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716.
Parte VII
Recursos
Capítulo XXVII
SISTEMA RECURSAL DO PROCESSO CIVIL
§ 76. RECURSOS
Sumár io: 716. Conceito. 717. Recursos e outros meios  impugnativos utilizáveis
contra  decisões  judiciais.718.  Classificação  dos  recursos.  719.  Fundamento  e
natureza  do  direito  ao  recurso.  720.  Atos  sujeitos  a  recurso.  721.  Recursos
admissíveis.  722.  Reclamação.  723.  Correição  parcial.  724.  A  técnica  de
julgamento dos recursos.
Conceito
Em linguagem jurídica a palavra recurso é usualmente empregada num sentido
lato para denominar “todo meio empregado pela parte  litigante a  fim de defender o
seu  direito”,  como,  por  exemplo,  a  ação,  a  contestação,  a  reconvenção,  as  tutelas
provisórias.1 Nesse  sentido diz-se que a parte deve  recorrer  às vias ordinárias, ou
deve  recorrer   às  tutelas  de  urgência  e  da  evidência,  ou  deve  recorrer   à  ação
reivindicatória etc.
Mas,  além  do  sentido  lato,  recurso  em  direito  processual  tem  uma  acepção
técnica e  restrita, podendo ser definido como o meio ou  remédio  impugnativo apto
para provocar, dentro da  relação processual  ainda  em  curso, o  reexame de decisão
judicial, pela mesma  autoridade  judiciária, ou por outra hierarquicamente  superior,
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717.
visando a obter-lhe a reforma, invalidação, esclarecimento ou integração.2
Não  se  deve,  porém,  confundir  o  recurso  com  outros  meios  autônomos  de
impugnação da decisão  judicial, como a ação  rescisória e o mandado de  segurança
(vide, adiante, nº 717).
Caracteriza-se o  recurso  como o meio  idôneo  a  ensejar o  reexame da decisão
dentro  do  mesmo  processo  em  que  foi  proferida,  antes  da  formação  da  coisa
julgada.3
Recursos e outros meios impugnativos utilizáveis contra decisões
judiciais
Não é o  recurso o único  instrumento utilizável para  atacar  a decisão  judicial.
Além  do  recurso  existem  ações  autônomas  de  impugnação.  No  sistema  jurídico
brasileiro,  o  que  caracteriza  o  recurso  é  a  sua  inserção  na  própria  relação  jurídica
processual  onde  o  direito  de  ação  está  sendo  exercido,4  enquanto  as  ações  de
impugnação,  como  a  rescisória, o mandado de  segurança, os  embargos de  terceiro
etc., representam a instauração de uma nova relação jurídica processual.
Os remédios impugnativos do segundo tipo às vezes são manejados até mesmo
depois da extinção do processo em que se proferiu a decisão atacada, ou seja, depois
de  consumada  a  coisa  julgada,  como  se  dá  com  a  ação  rescisória. Outras  vezes,
podem ser exercidos antes da coisa  julgada, como no mandado de segurança contra
ato  judicial.  Em  qualquer  dos  casos,  porém,  não  é  possível  identificá-los  como
simples  incidente  ou mera  extensão  do  processo  precedente.  Sempre  produzirão  a
instauração de processo distinto daquele em que se proferiu a decisão impugnada.5
Entre os recursos e as ações de impugnação, costuma-se reconhecer a existência
de alguns  sucedâneos recursais,  que  não  se  enquadrando  na  categoria  de  recursos
nem na de ação autônoma, permitem, assim mesmo, alguma forma de impugnação a
decisões  judiciais.  Exemplos  dessa  categoria  processual  seriam  encontrados  no
pedido  de  reconsideração,6  no  pedido  de  suspensão  da  segurança  (Lei  nº
12.016/2009,  art.  15),  na  remessa  necessária  (NCPC,  art.  496)7  e  na  correição
parcial (regimentos internos dos tribunais).8
Diante do quadro jurídico brasileiro, destarte, o conceito de recurso formalizado
por Barbosa Moreira é expressivo e merece acolhida, ou seja, recurso é “o remédio
voluntário  idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a  invalidação, o
esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”.9
A  hipótese  mais  frequente  é  a  do  recurso  que  busca  a  reforma  da  decisão
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impugnada,  tentando obter em novo pronunciamento, do mesmo órgão  judicial, ou
de  um  tribunal  superior,  uma  solução  concreta  diversa  daquela  contida  no  julgado
primitivo. Outras vezes, o intento do recorrente não é, de pronto, o novo julgamento
da questão já decidida, mas apenas a sua invalidação, ou eliminação, para que outro,
futuramente,  seja  proferido  em  condições  de  validade.  Por  fim,  é  possível  que  o
propósito  do  recorrente  não  seja  o  de  reformar,  nem  o  de  cassar,  a  decisão
impugnada, mas  apenas  o  de  aperfeiçoá-la, mediante  eliminação  de  obscuridade,
contradição e omissão.10
Classificação dos recursos
Várias  são  as maneiras  de  classificar  os  recursos. Eis  os  principais  critérios
classificatórios:
I – Quanto ao fim colimado pelo recorrente
(a)  de  reforma,  quando  se  busca  uma  modificação  na  solução  contida  no
decisório  impugnado,  de  maneira  a  alcançar,  no  julgamento  recursal,  um
pronunciamento mais favorável ao recorrente;
(b)  de  invalidação,  quando  não  se  busca  um  novo  julgamento,  dentro  do
recurso, para a matéria decidida no ato impugnado, mas, sim, a sua cassação pura e
simples,  ensejando, posteriormente, volte  a mesma matéria  a  ser  julgada  em novo
decisório  que  não  contenha  os  vícios  que  provocaram  a  anulação  do  primeiro  jul-
gamento. Ocorre esse tipo de recurso, geralmente, nas hipóteses de inobservância de
requisitos  de  validade  do  julgamento,  como  a  incompetência,  o  cerceamento  de
defesa,  as  decisões  citra,  extra  e  ultra  petita,  e,  enfim,  a  ausência  de  qualquer
pressuposto processual ou condição da ação;
(c)  de  esclarecimento  ou  integração:  são  os  embargos  de  declaração,  onde  o
objetivo recursal específico não é o rejulgamento da matéria decidida nem tampouco
a invalidação do ato impugnado, mas, sim e tão somente, o seu aper-feiçoamento, o
que  se  alcança  eliminando  a  falta  de  clareza  ou  a  contradição  nele  verificada,  ou
suprindo-lhe  alguma  omissão  no  tratamento  das  questões  suscitadas  no  processo.
Eventualmente, ter-se-á de introduzir alguma inovação no decisório embargado. Isto,
porém,  haverá  de  ser  feito  nos  estritos  limites  da meta  de  eliminar  a  dúvida,  a
contradição ou suprir a omissão, e nunca com a dimensão de um amplo  reexame e
rejulgamento daquilo que já restara solucio-nado no ato judicial anterior.
II – Quanto ao juízo que se encarrega do julgamento
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(a) devolutivos ou reiterativos, quando a questão julgada por um órgão judi-cial
é  devolvida  ao  conhecimento  de  outro  órgão.  É  o  que  se  passa  com  o  recurso
ordinário, o especial, o extraordinário, a apelação;
(b) não devolutivos ou iterativos, quando a impugnação é julgada pelo mes-mo
órgão  que  proferiu  a  decisão  recorrida,  tal  como  se  passa  nos  embargos  de
declaração;
(c) mistos,  quando  tanto  permitem  o  reexame  pelo  órgão  superior  como  pelo
próprio prolator do ato decisório impugnado, como é o caso do agravo.11
A  classificação dos  recursos  em devolutivo e não devolutivo prende-se  a uma
concepção antiga da ação de devolver, que a  identificava com o ato de “transferir a
outrem”  um  direito.12 Daí  falar-se  em  recurso  de  efeito  devolutivo  ou  não  devo-
lutivo, no sentido de transferir, ou não, de um órgão judicial para outro, a função de
reexaminar a decisão judicial.
Mas devolver   sempre  teve,  também, o  sentido de “restituir”13 ou “entregar de
volta”.14 Uma vez que os processos são dominados, em sua marcha, pelo princípio
da preclusão,  as decisões  judiciais, uma vez pronunciadas,  têm  como  efeito  extin-
guir o poder de reexaminar a questão decidida. A regra vem expressa no art. 505 do
NCPC,15  em  que  se  lê  que,  em  princípio,“nenhum  juiz  decidirá  novamente  as
questões  já decididas, relativas à mesma  lide”, salvo em alguns casos expressos na
lei.  E  um  desses  casos  é  justamente  o  recurso,  cuja  interposição  adequada  e
tempestiva afasta a possibilidade de preclusão, reabrindo ou restituindo o poder de
examinar, mais uma vez,  a matéria  já decidida,  reexame  esse que poderá  ser  feito
pelo próprio  juiz autor da decisão questionada ou por outro órgão hierarquicamente
superior.
No  sentido  técnico, portanto,  é  lícito  afirmar que  todo  recurso  sempre possui
efeito devolutivo, pois qualquer que seja ele, afasta ou impede a preclusão, ensejando
nova oportunidade de  julgamento, no  todo ou em parte, da questão decidida no ato
judicial impugnado.
Nessa  perspectiva,  é melhor  classificar  os  recursos,  quanto  ao  órgão  a  quem
compete  julgá-los, em  (i) recursos reiterativos e  (ii)  recursos  iterativos, em  lugar
de falar em devolutivos e não devolutivos. Isso porque, do ponto de vista  técnico, a
devolutividade é característica comum a todo e qualquer recurso admitido em direito
processual.
III – Quanto à extensão do reexame de um órgão sobre a matéria decidida por
outro
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(a)
(b)
(c)
(a)  total,  quando  o  recurso  ataca  a  decisão  como  um  todo,  requerendo  sua
reforma integral;
(b) parcial, quando o  inconformismo do  recorrente  é  restrito  a uma ou  algu-
mas questões dentre todas solucionadas no decisório recorrido. Nessa hipótese, não
terá  poder,  o  órgão  recorrido,  para  introduzir  qualquer  alteração  na  parte  não
impugnada. Tantum  devolutum  quantum  appelatum.  É  que  a  parte  não  atacada  da
sentença  transita  em  julgado,  desde  logo,  se  versar  sobre  o mérito  da  causa,  ou
incorre em preclusão, se se tratar de questões processuais.
Nos recursos reiterativos, o julgamento do tribunal ad quem substitui a decisão
recorrida, no que  tiver  sido objeto de  recurso  (NCPC, art. 1.008).16 Para  todos os
efeitos, o único julgamento existente será o do recurso. Se, por exemplo, se tiver de
realizar  a  execução  forçada ou  se  se  intentar  a  ação  rescisória, o  ato básico  será o
acórdão que julgou o recurso e não a sentença recorrida. Isto, porém, pressupõe que
tenha ocorrido  julgamento de mérito, que  tenha confirmado ou reformado a decisão
recorrida. Se  o  caso  for  de  anulação  ou  de  pura  cassação,  não  se  pode  cogitar  de
substituição,  porque,  ao  próprio  juízo  de  origem  competirá  proferir  nova  sentença
para substituir a primitiva, que o Tribunal invalidar.
IV – Quanto aos motivos da impugnação
(a) há  recursos de  fundamentação  livre,  que  são  aqueles  cuja  admissibilidade
não se prende a matérias preordenadas pela lei; e
(b) há  recursos de  fundamentação  vinculada,  que  são  aqueles  só  admissíveis
quando  se  invoca  tema  enquadrado  na  previsão  legal  de  cabimento  do  remédio
recursal.
Os  recursos  em  geral  se  prestam  ao  questionamento  de  qualquer  matéria
jurídica,  seja  de mérito  ou  de  preliminar  processual. Há,  porém,  os  que,  como  os
embargos  de  declaração,  o  recurso  extraordinário  e  o  especial,  somente  são
admissíveis quando a respectiva fundamentação for enquadrável nos permissivos da
lei, ou seja:
Para  recorrer por meio dos embargos de declaração, a parte  somente pode
alegar a ocorrência de obscuridade,  lacuna, contradição no conteúdo do ato
judicial impugnado ou erro material (NCPC, art. 1.022);17
Para manejar  o  recurso  extraordinário,  a  parte  haverá  de  apontar  um  dos
defeitos de natureza constitucional arrolados no art. 102, III, da CF;
O  recurso  especial  só  será  admitido  quando  fundado  num  dos
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(a)
(b)
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questionamentos,  relacionados  à  lei  federal,  autorizados pelo  art. 105,  III,
da CF.
V – Quanto à marcha do processo rumo à execução da decisão impugnada
suspensivos: os que impedem o início da execução provisória ou definitiva;
não suspensivos:  os  que, mesmo  na  pendência  do  recurso,  permitem  seja
processada a execução provisória, e, às vezes, até a execução definitiva, da
sentença ou decisão interlocutória impugnada.18
No sistema do Código os recursos em geral não impedem o prosseguimento do
feito  e,  por  isso,  autorizam  a  execução  provisória  (art.  995).19  Entretanto,  a
apelação,  em  regra,  suspende  os  efeitos  da  sentença  impugnada,  não  ensejando
execução provisória, a não ser nos casos excepcionais arrolados em lei (art. 1.012, §
1º).20
No caso de apelação contra a sentença que extingue sem resolução do mérito os
embargos  do  devedor  ou  os  julga  improcedentes,  o  recurso  não  tem  efeito
suspensivo  (art.  1.012,  §  1º,  III).21  O  Código  anterior  considerava  provisória  a
execução  iniciada  em  caráter  definitivo,  na  pendência  do  recurso  contra  a  rejeição
dos embargos do devedor (CPC/1973, art. 587, com redação da Lei nº 11.382/2006),
afastando-se  de  antiga  e  reiterada  jurisprudência  do  Superior  Tribunal  de  Justiça,
que, na  espécie, mantinha o  caráter  com que  a  execução havia  se principiado.22 O
novo Código conserva a mesma orientação, ao prever que a apelação não tem efeito
suspensivo  quando  a  sentença  extinguir  os  embargos  à  execução,  com  ou  sem
resolução de mérito,  caso  em que  se permite  ao  exequente  “promover o pedido de
cumprimento provisório  depois  de  publicada  a  sentença”  (grifamos)  (art.  1.012,  §
2º).23  Vale  dizer:  o  novo  Código  continua  adotando  a  tese  de  que  a  execução
definitiva  de  título  extrajudicial  transmuda--se  em  provisória  enquanto  não
encerrados, por decisão trânsita em julgado, os embargos do devedor.
Fundamento e natureza do direito ao recurso
“Psicologicamente –  lembra Gabriel Rezende Filho – o  recurso corresponde a
uma  irresistível  tendência  humana”.24 Na  verdade,  é  intuitiva  a  inconformação  de
qualquer pessoa diante do primeiro  juízo ou parecer que  lhe é dado. Naturalmente,
busca-se uma segunda ou terceira opinião, sempre que a primeira não seja favorável
ao ponto de vista do consulente, não  importa o  terreno do conhecimento em que a
indagação  ocorra  (filosófico,  literário,  artístico,  sociológico,  político,  pedagógico,
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médico, religioso e qualquer outro que inquiete o espírito humano). Não poderia ser
diferente  no  que  diz  respeito  às  divergências  de  ordem  jurídica,  plano  em  que  os
conflitos são constantes e de soluções sempre problemáticas.
Isso posto, numa  síntese  feliz, o mesmo processualista  resume  a origem dos
recursos  processuais  em  duas  razões:  “a)  a  reação  natural  do  homem,  que  não  se
sujeita a um único julgamento; b) a possibilidade de erro ou máfé do julgador”.25 No
plano  sociológico,  essas  razões  são  as  que  basicamente  explicam  a  presença  dos
recursos  nos  sistemas  processuais  de  todo  o  mundo  civilizado,  muitos  deles
erigindo-os à categoria de um dos direitos e garantias fundamentais, ou seja, um dos
direitos do homem.
Discute-se  a  propósito  da  natureza  jurídica  do  recurso,  chegando  alguns  a
qualificá-lo  de  uma  ação  distinta  e  autônoma  em  relação  àquela  em  que  se  vinha
exercitando o processo.26
A correntedominante, no entanto, prefere conceituar o poder de recorrer “como
simples  aspecto,  elemento  ou modalidade  do  próprio  direito  de  ação  exercido  no
processo”.27 Em outros  termos, corresponde a um  incidente, ou desdobramento do
processo, em que o direito de ação é praticado.
Apresenta-se, também, o recurso como ônus processual, porquanto a parte não
está obrigada  a  recorrer do  julgamento que  a prejudica. Mas,  “se o vencido não o
interpuser, consolidam-se e se tornam definitivos os efeitos da sucumbência”.28
Atos sujeitos a recurso
No processo são praticados os chamados atos processuais, ora pelas partes, ora
por  serventuários  da  Justiça,  ora  por  peritos,  ora  por  terceiros  e  ora  pelo  juiz.
Apenas dos atos do  juiz é que cabem os  recursos. E, ainda, não de  todos, mas de
alguns atos do juiz.
De  acordo  com  o  art.  203,29  os  pronunciamentos  do  juiz  consistirão  em
“sentenças”,  “decisões  interlocutórias”  e  “despachos”.  Todos  eles  figuram  na
categoria dos atos de autoridade, mas nem todos ensejam a interposição de recurso.
As sentenças e decisões  são  sempre  recorríveis, qualquer que  seja o valor da
causa  (arts.  1.009  e  1.015).30 Dos  despachos,  i.e.,  dos  atos  judiciais  que  apenas
impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das partes,
não cabe recurso algum (art. 1.001).31-32
Aboliram-se, no âmbito da codificação anterior à de 73, as chamadas “causas de
alçada”,  em  que  o  recurso  (embargos  infringentes)  só  se  destinava  à  revisão  do
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julgado  pelo  próprio  juiz  que  o  proferiu.  Ficou  consagrada  no Código  de  1973  a
possibilidade do duplo grau de  jurisdição voluntário  em qualquer  causa, o que  foi
mantido pelo novo CPC. Preserva-se, porém, o regime de causas de alçada fora do
Código de Processo Civil,  em procedimentos  especiais  como o da  execução  fiscal
(Lei nº 6.830/1980) e o das ações  trabalhistas (Lei nº 5.584/1970, alterada pela Lei
nº 7.402/1985).33
Recursos admissíveis
I  – No  primeiro  grau  de  jurisdição  (juízo  de  primeira  instância),  o NCPC
admite os seguintes recursos
apelação (arts. 994, I e 1.009);34
agravo de instrumento (arts. 994, II, e 1.015);35
embargos de declaração (arts. 994, IV, e 1.022).36
Verifica-se que não houve alteração em relação ao Código de 1973.
II – Quanto  aos  acórdãos dos  tribunais,  admite o novo Código os  seguintes
recursos
(a) embargos de declaração (arts. 994, IV, e 1.022);
(b)  recurso  ordinário,  para  o Superior Tribunal  de  Justiça  e  para  o Supremo
Tribunal Federal (arts. 994, V, e 1.027);37
(c) recurso especial (arts. 994, VI, e 1.029);38
(d) recurso extraordinário (arts. 994, VII, e 1.029);39-40
(e)  embargos  de  divergência  no  Supremo  Tribunal  Federal  e  no  Superior
Tribunal de Justiça (arts. 994, IX, e 1.043).41
A  alteração  em  relação  ao  Código  de  1973  consistiu  em  supressão  dos
embargos  infringentes  (CPC/1973,  arts.  496,  III,  e  530). Embora  o  recurso  tenha
sido  eliminado,  o  aprimoramento  das  decisões  colegiadas  tomadas  por  escassa
maioria  de  votos  passou  a  ser  alcançável  por meio  de  simples  prosseguimento  do
julgamento da apelação, com a  inclusão de outros  julgadores convocados, a  fim de
conseguir maioria mais ampla no resultado final do acórdão (NCPC, art. 942).
III – Para as decisões de segundo grau, diferentes de acórdão, o atual Código
prevê os seguintes recursos
(a) agravo interno (arts. 994, III, e 1.021);42 (b) agravo em recurso especial ou
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extraordinário  (arts.  994,  VIII,  e  1.042).43  Verifica-se  que  a  nova  codificação
admitiu o agravo  interno contra qualquer decisão proferida pelo  relator, enquanto o
Código de 1973 o admitia apenas nos  seguintes casos:  (i) despacho do  relator que
indefere de plano os embargos  infringentes (art. 532); (ii) indeferimento de recurso
manifestamente  inadmissível,  improcedente,  prejudicado  ou  em  confronto  com
súmula  ou  com  jurisprudência  dominante  do  respectivo  tribunal,  do  STF  ou  de
Tribunal Superior (art. 557); (iii) não conhecimento do agravo contra inadmissão de
recurso especial ou extraordinário, por ser manifestamente  inadmissível ou que não
tenha  atacado  especificamente os  fundamentos da decisão  agravada  (art. 544, § 4º,
I);  e  (iv)  conhecimento  do  agravo  de  inadmissão  de  recurso  especial  ou
extraordinário  para  negar-lhe  provimento,  para  negar-lhe  seguimento  ou  para  dar
provimento ao recurso. Esse casuísmo foi totalmente superado pelo novo Código.
Reclamação
Fora do  sistema  recursal, mas com possibilidade de produzir efeitos análogos
aos  do  recurso,  a  Constituição  instituiu,  no  âmbito  da  competência  originária  do
Supremo  Tribunal  Federal  e  do  Superior  Tribunal  de  Justiça,  a  figura  da
reclamação,  cujo procedimento veio  a  ser originariamente disciplinado pela Lei nº
8.038,  de  28.05.199044  e  agora  pelos  arts.  988  a  993  do  NCPC.  Atualmente,  a
admissão  desse  remédio  impugnativo  se  dá  com  amplitude muito maior,  pois  se
presta a  tutelar a autoridade e competência de  todos os  tribunais e não mais apenas
das Cortes superiores (ver, retro, item nº 713).
Correição parcial
Por mais completo que seja o sistema recursal do Código, hipóteses haverá em
que  a  parte  se  sentirá  na  iminência  de  sofrer  prejuízo,  sem  que  haja  um  remédio
específico para sanar o dano que o juiz causou a seus interesses em litígio.
Por  isso,  engendrou  a  praxe  forense,  encampada  por  algumas  leis  locais  de
organização  judiciária  e  regimentos  internos  de  tribunais,  a  correição  parcial  ou
reclamação, como providência assemelhada ao recurso, sempre que o ato do juiz for
irrecorrível  e  puder  causar  dano  irreparável  para  a  parte.  Sua  natureza  é  mais
disciplinar  que  processual,  embora  possa  ter  reflexos  sobre  a  normalização  da
marcha tumultuada do processo.45
“Trata-se” – como adverte Rogério Lauria Tucci – “de medida sui generis, não
contemplada  na  legislação  processual  civil  codificada  ou  extravagante,  cuja
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finalidade  precípua  é  a  de  coibir  a  inversão  tumultuária  da  ordem  processual,  em
virtude de erro, abuso ou omissão do juiz”.46
Assim,  contra  os  despachos,  não  permite  o  Código  nenhum  recurso  (art.
1.001).  Mas,  às  vezes,  um  simples  despacho  pode  tumultuar  completamente  a
marcha  processual,  lesando  irreparavelmente  os  interesses  do  litigante.  Nesses
casos,  e,  em  geral,  nas  omissões  do  juiz,  contra  as  quais  não  se  pode  cogitar  de
agravo,  haverá  de  ter  lugar  a  correição  parcial  para  eliminar  os  errores  in
procedendo.47
São, pois, pressupostos da correição parcial, ou reclamação:
existência  de  um  ato  ou  despacho,  que  contenha  erro  ou  abuso,  capaz  de
tumultuar a marcha normal do processo;
o dano, ou a possibilidade de dano irreparável, para a parte;
inexistência de recurso para sanar o error  in procedendo.48
As  leis  de  organização  judiciária  têm  atribuído  ora  ao Conselho  Superior  da
Magistratura, ora aos próprios Tribunais Superiores, a competência para conhecer e
julgar as correições parciais ou reclamações. Seu procedimento, outrossim, tem sido
o mesmo do agravo de instrumento.
Em Minas Gerais, a regulamentação da correição parcial está contida no art. 24,
IX,  do Regimento  Interno  do Conselho  da Magistratura  (Resolução  nº  420/2003),
que  assim  dispõe:  “Compete  ao  Conselho  da  Magistratura  (...)  proceder,  sem
prejuízo do andamento do feito e a requerimento dos  interessados ou do Ministério
Público, a correições parciais  em  autos, para  emenda de  erros ou  abusos, quando
não  haja  recurso  ordinário,  observando-se  a  formado  processo  de  agravo  de
instrumento”.
No  âmbito  da  Justiça  Federal,  segundo  a  Lei  nº  5.010,  de  30.05.1966,  a
correição  parcial  está  inserida  na  competência  do  Conselho  da  Justiça  Federal
(art. 6º, I), havendo previsão de poderes do relator para,  liminarmente, suspender o
ato  ou  despacho  impugnado  por  até  trinta  dias,  “quando  de  sua  execução  possa
decorrer dano irreparável” (art. 9º).
A técnica de julgamento dos recursos
O  recurso  tem  um  objeto,  que  é  o  pedido  de  reforma  ou  de  integração  da
decisão  impugnada.  Sua  apreciação,  pelo  órgão  revisor,  todavia,  depende  de
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pressupostos e condicionamentos definidos na lei processual. Cabem ao órgão a que
se endereçou o  recurso duas ordens de deliberação: o  juízo de admissibilidade e o
juízo de mérito.
No  juízo  de  admissibilidade  resolvem-se  as  preliminares  relativas  ao
cabimento,  ou  não,  do  recurso  interposto.  Verifica-se  se  o  recorrente  tem
legitimidade  para  recorrer,  se  o  recurso  é  previsto  em  lei  e  se  é  adequado  ao  ato
atacado,  e,  finalmente,  se  foi manejado  em  tempo  hábil,  sob  forma  correta  e  com
atendimento  dos  respectivos  encargos  econômicos.  Se  a  verificação  chegar  a  um
resultado  positivo,  o  órgão  revisor  “conhecerá  do  recurso”.  Caso  contrário,  dele
“não  conhecerá”,  ou  seja,  o  recurso  será  rejeitado,  sem  exame  do  pedido  de  novo
julgamento da questão que fora solucionada pelo decisório recorrido. Dá-se a morte
do procedimento recursal no estágio das preliminares.
As preliminares, na espécie, apresentam questões prejudiciais ao julgamento de
mérito,  já  que  este  só  acontecerá  se  o  recurso  for  conhecido  no  juízo  de
admissibilidade.  Superado,  com  êxito,  esse  primeiro  estágio  da  apreciação,  o
julgamento  de  mérito  consistirá  em  dar  ou  negar  provimento  ao  recurso.  Se  se
confirma  o  decisório  impugnado,  nega-se  provimento  ao  recurso.  Se  se  altera  o
julgamento originário, dá-se provimento ao recurso.
Sendo  dois  julgamentos  distintos  e  inconfundíveis,  todos  os  participantes  da
turma  julgadora votarão  tanto no  juízo de admissibilidade como no  juízo de mérito
do recurso (NCPC, art. 939).49 Não se exime de votar no mérito nem mesmo aquele
que, na  fase preliminar, votou vencido contra o cabimento do  recurso. A norma do
art. 939 é expressa no tocante a essa exigência, e Barbosa Moreira con-sidera que a
não completude dos votos na fase de mérito compromete a higidez do julgamento.50
A  jurisprudência, por  sua vez,  considera  julgamento omisso o que  se  encerra  sem
colher,  no  mérito,  o  voto  do  vencido  na  preliminar  de  cabimento  do  recurso,
podendo a falha ser corrigida por meio de embargos de declaração.51
O mérito do  recurso, outrossim, não  se  confunde  com o mérito da  causa de-
terminado pelo pedido do autor  formulado na petição  inicial e que envolve  sempre
uma questão de direito material. No recurso,  também, há sempre um pedido – o de
novo  julgamento,  para  reformar,  anular  ou  aperfeiçoar  a  decisão  impugnada. Esse
pedido  –  mérito  do  recurso  –  pode  ou  não  referir-se  a  uma  questão  de  direito
material. Às  vezes  a  pretensão  de  invalidação  da  sentença,  formulada  pelo  recor-
rente, envolverá questão puramente processual. Seu julgamento, porém, não será de
preliminar, mas de mérito, mérito não da causa e  sim do  recurso. Preliminares do
recurso  são  apenas  as  questões  que  antecedem  a  apreciação  do  pedido  contido  no
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próprio recurso, são as que se localizam no juízo de admissibilidade.
O julgamento de mérito, no juízo recursal, pode ser, ainda, de acolhida total ou
parcial da  impugnação. Vale dizer: o órgão revisor pode manter ou reformar  toda a
decisão recorrida, ou pode limitar-se a modificá-la em parte.
Salvo em caso de não conhecimento do recurso, o acórdão que o julga substitui
o  decisório  impugnado,  nos  limites  da  impugnação  (art.  1.008).52 Ao  substituí-lo,
acarreta praticamente sua cassação, até mesmo quando o confirma (ou mantém), pois
o novo julgamento ocupa no processo, para todos os efeitos, o lugar da sen-tença ou
acórdão que tiver sido objeto do recurso.53
REZENDE FILHO, Gabriel José Rodrigues de. Curso de direito processual civil. 5. ed.
São Paulo: Saraiva, 1959, v. III, n. 876.
AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras  linhas de direito processual  civil.  4.  ed. São
Paulo: Max Limonad, 1973, v. III, n. 694, p. 103.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 11. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2003, v. V, n. 135, p. 232-233.
No dizer de Barbosa Moreira, o  recurso  é  “simples  aspecto,  elemento, modalidade ou
extensão do próprio direito de ação exercido no processo” (BARBOSA MOREIRA, José
Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012,
v. V, n. 137, p. 235-236). Vale dizer: “O direito de recorrer é conteúdo do direito de ação
(e também do direito de exceção), e o seu exercício revela-se como desenvolvimento do
direito de acesso aos tribunais” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro
da. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, v. 3, p. 20).
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, n. 135, p. 232.
O Código anterior previa, de maneira expressa, a possibilidade de reconsideração no caso
de  decisão monocrática  do  relator  do  agravo  de  instrumento  que  lhe  atribuísse  efeito
suspensivo  ou  que  determinasse  sua  conversão  em  agravo  retido  (art.  527,  parágrafo
único). O Código atual não contém dispositivo semelhante, de maneira que os pedidos de
reconsideração  se  incluem  na  área  genérica  do  direito  de  petição,  sem  qualquer
interferência  no  curso  do  processo  e  da  preclusão  a  que  se  acha  sujeito  o  direito  de
recorrer pelas vias adequadas.
CPC/1973, art. 475.
ASSIS, Araken de. Introdução aos sucedâneos recursais. In: WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim; NERY JR., Nelson (coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos e de outros
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meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2002, v. 6, p. 17-19; DIDIER
JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil
cit., p. 26.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed.
Rio  de  Janeiro:  Forense,  2012,  n.  135,  p.  233.  No  mesmo  sentido:  PONTES  DE
MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil de 1973.
Rio de Janeiro: Forense, t. VIII, p. 277; ALVIM, Carreira. Elementos de teoria geral do
processo. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 379; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso
de direito processual civil. 55. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, v. I, n. 522, p. 615.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Op. cit., loc. cit.
No sistema do NCPC há pelo menos quatro casos em que o juiz de primeiro grau tem a
facul-dade de retratar seu decisório, em razão de recurso: (i) o agravo de instrumento (art.
1.018, § 1º); (ii) a apelação contra o ato de indeferimento da petição inicial (art. 331); (iii)
os embargos de declaração, com efeito inovativo (art. 1.023, § 2º); e (iv) a apelação contra
a  decretação  de  improcedência  liminar  do  pedido  (art.  332,  §  3º).  Fora  do NCPC,  há
regime  recursal específi-co no Estatuto da Criança e do Adolescente  (Lei nº 8.069, de
13.06.1990), onde se assegura o juízo de retratação de forma ampla, ou seja, em todos os
recursos (apelação e agravo), no prazo de cinco dias, antes pois de se determinar a subida
dos autos (ECA, art. 198, VII). Nos graus superiores de jurisdição, o juízo de retratação é
previsto no agravo  interno, manejávelcontra decisões monocráticas de  relator  (NCPC,
art. 1.021, § 2º).
CALDAS  AULETE.  Dicionário  contemporâneo  da  língua  portuguesa,  verbete
“Devolver”, v. II, p. 1.488.
CALDAS AULETE. Op. cit., loc. cit.
HOUAISS. Dicionário Houndin da Língua Portuguesa, verbete “devolver”, p. 1.026.
CPC/1973, art. 471.
CPC/1973, art. 512.
CPC/1973, art. 535.
É o  caso, por  exemplo, da  execução de prestação de  alimentos,  a qual não  se  restitui
mesmo  quando  a  obrigação  é  negada  no  julgamento  do  recurso.  Isto  se  dá  porque  as
prestações  alimentícias  são  insuscetíveis de  compensação  e  repetição  (STJ, 2ª Seção,
EREsp  1.181.119/RJ,  Rel.  p/  ac.  Min.  Maria  Isabel  Gallotti,  ac.  27.11.2013,  DJe
20.06.2014).
CPC/1973, art. 497.
CPC/1973, art. 520.
CPC/1973, art. 520, V.
STJ, 4ª T., REsp 56.047-0/GO, Rel. Min. Torreão Braz, ac. 11.04.1995, DJU 15.06.1995, p.
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13.409;  3ª  T.,  REsp  37.702-1/SP,  Rel.  Min.  Eduardo  Ribeiro,  ac.  24.02.1994,  in:
THEODORO  JÚNIOR,  Humberto.  Código  de  Processo  Civil  anotado.  4.  ed.  Rio  de
Janeiro: Forense, 1998, p. 275; 4 ª T., REsp 45.967-2/GO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo
Teixeira, ac. 26.04.1994, idem, ibidem.
CPC/1973, art. 521.
REZENDE FILHO, Gabriel José Rodrigues de. Curso de direito processual civil. 5. ed.
São Paulo: Saraiva, 1959, v. III, n. 877.
REZENDE FILHO, Gabriel José Rodrigues de. Op. cit., loc. cit.
BETTI, Emílio. Diritto processuale  civile  italiano.  2.  ed. Roma: Società  editrice  del
“Foro Romano”, 1936, p. 638.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, n. 137, p. 235-236, com apoio em Carnelutti, Zanzucchi,
Rocco, Ugo etc.
MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Saraiva,
1976, v. IV, n. 868, p. 20.
CPC/1973, art. 162.
CPC/1973, arts. 513 e 522.
CPC/1973, art. 504.
Houve época em que o ato judicial não recorrível se qualificava como “despacho de mero
expediente”  (CPC/1973,  texto  primitivo  do  art.  504). O  qualificativo  foi  havido  como
injustificável, porque a noção de despacho pressupõe o caráter não decisório e apenas de
expediente ordinatório da marcha processual (CPC/1973, art. 504 após a alteração da Lei
nº 11.276, de 07.02.2006). O Código atual conserva essa  linha de concepção, pois só se
refere a despacho no art. 1.001, ciente de que não há outra espécie de despacho que não
seja o ordinatório do processo.
As causas de alçada e o sistema de embargos infringentes em primeiro grau de jurisdição
foram restaurados pelas Leis nos 6.825 e 6.830, ambas de 1980, e que versam sobre causas
de  competência  da  Justiça  Federal  e  execuções  fiscais,  respectivamente.  Para  as
primeiras, o limite é de cem ORTN, e para as últimas, é de cinquenta ORTN, de sorte
que estando o valor da causa compreendido dentro desses tetos, não cabe recurso algum
para  a  instância  superior,  nem  mesmo  o  recurso  ex  officio,  devendo  a  causa  ser
inteiramente  julgada  em  instância  única,  pelo  juiz  de  primeiro  grau  de  jurisdição. Os
embargos infringentes das causas da alçada da Justiça Federal foram extintos pela Lei nº
8.197,  de  27.06.1991.  Prevalecem  em  primeiro  grau,  portanto,  apenas  nas  execuções
fiscais (Lei nº 6.830, art. 34). Quanto ao valor da causa, o STJ, para atualizá-lo, fixou a
seguinte  equivalência  a  ser  observada  na  data  de  extinção  da UFIR  (jan./2001):  “50
ORTN= 50 OTN = 308,50 BTN = 308,50 UFIR = R$ 328,27 a partir de janeiro/2001”. Daí
em diante a correção deverá utilizar “o  índice substitutivo utilizado para a atualização
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monetária dos créditos do contribuinte com a Fazenda”, isto é, “o IPCA-E, divulgado pelo
IBGE (Res. nº 242/2001-CJF)” (STJ, 1ª Seção, REsp 1.168.625/MG repetitivo, Rel. Min.
Luiz Fux, ac. 09.06.2010, DJe 01.07.2010). Também no processo trabalhista as causas de
pequeno valor (até 2 vezes o salário mínimo) são insuscetíveis de recurso para a segunda
instância (Lei nº 5.584/1970, art. 2º, § 4º, com a redação dada pela Lei nº 7.402/1985).
CPC/1973, arts. 496, I, e 513.
CPC/1973, arts. 496, II, e 522.
CPC/1973, art. 535.
CPC/1973, arts. 496, V, e 539.
CPC/1973, arts. 496, VI, e 541.
CPC/1973, arts. 496, VII, e 541.
A Constituição Federal de 1988 instituiu o recurso especial, que absorveu uma parte da
matéria antes cabível no recurso extraordinário (art. 105, III).
CPC/1973, arts. 496, VIII, e 546.
CPC/1973, art. 496, II e 545.
CPC/1973, art. 544.
Os arts. 13 a 18, 26 a 29 e 38 desta lei foram revogados pelo NCPC, porque a matéria foi
absorvida pelos arts. 988 a 993 do Código atual.
Embora às vezes se atribua à correção parcial a denominação reclamação, não se pode
confundi-la  com  a  verdadeira  reclamação,  de  natureza  constitucional,  instituída  para
preservar a competência do STJ e do STF e para garantir a autoridade de suas decisões
(ver, retro, itens nos 722 e, infra, 844).
TUCCI, Rogério Lauria. Curso de direito processual – processo civil de conhecimento –
II. 11. ed. São Paulo: J. Bushatsky, 1976, p. 343.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, v. V, n. 267, p. 487-488.
TUCCI, Rogério Lauria, Op. cit., p. 346.
CPC/1973, art. 561.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, v. V. n. 376, p. 703.
STJ, 4ª T., REsp 277.843/RJ, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 28.08.2001, DJU
22.10.2001, p. 327. Pelo mesmo fundamento, o STJ, no REsp 942.453/RJ, acolheu arguição
de  vício  em  julga-mento  de  apelação  adesiva  por  falta  de  voto  do  juiz  que  o  julgara
prejudicado por  ter acolhido a apelação principal, reconhecendo que “o relator, vencido
quanto ao provimento da apelação (isto é, vencido na preliminar), deveria ter prosseguido
1175
52
53
e se manifestado sobre o mérito de recurso adesivo, como exigem os arts. 560 e 561 do
CPC” (STJ, 3ª T., REsp 942.453/RJ, j. 09.06.2008).
CPC/1973, art. 512.
A rigor, só não há cassação, nem substituição, se não for conhecido o recurso, já que então
fica intacta a decisão original (cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do Código
de Processo Civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 128 e ss.).
1176
725.
§ 77. PRINCÍPIOS GERAIS DOS RECURSOS
Sumár io: 725. Princípios fundamentais dos recursos civis. 726. Enumeração dos
princípios fundamentais observados pela sistematização legal dos recursos civis.
727. Princípio  do  duplo  grau  de  jurisdição.  728. Princípio  da  taxatividade.  729.
Princípio  da  singularidade.  730.  Princípio  da  fungibilidade.731.  Princípio  da
dialeticidade. 732. Princípio da voluntariedade. 733. Princípio da irrecorribilidade
em  separado  das  interlocutórias.  734.  Princípio  da  complementariedade:
inaplicabilidade  aos  recursos  civis. 735. Princípio da vedação da  reformatio  in
pejus. 736. A possível piora da situação do recorrente na hipótese do § 3º do art.
1.013 do NCPC. 737. Princípio da consumação.
Princípios fundamentais dos recursos civis
Prestigiosa  doutrina  costuma,  em matéria  de  princípios  do  direito  processual
civil,  dividi-los  em  dois  grupos:  a  dos  princípios  informativos  e  a  dos  princípios
fundamentais.54
Os informativos dispensam demonstração por se apresentarem “quase que como
axiomas”  a  prescindirem  de maiores  indagações,  já  que  se  baseiam  em  critérios
estritamente  lógicos  e  técnicos,  sem  ostentar,  praticamente,  nenhum  conteúdo
ideológico.55 Compreendem os princípios: (i) lógico, (ii) jurídico, (iii) político e (iv)
econômico.56 A  todos  elessujeitam-se  os  recursos,  aplicando-se-lhes,  portanto,  a
teoria e a técnica expostas nos itens nº 29 e ss. do vol. I.
Já os princípios fundamentais – explica o Professor Nery Júnior – “são aqueles
sobre os quais o sistema  jurídico pode fazer opção, considerando aspectos políticos
e  ideológicos.  Por  essa  razão,  admitem  que  em  contrário  se  oponham  outros,  de
conteúdo diverso, dependendo do alvedrio do sistema que os está adotando”.57
Para Alexy,  regras e princípios  são  igualmente normas  para  o  direito. A  di-
ferença está em que as regras são “normas que só podem ser cumpridas ou não” por
conterem  “determinações  no  âmbito  do  fático  e  juridicamente  possível”.  Sen-do
válidas,  o  que  nelas  se  determina  há  de  ser  realizado  de  maneira  absoluta.  Os
princípios, por sua vez, são “normas que ordenam que algo seja realizado na maior
medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes”. Daí falar-se
1177
726.
que  são mandados de otimização. Diferentemente das  regras, os princípios podem
ser  cumpridos  em graus diferentes, dependendo do  contexto  (fático  e  jurídico)  em
que se aplicam.58 Na mesma  linha de pensamento, Dworkin proclama que o direito
não se reduz a regras estritas, mas se compõe também de princípios hau-ridos deste
modo de ser próprio da comunidade política, e que se encontram de maneira especial
na  Constituição.  De  tal  maneira,  prevalece  “a  promessa  de  que  o  direito  será
escolhido, desenvolvido e  interpretado de um modo global,  fundado em princípios,
estabelecendo uma  ideia de  integridade do  sistema dentro de uma  ‘comunidade de
princípios’”.59
Outra  particularidade  dos  princípios  fundamentais  está  na  sua  elasticidade  e
consequente possibilidade de sofrer mutações conceituais e eficaciais com o passar
do  tempo e dos  lugares de sua aplicação, podendo até mesmo  lograr consequências
práticas e teóricas “diferentes daquelas imaginadas e queridas por seus idealizadores
e, máxime, pela lei que os adotou”.60
Cumpre,  ainda,  fazer uma distinção  entre princípio constitucional  e  princípio
geral.  O  primeiro,  quando  traduzido  em  norma  pela  Constituição,  não  pode  ser
afrontado por lei ordinária, limita, portanto, a liberdade do legislador. Já o prin-cípio
geral  comum,  cuja presença no ordenamento  jurídico  é deduzida  sistemati-camente
pela  doutrina  e  jurisprudência,  esse  não  veda  ao  legislador  afastá-lo,  em
determinadas  circunstâncias,  por  questão  de  ordem  política,  ou  de  conveniência
prática. A ofensa, portanto, a um princípio constitucional acarreta a nulidade da  lei
que  a  tenha praticado;  já o  afastamento do princípio geral, por decisão política do
legislador, em caso excepcional, não macula a obra legislativa.
Por  exemplo,  a  legalidade  das  formas  processuais  é  um  princípio  geral  que
permite,  diante  de  qualquer  norma  procedimental,  a  instituição  de  regras  que
justifiquem sua inobservância, fazendo prevalecer a funcionalidade do processo, em
lugar da obrigatoriedade do respeito ao rito definido em lei.
Da mesma  forma  que  os  princípios  informativos,  os  fundamentais  do  direito
processual  civil  incidem,  necessariamente,  sobre  os  recursos  e  sua  aplicação  (ver,
sobre o tema, §§ 4º e 5º do vol. I deste curso).
Enumeração dos princípios fundamentais observados pela
sistematização legal dos recursos civis
Segundo doutrina predominante,  aplicam-se,  com  especificidade,  aos  recursos
do processo civil brasileiro, os seguintes princípios fundamentais:
1178
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(g)
(h)
(i)
(j)
727.
Princípio do duplo grau de jurisdição;
Princípio da taxatividade;
Princípio da singularidade;
Princípio da fungibilidade;
Princípio da dialeticidade;
Princípio da voluntariedade;
Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias;
Princípio da complementariedade;
Princípio da vedação da reformatio in pejus;
Princípio da consumação.
Cada um deles será examinado, separadamente, nos tópicos que se seguem.
Princípio do duplo grau de jurisdição
Com  a  sujeição  da  matéria  decidida,  sucessivamente,  a  dois  julgamentos
procura-se prevenir o abuso de poder do  juiz que  tivesse a possibilidade de decidir
sem  sujeitar  seu  pronunciamento  à  revisão  de  qualquer  outro  órgão  do  Poder
Judiciário.  O  princípio  do  duplo  grau,  assim,  é  um  antídoto  contra  a  tirania
judicial.61
Não é que se tenha sempre como melhor e mais justo o julgamento de segundo
grau. É que, em face da falibilidade do ser humano, não é razoável supor que o juiz
seja imune de falhas no seu mister de julgar. Daí ser natural que se questione o ato
judicial quanto à sua fundamentação, que, aliás, é uma condição sine qua non de sua
validade (CF, art. 93, IX; NCPC, art. 11).
De  outro  lado,  é  também  da  natureza  humana  o  inconformismo  diante  de
qualquer  decisão  desfavorável,  de  sorte  que  o  vencido  é  sempre  inclinado  a  pre-
tender  um  novo  julgamento  sobre  a matéria  já  decidida. Ademais,  se  o moderno
processo justo assegura aos litigantes participar ativa e efetivamente da formação do
provimento  judicial,  submetendo  ao  crivo  do  contraditório  não  só  as  partes, mas
também o  juiz, é óbvio que  terá de haver um mecanismo processual que permita a
crítica  ou  censura  ao  decisório  que  primeiro  avaliou  e  decidiu  o  confli-to.  O
julgamento da causa, portanto, não pode deixar de considerar as alegações relevantes
das partes e, sob pena de nulidade, não lhe será lícito omitir na resposta adequada às
arguições  de  fato  e  de  direito  levantadas  regularmente  por  meio  das  referidas
1179
alegações.  A  consequência  desse  contraditório  democrático  é  que  o  diálogo
processual não pode  encerrar-se no provimento do primeiro grau de  jurisdição. Se
assim  fosse,  as  partes  não  teriam  como  assegurar  sua  efetiva  participação  na
formação  do  ato  decisório. O  julgamento  em  instância  única  deixaria  incólume  a
sentença  afrontosa  ao  contraditório.  Indispensável,  portanto,  se  torna  o  acesso  da
parte  prejudicada  ao  tribunal  para  demonstrar  a  ilegalidade  do  julgado  abusivo
pronunciado no primeiro grau de jurisdição.
A  não  ser  assim,  a  opinião  isolada  e  autoritária  do  juiz  poderia  prevalecer
imune diante do diálogo construtor do provimento. A vontade da autoridade judicial
acabaria por  ter a  força de  ignorar o debate das partes, assumindo, sem  remédio, a
qualidade de fonte única da regra concreta imposta à solução do litígio.
Fala-se,  nesta  linha  de  argumentação,  que  “o  princípio  do  duplo  grau  é,  por
assim dizer, garantia fundamental de boa justiça”.62
A ordem constitucional em vigor, de fato, não contém uma declaração ex-pressa
da  obrigatoriedade  do  duplo  grau. No  entanto,  da  organização  que  a Carta Magna
prevê para o Poder Judiciário consta a  instituição obrigatória de  juízos de primeiro
grau  e  de  tribunais  de  grau  superior,  cogitando  de  recursos  ordinários  e
extraordinários entre uns e outros. É o suficiente para ter como implantado entre nós
o princípio fundamental da dualidade de instâncias.
No entanto, a própria Constituição prevê processos de competência originá-ria
de  tribunais,  sem  superpor-lhes  uma  instância  revisora.  E,  mais  ainda,  prevê
juizados  especiais  em  que  o  recurso,  acaso  interposto,  não  sobe  a  um  tribunal
superior, mas  é  examinado  por  grupo  de  juízes  de  primeiro  grau,  integrados  ao
próprio juizado.
Isto  quer  dizer  que  o  princípio  do  duplo  grau  está  naturalmente  implantado
entre nós, mas não em termos absolutos, cabendo ao legislador ordinário dar-lhe os
contornos práticos que se mostrarem convenientes.
Com  efeito,  o  NCPC,  ao  tratar  do  tema, mais  especificamentedo  chamado
“duplo  grau  de  jurisdição  necessário”,  dispôs,  no  art.  496,  não  haver  a  remessa
necessária de decisões proferidas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público, quando: (i)
a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor pequeno (§ 3º);
ou (ii) a sentença estiver fundada em súmula de tribunal superior; acórdão proferido
pelo STF ou STJ, em julgamento de recursos repetitivos; entendimento firmado em
incidente  de  resolução  de  demandas  repetitivas  ou  assunção  de  compe-tência;  e
1180
entendimento  coincidente  com  orientação  vinculante  firmada  no  âmbito
administrativo  do  próprio  ente  público,  consolidado  em manifestação,  parecer  ou
súmula administrativa. Mesmo, portanto, quando o Código  impõe a observância do
duplo grau, fora do âmbito recursal, muitas exceções são abertas à exigência legal.
Assim, as leis, como a de Execução Fiscal, que tornem não sujeitos à apelação
(mas apenas a embargos para o próprio prolator)  sentenças de até um determinado
valor, não devem ser havidas inexoravelmente como inconstitucionais. O proble-ma
é  de  política  legislativa,  que  pode  ora  ampliar  ora  reduzir  o  alcance  prático  do
princípio  geral  do  duplo  grau  de  jurisdição. Nesse  sentido,  o  STF  já  decidiu  ser
constitucional o art. 34 da Lei nº 6.830, de 22.09.1990, quando exclui o cabimento
da apelação em execuções fiscais de pequeno valor.63
Na  verdade,  porém,  o  que  a  lei  processual  pode  fazer  é  criar  mecanismo
recursal  que  não  leve  a  sentença  ao  obrigatório  reexame  do  tribunal  de  segunda
instância.  Essa  reavaliação,  em  situações  especiais,  pode  ser  atribuída  a  entidade
coletiva formada por juízes de primeiro grau, como acontece nos juizados especiais,
ou  até mesmo  ao próprio  juiz prolator da  sentença,  como  se passa nos  executivos
fiscais de pequeno valor. O que não se  tolera, num processo  justo, é a negativa de
oportunidade à parte vencida de obter um rejulgamento da causa cuja decisão lhe foi
adversa.  Nessa  concepção  de  direito  à  dupla  apreciação  da  causa,  quando
primitivamente  decidida  por  juízo  singular,  nenhum  processo  pode  ser  privado  do
duplo grau de jurisdição.
Quanto  às  causas  que  a  própria Constituição  atribui  a  juízo  único  dos  tribu-
nais,  o  afastamento  do  julgamento  por  exclusiva  vontade  individual  é  obtido  por
meio da  estrutura  coletiva da  entidade  judicante. A decisão, na  espécie,  é  fruto da
concorrência de votos de diversos  juízes, de modo que cada um  revê o daquele ou
daqueles que o precederam. De outra maneira, portanto, resta assegurada às partes o
juízo múltiplo de suas pretensões, o que, afinal, cumpre  função similar à do duplo
grau de jurisdição entre o juiz de primeiro grau e o tribunal.
Assim, não é de acolher-se a  tese de que a Constituição não agasalha o prin-
cípio  do  duplo  grau  de  jurisdição,  deixando  ao  alvedrio  da  legislação  processual
aplicá-lo  ou  não  em  determinados  processos.  Na  verdade,  não  há  uma  garantia
nominal  na  ordem  constitucional  a  seu  respeito. Há,  porém,  o  princípio  na Cons-
tituição  que  o  utiliza  na  estruturação  dos  órgãos  da  Justiça  em  diversos  graus  de
hierarquia, e na consagração expressa da garantia do contraditório, como demons-
tra a corrente doutrinária a que nos filiamos, ao lado de vozes abalizadas como as de
Calmon de Passos e Nelson Nery Júnior, entre muitos outros.64
1181
728.
Os que recusam a obrigatoriedade da observância do duplo grau de  jurisdi-ção
como imposição de ordem constitucional, acusam-no de dificultar o acesso à justiça,
uma  vez  que  o  recurso  seria  “uma  boa  desculpa  para  o  réu  que  não  tem  razão
retardar o processo”,65 contribuindo, assim, para comprometer a efetividade da tutela
jurisdicional,  sem  que  haja  uma  certeza  de  que  os  julgados  dos  tribunais  sejam
melhores e mais justos do que os pronunciados pelos juízes de primeiro grau.
Antes de tudo, os recursos não estão à disposição apenas do réu, mas de ambas
as partes, e não  raro é o autor que dele se serve para corrigir o erro cometido pelo
decisório  primitivo,  que,  sem  a  faculdade  do  reexame  recursal,  deixaria  o  autor,
vítima de denegação da tutela a que faz jus, totalmente privado do acesso à justiça.
O fato de ser possível a protelação do desfecho do processo por meio de recur-
sos abusivos não é, por si só, um argumento para desprestigiar por  inteiro o duplo
grau de jurisdição. Para os abusos de direito, há sempre instrumentos coercitivos na
ordem  jurídica. No  caso  específico  dos  recursos,  existem  expedientes  capazes  de
impedir  o  recurso  de  má-fé,  ou,  pelo  menos,  de  anular  suas  consequências
maléficas, de maneira satisfatória. Basta lembrar as multas pela litigância de má-fé,
a  ampliação  da  verba  advocatícia  pela  sucumbência  recursal,  a  tutela  de  urgência
satisfativa, a supressão do efeito suspensivo, a ampliação do cabimento da exe-cução
provisória  e  tantos  outros  expedientes  que  inibem  o  uso  procrastinatório  dos
recursos e mitigam a sua influência indesejável sobre a duração razoável do processo
e a efetividade da tutela jurisdicional.
Entre  a  garantia  do  contraditório  e  da  efetividade  do  processo,  não  há  in-
compatibilidade.  Cabe  à  técnica  processual  reconhecer  que  ambas  são  indispen-
sáveis para se ter um autêntico e justo acesso à justiça, e, assim sendo, preconizar a
observância  harmônica  de  ambas,  segundo  os  critérios  da  razoabilidade  e  da
proporcionalidade. O que não se pode fazer é centrar  toda a dinâmica da presta-ção
jurisdicional na busca da celeridade, sacrificando a essência do processo  justo, que
hoje se situa  fundamentalmente no contraditório pleno e na cooperação e  influência
de todos os sujeitos do processo na formação do provimento judicial.
O  duplo  grau  –  como modernamente  se  concebe  –  decorre  imediatamente  da
garantia do contraditório, que, além de seus aspectos tradicionais, compreende, sem
dúvida, o direito de fiscalizar, controlar e criticar a decisão judicial. E esse objetivo
do contraditório nunca será atingido sem o acesso ao duplo grau de jurisdição, e, por
isso mesmo, sem o concurso instrumental dos recursos.66-67
Princípio da taxatividade
1182
729.
O  cabimento  e  a  forma  do  recurso  não  dependem  de  arbítrio  da  parte.  “É
indispensável  que  a  lei  processual  haja  instituído  o  recurso  que  se  interpõe  como
meio normal de  impugnação das decisões gravosas. Pelo  sistema atual do Código,
os  recursos  existentes  são  os  que  estão  consignados  no  art.  994  do NCPC,68  não
sendo possível, pois, cogitar de alguma impugnação, a título de recurso, que não se
amolde a qualquer deles. Por outro lado, não basta que exista o recurso, para que ele
seja admissível. Faz-se mister,  igualmente, que ele  seja o  recurso adequado para a
impugnação pretendida”.69
Embora  se  tenha  o  art.  994  como  taxativo,  o  certo  é  que  outras  leis  também
cuidam  de  recursos,  no  âmbito  de  sua  incidência  especial,  criando  modalidades
recursais  diferentes  daquelas  codificadas.  É,  por  exemplo,  o  caso  do  recurso
inominado da Lei dos Juizados Especiais Civis (art. 41).
O  princípio  da  taxatividade,  é  bom  registrar,  não  repele  o  princípio  da
fungibilidade  entre  os  recursos  enunciado  pela  lei  em  numerus  clausus,  em
circunstâncias especiais, como mais adiante será demonstrado.70
Princípio da singularidade
Pelo  princípio  da  singularidade,  também  chamado  de  princípio  da
unirrecorribilidade  ou  da  unicidade,  para  cada  ato  judicial  recorrível  há  um  só
recurso admitido pelo ordenamento jurídico.
O Código não diz, expressamente, ter adotado esseprincípio. Mas disciplinou a
recorribilidade de tal maneira prática que o adotou implicitamente. Com efeito, pelo
art. 203 do NCPC, os atos decisórios do  juiz foram agrupados em duas espécies: a
sentença, quando o  julgador põe  fim  à  fase  cognitiva do procedimento  comum ou
extingue  a  execução,  decidindo  ou  não  o  mérito  da  causa  (§  1º);  e  a  decisão
interlocutória, quando, no curso do processo, e, portanto, sem extingui--lo, resolve
questão  incidente  (§  2º).  Para  cada  um  destes  atos  previu  um  recurso  próprio  ou
específico:  a  apelação,  para  a  sentença  (art.  1.009),71  e  o  agravo,  para  a  decisão
interlocutória (art. 1.015).72-73
Num sistema como o nosso, não se indaga, para classificar o ato judicial, sobre
a  natureza  da  questão  decidida. O  que  importa  para  ter-se  como  configurada  uma
sentença ou uma decisão  interlocutória é o “conteúdo finalístico” do ato74 (sobre o
tema, ver itens nos 349 e 351 do vol. I).
É irrelevante que o juiz tenha apenas se limitado a questões preliminares. Se a
decisão encerrou o processo, ou, pelo menos, pôs fim à fase cognitiva ou extinguiu a
1183
730.
execução,  o  caso  será  de  sentença.  Se,  ao  contrário,  o  exame  foi  de  matéria
substancial como a ocorrência ou não de prescrição e decadência, que se dirimiu sem
pôr termo ao processo, o caso será de decisão interlocutória.
Como para a  sentença o único  recurso previsto é a apelação, e para a decisão
interlocutória, o agravo, não há fugir do princípio da unirrecorribilidade no processo
civil brasileiro, pelo menos quanto aos julgamentos de primeiro grau de jurisdição.
Uma  exceção  aparente  a  esse  princípio,  todavia,  encontra-se  no  art.  1.029  do
CPC,75 que prevê a simultânea propositura do recurso especial e do extraordinário,
para  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  (questão  federal)  e  para  o  Supremo  Tribunal
Federal (questão constitucional),  tudo com referência a um só acórdão. Todavia, as
questões  atacadas  em  cada  um  dos  recursos,  serão  distintas,  não  ocorrendo,
portanto, dupla impugnação sobre a mesma matéria.
Fora daí não há que se cogitar de seccionamento da sentença em capítulos para
analisá-la,  quanto  à  recorribilidade,  segundo  o  conteúdo  de  cada  um  deles.  Pouco
importa, à luz do art. 203, se o juiz, a um só tempo, resolveu questões preliminares
e  julgou  o  mérito;  ou  se,  decidindo  questões  somente  de  natureza  processual,
encerrou o processo; ou se, decidindo questão de mérito, o fez em caráter incidental,
sem extinguir o processo. Sempre será pelo conteúdo finalístico que o ato decisório
se  classificará  como  sentença ou decisão  interlocutória. E, portanto,  configurada  a
sentença,  o  recurso  cabível  somente  será  a  apelação  (art.  1.009);  e  configurada  a
decisão interlocutória, o recurso cabível apenas será o agravo (art. 1.015).
Outra  aparente  exceção  à  unirrecorribilidade  dá-se  contra  a  decisão  dúbia,
contraditória  ou  lacunosa,  porque  além  do  recurso  comum  caberá  também  o  de
embargos de declaração (art. 1.022, caput),76 cuja interposição interromperá o prazo
do primeiro (art. 1.026). Na realidade, porém, os dois recursos não são simultâneos,
e, sim, sucessivos, tendo cada um deles objetivos diversos.
Em  todas  essas  situações  excepcionais  a  quebra  do  princípio  da
unirrecorribilidade provém da  lei  e não da vontade da parte, de  sorte que,  fora da
permissão  legal expressa, não é dado ao vencido  interpor  senão um  recurso contra
cada    decisão,  ou  seja,  o  “recurso  adequado”,  aquele  indicado  pela  lei  “para  o
reexame  da  decisão  que  se  impugna”.77 Além  disso,  ainda  quando  a  lei  permite  a
pluralidade de recursos contra uma só decisão, não o faz para autorizar a veiculação
reiterada da mesma pretensão impugnativa em remédios paralelos. Cada recurso terá
objetivo próprio e um não poderá, evidentemente, repetir a matéria do outro.78
Princípio da fungibilidade
1184
O  Código  de  1973  não  previa  expressamente  a  fungibilidade  dos  recursos.
Entretanto,  essa  circunstância  não  impedia  a  utilização  do  princípio,  que  era
deduzido  do  sistema  e  aplicado  por  meio  do  princípio  da  instrumentalidade  das
formas ao sistema recursal.79
Certo é que, com a racionalização da classificação dos atos decisórios pelo art.
162  do  CPC/1973,  seguida  de  uma  previsão  de  recursos  que  conecta  com  tal
classificação  (CPC/1973, arts. 513 e 522), muito se  reduziu a possibilidade de dú-
vidas  sérias  em  torno  do  cabimento  de  um  ou  outro  recurso,  ao  longo  da marcha
processual. A experiência do foro, todavia, demonstrou que, às vezes por deficiência
terminológica  do  próprio Código,  e  outras  vezes  por  divergências  doutrinárias  ou
jurisprudenciais, ainda ocorriam situações de dúvida na definição do recurso cabível,
o que justificava a invocação do princípio da fungibilidade.
A  jurisprudência,  à  época,  admitia  a  fungibilidade  quando  ocorressem  os
seguintes  requisitos:  (i)  dúvida  objetiva  acerca  de  qual  o  recurso manejável;  (ii)
inexistência  de  erro  grosseiro  na  interposição  de  um  recurso  pelo  outro;  (iii)  ob-
servância do prazo próprio do  recurso  adequado,  sempre que  este  fosse menor do
que  o  do  recurso  erroneamente  interposto. Quanto  a  este  último  requisito, Nelson
Nery  Júnior,  defendia  a  tese  de  que  se  o  erro  fosse  escusável,  o  princípio  da
fungibilidade  validaria  a  impugnação  segundo  os  requisitos  do  recurso  interposto,
sem  atentar  para  os  do  recurso  omitido.80 Sua  tese,  a nosso ver, merecia,  e  ainda
merece, acolhida, pois se há dúvida objetiva para justificar a fungibilidade, não pode
a  parte  ser  penalizada  pelo  emprego  de  um  recurso  pelo  outro;  e  se  escolheu  um
deles, é o prazo do escolhido que haverá de ser computado,  já que válida  foi a sua
interposição. Embora  fosse  volumosa  a  jurisprudência  no  sentido  de  exigir-se,  na
fungibilidade, a observância do prazo do recurso próprio (não manejado), o STJ, em
várias ocasiões,  já prestigiou  a  tese de que,  sendo  escusável o  erro da parte, deve
prevalecer a eficácia do recurso impróprio ainda que “haja sido interposto após findo
o prazo para o recurso próprio”.81
Disso decorre que, na  realidade, um único  requisito  se devia exigir para  inci-
dência do princípio da  fungibilidade em matéria de  recurso: o da dúvida objetiva e
fundada,  como,  aliás,  se pode notar  em  acórdãos  recentes do STJ.82 Esse  regime,
construído na experiência do Código anterior, mantém-se válido e aplicável den-tro
do sistema do novo CPC, ainda que este continue, como o velho, a não conter regra
geral expressa sobre a fungibilidade recursal.
Porém, há de  se  ter  em  conta  a  expressa previsão na nova  legislação  sobre  a
fun-gibilidade,  no  tocante  à  interposição  de  recurso  especial  e  extraordinário
1185
731.
(NCPC,  arts.  1.032  e  1.033).83  Isso  porque  permitiu  que  o  relator,  no  STJ,
entendendo que o recurso especial versa sobre questão constitucional, conceda prazo
de  quinze  dias  para  que  o  recorrente  demonstre  a  existência  de  repercussão  geral
(requisito  para  o  recurso  extraordinário)  e  se  manifeste  sobre  a  questão
constitucional. Da mesma  forma,  determinou  que  o  relator,  no STF,  considerando
como reflexa a ofensa à Constituição Federal afirmada no recurso extraordinário, o
remeta ao STJ para julgamento como recurso especial. O novo Código previu, ainda,
a  fungibilidade  entre  os  embargos  de  declaração  e  o  agravo  interno,  uma  vez  que
dispõe,  no  art.  1.024,  §  3º,  que  o  “órgão  julgador  conhecerá  dos  embargos  de
declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível”. Nesse caso,
deverá intimar previamente o recorrente para, no prazo de cincodias, complementar
as  razões  recursais, para que se ajustem às exigências  feitas para a  interposição do
agravo  interno, E, posteriormente, cumprirá o contraditório, por meio da  intimação
do agravado para manifestar-se.
Com isto, restou claro para o NCPC, no campo dos recursos excepcionais, ser
irrelevante o equívoco da parte em usar o especial em lugar do extraordinário e vice
e versa, pois sempre será possível a conversão do inadequado no adequado. Se tal é
autorizado  perante  esses  recursos,  nada  impedirá  que  a  fungibilidade  seja  também
observada em relação aos recursos ordinários.
Por  último,  deve-se  lembrar  que  a  adoção  de  um  recurso  pelo  outro,  quando
preservados os requisitos de conteúdo daquele que seria o correto, e não constatada a
má fé nem o erro grosseiro, resolve-se em erro de forma; e, para o sistema de nosso
Código, não  se  anula,  e  sim,  adapta-se  à  forma devida, o  ato processual praticado
sem sua estrita observância (NCPC, arts. 277 e 283, parágrafo único).84
Princípio da dialeticidade
Por dialética entende-se, numa síntese estreita, o sistema de pensar fundado no
diálogo,  no  debate,  de  modo  que  a  conclusão  seja  extraída  do  confronto  entre
argumentações empíricas, quase sempre contraditórias.
Pelo  princípio  da  dialeticidade  exige-se,  portanto,  que  todo  recurso  seja
formulado  por  meio  de  petição  na  qual  a  parte,  não  apenas  manifeste  sua
inconformidade  com  ato  judicial  impugnado,  mas,  também  e  necessariamente,
indique  os motivos  de  fato  e  de  direito  pelos  quais  requer  o  novo  julgamento  da
questão nele cogitada, sujeitando-os ao debate com a parte contrária.
Na verdade, isto não é um princípio que se observa apenas no recurso. Todo o
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732.
processo é dialético por força do contraditório que se instala, obrigatoriamente, com
a  propositura  da  ação  e  com  a  resposta  do  demandado,  perdurando  em  toda  a
instrução probatória  e  em  todos os  incidentes  suscitados durante o desenvolver da
relação processual, inclusive, pois, na fase recursal.
Para  que  se  cumpra  o  contraditório  e  ampla  defesa  assegurados  constitu-
cionalmente (CF, art. 5º, LV), as razões do recurso são elemento indispensável a que
a parte recorrida possa respondê-lo e a que o  tribunal ad quem possa apreciar-lhe o
mérito. O julgamento do recurso nada mais é do que um cotejo lógico-argumentativo
entre a motivação da decisão  impugnada e a do recurso. Daí por que, não contendo
este a fundamentação necessária, o tribunal não pode conhecê-lo.85
O  novo  Código  se  refere  à  necessidade  da motivação  do  recurso  em  vários
dispositivos  (arts. 1.010,  II e  III;86 1.016,  II e  III;87 1.023;88 1.028;89 e 1.029,  I e
III90)  e  doutrina  e  jurisprudência  estão  acordes  em  que  se  revela  inepta  a
interposição  de  recurso  que  não  indique  a  respectiva  fundamentação.91  Por  isso,
abundantes  são  os  precedentes  jurisprudenciais  no  sentido  de  que  não  se  pode
conhecer do recurso despido de fundamentação.92
O mais relevante na dialeticidade é o papel da argumentação desenvolvida pelas
partes e pelo  juiz,  já que, pelo princípio da cooperação  (NCPC, art. 6º), a decisão
judicial não pode deixar de  levar em conta as alegações e  fundamentos produzidos
pelos  litigantes.  Se  não  os  acolher,  tem  de  contra-argumentar,  expli-citando  as
razões pelas quais formou seu convencimento de maneira diversa da pretendida por
um  ou  por  ambos  os  litigantes.  O  novo  CPC  confere  a  qualidade  de  norma
fundamental  do  direito  processual  a  que  determina  a  necessidade  de  serem  as
decisões adequadamente fundamentadas, e a de que nenhuma das  razões de decidir
seja adotada sem prévia submissão ao debate com as partes  (NCPC, arts. 9º e 10).
Não  admite,  outrossim,  qualquer  fundamentação,  mas  para  cumprir-se  o
contraditório efetivo, no qual se inclui também o juiz ou tribunal, caberá ao julgador
responder,  de maneira  expressa  e  adequada,  a  todas  as  arguições  e  fundamentos
relevantes formulados pelas partes (art. 489, § 1º, I a VI).93
Princípio da voluntariedade
O direito de recorrer participa do caráter dispositivo do próprio direito de ação.
O Poder  Judiciário não  toma, na matéria,  a  iniciativa. Sem  a provocação da parte,
não  há  prestação  jurisdicional  (NCPC,  art.  2º).94  Quer  isto  dizer  que,  sem  a
formulação do recurso pela parte, não é possível que o tribunal o aprecie. O juiz não
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733.
tem o poder de, ex officio, recorrer pela parte, ainda que se trate de incapaz.95 Aliás,
transcorrido o prazo estatuído para a interposição do recurso, ocorre a preclusão ou a
coisa  julgada,  conforme  o  caso. Mas,  de  qualquer  forma,  a  decisão  em  ambas  as
hipóteses  escapa  a novas discussões  e  reapreciações  judiciais.96 Vale dizer:  sem o
recurso, não se devolve ao juiz ou ao tribunal a possibilidade de rejulgar as questões
já decididas, dentro da  sistemática própria dos  recursos  civis. Correta, portanto,  a
tese de que só às partes e aos  terceiros prejudicados  (e eventualmente o Ministério
Público) é concedido pela lei o direito de recorrer.
Ainda em decorrência do mesmo princípio, não é dado ao  tribunal prosseguir
no processamento do recurso se a parte dele desiste (art. 998).
Andou corretamente, portanto, o Código quando excluiu do campo dos recursos
a  remessa dos autos à  instância  superior para “reexame necessário”  (art. 496),97  já
que  a  subida  do  processo,  na  espécie,  não  é  provocada  por  impugnação  alguma  à
sentença, mas  apenas para  submeter-se  a um  juízo  integrativo de  ratificação ou de
alteração pelo tribunal.
Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias
Pelos  princípios  de  economia  processual,  de  celeridade  e  da  oralidade,  que
dominam todo o processo moderno, não se tolera a interrupção da marcha processual
para  apreciação  de  recursos  contra  decisões  de  questões  incidentais  (i.e.,  decisões
interlocutórias). É o que faz o Código brasileiro, que admite agravo contra algumas
decisões  interlocutórias  (art. 1.015)98  e  só  excepcionalmente, diante de  situação de
risco grave e de difícil reparação, permite ao relator atribuir-lhe eficácia suspensiva
(art. 1.019, I).99 Ou seja, as decisões são recorríveis, mas os recursos não têm efeito
suspensivo  e  os  autos  não  saem  do  juízo  da  causa,  não  havendo  prejuízo  para  o
desenvolvimento normal do processo.
O  Código  de  1973  previa  o  agravo  retido  para  essas  situações,  cujo
procedimento previa a análise pelo  tribunal, apenas  se o  juiz de primeiro grau não
reconsiderasse  sua decisão. O  sistema do NCPC  é um pouco diverso. Estabeleceu
um  rol  das  decisões  interlocutórias  sujeitas  à  impugnação  por meio  de  agravo  de
instrumento que, em  regra, não  tem efeito  suspensivo  (NCPC, art. 1.015). Não há
mais agravo retido para as decisões não contempladas no rol da lei. A matéria, se for
o caso, será impugnada pela parte prejudicada por meio das razões ou contrarrazões
da posterior  apelação  interposta  contra  a  sentença  superveniente  (art. 1.009, § 1º).
Dessa  forma,  o  novo  Código  valoriza  o  princípio  da  irrecorribilidade  das
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734.
735.
interlocutórias, mais do que o Código de 1973.
Princípio da complementariedade: inaplicabilidade aos recursos
civis
No processo penal admite-se a interposição de recurso relegando a apresentação
dos  motivos  para  fase  ulterior  (art.  578  c/c  arts.  588  e  600).  A  isto  se  chama
princípio da complementariedade, o qual,  todavia, não vigora em nosso  regime de
processo civil.
Na  sistemática  do CPC,  o  recurso  necessariamente  terá  de  ser  produzido  em
petição  na  qual  figurem  seus  fundamentos  de  fato  e  de  direito.  “O  protesto  por
oportuna  apresentação  de  razõesnão  é  admissível  nos  recursos  cíveis,  segundo  a
sistemática processual vigente”.100
No  entanto,  o  STJ  já  teve  oportunidade  de  abrandar  o  rigor  do  princípio,
tolerando  que  o  recorrente  suprisse  a  falta  de  fundamentação,  desde  que,  ainda,
dentro do prazo de interposição do recurso.101
Princípio da vedação da reformatio in pejus
Ensina Barbosa Moreira que ocorre a reformatio  in pejus quando “o órgão ad
quem, no julgamento de um recurso, profere decisão mais desfavorável ao recorrente
sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs o recurso”.102
Nosso  sistema  processual  repele  tal  prática,  visto  que,  quando  uma  só  parte
recorre,  entende-se  que  tudo  que  a  beneficia  no  decisório  e,  consequentemente,
prejudica a parte não recorrente, tenha transitado em julgado.103 O tribunal ad quem,
portanto,  somente  poderá  alterar  a  decisão  impugnada  dentro  do  que  lhe  pede  o
recurso. O recurso funciona, assim, como causa e limite de qualquer inovação que o
tribunal  entenda  de  fazer  no  decisório. Não  se  admite  em  outras  palavras,  que  o
julgamento recursal venha a piorar a situação do recorrente.
Note-se, porém, que há questões de ordem pública, como as condições da ação,
os  pressupostos  processuais,  a  intangibilidade  da  coisa  julgada,  a  decadência  etc.,
que devem  ser  conhecidas de ofício,  em qualquer  fase do processo  e  em qualquer
grau  de  jurisdição.  Para  essas  questões,  cujo  exame  independe  de  provocação  da
parte,  é  claro  que  não  constitui  embaraço  para  o  tratamento  da matéria  a  falta  de
provocação  da  parte,  nem  tampouco  incide  na  vedação  de  reformatio  in  pejus  a
deliberação que redunde em prejuízo para o recorrente.
Entretanto, mesmo  quando  é  o  caso  de  conhecer  e  decidir  questão  de  ordem
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736.
pública, o que o  juiz ou o  tribunal  têm o dever de ofício de  resolver, com ou  sem
provocação da parte, não  lhe será  lícito  fazê-lo, sem antes cumprir o contraditório,
assegurado  aos  litigantes pela Constituição  como direito  fundamental  (CF,  art. 5º,
LV). Por isso, deparando-se com o problema dessa natureza, cabe ao julgador abrir
oportunidade para prévia manifestação das partes, para só depois pronunciar-se.
Assim,  no  art.  9º104  do  NCPC  vem  disposto  que  “não  se  proferirá  decisão
contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida”. O art. 10,105 por sua
vez, aduz que “o juiz não pode decidir, em qualquer grau de jurisdição, com base em
fundamento  a  respeito  do  qual  não  se  tenha  dado  às  partes  oportunidade  de  se
manifestar,  ainda  que  se  trate  de matéria  sobre  a  qual  deva  decidir   de  ofício”.
Dessa maneira, o contraditório efetivo (assegurado pelo art. 7º) é visto, além de sua
dimen-são  tradicional, como garantia de não surpresa, seja no  tocante às questões
novas,  seja  em  relação  aos  fundamentos  novos  aplicados  à  solução  das  questões
velhas.
No  direito  brasileiro, mesmo  inexistindo  norma  expressa  a  respeito  da  proi-
bição da  reformatio  in pejus, o princípio  é  considerado  como  inerente  ao  sistema,
por meio  da  conjugação  do  princípio  dispositivo,  da  necessidade  de  sucumbência
para  poder  recorrer  e  do  efeito  devolutivo  do  recurso.106 Com  efeito,  o  objeto  do
recurso não é senão o que pede o recorrente, pelo que ao  tribunal não é dado senão
acolher ou rejeitar sua postulação, e nunca ir além de sua pretensão para piorar-lhe a
situação  jurídica diante do que  já  fora  assentado na decisão  recorrida. Valer-se do
recurso  para  agravar  a  situação  do  recorrente  importa,  em  outros  termos,  decidir
extra ou ultra petita, atuar jurisdicionalmente de ofício, e violar a coisa julgada ou a
preclusão, no tocante àquilo que se tornou definitivo para a parte que não recorreu.
A possível piora da situação do recorrente na hipótese do § 3º do
art. 1.013 do NCPC
O § 3º do art. 1.013 do NCPC, a exemplo do que já ocorria no Código de 1973
(art. 515, § 3º), permite que o tribunal, ao julgar o recurso de apelação, decida desde
logo o mérito da causa, sem aguardar o pronunciamento do juízo de 1º grau, quando:
(i)  reformar  sentença que não  tenha  resolvido o mérito;  (ii) decretar a nulidade da
sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir;
(iii) constatar a omissão no exame de um dos pedidos; e (iv) decretar a nulidade por
falta  de  fundamentação.  Técnica  esta  que  se  estendeu  para  o  caso  de  o  tribunal
reformar  a  sentença  que  houver  reconhecido  a  decadência  ou  a  prescrição,  quando
for  possível  o  exame  das  demais  questões  debatidas,  sem  retorno  do  processo  ao
1190
(a)
juízo  de  primeiro  grau  (art.  1.013,  §  4º). Veja-se  que  o  novo  Código  ampliou  a
possibilidade  de  julgamento  de mérito  da  causa  pelo  tribunal,  bastando  que  esta
esteja “em condições de imediato julgamento”. É o que se costuma chamar de “causa
madura”,  entendida  como  tal  aquela  cujo objeto  já  foi  suficientemente debatido na
instância de origem, mesmo que nela não se tenha decidido o mérito.
A  regra,  quando  inserida  na  lei  anterior,  referia-se  apenas  à  cassação  da
sentença terminativa e gerou uma séria polêmica sobre se estaria ou não, a instância
de  segundo  grau  autorizada  a  tanto,  mesmo  sem  pedido  da  parte  recorrente  ou
recorrida.
A nosso ver, uma coisa é a competência atribuída ao Tribunal, outra é o objeto
do  recurso  sobre  o  qual  tem  de  julgar.  Toda  atividade  jurisdicional  está  sempre
subordinada  a  pressupostos  e  condições  traçadas  pela  lei.  Assim,  ampliar  o
julgamento  do  recurso  para  questões  não  suscitadas  e,  por  isso  mesmo,  não
debatidas  entre  as  partes  na  via  recursal,  resultaria  em  violação  não  apenas  dos
limites  legais  da  jurisdição,  mas  sobretudo  da  garantia  do  contraditório.  E  o
princípio  do  contraditório  é  consagrado  pela  ordem  constitucional  como  direito
fundamental,  impondo-se  à  observância  não  só  das  partes  como  também  do  juiz.
Mesmo nos casos em que o juiz pode apreciar, de ofício, certas questões, não lhe é
dado  fazê-lo  sem  antes  submetê-las  ao  debate  das  partes  (NCPC,  art.  10). Dessa
forma,  o  julgamento  do  mérito,  a  nosso  ver,  somente  seria  admitido  quando
pleiteado pelo recorrente, fosse em razão do princípio dispositivo, fosse da garantia
do contraditório.
Nosso posicionamento  reforça-se diante do prestígio que o NCPC dedica  aos
princípios  constitucionais  do  processo,  enunciados  com  ênfase  no  rol  de  suas
normas  fundamentais, onde merecem destaque o princípio dispositivo  (art. 2º)  e  a
garantia do contraditório efetivo (arts. 9º e 10), os quais vedam o  julgamento sobre
questões  não  propostas  pela  parte  e  as  decisões  sobre  questões  não  previamente
submetidas  à  audiência  de  ambas  as  partes,  bem  como  as  decisões  com  base  em
fundamento  a  respeito  do  qual  não  se  lhes  tenha  dado  oportunidade  de  se  ma-
nifestar, ainda quando se trate de matéria sobre a qual se deva decidir de ofício.
Entretanto,  o  STJ,  responsável  pela  uniformização  da  lei  federal,  resolveu  a
controvérsia, à época do CPC de 1973, entendendo que:
“A aplicação prática do art. 515, § 3º  [NCPC, art. 1.013, § 3º],  independe
de  pedido  expresso  do  apelante,  basta  que  o  tribunal  considere  a  causa
pronta para julgamento”;107
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(b)
737.
“No  julgamento do mérito subsequente à cassação da sentença  terminativa,
é permitido ao tribunal decretar a improcedência da demanda, sem que isso
esbarre nas vedações à reformatio in pejus”.108
Ao  ampliar  as  hipóteses  do  CPC/1973,  o  novo  Código  prestigiou  a  tese  da
“causa madura”,  como  único  fundamento  explícito  para  que  otribunal,  no  julga-
mento da apelação, uma vez cassada a sentença, passe  logo a enfrentar o mérito da
causa,  sem  enunciar  os  requisitos  procedimentais  para  que  tal  se  dê. Penso  que  a
jurisprudência do STJ, de certa maneira, foi acatada pela nova lei processual, o que,
todavia,  não  afasta  a  possibilidade  de  sua  releitura  à  luz  da  principiologia
constitucional valorizada sensivelmente pelo CPC de 2015, e que, a nosso ver, nos
autoriza a continuar defendendo o ponto de vista já exposto.109
É bom  lembrar que a aplicação  indiscriminada da  técnica de  julgamento único
de mérito pelo  tribunal de segundo grau, em fase de apelação,  já demonstrou o que
temíamos  ao  tempo  da modificação  do CPC  de  1973  pela Lei  nº  10.352/2001,  ou
seja, a prática abusiva, por alguns  juízes de primeiro grau, da extinção do processo
por sentença  terminativa, como expediente de  liberar-se da  resolução de  lides mais
complexas. A praxe, evidentemente, atrita com os princípios básicos da dualidade de
instâncias e do juiz natural, sobrecarregando os tribunais com a análise compli-cada
da  matéria  probatória  que  competia  ser  feita  originariamente,  e  em  melhores
condições, pelo juiz da causa. Eis aí um exemplo que desestimula a aplicação liberal
e indiscriminada do efeito expansivo previsto no art. 1.013, § 3º, do NCPC.
Princípio da consumação
O  princípio  da  consumação  contrapõe-se  ao  princípio  da  variabilidade  do
recurso  dentro  do  prazo  de  sua  interposição,  ou  seja,  enquanto  corre  o  prazo  de
impugnação, a parte pode desistir do recurso  interposto para substituí-lo por outro.
Essa faculdade era assegurada pelo art. 809 do CPC de 1939. Os Códigos de 1973 e
de 2015 não a repetiram.
A  melhor  doutrina  considera  o  princípio  incompatível  com  o  sistema  da
preclusão consumativa, que somente poderia ser afastado mediante regra excepcional
expressa. Como o vigente Código não fez semelhante ressalva, prevalece a extinção
da  faculdade  de  interpor  novo  e  diferente  recurso  como  consequência  da  prática
recursal precedente.110
Uma  exceção  à  regra  da  preclusão  consumativa  ocorre  na  sucumbência
recíproca, porque a  lei permite à parte, que não  recorreu no prazo normal, valer-se
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do  prazo  de  contrarrazões  para  manifestar  recurso  adesivo  ao  do  adversário.
(NCPC, art. 997, §§ 1º e 2º).111
O  princípio  geral,  porém,  continua  sendo  o  de  que  a  faculdade  de  interpor
recurso  se  extingue  (preclui)  tanto pelo  fato de não  ter  sido manifestado no prazo
legal (preclusão extintiva) como pelo fato de já ter sido exercido de forma imprópria
ou por via inadequada (preclusão consumativa).
A preclusão consumativa, que se  funda no  regime  traçado pelo art. 507,112 do
Código  atual,  decorre  do  fato  de  “já  ter  sido  realizado  um  ato  [pela  parte],  não
importa se com mau ou bom êxito”.113 A consequência é não ser possível “tornar a
realizá-lo”.114 É com base nessa regra, que se entende que se a parte escolheu errado
o  recurso  interposto,  a  faculdade de  recorrer  já  teria  sido  exercida  e  exaurida, por
força  da  preclusão  consumativa,  donde  a  impossibilidade  de  desistir  do  recurso
interposto, para substituí-lo por outro.
O  princípio  da  unirrecorribilidade  e  da  preclusão  consumativa  têm  sido
aplicado,  com  frequência,  pelo  STJ  e  pelo  STF,  principalmente  quando,  por
insegurança  quanto  ao  melhor  meio  de  impugnar  a  decisão,  a  parte  lança  mão,
sucessiva ou simultaneamente, de dois recursos.115
MANCINI-PISANELLI-SCIALOJA. Comentário del Codice di Procedura Civile per gli
Stati Sardi.  Torino,  v.  I,  parte  II,  p.  7;  e  v.  II,  p.  10,  apud  NERY  JÚNIOR,  Nelson.
Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos. 4. ed. São Paulo: RT, 1997, n. 2.1, p.
32.
Arruda Alvim classifica os princípios universais como “informativos”, e os específicos do
direito processual como “princípios fundamentais”. Os primeiros podem ser considerados
“quase que axiomas, porque prescindem de demonstração maior” (o lógico, o jurídico, o
político  e  o  econômico).  Os  últimos  apresentam  densa  carga  ideológica,  podem  ser
contraditórios  entre  si  e  dependem,  em  sua  adoção,  de  opção  política  do  legislador
(ARRUDA ALVIM NETO, José Manoel. Manual de direito processual civil. 8. ed. São
Paulo: RT, 2003, v. 1, p. 22-23).
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais cit., p. 33.
NERY  JÚNIOR, Nelson. Princípios  fundamentais  cit.,  p.  33. O  direito  processual,  em
primeiro lugar, não se presta a autorizar um tipo qualquer de composição para um conflito
cuja  solução  seja  submetida  à  justiça  estatal.  No  Estado  regido  por  constituição
democrática como a brasileira, figura entre os direitos do homem a garantia fundamental
de que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
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de  lei”  (CF,  art.  5º,  II). É  nisso  que  consiste  o  princípio  da  legalidade,  que  vale  para
limitar o exercício do poder público em qualquer terreno de atuação, e assegurar a todos
“a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”
(CF, art. 5º, caput).
ALEXY,  Robert.  Teoria  de  los  derechos  fundamentales.  Madrid:  Centro  de  Estudos
Constitucio-nais, 1993, p. 86-87; PEREIRA, Rodolfo Viana. Hermenêutica  filosófica  e
constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 144-145.
DWORKIN, Ronald. O império do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 242 e 258;
PE-REIRA, Rodolfo Viana. Op. cit., p. 140-141.
BAUR, Fritz. Studi  in Onore di Tito Carnacini. Milano, v.  II,  t.  I, 1984, p. 25-40 apud
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos. 4. ed. São
Paulo: RT, 1997, p. 34.
VEIGA, Pimenta da. Direito público brasileiro e análise da Constituição do Império. Rio
de Janeiro, 1958, reimp. da ed., 1857, n. 470, p. 331.
NERY  JÚNIOR,  Nelson.  Princípios  fundamentais  cit.,  p.  37;  PERROT,  Roger.  Le
principe du double degré de jurisdicion et son évolution en droit privé français. Studi  in
Onore di Enrico Tullio Liebman. Milano, 1979, v. III, p. 1971.
STF,  2ª  T., Ag  114.709-1-AgRg/CE, Rel. Min. Aldir  Passarinho,  ac.  29.05.1987, DJU
28.08.1987, p. 17.578.
CALMON DE PASSOS, José Joaquim. Direito, poder, justiça e processo. Rio de Janeiro:
Forense,  2000,  p.  67-70;  NERY  JUNIOR,  Nelson.  Princípios  do  processo  civil  na
Constituição Federal. 3. ed. São Paulo: RT, 1966, p. 163; WAMBIER, Luiz Rodrigues;
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves  comentários  à  segunda  fase  da  reforma  do
Código  de  Processo Civil.  2.  ed.  São  Paulo: RT,  2002,  p.  140; DIDIER  JR.,  Fredie;
CUNHA,  Leonardo Carneiro  da. Curso  de  direito  processual  civil.  10.  ed.  Salvador:
JusPodivm, 2012, v. 3, p. 24-26.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela  antecipatória,  julgamento  antecipado  e  execução
imediata da sentença. 2.ed. São Paulo: RT, 1998, p. 213.
Devido processo constitucional jurisdicional envolve, na lição de Calmon de Passos, “um
complexo de garantias mínimas contra o subjetivismo e o arbítrio dos que tem o poder de
decidir”. Dentre  essas  garantias  irrecusáveis,  figura  a  indispensabilidade  dos  recursos,
principal mecanismo de “controle” das decisões, “possibilitando-se, sempre, a correção
da ilegalidade praticada pelo decisor e sua responsabilização pelos erros inescusáveis que
cometer”. Impedir o acesso à via recursal equivale, imediatamente, a suprimir ou reduzir
o devido processo legal, e não apenas a agilizar o procedimento e prestigiar a efetividade
da  tutela,  como  pensam  alguns.  Representa,  na  realidade,  segundo  o  saudoso  jurista
baiano,  favorecer  “o  poder,  não  os  cidadãos”  dilatando-se  o  espaço  dos  governantese
restringindo-se  o  dos  governados.  E  isso  –  em  conclusão  –,  “se  me  afigura  a  mais
escancarada  antidemocracia  que  se  pode  imaginar”  (CALMON  DE  PASSOS,  José
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Joaquim. Direito, poder, justiça e processo cit., p. 70).
Sobre  as  maiores  dimensões  do  princípio  do  duplo  grau  de  jurisdição,  no  processo
assegurado como direito fundamental pelo Estado Democrático de Direito, ver o item nº
35 do vol. I do nosso Curso de direito processual civil. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.
CPC/1973, art. 496.
SILVA, Antônio Carlos Costa e. Dos recursos em primeiro grau de jurisdição. São Paulo:
Ed. Juriscredi, 1974, n. 5.1, p. 18.
O STF,  por  exemplo,  entende  que  os  embargos  de  declaração  não  são  cabíveis  contra
decisão  singular do  relator, pois o  caso  seria de  agravo  interno. No  entanto,  acolhe os
embargos impróprios como agravo, dando, assim, aplicação ao princípio da fungibilidade
(STF,  2ª  Turma, AI  278.549  ED/SP,  Rel. Min.  Celso  de Mello,  ac.  21.11.2000, DJU
30.03.2001, p. 113; STJ, 4ª T., EDcl no AREsp 304.487/SP, Rel. Min. Raul Araújo, ac.
27.05.2014, DJe 20.06.2014).
CPC/1973, art. 513.
CPC/1973, art. 522.
O  NCPC  adotou  o  sistema  casuístico  de  cabimento  de  agravo  de  instrumento  para
impugnar as decisões que não se enquadram no conceito de sentença (art. 1.015, I a XIII).
Para as decisões não arroladas no referido artigo, o NCPC admite que sua impugnação se
dê nas razões ou contrarrazões de apelação (art. 1.009, §§ 1º a 3º).
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais cit., n, 2.4, p. 92.
CPC/1973, art. 541.
CPC/1973, art. 535.
MARQUES,  José  Frederico.  Instituições  de  direito  processual  civil.  Rio  de  Janeiro:
Forense, 1960, v. IV, p. 55.
No caso de interposição simultânea de recurso extraordinário e recurso especial contra o
mesmo acórdão, este se desdobra em vários capítulos e, “para fins de recorribilidade cada
capítulo é considerado como uma decisão per se” (BARBOSA MOREIRA, José Carlos.
Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, v. V, n.
141, p. 249).
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil.
10. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, v. 3, p. 45; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso
de direito processual civil. 55 ed. Rio de Janeiro: Forense, v. I, n. 535, p. 632-633.
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos. 4. ed. São
Paulo: RT, 1997, p. 138-140.
STJ, 4ª T., REsp 16.978/SP, Rel. Min. Athos Carneiro, ac. 16.11.1992, RSTJ  43/348. No
mesmo sentido: STJ, 4ª T., REsp 12.610/MT, Rel. Min. Athos Carneiro, ac. 26.11.1991,
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RSTJ   30/474.  Contra:  STJ,  4ª  T.,  REsp  1.64/729/SP,  Rel. Min.  Sálvio  de  Figueiredo
Teixeira, ac. 29.04.1998, RSTJ  107/313; STJ, 1ª T., REsp 6.602/CE, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, ac. 25.10.1993, RSTJ  58/209; STJ, 2ª T., RMS 7.823, Rel. Min. Adhemar Maciel,
ac. 19.02.1998, RSTJ  109/77.
STJ, Corte Especial, AgRg no RO nos EDcl no AgRg no MS 10.652/DF, Rel. Min. Ari
Pargendler, ac. 12.04.2010, DJe 03.05.2010. Na mesma linha decidiram: STJ, 1ª T., (EDcl
no  REsp  1.106.143/  MG,  DJe  26.03.2010);  2ª  T.  (AgRg  no  REsp  599.458/RS,  DJe
11.11.2009),  3ª  T.  (AgRg  no  REsp  1.067.946/RN,  DJe  07.12.2010)  e  4ª  T.  (REsp
1.035.169/BA, DJe 08.02.2010).
CPC/1973, sem correspondências.
CPC/1973, arts. 244 e 250.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Juízo de admissibilidade no sistema dos  recursos
civis. Rev.  da Proc.-Geral  do Estado  da Guanabara,  v.  19,  1968,  p.  170-172;  SATTA,
Salvatore. Comentario  al Codice  di  Procedura Civile,  Libro  secondo,  Parte  seconda.
Milano, 1966, p. 117-118; NERY JR., Nelson. Op. cit., p. 147).
CPC/1973, art. 514, II.
CPC/1973, art. 524, I e II.
CPC/1973, art. 536.
CPC/1973, art. 540.
CPC/1973, art. 541, I e III.
MARQUES,  José  Frederico. Manual  de  direito  processual  civil.  13.  ed.  São  Paulo:
Saraiva, 1990, v.  III, n. 606, p. 126; FAGUNDES. Seabra. Dos  recursos  ordinários  em
matéria  cível. Rio de  Janeiro: Forense, 1946, n. 106, p. 101; NERY  JÚNIOR, Nelson.
Atualidades sobre o processo civil. São Paulo, 1995, n. 39, p. 92.
STF, 1ª T., RE 88.372/BA, Rel. Min. Bilac Pinto, ac. 24.11.1997, RTJ  85/722; STJ, 4ª T.,
RMS 751/GO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. 09.04.1991, DJU 13.05.1991, p. 6.084;
STJ, 3ª T., AgRg no REsp 1.241.594/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, ac. 21.06.2011, DJe
27.06.2011.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 2º.
NERY JR, Nelson. Princípios fundamentais – teoria geral dos recursos. 4. ed. São Paulo:
RT, 1997, p. 149.
“É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se
operou  a  preclusão”  (NCPC,  art.  507;  CPC/1973,  art.  473).  “Nenhum  juiz  decidirá
novamente as questões  já decididas, relativas à mesma  lide”, salvo hipóteses previstas
em lei (NCPC, art. 505; CPC/1973, art. 471).
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CPC/1973, art. 475.
CPC/1973, art. 522.
CPC/1973, art. 527, III.
STJ, 4ª T., RMS 751/RO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. 09.04.1991, DJU 13.05.1991,
p. 6.084.
STJ, 3ª T., REsp 2.586/CE, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, ac. 05.06.1990, RSTJ  10/471. No
mesmo sentido: TJSP, 3ª Câm., Apelação 262.231, Rel. Des. Viseu Júnior, ac. 21.07.1977,
RT 516/106.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 7.  ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 426.
“Em caso algum, porém, a decisão do juiz da apelação sobre a demanda de mérito poderá
re-dundar mais desfavorável ao apelante e mais favorável ao apelado do que a decisão de
primeira  instância  (proibição da  reformatio  in pejus);  a não  ser que o  apelado  seja  ao
mesmo  tempo  apelante”  (CHIOVENDA, Giuseppe.  Instituições  de  direito  processual
civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969, v. III, n. 399, p. 262).
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973; NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais cit., p. 155; ASSIS, Araken
de. Manual de recursos. 2. ed. São Paulo: RT, 2008, p. 107-108.
STJ,  4ª  T.,  REsp  836.932/RO,  Rel.  Min.  Fernando  Gonçalvez,  ac.  06.11.2008,  DJe
24.11.2008. Nesse sentido: STJ, 1ª T., REsp 1.102.897/DF, Rel. Min. Denise Arruda, ac.
09.06.2009, DJe 05.08.2009; STJ, 3ª T., AgRg no Ag 836.287/DF, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, ac. 18.10.2007, DJU 31.10.2007, p. 325. Em sentido contrário: STJ, 5ª
T., RMS 18.910/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, ac. 06.09.2005, DJU 10.10.2005, p.
398.
STJ, 2ª T., REsp 859.595/RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, ac. 21.08.2008, DJe 14.10.2008.
Nesse sentido: STJ, 5ª T., REsp 645.213/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, ac. 18.10.2005, DJU
14.11.2005, p. 382; STJ, 1ª T., AgRg no REsp 1.261.397/MA, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, ac. 20.09.2012, DJe 03.10.2012; STJ, 4ª T., REsp 704.218/SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, ac. 15.03.2011, DJe 18.03.2011.
O entendimento que defendemos acha-se mais amplamente exposto em nosso Curso de
direito processual civil. 55. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, v. I, n. 543.a-2, p. 653-655.
ARAGÃO, Paulo Cezar. Recurso adesivo. São Paulo, 1974, n. 81, p. 55-56.
CPC/1973, art. 500.
CPC/1973, art. 473.
MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Comentários ao Código de Processo Civil. 9.  ed.
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Rio de Janeiro: Forense, 1998, v. II, n. 116, p. 97.
Idem, ibidem.
STJ, Corte Especial, AgRg nos EREsp 511.234/DF, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 04.08.2004,
DJU 20.09.2004, p. 176. No mesmo sentido: STJ, 4ª T., AgRg no Ag 1.268.337/RS, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, ac. 16.06.2011, DJe24.06.2011; STJ, 3ª T., AgRg no REsp
588.766/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, ac. 28.09.2010, DJe 06.10.2010; STF,
1ª T., AI 771.806 AgR-segundo/MT, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 13.03.2012, DJe 02.04.2012;
STF,  2ª T., RE  553.657 AgR--ED/RJ, Rel. Min. Celso  de Mello,  ac.  16.11.2010, DJe
17.12.2010.
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