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Prévia do material em texto

Julho/ 2019
Professor: Dr. Wander de Lara Proença
Coordenadoria de Ensino a Distância: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento 
institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3História do cristianismo | FTSA | 
SUMÁRIO
História do cristianismo I
Unidade I - Contexto, temas e personagens da reforma
Introdução...............................................................................................................04
1. Motivos e interpretações da reforma na igreja no século XVI.........................05
2. Quem foi Martinho Lutero...................................................................................17
3. Lugares, estratégias e repercussões do movimento reformador....................24
Unidade II - A reforma protestante e seus movimentos
Introdução...............................................................................................................33
1. Líderes e movimentos de Reforma....................................................................34
2. Grupos e contexto social da Reforma...............................................................42
3. O papel da leitura nos movimentos de reforma................................................50
4. João Calvino e a Reforma em Genebra.............................................................54
5. O legado luterano e a Contra-Reforma Católica................................................57
Unidade III - Expansão dos movimentos de reforma - Parte I
Introdução...............................................................................................................61
1. Moviemntos advindos com a Reforma: Pietistas, Moravianos e Puritanos...61
2. A reforma na Inglaterra e o contexto de surgimento do Metodismo..............68
3. John Wesley e o Metodismo..............................................................................72
4. Protestantismo no E.U.A e (re)avivamentos.....................................................78
Unidade IV - Expansão dos movimentos de reforma - Parte II
Introdução...............................................................................................................88
1. Origens do Pentecostalismo..............................................................................89
2. Primeiros contatos da América Portuguesa com o Protestantismo...............96
3. Signifi cados da Reforma Protestante 500 anos depois..................................103
Para assistir os vídeos, ouvir os podcasts e fazer os exercícios,
acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)
Atenção! Lembre-se que faz parte de suas obrigações:
1 - Participação na disciplina por meio da realização dos exercícios;
2 - Exercício integrativo - Resumo da disciplina, 1500 palavras;
3 - 2 Provas objetivas (5 questões cada);
4- Leitura de textos complementares (100 páginas);
Consulte o “Programa de curso” e veja mais detalhes!
| História do cristianismo II | FTSA4
Olá, seja bem-vindo(a) ao curso de História do Cristianismo II.
Esta disciplina dará sequência aos conteúdos vistos em História do 
Cristianismo I, tendo como ponto de partida a Reforma Protestante do 
século XVI. Sobre este aconteciemnto, veremos: Como ocorreu? Quem 
foram seus principais líderes? Que mudanças promoveu? Qual a sua 
repercussão e alcance social, cultural, político? Quais denominações 
protestantes surgiram? Quais países foram alcançados? Quais outros 
movimentos surgiram posteriormente como desdobramentos da Reforma?
Ocorrida inicialmente na Europa, expandiu-se logo depois para outros 
continentes, dentre os quais, a América. Protestantes ou evangélicos, são 
terminologias que historicamente passaram a designar uma grande parcela 
de cristãos identificados com estes acontecimentos do Mundo Moderno. 
Veremos que esse caminho histórico foi marcado pelo surgimento de 
inúmeros movimentos, denominações e tipologias doutrinárias. Exemplos 
disto são os movimentos avivalistas e reavivalistas dos séculos XVIII e 
XIX, com seu impacto e expansão missionária. Nestes acontecimentos, 
dos séculos XVI e XIX, estão as raízes do que são hoje as diversas 
denominações que confi guram o cenário evangélico-protestante, em 
termos de doutrina e prática. 
Este é, então, um período muito rico da história do cristianismo. E para um 
desenvolvimento mais dinâmico destas aulas, usaremos textos, vídeos e 
documentários.
Para isto, recomendamos que leia atentamente as aulas escritas, os textos 
de apoio, veja os vídeos e interaja com as atividades propostas. 
Evidentemente, muitos outros assuntos ou temas importantes poderiam ser 
aqui abordados, mas as aulas apresentadas no programa de curso foram 
cuidadosamente selecionadas, objetivando proporcionar uma compreensão 
panorâmica deste emblemático e extensivo período histórico.
Iniciemos essa jornada instigante, buscando compreender no passado as 
origens do nosso presente. Bom curso!
Prof. Wander de Lara Proença
5História do cristianismo | FTSA | 
UNIDADE I - Contexto, temas e personagens da reforma 
protestante
O movimento de reforma ocorrido na igreja no século XVI representa, 
ao mesmo tempo, o início e o fi m de acontecimentos que marcam a 
história do Cristianismo. Representa o fi m, pela consolidação de anseios 
vivenciados por inúmeros cristãos ao longo do período medieval, que 
vendo a realidade de uma igreja marcada por interesses e disputas de 
poder obscuros ao reino de Deus, e pela prática de doutrinas estranhas às 
Escrituras bíblicas e à tradição apostólica. Representa também o início, 
ou (re)começo, de um novo tempo para a fé cristã, marcado pelo impacto 
da leitura e pregação da Bíblia no vernáculo, pelo surgimento de novos 
valores calcados na ética protestante, com repercussões na cultura, na 
economia e na política.
Nesta primeira unidade de estudos, é quase que natural as atenções 
estarem voltadas para um personagem, Martinho Lutero, por ser um 
representante emblemático destes acontecimentos. Costuma-se dizer 
que “Lutero foi a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa”. Pessoa 
certa (por seu preparo intelectual, liderança, paixão pelas Escrituras), no 
lugar certo (porque na região onde se defl agrou a Reforma, a Germânia, 
havia intenso anseio de mudança pelos príncipes que ali governavam, 
por camponeses, e também por estar ali o berço da invenção da 
imprensa), na hora certa (por ser aquele momento da história marcado 
pelo Renascimento, pelo Humanismo, vetores de mudança e gestação 
do Mudo Moderno). Mas veremos que Lutero não está sozinho. Ele 
é continuador de líderes pré-reformadores; está acompanhado de 
estudantes, que o ajudam a escrever as 95 teses; tem o decisivo apoio 
de príncipes; é seguido e auxiliado por outros infl uentes líderes que 
espalharam a mensagem reformista em diferentes lugares.
| História do cristianismo II | FTSA6
1. Motivos e interpretações da Reforma na igreja no século 
XVI
1.1. O contexto religioso e teológico
Para introduzir os conteúdos que virão pela frente, ao longo do curso, é 
importante inicialmente perguntar: por que foi necessária uma reforma 
na Igreja no século XVI?
Na disciplina anterior, de História do Cristianismo I, vimos que no período 
“medieval” ou Idade Média (entre os séculos V e XV) desenvolveu-se 
o catolicismo institucionalizado, com acentuada estrutura hierárquica, 
sustentada na fi gura papal e no clericalismo de bispos e sacerdotes. 
Após a conversão do imperador Constantino, os clérigos passam a ter 
remuneração do Estado, constroem-se suntuosos templos, o poder 
religioso passa a estar atrelado ao poder político etc. A igreja alia-se 
ao Império Romano, contra o qual deixa de exercer função profética de 
denúncia e reivindicação - O Estado passa agora a benefi ciá-la. A igreja 
desempenha em tal sociedade, a partir de então, um papel semelhante ao 
da velha religião estatal, ou seja, concebendo Cristo apenascomo um rei 
celestial que dá apoio ao imperador cristão que governava em seu nome. 
Aprendemos também que nesse mesmo período foi marcante a vivência 
de um cristianismo mais popular, folclórico, profundamente arraigado 
em imaginários religiosos sincréticos, com fortes raízes fi ncadas no 
elemento da magia. Isso porque, especialmente, a partir do século IV 
da era cristã, quando o cristianismo se tornou religião livre e ofi cial do 
Império Romano, desenvolveu-se um intenso e crescente processo de 
aculturação entre doutrinas cristãs e antigas práticas religiosas que 
permeavam o universo de crenças do mundo greco-romano.
Alguns exemplos das doutrinas e práticas surgidas como sincretismo ou 
hibridismo formados naquele período são: Jesus deixa de ser o único 
mediador (também a mãe de Jesus e os apóstolos, especialmente 
7História do cristianismo | FTSA | 
passam a exercer tal função); surge a fi gura papal, como representante 
de Cristo na Terra; a Bíblia passa a ser lida somente em latim e pelos 
clérigos, fi cando, portanto, distante do povo; a justifi cação passa a se dar 
também por obras, daí as penitências, os autofl agelos, as indulgências 
como meios de redimir pecados; a doutrina do purgatório, mediante a 
qual era dada a oportunidade de salvação após a morte àqueles que não 
se preparam devidamente em vida; surgimento da Inquisição, que se 
constituía numa tribunal eclesiástico que dava à igreja o direito de julgar 
e punir àqueles que ousassem questionar as doutrinas canônicas ou a 
verdade que pertencia de forma exclusiva e absoluta à igreja medieval.
No chamado “período áureo” da Idade Média, verifi cam-se vários prejuízos 
à missão da igreja. A preocupação da comunidade cristã ofi cial 
neste contexto voltou-se quase que exclusivamente para a elaboração 
dogmática da teologia, fundamentada em categorias fi losófi cas, sob forte 
infl uência da metafísica. O que mais importava era o Cristo triunfante e 
transcendental, e não o Jesus histórico. Há também nesta época forte 
interesse pela vida monástica, a qual levava os cristãos a fugirem do 
mundo e seus confl itos, com o propósito de se dedicarem à purifi cação e 
contemplação nos desertos.
Também se observou um grande apego à magia. Segundo o sociólogo 
Leonildo Campos (1997), nesse período a assimilação da fé cristã pela 
população rural, mediante a catequese, “formou uma camada de verniz 
sobre uma antiga realidade religiosa” (p.170), desencadeando um intenso 
apego às relíquias como fetiches de proteção, com caráter mágico, 
objetos esses que supostamente teriam sido utilizados pelos apóstolos 
ou outros mártires do cristianismo e que eram então guardados nos lares 
dos devotos com o sentido de proteção contra doenças, contra infortúnios 
do demônio ou como ajuda contra as intempéries que poderiam ameaçar 
as colheitas. O historiador inglês Keith Thomas também afi rma que no 
contexto da Idade Média:
as relíquias sagradas tornaram-se fetiches milagrosos, tidos como dotados 
do poder de curar enfermidades e proteger contra perigos [...] atribuía-se 
igualmente uma efi cácia miraculosa às imagens. A representação de São 
| História do cristianismo II | FTSA8
Cristóvão, que com tanta frequência (sic) ornamentava as paredes das 
igrejas das aldeias inglesas, supostamente concedia um dia de imunidade à 
doença ou à morte a todos os que a fi tassem (p. 36).
Este mesmo autor constata que no mundo medieval havia se desenvolvido 
um “amplo leque de fórmulas para atrair a bênção prática de Deus sobre as 
atividades seculares”, acrescentando:
O ritual básico era o benzimento com sal e água para 
a saúde do corpo e expulsão dos maus espíritos. Mas 
os livros litúrgicos da época também traziam rituais 
para benzer casas, gados, culturas, embarcações, 
ferramentas, armas, cisternas e fornalhas. Havia 
fórmulas para abençoar homens que se preparavam 
para sair em viagem, para travar um duelo, para entrar 
em batalha ou mudar de casa. Havia métodos para 
abençoar os doentes e tratar de animais estéreis, 
para afastar o trovão e trazer a fecundidade ao leito 
matrimonial [...] Fundamentalmente em todo esse 
procedimento era a ideia de exorcismo, o esconjuro 
formal do demônio, expulsando de algum objeto 
material por meio de preces e da invocação do nome 
de Deus. A água benta podia ser utilizada para afastar 
maus espíritos e vapores pestilenciais. Era remédio 
contra a doença e a esterilidade (Thomas, p.38).
 Diante desse quadro religioso e teológico, surgiram movimentos 
de reforma dentro da própria igreja medieval — considerados pré-
reformadores — que buscavam mudanças, os quais prepararam o 
caminho para o advento da Reforma Protestante que viria a ocorrer 
no século XVI, buscando retomar o caminho bíblico e apostólico dos 
primeiros séculos.
Assista ao vídeo: História do Cristianismo II – AVA –Aula 1
Acesse o AVA para assis� r o vídeo!
9História do cristianismo | FTSA | 
1.2. Contexto sócio-político
Diante dos aspectos anteriormente apresentados, cabe agora perguntar: 
em que consiste a Reforma Protestante? Ou ainda: quais possíveis 
leituras podemos fazer deste movimento naquele período e contexto?
O advento de uma nova vertente cristã — o protestantismo — por si só 
confi gura o cariz essencialmente religioso da Reforma. No entanto, é 
possível — ou necessário — fazer leituras daqueles acontecimentos 
do século XVI por outros vieses. Um deles, pelo prisma econômico-
social. Nesta perspectiva, a meta primordial daquele movimento teria 
sido a eliminação do controle social exercido pela igreja, originado a 
expectativa de ganhos fi nanceiros: do príncipe, que via a possibilidade 
de tomar para si as terras da igreja; do camponês mais humilde que 
imaginava não mais ter de pagar dízimos (ou impostos) à igreja. Os 
anseios de mudança mobilizaram, assim, estratos sociais descontentes 
com a tarefa de produzir sob o aguilhão de pesada carga tributária que 
sustentava economicamente as instâncias de poder político e poder 
religioso: camponeses espoliados, formadores da base da pirâmide 
social, entenderam ser chegado o tempo de mudanças revolucionárias, 
quando a terra seria partilhada de modo igualitário entre os trabalhadores.
Outro olhar sobre a Reforma, primariamente na Alemanha, poderia 
considerá-la como uma questão de acentuada natureza política: a 
convergência entre a causa religiosa e o nacionalismo dos países 
europeus teria contribuído diretamente para o grande apoio recebido por 
Lutero do povo e da elite alemã. Lida, por um lado, como um instrumento 
utilizado pelos governantes locais para eliminar a infl uência externa sobre 
os seus territórios, a Reforma é entendida, por outro, como um primeiro 
exemplo do nacionalismo alemão. O aumento contínuo da consciência 
da nacionalidade e o fortalecimento da autoridade real já haviam sido 
presenciados no século anterior à Reforma. Decrescia o poder do papa e 
do imperador, enquanto afi rmava-se o poder dos reis. Além de contestado 
pelas outras nacionalidades, na Alemanha o imperador não conseguia 
impor sua autoridade diante da nobreza germânica. O Sacro Império 
| História do cristianismo II | FTSA10
continuava a ter as suas fronteiras ameaçadas pelos islâmicos. A Dieta 
Imperial (Parlamento) refl etia a ascensão do autonomismo nacional e o 
poder dos nobres regionais (Cavalcanti, p.121).
Uma das obras importantes de Lutero foi intitulada À Nobreza Cristã 
da Alemanha, de apelo nitidamente nacionalista. Com isso granjeou a 
simpatia e o apoio de vários dos poderosos príncipes-eleitores, entre os 
quais Frederico, o sábio, que corajosamente o protegia. Não tivesse ele o 
respaldo popular e o apoio de poderosas forças políticas, difi cilmente não 
seria derrotado, à semelhança do que ocorrera com os pré-reformadores, 
como John Huss, um século antes. 
Esse apoio do braço político teria sido, igualmente, decisivo para a 
expansão do protestantismo. Na Noruega, Dinamarca e Suécia, a Igreja 
torna-se protestante por decisão do rei e do parlamento.A Reforma, 
igualmente, concorreu para alterar a ordem política europeia. Os países 
aderiram ao protestantismo e se separaram do Sacro-Império e do papado, 
enfraquecendo-os. Esses países separados afi rmariam o princípio da 
soberania, como estados-nacionais.
Exercício de Fixação
Sobre as interpretações da Reforma podemos dizer que:
a) A análise deve focar exclusivamente na dimensão religiosa, pois, embora 
tenha atingido outras dimensões da vida social, a reforma foi estritamente 
religiosa.
b) A análise deve levar em consideração tanto a dimensão religiosa 
quanto as dimensões da vida social, pois a reforma correspondeu a essa 
complexidade das realidades humana.
c) A análise deve focar exclusivamente nas dimensões da vida social, pois, 
embora ela tenha iniciado como uma discussão de cunho religioso, isso 
não passou de pretexto para a independência política das regiões sob o 
domínio do Sacro Império.
Acesse o AVA para fazer o exercício!
11História do cristianismo | FTSA | 
1.3. Mudanças impulsionadas pela reforma
O movimento de Reforma se tornaria o marco de profundas mudanças que 
não se restringiram tão somente ao aspecto religioso, mas que promoveram 
transformações de âmbito político, sócio-econômico e cultural. 
João Calvino, outro infl uente líder da Reforma, ao lado de Lutero, foi 
grande responsável pela formação de um novo conceito em relação ao 
trabalho. Durante a Idade Média, o trabalho era visto como sinônimo de 
castigo divino; além do que, a fé cristã projetava a realização de seus 
sonhos e desejos para o paraíso no “além celestial”. Na compreensão 
dos reformadores, o trabalho passou a ser visto como vocação divina, 
que não só dignifi ca o ser humano, como também promove a glória de 
Deus. Este novo conceito inseriu-se perfeitamente no novo modelo de 
sociedade que a modernidade passava a exigir. Daí a Reforma ter obtido 
tanto êxito nos países em que se forjava o moderno modelo econômico, 
intensamente voltado para a produção.
Analisando este importante período da história da igreja, o historiador Éber 
Silveira Lima comenta que a Reforma Protestante, no século XVI, signifi cou 
um retorno da igreja aos princípios que sempre marcaram sua identidade:
W. Walker, historiador protestante, usa a expressão 
bíblica “vinho novo em odres velhos”, ao explicar sobre 
as razões que motivaram a Reforma do século XVI. 
A Igreja Medieval, trazendo no seu bojo as inserções 
acumuladas por tantos séculos, se descaracterizara 
quase que por completo. Perdera, ademais, a vitalidade 
dos primeiros tempos, em termos de fé e prática neo-
testamentárias. O “odre velho”, ou seja, a instituição 
eclesiástica envelhecida, carcomida, rançosa, herdara 
do Império Romano sua noção de sociedade, desde 
o momento em que o Papa passou a ser na prática, o 
sucessor dos Césares, na mistura da religião com o 
poder civil, que tanto concorrem para o desfi guramento 
| História do cristianismo II | FTSA12
da igreja. A Reforma foi, nesse contexto, o resultado de um 
processo histórico, reconhecida por nós a ação de Deus 
com o intuito de renovar os odres para a preservação do 
vinho novo, que é o Evangelho (1988, p. 1).
Neste importante período, ocorre, portanto, uma retomada da temática 
da cruz quando os reformadores objetivam reconduzir a igreja às suas 
origens doutrinárias e, consequentemente, às suas verdadeiras funções 
de ser sal da terra e luz do mundo. A teologia da Reforma salienta a 
cruz por ser esta o lugar único do perdão e da redenção da humanidade, 
possibilitando a esta a condição para promover o reino de Deus. Por isso 
Lutero emitiu a célebre frase: “Crux sola nostra theologia” (somente a 
cruz é a nossa teologia). Lutero, em sua oração pascal, expressa bem a 
singularidade da obra redentora da cruz de Cristo e a capacitação que da 
ressurreição provém àqueles que passam a ser instrumentos de Deus na 
libertação da morte e da estrutura de pecado que ainda existem:
Sendo nosso fi ador, Tu foste entregue à morte, mas eis 
que vives. Tu venceste a morte e aniquilaste aquele que 
tinha o poder da morte, Tu foste feito o primeiro entre 
os que dormem. Porque Tu abriste o reino dos céus 
para todos os que vivem. O verdadeiro cordeiro pascal, 
que foste oferecido por nós, Tu tiraste o pecado do 
mundo e pela ressurreição nos restaurastes inocência 
e vida eterna. Completa, pois, em nós com poder a obra 
da fé, cuida que ressuscitemos contigo em verdadeiro 
arrependimento de nossa morte natural de ofensas 
e pecados. Possamos vencer o mundo e o terror da 
morte e, na Tua vinda para julgar a mundo, aparecer 
contigo em glória semelhantes a Ti e com nossos 
corpos transformados à imagem do Teu próprio corpo 
glorifi cado. (Liturgia Luterana, p.286-287).
É necessário destacar nesta oração de Lutero, a compreensão de que a cruz 
e a ressurreição não consistem em um fim em si mesmo, mas o meio pelo 
13História do cristianismo | FTSA | 
qual o ser humano é restaurado para agir na promoção do reino de Deus. 
Assim, para Lutero, a redenção não pode ser desvinculada da missão.
João Calvino também fundamenta sua elaboração teológica nos temas 
“cruz e ressurreição”, ressaltando a interdependência teológica entre os 
mesmos. Diz ele:
Ainda que na morte de Cristo tenhamos pleno 
cumprimento da salvação, pois por ela somos 
reconciliados com Deus, o juízo divino é satisfeito, a 
maldição suprimida e a pena paga. Sem dúvida não 
se diz que somos regenerados de uma viva esperança 
pela morte, mas pela ressurreição (1988, p. 539).
Ao falar da cruz propriamente, o reformador de Genebra nos diz que ela 
nos humilha, revela nossa hipocrisia, e nos liberta da confi ança que temos 
em nossas próprias forças. Nela nos tornamos totalmente dependentes 
da graça de Deus. E da ressurreição do crucifi cado provém a esperança 
do triunfo da verdade de Deus para a humanidade e seu futuro (1988, 
p. 539). Nas palavras de Calvino também encontramos a alusão de que 
a ressurreição consiste no poder que preenche o vazio outorgado pela 
cruz: “A cruz de Cristo triunfa de verdade no coração dos fi éis contra o 
Diabo, contra a carne, contra o pecado e contra os ímpios quando voltam 
seus olhos para contemplar o poder de sua ressurreição” (l988, p. 551).
Para Calvino, a ressurreição de Cristo é fator fundamental de nossa 
justifi cação, nossa santifi cação e a nossa própria ressurreição. Ele 
também aponta para a segurança que a ressurreição proporciona aos 
que percorrem o caminho da cruz no seguimento de Cristo:
A nossa santifi cação se deve pelo fato de que, assim 
como Cristo foi morto na cruz, devemos mortifi car 
a nossa carne e andarmos, assim como Cristo, em 
novidade de vida, com uma vida transformada. E é 
também pela ressurreição de Cristo assegurada a 
| História do cristianismo II | FTSA14
nossa própria ressurreição, uma vez que, tendo sido 
Cristo homem também, morreu à semelhança de toda 
a humanidade, mas não fi cou presa a ela, antes Deus 
o ressuscitou, vencendo a morte e destruindo o seu 
poder. Sendo assim, uma vez estando ligados a Cristo 
pela fé e engajados no seu ministério, é-nos assegurada 
a nossa ressurreição. Assim como Deus levantou a 
Cristo dentre os mortos, há também de nos levantar 
(1988, p. 386-387).
Desse modo, o espírito da Reforma do século XVI identifi ca-se bastante 
com o espírito da missão de Jesus Cristo entre os homens, quando a 
falsa religião e a hipócrita espiritualidade são denunciadas, juntamente 
com os abusos de poder que são feitos em nome de Deus. Este espírito de 
denúncia profética, de inconformismo, e de enfrentamento da realidade 
levado às últimas consequências, caracteriza o caminho da cruz pelo 
qual a Reforma Protestante trilhou, caminho este que produziu vida.
Também, em termos teológicos, houve a redescoberta do sacerdócio 
universal de todos os crentes, cujo princípio é o de que todo cristão, e não 
somente o clérigo, é vocacionado por Deus para exercer dons e ministérios. 
No período medieval, o exercício ministerial fi cou bastantecircunscrito 
ao controle da instituição católica, sobrevalorizando-se o clericalismo 
em relação ao laicato (leigos). Afi rma o sociólogo Pierre Bourdieu:
A concentração do capital religioso nunca foi talvez tão 
forte como na Europa Medieval. A igreja, organizada 
segundo uma hierarquia complexa, utiliza uma 
linguagem quase desconhecida do povo e detém o 
monopólio do acesso aos instrumentos do culto, textos 
sagrados e, sobretudo, os sacramentos (1996, p.62)
O fato de a Reforma trazer de volta o sacerdócio universal de todos os 
crentes, isto não signifi cou desprezo à formação teológica e ausência 
15História do cristianismo | FTSA | 
de preparo de novos líderes para o exercício do pastorado e outros 
ministérios. Logo no seu início, o protestantismo também criou suas 
escolas de Teologia, sendo a primeira e mais infl uente, a Academia 
de Genebra, na Suíça, sob liderança de João Calvino, acerca da qual 
trataremos com mais detalhes nos tópicos seguintes.
Saiba mais
Origens do Seminário
A palavra “seminário” tem sua origem no latim seminariu, que signifi ca 
originalmente “viveiro de plantas onde se fazem as sementeiras”. Este 
termo passou a designar instituição de ensino teológico no século 
XVI, mais precisamente entre 1545 e 1563, por ocasião do Concílio 
de Trento, também conhecido como Concílio da Contra-Reforma. 
Adotou-se ali a expressão para designar os cursos de formação 
eclesiástica sob controle da Igreja de Roma. A ideia original era a 
de que, semelhantemente às plantas dos viveiros e herbários, os 
candidatos às funções clericais também fi cassem separados sob 
cuidados especiais e protegidos durante seu processo de formação. 
Especifi camente, naquele momento, deveriam os estudantes fi car 
protegidos das “tentações do mundo” e das infl uências das “ideias 
heréticas” propagadas pelos protestantes (Proença, 2004, p.9)
 Exercício de Aplicação 
Citação 1:
Os melhores pastores não saem dos seminários. Pastor é que 
nem jogador de futebol: eles saem das escolinhas, eles surgem, 
aparecem. Depois só precisam ser lapidados. Com o passar dos 
anos, eles vão fi car muito mais preparados do que jamais fi cariam 
num seminário normal. Os grandes homens de Deus surgiram do 
nada, sem preparação (Eclésia, 2004)
| História do cristianismo II | FTSA16
Citação 2:
Nunca foi tão fácil exercer o ofício de pastor ou pastora no contexto 
brasileiro como o que se observa atualmente. Pessoas com 
pouquíssimo tempo de conversão à fé evangélica, ou ainda sem o 
mínimo preparo teológico ou até mesmo bíblico, se auto-intitulam 
pastores/as, alugam um salão para o início de suas pregações 
e logo passam a ter um grupo de seguidores. Contribui para a 
banalização do ofício pastoral o fato de não existir nenhum órgão 
que possa – com base em critérios que levem em conta o devido 
preparo e formação – emitir uma credencial de reconhecimento e 
legitimidade a quem deseja exercer o ministério pastoral ou então 
fundar uma nova igreja (Proença, 2004, p.33,34)
À luz dos desdobramentos do princípio do sacerdócio universal 
de todos os crentes na Reforma, qual das afi rmações abaixo 
demonstra incompreensão desse princípio?
O sacerdócio universal de todos os crentes torna desnecessária a 
formação teológica para o exercício da atividade pastoral. 
A formação teológica tem um importante papel para o exercício 
ministerial do cristão. 
A falta de preparo teológico e o desconhecimento de recursos de 
interpretação da Bíblia por parte de líderes, podem trazer algum 
risco à vida cristã da comunidade.
Acesse o AVA para fazer o exercício!
17História do cristianismo | FTSA | 
2. Quem foi Martinho Lutero
2.1. Os anos de formação
Lutero nasceu em Eisleben, região germânica, em 10 de novembro de 
1483. Com recursos provenintes do trabalho na mineração, seu pai 
teve condições de lhe dar estudo, aspecto distintivo em um contexto 
de predomínio do analfabetismo. Seu processo educacional pode 
ser dividido em três etapas: alfabetização, bacharelado em Artes e o 
estudo da Teologia. Sua alfabetização teve início aos cinco anos, na 
escola municipal de Mansfi eld. Nesta escola, até 1497, Lutero aprendeu 
noções de latim, música e os princípios da fé cristã: orações, o Credo 
e os Dez Mandamentos. Esta escola mantinha uma metodologia de 
ensino conservadora: memorização pela coerção. Seu contato com uma 
renovação pedagógica se deu quando frequentou a escola de latina de 
Magdurgo, entre 1497 e 1498. Apesar do pouco espaço de tempo, o jovem 
aluno deve ter se impressionado com ensino de infl uência humanista que 
os irmãos da vida comum se empenhavam por introduzir naquele espaço 
educacional. 
Em 1501, em Erfurt, Lutero iniciou sua formação universitária. Para essa 
universidade renomada foi enviado por seu pai com o objetivo de cursar 
a faculdade de Direito. Como pré-requisito, cursou primeiramente a 
Faculdade de Artes. Neste curso dedicou-se às disciplinas de gramática, 
retórica, dialética, geometria, aritmética, música e astronomia, além de 
estudar ética e metafísica. Neste período é que Lutero leu textos da obra 
aristotélica. 
Em 1505 tornou-se mestre, estando apto para ingressar em um dos três 
cursos superiores: Direito, Medicina e Teologia. Seguindo a vontade do 
pai, escolheu a carreira jurídica. Uma situação inusitada, em que teve sua 
vida ameaçada em um tempestade, fê-lo decidir abandonar o Direito e 
buscar a Teologia. Ingressou-se no convento dos agostinianos, tornado-
se monge agostiniano. Lutero, na clausura, autofl agelava-se várias vezes 
ao dia em busca da segurança da salvação. Chegou, certa vez, indo a 
| História do cristianismo II | FTSA18
Roma, subir as escadarias da basílica em penitência, recitando o “Pai-
Nosso” em favor de seu pai, já falecido.
Em 1508 mundou para Wittemberg, onde, em 1509, tornou-se bacharel 
em Bíblia. Como mestre lecionou por um breve período até tornar-se 
doutor em Teologia em 1512.
Assista ao vídeo: “Os caminhos de Lutero”, EP 1
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2.2. A infl uência do pensamento agostiniano
No período de sua formação teológica, Lutero foi infl uenciado, além 
dos estudos das Escrituras, pelas leituras que fez de Santo Agostinho. 
Embora Agostinho (354-430 d.C.) tenha nascido num lar cristão, foi por 
nove anos maniqueísta, vindo a se converter à fé cristã em 386 d.C., 
sendo batizado em 387 d.C. por Ambrósio, em Milão. Em 391 d.C. foi 
ordenado ao sacerdócio, sendo quatro anos mais tarde consagrado 
bispo coadjutor de Hipona. Em 412 d.C., é que começa a controvérsia que 
dividiu defi nitivamente as opiniões dentro da Igreja, envolvendo Pelágio. 
Pelágio era um monge britânico que apareceu em Roma, por volta do ano 
400 d.C., para refutar as doutrinas de Agostinho. Escreveu um comentário 
sobre as epístolas paulinas em 409 d.C. A sua posição teológica pode 
ser denominada de “monergismo humano”, assim chamado porque para 
ele o poder da vontade humana é decisivo e sufi ciente na experiência 
da salvação. Sua célebre frase expressa claramente essa mentalidade, 
quando ele afi rma “se eu devo, eu posso”. 
A controvérsia entre Agostinho e Pelágio se resumia em dois pontos 
teológicos: a liberdade — capacidade — da vontade humana (livre arbítrio); 
e na maneira como Deus opera sua graça. Quanto ao livre arbítrio, a 
discussão era se o ser humano é absolutamente capaz de exercer a sua 
liberdade, ou não. Agostinho ensinava e defendia a doutrina “do pecado 
original”, e os seus inevitáveis efeitos mortais sobre a vida de todos os 
descendentes dos primeiros pais. Pelágio, negava tal contaminação, e 
19História do cristianismo | FTSA | 
afi rmava a inocência da alma, como também a absoluta capacidade de 
escolha tanto moral, quanto espiritual. Como exemplo desta disputa, leia 
o trecho abaixo:
Saiba mais
O querer e o agir dependem também da graça de Deus, conforme 
testemunho de São Paulo
Todo o dogma de Pelágio consta no livro terceiro de sua obra em 
favor do livre arbítrio, transcrito fi elmente com essas palavras.Nele 
são diferenciados os três fatores, um que é o poder, o outro que 
é o querer, o terceiro que é o ser, isto é, a possibilidade, a vontade 
e a ação. Mas lança mão de tanta sutileza nas palavras, que 
procuremos saber o que ele quer dizer, quando lemos ou ouvimos 
que ele reconhece a ajuda da graça divina para nos afastarmos do 
mal e praticarmos o bem, fazendo-a consistir na lei ou na doutrina 
ou em qualquer outra coisa. Não caiamos no erro de entendê-lo de 
modo diferente do que pensa.
Por isso, devemos ter em conta que ele não crê no auxílio divino 
para a vontade e a ação, mas somente para a possibilidade da 
vontade e da ação. Segundo afi rma, é o único fator, dentre os três, 
que recebemos de Deus, como se não tivesse capacidade o que 
o próprio Deus pôs na natureza. Os outros dois, que são nossos, 
no seu dizer, são tão fi rmes, fortes e autossufi cientes, que não 
necessitam de auxílio algum. Portanto, Deus não nos ajuda para 
o querer nem ajuda para o agir, mas somente auxilia para que 
possamos querer e agir.
O Apóstolo, porém, diz o contrário: Operai a vossa salvação com 
temor e tremor. E para fazê-los saber que não tinham capacidade 
não somente para poder agir (pois já o haviam recebido na natureza 
e na doutrina), mas também para o próprio agir, não diz: Deus que 
opera em vós o poder, como se o querer e o agir, os possuíssem por 
si mesmos e não necessitassem de ajuda com relação a esses dois 
fatores, mas diz: Pois é Deus que opera em vós o querer e o agir (et 
| História do cristianismo II | FTSA20
velle et perfícere), ou como se lê em outros códices, principalmente 
gregos: et velle et operari (Fl 2:12-13).
Percebei como o Apóstolo, inspirado pelo Espírito Santo, previu 
muito antes os futuros adversários da graça de Deus. Além disso, 
asseverou que Deus opera em nós os dois, ou seja, o querer e o 
operar, que os pelagianos pretendem que sejam nossos, como se 
não necessitassem da ajuda da graça divina.
AGOSTINHO, A graça de Cristo e o pecado original, Capítulo V.
As ideias de Pelágio foram fortemente refutadas por Agostinho 
numa série de tratados que se tornaram conhecidos como escritos 
antipelagianos. O Pelagianismo foi condenado ofi cialmente pela 
Igreja antiga nos concílios de Cartago (418 d.C.), de Éfeso (431 d.C.) e 
fi nalmente no Concílio de Orange II (529 d.C.). A partir de então a Igreja 
Ocidental tornou-se ofi cialmente agostiniana em seu entendimento da 
doutrina da graça, todavia, essa ofi cialidade estava um tanto que longe 
da realidade dos clérigos e igrejas locais. Entretanto, durante a Idade 
Média o semipelagianismo tornou-se a doutrina ofi cial da Igreja Católica 
Romana, daí a ênfase nas boas obras para fi ns de salvação. Como 
leitor de Agostinho, Lutero se insurgiu contra este sistema teológico do 
catolicismo romano no contexto da Reforma.
Exercício de Fixação
 A respeito da doutrina da graça em Lutero podemos afi rmar que:
Tanto a leitura bíblica quanto a leitura de textos da tradição cristã 
contribuíram para a maturação da refl exão teológica de Lutero que, 
frente ao seu contexto, contextualizou de forma signifi cativa para o 
seu tempo as implicações da doutrina da graça.
Através das leituras de Agostinho Lutero simplesmente reativou 
uma antiga questão nos mesmos moldes que Agostinho a tinha 
travado com Pelágio.
21História do cristianismo | FTSA | 
2.3. Os anos em Wittemberg
Na cidade de Wittemberg, uma recém fundada universidade trazia 
abertura para as novas correntes de pensamento: utilização de uma 
gramática humanista e novas traduções de Aristóteles, além do grego e 
do hebraico. Ali, passaria a dar aulas sob estas perspectivas inovadoras, 
constituindo-se o espaço da sala de aula em um lugar estratégico para a 
elaboração, inclusive, das 95 teses reformistas.
Tornou-se doutor em Teologia, sacerdote, mas a crise insistia em não 
lhe abandonar. Até que, fi nalmente, lendo as Escrituras deparou-se com 
o versículo bíblico de Romanos, "o justo viverá pela fé". Ao tornar-se 
professor na Universidade de Wittenberg, passou a estudar a estudar a 
Bíblia com os seus alunos, discutindo temas teológicos decisivos, como 
por exemplo, o valor das indulgências para o perdão de pecados.
No dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de “todos os santos” no 
calendário católico, o monge agostiniano, afi xou 95 teses na porta da 
igreja de Wittenberg, na Alemanha, apontando desvios teológicos, 
doutrinários e institucionais em que a Igreja Católica romana estava 
incorrendo, fato este que implicaria, posteriormente, na expulsão ou 
excomunhão deste sacerdote pela referida igreja. Não queria deixar a 
igreja, mas sim, reformá-la; porém, foi excomungado. Sendo perseguido, 
refugiou-se em um castelo por quase dez anos; ao ser excomungado 
pelo papa, estava, pois, criado o Protestantismo. 
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| História do cristianismo II | FTSA22
Saiba mais
Debate para o esclarecimento do valor das indulgências 
pelo Dr. Martin Luther, 1517
Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o 
seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre 
Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor 
catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele 
solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco 
oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do 
nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
1 - Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e 
Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fi éis fosse penitência.
2 - Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental 
(isto é, da confi ssão e satisfação celebrada pelo ministério dos 
sacerdotes) [...]
21- Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afi rmam 
que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências 
do papa.
22 - Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única 
pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23 - Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, 
ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24 - Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente 
ludibriada por essa magnífi ca e indistinta promessa de absolvição 
da pena [...]
27 - Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a 
moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28 - Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o 
lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da 
vontade de Deus [...]
23História do cristianismo | FTSA | 
52 - Vã é a confi ança na salvação por meio de cartas de indulgências, 
mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua 
alma como garantia pelas mesmas.
53 - São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da 
pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus 
nas demais igrejas.
54 - Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, 
se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela [...]
81 - Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja 
fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa 
contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos [...]
90 - Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente 
pela força, sem refutá-los apresentando razões, signifi ca expor a Igreja 
e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
Exercício de Aplicação
Tomando como exemplo a relação entre formação educacional 
e desafi os ministeriais em Martinho Lutero e tentando aplicar à 
nossa realidade, podemos dizer que:
a) O itinerário acadêmico de Lutero mostra como os diversos 
conteúdos adquiridos e capacidades desenvolvidas contribuem 
para o colocar-se diante dos desafi os que se apresentam ao 
serviço cristão.
b) As principais infl uências sobre o pensamento de Lutero vieram 
exclusivamente de suas experiências devocionais,mostrando 
que as contribuições de um itinerário acadêmico se limitam 
apenas às questões secundárias à fé.
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| História do cristianismo II | FTSA24
3. Lugares, estratégias e repercussões do movimento 
reformador
3.1. Renascimento, humanismo e outros aspectos que 
contribuíram para a Reforma
O movimento de Reforma, do século XVI não está circunscrito apenas 
às questões religiosas. Ele é parte de um contexto mais amplo, de 
abrangência política, ecônomica e cultural. Leia o texto a seguir para 
contextualizar estas abrangências:
A Reforma também deve ser vista como uma parte da história da cultura. 
Parcialmente ela coincide com o Renascimento, iniciado na Itália já no 
século XIV. O século XVI é também período de humanismo. Grande parcela 
dos reformadores era humanista ou infl uenciada por essa corrente de 
pensamento. Melanchthon, Zwínglio e Calvino foram humanistas. Por 
outro lado, foram também representantes do Renascimento. Muitas 
vezes, é difícil separar humanismo e Renascimento. Aliás, Renascimento 
e humanismo são usados muitas vezes como sinônimo, ainda que 
nos apresentem o mesmo fenômeno sob perspectivas diferentes. 
É necessário cuidado quando se busca distinguir Renascimento, 
humanismo e Reforma, para não cair no erro tantas vezes feito, quando 
se aponta para a discussão entre Lutero e Erasmo em torno do livre e do 
servo arbítrio. As pessoas que afi rmam que Lutero rompe defi nitivamente 
com o humanismo, em 1525, com seu escrito De servo arbítrio, com o 
qual respondeu ao escrito de Erasmo, de 1524, De libero arbítrio diatribe, 
esquecem que Lutero recorreu em sua tese principal a ninguém mais do 
que humanistas italianos como Lourenço Valla. A teologia apresentada 
por Erasmo não era católica e também não pôde ser aceita por teólogos 
protestantes (Dreher, 1996, p. 11).
Em termos culturais, estava em curso naquele momento, um processo 
chamado Renascimento, que representava mudanças nas artes, na 
ciência, nas formas de se conceber o mundo, ocorrido entre os séculos 
XIV e XVI, marcando a passagem do mundo medieval para o mundo 
25História do cristianismo | FTSA | 
moderno. Teve início na Itália, mas espalhou-se posteriormente para 
outros lugares. A expansão das universidades, em tal período, representou 
um canal de difusão destas ideias renovadoras. 
O nome Renascimento quer expressar que naqueles dias a Antiguidade 
nascia de novo, renascia [...]. Mas o Renascimento não é apenas um 
retorno à Antiguidade, enquanto estudo das línguas e da literatura 
clássica. O Renascimento provocou um novo sentimento de vida. É 
simplista querer afi rmar que o ser medieval tenha estado completamente 
orientado no transcendente, enquanto que o ser humano do Renascimento 
tenha estado orientado no imanente. Certo é, porém, que a pessoa do 
Renascimento tinha uma posição distinta em relação às realidades do 
imanente. Acentuou a individualidade. História e técnica cresceram em 
importância. A sensibilidade para o belo, para o sensual fez parte do 
Renascimento ((Dreher, 1996, pp. 11-12).
Simultaneamente, naquele período e contexto, surgia com evidência o 
Humanismo, enfatizando a centraliade do pensamento no ser humano, 
e não mais no sagrado, representado pela igreja medieval. Como um 
contraponto às ideias da igreja, que confi nava o ser humano ao controle 
dos dogmas e ritos, sem condições de por si decidir, o Humanismo 
revalorizava a liberdade, a racionalidade, a capacidade do ser humano de 
gerir suas próprias ações. 
Sob o ponto de vista religioso, o humanismo é multifacetado. Podemos 
notar isso no lema humanista ad fontes. O lema pode referir-se tanto 
á Antiguidade anterior ao cristianismo quanto à Antiguidade cristã. 
Paulo pode ser tão importante quanto Platão, e um pode ser usado para 
interpretar o outro. O estudo dos Pais da Igreja, a Patrística, estava tão 
presente quanto o estudo de Platão. Quando nos dias da reforma se fala 
da palavra de Deus como norma, a expressão pode signifi car tanto a 
Bíblia quanto o ensinamento dos Pais da Igreja [...] Praticamente todas 
as tendências da Reforma têm traços humanistas [...]. Há, isso sim, 
delimitações frente a determinadas tendências (Dreher, 1996, p. 12).
| História do cristianismo II | FTSA26
Há um contexto político e econômico que favorece o avanço do 
movimento reformista. É bom recordar que a Europa havia saído 
recentemente de um sistema conhecido como Feudalismo, que subsistiu 
até o século XV, no qual se destacaram duas principais características: 
(1) a concentração de pessoas no mudo rural, na condição de servos 
nas terras concedidas pela Igreja e governadas por senhores feudais; 
(2) organização econômica voltada apenas à subsistência dos feudos, 
sustento do clero e da classe senhorial. 
Este sistema entrou em crise como resultado de guerras, epidemias e 
fome. Como solução social e econômica foram adotadas três principais 
estratégias: o êxodo rural, investimentos no comércio marítimo e 
organização política concentrada em novos Estados independentes, 
tendo príncipes como governantes, sob a tutela da igreja. Lutero e os 
demais líderes reformadores se valeram deste contexto para fortalecerem 
as ações reformistas. Os príncipes queriam maior autonomia 
administrativa e redução na carga de tributos que eram pagos à igreja 
de Roma, e por isso vários deles apoirarm Lutero na ruptura com Roma; 
camponeses viram inicialmente nas reformas luteranas a oportunidade 
de refazerem a vida no campo, sem a necessidade de aderirem ao êxodo 
rural, por isso muitos se juntaram inicialmente a Lutero, antes ainda de 
serem nominados de anabatistas; mais adiante, a ética protestante, 
que valorizava o trabalho e o lucro como dádivas divinas, não apenas 
impulsionou o comércio ultramarino, como também legitimou “o espírito 
do capitalismo” mercantil nascente nos países que aderiram à Reforma. 
A ética protestante e o espírito do capitalismo ajudaram-se mutualmente 
naquele momento.
3.2. A Reforma e as estratégias educacionais
Outra importante estratégia dos reformadores foi a educação, visando 
alfabetizar e educar o ser humano, no sentido amplo do termo, para a 
transformação do novo mundo que acreditavam estar construindo a 
partir daquele momento. Após um longo período — a Idade Média — 
em que a educação, ou mesmo a alfabetização, foram privilégios de 
27História do cristianismo | FTSA | 
poucos, Martinho Lutero escreveu diversos textos nos quais a temática 
da educação foi abordada, visando popularizar este alcane. Dentre estes 
textos, podem ser citados Aos prefeitos de todas as cidades da Alemanha 
sobre o dever de fundar e manter escolas, publicado em 1524; e Sermão 
sobre o dever de mandar os fi lhos à escola, de 1530. 
O primeiro texto, uma carta aberta, foi enviado aos cidadãos e autoridades 
como um grande apelo ao investimento na educação cristã dos jovens. 
Como não podia contar com o auxílio dos bispos e do papa, restavam 
às autoridades civis o empenho pela educação. Como o movimento 
reformista havia abalado a vida monástica como um “lugar de perfeição”, 
muitos pais estavam preferindo encaminhar os fi lhos para o trabalho 
no comércio nascente ao invés de mandá-los à escola. Como forma de 
persuasão, Lutero argumentava que, sem o auxílio dos meios pedagógicos 
e científi cos, os pais não teriam condições de educar corretamente os 
fi lhos. Discute também que os conselhos municipais, responsáveis pelo 
bem-estar dos cidadãos e da cidade, precisavam dispor de pessoas 
aptas, bem instruídas e sábias para a administração das decisões e 
encaminhamentos sociais. Somente por meio de uma boa e formal 
educação é que estes cidadãos seriam preparados. A carta é concluída 
com uma advertência de que as novas escolas fossem construídas 
com boas bibliotecas, com espaço devido para estudo e leitura, com 
representativas obras que auxiliassem no estudo das Escrituras, das 
línguas e das artes liberais. 
No segundo texto, Lutero defende a importância da educação parao futuro 
da igreja e da sociedade. Por meio da educação e da Escritura, o cristão 
seria capacitado a promover a cidadania e a sociedade mais justa. Motiva 
os pastores a continuarem insistindo na educação dos jovens. Destaca a 
ideia de que os pais que enviarem seus fi lhos à escola estarão colaborando 
como o próprio Deus, pois é Ele quem rege o mundo através destes dois 
poderes, a igreja e a educação. Ressalta também que os estudantes 
pobres não sejam desprezados; incentiva as pessoas a doarem recursos 
fi nanceiros para que todas as crianaças frequentassem à escola.
| História do cristianismo II | FTSA28
Na visão reformista de Lutero, sem a leitura, a alfabetização e o 
conhecimento — particularmente das Escrituras bíblicas — o povo 
permaneceria sob o poder de estruturas eclesiais burocráticas. Para 
promover a libertação em seu sentido pleno, era preciso um processo 
educacional abrangente que capacitasse para a leitura e a escrita. Enfatiza 
a necessidade da educação deixar de ser inacessível para a maioria da 
população. Sugere a criação de escolas comunitárias, administradas e 
fi nanciadas pelos cidadãos:
[...] Caros senhores. Anualmente é preciso levantar grandes somas para as 
armas, estradas, pontes, diques e inúmeras outras obras semelhantes para 
que uma cidade possa viver em paz e segurança temporal. Por que não 
levantar igual soma para a pobre juventude necessitada, sustentando um 
ou dois homens competentes como professores? (Lutero, 1995, p.305).
No que se refere à metodologia, Lutero propõe uma escola baseada 
em ideais humanistas, opondo-se aos castigos, insultos e deboches da 
educação antiga. Repreensão e punições não eram maneiras amáveis 
de se educar; as crianças deveriam aprender através do lúdico. Segundo 
Thomas Giles (1987), o reformador sugeriu um método educacional que 
consistia, primordialmente, no estudo das Sagradas Escrituras e, por 
conseguinte, das línguas hebraica e grega. Outras matérias deveriam 
complementar, visando a boa instrução: história, matemática, música 
e canto. Em 1528, Lutero organizou um novo projeto curricular, dividido 
em três níveis: aos iniciantes, aos já instruídos e aos que já tiveram 
êxito. Os iniciantes aprendiam o alfabeto, o Credo e o Pai Nosso. Aos 
já alfabetizados se designava o estudo da gramática latina, poesia de 
Plauto e Terêncio, fábulas de Esopo e textos de Erasmo. O terceiro nível, 
concedido aos melhores alunos, era composto por música, textos de 
Virgílio e Cícero, gramática, dialética, retórica e formação religiosa (Giles, 
1987, p.18-22; 120-121).
Sob tais perspectivas, e benefi ciado pelo advento da imprensa, o povo 
desenvolveu gosto e hábito pela leitura, o que facilitou e popularizou 
os escritos do reformador. Segundo Marc Lienhard (1998, p.49), com o 
29História do cristianismo | FTSA | 
movimento de reformas do século XVI, “pela primeira vez na história se 
operava uma aliança entre o material impresso e um movimento popular”. 
Os números são inaugurais: o Sermão sobre as Indulgências, por exemplo, 
vendeu 250 mil exemplares em quatro anos; o Manifesto à Nobreza 
Alemã vendeu 20 mil exemplares no ano de sua publicação. A tradução 
da Bíblia para o alemão contribuiu para a sistematização desta língua, 
de modo que passaram a existir uma gramática e um léxico. Conforme 
destacado por Alvori Ahlert (1996, p.49), a criação do Catecismo Menor 
contribuiu para a popularização da educação, visto que serviu de livro de 
alfabetização até o fi nal do século XVII.
Outro aspecto da infl uência do movimento da Reforma atingiu o culto. 
O uso de imagens como elemento de veneração no culto cristão tem 
origens nos primórdios do cristianismo medieval. A partir da liberdade 
religiosa proporcionada pelo imperador Constantino, e pela ofi cialização 
do cristianismo como religião do Estado, pelo imperador Teodósio, ainda 
no século IV, houve grande afl uência de novos adeptos à fé cristã. Muitos 
destes eram adoradores de deuses pagãos com altares adornados de 
imagens e ícones de devoção. Sem experimentarem uma conversão 
genuína e sem uma doutrinação bíblica devida, parte destes novos 
cristãos optou por conciliar antigos costumes sagrados com o novo 
culto. Desse modo, nos altares de antigos deuses foram gradativa e 
sutilmente sendo introduzidas imagens de líderes cristãos, confi gurando 
um sincretismo entre cristianismo simbolismos pagãos. Muitos destes 
deuses antigos eram protetores das cidades; em seus lugares cristãos 
colocaram imagens de santos protetores, conhecidos até hoje como 
“padroeiros” das cidades.
No período medieval, estes altares, muitos deles domésticos, foram 
adornados com relíquias (objetos sagrados) trazidos da Terra Santa (hoje 
Israel e Palestina). Muitos destes objetos eram venerados pela crença 
em seus poderes miraculosos.
Nem todos os cristãos medievais concordavam com isto. Surgiram, 
inclusive, movimentos iconoclastas. A palavra iconoclastia ou 
| História do cristianismo II | FTSA30
iconoclasmo vem do grego εικών (eikon) que signifi ca ícone, imagem, e 
κλαστειν (klastein), que signifi ca quebrar. Desse modo, etimologicamente 
o termo signifi ca "quebrador de imagem".
Um dos primeiros movimentos iconoclastas veio de fora da igreja: surgiu 
com os mulçumanos no século VII d.C., que orientados pela pregação de 
Maomé, atacavam igrejas cristãs e destruíam as imagens nela existentes
Por infl uência deste contexto, surgiu um forte movimento político-religioso 
iconoclasta na região de governo do Império Bizantino (parte sobrevivente 
do antigo Império Romano, no Oriente). Estes cristãos acreditavam que 
as imagens sacras seriam ídolos e a veneração e o culto de ícones, por 
conseguinte, uma idolatria. Esse movimento ocorreu durante os séculos 
VIII e IX. Em razão disto, as igrejas daquela região, conhecida a partir do 
ano 1054 como Igreja Ortodoxa, retiraram as imagens dos seus templos, 
inserindo em seu lugar apenas pinturas e símbolos.
A pregação da Reforma gerou interpretação pelos ouvintes por vezes 
carregadas de intolerância em relação às ideias ou práticas que se 
apresentavam como “diferentes”. Isto acabou levando a comportamentos 
radicais, inclusive quanto às expressões artísticas e símbolos culturais 
do período. Debates e tensões ocorreram em relação ao biblicismo e às 
manifestações simbólicas.
As ações iconoclastas atingiram não apenas as imagens religiosas, mas 
também a música e a arte. Em razão disto, o culto cristão reformando 
fi cou bastante centralizado na Palavra, como linguagem única, rejeitando 
a comunicação que possa se comunicar por símbolos.
No contexto atual, tem ocorrido com certa frequência comportamentos 
iconoclastas. No vídeo que mostraremos a seguir, há um episódio que 
ganhou notoriedade no contexto brasileiro, envolvendo evangélicos e 
uma imagem de devoção popular. Um acontecimento que foi veiculado 
pela TV em rede nacional, ocasionando grande polêmica, episódio que 
fi cou conhecido como “chute na santa”.
31História do cristianismo | FTSA | 
Assista ao vídeo reportagem do Jornal Nacional: Bispo 
Sergio Von Helde chutando a imagem de N. S. Aparecida.
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
Exercício de Reflexão
Assista o vídeo que fala sobre a destruição de terreiros de culto 
de matriz africana, por evangélicos, e sua reconstrução por outros 
evangélicos (https://www.youtube.com/watch?v=Qco-71blqZ8)
Em seguida, construa um texto de refl exão considerando as 
seguintes questões:
1) Que avaliação é possível fazer sobre o comportamento dos 
evangélicos que destruíram o local de culto de matriz africana?
2) Que avaliação é possível fazer sobre o comportamento dos 
evangélicos que reconstruíram o local de culto de matriz africana?
3) A Reforma do século XVI traz alguma mensagem de “tolerância” 
para as práticas atuais? 
Bibliografi a
AHLERT, Alvori. Modernidade. Ijuí: Inijuí, 1996.
BOURDIEU, Pierre. Leitura: uma prática cultural. In: CHARTIER, Roger (org.). 
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| História do cristianismo II | FTSA32
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Leituras complementares:
DREHER, Martin. A crise e a renovação da Igreja no período da Reforma. 
Vol 3. São Leopoldo: Sinodal, 1996, p. 53-57.
33História do cristianismo | FTSA | 
UNIDADE II – A reforma protestante e seus movimentos
Nos próximos tópicos, desta unidade, conheceremos melhor o 
contexto dos acontecimentos reformistas, as estratégias utilizadas, os 
personagens que protagonizaram ações de mudanças, as repercussões 
e reações ao movimento de Reforma, no século XVI. 
Veremos que, não obstante a fi gura de Lutero ser diretamente associada 
àqueles episódios — por sua liderança e ação impactante com a 
publicação das 95 teses, que se constituíram um marco muito simbólico 
das mudanças — evidentemente ele não está sozinho neste processo. Ao 
seu lado, há um número expressivo de outros personagens que ansiavam 
por transformações e foram protagonistas em diferentes lugares, 
usando variadas estratégias para que os objetivos de Reforma fossem 
alcançados. Destacam-se, por exemplo, de Philipp Melanchthon, Ulrico 
Zwínglio, Erasmo de Roterdã, João Calvino, dentre outros.
Todos estes líderes tiveram em comum, e nisto reside o êxito das reformas 
e mudanças, o uso da leitura da Bíblia como regra de fé e prática. O papel 
da leitura foi, portanto, elemento decisivo e determinante.
Conheceremos, também, que os movimentos de Reforma em dados 
momentos assumiram rumos violentos, desencadeando confl itos, 
guerras e até aplicação de penas de morte, ocasionando martírios entre 
cristãos membros de grupos antagônicos, que buscavam mudanças na 
igreja, mas que não souberam lidar com a tolerância ao “outro” que agia 
ou pensava de modo diferente.
Por fi m, também veremos que o catolicismo romano não assistiu 
passivamente ao avanço do protestantismo. Empreendeu reações, 
destacando-se como um marco de seu posicionamento a realização 
do Concílio de Trento, também conhecido como Contra-Reforma, que 
durou cerca de 18 anos. Conheceremos as principais resoluções que ali 
foram aprovadas e que marcariam a identidade católica pelos séculos 
subsequentes.
| História do cristianismo II | FTSA34
1. Líderes e movimentos de Reforma 
Nos movimentos de reforma do século XVI se destacaram outros 
personagens, além de Martinho Lutero. Felipe Melanchthon, por exemplo, 
era um humanista, considerado “Professor da Alemanha”, por ter sido 
importante pedagogo que contribuiu diretamente para a valorização da 
educação como um braço da Reforma Protestante; é autor de livros e 
textos, além de ser um dos redatores da confi ssão de fé luterana, conhecida 
como “Confi ssão de Augsburgo”, elaborada em 1530. Outro personagem 
é Erasmo de Roterdã, escritor holandês e teólogo agostiniano, que se 
tornou importante propagador das ideias humanistas. Tinha um grande 
respeito pessoal por Lutero e uma simpatia pelos pontos principais da 
crítica luterana à Igreja. Lutero sempre se referia a Erasmo com respeito 
pelo seu conhecimento teológico e esperava dele obter cooperação 
no trabalho reformista. Na troca de correspondência inicial, Lutero 
expressou admiração por tudo o que Erasmo tinha feito pela causa de um 
cristianismo saudável e razoável, encorajando-o a se unir ao movimento. 
Entretanto, Erasmo não via a saída ou ruptura com a Igreja romana 
como o caminho ideal; queria nela permanecer para modifi cá-la. Quis 
evitar alguma hostilidade em relação à organização institucional, ainda 
que buscasse meios de aplicar seus conhecimentos na purifi cação da 
doutrina católica.
A seguir, veremos com mais detalhes um outro importante líder daqueles 
acontecimentos.
1.1. Ulrico Zwínglio
Ulrico Zwínglio é quem inicialmente estabeleceu a Reforma na Suíça de 
língua alemã. Por causa de algumas divergências teológicas com Lutero, 
as igrejas sob sua liderança e pastoreio, que diziam ser suas fi lhas 
espirituais, passaram a se chamar “reformadas”, para se diferenciar das 
que eram “luteranas”. 
35História do cristianismo | FTSA | 
Leia, como introdução, e a título de curiosidade, o texto no box a seguir:
Saiba mais
A Faculdade Teológica Sul Americana fi ca na esquina das ruas 
Martinho Lutero e Ulrico Zwínglio, na Gleba Palhano, em Londrina. 
Apesar de nunca se debater intencionalmente a intersecção 
teológica de Lutero e Zwínglio, neste ano em que se celebra os 
500 anos da Reforma, não deixa de ser sugestivo e pertinente 
relembrar que na história da Reforma, de fato, houve um, e único, 
encontro entre Lutero e Zwínglio na tentativa de aproximar 
dois importantes e independentes movimentos reformadores, 
e indagar sobre o sentido desse encontro e o que isso pode 
representar para a continuação do debate teológico em torno 
da presença de Cristo no sacramento, na igreja e na sociedade 
(Lane, 2014, p.60)
Há autores que estabelecem uma principal diferença entre Lutero e 
Zwínglio: enquanto para Lutero a motivação para Reforma foi muito 
mais religiosa, para Zwínglio teria sido muito mais intelectual. O escritor 
Thomas Lindsay, por exemplo, afi rma que 
Até em idade bem avançada a questão da piedade 
pessoal [de Zwínglio] não parecia perturbá-lo, e ele 
nunca foi como Lutero e Calvino, o tipo de homens que 
são líderes de um avivamento religioso. Ele se tornou 
reformador porque era um humanista, que gostava da 
teologia de Agostinho (apud Lane, 2014, p. 61).
Saiba mais sobre quem foi Zwínglio e seu posicionamento teológico nas 
palavras de Justo Gonzales:
Zwínglio, por outro lado, tinha sido ordenado padre em 
1506 e por vários anos pastoreou a paróquia de Glaurus 
até ser transferido para Zurique em 1519. Zwínglio 
era um estudioso e provavelmente o mais humanista 
| História do cristianismo II | FTSA36
dos reformadores. Foi através de seus estudos que 
passou questionar práticas da igreja. Em 1516, quando 
Erasmo de Roterdã publicou o Novo Testamento 
Grego, Zwínglio teve um encontro com ele e leu todo 
o NT em grego. Como cura (clérigo, pároco) da cidade 
de Zurique, na Suíça, iniciou uma série de leituras e 
pregações sobre o evangelho de Mateus e passou a 
criticar o jejum, a abstinência, o celibato, a doutrina do 
purgatório e outros aspectos doutrinários (Klein, 2014, 
p. 64). Diferentemente de Lutero, que defendia que as 
práticas e tradições da igreja que não contradissessem 
as Escrituras podiam ser mantidas, Zwínglio defendeu 
uma Reforma eclesiástica baseada no princípio de 
que tudo o que não fosse explicitamente expresso nas 
Escrituras tinha de ser abolido (1983, p. 93). 
A história registra que, não obstante as particularidades do contexto 
político e religioso da Alemanha e da Suíça, onde viviam Lutero e 
Zwínglio, das características próprias de cada um e da independência 
dos movimentos reformadores, houve uma tentativa de aproximação dos 
movimentos liderados por estes dois reformadores.
O encontro dos dois se deu por meio de um debate que 
foi conhecido por Colóquio de Marburgo. O encontro 
foi convocado por Filipe I para tratardas diferenças 
entre Lutero e Zwínglio sobre a presença de Cristo na 
Ceia ou Eucaristia e outras questões. No entanto, essa 
tentativa de aproximação de Wittenberg e Zurique não 
resultou numa síntese e unidade dos dois importantes 
movimentos reformadores da época. Pelo contrário, 
apesar de concordarem com 14 dos 15 artigos sobre 
a fé cristã, não chegaram a um consenso sobre a 
presença de Cristo na Ceia. Isso foi o sufi ciente para 
mantê-los à parte (Lane, 2014, p.61).
37História do cristianismo | FTSA | 
A diferença básica entre os dois posicionamentos, 
em relação à Ceia eucarística, pode ser resumida nos 
seguintes termos: para Lutero, havia uma presença 
espiritual de Cristo nos elementos do pão e do vinho, 
posição esta que é denominada de consubstanciação; 
para Zwínglio, o pão e o vinho na celebração eucarística 
eram apenas um memorial da morte e paixão de Cristo 
(“fazei isto em memória de mim”), ou seja, ele não se 
fazia presente por meio dos elementos.
Glossário
Transubstanciação eucarística: concepção do catolicismo, segundo 
a qual, o pão e o vinho se transformam em corpo e sangue de Cristo 
na cerimônia da Ceia (um novo sacrifício se repete).
Consubstanciação eucarística: concepção luterana, segundo a qual, 
há apenas uma presença espiritual de Cristo por meio dos elementos 
do pão e vinho (a presença espiritual está consubstanciada aos 
elementos materiais)
Memorial eucarístico: concepção zwingliana e calvinista, segundo 
a qual, o pão e o vinho são apenas lembranças ou memória de 
Cristo em sua morte salvífi ca (os elementos apenas representam a 
presença de Cristo)
1.2. Thomas Müntzer e os anabatistas
O anabatismo foi um movimento liderado pelo teólogo e também 
camponês, Thomas Müntzer, no contexto da Reforma do século XVI. Foi 
característica enfática deste movimento a leitura e interpretação literal 
de textos bíblicos. Esse movimento assumiu perspectivas de maior 
radicalidade em relação aos perfi s de mudanças propostos por outros 
líderes daquele período, como Lutero, Zwínglio e Calvino. Müntzer e seus 
| História do cristianismo II | FTSA38
seguidores, que eram camponeses, buscavam rupturas mais contundentes, 
como por exemplo, a distribuição comunitária da terra, sem que ninguém 
fosse dela proprietário. Fundamentaram tal perspectiva na leitura bíblica: 
nos textos referentes ao período dos juízes, em que a terra de Canaã foi 
distribuída entre as tribos; também no texto de Atos 2:44,45 que afi rma: 
“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam 
as suas propriedades e bens [...]”. Pregavam uma grande renovação que 
culminaria com intervenção divina para o estabelecimento de um reino 
milenarista, a ser instaurado em favor dos eleitos. 
Podemos dizer, grosso modo, que os anabatistas foram “fi lhos bastardos 
da reforma”, não para reforçar o teor pejorativo dessa declaração, mas 
para destacar o lado crítico e periférico de sua relação com os demais 
movimentos reformadores. Enquanto “fi lhos da reforma”, os anabatistas 
endossaram alguns dos preceitos nela estabelecidos, como o do apreço 
pela autoridade das Escrituras. Segundo Earle Cairns (1995, p. 248), “a 
insistência de Zwínglio na Bíblia como fundamento da ação dos pregadores 
encorajou a formação de conceitos anabatistas baseados na Bíblia”. 
Cedo, porém, eles fi caram conhecidos mais por suas discordâncias do 
que por pontos de concordância com a Reforma. O princípio de sola 
Scriptura não era mais sufi ciente, especialmente quando, na prática, 
não havia sido capaz de confrontar certas estruturas temporais. Um 
aporte mais radical começou a ser desejado por alguns espíritos menos 
conformados. Conforme o olhar de Bard Thompson, eles começaram a 
suspeitar da idéia de um corpus Christianum em torno do qual toda a 
sociedade, inclusive os “mornos na fé”, seria reunida. Também passaram 
a duvidar da integridade da “Reforma Magisterial” (mais focada no 
ensino), qual seja, a de Lutero, Zwínglio, Calvino ou da Igreja da Inglaterra, 
no qual o papel dos ministros não muito se diferenciava do papel do 
padre na Igreja Católica (centralizador), e em que a autoridade secular 
(Estado) seria uma expressão da divina providência sobre a criação. 
O primeiro foco de aparecimento desse descontentamento se deu na 
Suíça, talvez em função da, até então, ligeira liberdade civil e religiosa 
39História do cristianismo | FTSA | 
que se encontrava no país. No início, associaram-se a Zwínglio por sua 
ênfase na autoridade das Escrituras e pela reforma social mais ampla por 
ele proposta. Depois entenderam que seu endosso ao ensino primitivo 
do batismo infantil, bem como sua prudência, patriotismo e “atraso” (do 
ponto de vista dos descontentes) em relação a mudanças mais radicais 
eram um impedimento sério para o avanço da reforma em outras frentes, 
como a abolição da missa, o uso de imagens e o papel das autoridades em 
questões religiosas. Assim, por volta de 1523, concluíram que a liderança 
de Zwínglio era um tanto quanto “conservadora”, resolvendo dele se afastar, 
não somente nas idéias, como na prática (Walker, 1981, p. 40). 
Começaram se reunindo em pequenas convenções para estudo da 
Palavra, ou nas casas onde se tinha maior liberdade para a pregação 
e um discipulado pessoal. Assim, no outono de 1524, Grebel e seus 
correligionários passaram a rejeitar a coleta dos dízimos, que eram 
recolhidos pelo Estado para suporte dos ministros e outras questões, 
e, principalmente, aboliram o batismo infantil de seu meio. Para os 
anabatistas, o batismo era o distintivo do discipulado e compromisso 
cristão. E como somente um adulto seria capaz de se comprometer 
de tal maneira, então somente o batismo adulto poderia ser legítimo. 
(Menezes, 2014, p.33-34)
O movimento Anabatista envolveu questões não apenas religiosas, 
em relação à Igreja Romana e mesmo quanto à Igreja que nascia com 
a Reforma; a pregação deles tinha também implicações sociais: eram 
camponeses que desejavam o direito de viverem integrados à terra 
onde trabalhavam, alegando que o mundo criado pertence a Deus, não 
devendo portanto ser propriedade de senhores ou príncipes, os quais, 
em razão disto, também não poderiam cobrar tributos pelo que na 
terra era produzido; a pregação anabatista tinha implicações políticas: 
questionavam o poder de reis e príncipes, pois o governo a ser instaurado 
em breve na Terra, de acordo com suas interpretações escatológicas, 
seria de natureza Teocrática (um governo de Deus). Com este cenário 
confl ituoso, “não tardaria para que se iniciasse uma verdadeira ‘caça às 
bruxas’ em relação aos anabatistas” (Menezes, 2014, p. 34). 
| História do cristianismo II | FTSA40
Saiba mais
Perseguição e martírio
Em 7 março de 1526, o conselho municipal de Zurique publicou um 
edito no qual se previa a prisão e morte daqueles que praticassem os 
atos de rebatismo. Em 19 de novembro do mesmo ano, o conselho 
aprovou uma nova lei, que não somente condenava à morte os 
praticantes do rebatismo, como estendeu tal pena aos que pregassem 
ou simplesmente atendessem às pregações anabatistas. 
Conrado Grebel, que fora um dos primeiros líderes do movimento, 
faleceu na prisão no verão de 1526, vítima da peste. Experimentou 
o princípio da perseguição e capturas, mas não do martírio 
(assassinato). Já Félix Manz não teve a mesma “sorte”. Como 
primeiro mártir do movimento anabatismo, morreu afogado no 
rio Limmat em 5 de janeiro de 1527. Alguns pesquisadores viram 
nesse tipo de morte, que se seguiu em muitos outros casos 
de martírio anabatista, um tipo satírico, como se os algozes 
dissessem: “Gosta de água? Então, toma!”. 
Conforme se intensifi cava a perseguição, a tendência de alguns 
grupos anabatistas foi a de se exilar em outras regiões que, ao 
menos de início, se mostravam mais tolerantes. Blaurock, por 
exemplo, por não ser cidadão de Zurique, foi condenado ao exílio 
perpétuo, após ter sido açoitado pelas ruas da cidade. 
Caso similar foi o de Baltasar Hubmaier, sacerdote deum povoado 
austríaco chamado Waldschut, que, depois de ter (re)batizado sua 
paróquia quase inteira, teve de se exilar “voluntariamente” na região 
da Moravia, mais precisamente em Nicolsburgo. Após vivenciar 
problemas, como a controvérsia local entre os anabatistas não 
violentos e outros, sob a liderança de Hans Hut, que apregoava a 
não obediência à violência e o pegar em espadas se preciso fosse, 
Hubmaier foi capturado, conduzido a Viena e, depois de sessões de 
tortura e interrogatório, foi condenado por heresia e sedição e queimado 
vivo em praça pública. Sua esposa foi afogada poucos dias depois (cf. 
Byler, 2000, p. 05; Driver, 2000, p. 08) (Menezes, 2014, pp. 36-37).
41História do cristianismo | FTSA | 
Perseguido, o movimento se expandiu e na cidade de Zwickau se juntou 
a um outro ramo anabatista, acentuadamente carismático e totalmente 
leigo. Seus membros, com interpretações bíblicas bem peculiares, 
diziam ter experiências diretas com o Espírito Santo e pretendiam erigir 
o reino de Deus eliminando todos os não-crentes. Sob tal infl uência, 
Müntzer se sentiu chamado a fundar a Nova Igreja Apostólica. Guiado 
por interpretações de profecias do livro de Daniel, Müntzer entendeu, no 
ano 1525, que a hora do novo reino era chegada. Passou a convocar o 
povo para a “luta do Senhor”, para a guerra santa. Mobilizou inúmeros 
camponeses que não se furtaram a pegar em armas (espadas) com 
intuito de apressar o grande advento mediante a “batalha do Armagedom”, 
o que culminou em violenta guerra religiosa. Müntzer ordenou, na partida 
para a batalha, que levassem uma grande bandeira branca, na qual 
estava desenhado o arco-íris, sinal da aliança de Deus com os eleitos. 
Enquanto proferia sua última pregação, apareceu no céu o arco-íris. Era 
o sinal que faltava da bênção divina para aquela hora fi nal. Na batalha 
morreram milhares de camponeses. Müntzer foi aprisionado, torturado 
e decapitado em 27 de maio de 1525. Suas últimas palavras foram de 
apelo à leitura bíblica: “leiam o livro dos Reis”.
Sufocado, por um tempo, entre 1533-1535 o movimento ressurgiu em 
outras regiões da Alemanha, ocasionando, inclusive, a tomada de uma 
cidade e a implantação do que seria um novo reinado davídico na Terra. O 
novo líder era Melchior Hoffman, refugiou-se em Estrasburgo se dizendo o 
novo Elias. Anunciava o fi m do mundo para 1533, dizendo que Estrasburgo 
seria a Nova Jerusalém. Foi perseguido, fugiu, mas no ano marcado voltou 
para ver o fi m do mundo. Foi então preso, onde permaneceu até morrer 
em 1543. Houve um sucessor, Jan de Leyden, alfaiate. Com o auxílio de 
anabatistas tomou a cidade de Munster, em 1534. Proclamou-se rei da 
Nova Sião. Dizia-se o terceiro Davi. Implantou três práticas: a comunhão 
de bens; ritos do Antigo Testamento; poligamia. Depois de uma revolta 
católica, a cidade foi invadida e os líderes anabatistas mortos.
| História do cristianismo II | FTSA42
Na Holanda, ramifi cações anabatistas ressurgiram sob a liderança de 
Menno Simons (1496-1561), dando origem ao movimento Menonita, ou 
dos “Irmãos Menonitas”, progenitores da futura igreja Batista que surgiria 
na Inglaterra, no século XVII. 
Diante de tantas perseguições e ameaça de extinção, o grupo dos 
anabatistas fi cou mais uma vez disperso pelas muitas regiões por onde 
havia se espalhado. Um dos grupos que conseguiu sobreviver foi o 
dos Menonitas. Esse nome foi derivado de seu líder e responsável pela 
“renascença do Anabatismo”, o holandês Menno Simons (1496-1561). 
Menno serviu como sacerdote católico em sua terra natal, Friesland 
ocidental, até que se convenceu de que essa Igreja, Lutero, Zwínglio e 
Calvino estavam errados, especialmente no consenso quanto ao batismo 
infantil, e que apenas o batismo adulto tinha base nas Escrituras. Foi 
então batizado (renunciando sua matriz católica) e passou a atuar como 
ministro anabatista. Segundo Thompson (1996), Menno foi o maior 
teólogo da tradição anabatista, defendendo um anabatismo biblicamente 
fundamentado, e tendo publicado em 1540 sua obra “Fundação da Doutrina 
Cristã”, que serviu como meio de estabelecimento de sua autoridade 
perante os anabatistas no norte da Europa. Devido à perseguição e 
ameaça de morte, viveu na clandestinidade por muito tempo, tendo de se 
mudar várias vezes, embora tivesse esposa e fi lhos; passou por Bélgica, 
Dinamarca e Polônia, ajudando a organizar comunidades ali. E, de acordo 
com Byler (2000, p. 07), apesar dos 100 fl oríns (moeda holandesa na 
época) oferecidos em ouro por sua cabeça, “Menno foi um dos únicos 
anabatistas de sua geração que morreu em sua própria cama, já idoso. 
Sua mulher e seus três fi lhos não puderam sobreviver à dureza da vida de 
pródigos”. (Menezes, 2014, pp. 38-39)
2. Grupos e contexto social da Reforma
Neste tópico, destacaremos dois grupos sociais que marcaram o contexto 
da Reforma no século XVI: os judeus e as mulheres.
43História do cristianismo | FTSA | 
2.1. Os judeus
Os judeus eram alvo de hostilidade no mundo medieval cristão. O 
antijudaísmo, que se estendeu até o período da Reforma, atingira proporções 
amplas naquela sociedade. Segundo o historiador Jean Delumeau 
(1989, p.279), eram acusados de “Usurários ferozes, sanguessugas dos 
pobres, envenenadores das águas bebidas pelos cristãos”. Vistos como 
pessoas rejeitadas por Deus por negar Jesus e crucifi cá-los; acusados de 
deicidas (os que “mataram Deus”); denunciados pelo assassinato ritual 
de jovens cristãos em rituais, inclusive crianças, também de profanação 
da hóstia eucarística —vilipendiavam a hóstia no intuito de derramarem 
novamente o sangue de cristo, matando-o novamente —; suspeitos de 
envenenarem poços de água. O IV Concílio de Latrão, realizado em 1215, 
exigiu, por exemplo, que os judeus usassem distintivos amarelos para 
serem facilmente identifi cados; tiveram que concentrar sua habitação 
em burgos (regiões separadas ou segregadas). Eram discriminados e 
foram expulsos de vários países.
No período da Idade Média Tardia e início da Moderna fl oresciam vários 
temores e várias acusações contra os judeus, que em dados momentos 
foram colocados à margem da sociedade. Essas acusações fi zeram 
com que medidas anti-judaicas tomassem moldes mais violentos, o 
que gerou a morte ou expulsão dos pertencentes a este grupo social de 
vários territórios. [...] No fi m da Idade Média e início da Idade Moderna 
aumentaram as acusações contra os judeus e o medo que se tinha 
deles esteve mais presente em âmbito religioso, uma vez que foi muito 
alimentado pela Igreja; esta desempenhou grande esforço em provar 
sua forte dominação frente ao judaísmo, por isso houve tentativas de 
destruir todas as bases de religião judaica, assim como todos os seus 
praticantes, feitas através de expulsões, mortes e todas as maneiras de 
segregação (Silva, 2014, p. 36,39).
 O pesquisador Carter Lindberg afi rma que “Inicialmente Lutero se afastou 
do legado antijudaico da Idade Média. Em seu panfl eto Que Jesus Cristo 
foi um judeu nato, de 1523, ele enfatizou que Deus honrou os judeus 
| História do cristianismo II | FTSA44
acima de todos os povos e que por isso, os cristãos deveriam tratar os 
judeus de modo fraterno” (2001, p.435).
Em seus primeiros escritos, Lutero defendeu os judeus, considerando-os 
como parte de um projeto divino, enxergando uma possibilidade de convertê-
los à fé cristã, devendo por isso serem levados amorosamente a Cristo.
O primeiro escrito analisado é também o primeiro que foi redigido por Lutero: 
Que Jesus Cristo foi um judeu nato, de 1523. Nesse texto ele está escrevendo 
em prol dos judeus e usa de vários argumentos para defendê-los. Foi escrito 
com a fi nalidade de apresentar uma defesa frente a alguns rumores que 
haviam sido levantados sobre ele. Isto é o que ele começa dizendo no texto, 
e também diz que aproveitará desse texto para escrever algo de útil:
Uma vez que para o bem dos outros, no entanto, sou obrigado a responder 
a essas mentiras, eu pensei que eu iria também escrever algode útil, 
além disso, para que eu não vá roubar o tempo do leitor com tal negócio 
sujo (Lutero, [S.l.: s.n., 15--]).
Em seguida ele dá início aos vários de seus argumentos em defesa 
dos judeus. Primeiramente, ele demonstra a esperança de converter 
alguns deles e tece uma crítica ao papado, chegando a afi rmar que: 
“Se eu tivesse sido um judeu e tivesse vistos esses imbecis e idiotas 
governarem e ensinar a fé cristã, eu preferiria ter me tornado um porco 
do que um judeu” (Ibid.). No fi nal ele oferece conselhos de como lidar 
com os judeus, sempre de forma positiva, e afi rma que os judeus são 
proibidos de trabalhar e fazer negócio e por isso são forçados a cometer 
usura. Esta é basicamente a estrutura do primeiro escrito. [...] A partir das 
considerações feitas acima, a respeito desse primeiro escrito, podemos 
concluir que a primeira manifestação escrita de Lutero sobre os judeus 
nos passa a noção de que as ideias que ele formulou são positivas em 
relação àquele grupo social (Silva, 2014, p.47,48,49)
Entretanto, cerca de vinte anos mais tarde, de maneira surpreendente, já 
ao fi nal de sua vida, Lutero se voltou veementemente contra os judeus. 
45História do cristianismo | FTSA | 
Publicou um texto com o título Sobre os Judeus e Suas Mentiras. É 
um tratado de Janeiro de 1543, no qual apresenta ideias bastante 
contundentes e polêmicas em relação aos judeus: defende que sejam 
perseguidos, destruído seus bens religiosos, assim como o confi sco do 
seu dinheiro. Lutero escreve que aqueles que continuam aderindo ao 
judaísmo “devem ser considerados como sujeira”; escreveu ainda que 
eles são “cheios de fezes do diabo ... que eles chafurdam como um porco” 
e a sinagoga é “uma prostituta incorrigível”. Ele argumenta que as suas 
sinagogas e escolas devem ser incendiadas, os seus livros de oração 
destruídos, rabinos proibidos de pronunciar sermões, casas arrasadas, 
e propriedade e dinheiro confi scados. Eles não devem ser tratados com 
nenhuma clemência ou bondade, não permitir nenhuma proteção legal, 
e esses “vermes venenosos” devem ser dirigidos a trabalho forçado ou 
expulsos para sempre.
Leia o texto, no box, a seguir, para ampliar a compreensão deste polêmico 
posicionamento de Lutero.
Saiba mais
Acusações antijudaicas
Havia uma verdadeira demonização da fi gura do judeu no período 
medieval e início do mundo moderno; Lutero, com o passar do 
tempo, aderiu a essa ideia que circulava na sociedade: a circulação 
das ideias a respeito de uma possível ligação entre os judeus e o 
demônio se dava principalmente através das pregações da Igreja. 
Lutero está afi rmando que as crenças judaicas são redigidas pelos 
demônios. [...]:
Em vez de matá-los, os deixamos impunes pelos assassinatos, 
blasfêmias e mentiras e dando-lhes espaços entre nós; protegemos 
suas casas, suas escolas, suas vidas, e seus bens, deixando que 
nos roubem, e ainda escutamos deles que nós devíamos ser 
espoliados e mortos (Lutero, 1993, p. 21).
| História do cristianismo II | FTSA46
No trecho seguinte podemos notar uma série de outras acusações 
de Lutero contra os judeus, onde aparece inclusive essa acusação de 
envenenamento dos poços:
Não chamamos suas mulheres de prostitutas, como eles chamam a mãe 
de Jesus, não os chamamos de fi lhos de prostituta, como eles chamam 
a Jesus, nem os amaldiçoamos. Pelo contrário, queremos sua felicidade, 
os abrigamos e deixamos que se alimentem e bebam conosco. Não 
sequestramos e matamos seus fi lhos (Ritualmord), não envenenamos 
suas águas, não somos sedentos do seu sangue, por que então nos 
nutrem tanto ódio (Lutero, 1993, p. 21).
[...] Em vários outros trechos podemos ver Lutero falando sobre a sede 
que segundo eles os judeus têm de matar cristãos:
Ah, como gostam do livro de Ester! Tão ao gosto dos seus instintos 
sanguinários, vingativos sua ânsia assassina! Nunca o sol iluminou 
um povo tão sanguinário e vingativo, e ainda se julga o povo eleito de 
Deus! Julga-se não só no direito, mas no dever de eliminar os pagãos, 
exterminar pela espada todos os não judeus (Lutero, 1993, p. 11).
[...] Além das acusações de matar aos cristãos, os judeus eram acusados 
pela sociedade de matar o próprio Deus, eles eram considerados 
como os responsáveis pela crucifi cação de Cristo; esta acusação era 
constantemente repetida pelo discurso da Igreja (Delumeau, 1989, p. 
292). [...] Esse caráter maléfi co das práticas judaicas, que são ressaltadas 
por Lutero, não foi algo inventado por ele; ele está envolvido e interagindo 
com as informações que circulavam no período (Silva, 2014, p.51-53,54).
Glossário:
Deicida: etimologicamente, signifi ca “que mata Deus”; 
historicamente, o termo tem sido empregado para identifi car a 
acusação feita por cristãos aos judeus durante a Idade Média, de 
que eles teriam “matado Deus”, (em referência à mort de Jesus).
Antissemitismo: preconceito e hostilidade contra povos semitas, 
especialmente em relação aos judeus (em referência genealógica 
a Sem, personagem bíblico).
47História do cristianismo | FTSA | 
2.2. As mulheres da Reforma
A história da Reforma, durante muito tempo, foi associada a personagens 
masculinos — Lutero, Calvino, Zwínglio e assim por diante — sendo quase 
que completamente omitida a memória de mulheres que participaram 
ativamente daquele processo. 
Em tempos mais recentes, têm surgido pesquisas e publicações 
importantes, visando reparar esta lacuna da narrativa historiográfi ca. Um 
destes livros, Uma voz feminina na Reforma, de Rute de Almeida (2010), 
faz uma interessante análise do papel da mulher na Reforma. Na resenha 
elaborada por Vanessa Pereira, encontramos as seguintes informações:
O esforço consciente de um autor por encontrar relatos históricos 
antigos sobre determinado tema, sejam estes reais ou imaginários, 
fazem com que a memória de um povo ou de um coletivo específi co se 
mantenha a mais completa possível, e é justamente esta contribuição 
que Rute Salviano Almeida apresenta em sua brilhante obra Uma voz 
feminina na reforma, que visa resgatar a memória histórica das mulheres 
no movimento da Reforma Protestante do século XVI. Afi nal, o que 
aconteceu com a memória das mulheres durante a Reforma? Existem 
relatos sobre elas? As mulheres daquela época fi zeram história?
É sabido que, consideravelmente muitas mulheres estiveram implicadas 
na Reforma Protestante, nas mais diversas áreas, nos mais variados 
níveis e também em vários países como Espanha, França, Inglaterra, Itália 
e Alemanha. Algumas delas desempenharam certa atividade política 
como o exemplo da rainha Margarida de Navarra, que tinha enorme poder 
de infl uência em sua corte. É sobre ela que a autora tece seu olhar mais 
profundo, fornecendo aos leitores dados inéditos que dizem respeito à 
atuação da irmã do rei Francisco I da França (2014, p. 125).
Problematizando a análise do tema, é feita uma pergunta, referindo-se às 
mulheres no contexto da Reforma: Onde elas estavam? 
| História do cristianismo II | FTSA48
Tal pergunta vem sendo respondida desde as primeiras páginas do livro; 
através do minucioso trabalho de investigação feito pela autora, cada 
nova informação se converte em resposta esclarecedora e afi rmativa, 
reforçando algo que, embora negligenciado por muitos, já se sabia 
que existia: a presença ativa das mulheres nesse contexto. Atrevo-me 
a parafrasear a conhecida frase de Marie Dentière fazendo minha a 
assertiva de que elas estavam ali, embora ofuscadas detrás da escuridão 
da hipocrisia. Impossível não citar Dentière, teóloga reformadora que 
desempenhou ativamente um importante papel na religião e na política 
da Suíça, precisamente em Genebra. Polêmica oradora em tempos de 
Calvino e Farel, Dentière redigiu uma série de escritos revolucionários e 
progressistas para sua época. Foi em 25 de agosto de 1536, durante uma 
visita ao convento de Jussy, na tentativa de convertê-lo à Reforma, que 
ela fez uma das mais bonitas declarações de fé: “Passei muito tempo 
na escuridão da hipocrisia,mas somente Deus foi capaz de fazer-me 
enxergar minha condição e conduzir-me à luz verdadeira” (2014, p. 126).
Destaca-se, entre outros importantes papeis desempenhados pelas 
mulheres – como por exemplo, de pregadoras, teólogas, musicistas - 
o trabalho social e humanitário que muitas delas desempenharam no 
contexto da Reforma. Leia o box, a seguir, no qual se comenta sobre a 
personagem em análise na resenha ora apresentada.
Já no terceiro capítulo a leitura caminha para as origens da rainha 
desconhecida, suas facetas mais peculiares como fi lha, irmã, mãe e 
esposa. É justamente aqui onde o leitor passa a conhecer a boa conduta 
e o caráter de Margarida, aspectos positivos de sua personalidade podem 
ser vistos frente a narrativa de uma vida dedicada à família, assim como 
seus atos falhos, a exemplo do relato onde sua postura como súdita real 
se sobrepõe ao papel de mãe. 
Dando continuidade ao enfoque humanitário de Margarida, no quarto 
capítulo veremos ecoar sua voz política e social, suas habilidades 
49História do cristianismo | FTSA | 
diplomáticas e sua humanidade. A relevância social que Margarida teve 
em pleno século XVI revela a natureza de uma mulher muito além do 
seu tempo, uma fi gura que entendia e participava da política, que atuava 
como agente de transformação social e que não passaria despercebida 
naquela época, quanto menos nos dias de hoje (2014, p. 127).
Como considerações fi nais, destaca-se em relação à personagem em 
análise na obra, que “há de se considerar que a personagem foi uma 
teóloga integralmente comprometida com as questões sociais de sua 
época, tendo em conta toda a sua participação política, intelectual e 
humanitária”. (Pereira, op. cit., p.128)
Leia o texto no box, a seguir, que apresenta uma síntese das contribuições 
de uma das inúmeras mulheres que participaram dos movimentos de 
Reforma.
O livro revela uma Margarida importante por si mesma, mulher corajosa 
e destemida, que estimulou e protegeu os reformadores e estudiosos da 
época, escreveu suas próprias obras e foi voz profética dentro de um 
movimento dominado pela presença masculina.
Por fi m, o livro nos apresenta uma mulher que transpôs as convenções 
sociais ao utilizar de sua posição infl uente para tornar a atividade 
intelectual feminina efi caz, embora tenha sido sua fé o que a motivou a 
agir e a fez diferente no meio da corte corrompida da época. Sem dúvida 
alguma, o Espírito Santo foi o condutor em todas as ações de Margarida! 
(2014, p. 129).
Assista ao vídeo:
Catarina Von Bora, esposa de Lutero
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| História do cristianismo II | FTSA50
3. O papel da leitura nos movimentos de reforma
A Reforma Protestante do século XVI nasceu em bancos escolares. 
Expandiu-se a partir de leituras feitas em salas de aula. Seus líderes mais 
conhecidos foram professores. Os países alcançados pelo movimento 
reformista atingiram índices de alfabetização até então não vistos no 
mundo ocidental. 
O protestantismo apresentou mudanças na maneira de ler; novas práticas 
de leitura possibilitaram outros alcances reformistas no advento do 
mundo moderno, alterando o modo de a maioria das pessoas pensar na 
vida e nas ideias que tinham a respeito de sua existência. Neste cenário, é 
oportuno perguntar: que papel teve a leitura para surgimento e expansão 
de acontecimentos de natureza religiosa, mas que transpuseram 
fronteiras da crença no advento do mundo moderno? Quais novas 
maneiras de ler foram adotadas pelos movimentos reformistas? Que 
outros grupos e práticas eclodiram a partir de novas práticas de leitura, 
inspiradas na Reforma Protestante? Como todo professor, Martinho 
Lutero também foi aluno; antes de ser escritor, foi primeiramente leitor. 
Cabe, então, perguntar: o que Lutero leu? Como leu? Para que leu? Onde 
leu? Quem foram seus leitores? 
Nas cidades do século XVI circulam novas ideias, potencializadas pelo 
advento da imprensa, criada por John Gutemberg já em meados do século 
anterior. Pelo custeio e empreendimento de reis, príncipes e mercadores 
ricos, foram fundadas diversas universidades. Segundo Carter Lindberg, 
às vésperas da Reforma, o número de universidades europeias aumentara 
de 20 para 70; “uma estimativa conservadora da taxa de alfabetização 
sugere que 5 por centro de toda a população e 30 por cento da população 
urbana sabia ler no começo do século 16” (Lindberg, 2001, p.50).
Historicamente, pode-se afi rmar que a prática da leitura teve mais 
ouvintes do que leitores, ou seja, quando praticada de modo coletivo, a 
leitura possibilitou que mesmo em sociedades com predominância de 
analfabetos o ato de ler fosse compartilhado: “a comunicação de ideias 
não era limitada pela capacidade ou incapacidade da leitura: aqueles que 
sabiam ler transmitiam ideias àqueles que não sabiam. Desse modo, 
51História do cristianismo | FTSA | 
os milhares de panfl etos e sermões publicados durante a Reforma 
eram projetados para serem lidos tanto para os iletrados quanto pelos 
letrados. Como acentuava Lutero, ‘a fé vem pelo ouvir’ (Romanos 10.17)” 
(Lindberg, 2001, p.50).
Superada a restrição da escrita devida ao valor elevado da produção 
de livros pelos tipos de materiais utilizados, tanto o papiro como o 
pergaminho, os germânicos tornaram-se os mais antigos especialistas 
em impressão, favorecidos pelo desenvolvimento de um papel feito de 
polpa de linho, mais barato, introduzido pelo expedicionário Marco Polo 
a partir da China, e a produção de tipos móveis de metal, em meados do 
século XV.
O surgimento da imprensa representou uma revolução nos meios de 
comunicação. A invenção da imprensa foi preponderante para promover 
a difusão de novas idéias. O historiador Peter Burke (1989) afi rma que 
a partir do ano 1500 o acesso a livros passou a ser maior por parte de 
camponeses e artesãos. Pois, além de custarem relativamente barato 
e de serem produzidos em linguagem geralmente simples, os livros 
poderiam ser comprados nas feiras ou com mascates ambulantes que 
percorriam as aldeias.
Novas ideias passaram a se difundir com rapidez. Fazendo um 
comparativo, enquanto as ideias reformistas de John Wyclif, nos séculos 
XVIII e XIV, “espalharam-se como extrema lentidão por meio de cópias 
manuscritas, as ideias de Lutero cobriram a Europa dentro de poucos 
meses” (Lindberg, 2001, p.51). Afi rma-se que, por volta do fi nal do 
século XV, as máquinas de impressão existiam em mais de 200 cidades 
grandes e médias. Um número estimado de 6 milhões de livros tinha sido 
impresso até então, sendo que a metade dos 30 mil títulos versavam 
sobre assuntos religiosos. “No período de 40 anos, entre 1460 e 1500, 
foram impressos mais livros do que haviam sido produzidos pelos 
escribas e monges durante toda a Idade Média” (Lindberg, 2001, p.51).
Também a alfabetização, que fora um privilégio de poucos em todo o 
período medieval, veio a ser ampliada às outras camadas da população 
com o advento da modernidade. Neste aspecto, a Reforma Protestante 
| História do cristianismo II | FTSA52
também deu a sua contribuição, uma vez que a leitura e o conhecimento 
das escrituras bíblicas eram fundamentais para a salvação do indivíduo, 
fato que motivou a criação de muitas escolas pelos protestantes 
agregadas aos templos. 
O movimento de reforma ocasionou um impulso no mercado de produção 
livreira. Os impressores tornaram-se ávidos por difundir toda nova obra 
de Lutero. Em razão disso, somente na cidade em que se concentrou o 
epicentro da Reforma, Wittenberg, surgiram sete ofi cinas de impressão 
dedicadas a imprimir os escritos de Lutero e de seus colegas. 
Por ocasião da morte de Lutero, em 1546, haviam aparecido mais de 
3.400 edições integrais ou parciais da Bíblia em alto-alemão e cerca de 
430 edições em baixo-alemão. Tomando como base de cálculo 2 mil 
exemplares por edição, chega-se ao resultado de que vieram a público 
no mínimo 750 mil exemplares da primeira versão e cerca de 1 milhão de 
exemplares ao todo. Esse número é aindamais surpreendente quando 
se considera que o preço dos livros estava aumentando nessa época 
(Lindberg, 2001, p.51).
Na Idade Média, e mesmo com as primeiras obras impressas, o livro 
servia primariamente à preservação e transmissão de conhecimento. 
Em contraponto, a Reforma deu ao livro impresso uma nova função: a 
transmissão de opiniões. Lutero, assim, dominou uma campanha de 
propaganda e um movimento de massa (Lindberg, 2001, p.52).
Uma das grandes conquistas da Reforma foi a devolução da Bíblia aos 
leigos, cuja leitura estava até então restrita ao clero. Lutero e os demais 
reformadores se preocuparam não somente em traduzir as Escrituras 
para a língua comum falada pelo povo, como também em promover a 
criação de escolas para que, através da alfabetização, todos pudessem 
ter acesso à leitura sagrada. A tradução da Bíblia de Lutero, usada em 
larga escala, com contínua popularidade na Alemanha, contribuiu, 
inclusive, para a normalização da linguagem do alemão moderno.
Lutero também foi musicista; compôs centenas de letras, que passaram 
a ser entoadas nas liturgias do culto reformado; mais conhecida tornou-
53História do cristianismo | FTSA | 
se o hino da Reforma: Castelo Forte. Sua letra foi composta quando se 
encontrava no Castelo de Watburg, protegido das ameaças à sua vida, 
decorrente da excomunhão que sofrera após a Dieta de Worms, em 1521.
Saiba mais
Hino 165 do Hinário Luterano
Castelo forte é nosso Deus,
Defesa e boa espada;
Da angústia livra desde os céus
Nossa alma atribulada.
Investe Satã com hábil afã
E sabe lutar com força e ardil sem par;
Igual não há na terra.
O mundo venham assaltar
Demônios mil, furiosos,
Jamais nos podem assombrar,
Seremos vitoriosos.
Do mundo o opressor,
Com todo o rigor julgado ele está;
Vencido cairá por uma só palavra.
Sem força para combater,
Teríamos perdido.
Por nós batalha e irá vencer
Quem Deus tem escolhido.
Quem é vencedor?
Jesus Redentor, o próprio Jeová,
Pois outro Deus não há;
Triunfará na luta.
O Verbo eterno fi cará
Sabemos com certeza,
E nada nos perturbará
Com Cristo por defesa.
Se vierem roubar os bens vida e o lar –
Que tudo se vá! Proveito não lhes dá.
E céu é nossa herança
| História do cristianismo II | FTSA54
Cabe também citar que o chamado Sacro Império Romano-Germânico foi 
à época inundado por milhares de outros escritos reformatórios, redigidos 
na forma de breves folhetos e panfl etos. O movimento reformista também 
se valeu de outras inovações: a propaganda da Reforma não se limitava 
apenas à palavra impressa, mas também possuía um estilo visual, 
incorporando fi guras, imagens e caricaturas. Neste aspecto, mantinha-
se em um primeiro momento a estratégia de um tipo de “leitura” familiar 
ao contexto desde o medievo: Gregório Magno, papa do início da Idade 
Média, havia declarado: “as imagens são os livros dos leigos”. Por isso, 
as igrejas medievais apresentavam a Bíblia e a vida dos santos em pedra, 
vitral e madeira. “Assim, os ‘livros dos leigos’ eram exibidos com toda a 
visibilidade na fonte da cidade e na prefeitura, entalhados nas portas e 
pintados nas paredes das casas e dos prédios públicos” (Lindberg, 2001, 
p.77). Ato seguinte, o movimento de reforma logo passaria a buscar como 
estratégia a alfabetização do povo, para que pudesse por si mesmo ter 
acesso à leitura do texto bíblico escrito. 
Assista ao vídeo:
Caminhos de Lutero – EP 3 - Dieta de Worms 
Acesse o AVA para assisitir o vídeo!
4. João Calvino e a Reforma em Genebra
João Calvino nasceu em 10 julho de 1509, em Noyon, França. Na infância, 
recebe infl uências familiares: incentivo do pai para os estudos — que 
era procurando-fi scal, e teve por isso condições de dar-lhe educação 
diferenciada —; e a formação cristã da mãe, mulher de bastante piedade 
religiosa. Aos 14 anos de idade se muda para Paris, onde ingressa no 
Seminário Montaigu, para estudos de Filosofi a e Teologia. Durante esse 
período, por infl uência de um primo convertido à fé protestante, teve os 
primeiros contatos com as ideias luteranas. Decide deixar os estudos 
teológicos, optando pela área do Direito. Quando já formado jurista, 
assume a fé protestante, e num momento de perseguição religiosa na 
55História do cristianismo | FTSA | 
França, foi se estabelecer em Genebra, na Suíça, em cuja cidade, com o 
auxílio de Guilherme Farel, implantou a Reforma Protestante. 
Genebra, pelas transformações da Reforma, veio a ser um modelo nas 
áreas da educação e da saúde. Com a criação do hospital, refugiados 
de diferentes lugares da Europa, acometidos de pestes, foram receber 
tratamento de alto nível naquela cidade. Ali, familiares também eram 
assistidos pelo trabalho social de diaconia. Para lá igualmente afl uíram 
cristãos perseguidos por causa de sua fé protestante, fi cando por isso 
conhecida como cidade refúgio. Como Lutero e outros reformadores, 
João Calvino sempre demonstrou especial apreço à causa da educação. 
A instrução das massas populares foi preocupação da ação social 
reformada em Genebra, redundando na criação deste centro educacional, 
conhecido como Academia, obra para a qual Calvino dirigiu esforços de 
forma contínua. A Academia teria também a função de capacitar os que 
manifestassem interesse pelo conhecimento teológico e se sentissem 
chamados ao trabalho pastoral ou missionário. 
Uma vez comprado o terreno para construção do edifício, Calvino passou 
a contar com algumas barreiras para efetivação daquele sonho: boa 
parte da população da cidade ser composta de refugiados, em torno de 
30%, muitos pobres e sem condição de contribuir com o projeto. Mesmo 
assim, houve uma grande mobilização do povo, e muitos contribuíram. 
Assim, deu-se fi nalmente a inauguração em 5 de junho de 1559, numa 
segunda-feira. Foi uma data solene em Genebra. Na cerimônia de 
inauguração, houve um serviço religioso na Catedral de São Pedro, 
presidida por Calvino. Anunciada a escolha do primeiro reitor, tarefa 
conferida a Teodoro de Beza, pronunciou este um discurso em latim, 
terminando Calvino aquela cerimônia com ações de graças. 
Na sua visão inicial, a Academia já dava pistas do que se tornaria mais 
tarde aquele empreendimento: a primeira universidade protestante. Mas 
os começos eram humildes. Além de Calvino, apenas cinco professores 
formavam o quadro: dois de Teologia, um de Hebraico outro de Grego e 
outro de Filosofi a. Mas a novel escola em pouco tempo lançou profundas 
raízes, totalizando 900 alunos. 
| História do cristianismo II | FTSA56
A Academia de Genebra tornou-se um estratégico centro de preparação 
teológica, responsável pela formação de pastores e missionários que 
propagaram a mensagem da Reforma em diferentes países: na França, 
Alemanha, Itália, Holanda, Inglaterra, Boêmia e Escócia.
Desde o seu momento inicial, a Reforma Protestante dava demonstrações 
de sua preocupação em promover uma consistente formação teológica, 
cultural e acadêmica dos pastores e líderes do movimento. A Academia 
de Genebra demonstra a importância que se dava à formação humanista 
como um dos recursos para a propagação da fé protestante. Nela também 
havia o objetivo de se treinar líderes para a igreja e para o governo civil 
da cidade. Além do que, como destaca o pesquisador Antonio Carlos 
Barro, a criação da Academia foi bastante estratégica para a expansão 
missionária da fé protestante: 
Esta [Academia] foi uma das grandes realizações de Calvino e por ela 
ele demonstrava um grande entusiasmo. [...] o estabelecimento da 
academia foi em parte realizado por causa do desejo de suprir e treinar 
missionários evangélicos. [...] Desde o princípio a academia esteve cheia 
de estudantes. A maioria veio de outros países, e de todos os lugares onde 
havia comunidade de língua francesa chegavam pedidos de pastores 
professores. O desejo de Calvino era preencher essas necessidades e 
espalhar os princípios da Reforma (1998, p. 44).
Barro acrescenta ainda outras importantes considerações a respeito do 
cuidado que havia para com a visão ministerial ea excelência acadêmica 
na formação dos futuros líderes:
Com o fi m de cumprir o seu propósito, Calvino impôs uma rigorosa 
disciplina acadêmica. Os estudantes recebiam uma educação humanista 
bem ampla, com ênfase em línguas e efetiva comunicação escrita e 
verbal. A ideia de Calvino era de que, quando propriamente treinados, os 
estudantes poderiam voltar a seus próprios países e espalhar o evangelho 
como missionários. Nesse sentido, ele procurou tornar Genebra um 
centro missionário para espalhar a Reforma e os seus ensinos por toda a 
Europa e outras partes do mundo (1998, pp. 44,45).
57História do cristianismo | FTSA | 
Desta forma, ao modelo protestante da Academia criada por Calvino 
logo se associou também o conceito de “seminário” aplicado à formação 
teológica, à semelhança da tipologia também estabelecida pela Contra-
Reforma Católica. Com essa combinação, nasceram dois modelos 
básicos de instituições de ensino teológico, que foram posteriormente 
consolidados nos Estados Unidos e, a partir daí, bem mais tardiamente, 
introduzidos para o Brasil: o seminário e a faculdade de Teologia. 
É importante ressaltar também que na visão calvinista o trabalho é 
concebido como vocação divina, sendo por isso as diferentes profi ssões 
compreendidas como tarefas a serviço do reino de Deus. Essa visão 
que inverte o signifi cado do trabalho — visto no contexto medieval como 
tortura ou castigo —, tornando-o agora missão divina, dá origem a uma 
ética protestante em sintonia com a produção, ou geração de riquezas, 
conforme estudo clássico elaborado pelo sociólogo Max Weber, em A 
ética protestante e o espírito do capitalismo.
5. O legado luterano e a Contra-Reforma Católica
De 1545 a 1563, realizou-se na cidade de Trento, Itália, um concílio 
convocado pelo Papa Paulo III. Para tal, houve foi montado um grande 
aparato, com auxílio de professores e juristas. Neste concílio deu-se o 
enfrentamento da Reforma, com reformulações anti-protestantes; ali 
sacramentou-se defi nitivamente o cisma da igreja, entre catolicismo 
e protestantismo. A igreja Católica Romana, usou como uma das 
estratégias, o investimento na educação, por meio do trabalho dos 
jesuítas. No entanto, a Contra-Reforma, como fi cou conhecido aquele 
digesto conciliar, fortaleceu também o tribunal do Santo Ofício, ao 
mesmo tempo que regulamentou uma censura literária denominada 
índex, mediante a qual se impôs severa vigilância ao que o fi el católico 
podia ou não ler. 
Naquele momento de Contra-Reforma, havia um desnível gritante entre a 
posição escolástica da Inquisição e o universo imagético da religiosidade 
que permeava as classes subalternas. Coerente com o dogmatismo, 
| História do cristianismo II | FTSA58
atenta ao policiamento de tudo aquilo que classifi cava como heresia, e 
afi nado com o saber erudito, o Santo Ofício se impôs pela censura, com o 
propósito de banir a alteridade que contrapunha à sua representação, sendo 
responsável pela supressão de vivências cotidianas da cultura popular.
A longa duração do Concílio de Trento se deve a diversos interregnos, 
ocasionados por períodos de guerras e epidemias. Nestes períodos, o 
trabalho era desenvolvido por comissões, formadas para analisar temas 
teológico-doutrinais. Após debates e estudos as comissões apresentavam 
resultados, levados para votação no plenário. Ao fi nal, as principais 
decisões teológico-doutrinárias aprovadas no Concílio de Trento foram 
estas: mantida a autoridade papal como representante apostólico; a 
leitura da Bíblia restrita ao clero, sendo permitida como única versão ofi cial 
a tradução latina chamada Vulgata, feita por S. Jerônimo; inclusão ofi cial 
de 7 livros do Antigo Testamento, que hoje compõem a chamada Bíblia 
Católica (Macabeus I e II, Baruc, Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, 
além de pequenos trechos em Salmos e Daniel); a tradição e o magistério 
da igreja com a mesma condição autoritativa das Escrituras bíblicas; a 
preservação da doutrina do purgatório; a missa, com o signifi cado da 
transubstanciação dos elementos; a intercessão de Maria e dos santos; a 
salvação pela graça, com o auxílio das boas obras; a confi ssão auricular. 
As traduções da Bíblia e demais escritos de Lutero foram considerados 
heresias, e como tais, não deveriam ser lidos pelos católicos.
Glossário:
Vulgata: Tradução da Bíblia para o Latim, feita por S. Jerônimo, entre 
os séculos IV e V. O termo “vulgata” signifi ca “versão popular”. Foi 
a única tradução aceita pela Igreja Romana durante a Idade Média, 
referendada como a versão ofi cial pelo Concílio de Trento.
Índex: comissão permanente estabelecida pela Igreja Católica 
para fazer a censura de livros ou quaisquer literaturas quanto às 
questões de fé; um tribunal eclesiástico que julga e pune as ideias 
consideradas heréticas.
59História do cristianismo | FTSA | 
Livros apócrifos: livros não autorizados ou não reconhecidos como 
inspirados pelo Espírito Santo; livros que não foram incluídos ou 
aceitos na Bíblia protestante, porém, mantidos como inspirados e 
canônicos na Bíblia católica (em número total de 7).
Assista ao vídeo
O legado de Lutero e a Contra Reforma
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Referências (Unidades I e II)
ALMEIDA, Rute S. Uma voz feminina na Reforma: a contribuição de 
Margarida de Navarra à reforma religiosa. São Paulo: Hagnus, 2010.
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1989.
CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado. Organização e 
marketing e um empreendimento neopentecostal. Petró polis: Editora 
Vozes; Sã o Paulo: Simpó sio Editora; Sã o Bernardo do Campo: UMESP, 
1997.
CAVALCANTI, Robson. Cristianismo e política. São Paulo: Nascente, 
1985.
DELUMEAU, Jean. A história do medo no ocidente. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1989
DREHER, Martin. A crise e a renovação da Igreja no período da Reforma. 
Vol 3. São Leopoldo: Sinodal, 1996
| História do cristianismo II | FTSA60
LANE, William L. Lutero e Zwínglio: uma tentativa de aproximação de duas 
compreensões distintas da presença de cristo na tradição reformada. 
Práxis Evangélica, FTSA, n.13, 2014, p.60
LINDBERG, Carter. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
LUTERO, Martin. Dos judeus e suas mentiras. Porto Alegre: Revisão, 1993.
MENEZES, Jonathan. Outra face da Reforma Protestante: o esquecido 
caso dos Anabatistas. Práxis Evangélica, FTSA, n.23, 2014.
PEREIRA, Vanessa Carvalho de Mello da Cunha. Resenha: Uma voz 
feminina na reforma. Práxis Evangélica, FTSA, n.13, 2014.
SILVA, Thaís Ayres da. Martin Lutero e os judeus: Tensões e confl itos 
religiosos na Europa do século XVI. Práxis Evangélica, FTSA, n.13, 2014.
THOMAS, Keith. Religião e declínio da magia. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1991.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2004.
BARRO, Antonio Carlos. A consciência missionária de João Calvino. São 
Paulo, Fides Reformata, v.3. n.1, jan./jun., 1998.
CAIRNS, Earle E.. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida 
Nova, 1995.
GONZALEZ, Justo L. A era dos reformadores. Uma História Ilustrada do 
Cristianismo, vol. 6. S. Paulo: Vida Nova, 1983.
WALKER, Williston. História da igreja cristã. São Paulo: JUERP/ ASTE, 
1981.
Leituras complementares:
DREHER, Martin. A crise e a renovação da Igreja no período da Reforma. 
Vol 3. São Leopoldo: Sinodal, 1996, p.122-126.
61História do cristianismo | FTSA | 
UNIDADE III - Expansão dos movimentos de reforma
Nesta unidade, estudaremos alguns acontecimentos que marcaram a 
história da Igreja após o advento da Reforma no século XVI. Ao longo 
das aulas, com uso de textos e vídeos, veremos três principais aspectos.
Primeiro, que a Reforma foi um movimento que se espalhou rapidamente 
para diferentes lugares da Europa, atingindo também já no século 
seguinte o continente americano, sobretudo a América do Norte, e ainda 
que ocasionalmente, a América Latina. 
Segundo, a Reforma não se caracterizapela uniformidade; em termos 
denominacionais, ou mesmo doutrinários, foi um movimento bastante 
plural, o que é visibilizado pelas diversas nomenclaturas advindas: 
luteranos, presbiterianos, anglicanos, batistas, congregacionais, 
metodistas, além de outras ramifi cações, como pietismo, morávios, 
puritanos e, mais tardiamente, adventistas e movimentos de santidade, 
culminando com o advento do pentecostalismo. 
Terceiro, a Reforma teve um forte impacto em outras áreas, além do 
âmbito religioso; em diversos lugares signifi cou proximidade ou exercício 
do poder político, envolta a interesses econômicos; inegavelmente, suas 
infl uências nas questões culturais, educacionais e formas de pensamento 
tiveram repercussão sem precedentes no mundo ocidental. 
Tudo isto passaremos a ver com mais detalhes e fundamentação nos 
tópicos que se iniciam, a seguir.
1. Movimentos advindos com a Reforma: Pietistas, 
Moravianos e Puritanos
1.1. Pietismo
Denomina-se de Pietismo o movimento surgido no século XVII, sob 
a liderança de Jacob Spener (1635-1705). Teólogo luterano alemão, 
considerado o pai do Pietismo protestante, Spener foi um autodidata 
| História do cristianismo II | FTSA62
que cedo percebeu o fato da Reforma Protestante não estar completa. 
Em sua vida, entrou em contato com importantes teólogos e seus livros, 
que exerceram infl uência direta em suas obras posteriores. Os principais 
postulados do Pietismo se caracterizaram por uma leitura simples 
e direta da Bíblia pelo cristão, ou sem a mediação clerical ou pastoral 
que já se confi gurava como controladora no ambiente protestante 
institucionalizado; espiritualidade cristã prática, marcada por horários 
de orações diárias, modo de vida simples, regras comportamentais que 
pudessem distinguir o cristão do não cristão.
O Pietismo chegou à região da Morávia, hoje Alemanha, onde Nicolau 
Zinzendorf (1700-1760) – conde, juntamente com outros estudantes, 
fundou o que chamou de “Ordem do grão de mostarda”. Na Morávia, a 
igreja havia se originado após a morte do pré-reformador John Huss. 
A igreja protestante da região estava sendo bastante perseguida, em 
decorrência de confl itos com o catolicismo, por isso, Zinzendorf ofereceu 
uma fazenda de sua propriedade para acolher cristãos como refugiados. 
Com aplicabilidade direta e imediata da leitura que fi zeram de Atos 2:44-
45, fundaram naquela fazenda uma comunidade de vida igualitária, na 
qual, plantavam e distribuíam coletivamente tudo o que era produzido 
para auto sustento. 
Saiba mais
A Comunidade Morávia, como fi cou conhecida, tornou-se base 
missionária, responsável pelo envio de missionários para diferentes 
regiões, como América, África e Ásia, sendo notabilizado, inclusive, 
em alguns casos, o fato de chegaram a se vender como escravos 
para conseguir adentrar em territórios controlados por outras 
crenças. O missiólogo Paul Pierson descreve este alcance: “Os 
Moravianos se envolveram com o mundo das missões como uma 
igreja, isto é, toda a igreja se tornou uma sociedade missionária” 
(apud Mullholand, 2003, p. 2). Devido ao seu profundo envolvimento, 
esse pequeno grupo ofereceu mais da metade dos missionários 
protestantes que deixaram a Europa em todo o século XVIII.
63História do cristianismo | FTSA | 
Da literalidade da leitura de 1 Tessalonicenses 5:17, os moravianos criaram 
um movimento de oração de 24 horas/dia, que perdurou por 100 anos, ou 
seja, durante um século houve uma escala de oração diuturnamente, que 
não poderia ser interrompida, entre os membros da comunidade. Durante 
os primeiros 100 anos de atividade (1732-1832), os resultados obtidos com 
seu trabalho são expressivos: reuniram cerca de 40 mil membros; milhares 
de missionários; 41 centros de missões implantados ao redor do mundo.
Exercício de fi xação
Sobre o Pietismo podemos dizer que:
a) Frente ao crescente papel mediador do clero dentro da estrutura 
institucional protestante, o pietismo nasce como busca de uma 
espiritualidade alternativa, voltada para aspectos práticos.
b) Fruto dos desdobramentos do movimento petista, os moravianos 
limitaram-se a busca de uma espiritualidade pessoal, voltada 
exclusivamente para práticas individuais.
| História do cristianismo II | FTSA64
Os Puritanos começam como partido de oposição ao anglicanismo dentro 
da igreja. Era uma forma de calvinismo com forte caráter evangélico 
(ênfase na piedade e conversão). O rótulo “puritanos” lhes foi atribuído 
pelo desejo de purifi car a igreja inglesa das muitas tradições da época 
e adaptá-la à sua própria visão genuína teológica e prática reformada. 
Puritanos era também sinônimo de rigidez moral e intolerância religiosa. 
Os puritanos consideravam que a igreja da Inglaterra, sob o governo 
de Elisabete e Hooker e de vários arcebispos de Cantuária, estava 
demasiadamente próxima do catolicismo romano e queriam purifi cá-la, 
eliminando as crenças e práticas romanas. Nas primeiras décadas do 
século XVII, os puritanos começaram a discutir a respeito da natureza 
da igreja ideal. No início da guerra civil contra a coroa, o parlamento 
convocou uma assembleia nacional de ministros e teólogos puritanos na 
Abadia de Westminster. Foi criado um sínodo de 151 líderes puritanos 
e presbiterianos cuja intenção era estabelecer os alicerces da igreja 
reformada nacional da Inglaterra. O movimento puritano gerou muitas 
transformações em termos denominacionais. 
A teologia puritana era total e persistentemente calvinista. Sua ênfase 
se dava na intensidade da experiência cristã, ou espiritualidade das 
pessoas. Uma das marcas registradas da teologia puritana era o ideal 
da igreja pura. Inclusive, à medida que o movimento se consolidou, seus 
líderes começaram a exigir dos candidatos à fi liação, descrições da sua 
contrição, arrependimento, crença, confi ança e certeza de perdão.
O movimento Puritano, em evidência a partir do século XVII, sobretudo na 
Grã-Bretanha e depois na América do Norte, também se notabilizou pelas 
práticas de leitura da Bíblia. Historicamente, podem ser identifi cados dois 
principais tipos de puritanismo: o de inserção na sociedade, defensores 
da propriedade privada da terra; o de isolamento da sociedade, com 
proposta de uso comunitário da terra, aplicando a literalidade do texto de 
Atos 2:44-45. Do primeiro grupo, destaca-se a fi gura de Oliver Cromwell, 
que se tornou líder da primeira revolução burguesa do mundo moderno. 
Apresentava-se como o eleito por Deus para guiar os povos do mundo 
65História do cristianismo | FTSA | 
sob a égide da bandeira inglesa. Quando ocorreu a guerra civil, no século 
XVII, na Inglaterra, a nobreza formou um exército para apoio ao Rei. Em 
1645, o parlamento organizou outro exército com cidadãos revoltados, 
liderados por Oliver Cromwell — puritano, da pequena nobreza, pequeno 
proprietário de terras, calvinista e fortemente anticatólico, que havia sido 
eleito membro do parlamento em 1628. O exército puritano lutava em 
nome de Deus, guiando-se por leituras e interpretações de textos bíblicos, 
como que em uma guerra santa. Com a vitória dos puritanos, em 1646, 
o rei se viu obrigado a fugir; logo após, foi decretado o fi m da monarquia 
e estabelecida uma república teocrática; a direção desta república coube 
a Oliver, apoiado pelo exército e parlamento. Esse modelo não duraria 
mais do que uma década, vindo a se reestabelecer a monarquia em 
período imediatamente seguinte.
A segunda tipologia puritana se representa por Diggers, Quaker e 
Amish. Têm como características comuns o ascetismo, estilo de vida 
em contracultura e o modo de vida comunitária. Em relação à leitura, 
apresentam algo semelhante à leitura paradigmática, identifi cada por 
Roger Chartier em estudos que realiza sobre maneiras de ler ocorridas 
na Europa Ocidental, no século XVIII, que signifi ca: “estilos de leitura 
religiosos e espirituais” que promoviam “o acesso à verdade absoluta” 
(Chartier, 2000, p. 26), sendo responsáveis pela orientação da vida em 
diferentesdimensões. De igual modo, pela “frequentação intensa dos 
mesmos textos lidos e relidos” que “molda os espíritos, habituados pelas 
mesmas citações” (Chartier, 2003, p. 217). 
Os Diggers, por exemplo, apresentavam como proposta que as pessoas 
dividissem a terra, abolindo-se assim a ideia de propriedade; exigiam 
que todas as terras e fl orestas da Coroa inglesa, os terrenos comunais e 
ociosos fossem cultivados pelos pobres, através da posse comunitária, e 
que a compra e venda da terra deveria ser proibida por lei.
Especifi camente, em relação aos Amish, pode-se descrevê-los como 
membros de um rigoroso movimento sectário, puritano/anabatista, que 
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estabeleceu a partir de 1720 grandes assentamentos na Pensilvânia, 
Ohio, e em outros lugares na América do Norte. Ainda hoje, com mais 
de 22 mil membros, prezam por uma temporalidade anacrônica, ou seja, 
vivem em comunidades isoladas, como se estivessem ainda no contexto 
social e cultural século XVIII, sem aceitação daquilo que consideram 
mundanismo, como é o caso do uso de eletricidade, tecnologia e meios 
de comunicação modernos. Usam como referência para esse modo de 
vida a literalidade interpretativa da leitura que fazem de textos bíblicos, 
com destaque para o escrito joanino: “Não ameis o mundo nem o que 
nele existe” (1 Jo 2.15).
Assista ao vídeo:
Saiba mais sobre os Amish, assistindo o documentário: Amish - 
Sinais do tempo (parte 1 de 4) [14 min.).
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
Os movimentos pietistas, sobretudo os morávios, irão infl uenciar 
decisivamente o metodismo, surgido na Inglaterra no século XVIII. 
John Wesley, líder daquele movimento, foi bastante impactado pela 
espiritualidade, visão missionária e compromisso com a ação social dos 
moravianos. Com isso, espalhou estes princípios em obra e pregação, 
fato que também repercutiu no surgimento de movimentos de santidade 
ou avivalistas nos EUA. Mas, sobre isto iremos tratar de forma mais 
aprofundada em aulas subsequentes.
Assista ao vídeo:
Aula 6 – História do Cristianismo II / FTSA (10 min.)
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67História do cristianismo | FTSA | 
Exercício de aplicação
Enquanto um movimento não uniforme, a reforma se desdobrou 
em diversas direções, com respostas distintas mesmo diante de 
contextos comuns. A respeito destes diferentes posicioamentos 
podemos afi rmar que:
a) Uma espiritualidade marcadamente pessoal desvincula-se 
completamente de qualquer relação com implicações sociais, pois o 
verdadeiro caminho da espiritualidade afasta o indivídio dos dilemas 
sociais.
b) Uma consideração sobre a espiritualidade deve levar em 
consideração as questões sociais, pois, conforme testemunhado pelo 
pietismo, mesmo optando por qualquer espécie de isolamento este se 
faz acompanhar de implicações político-sociais.
Glossário
Calvinismo: sistema religioso protestante, fundado por João 
Calvino (1509-1564).
Diggers: grupo puritano que surgiu na Inglaterra, no século XVII, que 
tinha com modo de vida o ascetismo, estilo de vida em contracultura 
e o modo de vida comunitária.
Quaker: grupo puritano que surgiu na Inglaterra, no século XVII, 
que tinha como modo de vida o ascetismo, estilo de vida em 
contracultura e o modo de vida comunitária. Nos cultos, os 
Quaker vivenciavam a experiência do êxtase e algumas práticas de 
carismas.
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2. A Reforma na Inglaterra e o contexto de surgimento do 
Metodismo
A Reforma Protestante ocorreu, na Inglaterra, envolvendo notório 
interesse político do rei Henrique VIII, que buscava tirar o poder do 
papa e atribuir a si mesmo essa supremacia. Por motivações pessoais 
— desejava se divorciar para se casar novamente — e por interesses 
também econômicos — visto que a igreja possuía inúmeras propriedades 
em territórios ingleses, terras, mosteiros, universidades, cujos tributos 
eram enviados para a Santa Sé, em Roma —, Henrique VIII decretou a 
ruptura com Roma, tornando-se ele mesmo a partir dali chefe espiritual 
da igreja, que passou a se chamar de Anglicana.
A igreja Anglicana era uma instituição mais política que religiosa. Os 
membros do clero ofi cial da corte quase sempre defendiam os interesses 
da família real e, para conservar seus cargos, tais ministros mudavam 
suas crenças conforme a ordem dos reis. Havia comprometimento com 
o ensino, pois os bens e livros dos ministros em dado momento foram 
confi scados; também, membros do clero tinham que trabalhar durante a 
semana como alfaiates, carpinteiros, taberneiros para se sustentarem.
A alta sociedade britânica estava envolvida em prolongada orgia 
infl uenciada pelo rei Carlos II e seus cortesãos. A família real dava mau 
exemplo para toda sociedade, pois a imoralidade entre os altos ofi ciais 
do governo era conhecida, porém não condenada.1
Os políticos não se importavam em servir a dois partidos sem escrúpulos, 
nem de receber pagamentos de fontes opostas. Um fato na história 
inglesa é de Roberto Walpole, primeiro ministro por vinte anos que 
gastou elevada soma de dinheiro para comprar votos e conseguir manter 
a maioria das cadeiras no Parlamento. Montesquieu, em sua visita à 
1 Ver LELIÉVRE, Mateo. John Wesley. Sua vida e obra. São Paulo: Vida, 
1997.
69História do cristianismo | FTSA | 
Inglaterra naquela época disse: “Aqui se aprecia muito o dinheiro, mas 
mui pouco a honra e a virtude. Os ingleses já não são dignos de sua 
liberdade, pois a venderam ao rei...”.2 Montesquieu também constatou 
a ausência de religiosidade: “Não há religião na Inglaterra, quatro ou 
cinco membros da Câmara dos Comuns frequentam a missa ou culto 
ofi cial. Todo mundo ri, se alguém fala em religião”.3 Havia descuido 
na tarefa religiosa e social. “O descuido dos trabalhos pastorais, a 
estagnação espiritual, o nepotismo, o afastamento da sede por parte do 
pároco, gozando o mesmo clérigo de mais de um benefício, são fatos 
indiscutíveis”.4 O ceticismo prevaleceu no meio da classe intelectual e 
alguns fi lósofos queriam substituir o cristianismo pela religião natural. 
Vários escritores e fi lósofos atacavam a revelação cristã. O cristianismo 
era combatido através de livros e sofi smas.
Glossário
Nepotismo: palavra usada para indicar o favorecimento de parentes 
ou amigos, por meio de pessoas mais qualifi cadas. Atualmente 
este termo está ligado a nomeação ou elevação de cargos públicos 
e políticos.
Santa Sé: é a sede da Igreja Católica, em Roma, para onde era 
enviado os tributos.
Sofi sma: é um argumento ardiloso com que se pretende enganar 
ou fazer calar o adversário.
2 Ibidem, p.11
3 REILY, Duncan Alexander. A infl uência do metodismo na reforma social na 
Inglaterra no século XVIII. Junta Geral de Ação Social da Igreja Metodista, 1953, p. 2. 
4 Ibidem.
| História do cristianismo II | FTSA70
Saiba mais:
Dois importantes fi lósofos franceses desse período foram 
Motesquieu e Voltaire:
Montesquieu: Charles de Montesquieu foi um importante fi lósofo, 
político e escritor francês. Nasceu em 18 de janeiro de 1689, na 
cidade de Bordeaux (França). É considerado um dos grandes 
fi lósofos do iluminismo.
Voltaire: François-Marie Arouet era seu nome de batismo. Nascido 
em 21/11/1694, na cidade de Paris. Voltaire foi uma das figuras 
mais importantes do iluminismo, sendo considerado símbolo do 
movimento. Ele criticou a forma com a igreja era administrada, 
era contra a intolerância, o clero e o poder que este exercia sobre 
o povo. Voltaire era escritor e fi lósofo, defensor da liberdade e 
símbolo do Iluminismo
Nas regiões onde ainda permanecia o catolicismo, havia muitas 
superstições. Os moradores de Devonshire ensinavam invocações aos 
santos. O país de Gales conservava costumes próprios dos druidas. 
Atribuíam grande valor às crenças em duendes; bruxos e charlatães 
praticavam suas atividades lucrativas. Poucas pessoas sabiam ler. Em 
1715, em todo o Reino Unido havia somente 1.193 escolas primárias 
frequentadas por pouco mais de 20mil alunos.
Naquela época o jogo era um passatempo nacional, como um vício. O 
vício de embriaguez grassava no meio da classe popular. Os ingleses 
consumiam mais de 30 milhões de litros de bebida alcóolica por ano. Não 
se podia caminhar pelas ruas de Londres sem se encontrar com seres 
inertes e desacordados no chão. Uma em cada seis casas de Londres, 
em 1736, era uma taberna.
71História do cristianismo | FTSA | 
Os camponeses eram menos desmoralizados, porém em sua maioria 
eram poucos os alfabetizados, distante do conhecimento e do poder de 
liderança. Os mineiros eram oprimidos pelo trabalho duríssimo e pouco 
produtivo. Levavam uma vida de miséria. Suas diversões eram jogos e 
bebidas.5 
 O puritanismo foi uma grande escola de piedade e liberdade, apesar da 
radicalidade em determinados modos de pensar e agir. Associado ao 
povo, lutava contra o despotismo da realeza. 
A Revolução Gloriosa, de 1688, na Inglaterra, liderada pelo puritano Oliver 
Cromwel trouxe uma vitória temporária, porém havia decadência na parte 
religiosa. Este acontecimento teve grande repercussão nos aspectos 
políticos, porém não do ponto de vista moral, pelo contrário, houve grande 
desmoralização. E após esse período de revoluções, o puritanismo se 
transformou num partido político e perdeu a força espiritual que possuía 
inicialmente.
No contexto do século XVIII, na Inglaterra, ocorre a Revolução Industrial, 
que potencializou um êxodo rural, exploração da mão-de-obra, violência, 
crianças fora da escola e muitos confl itos sociais. Constitui-se uma 
sociedade enfraquecida por vícios e imoralidade, a começar pelo 
ambiente da própria família real e seus ministros. A igreja dava sinais de 
fragilidades e comprometimentos, estando o clero mais preocupado em 
atender aos interesses políticos do que religiosos.
É neste cenário histórico que surge a fi gura de John Wesley e o movimento 
metodista, protagonistas da escrita de um novo capítulo da história do 
cristianismo, caracterizado por um despertamento espiritual, cujas práticas 
impactariam os séculos XVIII e XIX para além do âmbito da igreja. É sobre 
isto que trataremos com mais detalhes a partir da próxima aula.
5 Ibidem. 
| História do cristianismo II | FTSA72
Glossário:
Clero: termo usado para indicar a classe clerical, ou seja, àqueles 
que fazem parte do conjunto de religiosos que são encarregados 
de devoção espiritual de um grupo de fi éis.
Druidas: formavam a elite do povo celta de raízes indo-europeias, 
que se espalhou por boa parte do noroeste europeu a partir do 
segundo milênio a.C.
Exercício de fi xação
Considerando as relações entre reforma protestante, movimento 
puritano e política na Inglaterra, é correto afirmar que:
Nenhum dos dois movimentos limitou-se ao âmbito religioso, 
mas, de uma forma ou outra acabaram implicando em mudanças 
na estrutura da política inglesa, porém, com respostas diferentes 
frente a questões econômicas e sociais.
( ) Verdadeiro / ( ) Falso
3. John Wesley e o Metodismo6
John Wesley nasceu em 1703, em Epworth Parsonage, na Inglaterra. Viveu 
até 1791. Seu pai era pastor da igreja anglicana. Embora pertencente à 
Igreja Anglicana, era descendente, tanto do lado do pai como do lado da 
mãe, da estirpe dos puritanos, que se distinguiam por sua integridade.
Sua infância foi muito infl uenciada por sua mãe, Susana, e seu pai, Samuel. 
John era o décimo quarto fi lho. Seu pai se sustentava com seus trabalhos 
6 Conteúdo elaborado com as contribuições de Dilma Yahiro, a partir de suas 
pesquisas de doutorado em Teologia, sobre o metodismo.
73História do cristianismo | FTSA | 
literários. Tinha uma inteligência ampla e publicou várias obras literárias 
como panfl etos políticos e religiosos, artigos para periódicos, poesias 
e tratados teológicos. Samuel tinha um caráter nobre e elevado, porém, 
impulsionado pelo desejo de cumprir bem seus deveres, era severo em 
corrigir e estabelecer disciplina, o que por vezes causava irritação nos 
seus paroquianos. 
Os pais infl uenciaram a vida John Wesley para uma vida de excelentes 
hábitos de estudo e de disciplina. Susana, mãe de John Wesley, era uma 
cristã muito piedosa, fi lha do dr. Annesley, um dos teólogos de maior 
distinção entre os puritanos. Dotada de inteligência e uma educação 
sólida e abrangente. Tinha conhecimento de idiomas, fi losofi a, teologia e 
muitas questões eclesiásticas. Foi responsável pela instrução e criação 
de seus fi lhos, velava pelo crescimento físico, moral e intelectual dos 
doze ou treze fi lhos que sobreviveram às enfermidades da infância.
Os fi lhos Wesley eram submissos, desde os primeiros anos, a uma 
disciplina rigorosa. Havia horário de comer, dormir e até os recém-
nascidos respeitavam esse regime infl exível. Não se permitia gritos, 
por isso apesar da família ser numerosa havia quietude e tranquilidade. 
Susana Wesley era uma cristã fervorosa e instruía seus fi lhos nas 
Sagradas Escrituras desde os primeiros anos de vida e ensinava orações 
singelas. Dedicava tempo individualmente, conversava uma ou duas 
horas por semana em particular com cada um dos fi lhos. Em Susana 
Wesley, também havia o zelo pela evangelização. Durante a ausência 
de seu marido por motivos de viagens, ela fazia cultos familiares aos 
domingos à tarde, em sua cozinha. A ideia inicial era limitar às crianças 
e aos criados, porém dentro de pouco tempo os vizinhos começaram 
a participar e o número de pessoas chegou a duzentos. John Wesley 
adquiriu, nesta primeira escola doméstica, a maior parte das grandes 
qualidades que manifestou na obra que lhe seria confi ada. A família 
passou por muitas provações como a pobreza, houve mortes de vários 
fi lhos. Seu pai morreu endividado. Por duas vezes a casa pastoral foi 
atingida por incêndio criminoso, onde paroquianos queriam se vingar das 
| História do cristianismo II | FTSA74
repreensões recebidas de seu líder espiritual, pai de John Wesley. Nessa 
ocasião, John foi salvo miraculosamente e por isso anos mais tarde, 
mandou gravar sobre seu retrato “não é este um tição arrebatado do fogo?”
Em 1720, John Wesley entrou no Christ Church College da Universidade 
de Oxford. Permaneceu ali até sua ordenação em 1725. Era um aluno 
aplicado e dedicou-se aos estudos literários das obras clássicas da 
antiguidade. Compunha versos com facilidade. Mais tarde, expressou 
o desejo de se consagrar ao ministério cristão. Desenvolveu hábitos de 
piedade, devocional, estudo da Bíblia nas línguas originais, também lia 
obras como Imitação de Cristo, de Tomás Kempis e Regras para viver e 
morrer na santidade, de Jeremias Taylor, entre outros autores. Questionou 
o conceito sobre o dogma de predestinação absoluta na obra de Kempis 
e também a falta de segurança na salvação na obra de Taylor.
O irmão de John, Charles Wesley nasceu em 1708, e entrou na 
Universidade de Oxford em 1726. John juntou-se com seu irmão Charles 
e outros jovens e iniciaram uma pequena sociedade. No início eram 
apenas os dois irmãos Wesley e os jovens Roberto Kirkham e Guilherme 
Morgan. Depois outros membros se juntaram, tanto estudantes como 
catedráticos que mais tarde se tornaram homens de distinção, como 
Santiago Hervey, grande escritor sacro; Benjamim Ingham, evangelista de 
Yorkshire; João Gambold, o bispo morávio; e George Whitefi eld, que viria 
a ser considerado um dos pregadores mais eloquentes e carismáticos 
do seu século. Esses jovens formaram uma sociedade para alimentar a 
fome de piedade e do saber. Reuniam-se todas as noites para conversar 
sobre suas ocupações, estudos e para orar. Eram chamados de “o clube 
santo” e os seus membros receberam o apelido de “metodistas”, por 
causa da metodologia e regularidade com que cumpriam seus deveres 
religiosos. Havia tendências ascéticas e ritualistas no grupo, e também 
outra preocupação seria a questão do misticismo. John Wesley escreveu 
para o seu irmão Samuel que os autores místicos foram as rochas as 
que mais ele se apegou. “Com suas belas descrições de uniãocom Deus 
e de religião interior, fi zeram parecer à minha vista: desprezíveis, triviais 
75História do cristianismo | FTSA | 
e insossas todas as demais coisas, inclusive as boas obras” (Leliévre, 
1997, p.45). Relata-se, inclusive, que John Wesley tinha o costume de 
levantar se todas as manhãs às 4 horas para oração e leitura da Bíblia.
Em setembro de 1725, Wesley recebeu a ordenação de diácono, que na 
Igreja Anglicana é a primeira das ordens a ser concedida. Por um tempo 
ajudou seu pai na paróquia em Epworth. Mais tarde recebeu distinções 
acadêmicas em Oxford. Foi reconhecido como literato de excelente gosto, 
era habilidoso nos debates fi losófi cos, ocupou a cátedra de literatura 
grega e presidiu debates públicos dos estudantes. Recebeu o grau de 
mestre em artes após ter apresentado três teses em latim. Dedicava-
se ao estudo metódico de grego, latim, lógica, moral, línguas hebraica e 
árabe e também estudava metafísica e fi losofi a natural, retórica, poesia 
e teologia. Mas logo Wesley percebeu que sua vocação era mais forte 
e a partir de abril de 1739 começou a pregar ao ar livre. Daí a famosa 
frase que proferiu: “o mundo é a minha paróquia”. Trocando os púlpitos 
das igrejas ofi ciais pelas plataformas ao ar livre, sua pregação despojou-
se de tudo quanto era artifi cial para poder falar ao povo na linguagem 
popular. O reavivamento do século XVIII tinha se iniciado.
Glossário
Ascetismo: pessoa que se entrega as práticas espirituais e habitua-
se com uma vida irrepreensível
Ouça o Podcast
Vida e obra de John Wesley.
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| História do cristianismo II | FTSA76
No aspecto da ação social, John Wesley, como todos os reformadores de sua 
época, acreditava que a verdadeira fé em Cristo resultava inevitavelmente 
em boas obras. Para ele, o indivíduo era responsável pelo bem-estar social e 
não o Estado. E que a chave da reforma social era a conversão de indivíduos. 
Foram amplas as obras fi lantrópicas em prol dos pobres e enfermos. Ele 
e os demais participantes daquele movimento dedicavam-se às práticas 
das boas obras, visitavam famílias pobres, cárceres e patrocinavam escolas 
primárias. Wesley e seus irmãos metodistas eram controlados no uso do 
tempo e dinheiro. Abstinham-se do que era considerado supérfl uo, limitando 
seus gastos pessoais ao que era necessário, para que assim pudessem 
dedicar maior soma de recursos aos pobres. 
A visão social de Wesley foi adquirida em grande parte pela infl uência 
dos Moravianos, os quais ele conheceu em uma viagem missionária à 
América do Norte. Ao retornar à Inglaterra, entrou em contato com a 
comunidade morávia, onde conheceu Pedro Böhler, ministro de grande 
piedade e conhecimento das Escrituras Bíblicas. Na convivência com 
essa comunidade, pôde aprender muito com a pureza dos seus costumes. 
Aos poucos, Wesley foi deixando seus preconceitos eclesiásticos e 
cedendo a singeleza dos morávios. Pois o cerimonial da Igreja Anglicana 
contrastava muito da simplicidade dos morávios.
Em maio de 1738, Wesley organizou em Londres, uma pequena sociedade 
segundo as regras dos morávios e dirigida por Böhler, onde reuniam-se 
uma vez por semana para confessar suas faltas uns aos outros, segundo 
o mandato de Deus dado por Tiago 5:17 e orar uns pelos outros. Pelo 
contato com os Morávios, ele aplicou em seu ministério muito do que 
ali observou: cuidados dos pobres, idosos, doentes, desvalidos e demais 
excluídos da sociedade.
 John Wesley atacou com vigor a escravatura, inclusive escreveu a obra 
“Pensamentos sobre a Escravidão” em 1774. É, por isso, considerado um 
dos responsáveis pelo fi m da escravidão na Inglaterra e colônias inglesas 
alhures. Wesley também ostenta a condição de um dos pais dos direitos 
77História do cristianismo | FTSA | 
humanos modernos, por sua atuação na defesa dos trabalhadores que 
eram explorados nas minas e nas fábricas com jornadas desumanas 
de trabalho, com cerca de 16 ou 18 horas por dia, em condições 
muito prcárias, com baixa remuneração. Fez inúmeras pregações nas 
fábricas e nas minas, em favor de melhor qualidade de vida dessa gente 
explorada pelo desejo de lucro advindo com a Revolução Industrial; 
publicou diversos textos e enviou documentos às autoridades inglesas 
reivindicando implementação de leis trabalhistas. Atribui-se a ele, por 
tais motivos, a posição de um dos pais do sindicalismo moderno.
 Wesley e os demais metodistas dedicaram especial atenção às outras 
instituições de ensino. Por infl uência desse trabalho, Robert Raikes, 
jornalista e educador, criou em 1780, em Gloucester, na Inglaterra, 
a primeira classe de escola dominical. Ele foi sensibilizado pelo 
analfabetismo da maioria da população, sobretudo de crianças que, 
para sobrevivência, precisavam trabalhar com seus pais na mineração 
ou nas fábricas, em longas jornadas diárias, fi cando por isso privadas 
da educação. Assim, aos domingos, durante as celebrações religiosas, 
foram organizadas por Raikes classes de alfabetização. Aprender a ler 
para que essas pessoas também pudessem, posteriormente, ler por si 
mesmas as Escrituras. As Escolas Dominicais fundadas por Raikes, no 
fi nal do século XVIII, espalharam-se e originaram o estabelecimento da 
educação pública popular. Foi um acontecimento revolucionário, que 
acabou se incorporando na tradição da maioria das igrejas evangélicas/
protestantes, permanecendo até os dias atuais.
O clube santo marcou uma geração de jovens universitários dedicados 
aos estudos, sedentos em aprender mais sobre Deus, jovens marcados 
pela dedicação nos estudos, nas disciplinas espirituais, e também no 
serviço ao próximo. John Wesley se destacou pela infl uência decorrente 
de seu preparo intelectual, maturidade de espírito e capacidade 
organizadora. Pode-se dizer que houve nesta geração de jovens um 
discipulado visando um crescimento integral, na preocupação da missão 
num contexto urbano, procurando atender às necessidades da sociedade 
em vários aspectos.
| História do cristianismo II | FTSA78
Exercício de reflexão
O nascimento do metodismo foi um movimento espiritual de que 
desbordou para a integralidade da vida. Na mesma medida em que 
Wesley em práticas religiosas também se colocava como resposta 
aos desafi os sociais da Inglaterra de seu tempo. Como pensar essa 
mesma relação no cenário brasileiro atual?
4. Protestantismo nos Estados Unidos e (Re)avivamentos
O protestantismo se estabeleceu na América do Norte a partir da primeira 
metade do século XVII. Ingleses, inicialmente de maioria puritana, 
migraram para esta região em razão de alguns aspectos. Os confl itos com 
anglicanos e católicos instigaram o sonho de protestantes de construir 
um novo espaço, onde pudessem professar livremente sua fé e viver o 
cristianismo ao modelo reformado. Também havia o interesse econômico 
de se construir riquezas numa nova terra, chamada por muitos de Nova 
Canaã, onde se constituiria um tipo de “Novo Israel”. Inclui-se também, 
nestas motivações, os interesses ingleses de ocupar territorialmente 
uma região economicamente auspiciosa e assim impedir que as nações 
católicas de Espanha e Portugal tomassem conta também daquela região, 
como já vinha ocorrendo com o território que hoje conhecemos como 
América Latina. Mais tardiamente, organizaram-se em solo americano as 
denominações mais clássicas do protestantismo, como presbiterianos, 
batistas e congregacionais.
A Inglaterra foi a principal responsável pela colonização do território 
norte-americano e dela vieram os primeiros grupos protestantes a 
se fi xarem nos Estados Unidos. A ruptura de Henrique VIII com Roma 
(1534) foi o primeiro passo para a criação da Igreja Anglicana, que se 
tornou protestante nos reinados de seus fi lhos Eduardo VI (1547-53) e 
Elizabete I (1558-1603). No reinado de Maria Tudor (1553-58), que tentou 
tornar a igreja inglesa novamente católica, muitos líderes protestantes 
refugiaram-se em Genebra e em outras cidades reformadas suíças e 
79História do cristianismo| FTSA | 
alemãs. Ao retornarem à pátria, já no reinado de Elizabete, alguns desses 
líderes e muitos que haviam permanecido na Inglaterra, mobilizaram-se 
em prol de uma reforma mais sistemática da igreja. Foi isso o que deu 
origem ao puritanismo na década de 1560.
Os primeiros puritanos a migrarem para a América estabeleceram-se em 
Plymouth, Massachusetts, em 1620. Quando o escocês Tiago I sucedeu 
a Elizabete no trono inglês (1603-1625), sua recusa em apoiar a causa 
dos puritanos desapontou os protestantes mais radicais, entre os quais 
estavam algumas igrejas locais separadas da igreja nacional. Uma 
delas, localizada em Scrooby, Nottinghamshire, resolveu mudar-se para 
um ambiente mais amistoso. Inicialmente, foram para a Holanda, mas 
não se adaptaram à nova cultura. Além disso, temiam que seus fi lhos 
abandonassem os seus princípios religiosos sob a pressão de interesses 
econômicos e de outras igrejas. Doze anos depois, resolveram transferir-
se para o Novo Mundo, sob o patrocínio de comerciantes ingleses. 
Embarcados no Mayfl ower em setembro de 1620, pretendiam ir para a 
Virgínia, mas os ventos tempestuosos os desviaram para Cape Cod, onde 
chegaram em novembro. Antes de desembarcarem, os homens assinaram 
um acordo pelo qual se comprometeram manter a solidariedade do 
grupo e a renunciar à busca individual do lucro. William Bradford (†1657), 
o primeiro governador e historiador da colônia, escreveu um comovente 
relato dos rigores do primeiro inverno, no qual morreu a metade dos 
“peregrinos”. Eventualmente, os colonos superaram as difi culdades 
iniciais e após a primeira colheita realizaram uma celebração especial 
de ação de graças, com vários dias de duração, juntamente com seus 
amigos indígenas. Em 1630, a colônia tinha somente 300 residentes, mas 
continuou a prosperar e em 1691 uniu-se à colônia de Massachusetts. [...] 
A grande migração puritana para o Novo Mundo ocorreu quando diminuíram 
os prospectos de reforma na Inglaterra. Carlos I, que sucedeu o seu pai 
Tiago I (1625-1649), não apenas tinha tendências católicas romanas, 
mas parecia decidido a governar a Inglaterra por direito divino. Ele entrou 
em confl ito com o parlamento e, a partir de 1629, tentou governar sem 
| História do cristianismo II | FTSA80
convocar o mesmo. Ele encarregou o arcebispo de Cantuária, William 
Laud, de eliminar o puritanismo da Igreja Anglicana. Em 1628, um grupo 
de puritanos simpatizantes da estrutura eclesiástica congregacional 
adquiriu o controle da Companhia da Nova Inglaterra. Depois que a 
companhia foi reorganizada visando dar ênfase à colonização e não ao 
comércio, e depois de ter obtido um novo estatuto do rei concedendo 
maior autonomia administrativa, ocorreu a primeira migração para a 
Baía de Massachusetts, em 1630 (mais de 1000 colonos). Nos dez anos 
seguintes, pelo menos 20 mil colonos cruzaram o Atlântico, nem todos 
eles puritanos convictos. [...] O puritanismo foi a religião dominante em 
quatro colônias americanas [...] A primeira geração de colonos puritanos 
acreditou que seria possível realizar o seu grande projeto de reforma que 
se mostrara inviável na Inglaterra (Noll, 1992, pp. 17-19).
Considera-se que os reavivamentos do século XIX foram uma forma 
de resposta dentro do protestantismo, ao descrédito da religião, devido 
“à valorização de uma visão científi ca” (Siepierski, 2003, p. 44). As 
igrejas protestantes norte-americanas passaram por esse momento 
de esfriamento espiritual dentro de suas congregações. O empenho de 
trazer de volta a intensidade e o fervor da fé cristã em Deus, resultou no 
movimento pentecostal, que infl uenciou todo o campo protestante, tanto 
nos EUA como em outros países.
O pesquisador Siepierski faz o seguinte comentário: 
A “semente” das raízes do movimento pentecostal, 
se encontram nos movimentos de reavivamentos 
do século XVIII com o movimento metodista e XIX 
com movimento holiness (santidade) a ênfase era 
a conversão (nascidos de novo), porém não seria 
o sufi ciente, onde os cristãos deveriam buscar por 
santifi cação, assim desenvolvendo o caráter de Cristo 
(2003, p. 45)
81História do cristianismo | FTSA | 
Esse movimento se origina na Inglaterra e ganha projeção nos Estados 
Unidos na segunda metade do século XIX. O reavivamento se converteu 
em uma poderosa força social num momento de urbanização, pois 
conseguia agrupar em massa, as pessoas. Uma fé despertada, avessa 
ao intelectualismo, mais prática, ligada aos problemas da vida cotidiana, 
aos quais procurava apresentar soluções espirituais. 7
Em outubro de 1735, os dois irmãos Wesley embarcaram para a América 
do Norte para pregar aos povos indígenas. Na mesma embarcação, havia 
26 jovens morávios, os quais viriam a exercer uma grande infl uência na 
vida de John Wesley e seus companheiros. Logo no início da viagem, 
evidenciavam um cristianismo superior que tinham conhecido até então. 
A travessia foi longa e penosa, várias vezes a tempestade ameaçava 
tragar o navio. Na hora do perigo, todos fi cavam muito angustiados, 
porém os morávios mostravam uma atitude tranquila e serena diante 
da morte. Isso surpreendeu muito Wesley. Ao chegar em terra no Novo 
Mundo, no outro dia, Wesley foi buscar conselho com o pastor morávio 
Spangenberg. E ele perguntou se Wesley tinha o testemunho de Deus que 
ele era fi lho de Deus, se conhecia a Cristo e tinha certeza da salvação. 
Wesley respondeu que sim, de maneira tímida, pois sentia que faltava 
algo. Tanto em Oxford, quanto em Savannah, Wesley desempenhou sua 
atividade principal para o bem dos “pequeninos”, os pobres, os enfermos, 
e as crianças eram objeto do seu cuidado especial. Interessou-se muito 
pela causa dos escravos negros, que naquela época estavam em grande 
número na América do Norte. Esforçou-se para melhorar suas condições 
de vida. Em fevereiro de 1738, depois de dois anos na América, John 
Wesley e seus amigos retornaram a Inglaterra, por não conseguirem 
evangelizar os indígenas. 
O ambiente religioso dos Estados Unidos, no século XIX, sofreu infl uências 
do pietismo moraviano, do puritanismo e do movimento metodista, que 
7 Ver melhor detalhamento deste contexto em CAMPOS, Leonildo Silveira. 
As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre 
uma relação ainda pouco avaliada. São Paulo, Revista USP, n.67, set-nov, 2005, 
p. 200-115. 
| História do cristianismo II | FTSA82
trouxeram mudanças na igreja, como a ocorrência do que se chama 
de um Primeiro Grande Despertamento. Isso trouxe a revitalização das 
igrejas protestantes.
Podcast
O avivamento moraviano e John Wesley - por Russell Sheed [4 
minutos]. 
Acesse o AVA para ouvir o podcast!
Os avivamentos produziram um tipo de cristianismo mais emocional, 
mais independente das antigas tradições, mais desejoso de experimentar 
novas formas do sagrado. Essas ênfases se intensifi caram com o 
surgimento do segundo Grande Despertamento no início do século XIX.
O pesquisador Antônio Gouvêa Mendonça afi rma:
A teologia dos avivamentos nos EUA centrava-se no 
medo da punição eterna... A pregação se volta para a 
capacidade livre do indivíduo de aceitar ou rejeitar a 
salvação oferecida a todas as pessoas. A função do 
pregador era convencer seus ouvintes de seus pecados, 
levá-los ao arrependimento e torná-los responsáveis 
pela aceitação ou rejeição da salvação. Para isso 
era necessário que se criasse um clima altamente 
emocional, onde choros, desmaios e ataques histéricos 
eram habituais” (Mendonça, Filho, p. 85)
De acordo com a análise de Campos (2005), o processo de urbanização 
e industrialização nos Estados Unidos no fi nal do século XIX, levaram 
ao sucesso das propostas avivalistas. Outros autores têm dado maior 
ênfase às matrizes teológicas do movimento, destacando-o como fruto 
de desdobramentos doutrinários ocorridos durante quase um século 
83História do cristianismo | FTSA | 
no cenário protestante norte-americano, marcado por infl uências 
arminianas, puritanas e pietistas.
O contextourbano na América era lugar de oportunidade de fazer 
fortuna, mas também de sofrimento e frustrações. Assim, instituições 
como National Holiness Association, surgida em 1867, promovia 
acampamentos e centros de reavivamentos, em regiões rurais para 
“receber o batismo do Espírito Santo” e outras experiências extáticas. 
Essa situação, principalmente no interior da Igreja 
Metodista, causou inúmeros confrontos, resolvidos 
somente a partir de 1885, quando começaram a 
surgir igrejas autônomas, que adotaram o nome de 
“igrejas holiness”. Uma parte delas se tornaria igrejas 
tipicamente pré-pentecostais, quando então já se 
prenunciava no horizonte um salto de qualidade que 
se concretizaria com a chegada da “era pentecostal”: 
Church of God (Cleveland, 1886); United Holy Church 
of América Inc. (1886); Fire Baptized Holiness 
Church (1898); Pentecostal Holiness Church (1899); 
Pentecostal Union (1901). Algumas dessas igrejas 
iriam aderir ofi cialmente ao movimento pentecostal 
nos anos seguintes, seguindo os modelos implantados 
por William Seymour, em Azuza Street, a partir de 1906. 
(Campos, 2005, p. 106)
O movimento Holiness tem as suas raízes no contexto reavivalista norte-
americano (Campos, 2005). Suas raízes estão na teologia wesleyana na 
busca da “experiência de santifi cação” ou “segunda bênção” Na pregação 
desta experiência da “segunda benção” destacou-se o precursor do 
movimento metodista, John Wesley (1703-1791), que por infl uência 
do pietismo protestante incentivou métodos práticos e formas para o 
desenvolvimento espiritual na busca da perfeição cristã.
| História do cristianismo II | FTSA84
Saiba mais
A palavra inglesa holiness signifi ca santidade. O movimento Holiness 
visa promover a santidade de um cristianismo pessoal, enfatiza 
práticas de mudança de vida e a espiritualidade avivada ou do 
“coração aquecido” pregado por John Wesley, grande idealizador deste 
movimento. As crenças fundamentais do movimento de santidade são: 
(1) regeneração por graça através da fé; (2) experiência de santifi cação 
ou “segunda benção” como uma segunda obra defi nitiva da graça, 
recebida pela, realizada por meio do poder do Espírito Santo, mediante 
a qual o crente está habilitado a viver uma vida santa.
A Igreja Holiness no Japão teve origem quando um pastor metodista, 
no fi nal do século XIX, dirigiu-se aos Estados Unidos em busca de uma 
experiência mais profunda com o Espírito Santo e com a santifi cação. 
Assim que considerou recebida essa experiência, retornou ao p aís de 
origem, iniciando ali um movimento de avivamento. Para isto, treinava 
obreiros, evangelizava ao ar-livre, com ousadia e intrepidez como seus 
precursores ingleses wesleyanos, e distribuição massiva de folhetos e 
literaturas evangelísticas de norte ao sul do Japão. 
Exercício de aplicação
A partir das características dos movimentos de avivamento nos EUA, 
sobre os movimentos de avivamento no Brasil pode-se afi rmar que:
São marcados pela ênfase no resgate de um fervor espiritual, 
às vezes avesso ao intelectualismo, mas fortemente ligado aos 
problemas da vida cotidiana.
Quanto à teologia desses movimentos, trata-se de uma construção 
estritamente brasileira, com mínima infl uência da teologia que 
marcou os movimentos de avivamento nos EUA.
85História do cristianismo | FTSA | 
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87História do cristianismo | FTSA | 
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Referência completa: In DREHER, Martin. A crise e a renovação da Igreja 
no período da Reforma. Vol 3. São Leopoldo: Sinodal, 1996.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do 
protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, pp. 48-51.
| História do cristianismo II | FTSA88
UNIDADE IV: Expansão dos movimentos de reforma
Nesta unidade, veremos o alcance do movimento de Reforma por 
diferentes lugares e contextos, mas também sua extensão ao longo 
do tempo, chegando a inquirir, inclusive, as práticas religiosas dos 
nossos dias.
Em continuidade ao que vimos na unidade anterior, destaca-se 
que a expansão do movimento de reforma foi marcada em muitos 
lugares por conflitos, perseguições e até martírios, como ocorreu, por 
exemplo, no primeiro contato da América Portuguesa (hoje, Brasil) 
com a fé protestante. O período histórico de descoberta e colonização 
da América por nações católicas (Espanha e Portugal) é simultâneo 
ao tempo e contexto da Reforma, fato que potencializou ainda mais 
as tensões entre estas vertentes do Cristianismo, gerando em dados 
momentos uma espécie de “cruzada religiosa”, no intuito de assegurar 
a posse de territórios sagrados, ou mesmo o controle de interesses 
políticos e econômicos.
E, por fim, veremos que o slogan “Reforma protestante sempre se 
reformando” é um elemento simbólico importante para dimensionar 
os diferentesmomentos nos séculos subsequentes ao XVI em que 
movimentos surgiram buscando “reformas da própria Reforma”, ou 
intencionando uma “nova Reforma”. São os casos de movimentos 
avivalistas ocorridos nos séculos XVIII e XIX, inicialmente na Inglaterra 
e posteriormente nos EUA, com forte impacto nas denominações 
institucionalmente já estabelecidas. Tal slogan é também oportuno 
para refletirmos sobre o legado da Reforma 500 anos depois: qual 
a atualidade de sua mensagem e de seus princípios para a igreja 
evangélica contemporânea? 
Tudo isto abordaremos com mais detalhes nostópicos que configuram 
a última unidade do nosso curso. É o momento de associarmos mais 
diretamente o que o passado tem a dizer ao nosso presente.
89História do cristianismo | FTSA | 
1. Origens do Pentecostalismo
O fi nal do século XIX é mercado nos Estados Unidos pelo trauma da Guerra 
Civil; libertação dos escravos negros; tensões raciais; crise prolongada do 
mundo da agricultura; mobilidade populacional em direção às cidades do 
norte em processo de industrialização; chegada de milhões de imigrantes 
brancos que vinham refazer a vida na América após laços rompidos pela 
pobreza e miséria na Europa naquele contexto. O pesquisador Leonildo 
Silveira Campos (2005) privilegia o enfoque sociológico, destacando que 
as peculiaridades culturais e as transformações sociais e econômicas 
dos Estados Unidos no século XIX contribuíram em grande medida para 
a ocorrência do fenômeno do pentecostalismo.
O marco histórico de origem desse segmento está situado na passagem 
de 1901 para 1902, em Topeka, Kansas, Estados Unidos. Charles Fox 
Parhan, evangelista metodista - ligado aos movimentos de santidade dos 
séculos XVIII e XIX e fundador e dirigente da Escola Bíblica Betel - passou 
a ensinar a seus alunos ser possível contemporaneizar ou reviver os sinais 
de êxtase que teriam ocorrido com cristãos do primeiro século da era 
cristã, conforme relato do texto bíblico Atos 2:1-4. Segundo tal narrativa, 
cerca de 120 cristãos que estavam reunidos na cidade de Jerusalém, 
teriam recebido o “dom” ou a capacidade divina de “falar outras línguas”. 
Esse episódio é lembrado como Pentecostes, por ter ocorrido no dia em 
que se celebrava uma festa judaica que trazia esse nome em alusão aos 
cinquenta dias que a separavam da Páscoa. Daí a atribuição do nome 
“pentecostalismo”. A manifestação de um fenômeno de êxtase, atribuído 
ao Espírito Santo, semelhantemente àquele descrito pelo texto bíblico, 
teria se dado inicialmente com a jovem Agnes Ozman, aluna da escola 
dirigida por Parhan. O fenômeno teria ocorrido posteriormente com 
outros estudantes, vindo também a espalhar-se rapidamente por outros 
lugares no âmbito de várias igrejas.
Infl uenciado pela experiência pentecostal de Topeka, no ano de 1906, 
em Los Angeles, o pregador negro William J. Seymour, membro da igreja 
Holiness, passou a realizar cultos carismáticos em um salão alugado 
| História do cristianismo II | FTSA90
na Rua Azusa, 312, onde ofi cialmente fundou a primeira denominação 
pentecostal, chamada de “Missão Evangélica da Fé Apostólica”. A ênfase 
à obra do Espírito Santo evidenciada por êxtases de glossolalia tornou-
se, em pouco tempo, uma sensação local e, mais tarde, um fenômeno 
de alcance mundial. Os jornais locais passaram a divulgar amplamente 
os episódios miraculosos que ali se afi rmava ocorrer, o que contribuiu 
para que muitos visitantes de vários lugares procurassem Los Angeles 
no intuito de conhecer e depois também propagar aqueles sinais 
carismáticos. Estas reuniões na Rua Azuza aconteceram diariamente 
por três anos, de onde surgiram inúmeros pregadores responsáveis pela 
difusão do movimento em outras partes do mundo.
Templo da Missão Evangélica da Fé Apostólica na Rua Azusa, Los Angeles
Além da alusão feita ao acontecimento bíblico já anteriormente descrito, 
é preciso salientar que o pentecostalismo tem raízes precursoras que se 
reportam a imaginários de movimentos religiosos de longa duração. Uma 
delas pode ser localizada nas práticas montanistas ocorridas no segundo 
91História do cristianismo | FTSA | 
século da era cristã, sob a liderança de Montanus, o qual, ao tornar-se 
cristão e receber o batismo no ano 156, entrou em êxtase e começou 
a falar em línguas desconhecidas. Esse episódio foi classifi cado por 
alguns cristãos como manifestação do Espírito Santo, como ocorrera 
no Pentecostes, não, porém, para a igreja institucional, a qual classifi cou 
aquele ato como algo estranho ao cristianismo. Expulso da igreja como 
herege, o novo profeta passou a liderar um movimento que atraiu muitos 
seguidores, anunciando que a revelação divina ocorre diretamente através 
de seus profetas, sem a mediação institucional. Além disso, Montanus 
se considerava o escolhido para anunciar o novo advento messiânico, 
passando a afi rmar que o fi m do mundo estava próximo e prestes a ser 
estabelecida, na Frígia1 - região onde morava - a nova Jerusalém, para 
onde, inclusive, dirigiam-se muitos dos seus fi éis. 
Glossário
Glossolalia: termo grego que signifi ca “falar outras línguas”. O texto 
bíblico de Atos 2:1-13 narra a descida do Espírito Santo sobre os 
apóstolos e seguidores (as) de Jesus Cristo. No ápice daquele 
acontecimento, as pessoas que ali estavam reunidas passaram a 
falar outras línguas, que não a de sua origem, fenômeno que fi cou 
etimologicamente conhecido como glossolalia.
Montanismo: movimento fundado por Montanus, na região da 
Frígia, no século II, da era cristã. As doutrinas pregadas pelo 
movimento foram consideradas como heresias pela igreja que 
se institucionalizou com base na doutrina e tradição apostólicas. 
Dentre os ensinamentos de Montanus, estava o de que na 
igreja não poderia haver qualquer tipo de cargo, título ou função 
administrativa, devendo ser dirigida diretamente pelas revelações 
instantâneas do Espírito Santo.
1 Montanus viveu em meados do século II, na Frígia, interior da Ásia Menor, 
região “de há muito notável pela religião de tipo extático nela existente”. Cf. WALKER, W. 
História da igreja cristã. Vol. 1, 2. São Paulo: ASTE, 1980, p. 86-87.
| História do cristianismo II | FTSA92
Assista o vídeo: Aula 10 Pentecostalismo / Escola de Profetas / 
W.L. Proença [minutos 01:10 a 01:27] - Disponível em:
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
Sementes pentecostais também podem ser encontradas em movimentos 
pietistas ou de “santidade” decorrentes da Reforma Protestante, entre os 
séculos XVI e XVIII, na Europa ocidental.2 Um desses, foi o movimento 
puritano Quaker. Jorge Fox (1642-1691), líder desse segmento cristão, 
passou a pregar que “o Espírito de Deus não fala somente pelas 
Escrituras”, mas que também o faz diretamente através daqueles que 
“interiormente são iluminados”. Afi rmava ainda que era preciso “rejeitar o 
ministério profi ssional dos clérigos”.3
Outro movimento que ganhou maior projeção e desempenhou maior 
infl uência foi o metodismo, sob a liderança de John Wesley, na Inglaterra, 
no século XVIII. O metodismo tem sido considerado como que um ramo 
tardio da Reforma Protestante. Segundo Peter Burke, os processos de 
reforma religiosa ocorridos entre os séculos XVI e XVII fi caram mais 
restritos às elites. O referido autor observa que tais reformas devem 
ser compreendidas como o esforço do clero católico e protestante em 
promover transformações e controles no universo da cultura folclórica. 
Depois de esforços fracassados nos séculos XVI e XVII, ocorreu, no 
século XVIII, uma tentativa não a partir de estratos sociais superiores, 
mas com a participação mais efetiva de categorias sociais populares. O 
metodismo representou então uma forma dessa penetração dos valores 
da Reforma Protestante na cultura folclórica.
2 DARNTON, Robert. A História da Leitura. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da 
História: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, p. 219.
3 WALKER, W., op. cit., p. 160. Por volta de 1652, no Norte da Inglaterra, formou-
se a primeira comunidade Quaker,que se espalhou posteriormente para vários outros 
lugares, inclusive nas colônias inglesas da América do Norte.
93História do cristianismo | FTSA | 
A partir do metodismo também ocorreu o chamado “reavivamento” de 
grupos internos das igrejas protestantes nos Estados Unidos, no século 
XIX, aspecto no qual podem ser encontradas as raízes mais próximas 
do que viria a se denominar pentecostalismo, no início do século 
XX. Conseguindo romper com controles dogmáticos e institucionais, 
movimentos avivalistas daquele período davam grande ênfase à 
experiência mística e direta com o Espírito Santo, evidenciada por êxtases 
e fortes emoções. 
O pentecostalismo seria, então, diretamente decorrente dessa 
efervescência religiosa: “o movimento pentecostal é o metodismo levado 
às suas últimas consequências”:
[...] parece que o pentecostalismo absorveu da sua 
descendência metodista as convicções da experiência 
subsequente e instantânea, e as transferiu integralmente 
da santifi cação, segundo Wesley, para o batismo do 
Espírito Santo. De qualquer forma, tanto o metodismo 
quanto o pentecostalismo colocam sua ênfase em 
algum lugar depois da justifi cação (Mendonça e 
Velasques Filho, 1990, p.85).
Como visto na unidade anterior, o Metodismo pregava a santifi cação 
como uma segunda obra da graça após a justifi cação: “não conhecemos 
um só caso, em qualquer lugar de uma pessoa receber, no mesmíssimo 
momento, a remissão dos pecados, o testemunho permanente do Espírito, 
e um coração novo e limpo”, dizia John Wesley. A origem do movimento 
de santidade norte-americano nas décadas de 1840-1850, no qual o 
pentecostalismo viria também fi ncar suas raízes, tinha a intenção de 
preservar e propagar o ensino de Wesley: O processo de salvação nesse 
movimento envolvia duas fases: a conversão (justifi cação), signifi cando 
a libertação dos pecados cometidos; e a inteira ou plena santifi cação, 
entendida como a libertação da falha da natureza moral que leva a pecar.
| História do cristianismo II | FTSA94
Como ocorreu com John Wesley na Inglaterra, nos dias difíceis do início 
da Revolução Industrial no século XVIII, assim, os grandes avivamentos 
operaram na América rural, porém os movimentos de santidade e 
pentecostalismo operaram mais no contexto urbano e industrial. A fé 
despertada era avessa ao intelectualismo, à teologia e às instituições 
teológicas. Uma religião cristã mais prática, mais voltada aos problemas 
da vida cotidiana. 
Por isso, o período de industrialização, mobilidade 
populacional, urbanização e aumento do mal-estar 
de imigrantes e o sofrimento concreto dos pobres 
tornou quase necessário que o pentecostalismo viesse 
beber no poço da tradição reavivalista. Entretanto, 
se os grandes avivamentos se espalharam por uma 
América ainda rural, os movimentos de santidade e o 
pentecostalismo iriam operar dentro de um contexto 
urbano e industrial (Campos, 2005, p. 105).
E xercício de aplicação
Assista o vídeoaula 8 – História do Cristianismo II / FTSA (10 min.).
Disponível em:
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
E leia as páginas 103 a 106, do texto CAMPOS, Leonildo. As origens 
norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações 
sobre uma relação ainda pouco avaliada. REVISTAS USP, n. 67, set/
nov, 2005.
Disponível em:
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
95História do cristianismo | FTSA | 
Com base no texto do Leonildo Campos e na videoaula 8, quais 
alternativas abaixo são as respostas corretas para a seguinte 
questão: Qual o cenário social onde se desenvolveu o metodismo 
na Inglaterra (sec. XVIII) e o pentecostalismo nos EUA, no início do 
século XX?
I) devido a uma política de cercamentos no campo, houve um 
êxodo rural que ocasionou falta de emprego na cidade no contexto 
da Revolução Industrial.
II) o processo de urbanização e industrialização fez crescer 
rapidamente a América urbana, esvaziando a zona rural e as 
pequenas cidades e vilas.
III) na cidade, com a Revolução Industrial, havia o analfabetismo, 
principalmente entre as crianças por causa da mão de obra infantil, 
jornadas excessivas nas indústrias, baixos salários e exploração da 
mão de obra. 
IV) nos EUA, havia agitações dos últimos 35 anos do século XIX 
oriundas da Guerra Civil, a questão da libertação dos escravos, as 
tensões raciais, a crise no sul do país, a mobilidade populacional 
em direção às cidades do norte em processo de industrialização, 
a chegada de milhões de imigrantes branco, que vinham refazer na 
América laços rompidos pela pobreza e miséria na Europa de então.
Assinale a alternativa correta:
a) somente as alternativas I e II estão corretas
b) somente as alternativas I e IV estão corretas
c) somente as alternativas II e III estão corretas
d) todas as alternativas estão corretas
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| História do cristianismo II | FTSA96
2. Primeiros contatos da América Portuguesa com o 
Protestantismo
Durante o período colonial, compreendido entre os séculos XVI e XVIII, 
os colonizadores portugueses estabeleceram na América Portuguesa 
(posteriormente, Brasil) uma espécie de monopólio religioso, procurando 
impedir a entrada de estrangeiros que não professassem a fé católica. 
Nesse período, o Tribunal do Santo Ofício, por meio das conhecidas 
“visitações”, agia com rigor para extirpar qualquer prática religiosa que 
fosse caracterizada como “heresia”. O conhecido escritor Gilberto Freyre 
registra que em tal época “todo navio que entrava num porto brasileiro 
recebia a bordo um frade capaz de examinar a consciência, a fé e a 
religião de um recém-chegado. O que barrava um imigrante naqueles 
dias era a ortodoxia [...] a possibilidade de ser herético” (1993, p. 237).
Não obstante as restrições impostas, duas tentativas de inserção foram 
feitas por protestantes no Brasil colonial. Ambas acabaram sendo fortemente 
rechaçadas pela religião dominante, o catolicismo, sob a acusação de se 
constituírem práticas heréticas — dado o calor dos confl itos desencadeados 
naquele período pelo processo de reformas na igreja, na Europa, que 
contrapunha protestantes e católicos — mas também por signifi car ameaça 
a outros interesses, políticos e econômicos, que envolviam disputas e 
controle por conquistas de mercados pelos países europeus. 
A primeira tentativa de inserção no país, por protestantes, data de 1555, 
quando se deu a chegada da expedição liderada por Nicolau Villegaignon 
— recém convertido ao calvinismo francês — que objetivava fundar a 
França Antártica e construir uma espécie de refúgio onde calvinistas 
franceses, conhecidos como huguenotes, pudessem praticar livremente 
a fé reformada, uma vez que sofriam duras perseguições religiosas em 
seu país de origem. Como desdobramento ainda desse projeto, em 10 
de março de 1557, chegaram em solo brasileiro pastores enviados por 
João Calvino, da cidade de Genebra, Suíça, com o propósito de difundir 
o culto protestante.4 Em decorrência de confl itos com líderes políticos e 
4 Fazia parte desse grupo um jovem estudante de teologia, chamado 
Jean de Léry, que vinte anos mais tarde publicaria uma obra que se tornou um importante 
documento sobre o Brasil, em tal período, denominada Viagem à Terra do Brasil.
97História do cristianismo | FTSA | 
religiosos portugueses,5 a expedição teve seu término com a expulsão, 
em 1570, de todos os franceses e a desativação da colônia que havia sido 
organizada por Villegaignon. Nesse período, aliás, ocorreram na cidade 
do Rio de Janeiro três martírios de protestantes, acusados de heresia, 
a mando do catolicismo liderado pelo padre jesuíta José de Anchieta, 
encarregado responsável pelo trabalho de catequese católica no país 
naquele período.
Glossário
Huguenotes: nome dado aos seguidores do protestantismo de linha 
calvinista, na França, no século XVI. A origem do termo tem várias 
explicações, uma delas se refere ao costume que estes protestantes 
tinham de se reunir à noite (por causa das perseguições) nas 
proximidades de um antigo castelo quepertencera a um rei 
chamado Hugo. Os católicos, então, ironicamente passaram a 
chamar os calvinistas pela alcunha de “huguenotes”, signifi cando 
“seguidores do rei Hugo”.
Igreja Reformada: são as igrejas provenientes da Reforma 
Protestante, a partir do século XVI. Especificamente, é um título 
que identifica a igreja protestante da Holanda.
Jesuítas: membros uma ordem religiosa da Igreja Católica, conhecida 
também como Companhia de Jesus. Esta ordem foi fundada em 
1534 por Inácio de Loyola, no contexto da Reforma Protestante, 
com o intuito de dificultar o avanço do protestantismo no mundo. 
Por isso faz parte da Contrarreforma Católica, oficializada durante 
o Concílio de Trento. Pertenceu a esta ordem, por exemplo, José de 
Anchieta - padre católico, nascido na Espanha, que desenvolveu as 
primeiras atividades religiosas na América Portuguesa (Brasil), no 
século XVI.
5 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do protestantismo 
no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984; LESTRIGANTE, Frank. A outra conquista: os 
huguenotes no Brasil. In: NOVAES, Adauto. A descoberta do homem e do mundo. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
| História do cristianismo II | FTSA98
Um segundo esforço de inserção no Brasil se deu no século XVII, entre 
1630 e 1654, dessa vez com holandeses, através do empreendimento 
denominado “Companhia das Índias Ocidentais”, que se estabeleceu 
inicialmente em Pernambuco e, depois, em outras áreas do Nordeste 
brasileiro. O objetivo principal era o comércio de açúcar. 6 Maurício de 
Nassau, líder do projeto, também se preocupou em trazer ao Brasil 
pastores da Igreja Reformada Holandesa, que chegaram a desenvolver 
um trabalho religioso não apenas com a comunidade holandesa, mas 
também com outros grupos existentes no país. Com esse propósito, foi 
elaborado até mesmo um catecismo nas línguas holandesa, portuguesa 
e tupi, sendo organizadas inclusive algumas igrejas que praticaram 
o culto reformado. Outros grupos perseguidos na Europa, na época, 
também vieram se estabelecer no Brasil holandês, como foi o caso dos 
judeus, que chegaram a construir uma sinagoga em Recife, no século 
XVII. Em 1654, confl itos políticos e econômicos provocaram o fi m 
desse empreendimento, desaparecendo também com isso os vestígios 
institucionais do cristianismo protestante holandês em solo brasileiro.7 
Deixando o Brasil, foram os holandeses, seguidos pelos judeus – e seu 
capital fi nanceiro - se estabelecer nos Estados Unidos, onde construíram 
e desenvolveram a cidade de Nova York.
Assista ao vídeo:
Aula 9 – O estabelecimento do protestantismo no Brasil / Escola 
de Profetas / W.L. Proença [veja os minutos: 15:52 a 33:49] 
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
6 REILY, Duncan. História documental do protestantismo no Brasil. São Paulo: 
ASTE, 1993.
7 MENDONÇA, op. cit., 1984, p. 17.
99História do cristianismo | FTSA | 
2.1. O papel da tradução da Bíblia na expansão do 
protestantismo8
João Ferreira de Almeida nasceu em 1628, em Torres de Tavares (Portugal); 
órfão na infância, criado por um tio (em Lisboa). Esse tio era membro de 
uma ordem religiosa: deu ao sobrinho uma excelente educação (visando 
sua entrada no sacerdócio). Aos 14 anos saiu de Portugal e foi viver na 
Batávia (atual Jacarta, na Indonésia) e depois Málaca (atual Malásia).
Naquela época, Batávia era o centro administrativo da Companhia 
Holandesa da Índias Orientais, e Málaca, ex-colônia portuguesa, havia 
sido conquistada pelos holandeses. Em 1642, aos 14 anos, João Ferreira 
de Almeida deixou a Igreja Católica e se converteu ao Protestantismo 
após a leitura de um panfl eto intitulado Diferença da cristandade, no qual 
se demonstrava algumas das incoerências das doutrinas do catolicismo 
romano, incluindo a utilização do latim durante os ofícios religiosos. Isso 
teve grande efeito em Almeida e naquele mesmo ano juntou-se à Igreja 
Reformada Holandesa. Aos 16 anos lançou-se em um enorme projeto: 
a tradução do Novo Testamento para o português, usando versões em 
latim, castelhano e francês. Concluída em um ano, essa tradução não foi 
publicada, mas cópias à mão foram enviadas para as congregações de 
Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Em 1651, iniciou seus estudos 
teológicos, quando se dedicou aos estudos do grego e do hebraico; em 
1656 foi ordenado pastor, iniciando seu ministério no Presbitério de 
Ceilão, no sul da Índia; onde casou-se; atuou como capelão e professor 
de religião a professores de escolas primárias. Em 1676 fi nalizou a 
segunda tradução do Novo Testamento para o português; entregou-a 
ao presbitério; era necessária a autorização do presbitério, após ser 
submetida a uma revisão por revisores indicados. Em 1681 foi concluída 
a revisão e impressa a primeira edição, mas constatou-se em seguida 
erros de tradução e revisão. Suspendeu-se a impressão; designada nova 
comissão de revisores. 
8 Fonte de pesquisa: GIRALDI, Luiz A. História da Bíblia no Brasil. Barueri: SSB, 
2008.
| História do cristianismo II | FTSA100
A partir de 1670, Almeida passou a se dedicar à tradução do Antigo 
Testamento; já com a saúde abalada, faleceu em 1691, deixando traduzido 
até Ezequiel 48:21. Somente dois anos após sua morte o Novo Testamento 
foi fi nalmente impresso com nova revisão e distribuição. A tradução do 
Antigo Testamento foi completada em 1694 pelo Rev. Johannes Akker, 
colega de Almeida, pastor holandês da igreja da Batávia na Ilha de Java. Em 
1751, após revisões, foi publicada em dois volumes a Bíblia completa em 
língua portuguesa. Ao todo, foram 106 anos de trabalho, desde seu início 
em 1645 até sua conclusão, em 1751, para fi nalização da Bíblia completa 
na tradução Almeida. A tradução de Almeida foi muito importante para 
aquela região da Ásia, por ser o português um dos idiomas mais falados 
em partes da Índia e Sudeste asiático.
Em 1807, houve assinatura do Tratado do Comércio entre Portugal e 
Inglaterra. Em 1808 ocorreu vinda da família real portuguesa ao Brasil. 
Em 1810 houve abertura dos portos à Inglaterra (nação de tradição 
protestante). No dia 28 de janeiro de 1808, uma semana depois de ter 
chegado ao Brasil, estando ainda no Estado da Bahia, D. João VI decretou 
a abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Nesse Tratado do 
Comércio, assinado, há uma cláusula de tolerância religiosa: “Estava 
liberada, a partir daquela data, a entrada de livros no Brasil. A partir dessa 
decisão histórica de D. João VI, foram abertas as portas para a entrada 
da Bíblia em nosso país” (Mendonça, 1984, p. 20).
Com a abertura dos portos brasileiros, em 1808, a Sociedade Bíblica 
Britânica e Estrangeira (SBBE), sediada em um país aliado de Portugal, 
iniciou imediatamente a produção de Escrituras em português para enviá-las 
para a Colônia portuguesa nas Américas, então Sede do Império Português. 
Em 1809, cinco anos depois de sua fundação, lançou a primeira edição 
de 12 mil exemplares do Novo Testamento em português, na tradução 
de João Ferreira de Almeida. Como a primeira edição não foi sufi ciente 
para atender os pedidos recebidos, dois anos depois, em 1811, a SBBE 
imprimiu mais 7 mil exemplares desse Novo Testamento para envio ao 
Brasil a partir de 1809.
101História do cristianismo | FTSA | 
Em 1819, dez anos depois de haver publicado o Novo Testamento em 
português, a SBBE publicou sua primeira Bíblia completa em português, 
também na tradução de João Ferreira de Almeida. Ela foi impressa em 
um só volume para facilitar o transporte, reduzir o custo de produção e 
tornar possível a sua venda a um preço menor, ao alcance de um número 
maior de leitores. Essas Bíblias foram enviadas para Portugal e suas 
colônias na África, na Ásia e nas Américas.
Saiba mais
Os Colportores
A palavra “colportor”, do francês “colporteur”, signifi ca “vendedor 
ambulante” ou pessoa que vende nas ruas e nas casas. 
Colportores bíblicos eram vendedores ambulantes da Bíblia ou 
pessoas que se dedicam à venda das Escrituras Sagradas nas 
ruas e nas casas.Em 1837, o jovem pastor metodista Rev. Daniel Kidder (1815-
1891) foi nomeado o primeiro representante da Sociedade Bíblica 
Americana (SBA) no Brasil. Em 1937, com 22 anos de idade, 
embarcou para o Brasil acompanhado de sua esposa, Cynthia H. 
Russel, e se estabeleceu no Rio de Janeiro. Permaneceu no Brasil 
até 1840 e realizou uma ampla distribuição de Bíblias, Novos 
Testamentos e Evangelhos na capital e no interior dos Estados 
do Rio de Janeiro e de São Paulo.
A Bíblia estava entre as leituras prediletas do imperador. Quando pediram 
sua opinião sobre ela, ele respondeu:
Muito me tem valido minha paixão pelo estudo e pela leitura. Eu leio 
pelo menos 10 horas por dia. Eu amo a Bíblia. Eu a leio todos os dias 
e, quanto mais a leio, mais a amo. Há alguns que não gostam da Bíblia. 
| História do cristianismo II | FTSA102
Eu não os entendo, não compreendo tais pessoas. Mas, eu a amo, amo 
sua simplicidade e amo suas repetições e reiterações da verdade. Como 
disse, eu a leio todos os dias e gosto dela cada vez mais (Giraldi, 2008). 
Durante o longo reinado de quase meio século, ao contrário dos 
governantes de outros países da América Latina, D. Pedro II não se 
opôs à distribuição da Bíblia no país. Ao contrário, conhecendo bem as 
Sagradas Escrituras e apreciando a sua mensagem, ele estava certo 
de que a sua distribuição iria contribuir positivamente para a formação 
moral e espiritual do povo brasileiro.
Exercício de fi xação
Assista os primeiros 8 minutos da videoaula 7/ História do 
Cristianismo II / FTSA (11 min.) e com base também nos conteúdos 
escritos, identifi que abaixo as respostas corretas às seguintes 
questões:
Disponível em: https://www.teologiaonline.com.br/v3/mod/url/
view.php?id=28293
1) quais aspectos marcaram a presença de calvinistas franceses 
no Brasil no século XVI? 
2) quais aspectos marcaram a presença de reformados holandeses 
no Brasil no século XVI?
3) quando e como os luteranos se estabeleceram no Brasil?
I – em 1555, os primeiros protestantes a chegar no Brasil foram os 
calvinistas franceses, que vieram fugidos da França por causa de 
confl itos e perseguições. Essa expedição era liderada por Nicolau 
Villegaignon, que objetivava fundar a França Antártica e construir 
uma espécie de refúgio onde calvinistas franceses, conhecidos 
como huguenotes, pudessem praticar livremente a fé reformada. 
103História do cristianismo | FTSA | 
Outro aspecto importante desta presença calvinista é que no dia 
10 de março de 1557 foi realizado o primeiro culto protestante em 
solo brasileiro.
II – não houve a presença de reformados holandeses no Brasil no 
século XVII; a presença deles ocorreu somente a partir do século 
XIX, quando formaram colônias no Sul do País, com o objetivo de 
evangelizar.
III – o Brasil imperial passa a apoiar a vinda de protestantes ao Brasil 
para investimento na educação, saúde e formação de colônias. A 
partir de 1824, alemães protestantes luteranos chegaram ao País e 
se instalaram na região Sul. Este protestantismo de imigração, num 
primeiro momento, não tinha a perspectiva de fazer missões. 
Assinale a alternativa correta:
a) I, II e III estão corretas
b) I e III estão corretas
c) II e III apenas estão erradas
Acesse o AVA para fazer o exercício!
3. Signifi cados da Reforma Protestante 500 anos depois
Em 31 de outubro de 2017 foram celebrados, em diferentes partes do 
mundo, os 500 anos da Reforma Protestante. A data coloca novamente 
em evidência um acontecimento que marcou a história do mundo 
ocidental. O momento é oportuno para uma refl exão sobre esse legado 
do século XVI e seus signifi cados para os dias atuais.
| História do cristianismo II | FTSA104
Exercício de reflexão
Assista o vídeo Reforma Protestante completa 500 anos e a data é 
comemorada no Brasil e no mundo (Jornal Hoje) [8 min.],
Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/6256276/
Em seguida às seguintes questões:
1) como se deu a celebração dos 500 anos na Alemanha?
2) como se deu a celebração dos 500 anos no Brasil?
3) quais os principais legados da Reforma, segundo os depoimentos 
apresentados no vídeo?
Acesse o AVA para fazer o exercício!
As comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante na Alemanha 
ocorreram por meio de eventos, exposições e o relançamento da Bíblia 
que foi traduzida por Martinho Lutero para o alemão pela primeira vez. 
O centro das comemorações foi na Igreja de Wittenberg, com um culto, 
com a presença da primeira ministra alemã Angela Merkel, que é fi lha de 
pastor luterano.
No Brasil as comemorações ocorreram na imensa diversidade, em várias 
línguas e sotaques, na simplicidade das ruas, em salões e templos. Em 
Curitiba, um coral de 500 vozes foi regido pelo maestro Martinho Lutero. 
Em Aracajú, uma exposição contou a história por meio de cartazes. 
Cantores evangélicos se apresentaram na Câmara Municipal de Cuiabá. 
Em Belém, 6 mil pessoas participaram de um culto que celebrou os 500 
anos da Reforma. Para o reverendo Aderi Souza de Matos, do Instituto 
Presbiteriano Mackenzie, a reforma trouxe consequências políticas, 
econômicas, sociais, culturais e educacionais. Aderi afi rma que “a 
Reforma é considerada hoje, pelos historiadores, pelos estudiosos, 
como um dos movimentos mais importantes que produziram o moderno 
mundo ocidental em que nós vivemos”.
105História do cristianismo | FTSA | 
A Reforma Protestante deixou alguns legados para a humanidade, como, 
por exemplo: i) a conquista de mais liberdade para o ser humano; ii) 
liberdade científi ca e individual; iii) as bases para a democracia.
A Reforma Protestante “não era um movimento que visava reformar a 
estrutura governamental e política, não desejava criar dogmas ou novos 
cânones. [...] nem mesmo a autoridade do papa ou a legitimidade da 
sucessão episcopal foi questionada nos primeiros ventos reformadores. 
A reforma Protestante foi o desejo de se voltar o mais próximo possível, 
na práxis, na ética, no culto e na vida da Igreja e dos cristãos, ao padrão 
encontrado nas Escrituras. Para tanto, nossos pais reformadores 
passaram a testar no crivo das Escrituras todas as coisas que envolviam 
a dinâmica da fé. Aquilo que não pôde sustentar-se diante da Palavra de 
Deus ou que não foi possível provar como sendo diretamente ordenado 
pela Bíblia ou que pela luz da natureza e prudência cristã, não encontrasse 
respaldo nas orientações gerais inferidas da revelação bíblica, deveria 
ser abandonado sem mais considerações”.
SANTOS, Luiz Fernando. Reforma Protestante: 500 anos depois. Ultimato 
Online. 31 out 2017.
Disponível em: https://www.ultimato.com.br/conteudo/reforma-
protestante-500-anos-depois
Tendo a leitura da Bíblia como o principal meio de se promover o acesso 
ao conhecimento da salvação, ao liderar o movimento de Reforma, 
Martinho Lutero foi enfático perante a Dieta de Worms quando inquirido 
a abdicar de suas ideias: “É impossível retratar-me, a não ser que me 
provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras [...] 
minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus e não é honesto 
agir-se contra a consciência de alguém” (Nichols, 1985, p. 151).
Constituída a chamada doutrina do “sacerdócio universal de todos 
os crentes”, pela Reforma, popularizou-se a leitura da Bíblia por não 
mais imprescindir da fi gura mediadora do sacerdote como o agente 
| História do cristianismo II | FTSA106
devidamente autorizado a interpretar as Escrituras. Isto acabou, porém, 
abrindo grande precedente em relação à interpretação que se faria 
do texto sagrado. Pode-se verifi car as implicações deste aspecto na 
formação de diversos grupos e ramifi cações denominacionais que 
passaram a confi gurar o protestantismo em diferentes lugares para onde 
se expandiu a partir do século XVI - fato que está em sintonia com o 
dinamismo que possui a leitura. Por isso mesmo, não demorou para que, 
à semelhança do catolicismo, as igrejas reformadas também passassem 
a estabelecer seus dogmas e cânones, que deveriam se constituir emparâmetro interpretativo das escrituras bíblicas, incorrendo assim 
também no modelo de classe sacerdotal.
O corpo de sacerdotes tem a ver diretamente com 
a racionalização da religião e deriva o princípio 
de sua legitimidade de uma teologia erigida em 
dogma cuja validade e perpetuação ele garante. [...] 
Enquanto resultado da monopolização da gestão 
dos bens da salvação por um corpo de especialistas 
religiosos, socialmente reconhecidos como os 
detentores exclusivos da competência específi ca 
necessária à produção ou à reprodução de um ‘corpus’ 
deliberadamente organizado de conhecimentos 
secretos (e, portanto, raros), a constituição de um 
campo religioso acompanha a desapropriação 
objetiva daqueles que dele são excluídos e que se 
transformam por esta razão em leigos [...] destituídos 
do capital religioso [...] e reconhecendo a legitimidade 
desta desapropriação pelo simples fato de que a 
desconhecem enquanto tal (Bourdieu, 1999, p. 39).
Palimpsesto é uma palavra de origem grega empregada para identifi car 
um antigo material de escrita, conhecido como pergaminho, o qual, em 
razão da sua escassez ou alto preço, era raspado por copistas para 
permitir novos registros. Assim, após um determinado tempo em que 
fora apagada, a antiga escrita costumava reaparecer sob o novo texto 
impresso, permitindo, inclusive, a releitura ou decifração do que havia sido 
107História do cristianismo | FTSA | 
ali primeiramente redigido. Como fi gura de linguagem, pode-se empregar 
a representação do “palimpsesto” para identifi car o modo pelo qual 
antigas práticas, muitas vezes combatidas e aparentemente extirpadas, 
histórica e culturalmente, mantêm a força para resistir e ressurgir com 
uma nova roupagem nas expressões do sagrado. Em relação às práticas 
de leitura da Bíblia em movimentos religiosos contemporâneos, nota-
se uma vivência de crenças e ritos que foram duramente combatidos 
pelo movimento de Reforma do século XVI. Há práticas religiosas nos 
dias atuais sendo adotadas por segmentos evangélicos que valorizam 
aquilo que já foi motivo de combate pelo protestantismo. Em outras 
palavras, o que mais se combateu no advento da Reforma é o que hoje 
se pratica em nome da fé evangélica que, historicamente, possui alguma 
raiz nos movimentos insurgentes no século XVI. São exemplos destas 
práticas: a troca do bem simbólico ou espiritual pelo bem econômico 
(uma ressignifi cação do sentido da indulgência?); a leitura do símbolo, 
fetiches e amuletos; a leitura mágica da Bíblia; a centralidade do líder na 
interpretação do texto; a Bíblia com imagens/fi guras.
Exercício de aplicação
Atualmente há “práticas religiosas” que são adotadas por 
determinados segmentos evangélicos que valorizam aquilo que 
outrora já foi combatido pelo protestantismo. Ou seja, o que se 
combateu na Reforma Protestante, se pratica hoje em nome da fé 
evangélica que, historicamente, possui alguma raiz nos movimentos 
insurgentes no século XVI.
Como fi gura de linguagem, que representação pode ser empregada 
para melhor identifi car o modo pelo qual antigas práticas religiosas 
ressurgem com uma nova roupagem nas expressões do sagrado 
no Brasil?
a) desencantamento b) encantamento c) palimpsesto 
d) reencantamento e) clericalismo
Acesse o AVA para fazer o exercício! 
| História do cristianismo II | FTSA108
O modelo de pregação do protestantismo que se desenvolveu no Brasil 
a partir do século XIX, mostrou-se desde o início resistente em relação 
à cultura e aos valores da sociedade brasileira, procurando forjar uma 
postura racionalizante da vida e contribuindo para um “desencantamento 
do mundo” (Weber, 1982, p. 182). Caracterizado por um perfi l elitista, 
sempre teve grandes difi culdades para aproximação das massas. Este 
distanciamento da cultura brasileira já podia ser observado nas primeiras 
tentativas de inserção dos valores protestantes no Brasil colonial, feitas 
por holandeses no Nordeste brasileiro, no século XVII, conforme afi rma 
Sérgio Buarque de Holanda: 
 Ao oposto do catolicismo, a religião reformada oferecia 
nenhuma espécie de excitação aos sentidos ou à 
imaginação dessa gente, e assim não proporcionava 
nenhum terreno de transição por onde sua religião 
pudesse acomodar-se aos ideais cristãos (1999, p. 65).
Coerente com esta ortodoxia, o protestantismo que se consolidou no 
Brasil procurou pregar uma mensagem preocupada em moldar as ideias 
e as crenças de seus fi éis à verdade racional dos seus dogmas. Daí a 
sua difi culdade de inserção sobretudo nas camadas mais populares. 
Em sua obra, O Sagrado Selvagem, Roger Bastide (1975) mostra que 
a “domesticação do sagrado” tem como uma de suas características 
“substituir o rito pelo discurso”. É o caso do protestantismo desenvolvido 
no Brasil: seus especialistas procuraram aperfeiçoar um discurso escrito 
e oral “sobre” o sagrado, com forte apelo ao racional e esterilidade quanto à 
absorção de elementos culturais de âmbito popular. Este escamoteamento 
da magia e do simbolismo acaba por distanciar o fi el do sagrado. Em 
termos de leitura da Bíblia, por exemplo, o protestantismo histórico, por 
meio de suas confi ssões de fé, tem normalmente reivindicado para si a 
condição de guardião da “reta doutrina” — parafraseando Rubem Alves 
(1982) —, procurando moldar o pensamento aos cânones. 
A leitura da Bíblia [pelo protestantismo de missão no 
Brasil] tem como um de seus grandes objetivos: a 
109História do cristianismo | FTSA | 
conversão a Jesus Cristo com o consequente abandono 
da ignorância e idolatria supostamente presentes no 
Catolicismo e nas demais religiões praticadas pelos 
brasileiros; a formulação da “reta doutrina” (Zabatiero, 
2002, p. 2)
Glossário
Ortodoxia: doutrina ou sistema teológico adotado como único e 
verdadeiro pela Igreja; dogmatismo religioso.
Encantamento: efeito sobrenatural de supostos poderes mágicos 
ministrados por meio de líderes religiosos; compreensão mística 
do mundo.
Clericalismo: concentração das atividades religiosas nas mãos do 
clero, que exclui os leigos do controle e da realização de ritos e 
práticas sagradas. Intervenção e controle pelo clero dos negócios 
públicos e privados.
 Desse modo, do ponto de vista histórico e antropológico, foram os 
líderes denominados de neopentecostais, não obstante recorrerem ao 
discurso da demonização das crenças e dos ritos da religiosidade afro e 
do catolicismo popular, que habilmente se apropriaram deste imaginário, 
submetendo-o a um processo de ressignifi cação no contexto urbano. Ou 
seja, o neopentecostalismo foi o movimento que se aproximou e ofereceu 
acolhimento à massa urbana que se agregou sobretudo nas periferias 
das cidades brasileiras nestes últimos tempos.
 No contexto de urbanização e industrialização caóticas 
que caracterizaram o desenvolvimento nacional nos 
últimos 50 anos, uma proposta religiosa alicerçada 
na intensa circulação de bens simbólicos, levou 
amplíssimos segmentos empobrecidos da população, 
incluindo camadas intermediárias, excluídos do 
| História do cristianismo II | FTSA110
“mundo moderno”, a forjar suas próprias regras e 
combinarem originalmente um mosaico simbólico que 
lhes conferisse sentido e dignidade. (Bittencourt Filho, 
1998, p. 98)
 O modelo pastoral que estes líderes adotaram se assemelha mais à 
plasticidade do português no período de colonização do Brasil, o qual 
“americanizava-se” ou “africanizava-se” conforme fosse preciso, cedendo 
com “docilidade ao prestígio comunicativo dos costumes, da linguagem 
dos indígenas” (Holanda, 1999, p. 65). Os raciocínios ou motivações, 
empregados pelos pregadores neopentecostais se baseiam, pois, num 
discurso que concorda, legitima e se identifi ca com o imaginário dos 
fi éis, respondendo aos seus anseios mais imediatos. 
A linguagem utilizada nos sermões e prédicas encontra ressonância nas 
representações que confi guram o imaginário rural adaptado agora ao 
mundo urbano. Exemplo disto está na ênfase que se dá ao fogo: batismo 
do Espírito comfogo, ou uso do fogo divino para “queimar” o demônio 
(lembrando que o fogo tem um valor simbólico sagrado para os indígenas, 
para a cultura afro, e para o catolicismo popular, como bem se observa nas 
festas juninas de São João e São Pedro, quando se acendem fogueiras). 
111História do cristianismo | FTSA | 
Exercício de fi xação
Weber (1982, p. 182) afi rma que o modelo de pregação do 
protestantismo que se desenvolveu no Brasil a partir do século XIX, 
mostrou-se desde o início resistente em relação à cultura e aos valores 
da sociedade brasileira, procurando forjar uma postura racionalizante 
da vida e contribuindo para um desencantamento do mundo. 
Ao contrário desse modelo de pregação do protestantismo, os 
líderes neopentecostais se apropriaram das crenças e ritos da 
religiosidade afro e do catolicismo popular.
Acerca da apropriação das crenças e ritos da religiosidade afro e 
do catolicismo popular que os neopentecostais se apropriaram, é 
correto afi rmar que:
I) o neopentecostalismo foi o movimento que se aproximou e 
proporcionou acolhimento à massa urbana. 
II) essa massa urbana é originária principalmente das periferias 
das cidades brasileiras nos últimos ano.
III) no contexto de urbanização e industrialização caóticas que 
caracterizaram o desenvolvimento nacional nos últimos 50 anos, 
os líderes neopentecostais trouxeram uma proposta religiosa 
alicerçada na intensa circulação de bens simbólicos, que levou 
amplíssimos segmentos empobrecidos da população, incluindo 
camadas intermediárias, a forjar suas próprias regras e combinarem 
originalmente um mosaico simbólico que lhes conferisse sentido e 
dignidade.
Assinale a alternativa correta:
a) somente a I está correta b) somente a III está correta
c) I e II estão corretas d) todas as alternativas estão corretas
Acesse o AVA para fazer o exercício!
| História do cristianismo II | FTSA112
Já no início da década de 1990, a Revista Veja trazia como manchete 
de capa a expressão “a fé que move multidões avança pelo país”, e 
apontava para a atração que as igrejas neopentecostais exercia sobre 
católicos: “Mais de seiscentas mil pessoas, por ano, abandonam o 
catolicismo para juntarem-se a uma igreja neopentecostal” (1990, p. 
40). Ao aderiram à mensagem pregada pelos pastores neopentecostais, 
católicos passaram a projetar na leitura do texto bíblico um fertilíssimo 
substrato cultural-religioso de que permeia o seu imaginário. Muitos 
destes adeptos também pertenceram anteriormente às religiões afro. 
Assim, a simbologia, expressa, por exemplo, nos fetiches e amuletos 
utilizados para exorcizar o mal e afastar os infortúnios, bastante 
evidenciados pelo catolicismo medieval e que foram sincreticamente 
apropriados pela religiosidade popular de colorido afro-católico no Brasil 
colonial, se revestem agora de nova roupagem simbólica nas práticas 
ali vivenciadas. Desta forma, no discurso religioso que apresentam, os 
líderes neopentecostais promovem o retorno de uma intensa imersão na 
magia, o que acaba por gerar um dinâmico reencantamento do mundo. 
Nestas práticas religiosas, há uma apropriação “vivencial” da leitura 
bíblica. Este processo se dá a partir da reencenação de episódios 
bíblicos, narrados de modo miraculoso e carregados de força simbólica. 
Por exemplo, os fi éis são desafi ados a tomar o lugar de personagens 
bíblicos. A leitura pode orientar a busca de proteção, prosperidade 
fi nanceira nos negócios, saúde, estabelecendo os ritos para guerrear e 
vencer o demônio. Constata-se que a leitura bíblica se torna como que 
uma chave usada para abrir espaços temporais residentes no imaginário 
dos seus adeptos. A participação nos ritos, mediada pela leitura da Bíblia, 
representa não só um mergulho nos “tempos bíblicos”, como também 
em um imaginário moldado pela tradição católico-afro-brasileira. 
113História do cristianismo | FTSA | 
Glossário
Neopentecostalismo: movimento religioso que surgiu no Brasil no 
fi nal da década de setenta, do século XX. As igrejas neopentecostais 
apresentam como principais características: forte ênfase na 
teologia da prosperidade,  na guerra/batalha espiritual, uso dos 
meios de comunicação de massa (como rádio e TV) e não mais as 
exigências dos chamados “usos e costumes” (controle de roupas, 
adornos e frequência a determinados lugares). Tal movimento 
é resultado de divisões  (e/ou novas teologias)  ocorridas nas 
igrejas pentecostais mais clássicas, surgidas desde o movimento 
da Rua Azuza. Dentre estas igrejas neopentecostais se destacam 
a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Igreja Internacional 
da Graça de Deus (1980) e Igreja Apostólica Renascer em Cristo 
(1986).
Sincretismo: práticas religiosas oriundas da fusão de diferentes 
crenças.   No Brasil, por exemplo, a maneira mais ilustrativa 
de  sincretismo  religioso é a mistura entre os cultos dos santos 
católicos com o culto dos orixás africanos.
Rito: modo de se realizar cerimônia, tanto em práticas religiosas como 
em funções públicas de âmbito político ou jurídico. No caso religioso, 
o rito representa modos de se administrar ou ministrar as práticas 
sagradas, com fi nalidades de culto, de passagem ou de fi liação.
Nestes movimentos religiosos evangélicos contemporâneos, não há 
preocupação com qualquer recurso metodológico de hermenêutica 
ou de exegese para a leitura que fazem da Bíblia. Assim, sem maiores 
preocupações com a sistematização da teologia bíblica – que ocorre pelo 
agrupamento de grandes blocos literários dos diferentes livros - a prática 
de leitura se dá pela fragmentação de trechos isolados das escrituras 
bíblicas que priorizam personagens bíblicos descritos como portadores 
| História do cristianismo II | FTSA114
de uma vida próspera e de sucesso como, são os casos de Abraão e José 
do Egito. Normalmente são evitadas referências a textos que mencionam 
“fracasso” ou difi culdades que envolveram personagens bíblicos, a não 
ser quando isso serve como argumento dos pastores para mostrar o que 
o demônio pode fazer na vida de uma pessoa que ainda não aprendeu a 
usar os recursos disponibilizados pela Igreja.
Outro exemplo destas práticas diz respeito à mediação clerical ou 
sacerdotal. No cenário da Reforma do século XVI, o clericalismo excluiu 
por completo o acesso do leigo à presença divina, até mesmo para orar 
ou obter o perdão. Deus só ouvia o clérigo. Era preciso a mediação deste 
no confessionário, ou então, do santo de devoção pessoal que pudesse 
interceder em favor do penitente. Não é muito diferente o que ocorre em 
movimentos contemporâneos. Líderes que se apresentam como fi guras 
mediadoras entre os fi éis e o divino. A oração deles é vista como mais 
poderosa ou única capaz de ser ouvida e atendida; as bênçãos e milagres 
só podem ser mediados pela sua performance, como se tivessem 
privilégios de acesso a presença divina. Constroem, tais líderes, esta 
imagem de seres privilegiados, atraindo para si mesmos os holofotes e a 
devoção de seus seguidores, em uma espécie de culto ao personalismo. É 
processada, desse modo, a substituição dos antigos santos mediadores 
católicos por santos evangélicos com a diferença apenas de que estão 
ainda vivos. Para tais construções, estes líderes exploram textos bíblicos, 
com interpretações que lhes conferem poder simbólico, atribuindo para 
si mesmos títulos de pastores, missionários, bispos e até apóstolos. 
Nesta centralização, perde-se, por completo, o princípio conquistado pela 
Reforma, de que não há mais privilégio de acesso à presença de Deus; a 
oração do camponês e do cardeal têm o mesmo valor; o mediador é um 
só, Jesus Cristo.
Pode-se citar como outro exemplo, a valorização de outras regras de fé 
e prática além da Bíblia. As Escrituras como uma regra de fé e prática 
foi um dos pilares da Reforma do século XVI. Para determinados 
movimentos evangélicos contemporâneos, entretanto, as chamadas 
115História do cristianismo | FTSA | 
revelações diretas do Espírito Santo, ou sonhos ou visões, têmtanto 
valor quanto o texto bíblico. Assim, o recorrente emprego de profecias 
atribuídas ao Espírito Santo — sob o argumento de que Deus me falou ou 
Deus está revelando que... —, é responsável por guiar líderes e fi eis em 
práticas que vão desde justifi cativas para abertura ou formação de novas 
igrejas, até doações fi nanceiras, desvendamento de problemas pessoais 
ou familiares, ou ainda, anúncios apocalípticos. Estas experiências 
carismatizadas assumem valor igual ao das Escrituras bíblicas – ou até 
mais, dada a carga de representação miraculosa que carregam. Desse 
modo, reintroduzem o que caracteriza o catolicismo, quando este atribui 
à tradição, às bulas ou encíclicas papais o mesmo sentido de verdade que 
os escritos canônicos. Evangélicos, assim, apropriam-se, ressignifi cam 
e atribuem nova roupagem a um bem simbólico típico do compósito 
católico romano.
Em síntese, não obstante os esforços pelo controle da leitura — como 
visto, inicialmente pelo catolicismo romano, depois pelo próprio 
protestantismo sob o cuidado de se preservar a chamada reta doutrina
— o que se constata é a inefi cácia de se atingir tal objetivo no campo 
religioso brasileiro. O protestantismo experimenta, neste caso, os efeitos 
de sua própria gênese histórica: a permanente capacidade da leitura 
de reinventar, recriar e possibilitar novas apropriações de sentidos e 
signifi cados. 
Assista o vídeo Reforma Protestante (Cada Dia), Hernandes Dias 
Lopes.
Acesse o AVA para assistir ao vídeo!
| História do cristianismo II | FTSA116
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