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FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO Sumário • Unidade 1. Organização e Administração . . . . . . . . . . . . . . . . .3 • Unidade 2. Abordagem Clássica da Administração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 • Unidade 3. Abordagem Humanística da Administração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 • Unidade 4. Abordagem Sistêmica da Administração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 • Unidade 5. Administração moderna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 • Unidade 6. abordagens comtemporâneas da administração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 UNIDADE DE APRENDIZAGEM ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 1 4 Breve contextualização Administrar é uma ação realizada sobre um objeto: a organização. Nesta unidade vamos aprender o que é organização, quais são os seus recursos básicos, e o que significa administrar. Estudaremos os conhecimentos fundamentais para quem trabalha ou pretende trabalhar tanto na gestão e planejamento como em atividades operacionais das organizações. Objetivos da Disciplina • Os objetivos pretendidos nesta disciplina estão ligados ao desenvolvimento do aluno. • No pensamento analítico: capacidade de separar a informação em partes, distinguir, examinar, aprofundar-se nos detalhes e classificar objetos, identificando suas inter-relações. • Na abstração: capacidade de compreender as propriedades essenciais e mais importantes dos conteúdos estudados, refletindo e estruturando mentalmente conceitos, modelos e relações pouco evidentes nas representações concretas. • Na capacidade de síntese: capacidade de articular e recompor os conteúdos e elementos estudados em um todo, resumindo e condensando as informações para futuras mobilizações. • Na criticidade: capacidade de interpretar as informações e ser capaz de observar e se posicionar de maneira crítica nas mais diversas situações de negócios. • Na visão holística e humanista: desenvolver sensibilidade, com visão holística e humanista, em relação ao papel socioeconômico da administração. • Na competência técnica e científica: capacidade técnica e científica para atuação profissional em administração, no âmbito das operações e gestão. 5 Apresentação do E-book A disciplina Fundamentos da Administração apresenta e correlaciona concepções básicas sobre a estrutura e dinâmica das organizações, em uma abordagem analítica, histórica e crítica do processo administrativo. Conceitos fundamentais – como cadeia de valor, áreas funcionais, recursos organizacionais, gestão, planejamento e liderança – são explicados sob diferentes perspectivas, de forma contextualizada e articulada com o pensamento de grandes teóricos do campo da administração e das ciências sociais. Essa síntese dos avanços que marcaram décadas do pensamento administrativo, demonstrada juntamente de seus reflexos na realidade das organizações contemporâneas, é de extrema importância tanto para os profissionais atuantes ou aspirantes na área de administração, como para aqueles que buscam uma melhor compreensão do seu papel profissional em cargos de execução operacional. A disciplina Fundamentos da Administração proporciona uma visão abrangente que contempla teoria e técnica, preparando os estudantes para os desafios do ambiente empresarial atual. Objetivos de Aprendizagem do Capítulo Conhecer e analisar os conceitos de organização e administração. Compreender o que são recursos organizacionais, as áreas funcionais da administração e os elementos da cadeia genérica de valor. Para Início de Conversa Em sua vida em sociedade, o ser humano recorrentemente se aliou a outras pessoas em atividades laborais para transformar os recursos da natureza, tanto com o objetivo de garantir a sua sobrevivência como para prosperar. A atuação cooperativa em grupos é uma das características básicas da evolução das civilizações, em qualquer região do planeta. Mas qualquer agrupamento de indivíduos pode ser considerado uma organização? O que diferencia “organização” de “empresa”? Que tipo de “valor” uma empresa ou uma organização pode ofertar para o seu cliente? Além de distinguir esses conceitos, na primeira unidade da disciplina Fundamentos da Administração, vamos aprender o que significa administrar, quais são os recursos e objetivos organizacionais e quais são as áreas funcionais administrativas. 6 Chiavenato, ela só existe quando há pessoas capazes de se comunicarem, dispostas a contribuir com ação e a fim de cumprirem um propósito comum. O objetivo organizacional também é enfatizado por Peter Drucker, que escreveu que uma organização existe para cumprir uma finalidade ou missão específica (como educação, saúde ou segurança etc.) que, no caso das empresas, significa desempenho econômico – o que não é perseguido pelas instituições não empresariais. 1. ORGANIZAÇÃO Desde milênios atrás, quando deixou de ser nômade para viver em comunidades agrícolas, a colaboração em grupos marcou o progresso do ser humano. A cooperação permite a execução de muitas tarefas e a superação de limitações impossíveis de serem realizadas atuando sozinho. “Nascemos, vivemos e morremos em organizações”, observa o sociólogo e teórico da administração Amitai Etzioni. Peter Drucker, considerado o “pai da administração moderna”, lembra das diversas instituições características da sociedade moderna. Instituições de serviço, repartições públicas, escolas, hospitais, escritórios de contabilidade e advocacia, sindicatos, associações profissionais, industriais e comerciais. No Brasil, o Código Civil estabelece como pessoas jurídicas de direito privado com fins econômicos as sociedades limitadas ou anônimas, que podem ser empresárias ou simples. E, ainda segundo o código, são pessoas jurídicas de fins não econômicos as associações e as fundações (de objetivo religioso, moral, cultural, assistencial etc.). A União, os Estados, os Municípios e as Autarquias são pessoas jurídicas de direito público. “Uma organização é um sistema de atividades conscientemente coordenadas de duas ou mais pessoas. A cooperação dada às pessoas é essencial para a existência da organização”, explica Chester Barnard. Para Idalberto FONTE: PIXABAY DIFERENTEMENTE DAS EMPRESAS COMERCIAIS, NEM TODAS AS ORGANIZAÇÕES TÊM O “LUCRO” COMO OBJETIVO PRINCIPAL. OS HOSPITAIS, POR EXEMPLO, TÊM COMO OBJETIVO TRABALHAR PELA SAÚDE DE UMA POPULAÇÃO. 7 Outros teóricos discorrem sobre outros aspectos do conceito de organização. Caravantes, Panno e Kloeckner, autores do livro Administração: teorias e processos, a definem como “uma articulação ou arrumação deliberada de pessoas, que visa realizar um ou mais propósitos específicos usando determinada tecnologia”. Para eles, esses quatro elementos – propósitos, pessoas, estrutura e tecnologia – são críticos para o entendimento do que venha a ser uma organização. IMPORTANTE! O Dicionário Houaiss define tecnologia como: 1. Teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana (por exemplo, indústria, ciência etc.); 2. Técnica ou conjunto de técnicas de um domínio particular; 3. Qualquer técnica moderna e complexa. 2. ADMINISTRAÇÃO Valéria Silva da Fonseca esclarece que, enquanto a organização é um objeto, ou uma entidade, na qual a prática de administrar é aplicada, administrar é um ação. É a prática de planejar, determinar, dirigir e controlar atividades exercidas por indivíduos com cargos posicionados nos diversos níveis hierárquicos da organização, com o propósito de atingir objetivos previamente estabelecidos. No livro Administração moderna, Samuel Certo explica que administração é “o processoque permite alcançar as metas de uma empresa, fazendo uso do trabalho com e por meio de pessoas e outros recursos da empresa”. São características da administração (1) ser um processo ou uma série de atividades contínuas e relacionadas, (2) concentrar- se em alcançar os objetivos da organização e (3) buscar atingir seus objetivos pelo trabalho com e por meio de pessoas e recursos. José Abrantes escreve que os recursos organizacionais são: FONTE: PIXABAY 8 CURIOSIDADE Peter Drucker lembra que, ao contrário dos outros recursos da organização, o trabalhador é um ser humano, com propriedades fisiológicas e psicológicas, com personalidade e cidadania, que exige responsabilidade, satisfação, incentivos, participação, recompensas, motivação, liderança, status e função. Recursos materiais - Instalações físicas, equipamentos, matérias-primas, veículos, fontes energéticas etc. O recurso material também pode ser chamado de hardware. Recursos financeiros - Dinheiro em caixa, títulos, capital monetário, ativos tangíveis. O recurso financeiro é o único recurso capaz de “comprar” os demais (os recursos materiais, informacionais, naturais e humanos). Recursos naturais - Provenientes do meio ambiente, dos reinos vegetal, animal e mineral. Podendo ser renováveis ou não, eles constituem o “capital natural” da organização. Recursos humanos - Também chamado de humanware. São as pessoas da organização, o seu capital intelectual ou ativo intangível. “É o único recurso capaz de alterar todos os outros e, principalmente, capaz de criar e fazer a diferença entre empresas”, afirma Abrantes. Recursos informacionais - Conhecimento, tecnologia, know-how, software. Abrangem métodos, fórmulas, programas e patentes. “O conhecimento de uma organização é composto de uma parte implícita ou tácita (pessoas) e outra explícita (informações registradas)”, complementa José Abrantes. É importante destacar que, na administração das organizações, os recursos devem ser geridos com eficiência e eficácia. Enquanto a eficácia corresponde ao alcance de resultados (os fins), a eficiência considera a utilização dos recursos nesse processo (os meios). FONTE: PIXABAY NO DINÂMICO E COMPETITIVO CONTEXTO EMPRESARIAL CONTEMPORÂNEO, OS RECURSOS INFORMACIONAIS SÃO FUNDAMENTAIS PARA A SOBREVIVÊNCIA DAS ORGANIZAÇÕES. 9 O modelo de cadeia genérica de valor de Michael Porter apresenta atividades primárias acompanhadas de atividades de apoio. As atividades primárias são as atividades principais da empresa, diretamente relacionadas ao seu sistema produtivo: logística interna, operações, logística externa, marketing e vendas, serviços. Já as atividades de apoio dão suporte a todas as demais atividades, permeando toda a organização: aquisição de suprimento, desenvolvimento de tecnologia, gerência de recursos humanos e infraestrutura. A cadeia de valor abrange a série de atividades de trabalho organizacional que acrescenta valor a cada etapa do processo produtivo, começando com a extração das matérias- primas e terminando com o produto acabado nas mãos dos usuários finais. “A cadeia de valores inclui tudo, desde o fornecedor do fornecedor até o cliente do cliente”, destacam Robbins e Decenzo. 3. CADEIA GENÉRICA DE VALOR No livro Fundamentos de administração: conceitos essenciais e aplicações, Stephen Robbins e David Decenzo enfatizam que as organizações precisam proporcionar valor para atrair e manter os clientes. São exemplos de valor “Valor inclui as características, traços e atributos do desempenho, ou quaisquer outros aspectos dos produtos e serviços pelos quais os consumidores estejam dispostos a abrir mão de recursos (geralmente dinheiro)”, comentam Robbins e Decenzo. IMPORTANTE São exemplos de valor: preço, qualidade, disponibilidade, seleção, funcionalidade, serviços, parcerias e marcas (Kaplan e Norton, 2004). Em meados da década de 1980, Michael Porter estruturou uma cadeia genérica de valor que se tornou grande referência nos estudos da administração. Para Porter, “toda empresa é uma reunião de atividades que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar e sustentar seu produto. Todas estas atividades podem ser representadas por uma cadeia de valores.” FONTE: PIXABAY A CADEIA DE VALOR CONSIDERA TODAS AS ETAPAS DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO PRODUTO - DESDE A EXTRAÇÃO DA SUA MATÉRIA PRIMA NA NATUREZA. 10 Gestão de marketing - Philip Kotler escreve que “vemos a administração de marketing como a arte e a ciência da escolha de mercados-alvo e da captação, manutenção e fidelização de clientes por meio da criação, da entrega e da comunicação de um valor superior para o cliente”. Para Peter Drucker, o objetivo do marketing é tornar supérfluo o esforço de venda. “O objetivo do marketing é conhecer e compreender o cliente tão bem que o produto e o serviço lhe sejam talhados e se vendam por si próprios.” Gestão de pessoas - Idalberto Chiavenato apresenta como processos básicos da gestão de pessoas: provisão (captar e selecionar pessoas para trabalharem na organização), aplicação (acompanhar e integrar na empresa os profissionais contratados), manutenção (remunerar, proteger e valorizar os profissionais que trabalham na empresa), desenvolvimento (treinar e desenvolver os trabalhadores da organização) e monitoração (armazenar e gerenciar informações sobre os profissionais, realizar auditorias dos recursos humanos). 4. ÁREAS FUNCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO São quatro as áreas funcionais da administração. Gestão de operações - Refere-se ao projeto, operação e controle do processo de transformação, que convertem recursos como mão-de-obra e matéria-prima em produtos e serviços que são vendidos aos consumidores (Robbins e Decenzo). São atividades da gestão de operações: projeto e desenvolvimento de novos produtos e serviços, ergonomia, análise de tempos e movimentos, estratégias de produção, arranjos produtivos ou layout, planejamento e controle da produção (PCP) e manutenção das instalações produtivas (Abrantes). Gestão financeira - Área da administração à qual cabem análises, atuações e decisões relacionadas aos aspectos financeiros da empresa. A gestão financeira capta, utiliza e controla os recursos financeiros necessários às operações e à rentabilidade. Cabe a esta área o planejamento financeiro de toda a empresa, inclusive a obtenção de financiamentos, considerando custos, prazos e aspectos fiscais, bem como a análise econômico-financeira dos investimentos. Também estão ligadas à gestão financeira a contabilidade geral, contas a pagar e faturas (Abrantes). 11 Considerações Finais Na primeira unidade da disciplina Fundamentos da Administração nós aprendemos o que é uma organização: são pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado, com fins econômicos ou não. São organizações as fábricas, os estabelecimentos comerciais, os supermercados, as farmácias, as escolas, as academias de ginástica e as repartições públicas. Ou seja, as organizações fazem parte da vida do cidadão contemporâneo, tanto diretamente, abrindo oportunidades para sua atuação profissional, como indiretamente, fornecendo os produtos e serviços para o seu consumo. Nesta unidade também aprendemos sobre o papel e importância da administração. As pessoas ou colaboradores que trabalham em uma organização – os recursos humanos – devem estar orientados e motivados na busca pelos propósitos organizacionais, sendo administrados juntamente com os recursos financeiros, materiais, naturais e informacionais. IMPORTANTE Tradicionalmente, o composto ou “mix” de marketing é formado por produto (aspectos como a variedade, a qualidade e o design), preço (precificação, condições de pagamento, descontos etc.), praça (canais de distribuição, transporte, estoque etc.) e promoção (como a publicidade, a propaganda,o merchandising e a força de vendas). FONTE: PIXABAY TODAS AS ORGANIZAÇÕES EXECUTAM OPERAÇÕES, SEJA NA FABRICAÇÃO DE UM PRODUTO, SEJA NA PRETAÇÃO DE UM SERVIÇO. ASSIM, A GESTÃO DE OPERAÇÕES É FUNDAMENTAL EM QUALQUER NEGÓCIO. 12 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 4ª ed. São Paulo: Makron Books, 1993. DRUCKER, Peter F. Administração – tarefas, responsabilidades, práticas. Trad. Carlos Afonso Malferrari. São Paulo: Pioneira, 1975. ETZIONI, Amitai. Organizações modernas. Trad. Miriam Moreira Leite. São Paulo: Pioneira, 1967. FONSECA, Valéria Silva da. Introdução à teoria geral da administração. Curitiba: Contentus, 2020. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/184101/ pdf/0 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. Mapas estratégicos – convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Trad. Afonso Celso de Cunha Serra. 9ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. Trad. Mônica Rosenberg, Brasil Ramos Fernandes e Cláudia Freire. 12ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. ORLICKAS, Elizenda. Modelos de gestão: das teorias da administração à gestão estratégica. Curitiba: InterSaberes, 2012. Série Administração Estratégica. Disponível em https:// plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/6180/pdf/0 Referências ABRANTES, José. Teoria geral da administração – TGA: a antropologia empresarial e a problemática ambiental. Rio de Janeiro: Interciência, 2012. Disponível em https://plataforma. bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/49793/epub/0 BRASIL. Código Civil Brasileiro e legislação correlata. 2ª ed. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/ bitstream/handle/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed. pdf CARAVANTES, Geraldo Ronchetti; PANNO, Cláudia Caravantes; KLOECKNER, Mônica Caravantes. Administração: teorias e processos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/326/ pdf/0 CERTO, Samuel C. Administração moderna. Trad. Maria Lúcia G. L. Rosa e Ludmilla Teixeira Lima. Rev. técn. José Antonio Dermengi Rios. 9ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/456/ pdf/0 CHIAVENATO, Idalberto. Administração de recursos humanos – fundamentos básicos. Série Recursos Humanos. 8ª ed. Barueri, SP: Manole, 2016. 13 PIXABAY. Site internacional de compartilhamento de fotos, ilustrações, imagens vetoriais e cenas de vídeo. Disponível em https://pixabay.com/pt PORTER, Michael E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Trad. Elizabeth Maria de Pinho Braga. Rio de Janeiro: Campus, 1990. ROBBINS, Stephen Paul; DECENZO, David A. Fundamentos de administração: conceitos essenciais e aplicações. Trad. Robert Brian Taylor. Rev. técn. Reinaldo O. da Silva. 4ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. Disponível em: https://plataforma. bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185905/pdf/0 UNIDADE DE APRENDIZAGEM ABORDAGEM CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 2 15 Para Início de Conversa Em análises anacrônicas, apesar de muitas vezes já terem sofrido muitas críticas, essas correntes de pensamento que compõem a denominada abordagem clássica da administração obtiveram avanços consideráveis tanto no âmbito teórico como nas questões técnicas e práticas das organizações. Essas correntes (administração científica, teoria da administração, teoria burocrática) revolucionaram o contexto empresarial com seus métodos e modelos de gestão. Teóricos como Daniel Katz e Robert Kahn destacam que a compreensão das funções e estruturas formais que a abordagem clássica oferece ainda hoje cumpre importante papel para o entendimento nos aspectos visíveis e tangíveis das organizações. Objetivos de Aprendizagem do Capítulo Conhecer o contexto de surgimento e as principais propostas das primeiras correntes do pensamento administrativo. Compreender os propósitos e características que aproximam as correntes teóricas da administração consideradas racionalistas ou mecanicistas. 16 1. ADMINISTRAÇÃO PRÉ-CIENTÍFICA “O homem administra desde os primórdios da humanidade”, lembra Valéria Silva da Fonseca, autora do livro Introdução à teoria geral da administração. “No início, o homem planejava e dirigia os afazeres do bando, da família, do clã, da tribo, da aldeia. [...] Quando passou a conviver em sociedade, ele se deparou com a necessidade de governar vilas, cidades, estados e até mesmo nações. Para isso, juntou pessoas, materiais, equipamentos e instalações em organizações”. Fonseca comprova a importância da administração nas civilizações com exemplos de diferentes etapas da história humana: como as gigantescas pirâmides erguidas no Egito de milênios antes da era cristã, por exemplo. Certamente a construção dessas complexas obras necessitaram de uma administração eficiente e eficaz. O planejamento, organização e gerenciamento das atividades e recursos dos exércitos e a Igreja Católica Romana nos séculos passados são outros exemplos da administração pré-científica. Mas as inovações da produção industrial da Inglaterra do século XVIII alçaram as necessidades de administração para outro patamar, ao transformar radicalmente a concepção de trabalho e as relações comerciais. Com a revolução industrial, a energia motriz substituiu a força animal e humana, a energia a vapor passou a ser empregada em máquinas industriais, locomotivas e barcos, as ferramentas manuais foram trocadas por máquinas. Além disso, a produção fabril substituiu a artesanal e a fabricação de produtos tornou-se mais barata e eficiente. FONTE: PIXABAY A DENOMINADA “ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA” SURGIU SOMENTE APÓS A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL DO SÉCULO XVIII. MAS ANTES DISSO O SER HUMANO EMPREGOU UMA ADMINISTRAÇÃO “PRÉ-CIENTÍFICA” NA CONSTRUÇÃO DE GRANDES OBRAS, COMO AS PIRÂMIDES DO ANTIGO EGITO. 17 2. ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA Apesar da Inglaterra ter sido o berço da Revolução Industrial, o primeiro sistema racional aplicado ao contexto da gestão industrial foi idealizado nos Estados Unidos. Seu principal autor foi o engenheiro mecânico Frederick Winslow Taylor. A principal meta de Taylor era aumentar a eficiência dos funcionários por meio do planejamento científico das tarefas. “Sua premissa básica era de que existia uma maneira melhor de realizar uma tarefa e tal maneira deveria ser descoberta e colocada em prática”, explica Samuel Certo. O pensamento de Taylor é marcado pela ênfase na análise da administração de tarefas. Nas suas palavras, “entre os vários métodos e instrumentos utilizados em cada operação, há sempre o método mais rápido e o melhor instrumento, que podem ser encontrados e aperfeiçoados pela análise científica”. Assim, a análise da administração de tarefas se preocupa com a “melhor maneira” de realizar uma tarefa, isto é, pesquisar a melhor forma como uma tarefa pode ser estruturada a fim de obter maior produtividade. Esse processo é conhecido como método científico da administração ou simplesmente administração científica. IMPORTANTE Fábio Vizeu (2019) apresenta como pilares da administração moderna a industrialização, a racionalização do trabalho e o capitalismo. O primeiro esforço para desenvolver um conjunto de teorias a respeito da gestão de organizações resultou na chamada a abordagem clássica da administração, que pode ser subdividida em duas correntes: a primeira formada pelos estudos de pensadores como Frederick Taylor, Frank e Lillian Gilbreth e Henry Gantt, e a segunda representada principalmente por HenriFayol. 18 Em seu revolucionário livro Princípios de administração científica, publicado em 1912, Frederick Taylor apresenta a administração funcional, onde o único antigo contramestre é substituído por oito diferentes profissionais, cada um com atribuições especiais, atuando como agentes de seção de planejamento que a todo momento ajudam e orientam os trabalhadores. James Bowditch e Anthony Buono observam que Taylor defendeu seus princípios baseando- se numa “revolução mental” que ocorreria nas atitudes da administração e do operariado, “na qual ambas as partes reconheceriam a necessidade de cooperação, a importância da pesquisa científica ao invés dos pareceres e opiniões individuais como base para se estruturar a distribuição das tarefas.” IMPORTANTE A administração científica se baseava na concepção do homo economicus, segundo a qual o comportamento do homem é motivado exclusivamente pelo dinheiro e pelas recompensas salariais e materiais do trabalho. Com o seu livro Princípios de administração científica, Frederick Taylor queria “provar que a melhor administração é uma verdadeira ciência, regida por normas, princípios e leis claramente definidos”. A obra define como princípios da administração científica: 1. Desenvolver para cada elemento do trabalho individual uma verdadeira ciência que substitua os métodos empíricos. Ou seja, pesquisar e definir a melhor forma de se executar uma tarefa. 2. Escolher o melhor indivíduo para executar a tarefa. Selecionar cientificamente, depois treinar e aperfeiçoar o trabalhador. 3. Assegurar que o trabalho seja executado da maneira indicada. Cooperar cordialmente com o trabalhador para articular todo o trabalho com os princípios da ciência que foi desenvolvida. 4. Manter divisão equitativa de trabalho e de responsabilidades entre a direção e o operário. A ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA SE DEDICOU A ESTUDAR AS TAREFAS EXECUTADAS PELOS TRABALHADORES, COM O OBJETIVO DE AUMENTAR A SUA EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE. FONTE: PIXABAY 19 A administração científica também é chamada de administração de tarefas, devido a seu principal foco de atenção: “Embora se imagine que as técnicas científicas possam ser aplicadas a todos os níveis administrativos, a pesquisa, suas utilidades e exemplos estão, em sua maioria, relacionados aos administradores de tarefas” (Samuel Certo, 2003). Geraldo Caravantes, Cláudia Panno e Mônica Kloeckner, autores do livro Administração: teorias e processos, destacam que a ênfase dos pensadores da administração científica era concentrada na tarefa, na racionalização, na redução dos tempos de execução. “Quando se olha retrospectivamente, é fácil entender sua visão: eram engenheiros por formação, e seu local de trabalho e análise era o chão de fábrica”. Outros grandes pensadores da administração científica são os engenheiros Frank Gilbreth, Lillian Gilbreth, Henry Gantt e Harrington Emerson. O empresário Henry Ford muitas vezes também é citado, por ter aplicado os princípios da administração científica nos seus negócios. Interessado em aumentar a eficiência dos funcionários, o engenheiro mecânico Henry Gantt se dedicou a aperfeiçoar os sistemas de programação de tarefas (com instrumentos como o “gráfico de Gantt”) e na remuneração dos trabalhadores, com recompensas por desempenho. Já a principal ferramenta investigativa da pesquisa do casal de engenheiros industriais Frank e Lillian Gilbreth foi o estudo dos movimentos, que consiste em reduzir cada tarefa aos mais básicos movimentos possíveis. Cada movimento feito na realização de uma tarefa era estudado a fim de determinar quanto tempo levava para ser executado e quanto ele era necessário para realizar a tarefa. Movimentos ineficientes ou desnecessários eram distinguidos e eliminados (Samuel Certo, 2003). CURIOSIDADE Pela originalidade e relevância do seu trabalho, Frederick Taylor é considerado o pai da administração científica. E a administração científica também passou a ser conhecida como taylorismo. 20 Em comparação com as propostas dos teóricos da administração científica, os pensadores da teoria da administração lançaram novos conceitos como a cadeia escalar (hierarquia dos chefes que vai da autoridade superior aos agentes inferiores) e a unidade de comando (para a execução de um ato qualquer, um agente deve receber ordens somente de um chefe). Enquanto a administração científica defendia que o desempenho da empresa depende diretamente do aperfeiçoamento das tarefas, em nível operacional, a teoria da administração atrelava a eficiência à forma e disposição dos órgãos componentes da organização e das suas inter-relações estruturais. IMPORTANTE Baseando-se em raciocínio dedutivo, os pensadores da corrente denominada teoria da administração examinaram formas de organização que perduraram no tempo, como a eclesiástica e a militar, e concluiu que havia algumas dimensões básicas da sua estrutura e administração que eram comuns a todas as organizações. 3. TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO “Enquanto a concepção “engenheirística” da administração científica norte-americana era uma visão “de baixo para cima”, que buscava compreender a organização a partir da tarefa, a teoria da administração europeia tentava entender a organização a partir da cúpula”, observam Caravantes, Panno e Kloeckner. Enquanto a administração científica enfatizava o planejamento do trabalho a partir da análise das tarefas, a teoria administrativa se dedicou a estudar toda a extensão do desempenho da administração. Para a teoria da administração, o conjunto das operações das empresas se divide em: • Operações técnicas: produção, fabricação, transformação. • Operações comerciais: compras, vendas, permutas. • Operações de contabilidade: inventários, balanços, preços de custo, estatística etc. • Operações financeiras: procura e gerência de capitais. • Operações de segurança: proteção de bens e de pessoas. • Operações administrativas: previsão, organização, direção, coordenação e controle. 21 CURIOSIDADE Além do seu principal nome, Henri Fayol, a teoria da administração foi desenvolvida por grandes pensadores como James D. Mooney, Lyndall F. Urwick, Luther Gulick, Chester Barnard, Alvin Brown, Henry Dennison, Alan C. Reiley e Oliver Sheldon. “A teoria da administração tinha uma visão orgânica das empresas, uma visão quase-biológica, quando se referia ao corps social. Ela dava especial atenção para a estruturação ou departamentalização das organizações (anatomia) e seu funcionamento (fisiologia)”, destacam Caravantes, Panno e Kloeckner. Os autores também lembram que as regras propostas pela teoria da administração deveriam funcionar como diretrizes, limitando as incertezas, mas jamais com a pretensão de eliminá-las totalmente. Henri Fayol obteve maior destaque entre os autores da teoria da administração. Seu livro Administração industrial e geral, de 1916, apresentou uma filosofia original que ainda norteia muitos administradores modernos (Samuel Certo, 2003). O livro estabelece como princípios da administração a divisão do trabalho, a hierarquia, a unidade de direção, a unidade de comando, a autoridade e responsabilidade, a centralização, a ordem, a disciplina, a estabilidade, a subordinação do interesse particular ao interesse geral, a remuneração adequada, a equidade de tratamento, o incentivo à iniciativa e o espírito de equipe. O livro Administração industrial e geral, de Henri Fayol também inovou ao definir as funções do processo administrativo: • Prever: perscrutar o futuro e traçar o programa de ação. • Organizar: constituir o organismo material e social da empresa. • Comandar: dirigir o pessoal. • Coordenar: ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços. • Controlar: velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas.22 4. TEORIA BUROCRÁTICA Juntamente das obras de Frederick Taylor (Princípios de administração científica) e Henri Fayol (Administração industrial e geral), publicadas na década de 1910, o livro Economia e Sociedade, lançado em 1922 pelo sociólogo alemão Max Weber se tornou referência na teoria clássica da administração, de visão racional e mecanicista. Um dos fundadores da teoria estruturalista, Weber identificou os aspectos básicos de um tipo ideal de organização que emprega a autoridade racional-legal, por ele denominado de “burocracia”. Max Weber relaciona como característica da organização burocrática: • Caráter legal das normas • Caráter formal das comunicações • Divisão do trabalho • Impessoalidade no relacionamento • Hierarquização da autoridade • Rotinas e procedimentos • Competência técnica e mérito • Especialização da administração • Profissionalização Os conceitos de Henri Fayol perduram até hoje, contribuindo para o desempenho positivo das organizações, e fazem parte do currículo dos cursos de administração. FONTE: PIXABAY A TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO, QUE TEVE COMO PRÍNCIPAL PENSADOR HENRI FAYOL, VIA A ORGANIZAÇÃO COMO UM “ORGANISMO”, DANDO ESPECIAL ATENÇÃO A SUA ESTRUTURAÇÃO OU DEPARTAMENTALIZAÇÃO (ANATOMIA) E PARA O SEU FUNCIONAMNETO (FISIOLOGIA). 23 5. “TEORIA DA MÁQUINA” No livro Psicologia Social das Organizações, Daniel Katz e Robert Kahn empregam o termo “teoria da máquina”, cunhado por James Worthy, para designar o paradigma clássico da administração que abrange os modelos de Frederick Taylor, Max Weber e Luther Gulick. Teóricos como Idalberto Chiavenato incluem nesse grupo o modelo de Henri Fayol. Os principais pontos defendidos pelos pensadores da teoria da máquina são: especialização do processo das tarefas, uniformidade de práticas institucionalizadas, padronização de desempenho da função, unidade de comando, centralização da tomada de decisão, não duplicação de função. “Assim como construímos um aparelho mecânico para uma tarefa, dentro de um conjunto de especificações, também construímos uma organização seguindo uma planta para alcançarmos alguma finalidade”, afirmam Katz e Kahn. Idalberto Chiavenato escreve sobre algumas das críticas que essa abordagem costuma receber: sua concepção da organização como um arranjo rígido e estático de peças e órgãos, negligência quanto à organização informal criada dentro da organização formal, pouca importância dada ao intercâmbio do sistema com seu ambiente e às influências do meio, e pouca atenção dada aos subsistemas da organização, com suas dinâmicas diferenciadas. Segundo Weber, esses aspectos levariam à padronização do desempenho dos participantes, previsibilidade do comportamento humano e previsibilidade dos resultados, gerando a máxima eficiência da organização. É importante não confundir a burocracia com a disfunção burocrática, que por sua vez se caracteriza pela internalização das normas, excesso de formalismo e papelório, resistência a mudanças, despersonalização do relacionamento, categorização do relacionamento, superconformidade e dificuldades com clientes. MUITAS VEZES AS PESSOAS CONFUNDEM O CONCEITO DE BUROCRACIA, ELABORADO PELO SOCIÓLOGO MAX WEBER, COM A “DISFUNÇÃO BUROCRÁTICA”, QUE PREJUDICA O DESEMPENHO DAS ORGANIZAÇÕES. FONTE: PIXABAY 24 Considerações Finais A abordagem clássica da administração recomenda aos gestores empenharem-se continuamente no aumento da eficiência das organizações, a fim de que a sua produção cresça. Samuel Certo enfatiza que, embora os fundamentos dessa abordagem tenham sido desenvolvidos já há algum tempo, os administradores de hoje estão tão preocupados em encontrar a “melhor maneira” de realizar suas tarefas quanto estavam os pensadores das primeiras décadas do século XX estudados nesta unidade. “Como exemplo dessa preocupação, notáveis teóricos da administração enxergam semelhanças surpreendentes entre os conceitos da administração científica, elaborados há muitos anos, e a mais atual filosofia administrativa que prega o desenvolvimento de qualidade em todos os aspectos operacionais das empresas” (Samuel Certo, 2003). Apesar dos seus pontos fracos ou questionáveis, na metade do século XX, os princípios e conceitos da abordagem clássica da administração foram retomados e adaptados na teoria matemática da administração, na pesquisa operacional e na corrente neoclássica da administração, sendo renovados nas propostas de grandes nomes da teoria administrativa moderna como Peter Drucker. FONTE: GOOGLE IMAGENS (2023) 25 INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA – INEP. Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) 2018 – Provas e gabaritos. Disponível em: https://download.inep.gov.br/ educacao_superior/enade/provas/2018/administracao.pdf INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA – INEP. Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) 2022 – Provas e gabaritos. Disponível em: https://download.inep.gov.br/enade/ provas_e_gabaritos/2022_PV_administracao.pdf KATZ, Daniel; KAHN, Robert L. Psicologia social das organizações. Trad. Auriphebo Simões. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1987. KOONTZ, Harold; O’DONNELL, Cyril. Princípios de administração: uma análise das funções administrativas. Vol. 1. Trad. Albertino Pinheiro Jr. e Ernesto D’Orsi. São Paulo: Pioneira, 1971. PIXABAY. Site internacional de compartilhamento de fotos, ilustrações, imagens vetoriais e cenas de vídeo. Disponível em https://pixabay.com/pt SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Trad. Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016. SMITH, Adam. A riqueza das nações. Vol. 1. Trad. Alexandre Amaral Rodrigues e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Referências BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos de comportamento organizacional. Trad. José Henrique Lamendorf. São Paulo: Pioneira, 1999. CARAVANTES, Geraldo Ronchetti; PANNO, Cláudia Caravantes; KLOECKNER, Mônica Caravantes. Administração: teorias e processos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/326/ pdf/0 CERTO, Samuel C. Administração moderna. Trad. Maria Lúcia G. L. Rosa e Ludmilla Teixeira Lima. Rev. técn. José Antonio Dermengi Rios. 9ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/456/ pdf/0 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 4ª ed. São Paulo: Makron Books, 1993. COLTRE, Sandra Maria. Fundamentos da administração: um olhar transversal. Curitiba: InterSaberes, 2014. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/30136/ pdf/0 FONSECA, Valéria Silva da. Introdução à teoria geral da administração. Curitiba: Contentus, 2020. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/184101/ pdf/0 26 TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de administração científica. Trad. Arlindo Vieira Ramos. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 1990. VIZEU, Fabio. Teorias da administração: origem, desenvolvimento e implicações. Curitiba: InterSaberes, 2019. Série Tudo Sobre Administração. Disponível em: https:// plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/177812/pdf/0 WEBER, Max. Economia e sociedade – fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. 2. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. UNIDADE DE APRENDIZAGEM ABORDAGEM HUMANÍSTICA DA ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 3 28 Para Início de Conversa Nas primeiras décadas do século XX teóricos como Frederick Taylor, Henri Fayol e Max Weber pesquisaram e teorizaram sobre questões da organização formal, isto é, concentraram-se nos meios e métodos racionais utilizados pelas empresas para atingiremseus objetivos. A ênfase desses estudiosos estava na estrutura organizacional, na tarefa, nos instrumentos, nos tempos e movimentos, na recompensa financeira. Mas na década de 1930 surgiu uma nova visão, fortemente influenciada pelos avanços da psicologia, de oposição frontal à abordagem clássica da administração. A abordagem humanística valorizava e se preocupava com o indivíduo, com as necessidades pessoais e sociais do trabalhador como ser humano, e com a constituição e dinâmica dos grupos informais no interior das organizações. Objetivos de Aprendizagem do Capítulo Compreender o surgimento e desenvolvimento da teoria das relações humanas e da teoria comportamental no contexto organizacional e administrativo. Conhecer e analisar os princípios e conceitos da abordagem humanística da administração, em contraponto com a abordagem clássica. 29 1. TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS As primeiras abordagens teóricas da administração viam as organizações como estruturas que articulavam tarefas e funções de maneira racional, com o objetivo de alcançar uma melhor eficiência e desempenho. Seu foco era a organização formal, que segundo Idalberto Chiavenato, “é a organização formalizada oficialmente, aprovada pela direção e comunicada por meio de manuais de descrições de cargos, de organogramas, de regras e regulamentos etc.” O trabalhador era considerado na concepção do homo economicus, segundo a qual o comportamento é motivado exclusivamente pelo dinheiro e pelas recompensas salariais e materiais. IMPORTANTE: Idalberto Chiavenato explica que a organização formal é a organização baseada em uma divisão do trabalho racional, na diferenciação e integração dos participantes de acordo com critérios estabelecidos pelos que detêm o processo decisorial. “É a organização planejada: a organização que está no papel.” Entretanto, na década de 1920 diversos críticos sociais começaram a apontar os efeitos potencialmente nocivos das tentativas de se padronizar as pessoas assim como os trabalhos, relatam James Bowditch e Anthony Buono. “As críticas eram especificamente dirigidas aos administradores e estudiosos que pareciam tratar os empregados como meras extensões das máquinas.” FONTE: PIXABAY ADMINISTRADORES E ESTUDIOSOS QUE VIAM OS TRABALHADORES COMO “EXTENSÕES DAS MÁQUINAS” PASSARAM A RECEBER CRÍTICAS A PARTIR DA DÉCADA DE 1920. 30 Inicialmente, os experimentos da linha de montagem se fundamentaram na administração científica. Os pesquisadores acreditavam que se estudassem a produtividade sob diferentes variáveis (horas de trabalho, intervalos de descanso, variações de clima, temperatura e umidade) descobririam quais eram as condições de trabalho que mais favoreciam a produção. Entre os fatores do ambiente de trabalho, Mayo testou o efeito da iluminação no processo produtivo - uma preocupação muito ao estilo de Taylor e outros teóricos da abordagem clássica da administração. O propósito era determinar a relação entre o excesso de iluminação e a eficiência do trabalhador, medida pelo que ele produzia (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). Os resultados dos experimentos realizados surpreenderam os pesquisadores: a produção aumentava, não importando as condições de iluminação às quais os funcionários eram expostos. Parecia não existir relação consistente entre a produtividade e a intensidade da luz (Samuel Certo, 2003). Os pesquisadores aplicaram entrevistas para tentar descobrir por que os funcionários continuavam a aumentar a produção sob quaisquer condições de iluminação. As razões apontadas foram: 1. Os funcionários achavam agradável trabalhar na sala de testes. 2. O novo relacionamento com a supervisão durante o período de testes permitiu que os funcionários trabalhassem mais livremente e sem medo. O paradigma clássico foi definitivamente confrontado na década de 1930. Juntamente com seus colegas pesquisadores da Harvard Business School, o psicólogo e cientista social Elton Mayo realizou um importante estudo entre 1927 e 1932 na Western Electric Company, instalada no bairro de Hawthorne, em Chicago, cujos resultados revolucionaram o desenvolvimento teórico da administração. A pesquisa desenvolvida pela equipe de Mayo tinha por objetivo descobrir: “Quais são os fatores, presentes no ambiente físico e social de uma pessoa que trabalha em uma organização, capazes de afetar seu desempenho no trabalho e sua satisfação pessoal com a tarefa realizada?” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). Os estudos na fábrica de Hawthorne foram divididos em duas etapas: experimentos de observação na linha de montagem e, posteriormente, um experimento de observação no processo de produção de relés. FONTE: ENVATO ELEMENTS 31 3. Os funcionários perceberam que estavam participando de uma pesquisa importante e interessante. 4. Parecia que os funcionários formaram um grupo amigável (Samuel Certo, 2003). Os pesquisadores concluíram que os fatores humanos e as relações desenvolvidas pelos funcionários dentro das empresas podiam influenciar significativamente a sua produção. Entretanto, julgaram ser necessário fazer novas pesquisas para avaliar com maior exatidão o impacto potencial do componente humano no desempenho das organizações. Um novo experimento foi então realizado no processo de fabricação de relés, com o objetivo de analisar as relações sociais em um grupo de funcionários. A preocupação era especificamente com os efeitos do sistema de incentivos coletivos por peça produzida: quanto mais arduamente o grupo trabalhasse como um todo, maior seria a remuneração a cada membro do grupo. Nesse novo experimento, a equipe de pesquisadores liderada por Elton Mayo esperava que os empregados pressionassem uns aos outros para trabalharem mais arduamente, a fim de que, conforme foi acordado, cada um recebesse um maior pagamento (Samuel Certo, 2003). Surpreendentemente, o estudo revelou o contrário: o grupo pressionava os funcionários mais rápido para que diminuíssem seu ritmo de trabalho. Apenas quem aumentava seu ritmo de trabalho era pressionado pelo grupo. Evidentemente, os funcionários estavam mais interessados em preservar a solidariedade do grupo de trabalho do que em ganhar mais dinheiro. Os pesquisadores concluíram que os grupos sociais formados dentro das empresas eram capazes de exercer eficazmente pressões para influenciar outras pessoas a desprezarem os incentivos financeiros (Samuel Certo, 2003). Amitai Etzioni (1967) salienta as importantes descobertas da pesquisa: (1) as recompensas e sanções não-econômicas influem significativamente no comportamento dos trabalhadores, (2) frequentemente, os trabalhadores não agem O TRABALHADOR É UM SER HUMANO, CUJO COMPORTAMENTO E DESEMPENHO PROFISSIONAL SÃO INFLUENCIADOS PELAS SUAS NECESSIDADES AFETIVAS E PELO CONVÍVIO EM GRUPOS SOCIAIS. FONTE: PIXABAY 32 Fatores ligados ao homem, sua motivação e o maior ou menor envolvimento com a tarefa (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). O experimento de Hawthorne concluiu que: • A quantidade de trabalho executada por um trabalhador (e, portanto, o nível de competência e racionalidade da organização) não é determinada por sua capacidade física, mas por sua “capacidade” social. • As recompensas não-econômicas desempenham um papel central na determinação da motivação e felicidade do trabalhador. • A maior especialização não é a forma mais eficiente de divisão de trabalho. • Os trabalhadores não reagem à administração e suas normas e recompensas como indivíduos, mas como membros de grupos (Amitai Etzioni, 1967). ou reagem como indivíduos, mas como membros de grupos, (3) a importância da liderança para o estabelecimento e imposição das normas de grupo e a diferença entre a liderança informal e a formal constituem outra importante modificação em relação à administração científica, que tendia asupor que o contramestre e os supervisores forneceriam a única liderança dos trabalhadores – pelo menos no que se referisse a questões de produção”. IMPORTANTE: Experiências como a conduzida na fábrica da Western Electric Company, de Hawthorne, comprovaram que o incentivo econômico não é a única força motivadora para o trabalhador. Sua produção é fortemente influenciada tanto por suas relações com os companheiros de trabalho como por seus problemas pessoais, tanto dentro como fora da empresa (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). O estudo de Elton Mayo e a equipe da Harvard Business School em Hawthorne criou uma nova maneira de ver a organização, agora não mais a partir de uma visão meramente formal, mecanicista, de homem quase autômato, respondendo a interesses única e exclusivamente pecuniários. A experiência concluiu que outros fatores – e não meramente uma reação de causa e efeito, de caráter mecânico – estavam em jogo. 33 Os estudos de Hawthorne deram início ao movimento das relações humanas, uma abordagem da administração que enfoca as pessoas. Nessa abordagem, a interação dos funcionários das empresas é estudada a fim de julgar seu impacto no êxito das suas organizações (Samuel Certo, 2003). IMPORTANTE: A pesquisa de Hawthorne comprovou que o conhecimento apenas das habilidades técnicas era insuficiente para a compreensão do comportamento de indivíduos no mundo das organizações produtivas (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). O teórico estruturalista Amitai Etzioni escreveu no livro Organizações Modernas: “Depois desses experimentos e dos trabalhos de Mayo e Lewin, a abordagem de Relações Humanas passou a salientar a importância da comunicação entre as posições, da explicação, aos participantes inferiores, das razões de uma determinada orientação; a importância da participação nas decisões em que as posições inferiores participam das decisões tomadas pelas superiores, principalmente em assuntos que as atingem diretamente; as virtudes da liderança democrática que não só é extremamente comunicativa e encoraja a participação, como também é justa, não arbitrária, e tem preocupação com os problemas dos trabalhadores, não só com os do trabalho”. A experiência de Hawthorne forneceu aos pensadores da administração uma nova direção de pesquisa. Obviamente, a variável humana dentro de uma empresa necessitava ser muito mais analisada, já que poderia aumentar ou diminuir drasticamente a produção. Mas os administradores perceberam que precisavam compreender essa influência para que pudessem maximizar seus efeitos positivos e minimizar os negativos. Essa tentativa de compreender as pessoas ainda é uma importante diretriz da pesquisa empresarial nos dias de hoje (Samuel Certo, 2003). A EXPERIÊNCIA DE HAWTHORNE COMPROVOU QUE A ANÁLISE DO DESEMPENHO DO TRABALHADOR NÃO SE RESUME A REAÇÕES DE CAUSA E EFEITO, DE CARÁTER MERAMENTE MECÂNICO. FONTE: PIXABAY 34 2. ORGANIZAÇÃO INFORMAL A experiência de Hawthorne concluiu que o trabalhador não se comporta como um ser isolado, mas como membro de um grupo. “Essas inter-relações criam o que chamamos de organização informal” observam Caravantes, Panno e Kloeckner. Os estudiosos das relações humanas concluíram que “se as pessoas não são motivadas por fatos e lógica, então sentimentos sobre coisas de valor social tornam-se de extrema importância no trato com as pessoas no mundo organizacional” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). IMPORTANTE: “Visualizar as organizações como sistemas sociais foi um avanço, pois permitiu à gerência lidar com o conflito entre a ‘lógica da eficiência’, exigida pela organização formal, e a ‘lógica dos sentimentos’, da organização informal (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). Mas a abordagem das relações humanas não foi adotada imediatamente. Tendo como marco inicial os estudos de Hawthorne, ela só conquistou os fóruns mundiais anos depois, com o livro A gerência e o trabalhador, publicado por Fritz Roethlisberger e William Dickson em 1939 (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). “O grande mérito da escola de relações humanas foi desvendar ao mundo que o homem, o grupo e suas inter- relações eram vitais para os resultados buscados pelas organizações”, apontam Caravantes, Panno e Kloeckner. No campo do estudo e administração das organizações “A tônica passou então a ser o homem, integrante e participante de um grupo. O que ele pensava, sentia e como se comportava agora interessava, pois isso de um modo ou de outro iria influenciar no processo produtivo” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). Acima de tudo, a escola de Relações Humanas salientava o papel da comunicação, da participação e da liderança, observou Amitai Etzioni. “O objetivo da abordagem das relações humanas é promover o êxito empresarial gerando relacionamentos apropriados entre as pessoas”, complementa Samuel Certo. “Quando a administração estimula alta produtividade e comprometimento dos funcionários para com a empresa e seus objetivos, as relações humanas são eficazes; quando a administração gera baixa produtividade e funcionários pouco comprometidos, as relações humanas são ineficazes” (Samuel Certo, 2003). 35 entre linha e staff. Em oposição, a teoria das relações humanas (1) trata a organização como grupos de pessoas, (2) enfatiza as pessoas, (3) é inspirada em sistemas de psicologia, (4) delega plenamente a autoridade, (5) dá autonomia ao empregado, (6) fundamenta-se na confiança e abertura, (7) enfatiza as relações humanas entre as pessoas, (8) confiança nas pessoas e (9) dinâmica grupal e interpessoal. Idalberto Chiavenato apresenta as características da organização informal: Colaboração espontânea - A organização informal existe em toda empresa e é pré-requisito necessário à colaboração efetiva do pessoal. Seu alto índice de colaboração espontânea pode e deve ser aplicado a favor da empresa. Coesão ou antagonismo - Os indivíduos criam tanto relações de simpatia (de identificação) como de antipatia (antagonismo), de duração e intensidade variável. Status - Os indivíduos adquirem posições sociais ou status que independem do cargo ocupado na organização formal. Padrões - Os grupos informais desenvolvem, espontaneamente, padrões de relações e de atitudes aceitos e assimilados pelos seus componentes, que traduzem os interesses e aspirações do grupo (Chiavenato, 1993). Chiavenato também relaciona os contrastes da abordagem clássica da administração com a abordagem das relações humanas. A abordagem clássica (1) trata a organização como uma máquina, (2) enfatiza as tarefas ou a tecnologia, (3) é inspirada em sistemas de engenharia, (4) tem autoridade centralizada, (5) linhas claras de autoridade, (6) especialização e competência técnica, (7) acentuada divisão do trabalho, (8) confiança nas regras e nos regulamentos e (9) clara separação FONTE: ENVATO ELEMENTS 36 da abordagem das relações humanas fez com que eles avançassem o sinal, tirassem conclusões apressadas e fizessem inferências que os fatos em si não autorizavam” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). A teoria das relações humanas foi reelaborada a partir da teoria comportamental, afirma Chiavenato. “A partir da publicação do livro de Dickson e Roethlisberger, em 1939, a teoria das relações humanas dominou quase que inteiramente a teoria administrativa. Mas no final da década de 1950 ela passou a ser intensamente criticada e entrou em declínio, e suas concepções passaram a ser profundamente revistas e alteradas” (Idalberto Chiavenato, 1993). Da oposição da teoria das relações humanas à teoria da organização formal emergiu uma terceira posição, “preocupada com o comportamento administrativo, mas rejeitando a concepção inicial e bastante ingênua, que está no âmago da escola das relações humanas, de que a satisfação do trabalhador gera, porsi só, a eficiência” (Beatriz Wahrlich, 1986). O grande marco inicial da teoria comportamental na administração foi a publicação do livro Comportamento Administrativo, de Herbert Alexander Simon, em 1947. Simon foi um economista alemão, também especializado em sociologia, filosofia, psicologia e informática (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). 3. TEORIA COMPORTAMENTAL Com o passar do tempo, a teoria das relações humanas demonstrou suas fragilidades e também passou a sofrer críticas. Se na abordagem clássica da administração havia um desequilíbrio, com uma ênfase excessiva nos elementos formais das organizações, essa corrente de pensamento provocou um novo desequilíbrio, agora com uma “superênfase” no indivíduo. “Ao nosso ver, o extremo dessa nova fase foi atingido quando se estabeleceu a quase sinonímia entre trabalhador feliz e bom trabalhador”, destacam Caravantes, Panno e Kloeckner. Citando Pfiffner e Sherwood, Beatriz Wahrlich afirma que pesquisas revelaram que a relação entre trabalhador feliz e trabalhador produtivo não é tão simples assim. Pode ocorrer qualquer tipo de combinação – moral elevado e baixa produção, moral baixo e alta produção, moral elevado e produção elevada –, o que indica a falta de qualquer relação fixa e nítida (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). “A concepção ingênua e romântica do operário e a ênfase exagerada nos grupos informais colaboraram rapidamente para que a teoria das relações humanas fosse repensada e criticada acerbamente”, relata Idalberto Chiavenato. “Em resumo, o entusiasmo dos simpatizantes e estudiosos 37 Os teóricos da corrente comportamentalista se concentraram na análise de variáveis específicas vinculadas ao comportamento do indivíduo, como decisão, motivação e conflito. Eles se preocupavam com a produtividade dos trabalhadores nas organizações, mas sem aceitar as inferências e conclusões simplistas até então difundidas por muitos. “Os teóricos comportamentalistas conseguiram ir mais a fundo no estudo de determinadas variáveis relativas ao comportamento humano, realizando pesquisas e estudos que poderíamos classificar como mais científicos e dando uma contribuição mais concreta à formulação de uma teoria administrativa” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). IMPORTANTE: A teoria comportamental no pensamento organizacional foi baseada no trabalho de teóricos como Abraham Maslow, Douglas McGregor, Rensis Likert, Chris Argyris, Frederick Herzberg e David McClelland. Rui Andrade e Nério Amboni afirmam no seu livro Teoria Geral da Administração que os teóricos comportamentalistas consideravam que os clássicos falharam ao tentarem impor princípios rígidos à administração. E que, ao mesmo tempo, “Os teóricos comportamentalistas não aceitavam a visão romântica dos estudiosos da escola das relações humanas”. A escola comportamentalista surgiu em oposição às correntes teóricas da administração anteriores. Ela era mais crítica no que se refere ao “modelo da máquina” adotado pela escola burocrática para representar a organização. E se preocupava com o fator humano na óptica da organização formal (Rui Andrade e Nério Amboni, 2009). O PSICÓLOGO ABRAHAM MASLOW ELABOROU UM MODELO HIERÁRQUICO DAS NECESSIDADES HUMANAS QUE SE TORNOU AMPLAMENTE DIFUNDIDO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS, PSICOLOGIA E GESTÃO DE PESSOAS. FONTE: PIXABAY 38 Referências ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério. Teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos de comportamento organizacional. Trad. José Henrique Lamendorf. São Paulo: Pioneira, 1999. CARAVANTES, Geraldo Ronchetti; PANNO, Cláudia Caravantes; KLOECKNER, Mônica Caravantes. Administração: teorias e processos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/326/ pdf/0 CERTO, Samuel C. Administração moderna. Trad. Maria Lúcia G. L. Rosa e Ludmilla Teixeira Lima. Rev. técn. José Antonio Dermengi Rios. 9ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/456/ pdf/0 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 4ª ed. São Paulo: Makron Books, 1993. ETZIONI, Amitai. Organizações modernas. Trad. Miriam Moreira Leite. São Paulo: Pioneira, 1967. PIXABAY. Site internacional de compartilhamento de fotos, ilustrações, imagens vetoriais e cenas de vídeo. Disponível em: https://pixabay.com/pt Considerações Finais Estudamos nesta unidade duas importantes correntes do pensamento administrativo – denominadas teoria das relações humanas e teoria comportamental – que inovaram em relação às demais abordagens pela atenção e valorização conferida ao comportamento humano e à organização informal. A teoria das relações humanas transferiu para o trabalhador a ênfase até então dada à tarefa ou à estrutura pela abordagem clássica da administração. A teoria das relações humanas conquistou bastante popularidade nos anos 1940, mas na década seguinte perdeu espaço para a teoria comportamental, que foi mais a fundo no estudo das variáveis do comportamento humano e se preocupava mais com a organização formal. 39 WAHRLICH, Beatriz M. de Sousa. Uma Análise das Teorias de Organização. 5ª ed. Cadernos de Administração Pública. Rio de Janeiro, RJ: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1986. Disponível em: https://repositorio.fgv.br/items/ae104f06-6444- 4ff7-be42-d93d9d570d9f UNIDADE DE APRENDIZAGEM ABORDAGEM SISTÊMICA DA ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 4 UNIDADE DE APRENDIZAGEM ABORDAGEM SISTÊMICA DA ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 4 42 Para Início de Conversa A teoria moderna ou contemporânea da administração tenta integrar os diversos elementos que contribuem para a organização inteira. “O tema subjacente é que as organizações são sistemas compostos de variáveis interdependentes”, explicam James Bowditch e Anthony Buono. A abordagem sistêmica da administração baseia-se na teoria geral dos sistemas, fundada pelo biólogo austríaco Karl Ludwig von Bertalanffy. Intrigado com as lacunas que identificava nos avanços científicos da biologia, Bertalanffy apresentou sua teoria pela primeira vez em 1937, e a publicou no livro Teoria Geral dos Sistemas em 1968. Esse novo paradigma foi adotado em diversas áreas do saber, sendo considerado um divisor de águas no pensamento moderno. Objetivos de Aprendizagem do Capítulo Conhecer o contexto de surgimento e os princípios fundamentais da teoria geral dos sistemas. Analisar a aplicação do pensamento sistêmico à compreensão e administração das organizações. 43 1. TEORIA GERAL DOS SISTEMAS Nas palavras do criador da teoria geral dos sistemas, Ludwig von Bertalanffy, “um sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação”. Ou seja, é possível considerar um sistema qualquer entidade, conceitual ou física, composta de partes inter-relacionadas, interatuantes ou interdependentes, que possui um objetivo, observam Geraldo Caravantes, Cláudia Panno e Mônica Kloeckner (2005). Um exemplo de sistema é o automóvel, objeto que visa transportar pessoas e é composto de várias partes interatuantes e interdependentes (motor, chassi, rodas etc). “Para ilustrar a interatuação e interdependência dos elementos de um sistema, basta imaginar o que acontece quando uma das suas partes (que chamamos de subsistema) não corresponde à expectativa prevista: se o subsistema motor falhar, o sistema automóvel como um todo também deixa de funcionar” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). No livro Teoria Geral dos Sistemas, Bertalanffy apresenta como sistemas os átomos, as moléculas, as células, as máquinas, os equipamentos, os relógios, os termostatos, os vegetais, os animais, o ser humano, os grupos sociais, o sistema solar e os sistemas simbólicos (linguagem,lógica, matemática, ciências, arte, moral etc.). FONTE: PIXABAY O AUTOMÓVEL PODE SER CONSIDERADO UM SISTEMA, POIS É COMPOSTO DE VÁRIAS PARTES INTERATUANTES E INTERDEPENDENTES (MOTOR, CHASSI, RODAS ETC,) E TEM UM OBJETIVO: O TRANSPORTE. 44 2. SISTEMAS FECHADOS E SISTEMAS ABERTOS Ludwig von Bertalanffy faz uma distinção entre os sistemas fechados e os sistemas abertos. Os sistemas fechados não são influenciados por aquilo que os cerca nem interagem com o ambiente em que estão inseridos. “Em sua maioria, são mecânicos e dotados de atividades ou movimentos predeterminados que são executados sem levar em conta o meio em que se inserem”, comenta Samuel Certo. Já um sistema aberto interage continuamente com o meio em que se insere. “Uma planta é um exemplo de sistema aberto. A constante interação com o meio influencia as condições de existência da planta e seu futuro” (Samuel Certo, 2003). IMPORTANTE: Um relógio é um exemplo de sistema fechado. Independentemente de seu meio, os componentes do mecanismo de um relógio devem funcionar de maneira predeterminada para que o relógio exista como um todo e sirva a seu propósito (Samuel Certo, 2003). IMPORTANTE: A aplicabilidade do pensamento sistêmico à compreensão e administração das organizações é comprovada nas palavras de Ludwig von Bertalanffy: “O enfoque dos sistemas não se limita às entidades materiais, mas é aplicável a entidades que são parcialmente imateriais e altamente heterogêneas. A análise dos sistemas de uma empresa industrial, por exemplo, abrange pessoas, máquinas, edifícios, entrada de matérias-primas, saída de produtos, valores monetários etc.” Em sua teoria, Bertalanffy defende que há leis universais, esquemas conceituais e isomorfismos que se repetem nos sistemas de diferentes campos, da ciência natural à psicologia e sociologia. A teoria geral dos sistemas tem por objetivo formular e derivar princípios válidos para os sistemas em geral. São atributos característicos dos sistemas: totalidade, ordem hierárquica – tanto na estrutura (ordem das partes) como nas funções (ordem dos processos), crescimento, teleologia, equifinalidade, instabilidade, diferenciação, conflito interno, mudança, autopreservação, controle, retroação etc. (Bertalanffy, 2015). 45 Com base em uma publicação de Kenneth Boulding de 1956, Bertalanffy elaborou a seguinte classificação, considerando os níveis na hierarquia dos sistemas (dos mais simples e fechados aos mais complexos e abertos): 1. Estruturas estáticas - Átomos, moléculas, cristais, estruturas biológicas do nível da microscopia eletrônica até o nível macroscópico. 2. Relojoaria - Relógios, máquinas convencionais em geral, sistemas solares. 3. Mecanismo de controle - Termostato, servomecanismos, mecanismo homeostático nos organismos. 4. Sistemas abertos - Chama, células e organismos em geral. 5. Organismos inferiores - Organismos “vegetais”: crescente diferenciação do sistema (“divisão do trabalho” no organismo). Distinção entre o indivíduo reprodutivo e o funcional. 6. Animais - Crescente importância da circulação de informações (evolução de receptores, sistemas nervosos). Aprendizagem. Começos da consciência. 7. Homem - Simbolismo. Passado e futuro, individualidade e mundo, autoconsciência etc., como consequências. Comunicação pela linguagem. 8. Sistemas socioculturais - Populações de organismos (inclusive humanos). Comunidades determinadas por símbolos (culturas) somente no homem. 9. Sistemas simbólicos - Linguagem, lógica, matemática, ciências, arte, moral etc. A preocupação com os sistemas abertos se acentuou em meados do século XX. “As formulações mais antigas de constructos de sistema lidavam com os sistemas fechados das ciências físicas, nos quais as estruturas relativamente autocontidas podiam ser tratadas, com êxito, como se fossem independentes de forças externas”, explicam Daniel Katz e Robert Kahn. No livro Teoria Geral dos Sistemas, Ludwig von Bertalanffy faz reflexões sobre a ciência clássica que, em suas disciplinas (química, biologia, psicologia, ciências sociais), sempre buscou isolar os elementos do universo (células, indivíduos, sensações) para depois reuni-los em um todo (corpo, sociedade, mente) inteligível. Esse processo de análise reduz a realidade a unidades cada vez menores, isolando as cadeias causais individuais. “A causalidade tinha essencialmente um único sentido: um sol atrai um planeta na mecânica newtoniana, um tipo de bactéria produz determinada doença” (Bertalanffy, 2015). 46 os seus elementos constituintes, mas são necessárias as suas inter-relações, conclui Bertalanffy. Bertalanffy emprega a conhecida expressão “o todo é mais que a soma das partes” ao argumentar que as características constitutivas de um sistema não são explicáveis a partir das características das partes isoladas. Comparadas aos elementos constituintes, as características do complexo parecem “novas” ou “emergentes”. “Se, porém, conhecermos o total das partes contidas em um sistema e as relações entre elas, o comportamento do sistema pode ser derivado do comportamento das partes” (Bertalanffy, 2015). Outra característica dos sistemas abertos é a equifinalidade: o mesmo estado final pode ser alcançado partindo de diferentes condições iniciais e por diferentes maneiras (Ludwig von Bertalanffy). IMPORTANTE: Nos sistemas complexos, o esquema da ciência clássica (análise de unidades isoláveis, que atuam segundo a causalidade em um único sentido) mostrou-se insuficiente. “Daí o aparecimento de noções como totalidade, holístico, organísmico, gestalt, etc.” (Bertalanffy, 2015). Bertalanffy observa que nos sistemas fechados, as condições iniciais determinam inequivocamente o estado final: no movimento de um sistema planetário, por exemplo, as posições ocupadas pelos planetas no tempo são previsíveis. “Outro exemplo é o equilíbrio químico, no qual as concentrações finais dos reagentes dependem naturalmente das concentrações iniciais. Se as condições iniciais ou o processo forem alterados o estado final também será modificado” (Bertalanffy, 2015). Entretanto, ao se tratar de sistemas abertos e complexos, não basta compreender apenas EM SEU PROCESSO ANALÍTICO, A CIÊNCIA CLÁSSICA BUSCA ISOLAR OS ELEMENTOS DAS PARTES COMPONENTES PARA DEPOIS REUNI-LOS EM UM TODO INTELIGÍVEL. FONTE: PIXABAY 47 a ordem ou a finalidade. O mundo dos organismos era visto como um produto do acaso. Os conceitos de organização, direção, teleologia etc. não aparecem no sistema clássico da ciência” (Bertalanffy, 2015). Em contraposição, o paradigma sistêmico adere à teleologia: cada parte do sistema tem um papel a desempenhar de modo que o todo possa cumprir seu propósito, destaca L. Thomas Hopkins. Trazendo para a análise das organizações, o sistema administrativo também é composto de várias partes que funcionam interdependentemente para alcançar um propósito. Para Samuel Certo (2003) essas partes são os insumos, o processo e o produto organizacionais. “Partes que representam uma combinação que existe para alcançar os objetivos da empresa.” A teoria de Ludwig von Bertalanffy também enfatiza a interdisciplinaridade: “Estas construções ou modelos teóricos ampliados e generalizados são interdisciplinares, isto é, transcendem os departamentos convencionais da ciência e se aplicam a fenômenos em diversos domínios. Há uma tendência geral no sentido da integração nas várias ciências, naturais e sociais. Esta integração parece centralizar-se em uma teoria geral dos sistemas” (Bertalanffy, 2015). Resumidamente, o livro Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy relata que na ciência clássica o todo é compreendido a partir da análise isolada de suas partes, em uma abordagem de (1) pensamento analítico, (2) reducionismo, (3) causalidade (as condições iniciais determinam o estadofinal), (4) racionalismo, (5) mecanicismo e (6) conhecimento disciplinar. Na teoria dos sistemas, o todo é explicável pela relação entre as suas partes, com (1) pensamento sintético, holístico, (2) expansionismo, (3) perspectivismo, (4) equifinalidade (o mesmo resultado pode ser atingido por diferentes causas iniciais) e (5) conhecimento interdisciplinar. Outros pontos importantes da visão sistêmica são os atributos de organização e de teleologia. “Na concepção do mundo mecanicista, nascida na física clássica do século XIX, o jogo cego dos átomos, governado pelas leis inexoráveis da causalidade, produzia todos os fenômenos do mundo, inanimado, vivo e mental. Não havia lugar para a direção, para 48 Até então, os modelos “racionais” de organização (administração científica de Taylor, teoria da administração de Fayol, teoria da burocracia de Weber) adotavam a estratégia de sistema fechado, em busca da certeza e da previsão exata, observa Idalberto Chiavenato. “A teoria das relações humanas também via a organização como um sistema fechado. Ela se voltava para o interior da organização, introvertida e introspectivamente, preocupada com o comportamento humano e o relacionamento social e informal dos participantes em seus grupos” (Chiavenato, 1993). Mas 3. A ORGANIZAÇÃO COMO SISTEMA Nas unidades 2 e 3 da nossa disciplina estudamos duas abordagens do pensamento administrativo que ocupavam posições opostas: a abordagem clássica e a teoria das relações humanas. Os teóricos da corrente estruturalista tentaram fazer uma combinação de ambas, mas foi a teoria geral dos sistemas que proporcionou a integração tão sonhada pelos teóricos organizacionais (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). “À medida que os pesquisadores começaram a perceber a interação entre as dimensões estruturais (mecanísticas) e humanas (comportamentais) das organizações e a influência das forças ambientais externas, o conceito de empresa como um sistema começou a dominar a teoria organizacional”, afirmam James Bowditch e Anthony Buono. Segundo personalidades como William G. Scott, a teoria moderna das organizações conduz quase inevitavelmente à discussão da teoria geral dos sistemas. O PENSAMENTO ADMINISTRATIVO MODERNO CONSIDERA A ORGANIZAÇÃO COMO UM SISTEMA ABERTO, EM CONTÍNUA INTERAÇÃO COM O SEU MACROAMBIENTE ECONÔMICO, TECNOLÓGICO, SOCIAL ETC. FONTE: PIXABAY 49 Ao tratar das relações que o sistema organizacional estabelece, também é importante considerar os stakeholders, ou seja, as partes envolvidas ou interessadas nas atividades da organização, os indivíduos, grupos e instituições que são afetados ou afetam os seus negócios. São stakeholders os clientes, os funcionários, os concorrentes, os acionistas, o governo, os grupos políticos, as associações comerciais, os sindicatos etc. Os sistemas funcionam no modelo input-processamento- output. Geraldo Caravantes, Cláudia Panno e Mônica Kloeckner identificam como input das organizações a energia e os insumos (técnicos, sociais, financeiros e humanos) a serem transformados pelo sistema. São exemplos de input do sistema organizacional: matéria-prima, equipamento, tecnologia, dados, informação, dinheiro, energia, tempo, talentos humanos, esforço individual. Já o output é o produto ou serviço, que resulta do processamento da energia e dos insumos. Exemplos: produtos, serviços, resultado financeiro, informação, documentos, decisões, normas, satisfação do colaborador, resíduos, refugos (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). o sistema administrativo é um sistema aberto, que interage com seu meio ou fatores do macroambiente – clientes, concorrentes, fornecedores, governo etc. “Cada um desses fatores representa uma influência potencial do meio, capaz de alterar significativamente o futuro do sistema administrativo” (Samuel Certo, 2003). IMPORTANTE: São fatores do macroambiente ou ambiente geral da organização a economia, a tecnologia, a legislação, a política, a sociedade, a ecologia e a cultura. James Bowditch e Anthony Buono escrevem que, além da mudança tecnológica rápida do pós-industrialismo, como sistemas abertos as organizações são confrontadas por pressões externas como • Concorrência crescente na arena mundial. • Regulamentações governamentais que, cada vez mais, têm tratado de controvérsias sociais (como discriminação, segurança no local de trabalho, proteção do meio ambiente). • Escassez de recursos. • Maior diversidade de força de trabalho. • Normas culturais em mudança. • Pressões empresariais mais tradicionais, por parte de concorrentes, fornecedores e forças de oferta e procura. 50 Conceitualmente, além da abordagem ilustrada na figura acima, é possível considerar como subsistemas de uma organização as áreas funcionais da administração: gestão de operações, gestão financeira, gestão de pessoas e gestão de marketing. Sob outro ponto de vista, se a gestão de pessoas for abordada como um sistema, Chiavenato define como seus subsistemas: • Provisão (recrutamento e seleção de pessoas). • Aplicação (descrição de cargos, avaliação de desempenho). • Manutenção (remuneração, segurança no trabalho). • Desenvolvimento (treinamento, desenvolvimento organizacional). • Monitoração (sistemas de informação, balanço social). IMPORTANTE: “Na visão sistêmica da administração, ações que ocorreram dentro de uma parte do sistema afetam não somente aquela unidade (departamento, seção, grupo etc.), mas podem sofrer uma disseminação, atingindo outros subsistemas organizacionais também” (James Bowditch e Anthony Buono, 1999). 4. SUBSISTEMAS DA ORGANIZAÇÃO “Uma organização é um sistema composto de subunidades ou subsistemas que interagem continuamente e que dependem mutuamente uns dos outros”, afirmam James Bowditch e Anthony Buono. Um sistema é constituído por elementos, partes ou subsistemas. Por sua vez, o sistema faz parte de um “sistema maior”, ou supersistema. A figura a seguir explica de forma ilustrada a composição dos subsistemas de uma empresa, e a relação do sistema empresa com o seu supersistema mercado de trabalho. EXEMPLOS DE SISTEMAS E SUBSISTEMAS. FONTE: LIVRO ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS, DE IDALBERTO CHIAVENATO (2016). 51 Considerações Finais A abordagem sistêmica não foi a última corrente do pensamento administrativo. Posteriormente, foram desenvolvidas e amplamente difundidas outras relevantes abordagens, como a teoria neoclássica, a teoria contingencial e a teoria do desenvolvimento organizacional. Mas a incorporação dos princípios e conceitos de Ludwig von Bertalanffy no estudo das organizações foi um divisor de águas. “Todas as teorias organizacionais relevantes surgidas após a teoria geral dos sistemas nela se apoiam, explicita ou implicitamente”, destacam Caravantes, Panno e Kloeckner (2005). Alguns teóricos preferem ver as organizações como sistemas sociotécnicos. Nessa perspectiva, compondo o sistema organizacional, os subsistemas técnico e social se inter-relacionam, influenciam-se mutuamente e interdependem. Trata-se de um avanço em relação à abordagem clássica da administração e à teoria das relações humanas, que definiam a organização apenas como sistema técnico ou apenas como sistema social. “O que precisamos é ter consciência de que esses dois subsistemas não podem ser considerados separadamente, mas sim no contexto da organização como um todo. Qualquer mudança em um deles trará, inevitavelmente, consequências para o outro” (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). Muitas vezes o sucesso de um processo gerencial ou produtivo é afetado pela falta de integração entre os subsistemas técnica e social. “É bastante comum presenciarmos o fracasso de medidas tecnicamente corretas e mesmo necessárias à implantação de um novo sistema de controle de custos com utilização de tecnologia computacional, porexemplo, simplesmente pela desconsideração ou não envolvimento daqueles que, em última análise, seriam afetados pela nova medida (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). 52 CHIAVENATO, Idalberto. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal: como agregar talentos à empresa. 4ª ed. São Paulo: Makron Books, 1993. COLTRO, Alex. Teoria geral da administração. Curitiba: InterSaberes, 2015. Disponível em: https://plataforma.bvirtual. com.br/Leitor/Publicacao/26923/pdf/0 KATZ, Daniel; KAHN, Robert L. Psicologia social das organizações. Trad. Auriphebo Simões. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1987. LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas. Trad. 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Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/ Publicacao/456/pdf/0 CHIAVENATO, Idalberto. Administração de Recursos Humanos: fundamentos básicos. 8° ed. Barueri SP: Manole, 2016. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 4ª ed. São Paulo: Makron Books, 1993. UNIDADE DE APRENDIZAGEM ADMINISTRAÇÃO MODERNA FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 5 54 Para Início de Conversa Desenvolvida no contexto da terceira revolução industrial, iniciado em meados do século XX, a administração moderna teve como principais nomes teóricos e consultores de grandes corporações como Peter Drucker, Russell Ackoff, Igor Ansoff, George Steiner e Alfred Chandler. Apropriando-se e reinterpretando os avanços das correntes de pensamento anteriores (como a administração científica, a teoria das relações humanas e a teorias dos sistemas), suas propostas conceituais sobre a estrutura organizacional e as funções do processo administrativo revolucionaram a forma como as organizações são geridas e como os gestores abordam questões estratégicas e operacionais, sendo amplamente aplicados na teoria e prática da administração contemporânea. Objetivos de Aprendizagem do Capítulo Conhecer as principais contribuições do pensamento modernista para o pensamento administrativo. Compreender os elementos componentes da estrutura organizacional. Compreender as funções do processo administrativo. 55 1. ABORDAGEM MODERNISTA DA ADMINISTRAÇÃO As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pelo trabalho de grandes teóricos da administração, como Russell Ackoff, Igor Ansoff, Peter Drucker, George Steiner e Alfred Chandler (Richard Whittington, 2004). Incorporando avanços das correntes teóricas anteriores, o pensamento modernista foi caracterizado pela análise racional e científica da realidade, com ênfase na definição de objetivos e estratégias organizacionais, na previsão de cenários e na formulação de planos e métodos de controle. Foi nesse período que foi formulada a proposta de que uma organização possui três níveis hierárquicos: institucional, tático e operacional. A ideia foi lançada pelo sociólogo Talcott Parsons em 1960, no artigo Some Ingredients of a General Theory of Formal Organization (Chiavenato, 2003). A partir de então, os teóricos da administração passaram a admitir que existe nas organizações uma hierarquia de três níveis de atividades, de objetivos, de planejamento e de gerenciamento. No planejamento estratégico são realizadas análises do ambiente interno e externo e são definidas as diretrizes, os objetivos e as estratégias da organização. No nível tático são elaborados planos de produto, de mercado, de desenvolvimento de recursos e de operações, por exemplo. E no nível operacional, são elaborados planos de reduções, de integrações, de P&D, de fusões e aquisições, de treinamento, de produção etc. (Chiavenato, 2003). O pensamento administrativo modernista lançou a ideia de que as organizações possuem uma hierarquia de três níveis de atividades, de objetivos, de planejamento e de gerenciamento. FONTE: PIXABAY 56 2. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL O pensamento administrativo moderno fez importantes contribuições na análise da estrutura das organizações. Para Robbins e Decenzo (2004), são elementos básicos da estrutura organizacional: • Especialização do trabalho. • Cadeia de comando. • Amplitude de controle. • Autoridade e responsabilidade. • Centralização (vs. descentralização). • Departamentalização. Sobre o primeiro item (Chiavenato, 2003) escreve: “para ser eficiente, a produção deve basear-se na divisão do trabalho – a maneira pela qual um processo complexo pode ser decomposto em uma série de pequenas tarefas que o constituem. Como consequência, surge a especialização: cada órgão ou cargo passa a ter funções e tarefas específicas e especializadas.” Uma das consequências da divisão do trabalho é a diversificação ou pluralidade funcional dentro da organização. “A pluralidade de funções imposta pela especialização exige o desdobramento da função de comando, CURIOSIDADE: O pensador modernista Peter Drucker foi autor da teoria da administração por objetivos (APO), que enfatiza a importância das organizações definirem metas claras e mensuráveis, e a sinergia na colaboração entre gestores e subordinados na definição e alcance de objetivos organizacionais. FONTE: PIXABAY 57 cuja missão é dirigir todas as atividades para que essas cumpram harmoniosamente suas respectivas missões” (Chiavenato, 2003). A especialização do trabalho gera especialistas que precisam ser coordenados em suas atividades. “Pode-se facilitar essa coordenação agrupando os especialistas em departamentos sob a direção de um gerente” (Robbins e Decenzo, 2004). A departamentalização pode ser funcional, por produto, por cliente, geográfica, por processo etc. Além de uma estrutura de funções especializada, a organização precisa também de uma estrutura hierárquica para dirigir as operações dos níveis que lhe estão subordinados, explica Chiavenato (2003). Daí o princípio da hierarquia: o princípio escalar. A imagem a seguir ilustra uma cadeia escalar de três níveis hierárquicos: “Em toda organização formal existe uma hierarquia que divide a organização em camadas ou níveis de autoridade. Na medida em que se sobe na escala hierárquica, aumenta o volume de autoridade do administrador”, observa Chiavenato (2003). É importante não confundir “estrutura hierárquica” com “cadeia de comando”. A estrutura hierárquica é uma estrutura organizacional piramidal, onde cada nível subsequente está subordinado ao nível acima, corresponde à disposição das camadas ou níveis de autoridade (cada nível subordinado ao nível acima dele), e estabelece a ordem de autoridade e responsabilidade (os níveis mais altos geralmente tomam decisões estratégicas, e os mais baixos lidam com questões operacionais). Já a cadeia de comando constitui a linha de autoridade através da qual as comunicações e as ordens são transmitidas na organização. Ela define a rota formal pela qual as informações e instruções fluem de cima para baixo e de baixo para cima na estrutura organizacional, e estabelece como as decisões são tomadas, comunicadase implementadas na organização. Ou seja, enquanto a cadeia de comando se refere à rota específica pela qual as comunicações e as ordens são transmitidas, a hierarquia é mais ampla, e engloba a disposição de autoridade e responsabilidade em diferentes níveis dentro da organização. Em muitos casos, a hierarquia estabelece a ORGANOGRAMA QUE REPRESENTA UMA CADEIA ESCALAR DE TRÊS NÍVEIS HIERÁRQUICOS. FONTE: O AUTOR, 2024 58 IMPORTANTE: “Poucas organizações (se há alguma) funcionariam eficazmente se todas as suas decisões fossem tomadas por poucas pessoas selecionadas (centralização) ou se todas as decisões fossem empurradas para o nível mais próximo dos problemas (descentralização).” (Stephen Robbins e David Decenzo, 2004) base para a cadeia de comando. Mas nem toda organização com uma hierarquia clara pode ter uma cadeia de comando eficaz se as comunicações não forem gerenciadas de maneira eficiente ao longo dessa hierarquia. IMPORTANTE: “Para descobrir a estrutura necessária para uma empresa é preciso analisar suas atividades, suas decisões e suas relações.” (Peter Drucker) Outro ponto importante é a amplitude de comando ou amplitude de controle. “A amplitude administrativa (ou amplitude de comando, amplitude de controle) significa o número de subordinados que um administrador pode supervisionar. Quando um administrador tem muitos subordinados, ele tem uma amplitude de comando grande e ampla” (Chiavenato, 2003). Sobre a centralização na estrutura organizacional, Robbins e Decenzo (2004) explicam que em uma organização centralizada as decisões são tomadas por uns “poucos selecionados”. Depois de decidida por esse grupo seleto, a solução é então encaminhada para aqueles que executam o trabalho. “Descentralizar é conceder aos funcionários mais próximos do problema uma oportunidade para resolvê-lo. Isso significa dar-lhes a oportunidade de explorar o problema e discutir quais soluções são viáveis, e como elas podem ser implementadas” (Robbins e Decenzo, 2004). EM UMA ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADO AS DECISÕES SÃO TOMADAS POR POUCOS PROFISSIONAIS FONTE: PIXABAY 59 IMPORTANTE: “Os elementos descritos por Fayol – planejamento, organização, liderança, coordenação e controle – ainda são considerados parâmetros válidos para estudar, analisar e praticar o processo administrativo.” (Samuel Certo) “O planejamento envolve a definição dos objetivos ou metas da organização, o estabelecimento de uma estratégia geral para atingir esses objetivos e o desenvolvimento de uma hierarquia abrangente de planos para integrar e coordenar as atividades”, explicam Stephen Robbins e David Decenzo (2004). Samuel Certo (2003) observa que “planejar envolve a escolha de tarefas que devem ser desempenhadas a fim de atingir os objetivos da empresa, descrevendo como as tarefas precisam ser executadas e indicando quando executá-las.” Ou seja, o planejamento diz respeito ao fim (o que deve ser feito) e aos meios (como deve ser feito) (Robbins e Decenzo, 2004). IMPORTANTE: “O planejamento define onde a organização deseja estar no futuro e como chegar lá.” (Geraldo Caravantes, Cláudia Panno e Mônica Kloeckner, 2005) 3. FUNÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO Também chamadas de operações básicas da função administrativa, as funções do processo administrativo estabelecidas pelo pensamento modernista da administração têm origem nas propostas de Henri Fayol, que no seu livro Administração industrial e geral, de 1916, escreveu: “Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”. Para Fayol (1965): Prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de ação. Organizar é constituir o organismo material e social da empresa. Comandar é dirigir o pessoal. Coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços. Controlar é velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. Na década de 1960, Peter Drucker redefiniu a proposta de Henri Fayol em quatro processos, unindo dois deles (comandar e coordenar) em um só (dirigir) (Fábio Vizeu, 2019). 60 Outra função do processo administrativo é a organização. “Organização é o ato de designar, a vários indivíduos ou grupos da empresa, as tarefas desenvolvidas durante o planejamento. Assim, organizar cria um mecanismo que coloca os planos em andamento” afirma Samuel Certo (2003). Organizar é o processo de estabelecer o uso ordenado de todos os recursos do sistema administrativo: recursos materiais, financeiros, humanos, informacionais e naturais. Caravantes, Panno e Kloeckner (2005) argumentam que o ato de organizar decorre do planejamento e reflete como a empresa procura se estruturar para cumprir o plano proposto. “A organização, como processo, implica a distribuição de tarefas e seu agrupamento em departamentos e a alocação de recursos a eles.” São etapas do processo de organização: • Refletir sobre planos e objetivos. • Estabelecer as tarefas principais. • Dividir as tarefas principais em subtarefas. • Destinar recursos e instruções para as subtarefas. • Avaliar os resultados da estratégia organizadora implementada (Certo, 2003). Citando Frement E. Kast e James E. Rosenzweig, Samuel Certo (2003) descreve as dimensões dos planos: Repetitividade: Os planos para situações específicas e não repetitivas geralmente são de curto prazo. Já os usados ao longo do tempo em situações recorrentes são planos de longo prazo. Dimensão de tempo: Extensão de tempo que o plano abrange. O planejamento estratégico é de longo prazo e o planejamento tático é de médio e curto prazo. Escopo: Enquanto um plano de recrutamento de novos funcionários é de escopo estreito, um plano master abrange todo o sistema gerencial. Nível: Planos de alto nível são concebidos para a alta gerência, e planos de nível médio e de nível inferior são destinados à gerência média e inferior, respectivamente (Certo 2003). TODAS AS EMPRESAS OU ORGANIZAÇÕES PRECISAM. O PLANEJAMENTO DIZ RESPEITO AO FIM (O QUE DEVE SER FEITO) E AOS MEIOS (COMO DEVE SER FEITO). FONTE: PIXABAY 61 Abrangendo também os conceitos de influência, motivação, liderança, comando, direção ou força de vontade, para Samuel Certo (2003) direção é o ato de orientar as atividades dos membros de uma empresa na direção apropriada. A direção apropriada é a que ajuda a empresa a ir ao encontro de suas metas. A influência também tem como fim aumentar a produtividade.” Controle é uma função administrativa que envolve o processo de monitoramento das atividades para se ter certeza de que elas estão sendo realizadas como planejado e para corrigir qualquer desvio significativo (Stephen Robbins e David Decenzo, 2004). “Um sistema de controle eficaz dá a certeza de que as atividades são completadas de maneira que conduzam aos objetivos da organização”, escrevem Robbins e Decenzo, (2004). Por meio do controle, os gerentes: • Reúnem informações que medem o desempenho recente da empresa. • Comparam o desempenho atual com padrões preestabelecidos. • Determinam, a partir dessa comparação, se a empresa deve implementar mudanças (Samuel Certo, 2003). O controle pode ser realizado nos níveis estratégico, tático e operacional. Fábio Vizeu (2019) discorre sobre cada um: O Sobre a função do processo administrativo denominada dirigir (que Fayol considerava como comandar e coordenar): Fabio Vizeu esclarece que ela envolve a mobilização de pessoas para que atuem de forma sinérgica com os objetivos organizacionais e a atividades estruturadas, bem como entre si. “Na prática administrativa, direção é a aplicação direta das habilidades interpessoais – em outras palavras, ser líder, negociar, comunicar, convencer, interceder, traduzir, orientar, entre outras ações voltadas para os problemas de articulação dos esforços das pessoas em um objetivo comum.” FONTE: O AUTOR, 2024 OS RESULTADOS DO MONITORAMENTO(CONTROLE) DEVEM REALIMENTAR O PLANEJAMENTO, EM UM PROCESSO RECÍPROCO E REPETITIVO. 62 Considerações Finais Ao mesmo tempo que se apropriaram dos avanços conquistados pelas correntes anteriores, adotando uma perspectiva racional e científica, o pensamento modernista da administração representou uma mudança significativa em relação à teoria da administração de Frederick Taylor e de Henri Fayol, que eram mais centradas em tarefas e estruturas rígidas, voltadas aos elementos e relações internas de um sistema fechado. Incorporando conhecimentos difundidos pela escola das relações humanas e pela teoria dos sistemas, a corrente modernista trouxe para a gestão organizacional uma perspectiva mais ampla, flexível e orientada para as pessoas, inovando e contribuindo enormemente nas questões do planejamento, processos administrativos e estratégia. controle estratégico apresenta, de forma genérica e sintética, os aspectos globais que possibilitam à cúpula analisar a organização em sua totalidade (as estratégias de negócios, as políticas gerais de gestão, os demonstrativos financeiros etc.). O controle tático permite analisar cada unidade organizacional – como um departamento em particular ou cada conjunto de recursos isoladamente –, o que proporciona o detalhamento de áreas, direcionando-o para o médio prazo. É mais analítico e detalhado que os controles anteriores. Está focado nas atividades ou operações específicas. Os padrões básicos utilizados geralmente são relativos à quantidade, à qualidade, ao tempo e aos custos. CURIOSIDADE: “O termo controle era absolutamente adequado para o início do século XX. Entretanto, neste terceiro milênio, os termos monitoramento e avaliação estão mais de acordo.” (Geraldo Caravantes, Cláudia Panno e Mônica Kloeckner, 2005) 63 MINTZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce; LAMPEL, Joseph. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Trad. Nivaldo Montigelli Jr. Porto Alegre: Bookman, 2000. NOGUEIRA, Cleber Suckow (org). Planejamento estratégico. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/22110/pdf/0 ORLICKAS, Elizenda. Modelos de gestão: das teorias da administração à gestão estratégica. Curitiba: InterSaberes, 2012. Série Administração Estratégica. Disponível em https:// plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/6180/pdf/0 PISSETTI, Rodrigo Fernandes. 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Disponível em: https:// periodicos.fgv.br/rae/article/view/37650 UNIDADE DE APRENDIZAGEM ABORDAGENS COMTEMPORÂNEAS DA ADMINISTRAÇÃO FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 6 66 Para Início de Conversa Os avanços científicos e tecnológicos da segunda metade do século XX transformaram significativamente a economia, a cultura e a sociedade. O desenvolvimento da informática, dos sistemas de informação e a automatização de processos alteraram profundamente a produção industrial, a comercialização bens e serviços e os hábitos dos consumidores. Nesse contexto extremamente dinâmico, de constante inovação, as correntes do pensamento administrativo elaboraram conceitos de extrema relevância para os empresários e analistas da gestão de organizações. As novas perspectivas abertas pelas teorias pós-modernistas, da abordagem contingencial e da aprendizagem organizacional adaptativa e generativa também são de grande utilidade não apenas para a compreensão retrospectiva das últimas décadas do século XX, mas também para a análise e exercício da administração no século XXI. Objetivos de Aprendizagem do Capítulo Compreender o que foram as quatro revoluções industriais e as seis ondas de inovação, e seu impacto nas organizações e teorias da administração. Conhecer a abordagem contingencial da administração. Conhecer a teoria da aprendizagem organizacional. Conhecer o pensamento pós-modernista da administração. 67 1. REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS E ONDAS DE INOVAÇÃO A ideia de que o mundo entrou em uma “quarta revolução industrial” foi lançada em 2016 por Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial. “A primeira revolução industrial ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1840. Provocada pela construção das ferrovias e pela invenção da máquina a vapor, ela deu início à produção mecânica (Schwab, 2016). Nesse período a energia motriz substituiu a força animal e humana, a energia a vapor passou a ser empregada em máquinas industriais, locomotivas e barcos, as ferramentas manuais foram trocadas por máquinas, a produção fabril substituiu a produção artesanal e a fabricação de produtos se tornou mais barata e eficiente. A segunda revolução industrial, iniciada no final do século XIX, entrou no século XX e, pelo advento da eletricidade e da linha de montagem, possibilitou a produção em massa (Schwab, 2016). A energia elétrica e dos combustíveis fósseis passaram a ser empregados em veículos, foram inventados o automóvel, o avião, o telégrafo, o telefone, o rádio e o cinema. “A terceira revolução industrial começou na década de 1960. Ela costuma ser chamada de revolução digital ou do computador, pois foi impulsionada pelo desenvolvimento dos semicondutores, da computação em mainframe (década de 1960), da computação pessoal (década de 1970 e 80) e da internet (década de 1990)” (Schwab, 2016). Nesse período foram inventados o computador, a televisão, a internet e a automatização. Foram desenvolvidos os foguetes tripulados, a telecomunicação por satélites, a fibra óptica e a tecnologia e energia nuclear. IMPORTANTE: Predominante nas décadas de 1960 e 1970, o pensamento modernista foi caracterizado pela análise racional e científica da realidade, com ênfase na definição de objetivos e estratégias organizacionais, na previsão de cenários e na formulação de planos e métodos de controle. Com o passar do tempo, o pensamento modernista da administração predominantenas décadas de 1960 e 1970 foi questionado. No dinâmico contexto sociocultural do início da década de 1970, Alvin Toffler concluiu: “as estruturas de organização funcionais, criadas para o fim de enfrentar condições previsíveis, não inovadoras, mostram- se incapazes de reagir eficientemente às mudanças radicais 68 ser resolvidos com a superação dos limites das velhas disciplinas. Hoje, engenheiros e psicólogos frequentemente trabalham juntos em equipes ad hoc. E encontramos biomatemáticos, psicofarmacologistas, engenheiros- bibliotecários e músicos-técnicos em computadores.” IMPORTANTE: “As novas realidades do mercado exigem flexibilidade e rapidez.” (Tom Peters) Para Alvin Toffler (1973), são atributos de uma equipe ad hoc capaz de enfrentar o complexo ambiente de negócios: • Não respeitar os limites e padrões convencionais (pois a própria mudança não respeita). • Ser capaz de atacar frontalmente o inimigo de cada um e de todos: a falta de comunicação. • As melhores ideias quase sempre resultarão do esforço em equipe. do meio ambiente”. Entre as soluções para enfrentar essa nova realidade, Toffler lançou o conceito adhocracia no livro O Choque do Futuro, de 1970. Diferentemente dos departamentos funcionais permanentes das organizações burocráticas, na adhocracia equipes ou comitês ad hoc são formados temporariamente para resolver um problema bastante específico. Assim que o problema é solucionado, a equipe é dissolvida. Alvin Toffler (1973) apontou os fatores básicos da burocracia de Weber que contrastam com a adhocracia: • O indivíduo ocupa uma posição bem definida na divisão do trabalho. • O indivíduo se encaixa em uma hierarquia vertical, em uma cadeia de comando que vem do patrão ou chefe até o mais humilde dos serventes. • Os relacionamentos organizacionais tendem à permanência. Tofler escreveu (1973): “O termo ‘profissão’ está adquirindo um novo significado. Assim como as hierarquias verticais da burocracia estão se partindo diante das inovações tecnológicas e transformações sociais, o mesmo acontece com as hierarquias horizontais que, até o momento, dividiram os conhecimentos humanos. As velhas fronteiras entre as especialidades estão caindo. Os novos problemas só poderão 69 O livro As Organizações e o Ambiente, lançado em 1967 por Paul Lawrence e Jay Lorsch, é a obra de referência da abordagem contingencial da administração. O trabalho é considerado o estudo clássico que relaciona os efeitos do ambiente à estrutura organizacional (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005). “A teoria da contingência propõe o pressuposto de que as organizações recebem influências do ambiente onde estão inseridas. Desse modo, o ambiente pode contribuir para remodelar características específicas da empresa em determinado momento” (Moura, Camargo e Zanin, 2017). Uma organização com sedes ou atuação em diferentes lugares pode precisar planejar e executar seus processos de maneiras distintas, dependendo da realidade de cada local. “A unificação de procedimentos que seria, a priori, adequada para facilitar o gerenciamento, torna-se pressionada por fatores como negociações com grupos locais, cultura local, disponibilidade de recursos e legislações locais” (Moura, Camargo e Zanin, 2017). Caravantes, Panno e Kloeckner (2005) alertam: O ambiente não é “tudo o que está lá fora “. Ele é formado por três subambientes específicos, geralmente tratados por três funções principais das empresas: Subambiente mercado: tratado pela função de marketing. Subambiente técnico- econômico: tratado pela função de produção. Subambiente científico: tratado pela pesquisa e desenvolvimento.” Outro ponto importante: os planos e projetos do nível estratégico corporativo e de níveis funcionais (como, por exemplo, produção e operações, marketing ou recursos humanos) são definidos levando-se em conta a influência de fatores externos (ENADE 2022). Os pensadores da teoria da contingência trabalharam com dois modelos genéricos de estrutura organizacional: mecanístico e orgânico. As estruturas mecanísticas são apropriadas para ambientes estáveis, simples, com poucas mudanças e de condições previsíveis. Taxas mais lentas de mudanças tecnológicas e tecnologias de produção em massa se associam com organizações mecanísticas. Em oposição, os sistemas orgânicos são apropriados para ambientes NA ADHOCRACIA, EQUIPES OU COMITÊS AD HOC SÃO FORMADOS TEMPORARIAMENTE PARA BUSCAR A RESOLVER UM PROBLEMA ESPECÍFICO. ASSIM QUE A SOLUÇÃO É ENCONTRADA A EQUIPE É DESFEITA. FONTE: PIXABAY 70 turbulentos, instáveis, que mudam rapidamente, e para a produção em pequenos lotes. As situações imprevisíveis exigem organizações menos estruturadas e que usem unidades coordenadas especiais (Caravantes, Panno e Kloeckner, 2005) O quadro a seguir, extraído do livro Administração de recursos humanos – fundamentos básicos, de Idalberto Chiavenato, compara os dois modelos. IMPORTANTE: “A estrutura mais apropriada para se usar depende dos fatores de contingência.” (Stephen Robbins e David Decenzo, 2004) Organização Mecanística Organização Orgânica • Centralização das decisões, tomadas exclusivamente pela cúpula da organização. • Hierarquia de autoridade rígida, prevalecendo a unidade de comando. • Estrutura burocrática, com minuciosa divisão do trabalho. • Cargos fixos, ocupados por especialistas nas tarefas. • Comunicações formalizadas, prevalecendo as verticais descendentes. • Ênfase nas regras e procedimentos formalizados previamente por escrito. • Sistemas simples de controle de amplitude de controle estreita. • Trabalho individualizado e solitário. • Princípios da teoria clássica e da teoria burocrática. • Descentralização das decisões, que são delegadas aos níveis inferiores da organização. • Hierarquia flexível, predominando a equalização do poder e participação. • Estrutura flexível, sem muita divisão do trabalho. • Cargos continuamente modificados e redefinidos. • Maior confiabilidade nas comunicações informais entre as pessoas. • Predomínio da interação lateral sobre a interação vertical. • Amplitude de controle mais ampla, mais solta e flexível. • Trabalho em equipe e solidário. • Princípios da teoria dos sistemas e da teoria da contingência. 71 As características da organização de aprendizagem giram em torno do: • Projeto [e estrutura] organizacional • Gestão do conhecimento • Cultura organizacional • Liderança (Robbins e Decenzo, 2004). Projeto organizacional: Todos os membros (de todos os níveis e especialidades) devem compartilhar informações e colaborar em atividades. Isso pode ser viabilizado pela minimização ou eliminação tanto das barreiras físicas como das barreiras estruturais existentes. O trabalho em equipe aproxima as pessoas e reduz a centralização de poder. Além da teoria contingencial, as últimas décadas do século XX foram marcadas pela abordagem da aprendizagem organizacional, inicialmente com o livro Aprendendo a planejar – e planejando aprender, publicado em 1973 por Donald Michael. Peter Senge, um dos maiores especialistas em aprendizagem organizacional, explica que em uma organização que aprende novos e expansivos pensamentos são nutridos, a aspiração coletiva é libertada e as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados desejados. Uma organização de aprendizagem não busca apenas sobreviver. Além da aprendizagem adaptativa, é importante estimular a aprendizagem generativa, que é a aprendizagem que aumenta a capacidade de criar (Alex Coltro, 2015). Uma organização de aprendizagem é capaz de, continuamente, adaptar-se e mudar, “porque todos os membros têm uma participação ativa na identificação e resolução de questões relacionadas ao trabalho” (Stephen Robbins e David Decenzo, 2004). FONTE: PIXABAY UMA ORGANIZAÇÃO QUE APRENDE É UMA ORGANIZAÇÃO QUE ESTÁ CONTINUAMENTE EXPANDINDO SUA CAPACIDADEDE CRIAR SEU FUTURO. 72 Peter Senge (2008) argumenta que as organizações podem desenvolver a capacidade de aprender e se adaptar continuamente por meio de cinco disciplinas: domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizado em equipe e pensamento sistêmico (que é a disciplina central, que integra todas as demais). A quarta revolução industrial teve início na virada do século XX para o século XXI, e baseia-se na revolução digital. “É caracterizada por uma internet mais ubíqua e móvel, por sensores menores e mais poderosos, e pela inteligência artificial e aprendizado de máquina” (Schwab, 2016). Nessa etapa, que perdura até os dias de hoje, foi marcada pela popularização de computadores pessoais, smartphones, internet das coisas (IoT), big data, inteligência artificial, realidade virtual, criptomoedas, robôs, veículos autônomos, veículos não tripulados e emprego de energias renováveis. Além das quatro revoluções industriais propostas por Klaus Schwab para compreender as transformações sociais dos últimos séculos, é interessante conhecer o que são as “ondas de inovação”, inicialmente apresentadas por Joseph Schumpeter em 1911 no livro Teoria do Desenvolvimento Econômico. Ao explicar os “ciclos econômicos”, em seu livro Schumpeter argumentou que o desenvolvimento econômico é caracterizado por “ondas de inovação”, onde novas tecnologias, produtos e processos disruptivos levam a mudanças significativas na economia. Gestão do conhecimento: A aprendizagem não pode acontecer sem informações. Para as informações serem compartilhadas entre todos, de forma regular, aberta e oportuna, é necessário realizar a gestão do conhecimento. Conhecimento útil para a aplicação na realização de tarefas e tomada de decisões. Cultura organizacional: Todos os envolvidos devem concordar a respeito de uma visão compartilhada e reconhecer os inter-relacionamentos inerentes entre os processos, atividades, funções e ambiente externo da organização. Deve haver um forte senso de comunidade, carinho e confiança entre os membros da organização. Liderança: Os líderes devem facilitar a criação e difusão de uma visão compartilhada sobre o futuro da organização, e manter os funcionários mobilizados na busca por esse objetivo. Os líderes também devem apoiar e encorajar o ambiente colaborativo, fator fundamental para a aprendizagem. IMPORTANTE: “A aprendizagem organizacional é importante porque, em situações de mudança rápida, somente as empresas flexíveis, adaptáveis e produtivas conseguem se sobressair.” (Alex Coltro, 2015) 73 2. ABORDAGEM PÓS- MODERNISTA DA ADMINISTRAÇÃO Na década de 1980, a abordagem pós-modernista da administração contestou frontalmente as ideias modernistas, argumentando que, por estarem inseridas em um contexto complexo e dinâmico, as organizações não podiam ser compreendidas ou controladas por meio de teorias abrangentes. No livro Prosperando no caos, publicado em 1987, Tom Peters alertou os analistas e empresários que a humanidade entrou em “uma era de incertezas sem precedentes”, onde “nada é previsível”. Tom Peters condenou o que chamou de “inchaço estrutural” das organizações: “Estamos sendo estrangulados por assessorias inchadas, cheias de peritos em criticar e preenchendo demasiadas camadas no quadro organizacional” (Tom Peters, 1989). Para Tom Peters, as organizações deviam reconhecer que o aprimoramento e inovação dos produtos e das práticas de trabalho geralmente vêm do pessoal da linha de frente. “Esse pessoal deve ser reconhecido e festejado, e não ignorado ou marginalizado, como frequentemente acontece” (Tom Peters, 1989). Peters argumentou que as organizações precisavam: A imagem a seguir ilustra as ondas de inovação dos últimos séculos. FONTE: ADAPTADO DO SITE VISUAL CAPITALIST (2021) AS SEIS ONDAS DE INOVAÇÃO 74 3. DEPOIS DA ABORDAGEM PÓS- MODERNISTA Tom Peters gerou a reação de muitos ao questionar as estruturas hierárquicas convencionais e propor modelos bastante flexíveis. Ele defendeu a formação de equipes de tarefas, em redes de trabalho sem hierarquias, “sem descrições de função, sem quadros organizacionais, sem objetivos anuais” (Tom Peters, 1993). Reinterpretando o “contexto de caos” alardeado pelos pós-modernistas, nos anos 1990 emergiu o movimento denominado de “após o modernismo” ou “nova abordagem modernista”. Seus teóricos buscaram fazer um amálgama da abordagem modernista com a pós-modernista (Richard Whittington, 2004; McGrath e Bates, 2014). Representantes dessa nova abordagem, Gary Hamel e C. K. Prahalad (1995) alertaram que as ideias pós-modernistas de inversão hierárquica, liberdade operacional e estímulo ao risco, que pretendiam ser “o antídoto para a burocratização e centralização desnecessária, pode ser tão tóxico quanto o veneno que se está tentando combater.” Conforme Richard Whittington (2004), “o ‘após o modernismo’ não implica o ceticismo do extremo pós-moderno, mas permite a pluralidade de práticas. • Combater a burocracia. • Ouvir mais os clientes e o pessoal da linha de frente. • Incentivar os gestores a serem proativos. • Adotar a liderança transformacional, para inspirar e motivar o pessoal. Desenvolver uma cultura organizacional compartilhada. IMPORTANTE: Gary Hamel e C. K. Prahalad (1995) escreveram que os teóricos pós-modernistas “inverteram a hierarquia organizacional e colocaram o cliente no alto da pirâmide.” Tom Peters descreveu as áreas gerenciais que “constituem a essência de um desempenho proativo em nosso caótico mundo”: • Obsessão pela atenção aos clientes. • Inovação constante em todas as áreas da empresa. • Participação indiscriminada de todas as pessoas ligadas à organização (e divisão dos ganhos com elas). • Liderança que goste de mudanças (ao invés de combatê-las) e instile e compartilhe uma visão inspiradora. • Controle através de sistemas de apoio simples (Tom Peters, 1989). 75 Considerações Finais No contexto das terceiras e quartas revoluções industriais e das ondas de inovação, nesta unidade estudamos a abordagem contingencial da administração, a teoria da aprendizagem, a proposta pós-modernista de Tom Peters e a nova abordagem modernista, de Gary Hamel e C. K. Prahalad. Essenciais para a compreensão do pensamento administrativo da segunda metade do século XX, os conceitos e princípios propostos por essas correntes foram fundamentados no arcabouço teórico elaborado desde a década de 1910 pela administração científica de Frederick Taylor, teoria clássica de Henri Fayol, escola das relações humanas, teoria comportamental e teoria dos sistemas. O conteúdo da disciplina Fundamentos da Administração é essencial para quem estuda ou atua na gestão de organizações e nas diferentes áreas funcionais administrativas, como marketing, recursos humanos, finanças e operações. Também é indispensável para os estudantes e profissionais das atividades primárias e secundárias da cadeia de valor (logística, compras, tecnologia da informação etc.). Em uma breve “viagem no tempo”, aprendemos na nossa disciplina os principais conceitos e princípios formulados, desenvolvidos e atualizados ao longo do século XX pelos maiores teóricos da administração. Iniciamos nossa jornada estudando a administração científica, de Frederick Taylor, e ao chegar ao nosso destino, com a abordagem contingencial da administração, compreendemos melhor a importância do conhecimento dessas teorias para a formação técnica e profissional de nível superior. A proposta de Hamel e Prahalad enfatizava pontos como: • Visão de longo prazo (além das questões imediatas). • Liderança transformadora • Orientação para o cliente • Inovação contínua. • Flexibilidade e agilidade organizacional. • Desafio ao status quo. • Competências organizacionais essenciais. 76 de Desempenho de Estudantes (ENADE) 2022 – Provas egabaritos. Disponível em: https://download.inep.gov.br/enade/ provas_e_gabaritos/2022_PV_administracao.pdf HAMEL, Gary; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Trad. Outras Palavras. Rio de Janeiro: Campus, 1995. MCGRATH, James; BATES, Bob. 89 teorias de gestão que todo gestor deve saber. Trad. Arlete Simille Marques. São Paulo: Saraiva, 2014. MOURA, Geovanne Dias de; CAMARGO, Tiago Francisco de; ZANIN, Antonio. Competitividade de mercado e gerenciamento de resultados: um estudo sob a ótica da teoria da contingência. Revista de Ciências da Administração. Vol 19. Nº 19. p.86-101. Publicado em 28/12/2017. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/adm/article/view/2175- 8077.2017v19n49p86 NEUFELD, Dorothy. The history of innovation cycles. Visual Capitalist. Publicado em 30/06/2021. Disponível em: https:// www.visualcapitalist.com/the-history-of-innovation-cycles/ ORLICKAS, Elizenda. Modelos de gestão: das teorias da administração à gestão estratégica. Curitiba: InterSaberes, 2012. Série Administração Estratégica. Disponível em: https:// plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/6180/pdf/0 Referências ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério. Teoria geral da administração. 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Iniciamos nossa jornada estudando a administração científica, de Frederick Taylor, e ao chegar ao nosso destino, com a abordagem contingencial da administração, compreendemos melhor a importância do conhecimento dessas teorias para a formação técnica e profissional de nível superior