Prévia do material em texto
1 DIREITO DAS COISAS 4ª EDIÇÃO/2024 1. INTRODUÇÃO 4 1.1. DIFERENÇA ENTRE DIREITO DAS COISAS E DIREITOS REAIS 4 1.2. TEORIAS JUSTIFICADORAS DOS DIREITOS REAIS 4 1.2.1. TEORIA PERSONALISTA 4 1.2.2. TEORIA REALISTA OU CLÁSSICA 5 1.3. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS 5 1.4. CLASSIFICAÇÃO 6 1.5. ROL TAXATIVO OU EXEMPLIFICATIVO 8 1.6 DIREITOS REAIS PREVISTOS FORA DO ART. 1.225 DO CC 8 1.7. DIFERENÇAS ENTRE OS DIREITOS REAIS E OS DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS 10 1.8 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS COISAS 11 1.8.1. PRINCÍPIOS QUE REGEM OS DIREITOS REAIS 11 1.8.2. FIGURAS HÍBRIDAS 12 2. POSSE 12 2.1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DA POSSE 13 2.2. TEORIAS 15 2.3 CLASSIFICAÇÕES 16 2.3.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À RELAÇÃO PESSOA-COISA OU QUANTO AO DESDOBRAMENTO 17 2.3.2. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE VÍCIOS 17 2.3.3. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS VÍCIOS SUBJETIVOS OU QUANTO À BOA-FÉ 18 2.3.4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE TÍTULO 20 2.3.5. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMPO 21 2.3.6. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS EFEITOS 22 2.5. AQUISIÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA DA POSSE 22 2.5.1. AQUISIÇÃO 22 2.5.2. TRANSMISSÃO DA POSSE 25 2.5.3. PERDA DA POSSE 25 2.5.4. COMPOSSE OU COMPOSSESSÃO 26 2.5.4.1. CLASSIFICAÇÃO DA COMPOSSE 28 2.6. NOÇÕES GERAIS SOBRE A POSSE 28 2.6.1. INTRODUÇÃO 28 2.6.2. TEORIAS 28 2.6.3. POSSE E DETENÇÃO 28 2.6.4. QUASE POSSE 29 2.6.5. POSSE DOS DIREITOS PESSOAIS 29 2.6.6. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 29 2.6.7. AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE 30 2.6.7.1. MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE 30 2.6.7.2. PERDA DA POSSE 31 2.6.8. EFEITOS DA POSSE 31 2.6.8.1. TUTELA DA POSSE 31 2.6.8.2. AÇÕES POSSESSÓRIAS EM SENTIDO ESTRITO 31 2.6.9. DA MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE 32 2.6.9.1. CARACTERÍSTICAS 32 2.6.9.2. REQUISITOS 32 2.6.9.3.PROCEDIMENTO 32 2.6.9.4.EXECUÇÃO DE SENTENÇA 33 2.6.9.5. EMBARGOS DE RETENÇÃO POR BENFEITORIAS 33 2.6.10. INTERDITO PROIBITÓRIO 34 2.6.11. AÇÕES AFINS AOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS 35 2.6.11.1. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE 35 2.6.11.2. AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA 35 2.6.11.3. EMBARGOS DE TERCEIRO 36 2.6.12. OS DEMAIS EFEITOS DA POSSE 36 2.6.12.1. NOÇÃO DE FRUTOS 36 2.6.12.2. RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA 37 2.6.12.3. REGRAS DA INDENIZAÇÃO37 2.6.12.4. DIREITO DE RETENÇÃO 38 3. PROPRIEDADE 38 3.1 CONCEITO E ATRIBUTOS 38 3.1.1. CONCEITO 38 3.1.2. ATRIBUTOS 40 3.2. EVOLUÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE 40 3.2.1. FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE 40 3.3. FUNDAMENTO JURÍDICO 43 3.4. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE 43 3.5. AÇÃO REIVINDICATÓRIA 44 3.5.1. OUTROS MEIOS DE DEFESA DA 2 PROPRIEDADE 45 3.6. DESCOBERTA 45 3.7. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE 46 3.7.1. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL 46 3.7.2. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL 47 3.8. DA USUCAPIÃO 48 3.8.1. ESPÉCIES DA USUCAPIÃO 48 3.8.1.1. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA 48 3.8.1.2. USUCAPIÃO ORDINÁRIA 49 3.8.1.3. USUCAPIÃO ESPECIAL 50 3.8.1.4. USUCAPIÃO FAMILIAR 51 3.8.1.5. USUCAPIÃO COLETIVA 52 3.9. PERDA DA PROPRIEDADE 52 3.10. DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL 54 3.11. DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA 54 3.11.1. REGULAMENTAÇÃO 54 3.11.2. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO FIDUCIANTE 55 3.11.3. OBRIGAÇÕES DO CREDOR FIDUCIÁRIO 55 3.11.4. PROCEDIMENTO DE AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO CONTRA O DEVEDOR INADIMPLENTE 56 4. DO DIREITO DE VIZINHANÇA 56 4.1. INTRODUÇÃO 56 4.2. USO ANORMAL DA PROPRIEDADE 56 4.3. ÁRVORES LIMÍTROFES 57 4.4. PASSAGEM FORÇADA 57 4.5. DA PASSAGEM DE CABOS E TUBULAÇÕES 58 4.6. DAS ÁGUAS 58 4.7. DOS LIMITES ENTRE PRÉDIOS 58 4.8. DIREITO DE TAPAGEM 58 4.9. DIREITO DE CONSTRUIR 59 4.9.1. LIMITAÇÕES E RESPONSABILIDADES 59 4.9.2. DEVASSAMENTO DA PROPRIEDADE VIZINHA 59 4.9.3. ÁGUAS E BEIRAIS 59 4.9.4. PAREDES DIVISÓRIAS 59 4.9.5. USO DO PRÉDIO VIZINHO 59 5. DO CONDOMÍNIO 59 5.1. CONCEITO E ESPÉCIES 59 5.2. DIREITOS E DEVERES DOS CONDÔMINOS 60 5.3. ADMINISTRAÇÃO E EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO 61 5.4. CONDOMÍNIO NECESSÁRIO 61 5.5. O CONDOMÍNIO EDILÍCIO 62 5.5.1. INTRODUÇÃO 62 5.5.2. INSTITUIÇÃO DO CONDOMÍNIO 62 5.5.3. CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO 63 5.5.4. ESTRUTURA INTERNA DO CONDOMÍNIO 63 5.5.5. ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO 64 5.5.6. REALIZAÇÃO DE OBRAS NO CONDOMÍNIO 65 6. DOS DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO 66 6.1 DA SUPERFÍCIE 66 6.2 DAS SERVIDÕES 67 6.3 DO USUFRUTO 69 6.3.1. USUFRUTO E FIDEICOMISSO (DISTINÇÃO) 70 6.4 DO USO 70 6.5 DA HABITAÇÃO 70 7. DO DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR 71 8. DA CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA 71 9. DA CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO 72 10. DA LAJE 72 10.1. REGULAMENTAÇÃO LEGAL 72 11. DIREITOS ORIUNDOS DA IMISSÃO PROVISÓRIA DA POSSE 74 12. DIREITO REAL DE GARANTIA SOBRE COISA ALHEIA 77 12.1. DO PENHOR 77 12.1.1. ESPÉCIES DO PENHOR 77 12.1.1.1. PENHOR RURAL 77 12.1.1.2. PENHOR INDUSTRIAL E MERCANTIL 77 12.1.1.3. PENHOR DE DIREITOS 78 12.1.1.4. PENHOR DE TÍTULOS DE CRÉDITO 78 12.1.1.5. PENHOR DE VEÍCULOS 78 12.1.1.6. PENHOR LEGAL 78 12.2 DA HIPOTECA 78 12.2.1. PLURALIDADE DE HIPOTECAS 79 11.2.2. DIREITO DE REMIÇÃO 79 12.2.3. PEREMPÇÃO 79 12.3 DA ANTICRESE 79 12.4. DIREITO REAL DE GARANTIA 80 12.4.1. CLÁUSULA COMISSÓRIA 80 12.4.2. VENCIMENTO ANTECIPADO DA 3 DÍVIDA 80 13. DA ENFITEUSE 80 4 1. INTRODUÇÃO 1.1. DIFERENÇA ENTRE DIREITO DAS COISAS E DIREITOS REAIS a) DIREITO DAS COISAS: É um ramo do Direito Civil, disciplinado em em um livro do Código Civil de 2002. Segundo o professor Flávio Tartuce “no Direito das Coisas há uma relação de domínio exercida pela pessoa (sujeito ativo) sobre a coisa. Não há um sujeito passivo determinado, sendo este toda a coletividade (sujeito passivo universal)1”. 📌 OBSERVAÇÃO: considerando que o sujeito passivo é universal, os efeitos jurídicos dessa relação são, em regra, "erga omnes”. b) DIREITO REAIS: Segundo o professor Flávio Tartuce, é possível conceituar Direitos Reais “como sendo as relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis, tendo como fundamento principal o conceito de propriedade, seja ela plena ou restrita2”. Qual a diferença em relação ao Direito das Coisas? Para o professor, “a diferença substancial em relação ao Direito das Coisas é que este constitui um ramo do Direito Civil, um campo metodológico. Já os Direitos Reais constituem as relações jurídicas em si, em cunho subjetivo; ou, ainda, um grupo de categorias jurídicas relacionadas à propriedade, seja ela plena ou limitada3”. 3Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 21. 2Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 24.. 1Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 21. As espécies de direitos reais são disciplinadas pelo art. 1.225 do Código Civil: Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso; e XIII - a laje. 1.2. TEORIAS JUSTIFICADORAS DOS DIREITOS REAIS O professor Flávio Tartuce destaca que há duas teorias justificadora dos Direito Reais, as quais são extraídas da obra de Orlando Gomes e atualizada por Luiz Edson Fachin: 1.2.1. TEORIA PERSONALISTA A teoria personalista é a “teoria pela qual os direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. Segundo Orlando Gomes, “a diferença está no sujeito passivo. Enquanto no direito pessoal, esse sujeito passivo – o devedor – é pessoa certa e determinada, no direito real seria indeterminada, havendo nesse caso uma obrigação passiva universal, a de respeitar o direito – obrigação que se concretiza toda vez que 5 alguém o viola” (GOMES, Orlando. Direitos reais..., 2004, p. 12-17). O que se percebe, portanto, é que essa teoria nega realidade metodológicade composse ou de ato por ambos praticado. 2.5.4.1. CLASSIFICAÇÃO DA COMPOSSE a) Composse pro diviso: é possível verificar a “área de posse” de cada um. b) Composse pro indiviso: não é possível delimitar a “área da posse de cada um (coisa indivisa). 2.6. NOÇÕES GERAIS SOBRE A POSSE 2.6.1. INTRODUÇÃO Se alguém se mantém, pacificamente, em um imóvel, por mais de ano e dia, cria uma situa ção possessória, que lhe proporciona direito a proteção, chamado de jus possessionis (posse autônoma). A posse titulada é denominada jus possidendi ou posse causal. Em ambos os casos, é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos de violência, para garantia da paz social. Para Ihering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de dono. Sempre que haja o exercício dos poderes de fato, inerentes à propriedade, existe posse, a não ser que alguma norma (como os arts. 1.198 e 1.208, p. ex.) diga que esse exercício configura a detenção, e não a posse. A posse tem natureza dupla: é fato e direito. Considerada em si mesma, é um fato, mas, pelos efeitos que gera, entra na esfera do direito. Segundo Beviláqua, a posse não é direito real, nem pessoal, mas um direito especial. 2.6.2. TEORIAS 1. SUBJETIVA (de Savigny) A posse caracteriza -se pela conjugação do corpus (elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa) e do animus (elemento subjetivo, que se encontra na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio — animus rem sibi habendi). 2. OBJETIVA (de Ihering) Considera o animus já incluído no corpus, que significa conduta de dono. Esta pode ser analisada objetivamente, sem a necessidade de pesquisar -se a intenção do agente. A posse, então, é a exteriorização do domínio. O CC brasileiro adotou tal teoria (art. 1.196). 3. SOCIOLÓGICA (de Perozzi, Saleilles e Hernandez Gil) Dá ênfase ao caráter econômico e à função social da posse. 2.6.3. POSSE E DETENÇÃO Há situações em que uma pessoa não é considerada possuidora, mesmo exercendo poderes 29 de fato sobre uma coisa. Isso acontece quando a lei desqualifica a relação para mera detenção, como o faz nos arts. 1.198, 1.208 e 1.224, p. ex. Somente a posse gera efeitos jurídicos. 2.6.4. QUASE POSSE Os romanos só consideravam posse a emanada do direito de propriedade. A exercida nos termos de qualquer direito real menor (servidão e usufruto, p. ex.) era chamada de quase posse, por ser aplicada aos direitos ou coisas incorpóreas. Tais situações são hoje tratadas como posse propriamente dita. 2.6.5. POSSE DOS DIREITOS PESSOAIS O direito das coisas compreende tão só bens materiais: a propriedade e seus desmembramentos. Tem por objeto, pois, bens corpóreos. Para a defesa dos direitos pessoais, incorpóreos, são hoje utilizadas as cautelares inominadas. 2.6.6. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE Segundo Carlos Roberto Gonçalves53, a posse pode ser classificada em: POSSE DIRETA OU IMEDIATA É a daquele que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de contrato (a posse do locatário, p. ex., que a exerce por concessão do locador — CC, art. 1.197). 53 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 766. POSSE INDIRETA OU MEDIATA É a daquele que cede o uso do bem (a do locador, p. ex.). Dá -se o desdobramento da posse. Uma não anula a outra. Nessa classificação não se propõe o problema da qualificação da posse, porque ambas são posses jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor. POSSE JUSTA É a não violenta, clandestina ou precária (CC, art. 1.200). É a adquirida legitimamente, sem vício jurídico externo. POSSE INJUSTA É a adquirida viciosamente (vim, clam aut precario). Ainda que viciada, não deixa de ser posse, visto que a sua qualificação é feita em face de determinada pessoa. Será injusta em face do legítimo possuidor; será, porém, justa e suscetível de proteção em relação às demais pessoas estranhas ao fato. POSSE DE BOA -FÉ Configura -se quando o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa (art. 1.201). É de suma importância a crença do possuidor de encontrar -se em uma situação legítima. O CC estabelece presunção de 30 boa -fé em favor de quem tem justo título (art. 1.201, parágrafo único). POSSE DE MÁ -FÉ É aquela em que o possuidor tem conhecimento dos vícios na aquisição da posse e, portanto, da ilegitimidade de seu direito. A posse de boa -fé se transforma em posse de má -fé desde o momento em que as circunstâncias demonstrem que o possuidor não mais ignora que possui indevidamente (CC, art. 1.202). POSSE NOVA É a de menos de ano e dia. Não se confunde com ação de força nova, que leva em conta não a duração temporal da posse, mas o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação ou do esbulho. POSSE VELHA É a de ano e dia ou mais. Não se confunde com ação de força velha, intentada depois de ano e dia da turbação ou esbulho. POSSE NATURAL É a que se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa. POSSE CIVIL OU JURÍDICA É a que assim se considera por força da lei, sem necessidade de atos físicos ou materiais. É a que se transmite ou se adquire pelo título (escritura pública, p. ex.). POSSE AD INTERDICTA É a que pode ser defendida pelos interditos ou ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião (a do locatário, p. ex.). POSSE AD USUCAPIONEM É a que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, deferindo a seu titular a aquisição do domínio. POSSE PRO DIVISO É a exercida simultaneamente (composse), estabelecendo -se, porém, uma divisão de fato entre os compossuidores. POSSE PRO INDIVISO É aquela em que se exercem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de utilização ou exploração comum do bem. 2.6.7. AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE 2.6.7.1. MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE Adquire -se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de 31 qualquer dos poderes inerentes à propriedade (CC, art. 1.196). A sua aquisição pode concretizar -se, portanto, por qualquer dos modos de aquisição em geral, p. ex., a apreensão, o constituto possessório e qualquer outro ato ou negócio jurídico, especialmente a tradição, que pode ser real, simbólica e ficta. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA: Configura -se nos casos em que não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. É o que acontece quando há esbulho, e o vício, posteriormente, cessa. AQUISIÇÃO DERIVADA: Diz -se que a posse é derivada quando há anuência do anterior possuidor, como na tradição. De acordo com o art. 1.203 do CC, essa posse conservará o mesmo caráter de antes. Quando o modo é originário, surge uma nova situação de fato, que pode ter outros defeitos, mas não os vícios anteriores. QUEM PODE ADQUIRIR A POSSE? a. a própria pessoa que a pretende, desde que capaz; b. o seu representante, legal ou convencional; c. terceiro sem mandato (gestor de negócios), dependendo de ratificação (CC, art. 1.205) 2.6.7.2. PERDA DA POSSE Perde -se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196 (CC, art. 1.223). Exemplificativamente, perde -se pelo abandono, pela tradição, pela destruição da coisa, por sua colocação fora do comércio, pela posse de outrem, pelo constituto possessório, pela traditio brevi manu etc. PERDA DA POSSE PARA O AUSENTE: Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, abstém -se de retomar a coisa, ou, tentando recuperá -la, é violentamente repelido (CC, art. 1.224). Essa perda é provisória, pois nada o impede de recorrer às ações possessórias. 2.6.8. EFEITOS DA POSSE 2.6.8.1. TUTELA DA POSSE 1. EFEITOS MAIS EVIDENTES a) a proteção possessória, abrangendo aautodefesa e a invocação dos interditos; b) a percepção dos frutos; c) a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa; d) a indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção; e) a usucapião. 2. A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA a) legítima defesa e desforço imediato: os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse (art. 1.210). b) ações possessórias (heterotutela): manutenção de posse, reintegração de posse e interdito proibitório. 2.6.8.2. AÇÕES POSSESSÓRIAS EM SENTIDO ESTRITO LEGITIMAÇÃO ATIVA a. exige -se a condição de possuidor, mesmo que não tenha título. O detentor não tem essa faculdade, nem o nascituro, a quem se atribui mera expectativa de direito; 32 b. dos possuidores diretos e indiretos. Têm ação possessória contra terceiros e também um contra o outro. LEGITIMAÇÃO PASSIVA a. do autor da ameaça, turbação ou esbulho (CPC, arts. 561, II, e 567); b. do curador, pai ou tutor, se a turbação e o esbulho forem causados por amental ou menor; c. da pessoa que ordenou a prática do ato molestador; d. do herdeiro a título universal ou mortis causa, porque continua de direito a posse de seu antecessor; e. a pessoa jurídica de direito privado autora do ato molestador, bem como a pessoa jurí di ca de direito público, contra a qual pode até ser deferida medida liminar, desde que sejam previamente ouvidos os seus representantes legais (CPC, art. 562, parágrafo único). CONVERSÃO EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO Se ocorrer o perecimento ou a deterioração considerável da coisa, só resta ao possuidor o caminho da indenização. 2.6.9. DA MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE 2.6.9.1. CARACTERÍSTICAS Embora apresentem características semelhantes, a ação de manutenção de posse é cabível na hipótese em que o possuidor sofre turbação em seu exercício, mas continua na posse dos bens. Em caso de esbulho, em que o possuidor vem a ser privado da posse, adequada é a de reintegração de posse (CPC, art. 560). 2.6.9.2. REQUISITOS a. Posse: a prova da posse é o primeiro requisito para a propositura das referidas ações. Quem nunca a teve não pode valer -se dos interditos. b. Turbação: é todo ato que embaraça o livre exercício da posse. Deve também ser provada pelo autor. Só pode ser de fato, e não de direito, pois contra atos judiciais cabem embargos e outros meios próprios de defesa. A turbação pode ser, ainda, direta e indireta, positiva e negativa. c. Esbulho: acarreta a perda da posse contra a vontade do possuidor. Resulta de violência, clandestinidade ou precariedade. O esbulho resultante da precariedade é denominado esbulho pacífico. d. Data da turbação ou do esbulho: a prova da data da turbação ou do esbulho determina o procedimento a ser adotado. Se praticado há menos de ano e dia do ajuizamento, será o especial, com pedido de liminar. Passado esse prazo, será adotado o rito ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório (CPC, art. 558, parágrafo único). e. Continuação ou perda da posse: na ação de manutenção de posse, o autor deve provar que, apesar de ter sido molestado, ainda a mantém. Se não mais conserva a posse, por ter sido esbulhado, terá de ajuizar ação de reintegração de posse. 2.6.9.3.PROCEDIMENTO PETIÇÃO INICIAL 33 a. deve atender ao que dispõe o art. 561 do CPC e conter todos os requisitos enumerados no art. 282 do mesmo diploma; b. o objeto da ação há de ser perfeitamente individualizado; c. as partes devem ser identificadas com precisão (CPC, art. 319, II); d. deve ser dado valor à causa (CPC, art. 291), correspondente ao venal. LIMINAR a. inaudita altera parte: será concedida se a inicial estiver devidamente instruída com prova dos fatos mencionados no art. 561 do CPC: posse, turbação ou esbulho ocorridos há menos de ano e dia etc.; b. após justificação prévia: se a inicial não estiver devidamente instruída; c. contra pessoa jurídica de direito público: somente depois de ouvido o seu representante judicial (CPC, art. 562, parágrafo único), ainda que devidamente provados os requisitos do art. 561; d. o recurso cabível contra decisão que concede ou denega medida liminar, de natureza interlocutória, é o agravo de instrumento (CPC, art. 1.015); e. a execução da decisão liminar positiva se faz de plano, mediante mandado a ser cumprido por oficial de justiça, sem necessidade de citação para entregar a coisa em determinado prazo. CONTESTAÇÃO E RITO ORDINÁRIO: Concedida ou não a liminar, deverá o autor promover, nos cinco dias subsequentes, a citação do réu, para que ofereça contestação (CPC, art. 564). Se for realizada a justificação prévia, com citação do réu, o prazo para contestar contar -se -á da intimação do despacho que deferir ou não a liminar (parágrafo único). 2.6.9.4.EXECUÇÃO DE SENTENÇA A execução se faz mediante a expedição, de plano, de mandado. O juiz emite uma ordem para que o oficial de justiça reintegre na posse o esbulhado, pois a possessória tem força executiva, tal como a ação de despejo. Predomina o entendimento de que não cabem embargos do executado em ação possessória, porque a sentença tem força executiva. 2.6.9.5. EMBARGOS DE RETENÇÃO POR BENFEITORIAS “A doutrina e a jurisprudência entendem que os embargos de retenção por benfeitorias somente serão admitidos na execução por título extrajudicial (art. 914, inc. IV e §§ 5.º e 6º do CPC), isso porque quando for o caso de título judicial o direito de retenção deve ter sido arguido na contestação e reconhecido na sentença, vedando-se o seu cumprimento sem que o exequente adimpla a sua obrigação. Se, ao contrário, não houve alegação e tal direito não constou título judicial, não haverá direito a retenção. Bem se vê, portanto, que se tratando de título executivo extrajudicial, o direito de retenção, dada inexistência de um processo anterior, deverá ser arguido por meio de embargos à execução. Uma vez apresentados embargos pelo executado invocando-se a existência de benfeitorias indenizáveis, somente na execução de obrigação para entrega de coisa, fundada em título executivo extrajudicial - os embargos são qualificados como “de retenção por benfeitorias”.” 34 EMBARGOS DE RETENÇÃO. Previsão do artigo 917, IV, do novo CPC restrita a título executivo extrajudicial. Inadmissibilidade dos embargos em execução de título judicial. Entendimento consolidado dos tribunais no sentido de que nas execuções por título judicial a falta de alegação oportuna da exceção em contestação leva à preclusão da indenização por benfeitorias e retenção, não podendo a matéria ser agitada em sede de embargos à execução. Embargante que embora tenha mencionado na contestação da ação de conhecimento a existência de acessões, não o fez na forma preconizada no artigo 538, §1º do CPC. Acórdão proferido no na fase de conhecimento que nada dispôs sobre as benfeitorias, nem a embargante contra isso se insurgiu. Inviabilidade da oposição de embargos de retenção para obstaculizar a devida retomada do imóvel. Possibilidade, contudo, de ajuizar ação indenizatória própria para buscar eventual indenização, segundo entendimento do STJ. Sentença de rejeição dos embargos mantida. Recurso não provido. (TJSP; Apelação Cível 1043059-43.2018.8.26.0114; Relator (a): Francisco Loureiro; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro de Campinas - 9ª Vara Cível; Data do Julgamento: 04/06/2019; Data de Registro: 04/06/2019)54. 2.6.10. INTERDITO PROIBITÓRIO É a terceira ação tipicamente possessória. Tem caráter preventivo, pois visa a impedir que se concretize uma ameaça à posse. Tem como requisitos: a. posse atual do autor; b. ameaça de turbação ou esbulho por parte do réu; 54 https://www.migalhas.com.br/coluna/jurisprudencia-do-cpc/345155/art -538-do-cpc--benfeitorias c. justo receio de ser efetivada a ameaça (CPC, art. 567). O interdito proibitório assemelha -se à ação cominatória, pois prevê, como forma de evitar a concretizaçãoda ameaça, a cominação ao réu de pena pecuniária, caso transgrida o preceito. Se a ameaça vier a concretizar -se no curso do processo, o interdito proibitório será transformado em ação de manutenção ou de reintegração de posse, concedendo -se a liminar apropriada e prosseguindo -se no rito ordinário. ⚠ATENÇÃO - JULGADO DO DIA 08/08/2022 AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DOS REQUERIDOS. 1. Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, na hipótese de os objetos das ações demarcatória e possessória serem distintos, o resultado de uma não cria obstáculos na execução da outra, sendo desnecessário o aguardo da correta delimitação da área para que a reintegração de posse seja cumprida. Precedentes. 1.1. A revisão do aresto impugnado no sentido pleiteado pelos recorrentes exigira derruir a convicção formada nas instâncias ordinárias a respeito da identificação da área disputada, além de modificar o quadro fático quanto à presença dos requisitos de validade e fatores de eficácia do negócio jurídico celebrado entre o antigo proprietário e o autor da demanda. Incidência das Súmulas 5 e 7/STJ. 2. Para que se configure o 35 prequestionamento da matéria, há que se extrair do acórdão recorrido pronunciamento de tese jurídica em torno dos dispositivos legais tidos como violados, a fim de que se possa, nesta instância especial, definir se foi correta a interpretação conferida à legislação federal. 3. A reforma do acórdão impugnado exigira ilidir a convicção a respeito da razoabilidade dos honorários, considerando a complexidade da demanda. Incidência da Súmula 7/STJ. 4. Agravo Interno desprovido. 2.6.11. AÇÕES AFINS AOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS 2.6.11.1. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE Era regulada pelo CPC/1939, no art. 381. A hipótese mais frequente é aquela em que o autor da ação é proprietário da coisa, mas não possuidor, por haver recebido do alienante só o domínio, pela escritura, mas não a posse. Como nunca teve posse, não pode valer -se dos interditos. O Código atual não tratou da imissão na posse. Nem por isso ela deixou de existir, pois poderá ser ajuizada sempre que houver uma pretensão à imissão na posse de algum bem. A referida ação tem por fundamento o domínio. É, portanto, ação dominial, de natureza petitória, pois o autor invoca o jus possidendi, pedindo uma posse ainda não entregue. ● Imissão na posse e reivindicatória São ações distintas. A reivindicatória cuida de domínio e posse que se perderam por ato injusto de outrem. Na imissão, a situação é diversa. O proprietário quer a posse que nunca teve. Não perdeu o domínio, nem a posse. Tem o domínio e quer ter a posse também, na qual nunca entrou. 2.6.11.2. AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA Reveste -se de caráter possessório pelo fato de poder ser utilizada também pelo possuidor. Seu objetivo é impedir a continuação de obra que prejudique o prédio vizinho ou esteja em desacordo com os regulamentos administrativos. Tem como pressupostos: a. que a obra seja “nova”, isto é, não se encontre em fase final; b. que os prédios sejam vizinhos, contíguos. A contiguidade não deve ter caráter absoluto, podendo abranger não só os prédios confinantes, como os mais afastados, desde que sujeitos às consequências do uso nocivo das propriedades que os rodeiam. A legitimidade ativa compete: a. ao proprietário; b. ao condômino; e c. ao Município, aos órgãos da administração pública federais e estaduais, bem como às entidades estatais, autárquicas e paraestatais. PROCEDIMENTO: Na inicial, o nunciante requererá o embargo para que fique suspensa a obra, bem como a cominação de pena para o caso de inobservância do preceito e a condenação em perdas e danos, podendo o juiz conceder o embargo liminarmente ou após justificação prévia. O oficial de justiça intimará o construtor e os operários a que não 36 continuem os trabalhos, citando o proprietário para contestar a ação em quinze dias, observando-se a seguir o procedimento comum. 2.6.11.3. EMBARGOS DE TERCEIRO Nos embargos de terceiro, proprietário e possuidor, podem ser utilizados para a defesa da posse. Diferem das possessórias porque nestas a apreensão do bem é feita por um particular, enquanto naqueles é efetuada por oficial de justiça, em cumprimento de ordem judicial. Mesmo sendo um ato lícito, prejudica a posse do terceiro que não é parte no processo, legitimando -o à propositura dos embargos (CPC, art. 674). PRESSUPOSTOS a) ato de apreensão judicial; b) condição de proprietário ou possuidor do bem; c) qualidade de terceiro; d) observância do prazo do art. 675 do CPC. Equipara -se a terceiro a parte que, posto figure no processo, defende bens que, pelo título de sua aquisição ou pela qualidade em que os possuir, não podem ser atingidos pela apreensão judicial. Considera -se também terceiro o cônjuge quando defende a posse dos bens dotais, próprios, reservados ou de sua meação (CPC, art. 674, § 2º, IV). LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA: A legitimidade ativa ad causam é de quem pretende ter direito sobre o bem que sofreu a constrição. A passiva é do exequente, ou do promovente do processo em que ocorreu o ato de apreensão judicial. A mulher casada pode defender a sua meação, mesmo intimada da penhora e não tendo ingressado, no prazo legal, com os embargos do devedor. CASO ESPECIAL: É admissível, ainda, a oposição de embargos de terceiro para: “o credor com garantia real obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos” (CPC, art. 674, § 2º, IV). FRAUDE CONTRA CREDORES: Proclama a Súmula 195 do STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”. O reconhecimento da fraude, portanto, só pode ser feito na ação pauliana. PROCEDIMENTO: Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença (CPC, art. 675). No processo de execução, podem ser opostos até cinco dias depois da arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. Os embargos devem ser contestados no prazo de quinze dias. Findo esse prazo, o procedimento será o comum. 2.6.12. OS DEMAIS EFEITOS DA POSSE 2.6.12.1. NOÇÃO DE FRUTOS Os frutos são acessórios, pois dependem da coisa principal. Distinguem -se dos produtos, que também são coisas acessórias, porque não exaurem a fonte, quando colhidos. Reproduzem -se periodicamente, ao contrário dos produtos. Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Os frutos devem pertencer ao proprietário, 37 como acessórios da coisa. Essa regra, contudo, não prevalece quando o possuidor está possuindo de boa -fé, isto é, com a convicção de que é seu o bem possuído (CC, art. 1.214). São espécies de frutos: 1. Quanto à origem: a. naturais; b. industriais. c. civis. 2. Quanto ao seu estado: a. pendentes; b. percebidos, ou colhidos; c. estantes; d. percipiendos; e. consumidos. REGRAS DA RESTITUIÇÃO 1. o possuidor de boa -fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos (CC, art. 1.214); 2. os frutos naturais e industriais reputam -se colhidos e percebidos logo que são separados; os civis reputam -se percebidos dia por dia (art. 1.215); 3. o possuidor de má -fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má -fé; tem direito às despesas da produção e custeio. 2.6.12.2. RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA O possuidor de boa -fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa, ou seja, se não agir com dolo ou culpa (CC, art. 1.217). O possuidor de má -fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, aindaque acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante (art. 1.218). 2.6.12.3. REGRAS DA INDENIZAÇÃO O possuidor de boa -fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá -las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis, conforme o Código Civil, art. 1.219. Leitura importante dos artigos seguintes: Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. INDENIZAÇÃO DAS BENFEITORIAS: Benfeitorias são melhoramentos feitos em coisa já existente. Distinguem -se das acessões industriais, que constituem coisas novas, como a edificação de uma casa. Dessa forma, o possuidor tem o direito de ser indenizado pelos melhoramentos que introduziu no bem. As benfeitorias podem ser: 38 a. necessárias: que têm por fim conservar o bem; b. úteis: que aumentam ou facilitam o uso do bem; c. voluptuárias: de mero deleite ou recreio. 2.6.12.4. DIREITO DE RETENÇÃO Consiste o ius retentionis num meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a faculdade de continuar a deter a coisa alheia, mantendo -a em seu poder até ser indenizado pelo crédito, que se origina, via de regra, das benfeitorias ou de acessões por ele feitas. A jurisprudência prevê outras hipóteses em que pode ser exercido. O direito de retenção é reconhecido pela jurisprudência como o poder jurídico direto e imediato de uma pessoa sobre uma coisa, com todas as características de um direito real. Via de regra, o direito de retenção deve ser alegado em contestação para ser reconhecido na sentença (Vide o § 2º do art. 538 do CPC). 3. PROPRIEDADE 3.1 CONCEITO E ATRIBUTOS 3.1.1. CONCEITO Segundo o professor Rubem Valente55 “é um direito complexo, que consiste em um feixe de atributos (poderes), consubstanciados nas faculdades 55 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 432. de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa de quem injustamente a detenha ou possua (art. 1.228). Dessa forma, quem possui os quatro poderes e o título tem a propriedade. Se não possuir o título, goza do domínio. Aquele que somente tem um poder, detém a posse. As faculdades do direito de propriedade, segundo Rubem Valente56: a. DIREITO DE USAR (IUS UTENDI): é a faculdade do proprietário servir-se da coisa de acordo com a sua destinação econômica; b. DIREITO DE GOZAR (IUS FRUENDI): consiste na exploração econômica da coisa, mediante a extração de frutos (há renovação constante à medida que são retirados) e produtos (vão se exaurindo quando extraídos, sem possibilidade de renovação). Também inserido no ius fruendi está o direito dos proprietários às pertenças; c. DIREITO DE DISPOR (IUS ABUTENDI): direito de alterar a própria substância da coisa. A disposição pode ser material ou jurídica; d. DIREITO DE REIVINDICAR (IUS PERSEQUENDI): é o elemento externo da propriedade por representar a faculdade de excluir terceiros de indevida ingerência sobre a coisa, permitindo que o proprietário mantenha a sua dominação sobre o bem. 56 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 432. 39 Segundo o professor Flávio Tartuce, “é correto dizer que a propriedade pode ser entendida como um recipiente cilíndrico, ou como uma garrafa, a ser preenchido por quatro camadas, que são os atributos de Gozar, Reaver, Usar, Reivindicar. São quatro atributos que estão presos ou aderidos à propriedade, o que justifica a utilização do acróstico GRUD. O desenho a seguir demonstra bem essa simbologia57”. Se determinada pessoa tiver todos os atributos relativos à propriedade plena. “Eventualmente, os referidos atributos podem ser distribuídos entre pessoas distintas, havendo a 57 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 163. propriedade restrita. Justamente por isso, a propriedade admite a seguinte classificação58”: a. PROPRIEDADE PLENA OU ALODIAL: “é a hipótese em que o proprietário tem consigo os atributos de gozar, usar, reaver e dispor da coisa. Todos esses caracteres estão em suas mãos de forma unitária, sem que terceiros tenham qualquer direito sobre a coisa. Em outras palavras, pode-se afirmar didaticamente que todos os elementos previstos no art. 1.228 do CC/2002 estão reunidos nas mãos do seu titular ou que todas as cartas estão em suas mãos”. b. PROPRIEDADE LIMITADA OU RESTRITA: “é a situação em que recai sobre a propriedade algum ônus, caso da hipoteca, da servidão ou usufruto; ou quando a propriedade for resolúvel, dependente de condição ou termo, nos termos dos arts. 1.359 e 1.360 do CC/2002. O que se percebe, portanto, é que um ou alguns dos atributos da propriedade passam a ser de outrem, constituindo-se em direito real sobre coisa alheia”. “No último caso, havendo a divisão entre os referidos atributos, o direito de propriedade é composto de duas partes destacáveis59”: a. Nua-propriedade: “corresponde à titularidade do domínio, ao fato de ser proprietário e de ter o bem em seu nome. Costuma-se dizer que a nua-propriedade é aquela despida dos atributos do uso e da fruição (atributos diretos ou imediatos). A pessoa que a detém recebe o nome de nu-proprietário, senhorio 59Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 163. 58Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 163. 40 direto ou proprietário direto”. b. Domínio útil – “corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da coisa. Dependendo dos atributos que possui, a pessoa que o detém recebe uma denominação diferente: superficiário, usufrutuário, usuário, habitante, promitente comprador etc”. 3.1.2. ATRIBUTOS Segundo o professor Rubem Valente, são atributos da propriedade60: a. EXCLUSIVIDADE: “Uma determinada coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneidade a duas ou mais pessoas, em idêntico lapso temporal. Portanto, o proprietário pode excluir terceiros da atuação indevida sobre a coisa mediante a reivindicatória”; b. PERPETUIDADE: “A propriedade tem duração ilimitada e subsiste independentemente do exercício de seu titular. Por este atributo, a propriedade é transmitida por direito hereditário aos sucessores. No entanto, pode a perpetuidade ser limitada quando não for cumprida a função social (por exemplo, desapropriação sanção diante do sucessivo descumprimento das obrigações determinadas pelo poder público municipal para atender a função social do imóvel, conforme o art. 8º do Estatuto da Cidade – Lei n. 10.257/2001; e arrecadação de imóveis urbanos abandonados, de acordo com o art. 1.276 do Código Civil) ou quando, em sua origem, o atributo for limitado (por exemplo, 60 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 433 propriedade resolúvel)”; c. ELASTICIDADE E CONSOLIDAÇÃO: “Pode haver o desmembramento temporário dos poderes da propriedade (direitos reais sobre a coisa alheia), sem que seja desnaturado o direito de propriedade. Diz-se, com isso, que o domínio é distendido, amplamente elástico”. 3.2. EVOLUÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE O direito de propriedaderemonta às próprias origens do direito, uma vez que, a propriedade se constituiu como um dos mais importantes direitos subjetivos da humanidade. De forma sucinta, um dos primeiros registros sobre o direito de propriedade como instituição jurídica, ocorre no direito romano, no qual a propriedade tinha um caráter individualista. Na época da Idade Média, passou por uma fase peculiar, com dualidade de sujeitos, tinha o dono e o que explorava economicamente o imóvel, pagando ao primeiro pelo seu uso. Posteriormente, após a Revolução Francesa, assumiu feição marcadamente individualista. Atualmente, o direito de propriedade desempenha uma função social, devendo ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais, e de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas (CC, art. 1.228; CF, art. 5º, XXIII). 3.2.1. FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE A função social da posse é também chamada 41 de teoria sociológica da posse ou, como prefere Miguel Reale, posse trabalho, e tem como mentor o professor Espanhol Antônio Hernández Gil. Costumamos estudar a função social da propriedade, que encontra previsão tanto na Constituição Federal (art. 5º, XXII e XXIII) quanto no Código Civil. No entanto, no que se refere à função social da posse, não há previsão legal expressa. Mas, na exposição de motivos do Códex Civilista, o professor Miguel Reale aponta que o nosso Código a acolheu implicitamente. A função social da posse possui caráter de substitutividade em relação à função social da propriedade. É dizer, ela existe quando o proprietário do bem não cumpre a função social da coisa, mas um terceiro (o possuidor) cumpre em seu lugar. Pode-se apontar como exemplos de estímulo ao cumprimento da função social da posse as previsões contidas nos parágrafos únicos dos arts. 1.238 e 1.242, do CC, que assim dispõem: Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. No entanto, talvez o melhor exemplo implícito de estímulo à função social da posse seja a desapropriação judicial indireta, também chamada de desapropriação privada, cuja previsão legal é o art. 1.228, § 4º, do CC. Por meio dela, o proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. De acordo com o STJ, também: a ação possessória pode ser convertida em indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse sentido - a fim de assegurar tutela alternativa equivalente ao particular, quando a invasão coletiva consolidada inviabilizar o cumprimento do mandado reintegratório pelo município. STJ. 1ª Turma. REsp 1.442.440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619). Perceba que o instituto não se confunde com a usucapião, eis que o art. 1.228, § 5º, do CC, prevê indenização ao proprietário do bem, que deve ser justa e paga em dinheiro. Para não confundir, vejamos as diferenças na tabela abaixo: 42 DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL INDIRETA CC – ARTS. 1.228, §§ 4º E 5º USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO COLETIVO ESTATUTO DA CIDADE – ARTS. 10 A 12 Extensa área em imóvel urbano ou rural Núcleos Urbanos Informais, não superior a 250 metros quadrados Prazo de 5 anos Prazo de 5 anos Considerável número de pessoas Composse (pluralidade de possuidores). Antes da Lei 13.465/17, exigia-se que a população fosse de baixa renda, mas o artigo com disposição nesse sentido foi revogado. Posse de boa-fé Posse de boa ou de má-fé Obras e serviços relevantes considerados pelo juiz Antes da Lei 13.465/17, exigia-se finalidade de moradia, no entanto o artigo anterior foi revogado. O requisito que remanesceu foi o de os possuidores não serem proprietários de outro imóvel urbano ou rural. Pagamento de indenização Sem contraprestação A legalização ocorre em ação autônoma ou em matéria de defesa A legalização ocorre em ação autônoma ou em matéria de defesa Aprofundando o tema, listamos abaixo alguns enunciados sobre a desapropriação judicial indireta, que podem ser fundamentais numa prova discursiva, vejamos: ENUNCIADO 82 DO CJF É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil. ENUNCIADO 305 DO CJF Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem relevante interesse público, determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos. ENUNCIADO 307 DO CJF Na desapropriação judicial (art. 1.228, § 4º), poderá o juiz determinar a intervenção dos órgãos públicos competentes para o licenciamento ambiental e urbanístico. ENUNCIADOS 308 E 84 DO CJF A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil. A defesa fundada no direito 43 de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser arguida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da indenização. ENUNCIADO 240 DO CJF A justa indenização a que alude o § 5º do art. 1.228 não tem como critério valorativo, necessariamente, a avaliação técnica lastreada no mercado imobiliário, sendo indevidos os juros compensatórios. ENUNCIADO 241 DO CJF O registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a transferência da propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no interesse social (art. 1.228, § 5º), é condicionada ao pagamento da respectiva indenização, cujo prazo será fixado pelo juiz. ENUNCIADO 311 DO CJF Caso não seja pago o preço fixado para a desapropriação judicial, e ultrapassado o prazo prescricional para se exigir o crédito correspondente, estará autorizada a expedição de mandado para registro da propriedade em favor dos possuidores. ENUNCIADOS 304 E 83 DO CJF São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do Código Civil às ações reivindicatórias relativas a bens públicos dominicais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I Jornada de Direito Civil, no que concerne às demais classificações dos bens públicos. Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder Público, não são aplicáveis as disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil. 3.3. FUNDAMENTO JURÍDICO61 1. TEORIA DA OCUPAÇÃO: é a mais antiga. Vislumbra o direito de propriedade na ocupaçãodas coisas, quando não pertenciam a ninguém (res nullius); 2. TEORIA DA ESPECIFICAÇÃO: apoia -se no trabalho. Inspirou os regimes socialistas; 3. TEORIA DA LEI (DE MONTESQUIEU): sustenta que a propriedade é instituição do direito positivo, ou seja, existe porque a lei a criou e a garante; 4. TEORIA DA NATUREZA HUMANA: prega que a propriedade é inerente à natureza humana. Não deriva do Estado e de suas leis, mas lhes antecede, como direito natural. É a que conta com o maior número de adeptos, especialmente a Igreja Católica. 3.4. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE O direito de propriedade apresenta algumas características que são enumeradas de forma 61 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 525. 44 uniforme pela doutrina, ou seja, o direito de propriedade é: a. ABSOLUTO: Conforme ensina o professor Luiz Antonio Scavone Junior62, o direito de propriedade é considerado absoluto “na medida em que o proprietário tem o mais amplo poder jurídico sobre aquilo que é seu. Nela estão insertos todos os atributos dos direitos reais.” b. EXCLUSIVO: Ao passo que a propriedade de um afasta a propriedade do outro, sendo que uma coisa não comporta dois proprietários por inteiro. c. PERPÉTUO: o direito não se extingue pelo não uso ou pela não fruição do bem, em outras palavras, a inércia não extingue o direito de propriedade. d. ILIMITADO: “O caráter ilimitado ou pleno da propriedade decorre, portanto, de suas características, posto que, se o direito é ilimitado, o é porquanto exclusivo, perpétuo e principalmente absoluto.63” ⚠ATENÇÃO Atualmente o caráter ilimitado do direito de propriedade deve ser analisado com cuidado. “Ocorre que hoje a lei restringe este direito, em tese ilimitado, seja em razão de limitações específicas, seja através da função social da propriedade.64” Para o professor Cristiano Sobral, trata-se de um direito limitado, uma vez que "o proprietário fica limitado aos poderes impostos pela ordem constitucional. Não se pode afirmar que a propriedade é ilimitada.” 64http://genjuridico.com.br/2019/12/16/caracteristicas-da-propriedade/ 63 http://genjuridico.com.br/2019/12/16/caracteristicas-da-propriedade/ 62 http://genjuridico.com.br/2019/12/16/caracteristicas-da-propriedade/ 3.5. AÇÃO REIVINDICATÓRIA65 PRESSUPOSTOS a. A titularidade do domínio, pelo autor, da área reivindicanda; b. A individuação da coisa; c. A posse injusta do réu (desprovida de título). NATUREZA JURÍDICA: Tem caráter essencialmente dominial e por isso só pode ser utilizada pelo proprietário, por quem tenha jus in re. É, portanto, ação real que compete ao senhor da coisa. LEGITIMIDADE ATIVA a. Compete a reivindicatória ao senhor da coisa, ao titular do domínio; b. Não se exige que a propriedade seja plena. Mesmo a limitada, como ocorre nos direitos reais sobre coisas alheias e na resolúvel, autoriza a sua propositura; c. Cada condômino pode, individualmente, reivindicar de terceiro a totalidade do imóvel (CC, art. 1.314); d. O compromissário comprador, que pagou todas as prestações, possui todos os direitos elementares do proprietário e dispõe, assim, de título para embasar ação reivindicatória. LEGITIMIDADE PASSIVA a. A ação deve ser endereçada contra quem 65 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 525. 45 está na posse ou detém a coisa, sem título ou suporte jurídico; b. A boa -fé não impede a caracterização da injustiça da posse, para fins de reivindicatória; c. Ao possuidor direto, citado para a ação, incumbe a nomeação à autoria do proprietário (CPC, art. 338). 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-MG (Ano: 2022, FGV) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”: A propositura de ação reivindicatória é um direito assegurado ao proprietário do bem imóvel, possuído ou detido injustamente por terceiro. A esse respeito, assinale a afirmativa correta. a. Se o proprietário age com boa fé objetiva, respeitando a função social da propriedade e amparado pela autonomia privada, dispensa-se prova do domínio do imóvel para propor ação reivindicatória, bastando que detenha justo título definido em lei. b. Para propor ação reivindicatória, dotada de caráter eminentemente dominial, o autor deverá apresentar prova inconteste da propriedade do imóvel, demonstrar a posse injusta do réu e individuar a área objeto da controvérsia, com seus limites e confrontações. c. Para propor ação reivindicatória, dotada de caráter eminentemente dominial, o autor deverá apresentar prova inconteste da propriedade do imóvel e demonstrar a posse injusta do réu, sendo facultada a individuação da área objeto da controvérsia, com seus limites e confrontações, no curso do processo. d. Para propor ação reivindicatória, dotada de caráter eminentemente dominial, o autor deverá apresentar prova inconteste da propriedade do imóvel e demonstrar a posse injusta do réu, sendo facultada a individuação da área objeto da controvérsia, com seus limites e confrontações, na fase de execução da sentença que julgar procedente o pedido. 3.5.1. OUTROS MEIOS DE DEFESA DA PROPRIEDADE66 AÇÃO NEGATÓRIA: É cabível quando o domínio do autor, por um ato injusto, esteja sofrendo alguma restrição por alguém que se julgue com um direito de servidão sobre o imóvel. AÇÃO DE DANO INFECTO: Tem caráter preventivo e cominatório, como o interdito proibitório, e pode ser oposta quando haja fundado receio de perigo iminente, em razão de ruína do prédio vizinho ou vício na sua construção (CC, art. 1.280). Cabe também nos casos de mau uso da propriedade vizinha. 3.6. DESCOBERTA O instituto da descoberta trata-se do achado de coisa perdida por seu dono, sendo que aquele que a encontra (descobridor) tem a obrigação de restituí-la ao seu dono, que é o seu legítimo possuidor, nos termos do art. 1.233 e seguintes do Código Civil. Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o 66 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 525. 46 descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos. Vale ressaltar que a descoberta não é um modo de aquisição de propriedade, sendo que a devolução da coisa ao dono tem relação direta com o princípio da vedação ao enriquecimento sem causa. 3.7. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE 3.7.1. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL67 HIPÓTESES LEGAIS (CC, arts. 1.239/1.259 e 1.784) a. usucapião; Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. 67 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição).Editora Saraiva, 2022. p. 530. b. registro do título de transferência no Registro do Imóvel; c. acessão; Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro. d. direito hereditário. Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À CAUSA OU PROCEDÊNCIA DA AQUISIÇÃO a. ORIGINÁRIA: não há transmissão de um sujeito para outro, como ocorre na acessão natural e na usucapião; b. DERIVADA: a aquisição resulta de uma relação negocial entre o anterior proprietário e o adquirente. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OBJETO a. TÍTULO SINGULAR: quando tem por objeto bens individualizados, particularizados; b. TÍTULO UNIVERSAL: quando a transmissão da propriedade recai num patrimônio, como 47 ocorre na sucessão hereditária (única forma admitida pelo nosso direito). 3.7.2. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL68 1. USUCAPIÃO69 ORDINÁRIA adquirirá a propriedade da coisa móvel quem a possuir como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa -fé (CC, art. 1.260). EXTRAORDINÁRIA exige apenas posse por 5 anos, independentemente de título ou boa -fé. Aplica -se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244 (CC, art. 1.262). 2. OCUPAÇÃO:70 é modo originário de aquisição de bem móvel que consiste na tomada de posse de coisa sem dono, com a intenção de se tornar seu proprietário. Dispõe o art. 1.263 do CC: Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. 70 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 595. 69 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 595. 68 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 595. 3. ACHADO DE TESOURO:71 Tesouro é o depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória. Se alguém o encontrar em prédio alheio, dividir -se -á por igual entre o proprietário deste e o que o achar casualmente (CC, art. 1.264). Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente. Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado. Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor. 4. TRADIÇÃO72: Dispõe o art. 1.267 do CC que “a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição”. Mas esta se subentende “quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico” (parágrafo único). São espécies de tradição: a) real; 72 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 595. 71 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 595. 48 b) simbólica; c) ficta. 5. ESPECIFICAÇÃO:73 Dá -se a especificação quando uma pessoa, trabalhando em matéria -prima, obtém espécie nova. A espécie nova será do especificador, se a matéria era sua, ainda que só em parte, e não se puder restituir à forma anterior (CC, art. 1.269). 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PC-PB (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerado gabarito da questão a assertiva prevista na letra “a”: Assinale a opção correspondente à modalidade de aquisição de propriedade móvel que ocorre quando indivíduo que, enquanto trabalhando em matéria-prima em parte alheia, acaba obtendo nova espécie, sendo desta considerado proprietário. a. especificação b. usucapião c. achado do tesouro d. confusão e. ocupação 6. CONFUSÃO, COMISTÃO E ADJUNÇÃO74: 1. confusão é a mistura de coisas líquidas; 2. comistão é a mistura de coisas sólidas ou secas; 3. adjunção é a justaposição de uma coisa a outra. 74 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 606. 73 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 595. 3.8. DA USUCAPIÃO “Usucapião é modo de aquisição da propriedade e de outros direitos reais pela posse prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais. É também chamada de prescrição aquisitiva”75. São pressupostos para a ocorrência da usucapião: a. coisa hábil ou suscetível de usucapião; b. posse; c. decurso do tempo; d. justo título; e e. boa -fé. 3.8.1. ESPÉCIES DA USUCAPIÃO 3.8.1.1. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. EXTRAORDINÁRIA GERAL Tempo: 15 anos Bem: Imóvel (rural ou urbano) qualquer que seja 75 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 563. 49 a área Requisitos: a. ânimo de dono; b. posse mansa e pacífica; c. posse exercida de forma contínua, ininterrupta. ⚠ Dispensam -se os requisitos do título e da boa -fé (CC, art. 1.238). EXTRAORDINÁRIA ESPECIAL Tempo: 10 anos Bem: Imóvel (rural ou urbano) qualquer que seja a área Requisitos: a. ânimo de dono; b. posse mansa e pacífica; c. posse exercida de forma contínua, ininterrupta; d. estabelecer no imóvel a sua moradia habitual ou nele realizar obras ou serviços de caráter produtivo. ⚠ Dispensam -se os requisitos do título e da boa -fé (CC, art. 1.238). 3.8.1.2. USUCAPIÃO ORDINÁRIA Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. ORDINÁRIA GERAL Tempo: 10 anos Bem: Imóvel (rural ou urbano) qualquer que seja a áreaRequisitos: a. ânimo de dono; b. posse mansa e pacífica; c. posse exercida de forma contínua, ininterrupta. d. É necessário provar a boa-fé. ⚠ Dispensam -se os requisitos do justo título e da boa -fé (CC, art. 1.238). ORDINÁRIA ESPECIAL Tempo: 5 anos Bem: Imóvel (rural ou urbano) qualquer que 50 seja a área Requisitos: a. ânimo de dono; b. posse mansa e pacífica; c. posse exercida de forma contínua, ininterrupta. d. É necessário provar a boa-fé; e. o imóvel deve ter sido adquirido de forma onerosa; f. os possuidores tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. ⚠ Dispensam -se os requisitos do justo título e da boa -fé (CC, art. 1.238). 3.8.1.3. USUCAPIÃO ESPECIAL Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. RURAL (PRO LABORE) Tempo: 5 anos Bem: área rural contínua, não excedente de 50 hectares Requisitos: a. ânimo de dono; b. posse mansa e pacífica; c. posse exercida de forma contínua, ininterrupta; d. não ser proprietário de outro imóvel; e. tornar a área produtiva com seu trabalho e nela tendo sua morada. 51 ⚠ Independe de justo título e boa -fé e não pode recair sobre bens públicos (CF, art. 191; CC, art. 1.239). URBANA Tempo: 5 anos Bem: posse de área urbana de até 250 m² Requisitos: a. ânimo de dono; b. posse mansa e pacífica; c. posse exercida de forma contínua, ininterrupta; d. não ser proprietário de outro imóvel; e. utilização do imóvel para moradia do possuidor ou de sua família. ⚠ Não pode recair sobre imóveis públicos, nem ser reconhecido ao novo possuidor mais de uma vez (CF, art. 183; CC, art. 1.240). 3.8.1.4. USUCAPIÃO FAMILIAR Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. FAMILIAR Tempo: 2 anos Bem: posse de área urbana de até 250 m² Requisitos: a. ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, cuja a propriedade dividia com o ex-cônjuge; b. utiliza o imóvel para sua moradia ou de sua família; c. não é proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-TO (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”: Joaquina, casada em regime de comunhão parcial de bens com Reinaldo, deixou o seu lar e foi morar em uma casa abrigo para vítimas de violência doméstica e familiar, em razão de ter sido vítima de violência doméstica praticada por seu marido. O imóvel, de 120m², estava registrado apenas no nome dela, mas fora adquirido onerosamente na constância do casamento. Reinaldo não tinha imóvel registrado em seu nome e utilizava o bem para a sua moradia. 52 Depois de quatro anos, antes do divórcio, Joaquina acionou o Poder Judiciário para retirar Reinaldo do imóvel. A partir dessa situação hipotética, assinale a opção correta. a. Joaquina abandonou seu lar, então Reinaldo usucapiu o imóvel. b. Para configurar a usucapião por abandono do lar, faz-se necessário o transcurso do prazo de cinco anos de posse mansa e pacífica. c. Não é possível a caracterização da usucapião por abandono do lar, pois a violência doméstica sofrida por Joaquina descaracteriza a voluntariedade do abandono. d. A contagem do prazo para a usucapião por abandono do lar inicia-se apenas após a sentença de divórcio, e não com a separação de fato. e. Reinaldo não tinha direitos sobre o bem, pois o imóvel estava registrado apenas em nome de Joaquina. 3.8.1.5. USUCAPIÃO COLETIVA O art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) prevê também a usucapião coletiva, de inegável alcance social, de áreas urbanas com mais de 250 m², ocupadas por população de baixa renda para sua moradia por 5 anos, onde não for possível identificar os terrenos ocupados individualmente. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Federal Substituto - TRF 4ª Região (Ano: 2022, TRF 4ª Região) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”: Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa CORRETA. I – A aquisição de bem imóvel por usucapião poderá ocorrer sob a forma judicial ou extrajudicial. II – Não é permitida a acessão de posses para fins de contagem do tempo exigido para a usucapião. III – Na usucapião familiar, será possível adquirir a propriedade dividida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, mesmo que seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. IV – A usucapião extraordinária exige, para sua configuração, a posse ad usucapionem bem como o lapso temporal, independentemente de boa-fé. a. Estão incorretas apenas as assertivas I e IV. b. Estão incorretas apenas as assertivas II e III. c. Estão incorretas apenas as assertivas II e IV. d. Estão corretas apenas as assertivas I e II. e. Estão corretas apenas as assertivas I e III. 3.9. PERDA DA PROPRIEDADE A perda da propriedade pode se dar de modo voluntário, como na alienação, na renúncia e no abandono. Pode ocorrer também de modo involuntário, como no caso de desapropriação e de perecimento. O art. 1.275 do CC, enumera de forma meramente exemplificativa: Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: I - por alienação; II - pela renúncia; III - por abandono; IV - por perecimento da coisa; V - por desapropriação. Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. 53 ALIENAÇÃO Dá -se a alienação por meio de contrato, ou seja, negócio jurídico bilateral. Em outras palavras, na alienação, o vendedor transmite a propriedade de um bem para outra pessoa. No caso bem for imóvel, é necessário o devido registro, por outro lado, se o bem for móvel, é necessária a tradição. RENÚNCIA A renúncia é ato unilateral pelo qual o titular transfere a propriedade a outra pessoa, devendo haver o seu registro. ABANDONO O abandono também é um ato unilateral, pelo qual o titular abre mão de seus direitos sobre a coisa. Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. §1º imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. §2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. PERECIMENTO DA COISA A perdapelo perecimento da coisa decorre da perda do objeto; DESAPROPRIAÇÃO Perde -se a propriedade imóvel pela desapropriação nos casos expressos na Constituição Federal. Se a Administração Pública deixa de utilizar o 54 imóvel desapropriado, não lhe dando a destinação mencionada no decreto de expropriação, exsurge a obrigação de oferecê -lo ao ex -proprietário, pelo preço atual da coisa (retrocessão). 3.10. DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL “A propriedade é resolúvel quando o título de aquisição está subordinado a uma condição resolutiva ou ao advento do termo. Nesse caso, deixa de ser plena, assim como quando pesam sobre ela ônus reais, passando a ser limitada”76. A aquisição da propriedade resolúvel poderá ser dotada de efeitos ex tunc ou ex nunc. EFEITO EX TUNC: se a causa da resolução da propriedade constar do próprio título constitutivo, conforme o art. 1.359 do CC. Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha. EFEITO EX NUNC: se a resolução se der por causa superveniente (art. 1.360). Ou seja, se alguém, por exemplo, receber um imóvel em doação e depois o alienar, o adquirente será considerado proprietário 76 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 685. perfeito se, posteriormente, o doador revogar a doação por ingratidão do donatário (art. 557). Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor. 3.11. DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA “Considera -se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor (CC, art. 1.361). Na alienação fiduciária em garantia, dá -se a transferência do domínio do bem móvel ao credor (fiduciário), em garantia do pagamento, permanecendo o devedor (fiduciante) com a posse direta da coisa”77. Conforme estabelece o art. 1.362 do CC, o contrato, que serve de título à propriedade fiduciária, deverá ter a forma escrita, podendo o instrumento ser público ou particular, e conterá ainda, o total da dívida, o prazo ou a época do pagamento, a taxa de juros, se houver e a descrição da coisa objeto da transferência. 3.11.1. REGULAMENTAÇÃO Conforme o art. 1.362 do Código Civil, o contrato, que serve de título à propriedade fiduciária, conterá: a. o total da dívida, ou sua estimativa; b. o prazo, ou a época do pagamento; c. a taxa de juros, se houver; 77 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 685. 55 d. a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação. O registro no Cartório de Títulos e Documentos confere existência legal à propriedade fiduciária, gerando oponibilidade a terceiros. 3.11.2. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO FIDUCIANTE78 1. ficar com a posse direta da coisa e o direito eventual de reaver a propriedade plena, com o pagamento da dívida; 2. purgar a mora, em caso de lhe ser movida ação de busca e apreensão; 3. receber o saldo apurado na venda do bem efetuada pelo fiduciário para satisfação de seu crédito; 4. responder pelo remanescente da dívida, se a garantia não se mostrar suficiente; 5. não dispor do bem alienado, que pertence ao fiduciário, embora possa ceder o direito eventual de que é titular; 6. entregar o bem, em caso de inadimplemento de sua obrigação, sujeitando -se ao pagamento de perdas e danos, como depositário infiel. 3.11.3. OBRIGAÇÕES DO CREDOR FIDUCIÁRIO79 A principal obrigação do credor fiduciário consiste em proporcionar ao alienante o financiamento a que se obrigou, bem como em 79 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 695. 78 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 685. respeitar o direito ao uso regular da coisa por parte deste. Vale lembrar que se o devedor está inadimplente, fica o credor obrigado a vender o bem, aplicando o preço no pagamento de seu crédito e acréscimos, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor, conforme art. 1.364, CC. Art. 1.364. Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor. Vale lembrar que, quando vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante, segundo o art. 1.366, CC. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-RS (Ano: 2022, FAURGS) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”: Assinale a alternativa correta dentre as afirmações abaixo, tendo em consideração as disposições do Código Civil vigente a respeito da propriedade fiduciária. a. Se a dívida não for paga no vencimento, o devedor tem a faculdade, como depositário, de entregar a coisa ao credor. b. Impaga a dívida no vencimento, é válida a cláusula contratual que faculta ao proprietário fiduciário, por decisão unilateral, ficar com a coisa alienada em garantia. c. Vencida e não paga a dívida, vendida a coisa alienada pelo credor fiduciário e sendo insuficiente o 56 produto daí resultante para saldar a dívida e as despesas de cobrança, o devedor continuará obrigado pelo restante. d. O devedor pode, com a anuência do credor, dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, somente antes do vencimento desta. e. O terceiro interessado que pagar a dívida se sub-rogará de pleno direito no crédito, mas não se sub-rogará na propriedade fiduciária. 3.11.4. PROCEDIMENTO DE AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO CONTRA O DEVEDOR INADIMPLENTE Pode o credor mover ação de busca e apreensão contra o devedor inadimplente, a qual poderá ser convertida em ação de depósito, caso o bem não seja encontrado. A sentença, de que cabe apelação apenas no efeito devolutivo, em caso de procedência da ação, não impedirá a venda extrajudicial do bem e consolidará a propriedade e a posse plena e exclusiva nas mãos do proprietário fiduciário. Se o bem não for encontrado, o credor poderá requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito. ⚠ ATENÇÃO O STF pôs fim à prisão civil do depositário infiel. 4. DO DIREITO DE VIZINHANÇA80 4.1. INTRODUÇÃO81 As regras que constituem o direito de vizinhança destinam -se a evitar e a compor eventuais conflitos de interesses entre proprietários de pré dios contíguos. São obrigações propter rem, que acompanham a coisa, vinculando quem quer que se encontre na posição de vizinho, transmitindo -se ao seu sucessor a título singular. 4.2. USO ANORMAL DA PROPRIEDADE Conforme explica Cristiano Sobral82 “O proprietário ou possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam provocadas pela utilização de propriedade vizinha. Caso esse direito não seja respeitado, poderá o lesado se valer do Judiciário para fazer cessar a nocividade. Essa nocividade consisteno uso anormal da propriedade por todo aquele que põe em risco a segurança, a saúde ou o sossego do vizinho. O uso normal pode ser conceituado de forma contrária, ou seja, não traz nenhum prejuízo ao vizinho”. Espécies de atos nocivos: a. Ilegais: quando configurar ato ilícito; b. Abusivos: aqueles que causam incômodo ao vizinho, mas estão nos limites da propriedade (barulho excessivo, por exemplo); c. Lesivos: causam dano ao vizinho, porém não 82 Cristiano Vieira Sobral Pinto. DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO. 13º ed, 2021. Juspodivm. 81 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 634. 80 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 634. 57 decorre de uso anormal da propriedade (indústria cuja fuligem polui o ambiente, por exemplo). Os critérios para aferir a normalidade do ato são: a. verificar se o incômodo causado se contém ou não no limite do tolerável; b. examinar a zona onde ocorre conflito, bem como os usos e costumes locais; c. considerar a anterioridade da posse (pré -ocupação). E em consequência, são soluções para a composição dos conflitos: 1. Se o dano for intolerável, deve o juiz, primeiramente, determinar que seja reduzido a proporções normais (CC, art. 1.279); Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis. 2. Se não for possível a redução, então determinará o juiz a cessação da atividade, se for de interesse particular; 3. Se a atividade danosa for de interesse social, não se determinará a sua cessação, mas se imporá ao seu responsável a obrigação de indenizar o vizinho (CC, art. 1.278). Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal. 4.3. ÁRVORES LIMÍTROFES “A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume -se pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes (CC, art. 1.282). Institui -se, assim, a presunção de condomínio, que admite, no entanto, prova em contrário”83. Conclui Cristiano Sobral84, “enfim, a lei estabelece sobre essas árvores limítrofes um condomínio legal, necessário. Por força do art. 1.283 da Lei, as raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido. Trata-se de direito não absoluto, mesmo havendo fundamentação legal. Tal direito deve ser utilizado com cautela para que não fique configurado o abuso de direito. Ainda a Lei menciona que os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular.” 4.4. PASSAGEM FORÇADA O Código Civil assegura ao proprietário de prédio que se achar encravado, de forma natural e absoluta, sem acesso a via pública, nascente ou porto, o direito de, mediante pagamento de indenização, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário (art. 1.285). Não se considera encravado o imóvel que tenha outra saída, ainda que difícil e penosa. A passagem forçada é instituto do direito de vizinhança e não se confunde com servidão de 84 Cristiano Vieira Sobral Pinto. DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO. 13º ed, 2021. Juspodivm. 83 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 633. 58 passagem, que constitui direito real sobre coisa alheia. Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário. § 1o Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e facilmente se prestar à passagem. § 2o Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca o acesso a via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a passagem. § 3o Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando, antes da alienação, existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido, depois, a dar uma outra. 4.5. DA PASSAGEM DE CABOS E TUBULAÇÕES O proprietário é ainda obrigado a tolerar, mediante indenização, a passagem, pelo seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública (luz, água, esgoto, p. ex.), em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for impossível ou excessivamente onerosa (CC, art. 1.286). Art. 1.286. Mediante recebimento de indenização que atenda, também, à desvalorização da área remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for impossível ou excessivamente onerosa. Parágrafo único. O proprietário prejudicado pode exigir que a instalação seja feita de modo menos gravoso ao prédio onerado, bem como, depois, seja removida, à sua custa, para outro local do imóvel. 4.6. DAS ÁGUAS O Código Civil disciplina a utilização de aqueduto ou canalização das águas no art. 1.293, permitindo a todos canalizar pelo prédio de outrem as águas a que tenham direito, mediante prévia indenização ao proprietário, não só para as primeiras necessidades da vida como também para os serviços da agricultura ou da indústria, escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos. 4.7. DOS LIMITES ENTRE PRÉDIOS85 Estabelece o Código Civil regras para demarcação dos limites entre prédios, dispondo que o proprietário “pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo -se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas” (art. 1.297). A ação apropriada é a demarcatória (CPC, arts. 569/587). 4.8. DIREITO DE TAPAGEM86 A lei concede ao proprietário o direito de 86 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 633. 85 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 633. 59 cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, quer seja urbano, quer rural (CC, art. 1.297). Tem -se entendido que a divisão das despesas deve ser previamente convencionada. Quanto aos tapumes especiais, destinados à vedação de animais de pequeno porte, ou ao adorno da propriedade ou sua preservação, entende -se que a sua construção e conservação cabe unicamente ao interessado, que provocou a necessidade deles. 4.9. DIREITO DE CONSTRUIR87 4.9.1. LIMITAÇÕES E RESPONSABILIDADES Pode o proprietário levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos (CC, art. 1.299). A ação mais comum entre vizinhos é a de indenização. A responsabilidade pelos danos causados a vizinhos em virtude de construção é objetiva. Podem ainda ser utilizadas: ação demolitória (CC, arts. 1.280 e 1.312), cominatória, de nunciação de obra nova, de caução de dano infecto, possessória etc. 4.9.2. DEVASSAMENTO DA PROPRIEDADE VIZINHA É defeso “abrir janelas,aos Direitos Reais e ao Direito das Coisas, entendidas as expressões como extensões de um campo metodológico4”. 1.2.2. TEORIA REALISTA OU CLÁSSICA Na teoria realista ou clássica “o direito real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra todos (erga omnes). Assim, o direito real opõe-se ao direito pessoal, pois o último traz uma relação pessoa-pessoa, exigindo-se determinados comportamentos.5” 1.3. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS Segundo o professor Rubem Valente6, são características dos direitos reais: a) ABSOLUTISMO: “o direito das coisas é exercido contra todos, ou seja, possui o caráter erga omnes, sendo oponíveis contra todos os envolvidos”. b) SEQUELA: “da característica do absolutismo gera-se o direito de sequela, que consiste no direito de perseguir a coisa objeto do direito, se ela for subtraída do sujeito (DONIZETTI; QUINTELLA, 2014, p. 659). O direito de sequela não gera a necessidade de propositura de ação para reaver o objeto do direito. O direito de sequela do possuidor é absoluto, cedendo apenas ante o direito de propriedade por meio da ação reivindicatória, 6 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. 5Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 26. 4Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 26. bem como antes a boa-fé de terceiros, o que se justifica pelo fato de não ser conferida à posse a mesma publicidade conferida à propriedade pelo registro ou tradição”. c) PUBLICIDADE: “de acordo com Gonçalves (2014, p. 330), tanto o registro como a tradição atuam como meios de publicidades da titularidade dos direitos reais7”. d) TIPICIDADE E DA TAXATIVIDADE: “o direito das coisas somente será previsto em lei, ou seja, não se constitui direito das coisas sobre qualquer ato. Dessa característica decorre a taxatividade (numerus clausus), em que o rol dos institutos do direito das coisas é aquele enumerado pelo Código Civil no art. 1.225, além do instituto da posse”. e) EXCLUSIVIDADE: “a exclusividade dispõe que não se pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa (GONÇALVES, 2014, p. 330)”. f) ADERÊNCIA: “a característica da aderência é aquela que, conforme disposto por Donizetti e Quintella (2014, p. 659), estabelece o vínculo entre um sujeito determinado e toda a exclusividade”. Outras características importantes são as elencadas pela professora Maria Helena Diniz e citadas pelo professor Tartuce: a) Oponibilidade erga omnes, ou seja, contra todos os membros da coletividade. b) Existência de um direito de sequela, uma vez que os direitos reais aderem ou colam na coisa. c) Previsão de um direito de preferência a favor 7 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. 6 do titular de um direito real, como é comum nos direitos reais de garantia sobre coisa alheia (penhor e hipoteca). d) Possibilidade de abandono dos direitos reais, isto é, de renúncia a tais direitos. e) Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse, de um domínio fático. f) Previsão da usucapião como um dos meios de sua aquisição. Vale dizer que a usucapião não atinge somente a propriedade, mas também outros direitos reais, caso das servidões (art. 1.379 do CC). g) Suposta obediência a um rol taxativo (numerus clausus) de institutos, previstos em lei, o que consagra o princípio da taxatividade ou tipicidade dos direitos reais. Todavia, como se quer demonstrar, essa obediência vem sendo contestada. h) Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da coisa ou tradição (no caso de bens móveis) e pelo registro (no caso de bens imóveis) 1.4. CLASSIFICAÇÃO Segundo o professor Rubem Valente8, os direitos reais podem ser classificados da seguinte forma: a) DIREITO REAL SOBRE A COISA PRÓPRIA “O único instituto que é cabível para essa espécie de classificação é a propriedade, pois o titular pleno do direito real é o proprietário do bem, possuindo o direito de usar, gozar e dispor da coisa9.” b) DIREITO REAL SOBRE A COISA ALHEIA 9 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 419. 8 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. “Nessa espécie de classificação, o direito de propriedade é excluído, correspondendo a direitos limitados, tendo seus direitos restringidos em certas circunstâncias. 1. DIREITO REAL DE GOZO OU FRUIÇÃO: nessa espécie de classificação, os institutos cabíveis são o usufruto, servidão, superfície, concessão de uso especial para fins de moradia, uso e habitação. Correspondem ao fato de que o titular da propriedade transfere a terceiro o direito de usar ou fruir da coisa, estendendo-se o direito de usufruir à acessoriedade da coisa, ou seja, aos acessórios da coisa. Ocorre que pode haver direitos reais que vinculem um sujeito não a uma coisa que lhe pertença, mas a um bem de outrem. 2. DIREITO REAL DE GARANTIA: os institutos do direito real de garantia são o penhor, a hipoteca e a anticrese. Correspondem à garantia dada ao credor de que a obrigação, estabelecida entre ele e o devedor, seja cumprida. O patrimônio da pessoa devedora é que responderá por eventuais obrigações que vier a contrair. De acordo com Pereira (2014, p. 151), o devedor responderá pelos débitos assumidos voluntariamente ou decorrentes da força da lei, com seus bens, tomado o vocábulo “bens” em sentido genérico, abrangentes de todos os valores ativos de que seja titular. 3. DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: corresponde ao direito de adquirir a coisa alheia em favor de quem se encontra com a coisa, ou seja, o direito do promitente comprador, como é o caso da promessa de compra e 7 venda, em conformidade com art. 1.417 do CC/2002: “Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel”. Nesse sentido, o art. 1.418 dispõe que o promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar. Se houver recusa, pode requerer ao juiz a adjudicação do imóvel. Para ficar mais claro, vejamos o esquema abaixo: 8 🚨 IMPORTANTE E o direito de laje (incluído pela Lei n. 13.465/2017? O professor Flávio Tartuce explica que há duas correntes sobre a natureza jurídica da laje: a) DIREITO REAL DE GOZO OU FRUIÇÃO SOBRE COISA ALHEIA (modalidade de superfície; Defendem essa corrente os professores Mazzei, Simão, Stolze, Pamplona e Tartuce); b) DIREITO REAL SOBRE COISA PRÓPRIA (Defendem essa corrente os professores Rosenvald, Kümpel e Carlos Elias de Oliveira). 1.5. ROL TAXATIVO OU EXEMPLIFICATIVO Existem dois entendimentos sobre o rol do art. 1.225 do CC. a) VISÃO CLÁSSICA: Para a primeira corrente, o rol é taxativo (“numerus clausus”), refletindo o princípio da taxatividade dos Direitos Reais. Essa corrente é defendida por Caio Mário, Orlando Gomes, Maria Helena Diniz e Álvaro Villaça. O professor Flávio Tartuce destaca que essa é a posição majoritária e deve ser adotada em provas da primeira fase de concursos públicos. b) VISÃO CONTEMPORÂNEA: Para a segunda corrente, o rol é exemplificativo. Atualmente, é a posição minoritária. O professor Flávio Tartuce destaca que existem ainda subcorrentes: 1. O professor Gustavo Tepedino afirma que não há taxatividade, mas há tipicidade, ou seja, é necessário previsãoou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho”. Nesse caso, o lesado pode embargar a construção. Conta -se a distância de metro e meio da linha divisória, e não do edifício vizinho. 4.9.3. ÁGUAS E BEIRAIS Não pode o proprietário construir de modo 87 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 633. que o beiral de seu telhado despeje sobre o vizinho. As águas pluviais devem ser despejadas no solo do próprio dono do prédio, e não no do vizinho. Se, porém, o proprietário colocar calhas que recolham as goteiras, impedindo que caiam na propriedade vizinha, poderá encostar o telhado na linha divisória (CC, art. 1.300). 4.9.4. PAREDES DIVISÓRIAS Paredes divisórias (parede -meia) são as que integram a estrutura do edifício, na linha de divisa. O art. 1.305 do CC abre ao proprietário que primeiro edificar a alternativa: assentar a parede somente no seu terreno, ou assentá -la, até meia espessura, no terreno vizinho. Na primeira hipótese, a parede pertencer -lhe -á inteiramente; na segunda, será de ambos. Nas duas hipóteses, os vizinhos podem usá -la livremente. 4.9.5. USO DO PRÉDIO VIZINHO O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante aviso prévio, para “dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção ou limpeza de sua casa ou do muro divisório”, e “apoderar -se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem casualmente” (CC, art. 1.313). 5. DO CONDOMÍNIO 5.1. CONCEITO E ESPÉCIES “Quando os direitos elementares do proprietário pertencerem a mais de um titular, existirá o condomínio ou domínio comum de um bem. Aqui, não podemos afastar o princípio da 60 exclusividade, pois cada condômino terá fração ideal do todo. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros”88. As espécies de condomínio podem ser divididas da seguinte forma: DISCIPLINADAS NO CÓDIGO CIVIL a. Condomínio voluntário (arts. 1.314 e ss.); b. Condomínio necessário (arts. 1.327 e ss.); c. Condomínio edilício ou em edificações (arts. 1.331 e ss.). QUANTO À ORIGEM a. Convencional: origina -se da vontade dos condôminos; b. Eventual: resulta da vontade de terceiros (doador ou testador, p. ex.); c. Legal ou necessário: é imposto pela lei, como no caso de cercas, p. ex. (art. 1.327). QUANTO À FORMA a. Pro diviso ou pro indiviso, conforme os condôminos estejam utilizando parte certa e determinada da coisa, ou não; b. Transitório ou permanente. O primeiro é o convencional e o eventual, que podem ser extintos a todo tempo pela vontade de qualquer condômino; o segundo é o legal, que perdura enquanto persistir a situação 88Cristiano Vieira Sobral Pinto. DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO. 13º ed, 2021. Juspodivm. que o determinou (paredes divisórias, p. ex.). QUANTO AO OBJETO a. Universal: quando abrange todos os bens, como na comunhão hereditária; b. Singular: é o que incide sobre coisa determinada (muro divisório, p. ex.). 5.2. DIREITOS E DEVERES DOS CONDÔMINOS Conforme o art. 1.314 do Código Civil, cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la. USAR Usar da coisa conforme sua destinação, e sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão. Não pode, no entanto, alterar o modo como é tradicionalmente usada, sem o consenso dos outros, conforme ressalta o parágrafo único do art. 1.314 do CC. REIVINDICAR Reivindicar a posse de terceiros. Aplica -se à hipótese o art. 1.827, que autoriza o herdeiro a “demandar os bens da herança, mesmo em poder de terceiros” 61 DEFENDER Defender a sua posse contra outrem. ALHEAR Alhear a respectiva parte indivisa, respeitando o direito de preferência dos demais condô minos (art. 504) GRAVAR Gravar a respectiva parte indivisa, p. ex., dá -la em hipoteca (CC, art. 1.420, § 2º). Os condôminos têm o dever de concorrer para as despesas de conservação ou divisão da coisa, na proporção de sua parte, bem como a responsabilidade pelas dívidas contraídas em proveito da comunhão. Os deveres dos condôminos estão expressos nos arts. 1.316 a 1.318 do CC. Art. 1.316. Pode o condômino eximir-se do pagamento das despesas e dívidas, renunciando à parte ideal. § 1o Se os demais condôminos assumem as despesas e as dívidas, a renúncia lhes aproveita, adquirindo a parte ideal de quem renunciou, na proporção dos pagamentos que fizerem. § 2o Se não há condômino que faça os pagamentos, a coisa comum será dividida. Art. 1.317. Quando a dívida houver sido contraída por todos os condôminos, sem se discriminar a parte de cada um na obrigação, nem se estipular solidariedade, entende-se que cada qual se obrigou proporcionalmente ao seu quinhão na coisa comum. Art. 1.318. As dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e durante ela, obrigam o contratante; mas terá este ação regressiva contra os demais. 5.3. ADMINISTRAÇÃO E EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO Os condôminos podem usar a coisa comum pessoalmente. Se não o desejarem ou por desacordo tal não for possível, então resolverão se ela deve ser administrada, vendida ou alugada. Para que ocorra a venda, basta a vontade de um só condô mino. Só não será vendida se todos concordarem que se não venda (CC, arts. 1.320 e 1.322). Neste caso, a maioria deliberará sobre a administração ou locação da coisa comum. Se resolverem que deve ser administrada, por maioria escolherão o administrador (art. 1.323). Em relação a extinção do condomínio, existe diferença em relação a bem divisível e bem indivisível. O bem divisível pode ser extinto de forma amigável, se todos os condôminos forem maiores e capazes ou judicialmente se divergirem ou se um deles for incapaz (CC, art. 2.016). Quando o bem for indivisível e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior, conforme o art. 1.322, CC. 5.4. CONDOMÍNIO NECESSÁRIO89 Condomínio necessário ou legal é o imposto pela lei, como no caso de paredes, cercas, muros e valas, que se regula pelo disposto nos arts. 1.287 e 89 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 654. 62 1.298, e 1.304 a 1.307 do CC. Nas referidas hipóteses, o “proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas ou valados, tê -lo -á igualmente a adquirir meação na parede, muro, valado ou cerca do vizinho, embolsando -lhe metade do que atualmente valer a obra e o terreno por ela ocupado” (art. 1.328). 5.5. O CONDOMÍNIO EDILÍCIO 5.5.1. INTRODUÇÃO Caracteriza -se o condomínio edilício pela apresentação de uma propriedade comum ao lado de uma propriedade privativa. Cada condômino é titular, com exclusividade, da unidade autônoma e titular de partes ideais das áreas comuns (CC, art. 1.331). O CC/2002, apesar de expressa remissão à lei especial, que continua em vigor (Lei n. 4.591/64), contém dispositivos regrando os direitos e deveres dos condôminos, bem como a competência das assembleias e dos síndicos. Nesses assuntos, a Lei n. 4.591/64 aplica -seapenas subsidiariamente. Prevalece o entendimento de que o condomínio não tem personalidade jurídica. Entretanto, está legitimado a atuar em juízo, ativa e passivamente, representado pelo síndico (CPC, art. 75, XI), em situação similar à do espólio e da massa falida. 5.5.2. INSTITUIÇÃO DO CONDOMÍNIO90 Institui -se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo constar, além do disposto em lei especial, a individualização de cada unidade, a determinação da fração ideal atribuída a cada uma relativamente ao terreno e partes comuns, 90 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 677. e o fim a que se destinam (CC, art. 1.332). Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo constar daquele ato, além do disposto em lei especial: I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns; II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns; III - o fim a que as unidades se destinam. Vale ressaltar que o adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios, conforme previsto no art. 1.345, do Código Civil. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-SC (Ano: 2022, FGV) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “d”: Vinícius comprou de Rejane um apartamento em um condomínio edilício, mas depois da imissão na posse e transcrição no registro veio a descobrir que a antiga proprietária deixou inadimplidas obrigações antigas relativas à taxa condominial, as quais o condomínio está agora exigindo de Vinícius. Sobre o caso, é correto afirmar que Vinícius: a. não é responsável pelo adimplemento dessas obrigações, que são de responsabilidade do proprietário ao tempo de seu vencimento, cabendo ao condomínio exigi-las diretamente de Rejane; 63 b. é responsável pelo adimplemento dessas obrigações, mas não pode o próprio apartamento ser penhorado em caso de inadimplemento, nem tem direito de regresso em face de Rejane; c. é responsável pelo adimplemento dessas obrigações, mas não pode o próprio apartamento ser penhorado em caso de inadimplemento, e ele tem direito de regresso em face de Rejane; d. é responsável pelo adimplemento dessas obrigações, podendo inclusive ter o próprio apartamento penhorado em caso de inadimplemento, mas tem direito de regresso em face de Rejane; e. é responsável pelo adimplemento dessas obrigações, podendo inclusive ter o próprio apartamento penhorado em caso de inadimplemento, e não tem direito de regresso em face de Rejane. 5.5.3. CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO91 A Convenção de Condomínio é o ato de constituição do condomínio edilício (CC, art. 1.333). É um documento escrito (escritura pública ou instrumento particular) no qual se estipulam os direitos e deveres de cada condômino. Deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais. A utilização do prédio é por ela regulada. Sujeita todos os titulares de direitos sobre as unidades, atuais ou futuros. Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais e torna-se, desde logo, 91 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 677. obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção. Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do condomínio deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis. O regulamento, também denominado “Regimento Interno”, complementa a Convenção. Geralmente, con tém regras minuciosas sobre o uso das coisas comuns. 5.5.4. ESTRUTURA INTERNA DO CONDOMÍNIO92 UNIDADE AUTÔNOMA Pode consistir em apartamentos, escritórios, salas, lojas, abrigos para veículos ou casas em vilas particulares. Não pode ser privada de saída para a via pública. Pode o proprietário alugá -la, cedê -la, gravá -la, sem que necessite de autorização dos outros condôminos, que não têm preferência na aquisição. ÁREAS COMUNS São insuscetíveis de 92 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 677. 64 divisão e de alienação, separadas da respectiva unidade. Cada consorte pode usá -las “de maneira a não causar incômodo aos demais condôminos ou moradores, nem obstáculo ou embaraço ao bom uso das mesmas partes por todos” (CC, art. 1.331, § 2º; Lei n. 4.591/64, art. 19). 5.5.5. ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO É exercida por um síndico, cujo mandato não pode exceder de dois anos, permitida a reeleição. Compete -lhe, dentre outras atribuições, representar ativa e passivamente o condomínio, em juízo ou fora dele. Pode ser condômino ou pessoa física ou jurídica estranha ao condomínio. O síndico é assessorado por um Conselho Consultivo, constituído de três condôminos, com mandatos que não podem exceder a dois anos, permitida a reeleição. Deve haver, anualmente, uma assembleia geral ordinária, convocada pelo síndico. A assembleia é o órgão máximo do condomínio, tendo poderes, inclusive, para modificar a própria Convenção A Lei nº 14.309, de 2022, além de outras inovações, incluiu o art. 1.354-A que prevê que a convocação, a realização e a deliberação de quaisquer modalidades de assembleia poderão dar-se de forma eletrônica, desde que cumpridos alguns requisitos. In litteris: Art. 1.354-A. A convocação, a realização e a deliberação de quaisquer modalidades de assembleia poderão dar-se de forma eletrônica, desde que: I - tal possibilidade não seja vedada na convenção de condomínio; II - sejam preservados aos condôminos os direitos de voz, de debate e de voto. § 1º Do instrumento de convocação deverá constar que a assembleia será realizada por meio eletrônico, bem como as instruções sobre acesso, manifestação e forma de coleta de votos dos condôminos. § 2º A administração do condomínio não poderá ser responsabilizada por problemas decorrentes dos equipamentos de informática ou da conexão à internet dos condôminos ou de seus representantes nem por quaisquer outras situações que não estejam sob o seu controle. § 3º Somente após a somatória de todos os votos e a sua divulgação será lavrada a respectiva ata, também eletrônica, e encerrada a assembleia geral. § 4º A assembleia eletrônica deverá obedecer aos preceitos de instalação, de funcionamento e de encerramento previstos no edital de convocação e poderá ser realizada de forma híbrida, com a presença física e virtual de condôminos concomitantemente no mesmo ato. § 5º Normas complementares relativas às assembleias eletrônicas poderão ser previstas no regimento interno do condomínio e definidas mediante aprovação da maioria simples dos presentes em assembleia convocada para essa finalidade. § 6º Os documentos pertinentes à ordem do dia poderão ser disponibilizados de forma 65 física ou eletrônica aos participantes. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-SP (Ano: 2022, MPE-SP) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “e”: A legislação hoje em vigor prevê a realização de assembleias virtuais (por meio eletrônico, na forma de videoconferências) pelos condomínios edilícios? a. Não, embora os tempos modernos demandem a futura criação de lei em tal sentido,mormente em época de pós-pandemia e diante do progresso das telecomunicações. b. Sim, desde que se trate de assembleias gerais extraordinárias e haja a regular convocação, pelo correio, com antecedência mínima de 10 dias. c. Não, pois não haveria a segurança necessária e nem todos os condôminos têm a obrigação de contar com meios de acesso ao ambiente virtual, em especial os de idade avançada, havendo que se respeitar o Estatuto do Idoso. d. Não, sendo tal exigência inconstitucional por gerar discriminação e ferir o direito de ir e vir e os princípios da legalidade e da isonomia constitucional. e. Sim, desde que não sejam vedadas na convenção de condomínio e fiquem preservados aos condôminos os direitos de voz, de debate e de voto. 5.5.6. REALIZAÇÃO DE OBRAS NO CONDOMÍNIO No que tange a realização de obras no condomínio o Código Civil disciplina expressamente: Art. 1.341. A realização de obras no condomínio depende: I - se voluptuárias, de voto de dois terços dos condôminos; II - se úteis, de voto da maioria dos condôminos. § 1o As obras ou reparações necessárias podem ser realizadas, independentemente de autorização, pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer condômino. § 2o Se as obras ou reparos necessários forem urgentes e importarem em despesas excessivas, determinada sua realização, o síndico ou o condômino que tomou a iniciativa delas dará ciência à assembléia, que deverá ser convocada imediatamente. § 3o Não sendo urgentes, as obras ou reparos necessários, que importarem em despesas excessivas, somente poderão ser efetuadas após autorização da assembléia, especialmente convocada pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer dos condôminos. § 4o O condômino que realizar obras ou reparos necessários será reembolsado das despesas que efetuar, não tendo direito à restituição das que fizer com obras ou reparos de outra natureza, embora de interesse comum. Art. 1.342. A realização de obras, em partes comuns, em acréscimo às já existentes, a fim de lhes facilitar ou aumentar a utilização, depende da aprovação de dois terços dos votos dos condôminos, não sendo permitidas construções, nas partes comuns, suscetíveis de prejudicar a utilização, por qualquer dos condôminos, das partes próprias, ou comuns. Art. 1.343. A construção de outro pavimento, ou, no solo comum, de outro edifício, destinado a conter novas unidades imobiliárias, depende da aprovação da 66 unanimidade dos condôminos. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-PE (Ano: 2022, FGV) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”: Asdrúbal é síndico do condomínio do edifício Epitáfio. Recentemente, foi constatada a necessidade urgente de substituição da rede elétrica que passa por cima da garagem, por conta de risco de incêndio. Entretanto, o custo da obra é bastante significativo, especialmente tendo em vista a quantidade de condôminos e suas condições financeiras. Diante disso, Asdrúbal: a. deve iniciar a realização das obras, dispensada consulta à assembleia; b. deve iniciar a realização das obras, mas deve convocar imediatamente a assembleia para dar ciência delas; c. depende de aprovação das obras pela maioria dos condôminos na assembléia; d. depende de aprovação das obras por dois terços dos condôminos na assembléia; e. depende de aprovação das obras pela unanimidade dos condôminos na assembleia. 6. DOS DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO 6.1 DA SUPERFÍCIE Trata -se de direito real de fruição ou gozo sobre coisa alheia, de origem romana, pelo qual o proprietário concede a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis (CC, art. 1.369). O CC/2002 aboliu a enfiteuse, substituindo -a pelo direito de superfície gratuito ou oneroso93. Conforme estabelece o Código Civil: ● O superficiário, que tem o direito de construir ou plantar, responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel (CC, art. 1.371); ● O proprietário (fundieiro) tem a expectativa de receber a coisa com a obra ou plantação (art. 1.375); ● O direito de superfície pode transferir -se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros; ● Não poderá ser estipulado pelo concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela transferência (art. 1.372, parágrafo único). 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PCRO (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”: Se uma pessoa, por meio de escritura pública devidamente registrada no cartório de registro de imóveis, conceder a outra o direito de construir em seu terreno, caracteriza-se o direito de a. usufruto. b. habitação. c. superfície. d. uso. e. servidão. 93 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 704. 67 Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-MG (Ano: 2022, FGV) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “a”: No tocante às diretrizes gerais da política urbana, quanto ao direito de superfície, assinale a afirmativa correta. a. O direito de superfície pode ser transferido a terceiros, obedecidos os termos do contrato respectivo. b. Em caso de alienação do terreno, ou do direito de superfície, o proprietário terá direito de preferência em detrimento do superficiário à oferta de terceiros. c. A concessão do direito de superfície será sempre gratuita. d. O proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície de seu terreno, somente por tempo determinado, previamente estabelecido em contrato. 6.2 DAS SERVIDÕES Trata-se de direito real sobre coisa alheia que se consubstancia em determinada utilidade que a coisa terá para aquele que não é seu proprietário. Flávio Tartuce e José Fernando Simão94 nos informam que a servidão serve a coisa (o imóvel dominante) e não a parte envolvida (o seu proprietário). Conforme expresso no art. 1.378 do CC: Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis. 94 Direito das coisas. São Paulo: Método, 2008. v. 4, p. 341. As servidões podem ser estabelecidas por diversos objetivos, segundo ensina Cristiano Sobral95: a. Servidões de passagem: seu objetivo é assegurar o trânsito de pessoas através de um determinado prédio, em benefício daquelas que venham do prédio dominante e que passam pelo prédio serviente. b. Servidões de águas: são conhecidas como servidões de aqueduto e objetivam garantir a passagem da água de um imóvel pelo outro. c. Servidões de vista: visam a garantir que não se construa no terreno serviente de modo a retirar a vista do terreno dominante. ⚠ ATENÇÃO A servidão administrativa possui diferença para a servidão do Código Civil. A administrativa é aquela que autoriza o Poder Público a usar a propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo. Trata-se de direito real público constituído em favor do Estado para atender ao interesse público. São características das servidões96: a. a servidão é uma relação entre dois prédios distintos; b. os prédios devem pertencer a donos diversos; c. nas servidões, serve a coisa, e não o dono; d. a servidão não se presume; e. a servidão é direito real, acessório, de duração indefinida e indivisível; f. a servidão é inalienável. 96 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca,(10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 723. 95 Cristiano Vieira Sobral Pinto. DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO. 13º ed, 2021. Juspodivm. 68 Classificação No que tange à classificação, as servidões podem ser classificadas quanto ao modo de exercício, podem ser: contínuas e descontínuas; e quanto à visibilidade: aparentes e não aparentes. Essas espécies podem combinar -se, dando origem às servidões: 1. contínuas e aparentes; 2. contínuas e não aparentes; 3. descontínuas e aparentes; 4. descontínuas e não aparentes APARENTES São aquelas que se percebe pelos sentidos, deixam traços visíveis, como, por exemplo, uma servidão de passagem. NÃO APARENTES São aquelas que não se mostram aos nossos olhos, não podem ser percebidas pelos sentidos, como, por exemplo, a servidão de vista CONTÍNUAS São aquelas que independem de utilização humana, mesmo que o proprietário ou o possuidor do prédio dominante não estejam se utilizando da servidão, ela continua produzindo seus efeitos. Exemplo: servidão de aqueduto. DESCONTÍNUAS São aquelas que dependem para sua utilização de fato humano, como a servidão de passagem: para que tenha alguma utilidade é preciso que alguém esteja passando efetivamente por ela. Exemplo: servidão de passagem. As servidões podem ser constituídas por ato ou fato humano. 1. Ato humano a. negócio jurídico; b. sentença; c. usucapião; d. destinação do proprietário. 2. Fato humano: servidão de trânsito. Ações que protegem as servidões97 a. confessória; b. negatória; c. de manutenção e de reintegração de posse; d. de nunciação de obra nova; e. de usucapião. Extinção das servidões, ocorre: a. pela renúncia; b. pela cessação, para o prédio dominante, da utilidade que determinou a constituição da servidão; c. pelo resgate; d. pela confusão; e. pela supressão das respectivas obras; 97 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 723. 69 f. pelo não uso, durante dez anos contínuos. 6.3 DO USUFRUTO “Ocorre o usufruto, de forma gratuita ou onerosa, quando o proprietário de um bem móvel ou imóvel destaca da propriedade dois dos seus poderes (usar e fruir), transferindo-se a um terceiro. O terceiro, que passa a exercer esses direitos, é chamado de usufrutuário e o proprietário, de nu-proprietário (fica com a propriedade limitada). O nu-proprietário fica com os atributos de dispor e reaver o bem98”. Usufruto é direito real de fruir as utilidades e frutos de uma coisa, enquanto temporariamente destacado da propriedade. Alguns dos poderes inerentes ao domínio são transferidos ao usufrutuário, que passa a ter, assim, direito de uso e gozo sobre coisa alheia. O usufruto pode ser constituído por determinação legal, ato de vontade e pela usucapião e tem como objeto um ou mais bens, móveis ou imóveis, um patrimônio inteiro ou parte deste, como previsto no art. 1.390 do Código Civil. Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e utilidades. O usufruto, tem como características marcantes o fato de ser um direito temporário, real sobre coisa alheia, inalienável permitindo -se, porém, a cessão de seu exercício (CC, art. 1.393) e 98 Cristiano Vieira Sobral Pinto. DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO. 13º ed, 2021. Juspodivm. impenhorável. O instituto do usufruto tem como espécies: Quanto à origem a. legal; b. convencional. Quanto à duração a. temporário; b. vitalício. Quanto ao seu objeto a. próprio; b. impróprio. Quanto aos titulares a. simultâneo; b. sucessivo. Conforme o art. 1.410 do Código Civil, o usufruto se extingue pela renúncia ou pela morte do usufrutuário, pelo advento do termo de sua duração, pela extinção da pessoa jurídica, pela cessação do motivo de que se origina, pela destruição da coisa, não sendo fungível, pela consolidação, por culpa do usufrutuário, quando falta ao seu dever de cuidar bem da coisa, pelo não uso da coisa em que o usufruto recai, pelo implemento de condição resolutiva estabelecida pelo instituidor. Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro de Imóveis: I - pela renúncia ou morte do usufrutuário; II - pelo termo de sua duração; III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela 70 perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer; IV - pela cessação do motivo de que se origina; V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e 1.409; VI - pela consolidação; VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395; VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399). 6.3.1. USUFRUTO E FIDEICOMISSO (DISTINÇÃO)99 USUFRUTO FIDEICOMISSO O usufruto é direito real sobre coisa alheia. O fideicomisso constitui espécie de substituição testamentária. O domínio se desmembra, cabendo a cada titular certos direitos. Cada titular tem a propriedade plena. O usufrutuário e o nu -proprietário exercem simultaneamente os seus direitos. O fiduciário e o fideicomissário exercem sucessivamente os seus direitos. No usufruto, são O fideicomisso somente 99 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 741. contempladas pessoas já existentes. se permite em favor dos não concebidos ao tempo da morte do testador, ou seja, em favor da prole eventual (CC, art. 1.952). 6.4 DO USO Trata -se de direito real que autoriza uma pessoa a retirar, temporariamente, de coisa alheia, todas as utilidades para atender às suas próprias necessidades e às de sua família. Embora seja considerado um usufruto restrito, o uso distingue -se deste instituto pelo fato de o usufrutuário auferir o uso e a fruição da coisa, enquanto ao usuário não é concedida senão a utilização restrita aos limites das necessidades suas e de sua família (CC, art. 1.412). 6.5 DA HABITAÇÃO É direito real temporário de ocupar gratuitamente casa alheia, para morada do titular e de sua família (CC, art. 1.414). É ainda mais restrito do que o uso. É constituído por lei (art. 1.831, CC) ou por ato de vontade (contrato e testamento), devendo ser registrado (LRP, art. 167, I, n. 7). 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-SE (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”: De acordo com o Código Civil, se o uso consistir no direito de habitar gratuitamente um imóvel alheio, o 71 titular do direito poderá a. ocupá-lo com a família e perceber os frutos dele advindos. b. ocupá-lo com a família e locar parte do imóvel. c. simplesmente ocupá-lo com a família. d. ocupá-lo com a família ou locá-lo. e. ocupá-lo com a família ou emprestá-lo à descendente. 7. DO DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR O CC/2002 disciplina o direito do promitente comprador nos arts. 1.417 e 1.418. Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar;e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel. O compromisso de compra e venda trata-se de um contrato pelo qual as partes se comprometem a levar a efeito um contrato definitivo de venda e compra. O consentimento já foi dado, na promessa, convencionando os contratantes validá-lo na escritura definitiva. No que tange a adjudicação compulsória, prevista no art. 1.418, CC, o STJ tem admitido a propositura de ação de adjudicação compulsória mesmo não estando registrado o compromisso de compra e venda irretratável (Súmula 239). A autorização do cônjuge é indispensável, por consistir em alienação de bem imóvel sujeita à adjudicação compulsória Se o compromissário comprador deixar de cumprir a sua obrigação, atrasando o pagamento das prestações, poderá o vendedor pleitear a rescisão contratual, cumulada com pedido de reintegração de posse. Antes, porém, terá de constituir em mora o devedor, notificando -o para pagar as prestações em atraso no prazo de 30 dias, se se tratar de imóvel loteado (Lei n. 6.766/79, art. 32), ou de 15 dias, se for imóvel não loteado (Decreto -Lei n. 745/69), ainda que no contrato conste cláusula resolutiva expressa. 8. DA CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA Segundo o professor Carlos Roberto Gonçalves, “a concessão de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso são direitos reais sobre coisa alheia, introduzidos no Código Civil (art. 1.225, XI e XII) pela Lei n. 11.481, de 31 de maio de 2007. Buscam atender à função social da propriedade, especialmente com a regularização jurídica das áreas favelizadas. A mencionada lei confere nova redação ao aludido dispositivo do Código Civil e prevê medidas direcionadas à regularização fundiária de interesse social em imóvel da União. Embora constituído o direito real, o bem continua pertencendo à Administração Pública, 72 não se concretizando a transferência do domínio”100. 9. DA CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO Segundo Carlos Roberto Gonçalves “a inovação legal promove o revigoramento da concessão do direito real de uso, mediante a sua adoção para fins de regularização fundiária de interesse social e do aproveitamento sustentável das várzeas. Como observam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, “O objetivo do legislador foi inserir a concessão de uso dentre os instrumentos hábeis à legitimação de posse sobre bens públicos ocupados informalmente por populações de baixa renda, estendendo-se mesmo a terrenos de marinha e acrescidos, antes limitados à enfiteuse (art. 18, § 1º, Lei n. 9.363/98). Ademais, busca-se encontrar uma solução para as populações de varzenteiros que habitam, há várias gerações, as margens dos rios federais101” A concessão de uso: a. alcança terrenos públicos ou particulares; b. pode ser gratuita ou onerosa; c. admite estipulação por tempo certo ou indeterminado; d. é direito real resolúvel; e. tem por finalidade a regularização fundiária de interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e 101 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 769. 100 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 766. seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse social e áreas urbanas; f. admite transmissão por ato inter vivos ou causa mortis; g. é outorgada por termo administrativo ou escritura pública; h. requer registro no Cartório de Registro de Imóveis. 10. DA LAJE Caracteriza-se tal direito real quando o proprietário de uma construção-base cede a superfície superior ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo, como descreve o art. 1.510-A do CC, com redação dada pela Lei n. 13.465/2017. “O direito de laje constitui, destarte, um direito real em favor de terceiro, sobre unidade imobiliária autônoma erigida sobre a laje de determinada construção residencial, lançada em matrícula própria102”. 10.1. REGULAMENTAÇÃO LEGAL “A Medida Provisória n. 759, de 2016, alterou o rol de direitos reais do art. 1.225 do Código Civil, acrescentando, como inciso XIII, o direito sobre a laje. Posteriormente, o referido direito foi disciplinado pela Lei n. 13.465, de 11 de julho de 2017, que instituiu, na Parte Especial, Livro III, o Título XI, denominado “Da Laje”, tratado inicialmente no art. 1.510, “A” a “E”. Dispõe o primeiro: 102 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 773. 73 Art. 1.510-A. O proprietário de uma construção-base poderá ceder a superfície superior ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. O referido direito real não se confunde com o condomínio horizontal, que confere direito à fração ideal do solo e das unidades autônomas, bem como das áreas comuns. Dispõem os §§ 1º a 6º do dispositivo transcrito: § 1o O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de TERRENOS PÚBLICOS OU PRIVADOS, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao proprietário da construção-base. § 2o O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade. § 3o Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula própria, poderão dela usar, gozar e dispor. § 4o A instituição do direito real de laje NÃO IMPLICA a atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou a participação proporcional em áreas já edificadas. § 5o Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de laje. § 6o O titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para a instituição de um SUCESSIVO DIREITO REAL DE LAJE, desde que haja autorização expressa dos titulares da construção-base e das demais lajes, respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas vigentes. Verifica-se, pois, que a mencionada laje deverá estar isolada da construção original, constituindo habitação distinta. E a via de acesso a ela deverá ser independente da aludida construção. É válida a leitura dos outros artigos incluídos pela Lei n. 13.465, de 11 de julho de 2017: Art. 1.510-B. É expressamente vedado ao titular da laje prejudicar com obras novas ou com falta de reparação a segurança, a linha arquitetônica ou o arranjo estético do edifício, observadas as posturas previstas em legislação local. Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios edilícios, para fins do direito real de laje, as despesas necessárias à conservação e fruição das partes que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de serviços de interesse comum serão partilhadas entre o proprietário da construção-base e o titular da laje, na proporção que venha a ser estipulada em contrato. § 1o São partes que servem a todo o edifício: I - os alicerces, colunas, pilares, paredes-mestras e todas as partes restantes que constituam a estrutura do prédio; II - o telhado ou os terraços de cobertura, ainda que destinados ao uso exclusivo do titular da laje; III - as instalações gerais de água, esgoto, eletricidade, aquecimento, ar condicionado, gás, comunicações e semelhantes que sirvam a todo o edifício; e IV - em geral, as coisas que sejam afetadas ao 74 uso de todo o edifício. § 2o É assegurado, em qualquer caso, odireito de qualquer interessado em promover reparações urgentes na construção na forma do parágrafo único do art. 249 deste Código. Art. 1.510-D. Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito de preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da construção-base e da laje, nessa ordem, que serão cientificados por escrito para que se manifestem no prazo de 30 dias, salvo se o contrato dispuser de modo diverso. § 1o O titular da construção-base ou da laje a quem não se der conhecimento da alienação poderá, mediante depósito do respectivo preço, haver para si a parte alienada a terceiros, se o requerer no prazo decadencial de 180 dias, contado da data de alienação. § 2o Se houver mais de uma laje, terá preferência, sucessivamente, o titular das lajes ascendentes e o titular das lajes descendentes, assegurada a prioridade para a laje mais próxima à unidade sobreposta a ser alienada. Art. 1.510-E. A ruína da construção-base implica extinção do direito real de laje, salvo: I - se este tiver sido instituído sobre o subsolo; II - se a construção-base for reconstruída no prazo de 5 anos. (LEI 14382/22) Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta o direito a eventual reparação civil contra o culpado pela ruína. 11. DIREITOS ORIUNDOS DA IMISSÃO PROVISÓRIA DA POSSE A Lei n. 14.620, de 13 de julho de 2023, que dispôs sobre o programa Minha Casa, Minha Vida, alterou diversos dispositivos em nosso ordenamento jurídico, havendo, ainda, acrescentado o inciso XIV ao art. 1.225 do nosso Código Civil: Art. 1.225. São direitos reais: I – a propriedade; II – a superfície; III – as servidões; IV – o usufruto; V – o uso; VI – a habitação; VII – o direito do promitente comprador do imóvel; VIII – o penhor; IX – a hipoteca; X – a anticrese; XI – a concessão de uso especial para fins de moradia; XII – a concessão de direito real de uso; XIII – a laje; XIV – os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e a respectiva cessão e promessa de cessão. Em que pese a Constituição condicionar a desapropriação de bens particulares ao pagamento de justa e prévia indenização em dinheiro (CR, art. 5º, XXIV), o Decreto-lei n. 3.365/1941, que disciplina as desapropriações por 75 utilidade pública, admite, em caso de urgência, a imissão provisória do ente expropriante na posse do bem, mediante o depósito de uma quantia calculada com base nos critérios legais (art. 15). A propriedade do bem, por sua vez, permanece na esfera jurídica do particular até a conclusão do processo de desapropriação e o consequente pagamento pelo Poder Público da integralidade da indenização. Ao longo dos anos, diversas reformas legislativas alteraram leis especiais no afã de ampliar a potencialidade de exploração econômica dos bens em cuja posse o Poder Público tenha sido imitido. A Lei n. 14.620/2023 insere-se nesta mesma tendência legislativa, promovendo alterações na disciplina da imissão provisória do Poder Público na posse em diversas leis, inclusive no Código Civil. Com a redação do novo direito real, surgiram algumas críticas, nas quais respeitáveis doutrinadores mencionam a possível ocorrência de atecnias. Nas palavras do professor Carlos Eduardo Elias de Oliveira103: 103 OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Novo direito real com a lei 14.620/23: uma atecnia utilitarista diante da imissão provisória na posse. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-notariais-e-registrais/3900 37/novo-direito-real-com-a-lei-14-620-23. Acesso em: 22 mar. 2024. Todo esse cenário normativo desenhado em torno dos direitos oriundos da imissão provisória na posse em favor do ente desapropriante foi, na verdade, impulsionado pelo interesse utilitarista de remover obstáculos registrais que eram opostos à formalização de desapropriações e de regularizações fundiárias. Acontece que esse ímpeto finalístico acabou traçando um percurso tortuoso do ponto de vista da dogmática civilista, o que reclamará da doutrina e da jurisprudência certo esforço malabarista para repelir riscos jurídicos. De fato, apesar de haver expresso texto legal, é atécnico afirmar que os direitos oriundos da imissão provisória são direitos reais. É que, no caso de desapropriação, o momento da imissão na posse marca a aquisição originária da propriedade pelo ente desapropriante. Eventual registro posterior no Cartório de Imóveis não tem eficácia constitutiva, mas apenas declaratória. Trata-se de uma exceção ao princípio da inscrição (segundo o qual os direitos reais nascem com o registro na matrícula do imóvel, conforme arts.1.227 e 1.245 do CC-02) Flávio Tartuce104 concorda com os apontamentos do ilustre doutrinador Carlos Eduardo e pontua: “De fato, tem total razão o coautor e jurista, sendo certo que a falta de técnica e de respeito à dogmática tem orientado a elaboração de várias normas na realidade legislativa brasileira, infelizmente. Em muitas situações, tem prevalecido ideologias e visões puramente utilitaristas, em uma tentativa de resolver problemas práticos, o que não se concretiza.” 104 Manual De Direito Civil - Volume Único 14ª Edição 2024 | Flávio Tartuce 76 Os doutrinadores Rosenvald e Freitas Dias105, com precisão, também ponderam nesse sentido: A posse pode ser oriunda de um direito real, mas, para além de ser dele independente (pois tem outras origens), produz efeitos tão especiais (como os interditos) que são inimagináveis para o universo dos direitos reais. Ou seja, em que pese a posse confira efeitos similares aos dos direitos reais, ela os transcende. Entretanto, tal compreensão não geraria um risco de tornar letra morta o novel inciso XIV do art. 1.225 do Código Civil? Na realidade, tal classificação é absolutamente desnecessária, isso porque “os direitos oriundos da imissão provisória na posse, em benefício do poder público, equiparam-se a direitos próprios de quem é titular do domínio (mesmo antes de pagar a prévia e justa indenização e antes de se efetivar a transferência do bem expropriado para o seu patrimônio): ele já pode fazer a cessão a terceiros, pode oferecer o bem como garantia em contratos de alienação fiduciária; pode oferecer em hipoteca. Concluiremos as críticas doutrinárias com o pensamento do professor Anderson Schreiber106: 106 Schreiber, A. (2024). Manual de direito civil contemporâneo (7th ed.). Editora Saraiva. 105 ROSENVALD, Nelson; DIAS, Wagner Inácio Freitas. Lei 14.620/23 e o novo direito real decorrente da imissão na posse — O remendo do soneto que jamais existiu. Disponível em: . Acesso em: 22 mar. 2024. O legislador especial não esclareceu, todavia, quais seriam os “direitos oriundos da imissão provisória na posse” que passam a ser mencionados no art. 1.225, XIV, da codificação civil. A doutrina há muito proclama que a imissão initio litis recai sobre a “posse inerente ao domínio”, promovendo a “sustação da disponibilidade do bem, como dos frutos dela decorrentes”1492. Este novo direito real, no entanto, não pode se confundir com a posse, pois esta já era reconhecida ao Poder Público antes da presente alteração do Código Civil. Extrai-se do inciso XIV do art. 1.225, ainda, que seriam direitos reais, além dos “direitos oriundos da imissão provisória na posse”, a sua “respectiva cessão e promessa de cessão”. É flagrante a atecnia legislativa, uma vez que a cessão e a promessa de cessão de direitos constituem negócios jurídicos e não direitos subjetivos, não podendo ser qualificadas como direitos reais. O que o legislador parece ter desejado afirmar é que, uma vez celebrado contrato definitivoou preliminar de cessão dos direitos oriundos da imissão provisória na posse, também será real o direito transferido ao cessionário ou ao promitente cessionário. É importante ressaltar que a Lei n. 14.620/2023 limitou-se a incluir os direitos resultantes da imissão do Poder Público na posse (bem como os direitos dos cessionários e promitentes cessionários) na lista dos direitos reais, sem introduzir no Código Civil uma regulamentação específica para tais direitos. Assim, esses direitos continuam sujeitos a uma regulamentação dispersa em várias leis, levantando dúvidas sobre a eficácia da alteração pontual feita no art. 1.225. 77 No entanto, a Lei n. 14.620/2023 teve o mérito de esclarecer a possibilidade de estabelecimento de hipoteca (conforme o art. 1.473, XI do CC) e de celebração de alienação fiduciária em garantia (conforme o art. 22, §1º, V da Lei n. 9.514/1997) sobre esses direitos, eliminando incertezas sobre o assunto. 12. DIREITO REAL DE GARANTIA SOBRE COISA ALHEIA 12.1. DO PENHOR Trata -se de direito real que vincula uma coisa móvel ao pagamento de uma dívida. Constitui -se pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação (CC, art. 1.431). Desse conceito, retira-se que são características o penhor o fato de ser um direito real, acessório e que só se perfecciona pela tradição do objeto ao credor. O penhor recai sobre bens móveis, corpóreos ou incorpóreos. Entretanto, no penhor agrícola e no industrial, admite -se que recaia sobre imóveis por acessão física ou intelectual (tratores, máquinas e outros objetos incorporados ao solo). A extinção do penhor se dá conforme o art. 1.436 do Código Civil: Art. 1.436. Extingue-se o penhor: I - extinguindo-se a obrigação; II - perecendo a coisa; III - renunciando o credor; IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa; V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele autorizada. § 1o Presume-se a renúncia do credor quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição por outra garantia. § 2o Operando-se a confusão tão-somente quanto a parte da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto. 12.1.1. ESPÉCIES DO PENHOR São espécies do penhor: a. convencional; b. legal; c. comum; d. especial: 1. penhor legal; 2. penhor rural; 3. penhor industrial; 4. penhor de títulos de crédito; 5. penhor de veículos. 12.1.1.1. PENHOR RURAL Existem duas espécies de penhor rural, o penhor agrícola e o penhor pecuário. O penhor agrícola possibilita a concessão de garantia sobre coisas futuras, ou seja, sobre colheitas de lavouras em formação (art. 1.442, II). O penhor pecuário por sua vez, recai sobre “os animais que integram a atividade pastoril, agrícola ou de laticínios” (CC, art. 1.444). 12.1.1.2. PENHOR INDUSTRIAL E MERCANTIL Essa modalidade de penhor pode ter por objeto “máquinas, aparelhos, materiais, instrumentos, 78 instalados e em funcionamento, com os acessórios ou sem eles; animais, utilizados na indústria; sal e bens destinados à exploração das salinas; produtos de suinocultura, animais destinados à industrialização de carnes e derivados; matérias -primas e produtos industrializados” (CC, art. 1.447). 12.1.1.3. PENHOR DE DIREITOS O Código Civil admite penhor de direitos, suscetíveis de cessão, sobre coisas móveis, que se constitui mediante instrumento público ou particular, registrado no Registro de Títulos e Documentos. O titular do direito entregará ao credor pignoratício os documentos comprobatórios, salvo se tiver interesse legítimo em conservá -los (CC, art. 1.452). 12.1.1.4. PENHOR DE TÍTULOS DE CRÉDITO Constitui -se mediante instrumento público ou particular ou endosso pignoratício, com a tradição do título ao credor (CC, art. 1.458). O devedor do título empenhado, que receber a intimação para não pagar ao seu credor ou se der por ciente do penhor, não poderá pagar a este e, se o fizer, responderá solidariamente por perdas e danos, perante o credor pignoratício (art. 1.460). 12.1.1.5. PENHOR DE VEÍCULOS Só pode ser convencionado pelo prazo máximo de dois anos, prorrogável até o limite de igual tempo, averbada a prorrogação à margem do registro respectivo (CC, art. 1.466). Constitui -se mediante instrumento público ou particular, registrado no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, e anotado no certificado de propriedade (art. 1.462). 12.1.1.6. PENHOR LEGAL São credores pignoratícios, independentemente de convenção: a. os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nos respectivos estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; b. O dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas (CC, art. 1.467). Constitui meio direto de defesa (art. 1.470). Completa -se somente com a homologação (art. 1.471). 12.2 DA HIPOTECA Hipoteca é o direito real que tem por objeto bens imóveis, navio ou avião pertencentes ao devedor ou a terceiro e que, embora não entregues ao credor, asseguram -lhe, preferencialmente, o recebimento de seu crédito. São características da hipoteca: a. o objeto gravado deve ser de propriedade do devedor ou de terceiro; b. o devedor continua na posse do imóvel hipotecado; c. é indivisível, pois grava o bem na sua totalidade (CC, art. 1.421); d. tem caráter acessório; e. na modalidade convencional, é negócio solene (art. 108); f. confere ao seu titular os direitos de preferência e de sequela; g. assenta -se em dois princípios: o da especialização e o da publicidade. 79 A hipoteca pode ter como objetos os imóveis, acessórios dos imóveis conjuntamente com eles, domínio direto, domínio útil, estradas de ferro, recursos naturais a que se refere o art. 1.230 do CC, independentemente do solo onde se acham, navios e aeronaves (art. 1.473). Conforme o art. 1.499 do CC, a extinção da hipoteca se dá nos seguintes casos: Art. 1.499. A hipoteca extingue-se: I - pela extinção da obrigação principal; II - pelo perecimento da coisa; III - pela resolução da propriedade; IV - pela renúncia do credor; V - pela remição; VI - pela arrematação ou adjudicação. 12.2.1. PLURALIDADE DE HIPOTECAS107 Admite -se seja o imóvel gravado de várias hipotecas, a menos que o título constitutivo anterior vede isso expressamente. Mesmo havendo pluralidade de hipotecas, o credor primitivo não fica prejudicado, porque goza do direito de preferência (CC, art. 1.476). A segunda hipoteca sobre o mesmo imóvel recebe o nome de sub hipoteca. 11.2.2. DIREITO DE REMIÇÃO108 O art. 1.478 do CC faculta a remição da hipoteca anterior por parte do credor da segunda quando o devedor não se ofereça, no vencimento, a pagar a obrigação avençada. Efetuando o pagamento, o referido credor se sub -rogará nos direitos da hipoteca anterior, sem prejuízo dos que lhe 108 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 854. 107 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 854. competirem contra o devedor comum. 12.2.3. PEREMPÇÃO109 A hipoteca convencional tem validade por 30 anos. Embora possam as partes estipular o prazo que lhes convier, e prorrogá -lo mediante simples averbação, este não ultrapassará o referido limite. Quando atingido, dá -se a perempção. Somente mediante novo instrumento,submetido a outro registro, pode -se preservar o mesmo número de ordem, na preferência da execução hipotecária, mantendo -se a garantia (CC, art. 1.485). 12.3 DA ANTICRESE Anticrese é direito real sobre coisa alheia, em que o credor recebe a posse de coisa frugífera, ficando autorizado a perceber -lhe os frutos e imputá -los no pagamento da dívida (CC, art. 1.506). São características da anticrese: a. é direito real de garantia; b. requer capacidade das partes; c. não confere preferência ao anticresista no pagamento do crédito com a importância obtida na excussão do bem onerado, pois só lhe é conferido o direito de retenção; d. requer, para sua constituição, escritura pública e registro no registro imobiliário. A extinção da anticrese ocorre pelo pagamento da dívida, pelo término do prazo legal ou caducidade (CC, art. 1.423), pelo perecimento do bem anticrético (art. 1.509, § 2º), pela desapropriação (art. 1.509, § 2º), pela renúncia do anticresista, pela excussão de outros credores quando o anticrético não 109 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 854. 80 opuser seu direito de retenção (art. 1.509, § 1º), pelo resgate feito pelo adquirente do imóvel gravado (art. 1.510). 12.4. DIREITO REAL DE GARANTIA Direito real de garantia é o que confere ao seu titular o poder de obter o pagamento de uma dívida com o valor ou a renda de um bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Não se confunde com o de gozo ou de fruição. São efeitos do direito real de garantia, o direito de preferência (CC, art. 1.422), direito de sequela, direito de excutir (art. 1.422) e indivisibilidade (art. 1.421). Os requisitos necessários para o direito real de garantia, dividem-se em subjetivos, objetivos e formais. REQUISITOS SUBJETIVOS ● Capacidade genérica para os atos da vida civil; ● Capacidade especial para alienar. REQUISITOS OBJETIVOS ● Somente as coisas que podem ser alienadas podem ser dadas em garantia (CC, art. 1.420); ● Podem recair sobre bem móvel (penhor) e imóvel (hipoteca); ● Não podem ser objeto de garantia coisas fora do comércio (art. 1.420). REQUISITOS FORMAIS ● Especialização (CC, art. 1.424); ● Publicidade (arts. 1.438 e 1.492). 12.4.1. CLÁUSULA COMISSÓRIA110 É a estipulação que autoriza o credor a ficar com a coisa dada em garantia, caso a dívida não seja paga. O art. 1.428 do CC proíbe expressamente cláusula dessa natureza. 12.4.2. VENCIMENTO ANTECIPADO DA DÍVIDA111 Para maior garantia do credor, a lei antecipa o vencimento das dívidas com garantia real, independentemente de estipulação, nas hipóteses mencionadas no art. 1.425 do CC. O art. 333 prevê o vencimento antecipado das obrigações em geral em algumas dessas hipóteses. 13. DA ENFITEUSE Dá -se a enfiteuse “quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outrem o domínio útil do imóvel, pagando a pessoa, que o adquire, e assim se constitui enfiteuta, ao senhorio direto uma pensão, ou foro anual, certo e invariável” (CC/1916, art. 678). Características da enfiteuse: 111 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 794. 110 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 794. 81 a. É perpétua, porque considerada arrendamento, sendo regida por tempo ilimitado. ● O direito do enfiteuta pode ser transmitido, por ato inter vivos ou causa mortis. ● O aforamento é indivisível, se não houver o consentimento do senhorio, que pode ser tácito. ● O enfiteuta tem a obrigação de pagar ao senhorio uma pensão anual, também chamada cânon ou foro. ● O senhorio tem direito de preferência, quando o enfiteuta pretende transferir a outrem o domínio útil em caso de venda judicial. ● Se não exercer o direito de preferência, o senhorio tem direito ao laudêmio, isto é, uma porcentagem sobre o valor da transação. ● O direito de preferência também é assegurado ao foreiro, no caso de pretender o senhorio vender o domínio direto. Por fim, a enfiteuse é extinta pela natural deterioração do prédio aforado, quando chegue a não valer o capital correspondente ao foro e mais um quinto deste, pelo comisso, deixando o foreiro de pagar as pensões devidas por três anos consecutivos, pelo falecimento do enfiteuta, sem herdeiros, salvo o direito dos credores. Extingue -se também a enfiteuse pelos seguintes modos: a. pelo perecimento do objeto; b. pela desapropriação; c. pela usucapião do imóvel aforado; d. pela renúncia feita pelo enfiteuta; e. pela consolidação; f. pela confusão; e g. pelo resgate.legal; 2. Os professores Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald defendem que não há taxatividade, nem tipicidade, de modo que a autonomia privada pode criar direitos reais. Ex. Time-sharing (será abordado no próximo tópico). 1.6 DIREITOS REAIS PREVISTOS FORA DO ART. 1.225 DO CC Existem direitos reais que não estão previstos no rol do art. 1.2.25 do Código Civil. Um exemplo é a alienação fiduciária em garantia, que é um direito real de garantia sobre coisa própria previsto em lei especial. No que tange à multipropriedade imobiliária, também denominada de “Time sharing”, o professor Flávio Tartuce destaca que “ao final de 2018, frise-se, entrou em vigor no Brasil a Lei 13.777 regulamentando o instituto da multipropriedade de forma bem ampla entre os arts. 1.358-B a 1.358-U da codificação privada” O professor leciona que “O instituto passou ser definido como o regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma alternada. Em termos gerais, a norma traz como conteúdo: a) a aplicação das regras relativas ao condomínio edilício, as previstas na Lei n. 4.591/1964 e no CDC, no que couber e de forma subsidiária; b) preceitos relativos à sua instituição e quanto à convenção condominial, similares aos do condomínio edilício; c) direitos e deveres dos multiproprietários; d) previsão de transferência do direito de multipropriedade; e) regras de administração; e f) disposições específicas relativas às 9 unidades autônomas de condomínios edilícios”. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-MG (Ano: 2022, FUNDEP) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”: Considere as assertivas a seguir: I. Multipropriedade é o regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma alternada e não se extingue automaticamente se todas as frações de tempo forem do mesmo multiproprietário. II. Haverá direito de preferência na alienação de fração de tempo, ainda que não estabelecido no instrumento de instituição ou na convenção do condomínio em multipropriedade em favor dos demais multiproprietários ou do instituidor do condomínio em multipropriedade. III. O atraso, por parte de instituição financeira, na baixa de gravame de alienação fiduciária no registro de veículo não caracteriza, por si só, dano moral in re ipsa. IV. O reconhecimento da usucapião extraordinária, mediante o preenchimento dos requisitos específicos, não pode ser obstado em razão de a área usucapienda ser inferior ao módulo estabelecido em lei municipal. Assinale a alternativa CORRETA: a. Apenas as assertivas II e IV são verdadeiras. b. Apenas as assertivas I, II e III são verdadeiras. c. Apenas as assertivas I, III e IV são verdadeiras. d. As assertivas I, II, III e IV são verdadeiras. Antes da edição da referida lei, já havia um precedente do STJ (REsp n. 1.546.165/SP) no sentido de que o “time-sharing” é um direito real, no entanto, ele não supera a ideia de taxatividade do rol do art. 1.225 do Código Civil, o que confirma a primeira corrente abordada no tópico anterior: EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MULTIPROPRIEDADE IMOBILIÁRIA (TIME-SHARING). NATUREZA JURÍDICA DE DIREITO REAL. UNIDADES FIXAS DE TEMPO. USO EXCLUSIVO E PERPÉTUO DURANTE CERTO PERÍODO ANUAL. PARTE IDEAL DO MULTIPROPRIETÁRIO. PENHORA. INSUBSISTÊNCIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. O sistema time-sharing ou multipropriedade imobiliária, conforme ensina Gustavo Tepedino, é uma espécie de condomínio relativo a locais de lazer no qual se divide o aproveitamento econômico de bem imóvel (casa, chalé, apartamento) entre os cotitulares em unidades fixas de tempo, assegurando-se a cada um o uso exclusivo e perpétuo durante certo período do ano. 2. Extremamente acobertada por princípios que encerram os direitos reais, a multipropriedade imobiliária, nada obstante ter feição obrigacional aferida por muitos, detém forte liame com o instituto da propriedade, se não for sua própria expressão, como já vem proclamando a doutrina contemporânea, inclusive num contexto de não se reprimir a autonomia da vontade nem a liberdade contratual diante da preponderância da tipicidade dos direitos reais e do sistema de numerus clausus. 3. No contexto do Código Civil de 2002, não há óbice a se dotar o instituto da multipropriedade imobiliária de caráter real, especialmente sob a ótica da 10 taxatividade e imutabilidade dos direitos reais inscritos no art. 1.225. 4. O vigente diploma, seguindo os ditames do estatuto civil anterior, não traz nenhuma vedação nem faz referência à inviabilidade de consagrar novos direitos reais. Além disso, com os atributos dos direitos reais se harmoniza o novel instituto, que, circunscrito a um vínculo jurídico de aproveitamento econômico e de imediata aderência ao imóvel, detém as faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem, ainda que objeto de compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e turnos fixos de tempo. 5. A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real, harmonizando-se, portanto, com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil; e o multiproprietário, no caso de penhora do imóvel objeto de compartilhamento espaço-temporal (time-sharing), tem, nos embargos de terceiro, o instrumento judicial protetivo de sua fração ideal do bem objeto de constrição. 6. É insubsistente a penhora sobre a integralidade do imóvel submetido ao regime de multipropriedade na hipótese em que a parte embargante é titular de fração ideal por conta de cessão de direitos em que figurou como cessionária. 7. Recurso especial conhecido e provido” (REsp 1546165/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 06/09/2016). 1.7. DIFERENÇAS ENTRE OS DIREITOS REAIS E OS DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS Vejamos as diferenças entre direitos reais e direitos pessoais patrimoniais, segundo o professor Flávio Tartuce10: DIREITOS REAIS 1. Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo) e uma coisa. O sujeito passivo não é determinado, mas é toda a coletividade. 2. Princípio da publicidade (tradição e registro). 3. Efeitos erga omnes. Os efeitos podem ser restringidos. 4. Rol taxativo (numerus clausus), segundo a visão clássica, que ainda parece prevalecer – art. 1.225 do CC. 5. A coisa responde (direito de sequela). 6. Caráter permanente. 7. Instituto típico: propriedade. DIREITOS PESSOAIS DE CUNHO PATRIMONIAL 1. Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo – credor) e outra (sujeito passivo – devedor). 2. Princípio da autonomia privada (liberdade). 3. Efeitos inter partes. Há uma tendência de ampliação dos efeitos. 4. Rol exemplificativo (numerus apertus) – art. 425 do CC – criação dos contratos atípicos. 5. Os bens do devedor respondem (princípio da responsabilidade patrimonial). 6. Caráter transitório, em regra, o que vem sendo mitigado pelos contratos relacionais ou cativos de longa duração. 7. Instituto típico: contrato. 10 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 40. 11 ⚠ ATENÇÃO11 O professor destaca que o referido quadro “pode ser elaborado e solicitado em provas e na prática do Direito Civil. Apesar de ainda ser mantido, do ponto de vista didático, pôde-se perceber uma grande aproximação metodológica entre os dois âmbitos jurídicos, a fazer ruiro quadro no futuro”. 1.8 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS COISAS Vejamos a síntese do assunto, de acordo com os ensinamentos do professor Carlos Roberto Gonçalves12 sobre a introdução ao estudo do direito das coisas. Direito das coisas é o complexo das normas reguladoras das relações jurídicas concernentes aos bens corpóreos suscetíveis de apropriação pelo homem. O CC divide a matéria em duas partes: posse e direitos reais, dedicando, nesta última, títulos específicos à propriedade e a cada um de seus desmembramentos, denominados direitos reais sobre coisas alheias. O direito real é o poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. Tal direito pode ser analisado sob a perspectiva de duas teorias: 1. A TEORIA UNITÁRIA REALISTA procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério do patrimônio, considerando que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que seria o direito patrimonial; 12 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 355. 11 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 40. 2. Segundo a TEORIA DUALISTA ou CLÁSSICA, mais adequada à realidade, o direito real apresenta características próprias, que o distinguem dos direitos pessoais. 1.8.1. PRINCÍPIOS QUE REGEM OS DIREITOS REAIS São princípios que regem os direitos reais: a) ADERÊNCIA, ESPECIALIZAÇÃO ou INERÊNCIA: estabelece um vínculo entre o sujeito e a coisa; b) ABSOLUTISMO: os direitos reais exercem -se erga omnes (contra todos), que devem abster -se de molestar o titular. Surge daí o direito de sequela ou jus persequendi e o jus praeferendi; c) PUBLICIDADE ou VISIBILIDADE: o registro e a tradição atuam como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais; d) TAXATIVIDADE: o número dos direitos reais é limitado, taxativo. Direitos reais são somente os enumerados na lei (numerus clausus); e) TIPIFICAÇÃO ou TIPICIDADE: os direitos reais existem de acordo com os tipos legais; f) PERPETUIDADE: a propriedade é um direito perpétuo, pois não é perdido pelo não uso. Já os direitos obrigacionais são transitórios: cumprida a obrigação, extinguem -se; g) EXCLUSIVIDADE: não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa; h) DESMEMBRAMENTO: desmembram -se do direito -matriz, que é a propriedade, constituindo os direitos reais sobre coisas alheias. Quando estes se extinguem, a titularidade plena retorna às mãos do 12 proprietário (princípio da consolidação).a) aderência, especialização ou inerência: estabelece um vínculo entre o sujeito e a coisa; i) ABSOLUTISMO: os direitos reais exercem -se erga omnes (contra todos), que devem abster -se de molestar o titular. Surge daí o direito de sequela ou jus persequendi e o jus praeferendi; j) PUBLICIDADE ou VISIBILIDADE: o registro e a tradição atuam como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais; k) TAXATIVIDADE: o número dos direitos reais é limitado, taxativo. Direitos reais são somente os enumerados na lei (numerus clausus); l) TIPIFICAÇÃO ou TIPICIDADE: os direitos reais existem de acordo com os tipos legais; m) PERPETUIDADE: a propriedade é um direito perpétuo, pois não é perdido pelo não uso. Já os direitos obrigacionais são transitórios: cumprida a obrigação, extinguem -se; n) EXCLUSIVIDADE: não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa; o) DESMEMBRAMENTO: desmembram -se do direito -matriz, que é a propriedade, constituindo os direitos reais sobre coisas alheias. Quando estes se extinguem, a titularidade plena retorna às mãos do proprietário (princípio da consolidação). 1.8.2. FIGURAS HÍBRIDAS13 As figuras híbridas situam -se entre o direito pessoal e o direito real. Constituem um misto de 13 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 2 - Contratos em Espécie - Direito das Coisas. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Editora Saraiva, 2022. p. 355. obrigação e de direito real, são elas: a. OBRIGAÇÃO PROPTER REM: é a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. b. ÔNUS REAIS: são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes, por exemplo, a renda constituída sobre imóvel. Aderem e acompanham a coisa. c. OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL: são as que, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, transmitem -se e são oponíveis a terceiro que adquira direito sobre determinado bem (v. arts. 576, 1.417 e 1.418 do CC). 2. POSSE Em breve resumo introdutório, podemos dizer que o direito brasileiro adota a concepção objetiva de posse idealizada por Ihering, pois para nosso sistema jurídico o conceito de posse é um conceito fundamentado no contato físico, no corpus. Segundo a disciplina do CC, considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (art. 1.196, do CC). Portanto, não se deve confundir posse com propriedade, mais que isso: não há subordinação entre elas! Isso porque, o possuidor tem um dos quatro poderes inerentes à propriedade: uso, gozo, fruição ou poder reavê-la; por outro lado, o proprietário tem a soma deles, além do título. Quem tem os quatro poderes e não possui o título (o registro, para bens imóveis, e a tradição, para bens móveis), tem domínio, mas não tem propriedade 13 e, por isso, não possui oponibilidade erga omnes. Ainda, embora o direito brasileiro adote como regra a teoria objetiva de Ihering, ele faz concessões com a teoria subjetiva de Savigny. É que, na usucapião, por exemplo, há exigência de posse com animus domini, que é um elemento subjetivo. O STJ, lapidando o artigo 1.196, do CC, entende que a posse, na visão contemporânea da teoria objetiva, não é, necessariamente, apreensão física, mas poder físico sobre a coisa (STJ, Resp. 1.158.992/MG). Considerando isto, podemos chegar à conclusão de que não é necessário ser pessoa física para ter posse, pois a posse pode ser adquirida por pessoa jurídica e por entes despersonalizados. Mais que isto, a sua aquisição não necessariamente se dará de forma direta, pois é possível se adquirir a posse por intermédio de um representante. Sobre o tema, ainda, é preciso alertar que o nosso sistema jurídico desqualifica a posse em alguns casos. É dizer, em alguns momentos, embora se exerça um dos quatro poderes inerentes à propriedade, não se poderá falar de posse, mas de mera detenção. Segundo o Código Civil, são três as hipóteses de mera detenção: i) o fâmulo da posse ou gestor/administrador da posse (art. 1.198, CC), do que é exemplo a figura do caseiro, ii) os atos de mera tolerância (art. 1.208, CC) e iii) os atos violentos ou clandestinos antes do convalescimento ou interversão (art. 1.208, CC), que se dá no prazo de ano e dia ou antes dele quando cessar a causa que originou. Mas vamos com calma! 2.1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DA POSSE Posse é o domínio fático que uma pessoa exerce sobre uma coisa. Qual a diferença da posse e da mera detenção? “O ordenamento jurídico disciplina as relações possessórias, criando, de forma artificial, a separação da chamada detenção jurídica relevante de outras situações não protegidas. Quando não houver proteção legal da relação com a coisa, o que existe é mera detenção. Portanto, a detenção nada mais é do que espécie de posse cujo ordenamento jurídico não concede proteção. Assim, no silêncio do ordenamento, quem apreende a coisa é possuidor. São casos de detenção com previsão expressa14”: “I. FÂMULO DA POSSE (ART. 1.198): É o gestor da posse, aquele que apreende a coisa por força de uma relação subordinativa para com terceiro ouem razão de uma dependência jurídica. Apreende a coisa em nome de outrem. Exemplo: caseiro”; “II. ATOS DE MERA TOLERÂNCIA (ART. 1.208): não induzem posse a mera tolerância. A interpretação contrária, seria um abuso de confiança. Evita-se, com isso, que a posse precária convalesça. Podemos citar como exemplo o empréstimo. Contudo, um ato de tolerância ou permissão pode induzir posse quando rompida a relação jurídica base. Ocorre, por exemplo, quando o comodatário não restitui a coisa no dia certo e passa a haver esbulho, rompendo a relação jurídica base e induzindo a posse do esbulhador”; “III. PERMISSÃO E CONCESSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO: A permissão e concessão de uso de bem público não induzem posse, mas mero ato de detenção”. Vejamos a literalidade dos dispositivos legais 14 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 419. 14 citados: Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Perceba que a posse violenta ou clandestina convalesce, mas isto não acontece com a posse precária, que é aquela que começa justa e depois passa a ser injusta. No entanto, ela pode se converter. Neste sentido, o Enunciado 301 da Jornada de Direito Civil, segundo o qual há possibilidade de conversão da detenção em posse quando rompida a relação jurídica originária. Ainda sobre o tema, segundo o STJ, há, também, mera detenção em face da utilização dos bens públicos de uso comum ou especial (STJ, REsp. 1.003.708/PR) e na ocupação irregular de áreas públicas (STJ, REsp. 556.721/DF). Neste sentido é a Súmula 619 do mesmo STJ, vejamos: Súmula n. 619 do STJ – “A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.” No ponto, importa alertar que estas hipóteses de mera detenção se dão em face de seu titular, mas não em face de terceiros. É dizer, não poderá o detentor opor posse em face do poder público, mas poderá opô-la a outrem, veja-se: É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. STJ. 4ª Turma. REsp 1296964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). Outrossim, particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590). Quanto ao objeto da posse, como vimos, para se caracterizar posse é necessário contato (ou poder) físico sobre a coisa. Por isto, o objeto da posse só pode ser um bem corpóreo, pois apenas eles são materializáveis, tangíveis. Assim, os bens incorpóreos não admitem a usucapião, pois um de seus requisitos é a posse, exceto na ultrapassada hipótese prevista na Súmula 193 do STJ, que permite a usucapião de linha telefônica. Neste sentido, o enunciado da Súmula 228, do STJ, segundo a qual: é inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral. De posse da informação de que o interdito proibitório é uma ação possessória e de que o direito autoral é incorpóreo, resta lógico o entendimento consolidado no verbete. ● Existe um debate acerca da natureza jurídica da posse. 15 O professor Rubem Valente destaca que:15 “O ponto principal do debate enfocava se a posse tinha a natureza de um fato ou um direito. Para Savigny, em sua teoria da natureza jurídica dúplice (ou eclética), considerada isoladamente, a posse seria um fato, pois sua existência independe de regras do direito. No entanto, em determinadas condições, atribui-se a este fato os efeitos de um direito pessoal. De outro lado, Ihering conceituava o direito subjetivo como um interesse juridicamente protegido. A posse, portanto, seria um interesse legítimo tutelado pela norma, tratando-se de um direito. Partindo-se da premissa que a posse é um direito, é necessário definir se é um direito real ou pessoal. Entretanto, não pode ser enquadrada em nenhuma das duas modalidades mencionadas pelas seguintes razões: a) A pretensão de classificá-la como direito pessoal esbarra na própria definição deste: relação ou vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de uma prestação; b) Um argumento que pode tirar da posse qualquer natureza real é o caráter absoluto dos direitos reais. A posse não é oponível erga omnes em pelo menos duas situações: ainda que o possuidor possa vencer a demanda possessória contra o proprietário, este acabará reavendo a coisa por meio das vias reivindicatórias; e o direito de sequela do possuidor cede ante a boa-fé. Conclui-se, então, que a posse é vista como um instituto jurídico sui generis, pois, além de não se encaixar nas categorias dogmáticas existentes, também não dá margem à criação de uma categoria 15 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. própria que se adstringiria a essa figura única”16. 2.2. TEORIAS Segundo o professor Flávio Tartuce, as teorias justificadoras da posse são as seguintes: 1. Teoria Subjetivista ou Subjetiva (Savigny): Posse = Corpus + Animus Domini. Não foi a adotada tanto pelo Código Civil Brasileiro de 1916 quanto pelo Código Civil de 200217 “Protagonizada por Savigny. Segundo a teoria, a posse apresentaria dois elementos constitutivos: corpus (elemento que traduz no controle material da pessoa sobre a coisa) e animus (elemento volitivo, que consiste na intenção do possuidor de exercer o direito como se proprietário fosse)18;” 2. Teoria Objetivista ou Objetiva (Ihering): Posse = Corpus. Teoria adotada, na visão clássica, pelas duas codificações civis brasileiras19. “Desenvolvida por Ihering, para esta teoria, a posse tem apenas um elemento constitutivo: corpus (elemento que traduz a efetiva apreensão da coisa). Desta forma, corpus é a coisa, a matéria; em contrapartida a animus que é a vontade, a intenção; percebe-se então que nem sempre ter a posse do bem requer necessariamente a vontade de tê-lo para si.”20 “A superioridade da teoria objetiva repousa na maior facilidade de se distinguir a posse da 20 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. 19 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 132. 18 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. 17 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 132. 16 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 421. 16 detenção. Ihering defendeu que a detenção seria uma posse desqualificada pelo ordenamento jurídico. Para o Código de 2002, de acordo com a interpretação do art. 1.196, prevalece a teoria objetiva. Entretanto, faz diversas concessões a teoria subjetiva, como no caso de usucapião, em que o Código exige posse com animus domini21” 21 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 418. 3. Teoria da Função Social da Posse (Saleilles, Perozzi e Gil): Posse é funçãosocial (posse-trabalho). Tendência contemporânea, inclusive para o reconhecimento da posse como direito autônomo à propriedade22. 2.3 CLASSIFICAÇÕES 22 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 132. 17 2.3.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À RELAÇÃO PESSOA-COISA OU QUANTO AO DESDOBRAMENTO23 “Levando-se em conta a relação mantida entre a pessoa e a coisa sobre a qual recai a posse, temos a seguinte classificação: a) POSSE DIRETA OU IMEDIATA – aquela que é exercida por quem tem a coisa materialmente, havendo um poder físico imediato. A título de exemplificação, cite-se a posse exercida pelo locatário, por concessão do locador. b) POSSE INDIRETA OU MEDIATA – exercida por meio de outra pessoa, havendo mero exercício de direito, geralmente decorrente da propriedade. É o que se verifica em favor do locador, proprietário do bem”. 2.3.2. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE VÍCIOS24 “Levando-se em conta critérios objetivos que constam do art. 1.200 do CC/2002, é concebida doutrinariamente a seguinte classificação a respeito da presença de vícios exteriores: a) POSSE JUSTA – é a que não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade, sendo uma posse limpa. b) POSSE INJUSTA – apresenta os referidos vícios, pois foi adquirida por meio de ato de violência, ato clandestino ou de precariedade, nos seguintes termos: ● POSSE VIOLENTA – é a obtida por 24Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 64. 23Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 63. meio de esbulho, for força física ou violência moral (vis). A doutrina tem o costume de associá-la ao crime de roubo. Exemplo: integrantes de um movimento popular invadem violentamente, removendo e destruindo obstáculos, uma propriedade rural que está sendo utilizada pelo proprietário, cumprindo a sua função social. ● POSSE CLANDESTINA – é a obtida às escondidas, de forma oculta, à surdina, na calada da noite (clam). É assemelhada ao crime de furto. Exemplo: integrantes de um movimento popular invadem, à noite e sem violência, uma propriedade rural que está sendo utilizada pelo proprietário, cumprindo a sua função social. ● POSSE PRECÁRIA – é a obtida com abuso de confiança ou de direito (precario). Tem forma assemelhada ao crime de estelionato ou à apropriação indébita, sendo também denominada esbulho pacífico. Exemplo: locatário de um bem móvel que não devolve o veículo ao final do contrato”.25 O professor Flávio Tartuce chama à atenção para as seguintes observações sobre essa classificação : ● A posse injusta pode passar a ser justa 25Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 64. 18 (pode “curar” ou convalidar). Essa convalidação aplica-se à posse violenta e à posse clandestina. Segundo a posição majoritária, a posse precária não pode ser convalidada, pois não está mencionada no art. 1.208 do Código Civil “(Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade)”. ● Segundo a corrente majoritária, defendida pelos professores Maria Helena Diniz e Carlos Roberto Gonçalves, o critério para que a posse injusta passe a ser justa é o critério temporal. Depois de 1 ano e 1 dia, a posse passa a ser justa (art. 558 do CPC de 20153; e art. 924 do CPC de 1973) ⚠ ATENÇÃO Há quem entenda que o critério deve ser a função social da posse (Flávio Tartuce e Marco Aurélio Bezerra de Melo). ● A classificação quanto aos vícios repercute em dois aspectos: a) USUCAPIÃO: somente quem tem posse justa pode usucapir. b) AÇÕES POSSESSÓRIAS: o possuidor justo tem ação possessória contra o injusto; mas este não tem contra aquele. Cuidado! o possuidor injusto tem ação possessória contra terceiro. 2.3.3. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS VÍCIOS SUBJETIVOS OU QUANTO À BOA-FÉ26 Em regra, a boa-fé mencionada no art. 1.201 do Código Civil é subjetiva: Art. 1.201, CC: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.” a) POSSE DE BOA-FÉ: “ presente quando o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa ou do direito possuído ou, ainda, quando tem um justo título que fundamente a sua posse. Orlando Gomes a divide em posse de boa-fé real quando “a convicção do possuidor se apoia em elementos objetivos tão evidentes que nenhuma dúvida pode ser suscitada quanto à legitimidade de sua aquisição” e posse de boa-fé presumida “quando o possuidor tem o justo título” (Direitos reais..., 2004, p. 54).27” O que seria “Justo título”? Segundo Caio Mário da Silva Pereira, justo título é uma causa representativa que tenha fundamento no ordenamento jurídico. Pode ser documentado ou não. Exemplo: um contrato válido e eficaz é justo título (locação, comodato, depósito e compromisso de 27 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 73. 26Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 64. 19 compra e venda de móvel registrado ou não na matrícula - CRI). Enunciado 302, IV JDC: “Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113 do Código Civil.” Enunciado 303, IV JDC: “Considera-se justo título, para a presunção relativa da boa-fé do possuidor, o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse.” b) POSSE DE MÁ-FÉ: “situação em que alguém sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático sobre esta. Neste caso, o possuidor nunca possui um justo título. De qualquer modo, ainda que de má-fé, esse possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque de terceiro28””. ⚠ ATENÇÃO Em regra, a posse justa equivale à posse de boa-fé e a posse injusta equivale à posse de má-fé. Exceção: a posse pode ser injusta e de boa-fé. Exemplo: um bem é roubado e é vendido no dia seguinte para um terceiro que ignora o roubo. A posse desse terceiro é injusta e de boa-fé (Orlando Gomes) 28 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 73. Vejamos a tabela elaborada pelo professor Flávio Tartuce29 sobre os efeitos da posse de boa e má-fé: POSSUIDOR DE BOA-FÉ Ex.: locatário. 1. FRUTOS (SAEM DO PRINCIPAL): Sim. Tem direito aos frutos, com exceção dos pendentes. 2. BENFEITORIAS (ENTRAM NO PRINCIPAL): Sim. Benfeitorias necessárias e úteis (indenização e retenção). Pode, ainda, levantar as voluptuárias, sem prejuízo da coisa principal. 3. RESPONSABILIDADE (PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA): Somente responde por dolo ou culpa. POSSUIDOR DE MÁ-FÉ Ex. invasor. 1. FRUTOS (SAEM DO PRINCIPAL): Não tem direito. Responde pelos frutos colhidos e que deixou de colher. 2. BENFEITORIAS (ENTRAM NO PRINCIPAL): Sim. Somente benfeitorias necessárias (indenização, retenção não). 3. RESPONSABILIDADE (PERDA OU DETERIORAÇÃO DA 29 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 133. 20 COISA): Responde, ainda que por fato acidental. Possuidorde boa-fé e benfeitorias: segundo a doutrina e a jurisprudência, aplicam-se as mesmas regras das benfeitorias para as acessões (construções e plantações), Nesse sentido: Enunciado 81, I JDC: “O direito de retenção previsto no art. 1.219 do Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.” RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE. DIREITO DE RETENÇÃO POR ACESSÃO E BENFEITORIAS. CONTRATO DE COMODATO MODAL. CLÁUSULAS CONTRATUAIS. VALIDADE. 1. A teor do artigo 1.219 do Código Civil, o possuidor de boa-fé tem direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis e, por semelhança, das acessões, sob pena de enriquecimento ilícito, salvo se houver estipulação em contrário. 2. No caso em apreço, há previsão contratual de que a comodatária abre mão do direito de ressarcimento ou retenção pela acessão e benfeitorias, não tendo as instâncias de cognição plena vislumbrado nenhum vício na vontade apto a afastar as cláusulas contratuais insertas na avença. 3. A atribuição de encargo ao comodatário, consistente na construção de casa de alvenaria, a fim de evitar a "favelização" do local, não desnatura o contrato de comodato modal. 4. Recurso especial não provido.” (REsp 1.316.895/SP. Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 11/06/2013, DJe 28/06/2013). O locatário é possuidor de boa-fé, sendo comum, por força do contrato, a cláusula de renúncia ao direito de indenização por benfeitorias necessárias e úteis. Nesse sentido: Art. 35, Lei 8.245/91.: “Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.” Súmula 335, STJ: “Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.” Enunciado 433, V JDC: “A cláusula de renúncia antecipada ao direito de indenização e retenção por benfeitorias necessárias é nula em contrato de locação de imóvel urbano feito nos moldes do contrato de adesão.” 2.3.4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE TÍTULO30 Esta classificação não tem previsão no Código Civil a) POSSE COM TÍTULO: “situação em que há uma causa representativa da transmissão da posse, caso de um documento escrito, como ocorre na vigência de um contrato de locação ou de comodato, por exemplo”31. 31Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p.75.. 30Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 64. 21 b) POSSE SEM TÍTULO: “situação em que não há uma causa representativa, pelo menos aparente, da transmissão do domínio fático. A título de exemplo, pode ser citada a situação em que alguém acha um tesouro, depósito de coisas preciosas, sem a intenção de fazê-lo. Nesse caso, a posse é qualificada como um ato-fato jurídico, pois não há uma vontade juridicamente relevante para que exista um ato jurídico.32 Exemplo: Achado de um tesouro sem querer. Três regras quanto ao achado do tesouro (arts.1.264 e 1.265, CC13): 1) Achei no meu terreno: é meu. 2) Achei no terreno do outro, de boa-fé: meio a meio. 3) Achei no de outro, de má-fé: é do outro (dono do terreno). “Mantendo relação com a classificação acima, surgem os conceitos de ius possidendi e ius possessionis. A partir das lições de Washington de Barros Monteiro, o ius possidendi é o direito à posse que decorre de propriedade; enquanto o ius possessionis é o direito que decorre exclusivamente da posse (Curso..., 2003, v. 3, p. 32). Fazendo o paralelo, pode-se afirmar que no ius possidendi há uma posse com título, estribada na propriedade. No ius possessionis há uma posse sem título, que existe por si só. O esquema a seguir demonstra, em resumo, tais conceitos33”: 33Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 75. 32Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 75. 2.3.5. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMPO34 a) POSSE NOVA: “é a que conta com menos de um ano e um dia, ou seja, é aquela com até um ano35”. b) POSSE VELHA: “é a que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, com um ano e um dia ou mais.36 Se segue a doutrina de Maria Helena Diniz e Carlos Roberto Gonçalves: até um ano, a posse é nova. A partir de um ano e um dia, a posse é velha. Há quem entenda que a posse velha é aquela com mais de um ano e um dia (Caio Mário). 📌 OBSERVAÇÃO O prazo de um ano e um dia tem origem nas questões relativas à colheita (“virada de lua”). ⚠ ATENÇÃO Merece destaque a questão processual: É preciso verificar a data da ameaça, da turbação ou do esbulho. Se forem: a. Novos (menos de um ano e um dia): caberá a ação de força nova. A ação segue o procedimento especial e cabe liminar. b. Velhos (pelo menos 1 ano e 1 dia): caberá a ação de força velha. A ação não tem rito 36Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 75. 35Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 75. 34Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 74. 22 especial, seguindo o procedimento comum. Não cabe liminar. Eventualmente, caberá tutela provisória (art. 300 a 311, CPC). 2.3.6. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS EFEITOS37 a) POSSE AD USUCAPIONEM: “exceção à regra, é a que se prolonga por determinado lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a aquisição da propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os parâmetros legais. Em outras palavras, é aquela posse com olhos à usucapião (posse usucapível), pela presença dos seus elementos, que serão estudados oportunamente. A posse ad usucapionem deve ser mansa, pacífica, duradoura por lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com intenção de dono (animus domini – conceito de Savigny). Além disso, em regra, deve ter os requisitos do justo título e da boa-fé.38” b) POSSE AD INTERDICTA: “constituindo regra geral, é a posse que pode ser defendida pelas ações possessórias diretas ou interditos possessórios. A título de exemplo, tanto o locador quanto o locatário podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado por um terceiro. Essa posse não conduz à usucapião39”.Existem três situações determinadas, que geram três ações, havendo fungibilidade total entre elas (art. 554, caput, CPC): 1) Na ameaça, a ação cabível é o interdito 39Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 76. 38Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 76. 37Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 76 proibitório. 2) Na turbação (atentado momentâneo), é cabível a ação de manutenção da posse. 3) No esbulho (atentado definitivo), a ação cabível é a reintegração da posse. O esbulho pode ser invasão total ou parcial. ⚠ ATENÇÃO A invasão parcial de um imóvel caracteriza esbulho e não turbação, conforme o art. 1.210, §1º, CC: Art. 1.210. (...) § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. Além dessas ações judiciais, existem mecanismosde autotutela civil: 1. Legítima defesa da posse: cabe em casos de ameaça ou turbação 2. Desforço imediato: cabe nos casos de esbulho. 2.5. AQUISIÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA DA POSSE 2.5.1. AQUISIÇÃO Quem pode adquirir a posse? A posse pode ser adquirida pelo representante (legal, judicial ou convencional) da pessoa que deseja a posse, assim como pelo seu gestor de negócios, caso a aquisição seja ratificada pelo interessado (art. 1.205, incisos I e II). O Enunciado 236 da III Jornada de Direito Civil 23 do CJF estabelece que: “Considera-se possuidor, para todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida de personalidade jurídica”. O professor Rubem Valente explica que ”o Código Civil de 2002, ao contrário do anterior, em coerência com a teoria objetiva de Ihering, adotada no art. 1.196, não fez a enumeração dos modos de aquisição, limitando-se a proclamar, no art. 1.204 que “adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade40”. Portanto, a posse pode ser adquirida por: 1. APREENSÃO DA COISA OU EXERCÍCIO DO DIREITO: “consiste na apropriação consciente e unilateral de coisa “sem dono” (coisa abandonada – res derelicta; ou coisa de ninguém – res nullius), o que importa em posse. Dá-se, ainda, a apreensão quando a coisa é retirada de alguém sem sua permissão. Adquirir-se-á, também, por exercício do direito. Exemplo clássico: servidão41”. 2. DISPOSIÇÃO DA COISA OU DO DIREITO: “após o início do poder fático sobre a coisa, sua utilização caracteriza conduta normal do titular da posse ou domínio42”. 3. MODOS DE AQUISIÇÃO EM GERAL: “entende-se que a posse pode ser obtida por qualquer forma lícita. É o caso da abertura de herança, contrato etc43”. Enunciado 77 da I Jornada de Direito Civil do 43 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. 42 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. 41 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. 40 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. CJF dita que: “A posse das coisas móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo constituto possessório”. 📌 OBSERVAÇÃO “Sobre o tema, é relevante destacar o instituto da união das posses (art. 1.207), traduzido na continuação da posse pela soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores. O gênero união de posses subdivide-se em duas espécies: a) Sucessio possessionis: trata-se de modo derivado de titularização da posse. b) Acessio possessionis: verifica-se sempre inter vivos e por meio de uma relação jurídica (compra e venda)”44. 🚨 JÁ CAIU Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-RS (Ano: 2022, FAURGS) foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “e”: Relativamente à posse, é INCORRETO afirmar que o Código Civil vigente a. determina que, até prova contrária, a posse do imóvel faz presumir a das coisas móveis que nele estiverem. b. possibilita a aquisição da posse por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. c. permite a aquisição da posse por meio de representante da própria pessoa que aquela pretende. d. não admite que atos de mera permissão ou tolerância induzam a posse. 44 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. 24 e. veda ao sucessor singular unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. O professor Flávio Tartuce destaca que há formas de “há formas de aquisição originárias, em que há um contato direto entre a pessoa e a coisa; e formas de aquisição derivadas, em que há uma intermediação pessoal45”. Como forma originária, o exemplo típico se dá no ato de apreensão de bem móvel, quando a coisa não tem dono (res nullius) ou for abandonada (res derelicta)46. Como modalidade derivada, o caso mais importante envolve a tradição, que vem a ser a entrega da coisa, principal forma de aquisição da propriedade móvel. A partir das construções de Washington de Barros Monteiro, classifica-se a tradição da seguinte forma (Curso..., 2003, v. 3, p. 200-201)47: a. TRADIÇÃO REAL:“é aquela que se dá pela entrega efetiva ou material da coisa, como ocorre na entrega do veículo pela concessionária em uma compra e venda.” b. TRADIÇÃO SIMBÓLICA: “ocorre quando há um ato representativo da transferência da coisa como, por exemplo, a entrega das chaves de um apartamento. É o que se dá na traditio longa manu, em que a coisa a ser entregue é colocada à disposição da outra parte. A título de ilustração, o Código Civil de 2002 passou a disciplinar, como cláusula especial da compra e venda, a venda sobre documentos, em que a entrega efetiva do bem 47 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 126. 46 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. 45 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 126. móvel é substituída pela entrega de documento correspondente à propriedade (arts. 529 a 532 do CC)”. c. TRADIÇÃO FICTA: “é aquela que se dá por presunção, como ocorre na traditio brevi manu, em que o possuidor possuía em nome alheio e passa a possuir em nome próprio (o exemplo típico é o do locatário que compra o imóvel, passando a ser o proprietário). Também há tradição ficta no constituto possessório ou cláusula constituti, em que o possuidor possuía em nome próprio e passa a possuir em nome alheio (o exemplo típico é o do proprietário que vende o imóvel e nele permanece como locatário)”. ⚠ ATENÇÃO “Muitos autores seguem a divisão de Orlando Gomes (Direitos reais..., 2004, p. 67-68), havendo divergência quanto à tradição simbólica e ficta. Para o autor baiano, a tradição simbólica ou ficta é a forma espiritualizada de tradição, em que “a entrega material da coisa é substituída por atitudes, gestos, ou mesmo atos, indicativos do propósito de transmitir a posse, como se verifica com a entrega das chaves para a aquisição de uma casa” (Direitos reais..., 2004, p. 67). Ainda para o jurista a traditio brevi manu e o constituto possessório são formas de tradição consensual. Como ficou claro, segundo a linha seguida pelo autor desta obra, a tradição simbólica não se confunde com a ficta, que seria o que para o último doutrinador é denominado como tradição consensual.48” Vejamos a tabela comparativa: 48 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 126. 25 CLASSIFICAÇÃO DE WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO 1. Tradição real. 2. Tradição simbólica. 3. Tradição ficta ou presumida. CLASSIFICAÇÃO DE ORLANDO GOMES 1. Tradição efetiva. 2. Tradição ficta ou presumida 3. Tradição consensual. 2.5.2. TRANSMISSÃO DA POSSE A posse, em regra, mantém as mesmas características com as quais foi adquirida (Princípio da continuidade do caráter da posse). Exceção: art. 1.208, CC. Art. 1.208, CC“Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.” Segundo o professor Rubem Valente, a transmissão da posse pode ocorrer a título universal ou a título singular. A transmissão a título universal pode ocorrer por: causa mortis (herdeiros sucedem o autor da herança) e inter vivos (quando se transfere uma universalidade, por exemplo, um estabelecimento comercial). A transmissão a título singular ocorre quando se transfere um bem ou bens determinados e individualizados(inter vivos), ou quando no testamento institui-se um legatário (causa mortis)49”. Enunciado 494, V JDC: “A faculdade conferida ao sucessor singular de somar ou não o tempo da posse de seu antecessor não significa que, ao optar por nova contagem, estará livre do vício objetivo que maculava a posse anterior.” (visa evitar fraudes). 2.5.3. PERDA DA POSSE O professor Flávio Tartuce esclarece que o legislador “preferiu utilizar expressões genéricas, ao prever no art. 1.223 do Código Civil vigente que “perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196”. Em suma, cessando os atributos relativos à propriedade, cessa a posse, que é perdida, extinta. O art. 520 do CC de 1916, ao contrário, enunciava expressamente os casos de perda da posse, que nos servem como exemplos ilustrativos (rol numerus apertus)50”: a) Pelo abandono da coisa (derrelição), fazendo surgir a coisa abandonada (res derelicta). b) Pela tradição, entrega da coisa, que pode ser real, simbólica ou ficta, como já exposto. c) Pela perda ou destruição da coisa possuída. d) Se a coisa for colocada fora do comércio, isto é, se for tratada como bem inalienável (inconsuntibilidade jurídica, conforme a segunda parte do art. 86 do CC). e) Pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido, ou reintegrado à posse em 50 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 130. 49 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. p. 425. 26 tempo competente. f) Pelo constituto possessório ou cláusula constituti, hipótese em que a pessoa possuía o bem em nome próprio e passa a possuir em nome alheio (forma de aquisição e perda da posse, ao mesmo tempo). 2.5.4. COMPOSSE OU COMPOSSESSÃO Composse é o exercício simultâneo da mesma posse, ao mesmo tempo, por duas ou mais pessoas. Assim, são requisitos dela a indivisibilidade da coisa e a pluralidade de pessoas, é a chamada posse pro indiviso. Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Um bom exemplo de composse é o casamento, nele, todos têm a posse e podem defender a coisa, no todo, independente da fração ideal, em relação a terceiros. Podem, também, defender a coisa um contra o outro (STJ, REsp. 537.363/RS). Segundo o professor Flávio Tartuce “a composse ou compossessão é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa. Há, portanto, um condomínio de posses. Na prática, a composse pode ser decorrente de contrato ou de herança, tendo origem inter vivos ou mortis causa51”. Exemplificando: “em caso envolvendo o 51 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 130. contrato, pense-se na hipótese de uma doação conjuntiva, a dois donatários, mantendo ambos a posse sobre o imóvel doado. Na herança, pode ser citada a situação dos herdeiros antes da partilha dos bens, ainda em curso o inventário”52. Em casos tais, os compossuidores podem usar livremente a coisa, conforme seu destino, e sobre ela exercer seus direitos compatíveis com a situação de indivisão. Art. 1.199 do CC, pelo qual “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. ⚠ ATENÇÃO Um não pode excluir o direito do outro compossuidor, sob pena de ação possessória entre eles. Qualquer compossuidor pode ingressar com ação possessória contra terceiros. Também cabe ação possessória entre eles. Exemplo: composse entre herdeiros. Nesse sentido: EMENTA: “DIREITO CIVIL. POSSE. MORTE DO AUTOR DA HERANÇA. SAISINE. AQUISIÇÃO EX LEGE. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA INDEPENDENTE DO EXERCÍCIO FÁTICO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Modos de aquisição da posse. Forma ex lege: Morte do autor da herança. Não obstante a caracterização da posse como poder fático sobre a coisa, o ordenamento jurídico reconhece, também, a obtenção deste direito na forma do art. 1.572 do Código Civil de 52 Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v.4. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022. p. 130. 27 1916, em virtude do princípio da saisine, que confere a transmissão da posse, ainda que indireta, aos herdeiros, independentemente de qualquer outra circunstância. 2. A proteção possessória não reclama qualificação especial para o seu exercício, uma vez que a posse civil - decorrente da sucessão -, tem as mesma garantias que a posse oriunda do art. 485 do Código Civil de 1916, pois, embora, desprovida de elementos marcantes do conceito tradicional, é tida como posse, e a sua proteção é, indubitavelmente, reclamada. 3. A transmissão da posse ao herdeiro se dá ex lege. O exercício fático da posse não é requisito essencial, para que este tenha direito à proteção possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho, tendo em vista que a transmissão da posse (seja ela direta ou indireta) dos bens da herança se dá ope legis, independentemente da prática de qualquer outro ato. 4. Recurso especial a que se dá provimento” (Resp 537.363/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA, Terceira Turma, julgado em 20/04/2010, DJe 07/05/2010). A composse inviabiliza a usucapião da coisa pelos seus compossuidores, exceto se a posse for estabelecida com exclusividade por um deles (STJ, REsp. 10.978/RJ). Para facilitar o entendimento, imaginemos a hipótese de uma fazenda que, por herança, foi atribuída a cinco herdeiros, mas apenas um deles cuida do espaço e divide os prejuízos que eventualmente ela apresente, sem que o faça como representante dos demais. Nesta hipótese, a posse está sendo exercida por apenas um herdeiro e, por isso, ele pode usucapir o bem. Sobre o tema, vejamos: AÇÃO DE USUCAPIÃO. HERDEIRA. POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE. AUSÊNCIA DE PRONUNCIAMENTO PELO TRIBUNAL ACERCA DO CARÁTER PÚBLICO DO IMÓVEL OBJETO DE USUCAPIÃO QUE ENCONTRA-SE COM A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. 1. O condômino tem legitimidade para usucapir em nome próprio, desde que exerça a posse por si mesmo, ou seja, desde que comprovados os requisitos legais atinentes à usucapião, bem como tenha sido exercida posse exclusiva com efetivo animus domini pelo prazo determinado em lei, sem qualquer oposição dos demais proprietários. 2. Há negativa de prestação jurisdicional em decorrência de não ter o Tribunal de origem emitido juízo de valor acerca da natureza do bem imóvel que se pretende usucapir, mesmo tendo os recorrentes levantado a questão em sede de recurso de apelação e em embargos de declaração opostos ao acórdão. 3. Recurso especial a que se dá provimento para: a). reconhecer a legitimidade dos recorrentes para proporem ação de usucapião relativamente ao imóvel descrito nos presentes autos, e b). anular parcialmente o acórdão recorrido, por violação ao artigo 535 do CPC, determinando o retorno dos autos para que aquela ilustre Corte aprecie a questão atinente ao caráter público do imóvel. Ademais, as ações possessórias não exigem formação de litisconsórcio entre cônjuges, como ocorre com as ações que versam sobre direitos reais imobiliárias (art. 73, CPC), no entanto, consoante o parágrafo segundo deste mesmo artigo, a participação do cônjuge do autor ou do réu é indispensável nas hipóteses de composse. Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação 28 que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. (...) § 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses