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Sociolinguística Professora: Claudia Giesel Elzio da Silva Martins RESENHA CRÍTICA BORTONI-RICARDO, S.M. Manual de Sociolinguística. São Paulo: contexto, 2014. P. 67-84. CREDENCIAIS DO AUTOR(A) Stella Maris Bortoni-Ricardo é professora titular de Linguística na Universidade de Brasília. A autora orientou trabalhos de doutorado, pós-doutorado e mestrado, assim como orientações de monografia e iniciação científica. Stella Maris é também autora de diversos livros de linguística que tem como foco a sociolinguística educacional. RESUMO Neste capitulo resenhado é tratado a questão da variação que emergiu a partir de uma nova visão dos fatos linguísticos, visão cujo percursor foi Uriel Weinreich e alguns seguidores e colabores. A visão é a de que a heterogeneidade linguística está presente em qualquer comunidade de fala; é inerente e sistemática. Uma das principais ideias que sustentam esta visão é o reconhecimento de Bloomfield de que alguns enunciados se equivalem. Então, a partir dessa afirmação, a autora segue o capítulo. Em seguida é afirmado que dois enunciados só são equivalentes se levarmos em conta tão somente a função referencial da linguagem. Segundo a autora, as formas que supostamente transmitem o mesmo conteúdo semântico, expresso com recursos linguísticos distintos vão caracterizar regras variáveis, e suas alternativas são denominadas variantes. Quatro exemplos de variantes da mesma forma verbal no português do Brasil são as formas: “nós fomo”, “nós fomos”, “nós foi”, “nós fumo”. Dito isso, é também afirmado que na análise sociolinguística variacionista, a ocorrência de cada uma das variantes é levantada e correlacionada com os fatores que favorecem ou inibem essa ocorrência. A autora em seguida cita Labov, que explica assim “Qualquer forma variável deve ser reportada com a proporção de casos em que a forma ocorreu no ambiente relevante, comparada ao número total de casos em que ela poderia ter ocorrido”. Stella Maris passa os próximos parágrafos discutindo sobre o estudo/pesquisa das variações. A autora argumenta que ao fazer estudo relacionado a variação, é necessário levar em consideração vários fatores. Alguns exemplos dessas considerações, como dito anteriormente, a frequência da regra de variação na comunidade, assim como sua relevância sociossimbólica, ou seja, é importante saber em qual grupo étnico ou social determinada variante teve início, ou se surgiu em grupos etários mais jovens. É argumentado então que dependendo de onde a variante teve início, ela pode adquirir prestígio se o grupo em que ela surgir for de prestígio, assim como se o grupo for estigmatizado, manterá esse caráter. A autora então apresenta ao longo dos parágrafos argumentos históricos/sociais que sustentam essa afirmação. Em seguida a autora volta a discutir a visão de que uma regra variável consiste de duas ou mais formas de dizer a mesma coisa, e para isso é usado um fragmento do poema “Proclamação do amor antigramático” de Mário Lago. É afirmado que o poeta acredita que a o enunciado “Me dá um beijo” é mais espontâneo do que o correto segundo a gramática normativa “Dá-me um beijo”, portanto, não poderíamos considerar que os dois enunciados sejam formas alternativas de se dizer a mesma coisa. Fica então concluído que na literatura sociolinguística, se tratando de variáveis sintáticas, é muito difícil aceitar que dois enunciados diferentes sejam formas diferentes de se dizer a mesma coisa. Para além da função referencial, cada enunciado carrega um conjunto de características que vão distingui-lo de outro, que poderia ser, à primeira vista, um enunciado sinônimo. Stella Maris continua o capítulo examinando duas variáveis muito produtivas no português do Brasil, uma delas fonológica, a elevação das vogais médias /e/ e /o/ em posição pretônica, e outra a sintática, a ocorrência de pronome cópia, ou anáfora pronominal, em oração relativas, como “o vizinho, que ele mudou faz pouco tempo pra cá, é médico pediatra”. CONCLUSÃO Este capítulo sobre variação linguística é um capítulo que toca em um tema de bastante relevância, fala de regra variável e variante que são termos fundamentais para a discussão. Foi abordado a questão dos valores sociossimbólicos das variantes de uma regra sociolinguística em uma comunidade de fala. Esta questão é de extrema importância e muda radicalmente a maneira que é visto o estudo, pois levando os fatores sociossimbólicos em consideração é possível entender com uma olha mais profundo o que apenas aumenta a credibilidade dos estudos. O capítulo também aborda analises sociolinguísticas de duas variáveis no português do Brasil, a elevação das vogais médias /e/ e /o/ e a ocorrência do pronome cópia. O estudo sobre a elevação das vogais médias é muito interessante, pois é um bom indicador de variação regional no Brasil e é algo tão corriqueiro que podemos observar facilmente a realização dessas elevações em nossas comunidades. Assim como a ocorrência do pronome cópia, é uma construção muito presente na fala, e as vezes até mesmo na escrita. Existe até um meme na internet muito bom que utiliza da construção de pronome cópia para fazer humor. Certamente sou contra a descriminação, bullying e preconceito com pessoas que falam ou escrevem “errado”, mas é um fenômeno interessante de abordar. ANÁLISE O capítulo é muito bem desenvolvido e bem organizado, mostrando também grande competência e conhecimento de caso da autora. A leitura é leve e de fácil entendimento, o que faz com que se torne mais interessante, visto que é um livro acadêmico sobre um assunto acadêmico. Embora o capítulo seja curto, os pontos são bem explicados e argumentados, acredito que ao longo do livro alguns pontos específicos sejam trabalhados de forma mais abrangente. O tema é extremamente relevante e todos os argumentos da autora são bem fundamentados e argumentados, além também das citações que fazem você querer ler mais sobre. A autora realmente faz um bom trabalho em apresentar seus estudos de tal maneira que mesmo estudantes que não são focados nessa área conseguem compreender bem o que ela propõe. Este tema permite que os professores passem para os alunos uma visão mais maleável das razões dos fenômenos linguísticos ocorrem al de tal maneira que não é necessária trata-los apenar como “certo” ou “errado” ou visto como apenas variações de comunidades estigmatizadas. Certamente os alunos achariam interessante entender a lógica por trás dos fenômenos linguísticos que caracterizam suas falas e até as falas de colegas que muitas vezes podem sofrer bullying se suas variações forem advento de uma comunidade estigmatizada. RECOMENDAÇÃO Por ser um capítulo que abrange a educação em vários níveis, é interessante também que os professores e alunos de universidades e cursos de formação de professores se integrem na discussão. É um assunto que abrange não só acadêmicos da área, mas a todos pois todos se comunicam, dito isso, seria interessante que as pessoas também tivessem uma noção básica no assunto. 4