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Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico Refluxo gástrico 1. Compreender a fisiopatologia da DRGE A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma das desordens mais comuns na prática clínica. Uma revisão sistemática evidenciou que a prevalência de DRGE (pirose e/ou regurgitação pelo menos 1 vez por semana) no mundo ocidental foi entre 10 e 20% e menor do que 5% na Ásia. No Brasil, um estudo de base populacional mostrou prevalência de pelo menos 12%. A DRGE é uma afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes, acarretando um espectro variável de sintomas e/ou sinais esofágicos e/ou extraesofágicos, associados ou não a lesões teciduais (III Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico). O The Montreal definition and classification of gastroesophageal reflux disease: a global evidence- based consensus (2006) define a DRGE como uma condição que se desenvolve quando o refluxo de conteúdo estomacal causa sintomas problemáticos e/ou complicações. Por problemáticos, entendem-se os sintomas que afetariam o bem- estar individual. Com base na aparência da mucosa à endoscopia, a DRGE é classificada como esofagite erosiva, na qual há soluções de continuidade na mucosa distal do esôfago, com ou sem sintomas, e doença do refluxo não erosiva (sintomas de DRGE sem aspecto erosivo à endoscopia). A fisiopatologia da DRGE se dá através do retorno gástrico para o esôfago, faringe, boca e VAS. Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico É normal desde que seja sentido 3x ao dia/3sem. Ela é caracterizada por um retorno do conteúdo alimentar e de ácido do estômago para o esôfago, podendo causar lesões no epitélio esofágico e incômodos ao paciente. Essa doença possui várias causas: Defeito no fechamento do esfíncter esofágico inferior Diminuição do peristaltismo Hérnia de hiato esofágico Redução do fluxo salivar (ou perda da capacidade do tamponamento ácido da saliva) Consumo excessivo de bebidas gasosas Alimentos ácidos Bebidas alcoólicas Utilização de AINES. Os principais mecanismos envolvidos na presença da DRGE são fundamentalmente 3: 1. Relaxamento transitório do EIE: Relaxamento duradouro, aparentemente desencadeado por distensão gástrica, e não relacionado ao peristaltismo esofágico; 2. Hipotensão do EIE: Mantendo tônus diminuído, e favorecendo mais o refluxo; 3. Alteração anatômica da junção esôfago-gástrica: Notamos mais frequentemente as hérnias hiatais, associadas a dilatação do hiato esofágico em graus variáveis. Além disso, está associado esvaziamento esofágico ineficiente, tanto por motilidade esofágica inadequada, como diminuição da “limpeza ácida” Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico devido à diminuição da função salivar. Fatores sitêmicos associados são a obesidade, gravidez, dietas copiosas e uso de medicações A DRGE surge da quebra do equilíbrio entre os fatores de proteção e de agressão, em associação à falha dos mecanismos de contenção do refluxo. A extensão dos sintomas e a injúria mucosa são proporcionais à frequência dos eventos de refluxo, à duração da acidificação da mucosa e à potência cáustica do fluido refluído. A integridade da mucosa em indivíduos normais reflete um balanço entre os fatores agressores (refluxo ácido, potência do refluxato) e os fatores de proteção (clareamento ácido esofágico, integridade da mucosa). A incompetência da junção esofagogástrica (JEG) ocorre por 3 fatores principais: relaxamento transitório do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI), hipotonia deste esfíncter e fatores anatômicos na JEG. → É responsável por grande parte dos episódios de refluxo gastroesofágico. No relaxamento transitório, há duração maior do relaxamento do EEI, bem como da sua frequência, e este não é acompanhado por movimento peristáltico do corpo esofágico. Além disso, o mecanismo desencadeante parece ser a distensão gástrica em posição ortostática, que é a posição em que mais ocorrem os eventos de refluxo. O relaxamento transitório é uma resposta motora integrada envolvendo não somente o relaxamento do EEI, mas também a inibição da crura diafragmática (ou pilares Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico diafragmáticos), o encurtamento do esôfago pela contração da sua musculatura longitudinal e a contração do diafragma costal (reflexo ativo mediado pelo vago). Um fator determinante para o refluxo é uma proporção aumentada de relaxamentos associados ao refluxo ácido, e não ao gasoso. → O EEI é um segmento de musculatura lisa tonicamente contraída de 2 a 3 cm de extensão no esôfago distal. A pressão normal de repouso varia de 10 a 30 mmHg, sendo menor no período pós-prandial e maior à noite. Apenas a minoria dos indivíduos com doença do refluxo tem hipotensão severa do EEI (abaixo de 10 mmHg). São fatores que podem reduzir a pressão do EEI: distensão gástrica, colecistocinina, alimentos (gordura, cafeína, chocolate, álcool), tabagismo e drogas. → As alterações anatômicas da transição esofagogástrica, como a hérnia de hiato, podem comprometer os mecanismos antirrefluxo. Um estudo constatou que a disfunção dos pilares diafragmáticos estava mais fortemente associada à DRGE. Portanto, a associação entre DRGE e hérnia hiatal ou pressão no EEI isoladamente não atingiu significância estatística após ser considerado o efeito do aumento inspiratório, sugerindo que ambos os efeitos são mediados pela associação à disfunção dos pilares diafragmáticos. Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico 2. Entender a etiologia, fatores de risco, epidemiologia e quadro clínico (sinais típicos, atípicos e extra esofágicos) da DRGE. Fatores de risco: • Lactente: Imaturidade do TGI - Pode apresentar sibilância • Prematuridade • Doenças neurológicas • Broncodisplasia • Obesidade • HF • Malformações do TGI A pirose retroesternal é o principal sintoma e é definida como a sensação de queimação retroesternal que se irradia do manúbrio do esterno à base do pescoço, podendo atingir a garganta. Ocorre, em geral, de 30 a 60 minutos após a alimentação, especialmente se copiosa, gordurosa, condimentada e ácida. A intensidade e a frequência dos sintomas são fracos preditores da presença ou da gravidade da esofagite. O tempo de história está associado ao aumento do risco de desenvolvimento do esôfago de Barrett. Regurgitação ácida significa o retorno espontâneo do conteúdo ácido ou dos alimentos em direção à cavidade oral. No quadro clínico da DRGE, é importante considerar a idade do paciente (> 40 anos) e a presença de manifestações de alarme (disfagia, odinofagia, anemia, hemorragia digestiva, emagrecimento, náusea e vômito, história familiar de câncer), casos para os quais se indica EDA. 2.4.2 Manifestações atípicas Sintomas atípicos representam de 20 a 25% das queixas primárias de DRGE e frequentemente não apresentam concomitância com manifestações típicas, mas a ausência de tais sintomas não exclui o diagnóstico. O achado de erosões à EDA também é menos comum. Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico Sintomas atípicos representam de 20 a 25% das queixas primárias de DRGE e frequentemente não apresentam concomitância com manifestações típicas, mas a ausência de tais sintomas não exclui o diagnóstico. O achado de erosões à EDA também é menos comum. “Cinquenta por cento dos pacientes com asma grave apresentam DRGE; contudo, isso não significa que o refluxo seja a causa da asma, já que esta e o seu tratamento podem favorecer o aparecimento de refluxo.” → A obesidade constitui fator de risco paraDRGE, esofagite erosiva e adenocarcinoma esofágico. A obesidade está associada à disrrupção da JEG (hérnia hiatal), aumento da exposição ácida esofágica e aos sintomas de refluxo, além do aumento na frequência e na proporção de relaxamentos transitórios do EEI associados a refluxo ácido no período pós-prandial. → Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico Dilatação forçada junto à cárdia, cardiomiotomia, vagotomias, gastrectomias totais ou parciais podem predispor o refluxo patológico pela perda dos mecanismos anatômicos. São condições que fazem aumentar a pressão intra abdominal: exercício físico, tosse, gravidez (pirose ocorre em 30 a 50% das gestações), uso de estrogênios e presença de ascite. Cita-se, ainda, diminuição de motilidade gástrica: atonia ou estase gástrica, que podem ser consequentes a diabetes, vagotomias, alterações neuromusculares e disfunções motoras pilóricas ou do duodeno, e estenoses. → Após o refluxo, o período em que o pH esofágico se mantém < 4 é chamado de tempo de clareamento ácido (peristalse esofágica + tamponamento pela saliva). Na DRGE, observam se 3 mecanismos que diminuem o esvaziamento esofágico: a) Disfunção peristáltica que resulta em falha ou hipotensão das contrações peristálticas (< 30 mmHg); b) “Re-refluxo” associado à hérnia hiatal (conteúdo refluído presente no saco herniário), que impede o esvaziamento esofágico; c) Redução da salivação (por exemplo, sono, xerostomia e tabagismo) ou da capacidade neutralizante salivar também prolongam o clareamento ácido. → O desenvolvimento de esofagite na DRGE em nível celular deve-se à difusão de íons hidrogênio na mucosa, levando a acidificação celular e necrose. Em um pH = 2, a pepsina rompe a integridade da barreira mucosa histológica, aumentando a permeabilidade ao íon hidrogênio e causando hemorragia . Típicos Atípicos Pirose ou azia Rouquidão Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico Regurgitação ácida Pigarro Halitose, aftas e tosse prolongada. 3. Esclarecer o diagnóstico (EDA) e diagnóstico diferencial e classificação da DRGE. A DRGE apresenta grande variedade de manifestações clínicas. As típicas estão diretamente relacionadas à ação do conteúdo refluído sobre o esôfago, e as atípicas decorrem da ação do material refluído sobre órgãos adjacentes ou aumento do reflexo esofagobrônquico. O The Montreal definition and classification of gastroesophageal reflux disease: a global evidence-based consensus (2006) define que a pirose é considerada incômoda se os sintomas leves ocorrem 2 ou mais vezes por semana ou se os sintomas moderados a graves ocorrem mais de 1 vez por semana. Apesar disso, os sinais e sintomas são insuficientes para o estabelecimento do diagnóstico conclusivo de DRGE, independentemente de sua frequência e intensidade, oferecendo certeza diagnóstica (especificidade) de cerca de 40%. Endoscopia com biópsia deve ser realizada no diagnóstico inicial de DRGE, de acordo com o guideline da AGA (American Gastroenterological Association), nos pacientes com disfagia associada, nos que apresentem perda ponderal, e naqueles que não respondem ao tratamento empírico com IBP 2x/d. Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico EDA: Há o uso de videoendoscópios visando a análise. O paciente precisa estar em DLE de frente para o médico ou TV e é introduzido o aparelho c/ a mão esquerda. Indicações: Diagnóstica Terapêutica Screening/Vigilância ✓ Dispepsia ✓ Odinofagia ✓ Anemia ✓ Síndrome consumptiva ✓ Indicação de coleta de amostra tecidual ✓ Investigar diarreia crônica ✓ Pré- de bariátrica ✓ Avaliar hipertensão portal ✓ Doenças respiratórias ✓ Hemostasias ✓ Ligaduras elásticas profiláticas ✓ Corpo estranho ✓ Posicionar sondas ✓ Dilatação de estenoses ✓ Tratamento de estenose tumorais ✓ Ressecção de lesões Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico ✓ Displasia no Barret ✓ Não-consentimento ✓ Riscos>benefícios ✓ Perfuração de víscera suspeita ✓ Intolerância do paciente ✓ Acompanhante maior de 18 anos ✓ 8h para sólidos, 2-3 líquidos ✓ Ambiente e suporte adequado ✓ Ambulatorial x Hospitalar (Asa 1-2-3) ✓ Preparação e monitorização ✓ Seleção correta do equipamento ✓ Jejum Vai da orofaringe até o duodeno-próximal Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico 4. Conhecer o Manejo Terapêutico O tratamento clínico tem como objetivo o alívio dos sintomas, a cicatrização das lesões e a prevenção de recidiva e complicações. Divide-se em medidas comportamentais e tratamento farmacológico Elevação da cabeceira da cama (15 cm) e redução do peso são as únicas medidas com evidência estatística de melhora na DRGE, embora sejam de difícil adesão do paciente. Outras medidas que podem ajudar são: a) Dependendo da correlação com os sintomas, moderar a ingestão de alimentos gordurosos, cítricos, café, álcool, bebidas gaseificadas, menta, hortelã, produtos de tomate, chocolate e condimentos; b) Cuidados com medicamentos de risco, como anticolinérgicos, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores dos canais de cálcio, agonistas beta-adrenérgicos (todas essas medicações podem ocasionar relaxamento do EEI e piorar o refluxo), alendronato (essa medicação causa dano direto à mucosa esofágica por contato com a medicação que pode levar à formação de erosões, úlceras e perfuração); c) Evitar deitar-se nas 2 horas após as refeições; d) Evitar refeições copiosas/fracionar as refeições; e) Reduzir ou cessar o fumo. Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico O tratamento farmacológico inicial dos pacientes com DRGE e sintomas típicos consiste em IBPs em dose plena, por período de 4 a 8 semanas. Em casos graves, atípicos e de resposta parcial, pode-se administrar dose dobrada pelo mesmo período. Os IBPs são os mais potentes inibidores da secreção ácida gástrica por ligação irreversível e inibição da bomba de H+/K+ATPase. São mais efetivos quando administrados 30 minutos antes da primeira refeição do dia, devido à quantidade de bombas H+/K+ATPase presentes na célula parietal ser maior após jejum prolongado. Apesar de não ter havido diferença estatística significativa entre o tempo de tratamento de 4 ou 8 semanas, o número de respostas satisfatórias foi maior com 8 semanas (alívio dos sintomas de DRGE e cicatrização da esofagite em mais de 86% dos pacientes com esofagite erosiva). Também não há diferença estatística na resposta clínica ao IBP quando comparado o uso diário em dose única ou 2 tomadas. Apesar disso, devido à meia-vida dos IBPs girar em torno de 18 horas e ao paciente poder ficar descoberto no período noturno, recomenda-se dividir a dose em 2 tomadas, administradas pela manhã em jejum, meia hora antes do café da manhã, e à noite, meia hora antes do jantar (por exemplo, omeprazol 20 mg em jejum e 20 mg antes do jantar), nos pacientes que apresentem sintomas noturnos. Outro dado importante é a equivalência dos diferentes IBPs (omeprazol, esomeprazol, pantoprazol etc.) no tratamento da DRGE nos estudos realizados. Aos pacientes com DRGE e sintomas atípicos e naqueles com esofagites de maior gravidade (graus 3 e 4 de Savary-Miller ou C e D de Los Angeles), úlcera e/ou estenose à endoscopia, está indicada a terapia farmacológica com IBP dose dobrada (omeprazol 80 mg/d, lansoprazol 60 mg/d, pantoprazol 80 mg/d, rabeprazol 40 mg/d, esomeprazol 80 mg/d). O tempo de tratamento nos pacientes com sintomas atípicos deve ocorrer por períodos mais prolongados, Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico de 2 a 6 meses. Já nos pacientescom esofagites mais graves, úlcera e/ou estenose, deve-se estender o tratamento por 12 semanas, com indicação de repetição do exame endoscópico ao final do tratamento. A DRGE é uma doença crônica. Oitenta por cento recidivam nos primeiros 6 meses após o tratamento e praticamente 100% em 1 ano. Nos pacientes que não apresentam indicação cirúrgica, mas necessitam de IBP para controle sintomático, pode-se optar pelo uso de IBP quando necessário, na menor dose possível. Quanto ao uso crônico do IBP, não há relato de neoplasia que seja suportado por evidências, mas ocorrem alterações na mucosa gástrica, como gastrite crônica, atrofia e pólipos de glândulas fúndicas, aumento dos casos de pneumonia de repetição, infecções intestinais, por exemplo, por Clostridium di cile, anemia ferropriva e má absorção de magnésio, cálcio, vitamina B12 e ferro. Com relação ao uso dos antagonistas dos receptores H2 da histamina, como ranitidina, e procinéticos, como domperidona e bromoprida, não há evidência estatística que suporte o seu uso no tratamento da DRGE. Os antagonistas dos receptores H2 da histamina desenvolvem taquifilaxia em 2 a 6 semanas, limitando sua eficácia na DRGE. As grávidas com DRGE devem ser primeiramente tratadas com modificações no estilo de vida e na dieta. Se não há melhora, usam-se antiácidos (não usar bicarbonato de sódio e os que têm magnésio) e sucralfato 1 g, VO, 3 vezes ao dia. Nos casos de falha ao tratamento, indicam-se primeiramente os antagonistas H2, que parecem seguros na gravidez, e, depois, os IBPs, que são provavelmente seguros, mas não são recomendados na amamentação por haver poucos dados quanto à segurança. 5. Elucidar as hipóteses de indicação cirúrgica para a DRGE 6. Entender a fisiopatologia do esôfago de Barrett e associar DRGE Eriky Andrade (IX) | P5 | Refluxo Gastroesofágico 7. Entender a etiologia, fatores de risco, epidemiologia e quadro clinico do esôfago de Barrett. 8. Conhecer o manejo terapêutico do Esôfago de Barrett