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DIREITO CIVIL Introdução ao Direito Civil Livro Eletrônico Presidente: Gabriel Granjeiro Vice-Presidente: Rodrigo Calado Diretor Pedagógico: Erico Teixeira Diretora de Produção Educacional: Vivian Higashi Gerente de Produção Digital: Bárbara Guerra Coordenadora Pedagógica: Élica Lopes Todo o material desta apostila (incluídos textos e imagens) está protegido por direitos autorais do Gran. Será proibida toda forma de plágio, cópia, reprodução ou qualquer outra forma de uso, não autorizada expressamente, seja ela onerosa ou não, sujeitando-se o transgressor às penalidades previstas civil e criminalmente. CÓDIGO: 250513077405 ROBERTA QUEIROZ Mestre em Direito pela Universidade Católica de Brasília, com dissertação na área de Direito Processual Civil – Negócios Jurídicos Processais. Especialista em Direito Processual Civil, pela Universidade do Sul de Santa Catarina, em novembro de 2009. Graduada em Direito, pela Universidade Católica de Brasília, em dezembro de 2005. Foi professora universitária do curso de Direito da Universidade Católica de Brasília. Docente nas disciplinas de Direito Civil e Direito Processual Civil desde 2007 para pós-graduação, preparatório de Exame de Ordem e concursos das carreiras jurídicas. Professora de cursos de aperfeiçoamento na advocacia em Direito Civil e Processo Civil na Escola Superior da Advocacia de Brasília – ESA/DF. Coordenadora do curso preparatório para Exame de Ordem do Gran Cursos Online. Advogada inscrita na OAB-DF. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br 3 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz SUMÁRIO Introdução ao Direito Civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2. Terminologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 4 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVILINTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 1 . INtroDUÇÃo1 . INtroDUÇÃo Oi meus amores, tudo bem com vocês? Vamos iniciar nossa aula? Estou muito muito feliz de estarmos juntos aqui... Quero começar hoje com uma introdução breve; conversando sobre alguns pontos iniciais que irão facilitar a compreensão de temas que serão abordados futuramente. Bom, para iniciar, vocês lembram que o Código Civil que vamos estudar entrou em vigência no ano de 2003? Pois é, o Código Civil anterior era de 1916, o qual chamo carinhosamente de Código de Bebé, pois foi idealizado por Clóvis Bevilaqua, vou colocar a foto dele aqui do lado para você lembrar sempre dele e, na nota de rodapé vou colocar algumas curiosidades sobre ele (leia somente se quiser saber mais sobre esse nobre jurista)1 Esse Código, revogado, era composto por um sistema extremamente cuidadoso com questões patrimoniais. 1 Clóvis Beviláqua, jurista, magistrado, jornalista, professor, historiador e crítico, nasceu em Viçosa, CE, em 4 de outubro de 1859, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 26 de julho de 1944. Iniciou a carreira de magistrado, em 1883, ao ser nomeado promotor público de Alcântara, no Maranhão. No jornalismo, fez campanha pela República e, após a proclamação, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte pelo Ceará. Foi a pri- meira e a última vez que ocupou uma posição política. Com a República foi nomeado professor de legislação comparada da Faculdade de Direito do Recife. Em 1884, prestou concurso para professor de Filosofia da Faculdade de Direito do Recife. Iniciou, então, a série de obras jurídicas que o credenciariam perante o país para desincumbir-se da missão que lhe foi atribuída pelo Presidente Campos Sales, em 1899, convidando-o a elaborar o anteprojeto do Código Civil Brasileiro. Veio para o Rio de Janeiro em março de 1900 e, em outubro do mesmo ano, terminava a sua obra. Em 1906, o Barão do Rio Branco nomeava-o consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, onde se manteve até 1934. Em 1920 foi convidado a fazer parte do Comitê dos Juristas no Conselho da Sociedade das Nações. Não podendo se ausentar do país, enviou um projeto de organização da Corte de Justiça Internacional, colaborando, assim, no importante convênio. Continua publicando outros livros de literatura e direito, sobretudo os Comentários ao Código Civil, em seis volumes. Em obras especiais estuda diversas partes do Código: Direito da Família, Direito das Obrigações, Direito das Cousas. Em 1889 foi convidado por Epitácio Pessoa, Ministro da Justiça do Presidente Campos Salles, para elaborar o Ante-Projeto do Código Civil Brasileiro. Ainda pouco conhecido, veio para o Rio de Janeiro em março de 1900 e em outubro do mesmo ano fez entrega da obra. A matéria teve longa tramitação no Congresso Nacional durante a qual Rui Barbosa apresentou parecer criticando a linguagem do projeto, que foi rebatido pelo filólogo Carneiro Ribeiro. Clóvis Beviláqua, em várias ocasiões, defendeu os princípios de seu ante-projeto. As alterações feitas no ante-projeto durante a tramitação parlamentar, em muitos casos, o modificava. Após dezesseis anos de discussão, o Código Civil Brasileiro entrou em vigor em 1º de janeiro de 1917. (https://www.aca- demia.org.br/academicos/clovis-bevilaqua/biografia) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 5 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz Algumas figuras específicas eram a “preocupação” desse diploma, dentre elas: a) o homem – que tomava as decisões nas relações familiares, fixava domicílio conjugal, autorizava a esposa a trabalhar, administrando-lhe o salário, detinha o pátrio poder (isso mesmo, pátrio poder!) sob os filhos, entre outros...; b) o testador – que nas relações sucessórias poderia dispor livremente e da forma que melhor lhe aprouvesse os seus bens; c) os contratantes – que poderiam contratar da forma que melhor lhe conviessem e sem possibilidade de revisão contratual (salvo a questão do fortuito ou força maior, não existia teoria da imprevisão); d) os proprietários – que poderiam utilizar a propriedade da maneira que pretendia sem preocupação com viés social. Hoje tais figuras ainda existem, mas estão alinhadas com ditames constitucionais, mais precisamente a Dignidade da Pessoa Humana. Mas, professora, como isso aconteceu?Mas, professora, como isso aconteceu? Talvez, por essa nossa conversa, você pense que foi uma transição rápida. Porém, foi algo paulatino, bem devagar, que acompanhou todo o movimento histórico e político do país e do mundo. Não foi algo tão simples, decorreu de muitos movimentos que aconteceram ainda na vigência do “Código de Bebé” (1916 a 2003). Resumindo: durante uma boa parte desse momento tínhamos uma relação entre o direito público e direito privado marcada por uma verdadeira dicotomia, ou seja, um não se relacionava com o outro. O direito público era pensado para reger as relações, tão somente, de direito público,ou seja, as relações do Estado. Estavam em sentido totalmente opostos e não se comunicavam. Por sua vez, o direito privado, para reger as relações privadas, dos particulares, somente. Tal dicotomia refere-se à chamada SUMMA DIVISIO CLÁSSICA. Hoje, decorrente dos movimentos de preocupação com a pessoa humana e não mais com o patrimônio, é que, atualmente, verifica-se a existência de uma SUMMA DIVISIO CONSTITUCIONALIZADA que se expressa na aproximação do direito público com o direito privado, ambos estão voltados para o mesmo lado, seguem juntos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 6 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz Em tempo, é importante que você saiba que nosso Código Civil vigente não é tão novo assim. Sua redação começou na década de 70 e lembre-se que o Brasil vivia, à época, a ditadura militar. Neste mesmo período, iniciou-se a elaboração do projeto do Código Civil de 2002, ou seja, nosso atual sistema foi pensado, redigido e elaborado em regime militar. Nas palavras do professor Flávio Taruce “a atual codificação civil teve uma longa tramitação no Congresso Nacional, com seu embrião, no ano de 1975, ocasião em que o então Presidente da República, Ernesto Geisel, submeteu à apreciação da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 634-D, com base em trabalho elaborado por uma Comissão de sete membros, coordenada por Miguel Reale. Como se nota, portanto, o projeto legislativo surgiu no “ápice” da ditadura militar que imperava no Brasil.”2 Esse projeto tramitou no legislativo e, após emendas, foi promulgado e publicado em 2002. Foram várias mãos escrevendo o Código Civil, pessoas de vários lugares do Brasil, professores, advogados e magistrados, todos liderados pelo mestre Miguel Reale, são eles: • José Carlos Moreira Alves (SP) – relator da Parte Geral; • Agostinho Alvim (SP) – relator do livro que trata do Direito das Obrigações; • Silvio Marcondes (SP) – relator do livro de Direito de Empresa; • Erbert Chamoun (RJ) – responsável pelo Direito das Coisas; • Clóvis do Couto e Silva (RS) – responsável pelo livro de Direito de Família; • Torquato Castro (PE) – relator do livro do Direito das Sucessões. O nosso Código Civil, como mencionei, teve a redação liderada por um pensamento único, embora escrito por várias pessoas. Na exposição de motivos do CC, Miguel Reale destaca as diretrizes básicas3, vejamos: a) Preservação do Código vigente sempre que possível, não só pelos seus méritos intrínsecos, mas também pelo acervo de doutrina e de jurisprudência que em razão dele se constituiu. b) Impossibilidade de nos atermos à mera revisão do Código Beviláqua, dada a sua falta de correlação com a sociedade contemporânea e as mais significativas conquistas da Ciência do Direito. c) Alteração geral do Código atual no que se refere a certos valores considerados essenciais, tais como o de eticidade, de socialidade e de operabilidade. d) Aproveitamento dos trabalhos de reforma da Lei Civil, nas duas meritórias tentativas feitas, anteriormente, por ilustres jurisconsultos, primeiro por Hahneman Guimarães, Orozimbo Nonato e Philadelpho de Azevedo, com o anteprojeto do “Código das Obrigações”; e, depois, por Orlando Gomes e Caio Mario da Silva Pereira, com a proposta de elaboração separada de um Código Civil e de um Código das Obrigações, contando com a colaboração, neste caso, de Silvio Marcondes, Theóphilo de Azevedo Santos e Nehemias Gueiros. 2 Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020. 3 https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 7 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz e) Firmar a orientação de somente inserir no Código matéria já consolidada ou com relevante grau de experiência crítica, transferindo-se para a legislação especial aditiva o regramento de questões ainda em processo de estudo, ou que, por sua natureza complexa, envolvem problemas e soluções que extrapolam do Código Civil. f) Dar nova estrutura ao Código, mantendo-se a Parte Geral – conquista preciosa do Direito brasileiro, desde Teixeira de Freitas – mas com nova ordenação da matéria, a exemplo das mais recentes codificações. g) Não realizar, propriamente, a unificação do Direito Privado, mas sim do Direito das Obrigações – de resto já uma realidade operacional no País – em virtude do obsoletismo do Código Comercial de 1850 – com a consequente inclusão de mais um Livro na Parte Especial, que, de início, se denominou “Atividades Negociais” e, posteriormente, “Direito de Empresa”. Observe que houve uma valorização de um sistema baseado em cláusulas gerais, que dão certa margem de interpretação ao julgador e essa pode ser tida como a principal diferença de pensamento entre o Código Civil de 2002 e o de Bevilaqua. Então, você já sabe que o Código Civil de 2002 não é de 2002. Na verdade, esse Código já nasceu idoso, velho, e, até mesmo, um pouco desatualizado. Por conta disso, é que, hoje, nos deparamos com alguns dispositivos que não estão de acordo com a nossa realidade e, em breve, teremos uma “reforma” deste Código. A exemplo disso, podemos mencionar a declaração do STF sobre a inconstitucionalidade artigo 1.790 do Código Civil que tratava a sucessão do companheiro de maneira detrimentosa em relação à sucessão do cônjuge, tradada pelo artigo 1.829 do mesmo Código.4 Mas isso é só para ilustrar, vamos estudar mais profundamente na parte de sucessões. Professora, como assim década de 70? demorou muito . . .Professora, como assim década de 70? demorou muito . . . Pois é, eu também achei bastante demorado, mas desde o período dos anos 70, até chegarmos efetivamente na publicação do nosso Código Civil de 2002, o qual teve o período de vacatio legis de um ano, houve diversas alterações, reformas e emendas nas Casas Legislativas até sua aprovação. O NCC passou então a ter vigência em 2003, olha só esse print do do finalzinho da lei: 4 Vide Recurso Extraordinário n. 646.721 e Recurso Extraordinário n. 878.694. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 8 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz Assim, hoje, a preocupação do momento é a dignidade da pessoa humana – essa é a responsável pela forma de estrutura do atual sistema civil. É a responsável pela aproximação do direito público e do direito privado. No “mundo privado”, verifica-se, portanto, uma humanização do Direito Civil, uma constitucionalização do Direito Civil. Segundo o professor Cristiano Chaves de Farias5, temos uma consciência das transformações do direito, que evolui a cada dia, concomitantemente, à evolução da sociedade. Verifica-se, além da releitura dos institutos já mencionados, a partir da dignidade humana, o compromisso ético que conduz à uma sociedade justa e digna. HUMANIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL consciência das transformações + releitura dos institutos + compromisso ético = SOCIEDADE MAIS JUSTA E DIGNA fundamentos e princípios básicos da república saem do papel Assim, observe que, embora o nosso Código Civil realmente tenha sido um Códigoque já nasceu velho e desatualizado em muitas passagens, de repente até inadequado ao momento em que nós vivemos, já é um rompimento muito grande no sentido de que nós temos institutos novos que configuram uma nova jornada no Direito Civil. É essa jornada que eu convido vocês a percorrerem comigo a partir de agora, dentro do Direito Civil que vamos estudar, sempre com o pensamento voltado ao moderno, às evoluções sociais... tantas coisas podemos pensar hoje... imagine a rede social de alguém que faleceu – o que fazemos? Mantemos ou apagamos? Imagine um famoso que tem sua imagem reconstruída com inteligência artificial para ser “ressuscitado” em uma propaganda ou um show... Na década de 70 não havia como prever tais questões... assim como hoje, talvez, não conseguimos prever questões que ocorrerão daqui 20 anos... Onde a sua leitura encontrar um instituto inadequado ao momento, eu peço a você que releia já de acordo com o ordenamento jurídico que a gente tem hoje, sempre observando a dignidade da pessoa humana, que é o pilar, o baldrame de sustentação do Direito Civil moderno, constitucionalizado. Peço licença a você para citar mais um trecho do Professor Cristiano Chaves sobre um texto que ele escreveu quando da entrada do Código Civil: 5 Chaves de Farias, Cristiano. Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB. 18ª ed. rev. atual. amp. Editora JusPodivm. 2020 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 9 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz [...] Advirta-se, todavia, não se tratar de uma simples adequação, mera adaptação, do Direito Civil clássico à norma constitucional, dando-lhe nova roupagem. É preciso o rompimento definitivo com o sistema tradicional, que o concebia pelo prisma individual e patrimonialista. Impõe-se uma nova visão do Direito Civil, a partir das premissas e garantias constitucionais. Como salienta LUIZ EDSON FACHIN, “não se trata de uma reciclagem funcional dos parâmetros do Direito Civil, mas sim de uma recomposição do vínculo e da dedicação a partir de um redimensionamento dos afazeres didáticos e de pesquisa” (Teoria Crítica do Direito Civil, Rio: Renovar, 2000, p.5). Não se imagine, porém, que o novo(?) Código Civil, talhado no auge da ditadura militar e fundado, por conseguinte, em valores pertencentes a paragens distantes, perdidas em passado remoto e pouco saudoso ( juridicamente, pelo menos), colabore para essa mudança. Ao revés. O Código Civil de 2002 nasceu velho e, descompromissado com o seu tempo, desconhece as relações jurídicas mais atuais do homem. Tome-se como exemplo o Livro do Direito de Família que desconhece o DNA e suas importantes influências na determinação da filiação, a pluralidade dos modelos familiares e o avanço da biotecnologia, dentre outros graves equívocos e omissões. [...] Outrossim, “é demagógico porque, engenheiro de obras feitas, pretende consagrar direitos que, na verdade, estão tutelados em nossa cultura jurídica pelo menos desde o pacto político de outubro de 1988”, como desfecha com maestria o genial GUSTAVO TEPEDINO (RTDC – Revista Trimestral de Direito Civil 7:VI). Vale o exemplo da anulação de casamento suscitada pelo marido, alegando o anterior defloramento da mulher – logicamente, ignorado por ele – que já não tinha qualquer cabimento desde a CF/88 e tão invocado pelos defensores do NCCB como sua grande e exuberante novidade… O ambiente jurídico, portanto, exige um comportamento crítico do operador do direito, não apenas voltado para apontar defeitos ou imperfeições, mas, sobretudo, para a formação de uma nova visão do fenômeno civilista, em compasso com o mundo contemporâneo. Um Direito Civil eficaz e apto a defender e proteger a vida humana em sua integralidade, contemporâneo com a sociedade que lhe incumbe pacificar. Exige-se do jurista do novo tempo um compromisso ainda mais sólido com os ideais constitucionais de uma sociedade mais justa e solidária. É preciso que se promova com o Código Civil de 2002 uma interpretação de seus institutos o mais próximo possível da legalidade constitucional. Família, contrato, propriedade, responsabilidade civil, sucessões… Enfim, o Direito Civil deve estar conectado aos valores sociais e humanitários preconizados pela norma maior. Até porque o Direito é feito pelo homem e para o homem. Exemplo eloquente foi emprestado pela Súmula 301 do STJ que, interpretando o art. 232 do Código Civil, afirmou que se presume a prova que se pretendia produzir quando alguém se recusa a submeter-se ao exame DNA. Nessa linha de intelecção, reconheça-se que o conceito de cidadania é, efetivamente, o motor de impulsão que projeta a dimensão da pessoa humana em seus valores e direitos fundamentais. Não mais, porém, compreendida como simples sujeito de direito virtuais, porém como titular de um patrimônio pessoal mínimo que lhe permita exercer uma vida digna, a partir da solidariedade social e da isonomia substancial. Bem-vindos ao novo Direito Civil, construído a partir do fenômeno constitucional, cujo olhar se volta para a proteção do desenvolvimento da personalidade humana e não mais para o seu patrimônio. Seus mares estão à espera de descobertas e conquistas. Sobreleva, no entanto, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 10 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz importante aviso aos navegantes: o caminho que se descortina, nascido da colisão inevitável entre a realidade viva e os velhos ideais do novo(?) Código Civil – inspirado em categorias jurídicas ultrapassadas – não tem rota predeterminada. Precisa ser descoberto. E suas pontes e portos serão construídos, a partir do reconhecimento do modelo de vida plural e aberto que vivemos, buscando sempre a garantia do desenvolvimento da personalidade humana. Velhos institutos (propriedade, contrato, responsabilidade civil, casamento, sucessão) cedem espaço para novos valores, trazidos pela brisa segura e agradável do modelo social estabelecido pela Lex Mater: a propriedade e o contrato têm de exercer uma função social, a autonomia da vontade resta mitigada, a família torna-se desmatrimonializada e foge da previsão numerus clausus etc. Enfim, o Direito Civil mudou, e para muito melhor, sendo mister navegar por seus mares, revisitando seus institutos fundamentais. Amplia-se a importância do Direito Civil na proteção do homem e mister se faz uma adaptação dogmática a esse novo tempo. A mudança de paradigmas conduz à releitura dos estatutos básicos. O papel da Academia ressalta-se. O tratamento da matéria deve ser mais específico, considerados os influxos constitucionais, criando operadores aptos a promover a dignidade humana acima de tudo e consentâneos com o seu tempo. Veja-se, aliás, que esse novo Direito Civil não está localizado, necessariamente, no novo (?) Código Civil. Ao revés, advém das exigências sociais e dos contornos e paradigmas arquitetados pela Constituição Federal. essa a travessia que se inicia, afirmando uma nova era de respeito ao homem e estímulo à cidadania. o céu é “de brigadeiro” (apesar de nuvens antigas com aparência de nova, que não resistirão ao “astro-rei” constitucional). boa viagem a todos nós.6 Professora, você citou sobre Professora, você citou sobre baldrame de sustentação do Direito Civil moderno . então . . . de sustentação do Direito Civil moderno . então . . . quais são?quais são? Ah, sim...Então, são princípios implícitos, automáticos, no ordenamento jurídico civilista, previstos no Direito Civil, de ponta a ponta. Decorrem, inclusive, da aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Lembra da Dignidade da Pessoa Humana? Então, dentro do Direito Civil, um grande mandamento é a dignidade da pessoa humana, que é a verdadeira essência do que nós temos hoje de Direito Civil constitucionalizado, certo? Nós temos, assim, três princípios que regem o nosso Direito Civil moderno, contemporâneo, constitucionalizado, humanizado... 6 http://www.editorajc.com.br/redescobrindo-as-fronteiras-do-direito-civil-uma-viagem-na-protecao-da-dignidade- -humana/ O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 11 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz PRINCÍPIO DA ETICIDADE O princípio da eticidade impõe a ética, a probidade nas relações privadas, a boa-fé. Engana-se quem pensa que probidade é tema exclusivo do Direito Administrativo. Não! Probidade é tema do Direito Civil também! E, assim, a eticidade está a impor a boa-fé objetiva em todo o direito civil. Ah, Roberta, mas, na parte de contratos, ela está lá, expressa no Código Civil! Sim! Mas, mesmo não expressa em áreas como a de alimentos, regime de bens, obrigações, posse, propriedade, direitos reais, vizinhança, sucessão... está, implicitamente, presente em tudo, porque a principiologia civilista impõe, hoje, a boa-fé objetiva em tudo! Ué, temos duas formas de boa-fé? Sim, sim. Temos dois tipos de boa-fé: a subjetiva e a objetiva. A subjetiva tem a ver com a intenção, com o que está interiorizado na mente do sujeito. A objetiva, por sua vez, é aquele padrão comportamental ético exigido nas condutas dos sujeitos. Então, principiologia relacionada à boa-fé é a boa-fé objetiva. Ah, Roberta, isso quer dizer que a boa-fé subjetiva não é levada em consideração? É levada em consideração sim, mas em situações bem pontuais. Um exemplo no qual você pode levar em consideração a boa-fé subjetiva é no campo da posse, por exemplo. O que é possuidor de boa-fé? É aquele que ignora o vício ou tem justo título, que faz presumir a boa-fé, não é? Então, lá, quando você leva em consideração que a pessoa ignora o vício, está tratando da boa-fé em sua vertente subjetiva. Mas quando falo em padrão comportamental, principiologia, estou me referindo à boa-fé objetiva. Aliás, o rompimento da boa-fé objetiva, quando você está exercendo um direito seu, é causa de abuso do direito e o artigo 187 do CC, enquanto aplicador da teoria do abuso do direito, enseja uma responsabilidade civil objetiva. Mas caaalma, não se preocupe, pois vamos falar desse artigo com calma mais adiante. Nesse sentido, Miguel Reale, em sua exposição de motivos, lá na década de 70, mencionou que “A Eticidade – Procurou- se superar o apego do Código atual ao formalismo jurídico, fruto, a um só tempo, da influência recebida a cavaleiro dos séculos XIX e XX, do Direito tradicional português e da Escola germânica dos pandectistas, aquele decorrente do trabalho empírico dos glosadores; está dominada pelo tecnicismo institucional, haurido na admirável experiência do Direito Romano. Não obstante os méritos desses valores técnicos, não era possível deixar de reconhecer, em nossos dias, a indeclinável participação dos valores éticos no ordenamento jurídico, sem abandono, é claro, das conquistas da técnica jurídica, que com aqueles deve se compatibilizar. Daí a opção, muitas vezes, por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual, a fim de possibilitar a criação de modelos jurídicos hermenêuticos, quer pelos advogados, quer pelos juízes, para contínua atualização dos preceitos legais. Nesse sentido temos, em primeiro lugar, o art. 113, na Parte Geral, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boafé e os usos do lugar de sua celebração.” E mais este: “Art. 187. Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” Lembro como outro exemplo o Artigo no 422 que dispõe quase como um prolegômeno a toda a teoria dos contratos, a saber: “Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” Frequente é no Projeto a referência à probidade e a boa-fé, assim como à correção (corretezza) ao contrário do que ocorre no Código vigente, demasiado parcimonioso nessa matéria, como se tudo pudesse ser regido por determinações de caráter estritamente jurídicas” (não necessariamente os números dos artigos citados são os mesmos ainda hoje). PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE Por meio desse princípio, nós temos uma transcendência do egoísmo, da preocupação individualizada, para uma preocupação com o coletivo. O princípio da socialidade não impõe socialismo, não tem nada a ver com isso. Na verdade, esse princípio impõe uma preocupação com o coletivo. A gente sai daquela esfera de egoísmo, de preocupação com patrimônio, de “eu posso fazer o que eu quiser enquanto eu sou proprietário”, “eu sou contratante e posso usar do contrato como forma de esmagamento social”... a ideia não é mais essa! Já foi (lá no Código de Bebé)! Na verdade, a socialidade tem a ver com a função social. E nós falamos em “função social” de uma maneira geral! É inerente ao Direito Civil falar em função social da propriedade, função social do contrato... Ok prof., mas o que vem a ser a função social da propriedade? Ah, sim, significa dar à propriedade uma destinação, sem ficar sobressaindo o seu interesse individual. Então, no âmbito urbano, por exemplo, dar a função social à propriedade significa cumprimento do plano diretor. Tanto é verdade isso, que ocorre punição pelo descumprimento da função social, por meio do fenômeno da desapropriação, que, além de estar na própria Constituição Federal, é previsto no art. 1.228 do Código Civil. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 12 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz A função social do contrato também é de enorme relevância no ordenamento jurídico, porque, muitas vezes, é o ponto central para uma revisão contratual. Só que é muito fácil falar de função social da propriedade e do contrato, mas função social não está restrita somente a esses institutos. A gente tem função social das famílias, função social da posse – que é muito considerada para a usucapião coletiva, lá no artigo 1.228 do CC, função social do recibo (lá, nas obrigações), entre outros... E, para deixar um pouco o “jurídico” de lado, existe um texto que é de um viés bem social mesmo, que se chama “função social do(a) amante”. Coloca lá no Google, que é bastante interessante a leitura, embora não tenha um aspecto propriamente jurídico. Então, com tudo isso exposto, a gente tem um rompimento do individualismo para uma preocupação com o coletivo em vários institutos outrora “egoístas”. Para deixar tudo bem completo, novamente cito que, Miguel Reale, em sua exposição de motivos, lá na década de 70, referiu que “A Socialidade – É constante o objetivo do novo Código no sentido de superar o manifesto caráter individualista da Lei vigente, feita para um País ainda eminentemente agrícola, com cerca de 80% da população no campo. Hoje em dia, vive o povo brasileiro nas cidades, na mesma proporção de 80%, o que representa uma alteração de 180 graus na mentalidadereinante, inclusive em razão dos meios de comunicação, como o rádio e a televisão. Daí o predomínio do social sobre o individual. Alguns dos exemplos dados já consagram, além da exigência ética, o imperativo da socialidade, como quando se declara a função social do contrato na seguinte forma: “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” Por essa razão, em se tratando de contrato de adesão, estatui o Art. 423 o seguinte: “Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.” No caso de posse, superando as disposições até agora universalmente seguidas, que distinguem apenas entre a posse de boa e a de má-fé, o Código leva em conta a natureza social da posse da coisa para reduzir o prazo de usucapião, o que constitui novidade relevante na tela do Direito Civil. Assim é que, conforme o Art. 1.238, é fixado o prazo de 15 anos para a aquisição da propriedade imóvel, independentemente de título e boa-fé, sendo esse prazo reduzido a dez anos “se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo”. Por outro lado, pelo Art. 1.239, bastam cinco anos ininterruptos para o possuidor, que não seja proprietário de imóvel rural ou urbano, adquirir o domínio de área em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nele sua moradia. Para tanto basta que não tenha havido oposição. O mesmo sentido social caracteriza o Art. 1.240, segundo o qual, se alguém “possuir”, como sua, “área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptos, e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á a domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel”. Um magnífico exemplo da preponderância do princípio de socialidade é dado pelo Art. 1.242, segundo o qual “adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestavelmente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos”. Esse prazo é, porém, reduzido a cinco anos: “se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base em transcrição constante do registro próprio, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido sua moradia, ou realizado investimento de interesse social e econômico.” Não vacilo em dizer que tem caráter revolucionário o disposto nos parágrafos 4º e 5º do Art. 1.228, determinando o seguinte: “§ 4º – O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela tiverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.” “§ 5º – No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para a transcrição do imóvel em nome dos possuidores.” Como se vê, é conferido ao juiz poder expropriatório, o que não é consagrado em nenhuma legislação.” (não necessariamente os números dos artigos citados são os mesmos ainda hoje) PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE OU CONCRETUDE Por esse princípio temos a ideia de cláusulas gerais, de conceitos abertos, de expressões que se encaixam em qualquer situação, posto que sujeitas a uma interpretação momentânea. Observando isso, o Direito foi pensado para ser concretizado, para ser aplicado. Então, você não pode ter a elaboração de uma norma com expressões restritas e restritas à época de criação da lei, porque, assim, ocorre um engessamento do ordenamento jurídico. Prof., você tem um exemplo? Yes, baby: O artigo 5º do Código Civil trata da emancipação e estabelece essa possibilidade para os casos em que o menor com 16 anos que tenha “economia própria” seja emancipado pela lei. Em 2002, o que era “economia própria”? É só pensar quanto era o salário-mínimo nesse ano: 200 reais? 250 reais? (não me recordo, mas era por aí, rsrsrs) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 13 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz Se você coloca 250 reais na lei – é só um exemplo esdrúxulo, para você entender –, hoje, poderíamos considerar esse valor como sendo “economia própria”? Claro que não! Então, na verdade, você tem, aí, a interpretação do instituto considerando o que a gente tem hoje. É uma expressão que se ajusta ao tempo e isso é exatamente o que chamamos de cláusulas gerais, conceitos abertos. Aliás, boa-fé objetiva e função social são expressões cláusulas gerais. Por fim, para deixar tudo bem completo, novamente cito que, Miguel Reale, em sua exposição de motivos, lá na década de 70, referiu que “A Operabilidade – Muito importante foi a decisão tomada no sentido de estabelecer soluções normativas de modo a facilitar sua interpretação e aplicação pelo operador do Direito. Nessa ordem de ideias, o primeiro cuidado foi eliminar as dúvidas que haviam persistido durante a aplicação do Código anterior. Exemplo disso é o relativo à distinção entre prescrição e decadência, tendo sido baldados os esforços no sentido de verificar quais eram os casos de uma ou de outra, com graves consequências de ordem prática. Para evitar esse inconveniente, resolveu-se enumerar, na Parte Geral, os casos de prescrição, em numerus clausus, sendo as hipóteses de decadência previstas em imediata conexão com a disposição normativa que a estabelece. Assim, por exemplo, após o artigo declarar qual a responsabilidade do construtor de edifícios pela higidez da obra, é estabelecido o prazo de decadência para ela ser exigida. Por outro lado, pôs-se termo a sinonímias que possam dar lugar a dúvidas, fazendo-se, por exemplo distinção entre associação e sociedade, destinando-se aquela para indicar as entidades de fins não econômicos, e esta para designar as de objetivos econômicos. Não menos relevante é a resolução de lançar mão, sempre que necessário, de cláusulas gerais, como acontece nos casos em que se exige probidade, boa-fé ou correção (corretezza) por parte do titular de direito, ou quando é impossível determinar com precisão o alcance da norma jurídica. É o que se dá, por exemplo, na hipótese de fixação de aluguel manifestamente excessivo, arbitrado pelo locador e a ser pago pelo locatário que, findo o prazo de locação, deixar de restituir a coisa, podendo o juiz, a seu critério, reduzi-lo, ou verbis: Art. 575. parágrafo único – “Se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade”. São previstos, em suma, as hipóteses, por assim dizer, de “indeterminação do preceito”, cuja aplicação in concreto caberá ao juiz decidir, em cada caso ocorrente, à luz das circunstâncias ocorrentes, tal como se dá por exemplo, quando for indeterminado o prazo de duração do contrato de agência, e uma das partes decidir resolvê-lo mediante aviso prévio de noventa dias, fixando tempo de duração incompatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do contratante, cabendo ao juiz decidir sobre sua razoabilidade e o valor devido, em havendo divergência entre as partes, consoante dispõe o Art. 720 e seu parágrafo único. Somente assim se realiza o direito em sua concretude, sendo oportuno lembrar que a teoria do Direito concreto, e não puramente abstrato, encontra apoio de jurisconsultos do porte de Engisch, Betti, Larenz, Esser e muitos outros, implicando maior participação decisória conferida aos magistrados. Como se vê, o que se objetiva alcançar é o Direito em sua concreção, ou seja, em razãodos elementos de fato e de valor que devem ser sempre levados em conta na enunciação e na aplicação da norma. Nessa ordem de ideias, merece atenção o § 1º do Art. 1.240, o qual estatui que, no caso de usucapião de terreno urbano, “o título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil”. Atende-se, assim, à existência da união estável, considerada nova entidade familiar. Observo, finalmente, que a Comissão optou por uma linguagem precisa e atual, menos apegada a modelos clássicos superados, mas fiel aos valores de correção e de beleza que distinguem o Código Civil vigente.” (não necessariamente os números dos artigos citados são os mesmos ainda hoje)7 Então essas são as regras iniciais principiológicas, o nosso BALDRAME AXIOLÓGICO DO DIREITO CIVIL. 2 . terMINoloGIAS2 . terMINoloGIAS Outros pontos interessantes que precisamos abordar são algumas terminologias... Vamos continuar... Ainda nesse encontro, eu quero que você saiba os conceitos de direito subjetivo e objetivo 7 https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 14 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz O direito objetivo são as normas que regulam as relações no “viver” em sociedade. Trata-se de um o conjunto de normas que o Estado ordena que devem ser seguidas e que obrigam as pessoas a terem comportamentos condizentes com a ordem social estabelecida. O direito objetivo é exatamente o que está previsto nas leis, como por exemplo, tudo que está no Código Civil, Código Penal, etc. É o direito positivado! O direito subjetivo, por sua vez, é o direito que o sujeito tem de exercer uma determinada conduta autorizada por lei; revelam-se como “poder-dever”. A exemplo disso podemos citar um credor que ajuíza uma ação contra seu devedor para cobrança de seu crédito. Esses direitos subjetivos estão intimamente ligados a prazos prescricionais. Não esquece disso! Mais adiante você vai entender melhor “Assim, enquanto a expressão direito objetivo exprime o conjunto das regras normativas que disciplinam um determinado ordenamento, o direito subjetivo, por seu turno, diz respeito ao poder de exigir ou de pretender de alguém um comportamento específico.”8 Prof ., o que é direito potestativo?Prof ., o que é direito potestativo? Ah, sim, o direito potestativo é um direito que pode ser exercido pelo seu titular independentemente da “oposição” de um terceiro; é o direito que pode ser implementado mesmo contra vontade de alguém. É o caso, por exemplo, do direito de revogar uma procuração dada, cabendo ao mandatário apenas aceitar tal condição. É uma prerrogativa jurídica de impor a outrem, unilateralmente, a sujeição ao seu exercício; é um ato unilateral. Arrematando, importa lembrar que, se a norma jurídica prevê um prazo para que o titular venha a realizar determinado direito potestativo, através de sua declaração de vontade, o seu não exercício importa decadência (também dita caducidade). Não havendo prazo em lei para o exercício de direito potestativo, este não estará sujeito a prazo extintivo, podendo ser exercido a qualquer tempo.9 Podemos até já mencionar aqui que nem todo direito potestativo tem prazo, a exemplo do divórcio, mas quando houver prazo, esse será decadencial. Prof ., agora sim eu entendi . Maravilha .Prof ., agora sim eu entendi . Maravilha . 8 Chaves de Farias, Cristiano. Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB. 18ª ed. rev. atual. amp. Editora JusPodivm. 2020 9 Chaves de Farias, Cristiano. Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB. 18ª ed. rev. atual. amp. Editora JusPodivm. 2020 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 15 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz Uaau, agora sim, você está pront@ para conversar sobre Direito Civil... Então, vamos entender a estrutura do Código Civil? Bom... Vamos estudar esse Código que é representado pela lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e, como falamos anteriormente, passou a ter vigência em 12 de janeiro de 2003. Professora, já me falaram que o Código é como um livro . . . é verdade?Professora, já me falaram que o Código é como um livro . . . é verdade? Sem dúvida nenhuma, é um grande “livro da vida” dividido em Livros, Títulos, Capítulos e Seções, cuida da vida das pessoas do momento em que nascem até a morte. Mas não esqueça que Código Civil não é sinônimo de Direito Civil. Na verdade, o Direito Civil é composto pelo CC e outras normas civilistas, como ECA, CDC, Estatuto do Idoso, Alimentos Gravídicos, entre outras tantas que falaremos ao longo do estudo do Código Civil. Mas voltando, olha só que estrutura bacana tem nosso CC (precisei dividir o quadro em dois – parte 1 e parte 2): Parte 1 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br 16 de 17gran.com.br DIreIto CIvIl Introdução ao Direito Civil Roberta Queiroz Parte 2 Assim, observe que temos, no Código Civil, uma estrutura didática e que norteará nossos estudos... Sigamos? Boa viagem a todos nós... Vamos juntos! Fé, doutores, em breve estarão nos Tribunais da vida rachando de ganhar dinheiro com uma advocacia justa e honesta! “Explica... e com o carimbo positivo da ciência que aprova e classifica. O que é que a ciência tem? Tem lápis de calcular. Que mais que a ciência tem? Borracha pra depois apagar. Você já foi ao espelho? Não? Então vá!” (Raul Seixas, Todo mundo explica, de Raul Seixas) Bj bj da profa. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.gran.com.br https://www.gran.com.br Abra caminhos crie futuros gran.com.br O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Jozy - 03029116263, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. Sumário Introdução ao Direito Civil 1. Introdução 2. Terminologias