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MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS Organizadoras: Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira Sílvia Helena Mendonça de Moraes Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais Aline Priscila Batista • Aline Siqueira Fogal • Cesar Augusto Orazem Favoreto • Ísis Eloah Machado James Venturini • Larissa Fernanda Fonseca Guedes • Luciane Bresciani Salaroli Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento • Olívia Maria de Paula Alves Bezerra MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS Unidade 1 Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia Unidade 2 Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Unidade 3: Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde Territorialização em Saúde Geoprocessamento em Saúde Informação em Saúde Educação em Saúde Unidade 4 Conceitos Básicos de Virologia e Imunologia Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais 23-166572 CDD-362.109 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais [livro eletrônico] / [organização] Leonardo Cançado Monteiro Savassi, Adélia Delfina da Motta Silva ; coordenadoras Débora Dupas Gonçalves do Nascimento, Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira, Sílvia Helena Mendonça de Moraes. -- 2. ed. -- Campo Grande, MS : Fiocruz Pantanal, 2023. PDF Vários autores. Bibliografia. ISBN 978-85-66909-47-0 1. Políticas públicas de saúde 2. Pós-pandemia 3. Saúde pública 4. Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC's) I. Savassi, Leonardo Cançado Monteiro. II. Silva, Adélia Delfina da Motta. III. Nascimento, Débora Dupas Gonçalves do. IV. Oliveira, Sandra Maria do Valle Leone de. V. Moraes, Sílvia Helena Mendonça de. Índices para catálogo sistemático: 1. Saúde pública 362.109 Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253 FICHA TÉCNICA Ministério da Saúde Nísia Trindade Lima Ministra Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente Ethel Leonor Noia Maciel Secretária Departamento de Emergências em Saúde Pública Márcio Henrique de Oliveira Garcia Diretor Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Mário Santos Moreira Presidente Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul – Fiocruz MS Jislaine de Fátima Guilhermino Coordenadora Coordenação de Educação da Fiocruz MS Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Vice-coordenadora de Educação Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS – UNA-SUS Maria Fabiana Damásio Passos Secretária-executiva © 2023. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS) Rua Gabriel Abrão, 92 – Jardim das Nações, Campo Grande/MS CEP 79081-746 Telefone: (67) 3346-7220 E-mail: educacao.ms@fiocruz.br Site: www.matogrossodosul.fiocruz.br CRÉDITOS Coordenação Geral Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira Sílvia Helena Mendonça de Moraes Coordenador Acadêmico Leonardo Cançado Monteiro Savassi Coordenadora Pedagógica Adélia Delfina da Motta Silva Autores Alberto Mesaque Martins Aline Priscila Batista Aline Siqueira Fogal Celina Maria Modena Cesar Augusto Orazem Favoreto Isis Eloah Machado James Venturini Larissa Fernanda Fonseca Guedes Luciane Bresciani Salaroli Olivia Maria de Paula Alves Bezerra Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento Consultora Janaína Sallas Avaliadores Técnico-científicos Janaína Sallas Jonas Lotufo Brant de Carvalho Conteudista (questões de avaliação) James Venturini Apoio técnico-administrativo Isabela Pereira da Cunha Coordenador de Produção Marcos Paulo de Souza Designers Instrucionais Felipe Vieira Pacheco Margeci Leal de Freitas Designers Gráficos Hélder Rafael Regina Nunes Dias Humberto Nadeu Bijos Renato Silva Garcia Coordenadoras de Desenvolvimento Janaína Rolan Loureiro Regina Beretta Mazaro Desenvolvedores Julio César Coimbra de Oliveira Larissa Mendes Ribeiro Leandro Koiti Oguro Marcos Felipe Reis Barroso Paulo Henrique Wosniak Franco Ferreira Rebeca Beatriz Lopes Cruz Thiago Fernandes de Oliveira Editor de Audiovisual Luciana Ferreira Nantes Ilustrador da capa Everton Ferreira Lemos Revisores Davi Bagnatori Tavares Ana Paula da Costa Marques Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira Revisor HTML David Cunha Assessoria de Comunicação Bruna Karla Bezerra da Cruz Thayssa Maluff de Mello Apoio acadêmico Claudia Stutz Zubieta Gisela Maria Azambuja de Oliveira Ficha técnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Unidade 1: Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Conceitos de saúde: reflexões sobre a determinação social e biológica da saúde-doença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 Contextualização da sociedade brasileira no período pré-pandemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4 A pandemia de Covid-19: histórico, contexto global e brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.5 O mundo do trabalho na pandemia de Covid-19: novas configurações do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6 As condições de saúde da população brasileira no pós-pandemia: Covid-19 crônica ou Covid-19 longa, e sequelas da doença como desafios ao SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.7 Reconhecimento da importância do SUS pela população brasileira: desafios e perspectivas das políticas públicas e do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .estudantes, cuidadores, pais e familiares. Até para ver, velar e sepultar os mortos foi necessário seguir critérios específicos de tempo e nú- mero máximo de pessoas, impedindo que esse ritual ocorresse como habitualmente ocorria e tornando o luto ainda mais difícil. A emergência sanitária mundial causada pela pandemia de Covid-19 expôs ainda mais a crise global do capitalismo. O mundo do trabalho, que já vinha, nas últimas décadas, passando por radicais transformações sociais, organizacionais e tecnológicas que caracterizam a chamada “reestruturação produtiva” e que, mais recentemente, incorporou uma “nova morfologia do trabalho” (ANTUNES, 2018), precisou se adaptar à nova realidade que se impunha em velocidade assustadora. Obviamente esse não foi um processo fácil para a classe trabalhadora, que, como parte mais frágil na relação capital-trabalho, é quem mais sofre as consequências de tantas mudanças ao mesmo tempo. https://editora.redeunida.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Livro-Prevencao-e-controle-da-covid-19.pdf https://editora.redeunida.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Livro-Prevencao-e-controle-da-covid-19.pdf Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 30 No Brasil, a crescente desregulamentação da legislação trabalhista já vinha alterando profundamente as formas de organização, contratação, remuneração e gestão do trabalho, com o agravamento do desemprego, da pobreza e da fome, associado à fragilização das condições de trabalho, à superexploração da força de trabalho e à desproteção previdenciária aos trabalhadores e trabalhadoras, essencial em casos de afastamentos por acidentes e adoecimentos relacionados ao trabalho (ANTUNES, 2018). Porém, a pandemia explicitou e aprofundou ainda mais as desigualdades econômicas e sociais, que já eram alarmantes. A reestruturação produtiva, delineada a partir da década de 1990 e intensificada nos anos recentes, ganhou impulso no cenário pandêmico, no qual o trabalho humano presencial, considerado importante fator de risco para a Covid-19, passou a ser percebido em determinados contextos não apenas como perfeitamente substituível por novas tecnologias de informação e comunicação, mas também como desnecessário ou até mesmo indesejável. A “nova morfologia do trabalho” é baseada nos chamados “sistemas flexíveis” de produção capitalista (ANTUNES, 2012), que incluem novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e de produção (Indústria 4.0: inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem), redução numérica da força de trabalho, exigência de maior qualificação do trabalhador, reorganização do controle social do trabalho (terceirização, flexibilização da forma e duração dos contratos, trabalho intermitente, remuneração por horas trabalhadas ou por produção, entre outras), e, ao mesmo tempo, na superexploração do trabalhador e da trabalhadora, com perda de direitos sociais e baixíssimos níveis de remuneração. SAIBA MAIS Se você quiser saber mais sobre como essa forma de organização do trabalho impacta a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, sugerimos que leia o artigo de Uchôa-de-Oliveira (2020), disponível em: https://doi. org/10.1590/2317-6369000012520 SAIBA MAIS Se você quiser saber mais sobre a nova organização da produção, o que é a indústria 4.0 e como ela vem ocorrendo no Brasil, sugerimos que acesse os links a seguir (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2020; ANTUNES, 2012): http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/ industria-4-0/ https://nuso.org/articulo/a-nova-morfologia-do- trabalho-no-brasil-reestruturacao-e-precariedade/ Nesse contexto, destacam-se os processos conhecidos como “uberização” e “pejotização” do trabalho. Na uberização, o trabalhador, geralmente denominado de empreendedor, parceiro ou prestador de serviços, cadastra-se em plataformas digitais e oferece o seu trabalho. A função dessas plataformas é conectar o prestador de serviços aos consumidores. Se aprovado, o trabalho passa a ser executado conforme a demanda dos consumidores, porém sem qualquer vínculo formal de trabalho e de forma totalmente independente, com horários e jornadas de trabalho variáveis, remuneração imediata e sem qualquer tipo de responsabilidade por parte da empresa em caso de acidentes ou adoecimentos dos trabalhadores. Já são bem conhecidas do público as atividades “uberizadas” de transporte, alimentação e segurança patrimonial, por exemplo, mas esse processo vem ocorrendo em vários segmentos, inclusive na área da saúde (UCHÔA-DE- OLIVEIRA, 2020). https://doi.org/10.1590/2317-6369000012520 https://doi.org/10.1590/2317-6369000012520 http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/industria-4-0/ http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/industria-4-0/ https://nuso.org/articulo/a-nova-morfologia-do-trabalho-no-brasil-reestruturacao-e-precariedade/ https://nuso.org/articulo/a-nova-morfologia-do-trabalho-no-brasil-reestruturacao-e-precariedade/ Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 31 Já a pejotização deriva do termo Pessoa Jurídica (ou PJ) e, como o próprio nome indica, refere-se à contratação do trabalhador não como pessoa física, mas como empresa, constituída por ele (pessoa jurídica), que será denominada de prestadora de serviços. Assim, a relação contratual passa a ocorrer entre duas empresas, não mais entre uma empresa contratante e o trabalhador físico por ela contratado. O trabalhador, agora transformado em PJ, trabalhará mediante demanda, perdendo não só parte do valor da sua remuneração, mas também direitos trabalhistas essenciais, como férias, décimo terceiro salário, cobertura previdenciária, FGTS, remuneração por horas extras, auxílio-transporte e auxílio-alimentação, assistência à saúde e todos os demais direitos trabalhistas. Mas, no discurso empresarial, passa a ser “independente”, “seu próprio chefe”, uma empresa “parceira”, um “empreendedor”, dando ao trabalhador a impressão de que está sendo reconhecido e valorizado, e não explorado (ANTUNES, 2018). Essas novas formas de organização do trabalho ditas “flexíveis”, além de agravarem o subemprego e aprofundarem ainda mais as desigualdades sociais, também provocam impactos muito negativos no setor Saúde, pois remetem ao SUS toda a responsabilidade pelo acolhimento, prevenção, cuidado, tratamento e reabilitação dos trabalhadores e trabalhadoras acidentados e cada vez mais adoecidos física e mentalmente no exercício do trabalho dito “flexível”. Como mencionado anteriormente, durante a pandemia muitos trabalhadores passaram a trabalhar de forma remota, em sistema de home office, e, para garantir a execução ágil e segura desse processo, novas tecnologias de informação e comunicação para utilização simultânea de grande número de usuários foram aperfeiçoadas e passaram a ser amplamente utilizadas. Os aparelhos celulares e notebooks particulares se transformaram em ferramentas essenciais de trabalho a serviço dos empregadores, e o espaço domiciliar se transformou em espaço laboral. Houve uma invasão do trabalho nos horários de cuidados com os filhos, de refeições e de descanso, aumentando as despesas domiciliares e trazendo para dentro de casa fatores de risco relacionados ao trabalho, como os riscos ergonômicos e psíquicos. As reuniões de trabalho passaram a ocorrer de forma remota em praticamente todos os setores; as aulas e atividades escolares passaram a ocorrer da mesma forma, trazendo grande desgaste e sofrimento para estudantes, professores e pais; consultas médicas remotas, quando possível, passaram a ser incentivadas; as compras pela internet e por aplicativos e plataformas digitais (e-commerce) foram intensificadas; e o transporte solicitado por aplicativo se tornou opçãomais segura que os transportes coletivos. Aos poucos essa rotina foi se incorporando mais e mais à vida das pessoas, e situações como trabalho remoto, uberização e pejotização foram, em inúmeros casos, as únicas alternativas de trabalho para os trabalhadores tentarem sobreviver de alguma forma em um contexto socioeconômico e sanitário adversos. Por fim, nada indica que, em um cenário pós-pandêmico, essa nova forma de trabalhar será abandonada para retorno da forma presencial. Especialmente no caso das mulheres, a quem a sociedade brasileira impõe a maior parte dos cuidados com a família (especialmente crianças e idosos), essa nova forma de trabalhar em casa trouxe grande desgaste adicional, pois o trabalho passou a ocupar os espaços domiciliares e a se misturar com os cuidados com a família, com os afazeres domésticos e, de forma aguda, com o auxílio aos filhos nas atividades escolares de forma remota. SAIBA MAIS Se você quiser saber mais sobre o trabalho da mulher em tempos de pandemia e seus impactos na saúde física e mental, assista ao vídeo Saúde das Mulheres na Pandemia, produzido pela Editora Fiocruz. Disponível em: https://youtu. be/xTxZ9AnniHc https://youtu.be/xTxZ9AnniHc https://youtu.be/xTxZ9AnniHc Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 32 Além disso, chamam a atenção os casos de violência doméstica contra mulheres, adolescentes, crianças e idosos, desencadeada pela maior permanência deles no ambiente domiciliar, junto com seus agressores. No Brasil, uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência durante a pandemia, e, em 2020, foram registrados 230.160 boletins de ocorrência por lesão corporal no contexto do domicílio, sendo 1.350 deles decorrentes de assassinatos de mulheres devido ao gênero (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2021). Antes mesmo que a adoção de medidas não farmacológicas e a campanha de imunização para contenção da Covid-19 avançassem no Brasil, o retorno ao trabalho presencial e a abertura do comércio já haviam sido praticamente restabelecidos em muitas regiões do país, contribuindo para uma nova onda epidêmica da doença. Com o avanço da vacinação, em meados de julho de 2021, o percentual de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 começou a baixar. Em 11 de agosto de 2021, nenhum estado ultrapassava 80% de ocupação de leitos de UTI para Covid-19, aliviando um pouco o sistema de saúde pública e também o privado. No entanto, o número de trabalhadores e trabalhadoras que se contaminaram e ainda se contaminam nos ambientes de trabalho é elevado, embora as estatísticas relacionadas a isso não tenham sido capazes de retratar fielmente essa realidade até o momento, pois o reconhecimento da Covid-19 como doença relacionada ao trabalho sofreu alguns revezes em termos legais e administrativos, e os casos registrados no país com emissão de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) foram relacionados principalmente a trabalhadores do setor Saúde. O Observatório Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, do Ministério Público do Trabalho (MPT), evidenciou o baixo índice de casos de Covid-19 considerados como doença ocupacional: apenas cerca de 33 mil CATs foram emitidos para mais de 36 milhões de casos de Covid-19 registrados até dezembro de 2022. Ressalta-se que a CAT é emitida somente para trabalhadores formais com cobertura previdenciária. Até dezembro de 2022, no Brasil, os casos de Covid-19 efetivamente considerados como ocupacionais foram os que ocorreram em setores de alto risco, como os trabalhadores da saúde na linha de frente do enfrentamento da doença. Nesses casos, ocorre a presunção de que a contaminação ocorreu no ambiente ou em decorrência do trabalho, sem a necessidade de comprovação. Para os trabalhadores de outros setores, é necessário o estabelecimento do nexo causal, ou seja, estabelecer a relação inequívoca entre o adoecimento e o exercício do trabalho. Todavia, o reconhecimento da Covid-19 como doença adquirida no ambiente ou em decorrência do trabalho é de extrema importância, pois, além da reparação de danos, poderá gerar informações que possibilitem a adoção de medidas mais eficazes de controle do contágio entre trabalhadores nos próprios ambientes de trabalho, sendo essa uma responsabilidade dos empregadores. Além disso, os casos de Covid-19 crônica ou Covid-19 longa, forma da doença que será abordada a seguir, e de sequelas da doença também trarão impactos sobre a classe trabalhadora, pois certamente irão se manifestar nos próximos meses e anos. SAIBA MAIS Se você quiser conhecer os dados de COVID adquirida em decorrência do trabalho em seu município, em seu estado e no país, visite o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho/MPT (OBSERVATÓRIO DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR, 2021). Disponível em: https://smartlabbr.org/sst https://smartlabbr.org/sst Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 33 1.6 AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA NO PÓS-PANDEMIA: COVID-19 CRÔNICA OU COVID-19 LONGA, E SEQUELAS DA DOENÇA COMO DESAFIOS AO SUS A América Latina e o Caribe foram duramente atingidos pela pandemia do novo coronavírus. O Brasil contabilizou, até março de 2023, mais de 700 mil óbitos pela Covid-19. Por ser uma doença multissistêmica, os sobreviventes podem ter complicações intra-hospitalares importantes de curto e longo pra- zo e podem necessitar de maior utilização dos serviços de saúde. Segundo a OMS, uma em cada 10 pessoas desenvolve problemas de saúde persistentes após ter a Covid-19, quadro conhecido como Covid-19 crônica ou Covid-19 longa, que se caracteriza por manifestações que se prolongam após a fase aguda da doença e que não podem ser atribuídos a outros diagnósticos (NAL- BANDIAN et al., 2021). Um dos maiores estudos sobre o tema até o momento foi realizado no Reino Unido, entre janeiro e agosto de 2020, com 73.197 pacientes internados para tratamento da Covid-19. O estudo revelou que 49% (n=36.367) dos indivíduos teve pelo menos uma complicação, sendo os homens com idade a partir de 60 anos os mais propensos a isso. Acometimentos no sistema renal, respiratório e sistêmico foram os mais frequentes. Alterações no sistema cardiovascular e complicações neurológicas, gastrointestinais e hepáticas foram também rela- tadas (DRAKE et al., 2021). Na revisão da literatura realizada por Nalbandian e colaboradores (2021), os sintomas após a Covid-19 podem ser divididos em duas categorias: 1) Co- vid-19 subaguda sintomática ou persistente, que inclui sintomas e anorma- lidades presentes por 4 a 12 semanas após a manifestação aguda da doença; e 2) síndrome crônica ou pós-Covid-19, que inclui sintomas e anormalidades presentes além de 12 semanas do início da Covid-19 (Figura 4). Fonte: NALBANDIAN et al., (2021) FIGURA 4: SINTOMAS DA COVID-19 SUBAGUDA E DA PÓS-COVID-19/ CRÔNICA As manifestações pós-Covid-19 encontradas nos pa- cientes são do tipo (de MIRANDA et al., 2021; MIRANDA et al., 2022): 1. Pulmonar: dispneia, Síndrome de desconforto respi- ratório agudo ou SDRA, opacidades em vidro fosco e alterações fibróticas; 2. Hematológicas: eventos tromboembólicos, coagu- lopatia; 3. Neuropsiquiátricas: fadiga, mialgia, cefaleia, disauto- nomia e deficiência cognitiva; 4. Renais: lesão renal aguda, nefropatia caracterizada por glomeruloesclerose segmentar e focal ou GESF; 5. Endocrinológicas: diabetes mellitus (novo) ou agra- vamento da doença preexistente, cetoacidose dia- bética, tireoidite subaguda com tireotoxicose clínica, potencialização da autoimunidade tireoidiana latente com evolução de tireoidite de Hashimoto ou doença de graves; 6. Gastrointestinais: alteração da microbiota intestinal favorecendo organismos oportunistas; 7. Dermatológicas:perda de cabelo ou eflúvio telógeno; 8. Síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-C): ocorre em menores de 21 anos e a maioria dos pacientes resultam negativos para infecção aguda, mas positivos para anticorpos o que sugere que a síndrome pode resultar de uma resposta imune adquirida e não pela infecção viral aguda. Os sintomas mais frequen- tes são, febre, dor abdominal, vômito, diarreia, erupção cutânea, hipotensão e comprometimento cardiovascu- lar (aneurisma da artéria coronária) e neurológico (dor de cabeça, encefalopatia e convulsão). Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 34 Além disso, esse cenário de enfrentamento dessa nova realidade demandará maiores investimentos do governo, bem como intervenções de saúde pública para conter a disseminação viral no pós- pandemia e para se preparar para novas pandemias no futuro. Assim, tornam-se necessários planejamento e investimentos significativos de recursos financeiros e humanos no SUS e fortalecimento dos sistemas de informação e da Vigilância Epidemiológica. Além disso, um esforço interdisciplinar e coletivo torna-se fundamental para minimizar o impacto da Covid-19 crônica ou Covid-19 longa nos estados e em todo o Brasil (THE LANCET, 2021). Deve-se destacar que, além dos problemas adicionais de saúde decorrentes da COVID, há ainda a demanda reprimida de cirurgias eletivas, exames diagnósticos e terapêuticos e consultas de diferentes especialidades que foram suspensas nos períodos de picos da Covid-19 para não sobrecarregar ainda mais os serviços de saúde. Além disso, doenças emergentes e reemergentes, como dengue, sarampo, influenza, chikungunya e zika, se somam aos agravos crônicos e causas externas e demandam também maior atenção e financiamento dos diferentes níveis de atenção à saúde. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde também foi afetado no período de pandemia, tendo em vista que a cobertura vacinal, principalmente infantil, foi inferior ao esperado. O ideal é que essa cobertura fique entre 90% e 95% da população infantil (OCKÉ- REIS, 2020; BRASIL, 2015b). Esse cenário pós-pandemia será certamente um dos maiores desafios para os sistemas de saúde e para os afetados pela Covid-19 crônica ou Covid-19 longa. Uma grande parcela dos afetados é formada por trabalhadores e pessoas produtivas que terão que se adaptar a essa nova realidade. Paralelamente a isso, os serviços de saúde devem se preparar para a demanda considerada por muitos países como sendo uma grande crise de saúde. Um estudo realizado nos Estados Unidos avaliou 379 diagnósticos de doenças possivel- mente relacionadas à Covid-19. Foi observada a prescrição de 380 classes de medica- mentos e foram realizados 62 tipos de exames laboratoriais nesses indivíduos, após 30 dias de internação. Os autores alertam que esse cenário pós-Covid-19 poderá culminar em uma próxima crise de saúde americana (AL-ALY; XIE; BOWE, 2021). Pesquisadores da Fiocruz de Minas Gerais realizaram um estudo longitudinal que per- mitiu avaliar os efeitos da Covid-19 ao longo do tempo. A pesquisa acompanhou, por 14 meses, 646 pacientes que se infectaram com o vírus. Do total, 50,2% tiveram sintomas pós-Covid-19. A pesquisa contabilizou 23 sintomas, dentre eles, fadiga, tosse persis- tente, dificuldade para respirar, perda de olfato ou paladar, dores de cabeça frequentes e transtornos mentais como insônia, ansiedade e tontura. Segundo os pesquisadores, todos os sintomas iniciaram após a infecção aguda e muitos deles persistiram por longo tempo (de MIRANDA et al., 2022). SAIBA MAIS Convidamos você, trabalhador estudante, a assistir ao vídeo do programa jornalístico intitulado Boletim Corona, que fala sobre as sequelas causadas em pacientes recuperados de Covid-19, classificadas por alguns especialistas como Covid-19 crônica ou Covid-19 longa. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/video/sequelas-em-pacientes- recuperados-da-Covid-19-boletim-corona Você também pode ouvir o podcast CoronaFatos – Episódio 63, cujo tema é a Covid-19 longa. Produzido pelo Canal Saúde/Fiocruz, o episódio conta com a participação da pesquisadora da Fiocruz, professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e membro do Observatório Covid-19 Fiocruz Margareth Chrisóstomo Portela. O programa aborda os principais sintomas da Covid-19 longa (Covid-19 crônica ou Covid-19 longa), quem tem mais risco de desenvolver a síndrome pós-COVID e o desafio que isso representa para o sistema de saúde. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/coronafatos-episodio- 63-covid-longa https://portal.fiocruz.br/video/sequelas-em-pacientes-recuperados-da-COVID-19-boletim-corona https://portal.fiocruz.br/video/sequelas-em-pacientes-recuperados-da-COVID-19-boletim-corona https://portal.fiocruz.br/noticia/coronafatos-episodio-63-covid-longa https://portal.fiocruz.br/noticia/coronafatos-episodio-63-covid-longa Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 35 1.7 RECONHECIMENTO DA IMPORTÂNCIA DO SUS PELA POPULAÇÃO BRASILEIRA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DO SUS Se podemos dizer que dessa pandemia de Covid-19 é possível extrair algo positivo, o que parece se destacar é a percepção, pela população brasileira, do SUS como patrimônio indispensável da nossa sociedade, como o nosso grande plano de saúde coletiva. Nossa população parece finalmente ter conhecido e reconhecido a importância e o valor do SUS na gestão dos cuidados com a saúde da população: diferentemente do que ocorre em alguns países mais desenvolvidos, onde os usuários do sistema de saúde pagam caro por atendimentos, inclusive em situações de calamidade. No Brasil, a prevenção, o cuidado com os pacientes na atenção primária, secundária e terciária e a vigilância em saúde estão sendo totalmente custeados pelo SUS, apesar de todas as dificuldades impostas pelo momento de profunda crise sanitária, social e política. Também é de responsabilidade unicamente do SUS a imunização da população elegível para a imunização segundo critérios de prioridade definidos pelo Ministério da Saúde. É preciso, portanto, aproveitar esse momento favorável de reconhecimento e valorização do SUS pela população para aproximá-la ainda mais do sistema, especialmente por intermédio da APS, considerada a porta de entrada preferencial e ordenadora dos cuidados. Nesse processo, também deve ser destacada a inclusão da população trabalhadora, cuja maioria não dispõe de outros recursos de atenção à saúde laboral que não os disponibilizados pelo SUS e cuja porta de entrada no sistema também é a APS. Assim, trabalhador estudante, podemos analisar o que aprendemos e ainda estamos aprendendo com essa pandemia, avaliar nossos erros e acertos e refletir sobre como poderemos utilizar todo esse aprendizado para prevenir novas emergências dessa natureza e salvar vidas, assim como tratar e cuidar das pessoas em vulnerabilidade. No Brasil, a organização da atenção à saúde da população segue a recomendação da OMS, que define três níveis de atenção: Atenção primária: considerada a porta de entrada preferencial do indivíduo no sistema e a ordenadora do cuidado, na atenção primária são desenvolvidas atividades de prevenção, imunização, educação em saúde, diagnóstico e cuidados básicos das doenças e agravos menos complexos. No SUS, é realizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs); Atenção secundária: o indivíduo que não teve as suas necessidades de saúde resolvidas na atenção primária terá acesso a cuidados de maior complexidade na atenção secundária, como exames diagnósticos mais complexos e as especialidades médicas para recuperação da sua saúde, podendo ou não demandar internações. No SUS,a atenção secundária é realizada nas Policlínicas e centros de atendimento; Atenção terciária: o diagnóstico e o tratamento de doenças e agravos potencialmente fatais demandam a realização de exames de alta complexidade, internações mais prolongadas e tratamentos mais invasivos, como cirurgias, quimioterapia e reabilitação, e isso acontece no âmbito da atenção terciária, que é realizada em hospitais e centros de tratamento intensivo. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 36 Será necessário sistematizar e analisar todas as iniciativas e ações implementadas – ou não – na pandemia para, na eventualidade de outras, talvez em breve, podermos atuar de forma imediata e resolutiva no controle da transmissão e na proteção da população, iniciando pelos grupos mais vulneráveis (trabalhadores da linha de frente, idosos, portadores de comorbidades, gestantes, nutrizes, puérperas, trabalhadores dos serviços essenciais, etc.). Essas ações podem ser mais bem compreendidas considerando alguns aspectos dos sistemas de saúde na iminência de novas epidemias e pandemias, como: • Avaliação do conhecimento científico já produzido sobre o tema; • Prevenção e identificação de surtos, epidemias e pandemias; • Preparo do SUS local para o enfrentamento de uma possível emergência sanitária; • Comunicação do risco à população; • Planejamento das ações para o controle/mitigação; • Preparo dos serviços para a prevenção, acolhimento, tratamento e reabilitação dos indivíduos acometidos e da demanda reprimida, especialmente das doenças crônicas, durante a fase de emergência; • Notificação eficaz das suspeitas e casos ao sistema de vigilância; • Implementação imediata de cuidados não farmacológicos; • Estruturação, organização e implementação do plano de imunização em âmbito local; • Mensuração e informação dos resultados das ações; • Avaliação da eficácia dos mecanismos de controle adotados. Ao serem notificados pelas autoridades sanitárias do primeiro surto, os serviços de saúde devem acionar o sinal de alerta e algumas medidas imediatas de contenção da transmissão da doença devem estar disponíveis, entre elas: Fortalecimento do SUS: deve ser viabilizado sempre, reconhecendo que, embora tenhamos boa estrutura para, por exemplo, a imunização, muito ainda é necessário melhorar em outros aspectos, e é preciso garantir o financiamento do sistema e a formação de recursos humanos suficientes e capacitados para atuar em todos os níveis de atenção em situações de emergência sanitária. Equipamentos de Proteção Individual e insumos: as indústrias e as redes de distribuição de EPIs e insumos (como oxigênio) devem estar articuladas com o setor Saúde para garantir o abastecimento imediato e constante em situações de emergência sanitária. Medicamentos essenciais: a indústria de medicamentos também deve estar estrategicamente articulada com o setor Saúde para a rápida produção e distribuição de medicamentos em casos emergenciais, preferencialmente com autonomia nacional. Recursos humanos no SUS: adequação do dimensionamento das equipes locais de saúde às necessidades locais/regionais e qualificação para o atendimento de demandas imediatas devido à emergência sanitária. Comunicação em saúde: estabelecimento imediato de diálogo franco e baseado em dados científicos e oficiais com a população, diretamente ou por meio de campanhas midiáticas de esclarecimento, informação e orientação sobre as condutas preventivas e curativas a serem adotadas. Fortalecimento da vigilância epidemiológica: aprimoramento do sistema de informações em saúde para identificação e notificação de suspeitas e casos da doença. Fortalecimento da vigilância sanitária: melhoria das condições de saneamento básico locais e dos processos de vigilância sanitária em observância ao RSI e às normas sanitárias nacionais e locais. Educação permanente em saúde: adoção de hábitos de vida saudáveis, com estímulo ao consumo de alimentos e preparações locais/regionais seguras do ponto de vista quantitativo e qualitativo, com respeito à soberania alimentar e à cultura alimentar local, boas práticas de escolha e preparo dos alimentos e higiene dos locais e de equipamentos e utensílios de preparo dos alimentos (inclusive na alimentação escolar e institucional); realização de higiene corporal e das vestimentas dos manipuladores de alimentos; estímulo à prática de atividade física regular e, na medida do possível, redução do tempo de tela; implementação de programas de cessação do tabagismo e etilismo; entre outros. Educação ambiental: estímulo da população, especialmente de crianças, jovens e o empresariado do entorno, a cuidar dos ambientes de vida, de trabalho e de lazer, de modo a proteger e preservar os biomas. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 37 Educação para o trabalho: empoderamento da população trabalhadora para a identificação de riscos ocupacionais nos ambientes de trabalho, com destaque para os riscos biológicos e acidentes com materiais perfurocortantes; implemen- tação e treinamento de equipes para uso correto de EPIs e Equipamentos de Pro- teção Coletiva (EPC). Educação permanente para a prescrição e utilização consciente de medicamentos: feito sempre sob cuidados e prescrição médica, seguindo os preceitos científicos recomendados pela OMS e pelo Ministério da Saúde. Valorizar e acreditar na ciência e contribuir com o conhecimento científico pode salvar muitas vidas. Aprimoramento dos mecanismos de vigilância em saúde em âmbito local: qualificar as equipes de saúde para identificação e notificação de casos-índice e surtos locais, que precisam ser ágeis e eficazes, e para a adoção de medidas adequadas e imediatas de contenção da multiplicação de casos. Deve-se proceder ao treinamento permanente das equipes para notificação de casos/ suspeitas nos prazos estabelecidos pela vigilância epidemiológica, com especial atenção aos casos de notificação compulsória. A população também deve ser alertada a procurar o serviço de saúde tão logo apresente sintomas compatíveis com doenças infecciosas potencialmente graves. Melhoria dos sistemas de comunicação/tecnologias de informação: adequação e capacitação para a comunicação eficaz e tempestiva intra e extra equipes e com as comunidades, incluindo suas representações, ONGs e lideranças locais. Adoção de modalidades de trabalho remoto: com relação ao trabalho em saúde, é preciso treinar e equipar adequadamente, com softwares/aplicativos e hardwares, os profissionais da saúde que podem exercer algum trabalho em sistema de home office e em outras modalidades de trabalho remoto, na eventualidade de ocorrer novas epidemias/pandemias como a atual. É preciso atentar para a saúde e segurança do trabalhador em sistema remoto. Prevenção de riscos ocupacionais no domicílio: ao migrar do trabalho presencial para o trabalho remoto, o trabalhador leva para – ou cria em – seu domicílio alguns riscos ocupacionais inerentes à execução do seu trabalho, como os ergonômicos, físicos, psíquicos e até mesmo biológicos (como livros, documentos mofados e empoeirados, matérias-primas, entre outros), o que aumenta os riscos de adoecimentos não só do trabalhador, mas também de outros membros de sua família. Cabe aos serviços de saúde adotar medidas para eliminar ou minimizar esses riscos. Adequação de espaços físicos: os espaços físicos das unidades de saúde precisam ser melhorados ou mais bem organizados, desde o acolhimento até o atendimento, especialmente prevendo a necessidade de distanciamento físico entre pessoas em salas de espera e locais de exames e atendimentos. É preciso melhorar também a ventilação natural e os espaços de circulação de pessoas nas unidades de saúde, permitindomaior distanciamento entre as estações de trabalho e o estabelecimento de fluxos de trabalho e de pessoas que permitam evitar cruzamentos e aglomerações. Higiene e organização das estações de trabalho: as estações de trabalho precisam ser higienizadas diariamente ou até mais de uma vez por dia, na medida das necessidades, ainda que estejam aparentemente limpas. A organização dos materiais, instalações (com destaque para sanitários e cozinhas/refeitórios), mobiliários e equipamentos e sua permanência em boas condições de uso deve ser prioridade das equipes de saúde e dos gestores. Sugere-se a elaboração de um manual local de prevenção e controle de riscos biológicos nos ambientes de trabalho das unidades de saúde, com destaque para o enfrentamento das doenças transmissíveis. Segurança e saúde dos trabalhadores e dos usuários: devem-se elaborar mapas de risco locais (poucas unidades de saúde possuem, embora seja obrigatório), destacando os pontos de risco biológico e treinando os servidores e usuários a compreendê-los para que, utilizando esses mapas, evitem se expor desnecessariamente. Proteção de grupos vulneráveis contra a violência domiciliar (crianças, idosos, mulheres, trabalhadoras domésticas, entre outros): fortalecer o sistema de vigilância dos casos de violência domiciliar e os sistemas de informação/notificação e de acolhimento e cuidados, com amparo psicológico, médico e policial. Pesquisas, ciência e tecnologia e extensão: as universidades e os centros de pesquisa e de produção de vacinas devem estar estrategicamente preparados para a produção de informações científicas, testes e imunizantes em casos emergenciais, e tanto os gestores quanto a população precisam entender a sua importância. Cabe à gestão pública aportar recursos financeiros suficientes para tal. Aprendizado com o passado e com o presente: é preciso que as unidades de saúde em todos os níveis façam reflexões coletivas de forma crítica e honesta, usando estratégias metodológicas adequadas, sobre a pandemia atual e estabeleçam interlocuções com outros serviços para elencar as dificuldades vivenciadas, avaliar a eficácia das soluções adotadas e os indicadores locais de saúde-doença antes, ao longo e posteriormente ao período pandêmico e, com base no aprendizado obtido e nas informações colhidas, elaborar estratégias locais sistematizadas de detecção e enfrentamento de um provável evento futuro. Em outras palavras, é preciso desenvolver e ter bem estabelecido um plano de enfrentamento para ser colocado em prática ao primeiro sinal de uma possível epidemia-pandemia. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 38 Em um contexto pandêmico como o que atravessamos, já está bem claro que, se quisermos alcançar o controle dessa ou de qualquer outra epidemia/pandemia, será imprescindível que o poder público assuma efetivamente a responsabilidade pela condução das ações e também que cada indivíduo siga rigorosamente os cuidados individuais possíveis, mediante a adesão às medidas já cientificamente comprovadas como eficazes – as não farmacológicas já referidas e o esquema completo de imunização. Em outras palavras, cuidar de si é também cuidar de todos: dos familiares, dos colegas de trabalho, dos vizinhos e amigos, dos trabalhadores dos quais necessita, da sociedade como um todo. E, para cuidar de si e do outro, o indivíduo precisa ser um sujeito de direitos e também de deveres, ciente do seu papel crítico perante a vida e da necessidade de contribuir para a transformação do planeta em um local melhor para as atuais e futuras gerações. No entanto, o cuidar de si direcionado ao bem-estar coletivo pressupõe uma postura ética e moral dos diferentes atores envolvidos no processo, além de empatia, solidariedade e responsabilidade para com a sociedade, o que nem sempre ocorre. Infelizmente, a sensibilização e a mudança de postura por parte da população para a questão do cuidar de si e do outro é mais um desafio que se coloca para os serviços e aos profissionais de saúde nesse momento crucial da história da humanidade. SAIBA MAIS Leitura sugerida: se você quiser conhecer mais sobre a questão do cuidado individual como estratégia de cuidado coletivo, sugerimos a leitura do artigo O cuidado de si em Michel Foucault (GOMES; FERRERI; LEMOS, 2018) e a leitura do livro História da Sexualidade: o cuidado de si, de Michel Foucault (FOUCAULT, 2009), que deu origem ao artigo. 39Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia Nesta unidade foi possível compreender diferentes conceitos de Saúde, processo saúde-doença e sua determinação social e biológica, além do contexto social e econômico global e do país antes e durante a pandemia. Além disso, foi apresentado o histórico da pandemia de Covid-19 no contexto global e no Brasil baseado em dados epidemiológicos nacionais e internacionais referentes à situação de casos, óbitos e da cobertura vacinal. Também foi possível identificar as novas configurações do trabalho, seus desdobramentos atuais e futuros no emprego, na saúde e na segurança da classe trabalhadora e refletir sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nos indicadores de saúde da população brasileira e nos serviços públicos e privados de saúde, em especial na APS. Destacou-se o reconhecimento da importância do SUS pela população brasileira, além dos desafios e perspectivas das políticas públicas e do SUS. Esperamos que você tenha aproveitado os conhecimentos compartilhados e que possa utilizá-los no enfrentamento dos desafios atuais e que estão por vir. Boa sorte! ENCERRAMENTO DA UNIDADE 40Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia REFERÊNCIAS AL-ALY, Z.; XIE, Y.; BOWE, B. High-dimensional characterization of post-acute sequelae of Covid-19. Nature, v. 594, p. 259-264, abr. 2021. 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Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Diário Oficial da União, Brasília, 6 fev. 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2019-2022/2020/Lei/L13979.htm#view. Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. 8ª Conferência Nacional de Saúde: quando o SUS ganhou forma. 2019. Disponível em: https://conselho. saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/592-8-conferencia-nacional-de-saude-quando-o-sus-ganhou-forma. Acesso em: 1 ago. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional nº 90, de 15 de setembro de 2015. Dá nova redação ao art. 6º da Constituição Federal, para introduzir o transporte como direito social. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 set. 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc90.htm. Acesso em: 15 ago. 2021. BRASIL. 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(org.). Prevenção e controleda covid-19: estudo multicêntrico sobre a percepção e práticas no cotidiano das orientações médico- científicas pela população dos territórios de abrangência da Atenção Primária à Saúde. Porto Alegre: Rede Unida, 2023. E-book (366p.) (Série Saúde e Amazônia). ISBN: 978-65-5462-049-9. DOI: Amazônia, v. 24). E-book: ISBN: 978-65-5462-049-9 DOI: Disponível em: https://editora.redeunida.org.br/wp-content/uploads/2023/04/ Livro-Prevencao-e-controle-da-covid-19.pdf. Acesso em: 15 abr. 2023. SILVA, L. R. M.; GITAHY, L.; BALDASSA, T. T. Boletim Covid-19 - DPCT/IG n.º 19 - 10/08/2020. 2020. Disponível em: https://portal.ige.unicamp.br/sites/portal8.ige. unicamp.br.portal/files/eventos/2020-08/Boletim%20Covid-19%20do%20DPCT-IG%20n19.pdf. Acesso em: 2 set. 2021. THE LANCET. Covid-19 in Latin America – emergency and opportunity. The Lancet, v. 398, n. 10295, p. 93, jul. 2021. Disponível em: https://www.thelancet.com/ action/showPdf?pii=S0140-6736%2821%2901551-8. 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Mestre em Administração pela UFMG. Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Professora titular aposentada pela Escola de Medicina da UFOP. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família (PROFSAÚDE Fiocruz/UFOP). E-mail: ompab@yahoo.com.br Orcid: https://0000-0002-5596-657X Lattes: http://lattes.cnpq.br/2106229540277568 LUCIANE BRESCIANI SALAROLI Doutora em Ciências Fisiológicas e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Professora Associada do curso de Nutrição da UFES. Líder do Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Saúde e Nutrição (GEMNUT). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da UFES e do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde (PPGNS) da UFES. E-mail: lucianebresciani@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1881-0306 Lattes: http://lattes.cnpq.br/3503255904138561 mailto:ompab@yahoo.com.br https://0000-0002-5596-657X http://lattes.cnpq.br/2106229540277568 mailto:lucianebresciani@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-1881-0306 http://lattes.cnpq.br/3503255904138561 Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais Unidade 2 Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Aline Priscila Batista APRESENTAÇÃO DA UNIDADE Olá, trabalhador estudante. Seja bem-vindo à Unidade 2 do Módulo – Fundamentos e Tecnologias para o Enfrentamento da Covid-19 e de outras Doenças Virais. Esta unidade traz aspectos importantes das políticas públicas, conhecimento necessário também para o enfrentamento de doenças virais, possibilitando o reconhecimento delas enquanto base para o trabalho no SUS e permitindo, assim, que você relembre e atualize as normatizações pertinentes e os desafios que ainda temos de enfrentar para garantir que tais princípios e diretrizes funcionem de maneira satisfatória. A Unidade 2 cria um espaço para análise dos pontos-chave da formação política na área da saúde, desde o momento em que remotamente se pensava em qualquer organização voltada à Saúde Pública e pouca atenção era dada a questões de saúde, com epidemias assolando o país, até construções mais atuais, passando por políticas com histórico de muitos avanços, como a Política Nacional de Imunizações e a Política Nacional de Vigilância em Saúde, até campos ainda em constante construção, como o Campo da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e da Política Nacional de Assistência Social. Apresentamos também várias sugestões de leituras, reflexões e materiais audiovisuais, que trazem debates da atualidade e te ajudarão no enriquecimento do pensamento crítico enquanto profissional de saúde. Esperamos contribuir, de forma positiva, para sua qualificação, desejando, de antemão, que você tenha momentos de muito proveito com o conteúdo elaborado. Viva o SUS e sigamos juntos na sua construção! 1. Reconhecer momentos-chave da formação daspolíticas de Saúde Pública; 2. Descrever o conceito de Determinantes Sociais da Saúde (DSS), suas principais características e importância no contexto das doenças virais; 3. Identificar o papel da intersetorialidade para um enfrentamento da Covid-19 e de outras doenças virais; 4. Compreender a atuação de cada nível de atenção à saúde e as estratégias de enfrentamento da Covid-19 e de outras doenças virais; 5. Relatar a forma de organização do trabalho em saúde e da vigilância em saúde: seus componentes e especificidades; 6. Correlacionar o impacto da precarização das relações de trabalho em saúde ao controle da Covid-19 e de outras doenças virais; 7. Identificar a estrutura da Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS) e seus componentes-chave; 8. Refletir sobre a integração da vigilância em saúde com os níveis de atenção para o enfrentamento da Covid-19 e de outras doenças virais; 9. Conhecer o arcabouço da Política Nacional de Saúde do Trabalhador, da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) e dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs); 10. Identificar a importância da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e suas ferramentas no contexto de epidemias; 11. Compreender os pontos centrais do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e os aspectos essenciais para o seu fortalecimento; 12. Conhecer as diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, sua atuação por meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e os desafios no contexto de emergências em saúde. Carga Horária de Estudo: 15 horas OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE 2.1 INTRODUÇÃO Caro trabalhador estudante, antes de começar a abordar as políticas que compõem esta unidade, vale destacar pontos-chave que nortearam a organização das políticas de saúde até a construção do SUS: • As políticas de saúde, como as conhecemos na atualidade, eram inexistentes nos períodos colonial e imperial (1500-1889), em que as ações eram pontuais, tomadas principalmente nos momentos de epidemias, a fim de manter a imagem do Brasil como um lugar atrativo para a imigração, para que a economia e o comércio com outros países não fossem prejudicados; • A evolução das políticas de saúde ocorreu lado a lado com a evolução econômica e social do Brasil, portanto pautando-se pelo capitalismo; • Por muito tempo, a saúde da população não era prioridade nem responsabilidade do Estado; • A assistência à saúde apareceu, de forma mais concreta, quando a previdência social nasceu, tendo como interesse manter a saúde do trabalhador formal; • O foco inicial da assistência à saúde foi na medicina curativa e lucrativa, cenário em que o governo contratava serviços privados para as classes de trabalhadores, o que, em momento posterior, passou a ser um benefício dos contribuintes da previdência social. O indivíduo que não pudesse pagar não tinha acesso a serviços de saúde, por vezes buscando ajuda nas instituições de caridade como as Santas Casas de Misericórdia; • A integralidade das ações de saúde foi fragmentada por muito tempo: de um lado, as ações de promoção e prevenção eram atribuições do Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde; de outro, as ações de proteção (curativas) eram adotadas pela Previdência Social e pela medicina liberal (PAIM; ALMEIDA-FILHO, 2014; AGUIAR, 2015). Ao longo dos estudos, tenha em mente que esses pontos serviram de base para a construção dos princípios do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), que está em constante construção. 49Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Política de saúde É compreendida como a ação ou omissão do Estado, enquanto resposta social, diante dos problemas de saúde e seus determinantes sociais, ambientais e culturais, bem como em relação à produção, à distribuição e à regulação de bens, serviços e ambientes que afetam a saúde dos indivíduos e da coletividade (PAIM; ALMEIDA-FILHO, 2014, p. 70). 2.2 MOMENTOS-CHAVE NA FORMAÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA Nesta seção, caro trabalhador estudante, aprenderemos mais sobre a formação do nosso SUS, e conheceremos mais sobre a história das políticas públicas de saúde do país, assim como os modelos conceituais em saúde e determinação do processo saúde-doença, a determinação social que existe nesse processo, a importância do exercício da intersetorialidade, bem como a importância da organização do SUS em redes de atenção à saúde. Bons estudos! 2.2.1 Estrutura e organização do SUS: história das políticas públicas de saúde Analisando a evolução das políticas públicas de saúde no Brasil, podemos destacar vários períodos, cada qual com características marcantes que foram influenciadas pelo momento político e econômico da época. Para trabalhar com esse tema, é prático construirmos, juntos, uma linha do tempo que nos ajudará a entender as características e a tomada de decisão de cada momento. Então, vamos à nossa linha do tempo para melhor entendimento de onde cada um dos pontos citados se encaixa (Quadro 1). QUADRO 1 – PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS LIGADOS AO DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANO/PERÍODO FATO Brasil Colônia: 1500 • Propagação de doenças trazidas pelos europeus; • População indígena dizimada; • Mortalidade altíssima; • Prática do curandeirismo – doenças eram tratadas com recursos naturais (principalmente para tratar índios, negros e brancos pobres); • Escassez de médicos; • Filantropia: instalação das primeiras Santas Casas de Misericórdia (séculos XVI e XVII) – pioneiras nas atividades estatais de assistência à saúde; • Principais doenças: sífilis e gonorreia, lepra, tuberculose, sarampo, febre amarela, cólera, malária, varíola e leishmaniose. Continua na próxima página 50Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais QUADRO 1 – PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS LIGADOS AO DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL (CONTINUAÇÃO) ANO/PERÍODO FATO Chegada da Família Real e Império: 1808-1889 • Controle dos portos (médico Manoel Vieira da Silva) – prática da quarentena; • Conceitos de endemia, epidemia e pandemia; • Chegada da família Real: estímulo ao uso da vacina antivariólica, criação das Escolas de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, da Junta de Hygiene Pública e da Academia Nacional de Medicina; • Epidemias de varíola, febre tifoide, febre amarela e sarampo frequentes no Rio de Janeiro; • Casos de tuberculose também eram numerosos, mas negligenciados; • Primeiras discussões sobre as causas sociais como influenciadoras da doença e necessidade de intervenção do Estado para haver êxito nas ações de saúde. Primeira República: 1889-1930 • Política do café com leite e incentivo à imigração de mão de obra europeia; • Saneamento básico precário e mesmo cenário com as doenças pestilenciais, as quais traziam prejuízos para a agricultura cafeeira e para a indústria paulistana em ascensão; • Oswaldo Cruz traz o Modelo Campanhista (baseado na prevenção) – movimento sanitarista campanhista com criação da polícia sanitária; • Vacinação antivariólica obrigatória – Revolta da Vacina; • Criação das duas principais Instituições de Saúde no Brasil: Instituto Soroterápico Federal, posteriormente transformado em Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e Institutos Butantã e Biológico e Bacteriológico, em São Paulo; • Momento de contestação da teoria miasmática – início da era pasteuriana; • Chegada de Carlos Chagas – mudança de abordagem: promoção antes da prevenção; • Início da atuação da Fundação Rockefeller no Brasil, com foco nos serviços de educação sanitária, trazendo à população conscientização sobre cuidados com a saúde e com a higiene; • O controle de doenças passa a chamara atenção dos governantes, uma vez que elas afetavam a saúde dos trabalhadores; • Lei Elói Chaves e criação das Caixas de Aposentadorias e Pensão (CAPs) – primeiro para ferroviários. Governo Getúlio Vargas: 1930- 1945 e 1951- 1954 • Governo populista: “pai dos pobres”; • Urbanização precária e desordenada nas grandes cidades – acrescentam-se aos problemas de saúde antigos as doenças profissionais, estresse, acidentes de trabalho, desnutrição, verminoses, entre outros; • Saúde e Educação passaram a compartilhar um ministério próprio – Ministério da Educação e Saúde Pública; • Criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP); • CAPs substituídas por Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs); • Pós-guerra: influência do modelo do Welfare State, política de bem-estar social – saúde, educação, habitação, renda e seguridade. O Brasil passa a ser cobrado por responsabilização sobre a saúde de sua população; • Criação do Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU). Atenção à saúde somente em estados de urgência/emergência; • O Ministério da Saúde é desmembrado da Educação (1953) e passa a ter sua atuação de forma independente – ações de promoção e prevenção à saúde; • Criação do Departamento Nacional de Endemias Rurais (Dneru) – febre amarela, malária, peste bubônica, esquistossomose e tracoma. Ditadura militar: 1964-1985 • Redução das verbas destinadas à saúde; • Atenção primária é desassistida, e ações de promoção e prevenção não são o foco; • Indústria da doença – a prioridade é dar suporte à medicina assistencialista ou curativista, pois torna-se lucrativo dar assistência à pessoa no momento que ela já adoeceu; • Os IAPs são substituídos pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) – o governo passa a se responsabilizar pela assistência médica aos segurados e suas famílias; 51Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais QUADRO 1 – PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS LIGADOS AO DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL (CONTINUAÇÃO) ANO/PERÍODO FATO Ditadura militar: 1964-1985 (continuação) • Aumento de doenças como dengue, malária, meningite e poliomielite; • Criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS) e do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS); • Criação da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM); • Conferência de Alma-Ata; • Criação do Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP); • Criação das Ações Integradas em Saúde (AIS) e Programa de Ações Integradas em Saúde (PAIS). Redemocratização: 1985-1988 • Eleições diretas já; • VIII Conferência Nacional de Saúde; • Criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS); • Reforma Sanitária; • Constituição de 1988 – Nascimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Fonte: Bertolli Filho (2006), Paim e Almeida-Filho (2014) e Aguiar (2015). Até aqui, você conseguiu ter uma visão geral do quanto foi complexa a evolução das políticas públicas no Brasil até a chegada do SUS? Para consolidar esse assunto, vamos visitar o conteúdo a seguir, que conta, de forma bem didática e descontraída, a evolução das políticas públicas no Brasil. Pode complementar a linha do tempo apresentada. SAIBA MAIS Canal VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz. A história da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7ouSg6oNMe8 Especial Epidemias: uma história das doenças e seu combate no Brasil: Jornal da USP fez uma retrospectiva sobre as principais doenças que abateram o Brasil desde a chegada dos colonizadores portugueses. Disponível no link abaixo: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/especial-epidemias-uma- historia-das-doencas-e-seu-combate-no-brasil/ https://www.youtube.com/watch?v=7ouSg6oNMe8 https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/especial-epidemias-uma-historia-das-doencas-e-seu-combate-no-brasil/ https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/especial-epidemias-uma-historia-das-doencas-e-seu-combate-no-brasil/ 52Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Como visto no vídeo, o SUS passou a ser o Sistema Público de Saúde Brasileiro nascido dos anseios da sociedade para contrapor o modelo antigo, que separava a saúde individual da saúde coletiva e era extremamente excludente. E quais são as principais normativas que estruturam e organizam o SUS? Veja o Quadro a seguir com alguns momentos e legislações importantes na estruturação do SUS: Art. 198 da Constituição de 1988: organiza e estrutura o SUS em todo o território nacional. Lei nº 8.080/1990 e Decreto nº 7.508/2011: regulamentam as bases da organização e funcionamento do SUS (BRASIL, 1990a, 2011a). Lei nº 8.142/1990 e Resolução nº 453/2012: participação da comunidade e parte do financiamento e recursos (BRASIL, 1990b;2012a). 1991: estruturação da rede de atenção básica em saúde com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. 1992: aprovação da Norma Operacional Básica (NOB 01/1992) (BRASIL, 1992a). 1993: descentralização e municipalização dos serviços. 1994: estruturação da Saúde da Família, com equipes multidisciplinares atuando nas comunidades. 2002: publicação da Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS 01/2002), que define a regionalização e a assistência à saúde (BRASIL, 2002a). QUADRO 2 – MOMENTOS E LEGISLAÇÕES IMPORTANTES NA ESTRUTURAÇÃO DO SUS Fonte: elaborado pela autora a partir da adaptação de Paim e Almeida (2014) e Aguiar (2015). Dê uma olhada nessas normativas (em especial no Decreto nº 7.508, que traz algumas definições importantes, como a organização do SUS por Regiões de Saúde) e relembre os princípios doutrinários e organizativos do SUS, que são a essência das políticas que se desenvolveram a partir dele. Ao longo da nossa unidade também veremos as políticas importantes que fortalecem a construção e a organização do SUS. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10653794/artigo-198-da-constituicao-federal-de-1988 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7508.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8142.htm https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2012/res0453_10_05_2012.html 53Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Interessou-se pelo tema e quer saber mais? Assista a este interessante documentário que traz mais aspectos das políticas públicas no Brasil ao longo do século XX: Que bom que você chegou até aqui! Viu quanto a chegada do SUS foi uma grande vitória para a Saúde Pública no Brasil? Agora você pode construir a linha do tempo da evolução das políticas públicas de saúde à sua maneira, criando destaques e fazendo sua própria análise crítico-reflexiva. SAIBA MAIS Canal Rede TVT. Documentário Políticas de Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde, de Renato Tapajós. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU https://www.youtube.com/watch?v=EOACL0yhxBU 54Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.2.2 Modelos conceituais em saúde e determinação do processo saúde-doença Caro trabalhador estudante, agora que você já reviu o panorama da evolução das políticas públicas no Brasil, vamos discutir como o conceito de saúde também evoluiu ao longo do tempo, sendo influenciado pelos contextos político, econômico, social e cultural. Para que você identifique as mudanças ao longo do tempo, é importante conhecer os principais modelos. . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUMÁRIO MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS 11 12 13 14 15 16 17 22 26 29 33 35 39 40 44 SUMÁRIO Unidade 2: Políticas públicas no enfrentamento das doenças virais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Momentos-chave na formação das políticas de saúde pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Trabalho em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 Política Nacional de Vigilância em Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5 Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6 Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: marco regulatório, aspectos conceituais e desafios para sua implementação e atualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.7 Programa Nacional de Imunizações: marco regulatório, aspectos conceituais, trajetória até o reconhecimento internacional e pontos importantes para seu fortalecimento no SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.8 Políticas públicas da assistência social no enfrentamento de epidemias/pandemias: histórico, diretrizes e atuação no contexto de doenças infecciosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo da autora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 46 47 48 49 62 66 71 75 77 80 84 85 91 MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS SUMÁRIO Unidade 3: Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1 Introdução ao conceito de territorialização em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1.1 Os indicadores epidemiológicos e as desigualdades sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1.2 Conceito Ampliado de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1.3 Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) e sua importância na vigilância em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1.4 Compreensão e ação territorializada em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1.5 Diagnóstico do território . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.2 A vigilância em saúde com base nos territórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.2.1 A pandemia de Covid-19 e a potencialidade das intervenções comunitárias na prevenção de agravos e promoção à saúde em territórios adscritos às Unidades Básicas de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo do autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 92 93 94 95 95 98 100 102 108 112 113 115 116 118 MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS 3.2 GEOPROCESSAMENTO EM SAÚDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Geoprocessamento em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1 Introdução à unidade: a relação entre espaço geográfico e saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.2 Análises espaciais em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.3 Sistemaconceituais em saúde, apresentados na Figura 1 com suas principais características: FIGURA 1 – PRINCIPAIS MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE Idealizado desde os primórdios e que exprime a ideia do adoecimento como forma de punição divina ou como uma ocorrência sobrenatural; Teve como formulador o filósofo Hipócrates (460- 377 a.C.), o qual tentava descrever o adoecimento como resultado de um desequilíbrio dos humores (líquidos do corpo); A ideia de saúde se baseia na ausência de doença. Trouxe a ideia de unicausalidade, segundo a qual os microrganismos seriam os causadores das doenças. É caracterizado como individual, curativo, centrado na figura do médico, fragmentado, hospitalocêntrico e especialista; Considera que os fatores políticos, socioeconômicos, culturais e ambientais e os agentes patogênicos estão envolvidos numa relação sinérgica, ou seja, ao se modificar um dos níveis, os demais também serão alterados; Propõe uma visão ampla do processo saúde-doença (multicausalidade), articulando as relações entre agente causador, hospedeiro e meio ambiente no processo de desenvolvimento da doença. Essa visão, oportunamente, cria um espaço para as medidas de prevenção e promoção da saúde, bem como para a organização das ações por níveis de complexidade . Modelo mágico- religioso: Modelo empírico- racional (hipocrático): Modelo biomédico: Modelo sistêmico: Modelo da história natural das doenças: Fonte: Cruz (2012). 55Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Em 1986, o relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS) definiu: “Saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (BRASIL, 1986a, p. 4). POR QUE CONHECER ESSES MODELOS É IMPORTANTE PARA O FORTALECIMENTO DO SUS? Considerando os modelos apresentados e o conceito de saúde elaborado na VIII CNS, você pode observar que, ao longo do tempo, o entendimento do processo saúde-doença passou a ser mais amplo, em que a saúde e a doença atuam como componentes dinâmicos dentro do modo de viver individual e coletivo. Portanto, a situação de saúde e de doença de cada indivíduo ou de um grupo envolve vários fatores determinantes, que podem ser, por exemplo, o contexto social, histórico e econômico, bem como os hábitos provenientes de sua cultura e, por fim, o próprio fator biológico de cada um. Esse entendimento oferece suporte para as ações de promoção da saúde, importante ferramenta que fortalece a atuação do SUS e permite melhores condições de vida e redução das vulnerabilidades e riscos oriundos dos determinantes da saúde-doença. 2.2.3 Determinantes Sociais da Saúde Muito bem! Após mostrar quanto o conceito de saúde evoluiu, agora falaremos um pouco do termo Determinantes Sociais da Saúde (DSS), que surgiu em um momento em que a determinação social foi consolidada como um importante influenciador dos estados de saúde-doença. Você conhece o conceito de DSS? Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (CNDSS, 2008). E qual a importância dos DSS? Com base no conhecimento das condições socioeconômicas, culturais e ambientais de uma comunidade e sua relação com as condições de vida e de trabalho de seus membros, como habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e educação, consegue-se buscar os grupos mais vulneráveis e planejar ações para melhorar suas condições de saúde. Os DSS são importantes estruturadores do SUS, já que fomentam a adoção de ações articuladas intra e intersetorial para combater as desigualdades. Um exemplo é a participação dos DSS na formulação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2010a). A Organização Mundial da Saúde (OMS) se baseia no seguinte modelo (Figura 2) para compreender o conceito de DSS e apontar os pontos-alvo para intervenções e criação de políticas públicas: FIGURA 2 – MARCO CONCEITUAL DOS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE CONTEXTO SOCIOECONÔMICO E POLÍTICO DETERMINANTES ESTRUTURAIS DAS INIQUIDADES EM SAÚDE IMPACTOS SOBRE A EQUIDADE EM SAÚDE E O BEM-ESTAR DETERMINANTES INTERMEDIÁRIOS DA SAÚDE • Governança • Políticas macroeconômicas • Políticas sociais • Mercado de trabalho, habitação e terra • Políticas públicas • Educação, saúde e proteção social • Cultura e valores sociais Posição socioeconômica Coesão social & capital social Sistema de saúde Classe social Gênero Etnia (racismo) Educação Ocupação Renda Circunstâncias materiais (Condições de moradia e trabalho, disponibilidade de alimentos, etc.) Fatores comportamentais e biológicos Fatores psicossociais Fonte: Carvalho (2013). https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude.pdf 56Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Observe o modelo, seus determinantes estruturais e intermediários e veja que as intervenções devem ser coordenadas de modo que atinjam cada setor para que as iniquidades em saúde sejam combatidas de forma eficiente. O interessante aqui é apontar que o modelo deixa claro que temos um círculo virtuoso, no qual a saúde, o Sistema de Saúde e os seus determinantes de cada tipo se retroalimentam e se beneficiam mutuamente. No contexto das doenças e síndromes virais, os DSS influenciam o risco de infecção, a morbidade e a mortalidade das populações em grupos mais vulneráveis. A pandemia de Covid-19 evidenciou, especialmente no Brasil, as fragilidades em saúde impostas pelas desigualdades sociais. Vamos contextualizar os DSS na pandemia de Covid-19? Veja a Figura 3: FIGURA 3 – DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL I - CONTEXTO POLÍTICO E SOCIOECONÔMICO DETERMINANTES CONJUNTURAIS E SOCIAIS DA VULNERABILIDADE À Covid-19 DETERMINANTES ESTRUTURAIS E SOCIAIS DA VULNERABILIDADE À Covid-19 DETERMINANTES INTERMEDIÁRIOS E SOCIAIS QUE AMPLIAM A VULNERABILIDADE À Covid-19 IV - IMPACTO SOBRE A DESIGUALDADE NA SAÚDE E NO BEM-ESTAR (Covid-19) II - POSIÇÃO SOCIOECONÔMICA III - CONDIÇÕES MATERIAIS Sistema de Saúde Cenário Político Instabilidade Política; enfraquecimento das instituições; Cenário Macroeconômico Crise econômica e baixa taxa de crescimento; Classe Social -Trabalhadores Circunstâncias Materiais - Condições de Moradia - Acesso à água Comportamentos e Fatores Biológicos -Obesidade Condições de Trabalho -Estresse -Ambiente de trabalho Gênero -Mulheres Cor/Raça -Negros, indígenas Educação: baixa escolaridade Ocupação: informalidade Renda: baixa renda Política Social Alta taxa de desemprego e informalidade; ampliação da pobreza; Política Pública Redução do orçamento na área da Educação, Saúde e Proteção Social; Cultura e Valores Sociais Polarização política; desinformação; Fonte: adaptado de Silva (2020). Nesse modelo proposto por Silva (2020), considerando a base da Figura 4, observamos três conjuntos de determinantes: 1. Conjunturais e sociais; 2. Estruturais e sociais; e 3. Intermediários e sociais. O primeiro conjunto influencia tanto o segundo quanto o próprio Sistema de Saúde. Observe que as condições socioeconômicas, renda, educação, gênero, cor/raça, que compõem os determinantes estruturais, influenciam as condições de moradia, de trabalho, biológicas, comportamentais e de acesso à água, o que cria um forte impacto na saúde e no bem-estar e cria maior risco de infecção por Covid-19. Veja bem a importância do Sistema de Saúde diante dos determinantes que expõem e aumentam avulnerabilidade de vários grupos sociais durante a pandemia. 57Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais PARA REFLETIR Caro trabalhador estudante, pensando em sua realidade profissional e pessoal e considerando o que acabou de estudar: • Quais DSS são mais expressivos na sua região de atuação? • Como você avalia a influência dos DSS na evolução da pandemia de Covid-19 na sua comunidade? SAIBA MAIS O Brasil e a Agenda Internacional dos DSS. Disponível em: https://dssbr.ensp.fiocruz.br/o-brasil-e-a-agenda-internacional-dos-dss/ 2.2.4 Intersetorialidade A CNDSS elegeu, em seu relatório final, a intersetorialidade como um pilar básico para o desenho de intervenções viáveis e sustentáveis nos DSS. Em sua definição: [...] a intersetorialidade constitui uma concepção que deve informar uma nova maneira de planejar, executar e controlar a prestação de serviços. Isso significa alterar toda a forma de articulação dos diversos segmentos da organização governamental e dos seus interesses (JUNQUEIRA, 2005, p. 18). A intersetorialidade é uma abordagem tão importante quanto desafiadora de se realizar, pois requer que atores de diferentes cenários – como governos, segmentos da sociedade e comunidade – se comuniquem e ajam em conjunto para garantir a equidade e saúde para todos. De maneira geral, a intersetorialidade das políticas públicas culmina com “melhora das condições de vida da população, na otimização e utilização dos recursos (financeiros, materiais e humanos) e nos ganhos de escala e de resultados” (WANDERLEY; MARTINELLI; DA PAZ, 2020, p. 9). Na pandemia de Covid-19, a atuação intersetorial se apresenta como estratégia valiosa na implementação de ações efetivas de combate. Na seção anterior, apresentamos alguns dos DSS que foram mais influentes na incidência da Covid-19, como a distribuição desigual de renda e o adensamento domiciliar. Podemos falar também no desemprego, insegurança alimentar, ausência de saneamento básico, acesso à água potável, entre outros. E como as ações intersetoriais podem atuar no contexto dos DSS e da pandemia? Vamos ver alguns exemplos em que os setores governamentais, da saúde, segmentos da sociedade e grupos da comunidade podem atuar? https://dssbr.ensp.fiocruz.br/o-brasil-e-a-agenda-internacional-dos-dss/ 58Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Exemplos: dar orientações sobre prevenção e distribuir máscaras e álcool em gel; dar orientações sobre o que é o isolamento social e sobre os benefícios concedidos pelo governo no contexto da emergência de saúde, como o auxílio emergencial; facilitar o atendimento em situações de violência doméstica contra mulheres, crianças, adolescentes e idosos; promover atividades de comunicação por meio de elaboração de cartazes, videoconferências, entre outros; transmitir informações pelas redes sociais oficiais; incentivar a criação de grupos on-line de acolhimento para escuta terapêutica e para usuários com demanda de saúde mental. Fonte: Unsplash.com SAIBA MAIS Atuação intersetorial da equipe do NASF-AB na pandemia de Covid-19: relato de Jaboatão dos Guararapes/PE, disponível em: https://apsredes.org/atuacao-intersetorial-da-equipe-do-nasf-ab-na- pandemia-de-covid-19-relato-de-jaboatao-dos-guararapes-pe/ PARA REFLETIR Como você avalia essas ações intersetoriais no combate aos DSS no contexto da pandemia? Na sua realidade, foram feitas outras ações? Apresentaram resultados positivos? https://apsredes.org/atuacao-intersetorial-da-equipe-do-nasf-ab-na-pandemia-de-covid-19-relato-de-jaboatao-dos-guararapes-pe/ https://apsredes.org/atuacao-intersetorial-da-equipe-do-nasf-ab-na-pandemia-de-covid-19-relato-de-jaboatao-dos-guararapes-pe/ 59Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.2.5 Conceitos e atribuições dos níveis de atenção à saúde Até aqui, caro trabalhador estudante, vimos a construção das políticas públicas e a evolução do conceito de saúde, até chegar aos DSS. Agora, vamos avançar no sentido de compreender como se organizam os níveis de atenção à saúde e qual é a sua importância na atualidade. Os modelos de atenção à saúde surgiram para suprir a necessidade de organização do SUS como uma rede de serviços organizada de forma hierarquizada e regionalizada. Tal organização permite que os gestores e equipes de saúde conheçam os problemas relacionados à saúde de cada população. Os modelos de atenção podem atuar no atendimento de condições de saúde agudas ou crônicas. Segundo Mendes (2010), a definição dos modelos de atenção é a seguinte: Sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à saúde, articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas subpopulações estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sistema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias, definidos em função da visão prevalecente da saúde, das situações demográfica e epidemiológica e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em determinado tempo e em determinada sociedade (MENDES, 2010, p. 2302). Os níveis de atenção à saúde são a base para o funcionamento dos modelos de atenção à saúde e estão organizados em atenção primária, atenção secundária e atenção terciária. COMO ATUA CADA UM DOS NÍVEIS DE ATENÇÃO? A atenção primária é a porta de entrada do SUS, representada principalmente pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Por aqui, temos as ações de promoção e proteção da saúde e, portanto, um caráter preventivo. A atenção secundária é compreendida pelos serviços especializados que estão nos hospitais e ambulatórios. As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) se encaixam nesse nível. A atenção terciária envolve os atendimentos complexos prestados em hospitais de grande porte. Fonte: Flickr.com 60Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais É importante dizer que um nível não apresenta maior importância que outro. Eles devem funcionar de forma integrada. A Figura 4 apresenta duas visões de organização desses níveis: o modelo de pirâmide hierarquizado e regionalizado e a rede horizontal integrada, organizada com a Atenção Primária à Saúde (APS) em seu centro. FIGURA 4 – MUDANÇA DO SISTEMA HIERÁRQUICO FRAGMENTADO PARA A REDE POLIÁRQUICA DE ATENÇÃO À SAÚDE ATENÇÃO BÁSICA MÉDIA COMPLEXIDADE ALTA COMPLEXIDADE APS Fonte: Mendes (2002). SAIBA MAIS Quer entender melhor as principais características de cada modelo? Veja a tabela da página 5 do seguinte material: Modelos assistenciais - Sistemas, modelos e redes de atenção à saúde (MODELOS..., 2013). Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4120.pdf https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4120.pdf 61Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais PARA REFLETIR Tudo bem até aqui? Para fechar o assunto desta seção, reflita: a atuação da APS no seu território conseguiu minimizar a transmissão ou o agravamento dos casos de Covid-19 ou o colapso dos serviços de saúde? Existem ações que não foram realizadas que poderiam ter sido implementadas para enfrentamento da Covid-19? No contexto da Covid-19, as ações de enfrentamento por grande parte dos países foram centradas no nível de alta complexidade, seja ampliando os leitos, seja ofertando respiradores pulmonares. Essa ação é de grande importância, tendo em vista a necessidade de cuidados com os casos mais graves. Entretanto, dada a parcela de resolubilidadedos problemas de saúde e o seu papel de porta de entrada do usuário no Sistema de Saúde, a APS também é uma importante protagonista nessa luta. Veja os aspectos que devem ser considerados para fortalecer a atuação da APS no território no enfrentamento da pandemia: • A população a ser acompanhada (casos leves de Covid-19 e outros problemas de saúde); • A adequada proteção dos profissionais de saúde, com condição segura à realização do seu trabalho, evitando, também, que sirvam de fonte de contaminação; • As mudanças organizacionais compatíveis com a realidade local; • As necessidades de apoio logístico e operacional (incluindo transporte, material e equipamentos de segurança e proteção); • Formação e educação permanente dos profissionais de saúde; • Mapeamento de potencialidades e dificuldades de cada território; • A retaguarda necessária a uma ação coordenada da APS com outras instituições e serviços de saúde no território de abrangência das equipes ou fora dele; • Parcerias com as organizações comunitárias, potencializando habilidades e estimulando a solidariedade (MEDINA et al., 2020, p. 1-2). Fonte: Freepik. 62Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.3 TRABALHO EM SAÚDE Nesta seção, caro trabalhador estudante, falaremos do trabalho em saúde, trazendo um pouco do seu contexto, sua organização e as especificidades do trabalho na vigilância em saúde. No final, vamos compreender e refletir sobre precarização das relações de trabalho em saúde e seu impacto no controle de doenças. Bons estudos! SAIBA MAIS Veja os temas discutidos na I Conferência Nacional de Recursos Humanos em Saúde (CNRHS) (1986): • A relação entre valorização profissional e qualidade dos serviços; • A regulação do mercado de trabalho; • A implementação de políticas; • A qualificação dos profissionais; • A melhoria das condições de trabalho e as recompensas oferecidas por ele (BRASIL, 1986b). 2.3.1 Trabalho em saúde: contexto do trabalho na área da saúde Você sabia que o tema trabalho em saúde no Brasil foi ganhando espaço ao longo do tempo? Vamos entender: no contexto das CNS, as políticas públicas com enfoque no trabalho foram alvo de maiores discussões a partir da 3ª edição (1963) e somente na 8ª edição (1986a) é que o tema se consolidou (BRASIL, 1963, 1986a). Na 10ª CNS (BRASIL, 1996), foi feita uma proposta de uma Política de Recursos Humanos para a Saúde e uma Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB/RH), contribuindo com princípios regulatórios para a ação e relação das esferas de governo voltadas para a gestão do trabalho no SUS, atualmente em sua terceira versão (BRASIL, 2005a, 2005b). Aqui já podemos compreender a importância que o trabalho em saúde tem para a consolidação do SUS, não acha? E como as políticas de gestão do trabalho em saúde funcionam na prática? Elas criam ferramentas para valorizar o trabalhador e permitir a fidelização de equipes com o trabalho interdisciplinar e multissetorial. Além disso, elas aumentam o vínculo dos trabalhadores com a população e com os serviços de saúde pública. A formação de comissões para elaboração de diretrizes para combater a precarização do trabalho, a criação e as melhorias nos Planos de Carreira, o incentivo e a implementação de medidas voltadas à Educação Permanente dos profissionais, entre outros, são bons exemplos da atuação das políticas no trabalho em saúde. Fonte: Freepik. 63Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.3.2 Organização do processo de trabalho em saúde e especificidades do trabalho na vigilância em saúde O processo de trabalho em saúde se pauta pelo coletivo, ou seja, a organização dele é feita em conjunto para dar conta das necessidades de saúde do usuário. A essência da equipe multidisciplinar é o trabalho de um membro dar suporte ao trabalho de outro membro. O trabalhador sempre depende dessa troca. Observe que assim temos uma base sólida para o trabalho em saúde. Essa ideia de pautar o processo de trabalho por ações articuladas foi construída com base nos estudos de Gonçalves (1992), que analisou os seguintes componentes: o objeto do trabalho, os instrumentos, a finalidade e os agentes. O autor propõe que a relação recíproca desses componentes configura um processo de trabalho adequado (GONÇALVES, 1992). O conceito de processo de trabalho em saúde atualmente serve de embasamento para práticas sociais, e não somente para áreas profissionais especializadas. Também apoia pesquisas e intervenções sobre atenção à saúde, gestão em saúde, modelos assistenciais, trabalho em equipe de saúde, cuidado em saúde, entre outros. Fonte: Freepik. SAIBA MAIS Quer aprofundar a leitura no tema? Veja a sugestão de leitura complementar: Processo de trabalho em saúde (PEDUZZI; SCHRAIBER, 2009). Disponível em: http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/protrasau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/protrasau.html 64Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Vamos falar um pouco do processo de trabalho voltado para a vigilância em saúde? Ele se organiza em ações intersetoriais e tem três pilares conceituais: • Analisar as situações de saúde, com inclusão ampla de questões além das doenças transmissíveis; • Permitir a integração institucional entre as vigilâncias epidemiológica e sanitária, o que traz reformas administrativas e fortalecimentos de ações de vigilância em articulação com os centros de saúde; • Analisar a atuação dos sujeitos, objetos, meios de trabalho e as formas de organização dos processos de trabalho, ressignificando as práticas sanitárias e organizando processos de trabalho em saúde para solucionar problemas que necessitam de maior atenção e acompanhamento. A delimitação do território e a definição das distintas fases do processo saúde-doença, aliadas à combinação de diferentes tecnologias, são ferramentas de extrema importância (TEIXEIRA; PAIM; VILASBÔAS, 1998). Até aqui, conhecemos a organização do processo de trabalho da vigilância em saúde. Dada a sua importância como campo de atuação do profissional da saúde, vamos ver mais detalhes na seção 2.4 desta unidade. Até lá! Fonte: Flickr. 65Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.3.3 Precarização das relações de trabalho na saúde Dando sequência ao assunto, você já ouviu a expressão precarização das relações de trabalho? A precarização do trabalho é definida como o enfraquecimento ou a perda dos direitos trabalhistas e vem ocorrendo especialmente em países capitalistas que querem adotar os ideais neoliberais, que vêm trazendo mudanças estruturais e na legislação que deixam fragilidades na vida laboral e psicossocial dos trabalhadores. Quais situações exemplificam a precarização na área da saúde? Exemplos: possibilidade de contratos temporários, aumento da jornada de trabalho além das condições ideais, flexibilização da contratação de Agente Comunitário de Saúde (ACS) e de equipe de Saúde da Família (eSF) pelo governo brasileiro e o trabalho temporário previsto no Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde. Fonte: Freepik. Fonte: Rawpixel. Fonte: Unsplash. SAIBA MAIS Sugiro a leitura do texto Precarização do trabalho em saúde (PIRES, 2009). Disponível em: http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/ dicionario/verbetes/pretrasau.html No Brasil, no ano de 2020, somaram-se à precarização das relações de trabalho e à restrição orçamentária em todos os níveis de atenção os desafios impostos pela pandemia. Os profissionais de saúde são um componentecentral na resposta à pandemia, mas ao mesmo tempo compõem um grupo de maior vulnerabilidade devido à sua exposição profissional. Entre os desafios durante a pandemia de Covid-19 podemos citar: “falta de equipamento de proteção individual (EPI) adequado e outros equipamentos essenciais; infecção e quarentena; discriminação e ataques sociais; e a dupla responsabilidade de cuidar de amigos e familiares” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2020, p. 4). Encarar a dupla carga precarização mais pandemia pode trazer formas de adoecimento para os profissionais da saúde, como depressão, síndrome de burnout, ansiedade, entre outras, e o aumento do risco de ocorrências adversas em serviços de saúde. É importante cada vez mais a realização de debates e ressignificações sobre esse tema para garantir a proteção social ocupacional e a melhoria na qualidade do SUS. Por falar em proteção social, você conhece as políticas voltadas para essa área? Elas têm um papel importante no combate à precarização do trabalho. Por isso, vamos retomar esse assunto no final desta unidade com o tema Políticas Públicas da Assistência Social. Até lá! PARA REFLETIR Caro trabalhador estudante, pensando sobre a Precarização do trabalho na saúde e pandemia, reflita sobre a sua realidade: Quais são os principais entraves que você identifica como decorrentes da precarização do trabalho e em qual intensidade influenciaram o combate à Covid-19 ou podem influenciar ações futuras de combate a epidemias? http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/pretrasau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/pretrasau.html 66Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.4 POLÍTICA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Nesta seção, caro trabalhador estudante, abordaremos um pouco a formação teórica, a organização e os componentes da Política Nacional de Vigilância em Saúde e, ao final, refletiremos sobre a importância da integração das ações dessa política com níveis de atenção. Bons estudos! 2.4.1 Pressupostos teóricos e respectivas áreas/ estruturas operacionais da vigilância em saúde A Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS) foi instituída em 12 de julho de 2018 por meio da Resolução nº 588 do Conselho Nacional de Saúde. Esse documento tem como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias para as três esferas de gestão do SUS planejarem suas ações de vigilância em saúde (BRASIL, 2018a). DEFINIÇÃO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Segundo a Resolução nº 588/18 (Art. 2º, §1): “Entende-se por Vigilância em Saúde o processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando o planejamento e a implementação de medidas de saúde pública, incluindo a regulação, intervenção e atuação em condicionantes e determinantes da saúde, para a proteção e promoção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças” (BRASIL, 2018a, p. 2). São princípios da PNVS (BRASIL, 2018a): • Conhecimento do território; • Integralidade; • Descentralização político-administrativa; • Inserção da vigilância em saúde no processo de regionalização das ações e serviços de saúde; • Equidade; • Universalidade; • Participação da comunidade; • Cooperação e articulação intra e intersetorial; • Garantia do direito das pessoas e da sociedade às informações geradas pela Vigilância em Saúde; • Organização dos serviços públicos. 67Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Vamos conhecer também as diretrizes da PNVS? São as seguintes: I – Articular e pactuar responsabilidades das três esferas de governo, consonante com os princípios do SUS, respeitando a diversidade e especificidade locorregional. II – Abranger ações voltadas à saúde pública, com intervenções individuais ou coletivas, prestadas por serviços de vigilância sanitária, epidemiológica, em saúde ambiental e em saúde do trabalhador, em todos os pontos de atenção. III – Construir práticas de gestão e de trabalho que assegurem a integralidade do cuidado, com a inserção das ações de vigilância em saúde em toda a Rede de Atenção à Saúde e em especial na Atenção Primária, como coordenadora do cuidado. IV – Integrar as práticas e processos de trabalho das vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental e em saúde do trabalhador e da trabalhadora e dos laboratórios de saúde pública, preservando suas especificidades, compartilhando saberes e tecnologias, promovendo o trabalho multiprofissional e interdisciplinar. V – Promover a cooperação e o intercâmbio técnico científico no âmbito nacional e internacional. VI – Atuar na gestão de risco por meio de estratégias para identificação, planejamento, intervenção, regulação, comunicação, monitoramento de riscos, doenças e agravos. VII – Detectar, monitorar e responder às emergências em saúde pública, observando o Regulamento Sanitário Internacional, e promover estratégias para implementação, manutenção e fortalecimento das capacidades básicas de vigilância em saúde. VIII – Produzir evidências a partir da análise da situação da saúde da população de forma a fortalecer a gestão e as práticas em saúde coletiva. IX – Avaliar o impacto de novas tecnologias e serviços relacionados à saúde de forma a prevenir riscos e eventos adversos (BRASIL, 2018a, p. 5). É importante ressaltar, caro trabalhador estudante, que essa política incide sobre todos os níveis de atenção à saúde. Ela contribui para a integralidade na atenção à saúde – pressupõe as ações de vigilância em saúde dentro das redes de atenção à saúde do SUS para alcançar a oferta do serviço voltado para a necessidade da população residente em uma determinada localidade. Portanto, busca priorização para alcançar territórios, pessoas e grupos em situações de maior risco e vulnerabilidade (regionalização das ações). Com isso, há a perspectiva de diminuir as desigualdades sociais e de saúde e de alcançar a equidade na atenção, o que inclusive deve compreender as intervenções intersetoriais para o sucesso. Além disso, a análise de situação da saúde e as ações laboratoriais são consideradas essenciais e transversais à PNVS. Falando em transversalidade, sabe qual a importância dela? É um termo-chave que sumariza a soma dos esforços de união da PNVS com a Política Nacional de Humanização (PNH) e a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Você sabia também que a PNVS estimula a comunidade, entidades, instituições e organizações não governamentais a participar do controle social para acolher as demandas da população? Dentro da PNVS também cabem ações voltadas à gestão do trabalho, ao desenvolvimento e à educação permanente dos profissionais de vigilância e de todos os níveis de atenção, além do apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas por meio de parcerias entre o SUS e as instituições e do uso do Sistema de Informação em Saúde para coletar, consolidar e analisar os dados para gerar informações. As informações devem ser comunicadas oportunamente pela Vigilância em Saúde para alertar sobre risco sanitário e divulgar as informações para os órgãos competentes e para a população. Viu quanto é abrangente essa política? Vamos para a próxima seção para conhecer uma parte importante da PNVS: os seus componentes. Até já! Fonte: Flickr. Fonte: Flickr. 68Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.4.2 Componentes da Vigilância em Saúde Você sabia que existem quatro áreas da vigilância em saúde que compõem a PNVS? Veja só: Vigilância sanitária, Vigilância epidemiológica, Vigilância em saúde ambiental e Vigilância emsaúde do trabalhador e da trabalhadora. Estando atento a todos esses eixos, o planejamento e o monitoramento das ações tornam-se mais fáceis, assim como a implementação de ações de acordo com as reais necessidades de saúde, sempre voltando-se para o conceito ampliado de saúde. Observe o conceito de cada componente da Vigilância em Saúde na Figura 5 a seguir: FIGURA 5 – CONCEITO DE CADA COMPONENTE DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças, transmissíveis e não transmissíveis, e agravos à saúde. Vigilância epidemiológica: Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços do interesse da saúde. Abrange a prestação de serviços e o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo e descarte. Vigilância sanitária: Conjunto de ações e serviços que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção à saúde, prevenção e monitoramento dos fatores de riscos relacionados às doenças ou agravos à saúde. Vigilância em saúde ambiental: Conjunto de ações que visam promoção da saúde, prevenção da morbimortalidade e redução de riscos e vulnerabilidades na população trabalhadora, por meio da integração de ações que intervenham nas doenças e agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento, de processos produtivos e de trabalho. Vigilância em saúde do trabalhador e da trabalhadora: Fonte: Brasil (2018a, p. 4, grifos nossos). 69Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Planejamento conjunto com identificação de prioridades para atuação integrada, com base na análise da situação de saúde, e no mapeamento das atividades de produção, consumo e infraestrutura e com potencial impacto no território. Produção conjunta, sempre que necessário, de protocolos, instrumentos, normas técnicas e atos normativos, com harmonização de parâmetros e indicadores no desenvolvimento das ações de vigilância. Harmonização e, no que couber, unificação dos instrumentos de registro e notificação de doenças, agravos e eventos de interesse comum aos componentes da vigilância. Proposição e produção de indicadores conjuntos para monitoramento e avaliação da situação de saúde. Investigação conjunta de surtos e eventos inusitados ou situação de saúde decorrentes de potenciais impactos ambientais de processos e atividades produtivas nos territórios, envolvendo as vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental, em saúde do trabalhador e da trabalhadora e a rede de laboratórios de saúde pública. Produção conjunta de metodologias de ação, investigação, tecnologias de intervenção, monitoramento e avaliação das ações de vigilância. Revisão e harmonização dos códigos de saúde, com inserção de disposições sobre a vigilância em saúde e atribuição da competência de autoridade sanitária às equipes de vigilância em saúde nos Estados, Municípios e Distrito Federal. QUADRO 3 – PONTOS DE ARTICULAÇÃO ENTRE OS COMPONENTES DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Fonte: Brasil (2018a, p. 6). Vale destacar que as 4 vigilâncias se complementam e se integram na atenção à Saúde do Trabalhador. Tudo bem até aqui? Vamos falar um pouco da articulação entre as vigilâncias? Veja o Quadro 3 com as estratégias: Você conseguiu compreender quanto a articulação entre as vigilâncias pode ser efetiva para a PNVS? Vamos compreender um pouco a integração da vigilância em saúde com os níveis de atenção? Falaremos na próxima seção. Até já! 70Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.4.3 Ações integradas com os níveis de atenção Você sabia que a análise da situação de saúde deve ocorrer dentro da Vigilância em Saúde? Observe a definição dela na PNVS: ações de monitoramento contínuo da situação de saúde da população do País, Estado, Região, Município ou áreas de abrangência de equipes de atenção à saúde, por estudos e análises que identifiquem e expliquem problemas de saúde e o comportamento dos principais indicadores de saúde, contribuindo para um planejamento de saúde abrangente (BRASIL, 2018a, p. 3). Esse conceito nos leva a compreender que os conhecimentos epidemiológico, sanitário, social, demográfico, ambiental, econômico, cultural, político, de produção, trabalho e consumo no território são as ferramentas-chave para que a análise da situação de saúde e das vulnerabilidades ocorra. E quais ações devem ser integradas com níveis de atenção para que seja possível uma análise eficiente da situação de saúde? As ações de promoção e proteção à saúde, prevenção de doenças e agravos e do manejo das diversas tecnologias de cuidado e de gestão necessárias à detecção, prevenção, tratamento e reabilitação (BRASIL, 2018a). Portanto, veja que a atenção primária, a secundária e a terciária estão articuladas nesse sentido. Quando pensamos no contexto das epidemias, veja quanto é importante que ocorra a atuação da análise da situação de saúde de forma articulada entre os níveis de atenção. Fonte: Flickr. SAIBA MAIS Para exemplificar as questões abordadas nesta seção, vamos assistir à videoaula com Guilherme Franco Netto gravada no contexto da 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, de 2017. O tema é tratado de forma clara e objetiva: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/21077 Guia de Vigilância em Saúde - recomendações relacionadas às ações de vigilância em saúde, disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_4ed. pdf PARA REFLETIR A vigilância em saúde deve ter uma atuação muito forte na identificação e produção de conhecimento sobre novas doenças. Como ela pode atuar no combate a epidemias? Analisando o comportamento epidemiológico das doenças: detecção precoce de surtos e epidemias, distribuição espacial da ocorrência dos casos, gravidade dos casos e vulnerabilidades nos âmbitos individual e coletivo. Quais são as ferramentas para isso? Lembre- se dos conceitos epidemiológicos: indicadores, boletim epidemiológico, notificação compulsória, entre outros. Como seriam úteis para você? https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/21077 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_4ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_4ed.pdf 71Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.5 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA Nesta seção, caro trabalhador estudante, abordaremos os marcos regulatórios, princípios e diretrizes da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, passando pela apresentação da Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, pelo papel dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador e finalizando com aspectos das políticas de Saúde do Trabalhador no SUS. Bons estudos! SAIBA MAIS A Lei nº 8.080/1990 (Art. 6º) define saúde do trabalhador como: “[...] um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadoressubmetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho [...]” (BRASIL, 1990a). 2.5.1 Marco regulatório, princípios e diretrizes Para tratar da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), vamos recordar que a saúde do trabalhador é um campo contemplado na Constituição de 1988 e na Lei nº 8.080/1990, sendo de competência do SUS a execução das ações voltadas a essa área. Em 2011, houve um alinhamento entre a política de saúde do trabalhador e a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST), instituída pelo Decreto nº 7.602, e, em 2012, a Portaria nº 1.823 veio para instituir a PNSTT (BRASIL, 2012b). Essa portaria considera “a necessidade de implementação de ações de saúde do trabalhador em todos os níveis de atenção” e traz a “definição dos princípios, das diretrizes e das estratégias a serem observados nas três esferas de gestão do SUS” (BRASIL, 2012b). Visa também “o desenvolvimento da atenção integral à saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância, visando a promoção e a proteção da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos” (BRASIL, 2012b, grifos nossos). A PNSTT (Art. 3º) considera como trabalhador: [...] Homens e mulheres, independentemente de sua localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado são sujeitos desta Política (BRASIL, 2012b). Fonte: Freepik. 72Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Observe o Art. 7º da PNSTT: “A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora deverá contemplar todos os trabalhadores priorizando, entretanto, pessoas e grupos em situação de maior vulnerabilidade, como aqueles inseridos em atividades ou em relações informais e precárias de trabalho, em atividades de maior risco para a saúde, submetidos a formas nocivas de discriminação, ou ao trabalho infantil, na perspectiva de superar desigualdades sociais e de saúde e de buscar a equidade na atenção” (BRASIL, 2012b). A PNSTT (Art. 5º) segue os mesmos princípios estruturantes do SUS, que incluem: • Universalidade; • Integralidade; • Participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social; • Descentralização; • Hierarquização; • Equidade; • Precaução (BRASIL, 2012b). Ela está alinhada com o conjunto de políticas de saúde no âmbito do SUS, considerando a transversalidade entre as ações de saúde do trabalhador e o trabalho como um dos determinantes do processo saúde-doença. Veja bem! Nesse sentido, a produção do cuidado aos trabalhadores ganha ênfase na APS, já que, como porta de entrada preferencial do sistema, ela é a organizadora de qual encaminhamento eles terão dentro do sistema. Como colocado anteriormente nesta unidade, a questão da precarização do trabalho reforça a vulnerabilidade social dos trabalhadores. Em especial, na situação do trabalho informal, desde o trabalho no domicílio até o trabalho na rua, a APS tem a possibilidade de dar visibilidade às condições de saúde e trabalho desses trabalhadores, possibilitando a intervenção e proteção em saúde. 2.5.2 Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador e o papel dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador Ao observar todo o documento que compõe a PNSTT, você conhecerá uma série de estratégias dessa política. Entre elas está a estruturação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), a qual foi criada em 2002 pela Portaria nº 1.679/GM (BRASIL, 2002b), com o objetivo de difundir ações de saúde do trabalhador, articuladas às demais redes do SUS. Mas veja bem! Apesar de sua existência prévia à PNSTT, a RENAST ganhou espaço e ênfase nessa política, pressupondo as seguintes ações: a) Saúde do trabalhador na APS; b) Saúde do trabalhador na urgência e emergência; c) Saúde do trabalhador na atenção especializada (ambulatorial e hospitalar). A RENAST veio para organizar e colocar em prática ações assistenciais, de vigilância e de promoção da saúde na perspectiva da saúde do trabalhador. Sua atual formatação é orientada pela Portaria nº 2.728, de 11 de novembro de 2009 (BRASIL, 2009a), a qual indica que ela deve integrar a rede de serviços do SUS por meio dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs) e das redes sentinelas (serviços de média e alta complexidade que são capazes de diagnosticar agravos relacionados ao trabalho e registrá-los no Sistema de Notificação de Agravos de Notificação – SINAN). Além disso, é de sua alçada elaborar protocolos, linhas de cuidado e instrumentos que permitam a integralidade das ações, envolvendo todos os níveis de atenção, serviços e municípios sentinelas. 73Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais A RENAST mostra-se complexa, uma vez que sua implementação deve ser de forma articulada entre o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde dos estados, o Distrito Federal e os municípios, além de ser necessário o envolvimento de outros setores também participantes na execução das ações. Observe que mais uma vez o foco nas ações transversais mostra-se presente para garantir produção e gestão do conhecimento. Mas o que é o CEREST? De forma geral, é a retaguarda técnica especializada voltada para a promoção de ações para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida do trabalhador, tendo a prevenção e vigilância como norteadores. Tem como modelo a APS, oferecendo suporte matricial às equipes de referência, suporte técnico, educação permanente, assessoria ou coordenação de projetos de assistência e promoção e vigilância da saúde dos trabalhadores no âmbito da sua área de abrangência. São atuantes os dois tipos: estadual e regional. O que não cabe ao CEREST? Atendimentos de emergência, exames admissionais e demissionais, exames periódicos e exames para mudança de função. SAIBA MAIS Caso tenha interesse, você pode consultar a lista atual de CERESTs estaduais e regionais habilitados por localização, bem como as notícias relacionadas a eles no seguinte endereço: https://renastonline.ensp.fiocruz.br/cerests Quer saber mais sobre os aspectos regulatórios do RENAST e do CEREST? Veja as sugestões de leitura complementar na Plataforma RENAST online: https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/rede-nacional-atencao- integral-saude-trabalhador-renast https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/centro-referencia-saude- trabalhador-cerest https://renastonline.ensp.fiocruz.br/cerests https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/rede-nacional-atencao-integral-saude-trabalhador-renast https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/rede-nacional-atencao-integral-saude-trabalhador-renast https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/centro-referencia-saude-trabalhador-cerest https://renastonline.ensp.fiocruz.br/temas/centro-referencia-saude-trabalhador-cerest 74Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.5.3 Saúde do Trabalhador no SUS: aspectos conceituais, organizacionais e marcos regulatórios Tudo bem até aqui? Agora vamos nos ater à regulamentação das políticas de Saúde do Trabalhador no SUS. Após a Constituição de 1988 e a implantação do SUS, houve avanços e desafios. Na década de 1990, ocorreram movimentos no sentido de viabilizar políticas de Saúde do Trabalhador em estados e municípios, o que nem sempre teve sucesso. Em 1992, foi realizada a 9ª CNS, um momento em que houve o entendimento de que a municipalização das ações eranecessária, o que levou ao emblema “Municipalização é o caminho” (BRASIL, 1992b). No ano seguinte ocorreu a II Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (CNST) que trouxe o tema central "Construindo uma política de saúde do trabalhador” (BRASIL, 1994). Ainda na década de 1990, vinculada à CNS, instituiu-se a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador (CIST). A CIST nacional se consolidou nesse período participando de forma proativa nas políticas de Saúde do Trabalhador. Atualmente ajustada à PNSTT, acrescenta-se à CIST o termo trabalhadora, sendo denominada Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora “CISTT” (BRASIL, 2017a). Alguns exemplos de normativas na área são citados a seguir: criação da Instrução Normativa da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) no SUS e da Norma Operacional de Saúde do Trabalhador (NOST/SUS). A VISAT é um componente do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, definida pela Portaria GM/MS nº 3.252, de dezembro de 2009 (atualizada pela Portaria nº 1.378/2013), que visa “à promoção da saúde e à redução da morbimortalidade da população trabalhadora, por meio da integração de ações que intervenham nos agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos” (BRASIL, 2009b, 2013a). Lembre-se de que sua estrutura se baseia no modelo de Atenção Integral em Saúde do Trabalhador e ela constitui-se de saberes e práticas sanitárias, articulados intra e intersetorialmente. SAIBA MAIS Veja a sugestão de leitura complementar: Diretrizes de implantação da Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS. Disponível em: ht t p s : / / re n a s to n l i n e. e n s p. f i o c ru z . br/recursos/diretrizes-implantacao- vigilancia-saude-trabalhador-sus Destacam-se ainda a publicação da primeira Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT), em 1999, e a criação da Política de Saúde Ocupacional para o Trabalhador do SUS, inserida na NOB/RH-SUS, trazendo os “Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho no SUS”, em 2005 (BRASIL, 2005a). A LDRT só veio sofrer atualização em 2020 (Portaria GM/MS nº 2.309, de 28 de agosto de 2020), e as modificações se centraram tanto na Lista A (agentes e/ou fatores de risco com respectivas doenças relacionadas ao trabalho), quanto na Lista B (doenças relacionadas ao trabalho com respectivos agentes e/ou fatores de risco). O número de códigos diagnósticos passou de 182 para 347. PARA REFLETIR Com base no material apresentado, reflita sobre os desafios das políticas de Saúde do Trabalhador ao longo de sua construção até os dias atuais. No dia 2 de setembro de 2020, foi publicada a Portaria nº 2.345 (BRASIL, 2020a), que tornou sem efeito a atualização 2020 devido à inclusão da Covid-19 na lista, e, em 8 de setembro de 2020, foi publicada a Portaria nº 2.384, que retoma a vigência da versão 1999. Consulte as respectivas portarias para maiores informações e esteja atento às atualizações que porventura venham a ser feitas. As conquistas da década de 2000 em diante referem-se à formulação da RENAST pela área técnica de saúde do trabalhador do Ministério da Saúde. Apesar da relevância dessa conquista, o sistema RENAST/CEREST apresenta dificuldades para funcionar devido a dificuldades políticas e administrativas. Mais uma vez ressalta-se a importância de inserir a APS, os ACS e a equipe de saúde na atenção à Saúde do Trabalhador no SUS, de forma articulada com os CERESTs. A maioria dos profissionais da APS não conhece os CERESTs e muito menos o perfil produtivo dos trabalhadores de seu território. Para fechar nosso assunto, pense e reflita: é preciso inserir efetivamente a Saúde do Trabalhador na APS, oportunizando a vigilância dos trabalhadores que estão em situação de risco. https://renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/diretrizes-implantacao-vigilancia-saude-trabalhador-sus https://renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/diretrizes-implantacao-vigilancia-saude-trabalhador-sus https://renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/diretrizes-implantacao-vigilancia-saude-trabalhador-sus 75Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.6 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: MARCO REGULATÓRIO, ASPECTOS CONCEITUAIS E DESAFIOS PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO E ATUALIZAÇÃO Nesta seção, caro trabalhador estudante, abordaremos a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), trazendo um pouco da sua formação, regulação e seus desafios. Bons estudos! A PNEPS representa um importante marco da construção de transformações nos serviços, trazendo uma proposta de trabalho em que o aprender e o ensinar fazem parte dos processos realizados no cotidiano, promovendo melhorias no serviço dos trabalhadores do SUS, tornando-os mais aptos a cuidar da população. Assim, essa política busca a incorporação de ações de autogestão e cogestão e a participação nas mudanças institucionais para transformar as práticas dos serviços de saúde. Quando partimos da Lei nº 8.080/1990 (Capítulo III, Art. 14), é possível observar a menção ao termo educação continuada. Durante muito tempo, esses termos foram entendidos como sinônimos. No entanto, antes de falar sobre a diferença entre eles, observe os principais marcos regulatórios da PNEPS apresentados na Figura 6: FIGURA 6 – PRINCIPAIS MARCOS REGULATÓRIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE 2004 2008 2017 2003 2018 2007 2010 Criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde, a qual possibilitou a implementação da PNEPS (BRASIL, 2003). Publicação do documento Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? (BRASIL, 2018b). Portaria GM/MS nº 198 – instituição da PNEPS (BRASIL, 2004a). Portaria GM/MS nº 1.996 – reformulação das diretrizes da PNEPS (BRASIL, 2007). Portaria GM/MS nº 4.033 – definição de recursos financeiros do Ministério da Saúde para a PNEPS (BRASIL, 2010b). Portarias GM/MS nº 2.813 e SGTES/MS nº 27 – definição de novos recursos financeiros do Ministério da Saúde para a implementação da PNEPS (BRASIL, 2008). Portaria GM/MS nº 3.194 – lançamento do PRO EPS-SUS, com o objetivo de estimular, acompanhar e fortalecer a qualificação profissional dos trabalhadores da área da saúde (BRASIL, 2017b). A educação na saúde “consiste na produção e sistematização de conhecimentos relativos à formação e ao desenvolvimento para a atuação em saúde, envolvendo práticas de ensino, diretrizes didáticas e orientação curricular” (BRASIL, 2018b, p. 9). Também conhecida como educação no trabalho em saúde, a educação na saúde apresenta duas modalidades: a educação continuada e a educação permanente em saúde. Para entender melhor esses conceitos, veja o material indicado a seguir. SAIBA MAIS Canal Série SUS: Qual a diferença entre Educação Permanente em Saúde, Educação Continuada e Educação em Saúde? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fZBAOu9buEw&t=18s Fonte: elaborada pela autora. https://www.youtube.com/watch?v=fZBAOu9buEw&t=18s 76Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Nesse contexto, vive a lógica da educação permanente, a qual deve estar inserida nos processos rotineiros. Ao mesmo tempo deve ser planejada com temas pautados pela equipe sem esperar que as demandas apareçam. E qual método utilizar? Rodas de conversas, discussões de caso, oficinas e simulações, entre outros, a depender do contexto. Em 2018, foi produzido o documento Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento?, que trouxe um debate entre os diversos profissionais de todo o país envolvidos na PNEPS: [...] lançou o debate sobre a necessidade de sua atualização, numaclara intenção de retomar a discussão sobre a política, resgatar conceitos, promover ânimos, demonstrar sua potencialidade e desafios, reconhecer a sua contribuição para o SUS, mas, acima de tudo, apontar caminhos, a partir de consensos, para que a PNEPS se mantivesse na agenda do País e que, de fato, seja implementada em cada espaço onde haja o SUS (BRASIL, 2018b, p. 7). E quais são os desafios para a implementação da PNEPS? Antes, é oportuno apontar que a educação permanente dos profissionais de saúde deve prepará-los para encarar os desafios do nosso Sistema de Saúde. Os desafios esbarram em várias áreas: gestão e política, financiamento, modelo de formação, monitoramento e avaliação das ações de educação permanente e articulação interfederativa. MAS COMO FAZER A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE? A PNEPS aponta que a metodologia apropriada é a crítica reflexiva pautada pela problematização, a qual precisa ser participativa, propiciando espaços de discussão e reflexão em torno de: “O que se faz?”, “Por que faz?”, “Como faz?”, “Para quem faz?” e “Contra quem faz?” (FREIRE, 2013). A atualização da PNEPS também foi debatida em 2018 e estimulou a intensificação da utilização das novas tecnologias para o ensino na saúde e estabeleceu o compromisso com as novas demandas de saúde pública. Uma estratégia debatida nesta oportunidade foi o fortalecimento da Educação Interprofissional (EIP) no campo da educação permanente, sendo considerada uma estratégia potencial para o fortalecimento do SUS. PARA REFLETIR Qual é o espaço, no seu cotidiano, caro trabalhador estudante, que você vê como adequado para realizar a educação permanente? Você se vê como um educador? No contexto da pandemia de Covid-19, você teve algum problema que poderia ter sido mais bem assistido com alguma ação de educação permanente? SAIBA MAIS Sugestão de leitura complementar de uma experiência de educação permanente em saúde intitulada Processos avaliativos de Educação Permanente em Saúde em Santa Catarina – uma roda que nunca parou de girar (BRASIL, 2018c, p. 82-85). Disponível em: h t t p s : / / a p s r e d e s . o r g / w p - c o n t e n t / uploads/2018/07/NavegadorSUS-WEB-INTER.pdf https://apsredes.org/wp-content/uploads/2018/07/NavegadorSUS-WEB-INTER.pdf https://apsredes.org/wp-content/uploads/2018/07/NavegadorSUS-WEB-INTER.pdf 77Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.7 PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES: MARCO REGULATÓRIO, ASPECTOS CONCEITUAIS, TRAJETÓRIA ATÉ O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL E PONTOS IMPORTANTES PARA SEU FORTALECIMENTO NO SUS Caro trabalhador estudante, no início desta unidade, abordamos momentos importantes para a consolidação da prática da imunização no Brasil, a qual começou por aqui com a chegada da vacina contra a varíola no início do século XIX (volte nesse ponto caso necessário). Nesta seção, vamos ver os marcos regulatórios do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e os pontos importantes para o seu fortalecimento. Bons estudos! O século XX teve seu começo marcado por conflitos devido à política da vacinação obrigatória, mas também houve muitos avanços que culminaram com a pressão social e política ao Ministério da Saúde para criar o PNI em 1973, tão necessário para padronizar técnicas de administração de vacinas e soros. Observe alguns fatos marcantes na história da imunização no Brasil (Figura 7). FIGURA 7 – [LINHA DO TEMPO] PRINCIPAIS MARCOS DA HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE IMUNIZAÇÃO NO BRASIL 1804 1991 1989 1900/1901 2000 1977 1904 2004 1976 1942 2006 1975 1966 2008 1973 2010 2011 1ª vacina no Brasil – antivaríolica. Expansão do PNI. Último caso de poliomielite no Brasil. Criação de Institutos que deram origem posteriormente ao Butantan e Fiocruz. Instituição da Comissão Nacional de Erradicação do Sarampo e Controle da Rubéola, no âmbito da Funasa. Confirmação do último caso autóctone de sarampo no país. 2012 Introdução da vacina pentavalente (DTP, Hib e hepatite B) e da VIP (pólio com vírus inativo) no calendário da criança. A VIP substituiu as duas primeiras doses da vacina oral (VOP) – mantida em duas doses de reforço. 2013 Inclusão da vacina contra a varicela (catapora) e da vacina tetra viral (tríplice viral + varicela). 2018 Vacina contra HPV ampliada para meninos de 11 a 15 anos. 2020 Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19. 2014 Introdução das vacinas contra hepatite A para crianças (15 meses de idade), contra o HPV (Papilomavírus Humano) para meninas de 9 a 13 anos e dTpa (tétano, difteria e coqueluche acelular) para gestantes. Primeiro calendário básico de vacinação obrigatória para menores de 1 ano (tuberculose, poliomielite, sarampo, difteria, tétano e coqueluche). Revolta da Vacina. Calendário de vacinação da criança, do adolescente, do adulto e do idoso. Criação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – Bio- Manguinhos. Eliminação da febre amarela urbana no Brasil. Introdução da vacina contra rotavírus e eliminação do tétano neonatal como problema de saúde pública no Brasil. Proposição da criação de um sistema de vigilância epidemiológica para o país, por ocasião da 5ª CNS – Instituição do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Imunizações, formalizando o PNI e o estabelecimento das normas técnicas relativas ao seu funcionamento: Lei nº 6.259/1975, posteriormente regulamentado pelo Decreto nº 78.231/1976 (BRASIL, 1975;1976). Campanha de erradicação da varíola com certificação em 1973. Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola. Criação do PNI. Calendário de vacinação para os Povos Indígenas. Campanha Nacional de vacinação contra influenza incluindo vários grupos (gestantes, idosos, trabalhadores da saúde, indígenas e crianças de 2 meses a 6 anos). Fonte: adaptado de Stevanim (2019). 78Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Zé gotinha: a mascote, criada na década de 1980 para encorajar as crianças a se vacinar contra a poliomielite, traz uma figura representativa das campanhas de vacinação até hoje. Fonte: Brasil (2014). O PNI tem como função a organização de toda a política nacional de vacinação da população brasileira, sendo sua missão: reduzir a morbimortalidade de doenças imunopreveníveis, bem como a erradicação dessas doenças em alguns contextos, com fortalecimento de ações integradas de vigilância em saúde para promoção, proteção e prevenção em saúde (BRASIL, 2013b). Dentro da estrutura do Ministério da Saúde, o PNI faz parte do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, que, por sua vez, faz parte da Secretaria de Vigilância em Saúde. As diretrizes e responsabilidades para a execução das ações de vigilância em saúde são compartilhadas pela União, estados, Distrito Federal e municípios. As ações devem ser pactuadas na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e na Comissão Intergestores Bipartite (CIB), tendo como base a regionalização, a rede de serviços e as tecnologias disponíveis. Destacam-se os pontos principais para entender melhor normas e políticas que funcionam em torno do PNI: • Calendário básico de vacinação: sempre disponível no site do Ministério da Saúde – é revisado sempre que necessário. Observe o Calendário de Vacinação 2022. Disponível https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a- z/c/calendario-nacional-de-vacinacao. Acesso em: 27 mar 2023; • Centro de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIE): dá suporte a pacientes que precisam de vacinas que não estão no calendário de vacinação. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_ centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf. Acesso em: 16 ago. 2021; • Vigilância epidemiológica dos eventospós-vacinação: preconiza as orientações para ações e fluxogramas de notificação voltadas a qualquer problema no processo de vacinação como um todo. Disponível em: https:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_epidemiologica_ eventos_vacinacao_4ed.pdf . Acesso em: 27 mar 2023; • Rede de Frio: normatiza todo o processo para garantir a conservação das vacinas desde a produção e transporte até a sala de vacinação. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario- nacional-de-vacinacao/rede-de-frio/publicacoes-e-portarias/manual-de- rede-de-frio-do-programa-nacional-de-imunizacoes-5-ed/view. Acesso em: 27 mar 2023; • Sistemas de informação do PNI (SI-PNI): possibilita aos gestores uma avaliação dinâmica quanto à ocorrência de surtos ou epidemias e o controle do estoque. Disponível em: http://pni.datasus.gov.br/. Acesso em: 16 ago. 2021; • Sala de vacinação: regulamentada pela RDC Anvisa nº 197/2017. Disponível em: https://sbim.org.br/legislacao/867-rdc-anvisa-n-197-26-de-dezembro- de-2017. Acesso em: 16 ago. 2021; • Atualizações sobre modificações em doses e tipos de vacina: Sociedade Brasileira de Imunizações. Disponível em: https://sbim.org.br/informes-e- notas-tecnicas. Acesso em: 16 ago. 2021; • Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 (edição equivalente a 14a versão do documento elaborado pelo Programa Nacional de Imunizações. disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas- tecnicas/pno-2a-edicao-isbn-equivalente-14.pdf. Acesso em: 27 mar 2023; • Livro Vacinas e vacinação no Brasil: horizontes para os próximos 20 anos. Documento organizado em 2020 pela Iniciativa Saúde Amanhã, no contexto da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030. Disponível em: https://www.arca. fiocruz.br/bitstream/icict/45003/2/Livro%20Vacinas%20no%20Brasil-1.pdf. Acesso em: 2 out. 2021. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_epidemiologica_eventos_vacinacao_4ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_epidemiologica_eventos_vacinacao_4ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_epidemiologica_eventos_vacinacao_4ed.pdf https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao/rede-de-frio/publicacoes-e-portarias/manual-de-rede-de-frio-do-programa-nacional-de-imunizacoes-5-ed/view https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao/rede-de-frio/publicacoes-e-portarias/manual-de-rede-de-frio-do-programa-nacional-de-imunizacoes-5-ed/view https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao/rede-de-frio/publicacoes-e-portarias/manual-de-rede-de-frio-do-programa-nacional-de-imunizacoes-5-ed/view http://pni.datasus.gov.br/ https://sbim.org.br/legislacao/867-rdc-anvisa-n-197-26-de-dezembro-de-2017 https://sbim.org.br/legislacao/867-rdc-anvisa-n-197-26-de-dezembro-de-2017 https://sbim.org.br/informes-e-notas-tecnicas https://sbim.org.br/informes-e-notas-tecnicas https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/pno-2a-edicao-isbn-equivalente-14.pdf https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/pno-2a-edicao-isbn-equivalente-14.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/45003/2/Livro%20Vacinas%20no%20Brasil-1.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/45003/2/Livro%20Vacinas%20no%20Brasil-1.pdf 79Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Não poderíamos deixar de mencionar que o Brasil é um dos grandes exemplos de sucesso na implantação de um programa nacional de imunizações, reconhecido internacionalmente. O país já erradicou, por meio da vacinação, doenças de alcance mundial, como a varíola e a poliomielite (paralisia infantil), e há de se considerar que a implantação do SUS foi um importante fortalecedor deste programa, fornecendo acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela OMS a toda a população, sem distinção de qualquer natureza, buscando a inclusão social. O PNI está próximo de completar 50 anos, e quais são as preocupações com seu futuro? Observe alguns pontos levantados na comemoração dos 40 anos do PNI (BRASIL, 2013b): • Vacina como atenção primária, ou seja, que ela ganhe relevância no nível primário dentro da prevenção, classificando-se como uma ação de proteção específica; • Incorporação de novas vacinas e novos grupos populacionais; • Vacinação segura; • Vigilância dos eventos adversos associados à vacinação; • Rede de Frio de imunobiológicos mais eficiente, capaz de identificar situações de risco e de garantir um produto com qualidade, do começo ao fim da cadeia; • Coberturas amplas e homogêneas: compromisso do Ministério da Saúde. Acrescenta-se a esses tópicos a questão da disseminação de notícias falsas (popularmente conhecidas como fake news) a respeito da vacinação, o que tem causado uma grande repercussão negativa, pois promove o aumento da taxa de abandono e, por consequência, a diminuição da taxa de cobertura vacinal. Um exemplo claro disso foi o retorno de casos de sarampo entre 2018 e 2019. Fonte: Flickr. PARA REFLETIR Com base no conteúdo desta unidade, quais aspectos você acredita que necessitem de fortalecimento na sua realidade? 80Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais 2.8 POLÍTICAS PÚBLICAS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DE EPIDEMIAS/ PANDEMIAS: HISTÓRICO, DIRETRIZES E ATUAÇÃO NO CONTEXTO DE DOENÇAS INFECCIOSAS Caro trabalhador estudante, chegamos à última seção desta unidade. Agora abordaremos as Políticas Públicas da Assistência Social no enfrentamento de epidemias/pandemias, trazendo os pontos principais de sua formação e como ela pode atuar no contexto de doenças infecciosas. Bons estudos! Desde a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Política de Assistência Social é um campo que vem atuando para garantir o direito aos cidadãos que dela necessitam, independentemente de fazer contribuições à seguridade social. É importante um breve lembrete: a questão social esteve ausente das formulações de políticas no país até então. A partir de 1993, com a promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), surgiu um novo olhar para o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. Com o objetivo de dar proteção, a LOAS visa a garantia da vida, a redução de danos e a prevenção à incidência de riscos sociais (BRASIL, 2009c). A proteção social deve garantir as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar (BRASIL, 2005b, p. 31). Em 2004, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) instituiu a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), a qual veio para organizar a assistência social no Brasil (BRASIL, 2004b). É uma política de Estado, mas atualmente conta com a parceria de uma rede complementar de assistência composta de órgãos não governamentais e organizações da sociedade civil. As diretrizes da PNAS são as seguintes: I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais;II – Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo; IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos (BRASIL, 2005b, p. 32-33). 81Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais A PNAS trouxe para a realidade brasileira os seguintes olhares: • Uma visão social inovadora, dando continuidade ao inaugurado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgânica da Assistência Social de 1993, pautada na dimensão ética de incluir “os invisíveis”, os transformados em casos individuais, enquanto de fato são parte de uma situação social coletiva; as diferenças e os diferentes, as disparidades e as desigualdades. • Uma visão social de proteção, o que supõe conhecer os riscos, as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos, bem como os recursos com que conta para enfrentar tais situações com menor dano pessoal e social possível. Isto supõe conhecer os riscos e as possibilidades de enfrentá-los. • Uma visão social capaz de captar as diferenças sociais, entendendo que as circunstâncias e os requisitos sociais circundantes do indivíduo e dele em sua família são determinantes para sua proteção e autonomia. Isto exige confrontar a leitura macro social com a leitura micro social. • Uma visão social capaz de entender que a população tem necessidades, mas também possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas. Assim, uma análise de situação não pode ser só das ausências, mas também das presenças até mesmo como desejos em superar a situação atual. • Uma visão social capaz de identificar forças e não fragilidades que as diversas situações de vida possua (BRASIL, 2005b, p. 15). Em 2005, houve a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), conforme determinações da LOAS e da PNAS. O SUAS proporcionou uma forma de interromper a fragmentação vigente nos programas da área assistencial e instituir, efetivamente, as políticas públicas ligadas à Assistência Social, além de consagrar os direitos de cidadania e inclusão social. Vamos resumir os principais marcos regulatórios no Quadro 4: QUADRO 4 – PRINCIPAIS MARCOS REGULATÓRIOS VOLTADOS PARA A ÁREA SOCIAL 1993 2006 2011 1988 2012 2004 2009 2020 A Constituição Federal prevê, em seus Arts. 203 e 204, a assistência social a quem dela necessitar, independentemente de contribuir ou não à seguridade social. Resolução nº 33, de 12 de dezembro: CNAS aprova a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS) e define como responsabilidade comum à União, estados, Distrito Federal e municípios atender aos requisitos previstos no art. 30, e seu parágrafo único, da Lei nº 8.742, de 1993 (BRASIL, 2012c). Lei nº 8.742, de 7 de dezembro: dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências (BRASIL, 1993). Resolução nº 145, de 15 de outubro: CNAS institui a PNAS (BRASIL, 2004b). Resolução nº 109, de 11 de novembro: CNAS aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, conforme anexos, organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade (BRASIL, 2009d). Lei nº 13.979: indica como serviço essencial o atendimento a mulheres em situação de violência doméstica e familiar, crianças, adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência vítimas de crimes (Regulamentada posteriormente pelo Decreto nº 10.282/2020) (BRASIL, 2020b). Portaria conjunta nº 1: dispõe acerca da utilização de recursos do Cofinanciamento Federal no atendimento às demandas emergenciais de enfrentamento ao Coronavírus (Covid-19) no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (BRASIL, 2020e). Portaria MC nº 337: dispõe sobre medidas para o enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, Covid-19, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (BRASIL, 2020c). Portaria MC nº 369: dispõe sobre o repasse financeiro emergencial de recursos federais para a execução de ações socioassistenciais e estruturação da rede do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, no âmbito dos estados, Distrito Federal e municípios devido à situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional - ESPIN, em decorrência de infecção humana pelo novo coronavírus, Covid-19 (BRASIL, 2020f). Portaria SNAS/SEDS/MC nº 54: aprova recomendações gerais aos gestores e trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) dos Estados, Municípios e do Distrito Federal com o objetivo de garantir a continuidade da oferta de serviços e atividades essenciais da Assistência Social, com medidas e condições que garantam a segurança e a saúde dos usuários e profissionais do SUAS (BRASIL, 2020d). Portaria MC nº 330: estabelece o adiamento dos procedimentos em razão do não cumprimento do cronograma de inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal para fortalecer o enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional decorrente do Coronavírus (Covid-19) (BRASIL, 2020g). Resolução nº 269, de 13 de dezembro: CNAS aprova a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social (NOB-RH/SUAS) (BRASIL, 2006). Lei nº 12.435, de 6 de julho: altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social (BRASIL, 2011b). Algumas normativas no âmbito da Política de Assistência Social incluídas no contexto da Covid-19: 82Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais SAIBA MAIS Caso tenha interesse em conhecer mais detalhes das normativas adotadas na pandemia, acesse o Guia completo: o SUAS na Pandemia (LUCHESI, 2020). Disponível em: https://www.gesuas.com.br/blog/guia-suas-na- pandemia/ Ainda dentro do modo de organização, é importante destacar que o SUAS trata as ações da política de Assistência Social de acordo com a complexidade dos serviços. De um lado temos a atenção social básica e, de outro, a atenção social especial, de alta e média complexidade, e os serviços socioassistenciais seguem as seguintes referências: vigilância social, proteção social e defesa social e institucional. Sua atuação conta com o braço das unidades estatais locais, que são os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), os quais possibilitam, em grande parte dos casos, o primeiro acesso das famílias e indivíduos aos direitos socioassistenciais e, portanto, à proteção social básica. Toda a organização da rede local de serviços socioassistenciais fica a cargo do CRAS. QUAIS SÃO OS DESAFIOS PARA A ASSISTÊNCIA SOCIAL NESSE MOMENTO? “[...] a continuidade do atendimento aos cidadãos com arranjos mais aderentes ao contexto, visando à segurança e saúde de usuários e trabalhadores, à mitigação de riscos a populações mais expostas à contaminação e agravamentos da Covid-19 e à proteção social face aos impactos econômicos e sociais da pandemia” (BRASIL, 2021, p. 12-13). Fonte: Freepik. https://www.gesuas.com.br/blog/guia-suas-na-pandemia/ https://www.gesuas.com.br/blog/guia-suas-na-pandemia/ 83Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Vamos falar um pouco do contexto social na pandemia de Covid-19. Essa emergência de saúde pública afetou e tem afetado toda a população, mas não podemos deixar de enfatizar que asde Informação Geográfica (SIG) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.4 Fontes nacionais de dados sobre saúde e ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.5 Espaço geográfico e seu significado político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.6 Geocodificação e linguagem cartográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo do autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 120 121 122 123 123 125 131 134 135 144 145 148 MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS SUMÁRIO SUMÁRIO MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS 3.3 INFORMAÇÃO EM SAÚDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.1 Introdução: vamos falar de informação em saúde? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.2 Informação em saúde: conceito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.3 Indicadores de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.4 Análise de Situação de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.5 Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 150 151 152 153 160 162 166 168 169 172 SUMÁRIO MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS 3.4 EDUCAÇÃO EM SAÚDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.2 Educação em Saúde no Brasil: aspectos históricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.3 Covid-19 e suas implicações psicossociais no cotidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.4 Educação em Saúde: modelo tradicional x modelo dialógico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.5 Afinal, por onde começar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículo dos autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 174 175 176 177 184 188 192 193 194 197 SUMÁRIO MÓDULO FUNDAMENTOS E TECNOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA COVID-19 E DE OUTRAS DOENÇAS VIRAIS Unidade 4: Conceitos Básicos de Virologia e Imunologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Conceitos básicos em imunologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Conceitos básicos em virologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Minicurrículopopulações já expostas a vulnerabilidades e em risco social antes da pandemia foram afetadas de forma mais grave. Vamos remeter aqui também ao que foi falado anteriormente sobre a precarização das relações de trabalho, que fez emergir um contingente de trabalhadores e trabalhadoras que se viram sem renda nenhuma de forma abrupta. Diante desse cenário, a atuação do SUAS torna-se de suma importância para proteger as famílias e indivíduos em situação de maior vulnerabilidade social. O Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020, colocou a assistência social e o atendimento à população em estado de vulnerabilidade social na listagem de atividades essenciais que não deviam ser interrompidas na pandemia para não colocar em perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população (BRASIL, 2020h). Por meio da Portaria nº 100, de 14 de julho de 2020, houve uma série de recomendações que orientam o funcionamento e o trabalho social nas redes de apoio CRAS, CREAS, Centro de Referência para a População em Situação de Rua (Centro POP), Centro-Dia e outras (BRASIL, 2020i). Além disso houve o apoio da Estratégia Saúde da Família para mapeamento de situações de maior vulnerabilidade. SAIBA MAIS Ficou curioso para conhecer mais sobre o processo de organização da assistência social no contexto da pandemia? Sugiro a leitura complementar de Atuação da Política de Assistência Social no contexto da pandemia do novo coronavírus (BRASIL, 2021). Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/pesquisas/ documentos/relatorio/relatorio_215.pdf PARA REFLETIR Vamos pensar na visão do profissional da assistência social quanto ao enfrentamento da Covid-19 e de futuras epidemias/pandemias: os profissionais estão preparados estrutural e emocionalmente para atuar nesses contextos? https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/pesquisas/documentos/relatorio/relatorio_215.pdf https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/pesquisas/documentos/relatorio/relatorio_215.pdf 84Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais Finalizando a Unidade 2, esperamos que você tenha adquirido conhecimentos básicos capazes de provocar novas buscas e complementações, que, neste tema, devem ser permanentes. Além disso, esperamos que seu olhar sobre a temática seja mais crítico. O assunto é denso. Falar de políticas públicas envolve um emaranhado de normativas que estão em constante mudança, mas que são fundamentais para pautar as conquistas do SUS até aqui. Tendo isso em vista, sabemos que não foi possível esgotar todo o tema nesta unidade, pois temos uma riqueza de literatura que não cabe em uma unidade. Por isso, recomendamos fortemente o retorno às leituras e materiais complementares sugeridos, sempre que necessário. Como muito bem colocado pelo nosso mestre Jairnilson Paim: Conhecer o SUS, sua utilidade, suas possibilidades e seus desafios é um dos passos necessários para o exercício do direito à saúde. Essa é uma responsabilidade dos profissionais de saúde, que têm como missão assegurar a melhor atenção e os mais elevados níveis de saúde (PAIM, 2019, p. XIII). Portanto, exerça seu direito como usuário e trabalhador do SUS, como cidadão brasileiro: sucesso nessa caminhada! ENCERRAMENTO DA UNIDADE 85Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais REFERÊNCIAS AGUIAR, Z. N. SUS: Sistema Único de Saúde: antecedentes, percurso, perspectivas e desafios. 2. ed. São Paulo: Martinari, 2015. BERTIOLLI FILHO, C. História da saúde pública no Brasil. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006. BRASIL. Secretaria Nacional de Assistência Social. Departamento de Gestão do Sistema Único de Assistência Social. Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação. Departamento de Monitoramento. Atuação da Política de Assistência Social no contexto da pandemia do novo coronavírus. Brasília, 2021. 77 p. Disponível em: https://www.gov.br/cidadania/ pt-br/servicos/sagi/relatorios/DE_OLHO_NA_CIDADANIA_v6_12.05.pdf. Acesso em: 18 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.345/2020, de 02 de setembro de 2020. Torna sem efeito a Portaria nº 2.309/GM/MS, de 28 de agosto de 2020. Brasília: Ministério da Saúde, 2020a. Disponível em: https://brasilsus.com.br/index.php/pdf/portaria-no-2-345/. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Lei nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13979.htm. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria nº 337/2020, de 24 de março de 2020. Dispõe acerca de medidas para o enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, Covid-19, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social. Brasília: Ministério da Cidadania, 2020c. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/ redesuas/portaria-no-337-de-24-de-marco-de-2020/. Acesso em:17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria nº 54/2020, de 01 de abril de 2020. Aprova recomendações gerais aos gestores e trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) dos Estados, Municípios e do Distrito Federal. Brasília: Ministério da Cidadania, 2020d. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/portaria-no-54-de-1o-de-abril-de-2020/. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria conjunta nº 01/2020, de 02 de abril de 2020. Dispõe acerca da utilização de recursos do Cofinanciamento Federal no atendimento às demandas emergenciais de enfrentamento ao Coronavírus (Covid-19) no âmbito do Sistema Único de Assistência Social. Brasília: Ministério da Cidadania, 2020e. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-conjunta-n-1-de-2-de-abril-de-2020-251067584. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria nº 369/2020, de 29 de abril de 2020. Dispõe acerca do atendimento do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal - Cadastro Único, disposto pelo Decreto nº 6.135, de 26 de junho de 2007, no Distrito Federal e nos municípios que estejam em estado de calamidade pública ou em situação de emergência reconhecidos pelos governos estadual, municipal, do Distrito Federal ou Federal, inclusive a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional declarada pela Organização Mundial da Saúde, em 30 de janeiro de 2020, em decorrência da Infecção Humana pelo novo coronavírus (Covid-19). Brasília: Ministério da Cidadania, 2020f. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-369-de-29-de-abril-de-2020-254678622. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria nº 330/2020, de 18 de março de 2020. Estabelece o adiamento dos procedimentos em razão do não cumprimento do cronograma de inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal para fortalecer o enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional decorrente do Coronavírus (Covid-19). Brasília: Ministério da Cidadania, 2020g. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-330-de-18-de-marco-de-2020-248809190. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020. Regulamenta a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, para definir os serviços públicos e as atividades essenciais. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]h. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10282.htm. Acesso em: 17 out. 202. https://www.gov.br/cidadania/pt-br/servicos/sagi/relatorios/DE_OLHO_NA_CIDADANIA_v6_12.05.pdf https://www.gov.br/cidadania/pt-br/servicos/sagi/relatorios/DE_OLHO_NA_CIDADANIA_v6_12.05.pdf https://brasilsus.com.br/index.php/pdf/portaria-no-2-345/http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13979.htm http://blog.mds.gov.br/redesuas/portaria-no-337-de-24-de-marco-de-2020/ http://blog.mds.gov.br/redesuas/portaria-no-337-de-24-de-marco-de-2020/ http://blog.mds.gov.br/redesuas/portaria-no-54-de-1o-de-abril-de-2020/ https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-conjunta-n-1-de-2-de-abril-de-2020-251067584 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-369-de-29-de-abril-de-2020-254678622 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-330-de-18-de-marco-de-2020-248809190 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10282.htm 86Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria nº 100/2020, de 14 de julho de 2020. Aprova as recomendações para o funcionamento da rede socioassistencial de Proteção Social Básica - PSB e de Proteção Social Especial - PSE de Média Complexidade do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, de modo a assegurar a manutenção da oferta do atendimento à população nos diferentes cenários epidemiológicos da pandemia causada pelo novo Coronavírus - Covid-19. Brasília: Ministério da Cidadania, 2020i. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-100-de-14-de-julho-de-2020-267031342. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 588, de 12 de julho de 2018. Fica instituída a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS), aprovada por meio desta resolução. Brasília: Conselho Nacional de Saúde, 2018a. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2018/Reso588.pdf. Acesso em: 9 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? Brasília, 2018b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_ educacao_permanente_saude_fortalecimento.pdf . Acesso em: 20 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. Processos avaliativos de Educação Permanente em Saúde em Santa Catarina – uma roda que nunca parou de girar. Brasília, 2018c. Disponível em: https://apsredes.org/wp-content/uploads/2018/07/NavegadorSUS-WEB-INTER.pdf. Acesso em: 8 out. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Conheça a CISTT: Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Brasília, 2017a. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/11nov18_Cartilha_CNS_CISTT_Revisada_para_NET.pdf. Acesso em: 30 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.194/2017, de 28 de novembro de 2017. Dispõe sobre o Programa para o Fortalecimento das Práticas de Educação Permanente em Saúde no Sistema Único de Saúde - PRO EPS-SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2017b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3194_30_11_2017. html. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Instituto de Tecnoogia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos. Zé Gotinha. 2014. Disponível em: https://www.bio.fiocruz. br/index.php/br/clubinho-de-bio/ze-gotinha. Acesso em: 30 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.378, de 9 de julho de 2013. Regulamenta as responsabilidades e define diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativos ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2013a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1378_09_07_2013.html. Acesso em: 30 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Programa Nacional de Imunizações: 40 anos. Brasília, 2013b. 236 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_nacional_imunizacoes_pni40.pdf. Acesso em: 25 ago. 2021. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 453/2012, de 10 de maio de 2012. Aprova as diretrizes para instituição, reformulação, reestruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2012a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2012/res0453_10_05_2012.html. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Brasília: Ministério da Saúde, 2012b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html. Acesso em: 31 ago. 2021. BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução nº 33/2012, de 12 de dezembro de 2012. Aprova a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social -NOB/SUAS. Brasília: Conselho Nacional de Assistência Social, 2012c. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/resolucao-no-33-de-12-de-dezembro-de-2012/. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2011]a. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7508.htm. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Lei nº 12.435, de 06 de julho de 2011. Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Brasília, DF: Presidência da República, [2011]b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12435.htm. Acesso em: 17 out. 2021. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-100-de-14-de-julho-de-2020-267031342 http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2018/Reso588.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_educacao_permanente_saude_fortalecimento.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_educacao_permanente_saude_fortalecimento.pdf https://apsredes.org/wp-content/uploads/2018/07/NavegadorSUS-WEB-INTER.pdf https://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/11nov18_Cartilha_CNS_CISTT_Revisada_para_NET.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3194_30_11_2017.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3194_30_11_2017.html https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/clubinho-de-bio/ze-gotinha https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/clubinho-de-bio/ze-gotinha https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1378_09_07_2013.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_nacional_imunizacoes_pni40.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2012/res0453_10_05_2012.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html http://blog.mds.gov.br/redesuas/resolucao-no-33-de-12-de-dezembro-de-2012/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7508.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7508.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12435.htm 87Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. 3. ed. Brasília, 2010a. 60 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude_3ed.pdf. Acesso em: 29 set. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 4.033/2010, de 17 de dezembro de 2010. Define recursos financeiros do Ministério da Saúde para a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt4033_17_12_2010.html.Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.728/2009, de 11 de novembro de 2009. Dispõe sobre a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 2009a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt2728_11_11_2009.html. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.252/2009, de 22 de dezembro de 2009. Regulamenta as responsabilidades e define diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativos ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2009b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt3252_22_12_2009_comp.html. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. LOAS anotada: Lei Orgânica de Assistência Social. Brasília, 2009c. 36 p. Disponível em: https://www.mds. gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/LoasAnotada.pdf. Acesso em: 18 ago. 2021. BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução nº 109/2009, de 11 de novembro de 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília: Conselho Nacional de Assistência Social, 2009d. 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Ministério da Saúde. Portaria nº 373/2002, de 27 de fevereiro de 2002. Aprova, na forma do Anexo desta Portaria, a Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS-SUS 01/2002 que amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica; estabelece o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior equidade; cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios. Brasília: Ministério da Saúde, 2002a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0373_27_02_2002.html. Acesso em: 17 out. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.679/2002, de 19 de setembro de 2002. Dispõe sobre a estruturação da rede nacional de atenção integral à saúde do trabalhador no SUS e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 2002b. 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Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. 3ª Conferência Nacional de Saúde: relatório final. Relatório Final. Brasília, 1963. 219 p. Disponível em: http:// conselho.saude.gov.br/images/relatorio_3.pdf. Acesso em: 17 out. 2021. CARVALHO, A. I. de. Determinantes sociais, econômicos e ambientais da saúde. In: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. A saúde no Brasil em 2030 - prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: população e perfil sanitário. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2013a. v. 2. p. 19-38. Disponível em: https://saudeamanha.fiocruz.br/wp-content/uploads/2016/07/11.pdf. Acesso em: 30 ago. 2021. COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE. As Causas Sociais das Iniqüidades em Saúde no Brasil. Relatório Final. Brasília, 2008. 216 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf. Acesso em: 10 ago. 2021. CRUZ, M. M. 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F.; PAIM, J. S.; VILASBOAS, A. L. SUS, modelos assistenciais e vigilância da saúde. Informe Epidemiológico do Sus, Brasília, v. 7, n. 2, p. 7-28, jun. 1998. DOI: 10.5123/S0104-16731998000200002. Disponível em http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-16731998000200002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 20 ago. 2021. WANDERLEY, M. B.; MARTINELLI, M. L.; DA PAZ, R. D. O. Intersetorialidade nas Políticas Públicas. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 137, p. 7-13, 2020. DOI: 10.1590/0101-6628.198. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/DPfFVvJzjDFYSzB9NWWHv7z/?lang=pt#. Acesso em: 20 ago. 2021. http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-16731998000200002&lng=pt&nrm=iso https://www.scielo.br/j/sssoc/a/DPfFVvJzjDFYSzB9NWWHv7z/?lang=pt# 91Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 2 - Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais MINICURRÍCULO DA AUTORA ALINE PRISCILA BATISTA Farmacêutica Bioquímica, Doutora e Mestre em Ciências Biológicas com ênfase em estudos epidemiológicos de doenças crônicas não transmissíveis pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Professora nas disciplinas Epidemiologia e Epidemiologia nos serviços de saúde, no Departamento de Medicina de Família, Saúde Mental e Coletiva da Escola de Medicina da UFOP (2017-2018). Atualmente é pesquisadora do Laboratório de Epidemiologia, Escola de Medicina, UFOP pelo Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD/CAPES) e professora visitante no Programa de Pós-graduação em Saúde da Família (ProfSaúde/ABRASCO/polo UFOP). Membro dos grupos de pesquisa CNPq: Núcleo de Pesquisa em Epidemiologia – NUPE (UFOP), Grupo de Pesquisas em Educação em Saúde (UFOP) e do Grupo de Pesquisa em Pacientes Egressos de Internação Hospitalar – GruPEIH (UFMG). E-mail: alinepriop@ufop.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8305-1011 Lattes: http://lattes.cnpq.br/4718575032342485 mailto:alinepriop@ufop.edu.br https://orcid.org/0000-0001-8305-1011 http://lattes.cnpq.br/4718575032342485 Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais Unidade 3 Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde 3.1 Territorialização em Saúde Cesar Augusto Orazem Favoreto Olá, trabalhador estudante. Seja bem-vindo à Unidade 3 do Módulo – Fundamentos e Tecnologias para o Enfrentamento da Covid-19 e de outras Doenças Virais. A noção de território em saúde envolve aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais existentes e compartilhados pelos residentes de um determinado espaço geográfico. Por isso, trata-se de um conceito dinâmico e relacional, que amplia o diagnóstico e a vigilância sobre os riscos e vulnerabilidades relacionados ao desenvolvimento dos agravos à saúde individuais e coletivos. Além disso, tal noção permite a identificação das condições de promoção da resiliência das pessoas, famílias e comunidades no enfrentamento desses processos. Portanto, é inegável que a compreensão dos aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais da população de um território localiza e potencializa a vigilância, a prevenção de agravos e a promoção em saúde. Tal abordagem territorializada da vigilância em saúde, associada às intervenções de educação em saúde, pode promover a maior participação e o engajamento da população nas atividades realizadas pelas unidades e equipes da atenção primária. Então, vamos aprender mais sobre territorialização em saúde? Vem com a gente! APRESENTAÇÃO DA UNIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE 1. Identificar como as condições e relações socioculturais e político-econômicas da população residente em um determinado espaço físico conformam um território em saúde; 2. Reconhecer a importância das relações socioeconômicas, culturais e ambientais de um território no desenvolvimento de agravos e na organização das intervenções em saúde; 3. Analisar a relação entre riscos e vulnerabilidades de uma população adscrita com as intervenções sanitárias em um território; 4. Compreender como a realização de um diagnóstico populacional e sanitário de um território pode potencializar a vigilância e a promoção em saúde na atenção primária; 5. Demonstrar a potencialidade que a implementação da vigilância em saúde com foco em um território promove para a prevenção e controle de agravos à saúde da população; 6. Explorar a importância das intervenções comunitárias na prevenção de agravos e promoção à saúde em territórios adscritos às Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Carga horária de estudos: 15 horas 3.1 TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE 3.1.1 Introdução ao conceito de territorialização em saúde Prezado trabalhador estudante, nesta unidade abordaremos a importância do território na organização das ações de vigilância e promoção à saúde realizadas pelos serviços de atenção primária à saúde (APS) nos municípios. Propomos a você o exercício de um olhar que se forma a partir de uma macrovisão, oriunda dos indicadores socioeconômicos, ambientais e epidemiológicos e se dirige à especificidade dos territórios de uso - o lugar onde as pessoas, famílias e comunidades vivem e interagem cotidianamente. Este movimento de olhar do macro para o micro é dirigido por um conceito de saúde que vai além da noção de saúde como ausência de doença. Uma noção que integra as condições e determinantes coletivos ao agenciamento individual, familiar e comunitário na busca de uma melhor qualidade de vida. A Estratégia Saúde da Família (ESF) e a Vigilância em Saúde no Brasil adotam a adscrição de um território como referência para o conhecimento das condições sanitárias de uma determinada população ou grupo social. Esta vinculação possibilita maior facilidade e fidedignidade no reconhecimento dos problemas, assim como das potencialidades dos moradores de um território. Consequentemente, qualifica o planejamento das ações assistenciais, preventivas e de promoção à saúde, além de facilitar e incentivar a participação social na busca da qualificação das suas condições de vida e saúde. 3.1.1.1 Os indicadores epidemiológicos e as desigualdades sociais É fundamental que você esteja atento para o fato de que as mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais que ocorreram no mundo desde o século XIX, intensificadas no final do século passado e início do atual, produziram mudanças significativas na vida em sociedade e, em particular, na atenção em saúde. A humanidade vivenciou o aumento exponencialde recursos tecnológicos que ampliaram a oferta de alimentos, a mobilidade, a infraestrutura de água e saneamento das cidades, os novos meios de comunicação, como a internet, entre outras inovações. Em decorrência dos desenvolvimentos tecnológico e social ocorridos na modernidade, mudanças demográficas drásticas se efetivaram, como o crescimento e o envelhecimento populacional, devido à redução da mortalidade infantil, e o aumento da expectativa de vida no mundo como um todo e, mais acentuadamente, na maioria dos países desenvolvidos. Fonte: Unsplash. 96Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde As transformações sociais, econômicas e tecnológicas, assim como as mudanças nos meios de produção e nas relações de trabalho, também levaram à concentração populacional nas áreas urbanas e metropolitanas, à globalização da produção industrial e dos mercados, à precarização das relações de trabalho e a uma explosiva concentração da renda e riqueza. Essas mudanças, ocorridas desde o final da Segunda Guerra Mundial, foram responsáveis pela acentuação das desigualdades econômicas e sociais entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como entre regiões e classes existentes em cada país. Além da desigualdade de aquisição de bens duráveis e de consumo entre grupos sociais, observou-se uma crescente diferença no acesso aos recursos e serviços voltados à promoção e manutenção da saúde. Um aspecto emblemático desse contraste é o desequilíbrio no acesso à alimentação necessária à preservação da vida e da saúde. Você pode observar que, mesmo tendo havido grande aumento da produção de alimentos, as carências e os distúrbios alimentares se intensificaram nos países pobres e em grupos sociais mais vulneráveis. Do ponto de vista sanitário, o mundo ocidental evoluiu e teve um grande desenvolvimento no campo do conhecimento biomédico, o que levou à oferta de vacinas e medicamentos para prevenção e controle de doenças infectoparasitárias, à melhoria da atenção à gestação e ao parto e à capacidade de enfrentamento de algumas doenças crônico-degenerativas. Assim, o maior acesso a alimentos e as melhores condições de vida e moradia, associados aos avanços no campo biotecnológico, produziram a denominada transição demográfica e epidemiológica, consequência da redução da fertilidade e da mortalidade infantil, associada ao aumento da expectativa de vida. Na perspectiva epidemiológica, observou-se a redução da carga de doença produzida pelas enfermidades infectoparasitárias e aumento dos agravos crônico-degenerativos decorrentes do envelhecimento. Esse quadro demográfico e epidemiológico, entretanto, é um retrato distante de muitas parcelas da população. Os dados agregados dos indicadores epidemiológicos reduzem as diferenças decorrentes das desigualdades existentes de populações vulnerabilizadas pelas precárias condições socioeconômicas. Nesses grupos sociais, fragilizados pelo desequilíbrio na distribuição de renda e riqueza, as pirâmides etárias e a carga de doenças podem ainda manter padrões próximos àqueles anteriores ao grande desenvolvimento tecnológico, econômico e social ocorrido a partir da metade do século passado. 97Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Você pode observar que o Brasil tem vivenciado um processo de mudança do perfil de adoecimento e morte da população, como pode ser visto na Figura 1. Ocorreu uma queda acentuada da mortalidade por doenças transmissíveis, da mortalidade de menores de cinco anos e a redução significativa das causas evitáveis de morte. Esses resultados sanitários contribuem para que as pessoas vivam mais. Nesse cenário de transição epidemiológica e demográfica, emergiu o aumento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e outras doenças cardiovasculares, câncer, depressão, entre outras, e das mortes por violência (BRITO, 2007). FIGURA 1 – PIRÂMIDES ETÁRIAS DOS GRUPOS EXTREMOS, POR FAIXA DE RENDA FAMILIAR PER CAPITA EM SALÁRIOS-MÍNIMOS, BRASIL, 2000 (%) Fonte: IBGE (2000 apud BRITO, 2007, p. 12). Gr up os et ár ios Pirâmide etária, renda familiar per capita de 0 a 0,5 salário-mínimo, Brasil, 2000 Pirâmide etária, renda familiar per capita de mais de 10 salários-mínimos, Brasil, 2000 Gr up os et ár ios 75 a 79 75 a 79 60 a 64 60 a 64 30 a 34 30 a 34 15 a 19 15 a 19 0 a 4 -0,09 -0,09-0,06 -0,06-0,03 -0,030,00 0,000,03 0,030,06 0,060,09 Homens HomensMulheres Mulheres 0,09 0 a 4 45 a 49 45 a 49 Deve-se alertar que esse é um cenário epidemiológico geral, em que se observa que as mudanças e melhorias nos indicadores de saúde não ocorreram de modo homogêneo. O quadro sanitário brasileiro de antes da pandemia de Covid-19 mostrava que o perfil demográfico e epidemiológico das parcelas mais vulneráveis da população ainda se caracterizava por pirâmides etárias mais jovens devido à menor expectativa de vida e à redução não tão expressiva – como em outros grupos da sociedade – da mortalidade infantil (BRITO, 2007). Observa-se que há grandes diferenças epidemiológicas entre as regiões brasileiras e entre os grupos sociais. Esses coletivos populacionais convivem com uma tripla carga de doenças. Tomando como base o indicador “anos de vida saudável perdidos (DALY)”, verifica-se a coexistência do aumento das doenças crônico-degenerativas com elevados índices de morbimortalidade por doenças infectoparasitárias e por causas externas (LEITE, 2015). As diferenças das condições sanitárias no Brasil ocorrem entre suas regiões e entre grupos sociais de diferentes áreas de uma mesma região ou município. Com relação às diferenças regionais, Leite (2015) observa que: A comparação entre as regiões indica uma carga global mais elevada no Norte e Nordeste, refletindo mortes mais precoces e maior carga de incapacidade por problemas de saúde. A maior carga deve-se não apenas aos agravos [infectoparasitários e perinatais], mas também às doenças crônicas. A carga elevada deste grupo de doenças pode ser reflexo de piores condições de vida e de acesso aos serviços de saúde para controle dos fatores de risco (como a hipertensão) e para tratamento das doenças, determinando mortes mais precoces e maior incidência de sequelas. Ressaltam-se, ainda, as maiores taxas de homicídios no Norte e Nordeste, refletindo o aumento da violência verificado na última década nessas regiões (LEITE, 2015, p. 1560-1561). 98Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Um reflexo da diferença na carga de doenças entre grupos sociais no Brasil pode ser observado no forte impacto das doenças psiquiátricas no DALY, principalmente a depressão e a dependência do álcool. Os transtornos mentais são fortemente influenciados pela precarização das condições de vida e de trabalho e representam um grande desafio para os serviços de saúde, na medida em que apenas uma pequena parcela das pessoas tem acesso e/ou procuram atendimento. Outro fenômeno que reflete a desigualdade e a vulnerabilidade de diversos grupos sociais são os agravos por causas externas. A presença dos homicídios/ violência na segunda posição do DALY de homens brasileiros chama a atenção para esse grave problema de saúde pública. Esse é um padrão que expressa a perpetuação de diferentes formas de violência (estrutural, policial, doméstica, de gênero, entre outras) a que estão expostas, mais intensamente, famílias que vivem em territórios em conflito permanente. Esse é um quadro que diferencia o Brasil deoutros países de baixa e média renda, nos quais esse agravo não figura entre as dez primeiras doenças do DALY (LEITE, 2015). Até esse ponto, é fundamental que você reflita sobre a importância das condições políticas, sociais, econômicas e culturais para o desenvolvimento das condições de saudabilidade das populações. Nesse cenário, observa-se que a disponibilidade desses recursos é crucial para compreender o processo de saúde e adoecimento, assim como para entender como a carência destes impacta negativamente no modo e na qualidade de vida individual e coletiva. Contudo, analisamos que, mais do que constatar a existência de recursos naturais, tecnológicos e socioeconômicos, é necessário compreender como esses bens e serviços são distribuídos para as pessoas e apropriados por elas e seus grupos sociais de modo a atender às necessidades da vida digna e da saúde da população. A desigualdade de acesso a bens e serviços e seus reflexos nas condições de saúde, mesmo quando retratados de modo agregado pelos indicadores epidemiológicos, nos conduzem à abordagem de importantes conceitos operativos que influenciam a forma de pensar a organização da atenção e a vigilância em saúde. São eles: • Conceito Ampliado de Saúde; • Determinação Social da Saúde e adoecimento; • Compreensão e ação territorializada em saúde. 3.1.1.2 Conceito Ampliado de Saúde Nas últimas décadas, tornou-se mais e mais importante cuidar da vida de modo que se reduzisse a vulnerabilidade ao adoecer e as chances de que esse adoecimento provoque incapacidade, sofrimento crônico e morte prematura de indivíduos. A análise do processo saúde-doença evidenciou que a saúde é resultado dos modos de organização da produção, do trabalho e da sociedade em determinado contexto histórico, e o aparato biomédico não consegue modificar os condicionantes nem determinantes mais amplos desse processo, operando um modelo de atenção e cuidado ainda marcado, na maior parte das vezes, pela centralidade dos sintomas (TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 1998). 99Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Na base do processo de criação do SUS, encontram- se o conceito ampliado de saúde, a necessidade de criar políticas públicas para promovê-la, o imperativo da participação social na construção do sistema e das políticas de saúde e a impossibilidade de o setor sanitário responder sozinho à transformação dos determinantes e condicionantes para garantir opções saudáveis para a população. Na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), essa perspectiva ampliada da saúde emerge com a afirmação contida no Art. 196 da saúde como direito de todos e dever do Estado, que aponta para a saúde enquanto resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Esse conceito amplia a importância das dimensões econômica, social e política na produção da saúde e da doença nas coletividades, e contrapõe-se a uma perspectiva de saúde limitada à ausência de doença. Essa última representa uma concepção restrita à racionalidade biomédica, em que há a primazia do conhecimento anatomopatológico e da abordagem mecanicista do corpo, dos quais deriva um modelo assistencial centrado na atenção individual, na doença, no hospital e nas intervenções médicas. Nesse sentido, o SUS, como política do Estado brasileiro para a melhoria da qualidade de vida e afirmação do direito à vida e à saúde, dialoga com as reflexões e os movimentos no âmbito da promoção da saúde. O consenso sobre um conceito ampliado de saúde foi se consolidando ao longo das conferências internacionais de saúde promovidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida em Alma-Ata (1978), e a Primeira Conferência Mundial de Promoção à Saúde de Ottawa (1986). A perspectiva de ampliar a compreensão do processo saúde-doença representa, ainda hoje, uma imagem-objetivo para a organização dos sistemas e das intervenções em saúde. A concepção ampliada da saúde suscita a necessidade de um novo paradigma que dê conta da abrangência do processo saúde-doença e dialogue com a concepção da determinação social da saúde e doença que procura articular as diferentes dimensões da vida que configuram uma determinada realidade sanitária. O conceito ampliado de saúde, além de incorporar os determinantes sociais e ambientais, expande as noções de uni ou multicausalidade ao apontar para uma relação de determinação entre os aspectos coletivos e individuais na explicação da saúde e da doença. Propõe-se, então, que as intervenções em saúde ampliem seu escopo. Elas precisam tomar como objeto os problemas e necessidades de saúde e seus determinantes e condicionantes. Desse modo, busca-se que a organização da atenção e do cuidado envolva, ao mesmo tempo, ações e serviços que operem sobre os efeitos do adoecer e aqueles que visem ao espaço para além dos muros das unidades de saúde e do Sistema de Saúde, incidindo sobre as condições de vida e favorecendo a ampliação de escolhas saudáveis por parte dos sujeitos e coletividades no território em que vivem e trabalham (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Nessa direção, a promoção da saúde estreita sua relação com a vigilância em saúde, numa articulação que reforça a exigência de um movimento integrador na construção de consensos e sinergias e na execução das agendas governamentais, a fim de que as políticas públicas sejam cada vez mais favoráveis à saúde e à vida e estimulem e fortaleçam o protagonismo dos cidadãos em sua elaboração e implementação, ratificando os preceitos constitucionais de participação social. CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE O processo saúde-doença é um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza (meio ambiente, espaço, território, entre outros) e com outros homens (por meio do trabalho e das relações sociais, culturais e políticas) num determinado espaço geográfico e num determinado tempo histórico. 100Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.1.3 Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) e sua importância na vigilância em saúde Na estrutura e nos processos tecnoassistenciais hegemônicos nas práticas em saúde, predomina uma atenção centrada na doença, no hospital e em especialidades médicas. Nessa perspectiva, o foco da atenção é o indivíduo e seus modos de vida ou as escolhas pessoais realizadas. Por outro lado, na lógica proposta pelo conceito ampliado de saúde, os modos e as condições de vida compreendem não apenas as escolhas individuais, mas as relações e influências sobre elas das condições sociais, econômicas e culturais que ocorrem no plano das coletividades (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Como você já sabe, ao superarem a concepção biologicista linear de simples causa- efeito, os DSS incluem as condições socioeconômicas, culturais e ambientais de uma sociedade e se relacionam com as condições de vida e trabalho de seus membros, como habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e educação, incluindo também a trama de redes sociais e comunitárias. Esses determinantes influenciam os estilos de vida, já que as decisões relativas, por exemplo, ao hábito de fumar e de praticar exercícios e a hábitos dietéticos estão, também, condicionadas por esses determinantes (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Por outro lado, a percepção de pertencer a grupos sociais excluídos da maioria dos benefícios da sociedade gera sofrimento e sentimentos de inferioridade e discriminação. Essas percepções influenciam a formação de padrões de comportamentoe a vulnerabilidade desses grupos sociais na promoção da saúde e na busca por cuidado às situações de adoecimento. Vale a pena, nesse momento, resgatar, na Figura 2, o esquema proposto pelos pesquisadores Dahlgren e Whitehead que permite visualizar as relações entre os diversos DSS. FIGURA 2 – MODELO DE DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE PROPOSTO POR DAHLGREN E WHITEHEAD EM 1991 CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS, CULTURAIS E AMBIENTAIS GERAIS REDES SOCIAIS E COMUNITÁRIAS ES TI LO D E VIDA DOS INDIVÍDUO S Esse modelo situa os estilos de vida individuais entre os condicionantes sociais e comunitários e os fatores biogenéticos individuais. Desse modo, relativiza os comportamentos adotados, relacionando-os com os aspectos coletivos existentes nos grupos sociais a que as pessoas pertencem, como: acesso a informações, propaganda, pressão de pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e a espaços de lazer, entre outros. Na camada mais externa da Figura 2, o modelo destaca os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação. Nessa perspectiva, indica-se como a carência desses aspectos relativos às condições de vida (condições habitacionais inadequadas, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços) podem representar diferenciais de exposição e de vulnerabilidade aos riscos à saúde. No último nível, estão situados os macrodeterminantes que possuem grande influência sobre as demais camadas e estão relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, incluindo também determinantes supranacionais, como o processo de globalização (BRASIL, 2008). PRODUÇÃO AGRÍCOLA E DE ALIMENTOS EDUCAÇÃO AMBIENTE DE TRABALHO DESEMPREGO ÁGUA E ESGOTO HABITAÇÃO IDADE, SEXO E FATORES HEREDITÁRIOS SERVIÇOS SOCIAIS DE SAÚDE CONDIÇÕES DE VIDA E DE TRABALHO Fonte: Fiocruz (2011). 101Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Em alguns contextos, os DSS continuam a ser compreendidos como características apenas do indivíduo, como a rede de apoio social da pessoa, o seu salário ou sua função. No entanto, a população não é meramente uma coleção de indivíduos. As causas da má saúde se agrupam em padrões sistemáticos e, além disso, os efeitos sobre um indivíduo podem depender das relações com outras pessoas na família e na comunidade onde vivem. Quando se trata de DSS, portanto, é essencial que você compreenda como as causas dos casos individuais estão relacionadas às causas da incidência nas populações. Nesse modelo explicativo, ainda, é necessário observar a diferença entre o que se concebe por determinantes sociais da saúde e por determinação social da saúde. Limitar a ideia de determinantes seria permitir uma concepção restrita a identificar os fatores causais sem considerar as relações estabelecidas no tempo e espaço. Essa seria, portanto, uma percepção de modo isolado e atemporal, e não representa o processo histórico. À concepção de determinação agrega-se a perspectiva de que os elementos e suas inter-relações se constituem em um processo histórico gerador de problemas ou de melhorias nas condições de saúde coletiva e individuais. Reconhece-se a importância das condicionalidades, mas essas são percebidas nas relações pessoais, políticas e institucionais que sujeitos e coletivos podem desenvolver. Essa perspectiva histórica e relacional indica a importância das políticas públicas e das ações voltadas ao empoderamento individual e coletivo promovidas por setores como saúde, educação, habitação, entre muitos outros, a depender das carências e da emergência das desigualdades existentes. Essa visão ressalta a importância do referencial da equidade na vida social e na saúde na promoção das políticas públicas, em particular na promoção e atenção à saúde. No campo da saúde, há uma estreita relação entre a equidade e os DSS, tanto conceitualmente, como em termos políticos. Logo, a promoção da equidade na saúde não poderá ser alcançada sem ações sobre os DSS. A reversão dos determinantes implica, portanto, a identificação dos grupos sociais mais vulneráveis e a promoção da equidade no acesso a bens e serviços que possibilitem maior qualidade de vida a essas pessoas, famílias e comunidades. Esses grupos ocupam territórios em que são condicionados e condicionam os aspectos ambientais, socioeconômicos e culturais desse lugar. Sob esse aspecto, a dimensão socioespacial dos DSS ganha importância, na medida em que a categoria território é apreendida para além de sua dimensão geográfica e, portanto, compreendida enquanto “território usado”, um conceito aplicado pelo geógrafo Milton Santos que integra às características físicas de um território o processo relacional entre as famílias, seus modos de vida e suas condições sociais como sendo, ao mesmo tempo, condicionada e condicionante do processo saúde-doença (GONDIM; MONKEN, 2008). 102Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.1.4 Compreensão e ação territorializada em saúde Compreender o território é fundamental para agir de maneira organizada nele. Assim, nas subseções a seguir vamos aprender mais sobre a noção de território, não apenas físico, mas também enquanto espaço histórico em construção, portanto, vivo, em movimento e onde a territorialização pode proporcionar a universalidade do acesso, a integralidade do cuidado e a equidade da atenção. 3.1.1.4.1 Como compreender a noção de território O que vem à sua cabeça quando falamos em território? Geralmente, surge a ideia de um espaço geográfico como territórios nacionais, estaduais, municipais, os bairros e ruas. Outra dimensão que surge é a de uma paisagem formada tanto pela natureza como pelas marcas que são produtos da ação humana, como moradias, ruas, estradas, etc. Essas intervenções são modificações na natureza, feitas para criar um ambiente que seja mais adaptado à vida e às necessidades humanas. Tais transformações afetam todos do lugar, mas elas não são, necessariamente, feitas por todos e para todos. Existem mudanças que beneficiam um grupo de pessoas, mas podem prejudicar ou marginalizar outros grupos. Já parou para pensar nisso? Podemos refletir, por exemplo, sobre como foi a urbanização no Brasil a partir da metade do século XX. Essa ação histórica, geográfica e social decorreu, entre outros motivos, da industrialização ocorrida predominantemente na região Sudeste do país naquele período. Foi também influenciada pelas desigualdades socioeconômicas, pelas diferenças na distribuição dos investimentos públicos entre as regiões do país, pelas disputas por posse de terra e por fenômenos climáticos que acentuaram a pobreza nas comunidades nordestinas. Como consequência, ocorreram intensos movimentos migratórios da população residente em áreas rurais para as cidades e a mobilização de pessoas e comunidades inteiras das regiões nordeste e norte para os centros urbanos da região Sudeste do país. Devido a esse movimento migratório, houve o adensamento populacional nos centros urbanos e em suas periferias (área metropolitana) e a acentuação das desigualdades na ocupação do solo urbano, assim como no acesso a recursos materiais e sociais para a promoção da qualidade de vida dessas famílias (habitações, ruas, saneamento, saúde, escolas, etc.). Esse processo provocou uma diferenciação de áreas nas grandes cidades (Figura 3). Ele diferenciou as partes mais centrais e desenvolvidas de outras, periféricas, nas quais grandes parcelas da população são marginalizadas da posse do solo, de moradias adequadas, de acesso à água e saneamento,além de serem obrigadas a se deslocar por grandes distâncias entre a residência e o trabalho em meios de transportes precários. 103Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 85% 15% Áreas urbanas Áreas rurais Região Sudeste Região Nordeste HABITANTES EM ÁREAS URBANAS HABITANTES EM ÁREAS RURAIS 93% 27% Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2015, a maior parte da população brasileira (85%) vive em áreas urbanas. Já 15% dos brasileiros vivem em áreas rurais (IBGE, 2016). A grande região com maior percentual de população urbana é o Sudeste, com 93% das pessoas vivendo em áreas urbanas. A região Nordeste é a que conta com o maior percentual de habitantes vivendo em áreas rurais: 27% (Figura 4). Esse processo de urbanização no território nacional se caracterizou pelo crescimento desordenado e grandes disputas pelo solo nas cidades. Como consequência, observa-se a desigualdade entre as realidades dos diferentes territórios que formam as cidades quanto ao perfil socioeconômico dos seus habitantes, acesso aos serviços e exposição às condições de violência estrutural. Fonte: Vieira (2004). Fonte: IBGE (2016). FIGURA 4- POPULAÇÃO URBANA E RURAL NO BRASIL - DIFERENÇAS ENTRE REGIÕES FIGURA 3 – FOTO DA FAVELA DE PARAISÓPOLIS, EM SÃO PAULO-SP 104Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Além do processo de urbanização, também podemos exemplificar outros processos de constituição de territórios que resultaram das intervenções desiguais nos ambientes naturais e sociais, como a construção das barragens para construção de hidrelétricas ou os latifúndios do agronegócio. Ambas impingiram o deslocamento das populações residentes em pequenas vilas, antes localizadas nas áreas alagadas, e de pequenos agricultores, que foram removidos nos processos de grilagem das terras para outros locais, geralmente distantes geográfica e culturalmente dos seus lugares originários. Essas mudanças e reconfigurações do espaço físico, quer sejam elas frutos de um desenvolvimento intrínseco dos seus habitantes, quer sejam elas resultados de intervenções impingidas a coletividades com menor poder político e econômico, interferem no modo de viver individual, familiar e comunitário e vão constituindo novos territórios e realidades de vida para os grupos sociais. Bem, como você pode ver, tudo isso reforça a importância de compreender a estrutura e as relações de uma determinada sociedade considerando os aspectos dos territórios em que as pessoas vivem, trabalham, se divertem, exercem seus direitos políticos e comungam valores e culturas. Isso implica reconhecer a constituição e o desenvolvimento do território usado e os significados partilhados pelos atores que deles comungam. É fundamental que você o perceba como um “lugar” palpável, isto é, como espaço da existência e da coexistência, do acontecer solidário, sede da resistência da sociedade civil, espaço real e efetivo da comunicação, da troca de informação e da construção política. Por fim, no campo da vigilância e da atenção à saúde, as realidades desses lugares se tornam condicionantes para a exposição dos indivíduos, famílias e coletividades do local a situações de risco e vulnerabilidade. 105Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.1.4.2 Território como espaço histórico em construção Ao utilizar o conceito de território na saúde, não faz sentido pensá-lo como mera delimitação de uma área. É preciso reconhecer as territorialidades que podem muitas vezes transgredir os limites e normatizações impostas por atores externos aos viventes daquela localidade. Essa territorialidade é formada pelas relações sociais (existenciais e de produção) que se estabelecem no interior dos territórios, mas também é constituída pelas relações concretas com áreas abstratas, como línguas, religiões e tecnologias. Gondim e Monken (2008), baseados no referencial teórico de Milton Santos, consideram que as noções de território usado ou de território processo se tornam sinônimas de espaço geográfico. Eles expressam uma perspectiva dinâmica, histórica e relacional do conceito de território, que deve se constituir como campo das ações de atenção e vigilância em saúde. Esses conceitos operativos vão muito além de um simples recorte político- operacional do Sistema de Saúde, uma distribuição de unidades de saúde de acordo com dados censitários e epidemiológicos, pois consideram o território como o locus onde se verifica a interação entre população e serviços de saúde no nível local (Figura 5). FIGURA 5 – O TERRITÓRIO USADO E SEUS COMPONENTES Território Aspectos econômicos Aspectos demográficos e tecnológicos História Aspectos político- administrativos Aspectos socioculturais Relações de poder Fonte: elaboração do autor. Compreende-se, portanto, que o acesso e a qualidade da atenção integral, proporcionados pela rede de serviços de saúde e organizados em unidades e equipes de atenção primária, devem compreender a responsabilidade sanitária de uma população específica. Essa vinculação das equipes e unidades a um grupo de pessoas de um território pode reconhecer de maneira singular esses espaços, seus habitantes e os seus modos de vida (FARIA, 2020). Nesse arranjo, profissionais e gestores das distintas unidades prestadoras de serviços podem ser capazes de identificar as dificuldades estruturais e conjunturais para a melhoria da qualidade de vida, as necessidades em saúde e as potencialidades desse grupo social para promover a resiliência individual e coletiva e, dessa maneira, enfrentar e superar as vulnerabilidades e condicionantes de adoecimento a que está exposto. 106Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.1.4.3 Território e a territorialização em saúde O ponto de partida para a reorganização do sistema local de saúde brasileiro e de seu modelo assistencial foi o redesenho das bases territoriais para assegurar a universalidade do acesso, a integralidade do cuidado e a equidade da atenção. Nesse contexto, a territorialização em saúde se colocou como uma metodologia capaz de operar mudanças no modelo assistencial e nas práticas sanitárias vigentes e direcionar o planejamento e o investimento da atenção à saúde a partir do reconhecimento e esquadrinhamento do território, segundo a lógica das relações entre ambiente, condições de vida, situação de saúde e acesso às ações e serviços de saúde (GONDIM; MONKEN, 2008). A importância de reconhecer o território como um espaço vivo, processual e relacional na área da saúde deve-se à necessidade de reconhecer riscos, vulnerabilidades, potencialidades e resiliência das populações residentes nas diferentes áreas abrangidas pelas unidades de saúde, particularmente na ESF. Esse reconhecimento é realizado pelo mapeamento físico, social e das relações de poder e convivência dos moradores das áreas e microáreas dos territórios adscritos a um serviço e equipes da ESF (GONDIM; CHRISTÓFARO; MIYASHIRO, 2017; FARIA, 2020). A partir de tal diagnóstico de saúde das comunidades adscritas é possível planejar ações específicas de promoção, prevenção, atenção e reabilitação, tendo como objetivo intervir nas necessidades sociais e de saúde, reduzir as iniquidades e buscar o empoderamento individual e coletivo. Esse reconhecimento por parte das equipes de saúde, particularmente das equipes daAPS/ESF, precisa transcender a paisagem de uma localidade e de sua população adscrita. É preciso ultrapassar a superfície dos fenômenos, como os das demandas por atenção, por meio de uma instrumentalização do olhar dos profissionais e das equipes, que precisam produzir um processo de estranhamento, isto é, de estranhar o que lhe é familiar e familiarizar-se com o que lhe é estranho. Na Figura 6, podemos observar um diagrama do processo de territorialização envolvendo a adscrição de uma população à ESF pela gestão municipal. No caso de grandes centros urbanos, a cidade é dividida em regiões, que, por sua vez, são divididas em áreas geográficas que irão corresponder ao território de abrangência para uma determinada unidade de saúde. Muitas vezes, a circunscrição de uma área não atende às características de acessibilidade e vulnerabilidade de sua população ou nem respeita a relação preconizada em torno de 2500 a 3000 pessoas adscritas para cada equipe de Saúde da Família (eSF). Na maioria das grandes cidades, em virtude da baixa cobertura da população pela ESF, essa circunscrição do espaço físico é grosseira e procura suprir as carências na relação entre oferta e demanda por atenção primária existente na região em que será implantada uma nova unidade de saúde, ou haverá a incorporação de novas equipes. Fonte: Tony Winston/Agência Brasília/GDF / Ministério da Saúde FIGURA 6 – TERRITORIALIZAÇÃO DOS PROBLEMAS E DAS AÇÕES DE SAÚDE NO MUNICÍPIO Família Microárea de risco Distrito Sanitário Município Área adscrita à Unidade Básica de Saúde Fonte: elaboração do autor. 107Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Um segundo passo seria o reconhecimento pelas equipes de suas áreas adscritas e o estabelecimento das microáreas sob responsabilidade dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Contudo, observamos, nos últimos anos, principalmente a partir da PNAB 2017 (BRASIL, 2017), a redução do número de ACS por eSF em diversos municípios e a mudança das suas atribuições, devido ao deslocamento do trabalho no território para atividades assistenciais dentro das unidades de saúde. Essa desproporção na cobertura pelos agentes impacta, constantemente, o reconhecimento e o acompanhamento do território, pois são esses profissionais que realizam o cadastramento das famílias, a identificação inicial de suas condições de vida e sanitárias, o acompanhamento longitudinal e, por conseguinte, a avaliação contínua de riscos/ vulnerabilidades e das dificuldades de acesso da população residente nas microáreas aos serviços de saúde. Assim, o diagnóstico da comunidade possibilita que as equipes compreendam os papéis das configurações territoriais na produção de condicionantes sociais e individuais que prejudicam ou potencializam a saúde e a qualidade de vida. Desse modo, o cadastramento e acompanhamento das famílias de um território possibilita que as equipes: Esse diagnóstico possibilita às equipes planejar suas intervenções de promoção, prevenção e atenção à população adscrita, tendo como objetivo reduzir os efeitos da desigualdade e falta de equidade expostos na lei dos cuidados inversos (HART, 1971), isto é, possibilitar que aqueles que mais precisam de atenção sejam priorizados pelas equipes e unidades. Outra forma de minimizar os efeitos da lei dos cuidados inversos nas atividades e ações cotidianas é estar atento para o fato de que as pessoas que mais necessitam de cuidados em saúde são as que menos os demandam. Ou seja, a saúde precisa estar atenta ao território, alcançando essa população mais vulnerável e mais fragilizada, por meio de busca ativa para poder garantir, de fato, a equidade. Nesse sentido, a identificação das necessidades e barreiras de acesso dos moradores em um determinado território pode influir na priorização do acesso a consultas individuais, de atendimentos domiciliares às famílias mais vulneráveis, além da circunscrição das áreas e microáreas de risco à saúde para o direcionamento das práticas de vigilância à saúde. Identifiquem o perfil demográfico, epidemiológico, socioeconômico e ambiental; Levantem problemas e necessidades, barreiras e a acessibilidade dentro da sua área de abrangência; Conheçam as condições de infraestrutura e recursos sociais; Analisem os elementos e relações existentes em uma comunidade; Identifiquem e assessorem-se de lideranças formais e informais; Potencializem os resultados e os recursos presentes nesse território. 108Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde O diagnóstico, associado à mobilização e participação social da população em conselhos gestores das unidades de saúde, pode possibilitar, por outro lado, um direcionamento das políticas públicas (educação, saúde, moradia, saneamento básico, transporte, etc.) locais de acordo com as necessidades e as percepções dos moradores locais. Essa direção leva a uma visão estratégica para a otimização dos recursos e dos esforços públicos, possibilitando o atendimento de um número maior de pessoas para evitar os riscos e as iniquidades em saúde como exposto na Figura 7. FIGURA 7 – OBJETIVOS DA TERRITORIALIZAÇÃO PARA A ATENÇÃO E VIGILÂNCIA EM SAÚDE Definição de prioridades em termos de problemas e grupos Mobilização e participação social nas ações de vigilância Escolha das ações mais adequadas de acordo com os problemas identificados Priorização das intervenções nos grupos mais vulneráveis Equidade e efetividade Fonte: elaboração do autor. 3.1.1.5 Diagnóstico do território O ponto de partida para a organização dos serviços e das práticas de vigilância em saúde é a territorialização do sistema local de saúde segundo a lógica das relações entre condições de vida, ambiente e acesso às ações e serviços de saúde. Reconhecer o território sob responsabilidade dos trabalhadores de cada setor como estratégia para o planejamento de ações já é uma evidência consolidada. O que tem se apresentado como desafio são os métodos utilizados para o processo de desvelamento do território (MONKEN, 2017). Esse movimento busca fazer com que o território, na práxis da APS, seja desvelado pelos profissionais e pelas comunidades, mas não apenas por meio de um registro físico das áreas adscritas e dos agravos que alteram a vida das pessoas, como casos de pessoas com doenças como hipertensão, diabetes ou famílias com gestantes ou crianças menores de um ano. É comum, nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou Unidades de Saúde da Família (USF), a presença de mapas que delineiam as áreas adscritas, e neles são plotados os casos que exigem maior vigilância. Contudo, quando se elabora um mapa, ou quando simplesmente se observa o campo de trabalho, são destacados os elementos fixos, representados pelas casas, ruas, fábricas, igrejas, entre outros, e, por outro lado, identificar as situações como doença, os ciclos de vida de uma família, a exposição à violência, etc. No entanto, é preciso identificar que, além desses aspectos, que a princípio parecem fixos, existem também fluxos e relações. Esses objetos fixos só têm razão de ser se tiverem fluxos, pois são esses fluxos que lhes dão vida. Ressalta-se que os mapas, como recurso para o diagnóstico comunitário, devem ser pensados e produzidos por meio de um processo educativo por parte dos profissionais e população, na busca de um melhor conhecimento sobre o território, os determinantes e os condicionantes ambientais e sociais e sua influência no desenvolvimento dos agravos de saúde da população. Mapear os principais problemas de saúde em um determinado território é um importante passo realizado pelas equipes, mas também é necessário que os profissionais e osdo autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encerramento do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 199 200 201 202 209 217 218 220 221 Para promover a qualificação dos trabalhadores da saúde em vigilância e cuidado em saúde para o enfrentamento da Covid-19 e de outras epidemias de doenças transmissíveis por vírus no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), neste Módulo do Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da Covid-19 e de outras Doenças Virais, intitulado Fundamentos e Tecnologias para o Enfrentamento da Covid-19 e de outras doenças virais, estudaremos as seguintes unidades: “1 Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia”, “2 Políticas Públicas no Enfrentamento das Doenças Virais”, “3 Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde: 3.1 Territorialização em Saúde; 3.2 Geoprocessamento em Saúde; 3.3 Informação em Saúde; e 3.4 Educação em Saúde” e “4 Conceitos Básicos de Virologia e Imunologia”. Nesse processo educativo, com os conteúdos programáticos propostos, esperamos que você, trabalhador estudante, possa compreender a sociedade contemporânea de forma articulada com os pressupostos da saúde coletiva, considerando as políticas públicas que incidem sobre o SUS e as tecnologias e ferramentas do campo da Vigilância em Saúde, visando a uma melhor efetividade das ações de enfrentamento da Covid-19 e de outras doenças virais. Nosso foco aqui é abordar as principais estratégias e políticas públicas que envolvem a organização do SUS em toda a sua complexidade e potencialidade, para que possamos entender qual é a nossa real capacidade de enfrentamento de epidemias ou pandemias, do ponto de vista da integralidade, da equidade, da seguridade e da justiça social. Bons estudos! APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais Unidade 1 Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia Olívia Maria de Paula Alves Bezerra Luciane Bresciani Salaroli Olá, trabalhador estudante. Seja bem-vindo à Unidade 1! Nesta unidade, você conhecerá diferentes conceitos de saúde, assim como o processo saúde-doença e sua determinação social e biológica, além do contexto social e econômico global e do país antes e durante a pandemia. Também fará parte do processo de ensino-aprendizagem um histórico da pandemia de Covid-19 no contexto global e no Brasil, baseado em dados epidemiológicos referentes à situação de casos, óbitos e na etapa subsequente a introdução das vacinas no Brasil com subsequente redução de casos. Queremos proporcionar a você a possibilidade de identificar as novas configurações do trabalho durante a pandemia e seus desdobramentos atuais e futuros no emprego, na saúde e na segurança da classe trabalhadora, além de refletir sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nos indicadores de saúde da população brasileira durante e no pós-pandemia, com destaque aos acometidos por doenças, e sobre os impactos nos serviços de saúde, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS). Por isso, convidamos você para uma profunda reflexão sobre o reconhecimento da importância do SUS pela população brasileira, além dos desafios e perspectivas das políticas públicas e do SUS. Desejamos a você um excelente aproveitamento desta unidade! APRESENTAÇÃO DA UNIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE 1. Compreender diferentes conceitos de Saúde, processo saúde-doença e sua determinação social e biológica; 2. Compreender o contexto social e econômico global e do país antes e durante a pandemia; 3. Descrever o histórico da pandemia de Covid-19 no contexto global e no Brasil; 4. Identificar as novas configurações do trabalho durante a pandemia e seus desdobramentos atuais e futuros no emprego, na saúde e na segurança da classe trabalhadora; 5. Refletir sobre o impacto da pandemia de Covid-19 e de outras epidemias nos indicadores de saúde da população brasileira durante e no pós-pandemia, com destaque aos acometidos por doenças, e sobre os impactos nos serviços de saúde, em especial na Atenção Primária à Saúde. Carga horária de estudos: 15 horas 1.1 INTRODUÇÃO O presente conteúdo-base foi cuidadosamente planejado e elaborado pelas autoras visando a oferecer a você, trabalhador estudante, um conjunto de informações atuais, fidedignas e baseadas em evidências científicas, na tentativa de contribuir para a compreensão das principais transformações ocorridas na sociedade e, especialmente, no mundo do trabalho durante a pandemia de Covid-19 em curso. Não se pretendeu, contudo, esgotar o assunto proposto para essa unidade, e isso nem seria possível, pois a história da pandemia ainda está sendo construída por todos nós, atores sociais envolvidos, verdadeiras testemunhas oculares deste momento sem precedentes na história recente da saúde pública mundial e brasileira. Este momento histórico que estamos vivendo, e sobre o qual muito ainda temos a aprender, certamente representará um divisor de águas na história da humanidade. Portanto, aqui apresentamos tão somente o “caminho das pedras” para que você, trabalhador estudante, possa explorar outros caminhos e se orientar em suas reflexões e ações, guiado pelas políticas públicas que serão implementadas em seu trabalho cotidiano. Cabe ao coletivo de trabalhadores da saúde se empenhar para ampliar cada vez mais o seu conhecimento sobre essa temática tão desafiadora. Vamos em frente! Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 17 SAIBA MAIS Convidamos você para conhecer um pouco as ideias do médico Georges Canguilhem. Em seu clássico livro O Normal e o Patológico, publicado em 1943, ele considera a saúde e a doença de uma perspectiva mais ampla e crítica, contribuindo para a compreensão dos dois estados não como opostos um ao outro – a doença como uma derivação quantitativa de um estado de normalidade – mas como condições que podem adquirir diferentes significados de acordo com a realidade e a capacidade de adaptação de cada indivíduo. O saber médico, portanto, precisa estar associado ao conhecimento da realidade dos sujeitos, para além do conhecimento da doença propriamente dita, e o seu olhar deve se voltar também para o doente, e não apenas para a doença. Canguilhem considera que, antes da existência da doença, existe um doente (indivíduo) no qual é preciso que o médico foque a sua atenção. Na visão do autor, o “estar doente” (o patológico) não pressupõe uma situação de anormalidade, assim como o “estar com saúde” também não pressupõe uma condição de normalidade, pois tudo depende do indivíduo e da sua capacidade de se adaptar ao seu contexto de vida: o que é tido como “normal” para um pode não ser considerado “normal” para outro, e vice-versa. Conforme o autor, “o normal é viver num meio onde flutuações e novos acontecimentos são possíveis” (CANGUILHEM, 2009, p. 59). Se você quiser se aprofundar nas ideias de Canguilhem, sugerimos a leitura do livro O Normal e o Patológico (CANGUILHEM, 2009). 1.2 CONCEITOS DE SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE A DETERMINAÇÃO SOCIAL E BIOLÓGICA DA SAÚDE-DOENÇA Você sabe ou já ouviu falar sobre o que é o processo saúde-doença? Se sim, já deve ter percebido que conceituar saúde e doença não é uma tarefa simples como pode parecer à primeira vista, pois envolve diversos aspectos relacionados ao contexto social local/regional, ao momento histórico e à subjetividade de quem o faz. Diversos autores vêm contribuindo com a construção desse debategestores da ESF compreendam as relações, perspectivas e percepções dos moradores sobre a vida nesse lugar. Identificar os processos de disputas políticas internas e externas, as características e identidades culturais, os valores morais e religiosos, entre outros aspectos que estão em movimento e constituem o território vivo, é fundamental (PESSOA et al., 2013). 109Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde As experiências locais de unidades e equipes também têm fundamentado o desenvolvimento de estratégias de reconhecimento do território, como os mapas falantes e os mapas vivos, que, em síntese, são formas de escutar e registrar de modo gráfico e narrativo o que a população de uma área percebe sobre seus problemas. Podem ser construídos em reuniões de grupo e/ou de mobilização dos moradores nos espaços comunitários preexistentes (como escolas, igrejas, associação de moradores, entre outros). Esses encontros visam à escuta, registro e reflexão dessas pessoas sobre suas percepções relacionadas aos problemas daquela coletividade, à construção de propostas e à busca pelos meios de implementá-las. Outro método utilizado para obter essas informações e articulá-las em um Diagnóstico Situacional do território é o da Estimativa Rápida Participativa (ERP). Essa metodologia de diagnóstico comunitário abarca não só os elementos físicos, os aspectos demográficos e epidemiológicos da população residente, mas também suas relações, suas percepções e movimentos. Em uma UBS, a ERP pode ser um importante passo no planejamento, envolvendo trabalhadores e usuários na definição das intervenções necessárias para o enfrentamento dos problemas de saúde. A ERP valoriza as dimensões dialógica, pedagógica e participativa do diagnóstico comunitário, pois compreende o pressuposto de que a doença é uma manifestação do indivíduo, e a situação de saúde envolve o lugar onde se mora, trabalha ou busca o lazer. Compreende que os lugares e seus diversos contextos sociais, dentro de uma cidade ou região, são resultado de situações e relações históricas, ambientais, sociais e políticas que promovem condições particulares para a produção de saúde e doença (TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 1998). A ERP vem sendo aplicada como um método que apoia o planejamento participativo das UBSs e das eSF no sentido de contribuir para a identificação das necessidades de saúde de grupos distintos, inclusive daqueles menos favorecidos, pela própria população, em conjunto com os profissionais de saúde. Esse método de análise reúne algumas vantagens: simplicidade; baixo custo; rapidez e informações específicas de populações definidas (TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 1998). A ERP apoia-se em três princípios conforme a Figura 8: Coletar dados pertinentes e necessários; Coletar informações que reflitam as condições locais e as situações específicas; Envolver a comunidade na definição de seus próprios problemas e na busca de soluções. Permite, dessa forma, conciliar o conhecimento teórico com o saber prático, de modo a facilitar a tomada de decisão e desenvolver o planejamento local em conjunto com a própria comunidade que recebe e avalia o serviço (SANTOS, 1998). A ERP trabalha, fundamentalmente, com as seguintes etapas: • Busca de dados sobre o território em fontes primárias e secundárias; • Reconhecimento do espaço por meio da observação de campo; • Realização de entrevistas com informantes-chave; • Análise dos temas e das percepções das entrevistas; • Devolutiva dos resultados encontrados. FIGURA 8 – PRINCÍPIOS DA ERP 110Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.1.5.1 Busca de dados sobre o território em fontes primárias e secundárias No processo de diagnóstico, caro trabalhador estudante, você deve, inicialmente, buscar as informações sobre a região e a área a ser conhecida pela unidade de saúde. Em geral, você deve buscar os dados censitários e os registros epidemiológicos dos sistemas de informação, como o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o Sistema de Informação de Agravos de Notificação e o Sistema de Vigilância Epidemiológica (SINAN e SIVEP), o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), o e-SUS Atenção Primária e o e-SUS notifica, que organizam o prontuário eletrônico e as notificações de vigilância epidemiológica. Outras fontes de dados que podem ser úteis são os registros das empresas fornecedoras de serviços públicos (saneamento, luz, entre outros) ou órgãos de planejamento municipais. Contudo, os dados provenientes desses sistemas são agregados e, na maioria das vezes, não conseguem expressar as características das populações de microrregiões. 3.1.1.5.2 Reconhecimento do espaço por meio da observação de campo Na observação do território, é aconselhável primeiro percorrer a área munido de um mapa. Esse reconhecimento inicial dará uma ideia, mesmo que superficial, importante para uma divisão empírica do território em microáreas, que na próxima etapa será aprimorada. Sem isso, o trabalho de observação de campo, propriamente dito, torna-se mais difícil, assim como a divisão do território (TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 1998). A observação de campo tem uma técnica peculiar nesse método de pesquisa. Cada dia deve ser previamente planejado, de acordo com as observações do dia anterior e as pistas das entrevistas que vão sendo realizadas. O objetivo do trabalho de campo é reconhecer os elementos físicos e sociais que constituem determinado território e, com base nessas observações, identificar microáreas de risco e definir esses riscos. Esse processo compreende ações como examinar o ambiente físico da área: características locais de infraestrutura urbana, como rede de esgoto, arruamento, limpeza urbana e condições de habitação. Também cabe à equipe examinar os tipos de serviço público oferecidos quanto à acessibilidade, qualidade e adequação à demanda. 3.1.1.5.3 Realização de entrevistas com informantes- chave Na escolha dos informantes-chave, a equipe buscará identificar indivíduos que, por sua inserção na comunidade, sejam capazes de representar os pontos de vista da coletividade. Exemplos de informantes são: funcionários da saúde formais e informais – benzedeiras, curandeiros, entre outros –, professores, crecheiras, líderes comunitários, dono da farmácia local, moradores antigos, moradores que participam ativamente da vida da comunidade, entre outros. É necessário estar atento à situação e à organização de cada território para definir, em cada caso particular, o elenco de informantes adequado (PESSOA et al., 2013). Tenha sempre em mente, trabalhador estudante, que o objetivo da entrevista não é conhecer a opinião pessoal do entrevistado, mas apreender seu conhecimento sobre o território. Assim, é recomendado que cada questão foque em uma única ideia, simples e objetiva, evitando influenciar a resposta com estrutura como: “Você não acha que...”, “Não é verdade que...” e semelhantes. As perguntas precisam ser feitas em uma linguagem acessível ao entrevistado, portanto é importante evitar termos técnicos. Não há uma receita pronta do roteiro. Ele deve ser moldado a cada território. Independentemente disso, recomenda-se que se incluam algumas questões gerais, como referências históricas, características do solo, do meio ambiente, socioeconômicas e políticas, necessidades de saúde, doenças identificadas e riscos percebidos. 111Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectivada Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.1.5.4 Análise dos temas e das percepções das entrevistas As respostas dos questionários devem ser contex- tualizadas com as observações de campo e com os dados agregados dos sistemas de informação. Nas falas dos entrevistados, você precisa identificar os temas e fatos que são expressos, a forma como os entrevistados hierarquizam os problemas e as cau- sas que atribuem aos problemas identificados. 3.1.1.5.5 Devolutiva dos resultados encontrados A perspectiva participativa da ERP ocorre no planejamento do diagnóstico, mas se torna mais palpável no momento da devolutiva. Ao apresentar o resultado das análises realizadas para a comunidade, a equipe valida o que foi encontrado e mobiliza a população para refletir sobre sua realidade. Neste processo, a população pode reconhecer e hierarquizar seus problemas de saúde, os riscos e vulnerabilidades que confrontam no cotidiano. Por outro lado, ao vislumbrar os recursos e potencialidades comunitárias e as instituições públicas e privadas existentes e sua capacidade de mobilização, os moradores podem compartilhar a construção do plano de ação a ser desenvolvido. O resultado da ERP e de métodos como o mapa falante pode ser o reconhecimento dos serviços, equipamentos e agentes públicos e privados que podem ser integrados em uma rede de ações setoriais e intersetoriais de modo a enfrentar os problemas identificados no território e promover a saúde e a qualidade de vida dos seus moradores. O ecomapa comunitário, como apresentado na Figura 9, possibilita a visualização e promove a reflexão sobre as relações existentes entre a comunidade e os elementos que compõem essa rede (FERRAZ; ANDERSON, 2021). Fonte: Ferraz e Anderson (2021, p. 46). FIGURA 9 – EXEMPLO DE ECOMAPA COMUNITÁRIO Direitos Humanos Conselho Tutelar UPP Caliel Calça Larga TearRádio EMBGD PROINAPE CRAS CREAS CAPS Cacique Quadra Associação de moradores Fundação Leão XIII Palanque da Pedra Creche Raízes Tocando em VocêBiblioteca Jurema SALGUEIRO    112Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Considerando o conceito ampliado de saúde, a importância dos DSS e as concepções de território e de território em saúde, vamos refletir sobre a vigilância em saúde com base nos territórios. O desenvolvimento do SUS imprimiu a necessidade de construção de um modelo de atenção que integrasse os conhecimentos e técnicas provindos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais em saúde na identificação e abordagem dos agravos que acometem indivíduos e suas coletividades. Esse modelo integrado é denominado de vigilância em saúde, que trabalha com um deslocamento da sua base conceitual, do exclusivo controle e/ou erradicação dos agentes causadores de doenças para a compreensão das relações sociais que definem a desigualdade. Incorpora a noção de risco e vulnerabilidade (MALAGÓN-OVIEDO; CZERESNIA, 2015), por meio da identificação dos fatores de risco envolvidos na determinação das enfermidades, não só as infectocontagiosas, mas principalmente as crônico-degenerativas. Segundo Eisenstein e Souza (1993), deve-se ter clareza da diferenciação entre os conceitos de risco e fatores de risco com o de vulnerabilidade. Assim, risco corresponde a uma ideia geral sobre a possibilidade de exposição e ocorrência de algum evento indesejável. O conceito de fator de risco, por sua vez, se dirige, mais especificamente, aos elementos com grande probabilidade de desencadear um determinado evento indesejado, ou maior chance de adoecer ou morrer. Contudo, usualmente, não há uma relação direta e fechada entre um fator de risco e um determinado evento. Existe, sim, uma associação de causas e efeitos múltiplos que interagem no aumento da probabilidade ou dos desencadeamentos do evento. Durante a epidemia de HIV/AIDS foi percebido que a noção de risco e de fator de risco, assim como de comportamento de risco, não abrangia a complexidade das situações vividas pelas pessoas relacionadas à efetividade das medidas de proteção e prevenção da infecção por HIV. A crítica ao determinismo e à ideia de uma causalidade direta oriundas da noção de fator de risco, aliada à preocupação com o preconceito e estigmatização de pessoas e grupos sociais devido a seus comportamentos, deu origem ao conceito de vulnerabilidade. A vulnerabilidade na saúde, por sua vez, configura-se em uma dinâmica de interdependência recíprocas que exprimem valores multidimensionais – biológicos, existenciais e sociais. Compreende situações que envolvem os comportamentos sociais e aumentam a exposição aos agravos à saúde, leva em consideração as condições e capacidades de agência dos próprios indivíduos e os grupos sociais. O domínio desses conceitos é importante para pensarmos a vigilância em saúde e as medidas de prevenção e de promoção. O que desencadeia o processo de planejamento da vigilância em saúde é a territorialização do sistema municipal de saúde, isto é, o reconhecimento e o esquadrinhamento do território municipal e das regiões ou bairros do município segundo a lógica das relações entre condições de vida, saúde e acesso às ações e serviços de saúde. Dessa forma, a vigilância em saúde pode incorporar e superar formas de organização da atenção que fragmentam prevenção e promoção à saúde das ações de cura e reabilitação, pois relaciona as realidades e necessidades em saúde, os agravos e os determinantes sociais e culturais com as intervenções (MONKEN; BARCELLOS, 2005). Busca-se, nesse empreendimento, superar a dicotomia entre as chamadas práticas coletivas (vigilância epidemiológica e sanitária) e as práticas individuais (assistência ambulatorial e hospitalar) por meio da incorporação das contribuições da nova geografia, do planejamento urbano, da epidemiologia, da administração estratégica e das ciências sociais em saúde, tendo como suporte político- institucional o processo de descentralização e de reorganização dos serviços e das práticas de saúde no âmbito local (MONKEN; BARCELLOS, 2005). Portanto, o papel de reorientar as práticas em saúde para sua estruturação em âmbito local cabe à APS. A ESF representa, no Brasil, a reorientação do modelo de atenção. Neste novo modelo, a APS, em virtude de seus atributos essenciais e derivados, torna-se a porta de entrada do sistema de saúde, a promotora da integralidade e responsável pela coordenação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) (MONKEN; BARCELLOS, 2005). A proximidade com o território, a acessibilidade dela decorrente, a integralidade das intervenções e a responsabilidade sanitária das equipes e serviços fazem da APS elemento central da organização das ações de vigilância em saúde. 3.1.2 A VIGILÂNCIA EM SAÚDE COM BASE NOS TERRITÓRIOS 113Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde 3.1.2.1 A vigilância em saúde na pandemia de Covid-19 e a potencialidade das intervenções comunitárias com base nos territórios adscritos às Unidades Básicas de Saúde Nas últimas duas décadas, as eSF vêm sendo um elemento central no enfrentamento e na vigilância em saúde de emergências sanitárias como a endemia de dengue, as epidemias de zika e chikungunya, e, a partir de 2020, confrontaram a pandemia de Covid-19. O surgimento dessas crises sanitárias impactou, diretamente, as condições de saúde individuais e comunitárias e a desigualdade da população brasileira. Agravou as situações de vulnerabilidade e a elas se somaram a carga de doença produzida pelas doenças crônico-degenerativas e as consequências das diversas formas de violência nos territórios mais marginalizados social e economicamente. A proximidade e a responsabilidadesanitária com a população obrigaram que as equipes fossem responsáveis por compatibilizar as ações preventivas e curativas a esses agravos, ao mesmo tempo em que precisavam manter as atividades voltadas às linhas de cuidado e aos riscos da população adscrita. O conhecimento das eSF sobre o território em que atuam possibilita a identificação de microáreas e famílias de maior risco e suas fragilidades sociais e culturais para promover ações preventivas individuais e coletivas. Por outro lado, as equipes podem conhecer os recursos materiais e institucionais presentes no território que possam ser parceiros nas ações de vigilância em saúde. A recente pandemia de Covid-19 ensinou muito sobre a importância de valorizar a APS nas ações de vigilância em saúde com base territorial. Muitas cidades e regiões, inicialmente, não valorizaram as possibilidades que poderiam ser criadas pelos recursos da ESF, mesmo reconhecendo sua ampla cobertura assistencial em todos os municípios brasileiros e sua organização com base territorial (FAVORETO, 2020). A evolução da pandemia nos mostrou, inicialmente, uma primeira fase, caracterizada pelo contágio em progressão geométrica que levou a uma enormidade de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e, consequentemente, de óbitos. Posteriormente e acumuladamente, em decorrência das medidas de isolamento e das barreiras de acesso para conter a transmissão da infecção viral, ocorreu o que foi denominado de segunda onda. Essa foi representada pelas demandas de saúde e sociais que se acumulavam devido à desassistência a portadores de doenças crônicas, aos efeitos sociais e psicológicos do isolamento e à perda de renda, assim como à necessidade de ampliar o acesso e a vigilância de novos casos (FAVORETO, 2020). Você também deve ter percebido que a pandemia é um processo heterogêneo, já que ocorre de formas diversas nos diferentes estados, municípios, bairros e territórios do país, e que há forte relação entre a transmissão da infecção e suas consequências mais graves com grupos populacionais submetidos a situações de maior vulnerabilidade. 114Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Foram emblemáticas as dificuldades vivenciadas por grupos mais vulneráveis em favelas no Rio de Janeiro e em São Paulo, assim como as vividas pelas populações ribeirinhas e comunidades indígenas no Norte do país. Para esses grupos, as medidas preventivas ou curativas se mostraram insuficientes e inadequadas às suas realidades. A importância da implementação e do ajuste contínuo das medidas de saúde pública e sociais é ressaltada pelo relatório publicado em 4 de novembro de 2020 pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). A proximidade da APS com esses grupos mais vulneráveis, muitas vezes moradores de comunidades faveladas e violentas, promoveu impacto no acesso aos serviços de saúde dos pacientes sintomáticos respiratórios, na coleta e contextualização das informações sobre os casos, na busca dos comunicantes, na estruturação de ações de vigilância e educação em saúde capilarizadas e contextualizadas às realidades sociais, ambientais e culturais, e, principalmente, no desenvolvimento de redes de proteção social e atenção à saúde mental factíveis nesses contextos de maior vulnerabilidade e de dificuldades de acesso à assistência à saúde e ao suporte social. Nesse período da pandemia, evidenciou-se que a ampliação do acesso e a capacidade de desenvolver ações preventivas e de educação em saúde, culturalmente e socialmente apropriadas, dependem, diretamente, de uma APS forte. Exemplos dessas ações foram a incorporação de novas tecnologias de comunicação ao monitoramento de pessoas e famílias em isolamento em seus domicílios e/ou investimentos em ações intersetoriais que garantiram a subsistência de famílias empobrecidas com a pandemia e em situação de insegurança alimentar. Percebeu-se, nesse sentido, a relevância do trabalho dos ACS e da equipe técnica no contato direto com as famílias e os territórios. É fundamental realizar ações, que, por um lado, dirijam-se à mobilização de redes de apoio, de lideranças e de organizações, como igrejas, associações, comércio, transporte e mídias locais, e, por outro, foquem no planejamento de fluxos e processos de trabalho nas unidades básicas, de modo a garantir maior acesso, segurança dos profissionais e dos usuários, continuidade e integralidade do cuidado. 115Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde Nesta unidade, verificamos a importância da APS, notadamente dos ACS em contexto de pandemias. Da mesma maneira, é fundamental o entendimento da importância do Território e dos DSS na capacidade dos indivíduos e famílias seguirem orientações preventivas quanto à mitigação dos riscos de contaminação. Por outro lado, entender o território como espaço vivo de ação em saúde implica também mapear redes de apoio, entender as relações entre indivíduos, famílias e instituições, incluindo o terceiro setor, e perceber possibilidades de construção de caminhos com foco na integralidade da atenção, de forma muitas vezes intersetorial. Além disso, conhecer os fatores de risco e vulnerabilidade presentes no território ajuda no entendimento da capacidade de resiliência de famílias e da própria comunidade, contribuindo para uma ação educativa em saúde mais contextual e, portanto, mais efetiva. ENCERRAMENTO DA UNIDADE 116Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.1 Territorialização em Saúde REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 set. 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 4 ago.2021. BRASIL. Ministério da Saúde. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil: Relatório Final da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. 2008. 216 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf. Acesso em: 4 ago. 2021. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 15 ago. 2021. BRITO, F. A transição demográfica no Brasil: as possibilidades e os desafios para a economia e a sociedade. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2007. BUSS, P. 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PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS : síntese de indicadores 2015 / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. - Rio de Janeiro : IBGE, 2016. 108p PESSOA, V. M. et al. Sentidos e métodos de territorialização na atenção primária à saúde. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 18, n. 8, p. 2253-2262, 2013. DOI: 10.1590/S1413-81232013000800009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/mHwc3y7WHkVF6tGb7k8JS3J/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 4 ago. 2021. PIOVESAN, M. F. et al. Vigilância Sanitária: uma proposta de análise dos contextos locais. Rev Bras Epidemiol., v. 8, n. 1, p. 83-95. 2005. DOI: 10.1590/S1415-790X2005000100010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/LxYtJ65zDgQzdcDZZmBWnZj/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 4 ago. 2021. SANTOS, C. M. R. G. A Pesquisa de Estimativa Rápida: instrumento de Relações Públicas nas organizações. Recife, 1998. 16 p. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/ pdfs/8dcd543ce66a5dc60c56a704e41d3f61.PDF. Acesso em: 4 ago. 2021. 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Fez residência médica em Doenças Infectoparasitárias (1985, Hospital Universitário Pedro Ernesto-UERJ). Mestrado em Saúde Coletiva (2002) e doutorado em Saúde Coletiva (2007) no Instituto de Medicina Social da UERJ. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Medicina Integral, Familiar e Comunitária da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenador da Comissão Acadêmica Local do Mestrado PROFSAUDE da Faculdade de Ciência Médicas. Membro do corpo permanente do Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua na interface entre a Clínica Médica e a Saúde Coletiva, com ênfase em Atenção Primária à Saúde,Medicina da Família, Educação Médica, Medicina Narrativa e Clínica Ampliada. E-mail: cesarfavoreto@globo.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7733-491X Lattes: http://lattes.cnpq.br/0995629202662602 mailto:cesarfavoreto@globo.com https://orcid.org/0000-0002-7733-491X http://lattes.cnpq.br/0995629202662602 Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais Unidade 3 Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde 3.2 Geoprocessamento em Saúde Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento Caro trabalhador estudante, você sabia que as redes urbanas e as dinâmicas de mobilidade influenciam a propagação e a evolução do número de casos das doenças transmissíveis? Essas características foram evidenciadas na pandemia de Covid-19. Os desafios para garantir o acesso aos serviços de saúde, as adequadas condições para prevenção e tratamento e os distintos caminhos da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no território brasileiro exigem, pela complexidade do problema, uma abordagem interdisciplinar do tema, que possibilita compreender melhor a pandemia no país. Nesta unidade, assim, apresentamos conceitos importantes sobre o geoprocessamento e o uso do Sistema de Informação Geográfica (SIG) como metodologia estratégica que interliga a epidemiologia e a geografia, para a realização de análises espaciais. Será abordada também a importância do espaço geográfico e seu significado político no contexto de saúde. Ao apresentar os elementos da linguagem cartográfica, o objetivo central desta unidade é instrumentalizar você, trabalhador estudante, para que possa compreender os mapas temáticos e utilizá-los como ferramenta para a vigilância em saúde, independentemente do local onde você atua. O uso de tecnologias de geoprocessamento possibilita a caracterização e análise dos dados espaciais para a resolução de problemas complexos de planejamento e gestão, apoiando a tomada de decisão, especialmente no enfrentamento de desastres e epidemias. Vamos aprender mais sobre geoprocessamento em saúde? Vem com a gente! APRESENTAÇÃO DA UNIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE 1. Conhecer o conceito de geoprocessamento em saúde, suas principais características e aplicações na avaliação de riscos e no planejamento de ações de saúde coletiva; 2. Conhecer o conceito de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e a sua aplicabilidade à vigilância em saúde; 3. Reconhecer a importância do espaço geográfico e de seu significado político no contexto da saúde; 4. Compreender a linguagem cartográfica e sua aplicação na vigilância em saúde; 5. Interpretar mapas de risco à saúde como ferramenta para o enfrentamento da Covid-19 e de outras doenças virais. Carga horária de estudos: 15 horas 3.2 GEOPROCESSAMENTO EM SAÚDE Você conhece o geoprocessamento e sua aplicação na área da saúde? Para facilitar a compreensão, o geoprocessamento é “um conjunto de técnicas de coleta, tratamento, manipulação e apresentação de dados espaciais” (BRASIL, 2006, p. 47). Muita gente não se dá conta, mas é uma área de conhecimento que envolve diversas disciplinas, como a Cartografia, a Computação, a Geografia e a Estatística, permitindo a análise conjunta de uma gama de variáveis socioambientais (BARCELLOS et al., 2008; BRASIL, 2006). Na área da Saúde Coletiva, é crescente a aplicação do geoprocessamento para o mapeamento de doenças, a avaliação de riscos, o planejamento de ações e a avaliação das redes de atenção à saúde (BRASIL, 2007). Apesar de o uso do geoprocessamento na área de saúde ser relativamente recente, principalmente no Brasil, a formulação de hipóteses etiológicas com base na distribuição geográfica dos eventos sempre foi adotada pela epidemiologia. Você se lembra do trabalho pioneiro de John Snow? Datado de 1854, ilustra o poder do mapeamento e dos sistemas geográficos para responder questões relacionadas à saúde coletiva. Durante uma epidemia de cólera, ocorrida em Londres, na década de 1850, o médico inglês incorporou intuitivamente a categoria espaço às análises de óbitos pela doença. Ao sobrepor mapas de abastecimento público de água a mapas contendo os locais de morte por cólera, ele foi capaz de identificar pontos vulneráveis e uma associação entre o fornecimento de água e as mortes pela doença (BRASIL, 2006). PARA REFLETIR No processo de investigação de doenças, algumas perguntas precisam ser respondidas. Se to- marmos o exemplo anteriormente descrito, podemos perguntar: Como se transmite o cólera? Em quais locais as pessoas têm maior risco de contrair a doença? Onde estão as maiores taxas? A primeira questão, sobre a forma de transmissão, não pode ser resolvida pelo geoprocessa- mento. Entretanto, para as demais, o geoprocessamento é um poderoso instrumento de análise. 123Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.1 Introdução à unidade: a relação entre espaço geográfico e saúde Você já parou para pensar na relação entre espaço geográfico e saúde? Pois é, a categoria espaço tem sido utilizada, de forma crescente, no campo da saúde, e os espaços são territórios e lugares onde fatos acontecem simultaneamente, mas suas repercussões são sentidas de maneiras diferentes (GONDIM et al., 2008). Para o geógrafo Milton Santos, o espaço geográfico é o conjunto de relações realizadas por meio de funções (produção, circulação e consumo) e formas (objetos geográficos). Os objetos geográficos são tudo que existe na superfície da Terra, toda herança da história natural e todo resultado da produção humana que se concretizou, ou seja, aquilo que se cria fora do homem e se torna instrumento material de sua vida. Os objetos geográficos possibilitam e potencializam as ações humanas e podem produzir ou ampliar, em decorrência de sua utilização e qualidade, problemas para a saúde humana (BRASIL, 2006; SANTOS, 2006). A utilização de informações veiculadas em mapas para melhor entendimento da ocorrência de doenças é uma prática que ocorre há mais de um século. Os mapas podem ser considerados instrumentos extremamente úteis para se conhecer melhor o espaço onde vivem e atuam as pessoas, pois permitem a representação de aspectos concretos do espaço geográfico (BRASIL, 2006). No Brasil, a disciplina Geografia Médica influenciou positivamente a análise do espaço geográfico no setor Saúde, institucionalizada pelos croquis de localidade, produzidos pelo setor de cartografia da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde (SUCAM) (BARCELLOS; RAMALHO, 2002). Fatores culturais, econômicos, demográficos e ambientais estão presentes em todas as escalas em que o espaço é representado, mas é provavelmente na escala global que as variáveis culturais apresentam as maiores diferenças. Esses contrastes, porém, são observados na escala nacional, regional e local, mesmo que com menor intensidade (BARCELLOS; BASTOS, 1996). Você sabia que aproximadamente 80% das necessidades de informações necessárias à tomada de decisão e formulação de políticas locais de saúde estão relacionadas à localização geográfica (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1996; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007)? Nesse contexto, as análises espaciais tornaram-se um instrumento essencial para a saúde pública, fazendo do uso de tecnologias de geoprocessamento ferramenta valiosa para resolver problemas complexos e apoiar a tomada de decisão, especialmente no enfrentamento de desastres e epidemias (DALEY et al., 2015; REX; BORGES; KÄFER, 2020; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007). 3.2.2 Análises espaciais em saúde Quando falamos de espaço geográfico, Harvey (1980, p. 20) o define como “complexo, não homogêneo, talvez descontínuo e quase certamente diferente do espaço físico”. A delimitação do objeto, dos objetivos e das hipóteses de um estudo é que impõe uma homogeneizaçãoda unidade de análise, no interior da qual não é possível observar diferenças espaciais. Apesar de o geoprocessamento permitir a construção e operação de bases cartográficas em diversas escalas, a estrutura inter-relacional dos bancos de dados fixa um modelo de agregação de dados por unidade espacial (BARCELLOS; BASTOS, 1996). 124Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde É importante que você saiba que a menor unidade territorial é o setor censitário, formado por “área contínua, integralmente contida em área urbana ou rural, com dimensão adequada à operação de pesquisas e cujo conjunto esgota a totalidade do território nacional” (IBGE, 2010, p. 3), o que permite assegurar a plena cobertura do país. Por ser delimitada apenas para critérios operacionais, essas áreas sofrem alterações a cada censo, dificultando análises espaçotemporais (IBGE, 2010; CARDOSO et al., 2020). A definição da unidade de análise depende de critérios geográficos, cartográficos e da disponibilidade dos dados a serem utilizados, sendo, portanto, fundamental para o entendimento dos fenômenos em saúde. Entre as técnicas de geoprocessamento mais utilizadas estão o sensoriamento remoto, a cartografia digital, a estatística espacial e os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) (BRASIL, 2006). O sensoriamento remoto é a “técnica de obtenção de informações acerca de um objeto, área ou fenômeno localizado na Terra, sem que haja contato físico com o mesmo” (IBGE, 2021a). As informações podem ser obtidas pela “radiação eletromagnética, gerada por fontes naturais (sensor passivo), como o Sol, ou por fontes artificiais (sensor ativo), como o radar. São apresentadas na forma de imagens, sendo mais utilizadas, atualmente, aquelas captadas por sensores óticos orbitais localizados em satélites” (IBGE, 2021a). Com base nessas imagens, algumas disponíveis gratuitamente na internet, podem ser obtidos dados sobre o uso e ocupação do solo, cobertura vegetal, temperaturas e umidade. Dados sobre uso e ocupação do solo, por exemplo, poderiam ser úteis na identificação de áreas de risco para a presença de vetores, como o Aedes aegypti, transmissor de vários arbovírus (dengue, febre amarela, zika, chikungunya e mayaro) (CHIARAVALLOTI NETO, 2006). Um sistema de cartografia digital ou cartografia assistida por computador pode ser compreendido como um conjunto de ferramentas, incluindo programas e equipamentos, orientado para a conversão para o meio digital, armazenamento e visualização dos dados espaciais (IBGE, 2019; 1999). As técnicas de análise espacial são aquelas aplicadas aos dados com distribuição espacial, que consideram a dependência espacial desses dados. A análise espacial está relacionada com a chamada primeira lei da Geografia, que diz que os fenômenos se parecem, mas são tanto mais parecidos quanto mais próximos entre si. Se há ocorrência de casos de leishmaniose visceral humana em um bairro de uma cidade, é razoável imaginar que esse agravo também possa estar ocorrendo nos bairros vizinhos (CHIARAVALLOTI NETO, 2006). O SIG é um conjunto de sistemas de softwares e hardwares capazes de armazenar, processar e analisar inúmeras informações sobre o espaço geográfico, tendo como produto final mapas temáticos, cartas topográficas, gráficos e tabelas (IBGE, 2019). Os SIGs desempenham um papel importante nos cuidados de saúde, na vigilância de doenças infecciosas e no mapeamento e monitoramento da distribuição espacial e temporal dos vetores de infecção (SHAW; MCGUIRE, 2017), por isso vamos aprender um pouco mais sobre eles. 125Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.3 Sistema de Informação Geográfica (SIG) Você já tinha ouvido falar do SIG? No geoprocessamento, o SIG pode ser definido como um “conjunto integrado de ferramentas, em um sistema automatizado, capaz de coletar, armazenar, manipular, analisar e exibir informações geograficamente referenciadas” (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1996, p. 1, tradução nossa), relacionando dois tipos de dado: os espaciais e os de atributos. Os dados espaciais (também chamados de geográficos ou de localização) consistem em objetos gráficos do mapa (limites políticos, territórios, entre outros). Já os dados de atributos são as variáveis descritivas que caracterizam ou se relacionam com a base geográfica (perfil socioeconômico, o tipo de clima, o tipo de vegetação, a taxa de mortalidade, entre outros). Dessa forma, o SIG é uma metodologia que interliga a epidemiologia e a geografia, fornecendo instrumentos para a caracterização e análise dos dados espaciais (BONFIM; MEDEIROS, 2008). Cada SIG é estruturado com base em cinco componentes fundamentais (FLETCHER-LARTEY; CAPRARELLI, 2016): a) Dados referenciados espacialmente, coletados e armazenados em uma base de dados relacional, ou seja, um sistema de informação do qual os dados podem ser recuperados pela formulação de consultas lógicas; b) Hardware, que armazena fisicamente os dados e as ferramentas de processamento; c) Software, que monta os algoritmos de interface do usuário, pelos quais os usuários acessam o banco de dados, consultam e analisam os dados; d) Algoritmos e procedimentos de gerenciamento de dados; e) Pessoas, tanto produtoras quanto consumidoras de dados espaciais. Cada um desses componentes incorpora vários níveis de complexidade, dependendo do escopo e da escala para os quais o SIG é usado. Dentre as funcionalidades de um SIG, destacam-se (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1996; BRASIL, 2006): • Captura de dados espaciais para elaboração de mapas; • Gerenciamento de banco de dados, ou seja, armazenamento, tratamento e integração de dados referenciados geograficamente, de diferentes origens; • Recuperação ou localização de dados geográficos; • Análise de dados, incluindo a capacidade de definir condições como adjacência, inclusão e proximidade; • Produção de saídas de dados em vários formatos, como mapas, gráficos e tabelas; • Elaboração de mapas temáticos de alta qualidade, com a possibilidade de se empregarem diferentes formatos de saída e ferramentas de edição, simultaneamente. O SIG E A VIGILÂNCIA EM SAÚDE As principais características de um SIG, que interessam particularmente à vigilância em saúde, são: • Capacidade de relacionar dados tabulares (não gráficos) com cartográficos; • Sobreposição e integração entre diferentes camadas; • Capacidade analítica (buscas, estatísticas, gerência de banco de dados, entre outros). 126Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde A alimentação de um SIG pressupõe a captura, importação, validação e edição de dados. Mas, afinal, o que são dados? Dados e informações são sinônimos? Você alguma vez pensou sobre isso? 3.2.3.1 Aquisição de dados Bem, os dados podem ser definidos como símbolos quantificáveis, que representam numericamente um fato ou uma circunstância. É o número bruto, que ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento estatístico, podendo ser considerado a matéria-prima para a produção da informação (exemplo: o número de casos de Covid-19 no último mês, no seu município). O dado, por si só, não traduz a realidade, mas pode expressar algo quando é adequadamente interpretado e analisado. Já a informação, por sua vez, é entendida como o conhecimento construído com base em dados já manipulados, ou o resultado da análise e combinação de vários dados, o que implica a interpretação por parte do usuário (COLUSSI; PEREIRA, 2016). A ilustração a seguir (Figura1) é para facilitar sua compreensão da diferença entre dados e informação. FIGURA 1 – DIFERENÇA ENTRE DADOS E INFORMAÇÃO Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina (2016). Os dados podem ser classificados em primários ou secundários. Os dados primários são aqueles que ainda não foram coletados e sistematizados, podendo ser obtidos por meio de entrevista, registro em prontuário ou observação in loco. Os dados secundários já foram coletados por outras pessoas ou instituições e organizados em bancos de dados de órgãos oficiais, tais como o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou por sistemas de informação implantados em instituições públicas ou privadas. A fase de coleta dos dados e construção das bases de dados é a mais onerosa e que demanda maior tempo no processo de implementação do sistema. Apesar da existência de uma grande quantidade de dados em meio digital, disponíveis e atualizados, ainda há muitos problemas de compatibilização entre bases de dados distintas e de georreferenciamento de dados, principalmente a baixa qualidade das informações de endereços (BRASIL, 2006; SKABA et al., 2004). 127Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde Para a construção da base de dados geográficos ser eficiente, é necessário que haja um planejamento cuidadoso, com a definição prévia dos objetivos a serem alcançados, evitando-se a coleta excessiva ou insuficiente de dados. Assim, ao se iniciar um projeto de SIG, é importante ter em mente para quais perguntas se procuram respostas. Em face dessas perguntas, é preciso selecionar os dados que serão necessários na busca das soluções para o problema. Nessa fase de modelagem de dados (Figura 2), determinam-se quais dados entrarão no sistema (camadas de informação), qual a estrutura em que ficarão armazenados (vetorial ou matricial), qual a maneira de os representar (pontos, linhas ou áreas), quais os relacionamentos que terão entre si e quais os atributos. Essa fase de modelagem é fundamental para o sucesso de implementação de um SIG (BRASIL, 2006). FIGURA 2 – MODELAGEM DE DADOS POR UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) SIG Mundo real – perguntas a serem respondidas Aquisição e manipulação de dados Planejamento e tomada de decisão Saída de produtos de informação Análise dos dados para gerar informações Fonte: elaboração da autora. Diversas bases e/ou sistemas de informação disponíveis podem ser utilizados como fonte de dados. Dentre as formas de aquisição, destacam-se a importação de dados já existentes em outros formatos, ou a confecção de dados especificamente para introdução no sistema, por meio de técnicas como sensoriamento remoto, digitalização de levantamentos topográficos, digitação de dados em tabela, inquéritos, entre outros. No entanto, é importante que você entenda que existe uma série de condições às quais esses dados devem obedecer, no que diz respeito à sua estrutura, para que possam ser utilizados. Por isso, eles precisam ser analisados, e eventuais incoerências e imperfeições devem ser corrigidas. 3.2.3.2 Gerenciamento de banco de dados O gerenciamento de banco de dados envolve o armazenamento dos dados de forma estruturada, de modo a possibilitar e facilitar a realização das análises. A forma como os dados são estruturados é crucial para o sistema, pois dela dependem os tipos de análise que poderão ser realizados. A um mapa armazenado no SIG podem ser associadas novas informações, provenientes de diversas fontes, permitindo que se incorpore o trabalho de diferentes órgãos e instituições. O SIG permite combinar vários tipos de informação, como dados obtidos em campo por GPS ou por topografia convencional, tabelas, mapas, imagens, entre outros (BRASIL, 2006). 3.2.3.3 Visualização e apresentação cartográfica Você já viu muitos mapas na sua vida e sabe que são a representação gráfica de aspectos geográficos, naturais e artificiais da Terra, em um plano. De forma mais abrangente, pode-se dizer que um mapa é um meio de comunicação e organização de conjuntos de dados e informações que utiliza a linguagem cartográfica. Um SIG necessita de agilidade para utilizar as diversas camadas de dados e exibir esse resultado por meio de mapas de síntese, com boa qualidade gráfica (BRASIL, 2006). Um mapa é, necessariamente, uma abstração da realidade. As variações geográficas do mundo real são infinitamente complexas e, para conter com precisão todos os dados descritivos do mundo real, um SIG teria de ter um banco de dados virtualmente infinito. Dessa forma, os dados armazenados sobre uma determinada região precisam, de alguma maneira, ser reduzidos a um número finito para poderem ser manipulados, ou seja, é preciso abstrair da realidade e selecionar apenas os dados relevantes para cada estudo (SILVA, 2006). 128Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde Muitas pessoas confundem, portanto vale esclarecer: mapa não é uma representação fotográfica da realidade, mas uma representação gráfica. Ao contrário da fotografia, em que todos os elementos visíveis estão presentes, num mapa é preciso encontrar uma solução equilibrada entre a quantidade, a complexidade e o tipo de informação que será representada (BRASIL, 2006). É um erro tentar fazer com que um único mapa responda a diversas questões. Se existir muita informação importante, o ideal é que vários mapas sejam elaborados. Para entender melhor o que estamos falando, temos um exemplo da utilização de vários grupos de dados na elaboração de mapas (Figura 3). FIGURA 3 – REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE-RS Fonte: GEOSAÚDE (2021). (A) – Rede de atenção à saúde do município de Porto Alegre-RS (B) – Territórios e Unidades da Atenção Primária em Saúde do município de Porto Alegre-RS Podemos observar, na Figura 3A, a apresentação de cinco diferentes grupos de dados sobre o município de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul: Gerências de Saúde, Distritos de Saúde, Bairros, territórios da Atenção Primária à Saúde e Serviços especializados (hospitais, centros de apoio psicossocial, unidades de pronto atendimento, farmácias, entre outros). Na Figura 3B, estão apresentadas apenas as unidades de Atenção Primária à Saúde do município. Em virtude do elevado número de dados inseridos na Figura 3A, o mapa ficou extremamente poluído, com sobreposição de dados, dificultando sua adequada análise e interpretação. Se o objetivo fosse avaliar toda a rede de saúde, esse mapa poderia auxiliar, mas a pessoa a analisá-lo precisaria ter consciência das limitações impostas pelo excesso de dados plotados. Se o objetivo fosse avaliar a distribuição de equipes de atenção primária pelo município, a Figura 3B seria a mais adequada. Você percebe a diferença? Não se esqueça que a simplificação de uma imagem facilita a comunicação com o leitor (SILVA, 2006). Assim, sempre que você for usar mapas, estabeleça as perguntas a serem respondidas, pois isso facilitará a escolha dos dados realmente necessários para sua elaboração e indicará a necessidade (ou não) de elaborar mapas diferentes. 129Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde É, você já percebeu que construir mapas interessantes, atrativos e cientificamente corretos não é tão fácil como parece! Não basta ter os dados e saber usar os programas de SIG. É preciso ter conhecimento técnico sobre os princípios da representação gráfica, saber os fenômenos que se querretratar e dispor de dados, além de ter criatividade, bom senso e, obviamente, experiência. Ao construir um mapa, é necessário, ainda, ter em mente os objetivos da representação e o público-alvo. Anota aí: se o mapa é um meio de comunicação, ao construí-lo é preciso saber como “contar a história” (SILVA, 2006). As cores têm significado no mapa e, portanto, não devem ser usadas indiscriminadamente (CASTIGLIONE; PINA, 2004). Algumas cores exercem uma atração mais forte sobre o olhar do que outras, normalmente aquelas que podem ser vistas a uma distância maior. Os tons quentes são os que mais atraem o olhar e, por essa razão, são comumente utilizados para destacar algumas informações. Em um mapa hipsométrico (que representa o relevo), os vermelhos e castanhos estão normalmente associados às maiores altitudes. Como o olho humano percebe inicialmente essas cores, fica a sensação de terceira dimensão relacionada ao relevo. Considerando as variações de uma mesma cor, os tons mais fortes são aqueles que primeiro são percebidos pelo observador e, portanto, devem ser atribuídos às informações de maior destaque (BRASIL, 2006). Outro problema que causa confusão é a utilização de um número de classes muito grande, já que, de modo geral, o olho humano tem dificuldade em distinguir mais do que seis tons da mesma cor ou mais de 12 cores diferentes simultaneamente, se elas não estiverem alinhadas hierarquicamente. Isso significa que, ao olharmos uma sequência de cores (ou tonalidades da mesma cor) na legenda, conseguimos perceber pequenas diferenças, mas, quando olhamos para o mapa, em que as cores (ou tonalidades) estão misturadas, temos dificuldade em fazer a correspondência entre o mapa e a legenda (BRASIL, 2006). Dessa forma, é importante: usar cores para realçar, e não para decorar a apresentação dos dados; testar as cores escolhidas em diversos tipos de mídia: impressão, projeção, monitor de computador, entre outros (SILVA, 2006). 130Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.3.4 Consulta e análise A análise de dados pode ser considerada o principal componente de um SIG, pois possibilita operações de extração e geração de novas informações sobre o espaço geográfico, de acordo com critérios especificados pelo próprio usuário. As operações mais comuns são a pesquisa de dados, a busca de informações segundo algum critério de seleção (exemplos: localização ou proximidade) e a análise espacial, que envolve modelagem e análise de padrões espaciais (BRASIL, 2006). Um importante fator a ser considerado na utilização dos dados espaciais é a adoção de procedimentos que assegurem a confidencialidade dos indivíduos. Por exemplo, quando a incidência e/ou prevalência da condição de saúde avaliada for baixa, cuidados adicionais precisam ser adotados, uma vez que a localização geográfica pode identificar pessoas ou grupos populacionais específicos, o que fere princípios éticos. Assim, um mapa elaborado para a análise de padrões espaciais sempre deve ser avaliado antes de sua divulgação, evitando-se uma identificação com potencial de causar prejuízo para as pessoas e/ou respectivas comunidades. A partir da análise da distribuição espacial de agravos e seus determinantes, pode-se gerar e analisar hipóteses de investigação. Os SIGs permitem responder a algumas perguntas frequentes na vigilância em saúde, como: • A distribuição dos casos de uma doença tem um padrão no espaço? • Existe alguma associação da doença com possíveis fontes de contaminação ou meios de disseminação? • Há evidência de uma determinada doença ser transmitida de indivíduo a indivíduo ou por meio de uma fonte comum? SAIBA MAIS Você conhece algum SIG? Sabe onde baixar ou conhecer mais sobre esse sistema? O QGIS é um SIG construído a partir de um software livre e de código aberto licenciado. Por meio dele é possível criar, editar, visualizar, analisar e publicar informações geoespaciais. O software QGIS e os manuais de instalação e uso podem ser baixados no endereço eletrônico: https://www.qgis.org/en/site/ O ArcGIS é um SIG utilizado para criar, gerenciar, compartilhar e analisar dados espaciais. É possível utilizar a versão on-line (ArcGIS Online) de forma gratuita, mediante criação de uma conta pública, que permite o uso do sistema, mas sem todas as funcionalidades. Outra possibilidade é a criação de uma conta de teste, para experimentar todos os recursos do sistema por 21 dias. Para mais informações, você pode acessar o endereço eletrônico: https://www.esri.com/en-us/arcgis/products/create-account CURIOSIDADE O programa Tab para Windows (TabWin) foi concebido pelo DATASUS com os propósitos de tabular os bancos de dados produzidos pelo SUS, importar dados de outros sistemas, integrar dados, criar indicadores e gerar gráficos e cartogramas. Apesar de não ser um SIG, o TabWin possibilita a criação simples e rápida de cartogramas temáticos, além de ser um dos programas mais utilizados para a recuperação e criação de indicadores no SUS (BRASIL, 2016). O programa e a documentação completa, com o manual de instalação e uso, podem ser obtidos no endereço eletrônico: h t t p s : / / d a t a s u s . s a u d e . g o v . b r / transferencia-de-arquivos/ https://www.qgis.org/en/site/ https://www.esri.com/en-us/arcgis/products/create-account https://datasus.saude.gov.br/transferencia-de-arquivos/ https://datasus.saude.gov.br/transferencia-de-arquivos/ 131Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.4 Fontes nacionais de dados sobre saúde e ambiente A forma de obter dados da área da saúde é diferente da forma que se obtêm dados de outros campos em que o SIG pode ser aplicado. Dados sobre as condições de saúde das pessoas devem ser buscados ativamente, por meio de inquéritos e censos, ou passivamente, pelos sistemas de informação e vigilância em saúde. A própria representação das doenças, que será captada por esses instrumentos, é uma construção histórica e social. Assim, as bases cartográficas digitais, que muitas vezes são o produto de projetos de geoprocessamento, constituem apenas o ponto de partida para as análises espaciais de saúde (BRASIL, 2006). Dentre os diversos Sistemas de Informação em Saúde implantados no Brasil, alguns destacam-se por sua utilização em análises de dados espaciais para a vigilância em saúde, como o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), o Sistema de Informação sobre Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) (BRASIL, 2006). Com o avanço da pandemia de Covid-19 no país e, consequentemente, com o aumento expressivo no volume de dados de notificação, houve o fortalecimento e a expansão do sistema de Vigilância Epidemiológica, com a disponibilização de uma nova plataforma para a notificação de Síndrome Gripal (SG) suspeita e confirmada de Covid-19, o e-SUS Vigilância Epidemiológica (e-SUS VE), atualmente denominado e-SUS Notifica. Por ser on-line, possibilita que todos os níveis de gestão, profissionais e unidades de saúde tenham acesso em tempo real às notificações realizadas (BRASIL, 2021). SAIBA MAIS Para mais informações sobre o e-SUS Notifica, você pode acessar a página disponível em: https://datasus.saude.gov.br/notifica/ Nessa página, além de informações gerais do sistema, estão disponíveis os dicionários de dados e o guia de utilização de API (Application Programming Interface, que significa, em português, Interface de Programação de Aplicativos). https://datasus.saude.gov.br/notifica/ 132Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde| 3.2 Geoprocessamento em Saúde As principais características dos sistemas de informação utilizados em análises de dados espaciais para a vigilância em saúde estão apresentadas no Quadro 1. QUADRO 1 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE UTILIZADOS EM ANÁLISES DE DADOS ESPACIAIS PARA A VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO BRASIL Sistema de Informação em Saúde Características Sistema de Informação sobre Nascido Vivo (SINASC) Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) Sistema de Informação sobre Agravos de Notificação (SINAN) e-SUS Notifica Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP Gripe) Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) Sistema de Informação Ambulatorial (SIA) Sistema de Informação Hospitalar (SIH) Unidade de registro Nascidos vivos Óbitos Agravos notificáveis Síndrome Gripal (SG) suspeita e confirmada de Covid-19 Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) Vacinados Atendimentos ambulatoriais pagos pelo SUS Atendimentos hospitalares pagos pelo SUS Unidade territorial mínima de referência Município e bairro ou distrito Município Fonte de dados Declaração de nascido vivo Declaração de óbito Fichas individuais de notificação Registro do vacinado Boletim de serviços produzidos e autorização de procedimentos de alta complexidade (APAC) Autorização de internação hospitalar (AIH) Aplicação na gestão em saúde Vigilância Planejamento Avaliação Planejamento Avaliação Controle Auditoria Vigilância Planejamento Avaliação Controle Auditoria Principais indicadores para análise da situação de saúde - Proporção de nascidos vivos (NV) de baixo peso - Proporção de NV prematuros - Proporção de NV de mães adolescentes -Mortalidade geral -Mortalidade proporcional -Mortalidade infantil -Mortalidade materna - Taxa de incidência por agravo - Taxa de prevalência - Taxa de letalidade -Cobertura vacinal, por dose - Incidência de evento adverso pós-vacinal - Frequência de atendimentos ambulatoriais - Frequência de procedimentos -Frequência de internações -Frequência de causas de internação Fonte: elaborado pelas autoras a partir de Santos, Barcellos e Soares (2004) e Brasil (2021; 2006). Para a adequada utilização desses sistemas de informação para a vigilância em saúde, alguns desafios precisam ser superados, como: • Aumentar a cobertura dos sistemas de informação; • Garantir a qualidade dos dados, principalmente o diagnóstico correto de doenças; • Aumentar a capacidade de análise de dados no nível local; • Integrar as diferentes bases de dados; • Introduzir variáveis sociais e ambientais nos sistemas de informação em saúde; • Localizar os dados de saúde com exatidão e precisão para permitir seu georreferenciamento. 133Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde No Brasil, há algumas instituições que se destacam na produção de dados cartográficos, como pode ser observado no Quadro 2. QUADRO 2 – INSTITUIÇÕES QUE SE DESTACAM NA PRODUÇÃO DE DADOS CARTOGRÁFICOS NO BRASIL Instituição Sigla Responsabilidade Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE Mapeamento sistemático do Brasil em escalas pequenas (1:25000 e menores) Diretoria de Serviços Geográficos do Exército DSG Divide com o IBGE a responsabilidade pelo mapeamento sistemático Diretoria de Hidrografia e Navegação DHN Geração de cartas náuticas Instituto de Cartografia da Aeronáutica ICA Geração de cartas aeronáuticas Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE Aquisição e disponibilização de imagens de satélite LANDSAT Prefeituras - Levantamento cadastral dos municípios Fonte: Brasil (2006). O georreferenciamento é o processo pelo qual as informações textuais descritivas de uma localidade, com o endereço relacionado a um evento de saúde, são convertidas em representações geográficas válidas. Para a análise da distribuição de casos de SG por Covid-19, podem-se utilizar os dados do e-SUS Notifica georreferenciados segundo endereço residencial, como exemplificado na Figura 4. É importante destacar que dados inconsistentes de endereçamento impossibilitam a localização geoespacial de todos os casos. No exemplo, foi possível georreferenciar 97,11% dos casos de SG (102.405 dos 105.498 notificados) no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, com base nas notificações de casos no e-SUS Notifica. FIGURA 4 – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS CASOS DE SÍNDROME GRIPAL POSITIVOS PARA COVID-19, BELO HORIZONTE, 2021 Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (2021). * Casos de SG = 105.498, sendo 102.405 georreferenciados. 134Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.5 Espaço geográfico e seu significado político O espaço, nos primórdios da história humana, era compreendido como um mero conjunto de complexos naturais. Com o passar do tempo, o espaço tornou-se cada vez menos naturalizado e cada vez mais o resultado da produção histórica, ou seja, da soma e da síntese, sempre refeita, da sociedade com a paisagem, por meio da espacialidade (SANTOS, 2006). O espaço é “a sociedade inserida na paisagem” (SANTOS, 2006, p. 68). Conceitos considerados fundamentais para as ciências geográficas, como paisagem, território e espaço, modificam-se para poder acompanhar as mudanças da realidade social. A paisagem, antes vista meramente como natural, recebe também o significado do espaço social, ou seja, do espaço produzido pelo homem. Entende-se que essa paisagem é mutável e acompanha as modificações ocorridas na sociedade. O mesmo pode ser dito sobre o espaço, isto é, à medida que a sociedade passa por mudanças econômicas, sociais e políticas, o espaço se transforma, visando atender às novas demandas sociais (SANTOS, 2006). Outra noção relevante que queremos reforçar com você é a de que o território contém inúmeros lugares; e lugar é um conceito-chave da Geografia. Nessa porção do espaço, é “onde se desenvolve a trama das relações sociais de cada indivíduo e que se produz a identificação com o lugar” (MENDES; DONATO, 2003, p. 41). Assim, “o significado de cada lugar é dado pelo seu uso: lugar de produzir ou lugar de consumir; lugar de adoecer ou lugar de curar; lugar de amar ou lugar de lutar” (MENDES; DONATO, 2003, p. 41). De acordo com Zambrano (2008, p. 18), o território é uma construção social e “possui uma relação recíproca com as pessoas que o formam, enquanto ele sofre e age sobre as relações nele contidas”. Assim, pensamos o território como conceito oportuno à análise dessa totalidade que é o espaço geográfico, e a ideia de política e de poder aparecem como fundamentos desse território. O território é a “categoria da geografia que expressa questões políticas do espaço” (PEREIRA, 2011, p. 2). Em meados do século XVI, as características geográficas, principalmente o clima, eram consideradas responsáveis pela ocorrência das doenças infecciosas e parasitárias. Com o surgimento da epidemiologia, o foco passou a ser a ocorrência de doenças nas coletividades. No início do século XX, foram valorizados os estudos sobre o impacto do ambiente nas condições de saúde do homem, pressupondo- se que o desequilíbrio da interação homem-ambiente pudesse produzir, alterar ou transformar os focos de transmissão de doenças. Nos anos de 1960, a diferenciação social e cultural, mais uma vez, voltou a ser considerada determinante da variabilidade espacial do processo saúde-doença, apoiada, principalmente, nos recursos da epidemiologia. Desde então, os fatores econômicos e sociais, tidos como determinantes dos fenômenos coletivos, passaram a ser entendidos não apenas como atributos individuais ou elementos do ambiente físico, mas também como fenômenospopulacionais que consideram a historicidade de sua determinação (NARDI et al., 2013). Enquanto o geógrafo tende a enfatizar a materialidade do território, em suas múltiplas dimensões (que deveria incluir a interação sociedade-natureza), a ciência política enfatiza sua construção baseada nas relações de poder, ligada, na maioria das vezes, à concepção de Estado (SANTOS; RIGOTTO, 2010). Conforme Monken e Barcellos (2005), o território deve ser considerado um espaço não só geográfico, mas também social e político, que se encontra em permanente transformação, onde vivem grupos sociais definidos, em que se integram e interagem as condições de trabalho, de renda, de habitação, de educação, o meio ambiente, a cultura e as concepções acerca da saúde e da doença. A categoria território agrega dimensões específicas – ambiental, política, econômica, cultural e sanitária. Cada dimensão contribui em maior ou menor intensidade para configurar as condições de vida e a situação de saúde da população que vive em seus limites (GONDIM; MONKEN, 2017). As delimitações de territórios ocorrem em diversas escalas: desde a escala do cotidiano, família, grupo e práticas sociais ampliadas (exemplos: trabalho, escola e lazer) até as escalas oficiais de Estado, que têm como critérios objetivos as relações político-administrativas e de jurisdição (GONDIM; MONKEN, 2017). Dessa forma, para que uma análise geográfica seja válida, o conceito de território deve ser sempre renovado, considerando-se a indissociabilidade das dimensões material e imaterial (PEREIRA, 2011). 135Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde O território nunca está pronto, pois está em constante transformação – o que chamamos de território vivo. Ao mesmo tempo que território é um resultado, é também condição para que as relações sociais se concretizem, e, sendo construído no processo histórico, pertence a uma dada sociedade, de um dado local, que articula as forças sociais de uma determinada maneira. 3.2.6 Geocodificação e linguagem cartográfica Você já ouviu falar em geocodificação? Trata-se de uma etapa fundamental para a análise espacial de dados epidemiológicos e consiste na conversão de endereços em pares de coordenadas espaciais (latitude/ longitude ou Universal Transversa de Mercator – UTM). O procedimento de geocodificação permite que posições de casos de um determinado agravo em saúde sejam transformadas em mapas de pontos, para a aplicação de técnicas de análise espacial (MENDES; FERREIRA, 2019). A função do mapa como meio de comunicação é bem reconhecida. Os mapas apresentam dados espaciais, que são informações sobre a localização, a forma e o relacionamento entre os recursos geográficos, geralmente armazenados como coordenadas e topologia. Os mapas podem fornecer mensagens concisas, claras, lógicas, flexíveis e expansíveis, usando uma linguagem de representação natural mínima, baseada no poder da apresentação gráfica, ou seja, a linguagem cartográfica (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007). Então, vamos aprender um pouco mais sobre a geocodificação e a linguagem cartográfica? 3.2.6.1 Geocodificação A geocodificação é o processo pelo qual se estabelece o relacionamento entre a base gráfica e a não gráfica em um SIG, feita por meio de um código comum em ambas as bases de dados, chamado de geocódigo. Os geocódigos devem ser unívocos, ou seja, não pode haver códigos iguais para representar elementos diferentes e não pode haver códigos diferentes para representar um mesmo elemento. Ela pode ser feita pela indicação da localização geográfica, incluindo os campos referentes às coordenadas geográficas na base de dados não gráfica (BRASIL, 2006). Você também sabe que comunicar, transmitir e compartilhar um conhecimento são ações cotidianas de todos aqueles que trabalham na área da Saúde. Essa não é, no entanto, uma tarefa simples e, muitas vezes, o discurso textual não é suficiente para a disseminação desse conhecimento. Gráficos, tabelas, análises estatísticas, diagramas e outros recursos de expressão são cada vez mais comuns à comunicação, independentemente do público-alvo ser uma comunidade especializada ou não (CASTIGLIONE; PINA, 2004). Quando se trata do comportamento de um fenômeno no espaço geográfico, um dos meios mais adequados à comunicação desse conhecimento é o mapa, um meio de comunicação do conhecimento que utiliza uma linguagem muito específica, a linguagem cartográfica, composta de um conjunto de símbolos e convenções. 136Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde A cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos, ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização (IBGE, 2021b, 1999). Os mapas agregam valor por três fatores (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007): • Como forma de registrar e armazenar informações. Governos, empresas e sociedade em geral armazenam grandes quantidades de informações sobre o meio ambiente e a localização dos recursos naturais, bens de capital e pessoas; • Como meio de analisar padrões espaciais; • Como método de apresentação de informações e comunicação de descobertas, inclusive em situações difíceis de expressar verbalmente. O mapeamento da saúde engloba as atividades, técnicas e ferramentas adotadas para reunir dados de saúde e da comunidade, usando a localização como fator de identificação. O mapa de saúde geralmente visa criar uma representação cartográfica do cenário ambiental, da distribuição de doenças e dos serviços de saúde. O valor real do mapeamento de saúde emerge quando os mapas estão ligados aos esforços de controle e prevenção de doenças (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007). Os mapas são necessariamente simplificações da realidade, e essa simplificação depende da escala em que está representado o terreno e do objetivo do mapa (BRASIL, 2006). Um mapa é, antes de tudo, uma forma de organização e de transmissão de informações, um meio de comunicação. Para que essa comunicação aconteça de maneira eficiente, alguns critérios cartográficos devem ser adotados, a fim de padronizar tanto a sua produção quanto a sua leitura. A produção de mapas parte de algumas operações essenciais (BRASIL, 2006): • Projeção, isto é, o estabelecimento de uma relação matemática entre os lugares na Terra e uma superfície plana; • Escolha de escala para a redução dos processos a miniaturas; • Generalização das informações espaciais; • Codificação por meio de símbolos convencionados para a transmissão de informações. Mas do que estamos falando quando nos referimos à linguagem cartográfica? 3.2.6.2 Linguagem cartográfica 137Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.6.2.1 Projeções cartográficas As projeções cartográficas nasceram da necessidade de representar a superfície terrestre, aproximada- mente esférica, em um plano (mapas e cartas), cada uma priorizando determinado aspecto da represen- tação (dimensão, forma, entre outros). É importante ressaltar que não existe uma projeção cartográfica livre de deformações, devido à impossibilidade de se representar uma superfície esférica em uma su- perfície plana, sem que ocorram extensões e/ou contrações. Não existe solução perfeita para esse problema, mas, dependendo do objetivo do mapa, as distorções podem ser minimizadasao longo da história, na tentativa de, cada vez mais, se aproximar de um conceito que seja capaz de expressar adequadamente toda a complexidade que o tema envolve. Portanto, é fundamental que você compreenda que é um conceito permanentemente em construção, sobre o qual precisamos refletir e para o qual devemos contribuir com as nossas experiências, tendo em vista a realidade em que estamos inseridos. Nesse sentido, faremos um recorte no tempo, trazendo a nossa reflexão para mais perto do momento histórico e para a realidade brasileira (ALMEIDA FILHO, 2000). Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 18 Falar em saúde no Brasil passa inevitavelmente pela VIII Conferência Nacional da Saúde, realizada em 1986, considerada um marco na história da saúde no Brasil. Das amplas discussões e reflexões coletivas realizadas naquela conferência, que contou com mais de 4000 participantes, emergiu um novo conceito de saúde, mais abrangente e de acordo com a nossa realidade, baseado na determinação social do processo saúde-doença. Na nova concepção, a saúde seria não apenas um “estado de completo bem-estar físico, mental e social” (e não a ausência de enfermidades), como havia preconizado a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1946, mas, sim, “a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. Esse conceito foi ratificado na Constituição Federal de 1988 e, junto com outras importantes diretrizes elaboradas durante a VIII Conferência, constituiu a base para a criação do Sistema Único de Saúde, o SUS (BRASIL, 2019). Um conceito que ganhou e vem ganhando maior destaque a partir do início da pandemia de Covid-19 é o de Saúde Única (One Health). Trata-se de um conceito elaborado em 2008 que foi definido conjuntamente no âmbito da proposta One World, One Health (Um Mundo, uma Saúde) pela OMS, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) (WORLD ORGANISATION FOR ANIMAL HEALTH, 2013; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018; ARAÚJO; SILVA; LEAL, 2020). Esse conceito, bastante utilizado na medicina veterinária, busca contribuir para o desvelamento da complexa causalidade de algumas doenças, em especial as zoonóticas, e, assim, promover a saúde coletiva (ONE HEALTH COMMISSION, 2019; ARAÚJO; SILVA; LEAL, 2020). Na concepção da Saúde Única, está implícita a indissociável relação entre saúde humana, saúde animal e ecossistemas e seus desdobramentos no campo da saúde coletiva. Parte-se da premissa de que seres humanos e animais afetam e são afetados pelos ecossistemas, ocasionando desequilíbrios que podem desencadear doenças de alcance epidêmico ou pandêmico (LIMONGI; OLIVEIRA, 2020). A interação entre as três dimensões – humana, animal e ecossistêmica – constitui, nesse conceito, a base para a compreensão da história natural de algumas condições ou doenças, como a insegurança alimentar, as doenças alimentares e nutricionais, as zoonoses, as parasitoses (CIRNE; CABRERA, 2020), algumas doenças crônicas não transmissíveis, entre outras, e também a base da elaboração e promoção de políticas públicas de mitigação e controle delas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2021). O conceito ampliado de saúde traz em si o potencial de orientar as políticas públicas em diferentes níveis e setores de governo (como educação, saúde, habitação, saneamento básico, segurança, alimentação, meio ambiente, entre outros), de modo que sua implementação promova melhores condições de saúde e melhor qualidade de vida para toda a população. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 19 A pandemia de Covid-19, cujo agente etiológico, o vírus SARS-CoV-2, foi identificado pela primeira vez em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, adequa-se ao escopo da Saúde Única, na medida em que, ao que parece, a doença teria origem no consumo humano de animais silvestres, gerando episódios de transbordamento zoonótico (agente etiológico de origem animal que passa a infectar humanos) (LIMONGI; OLIVEIRA, 2020). No entanto, é importante que você considere que o conceito de Saúde Única, embora contribua positivamente com a tentativa de explicar o surgimento da pandemia, o faz do ponto de vista estritamente biológico/ecológico, não explicitando as necessárias reflexões críticas acerca da determinação social da saúde-doença. Por isso, queremos propor a você algumas reflexões para além das causas biológicas e ecológicas da doença, como: Por ultrapassar as fronteiras de distintos campos do conhecimento e atuar nas interfaces entre elas, é fundamental que você entenda que a abordagem da Saúde Única requer, necessariamente, uma visão multiprofissional e inter-transdisciplinar, que envolve saberes e profissionais de diferentes áreas do conhecimento, como a medicina veterinária, a zootecnia, a medicina, a enfermagem, a nutrição, a biologia, a engenharia ambiental, a engenharia agrícola, entre outras (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2021). Por que a insegurança alimentar tem afetado de forma tão drástica esses mesmos grupos durante a pandemia, a ponto de eles dependerem de doações de alimentos feitas por redes locais de apoio e solidariedade? Nesse sentido, somos desafiados a refletir: O que leva pessoas a consumir carnes de animais silvestres, como a do morcego, comercializada nos mercados de Wuhan, e do pangolim, considerado um possível hospedeiro intermediário do vírus SARS- CoV-2 (o novo coronavírus)? Por que no Brasil a doença proliferou mais rápido e causou mais vítimas graves e fatais entre as populações mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico, especialmente entre os trabalhadores informais, os trabalhadores assalariados mal remunerados, os desempregados, as pessoas em situação de rua, a população negra, povos indígenas e quilombolas, a população privada de liberdade, os idosos albergados em instituições de longa permanência? Seria apenas a expressão da cultura alimentar local ou a consequência da falta de acesso a alternativas alimentares mais seguras e confiáveis? O que está por trás do consumo de animais não convencionais vendidos ilegalmente para diferentes países do mundo? Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 20 FIGURA 1 – USO DE MÁSCARA INADEQUADA DURANTE A PANDEMIA Fonte: AP (2020). Esses e outros questionamentos nos levam a compreender que, para além da causa biológica concreta da doença (a exposição ao vírus), também é preciso considerar que os grupos sociais mais vulneráveis não conseguem se proteger adequadamente por meio das medidas não farmacológicas consideradas eficazes – como o isolamento, o distanciamento social, a hi- gienização frequente das mãos e dos ambientes e o uso de máscaras de boa qualidade (Figura 1) – da mesma forma que os grupos mais privile- giados conseguem, e os grupos em maior vulnerabilidade social também encontram maior dificuldade de acesso ao sistema de saúde para o trata- mento adequado da Covid-19, pois não têm a possibilidade de recorrer ao sistema privado de saúde, sendo a única opção os leitos para tratamento no SUS, em colapso por longos meses no país. Assim, percebe-se que o vírus SARS-CoV-2 (determinante biológico) en- contra melhores condições para se disseminar e causar vítimas graves e fatais entre pessoas mais pobres e vulneráveis, com a saúde já comprome- tida antes de se infectar, que vivem nas ruas ou em habitações precárias, sem condições adequadas de higiene equanto à for- ma, direção, área ou distância (BRASIL, 2006; IBGE, 2021c). As projeções cartográficas são classificadas, principalmente, quanto à superfície de projeção e às propriedades. Quanto à superfície de projeção, podem ser “planas, cônicas ou cilíndricas, quando forem utilizadas as superfícies de um plano, cone ou cilindro como base para planificar a esfera terrestre, respectivamente” (IBGE, 2021c) (Figura 5). FIGURA 5 – PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS QUANTO À SUPERFÍCIE DE PROJEÇÃO A. Projeção Plana ou Azimutal e Projeção Plana Polar B. Projeção Cônica e Projeção Cônica de Albers C. Projeção Cilíndrica e Projeção Cilíndrica de Peters Fonte: IBGE (2021c). FIGURA 6 – MAPA DO BRASIL UTILIZANDO A PROJEÇÃO POLICÔNICAPara representar o Brasil, utilizamos as projeções policônica e cilíndrica equatorial de Mercator. Em escala geográfica, o mapeamento oficial do Brasil é elaborado na projeção policônica, “que tem como característica a diminuição da deformação da convergência dos meridianos, mantendo uma melhor representação da Região Sul do País” (IBGE, 2021b) (Figura 6). O mapeamento na escala de 1:1.000.000 (lê-se um para um milhão) segue o padrão do mapeamento mundial, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Fonte: IBGE (2021c). 138Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde 3.2.6.2.2 Escala O conceito cartográfico de escala é a relação entre a medida de um objeto ou porção territorial representada e sua medida real na superfície terrestre. Isso significa que as medidas efetuadas no mapa terão representatividade direta sobre seus valores reais no terreno. As escalas “são definidas de acordo com os assuntos representados nos mapas, podendo ser maiores ou menores”, conforme o nível de detalhamento que se deseja (IBGE, 2021a). Quando se elabora um mapa usando técnicas de geoprocessamento, uma das primeiras decisões é a escolha da escala de trabalho. O conhecimento da escala de um mapa é um dos elementos fundamentais para seu adequado uso e interpretação (FITZ, 2000; BRASIL, 2006; IBGE, 2021a). A escala de um mapa informa quantas vezes as dimensões do terreno foram reduzidas para que pudesse ser representado em uma folha de papel ou uma tela. Por exemplo, se a distância entre os municípios de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul, e Brasília, Distrito Federal, é de 1050 quilômetros, essa distância será representada no mapa por apenas 10,5 centímetros. Dependendo da escala adotada, o mapa terá uma maior ou menor quantidade de detalhes, o que também determinará se um tipo de objeto geográfico vai ser visível ou não. Há duas formas de apresentação da escala em um mapa: a gráfica e a numérica. A escala numérica indica “a relação entre as dimensões do espaço real e do espaço representado, por meio de uma proporção numérica” (IBGE, 2021a). Por exemplo, ao adotarmos uma escala 1:500.000, 1 centímetro medido no mapa equivale a uma distância de 500.000 centímetros ou 1 quilômetro na superfície terrestre. Ou seja, quanto maior o denominador, menores serão os detalhes desenhados no mapa (IBGE, 2021a). A escala gráfica é “a representação gráfica de distâncias do terreno sobre uma linha reta graduada” (IBGE, 2021a), ou seja, uma barra com subdivisões semelhantes a uma régua, como apresentado no canto esquerdo da Figura 7. O tamanho de cada subdivisão representa a relação de seu comprimento com o valor correspondente no terreno. É bastante utilizada em mapas temáticos, principalmente elaborados em SIG, pela forma direta que pode ser utilizada para medir distâncias sobre os mapas. “Na escala gráfica, não há necessidade de transformação matemática de centímetros para quilômetros ou metros” (IBGE, 2021a). FIGURA 7 – MAPA FÍSICO DO BRASIL, PARA OBSERVAÇÃO DA ESCALA GRÁFICA E OUTROS SÍMBOLOS Fonte: IBGE (2021c). O sistema de coordenadas geográficas é o mais utilizado para a elaboração de mapas. Nesse sistema, a Terra é considerada esférica, e todo e qualquer ponto na superfície terrestre dista igualmente do centro da Terra. As coordenadas são latitude (Y) e longitude (X), expressas por meio de unidades angulares: graus (º), minutos (‘) e segundos (“). O sistema de coordenada geográfica é bastante usado, principalmente por localizar de forma direta qualquer ponto sobre a superfície da Terra, sem a necessidade de qualquer outra indicação (BRASIL, 2006). 139Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 3 - Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde | 3.2 Geoprocessamento em Saúde ATENÇÃO! Cada programa adota uma maneira de indicar as coordenadas geográficas. Alguns acrescentam à coordenada a letra N (norte) ou S (sul), E (leste) ou O (oeste) e outros usam o sinal de positivo (norte e leste) ou negativo (sul e oeste). O olho humano é capaz de distinguir uma linha de 0,1 mm de largura, porém um ponto só é percebido quando tem 0,2 mm de diâmetro. Por isso, o valor de 0,2 mm é adotado como a precisão gráfica e caracteriza o erro gráfico vinculado à escala de representação (BRASIL, 2006). 3.2.6.2.3 Convenções cartográficas Para facilitar a representação cartográfica, foi criado um sistema de símbolos conhecidos como convenções cartográficas. Os símbolos buscam ser intuitivos, possibilitando um certo grau de compreensão de seu significado e a leitura da informação contida no mapa por qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo (IBGE, 2021a). Na Figura 7, pode-se verificar a presença de uma escala de cores, no canto superior esquerdo, para representar a altitude. Nessa escala, a altitude é representada pela hipsometria. As cores não são aleatórias, mas obedecem a uma convenção: o marrom (ou alaranjado) mais escuro representa as maiores altitudes (montanhas, serras, cordilheiras, chapadas, entre outras), e a tonalidade vai clareando conforme as altitudes diminuem; o amarelo representa médias altitudes (geralmente planaltos); e o verde, as baixas altitudes (planícies). As águas continentais (rios, lagos, entre outros) e marítimas são representadas em azul. A linha reta representa o curso de água permanente, e a linha pontilhada, o curso intermitente. A tonalidade do azul nos mares e oceanos está diretamente relacionada à sua profundidade (IBGE, 2021a). 3.2.6.3 Mapeamento de fluxos O planejamento e a avaliação do setor Saúde pressupõem o conhecimento sobre a distribuição, no espaço geográfico, dos serviços e de sua clientela. O mapa de fluxos permite visualizar as ligações estabelecidas pela presença de um serviço em determinados pontos do território, destacando regiões de atração. Esse tipo de informação é útil na identificação dos polos, na regionalização do atendimento e na verificação das distâncias percorridas pela população para acesso aos serviços de saúde. A identificação dos padrões de deslocamento sinaliza áreas com poucas opções de serviços, que podem configurar pontos de estrangulamento ou oportunidades de desconcentração e regionalizações alternativas (BRASIL, 2006). Nas redes de atenção à saúde, estabelecidas pelos padrões de deslocamento dos usuários, o tamanho da área de abrangência do serviço e as distâncias percorridas por seus usuários variam com o nível de complexidade dos tratamentos demandados. Os tratamentos de uso mais frequente devem estar disponíveis o mais próximo possível do local de residência dos usuários. Questões de eficiência e de qualidade impõem a concentração dos serviços de maior complexidade, resultando em deslocamentos mais extensos (BRASIL, 2006). O mapeamento de fluxos pode ser aplicado também para analisar a rede assistencial e auxiliar no adequado diagnóstico dos desafios para o enfrentamento da pandemia de Covid-19. Por exemplo, em um estudo realizado no estado de Santa Catarina sobre a incidência da Covid-19saneamento básico, aglomeradas em pequenos espaços domiciliares, em situação de insegurança alimentar e nutricional, sem acesso a informações seguras, dependentes do trans- porte público para se deslocar, entre outros (determinantes sociais). Você já ouviu falar em Determinação Social do Processo Saúde-Doença? A respeito da determinação social da Covid-19, é imprescindível destacar o papel do trabalho sobre os indicadores de saúde da classe trabalhadora: a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras com contrato formal de trabalho (carteira assinada ou outros) teve, em alguma medida, a possibilidade de trabalhar por certo tempo, em isolamento domiciliar e em sistema de home office, ou permaneceu trabalhando em locais em que as medidas não farmacológicas de proteção e controle foram, por força da lei, adotadas pelos empregadores, o que representou uma condição de maior proteção e segurança. Porém, um imenso contingente de trabalhadores e trabalhadoras de serviços considerados essenciais ou do setor informal não teve acesso adequado às mesmas condições de proteção, tornando-se ainda mais vulnerável à doença. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 21 Vale lembrar que a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros depende do transporte público, geralmente superlotado e em condições precárias de higienização e ventilação, para acessar diariamente o seu local de trabalho, especialmente nos grandes centros urbanos. Essa necessidade torna ainda mais grave o risco de contrair a Covid-19, pois nessas condições é praticamente impossível evitar aglomerações. Além disso, você não pode esquecer que muitos desses trabalhadores exercem seus ofícios nas ruas, em condições precárias de segurança, expostos a intempéries e em contato direto com grande quantidade de transeuntes. Eles estão impedidos de permanecer em isolamento domiciliar, pois necessitam manter o seu trabalho ativo para sobreviver, ainda que em condições de risco elevado para a doença. Nesse contexto, visando a minimizar os impactos socioeconômicos da pandemia e viabilizar o isolamento e o distanciamento social, o governo federal instituiu, em abril de 2020, o Programa Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (Medida Provisória – MP nº 936/2020) e o da Renda Básica Emergencial (RBE) (Lei nº 13.982/2020). O auxílio financeiro emergencial, inicialmente no valor de R$ 600,00 mensais, foi direcionado à população de baixa renda que teve o cadastro aprovado para se tornar beneficiária do programa (BARBOSA; PRATES, 2020). Inicialmente, o auxílio emergencial abrangeu um contingente de 68,2 milhões de brasileiros. No entanto, boa parte da massa trabalhadora não teve acesso a esse auxílio. Além disso, o montante autorizado pelo Congresso Nacional para o auxílio emergencial, que em 2020 foi de R$ 295 bilhões, em 2021 foi reduzido para R$ 44 bilhões (Figura 2). O valor pago inicialmente, que consistia em três parcelas de R$ 600,00, foi alterado em 2021 para quatro parcelas com valor médio de R$ 250,00 (R$ 150,00 para pessoas que moravam sozinhas, R$ 250,00 para domicílios com mais de uma pessoa e R$ 375,00 para mães solo), instituído pela Medida Provisória nº 1.039, de 18 de março de 2021 (BRASIL, 2021a). O auxílio emergencial teve sua vigência encerrada no dia 15 de julho de 2021. Tudo isso, associado à exclusão, em 2021, de 22,6 milhões de beneficiários iniciais do programa, dificultou ainda mais a obtenção das condições mínimas de sobrevivência para que os trabalhadores pudessem permanecer em isolamento domiciliar, e vimos, assim, a doença atingir níveis alarmantes no país (BRASIL, 2021a). A pandemia de Covid-19 explicitou e agravou ainda mais as já profundas e persistentes desigualdades sociais presentes no Brasil: em agosto de 2021, cerca de 61 milhões de habitantes se encontravam em situação de pobreza e 19,3 milhões em situação de extrema pobreza (SANTOS, 2021), em um país que volta, nesse momento, a fazer parte do Mapa da Fome. 2020 295 bilhões 44 bilhões 2021 Montante autorizado (em R$) Montante autorizado (em R$) Valor inicial em 2020: 3 parcelas de 600 reais. Valor médio em 2021: 4 parcelas de 250 reais. FIGURA 2 – COMPARAÇÃO DOS VALORES ANUAIS DO AUXÍLIO EMERGENCIAL ENTRE 2020 E 2021 Fonte: elaboração das autoras. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 22 1.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA NO PERÍODO PRÉ-PANDEMIA Nas últimas décadas, o mundo vem vivenciando profundas transformações geopolíticas, sociais, econômicas, tecnológicas, ambientais e culturais que têm impactado diretamente a existência do homem no planeta, tanto no sentido de propiciar melhores condições de vida, alternativas mais eficazes e velozes de comunicação e informação, maior liberdade nos costumes, quanto, e principalmente, no sentido de impactar negativamente os ambientes ecológico, de vida e de trabalho, aprofundando as desigualdades econômicas e sociais. Esse movimento adquire maior visibilidade a partir da década de 1980, com o fortalecimento da chamada globalização, um processo de integração econômica entre países, geralmente (mas não necessariamente) próximos em termos geográficos. Esses países passaram a se organizar em blocos econômicos e a integrar os seus mercados para que pudessem se tornar mais competitivos em âmbito global e fortalecer seus mercados consumidores internos e externos, e, em decorrência, as suas economias. Alguns tratados de livre comércio foram estabelecidos entre países de um mesmo bloco econômico, permitindo que os produtos circulassem entre eles em maior intensidade e com preços mais baixos em virtude da abertura de mercados e da redução de tarifas alfandegárias. São exemplos de blocos econômicos a União Europeia, o NAFTA (North American Free Trade Agreement) e o Mercosul (Mercado Comum do Sul), do qual o Brasil faz parte. Ao mesmo tempo que os bens econômicos passaram a circular em maior intensidade mundialmente e a economia se tornou cada vez mais globalizada, uma série de outros aspectos da vida humana também foram se tornando “globais”: o mercado financeiro, os padrões de consumo e de qualidade, a cultura, os costumes, a ciência, o trabalho, as comunicações e a saúde, por exemplo. Mas também se globalizaram a violência, o tráfico de pessoas e de drogas ilícitas, as injustiças, o preconceito, as desigualdades sociais, a destruição do meio ambiente, entre outros. Nesse contexto, você já notou que, no que concerne à saúde-doença coletiva, é inquestionável, especialmente nos dias atuais, que se trata de um problema global: as doenças se manifestam de forma semelhante em âmbito global, e, nesse aspecto, temos como bons exemplos a obesidade (que é uma doença pandêmica), as doenças cardiovasculares, o câncer e, no campo das causas externas, a violência. No entanto, foi a pandemia de Covid-19 que, pela sua elevada transmissibilidade, gravidade, capacidade de sobrecarregar os serviços de saúde e gerar tantos óbitos em tão pouco tempo, escancarou para o mundo a forma e a velocidade com que uma doença infecciosa grave é capaz de se propagar em decorrência do deslocamento de pessoas pelo mundo. Nesse contexto, o SUS, apesar dos inegáveis avanços e das diversas experiências exitosas alcançadas no âmbito das políticas públicas nas últimas décadas, se tornou ainda mais sobrecarregado, e muitos serviços de saúde chegaram a colapsar em alguns momentos. SAIBA MAIS Se você quiser conhecer mais sobre a história do SUS, seus fundamentos e organização, bem como seus avanços e impactos, sugerimos a leitura do livro Desafios do SUS, de autoria do Professor Eugênio Vilaça Mendes (2019), disponível em: https://www.conass.org.br/biblioteca/ desafios-do-sus/Blocos econômicos mundiais. Fonte: Wikimedia Commons https://www.conass.org.br/biblioteca/desafios-do-sus/ https://www.conass.org.br/biblioteca/desafios-do-sus/ Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 23 A pandemia nos obrigou a refletir sobre os impactos das nossas ações (especialmente as corporativas) no planeta e sobre a necessidade de fortalecer “a consciência de que a saúde é um bem indivisível, e de que o gênero humano está vinculado por um destino comum” (BERLINGUER, 1999, p. 23). Ou seja, você pode perceber que estamos "sentindo na carne" como um vírus novo que surge em algum lugar no mundo é capaz de, em poucos meses, se espalhar e causar grande destruição e sofrimento em praticamente todos os cantos do planeta, a ponto de alterar totalmente os rumos da história da humanidade e fazer o planeta literalmente parar, como cantou Raul Seixas. Convidamos você a ouvir a música O dia em que a Terra Parou, de Raul Seixas. Nela, o compositor imagina uma situação futura de caos planetário, em que as pessoas não podem sair de suas casas e interrompem as suas atividades cotidianas. Para ouvir a música, clique no link: https://youtu.be/H8zbYY41Vus Você já parou para pensar que um dos principais problemas atuais que exercem impactos muito negativos sobre as condições de vida e de saúde das populações e está diretamente relacionado à atual crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19 é a acelerada destruição do meio ambiente? As gerações atuais estão vivenciando um intenso processo de exploração e esgotamento dos recursos naturais do planeta, como as águas, as florestas e o solo, que levam a uma série de impactos que caracterizam uma situação de colapso ambiental (Figura 3). FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A PRODUÇÃO DO COLAPSO SOCIOAMBIENTAL Fonte: elaboração das autoras. Degelo de calota polar Eventos climáticos extremos Enchentes/secas Desertificação Mineração Garimpo Aquecimento global Ondas migratórias Esgotamento de mananciais Escassez de água Agronegócio Padrões de consumo/ Consumismo Colapso socioambiental Aumento da miséria, pobreza e fome Aumento do preconceito e da violência Furacões, tornados, tremores de terra Contaminação ambiental (agrotóxicos/metais pesados) Desmatamento/ queimadas Epidemias/pandemias https://youtu.be/H8zbYY41Vus Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 24 Recentemente, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou dados alarmantes sobre o aquecimento global. No relatório do Grupo de Trabalho 1 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC – ONU) (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2021), especialistas constataram que, se o aquecimento global causado pela emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa não for limitado a 1,5 grau centígrado até 2030, o planeta sofrerá impactos sem precedentes, como calor e frio extremos, degelo do Ártico, aumento do nível do mar, redução de corais e cardumes, extinção de vertebrados, insetos e espécies vegetais, escassez de alimentos, aprofundamento da miséria, da pobreza e da fome, entre outros. É importante que você perceba que já estamos vivenciando algumas dessas transformações na atualidade. No Brasil, atividades como o agronegócio, a mineração, o garimpo e a extração ilegal de madeira vêm gerando fortes impactos ambientais e têm sido responsáveis pela destruição de importantes biomas, como o cerrado, as florestas tropicais e a mata atlântica. A destruição desses biomas pela ação humana causa desequilíbrios no meio ambiente que podem se tornar irreversíveis, a ponto de comprometer a vida no planeta para as gerações futuras. Além disso, muitos recursos naturais não renováveis, como os bens minerais, vêm sendo explorados de forma intensiva, provocando não só os impactos ambientais citados, mas também o esgotamento desses recursos, o que deverá causar, em médio e longo prazos, impactos econômicos, com redução da geração de empregos e de renda para a população trabalhadora. Conforme nos vem alertando o líder indígena e ativista socioambiental Ailton Krenak, precisamos perceber a Terra como um único organismo vivo, do qual nós, humanos, somos parte e não o centro. No livro Ideias para adiar o fim do mundo (KRENAK, 2020a), o autor nos lembra: Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso - enquanto seu lobo não vem -, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza [...] Enquanto isso, a humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão absurda desse organismo que é a terra. Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam ficar agarrados nessa terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. São caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes - a sub-humanidade. Porque tem uma humanidade, vamos dizer, bacana. E tem uma camada mais bruta, rústica, orgânica, uma sub-humanidade, uma gente que fica agarrada na terra. [...] A organicidade dessa gente é uma coisa que incomoda, tanto que as corporações têm criado cada vez mais mecanismos para separar esses filhotes da terra de sua mãe (KRENAK, 2020a, p. 72). Fonte: https://www.pxfuel.com/pt/free-photo-encuv / https://www.pxfuel.com/pt/free-photo-ikrvz / https:// www.flickr.com/photos/amazoniareal/50446231782 / https://www.pxfuel.com/pt/free-photo-oskou Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 25 A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, estabelece a saúde como um dos direitos universais inalienáveis de todo ser humano, sem distinção de qualquer espécie, junto com o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à justiça, à segurança, à proteção da lei, à liberdade de pensamento, ao trabalho justamente remunerado, à alimentação adequada, à instrução, à cultura, entre outros (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). A realização desse conjunto de direitos é uma meta a ser alcançada, pois concorre para o fortalecimento do desenvolvimento humano, da democracia e da cidadania. Por isso tudo, sugerimos a leitura da Declaração (https://www.unicef.org/ brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos). No Brasil, como você sabe, a Constituição Federal (BRASIL, 1988), que é baseada nos princípios fundamentais da soberania, da cidadania, da dignidade da pessoa humana, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e do pluralismo político, estabelece, em seu Art. 6º, os direitos sociais de todos os brasileiros, sem qualquer distinção. Por sua vez, a Emenda Constitucional nº 42, de 19 de dezembro de 2003, que altera o Inciso VI do Art. 170 da Carta Magna, estabelece a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seu processo de elaboração e prestação (BRASIL, 2003). Cumprir os direitos humanos e de cidadania é tarefa urgente que se coloca como um grande desafio no atual momento. SAIBA MAIS Se você quiser conhecer um pouco mais sobre os impactos ambientais e suas consequências nas condições de vida e de saúde das populações, sugerimos a leitura da entrevista realizada com o líder indígena Ailton Krenak, publicada no jornal da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul (UFRGS) (KRENAK, 2020c). Nela, o autor expressa suas ideias a respeito da crise ambiental global e a ocorrência de epidemias e pandemias como a que estamos vivenciando no momento: https://www.ufrgs.br/jornal/ailton-krenak-a-terra-pode-nos-deixar-para-tras-e-seguir-o-seu-caminho/ Abdicar da visão antropocêntrica e cuidar bem da Mãe Terra e de tudo que nela habita ou existe, como nos ensinaram nossos ancestrais, é também evitar novas epidemias e pandemias, é cuidar de nossa saúde e a das gerações futuras (KRENAK, 2020b). O grupo de trabalho 2 do Painel Intergovernamental para Mudanças Clímáticas (IPCC - ONU) liberou documentos disponíveis em https://www.unep.org/pt- br/resources/relatorios/sexto-relatorio-de-avaliacao-do-ipcc-mudanca-climatica-2022 no qual alerta fortemente para a relação entre os impactos das mudanças climáticas, da exploraçãp da vida selvagem e da perda de habitats naturais e a emergência de epidemias e pandemias. Alerta também para o risco de ruptura social caso o cenário de destruição dos ecossistemas não seja radicalmente modificado (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2022). São eles: “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (nova redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) (BRASIL, 2015a). https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos https://www.ufrgs.br/jornal/ailton-krenak-a-terra-pode-nos-deixar-para-tras-e-seguir-o-seu-caminho/ https://www.unep.org/pt-br/resources/relatorios/sexto-relatorio-de-avaliacao-do-ipcc-mudanca-climatica-2022 https://www.unep.org/pt-br/resources/relatorios/sexto-relatorio-de-avaliacao-do-ipcc-mudanca-climatica-2022 Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 26 1.4 A PANDEMIA DE COVID-19: HISTÓRICO, CONTEXTO GLOBAL E BRASILEIRO Nesse momento, você já deve ter compreendido que a pandemia de Covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), se apresenta como um grave problema sanitário mundial e, nesse cenário, o mundo atravessa uma crise de saúde, social e econômica sem precedentes (UNITED NATIONS, 2020). Em dezembro de 2019, a OMS foi comunicada sobre a ocorrência de casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China, referente à infecção de uma nova cepa de coronavírus, até então desconhecida, confirmada pelos chineses em 7 de janeiro de 2020 (LIU; KUO; SHIH, 2020). Ao todo, sete tipos de coronavírus humano (HCoVs) já foram identificados, a saber: HCoV- 229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63, HCoV-HKU1, SARS-CoV (que causa síndrome respiratória aguda grave), MERS-CoV (que causa síndrome respiratória do Oriente Médio) e o mais recente, o novo coronavírus, que, em fevereiro de 2020, foi denominado de SARS-CoV-2, responsável por causar a doença (LIU; KUO; SHIH, 2020). Em janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto do novo coronavírus se tratava de uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o mais alto nível de alerta da Organização. Já em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi classificada pela OMS como uma pandemia, ou seja, naquele momento existiam epidemias de Covid-19 em vários países e regiões do mundo. No mesmo momento, a OMS recomendou aos países a adoção das medidas previstas no Regulamento Sanitário Internacional (RSI) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021a). A Covid-19 tem como principais sintomas cansaço, tosse seca e febre. Contudo, alguns indivíduos podem apresentar congestão nasal, dor de cabeça, conjuntivite, dor de garganta, diarreia, perda de paladar e/ou olfato, erupção cutânea ou descoloração dos dedos das mãos ou dos pés. Esses sintomas geralmente são leves e começam gradualmente. Grande parte dos indivíduos se recupera sem precisar de internação ou cuidados intensivos. Entretanto, aproximadamente um em cada seis indivíduos infectados pela Covid-19 ficou gravemente doente e desenvolveu dificuldades respiratórias, sobretudo os idosos e aqueles com comorbidades como hipertensão, doenças cardiovasculares e pulmonares, diabetes ou câncer, que podem em alguns casos se agravar (FLEITAS et al., 2021; ELLIOTT et al., 2021). No início do enfrentamento da pandemia, em diferentes partes do mundo o maior obstáculo era o desconhecimento científico sobre essa nova cepa de coronavírus, que é altamente transmissível e potencialmente fatal, especialmente em populações vulneráveis. No mundo, as medidas de Saúde Pública necessárias ao enfrentamento da pandemia tiveram maior impacto em determinados grupos sociais e territórios, o que revelou ainda mais desigualdades sociais, econômicas e de saúde preexistentes (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). Em se tratando de pandemias, quando não há vacinas disponíveis para imunização em massa para conter a disseminação e há ausência de medicamentos para prevenir e tratar a doença, como aconteceu no início da pandemia da Covid-19, não há medida que supere em eficácia a separação dos indivíduos sadios dos enfermos. Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 27 Você, caro trabalhador estudante, saberia dizer quais medidas de saúde pública devem ser adotadas quando ocorre uma pandemia como a da Covid-19? A seguir apresentamos algumas medidas de saúde pública que foram adotadas na pandemia da Covid-19. • Isolamento: separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus (BRASIL, 2022); • Quarentena: restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a propagação do coronavírus (BRASIL, 2022); • Distanciamento físico: limitar o contato próximo entre pessoas infectadas e outras pessoas para reduzir as chances de transmissão do SARS-CoV-2 (BRASIL, 2022). SAIBA MAIS Caro trabalhador estudante, para saber mais sobre as medidas de proteção da Covid-19, consulte o Guia de Vigilância Epidemiológica Covid-19 (BRASIL, 2022) do Ministério da Saúde do Brasil, que está disponível no link a seguir. https://w w w.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/ publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia- epidemiologica-covid-19/view SAIBA MAIS Se você tem interesse, pode acessar o link disponibilizado pelo Ministério da Saúde do Brasil para acompanhar a síntese de casos, óbitos, incidência e mortalidade pelo novo coronavírus no país (BRASIL, 2021c). Disponível em: https://COVID.saude.gov.br/ O número elevado de infectados pela Covid-19 e de óbitos decorrentes da doença provocou colapsos pontuais nos sistemas de saúde. Problemas de saúde mental se tornaram mais frequentes devido às medidas de confinamento, ao medo de se contaminar e adoecer gravemente ou mesmo de falecer ou perder entes queridos em decorrência da doença. Assim, como trabalhador estudante, você deve ter percebido o impacto ocupacional e psicológico dos envolvidos diretamente no enfrentamento da Covid-19, quanto às mudanças introduzidas na rotina de trabalho, como aumento da jornada de trabalho, criação de espaços de isolamento e reforço das recomendações para uso dos Equipamentos Proteção Individual (EPI). No Brasil, um país com dimensões continentais, uma desigualdade social acentuada, com populações vivendo em condições precárias de habitação e saneamento, sem acesso sistemático à água e em situação de aglomeração, e altos índices de desemprego, os desafios foram e ainda sãomaiores (OLIVEIRA et al., 2020; WERNECK; CARVALHO, 2020). Assim, o conceito físico de onda se tornou uma ferramenta importante para análise do desenvolvimento da pandemia, caracterizado pelo número de casos e óbitos. No link a seguir, que está dentro do site da OMS, você pode observar o comportamento da pandemia no Brasil, com destaque para as ondas epidemiológicas ocorridas ao longo do seu desenvolvimento e o surgimento de novas variantes do novo coronavírus (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021b): https://COVID19.who.int/region/amro/country/br. https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/view https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/view https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/view https://COVID.saude.gov.br/ https://COVID19.who.int/region/amro/country/br Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 28 A necessidade de contenção da pandemia com medidas não farmacológicas, como isolamento social, uso de álcool em gel, higiene e uso de máscara, tendo em vista a cobertura vacinal diante das ondas de contaminação e novas variantes do vírus, revelou ainda mais a exposição de grupos vulneráveis, como motoristas de ônibus, caixas de supermercados, profissionais da limpeza urbana, profissionais de saúde envolvidos diretamente no enfrentamento da doença, além dos povos indígenas e quilombolas. Além disso, verifica-se o incremento de adoecimento mental das pessoas em confinamento, indivíduos em home office e temor pelo risco de adoecimento e morte. SAIBA MAIS Você pode acompanhar a situação epidemiológica atual de número de casos, óbitos e cobertura vacinal no Brasil e no mundo. Basta clicar no mapa disponibilizado pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021c). Disponível em: https://COVID19.who.int/ No início da pandemia, permanecemos em isolamento social, esperando que a rotina normal fosse restabelecida em poucos meses. No entanto, ao longo de dois anos, percebemos a necessidade de nos adaptar às medidas de segurança e de enfrentar os desafios e as possibilidades dessa nova forma de viver, que se prolonga por mais tempo. Apesar de existirem medidas farmacológicas como a vacinação, é importante replicar para o público a relevância de manter as medidas não farmacológicas de proteção. A evolução do Plano Nacional de Vacinação tem alcançado êxito no enfrentamento da Covid-19. Porém, já são conhecidas variantes do coronavírus que podem provocar novas ondas da doença, e o reforço das medidas de isolamento, distanciamento social, uso de máscara e higiene pessoal impactam fortemente a redução da disseminação do novo coronavírus. Estabelecer esses cuidados na rotina de trabalho e na orientação dos usuários dos serviços de saúde é fundamental para o enfrentamento da pandemia. Destaca-se também a importância das redes de apoio e solidariedade no enfrentamento de emergências e catástrofes. Essas redes, geralmente formadas por Organizações Não Governamentais (ONGs), movimentos sociais, organizações da sociedade civil, empresas, universidades e grupos de indivíduos, são capazes de responder em momentos de crise, ainda que parcialmente, às demandas emergenciais dos atingidos relacionadas, por exemplo, à alimentação, vestuário, medicamentos, água, higiene pessoal e ambiental, até que o poder público possa se organizar minimamente para assumir o provimento e coordenação das ações (HE; HARRIS, 2020). A estruturação de redes de apoio e solidariedade como as citadas pode ser considerada um dos indicadores de desenvolvimento de uma sociedade, pois revela uma cultura participativa e organizativa local e o grau de empoderamento e autonomia de seus membros, o que contribui sobremaneira para a melhoria dos indicadores de saúde e de qualidade de vida (ANDRADE; VAITSMAN, 2002). Assim, podemos afirmar que, quanto maior a quantidade e o alcance das redes de solidariedade, mais organizada e mobilizada uma sociedade se encontra, o que é indicativo da participação voluntária (individual ou coletiva) enquanto exercício da democracia, da autonomia e da cidadania. Você deve ter verificado que, tanto no Brasil quanto em outros países, no momento de enfrentamento do novo coronavírus, a solidariedade se tornou um instrumento importante para ajudar indivíduos em estado de vulnerabilidade, o que certamente garantiu a eles maior conforto, segurança e tranquilidade do que teriam na ausência dessas redes. SAIBA MAIS Se você quiser saber mais sobre as redes de solidariedade, sugerimos a leitura do boletim disponível no link: https:// w w w.unicamp.br/unicamp/sites/default/fi les/ Boletim%20Covid-19%20do%20DPCT-IG%20n19%20 (2).pdf Nele, você poderá se informar sobre o funcionamento, durante a pandemia, de algumas dessas redes em comunidades indígenas, quilombolas e de outros povos tradicionais (SILVA; GITAHY; BALDASSA, 2020). https://COVID19.who.int/ https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/Boletim%20Covid-19%20do%20DPCT-IG%20n19%20(2).pdf https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/Boletim%20Covid-19%20do%20DPCT-IG%20n19%20(2).pdf https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/Boletim%20Covid-19%20do%20DPCT-IG%20n19%20(2).pdf https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/Boletim%20Covid-19%20do%20DPCT-IG%20n19%20(2).pdf Módulo: Fundamentos e tecnologias para o enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais | Unidade 1 - Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia 29 1.5 O MUNDO DO TRABALHO NA PANDEMIA DE COVID-19: NOVAS CONFIGURAÇÕES DO TRABALHO Vimos, nas seções anteriores, a forma como a Covid-19 impactou os aspectos sociais e econômicos. E o trabalho? Será que o mundo do trabalho foi impactado pela pandemia? Saiba Mais sobre o assunto no e-book "Prevenção e controle da Covid-19: estudo multicêntrico sobre a percepção e práticas no cotidiano das orientações médico- científicas pela população dos territórios de abrangência da Atenção Primária à Saúde"no link: https://editora.redeunida.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Livro- Prevencao-e-controle-da-covid-19.pdf Com o advento da pandemia de Covid-19, o mundo, que já se encontrava em grave crise econômica e social, deparou-se com situações até então inimagináveis: na tentativa de conter o avanço do vírus, fronteiras internacionais foram fechadas, o trabalho presencial foi interrompido e populações inteiras foram colocadas em confinamento e quarentena. A circulação doméstica de pessoas foi restringida, eventos internacionais foram suspensos ou adiados, os comércios fecharam as portas, férias individuais e feriados foram antecipados e férias coletivas foram concedidas a grupos de trabalhadores, postos de trabalho foram sumariamente eliminados, os serviços de saúde ficaram sobrecarregados e até mesmo itens básicos de consumo, como alimentos, produtos de higiene e medicamentos, se tornaram muito caros ou começaram a escassear nas prateleiras de supermercados e farmácias (RAICHELIS; ARREGUI, 2021). A nova realidade assustava – ainda assusta – e impôs uma nova forma de organização global da vida em sociedade, que causou impactos individuais e coleti- vos muito preocupantes do ponto de vista da saúde física e mental: a população foi gravemente afetada pela necessidade de isolamento e distanciamento de familiares e amigos, especialmente crianças e idosos, e pela perda de entes queridos para a doença, ao mes- mo tempo que passou a conviver com a sobrecarga e até mesmo com o colapso dos sistemas de saúde pú- blica e privada. As escolas e universidades fecharam as portas e o ensino presencial foi substituído por ati- vidades remotas que causaram grande desgaste físico e mental a educadores,