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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 1. GLÂNDULA MAMÁRIA Linha láctea: desde a região axilar, mamas, abdômen e região pélvica inguinal. Em toda essa região podemos encontrar resquícios mamários. Na mulher, a glândula mamária é bem desenvolvida, mas podemos encontrar processos patológicos nos homens também. Mamilos ou mamas supranumerários resultam da persistência do espessamento epidérmico ao longo da linha mamária, que se estende da axila ao períneo. Glândula mamária: glândula sudorípara modificada que reage a estímulos hormonais e apresenta alterações fisiológicas de acordo com a fase do ciclo menstrual e vida da mulher. http://anatpat.unicamp.br/lamgin21.html É revestida pela pele com hiperpigmentação ao redor do mamilo (aréola). Na aréola tem glândulas sebáceas chamadas Montgomery. Na região do mamilo vários ductos drenam, antes de chegar no mamilo sofrem dilatação (seio galactóforo). E se ramificam nas unidades terminais da mama, conhecidos como lóbulos. Nos lóbulos tem os ácinos que fazem a secreção mamária. Na unidade terminal das glândulas mamarias vemos que os ductos terminam nos lóbulos mamários (constituídos por vários pequenos ácinos). Parece um cacho de uva. Histologicamente, é constituída por tecido adiposo, fibroso denso (interlobular), ductos, lóbulos e tecido conjuntivo mais delicado (intralobular). http://anatpat.unicamp.br/lamgin21.html Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Dentro do lóbulo vemos células inflamatórias também. A quantidade de tecido fibroso denso varia conforme a idade, ele é mais denso nas mulheres jovens e à medida que envelhecem o tecido fibroso substitui por tecido adiposo (mamas mais pendulares). Os ductos mamários são revestidos por dupla camada de células: células epiteliais (mais luminais) e células mioepiteliais (contração muscular para ejeção da secreção). Na unidade lobular vemos um lóbulo com vários acinos, tem estroma intralobular delicado com leve infiltrado inflamatório. Cada ácino tem dupla camada de células: células internas (epiteliais secretoras) e externas (mioepiteliais). Mama lactante: na maturação completa. Lóbulos hiperplásicos e com grande secreção no lúmen. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Dentre os processos patológicos, a maioria se manifesta clinicamente com nódulo palpável (>2cm), secreção pelo mamilo (geralmente unilateral) ou por alterações mamográficas. Outros aspectos associados a lesão mamárias são retração do mamilo, mastalgia (dor) e lesões inflamatórias (mastites). As lesões palpáveis mais comuns são cistos, fibradenomas e carcinomas invasivos. Massas palpáveis benignas são mais comuns em mulheres na pré-menopausa. 2. PROCESSOS INFLAMATÓRIOS NAS MAMAS São causadas por infecções, doenças autoimunes ou reações do tipo corpo estranho à queratina ou secreções extravasadas. Mastite Aguda: se relaciona com a lactação. Pode se formar fissuras na pele do mamilo e as bactérias da pele causam infecção ascendente pela arvore ductal e forma abcessos. Depois pode deixar cicatrizes. Geralmente infecções por S. aureus. Muitos casos de mastite puerperal são facilmente tratados com antibióticos apropriados e expressão contínua do leite da mama. Ectasia ductal: mulheres idosas e multíparas que tem dilatação dos ductos. Na parede desses ductos tem um processo inflamatório inespecífico com plasmócitos que causam destruição de fibras elásticas dos ductos e pode gerar saída de secreção e retração do mamilo. Massa palpável Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp periareolar, frequentemente associada a descarga papilar espessa, esbranquiçada, e ocasionalmente com retração da pele. Necrose gordurosa: associada a traumas na mama. Pode levar necrose do tecido adiposo mamário e posterior inflamação. Pode formar um nódulo mamário com dor no local. 3. ALTERAÇÕES FIBROCÍSTICAS DA MAMA Sinônimos: alteração fibrocística da mama, doença proliferativa da mama, mastopatia crônica cística, displasia mamaria, mazoplasia etc. É uma lesão epitelial benigna que ocorre mais em mulheres jovens (20-40), comum. Causada por desequilíbrio hormonal, predomínio dos estrógenos. Podem ser assintomáticas ou com nódulos/granulações à palpação. São bilaterais e tem dor pré- menstrual (muito sensibilizada). É uma mama muito densa. Dois aspectos morfológicos principais: Não proliferativa: cistos, parede fina, metaplasia apócrina, microcalcificações. Proliferativa: Proliferação epitelial: adenose (> nº de ácinos nos lóbulos); hiperplasia ductal e lobular (típica ou atípica). Proliferação estromal: fibrose. As duas coisas podem ocorrer: adenose esclerosante. É benigna! Mama fibrosa que tem pequenos cistos, que podem ser microscópicos ou macroscópicos. A metaplasia apócrina é caracterizada por substituição do epitélio normal com células maiores, citoplasma amplo e eosinófilo. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Hiperplasias epiteliais dessa doença fibrocistica: Na hiperplasia epitelial, o aumento do número de células luminais e mioepiteliais preenche e distende os ductos e lóbulos. Lesões proliferativas: causa leve aumento do risco para carcinoma. Lesões prolfierativas com atipias: aumento moderado para carcinoma. Se não existir atipia, o desenvolvimento para câncer da doença fibrocistica é muito pequeno. Elas são comumente detectadas como densidades mamográficas, calcificações, ou como achados incidentais em biópsias realizadas por outros motivos. Essas lesões não são clonais e geralmente não estão associadas a mutações. Embora elas sejam preditoras de risco, provavelmente não são reais precursoras do carcinoma. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp http://anatpat.unicamp.br/lamgin22.html http://anatpat.unicamp.br/lamgin23.html 4. NEOPLASIAS BENIGNAS DA MAMA Fibroadenoma, tumor filóides e papiloma intraductal. FIBROADENOMA É a neoplasia benigna mais comum da mama. Ocorre em mulheres jovens. Nódulo bem circunscrito, móvel, encapsulado, únicos ou múltiplos. Superfície de corte bem esbranquiçada. Existe associação com a doença fibrocistica da mama (DFC). Cresce a partir do estroma intralobular (delicado). Estão no quadrante superior externo (QSE). São tumores de 2 a 4 cm e mais raramente > 10 cm (fibroadenomas gigantes). Macroscopicamente ele tem fendas no interior. Microscopicamente, vemos mais estroma delicado e proliferação de ácinos e ductos (circulares ou achatados, como fendas). À medida que a mulher envelhece eles podem diminuir de tamanho e sofrer fibrose e hialinização. http://anatpat.unicamp.br/lamgin24.html http://anatpat.unicamp.br/lamgin22.html http://anatpat.unicamp.br/lamgin23.html http://anatpat.unicamp.br/lamgin24.html Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp TUMOR FILOIDES (Phyllodes) Pode ter transformação maligna e ter recidivas. Outro nome é o cistossarcoma filoides (semelhante a folhas). Semelhante ao fibroadenoma, mas volumosos e comportamento de baixo potencial maligno (recidivas). Ocorre em mulheres mais velhas que no fibroadenoma, mas mais raros. Microscopicamente tem estroma hipercelular com mitoses e atipias. O componente epitelial não tem atipias. Pode crescer rapidamente, tem altas recorrências locais, tem que ser ressecado com margens amplas. Pode ocorrer metástases do estroma e se transformar num sarcoma. Pode até ter ulcerações da pele. Aspecto foliáceo lembrando as folhas do cerebelo. Microscopicamente parece fibroadenoma, mas o estroma é muito hipercelular. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp PAPILOMA INTRADUCTAL Cresce dentro dos ductos grandes próximos do mamilo, causam dilatação dos ductos. Cresce dentro da luz, exofitico, pode causar roturas na parede e causar secreçãosanguinolenta pelo mamilo. Benigno. Nódulo palpável geralmente subareolar. Pode levar à retração do mamilo. Lesão epitelial que forma papilas, mas sem atipias. CARCINOMA DA MAMA Neoplasia maligna da mama. Tem alta frequência, muito mais em mulheres (>50 anos). O câncer mais comum nas mulheres (29,5% de todos os canceres). O câncer de mama é raro em mulheres com idade inferior a 25 anos, mas a incidência aumenta rapidamente depois dos 30 anos. Maior incidência na região sudeste e sul. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp O câncer de mama pode ser hereditário, desenvolvendo-se em mulheres com mutações em genes supressores tumorais, ou esporádico. Contudo, os fatores ambientais atuam diretamente na influência das formas hereditárias do câncer de mama, e tanto os fatores genéticos quanto os ambientais contribuem para as formas esporádicas do câncer. Fatores de risco: - Hormonal: menarca precoce (<12a), menopausa tardia (>55a), nuliparidade, TRH, primeira gestação após 30 anos; - IMC: dieta hipercalórica, sedentarismo; - Familiar: mutação dos genes BRCA1 e BRCA2. Os casos familiares correspondem apenas a 10% dos casos. Há associação com hiperplasia epitelial com atipia (doença fibrocistica com atipias). Oncogênese: associada ao estimulo estrogênico prolongado em um tecido mamário mais susceptível geneticamente. Isso causa hiperplasia epitelial que pode surgir clones celulares mais instáveis, gerando atipias. Diferentes vias de carcinogênese por diferentes clones, várias mutações se somam e há diferente perfil molecular nos tumores de mama. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Estudos moleculares por microarray (chip de DNA): vemos o perfil da expressão genica nesses tumores. Pode haver correlação desses estudos com os exames imunoistoquimicos. Detectamos a expressão genica de vários genes, diferentes vias de carcinogênese e perfil molecular do tipo celular. Classificamos os tumores mamários morfologicamente e conforme os tipos moleculares (classificação molecular). É importante detectar pois o prognóstico e terapias alvo são especificas. Expressão de receptores hormonais: os tumores mamários menos agressivos tem receptores de estrógeno (RE) e de progesterona (RP). Amplificação do EGFR: receptor do fator de crescimento epidérmico fica amplificado (HER-2 ou ErbB2 positivos). São mais agressivos. Essa classificação molecular para esses marcadores é feita na rotina pela imunoistoquimica. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp O HER-2 tem uma terapia alvo especifica (trastuzumabe), então dá para tratar bem, apesar de ser agressivo. Os carcinomas da mama estão mais no QSE da mama em 50% dos casos. Nódulo firme, aderido aos tecidos adjacentes, pode ter alterações da pele ou do mamilo em casos mais avançados (retração, casca de laranja, inflamação). O nódulo costuma ser bem endurecido, contorno infiltrativo, necrose e calcificações. O câncer de mama tem contornos infiltrativos na macroscopia e isso se assemelha a figura do caranguejo. Quase todas (>95%) as neoplasias malignas da mama são adenocarcinomas que se originam primeiramente a partir do ducto/sistema lobular na forma de carcinomas in situ; no momento do diagnóstico clínico, a maioria (ao menos 70%) terá infiltrado a membrana basal e invadido o estroma. Tipos histológicos principais: Carcinoma ductal: in situ (intraductal ou neoplasia intraepitelial ductal) ou invasivo (comum). Carcinoma lobular: in situ (raro – neoplasia intraepitelial lobular) ou invasivo (10% dos carcinomas). O carcinoma ductal in situ (CDIS) raramente é palpável e quase sempre é detectado por mamografia. O CDIS pode ser dividido em dois grandes subtipos arquiteturais, comedocarcinoma e não comedocarcinoma. Alguns casos de CDIS têm um padrão de crescimento único, mas a maioria é composta de uma mistura de padrões. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Arranjo sólido – cribriforme Necrose – necrose com calcificação (comedo carcinoma) Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Carcinoma lobular in situ tem os ácinos totalmente preenchidos por células carcinomatosas (monótonas). Fatores prognósticos: tamanho do tumor, tipo e grau histológico, invasão vascular ou linfática, metástases em linfonodos, receptores hormonais (melhor) ou expressão de HER-2 (pior). http://anatpat.unicamp.br/lamgin25.html DOENÇA DE PAGET DA MAMA Doença de Paget do mamilo é uma manifestação rara do câncer de mama (1% a 4% dos casos) que se apresenta como uma erupção eritematosa unilateral com uma crosta escamosa. É um carcinoma in situ na pele do mamilo. Células neoplásicas (células de Paget) se disseminam pelo sistema ductal, através dos seios galactíferos, para a pele do mamilo, sem infiltrar a membrana basal. Clinicamente tem eczema, prurido e ulceração. À palpação sentimos nódulo mamário em 60% dos casos (carcinoma ductal in situ ou invasor). Microscopicamente tem células grandes, citoplasma claro, mucossecretor PAS+, invadindo a epiderme. Na profundidade vemos carcinoma intraductal. http://anatpat.unicamp.br/lamgin25.html Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp http://anatpat.unicamp.br/lamgin26.html CARCINOMA INFLAMATÓRIO Lesão de câncer avançado na mama, relacionado a mau prognostico. Pele da mama tem muitos êmbolos carcinomatosos nos vasos linfáticos da derme. Disseminação intensa. Leva a um edema, vermelhidão e calor local. Fica com sinais inflamatórios, por isso o nome. http://anatpat.unicamp.br/lamgin26.html Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp - Disseminação dos canceres de mama: Principalmente para gânglios axilares, pois é onde é drenado o QSE. Pode haver drenagem para gânglios mais internos, como os mediastinais, supraclavicular, cervicais, abdominais. Pode haver disseminação via hematogênica para órgãos a distância: pulmão, fígado, ossos, ovários, pele. MAMA MASCULINA Dentro das lesões mamarias nos homens temos dois processos patológicos principais: ginecomastia e carcinoma. Na histologia da ginecomastia vemos proliferação do estroma bem fibroso e ductos. O carcinoma de mama masculina geralmente já tem ulceração e invasão da parede torácica. Estágio avançado do diagnóstico.