único para o ser humano. Cada cultura é moldada por
experiências, valores, tradições e símbolos que se desenvolvem ao longo do tempo em contextos
especí�cos, contribuindo para a diversidade e complexidade das formas de expressão e
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
compreensão humana ao redor do mundo. Ou seja, tudo que os seres humanos produzem é
cultura.
Siga em Frente...
Educação e cultura
O ser humano vive coletivamente, em sociedade, organizando a vida de maneira a permitir a
realização do grupo. Nesse contexto, um dos aspectos mais signi�cativos da realidade humana é
a transmissão do conhecimento produzido e adquirido ao longo do tempo, evitando a
necessidade de começar sempre do zero. A educação, seja ela formal ou informal, pode ser
compreendida como um meio essencial para essa transmissão de conhecimento. Sendo assim,
somos produtores, consumidores e transmissores da cultura e, sob essa condição, dependendo
do acesso que temos à educação, podemos ter um maior ou menor grau de autonomia em
relação aos produtos fabricados pela indústria cultural que nos cercam em nosso cotidiano.Isso nos leva a re�etir sobre a questão dos interesses que muitas vezes estão por trás da
produção e difusão da cultura, pois nem todas as pessoas têm o mesmo acesso a ela. Enquanto
algumas experiências sociais são vivenciadas por indivíduos no acesso a elementos da chamada
“cultura mais re�nada”, outras apenas possibilitam a vivência de elementos mais comuns do
cotidiano. Isso ressalta as desigualdades na distribuição do conhecimento e na exposição às
diversas formas de expressão cultural, re�etindo os diferentes interesses e poderes presentes na
sociedade.
É crucial compreender que nem todas as manifestações culturais são acessíveis a todos os
indivíduos, pois isso depende do local onde vivem e da classe social de qual pertence. Essa
realidade é moldada pelo sistema capitalista, cujo princípio central é o “lucro”. No entanto, é
necessário que haja quem o produza. O conceito de lucro, por sua natureza, implica uma noção
de diferença, uma vez que nem todos podem ter o mesmo acesso aos benefícios econômicos e
culturais. Assim, as desigualdades sociais e econômicas inerentes ao sistema capitalista
impactam diretamente na disponibilidade e acessibilidade a diversas expressões culturais.
A cultura é transmitida de geração em geração por meio de diversos processos educacionais nos
quais os seres humanos socializam conhecimentos com seus descendentes. Esses processos
podem ocorrer de forma sistemática, por meio da escola e de métodos didáticos formais, ou de
maneira assistemática, envolvendo eventos sociais na família e na comunidade do aluno. No
contexto da instituição escolar, é importante considerar as diferenças sociais e econômicas que
contribuem para a desigualdade social presente nas escolas, muitas vezes re�etida no currículo
escolar.
Nesse cenário, as atividades didáticas em sala de aula devem incluir não apenas a leitura de
textos, mas também a apreciação de materiais provenientes da mídia, oferecendo aos
estudantes a oportunidade de analisar os problemas contemporâneos com base em
perspectivas teóricas sólidas. Além disso, é essencial sensibilizar os educadores para uma
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mudança de paradigma, pois, muitas vezes, suas práticas docentes podem variar entre escolas
públicas e privadas, o que pode ser considerado eticamente um problema. Promover uma
abordagem educacional mais equitativa e inclusiva é fundamental para criar um ambiente de
aprendizagem que respeite a diversidade e combata as desigualdades.
No caso especí�co da legislação e das diretrizes curriculares no Brasil, os Parâmetros
Curriculares Nacionais indicam que a pluralidade cultural
propõe-se a uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que compõe a
sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas
e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que
valorizar as diferenças étnicas e culturais não signi�ca aderir aos valores do outro, mas respeitá-
los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua
dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. A a�rmação da diversidade é traço
fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente,
tendo a ética como elemento de�nidor das relações sociais e interpessoais (Brasil, 1997, p. 19)
Além disso, também é possível priorizar a abordagem em relação à educação e à cidadania, por
meio dos conteúdos que os PCNs indicam, por exemplo, o conceito de pluralidade cultural, que
aborda a origem histórica e geográ�ca da diversidade cultural, etnia, arte, linguagem e
representações; a vivência da pluralidade cultural, apontando os problemas culturais na escola,
como discriminação, estigmatização e omissão cultural; a multiplicidade cultural e as crianças e
jovens do Brasil, além dos direitos humanos e de cidadania. Por meio dos estudos sobre
pluralidade cultural, é possível mergulhar na rica temática da diversidade social, regional e
cultural do país, levando a uma valorização das características étnicas e culturais dos diferentes
grupos sociais.
Etnocentrismo e relativismo
Já compreendemos que mesmo a Antropologia tendo a cultura como objeto central de seus
estudos, ela não chegou a uma de�nição única ou última sobre o conceito. Assim, diferentes
autores lançaram seus olhares sobre o tema.
O conceito de cultura varia no tempo, no espaço e em sua essência. Tylor, Linton, Boas e
Malinowski consideram a cultura como ideias. [...] Leslie A. White apresenta outra abordagem: a
cultura deve ser vista não como comportamento, mas em si mesma, ou seja, fora do organismo
humano. [...] Foster e outros englobam no conceito de cultura os elementos materiais e não
materiais da cultura. A colocação de Geertz difere das anteriores, na medida em que propõe a
cultura como um “mecanismo de controle” do comportamento. (Marconi; Presotto, 2013, p. 23)
Em termos gerais, esse assunto é relevante para o educador em formação, pois amplia a re�exão
sobre a cultura, incorporando constantemente mais elementos. Isso visa garantir que o aluno
seja compreendido como um ser completo, com uma variedade de signi�cados e experiências
que se desenvolvem ao longo de sua história. O estudante não se limita ao que é evidente no
ambiente escolar, ele carrega toda uma bagagem cultural subjacente. Nessa busca por uma
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compreensão mais abrangente do ser humano, identi�cam-se duas posturas distintas: o
etnocentrismo e o relativismo.
O etnocentrismo envolve uma visão de si mesmo como o ponto central para compreender o
mundo, considerando os valores do próprio grupo social como uma verdade absoluta. Por outro
lado, o relativismo implica a compreensão de que não existe uma cultura que serve como padrão
de avaliação para os demais, uma vez que todas são sempre relacionadas a um contexto
especí�co. Qualquer tentativa de avaliação externa, ao observar os fenômenos de forma isolada,
está fadada ao erro, pois uma cultura só pode ser verdadeiramente conhecida quando
compreendida a partir de dentro, compreendendo os elementos dentro do seu próprio contexto,
percebendo como foram gerados e se relacionam. O relativismo cultural refuta a ideia de normas
e valores absolutos, defendendo a premissa de que as avaliações devem sempre estar
relacionadas à cultura em que surgem (Marconi; Presotto, 2013).
É importante compreender que abordar esse tema não é simples. Poderíamos pensar que a
solução seja simplesmente rejeitar o etnocentrismo e relativizar as culturas, mas há algo a mais
a se re�etir aqui. Essa é uma postura que tem como objetivo proteger a cultura, ajudando a
preservar o que caracteriza um determinado grupo social e destacando o que o torna único.
Portanto, há algo positivo a ser considerado. Quanto ao relativismo, devemos ter cuidado para
não levar à perda de elementos essenciais de uma cultura. É importante lembrar que nem todas
as culturas são iguais ou se manifestam da mesma forma. Assim, devemos considerar a
complexidade das expressões humanas.
Considerando o que estudamos até aqui, torna-se evidente o fato de que o homem não pode ser
limitado a uma de�nição única. Isso signi�ca compreender que ele não possui um caminho
preestabelecido para seguir, mas constrói o seu próprio caminho ao longo do tempo. Assim, os
estudos sobre o homem devem ser sempre considerados re�exões abertas. Os diversos
contextos dão origem a diferentes formas de realização humana, são padrões coletivos de
sociabilidade distintos – são culturas diversas.
Se cada grupo social permanecesse sem contato com outros, as culturas se manteriam
preservadas e cada indivíduo interagiria somente com os seus "iguais", mesmo que se dentro de
um mesmo grupo houvesse diferenças. No entanto, as culturas estão cada vez mais em contato,
mesclando-se, devido ao fato de que o homem passa a habitar não apenas a sua região de
origem, mas pode transitar pelo mundo como um todo.
O ser humano se realiza em um mundo diverso, ele estáem constante contato com o diferente.
Quando duas culturas diferentes se encontram, pode haver algum atrito, mas quando, além do
encontro, as culturas precisam conviver, a situação se torna ainda mais complexa. Pessoas
diferentes passam a habitar o mesmo espaço, trazendo consigo elementos de suas respectivas
culturas. Inicialmente, é possível observar o etnocentrismo, porém é possível evoluir para o
conceito de alteridade – e é aí que a educação desempenha um papel especí�co.
No dicionário de Filoso�a, Abbagnano (1998, p. 34) de�ne alteridade como “ser outro, colocar-se
ou constituir-se como outro”. De forma geral, podemos compreender como a ação de se colocar
no lugar do outro, buscando compreendê-lo de dentro para fora. É fácil rotular o outro como
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"errado" ou "estranho" quando se observa apenas o que é aparente. A alteridade nos coloca no
lugar do outro e nos leva a perceber que o que se mostra tem uma razão de ser, resultado de um
contexto do qual o outro veio e assimilou determinados valores.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: em uma determinada escola, há um grupo
de alunos que vem da área rural para estudar na cidade. Os professores percebem que o grupo
nem sempre tem uma convivência “plena” junto aos demais estudantes. Em uma determinada
ocasião, uma das docentes está conversando com uma das meninas que vem daquele grupo: a
aluna relatou que eles sentem certa vergonha na exposição diante da classe, pois, em uma das
primeiras aulas, um deles foi responder a uma questão e todos começaram a rir do seu jeito de
falar e das comparações que ele fez. Eles passaram a ser chamados pelos outros de “o pessoal
do sítio”. A educadora levou o caso para a reunião de professores e todos entenderam que
deveriam pensar em ações de integração. De que modo poderia ser pensado algo nesse
aspecto?
A educação está diretamente relacionada à formação de mulheres e homens, e os professores
têm a capacidade de instruir desde antes que os alunos tenham adquirido muitos dos
preconceitos dos adultos. No contexto escolar diário, as questões relacionadas à identidade
cultural surgirão, e se o educador não agir com cautela, essas questões podem se tornar a base
para con�itos negativos, resultando na exclusão da diversidade. Educar para a diversidade
signi�ca promover a acessibilidade positiva das diferenças, permitindo que o grupo reconheça
uma riqueza de experiências diversas. Na pluralidade, a identidade não desaparece, ao contrário,
possibilita a manifestação de diferentes sem julgamentos de valor.
A educação não pode ser instrumento de segregação, mas de libertação e convivência pací�ca.
Nesse sentido, o desa�o dos professores era possibilitar momentos e atividades de convivência
que levassem todos os alunos à re�exão sobre o que é a cultura e de que modo a diversidade
enriquece os ambientes. Optaram por realizar um projeto interdisciplinar que trabalhasse
diferentes culturas e o modo como elas convivem nos espaços urbanos. A docente de Português
trabalhou com contos que retratavam diferenças culturais em diversas épocas da história e das
regiões do Brasil.
A partir disso, os educadores foram fazendo suas propostas de contribuição: História, trataria
dos contextos dos personagens; Geogra�a, trabalharia a in�uência do meio na vivência do
indivíduo; Artes, buscaria apresentar diferentes manifestações artísticas advindas das regiões do
Brasil; Sociologia e Filoso�a, realizariam debates sobre temas, como diversidade cultural e
tolerância e, assim, cada um fez sua proposta. O combinado era que em todas as aulas fosse
provocada a discussão e que o grupo que residia na área rural desse sempre sua contribuição,
manifestando-se.
Saiba mais
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O contato com diferentes culturas nos permite também ter contato com diferentes locais
do planeta, sem que para isso precisemos ir para muito longe. Para re�etir sobre isso,
procure pela música Parabolicamará, de Gilberto Gil. Escute-a e procure também a letra
para acompanhar melhor os versos. O autor apresenta essa problemática do homem no
contato com o mundo: as diferentes tecnologias diminuem o mundo, quando dá ao homem
o acesso necessário ao mundo todo.
A escola deve atuar como um espaço de debate para que os estudantes possam re�etir
sobre suas próprias identidades e descobrir a igualdade que existe na diversidade. Para se
aprofundar no assunto, assista ao �lme:
ENTRE OS MUROS DA ESCOLA. Direção: Laurent Cantet. 128 min. Colorido. Idioma: francês.
Legenda: português. 2008. François Marin atua como professor de língua francesa em uma
escola de ensino médio na periferia de Paris, composta por estudantes de diversos países da
África, do Oriente Médio e da Ásia. Sem reconhecer a identidade e a cultura dos estudantes, o
docente insiste em ensinar pelo método tradicional, impedindo o diálogo e o efetivo aprendizado
do seu grupo.
Referências
ABBAGNANDO, N. Dicionário de �loso�a. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.
Brasília, MEC/SEF. 1997.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1997.
MARCONI, M. de A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. 7. ed. São Paulo: Atlas,
2013.
PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.
Aula 4
Dominação e Educação
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Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante!
Nessa aula você irá conhecer o olhar do sociólogo Pierre Bourdieu sobre a sociedade e a
educação, entendendo que a escola é um instrumento para a reprodução da sociedade. Esse
conhecimento é importante para que você compreenda como o autor relaciona os conceitos de
capital cultural, violência simbólica, campo e habitus. Vamos lá?!
Ponto de Partida
Os estudos sociológicos da educação trazem conteúdos teóricos essenciais para a atuação
docente, orientando-a, com o apoio de outras disciplinas, na direção da oferta de instrumentos
que lhes possibilitam olhar a sociedade, a escola, os estudantes, seus familiares, sua prática
pedagógica e o contexto macrossocial e político no qual a instituição escolar está inserida. O
fato de estar comprometido com o desenvolvimento humano torna o ato pedagógico mais
exigente em termos de rigor cientí�co. Assim, torna-se fundamental ao docente o domínio de
instrumentais teóricos próprios da Sociologia, a �m de tornar a docência menos restrita às
experiências empíricas.
Para ampliarmos nossa visão de mundo sobre o assunto, vamos pensar sobre a seguinte
situação: o ano letivo estava se aproximando de seu �m e Thomas já havia concluído as horas
obrigatórias de estágio. Como restavam apenas algumas semanas de aula, ele combinou com a
coordenação da escola que ainda frequentaria algumas aulas. Naqueles dias, a instituição
recebeu um convite para que levasse os alunos do ensino médio ao teatro, quando seria
apresentada uma peça antiga, uma tragédia grega intitulada Hécuba, da autoria de Eurípedes.
Mesmo sem o compromisso de cuidar dos estudantes, Thomas foi convidado e aceitou assistir
à peça, junto de alguns professores, com uma média de 100 alunos. A peça havia sido executada
de modo brilhante, porém, em alguns momentos, diferentes estudantes se manifestaram com
risadas e brincadeiras, de modo que todos ouvissem. Houve um momento especí�co no qual os
comentários paralelos eram tantos que os alunos chegaram a atrapalhar a fala dos atores. A
situação foi desagradávelao ponto de o diretor da peça cancelar um bate-papo que ocorreria
com os atores logo após a encenação.
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No mesmo dia e em alguns dias seguintes, a coordenação e a direção da escola estiveram junto
aos alunos para diversos momentos de séria re�exão, buscando, inclusive, saber de nomes
especí�cos que tivessem maior culpa na atitude desrespeitosa. Na reunião semanal dos
professores, o tema foi posto e todos opinaram – eles queriam descobrir por que o fato ocorreu,
já que não condizia com a atitude habitual dos alunos. O que pode ter motivado a atitude dos
alunos durante a peça teatral?
Vamos Começar!
Existem muitos autores e diferentes pensamentos que nos possibilitam olhar para os fenômenos
sociais e educacionais por diversos ângulos e perspectivas. Um mesmo fato pode ser
interpretado de distintas maneiras a partir das bases conceituais utilizadas nessa análise. Pierre
Bourdieu (1930-2002) é um pensador da Sociologia que contribui de maneira fecunda para
pensar a relação entre a sociedade e a educação.
Bourdieu apresenta uma perspectiva crítica ao analisar a educação na sociedade. É importante
ressaltar que "fazer uma crítica" signi�ca examinar cuidadosamente o que já existe, buscando
compreender suas bases e as relações que estabelece com o conjunto de elementos que
constituem o contexto. Foi dessa forma que o pensador francês desenvolveu sua re�exão,
tentando perceber que, de certa maneira, o processo educativo precisava ser reinterpretado,
especialmente na época em que vivia, em que a educação era vista de forma muito positiva
como a solução para os problemas sociais.
Naquele contexto (assim como hoje), diversas teorias educacionais abordavam a educação
como um caminho para a salvação. A questão que falta compreender é que a educação é uma
ferramenta e, como tal, pode ser utilizada para diferentes �nalidades. É nesse sentido que
Bourdieu propõe uma compreensão diferente, abrangendo de forma mais completa o fenômeno
educacional, com condições de abordar de maneira mais e�caz o problema das desigualdades
escolares.
Campo, habitus e capital cultural
Bourdieu criou uma sociologia que provocou uma re�exão crítica sobre as estruturas sociais. De
acordo com ele, o papel do sociólogo como um pesquisador atento às interações sociais seria
desvendar os aspectos ocultos por trás dessas estruturas sociais, identi�cando os traços
invisíveis que não podem ser percebidos apenas por uma observação super�cial. Bourdieu
desenvolveu uma sociologia que trouxe uma crítica importante em relação às estruturas sociais.
Na visão dele, o papel do sociólogo é desvendar o que se esconde por trás dessas estruturas,
identi�cando traços que não são visíveis ao senso comum.
O pensador criou um sistema teórico com foco em mostrar como as condições de participação
social das pessoas são baseadas na herança social, que é constantemente reproduzida em uma
determinada sociedade – que ele chama de estrutura estruturante. Dessa forma, a sociedade se
tornaria uma estrutura organizadora, uma vez que suas relações mais fundamentais são
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continuamente recon�guradas pelas ações de seus membros. Assim, a acumulação de bens
simbólicos, incluindo a educação, se centraliza nos padrões de pensamento individuais e nas
expressões manifestadas por meio de suas ações (Bourdieu, 1989).
Campo e habitus
Em suas investigações, Bourdieu identi�cou uma interdependência entre os conceitos de habitus
e campo. O termo "campo" refere-se a um espaço caracterizado por relações de dominação e
con�itos, como exempli�cado nos campos jornalístico, literário, educacional, entre outros. Cada
campo possui uma autonomia distinta, estabelecendo suas próprias normas organizacionais e
hierarquia social. Dentro desses contextos delimitados, os indivíduos agem de acordo com seu
capital social, representando as oportunidades que têm com base nas redes de contatos às
quais pertencem.
Dentro de cada campo, a luta se desenrola pelo desejo de uma classe especí�ca alcançar a
dominação. A classe já dominante busca perpetuar seus valores e sua visão de mundo. Isso
implica reconhecer que os valores vigentes em uma sociedade re�etem sempre os valores da
classe dominante em um determinado campo. Em outras palavras, Bourdieu argumenta que
existem vários campos nos quais forças competem pela supremacia. Por exemplo,
consideremos o campo cultural da literatura: é um espaço de produção simbólica no qual uma
classe de indivíduos determina o que possui mais ou menos valor.
Essa determinação possibilita a atribuição de um status social, criando uma divisão entre
aqueles que possuem conhecimento (desenvolvem ou aderem aos valores considerados
valiosos) e aqueles que não possuem. Assim, quando ouvimos alguém a�rmar que um indivíduo
não possui "cultura", isso representa um equívoco conceitual. Na perspectiva de Bourdieu, esse
discurso está fundamentado na ideia de que os elementos culturais daquele indivíduo não são
considerados valiosos ou não recebem valorização social por parte das instituições sociais, ao
contrário do que ocorre com os elementos tidos como universais da cultura ocidental.
A classe dominante que exerce in�uência sobre o Estado e as instituições sociais, cada uma em
seu respectivo campo, estrutura-se de modo a permitir a participação apenas daqueles que
compartilham um mesmo nível cultural. Esse nível cultural, na verdade, está em constante
transformação, impedindo que qualquer pessoa possa facilmente integrar o seleto grupo dos
considerados "bons". Os campos acabam por se restringir, uma vez que uma grande parcela da
população não possui as condições necessárias para participar plenamente dos bens culturais
disponíveis em uma sociedade capitalista.
Nessa perspectiva, as ações, os comportamentos, as escolhas e as aspirações individuais não
são resultado de cálculos ou planejamentos deliberados, são, na realidade, produtos da interação
entre o habitus e as pressões e os estímulos do ambiente. O habitus, portanto, re�ete os estilos
de vida, julgamentos políticos, morais e estéticos, além de servir como um meio de ação que
possibilita a criação ou o desenvolvimento de estratégias individuais ou coletivas (Bourdieu,
1998). O indivíduo carrega consigo diversos elementos de seu contexto de vivências, tornando
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impossível conceber alguém capaz de interpretar o mundo ao seu redor de forma "neutra" e
desvinculada de uma estrutura social.
O conceito de habitus propõe a compreensão de um processo no qual o indivíduo internaliza e
incorpora a estrutura que o rodeia. Essa incorporação do habitus ocorre por meio de uma
re�exão relacional entre processos que são estruturados e outros que são estruturantes. A
estrutura representa o aspecto teórico e objetivo, enquanto a vivência é a dimensão prática e
subjetiva desse processo.
O habitus revela-se, portanto, como uma atitude prática, um processo estruturante, por meio do
qual é possível perceber de maneira mais sutil os fenômenos sociais, entendidos como
processos estruturados. Essa interação dinâmica entre a estrutura objetiva e a experiência
subjetiva contribui para moldar a forma como os indivíduos interpretam e se relacionam com o
ambiente ao seu redor.
Capital cultural
O capital cultural refere-se aos recursos técnicos e simbólicos que os indivíduos adquirem em
seu meio social. Isso inclui uma gama de elementos como diplomas, nível de conhecimento
geral, experiências em áreas como teatro, artes, idiomas, etc. (Bourdieu, 1998). Esse conceito se
distingue de outros dois conceitos igualmente relevantes: o "capital econômico" e o "capital
social". O primeiro está relacionado aos recursos �nanceiros e aos bens materiais detidos pelo
indivíduo, enquanto o segundo está associado às redes de relações sociais que o sujeito mantém
com outros agentes na sociedade. Acompanhe o esquema a seguir para compreender melhor os
diferentes tipos de capital elencados por Bourdieu:
Figura 1 | Tipos de capital por Bourdieuessa complexa estrutura, que envolve o ser humano e o conhecimento, não é
tão somente uma possibilidade objetiva. Assim, em decorrência dessa relação imbricada, que
envolve o ser humano e suas interações com o meio natural e social, outros estudiosos se
posicionam, dando origem a novas formas de entendimento dessa questão. Vamos compreender
duas visões de mundo diferentes: o racionalismo e o empirismo.
I. Racionalismo
Para o racionalismo, a razão está acima da experiência, pois também muitas coisas que os
sentidos nos mostram (“o Sol é menor que a Terra”), são provadas como “falsas” pela razão.
René Descartes (1596-1650) é reconhecido como o pensador que estabeleceu os fundamentos
do racionalismo, sendo que muitos outros posteriormente basearam suas ideias na �loso�a
cartesiana. Descartes sustenta a ideia de que a dúvida é o caminho para alcançar a verdade,
levando essa concepção ao extremo: ele questiona todos os conhecimentos que possuía,
buscando determinar se algo permaneceria como verdadeiro. O ato de "duvidar" implica não
aceitar algo, partindo em busca de evidências que possam contradizer.
Esse pensador entendia que o homem tem ideias inatas, ou seja, que sempre estiveram em sua
mente. Por exemplo, imagine de onde tiramos o conceito de “perfeição”, se nunca conhecemos
algo sobre o que possamos dizer que seja realmente perfeito (tudo o que conhecemos pode
sempre ser melhorado).
II. Empirismo
O empirismo, derivado do grego "empeiría", que signi�ca experiência, representa essencialmente
o oposto do racionalismo. Diversos pensadores dedicaram-se a essa abordagem e tomaremos
como exemplo um dos principais, John Locke (1632-1704). Para Locke, nenhuma ideia surge na
mente sem antes ter sido percebida pelos sentidos. Assim, as ideias que não podem ser
veri�cadas na realidade têm sua origem na atividade mental sobre aquelas previamente
adquiridas. Como a�rmou Locke, "A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento
constitui su�ciente prova de que não é inato" (Locke, 1999, p. 37). O empirismo aborda o
conhecimento ao estabelecer os sentidos como as portas de entrada para as ideias: antes da
experiência, a mente pode ser concebida como uma folha em branco.
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Ciência e Educação
Agora possuímos mais elementos para contemplar a educação ao considerar o homem como
um sujeito individual que compartilha uma realidade. Após re�etir sobre o conhecimento e como
compreendemos o ser humano como sujeito na relação de conhecimento, é necessário
examinar, de maneira especí�ca, a relação entre a educação e um tipo particular de
conhecimento, que é a ciência. Não temos a intenção de abordar aqui a �loso�a da ciência, uma
área tão relevante da Filoso�a. Em vez disso, discutiremos a ciência e a educação como dois
domínios interconectados dentro de uma mesma realidade.
Considerando o que já destacamos sobre o desejo natural do homem de conhecer, torna-se fácil
compreender que a ciência não é algo recente para o ser humano. Desde a antiguidade, o anseio
pelo conhecimento levou-o a se dedicar à descoberta do que seria a ciência. No entanto, é crucial
perceber que há uma notável diferença ao longo do tempo no que denominamos como "ciência".
Inicialmente, a ciência não era fragmentada em diversas áreas, dessa forma, um único indivíduo
se dedicava a contemplar as diferentes questões que a realidade apresentava. Com o decorrer do
tempo, surgiu o que chamamos de especialização: à medida que o pensamento sobre os
problemas se desenvolvia, alguns pensadores começaram a se especializar no tratamento de um
objeto especí�co, resultando na formação de ciências especializadas. Podemos citar como
exemplo: a Química (que estuda a matéria física em sua constituição), a Física (que analisa a
matéria física em suas relações espaço-temporais), a Matemática (que explora os números e seu
comportamento em determinadas relações), a História (que investiga os eventos humanos ao
longo do tempo), a Medicina (que se dedica ao estudo do corpo humano, com base nos
conceitos de saúde e doença), entre outras.
A ciência procura compreender a realidade por meio da observação dos fenômenos, buscando
identi�car elementos que se repetem. A constância dessas repetições permite à ciência registrar
a regularidade na maneira como o mundo se desenrola. Essa regularidade, por sua vez, leva os
cientistas a formular leis gerais que descrevem o funcionamento do mundo. As teorias
cientí�cas são, portanto, constituídas pelo conjunto de leis que abrangem um determinado
domínio da realidade.
A ciência é responsável pela geração de conhecimento, enquanto o cientista conduz pesquisas e
registra os resultados obtidos. A educação, por sua vez, lida com o conhecimento produzido pela
ciência. O propósito constante da educação é formar cidadãos autônomos, capacitados a
viverem a liberdade dentro de seu contexto. Não indo até o mundo, a educação transmite a ideia
de que o conhecimento é pleno e verdadeiro do modo como aparece nos livros.
No contexto educacional, o professor ensina, explorando o conteúdo disponibilizado pela
pesquisa cientí�ca. A educação (entendida como possibilidade de libertação e emancipação do
homem) deve levar o aluno à criticidade, para que ele saiba se portar diante da ciência, não como
um mero espectador, que recebe e aceita o que é dito, mas como aquele que sabe questionar e
perceber os interesses que estão por detrás do fazer cientí�co, já que a produção da ciência
nunca é neutra, mas obedece a interesses diversos.
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Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial. Você está cursando o estágio obrigatório
do seu curso de graduação e se depara com algo que o instiga a pensar mais detidamente na
relação teoria-prática. De certa forma, sua questão é: qual é a importância da teoria, já que a
prática não permite sua aplicação? O problema pode – e deve – ser entendido por diversos
ângulos.
Podemos começar pensando sobre o desejo natural pelo conhecimento, que é inerente ao ser
humano. Contudo, para que esse desejo se concretize, vários fatores estão envolvidos,
especialmente quando consideramos o conhecimento no contexto educacional. Embora a teoria
seja crucial como um guia, evitando começar do zero, o professor não deve se limitar
exclusivamente a ela, pois a realidade transcende o conhecimento já existente. A sua sugestão
sobre tornar as aulas mais interessantes e estimulantes, é acertada, uma vez que a teoria oferece
um caminho, mas o professor Carlos poderia conduzir os alunos a experimentarem diretamente
o mundo, especialmente nas aulas de Ciências.
O papel do professor é geralmente de�nido como "ensinante", mas isso não implica que ele deva
ser considerado como o único detentor do conhecimento. O professor possui conhecimento
especí�co em determinado conteúdo e adquiriu experiência de ensino a partir desse
conhecimento. Por outro lado, o aluno, reconhecido como "aprendente", traz consigo a
capacidade de aprender, não partindo de uma mente vazia, pois já possui experiências e um
conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo do tempo.
Saiba mais
Muitas vezes quando pensamos em um �lósofo, o entendemos como uma pessoa
diferente das demais. Mas na realidade ele apenas tem uma preocupação que os outros
não têm, com problemas que os outros podem até considerar banais. Aprofunde-se mais
sobre o assunto assistindo ao �lme indicado a seguir sobre a vida do pensador René
Descartes, no desenvolvimento de sua �loso�a, em busca da verdade.
DESCARTES. Diretor: Roberto Rossellini. Versátil Filmes. (162 min.). Colorido. Idioma: italiano.
Legenda: português. Coleção Os Filósofos de Rossellini. Título Original: Cartesius, 1974.
Compreender sobre a teoria do conhecimento e os teóricos racionalistas e empiristas é
fundamental para posteriormente entender a organização e o desenvolvimento da ciência.
Para isso, saiba mais sobre o tema a partir da leitura a seguir.
LOURENÇO, V. H. René Descartes e o cogito. In: LOURENÇO, V. H. Construção do pensamentoDisciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Dessa situação decorre que os indivíduos que adquirem um determinado capital cultural estão
mais preparados para participar nos estratos mais elevados da sociedade. Pressupõe-se que o
indivíduo possua certos elementos para ter acesso a esferas mais restritas, as quais, por sua vez,
serão responsáveis por proporcionar um novo capital. A sociedade, assim, se divide entre os
considerados "melhores" e os "comuns", com base no capital cultural que possuem.
Existe uma arbitrariedade cultural na de�nição do que pode ser considerada "cultura legítima". É
crucial compreender que essa arbitrariedade cria divisões entre as pessoas, estabelecendo uma
determinação de bens simbólicos que parece instituir uma hierarquia social. A partir disso, os
próprios indivíduos passam a se reconhecer e se identi�car como pertencentes a uma classe
especí�ca. O re�exo dessa situação na escola é evidente.
Siga em Frente...
Educação e dominação
Com base nas ideias apresentadas, podemos destacar outro conceito fundamental na teoria de
Bourdieu: o conceito de herança. O autor argumenta que desde o nascimento, o indivíduo já é
portador de um conjunto de elementos materiais e imateriais que moldam todo o seu
desenvolvimento ao longo da vida. Os elementos materiais estão diretamente ligados ao aspecto
�nanceiro, abrangendo as condições de vida proporcionadas pela família ou pelo local de
nascimento. Já os elementos imateriais estão relacionados à cultura e à interpretação de mundo,
ambos in�uenciados diretamente pela classe de origem. A ambição do indivíduo é moldada pela
herança recebida, levando alguns a almejar constantemente mais, enquanto outros aceitam os
limites que talvez nunca consigam ultrapassar.
A primeira experiência social do indivíduo ocorre na família, onde desde muito cedo a criança
compreende quais possibilidades de vida estão ao seu alcance, de acordo com a realidade
�nanceira e cultural do grupo familiar. Isso implica que, com base nas diferentes classes sociais,
as heranças deixadas para os indivíduos variam, já que alguns têm acesso à chamada "cultura
legítima", enquanto outros �cam à margem dela. Nesse contexto, a escola deveria operar
considerando a realidade dos indivíduos, começando a partir do conhecimento que eles já
possuem. A proposta seria permitir que os alunos alcancem sempre mais benefícios sociais,
reconhecendo e valorizando as diferentes heranças que cada indivíduo traz consigo.
No entanto, a instituição escolar se revela como uma reprodutora dos valores sociais vigentes, os
quais determinam o conteúdo a ser ensinado. Sendo assim, ela se torna um instrumento de
dominação utilizado pela classe dominante desejosa em manter a sua posição social.
Contrariamente à visão ingênua e amplamente difundida de que a escola prepara para as
necessidades sociais em vigor, Bourdieu (1998) sugere algo diferente: a escola, na realidade,
transmite aquilo que é valorizado pela classe dominante. Desse modo, enquanto um aluno
proveniente da classe popular pode se sentir perdido diante do desconhecido de uma percepção
de mundo re�nada pela arte e pela ciência, um aluno da classe média (ou alta) recebe os
mesmos conteúdos como uma continuidade do que aprendeu ao longo de sua vida.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
A escola, então, reproduz o que é predeterminado pela classe dominante. Considere o capital
cultural incorporado, como língua, gosto por determinadas coisas, por exemplo, há uma
determinação arbitrária do que deve ser seguido, e a escola assume como necessário e
pressuposto esse capital para que o aluno tenha sucesso no ambiente escolar. É evidente que o
aluno com pouco capital cultural dominante terá di�culdade em atingir esse sucesso, e ele pode
se perceber como "naturalmente incapaz" de alcançar o que os provenientes de outra classe
social conseguem. Toda essa estrutura se desenrola como uma forma de violência simbólica.
Segundo Bourdieu, sistema de ensino exerce um tipo de poder simbólico, isto é, um tipo de
“poder invisível que só pode se exercer com a cumplicidade daqueles que não querem saber que
a ele se submetem ou mesmo que o exercem” (Bourdieu, 2014, p. 31). Assim, para esse
pensador, o papel da educação é impor certos valores de forma arbitrária. A escola, desse modo,
acaba por exercer uma forma de violência simbólica ao implicar que todos devem aderir à
"cultura legítima". Na prática, o que ocorre é uma exigência aos estudantes das classes
populares para incorporarem uma herança que não receberam e, por conseguinte, têm poucas
chances de alcançar sucesso, seja na esfera educacional, seja na realização social. A educação,
nesse contexto, contribui para um fracasso predestinado das classes populares, aprofundando
cada vez mais a divisão que favorece os privilegiados de nascimento.
No ambiente escolar, a violência simbólica se manifesta sem a necessidade de força física,
ocorrendo de maneira sutil e inquestionável devido à aceitação legítima do poder simbólico. De
acordo com Bourdieu, esse poder é internalizado pelos indivíduos e se transforma de forma
dissimulada em ações aparentemente simples, não sujeitas a questionamentos, sendo
reconhecidas como legítimas na sua natureza de violência exercida.
O pensamento de Bourdieu sugere que a pedagogia cria mecanismos que destacam a
vulnerabilidade dos alunos diante da autoridade pedagógica. Nesse contexto, é crucial revisar os
modelos interativos ocorridos em sala de aula, promovendo re�exões docentes sobre o currículo
oculto. A escola, apesar de aparentemente proporcionar uma educação igualitária, camu�a a
delicada linha entre a origem social da criança e seu sucesso escolar por meio da prática
pedagógica. Uma análise mais aprofundada das práticas de ensino revela que muitas crianças
enfrentam di�culdades devido aos efeitos da violência simbólica perpetrada pelos professores.
Mesmo quando ocorrem exceções de crianças que obtêm "êxito", é conhecido que muitas
enfrentam consequências devido às suas condições familiares precárias.
Assim, a escola utiliza casos improváveis de sucesso escolar em ambientes populares como
exceções que, segundo Bourdieu, con�rmam a regra e reforçam a suposta neutralidade do
sistema escolar. Essa prática alimenta a ilusão de que o sistema é imparcial em seu
funcionamento.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: Thomas, juntamente com outros
professores, foi acompanhar um grupo de alunos do ensino médio ao teatro quando seria
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
apresentada uma peça antiga, uma tragédia grega intitulada Hécuba, da autoria de Eurípedes. A
peça havia sido executada de modo brilhante, porém, em alguns momentos, diferentes
estudantes se manifestaram com risadas e brincadeiras, de modo que todos ouvissem. Os
professores, incomodados com a situação, se reuniram com a coordenação e direção para
buscar entender o que poderia ter ocasionado tal atitude dos alunos.
Depois de muito conversar, os professores resolveram fazer uma pesquisa, simples e breve, para
começarem a entender o ocorrido, a qual foi feita apenas com os alunos envolvidos na situação:
além de dados como idade e bairro de residência, foi perguntado com que frequência eles iam ao
teatro, dizendo com quem iam e de que tipo de peça mais gostavam. O resultado foi triste, na
conclusão dos professores, 60% dos alunos nunca tinham ido a um teatro antes. Dos demais,
alguns foram, quando bem pequenos, levados pelas escolas que frequentaram e pouquíssimos
iam ao teatro de uma a duas vezes por ano.
Os alunos que atrapalharam a apresentação estavam errados – não há dúvidas. Mas os
professores chegaram à conclusão de que os estudantes não sabiam aproveitar aquele
momento cultural. Quem nunca foi a um teatro, sentiu-se totalmente desmotivado quando, na
primeira vez, tivessem de assistir a uma tragédia grega? Como já estava terminando o ano letivo,
foi sugerido que, no próximo ano, realizassem um trabalho voltado para diferentes vivências
culturais, dentre as quais, o teatro.
Saibamais
A escola, em muitos momentos, é instrumento de dominação e de reprodução da estrutura
social vigente. Para re�etir sobre isso, leia o artigo a seguir:
SAES, D. A. M. de. A ideologia docente em A reprodução, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude
Passeron. Educação & Linguagem, Ano 10, n. 16, jul./dez., 2007.
O autor explora os conceitos do pensamento de Bourdieu, analisando a escola no contexto do
capitalismo, mostrando que a ideologia que se põe como base do ato educativo, por meio dos
professores, é a do mérito pessoal.
A violência simbólica é imperceptível na escola, como nos aponta Bourdieu. Re�etir sobre
ela é fundamental para conseguir colocar em prática uma perspectiva educacional
diferente da vigente. Para se aprofundar no assunto, assista ao documentário:
PRO DIA NASCER FELIZ. Direção: João Jardim. 88 min. Colorido. Idioma: português. 2007.
As situações que o adolescente brasileiro enfrenta no precário sistema de educação público do
país, envolvendo preconceito, precariedade, violência e esperança. Adolescentes de locais dos
mais variados tipos de três estados diferentes, de classes sociais distintas, falam de suas vidas
na escola, seus projetos e suas inquietações.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Referências
BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998.
BOURDIEU. P. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1997.
PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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Dica para você
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Olá, estudante!
Nesta videoaula você irá perceber a importância da sociologia para a compreensão da sociedade
e da educação. Será possível também re�etir sobre o conceito de ideologia e como ela está
presente nos contextos sociais, políticos, econômicos, culturais e também educacionais.
Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Chegada
Olá, estudante!
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Para desenvolver a competência desta unidade, que é entender os pressupostos sociológicos da
educação, conhecendo os diferentes autores que se dedicaram a pensar a sociedade e as
in�uências que a sua organização e estruturação têm no sistema educacional, você deverá
primeiramente entender os diferentes olhares que esses autores lançaram sobre a sociedade e
sobre o sistema educacional. Esses diferentes conceitos e perspectivas nos auxiliam a olhar de
uma maneira crítica e re�exiva para a sociedade capitalista, compreendendo como cada um
deles se faz presente também no ambiente escolar.
Ao pensarmos a sociedade capitalista a partir da perspectiva de Marx e Gramsci percebemos
uma sociedade dividida em classes (dominantes e dominados) que vivem constantemente em
luta para que os interesses de uns prevaleçam sobre os interesses de outros. Nesse sentido, a
ideologia da burguesia é mais forte que a do proletariado e acaba se sobressaindo. A presença
da ideologia em todos os âmbitos da sociedade se comporta como um véu que encobre a
realidade dos fatos, tornando-se, assim, um dos maiores obstáculos para a superação do senso
comum, �cando garantido à classe hegemônica o domínio sobre aqueles que são submetidos a
essa prática violenta.
Assim, entendemos que tudo aquilo que o indivíduo experiencia em sociedade é algo que, ao
longo do tempo, foi sendo produzido para a sustentação da vida do homem – seja vida material
ou vida espiritual e sendo rea�rmado pela ideologia dominante. Aos poucos, com a divisão do
trabalho em suas diversas funções “superiores” e “inferiores”, toda essa bagagem produzida
passou a diferenciar os indivíduos, classi�cando-se segundo aquilo a que tinham acesso. A essa
bagagem damos o nome de capital cultural.
Sob tal perspectiva, podemos compreender também que a cultura de uma sociedade é permeada
pela ideologia que a cerca. A escola reproduz, então, aquilo que é predeterminado pela classe
dominante. Pensemos no capital cultural incorporado (língua, gosto e bom gosto, etc.); há uma
arbitrária determinação daquilo que deve ser seguido, e a escola toma como necessário e
pressuposto tal capital para que o aluno tenha sucesso na escola. Parece-nos óbvio que o aluno
com pouco capital cultural dominante não atingirá tal sucesso e vai se enxergar como
“naturalmente incapaz” de alcançar aquilo que os advindos da outra classe social conseguem.
Essa é uma realidade que pode ser alterada pela educação, é nela que se encontra essa potência
de mudança. Entender a in�uência da cultura na educação implica considerar que os valores, as
crenças, as tradições e as normas culturais moldam a maneira como as pessoas percebem o
mundo, aprendem e se relacionam.
Ao incorporar a diversidade cultural no processo educacional, é possível criar um ambiente que
promova a compreensão intercultural e prepare os indivíduos para uma participação signi�cativa
na sociedade. Nesse contexto, a educação não apenas transmite conhecimentos cientí�cos, mas
também desempenha um papel crucial na formação de indivíduos culturalmente competentes e
socialmente responsáveis.
É Hora de Praticar!
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Compreendemos que a ideologia é um conjunto de ideias que sustenta uma determinada visão
de mundo, seja ela política, religiosa, cientí�ca, etc. Não é possível considerarmos uma visão de
mundo que não seja permeada por algum tipo de ideologia. Esse discurso, na realidade, já está
tomado pela ideologia dominante, que tem o intuito de manter a organização social como está,
sem nenhum tipo de contestação.
Assim, percebemos que prevalece sempre a ideologia que tem mais força, seja de
convencimento ou por imposição. Torna-se um problema quando se entende haver uma ideologia
plenamente verdadeira, diante da qual todas as outras devem ser rechaçadas. Esse discurso
ideológico pode ser percebido também no contexto educacional, na maneira como o ensino é
ofertado ou quando se tenta impor algum tipo de conduta aos professores, por exemplo.
Para nos aprofundarmos nessa re�exão, assista ao �lme:
A ONDA. Direção: Dennis Gansel. 107 min. Idioma: alemão. Legendas: português. 2008. Rainer
Wenger é um professor de colegial que, ministrando aulas sobre autocracia, realiza um
experimento com os alunos, que não acreditam que uma nova ditadura possa surgir na
Alemanha. Rainer propõe que os estudantes instituam um grupo entre si, para que ele possa
mostrar na prática como funciona esse sistema, e como é possível manipular a população.
Após assistir ao �lme, responda: Como é possível identi�car um discurso ideológico? Como
percebemos a ideologia dominante no sistema educacional? É possível que a educação deixe de
ser ideológica?
De que modo as oportunidades sociais podem ser as mesmas para todas as pessoas se os
modelos de escola preparam cada um para um futuro diferente?
Você percebe que as situações de divisão de classes se perpetuam ao longo do tempo?
Como é possível perceber a in�uência da ideologia dominante na educação?
O �lme mostra exatamente o que uma ideologia manipuladora, seguida pela maioria das
pessoas, pode fazer com os indivíduos. Um discurso é ideológico sempre quando a ideia que ele
transmite é tomada como a única aceitável, considerando apenas uma visão de mundo, não se
tomando todos os elementos possíveis paraanálise e favorecendo determinadas situações. No
fundo, esse tipo de discurso objetiva manter os poderosos no poder.
Para compreender o poder da ideologia dominante no sistema educacional, podemos pensar os
projetos educacionais das escolas públicas que, muitas vezes, são impostos sem ser conhecida
a realidade de sala de aula. Isso faz com que a educação não se realize de modo efetivo para a
maior parte da população, pois depende do ensino gratuito. Acaba-se ofertando uma educação
diferente para as diversas classes sociais: quem pode pagar, garante maior qualidade e, no
futuro, terá condições de continuar fazendo parte da classe dominante, pois a dominação nas
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
ideias é mais poderosa que a física. E a classe menos favorecida sempre continuará desprovida
de educação de qualidade, recursos �nanceiros, bens, etc.
A educação deixa de ser ideológica quando permite a libertação do ser humano, quando esta
passa a ter vez, lutando pela igualdade social em melhores condições de vida. Ler e escrever de
modo efetivo, aprendendo a pensar criticamente a realidade é o modo pelo qual o aluno é
libertado pela educação. Ter consciência da realidade é a abertura de caminho para a libertação.
Veja no mapa mental a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Figura 1 | Sociedade e educação
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978.
PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004.
,
Unidade 3
Perspectivas da Educação Brasileira
Aula 1
A Educação Brasileira de 1930 a 1964
A Educação Brasileira de 1930 a 1964
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Olá, estudante!
Nesta aula você re�etirá sobre a educação brasileira de 1930 a 1964. Pensaremos a partir de um
panorama histórico da educação marcada pelos distintos projetos de desenvolvimento, pelas
resistências da educação católica diante das propostas pedagógicas dos reformadores da
educação nova e da emergência da educação popular. Vamos lá?!
Ponto de Partida
Falar da educação brasileira é um resgate �losó�co e histórico muito importante para todas as
áreas do conhecimento. Nesse momento, vamos entender as questões históricas e sociais em
torno do período de 1930 a 1964 como fonte de conhecimento da história brasileira. É preciso
levar em consideração as transformações ocorridas no desenvolvimento econômico, político e
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
social nos dois governos de Getúlio Vargas, de Juscelino Kubitschek, de Jânio Quadros e de João
Goulart, de intenso desenvolvimento industrial num contexto social de democracia restrita, que
exigiu uma política educacional coerente com os projetos de desenvolvimento em curso.
Para nos aprofundarmos no assunto, imaginemos que você tenha assumido a tarefa de realizar
um seminário sobre a “Educação no período desenvolvimentista: de Vargas a João Goulart”. De
que forma você relacionaria a dinâmica econômica, política e social com os processos
educacionais nesse período? Com a Revolução de 1930, liderado por Vargas, e pelos demais
governos desenvolvimentistas, a velha estrutura coronelista foi superada? Como a diversidade de
projetos de desenvolvimento repercutiram nos projetos educacionais? Quais foram as principais
divergências entre os católicos e os reformadores da educação nova? Como as classes
dominantes reagiram diante das propostas pedagógicas inovadoras?
Bons estudos!
Vamos Começar!
A educação não está apartada da sociedade, ela também é a expressão dos con�itos sociais.
Para começar, precisamos compreender que os fatos históricos não acontecem de maneira
isolada. Como vivemos em uma sociedade globalizada, os fatos e fenômenos que ocorrer em
diferentes locais do mundo afetam também a nossa realidade. A crise de 1929 na Bolsa de Nova
Iorque desencadeou a maior crise até então no sistema capitalista, impactando severamente a
economia brasileira, que estava fortemente dependente da exportação de café. Essa situação foi
agravada pela crise política e social no país. As antigas elites oligárquicas estavam divididas,
enquanto o descontentamento social era reprimido com vigor.
Após as eleições de 1929, nas quais Júlio Prestes, representando a oligarquia paulista, foi
declarado vencedor contra Getúlio Vargas, que simbolizava outras oligarquias e setores
insatisfeitos, a Aliança Liberal, formada por diversos grupos sociais heterogêneos, impediu a
posse do novo presidente por meio de um golpe, conhecido como a Revolução de 1930. Getúlio
Vargas assumiu temporariamente o governo, estendendo sua liderança até 1945.
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, a oligarquia paulista buscou recuperar o
controle político, mas foi derrotada. A única conquista foi a convocação de um processo eleitoral
constituinte, resultando na Constituição de 1934, que elegeu indiretamente Vargas para um
mandato de quatro anos. A Constituição de 1934 não conseguiu satisfazer nenhum dos setores
envolvidos na disputa pelos rumos do país. Diante desse descontentamento generalizado, a
Aliança Liberal se fragmentou em setores con�itantes, e os descontentamentos sociais
persistiram e aumentaram.
Aproveitando-se da situação, Vargas, respaldado pelos militares e pelos integralistas,
interrompeu as eleições de 1938, dissolveu o Congresso Nacional e os partidos políticos. Getúlio
então impôs uma nova constituição por meio de outorga, inaugurando o Estado Novo em 1937.
Esse regime autoritário permaneceu em vigor até 1945, quando Vargas foi deposto. Durante esse
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
período, houve uma concentração signi�cativa de poder nas mãos do governo, marcada pela
supressão de instituições democráticas e pela instauração de medidas autoritárias.
Por outro lado, para conter as agitações no movimento operário, o governo adotou a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como uma ferramenta para exercer controle social e
tutela estatal sobre os trabalhadores. O trabalho foi promovido como o principal meio de
cidadania e inclusão social. Getúlio Vargas, com sua abordagem nacionalista, desagradava os
setores econômicos conservadores, que eram politicamente representados pela União
Democrática Nacional (UDN). Ao mesmo tempo, sua política ditatorial gerava descontentamento
entre os setores progressistas, que buscavam uma maior expansão da democracia. Vargas
navegava nesse �o da navalha, equilibrando-se entre essas contradições.
Entre 1930 e 1964 as políticas educacionais foram predominantemente caracterizadas pela
disputa de ideias entre os católicos e os defensores da Educação Nova. Desde a chegada dos
jesuítas ao Brasil no século XVI, os católicos exerceram uma in�uência signi�cativa na educação
do país. Até 1759, eles praticamente detinham o monopólio do ensino. Após a expulsão dos
jesuítas do Brasil, os católicos, representados por outras ordens religiosas, passaram a liderar as
principais instituições privadas de ensino no país, exercendo uma in�uência direta sobre a
educação pública.
Governo Getúlio Vargas
Durante o governo de Vargas, diante da crise nos primeiros anos da década de 1930, ocorreu
uma transformação no padrão de desenvolvimento econômico. A ativa intervenção do Estado na
gestão da economia impulsionou uma intensa industrialização, acompanhada pela construção
da infraestrutura necessária para o desenvolvimento econômico. No entanto, essa mudança não
alterou a antiga estrutura agrária do país.
Nesse período, foram estabelecidas importantes iniciativas, como a construção da Usina de
Paulo Afonso para a produçãode energia, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para a
produção de ferro e aço, a Vale do Rio Doce para a exploração mineral, a Eletrobrás para a
distribuição de energia, além da expansão de estradas, ferrovias e portos. Durante seu segundo
governo, em 1953, a Petrobras impulsionou um novo setor industrial nacional, permitindo o
desenvolvimento de outros segmentos.
O debate central nesse período era sobre o projeto de desenvolvimento econômico do país: se
seria autônomo, destacando-se pela industrialização, ou se manteria a estrutura agrária anterior,
argumentando que isso garantiria uma vantagem comparativa ao Brasil globalmente. Vargas,
apesar de suas contradições, representou a escolha pelo primeiro caminho, enfrentando intensa
oposição interna e externa dos setores que se bene�ciavam de um desenvolvimento dependente
dos países capitalistas centrais. Sua deposição em 1945 e o suicídio em 1954, evitando um
golpe em andamento, foram eventos gerados por essa disputa.
Diferentes ideais de educação
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
No início da década de 1920, as in�uências das pedagogias renovadoras da Europa,
especialmente dos Estados Unidos com �guras como John Dewey, deram origem a críticas
contundentes à educação tradicional que predominava no sistema educacional brasileiro.
Defendeu-se a necessidade de reformas educacionais fundamentadas em uma nova perspectiva
pedagógica. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, lançado em 1932, advogava por uma
educação pública, gratuita, obrigatória, laica e orientada para preparar as novas gerações diante
das transformações em curso no país.
A reação católica após a publicação do Manifesto de 1932 foi marcada pela sua retirada da
Associação Brasileira de Educação (ABE) em 1932. Em 1934, os católicos fundaram a
Confederação Católica Brasileira, reunindo educadores católicos brasileiros. A principal objeção
dos católicos no início do governo Vargas foi contra a laicização do ensino. Além disso, eles
criticaram a gratuidade e obrigatoriedade do ensino pelo Estado, defendendo o direito das
famílias de escolherem a melhor forma de educar seus �lhos, alegando que as imposições
estatais seriam inadequadas.
Para os católicos, as ações dos reformadores eram vistas como um atentado contra uma
hierarquia divina, contrárias aos valores católicos e promotoras de uma visão social que se
baseava na convicção de que uma elite deveria guiar um povo considerado incapaz de construir
seu próprio caminho, segundo as concepções morais católicas.
Os reformadores, fundamentados em métodos cientí�cos, advogavam por uma educação
voltada para o impulso do desenvolvimento econômico e social, alinhada à dinâmica
desenvolvimentista em curso no país. Acreditavam que a educação deveria promover a
integração entre indivíduos de diferentes classes sociais e ser responsável pela inclusão social.
Para eles, o principal obstáculo na educação brasileira residia no método tradicional, que deveria
ser substituído por uma metodologia inovadora baseada em biologia, psicologia e ciência.
Segundo Saviani (2009), para a Escola Nova, seria necessário deslocar o foco do intelecto para o
sentimento no processo pedagógico, passar do aspecto lógico para o psicológico, dos
conteúdos para os métodos ou processo pedagógico, do professor para o aluno, do esforço para
o interesse, da disciplina para a espontaneidade, da quantidade para a qualidade e da pedagogia
�losó�ca/cientí�ca para o experimentalismo baseado em biologia e psicologia. O enfoque não
era apenas aprender, mas aprender a aprender, ou seja, o método era mais importante do que o
conteúdo. Enquanto os católicos, com suas instituições educacionais consolidadas, exerciam
uma hegemonia pedagógica no cenário educacional brasileiro, os reformadores buscavam
ampliar os espaços para a prática de métodos pedagógicos inovadores. Diversas medidas
governamentais foram adotadas para atender aos interesses dos reformadores, permitindo
algumas reformas importantes.
Vargas manteve um equilíbrio delicado nesse embate, alternando entre atender aos interesses
dos reformadores ao nomeá-los para importantes órgãos públicos de educação e considerar a
in�uência católica no país, atendendo aos interesses religiosos. Na Constituição de 1934, por
exemplo, Vargas apoiou o retorno do ensino religioso obrigatório nas escolas públicas,
contrariando os reformadores.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Durante a elaboração dessa Constituição, ocorreu um intenso debate sobre o �nanciamento
público para a Educação. Foi permitido ao Estado, com recursos públicos, �nanciar a educação
privada, principalmente por meio de bolsas de estudos e empréstimos subsidiados, atendendo a
demandas dos católicos. Essa medida permitiu que a Igreja amenizasse suas críticas ao papel
do Estado na educação, possibilitando a expansão do ensino público no país.
As políticas educacionais do governo Vargas foram caracterizadas por reformas que visavam
atender às novas demandas educacionais, decorrentes do crescimento urbano, da diversidade
social e do desenvolvimento de novos setores econômicos e pro�ssionais, sem confrontar
diretamente os interesses católicos. A criação do Ministério da Educação e da Saúde, mesmo
compartilhado, com o primeiro sendo o primeiro órgão governamental especí�co para a
educação, demonstrou um aumento da importância dada a essa área pelo governo.
Leis Orgânicas do Ensino
Entre 1942 e 1946, por meio das Leis Orgânicas do Ensino, foi implementado o ensino supletivo,
contribuindo para a redução do analfabetismo. Sob a pressão dos reformadores da educação, o
governo incorporou previsão de recursos orçamentários para a reforma educacional, estabeleceu
o planejamento escolar, organizou a estrutura da carreira docente e os salários, regulamentou os
cursos de formação de professores e reestruturou os cursos secundários, que passaram a ter 4
anos de ginásio e 3 de colegial (cientí�co e clássico). Durante esse período, foram criados dois
tipos de ensino pro�ssionalizante: o primeiro, mantido pelo governo, abrangia ramos industrial,
comercial e agrícola; o segundo, mantido pelas empresas, foi estabelecido com a criação do
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em 1942. Em 1946, foi instituído também o
Sistema Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).
Apesar da expansão da escolarização, as reformas educacionais enfrentaram desa�os na
realidade brasileira. O número de professores leigos, sem formação adequada, era signi�cativo e
cresceu a partir de 1940. As escolas normais, destinadas à formação de professores, tornaram-
se predominantemente frequentadas por classes médias e por mulheres. Os cursos secundários
continuavam a servir como preparação para o ensino universitário, mantendo o dualismo escolar,
enquanto o ensino pro�ssionalizante, promovido pela iniciativa privada, era direcionado
principalmente às classes trabalhadoras.
O ensino fundamental foi negligenciado, e os reformadores, confrontados com contradições,
precisaram conciliar com os católicos. As perspectivas educacionais desses últimos
pressupunham uma democratização dos espaços educacionais, algo que não ocorreu durante a
ditadura do Estado Novo.
Siga em Frente...
Os governos Juscelino Kubitschek e João Goulart
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Com a deposição de Vargas em 1945, uma nova Assembleia Constituinte foi convocada,
resultando em uma Constituição permeada por conteúdos defendidos pelos reformadores da
Escola Nova. A partir de 1947, conforme apontado por Saviani (2011), houve uma predominância
das ideias da pedagogia nova. Lourenço Filho permaneceu no Ministério da Educação, dirigido
por Clemente Marini, e elaborou o anteprojeto da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da
educação brasileira, que tramitou no Congresso Nacional até 1957, sendo promulgada em 1961.
O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) navegou entre as ambiguidades do
nacionalismo legado por Vargas e um desenvolvimentismo apoiado no capital privado
estrangeiro, principalmente nas indústriasde bens duráveis como automóveis e
eletrodomésticos, bens intermediários e bens de produção. Essa abordagem, no entanto, não
impediu duas tentativas de golpes por parte dos setores conservadores.
Nos debates sobre a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), os reformadores advogaram pela
descentralização do ensino e defenderam suas bandeiras históricas de educação pública,
gratuita e laica. Por outro lado, os católicos, representados pelos setores conservadores do
Congresso Nacional, especialmente a UDN, continuaram a apoiar o ensino privado e
argumentaram que o Estado deveria �nanciar tanto o ensino público quanto o privado.
Em 1959, de acordo com Aranha (2006), o foco central era a proposta republicana de um ensino
laico, uma responsabilidade do Estado, e a defesa da democratização do ensino. No entanto,
devido ao favorecimento das escolas privadas, majoritariamente católicas, a democratização da
educação foi retardada. Em resposta a essa situação, os reformadores lançaram a Campanha
em Defesa da Escola Pública, que resultou no "Manifesto dos Educadores Mais uma Vez
Convocados" em 1959.
O principal argumento do manifesto era que os recursos públicos deveriam ser exclusivamente
destinados à educação pública e não deveriam �nanciar instituições privadas. Aranha (2006)
também argumenta que a LDB, promulgada em 1961, estava desatualizada em relação à
dinâmica industrial em curso, favorecendo o ensino privado ao permitir �nanciamento público
para instituições privadas. Com a criação do Conselho Federal de Educação (CFE) e dos
Conselhos Estaduais de Educação (CEE), nos quais as entidades privadas participavam, a
pressão e a in�uência desse setor aumentaram.
O fortalecimento dos interesses privados na educação di�cultava signi�cativamente o acesso
dos setores historicamente marginalizados. A possibilidade de construção de um sistema de
ensino público e sua democratização estavam em jogo. As disputas de projetos sociais, que
opunham os desenvolvimentistas aos setores que defendiam um desenvolvimento econômico
subordinado aos interesses estrangeiros e às antigas elites oligárquicas dominantes, também se
manifestavam no campo da educação. Um exemplo disso era a UDN apoiando os católicos
nesse debate educacional, enquanto os setores progressistas e de esquerda defendiam os
reformadores.
Já no governo de João Goulart (1961-1964), que representava legitimamente o nacionalismo
varguista, foi um período marcado por intensas disputas políticas, instabilidade e tensões sociais
no Brasil. João Goulart, conhecido popularmente como "Jango", assumiu a presidência em
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
setembro de 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. Setores conservadores, como a UDN, a
grande imprensa, a grande burguesia e os Estados Unidos, buscaram desestabilizar seu governo
por meio de diversas iniciativas. Isso incluiu a imposição do Parlamentarismo, a oposição
persistente da UDN e dos meios de comunicação, culminando na deposição de Goulart pelo
Golpe de 1964. Esse período foi marcado por tensões políticas e sociais que contribuíram para a
crise e instabilidade no cenário brasileiro.
Jango era um político ligado às correntes trabalhistas e progressistas, com forte apoio dos
movimentos sindicais e trabalhadores. Ele implementou algumas medidas que visavam a
promover reformas estruturais e sociais, o que gerou resistência por parte de setores mais
conservadores da sociedade brasileira, incluindo setores militares. Jango propôs uma série de
reformas conhecidas como "Reformas de Base". Estas incluíam reformas agrária, tributária,
educacional e política, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais e promover uma maior
participação popular.
A LDB, em vigor a partir de 1962, estabeleceu o Conselho Federal de Educação, e o Plano
Nacional de Educação foi elaborado sob a coordenação de Anísio Teixeira. O Plano previa a
destinação de no mínimo 12% dos recursos federais para o ensino, criando fundos especí�cos
para cada nível educacional e desenvolvendo um plano de educação para cada um desses níveis,
incluindo critérios para os salários dos professores. Anísio Teixeira desempenhou um papel
signi�cativo durante o início dos anos 1960, permanecendo na direção da CAPES (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais), além de colaborar diretamente na criação da Universidade de Brasília
(UnB) em 1961.
Diante dos interesses privados presentes na LDB e das di�culdades para democratizar a
educação, vários setores sociais impulsionaram experiências de educação popular. Desde o
início do século, anarquistas, socialistas, comunistas e organizações do movimento negro
buscavam formas alternativas de educação, realizando experiências fora das estruturas
institucionais.
É importante relembrar o contexto internacional da "Guerra Fria", com a polarização entre o bloco
socialista e capitalista, viu a URSS fortalecer-se após a Segunda Guerra Mundial, o que, por sua
vez, fortaleceu o movimento comunista internacional. Nessa condição, os Estados Unidos
aumentaram seu controle sobre os países latino-americanos, interferindo diretamente em seus
governos, desestabilizando regimes e apoiando golpes e ditaduras militares.
Diante da intensi�cação da luta de classes no Brasil e das di�culdades para democratizar a
educação, surgiram diversas iniciativas educacionais no campo popular. Essas iniciativas
procuravam conscientizar o povo brasileiro por meio de diversas perspectivas, desde o marxismo
até o catolicismo, utilizando a cultura e a educação popular como instrumentos. O teatro, as
artes plásticas, a fotogra�a, a literatura de cordel, os cursos de formação política para
trabalhadores, exposições, publicações, música, exibição de �lmes e documentários e a
alfabetização popular foram algumas das propostas pedagógicas que se tornaram espaços de
expressão dos interesses populares que a dinâmica política do país sufocava.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Apesar de suas limitações, a educação pública expandiu-se durante esse período, com a criação
de algumas universidades. Os estudantes foram in�uenciados pela crescente politização da
sociedade. A União Nacional dos Estudantes (UNE), criada em 1937, nas décadas de 1950 e
1960, foi hegemonizada por setores católicos que se radicalizaram, unindo-se na defesa da
democratização da educação pública. Entre 1962 e 1964, a UNE estabeleceu o Centro Popular de
Cultura (CPC) para promover uma cultura engajada e politizada.
Os Movimentos de Cultura Popular (MCP), inicialmente inspirados nas propostas educacionais
da Prefeitura de Recife, em Pernambuco, onde Paulo Freire atuou, também se disseminaram. Em
1961, em Natal, surgiu a "Campanha de pé no chão também se aprende a ler", uma importante
iniciativa de alfabetização popular. O Movimento de Educação de Base (MEB), criado pelos
católicos progressistas e coordenado por Paulo Freire, in�uenciado pela Teologia da Libertação,
desenvolveu uma abordagem pedagógica inovadora e participativa. O MEB promovia a
alfabetização de adultos e buscava integrar a educação com as realidades sociais, visando à
conscientização e à transformação social.
Desdobramentos dos movimentos progressistas
As ações educacionais aliadas à politização social, trouxeram uma nova dimensão à educação
popular. Antes centrada principalmente na alfabetização, essa fase incorporou elementos
nacionalistas e viu o surgimento de iniciativas inovadoras. Exemplos dessas inovações incluem o
Colégio de Aplicação da USP, que operou entre 1962 e 1966, e os Colégios Vocacionais em
cidades do estado de São Paulo, como Americana, Batatais, Rio Claro e Barretos. Essas
iniciativas buscaram proporcionar aos setores populares acesso a uma perspectiva pedagógica
diferenciada e crítica, despertando a atenção e a oposição de setores conservadores.
Setores conservadores, liderados por militares, opuseram-se fortemente às propostas de Jango.
O clima de polarização política e as divergências ideológicas levaram amanifestações e
protestos, tanto a favor quanto contra o governo. Diante da crise política, em 1963, foi instituído o
sistema parlamentarista, diminuindo os poderes presidenciais. Entretanto, em 1963, um
plebiscito restabeleceu o presidencialismo. O governo enfrentou desa�os econômicos, como
in�ação e pressões de diversos setores da sociedade. A busca por soluções para os problemas
econômicos aumentou a polarização política no país. Em 31 de março de 1964, ocorreu um
golpe militar que resultou na deposição de João Goulart. Os militares alegaram a necessidade de
conter ameaças comunistas, corrupção e instabilidade política como justi�cativas para o golpe.
Com o Golpe Militar de 1964, essas experiências pedagógicas foram interrompidas bruscamente.
A repressão sobre professores, estudantes e demais pro�ssionais da educação seguiu o mesmo
padrão da repressão social geral, caracterizada por perseguições, cassações, torturas e
assassinatos promovidos pelos novos detentores do poder. O espírito crítico adotado nas ações
educacionais tornou-se alvo das políticas repressivas do regime militar.
Vamos Exercitar?
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: você �cou encarregado de realizar um
seminário sobre a Educação no período desenvolvimentista, lançando algumas questões para
sua preparação. Nesse sentido, seguem algumas re�exões:
Na primeira questão, se a velha estrutura coronelista foi superada durante o período de 1930 a
1964, podemos responder positiva e negativamente. O projeto político representado pelas elites
coronelistas foi parcialmente derrotado pelos governos desenvolvimentistas na medida em que
uma nova dinâmica industrializante foi impulsionada, mas eles não foram totalmente derrotados.
Se na Europa a velha classe dominante feudal foi destruída pela burguesia, abrindo caminho para
o pleno desenvolvimento capitalista, no Brasil isso não ocorreu, não houve uma ruptura. Mesmo
com um projeto de desenvolvimento mais autônomo em relação ao período agroexportador, os
setores burgueses não romperam totalmente os laços de dependência com os interesses
externos nem com a velha estrutura latifundiária, o que ajuda a compreender as contradições
desses governos desenvolvimentistas.
Em relação à questão sobre como a diversidade de projetos de desenvolvimento repercutiu nos
projetos educacionais, podemos a�rmar, a partir do que foi indicado anteriormente, que eles
expressaram essas contradições, limitando-se a propiciar a formação de uma força de trabalho
para as novas atividades que surgiram, sem alterar o quadro de dualismo escolar existente no
país. As divergências entre os reformadores e católicos estavam situadas dentro dos limites de
disputas entre um projeto de desenvolvimento nacional e aquele que foi derrotado em 1930.
O Golpe de 1964 demonstrou os limites da democracia realmente existente no país, pois as elites
nacionais e estrangeiras não suportaram nem mesmo os tímidos níveis de democratização
existentes nesse período. A força dos interesses privados na educação e as di�culdades de
ampliação do ensino público e gratuito no país expressavam esses limites. O Golpe de 1964, com
a instituição do ensino tecnicista, permitiu à burguesia uma formação da força de trabalho sem
os perigos da conscientização que estava em curso no país.
Saiba mais
Para se aprofundar na re�exão sobre o processo de alfabetização no Brasil, lei a seguinte
artigo:
Memórias da educação: a alfabetização de jovens e adultos em 40 horas, das autoras Maria
Elizete Guimarães Carvalho e Maria das Graças da Cruz Barbosa.
No texto você encontrará um interessante estudo sobre as experiências de Paulo Freire na
construção de seu método de alfabetização de jovens e adultos.
O governo do presidente João Goulart foi marcado por inúmeras tentativas de
desestabilização. Para compreender mais sobre o assunto, ouça o episódio João Goulart
do podcast História em Meia Hora, publicado em outubro de 2022. O podcast apresenta a
http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639928
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
vida do presidente trabalhista que nunca concorreu à presidência, que esteve ao lado de
Vargas e que protagonizou o Golpe de 1964 pelos militares.
Referências
ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 2006.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.
SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2011.
XAVIER, M. E. S. P.; RIBEIRO, M. L.; NORONHA, O. M. História da educação: a escola no Brasil. São
Paulo: FTD, 1994.
Aula 2
A Educação no Período Militar
A Educação no Período Militar
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Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Nesta aula você re�etirá sobre a educação brasileira no período de 1964 a 1988. Essa re�exão é
importante para a compreensão do período da ditadura militar e do início da redemocratização,
em que a educação tecnicista foi marcante na política educacional ditatorial. É hora de
aprofundar o seu conhecimento sobre o assunto. Vamos lá?!
Ponto de Partida
Compreender a educação brasileira no período de 1964 a 1988 é entender o objetivo dos
fundamentos da educação brasileira durante o período da ditadura, resultando em um modelo
tanto social quanto educacional, em uma rigorosa imposição de leis e modelos de vivência frente
à sociedade brasileira, em um domínio e uma prática de conduta autoritária, revoltando
intensamente muitos setores da sociedade brasileira.
Reformas voltadas à transformação da educação tradicional para uma educação tecnicista
criaram revoltas estudantis e uma insatisfação social muito grande no povo brasileiro quanto aos
aspectos culturais e políticos que estavam envolvidos naquele momento. As mudanças que
ocorreram no Brasil e na educação brasileira a partir de 1964 têm impacto até hoje.
Para nos aprofundarmos no assunto, imaginemos que você é um professor da disciplina de
História no ensino médio. Você está trabalhando o período da Ditadura Militar com seus alunos.
Diante disso, você elaborou algumas questões para nortearem o desenvolvimento da sua aula.
Você já sabe os motivos que levaram ao golpe militar de 1964. Mas que consequências isso
traria para a educação nacional, para as universidades, para o ensino primário e secundário da
época e em que isso impactaria as próximas décadas? Quais foram as mudanças implantadas
no ensino primário, no secundário e na educação de jovens e adultos? E no ensino superior, o que
mudou?
Entramos nos anos 1980 sofrendo diretamente as consequências do regime militar. Se por um
lado a economia cresceu e se modernizou nos anos 1970, por outro, a conta sobrou para as
gerações futuras. Como estava a economia brasileira nesse período? Nos anos 1970 vivemos o
“milagre econômico”, mas quais seriam seus re�exos nos anos seguintes? Será que a crise
econômica explica a de�ciência das políticas públicas, em especial a educação, no período?
Por falar em políticas públicas, o que estava acontecendo na política nacional nesse período?
Experimentávamos a abertura política, o fortalecimento da sociedade civil, os debates para a
elaboração da nova Constituição, até sua promulgação em 1988. O que mudou no Brasil? Que
transformações ocorreram na educação nacional? Bons estudos!
Vamos Começar!
Quais foram os verdadeiros motivos que levaram aoestabelecimento de uma ditadura no período
de 1964 a 1985? Em 31 de março de 1964, ocorreu o golpe militar, destinado a conter o avanço
das organizações populares durante o governo de João Goulart, rotulado como comunista. O
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
evento central foi a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, o que intensi�cou a
insatisfação de uma parcela da população quanto aos rumos do país. Em março de 1964,
militares contrários a João Goulart (PTB) o destituíram da presidência, conquistando o poder por
meio de um golpe de liderança pelas Forças Armadas, instaurando um regime ditatorial que
perdurou por 21 anos.
Cada líder desse período apresentou características próprias e especí�cas, com suas
especialidades. Houve fases distintas, como a fase legalista da ditadura (1964-1968), os anos de
terror de Estado (1969-1978) e a abertura política (1979-1985), cada uma com suas
consequências sociais, como desigualdade exacerbada, restrição de acesso da população
preocupada com informações públicas, aumento da concentração de renda entre a elite, in�ação
elevada e aumento do endividamento externo.
Como re�exos relevantes na educação nacional, cabe destacar que uma repressão constante foi
imposta para controlar professores e o movimento estudantil, resultando em alterações nos
cursos e na in�ltração de agentes em salas de aula para monitorar e controlar docentes. Nas
universidades públicas, foram implementados sistemas de vigilância e espionagem direcionados
a professores, estudantes e técnicos-administrativos, culminando em casos de desaparecimento,
privação de empregos e interrupção de pesquisas acadêmicas.
Durante o regime militar, a educação passou por sucessivas reformas, incluindo a
obrigatoriedade curricular e a reformulação da disciplina de Educação Moral e Cívica,
incorporando elementos de Sociologia e Filoso�a, além de integrar partes da disciplina
Organização Social e Política Brasileira (OSPB).
A Lei nº 5.540/68 promoveu reformas no ensino superior, incluindo a privatização de instituições
e o estabelecimento de instituições de menor porte. Já a Lei nº 5.692/71 representou uma
"atualização" na estrutura de ensino, o�cializando a transição do curso primário e antigo ginásio
para o "1º grau", re�etindo a intenção do governo militar de formalizar a formação pro�ssional da
população desde a adolescência.
A conjuntura social do período militar
Ao assumirem o governo, os militares implementaram seu projeto político, econômico e social,
resultando no que �cou conhecido como "milagre econômico" nos anos subsequentes. Isso se
refere ao notável crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que representa o valor de toda
produção interna, durante parte do período militar. O rápido crescimento e a diversi�cação do
parque industrial exigiam, de maneira urgente, a formação de uma mão de obra quali�cada.
O “milagre econômico” fundamentou-se, principalmente, na abertura da economia para
investimentos estrangeiros, nos investimentos estatais, na ampliação do crédito, na
concentração de renda que elevou a margem de lucro e o retorno dos investimentos, bem como
nos investidores internacionais públicos e privados a juros �utuantes.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Para enfrentar a oposição, além da deposição do presidente, foi necessário estabelecer um
aparato repressor, baseado nos Atos Institucionais (AIs), que gradualmente descaracterizaram a
Constituição de 1946. Os Atos Institucionais foram uma série de decretos emitidos durante o
regime militar no Brasil, entre 1964 e 1969, que conferiram poderes extraordinários ao governo e
tiveram impacto signi�cativo na estrutura política e social do país. Eles foram utilizados como
instrumentos para consolidar o controle dos militares sobre o poder e para responder à oposição
política. Alguns dos Atos Institucionais mais relevantes incluem:
AI-1 (9 de abril de 1964): este Ato extinguiu todos os partidos políticos existentes,
suspendeu garantias constitucionais e autorizou o presidente a legislar por decretos.
AI-2 (27 de outubro de 1965): este Ato decretou o bipartidarismo, permitindo apenas dois
partidos políticos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), de apoio ao governo, e o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), considerado uma oposição controlada.
AI-3 (5 de fevereiro de 1966): ampliou os poderes do Executivo, estabelecendo eleições
indiretas para governadores de estados e prefeitos das capitais.
AI-5 (13 de dezembro de 1968): este foi o Ato Institucional mais severo e autoritário. Ele
conferiu ao presidente poderes para encerrar o Congresso Nacional, decretar estado de
sítio, cassar mandatos parlamentares, suspender direitos políticos e prender indivíduos
considerados subversivos, sem a necessidade de habeas corpus. O AI-5 marcou o auge da
repressão e resistência do regime.
Os Atos Institucionais foram desenvolvidos para a concentração de poder nas mãos do governo
militar, restringindo as liberdades civis, promovendo a censura e reprimindo qualquer forma de
oposição ao regime. Esses decretos tiveram um impacto profundo na história política e social do
Brasil durante esse período. O AI-5 decretou o fechamento de�nitivo do regime. A partir desse
ponto, ocorreram prisões arbitrárias, exílio, torturas e assassinatos de forma generalizada,
praticamente dizimando os opositores.
Desde o início, o novo governo buscou eliminar a oposição, incluindo ex-presidentes,
governadores, diplomatas, sindicalistas, o�ciais militares, professores, entre outros (Skidmore,
1988). Durante o período de 1964 a 1985, testemunhamos a consolidação de um modelo muito
diferente das propostas de reformas de base, que originalmente visavam à distribuição de renda
e ao crescimento sustentável, sem depender signi�cativamente de empréstimos internacionais,
especialmente dos Estados Unidos.
No tocante à educação, as reformas educacionais, ao longo de diferentes contextos históricos,
evidenciaram a in�uência do empresariado nacional e internacional, uma vez que o mercado
local e global exerce um papel determinante nas diretrizes do setor educacional. Nesse cenário,
tais iniciativas tendem a servir aos interesses de uma elite empresarial e cultural, alinhada à
realidade econômica da sociedade em questão.
É notável que essas reformas muitas vezes são concebidas sem uma participação signi�cativa
da sociedade, resultando em desa�os persistentes. No Brasil, por exemplo, a ausência de uma
abordagem participativa da sociedade na elaboração de políticas educacionais contribui para a
persistência de um elevado número de pessoas não alfabetizadas, bem como para a baixa
qualidade do aprendizado na sociedade. Essas lacunas di�cultam a e�cácia do sistema
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
educacional em cumprir seu papel fundamental de redução das desigualdades culturais, políticas
e econômicas entre os mais desfavorecidos.
Siga em Frente...
As reformas educacionais no período militar
A repressão durante a ditadura não se restringiu apenas às �guras políticas, alcançando também
professores e estudantes. Entre os que foram cassados e exilados, destacam-se personalidades
como Celso Furtado e Paulo Freire (Skidmore, 1988). Professores que se opuseram ao regime
foram alvo de prisões, exílios ou aposentadorias compulsórias, como no caso de Florestan
Fernandes. Anísio Teixeira, pioneiro desde os anos 1930 e que atualmente dá nome ao Inep
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), foi deposto do cargo de
reitor da UNB em 1964. Em 1971, seu corpo foi encontrado no fosso de um elevador,
provavelmente mais uma vítima fatal da ditadura.
Buscando intensi�car a repressão após a implementação do AI-5, foi promulgado em fevereiro de
1969 o Decreto-Lei nº 477, que proibia qualquer debate político nas universidades. Em setembro
de 1969, através do Decreto-Lei nº 869, foram adicionadas as disciplinas acríticas de Educação
Moral e Cívica e Organização Política Social e Brasileira no ensino básico, enquanto os cursos
nos superiores foram incluídosna disciplina de Estudo de Problemas Brasileiros.
Em 1970, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi implantado em substituição ao
Plano Nacional de Alfabetização do governo João Goulart, que foi extinto em 1964. Embora
teoricamente baseado na metodologia de Paulo Freire, na prática, foi distorcido pela
impossibilidade de conscientização e conexão com a realidade concreta. Segundo Aranha
(2006), os resultados foram modestos, reduzindo a taxa de analfabetismo de 33% em 1970 para
28,5% em 1972.
Lei nº 5.540, de 1968
Aprovada em tempo recorde pelo Congresso, que em parte era cumplice e em parte intimida
pelos militares, a Lei nº 5.540/68 alterou o ensino superior. As faculdades foram uni�cadas em
universidades. Medidas como a implementação do ciclo básico, a de�nição de cursos de curta e
longa duração, além do estabelecimento de programas de pós-graduação foram empregados.
Matrículas por disciplinas, sistema de créditos foram implantados e ocorreu a nomeação de
diretores e reitores que não necessariamente eram professores.
A escassez de recursos se revelava em uma insu�ciência de vagas, o que propiciou a expansão
do ensino privado em nível superior. Entre 1970 e 1980, o número de instituições públicas
aumentou de 184 para 200 (um incremento de 8,7%), enquanto as instituições privadas passaram
de 2.221 para 4.394 (um aumento signi�cativo de 97,8%), conforme apontado por Frigotto e
Sousa (2005).
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Apesar de serem �nanciadas com recursos públicos, as faculdades privadas, geralmente menos
exigentes e equipadas, direcionaram sua especialização para atender aqueles que não obtiveram
aprovação nos vestibulares das universidades públicas. Esse cenário deu origem ao modelo de
instituições de ensino de qualidade inferior, com mensalidades pagas, focadas em atender a
população de menor poder aquisitivo, enquanto as vagas nas instituições públicas eram
ocupadas majoritariamente pelos mais privilegiados. Esse ciclo dualista acabou se fortalecendo
ao longo do tempo.
Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692, de 1971
Durante o período ditatorial as corretes teóricas positivista e tecnicista in�uenciaram de maneira
mais contundente a educação. A Lei nº 5.692/71 vinha como uma “atualização” da estrutura de
ensino do país, efetivando a mudança do curso primário e o antigo ginásio para “1º grau”, sendo
que, com sua promulgação, o governo militar tinha a intenção de o�cializar a formação do povo
para o trabalho ainda na fase da adolescência. Dentre as mudanças, podem ser destacadas a:
Redução do percentual mínimo da arrecadação federal destinada à educação.
Uni�cação do ensino primário com o ginasial, eliminando os exames de admissão e
ampliando a obrigatoriedade de quatro para oito anos de escolaridade. Contudo, essa
obrigatoriedade não se concretizou na prática, devido à carência de estrutura, recursos e
professores.
Criação do segundo grau pro�ssionalizante, que pretendeu oferecer uma formação técnica
ao estudante ao �nal do ensino secundário, reduzindo a pressão pelo aumento do ensino
superior.
Obrigatoriedade de disciplinas como Educação Física, Educação Moral e Cívica,
Organização Social e Política Brasileira, Educação Artística, Programa de Saúde e Religião.
Extinção das disciplinas de Filoso�a e Sociologia e a uni�cação das disciplinas de História
e Geogra�a em Estudos Sociais no primeiro grau, caracterizando um ensino mais prático e
acrítico.
A Escola Normal, destinada à formação de professores do primeiro grau, foi desativada.
Redução da idade mínima legal para o trabalho para 12 anos, incentivando, assim, a evasão
escolar.
A educação tecnicista
Naquele contexto, a função principal da educação era preservar a consonância entre o modelo
econômico predominantemente e o controle militar. O epicentro era um capitalismo não liberal,
cujas repercussões se re�etiam na dinâmica cotidiana da população brasileira. A teoria que
fundamentou o sistema educacional brasileiro naquela época era a teoria do capital humano,
divulgada nos setores da economia, do planejamento e da educação.
A denominação "educação tecnicista" refere-se à adaptação da educação às exigências e
necessidades da sociedade capitalista e industrial, direcionando o ensino para o trabalho em
detrimento de uma abordagem mais abrangente do conhecimento. Enquanto as elites tinham
acesso a uma formação geral, não restrita ao âmbito pro�ssional, a educação tecnicista buscava
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
formar indivíduos de maneira segmentada, desprovida de uma visão integrada, focada nas
demandas da produção e não no desenvolvimento de uma re�exão sobre o mundo.
A ascensão dos setores conservadores ao poder, tanto no Brasil como em países vizinhos,
ocorreu muitas vezes de maneira coercitiva, seguindo uma lógica incentivada pelos interesses
norte-americanos. Essas legislações propiciaram a privatização e o aumento do dualismo
escolar. Muitas escolas privadas, ao invés de adotar a abordagem pro�ssionalizante, optaram por
se especializar na preparação para o vestibular, contribuindo para a criação de uma escola
voltada para a elite, que preparava os estudantes para ingressarem na universidade, enquanto
outra vertente, focada em conhecimentos técnicos, acabaram sendo relegados àqueles que não
puderam arcar com os custos de uma instituição de ensino particular.
O processo de redemocratização
Após alguns anos, o denominado “milagre econômico” desapareceu e, em seu lugar, surgiu a
fatura resultante do endividamento irresponsável a juros �utuantes. O modelo econômico,
caracterizado pela concentração de renda e dependência da economia global mostrou-se
insustentável. Aliado à crise das décadas de 1980 e 1990, esse modelo deu origem a uma
geração de pessoas em condições de extrema pobreza, subnutridas e desprovidas de direitos.
Com a crise do petróleo e o aumento das taxas de juros internacionais na metade dos anos 1970,
o sistema começou a entrar em colapso. O �m dos investimentos em obras públicas e privadas,
que coincidiu mais ou menos no mesmo período, resultou em maior desemprego. O vencimento
dos empréstimos contraídos nos anos anteriores agravou ainda mais a situação. Entre 1980 e
1983, o PIB encolheu 7%, a concentração de renda aumentou e a sociedade brasileira passou as
duas próximas décadas em busca de soluções para a crise provocada pelo que foi chamado de
"milagre", embora muitos ainda não percebam isso.
Na segunda metade da década de 1980, aconteceram uma série de planos econômicos com o
objetivo de combater a in�ação, resultado da desorganização da economia e da disputa pela
renda nacional por parte dos setores economicamente mais poderosos. Esses setores se
bene�ciaram do aumento de preços ou da proteção dos rendimentos por meio do sistema de
correção monetária.
Diante do obstáculo signi�cativo representado pela escassez de recursos, foram tomadas
medidas inovadoras para tentar solucionar esse problema. Em 1983, a Emenda Constitucional nº
24 foi aprovada, alterando o Art. 176 da Constituição. Essa emenda estabeleceu que a União
deveria destinar pelo menos 13% da receita proveniente de impostos para a área da educação,
enquanto os Estados e municípios deveriam alocar pelo menos 25%.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
No entanto, o governo federal não apenas deixou de cumprir essa legislação, como, no ano
subsequente, enviou ao Congresso um orçamento com despesas ainda mais reduzidas para a
educação (Gomes et al., 2007). Foi necessário aguardar a aprovação da Lei nº 7.348, em 1985,
proposta pelo Senador João Calmon, para que esse investimento mínimo fosse efetivamente
garantido, regulamentando assim a Emenda de 1983.
Constituição Federal de 1988
A Constituição de 1988, conhecida também como a constituição cidadã, é um marco importante
da nossa democracia. O Brasil se reencontrava com a democracia, e o debate político,
interrompido em 1964, ressurgia com vigor. Temas cruciais foram discutidos intensamente,
abrangendo desde os direitos fundamentais do cidadão, sistema degoverno, direitos trabalhistas
e previdenciários, monopólio estatal do petróleo, reforma agrária, até direitos sociais, incluindo a
criação do Sistema Único de Saúde (SUS), modelo de previdência social, �nanciamento da
educação, entre tantos outros. A Constituição ampliou os investimentos obrigatórios na área da
Educação, elevando o percentual mínimo dos impostos da União destinados a essa
especi�camente de 13% para 18%, enquanto para Estados e municípios se mantiveram em 25%,
estabelecendo o maior percentual da história do país.
Além disso, o Artigo 206 da Constituição destaca os seguintes princípios para a Educação:
Igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola.
Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.
Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, bem como a coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino.
Gratuidade do ensino público em estabelecimentos o�ciais.
Valorização dos pro�ssionais de ensino, incluindo plano de carreira, piso salarial e
contratação por meio de concursos.
Gestão democrática do ensino público e garantia de padrão de qualidade.
É evidente que a Constituição não possui um poder mágico capaz de transformar imediatamente
a realidade. No entanto, ao enumerar esses princípios e fontes de �nanciamento, apontava a
direção que a educação nacional deveria seguir. Além desses princípios, o Artigo 208 da
Constituição previa:
Atendimento em creches e pré-escolas para crianças de 0 a 6 anos.
Instituição do ensino fundamental obrigatória e gratuita, com extensão progressiva ao
ensino médio, sendo a autoridade competente passível de punição caso não oferecesse as
vagas necessárias.
Prestação de atendimento educacional especializado para pessoas com de�ciência,
preferencialmente na rede regular de ensino.
A Constituição também determinou a Autonomia Universitária (Art. 207) e a obrigatoriedade de
elaboração de um Plano Nacional de Educação de duração Plurianual (Art. 214). Nos anos
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
seguintes, ocorreram modi�cações importantes, incluindo a aprovação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB) em 1996 e dos Planos Nacionais de Educação (PNE) em 2001 e 2014.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: você é um professor da disciplina de
História no ensino médio e está trabalhando o período da Ditadura Militar com seus alunos.
Diante disso, você elaborou algumas questões para nortearem o desenvolvimento da sua aula.
Quais as consequências da ditadura para a educação nacional? Quais foram as mudanças
implantadas no ensino primário, no secundário e na educação de jovens e adultos? E no ensino
superior, o que mudou? Como estava a economia brasileira neste período? Será que a crise
econômica explica a de�ciência das políticas públicas, em especial a educação, no período? Por
falar em políticas públicas, o que estava acontecendo na política nacional nesse período? O que
mudou no Brasil? Que transformações ocorreram na educação nacional?
O golpe militar teve por trás interesses econômicos ligados ao empresariado, aos partidos
conservadores, como a UDN, e aos Estados Unidos. Todos eles defendiam uma ruptura com as
bandeiras defendidas nas reformas de base. Logo, o modelo deles só poderia ser diferente, e
realmente era. Suas políticas acabaram com o debate democrático, de�niram uma educação
tecnicista que pensava como fazer, mas não no que fazer ou por que fazer. Formaram pessoas
sem liberdade e sem senso crítico capazes de combater o modelo e o regime, por meio da
eliminação ou redução das disciplinas da área de humanas, como História e Geogra�a, além da
�loso�a, priorizando disciplinas técnicas voltadas à formação para o trabalho.
Isso teria repercussão por toda uma geração e, portanto, no futuro do país. As perseguições aos
professores e intelectuais, como Anísio Teixeira e Paulo Freire, e a repressão ao movimento
estudantil e aos sindicatos perseguidos desde a década de 1950 pelos setores conservadores
(agora vitoriosos) permitiram o cerceamento do livre pensar e da oposição ao regime,
necessários para a concentração de renda e poder. Este modelo econômico, político e
educacional gerou graves consequências, obrigando o país a percorrer duas décadas, 1980 e
1990, até tentar novamente retomar seu rumo. Entretanto, o crescimento acelerado e
concentrador de renda do “milagre” gerou sua própria crise, agravada pelo aumento dos preços
do petróleo importado e dos juros internacionais.
O Brasil literalmente “quebrou” nos anos 1980. Por outro lado, a sociedade se fortaleceu, criou
entidades e organismos em sua defesa, exigiu a democratização e os militares deixaram o
governo. Era hora de se criar um novo país e isso exigia uma nova Constituição. Mas os re�exos
da crise econômica foram implacáveis sobre a capacidade dos governos em garantir, na prática,
uma sociedade mais justa. Passamos toda a década de 1980 brigando contra a dívida externa e
a desorganização da economia, que se traduzia em taxas assombrosas de in�ação.
Por outro lado, as composições políticas que apoiavam os governos – primeiros os militares, até
1985, e depois a Nova República, até 1990, eram incapazes de pensar um projeto político e
econômico que efetivamente ampliasse os direitos inaugurados com a Constituição. A sociedade
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
exigia mais democracia, mais direitos, mais renda, enquanto o governo resistia em conceder
pequenos avanços concretos. Tratava-se da disputa pela renda nacional, além da incapacidade
de se construir consensos – mesmo entre os grupos dominantes – que permitissem superar a
crise.
Nessa conjuntura toda conseguimos, ao menos do ponto de vista legal, grandes avanços na
Constituição, que consagrou uma série de novos direitos civis e trabalhistas. Apontava para um
país mais igual, mais tolerante e democrático, bem diferente dos anos 1970.
Saiba mais
Para saber mais sobre a repressão indiscriminada no período militar, conheça o projeto
Brasil Nunca Mais, desenvolvido pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de
São Paulo nos anos oitenta, sob a coordenação do Rev. Jaime Wright e de Dom Paulo
Evaristo Arns.
A constituição de 1988 trouxe inúmeras mudanças para a sociedade brasileira após o
período ditatorial. A população brasileira se reencontrava com direitos que haviam sido
amplamente retirados. Vale a pena dar uma olhada em como políticos até hoje na ativa se
posicionaram frente aos direitos trabalhistas. Pela análise das votações das bancadas do
PT, do PSDB, do PMDB e do PFL é possível compreender as diferenças de concepção que
polarizariam as disputas eleitorais nos trinta anos seguintes, ou seja, até hoje.
DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. Quem foi quem na
Constituinte – nas questões de interesse dos trabalhadores. São Paulo: Cortez/Oboré, 1988.
Referências
ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 2006.
BRASIL. Lei nº 5.540/68, de 28 de novembro de 1968. Fixa normas de organização e
funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5540.htm. Acesso em: 11
fev. 2024.
BRASIL. Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm. Acesso em: 13 mar. 2017.
BRASIL. Lei nº 5.692/71. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.htm.
Acesso em: 11 fev. 2024.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/o-que-e-o-bnm
https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/79-quem-foi-quem-na-constituinte-nas-questoes-de-interesse-do-trabalhadores-1988
https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/79-quem-foi-quem-na-constituinte-nas-questoes-de-interesse-do-trabalhadores-1988
https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/79-quem-foi-quem-na-constituinte-nas-questoes-de-interesse-do-trabalhadores-1988http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5540.htm.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
FRIGOTTO, M. E.; SOUZA, N. de J. de S. Evolução da educação no Brasil, 1970-2003. Análise,
Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. p. 351-375, ago./dez. 2005. Disponível em:
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GOMES, C. A. et al. O �nanciamento da educação brasileira: uma revisão da literatura. Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 23, n. 1, p. 29-52, jan./abr., 2007. Disponível
em: http://seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19012/11043. Acesso em: 13 fev. 2024.
SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2011.
SKIDMORE, T. E. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
Aula 3
A Educação Nacional entre 1990 e 2016
A educação nacional entre 1990 e 2016
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Olá, estudante!
Nesta aula os conteúdos trabalhados servirão para a compreensão dos conceitos de uma prática
neoliberal e suas consequências sociais e políticas para uma nação. Além disso, você entenderá
a prática neoliberal e saberá como foi o governo Collor de Mello e sua saída, terá um olhar para a
abertura democrática com o presidente Fernando Henrique Cardoso com uma visão neoliberal.
Finalizará esse período da história com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma como os democratas da
história. Vamos lá?!
Ponto de Partida
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Apreender o processo histórico torna-se importante no sentido de que, nos governos de Collor,
FHC, Lula e Dilma, a gestão democrática da educação foi mostrada por meio da descentralização
dos processos decisórios, com a participação de segmentos da sociedade, de uma forma a
contribuir, acompanhar, controlar e avaliar as ações feitas por esses governantes, como a
utilização de verbas públicas na política educacional, criando projetos sociais de práticas
pedagógicas, visando a uma modernidade nas políticas de acesso a todos da sociedade
brasileira nas áreas de economia, educação, saúde e desenvolvimento social.
Para nos aprofundarmos no assunto, pense nas seguintes questões: como as diferentes opiniões
e propostas em debate na Constituição se desenvolveriam nos anos seguintes? Até que ponto a
conjuntura internacional impactava nossa economia, nossa política e nossas políticas públicas,
entre elas a educação? Como esse debate in�uenciou a elaboração da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, a atual LDB de 1996, e nosso primeiro Plano Nacional de Educação? Em
geral, o que houve a partir de 2003 para o Brasil e, em particular, para a educação? Houve
mudanças qualitativas ou quantitativas em relação à economia e às políticas públicas
anteriores? Ou houve apenas uma sequência do que já havia?
Bons estudos!
Vamos Começar!
A promulgação da Constituição de 1988 levou à população a esperança de que os problemas do
Brasil fossem superados ou minimizados. Em 1989, teríamos novas eleições, depois de 29 anos
sem a possibilidade de eleger democraticamente um presidente. Seria um momento de grandes
mudanças. O Brasil não estava isolado do mundo, que também passava por transformações
importantíssimas e que podem ser sintetizadas pela queda do Muro de Berlim e pelo �m do
socialismo no leste europeu.
No �nal da década de 1980 os líderes eleitos em nações como Reino Unido e Estados Unidos
defenderam a volta do modelo liberal, agora chamado de neoliberal. As críticas ao modelo social-
democrata se intensi�caram sob o argumento de que o modelo intervencionista distorcia as
decisões e expectativas do mercado. O modelo neoliberal defende a concorrência, a disputa, a
vitória dos considerados mais preparados pelo sistema e não a solidariedade ou a assistência
aos mais fracos e necessitados.
O conjunto de medidas propostas pelos países, seguindo esse modelo, �cou conhecido como
Consenso de Washington e incluía: a redução da dívida pública, redução dos impostos, dos
gastos sociais e dos direitos trabalhistas; a liberdade para o trânsito de capitais e a eliminação
de barreiras comerciais e a garantia dos direitos de propriedade sem controle social. De maneira
suscinta, é possível resumir as diferenças entre o modelo neoliberal e social-democrata
conforme apresentado na Tabela 1 a seguir:
MODELO NEOLIBERAL MODELO SOCIAL-DEMOCRATA
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Livre concorrência e fortalecimento da
iniciativa privada.
Estímulo à competitividade, e�ciência e
qualidade.
Educação para o desenvolvimento
econômico, seguindo exigências do
mercado.
Formação das elites Intelectuais e seleção
dos “melhores”. Educação privada,
eventualmente subsidiada pelo governo
por meio de vales.
Economia de mercado planejada e
administrada pelo Estado.
Políticas públicas de bem-estar social,
buscando maior igualdade.
Desenvolvimento mais igualitário das
aptidões e capacidades.
Educação para a cidadania, com
formação ampla e igualitária.
Educação pública e gratuita para todos,
paga pelo governo.
Tabela 1 | Características do neoliberalismo e da social-democracia. Fonte: elaborada pela autora
com base em Crespo, Cicone e Moraes (2017).
No �nal da década de 1980, alguns países da América Latina enfrentaram dé�cits econômicos, e
o papel do Estado estava passando por uma rede�nição como resultado da crise e do
esgotamento do modelo estatal vigente. Como resposta a esses desa�os, as reformas e a
reestruturação do aparelho estatal se consolidaram nos anos de 1990. Esse processo envolveu a
desregulamentação da economia, a privatização de empresas produtivas estatais e a abertura de
mercados. Além disso, foram inovadoras reformas nos sistemas de previdência social, saúde e
educação, descentralizando os serviços e otimizando os recursos disponíveis (Souza; Faria,
2004). Na educação, as reformas efetivas tiveram por paradigma os diagnósticos e os princípios
em que estavam os pressupostos da teoria do capital humano (Miranda, 1997; Ramos, 2003).
Governo Collor
O governo de Fernando Collor de Mello (1991-1995) teve sua política econômica baseada na
abertura para o capital estrangeiro e para as importações, visando combater a in�ação, além do
congelamento e bloqueio de valores, elevou o desemprego e a recessão. A crise econômica,
aliada aos crimes de responsabilidade e usufruto de valores ilegais operados por contas
fantasmas, levou ao seu impeachment, precedido de renúncia, no �nal de 1992. O mandato foi
concluído por Itamar Franco, que lançou o Plano Real em 1994.
O Plano Collor foi uma iniciativa econômica lançada em 1990 com o objetivo de controlar a
in�ação no Brasil. O governo Collor, conhecido como a Era Collor, foi um período da história
política brasileira que começou com a posse do presidente Fernando Collor de Mello em 15 de
março de 1990 e encerrou-se com sua renúncia à presidência em 29 de dezembro de 1992. O
Plano Collor buscou minimizar e estabilizar a economia, implementando medidas como o
congelamento de depósitos em contas correntes e de poupança. Collor �cou conhecido como o
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
"caçador de marajás", termo utilizado em Alagoas para descrever pessoas que se bene�ciavam
da burocracia estatal e estavam envolvidas em escândalos de corrupção.
O governo de Fernando Collor (1990-1992) marcou o início de um período na nova ordem
mundial, onde o mercado passou a regular as relações humanas, resultando na redução dos
direitos dos cidadãos, como saúde, educação e cultura. Durante esse governo, as políticas
educacionais foram in�uenciadas por um forte clientelismo. A privatização na educação foi uma
prática mantida, envolvendo políticos conservadores e uma abordagem descrita por muitos
discursos�losó�co na modernidade. Curitiba: Intersaberes, 2019. Cap. 3. p. 106-113. ISBN: 978-85-227-
0065-3. [Biblioteca Virtual 3.0].
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/193177
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Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Referências
ALVES, R. Filoso�a da ciência. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2001.
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969.
ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Col. Os
Pensadores.
Aula 2
Antropologia Filosó�ca
Antropologia Filosó�ca
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Olá, estudante!
Nesta aula você irá conhecer mais sobre o ser humano e sobre as diferentes visões de mundo
(ou concepções) que podem ser empregadas no seu entendimento. Você conhecerá também a
Antropologia Filosó�ca, ramo do conhecimento que permite compreender melhor o ser humano e
suas interações. Esses tópicos são importantes para a sua formação, pois permitirão que você
amplie o olhar sobre o ser humano, de modo mais totalizante. Prepare-se para essa jornada de
conhecimento! Vamos lá!
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Ponto de Partida
Entre os diversos campos do conhecimento humano dedicados ao estudo do ser humano,
destaca-se a antropologia �losó�ca. Essa área do saber se con�gura como uma análise
sistemática e fundamentada sobre a vida humana e seu destino, abrangendo suas faculdades e
operações, bem como suas relações interpessoais, todas referenciadas à totalidade do ser
humano. As ciências especí�cas que abordam o ser humano não conseguem oferecer uma
resposta satisfatória à pergunta essencial: "O que é o ser humano?". A ausência de uma resposta
adequada a essa indagação é desorientadora, uma vez que os estudos nessas áreas tendem a
ser parciais e especializados, ressaltando, assim, a importância crucial da antropologia �losó�ca.
Vamos pensar na seguinte situação: ao acompanhar as aulas de ciências do professor Carlos
nas turmas do ensino fundamental, você percebe que elas são realizadas sempre do mesmo
modo, o professor apresenta o conteúdo, veri�ca as dúvidas dos alunos e �naliza com uma
atividade. Isso o deixa intrigado, pois nem sempre o conteúdo é assimilado pelos alunos. Você
resolve então ir conversar com a professora Tânia, responsável pela disciplina de História, para
tentar saber o que ela tem feito para conquistar os estudantes, buscando fazer com que eles
aprendam de modo mais signi�cativo. Tânia diz que ela tenta sempre de modos diferentes, pois
não é possível achar um único método que dê conta de realizar plenamente a atividade docente.
Nenhum professor nasce sabendo como ser um bom docente. Do mesmo modo, nenhum
educador morre sabendo todos os elementos para ser um bom professor. O estagiário em sala
de aula aprende, aos poucos, a dosar o aprendizado de seus estudos e o aprendizado de sua
prática, junto aos outros professores. Quando você busca falar com Tânia, percebemos uma
ampliação dos horizontes de percepção, entendendo não existir um caminho que seja “o” correto.
O docente em formação vê a necessidade de buscar caminhos para pensar possíveis novos
modos de conceber o fazer educativo. Você consegue perceber que ganhos o educador tem, em
sua formação, quando passa a olhar além de sua experiência. Até que ponto a prática ensina?
Até que ponto isso cabe à teoria?
Vamos Começar!
O que é o homem, o ser humano? Você já parou e prestou atenção sobre esse animal que somos
nós? Que somos diferentes dos animais ditos “irracionais” isso sabemos, e não é difícil que se
perceba isso. Mas quem é exatamente o homem? Não temos a resposta para essa questão e
isso faz com que a Filoso�a se debruce sobre ela, na tentativa de desenvolvê-la melhor. Diversos
são os olhares que podem ser lançados sobre o ser humano – cada um tem um embasamento, a
partir do qual constrói uma teoria. A Filoso�a também lança um olhar especí�co na busca de
entender melhor o homem por meio da Antropologia Filosó�ca.
Discutimos o ato educativo como uma característica inerente ao ser humano. Ao longo do
tempo, os seres humanos reconheceram a importância e a necessidade de transmitir o
conhecimento adquirido a outros, independentemente da idade. Diversos objetivos podem ser
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
atribuídos ao ato educativo, todos re�etindo a ideia crucial de compartilhar algo signi�cativo
daqueles que possuem conhecimento para aqueles que ainda não o possuem.
Entretanto, o método de ensino não é uma abordagem categoricamente de�nida. É ao contrário,
um tema sujeito a debate, variando de acordo com os indivíduos e seus contextos. A educação
visa capacitar o ser humano a alcançar níveis mais elevados em sua existência. No entanto, o ser
humano não é um ser "�nalizado"; está em constante transformação, adaptando-se às situações
em que se encontra. Diante dessa dinâmica, surge a questão: será que não há uma essência
humana subjacente que poderia contribuir para uma compreensão mais profunda do ser
humano, permitindo assim a organização de um ato educativo mais e�caz?
Diferentes visões de mundo
Podemos falar em diferentes concepções ou visões de mundo para pensarmos o ser humano. É
importante ter em mente que “concepção” signi�ca tratarmos de uma determinada ideia que
fazemos de algo. Não signi�ca que este seja, necessariamente, do modo como o estamos
pensando. Isso ocorre, pois, em Filoso�a, a verdade é uma busca constante e, assim, não há
ideias que devam ser tomadas como o que deve ser aceito sem questionamento. “Concepção” é
uma maneira de se entender um objeto.
O pensamento atual foi forjado ao longo de milênios e embora usemos o termo no singular (o
pensamento), reconhecemos que não há uma única maneira de pensar. Ao interagir com a
natureza e viver em sociedade, os seres humanos se deparam com diversos estímulos e
interações, resultando no desenvolvimento de inúmeras e variadas abordagens para
compreender e explicar o funcionamento do mundo físico e social ao seu redor.
Nesse cenário, surgem diversas concepções, sendo duas delas destacadas: a essencialista e a
naturalista. Ambas enfatizam a importância de considerar o princípio da diversidade.
Consequentemente, a educação, de acordo com ambas as perspectivas, busca realizar o
potencial que cada ser humano deve alcançar.
Siga em Frente...
Concepção essencialista
Para compreender o sentido da concepção essencialista, o caminho mais fácil ao qual devemos
recorrer é o da palavra: “essencialista”, que nos remete ao termo “essência”. E o que é essência?
Em outras palavras, a essência fala daquilo que algo deve trazer em si de modo necessário, fala
daquilo que algo tem de ser. Esta não muda – deve apenas ser descoberta.
Nesse contexto, ao pensarmos em uma perspectiva essencialista do ser humano, estamos
lidando com uma idealização. Sendo assim, a concepção essencialista do ser humano busca
de�nir o que seria o homem ideal, servindo como base para o desenvolvimento de práticas
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
educativas, por exemplo. Contudo, para além do esforço em reconhecer a essência humana, é
crucial ponderar sobre as implicações dessa abordagem.
Ao estabelecermos um ideal, criamos um modelo, um padrão, um alvo a ser atingido. Em outras
palavras, ao concebermos o ser humano como dotado de uma essência, passamos a
compreender que ele só pode alcançar plenitude ao perseguir essa essência como seu objetivo
máximo. Fora dessee pouca ação. Na área da educação, criou o Projeto de Reconstrução Nacional (1991)
para compartilhar as responsabilidades entre governo, sociedade e iniciativas privadas, porém
�cou apenas no papel.
Siga em Frente...
Governo Fernando Henrique Cardoso
Fernando Henrique Cardoso foi presidente por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002.
Durante seu governo, o Brasil passou por várias transformações econômicas e sociais. O Plano
Real foi lançado em 1994 por Itamar Franco, conseguiu controlar a hiperin�ação e estabilizar a
moeda brasileira. O governo buscou políticas de estabilização econômica e reformas estruturais.
Ele promoveu a abertura econômica, privatizações de empresas estatais, reformas na
previdência social e alterações no setor �nanceiro. Entretanto, ao se apoiar nas importações para
segurar os preços internos, consumiu nossas reservas cambiais e deixou o país dependente da
economia internacional. Gerou desemprego, recessão e baixo crescimento econômico ao longo
de vários anos.
Apesar de o PSDB nascer como um partido de centro, com nome de centro-esquerda (social-
democracia), logo abraçou os ideais liberais. No governo, a partir de 1995, tendo como vice o
PFL, privatizou estatais, reduziu direitos previdenciários, deu mais liberdade ao capital e
aumentou os juros. Foi inserido nesse cenário político e econômico em que a nova LDB foi
elaborada em 1996, a reforma do ensino técnico em 1997 e o primeiro Plano Nacional de
Educação, em 2001.
A Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394, de 1996
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394/96, é uma legislação brasileira
que estabelece as diretrizes e bases da educação no país. Ela foi promulgada em 20 de
dezembro de 1996 e revogou a LDB anterior, de 1961. A LDB 9.394/96 é uma legislação
fundamental que orienta o sistema educacional brasileiro, abrangendo desde a educação básica
até o ensino superior. A demora entre a redemocratização e a promulgação de uma nova LDB se
deu em grande parte aos ideais de educação defendidos pelos diferentes blocos sociais que
ocupavam o poder.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Partidos mais à direita ou conservadores eram contrários às mudanças e aos defensores do
“capitalismo expropriador” brasileiro, combatiam propostas de mudanças ou de melhorias
salariais de professores. Outro bloco era chamado de “mudancista” e propunha ampliação dos
direitos sociais e alguma abertura do sistema educacional. O terceiro bloco, minoritário, com
apenas 9,9% dos deputados, chamado por elas de “transformador”, defendia ampla
transformação do sistema econômico e educacional.
Como o bloco conservador e os chamados mudancistas eram ampla maioria, a proposta da LDB
elaborada pelas entidades e pelos setores educacionais foi substituída por uma proposta que
imprimia uma visão neoliberal à educação nacional. Segundo Aranha (2006, p. 325), a nova LDB
não garantiu a “esperada democratização da educação, sobretudo porque o Estado delegou ao
setor privado grande parte de suas obrigações”. Assim, muitos estudiosos consideram que a
proposta mais progressista foi derrotada pela proposta do governo que representava um
retrocesso político e pedagógico para a educação escolar.
Enquanto o projeto original previa a integração da educação pro�ssional com a formação geral e
humanística, o texto aprovado separou esses aspectos, possibilitando que a formação
pro�ssional fosse ministrada por instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. Essa
separação incentivou a expansão de escolas privadas focadas "nas demandas do mercado,
priorizando, assim, a preparação prática" (Aranha, 2006, p. 325). Martins (2000) também destaca
críticas semelhantes à LDB, ao examinar a relação com a reforma do ensino técnico pelo Decreto
nº 2.208/97. Essa reforma, ao ser segmentada e desprovida de formação geral fortaleceu uma
dualidade existente em nosso sistema educacional.
Outros pontos negativos podem ser destacados, tais como a redução da exigência de
professores, mestres e doutores nas universidades e a não obrigatoriedade das disciplinas de
Filoso�a e Sociologia. Além disso, a legislação permitiu a concessão de bolsas de estudo em
instituições privadas quando não houvesse vagas em instituições públicas, em vez de investir
esses recursos para a expansão do setor público.
Contudo, a LDB também trouxe aspectos positivos, como uma melhor de�nição do que não pode
ser considerado despesa com manutenção do ensino, evitando assim o desvio de recursos para
outras áreas. Outro avanço foi a exigência de que os professores tenham formação universitária
e não apenas o antigo magistério. Simultaneamente à discussão e aprovação da LDB, o governo
propôs e aprovou a Emenda Constitucional nº 14, em 1996, que priorizava os investimentos no
ensino fundamental, por meio da criação do Fundef. Segundo Libâneo (2012, p. 186), “a
centralização dos recursos em nível federal [...] possibilitou uma melhoria relativa nas áreas mais
pobres do país”.
O PNE 2001 - 2010
O primeiro Plano Nacional de Educação, previsto pela Constituição, foi aprovado em 2001, com
validade até 2010. Em fevereiro de 1998, dois projetos, que re�etiam diferentes visões de
educação e de mundo em disputa no Brasil, chegaram a tramitar na Câmara dos Deputados. A
primeira proposta, elaborada pela "sociedade brasileira consolidada na plenária de encerramento
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
do Congresso Nacional de Educação" em 1997, contou com a participação de entidades
cientí�cas, acadêmicas, sindicais e estudantis, propondo, entre outros avanços, que 10% do PIB
fosse investido em educação. A proposta do governo, por sua vez, “teve apenas alguns
interlocutores privilegiados” e sugeria destinar 5,5% do PIB para a Educação (Libâneo, 2009, p.
180).
O projeto foi aprovado em 2001, abrangendo objetivos como aumento da escolaridade da
população, melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, redução das desigualdades
sociais e regionais no acesso e permanência na educação, democratização da gestão escolar e
elaboração do projeto pedagógico. A redação �nal previa destinar 7% do PIB para a Educação.
Contudo, esse percentual foi vetado pelo presidente FHC, que também rejeitou outras metas
importantes, rebaixando o plano. Entre as metas vetadas estavam a ampliação do programa de
renda mínima para crianças até 6 anos, o aumento das vagas em instituições públicas e de
crédito educativo e a ampliação das verbas para pesquisa cientí�ca e tecnológica. Essas
medidas, que ampliariam a oferta e a qualidade do ensino, eram contrárias ao ideário neoliberal
em voga na época. De acordo com Libâneo (2009), não ocorreu uma avaliação efetiva do
cumprimento das metas propostas.
A mudança de concepção: os governos Lula e Dilma
Com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva no ano 2002, a partir de 2003 tivemos um novo
governo que, principalmente, depois de 2005, distanciou-se das teses neoliberais. Lula esteve no
governo por dois mandatos, de 2003 a 2010 e após esse período Dilma Rousseff foi eleita
também para dois mandatos, não tendo terminado o segundo por sofrer o golpe do
impeachment em 2016. Entre 1989 e 2002, o PIB cresceu 27,9% (2,1% em média ao ano),
enquanto de 2002 a 2015, cresceu 44,3% (média de 3,4% ao ano). Esse crescimento foi possível
devido a uma mudança de concepção. Enquanto os governos anteriores tentavam combater a
in�ação por meio da contenção dos salários, o novo modelo ampliou o mercado consumidor,
gerando mais renda, mais empregos e salários maiores, o que se traduziu numa melhoria da
distribuição de renda.
Inúmeras mudanças ocorreram em todos os setores da sociedade brasileira, sendo importante
ressaltar a redução no índice de miséria e pobreza da população. Mas vamos focar nas
alterações percebidas no âmbito da educação nacional. A Emenda Constitucional nº 59, de 11 de
novembro de 2009, estabeleceu a obrigatoriedade e gratuidade da educação para a faixa etária
dos 4 aos 17 anos. Anteriormente, somente o ensino fundamental era compulsório, com a
perspectiva de progressãopara o ensino médio. Além disso, conferiu prioridade ao conjunto da
educação básica, não se limitando apenas ao ensino fundamental, com o objetivo de elevar o
nível médio de escolaridade da população. A emenda também determinou que o PNE
determinasse um percentual do PIB para investimentos em educação.
A aprovação do novo Plano Nacional de Educação em 2014 representou um marco signi�cativo.
Pela primeira vez na história, estabeleceu-se um valor especí�co em relação ao Produto Interno
Bruto (PIB) destinado ao investimento na educação. Ao contrário do plano anterior, que vetou o
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
percentual de 7%, dessa vez foi aprovado que se atinja, no mínimo, esse patamar em 2019,
elevando-se para 10% em 2024.
Durante a época da Ditadura Militar, em 1975, apenas 4,7% do PIB foi alocado para investimentos
em educação e esse mesmo percentual persistiu 23 anos depois, em 2002. Em 2013, o
investimento subiu para 6,2%. Em termos absolutos, ajustados para 2013, os dados públicos
indicam que o orçamento total do Ministério da Educação (MEC) aumentou de R$ 34 bilhões em
2003 para R$ 104 bilhões em 2013.
Até o ano de 2002, o Brasil contava com 140 unidades dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia. No período compreendido entre 2003 e 2014, houve a construção de 422
novas unidades. Uma expansão expressiva que contribuiu para ampliar a presença e o alcance
dessas instituições. No que diz respeito ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec), entre os anos de 2011 e 2015, o governo federal �nanciou 9,4 milhões de
matrículas. Essas matrículas foram distribuídas por quase 80% dos municípios do país,
indicando um substancial aumento na oferta desse tipo de ensino e uma abrangência
signi�cativa em termos de alcance territorial.
Entre 2002 e 2014, o ensino superior público federal no Brasil registrou um notável aumento no
número de alunos atendidos, passando de 560 mil para quase um milhão e quatrocentos mil
alunos. Durante esse mesmo período, foram construídas 18 novas universidades, resultando em
um aumento dos campi universitários de 148 para 321. As vagas oferecidas pelos sistemas
municipais e estaduais também apresentaram um crescimento, passando de 592.541 em 2003
para 780.934 em 2014.
No entanto, é importante destacar que, como é natural em processos de expansão, houve críticas
em relação à forma como foram ampliadas as vagas na rede pública de ensino superior.
Algumas preocupações foram levantadas, conforme apontado por Léda e Mancebo (2009),
incluindo questões relacionadas ao aumento do número de alunos em sala de aula, sobrecarga
nas tarefas docentes e preocupações com a qualidade do ensino.
Na rede privada de ensino superior, �nanciada pelo poder público através dos programas Prouni
(Programa Universidade para Todos), que concede bolsas a estudantes carentes, e Fies
(Financiamento Estudantil), houve um crescimento substancial nas vagas de graduação. O
número de alunos nessa modalidade passou de 2,7 milhões em 2003 para mais de 5,8 milhões
em 2014. De acordo com dados o�ciais, em 2013, o Fies atendia 1.168.198 alunos na rede
privada, representando aproximadamente 22% do total de estudantes nessa modalidade. Já o
Prouni, em 2014, bene�ciava pouco mais de 300 mil alunos. Esses programas desempenharam
um papel crucial na expansão do acesso ao ensino superior, especialmente para estudantes de
baixa renda.
Os dados de 2014 revelam um aumento signi�cativo no acesso de alunos com renda familiar de
até três salários mínimos, ao mesmo tempo que houve uma redução no percentual de
estudantes com renda familiar acima de nove salários mínimos. Importante notar que essa
análise está focada no percentual de alunos por faixa de renda, não no número absoluto. Esse
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
padrão sugere que as políticas e os programas implementados foram e�cazes em ampliar o
acesso ao ensino superior para grupos de menor renda.
Os governos Lula e Dilma investiram maciçamente na educação nacional, sendo que um dos
slogans do governo Dilma era a “Pátria Educadora”. O governo Dilma reconstruiu a gestão da
educação brasileira, corrigiu a política da indiferença e organizou novas práticas: uma política
integrada de ensino, da creche à universidade, com educação básica de qualidade;
democratização do acesso ao ensino público e garantia de permanência dos alunos na escola.
Apesar de observarmos uma discreta melhoria na qualidade da escola pública e um aumento no
acesso a todos os níveis de ensino, persiste no Brasil a existência de uma dicotomia entre
escolas voltadas para a elite e aquelas destinadas aos �lhos da classe trabalhadora. Essa divisão
re�ete a estrutura de uma sociedade dividida em classes e não é passível de resolução dentro do
sistema capitalista, que, por sua natureza, tende a perpetuar desigualdades de maneira contínua.
Um aspecto negativo e contínuo é a privatização do ensino, especialmente no nível superior, que
foi incentivada por receitas substanciais ou isenções �scais, promovendo assim uma expansão
signi�cativa desse segmento.
Embora essa expansão tenha permitido a inclusão de milhões de pessoas no ensino superior,
surgiu um con�ito constante entre o objetivo da educação privada de reduzir custos e obter
lucros e a qualidade do ensino oferecido. A única maneira de garantir direitos iguais para todos
seria a universalização da educação superior, seguindo o modelo já estabelecido para a
educação básica. Isso demandaria a alocação de recursos públicos su�cientes para assegurar
acesso e qualidade, promovendo, assim, uma educação equitativa e inclusiva.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: você teve algumas questões para re�etir a
respeito da educação nacional e da organização da sociedade no período de 1990 a 2016, sendo
elas: como as diferentes opiniões e propostas em debate na Constituição se desenvolveriam nos
anos seguintes? Até que ponto a conjuntura internacional impactava nossa economia, nossa
política e nossas políticas públicas, entre elas, a educação? Como esse debate in�uenciou a
elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a atual LDB de 1996, e nosso primeiro
Plano Nacional de Educação? Em geral, o que houve a partir de 2003 para o Brasil e, em
particular, para a educação? Houve mudanças qualitativas ou quantitativas em relação à
economia e às políticas públicas anteriores? Ou houve apenas uma sequência do que já havia?
Por certo tempo, e de certa forma até recentemente, houve um debate no Brasil justamente sobre
continuidades e rupturas nas últimas décadas: seria o governo Lula uma continuidade ou uma
mudança em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso, principalmente na economia, nas
áreas sociais e na educação? Estudamos os caminhos escolhidos pelo Brasil e as
consequências dessas escolhas. Nos anos 1990, nossa opção foi por vertentes neoliberais que
optaram por delegar à iniciativa privada ações que até então eram de responsabilidade do
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Estado. Esse modelo não era exclusivo do Brasil, pelo contrário, tinha preponderância na maior
parte da América Latina, que seguia caminhos parecidos.
A prioridade governamental era o combate à in�ação por meio da contenção do consumo, de
forma a segurar os preços, além da facilidade de importações por meio do câmbio favorável ao
Real. Outra frente de combate à in�ação, recomendada por essa escola ortodoxa, é a redução
dos gastos públicos. Daí os vetos às propostas do PNE, que previam ampliação do atendimento
e da qualidade do ensino em todos os níveis. Essas concepções liberais defendem a
meritocracia, considerada neutra e estimulante para o progresso individual e, consequentemente,
o avanço do país. Isso explica a ênfase em processos avaliativos, na formação para o trabalho,
na defesa da ideia de empregabilidade focada no desempenho individual do aluno ou do
empregado, como se o sucesso de cada um dependesse apenas de seu empenho pessoal.
Saiba mais
Os governos Lula e Dilmapassaram a olhar para a educação nacional a partir de um viés
mais progressista, entendendo a educação como um investimento e não como um gasto
para a nação. Inúmeras medidas de inclusão foram adotadas nesses governos, uma delas
foi a Lei de Cotas, que, em 2022, completou 10 anos. Para de aprofundar nessa questão e
compreender sua importância, ouça o episódio Lei de Cotas: 10 anos depois, do podcast O
Assunto, publicado em maio de 2022.
A compreensão da in�uência neoliberal na educação é fundamental para que se perceba os
caminhos trilhados pela educação nacional, em todas as suas etapas. Para re�etir sobre o
assunto, leia a entrevista realizada pela Revista Arco, da Universidade Federal Santa Maria,
em abril de 2022, com a Professora Rosana Soares Campos sobre o neoliberalismo e a
educação. Rosana Soares Campos é docente de Ciência Política no Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a�rma que a redução do
investimento tem um propósito, que é fazer com que a instituição universidade não
funcione bem.
Referências
ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394/96. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 13
fev. 2024.
BRASIL. Ministério da Educação. A democratização e expansão da educação superior no país
2003-2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.
https://www.ufsm.br/midias/arco/sociedade-neoliberal-educacao-servico-mercado
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Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
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CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da Educação. Londrina: Editora e
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HUMEREZ, D. C. de; JANKEVICIUS, J. V. Evolução histórica do ensino superior no Brasil. [S. l.: s.
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LÉDA, D. B.; MANCEBO, D. REUNI: heteronomia e precarização da universidade e do
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LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
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MIRANDA, M. G. de. Novo paradigma de conhecimento e políticas educacionais na América
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RAMOS, A. M. P. O �nanciamento da educação brasileira no contexto das mudanças político-
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SOUZA, D. B. de; FARIA, L. C. M. Políticas de �nanciamento da educação municipal no Brasil
(1996-2002): das disposições legais equalizadoras às práticas político-institucionais
excludentes. Ensaio: avaliação e políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v. 12, n. 42, p.
564-582, jan./mar. 2004.
Aula 4
A Educação Brasileira após 2016
A educação brasileira após 2016
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Dica para você
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Olá, estudante!
Nesta aula os conteúdos trabalhados ajudarão na compreensão da organização atual da
educação nacional. É importante perceber como as mudanças sociais e econômicas in�uenciam
também no projeto de educação que se tem para a sociedade. As reformas educacionais e as
políticas públicas implantadas e geridas pelos governos nem sempre ouvem as reais
necessidades da população. Vamos lá?!
Ponto de Partida
Até o ano de 2015 o Brasil era conhecido como a “Pátria Educadora”, entretanto, após o
impeachment da presidenta Dilma Rousseff em agosto de 2016, os governos seguintes voltaram
a adotar uma perspectiva neoliberal voltada para os diferentes setores da sociedade. No período
entre 2016 e 2022 muitas mudanças ocorreram no setor educacional e na maneira como a
educação passou a ser interpretada na sociedade. A educação voltou a ser considerada um
gasto que precisava ser contido em detrimento de uma visão progressista que a via como um
investimento não só nos indivíduos, mas na sociedade como um todo.
Com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato a partir de 2023, têm-se a
expectativa de que a educação deixará, mais uma vez, de ser vista como um gasto pelos setores
governamentais. Considerando tal contexto, re�ita sobre as seguintes questões: quais os
impactos da reforma do ensino médio na educação nacional? Como os cortes no orçamento da
educação impactaram os setores educacionais? É possível avaliar as metas do PNE 2014-2024?
Agora é com você! Bons estudos!
Vamos Começar!
É fundamental que a sociedade civil compreenda que a política educacional é uma ferramenta
controlada pelo Estado, in�uenciando a formação de atitudes, incluindo as práticas pedagógicas
conforme delineadas em seus protocolos. As políticas públicas de educação, assim como de
outras áreas governamentais, re�etem sempre um modelo de sociedade e de desenvolvimento
social e político em andamento no Brasil ou em qualquer outra nação. O que alguns governos
negligenciam é a importância da participação coletiva da sociedade em todas as etapas da
formulação das políticas educacionais. Para a criação de um projeto educacional transformador,
é imprescindível ouvir a voz do povo. No Brasil, a educação passa por revisões constantes em
todos os governos, porém na maioria das vezes sem considerar a valiosa contribuição da
sociedade.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Elaboradas pelo Poder Legislativo e propostas pelo Poder Executivo, as políticas educacionais
são implementadas por meio de leis federais, estaduais e municipais. Essas legislações
educacionais recebem respaldo de representantes da sociedade civil e de setores ligados à
educação, por meio de conselhos e outras formas de organização. A participação popular, como
um modelo inerente à democracia participativa, desempenha um papel fundamental para garantir
que as demandas de uma parcela ou de toda a população sejam ouvidas e efetivamente
colocadas em prática.
O novo ensino médio
A Reforma do Ensino Médio no Brasil foi implementada por meio da Medida Provisória (MP)
746/2016, proposta pelo então presidente Michel Temer apenas 22 dias após a posse do
presidente, em setembro de 2016. É importante ressaltar que a principal característica da Medida
Provisória é sua e�cácia imediata, produzindo efeitos legais assim que é editada pelo
presidente. Dito isso, é preciso compreender que o processo de aprovação da reforma foi
marcado por debates acalorados, críticas e controvérsias.
De acordo com autoridades do Ministério da Educação (MEC), a urgência na reforma do Ensino
Médio foi justi�cada pela necessidade de superar obstáculos que impactam o crescimento
econômico. A educação, especialmente a educação pro�ssional, é destacada como um elemento
crucial para impulsionar a retomada do crescimento econômico, uma vez que o investimento em
capital humano potencializa a produtividade. Nessa perspectiva, no âmbito educacional,
aspectos considerados essenciais para elevar as condições de competitividade do Brasil no
mercado internacional incluem investimentos na melhoria da qualidade do ensino médio,
incluindo a possibilidade de aumento da jornada escolar para aprimorar o desempenho
acadêmico; a reestruturação do currículo, alinhando-o às transformações no mundo do trabalho
e às supostas demandas da educação no século XXI (Hawthorne, 2017).
A nova propostade ensino se caracterizou em um modelo com áreas de conhecimento,
permitindo ao educando fazer algo diferenciado para sua carreira e conhecimento universal. O
aluno, teoricamente, terá a oportunidade de estar em um processo constante de aprendizagem
dos novos componentes da educação e aprofundamentos curriculares, tendo a chance de trilhar
outros caminhos, chamados de itinerários formativos. A escola seria responsável por distribuir
aos alunos seus itinerários formativos, favorecendo as seguintes áreas de conhecimento:
Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas e Ciências da Natureza e suas Tecnologias – ou formação técnica e pro�ssional.
Assim, uma das mudanças mais signi�cativas foi a �exibilização do currículo. A proposta
permitia que parte do currículo obrigatório fosse de�nida pelos próprios estudantes,
concentrando-se em áreas especí�cas de interesse. A MP reduziu o número de disciplinas
obrigatórias, priorizando a ênfase em português e matemática. Além disso, introduziu a
obrigatoriedade do ensino de língua estrangeira e estimulou a ampliação da carga horária através
de parcerias com instituições públicas e privadas.
Críticas à nova proposta
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Críticas contundentes foram feitas à proposta do novo ensino médio, que acabou sendo
implantado em alguns estados do país. Podemos destacar a falta do diálogo com a população e
com os estudiosos da área. Assim, é possível considerar que a reforma visou atender aos
interesses do mercado, não se preocupando de fato com a formação integral dos alunos. Por
outro lado, a roupagem apresentada é de autonomia, dinamização e mudanças, o que em um
primeiro momento empolga alunos e professores, mas quando posta em prática, percebe-se que
sua implementação é falha. A falta de recursos para a implementação adequada, a qualidade do
ensino, a capacitação de professores, a infraestrutura das escolas e a inclusão de todos os
estudantes são outras preocupações legítimas em relação às mudanças.
Em relação aos docentes autorizados a atuar no ensino médio, o artigo 61, inciso IV, da Medida
Provisória nº 746/2016 estabelece regulamentações para "pro�ssionais com notório saber
reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino para ministrar conteúdos de áreas a�ns à sua
formação para atender o disposto no inciso V do caput do art. 36". Esses pro�ssionais, embora
não possuam formação em licenciatura, são considerados aptos a lecionar conteúdos
relacionados às suas áreas de conhecimento reconhecidas pelos sistemas de ensino.
Essa prática levanta preocupações, uma vez que esses pro�ssionais podem não ter familiaridade
com os processos didático-pedagógicos, o que pode resultar na deterioração do já precário
sistema educacional, potencialmente contribuindo para o enfraquecimento do ensino. Os alunos
matriculados em cursos pro�ssionalizantes podem ser os mais prejudicados por essa questão
do notório saber, especialmente aqueles provenientes de classes sociais mais desfavorecidas.
Isso se deve ao fato de que cursos pro�ssionalizantes não são frequentemente escolhidos por
escolas particulares e pelos �lhos das classes mais privilegiadas.
A oferta de diferentes itinerários formativos e a �exibilização do currículo podem ser
implementadas de maneira desigual entre escolas e regiões do país. Escolas em regiões menos
privilegiadas podem ter di�culdades em oferecer uma variedade de opções, aumentando as
disparidades educacionais. A redução do número de disciplinas obrigatórias e a ênfase em
português e matemática podem levar a uma negligência em relação às disciplinas de ciências,
humanidades e artes, prejudicando a formação integral dos estudantes.
A implementação das mudanças exige investimentos signi�cativos em infraestrutura, como
laboratórios e equipamentos especí�cos para as novas áreas de aprofundamento, o que pode ser
um desa�o para escolas com recursos limitados. A oferta de itinerários formativos pode criar
discrepâncias na qualidade e no acesso a determinadas áreas de conhecimento, potencialmente
favorecendo alunos de escolas mais privilegiadas e prejudicando os de escolas públicas em
áreas menos favorecidas. Dessa forma, a crítica de que a reforma não considerou
adequadamente a realidade socioeconômica e cultural dos estudantes brasileiros, especialmente
os provenientes de áreas mais vulneráveis, impactou a sua efetividade.
Siga em Frente...
Redução nos investimentos destinados à educação
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Em dezembro de 2016, foi aprovada a Emenda Constitucional 95, também conhecida como PEC
do "Teto dos Gastos" no Brasil. Essa emenda impôs um limite para os gastos públicos, incluindo
os investimentos em áreas como saúde e educação, pelos próximos 20 anos, contados a partir
de 2017. Essa emenda estabeleceu um novo regime �scal, limitando o aumento dos gastos
públicos à variação da in�ação do ano anterior pelos próximos 20 anos, com a possibilidade de
revisão a partir do décimo ano de sua vigência.
Essa medida foi objeto de controvérsias e críticas, principalmente em relação aos impactos que
poderiam ter na qualidade e na expansão dos serviços públicos, incluindo a educação e a saúde.
Críticos argumentaram que o congelamento poderia resultar em uma redução do �nanciamento
real per capita ao longo do tempo, prejudicando a capacidade do sistema educacional de atender
às demandas crescentes e melhorar a qualidade do ensino.
Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, os cortes na área da educação se intensi�caram. Em
maio de 2019, houve uma série de protestos em todo o país em resposta aos cortes
orçamentários no setor educacional anunciados pelo governo federal. Os cortes afetaram
diversas áreas da educação, incluindo ensino básico, ensino superior e pesquisa. Esses
bloqueios impactaram diversas áreas, incluindo despesas operacionais, bolsas de pesquisa e
investimentos em infraestrutura. As universidades federais organizaram protestos em resposta
aos cortes, argumentando que isso poderia prejudicar a qualidade do ensino, da pesquisa e da
extensão.
Na área da ciência, o contingenciamento (como era chamado pelo governo), também gerou
preocupações quanto ao �nanciamento de bolsas de pesquisa, projetos cientí�cos e a
manutenção de laboratórios. Cientistas e pesquisadores expressaram apreensão sobre os
impactos negativos que esses cortes poderiam ter no avanço da pesquisa cientí�ca no país. O
governo na época alegou que os cortes eram necessários devido às restrições orçamentárias e à
necessidade de equilibrar as contas públicas. No entanto, críticos argumentaram que essas
medidas poderiam ter impactos negativos a longo prazo na qualidade da educação e na
capacidade de pesquisa no país.
Outras polêmicas envolveram o setor educacional no período de 2019 a 2022, como questões
ligadas aos livros didáticos, levando à revisão de conteúdos abordados nos livros. O governo
expressou preocupações sobre o suposto viés ideológico em materiais educacionais, levando a
mudanças em alguns itens. Como exemplo, é possível citar a questão do golpe militar de 1964,
alterado para revolução. O governo também apresentou projetos de lei relacionados à educação,
abordando temas como homeschooling (ensino domiciliar), liberdade de expressão nas
universidades e outras questões educacionais.
Essas questões precisam ser vistas a partir de um viés crítico e re�exivo. Passar a ideia de que
existe uma doutrinação ou ideologia presentes nos livros didáticos ou no ambiente universitário
nos leva a re�etir a respeito do conceito de ideologia e de como a classe dominante não deseja
que a ordem posta na sociedade seja contestada e alterada. A Constituição Federal de 1988, no
seu artigo 207 prevê que “As universidades gozam, na forma da lei, de autonomia didático-
cientí�ca, administrativa e de gestão �nanceira e patrimonial e obedecerão ao princípio da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
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Sendo assim, não é possível admitir um governoque pretenda intervir nas universidades e na
forma como o ensino é ofertado como outrora fora feito em nosso país, na época da ditadura
militar. A falta de �nanciamento adequado e as propostas de mudanças sem fundamentação
apropriada também impactaram negativamente no cumprimento das metas propostas pelo
Plano Nacional de Educação (2014-2024).
Plano Nacional de Educação 2014-2024
O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 é um conjunto de diretrizes e metas
estabelecidas por lei no Brasil, com o objetivo de orientar as políticas educacionais do país ao
longo de um período de dez anos, de 2014 a 2024. O PNE foi sancionado pela Lei nº
13.005/2014. O plano abrange toda a educação brasileira, desde a educação infantil até a pós-
graduação e inclui metas especí�cas para áreas como alfabetização, acesso à educação básica,
qualidade do ensino, formação de professores, inclusão de pessoas com de�ciência, entre outros
aspectos.
Existe uma lógica para a elaboração das metas, procurando contemplar as necessidades
percebidas ao longo dos anos no ambiente educacional. Essas metas podem ser agrupadas
considerando: metas estruturantes, metas para redução das desigualdades e valorização da
diversidade, metas para valorização dos pro�ssionais da educação e metas que regulamentam e
orientam a criação do sistema nacional de educação e a gestão democrática. É por meio da
análise de todas as metas e resultados alcançados, ou não, que as políticas educacionais do país
são estruturadas.
Em 2011, deveria entrar em vigor um novo PNE, que valeria de 2011 a 2021, já que o antigo teve
sua vigência de 2001 a 2011. Todavia, apesar de ter sido apresentado em março de 2010, o novo
PNE foi sancionado apenas em junho de 2014. Essa demora se deu devido a discordâncias entre
os representantes dos diferentes setores da sociedade e do governo. Após muito debate e quase
4 anos de tramitação, o PNE 2014-2024 foi sancionado em junho de 2014, e a meta de 10% do
PIB para a educação incluída no documento.
Foram elaboradas 20 metas que deveriam ser atingidas progressivamente ao longo dos dez anos
de vigência do PNE. Entretanto, a maioria delas não se concretizou. Na meta 20, por exemplo,
está previsto “Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo,
o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de
vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao �nal do decênio”.
Em 2020, teríamos que ter alcançado 7% de investimento. Ao invés disso, houve uma redução
dessa aplicação de 6% para 5%.
Esse é apenas um exemplo dentro das 20 metas estabelecidas que não foram cumpridas. Para
que as metas possam ser atingidas são pensadas estratégias que devem ser implantadas
naquele sentido. Entretanto, como foi possível perceber, é necessário que haja um esforço
conjunto da sociedade e dos órgãos governamentais para que seja possível o cumprimento de
tais objetivos. Você pode pesquisar sobre as outras metas estabelecidas pelo PNE a �m de
veri�car em que medida elas foram ou não cumpridas ao longo dos anos.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva
para um terceiro mandato a partir de 2023, tem-se a expectativa de que a educação deixará, mais
uma vez, de ser vista como um gasto pelos setores governamentais. Considerando tal contexto,
re�ita sobre as seguintes questões: quais os impactos da reforma do ensino médio na educação
nacional? Como os cortes no orçamento da Educação impactaram os setores educacionais? É
possível avaliar as metas do PNE 2014-2024?
A partir de 2023 foi possível perceber uma discreta, mas importante mudança na maneira como
a educação é percebida pelo governo federal. Em março de 2023, por exemplo, após 10 anos
sem reajustes, as bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior
(CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí�co e Tecnológico (CNPq), que
atendem 256 mil estudantes de mestrado, doutorado, pós-doutorado, iniciação à docência, além
de coordenadores, tutores e preceptores que atuam nos programas de formação de professores
da educação básica foram �nalmente reajustadas. O valor da bolsa de mestrado subiu de R$
1.500 para R$ 2.100. Já o de doutorado de R$ 2.200 para R$ 3.100. No caso do pós-doutorado, o
benefício passou de R$ 4.100 para R$ 5.200. O auxílio para a iniciação à docência foi de R$ 400
para R$ 700. Esse reajuste con�gura um importante sinal do governo no tocante à volta dos
investimentos em educação. Também é importante ressaltar que um país que não investe em
pesquisa está fadado à estagnação. Assim, possibilitar a permanência dos pesquisadores é
fundamental para o desenvolvimento cientí�co e tecnológico da nação.
O ensino médio no Brasil enfrentava (ainda enfrenta) diversos desa�os, sendo a evasão escolar
um dos problemas mais signi�cativos. A reforma no currículo e carga horária trouxe a
perspectiva de permitir que os alunos escolham a área de aprofundamento, o que é uma
proposta interessante. No entanto, essa ideia não condiz totalmente com a realidade atual do
ensino, pois alguns alunos podem não ter acesso a todas as áreas desejadas devido à falta de
oferta em suas escolas ou estados, o que limita a liberdade de escolha do estudante.
A avaliação do cumprimento ou não das metas do PNE pode ser feita por meio da veri�cação
das metas e dos números o�ciais divulgados pelo governo, por meio de dados da Pesquisa
Nacional de Amostras por Domicílio ou dos Censos da Educação. É necessário que se olhe para
o que foi estabelecido nas metas e como elas se encontram atualmente, para que seja possível
pensar também o que pode ser modi�cado para a proposta do novo PNE.
Saiba mais
As mudanças na forma como a educação é ofertada aos alunos são importantes até
mesmo para acompanhar as transformações pelas quais a sociedade passa. Mas, para que
isso se efetive, é necessário que a sociedade seja ouvida e participe na construção das
propostas de alterações. O novo ensino médio é um exemplo de uma política que foi feita
sem o diálogo com a população e que pouco tempo após a sua implantação já precisa ser
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
revista. Para de aprofundar nessa questão e compreender sua importância, ouça o episódio
A encrenca no novo ensino médio, do podcast Café da manhã, publicado em abril de 2023.
O Plano Nacional de Educação estabelece metas a serem alcançadas pela educação
nacional num período de dez anos. Para compreender melhor a origem e as concepções
acerca do PNE, leia o artigo a seguir:
SILVA, C. V. G. Plano Nacional de Educação (PNE): origem e concepções. Ensaios Pedagógicos
(Sorocaba), vol. 7, n. 1, jan./abr. 2023, p. 52 - 60.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 14 fev. 2024.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional
de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 14 fev.
2024.
BRASIL. Medida provisória nº 746, de 22 de setembro de 2016. Brasília, DF, set 2016. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Mpv/mpv746.htm. Acesso em:
13 fev. 2024.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da Educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
HAWTHORNE, J. G. A Medida Provisória n. 746/2016 e o real motivo de se reformar o ensino
médio no Brasil. Ensaios Pedagógicos (Sorocaba), vol.1, n. 2, mai./ago. 2017, p.20-24. Disponível
em: https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/17/49. Acesso em:
13 fev. 2024.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
organização. 7. ed. São Paulo:Cortez, 2009.
SILVA, C. V. G. Plano Nacional de Educação (PNE): origem e concepções. Ensaios Pedagógicos
(Sorocaba), vol. 7, n. 1, jan./abr. 2023, p. 52 - 60. Disponível em:
https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/296/305. Acesso em: 14
fev. 2024.
Aula 5
Encerramento da Unidade
https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/296/305
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/296/305
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Perspectivas da educação brasileira
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Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante!
Nesta videoaula você irá compreender os fundamentos históricos da educação brasileira desde
1930 até os dias atuais. É nesse período que o desenvolvimento econômico, político e social
passou por uma mudança profunda, de um país agroexportador para industrializado.
Compreender esse contexto é importante para perceber as consequências na educação
nacional. Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta unidade, que é compreender a organização da educação
brasileira a partir de 1930 e as mudanças que ocorreram ao longo dos anos, percebendo as
diferentes vertentes políticas que regiam o país e as reformas educacionais propostas em cada
período, você deverá primeiramente entender o processo histórico que levou a sociedade
brasileira a diferentes transformações sociais. Essas transformações in�uenciaram diretamente
como a educação nacional foi sendo estruturada.
Até 1930, o desenvolvimento econômico brasileiro foi marcado pela exportação de produtos
primários, como foi com a cana-de-açúcar, o minério e o café, os principais produtos extraídos
desde o período colonial até a República Velha (1889-1930). Politicamente, de Colônia (1500-
1822) de Portugal, passamos pelo Império (1822-1889), chegando até a Proclamação da
República, em 1889, que inaugurou o período republicano, em que a oligarquia latifundiária
brasileira assumiu o controle político do país. Também é importante ressaltar que vivenciamos
séculos de escravização de indígenas e, principalmente, de africanos, marcando, de forma
autoritária, a formação social brasileira. Essa conjugação de fatores econômicos, políticos e
sociais teve como consequências uma brutal extração de riquezas pela metrópole portuguesa,
um enriquecimento das antigas e novas elites rurais e uma enorme desigualdade social.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Em 1930, com a tomada de poder pela Aliança Liberal, com a liderança de Getúlio Vargas, em
função da grave crise econômica, política e social, inaugurou-se o “nacional-
desenvolvimentismo”, um novo ciclo de desenvolvimento marcado pela busca de uma
industrialização autônoma, pela presença do Estado, rompendo com a dependência da
exportação de produtos primários que vigorava até aquele momento. O “nacional-
desenvolvimentismo” não foi homogêneo, foi marcado por intensas disputas e contradições,
adequadamente expresso pelo conceito de “modernização conservadora”. A partir de 1990, as
privatizações, a abertura comercial e a desregulamentação trabalhista interromperam o
desenvolvimentismo e inauguraram a fase neoliberal da economia brasileira, principalmente com
os governos Collor e FHC.
É nesse contexto que é possível perceber a relação desses condicionantes históricos com a
educação e as políticas educacionais. Desde a educação jesuítica, após a frustrada tentativa de
educação indígena, passando pela educação pombalina e imperial até o início da República
Velha, o acesso à educação estava restrito à elite brasileira. Com uma sociedade mais complexa,
na transição do século XIX para o XX, a pressão para a construção de um sistema nacional de
ensino aumentou. Variados setores sociais marginalizados exigiam acesso à educação, novas
perspectivas pedagógicas chegavam ao Brasil, requisitando um novo patamar de investimentos,
de políticas e de prioridade na educação.
Nesse sentido, levando em consideração o processo de “modernização conservadora” em seu
período desenvolvimentista e neoliberal, é possível que você (futuro professor) compreenda
como, avaliando cada momento histórico, as necessidades de formação tanto da elite quanto
dos setores populares foram marcadas pelo projeto de desenvolvimento em curso.
O Estado norteia seus projetos com vistas a resolver as grandes demandas sociais, como a
redução dos índices de analfabetismo, a democratização do ensino, o preparo para o mundo do
trabalho e o acesso à tecnologia, entre outros. Como forma a atender e resolver essas
demandas, cabe ao Estado construir suas políticas educacionais em diálogo franco e aberto com
a sociedade, promovendo e praticando a pedagogia da escuta, permitindo que a comunidade
escolar, por meio dos conselhos legalmente constituídos, tenha voz nas decisões. Atualmente,
entre os objetivos do governo em relação à educação, destacam-se a ampliação do acesso à
escola pública, a oferta de níveis elevados de qualidade, a superação do quadro crônico de
analfabetismo infanto-juvenil, a Educação de Jovens e Adultos, o controle da fome e a oferta de
saúde de qualidade.
Na atual conjuntura, o que se espera da educação é a capacidade de um olhar diferente sobre a
sala de aula, em especial sobre a relação entre docente e aluno. Cada vez mais, há uma
construção coletiva e dinâmica da aprendizagem, com estudantes compartilhando experiências
e buscando métodos de ensino ativos. A escola e seus agentes enfrentam muitos desa�os
derivados das grandes mudanças ocorridas no século XXI. Hoje há a necessidade de se preparar
o estudante para a vida e o trabalho num mundo que traz muitas inovações e incógnitas.
Cabe destacar que é necessário um ensino que valorize mais a compreensão e o raciocínio do
que a memória meramente mecânica, além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais,
cognitivas e a capacidade de trabalhar em grupo, por meio de aprendizagem colaborativa. Sendo
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
assim, para projetar um futuro incerto, os educadores deverão conhecer bem a história das
gerações precedentes, buscando no conhecimento que essa área nos fornece, elementos de
compreensão que possam contribuir para o desenho de cenários por ora inimagináveis.
É Hora de Praticar!
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No contexto do cenário educacional contemporâneo, encontramos medidas que são de
fundamental importância para o avanço da democratização do ensino no Brasil. Uma delas é a
atual reforma do ensino médio. Considerando o conteúdo do texto a seguir, podemos dizer que a
reforma do ensino médio tem de fato características tão positivas?
A necessidade de reformulação da atual estrutura do ensino médio adveio de análises
estatísticas que vêm há mais de uma década monitorando os resultados de desempenho de
estudantes dessa etapa da educação nacional. De acordo com pesquisas recentes, advindas da
consolidação de dados coletados pelo governo federal sobre os resultados do Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio), tem havido uma cristalização dos índices de aprendizagem por parte
dos estudantes, além do aumento das taxas de abandono, reprovação e atraso escolar com
média de dois anos ou mais.
Nesse sentido, surgiram por parte das autoridades um rol de justi�cativas que levaram à
proposta de reformulação desse modelo, que no entender de especialistas educacionais vem se
esgotando em termos de qualidade, organização curricular sobrecarregada com muitoscomponentes curriculares e distante da realidade concreta vivida pelos alunos.
Decorre dessa propositura de reforma, a necessidade de a escola se aproximar mais da
realidade, procurando aproximar os conteúdos contemplados pelo currículo do ensino médio,
com os grandes temas sociais contemporâneos. Nessa perspectiva, uma das prioridades no
entendimento dos técnicos responsáveis pela nova organização do ensino médio, é a ampliação
do tempo destinado aos estudantes, para que possam se aprofundar em temas especí�cos do
currículo que certamente trarão contribuição para o seu futuro desempenho pro�ssional.
Assim, ao poder usufruir de um tempo maior para a dedicação e o foco em assuntos
acadêmicos, os estudantes poderão se bene�ciar da possibilidade de vislumbrar temas que
servirão de norte para projetos de vida que poderão planejar enquanto estiverem frequentando a
escola. Por meio de cooperação, trabalho em grupo e estratégia de resolução de problemas, os
estudantes poderão desenvolver durante esse período da sua escolaridade, habilidades mais
próximas do atual mercado de trabalho, além de se aproximarem dos instrumentos tecnológicos
contemporâneos ao mesmo tempo que desenvolvem o pensamento crítico e a ética. Além
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
desses benefícios, com a presença de novas metodologias de ensino, a aprendizagem será mais
contextualizada e motivadora.
Re�ita: podemos dizer que a reforma do ensino médio tem, de fato, características tão positivas,
conforme o anunciado?
De que forma as reformas educacionais expressam a concepção governamental sobre a
educação?
As reformas educacionais propostas pelos diferentes governos, a partir de 1930, de fato
possibilitaram mudanças para a sociedade brasileira?
A educação de fato tem algum potencial transformador na vida dos indivíduos?
Considerando o conteúdo do texto a seguir, podemos dizer que a reforma do ensino médio tem
de fato características tão positivas, conforme o anunciado?
A proposta do novo ensino médio surgiu após a percepção de uma estagnação dos índices de
desempenho dos estudantes brasileiros, além do agravante de ter essa etapa educacional,
grandes taxas de abandono, índices altíssimos de reprovação e um atraso escolar de dois anos
ou mais.
Foram muitas as justi�cativas para reformular a última etapa da educação básica: a baixa
qualidade de um ensino genérico, com uma quantidade excessiva de disciplinas, evasão, de
reprovação, além de distante das demandas cotidianas e reais do aluno. De acordo com o
Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020, apenas 65,1% dos brasileiros concluíram o Ensino
Médio na idade esperada, até os 19 anos, percentual que chega a 51,2% entre os mais pobres. E
12% dos brasileiros com idades entre 15 e 17 anos estão fora das salas de aula.
Nesse sentido, cabe à instituição escolar promover o diálogo entre os conteúdos curriculares e a
realidade contemporânea, por meio de um ensino que esteja alinhado com as necessidades dos
estudantes, preparando-os assim para a vida em sociedade e o enfrentamento dos desa�os de
um mercado de trabalho altamente dinâmico. A implementação do novo ensino médio traz
benefícios para alunos e professores. Primeiramente, destacado como ponto principal, que será
possível disponibilizar mais tempo para os estudantes se aprofundarem em conhecimentos
especí�cos que vão agregar e são importantes para o futuro pro�ssional que cada um escolher.
O novo ensino médio contribui ainda para o desenvolvimento do projeto de vida e a carreira dos
alunos, já que as escolas deverão priorizar atividades que promovam a cooperação, a resolução
de problemas, o desenvolvimento de ideias, o entendimento de novas tecnologias, o pensamento
crítico, a compreensão e o respeito. A forma como o ensino médio será implementado, trará
muitos ganhos para docentes e discentes. Primeiramente, destacado como ponto principal, que
será possível uma dilatação do tempo a �m de que os alunos tenham mais oportunidades para
aprofundarem em temas de seu interesse e em assuntos mais especí�cos, que muitos
contribuirão para o seu futuro pro�ssional.
A reforma do ensino médio vai auxiliar os estudantes no desenvolvimento de projetos de vida e
carreira, já que as escolas irão propor uma programação promotora de habilidades
socioemocionais, cognitivas, incentivando a criatividade e o manejo de tecnologias
contemporâneas. Outro benefício da nova metodologia é o de proporcionar menos aulas
expositivas e focar mais em projetos, o�cinas, cursos e atividades práticas e signi�cativas.
Nessa perspectiva, podemos considerar que a justi�cativa da reforma do ensino médio poderia
ser positiva caso as autoridades governamentais respeitassem as etapas do processo de
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
implementação dessa proposta, o que infelizmente não ocorreu, pois a reforma pensada foi
“atropelada” por uma Medida Provisória decretada pelo governo de Michel Temer.
Como responsáveis pelo ensino médio, conforme dispõe a LDB em vigor, os estados e o Distrito
Federal deveriam ser consultados sobre a proposta de reforma desse nível de ensino. No entanto,
nem mesmo foram informados, sendo surpreendidos com a entrada em vigor da referida
reforma, uma vez que, sendo baixada por medida provisória, passou a valer imediatamente após
sua promulgação.
Logo que foi promulgada, a Medida Provisória foi alvo de uma avalanche de críticas provenientes
do Fórum Nacional de Educação, dos Conselhos e Secretarias estaduais de educação, assim
como de diversas entidades representativas dos pro�ssionais da educação. No entanto, o
governo, em lugar de levar em conta as críticas revendo a orientação impressa à reforma,
ignorou-as e lançou uma agressiva campanha publicitária com muitas inserções diárias nos
meios de comunicação.
Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Figura 1 | Mudanças na educação nacional
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 14 fev. 2024.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
HAWTHORNE, J. G. A Medida Provisória n. 746/2016 e o real motivo de se reformar o ensino
médio no Brasil. Ensaios Pedagógicos (Sorocaba), vol. 1, n. 2, mai./ago. 2017, p.20-24. Disponível
em: https://www.ensaiospedagogicos.ufscar.br/index.php/ENP/article/view/17/49. Acesso em:
13 fev. 2024.
,
Unidade 4
A Educação no Século XXI
Aula 1
A Ciência como Promotora da Educação
A Ciência como Promotora da Educação
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Olá, estudante!
Nesta aula você irá re�etir sobre o desenvolvimento do conhecimento cientí�co e sua
importância na educação e como precisamos, enquanto educadores, conciliar o desenvolvimento
da ciência na nossa prática educativa. Vamos pensar também sobre a relevância de se
considerar a cultura do aluno e sua construção individual no processo educacional. Vamos lá?!
Ponto de Partida
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Diversas disciplinas cientí�cas oferecem uma compreensão mais re�nada do campo da
educação. Nesse contexto, buscamos analisar de maneira minuciosa as práticas educativas,
examinando tanto os acertos quanto as lacunas. No entanto, nossa meta é desenvolver uma
perspectiva cada vez mais abrangente e integrada, ou seja, uma compreensão mais completa
das especi�cidades educacionais. Isso implica considerar a implementação prática da educação
em ambientes especí�cos, como salasde aula dentro de contextos especí�cos. No entanto, de
maneira mais ampla, é crucial ter uma compreensão clara do que está sendo realizado, ou seja,
entender tanto os resultados obtidos quanto os objetivos a serem realizados. Em última
instância, isso signi�ca ter discernimento sobre o tipo de indivíduo que está sendo moldado pelo
processo educacional.
Para aprofundarmos o conhecimento sobre a formação dos alunos, vamos pensar na seguinte
situação: o estagiário Thomas está acompanhando as aulas de Ciências da professora Clara há
algumas semanas. Depois de diversas aulas, a professora Clara pergunta a Thomas se ele
gostaria de apresentar um conteúdo na próxima semana. Ele se surpreende com a possibilidade
e a aceita, acreditando ser a oportunidade de assumir outra postura diante dos alunos. A docente
deu liberdade para que ele preparasse o tema do modo como entendesse ser melhor, já que ela
tinha feito uma introdução na aula daquela semana. Thomas deveria trabalhar com os
estudantes a aplicação dos conceitos no cotidiano deles – a aula seria sobre higiene e
transmissão de doenças.
Thomas passou a semana preparando sua exposição, pesquisou e separou diversas fotos,
grá�cos e �guras que serviriam para apresentar e exempli�car as ideias. Reuniu tudo em slides e
preparou uma apresentação para usar com o projetor e falar com os estudantes de uma forma
mais atrativa, combinando tudo com a professora Clara. No dia programado, Thomas fez sua
apresentação aos alunos, mas percebeu que os exemplos utilizados começaram a se mostrar
inadequados, diante das respostas que os educandos davam. O estagiário começou a perceber
que imaginara uma realidade de vida que os alunos, na verdade, não tinham.
Alguns deles chegaram a rir, dizendo: “Professor, você tá viajando... acha que tenho essas coisas
na minha casa?! A gente vive do jeito que dá... Lá no bairro, as pessoas comem o que tem – e
quando tem”. Thomas tentou reconduzir os exemplos e a professora Clara o auxiliou a transmitir
o conteúdo com outros elementos.
Na dinâmica apresentada, o estagiário deixou de considerar alguns pontos muito importantes
antes de realizar a aula?
Bons estudos!
Vamos Começar!
Desde o advento do Iluminismo no século XVIII, a ciência passou por contínuas transformações,
exercendo uma profunda in�uência no mundo e na vida humana. Atualmente, o volume crescente
de conhecimentos gerados por essa atividade tem levado a sociedade a uma nova ordem,
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
caracterizada pela predominância da tecnologia. Nesse contexto, a educação tem sido
impactada por esse acervo cientí�co, apresentando desa�os signi�cativos para os educadores
que, muitas vezes, são migrantes digitais, encontrando di�culdades em acompanhar o ritmo
acelerado das mudanças tecnológicas.
A abordagem ideal da educação em ciência deveria envolver a observação atenta dos
comportamentos e práticas que serão desenvolvidos. Isso permitiria a formulação de propostas
educacionais que integrassem a ciência com os dilemas naturais, sociais e culturais, tanto em
nível coletivo quanto individual. Essa abordagem visa preparar os educadores para lidar de
maneira e�caz com os desa�os contemporâneos, promovendo uma compreensão mais profunda
e crítica das interações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade.
A importância da ciência para a educação
O conhecimento proveniente dos avanços cientí�cos e tecnológicos exerce um impacto
signi�cativo em toda a estrutura de nossa existência material e nas instituições sociais, sendo a
escola um ponto crucial para a transmissão desse conhecimento. Nesse processo, é essencial
que o conhecimento compartilhado seja compreendido e interpretado pelos alunos, que trazem
suas experiências empíricas e culturais para a sala de aula. Diante da intensa dinâmica
tecnológica da sociedade contemporânea, o ensino dos conteúdos presentes nos currículos
enfrenta um novo desa�o: apresentar a ciência como um produto cultural e social.
Isso requer uma contextualização do conhecimento com a realidade do aluno, estabelecendo um
processo contínuo de ação e re�exão. Os educadores precisam compreender a natureza dialética
que envolve a cognição e a afetividade, a �m de criar situações didáticas que levem os alunos a
compreender que a ciência não é apenas uma disciplina escolar, mas uma ação humana que
impacta a natureza, a sociedade e o meio ambiente em que o estudante está inserido. É
fundamental que os educadores estimulem uma compreensão mais ampla, promovendo a
percepção de que a ciência está intrinsecamente ligada às transformações no mundo real,
incentivando assim uma visão crítica e integrada do conhecimento cientí�co.
É importante re�etir também que a cultura do aluno é um elemento essencial que não pode ser
negligenciado e suas opiniões em relação aos elementos do conhecimento curricular devem ser
consideradas em um processo pedagógico humanizado. Em um ambiente educacional
desprovido de um processo didático que conecte o conteúdo escolar com a vida que o aluno
vivencia fora da escola, o ensino corre o risco de tornar-se vazio e sem signi�cado para o aluno
envolvido.
Assim, um conhecimento cientí�co apresentado de forma descontextualizada na escola é
percebido pelos estudantes como um simples acúmulo de informações, permanecendo no
âmbito do senso comum. A escola desempenha um papel crucial ao elevar o nível do
conhecimento dos alunos, uma vez que o senso comum que trazem é fundamentado no
"achismo", categorizado pelos �lósofos como "doxa" (opinião) – um conhecimento empírico,
ingênuo e popular, que carece de sistematização e profundidade. O senso comum é constituído
por opiniões baseadas em hábitos cotidianos, espontâneos e sincréticos. O conhecimento
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
adquirido empiricamente é fortuito, fragmentado e busca atender às demandas imediatas do dia
a dia. Sua característica central é a super�cialidade.
Diante desse cenário, a educação escolar tem a responsabilidade de conduzir o aluno além
desse estágio de conhecimento, introduzindo-o ao universo do conhecimento cientí�co, sem
desconsiderar a relação dialética entre cognição e afetividade. A tarefa educacional nesse
contexto é desenvolver uma concepção e uma prática mais alinhadas com as demandas sociais
contemporâneas, respeitando tanto o legado ocidental do conhecimento produzido e
sistematizado quanto as perspectivas das famílias dos educandos e dos educadores.
Siga em Frente...
A formação para a criticidade
No contexto educacional contemporâneo, torna-se crucial desenvolver uma prática pedagógica
que promova a construção da capacidade crítica dos educandos. Essa capacidade crítica é
entendida como “uma educação crítica, transformadora e emancipatória, que tem como
�nalidade contribuir para a construção de uma sociedade justa, democrática e sustentável e […] a
intervenção quali�cada” (Quintas, 2008, p. 31). Nesse sentido, é imperativo direcionar o foco para
uma educação que considere o cenário social, reconhecendo a capacidade humana de modi�car
hábitos com base em novas experiências para alcançar um aprimoramento na qualidade de vida.
Quando falamos da atuação do professor como aquele que guia o aluno para a construção do
pensamento crítico, não estamos assumindo que as responsabilidades sejam unicamente dele,
mas entendemos que esteja em suas mãos e�cazes instrumentos de abertura e renovação do
pensamento. Daí, sim, o pensamento pode transformar a realidade e encaminhar o homem para
a emancipação. O professor é quem pode criar o desejo de maior liberdade e, acima de tudo,
abrir as portas para um pensamento emancipado.
Para viabilizar esse processo, o currículo emerge como um elemento fundamental. Além disso, é
urgente a construção de uma proposta pedagógica que se baseie na ética e que derive de um
trabalho coletivo, no qual todas as necessidades e diretrizes educacionais estejam alinhadas
com a conquista de objetivos compartilhados pela comunidade escolar. Essa abordagem
coletiva propicia não apenas a formação acadêmica, mastambém o desenvolvimento integral do
indivíduo, preparando-o para uma participação ativa e crítica na sociedade. Sendo assim, para
implementar essa metodologia de trabalho baseada em um currículo dialético construído
coletivamente, o educador precisa familiarizar-se e investigar o contexto cultural vivido pelos
estudantes. Além disso, é essencial re�etir sobre esse contexto, criando condições para que os
alunos possam criar e recriar os saberes cientí�cos presentes no projeto curricular.
Logo, o processo de ensino e aprendizagem deve ser capaz de contextualizar e relativizar os
conteúdos do currículo, relacionando-os aos conhecimentos prévios adquiridos pelos estudantes
ao longo do processo educacional. Isso implica reconhecer a necessidade de desenvolver um
senso crítico fundamentado nas demandas humanas. Nesse contexto, a educação assume um
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
papel crucial no desenvolvimento do cidadão, consciente de sua importância no processo de
formação histórica e cultural dos alunos. Educar de maneira alinhada ao pensamento cientí�co
signi�ca proporcionar um ensino que permita ao aluno compreender o papel da ciência na
sociedade, identi�cando-a como um processo histórico e dinâmico, e não como um
conhecimento mágico que subestima a inteligência humana e a própria transformação histórica
da sociedade.
Portanto, educar o aluno para o conhecimento cientí�co signi�ca formar um sujeito consciente e
integrado ao contexto social, pois, como destaca Carvalho (2012, p. 77), "o educador é por
'natureza' um intérprete, não apenas porque todos os humanos o são, mas por ofício, uma vez
que educar é ser mediador, tradutor de mundos". Nesse sentido, é fundamental demonstrar de
maneira contínua, por meio do conteúdo e da prática do currículo, que a dinâmica da ciência e da
sociedade não são processos distintos. Existe uma interação entre a ciência e as condições
sociais em que ela se desenvolve, e tentar isolar de alguma forma essa relação dialética que
evidencia a ação das forças sociais e econômicas é negar ao estudante o conhecimento do
poder de ação humana sobre a natureza.
Compreender para atuar
Quando um pesquisador se dedica a uma investigação cientí�ca, ele utiliza um método que lhe
permite realizar antecipações mentais. Essas antecipações funcionam como meios de
racionalizar sua abordagem, auxiliando-o na melhor adequação entre os meios e os �ns, evitando
orientar-se apenas pelo acaso. Em determinadas circunstâncias, os sentidos do pesquisador
podem ser insu�cientes para uma observação cientí�ca e�caz, tornando-se necessário o uso de
instrumentos. Esses instrumentos proporcionam maior rigor à observação, tornando-a mais
objetiva.
É importante reconhecer que a observação cientí�ca não se resume a uma simples
contemplação dos fatos. Quando o pesquisador observa a realidade, ele já realiza uma seleção
dos aspectos que mais chamam sua atenção, realizando "recortes" na realidade observada. Essa
observação é fundamental para a posterior atuação, seja do pesquisador ou do docente em
questão. Como a�rmam Aranha e Martins (1995, p.156),
Quando se trata do olhar de um cientista, este se acha impregnado por pressupostos que lhe
permitem ver o que o leigo não percebe. Se olhamos uma lâmina ao microscópio, quando muito
percebemos cores e formas. Precisamos estar de posse de uma teoria para "aprender a ver”. Em
outras palavras, ao fazer a coleta de dados, o cientista seleciona os mais relevantes para o
encaminhamento da solução do problema. O critério para a seleção dos fatos obviamente já
orienta a observação.
A abordagem empirista da ciência parte do princípio de que seu conhecimento deriva sempre da
observação de dados sensíveis aos humanos. No entanto, embora a observação seja crucial para
o desenvolvimento cientí�co, é essencial considerar que os fatos resultam não apenas da
observação, mas também de interpretações, teorias e estruturas conceituais que os cientistas
aplicam aos dados observados.
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Assim, conhecer a realidade do aluno é fundamental para proporcionar uma educação
signi�cativa e e�caz. Essa prática reconhece a diversidade de experiências, contextos culturais e
necessidades individuais dos estudantes, contribuindo para um ambiente de aprendizagem mais
inclusivo e engajador. A prática de conhecer a realidade do aluno vai além do simples
entendimento de suas condições socioeconômicas. Envolve o reconhecimento da
individualidade, das experiências culturais e das necessidades especí�cas de cada estudante,
proporcionando uma abordagem mais holística e e�caz no processo educacional.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: o estagiário Thomas �cou responsável por
apresentar um conteúdo para os alunos referente à higiene e transmissão de doenças. Apesar de
se preparar para o momento de explanação dos conteúdos, Thomas percebeu que os exemplos
utilizados começaram a se mostrar inadequados, diante das respostas que os educandos
davam. O estagiário começou a perceber que imaginara uma realidade de vida que os alunos, na
verdade, não tinham. O rapaz deixou de considerar alguns pontos muito importantes, antes de
realizar a aula?
Uma aula preparada sem conhecer o grupo de alunos que dela vai participar corre grande risco
de não alcançar os objetivos propostos ou até mesmo de fracassar e levar a conclusões
extremamente opostas às que eram objetivadas. Ensinar é possível, mas há diferentes modos de
se fazer isso, pensando-se nos diferentes modos de conhecer e nos elementos dos quais aquele
grupo de estudantes dispõe. É preciso perceber que nem todas as histórias têm o mesmo
sentido para todas as pessoas. Isso signi�ca entender que a história e a construção cultural de
uma pessoa ou de um grupo é que dá sua identidade e leva a determinada concepção de mundo.
A experiência em sala de aula, aos poucos, vai dando ao docente as condições necessárias de
saber qual é a melhor maneira de ser ensinado um determinado conteúdo. A experiência de
Thomas o levou a identi�car algumas necessidades que teria de sanar quando tivesse de
preparar uma nova aula. Esse aprendizado é constante e, com a mesma turma, o professor
deverá rever sua postura.
Saiba mais
Compreender a relação entre educação e cultura é fundamenta para uma prática docente
bem engajada e fundamentada. Para se aprofundar no assunto, leia o seguinte artigo:
Cultura, culturas e educação, do autor Alfredo Veiga-Neto. No texto você encontrará uma
interessante problematização sobre os conceitos de cultura e educação e suas relações.
O processo de desenvolvimento da ciência caminha de forma conjunta com a educação e
com as perspectivas culturais de cada época e de cada povo. Assista ao �lme Estrelas
além do tempo (2016), que retrata a história de mulheres negras que desenvolveram a
tecnologia necessária para levar o Homem ao espaço. Procure perceber a relação entre a
cultura de segregação norte-americana da época (anos 1960), a importância da educação
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/G9PtKyRzPcB6Fhx9jqLLvZc/?format=pdf&lang=pt
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
para a vida daquelas mulheres e o desenvolvimento cientí�co que impactou e impacta
nossas vidas.
Referências
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Temas de �loso�a. São Paulo: Moderna, 1992.
CARVALHO, I. Educação ambiental: a formação de sujeito ecológico. 6. ed. São Paulo: Cortez,
2012.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
QUINTAS, J. S. Educação no processo de gestão ambiental pública: a educação ambiental no
contexto da gestão ambiental pública. Em formação, Rio de Janeiro, v. 3, 2008.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.
SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2011.
SAVIANI,D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados,
2013.
Aula 2
Re�exões Sociológicas sobre a Educação
Re�exões Sociológicas sobre a Educação
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Olá, estudante!
Nesta aula você irá compreender a in�uência do processo de globalização econômica, dos
costumes e dos valores na educação. Vamos pensar também, a partir da perspectiva de Pierre
Bourdieu, na escola como instituição reprodutora das desigualdades sociais enquanto ela deveria
�gurar como promotora da autonomia. Vamos lá?!
Ponto de Partida
A Constituição de 1988 assegura a educação como um direito fundamental. Para que a escola
atinja efetivamente seu propósito de fomentar a autonomia de todos os indivíduos, é necessário
que, ao longo do processo educacional, ela não apenas ofereça condições físicas de acesso
universal, mas também proporcione meios para a permanência e aprendizagem. Isso inclui
estimular as diferenças e reconhecer as potencialidades individuais. Dessa forma, é crucial que
os professores e demais pro�ssionais estejam devidamente preparados, inclusive para
estabelecer diálogos construtivos com todos os familiares dos alunos. Isso implica a
participação em cursos de formação continuada, visando capacitá-los a lidar de maneira e�caz
com a diversidade presente no ambiente educacional. Assim, é necessário que a escola trabalhe
no sentido de superar as diferenças e não as reproduzir.
Para nos aprofundarmos sobre esses assuntos, vamos pensar na seguinte situação: o ano letivo
estava começando e Pedro era novo aluno na escola – tratava-se de uma escola estadual. No
ano anterior, o garoto estudava em um colégio particular, no qual esteve desde o início da
educação básica. Nos primeiros dias de aula, alguns professores começaram a perceber que, por
conta de uma grande participação e conhecimento que Pedro trazia, alguns alunos começaram a
fazer chacotas e a deixar o estudante meio isolado.
Os professores diziam que Pedro era bom aluno e tudo que falava não era na intenção de se
exibir: era simplesmente aquilo que ele conhecia e trazia de sua história. Mas os colegas
começaram a chamá-lo de exibido e a se incomodar com ele. Qual seria a causa do problema e
qual seria uma boa maneira de lidar com a situação?
Vamos Começar!
O fenômeno histórico conhecido como globalização recebeu sua denominação na década de
1980 e pode ser compreendido como uma descrição do movimento de uni�cação da economia e
da política. Suas origens remontam ao século XV, durante o período das grandes navegações na
Europa. Na contemporaneidade, a globalização encontra fortes aliados nos meios de
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
comunicação, transporte e tecnologia, que ampli�cam seu poder ao agilizar as trocas de
informações de forma simultânea e em escala mundial.
A globalização tem ampliado os níveis de degradação humana através de um extenso processo
de exclusão social. Baseada no fortalecimento do capital, essa dinâmica tem apresentado
desa�os signi�cativos, especialmente nas áreas de saúde e educação, para os países menos
desenvolvidos do planeta. Nesse contexto, a globalização tem afetado vários setores da
sociedade, especialmente aqueles dominados pelo capital �nanceiro, resultando naquilo que
Santos (2000) chama de "tirania do dinheiro". As instituições como o Banco Mundial e o FMI,
entre outras, exercem in�uência e estabelecem regras no mundo globalizado contemporâneo,
impactando diretamente a política educacional das nações e, consequentemente, a brasileira.
É evidente que as diretrizes do mercado �nanceiro têm moldado as propostas de políticas para a
educação básica, formação técnico-pro�ssional e quali�cação, promovendo um ensino orientado
para o desenvolvimento de habilidades e competências voltadas para a empregabilidade. Essa
abordagem reforça uma ideologia capitalista de natureza fordista ou pós-fordista, que, como é
perceptível, contribui para a legitimação da exclusão social. No cenário da globalização, a
educação se destaca como um dos elementos fundamentais na consolidação do capitalismo
neoliberal em dimensões cada vez mais abrangentes.
Globalização e educação
As características contemporâneas do capitalismo re�etem uma organização social que
promove a acumulação excessiva de capital, fundamentada na lógica do mercado livre em
escala global e impulsionada pela crescente revolução tecnológica. Esse cenário demanda um
novo per�l de mão de obra quali�cada, que, de forma cada vez mais alienada, atenda às
exigências do mercado. Nesse intricado contexto, o discurso pedagógico assume uma narrativa
e prática diária que legitimam a preparação e adaptação dessa mão de obra quali�cada,
proporcionando uma formação geral e pro�ssional.
As re�exões na área educacional concentram-se na questão da qualidade de ensino como
mediadora do papel da escola frente às demandas contínuas e urgentes do capitalismo global,
in�uenciando a formulação das políticas públicas de educação. Tecnologias educacionais
surgem como uma força cada vez mais potente, introduzindo novos elementos que revelam o
per�l atual dos usuários no cenário contemporâneo.
Embora a globalização proporcione acesso global à tecnologia, ciência e pesquisa, a ação
educativa não pode ser compreendida fora do contexto da alienação, pois os valores da
sociedade moderna capitalista permeiam as políticas públicas educacionais. Apesar de ser um
direito constitucional, o acesso à educação no Brasil não é equitativo entre as classes sociais,
especialmente no contexto contemporâneo, com o país apresentando índices de desempenho
educacional considerados entre os mais baixos do mundo.
Nesse cenário, os governos têm adotado projetos educacionais alinhados aos padrões do
mercado internacional. No Brasil, exemplos dessa nova realidade incluem a implementação de
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
reformas no ensino médio e alterações em seu projeto curricular. Apesar da resistência de alguns
setores da população, essas mudanças no currículo oferecem aos alunos a oportunidade de
escolherem caminhos formativos alinhados aos seus projetos de vida, promovendo o exercício
do autoconhecimento e a possibilidade de focar de forma mais autônoma nos componentes
curriculares, nas áreas de conhecimento e na formação técnica relacionada à pro�ssão
desejada.
Entretanto, é importante ter em mente que, por trás da aparente liberdade de escolher disciplinas,
a sociedade permanece dividida por diferentes classes, e o critério capitalista gera um
antagonismo a ser reproduzido e reforçado pelo sistema educacional. Nesse contexto, os �lhos
da classe trabalhadora frequentemente enfrentam defasagens, pois raramente conseguem
atingir níveis mais elevados de ensino, sendo direcionados para atividades manuais. A escola,
nesse cenário, desempenha o papel de reproduzir a divisão social preexistente. Dessa forma, a
instituição escolar persiste na prática da dualidade, mantendo a separação entre o ensino
acadêmico e o ensino manual. Essa dicotomia contribui para assegurar a continuidade da lógica
capitalista.
Globalização e exclusão
Embora as tecnologias de comunicação e informação tenham sido instrumentos e ideologia na
disseminação dos males da globalização guiada pela lógica capitalista, também permitem a
emergência de novos arranjos sociais, incluindo o ressurgimento do multiculturalismo. A
horizontalidade da rede tecnológica contemporânea abre oportunidades para a interconexão
entre diversos grupos humanos, possibilitando sua participação não apenas como consumidores
de bens materiais, mas também como criadores e recriadores de conhecimento, uma moeda
valiosa na atualidade.
Consequentemente, a inclusão écontexto, a realização plena se tornaria impossível. Platão, São Tomás de
Aquino e Kant são �lósofos representantes do essencialismo.
Um dos primeiros pensadores essencialistas da Antiguidade que realizou uma grande
sistematização �losó�ca foi Platão (428 ou 427-347 a.C.), que contribuiu com uma discussão
acerca de importantes temas relacionados à perspectiva humana. Entre as perguntas que esse
�lósofo fazia, havia a que se referia à possibilidade de superação do nível empírico, aquele que
circunda o mundo da experiência, a�rmando que havia a necessidade de se alcançar a esfera das
essências, ou seja, da verdade.
A teoria platônica fala de um Mundo das Ideias, no qual estão as ideias (essências) de todas as
coisas. É o momento em que a Filoso�a se vê desgrudada da realidade física, na tentativa de
caminhar apenas por si. Nasce a metafísica: “aquilo que vai além da física”. A metafísica é um
tipo de raciocínio que depende, total e unicamente, da atividade da razão. Para Platão, os seres
da realidade metafísica são mais reais do que os da realidade física, simplesmente por serem
mais perfeitos. Como exemplo, re�ita: onde a justiça é mais perfeita, na ideia ou na realidade?
Com certeza é na primeira.
Além de Platão, um outro pensador essencialista, já na Idade Média, Tomás de Aquino (1225-
1274), entendia que educação servia para educar o indivíduo na fé e para a vida após a morte. É
crucial destacar que, durante a Idade Média, houve uma clara tentativa do pensamento religioso
de subordinar o pensamento �losó�co à esfera da teologia, de fato, ao controle da Igreja. Nesse
contexto, séculos antes de Tomás de Aquino, Santo Agostinho (354-430) já havia apresentado
uma signi�cativa "conversão" do pensamento �losó�co grego para o cristianismo.
Tomás de Aquino baseou seu pensamento na �loso�a de Aristóteles (384-322), resultando em
traços aristotélicos notáveis que são facilmente identi�cáveis na �loso�a tomista. Para Tomás
de Aquino, a essência humana está no projeto de Deus, ou seja, a realização do homem apenas
pode ser alcançada quando este realiza aquilo que é o projeto feito para a vida do homem
concreto. Suas ações devem sempre ser pensadas com o objetivo de que alcance a salvação
depois da morte e possa participar da vida eterna, com Deus.
Concepção naturalista
Do lado oposto ao essencialismo, surge, na Idade Média, a concepção naturalista. Desde o �nal
da Idade Média, por volta do século XIV, o modo de conceber a produção do conhecimento foi se
alterando, pois a religião foi, aos poucos, perdendo seu poder sobre a realidade como um todo.
Com isso, os cientistas e pensadores em geral passaram a lançar um novo olhar sobre a
realidade. O conhecimento do mundo foi se tornando autônomo, dentro das diferentes áreas da
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
ciência que se delineavam. Esse período de mudança pode ser entendido como de libertação, no
qual o homem se guiava por sua razão, e não mais pela “vontade divina”, da qual a igreja era a
única portadora.
Foi necessário re�etir sobre novos caminhos, novos métodos que fossem e�cazes e capazes de
garantir sempre maior valor ao conhecimento cientí�co. Foram dadas, então, as bases do
método seguido pela ciência até a atualidade, o chamado método experimental, cujo centro
ordenador está no entendimento de que a experimentação da realidade (por meio de hipóteses e
testes) permite chegar a elaborações con�áveis sobre o funcionamento da realidade.
De acordo com Aranha (1994, p. 113) “o que caracteriza a tendência naturalista é a tentativa de
adequar a metodologia das ciências humanas ao método das ciências da natureza, que se
baseia na experimentação, no controle e na generalização”. Para essa perspectiva, contribuem os
estudos do britânico Francis Bacon (1561-1626), que elaborou uma metodologia racional para o
trabalho cientí�co, delimitando a linha entre o pensamento medieval e o moderno. Ao
problematizar as questões relacionadas ao conhecimento, traz a ideia de que “saber é poder”.
Quanto mais o homem conhece do mundo em seu funcionamento, mais ele tem condições de
regê-lo, pois saber das leis naturais faz com que se possa agir sobre seus constituintes, para que
o mundo esteja de acordo com os desejos humanos. Conhecer o homem signi�ca saber também
sobre seu funcionamento.
O pensamento de René Descartes (1596-1650) também contribui para a nossa compreensão da
concepção naturalista do ser humano, adotando a dúvida como um caminho em direção à
verdade. Descartes chega ao reconhecimento do cogito ("penso, logo existo") como o ponto a
partir do qual todo o restante poderia ser concebido. A única certeza alcançada pela re�exão é a
certeza do eu como uma substância pensante. No entanto, essa mesma re�exão revela que o
homem, além do pensamento é também um corpo. Enquanto corpo, o homem compartilha a
mesma realidade dos demais corpos que existem no mundo real.
Sua compreensão do Universo está alinhada com o mecanicismo, ou a perspectiva mecanicista
da realidade, que postula que tudo segue um funcionamento mecânico, onde os elementos
desempenham funções especí�cas para o pleno funcionamento do conjunto. Essa abordagem
concebe o Universo como se fosse uma vasta máquina, onde compreender minuciosamente o
funcionamento de cada elemento possibilita alcançar o entendimento do todo.
Cultura e educação
Uma área do conhecimento humano que pode oferecer contribuições signi�cativas ao trabalho
dos professores é a Antropologia. O ser humano, ao produzir e transmitir cultura para as
gerações seguintes, estabelece um contínuo processo de socialização. No entanto, a aquisição
do conhecimento é um processo singular, sendo construído de maneira única por cada indivíduo.
A dinâmica desse complexo processo precisa ser desvendada pela Antropologia, que, ao reunir
elementos para analisar a interação do homem com o mundo circundante, traz contribuições
valiosas para a educação. Nesse sentido, a antropologia �losó�ca estimula a re�exão sobre os
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
conteúdos apresentados aos estudantes por meio do projeto curricular, levando em consideração
o contexto cultural, a história de vida e o universo simbólico de cada indivíduo.
Esses fatores são fundamentais para a aprendizagem, abrangendo capacidades derivadas da
infância, como a incorporação de experiências, habilidades sensório-motoras, capacidade de
locomoção, função imitativa, lúdica, linguística, intelectual e estética.
O ser humano, naturalmente desejante, busca integrar-se ao seu grupo social, sendo que esse
desejo de participação pode ser tanto estimulado quanto bloqueado durante o processo
pedagógico de socialização da criança. O movimento de internalização do espaço social
estruturado, conhecido como socialização, ocorre em constante interação entre a história
individual e a convivência coletiva. É esse processo que destaca a necessidade de uma
abordagem antropológica na educação.
A Antropologia e a educação devem ser integradas por meio das emoções e crenças. O educador
deve cultivar uma sensibilidade em relação à diversidade cultural dos educandos, buscando
empatia ao detectar suas necessidades, as quais são moldadas na interação entre o estudante e
sua comunidade de origem. Nesse contexto, a Antropologia histórica proporciona uma valiosa
contribuição ao trabalho docente, permitindo uma análise aprofundada da cultura e dos valores
dos educandos.
Vamos Exercitar?
Vamos retomar a nossa situação inicial: ao acompanhar as aulas de ciências do professor
Carlos, você percebe que elas são realizadas sempre do mesmo modo e isso o deixa intrigado,
pois nem sempre o conteúdo é assimilado pelos alunos. Você resolve então ir conversar com a
professora Tânia e tenta saber o que ela tem feito para conquistar os estudantes, buscando fazer
com que eles aprendam de modo mais signi�cativo.
O docente em formação vê a necessidade de buscar caminhos para pensar possíveis novos
modos de conceber o fazer educativo. Você consegue perceber que ganhos o educador tem, em
sua formação, quandorede�nida, pois toda a humanidade torna-se capaz de produzir e
consumir diversos saberes. Isso propicia um rico entrecruzamento de culturas entre todos os
povos do planeta, desa�ando a hegemonia de um único grupo. Essa transformação exige a
re�exão e construção de um novo paradigma educacional.
Conforme Santos (2000), quando as pessoas compartilham um território, elas não apenas criam
cultura, mas também estabelecem uma economia, um discurso e uma política que re�etem as
características desse território. Embora isso possa parecer uma fragilidade à primeira vista, na
realidade é uma força. O autor argumenta que, quando essa cultura se forma localmente, ela se
torna uma fonte de fortalecimento para a política das classes menos favorecidas, operando de
maneira autônoma, sem depender de partidos políticos ou outras organizações.
Apesar de vivermos em uma sociedade predominantemente caracterizada pelo modelo
capitalista, que persiste na disseminação dos valores da modernidade, podemos perceber
indícios de que estamos ingressando em uma nova fase histórica. Essa fase sugere que a
superação desse modelo econômico não ocorrerá mediante a substituição por outra forma de
poder hegemônico, mas sim através da capacidade humana de indignação, questionando a
ideologia que sustenta essa lógica.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
O esforço coletivo dos pesquisadores em analisar e provocar re�exões sobre a problemática da
globalização e suas implicações para a educação é crucial. Isso permite evidenciar a tensão
existente entre dois movimentos aparentemente contraditórios, mas que coexistem no contexto
social contemporâneo: a globalização com seus interesses políticos e econômicos e a crescente
visibilidade dos movimentos de diversos grupos sociais minoritários nas últimas décadas.
A sociedade brasileira demanda uma educação renovada, mais inclusiva e menos excludente.
Esse modelo precisa reconstruir a educação de maneira a compreender os diferentes interesses
dos movimentos sociais. Embora seja importante formar indivíduos com competências
especí�cas para enfrentar o mundo globalizado, é igualmente fundamental criar oportunidades
que desenvolvam sua sensibilidade. As pessoas precisarão aprender a conviver com a
multiculturalidade, a diversidade, as diferenças e as incertezas do mundo contemporâneo.
Nesse contexto, a desconstrução da ideologia dominante como algo que não precisa ou deve ser
contestado é urgente. Os alunos precisam compreender o conceito de hegemonia, como
proposto por Antonio Gramsci, pois, segundo o �lósofo, "toda relação de 'hegemonia' é
necessariamente uma relação pedagógica” (Gramsci, 1978, p. 37). Isso não se limita ao interior
de uma nação, mas ocorre em todo o campo internacional e mundial, entre conjuntos de
civilizações nacionais e continentais.
Tendo como base o pensamento de Gramsci (1978) sobre hegemonia, a função educativa torna-
se relevante e imprescindível. A educação desempenha um papel fundamental no processo de
concretização de uma nova concepção de mundo e na construção da hegemonia da classe
trabalhadora, desde que direcionada para seus interesses. Portanto, uma vez que a sociedade
brasileira necessita de uma nova educação, concretizada por meio de um projeto curricular
renovado, mais inclusivo e menos excludente, é de suma importância que a educação atinja não
apenas o nível individual, mas também o coletivo.
Assim, é possível que a educação se torne um mecanismo de extrema relevância para os
processos de lutas que buscam a transformação da sociedade, uma educação voltada para os
interesses dos trabalhadores, transmitindo conhecimentos vivos, críticos e transformadores. Isso
contribuirá para a construção da conscientização da classe trabalhadora, reconhecendo-a como
uma classe dominada que precisa lutar pela construção de um novo modelo.
Nesse contexto, a instituição escolar, ao elaborar e implementar seu projeto curricular, deve
considerar a pluralidade e a diversidade cultural, buscando abordagens e�cazes para contemplar
as diferenças presentes na sociedade e dentro da própria escola. Abordar a diversidade e a
pluralidade cultural implica reconhecer a existência não de uma única cultura, mas sim de
inúmeras culturas, distintas entre si. Nesse sentido, a escola precisa adotar abordagens e�cazes
para consolidar uma prática educacional inclusiva, alcançando a todos de maneira equitativa.
Siga em Frente...
A escola e a não neutralidade
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
O pensador Pierre Bourdieu (1930-2002) contribuiu signi�cativamente com os estudos sobre a
escola e a educação na sociedade capitalista. O pensamento de Bourdieu oferece uma
abordagem crítica ao analisar o papel da educação na sociedade. "Fazer a crítica" implica
examinar minuciosamente o que já existe, buscando compreender seus fundamentos e as
relações que mantêm com o conjunto de elementos que compõem o contexto. Dessa forma,
Bourdieu desenvolveu sua re�exão de maneira a perceber que o processo educativo precisava
ser reinterpretado, especialmente em sua época, quando a educação era amplamente vista como
uma solução positiva para os problemas sociais. E será que hoje ela é vista de maneira diferente?
No contexto em que Bourdieu se inseriu, e que persiste até hoje, várias teorias educacionais
enfocavam a educação como uma espécie de redentora. O ponto crucial é entender que a
educação é um instrumento que pode servir a diferentes propósitos. Bourdieu propõe uma
compreensão mais abrangente do fenômeno educacional, capaz de abordar de maneira mais
e�caz as desigualdades escolares. O autor argumenta que não existe uma escola neutra. A ideia
de uma instituição educacional que apenas transmite conhecimentos necessários para que os
indivíduos se realizem social e humanamente é ilusória.
Essa suposta escola neutra, na verdade, estaria a serviço do sistema e, por conseguinte, seria
alheia ao contexto social. Mesmo dentro de uma realidade especí�ca, ela trataria todos os alunos
e todo o conteúdo de maneira uniforme, sem considerar elementos de diferenciação em termos
de importância do conteúdo e experiência social. Bourdieu percebeu que a escola pode
inadvertidamente legitimar o projeto de desigualdade contra o qual ela supostamente se
posiciona.
A educação, na teoria de Bourdieu, perde o papel que lhe fora atribuído de instância
transformadora e democratizadora das sociedades e passa a ser vista como uma das principais
instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais. Trata-se, portanto,
de uma inversão total de perspectiva. (Nogueira, 2014, p. 14)
A crítica da escola emerge da análise da relação entre o indivíduo, sua vivência no contexto
social e sua experiência escolar. Existe uma estrutura social objetiva na qual todas as vivências
são organizadas, mas há também uma participação individual (subjetiva) na construção da
realidade. A questão central é compreender a autonomia do indivíduo dentro dessa estrutura: ele
possui autonomia ou está apenas seguindo o que é predeterminado pela estrutura social?
O pro�ssional da educação, especialmente o professor, torna-se crítico em sua prática quanto
mais consegue identi�car o que aparenta ser uma preferência individual, mas que, na realidade, é
uma indução social. O aluno aprende a interpretar de uma maneira especí�ca em uma
determinada situação, e mesmo diante de situações diferentes, continua interpretando sob a
in�uência da estrutura objetiva internalizada.
Para compreendermos melhor essa questão, vamos pensar a realidade social a partir do ponto
de vista de Karl Marx, que interpreta a sociedade a partir da luta de classes. Bourdieu acrescenta
que há uma estrutura objetiva de dominação de uma classe sobre outra. Cada vez que um
indivíduo se depara com a realidade, assume uma posição como membro de uma classe, muitas
vezes de maneira inconsciente. No campo educacional, as disputas re�etem a busca pelo melhor
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
caminho a ser seguido, o que pode ser observado claramente é a divisãoem dois principais
modelos: o público e o privado. Essa divisão re�ete, corrobora e perpetua a divisão social e a
situação de dominação de classe.
Dessa forma, a educação não pode ser ingenuamente entendida como um caminho de
libertação, pois ela reproduz a hierarquização dos indivíduos. Os bem-nascidos e bem-formados
expressam os valores da classe dominante que busca manter sua posição. A classe dominada
internaliza a estrutura objetiva de dominação, aceitando-a como algo natural. Ao chegar na
escola, o aluno deveria trazer uma bagagem cultural que lhe permitisse acessar novos tipos de
conhecimento e, cada vez mais, desenvolver seu pensamento. Porém, a escola não consegue
desenvolver a capacidade de re�exão no aluno, por conta de faltarem elementos básicos a partir
dos quais se torna possível pensar criticamente.
A escola não cumpre apenas a função de consagrar a “distinção” – no sentido duplo do termo –
das classes cultivadas. A cultura que ela transmite separa os que a recebem do restante da
sociedade mediante um conjunto de diferenças sistemáticas: aqueles que possuem como
“cultura” (no sentido dos etnólogos) a cultura erudita veiculada pela escola dispõem de um
sistema de categorias de percepção, de linguagem, de pensamento e de apreciação, que os
distingue daqueles que só tiveram acesso à aprendizagem veiculada pelas obrigações de um
ofício ou a que lhes foi transmitida pelos contatos sociais com seus semelhantes. (Bourdieu,
2007, p. 221)
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: Pedro era novo aluno na escola – tratava-
se de uma escola estadual. No ano anterior, o garoto estudava em um colégio particular, no qual
esteve desde o início da educação básica. Como Pedro sempre participava das aulas e respondia
aos questionamentos dos professores, os alunos começaram a implicar com ele. Qual seria a
causa do problema e qual seria uma boa maneira de lidar com a situação?
O pensamento de Bourdieu pode explicar o que ocorreu: as diferenças sociais levam os
indivíduos a terem diferentes experiências de mundo – principalmente no que se refere ao
conteúdo de conhecimento e à vivência cultural. O problema é causado pelo próprio sistema, que
não oferece as mesmas condições de participação social a todas as pessoas. Nesse sentido,
crianças advindas de classes populares deixam de conhecer aquilo que, adiante, a escola (e
outros ambientes sociais) vai cobrar.
Uma criança não escolhe e, portanto, não tem “culpa” de nascer em uma classe com mais ou
menos condições �nanceiras. Também não seria o caso de Pedro deixar de lado tudo o que havia
aprendido e �ngir que não trazia determinado conhecimento prévio. Muitas ações poderiam ser
pensadas como solução, mas, basicamente, é preciso integrar o aluno no novo ambiente e fazer
com que todos percebam que ter diferentes experiências, ao invés de ser prejuízo, é ganho para
toda a turma quando se partilha o conhecimento.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Saiba mais
A promoção da educação desde a infância para a cidadania é fundamental para a concretização
da democracia. Para se aprofundar no assunto, leia o artigo:
Cidadania desde a infância e educação para a democracia: da negação da fala à perspectiva de
fortalecimento da voz da criança, da autora Delma Lúcia de Mesquita. O texto busca responder
algumas questões orientadoras acerca da relação entre cidadania, infância e educação.
A escola deveria atuar na emancipação dos indivíduos, promovendo uma formação crítica e
re�exiva aos indivíduos. Em vez disso ela atua na reprodução das desigualdades sociais. Assista
ao �lme Escritores da Liberdade (2007), em que uma jovem e idealista professora chega a uma
escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Procure perceber
os elementos ligados à educação e à desigualdade social entre alunos e professores. Observe as
estruturas educacionais que propiciam a reprodução dessas desigualdades.
Referências
BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2007.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
GRAMSCI, A. Concepção dialética da História. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
NOGUEIRA, M. A. Bourdieu e a educação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006. Coleção primeiros passos.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados,
2013.
Aula 3
O Pensamento Complexo
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para assistir mesmo sem conexão à internet.
Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante!
Nesta aula você irá compreender a importância de uma educação contextualizada. Vamos partir
dos pressupostos do autor Edgar Morin e da sua Teoria da Complexidade para entender que a
escola e os métodos de ensino precisam ser revistos a �m de levar aos alunos uma visão do
todo da realidade, e não fragmentada como vem sendo feito. Vamos lá?!
Ponto de Partida
Até um passado recente, o papel do professor era reproduzir conhecimento, enquanto os alunos
recebiam lições e se preparavam para provas. Hoje, o ambiente escolar valoriza mais a prática e
coloca o estudante como protagonista de seu próprio aprendizado. Além disso, busca
proporcionar uma formação mais ampla, pois o estudante é considerado o responsável pelo seu
progresso. Com a transformação digital, a democratização do conhecimento veio trabalhando
intensamente. Na mesma medida, o mercado de trabalho passou a buscar habilidades
diferentes, forçando os sistemas de ensino a pensarem em desenvolvimento cognitivo,
comportamental e intelectual, tendo o desenvolvimento da cidadania como eixo central.
Para nos aprofundarmos sobre esses assuntos, vamos pensar na seguinte situação: o estagiário
Thomas �nalizou suas atividades e o ano letivo também estava terminando. Conforme havia sido
combinado com a coordenação, Thomas tinha participado das atividades até o último dia. Foi
uma experiência muito rica tudo o que ele vivenciou nas aulas, junto aos professores e alunos –
algo que com certeza serviu de modo especial para sua formação.
Tudo o que pôde vivenciar, o rapaz relatava em um diário de estágio, seguindo as orientações da
professora de estágio. Thomas ainda teria um último encontro com essa docente. Dessa forma,
ele preparou todos os seus materiais e foi para a universidade. Ao receber todos os documentos,
a educadora pediu a ele que �zesse uma avaliação geral da experiência realizada.
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No geral, a avaliação foi muito positiva, na qual o estagiário elencou elementos que foram mais
signi�cativos para ele – fossem de caráter positivo ou negativo. Ele encerrou com a seguinte
colocação: “Percebo que a realidade é simples, e o sistema educacional, do modo como está
organizado, complica tudo na cabeça dos alunos. O ensino deveria ser mais simples... só assim o
aluno aprenderia a viver neste mundo”.
A professora disse a Thomas que gostou da análise que ele fez de todo o estágio cumprido. Mas
indicou que havia um problema na conclusão de seu raciocínio e que mudaria por completo o
sentido do pensamento. Nesse contexto, ela repete o �nal da fala do aluno pedindo que ele
identi�casse o que poderia estar errado. Você consegue identi�car o que está errado na fala do
aluno? Bons estudos!Vamos Começar!
A sociedade contemporânea enfrenta uma crise global profunda, e a conscientização dessa crise
nos leva a perceber o caos que estamos vivenciando. Isso nos motiva a buscar um caminho que
supere o individualismo, que há muito tempo tem causado inúmeros males à nossa existência.
No contexto atual, as relações sociais, culturais e educacionais parecem ser um modelo falido.
Apesar do considerável desenvolvimento social e tecnológico que alcançamos, proporcionando
certo conforto material, este é um privilégio de uma minoria. Assim, torna-se necessário quebrar
esse paradigma, considerando as re�exões que vêm sendo construídas ao longo do tempo.
O modelo educacional atual, fundamentado no método mecanicista e materialista de ensino,
enxerga os alunos como recipientes vazios a serem preenchidos com valores de uma sociedade
representada por um currículo descontextualizado, fragmentado e in�exível, que não leva em
conta as emoções e os saberes originais dos estudantes. Ao contrário desse modelo
fragmentado, a abordagem holística, surgida a partir da década de 1970 do século passado,
propõe uma visão interdisciplinar. Estudiosos de diversos campos passaram a estabelecer
princípios norteadores para uma interação mais equilibrada entre a essência e a existência
humanas.
A abordagem holística acredita na capacidade do homem integral em criar uma sociedade
saudável. Propõe um modelo de educação mais íntegro, respeitando as habilidades e percepções
individuais, considerando o ser humano como singular e valioso. Esse modelo reconhece a
capacidade de aprender com a subjetividade, apoiado pelas artes, pelo diálogo e pelos
momentos de re�exão. O cartesianismo ainda prevalece na trajetória educacional do indivíduo,
com o sistema educacional contemporâneo, fruto do iluminismo, colocando a razão como única
possibilidade de educação. Elementos como turnos, horários, seriações e grade curricular
re�etem essa premissa, evidenciando a arqueologia da cultura escolar.
Nesse contexto, como alerta Edgar Morin (1921), é urgente reformar o pensamento moderno,
colocando a Universidade como ponto de partida e respeitando a natureza humana dos
estudantes. A partir disso, podemos nos questionar: é possível chegar a um conhecimento como
este objetivado? Do modo como organizamos nosso pensamento, conseguimos simpli�car o
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entendimento da realidade a um número reduzido de conceitos? Eis o nosso erro: a tentativa de
simpli�cação.
Teoria da complexidade
Em primeiro lugar, é crucial perceber que nosso pensamento segue uma orientação particular,
especialmente in�uenciado pelas ideias de René Descartes (1596-1650), que buscava certezas
capazes de indicar ideias claras e distintas. Em sua proposta metodológica, Descartes adota a
dúvida como meio para alcançar a verdade, a qual seria encontrada por meio de ideias claras e
distintas, aquelas que não suscitam dúvidas. O autor elabora então o que �ca conhecido como
método cartesiano.
A primeira regra do método cartesiano estipula que só devemos aceitar as ideias evidentes. Caso
não sejam evidentes, a segunda regra instrui a analisar em partes menores, para que,
posteriormente, pela terceira regra, possamos reconstruir o problema. A quarta regra salienta a
necessidade de realizar revisões tão frequentes quanto necessário, a �m de eliminar qualquer
dúvida remanescente.
Esse caminho, que serviu de base para o desenvolvimento de várias escolas �losó�cas e
cientí�cas, levou o pensamento a dividir a realidade para compreendê-la. A análise consiste em
dividir constantemente em partes menores, visando conhecer todos os elementos que
constituem a realidade. Dessa abordagem, surgiu a crença de que quanto mais conseguimos
dividir o objeto, mais compreensível ele se torna. Essa divisão é notavelmente observada na
especialização do conhecimento cientí�co, onde diferentes subáreas dedicam-se ao estudo de
partes especí�cas da realidade dentro de uma mesma ciência.
Morin compreende que a realidade é intrinsecamente complexa. O desa�o não reside apenas em
compreender as partes individuais, mas também no entendimento dos tipos de relações que
ocorrem entre essas partes. Além disso, tais relações se transformam, sendo únicas para cada
conjunto de objetos inter-relacionados. Diante da complexidade da realidade, a tentativa de
reduzi-la por meio de uma compreensão simpli�cadora corre o risco de perder nuances
fundamentais.
A questão que se coloca é: perdemos ou não algo ao simpli�car? Essa incerteza persiste, pois ter
plena certeza da perda implicaria um conhecimento total da realidade. Contudo, considerando
que continuamos a expandir nosso conhecimento e que os métodos devem se adaptar aos
novos modos pelos quais os objetos se apresentam, podemos suspeitar que a busca por
simpli�cação nos afasta de um entendimento mais verdadeiro.
A teoria da complexidade destaca que a realidade não se submete ao modo como o homem
organizou seu raciocínio, frequentemente caracterizado por uma redução simpli�cadora. Se uma
ciência busca uma explicação simples, determinada, clara e distinta sobre o mundo, ela pode
estar deixando algo signi�cativo para trás. Isso é particularmente evidente ao tentar
compreender o mundo humano em todos os seus aspectos, incluindo a educação. Surge, então,
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a indagação: o que é o homem e como educá-lo? Qualquer visão reducionista nesse contexto
está fadada ao erro.
Frente à questão de como lidar com a complexidade da realidade, surge o dilema: devemos
persistir na tentativa de reduzir continuamente a realidade aos limites estreitos de nosso modelo
de razão, que exclui tudo que não se ajusta rigidamente às regras? Ou devemos "abrir as portas"
da razão e aceitar tudo que deseja transitar por ela, sem impor limitações às regras? Existe
alguma outra opção?
A proposta de Morin (2003) é a de que repensemos o conhecimento através de uma
rearticulação das esferas que ao longo do tempo o ser humano tem separado. Em outras
palavras, ele sugere a necessidade de enxergar o mundo de maneira diferente, reconhecendo um
emaranhado de relações interdependentes. Morin destaca a importância de não segmentar as
disciplinas, pois essa abordagem torna impossível apreender "o que é tecido junto", ou seja, o
complexo, conforme o sentido original do termo. A perspectiva da complexidade visualiza a
realidade como um tecido, uma trama de �os, onde mover um �o afeta os demais; nada pode ser
compreendido de forma isolada. Essa visão implica uma compreensão mais holística e
interconectada da realidade, desa�ando a simpli�cação excessiva e encorajando uma apreciação
mais completa das complexas relações que moldam o mundo.
O modo como percebemos e interpretamos a realidade in�uencia diretamente nos processos
educativos, pois a escola não se limita apenas a transmitir conteúdos, mas também molda a
forma como o mundo é entendido, frequentemente adotando uma visão compartimentada.
Contrariamente, a teoria da complexidade sugere que o conhecimento pode ser mais autêntico
quando abraça aquilo que não pode ser simpli�cado e que poderia ser descrito como "confuso"
ou "incerto".
Atualmente, a educação ainda adere a modelos de compreensão do mundo que muitas vezes
não re�etem a complexidade da realidade. Como resultado, as pessoas passam anos em
ambientes escolares imersas em processos que não as preparam para uma vivência mais
signi�cativa e alinhada com a dinâmica do mundo em constante movimento. A abordagem da
complexidade destaca a importância de reconhecer e abraçar a incerteza, evitando
simpli�cações excessivas.
Uma educação que incorpora a complexidade não apenas proporciona conhecimentos mais
profundos, mas também prepara os indivíduos para enfrentar um mundo multifacetado e em
constante transformação. Portanto, repensar os paradigmas educacionais à luz da teoria da
complexidade pode abrir caminho para uma experiência mais enriquecedora e relevante para os
alunos em relação ao mundo que os cerca.
Predomina em nós ainda a visãolinear de espaço e tempo, como se as coisas não coubessem
ao mesmo tempo em vários lugares e tempos. O conceito de dimensão talvez seja mais
congruente, porque, sendo processual, possivelmente não linear, coabita o caótico; ao mesmo
tempo em que se estrutura, a luz é matéria (partícula) e espírito (onda) que depende de como é
vista. (Demo, 2011, p. 34)
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Siga em Frente...
O pensamento complexo
Morin (2002) apresentou em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro
re�exões sobre o tipo de educação adequada ao cenário mundial contemporâneo. Ele inicia sua
análise remontando às origens do homem como homo sapiens, destacando a interação entre a
vida natural e a cultura na formação do ser humano. O autor ressalta a necessidade urgente de
construir uma educação do futuro, uma vez que o modelo educacional atual ainda se baseia no
passado, caracterizado pela fragmentação do conhecimento.
O �lósofo defende a importância do pensamento complexo, capaz de oferecer uma educação
integral às novas gerações. Ele critica a pedagogia atual por fragmentar o conhecimento, criando
a falsa ideia de que o universo é desconexo e sem relação com o universal. Essa abordagem,
segundo Morin (2002), resulta na falta de interação entre o local e o global, prejudicando a
resolução de questões existenciais contextualizadas.
Considerando a sala de aula como um espaço de complexidade, reunindo diferentes estratos
socioeconômicos, emoções e culturas, Morin propõe que esse ambiente seja o ponto de partida
para a transformação de paradigmas educacionais, tornando-se signi�cativo para os estudantes.
A trajetória proposta por Morin busca romper com a estreiteza das disciplinas e compreender o
contexto que permite a conexão com a existência. Ele advoga pela eliminação da fragmentação
do conhecimento em campos restritos e pela abolição de estruturas hierárquicas rígidas entre
disciplinas.
Na tentativa de promover uma mudança de paradigma educacional, Morin apresenta os sete
saberes indispensáveis para o futuro da educação:
1. As cegueiras do conhecimento: destaca a importância de valorizar o erro como ferramenta
de aprendizagem, reconhecendo que é impossível conhecer algo sem passar por equívocos
ou ilusões.
2. A unidade do conhecimento: enfatiza a necessidade de unir diversos campos do
conhecimento para combater a fragmentação, destacando as conexões entre diferentes
áreas do saber.
3. Ensinar a condição humana: propõe que a pedagogia do futuro priorize a compreensão da
natureza multidimensional do ser humano.
4. Identidade terrena: destaca a importância de os alunos conhecerem o lugar em que vivem,
reconhecendo as necessidades de sustentabilidade, criatividade e compreendendo as
novas tecnologias, problemas sociais e econômicos associados.
5. Enfrentar as incertezas: aborda a urgência de lidar com a incerteza, reconhecendo que a
dúvida é uma constante na jornada humana, mesmo com o progresso da sociedade.
�. Ensinar a compreensão: destaca a compreensão como um ponto fundamental na interação
humana, presente em todas as atividades cotidianas na escola.
7. Ética do gênero humano: introduz a "antropo-ética" como a ética do gênero humano,
destacando a importância da empatia e da compreensão mútua.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Perspectivas para a educação
Com base nas ideias de Morin (2002; 2003), cada um dos sete saberes aponta para diferentes
necessidades de libertação do ser humano, que muitas vezes se vê aprisionado por ideias e
situações que não criou, mas que persistem ao longo do tempo. Nesse contexto, o maior desa�o
da educação é promover a libertação, uma tarefa complexa dada a necessidade de enfrentar
fatores externos (como modelos de racionalidade, determinação de conteúdos e organização
social) e internos (considerando além da subjetividade, os elementos externos já internalizados).
A educação se revela como um campo desa�ador, e a escola é o local especí�co no qual o
esforço para a transformação deve ser aplicado. A escola necessária ao homem do século XXI,
segundo Morin (2003), é aquela que se apresenta como plural, rica em manifestações humanas,
aberta ao mundo, capaz de ensinar a enfrentar as necessidades e incertezas que surgem no
caminho. Essencialmente, é uma escola que possibilita um novo pensamento, criando as
condições para um novo relacionamento entre o homem e o mundo.
Dessa forma, a escola do século XXI não apenas transmite conhecimentos, mas também
estimula o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento diante das complexidades da vida.
Deve ser um espaço que promove a diversidade, a criatividade e a compreensão das interações
entre o indivíduo e o mundo ao seu redor. Ao adotar essa abordagem, a escola se torna não
apenas um local de aprendizagem, mas também um agente de transformação, capacitando os
indivíduos a pensarem de maneira inovadora e a se posicionarem de maneira mais signi�cativa
no mundo contemporâneo.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos a nossa situação inicial: Thomas �nalizou as suas atividades de
estágio na escola que acompanhou as atividades. O aluno ainda fez um último encontro com a
professora responsável pelo estágio para entregar os documentos e fazer uma avaliação geral da
experiência realizada. Ele encerrou com a seguinte colocação: “Percebo que a realidade é
simples, e o sistema educacional, do modo como está organizado, complica tudo na cabeça dos
alunos. O ensino deveria ser mais simples... só assim o aluno aprenderia a viver neste mundo”. A
professora apontou que havia um problema no raciocínio de Thomas, o que mudaria por
completo o sentido do pensamento. Qual seria esse problema?
Thomas chega à conclusão de que sua professora de estágio queria que ele percebesse um erro
que é transmitido de maneira aleatória pelo pensamento comum, que é a ideia de que “devemos
simpli�car a realidade” e, no caso da escola, traduzir de uma maneira fácil para os alunos. A
professora o fez enxergar que, ao longo de cada experiência vivida nas horas de estágio, estavam
envolvidos elementos de diferentes âmbitos que constituíam a realidade de cada aluno.
Desse modo, já era possível perceber as di�culdades em se tentar considerar as especi�cidades
de diferentes estudantes em uma mesma escola. Mais ainda: ele percebeu que não é simples a
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
consideração de um único aluno que seja, em sua subjetividade. O erro é, justamente, a tentativa
de simpli�cação.
Thomas reestrutura suas ideias e não apenas assume o que a professora havia indicado, mas
começa também a enxergar outros elementos que indicam como problema a tentativa de
simpli�cação da realidade. Parece ser difícil simpli�car, mas é mais simples do que tratar da
complexidade do real.
Saiba mais
A teoria da complexidade nos auxilia a olhar para a educação e interpretá-la de maneira
diferente da que está posta na atualidade. O artigo a seguir apresenta pontos importantes
para essa re�exão:
Complexidade e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido,
do autor Akiko Santos.
O desenvolvimento da ciência e da tecnologia está intimamente ligado à educação. Para se
aprofundar no assunto, leia o artigo:
A teoria da complexidade de Edgar Morin e o ensino de ciência e tecnologia, das autoras Virginia
Ostroski Salles e Eloiza Aparecida Silva Ávila de Matos.
Referências
CARDOSO, C. M. A canção da inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus,
1995.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
DEMO, P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo:
Atlas, 2011.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2002.
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qbJPVmkqkbqNMj8hGTXVBN/#https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qbJPVmkqkbqNMj8hGTXVBN/#
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qbJPVmkqkbqNMj8hGTXVBN/#
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4144525/mod_resource/content/0/Complexidade%20e%20o%20Ensino%20de%20Ci%C3%AAncias.pdf
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Aula 4
A Educação na Atualidade
A Educação na Atualidade
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para assistir mesmo sem conexão à internet.
Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante!
Nesta aula você irá re�etir a respeito do papel da escola na sociedade. É importante pensar
também sobre o papel de salvação e transformação social que sempre fora atribuído à escola e à
educação. A re�exão necessária é: da maneira como está posta, a educação de fato pode
transformar a vida dos alunos? Vamos lá?!
Ponto de Partida
A educação refere-se ao processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimentos, habilidades,
valores e competências. É um pilar fundamental para o desenvolvimento pessoal e social, além
de desempenhar um papel crucial na formação de cidadãos e na construção de sociedades mais
justas. Para pensar na construção de sociedades mais justas a partir da educação, precisamos
pensar como os conceitos de igualdade e equidade podem ser percebidos no contexto
educacional.
A igualdade na educação diz respeito à garantia de que todos os alunos tenham acesso às
mesmas oportunidades, recursos e tratamento justo, independentemente de suas características
individuais, como gênero, raça, origem étnica, orientação sexual, entre outros. Procure eliminar
discriminações e garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade. A equidade,
por outro lado, con�rma as diferenças individuais e busca fornecer recursos e apoios adicionais
a grupos que enfrentam metas especí�cas. Em vez de tratar tudo de maneira uniforme, a
equidade visa garantir que cada aluno receba o suporte necessário para alcançar resultados
semelhantes. Isso implica considerar as disparidades existentes e implementar medidas
especí�cas para superar essas disparidades.
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A partir dessas questões, busque re�etir sobre o papel atribuído à escola na sociedade atual e
como é possível perceber os conceitos de equidade e igualdade nesse contexto.
Bons estudos!
Vamos Começar!
A escola, enquanto instituição socializadora, desempenha um papel crucial na formação do
caráter dos educandos. Em contraste com práticas educacionais tribais, onde a responsabilidade
era compartilhada por todos na comunidade desde a infância até a preparação para a vida, a
realidade atual revela uma certa falta de comprometimento e envolvimento por parte das
famílias. Além disso, há uma necessidade de maior empenho por parte da escola no que diz
respeito às intervenções sociais na comunidade local, visando a preparação e formação do
caráter social dos alunos.
Esse cenário ressalta a importância de a escola assumir um papel mais ativo na promoção do
desenvolvimento integral dos alunos, não apenas no aspecto acadêmico, mas também no
âmbito social. A falta de participação da família e a necessidade de intervenções sociais na
comunidade destacam a responsabilidade da escola em desempenhar seu verdadeiro papel na
sociedade, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis e socialmente conscientes.
No Brasil, historicamente, a responsabilidade pela formação do caráter humano era atribuída
exclusivamente à família. Contudo, a partir da década de 1930, esse cenário passou por
transformações signi�cativas com o início do processo de democratização do acesso à
educação. Nesse contexto, a escola, além de desempenhar o papel de transmissora de
conhecimento acadêmico, assumiu também a função de colaborar com a família na formação do
caráter dos educandos.
Atualmente, no seio familiar, muitos pais enfrentam desa�os ao estabelecer limites para seus
�lhos, e parte signi�cativa das demandas educacionais acaba sendo transferida para a escola.
Isso cria um impasse entre ambas as instituições (família e escola) no que diz respeito à
compreensão de qual é o papel real de cada uma na formação do caráter e no desenvolvimento
humano dos aprendizes (�lhos e alunos).
O papel da escola e da família na formação dos educandos
Existe uma união indissolúvel que perdura ao longo dos séculos, e essa é a conexão entre a
escola e a sociedade. No cenário social, a família busca na escola um refúgio seguro para
auxiliar na educação de seus �lhos. Por sua vez, no ambiente escolar, há uma constante
preocupação em atender às demandas familiares e sociais de maneira abrangente.
Assim, à escola, enquanto instituição, cabe a missão de desempenhar sua função social ao
articular os conceitos espontâneos dos indivíduos com os conceitos cientí�cos integrados no
projeto curricular. A escola assume o papel de mediadora desse processo, guardiã do
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conhecimento acumulado pelas gerações anteriores, estabelecendo metas e estratégias para
que as novas gerações possam incorporar esse conhecimento em sua formação pessoal e
desempenho pro�ssional futuro.
Para atingir esse propósito, os professores desempenham um papel central na seleção de
conteúdos, integrados no currículo, que por sua vez é parte essencial do projeto político-
pedagógico da instituição. É crucial que os professores, ao iniciar seu trabalho, possuam
familiaridade com esses documentos e preparo acadêmico adequado à área e componente
curricular em que atuam.
A gestão escolar desempenha um papel vital no acompanhamento do desempenho dos
professores. Frente aos desa�os que podem surgir, a equipe gestora deve oferecer formação
continuada aos docentes, visando aprimorar sua prática educacional. Nesse contexto, a equipe
gestora pode implementar uma variedade de atividades de formação, como seminários, fóruns,
palestras, o�cinas, grupos de estudo, pesquisas e estudos de caso. A prioridade no planejamento
das ações pedagógicas é fundamental, pois de�ne os caminhos metodológicos direcionados
para a aprendizagem.
A equipe pedagógica, respaldada pela gestão escolar, desempenha um papel crucial na criação
de um percurso propício ao desenvolvimento e à aprendizagem dos alunos. Essa e�cácia é
alcançada por meio do conhecimento da legislação educacional, das teorias que embasam a
aprendizagem e da compreensão do processo de construção do conhecimento pelo aluno. Além
disso, a equipe pedagógica deve contribuir ativamente para a elaboração do projeto curricular da
instituição e buscar uma comunicação constante com a família e a comunidade dos estudantes.
Ao agir dessa maneira, o professor torna-se um agente fundamental no processo de construção
da cultura e identidade da unidade educacional em que atua.
A re�exão no contexto da prática pedagógica proporciona ao docente a oportunidade de
desenvolver gradualmente a habilidade de posicionar-se criticamente diante dos acontecimentos
cotidianos da instituição. Isso implica colocar em prática pontos importantes planejados para
aprimorar seu trabalho, contribuindo assim para a melhoria contínua da qualidade educacional.
Nessa abordagem, é essencial manter uma comunicação ativa com a comunidade de origem do
aluno e seus familiares. Agindo de maneira preventiva e organizada, a instituição escolar evita
problemas de comunicação e antecipa demandas mais graves relacionadas ao contexto
extraescolar. Essa interação contínua promove uma compreensão mútua entre a escola, a família
e a comunidade, fortalecendo os laços e promovendo um ambiente educacional mais saudável e
colaborativo.
Portanto, integrando ações de formação continuada para os professores com uma comunicação
efetiva com as famílias dos estudantes, a instituição escolar pode desenvolver seu trabalho de
maneira e�caz, cumprindo sua função social ao atender aos anseios da sociedadeno que se
refere à formação acadêmica, cidadã e humana dos alunos.
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Educação e possibilidade de transformação
A legislação educacional brasileira, especi�camente a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº
9.394/96, estabelece, em seu artigo 3º, XI, os princípios fundamentais que devem orientar o
ensino nas instituições escolares, destacando a "vinculação entre educação escolar, o trabalho e
as práticas sociais". Essa diretriz implica que a escola no Brasil deve assumir o compromisso
com a formação humana e crítica dos indivíduos, preparando-os para a transformação do mundo
e para o exercício consciente da cidadania.
É essencial superar a visão simplista de que a educação é a solução para todas as questões
sociais. No entanto, é igualmente crucial reconhecer que, sem a educação, há limitações
signi�cativas na capacidade de promover transformações em direção a uma sociedade mais
justa e igualitária. A utopia promissora que a educação representa deve estar presente na
consciência de todos os envolvidos na prática pedagógica, pois ela é o combustível que
impulsiona o compromisso diário em direção aos objetivos delineados na legislação
educacional.
Ao longo da história, o ser humano, sendo inerentemente sociável, vivia em comunidades,
utilizando o coletivo como referência prática para interação e tomada de decisões. As novas
gerações eram moldadas pela "argila" social, e a estrutura da personalidade era o resultado
desse processo de modelagem. Esse contexto destaca a in�uência signi�cativa do ambiente
social na formação das pessoas, reforçando a importância da educação como agente moldador
e capacitador para uma participação ativa e crítica na sociedade.
A escola surgiu originalmente como um espaço destinado a colaborar com os grupos sociais na
construção do caráter e da personalidade de seus membros mais jovens. Nessa concepção, a
função social primordial da escola é a educação, atuando como um complemento à família
nesse processo fundamental. Ao longo do tempo, a escola evoluiu, consolidando uma estrutura
funcional voltada para a promoção da convivência humana e o desenvolvimento econômico e
social dos indivíduos. Dentre as atividades essenciais historicamente atribuídas à escola,
destacam-se o monitoramento (cuidado) dos alunos, a seleção, a promoção do pensamento
crítico, o ensino e a colaboração na educação integral dos indivíduos.
Esse fenômeno social coloca diante dos educadores a necessidade de um propósito institucional
claro e uma formação cientí�ca robusta. Para desempenhar e�cazmente seu papel, o educador
precisa possuir um profundo entendimento, tanto do conteúdo do componente curricular que
leciona quanto do processo de aprendizagem. A habilidade de ensinar efetivamente está
intrinsecamente ligada ao conhecimento aprofundado desses dois aspectos, re�etindo a
complexidade da missão educacional.
Com o tempo e as mudanças nas abordagens de preparação de professores nas universidades, o
conhecimento acadêmico começou a apresentar uma super�cialidade, limitando o acesso dos
docentes a uma base cientí�ca sólida. Nesse contexto, ameaças ao trabalho docente surgiram,
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originadas pela frágil base cientí�ca em relação aos componentes curriculares e ao processo de
aprendizagem, juntamente com comportamentos indisciplinados por parte dos estudantes. A
educação escolar, enquanto fenômeno social, passou a representar uma ameaça à utopia
promissora da instituição em continuar contribuindo para a formação de práticas pedagógicas
e�cazes que realmente possam colaborar para a consolidação de uma sociedade mais justa e
equilibrada para todos.
Essas questões ressaltam a necessidade de revisão e fortalecimento das abordagens de
formação de professores, bem como a importância de lidar de maneira e�caz com as mudanças
na dinâmica social. A superação desses desa�os é crucial para garantir que a educação escolar
possa cumprir sua missão essencial de contribuir para a construção de uma sociedade mais
justa e equilibrada.
Educar para a consciência
A instituição escolar, como qualquer outra, possui uma estrutura interna que a caracteriza e
historicamente determina um modus operandi nem sempre democrático. Enquadrada em uma
sociedade capitalista, onde a disparidade entre poucos detentores de grandes recursos e muitos
com acesso limitado prevalece, a lógica de dominação e manutenção do poder se mantém.
Contudo, apesar dessa realidade incontestável, é viável imaginar um movimento social que
desa�e essa engrenagem, destacando a necessidade de construir uma escola mais democrática,
baseada na equidade em vez de simplesmente na igualdade.
Nessa perspectiva, mesmo diante de uma realidade social complexa e diversa, um movimento
social bem organizado, com propostas claras em relação às injustiças existentes, pode
desencadear uma transformação social. Essa mudança seria liderada por agentes conscientes
do papel crucial desempenhado pela instituição educacional na promoção da equidade e da
justiça social. Portanto, ao questionar e desa�ar a estrutura existente, promovendo debates e
ações que visam uma escola mais inclusiva e equitativa, a sociedade pode iniciar um processo
de transformação que contribua para a construção de uma instituição escolar verdadeiramente
democrática e comprometida com a igualdade de oportunidades para todos.
No cenário educacional contemporâneo, especialmente após a promulgação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB) de 1996, é evidente uma mudança na abordagem da escola brasileira
em relação ao passado. A pedagogia atual demonstra uma maior sensibilidade e respeito pelo
multiculturalismo. Leis subsequentes à Constituição Federal de 1988 e à LDB nº 9.394/96
surgiram em resposta aos movimentos sociais organizados, que trouxeram à tona temas cruciais
para a busca de uma sociedade mais equitativa. Dentre esses temas, destacam-se questões
relacionadas à etnia, à raça, ao gênero e à de�ciência.
Esses exemplos reforçam a ideia de que o processo educacional, quando conduzido de maneira
ética e consciente, pode desempenhar um papel fundamental na transformação social. Um
exemplo é a Lei nº 10.639/03, que obrigou as instituições escolares a incluírem no currículo
o�cial o estudo da história da África e da cultura africana. Esse avanço contribui para que alunos
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afrodescendentes e brancos obtenham uma visão mais realista e integradora sobre o tema,
promovendo a prevenção da prática desumana e criminosa do racismo.
Essas iniciativas demonstram a importância de uma abordagem educacional sensível às
diversidades culturais e sociais, que reconhece e valoriza a pluralidade presente na sociedade
brasileira. A educação, ao incorporar tais elementos em seu currículo e práticas, desempenha um
papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A escola pública, nascida
a partir dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, tem como fundamento desde sua
origem a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, conforme preconizado pelos
iluministas.
A partir desse momento, foi estabelecido o compromisso de garantir a todos os cidadãos o
acesso à educação. Nessa perspectiva, a escola assumiu a responsabilidade pelo seu próprio
percurso histórico, disseminando entre os aprendizes as sementes do conhecimento e da
humanização. Diante desse papel crucial, cabe aos educadores uma prática educativa ética e
consciente, capaz de despertar a consciência daqueles que passam pela escola e se bene�ciam
de sua prática social.
Os educadores, ao cultivarem uma abordagem ética, não apenas transmitem conhecimento
acadêmico, mas também contribuem para o desenvolvimento humano e moral dos alunos. A
escola, como agente transformador, desempenha um papel vital na formação de cidadãos
conscientes, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Essa visão
destaca a importância da escola pública como um pilar fundamental na construção de um futurobaseado nos valores da liberdade, igualdade e fraternidade.
Vamos Exercitar?
Agora é hora de retomarmos nossas re�exões iniciais sobre o papel da educação na sociedade
atual e como os conceitos de igualdade e equidade podem ser percebidos nesse contexto. O
papel da escola na sociedade atual é multifacetado e vai além da simples transmissão de
conhecimentos. O papel da escola evolui continuamente para atender às necessidades em
constante mudança da sociedade. Uma educação e�caz não se limita apenas à transmissão de
informações, mas também se concentra no desenvolvimento integral dos alunos, capacitando-os
a membros ativos e responsáveis da sociedade.
Enquanto a igualdade na educação se concentra em garantir o mesmo tratamento para todos, a
equidade se preocupa em fornecer recursos de maneira proporcional às necessidades
individuais, regularizando e abordando as desigualdades existentes. Ambos os conceitos são
fundamentais para promover uma educação justa e inclusiva, contribuindo para o
desenvolvimento pleno de cada indivíduo e para a construção de sociedades mais igualitárias.
A igualdade na educação visa garantir que todos os alunos tenham acesso às mesmas
oportunidades educacionais, como acesso a uma boa infraestrutura, currículo de qualidade e
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
professores integrados. Busca eliminar discriminações e oferecer tratamento justo a todos os
alunos, independentemente de suas características individuais.
A equidade na educação visa reconhecer que diferentes alunos podem começar uma jornada
educacional em pontos diferentes e com diferentes necessidades. Proporciona recursos
adicionais para grupos ou indivíduos que enfrentam desa�os especí�cos, como estudantes com
necessidades especiais, alunos de comunidades economicamente desfavorecidas, entre outros.
O objetivo não é apenas igualar as oportunidades, mas também considerar as situações
individuais, buscando a justiça e a equidade no resultado educacional. Em muitos contextos, a
equidade na educação é vista como um passo além da igualdade, permitindo e abordando as
desigualdades existentes para garantir que todos os alunos possam atingir seu potencial
máximo.
Saiba mais
É importante re�etir sobre a formação crítica e para a consciência dos alunos. A interação
entre a escola e a família também são elementos fundamentais nesse processo de
formação. O texto a seguir apresenta pontos importantes para essa re�exão:
Interação escola-família: subsídios para práticas escolares, organizado por Jane Margareth
Castro e Marilza Regattier.
É importante re�etir a respeito das diferenças que podem ser percebidas na educação
pública e privada. Desigualdades sociais e violência interferem diretamente na educação e
na maneira como ela é ofertada. Para re�etir mais sobre isso, assista ao documentário: Pro
dia nascer feliz (2007), do diretor João Jardim.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares.
Brasília: MEC, 2009.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
DEMO, P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo:
Atlas, 2011.
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
LOPES, E. M. T. Perspectivas históricas da educação. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995.
NOBRE, F. E.; SULZART, S. O papel social da escola. Revista Cientí�ca Multidisciplinar Núcleo do
Conhecimento, v. 3, pp. 103-115, agosto de 2018.
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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Dica para você
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Olá, estudante!
Nesta videoaula você irá compreender as perspectivas da educação no século XXI, pensando
como o processo de globalização in�uencia de maneira determinante como a educação chega
até os alunos na atualidade. Nesse sentido, é importante perceber o papel da escola como
instância transformadora e não reprodutora do sistema vigente. Prepare-se para essa jornada de
conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta unidade, que é analisar a educação na atualidade,
pensado no processo de globalização e no papel da escola na formação dos sujeitos, você
deverá primeiramente entender como a ciência pode e deve ser aliada no processo de
construção do conhecimento. Ela precisa ser ofertada de maneira contextualizada, a �m de fazer
sentindo aos alunos e ser pertinente à sua realidade. O conhecimento cientí�co é intrínseco ao
conhecimento e à prática educacional.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
É necessário pensar também em como a escola, que é uma instância transformadora da
realidade e dos indivíduos, acaba atuando como reprodutora da ordem social vigente. Nesse
sentido, podemos nos valer do pensamento de Pierre Bourdieu, sociólogo francês, que
desenvolveu a teoria da reprodução social para explicar como as desigualdades sociais são
perpetuadas através das instituições, incluindo a escola. A noção de reprodução social de
Bourdieu destaca como as estruturas sociais existentes são transmitidas de uma geração para
outra, contribuindo para a reprodução das classes sociais. Para Bourdieu, a escola desempenha
um papel crucial nesse processo de reprodução social.
Bourdieu usa o conceito de "violência simbólica" para descrever o poder invisível exercido pela
escola ao impor certas normas e valores culturais. Isso pode favorecer aqueles que já possuem
capital cultural semelhante, perpetuando desigualdades. O autor argumenta que a escola, ao
favorecer certas formas de capital cultural, pode inadvertidamente perpetuar as desigualdades
sociais. Os alunos que têm maior cobertura com o capital cultural valorizado pela escola têm
mais probabilidade de serem bem-sucedidos, enquanto aqueles cujo capital cultural é
desvalorizado enfrentam obstáculos.
A seleção e classi�cação dos alunos, com base em critérios acadêmicos e culturais, muitas
vezes re�ete as classes sociais existentes. Isso pode levar à reprodução de uma elite educada e
à marginalização de certos grupos. Ao integrar esses conceitos, Bourdieu destaca que a escola
não é um mero veículo de transmissão de conhecimento, mas também uma instituição que
re�ete e perpetua as estruturas de poder e desigualdade social.
A partir desse olhar, podemos pensar também na globalização e nas suas in�uências na
educação. A globalização, caracterizada por uma interconexão crescente entre países e culturas,
in�uencia as dinâmicas educacionais, afetando a forma como as instituições escolares
reproduzem ou desa�am as desigualdades sociais. Em algumas regiões ou países, a exposição a
in�uências culturais globais pode criar expectativas e padrões que favorecem determinados
grupos, contribuindo para a reprodução de desigualdades educacionais.
A exposição a diferentes perspectivas e conhecimentos pode enriquecer a experiência
educacional, mas ao mesmo tempo pode criar disparidades entre aqueles que têm acesso a
essas oportunidades globais e aqueles que não têm. Alunos com maior acesso a recursos
tecnológicos podem ter vantagens, contribuindo para a reprodução de desigualdades no acesso
ao conhecimento. Podemospensar também a partir do âmbito da padronização de exames e
currículos, buscando comparabilidade internacional, o que contribui para perpetuar e aprofundar
as desigualdades.
Sendo assim, é preciso pensar na reestruturação da abordagem educacional. É necessário
pensar em uma abordagem educacional que vai além da simples transmissão de conhecimentos
e habilidades, desenvolvendo a capacidade dos indivíduos de re�etir criticamente sobre si
mesmos, os outros e o mundo ao seu redor. Essa abordagem busca cultivar uma consciência
mais ampla e profunda, promovendo a compreensão, a empatia, a responsabilidade social e a
re�exão ética.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Ao educar para a consciência, os educadores buscam ir além da mera transmissão de
informações, promovendo uma educação que forme indivíduos re�exivos, críticos e socialmente
engajados. Essa abordagem busca não apenas preparar os alunos para o sucesso acadêmico,
mas também para uma participação signi�cativa na sociedade e um entendimento mais
profundo do mundo ao seu redor.
É Hora de Praticar!
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Num modelo educacional mais coerente com o atual cenário globalizado, multicultural e
altamente tecnológico, a função da escola passa a ser a de realizar a mediação entre o
conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento formal, sistematizado, possibilitando formas
de acesso ao conhecimento cientí�co. Logo, a de�nição de objetivos, a seleção de conteúdo, a
proposta metodológica e o processo avaliativo devem ser alicerçados na re�exão �losó�ca.
Dessa re�exão e seleção é que se con�gurará a prática educativa mediada pela ação pedagógica
do professor com os alunos, ou seja, é a ação que faz com que o currículo escolar se efetive.
Assim, a escola deve manter uma lógica, uma coerência entre os documentos que manifestam a
ação re�etida do conjunto de pessoas que ali atuam.
Para que tudo isso ocorra de maneira favorável ao aprendizado dos alunos, os professores
precisam conhecer e re�etir a priori, ao elaborarem seus planos de ensino, as formas como o
sujeito aprende, sendo, portanto, um mediador na relação do aluno com o objeto de
conhecimento. Considere os dois casos a seguir:
CASO 1
Marcos é um aluno graduando em Zootecnia e, durante um dos módulos do curso que frequenta,
deve aprender a técnica de inseminação arti�cial. Para dar conta da tarefa, esse aluno assiste
atentamente às aulas teóricas e procura ler artigos cientí�cos e capítulos de livros técnicos a
respeito desse tipo de inseminação. À medida que estuda, internaliza o referencial teórico e cria
um plano mental sobre os procedimentos práticos da referida técnica. Além disso, o estudante
procurou assistir a algumas demonstrações práticas de inseminação antes de praticá-la. Quando
começou a tentar, fracassou algumas vezes, mas não desistiu, foi observando os pontos que o
professor lhe apontava e tentando evitar repetir os erros. Finalmente, depois de várias tentativas,
o aluno Marcos conseguiu realizar com êxito a técnica de inseminação arti�cial, o que lhe rendeu
um elogio do mestre: “muito bem!”.
CASO 2
O aluno José é graduando de primeiro ano em Agronomia. Tem uma origem social no meio
agrícola e sua família tem um baixo nível de escolaridade. Durante as aulas, ele apresenta
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
di�culdade de entendimento acerca do conteúdo dos enunciados dos professores. Em seguida,
aos poucos ele anotava as palavras cujo signi�cado não conhecia e, posteriormente, consultava
os colegas. Quando tentava usá-las, algumas vezes o seu emprego era equivocado, provocando
risadas de colegas de turma e até de alguns professores. Finalmente, após muito insistir e treinar,
o aluno José aprendia os termos e sua correta aplicação sem mais ser ridicularizado pelos
colegas, o que o estimulava cada vez mais a dominar e a aplicar adequadamente o vocabulário
especí�co.
Considere os casos e destaque:
• Quem é o sujeito da aprendizagem?
• Qual é o objeto da aprendizagem envolvido?
Pense no processo educativo do qual você participou ao longo de sua formação na educação
básica. Era escola pública ou privada? A maior parte dos alunos que participou pertencia à
mesma classe social que você? Todos chegaram também ao ensino superior? Que in�uências a
origem social pode ter sobre o desenvolvimento educacional de uma pessoa?
A sociedade contemporânea, veloz, altamente tecnológica e multifacetada do ponto de vista
cultural, exige um novo modelo de educação. A função social da escola nesse contexto, portanto,
é a de preparar indivíduos capazes de re�etir sobre as informações que assimilam e transformá-
las em conhecimento sólido e bem-fundamentado.
Desde a Antiguidade, quando os primeiros �lósofos ocidentais iniciaram um caminho de re�exão
acerca da origem do conhecimento na mente humana, uma fórmula clássica surgiu, qual seja,
aquela que expressa o movimento do psiquismo humano em direção ao objeto de conhecimento
a ser construído.
A partir dessa possibilidade de análise, a educação das novas gerações precisa levar em conta a
forma como se dá a interação entre o aprendiz e o objeto que ele busca aprender, pois esse
entendimento é fundamental para que os professores possam construir estratégias didáticas
favoráveis ao aprendizado.
Nesse sentido, a resposta às questões dos dois sujeitos apresentados aqui no estudo de caso
�ca assim con�gurada:
CASO 1:
Sujeito – Marcos
Objeto de conhecimento – Inseminação arti�cial
CASO 2:
Sujeito – José
Objeto – Vocabulário técnico
Veja no infográ�co a seguir os principais pontos estudados nessa unidade:
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Figura 1 | O papel da escola e a educação no século XXI
BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2007.
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e
organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2009.passa a olhar além de sua experiência. Até que ponto a prática ensina?
Até que ponto isso cabe à teoria?
Um educador jamais está isolado, sua base é composta tanto pela teoria quanto pela prática. A
teoria o acompanha desde os primeiros anos de formação, desde a graduação, oferecendo uma
fonte de re�exão contínua ao longo do tempo, tornando-se um ideal re�exivo na educação. No
entanto, o educador também encontra suporte na prática, examinando o ambiente educacional
em que está inserido e reconhecendo a diversidade de caminhos possíveis.
Cada ação desenvolvida no contexto escolar deve servir como um ponto de referência para
iniciativas subsequentes. Nesse contexto, o docente, especialmente o professor em formação,
pode observar seu entorno e buscar orientação na prática de colegas que já atuam na sala de
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
aula. A verdadeira di�culdade reside em integrar efetivamente os elementos desses dois
domínios, visando construir ações impactantes na realidade educacional.
Saiba mais
Compreender sobre a Antropologia e como ela nos possibilita olhar para as diferentes culturas é
um passo importante para pensarmos também o processo educativo. Para saber mais sobre o
assunto faça a leitura a seguir:
BARROSO, P. F. Cultura. In: BARROSO, P. F.; BONETE, W. J.; QUEIROZ, R. Q. de M. Antropologia e
cultura. Porto Alegre: SAGAH, 2017. Cap. 1. p. 37-48. ISBN: 978-85-9502-185-3. [Minha
Biblioteca].
Conhecer as perspectivas naturalista e essencialista são importantes para perceber as diferentes
visões de mundo sobre uma mesma situação ou um conceito. Em seus escritos, são Tomás de
Aquino pretende descobrir as condições para o conhecimento humano e busca saber os seus
limites, isto é, até onde esse conhecimento pode chegar. Para se aprofundar no assunto, faça a
leitura a seguir:
VICENTE, J. J. N. B. Tomás de Aquino: o ente e a essência como concebidos primeiro pelo
intelecto. Griot: Revista de Filoso�a, vol. 9, núm. 1, pp. 181-190, 2014. Disponível em:
https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/ Acesso em: 23 jan. 2024.
Referências
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969.
ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.
BARROSO, P. F. Cultura. In: BARROSO, P. F.; BONETE, W. J.; QUEIROZ, R. Q. de M. Antropologia e
cultura. Porto Alegre: SAGAH, 2017. Cap. 1. p. 37-48. ISBN: 978-85-9502-185-3. [Minha
Biblioteca].
CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Col. Os
Pensadores.
VICENTE, J. J. N. B. Tomás de Aquino: o ente e a essência como concebidos primeiro pelo
intelecto. Griot: Revista de Filoso�a, vol. 9, núm. 1, pp. 181-190, 2014. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595021853/pageid/0
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595021853/pageid/0
https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/
https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/
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https://www.redalyc.org/journal/5766/576664778014/html/ Acesso em: 23 jan. 2024.
Aula 3
A História e a Formação Humana
A História e a Formação Humana
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Olá, estudante!
Nesta aula você irá re�etir sobre a história, uma ciência humana que estuda o desenvolvimento
dos seres humanos no tempo, analisando processos históricos, personagens e fatos para
promover uma melhor compreensão das diferentes culturas e civilizações. Esse conteúdo é
importante, pois a história ajuda a resgatar os aspectos culturais de um determinado povo ou
região para o entendimento do processo de desenvolvimento humano. Prepare-se para essa
jornada de conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Partida
A história é uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo, analisando
processos históricos, personagens e fatos para promover uma melhor compreensão dos
períodos históricos, das diferentes culturas e civilizações. Um dos seus principais objetivos é o
resgate dos aspectos culturais de um determinado povo ou região para o entendimento do seu
processo de desenvolvimento. O aprendizado da história traz uma forte contribuição para a
formação do sujeito, tendo como objetivo principal a formação cidadã do ser humano, pois essa
disciplina apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos.
Para conseguirmos nos aprofundar no tema apresentado, vamos pensar na seguinte situação:
assim que assumiu a coordenação pedagógica de uma escola pública, Ana quis trazer novidades
para a formação dos professores. Como ainda não conhecia bem o grupo, partiu daquilo que ela
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
via como necessidade para si, enquanto havia lecionado em outra unidade. Já nas primeiras
reuniões pedagógicas, trouxe pro�ssionais diversos para que colaborassem com a formação
continuada do grupo. Ao longo das semanas, ela achava que tudo ia bem, mas começou a
perceber certo descaso dos pro�ssionais.
Ana decidiu que, na próxima reunião, colocaria a formação em pauta, para que pudesse perceber
o que estava ocorrendo. Na ocasião, então, a coordenadora pôde perceber que os educadores
não se sentiram agraciados com aquele momento diferente de formação, mas oprimidos pela
obrigatoriedade de uma formação em áreas e temas que, para eles, não eram os mais
importantes. Por qual motivo isso pode ter ocorrido?
Vamos Começar!
A questão do tempo é um dos dilemas �losó�cos mais antigos. O ser humano vivencia o tempo,
ou seja, de alguma maneira, tem uma experiência temporal, mesmo que não consiga racionalizá-
la plenamente. A percepção de que o tempo passa é evidenciada pela observação do mundo e de
si mesmo: desde a infância, a criança começa a perceber a natureza mutável das coisas e a
compreender que essa mudança está inerente à vida. Gradualmente, ela nota que é possível
marcar essa transformação, tornando-a mais tangível. É nesse momento que o ser humano
passa a registrar o tempo e pode medi-lo em horas, dias e anos.
A história aborda a vivência do ser humano no tempo e no espaço. É essencialmente uma
experiência de um ser que não pode ser concebida fora de uma determinação especí�ca, de um
contexto. Cada contexto, por sua vez, representa uma forma de organizar a vida de acordo com
as condições dadas pela realidade. É por essa razão que ao longo da história nos deparamos
com contextos diversos, cada um caracterizado por tudo aquilo de que o ser humano apresenta,
pelo impacto que causou no mundo e pela resposta que ele devolve como reação.
Aranha (1994) nos apresenta três elementos distintos que são importantes para a compreensão
do ser humano inserido em um determinado contexto. A autora evidencia a
Preocupação com o processo (nada é estático), com a contradição (não há linearidade no
desenvolvimento, que resulta do embate e do con�ito) e com o caráter social do engendramento
humano (o ser do homem se faz permeado pelas relações humanas e por isso se expressa de
formas diferentes ao longo da história). (Aranha, 1994, p. 115)
O elemento processual implica o fato de que a realidade é compreendida como algo que está
constantemente em transformação, ou seja, o ser humano não é algo predeterminado ou dado,
mas sim resultado de um processo em constante desenvolvimento, que não tem um �m
de�nitivo, podendo ser considerado como um ser para o que sempre é possível um "ainda".
O elemento contraditório signi�ca que não ocorre de maneira homogênea, mas se manifesta por
meio de um confronto entrediversas situações e concepções, frequentemente opostas e/ou
contraditórias. A dimensão social indica que o ser humano não vive isolado, mas compartilha
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
uma realidade com outros seres, sejam eles semelhantes ou não, cada um exercendo in�uência
sobre o outro.
O ser humano molda a realidade de acordo com sua in�uência em todas as esferas. Da mesma
forma, a realidade exerce uma in�uência sobre o ser humano, determinando sua natureza. Nesse
intercâmbio, as relações são variadas através de con�itos, pois cada estilo de vida representa
uma busca pela realização. Se considerarmos essa dinâmica como intrinsecamente con�itante,
torna-se evidente a ideia de que não existe vida humana isenta de con�itos. A partir disso, é
possível antecipar diversos elementos relacionados à prática educativa.
Siga em Frente...
O papel da história na formação dos seres humanos
Cada ser humano carrega consigo uma espécie de “moldura”, similar à moldura de um quadro,
que in�uencia sua visão e compreensão do mundo. Essa "moldura" começa a ser moldada desde
o seu nascimento, à medida que o cérebro recebe estímulos, inicialmente sensoriais, do meio
natural, social e cultural ao seu redor.
A partir de uma base biológica (o cérebro), as estruturas do pensamento são formadas ao longo
da vida através das interações com o ambiente externo, dando contornos culturais à mente do
indivíduo. No contexto inicialmente familiar, elementos históricos do grupo social de origem
tornam-se parte integrante de sua existência. De acordo com pesquisadores como Piaget e
Vygotsky, a mente do sujeito é moldada pelas interações com os membros de seu grupo social.
Assim, sujeitos imersos em diferentes contextos sociais e históricos expressam suas formas de
pensar, resultando em inúmeras e diferentes concepções de mundo. Pensadores ao longo das
épocas, in�uenciados por diversos contextos culturais e sociais, deram forma às maneiras de
compreender e explicar essa rica dinâmica.
Entre as diversas "molduras" dos pensadores, �lósofos e pesquisadores, foram desenvolvidas
diferentes maneiras de olhar para os fenômenos e interpretá-los. Independente da vertente
escolhida, é fundamental que a educação leve em consideração o princípio da diversidade, uma
vez que as “molduras” humanas são distintas. O processo educacional, então, teria como
resultado a realização do ser humano como um constante "vir a ser".
Rousseau e um novo olhar sobre o homem
Até o século XVII predominou nas teorias pedagógicas o modelo cienti�cista, fato que
incomodou pensadores como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que no século seguinte
deslocou o foco central do processo educacional do mestre para o educando. Rousseau
provocou uma grande revolução na pedagogia e colocou a emoção e a moral no epicentro de sua
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
visão do homem. Segundo o pensador, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Nesse
sentido idealizou a �gura de um educando que seria livre das in�uências sociais.
Rousseau é um autor de uma corrente de pensamento conhecida como teoria contratualista, cujo
foco está na relação do homem com o contexto em que ele está inserido. Segundo essa
perspectiva, o homem nasceu livre, mas logo após o nascimento se vê acorrentado a uma
condição coletiva, tendo que atender às demandas impostas por essa situação – o que
Rousseau denomina como estado civil ou vida em sociedade.
Embora não seja possível determinar com precisão quando ocorreu a transição do estado de
natureza para o estado civil, Rousseau argumenta que algo deve ter desencadeado essa
mudança de situação. Ele destaca que a necessidade de garantir a sobrevivência é fundamental
para compreender esse processo. No estado natural, o homem envelhece de forma individual,
utilizando suas próprias forças para satisfazer suas necessidades; já no estado civil, ele percebe
que, ao unir forças com outros, pode facilitar suas atividades.
A sociedade civil surge, então, quando o homem decide viver de modo coletivo, sujeitando sua
vontade à vontade geral, com o objetivo de que melhor pudesse viver. É como se aceitasse um
contrato que, fundando a sociedade, garantisse que o indivíduo fosse livre, ainda que sujeito a
algo mais amplo, que é o respeito às regras comuns.
Você, possivelmente, já ouviu dizer que a sociedade corrompe o homem, é nesse caminho que a
�loso�a de Rousseau nos apresenta a necessidade de que seja lançado um novo olhar sobre o
ser humano, buscando na educação – especi�camente, no indivíduo – os elementos de
transformação. Nesse sentido é que pode ser pensado o projeto educacional de Rousseau: se o
homem é bom naturalmente, é importante que a educação resgate sua bondade, para que se
faça uma nova vivência coletiva.
A dialética hegeliana
Hegel (1770-1831) é o pensador cuja �loso�a trazemos para uma re�exão mais detida sobre a
realidade histórica. Esta foi desenvolvida como um sistema �losó�co (teoria construída de modo
a abarcar toda a realidade) e pode ser entendida como o auge do idealismo alemão. O autor dá
mais uma contribuição ao processo de construção da �loso�a, pois, ao desenvolver a �loso�a do
devir, concebe o ser como processo, como vir-a-ser. A dialética colocada como eixo de sua
�loso�a transforma o conceito de verdade, não mais um fato, uma essência, uma realidade, mas
o resultado de um desenvolvimento do espírito.
Hegel entende que a realidade ocorre de modo dialético, ou seja, que a história pode ser
compreendida como um movimento de sucessão de momentos que se contrapõem. Desse
modo, toda realidade tem o movimento como condutor. A contradição é geradora da realidade e
o presente é visto como resultado de um processo. O conceito de histórico nos faz pensar que a
realidade não é estática.
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Entendendo-se o homem como parte da realidade, não nos é possível negar seu caráter histórico.
Este sempre é encontrado dentro de um contexto (conjunto de todas as signi�cações de mundo)
que o forma – ele é um ser que responde de diferentes maneiras às necessidades que os
diversos contextos lhe impõem. Signi�ca entender que o espírito de uma época constrói um
modo especí�co de ser humano e, desse modo, a história (como soma de todos os contextos ao
longo do tempo) implica no desenvolvimento do espírito ao longo do tempo.
O espírito pode ser visto, de maneira inicial e super�cial, como a consciência, mas não a
consciência individual, e sim como a possibilidade de o homem ser consciente (como se fosse a
consciência da humanidade). O homem é diferente em cada contexto, pois sua consciência é
diferente em cada situação. A individual é, então, a expressão contextualizada do espírito. Cada
momento histórico determina a consciência, não sendo possível falar de uma que seja única ao
longo do tempo.
A sucessão não apresenta momentos estanques, que vêm, simplesmente, um após outro, cada
momento traz em si algo do anterior, que passa a ser questionado e já deixa ver algo do posterior,
que passa a ser gerado. O que rege essa mudança é a contradição: signi�ca entender que
nenhuma realidade é plena em si, sempre deixando margem para ser questionada naquilo que ela
apresenta. Vamos analisar a imagem a seguir para que você compreenda melhor:
Figura 1 | Tese, antítese e síntese
Vamos interpretar a �gura: nenhuma situação histórica é plena e verdadeira em si mesma. Sendo
assim, toda situação pode ser questionada, pois ela é contraditória em seus elementos (TESE). O
questionamento abala as certezas e dá origem a uma nova possibilidade de entendimento, à
possibilidade de uma nova consciência (ANTÍTESE). A superação do momento contraditório é o
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
estabelecimento de uma nova tese, de uma nova consciência (SÍNTESE). Por sua vez, a síntese
se apresenta como uma nova tese, que também traz a possibilidade de contradição (antítese),
cuja superação levará à nova síntese e assim sucessivamente.
Vamos Exercitar?
Vamos retomar a nossa situação inicial: ao assumir a coordenação pedagógicade uma escola
pública, Ana quis trazer novidades para a formação dos professores. Como ainda não conhecia
bem o grupo, partiu daquilo que ela via como necessidade para si. Com o andamento da
formação, Ana percebeu que os educadores não se sentiram agraciados com aquele momento
diferente de formação, mas oprimidos pela obrigatoriedade de uma formação em áreas e temas
que, para eles, não eram os mais importantes. Por qual motivo isso pode ter ocorrido?
O entendimento do homem como ser histórico não é auxílio apenas para o olhar que se volta
sobre os alunos, mas para o que se volta para todo o ambiente escolar. Houve erro na postura da
coordenadora, mesmo que ela tivesse boa intenção: ela não considerou as necessidades
especí�cas para aquela escola e não percebeu que os professores que ali lecionavam ainda não
tinham se relacionado, efetivamente, com ela. O problema surgiu quando os educadores
entenderam todo aquele projeto como uma imposição e a tentativa de formar no sentido de
“enformar”, “colocar em única forma”.
A solução da coordenadora, depois de ouvir todos os envolvidos, foi explicar a importância de
que continuassem o processo formativo e que, então, indicassem os temas/áreas que seriam
mais bem aproveitados pelo grupo. A consciência necessária é a de que o homem é diferente em
cada situação e deve ser conhecido a cada dia, como um novo fazer.
Saiba mais
Pensar sobre a educação atualmente é fundamental para pensarmos a nossa prática educativa.
Para isso podemos recorrer a diferentes autores e a diferentes olhares sobre a realidade.
Rousseau é um dos autores que nos ajuda nessa tarefa. Assim, vamos nos aprofundar na
perspectiva de Rousseau sobre a educação.
STRECK, D. R. Rousseau e a educação latino-americana. In: STRECK, D. R. Rousseau & a
Educação. Belo Horizonte: Grupo Autêntica, 2007 p. 79-88. ISBN 9788551301500. [Minha
Biblioteca].
O pensamento hegeliano tem in�uência na análise da sociedade, na educação e também na
construção do pensamento marxista. A compreensão da dialética é importante para
compreender o movimento constante da sociedade em que estamos inseridos. Para se
aprofundar no assunto, leia o seguinte texto:
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Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
NOVELLI, P. G. O conceito de Educação em Hegel. Interface, vol. 5, núm. 9, pp. 65-88, 2001.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/sC8FRpKHFHshKfkJcwZC3jj/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 jan. 2024.
Referências
ARANHA, M. L. de A. Filoso�a da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
FEYERABEND, P. Diálogos sobre o conhecimento. São Paulo: Perspectiva, 2008.
NOVELLI, P. G. O conceito de Educação em Hegel. Interface, vol. 5, núm. 9, pp. 65-88, 2001.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/sC8FRpKHFHshKfkJcwZC3jj/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 jan. 2024.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a. v. 2. São Paulo: Paulus, 1990.
STRECK, D. R. Rousseau e a educação. Belo Horizonte: Grupo Autêntica, 2007.
Aula 4
A Teoria Crítica e o Diagnóstico da Realidade
A Teoria Crítica e o Diagnóstico da Realidade
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Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Olá, estudante!
Nesta aula você irá re�etir sobre o contexto de surgimento da Teoria Crítica e os fatos que
in�uenciaram seus teóricos na elaboração dos conceitos por eles desenvolvidos. Esse conteúdo
é importante, pois levará ao entendimento de uma sociedade marcada pelo cenário de barbárie e
como a educação pode contribuir para a humanização. Prepare-se para essa jornada de
conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Partida
A educação desempenha o papel de mediadora nas práticas históricas que moldam a existência
subjetiva e social do ser humano. Por essa razão, é essencial realizar uma re�exão mais
aprofundada sobre os fundamentos �losó�cos que permitem a formação e a prática docente. A
qualidade da prática pedagógica só pode ser assegurada se, ao longo da formação do educador,
ele tiver acesso a um conjunto de elementos formativos. Esses elementos devem proporcionar
ao educador a competência técnica e cientí�ca, a ser desenvolvida com criatividade,
sensibilidade ética e criticidade política. Nesse contexto, a presença de subsídios provenientes
da �loso�a é crucial para enriquecer e fundamentar a formação do educador.
Para conseguirmos nos aprofundar no tema apresentado, vamos pensar na seguinte situação:
em uma determinada escola, diferentes professores começaram a notar que, de repente, muitos
alunos do ensino médio passaram a demonstrar certo desinteresse pelas aulas e pelas
atividades em geral. Eles estavam preocupados por estarem quase no período das provas do
último bimestre. Na tentativa de resolver a situação, a coordenação levantou duas hipóteses: ou
os professores estavam exigindo demais, em quantidade e nível de di�culdade, ou estavam
exigindo pouco dos alunos. Partindo dessa ideia, foram pensadas algumas atividades para
diagnosticar a situação, mas os resultados não ajudaram muito, pois percebeu-se que tudo
estava dentro da normalidade. Qual outra ação poderia ser realizada para tentar identi�car o
problema? O que poderia estar faltando para saber o que estava ocorrendo e, assim, resolver a
situação?
Vamos Começar!
Ao interagir com seu grupo social, o ser humano passa por transformações, evidenciando-se
como um ser em constante construção. Essa interação é permeada pela contradição, pois a
atividade humana é intrinsecamente política, alimentando-se do con�ito para sua manutenção.
Nesse contexto, a historicidade das experiências humanas emerge como um elemento crucial
para compreender a natureza humana. A constante interação dialética do homem com sua
própria história e a estrutura social na qual está inserido de�ne sua experiência. Nesse sentido,
vários �lósofos buscam relacionar os fatos históricos e sociais com seus re�exos não somente
sobre a sociedade, mas também sobre a educação.
A teoria crítica e o diagnóstico da realidade
Disciplina
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
A existência é um ato de signi�cado profundo. No entanto, devido à sua extrema importância,
acaba por perder o seu sentido ao se tornar a base sobre a qual se constrói a compreensão do
mundo. Dessa forma, é crucial abordar o ato de existir com cautela, pois não se pode dispensá-lo
para que o pensamento ocorra. Nesse contexto, é importante ter em mente que, mesmo quando
estamos coletivamente engajados em nossa existência como um grupo social, a experiência do
mundo permanece sempre individual. Embora existamos em conjunto, é sempre o indivíduo que
interpreta o signi�cado da existência.
Há uma linha de pensamento que se debruçou de maneira singular nessa re�exão sobre a
realidade: a Teoria Crítica. Para essa teoria, o questionamento “Que mundo pode e deve ser
pensado já que a experiência é coletiva e individual ao mesmo tempo?” é particularmente
importante, visto que que apenas se pode pensar a educação atrelada a um contexto, além de
considerarmos outros elementos que constituem a realidade histórica e social. Muitos foram os
autores que contribuíram para o desenvolvimento dessa perspectiva teórica, podemos citar
alguns: Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973), Hebert Marcuse (1898-
1979), Walter Benjamin (1892-1940), dentre outros.
A Teoria Crítica, sob in�uência do pensamento marxista, lança seu olharsobre a realidade
pensando sobre aquilo que ela é (no que se mostra, do que foi feito dela), em contraposição
àquilo que ela pode ser. Os autores se debruçaram sobre temas como cultura, totalitarismo e
política, questões que estavam em evidência no momento em que desenvolveram seu
pensamento. A realidade se apresenta de uma determinada maneira, tendo sido constituída ao
longo do tempo por inúmeros “projetos de sociedade” – muitos deles desapareceram, sendo
substituídos. Porém, há traços e elementos que permanecem e vão se entrelaçando a novos. A
Teoria Crítica busca enxergar tais elementos para poder falar sobre eles com mais clareza.
Diferentes conceitos foram desenvolvidos pelos autores e nos auxiliam a pensar a sociedade, a
organização social e como essas questões in�uenciam na educação. Podemos citar os
conceitos de Indústria Cultural e Cultura de Massa, que dizem respeito à padronização de
produtos da cultura. As re�exões sobre esses conceitos e no que diz respeito à Teoria Crítica, se
dirigem criticamente ao sistema capitalista. No interior de seu conteúdo é observável a denúncia
das formas de dominação presentes na política, economia, cultura e psicologia da sociedade
desde a modernidade. Outros conceitos também são importantes, como o de humanização,
barbárie e emancipação, e é a eles que vamos nos ater.
Siga em Frente...
Humanização e barbárie
O surgimento da Escola de Frankfurt ocorreu no século XX, também chamado por muitos
historiadores de século da morte, devido às duas grandes guerras mundiais. O contexto exigiu
que os pensadores da escola questionassem qual mundo seria possível diante das atrocidades
humanas observadas naquele momento. A experiência social, profundamente impactada pelas
guerras, tornou-se objeto de re�exão intensa, dada a recon�guração de valores impostos à
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
sociedade. Viver em um cenário de guerra considerou o outro não apenas como um inimigo
potencial, mas como um inimigo real, mesmo que este nada tivesse feito.
Uma das manifestações mais brutais contra a humanidade durante esse período foi durante a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a construção, sob o regime nazista, de campos de
concentração destinados à segregação e posterior extermínio, especialmente dos judeus,
embora não tenham sido os únicos afetados. Ao focalizar um desses campos, como Auschwitz,
as indagações centrais que guiavam as preocupações eram reduzidas a duas questões
fundamentais: como foi possível Auschwitz? E o que pode ser feito para evitar que Auschwitz se
repita? Nesse contexto histórico, a educação ganha importância fundamental, sendo
considerada como um elemento crucial na re�exão sobre as causas dessas atrocidades e na
busca por meios de prevenção no futuro.
Nesse sentido, podemos pensar nos conceitos de humanização e barbárie. Adorno entende
como barbárie, o impulso humano destrutivo, que se manifesta nas diversas formas de
agressividade percebidas no cotidiano, podendo chegar a situações extremas, como os campos
de extermínio nazistas. As pessoas, ao invés de prosseguirem um caminho de evolução do
pensamento, na consideração do outro como importante e que deveria ser considerado em suas
ações, consideram apenas seus interesses como dignos de defesa e, assim, tomam como guias
uma agressividade e um ódio primitivos característicos de um contexto pré-civilizatório. Nesse
contexto, o civilizado não é aquele que propaga determinados valores, de determinada
sociedade, mas aquele que compreende a vivência comum como parte de si e que, assim, deve
ser preservada na defesa de valores individuais.
Nesse sentido, Adorno propõe uma educação “emancipatória”, pois formas autoritárias de
educação não conseguem evitar esse caráter impulsivo destrutivo. A educação desempenha um
papel crucial ao criar possibilidades para o ser humano, capacitando-o a lidar com sua própria
liberdade. Seu propósito é abrir espaço para uma liberdade compartilhada e conter o espírito
autoritário que pode se manifestar em alguns indivíduos do grupo social. Nesse contexto, a
educação deve ser um processo de inclusão aberto a indivíduos no grupo, centrado em
interesses coletivos que promovam a humanização e evitem a barbárie.
O aprendizado, concebido como educação, deve visar a preparação do indivíduo para sua
participação na vida coletiva. Em vez de focar na preservação individual, o objetivo é a
conservação da vida comum. A educação deve ser desvinculada do caráter manipulador das
forças políticas, evitando contribuir para a formação de indivíduos que desejam participar do
grupo dos manipuladores. O primeiro passo para a libertação reside na consciência do que está
ocorrendo. O que é reprimido pode adquirir uma força tão intensa que, em determinado
momento, escapa ao controle, e a repressão diante de valores impostos alimenta a barbárie.
Consequentemente, a conscientização é crucial para evitar a perpetuação desse ciclo.
Educar para a emancipação
Ao abordar o conceito de emancipação, é crucial reconhecer o propósito de libertar o indivíduo
de um contexto situacional que o conduz a uma compreensão única da realidade. Essa
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
compreensão muitas vezes sugere que a realização pessoal está intrinsecamente ligada ao que
as forças sociais propõem como uma conquista coletiva. No entanto, os interesses subjacentes
a essas forças frequentemente permanecem obscuros, e a educação pode, de fato, desempenhar
o papel de um instrumento que ofusca essa clareza. A base conceitual dessas re�exões reside
no pensamento de Theodor W. Adorno (1903-1969), um dos �lósofos da Escola de Frankfurt.
Apesar de não ter produzido obras exclusivamente dedicadas à educação, diversos textos seus
abordam de maneira tangencial o tema educacional.
Quando pensamos em emancipação, precisamos compreender que “a emancipação não é
possível em termos gerais. Só há emancipação do indivíduo na medida em que é nele que se
concentra o con�ito entre autonomia da razão e as forças obscuras e inconscientes que invadem
essa mesma razão” (Matos, 2005, p. 52). Isso nos leva a compreender que, mesmo em iniciativas
voltadas para uma educação de caráter coletivo, é crucial focar nas ações individuais. Isso nos
alerta para a possibilidade de um projeto educacional tornar-se uma fachada, desviando a
atenção dos interesses que se pretendem ocultar. A sociedade, ao invés de orientar o indivíduo
em direção à emancipação, muitas vezes inculca nele a ideia de que o Estado (ou qualquer
entidade que o represente) deve ser o guia da vontade coletiva.
O indivíduo emancipado é aquele que se bene�cia de suas habilidades e características,
desempenhando o papel de legislador de sua própria existência. No entanto, se o sistema induz
os alunos a acreditarem na existência de uma classe "merecedora" (com base no esforço) de
uma educação diferenciada em termos de quantidade e qualidade, dessa forma, podemos
perceber que a ausência de emancipação é o elemento que in�uencia a formação de uma
mentalidade favorável a essa condição, na qual se assume que "o sistema sabe o que é melhor".
Os métodos pedagógicos, conforme observado por Adorno, são con�gurados de maneira a não
instigar o desenvolvimento do senso de posse de uma qualidade. Em vez disso, promove-se o
senso de respeito e obediência a uma autoridade, considerando o propósito de educar o homem
para assumir responsabilidade por si mesmo e pela posse de sua vontade. Entretanto,
frequentemente observamos que a prática na sala de aula segue uma direção oposta. A
educação voltada para a emancipação deve resultar na humanização do indivíduo, oposta a um
ethos de competição que pode levar à barbárie. No entanto, as disparidades inerentes ao próprio
sistema frequentemente colocam os seres humanos uns contra os outros, ao permitir a
participação nos direitos sociais apenas para alguns.
Quando pensamos no contexto brasileiro, por exemplo, após intensas lutas e organizações da
sociedade civil e pressões internacionais, o ensino fundamental foi universalizado paratodas as
crianças. Posteriormente, essa universalização se estendeu também para o ensino médio. O
Estado precisa ceder a tais reivindicações. Entretanto, a educação ofertada pode ser considerada
semiformativa, uma vez que a escola continua sendo utilizada para atender aos interesses de
grupos hegemônicos da sociedade (Pucci, 2001).
Dessa forma, cria-se a impressão de que as ações do poder público são realizadas com o
objetivo aparente de proporcionar mais autonomia ao indivíduo, buscando sua realização na
sociedade. No entanto, somente uma observação cuidadosa é capaz de identi�car as
camu�agens da realidade, que se revestem de diversas formas para conquistar ou, pelo menos,
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
transmitir a mensagem de uma pretensa consideração às necessidades humanas. Isso ocorre
porque as autoridades políticas têm consciência de que um indivíduo emancipado não se
submete a manipulações e não aceita o mínimo quando poderia aspirar ao máximo.
Vamos Exercitar?
Vamos retomar a nossa situação inicial: Em uma determinada escola, diversos professores
começaram a notar que, de repente, muitos alunos do ensino médio passaram a demonstrar
certo desinteresse pelas aulas e pelas atividades em geral. Na tentativa de resolver a situação, a
coordenação levantou duas hipóteses: ou os professores estavam exigindo demais, em
quantidade e nível de di�culdade, ou estavam exigindo pouco dos alunos. Foram pensadas
algumas atividades para diagnosticar a situação, mas os resultados não ajudaram muito, pois
percebeu-se que tudo estava dentro da normalidade. O que poderia estar faltando para saber o
que estava ocorrendo e, assim, resolver a situação?
Uma das professoras tinha a opinião de que algo de fora dos muros da escola estaria afetando a
vida daquela comunidade de alunos. Ela conversou com a coordenadora e, preparando uma
pesquisa geral, entregou aos alunos um conjunto de perguntas que eles deveriam responder: os
temas iam desde a vivência social e familiar até a percepção que eles tinham da escola, dentro
das perspectivas de futuro. O resultado foi interessante, apontou para algo que o corpo docente e
o gestor não haviam se atentado: diversas questões, envolvendo transporte público,
reorganização das escolas e a consequente transferência de alunos estavam preocupando as
famílias e criando um clima de insegurança e insatisfação.
O corpo gestor não imaginava que tais fatos estivessem in�uenciando a comunidade de alunos,
pois a notícia havia sido anunciada nas mídias há poucas semanas e ainda não havia qualquer
de�nição de como tudo iria se desenrolar. A partir de então, a coordenadora envolveu os
professores em um grande projeto de conscientização para que a comunidade (alunos e
famílias) fosse acalmada e o ano letivo pudesse terminar bem.
Percebeu-se a necessidade de se alargar os horizontes para que fosse possível entender todos
os aspectos envolvidos na situação apresentada: a primeira suspeita recaiu na atuação dos
professores, mas os resultados da pesquisa mostraram que outros fatores é que de fato estavam
in�uenciando na queda do rendimento dos alunos.
Saiba mais
Vamos aprofundar nosso conhecimento sobre a barbárie ocorrida no século XX. No �lme
brasileiro Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão, o autor se inspirou na
obra Era dos extremos, do historiador britânico Eric Hobsbawm, mostrando em sua produção, por
meio da montagem das imagens produzidas no século XX, ambientadas pelo fundo musical de
Wim Mertens, o período de contrastes de um mundo envolvido em duas guerras, colocando
ênfase na banalização da violência, no desenvolvimento tecnológico, na esperança e na loucura
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
humanas. O �lme revela a vida de pessoas comuns e de celebridades, com a �nalidade de levar
ao interlocutor a importância individual para a construção da história. O documentário foi
premiado no Festival de Gramado, em 1999, por sua montagem, e no Festival do Recife, como
melhor �lme, melhor roteiro e melhor montagem.
Pensar sobre a liberdade no contexto social é importante para compreender como essas
questões estão presentes também no contexto educacional. Leia o artigo a seguir sobre o tema
da liberdade, a partir das ideias de Theodor W. Adorno.
CHAVES, J. de C. O conceito de liberdade na dialética negativa de Theodor Adorno. Psicol. Soc.,
Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 438-444, dez., 2010.
Referências
ARANHA, M. G. A. Filosofando: introdução à �loso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993.
CHAUI, M. Convite à �loso�a. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
CHAVES, J. de C. O conceito de liberdade na dialética negativa de Theodor Adorno. Psicol. Soc.,
Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 438-444, dez., 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/psoc/a/TPsfvSMw7sc7BzqzvzC5BrM/?
format=pdf&lang=pt#:~:text=Adorno%20indica%20o%20quanto%20pode,pelo%20particular%20e
%20pelo%20universal. Acesso em: 24 jan. 2024.
CRESPO, L. F.; CICONE, R. B.; MORAES, L. E. de. Fundamentos da educação. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
HOBSBAWM, et al. Era dos extremos. São Paulo: Ed. Companhia das letras, 1995.
MATOS, O. C. F. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do iluminismo. 2. ed. São Paulo: Moderna,
2005.
MELO, R. Teoria crítica e os sentidos de emancipação. Caderno CRH, vol. 24, n. 62, p. 249-262,
2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792011000200002. Acesso em: 24 jan.
2024.
PUCCI, B. Teoria crítica e educação: contribuições da teoria crítica para a formação do professor.
Espaço Pedagógico, v. 8, p. 13-30, 2001.
Aula 5
Encerramento da Unidade
https://www.scielo.br/j/psoc/a/TPsfvSMw7sc7BzqzvzC5BrM/?format=pdf&lang=pt#:~:text=Adorno%20indica%20o%20quanto%20pode,pelo%20particular%20e%20pelo%20universal
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computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo
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Olá, estudante!
Nesta videoaula você irá compreender a importância da perspectiva �losó�ca para o
desenvolvimento de diferentes teorias e para a compreensão humana. Será possível também
re�etir a respeito da barbárie que aconteceu nos campos de concentração nazistas, percebendo
o papel de humanização da educação nesse contexto.
Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!
Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta Unidade, que é conhecer os pressupostos �losó�cos da
educação, identi�cando suas particularidades e aplicações no contexto educacional, você deverá
primeiramente compreender que existem diferentes teorias sobre a origem do conhecimento.
Elas nos ajudam a entender como acontece a complexa relação entre o sujeito que aprende e o
objeto que ele busca aprender, além de trazer luz sobre os múltiplos e variados fatores que estão
envolvidos nesse processo.
Essas teorias, fundamentadas no rigor dos estudos �losó�cos, apresentam dentre os seus temas
de destaque questões relacionadas à origem do conhecimento, explorando como os seres
humanos adquirem compreensão sobre o mundo físico e social. Mas é importante perceber que
devido à presença de elementos subjetivos, não é possível identi�car uma única abordagem
nessa área do conhecimento, uma vez que ele abriga diversas concepções, muitas vezes
antagônicas, coexistindo em um território marcado pela pluralidade de teorias.
Ainda nesse sentido, podemos pensar sobre a Antropologia Filosó�ca, que nos leva a pensar
sobre a natureza humana. Esse campo epistemológico é constituído de uma re�exão sistemática
sobre a vida humana, o seu destino, sua estrutura psíquica, suas ações no mundo, suas relações
com outros seres humanos e a totalidade da sua essência. Todas essas questões são
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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
permeadas pelos processos históricos,