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HISTÓRIA DA TEOLOGIA 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Roberto Luis Renner 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Idade Média – séculos V-XV 
Nesta aula, iremos conversar um pouco sobre a Idade Média, seus 
pensadores e a influência na Teologia. Apresentaremos os ensinamentos que 
podemos tirar desse momento histórico bem conturbado em que tivemos 
situações complexas que envolveram o cristianismo. 
Iremos nos aprofundar na discussão sobre a grande divisão que ocorreu 
na Igreja e refletir acerca dos motivos e quais lições podemos tirar disso tudo. 
As ideias de Tomás de Aquino (1224-1274) e sua maneira de ver a 
salvação do ser humano são tema de nossos estudos também. Aquino afirmava 
que não podemos forçar a graça da salvação. Ela é um presente dado por Deus 
e não pode ser meritória. 
O misticismo no final do período medieval enfatizava-se demasiadamente 
nas experiências espirituais. Vamos ver um dos seus maiores pensadores, João 
Eckhart. 
E o último ponto a ser abordado será a escolástica. A teologia escolástica, 
como é normalmente chamado o renascimento do pensamento, surgiu das 
ordens monásticas reformadoras fundadas na Europa e floresceu nas novas 
universidades da época. 
TEMA 1 – IDADE MÉDIA: ASPECTOS HISTÓRICOS 
Alguns acontecimentos precisam ser mencionados antes de trabalharmos 
o período da Idade Média. No tempo de Constantino1 (272 – 337), cerca de 10% 
da população do império era cristã. 
Em 313 d.C., O imperador Constantino I proclamou o Edito de Milão, que 
estabelece a tolerância religiosa para o cristianismo dentro do Império Romano. 
Um século mais tarde, 90% da população do Império seria de cristãos. Como o 
crescimento extraordinário levou a um declínio no zelo, muitos crentes sinceros 
decidiram deixar a sociedade e dedicar-se a exercícios espirituais e à preparação 
para o outro mundo. 
 
1 Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino o Grande, foi um 
imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306, que governou 
uma porção crescente do Império Romano até a sua morte. 
 
 
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Nessa época, surgiu o movimento monástico, esse movimento inicia nas 
regiões montanhosas e remotas do Egito e partes da Síria a partir séc. III. 
“Monges e freiras, que abriam mão de todos os confortos físicos, rejeitavam o 
sexo e casamento e comiam e dormiam pouco tomaram o lugar dos mártires 
como novos heróis dos Fiéis” (Clouse et al., 2003, p.102-103). 
O surgimento dos monastérios foi muito importante na história da teologia 
cristã. Eles se tornaram centros de atividade teológica e espiritual. Durante a 
Idade Média, a maior parte dos teólogos importantes eram membros de 
comunidades monásticas, ou estavam ligados a elas (McGrath, 1998, p. 96). 
A Idade Média foi um período da história da Europa entre os séculos V e 
XV. Iniciou com a queda do Império Romano do Ocidente. O término da Idade 
Média tem um marco importante, que foi em 1453 d.C., quando os turcos 
otomanos tomaram a cidade de Constantinopla, atual cidade de Istambul. 
O feudalismo era um modo de organização social, político e econômico 
desse período, sendo baseado no regime de servidão. O senhor feudal era dono 
das terras, ou seja, dos feudos. O feudalismo perdurou entre os séculos V e XV 
na Europa Ocidental. 
A partir dos séculos 12 e 13, com as novas condições sociais e 
econômicas, resultando no desenvolvimento do comércio e no crescimento das 
cidades, mudou o centro da atividade teológica dos mosteiros para escolas 
catedrais urbanas, assim antecipando o que seria as grandes universidades. 
(González 2004, p. 152). 
Foi na Idade Média que surgiram as universidades. As primeiras foram 
fundadas no século 12, tendo sido criadas na França, na Itália e na Inglaterra, e 
os primeiros cursos foram Teologia, Medicina e Direito. 
Na Idade Média houve várias catástrofes que assolaram o mundo, tanto 
no Oriente quanto no Ocidente. Devido ao não preparo para o enfrentamento 
dessas pandemias, milhares ou milhões pagaram com a vida. 
A peste negra de 1348 não foi em evento isolado. É provável que tenha 
atingido a Ásia e a África alguns séculos antes, mas não deixou 
nenhum registro detalhado de sua casuística. [...] a peste bubónica, 
veio da Índia. Atingiu Constantinopla em 542 e abriu seu caminho a 
golpe de foice até a Europa. A maioria dos que morreram dessa 
primeira fase da “peste negra” estava condenada dentro de seis dias a 
partir do momento em que manifestavam os primeiros sintomas, [...]. A 
China e o Japão também sofreram com epidemias que talvez 
parecessem a peste negra. Dizem que a cidade chinesa de Kaifeng 
chegou perder centenas de milhares de habitantes durante uma 
epidemia em 1232 [...]. Após chegar à Europa, em 1348, ela se 
espalhou rapidamente. Algumas cidades – Paris, Hamburgo, Florença, 
 
 
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Veneza – perderam metade de sua população ou mais [...]. No total, 
talvez 20 milhões de europeus tenham morrido ou um em cada três 
pessoas. (Blainey, 2004, p.154) 
Essas fatalidades afetaram muitas regiões do mundo no decorrer da Idade 
Média. A grande mortandade da população foi devido ao não preparo para o 
enfrentamento dessas pandemias. 
TEMA 2 – O GRANDE CISMA 
As divisões entre os líderes na igreja cristã é algo que sempre esteve 
presente na história do cristianismo. Em Atos 15. 39-40 “E tal contenda houve 
entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, 
navegou para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado 
pelos irmãos à graça de Deus”. 
Isso também ocorreu em outros momentos no decorrer da história. 
no fim do século VIII e no fim do século IX, as duas metades da 
cristandade desenvolveram suas próprias culturas eclesiásticas e 
teológicas de tal forma que se tornou quase impossível uma 
verdadeira comunicação e compreensão entre si. Decerto, bispos e 
teólogos viajavam de Constantinopla para Roma e vice-versa, mas 
esses intercâmbios frequentemente agravavam os desentendimentos 
e até mesmo criavam animosidades. Como de costume, a política 
desempenhou papel importante nesse rompimento. (Olson, 2001, 
p.309) 
Um rompimento que marcou a igreja cristã foi o Grande Cisma. Esse 
termo é usado duas ou até três vezes para identificar eventos distintos na história 
do cristianismo conforme afirma Olson, (2001, p.380). 
Um terceiro grande cisma estava acontecendo na cristandade. O 
primeiro foi a divisão entre o Ocidente e o Oriente em 1054. O segundo 
foi a luta medieval entre dois e, depois, três papas de 1378 a 1417. 
Agora, o terceiro era a divisão entre as igrejas católica romana e 
protestante na Europa, que começou por volta de 1520 com a 
excomunhão de Lutero da igreja de Roma. 
Nesse momento, inclinamos nossa atenção para apresentar alguns 
aspectos que levaram ao que é considerado o Segundo Grande Cisma que foi a 
divisão entre a Igreja Ortodoxa Oriental e o Catolicismo Romano em 1054. 
As divergências entre o Oriente e o Ocidente são aspectos que tiveram 
suas raízes séculos antes, conforme aponta Olson (2001, p. 309): “no fim do 
século viu e no fim do século IX, as duas metades da cristandade desenvolveram 
suas próprias culturas eclesiásticas e teológicas de tal forma que se tornou 
quase impossível uma verdadeira comunicação e com preensão entre si”. 
 
 
5 
A seguir, você encontra algumas das diferenças entre a Igreja do Ocidente 
e a do Oriente, destacadas por Olson (2001, p. 308-310). 
Quadro 1 – A Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente 
Ocidente Oriente 
Salvação vista em termos jurídicos absolvição 
ou condenação divina das almas 
Deus e o homem participam na salvação 
Autoridades externas e objetivas (Bíblia, 
credos, lei canônica) 
A tradição passa a ser a norma suprema 
de toda a teologia (Bíblia faz parte da 
tradição). A tradição se completou por 
volta de 787 (Concílio de Nicéia II). 
Teologia é uma filosofia Teologia é reflexão sobre a tradição = 
interpretaçãoda adoração e da Bíblia. 
Mantém a fidelidade à “mente de Cristo” 
pela liturgia da igreja, pela tradição da 
santidade, pela gnosis viva da Verdade 
Adoração é produto da reflexão sobre a Bíblia 
e a teologia 
A liturgia é a fonte e expressão de sua 
teologia. “A lei da adoração é a lei da 
crença” 
Celibato para todo o clero Celibato somente para o alto clero 
Papa de Roma é o senhor absoluto Não reconhecem a autoridade de Roma 
sobre eles 
Aceita o juízo após a morte Não aceita o Juízo particular 
imediatamente após a morte 
Houve outras divergências que contribuíram para que houvesse essa 
ruptura, aspecto este que já dura aproximadamente 1000 anos. 
TEMA 3 – TOMÁS DE AQUINO (1225 – 1274) 
É considerado um grande teólogo cristão de todos os tempos. Entre 
Agostinho (352-430) e Karl Rahner (1904-1984), Tomás de Aquino (1225-1274) 
é, sem dúvida nenhuma, o maior teólogo da Igreja Católica. Suas contribuições 
para o pensamento cristão são de grande valia. 
3.1 Biografia 
Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, na Itália, em 1225, e veio a 
falecer em 7 de março de 1274. Ele cursou o ensino primário no mosteiro de 
Monte Cassino. Na sua juventude, foi estudar Universidade de Nápoles. 
Na ocasião, ele teve contato com duas forças que iriam produzir grandes 
mudanças em sua vida. A primeira foi a redescoberta da filosofia aristotélica. A 
segunda influência foi a nova ordem dos frades dominicanos. Ele entrou para 
essa ordem em 1242 e foi morar em um mosteiro. 
 
 
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Aquino saiu da Itália [...] e estabeleceu-se na vida estudantil da 
Universidade de Colônia, na Europa Central, onde foi aluno do grande 
mestre escolástico Alberto Magno (Alberto, o Grande, 1193 – 1280), 
que supostamente declarou, a respeito de Aquino, para todos os 
estudantes, [...] Depois de estudar em Colônia, A quino estudo u 
teologia e filosofia na Universidade de Paris, que havia se tornado 
campo fértil de controvérsia a respeito da filosofia de Aristóteles. Os 
frades franciscanos, que tinham um grande mosteiro em Paris e 
ensinavam na Escola de Teologia da Universidade. (Olson, 2001, p. 
341) 
Com esse grande preparo acadêmico, ele começou sua carreira como 
professor em 1256, em Paris, escrevendo muito nesse período. Suas obras 
tiveram enorme influência da teologia e na filosofia. Ele é autor da Suma 
Teológica, tendo levado nove anos para escrever essa obra (1265 e 1274), que 
tem como foco principal a existência de Deus, a natureza do ser humano e sua 
moralidade. 
3.2 Aquino e sua compreensão sobre a existência de Deus 
O homem tem capacidade de penetrar na própria natureza das coisas, de 
conhecer a sua causa e sua finalidade. Assim, o homem pode conhecer Deus 
como o ser mais elevado e como o fundamento de toda a realidade. 
O homem tem capacidade de penetrar na própria natureza das coisas, de 
conhecer a sua causa e sua finalidade. Com isso, o homem pode conhecer a 
Deus como o ser mais elevado e como o fundamento de toda a realidade. 
O homem não pode entender totalmente a Deus por este ser muito 
superior a ele. Mas como podemos entender a natureza e propósito das coisas, 
também podemos concluir que Deus existe por ele ter criado as coisas 
(Hägglund, 1989, p. 15). 
Aquino desenvolve o conhecimento de Deus com base em cinco aspectos 
importantes do mundo criado: movimento, causa eficiente, necessidade, 
perfeição e a ordem das coisas. Partindo deles, Aquino fala de Deus como o 
primeiro motor imóvel, a primeira causa, a necessidade absoluta, a perfeição 
absoluta e a suprema inteligência. Nosso conhecimento sobre Deus é imperfeito. 
Podemos chegar à conclusão de que Ele existe, mas não o que Ele é. Para isso, 
temos a revelação divina. 
 
 
 
7 
3.3 Como Aquino entende a graça divina? 
Nessa época, as ideias de mérito e recompensa eram enfatizadas mais 
fortemente que durante a época de Agostinho. O entendimento que pairava era 
que aquilo que fazemos e somos irá estabelecer nossa relação com Deus. 
Aspectos estes que precisamos refletir, pois quem é o homem para que possa 
se achegar a Deus. 
A salvação não pode ser experimentada sem a graça sobrenatural que é 
a ação divina para nos unir com ele. “Para ele, a razão tem uma esfera distinta 
da graça e da revelação: a natureza. Da mesma forma, a fé tem uma esfera 
distinta da natureza e superior a ela: o sobrenatural” (Olson, 2001, p. 344). 
Para Aquino, graça é a obra de Deus na vida dos humanos, elevando-os 
acima de sua natureza humana até o ponto onde se tornam participantes da 
natureza divina. Dessa maneira, a graça é “a atividade sobrenatural de Deus que 
operam a salvação elevam a natureza; a revelação cumpre e complementa a 
razão. As duas esferas não são opostas. Elas são distintas, mas 
complementares” (Olson, 2001, p. 345). 
TEMA 4 – MÍSTICOS MEDIEVAIS 
O significado da palavra místico, de acordo com o dicionário Michaelis, é 
o seguinte: 
Relativo à vida espiritual ou religiosa, que não pode ser explicado pelas 
leis naturais; espiritual, sobrenatural, que se relaciona com o espírito e 
não com a matéria, diz das coisas religiosas que envolvem uma razão 
oculta e incompreensível, que é característico do ambiente espiritual e 
religioso. 
Quem eram, o que eles pretendiam e quais suas principais ideias? Essas 
perguntas iremos responder no decorrer deste tema. Conforme Tillich (1988, p. 
205), 
Não eram monges contemplativos, fora do mundo, mas queriam que o 
povo experimentasse o que fora expresso nos sistemas escolásticos. 
Dessa maneira o misticismo de Meister Eckhart reunia os conceitos 
escolásticos mais abstratos – especialmente o do ser – com a alma 
ardente, com o calor do sentimento religioso e com o poder amoroso 
da atividade religiosa. Dizia “Nada é tão íntimo e tão próximo dos seres 
como o próprio ser. Deus é o próprio ser”. 
 
 
8 
O desejo desses místicos era que as doutrinas cristãs objetivas e as 
decisões dos pais e dos concílios da igreja fossem elementos apropriados 
pessoalmente pelos fiéis. 
Sempre quando temos um movimento para um lado, antevemos uma 
reação para o outro. A escolástica era sistemática e procurava entender as 
coisas racionalmente. Agora temos um movimento mais para a experiência. Isso 
vai se repetir muitas vezes na história da igreja. Para Tillich (2000, p .205), “A 
igreja, por muito tempo influenciada por esse misticismo e, até hoje, muita gente 
ainda o experimente. O misticismo dominicano contrabalança o isolamento 
normalista entre os indivíduos”. 
O misticismo no final do período medieval teve uma grande abrangência 
e influência na Europa, conforme afirma Gonzales (2004, p. 312): “Os séculos 
14 e 15 testemunharam um amplo reavivamento da piedade mística. Embora isto 
fosse mais evidente no Reno, o movimento do Reno teve seus equivalentes na 
Grã Bretanha, Espanha, e Itália”. Um personagem importante nesse movimento 
e que acabou se destacando foi João Eckhart. 
Nas costas do Reno, o grande professor do misticismo do século 14 
era o dominicano João Eckhart. Em consonância com as novas 
tendências místicas, Eckhart não era um entusiasta emocional, um 
agitador ignorante ou um ermitão contemplativo. Pelo contrário, ele era 
um aluno aplicado que estudou na Universidade de Paris, um espírito 
calmo que rejeitou o emocionalismo indevido, e um ativo participante 
na vida prática e administrativa da Ordem Dominicana. (Gonzales, 
2004, p. 312) 
É importante observarmos que João Eckhart era um sujeito estudioso e o 
grande acadêmico, que rejeito o emocionalismo, aspecto este que, muitas vezes, 
prevalece nesse tipo de movimento e deixando de lado uma reflexão mais 
racional. 
Os místicos estavam interessados nos seguintes temas, “a doutrina de 
Deus, os anjos, a alma do homem, e o significado dos sacramentos e dos atos 
litúrgicos” (Hägglund, 1989, p. 176), não que eles não estudassem outros 
assuntos. 
Com respeito à doutrina relacionada a Deus, eles compreendiam que: 
Deus é a Unidade Absoluta,além da complexidade da criação e 
mesmo além da Trindade. Descreveu a origem do mundo em parte 
como criação, e em parte como emanação. A alma do homem ocupa 
terreno intermediário. A alma possui um núcleo divino nas profundezas 
de seu ser, que é o fundamento ou a fagulha da alma. Este fundamento 
da alma é idêntico à Unidade absoluta, e é o lugar onde Deus nasce 
na alma. (Hägglund, 1989, p. 176) 
 
 
9 
Desse modo, a natureza e o próprio homem são fruto de Deus e não pode 
haver uma separação total entre o ser criado e Deus. Entretanto, é correto 
afirmar que existe uma distinção entre Deus e sua criação. Existe uma relação, 
mas também uma distinção clara. Deus é criador e nós, simples criaturas. 
O lado perigoso do misticismo é que ele enfatiza demasiadamente as 
experiências espirituais, esquecendo que precisamos compreender as escrituras 
de maneira correta. Assim como naquela época, a busca pela espiritualidade 
pode facilmente se tornar um fim em si mesmo. Podemos nos esforçar tanto para 
termos uma vida desprovida de pecados que não temos mais tempo para fazer 
nada pelos necessitados ao nosso redor, não temos tempo de visitar alguém que 
não esteja ao nosso nível espiritual, como se fôssemos mais elevados 
espiritualmente 
A busca pelo equilíbrio pode ser alcançada quando não vamos aos 
extremos. Não devemos depender de experiências místicas, mas saber que elas 
podem ser marcos importantes em nossa vida com Deus. Não devemos nos opor 
a elas, mas saber colocá-las na perspectiva correta. 
TEMA 5 – ESCOLÁSTICA (1200-1500) 
A escolástica é um movimento que procurou demonstrar metodológica e 
filosoficamente que a teologia cristã é essencialmente racional e coerente, no 
contexto da Europa medieval. O termo escolástica vem de schola – “escola”. 
Para Olson (2001), alguns aspectos importantes devem ser considerados em 
relação à escolástica: 
A teologia escolástica como é normalmente chamado o renascimento 
do pensamento, brotou das grandes ordens monásticas reformadoras 
fundadas na Europa e floresceu nas novas universidades, como a de 
Paris e a de Oxford. As universidades eram, de início, simplesmente 
grupos de estudiosos independentes que ingressavam nas escolas das 
grandes catedrais e mosteiros. Alguns eram monges, mas boa parte 
dos estudiosos da era medieval era formada por leigos que tinham 
recebido educação clássica nas escolas das catedrais ou nos 
mosteiros sem nunca, entretanto, fazer os votos o u ser ordenados. 
(Olson, 2001, p. 317) 
5.1 Características da teologia escolástica 
A escolástica procurou demonstrar metodológica e filosoficamente que a 
teologia cristã é essencialmente racional e coerente no contexto da Europa 
medieval, sendo que esse movimento se fomentou no interior das universidades. 
 
 
10 
Sendo que a filosófica escolástica procurou criar um sistema de pensamento 
coerente e abrangente. Houve por parte desses pensadores o objetivo 
sistematizar a fé muito mais do que desenvolver novas ideias. 
Para Olson (2001, p. 318-319), três características estão presentes e são 
os pontos que são comuns do escolasticismo medieval. A primeira característica 
era que o escolasticismo abraçou com paixão a razão como caminho para o 
conhecimento. O lema era “a fé em busca de entendimento” e, em complemento, 
“creio para compreender”. 
A segunda característica é a preocupação em descobrir a relação correta 
entre as filosofias não cristãs e a revelação. Esse aspecto foi tão enfatizado que, 
no auge do escolasticismo, obras dos filósofos gregos, como Aristóteles, foram 
traduzidas para o latim – muitos teólogos desse período usavam as obras de 
Platão. 
A terceira característica comum da teologia escolástica era o emprego do 
estilo de ensinar e escrever, com o enfoque dado a comentários dos teólogos e 
filósofos do passado, que eram analisados por meio da dialética. O foco era 
sempre apresentar uma questão ou problema e, então, propor em debate. 
Na escolástica, a razão e a lógica é o caminho do conhecimento, sendo 
que se procurou criar um sistema de pensamento coerente e abrangente. Havia 
uma preocupação e sistematizar a fé muito mais do que desenvolver novas 
ideias. Eles enfatizaram uma lógica rigorosa, enfatizando o raciocínio dedutivo. 
O entendimento de que a mente racional poderia, com a ajuda da graça divina, 
descobrir as respostas para todas as questões importantes daqueles dias. 
A escolástica utilizou o método da dialética para discutir e contra-
argumentar sobre os grandes teólogos e filósofos do passado tentando, com 
isso, chegar à verdade. A dialética funcionava onde uma pessoa defendia uma 
ideia e a outra se opunha e aí havia conversa e discussão. Nesse sentido, 
valorizavam a disputa de argumentos. 
5.2 Conceitos teológicos se desenvolvem nesse período 
Havia uma preocupação muito grande quanto a sistematizar e expandir a 
teologia cristã, bem como demonstrar a racionalidade inerente à teologia. 
Buscou-se sistematizar Agostinho e dar um passo adiante. Para que isso fosse 
possível, era necessário achar um método para fazê-lo. 
 
 
11 
Anselmo enfatizou que precisamos “crer para entender” e “crer buscando 
compreender”. O que ele quis dizer é que a fé viria antes do entender, mas o 
conteúdo da fé seria racional. Logo, a fé seria prioritária sobre a razão, mas, ao 
mesmo tempo, enfatizava que a fé seria racional (McGrath, 1998, p. 118-119). 
Era uma atitude que defendia os cristãos dos críticos não cristãos, 
sistematizando a fé e ajudando as pessoas a entendê-la melhor. Para provar a 
fé racionalmente, precisava-se de um sistema filosófico. O sistema usado foi o 
de Aristóteles. 
A escolástica colocava um valor muito grande sobre a razão humana e a 
lógica. A lógica era muito útil para se chegar às respostas corretas e evitar ou 
desmascarar as respostas erradas. Muitas vezes, havia um exagero, pois se 
discutia e perdia muito tempo sobre coisas sem muita importância. 
Os grandes escolásticos concordavam que a razão precisa trabalhar 
dentro da esfera da fé e sobre a revelação divina da Palavra e da tradição da 
igreja. O que realmente estavam tentando era montar ideias lógicas sobre Deus 
que pudessem estar no centro do currículo das universidades para que a 
Teologia se tornasse a mãe de todas as ciências (Olson, 2001, 312-313). 
A questão da autoridade sempre foi algo colocado no centro de muitas 
discussões. Havia o entendimento de que a autoridade suprema emanava da 
Igreja, sendo que esta se baseava na tradição, pois isso era expresso no 
reconhecimento dos pais da Igreja, nos credos e concílios e na Bíblia. 
Mas essa tradição “se compunha de diversos elementos nem todos 
dizendo a mesma coisa”. Esse problema vai se evidenciar em pontos práticos da 
sua fé que precisam de definição. Nesse vácuo, vai se achar lugar para que a 
razão possa coletar, harmonizar e comentar os ensinos dos pais apostólicos. 
Logo se busca uma fonte de autoridade que possa sistematizar e por assim dizer 
dar uma base mais sólida para a tradição. Ela também vai dar sentido à tradição 
(Tillich, 1988, p. 136). 
No que diz respeito à teologia da graça, Agostinho tinha escrito muito 
sobre ela, entretanto seus escritos não eram sistematizados. Desse modo, os 
escolásticos se viram na obrigação de sistematizar esse ensino para que 
pudessem colocar essa doutrina com um bom embasamento e explorar as 
consequências dessa doutrina. Essa sistematização veio contribuir, pois a 
doutrinas da graça e da justificação serviram de base para a discussão sobre 
esse assunto na Reforma (McGrath, 1998, p. 120). 
 
 
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Para finalizar a reflexão sobre a escolástica, salientamos alguns pontos. 
A escolástica enfatiza a razão e tinham uma explicação teológica para os 
problemas da vida. Na prática, esse relacionamento entre razão e fé fica confuso 
em alguns momentos. A ênfase na razão humana veio a contribuir para a 
Reforma, pois trouxe a ênfase pelos ensinamentosda Bíblia. 
NA PRÁTICA 
Para Tomás de Aquino, a salvação não pode ser experimentada sem a 
graça sobrenatural que é a ação divina para nos unir com Deus. Nos dias atuais, 
o que tem predominado na fala de muitos pregadores da mídia? Que a salvação 
é obtida pela graça divina ou que é mérito humano? 
O Grande Cisma separou definitivamente a Igreja Católica Apostólica 
Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa em 1054. No Brasil, podemos 
observar que tem ocorrido muitas divisões entre as igrejas. Por que motivo isso 
tem ocorrido? Será que muitas divisões poderiam ser evitadas? 
FINALIZANDO 
A Idade Média foi um período da história da Europa entre os séculos V e 
XV, tendo seu início com a queda do Império Romano do Ocidente. Quando os 
turcos otomanos tomaram a cidade de Constantinopla, em 1453, atual cidade de 
Istambul, podemos dizer que houve o encerramento do período medieval. 
Entre alguns acontecimentos desse período, temos o Grande Cisma, que 
separou definitivamente a Igreja Católica Romana da Igreja Ortodoxa. Ele 
aconteceu no século XI, mais especificamente no ano de 1054. 
Um personagem que se desatacou no período Medieval foi Tomás de 
Aquino (1224-1274). Ele foi um frade da ordem dos dominicanos e suas obras 
tiveram enorme influência na teologia e na filosofia. Aquino afirma que não 
podemos forçar a graça da salvação. Ela é um presente dado por Deus e não 
pode ser meritória. 
O misticismo no final do período medieval teve uma grande abrangência 
e influência na Europa. O misticismo focava demasiadamente nas experiências 
espirituais, esquecendo que precisamos compreender as escrituras de maneira 
correta. Um personagem importante nesse movimento e que acabou se 
destacando foi João Eckhart. 
 
 
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A escolástica é um movimento que procurou demonstrar metodológica e 
filosoficamente que a teologia cristã é essencialmente racional e coerente, no 
contexto da Europa medieval. A teologia escolástica, como é normalmente 
chamado o renascimento do pensamento, nasceu nas grandes ordens 
monásticas reformadoras fundadas na Europa e floresceu nas novas 
universidades da época. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
CLOUSE, R. G.; PIERARD, R. V.; YAMAUCHI, E. M. Dois reinos: A igreja e a 
cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. 
GONZÁLEZ, J. L. Uma história do pensamento cristão. São Paulo: Cultura 
Cristã, 2004. v. 1. 
HÄGGLUND, B. História da teologia. Porto Alegre: Concórdia Editora, 1989. 
MCGRATH, A. E. Historical Theology: an introduction to the history of Christian 
thought. Malden, Mass: Blackwell, 1998. 
OLSON, R. História da teologia cristã: 2000 anos de tração e reformas. 
Tradução de Gordon Chown. 4. ed. São Paulo: Vida, 2001. 
SHELLEY, B. L. História do cristianismo: ao alcance de todos. Tradução de 
Vivian Nunes do Amaral. São Paulo: Shedd, 2004. 
TILLICH, P. História do pensamento cristão. Tradução de Jaci Maraschin. São 
Paulo: Aste, 2000.

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