Prévia do material em texto
W BA 08 98 _V 1. 0 INTERAÇÃO NEUROMECÂNICA FUNCIONAL: INFLUÊNCIA DO CONTROLE MOTOR NO MOVIMENTO HUMANO 2 Thiago Vinicius Ferreira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 INTERAÇÃO NEUROMECÂNICA FUNCIONAL: INFLUÊNCIA DO CONTROLE MOTOR NO MOVIMENTO HUMANO 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveria Higa Revisor Ana Carolina Araruna Alves Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Ferreira, Thiago Vinicius F383i Interação neuromecânica funcional: influência do controle motor no movimento humano / Thiago Vinicius Ferreira, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 41 p. ISBN 978-65-89881-48-3 1. Fisioterapia do Esporte. 2. Movimento Humano. 3. Neuromecânica. I. Título. CDD 615.82 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Anatomia Humana Topográfica e funcional __________________ 05 Teorias de controle motor e a aprendizagem motora no esporte _______________________________________________________________ 19 Análise cinesiológica e biomecânica segmentar dos complexos osteomioarticulares _________________________________________ 35 Bases, periodização e prescrição de exercícios terapêuticos no esporte _______________________________________________________ 50 INTERAÇÃO NEUROMECÂNICA FUNCIONAL: INFLUÊNCIA DO CONTROLE MOTOR NO MOVIMENTO HUMANO 5 Anatomia Humana Topográfica e funcional Autoria: Thiago Vinicius Ferreira Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves Objetivos • Conhecer a Anatomia e a Morfologia do Sistema Nervoso Central. • Conhecer a Anatomia e a Morfologia do Sistema Nervoso Periférico. • Conhecer e compreender a organização geral e anatômica das estruturas que compõe o sistema musculoesquelético. • Aplicar os conteúdos adquiridos em situações práticas profissionais. 6 1. Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso Central e do Sistema Nervoso Periférico Neste tema, convido a você a compreender os princípios anatômicos que se aplicam na produção e organização do movimento humano e sua relação com o esporte. O estudo da anatomia topográfica abordará uma visão geral da anatomia em diversas regiões do corpo, desde a divisão no Sistema Nervoso até os segmentos apendiculares. Além disso, também, discutiremos sobre como ocorre a influência do Sistema Nervoso Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico (SNP) no controle do movimento humano. 1.1 Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso Central O corpo humano é o nome geral dado a toda estrutura do nosso organismo, na qual o Sistema Nervoso é o responsável por comandar todos os sistemas, perceber estímulos e, assim, garantir a homeostase – equilíbrio – do organismo. Por sua vez, o Sistema Nervoso é dividido em Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico. O Sistema Nervoso Central, formado pelo Encéfalo e pela Medula Espinhal, tem como função receber e enviar informações para todo o organismo. Dessa maneira, o SNC é capaz de perceber todas as sensações e sentidos, além de ser responsável pelos atos voluntários do nosso organismo. O Encéfalo é subdividido em Cérebro, Cerebelo, Tronco Encefálico (Bulbo, Ponte e mesencéfalo) e Hipotálamo (Figura 1). Nesse contexto, vale ressaltar a importância dessas estruturas para ações relacionadas com a funcionalidade do movimento humano, como equilíbrio e ajuste nos movimentos (função do cerebelo), além do Bulbo sendo o responsável pelo controle do sistema cardiovascular e controle respiratório. 7 Figura 1 – Partes componentes do encéfalo vistos em um corte mediano Fonte: pukrufus/iStock.com. O encéfalo, responsável pela capacidade cognitiva, tem a maior área do cérebro. Essa estrutura está separada em dois hemisférios, direito e esquerdo, e cada hemisfério é dividido em lobos, conforme o quadro a seguir. Quadro 1– Descrição das estruturas presentes em casa hemisfério do crânio Estruturas Funções Frontal É responsável pelo planejamento de todas as ações, como: movimento, escrita e fala. Possui grande importância cognitiva. Temporal É responsável pela memória e pela função da audição. 8 Parietal É responsável pela coordenação e percepção de todas as sensações no tecido epitelial, como: tato, alterações de temperatura e presença de dor. Occipital Responsável pela visão. Ínsula Parte do sistema que configura as emoções – Sistema Límbico. Além disso, ela também é responsável pelo paladar. Fonte: elaborado pelo autor. Além disso, com característica de proteção para o SNC temos a caixa craniana, constituída pelos ossos do crânio e, também, pelas meninges (conjunto de membranas conjuntivas que protegem o encéfalo e a medula). As meninges, por sua vez, são divididas em: Dura-máter (porção mais externa), Aracnoide (porção medial) e Pia-máter (porção mais interna). Figura 1 – Meninges Fonte: VectorMine/iStock.com. Osso Dura-máter. Aracnoide. Pia-máter. Vasos sanguíneos. Cérebro 9 Entre as ações que o SNC executa está o controle de todos os sistemas corporais, como respiratório, cardíaco, motor e, também, ações centrais como a configuração da memória, raciocínio, linguagem e capacidade de julgamento. Essas são características fundamentais para o esporte, em que o indivíduo é exposto em diferentes situações e contextos que exigem capacidade de movimento e de tomada de decisão constante. A Medula Espinhal é a estrutura responsável por comunicar todas as partes do organismo com o cérebro e, assim, garantir uma eficiência do organismo. Nela estão localizados todos os neurônios eferentes autônomos, que são responsáveis pela inervação de sensibilidade do corpo, bem como os neurônios motores primários, que são responsáveis por inervar os músculos. Dessa maneira, a Medula Espinhal é a região anatômica na qual ocorre a integração dos neurônios que enviam e que recebem informação para todas as áreas do corpo humano. 1.2 Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso Periférico O Sistema Nervoso Periférico é formado por um conjunto de fibras nervosas denominadas de axônios e por corpos celulares que estão localizados fora da área do SNC. A principal função do SNP principal é realizar a comunicação entre todos os sistemas e segmentos do corpo com o SNC. Este sistema é constituído nervos, que são responsáveis por fazer a ligação entre a parte central do sistema nervoso com todas as estruturas periféricas, sendo anatomicamente dividido em 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos raquidianos. Além disso, o SNP, também, possui gânglios nervosos, que são um conjunto de células nervosas do lado de fora do SNC, plexos nervosos e terminações nervosas livres. 10 Os nervos cranianosde atividade. Programação relacionada com um foco específico. Ex.: incremento de resistência de força, força máxima, potência; incremento de resistência aeróbia. Programação de exercícios com foco específicos. Ex.: seleção de exercícios que estão relacionados adaptações neuromusculares e a organização do tempo de cada estímulo. Macrociclo Grandes blocos de ação. Usualmente são representados por vários meses ou anos. Programação anual de treinamentos para uma competição. Ex.: Jogos Olímpicos. Programação completa de um processo de reabilitação com todas as fases incluídas. Ex.: reabilitação de lesão de ligamento cruzado anterior. Fonte: elaborado pelo autor. 54 Dessa maneira, os programas de tratamento dentro da fisioterapia esportiva são aqueles que são organizados em fases. Consequentemente, isso permitirá que sejam trabalhadas as valências físicas, psicológicas e técnicas dentro da capacidade do indivíduo e dentro de diferentes tempos. Essa progressão percorre um ritmo indo do mais básico e com menor intensidade, porém, sempre dentro da carga/esforço ótimo e evoluir para atividades/exercícios mais complexos e dinâmicos, conforme ganhos nas valências do organismo. 1.2 Transição entre fases da reabilitação A mudança das fases de ação dentro de um processo de reabilitação dependerá de diversos fatores, que podem ser divididos em intrínsecos: idade, sexo, hereditariedade e capacidade física prévia; e, também, por fatores extrínsecos: qualidade de manipulação de carga/estresse ofertado, estrutura de realização do trabalho. Com isso, o fisioterapeuta esportivo deve organizar os objetivos da reabilitação completa em períodos de ação com focos diversos. Incialmente, após uma lesão, se instaura um período de resposta fisiológica para cicatrização e controle da inflamação. Esse momento durante a reabilitação deve ser orientado para permitir que qualquer lesão cicatrize e um período de reabilitação inicial ocorra para que o atleta esteja pronto para avançar para atividades mais complexas. Nessa fase, as atividades devem ser novas e iniciais com um baixo volume durante a semana. Em uma fase intermediária, as valências físicas que o atleta necessita durante a prática esportiva devem ser priorizadas. Nessa fase, as adaptações necessárias têm como objetivo, em grande parte, o incremento da valência de força e adaptações do movimento. Essas ações contam com: 55 • Adaptações biomecânicas ao movimento: desenvolver estrutura e função corporal relacionado ao condicionamento geral e restauração dos padrões fisiológicos de movimento. • Ganho de hipertrofia: realizar trabalho com o objetivo de aumentar a área de secção transversa nas fibras do sistema muscular. Normalmente, alcança com uma organização média de 8-15 repetições entre 50-80% de 1RM entre 3-5 séries. • Ganho de força muscular: que pode ser dividida em força máxima (3-6 repetições entre 80-90% de 1RM entre 2-6 séries); potência muscular (8-15 repetiçõesou seja, ele mesmo irá efetuar um controle consciente de sua própria sequência de movimentos. É sempre importante determinar um objetivo de rendimento a ser atingido pelo atleta. • Princípio da transferência do treinamento Esse princípio visa contornar os problemas relacionados com a transferência de atividades de aprendizagem motora para o contexto específico do atleta. Dessa forma, o trabalho na reabilitação com o atleta deverá, assim que possível, ser o mais específico as condições e gestos motores da atividade esportiva. 59 • Princípio da periodização Esse princípio tem como base a necessidade de organização do treinamento/tratamento do atleta por meio de períodos e etapas definidas. Isso deve ser realizado uma vez que trocas periódicas da estrutura e conteúdo do treinamento, seja para o desempenho esportivo ou para a reabilitação, irão propiciar uma condição necessária para o aperfeiçoamento da capacidade atlética do indivíduo/atleta. • Princípio da adequação Esse princípio visa o fato que existe uma fração ideal de treino, seja para o desempenho esportivo ou para a reabilitação, no qual a solicitação ocasionada por um estímulo não pode ser baixa ao ponto de provocar uma desmotivação no atleta nem uma carga/esforço extremamente forte ao ponto de prejudicá-lo. 2.1 Princípios biológicos do treinamento aplicados para reabilitação de lesões Já do ponto de vista biológico, outros nove princípios são utilizados para promover a aplicação correta do processo de treinamento e reabilitação: princípio da unidade funcional; princípio da individualidade biológica; princípio da adaptação; princípio da multilateralidade; princípio da especificidade; princípio da sobrecarga; princípio da continuidade; princípio da progressão e princípio da reversibilidade. Entre eles, alguns são importantes dentro do contexto da reabilitação esportiva do atleta. • Princípio da Individualidade Biológica Esse princípio preconiza o fato de cada indivíduo trazer consigo uma característica genética única, denominado “genótipo”. Ao mesmo tempo, uma série de experiências são acrescentadas ao mesmo indivíduo desde a sua gestação, determinando outras características, o fenótipo. 60 Dessa maneira, não existem indivíduos iguais, mesmo se apresentarem genótipo semelhante (como os gêmeos), a exposição a diferentes situações de vida poderá influenciar em diferentes repercussões de fenótipo. Isso faz com o que a adoção das variáveis do treinamento seja individualizada e prescrita para cada paciente. • Princípio da Adaptação Toda vez que um estímulo é aplicado ao organismo, na tentativa de se adaptar, surge uma resposta positiva, negativa ou indiferente ao estímulo. Essas respostas dependem de fatores intrínsecos do indivíduo, como idade, sexo, hereditariedade, condição de saúde e perfil psicológico. E, também, são influenciadas por fatores externos ao indivíduo como alimentação, condição de treinamento, clima, capacidade de recuperação e qualidade e quantidade de sobrecarga. Em relação a esse último ponto, estudiosos têm ressaltado um fenômeno denominado de síndrome da adaptação geral (SAG). De acordo com esse fenômeno, os estímulos que ocasionamos por meio de exercícios podem ser divididos em: Fracos: que não implicam em nenhuma adaptação no organismo. Médios: que provocam apenas pequenos estímulos de estimulação. Ótimo: que provocam adaptações reais no organismo. Muito fortes: que provocam danos aos diversos tecidos e sistemas do organismo. Dessa forma, na prática clínica, devemos guiar os exercícios para serem realizados dentro de um estímulo ótimo. Ao alcançar essa zona de estimulação, o organismo terá mudanças efetivas no sistema vinculado ao tipo de exercício, por exemplo: neuromuscular em treinos de força, melhora da capacidade oxidaditiva celular em treinos aeróbios. 61 • Princípio da Sobrecarga Esse princípio preconiza que, para o indivíduo adquirir uma aptidão física permanente, todos os sistemas do organismo devem ser submetidos às cargas/esforços que provoquem adaptações. Para isso, essa carga/esforço deverá ser sempre crescente tanto em quantidade (volume) como em qualidade (intensidade). Dessa maneira, no processo de reabilitação no esporte, as cargas/ esforços utilizados para o tratamento do paciente devem variar seu conteúdo a fim de otimizar a recuperação energética. A alternância e a sucessão corretos de cargas/esforços com características diferentes permitirão um ganho em amplitude e intensidade do tratamento. Para que isso ocorra sem riscos para o paciente, alguns cuidados devem ser realizados: • Sempre avaliar qual é a carga/esforço máxima que o paciente é capaz de ser submetido e organizar a partir dela as cargas de treinamento. • Aumentar progressivamente as cargas/esforços ao longo do tempo. Porém, esse aumento deve respeitar as capacidades fisiológicas do paciente não ocorrer de forma abrupta. • Permitir recuperação do paciente entre as séries de exercício é importante para evitar um treinamento exagerado e provocar decréscimos na capacidade física do paciente. • Princípio da Reversibilidade De acordo com esse princípio, as alterações nos sistemas corporais adquiridas com o treinamento físico ou reabilitação podem ser transitórias. Assim, existe uma tendência ao retorno aos níveis iniciais 62 ou basais de capacidade física, caso o estímulo não seja orientado para produção de um estímulo ótimo. Vale ressaltar que, o tempo necessário para reverter os efeitos do treinamento é proporcional ao temo de treinamento. Ou seja, se houve um ganho rápido de força, se o estímulo interromper a perda será rápida e, por sua vez, se o ganho foi realizado de forma lenta, em um período prolongado, ele será mantido com mais facilidade e a perda ocorre com mais lentidão. Em razão disso, para os pacientes nas fases iniciais de tratamento devem ser realizados atividades de base com a maior variedade de estímulos e gestos motores possíveis. E, posteriormente, para evitar a estagnação ou o decréscimo na capacidade é necessário levar em conta o princípio da sobrecarga para o melhor desenvolvimento e recuperação do indivíduo/atleta. • Princípio da Especificidade Esse princípio está relacionado com o fato que um estímulo de carga/ esforço é eficaz quanto mais for específico para o indivíduo. Isso ocorre, pois, o organismo dispõe de uma capacidade pequena de transferir a especificidade de estímulos provocados por cargas com diferentes finalidades. Dentro do contexto esportivo, faz-se necessário determinar com precisão quais qualidades físicas estão envolvidas na atividade do atleta. Essas qualidades estão relacionadas com o metabolismo energético envolvido na atividade, o gesto esportivo e os segmentos corporais envolvidos. Assim, na reabilitação esportiva, existe a necessidade de o programa de reabilitação ser organizado tendo em vista as demandas específicas do desempenho esportivo do atleta em termos de magnitude, duração e velocidade de ação. Além disso, é importante ressaltar que na fase final da reabilitação o fisioterapeuta deve criar condições de reabilitação próximas as condições de participação esportiva para o treino e para competição do atleta. 63 3. Progressão do processo de reabilitação O desenvolvimento de um plano de reabilitação deve sempre ser orientado as demandas do paciente e com o objetivo de restaurar sua função. No contexto esportivo, o fisioterapeuta do esporte trabalha com uma população de atletas que precisam estar em excelente forma física. Isso ocorre uma vez que uma baixa capacidade física aumenta exponencialmente o risco de ocorrência de lesões e outros problemas de saúde. Logo, o processo de reabilitação deve estar vinculado aos fatores que possam influenciar no condicionamento improprio do atleta e, também, que contribuem na diminuição para o aumento do risco de lesões, conforme demonstra a figura a seguir. Figura 2 – Descrição de tópicos que ofisioterapeuta esportivo deve levar em conta durante o processo de reabilitação Fonte: elaborada pelo autor. 64 Dessa maneira, é de suma importância que o fisioterapeuta esportivo tome conhecimento e analise criticamente o programa de reabilitação elaborado. O fisioterapeuta esportivo deve estar atendo as demandas que serão impostas no programa de reabilitação e de treinamento do atleta em reabilitação. Tendo em vista esses fatores, juntamente com os diferentes princípios do relacionados ao treinamento, é importante o fisioterapeuta planificar o seu processo de reabilitação no esporte. Essa planificação deve levar em conta três principais pontos: a relação entre organismo e o estímulo ofertado; a relação entre a atividade/exercício e o descanso/ repouso e a metodologia específica de cada estímulo proposto durante a reabilitação. 3.1 Elaboração do plano de reabilitação O desenvolvimento de um plano de tratamento é complexo e demanda um conhecimento teórico sobre os sistemas que compõe o corpo humano associado com o entendimento do movimento e das demandas específicas do esporte. Além disso, a progressão do plano de tratamento deve ser feita de acordo com o tipo da lesão e o tecido que foi afetado. Logo, o plano de reabilitação envolve a tomada de decisão sobre diversos fatores que envolvem todo processo de retorno do atleta a prática esportiva. De uma forma inicial é necessário que o fisioterapeuta esportivo avalie a lesão e seu mecanismo causador. O fisioterapeuta deverá avaliar fatores pessoais (história da lesão e histórico familiar), fatores relacionados a lesão (severidade, natureza e estágio) e os fatores biomecânicos relacionados a lesão. Além disso, elaborar os objetivos para o tratamento e o plano de tratamento. Ainda nesse contexto, deve-se observar as variáveis importantes para organização e controle do movimento, como: amplitude de 65 movimento, flexibilidade, controle proprioceptivo, incremento de força e resistência aeróbia são necessários para ser gerenciados no processo de reabilitação para o retorno ao esporte. Assim, o plano de reabilitação deve ser sistemático e progressivo, o que envolve o manejo adequado da lesão, a fim de evitar piora nos sintomas e permitir que o protocolo de tratamento progressivo seja implementado de forma eficaz. A reabilitação, dentro das suas diversas variáveis, deve ser organizada em metas que vão de encontro as fases da periodização do tratamento. Dessa forma, o planejamento de metas é a chave para a implementação bem-sucedida de um programa de reabilitação progressiva. Referências FOSCHINI, D. et al. Prescrição e periodização do treinamento de força em academias. 2. ed. São Paulo: Manole, 2016. LIEBENSON, C. Treinamento funcional na prática desportiva e reabilitação neuromuscular. Porto Alegre: Artmed, 2017. MCARDLE, W. D. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. STARKEY, C. Recursos terapêuticos em fisioterapia. 4. ed. São Paulo: Manole, 2017. 66 BONS ESTUDOS! Sumário Anatomia Humana Topográfica e funcional Objetivos 1. Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso Central e do Sistema Nervoso Periférico 2. SNP-Sistema Nervoso Autônomo e Somático 3. Anatomia Topográfica das Estruturas Musculoesqueléticas Referências Teorias de controle motor e a aprendizagem motora no esporte Objetivos 1. Aprendizagem, performance e habilidade motora 2. Teorias de controle motor 3. Aspectos psicológicos que influenciam no Processando Informações 4. Organização de informações e tomada de decisão Referências Análise cinesiológica e biomecânica segmentar dos complexos osteomioarticulares Objetivos 1. Princípios da cinesiologia e biomecânica dos segmentos corporais 2. Osteocinemática, biomecânica dos membros superiores e inferiores 3. Análise mecânica do movimento humano Referências Bases, periodização e prescrição de exercícios terapêuticos no esporte Objetivos 1. Introdução a Periodização 2. Princípios pedagógicos do treinamento aplicados para reabilitação de lesões 3. Progressão do processo de reabilitação Referênciassão divididos em 12 pares, que, por sua vez, tem sua origem no encéfalo, sendo que a maior parte deles emergem do tronco encefálico. Ademais, esses nervos são nomeados por numerais romanos de I a XII, conforme apresentado no quadro a seguir. Quadro 2 – Descrição nominal dos 12 pares de nervos cranianos Nervos Cranianos I – Nervo Olfatório. IV–Nervo Troclear. VII – Nervo Facial. X – Nervo Vago. II – Nervo Óptico. V – Nervo Trigêmeo. VIII–Nervo Vestibulococlear. XI – Nervo Acessório. III – Nervo Oculomotor. VI – Nervo Abducente. IX – Nervo Glossofaríngeo. XII – Nervo Hipoglosso. Fonte: elaborado pelo autor. Já a medula espinhal é organizada em 31 pares de nervos espinhais, que emergem da medula espinhal em uma região entre as vertebras denominada raiz neural e são nomeados de acordo com sua posição anatômica de saída na Coluna Vertebral. Um nervo é organizado em duas raízes, sendo uma raiz anterior, que possui fibras nervosas motoras oriundas dos corpos celulares situados na porção ou corno anterior da medula espinhal e raiz posterior (composta por fibras sensitivas que estão localizadas na porção ou corno posterior da medula espinhal), conforme demonstrado na Figura 2, no qual a raiz anterior é dada pelo número quatro e a raiz posterior dada pelo número três. 11 Figura 2 – Medula espinhal em um no plano transverso e suas vias de entrada e saída Fonte: ilbusca/iStock.com. Os nervos radiculares são anatomicamente divididos em 8 pares de nervos cervicais (C1 a C8), 12 pares de nervos torácicos (T1 a T12), 5 pares de nervos lombares (L1 a L5), 5 pares de nervos sacrais (S1 a S5) e 1 par de nervo coccígeos (Co1). De uma forma funcional, os nervos que emergem das raízes (anterior e posterior) da medula espinhal e se fundirão em um feixe único denominado “nervo espinhal misto”, que 4 2 3 1 7 9 8’ 8 9’ 12 possui a função de conduzir tanto as informações dos nervos motores quanto dos nervos sensitivos. Nesse sentido, a raiz anterior contém axônios de neurônios motores que são responsáveis por transmitir e conduzir estímulos neurais (originados nos SNC para órgãos e células alvo), sendo as fibras motoras eferentes direcionadas para os tecidos musculoesqueléticos (movimentos voluntários) e as fibras motoras viscerais eferentes responsáveis por transmitir estímulos para o músculo liso, ou seja, movimentos involuntários. Na raiz posterior contém axônios sensitivos que são responsáveis por conduzir impulsos nervosos a partir de receptores do organismo para o SNC, dessa forma, as fibras sensitivas aferentes são responsáveis por transmitir todas as sensações provenientes do corpo, como dor, temperatura, pressão de estruturas musculoesqueléticas e do tecido tegumentar para a medula espinhal e, também, são responsáveis pela condução do estímulo de sensações proprioceptivas, que são capazes de fornecer informações ao corpo sobre a posição articular ou a tensão exercida em músculos e tendões. Já as fibras sensitivas viscerais aferentes são responsáveis por transmitir as sensações de dor provenientes de mucosas, vasos sanguíneos e glândulas. 2. SNP–Sistema Nervoso Autônomo e Somático Além disso, o SNP é dividido em sistema nervoso somático e sistema nervoso autônomo. O primeiro é responsável por fornecer inervação sensitiva e motora para todas as partes do corpo, permitindo que ocorram ligações por meio de sinapses entre o SNC e o sistema musculoesquelético ou órgão efetor. A realização dos movimentos humanos está relacionada com as ações conscientes, como a contração muscular voluntária do organismo. Para 13 essa ação, o hormônio Acetilcolina é liberado e catalisa a formação de um potencial de ação na fibra muscular, o que propicia a contração muscular. Dessa maneira, o sistema nervoso somático será o responsável por controlar o fornecimento de impulsos motores ao sistema musculoesquelético de forma consciente e voluntária A parte autônoma do SNP é responsável pela inervação dos músculos lisos ou involuntários, músculo cardíaco e glândulas. Por sua vez, ele atua como função de manter um ambiente corporal interno em homeostase constante, por meio de comandos que irão propiciar estímulos compensatórios, como regulação de uma determinada quantidade de hormônio circulante no corpo, regulação da frequência cardíaca e respiratória. Nesse sistema, os nervos são divididos em dois ramos: ramo simpático (toracolombar) e ramo parassimpático (crâniossacral). Ambos os ramos inervam as mesmas estruturas, porém, com funções diferentes, em que um irá estimular e o outro irá inibir alguma ação. Logo, essa ação antagônica atua de forma harmônica para coordenar e equilibrar a homeostase interna do organismo. A respeito das diferenças anatômicas entre o SN Simpático e SN Parassimpático podemos destacar: • SN Simpático: os neurônios pré-ganglionares encontram-se próximos a coluna vertebral, nos níveis torácicos (entre T1 a L2). Além disso, em sua maioria, eles possuem fibras nervosas pós- ganglionares adrenérgicas. • SN Parassimpático: os neurônios pré-ganglionares encontram- se próximos a região do crânio (tronco encefálico) e sacral (S2 a S4). Além disso, eles possuem fibras nervosas pós-ganglionares colinérgicas. 14 Esses estímulos nervosos, do SN Simpático e SN Parassimpático, são conduzidos pelo sistema nervoso por meio de sinais elétricos, impulsos nervosos transmitidos pelo sistema. Para que ocorra essa transmissão é necessário que o ambiente celular do sistema neural passe por mudanças fisiológicas, principalmente, na permeabilidade das membranas celulares. Esse processo é denominado neurotransmissão. Contudo, esse processo de transmissão do impulso nervoso é diferente em cada um dos sistemas autônomos, pois, cada um desses sistemas possui neurotransmissores específicos. No SN Simpático, o principal neurotransmissor é a noradrenalina, e, por isso, esses neurônios também podem ser denominados de neurônios adrenérgicos. Essas fibras neurais têm como função conectar o sistema nervoso central à glândula suprarrenal, que é responsável pela secreção de adrenalina, que atuará em ações de estresse ou “luta e fuga”. Já o SN Parassimpático secreta diferentes neurotransmissores, porém, o principal neurotransmissor secretado é a acetilcolina e, em razão disso, esses neurônios podem ser chamados de colinérgicos. O principal ponto de ação nesses neurotransmissores no SNP se dá nos receptores muscarínicos e nicotínicos. Esses receptores são responsáveis por desencadear uma cascata de eventos fisiológicos relacionados ao SNP, como diminuição da frequência cardíaca, diminuição da frequência respiratória e sudorese. Na prática, esse sistema irá controlar diversas funções do nosso organismo, principalmente durante o movimento, como a prática de atividades físicas ou esportivas, eles irão trabalhar em conjunto para promover a homeostasia corporal. De forma contínua e única, os sistemas influenciarão no controle pressórico, controle da frequência cardíaca e controle da frequência respiratória. Desse modo, essa atuação se dá de forma autônoma, ou seja, sem que seja necessário o indivíduo tomar consciência ou realizar esforço. 15 3. Anatomia Topográfica das Estruturas Musculoesqueléticas A anatomia é definida como a parte da biologia que estuda a morfologia ou estrutura dos seres vivos, bem como a função do corpo. Essa ciência pode ser dividida em anatomia macroscópica e anatomia microscópica. Dentro da anatomia macroscópica, que é definida como o estudo das estruturas observáveis a olho nu, temos a anatomia topográfica, como sendo o estudo da anatomia humana na qual é realizada o estudo das áreas do corpo por regiões. Classicamente, o corpo humano é dividido em regiões anatômicas para proporcionar um melhor entendimento. Entre os termos utilizados para essa compreensão temos o segmento axial, que se divide em cabeça, tronco, pelve e segmento apendicular do membro superior com ocomplexo do ombro, cotovelo, punho e mão e segmento apendicular do membro inferior, como quadril, joelho, tornozelo e pé. Já na anatomia topográfica, o termo posição anatômica é um referencial para podermos localizar e descrever as estruturas anatômicas por regiões que foram padronizadas de forma global. Ao utilizar essa posição, é possível descrever uma posição anatômica de qualquer segmento do corpo. Em termos direcionais, utilizados na descrição das partes e regiões do corpo, a partir da posição a seguir: • Cabeça e olhos orientados para frente. • Membros apendiculares superiores ao lado do corpo, juntamente com as palmas das mãos orientadas para frente. • Membros apendiculares inferiores juntos, com os pés orientados para frente. 16 Outra forma de conhecer a localização dos segmentos do corpo são os planos anatómicos. Planos anatômicos se tratam da descrição de planos imaginários usados para dividir o corpo humano, de forma a descrever a localização de estruturas e movimentos. Essa divisão é organizada em quatro planos: plano mediano, plano sagital, plano coronal e plano transverso, descritos no quadro a seguir: Quadro 3 – Descrição dos planos de movimento corporal Planos Descrição Mediano Plano vertical que irá passar longitudinalmente por meio do corpo, dividindo o corpo na metade, direita e esquerda. Coronal Planos verticais irão passar pelo corpo em ângulos verticais com o plano mediano, dividindo o corpo em partes anterior e posterior. Transverso Planos que passam pelo corpo em ângulos retos com os planos coronal e mediano, dividindo o corpo em partes superior e inferior. Sagital Planos verticais que passam pelo corpo em ângulos paralelos ao plano mediano. Fonte: elaborado pelo autor. Além disso, também utilizamos termos de comparação e de relação sobre direção para descrever o posicionamento das estruturas, sendo: • Ventral/anterior: se refere ao que está na direção da frente do corpo. • Dorsal/posterior: refere-se ao que está na direção das costas do corpo. • Superior/cranial: termo que se refere ao que está na parte superior da linha media do corpo. • Inferior/caudal: refere-se ao que está na parte inferior do corpo. 17 • Medial: refere-se ao que está mais próximo do plano sagital mediano. • Lateral: termo que se refere ao que está mais distante do plano sagital mediano. • Proximal: refere-se ao que está próximo a raiz do membro (próximo ao tronco). • Distal: termo que se refere ao que está mais distante da raiz do membro (afastado do tronco ou do ponto te inserção proximal). • Superficial: termo que está localizado mais próximo a superfície do corpo. • Profundo: está localizado afastado da superfície do corpo. Por exemplo, a cabeça está localizada superiormente, enquanto a articulação do tornozelo está localizada na região inferior. Outro exemplo, a articulação do punho está localizada distalmente, enquanto o complexo do ombro está localizado proximal. Todos esses termos podem ser utilizados de maneira combinada para descrever posicionamentos intermediários, como inferolateral, termo que se refere a porção inferior do corpo e mais distante do plano mediano. Além disso, todas as estruturas pares do corpo humano têm uma classificação em termos de lateralidade. Por sua vez, essas estruturas estão presentes nos dois lados do corpo em relação a linha média (lado direito e lado esquerdo), sendo denominados como bilaterais, enquanto estruturas que estão presentes em apenas um lado são denominadas de unilaterais. Essas estruturas também podem ser consideradas contralaterais quando ocorrem em lados opostos, como o cotovelo esquerdo é contralateral ao cotovelo direito ou ipsilateral, quando 18 ocorrem em lados semelhantes, o cotovelo esquerdo é ipsilateral à mão esquerda. Referências DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia básica dos sistemas orgânicos: com a descrição dos ossos, junturas, músculos, vasos e nervos. São Paulo: Atheneu, 2006. DAVIS, M.C. et al. The naming of the cranial nerves: a historical review. Clinical Anatomy, [s. l.], v. 27, n. 1, p. 14-19, 2013. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm. nih.gov/24323823/. Acesso em: 21 maio 2021. LIPPERT, H. Anatomia: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. TORTORA, G. J. Princípios de anatomia humana. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24323823/ https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24323823/ 19 Teorias de controle motor e a aprendizagem motora no esporte Autoria: Thiago Vinicius Ferreira Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves Objetivos • Conhecer a diferença entre aprendizagem motora, performance motora e habilidade motora. • Conhecer como ocorre a organização das informações para tomada de decisão. • Conhecer as contribuições sensoriais para performance de uma ação. • Conhecer as principais teorias de controle motor. • Aplicar os conteúdos adquiridos em situações práticas profissionais. 20 1. Aprendizagem, performance e habilidade motora Neste tema, estudaremos sobre os conceitos relacionados a aprendizagem motora e, consequentemente, a aquisição de habilidades para realização de uma ação ou tarefa. Para isso, discutiremos como as teorias de controle e aprendizagem motora agem em nível central e na periferia para realização de um movimento. Além disso, abordaremos sobre os mecanismos que atuam como fatores que contribuem para a aquisição de uma determinada habilidade motora e, também, quais são os fatores que podem afetar essa aquisição de habilidade. 1.1 Aprendizagem motora O estudo do desenvolvimento motor humano é uma área de estudos que tem como objetivo compreender as variáveis inseridas nas mudanças do comportamento motor ao longo do decorrer da vida do indivíduo. Essa área de estudo tem passado por mudanças conceituais que focam na relação dinâmica entre o indivíduo e o meio ambiente para construção do movimento. Segundo Schmidt e Timothy (2016), por definição, a aprendizagem motora se refere a uma mudança interna relativamente permanente, que é resultante de repetição e de feedback, inferida pela execução. Dessa maneira, por meio de estímulos e processos maturacionais, o organismo muda internamente e, assim, desenvolve capacidade de realização de ações ou movimentos que permitem o alcance de metas do meio ambiente com melhor qualidade e menor dispêndio energético. Ao repetir de forma deliberada e sistemática uma tarefa motora, o indivíduo induzirá o organismo a mudanças internas, relativamente permanentes, que podem ser capazes de modificar a habilidade de execução de uma tarefa motora. Assim, a mudança na habilidade 21 é representada pelo aprendizado de uma nova tarefa ou pelo aperfeiçoamento de uma tarefa motora já adquirida previamente. Por sua vez, essa aprendizagem é verificada por meio da melhora na consistência e eficiência da performance motora. Na prática esportiva, essa aprendizagem é verificada em situações que o atleta busca criar a solução para um problema. Por exemplo, é melhor um técnico dar uma instrução geral, como “correr até a linha de fundo e cruzar a bola” ou “arremessar a bola na cesta” do que dar dicas de como correr e cruzar ou, então, de como deve arremessar, pois, dessa forma, o atleta irá desenvolver a capacidade de criar soluções para suas tarefas. 1.2 Performance e habilidade motora Diferentemente do conceito de aprendizagem motora, a performance motora é a produção observável de ações voluntárias. Contudo, ela pode ser influenciada por variáveis internas, como condição física, motivação e sono. Dentro desse constructo, temos o conceito de habilidade motora, que pode ser definida como um gesto voluntário realizada com o objetivo de atingir uma meta com o máximo de certeza e o mínimo de dispêndio energético (esforço) e tempo. Assim, caracterizamos a máxima certeza como a necessidade de alcançar um baixo erro absoluto e variabilidade na execução do movimento; mínimo esforço é representadopela necessidade de redução no número de movimentos desnecessários e, assim, o que poupará energia para o movimento principal a ser executado e o menor tempo, de acordo com o movimento ou tarefa, sendo diferente de velocidade máxima de execução. No esporte, essa habilidade representa o refinamento ou a combinação de padrões fundamentais, motores e cognitivos para desempenhar atividades relacionados a uma modalidade esportiva. 22 Toda habilidade motora é representada por um movimento. Entretanto, nem todo movimento é uma habilidade, porque nem todo movimento objetiva uma tarefa – por exemplo, movimentos involuntários. No contexto da habilidade, dividiremos de forma teórica os indivíduos em relação descrição de uma habilidade para execução de uma tarefa motora em: indivíduos altamente habilidosos e pouco habilidosos. Toda habilidade pode ser classificada de acordo com sua organização, aspectos ambientais ou por aspectos motores ou cognitivos, conforme o quadro a seguir: Quadro 1–Definição das formas de organização de habilidades Classificação Organização Definição Exemplos práticos Organizacional Discreta Organizada de forma que a ação tem início e fim bem estrutura- dos e definidos, além de uma breve dura- ção. Saltar, chutar ou arre- messar uma bola, lan- çar um objeto. Organizacional Seriada Organização de uma série de habilidades discretas conectadas em uma sequência rápida. Realizar uma bandeja no basquete, uma série de saltos organizados. Organizacional Contínua São habilidades realizadas repetida- mente por um deter- minado tempo com início, meio e fim não definidos. Correr, nadar e peda- lar. 23 Aspectos am- bientais Aberta Caracterizada por um ambiente impre- visível e em constan- te mudança. Dessa maneira, existe a ne- cessidade constante do indivíduo realizar alterações e ajustes no padrão de movi- mento para atender as exigências do am- biente. Situações de jogo no tênis ou no futebol, es- portes de lutas. Aspectos am- bientais Fechada Caracterizada por um ambiente estável e previsível que per- mite que a pessoa planeje seus movi- mentos, de forma an- tecipatória e determi- na o momento exato de iniciar a ação. Tiro, arco e Flecha e Golf. Aspectos mo- tores Habilidade motora Tem como ênfase o controle motor da ta- refa, ou seja, na exe- cução de forma cor- reta do movimento. Fazer um chute em uma cobrança de falta no futebol ou arremes- sar uma bola no lance livre no basquete. Aspectos cog- nitivos Habilidade cognitiva Tem foco na percep- ção e no processo de tomada de decisão, ou seja, na qualidade da tomada de deci- são ou organização sobre qual movimen- to utilizar. Trabalhar em equipe, xadrez. Fonte: elaborado pelo autor. Vale ressaltar, também, que as ações motoras de habilidade podem ainda serem separadas de acordo com a estrutura muscular utilizada em coordenação motora grossa, no qual os grandes grupos musculares realizam a tarefa motora ou coordenação motora fina, no qual os pequenos músculos são utilizados. 24 Logo, o organismo irá desenvolver um processo de aprendizagem motora no qual o indivíduo se tornará capaz de solucionar problemas diversos do ambiente, realizando as melhores escolhas de forma rápida e concisa para tomada de decisão para o movimento. 2. Teorias de controle motor Diversas teorias dão suporte ao processo de desenvolvimento motor do indivíduo. Algumas teorias são ancoradas em aspectos neuromaturacionais e, atualmente, uma outra forma de interpretar o desenvolvimento motor por meio da contribuição conjunta entre sistema nervoso e sistema musculoesquelético, força da gravidade e inércia foi proposto por Bernstein. Atualmente, os estudos reportam de forma consensual que, para execução e de uma tarefa motora, tanto os fatores centrais como os fatores periféricos são importantes na execução e no controle do movimento. Ambos contribuem, de forma maior ou menor, a depender do tipo de movimento que será executado, como em um movimento de levantar e sentar em uma cadeira; no movimento de agachamento; durante a execução de um movimento rápido, como a mudança de direção durante a corrida em um jogo de futebol ou o movimento do braço para um lançamento de disco no atletismo. 2.1 Teoria de circuito aberto Essa teoria conta com um programa motor, ou seja, uma unidade abstrata que contém todos os detalhes para realização dos movimentos. Assim, esse programa motor será o responsável por toda execução dos movimentos, não sendo necessário feedback ou o feedback não é utilizado para o controle do movimento que é realizado. Entretanto, a principal crítica do ponto de vista prático dessa teoria é o fato que, 25 nessa teoria, não há tempo suficiente para utilizar o feedback de forma eficiente após o início do movimento para realizar ajustes. Com isso, esse fato diminuiria a acurácia e a precisão dos movimentos, uma vez que não utilizam de feedback sensorial do ambiente. 2.2 Teoria de circuito fechado Nessa teoria, que também pode ser chamada de teoria do programa motor ou close loop control, o sistema oferece ao indivíduo a possibilidade de realizar uma adaptação durante a execução de uma habilidade motora qualquer de acordo com mudanças presentes no ambiente. Dessa forma, o programa motor não é mais responsável por todo processo do movimento, mas apenas por seu início. Esse fato exige feedback constante para auxiliar no controle do movimento que está sendo realizado. Nesse sentido, essa teoria possui uma estrutura de detecção de erros por meio de feedback para extrais informações do ambiente denominada traço perceptivo e, também, um traço de memória que permite a organização da ação e iniciar o movimento. Assim, o traço perceptivo permite que o indivíduo adapte os movimentos, uma vez iniciados a partir do traço de memória. Porém, a principal crítica dessa teoria está no fato de os movimentos ficaram armazenados no sistema nervoso central. Para isso, seria necessária uma grande capacidade de armazenamento para armazenar todos os programas motores de movimento e, além disso, receber e dar comandos para o organismo realizar a tarefa motora. Outro ponto importante é que, essa teoria não é capaz de explicar o fato do organismo ser capaz de adaptar aos movimentos aprendidos previamente e a realizar movimentos nunca praticados pelo indivíduo. 26 2.3 Teoria do Esquema – Programa motor generalizado (PMG) Essa teoria surgiu na necessidade de explicar as qualidades adaptativas e coordenadas do comportamento motor. De acordo com essa teoria, o movimento é possível graças a um controle de classes de ações e não um ou uma sequência de movimentos. Dessa forma, existem aspectos invariantes, que são responsáveis por formar a base do que está armazenado na memória e não modificarão, independentemente do que ocorra (força e tempo relativo, sequência de componentes), aspectos variantes que são os parâmetros específicos dos movimentos, ou seja, podem modificá-los (força e tempo total e músculos envolvidos). Assim, essa teoria é capaz de explicar como um programa motor é capaz de atuar para controlar o movimento de forma coordenada. Logo, regras abstratas fornecem ao programa motor generalizado parâmetros necessários para executar alguma habilidade motora. Na prática, essa teoria retoma a necessidade dos feedbacks para contribuir no ajuste do movimento. O indivíduo estrutura um movimento a partir de suas variações armazenadas na memória, logo, ao realizar um movimento, o indivíduo irá recuperar um programa motor prévio armazenado na memória, e acrescentar parâmetros específicos ao movimento. Com isso, o indivíduo irá buscar por aspectos invariantes na memória e acrescentar parâmetros variantes. 2.4 Teoria dos Sistemas Dinâmicos A teoria dos sistemas dinâmicos visa integrar a pessoa, a tarefa e o ambiente durante a realização do movimento. De acordo com ela, certas condições ocasionarão uma situação que irá emergir um padrãoespecífico de momento. Assim, nem todos os aspectos do comportamento motor precisam ser controlados por representações 27 centrais do movimento. Então, o movimento surgirá de uma auto- organização do sistema, que é complexa e não é linear. Esse sistema possui algumas variáveis ou parâmetros que irão afetar a emergência de padrões de coordenação que podem ser assumidos pelo sistema. • -Atrator: Padrão emergente de comportamento pelo qual a pessoa é levada a se comportar, ou seja, é o estado preferencial do sistema. • Estruturas coordenativas: Variáveis funcionalmente específicas que definem o comportamento global de um sistema, criando um padrão coordenado (grupos de músculos em várias articulações buscando agir como um todo). Variáveis que se organizam de forma autônoma e como uma unidade. • Auto-organização: Forma como o organismo controla o movimento agrupando os componentes para funcionarem como uma unidade. • Affordance: Maneira como o ambiente, e outros objetos inseridos nele, convidam o sujeito para interagir. • Variáveis coletivas: Processo de emergência de padrões organizados por meio da interação dinâmica dos componentes do sistema. 28 Dessa forma, toda ação de processar informações pelo sistema envolve atenção, sensação (conduzir o estímulo), percepção (interpretar o estímulo) e memória. Para produzir os padrões de movimento, há uma consequência de processos físicos organizados que envolvem parâmetros de controle: variáveis não específicas que podem variar livremente, de acordo com as características da situação, quando a velocidade da caminhada é alterada e parâmetros de ordem que buscam manter a ordem (por exemplo: caminhar em ritmo estável). 3. Aspectos psicológicos que influenciam no Processando Informações Para a realização do movimento, faz-se necessário uma ativação do sistema nervoso central. De acordo com Schmidt e Timothy (2016), a ativação pode ser entendida como o nível de estimulação ou excitação do SNC, que varia de níveis extremamente baixos, como durante o sono, a níveis extremamente altos, como em situações em que o indivíduo se sente severamente ameaçado e em risco de vida (HAYWOOD; GETCHELL; DORVILLÉ, 2016). Nesse sentido, temos três fatores que podem influenciar o nível de ativação do sistema nervoso central do indivíduo: • Motivação: reguladora do nível de ativação (teoria da ativação). • Atividade física: relações psicossomáticas. • Ansiedade: a ansiedade reflete no modo de um indivíduo interpretar determinada situação, estando, geralmente, relacionada à incerteza ou percepção de ameaça, ela é caracterizada por nível de ativação excessivamente elevado (SCHMIDT; TIMOTHY, 2016). Na prática esportiva, essa ativação influenciará diretamente na performance, por meio do seu nível (baixo, elevado ou ótimo). Os 29 estudos ressaltam que baixos níveis de ativação implicam em dispersão de foco e, consequentemente, no direcionamento da atenção para estímulos irrelevantes, o que poderá causar prejuízo na detecção de estímulo e no processamento de informação para realização do movimento. De forma similar, níveis elevados de ativação também não são ideais para realização de um movimento. Nesse cenário, há estreitamento excessivo do foco de atenção, o que pode levar o atleta a ignorar informações relevantes para a tomada de decisão. Ele pode não perceber o estímulo adequado a tempo, não havendo possibilidade de realizar uma reação ou uma antecipação. Por outro lado, o atleta também pode ignorar estímulos que seriam relevantes para o entendimento da situação e executar uma resposta inadequada, prejudicando sua tomada de decisão. Os níveis ótimos de ativação são individuais (cada atleta possui o seu) e dependentes da tarefa (cada uma exige o seu). Os níveis de atenção, também, influenciarão o processamento de informações e a capacidade de tomada de decisão. Por definição, atenção é a capacidade de focalização da percepção a um campo ou a uma situação ambiental específica de forma consciente. Esse é um fator de grande relevância para o tempo de reação do atleta, ou seja, no tempo que o atleta irá levar para perceber e agir a um estímulo. A atenção possui três características básicas: é limitada, ou seja, afeta a percepção e a capacidade de execução de tarefas. Com a prática, a execução das tarefas ocupa menos “espaço” de atenção, podendo ser realizadas mais tarefas ao mesmo tempo. Além disso, a atenção também é seletiva, ou seja, é focada em certos eventos do ambiente, tendo a percepção como resultado final. A atenção, também, tem como característica o estado de vigilância, no qual o atleta está alerta e 30 preparado para receber um estímulo, o que é diretamente influenciado pela ativação. A motivação, por sua vez, refere-se aos processos que dão energia e mantém o comportamento orientado por metas, podendo ser desencadeada por eventos internos ou externos. Uma das teorias de motivação, denominada ativação, propõe uma relação direta entre ativação e motivação, sugerindo que as pessoas seriam motivadas em direção ao nível ótimo de ativação. Isto quer dizer que, se um indivíduo apresenta níveis elevados de ativação, suas ações seriam voltadas para reduzi-lo e, se o nível está muito baixo, as atitudes seriam voltadas para elevá-lo. De acordo com Schmidt e Timothy (2016), pode-se considerar como diferença básica entre ativação e motivação, o fato de que a motivação é direcionada a uma meta, ao passo que a ativação se refere a “energia” em si, não necessariamente direcionada a algum objetivo. Além disso, sabe-se que a motivação é influenciada por aspectos internos (ex. personalidade) e externos (ex. características do treinador). Para o melhor desempenho esportivo são necessárias capacidades física, técnica e tática adequadas, bom nível de atenção, ativação e motivação. Acreditando que quando não há motivação não há ação, pode-se considerar que a motivação é reguladora das capacidades físicas e psicológicas. Assim, quanto mais motivado estiver um indivíduo, melhor ele utilizará suas capacidades. 4. Organização de informações e tomada de decisão O desenvolvimento motor é definido como um processo sequencial e permanente, no qual o indivíduo, independentemente da fase da 31 vida, irá progredir de ações motoras (movimentos) simples para ações motoras mais complexas, ou seja, que requerem mais habilidade e organização para execução. Por exemplo, na fase de desenvolvimento infantil, em situações que uma criança está aprendendo a andar quando ainda é um bebê ou, de outra maneira, quando um atleta aprende um novo gesto esportivo para sua ação no contexto esportivo, a visão tradicional do controle e desenvolvimento motor ressalta que ocorre uma maturação no sistema nervoso central, o que permite a elaboração de uma resposta mais estruturada para realização da atividade desejada. Entretanto, essa maturação que ocorre no organismo não é o único fator que influenciará na aquisição e na performance de execução de um novo padrão de movimento. Conduto, no ambiente, existe uma gama de variáveis que podem interferir e influenciar na ação motora, principalmente em relação ao controle e coordenação do movimento. Os graus de liberdade são considerados o principal desses problemas, e eles são definidos como as diversas possibilidades de variáveis que o sistema nervoso central tem para controlar a ação motora a ser executada. Logo, Bernstein propôs que isso poderia ser contornado pela própria ação dos sistemas corporais, como o sistema muscular ajustando as forças internas em relação a demanda externa de força. Esse fato confere ao organismo uma capacidade de auto-organização para realização de um movimento sem o auxílio de outros mecanismos adicionais. Nesse contexto, diversos autores ressaltam que o nosso organismo possui uma capacidade de auto-organização no sistema nervoso central. Essa dinâmica organizacional, que é ocasionada devido às novas experiênciasdo indivíduo, juntamente com a tarefa a ser realizada e o ambiente, torna-se um dos fatores principais para o organismo ultrapassar seu estado de repouso ou basal. 32 Então, após passar do estado de equilíbrio para um estado de desequilíbrio, o organismo entra em reequilíbrio, ou seja, o organismo será capaz de emergir um novo comportamento, no caso, um novo movimento. Essa capacidade de auto-organização para que um novo movimento possa surgir é denominada de Teoria de Sistemas Dinâmicos. Por sua vez, essa teoria tem como característica o fato das soluções para os problemas motores ou ações motoras serem encontradas devido a uma relação complexa e colaborativa entre todas as partes e os sistemas do organismo que compõe a organização para o movimento. De acordo com a teoria dos sistemas dinâmicos, que também pode ser chamada de abordagem ecológica, a organização para que um movimento novo tenha possibilidade de emergir não ocorre devido a soma de diferentes ações dos sistemas corporais, mas devido a uma interação organizada de todas as partes dos sistemas corporais. Logo, todo comportamento humano emerge de uma relação cooperativa/colaborativa entre os subsistemas do organismo que desenvolverão padrões de movimento que irão substituir os padrões anteriores. Dessa forma, o ambiente no qual o indivíduo ou atleta está possui uma importância na percepção e ação, uma vez que tudo que está no ambiente se relaciona com o ambiente. Essa teoria preconiza que não existe uma hierarquia entre os sistemas corporais de percepção e ação para um movimento, mas de uma relação mútua entre eles. Na prática clínica, temos que comandos motores para realização de uma tarefa motora, sejam eles oriundos de qualquer um dos programas ou esquemas, resultarão em padrão de movimento. Por exemplo, imagine um atleta de maratona que sofreu uma lesão de entorse no tornozelo durante uma prova. Devido a essa lesão, o processo inicial de percepção de situações para os movimentos que envolvem as articulações do tornozelo e pé, como correr, ficarão prejudicadas. 33 Com isso, os sistemas irão se organizar de uma maneira nova, na qual um novo movimento diferente do padrão normal poderá emergir. Assim, o atleta poderá ter uma resposta à um comando alterado, que, por sua vez, pode ser um movimento atípico, por exemplo: de proteção (como claudicar) ou de sobrecarga (uma tentativa de continuar o gesto motor mais próximo do original). Nesse contexto, vários fatores são capazes de promover essa alteração na organização do movimento para ocasionar um movimento atípico, como dor ao tentar iniciar o movimento, como inchaço, que irá bloquear a execução do movimento artrocinemático. Essa e outras variáveis serão capazes de promover alterações nos processos de controle no sistema nervoso central e, por consequência, ocasionar um surgimento espontâneo de uma nova forma de comportamento motor. Essa relação pode ser chamada de não-linear, uma vez que o corpo humano é um sistema complexo, no qual os diversos sistemas interagirão entre si para produzir um objetivo, aqui representado por uma tarefa motora ou movimento. Retomando o exemplo anterior, como o atleta de maratona em sua prática esportiva necessita correr, ou seja, realizar uma ação motora que possui um caráter dinâmico com o ambiente. De acordo com teoria dos sistemas dinâmicos, ao sofrer a entorse no tornozelo, o movimento da articulação do tornozelo e do pé sofrerão influência de todos os sistemas que são acionados pela ocorrência da lesão, principalmente o sistema neural e muscular. Assim, eles irão interagir com as informações vindas do ambiente em uma relação de mutualismo e, além disso, se relacionarão com a tarefa a ser realizada, no caso do atleta, o movimento de correr. Essa interação, que é dinâmica e individualizada, irá produzir uma resposta única para o movimento de correr que poderá ser atípico ou não, dependendo de como essa relação ocorrerá. 34 Dessa maneira, a abordagem de sistema dinâmicos implica que, para promover uma relação verdadeira entre funções corporais comprometidas em um atleta lesionado, devemos considerar o impacto de diferentes tarefas a serem realizadas por ele, como os movimentos realizados durante a prática esportiva. Além disso, levar em conta, também, o ambiente em relação às restrições que o organismo apresenta. Por isso, o olhar tem que ser direcionado de forma conjunta para o atleta, a tarefa (atividades a serem realizadas) e o ambiente no qual ele está inserido. Referências AMBRÓSIO, R. T. P. Aprendizagem motora e psicomotricidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional, 2016. HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N.; DORVILLÉ, L. F. M. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. MCARDLE, W. D. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. SCHMIDT, R. A.; TIMOTHY, D. L. Aprendizagem e performance motora: dos princípios à aplicação. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 35 Análise cinesiológica e biomecânica segmentar dos complexos osteomioarticulares Autoria: Thiago Vinicius Ferreira Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves Objetivos • Conhecer os princípios da cinesiologia e biomecânica dos segmentos corporais. • Compreender a estrutura das articulações e do sistema musculoesquelético para o movimento humano. • Conhecer e compreender a osteologia, a artrocinemática, a osteocinemática e a biomecânica dos membros superiores e inferiores. • Conhecer os fatores relacionados a análise mecânica do movimento humano. • Aplicar os conteúdos adquiridos em situações práticas profissionais. 36 1. Princípios da cinesiologia e biomecânica dos segmentos corporais Os princípios básicos de cinesiologia e biomecânica aplicados ao movimento têm como objetivo fornecer a você uma base sólida sobre o estudo do movimento humano. Diante disso, neste tema, você estudará sobre a estrutura e a função do sistema musculoesquelético, o qual atua como base para a prática do fisioterapeuta. Além disso, compreenderá o movimento humano, principalmente aplicado ao esporte, permitindo a criação de situações e discussões relevantes para a estruturação de estratégias de intervenção quando o atleta apresenta uma disfunção do movimento, como movimentos compensatórios ou padrões de movimento anormais. 1.1 Terminologia básica para a compreensão do movimento humano Ao analisar o movimento humano, sabe-se que ele emerge de uma interação entre as características do indivíduo, as demandas das tarefas e as condições do contexto. Dessa maneira, o movimento implica a utilização de diferentes estratégias, a depender desses três fatores para acontecer. Nesse contexto, temos a cinesiologia e a biomecânica como constructos que auxiliam a compreender as relações que ocorrem no corpo para o movimento. Por definição, cinesiologia quer dizer “estudo do movimento”, isto é, refere-se ao estudo científico do sistema musculoesquelético, da eficiência dos movimentos do ponto de vista anatômico e das ações articulares e musculares durante movimentos simples e complexos. Já o conteúdo da biomecânica é derivado da mecânica, uma área da física que consiste no estudo do movimento e do efeito das forças sobre um objeto. Assim, a biomecânica é definida como o estudo da descrição e explicação do movimento de corpos, seja ela estática (velocidade constante e aceleração igual a zero) ou dinâmica (aceleração diferente de zero). 37 Uma análise biomecânica avalia o movimento do indivíduo e o efeito das forças no sistema musculoesquelético. A abordagem biomecânica da análise do movimento pode ser qualitativa, com movimento observado e descrito, ou quantitativa, o que significa que algum aspecto do movimento será medido. No contexto esportivo, uma análise biomecânica pode ser feita para um movimento típico, como: correr, saltar e agachar. Além disso, ela pode ser feita paragestos esportivos como chutar uma bola no futebol, lançar uma bola para cesta no basquete ou um golpe em um esporte de combate. Dessa maneira, será possível identificar as forças articulares que atuam nas articulações do corpo humano durante o movimento, como: articulação do quadril, joelho e tornozelo junto com a força entre o pé e o chão, todas agindo juntas para produzir o movimento de chute. Nesse contexto, a avaliação biomecânica pode ser segmentada em formas, análise cinética e cinemática do movimento. A cinemática está relacionada com as características do movimento de uma perspectiva espacial e temporal, sem preocupar com as forças que causam ou atuam no movimento. Uma análise cinemática envolve a descrição do movimento em termos de variáveis descritivas, como tempo, deslocamento e velocidade. Por exemplo: qual velocidade a perna está em movimento para realizar um chute em uma bola? Ou qual a característica dos movimentos dos segmentos articulares relacionados ao agachamento? Por outro lado, a análise cinética se preocupa com as forças associadas ao movimento, seja ela força interna dada por músculos, tendões, ossos e a interação entre tendão e articulação, ou forças externas dadas pela gravidade ou corpos externos ao organismo. As forças produzidas durante o movimento humano são importantes porque são responsáveis por criar todos os nossos movimentos e por manter posições ou posturas sem movimento. Uma análise cinética pode fornecer ao fisioterapeuta informações importantes a respeito do movimento e, assim, direcionar o processo de reabilitação. 38 Ademais, vale ressaltar que, para descrição em termos de localização desses movimentos, partimos de uma posição arbitrária denominada posição anatômica e da divisão de planos e eixos específicos, conforme o quadro a seguir. Quadro 1–Descrição dos planos e eixos de movimento e sua relação com a posição anatômica Plano de movimento Eixo de movimento Descrição a partir da posição anatômica. Frontal ou coronal Eixo sagital ou ântero-posterior. Divide o corpo humano em duas partes: anterior e posterior. Sagital ou mediano Eixo frontal ou lateral. Divide o corpo humano em metades direita e esquerda. Transverso ou horizontal Eixo vertical ou longitudinal. Divide o corpo humano em duas partes: superior e inferior Fonte: elaborado pelo autor. Diante disso, vale ressaltar que cada plano e eixo de movimento produzirá movimentos específicos no indivíduo. No plano frontal ocorrem os movimentos de abdução (afastar da linha média corporal) e adução (aproximar da linha média corporal), em que quando o segmento for central como o tronco ou pescoço, o movimento é denominado flexão lateral. No plano sagital ocorrem os movimentos de flexão (que diminuem o ângulo articular) e extensão (que aumentam o ângulo articular). Já no plano transverso ocorre os movimentos de rotações medial (região anterior se direciona para parte medial) e lateral (região anterior se direciona para parte lateral). Além disso, no plano 39 transverso, quando o movimento ocorre em segmentos centrais, ou seja, sobre a linha média, os movimentos podem ser denominados rotação para direita ou para esquerda. 1.2 Considerações articulares para o movimento humano Outro conceito importante para compreendermos os movimentos articulares é o conceito dos graus de liberdade. Essa terminologia é utilizada para descrever o tipo e a quantidade de movimento estruturalmente permitido pelas articulações anatômicas. Na prática, a maioria dos movimentos humanos ocorre devido a uma ação conjunta de vários planos nas várias articulações. Se esse fato não ocorresse, ou seja, utilizássemos apenas um plano e eixo para movimentar, iriamos ter um “padrão de robô” para o movimento. Ao caminharmos, por exemplo, o membro inferior se movimenta de maneira predominante no plano sagital durante o ciclo da marcha. Porém, a análise completa do movimento permite inferir que ocorrem movimentos em todos os planos, uma vez que na articulação do quadril, por exemplo, o fêmur realiza flexão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano frontal e rotação interna e externa no plano transverso. Se o movimento ocorre em apenas um plano e eixo, isto é, a articulação permite que ocorra estritamente um único plano e eixo de movimento, como a articulação do joelho, essa articulação é descrita como possuindo um único grau de liberdade. No corpo humano, temos articulações classificadas como sendo de um, dois e três graus de movimento, oferecendo potencial de movimento que é uniaxial, biaxial ou triaxial, respectivamente. Por exemplo, ao realizar um movimento de saque no tênis, o ombro, que é um exemplo de articulação três graus de liberdade, permite que o braço se mova no plano frontal por abdução e adução, no plano sagital por flexão e extensão e no plano transversal por rotação. Em síntese, o movimento complexo é caracterizado como 40 o somatório dos graus de liberdade nas articulações necessários para execução de um movimento. Além disso, todo movimento articular pode ser considerado de duas perspectivas, dependendo de qual segmento ósseo está em movimento. O movimento do segmento ósseo distal em torno de um segmento ósseo proximal relativamente fixo é denominado movimento de cadeia aberta. De outra forma, o movimento do segmento ósseo proximal em torno de um segmento ósseo distal relativamente fixo ou estacionário é denominado movimento de cadeia fechada. A figura a seguir ilustra esses dois aspectos relacionados ao movimento humano. Figura 1 – Osteocinemática do plano sagital no joelho (A) cinemática do segmento distal sobre proximal e (B) cinemática do segmento proximal sobre distal Fonte: adaptada de Neumann (2018). Embora esses dois movimentos possuam características diferentes, ambos resultam em quantidades similares de amplitude de movimento. As únicas diferenças entre os movimentos estão em qual osso está se movendo e qual osso permanece estacionário. Dessa forma, os Flexão do joelho Segmento proximal livre Segmento distal fixo Segmento proximal fixo Perspectiva articulação tibial sobre articulação femoral Perspectiva articulação femoral sobre a articulação tibial. Segmento distal livre 41 termos cadeia aberta e cadeia fechada, normalmente, são utilizados para descrever clinicamente qual osso está se movendo durante um movimento articular. Na prática clínica, exercícios de cadeia aberta e, principalmente, fechada são amplamente utilizados por fisioterapeutas durante processos de reabilitação. Em aspectos práticos, exercícios em cadeia fechada tendem a ter natureza mais funcional e capitalizam os benefícios do suporte de peso e as vantagens biomecânicas naturais do gesto esportivo. Já os exercícios de cadeia aberta, embora não tão funcionais, também são usados de forma terapêutica na reabilitação que oferecem uma capacidade maior de atingir grupos musculares específicos e são facilmente realizados com o uso de pesos ou faixas elásticas. 1.3 Considerações musculares para o movimento humano O sistema muscular é um importante componente do sistema musculoesquelético para realização do movimento. Esse sistema é composto por mais de 600 músculos no corpo humano, os quais são organizados em pares direito e esquerdo. Aliado a esse fato, cerca de 70 a 80 pares de músculos são responsáveis pela maioria dos movimentos no nosso organismo. Por sua vez, o tecido músculo tem como característica ser resistente e poder ser alongado ou encurtado em diferentes velocidades e, principalmente, sem ocasionar lesões ao tecido. O desempenho do tecido muscular sob cargas e velocidades variáveis é determinado pelas quatro propriedades do tecido muscular: excitabilidade, contratilidade, extensibilidade e elasticidade. • Excitabilidade: representa a capacidade de o tecido muscular responder a um estímulo vindo do sistema nervoso central. 42 • Contratilidade:representa a capacidade de o tecido muscular realizar a produção de torque e contração quando estimulado. • Extensibilidade: representa a capacidade do tecido muscular se alongar além da sua posição de repouso. • Elasticidade: representa a capacidade de o tecido muscular retornar à posição de repouso após um estímulo de alongamento ser retirado ou interrompido. O músculo realiza sua contração por meio de uma excitação que é proporcionada por um potencial de ação gerado pelo sistema nervoso central e levado para o músculo por um neurônio motor. A sinapse chega na fibra muscular, via junção neuromuscular, e ocorre uma série de reações químicas, entre elas a liberação da acetilcolina que se difunde causando um aumento na permeabilidade da membrana da fibra, gerando o potencial de ação. Nesse contexto, vale ressaltar que, a acetilcolina é rapidamente decomposta para evitar a estimulação contínua da fibra muscular e a velocidade na qual o potencial de ação é propagado ao longo da membrana é a velocidade de condução. O tecido muscular apresenta diferentes capacidades de contração para realizar as ações motoras. Essas contrações podem ser divididas em: contração isométrica, contração concêntrica ou contração excêntrica, essas duas, conforme exemplificado na Figura 2. 43 Figura 2 – Tipos de contração muscular Fonte: adaptada de Neumann (2018). Na contração isométrica é caracterizada por durante a contração não haver mudança no comprimento muscular, ou seja, não ocorre alteração visível ou externa na posição articular. A produção de força muscular é gerada contra uma resistência com o objetivo de manter uma determinada posição. Dessa maneira, na contração isométrica, o torque interno é igual ao torque externo. Na contração do tipo concêntrica, o músculo encurta enquanto produz força de forma ativa. Nesse tipo de ação muscular, a força é produzida pelo grupo muscular denominado agonista, torque interno é maior do que a força produzida pelo torque externo. Assim, ela irá promover um movimento na mesma direção da diminuição do ângulo articular. Além disso, o movimento produzido em uma ação concêntrica geralmente é contra a gravidade ou são a fonte inicial do movimento de uma massa. A contração excêntrica corresponde quando o músculo é submetido a um torque externo superior ao torque interno (gerado pelo músculo). Dessa forma, o músculo terá um maior distanciamento das suas fibras (semelhante a um alongamento) durante a produção de força. A fonte da força externa desenvolvendo o torque externo que produz uma ação muscular excêntrica, geralmente, é a gravidade ou a ação muscular de um grupo Isométrica Concêntrica Excêntrica 44 muscular antagonista (contrário a quem produz o movimento). O quadro a seguir exemplifica alguns tipos de ação muscular. Quadro 2–Exemplos de movimentos e tipos de contração muscular Exemplos de ação muscular Músculo Movimento. Tipo de contração muscular. Comprimento muscular. Deltoide médio Abdução do ombro ao segurar um objeto a 90º de abdução. Isométrica . Sem alteração. Bíceps Braquial Flexão do cotovelo ao levar um copo até a boca. Concêntrica. Encurtado. Quadríceps Flexão do joelho durante um chute. Excêntrica. Alongado. Fonte: elaborado pelo autor. Na ação articular excêntrica, as forças musculares efetivas que produzem a rotação estão na direção oposta da mudança no ângulo articular, o que significa que os antagonistas são os músculos controladores. Além disso, o movimento do membro produzido na ação do músculo excêntrico é denominado negativo, porque as ações das articulações normalmente se movem para baixo com a gravidade ou controlam em vez de iniciar o movimento de uma massa. Em uma atividade como caminhar ladeira abaixo, os músculos atuam como amortecedores, pois resistem ao movimento descendente enquanto se alongam. A maioria dos movimentos para baixo, a menos que sejam muito rápidos, são controlados por uma ação excêntrica do músculo antagonista, e muitos movimentos articulares são criados por uma ação muscular concêntrica. Por exemplo, a flexão do braço ou antebraço a 45 partir da posição em pé é produzida por uma ação muscular concêntrica dos respectivos agonistas ou músculos flexores. Além disso, para iniciar um movimento do braço por meio do corpo em um movimento de adução horizontal, os adutores horizontais iniciam o movimento por meio de uma ação muscular concêntrica. As ações musculares concêntricas são usadas para gerar forças contra as resistências externas, como levantar um peso, empurrar o solo e arremessar um implemento. Vale ressaltar que, normalmente, um músculo nunca realiza uma contração de forma isolada para realizar um movimento. Assim, é necessário que o sistema muscular atue de forma conjunta entre diferentes grupos musculares e articulações para produzir um movimento funcional. 2. Osteocinemática, biomecânica dos membros superiores e inferiores A osteocinématica do membro superior acontece devido aos movimentos dos complexos articulares do ombro, cotovelo, antebraço, punho e mão. Do ponto de vista da anatomia funcional e dos movimentos funcionais, os movimentos do membro superior contribuem de forma conjunta entre as várias articulações e segmentos necessários para um movimento suave e eficiente. Os movimentos da mão se tornam mais eficazes com o posicionamento adequado da mão pelo cotovelo e o complexo do ombro. Além disso, os movimentos do antebraço ocorrem em conjunto com os movimentos da mão e do ombro. O complexo do ombro é formado por quatro articulações: esternoclavicular, acrômicoclavicular, escapulotorácica e glenoumeral. Os movimentos neste complexo ocorrem de forma conjunta e, com três 46 graus de liberdade, entre todas as quatro articulações, produzindo a amplitude de movimento na articulação do ombro de flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa, além de adução e adução horizontal. A articulação do cotovelo e antebraço é composta por três articulações, umeroulnar, umeroradial e radioulnar proximal. Esse complexo articular que é estabilizado, além de ligamentos e capsulas por uma membrada interna denominada interóssea, realiza movimentos de flexão, extensão, pronação e supinação. A articulação do punho é usada para atividades de manipulação que requerem movimentos muito finos, incorporando uma ampla variedade de posturas de mãos e dedos. Consequentemente, há muita interação entre as posições das articulações do punho e a eficiência das ações dos dedos. Dessa forma, a articulação do punho temos os movimentos de flexão, extensão, desvio radial e desvio ulnar e, os dedos, combinam principalmente os movimentos de flexão e extensão nas demais articulações. Nos membros inferiores, os movimentos ocorrem nas articulações do quadril, joelho, tornozelo e pé. Os membros inferiores estão sujeitos as forças que são geradas por meio de contato entre o pé e o solo. Além disso, o membro inferior é responsável pelo suporte do peso do tronco e dos membros superiores. Os membros inferiores estão conectados entre si e ao tronco pela cintura pélvica e, desse modo, todo movimento que ocorre nos membros inferiores influenciará as ações no lado contralateral. Em relação aos movimentos, a articulação do quadril, que possui três graus de liberdade, realizam os movimentos de flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa. Já a articulação do joelho, que possui apenas um grau de liberdade, realiza apenas o movimento no plano sagital de flexão e extensão. Diferentemente, com dois graus de liberdade a articulação do tornozelo ou talocrural realiza movimentos de flexão, extensão, eversão e inversão. Esses movimentos atuam de 47 forma conjunta com os movimentos realizados no pé e dedos para os movimentos funcionais. 3. Análise mecânica do movimento humano Como discutido anteriormente, o movimento humano é representado por uma mudança de posição ou postura queocorre devido a interação do atleta, ambiente e tarefa. Nesse movimento, dois tipos de movimento são importantes: movimento linear e o movimento angular. O movimento linear é o movimento ao longo de uma via reta ou curva na qual todos os pontos de um corpo ou objeto se movem à mesma distância no mesmo período de tempo. São considerados movimentos lineares, por exemplo, o caminho de uma pista de corrida para um atleta de corrida, a trajetória de uma bola de futebol após o chute ou o movimento do pé durante um chute de futebol. O foco nessas atividades está na direção ou caminho e velocidade do movimento do corpo ou objeto que está sempre em linha reta. Por outro lado, o movimento angular é o movimento que ocorre ao redor de um eixo (movimento rotatório). Assim, diferentes regiões do mesmo segmento corporal ou objeto não se moverão na mesma distância em um determinado período de tempo. Por exemplo, uma ginasta que balança em torno de uma barra repete o movimento angular porque todo o corpo gira em torno do ponto de contato com a barra. No contexto esportivo, avalia-se o movimento linear de uma atividade e, em seguida, os movimentos angulares. O centro de massa é o ponto em que a massa do objeto parece estar concentrada e representa o ponto em que o efeito total da gravidade atua sobre o objeto. No entanto, qualquer ponto pode ser selecionado e avaliado para movimento linear. Na análise de habilidades, por exemplo, muitas vezes é útil monitorar o movimento do topo da cabeça para obter 48 uma indicação de certos movimentos do tronco. Um exame da cabeça durante a corrida é um excelente exemplo: a cabeça se move para cima e para baixo? Lado a lado? Nesse caso, é uma indicação de que a massa central do corpo também está se movendo nessas direções. O caminho da mão ou raquete é importante no arremesso e esportes com raquete, portanto, monitorar visualmente o movimento linear da mão ou da raquete durante a execução do movimento é benéfico. Em uma atividade como a corrida, o movimento linear de todo o corpo é o componente mais importante a ser analisado pois o objetivo da corrida é mover o corpo rapidamente de um ponto a outro. Do ponto de vista prático, para o desempenho de uma habilidade motora, apenas uma pequena parte da capacidade de movimento potencial do sistema musculoesquelético é usada. Tendo em vista os graus de liberdade de movimento, são necessários cerca de dez graus de amplitude de movimento para realizar uma caminhada e, além disso, dois graus de liberdade podem estar disponíveis para executar essa tarefa. Além disso, é importante salientar que muitos dos movimentos que são executados no dia a dia podem apresentar inconsistências durante sua realização e, assim, serem ineficientes em termos do movimento desejado (por exemplo, caminhar ou correr). Dessa forma, com o objetivo de eliminar os movimentos indesejáveis e realizar a tarefa motora ou o movimento desejado, os músculos ou grupos musculares desempenham uma variedade de funções na qual apenas uma pequena porcentagem da capacidade total potencial de movimento do sistema motor é utilizada. 49 Referências HALL, S. J. Biomecânica básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. LIPPERT, L.; HURRELL, J. Cinesiologia clínica e anatomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para a reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. 50 Bases, periodização e prescrição de exercícios terapêuticos no esporte Autoria:Thiago Vinicius Ferreira Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves Objetivos • Conhecer as contribuições dos ciclos de periodização para reabilitação. • Conhecer os princípios pedagógicos e biológicos do treinamento esportivo. • Conhecer os fatores envolvidos na utilização da periodização da reabilitação do atleta. • Aplicar os conteúdos adquiridos em situações práticas profissionais. 51 1. Introdução a Periodização Neste tema, você é convidado a compreender os conceitos relacionados a periodização e a variação do treino durante o processo de reabilitação. Um programa de reabilitação deve ter como objetivo restaurar a funcionalidade do paciente. Para isso, deve ser elaborada em períodos propícios as variações sistemáticas em variáveis como: intensidade, repetições e frequência dos exercícios. Além disso, é importante lembrar a necessidade de adoção de uma reabilitação orientada por metas em diferentes períodos do tratamento – curso, médio e longo prazo. 1.1 Ciclos de trabalho Dentro das diversas teorias relacionadas com o treinamento físico, a periodização ganha destaque. Esse conceito se baseia no fato de que todo plano de treinamento deve ser estruturado e organizado de forma sequencial para permitir ao atleta atingir ganhos ótimos com o desempenho esportivo com um mínimo risco de overtraining ou lesões. Essa planificação envolve uma estrutura variada em relação aos tipos de treinamento, o volume (intensidade e duração) do treinamento, a quantidade de descanso e os objetivos específicos da modalidade esportiva. Essa estrutura é organizada em períodos determinados que permitem uma progressão periódica entre diferentes ciclos/fases do processo. Por sua vez, esses ciclos permitem a organização de atividades que provocam uma sobrecarga gradual e progressiva, o que permitirá que o atleta seja submetido a um estímulo ideal em um tempo adequado para recuperação e adaptação. Durante o processo de reabilitação, o mesmo processo é necessário para conduzir o atleta a sua recuperação funcional. Assim, a prescrição e a organização de atividades e exercícios durante a reabilitação são uma habilidade fundamental para fisioterapeutas esportivos. Nos atletas, temos uma necessidade constante de equilibrar as cargas/esforços 52 fisiológicos e biomecânicos que podem relacionar com a ocorrência e a recuperação de uma lesão. Assim, a progressão de exercícios no plano de tratamento do atleta deve seguir modelos de periodização com base nas características da lesão e na modalidade esportiva. Isto permitirá ao fisioterapeuta esportivo uma maior acurácia em sua avaliação, na capacidade de realizar o raciocínio clínico, na progressão dos exercícios e no estabelecimento de metas para o retorno do atleta prática esportiva em seu desempenho ótimo. No modelo de periodização, todo programa de treinamento é organizado em fases. Essas fases são divididas de acordo com as ações alvo da particularidade física/fisiológica que o atleta necessita em um dado movimento. Assim, a intensidade e a especificidade das atividades envolvidas no treinamento ou na reabilitação serão separadas e a evolução para a fase seguinte será devido ao atleta ter atingindo o pico de desempenho estabelecido previamente. Por exemplo, as fases iniciais da reabilitação podem se concentrar em promover adaptações em funções básicas como amplitude de movimento, flexibilidade, diminuição do quadro álgico e melhora inicial na capacidade de produção de força muscular. Para promover a progressão para a fase seguinte, dentro dessa fase será necessário organizar e estruturar a frequência, a intensidade e a duração das sessões de tratamento, além de realizar uma seleção apropriada de exercícios, séries e repetições dentro de cada sessão. As fases de treinamento podem ser divindades em três ciclos, conforme o quadro a seguir. 53 Quadro 1 – Descrição das fases de treinamento/reabilitação Fase Exemplo de ação no treinamento Exemplo de ação na reabilitação Microciclo Pequenos blocos temporais de atividades. Normalmente, organizados em dias. Programação individual diária ou semanal de treinamento. Programação de objetivos diários do processo de reabilitação. Ex.: redução do quadro álgico; controle do processo inflamatório da lesão. Mesociclo Blocos de tempo médio de ação. Usualmente são contados por número de semanas ou meses