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CONCEPÇÕES DO DESENVOLVIMENTO
E DA APRENDIZAGEM
• Área: Educação
• Curso: Motricidade e desenvolvimento motor na educação infantil.
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SUMÁRIO
UNIDADE 1 – CONCEPÇÕESDO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
• INTRODUÇÃO.....................................................................................................................09
➢ CAPÍTULO 1 –CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO ....................................................... 11
➢ CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ............................................................... 23
• PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, FREUD E A APRENDIZAGEM
• JEAN PIAGET
❖ OS PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA TEORIA DE JEAN PIAGET
❖ ESTÁGIOS REFERENTES À PRÁTICA E A CONSCIÊNCIA DAS REGRAS
• VYGOTSKY
❖ DESENVOLVIMENTO REAL E DESENVOLVIMENTO POTENCIAL
• HENRI WALLON
• SIGMUND FREUD
➢ CAPÍTULO 3 – AS TEORIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA
EDUCAÇÃO....................................................................................................................... 46
• PIAGET
• WALLON
• VYGOTSKY
➢ CAPÍTULO 4 – O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM, MOTRICIDADE E COGNIÇÃO..........63
➢ CAPÍTULO 5 – A CONSTITUIÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA..............................................80
➢ CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO.................................................................................................92
• TEXTO INTEGRADOR – AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 96
• SUGESTÕES DE ESTUDO COMPLEMENTAR...........................................................................101
• REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................102
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ÍCONES
Apresentamos inicialmente ícones que tem como função pedagógica e objetivam
chamar a atenção do(a) aluno(a) para os conteúdos ou ações que o(a) mesmo(a) deverá
desenvolver durante seus estudos, através desse material didático.
Provocação
Apresentamos através desse ícon, textos que levam o(a) aluno(a)
a fazer reflexões sobre determinado assunto antes mesmo de
iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o
autor/conteudista.
Para refletir
Questões e tópicos inseridos no decorrer do estudo, que tem por
objetivos propiciar ao aluno(a) momentos de pausa e reflexão
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu
raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos,
suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de
partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para
aprofundamento do estudo.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo
didático de fortalecer o processo de aprendizagem do/a aluno/a.
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Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que
contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares que contribuem na construção das
sínteses/conclusões sobre os conteúdos abordados.
Sintetizando
Texto que busca resumir informações relevantes do conteúdo,
facilitando o entendimento pelo(a) aluno(a) sobre trechos mais
complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos
períodos e conteúdos que o autor/conteudista achar mais relevante
em relação a aprendizagem de seu módulo.
Avaliação
Questionário com 05 questões objetivas e/ou subjetivas, baseadas
nos objetivos do curso e nos objetivos da disciplina, que
oportunizam a verificação da aprendizagem dos capítulos e das
unidades desse material didático.
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Para não finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o(a) aluno(a) a
continuar a aprendizagem ou estimula ponderações
complementares sobre o módulo estudado.
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APRESENTAÇÃO
Caro (a) aluno (a),
Bem-vindo à disciplina Concepções do Desenvolvimento e Aprendizagem.
Este caderno de estudos, material elaborado com o objetivo de contribuir para a
realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus
conhecimentos no tocante ao ensino do conteúdo MOTRICIDADE E
DESENVOLVIMENTO MOTOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em
capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas;
indicamos também fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
Desejo a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesse caderno
de estudos!
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OBJETIVOS
- Conhecer as idéias dos principais teóricos que trabalharam com os processos de
desenvolvimento e aprendizagem das crianças: Freud, Piaget, Vygotsky e Wallon e suas
contribuições no campo da educação.
- Conhecimento dos processos de desenvolvimento que permite ao educador reconhecer
as características comuns de cada faixa etária e planejar ações pedagógicas, que, entre
outras coisas, podem potencializar as capacidades humanas.
- Apresentar as principais características das diferentes fases do desenvolvimento
humano em suas dimensões físico-motora, cognitiva, afetiva-emocional e sócio-moral,
focando nossa atenção no ser humano integral.
EMENTA
Desenvolvimento infantil na perspectiva Sociointeracionista. Fundamentos da
Psicologia. Conceitos de infância. Concepções Inatista, Ambientalista, Interacionista e
Sócio-histórica.
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INTRODUÇÃO /PROVOCAÇÃO
O desenvolvimento humano, assim como a aprendizagem, é um processo que se
inicia com o nascimento e permanece durante toda a vida. Nossa proposta é apresentar
características desse desenvolvimento e relacioná-las aos processos de aprendizagem.
A diversidade humana contribui para a melhoria da qualidade da educação, uma
vez que enriquece os processos de aprendizagem e convivência.
Conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento humano permitirá ao
educador basear sua concepção de educação na heterogeneidade, considerando as
especificidades, não apenas das fases ou períodos de desenvolvimento, mas de cada
sujeito, possuidor de uma história pessoal e situado social e historicamente.
Os estudos sobre o desenvolvimento humano remontam à Antiguidade Clássica,
quando os filósofos cuidavam da compreensão dos fenômenos humanos. Inicialmente
questionavam sobre a diferença entre os animais e os seres humanos e foram
aprofundando seus estudos até chegarem às primeiras idéias sobre o processo de
transformação desses seres.
No século XIX, com o advento da ciência como principal tipo de conhecimento, o
desenvolvimento humano passou a ser objeto de estudo da ciência psicológica, que se
dedicava a entender como as pessoas se transformavam e como construíam suas
características.
No primeiro capítulo trataremos sobre as concepções do desenvolvimento
humano – INATISMO, AMBIENTALISMO, INTERACIONISMO E SÓCIO-HISTÓRICA -
traçando ao final um quadro comparativo entre essas diversas concepções, para um
melhor entendimento.
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No segundo e terçeiro capítulos, abordaremos os Fundamentos da Psicologia,
comum a exposição das teorias de Jean Piaget, Henri Wallon, Lev Semenovich Vygotsky
e Sigmund Freud e suas Contribuições no campo da Educação.
No quarto capítulo veremos como acontece o desenvolvimento da linguagem, da
motricidade e da cognição, considerando a interação social como elemento mais
importante para promover oportunidades de aprendizagem.
No quinto capítulo, um estudo sobre a constituição do conceito de infância, visto
que, ao educador que atua com crianças, é imprescindível apreendero significado da
infância, o que exige a investigação das diferentes conceituações a ela atribuída em
distintos momentos e lugares da história humana.
No sexto capítulo, uma breve conclusão acerca das teorias e concepções, e suas
implicações orientando as questões pedagógicas em espaços de educação infantil.
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CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
Durante a evolução histórica da ciência foram adotadas diferentes concepções
sobre o desenvolvimento humano que apresentam visões diversas sobre a “natureza”
humana, o modo de aquisição e apropriação dosconhecimentos. Foram diferentes
formas de pensar como o ser humano sedesenvolve. Vejamos quais as principais:
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source
Inatismo
Uma das primeiras concepções sobre o desenvolvimento humano foi a inatista,
na qual é salientada a importância dos fatores endógenos ou hereditários, ou seja,
aqueles aspectos que jánascem com a pessoa. Segundo essa concepção, os seres
humanos já nascem com todas as suas características prontas e vão desenvolvendo-as
durante toda a sua vida.
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Os inatistas acreditam num mapa dedesenvolvimento pré-programado, sendo que
oseventos que acontecem após o nascimento não são essenciais para que o serhumano
se desenvolva, pois sua personalidade, suas crenças, suas posiçõesmorais, sua
capacidade intelectual e afetiva, suas habilidades sociais já seencontram praticamente
prontas por ocasião do nascimento, como sehouvesse algo pronto para florescer dentro
de cada pessoa e, para tanto, sóbastaria o tempo. O que resta ao ambiente é interferir o
mínimo possível paranão “desvirtuar” essas características pré-definidas geneticamente.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source
A concepção inatista afirma que nascemos trazendo em nossainteligência não só
os princípios racionais, mas também algumas idéiasverdadeiras que, por isso, são idéias
inatas. Como exemplos de filósofosinatistas que influenciaram e, ainda influenciam, os
estudos sobre odesenvolvimento humano, podemos citar Platão (IV a.C.), Descartes
(séculoXVII) e Rousseau (Século XVIII).
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As idéias de Jean-Jacques Rousseau causaram grande impacto naeducação e
inspiraram reformas políticas e educacionais. O pensamentocentral desse filósofo
inatista, foi a idéia ou teoria do “bom selvagem”. Rousseau acreditava que o homem
nascia bom (crença na bondade natural), mas era corrompido pela sociedade. Defendia
que os pais e professores deviam estimular o desenvolvimento das potencialidades
naturais da criança, afastando-a dos males sociais. Se na época de Rousseau a crença
inatista era bastante forte, nos dias atuais ela já quase não existe, salvo alguns poucos
adeptos.
Mesmo o avanço da neurociência, com o mapeamento do cérebro e a escoberta
de áreas cerebrais responsáveis por vários comportamentos eações, não defende a
teoria inatista. Os neurocientistas afirmam que o queexiste são predisposições genéticas,
mas que, na maioria dos casos, nãopassam apenas de predisposições.
Apesar de toda a evolução do conhecimento humano e a superaçãoda visão
inatista, aspectos desse pensamento aparecem ainda hoje nasescolas, camuflados, por
exemplo, sob o disfarce das aptidões, da prontidão edos testes de Q.I. que rotulam
crianças e castram suas possibilidades de sucesso.
Ambientalismo
A concepção ambientalista confere importância ao ambiente no que se refere ao
desenvolvimento humano. O homem é concebidocomo um ser dinâmico, que desenvolve
suascaracterísticas em função das condiçõespresentes no meio em que se encontra. Na
Psicologia é chamada de Teoria da Aprendizagem. Para Bandura (1989), um dos
adeptos desta abordagem, “A natureza humana é caracterizada por uma grande
potencialidade quepode ser modelada, por experiências diretas e substitutivas, em uma
variedadede formas, dentro dos limites biológicos”.
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Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source
Essa teoria não nega as bases genéticas, mas considera que o comportamento
das pessoas é moldado por processos de aprendizagem previsíveis, especialmente por
imitação, ouseja, as pessoas ao verem outras pessoas se comportando, aprenderiam
novos comportamentos.
Outro autor também preocupado com a influência da aprendizagem para o
desenvolvimento foi Skinner, o qual, em seus experimentos e em suateoria decorrente
destes, descreveu um processo de aprendizagem que indica que as consequências que
ocorrem após o comportamento podem fortalecer ou diminuir a ocorrência deste, o qual
foi denominado de condicionamento operante: qualquer comportamento, cuja
conseqüência tenha papel reforçador, apresenta maior probabilidade de voltar a ocorrer,
na mesma situação ou emsituação semelhante. Por exemplo, se uma criança é elogiada
logo após fazer um favor a uma outra criança, é provável que esse comportamento
apareça novamente no relacionar-se com outras crianças.
Situações agradáveis que seguem um comportamento aumentando, então, a
possibilidade de ocorrência dele no futuro, são chamadas de reforços positivos. Podem
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ser conseqüências agradáveis: elogios, sorrisos, abraços, atenção, alimentos, possíveis
de ocorrer na relação entre pessoas.
Um outro tipo de conseqüência, a punição, é aquela que tende a diminuir ou
eliminar a ocorrência de comportamentos. Em geral envolve a retirada de privilégios ou
a apresentação de castigos. Todavia, tais punições nem sempre têm o efeito que o
aplicador gostaria, uma vez que não suprimem o comportamento indesejado. Às vezes,
uma conseqüência aparentemente negativa aos olhos de quem aplica, não o é para
quem recebe.
Logo, os educadores precisam aprender novas formas de lidar com conflitos por
dois motivos, primeiro para serem modelos de comportamentos alternativos e, em
segundo lugar por, sistematicamente, ensinar novos comportamentos, dando atenção e
elogiando, por exemplo, quando os alunos comportarem-se nesta direção.
Assim, dentro da concepção ambientalista, o homem é visto como se fosse uma
folha em branco, que vai se desenvolvendo passivamente em função do meio. Sua ação
é em função das aprendizagens que realizou ao longo da vida, em contato com estímulos
que reforçaram ou puniram seus comportamentos anteriores
Interacionismo
Os defensores da concepção interacionista acreditam que a criança constrói o
seu conhecimento pela sua interação com o meio. Nessa interação, fatores internos e
externos se inter-relacionam continuamente, formando uma combinação de influências.
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FONTE: https://www.google.com.br/search?q=interacionismo&source
A concepção interacionista de desenvolvimento está embasada, portanto, na idéia
de interação entre organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um
processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao
nascer, nem sendo adquirido passivamente graças às pressões do meio.
Para os interacionistas nada se perde, tudo se transforma.
Experiências anteriores servem de bases para novas construções que dependem,
todavia, também da relação que o indivíduo estabelece com oambiente numa situação
determinada.
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ATENÇÃO!!
O ser humano é concebido como um ser ativo que, ao interagir com o mundo, o
reconstrói, desenvolvendo novas estruturas cognitivas.
Algumas possibilidades a criança já apresenta em função do seu
nascimentocomo, por exemplo, os reflexos e a capacidade de movimentar-se e,
outras serão construídas pela interação da criança com o meio.
O Interacionismo defende que o desenvolvimento humano é resultado de umainteração de fatores biológicos e ambientais, entendendo por ambiente os espaços
sociais, históricos e culturais. Dessa forma, somos sujeitos ativos, capazes de construir
nossas próprias características, de acordo com o meio físico, social e cultural.
Nessa concepção, o desenvolvimento produz aprendizagem ao mesmo tempo em que a
aprendizagem produz o desenvolvimento.
São exemplos de autores interacionistas: Jean Piaget, EmíliaFerreiro, Henry
Wallon, entre outros.
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Sócio-Histórica
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source
A concepção sócio-histórica é embasada, sobretudo, nos estudos do russo Lev
Seminovich Vygotsky (1896-1934). Vygotsky, em parceria com Luria e Leontiev, foi o
fundador da Psicologia Sóciohistórica, que questionou os pressupostos da Psicologia
enquanto ciência natural (positivista) que entendia o fenômeno psicológico como a-
histórico.
Para esse autor o fenômeno psicológico não pertence à natureza humana e
tãopouco é pré-existente ao homem. Dessa forma, o fenômeno psicológico reflete
acondição social, econômica e cultural em que vivem os homens.
Os pilares básicos do pensamento Vygotskyano são os seguintes:
- as funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos daatividade
cerebral;
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- o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre os
indivíduos e o mundo exterior, que se desenvolvem num processo histórico e cultural;
- a relação homem-mundo não é uma relação direta, mas mediada por sistemas
simbólicos, sendo a linguagem o mais importante.
PARA REFLETIR!!
Dessa forma, o desenvolvimento na perspectiva sócio-histórica é entendido como
algo que se torna possível, porque o homem está imerso em uma sociedade na
qual atividades instrumentais e relações sociais direcionam o desenvolvimento
humano. A cultura torna-se parte da natureza humana e o homem se desenvolve à
sua própria imagem e semelhança.
Vygotsky conclui, então, que a relação dos seres humanos como o meio é sempre
mediada por instrumentos ou símbolos, porque o uso de instrumentos e símbolos
potencializa a capacidade de o ser humano atuar no mundo, pela ação ou pelo
pensamento.
Ele afirma que a relação dos indivíduos com o mundo não é direta, mas mediada
por sistemas simbólicos, em que a linguagem ocupa um papel central, pois além de
possibilitar o intercâmbio entre os indivíduos, é através dela que o sujeito consegue
abstrair e generalizar o pensamento. Ou seja, ¨ a linguagem simplifica e generaliza a
experiência, ordenando as instâncias do mundo real, agrupando todas as ocorrências de
uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual
cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem¨ (Oliveira, 1993, p.27).
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O uso da linguagem como instrumento do pensamento supões um processo de
internalização da linguagem, que ocorre de forma gradual, completando-se em fases
mais avançadas da sua aquisição. Para Vygostsky, primeiro a criança utiliza a fala
socializada, para se comunicar. Só mais tarde é que ela passará a usá-la como
instrumento de pensamento, com a função de adaptação social.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source
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SINTETIZANDO!!
CONCEPÇÃO
INATISTA
CONCEPÇÃO
AMBIENTALISTA
CONCEPÇÃO
INTERCIONISTA
CONCEPÇÃO
SÓCIO-
HISTÓRICA
As capacidades
humanas já nascem
prontas e quase não
mudam ao longo da
vida.
O desenvolvimento
acontece de forma
espontânea.
O sujeito vai se
desenvolvendo
passivamente devido
aos estímulos que
reforçaram ou
puniram seus
comportamentos
anteriores.
O desenvolvimento
acontece por normas
e padrões.
O ser humano se
constitui ativamente
nas interações com o
meio, com os objetos
e, principalmente,
com as outras
pessoas.
O desenvolvimento
acontece através da
influência e
interações com os
grupos sociais.
O ser humano nasce
com várias
habilidades mentais.
O desenvolvimento
acontece através das
mediações por
instrumentos ou
símbolos.
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PRATIQUE!!
A prática docente está sempre embasada por uma concepção de desenvolvimento e
aprendizagem, ainda que o professor não tenha consciência dela.
Procure identificar qual das concepções apresentadas orienta, prioritariamente, sua
prática docente.
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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA
Dentro da Psicologia da Apendizagem encontramos várias teorias que nos ajudam
em detreminadas situações. São vários os teóricos que estudaram o desenvolvimento
humano, mas cada um enfatizou determinado aspecto: Piaget deu ênfase ao
desenvolvimento da inteligência; Vygotsky, às relações sociais e aos fenômenos
mentais; Wallon, ao desenvolvimento motor e afetivo e Freud, ao sexual.
PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, FREUD E A APRENDIZAGEM
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source
O suíço Jean Piaget (1896-1980) deu uma enorme contribuição à embora não
fosse seu objetivo ser um pedagogo. Piaget em sua epistemologia, rejeita a teoria de
idéias defendidas no passado por filósofos como Platão, Descartes, Leibniz, etc.,
afirmando que todo o conhecimento deriva da experiência, transformando o sujeito em
simples produto do meio. Mas se a mente é um órgão vivo e ativo, ela elabora o
conhecimento a partir de esquemas inatos e não de idéias inatas.
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Todo o organismo ou ser vivo precisa de estrutura para funcionar, para se
reproduzir. Do mesmo modo, nossa vida psicológica posui também suas estruturas para
poder viver e se adaptar à realidade. Esta relação entre estrutura e meio é o que
denominamos de conhecimento – assimilação e acomodação – que é um processo
permanente de auto-regulação feita pelo sujeito, ao longo de seu desenvolvimento.
PARA REFLETIR!!
Para Piaget a criança não é um adulto em miniatura, mas sim alguém que pensa
qualitativamente diferente do adulto. Assim sendo, seu pensamento não é inferior, mas
diferente do pensamento do adulto, com características próprias que Piaget busca
detalhar em sua teoria.
Piaget defendeu que a inteligência não é apenas um traço hereditário ou resultado
de condicionamentos ambientais, mas que é construída através da interação entre o
sujeito e o meio. Dessa forma, quanto mais rico em estímulos -físicos e sociais - for o
ambiente, mais a criança poderá atuar sobre ele e desenvolver-se.
Para Piaget, a base biológica tem grande importância no desenvolvimento
cognitivo, porém, ela abre as possibilidades para o desenvolvimento infantil, ela não o
determina.A maturação biológica, no entanto, nunca aparece independente de certo
“exercício funcional”. Ou seja, não é possível que haja maturação, se não houver
estimulação do ambiente (Piaget, 1987).
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Segundo Piaget, a interação física é diferente da interação social. A interação
física é aquela que se estabelece com os objetos físicos, as coisas materiais. A interação
social é aquela que se estabelece entre as pessoas.
Quanto mais a criança estiver em contato com objetos físicos mais estará se
desenvolvendo uma vez que a interação física estará propiciando a abstração e
promovendo a construção de novos conhecimentos.
A interação social também é um fator de grande importância para o
desenvolvimento cognitivo, porque permite a consolidação de algumas estruturas
cognitivas, como a linguagem por exemplo.
O desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo que passa por estágios que
marcam diferenças qualitativas de um nível de pensamento e conduta para o outro.
Piaget divide em quatro estágios: sensório-motor (0-2 anos); pré-operatório (2-7
anos); operatório-concreto (7-12 anos) e operatório-formal (12 anos em diante). Cada
estágio envolve um período de gênese e um de consolidação.
Conhecer e refletir sobre as características de cada período é uma tarefa
primordial para que o professor possa propor estratégias de aprendizagem significativa.
Os Períodos do Desenvolvimento Cognitivo na Teoria de Jean Piaget
Período Sensório Motor (0-2 anos)
Nesse período, a criança baseia-se em percepções sensoriais (por meiodos
órgãos do sentido) e esquemas motores para resolver seus problemas que sãopráticos:
ela percebe o mundo pelas sensações e responde com movimentos: sente
fome, balança as pernas e chora por exemplo.
A criança está presa ao aqui e agora das situações. Não entende o amanhã, o
depois, o mais tarde... Se tem necessidades, demonstra com movimentos ou choro, que
precisa ser atendido naquele exato momento
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À medida que cresce começa a construção da noção de “eu”, quesignifica se
perceber-se como alguém individualizado, separado de sua mãe. Entende que outras
pessoas podem atendê-lo, que não a mãe e que pode brincar sozinho.
Uma outra observação que confirma que a criança começa a se ver comoalguém
separado da mãe, é quando demonstra que perceber a noção da permanênciado objeto.
Isso ocorre por volta dos oito meses. Ele sabe que a mamadeira existe, mesmo que não
esteja perto dela, sob seus olhos. Nesta fase, se escondemos um objeto que estava à
vista já o procura.
As noções de tempo e espaço começam a ser construídas e ela é capaz de
antecipar acontecimentos pela observação dos sinais do ambiente. Por exemplo, chora
quando a mãe pega a bolsa. Ela já sabe que a mãe vai sair.
Neste estágio é importante que a criança tenha contato com muitos objetos para
experimentar o meio e construir estruturas mentais. É importante oferecer à criança
materiais diversos como bolas de diferentes tamanhos e texturas, potes que se
encaixem, blocos grandes, objetos coloridos, etc.
O final do período é marcado pelo aparecimento da função simbólica. Écapaz de
representar eventos mentalmente, quando nina a boneca, empurra ocarrinho. Constrói,
neste período, duas habilidades importantes: a marcha e a fala.
Período pré-operatório (2-7 anos)
Este período é caracterizado pelo pensamento egocêntrico. Seregocêntrico
significa colocar-se no centro do mundo. Nesse período a criança não tem consciência
do próprio ponto de vista e muito menos do ponto de vista alheio. É capaz de identificar
suas necessidades, mas tem dificuldade em se colocar no lugar dos outros. Pensa o
mundo a partir de seu ponto de vista. Esse comportamento éobservado facilmente em
situações onde a criança, ao necessitar de um objeto da criança que está ao seu lado,
simplesmente o pega, como se fosse seu. É pouco sensível ao comportamento do outro
que chora. Ainda não entende a reação do outro como uma resposta à sua.
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O trabalho em grupo tem características específicas e a criança não brinca “com”
as outras, mas “ao lado” de outras crianças. Por exemplo: se propusermos que um grupo
de crianças, nesse período, montem um quebra-cabeça juntas, o comportamento inicial
de cada uma será o de separar algumas peças para si, sem levar em conta que a peça
que precisa pode estar com a outra e que a ação exige um trabalho coletivo.
É a fase do concreto. Ainda não é capaz de abstrair (daí a dificuldade de entender
o outro) e de realizar operações mentais. É a fase da exploração do meio ambiente.
Explorando-o aprende sobre o ambiente. Para contar, por exemplo, precisa de materiais
concretos. O número é entendido pela criança como algo concreto.
Como ainda não aprende por regra, não tem noção de perigo, precisando de
supervisão de adultos significativos. Por isso, nesta etapa exercita sua coordenação
motora global e equilíbrio. Brincadeiras ao ar livre devem ser incentivadas.
Porém, ainda que não apreenda totalmente o sentido das regras deve ser exposto
a elas. Assim, aprende seu limite e respeita o outro, entende, enfim, os limites de cada
ambiente.
O ambiente deve proporcionar possibilidades de experimentar, de fazer muitas
coisas. Atividades ligadas a conteúdos como de língua portuguesa, matemática, ciências
devem ser repletas de situações concretas e funcionais. Para aprender o conteúdo,
enquanto concreto, tem de fazer sentido para a criança. Ela precisa ver, pegar, sentir
para compreender. Um passeio em um parque, por exemplo, pode ser uma ótima
oportunidade para aprender questões relacionadas às estações do ano, ao clima, aos
pequenos animais, etc. Desafios devem ser apresentados e o erro permitido, jamais
ridicularizado. A criatividade deve ser incentivada. Trabalhos em grupo devem ser
intensificados.
O final do período é marcado pelo declínio do egocentrismo e pela capacidade de
conservar quantidades. Já é capaz de entender que há a mesma quantidade de água
em dois copos, por exemplo, mesmo que um copo seja mais alto e o outro mais largo.
Tal possibilidade de pensamento é fundamental para o aprendizado da Matemática.
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Período operatório-concreto (7-12 anos)
No período operatório concreto a criança já pode realizar operações mentais que,
no entanto, precisam de referências concretas internalizadas para que aconteçam. Para
fazer as operações matemáticas (somar, subtrair, multiplicar, dividir) precisa inicialmente
de realizá-las com uma referência concreta, em situações que fazem sentido para ela.
Tão importante quanto realizar operações é saber quando utilizá-las. Entender
problemas é uma aprendizagem muito importante, tanto quanto solucioná-los. Por isso
os problemas devem contemplar situações do cotidiano e serem passíveis de relação
com situações concretas. Por exemplo: se o problema se refere a operações com objetos
ou pessoas, desenhá-los ou representar as quantidades graficamente auxilia a criança
na resolução da tarefa.
Diferentes formas de resolver problemas podem aparecer. É importante que o
professor tente entender o raciocínio da criança. Ao invés de exigir que ele pense como
você, socialize as diferentes formas de solucionar problemas que aparecer.
Nesse período a criança já conserva quantidades. Uma criança de 7 anos entende que
a metade de um chiclete não terá mais que a outra metade se eu esticá-la. Diferenças
perceptivas não são mais o bastante para confundir seu raciocínio.
Nesta fase começa a entender o ponto de vista do outro. Todavia, o ambiente
deve oportunizar situações para que isso aconteça. Participação em jogos cooperativos
é mais aconselhável do que jogos altamente competitivos. Gosta dos jogos com regras
e considera importante o respeito a elas. É curiosa em relação ao mundo (e essa
curiosidade deve ser incentivada!).
Busca entendê-lo assim como aspessoas. É capaz de estabelecer relações de
amizade duradouras. Gosta de conversar e presta atenção nas outras pessoas.
É capaz de pensamento reversível, de entender e verbalizar a situação contrária: “se eu
não estudar, não vou conseguir tirar boa nota. Então,” vou estudar e, assim, me dar bem!”
Entende que a adição é o contrário da subtração por exemplo. Consegue partir de um
raciocínio e voltar a ele sem perder “o fio da meada”.
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O ambiente escolar, neste período, deve ser desafiador e propiciar ocontato com
as novidades que possibilitarão à criança agir em busca de respostas.
O professor deve mostrar ao aluno o que ele sabe e aonde pode chegar,
planejando com ele. Esse movimento dá segurança e melhora a auto-estima. A
comparação entre os pares deve ser feita com cuidado.
Entender o período em que a criança se encontra auxilia o educador aorganizar o
ambiente que proporcione diversas interações e o seu desenvolvimento.
Período operatório-formal (12 anos em diante)
Nesta etapa o raciocínio hipotético-dedutivo é construído. O raciocínio hipotético-
dedutivo é aquele que trabalha com hipóteses e faz deduções. O adolescente é capaz
de formular essas hipóteses e pensar sobre elas sem a ajuda da referência concreta.
Faz planos e os executa, sendo capaz de avaliar os resultados e replanejar. Na
matemática, por exemplo, é capaz de trabalhar com equações e outras operações que
não têm relação direta com algo que possa ser representado concretamente.
Antecipa conseqüências e as analisa e seu pensamento torna-se livre das
limitações da realidade concreta.
É capaz de abstrair conceitos, entender doutrinas filosóficas, teorias científicas e
dogmas religiosos. Consegue entender a religião, por exemplo, sem precisar ver e sentir
nada. Tudo agora é possível em seu pensamento. Esse é o raciocínio que temos quando
adultos.
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PRATICANDO!!
Exercício: Observe seus alunos. Proponha um problema do cotidiano da sala
e analise com eles formas de resolvê-los. Observe como eles se comportam diante de
desafios. Depois descreva:
- Problema escolhido: _________________________________________
- Possíveis soluções apontadas por eles: __________________________
- Facilidade de consenso? ( ) SIM Porque: ______________________
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Em relação ao desenvolvimento sócio-moral, Piaget acredita que
“a moral infantil esclarece, de certo modo, a do adulto. Portanto, nada é mais útil
para formar os homens do que conhecer essas leis de formação” (Piaget, 1932/94,
p. 22).
Para esse autor, os jogos infantis são “admiráveis instituições sociais” que
possibilitam o contato com um código complexo de regras e com toda uma jurisprudência
e, exatamente por isso, apóia sua pesquisa na análise, principalmente, do jogo de
bolinhas de gude.
Piaget define a moral como “um sistema de regras” e afirma que a essência de
toda moralidade está no respeito que os indivíduos adquirem por essas regras. A
pergunta da pesquisa piagetiana não é por que, mas como a consciência chega a
adquirir esse respeito. Em sua pesquisa, Piaget descobriu que a relação do sujeito com
as regras do jogo se divide em dois fenômenos: a prática das regras e a consciência das
regras. A consciência das regras está quase sempre atrasada em relação à prática das
regras. Primeiro a criança age, para depois compreender as razões de suas ações. Para
Piaget, primeiro a criança pratica a construção das regras, aplica-as, testa-as e as muda
no grupo. Cria novas regras para, só depois, descobrir que elas não são sagradas,
imutáveis e eternas. Por isso crianças pequenas têm dificuldades para emprestar coisas
para outras crianças, pois,” se é meu, É MEU! E não tenho que emprestar.”
Os estágios referentes à prática e à consciência das regras:
Anomia (0-5 anos): a criança não tem consciência das regras e o seu agir é
direcionado para a satisfação de impulsos motores ou de suas fantasias, estando
ausente a preocupação com regras coletivas e com as atividades em grupo. Quando
joga, seu jogo é voltado para sua satisfação motora como, por exemplo, colocar
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bolinhas de gude nos buraquinhos do sofá ou colocar potes menores dentro de potes
menores.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Heteronomia (6-9 anos): a criança já percebe a existência de regras e aparece o
interesse em participar de atividades coletivas. As regras, no entanto, são vistas pela
criança como algo sagrado e imutável, dadas por uma entidade divina ou pela tradição
e nunca como produto de um contrato. Piaget chama a heteronomia de “moral do dever”,
pois aqui as crianças obedecem às regras por dever a um adulto ou a algo superior, mas
não porque têm consciência do que elas significam. A prática das regras é imitativa, ou
seja, a criança obedece determinadas regras seguindo os modelos oferecidos pelos
adultos ou companheiros mais velhos, porém as adaptam segundo o seu egocentrismo.
Nessa fase as crianças apresentam-se como juízes rígidos e absolutos em seus
julgamentos, sugerindo punições graves para aqueles que cometeram alguma falta com
grande prejuízo material, sem considerar a intenção dos envolvidos.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Autonomia (10/11 anos em diante): apresenta características exatamente
opostas à da heteronomia. A criança percebe-se como legisladora e entende que as
regras derivam de um acordo mútuo entre as pessoas. Essa fase corresponde à visão
do adulto (como possibilidade e não como fato). Nela, o sujeito sabe que há regras para
se viver em sociedade, mas essas regras e o respeito a elas partem do seu interior; o
sujeito autônomo é aquele que, olhando para si, enxerga também o outro, ou seja,
descartam-se ideais egocêntricos e triunfam leis universais. A partir daqui, as crianças
mais velhas adquirem a possibilidade de julgar os atos alheios por responsabilidade
subjetiva, ou seja, de levar em conta as intenções de quem cometeu algum delito. Agora,
o pedido de desculpas por algo cometido começa a fazer sentido.
Realmente, as crianças conseguem, colocam-se umas no lugar das outras e percebem
que algo pode ter acontecido “sem querer”.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO!!
Apresente um jogo aos seus alunos, mesmo que eles já o conheçam. Proponha
que criem novas regras, pelo menos mais uma. Solicite que pensem em
conseqüências para quem não cumpri-las. Depois relate aqui como se deu esse
processo.
Vygotsky (1896-1934) é um interacionista, assim como Piaget. Contudo,
enquanto este enfatiza o desenvolvimento das estruturas cognitivas como os requisitos
funfamentais para a aprendizagem, Vygotsky destaca a influência do meio ambiente, da
história, da cultura e da sociedade como elementos mediadores por meio dos quais
ocorre sua aprendizagem.
Foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura
torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são
um produto de atividade cerebral. Conseguiu explicar a transformação dos processos
psicológicos elementares em processos complexos dentro da história.
Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no
desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela
interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire
conhecimentos a partir de relações intra einterpessoais e de troca com o meio, a partir
de um processo denominado mediação.
34
Para Vygotsky, a medida que o indivíduo se relaciona com o ambiente é que ele
vai aprendendo, modificando seu comportamento e orientando o desenvolvimento do
pensamento.
Este processo leva a transformação das funções psicológicas elementares
superiores através da linguagem, que desde o nascimento reflete como a criança
percebe o mundo, permite a comunicação, organiza a conduta, expressa o pensamento
e ressalta a importância dos fatores culturais nas relações sociais.
Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o
psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de
socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida
em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela
aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar.
.
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie
para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas
que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se
desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para percorrer
sozinha o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens
mediante as experiências a que foi exposta.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser pensante,
capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo
a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de
ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos.
35
PARA REFLETIR!!
Vigotsky fala que juntos, pensamento e linguagem, criam
condições para o desenvolvimento do pensamento
lingüístico e da fala intelectual. Por isso é necessário que
a criança tenha contato com pessoas mais experientes para adquirir e
ampliar a linguagem e possibilitar que ela interprete situações ou fatos a
partir da sua própria existência. Fazendo esse caminho, o sujeito aprende a
resolver seus conflitos.
Se o desenvolvimento depende do social, só podemos concluir que na teoria
Histórico-Cultural de Vygotsky, a aprendizagem é promotora do
desenvolvimento, porque o social é o espaço da aprendizagem.
Desenvolvimento Real e Desenvolvimento Potencial
Vygotsky observa que a criança apresenta em seu processo de desenvolvimento
um nível que ele chamou de real e outro de potencial. O nível de desenvolvimento real
refere-se a etapas já alcançadas pela criança, isto é, as coisas que ela já consegue fazer
sozinha, sem ajuda de outras pessoas. Já o nível de desenvolvimento potencial diz
respeito à capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outros. Há atividades que
a criança não é capaz de realizar sozinha, mas poderá conseguir caso alguém lhe dê
explicações, demonstrando como fazer.
Essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência
da outra é fundamental em Vygotsky. Para ele, a zona de desenvolvimento proximal ou
potencial, consiste na distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de
desenvolvimento potencial. Cabe à escola ou a unidade de educação infantil, fazer a
criança avançar na sua compreensão do mundo a partir do desenvolvimento já
consolidado, tendo como metas posteriores, ainda não alcançadas, provocando avanços
que não ocorreriam espontaneamente.
36
É assim que as crianças, possuindo habilidades parciais, as desenvolvem com a
ajuda de parceiros mais habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem de
parciais a totais. Temos que trabalhar, portanto, com a estimativa das potencialidades
da criança, potencialidades estas que, para tornarem-se desenvolvimento efetivo,
exigem que o processo de aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam
distribuídas em um ambiente adequado (Vasconcellos e Valsiner, 1995).
Temos portanto uma interação entre desenvolvimento e aprendizagem, que se dá
da seguinte maneira: em um contexto cultural, com aparato biológico básico interagir, o
indivíduo se desenvolve movido por mecanismos de aprendizagem provocados por
mediadores.
Para Vygotsky, o processo de aprendizagem deve ser olhado por uma ótica
prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas sim o que ela
está aprendendo. Em nossas práticas pedagógicas, sempre procuramos prever em que
tal ou qual aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento em que
é ministrado, mas para além dele.
É um processo de transformação constante na trajetória das crianças. As
implicações desta relação entre ensino e aprendizagem para o ensino escolar estão no
fato de que este ensino deve se concentrar no que a criança está aprendendo, e não no
que já aprendeu. Vygotksy firma está hipótese no seu conceito de zona de
desenvolvimento proximal (ZDP)
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Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Vygotsky enfatiza a importância do brinquedo e da brincadeira de faz-de-conta
para o desenvolvimento infantil. Por exemplo, quando a criança coloca várias cadeiras
uma atrás da outra dizendo tratar-se de um trem, percebe-se que ela já é capaz de
simbolizar, pois as cadeiras enfileiradas representam uma realidade ausente, ajudando
a criança a separar ¨objeto¨ de ¨significado¨. Tal capacidade representa um passo
importante para o desenvolvimento do pensamento, pois faz com que a criança se
desvincule das situações concretas e imediatas sendo capaz de abstrair.
PRATICANDO!!
Na perspectiva de que é através das interações que o ser humano se desenvolve,
registre como as interações adulto/criança criam condições para a criança
desenvolver-se. E, como atuariam as interações criança/criança no mesmo
processo?
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
38
Henri Wallon (1879-1962), médico francês, desenvolveu vários estudos na área
da neurologia, enfatizando a plasticidade do cérebro. Wallon propôs o estudo integrado
do desenvolvimento infantil, contemplando os aspectos da afetividade, da motricidade e
da inteligência. Para ele, o desenvolvimento da inteligência depende das experiências
oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito faz delas. Neste sentido, os
aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem, bem como os
conhecimentos presentes cultura contribuem efetivamente para formar o contexto de
desenvolvimento.
Wallon assinala que o desenvolvimento se dá de forma descontínua, sendo
marcado por rupturas e retrocessos, onde existe uma reformulação nos estágios
anteriores. Assim sendo, ele conseguiu definir cinco estágios de desenvolvimento,
afirmando que a pessoa se desenvolve num processo de constante transformação.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO
Estágio impulsivo-emocional (1º ano de vida): nesta fase predominam nas
crianças as relações emocionais com o ambiente. Nesta fase vão se desenvolvendo as
condições sensório-motores, a construção do sujeito.
Estágio sensório-motor (1 a 3 anos): ocorre nesse período uma intensa
exploração do mundo físico, a criança desenvolve a inteligência prática e a capacidade
de simbolizar.
Personalismo (3 a 6 anos): nesta fase ocorre a construção da consciência de si,
através das interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as pessoas,
predominando as relações afetivas.
Estágio categorial (6 a 12 anos): a criança dirige seu interesse para o
conhecimento e a conquista do mundo exterior, em função do progresso intelectual queconseguiu conquistar.
Predominância funcional (12 anos em diante): esta fase da adolescência
apresenta predomínio da afetividade, os hormônios provocam mudanças no esquema
corporal, levando a uma mudança na percepção de si mesmo.
ATENÇÃO!!
Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá
linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se, no momento da
passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.
40
O estudo dos estágios em Wallon permite apontar que a criança extrai suas
vivências principalmente do contato com outras pessoas, adultos ou crianças. Se os que
a rodeiam a tratam com carinho, reconhecem seus direitos e se mostram atenciosos, a
criança experimenta um bem-estar emocional, um sentimento de segurança, de estar
protegida.
Assim, para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado dentro
do ambiente social, é necessário que haja um estabelecimento de relações interpessoais
positivas, como aceitação e apoio, possibilitando o sucesso dos objetivos educativos.
Obviamente, isso não significa fazer “vistas grossas” com relação aos erros da criança,
pois a advertência segura e equilibrada é justamente uma manifestação importante da
afetividade.
Wallon também acredita que a construção do “EU” é essencialmente dialética, o
que explica que ela continua em movimentos constantes e contraditórios, durante toda a
existência humana, pois a criança é diferente, cognitiva e afetivamente falando, em cada
fase do seu desenvolvimento.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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PRATICANDO!!
Indique em que estágio de desenvolvimento está o seu grupo de crianças.As
características desse estágio correspondem ás características das crianças?
Sigmund Freud( 1856-1939) formou-se em medicina, especializando-se em
neurologia, o que o levou a pesquisar a psique humana,culminando na criação da
psicanálise.
Uma das grandesdescobertas realizadas por Freud foi a do INCONSCIENTE. O
ser humano édeterminado por processos que desconhece e, esses processos, fazem
parte doinconsciente.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Freud deu ênfase ao desenvolvimento sexual infanti. Para ele, a sexualidade é
central no processo de transformação do ser humano. É por meio da vivência do prazer
e do desprazer e da curiosidade sexual, que vamos nos constituindo como pessoas.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Para ele, a transformação da sexualidade acontece em cinco fases:
1º ano - Fase Oral: Prazer derivado dos lábios e da boca: sugar, comer, chupar
odedo. Mais tarde, com a erupção dos dentes, prazer de morder.
2º ano - Fase Anal: Prazer derivado da retenção e expulsão das fezes e também
do controle muscular. Treino dos esfíncteres.
3º - 5º anos - Fase Fálica: Prazer derivado da estimulação genital e fantasia
associadas.Complexo de Édipo: interesse sexual do menino pela mãe e da
menina pelo pai.Identificação com o pai do mesmo sexo.
6º - 12º anos - Fase de Latência: Com a repressão temporária dos interesses
sexuais, o prazer derivado mundo externo, da curiosidade, do conhecimento,
como gratificações substitutas.Desenvolvimento dos mecanismos de defesa.
12º até Idade adulta - Fase Genital: Prazer derivado das relações sexuais.
Maturidade sexual, intimidade.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Conhecer como a libido se desenvolve auxilia o professor a entender e lidar com
as manifestações da sexualidade de seus alunos nos espaços educativos, evitando
preconceitos e estigmas.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Apesar de Freud defender que educar é uma tarefa impossível, autores como
Kupfer(1992), Almeida(2006) e Lajonquiere(2006), defendem que é possível estabelecer
uma ligação entre educação e psicanálise. Segundo esses autores, Freud defende que
a única educação possível é aquela em que o professor deseja o aprendizado dos
alunos. Sem desejo, não há educação. Portanto os professores devem trabalhar para
que os alunos desejem o conhecimento.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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CAPÍTULO 3 – AS TEORIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO
CAMPO DA EDUCAÇÃO
Piaget, Vygotsky e Wallon tentaram mostrar que a capacidade de conhecer e
aprender se constrói a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio. As teorias
sociointeracionistas concebem, portanto, o desenvolvimento infantil como um processo
dinâmico, pois as crianças não são passivas, meras receptoras das informações à sua
volta. Através do contato com seu próprio corpo, com o ambiente, bem como através da
interação com outras crianças e adultos, as crianças vão desenvolvendo a capacidade
afetiva, a sensibilidade, a auto-estima, o raciocínio, o pensamento e a linguagem.
A articulação entre os diferentes níveis de desenvolvimento (motor, afetivo e
cognitivo) não se dá de forma isolada, mas sim de forma simultânea e integrada.
Embora nem sempre concordantes em seus aspectos, os estudos destes teóricos
tem possibilitado uma nova compreensão do desenvolvimento infantil e influenciado as
ações educativas nos espaços infantis.
No entanto é preciso ter claro que a compreensão de criança e desenvolvimento
que se tinha no final do século passado, obteve inúmeras transformações com o avanço
das áreas da Medicina, Biologia e Psicologia, bem como a Sociologia e a Pedagogia,
produzindo importantes modificações na forma de pensar e agir em relação à criança
pequena.
Para Piaget, o desenvolvimento da inteligência acontece não apenas pelo
acúmulo de informações, mas principalmente por uma reorganização da inteligência, que
se dá pela ação, que poderá ser mental ou efeitva.
45
Essa reorganização se dá por meio dos processos de Adaptação e Equilibração:
• Adaptação siginica evolução e ocorre por meio dos processos:
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
❖ Assimilação: é o processo de se apropriar de um conhecimento mediante
esquemas já existentes, ou seja, o sujeito interpreta o mundo e retira
informações sobre o objeto de conhecimento que consegue compreender.
❖ Acomodação: é o processo de se modificar um esquema como resultado da
aquisição de novas informações, ocorrendo assim a mudança na organização
mental.
❖ Equilibração: este processo é o resultado dos processos de assimilação e
acomodação, é o conhecimento organizado. Estar em equilíbrio significa
construir um conhecimento que faça sentido, assim a criança constrói as
teorias sobre o mundo que a cerca.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
46
SAIBA MAIS
O conceito de equilibração na sala de aula
Apesar de não ter sido concebido num ambiente escolar, o conceito de equilibração ecoa diretamente
na sala de aula. Juan Delval, aluno de Piaget e atualmente professor da Universidade Autônoma de Madri,
na Espanha, explica que a ideia reforça a diferença entre ensino e aprendizagem: aquilo que cada
estudante aprenderá não é exatamente o que o professor verbaliza em sala de aula, nem mesmo o que
ele espera que seja assimilado. "A aprendizagem depende dos conhecimentos anteriores de cada um e
de suas experiências. Para ampliá-la, além de propor situações que desestabilizem os conhecimentos
estabelecidos, é preciso que eles se sintam motivados a realizar um esforço cognitivo para superar o
problema", diz.
O conceitode equilibração também provoca reflexões sobre as formas de ensino mais efetivas, que
possibilitem a todos avançar. Dificilmente um aluno compreenderá que a Terra é redonda, apenas porque
ouviu a professora falar que o planeta se parece como uma laranja (na verdade, se divulgada
isoladamente, a informação pode até entrar em conflito com a experiência intuitiva de que o planeta é
plano, ou levantar questionamentos sobre por que as pessoas na parte de baixo do globo não caem). Ele
pode até decorar a informação, mas ela não será significativa. Para que todos possam avançar, a
pesquisadora argentina Delia Lerner defende situações-problema que os levem a investigar, discutir,
refletir, levantar questões e formular hipóteses, assumindo uma postura ativa em seu desenvolvimento.
Esse reconhecimento, porém, não reduz a importância do professor. "Aceitar que as crianças são
intelectualmente ativas não significa supor que o educador é passivo. Pelo contrário, significa assumir
modalidades de trabalho que levem em consideração os mecanismos de construção do conhecimento",
diz Delia no livro Piaget - Vygostky, Novas Contribuições para o Debate.
Trecho de livro
"Em uma perspectiva da equilibração, deve-se procurar nos desequilíbrios uma das fontes de progresso
no desenvolvimento dos conhecimentos, pois só os desequilíbrios obrigam um sujeito a ultrapassar seu
estado atual e procurar seja o que for em direções novas."
Jean Piaget, no livro O Desenvolvimento do Pensamento.
Comentário
De acordo com o ponto de vista de Piaget, as situações que colocam em xeque aquilo que o indivíduo já
sabe são as fontes da evolução das estruturas cognitivas. Sem elas, não haveria o processo de equilibração
("fontes de progresso no desenvolvimento dos conhecimentos"). Entretanto, é importante ressaltar que,
ainda que as situações desestabilizadoras possuam um papel desencadeador (levando a pessoa a refletir
sobre o desafio), para que haja aprendizado, é necessário que o sujeito tenha um papel ativo, tomando
o problema para si e realizando um esforço cognitivo para superá-lo.
FONTE: http://musicalizabrasil.blogspot.com.br/2012/01/pensadores-da-educacao-5-adaptacao-e.html
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LITERATURA SUGERIDA:
Piaget - Vygotsky, Novas Contribuiçõespara o Debate, José Antonio Castorina, Emilia Ferreiro, Delia
Lerner e Marta Kohl de Oliveira, 175 págs., Ed. Ática, tel. 0800-11-5152, 44,90 reais
Psicologia e EpistemologiaGenética de Jean Piaget, ZéliaRamozzi-Chiarottino, 104 págs., Ed.
Pedagógica e Universitária, tel. (11) 3168-6077, 47 reais.
Link Original: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao-
equilibracao-626714.shtml?page=0
Implicações do pensamento piagetiano para a aprendizagem
Os objetivos pedagógicos necessitam estar centrados no aluno, partir das
atividades do aluno. Os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas
como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural.
• A aprendizagem é um processo construído internamente.
• A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito.
• A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva.
• Os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da aprendizagem.
• A interação social favorece a aprendizagem.
• As experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de modo a
privilegiarem a colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos de vista na
busca conjunta do conhecimento.
Piaget não aponta respostas sobre o que e como ensinar, mas permite
compreender como a criança e o adolescente aprendem, fornecendo um referencial para
a identificação das possibilidades e limitações de crianças e adolescentes. Desta
maneira, oferece ao professor uma atitude de respeito às condições intelectuais do aluno
e um modo de interpretar suas condutas verbais e não verbais para poder trabalhar
melhor com elas.
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao-equilibracao-626714.shtml?page=0
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao-equilibracao-626714.shtml?page=0
48
Como afirma Kamii, seguidora de Piaget,
"A essência da autonomia é queas crianças se tornam capazes de tomar decisões
por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa.
Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir
qual deve ser o melhor caminho da ação. Não pode haver moralidade quando
alguém considera somente o seu ponto de vista. Se também consideramos o
ponto de vista das outras pessoas, veremos que não somos livres para mentir,
quebrar promessas ou agir irrefletidamente"(1990, p.33)
Pensar a criança e a educação infantil na atualidade, conforme afirma
Oliveira(2007), passa necessariamente pelo reconhecimento histórico que a educação
infantil está em processo de reconstrução. Muitos são os desafios e avanços
conquistados.
Reconhecer a criança, como sujeito de direitos requer rompimento com práticas
adultocêntricas ainda presentes nas instituições de educação infantil. Neste sentido,
Oliveira(2012), lança-nos alguns questionamentos:
• Temos o hábito de ouvir as crianças?
• Permitimos às crianças apropriar e produzir cultura?
• Respeitamos a incompletude das crianças e entendemos que justamente
essa incompletude que possibilita a capacidade de renovar e inventar o
possível?
• Emprestamos nossos olhos para que as crianças possam construir
conhecimentos?
Responder a esses questionamentos requer repensar as concepções de crianças
e as teorias de desenvolvimento presentes em nosso cotidiano. O termo infância está
carregado de sentidos e significados históricos.
O conceito de infância não é recente, estudos do século XVIII já sinalizavam
preocupação em compreendera criança de forma analítica. Foi a partir de estudos da
psicologia e psicolingüística que a criança passou a ser reconhecida com uma nova
identidade, como um membro ativo que interage com o outro e com o mundo a sua volta.
49
Uma pessoa complexa que constrói sua identidade e cuja aprendizagem e
desenvolvimento vinculam-se à dimensão social, cognitiva, motora, afetiva, estética e
ética.
Neste contexto, cabe às instituições de educação infantil garantir esses direitos,
se constituindo como um espaço privilegiado para as crianças formarem grupos.
Segundo Wallon, os grupos são contituídos a partir de objetivos comuns,
temporários ou duradouros, podendo mudar de acordo com a idade, com aptidões
físicas, intelectuais e sociais. Nessa perspectiva, é necessário que os espaços
educativos favoreçam a formação desses grupos, onde possam interagir entre seus
pares e também com os adultos.
A teoria wallonianaressalta o grupo como um veículo ou iniciador das práticas
sociais. Ao entrar em contato com grupos variados, as crianças vão tomando consciência
de suas próprias capacidades, de seus sentimentos e dos outros, tornando-se indivíduos
mais livres nas suas interações e ampliando suas formas de relacionar-se com o outro,
suas aprendizagens e personalidade, ou seja, a interação social é a principal ferramenta
que permite a aprendizagem.
A escola ou os espaços de educação infantil devem trabalhar para a formação do
sujeito completo, superando as dicotomias e entendendo que, a criança e o adolescente
são pessoas completas.
Pensando nisso, Wallon deixa claro que sua contribuição para a educação é a
possibilidade de olhar e entender que a criança, precisa saber conteúdos, mas que
também precisa do movimento e das emoções para aprender conteúdos.
Partindo desse princípio, que a educação não deve se fixar apenas nos
conteúdos, a maneira como esses conteúdos são trabalhados, também devem ser
variados. É preciso que o espaço da sala de aula, ou das unidades de educação
infantilsejam amplos, para que as crianças possam se movimentar. Os móveis devem
estar organizadosde forma que elas possam interagir; os objetos ao alcance, utilizando
diversas dinâmicas de trabalho, em grupos, duplas, etc.. Além disso, o tempo e a rotina
50
devem ser organizados para que se tenha momentos de produção coletiva, mas também
de produções individuais.
Vygotsky estabele uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem, atribuindo-
lhe uma grande importância, pois, o jogo gera zona de desenvolvimento proximal, que
ele define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança, ou seja, o que ela
é capaz de realizar sozinha e o desenvolvimento potencial, onde ela consegue realizar
com ajuda. Dessa forma, Vygotsky (1988), construiu uma teoria que defende que o
aprendizado gera desenvolvimento, por isso os educadores não devem se ater apenas
nas habilidades já conquistadas pelas crianças, mas devem trabalhar para que elas
possam ir além do contexto atual.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Segundo Pino (2005), para Vigotski, a originalidade do desenvolvimento da
criança reside no fato de que as funções naturais, regidas por mecanismos biológicos, e
as funções culturais, regidas por leis históricas, fundem-se entre si, constituindo um
sistema mais complexo. De um lado, as funções biológicas transformam-se sob a ação
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
51
das funções culturais e, de outro lado, as funções de natureza culturais têm nas funções
biológicas o suporte de que precisam para constituir-se.
Em condições normais de desenvolvimento biológico, as funções culturais vão se
constituindo seguindo um ritmo até mesmo previsível.Desse modo, o desenvolvimento
ocorre do social para o individual, em dois planos diferentes, embora intrinsecamente
relacionados. Suas etapas passam a ser compreendidas levando em conta os aspectos
histórico-sociais e o lugar singular onde as pessoas se encontram. Perceber o
desenvolvimento dessa forma nos permite refletir sobre as diferenças referentes ao ritmo
do desenvolvimento e da aprendizagem perante a diversidade so-cial, cultural e
econômica dos sujeitos. O desenvolvimento orgânico é regido por forças naturais e o
desenvolvimento cultural, que define a especificidade humana, emerge da progressiva
inserção da criança nas práticas sociais do seu meio cultural com auxílio da mediação
do outro (Pino, 2005).
Considera-se, nessa perspectiva, que o sujeito, ao nascer, ainda não está “pronto”
e que o mesmo será aquilo em que se transformará a partir de suas interações sociais
nos mais diversos contextos. Assim, é possível compreender que a aprendizagem
precede o desenvolvimento.
Nesse aspecto, pontuamos o papel primordial do educador como mediador, uma
vez que, ao interagir com o educando, o auxilia a internalizar, paulatinamente, o que vai
sendo construído nessa relação. Essa perspectiva confere, portanto, grande importância
ao papel da escola e da mediação do professor possibilitada pela linguagem. Assim, a
aprendizagem é concebida como um processo de construção compartilhada, uma
construção social, na qual o papel do professor é o de sempre atuar no desenvolvimento
potencial do aluno para levá-lo por meio da aprendizagem a um desenvolvimento real.
Com base em Vigotski, ressaltamos que só a boa aprendizagem promove o
desenvolvimento e que o bom ensino é aquele que apresenta uma orientação
prospectiva, ou seja, dirigida ao que o aluno ainda não é capaz de fazer sozinho, mas já
é capaz de fazer com auxílio deum outro mais experiente. O bom ensino é o que
relaciona os conceitos científicos (conceitos construídos em situação formal de
52
aprendizagem) aos conceitos espontâneos (conceitos construídos em situações
cotidianas, não-sistematizadas) e auxilia o educando a internalizar os conceitos
científicos em um movimento espiralado, no qual vai aprendendo novos conceitos e, por
conseguinte, se desenvolvendo.
Vigotski (1991) apresenta o fato de que as crianças iniciam seu aprendizado antes
mesmo de entrarem para a escola, justamente o aprendizado dos conceitos
espontâneos. Sendo assim, qualquer situação de aprendizado apresenta uma história
prévia e, consequentemente, as crianças já possuem suas primeiras hipóteses sobre os
conteúdos a serem trabalhados, as quais só não podem ser percebidas pelos “psicólogos
e professores míopes”. Dessa forma, para Vigotski, o aprendizado e o desenvolvimento
estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida dos sujeitos.
Vigotski anunciou em “Educational Psychology” que “o pré-requisito fundamental
da pedagogia exige, inevitavelmente, um elemento de individualização, isto é, uma
determinação consciente e rigorosa das metas individualizadas da educação para cada
aluno” (Vygotsky, 1997b apud Daniels, 2003, p. 113), ponto que sugere a importância de
uma atitude de responsividade frente à diversidade permeando as práticas pedagógicas,
em vez da imposição da mesmice na aprendizagem e no desenvolvimento.
Podemos encontrar nos textos de VYGOTSKY a idéia de que existe um processo
de maturação do organismo e tomando o funcionamento intelectual como
essencialmente sócio-histórico, VYGOTSKY (1984) coloca a aprendizagem como "um
aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções
psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas". Isto é, existe, sim,
um percurso de desenvolvimento intelectual, mas é a aprendizagem que possibilita o
despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do
indivíduo com um certo ambiente cultural, não ocorreriam.
Desempenhos cognitivos que um indivíduo é capaz de ter, numa certa fase de
seu desenvolvimento, quando tutorado ou instruído por alguém, não ocorreriam
53
autonomamente. É como se o auxílio externo fosse um dos motores do desenvolvimento,
provocando processos internos que ainda vão amadurecer em capacidade de
desempenho independente. Essa concepção atrela o processo de desenvolvimento à
relação do indivíduo com o ambiente sócio-cultural em que vive e com sua situação de
organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de
sua espécie.
A implicação dessa proposta de VYGOTSKY para o ensino escolar é imediata.
Se a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, por um lado a escola tem um papel
essencial na construção do intelecto adulto dos indivíduos que vivem em sociedades
escolarizadas. Por outro lado, o desempenho desse papel só se dá adequadamente na
medida em que, conhecendo a situação de desenvolvimento cognitivo dos alunos, a
escola dirige o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios
de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando realmente como
um motor de novas conquistas intelectuais. É nesse sentido que cabe a afirmação de
que "o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento".
Os processos mentais superiores que caracterizam o pensamento tipicamente
humano são processos mediados por sistemas simbólicos. Isto é, operamos
mentalmente com representações dos objetos, eventos e situações do mundo real,
sendo capazes de manipular as representações na ausência das coisas representadas.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Essa capacidade de representação simbólica liberta o homem da necessidade de
interação concreta com os objetos de seu pensamento, permitindo que ele pense sobre
coisas passadas ou futuras, inexistentes ou ausentes do espaço onde ele se encontra,
sobre planos, projetos e intenções.
A partir de sua experiência com o mundo objetivo e do contato com as formas
culturalmente determinadas de ordenação e designação das categorias da experiência,
o indivíduo vai entãoconstruindo sua estrutura conceituai, seu universo de significados.
Esse é um processo que ocorre ao longo do desenvolvimento intelectual da criança e do
adolescente e persiste na vida adulta - o indivíduo está sempre adquirindo novos
conceitos, incorporando novas nuançes de significado a eles e reordenando as relações
entre os conceitos disponíveis.
A cada momento da vida do indivíduo ele disporá, então, de uma certa estrutura
conceitual, a qual é uma espécie de rede de conceitos interligados por relações de
semelhança. Essa rede de conceitos representa, ao mesmo tempo, o conhecimento que
ele acumulou sobre as coisas e o filtro através do qual ele é capaz de interpretar os fatos,
eventos e situações com que se depara no mundo objetivo.
A principal dedicação de Vygotsky foi o estudo das funções psicológicas
superiores ou processos mentais superiores (pensar em objetos ausentes, imaginar
eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores,
etc.). Vamos à eles:
O uso de signos.
A utilização de signos como auxiliares no tocante a solução de problemas
psicológicos (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc.) pode ser comparada à
utilização de instrumentos, só que no plano psicológico. O signo age como um
instrumento da atividade da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um
instrumento no trabalho. Uma das grandes diferenças entre eles, no entanto, decorre do
fato de que os instrumentos são elementos externos ao indivíduo e a sua função é
55
modificar e controlar os processos da natureza, enquanto os signos são orientados para
o próprio sujeito e tem por função o controle de ações psicológicas, seja do próprio
indivíduo, seja de outras pessoas.
Os sistemas simbólicos e o processo de internalização.
O uso de instrumentos sofre duas mudanças qualitativas fundamentais: por um
lado, a utilização de marcas externas vai se transformar em processos internos de
mediação; esse mecanismo é chamado, por Vygotsky, de processos de internalização;
por outro lado, são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em
estruturas complexas e articuladas. Ao longo do processo de desenvolvimento, o
indivíduo deixa de necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos, isto
é, representações mentais que substituem os objetos do mundo real.
Os signos ou instrumentos se constituem em elementos essenciais na formação e no
funcionamento da consciência. Sobre o caráter do instrumento, escreve Leontiev (2004),
O instrumento não é para o homem um simples objeto de forma exterior
determinada e possuindo propriedades mecânicas definidas; ele manifesta-se-lhe
como um objeto no qual se gravam modos de ação, operações de trabalho
socialmente elaborados. Por tal motivo, a relação adequada do homem ao
instrumento traduz-se antes de tudo, no fato do homem se aproximar, na prática
ou em teoria, isto é, (apenas na sua significação) das operações fixadas no
instrumento, desenvolvendo assim suas capacidades humanas. (p.180).
Quando trabalhamos com os processos que caracterizam o funcionamento
psicológico tipicamente humano, as representações mentais da realidade exterior são,
na verdade, os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com
o mundo.
Os sistemas de representação da realidade – e, a linguagem é o sistema simbólico
básico de todos os grupos humanos – são socialmente dados. É o grupo cultural onde o
indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais
vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o
mundo.
56
A vida humana, entretanto, está impregnada de significações e a influência do
mundo social se dá por meio de processos que ocorrem em diversos níveis. A interação
de indivíduos possibilita a interiorização das formas culturalmente estabelecidas de
funcionamento psicológico. Por isso, o intercâmbio social fornece a matéria-prima para
o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
As conclusões dos estudos da psicologia do desenvolvimento acerca da
construção da inteligência, da linguagem e do conhecimento pelas crianças, observadas
em idade cada vez mais precoce, tem sido assimiladas pelas instituições de educação
infantil. Muitas destas estão preocupadas com a construção de uma proposta
pedagógica, que julgam progressista, orientada primordialmente para o desenvolvimento
cognitivo. Este, no entanto, é por elas entendido de modo muito restrito, igorando-se, por
exemplo, a função do afeto nesse processo. Além disso, o desenvolvimento do raciocínio
lógico e a construção de conceitos científicos são, muitas vezes, eleitos como metas de
trabalho pedagógico com os pequenos, antecipando características do ensino
fundamental tradicionalmente organizado.
A instituição de educação infantil pode atuar como agente de transmissão de
conhecimentos elaborados pelo conjunto das relações sociais presentes em
determinado momento histórico. Porém, isso deve ser feito na vivência cotidiana com
parceiros significativos, quando modos de expressar sentimentos em situações
particulares, de recordar, de interpretar uma história, de compreender um fenômeno da
natureza transmitem à criança novas maneiras de ler o mundo e a si mesma. Ela
consegue assimilar esses conhecimentos porque eles fazem sentido para aqueles que
com ela convivem e que, pelo uso que fazem dessas relações culturais. Tais
aprendizagens promovem o desenvolvimento das funções psicológicas das crianças.
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SINTETIZANDO!!
❖ No campo da psicologia, uma série de autores oferecia novas formas de
compreender e promover o desenvolvimento das crianças pequenas.
Vygotsky, na década de 20 e 30, atestava que a criança é introduzida na
cultura por parceiros mais experientes.
❖ Ainda na primeira metade do século XX, Wallon destacava o valor
afetividade na diferenciação que cada criança aprende a fazer entre si
mesma e os outros. Os psicanalistas reconheciam que o comportamento
infantil deveria ser interpretado, e não meramente aceito em seus aspectos
observáveis.
❖ Finalmente, as pesquisas de Piaget e colaboradores que revolucionaram a
idéia dominante sobre a criança. Essas concepções foram sendo
gradadtivamente apropriadas pelas teorias pedagógicas e tornaram-se
alvo de especial atenção na educação infantil.
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PRATICANDO!!
De que forma as concepções de desenvolvimento podem auxiliar o educador na
confecção de seu planejamento?
E a nível de instituição de ensino, como podem colaborar para elaboração de um
Projeto Político Pedagógico?
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CAPÍTULO 4 - O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM,
MOTRICIDADE E COGNIÇÃO
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
O indivíduo vive imerso em um espaço em que tanto ele quanto os objetos que o
rodeiam formam um conjunto de relações que se estruturam com grande complexidade;
daí a necessidade de percebê-las, reconhecê-las e representá-las mentalmente.
O desenvolvimento dele dar-se-á pela apropriação da linguagens e de formas
cognitivas mais complexas existentes em seu entorno cultural, a qual ocorre nos
inúmeros momentos em que ele estabelece e precebe relações com elementos de sua
cultura.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Pensamento e Linguagem
A principal função da linguagem, de acordo com Vygotsky, é a de intercâmbio
social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os
sistemas de linguagem. Tal intercâmbio necessita, para que seja possível uma
comunicação mais sofisticada, da segunda função da linguagem: o pensamento
generalizante. Este consiste nos signos, os quais simplificam e generalizam a
experiência vivida, o que permite que ela sejatransmitida a outros.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
O pensamento e a linguagem têm origens diferentes e desenvolvem-se segundo
trajetórias diferentes e independentes, antes que ocorra a estreita ligação entre esses
dois fenômenos. Antes de o pensamento e a linguagem se associarem, existe, também,
na criança pequena, uma fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e uma
fase pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem. Antes de dominar a linguagem, a
criança demonstra capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e
meios indiretos para conseguir determinados objetivos.
Pensamento e linguagem seguem suas trajetórias até que, em determinado
momento do desenvolvimento, seus caminhos se unem surgindo, então, o pensamento
verbal e a linguagem racional, o ser humano passa a ter a possibilidade de um modo de
funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelo sistema simbólico da
linguagem.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Considerando a linguagem verbal ou a palavra um aspecto instrumentalizador do
desenvolvimento do pensamento, Vigotski (1991) destaca que o pensamento e a palavra
não se encontram ligados por um elo primário, mas ao longo da evolução destas funções
psíquicas, ocorre uma conexão entre ambas, que posteriormente se modifica e se
desenvolve. Nas palavras do autor,
Segundo demonstram as investigações, não somente a linguagem se desenvolve
inicialmente independentemente do pensamento, mas também o pensamento se
desenvolve com independência da linguagem [...] Em um certo momento, estas
linhas – o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento do pensamento -,
que têm seguido diferentes caminhos, parece que se encontram, se cruzam e é,
então, quando se interceptam mutuamente. A linguagem se intelectualiza, se une
ao pensamento e o pensamento se verbaliza, se une à linguagem. (VIGOTSKI,
1991, p.172)
O significado das palavras.
O significado é um componente essencial da palavra e é, ao mesmo tempo, um
ato de pensamento, pois o significado de uma palavra já é, em si, uma generalização.
Isto é, no significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento
verbal.
É no significado que se encontra a unidade das duas funções básicas da
linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que
vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no
“filtro” através do qual o indivíduo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele.
Como os significados são construídos ao longo da história dos grupos humanos,
com base nas relações dos homens com o mundo físico e social em que vivem, eles
estão em constante transformação. A idéia da transformação dos significados das
palavras está relacionada a um outro aspecto da questão do significado. Vygotsky
distingue dois componentes do significado da palavra: o significado, propriamente dito,e
o “sentido”. O significado propriamente dito refere-se ao sistema de relações objetivas
62
que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, consistindo num núcleo
relativamente estável de compreensão da palavra, compartilhado por todas as pessoas
que a utilizam. O sentido, por sua vez, refere-se ao significado da palavra para cada
indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às
vivências afetivas do indivíduo.
Discurso interior e a fala egocêntrica.
O uso da linguagem como instrumento de pensamento supõe um processo de
internalização da linguagem. Isto é, não é apenas por falar com as outras pessoas que
o indivíduo dá um salto qualitativo para o pensamento verbal. Ele também desenvolve
gradualmente, o chamado “discurso interior”, que é uma forma interna de linguagem,
dirigida ao próprio sujeito e não a um interlocutor externo. É um discurso sem
vocalização, voltado para o pensamento, com a função de auxiliar o indivíduo nas suas
operações psicológicas. O percurso é da atividade social, interpsíquica; para a atividade
individualizada, intrapsíquica. A criança primeiramente utiliza a fala socializada, com a
função de comunicar, de manter um contato social. Com o desenvolvimento é que ela
passa a ser capaz de utilizar a linguagem como instrumento de pensamento, com a
função de adaptação pessoal. Isto é, a internalização do discurso é um processo gradual,
que se completará em fase mais avançadas da aquisição da linguagem.
No estudo da transição entre o discurso socializado e o discurso interior, Vygotsky
recorre à “fala egocêntrica” como um fenômeno relevante para compreensão dessa
transição.
A criança nasce em um mundo onde estão presentes sistemas simbólicos
diversos socialmente elaborados, particularmente o sistema lingüístico. Este perpassa
63
as atividades produzidas no ambiente humano em que a criança se desenvolve e
permite-lhe apropriar-se da experiência das gerações precedentes.
A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma característica específica da
espécie humana e supõe um equipamento anatômico e neurofisiológico adaptado,
particularmente órgãos periféricos e sistema nervoso central apropriados e em adequado
estado de funcionamento. Contudo, a aquisição de linguagem é um processo sócio-
histórico.
A apropriação da linguagem – em suas diversas expressões – e das riquezas
materiais e intelectuais, produzidas histórica e culturalmente, caracteriza um dos
fundamentos da natureza cultural e histórica do psiquismo humano. Escreve Leontiev
(1995),
A linguagem é aquilo através do qual se generaliza e se transmite a experiência
da prática sócio-histórica da humanidade; por conseqüência, é igualmente um
meio de comunicação, a condição da apropriação dos indivíduos desta
experiência e a forma da sua existência na consciência [...] o processo ontogênico
de formação do psiquismo humano não é criado pela ação dos excitantes verbais
em si mesmo; é o resultado do processo específico de apropriação [...] o qual é
determinado por todas as circunstâncias do desenvolvimento da vida dos
indivíduos na sociedade. (p. 184)
A formação de neurônios e sua migração para regiões apropriadas do cérebro são
efetuadas quase que inteiramente durante o período de desenvolvimento pré-natal.
Entretanto, as fases neurais da linguagem não se restringem definitivamente ao
momento do nascimento. O córtex cerebral é dotado de grande plasticidade funcional
durante os primeiros anos de vida. A especialização do hemisfério esquerdo para a
linguagem, mesmo que dependa de uma disposição pré-formada, só se estabelece
progressivamente com as interações da criança com parceiros lingüísticos de
seuambiente.
As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um processo de
comunicação no qual são estimuladas a desenvolver procedimentos que lhes permitem
questionar o mundo e apropriar-se dele, bem como, das regras de ação e de
comunicação que surgem em seu entorno, pondo-as em prática em sua atividade e em
64
suas primeiras produções verbais. Em seguida, interiorizam tais regras e elaboram uma
linguagem interior constituídas de significações verbais contextualizadas e organizadas
de acordo com uma lógica da ação, ou lógica implicativa. Cada descoberta provoca
novas interrogações.
O desenvolvimento da capacidade de perceber e produzir sons da fala é
opercursor mais direto da linguagem.
Durante o primeiro ano de vida, diferentes capacidades comunicativas e
cognitivas convergem para formar, em torno dos 8 a 10 meses, um conjunto de
habilidades necessárias à competência lingüística. Nessa fase há um início de
compreensão quando a criança dá respostas apropriadas a certos pedidos ou proibições.
Logo se observa uma etapa de produção das primeiras palavras ( por volta dos 11 aos
13 meses) e umaexplosão do vocabulário (entre 18 e 20 meses), quando a criança
experimenta a possibilidade de generalizar os vocábulos que domina.
A capacidade de combinar palavras é detectada em torno dos 20 meses. Sendo
seguida por um período de gramaticalização, quando a criança se preocupa em dominar
a estrutura da sua língua, embora com crações próprias (ex: ¨eu bebi e fazi¨).
O sistema lingüístico é operável por volta dos 4 a 5 anos, período em que a criança
domina o essencial do sistema fonológico, conhece o sentido e as condições de uso de
muitas palavras em sua cultura e as utiliza corretamente.
A partir dos 5 anos, ocorrem novos progressos, o domínio de estruturas mais
complexas, além da peocupação com a correção das palavras e frases e da brincadeira
com a linguagem. Tal sistema continua a se reorganizar e aperfeiçoar até a pré-
adolescência, enriquecido pelas experiências culturais e por suas vivências na escola.
65
MOTRICIDADE
O sujeito se constrói na interação com o meio e o movimento é uma das formas
que temos para interagir com este meio. Pela exploração a criança vai construindo
conhecimentos sobre as propriedades físicas dos objetos e inicia a compreensão de
quais relações pode estabelecer com eles.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Aprende sobre seus limites; quando puxar, empurrar, chegar perto, se afastaretc.
Através de ações motoras a criança também interage com a cultura, seja para dominar
o uso dos diferentes objetos (instrumentos) que a espécie humana desenvolveu, seja
para usufruir atividades lúdicas e de lazer, como jogos e brincadeiras, esportes,
ginásticas, danças e artes marciais.
Pelo movimento a criança conhece mais sobre si mesma e sobre o outro,
aprendendo a se relacionar. O movimento é parte integrante da construção da autonomia
e identidade, uma vez que contribui para o domínio das habilidades motoras que a
criança desenvolve ao longo da primeira infância. Quando uma criança, por exemplo,
quer falar de si, é comum que fale do que consegue fazer: “Eu já sei amarrar meu
sapato”, “Eu subo a escada sozinho”. Saber quem ela é, o que consegue fazer, num
primeiro momento, pode ser marcado pela gestualidade.
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
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Quais são as características da motricidade infantil?
Para conhecer a criança do ponto de vista de seu desenvolvimento motor é
preciso buscar uma lente de observação, porque você pode interpretar um
comportamento de várias maneiras, dependendo das lentes que usa. Isso está
relacionado à visão de mundo, de criança, das teorias de desenvolvimento e
aprendizagem que temos. No nosso caso, vamos considerar algumas referências que
vêm da área de desenvolvimento e de alguns pensadores, em especial Wallon e Piaget.
Vamos começar por Piaget, como ele vê a motricidade infantil?
Piaget foi quem nos despertou para a importância da motricidade. Na verdade,
ele estava preocupado em estudar a gênese do pensamento humano, não em entender
como a criança aprende o movimento ou qual é a importância disso. Mas para entender
o desenvolvimento da inteligência ele observou a criança e percebeu que, desde que
nasce, ela já tem um tipo de inteligência, que é, ao contrário do que se pensava, anterior
à linguagem. Existe uma inteligência motora, que é prática, e que é a primeira que o ser
humano desenvolve.
Como isso acontece?
A criança tem uma bagagem genética, que são os movimentos reflexos, e a partir
do contato com o ambiente, naquilo que Piaget chama de reações circulares, ela vai
construindo esse movimento intencional. Então, até por volta dos 2 anos, mais ou menos,
ela constrói essa inteligência sensório-motora, essa capacidade de perceber a
intencionalidade e a conseqüência dos gestos, que são os recursos que ela tem para
interagir com o meio. Para ele o desenvolvimento da inteligência é um processo contínuo
de equilibração, através de dois mecanismos: a assimilação, que é entendida como a
integração do exterior às estruturas do indivíduo, e a acomodação, que é a
transformação interior em função das variáveis exteriores. É por meio desses dois
mecanismos que a criança desenvolve sua inteligência prática ou sensório-motora,
67
composta por diferentes esquemas de ação, que vão se aperfeiçoando, tornando-se
mais variáveis e adaptáveis a diferentes situações.
ATENÇÃO!!
Nessa perspectiva, é fundamental criar desafios para as crianças, propor situações
que geram a necessidade de novas adaptações a partir, por exemplo, do uso de
diferentes materiais, jogos, brincadeiras tradicionais etc.
Como Wallon vê o desenvolvimento da criança?
Wallon fala da afetividade e da socialização da criança. Para ele o movimento tem
primeiro uma função expressiva. A interação entre o bebê e os adultos se dá por uma
intensa troca afetiva comunicada por gestos e expressões faciais. Mais tarde o
movimento passa a ter uma função instrumental: conhecer e explorar o mundo físico. O
movimento passa a auxiliar o pensamento, inaugurando-se a dimensão cognitiva da
atividade motora. A ação mental projeta-se em atos motores.
O movimento também está relacionado à origem da representação, ele dá suporte
à representação na medida em que torna presente um objeto ou cena imaginada por
meio dos gestos que a criança utiliza para imitar.
As crianças, sobretudo na fase da Educação Infantil, falam com o corpo. Por isso,
por exemplo, na roda de conversa, as crianças gesticulam, se deitam, levantam, querem
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pegar coisas... Mas há também um outro aspecto. Para responder a essa questão é
importante ver como Wallon compreende o movimento. Segundo ele, a atividade
muscular possui duas funções intimamente relacionadas: a função tônica, que regula o
grau de tensão dos músculos (tônus) e se relaciona ao controle e ajustamento postural,
e a função cinética, responsável pelo controle do estiramento e encurtamento das fibras
musculares em coordenação com os impulsos do sistema nervoso central, que produz o
deslocamento do corpo ou de partes dele.
Em todos os movimentos que realizamos estas funções estão presentes. Para
chutar uma bola, correr ou jogar tênis, precisamos controlar nossa postura e, ao mesmo
tempo, as cadeias musculares que vão executar o movimento. Todo este processo de
coordenação e controle do movimento envolve o indivíduo como um todo e demanda um
incrível gasto energético. Até quando estamos sentados em uma determinada posição
há um gasto energético.
Qualquer um de nós pode observar como é difícil permanecer na mesma posição
por algumas horas e, no entanto, muitas vezes exigimos de nossos alunos este esforço
e nem imaginamos quanta energia esta ação demanda e como é difícil permanecer
sentado com um único foco de atenção. O cansaço resultante do esforço em manter-se
imóvel por muito tempo pode transformar-se em obstáculo às aprendizagens, ao
contrário do que tradicionalmente se espera.
Para Wallon, existe uma relação entre a função postural e a aprendizagem da
criança.
A função postural dá sustentação à atividade cognitiva. Todos nós já pudemos
observar como modificamos nosso tônus quando estamos com dificuldade de entender
uma aula, compreender um texto ou resolver um problema. Levantar da cadeira, mudar
de posição, “dar um tempo” para o ajustamento postural contribuem para que nossa
atividade intelectual volte a fluir. De certa forma, as variações tônicas desobstruem o
fluxo mental e orientam nossa percepção. Para a criança, esta relação de reciprocidade
entre a atividade cognitiva e o controle do tônus é ainda mais relevante: ela aprende por
meio da expressão corporal e ao experimentar desafios motores.
69
Assim, a movimentação das crianças na sala de aula deve ser encarada como um
recurso para aprendizageme não um obstáculo.
VAMOS REFLETIR!!
Um projeto educativo que considera a criança deve ter um olhar sobre a
motricidade que não leve em conta apenas a função cinética do movimento, como
tradicionalmente a educação física tem feito, mas também a função tônica e
expressiva. As variações de postura e posições do corpo, a possibilidade de
movimentar-se pela sala, fazer experiências, expressar-se, podem permitir uma
maior atenção e interesse na atividade que está sendo realizada.
O desenvolvimento motor ocorre, basicamente, por dois processos: o aumento da
diversidade e da complexidade. O aumento da diversidade se dá pela possibilidade de a
criança vivenciar um mesmo esquema de ação em diferentes contextos. O aumento da
complexidade envolve aprendizagem de novos movimentos a partir daqueles que a
criança já domina e diversifica. Por exemplo: a criança aprende a andar diversificando
esta ação em relação ao tempo, aos deslocamentos, às mudanças de direção; a partir
deste andar ela desenvolve o correr e o correr diversificado, que depois pode ser
combinado a outros movimentos como “quicar” uma bola, dando origem a um movimento
mais complexo ainda, que é driblar a bola num jogo de basquetebol.
Para um bom desenvolvimento motor é preciso, então, garantir a diversificação
dos movimentos e o aumento da complexidade, levando em consideração o
desenvolvimento e a aprendizagem da criança num determinado momento. Mas é
preciso superar a visão de que o desenvolvimento motor é um processo natural e
progressivo que acontece sem a necessidade de um ambiente favorável à sua
ocorrência.
70
Sabemos que esses dois processos são indissociáveis. Vamos pensar um
exemplo: somos herdeiros de uma evolução biológica que nos capacita para o andar
ereto, temos uma coluna vertebral e um aparelho locomotor para andar de um jeito que
o chimpanzé não é capaz. Mas crianças que não tem experiências, que ficam isoladas
do contato humano, não desenvolvem esse andar da melhor forma porque embora o
aparelho locomotor seja geneticamente constituído, o andar ereto é aprendido
socialmente. Isso acontece com todos os reflexos naturais, até o mais básico, que é
mamar, e pressupõe uma aprendizagem cultural: como sugar, como se acomodar nos
braços da mãe.
As experiências que a criança tem é que empurram esse desenvolvimento. Não
dá para dizer que uma criança por si mesma vai desenvolver a capacidade de quicar
uma bola, por exemplo, embora todas tenham o potencial para aprender esse
movimento. O desenvolvimento de competências motoras ocorre pela relação dinâmica
entre o biológico e o social.
Por isso as experiências fornecidas à criança são tão importantes.
Por que é importante ampliar o repertório de movimentos das
crianças?
É preciso deixar de lado a idéia de que existem formas gestuais ideais, únicas,
“certas” que a criança deve aprender. Uma característica singular do movimento humano
é a necessidade de construir, ao mesmo tempo, consistência e variabilidade. A
consistência garante o encontro de coordenações motoras mais eficientes, construídas
para que o sujeito apresente soluções eficientes frente aos desafios motores. Para
aprender a andar, por exemplo, é preciso que a criança ganhe consistência em sua
capacidade de controlar as relações de equilíbrio postural e as contrações musculares
adequadas para realizar o movimento. A consistência garante encontrar um caminho
seguro e confiável para realizar o movimento. No entanto, estamos constantemente
sendo desafiados pelas variações do ambiente.
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Como conciliar as características do desenvolvimento infantil e a
aprendizagem de novas habilidades?
O sistema motor humano caracteriza-se pela capacidade de alcançar uma mesma
ação por meio de diferentes movimentos, por isso não se deve insistir em ensinar à
criança, principalmente no início do processo de aprendizagem, um gesto único tido
como a técnica mais adequada para resolver aquele desafio. O excesso de ênfase do
educador na consistência dos movimentos através da repetição de gestos-modelo pode
resultar na aprendizagem de movimentos estereotipados com pouca adaptabilidade.
As atividades propostas às crianças, bem como os ambientes em que estão
inseridas e materiais oferecidos, devem contemplar oportunidades para que ela ganhe
consistência com variabilidade. Podemos observar a busca pela variabilidade em toda
atividade motora espontânea da criança: no escorregador, por exemplo, notamos que
primeiro ela aprende a subir e descer de frente, sentada. Depois, começa a explorar este
gesto em diferentes posições, de frente, de costas, de cabeça para baixo, de mãos dadas
com um amigo.
Mais importante do que buscar o jeito certo de arremessar uma bola no jogo, de
derrubar latas, por exemplo, é estimular a criança a resolver este desafio de diferentes
maneiras, de diferentes distâncias, com diferentes tipos de bola. Essas ações colaboram
para o desenvolvimento de um repertório motor que permita à criança escolher as
respostas para os diferentes desafios buscando soluções alternativas e criativas para os
mesmos problemas.
Como o professor pode intervir para promover avanços nas
aprendizagens ligadas ao movimento?
Encorajar as crianças a explorar suas potencialidades de movimento, ao invés de
fixar os “jeitos corretos”, é o grande desafio de uma educação física que conhece o
desenvolvimento motor. Isso não quer dizer que o professor não deva fornecer
informações às crianças sobre os caminhos para encontrar melhores soluções,
72
demonstrar movimentos que ele conhece ou chamar a atenção da criança para a
maneira como um colega resolveu aquele desafio.
O professor precisa também ter uma possibilidade corporal para se envolver no
processo ensino-aprendizagem, precisa resgatar em sua própria vida o prazer pelo
movimento.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
Na educação infantil a ênfase do trabalho de desenvolvimento de competências
motoras está centralizado na diversificação dos movimentos fundamentais de locomoção
— tais como andar, correr, saltar, saltitar, deslizar, escalar; de manipulação — como
arremessar, receber, chutar, rebater, quicar, rolar; e de estabilização — como equilíbrio
estático (ficar num só pé), equilíbrio dinâmico (andar numa superfície estreita) e apoios
invertidos (parada de cabeça, parada de mãos, estrela). Tudo isso contextualizado em
atividades da cultura lúdica infantil. O objetivo é que a criança possa utilizar atividades
de movimento em contextos significativos de sua experiência.
Um trabalho com o movimento contribui com as questões atitudinais, com a
capacidade de se relacionar com o outro, dialogar e resolver problemas, o que sempre
acontece em contextos de jogos e brincadeiras. As atividades coletivas e jogos em grupo
reúnem situações extremamente produtivas para o desenvolvimento da capacidade de
https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei
73
diálogo, de respeito ao outro e proporcionam momentos de prática e consciência das
regras.
74
CAPÍTULO 5 - A CONSTITUIÇÃO DO CONCEITO DE
INFÂNCIA
O processo crescente de industrialização e urbanização, a densidade
demográfica, as transformações da organização social e da família, a individualização
do sujeito e a própria pedagogia foram alguns determinantes na constituição dos
sentimentos modernos de infância e, conseqüentemente, na produção de um conceito
sobre ela.
Para entender tal processo, tomamos a IdadeMédia e sua transição para o
Renascimento e para a Modernidade no contexto europeu, como períodos de referência,
a fim de reconstituir o movimento histórico em que o conceito de infância, tal como o
reconhecemos hoje, foi em certa medida, gestado.
Fonte:https://www.google.com.br/search?q=interacionismo&source
75
Na Idade Média, muitas crianças viviam misturadas aos adultos, não havendo
grandes diferenças em termos de vestimentas, jogos, atividades, aprendizagens e até
mesmo em relação ao trabalho. Eram vistas, em geral, como adultos em miniatura, cuja
educação se dava em meio aos adultos, por um sistema de permuta de crianças entre
famílias, para que fossem ensinados determinados trabalhos, costumes e valores, assim
como as aprendizagens em oficinas, junto aos artesãos. Enfim, os afazeres e
conhecimentos necessários à vida (Ariès, 1984). A primeira infância, nesse caso, dizia
respeito a uma época de aprendizagens, nos espaços públicos da aldeia, da casa,
redondezas, onde os pais também tinham papel importante (Gélis, 1991).
Dados históricos apontam também para o alto índice de mortalidade infantil
daquela época. Não havendo métodos contraceptivos assumidos de modo mais efetivo
ou seguro, sendo difícil, pois, o controle da natalidade, um grande número de crianças
nascia e, do mesmo modo, morria. Os cuidados de higiene e tratamento para a
preservação da vida dos recém-nascidos eram muito precários, levando-se em
consideração que a própria medicina era pouco desenvolvida. A morte, então, era
encarada como algo ‘natural’, inevitável, não se fazendo necessário muito esforço para
a sobrevivência dos pequenos. Quando sobreviviam, as crianças eram festejadas por
serem consideradas fortes e logo eram inteiradas no mundo dos adultos para aprender
a vivê-lo o mais rápido possível.
Esses fatores, principalmente a alta demografia, levaram Ariès (1984) a afirmar
que naquele momento histórico existia, no meio europeu, uma indiferença com relação
a essa fase da vida, configurando a ausência de um sentimento em relação à infância,
isto é, algum tipo de reconhecimento a seu respeito. Essa era considerada apenas uma
época de transição passageira, sem maiores implicações, não sendo reconhecida
socialmente como possuidora de especificidades próprias. Tal reconhecimento só
ocorreu a partir do Renascimento, consolidando-se de fato na Modernidade: “não nos
devemos surpreender diante dessa insensibilidade, pois ela era absolutamente natural
nas condições demográficas da época. (...) as pessoas não podiam se apegar muito a
algo que era considerado uma perda eventual” (Ariès, 1984: 57-8).
76
No entanto, há um contraponto nesse sentido, uma vez que a infância na Idade
Média também expressava a continuação da linhagem: o corpo da criança que nascia
representava um pouco do corpo dos ‘outros’, os da grande família dos vivos e dos
ancestrais mortos, e isso é notado através de vários ritos registrados em documentos da
época. Esse entendimento estava perpassado pela lógica naturalista do tempo e da vida.
Havia um ciclo natural ser cumprido: “cada indivíduo descrevia um arco de vida, mais ou
menos longo, segundo a duração de sua existência, saía da terra através de sua
concepção e a ela voltava através da morte” (Gélis, 1991: 311).
Sob o prisma da necessidade de continuação da linha familiar, constatamos que
havia um certo sentimento de infância na Idade Média, apesar de o próprio Ariès (1984)
não o ter reconhecido. As mudanças no plano econômico, político e social que
começaram a se estabelecer já nos séculos XV e XVI tiveram influências decisivas no
reordenamento familiar, contribuindo para que germinasse em seu seio uma contradição
entre a vontade de viver e o desejo de perpetuar-se. Assim, gradativamente, a criança
começou a ser valorizada em si mesma e não mais porque representava toda uma
família.
Os pais começaram a preocupar-se mais com a higiene e a saúde física dos filhos,
pois o objetivo era evitar suas mortes, o que possivelmente tenha implicado a
constituição de novas relações afetivas entre os entes familiares.
Tal contexto possibilitou a valorização da criança pela alegria que ela propiciava.
Daí que sua graça e ingenuidade eram tidas como qualidades inerentes a natureza
infantil. Essa abordagem nos leva a considerar que tal situação possa ter criado, naquele
momento, uma maior proximidade física, a partir do que se presta mais atenção às
crianças e aos seus movimentos, havendo a possibilidade de compará-las aos adultos.
Em outras palavras, o adulto passa a se reconhecer nas crianças, pois elas lhe remetem
ao seu processo de desenvolvimento, a sua própria infância e aos seus projetos
pessoais.
77
A passagem de um sentimento de indiferença frente à morte para a valorização
da vida pode ser melhor compreendida ao atentarmo-nos para o Renascimento e sua
transição para a Modernidade, uma vez que ele expressou um movimento histórico de
reorientação nos campos econômico, social e político que deram nova forma ao
pensamento em torno da vida.
Até então o homem se orientava pelas doutrinas religiosas, mas as descobertas
científicas da época, juntamente com o reordenamento econômico, contribuíram para a
crise do teocentrismo
Dessa forma, se a morte significava salvação porque ao corpo era atribuído o
papel de pecador, considerado apenas como “invólucro da alma”, a crença na razão
humana, que colocou o homem no lugar até então ocupado pelas divindades, fundando
o antropocentrismo, fez emergir um novo entendimento em relação à vida e ao corpo,
que passaram a ser mais estimados, uma vez que o carnal/humano foi imbuído de uma
conotação positiva.
Foi justamente nesse processo que tal atitude conformou o sentimento de
paparicação que, segundo Ariès (1984), ainda se combinava com uma certa indiferença
em relação à infância, afinal as crianças não passariam de ‘brinquedinhos frágeis’ para
muitos adultos.
Também esse parece ter sido um dos motivos que os levou a ter mais cuidado
com os pequenos, pois não se desejava perder o que era causa de alegria e divertimento.
Se a família medieval era uma realidade mais política, social e moral do que
sentimental, tendo nos filhos a sua própria extensão, e vivendo em um clima de intensa
sociabilidade, a família moderna passa, aos poucos, a se constituir enquanto família
nuclear, abandonando os antigos laços de sociabilidade, fechando-se em espaços mais
privados nos quais a criança assume papel central (Cf. Ariès, 1984; Gélis, 1991).
78
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=interacionismo&source
Foi por volta do século XVI que essa família recolhida, girando em torno das
crianças, também passou a preocupar-se mais com sua educação. E, como eram mais
afetivas e preocupadas, passaram a mimar seus filhos, fato que suscitou críticas da
Igreja e do Estado, que reformaram o sistema educativo no sentido de dar uma
conotação mais moralista ao ensino: “a modificação da situação da criança não resulta
apenas das transformações que as estruturas familiares sofreram nos séculos clássicos.
(...) a Igreja e o Estado indiscutivelmente tiveram seu papel” (Gélis, 1991: 325).
A nova educação passa a estabelecer-se em espaços delimitados para tal: os
colégios, que objetivavam sujeitar os desejos à razão. No século XVII os moralistas e
educadores compreendiam a infância como a idade da imperfeição, que necessitava ser
corrigida através da educação. Inclusive, uma das técnicas utilizadas era a humilhação
pública através dos castigos corporais. As rígidas disciplinas tinham o corpo como alvo
inconteste.
A moral cristã e a razão norteavam tais interesses, configurando também um
desejo de controle social com a transferência da educação privada, dirigida pelos pais,
à educação pública, sob o comando do Estado e da Igreja. Enfim, a questão era formar
um sujeito adaptado às regras de civilidade que começavam a nascer com a
79
industrialização e o surgimento de um maior número de cidades (urbanização) - o sujeito
burguês. Essa demanda encontrava respaldo no sentimento de individualidade e na
necessidadede desenvolvimento, nos diferentes grupos e classes, de aptidões e
habilidades manuais e intelectuais, básicas ao novo modo de produção que em breve se
estabeleceu – o capitalismo.
Nesse processo, paparicação e moralização se misturaram no interior da família
burguesa e da sociedade como um todo, caracterizando duas atitudes aparentemente
opostas do sentimento moderno de infância. Mas, na realidade, elas coexistem,
complementando-se e contradizendo-se simultaneamente, à medida que pretendem
proteger a criança “da corrupção do meio, mantendo sua inocência, e fortalecê-la,
desenvolvendo seu caráter e sua razão” (Kramer, 1987: 18).
Nesse mesmo sentido, Charlot (1983) questiona essa significação ideológica,
dizendo que não há contradição entre o sentimento de paparicação e de moralização,
visto que os dois se complementam na concepção de infância enquanto essência infantil,
escamoteando sua significação social e perdendo de vista a análise a partir de suas
condições. Afinal, são várias as infâncias existentes, produtos das condições concretas
de existência das diferentes famílias e das próprias crianças.
VAMOS REFLETIR!!
A concepção de criança, posta pelo Enfoque Histórico-Cultural, se sustenta na
tese de que a criança só se desenvolve, isto é, se humaniza, mediante a
apropriação da cultura e no processo de sua atividade. Todas as habilidades e
aptidões humanas são, nesse sentido, formadas nas relações concretas –
compreendidas na materialidade e imaterialidade – entre o homem e o mundo da
cultura, tornando-se produtos e produtoras da história humana. Portanto, a
criança, nessa perspectiva, não nasce com caráter humanizado, mas se humaniza
pelos seus processos de vida e de educação.
80
Considerando o homem como um ser social, o conceito de infância também é
determinado socialmente, ou seja, está intimamente relacionado à maneira como o
homem produz seu modo de existência e se organiza em sociedade. Nesse sentido, a
infância pode ser tratada enquanto uma categoria social e historicamente construída.
Dizer que a criança é um ser social significa considerar que ela tem uma história,
vive uma geografia, pertence a um segmento social determinado, estabelece relações
definidas segundo o seu contexto de origem, apresenta uma linguagem decorrente
dessas relações sociais e culturais estabelecidas e ocupa um espaço que não é só
geográfico, mas também de valor, de acordo com Kramer (2002).
Ao educador que atua com crianças é imprescindível apreender o significado da
infância, o que exige a investigação das diferentes conceituações a ela atribuída em
distintos momentos e lugares da história humana. Segundo Oliveira (2002, p.79), “o
exame da história da educação infantil tem evidenciado que a idéia de infância é uma
construção histórica e social, coexistindo em um mesmo momento múltiplas idéias de
criança e de desenvolvimento infantil”.
Do percurso referente às construções conceituais histórico-sociais sobre a
infância, percebe-se que na época Antiga e Medieval não existia uma consciência da
particularidade infantil: as crianças eram vistas como “pequenos homens”, tendo um
papel social mínimo e uma imagem simbólica dupla no ideário do Cristianismo – ora vista
como símbolo do pecado e ora como ingênua e inocente.
81
SAIBA MAIS!!
A Modernidade pôs em relevo o papel social da educação: as crianças passaram
a ter valorização no meio em que vivam e a infância deixou de ser interpretada a
partir do discurso religioso e passou a ser vista à luz do naturalismo filosófico, do
desenvolvimento biológico e da responsabilidade moral e jurídica.
O olhar Histórico-Cultural acerca do desenvolvimento psíquico na infância
provoca o surgimento de uma nova concepção de criança e de infância, da qual três
elementos ou princípios são aqui considerados: a atividade da criança, suas relações
com o entorno e a mediação do educador.
Dito de outra maneira são as atividades da criança, as suas condições de vida e
de educação – o que inclui seu lugar na história e na cultura - e a ação do mediador os
elementos ativos e essenciais da sua formação psíquica.
Para iniciar esta reflexão, faz-se necessário rever a idéia de períodos, fases ou
etapas do desenvolvimento psicológico infantil, uma vez que são bastante debatidas,
controversas e repletas de significações, sobretudo nas diferentes concepções teóricas
do pensamento psicológico.
As duas correntes mais evidentes do pensamento psicológico que se refletem na
educação de crianças se referem a uma concepção de desenvolvimento de cunho
ambientalista e a uma outra que se apóia na perspectiva Psicogenética.
As teorias de cunho ambientalista encontram suas representações, sobretudo, na
vertente behaviorista, e têm, na atualidade, como maior representante B. F. Skinner
(1904-1990). O Behaviorismo dedica-se ao estudo das interações entre o indivíduo e o
ambiente, entre as ações do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as estimulações)
82
(BOCK, 2002). O indivíduo aprende mediante as estimulações provocadas pelo
ambiente.
As concepções baseadas nas leis da biologia pressupõem que o desenvolvimento
ontogenético repete a filogênese. Uma vertente desta concepção teórica pode ser
identificada nos trabalhos de Jean Piaget (1896-1980), conhecida como teoria
Psicogenética ou Epistemologia Genética. Piaget (1975) prevê períodos ou estágios
sucessivos no desenvolvimento da criança.
Ao explicitar os períodos do desenvolvimento infantil, esse autor destaca que cada
período é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer nessas
faixas etárias. Ao relacionar idade com desenvolvimento da inteligência e da moral,
pressupõe estágios sucessivos no desenvolvimento psíquico humano. Ao descrever sua
teoria sobre o egocentrismo, o autor enfatiza os processos individuais no
desenvolvimento do pensamento. Para ele, as crianças, apesar de estarem juntas numa
brincadeira ou numa atividade cognitiva - até por volta dos seis anos de idade -, realizam
suas produções individualmente.
Nesse sentido, podemos apontar duas concepções de criança que refletem estas
vertentes teóricas. Da vertente behaviorista é possível perceber uma concepção de
criança passiva, receptora dos conhecimentos que o ambiente lhe proporciona.
Da segunda vertente, a Psicogenética, destacamos uma concepção de criança de
enfoque naturalista, para a qual a criança é indivíduo isolado e a sociedade, a cultura e
83
a história humanas não têm papéis determinantes na formação de seu psiquismo. O
desenvolvimento psíquico é um processo de adaptação do indivíduo ao seu meio.
Mostrar a concepção de criança no Enfoque Histórico-Cultural nos leva a apontar,
como já foi salientado, a lei geral do desenvolvimento formulada por Vigotski
(1991;1998), em que afirma que toda função entra em cena duas vezes no
desenvolvimento cultural psíquico da criança: primeiro, no plano interpsíquico, na relação
entre as pessoas, para depois se tornarem funções intrapsíquicas, internas ao sujeito.
O Enfoque Histórico-Cultural, ao declarar que as características tipicamente
humanas são construídas nas relações sociais dos homens, aponta que estes somente
se desenvolvem, isto é, só se humanizam, mediante a apropriação da cultura (material
ou não) e no processo de sua atividade. Todas as habilidades e aptidões humanas são,
nesse sentido, constituídas nas relações concretas – compreendidas na materialidade e
imaterialidade – entre o homem e o mundo da cultura, tornando-se produtos e produtoras
da história humana.
ATENÇÃO!!
Portanto, o homem constitui sua segunda natureza, que é histórica e cultural: o
homem não nasce humano, mas torna-se humano pelos processos de vida, de
educação e de atividade (LEONTIEV, 1995; MELLO, 2004).
O Enfoque Histórico-Culturalaponta a atividade e as condições concretas de vida
e educação, como elementos necessários para a compreensão do desenvolvimento
psíquico. Neste sentido, vale (re) afirmar que o conceito de criança apontado por este
84
enfoque é o da criança em permanente inter-relação com seu entorno; o que é nela
provocado.
Os interesses e as habilidades que estão presentes no mundo externo e em
interação com ela se constituirão - num movimento dialético da criança e seu ambiente,
na sua inteligência e na sua personalidade.
Para Vigotski (1996), o entorno da criança é primeiramente social, do qual a
criança é parte ativa. Considera que “se a criança é um ser social e seu meio é social,
se deduz, portanto, que a criança é parte do entorno social”, contudo, “esse meio não é
nunca externo a ela” (p. 382). Daí ser possível afirmar que a educação orientada à
criança modifica seu psiquismo e cria nela possibilidades de aprendizagens, primeiro por
meio das relações e atividades mediadas com o mundo que a rodeia, e segundo, como
atividade interna, psíquica, advinda do processo de apropriação.
SINTETIZANDO!!
➢ O desenvolvimento psíquico é um processo cultural e histórico, revelador das atividades
e das aprendizagens conquistadas por cada sujeito. Esse desenvolvimento explicita a
maneira do indivíduo perceber e compreender o mundo e a si mesmo, além de expressar
os níveis de formação e de aperfeiçoamento da inteligência e da personalidade em
diferentes momentos da vida.
➢ Para Vigotski (1998), as transformações no mundo psíquico da criança ocorrem sempre
numa relação de reciprocidade, o todo que compreende o psiquismo da criança se
modifica num movimento dialético, e não de forma natural, espontânea ou dada pelos
estímulos únicos do seu ambiente. A criança não só é transformada pelas relações com
seu entorno, mas ao interagir com ele, também o transforma.
85
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO
Historicamente, diferentes concepções acerca do desenvolvimento humano têm
sido traçadas na psicologia. Elas buscam responder como cada um chegou a ser aquilo
que é e mostrar quais os caminhos abertos para mudanças nessas maneiras de ser,
quais as possibilidades de cada indivíduo para aprender.
Os fatores hereditários e o papel da maturação orgânica têm sido superestimados
por correntes afins do biologismo ou do inatismo, que enfatizam a espontaneidade das
transformações nas capacidades psicológicas do indivíduo, sustentando que
dependeriam muito pouco da influência de fatores externos a ele. Essa corrente de
pensamento ainda hoje é particularmente forte na educação infantil, subsidiando
concepções de que a educação da infância envolveria apenas regar as pequenas
sementes para que estas desabrochem suas aptidões.
Outras correntes explicativas, ao contrário, tem afirmado que o ambiente é o
principal elemento de determinação do desenvolvimento humano. Segundo elas, o
homem tem plasticidade para adaptar-se a diferentes situações de existência,
aprendendo novos comportamentos, desde que lhe sejam dadas condições favoráveis.
Na educação infantil tal concepção promoveu a criação de muitos programas de
intervenção sobre o cotidiano e a aprendizagem da criança, em idades cada vez mais
precoces.
Para responder ao impasse criado pelas posições precedentes, surgiu na
psicologia uma corrente que advoga e existência de uma relação de recíproca
constituição entre indivíduo e meio, a vertente interacionista. Segundo ela, o
desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores genéticos que buscam
condições para o seu amadurecimento nem de fatores ambientais que agem sobre o
organismo, controlando seu comportamento. Decorre das trocas recíprocas que se
86
estabelecem durante toda a vida do indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o
outro.
Na educação infantil, a relação professor/criança é fator complexo, embora
fundamental, e tem desafios próprios. Do ponto de vista sócio-histórico de
desenvolvimento, as interações com parceiros constituem o indivíduo dentro de sua
cultura, ou seja, levam as crianças a dominar formas de agir, pensar e sentir presentes
em seu meio cultural, resultando disso um constante processo de elaboração de suas
identidades.
A percepção da criança na primeira infância está vinculada às suas relações com
os objetos. Por meio da manipulação dos objetos ela vai percebendo sua forma, cor,
tamanho, dimensão; com isso vai sistematizando idéias a respeito dos objetos e suas
propriedades. Para auxiliá-la no processo de seu desenvolvimento psíquico, o adulto
pode, como mediador, oferecer uma diversidade de possibilidades para o uso dos
objetos e ainda, instrumentalizar a criança quanto ao reconhecimento de suas
propriedades. Assim, enriquece seu aprendizado e cria novas possibilidades de
desenvolvimento de sua inteligência e personalidade.
ATENÇÃO!!
Há que reconhecer, no entanto, que apesar de as teorias psicológicas serem
extremamentes úteis para descrever e explicar o desenvolvimento humano, elas
não dão conta de orientar diretamente questões pedagógicas em espaços de
educação infantil.
Valores sociais, preocupações pragmáticas, experiência cotidianas são
elementos que colaboram para delinear os objetivos, atividades e estratégias de ensino
87
adequadas aos níveis de desenvolvimento das crianças e às exigências sociais que se
apresentam para elas.
Assim o educador deve conhecer não só as teorias sobre como cada criança
reage e modifica sua forma de sentir, pensar, falar e construir coisas, mas também o
potencial de aprendizagem presente em cada atividade realizada na instituição de
educação infantil. Deve também refletir sobre o valor dessa experiência enquanto
recurso necessário para o domínio de competências consideradas básicas para todas as
crianças terem sucesso em sua inserção em uma sociedade concreta.
PRATICANDO!!
Observe uma prática social cotidiana ocorrendo em um espaço de educação
infantil e investigue e descreva as relações sociais que nela ocorrem.
As exigências feitas ao comportamento das crianças nos auxilia a perceber os
processos educativos que ocorrem na instituição?
De que forma contribuem para o desenvolvimento infantil?
Uma compreensão de pontos básicos sobre como cada pessoa se desenvolve em
sua cultura pode apoiar a promoção de experiências pedagógicas de qualidade na
educação infantil.
No decorrer da história, esses pontos foram sendo sistematizados pelas ciências.
Uma análise crítica deles, no entanto, leva-nos hoje a perceber que, mais do que
condição biologicamente determinada, a definição de infância é uma política feita de
forma própria em cada cultura. Tais períodos do desenvolvimento humano são objetos
de narrativas culturais que envolvem aspectos ideológicos.
O que nos leva a questionar quais são as concepções de criança presentes no
pensamento pedagógico atual, orientadoras de práticas de educação de crianças
88
pequenas? E ainda, qual concepção de criança poderá superá-las, visando à formação
de um sujeito crítico, reflexivo e transformador?
Para Mello,
Se as concepções que temos são essenciais na definição do modo como
atuamos, parece que temos aí uma forte razão para refletir sobre como nós,
educadores, percebemos a criança, como entendemos suas possibilidades e
capacidades, a forma como pensamos que ela aprende. Tais concepções - a
concepção de criança, de processo de conhecimento - e a maneira como
entendemos a relação desenvolvimento-aprendizagem e a relação
aprendizagem-ensino orientam nossa atitude ao organizar a prática pedagógica
que desenvolvemos. Uma análise do que estamos fazendo verdadeiramente pode
começar, então, por aí: perguntando-nos que conceito de criança tem orientado
nossa prática ou orienta as práticas de um modo geral, e com isso tem
determinado as práticas da educaçãoda infância. (2000, p. 84).
Essas reflexões nos leva à melhor compreensão da criança no processo de
aprender, pois dirige nosso olhar à sua atividade no mundo como porta para aprender e
se desenvolver por meio da mediação educativa, que tem no educador a função maior
de apresentar à criança o rico universo da cultura, permitindo-lhe a apropriação dos
códigos sociais, dos símbolos, da linguagem e do pensamento abstrato e crítico, dentre
outras qualidades humanas. Portanto, a esse educador, se propõe à tarefa de propiciar
à criança situações em que elas criem, experimentem, elaborem hipóteses e
desenvolvam suas capacidades. Para isso, ele deve reconhecer a diversidade cultural e
étnica, de hábitos, crenças, valores, costumes que a nossa criança vive.
89
PARA NÃO FINALIZAR!!
As contribuições da Psicomotricidade na Educação Infantil
Este estudo tem por foco de investigação a importância da Psicomotricidade na Educação
Infantil, como meio de auxiliar o desenvolvimento das crianças, por meio das experiências
motoras, cognitivas e socioafetivas indispensáveis à formação.
Há várias definições em torno do que seja a Psicomotricidade, desde o seu surgimento,
quando seguia uma vertente teórica, depois prática, até chegar ao meio-termo entre as duas.
Contudo, podemos dizer que a Psicomotricidade tem como objeto de estudo o movimento
humano, reunindo as áreas pedagógicas e de saúde.
A Psicomotricidade envolve toda ação realizada pelo indivíduo; é a integração entre o
psiquismo e a motricidade, buscando um desenvolvimento global, focando os aspectos
afetivos, motores e cognitivos, levando o indivíduo à tomada de consciência do seu corpo por
meio do movimento.
Este estudo pontua também algumas fases fundamentais dentro do processo de
desenvolvimento motor infantil de grande relevância, com o intuito de auxiliar pedagogos e
professores, para que entendam os conceitos da Psicomotricidade e sua importância no
processo de aprendizagem das crianças na Educação Infantil.
Le Boulch (1985, p. 221) observa que “75% do desenvolvimento psicomotor ocorrem na fase
pré-escolar, e o bom funcionamento dessa área facilitará o processo de aprendizagem futura”.
Portanto, é importante que o professor da Educação Infantil tenha consciência de que a
criança atua no mundo por meio do movimento; daí a importância de o professor conhecer o
desenvolvimento motor e suas fases, para que seja capaz de propor atividades
fundamentadas nos conceitos da psicomotricidade, criando currículos e projetos em que as
crianças utilizem o corpo como meio para explorar, criar, brincar, imaginar, sentir e aprender.
Num ambiente altamente favorável, o nosso menino ou menina pode
encontrar possibilidade de retirar o máximo proveito de suas
potencialidades inatas. Num ambiente diferente e hostil, apenas
algumas dessas potencialidades básicas poderão exprimir-se (GESELL,
2003, p. 42).
90
O processo educativo não deve basear-se somente em teorias, mas também na força das
relações afetivas; quando as crianças vivem em um ambiente que as compreende, elas se
tornam mais autoconfiantes. Dessa forma, a qualidade na relação entre professor e aluno é
fundamental no processo pedagógico.
Há algum tempo, as crianças experimentavam de maneira espontânea, por meio do brincar
diário, atividades motoras suficientes para que adquirissem habilidades motoras mais
complexas. Os verbos brincar, aprender e crescer eram indissociáveis.
A infância hoje é bem diferente; algumas mudanças aconteceram; a urbanização, a
necessidade de segurança e o avanço tecnológico são fatores que diminuíram os espaços e a
liberdade para que as crianças pudessem simplesmente brincar.
É nesse momento que a escola deve ser a grande aliada, não somente para garantir um futuro
profissional brilhante para essas crianças como também, do mesmo modo, ajudando-as se
tornar indivíduos autônomos, criativos e críticos.
O problema
Diante das diversas dificuldades com que nos deparamos nas nossas atividades diárias na
condição de educadores, por vezes acabamos rotulando nossos alunos como desatentos,
desmotivados, indisciplinados ou incapazes de desempenhar atividades mais complexas, não
considerando que muitas dificuldades estão atribuídas as práticas psicomotoras que deixaram
de ser trabalhadas durante a Educação Infantil.
A criança deve viver o seu corpo através de uma motricidade não condicionada, em que os
grandes grupos musculares participem e preparem os pequenos músculos, responsáveis por
tarefas mais precisas e ajustadas. Antes de pegar num lápis, a criança já deve ter, em termos
históricos, uma grande utilização da sua mão em contato com inúmeros objetos (FONSECA,
1993, p. 89).
As descobertas e as aprendizagens das crianças na fase pré-escolar ocorrem por sua vivência
corporal, pela exploração do ambiente e da manipulação dos objetos. As práticas quase
sempre inadequadas ou insuficientes de atividades psicomotoras importantes para o processo
de aprendizagem é consequência da falta de conhecimento do professor da Educação Infantil.
A formação inicial desse professor não o qualifica o suficiente para a fundamentação
psicomotora e, com isso, não têm conhecimentos suficientes para propiciar às crianças
atividades adequadas ao bom desenvolvimento psicomotor.
Contudo, as atividades precisam ser planejadas, o que demanda reflexão, pois a associação
de exercícios puramente analíticos, que exigem além da fase de desenvolvimento daquele
grupo, corre o risco de inibir as crianças menos desenvolvidas.
91
Nessa perspectiva, é necessário que os professores da Educação Infantil tenham uma
formação inicial consistente e acompanhada de permanentes atualizações; a Psicomotricidade
é uma delas.
O objetivo deste estudo é suscitar questionamentos, debates e reflexões acerca da
importância da Psicomotricidade no currículo da Educação Infantil, como proposta de atuação
para professores, pedagogos e demais profissionais da área de Educação. Com a finalidade
de facilitar o entendimento dos conceitos teóricos, buscando enfatizar as contribuições
positivas, pontuamos alguns aspectos básicos da Psicomotricidade, como equilíbrio,
lateralidade e esquema corporal, de grande relevância no processo de aprendizagem das
crianças.
Cabe ressaltar a importância do professor para assumir o papel de facilitador, permitindo à
criança situações e estímulos cada vez mais variados, com experiências concretas e vividas
com o corpo inteiro, trazendo a Psicomotricidade sob um olhar pedagógico e preventivo.
A Psicomotricidade e o desenvolvimento infantil
Desde a Antiguidade o corpo humano é valorizado. É possível perceber no pensamento da
cultura grega o culto ao esplendor físico, retratado principalmente nas suas obras de arte e
esculturas existentes até os dias atuais nos templos da Grécia. A história conta que, por longo
tempo, o ser humano foi entendido de forma fragmentada, separando o corpo e a alma; esse
dualismo sempre foi motivo de estudo.
Ao longo dos tempos, vários pensamentos românticos tentaram explicar essa relação entre
corpo e mente; porém, a partir de alguns pensamentos mais radicais, no século XIX o termo
Psicomotricidade apareceu pela primeira vez num discurso médico, mais especificamente
neurológico, para nomear as zonas do córtex cerebral situadas além das regiões motoras.
A história do saber da Psicomotricidade representa já um século de
esforço de ação e de pensamento; a sua cientificidade, na era da
cibernética e da informática, vai-nos permitir certamente ir mais longe
da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência do corpo
com o psíquico. Essa intimidade filogenética e ontogenética representa
o triunfo evolutivo da espécie humana, um longo passado de vários
milhões de anos de conquistas psicomotoras (FONSECA, 1988, p. 99).
Considerado o Pai da Psicomotricidade,Dupré, neuropsiquiatra francês, em 1909 foi uma
figura de grande importância para o âmbito psicomotor, já que afirmou a independência da
debilidade motora com um possível correlato neurológico. Depois desvincula e estabelece as
diferenças entre elas, constatando que é possível ter dificuldades motoras sem alterações
intelectuais e vice-versa.
Em 1947, Julian Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine a concepção de debilidade motora,
considerando-a uma síndrome com suas particularidades próprias, e delimita com nitidez os
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transtornos psicomotores que hesitam entre o neurológico e o psiquiátrico. Nesse momento,
a influência da Neuropsiquiatria é determinante. O corpo é apenas um instrumento, uma
ferramenta de trabalho para o reeducador que se propõe a consertá-lo, visando corrigir
distúrbios e preencher lacunas de desenvolvimento das crianças excepcionais.
A Psicomotricidade passa a ser entendida como uma ciência que estuda o indivíduo em função
de seus movimentos, sua realização, seus aspectos motores, afetivos, cognitivos, resultados
da relação do sujeito com o seu meio social.
Como se pode notar, a Psicomotricidade tem o objetivo de enxergar o
ser humano em sua totalidade, nunca separando o corpo (sinestésico),
o sujeito (relacional) e a afetividade; sendo assim, ela busca, por meio
da ação motora, estabelecer o equilíbrio desse ser, dando lhe
possibilidades de encontrar seu espaço e de se identificar com o meio
do qual faz parte (GONÇALVES, 2011, p. 21).
No Brasil, a Psciomotricidade desenvolveu-se pela vertente da Educação Física e, até os anos
1980, a Psicomotricidade na escola ocupava-se apenas dos problemas e das dificuldades
ligadas às estruturas psicomotoras de base, como andar, saltar, correr, observar equilíbrio,
lateralidade e noção espaço-corporal, entre outros. Nos dias atuais, os educadores e outros
profissionais que atuam na escola devem procurar especializar-se em atender a demanda que
as crianças trazem para o ambiente escolar, a fim de transformar o conceito de reeducação
para o de educação em sua definição mais ampla. A partir dessas novas contribuições, a
Psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo suas próprias especificidades.
Segundo a etimologia, a palavra Psicomotricidade é formada por dois termos de diferentes:
a palavra psyché, traduzida por “alma”, e a palavra latina motorius, traduzida por “que tem
movimento”. Diversos autores e estudiosos da Psicomotricidade registram definições a
respeito dessa ciência e, dentro da perspectiva deste estudo, destacamos a definição dada
pela Sociedade Brasileira de Psicomotricidade:
A Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo o estudo do homem
através do seu corpo em movimento em relação ao seu mundo interno e externo,
bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos
e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, em que o corpo é a
origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto,
é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado,
em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua
individualidade e sua socialização.
É pelo seu corpo que a criança vai descobrir o mundo, explorar situações, experimentar
sensações, expressando-se, percebendo-se e percebendo o que as cerca. Por meio da
interiorização das sensações, à medida que a criança se desenvolve e quanto mais o meio
oferecer condições, ela vai ampliando suas percepções e controlando seu corpo.
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É por meio do movimento que a criança explora o mundo exterior e é por essas experiências
concretas que são construídas as noções básicas para o desenvolvimento intelectual. Por isso,
a importância de que a criança viva o concreto; é a partir dessa exploração que ela desenvolve
a consciência de si e do mundo externo.
Desde os primeiros dias de vida a criança se desenvolve de forma contínua, e é pelo
movimento que a criança estabelece as primeiras formas de linguagem. Entendemos que,
para que ocorra um desenvolvimento global e harmonioso da criança, o professor deverá
estar habilitado e é de relevante importância que ele entenda os conceitos da
Psicomotricidade, as bases psicomotoras e suas aplicabilidades no processo de aprendizagem;
é importante estimular o toque, a percepção do próprio corpo, pular, correr, subir, descer,
andar descalço, perceber as diferentes texturas, manipular objetos de diferentes tamanhos,
permitido uma união entre a psique e o corpo. O professor deve permitir que os alunos
experimentem o mundo ao seu redor sem interferir o tempo todo com métodos e resultados.
Porém observar, sem bases teóricas, as crianças brincando significa deixar escapar a essência
do ato.
É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos e é manipulando-
os que ela redescobre o mundo; porém essa descoberta a partir dos objetos só será
verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver
adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não
fizer mais parte de sua simples atividade corporal indiferenciada.
A Psicomotricidade não é exclusiva de um método, de uma “escola” ou
de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um
processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano
(AJURIAGUERRA, apud FONSECA, 1988, p. 332).
Durante as duas últimas décadas, algumas mudanças aconteceram na vida cotidiana do
homem moderno, talvez porque os espaços tenham se reduzido devido à urbanização, à
necessidade de segurança, à modernização tecnológica, levando as crianças a interagir mais
com as máquinas do que com outras crianças. Essas modificações têm afetado principalmente
as relações familiares e as crianças, que vem sofrendo com sedentarismo precoce. Outro fator
de grande relevância é a iniciação escolar cada vez mais cedo, o que torna a instituição escolar
responsável por grande parte da estimulação motora, emocional, cognitiva e social, tornando-
se um espaço importante para que as crianças possam experimentar novas vivências.
Porém, independente de quais fatores foram responsáveis, o que não muda é o fato de que,
para crescer e aprender, a criança precisa conhecer o seu meio e vivê-lo concretamente. É
pelo conhecimento do seu corpo, da exploração de objetos, das relações afetivas que a criança
terá subsídios cognitivos, motores e afetivos para suportar a sucessão de informações a que
será exposta durante seu crescimento.
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SUGESTÕES DE LEITURAS E VÍDEOS COMPLEMENTARES
❖ Psicologia do Desenvolvimento, volumes 1,2 3 e 4 – Clara Regina Rappaport - Ed.
EPU. São Paulo, 1981.
❖ Do andar ao escrever: Um caminho Psicomotor – Fátima Gonçalves - Editora
Cultura RBL Ltda, 2010.
❖ Psicologia do Desenvolvimento: Piaget e Freud – Angela Biaggio - Ed. Vozes.
Petrópolis. 1975.
www.youtube.com/watch?v=pZFu_ygccOo Marta Kohl de Oliveira – Vygotsky
Aprendizado e Desenvolvimento.
www.youtube.com/watch?v=F8Br3B2RoOo Vygotsky e Zona de Desenvolvimento
Proximal.
www.youtube.com/watch?v=9jUQbJ9I094 Piaget e a Psicologia do
Desenvolvimento.
www.youtube.com/watch?v=CeDVt98BJcw Estágios do Desenvolvimento – Wallon.
https://www.youtube.com/watch?v=EnRlAQDN2go Jean Piaget – Fases do
Desenvolvimento.
http://www.youtube.com/watch?v=pZFu_ygccOo
http://www.youtube.com/watch?v=F8Br3B2RoOo
http://www.youtube.com/watch?v=9jUQbJ9I094
http://www.youtube.com/watch?v=CeDVt98BJcw
https://www.youtube.com/watch?v=EnRlAQDN2go
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São Paulo: Martins Fontes, 1994.
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