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0 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 1 ESDRA GOMES DOS SANTOS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ÁGUA BRANCA-PI 2020 Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/3770958/ 2 SANTOS, Esdra Gomes dos. Fundamentos da Educação Inclusiva 1ª ed. Água Branca; FAS – Cursos de Graduação. 80p. Bibliografia 1. Pedagogia 2. Educação 3. Título. Ficha Catalográfica Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à FAS. Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor. Todos os direitos de Copyright deste material didático são à FAS. Diretor Geral Levi de Sousa Lima Secretária Acadêmica Ivânia Pires de Sousa Oliveira 3 09 10 12 13 13 16 18 19 19 26 28 29 35 37 38 39 42 44 46 48 50 52 54 61 Apresentação do curso ..................................................................... 06 Apresentação da disciplina................................................. 23 UNIDADE 01 FUNDAMENTOS DA INCLUSÃO 1. Aspectos históricos da Inclusão................ ................................ 1.2 A Legislação e a Política Educacional Inclusiva....................................... 1.3 Declaração de Salamanca....................................................................... 1.4 Declaração de Guatemala....................................................................... ATIVIDADE............................................................................................................ FÓRUM................................................................................................................. UNIDADE 02 POLÍTICAS NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA, CURRÍCULO E DIAGNÓSTICOS Introdução........................................................................................................ 2. O Currículo e o desafio da Inclusão.............................................. 2.1 A Inclusão Social....................................................................................... 2.2 Alunos com necessidades educacionais especiais.................................. 2.3 Identificação dos transtornos e tipos de deficiência.................................. 2.3.1 Deficiência Visual................................................................................... 2.3.2 Deficiente Auditivo................................................................................. 2.3.3 LIBRAS................................................................................................. 2.3.4 Esporte para deficientes físicos............................................................ 2.4 Deficiência Múltipla................................................................................... 2.5 Deficiência Intelectual.............................................................................. 2.5.1 Tipos de Deficiência Intelectual............................................................. ATIVIDADE...................................................................................................... FÓRUM........................................................................................................... 24 25 27 31 32 35 37 38 39 40 43 44 46 46 09 13 19 20 22 22 05 06 08 4 47 62 UNIDADE 03 FORMAÇÃO DE PROFESSORES, DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA INCLUSÃO NO BRASIL 3. Espaço Escolar...................................................................................... 3.1 Contextos Problemáticos..................................................................... 3.2 Educação Inclusiva no Ensino Superior.............................................. 3.3 Formação de professores para a Educação Especial........................ 3.4 Práticas Inclusivas............................................................................... ATIVIDADE............................................................................................... FÓRUM..................................................................................................... 48 51 52 55 56 61 61 UNIDADE 04 SÍNDROMES E TRANSTORNOS Introdução................................................................................................ 4.1 Sindrome de Turner........................................................................... 4.2 Síndrome Klinefelter.......................................................................... 4.3 Síndrome de Cornélia de Lange........................................................ 4.4 Síndrome do Triplo X......................................................................... 4.5 Síndrome de West............................................................................. 4.6 Síndrome de Tourette........................................................................ 4.7 Microcefalia........................................................................................ 4.8 Transtorno do Espectro Autista......................................................... 4.9 Transtornos específicos de aprendizagem e comportamento........... 4.9.1Transtorno da Leitura...................................................................... 4.9.2 Transtorno da Matemática.............................................................. 4.9.3 Transtorno da Expressão Escrita................................................... 4.9.4 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)........... ATIVIDADE.............................................................................................. FÓRUM.................................................................................................... REFERÊNCIAS....................................................................................... 63 63 63 64 65 65 65 67 69 71 71 72 73 73 75 75 76 5 A concretização de um curso superior em Pedagogia na modalidade à distância tem como meta o atendimento às necessidades de toda comunidade quanto ao acesso e atendimento ao um ensino superior de qualidade. Desse modo, propõe-se a importância para o curso de Pedagogia numa perspectiva histórico- cultural, tendo como eixo articulador a interdisciplinaridade e a busca da construção de um currículo integrador. As disciplinas pedagógicas que formulam o currículo foram moldadas para uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação teoria-prática de um trabalho docente de qualidade que procure satisfazer as necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências do educando no processo educativo. É dentro desta ideia que o curso de Pedagogia da FAS na modalidade à distância constitui-se de uma base comum formada pelos conhecimentos de ciências humanas aliadas a tecnologia, de uma parte diversificada com uma ampliação dos fundamentos na leitura do fazer pedagógico dentro da escola e da sociedade e uma parte complementar com o objetivo de trabalhar os problemas educativos da realidade educacional em vista a qualificação do professor com novas formas de intervenções como aplicações de ferramentas metodológicas. A FAS tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido salutar que este curso otimiza sempre seus resultados pelas experiências existentes e atendem a ampla procura de profissionais da área educacional. Os profissionais da área da educação serão orientados a sempre desenvolver a capacidade de intervenção científica e técnicaassegurando a reflexão critica permanente sobre sua prática e realidade educacional historicamente contextualizada. O que espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu projeto pessoal e profissional a partir da compreensão da realidade histórica e profissional diante das políticas que direcionam as práticas educativas na sociedade. 6 A inclusão é um tema bastante complexo que tem inquietado a instituição escolar, bem como os diferentes segmentos da sociedade, com contraditórias discussões. Os conflitos provocados da tendência inclusiva extrapolam o contexto educativo, desacomodando os educadores em geral, assim os professores, especificamente os da rede pública, tentam dar sustentabilidade ao processo inclusivo, trabalhando em prol de uma educação básica de qualidade. A proposta educacional inclusiva refere-se à promoção da educabilidade, acolhendo no mesmo espaço todos os educandos, respeitando suas diversas políticas, origens étnicas, classes sociais, condições econômicas, numa concepção transformadora de sociedade, na qual o homem se inclui como um sujeito de sua própria história, atuante e participativo, objetivando a participação plena dos sujeitos. Esta disciplina é de valor importante para o processo de formação acadêmica uma vez que discute uma temática contemporânea com aspectos sociais, humanísticos e didáticos. Bons Estudos! 7 8 UNIDADE 01 Fundamentos da Inclusão Fonte: https://institutoitard.com.br/o-que-e-educacao-inclusiva-um-passo-a-passo-para- a-inclusao-escolar/ 9 Fundamentos da Educação Inclusiva 1. Aspectos históricos da Inclusão Historicamente, o movimento denominado inclusão vem, universalmente, direcionando as políticas, desmobilizando governos, e desafiando modo impactante, as sociedades de todo o continente. A luta é pela eliminação das barreiras impeditivas de acesso e permanência na escola, que agora escancara suas dependências para receber todo tipo de aluno, na tentativa de erradicar toda espécie de discriminação, sendo respeitada a individualidade de cada um. A Secretária de Educação Especial, Claudia Pereira Dutra, em 2004, referindo-se à tendência inclusiva afirmava que: Assegurar a todos a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, sem qualquer tipo de discriminação, é um princípio que está em nossa Constituição desde 1988, mas que ainda não se tornou realidade para milhares de crianças e adolescentes que apresentam necessidades educacionais especiais, vinculadas ou não a deficiências. A falta de apoio a essas necessidades especiais pode fazer com que essas crianças e adolescentes não estejam na escola: muitas vezes as famílias não encontram escolas organizadas para receber a todos e, fazer um bom atendimento, o que é uma forma de discriminar. A falta desse apoio pode também fazer com que essas crianças e adolescentes deixem a escola depois de pouco tempo, ou permaneçam sem progredir para os níveis mais elevados de ensino, o que é uma forma de desigualdade de condições de permanência. [...]. Educação Inclusiva: Direito a Diversidade. Temos por objetivo compartilhar novos conceitos, informações e metodologias – no âmbito da gestão e também da relação pedagógica em todos os estudos brasileiros. (BRASIL, 2004, p.04). O direito à educação é garantido por lei, com uma educação de qualidade para todos, implica, dentre outros fatores, num redimensionamento de todo o contexto escolar, considerando não somente a matrícula, mas, principalmente, a valorização das aptidões e respeito às diferenças. Assim, o resgate dos valores culturais, que fortalecem a identidade e o coletivo populacional, propõe preparar para o enfrentamento de desafios com a oferta da educação inclusiva e de qualidade para todos, sendo respeitadas as características próprias de interesses e ritmos de aprendizagem. Desafio que a escola por seu histórico de homogeneidade e segregação mantido, até então, não está apta para lidar com a diversidade. 10 Fundamentos da Educação Inclusiva Uma das dificuldades decorre das exigências, sobretudo, originadas nas teorias críticas da educação, que desconsideram as singularidades dos sujeitos. Silva (1999) critica as teorias do currículo como discurso, afirmando que o formato dado ao currículo depende da forma como ele é concebido pelos diferentes autores e teorias que sustentam o currículo. O equívoco para qualquer teoria do currículo é determinar o que deve ser ensinado mesmo antes de se conhecer o tipo de aluno e suas necessidades a serem atendidas. Portanto, para atingir os objetivos da inclusão de todos os alunos, além das teorias educacionais e das propostas existentes nesse sentido torna-se emergente que o professor adquira conhecimento das reais necessidades do aluno. A mudança de postura profissional pelo professor por meio da sensibilização e da conscientização da realidade do aluno, envolvendo toda a instituição escolar, com a escola desenvolvendo um trabalho de gestão compartilhada com a família, acompanhada da formação continuada de sua equipe de atuação, tornam-se fundamentais. A interação com a família representa um ganho de fundamental importância em todas as situações e, quando se trata do aluno com necessidades educacionais especiais, os vínculos que se estabelecem tornam-se fundamentais na superação dos conflitos, acima de muitos outros recursos. Pela riqueza de informações, a parceria com a família ou atendentes poderá auxiliar, desmistificando comportamentos inadequados. Esta é uma via capaz de oferecer maior validade às intervenções escolares levando o aluno a compartilhar, interagir e projetar suas ideias. Fonte: https://ipemig.com.br/wp-content/uploads/2019/01/inclusiva.jpg 11 Fundamentos da Educação Inclusiva A inclusão como iniciativa da UNESCO reconhece como necessidade a educação para todos, com a finalidade de oferecer atendimento educacional de qualidade a todas as crianças. Com tal intenção, persiste a política da Secretaria de Educação Especial (SEESP) em seu objetivo de eliminação de barreiras. Com vistas a erradicar a exclusão escolar intensificando ações geradoras da inclusão social, a proposta da Secretaria de Educação Especial, contempla todos os níveis de ensino, não descuidando em seu aparato legal, de nenhum segmento, com abrangência institucional de atendimento da criança ao ancião. As Diretrizes da Política Nacional da Educação Infantil MEC/2004 instituem: “A educação de crianças com necessidades educacionais especiais deve ser realizada em conjunto com as demais crianças, assegurando-lhes o atendimento educacional especializado, mediante a avaliação e interação com a família e a comunidade. ” (BRASIL, 2004, p. 17). O que se observa na prática nem sempre corresponde às finalidades propostas, pois de acordo com as Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica CNE/2001: “o atendimento educacional aos alunos com necessidades educacionais especiais terá início na educação infantil, nas creches e nas pré-escolas, assegurando-lhes o atendimento educacional especializado”. (BRASIL, 2001, p.12). Constata-se desta forma, que importantes iniciativas foram consolidadas, porém, muito ainda há que se fazer para que a inclusão efetive seus níveis idealizados. Com certeza, a acessibil idade constitui-se no instrumento concreto, capaz de mediar o processo de inclusão, porém, como as leis tornam-se insuficientes para garantir a realização da proposta inclusiva há que se realizar um esforço em conjunto com a comunidade escolar para que haja o acesso e a permanência para todos os educandos, indistintamente. Acesse o link e acompanha uma matéria importante sobre a importância da UNESCO no processo de Inclusão. Disponívelem: https://www.youtube.com/watch?v=1S0aXvFFy BI&feature=emb_logo 12 Fundamentos da Educação Inclusiva O debate educativo aguça o resgate de valores. Portanto, merece a máxima atenção quando se refere “[...] a construção de sistemas educacionais inclusivos [...]” (OLIVEIRA, 2008, p.129). Conforme registros estatísticos, o crescimento das matrículas revelam um grande avanço, com a correspondência das ações implementadas pelo SEESP e o crescimento da política da educação inclusiva. A inclusão exige adequada formação do professor para assegurar sua capacidade de intervir no contexto em sala de aula, em sua maioria muito populosa e apresentando inúmeros desafios. Neste cenário de heterogeneidade, certamente novas diferenças estarão sendo detectadas pelo docente que, por vezes, inadvertidamente vê seu cenário acrescido de um ou mais alunos com certa deficiência com a qual não se sente preparado para atender sem suas especificidades e singularidades. A luta pela inclusão, como tendência universal, é irreversível. A expectativa da convivência entre todos não é apenas do Brasil. A disputa pelo direito à educação pública de qualidade tem sido recorrente em todos os níveis, etapas e modalidades da educação. Fonte: https://blog.interclasse.com.br/wp-content/uploads/2018/12/educacao- inclusiva.jpeg 13 Fundamentos da Educação Inclusiva 1.2 A Legislação e a Política Educacional Inclusiva No Brasil, a Constituição Federal (1988) assegura uma série de garantias às pessoas com necessidades educacionais especiais que, com igualdade têm direito, a usufruir do acesso à saúde, educação, cultura, esporte, justiça e defesa pelo Ministério da Justiça, em caso destes direitos serem violados, por meio de leis e decretos específicos. Cada um destes direitos é detalhado pela Lei da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (COORDE), que teve como parâmetro justamente a Constituição Brasileira e, estabeleceu medidas a serem adotadas de forma que o Ministério Público possa agir em interesses coletivos das pessoas com necessidades especiais. Aliado a lei constitucional, o interesse pela construção de um sistema educacional inclusivo foi despertado, no Brasil, com a anuência à Declaração Mundial de Educação para todos, firmada em Jomtien na Tailândia em 1990. Fato que corroborou para o país reafirmar sua adesão às Diretrizes na Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca, na Espanha, em 1994. Sassaki (1999) destaca a trajetória da sociedade em relação ao encaminhamento das práticas sociais relacionadas à diversidade com a fase da exclusão social, nas primitivas civilizações. Momento em que as pessoas com alguma deficiência eram consideradas um grande peso à sociedade. A seguir, Fonte: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2013/10/constituicao-1988.jpg 14 Fundamentos da Educação Inclusiva surge a segregacionista, quando as pessoas, com deficiência, passaram a ser abrigadas em instituições destinadas ao atendimento clínico-medicamentoso e/ou isolamento da comunidade. Período em que houve a tentativa da integração como espaço relacional de aproximação socioeducativa como processo evolutivo para acabar com a prática da exclusão, reafirmando o direito de todos os cidadãos. A partir do século XX é que ganharam impulsos as políticas de educação voltadas às pessoas com necessidades educacionais especiais, motivadas por paradigmas emergentes, disseminadores da premência da educação para todos. Os quais reconhecem o direito de todos à educação, o poder público, por meio da legislação, estabelece a oportunidade e favorecimento da formação plena, que permita a matrícula de crianças de ambos os sexos, prioritariamente, nas escolas da rede comum de ensino, independentemente das diferenças e necessidades apresentadas por elas. A formação dos profissionais passou a ser a grande preocupação da carreira docente, sendo consenso entre os mesmos que, por tratar-se de assunto de imensa responsabilidade, deve ser priorizada, incluindo, na matriz curricular dos cursos de formação para a docência, conteúdos voltados para a atenção à diversidade e favorecedores da acessibilidade. Ao conscientizar a comunidade escolar do valor e importância da inclusão busca transformar a instituição escolar em uma comunidade que, além de acolher a todos, tenha interesse em ampliar suas condições de atendimento. Dessa forma, poderá a instituição atuar, estando mais bem preparada, para favorecer não só o acesso, mas, principalmente, responsabilizar-se pela permanência do aluno, subsidiando sua trajetória escolar. A instituição escolar compreende, também, ser dever dos profissionais da educação estar sempre buscando aperfeiçoamento, bem como, investindo em ações que venham ao encontro às necessidades que se apresentam, com respeito a individualidade de cada um e procurando adequar-se às especificidades que apresentam singularmente. Na realidade, se dá muita ênfase à inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino, mas existe o risco de, dentro do próprio processo inclusivo, o aluno acabar sendo excluído, uma vez que é possível observar que em sua prática educativa, a grande dificuldade da escola consiste em conseguir lidar adequadamente com a inclusão de alunos. 15 Fundamentos da Educação Inclusiva A tomada de providências quanto à acessibilidade e obtenção de recursos facilitadores da aprendizagem representa uma das formas como a instituição escolar enquanto espaço de aprendizagem, poderá administrar seu atendimento dos alunos, favorecendo sua inclusão. Ainda, por meio das observações, conversas informais são possíveis apreender a autenticidade das situações do contexto escolar, captando informações do cotidiano, os quais poderão contribuir nas ações que se referem à construção do processo inclusivo. Em 2007, é lançada as Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2007), documento norteador dos princípios básicos que fundamentam a implantação da política da inclusão, como modalidade de ensino que perpassa todos os níveis de ensino, etapas e modalidades. Assim, a Educação Regular deve dar encaminhamento aos fundamentos norteadores das ações estabelecidas pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), no atendimento educacional das pessoas com necessidades educacionais especiais. Segundo Arns (1997), a Lei de Diretrizes da Educação Nacional reconhece a força e o poder que a educação exerce na formação do indivíduo. Ela representa uma promissora alavanca para instrumentalizar o cidadão a assumir uma participação ativa na sociedade. Conforme Dutra, secretária nacional de Ensino Especial em 2007, O MEC é o órgão que orienta os sistemas de ensino, de acordo com a Constituição Federal, e em consonância com os movimentos mundiais de inclusão, que aprovaram a Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, assinada pelo Brasil, em 30 de março de 2007, que junto com os demais países se compromete a assegurar um sistema educacional inclusivo (DUTRA, SECRETARIA NACIONAL DE ENSINO ESPECIAL, 2007, p.12). O início da inclusão na educação infantil é prioritário para desenvolver as bases necessárias à construção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa etapa, com o lúdico é possível o acesso às formas diferenciadas de Fonte: https://inclusaoja.com.br/tag/politica- nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva- da-educacao-inclusiva/ 16 Fundamentos da Educação Inclusiva comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais,cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Dentre as atividades de atendimento educacional especializado são possíveis, programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação, sinalização e tecnologia assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O atendimento educacional especializado é acompanhado por meio de instrumentos que possibilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas escolas da rede pública e nos centros de atendimento educacional especializado público ou conveniados. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em parceria com os serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional. Fonte: https://ipemig.com.br/wp-content/uploads/2019/01/aee.jpg 17 Fundamentos da Educação Inclusiva Desse modo, na modalidade de educação de jovens e adultos e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, formação para ingresso no mundo do trabalho e efetiva participação social. A ampliação da educação especial à educação indígena, educação do campo e da população quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento educacional especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos. A inserção de alunos com necessidades educacionais especiais nos cursos das Instituições de Ensino Superior (IES), no Brasil é um desafio que ultrapassa o cumprimento da legislação existente, sobre o que estabelece as Políticas Nacionais para a Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2007), pois depende das relações interpessoais e pedagógicas. Portanto, os professores assumem papel preponderante nessas mediações. É válido ressaltar que a superação da inércia pedagógica só será obtida com a tomada de decisão do professor em ressignificar os seus conhecimentos mediante a ótica da propositividade. Esta é uma oportunidade de também beneficiar-se com novas aprendizagens, ao envolver se na cultura da diversidade de seu alunado tendo a consciência da realização profissional com a convicção de seu compromisso de cidadania. Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio do Programa de Inclusão e Acessibilidade (PIA), o qual oportuniza ações capazes de promover o acesso, a permanência e a participação dos acadêmicos com necessidades educacionais especiais em diferentes cursos. Estas ações envolvem a organização de atendimentos com serviços específicos para a promoção da acessibilidade que deve ser disponibilizado a partir dos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão, no decorrer de sua formação, estendendo ao egresso, o devido apoio sempre que o mesmo Assista ao vídeo sobre Inclusão no ensino superior. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4lgnW3 XdA-Y 18 Fundamentos da Educação Inclusiva recorrer ao PIA. O atendimento deverá contemplar todas as diferenças, com acessibilidade linguística inclusive. Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia-intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. O ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, voltado à educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos da escola. O atendimento educacional especializado para esses alunos deverá ser ofertado tanto na modalidade oral e escrita quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja matriculado em salas comuns na escola regular, juntamente com outros surdos. O atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do Sistema Braile, do Soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. A avaliação pedagógica, em seu processo dinâmico, considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. No decorrer do processo avaliativo, o professor deve criar estratégias considerando que alguns alunos podem necessitar de ampliação do tempo para a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de textos em Braille, de informática ou de tecnologia assistiva como uma prática cotidiana. 19 Fundamentos da Educação Inclusiva Diante do exposto, ao atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. Para assegurar a intersetorialidade na implementação das políticas públicas, a formação deve contemplar conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação, que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os alunos. A acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras sob todos os aspectos e ações: linguísticas, comunicações, sistemas de informação, arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos, mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos e, nos transportes escolares, bem como as barreiras atitudinais. 1.3 Declaração de Salamanca A Declaração de Salamanca tratade princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. A inclusão de crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino é a questão central, sobre a qual a Declaração de Salamanca discorre. O conjunto central de recomendações e propostas da declaração de Salamanca é guiados pelos princípios: 1. Independente das diferenças individuais, a educação é direito de todos: 2. Toda criança que possui dificuldade de aprendizagem pode ser considerada com necessidades educativas especiais. 20 Fundamentos da Educação Inclusiva 3. A escola deve adaptar-se as especificidades dos alunos, e não os alunos as especificidades da escola; 4. O ensino deve ser diversificado e realizado num espaço comum a todas as crianças. 1.4 Declaração de Guatemala Como alvo principal da Convenção interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência, no ano de 1999 ‘’os Estados Partes reafirmam que as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos, inclusive o de não ser submetido à discriminação como base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano’’, Hennemann 2012, s.p. Verifica-se que a Educação Especial se originou de uma crise conceitual que retratava o conflito entre as certezas vividas pelo modelo segregativo e excludente e a imprevisibilidade do modelo inclusivo que se calça exatamente nas incertezas, no não prognosticável. Contemporaneamente, a Educação Especial passou a cumprir um duplo papel de complementaridade da educação regular. Isto é, atende, por um lado, à democratização do ensino, na medida em que responde às necessidades de uma parcela da população que não consegue usufruir dos processos regulares de ensino: por outro, responde ao processo de segregação da criança “diferente”, legitimando a ação seletiva da escola regular (BUENO, 1993). Declaração de Salamanca Completa. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/sal amanca.pdf Declaração de Guatemala Completa. Disponível em: http://www.inclusive.org.br/arquivos/27043 21 Fundamentos da Educação Inclusiva Fonte: https://pbs.twimg.com/media/DsKtkcZXgAEdiR0.jp 22 Fundamentos da Educação Inclusiva 1. Qual a importância da inclusão para a aprendizagem? (10 linhas). 2. Faça uma pesquisa sobre as Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2007), e explicite alguns pontos importantes dessa política para a inclusão. Em sua opinião as escolas estão preparadas para receber alunos com necessidades especiais? Justifique sua resposta. 23 Fundamentos da Educação Inclusiva UNIDADE 02 Políticas Nacionais para Educação Inclusiva, Currículo e Diagnósticos Fonte: http://curtindocomcriancas.blog.br/wp-content/uploads/2016/05/educacao- inclusiva.jpg 24 Fundamentos da Educação Inclusiva Introdução As políticas nacionais referentes à inclusão escolar estão fundamentadas nas diretrizes estabelecidas no contexto internacional, considerando a representatividade dos grupos interessados, constituídos em movimentos, associações, federação entre outros. Até meados da década de 70, as políticas de atendimento às pessoas com necessidades educacionais especiais eram praticamente inexistentes. A partir da década de 80 é que surge uma grande mudança no que diz respeito à manifestação do interesse pela educação das pessoas com deficiência que, a partir de então, passam a ter seus direitos especialmente garantidos por lei. O período compreendido entre o final da década de 80 e início dos anos 90, foi marcado por movimentadas iniciativas, sendo desenvolvidas muitas pesquisas acadêmicas, em conjunto com organizações sociais e/ou representações de pessoas com deficiência. Foi quando as associações, os pais e os simpatizantes defensores da causa, passaram a perceber que a prática da integração significava muito pouco para combater a discriminação, garantindo a plena igualdade de direitos, com ampliação das oportunidades de participação educacional e socialmente. As discussões acerca da escola inclusiva ganharam maior força com a filosofia da Declaração de Salamanca (1994), documento originário da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO, em Salamanca (Espanha), em 1994. O documento citado determina que as pessoas com necessidades educacionais especiais tenham direito de ter acesso às escolas comuns, oportunizando a todas as crianças aprender juntas. A Lei nº 9.394/96, a qual estabelece as diretrizes e bases da educação brasileira, no seu artigo 58 do capítulo V, vem a afirmar que a modalidade de educação escolar deve ser oferecida “preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. O Decreto nº 3.298/99, que regulamenta a Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e 25 Fundamentos da Educação Inclusiva modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que: princípios e programas são reafirmados a visão que busca superar a oposição entre educação regular e educação especial. O Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte artigo: Art. 9º que diz: Admitir se á, a partir de 1º de janeiro de 2010, para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas dos alunos da educação regular da rede pública que recebem atendimento educacional especializado, sem prejuízo do cômputo dessas matrículas na educação básica regular. Assim, a legislação orienta as ações para a concretização formal da inclusão, porém, “[...] a mera inserção de aluno deficiente em classe comum não pode ser confundida com a inclusão” (OMOTE, 2004, p. 6). As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva determinam que: Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001, p. 28). A lei é clara e cabe ao professor assumir seu papel dentro deste paradigma, com uma nova postura de releitura de sua formação, pois o educador necessita aprimorar seus conhecimentos constantemente para contribuir significativamente na educação inclusiva, favorecendo a todos os educandos a promoção de saberes, trocas de experiências e desenvolvimentos das habilidades e competências acadêmicas. 2. O Currículo e o desafio da Inclusão A otimização de esforços implica numa significativa forma de potencializar as iniciativas para dinamizar a inclusão do aluno, com necessidades educacionais especiais, inserido no sistema de ensino regular. Sob o enfoque da interatividade é que se torna possível vislumbrar os aportes necessários à inclusão, impedindo 26 Fundamentos da Educação Inclusiva que ideias pré-concebidas, sem respaldo real sirvam de entrave ao desenvolvimento acadêmico do aluno. O artigo 59, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394/96), preconiza que os sistemas de ensino devem as segurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organizaçãoespecíficos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e, assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também, define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V). Muitas vezes, a aprendizagem não se efetiva por uma limitação dos sistemas de ensino, que deixa de comprovar seus pressupostos divulgando uma visão distorcida da realidade, imposta pelo currículo, que incorre em prejuízo de toda a comunidade escolar O currículo pode ser concebido a partir da análise da sociedade contemporânea, frente à questão da inclusão do aluno com necessidades especiais no ensino regular, sendo a deficiência agora concebida como diferença e não mais considerada negação ou déficit da personalidade integral. Silva (1999) esclarece o sentido da diferença e identidade, frente às implicações da subjetividade e suas possíveis contradições. Essa afirmação reforça o desafio do educador de lutar pela inclusão da criança e demais pessoas com necessidades educativas especiais, considerando a ampliação das oportunidades de estender o acesso ao conhecimento sistematicamente produzido. A promoção de um ensino que corresponda não somente às necessidades específicas do aluno com necessidades educativas especiais, mas que atenda aos interesses e necessidades de todos os alunos da classe, requer a ressignificação do sistema escolar para que o mesmo permita a alocação de recursos humanos na escola para trabalharem conjuntamente, no sentido de se estabelecer parcerias para desenvolver métodos e programas de ensino, adaptados às novas estruturas educacionais bem como, para ativarem tecnologias que desafiem as estruturas educacionais que já estejam ultrapassadas. Torna-se emergente a revisão das metodologias de ensino, adotando, além disso, procedimentos favorecedores das interações entre o alunado em geral, 27 Fundamentos da Educação Inclusiva unindo e procurando facilitar o processo das relações vinculadas ao ensino e aprendizagem, buscando conjuntamente, a construção do saber. Além da prática educativa conteudista, a qual prioriza os conhecimentos sistematizados, é necessário que a escola atente para o favorecimento de ações que constituem os principais fundamentos das relações de socialização e aprendizagem na escola. A aspiração é que além do acesso ao saber elaborado, a formação seja abrangente, oferecendo um currículo desafiador que visualize todos educandos. 2.1 A Inclusão Social Sassaki (1999, p.42) refere-se à “inclusão social” como um novo paradigma, “o caminho ideal para se construir uma sociedade para todos e por ele lutam para que possamos - juntos na diversidade humana – cumprir nossos deveres de cidadania e nos beneficiar dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e de desenvolvimento”. Objetivamente, a compreensão da inclusão social como um processo, identifica as raízes de uma tendência que se constrói progressivamente, nos liames da interatividade e, que só será convalidada se a mesma se estender para os distintos segmentos da sociedade, embrenhando-se em todos os segmentos socioculturais, sintonizando harmoniosamente a rua, a vizinhança, as instituições comerciais e de saúde, mercado, o ambiente de trabalho, os esportes, a religião, o lazer, entre outros. A inclusão social, (…), é um processo que contribui para a construção de novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físico a (espaços internos e externos), equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais. (SASSAKI, 1999, p.42) Assista ao vídeo Educação Especial e Educação Inclusiva Adaptações Curriculares. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=688QW gkh3Cs 28 Fundamentos da Educação Inclusiva Sendo assim, é preciso que o professor seja levado a uma reflexão e estudo, pois, este precisa de apoio e subsídios para trabalhar junto ao educando com necessidade especial com vistas ao desenvolvimento pleno desse escolar. É importante destacar, que o aprendizado desses educandos segue nível de escala dentro de seus limites, o que requer maior apoio junto a prática pedagógica adequada às suas necessidades, esclarecendo, definindo o que é dificuldade de aprendizagem. Contudo, não é por esse motivo que deve ser olhado como uma obrigação ou algo imposto, devemos lembrar que nossa prática educacional deverá estar voltada a transformações e, segundo Luckesi: Um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. A avaliação neste contexto, não poderá ser uma ação mecânica. Ao contrário, terá que de ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida social (LUCKESI, 2005, p.46). Luckesi (2005, p.44) explicita ainda que, uma sociedade democrática funda- se nas sociedades de reciprocidade e não nas de sustentabilidade e, para que isso ocorra, é preciso um conjunto de competências, a escola tem o dever de auxiliar essa formação dessas competências, sob a pena de estar sendo conveniente com a domesticação e a opressão características de uma sociedade conservadora. Karagiannis e Stainback (1999, p. 21) afirmam que, “a educação é uma questão de direitos humanos, e os indivíduos com deficiência devem fazer parte das escolas, as quais devem modificar seu funcionamento para incluir todos os alunos”. A educação destinada apenas a um restrito grupo deixa muito a desejar, não estando compatível com os ideais democráticos, centrando suas preocupações na discussão de questões fundamentais para que o sucesso atinja todos os alunos e a educação se torne desejada por todos, como conquista social mediante o estabelecimento de metas claramente definidas. O professor se preocupa com seus alunos, com uma formação adequada para trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais, uma vez que é de suma importância que o professor tenha o compromisso com o êxito da aprendizagem. Conforme Pires (2006), 29 Fundamentos da Educação Inclusiva A ética da inclusão está centrada na valorização da especificidade, das particularidades de cada indivíduo. São as especificidades e as diferenças que dão sentido à complexidade dinâmica do ser humano. Isto também quer dizer que a inclusão supõe o direito à integridade; as diferenças e especificidades de cada indivíduo constituem os elementos integrantes de sua singularidade humana. É, exatamente, a riqueza da singularidade dos indivíduos que torna fecunda sua heterogeneidade. (PIRES, 2006, p.49). Sendo assim, para que o processo inclusivo se efetive nas escolas, as especificidades de todos os alunos precisam ser integralmente respeitadas. Em relação à cognição, acredita-se tratar- se de um processo moroso, pois o aprimoramento da qualidade do ensino depende de mudanças na grade curricular dos cursos, para serem observadas as diretrizes do processo inclusivo bem como a adição dos princípios educacionais que beneficiem a totalidade dos alunos, sejam eles deficientes ou não. Para entender o real significado da legislação não basta ater-se a letra da lei; é preciso captar seu espírito. Nãoé suficiente analisar o texto; é preciso analisar o contexto. “Não basta ler nas entrelinhas” (SAVIANI, 2004, p. 6). A docência exige estar num processo de estudos contínuos, o alunado precisa ser visto como um membro ativo na nova postura pedagógica, valorizando seu conhecimento construído fora da escola, não deixando de considerar a produção cultural e social, contextualizar conhecimentos, dentro das competências, Fonte: https://minutoacessivel.blogspot.com/2015/05/educacao-inclusiva.html 30 Fundamentos da Educação Inclusiva na interdisciplinaridade, criando meios e mecanismos novos de ensino e, flexibilizando, negociando o papel da escola dentro de projetos pedagógicos inclusivos. O professor necessita lembrar sempre que estamos atrelados a uma ideologia dominante, onde grupos diversos querem perpetuar e conservar a reprodução e omissão dos excluídos, para que estes continuem submissos, num contexto político. Como salienta Wachowicz “nosso grande problema é que estamos rompendo padrões culturais, muito fortes porque construímos historicamente ao longo dos séculos em nosso país e condicionados por um regime capitalista jamais ameaçado, que valoriza a produção, o consumo, o ter em um lugar do ser” (WACHOWICZ, 2007, p. 147). O professor que se propõe a uma nova leitura do aluno com dificuldade de aprendizagem, rompe padrões culturais e históricos, dentro de um contexto capitalista, o que se valoriza é a produção. Fonte: http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3055 31 Fundamentos da Educação Inclusiva 2.2 Alunos com necessidades educacionais especiais As causas, que podem justificar uma necessidade em maior ou menor nível de exigência de atendimento e/ou acessibilidade, têm diferentes origens e podem manifestar-se de modos variados. Tanto o déficit como o superávit da cognição, são condições que exigem do educador mudanças metodológicas em nos procedimentos de suas intervenções. Sejam as referências independentes da deficiência, de caráter intelectual, envolvendo a cogniscitividade como a superdotação ou as que provocam no indivíduo defasagens em sua capacidade de adquirir conhecimento, com a necessária compreensão do cumprimento das normas e das relações interpessoais no mundo em que vive. Em geral, o aluno que é diferente, não se enquadra nas normas da educação homogeneizadora, é discriminado e renegado ao isolamento. Na solidão, acaba ficando à margem do processo de escolarização, sem que disso se apercebam muitos educadores. Com o acúmulo de dificuldades, acaba se diferenciando dos demais colegas, permanecendo alheio às atividades de classe, indiferente aos colegas e solicitações do professor. Sem dar maior atenção à conduta do aluno, o Fonte: https://www.boavista.rr.gov.br/comum/code/MostrarImagem.php?C=MTEwOTk%2C 32 Fundamentos da Educação Inclusiva professor permanece desconhecendo as principais causas e dificuldades dos escolares, desconsiderando, muitas vezes, qualquer fator de desmotivação pessoal. O professor precisa prestar mais atenção aos alunos que se apresentam desestimulados, negam-se ao cumprimento de regras ou normas estabelecidas para o convívio social, não se sujeitando a seguir ordens estabelecidas ou acatar comportamento padronizado. Alguns sintomas e/ou características transitórias ou permanentes podem ser identificadas com facilidade, por serem concretamente visíveis, outras nem tanto, por não estarem fisicamente expostas, não são identificadas, levando a um julgamento errôneo do estado de integralidade do educando. A situação se torna ainda mais complicada, quando tratam de causas emocionais, distúrbios psicológicos, entre outros aspectos. Quanto às questões que envolvem a sensorialidade, afetando os órgãos dos sentidos, responsáveis diretamente pela apreensão do aprendizado, os prejuízos são grandes, perturbando a sensação, a percepção do indivíduo, com consequentes dificuldades em maior ou menor grau. 2.3 Identificação dos transtornos e tipos de deficiência Para realizar uma intervenção favorável ao desenvolvimento do aluno, o professor precisa saber identificar as causas de suas preocupações, os fatores que o desmotivam a aprender, afastando-o da efetiva aprendizagem. O professor necessita estar informado das reais condições do aluno, para poder contribuir com a realização da avaliação formal, com o objetivo de avaliar os conhecimentos prévios do aluno, suas potencialidades e possibilidades, para identificar as necessidades educacionais especiais do aluno. Trata-se de uma realização processual e contínua desenvolvida no contexto escolar, com a colaboração do professor e da equipe técnico-pedagógica da escola, a fim de identificar as necessidades que comprometem o processo de aquisição de aprendizagem. A realização prévia da referida avaliação constitui-se num instrumento de grande valia, pois auxiliará o professor a melhor compreender o aluno, bem como, contribuirá com seu melhor desenvolvimento. 33 Fundamentos da Educação Inclusiva A realização prévia da referida avaliação constitui-se num instrumento de grande valia, pois auxiliará o professor a melhor compreender o aluno, bem como, contribuirá com seu melhor desenvolvimento. A Declaração de Salamanca (1994) identifica como alunos com necessidades educacionais especiais, são aqueles que: apresentam deficiências ou não. Assim, estão incluídos, os que apresentam condutas típicas; são superdotadas; vivem nas ruas; são trabalhadoras; são imigrantes ou de população nômade; são pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais; são pertencentes a grupos desfavorecidos e/ou marginalizados. Alunos com deficiência são aqueles que apresentam impedimento de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que podem estar impedidos de participação integral tanto na escola como na sociedade: Deficiência Intelectual (DI); Deficiência Física Neuromotora (DFN); Deficiência visual (DV); Área da surdez (AS); Altas Habilidades e Superdotação; Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) - Autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância (psicose infantil), Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e, ainda, os Transtornos Funcionais Específicos (TFE) – são as dificuldades de aprendizagem: dislexia, disgrafia, disortografia, discalculia e transtornos de atenção e hiperatividade. O funcionamento intelectual normal é compreendido como habilidade mental genérica – inclui raciocínio, planejamento, solução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizagem rápida e aprendizagem por meio da experiência. O parâmetro para circunscrever o funcionamento intelectual é o quociente de inteligência – QI (BRASIL, 2008). De acordo com o MEC (BRASIL, 2001) os alunos com deficiência intelectual são aqueles que possuem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental/ intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade, ou seja, funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas as duas ou mais áreas das habilidades adaptativas: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho (BRASIL, 2007, p.39). 34 Fundamentos da Educação Inclusiva Diante da ausência dessas habilidades o aluno com deficiência intelectual apresenta acentuada dificuldade de aprendizagem, o que dificulta o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: não vinculadas a uma causa orgânica e relacionada a disfunções, limitaçõesou deficiências (BRASIL, 2001). Além da dificuldade acadêmica o escolar com déficit intelectual apresenta limitações nas habilidades adaptativas, tais como: comunicação (linguagem receptiva e expressiva; leitura e escrita); sociais (interpessoais, responsabilidade, autoestima, cumprir regras e leis); cuidado pessoal (comer, vestir-se, higiene, manejo de dinheiro, uso de medicamentos). A pessoa com baixo QI apresenta um desenvolvimento lento e tardio na aquisição de conhecimentos e habilidades da vida autônoma e social, com um ritmo de aprendizagem mais lento, maior dificuldade de abstração e generalização e dificuldade de adaptar-se a novas situações. Dentre as síndromes que limitam a capacidade intelectual do sujeito, a mais comum é a Síndrome de Down, que é uma condição genética caracterizada pela presença de um cromossomo a mais nas células de seu portador; por isso, é também chamada de trissomia 21. Essa anomalia produz um variável grau de atraso no desenvolvimento intelectual e motor das pessoas Down. Estes educandos são atendidos em escolas comuns ou dependendo do grau de comprometimento intelectual em escolas especiais. (SMITH, 2008). A deficiência física é compreendida por uma variedade ampla de condições orgânicas que, de alguma forma, alteram o funcionamento normal do aparelho locomotor, comprometendo assim a movimentação e a deambulação do indivíduo. Estas alterações podem ocorrer em vários níveis: ósseo, articular, muscular e nervoso. Além das alterações anatômicas, observam-se também as alterações fisiológicas do aparelho locomotor. O termo neuromotora refere-se às deficiências acarretadas por lesões nos centros e vias nervosas que comandam os músculos. As causas são variadas, como por exemplo, infecções ou por lesões ocasionadas em algum momento do desenvolvimento da pessoa ou por degeneração neuromusculares manifestações exteriores consistem em fraqueza muscular, paralisia ou falta de coordenação (BRASIL, 2002). 35 Fundamentos da Educação Inclusiva As características do aluno que apresenta deficiência física/ neuromotora dependem do nível de comprometimento, a saber: não produz seu vocabulário, escolhe a partir de um léxico/palavra selecionado por outra pessoa; se diferencia dos seus colegas por ter um atraso e/ou distúrbio linguístico; apresenta sequelas neurológicas que interferem na sua vida escolar (conceito clínico); requerem meios e recursos que viabilizem sua aprendizagem e auxiliem na sua comunicação; aprende por meio das percepções e com todas as suas funções motoras e habilidades acadêmicas que não lhe são negadas ou limitadas; necessita de uma comunicação eficaz na mediação de sua expressividade e compreensão que não se limita na “interpretação”; utiliza todo seu corpo para interagir; aprende por meio das interações. Os atendimentos educacionais para esses educandos acontecem em escolas comuns em centro de atendimento especializado para a área física/neuromotora. 2.3.1 Deficiência Visual Esta deficiência é caracterizada por problemas na visão central, com comprometimento severo na fóvea central ou na mácula, danificadas. De acordo com Coeicev (s.d., s.p.), “a fóvea situa-se na mácula: é a porção mais nobre da retina, isto é, a parte central da mácula, responsável pela acuidade visual, a qual é sempre direcionada para o objeto que se quer ver, e onde cuja imagem é depositada”. Qualquer problema na fóvea provocará um borrão ou ponto cego na visão. A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1966, registrou 66 diferentes definições de cegueira, “utilizadas para fins estatísticos em diversos países”. Por isso, “diversamente do que poderíamos supor, o termo cegueira não é absoluto, pois reúne indivíduos com vários graus de visão residual”, conforme Conde (2016, s.p.). O autor diferencia cegueira parcial de cegueira total. Na primeira ele aponta: “nesta categoria estão os indivíduos apenas capazes de contar dedos a curta distância e Assista ao vídeo DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: 5 sinais diagnósticos/ NeuroSaber. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=t_vFEv_y Bcc 36 Fundamentos da Educação Inclusiva os que só percebem vultos”, na segunda: “os indivíduos que só têm percepção e projeção luminosas” (CONDE, 2016, s.p. grifo nosso). BRAILLE Louis Braille. Esse sobrenome soa familiar para você de alguma forma? Provavelmente sim, não é mesmo? Ele foi um jovem francês que viveu no século XIX e abriu portas para muitas pessoas ao redor do mundo, inclusive até os dias atuais. O Braile é um sistema de leitura que utiliza o tato, ou seja, é a leitura com as mãos. Possui 64 símbolos baseados em relevos e combinações de até seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos cada. Com o braile pode-se fazer a representação de letras, números e até sinais de pontuação. Parece um pouco complicado, mas é algo extremamente útil no dia a dia de algumas pessoas. O Brasil foi um dos primeiros países a adotar o sistema, com o Instituto dos Meninos Cegos, em 1854 (hoje Instituto Benjamin Constant, principal instituto com obras em Braile no país). De acordo com o Ministério da Educação (MEC), em seu livro Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Visual”, dos autores Sá, Campos e Silva (2007, p. 18), o trabalho com alunos com baixa visão baseia-se no princípio de “estimular a utilização plena do potencial de visão e dos sentidos remanescentes, bem como na superação de dificuldades e conflitos emocionais”. Afinal, “um aluno com baixa visão possui seu cognitivo intacto, porém a percepção do mundo baseada na visão se torna limitada por conta da deficiência” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 18) Fonte: https://conceitos.com/braille/ Alfabeto Braille 37 Fundamentos da Educação Inclusiva 2.3.2 Deficiente Auditivo A inclusão dos portadores de necessidades especiais é um desafio no Brasil. Ao se tratar do deficiente auditivo, esbarramos em diversos problemas como: a falta de comunicação oral, que prejudica o aprendizado, a aplicação de metodologias não contextualizadas com a realidade do aluno, e a falta de preparo dos profissionais que atuam nessa área. Além disso, contamos também com problemas sociais que precisam ser superados, o que na maioria das vezes são frutos da falta de esforços do poder público, das associações e da sociedade em geral, no sentido de promover melhoria de vida de forma coletiva, igualitária e democrática. Dentro do processo de exclusão social e escolar, resultante de uma "pseudo homogeneidade", está a população com necessidades especiais, caracterizada como aquela que possui evidentes traços que a colocam em situação diferente da população em geral. Porém esses traços não são os maiores determinantes de seu sucesso ou fracasso escolar, mas sim a qualidade do trabalho pedagógico com ela realizado. O professor deve: Aceitar o aluno surdo como os demais alunos; Ajudar o aluno a raciocinar, não lhe dar soluções prontas; Não superproteger; Não ficar de costas para o aluno, nem de lado, quando estiver falando; Preparar os colegas para recebê-lo; Dirigir-se ao surdo em língua de sinais; se não for possível, utilizar frase curtas, bem pronunciadas num tom normal, sem exageros; Ao chamar atenção do aluno, utilizar gestos convencionais; Colocar o aluno surdo nas primeiras carteiras, longe de janelas e portas, para não se distrair Utilizar todos os recursos que facilitem sua compreensão (dramatização, mímicas e materiais visuais); Se utilizar vídeos, certificar se são legendados; Fazer resumos do conteúdo das aulas no quadro negro e depois repassá-los em língua de sinais; Incluir a família no processo educativo; Cumprimentá-lo sempre que possível em língua de sinais e ou com sorriso; Todos na escola(professores e funcionários) devem aprender a língua de sinais; 38 Fundamentos da Educação Inclusiva As aulas devem ser em língua de sinais; se não for possível, solicitar ajuda de intérpretes até que os professores se preparem para esse atendimento; A escola deve receber assessoria de uma equipe (pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos) enviada pela Secretaria de Educação Especial do Estado; A escola deve incluir no Plano Político Pedagógico estratégias de trabalho com o aluno surdo; Avaliar o aluno pela mensagem e pelo conteúdo, não pela escrita; Acreditar nas potencialidades do aluno. 2.3.3 LIBRAS A existência de apoios especializados (aparelhos auditivos, implantes cocleares, professores formados e interpretes de língua gestual) é rara nas escolas de ensino regular. É pouco provável que as crianças surdas desenvolvam uma língua falada e aptidões de comunicação dentro das suas próprias famílias – tornam- se excluídas dentro da família porque não partilham a mesma língua. Elas precisam de ter contato com outras pessoas surdas para aprenderem a linguagem gestual nacional. Esta é a razão porque tantas pessoas surdas defendem que as escolas ou classes especiais são necessárias para as crianças surdas, desde que tenham aí o direito de aceder à educação na sua primeira língua – a linguagem gestual, LIBRAS. Alfabeto manual Fonte: https://www.simbolos.net.br Fonte: https://www.simbolos.net.br 39 Fundamentos da Educação Inclusiva Para esses alunos, estar em um ambiente onde ele possa se comunicar, é o mais importante, proporciona ao indivíduo a oportunidade de estar no meio, de se expressar, de entender e ser entendido, a escola tem o dever de ter estrutura para receber e amparar alunos surdos com profissionais adequados, e especialmente professores qualificados. 2.3.4 Esporte para deficientes físicos A prática de esportes coletivos é de grande ajuda para a inclusão e a socialização de uma pessoa com deficiência. Além desses esportes proporcionarem todos as vantagens físicas que lhes são inerentes, há, ainda, o contato com outras pessoas, que traz enormes benefícios emocionais. Entres esses esportes, temos o basquete como campeão no número de praticantes. Além dele, há também o futebol, o rugby e o futebol americano. Vejamos alguns exemplos: ATLETISMO HIPISMO ARCO E FLECHA IATISMO BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS NATAÇÃO BOCHA RUGBY CICLISMO TÊNIS EM CADEIRA DE RODAS ESGRIMA EM CADEIRA DE RODAS TÊNIS DE MESA FUTEBOL PARA AMPUTADOS E PARALISADOS CEREBRAIS, HALTEROFILISMO VOLEIBOL SENTADO E PARA AMPUTADOS E MODALIDADES DE INVERNO. 40 Fundamentos da Educação Inclusiva De acordo com Stainback e Stainback (1999, p. 72), “as escolas são microcosmos da sociedade”, uma vez que elas “espelham aspectos, valores, prioridades e práticas culturais tanto positivos quanto negativos que existem fora de seus muros”. E, para os autores, as escolas devem, por isso, assumir as responsabilidades de melhorar as condições sociais negativas. 2.4 Deficiência Múltipla O Ministério da Educação publicou um interessante material pedagógico sobre este tema, intitulado Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem – deficiência múltipla. Neste material, define-se o termo deficiência múltipla como utilizado, frequentemente, “para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social” (BRASIL, 2006a, p. 11). E alerta que “não é o somatório dessas alterações que caracteriza a múltipla deficiência, mas sim o nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e Fonte: http://www.revistaadventista.com.br/blog/2016/09/02/educacao-fisica-inclusiva/ 41 Fundamentos da Educação Inclusiva de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas” (BRASIL, 2006a, p. 11). O conceito de deficiência múltipla varia entre os estudiosos. Na Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994, p.15) a deficiência múltipla é definida como: “associação, no mesmo indivíduo de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditivo-física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa”. Esse conceito de deficiência múltipla é referendado pelo Decreto n.3.298/99 que define a categoria como “associação de duas ou mais deficiências” (art.4, V). Implica uma gama extensa de associação de deficiências que podem variar conforme o número, a natureza, a intensidade e a abrangência das deficiências associadas e o efeito dos comprometimentos decorrentes, no nível funcional. Para outros autores, a deficiência múltipla seria “a ocorrência de apenas uma deficiência, cuja gravidade acarreta consequências em outras áreas” (BRASIL, 2000 p. 47). Por exemplo, um bebê com deficiência no funcionamento da tireoide, se não receber tratamento adequado, pode vir a ser afetado em diversas áreas do desenvolvimento: intelectual, psicomotora e de comunicação entre outras. Nessa concepção, uma deficiência inicial é geradora de outras deficiências secundárias, vindo a caracterizar a múltipla deficiência. Algumas enfermidades estão comprovadamente associadas à múltipla deficiência, com efeitos significativos para as pessoas afetadas. Para considerar o impacto da deficiência múltipla, é importante analisar seus efeitos na funcionalidade da pessoa frente ao ambiente físico e social, bem como avaliar de que modo às deficiências interferem na qualidade de vida. Ainda devem ser considerados os seguintes aspectos, de acordo com Brasil (2000, p.60): a) Os tipos e quantidades de deficiências primárias associadas; b) A amplitude ou abrangência dos aspectos comprometidos; c) A idade de aquisição das deficiências; d) Os fatores relacionados – familiares, comunitários, escolares; e) A eficiência das intervenções educacionais e de saúde. O conhecimento sobre a deficiência múltipla serve de base para evitar maior interferência adversa na vida da pessoa e reduzir Anais Eletrônico VII EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar CESUMAR – Centro Universitário de Maringá Editora CESUMAR Maringá – Paraná – Brasil seus efeitos sobre ela, bem como mediar a promoção humana. Ajuda a prevenir deficiências 42 Fundamentos da Educação Inclusiva decorrentes das já existentes e a instrumentalizar o indivíduo para atuar eficientemente frente às demandas ambientais. Conforme material específico do Ministério da Educação para a Deficiência Múltipla, temos estas dimensões classificatórias: Física e psíquica: associa a deficiência física à deficiência intelectual; associa a deficiência física a transtornos mentais. Sensorial e psíquica: engloba a deficiência auditiva associada à deficiência intelectual; a deficiência visual à deficiência intelectual; a deficiência auditiva a transtornos mentais; perda visual a transtorno mental. Sensorial e física: associa a deficiência auditiva à deficiência física; a deficiência visual à deficiência física. Física, psíquica e sensorial: traz a deficiência física associada à deficiência visual e à deficiência intelectual; a deficiência física associada à deficiência auditiva e à deficiência intelectual; a deficiência física associada à deficiência auditiva e à deficiência visual (BRASIL, 2001, p. 15) De acordo com Brasil (2001, p. 13): “A causa mais frequente de deficiência múltipla é a paralisia cerebral, que compromete a postura e mobilidade, limitando os movimentos”, por isso, as maiores necessidades da pessoa com deficiência múltipla são médicas e físicas. Consequentemente, possuem necessidades de afeto, atenção, de desenvolver relações sociais e afetivas, e de estabelecer uma relação deconfiança. O que interfere diretamente na questão educacional, em relação ao espaço e sua inserção nele. Logo, “as necessidades educativas são devido a limitações no acesso ao ambiente; a dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes e as dificuldades na interpretação da informação” (BRASIL, 2001, p. 13) Alonso apud Ampudia (2011c, s.p.) nos diz que “mais do que a somatória de deficiências, é preciso levar em conta que há consequências nos diversos aspectos do desenvolvimento da criança que influenciam diretamente sua maneira de conhecer o mundo externo e desenvolver habilidades adaptativas”. A orientação aos educadores deve ser feita caso a caso, conforme os tipos e o grau de comprometimento do aluno. O mais importante é “ficar atento às competências do aluno com deficiência múltipla, usando estimulação sensorial e buscando formas variadas de 43 Fundamentos da Educação Inclusiva comunicação, para identificar a maneira mais favorável de interagir com o aluno”, segundo Alonso apud Ampudia (2011c. s.p.). 2.5 Deficiência Intelectual Deficiência intelectual, antes chamado retardo mental, é uma baixa capacidade de compreender, aprender e aplicar informações e tarefas novas ou complexas. Pessoas com deficiência intelectual têm um funcionamento mental abaixo da média, o que provoca um atraso na aprendizagem e no desenvolvimento desses indivíduos. A deficiência intelectual manifesta-se antes dos 18 anos de idade e caracteriza-se sobretudo por alterações no desenvolvimento das funções cognitivas (raciocínio, memória, atenção, juízo), da linguagem, das habilidades motoras e da socialização. Já a doença mental relaciona uma série de condições que causam alteração de humor e comportamento e podem afetar o desempenho da pessoa na sociedade. Essas alterações acontecem na mente da pessoa e causam uma alteração na sua percepção da realidade (MANTOAN, 1997, p. 15). Considerada uma doença psiquiátrica, deve ser tratada por um psiquiatra, com uso de medicamentos específicos para cada situação. Por isso, se diz que “a deficiência mental não se esgota na sua condição orgânica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um único saber. Ela é uma interrogação e objeto de investigação de inúmeras áreas do conhecimento” (MANTOAN, 1997, p. 15). Sendo mais especifico, podemos ver parte do material do sítio eletrônico da APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) de São Paulo (s.d., s.p.). Eles destacam o que a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento (AAIDD) traz sobre a Deficiência Intelectual, que: Considerada uma doença psiquiátrica, deve ser tratada por um psiquiatra, com uso de medicamentos específicos para cada situação. Por isso, se diz que “a deficiência mental não se esgota na sua condição orgânica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um único saber. Ela é uma interrogação e objeto de investigação de inúmeras áreas do conhecimento” (MANTOAN, 1997, p. 15). 44 Fundamentos da Educação Inclusiva Sendo mais especifico, podemos ver parte do material do sítio eletrônico da APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) de São Paulo (s.d., s.p.). Eles destacam o que a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento (AAIDD) traz sobre a Deficiência Intelectual, que: Caracteriza-se por um funcionamento intelectual inferior à média (QI), associado a limitações adaptativas em pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho), que ocorrem antes dos 18 anos de idade. Quanto aos alunos com deficiência intelectual, Vygotsky defendia que: ‘’Todas as crianças podem aprender e se desenvolver. As mais sérias deficiências podem ser compensadas com ensino apropriado. ’’ A escola assume, assim, papel primordial nesse processo, extrapolando o compromisso com a aprendizagem dos estudantes, devendo assumir também responsabilidade na promoção do desenvolvimento de sua capacidade intelectual. Principalmente no que se refere aos alunos com deficiência – particularmente intelectual –, considerando que o foco, na escola, é a aprendizagem. 2.5.1 Tipos de Deficiência Intelectual Síndrome de Down: alteração genética que ocorre na formação do bebê, no início da gravidez. O grau de deficiência intelectual provocado pela síndrome é variável, e o coeficiente de inteligência (QI) pode variar e chegar a valores inferiores a 40. A linguagem fica mais comprometida, mas a visão é relativamente preservada. As interações sociais podem se desenvolver bem, no entanto podem aparecer distúrbios como hiperatividade, depressão, entre outros (APAE SÃO PAULO, s.d., s.p.). Síndrome do X-Frágil: “alteração genética que provoca atraso mental. A criança apresenta face alongada, orelhas grandes ou salientes, além de Assista ao vídeo O que é Deficiência Intelectual? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=W1qVdKTt StA 45 Fundamentos da Educação Inclusiva comprometimento ocular e comportamento social atípico, principalmente timidez” (APAE SÃO PAULO, s.d., s.p.). Síndrome de Prader-Willi: “O quadro clínico varia de paciente a paciente, conforme a idade. No período neonatal, a criança apresenta severa hipotonia muscular, baixo peso e pequena estatura” (APAE SÃO PAULO, s.d., s.p.). Por volta dos dois anos de idade surge a obesidade, com a vontade constante e exagerada por comida. “Em geral a pessoa apresenta problemas de aprendizagem e dificuldade para pensamentos e conceitos abstratos” (APAE SÃO PAULO, s.d., s.p.). Síndrome de Angelman: APAE São Paulo (s.d., s.p.) aponta que essa síndrome é um “distúrbio neurológico que causa deficiência intelectual, comprometimento ou ausência de fala, epilepsia, atraso psicomotor, andar desequilibrado, com as pernas afastadas e esticadas, sono entrecortado e difícil, alterações no comportamento, entre outras”. Algumas características faciais distintivas: boca grande com protusão da língua, queixo proeminente, lábio superior fino, dentes espaçados e redução da pigmentação cutânea, com pele mais clara do que o padrão familiar e maior frequência de cabelos finos e loiros e olhos claros. Síndrome de Williams: “alteração genética que causa deficiência intelectual de leve a moderada. A pessoa apresenta comprometimento maior da capacidade visual e espacial em contraste com um bom desenvolvimento da linguagem oral e na música” (APAE SÃO PAULO, s.d., s.p.). Tem como característica a "face de gnomo ou fadinha”, nariz pequeno e empinado, cabelos encaracolados, lábios cheios, dentes pequenos e sorriso frequente. Erros inatos de metabolismo (fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito etc.): Alterações metabólicas, em geral enzimáticas, que normalmente não apresentam sinais nem sintomas sugestivos de doenças. São detectadas pelo Teste do Pezinho, e quando tratadas adequadamente, podem prevenir o aparecimento de deficiência intelectual. Alguns achados clínicos ou laboratoriais que sugerem esse tipo de distúrbio metabólico: falha de crescimento adequado, doenças recorrentes e inexplicáveis, convulsões, atoxia, perda de habilidade psicomotora, hipotonia, sonolência anormal ou coma, anormalidade ocular, sexual, de pelos e cabelos, surdez inexplicada, 46 Fundamentos da Educação Inclusiva 1. Define Deficiência Intelectual e cite pelo menos dois tipos. 2. Qual a importância do ensino de libras para a aprendizagem. acidose láctea e/ou metabólica, distúrbios de colesterol, entre outros (APAE SÃO PAULO, s.d., s.p.). De maneira geral, a deficiência intelectual traz mais dificuldades para que a criança interprete conteúdos abstratos. Isso exige estratégias diferenciadas por parte do professor, que diversificaos modos de exposição nas aulas, relacionando os conteúdos curriculares a situações do cotidiano, e mostra exemplos concretos para ilustrar ideias mais complexas [...]. O professor é capaz de identificar rapidamente o que o aluno não é capaz de fazer. O melhor caminho para se trabalhar, no entanto, é identificar as competências e habilidades que a criança tem (ALONSO apud AMPUDIA, 2011d, s.p.). É possível um aluno com algum tipo de deficiência ter uma aprendizagem significativa. Justifique. 47 Fundamentos da Educação Inclusiva UNIDADE 03 Formação de Professores, Desafios e Perspectivas da Inclusão no Brasil Fonte: http://midianinja.org/files/2018/10/inclusa%CC%83o-1024x482.jpg 48 Fundamentos da Educação Inclusiva 3. Espaço Escolar Atualmente muito se fala de inclusão de crianças portadoras de necessidades educativas especiais no ensino regular, de modo a propor uma integração favorável aos mesmos em sua formação educacional em conjunto aos alunos considerados normais. Por diversos motivos se busca tal integração, uma vez que todos têm os mesmos direitos perante a sociedade, e que essa inclusão se torna benéfica ao desenvolvimento dos alunos com tais necessidades, pelo motivo de não serem isolados apenas com outros que possuem as mesmas necessidades, mas sim de aprender a conviver com as diferenças dos demais alunos. Considerando que os fundamentos teórico-metodológicos da Educação Inclusiva, baseiam-se numa concepção de educação de qualidade para todos e no respeito à diversidade dos educandos, é imprescindível uma participação mais qualificada dos educadores para o avanço desta importante reforma educacional, para o atendimento das necessidades educativas de todos os alunos, com ou sem deficiências. Infelizmente, o despreparo dos professores figura entre os obstáculos mais citados para a educação inclusiva. É um grande desafio, fazer com que a Fonte: https://http2.mlstatic.com/curso-de-sala-de-recursos-multifuncionais- D_NQ_NP_740615-MLB25253710563_122016-O.jpg 49 Fundamentos da Educação Inclusiva Inclusão ocorra, sem perdermos de vista que além das oportunidades, é preciso garantir o avanço na aprendizagem, bem como, no desenvolvimento integral do indivíduo com necessidades educacionais especiais. A historicidade da inclusão evidencia que esta atravessou diferentes fases em diversas épocas e culturas. Segundo Correia (1999), a Idade Antiga, na Grécia é considerada um período de grande exclusão social, pois crianças nascidas com alguma deficiência eram abandonadas ou mesmo eliminadas, sem chance ou direito ao convívio social. Na Idade Média, pessoas com deficiência eram também marginalizadas, até por questões sobrenaturais, rotuladas como inválidas, perseguidas e mortas. Assim, muitas vezes as famílias preferiam escondê-las e assim, privá-las da vida comunitária e social. A ideia de promover aos filhos, qualquer tipo de intervenção em ambientes diferenciados não era uma prática comum. Conforme Jannuzzi (2004), no Brasil por volta do século XVIII, o atendimento aos deficientes restringia-se aos sistemas de abrigos e à distribuição de alimentos, nas Santas Casas, salvo algumas exceções de crianças que até participavam de algumas instruções com outras crianças ditas normais. De acordo com os estudos de Mazzotta (2005), é possível destacar três atitudes sociais que marcaram o desenvolvimento da Educação Especial no tratamento dado às pessoas com necessidades especiais especialmente no que diz respeito às pessoas com deficiência: marginalização, assistencialismo e educação/reabilitação. • Marginalização – atitudes de total descrença na capacidade de pessoas com deficiência, o que gera uma completa omissão da sociedade na organização de serviços para esse grupo da população. • Assistencialismo – atitudes marcadas por um sentido filantrópico, paternalista e humanitário, que buscavam apenas dar proteção às pessoas com deficiência, permanecendo a descrença no potencial destes indivíduos. • Educação/reabilitação – atitudes de crença nas possibilidades de mudança e desenvolvimento das pessoas com deficiência e em decorrência disso, a preocupação com a organização de serviços educacionais. Sassaki (2006) ao explicar sobre o processo de inclusão/integração educacional situa quatro fases que ocorreram ao longo do desenvolvimento da história da inclusão: 50 Fundamentos da Educação Inclusiva Fase de Exclusão: período em que não havia nenhuma preocupação ou atenção especial com as pessoas deficientes ou com necessidades especiais. Eram rejeitadas e ignoradas pela sociedade. Fase da Segregação Institucional: neste período, as pessoas com necessidades especiais eram afastadas de suas famílias e recebiam atendimentos em instituições religiosas ou filantrópicas. Foi nessa fase que surgiram as primeiras escolas especiais e centros de reabilitação. Fase da Integração: algumas pessoas com necessidades especiais eram encaminhadas às escolas regulares, classes especiais e salas de recursos, após passarem por testes de inteligência. Os alunos eram preparados para adaptar-se à sociedade Fase de Inclusão: todas as pessoas com necessidades especiais devem ser inseridas em classes comuns, sendo que os ambientes físicos e os procedimentos educativos é que devem ser adaptados aos alunos, conforme suas necessidades e especificidades. Para a construção de uma verdadeira sociedade inclusiva é importante, também, que se tenha preocupação e cuidado com a linguagem que se utiliza. Afinal, através da linguagem é possível expressar, voluntariamente ou involuntariamente, aceitação, respeito ou preconceito e discriminação em relação às pessoas ou grupos de pessoas, conforme suas características. No que se refere ao atendimento especializado a ser oferecido na escola para quem dele necessitar, a atual Política Nacional de Educação Especial aponta para uma definição de prioridades e define como aluno portador de necessidades especiais aquele que apresenta necessidades específicas de aprendizagens curriculares, diferenciadas dos demais alunos e que requeiram recursos Assista ao vídeo A linguagem como instrumento de inclusão social Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tuFo_RBviVE 51 Fundamentos da Educação Inclusiva pedagógicos e metodologias específicas, sendo assim classificados: alunos com deficiência; alunos com condutas típicas e alunos com superdotação/altas habilidades. No Paraná, a Deliberação nº 02/03 – CEE, que fixa as normas para a Educação Especial, modalidade da Educação Básica para alunos com necessidades educacionais especiais no Sistema de Ensino do Estado do Paraná, e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008), assegura a oferta de atendimento educacional especializado aos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais decorrentes de: I. Deficiência mental, física/neuromotora, visual e auditiva; II. Transtornos globais do desenvolvimento; III. Superdotação/altas habilidades. 3.1 Contextos Problemáticos A escola inclusiva é aquela que abre espaço para todas as crianças, incluindo as que apresentam necessidades especiais. As crianças com deficiência têm direito à Educação em escola regular. No convívio com todos os alunos, a criança com deficiência deixa de ser “segregada” e sua acolhida pode contribuir muito para a construção de uma visão inclusiva. Garantir que o processo de inclusão possa fluir da melhor maneira é responsabilidade da equipe diretiva – formada pelo diretor, coordenador pedagógico, orientador e vice-diretor, quando houver – e para isso é importante que tenham conhecimento e condições para aplicá-lo no dia a dia da escola. A inclusão ainda não tomouamplos e completos espaços dentro das escolas, ainda temos algumas barreiras quanto à adequação de espaço e atendimento a alunos com deficiências física e/ou necessidades especiais. Nesse sentido, França (2014, p. 38) afirma que no Brasil o conceito de educação especial vem sendo construído ao longo da história, sendo a expressão “alunos com necessidades educacionais especiais”: No que diz respeito à educação, a expressão alunos ‘excepcionais’ passou a ser substituída por ‘alunos com necessidades educacionais especiais’, o MEC adotava a designação ‘portadores de necessidades educacionais especiais’, também havia a nomenclatura ‘portadores de deficiência’, porém ao analisarmos o 52 Fundamentos da Educação Inclusiva termo ‘portadores de’ cai na armadilha do léxico que aprisiona o sujeito de portar ou carregar deficiências, necessidades ou direitos. Segundo Rego (1995, p. 118), “a escola deve ser um espaço para transformações, as diferenças, os erros, as contradições, a colaboração mútua e a criatividade. ” Dessa forma, precisa-se de uma escola que não tenha medo de arriscar, que tenha coragem para criar e questionar o que está estabelecendo, em busca de rumos inovadores, necessários à inclusão. Entretanto, isso traz a todos os âmbitos do ensino a sensação de enfrentamento de um grande desafio: encontrar metodologias de ensino e recursos diferenciados que assegurem êxito na tarefa de atingir os objetivos curriculares básicos propostos as crianças com necessidades educativas especiais (LIMA, 2006). As escolas precisam estar capacitadas para receberem seus alunos tendo em vista um ambiente organizado, programações diferenciadas, material pedagógico diversificado e, principalmente, um clima de aceitação de diferenças interpessoais. A formação continuada dos professores deve capacitá-los para conhecer melhor o que hoje se sabe a respeito das possibilidades de trabalho pedagógico com crianças com necessidades educacionais especiais, bem como auxiliar as crianças na construção de conhecimento cada vez mais ampliado e significativo acerca do mundo e de si mesmo (OLIVEIRA, 2005). 3.2 Educação Inclusiva no Ensino Superior A expansão e a melhoria dos cuidados e da educação na primeira infância é o primeiro objetivo da EPT. A ECCE inclui a saúde, nutrição, higiene e todos os que apoiam um desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional da criança, desde o nascimento até à escola primária. Uma boa ECCE inclusiva é especialmente importante para grupos vulneráveis e marginalizados, pois pode reduzir a desigualdade social e pode compensar a desvantagem e a vulnerabilidade precoce. Para as crianças com incapacidades, uma intervenção apropriada desde cedo (cuidado e educação), podem reduzir o impacto da deficiência no funcionamento da criança. Por exemplo, uma criança com paralisia cerebral necessita de estimulação, exercícios e apoios apropriados, para promover a flexibilidade e prevenir 53 Fundamentos da Educação Inclusiva contracturas. Nesta primeira etapa, esta intervenção não precisa de ser dispendiosa e altamente técnica – mas precisa de informação, competências e participação da família e da comunidade. O crescente ingresso de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino torna necessário um aprofundamento na reflexão sobre a educação inclusiva. As diversas concepções de Universidade foram construídas historicamente, a fim de dar suporte às transformações sociais de cada momento e de cada cultura em que se inseriram. No Brasil, temos a influência de três modelos: francês, alemão e norte-americano (Durham, 2005). O modelo francês tem origem na criação da Universidade de Paris, no século XII, que surgiu a partir da congregação de professores autônomos numa corporação de ofícios (forma medieval de organização), na busca de um espaço de atuação com maior autonomia, diferentemente das escolas dos mosteiros e catedrais. A autonomia universitária tem origem nesse momento histórico. Era este o tipo de autonomia que os professores desejavam, e é basicamente a mesma que marcou toda sua história posterior. Isto é, exercer, fora da Igreja, o ofício de ensinar, o direito a admitir aprendizes, de formar novos mestres, fornecendo diplomas reconhecidos. Trata-se, de fato, do que hoje chamamos de liberdade acadêmica (Durham, 2005, p.6) Cabe notar que tanto o modelo francês quanto o alemão organizam esse tipo de ensino de modo a que ele seja destinado a poucos alunos. Assim, a liberdade e a autonomia universitárias se restringem apenas ao grupo de catedráticos, que, por sua vez, ensinam a um seleto grupo de alunos que, terminados os estudos, constituirão essa mesma elite acadêmica. A Universidade é concebida como lugar para a formação de elites intelectuais, voltada para a produção de saber intelectual, e não profissional. O modelo de cátedras esteve presente nas universidades brasileiras até a reforma de 1968. O modelo dual chegou a ser institucionalizado no Brasil, mas vingou apenas no ensino secundário, e até hoje o ensino superior vocacional não é valorizado entre nós. Já o modelo norte-americano influenciou as reformas universitárias em quase todos os países nas décadas de 60 e 70, e tem, como objetivo, ampliar o acesso ao ensino superior, sendo o que melhor resolveu o desafio do ensino de massa. É esse o modelo que atualmente lidera na pesquisa mundial, adotado por muitas entre as 54 Fundamentos da Educação Inclusiva melhores universidades do mundo. Trata-se de um modelo público não estatal, financiado por um fundo comunitário, por dotações do governo estadual, doações privadas, e complementado pela cobrança de matrículas. Esse modelo não é organizado em cátedras, mas em departamentos, com a ampla participação dos docentes. O poder está com o conselho de curadores (não acadêmico), que é responsável por toda a parte administrativa e financeira, pela escolha do reitor, pela definição das áreas de expansão, inclusive com relação à pesquisa. Segundo Durham, as universidades americanas (...) foram constituídas preservando os colleges como formação básica, que fornece o título de bacharel, e sobrepondo a eles as escolas de formação profissional (como de Medicina, Direito, Engenharia e outras) e a escola graduada (que copiamos como pós-graduação), que forma mestres e doutores (Durham, 2005, p.11) No Brasil, diferentemente de outros países da América Latina, a criação de universidades foi tardia. Em 1920, o governo federal instituiu a Universidade do Rio de Janeiro, a partir da junção de escolas já existentes que, muito embora, continuaram a funcionar de forma isolada (Mendonça, 2000). Posteriormente, foram criadas outras universidades, a Universidade de São Paulo, em 1934, e a Universidade do Distrito Federal, em 1935, que importaram o modelo de cátedras e trouxeram professores do exterior. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, lançou as bases da concepção de Universidade com tríplice função: pesquisa, docência e extensão, e enfatizou o lugar central da pesquisa. Esse documento critica as instituições de ensino superior existentes até então, cujos objetivos não iam além da formação profissional. (Mendonça, 2000; Chauí, 2006). Fonte: https://images.livrariasaraiva.com.br/ima gemnet/imagem.aspx/?pro_id=8220780& qld=90&l=430&a=-1=1002023157 55 Fundamentos da Educação Inclusiva 3.3 Formação de professores para a Educação Especial Neste tópico abordaremos a visão de alguns autores sobre a formação de professores para a educação especial. As contribuições de Mantoan são fundamentais para compreendermos as relações entre formação de professores e inclusão. A autora (2006), afirma ser essencial que os currículos dos cursos de formação sofram alterações, para que osprofessores possam aprender a lidar com as diferenças, pois a “formação enfatiza a importância de seu papel, tanto na construção do conhecimento como na formação de atitudes e valores do cidadão. Por isso a formação vai além dos aspectos instrumentais de ensino” (p. 55). Mazzotta é outro pesquisador que contribui para ampliar reflexão sobre formação de professores e traz à discussão a necessidade que se compreenda a diferença entre educar ou preparar o professor. No que diz respeito à formação do professor Mazzotta (1993, p 34 e 45) destaca que o educador deve “(...) adquirir primeiro, o saber geral comum a todos os alunos, depois, o saber particular que diz como sua profissão (e compreende grande parte de habilidade), e, enfim, exerce-se em sua atividade profissional”. O professor deve ser educado e não preparado, aprendendo somente técnicas, assim poderá atuar em várias situações diferentes, tendo conhecimento suficiente para resolver os problemas. Outra colaboração nessa discussão nos vem de Freitas (2006 p. 173), que se refere à formação do professor, para abarcar os alunos com necessidades Fonte: https://paulomessina.files.wordpress.com/2012/12/mediacao.jpg 56 Fundamentos da Educação Inclusiva especiais, segundo ele essa deve: “ocorrer na ótica da educação inclusiva, como formação de especialista, mas também como parte integrante da formação geral dos profissionais da educação, a quem cabe atuar a fim de reestruturar suas práticas pedagógicas para o processo de inclusão educacional”. Os autores citados apresentam em seus estudos suas reflexões em relação à formação dos professores, necessária à prática educacional inclusiva, esclarecendo suas concepções acerca do processo de inclusão. Mantoan (2006) enfatiza a formação profissional, voltada para acolher a todos, sem preconceitos, reconhecendo o desenvolvimento dos alunos. Ela expõe que a formação de professores deve adotar a cooperação, a autonomia intelectual e social, considerando que a atividade deve ser ativa, garantindo a todos os alunos o seu desenvolvimento (MANTOAN, 2001). Por outro lado, tanto Freitas (2006) quanto Mazzotta (2006) defendem que a formação profissional deve partir da formação geral, que vai do comum até a especialização. Freitas (2006) também destaca que a formação dos professores deve possuir programas/conteúdos que possibilitem formar um profissional capaz de desenvolver habilidades para agir em situações diferentes, considerando a diversidade e a heterogeneidade dos alunos e a complexidade da prática pedagógica. Além disso, ela defende que a formação é um processo contínuo em constante desenvolvimento, em que o professor deve ter disponibilidade para a aprendizagem. Pode-se sintetizar, no que concerne à formação, é de extrema importância compreendermos que ela se dá em toda a caminhada, pois a todo instante os professores devem estar ampliando os seus conhecimentos, se atualizando, para atender às mudanças que vem ocorrendo na educação, possibilitando ensino e aprendizagem de qualidade. 3.4 Práticas Inclusivas Para esclarecer as relações entre a política de inclusão e a formação de professores torna-se importante explicitar a compreensão sobre o processo de ensinar e aprender. Diferentes estudos abordam essa articulação, sublinhando que é importante para que a inclusão venha ocorrer, que variadas práticas sejam 57 Fundamentos da Educação Inclusiva vivenciadas as quais devem ser refletidas modificadas. Entre elas está à prática do professor, pois ele é mediador e facilitador do ensino e também das relações sociais. Ele conduz todo o processo de ensino e aprendizagem, organiza, orienta e propõe a cooperação e solidariedade entre os alunos. “O professor assume-se como um mediador na construção do conhecimento e não mais como um mero transmissor de conteúdos estanques e desvinculados da realidade” (MARQUES, 2008 p. 182). O saber lidar com as diferenças, no processo de ensino e aprendizagem, tem sido ressaltado por diversos estudiosos, como critério para a concretização da política de inclusão. Quando se fala em desenvolver uma ação pedagógica para todos, sabe-se que não é uma atividade fácil e simples, ao contrário é de extrema importância entender que todas as crianças são sujeitas de aprendizagem, cada qual com o seu ritmo e desenvolvimento, pois possuem as suas diferenças. Portanto, é necessário que os profissionais, em sua prática, saibam respeitar e lidar com as limitações que caracterizam a diversidade humana. Ao se pensar na inclusão é imprescindível rever as ideias sobre aprendizagem. Dessa maneira Mantoan (2006) defende que o sucesso da aprendizagem se dá a partir do momento que se explore talentos, habilidades, desenvolva predisposições naturais. Para ela ensinar deve abarcar as diferenças dos alunos, sem fazer distinção, adotando “uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber. ” (MANTOAN, 2006 p. 49). A prática da inclusão exige mudanças na formação e na prática docente. É de extrema importância que o educador em sua formação, construa conhecimentos teóricos em relação ao ensino e aprendizagem, que lhe possibilite exercer melhor a sua prática. Dessa forma poderá fazer com que o processo da aprendizagem seja algo prazeroso. Embora, muitas vezes, no contexto escolar nem sempre seja levado em consideração pelo poder público, o ambiente de aprendizagem é aspecto importante a ser considerado para alcançar o processo de ensino aprendizagem de qualidade. De acordo com Falvey, Givner e Kimm (1999) o ambiente tem que ser bem preparado, os móveis têm que estar organizados de modo flexível e aconchegante, proporcionando vários espaços para aprendizagem. 58 Fundamentos da Educação Inclusiva É fundamental que os professores levem em consideração equipamentos que algumas crianças utilizam, como as cadeiras de rodas ou computadores. Além de organizar o espaço o professor deve também, ao elaborar o plano de aula, expor nas estratégias o tempo necessário para realização das atividades propostas, ponderando a capacidade do aluno em concretizar as mesmas e, ainda, levar em conta o interesse dos alunos. O planejamento do professor também é enfatizado como elemento essencial para que a inclusão educacional possa ser concretizada. No que se diz respeito ao planejamento Ostetto (2000) defende que ele engloba toda a ação do professor, sendo uma atitude crítica e reflexiva do mesmo. Deste modo, o planejamento deve ser flexível, dando a oportunidade ao educador de pensar e repensar a sua prática pedagógica, pois ele é um instrumento norteador do trabalho docente. O planejamento requer escolha: “o que incluir o que deixar de fora, onde e quando realizar isso ou aquilo. ” (p.178). E para a elaboração do planejamento é essencial uma observação mais prudente da realidade, buscando identificar os interesses, as perguntas e as curiosidades dos alunos. Nesse sentido, para se praticar a política inclusiva, o planejamento tem que envolver todos os alunos, respeitando as suas limitações e interesses na construção do conhecimento. Não fazendo distinção das crianças que são portadores de necessidades especiais, pois o aprendizado se dá na interação, um aprendendo com outro, através de gestos, falas e movimentos. De acordo com Mantoan (2006), é fundamental que compreendamos que as escolas existem para formar novas gerações, não somente para os considerados mais capacitados e privilegiados. Para Carvalho (2006, p.61) deve-se “(...) pensar em todos os alunos, enquanto seres em processo de crescimento e desenvolvimento e, que vivenciam o ensino- aprendizagem segundo suas diferenças individuas”. Nos momentos de planejamento, alémde pensar o espaço e as atividades é essencial que o professor planeje como avaliar seus alunos, pois a avaliação nos permite saber o que o aluno aprendeu, desenvolveu e as suas dificuldades, analisando todo o processo da criança, apontando as lacunas no processo de ensino do professor. Avalia-se não apenas o aluno, mas, sobretudo o trabalho do professor, permitindo-lhe fazer mudanças e correções em sua metodologia. Nesse sentido a avaliação deve ser contínua e de qualidade. De acordo com Fernandes e 59 Fundamentos da Educação Inclusiva Freitas (2007) a avaliação não deve ser tratada como algo isolado, ela deve ser “marcada pela lógica da inclusão, do diálogo, da construção da autonomia, da mediação, da participação, da construção da responsabilidade com o coletivo” (p.20). Percebe-se que os alunos aprendem de variadas formas, em tempos nem sempre tão homogêneos. Nesse caso devemos considerar o que ocorreu no caminho, todo o processo de aprendizagem e não apenas os resultados das tarefas realizadas, pois com o processo podemos perceber o desenvolvimento dos alunos e as suas dificuldades. Dessa maneira podemos perceber que é fundamental a formação caminhar junto com a prática, assim os professores poderão refletir e exercer a sua prática da melhor forma, possibilitando uma educação de qualidade para todos os alunos, não deixando de lado a afetividade, pois somos pessoas constituintes de emoções. A inclusão diante de toda teoria e leis garante o direito à escola, mas se percebe que para isso acontecer e fundamental irmos além, pois é preciso ocorrer várias mudanças, no que concerne a estrutura organizacional e física da escola, da sociedade e da comunidade escolar. Esses resultados devem oferecer uma educação que abarque a todos sem distinção, todos sendo considerados membros do processo educacional. Devendo então os procedimentos educativos ser revisados, avaliações repensadas, tendo como foco principal acolher e atender à diversidade do aluno. Porque os alunos não são iguais, no que refere à aprendizagem, onde cada pessoa se desenvolve de uma forma. Se antes os alunos que adaptavam a escola, agora com a educação inclusiva é a escola que deve se adaptar ao aluno, respeitando as suas limitações e interesses. Pois a ideia de inclusão é muito mais abrangente do que simplesmente inserir uma criança com deficiência ou necessidades educacionais especiais no ensino regular, pois isso é direito de toda e qualquer criança. É importante favorecer a permanência na escola e a convivência de todas. É essencial que os professores busquem ampliar seus conhecimentos, formando continuamente, para garantir a todos um ensino e aprendizagem prazerosa, colocando o seu aluno no centro, respeitando as suas necessidades e as reconhecendo, para melhor elaborar o planejamento e a avaliação. Uma vez que, o educador é condutor de todo o processo de ensino e aprendizagem, organiza, orienta e propõe a cooperação e solidariedade entre os alunos. Lembrando que o 60 Fundamentos da Educação Inclusiva professor exercer a mediação no processo da construção do conhecimento do aluno, não sendo mais um mero transmissor de conteúdos que não condiz com a realidade e necessidades dos educandos. Assista ao vídeo O caso do Colégio Estadual Coronel Pilar - Educação inclusiva na prática Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_KKptdlUXc8 61 Fundamentos da Educação Inclusiva 1. ANALISE AS ASSERTIVAS E ASSINALE C (CERTO) E (ERRADO). I - O currículo pode ser concebido a partir da análise da sociedade contemporânea, frente à questão da inclusão do aluno com necessidades especiais no ensino regular, sendo a deficiência agora concebida como diferença e não mais considerada negação ou déficit da personalidade integral. ( ) II - O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1962, lançou as bases da concepção de Universidade com tríplice função: práticas pedagógicas, docência e extensão, e enfatizou o lugar central da pesquisa. ( ). III - A formação continuada dos professores deve capacitá-los para conhecer melhor o que hoje se sabe a respeito das possibilidades de trabalho pedagógico com crianças com necessidades educacionais especiais, bem como auxiliar as crianças na construção de conhecimento cada vez mais ampliado e significativo acerca do mundo e de si mesmo (OLIVEIRA, 2005). ( ) Em sua opinião quais os principais desafios enfrentados pelo o sistema educacional no que diz respeito à inclusão. 62 Fundamentos da Educação Inclusiva UNIDADE 04 Síndromes e Transtornos Fonte:https://static.alunosonline.uol.com.br/conteudo_legenda/d85ed9c964ca51340eeca73b a8f84187.jpg 63 Fundamentos da Educação Inclusiva Introdução Silveira e Nascimento (2013) listaram algumas das síndromes mais comuns nos casos de inclusão na escola regular. Vamos relacionar algumas das indicadas pelas autoras e outras mais. São inúmeras as síndromes que existem. A escolha que fizemos se deu pelo fato de algum dos sintomas interferir diretamente na aprendizagem do indivíduo. Lembramos que o que temos aqui são informações gerais, a título de conhecimento. Para um diagnóstico preciso e tratamento adequado, é necessária a consulta a um especialista. 4.1 Síndrome de Turner A síndrome de Turner ocorre quando o par de cromossomos X não é normal, podendo apresentar um cromossomo X ausente ou parcialmente ausente. A síndrome de Turner pode causar uma variedade de problemas médicos e de desenvolvimento, incluindo baixa estatura, a incapacidade de iniciar a puberdade, infertilidade, malformações cardíacas, certas dificuldades de aprendizagem e problemas de adaptação social. As crianças com esta síndrome têm baixa estatura, unhas estreitas, tórax largo, alterações cardíacas e ósseas, pouco crescimento mandibular, pescoço alado. Conforme Alves (2012a), devido à deficiência de hormônios femininos, quando adultas, as mulheres com esta síndrome não desenvolvem as características sexuais ao atingir a puberdade, sendo identificadas facilmente: desenvolvimento pequeno e amplamente espaçado das mamas ou mamas ausentes e pelve masculinizada; elas não menstruam e têm pelos pubianos reduzidos ou ausentes. 4.2 Síndrome Klinefelter A síndrome Klinefelter é uma alteração genética rara que afeta apenas os meninos e que surge devido à presença de um cromossomo X extra no par sexual. Esta anomalia cromossômica, caracterizada com XXY, provoca alterações no desenvolvimento físico e cognitivo, gerando características significativas como aumento das mamas, falta de pelos pelo corpo, Alves (2012b, s.p.) afirma: “os 64 Fundamentos da Educação Inclusiva meninos portadores dessa síndrome possuem alguns problemas comportamentais, relacionados à sua baixa autoestima, carência, frustração”, podendo ser “pessoas mais reservadas, com dificuldade de concentração e baixo nível de atividade”. 1. 4.3 Síndrome de Cornélia de Lange Conforme Alves (2012d, s.p.), esta síndrome caracteriza-se por “retardo do crescimento e retardo mental severo, baixa estatura, um choro tipo rosnar baixo, orelhas pequenas, pescoço em cadeia, boca de carpa, ponte nasal diminuída, sobrancelhas atrofiadas se encontrando no meio e malformações das mãos”. Ainda são sintomas: “o atraso de linguagem, deficiência mental, anomalias cardíacas, intestinais, refluxos gastresofágicos (consequentemente, dificuldades de alimentação), problemas visuais e auditivos, falta de sensibilidade à dor ou uma sensibilidade táctil mais acentuada” (ALVES, 2012d, s.p.). Fonte: https://image.slidesharecdn.com/sndromedeturneryklinefelter- 090327180450-phpapp02/95/sndrome-de-turner-y-klinefelter-7-728.jpg?cb=1238177240 65 Fundamentos da Educação Inclusiva 4.4 Síndrome do Triplo X São características desta síndrome, conforme Golçalves (s.d.): menor grau de inteligência, características sexuais e comportamentais femininas, mulheres tendem a ser mais altas, excesso de pele frouxa no pescoço, retardamento mental (grau variável), algumas portadoras são férteis, mas em alguns casos a doença pode causar esterilidade (mesmo assim, podem dar origem a crianças perfeitamente normais). Gonçalves (s.d.) destaca ainda que as crianças que nascem com essa síndrome podem apresentar baixo peso, logo depois do nascimento, mas os demais sintomas não se manifestam claramente nesta época. Segundo Gonçalves (s.d., s.p.), esta síndrome é uma “aberração cromossômica numérica que atinge uma em cerca de 800 a 1.000 mulheres”. Nestes casos, as mulheres apresentam um cromossomo X a mais, totalizando um cariótipo com 47 cromossomos. Conforme o caso, algumas mulheres podem apresentar até quatro ou cinco cromossomos X extras: “quanto mais cromossomos X, maior o índice de retardo mental nessas mulheres” (GONÇALVES, s.d., s.p.). 4.5 Síndrome de West A Síndrome de West é uma condição epiléptica severa, incidente na infância e caracterizada por espasmos musculares, hipsarritmia e retardo mental. Os principais sinais e sintomas da Síndrome de West são espasmos musculares em crises esporádicas, mas às vezes frequentes, que se iniciam de forma súbita, no tronco e/ou nos membros. As contrações são rápidas e a intensidade delas pode variar de um movimento sutil da cabeça até uma contração poderosa de todo o corpo [...]. Somente um pequeno número de crianças com a Síndrome de West tem um desenvolvimento cognitivo normal ou limítrofe. O retardo mental e as alterações psíquicas são comuns em mais de 70% dos pacientes (ABCMED, 2015, s.p.). 4.6 Síndrome de Tourette A Síndrome de Tourette “é um problema neurológico que provoca a realização de movimentos involuntários, frequentes e repetidos, também conhecidos 66 Fundamentos da Educação Inclusiva como tiques, que podem dificultar a realização das atividades diárias” (FRAZÃO, 2016a, s.p). Geralmente, os tiques da Síndrome de Tourette, normalmente, surgem por volta dos três anos com espasmos musculares repetidos e sem finalidade, que evoluem para episódios mais complexos, como dizer determinadas palavras, fazer movimentos bruscos ou gritar, por exemplo. Alguns doentes são capazes de suprimir alguns dos tiques com dificuldade, mas outros apresentam dificuldade para controlar os tiques, especialmente durante situações de estresse emocional. Os sintomas da Síndrome de Tourette surgem repetidamente e são difíceis de controlar. Além disso, podem acontecer durante o sono, evoluir para tiques diferentes ao longo do tempo ou piorar em situações de doença, estresse ou ansiedade [...]. Esta síndrome não tem cura, mas pode ser controlada com o tratamento adequado, com remédios e psicoterapia, por exemplo, permitindo que se tenha uma vida normal (FRAZÃO, 2016a, s.p.). Fonte: https://www.mundoasperger.com/2017/11/trastornos-asociados-al- sindrome-de.html 67 Fundamentos da Educação Inclusiva 4.7 Microcefalia Microcefalia é uma condição neurológica rara em que a cabeça e o cérebro da criança são significativamente menores do que os de outras da mesma idade e sexo. A microcefalia normalmente é diagnosticada no início da vida e é resultado de o cérebro não crescer o suficiente durante a gestação ou após o nascimento. Crianças com microcefalia têm problemas de desenvolvimento. Não há uma cura definitiva para a microcefalia, mas tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e qualidade de vida. A microcefalia pode ser causada por uma série de problemas genéticos ou ambientais. A microcefalia é diagnosticada quando a cabeça da pessoa é significativamente menor do que a de outros da mesma idade e sexo. O perímetro normal da cabeça ao nascer é 32 cm. “A microcefalia normalmente é diagnosticada no começo da vida e é resultado do fato de o cérebro não crescer o suficiente durante a gestação ou após o nascimento” (MINHA VIDA, s.d., s.p.). A maior parte dos casos está concentrada em Pernambuco, com 804 bebês nascidos este ano com a condição, sendo o primeiro Estado a identificar o aumento anormal da incidência de microcefalia no Brasil. Depois de Pernambuco, o segundo estado com maior número de casos é a Paraíba, com 316 notificações, seguido da Bahia com 180, Rio Grande do Norte 106, Sergipe 96, Alagoas 81, Ceará 40, Maranhão 37, Piauí 36, Tocantins 29, Rio de Janeiro 23, Mato Grosso do Sul com nove casos, três em Goiás e um no Distrito Federal. Além do mosquito da dengue, há outras causas de microcefalia: desde infecções virais e uso de certos medicamentos, até condições genéticas (MINHA VIDA, 2015, s.p.). Os sintomas das mães destes bebês estão relacionados a “quadro de febre associado a manchas avermelhadas pelo corpo no início da gravidez, ambos sintomas da infecção pelo zika vírus. As características físicas de bebês com microcefalia também costumam ser parecidas de acordo com a causa da condição” (MINHA VIDA, 2015, s.p). Nos bebês, esta má-formação congênita faz com que o cérebro dos bebês “não se desenvolva de maneira adequada: o perímetro cefálico é menor que o 68 Fundamentos da Educação Inclusiva normal [...]. Ocorre atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e comprometimento de áreas cerebrais responsáveis pela linguagem, aprendizagem e cognição” (RENAN, 2016, s.p.). A Dra. Eunice Higuchi (2014, s.p.) publicou uma série de orientações sobre como tratar crianças com síndromes. Seu enfoque foi a Síndrome de Down, mas as dicas valem para outras situações. Basicamente, ela destaca que as crianças com síndrome, assim como qualquer criança, precisam ser estimuladas desde o nascimento, para que sejam capazes de vencer suas limitações. No caso das que têm necessidades específicas de saúde e aprendizagem, elas “exigem assistência profissional multidisciplinar e atenção especial dos pais. O objetivo deve ser sempre habilitá-las para o convívio e a participação social”. Assim como as outras crianças, “essas também precisam fundamentalmente de carinho, alimentação adequada, cuidados com a saúde e um ambiente acolhedor”. O preconceito e a discriminação são os piores inimigos dos portadores da síndrome. O fato de apresentarem características típicas e algum comprometimento intelectual não significa que tenham menos direitos e necessidades. Cada vez mais, pais, profissionais da saúde e educadores têm lutado contra todas as restrições impostas a essas crianças. É importante ensinar nossos filhos (desde pequenos) a lidar com a Fonte: http://verdadealagoas.com.br/2015/12/07/entenda-o-que-e- microcefalia-e-como-a-fisioterapia-atua/ 69 Fundamentos da Educação Inclusiva diversidade e a melhor forma de fazer isso é sendo um exemplo (HIGUCHI, 2014, s.p.) 4.8 Transtorno do Espectro Autista O Transtorno do Espectro Autista (TEA) refere-se a uma série de condições caracterizadas por desafios com habilidades sociais, comportamentos repetitivos, fala e comunicação não-verbal, bem como por forças e diferenças únicas. Os sinais mais óbvios do Transtorno do Espectro Autista tendem a aparecer entre 2 e 3 anos de idade. Em alguns casos, ele pode ser diagnosticado por volta dos 18 meses. Sabemos agora que não há um autismo, mas muitos tipos, causados por diferentes combinações de influências genéticas e ambientais. O termo “espectro” reflete a ampla variação nos desafios e pontos fortes possuídos por cada pessoa com autismo. Alguns atrasos no desenvolvimento associados ao autismo podem ser identificados e abordadosbem cedo. Recomenda-se que os pais com preocupações busquem uma avaliação sem demora, uma vez que a intervenção precoce pode melhorar os resultados. Autismo clássico: o grau de comprometimento pode variar muito. De maneira geral, os portadores são voltados para si mesmos, não estabelecem contato visual com as pessoas nem com o ambiente; conseguem falar, mas não usam a fala como ferramenta de comunicação. Embora possam entender enunciados simples, têm dificuldade de compreensão e apreendem apenas o Estima-se que 50.000 adolescentes com autismo tornam-se adultos – e perdem serviços de autismo escolarizados – a cada ano. Cerca de um terço das pessoas com autismo permanecem não-verbais. Cerca de um terço das pessoas com autismo têm uma deficiência intelectual. Certos problemas médicos e de saúde mental frequentemente acompanham o autismo. Eles incluem distúrbios gastrointestinais, convulsões, distúrbios do sono, déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade e fobias. 70 Fundamentos da Educação Inclusiva sentido literal das palavras. Não compreendem metáforas nem o duplo sentido. Nas formas mais graves, demonstram ausência completa de qualquer contato interpessoal. São crianças isoladas, que não aprendem a falar, não olham para as outras pessoas nos olhos, não retribuem sorrisos, repetem movimentos estereotipados, sem muito significado ou ficam girando ao redor de si mesmas e apresentam deficiência mental importante. Distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação (DGD- SOE): os portadores são considerados dentro do espectro do autismo (dificuldade de comunicação e de interação social), mas os sintomas não são suficientes para incluí-los em nenhuma das categorias específicas do transtorno, o que torna o diagnóstico muito mais difícil. Apesar de todas essas limitações, quanto, mas incluída a criança estiver, melhor será para ela e para os colegas. No Brasil, a Lei nº 12.764, criada em 2012, estabelece a Política Nacional de Proteção dos Direitos de Pessoa com Transtorno do Espectro Autista: Garante a obrigatoriedade da matrícula em escola regular, a acomodação do ambiente e do currículo escolar, a elaboração de programas de ensino individualizado e o oferecimento de profissionais de apoio para os alunos. Além da boa vontade e da disposição das professoras, os pais devem cobrar da instituição de ensino um trabalho que envolva o acesso da equipe clínica à escola, o treinamento da equipe pedagógica e a orientação aos colegas (e seus familiares) para que as crianças com Transtorno de Espectro Autista possam ter ganhos reais de inclusão (PEREIRA, 2016, s.p). Dica de Filme: O CONTADOR - Chris é um contador excepcional. A vida lhe treinou para que números fossem a sua língua materna, mas também lhe garantiu tiques e manias que o colocaram à margem da vida social. Chris é diagnosticado na infância como portador de autismo. Suas dificuldades são, principalmente, de interação social e de não conformismo quando se torna impossível finalizar qualquer tarefa. O pai militar desdenha da opinião do especialista que indica um tratamento para permitir sua gradativa adequabilidade social. 71 Fundamentos da Educação Inclusiva 4.9 Transtornos específicos de aprendizagem e comportamento A antiga subdivisão de “transtornos de leitura, cálculo, escrita e outros” foi modificada, “especialmente pelo fato de que os indivíduos com esses transtornos frequentemente apresentam déficits em mais de uma esfera de aprendizagem”, garantem Araújo e Neto (2014, p. 72) Para Fontes (s.d., s.p.), “os Transtornos de Aprendizagem compreendem uma inabilidade específica, como leitura, escrita ou matemática, em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para o seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual”. 4.9.1Transtorno da Leitura O Transtorno da Leitura, alternativamente conhecido como dislexia, é um transtorno caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras, problemas de decodificação e dificuldade de ortografia. Dessa forma, pode-se afirmar que se trata de um transtorno específico das habilidades de leitura, que sob nenhuma hipótese está relacionado à idade mental, problemas de acuidade visual ou baixo nível de escolaridade. O DSM-V classifica como critérios diagnósticos para o Transtorno da Leitura: Na dislexia auditiva, nota-se uma dificuldade na discriminação de sons, letras, palavras compostas, memorização de padrões sonoros, instruções, histórias e sequência. Na dislexia visual, nota-se dificuldades em reter sequência visuais, em montar quebra-cabeças, inversão de símbolos e letras e confusão entre palavras e letras. Geralmente estes alunos têm dificuldades na percepção, memória e análise visual. Eles têm dificuldades com rimas e em achar similaridades e diferenças entre as Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá-las). Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (pode ler o texto com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido). 72 Fundamentos da Educação Inclusiva palavras. Normalmente, é detectado na fase de alfabetização, período em que a criança inicia o processo de leitura de texto, devido a dificuldade em aprender o código gráfico. O problema se torna bastante evidente quando o aluno tenta soletrar palavras. Dislexia auditiva – manifesta-se na insuficiência para a diferenciação acústica (sonora ou fonética) dos fonemas e na análise e síntese dos mesmos, ocorrendo omissões, distorções, transposições e substituições de fonemas. Confundem-se os fonemas pela sua semelhança articulatória. Dislexia visual: ocorre quando há imprecisão de coordenação viso-espacial gerando uma confusão de letras com grafia semelhante. Deve ser descartada, inicialmente, problemas oftalmológicos. Dislexia motriz: evidencia-se dificuldades para o movimento ocular com uma nítida limitação do campo visual que atinge o modo de ler. O aluno tem dificuldades em ler palavras desconhecidas. Começa a ler e em seguida começa a adivinhar a palavra procurando dizer qualquer palavra (maltez/talvez, medida/menina, contar/comprar); Erros na escrita por inversões, omissões ou agregação de fonemas ou sílabas (lata/alta, caalo/cavalo, mar/marte) 4.9.2 Transtorno da Matemática As crianças com transtorno da matemática têm dificuldade para aprender e lembrar os numerais, não conseguem lembrar coisas básicas relacionadas a números e são extremamente lentas e imprecisas em cálculos. Por que isso acontece? Assim como em outros transtornos relacionados à aprendizagem, há uma provável influência genética. Alguns teóricos propõem que exista um déficit neurológico no hemisfério cerebral direito, em particular nas áreas do lobo occipital. Como essas regiões são responsáveis pelo processamento de estímulos visuoespaciais, que por sua vez são responsáveis pelas habilidades matemáticas, seria esse um motivo para o desenvolvimento do transtorno. 73 Fundamentos da Educação Inclusiva O professor jamais deve demonstrar impaciência ante a dificuldade exagerada de um aluno na solução de problema matemático. Criança que sofre de discalculia é vítima potencial de bullying e merece ser tratada com respeito por todos da mesma classe. Cabe à professora enfatizar o valor do que é diferente, incentivando o respeito mútuo (FRANK, s.d., s.p.). 4.9.3 Transtorno da Expressão Escrita Seguindo a linha do DSM-V apud Fontes (s.d., s.p.), são critérios diagnósticos do Transtorno da Expressão Escrita: Pode-se definir escritacomo um sistema convencional, arbitrário, de transmissão de informação, isto é, de comunicação. A escrita se constitui na forma de representar conteúdos linguísticos da fala (Santos & Navas, 2002). Existem três sistemas de escrita, a saber: logográfico, silábico e alfabético. O sistema logográfico representa as palavras, os morfemas. Os sistemas silábico e alfabético são considerados fonográficos, já que representam seguimentos fonológicos, como, por exemplo, as sílabas e os fonemas. Para que uma criança aprenda a escrever num país no qual o sistema de escrita utilizado é o alfabético, é fundamental que ela compreenda a noção de fonema, isto é, que “as letras, enquanto símbolos gráficos correspondem a segmentos sonoros que não possuem significados em si mesmos” (Lyon, 1999; Swank, 1999, apud Zorzi, 2003). 4.9.4 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é uma doença neuropsiquiátrica crônica, que se inicia na infância, mas que pode acompanhar o indivíduo ao longo de seu desenvolvimento. Muitos adolescentes e adultos deixam de manifestar os sintomas do TDAH naturalmente conforme se desenvolvem, mas Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (por exemplo: pode adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes). Dificuldades com a expressão escrita (por exemplo: comete múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada de parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza) 74 Fundamentos da Educação Inclusiva cerca de 50% das pessoas com o transtorno continuam manifestando os sintomas do TDAH ao longo da vida adulta. A primeira descrição do TDAH ocorreu há mais de dois séculos, em 1798.4 De lá para cá, as pesquisas e o entendimento sobre o transtorno avançaram de forma significativa, bem como as possibilidades de qualidade de vida e inserção social das pessoas com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, em todas as fases da vida. As causas do TDAH ainda não são completamente compreendidas. Porém, os estudos apontam para a necessidade de uma combinação de fatores ambientais, genéticos e biológicos para a manifestação do TDAH. Fonte: http://anacarlagameleira.com.br/sites/default/files/imagecache/slide/tdahh.png 75 Fundamentos da Educação Inclusiva 1. Qual a diferença de autismo clássico para autismo de alto desempenho. 2. Produza um texto (resumo) discutindo os pontos principais contidos no vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=h4pKKlGESKw Classifique os principais sintomas da Síndrome De West 76 Fundamentos da Educação Inclusiva CARVALHO, Rosita Edler. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre: Mediação, 2000. FLAVEY, Mary, GIVNER, Christine e KIMM, Christina. O que eu farei segunda-feira pela manhã? In: SAINBACK, Susan e STAINBACK, William. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. FREITAS, Soraia Napoleão. 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