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INTERAÇÃO NEUROMECÂNICA 
FUNCIONAL: INFLUÊNCIA 
DO CONTROLE MOTOR NO 
MOVIMENTO HUMANO
2
Thiago Vinicius Ferreira 
São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A 
2021
INTERAÇÃO NEUROMECÂNICA FUNCIONAL: 
INFLUÊNCIA DO CONTROLE MOTOR NO 
MOVIMENTO HUMANO
1ª edição
3
2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Camila Braga de Oliveira Higa
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Braga de Oliveria Higa
Revisor
Ana Carolina Araruna Alves
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ 
Ferreira, Thiago Vinicius
F383i Interação neuromecânica funcional: influência do 
 controle motor no movimento humano / Thiago Vinicius 
 Ferreira, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 
2021.
 41 p.
 ISBN 978-65-89881-48-3
 1. Fisioterapia do Esporte. 2. Movimento Humano. 
 3. Neuromecânica. I. Título.
 
CDD 615.82 
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB 010289/O
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.
4
SUMÁRIO
Anatomia Humana Topográfica e funcional __________________ 05
Teorias de controle motor e a aprendizagem motora no esporte 
_______________________________________________________________ 19
Análise cinesiológica e biomecânica segmentar dos complexos 
osteomioarticulares _________________________________________ 35
Bases, periodização e prescrição de exercícios terapêuticos no 
esporte _______________________________________________________ 50
INTERAÇÃO NEUROMECÂNICA FUNCIONAL: INFLUÊNCIA 
DO CONTROLE MOTOR NO MOVIMENTO HUMANO
5
Anatomia Humana Topográfica e 
funcional
Autoria: Thiago Vinicius Ferreira
Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves
Objetivos
• Conhecer a Anatomia e a Morfologia do Sistema 
Nervoso Central.
• Conhecer a Anatomia e a Morfologia do Sistema 
Nervoso Periférico.
• Conhecer e compreender a organização geral e 
anatômica das estruturas que compõe o sistema 
musculoesquelético.
• Aplicar os conteúdos adquiridos em situações 
práticas profissionais.
6
1. Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso 
Central e do Sistema Nervoso Periférico
Neste tema, convido a você a compreender os princípios anatômicos 
que se aplicam na produção e organização do movimento humano e 
sua relação com o esporte. O estudo da anatomia topográfica abordará 
uma visão geral da anatomia em diversas regiões do corpo, desde a 
divisão no Sistema Nervoso até os segmentos apendiculares. Além 
disso, também, discutiremos sobre como ocorre a influência do Sistema 
Nervoso Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico (SNP) no controle 
do movimento humano.
1.1 Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso Central
O corpo humano é o nome geral dado a toda estrutura do nosso 
organismo, na qual o Sistema Nervoso é o responsável por comandar 
todos os sistemas, perceber estímulos e, assim, garantir a homeostase – 
equilíbrio – do organismo. Por sua vez, o Sistema Nervoso é dividido em 
Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico.
O Sistema Nervoso Central, formado pelo Encéfalo e pela Medula 
Espinhal, tem como função receber e enviar informações para todo 
o organismo. Dessa maneira, o SNC é capaz de perceber todas as 
sensações e sentidos, além de ser responsável pelos atos voluntários 
do nosso organismo. O Encéfalo é subdividido em Cérebro, Cerebelo, 
Tronco Encefálico (Bulbo, Ponte e mesencéfalo) e Hipotálamo (Figura 
1). Nesse contexto, vale ressaltar a importância dessas estruturas para 
ações relacionadas com a funcionalidade do movimento humano, como 
equilíbrio e ajuste nos movimentos (função do cerebelo), além do Bulbo 
sendo o responsável pelo controle do sistema cardiovascular e controle 
respiratório.
7
Figura 1 – Partes componentes do encéfalo vistos em um corte 
mediano
Fonte: pukrufus/iStock.com. 
O encéfalo, responsável pela capacidade cognitiva, tem a maior área 
do cérebro. Essa estrutura está separada em dois hemisférios, direito e 
esquerdo, e cada hemisfério é dividido em lobos, conforme o quadro a 
seguir.
Quadro 1– Descrição das estruturas presentes em casa hemisfério 
do crânio
Estruturas Funções
Frontal
É responsável pelo planejamento de todas as 
ações, como: movimento, escrita e fala. Possui 
grande importância cognitiva. 
Temporal
É responsável pela memória e pela função da 
audição.
8
Parietal
É responsável pela coordenação e percepção 
de todas as sensações no tecido epitelial, 
como: tato, alterações de temperatura e 
presença de dor.
Occipital Responsável pela visão.
Ínsula
Parte do sistema que configura as emoções 
– Sistema Límbico. Além disso, ela também é 
responsável pelo paladar.
Fonte: elaborado pelo autor.
Além disso, com característica de proteção para o SNC temos a caixa 
craniana, constituída pelos ossos do crânio e, também, pelas meninges 
(conjunto de membranas conjuntivas que protegem o encéfalo e a 
medula). As meninges, por sua vez, são divididas em: Dura-máter 
(porção mais externa), Aracnoide (porção medial) e Pia-máter (porção 
mais interna).
Figura 1 – Meninges
Fonte: VectorMine/iStock.com.
Osso
Dura-máter.
Aracnoide.
Pia-máter.
Vasos sanguíneos.
Cérebro
9
Entre as ações que o SNC executa está o controle de todos os sistemas 
corporais, como respiratório, cardíaco, motor e, também, ações centrais 
como a configuração da memória, raciocínio, linguagem e capacidade 
de julgamento. Essas são características fundamentais para o esporte, 
em que o indivíduo é exposto em diferentes situações e contextos que 
exigem capacidade de movimento e de tomada de decisão constante.
A Medula Espinhal é a estrutura responsável por comunicar todas as 
partes do organismo com o cérebro e, assim, garantir uma eficiência 
do organismo. Nela estão localizados todos os neurônios eferentes 
autônomos, que são responsáveis pela inervação de sensibilidade do 
corpo, bem como os neurônios motores primários, que são responsáveis 
por inervar os músculos. Dessa maneira, a Medula Espinhal é a região 
anatômica na qual ocorre a integração dos neurônios que enviam e que 
recebem informação para todas as áreas do corpo humano.
1.2 Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso 
Periférico
O Sistema Nervoso Periférico é formado por um conjunto de fibras 
nervosas denominadas de axônios e por corpos celulares que estão 
localizados fora da área do SNC. A principal função do SNP principal é 
realizar a comunicação entre todos os sistemas e segmentos do corpo 
com o SNC.
Este sistema é constituído nervos, que são responsáveis por fazer a 
ligação entre a parte central do sistema nervoso com todas as estruturas 
periféricas, sendo anatomicamente dividido em 12 pares de nervos 
cranianos e 31 pares de nervos raquidianos. Além disso, o SNP, 
também, possui gânglios nervosos, que são um conjunto de células 
nervosas do lado de fora do SNC, plexos nervosos e terminações 
nervosas livres.
10
Os nervos cranianosde 
atividade.
Programação 
relacionada com 
um foco específico. 
Ex.: incremento 
de resistência de 
força, força máxima, 
potência; incremento 
de resistência 
aeróbia.
Programação de 
exercícios com 
foco específicos. 
Ex.: seleção de 
exercícios que 
estão relacionados 
adaptações 
neuromusculares 
e a organização 
do tempo de cada 
estímulo. 
Macrociclo Grandes 
blocos de ação. 
Usualmente 
são 
representados 
por vários 
meses ou anos.
Programação anual 
de treinamentos para 
uma competição. Ex.: 
Jogos Olímpicos. 
Programação 
completa de 
um processo de 
reabilitação com 
todas as fases 
incluídas. Ex.: 
reabilitação de 
lesão de ligamento 
cruzado anterior.
Fonte: elaborado pelo autor.
54
Dessa maneira, os programas de tratamento dentro da 
fisioterapia esportiva são aqueles que são organizados em fases. 
Consequentemente, isso permitirá que sejam trabalhadas as valências 
físicas, psicológicas e técnicas dentro da capacidade do indivíduo e 
dentro de diferentes tempos. Essa progressão percorre um ritmo indo 
do mais básico e com menor intensidade, porém, sempre dentro da 
carga/esforço ótimo e evoluir para atividades/exercícios mais complexos 
e dinâmicos, conforme ganhos nas valências do organismo.
1.2 Transição entre fases da reabilitação
A mudança das fases de ação dentro de um processo de reabilitação 
dependerá de diversos fatores, que podem ser divididos em intrínsecos: 
idade, sexo, hereditariedade e capacidade física prévia; e, também, 
por fatores extrínsecos: qualidade de manipulação de carga/estresse 
ofertado, estrutura de realização do trabalho. Com isso, o fisioterapeuta 
esportivo deve organizar os objetivos da reabilitação completa em 
períodos de ação com focos diversos.
Incialmente, após uma lesão, se instaura um período de resposta 
fisiológica para cicatrização e controle da inflamação. Esse momento 
durante a reabilitação deve ser orientado para permitir que qualquer 
lesão cicatrize e um período de reabilitação inicial ocorra para que o 
atleta esteja pronto para avançar para atividades mais complexas. Nessa 
fase, as atividades devem ser novas e iniciais com um baixo volume 
durante a semana.
Em uma fase intermediária, as valências físicas que o atleta necessita 
durante a prática esportiva devem ser priorizadas. Nessa fase, as 
adaptações necessárias têm como objetivo, em grande parte, o 
incremento da valência de força e adaptações do movimento. Essas 
ações contam com:
55
• Adaptações biomecânicas ao movimento: desenvolver estrutura 
e função corporal relacionado ao condicionamento geral e 
restauração dos padrões fisiológicos de movimento.
• Ganho de hipertrofia: realizar trabalho com o objetivo de aumentar 
a área de secção transversa nas fibras do sistema muscular. 
Normalmente, alcança com uma organização média de 8-15 
repetições entre 50-80% de 1RM entre 3-5 séries.
• Ganho de força muscular: que pode ser dividida em força máxima 
(3-6 repetições entre 80-90% de 1RM entre 2-6 séries); potência 
muscular (8-15 repetiçõesou seja, ele mesmo irá efetuar um controle consciente de sua própria 
sequência de movimentos. É sempre importante determinar um objetivo 
de rendimento a ser atingido pelo atleta.
• Princípio da transferência do treinamento
Esse princípio visa contornar os problemas relacionados com a 
transferência de atividades de aprendizagem motora para o contexto 
específico do atleta. Dessa forma, o trabalho na reabilitação com o atleta 
deverá, assim que possível, ser o mais específico as condições e gestos 
motores da atividade esportiva.
59
• Princípio da periodização
Esse princípio tem como base a necessidade de organização do 
treinamento/tratamento do atleta por meio de períodos e etapas 
definidas. Isso deve ser realizado uma vez que trocas periódicas da 
estrutura e conteúdo do treinamento, seja para o desempenho esportivo 
ou para a reabilitação, irão propiciar uma condição necessária para o 
aperfeiçoamento da capacidade atlética do indivíduo/atleta.
• Princípio da adequação
Esse princípio visa o fato que existe uma fração ideal de treino, seja para 
o desempenho esportivo ou para a reabilitação, no qual a solicitação 
ocasionada por um estímulo não pode ser baixa ao ponto de provocar 
uma desmotivação no atleta nem uma carga/esforço extremamente 
forte ao ponto de prejudicá-lo.
2.1 Princípios biológicos do treinamento aplicados para 
reabilitação de lesões
Já do ponto de vista biológico, outros nove princípios são utilizados para 
promover a aplicação correta do processo de treinamento e reabilitação: 
princípio da unidade funcional; princípio da individualidade biológica; 
princípio da adaptação; princípio da multilateralidade; princípio da 
especificidade; princípio da sobrecarga; princípio da continuidade; 
princípio da progressão e princípio da reversibilidade. Entre eles, alguns 
são importantes dentro do contexto da reabilitação esportiva do atleta.
• Princípio da Individualidade Biológica
Esse princípio preconiza o fato de cada indivíduo trazer consigo uma 
característica genética única, denominado “genótipo”. Ao mesmo tempo, 
uma série de experiências são acrescentadas ao mesmo indivíduo 
desde a sua gestação, determinando outras características, o fenótipo. 
60
Dessa maneira, não existem indivíduos iguais, mesmo se apresentarem 
genótipo semelhante (como os gêmeos), a exposição a diferentes 
situações de vida poderá influenciar em diferentes repercussões de 
fenótipo. Isso faz com o que a adoção das variáveis do treinamento seja 
individualizada e prescrita para cada paciente.
• Princípio da Adaptação
Toda vez que um estímulo é aplicado ao organismo, na tentativa 
de se adaptar, surge uma resposta positiva, negativa ou indiferente 
ao estímulo. Essas respostas dependem de fatores intrínsecos do 
indivíduo, como idade, sexo, hereditariedade, condição de saúde e 
perfil psicológico. E, também, são influenciadas por fatores externos 
ao indivíduo como alimentação, condição de treinamento, clima, 
capacidade de recuperação e qualidade e quantidade de sobrecarga.
Em relação a esse último ponto, estudiosos têm ressaltado um 
fenômeno denominado de síndrome da adaptação geral (SAG). De 
acordo com esse fenômeno, os estímulos que ocasionamos por meio de 
exercícios podem ser divididos em:
Fracos: que não implicam em nenhuma adaptação no organismo.
Médios: que provocam apenas pequenos estímulos de estimulação.
Ótimo: que provocam adaptações reais no organismo.
Muito fortes: que provocam danos aos diversos tecidos e sistemas do 
organismo.
Dessa forma, na prática clínica, devemos guiar os exercícios para serem 
realizados dentro de um estímulo ótimo. Ao alcançar essa zona de 
estimulação, o organismo terá mudanças efetivas no sistema vinculado 
ao tipo de exercício, por exemplo: neuromuscular em treinos de força, 
melhora da capacidade oxidaditiva celular em treinos aeróbios.
61
• Princípio da Sobrecarga
Esse princípio preconiza que, para o indivíduo adquirir uma aptidão 
física permanente, todos os sistemas do organismo devem ser 
submetidos às cargas/esforços que provoquem adaptações. Para isso, 
essa carga/esforço deverá ser sempre crescente tanto em quantidade 
(volume) como em qualidade (intensidade).
Dessa maneira, no processo de reabilitação no esporte, as cargas/
esforços utilizados para o tratamento do paciente devem variar seu 
conteúdo a fim de otimizar a recuperação energética. A alternância e 
a sucessão corretos de cargas/esforços com características diferentes 
permitirão um ganho em amplitude e intensidade do tratamento.
Para que isso ocorra sem riscos para o paciente, alguns cuidados devem 
ser realizados:
• Sempre avaliar qual é a carga/esforço máxima que o paciente 
é capaz de ser submetido e organizar a partir dela as cargas de 
treinamento.
• Aumentar progressivamente as cargas/esforços ao longo do 
tempo. Porém, esse aumento deve respeitar as capacidades 
fisiológicas do paciente não ocorrer de forma abrupta.
• Permitir recuperação do paciente entre as séries de exercício é 
importante para evitar um treinamento exagerado e provocar 
decréscimos na capacidade física do paciente.
• Princípio da Reversibilidade
De acordo com esse princípio, as alterações nos sistemas corporais 
adquiridas com o treinamento físico ou reabilitação podem ser 
transitórias. Assim, existe uma tendência ao retorno aos níveis iniciais 
62
ou basais de capacidade física, caso o estímulo não seja orientado para 
produção de um estímulo ótimo.
Vale ressaltar que, o tempo necessário para reverter os efeitos do 
treinamento é proporcional ao temo de treinamento. Ou seja, se 
houve um ganho rápido de força, se o estímulo interromper a perda 
será rápida e, por sua vez, se o ganho foi realizado de forma lenta, 
em um período prolongado, ele será mantido com mais facilidade e 
a perda ocorre com mais lentidão. Em razão disso, para os pacientes 
nas fases iniciais de tratamento devem ser realizados atividades de 
base com a maior variedade de estímulos e gestos motores possíveis. 
E, posteriormente, para evitar a estagnação ou o decréscimo na 
capacidade é necessário levar em conta o princípio da sobrecarga para o 
melhor desenvolvimento e recuperação do indivíduo/atleta.
• Princípio da Especificidade
Esse princípio está relacionado com o fato que um estímulo de carga/
esforço é eficaz quanto mais for específico para o indivíduo. Isso ocorre, 
pois, o organismo dispõe de uma capacidade pequena de transferir 
a especificidade de estímulos provocados por cargas com diferentes 
finalidades.
Dentro do contexto esportivo, faz-se necessário determinar com 
precisão quais qualidades físicas estão envolvidas na atividade do atleta. 
Essas qualidades estão relacionadas com o metabolismo energético 
envolvido na atividade, o gesto esportivo e os segmentos corporais 
envolvidos. Assim, na reabilitação esportiva, existe a necessidade 
de o programa de reabilitação ser organizado tendo em vista as 
demandas específicas do desempenho esportivo do atleta em termos 
de magnitude, duração e velocidade de ação. Além disso, é importante 
ressaltar que na fase final da reabilitação o fisioterapeuta deve criar 
condições de reabilitação próximas as condições de participação 
esportiva para o treino e para competição do atleta.
63
3. Progressão do processo de reabilitação
O desenvolvimento de um plano de reabilitação deve sempre ser 
orientado as demandas do paciente e com o objetivo de restaurar sua 
função. No contexto esportivo, o fisioterapeuta do esporte trabalha 
com uma população de atletas que precisam estar em excelente forma 
física. Isso ocorre uma vez que uma baixa capacidade física aumenta 
exponencialmente o risco de ocorrência de lesões e outros problemas 
de saúde.
Logo, o processo de reabilitação deve estar vinculado aos fatores que 
possam influenciar no condicionamento improprio do atleta e, também, 
que contribuem na diminuição para o aumento do risco de lesões, 
conforme demonstra a figura a seguir.
Figura 2 – Descrição de tópicos que ofisioterapeuta esportivo deve 
levar em conta durante o processo de reabilitação
Fonte: elaborada pelo autor.
64
Dessa maneira, é de suma importância que o fisioterapeuta esportivo 
tome conhecimento e analise criticamente o programa de reabilitação 
elaborado. O fisioterapeuta esportivo deve estar atendo as demandas 
que serão impostas no programa de reabilitação e de treinamento do 
atleta em reabilitação.
Tendo em vista esses fatores, juntamente com os diferentes princípios 
do relacionados ao treinamento, é importante o fisioterapeuta planificar 
o seu processo de reabilitação no esporte. Essa planificação deve 
levar em conta três principais pontos: a relação entre organismo e o 
estímulo ofertado; a relação entre a atividade/exercício e o descanso/
repouso e a metodologia específica de cada estímulo proposto durante a 
reabilitação.
3.1 Elaboração do plano de reabilitação
O desenvolvimento de um plano de tratamento é complexo e demanda 
um conhecimento teórico sobre os sistemas que compõe o corpo 
humano associado com o entendimento do movimento e das demandas 
específicas do esporte. Além disso, a progressão do plano de tratamento 
deve ser feita de acordo com o tipo da lesão e o tecido que foi afetado. 
Logo, o plano de reabilitação envolve a tomada de decisão sobre 
diversos fatores que envolvem todo processo de retorno do atleta a 
prática esportiva.
De uma forma inicial é necessário que o fisioterapeuta esportivo avalie a 
lesão e seu mecanismo causador. O fisioterapeuta deverá avaliar fatores 
pessoais (história da lesão e histórico familiar), fatores relacionados 
a lesão (severidade, natureza e estágio) e os fatores biomecânicos 
relacionados a lesão. Além disso, elaborar os objetivos para o 
tratamento e o plano de tratamento.
Ainda nesse contexto, deve-se observar as variáveis importantes 
para organização e controle do movimento, como: amplitude de 
65
movimento, flexibilidade, controle proprioceptivo, incremento de força e 
resistência aeróbia são necessários para ser gerenciados no processo de 
reabilitação para o retorno ao esporte.
Assim, o plano de reabilitação deve ser sistemático e progressivo, o 
que envolve o manejo adequado da lesão, a fim de evitar piora nos 
sintomas e permitir que o protocolo de tratamento progressivo seja 
implementado de forma eficaz. A reabilitação, dentro das suas diversas 
variáveis, deve ser organizada em metas que vão de encontro as fases 
da periodização do tratamento. Dessa forma, o planejamento de metas 
é a chave para a implementação bem-sucedida de um programa de 
reabilitação progressiva.
Referências
FOSCHINI, D. et al. Prescrição e periodização do treinamento de força em 
academias. 2. ed. São Paulo: Manole, 2016.
LIEBENSON, C. Treinamento funcional na prática desportiva e reabilitação 
neuromuscular. Porto Alegre: Artmed, 2017.
MCARDLE, W. D. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 
8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
STARKEY, C. Recursos terapêuticos em fisioterapia. 4. ed. São Paulo: Manole, 
2017.
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BONS ESTUDOS!
	Sumário
	Anatomia Humana Topográfica e funcional
	Objetivos
	1. Anatomia e morfologia do Sistema Nervoso Central e do Sistema Nervoso Periférico
	2. SNP-Sistema Nervoso Autônomo e Somático 
	3. Anatomia Topográfica das Estruturas Musculoesqueléticas
	Referências 
	Teorias de controle motor e a aprendizagem motora no esporte
	Objetivos
	1. Aprendizagem, performance e habilidade motora
	2. Teorias de controle motor
	3. Aspectos psicológicos que influenciam no Processando Informações
	4. Organização de informações e tomada de decisão
	Referências
	Análise cinesiológica e biomecânica segmentar dos complexos osteomioarticulares
	Objetivos
	1. Princípios da cinesiologia e biomecânica dos segmentos corporais
	2. Osteocinemática, biomecânica dos membros superiores e inferiores
	3. Análise mecânica do movimento humano 
	Referências
	Bases, periodização e prescrição de exercícios terapêuticos no esporte
	Objetivos
	1. Introdução a Periodização
	2. Princípios pedagógicos do treinamento aplicados para reabilitação de lesões
	3. Progressão do processo de reabilitação 
	Referênciassão divididos em 12 pares, que, por sua vez, tem 
sua origem no encéfalo, sendo que a maior parte deles emergem do 
tronco encefálico. Ademais, esses nervos são nomeados por numerais 
romanos de I a XII, conforme apresentado no quadro a seguir.
Quadro 2 – Descrição nominal dos 12 pares de nervos cranianos
Nervos Cranianos
I – Nervo 
Olfatório.
IV–Nervo 
Troclear.
VII – Nervo Facial. X – Nervo 
Vago.
II – Nervo 
Óptico.
V – Nervo 
Trigêmeo.
VIII–Nervo 
Vestibulococlear.
XI – Nervo 
Acessório.
III – Nervo 
Oculomotor.
VI – Nervo 
Abducente.
IX – Nervo 
Glossofaríngeo.
XII – Nervo 
Hipoglosso.
Fonte: elaborado pelo autor.
Já a medula espinhal é organizada em 31 pares de nervos espinhais, 
que emergem da medula espinhal em uma região entre as vertebras 
denominada raiz neural e são nomeados de acordo com sua posição 
anatômica de saída na Coluna Vertebral.
Um nervo é organizado em duas raízes, sendo uma raiz anterior, que 
possui fibras nervosas motoras oriundas dos corpos celulares situados 
na porção ou corno anterior da medula espinhal e raiz posterior 
(composta por fibras sensitivas que estão localizadas na porção ou 
corno posterior da medula espinhal), conforme demonstrado na Figura 
2, no qual a raiz anterior é dada pelo número quatro e a raiz posterior 
dada pelo número três.
11
 
Figura 2 – Medula espinhal em um no plano transverso e suas vias 
de entrada e saída
Fonte: ilbusca/iStock.com. 
Os nervos radiculares são anatomicamente divididos em 8 pares de 
nervos cervicais (C1 a C8), 12 pares de nervos torácicos (T1 a T12), 5 
pares de nervos lombares (L1 a L5), 5 pares de nervos sacrais (S1 a S5) 
e 1 par de nervo coccígeos (Co1). De uma forma funcional, os nervos 
que emergem das raízes (anterior e posterior) da medula espinhal e se 
fundirão em um feixe único denominado “nervo espinhal misto”, que 
4
2
3
1
7
9
8’
8
9’
12
possui a função de conduzir tanto as informações dos nervos motores 
quanto dos nervos sensitivos.
Nesse sentido, a raiz anterior contém axônios de neurônios motores que 
são responsáveis por transmitir e conduzir estímulos neurais (originados 
nos SNC para órgãos e células alvo), sendo as fibras motoras eferentes 
direcionadas para os tecidos musculoesqueléticos (movimentos 
voluntários) e as fibras motoras viscerais eferentes responsáveis 
por transmitir estímulos para o músculo liso, ou seja, movimentos 
involuntários.
Na raiz posterior contém axônios sensitivos que são responsáveis por 
conduzir impulsos nervosos a partir de receptores do organismo para 
o SNC, dessa forma, as fibras sensitivas aferentes são responsáveis 
por transmitir todas as sensações provenientes do corpo, como dor, 
temperatura, pressão de estruturas musculoesqueléticas e do tecido 
tegumentar para a medula espinhal e, também, são responsáveis 
pela condução do estímulo de sensações proprioceptivas, que são 
capazes de fornecer informações ao corpo sobre a posição articular 
ou a tensão exercida em músculos e tendões. Já as fibras sensitivas 
viscerais aferentes são responsáveis por transmitir as sensações de dor 
provenientes de mucosas, vasos sanguíneos e glândulas.
2. SNP–Sistema Nervoso Autônomo e Somático
Além disso, o SNP é dividido em sistema nervoso somático e sistema 
nervoso autônomo. O primeiro é responsável por fornecer inervação 
sensitiva e motora para todas as partes do corpo, permitindo que 
ocorram ligações por meio de sinapses entre o SNC e o sistema 
musculoesquelético ou órgão efetor.
A realização dos movimentos humanos está relacionada com as ações 
conscientes, como a contração muscular voluntária do organismo. Para 
13
essa ação, o hormônio Acetilcolina é liberado e catalisa a formação de 
um potencial de ação na fibra muscular, o que propicia a contração 
muscular.
Dessa maneira, o sistema nervoso somático será o responsável 
por controlar o fornecimento de impulsos motores ao sistema 
musculoesquelético de forma consciente e voluntária
A parte autônoma do SNP é responsável pela inervação dos músculos 
lisos ou involuntários, músculo cardíaco e glândulas. Por sua vez, 
ele atua como função de manter um ambiente corporal interno em 
homeostase constante, por meio de comandos que irão propiciar 
estímulos compensatórios, como regulação de uma determinada 
quantidade de hormônio circulante no corpo, regulação da frequência 
cardíaca e respiratória.
Nesse sistema, os nervos são divididos em dois ramos: ramo simpático 
(toracolombar) e ramo parassimpático (crâniossacral). Ambos os ramos 
inervam as mesmas estruturas, porém, com funções diferentes, em 
que um irá estimular e o outro irá inibir alguma ação. Logo, essa ação 
antagônica atua de forma harmônica para coordenar e equilibrar a 
homeostase interna do organismo.
A respeito das diferenças anatômicas entre o SN Simpático e SN 
Parassimpático podemos destacar:
• SN Simpático: os neurônios pré-ganglionares encontram-se 
próximos a coluna vertebral, nos níveis torácicos (entre T1 a L2). 
Além disso, em sua maioria, eles possuem fibras nervosas pós-
ganglionares adrenérgicas.
• SN Parassimpático: os neurônios pré-ganglionares encontram-
se próximos a região do crânio (tronco encefálico) e sacral (S2 a 
S4). Além disso, eles possuem fibras nervosas pós-ganglionares 
colinérgicas.
14
Esses estímulos nervosos, do SN Simpático e SN Parassimpático, 
são conduzidos pelo sistema nervoso por meio de sinais elétricos, 
impulsos nervosos transmitidos pelo sistema. Para que ocorra essa 
transmissão é necessário que o ambiente celular do sistema neural 
passe por mudanças fisiológicas, principalmente, na permeabilidade das 
membranas celulares. Esse processo é denominado neurotransmissão.
Contudo, esse processo de transmissão do impulso nervoso é diferente 
em cada um dos sistemas autônomos, pois, cada um desses sistemas 
possui neurotransmissores específicos. No SN Simpático, o principal 
neurotransmissor é a noradrenalina, e, por isso, esses neurônios 
também podem ser denominados de neurônios adrenérgicos. Essas 
fibras neurais têm como função conectar o sistema nervoso central à 
glândula suprarrenal, que é responsável pela secreção de adrenalina, 
que atuará em ações de estresse ou “luta e fuga”.
Já o SN Parassimpático secreta diferentes neurotransmissores, porém, 
o principal neurotransmissor secretado é a acetilcolina e, em razão 
disso, esses neurônios podem ser chamados de colinérgicos. O principal 
ponto de ação nesses neurotransmissores no SNP se dá nos receptores 
muscarínicos e nicotínicos. Esses receptores são responsáveis por 
desencadear uma cascata de eventos fisiológicos relacionados ao SNP, 
como diminuição da frequência cardíaca, diminuição da frequência 
respiratória e sudorese.
Na prática, esse sistema irá controlar diversas funções do nosso 
organismo, principalmente durante o movimento, como a prática de 
atividades físicas ou esportivas, eles irão trabalhar em conjunto para 
promover a homeostasia corporal. De forma contínua e única, os 
sistemas influenciarão no controle pressórico, controle da frequência 
cardíaca e controle da frequência respiratória. Desse modo, essa 
atuação se dá de forma autônoma, ou seja, sem que seja necessário o 
indivíduo tomar consciência ou realizar esforço.
15
3. Anatomia Topográfica das Estruturas 
Musculoesqueléticas
A anatomia é definida como a parte da biologia que estuda a morfologia 
ou estrutura dos seres vivos, bem como a função do corpo. Essa ciência 
pode ser dividida em anatomia macroscópica e anatomia microscópica. 
Dentro da anatomia macroscópica, que é definida como o estudo das 
estruturas observáveis a olho nu, temos a anatomia topográfica, como 
sendo o estudo da anatomia humana na qual é realizada o estudo das 
áreas do corpo por regiões.
Classicamente, o corpo humano é dividido em regiões anatômicas para 
proporcionar um melhor entendimento. Entre os termos utilizados para 
essa compreensão temos o segmento axial, que se divide em cabeça, 
tronco, pelve e segmento apendicular do membro superior com ocomplexo do ombro, cotovelo, punho e mão e segmento apendicular do 
membro inferior, como quadril, joelho, tornozelo e pé.
Já na anatomia topográfica, o termo posição anatômica é um 
referencial para podermos localizar e descrever as estruturas 
anatômicas por regiões que foram padronizadas de forma global. Ao 
utilizar essa posição, é possível descrever uma posição anatômica de 
qualquer segmento do corpo. Em termos direcionais, utilizados na 
descrição das partes e regiões do corpo, a partir da posição a seguir:
• Cabeça e olhos orientados para frente.
• Membros apendiculares superiores ao lado do corpo, juntamente 
com as palmas das mãos orientadas para frente.
• Membros apendiculares inferiores juntos, com os pés orientados 
para frente.
16
Outra forma de conhecer a localização dos segmentos do corpo são os 
planos anatómicos. Planos anatômicos se tratam da descrição de planos 
imaginários usados para dividir o corpo humano, de forma a descrever 
a localização de estruturas e movimentos. Essa divisão é organizada 
em quatro planos: plano mediano, plano sagital, plano coronal e plano 
transverso, descritos no quadro a seguir:
Quadro 3 – Descrição dos planos de movimento corporal
Planos Descrição
Mediano Plano vertical que irá passar longitudinalmente 
por meio do corpo, dividindo o corpo na metade, 
direita e esquerda.
Coronal Planos verticais irão passar pelo corpo em 
ângulos verticais com o plano mediano, dividindo 
o corpo em partes anterior e posterior.
Transverso Planos que passam pelo corpo em ângulos retos 
com os planos coronal e mediano, dividindo o 
corpo em partes superior e inferior. 
Sagital Planos verticais que passam pelo corpo em 
ângulos paralelos ao plano mediano.
Fonte: elaborado pelo autor.
Além disso, também utilizamos termos de comparação e de relação 
sobre direção para descrever o posicionamento das estruturas, sendo:
• Ventral/anterior: se refere ao que está na direção da frente do 
corpo.
• Dorsal/posterior: refere-se ao que está na direção das costas do 
corpo.
• Superior/cranial: termo que se refere ao que está na parte 
superior da linha media do corpo.
• Inferior/caudal: refere-se ao que está na parte inferior do corpo.
17
• Medial: refere-se ao que está mais próximo do plano sagital 
mediano.
• Lateral: termo que se refere ao que está mais distante do plano 
sagital mediano.
• Proximal: refere-se ao que está próximo a raiz do membro 
(próximo ao tronco).
• Distal: termo que se refere ao que está mais distante da raiz do 
membro (afastado do tronco ou do ponto te inserção proximal).
• Superficial: termo que está localizado mais próximo a superfície 
do corpo.
• Profundo: está localizado afastado da superfície do corpo.
Por exemplo, a cabeça está localizada superiormente, enquanto a 
articulação do tornozelo está localizada na região inferior. Outro 
exemplo, a articulação do punho está localizada distalmente, enquanto o 
complexo do ombro está localizado proximal.
Todos esses termos podem ser utilizados de maneira combinada para 
descrever posicionamentos intermediários, como inferolateral, termo 
que se refere a porção inferior do corpo e mais distante do plano 
mediano.
Além disso, todas as estruturas pares do corpo humano têm uma 
classificação em termos de lateralidade. Por sua vez, essas estruturas 
estão presentes nos dois lados do corpo em relação a linha média (lado 
direito e lado esquerdo), sendo denominados como bilaterais, enquanto 
estruturas que estão presentes em apenas um lado são denominadas 
de unilaterais. Essas estruturas também podem ser consideradas 
contralaterais quando ocorrem em lados opostos, como o cotovelo 
esquerdo é contralateral ao cotovelo direito ou ipsilateral, quando 
18
ocorrem em lados semelhantes, o cotovelo esquerdo é ipsilateral à mão 
esquerda.
Referências
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia básica dos sistemas orgânicos: com a 
descrição dos ossos, junturas, músculos, vasos e nervos. São Paulo: Atheneu, 2006.
DAVIS, M.C. et al. The naming of the cranial nerves: a historical review. Clinical 
Anatomy, [s. l.], v. 27, n. 1, p. 14-19, 2013. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.
nih.gov/24323823/. Acesso em: 21 maio 2021.
LIPPERT, H. Anatomia: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
TORTORA, G. J. Princípios de anatomia humana. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2019.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24323823/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24323823/
19
Teorias de controle motor e a 
aprendizagem motora no esporte
Autoria: Thiago Vinicius Ferreira
Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves
Objetivos
• Conhecer a diferença entre aprendizagem motora, 
performance motora e habilidade motora.
• Conhecer como ocorre a organização das 
informações para tomada de decisão.
• Conhecer as contribuições sensoriais para 
performance de uma ação.
• Conhecer as principais teorias de controle motor.
• Aplicar os conteúdos adquiridos em situações 
práticas profissionais.
20
1. Aprendizagem, performance e habilidade 
motora
Neste tema, estudaremos sobre os conceitos relacionados a 
aprendizagem motora e, consequentemente, a aquisição de habilidades 
para realização de uma ação ou tarefa. Para isso, discutiremos como as 
teorias de controle e aprendizagem motora agem em nível central e na 
periferia para realização de um movimento. Além disso, abordaremos 
sobre os mecanismos que atuam como fatores que contribuem para a 
aquisição de uma determinada habilidade motora e, também, quais são 
os fatores que podem afetar essa aquisição de habilidade.
1.1 Aprendizagem motora
O estudo do desenvolvimento motor humano é uma área de estudos 
que tem como objetivo compreender as variáveis inseridas nas 
mudanças do comportamento motor ao longo do decorrer da vida do 
indivíduo. Essa área de estudo tem passado por mudanças conceituais 
que focam na relação dinâmica entre o indivíduo e o meio ambiente 
para construção do movimento.
Segundo Schmidt e Timothy (2016), por definição, a aprendizagem 
motora se refere a uma mudança interna relativamente permanente, 
que é resultante de repetição e de feedback, inferida pela execução. 
Dessa maneira, por meio de estímulos e processos maturacionais, o 
organismo muda internamente e, assim, desenvolve capacidade de 
realização de ações ou movimentos que permitem o alcance de metas 
do meio ambiente com melhor qualidade e menor dispêndio energético.
Ao repetir de forma deliberada e sistemática uma tarefa motora, o 
indivíduo induzirá o organismo a mudanças internas, relativamente 
permanentes, que podem ser capazes de modificar a habilidade de 
execução de uma tarefa motora. Assim, a mudança na habilidade 
21
é representada pelo aprendizado de uma nova tarefa ou pelo 
aperfeiçoamento de uma tarefa motora já adquirida previamente.
Por sua vez, essa aprendizagem é verificada por meio da melhora na 
consistência e eficiência da performance motora. Na prática esportiva, 
essa aprendizagem é verificada em situações que o atleta busca criar a 
solução para um problema. Por exemplo, é melhor um técnico dar uma 
instrução geral, como “correr até a linha de fundo e cruzar a bola” ou 
“arremessar a bola na cesta” do que dar dicas de como correr e cruzar 
ou, então, de como deve arremessar, pois, dessa forma, o atleta irá 
desenvolver a capacidade de criar soluções para suas tarefas.
1.2 Performance e habilidade motora
Diferentemente do conceito de aprendizagem motora, a performance 
motora é a produção observável de ações voluntárias. Contudo, ela pode 
ser influenciada por variáveis internas, como condição física, motivação 
e sono. Dentro desse constructo, temos o conceito de habilidade 
motora, que pode ser definida como um gesto voluntário realizada com 
o objetivo de atingir uma meta com o máximo de certeza e o mínimo de 
dispêndio energético (esforço) e tempo.
Assim, caracterizamos a máxima certeza como a necessidade de 
alcançar um baixo erro absoluto e variabilidade na execução do 
movimento; mínimo esforço é representadopela necessidade de 
redução no número de movimentos desnecessários e, assim, o que 
poupará energia para o movimento principal a ser executado e o 
menor tempo, de acordo com o movimento ou tarefa, sendo diferente 
de velocidade máxima de execução. No esporte, essa habilidade 
representa o refinamento ou a combinação de padrões fundamentais, 
motores e cognitivos para desempenhar atividades relacionados a uma 
modalidade esportiva.
22
Toda habilidade motora é representada por um movimento. Entretanto, 
nem todo movimento é uma habilidade, porque nem todo movimento 
objetiva uma tarefa – por exemplo, movimentos involuntários. No 
contexto da habilidade, dividiremos de forma teórica os indivíduos 
em relação descrição de uma habilidade para execução de uma tarefa 
motora em: indivíduos altamente habilidosos e pouco habilidosos.
Toda habilidade pode ser classificada de acordo com sua organização, 
aspectos ambientais ou por aspectos motores ou cognitivos, conforme o 
quadro a seguir:
Quadro 1–Definição das formas de organização de habilidades
Classificação Organização Definição Exemplos práticos
Organizacional Discreta Organizada de forma 
que a ação tem início 
e fim bem estrutura-
dos e definidos, além 
de uma breve dura-
ção.
Saltar, chutar ou arre-
messar uma bola, lan-
çar um objeto.
Organizacional Seriada Organização de uma 
série de habilidades 
discretas conectadas 
em uma sequência 
rápida.
Realizar uma bandeja 
no basquete, uma série 
de saltos organizados.
Organizacional Contínua São habilidades 
realizadas repetida-
mente por um deter-
minado tempo com 
início, meio e fim não 
definidos.
Correr, nadar e peda-
lar.
23
Aspectos am-
bientais
Aberta Caracterizada por 
um ambiente impre-
visível e em constan-
te mudança. Dessa 
maneira, existe a ne-
cessidade constante 
do indivíduo realizar 
alterações e ajustes 
no padrão de movi-
mento para atender 
as exigências do am-
biente.
Situações de jogo no 
tênis ou no futebol, es-
portes de lutas.
Aspectos am-
bientais
Fechada Caracterizada por 
um ambiente estável 
e previsível que per-
mite que a pessoa 
planeje seus movi-
mentos, de forma an-
tecipatória e determi-
na o momento exato 
de iniciar a ação.
Tiro, arco e Flecha e 
Golf.
Aspectos mo-
tores
Habilidade 
motora
Tem como ênfase o 
controle motor da ta-
refa, ou seja, na exe-
cução de forma cor-
reta do movimento.
Fazer um chute em 
uma cobrança de falta 
no futebol ou arremes-
sar uma bola no lance 
livre no basquete.
Aspectos cog-
nitivos
Habilidade 
cognitiva
Tem foco na percep-
ção e no processo de 
tomada de decisão, 
ou seja, na qualidade 
da tomada de deci-
são ou organização 
sobre qual movimen-
to utilizar.
Trabalhar em equipe, 
xadrez.
Fonte: elaborado pelo autor.
Vale ressaltar, também, que as ações motoras de habilidade podem 
ainda serem separadas de acordo com a estrutura muscular utilizada 
em coordenação motora grossa, no qual os grandes grupos musculares 
realizam a tarefa motora ou coordenação motora fina, no qual os 
pequenos músculos são utilizados.
24
Logo, o organismo irá desenvolver um processo de aprendizagem 
motora no qual o indivíduo se tornará capaz de solucionar problemas 
diversos do ambiente, realizando as melhores escolhas de forma rápida 
e concisa para tomada de decisão para o movimento.
2. Teorias de controle motor
Diversas teorias dão suporte ao processo de desenvolvimento 
motor do indivíduo. Algumas teorias são ancoradas em aspectos 
neuromaturacionais e, atualmente, uma outra forma de interpretar 
o desenvolvimento motor por meio da contribuição conjunta entre 
sistema nervoso e sistema musculoesquelético, força da gravidade e 
inércia foi proposto por Bernstein. Atualmente, os estudos reportam de 
forma consensual que, para execução e de uma tarefa motora, tanto 
os fatores centrais como os fatores periféricos são importantes na 
execução e no controle do movimento.
Ambos contribuem, de forma maior ou menor, a depender do tipo de 
movimento que será executado, como em um movimento de levantar 
e sentar em uma cadeira; no movimento de agachamento; durante 
a execução de um movimento rápido, como a mudança de direção 
durante a corrida em um jogo de futebol ou o movimento do braço para 
um lançamento de disco no atletismo.
 2.1 Teoria de circuito aberto
Essa teoria conta com um programa motor, ou seja, uma unidade 
abstrata que contém todos os detalhes para realização dos movimentos. 
Assim, esse programa motor será o responsável por toda execução 
dos movimentos, não sendo necessário feedback ou o feedback não 
é utilizado para o controle do movimento que é realizado. Entretanto, 
a principal crítica do ponto de vista prático dessa teoria é o fato que, 
25
nessa teoria, não há tempo suficiente para utilizar o feedback de forma 
eficiente após o início do movimento para realizar ajustes. Com isso, 
esse fato diminuiria a acurácia e a precisão dos movimentos, uma vez 
que não utilizam de feedback sensorial do ambiente.
 2.2 Teoria de circuito fechado
Nessa teoria, que também pode ser chamada de teoria do programa 
motor ou close loop control, o sistema oferece ao indivíduo a 
possibilidade de realizar uma adaptação durante a execução de uma 
habilidade motora qualquer de acordo com mudanças presentes no 
ambiente. Dessa forma, o programa motor não é mais responsável por 
todo processo do movimento, mas apenas por seu início. Esse fato exige 
feedback constante para auxiliar no controle do movimento que está 
sendo realizado.
Nesse sentido, essa teoria possui uma estrutura de detecção de 
erros por meio de feedback para extrais informações do ambiente 
denominada traço perceptivo e, também, um traço de memória que 
permite a organização da ação e iniciar o movimento.
Assim, o traço perceptivo permite que o indivíduo adapte os 
movimentos, uma vez iniciados a partir do traço de memória. Porém, 
a principal crítica dessa teoria está no fato de os movimentos ficaram 
armazenados no sistema nervoso central. Para isso, seria necessária 
uma grande capacidade de armazenamento para armazenar todos 
os programas motores de movimento e, além disso, receber e 
dar comandos para o organismo realizar a tarefa motora. Outro 
ponto importante é que, essa teoria não é capaz de explicar o fato 
do organismo ser capaz de adaptar aos movimentos aprendidos 
previamente e a realizar movimentos nunca praticados pelo indivíduo.
26
2.3 Teoria do Esquema – Programa motor generalizado 
(PMG)
Essa teoria surgiu na necessidade de explicar as qualidades adaptativas 
e coordenadas do comportamento motor. De acordo com essa teoria, 
o movimento é possível graças a um controle de classes de ações e 
não um ou uma sequência de movimentos. Dessa forma, existem 
aspectos invariantes, que são responsáveis por formar a base do que 
está armazenado na memória e não modificarão, independentemente 
do que ocorra (força e tempo relativo, sequência de componentes), 
aspectos variantes que são os parâmetros específicos dos movimentos, 
ou seja, podem modificá-los (força e tempo total e músculos envolvidos).
Assim, essa teoria é capaz de explicar como um programa motor é 
capaz de atuar para controlar o movimento de forma coordenada. Logo, 
regras abstratas fornecem ao programa motor generalizado parâmetros 
necessários para executar alguma habilidade motora.
Na prática, essa teoria retoma a necessidade dos feedbacks para 
contribuir no ajuste do movimento. O indivíduo estrutura um 
movimento a partir de suas variações armazenadas na memória, logo, 
ao realizar um movimento, o indivíduo irá recuperar um programa 
motor prévio armazenado na memória, e acrescentar parâmetros 
específicos ao movimento. Com isso, o indivíduo irá buscar por aspectos 
invariantes na memória e acrescentar parâmetros variantes.
 2.4 Teoria dos Sistemas Dinâmicos
A teoria dos sistemas dinâmicos visa integrar a pessoa, a tarefa e 
o ambiente durante a realização do movimento. De acordo com 
ela, certas condições ocasionarão uma situação que irá emergir um 
padrãoespecífico de momento. Assim, nem todos os aspectos do 
comportamento motor precisam ser controlados por representações 
27
centrais do movimento. Então, o movimento surgirá de uma auto-
organização do sistema, que é complexa e não é linear.
Esse sistema possui algumas variáveis ou parâmetros que irão afetar a 
emergência de padrões de coordenação que podem ser assumidos pelo 
sistema.
• -Atrator:
Padrão emergente de comportamento pelo qual a pessoa é levada a se 
comportar, ou seja, é o estado preferencial do sistema.
• Estruturas coordenativas:
Variáveis funcionalmente específicas que definem o comportamento 
global de um sistema, criando um padrão coordenado (grupos de 
músculos em várias articulações buscando agir como um todo).
Variáveis que se organizam de forma autônoma e como uma unidade.
• Auto-organização:
Forma como o organismo controla o movimento agrupando os 
componentes para funcionarem como uma unidade.
• Affordance:
Maneira como o ambiente, e outros objetos inseridos nele, convidam o 
sujeito para interagir.
• Variáveis coletivas:
Processo de emergência de padrões organizados por meio da interação 
dinâmica dos componentes do sistema.
28
Dessa forma, toda ação de processar informações pelo sistema envolve 
atenção, sensação (conduzir o estímulo), percepção (interpretar o 
estímulo) e memória. Para produzir os padrões de movimento, há 
uma consequência de processos físicos organizados que envolvem 
parâmetros de controle: variáveis não específicas que podem variar 
livremente, de acordo com as características da situação, quando a 
velocidade da caminhada é alterada e parâmetros de ordem que 
buscam manter a ordem (por exemplo: caminhar em ritmo estável).
3. Aspectos psicológicos que influenciam no 
Processando Informações
Para a realização do movimento, faz-se necessário uma ativação do 
sistema nervoso central. De acordo com Schmidt e Timothy (2016), a 
ativação pode ser entendida como o nível de estimulação ou excitação 
do SNC, que varia de níveis extremamente baixos, como durante o sono, 
a níveis extremamente altos, como em situações em que o indivíduo se 
sente severamente ameaçado e em risco de vida (HAYWOOD; GETCHELL; 
DORVILLÉ, 2016). Nesse sentido, temos três fatores que podem 
influenciar o nível de ativação do sistema nervoso central do indivíduo:
• Motivação: reguladora do nível de ativação (teoria da ativação).
• Atividade física: relações psicossomáticas.
• Ansiedade: a ansiedade reflete no modo de um indivíduo 
interpretar determinada situação, estando, geralmente, 
relacionada à incerteza ou percepção de ameaça, ela é 
caracterizada por nível de ativação excessivamente elevado 
(SCHMIDT; TIMOTHY, 2016).
Na prática esportiva, essa ativação influenciará diretamente na 
performance, por meio do seu nível (baixo, elevado ou ótimo). Os 
29
estudos ressaltam que baixos níveis de ativação implicam em dispersão 
de foco e, consequentemente, no direcionamento da atenção para 
estímulos irrelevantes, o que poderá causar prejuízo na detecção 
de estímulo e no processamento de informação para realização do 
movimento.
De forma similar, níveis elevados de ativação também não são ideais 
para realização de um movimento. Nesse cenário, há estreitamento 
excessivo do foco de atenção, o que pode levar o atleta a ignorar 
informações relevantes para a tomada de decisão. Ele pode não 
perceber o estímulo adequado a tempo, não havendo possibilidade de 
realizar uma reação ou uma antecipação.
Por outro lado, o atleta também pode ignorar estímulos que seriam 
relevantes para o entendimento da situação e executar uma resposta 
inadequada, prejudicando sua tomada de decisão. Os níveis ótimos de 
ativação são individuais (cada atleta possui o seu) e dependentes da 
tarefa (cada uma exige o seu).
Os níveis de atenção, também, influenciarão o processamento de 
informações e a capacidade de tomada de decisão. Por definição, 
atenção é a capacidade de focalização da percepção a um campo ou 
a uma situação ambiental específica de forma consciente. Esse é um 
fator de grande relevância para o tempo de reação do atleta, ou seja, no 
tempo que o atleta irá levar para perceber e agir a um estímulo.
A atenção possui três características básicas: é limitada, ou seja, afeta 
a percepção e a capacidade de execução de tarefas. Com a prática, 
a execução das tarefas ocupa menos “espaço” de atenção, podendo 
ser realizadas mais tarefas ao mesmo tempo. Além disso, a atenção 
também é seletiva, ou seja, é focada em certos eventos do ambiente, 
tendo a percepção como resultado final. A atenção, também, tem como 
característica o estado de vigilância, no qual o atleta está alerta e 
30
preparado para receber um estímulo, o que é diretamente influenciado 
pela ativação.
A motivação, por sua vez, refere-se aos processos que dão energia 
e mantém o comportamento orientado por metas, podendo ser 
desencadeada por eventos internos ou externos. Uma das teorias de 
motivação, denominada ativação, propõe uma relação direta entre 
ativação e motivação, sugerindo que as pessoas seriam motivadas em 
direção ao nível ótimo de ativação.
Isto quer dizer que, se um indivíduo apresenta níveis elevados de 
ativação, suas ações seriam voltadas para reduzi-lo e, se o nível está 
muito baixo, as atitudes seriam voltadas para elevá-lo. De acordo com 
Schmidt e Timothy (2016), pode-se considerar como diferença básica 
entre ativação e motivação, o fato de que a motivação é direcionada 
a uma meta, ao passo que a ativação se refere a “energia” em si, não 
necessariamente direcionada a algum objetivo.
Além disso, sabe-se que a motivação é influenciada por aspectos 
internos (ex. personalidade) e externos (ex. características do treinador). 
Para o melhor desempenho esportivo são necessárias capacidades 
física, técnica e tática adequadas, bom nível de atenção, ativação e 
motivação. Acreditando que quando não há motivação não há ação, 
pode-se considerar que a motivação é reguladora das capacidades 
físicas e psicológicas. Assim, quanto mais motivado estiver um indivíduo, 
melhor ele utilizará suas capacidades.
4. Organização de informações e tomada de 
decisão
O desenvolvimento motor é definido como um processo sequencial 
e permanente, no qual o indivíduo, independentemente da fase da 
31
vida, irá progredir de ações motoras (movimentos) simples para ações 
motoras mais complexas, ou seja, que requerem mais habilidade e 
organização para execução.
Por exemplo, na fase de desenvolvimento infantil, em situações que 
uma criança está aprendendo a andar quando ainda é um bebê ou, de 
outra maneira, quando um atleta aprende um novo gesto esportivo 
para sua ação no contexto esportivo, a visão tradicional do controle e 
desenvolvimento motor ressalta que ocorre uma maturação no sistema 
nervoso central, o que permite a elaboração de uma resposta mais 
estruturada para realização da atividade desejada. Entretanto, essa 
maturação que ocorre no organismo não é o único fator que influenciará 
na aquisição e na performance de execução de um novo padrão de 
movimento.
Conduto, no ambiente, existe uma gama de variáveis que podem 
interferir e influenciar na ação motora, principalmente em relação ao 
controle e coordenação do movimento. Os graus de liberdade são 
considerados o principal desses problemas, e eles são definidos como 
as diversas possibilidades de variáveis que o sistema nervoso central 
tem para controlar a ação motora a ser executada. Logo, Bernstein 
propôs que isso poderia ser contornado pela própria ação dos sistemas 
corporais, como o sistema muscular ajustando as forças internas em 
relação a demanda externa de força. Esse fato confere ao organismo 
uma capacidade de auto-organização para realização de um movimento 
sem o auxílio de outros mecanismos adicionais.
Nesse contexto, diversos autores ressaltam que o nosso organismo 
possui uma capacidade de auto-organização no sistema nervoso 
central. Essa dinâmica organizacional, que é ocasionada devido às novas 
experiênciasdo indivíduo, juntamente com a tarefa a ser realizada 
e o ambiente, torna-se um dos fatores principais para o organismo 
ultrapassar seu estado de repouso ou basal.
32
Então, após passar do estado de equilíbrio para um estado de 
desequilíbrio, o organismo entra em reequilíbrio, ou seja, o organismo 
será capaz de emergir um novo comportamento, no caso, um novo 
movimento. Essa capacidade de auto-organização para que um 
novo movimento possa surgir é denominada de Teoria de Sistemas 
Dinâmicos.
Por sua vez, essa teoria tem como característica o fato das soluções para 
os problemas motores ou ações motoras serem encontradas devido a 
uma relação complexa e colaborativa entre todas as partes e os sistemas 
do organismo que compõe a organização para o movimento.
De acordo com a teoria dos sistemas dinâmicos, que também pode 
ser chamada de abordagem ecológica, a organização para que um 
movimento novo tenha possibilidade de emergir não ocorre devido a 
soma de diferentes ações dos sistemas corporais, mas devido a uma 
interação organizada de todas as partes dos sistemas corporais.
Logo, todo comportamento humano emerge de uma relação 
cooperativa/colaborativa entre os subsistemas do organismo que 
desenvolverão padrões de movimento que irão substituir os padrões 
anteriores. Dessa forma, o ambiente no qual o indivíduo ou atleta está 
possui uma importância na percepção e ação, uma vez que tudo que 
está no ambiente se relaciona com o ambiente. Essa teoria preconiza 
que não existe uma hierarquia entre os sistemas corporais de percepção 
e ação para um movimento, mas de uma relação mútua entre eles.
Na prática clínica, temos que comandos motores para realização de uma 
tarefa motora, sejam eles oriundos de qualquer um dos programas ou 
esquemas, resultarão em padrão de movimento. Por exemplo, imagine 
um atleta de maratona que sofreu uma lesão de entorse no tornozelo 
durante uma prova. Devido a essa lesão, o processo inicial de percepção 
de situações para os movimentos que envolvem as articulações do 
tornozelo e pé, como correr, ficarão prejudicadas.
33
Com isso, os sistemas irão se organizar de uma maneira nova, na qual 
um novo movimento diferente do padrão normal poderá emergir. 
Assim, o atleta poderá ter uma resposta à um comando alterado, que, 
por sua vez, pode ser um movimento atípico, por exemplo: de proteção 
(como claudicar) ou de sobrecarga (uma tentativa de continuar o gesto 
motor mais próximo do original).
Nesse contexto, vários fatores são capazes de promover essa alteração 
na organização do movimento para ocasionar um movimento atípico, 
como dor ao tentar iniciar o movimento, como inchaço, que irá bloquear 
a execução do movimento artrocinemático.
Essa e outras variáveis serão capazes de promover alterações nos 
processos de controle no sistema nervoso central e, por consequência, 
ocasionar um surgimento espontâneo de uma nova forma de 
comportamento motor. Essa relação pode ser chamada de não-linear, 
uma vez que o corpo humano é um sistema complexo, no qual os 
diversos sistemas interagirão entre si para produzir um objetivo, aqui 
representado por uma tarefa motora ou movimento.
Retomando o exemplo anterior, como o atleta de maratona em sua 
prática esportiva necessita correr, ou seja, realizar uma ação motora 
que possui um caráter dinâmico com o ambiente. De acordo com teoria 
dos sistemas dinâmicos, ao sofrer a entorse no tornozelo, o movimento 
da articulação do tornozelo e do pé sofrerão influência de todos os 
sistemas que são acionados pela ocorrência da lesão, principalmente o 
sistema neural e muscular.
Assim, eles irão interagir com as informações vindas do ambiente em 
uma relação de mutualismo e, além disso, se relacionarão com a tarefa a 
ser realizada, no caso do atleta, o movimento de correr. Essa interação, 
que é dinâmica e individualizada, irá produzir uma resposta única para 
o movimento de correr que poderá ser atípico ou não, dependendo de 
como essa relação ocorrerá.
34
Dessa maneira, a abordagem de sistema dinâmicos implica que, 
para promover uma relação verdadeira entre funções corporais 
comprometidas em um atleta lesionado, devemos considerar o impacto 
de diferentes tarefas a serem realizadas por ele, como os movimentos 
realizados durante a prática esportiva. Além disso, levar em conta, 
também, o ambiente em relação às restrições que o organismo 
apresenta. Por isso, o olhar tem que ser direcionado de forma conjunta 
para o atleta, a tarefa (atividades a serem realizadas) e o ambiente no 
qual ele está inserido.
Referências
AMBRÓSIO, R. T. P. Aprendizagem motora e psicomotricidade. Londrina: Editora 
e Distribuidora Educacional, 2016.
HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N.; DORVILLÉ, L. F. M. Desenvolvimento motor ao 
longo da vida. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MCARDLE, W. D. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 
8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
SCHMIDT, R. A.; TIMOTHY, D. L. Aprendizagem e performance motora: dos 
princípios à aplicação. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
35
Análise cinesiológica e 
biomecânica segmentar dos 
complexos osteomioarticulares
Autoria: Thiago Vinicius Ferreira
Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves
Objetivos
• Conhecer os princípios da cinesiologia e biomecânica 
dos segmentos corporais.
• Compreender a estrutura das articulações e do 
sistema musculoesquelético para o movimento 
humano.
• Conhecer e compreender a osteologia, a 
artrocinemática, a osteocinemática e a biomecânica 
dos membros superiores e inferiores.
• Conhecer os fatores relacionados a análise mecânica 
do movimento humano.
• Aplicar os conteúdos adquiridos em situações 
práticas profissionais.
36
1. Princípios da cinesiologia e biomecânica dos 
segmentos corporais
Os princípios básicos de cinesiologia e biomecânica aplicados ao 
movimento têm como objetivo fornecer a você uma base sólida sobre o 
estudo do movimento humano. Diante disso, neste tema, você estudará 
sobre a estrutura e a função do sistema musculoesquelético, o qual atua 
como base para a prática do fisioterapeuta. Além disso, compreenderá 
o movimento humano, principalmente aplicado ao esporte, permitindo 
a criação de situações e discussões relevantes para a estruturação de 
estratégias de intervenção quando o atleta apresenta uma disfunção 
do movimento, como movimentos compensatórios ou padrões de 
movimento anormais.
1.1 Terminologia básica para a compreensão do 
movimento humano
Ao analisar o movimento humano, sabe-se que ele emerge de uma 
interação entre as características do indivíduo, as demandas das tarefas 
e as condições do contexto. Dessa maneira, o movimento implica a 
utilização de diferentes estratégias, a depender desses três fatores 
para acontecer. Nesse contexto, temos a cinesiologia e a biomecânica 
como constructos que auxiliam a compreender as relações que ocorrem 
no corpo para o movimento. Por definição, cinesiologia quer dizer 
“estudo do movimento”, isto é, refere-se ao estudo científico do sistema 
musculoesquelético, da eficiência dos movimentos do ponto de vista 
anatômico e das ações articulares e musculares durante movimentos 
simples e complexos. Já o conteúdo da biomecânica é derivado da 
mecânica, uma área da física que consiste no estudo do movimento e 
do efeito das forças sobre um objeto. Assim, a biomecânica é definida 
como o estudo da descrição e explicação do movimento de corpos, seja 
ela estática (velocidade constante e aceleração igual a zero) ou dinâmica 
(aceleração diferente de zero).
37
Uma análise biomecânica avalia o movimento do indivíduo e o efeito 
das forças no sistema musculoesquelético. A abordagem biomecânica 
da análise do movimento pode ser qualitativa, com movimento 
observado e descrito, ou quantitativa, o que significa que algum aspecto 
do movimento será medido. No contexto esportivo, uma análise 
biomecânica pode ser feita para um movimento típico, como: correr, 
saltar e agachar. Além disso, ela pode ser feita paragestos esportivos 
como chutar uma bola no futebol, lançar uma bola para cesta no 
basquete ou um golpe em um esporte de combate. Dessa maneira, será 
possível identificar as forças articulares que atuam nas articulações do 
corpo humano durante o movimento, como: articulação do quadril, 
joelho e tornozelo junto com a força entre o pé e o chão, todas agindo 
juntas para produzir o movimento de chute.
Nesse contexto, a avaliação biomecânica pode ser segmentada em 
formas, análise cinética e cinemática do movimento. A cinemática está 
relacionada com as características do movimento de uma perspectiva 
espacial e temporal, sem preocupar com as forças que causam ou 
atuam no movimento. Uma análise cinemática envolve a descrição 
do movimento em termos de variáveis descritivas, como tempo, 
deslocamento e velocidade. Por exemplo: qual velocidade a perna 
está em movimento para realizar um chute em uma bola? Ou qual a 
característica dos movimentos dos segmentos articulares relacionados 
ao agachamento?
Por outro lado, a análise cinética se preocupa com as forças associadas 
ao movimento, seja ela força interna dada por músculos, tendões, 
ossos e a interação entre tendão e articulação, ou forças externas 
dadas pela gravidade ou corpos externos ao organismo. As forças 
produzidas durante o movimento humano são importantes porque 
são responsáveis por criar todos os nossos movimentos e por manter 
posições ou posturas sem movimento. Uma análise cinética pode 
fornecer ao fisioterapeuta informações importantes a respeito do 
movimento e, assim, direcionar o processo de reabilitação.
38
Ademais, vale ressaltar que, para descrição em termos de localização 
desses movimentos, partimos de uma posição arbitrária denominada 
posição anatômica e da divisão de planos e eixos específicos, conforme 
o quadro a seguir.
Quadro 1–Descrição dos planos e eixos de movimento e sua relação 
com a posição anatômica
Plano de 
movimento
Eixo de movimento Descrição a 
partir da posição 
anatômica.
Frontal ou coronal Eixo sagital ou 
ântero-posterior.
Divide o corpo 
humano em duas 
partes: anterior e 
posterior.
Sagital ou mediano Eixo frontal ou 
lateral.
Divide o corpo 
humano em 
metades direita e 
esquerda.
Transverso ou 
horizontal
Eixo vertical ou 
longitudinal.
Divide o corpo 
humano em duas 
partes: superior e 
inferior
Fonte: elaborado pelo autor.
Diante disso, vale ressaltar que cada plano e eixo de movimento 
produzirá movimentos específicos no indivíduo. No plano frontal 
ocorrem os movimentos de abdução (afastar da linha média corporal) 
e adução (aproximar da linha média corporal), em que quando o 
segmento for central como o tronco ou pescoço, o movimento é 
denominado flexão lateral. No plano sagital ocorrem os movimentos de 
flexão (que diminuem o ângulo articular) e extensão (que aumentam 
o ângulo articular). Já no plano transverso ocorre os movimentos de 
rotações medial (região anterior se direciona para parte medial) e lateral 
(região anterior se direciona para parte lateral). Além disso, no plano 
39
transverso, quando o movimento ocorre em segmentos centrais, ou seja, 
sobre a linha média, os movimentos podem ser denominados rotação 
para direita ou para esquerda.
1.2 Considerações articulares para o movimento 
humano
Outro conceito importante para compreendermos os movimentos 
articulares é o conceito dos graus de liberdade. Essa terminologia 
é utilizada para descrever o tipo e a quantidade de movimento 
estruturalmente permitido pelas articulações anatômicas. Na prática, a 
maioria dos movimentos humanos ocorre devido a uma ação conjunta 
de vários planos nas várias articulações. Se esse fato não ocorresse, ou 
seja, utilizássemos apenas um plano e eixo para movimentar, iriamos 
ter um “padrão de robô” para o movimento. Ao caminharmos, por 
exemplo, o membro inferior se movimenta de maneira predominante 
no plano sagital durante o ciclo da marcha. Porém, a análise completa 
do movimento permite inferir que ocorrem movimentos em todos os 
planos, uma vez que na articulação do quadril, por exemplo, o fêmur 
realiza flexão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano 
frontal e rotação interna e externa no plano transverso.
Se o movimento ocorre em apenas um plano e eixo, isto é, a articulação 
permite que ocorra estritamente um único plano e eixo de movimento, 
como a articulação do joelho, essa articulação é descrita como 
possuindo um único grau de liberdade. No corpo humano, temos 
articulações classificadas como sendo de um, dois e três graus de 
movimento, oferecendo potencial de movimento que é uniaxial, biaxial 
ou triaxial, respectivamente. Por exemplo, ao realizar um movimento de 
saque no tênis, o ombro, que é um exemplo de articulação três graus de 
liberdade, permite que o braço se mova no plano frontal por abdução 
e adução, no plano sagital por flexão e extensão e no plano transversal 
por rotação. Em síntese, o movimento complexo é caracterizado como 
40
o somatório dos graus de liberdade nas articulações necessários para 
execução de um movimento.
Além disso, todo movimento articular pode ser considerado de duas 
perspectivas, dependendo de qual segmento ósseo está em movimento. 
O movimento do segmento ósseo distal em torno de um segmento 
ósseo proximal relativamente fixo é denominado movimento de cadeia 
aberta. De outra forma, o movimento do segmento ósseo proximal em 
torno de um segmento ósseo distal relativamente fixo ou estacionário 
é denominado movimento de cadeia fechada. A figura a seguir ilustra 
esses dois aspectos relacionados ao movimento humano.
Figura 1 – Osteocinemática do plano sagital no joelho (A) cinemática 
do segmento distal sobre proximal e (B) cinemática do segmento 
proximal sobre distal
Fonte: adaptada de Neumann (2018).
Embora esses dois movimentos possuam características diferentes, 
ambos resultam em quantidades similares de amplitude de movimento. 
As únicas diferenças entre os movimentos estão em qual osso está 
se movendo e qual osso permanece estacionário. Dessa forma, os 
Flexão do joelho Segmento proximal 
livre
Segmento distal fixo
Segmento proximal fixo
Perspectiva articulação tibial 
sobre articulação femoral
Perspectiva articulação femoral 
sobre a articulação tibial.
Segmento distal livre
41
termos cadeia aberta e cadeia fechada, normalmente, são utilizados 
para descrever clinicamente qual osso está se movendo durante um 
movimento articular.
Na prática clínica, exercícios de cadeia aberta e, principalmente, fechada 
são amplamente utilizados por fisioterapeutas durante processos de 
reabilitação. Em aspectos práticos, exercícios em cadeia fechada tendem 
a ter natureza mais funcional e capitalizam os benefícios do suporte 
de peso e as vantagens biomecânicas naturais do gesto esportivo. Já 
os exercícios de cadeia aberta, embora não tão funcionais, também 
são usados de forma terapêutica na reabilitação que oferecem uma 
capacidade maior de atingir grupos musculares específicos e são 
facilmente realizados com o uso de pesos ou faixas elásticas.
1.3 Considerações musculares para o movimento 
humano
O sistema muscular é um importante componente do sistema 
musculoesquelético para realização do movimento. Esse sistema é 
composto por mais de 600 músculos no corpo humano, os quais são 
organizados em pares direito e esquerdo. Aliado a esse fato, cerca de 70 
a 80 pares de músculos são responsáveis pela maioria dos movimentos 
no nosso organismo.
Por sua vez, o tecido músculo tem como característica ser resistente 
e poder ser alongado ou encurtado em diferentes velocidades e, 
principalmente, sem ocasionar lesões ao tecido. O desempenho do 
tecido muscular sob cargas e velocidades variáveis é determinado pelas 
quatro propriedades do tecido muscular: excitabilidade, contratilidade, 
extensibilidade e elasticidade.
• Excitabilidade: representa a capacidade de o tecido muscular 
responder a um estímulo vindo do sistema nervoso central.
42
• Contratilidade:representa a capacidade de o tecido muscular 
realizar a produção de torque e contração quando estimulado.
• Extensibilidade: representa a capacidade do tecido muscular se 
alongar além da sua posição de repouso.
• Elasticidade: representa a capacidade de o tecido muscular 
retornar à posição de repouso após um estímulo de alongamento 
ser retirado ou interrompido.
O músculo realiza sua contração por meio de uma excitação que é 
proporcionada por um potencial de ação gerado pelo sistema nervoso 
central e levado para o músculo por um neurônio motor. A sinapse 
chega na fibra muscular, via junção neuromuscular, e ocorre uma 
série de reações químicas, entre elas a liberação da acetilcolina que se 
difunde causando um aumento na permeabilidade da membrana da 
fibra, gerando o potencial de ação. Nesse contexto, vale ressaltar que, 
a acetilcolina é rapidamente decomposta para evitar a estimulação 
contínua da fibra muscular e a velocidade na qual o potencial de ação é 
propagado ao longo da membrana é a velocidade de condução.
O tecido muscular apresenta diferentes capacidades de contração para 
realizar as ações motoras. Essas contrações podem ser divididas em: 
contração isométrica, contração concêntrica ou contração excêntrica, 
essas duas, conforme exemplificado na Figura 2.
43
Figura 2 – Tipos de contração muscular 
Fonte: adaptada de Neumann (2018).
Na contração isométrica é caracterizada por durante a contração não 
haver mudança no comprimento muscular, ou seja, não ocorre alteração 
visível ou externa na posição articular. A produção de força muscular 
é gerada contra uma resistência com o objetivo de manter uma 
determinada posição. Dessa maneira, na contração isométrica, o torque 
interno é igual ao torque externo. Na contração do tipo concêntrica, o 
músculo encurta enquanto produz força de forma ativa. Nesse tipo de 
ação muscular, a força é produzida pelo grupo muscular denominado 
agonista, torque interno é maior do que a força produzida pelo torque 
externo.
Assim, ela irá promover um movimento na mesma direção da 
diminuição do ângulo articular. Além disso, o movimento produzido 
em uma ação concêntrica geralmente é contra a gravidade ou são 
a fonte inicial do movimento de uma massa. A contração excêntrica 
corresponde quando o músculo é submetido a um torque externo 
superior ao torque interno (gerado pelo músculo). Dessa forma, o 
músculo terá um maior distanciamento das suas fibras (semelhante a 
um alongamento) durante a produção de força. A fonte da força externa 
desenvolvendo o torque externo que produz uma ação muscular 
excêntrica, geralmente, é a gravidade ou a ação muscular de um grupo 
Isométrica Concêntrica Excêntrica
44
muscular antagonista (contrário a quem produz o movimento). O quadro 
a seguir exemplifica alguns tipos de ação muscular.
Quadro 2–Exemplos de movimentos e tipos de contração muscular
Exemplos de ação muscular
Músculo Movimento. Tipo de 
contração 
muscular.
Comprimento 
muscular.
Deltoide 
médio
Abdução do 
ombro ao segurar 
um objeto a 90º 
de abdução.
Isométrica . Sem alteração.
Bíceps 
Braquial
Flexão do cotovelo 
ao levar um copo 
até a boca.
Concêntrica. Encurtado.
Quadríceps Flexão do joelho 
durante um chute.
Excêntrica. Alongado.
Fonte: elaborado pelo autor.
Na ação articular excêntrica, as forças musculares efetivas que 
produzem a rotação estão na direção oposta da mudança no ângulo 
articular, o que significa que os antagonistas são os músculos 
controladores. Além disso, o movimento do membro produzido na 
ação do músculo excêntrico é denominado negativo, porque as ações 
das articulações normalmente se movem para baixo com a gravidade 
ou controlam em vez de iniciar o movimento de uma massa. Em uma 
atividade como caminhar ladeira abaixo, os músculos atuam como 
amortecedores, pois resistem ao movimento descendente enquanto se 
alongam.
A maioria dos movimentos para baixo, a menos que sejam muito 
rápidos, são controlados por uma ação excêntrica do músculo 
antagonista, e muitos movimentos articulares são criados por uma ação 
muscular concêntrica. Por exemplo, a flexão do braço ou antebraço a 
45
partir da posição em pé é produzida por uma ação muscular concêntrica 
dos respectivos agonistas ou músculos flexores. Além disso, para 
iniciar um movimento do braço por meio do corpo em um movimento 
de adução horizontal, os adutores horizontais iniciam o movimento 
por meio de uma ação muscular concêntrica. As ações musculares 
concêntricas são usadas para gerar forças contra as resistências 
externas, como levantar um peso, empurrar o solo e arremessar um 
implemento.
Vale ressaltar que, normalmente, um músculo nunca realiza uma 
contração de forma isolada para realizar um movimento. Assim, é 
necessário que o sistema muscular atue de forma conjunta entre 
diferentes grupos musculares e articulações para produzir um 
movimento funcional.
2. Osteocinemática, biomecânica dos membros 
superiores e inferiores
A osteocinématica do membro superior acontece devido aos 
movimentos dos complexos articulares do ombro, cotovelo, 
antebraço, punho e mão. Do ponto de vista da anatomia funcional 
e dos movimentos funcionais, os movimentos do membro superior 
contribuem de forma conjunta entre as várias articulações e segmentos 
necessários para um movimento suave e eficiente. Os movimentos 
da mão se tornam mais eficazes com o posicionamento adequado da 
mão pelo cotovelo e o complexo do ombro. Além disso, os movimentos 
do antebraço ocorrem em conjunto com os movimentos da mão e do 
ombro.
O complexo do ombro é formado por quatro articulações: 
esternoclavicular, acrômicoclavicular, escapulotorácica e glenoumeral. 
Os movimentos neste complexo ocorrem de forma conjunta e, com três 
46
graus de liberdade, entre todas as quatro articulações, produzindo a 
amplitude de movimento na articulação do ombro de flexão, extensão, 
abdução, adução, rotação interna e externa, além de adução e adução 
horizontal. A articulação do cotovelo e antebraço é composta por três 
articulações, umeroulnar, umeroradial e radioulnar proximal.
Esse complexo articular que é estabilizado, além de ligamentos e 
capsulas por uma membrada interna denominada interóssea, realiza 
movimentos de flexão, extensão, pronação e supinação. A articulação 
do punho é usada para atividades de manipulação que requerem 
movimentos muito finos, incorporando uma ampla variedade de 
posturas de mãos e dedos. Consequentemente, há muita interação 
entre as posições das articulações do punho e a eficiência das ações 
dos dedos. Dessa forma, a articulação do punho temos os movimentos 
de flexão, extensão, desvio radial e desvio ulnar e, os dedos, combinam 
principalmente os movimentos de flexão e extensão nas demais 
articulações.
Nos membros inferiores, os movimentos ocorrem nas articulações do 
quadril, joelho, tornozelo e pé. Os membros inferiores estão sujeitos as 
forças que são geradas por meio de contato entre o pé e o solo. Além 
disso, o membro inferior é responsável pelo suporte do peso do tronco 
e dos membros superiores. Os membros inferiores estão conectados 
entre si e ao tronco pela cintura pélvica e, desse modo, todo movimento 
que ocorre nos membros inferiores influenciará as ações no lado 
contralateral.
Em relação aos movimentos, a articulação do quadril, que possui 
três graus de liberdade, realizam os movimentos de flexão, extensão, 
abdução, adução, rotação interna e externa. Já a articulação do joelho, 
que possui apenas um grau de liberdade, realiza apenas o movimento 
no plano sagital de flexão e extensão. Diferentemente, com dois graus 
de liberdade a articulação do tornozelo ou talocrural realiza movimentos 
de flexão, extensão, eversão e inversão. Esses movimentos atuam de 
47
forma conjunta com os movimentos realizados no pé e dedos para os 
movimentos funcionais.
3. Análise mecânica do movimento humano
Como discutido anteriormente, o movimento humano é representado 
por uma mudança de posição ou postura queocorre devido a interação 
do atleta, ambiente e tarefa. Nesse movimento, dois tipos de movimento 
são importantes: movimento linear e o movimento angular.
O movimento linear é o movimento ao longo de uma via reta ou curva 
na qual todos os pontos de um corpo ou objeto se movem à mesma 
distância no mesmo período de tempo. São considerados movimentos 
lineares, por exemplo, o caminho de uma pista de corrida para um 
atleta de corrida, a trajetória de uma bola de futebol após o chute ou o 
movimento do pé durante um chute de futebol. O foco nessas atividades 
está na direção ou caminho e velocidade do movimento do corpo ou 
objeto que está sempre em linha reta.
Por outro lado, o movimento angular é o movimento que ocorre ao 
redor de um eixo (movimento rotatório). Assim, diferentes regiões 
do mesmo segmento corporal ou objeto não se moverão na mesma 
distância em um determinado período de tempo. Por exemplo, uma 
ginasta que balança em torno de uma barra repete o movimento 
angular porque todo o corpo gira em torno do ponto de contato com 
a barra. No contexto esportivo, avalia-se o movimento linear de uma 
atividade e, em seguida, os movimentos angulares.
O centro de massa é o ponto em que a massa do objeto parece estar 
concentrada e representa o ponto em que o efeito total da gravidade 
atua sobre o objeto. No entanto, qualquer ponto pode ser selecionado e 
avaliado para movimento linear. Na análise de habilidades, por exemplo, 
muitas vezes é útil monitorar o movimento do topo da cabeça para obter 
48
uma indicação de certos movimentos do tronco. Um exame da cabeça 
durante a corrida é um excelente exemplo: a cabeça se move para 
cima e para baixo? Lado a lado? Nesse caso, é uma indicação de que 
a massa central do corpo também está se movendo nessas direções. 
O caminho da mão ou raquete é importante no arremesso e esportes 
com raquete, portanto, monitorar visualmente o movimento linear da 
mão ou da raquete durante a execução do movimento é benéfico. Em 
uma atividade como a corrida, o movimento linear de todo o corpo é o 
componente mais importante a ser analisado pois o objetivo da corrida 
é mover o corpo rapidamente de um ponto a outro.
Do ponto de vista prático, para o desempenho de uma habilidade 
motora, apenas uma pequena parte da capacidade de movimento 
potencial do sistema musculoesquelético é usada. Tendo em vista os 
graus de liberdade de movimento, são necessários cerca de dez graus 
de amplitude de movimento para realizar uma caminhada e, além disso, 
dois graus de liberdade podem estar disponíveis para executar essa 
tarefa. Além disso, é importante salientar que muitos dos movimentos 
que são executados no dia a dia podem apresentar inconsistências 
durante sua realização e, assim, serem ineficientes em termos do 
movimento desejado (por exemplo, caminhar ou correr). Dessa forma, 
com o objetivo de eliminar os movimentos indesejáveis e realizar 
a tarefa motora ou o movimento desejado, os músculos ou grupos 
musculares desempenham uma variedade de funções na qual apenas 
uma pequena porcentagem da capacidade total potencial de movimento 
do sistema motor é utilizada.
49
Referências
HALL, S. J. Biomecânica básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
LIPPERT, L.; HURRELL, J. Cinesiologia clínica e anatomia. 6. ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2018.
NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos 
para a reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
50
Bases, periodização e prescrição 
de exercícios terapêuticos no 
esporte
Autoria:Thiago Vinicius Ferreira
Leitura crítica: Ana Carolina Araruna Alves
Objetivos
• Conhecer as contribuições dos ciclos de periodização 
para reabilitação.
• Conhecer os princípios pedagógicos e biológicos do 
treinamento esportivo.
• Conhecer os fatores envolvidos na utilização da 
periodização da reabilitação do atleta.
• Aplicar os conteúdos adquiridos em situações 
práticas profissionais.
51
1. Introdução a Periodização
Neste tema, você é convidado a compreender os conceitos relacionados 
a periodização e a variação do treino durante o processo de reabilitação. 
Um programa de reabilitação deve ter como objetivo restaurar a 
funcionalidade do paciente. Para isso, deve ser elaborada em períodos 
propícios as variações sistemáticas em variáveis como: intensidade, 
repetições e frequência dos exercícios. Além disso, é importante lembrar 
a necessidade de adoção de uma reabilitação orientada por metas em 
diferentes períodos do tratamento – curso, médio e longo prazo.
1.1 Ciclos de trabalho
Dentro das diversas teorias relacionadas com o treinamento físico, 
a periodização ganha destaque. Esse conceito se baseia no fato de 
que todo plano de treinamento deve ser estruturado e organizado de 
forma sequencial para permitir ao atleta atingir ganhos ótimos com o 
desempenho esportivo com um mínimo risco de overtraining ou lesões. 
Essa planificação envolve uma estrutura variada em relação aos tipos 
de treinamento, o volume (intensidade e duração) do treinamento, 
a quantidade de descanso e os objetivos específicos da modalidade 
esportiva. Essa estrutura é organizada em períodos determinados 
que permitem uma progressão periódica entre diferentes ciclos/fases 
do processo. Por sua vez, esses ciclos permitem a organização de 
atividades que provocam uma sobrecarga gradual e progressiva, o que 
permitirá que o atleta seja submetido a um estímulo ideal em um tempo 
adequado para recuperação e adaptação.
Durante o processo de reabilitação, o mesmo processo é necessário 
para conduzir o atleta a sua recuperação funcional. Assim, a prescrição e 
a organização de atividades e exercícios durante a reabilitação são uma 
habilidade fundamental para fisioterapeutas esportivos. Nos atletas, 
temos uma necessidade constante de equilibrar as cargas/esforços 
52
fisiológicos e biomecânicos que podem relacionar com a ocorrência e a 
recuperação de uma lesão. Assim, a progressão de exercícios no plano 
de tratamento do atleta deve seguir modelos de periodização com base 
nas características da lesão e na modalidade esportiva. Isto permitirá 
ao fisioterapeuta esportivo uma maior acurácia em sua avaliação, na 
capacidade de realizar o raciocínio clínico, na progressão dos exercícios e 
no estabelecimento de metas para o retorno do atleta prática esportiva 
em seu desempenho ótimo.
No modelo de periodização, todo programa de treinamento é 
organizado em fases. Essas fases são divididas de acordo com as ações 
alvo da particularidade física/fisiológica que o atleta necessita em um 
dado movimento. Assim, a intensidade e a especificidade das atividades 
envolvidas no treinamento ou na reabilitação serão separadas e a 
evolução para a fase seguinte será devido ao atleta ter atingindo o 
pico de desempenho estabelecido previamente. Por exemplo, as fases 
iniciais da reabilitação podem se concentrar em promover adaptações 
em funções básicas como amplitude de movimento, flexibilidade, 
diminuição do quadro álgico e melhora inicial na capacidade de 
produção de força muscular. Para promover a progressão para a fase 
seguinte, dentro dessa fase será necessário organizar e estruturar a 
frequência, a intensidade e a duração das sessões de tratamento, além 
de realizar uma seleção apropriada de exercícios, séries e repetições 
dentro de cada sessão.
As fases de treinamento podem ser divindades em três ciclos, conforme 
o quadro a seguir.
53
Quadro 1 – Descrição das fases de treinamento/reabilitação
Fase Exemplo de ação no 
treinamento
Exemplo de ação 
na reabilitação
Microciclo Pequenos 
blocos 
temporais de 
atividades. 
Normalmente, 
organizados 
em dias.
Programação 
individual diária 
ou semanal de 
treinamento.
Programação de 
objetivos diários 
do processo de 
reabilitação. Ex.: 
redução do quadro 
álgico; controle 
do processo 
inflamatório da 
lesão.
Mesociclo Blocos de 
tempo médio 
de ação. 
Usualmente 
são contados 
por número 
de semanas 
ou meses

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