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Explicando as doenças.... Teoria Mística Teoria Miasmática Unicausalidade Multicausalidade UNIVERSIDADE PAULISTA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Teoria Mística A doença era interpretada como um fenômeno "sobrenatural“. Teoria Miasmática Se baseia no princípio de que o contágio das doenças acontecia através da inalação de miasmas, ou seja, o ar fétido proveniente de matéria orgânica em putrefação carregaria consigo partículas danosas à saúde, e ao ser inalado pelas pessoas, essas ficariam doentes. A partir desse princípio, a medida mais defendida pelos médicos sanitaristas do período era a que todas as atividades que pudessem propiciar a formação de miasmas deveriam acontecer longe do convívio da população, desta forma, equipamentos como matadouros, mercados, hospitais e cemitérios, que lidavam com matéria orgânica em putrefação, deveriam localizar-se afastados do núcleo urbano. Hipócrates EX: a prática do sepultamento dentro de templos, comum e intimamente ligada à fé passou a ser condenação pois a decomposição dos cadáveres produziria gases que atacavam a saúde dos vivos. Assim, a população deveria se cuidar através da transferência dos mortos para cemitérios localizados fora do perímetro urbano, em lugares elevados e arejados, cercados de árvores frondosas que ajudassem a limpar o ar, longe de fontes de água potável e fora da rota de ventos que soprassem sobre a cidade. Marcos históricos importantes Revolução industrial e deslocamento das populações para as cidades e a ocorrência das epidemias de cólera, febre tifóide e febre amarela. Teoria da Unicausalidade Reconhecia que a causa única e fundamental da doença situa-se fora do organismo humano acometido. Surgiu quando o homem não dispunha de meios para controlar a Natureza, e buscava as causas das doenças em fatores externos, que provocavam distúrbios quase sem qualquer controle pelo próprio homem. Idéia de que a doença é causada por agentes etiológicos, como vírus e bactérias, descobertos com os estudos de Louis Pausteur (França) Marcos históricos importantes Segunda metade do século XX: mudanças das doenças prevalentes de infecciosas para as doenças crônicas e degenerativas como causa de mortalidade e morbidade fizeram com que o foco da epidemiologia estivesse voltado para a determinação das condições de saúde da população (inquéritos de morbidade e de mortalidade) e para a busca sistemática de fatores antecedentes ao aparecimento das doenças, que possam ser rotulados como agentes ou fatores de risco (cigarro, e coronariopatias). Teoria da Multicausalidade A grande maioria das doenças advém de uma combinação de fatores que interagem entre si e acabam desempenhando importante papel na determinação das mesmas. Como exemplo: Câncer de pulmão. Nem todo fumante desenvolve câncer de pulmão, o que indica que há outras causas contribuindo para o aparecimento dessa doença. Estudos mostraram que, descendentes de primeiro grau de fumantes com câncer de pulmão tiveram 2 a 3 vezes maior chance de terem a doença do que aqueles sem a doença na família; isso indica que há uma suscetibilidade familiar aumentada para o câncer de pulmão. Ativação ou inativação de genes promovidas por fatores ambientais são fundamentais no desenvolvimento da doença. Unicausalidade X Multicausalidade • Como exemplo de influência da teoria da unicausalidade podemos destacar os episódios da epidemia de febre amarela no século XIX no Brasil. Na época liderado por Oswaldo Cruz, surgiu o movimento de ” caça aos mosquitos ” como estratégia no combate à doença evidenciando o conhecimento do agente patológico. • Posteriormente, já sob influências das teorias de multicausalidade, campanhas por saneamento básico foram tentadas na resolução da doença evidenciando as explicações sociais para o surgimento da doença. Atualmente... • Praticamente todos os agravos à saúde já foram ou estão sendo estudados através de estudos epidemiológicos. • Teoria da multicausalidade: tornou-se claro que os agentes microbianos e físicos não eram capazes de explicar todas as questões de etiologia e prognóstico das doenças. • Incorporação dos princípios da psicologia e sociologia: a sociedade, da forma como está organizada, embora oferece proteção ao indivíduo mas também determina muitos riscos de adoecer, bem como o acesso das pessoas às técnicas de prevenção das doenças e de promoção e recuperação da saúde. Os determinantes da Saúde Teoria da Determinação Social do Processo Saúde-Doença e Determinantes da Saúde Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (1991) Forma de organização social o modo de produção/jurídico-político-ideológico grupos sociais: de acordo com a inserção no sistema produtivo formas de produção social (produção) • Fatia da produção social (renda) • Venda/ compra da força de trabalho Diferentes possibilidades de acesso: • Alimentação • Habitação • Escolaridade • Saneamento • Serviços de saúde Processo saúde-doença Desgastes Potencialidades • Estrutura genética e outros aspectos de ordem estritamente individual formas de reprodução social (consumo) À luz da Teoria da Determinação Social do Processo Saúde Doença, devemos buscar compreender o objeto de estudo (adoecimento, adesão os processo terapêutico, etc.) segundo perspectiva totalizadora pois, o OBJETO não se restringe a uma atitude de base comportamental, mas está intimamente articulada à forma como o indivíduo vive, relacionando-se à constituição da sociedade em seus diferentes grupos sociais e à institucionalização de políticas que promovam o acesso à saúde e à dignidade da vida Definições • Desigualdades: diferenças sistemáticas na situação de saúde de grupos populacionais • Iniqüidades: as desigualdades na saúde evitáveis, injustas e desnecessárias (Whitehead) • Determinantes sociais de saúde (DSS) são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham ou "as características sociais dentro das quais a vida transcorre” (Tarlov,1996) Por que enfatizar os determinantes sociais? • Os determinantes sociais tem um impacto direto na saúde • Os determinantes sociais estruturam outros determinantes da saúde • São as ‘causas das causas’ Distinção entre Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças (Czeresnia, 2003) Promover: • Impulsionar, fomentar, originar, gerar. • Refere-se a medidas que não se dirigem a doenças específicas, mas que visam aumentar a saúde e o bem estar. • Implica o fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos determinantes e condicionantes da saúde. Distinção entre Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças (Czeresnia, 2003) Prevenir: • Preparar, chegar antes de, impedir que se realize... • Exige ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural da doença para tornar seu progresso improvável. • Implica o conhecimento epidemiológico para o controle e redução do risco de doenças. • Projetos de prevenção e educação baseiam-se na informação científica e recomendações normativas. PROMOÇÃO DA SAÚDE: concepções a) Saúde como produto de amplo espectro de fatores relacionados a qualidade de vida, com ênfase em ações voltadas para o coletivo e o ambiente (físico, social, político, econômico, cultural), contemplando a “autonomia” de indivíduos e grupos (capacidade para viver a vida) e a equidade. (Carvalho et al., 2004) b) Saúde como produto de comportamentos de indivíduos e famílias (estilos de vida, dieta, atividade física, hábito de fumar), com ênfase em programas educativos relacionados a riscos comportamentais passíveis de mudança. PROMOÇÃO DA SAÚDE: abordagens a) ressalta a atuação sobre os determinantes sócio-ambientais da saúde e políticas públicas intersetoriais, voltadas à melhoria da qualidade de vida das populações. b) reforça a tendência de diminuição das responsabilidades do Estado, delegando aos indivíduos, progressivamente, o auto-cuidado DeterminantesSociais e Promoção da Saúde • Os determinantes sociais podem ter um efeito na saúde positivo (fomento, promoção da saúde e da qualidade de vida) ou negativo (riscos, doenças e agravos) • Substituição da abordagem comportamental por abordagem ampla dos problemas de saúde: ação sobre determinantes, caráter coletivo, políticas públicas, capacidade dos indivíduos e de comunidades; • Estratégias combinadas: individuais, ambientais, políticas. A iniquidade faz mal à saúde de todos Brasil - desigualdades de renda CNDSS (2008) O Brasil está situado em 11º lugar entre os países mais desiguais do mundo em termos de distribuição da renda O Brasil é superado apenas por seis países da África e quatro da América Latina. Dados PNUD (2005) Iniquidades em saúde e regiões Paim (2006); CNDSS (2008) Iniquidades em saúde e raça/cor Paim (2006); CNDSS (2008) Epidemia moderna: as mortes violentas Paim (2006); CNDSS (2008) Saneamento básico: quem não tem água Paim (2006); CNDSS (2008) Realização de mamografia alguma vez na vida. Brasil 2003 0% 20% 40% 60% 80% < 1 1 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 ou mais Escolaridade (anos) % m u lh e re s Fonte: PNAD Saúde 2003 Percentuais de mulheres que engravidaram na adolescência. Pelotas, 1982-2003 0% 5% 10% 15% 20% 25% <1 1,1-3 3,1-6 6.1-10 >10 Renda familiar em salários mínimos % a d o le s c e n te s Fonte: Coorte de 1982 (Pelotas) Diferenciais intra-urbanos e desigualdades sociais em saúde • Os determinantes sociais que explicam a estruturação do espaço urbano e as condições de reprodução da vida (biológica, ecológica, econômica e cultural), definem, em última análise, o padrão e o perfil epidemiológico da população. Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde da OMS (CSDH) • Composta de 20 membros, destacados líderes mundiais do mundo político, de governos, da sociedade civil e da academia • Lidera iniciativa mundial para criar Comissões Nacionais em todo o mundo • Criada pela Assembléia Mundial da Saúde de 2004 • Implantada em março de 2005, com mandato até março de 2008 Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) A CNDSS e a Constituição “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” Constituição Federal, art.196 Processo de constituição da CNDSS • Decreto presidencial de 13/3/2006 cria a CNDSS • Grupo de dezessete especialistas e personalidades da vida social, econômica, cultural e científica do país, nomeado pelo Ministro da Saúde • Constituição da CNDSS expressa o reconhecimento de que a saúde é um bem público a ser construído com a participação solidária de todos os setores da sociedade brasileira O papel da sociedade civil na redução das desigualdades de saúde • O desgaste do capital social, conjunto de relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupo, é um importante mecanismo através do qual as iniquidades socioeconômicas impactam negativamente a situação de saúde • Países com frágeis laços de coesão social resultantes das iniquidades socioeconômicas são os que menos investem em capital humano e em redes de apoio social e são também onde há menor participação na definição de políticas públicas • Estudos mostram que não são as sociedades mais ricas as que possuem melhores níveis de saúde, mas as que são mais igualitárias e com alta coesão social. Nestas sociedades, as pessoas são mais envolvidas com a vida pública, vivem mais, são menos violentas e avaliam melhor sua própria saúde CNDSS (2008) O papel do setor saúde na redução das desigualdades de saúde • Defender a abordagem dos DSS e explicar como ela gera benefícios para a sociedade como um todo e para os diferentes setores. Em particular, o setor saúde precisa ser capaz de demonstrar porque a desigualdade em saúde é um indicador prioritário para o bem-estar da sociedade e, assim, justifica uma resposta integrada • Ter a expertise e a responsabilidade de monitorar as desigualdades de saúde e o impacto de políticas sobre os determinantes sociais WCSDH – Doc. Técnico O papel do setor saúde na redução das desigualdades de saúde • Coletar evidências e defendê-la, buscando unir setores no planejamento e na implementação de ações sobre os DSS - por exemplo, reconhecer questões que necessitam de mais trabalho em colaboração, construir relações e identificar aliados estratégicos em outros setores • Ser capaz de desenvolver ações ancoradas na abordagem dos DSS WCSDH – Doc. Técnico • Para que o setor saúde seja capaz de reduzir - ao invés de aumentar - as desigualdades de saúde, é preciso que a equidade esteja no cerne da organização dos serviços de saúde e esteja institucionalizada na governança dos sistemas de saúde (atores, instituições e recursos que executam ações cujo objetivo principal é melhorar as condições de saúde) • A construção da equidade em saúde exige a contribuição de todos os setores do governo (não somente setor saúde), de todos os segmentos da sociedade e da comunidade internacional em ações organizadas por políticas públicas baseadas em evidências que incidam sobre os DSS e combata às iniquidades em saúde O papel do setor saúde na redução das desigualdades de saúde (Pellegrini Filho, 2011; WCSDH – Doc. Técnico) Todos os sujeitos envolvidos na formulação de políticas públicas precisam ter uma visão geral de como realizar ações sobre os determinantes sociais da saúde com o objetivo de melhorar as condições gerais de saúde, reduzir as desigualdades de saúde e contribuir para o desenvolvimento econômico e social, garantindo a inclusão de todos os grupos da sociedade (Pellegrini Filho, 2011) Referências Bibliográficas 1. Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS). As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil - relatório final da CNDSS. 2008. 2. Apresentação feita por Jairnilson Paim, membro da CNDSS, no lançamento da Política Nacional de Promoção da Saúde, realizada em 05/12/06, em Brasília. 3. Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde (WCSDH). Primeiro Documento Técnico. 4. Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde. Editorial. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(11):2080-2081, nov, 2011.