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RESUMO AP2 – DIDÁTICA
RESUMO DA AULA 8: OBJETIVOS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO ATUAL DA
PRÁTICA ESCOLAR
A Aula 8 concentra-se na importância e na formulação dos objetivos educacionais e de
ensino, situando essa prática dentro do contexto das relações sociais e da evolução histórica da
educação no Brasil.
I. A Importância e Definição de Objetivos
1. Contexto e Planejamento: A educação se origina no contexto das relações sociais. Com a
complexidade da sociedade capitalista atual, a educação se viu obrigada a se organizar, o que
exige o planejamento de atividades, traçando objetivos e os meios para alcançá-los. O
planejamento busca responder à pergunta: a onde se pretende chegar?.
2. Definição de Objetivo: Objetivo é a especificação do que se está querendo conseguir como
resultado da atividade que será proporcionada ao aluno. Os objetivos são mudanças
esperadas como consequência da ação educacional nas pessoas e grupos sociais, dizendo
respeito ao produto final.
3. Benefícios para o Professor: A formulação dos objetivos ajuda o professor a perceber o que é
importante para o aluno aprender em relação aos conteúdos estudados. Eles possibilitam ao
professor saber o que ele estava proporcionando ao aluno, além de auxiliar no
desenvolvimento de habilidades. Quando o professor não tem clareza de seus objetivos, ele
pode se fixar em aspectos do conteúdo que só proporcionam a memorização.
II. Níveis e Classificação dos Objetivos
Os objetivos são traçados em diferentes níveis:
1. Objetivos Gerais (Amplos): São aqueles que serão alcançados a longo prazo, como ao final
do Ensino Fundamental, de uma série, ou de uma disciplina. Devem estar sempre norteando
as ações didáticas.
2. Objetivos Específicos (Imediatos): São traçados para o curto prazo. São os passos que se dão
para alcançar os objetivos gerais.
3. Relatividade: Um objetivo pode ser geral em uma situação e específico em outra. A
classificação é apenas uma questão do lugar que ele ocupa no plano do professor. Quanto
mais objetivos específicos forem alcançados, mais plenamente se terá chegado ao geral.
Outra Classificação (Domínios de Bloom):
Domínio Foco Habilidades Desenvolvidas Exemplos
Cognitivo
Ligados a
conhecimentos,
informações.
Habilidades de pensamento, como
memorização, compreensão,
aplicação e as mais complexas.
Identificar, diferenciar,
analisar, sintetizar, avaliar.
Afetivo
Relacionados a
sentimentos e
emoções.
Habilidades de sentir, de amar, de
ouvir o outro, de respeitar
opiniões.
Desenvolver o sentimento
de solidariedade, de amor
ao próximo.
Psicomotor
Enfatizam a
coordenação motora.
Habilidades de correr, saltar, nadar.
Nadar de forma
sincronizada.
III. Evolução Histórica e Crítica ao Tecnicismo
1. O Cenário Anterior: Antes, o professor iniciava o planejamento pelos conteúdos, sem
especificar o que os alunos seriam levados a fazer com eles, ignorando as operações mentais
ou atividades práticas a serem utilizadas.
2. Tendência Tecnicista (Anos 70): Com o domínio da tendência tecnicista, o planejamento foi
institucionalizado em bases técnicas. Os objetivos de ensino surgiram entre nós como muito
específicos e operacionalizados, exigindo rigor na formulação.
3. Aspectos Positivos e Crítica: Embora haja muitas críticas ao tecnicismo, ele ajudou os
professores a perceberem seus objetivos em relação aos conteúdos de ensino. Contudo, a
ideia de formular objetivos operacionalmente foi importada dos Estados Unidos para
controlar a atuação das escolas latino-americanas.
4. A Educação no Contexto Atual: Atualmente, busca-se uma educação voltada para a
formação de indivíduos críticos e conscientes de sua participação como cidadãos. Uma
educação para uma sociedade democrática não pode tomar como referência objetivos
simplesmente operacionalizados, pois estes limitam a capacidade de pensar, de criar, de
"voar".
IV. Formulação dos Objetivos e Cuidados Necessários
1. A Proposta Ação-Finalidade (Gandin e Cruz)
A proposta do binômio ação-finalidade sugere:
• O QUE SE VAI FAZER (Ação): Indicação da ação a ser realizada, usando o verbo no
infinitivo, que deve ser limitada, precisa e perfeitamente exequível.
• PARA QUE FAZÊ-LO (Finalidade): Indicação do resultado que se pretende alcançar, a
razão ou o sentido da ação.
• Exemplo: Classificar os seres vivos da natureza (O QUÊ) de forma a poder compreender
como se relacionam e interagem no ecossistema (PARA QUÊ). A inclusão da finalidade é
importante porque nenhum ser humano resiste a uma boa explicação do que terá que
desempenhar.
2. Escolha de Verbos
• Verbos mais amplos (para Objetivos Gerais): Compreender, saber, conscientizar, gostar,
entender, valorizar.
• Verbos de ação de maior especificidade (para Objetivos Específicos): Desenhar, escrever,
definir, citar, identificar, apontar, comparar, analisar.
3. Cuidados na Elaboração
• Foco no Aluno: Os objetivos são os resultados esperados dos alunos ao final do processo, e
não o que o professor vai fazer.
• Clareza e Precisão: Devem ser escritos de maneira clara e precisa.
• Um Comportamento por Vez: O objetivo fica melhor compreendido quando descreve apenas
um comportamento, com a indicação de uma ação.
• Realidade: Devem ter condições reais de serem alcançados pelos alunos.
• Operações Mentais Complexas: Não devem se voltar apenas para a memorização, mas
envolver operações mentais mais complexas, como análise, síntese e avaliação.
• Objetivos Provocativos: Podem oferecer ao aluno um problema bem determinado, mas com
múltiplas possibilidades de solução.
• Abrangência: Não devem se voltar apenas para conhecimentos, mas também para a
formação de valores e para a parte motora.
A importância dos objetivos é inegável, pois eles estão por trás de qualquer decisão ou
ação pedagógica. Torná-los explícitos é o primeiro compromisso que o educador assume com o
educando.
RESUMO DA AULA 8 – COMPLEMENTO: OBJETIVOS EDUCACIONAIS
I. Conceito e Importância dos Objetivos
A seleção dos objetivos de ensino é um elemento fundamental no processo de
planejamento da prática educativa.
1. Definição: Objetivos Educacionais podem ser definidos como os resultados que o educador
espera alcançar por meio de uma ação educativa intencional e sistemática. Os objetivos são
mudanças esperadas como consequência da ação educativa nas pessoas e grupos sociais,
dizendo respeito ao produto final.
2. Compromisso Pedagógico: Não há prática educativa sem objetivos. A explicitação dos
objetivos é o primeiro compromisso que o educador assume, pois orienta a atuação
pedagógica e auxilia na seleção dos meios mais adequados para a realização do trabalho.
II. Contexto Histórico e Crítica ao Tecnicismo
Historicamente, os objetivos de ensino assumiram diferentes formas, influenciadas pelas
Tendências da Educação (Tradicional, Escolanovista e Tecnicista).
1. Ênfase Tecnicista (Década de 70): No Brasil, a partir da década de 70, houve uma grande
ênfase na proposta behaviorista de formulação de objetivos educativos, presente no modelo
pedagógico tecnicista.
2. Características Tecnicistas: Este modelo, cujas raízes remontam ao "taylorismo" nos EUA,
buscava que os objetivos pudessem ser previstos, observados, medidos e comparados. A
escola era vista como uma empresa, primando pela eficiência e fabricando em séries,
aceitando comportamentos esperados e repelindo aqueles que fugiam da previsão.
3. A Crítica: A crítica a essa ênfase exagerada estabelece que a pedagogia tecnicista visa a
mudança direcionada de comportamento, definida com exatidão nos objetivos operacionais.
Tal abordagem corre o risco de tomar os objetivos como suficientes, em vez de vê-los como
o "primeiro passo"por meio
das quais significados são produzidos e compartilhados em um grupo.
Currículo e Cultura
O currículo é visto como uma seleção da cultura. É um conjunto de práticas que
produzem significados e um dispositivo fundamental na construção das identidades sociais e
culturais do estudante.
O Currículo como Espaço de Luta:
O currículo é um terreno onde se processam disputas pela preservação ou superação das
divisões sociais. É um espaço de competição feroz em torno dos significados, onde grupos
dominantes tentam impor sua visão de mundo. O currículo é um local de criação, recriação,
contestação e transgressão.
A Influência dos "Outros Currículos": A pluralidade cultural se reflete na escola,
acirrando o desafio de lidar com as diferenças (classe, gênero, etnia, religião). É importante que a
escola dialogue com os "currículos" vividos em espaços extra-escolares (mídia, clubes), que
muitas vezes promovem valores como consumismo e individualismo.
4. PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE CURRÍCULOS MULTICULTURALMENTE
ORIENTADOS
O objetivo é que os currículos desenvolvidos tornem evidente que as diferenças e
desigualdades não são naturais, mas sim "invenções/construções" históricas que podem ser
transformadas.
4.1. A Necessidade de uma Nova Postura
É fundamental superar o "daltonismo cultural", que é a postura do professor que não
valoriza o "arco-íris de culturas" presente na sala de aula, tratando todos os estudantes como
idênticos e ignorando a diversidade. A ruptura com o daltonismo cultural exige desconstruir e
desnaturalizar estereótipos.
4.2. O Currículo como um Espaço em que se Reescreve o Conhecimento Escolar
É sugerido reescrever o conhecimento escolar usual, considerando diferentes raízes
étnicas e pontos de vista. O currículo deve identificar e subverter os interesses ocultados no
conhecimento "asséptico".
• Deve-se incluir as Histórias das culturas negadas e silenciadas (mulheres, povos
indígenas, negros), evitando um tom "turístico" ou exótico.
• É preciso explorar e confrontar perspectivas, favorecendo a análise lúcida de fatos históricos
controversos (ex: a "descoberta" do Brasil, o golpe de 1964).
• A escola deve ser concebida como um espaço ecológico de cruzamento de culturas,
acolhendo e criticando diferentes saberes e óticas, e superando a tendência
homogeneizadora.
• Trata-se de desafiar a ótica do dominante e de promover o atrito de diferentes abordagens,
permitindo que o aluno compreenda como o conhecimento socialmente valorizado pode ser
reescrito.
4.3. O Currículo como um Espaço em que se Explicita a Ancoragem Social dos Conteúdos
Este princípio envolve desenvolver a capacidade do estudante de perceber a ancoragem
social dos conteúdos, ou seja, como e em que contexto social um dado conhecimento surge e se
difunde.
• Isto questiona a pretensa estabilidade, neutralidade e o caráter aistórico do conhecimento
ocidental.
• Sugere-se, por exemplo, examinar as origens da ciência em culturas não europeias e
discutir os conflitos subjacentes à produção do conhecimento científico.
• Envolve relacionar os conteúdos às experiências culturais dos estudantes e ao mundo
concreto.
• É necessário focar na construção histórica de categorias como raça, nação e sexualidade,
para desafiar seus significados e desestabilizar a forma como o mundo tem sido dividido e
rotulado.
4.4. O Currículo como Espaço de Reconhecimento de Nossas Identidades Culturais
Deve-se promover a tomada de consciência da construção da identidade cultural de
docentes e gestores, superando a visão homogeneizadora e estereotipada da identidade cultural.
4.5. O Currículo como Espaço de Questionamento de Nossas Representações sobre os
“Outros”
As relações entre "nós" e os "outros" são carregadas de dramaticidade, e a forma como
nos situamos é frequentemente etnocêntrica.
Tipologias sobre o "Outro" (Skliar e Duschatzky, 2001):
1. O outro como fonte de todo mal: Visão binária (bons vs. maus), que pode levar à
eliminação física ou à subjugação. Na escola, manifesta-se ao atribuir o fracasso escolar às
características sociais ou étnicas dos alunos.
2. O outro como sujeito pleno de um grupo cultural: Visto como membro de uma cultura
homogênea, abordado de forma genérica e “folclórica” (ex: Dia do Índio).
3. O outro como alguém a tolerar: Admite a existência de diferenças, mas pode levar a uma
posição frágil, impedindo o questionamento de valores opressivos na cultura
contemporânea.
4.6. O Currículo como um Espaço de Crítica Cultural
Sugere-se expandir os conteúdos curriculares para incluir artefatos culturais que
circundam o(a) aluno(a), transformando o currículo em um espaço de crítica cultural.
• Manifestações da cultura popular (músicas, filmes, jogos, anúncios) e da cultura erudita
devem interagir e ser objeto de apreciação e crítica.
• O professor deve atuar como crítico(a) cultural, questionando o que parece natural e
mostrando que a ordem social e os artefatos culturais não são ingênuos, mas incorporam
intenções que mantêm desigualdades.
4.7. O Currículo como um Espaço de Desenvolvimento de Pesquisas
É defendido que o profissional da educação se envolva com estudo e pesquisa sobre sua
prática, sua disciplina, o currículo e a sociedade. O currículo em cada escola deve se tornar um
espaço de pesquisa, despertando nos alunos o espírito de busca e o prazer no aprender.
PLANEJAMENTO E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: DESAFIOS PARA A
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ESCOLA
1. A Relação entre Educação e Sociedade e a Necessidade de Planejamento
O desenvolvimento crescente das sociedades exige que a educação seja repensada
constantemente, levando em conta a sua relação com os objetivos da sociedade vigente. Diante da
complexidade do mundo atual, a escola necessita melhorar sua qualidade e organizar seu trabalho
cotidiano para unir forças e alcançar seus objetivos político-pedagógicos. Isso implica direcionar
esforços para melhorar o ensino e identificar a favor "de quem" e "para quê" seus esforços estão
orientados.
A história do planejamento adquiriu força na sociedade a partir da visão de
organicidade, que surgiu dos ideais individualistas da Revolução Burguesa Francesa (igualdade,
liberdade e fraternidade). Após a Segunda Guerra Mundial, autores como Karl Mannheim
propuseram a filosofia do planejamento democrático como uma forma ideológica de dirigir a
História racionalmente.
2. Conceito e Propósito do Planejamento
O planejamento é uma atividade humana e cotidiana, envolvendo inúmeros projetos
individuais e coletivos. Ele confere aos indivíduos uma concepção de temporalidade e de
"dialeticidade" histórica, apesar do impacto que as estruturas objetivas da sociedade exercem sobre
as pessoas.
Planejar é um ato de reflexão. No contexto escolar, o planejamento é um processo de
reflexão sobre os desafios do cotidiano, incluindo os da sala de aula, buscando o comprometimento
com a transformação da prática.
O planejamento é um recurso teórico-metodológico a serviço do professor. Ele ocorre
em todos os níveis: no nível macro (MEC), no nível meso (sistemas de ensino estadual/municipal)
e no nível micro (escolas e aulas), seja de forma organizada formalmente ou através de ações
combinadas em projetos ou planos. A entrega e o desejo são cruciais na hora de planejar; sem a
clareza do desejo e a entrega a ele, resultados mirrados podem ser construídos apenas pelo esforço
da vontade.
Planejar e fazer planos/projetos ajuda a rever a práxis. Nossas ações cotidianas ganham
mais significado, imprimindo uma perspectiva de futuro e motivação real.
3. Atitudes e Práticas dos Professores Frente ao Planejamento
A insatisfação no trabalho e a faltade controle sobre o próprio fazer, apontadas por
alguns educadores, podem estar relacionadas à atitude diante do planejamento. As posturas dos
professores se dividem em três grupos principais:
1. Otimistas (Idealizados): Acreditam ser possível planejar a todo custo, independentemente
dos determinismos sociais. Adotam práticas idealizadas, muitas vezes numa visão
comportamentalista, supervalorizando os planos e desvinculando-os dos fins educacionais.
2. Pessimistas: Acreditam que tudo está determinado e que o planejamento é inútil ou
meramente burocrático. Não costumam planejar, apostando constantemente na
improvisação.
3. Crentes nas Possibilidades: Admitem o planejamento como um meio auxiliar a serviço do
professor, acreditando num planejamento mais libertador, participativo e crítico. Este
grupo acredita que as contradições das escolas podem ser assumidas por seus segmentos,
gerando mediação e clareza sobre as intenções do grupo.
4. O Projeto Político-Pedagógico (PPP)
Definição e Finalidade do PPP
O desenvolvimento de ações de planejamento e projetos nas instituições escolares
permite aos profissionais responderem às solicitações externas de mudança e também tomarem a
iniciativa de organização. O Projeto Político-Pedagógico (PPP), ou projeto educativo no sentido
lato do termo, é visto como um meio de abrir a escola para sua autonomia e expressão,
contrapondo-se à visão reducionista do planejamento como controle externo.
O PPP é compreendido como o plano global da instituição ou o projeto educativo. É
um instrumento teórico-metodológico que tem como finalidade contribuir para a organização do
conhecimento escolar.
Características e Desafios do PPP
• Participação Coletiva: A construção do PPP deve articular todos os partícipes da realidade
escolar (docentes, discentes e comunidade) para que pensem a singularidade da escola, seus
objetivos e a maneira de operacionalizá-los de forma mais política, crítica e criativa.
• Visão Histórico-Crítica: A proposta é que as discussões teóricas e atividades práticas sobre
o planejamento educacional e o PPP sejam feitas em uma visão histórico-crítica.
• Natureza Política e Inconclusa: Todo projeto pedagógico da escola é também político e,
por isso mesmo, sempre inconcluso, sendo "uma etapa em direção a uma finalidade que
permanece como horizontal da escola”.
• Confronto: O PPP confronta o "instituído" da escola (sua história, currículos, métodos) com
o "instituinte".
• Cultura e Crítica: O autor Demo (1993) afirma que o PPP deve ser cultivado como fonte
de inspiração criativa e crítica, não como um "saber oficial" ou "túmulo de ideias".
Dificuldades na Implementação (A Burocracia)
No cotidiano da rede oficial de ensino, o planejamento (via planos e projetos) muitas
vezes serve mais para cumprir uma função burocrática do que para uma reflexão política sobre
os desafios da realidade.
• Confusão de Níveis: Há uma denúncia de que a maioria das escolas organiza o projeto
pedagógico apenas pela etapa da programação do planejamento, por obrigação, e o
apresenta como se fosse o próprio Projeto Político-Pedagógico ou Plano Global da Escola.
• Priorização Operacional: Muitas instituições iniciam o trabalho de planejamento pelos
planos mais específicos e operacionais (planos de curso ou de aula). Para elas, o registro
formal dos planos é mais importante do que o processo de reflexão conjunta da comunidade
escolar sobre o PPP, falhando na integração dos planos com os fins educativos.
• Falta de Apoio/Tempo: A falta de previsão, no calendário oficial, de dias destinados à
organização dos planejamentos dificulta a articulação e a organização do PPP, levando a
escola a iniciar o ano letivo sem clareza do trabalho a ser desenvolvido. Isso esvazia o
sentido do trabalho pela falta de articulação dos profissionais. O apoio dos órgãos
superiores, conforme sugere a LDB, é necessário para que haja tempo no início do período
letivo para a organização do projeto.
5. Distinções entre Termos
O termo Projeto Político-Pedagógico utilizado no Brasil difere do termo empregado na
Europa, onde alguns países como Portugal o chamam de Projeto do Estabelecimento de Ensino ou
Projeto Educativo. O projeto educativo é a tradução educativa do projeto social, e todo PPP deve
ser, antes de tudo, um projeto educativo.
O PPP também é confundido com o projeto pedagógico (de aprendizagem nas
disciplinas). O projeto pedagógico, na visão de Bieraud (1995), consiste em construir atividades em
função de uma aprendizagem, sendo um projeto interdisciplinar que visa permitir ao aluno adquirir
um certo número de aquisições instrumentais ou de um corpo de conhecimento.
6. O Planejamento na Legislação (LDB 9.394/96)
A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96,
normatiza a importância do planejamento.
• O Artigo 12, Inciso I, propõe que os estabelecimentos de ensino têm o objetivo de elaborar e
executar sua proposta pedagógica.
• O Artigo 13, Incisos II e V, sugere a participação dos docentes na elaboração e no
cumprimento dos planos de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento.
• A LDB também sugere a participação integral dos docentes nos períodos dedicados ao
planejamento.
Quando o PPP é assumido, ele atende aos proclames da Lei em relação à
descentralização e autonomia da escola e seus sistemas de ensino.
7. Implicações para o Docente
A tarefa de planejar integralmente exige dos professores o exercício do trabalho
interdisciplinar, maior envolvimento com a realidade do aluno e a realidade institucional, e mais
tempo para refletir sobre os objetivos, o currículo, os métodos e a avaliação da escola. É
fundamental que os professores assumam criativamente a responsabilidade sobre os rumos de suas
práticas, evitando uma visão fragmentada e distorcida da realidade.
RESUMO DA AULA 14: PLANEJAMENTO ENTRE DETERMINAÇÕES E
PARTICIPAÇÕES NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
1. O Planejamento no Contexto Mundial e Social
A situação mundial recente, marcada por crises constantes, estimulou novas
perspectivas sobre o planejamento científico em diversas áreas, incluindo a educação. O
planejamento pode ser compreendido sob diferentes linhas teóricas: ligado ao processo de produção
(qualidade total); à administração estratégica (para rever fins e garantir melhores resultados com
menor desperdício em momentos de crise); ou ligado à participação, visando a superação da
injustiça social através do envolvimento de todos (planejamento participativo).
Em um mundo com crescentes desigualdades sociais, no qual o desemprego, a miséria e
a exploração se contrapõem aos privilégios de uma minoria, a classe dominante busca firmar seu
projeto de sociedade, inclusive através da educação escolar. A educação, por ser uma atividade
sistemática que atende aos principais interesses dessa sociedade, necessita de organização, e para
isso, é preciso planejar em qualquer um de seus níveis para ter sucesso.
2. O Planejamento como Ato Político e Instrumento de Transformação
O planejamento educacional possui antecedentes longínquos, como em Esparta há 2.500
anos (visando objetivos militares e sociais) e na proposta de Platão em A República (para atender a
lideranças e objetivos políticos de Atenas).
Em seu sentido genérico mais amplo, o planejamento educacional é a aplicação de
análise sistemática e racional ao processo de desenvolvimento educacional com o objetivo de
tornar a educação mais efetiva e eficiente no atendimento às necessidades e metas dos estudantes e
da sociedade.
Caráter Político e Ideológico:
Nenhum planejamento ou planejador é neutro; ele é um instrumento político que
expressa uma intencionalidadesobre os fins que se persegue. O planejamento está ideologicamente
comprometido com uma visão de homem, mundo e sociedade. O enfoque mudou do "como fazer"
para questões como "onde pretendemos chegar", "a quem serve" e "com que finalidade".
O Desejo e a Práxis:
O planejamento exige a explicitação do desejo. É preciso ressignificar a questão do
desejo e do sonho na educação escolar para evitar uma prática mecânica e esvaziada de sentido. A
reflexão sobre os fins e valores deve orientar o planejamento numa nova "forma de fazer história,
não voluntariamente, mas sim, pela práxis revolucionária".
O planejamento também é um tempo para o docente pensar a prática, representando-a
antes de realizá-la, num esquema que propõe uma sequência de atividades, num processo cíclico de
investigação na ação.
3. História e Correntes do Planejamento Escolar no Brasil
1. Enfoque Tradicional: Inicialmente, o planejamento era atrelado à ideia de praticidade,
sendo feito de forma informal (apontamentos, fichas, diários de classe).
2. Corrente Tecnocrática/Comportamentalista (Finais de 1960): O planejamento ganha
força, focado no controle do comportamento dos alunos. Esta corrente atribuía a
responsabilidade pela eficácia e eficiência do processo de ensino-aprendizagem aos meios
tecnológicos e aos especialistas.
3. Planejamento Participativo (Surgimento como Resistência): Surge como forma de
resistência de educadores inconformados com a reprodução do sistema.
O Planejamento Participativo:
• Fundamento: Parte da leitura de que a realidade é injusta devido à falta de participação
em todos os níveis e aspectos da atividade humana.
• Propósito: A instauração da justiça social passa pela participação de todos no poder.
• Horizonte: Propõe uma caminhada nova com o horizonte da participação e da mudança
estrutural para favorecer a fraternidade, a solidariedade, a justiça social e a liberdade.
• Vantagem: Agrega a questão política através da expressão das intenções individuais e
coletivas pelo diálogo, fortalecendo a consciência crítica e o poder na escola.
Componentes Básicos do Planejamento Participativo (Segundo Demo):
1. Formação da consciência crítica e autocrítica na comunidade (fase de auto-diagnóstico),
onde se forma um posicionamento crítico diante da realidade.
2. Formulação de estratégia concreta de enfrentamento dos problemas (partir para a ação),
destacando prioridades e caminhos alternativos.
3. Necessidade de organização (estratégia fundamental dos compromissos democráticos do
grupo) para emergir com capacidade de mudar a seu favor.
4. Etapas do Planejamento (Modelo Abrangente)
Além das etapas comumente tratadas (elaboração, execução e avaliação), outras fases
são consideradas importantes para a organização de qualquer planejamento:
1. Diagnóstico (Sondagem da Realidade): Conhecimento do mundo, da escola, do professor,
da turma, dos alunos, da disciplina e dos recursos. Exige um olhar macro e micro sobre a
realidade, em seus aspectos negativos e positivos.
2. Intencionalidade e Representação da e para a Ação (Idealização): Busca de uma
finalidade, sistematização teórica e previsão do que se pretende fazer. Envolve a construção
de relações entre objetivos-conteúdos-metodologia, seleção de recursos e mecanismos de
avaliação.
3. Realização Prática: Ação concreta, passível de adaptações, envolvendo o empenho ativo e
criativo dos profissionais na implementação das ideias previstas.
4. Acompanhamento (Avaliação de Todas as Etapas): Imprescindível para todas as fases.
Refere-se à avaliação no sentido de controlar desvios, verificar a coerência das ações, e
reformular propostas. Exige o estabelecimento de critérios claros e válidos.
Coerência: É fundamental que o planejamento fortaleça a unidade e a coerência entre suas etapas,
de forma que os discursos do diagnóstico e da intencionalidade estejam coerentes com a realização
prática.
5. Níveis de Abrangência do Planejamento na Educação Escolar
Existem três níveis de planejamento que se complementam:
Nível
Nome do
Planejamento
Abrangência e Características
Macro
Planejamento
Educacional
Nível federal (maior abrangência) ou estadual/municipal. Reflete
políticas educacionais, normatizações legais (Leis, Pareceres,
Resoluções), diretrizes curriculares nacionais (PCNs) e gerenciamento de
recursos.
Meso
Planejamento
Curricular
Nível dos sistemas de ensino (estados e prefeituras). Baseia-se nas
propostas federais (PCNs) ou em Guias Curriculares próprios. A escola
também deve se organizar nesse nível, refletindo sobre as diretrizes
curriculares e sua realidade para definir as experiências de aprendizagem
a serem oferecidas.
Micro
Planejamento
da Escola
Organização coletiva da escola. Envolve a elaboração do Projeto
Político-Pedagógico (PPP) (plano global da instituição, que representa
um grande passo na autonomia pedagógica), projetos interdisciplinares
(visando à integração de fatos e ao enriquecimento nas áreas do
conhecimento), e projetos pedagógicos ou de aprendizagem
(conduzidos por uma disciplina para aprofundamento de um assunto).
Inclui também planos de setores (direção, coordenação, etc.).
Micro
Planejamento
de Ensino
Setor específico do ensino, feito pelos professores. Subdividido em
Planos de Curso e Planos de Aula. Devem ser assumidos como
esquemas flexíveis e devem estar articulados entre si e com o PPP da
escola.
6. Competência Docente e Compromisso Político
O planejamento exige competência técnica. No entanto, a competência técnica não deve
nunca estar dissociada do compromisso político. É este compromisso que exige do educador a
explicação do "para que fazer", "a quem serve" e "de que maneira".
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9.394/96) estimula a
autonomia escolar e a gestão democrática, conclamando os docentes a planejar na escola na
tentativa de superar as formas tecnocráticas e funcionalistas, e de expressar os anseios da
comunidade escolar.
A forma de organizar a sociedade influenciou o planejamento: no passado, era visto
como função do Estado e de modelos tecnocráticos, onde os professores eram apenas executores. O
planejamento participativo surge como fruto da insurreição de educadores, propondo mais
igualdade e participação nas decisões de poder na escola.
Os planejamentos, sejam eles educacional, curricular, da escola ou do ensino, além de
reconhecer a importância das dimensões políticas e técnicas, podem ser elaborados em documentos
formais ou numa ação combinada (via projetos e planos).
RESUMO DA AULA 15 – PLANO DE CURSO: REVENDO CONCEITOS E PRÁTICAS NO
PLANEJAMENTO DE ENSINO
1. Definição e Propósito do Plano de Curso
O Plano de Curso é um instrumento genérico e amplo de previsão das atividades de
ensino de uma disciplina ou área de estudo, durante um período de um curso do professor, ano ou
semestre. Para Celso Vasconcellos, fazer planejamentos é refletir sobre os desafios da realidade da
escola e da sala de aula, perceber as necessidades, re-significar o trabalho, buscar formas de
enfrentamento e comprometer-se com a transformação da prática.
O Plano de Curso é a sistematização da proposta geral de trabalho do professor
naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada realidade.
Vantagens do Plano de Curso:
• Facilita o enriquecimento profissional.
• Firma um compromisso do professor com o aluno, com o currículo e com a escola.
• Dá maior segurança, principalmente aos professores novatos.
• Auxilia na melhor distribuição do conteúdo pelo tempo disponível.
• Permite a previsão de situações e recursos.
• Segundo Gandin (1995), um plano é um instrumento de construção da realidade se tiver a
definição do que se quer alcançar, a indicação da distância a que se está desse ideal, e a
proposta para diminuir esta distância.2. Elementos Indispensáveis para a Elaboração
Para a organização do plano, não se pode desconsiderar o conhecimento do mundo e
do alunado.
Os elementos constitutivos de um Plano de Curso são:
• Objetivos Gerais e Específicos.
• Conteúdos.
• Procedimentos (as estratégias Metodológicas e as Técnicas).
• Recursos Didáticos.
• Avaliação.
Para a organização formal, outros elementos precisam ser considerados:
• Cabeçalho: Contém dados básicos de identificação (nome da escola, professor(es),
turma(s), série(s), período, tempo das aulas e características das turmas).
• Justificativa: Deve considerar as funções sociais e pedagógicas da educação escolar,
apresentando a importância e o papel da matéria para o desenvolvimento do aluno
(conforme Libâneo, 1993).
• Número de Aulas ou número de horas/aulas.
• Bibliografia: Ao final do plano, é relevante sinalizar a Bibliografia utilizada (PCNS, livros
didáticos, páginas eletrônicas, impressos e outros).
Articulação dos Elementos:
No plano, todos os elementos do processo de ensino (objetivos, conteúdos,
procedimentos metodológicos) devem estar articulados, de forma a contribuir para a integração
dentro das séries e de uma série para outra, para não comprometer a formação do aluno.
3. Os Recursos Didáticos e a Mediação da Realidade
Os Recursos Didáticos são todos os meios materiais (físicos, da comunidade, visuais,
auditivos, audiovisuais, digitais) e humanos (professor, alunos, comunidade, profissionais da escola)
que auxiliam no ensino.
O docente utiliza os recursos através da sua intencionalidade no processo de ensino
para mediar a realidade.
A Utilização Adequada dos Recursos:
Os recursos são úteis quando:
• Motivam o interesse do aluno e estimulam a sua concentração.
• Possibilitam uma ponte com a realidade.
• Facilitam a compreensão de noções abstratas e a experimentação concreta.
• Ampliam informações, fixam a aprendizagem e favorecem a construção do conhecimento.
Critérios de Seleção e Cuidados:
Os critérios para seleção dos recursos variam, mas são facilitados por aspectos como:
• Os objetivos pretendidos pelo professor.
• A adequação ao tipo de informação a ser passada.
• A natureza do conteúdo.
• O domínio que o professor tem do recurso.
• A disponibilidade de tempo para organização prévia e utilização.
Cuidados a serem somados:
• Examinar previamente o funcionamento do aparelho.
• Apresentar no momento adequado.
• Verificar as suas possibilidades diante do conteúdo.
• Controlar o tempo de utilização.
• Preparar a turma para a sua utilização.
• Treinar como será utilizado.
4. Práticas e Desafios no Trabalho Escolar
Ainda que algumas Secretarias de Ensino proponham diretrizes curriculares que buscam
uma organização curricular integrada, articulando conceitos e conteúdos horizontal e
verticalmente (num modo mais interdisciplinar), a maioria dos professores e escolas resiste a esta
sugestão. As alegações de resistência incluem dificuldades pessoais, falta de preparo para formalizá-
la por escrito e falta de tempo nas escolas para articular objetivamente todas as áreas do saber.
Por isso, o plano é encontrado mais na forma disciplinar e/ou por séries a partir do
segundo segmento do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Nas primeiras séries, é elaborado por
unidades temáticas ou didáticas, geralmente em pequenos grupos.
Dificuldades e Práticas Não Reflexivas:
• O ato de fazer ou apresentar planos não garante que tenha havido um trabalho sério de
reflexão sobre a prática, nem que o trabalho seja de qualidade.
• Alguns professores recorrem à reprodução de planos de outras instituições, de livros
didáticos, de outros colegas, ou mesmo reproduzem as diretrizes do PCN sem nenhuma
análise crítica diante da realidade.
• Muitos não consultam ou tomam ciência previamente do Projeto Político-Pedagógico da
escola ou das Diretrizes Curriculares.
• Alguns colegas elaboram e entregam o plano por pressão formal e escrita da escola,
mesmo que não o utilizem, ou o fazem antes mesmo de contatar as turmas.
5. O Plano de Curso Integrado (Exemplo de Estruturação)
Uma possibilidade de estruturação sugere que as disciplinas sejam trabalhadas ao
mesmo tempo, e os objetivos alcançados juntos, focando na integração entre as áreas do
conhecimento.
• Avaliação no Exemplo: A avaliação é sugerida como diagnóstica e formativa, baseada na
sondagem, observação diária e acompanhamento em tarefas individuais e em grupos, de
maneira formal e informal, através de exercícios de fixação, participação individual
(responsabilidade, envolvimento, domínio de conteúdo), participação em tarefas de grupo
(sociabilidade) e prova. A autoavaliação também pode ser estimulada.
RESUMO DA AULA 15 – PLANO DE AULA: REVENDO CONCEITOS E PRÁTICAS NO
PLANEJAMENTO DE ENSINO
O Conceito e a Finalidade do Plano de Aula
O plano de aula é um dos planos de ensino que integra o planejamento da escola. Ele
representa um detalhamento do plano de curso, sistematizando os elementos previstos em linhas
gerais para uma situação didática real.
É um meio operacional de trabalho do professor que sistematiza, em uma previsão de
tempo de aula, os conhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar. Este trabalho
deve ser baseado no Projeto Político-Pedagógico da escola. O plano de aula é parte do esforço
geral que a escola empreende. O trabalho de cada professor deve ser guiado pelo que a escola, como
instituição social, deseja alcançar e que está expresso em seu marco referencial.
A importância da sua elaboração reside no fato de que o aprimoramento profissional
depende da acumulação de experiências, conjugando a prática e a reflexão criteriosa sobre ela,
visando uma prática constantemente transformadora para melhor.
Elementos Indispensáveis e Fases da Elaboração
O plano de aula, como todo planejamento, requer reflexões iniciais sobre o mundo em
que vivemos e o aluno que possuímos.
Fases Essenciais do Processo de Ensino (Segundo Libâneo):
O processo de ensino-aprendizagem é composto por uma sequência articulada de
fases, que precisam ser reconhecidas pelos professores, mesmo em tempos de novas tendências
pedagógicas. Libâneo indica as seguintes fases que devem ser consideradas no plano de aula:
1. Preparação e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas.
2. Desenvolvimento da matéria nova.
3. Consolidação (fixação de exercícios, recapitulação, sistematização).
4. Aplicação.
5. Avaliação.
Elementos a serem Especificados no Documento Escrito:
• Cabeçalho: Deve indicar dados de identificação como nome da instituição, do professor(es),
da disciplina, série(s), turma, data e tempo/hora.
• Noção Nova: É preciso especificar se o plano tratará de uma Noção nova ou não.
• Objetivos Específicos: Esta etapa é crucial, pois os objetivos guiarão todos os outros
componentes – os conteúdos, os procedimentos de ensino, os recursos e a avaliação.
Recomenda-se que sejam claros e incluam o QUÊ e o PARA QUÊ (proposta de Gandin).
• Estimativa do Tempo: O tempo é um elemento importante, pois orienta o professor sobre
quais etapas ele poderá se deter mais.
• Bibliografia: Deve apresentar as referências das consultas feitas, como guias curriculares,
livros didáticos, artigos de jornal ou páginas na Internet.
Etapas Gerais para a Organização do Plano de Aula (Segundo Gandin e Cruz):
1. Filosofia da disciplina (que pode ser pensada por vários professores da mesma escola ou
rede de ensino).
2. Diagnóstico da turma de alunos para a qual se está elaborando o plano.
3. Definição de ações, atitudes, de normas para um período de tempo, naquela turma
específica.
O Plano de Aula na Prática Escolar e sua Flexibilidade
O plano de aula, mesmo quando formalmente estruturado, deve ser entendido como umesquema flexível. Essa flexibilidade permite ao professor refletir sobre a prática, organizar
previamente as ações e reformulá-las diante da realidade complexa.
Embora muitas escolas exijam a confecção do plano de aula, muitos professores o
adotam por considerá-lo imediato e próximo do seu fazer diário. A maioria dos professores o
organiza como um simples roteiro para sua própria orientação, fazendo as adequações para várias
turmas durante a própria aula. Contudo, é fundamental que o professor utilize o plano para
aproveitar todas as possibilidades didáticas e auxiliar o aluno na construção do conhecimento.
O professor deve realizar suas próprias escolhas e ponderações, construindo seu
próprio caminho, em vez de seguir modelos prescritivos.
Proposta de Estruturação Detalhada do Plano de Aula em Fases
Uma proposta de estruturação (adaptada das ideias de Libâneo) divide o plano nas
seguintes fases:
1. Cabeçalho.
2. Objetivos Específicos (O QUÊ e PARA QUÊ).
3. Preparação Prévia da Turma (Introdução): Momento de sondagem sobre a realidade e o
conhecimento prévio dos alunos, organização da turma, partilha informal dos objetivos e
proposição de uma situação desafiadora ou incentivadora.
4. Desenvolvimento (Tratamento Didático): Momento onde o conteúdo cognitivo é
explorado (em tópicos e subtópicos). Inclui os Procedimentos e Estratégias para a
concretização dos saberes, detalhando a metodologia, as técnicas e os recursos didáticos.
5. Integração ou Consolidação do Conhecimento: Embora a integração possa ocorrer em
qualquer etapa, é um momento especial para a fixação e sistematização dos saberes através
de revisão, exercícios e tarefas de casa. A sistematização é a forma como o aluno absorve os
conceitos para poder aplicá-los adiante.
6. Aplicação de Conhecimentos, Habilidades e Hábitos: Momento em que os alunos
conseguem transferir os conceitos para outras situações semelhantes ou de vida prática,
demonstrando domínios mais complexos de raciocínio.
7. Avaliação dos Conhecimentos e Habilidades (Encerramento): Deve prever as formas
(informal/diagnóstica, ou formal/conceitos e notas) e os instrumentos para acompanhar o
processo de aprendizagem do aluno. Também deve incluir a avaliação da aula propriamente
dita, para fins de reformulação por parte do professor.
8. Bibliografia.
O plano de aula e o plano de curso são importantes aliados do trabalho docente,
exigindo seriedade, preparo, criatividade e responsabilidade na sua elaboração.
RESUMO DA AULA 16 - COMPLEMENTO: PLANEJAMENTO E PRÁXIS DO
PROFESSOR (CELSO VASCONCELLOS)
I. O Planejamento: Conceito, Propósito e Desafios
O planejamento não deve ser visto como um roteiro de trabalho, mas sim como uma
maneira de orientar o trabalho do professor. Planejar é um aliado do docente, servindo para
"sofrer menos, realizar mais".
A Disciplina Libertadora e o Movimento do Real
A disciplina, no sentido de organização, pode ser libertadora, pois a ausência de
planejamento pode implicar um empobrecimento muito grande da prática do professor. O
planejamento deve acompanhar criticamente o movimento do real. Se o professor planejou usar
um texto e o contexto da sala de aula mudou, ele pode decidir não usá-lo sem problemas, ou guardá-
lo para outra ocasião.
O Risco da Burocratização
Um erro clássico é quando o planejamento se torna um fetiche, algo fechado, definitivo
ou inalterável (uma "camisa de força"). Nesses casos, a percepção concreta dos professores é que
ele serve apenas para controlá-los e cobrá-los, independentemente das condições de trabalho. Um
dos erros mais clássicos é quando o planejamento é feito "para o papel" ou "para o outro" (para
"inglês ver"), apenas para cumprir tabela, o que tira a sua vitalidade e significado.
II. A Autonomia do Professor e a Zona de Autonomia Relativa (ZAR)
O Professor como Sujeito do Processo
O professor tem autonomia para fazer adequações no momento em que o planejamento
é colocado em prática. O professor não deve ser visto como um mero executor, mas sim como o
sujeito do processo de ensino-aprendizagem.
A Seleção e Adequação dos Conteúdos
O professor não é "professor de conteúdo", mas sim "professor de aluno". Os saberes
previstos para uma determinada série (ex: 6º ano de Matemática) entram no processo de
planejamento, inicialmente, como um dado de realidade. O professor, a partir das finalidades que
persegue e dos outros elementos da realidade (como saberes não trabalhados em anos anteriores),
decide o quê e como daquele bloco de conteúdos irá para o Plano de Ação.
Mesmo em um sistema com currículo previamente definido, existe a Zona de
Autonomia Relativa (ZAR) do professor, um grau de liberdade em que ele pode reduzir, ampliar,
modificar a ênfase ou alterar a ordem dos conteúdos, fazendo-se autor do processo educativo.
III. O Diálogo e o Papel da Coordenação Pedagógica
O diálogo, fundamentado em Paulo Freire (educação dialógica), deve ser uma prática
constante na escola, especialmente no momento do planejamento.
Atuação do Coordenador Pedagógico
A coordenação pedagógica, além de ouvir o coletivo (na Hora Atividade, Reunião
Pedagógica ou ATPC/HTPC), deve buscar um diálogo mais personalizado com professores em
grupos menores ou individualmente, usando uma estrutura aberta para perceber elementos que não
afloram no coletivo.
O coordenador pedagógico, numa perspectiva libertadora, deve atuar como intelectual
orgânico, percebendo as necessidades e os desejos do grupo e devolvendo-os para que o coletivo
busque alternativas de superação. O coordenador que centraliza e "puxa tudo para si" (o papel do
"líder nato") infantiliza os professores, e a responsabilidade pelo fracasso recai somente sobre ele.
IV. As Três Dimensões Essenciais do Planejamento
Em qualquer processo de planejamento, é necessário contemplar três dimensões
absolutamente essenciais:
1. Análise da Realidade.
2. Projeção de Finalidade (ou Finalidade).
3. Formas de Mediação (ou Plano de Ação).
A Dialética e o Déficit Utópico
Essas três dimensões interagem dialeticamente, exigindo e negando-se
simultaneamente; não se trata de esgotar uma totalmente antes de partir para a próxima, mas de
retomar, rever e reformular constantemente.
Em muitas escolas e práticas de sala de aula, há um déficit utópico, onde as pessoas se
envolvem demais com o Diagnóstico (Análise da Realidade) e a Programação (Plano de Ação), mas
negligenciam a dimensão do grande sonho ou da finalidade do trabalho. A retomada dos grandes
sonhos, utopias e valores é fundamental para energizar e dinamizar o planejamento.
V. Critérios de Sucesso e a Função Social do Planejamento
Critérios de Sucesso do PPP
Pensando no Projeto Político-Pedagógico (PPP), o sucesso do planejamento depende de
dois critérios:
1. Qualidade Formal: Ter um instrumental bem fundamentado, evitando trabalhar com
ferramentas inadequadas.
2. Qualidade Política: Participação. O princípio básico é que "planeja quem faz"; no âmbito
da escola, isso envolve a participação de toda a comunidade escolar, e no âmbito da sala de
aula, a participação efetiva do professor e dos alunos.
A Necessidade do Rigor
A educação pode ser mal feita e, em um sentido tácito, as pessoas sempre planejam. No
entanto, sem um planejamento rigoroso, a escola não atinge seus objetivos maiores, não cumpre
sua função social e não propicia a aprendizagem efetiva, o desenvolvimento humano pleno e a
alegria crítica (docta gaudium) de seus educandos. É uma tarefa do professor e da escola saber para
que existem e o que estão fazendo. O planejamento é uma forma de o professor se (re)apropriar
do trabalho e retomar sua autoria.
VI. Avaliação e o Final do Ano Letivo
O final do ano letivo é um momento quesugere planejar ações e repensar a escola. É um
tempo privilegiado para iniciar um processo de avaliação geral (avaliação de conjunto).
A avaliação deve ocorrer em três campos:
1. Avaliação da instituição (do Projeto Político-Pedagógico no seu conjunto, incluindo Marco
Referencial, Diagnóstico e Programação).
2. Avaliação didática (do trabalho do professor em sala de aula).
3. Avaliação pessoal (do professor).
Este momento de avaliação, que acontece enquanto as coisas ainda estão "fervilhando"
(antes das férias), é o ponto básico para desencadear os procedimentos de planejamento do
próximo ano, pois implica a atualização do diagnóstico da instituição.
VII. Conhecimento da Realidade dos Alunos
Na dimensão da Análise da Realidade, conhecer a realidade dos alunos não significa
necessariamente conhecer cada aluno em profundidade (o que pode ser inviável devido ao grande
número de alunos, especialmente no Fundamental II e Ensino Médio, e à complexidade dos dramas
existenciais).
O conhecimento da realidade deve seguir a dialética entre o Universal, o Particular e
o Singular:
• Ter conhecimento universal/geral (do ser humano e dos alunos).
• Ter conhecimento particular (daquela comunidade, daquela classe).
• Aprofundar para o conhecimento singular apenas quando necessário, por exemplo, quando
um aluno apresenta uma dificuldade específica na aprendizagem ou disciplina.
RESUMO DA AULA 17: REVENDO CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DA AVALIAÇÃO
EDUCACIONAL: ENTRE ‘IDAS E VINDAS’
1. O CONCEITO, O PROPÓSITO E O CONTEXTO DA AVALIAÇÃO
O estudo da avaliação está presente em todas as áreas da atividade humana, formal ou
informal. O termo avaliar tem origem no latim a-valere, que significa ‘dar valor a’.
O Contexto Político-Social da Avaliação:
A avaliação educacional é um ato amoroso, mas a sociedade na qual é praticada não é,
e, por isso, a sociedade prevalece sobre a avaliação. Qualquer postura ou prática adotada na
avaliação está “a serviço de uma pedagogia dominante que, por sua vez, serve a um modelo
social dominante”.
• A avaliação deve acolher a situação existente para ser modificada, e nela, “não há
exclusão”.
• A principal preocupação na prática escolar gira em torno do fracasso escolar e da busca da
qualidade no ensino.
• A avaliação abrange diversos níveis de decisão: macro (órgãos internacionais, governos),
meso (secretarias de ensino) e micro (escola e sala de aula).
2. A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA AVALIAÇÃO
O caminho da avaliação se manifestou historicamente como:
• Instrumento de Seleção Extra-escolar: Práticas chinesas no século II a.C., onde o
imperador Shun examinava oficiais para promovê-los ou demiti-los.
• Prática Educativa: Cristalizou-se na universidade medieval através da disputatio
(exposição de um aluno com seus professores).
• Exame Qualitativo: Os jesuítas, por volta de 1600, utilizavam o exame oral com base em
emulações.
• Exame Escrito Formal: Por volta de 1800, surgiu o exame escrito formal com atribuição de
notas, com viés mais quantitativo.
• Apogeu do Exame no Capitalismo: Os exames tradicionais, visando a certificação, tiveram
seu apogeu no século XIX, quando a burguesia, ao assumir o poder, substituiu os privilégios
de família e fortuna pela competência alcançada mediante o estudo.
3. MATRIZES EPISTEMOLÓGICAS E TIPOS DE AVALIAÇÃO
As práticas avaliativas estiveram atreladas a modelos teórico-metodológicos
importados, sendo explicadas por Franco (1995) através de matrizes epistemológicas: objetivismo,
subjetivismo e, posteriormente, o vínculo indivíduo-sociedade.
A Visão Objetivista (Modalidade Tradicional/Mensuração):
• Influenciada pela Psicologia experimental e pelo positivismo, acreditava na neutralidade
científica e na separação entre o sujeito que conhece e o objeto.
• Foco no fato objetivo que pode ser observado e medido, sem subjetividades.
• Supervalorizava a mensuração quantitativa através de exames, certificações e testes.
• A avaliação, nessa fase, era vista como mensuração (o professor como técnico na
elaboração de testes e provas).
A Abordagem Subjetivista (Modalidade Normativa/Seleção):
• Surgiu com a influência dos estudos genéticos e testes de inteligência (como o de Binet e
Simon, 1905).
• O sujeito que conhece tem predominância sobre o objeto, que é determinado por suas
vivências e valores.
• Foco em dados qualitativos, priorizando a interação professor-aluno.
• Contribuições: Estudo da afetividade e condições emocionais; propôs a autoavaliação;
introduziu instrumentos com questões abertas e discursivas.
• Avaliação Normativa: Presume que as diferenças individuais se distribuem pela curva
normal de Gauss; toma como referência a comparação das realizações entre os sujeitos do
mesmo grupo, sendo intrinsecamente seletiva e competitiva.
4. O PARADIGMA POR OBJETIVOS E AS FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO
Tyler (década de 1930) desenvolveu estudos sobre a avaliação da aprendizagem e
defendia a avaliação por objetivos para verificar se os fins educacionais estavam sendo atingidos.
Bloom (1971) reforçou essa visão, defendendo a pedagogia do domínio da
aprendizagem e distinguindo três tipos de avaliação segundo suas funções:
1. Avaliação Diagnóstica: Visa a preparar o aluno para iniciar a aprendizagem. Colhe dados
para descrever, classificar e determinar o valor do comportamento do aluno com vistas à sua
preparação. (Luckesi defende que sua função ontológica é ser um instrumento de
compreensão do estágio do aluno para tomar decisões que o façam avançar).
2. Avaliação Formativa: Visa a ajudar e orientar o aluno no decorrer da aprendizagem.
3. Avaliação Certificatória (Somativa ou Classificatória): É um processo de controle final
sobre o domínio dos conhecimentos atingidos, tendo em vista um resultado.
5. OUTRAS MODALIDADES E AVALIAÇÃO CRITERIAL
Avaliação Criterial:
Surgiu influenciada pela corrente tecnicista. Sua principal característica é a apreciação
dos objetivos alcançados em função das realizações individuais de cada aluno, e não em
comparação com outros. É uma modalidade que dá garantias de que são realizadas a transmissão e
a aprendizagem das competências mínimas necessárias ao mundo do trabalho, permitindo maior
controle central por parte do Estado.
Avaliação Formativa:
Posteriormente, a avaliação formativa surge valorizando os processos de conhecer e o
julgamento de valor.
• É uma modalidade muito ampla, com consenso na ideia de ‘acolhimento’.
• Não deve ser utilizada para outros fins que não sejam melhorar o ensino e a
aprendizagem.
• Utiliza uma pluralidade de métodos e técnicas como observação, autoavaliação, entrevista
e portfólios.
• É crucial para garantir a igualdade de oportunidades na escola básica.
• Não é ingênua: como forma contínua, pode imprimir um excesso de controle sobre os
alunos e se tornar mais opressora que a tradicional.
6. AVALIAÇÃO COMO JUÍZO DE VALOR E O VÍNCULO INDIVÍDUO-SOCIEDADE
O Sentido de Julgamento de Valor:
A avaliação adotou o sentido de julgamento de valor. Segundo Luckesi, o julgamento
de valor é:
1. Um juízo de valor (afirmação qualitativa) sobre um dado objeto, a partir de critérios
estabelecidos.
2. Baseado nos caracteres relevantes da realidade, emergindo de indicadores da realidade
(não é inteiramente subjetivo).
3. Conduz a uma tomada de decisão e posicionamento, sendo um ato de “não-indiferença”.
O Vínculo Indivíduo-Sociedade:
Essa abordagem surge no final dos anos 1970, superando as teorias reprodutivistas que
geraram imobilismo.
• A educação deve investigar o aluno como sujeito interacionando com o objeto do
conhecimento, não isolado da realidade social.
• A avaliação deve ser repensada a partir da realidade social para "explorar as brechas" que
abrem caminho para as rupturase mudanças.
• O professor deve informar sua intencionalidade ao aluno, para que o discente perceba o
sentido da tarefa de avaliar.
• Autores progressistas defendem a avaliação como inclusiva, mediadora (Hoffman),
emancipatória (Saul) e que promova a participação democrática (Luckesi).
• A Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDB 9.394/96) aponta que a avaliação deve ser um
“processo contínuo e cumulativo” com “prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos”.
7. A LÓGICA DO ABSURDO E O COMPROMISSO ÉTICO
A prática escolar ainda apresenta queixas sobre o excesso de poder, autoritarismo,
arbitrariedades e punições na avaliação.
A Lógica do Absurdo:
Muitos profissionais avaliam "por avaliar" ou se distanciam do seu compromisso
político de garantir a qualidade da aprendizagem.
• Desconsideram o ‘erro’, vendo-o como repugnante ou inadmissível, numa postura de
preconceito. O erro é decorrente de um padrão estabelecido.
• Muitos optam por não apostar no aluno, focando mais nos aspectos negativos ("o que ele
não fez") do que no processo de construção e nas dificuldades transpostas.
• Muitos não se preocupam em discutir os critérios avaliativos com as turmas (o ato de
negociação).
O Compromisso Ético:
A avaliação exige que professores e partícipes assumam a responsabilidade pela
democratização do acesso ao conhecimento. A avaliação, quando responsável, amorosa,
formativa e dialética, resgata a autoestima dos alunos; quando não, cria alienados e alimenta a
exclusão.
RESUMO DA AULA 18: A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO COTIDIANO
ESCOLAR
Introdução e Responsabilidade no Ato Avaliativo
O ato avaliativo está presente em todo empreendimento humano, sendo um julgamento
baseado em nossos valores e critérios próprios. O resultado da avaliação da aprendizagem tem um
significado muito importante na formação da autoestima dos alunos. A representação social da
avaliação é, geralmente, de classificação (bom aluno, mau aluno, inteligente), o que exige esforço
para ser desfeito.
É fundamental lembrar que o professor avalia sempre evidências da aprendizagem e
nunca a aprendizagem em si, pois esta é um processo individual que ocorre no interior do
organismo do indivíduo que aprende. Para uma avaliação responsável, o professor deve partir das
seguintes questões:
1. Para que Avaliar?
A avaliação deve ser feita a partir de uma proposta de educação clara que dê norte às
ações. O propósito da avaliação deve ser definido no Projeto Político-Pedagógico (PPP) da
escola.
A avaliação pode ter como objetivo domesticar os educandos ou humanizá-los.
Luckesi (1995) define:
• Domesticar: Significa enquadrar os estudantes na sociedade vigente.
• Humanizar: Significa possibilitar ao educando ser sujeito desse processo e não objeto de
ajustamento.
2. O que Avaliar? (Critérios e Padrões)
O que deve ser avaliado é o que se considera relevante e indispensável – o critério. O
critério é o referencial segundo o qual a avaliação será realizada (Ex: domínio das quatro operações
matemáticas, participação, capacidade de crítica).
Para avaliar os critérios, os professores precisam definir os padrões. Padrão é um
ponto de referência a partir do qual o professor avalia. Os padrões demonstram os níveis de
domínio em relação aos critérios (Ex: Padrão 1: Resolve os problemas apresentados com somente
três operações; Padrão 3: Não se coloca diante das situações que pedem julgamento).
3. Quando Avaliar? (O Sentido Ontológico)
A avaliação é um ato contínuo e constante, que deve ocorrer no início, durante e ao
final do processo de ensinar e aprender.
O sentido ontológico (essência constitutiva) da avaliação é o diagnóstico. Avalia-se
para entender que rumo tomar, pois a avaliação é um meio e não um fim (LUCKESI, 1995). O
ato de avaliar implica dois processos articulados e indissociáveis: diagnosticar e decidir
(LUCKESI, 2000).
• No início: Avaliação para diagnosticar se o aluno domina os pré-requisitos.
• Durante (Avaliação Formativa): O objetivo é tomar decisões no sentido de orientar o
estudante para a consecução dos objetivos pretendidos.
• Ao final (Avaliação Certificatória ou Somativa): Visa classificar o aluno num final de
período, unidade ou ano letivo.
4. Como Avaliar? (Procedimentos e Instrumentos)
O "como avaliar" refere-se aos procedimentos e instrumentos utilizados.
Procedimentos de Avaliação Instrumentos de Avaliação
Observação Fichas de observação; diários de classe; relatórios
Auto-avaliação Fichas de observação; portfólio
Aplicação de provas ou testagem Provas: orais, escritas e práticas
4.1. A Observação
A observação pode ser realizada de maneira formal (feita numa situação planejada com
ficha organizada) ou informal (feita sem planejamento prévio).
• Observação Formal: Pode ocorrer em um trabalho de grupo, sendo oportuna para observar
o nível de participação. Os padrões de participação devem ser discutidos e decididos com os
alunos.
• Registros: A observação informal de fatos relevantes pode ser registrada em um anedotário
(caderno, usado antigamente, para registrar positivo e negativo, sem impressões) ou no
diário de classe. Ao final, o professor registra suas conclusões em um relatório, forma
comum na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
4.2. Auto-avaliação
Os alunos devem ser estimulados a se auto-avaliarem desde os primeiros anos. O aluno
só pode avançar ao perceber onde estão suas amarras. A auto-avaliação deve ser coerente com
seus acertos e erros e não ter como foco apenas o "passar de ano". O estudante aprende a se avaliar
discutindo suas conclusões com o professor e colegas, reconhecendo critérios e padrões.
4.3. A Elaboração de Provas ou Testagem
As provas são importantes instrumentos de medida.
• Provas Orais: Podem ser de arguição (individual) ou discussão (em grupo).
• Provas Práticas: O aluno executa uma tarefa (Ex: experimentação).
• Provas Escritas Objetivas: Mais fáceis de corrigir e utilizadas para abranger maior
conteúdo e quando o número de alunos é grande. Facilitam memorização, interpretação e
análise, mas podem limitar a expressão do raciocínio do aluno e não são adequadas para fins
de síntese e aplicação. Tipos incluem: Lacuna, Verdadeiro-falso, Associação, Múltipla-
escolha, entre outros, cada um com cuidados específicos de elaboração.
• Provas Escritas Discursivas: Permitem respostas livres, verificam a capacidade de
argumentação e organização de ideias, e são ideais para avaliar síntese e avaliação. Estão
mais sujeitas ao julgamento e critérios pessoais do avaliador.
Requisitos e Critérios de Qualidade das Provas:
Todas as provas devem atender aos critérios de:
• Validade: Medir o que realmente se pretendia medir.
• Precisão: Medir de maneira coerente e estável.
• Fidedignidade: Não variar conforme a pessoa que será submetida a ela ou quem a irá julgar.
• Aplicabilidade: Ser adequada ao grupo e simples no julgamento (custo e tempo).
A Prova Operatória (Prova Inteligente)
Proposta por Ronca e Terzi, é baseada na teoria de Piaget, que foca no agir de quem
aprende.
• Propósito: Rompe com a forma clássica de perguntas e respostas (o ciclo maniqueísta do
certo/errado). Deve ser contextualizada (leitor-contexto, via texto), exigindo que os jovens
percebam o envolvimento histórico e social do tema.
• Estrutura Sugerida:
1. 1ª Parte: Questão mais ampla e aberta, utilizando redação coloquial e contexto (Ex:
artigos de jornais).
2. 2ª Parte: Perguntas mais simples e pequenas, focando em pré-requisitos específicos
(Ex: exercitar a memória).
3. 3ª Parte (Problemas): Mais complexos, de amplo alcance, exigindo respostas mais
elaboradas e o uso de palavras operatórias (Ex: analise, classifique, justifique,
interprete).Cuidados na Aplicação e Devolução dos Resultados
Na Aplicação: Vasconcellos (1995) alerta para que a avaliação seja uma atividade
constante (formativa) para que seja vivenciada de modo natural, sem rituais especiais ("semana de
prova"). Deve-se diminuir a ênfase na prova e diversificar as formas de avaliação (trabalhos de
pesquisa, em grupo).
Na Correção e Devolução: Evitar a correção com caneta ou lápis vermelho, devido à
sua representação social negativa. O professor deve entregar a prova pessoalmente a cada aluno,
comentando os resultados e esclarecendo dúvidas para ajudá-lo a entender seu processo pessoal de
estudo e desenvolvimento.
O Posicionamento do Professor Diante do Erro: O professor deve organizar ações
para recuperar o que não foi bem aprendido (grupos de estudo, nova explicação, estudos dirigidos).
O erro faz parte da aprendizagem, revelando "como o educando está pensando", permitindo que o
professor o ajude a superar suas hipóteses.
O Conselho de Classe (COC)
O Conselho de Classe é um momento em que os docentes trocam informações sobre os
alunos e concluem suas avaliações, sendo guiado pelos critérios do Projeto Político-Pedagógico.
O COC é uma importante estratégia na busca por alternativas para a superação de problemas
pedagógicos, comunitários e administrativos.
Expressão dos Resultados (Ponto de Corte)
Para expressar o resultado (por notas ou conceitos), o mais importante é o
estabelecimento do “ponto de corte”. O ponto de corte é o nível em que o aluno atinge o mínimo
indispensável em relação aos critérios estabelecidos pela escola.
Resumo Final da Aula (Síntese)
A avaliação da aprendizagem deve ser um processo constante e contínuo. Os critérios
definem o que será considerado, e os padrões são os pontos de referência para avaliar os níveis de
domínio. Os procedimentos são observação, auto-avaliação e testagem (provas). A prova
operatória (Ronca e Terzi) integra questões objetivas e discursivas, focando na contextualização.
Todas as provas devem exigir níveis mais complexos de raciocínio e atender aos critérios de
validade, precisão, fidedignidade e aplicabilidade. A partir dos resultados, o professor deve
selecionar estratégias de recuperação.
RESUMO DA AULA 8: OBJETIVOS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO ATUAL DA PRÁTICA ESCOLAR
I. A Importância e Definição de Objetivos
II. Níveis e Classificação dos Objetivos
III. Evolução Histórica e Crítica ao Tecnicismo
IV. Formulação dos Objetivos e Cuidados Necessários
1. A Proposta Ação-Finalidade (Gandin e Cruz)
2. Escolha de Verbos
3. Cuidados na Elaboração
RESUMO DA AULA 8 – COMPLEMENTO: OBJETIVOS EDUCACIONAIS
I. Conceito e Importância dos Objetivos
II. Contexto Histórico e Crítica ao Tecnicismo
III. Referências para a Formulação Crítica dos Objetivos
IV. Níveis de Objetivos Educacionais
1. Objetivos Gerais
2. Objetivos Específicos
3. Orientações e Cuidados na Formulação Específica
4. Funções dos Objetivos Específicos (Para o Professor)
V. Seis Objetivos Educacionais Gerais (Segundo Libâneo, 1991)
RESUMO DA AULA 9: OS CONTEÚDOS NECESSÁRIOS AO ATO DE ENSINAR
1. Definição e Natureza do Conteúdo
2. Categorização dos Conteúdos de Ensino
3. Tipos de Conhecimento
4. Seleção dos Conteúdos de Ensino
5. Organização dos Conteúdos
A. Eixo Vertical (Sequência e Continuidade)
B. Eixo Horizontal (Integração e Interdisciplinaridade)
RESUMO DA AULA 9 – COMPLEMENTO: TIPOLOGIA E FUNÇÃO DOS CONTEÚDOS
1. Definição Geral de Conteúdos
2. Conteúdos Conceituais (O que é preciso "Saber")
3. Conteúdos Procedimentais ("Saber Fazer")
4. Conteúdos Atitudinais ("Ser")
RESUMO DA AULA 10: ORGANIZANDO O ENSINO
1. O Novo Contexto do Ensino na Sociedade da Informação
2. Conceitos Fundamentais: Método, Técnica e Procedimento
A. Método
B. Classificação dos Métodos de Ensino
C. Técnica
D. Procedimento de Ensino
E. Metodologia
3. A Escolha e a Realidade da Prática Docente
AULA 10 – COMPLEMENTO: ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM E O CONHECIMENTO DO PROFESSOR
1. Estratégias de Aprendizagem (EAs)
2. Aprender a Aprender
3. O Professor e as Estratégias de Aprendizagem (Resultados da Pesquisa)
4. Implicações para a Formação Docente
AULA 11: PRINCIPAIS MÉTODOS DE ENSINO: REVENDO CONCEITOS E ATUALIDADE
1. Conceitos Fundamentais
2. Métodos Ativos e o Contexto Atual
3. O Método de Projetos
4. O Centro de Interesse
5. O Método das Unidades de Experiência
6. A Influência do Estilo Digital e a Prática Docente
AULA 11 – COMPLEMENTO: PEDAGOGIA DE PROJETOS E INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS
1. Introdução e Perspectiva Construtivista
2. Conceito e Natureza do Projeto
3. O Papel e a Mediação do Professor
4. Autoria e Articulação de Projetos
5. Integração de Conteúdos e Mídias
6. Desafios e Formação Docentepara estudar a ação que o processo de ensino tem que desenvolver. Uma
psicologia que descreve o ser humano como algo estático não pode ajudar os educadores a
estabelecerem uma metodologia pedagógica eficaz.
III. Referências para a Formulação Crítica dos Objetivos
A prática educativa é socialmente determinada, respondendo a exigências e expectativas
de grupos e classes sociais, cujos propósitos podem ser antagônicos. Os objetivos educacionais,
portanto, expressam propósitos definidos e explícitos para o desenvolvimento das qualidades
humanas necessárias para as lutas sociais de transformação da sociedade.
Três referências principais devem guiar a formulação dos objetivos educacionais:
1. Os valores e ideais proclamados na legislação educacional (que expressam os propósitos das
forças políticas dominantes).
2. Os conteúdos básicos das ciências (produzidos e elaborados na prática social).
3. As necessidades e expectativas de formação cultural exigidas pela população majoritária da
sociedade.
O professor deve realizar uma avaliação crítica dessas referências, pois elas estão
interligadas e sujeitas a contradições (ex: conteúdos escolares podem ser usados para disseminar
ideologias minoritárias). Os professores que não se posicionam de forma consciente e crítica
acabam repassando concepções contrárias aos interesses da população majoritária.
IV. Níveis de Objetivos Educacionais
Os objetivos são divididos em dois níveis de abrangência:
1. Objetivos Gerais
• Definição: Expressam propósitos mais amplos acerca do papel da escola e do ensino, e do
desenvolvimento da personalidade dos alunos. São alcançados a longo prazo e definem as
perspectivas da prática educativa.
• Níveis de Abrangência: Os objetivos gerais são explicitados em três níveis, do mais amplo
ao mais específico:
• Pelo sistema escolar (finalidades educativas de acordo com ideais dominantes) [17a].
• Pela escola (princípios e diretrizes no Projeto Político Pedagógico - PPP) [17b].
• Pelo professor (que concretiza no ensino da matéria sua própria visão de educação e
sociedade) [17c].
• Reavaliação: O professor deve reavaliar os objetivos e conteúdos previstos no programa
oficial em função de objetivos sociopolíticos que expressem os interesses do povo, das
condições locais da escola e da problemática social dos alunos.
2. Objetivos Específicos
• Definição: Determinam exigências e resultados esperados da atividade dos alunos, referentes
a conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Norteiam, de forma mais direta, o
processo ensino-aprendizagem.
• Resultados Esperados: Devem expressar resultados atingíveis por todos os alunos ao final de
uma unidade, podendo ser:
• Conhecimentos (conceitos, fatos, teorias).
• Habilidades (aplicar fórmulas, observar, raciocinar, formular hipóteses).
• Atitudes, Convicções e Valores (consciência crítica, solidariedade, responsabilidade).
3. Orientações e Cuidados na Formulação Específica
• Redação: Devem ser redigidos com clareza e realidade, expressando o que o aluno deve
aprender e os resultados possíveis de serem alcançados.
• Verbos: Devem ser utilizados verbos que indiquem a ação ou operação que se espera dos
alunos sem margem de dúvidas, como apontar, localizar, desenhar, classificar, utilizar.
Podem se referir a operações mentais simples (definir, listar) ou complexas (comparar,
analisar, justificar).
• Objetivos Formativos: Embora essenciais (referentes a atitudes, convicções e valores), eles
não são alcançáveis de imediato e sua comprovação não pode ser constatada objetivamente.
4. Funções dos Objetivos Específicos (Para o Professor)
Os objetivos específicos auxiliam o professor a:
• Definir os conteúdos e habilidades a serem desenvolvidas.
• Estabelecer os procedimentos de ensino e selecionar as atividades relevantes.
• Determinar o que e como avaliar (conteúdo e instrumentos).
• Fixar padrões e critérios para avaliar o próprio trabalho docente (autoavaliação e
replanejamento).
• Comunicar seus propósitos de ensino aos alunos, pais e outros educadores.
V. Seis Objetivos Educacionais Gerais (Segundo Libâneo, 1991)
Libâneo (1991) propõe objetivos gerais que servem de orientação para o professor na
avaliação crítica do programa oficial:
1. Democratização da Sociedade: Colocar a educação escolar no conjunto das lutas pela
democratização, buscando a ativa participação de todos na direção da sociedade.
2. Sólida Preparação Cultural e Científica: Garantir a todas as crianças, sem discriminação,
uma preparação que lhes possibilite compreender, usufruir ou transformar a realidade.
3. Desenvolvimento Máximo de Potencialidades: Assegurar o desenvolvimento das
potencialidades, visando a superação das desvantagens decorrentes das condições
socioeconômicas.
4. Capacidade Crítica e Criativa: Formar nos alunos a capacidade crítica e criativa em relação
às matérias e à aplicação dos conhecimentos. Isso exige a vinculação dos conhecimentos
com a vida prática e o desenvolvimento de métodos de raciocínio, investigação e reflexão.
5. Formação de Convicções para a Vida Coletiva (Função Educativa): Desenvolver qualidades
de caráter (honradez, disciplina) e a consciência de coletividade e solidariedade humana.
Inclui a educação física (fortalecimento da saúde, expressão corporal, sentimento de
coletividade) e a educação estética (apreciação e desfrute da beleza na arte e na cultura).
6. Instituição de Processos Participativos: Envolver todas as pessoas relacionadas à escola
(diretor, professores, alunos, pais) em formas cooperativas de gestão, estabelecendo o
vínculo da escola com a família e com os movimentos sociais (Conselho de Escola).
RESUMO DA AULA 9: OS CONTEÚDOS NECESSÁRIOS AO ATO DE ENSINAR
1. Definição e Natureza do Conteúdo
O conhecimento é definido como a apropriação inteligível que o ser humano e a
humanidade fazem do mundo. A sociedade elege a escola como o espaço de ensino sistematizado
para preparar as novas gerações, garantindo o domínio de conhecimentos, hábitos, valores e
habilidades necessários à sua sobrevivência.
É fundamental entender que as atividades de ensino não são neutras. Há sempre um
conteúdo implícito no ato de ensinar (DAMIS, 1996). O processo de ensinar, através da atividade de
quem ensina e dos meios utilizados, revela uma visão de homem, mundo e sociedade, visando a
manutenção ou superação dessa mesma sociedade.
A aprendizagem está intrinsecamente ligada ao conteúdo, pois quem aprende, aprende
alguma coisa.
Conteúdo é "tudo aquilo que é passível de integrar um programa educativo com vistas à
formação das novas gerações etc." (GARCIA, 1975, p. 161).
2. Categorização dos Conteúdos de Ensino
Conteúdos de aprendizagens não se restringem apenas aos conhecimentos das
disciplinas, mas incluem hábitos, habilidades, atitudes e valores que resultam das experiências de
aprendizagem oferecidas aos alunos.
Libâneo (1991) estabelece que os conteúdos de ensino são compostos por:
conhecimentos sistematizados; habilidades e hábitos; e atitudes e convicções.
Amorim e Gomes (1999) utilizam uma classificação mais concisa e frequentemente
adotada, categorizando os conteúdos em:
Categoria Descrição e Função
Conteúdos
Conceituais
Referem-se a conceitos, fatos, fenômenos, princípios e teorias das ciências.
São os fundamentos do ensino e possibilitam a "construção ativa das
capacidades intelectuais" para organizar a realidade.
Conteúdos
Procedimentais
Relacionam-se às habilidades que serão desenvolvidas e que servem como
instrumentos necessários ao processo de construção de conhecimentos.
Exemplos incluem a utilização de mapas e tabelas ou a habilidade de usar o
dicionário.
Conteúdos
Atitudinais
Envolvemhábitos, atitudes e convicções. Estão ligados à formação de valores
que guiarão a conduta dos alunos e a "tomada de posição frente a tarefas da
vida social" (LIBÂNEO, 1991). Exemplos citados incluem o respeito à
diversidade cultural do país e a atitude crítica diante do conhecimento.
É crucial que os professores e alunos compreendam a importância dos conteúdos
atitudinais e procedimentais (como saber ouvir, cooperar, respeitar e saber fazer), especialmente em
um mundo individualista e competitivo, e que os professores não atuem apenas como instrutores,
mas como educadores.
3. Tipos de Conhecimento
O conteúdo de ensino, entendido também como conhecimento ou saber, é subdividido
em:
1. Conhecimento Empírico: É o senso comum, o conhecimento do povo.
2. Conhecimento Científico: Sustenta-se na experimentação e na demonstração. É um sistema
de proposições rigorosamente demonstradas, constantes e gerais, ligadas a fatos e
fenômenos de experiência (BERVIAN e CERVO, 1980). Seu objeto é suscetível de
experimentação.
3. Conhecimento Filosófico: Procura compreender a realidade em seu contexto mais universal.
É mais subjetivo, ficando no campo das ideias.
4. Conhecimento Teológico: Relativo a Deus, aceito pela fé e não por meio da inteligência
humana.
O conhecimento elaborado (científico e filosófico) sofre tratamento didático para ser
trabalhado na escola.
4. Seleção dos Conteúdos de Ensino
A seleção dos conteúdos é um processo complexo que transcende a atividade puramente
racional e exige a mediação entre esferas individuais e sociais, muitas vezes por meio de conflitos.
A escolha dos conhecimentos parte do princípio básico de que eles surgem da prática social e
histórica dos homens.
Critérios de Seleção:
1. Concepção de Educação: A seleção é determinada pela concepção de educação e
aprendizagem adotada. Por exemplo, uma proposta tradicional prioriza a quantidade de
informações, enquanto uma concepção que visa o desenvolvimento da consciência crítica
exige que os conteúdos historicamente acumulados sejam fundamentais, mas que se leve em
conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico
(SAVIANI, 1987).
2. Tratamento Didático: Os critérios para o tratamento didático transformam o conteúdo
científico em conteúdo didático. Eles incluem: a lógica própria de cada disciplina; a
atualização científica; a coerência com os objetivos educacionais propostos; a adequação às
exigências do meio onde o aluno vive; a possibilidade de aplicação prática; e a adequação ao
nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos.
3. Legitimidade: A seleção deve levar em conta a validade universal do saber. Um
conhecimento não é legítimo se for arbitrário e produzido apenas a partir das necessidades
de grupos distintos, negando sua validade universal.
A seleção deve ser feita durante a elaboração do plano curricular, que é parte do Projeto
Político Pedagógico (PPP) da escola. É crucial realizar uma sondagem inicial com os alunos para
verificar o domínio dos conteúdos conceituais indispensáveis antes de organizar os planejamentos.
Fontes para a Busca de Conteúdos:
Os professores podem buscar os conteúdos em:
• A Lei de Ensino (LDB 9.394/96, Artigos 26 e 27), que estabelece a base comum e a parte
diversificada do currículo.
• Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que funcionam como guias, traçando os fins
e conteúdos da ação educativa, definindo conceitos básicos e habilidades fundamentais.
• Os livros didáticos (embora o professor deva ter domínio seguro da matéria e sensibilidade
crítica, confrontando-os com a vida prática dos alunos, pois podem expressar o modo de ver
de classes dominantes).
• Os planos de ensino dos anos anteriores do próprio professor.
• Consulta a especialistas e busca na Internet, visando a atualização dos conteúdos.
5. Organização dos Conteúdos
Uma vez selecionados, os conteúdos precisam ser organizados seguindo dois eixos
principais: o vertical e o horizontal. Essa dosagem e adequação são essenciais, mesmo no Ensino
Fundamental.
A. Eixo Vertical (Sequência e Continuidade)
No eixo vertical, os conteúdos devem seguir uma sequência e continuidade nos anos
subseqüentes:
• Continuidade: Refere-se à permanência de um mesmo tópico de conteúdo nos diferentes
anos.
• Sequência: Significa trabalhar o mesmo tópico de conteúdo nos anos subseqüentes de forma
cada vez mais ampliada e aprofundada.
Exemplo de integração vertical: a "teoria dos conjuntos" em Matemática trabalhada em diferentes
séries do Ensino Fundamental com aprofundamento gradativo.
B. Eixo Horizontal (Integração e Interdisciplinaridade)
No eixo horizontal, a relação é estabelecida no mesmo ano entre áreas ou disciplinas
diferentes (por exemplo, Matemática e Ciências Biológicas).
Essa integração oferece várias vantagens, como:
• Ampliar o entendimento de conceitos e fenômenos.
• Estudar conteúdos culturais mais relevantes.
• Alcançar maior visibilidade de valores e ideologias em questões sociais.
• Adaptar-se aos processos de trabalho e mobilidade de empregos.
• Analisar problemas e buscar soluções (SANTOMÉ apud LOPES).
Formas de Organização Horizontal:
1. Currículo por Temas ou Projetos: Aglutina conteúdos de diferentes disciplinas. Essa
abordagem, contudo, é alvo de críticas (falta de experiências práticas, professores inseguros,
perda da lógica do conteúdo ou aligeiramento do conhecimento).
2. Temas Transversais: Propostos pelos parâmetros curriculares, são retirados do cotidiano e
devem ser trabalhados por todas as disciplinas, possibilitando a interdisciplinaridade.
3. Integração Não Formal: A integração horizontal pode ser alcançada por meio de
metodologias didáticas e o uso de novas tecnologias de informação e comunicação. O
professor pode trabalhar conteúdos de diferentes disciplinas relacionados a temas atuais,
como a Festa Junina, para fornecer visões mais contextualizadas e integradas do
conhecimento.
Atualmente, a forma disciplinar e compartimentada de tratar o conhecimento está
entrando em desuso, cedendo lugar à forma rizomática (em rede) de trabalhar o conhecimento.
RESUMO DA AULA 9 – COMPLEMENTO: TIPOLOGIA E FUNÇÃO DOS CONTEÚDOS
1. Definição Geral de Conteúdos
Conteúdos são definidos como conhecimentos ou formas culturais que são
considerados essenciais para que os alunos assimilem, a fim de alcançar seu desenvolvimento e
socialização.
Eles englobam três dimensões interligadas:
1. Conhecimentos sistematizados: Selecionados das bases das ciências e da experiência
social acumulada pela humanidade.
2. Habilidades e hábitos: Vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos
de aprendizagem e de estudo.
3. Atitudes e convicções: Envolvendo modos de agir, de sentir e de enfrentar o mundo.
Embora esses elementos sejam interdependentes, os conhecimentos sistematizados são
os elementos unificadores.
Critérios de Seleção e Organização:
• Os conteúdos devem ser selecionados de forma a servir de mediadores para que os alunos
compreendam a realidade.
• Devem estar associados e articulados em nível crescente de complexidade, garantindo
que o aluno possa aprendê-los e aplicá-los a partir de sucessivas aproximações.
• Devem contemplar os domínios cognitivos, afetivos e psicomotores.
A tipologia dos conteúdos é resumida em:
• Conteúdos CONCEITUAIS: O que é preciso saber.
• Conteúdos PROCEDIMENTAIS: O que é preciso saber fazer.
• Conteúdos ATITUDINAIS: Os que admitem ser.
2. Conteúdos Conceituais (O que é preciso "Saber")
Os conteúdos conceituais visam a desenvolver as competências do educando nas suas
relações com símbolos, expressões, ideias, imagens, representações e nexos. Através deles, o
aluno aprende e ressignificao real.
Competências Cognitivas:
Essas competências são as modalidades estruturais da inteligência, ou as operações que
o sujeito utiliza para estabelecer relações com objetos, situações, fenômenos e pessoas. Exemplos
incluem: observar, representar, imaginar, reconstruir, comparar, classificar, ordenar,
memorizar, interpretar, inferir, criticar, supor, levantar hipóteses, escolher, decidir, identificar,
planejar, dentre outras.
Requisitos para Aprendizagem Significativa:
Para que os alunos aprendam conceitos de maneira significativa, é necessário:
1. Possuir uma série de saberes pessoais [5a].
2. Contar com professores dispostos a trabalhar considerando os alunos como centro de sua
intervenção [5b].
Para aprender um conceito, é crucial estabelecer relações significativas com outros
conceitos.
Verbos Chave (Objetivos Conceituais):
Os objetivos referentes a fatos, conceitos e princípios são frequentemente formulados
utilizando verbos como: IDENTIFICAR, RECONHECER, CLASSIFICAR, DESCREVER,
COMPARAR, CONHECER, EXPLICAR, RELACIONAR, SITUAR (no espaço ou no tempo),
LEMBRAR, ANALISAR, INFERIR, GENERALIZAR, COMENTAR, INTERPRETAR,
TIRAR CONCLUSÕES, ESBOÇAR, INDICAR, ENUMERAR, ASSINALAR, RESUMIR,
DISTINGÜIR, APLICAR, etc..
3. Conteúdos Procedimentais ("Saber Fazer")
Os conteúdos procedimentais se referem ao caráter de "saber fazer".
Definição e Aplicação:
• Expressam um saber fazer que envolve tomar decisões e realizar uma série de ações, de
forma ordenada e não aleatória, para atingir uma meta.
• Implicam a realização de ações e de exercícios de reflexão sobre a própria atividade e de
aplicação em contextos diferenciados.
• Devem ter um caráter necessariamente significativo e funcional.
• Estão sempre presentes num projeto de ensino (como pesquisa, experimento, síntese, festival
ou oficina).
A Perspectiva Educacional:
A dimensão procedimental articula três polos: a construção de uma lógica, uma
pedagogia e uma área específica de conhecimento. Ela se materializa numa perspectiva
educacional dialógica, participativa, compartilhada, visando ampliar a capacidade reflexiva do
aluno acerca da realidade complexa e contraditória, o que é viabilizado com a construção coletiva
do projeto político-pedagógico.
Verbos Chave (Objetivos Procedimentais):
Os objetivos referentes a procedimentos são frequentemente formulados com verbos
como: MANEJAR, CONFECCIONAR, UTILIZAR, CONSTRUIR, APLICAR, COLETAR,
REPRESENTAR, OBSERVAR, EXPERIMENTAR, TESTAR, ELABORAR, SIMULAR,
DEMONSTRAR, RECONSTRUIR, PLANEJAR, EXECUTAR, COMPOR, etc..
4. Conteúdos Atitudinais ("Ser")
Os conteúdos atitudinais são tendências ou disposições adquiridas e relativamente
duradouras para avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa, acontecimento ou situação e
atuar de acordo com essa avaliação.
Presença e Função:
• Estão presentes no cotidiano escolar, envolvendo valores, atitudes, normas, posturas que
influem nas relações e interações da comunidade escolar, numa perspectiva educacional
responsável e valorativa.
• Estão presentes na visão ideológica subjacente ao contexto pedagógico e na produção do
saber.
• A escola é um contexto socializador, gerando atitudes relativas ao conhecimento, ao
professor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade.
• A não compreensão de que as relações, atitudes, valores e normas são conteúdos escolares
faz com que estes sejam comunicados, sobretudo de forma inadvertida.
Componentes para Formação e Mudança de Atitudes:
A formação e a mudança de atitudes operam sempre com três componentes:
1. Componente cognitivo: Conhecimentos e crenças.
2. Componente afetivo: Sentimentos e preferências.
3. Componente de conduta: Ações manifestas e declaração de intenções.
Verbos Chave (Objetivos Atitudinais):
Os objetivos referentes a valores, normas e atitudes são frequentemente formulados
utilizando verbos como: COMPORTAR-SE (de acordo com), RESPEITAR, TOLERAR,
APRECIAR, PONDERAR (positiva ou negativamente), ACEITAR, PRATICAR, SER
CONSCIENTE DE, REAGIR A, CONFORMAR-SE COM, AGIR, CONHECER,
PERCEBER, ESTAR SENSIBILIZADO, SENTIR, PRESTAR ATENÇÃO À, INTERESSAR
POR, OBEDECER, PERMITIR, PREOCUPAR-SE COM, DELEITAR-SE COM,
RECREAR-SE, PREFERIR, INCLINAR-SE A, TER AUTONOMIA, PESQUISAR,
ESTUDAR, etc..
RESUMO DA AULA 10: ORGANIZANDO O ENSINO
1. O Novo Contexto do Ensino na Sociedade da Informação
O grande desenvolvimento das ciências e da tecnologia impôs novos ritmos e
dimensões à tarefa de ensinar e aprender. Isso exige um estado de permanente aprendizagem e
adaptação ao novo.
Transformações Contextuais:
• Sociedade da Informação: A produção crescente de conhecimento transformou a sociedade
atual, exigindo uma constante busca do saber por todos.
• Redimensionamento do Espaço e Tempo: A educação deixou de ser uma preocupação
exclusiva da escola, estando inserida em diferentes agências sociais.
• O tempo e o espaço de ensinar, que tradicionalmente eram fixos ("ir à escola"),
foram redimensionados.
• Professores ocupam outros espaços além do escolar.
• Há o uso do tempo virtual através de recursos de computador, alterando o tempo-
aula.
• Papel da Educação: A educação é substantiva, pois altera o ser do homem; se não o
fizesse, seria apenas adjetiva, mero ornamento da inteligência. O homem que adquire o
saber passa a ser um elemento transformador do mundo.
2. Conceitos Fundamentais: Método, Técnica e Procedimento
Os termos método, técnica, metodologia, procedimento e estratégia, embora divergentes
em amplitude, significam, em essência, ações estruturadas de forma racional com vistas a
provocar a aprendizagem.
A. Método
Definição e Natureza:
• Método (do grego: meta = fim e hodus = caminho) é o caminho mais geral que se adota
para mediar o conhecimento.
• É o conjunto organizado de técnicas e procedimentos ou uma sequência de operações
com vistas a um resultado esperado.
• Schmitz (1984) percebe o método como um roteiro geral para a atividade, sendo o
caminho, mas não o veículo de chegada (que é a técnica).
• O método pode ser entendido sob uma compreensão teórica (Metodologia: a concepção
segundo a qual a realidade é abordada) ou técnica (modos de agir dentro do próprio
conteúdo, como extrair a raiz quadrada).
• O método não deve ser imposto, mas criado pelo aluno no convívio com o educador.
Relação com Conteúdo:
• Todo conhecimento é atravessado por uma metodologia, sendo possível descobrir o método
com o qual o conteúdo foi construído.
• Os métodos são assimilados pelos alunos simultaneamente aos conhecimentos, sendo ambos
responsáveis pela formação de habilidades, valores e hábitos.
B. Classificação dos Métodos de Ensino
A classificação mais comum dos métodos é baseada no foco do processo de ensino:
1. Foco:
• Centrado no Aluno: O aluno busca o conhecimento.
• Centrado no Professor: O professor é o detentor do conhecimento.
• Centrado em Ambos: Professor e alunos trocam conhecimentos
(socioindividualizados).
2. Raciocínio Estimulado:
• Dedutivo: Vai do geral para o particular.
• Indutivo: Vai do particular para o geral.
• Analógico: Faz a integração dos outros dois.
3. Ligação com Indivíduos e Fatos (Schmitz, 1984):
• Lógico: Segue a ordem dos fatos, do tempo, do raciocínio.
• Psicológico: Parte do ponto mais imediato, direto, próximo e motivador para o aluno.
4. Obtenção e Comunicação do Conhecimento (Schmitz, 1984):
• Globalizado: Obtido por observação, pesquisa, análise e síntese em si, para tirar
conclusões.
• Verbalizado: Necessita da verbalização e da comunicação.
5. Direção do Ensino (Libâneo, 1991):
• Método de exposição pelo professor.
• Método de trabalho relativamente independente.
• Método de elaboração conjunta (ou conversação).• Método de trabalhos em grupos.
C. Técnica
A técnica operacionaliza o método.
• Técnicas são as ações mais concretas de proceder.
• Representam maneiras particulares de organizar o ensino a fim de provocar a atividade
do aluno no processo de aprendizagem.
• Schmitz (1996) classifica as técnicas em três tipos:
1. Expositiva ou de Comunicação: Visam à transmissão de uma mensagem codificada
(palavras, símbolos visuais ou sonoros).
2. Interrogativa ou de Indagação: Implicam uma comunicação e aprofundamento
dialogado de ideias.
3. De Pesquisa ou de Experimentação: Compreendem o estudo, análise, síntese e
comunicação dos resultados.
D. Procedimento de Ensino
O termo procedimento de ensino é frequentemente empregado pelos professores para
externar a forma de encaminhar a aula, especialmente devido à complexa realidade do trabalho.
• O procedimento de ensino generaliza todas as ações, processos ou comportamentos
planejados pelo professor para colocar o aluno em contato direto com o objeto de estudo,
possibilitando a modificação de sua conduta.
• Qualquer forma de intervenção na aprendizagem do aluno é um procedimento de ensino do
professor.
E. Metodologia
Metodologia é concebida como uma postura diante da realidade, implicando as
tarefas de: partir da prática, refletir sobre a prática e transformar a prática. Também é definida
como o "conjunto de decisões a serem tomadas a partir de uma visão de mundo".
3. A Escolha e a Realidade da Prática Docente
Métodos e técnicas não são fins, mas meios auxiliares do professor. A escolha e o
emprego desses recursos devem considerar:
• Os objetivos da aprendizagem a ser mediada.
• As características da matéria.
• A realidade dos alunos.
• As limitações e possibilidades do próprio professor.
• A adequação da técnica aos objetivos, à turma e à personalidade do professor.
A realidade concreta enfrentada pelos professores (turmas lotadas, poucos recursos,
carga horária pesada e pouco tempo para planejar) frequentemente reflete em práticas malsucedidas.
No entanto, é fundamental que as metodologias e procedimentos de ensino mediem a prática
didática e a reflexão sobre ela, visando superar as contradições inerentes ao processo educativo.
AULA 10 – COMPLEMENTO: ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM E O
CONHECIMENTO DO PROFESSOR
O conteúdo complementar da Aula 10 foca nas Estratégias de Aprendizagem, no
conceito de Aprender a Aprender, e na investigação do conhecimento dos professores sobre esses
temas, utilizando a Psicologia Cognitiva como referencial teórico.
1. Estratégias de Aprendizagem (EAs)
Definição e Natureza:
As estratégias de aprendizagem (EAs) são sequências integradas de procedimentos
ou atividades que são escolhidas com a intenção de facilitar a aquisição, o armazenamento e/ou a
utilização da informação. Elas podem ser concebidas como técnicas ou métodos que os estudantes
utilizam para aprender.
As EAs englobam recursos cognitivos e metacognitivos. Sua importância está
relacionada ao fato de incorporarem elementos ligados à disposição e motivação do estudante, bem
como às atividades de planejamento, direção e controle que o sujeito utiliza ao enfrentar a
aprendizagem.
Características Essenciais:
• Intencionalidade e Consciência: As estratégias pressupõem uma sequência de operações
orientadas para a consecução das metas de aprendizagem, tendo um caráter consciente e
intencional.
• Controle Metacognitivo: A aplicação das EAs não é automática, mas controlada, exigindo
planejamento, controle da execução e metacognição.
• Uso Seletivo: Implicam o uso seletivo dos recursos e capacidades disponíveis do estudante,
que deve dispor de uma gama de possibilidades para escolher as mais apropriadas para a
tarefa.
• Componentes: As EAs são formadas por elementos mais simples, como as técnicas de
aprendizagem e as habilidades. Seu domínio exige um uso reflexivo, e não apenas
mecânico, das técnicas.
Tipos de Estratégias (Taxonomia Comum):
A literatura geralmente divide as EAs em duas grandes esferas:
1. Estratégias Cognitivas:
• Referem-se a comportamentos e pensamentos que influenciam o processo de
aprendizagem para que a informação possa ser armazenada mais eficientemente.
• Subdividem-se em ensaio, elaboração e organização.
• Ajudam os alunos a codificar, organizar e reter a informação nova.
2. Estratégias Metacognitivas:
• São os procedimentos que o indivíduo usa para planejar, monitorar e regular o seu
próprio pensamento e os processos de aprendizagem.
• Incluem planejar, monitorar e regular.
Alunos Estratégicos:
Alunos bem-sucedidos apresentam um amplo repertório de estratégias, sabem onde,
quando e como usá-las, facilitando o trabalho escolar. Estudantes estratégicos demonstram quatro
características: avaliam criticamente as tarefas; definem objetivos de curto prazo e gerais para
estudar; conhecem táticas cognitivas alternativas; e fazem julgamentos sobre as táticas
empregadas. Eles planejam, controlam e se autorregulam.
2. Aprender a Aprender
Conceito e Importância:
Aprender a aprender é a capacidade de adquirir estratégias para processar de forma
mais complexa e eficiente a abundante e complexa informação. O desenvolvimento dessa
capacidade é caracterizado pela autonomia e pelo controle cognitivo em relação às tarefas de
aprendizagem.
O professor tem o papel de incentivar o uso de estratégias de aprendizagem, não se
limitando à transmissão de conhecimentos.
Mecanismo de Aquisição:
Podemos aprender a aprender por meio da interação com agentes sociais e educativos
(como professores), que nos "emprestam" suas estratégias, manifestando as decisões que tomam ao
aprender. No entanto, esses agentes poucas vezes tornam seus processos de pensamento explícitos.
3. O Professor e as Estratégias de Aprendizagem (Resultados da Pesquisa)
Uma pesquisa com 35 professoras do ensino fundamental (1ª a 4ª séries) da rede
estadual de Campinas investigou suas concepções sobre EAs e Aprender a Aprender.
Confusão entre Estratégias de Aprendizagem e de Ensino:
• Embora 97,1% das participantes relatassem ter ouvido falar em estratégias de aprendizagem,
uma percentagem considerável (82,9%) demonstrou confundi-las com estratégias de
ensino.
• Exemplo de resposta que demonstra essa confusão: "São métodos que o professor utiliza
para transmitir conteúdos para os alunos".
• Apenas 11,4% das entrevistadas se aproximaram da definição correta, como "métodos para
ajudar a estudar".
Concepção Equivocada de Aprender a Aprender:
• A maioria das participantes (88,6%) relatou ter ouvido falar em aprender a aprender.
• Contudo, uma percentagem elevada (83,9%) apresentou conhecimento equivocado sobre
o conceito.
• Exemplos de definição distorcida ou confusa: “É quando percebo que o aluno assimilou o
conteúdo” ou “a maneira como você vê a aprendizagem”.
• O conceito de Aprender a Aprender permanece vago para os professores, sendo por vezes
associado a conselhos para preparação de avaliações, uso apenas com alunos de baixo
desempenho, ou à aprendizagem prática diária.
4. Implicações para a Formação Docente
A Necessidade de Formação Estratégica:
É fundamental que o professor, para ser eficiente, entenda de motivação, de estratégias de
aprendizagem e de metacognição.
• Professor como Aprendiz e Ensinante: Para que o professor possa ensinar os estudantes a
usar estrategicamente seus recursos, é fundamental que ele próprio seja capaz de
aprender e ensinar de maneira estratégica os conteúdos curriculares.
• Inclusão da Psicologia Cognitiva: Os resultados apontam a necessidade de criar
oportunidades para que os professores sejam beneficiados pelas pesquisas da Psicologia
cognitiva. A ausência das contribuições dessa áreanos cursos de formação de professores é
notória.
• Metas na Formação: A Psicologia educacional deve ter duas metas complementares para
futuros professores: ensiná-los a se tornarem estudantes mais eficazes e ensiná-los a ser
professores mais eficientes. A primeira meta ajuda a alcançar a segunda.
• Reflexão na Prática: É necessário criar momentos de aprimoramento na rotina do professor
para que ele possa refletir sobre suas práticas e saberes, vendo-se como ensinante e
aprendiz, aspectos que não devem estar dissociados.
AULA 11: PRINCIPAIS MÉTODOS DE ENSINO: REVENDO CONCEITOS E
ATUALIDADE
1. Conceitos Fundamentais
Método e Disciplina: Agir com método significa seguir determinados critérios com
organicidade e disciplina, tendo em vista os objetivos pretendidos.
Definição de Método: Método é o planejamento geral das ações que se efetiva
através das técnicas. É um procedimento amplo, mais geral.
Critério de Decisão: O critério principal para a decisão sobre qual método adotar deve
ser o que atenda à situação concreta.
Procedimentos: Atualmente, a palavra procedimentos é utilizada para designar um
método ou uma técnica.
2. Métodos Ativos e o Contexto Atual
Os métodos ativos (como Projetos, Centro de Interesse e Unidades de Experiência)
estimulam os alunos na auto-gestão do seu próprio conhecimento.
Releitura Crítica: Esses métodos surgiram oriundos de um modelo liberal a-crítico de
educação e sofreram críticas por enfatizarem o técnico sobre o político. Contudo, hoje, eles voltam
ao cenário educacional, sob o olhar político dos educadores e à luz da criticidade e das novas
tecnologias, sendo reavaliados para aplicação prática.
Pedagogia por Objetivos: Essa abordagem surgiu sob influência de autores como
Tyler, Skinner e Bloom, buscando aplicar a gestão científica à pedagogia. Seu fundamento estava na
psicologia behaviorista, que via o comportamento como resposta a um estímulo, utilizando
taxionomias de objetivos para garantir a produção de certos comportamentos. A crítica a esta
pedagogia, na década de 1970, contribuiu para o ressurgimento da pedagogia de projetos.
3. O Método de Projetos
Origem e Bases: Este método teve origem nos Estados Unidos com Kilpatrick em
1918, baseado nos estudos de John Dewey, que visava uma forma concreta de ensino com
participação ativa dos alunos.
Expansão: Sua expansão foi impulsionada pela forma de organização do trabalho
(privilegiando tarefas de condução/processo em detrimento de realização/produto), pelo
crescimento da exigência de qualificação profissional, pelo desenvolvimento das novas tecnologias
de informação, pelas pressões externas e pela crítica à pedagogia por objetivos. O fenômeno levou
Barbier (1993) a denominar a sociedade atual como uma civilização de projetos.
Definição e Características: O Método de Projetos consiste em uma unidade de
atividades de ensino, visando à solução de um problema concreto.
Segundo Haidt (1998), há aspectos básicos:
1. Busca o desenvolvimento do raciocínio com atividades ligadas à vida real.
2. Parte de um problema concreto ou do desejo de confeccionar algo material.
3. O aluno tem participação bastante ativa em todo o projeto, começando pelo planejamento.
4. As disciplinas são trabalhadas de maneira integrada.
Etapas: As etapas do projeto são: a) Escolha do projeto (preferencialmente pelo
aluno). b) Planejamento do trabalho por professor e alunos. c) Busca de informações e coleta de
materiais. d) Execução do projeto. e) Exposição do projeto. f) Avaliação.
Vantagens e Desvantagens: A grande vantagem do método de projetos é ser altamente
motivador para o aluno. A desvantagem é dificultar o aprofundamento dos conteúdos de ensino.
4. O Centro de Interesse
Criador e Fundamento: Este método foi criado por Ovídio Decroly, médico belga,
que se dedicou inicialmente aos estudos de crianças portadoras de deficiência mental. Sua
concepção educativa era predominantemente biológica ("A vida social seria uma projeção das
necessidades vitais"). Para ele, a educação era a auto-educação.
Princípio: O centro de interesse deve aglutinar conteúdos escolares e atividades em
torno de um tema central que atenda aos interesses e anseios das crianças.
Fases (Correspondem às Fases do Pensamento): As fases deste método são:
1. Observação: Através da percepção, dos sentidos e da experiência imediata.
2. Associação: Estabelecimento de relações entre novos conhecimentos e os já conservados ou
adquiridos por informações.
3. Expressão: Comunicação do que foi assimilado.
Desafios: Embora seja altamente motivador, o método pode dificultar o
aprofundamento de conteúdos específicos das diferentes disciplinas.
5. O Método das Unidades de Experiência
Origem e Bases Teóricas: Este método deriva das Unidades Didáticas de autoria de
Henry Morrison (Universidade de Chicago, 1942). Morrison baseou-se em várias teorias
psicológicas:
• Gestaltismo: Inspirou a organização de unidades de conteúdo (em vez de pontos e lições
esparsas e isoladas), cujo princípio é possibilitar ao aluno a visualização do todo da
unidade antes de estudar cada uma de suas partes.
• Experimentalismo: Contribui exigindo que o aluno experimente, faça, manipule
("aprender a fazer, fazendo").
• Funcionalismo: Exige que o método parta dos interesses e necessidades do aluno,
respeitando as diferenças individuais.
Conceito e Objetivo: Consiste em organizar e desenvolver uma unidade didática do
programa de uma disciplina de forma globalizada, integrando os conteúdos de várias outras
disciplinas em torno dessa unidade. O objetivo principal é integrar as partes de uma unidade
didática de um determinado conteúdo, facilitando a compreensão num todo organizado.
Fases (Carvalho, 1977):
1. Exploração ou Sondagem: Verificar o que o aluno já conhece.
2. Apresentação: O professor apresenta toda a unidade, despertando o interesse dos alunos
(com atividades lúdicas, vídeos, discussões).
3. Desenvolvimento da Unidade: O aluno estuda cada parte por meio de técnicas que
possibilitem sua participação direta e experimentação.
4. Integração: O aluno sintetiza tudo o que foi estudado.
5. Avaliação: Deve ser feita durante todo o processo e ao final, verificando o alcance dos
objetivos.
6. A Influência do Estilo Digital e a Prática Docente
Transformação da Prática: Os métodos de ensino permanecem atuais, mas a
linguagem digital, que transformou a sociedade nas últimas décadas, exige novas formas de
apreender o conhecimento.
Redimensionamento do Espaço e Tempo: A sala de aula não será mais o único ou
principal espaço. Professores e alunos precisarão estar em constante interação com outras salas
de aula, laboratórios, museus. As novas tecnologias redimensionam o tempo e o espaço
educacionais, alterando o próprio espaço/tempo da sala de aula e tirando da escola o privilégio da
educação intencional e sistemática.
Mudança na Busca do Conhecimento: Os procedimentos metodológicos podem ser
utilizados, mas com outra forma de trabalhar o conteúdo. A tecnologia transforma o pensamento
linear em pensamento rizomático (em rede), facilitando o estabelecimento de relações entre
diversas áreas de conhecimento. Isso modifica o uso dos métodos e técnicas na maneira de se
buscar o conhecimento.
O Papel do Professor: Todo procedimento de ensino, seja um método ou uma técnica,
pode e deve ser adaptado e recriado pelo professor, conforme as condições de trabalho,
características da turma, tempo disponível e sua personalidade. O professor deve estar em
permanente reflexão sobre seus saberes e práticas para não se tornar um mero aplicador de métodos
e técnicas sem relacioná-los aoseu cotidiano.
AULA 11 – COMPLEMENTO: PEDAGOGIA DE PROJETOS E INTEGRAÇÃO DE
MÍDIAS
1. Introdução e Perspectiva Construtivista
Diversidade de Projetos: A circulação de diversos tipos de projetos no sistema de
ensino (projeto político-pedagógico, projeto de sala de aula, projeto de informática, etc.) gera
desafios para o professor sobre como situar sua prática pedagógica e integrar mídias e conteúdos
curriculares.
Aprendizagem Construcionista: Para que o trabalho por projetos reconstrua uma nova
forma de ensinar e integre as diversas mídias, é necessário adotar uma perspectiva de aprendizagem
CONSTRUCIONISTA. O Construcionismo, segundo Valente (1999), significa a construção de
conhecimento baseada na realização concreta de uma ação que produz um produto palpável
(um artigo, um projeto, um objeto) de interesse pessoal de quem produz.
Aprendizagem no Projeto: Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo de
produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivam novas buscas, descobertas,
compreensões e reconstruções de conhecimento.
2. Conceito e Natureza do Projeto
Definição: A ideia de projeto envolve a ANTECIPAÇÃO de algo desejável que ainda
não foi realizado e a ação de pensar uma realidade futura. Implica analisar o presente como fonte de
possibilidades futuras. A origem da palavra deriva do latim projectus, que significa "algo lançado
para frente".
Projeto e Ação: O PROJETO É INSEPARÁVEL DO SENTIDO DA AÇÃO. O
projeto é o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar em real, uma ideia a
transformar em ato (Barbier, In: Machado, 2000).
Requisitos: O ato de projetar requer ABERTURA para o desconhecido, para o não-
determinado e FLEXIBILIDADE para reformular as metas à medida que as ações evidenciam
novos problemas e dúvidas.
Distinção entre Projeto e Exercício: Não se faz projeto quando se têm certezas. O
projeto parte de uma problemática. Se, a priori, todos os passos para solucionar um problema são
conhecidos, o processo se constitui em um exercício e aplicação do que já se sabe. Projeto não deve
ser confundido com um conjunto de atividades dadas pelo professor, resultando apenas na
apresentação de um trabalho.
3. O Papel e a Mediação do Professor
Mudança de Postura: O trabalho por projetos requer MUDANÇAS NA
CONCEPÇÃO de ensino e aprendizagem e, consequentemente, na postura do professor. Ele não
deve ser visto apenas como uma opção metodológica, mas como uma maneira de repensar a
função da escola (Hernández, 1988).
Do Transmissor ao Mediador: O papel do professor deixa de ser aquele que ensina
por meio da transmissão de informações (centrado no professor) para criar situações de
aprendizagem cujo foco incide nas relações estabelecidas no processo.
A Mediação Pedagógica: O professor deve realizar as mediações necessárias para que
o aluno encontre sentido no que está aprendendo. Para isso, o professor precisa:
1. Acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, entendendo seu universo cognitivo,
afetivo, cultura, história e contexto de vida.
2. Ter clareza da sua intencionalidade pedagógica para garantir que os conceitos utilizados
(intuitivamente ou não) sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo aluno.
3. Propiciar o estabelecimento de relações interpessoais e dinâmicas sociais entre os alunos.
Aspectos Fundamentais para o Professor: O professor precisa considerar três
aspectos fundamentais para trabalhar com projetos: as possibilidades de desenvolvimento de seus
alunos; as dinâmicas sociais do contexto em que atua; e as possibilidades de sua mediação
pedagógica.
Conhecimentos Imbricados (Valente, 2000): No desenvolvimento do projeto, o
professor pode trabalhar com diferentes tipos de conhecimentos, representados em termos de três
construções: procedimentos e estratégias de resolução de problemas, conceitos disciplinares e
estratégias e conceitos sobre aprender.
4. Autoria e Articulação de Projetos
Autoria no Projeto: Um dos pressupostos básicos do projeto é a AUTORIA
(individual, em grupo ou coletiva). Não se pode ter projeto pelos outros.
Níveis de Projetos Articulados: O projeto do professor deve ser elaborado para
viabilizar a criação de situações que propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos.
O projeto do professor é a própria prática pedagógica dele, que é antecipada, colocada em ação,
analisada e reformulada. Essa postura é REFLEXIVA e INVESTIGATIVA.
Parceria e Reconstrução da Escola: É fundamental o desenvolvimento de
PROJETOS ARTICULADOS que envolvam a co-autoria dos vários PROTAGONISTAS
(gestores, professores, alunos). A articulação de projetos de gestão escolar com projetos de sala de
aula e projetos de alunos facilita a busca por soluções que viabilizem novas práticas pedagógicas.
5. Integração de Conteúdos e Mídias
Aprendendo-Fazendo e Interdisciplinaridade: A pedagogia de projetos permite que o
aluno APRENDA-FAZENDO e reconheça a própria AUTORIA. Ela potencializa a
INTERDISCIPLINARIDADE, pois permite romper com as fronteiras disciplinares e estabelecer
elos entre as diferentes áreas do conhecimento.
Interdisciplinaridade vs. Disciplinaridade: É um erro negar a atividade disciplinar. A
interdisciplinaridade ocorre sem que haja perda da identidade das disciplinas (Fazenda, 1994). O
projeto rompe com as fronteiras disciplinares, tornando-as permeáveis, mas não significa
abandonar as disciplinas.
• O conhecimento específico (disciplinar) oferece ao aluno a possibilidade de reconhecer e
compreender as particularidades de um determinado conteúdo.
• O conhecimento integrado (interdisciplinar) lhe dá a possibilidade de estabelecer relações
significativas entre conhecimentos.
Integração das Mídias: A Pedagogia de Projetos também potencializa a
INTEGRAÇÃO entre conteúdos e diversas mídias (computador, televisão, livros) disponíveis no
contexto da escola.
• O professor deve conhecer as especificidades e implicações do uso pedagógico de cada
mídia para criar situações em que o aluno possa integrá-las de forma significativa.
• A integração efetiva exige a compreensão das especificidades de cada universo envolvido,
para que as mídias sejam integradas conforme suas potencialidades e características.
• O risco de justaposição de mídias ou subutilização ocorre quando o professor não
compreende as questões pedagógicas envolvidas no uso dos recursos tecnológicos.
6. Desafios e Formação Docente
Rigidez Estrutural do Sistema de Ensino: A organização atual do sistema de ensino
(horário de aula de 50 minutos, grade curricular sequencial) dificulta o desenvolvimento de
projetos que envolvam ações interdisciplinares, uso de diferentes mídias e que extrapolem o tempo
e o espaço da sala de aula.
O Projeto como "Camisa de Força": Se o projeto for visto como uma "camisa de
força" para todas as atividades escolares, ele pode paralisar as ações pedagógicas. Isso se torna
um problema quando nem todos os conteúdos curriculares de uma série podem ser abordados no
contexto do projeto. Nesses momentos, outras estratégias pedagógicas precisam ser acionadas.
Duração do Projeto: Uma preocupação comum é a duração do projeto. Uma
possibilidade é pensar no projeto com começo-meio-fim, tratando esse fim como provisório, de
modo que a partir dele surjam novos começos. Esse ciclo deve permitir a sistematização dos
conceitos, estratégias e procedimentos utilizados, num formato de espiral ascendente que
representa o mecanismo do processo de aprendizagem.
Exigências da Formação: O professor não foi preparado para o uso pedagógico das
mídias, o que exige mais do que apenas aprender a operacionalizar os recursos tecnológicos. O
professor precisa desenvolver novas formas deensinar e aprender, o que exige uma FORMAÇÃO
CONTINUADA e a reflexão sobre suas práticas e saberes.
RESUMO DA AULA 12
Currículo: Algumas Considerações
O Conceito e o Propósito do Currículo
O currículo escolar é o principal foco dos estudos que buscam compreender a relação
entre cultura, conhecimento e poder na sociedade.
O termo currículo foi aportuguesado do latim curriculum, significando curso, rota,
carreira, corrida ou percurso. Historicamente, ele é utilizado tanto para designar um programa de
disciplina quanto para se referir às várias atividades educativas por meio das quais o conteúdo é
desenvolvido.
Em uma visão mais atual e progressista, o currículo é compreendido como algo vivo,
um processo aberto, sendo mais do que uma mera lista de conteúdos a serem transmitidos a um
aluno passivo. É definido como a "construção e reconstrução dos saberes e conhecimentos dos
sujeitos, orientados por interesses emancipatórios" (MOREIRA, 1994), ou um "itinerário
formativo" (PONTECORVO, 1986). Ele funciona como um "testemunho que cristaliza, através de
determinada versão pedagógica, certos valores socialmente compartilhados" (BARRETO, 1998).
O objetivo é alcançar um currículo de reconstrução social numa perspectiva crítica,
que considere a natureza do aluno, seu processo de aquisição do conhecimento e sua participação
vinculada à sua realidade e contexto social.
Evolução Histórica dos Estudos Curriculares
O currículo emerge como campo de estudo no século XX, fundamentado em sociologia
estrutural-funcionalista, administração científica e psicologia construtivista.
1. Nova Sociologia da Educação (Inglaterra, Anos 60): Inicialmente, os estudos evoluíram
de uma visão puramente técnica (preocupada com métodos e procedimentos) para uma
visão crítica de cunho social, político e epistemológico. Essa corrente questionou a seleção
e organização dos conhecimentos escolares, denunciando a relação entre a estratificação dos
saberes escolares e a estratificação social.
2. Sociologia do Currículo (EUA, Década de 1970): Pesquisadores nos EUA opuseram-se ao
tratamento tecnicista, denunciando como o currículo escolar favorecia a hegemonia
cultural da classe dominante. Buscaram formas de organizar a resistência dos grupos
oprimidos através de alternativas curriculares visando à emancipação social e a uma
sociedade mais igualitária.
Tendências Críticas em Relação ao Currículo Escolar no Brasil
Os intelectuais da Pedagogia Crítica no Brasil se dividem em duas tendências sobre a
relação entre currículo, cultura do aluno e cultura geral acumulada:
Tendência
Principais
Proponentes
Ênfase e Ponto de Partida
Pedagogia Crítico-
Social dos
Conteúdos
SAVIANI, D;
LIBÂNEO, J.C.
Defende a necessidade de socializar os conhecimentos
acumulados historicamente de forma generalista
(popularizando o conhecimento científico). Parte do
conhecimento acumulado para a compreensão da realidade.
Pedagogia
Libertadora de
Educação Popular
FREIRE, P.
Defende o trabalho com a cultura das camadas populares,
valorizando a experiência do aluno e dando voz às culturas
silenciadas (proposta mais relativista). Parte da realidade
(percepção e análise dos problemas) para então eleger temas
curriculares e elevar a conscientização.
Ambas as correntes são dialéticas, pois defendem a democratização do conhecimento e
não desvinculam o conhecimento da realidade, dialogando sempre com o aluno.
Reforma Curricular Brasileira e as Políticas Nacionais
A reforma educativa no Brasil, influenciada por políticas globais e pelo discurso da
modernização, culminou na publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em 1996,
baseados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/96).
Disposições da LDB (Lei 9.394/96) sobre o Currículo:
• Faculta aos sistemas de ensino desdobrar o Ensino Fundamental em ciclos (SEÇÃO II,
Artigo IV, Inciso 1).
• Estabelece que a União deve definir competências e diretrizes para nortear os currículos a
partir de conteúdos mínimos, assegurando uma formação básica comum (Artigo 9, Inciso
VI).
• Determina que os currículos devem ter uma base nacional comum, complementada por
uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e da clientela (Artigo 26).
Críticas e Influências Internacionais:
Os PCNs foram criticados por educadores, em parte porque a trajetória prevista de
consulta ampla (professores, especialistas, sociedade) não foi completamente seguida. Além disso, a
política adotada incluía uma formação educacional alinhada à nova ordem mundial e orientada por
agências internacionais (como o Banco Mundial), tendendo ao economicismo da educação e a uma
política identitária mundial.
Autores como Moreira e Silva denunciam que essas políticas curriculares nacionais
buscam a reorganização da sociedade a partir de padrões culturais comuns, expressando os
objetivos do capitalismo globalizado.
O Currículo no Cotidiano Escolar
Os conteúdos escolares são "expressões, para fins pedagógicos, do conjunto de bens
culturais elaborados, reelaborados e sistematizados no processo da prática histórico-social dos
homens" (Libâneo, 1986).
Modalidades de Currículo na Prática:
• Currículo em Ação: É onde interagem "o planejado, o inesperado (ou apenas vagamente
reconhecido)" e onde se dá a construção do conhecimento na escola.
• Currículo Oculto: Refere-se aos valores, atitudes e crenças transmitidas tacitamente pelas
relações sociais e rotinas escolares. É oculto porque os professores podem não ter
consciência do que estão ensinando de forma não refletida, além das matérias oficiais.
• Currículo Nulo: São os saberes que os alunos não têm a oportunidade de aprender sob
responsabilidade da escola (MCCUTCHEON, 1988).
A Importância da Deliberação Docente:
O enfoque deliberativo (Schwab, 1983) defende o papel ativo dos professores na
modelação dos conteúdos do currículo, em contraste com a crença em "receitas" ou no ofício
exclusivo de especialistas. A deliberação é o método pelo qual se resolvem os problemas cotidianos
(raciocínio prático) e exige que a decisão sobre o planejamento e a ação curricular seja conferida
aos professores.
Culturas Negadas:
Pesquisadores como Santomé (1995) denunciam as culturas negadas ou as vozes de
grupos sociais minoritários que são silenciadas, estereotipadas ou deformadas nos conteúdos
curriculares por não disporem de estruturas importantes de poder.
A Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade, que já foi condenada devido ao preconceito positivista e à
fragmentação do saber, assumiu grande relevância no cenário educacional mundial com a
globalização e o intercâmbio de informações.
Visões sobre a Interdisciplinaridade:
• Críticas à Fragmentação: Japiassu (1976) enfatizava a necessidade de superar a pedagogia
da dissociação do saber e reformular as estruturas de ensino, criticando o fracionamento das
disciplinas (os "alvéolos científicos").
• Definição Reducionista: Muitos a limitam à simples prática de "cruzamento" de
disciplinas ou de partes de conteúdos que se assemelham, confundindo o conceito com a
integração aos pares de matérias.
• Visão da Totalidade: Para Fazenda (1993, 2001), a prática interdisciplinar exige diálogos
fundados na diferença e busca a totalidade, respeitando, contudo, a especificidade das
disciplinas.
Características da Postura Interdisciplinar (FAZENDA):
Uma postura interdisciplinar exige: indisciplinarização do olhar, ação em movimento,
postura pesquisadora, ousadia sobre o desconhecido, subjetividade e ambiguidade. Os princípios
básicos para uma prática docente interdisciplinar são: humildade, coerência, espera, respeito e
desapego.
Considerações Finaise Desafios
A busca por um currículo verdadeiramente democrático exige que o conhecimento local
e o universal sejam trabalhados e integrados através do diálogo com a cultura do aluno e a cultura
mais ampla. Esta busca deve se inscrever na dualidade entre o relativismo (empírico) e o
universalismo (transcendental) (FORQUIN, 1993).
A prática interdisciplinar e a necessidade de que os educadores revisitem a
compartimentalização do saber continuam a ser um desafio para os professores. É fundamental
buscar a igualdade através do diálogo, reconhecendo que "tratamento igual não significa
tratamento uniformizante, que desrespeita, padroniza e apaga as diferenças" (Candau e
equipe, 2002).
O currículo se concretiza no cotidiano da escola, sendo influenciado pelas atividades
práticas, pela seleção de conteúdos, pelos planos dos professores, e pelos currículos oculto e nulo. É
necessário que os professores, de forma deliberativa e comprometida, viabilizem um currículo que
oportunize uma formação crítica aos alunos para que possam transformar a sociedade.
RESUMO DA AULA 12 - COMPLEMENTO: CURRÍCULO, CONHECIMENTO E
CULTURA
APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS DO DOCUMENTO
O documento "Indagações sobre Currículo: Currículo, Conhecimento e Cultura"
(organizado por Beauchamp, Pagel e Nascimento, e contando com a coordenação de Antônio Flávio
Moreira, Miguel Gonzáles Arroyo e outros) foi elaborado pelo Ministério da Educação (MEC),
Secretaria de Educação Básica (SEB), em 2007. O objetivo principal desta publicação é deflagrar,
em âmbito nacional, um processo de debate sobre a concepção de currículo e sua elaboração nas
escolas e sistemas de ensino.
A reflexão sobre currículo é crucial, especialmente durante a implementação do Ensino
Fundamental de nove anos. O documento propõe cinco eixos organizadores para o debate, sendo
um deles Currículo, Conhecimento e Cultura. A intenção é subsidiar a análise das propostas
pedagógicas, uma discussão que precede a elaboração dos projetos político-pedagógicos.
A publicação defende uma escola democrática que humanize e assegure a
aprendizagem, e que supere práticas seletivas, excludentes e classificatórias.
Visão Geral dos Eixos de Indagação
Os textos que compõem o documento partem da visão de que os currículos não são
conteúdos prontos, mas sim uma construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas
em contextos sociais, políticos e culturais concretos. Todos os textos convergem ao destacar que:
1. Educadores e educandos são sujeitos de direitos, o que coloca o currículo e as práticas em
um novo referente ético.
2. O direito à educação é entendido como direito à formação e ao desenvolvimento humano
pleno, incluindo a apropriação de criações, saberes, ciências e culturas.
3. O conhecimento é o eixo estruturante do currículo e da docência, visto como um campo
dinâmico de produção, crítica, seleção e legitimação.
4. O direito à cultura deve ser recuperado, garantindo a cultura acumulada e o direito de
apropriação das práticas e valores culturais pelas novas gerações.
5. A diversidade (sócio-étnico-racial, de gênero, de território, etc.) deve ser vista como um
dado positivo, exigindo a superação de olhares preconceituosos e práticas classificatórias.
6. A avaliação está interligada ao currículo, e reorientar processos e critérios de avaliação
implica reorientar a organização curricular e vice-versa.
CURRÍCULO, CONHECIMENTO E CULTURA (MOREIRA & CANDAU)
1. OS ESTUDOS DE CURRÍCULO: DESENVOLVIMENTO E
PREOCUPAÇÕES
Concepções de Currículo
O termo currículo é associado a diferentes concepções, variando conforme a visão
histórica da educação e as influências teóricas. O currículo pode ser entendido como:
• Os conteúdos a serem ensinados e aprendidos.
• As experiências de aprendizagem escolares.
• Os planos pedagógicos elaborados.
• Os objetivos a serem alcançados.
• Os processos de avaliação que influenciam o conteúdo e procedimentos.
Concepção Adotada:
No texto, currículo é entendido como as experiências escolares que se desdobram em
torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das
identidades de nossos/as estudantes. Refere-se às atividades organizadas por instituições
escolares.
Currículo Oculto
O currículo oculto são os efeitos alcançados na escola que não estão explicitados nos
planos. Envolve atitudes e valores transmitidos subliminarmente pelas relações sociais e rotinas
do cotidiano escolar (ex: rituais, relações hierárquicas, modos de organizar o espaço e o tempo). É
importante identificá-lo para evitar que contribua para oprimir estudantes (por classe social, gênero,
raça, sexualidade).
O Foco na Cultura
Recentes análises apontam um deslocamento das preocupações dos pesquisadores,
saindo das relações entre currículo e conhecimento escolar para as relações entre currículo e
cultura. A cultura é vista como um dos elementos mais dinâmicos e imprevisíveis da mudança
histórica. É inegável a pluralidade cultural manifesta nas escolas, que traz desafios e
possibilidades pedagógicas.
2. ESCLARECENDO O QUE SE ENTENDE POR CONHECIMENTO ESCOLAR
Conhecimento Relevante e Significativo
O conhecimento escolar é central, e sua aprendizagem é indispensável. Uma educação
de qualidade deve levar o estudante a ir além dos referentes de seu mundo cotidiano. Relevância
é o potencial do currículo de capacitar as pessoas a compreenderem seu papel na mudança de seus
contextos imediatos e da sociedade, e a adquirirem as habilidades para isso.
Construção do Conhecimento Escolar
O conhecimento escolar é uma construção específica da esfera educativa, distinta de
outras formas de conhecimento, e não uma mera simplificação de conhecimentos externos à escola.
O currículo é um dispositivo que concentra as relações entre a sociedade e a escola, derivando dos
saberes e práticas socialmente construídos nos chamados “âmbitos de referência dos currículos”.
Âmbitos de Referência do Currículo:
• Instituições produtoras de conhecimento científico (universidades, centros de pesquisa).
• Mundo do trabalho.
• Desenvolvimentos tecnológicos.
• Atividades desportivas e corporais.
• Produção artística e campo da saúde.
• Formas de exercício da cidadania e movimentos sociais.
Processos de Fabricação do Conhecimento Escolar
Os conhecimentos de referência sofrem descontextualização e, a seguir, um processo
de recontextualização para se tornarem escolares.
1. Descontextualização: Faz com que o conhecimento escolar pareça "pronto" ou "acabado",
omitindo o processo de produção, conflitos e interesses envolvidos. Um forte grau de
descontextualização, embora necessário, corre o risco de perda de sentido dos
conhecimentos e de suas conexões com o mundo social.
2. Subordinação ao Desenvolvimento Humano: Os conhecimentos são selecionados com
base nos ritmos propostos pela psicologia do desenvolvimento, o que, em muitos casos,
ignora a capacidade dos estudantes de "queimar etapas".
3. Subordinação à Avaliação: Tendência a ensinar conhecimentos que possam ser avaliados.
4. Efeitos das Relações de Poder: O processo de construção sofre inegavelmente os efeitos de
relações de poder. A hierarquia curricular supervaloriza disciplinas científicas (ex:
Matemática) e secundariza artes e saberes populares, reforçando desigualdades sociais.
3. CULTURA, DIVERSIDADE CULTURAL E CURRÍCULO
Concepções de Cultura Relevantes para o Currículo:
• Século XVI: Mente humana cultivada (cultura associada às artes e às elites).
• Antropológica (Plural): Diversos modos de vida, valores e significados compartilhados por
diferentes grupos (nações, classes, etnias), enfatizando os conteúdos culturais.
• Prática Social/Simbólica: Cultura como prática social, um conjunto de práticas