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188 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO lar. As funções administrativas - como planejamento, organização, direção e controle - são universalmente aceitas, porém, sem tantos princípios prescritivos e normativos que as tornam rígidas e invariáveis. Em um mundo em constante mudança e transformação, o processo administrativo atualmente se mostra flexí vel, maleável e adaptável às situações variadas e às cir cunstâncias diferentes. Ele consiste em um fluxo de atividades consecutivas para atingir determinados ob jetivos. Tem início, meio e fim em uma seqüência ló gica e racional de ações que se completam mutuamen te. Pode-se concluir que o processo administrativo não é somente o núcleo da Teoria Neoclássica, mas o fundamento da moderna Administração. Nenhuma concepção mais avançada conseguiu ainda deslocá-lo dessa posição privilegiada. Contudo, na verdade, administrar é muito mais do que uma mera função de gerenciamento de pes soas, de recursos e de atividades. Quando tudo muda e as regras são engolfadas pela mudança, tra ta-se não apenas de manter a situação, mas de ino var e renovar continuamente a organização. O pa pel do administrador em épocas de mudança e ins tabilidade se centra mais na inovação do que na ma nutenção do status quo organizacional. Isso será abordado nos capítulos finais deste livro. IResumo 1. A Teoria Keoclássica (Escola Operacional ou do Processo Administrativo) surgiu da neces sidade de se utilizar os conceitos válidos e re levantes da Teoria Clássica, expurgando-os dos exageros e distorções típicos do pioneiris mo e condensando-os com outros conceitos válidos e relevantes oferecidos por outras teo rias administrativas mais recentes. 2. A Teoria Neoclássica é identificada por algu mas características marcantes: a ênfase na prá tica da Administração, reafirmação relativa (e não absoluta) dos postulados clássicos, ênfase nos princípios clássicos de administração, ên fase nos resultados e objetivos e, sobretudo, o ecletismo aberto e receptivo. 3. A Teoria Neoclássica considera a Administra ção uma técnica social básica. Isso leva à neces- sidade de que o administrador conheça, além dos aspectos técnicos e específicos de seu tra balho, também os aspectos relacionados com a direção de pessoas dentro das organizações. 4. A Teoria Neoclássica surgiu com o crescimen to exagerado das organizações. Uma das ques tões foi o dilema sobre centralização versus descentralização. Parte do trabalho dos neo clássicos focaliza os fatores de descentraliza ção, bem como as vantagens e as desvantagens que a centralização proporciona. 5. A Teoria Neoclássica enfatiza as funções do ad ministrador: planejamento, organização, direção e controle. No seu conjunto, as funções adminis trativas formam o processo administrativo. 6. O planejamento é a função administrativa que determina antecipadamente os objetivos e o que deve ser feito para alcançá-los. O estabe lecimento dos objetivos é o primeiro passo do planejamento. Há uma hierarquia de objeti vos para conciliar os diferentes objetivos si multâneos em uma organização, cobrindo os objetivos organizacionais, políticas, diretrizes, metas, programas, procedimentos, métodos e normas. Quanto à sua abrangência, o plane jamento pode ocorrer em três níveis: o estra tégico, o tático e o operacional. Existem qua tro tipos de planos: procedimentos, orçamen tos, programas ou programações e normas ou regulamentos. 7. A organização é a função administrativa que consiste no agrupamento das atividades ne cessárias para realizar o que foi planejado. Quanto à sua abrangência, a organização po de ocorrer em três níveis: nível global (dese nho organizacional), nível departamental (de senho departamental) e nível das tarefas e operações (desenho de cargos e tarefas). 8. A direção é a função administrativa que orien ta e guia o comportamento das pessoas na di reção dos objetivos a serem alcançados. É uma atividade de comunicação, motivação e lide rança, pois refere-se a pessoas. Quanto à sua abrangência, a direção pode ocorrer em três níveis: global (direção), departamental (ge rência) e operacional (supervisão). f 9. O controle é a função administrativa que visa a assegurar se o que foi planejado, organizado e di rigido realmente cumpriu os objetivos pretendi dos. O controle é constituído por quatro fases: estabelecimento de critérios ou padrões, observa- • CASO COMO VAI A IBM?27 A IBM está procurando uma nova identidade. Ou um novo reposicionamento. No início da década de 1990, a Big Blue - tal como é conhecida nos Estados Unidos amargou um enorme prejuízo de US$16 bilhões. Isso custou a cabeça do presidente da corporação. O novo presidente, Louis Gerstner, com um salário anual de qua se US$8 milhões, tomou rápidas providências: de cara cortou US$3 bilhões em despesas e demitiu cerca de 40 mil empregados. O colosso de US$63 bilhões de fatura mento anual, que virou sinônimo de dinossauro eletrôni co, parece afinal estar no rumo da retomada. Parece? Ao reassumir, Gerstner descartou a alternativa de desmembrar a empresa, como pretendia seu anteces sor, que achava que o desmembramento poderia tornar a IBM (ou as IBMs) mais fácil de manejar. Em vez de re talhar a empresa em divisões autônomas, independen tes e presumivelmente mais ágeis, como tem feito a grande maioria das megaempresas americanas, o novo presidente optou por manter o gigante intacto, na pre sunção de que a companhia é mais competitiva como um conjunto uníssono. Na verdade, o novo presidente, que veio da Nabisco para botar ordem na casa, enfrenta problemas para fazer a companhia andar no ritmo e na direção que se pretende. O seu principal desafio é des pertar o sentido de urgência e mudança em uma gigan tesca organização composta por 216 mil funcionários formados dentro de uma rígida cultura septuagenária que se pretende agora destruir. Mesmo para um líder obstinado como o presidente, tal desafio pode estar além do seu alcance. A IBM identificou os problemas e está fazendo o que é necessário para resolvê-los. A per gunta é se ela conseguirá ser rápida o suficiente. Em meados da década de 1990, a IBM perdeu a lide rança mundial no mercado de computadores pessoais. De olho no segmento dos mainframes que era o seu ponto forte, a IBM atrasou o lançamento de novas linhas de PC, subestimou a demanda desse mercado e produ- CAPíTULO 7 • Teoria Neoclássica da Administração 181 ção do desempenho, comparação do desempe nho com o padrão estabelecido e ação corretiva para eliminar os desvios ou variações. Quanto à sua abrangência, o controle pode ocorrer em três níveis: estratégico, tático e operacional. ziu menos do que o mercado desejava. Os varejistas e consumidores tiveram de migrar para outras marcas, demostrando que o colosso não estava andando. Como ainda existe sobreposição de produtos, uma boa notícia para um departamento da IBM quase sempre é uma má notícia para outro. Dizem que a IBM parece a Comunida de de Estados Independentes, a antiga União Soviética: em tese é uma unidade, mas na prática é um arranjo es quisito e descombinado ao qual falta objetivo comum. Lembra um pasurmarele. Um bicho horrível e desengon çado que tem bico de passarinho, orelhas de urso, patas de marreco e corpo de elefante. E que urra como um leão. Como se pode viver com um bicho desse? Tecno logia não falta. O que falta à IBM é visão global. E agili dade para mudar rapidamente. Três evidências, em meio a essa confusão, mostram indícios de uma nova estratégia a longo prazo para a IBM. A primeira é uma guinada em direção aos serviços, que respondem por mais de 10% do faturamento mundial. A IBM está se tor nando uma empresa cuja missão é oferecer ao cliente soluções inovadoras e criativas em informação. O com putador é apenas um meio para que isso aconteça. A se gunda evidência é a adoçãoprogressiva dos chips Po werPC (fabricados por uma associação entre IBM, Apple e Motorola - ex-rivais e agora unidas) para unifor mizar toda a linha de micros aos grandes computado res, a fim de baratear e liberar a empresa da dependên cia dos chips da Intel. Com isso, os micros podem rodar programas de todas as principais linhas de software existentes no mercado. A terceira evidência é a direção no sentido de um sistema operacional comum a ser construído para toda sua linha de produtos, tornando-os intercambiáveis e dando consistência e coerência a toda a sua extensa linha de computadores. Isso propor cionaria o caminho para um enorme segmento de mer cado tranqüilamente explorado pela Microsoft de BiII Gates. 182 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO IQuestões 1. Como você definiria a estrutura organizacional da IBM? 2. Qual a sua opinião sobre as decisões do novo presi dente? 3. Como você cuidaria dos aspectos de centralização X descentralização da IBM? 4. Se Louis Gerstner lhe perguntasse, o que você su geriria para fazer a IBM mais ágil e competitiva? IReferências Bibliográficas 1. Harold Koontz e Cyril O'Donnell, Princípios de Administração - Uma Análise das Funções Admi nistrativas, São Paulo, Editora Pioneira, 1976. 2. Theo Haiman, Dirección y Gerencia, Barcelona, Ed. Hispano Europea, 1965. 3. V. Também: William H. Newman, Ação Adminis trativa. As Técnicas de Organização e Gerência, São Paulo, Ed. Atlas, 1972; Michael J. Jucius e William F. Schlender, Introdução à Administração - Ele mentos de Ação Administrativa, São Paulo, Ed. Atlas, 1972; Ernest Dale e L. C. Michelon, Gerên cia Empresarial- Métodos Modernos, Rio de Janei ro, Edições Bloch, 1969. 4. Philip B. Niles, "Six Standards of Executive Con duct", in Reading in Management, Max D. Ri chards e William A. Nielander, Cincinnati, Ohio, South-Western Publishing Co., 1958, p. 722-728. 5. Alvin Brown, Organization in Industry, Nova York, Prentice-Hall, Englewood Cliffs, N. J., 1947. 6. Leon C. Megguison, "The Pressure of PrincipIes: A Challenge to Management Profession", in Rea dings in Management, Harold Koontz e Cyril O'Donnell (eds.), Nova York, McGraw-Hill Book Co., 1959, p. 13. 7. William H. Newman, Ação Administrativa. As Téc nicas de Organização e Gerência, op. cit., p. 15-16. 8. Peter F. Drucker, Uma Era de Descontinuidade, op. cit., p. 215-229. 9. Peter F. Drucker, Tecnologia, Gerência e Socieda de, Petrópolis, Editora Vozes, 1973, p. 104. 10. J. Kreiken, "Formulating and Implementing a Mo re Systematic Approach to Strategic Manage ment", Management Review, vol. 69, nQ 7, p. 24, jul. 1980. 11. Harrington Emerson, The Twelve PrincipIes of Efficiency, op. cito 12. Henri Fayol, Administração Industrial e Geral, op. cit., p. 1954. 13. Gustavo F. Bayer, "Considerações Sobre a Concei tuação de Autoridade", Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, Vol. 5, nQ 1, p. 102, set. 1971. 14. Richard I. Daft, Organization Theory and Design, St. Paul, Minn., West, 1992, pp. 387-388. 15. Thomas R. Hort~:m, "Delegation and Team Buil ding: No Solo Acts Please", Management Review, setembro 1992, p. 58-61. 16. Theo Haiman, Dirección y Gerencia, op. cit., p. 62. 17. Ernest Dale, "Planning and Developing... ", Rese arch Report 20, op. cit., p. 107. 18. Ernest Dale, "Planning a~d Developing...", Rese arch Report 20, op. cit., p. 107. 19. Ernest Dale, "Planning and Developing... ", Rese arch Report 20, op. cit., p. 118. 20. Peter F. Drucker, Concept of Corporation, Nova York, John Day, 1946; Alfred Sloan Jr., Minha Vida na General Motors, Rio de Janeiro, Ed. Re cord, 1963. 21. Peter F. Drucker, Concept of Corporation, op. cit., p.46. 22. João Bosco Lodi, Administração por Objetivos, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1970, p. 8-9. 23. Harold Koontz e Cyril O'Donnell, Princípios de Administração, op. cit., p. 234-240. 24. Peter F. Drucker, Concept of Corporation, op. cit., p.47-48. 25. João Bosco Lodi, Administração por Objetivos, op. cit., p. 7. 26. S. M. Schaker & M. P. Gembicki, War Roon Guide to Competitie Intelligence, Nova York, McGraw Hill, 1999, p. 202. 27. "A IBM Vai Bem, Mas não se Sabe para Onde", Exame, Edição 561, 6 de julho e 1994, p. 98-99 IGlossário Básico AÇÃO ADMINISTRATIVA é a ênfase nos aspectos práti cos e utilizáveis, visando o alcance de resultados con cretos. Segundo essa visão, a teoria somente tem valor quando operacionalizada na prática. ADMINISTRAÇÃO é uma atividade que consiste em orientar, dirigir e controlar os esforços de grupos de indivíduos ou organizações para um objetivo co mum. AMPLITUDE ADMINISTRATIVA é o número ótimo de subordinados que cada gerente pode supervisionar. CENTRALIZAÇÃO significa a concentração do processo decisorial na cúpula da organização. CONTROLE é a função administrativa que vem depois do planejamento, organização e direção que serve para assegurar que os resultados do que foi planejado, organizado e dirigido se ajustem tanto quanto possível aos objetivos estabelecidos. CORPORAÇÃO significa uma organização de grande porte - como a General Motors - na qual o controle é centralizado e as decisões descentralizadas. DELEGAÇÃO é o processo de transferir autoridade e responsabilidade para posições inferiores da hie rarquia. DESCENTRALIZAÇÃO significa a dispersão do processo decisorial para a base da organização. DIREÇÃO é a função administrativa que vem logo de pois do planejamento e organização e que dinamiza e aciona a organização. Está relacionada com a atua ção sobre pessoas e com a ação. A direção é exercida através da comunicação, liderança e motivação das pessoas. DIRETRIZES são princípios estabelecidos para permitir o alcance dos objetivos pretendidos. EFiCÁCIA é uma medida do alcance de resultados, ou seja, a capacidade de atingir objetivos e alcançar resul tados. Em termos globais, significa a capacidade de uma organização satisfazer necessidades do ambiente ou mercado. Relaciona-se com os fins almejados. EFICIÊNCIA é uma relação entre custos e benefícios, en tre entradas e saídas, ou seja, a relação entre o que é conseguido e o que pode ser conseguido. Significa fa zer corretamente as coisas e enfatizar os meios pelos quais elas são executadas. Relaciona-se com os meios, isto é, com os métodos utilizados. FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR correspondem aos elementos da administração, ou seja, planejamento, organização, direção e controle, que formam o pro cesso administrativo. GERÊNCIA é a função de direção que ocorre no nível in termediário da organização. HIERARQUIA DE OBJETIVOS é uma estrutura de obje tivos, na qual os mais elevados predominam sobre to dos os demais objetivos situados em plano inferior. METAS são alvos a atingir a curto prazo. MÉTODO é um plano estabelecido para o desempenho de uma tarefa específica, detalhando como o trabalho deverá ser executado. NíVEL INSTITUCIONAL é o nível organizacional mais elevado e é composto pelos dirigentes da organização. NíVEL INTERMEDIÁRIO é o nível organizacional do meio do campo e é composto pelos gerentes. CAPíTULO 7 • Teoria Neoclássica da Administração 183 NíVEL OPERACIONAL é o nível organizacional mais bai xo e é composto pelos supervisores de primeira linha. NORMA é uma regra ou regulamento que envolve um procedimento. São comandos diretos e objetivos de cursos de ação ou de conduta que devem ser seguidos fielmente. Serve para uniformidade de ação. OBJETIVOS são resultados futuros que se pretende atin gir; são alvos escolhidos que se pretende alcançar den tro de certo espaço de tempo. OBJETIVOS ESTRATÉGICOS são objetivos globais e am plos da organização e formulados a longo prazo. OBJETIVOS INDIVIDUAIS são os objetivos particulares almejados pelas pessoas. OBJETIVOS OPERACIONAIS são os objetivos específi cos de cada tarefa ou operação da organização. OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS são os objetivos alme jados pela organização. OBJETIVOSTÁTICOS são os objetivos departamentais ou divisionais. ORÇAMENTO é um plano relacionado com dinheiro. ORGANIZAÇÃO é a função administrativa que vem de pois do planejamento e que determina e agrupa as ati vidades necessárias ao alcance dos objetivos e as atri bui às respectivas posições e pessoas. PLANEJAMENTO é a primeira das funções administrati vas e que determina antecipadamente quais são os ob jetivos que devem ser atingidos e o que se deve fazer para alcançá-los. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO é o planejamento glo bal projetado a longo prazo e que envolve a organiza ção como uma totalidade. PLANEJAMENTO OPERACIONAL é o planejamento es pecífico que abrange cada operação ou atividade projetado a curto prazo e que envolve uma tarefa ou atividade. PLANEJAMENTO TÁTICO é o planejamento que abran ge cada departamento projetado a médio prazo (exer cício anual) e que abrange recursos específicos e de partamentais. PLANO é um curso determinado de ação necessário para atingir algum objetivo. É o produto do planejamento. pOlíTICAS são afirmações genéricas baseadas em obje tivos globais e planos estratégicos que proporcionam orientação e rumos para as pessoas dentro da organi zação. PRAGMATISMO é a corrente filosófica inaugurada por John Dewey e que enfatiza os aspectos práticos e utili záveis e que na Administração se traduziu pela prática da administração e pela ação administrativa. INTRODUCAO A TEORIA GERAL DA ADMINISTRACAO - IDALBERTO CHIAVENATO - SETIMA EDICAO, TOTALMENTE REVISTA E ATUALIZADA tga201 tga202 tga203 tga204