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NP1: Sentença e Recurso Civil 1- Sentença Segundo o art. 203, §1° do CPC, sentença é um dos pronunciamentos do juiz pelo qual coloca fim na fase de conhecimento do procedimento comum, bem como extingue o processo de execução. Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 , põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. ● Critérios de Definição Existem dois critérios para a definição do que é sentença, o primeiro está relacionado com a resolução do mérito, e o segundo, por sua função de pôr fim ao processo ou à face cognitiva. i. Resolução do mérito: se baseia na natureza da decisão proferida, o CPC diferencia a sentença em dois tipos, de acordo com o que ela decide. a) Sem resolução do mérito: ocorre quando o juiz decide encerrar o processo sem analisar o pedido principal. O art. 485 elenca quais são os motivos pelo qual o juiz não resolverá o mérito; b) Com resolução do mérito: o juiz analisa o pedido feito na inicial, e decide sobre ele. As hipóteses de resolução estão no art. 487. O juiz na sentença que decide sobre o mérito pode acolher, rejeitar, homologar e reconhecer. ii. Aptidão (por fim ao processo ou fase cognitiva): se concentra na função da decisão dentro do processo. A sentença, por sua natureza, tem a capacidade de encerrar uma das fases do processo judicial. a) Por fim ao processo: a sentença encerra a fase de conhecimento em primeira instância. Isso significa que, após sua prolação, o processo não segue para uma fase de instrução ou de produção de provas. A decisão é final em relação àquele grau de jurisdição; b) Por fim à fase cognitiva: em alguns casos, o processo pode ter diferentes fases (como conhecimento, liquidação e execução). A sentença, https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art485 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art487 nesse critério, é o ato que põe fim à fase em que o juiz analisa e decide o pedido, ou seja, a fase cognitiva. Por isso, mesmo em processos de execução, onde o juiz decide sobre o cumprimento de uma obrigação, o ato que encerra essa fase também é chamado de sentença, pois ele cumpre a função de finalizar o procedimento. ● Sentença Sem Resolução Do Mérito Diferente da sentença definitiva, que resolve o conflito entre as partes, a sentença terminativa tem um caráter meramente processual. Ela não diz respeito ao direito material (o direito em si), mas sim a um problema no andamento do processo. Por isso, essa sentença não faz coisa julgada material. Isso significa que a parte que teve seu processo extinto por um dos motivos do Art. 485 pode ajuizar uma nova ação com o mesmo pedido, desde que corrija o problema que levou à extinção da primeira. Art. 485 – O juiz não resolverá o mérito quando: i. Indeferir a petição inicial: se a inicial não cumprir os requisitos do art. 319, o juiz poderá indeferir mesmo que o réu ainda não tenha apresentado contestação, conforme se verifica no art. 330; ii. Processo parado por mais de um ano: se o processo ficar parado por mais de um ano por negligência das partes; iii. Não cumprir atos ou o autor abandonar a causa por mais de 30 dias: o autor não realizar um ato que lhe competia por mais de 30 dias. � Nos casos dos incisos II e II, o juiz determinará a intimação da parte para suprir a falta no prazo de 5 dias (art. 485, §1°); � No caso do inciso II, as custas serão divididas por ambas as partes. E se o processo for extinto por inércia dos autos, inciso III, ele pagará as custas (art. 485, §2°); � Apresentada a contestação, a extinção do processo por abandono do autor depende de requerimento do réu (art. 485, §6°) iv. Ausência de pressupostos: Por exemplo, o processo não foi iniciado por uma petição escrita ou o juiz é absolutamente incompetente; v. Houver perempção, litispendência ou coisa julgada: quando o autor já deu causa à extinção de três ações idênticas por abandono. Quando já existe outro processo idêntico tramitando (mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir). Ou quando o pedido já foi julgado definitivamente em outro processo; vi. Ausência de legitimidade ou interesse processual: a parte que ingressa com a ação, ou contra quem a ação é movida, não tem nenhuma relação com o processo. Ou o autor não precisa do processo para obter o que deseja, ou o processo não é o meio adequado para resolver o problema; vii. Homologar acordo: quando existe um acordo prévio para que o conflito seja resolvido por um árbitro, e não por um juiz; viii. Homologar desistência da ação: o próprio autor decide não seguir com o processo. Nesse caso, se o réu já tiver sido citado, ele precisa concordar com a desistência; � Com o oferecimento da contestação, o autor não poderá sem consentimento do réu, desistir da ação. (art. 485, §4°); � A desistência pode ser apresentada até a sentença (art. 485, §5°). ix. Morte da parte: o processo não continuará se a lei determinar que o direito discutido não pode ser transferido aos herdeiros; � O juiz conhecerá de ofício do que consta nos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer grau de jurisdição e tempo, enquanto não tiver ocorrido o trânsito em julgado (art. 485, §3°). x. Nos demais casos previstos no CPC. O recurso cabível para a sentença que extingue o mérito é a apelação. Com a interposição da apelação em qualquer dos casos, o juiz terá o prazo de 5 dias para se retratar (art.485, §7°). ● Sentença Com Resolução do Mérito A sentença com resolução do mérito, ou sentença definitiva, é a decisão do juiz que põe fim à controvérsia principal do processo. Diferentemente da sentença terminativa (art. 485), ela não se limita a questões processuais. O juiz efetivamente analisa o mérito, ou seja, o direito material que está em discussão, e dá uma resposta final sobre ele. A grande consequência desse tipo de sentença é a produção da coisa julgada material. Isso significa que a questão decidida não pode mais ser discutida em um novo processo. Art. 487 – Haverá resolução do mérito quando o juiz: i. Acolher ou rejeitar o pedido: o juiz analisa as provas os argumentos das partes e a legislação aplicável para decidir se o autor tem o direito que alega ter; ii. Decadência ou prescrição: a prescrição e a decadência são institutos jurídicos que extinguem o direito de ação devido ao decurso do tempo. Se o juiz reconhece que o prazo para o autor ajuizar a ação já se esgotou, ele extingue o processo com resolução do mérito. Prescrição, é a perda do direito de exigir judicialmente um direito, como o de cobrar uma dívida. E decadência, é a perda do próprio direito, por exemplo, de anular um contrato dentro de um prazo específico; � As hipóteses de prescrição e decadência só serão reconhecidas com a manifestação das partes sobre, salvo o disposto no art. 332, §1°, que dispõe que o juiz pode decidir liminarmente improcedente o pedido se verificar desde logo a ocorrência de decadência e prescrição. iii. Homologação ou reconhecimento: ocorre quando as partes resolvem o conflito e o juiz apenas "aprova" a solução, dando-lhe validade jurídica. a) Reconhecimento de procedência do pedido: o réu concorda com tudo que o autor pediu, reconhecendo que a pretensão do autor é válida. O juiz homologa essa decisão, e ela se torna definitiva; b) Transação: as partes fazem um acordo ou concessões mútuas para resolver o conflito. O juiz homologa o acordo, que passa a ter força de sentença.; c) Renúncia à pretensão: o autor desiste completamente do direito que estava pleiteando. Ele não está apenas desistindo da ação (o que seria uma sentençaterminativa), mas sim renunciando ao seu direito material. ● Requisitos da Sentença Para ser válida e produzir seus efeitos, a sentença judicial precisa ter alguns requisitos essenciais. O CPC no art. 489, estabelece que toda sentença deve conter três partes fundamentais: o relatório, a motivação e o dispositivo. 1) Relatório: é a primeira parte da sentença e funciona como um resumo do processo. Nele, o juiz descreve de forma breve e objetiva o que aconteceu desde o início da ação até o momento da decisão. a) Identificação das partes: o nome do autor e do réu; b) Breve relato da inicial: um resumo dos fatos narrados pelo autor e o pedido que ele faz; c) Breve relato da contestação: um resumo da defesa apresentada pelo réu; d) Principais ocorrências do processo: se houve produção de provas (testemunhas, perícias), intervenção de terceiros, ou outras manifestações relevantes das partes. 2) Motivação ou fundamentação: o juiz explica as razões que o levaram a tomar a decisão. É aqui que ele analisa as provas, interpreta as leis e aplica os argumentos jurídicos ao caso concreto. Na motivação deve conter: a) Análise das provas: o juiz deve dizer quais provas foram decisivas para sua convicção e porque ele as valorizou; b) Fundamentação legal: a sentença precisa citar os artigos da lei etc., que embasam a decisão; c) Enfrentamento dos argumentos das partes: o juiz é obrigado a analisar todos os pontos relevantes levantados pelo autor e pelo réu. Ele não precisa responder a todos os argumentos, mas deve explicar por que os rejeitou ou acolheu. 3) Dispositivo: o juiz resolve mérito da causa ou, em casos de sentença terminativa, declara a extinção do processo. É a parte mais curta, mas que contém a essência da decisão. Deve conter: a) Conclusão direta: o juiz diz, de forma clara e objetiva, se a ação foi julgada procedente (favorável ao autor) ou improcedente (desfavorável ao autor); b) Resolução da lide: determina o que cada parte deve fazer (condenação ou julgando improcedente o pedido); c) Decisão sobre ônus de sucumbência: define quem vai pagar as despesas processuais e os honorários de advogado. Geralmente, quem perde a ação é quem paga. ● Momentos de Ocorrência da Sentença Existem três momentos principais em que a sentença pode ocorrer: 1) Extinção prematura do processo: pode ser proferida em uma fase inicial do processo antes mesmo que a lide (o conflito) seja efetivamente discutida. Isso acontece quando o juiz identifica algum problema processual que impede o andamento regular da ação. É o caso da sentença sem resolução do mérito, conforme o Artigo 485 do CPC; 2) Após o encerramento da fase de instrução: ocorre depois que as partes já apresentaram suas provas e o processo está maduro para ser julgado. O juiz já ouviu testemunhas, analisou documentos e laudos periciais, e, assim, está apto a decidir sobre o mérito do caso. A sentença proferida neste momento é a sentença com resolução do mérito, que decide a controvérsia principal. A decisão põe fim à fase de conhecimento e o processo pode seguir para a fase de cumprimento de sentença, se necessário; 3) Em julgamento antecipado do mérito: a sentença pode ser proferida antes da fase de instrução, em duas situações específicas, conforme o Artigo 355 do CPC: a) Julgamento antecipado da lide (art. 355, I): ocorre quando a controvérsia já é exclusivamente de direito, ou seja, não há necessidade de produção de provas. Os fatos já estão provados por documentos, e o juiz precisa apenas aplicar o direito ao caso; b) Julgamento antecipado da lide (art. 356): o juiz decide apenas uma parte do pedido, que já está pronta para o julgamento, enquanto o restante do processo continua. Nesses casos, a sentença é uma forma de acelerar o processo, já que a produção de provas seria desnecessária. A decisão final é proferida antes do esperado, mas ainda assim resolve o mérito da causa. ● Defeitos da Sentença Quando um juiz profere uma sentença, ele deve se ater ao que foi pedido pelas partes no processo. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. Se o juiz ultrapassa, concede a mais ou deixa de analisar um pedido, a sentença se torna viciada, ou seja, ela apresenta um defeito. Esses defeitos são conhecidos como sentenças extra petita, ultra petita e infra/citra petita. 1) Extra petita (além do pedido): ocorre quando o juiz decide sobre algo que não foi pedido pelas partes. Ele vai além do que foi discutido e traz um novo elemento para a decisão. Por exemplo, O autor pede ao juiz que o réu seja condenado a pagar uma dívida. No entanto, o juiz, por conta própria, condena o réu a entregar um bem que ele não pediu, como um carro. O juiz resolveu um problema que não foi submetido à sua apreciação, tornando a sentença inválida; 2) Ultra petita (mais o que o pedido): acontece quando o juiz concede ao autor mais do que ele pediu. Ele analisa o pedido, mas vai além, extrapolando a quantia ou a medida solicitada. Exemplo, o autor pede uma indenização de R$ 10.000,00. O juiz, porém, concede R$ 15.000,00. Ele não julgou algo que não foi pedido (como na extra petita), mas concedeu uma quantia maior do que a solicitada, tornando a sentença defeituosa; 3) Infra ou citra petita (abaixo do pedido): ocorre quando o juiz deixa de analisar um ou mais pedidos formulados pelas partes. Ele não julga tudo o que foi submetido à sua análise. Por exemplo, O autor pede ao juiz uma indenização por danos materiais e por danos morais. O juiz, na sentença, analisa apenas o pedido de danos materiais e se esquece completamente de julgar o pedido de danos morais. ● Correção da Sentença: É possível a correção da sentença. Essa possibilidade existe para a correção de erros que não alteram o mérito da decisão, como erros materiais e omissões, garantindo a clareza e a exatidão do ato judicial. Art. 494 - Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - Para corrigir lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração. A correção da sentença pode ocorrer, por meio de: 1) Embargos de declaração: é o recurso específico para pedir correção de vícios na sentença, está previsto no art. 1022 do CPC: Art. 1.022 – Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: i. Esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; ii. Suprimir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; iii. Corrigir erro material 2) Correção de erros materiais de ofício: o próprio juiz pode, a qualquer momento corrigir erros materiais, mesmo que as partes não tenham se manifestado. Essa possibilidade está prevista no art. 494, I do CPC. ● Efeitos da Sentença Os efeitos imediatos (ou intrínsecos), os efeitos que a sentença produz assim que é publicada, independentemente de ela ser definitiva ou não. 1) Efeito declaratório: a sentença confirma ou nega a existência de uma relação jurídica. Por exemplo, uma sentença que declara que uma pessoa é a proprietária de um bem; 2) Efeitos constitutivo: a sentença cria, modifica ou extingue uma relação jurídica. Um exemplo clássico é a sentença de divórcio, que dissolve o casamento; 3) Efeito condenatório: a sentença impõe uma obrigação a uma das partes, como a de pagar uma quantia, entregar um objeto ou fazer algo. ● Efeitos Secundários da Sentença A sentença também gera efeitos secundários, ou extrínsecos, que são consequências lógicas e automáticas da decisão. Um desses efeitos é a revogação automática das liminares (tutelas provisórias) que foram concedidas duranteo processo. Uma liminar, ou tutela provisória, é uma decisão judicial temporária concedida no início ou durante o andamento do processo. Ela serve para garantir um direito de forma urgente, antes que a sentença final seja proferida. Por exemplo, um autor pede para que a ré cancele a negativação do seu nome no Serasa até que o processo seja julgado. O juiz concede uma liminar para que isso seja feito. Quando a sentença final é publicada, ela resolve o mérito da causa de forma definitiva, tornando a decisão provisória desnecessária. A decisão final substitui a decisão temporária. Se a sentença for favorável ao autor e mantiver o que a liminar concedeu (como o direito de não ter o nome negativado), a liminar perde o seu caráter provisório e o direito se torna definitivo. A obrigação do réu de não negativar o nome do autor agora decorre da sentença, e não mais da liminar. Se a sentença for desfavorável ao autor e revogar a tutela provisória (por exemplo, o juiz decide que o réu estava certo em negativar o nome), a liminar é revogada automaticamente, mesmo que a sentença não mencione isso explicitamente. O efeito da sentença, nesse caso, é o de cessar a eficácia da decisão provisória. ● Coisa Julgada Formal A coisa julgada formal torna a sentença imutável dentro do processo em que foi proferida. Ela impede que as partes questionem a decisão no mesmo processo, pois o prazo para recurso já se esgotou. A sua finalidade é encerrar a discussão naquele processo específico, mas não impede que a questão seja rediscutida em uma nova ação. Aplica-se em sentenças que não resolvem o mérito (Art. 485 do CPC), como no caso de um processo extinto por abandono de causa. A decisão se torna irrecorrível, mas a parte pode ajuizar uma nova ação com o mesmo pedido, desde que corrija o vício que levou à extinção da primeira. Ocorre com a preclusão da via recursal. Se o prazo para o recurso de apelação termina e ninguém recorre, a sentença transita em julgado formalmente. A coisa julgada formal é, portanto, um efeito meramente processual. Ela se refere à imutabilidade da decisão dentro dos limites do processo. ● Coisa Julgada Material A coisa julgada material é o efeito mais robusto e definitivo da sentença. Ela torna a decisão imutável não só no processo em que foi proferida, mas também fora dele. A questão decidida não pode ser reaberta e discutida em nenhuma outra ação futura. Aplica-se nas sentenças que resolvem o mérito da causa (Art. 487 do CPC), como quando o juiz julga um pedido procedente ou improcedente, ou quando reconhece a prescrição. Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. A finalidade da coisa julgada material é garantir a estabilidade das relações jurídicas. Sem ela, os conflitos nunca teriam um fim definitivo, e as decisões judiciais poderiam ser questionadas infinitamente. ● Defesa da Sentença Consiste em uma série de ferramentas jurídicas que as partes podem usar para questionar uma sentença. Se uma parte se sente prejudicada pela decisão do juiz de primeira instância, ela tem o direito de impugná-la, ou seja, de pedir que ela seja revista pelo tribunal. Os principais meios de defesa da decisão são os recursos e os remédios processuais. 4- Ação rescisória Busca anular uma decisão que se tornou definitiva, ou seja, que não cabe mais recurso. Tem como objetivo principal a anulação da coisa julgada material, que em tese, seria inalterável. Porém, essa possibilidade é excepcional e visa corrigir injustiças graves. A lei entende que a segurança jurídica (a imutabilidade da decisão) é importante, mas não pode se sobrepor a uma decisão baseada em um vício gravíssimo. O Artigo 966 do CPC lista as situações em que uma Ação Rescisória pode ser ajuizada. Essas hipóteses são taxativas, ou seja, não se pode ajuizar uma ação rescisória fora desses casos. Art. 966 - A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. A Ação Rescisória tem um prazo decadencial de 2 anos, contados a partir do trânsito em julgado da decisão que se pretende rescindir. O paragrafo 4° do art. 966, veda a interposição de ação rescisória contra homologação judicial. Pois a ação rescisória visa desconstituir a coisa julgada material, que se forma quando o juiz resolve a lide e decide sobre o mérito. Quando o juiz apenas homologa um acordo, ele não está decidindo o mérito, ele está apenas validando um ato de vontade das partes. § 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei. ● Legitimidade para Propositura da Ação Rescisória Art. 967 – Têm legitimidade para propor a ação rescisória: I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular; II - o terceiro juridicamente interessado; III - o Ministério Público: a) se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; b) quando a decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a lei; c) em outros casos em que se imponha sua atuação; IV - aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção. As partes do processo original que foram prejudicadas pela sentença têm total legitimidade para propor a Ação Rescisória. Isso inclui o autor ou o réu que se sentiu lesado pela decisão. Se uma das partes faleceu, seus sucessores (como herdeiros ou o espólio) também podem ajuizar a ação, pois assumem a posição jurídica do falecido. Um terceiro juridicamente interessado é uma pessoa que não participou do processo original, mas que será diretamente afetada pela decisão. Por exemplo, um herdeiro que não estava na ação de inventário, mas que foi prejudicado pela decisão, pode ter legitimidade para propor a Ação Rescisória. O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar a Ação Rescisória em três situações, conforme o Artigo 967, inciso III, do CPC: i. Quando não foi intimado para intervir no processo, como nos casos em que sua participação é obrigatória (ex: processos envolvendo menores de idade); ii. Quando a decisão que se pretende rescindir é o resultado de conluio ou simulação entre as partes para fraudar a lei; iii. Quando a decisão é contrária à lei, e o Ministério Público, por ter a função de defender a ordem jurídica, age para corrigir a ilegalidade. ● Procedimento O procedimento está regulamentado nos Artigos 968 a 975 do CPC. Ele segue, o rito de um processo comum, mas tramita em um tribunal: 1) Petição inicial: a parte interessada deve apresentar uma petição inicial, expondo os fatos, o fundamento jurídico para a rescisão (um dos incisos do Art. 966) e o pedido. A petição deve ser acompanhada das provas documentais que comprovem o alegado; 2) Depósito prévio: o autor da ação deve fazer um depósito de 5% sobre o valor da causa,que será revertido em favor do réu caso a ação seja julgada improcedente. Este depósito serve como uma garantia e tem o objetivo de evitar a propositura de ações rescisórias sem importância; 3) Citação do réu: após o juiz relator receber a petição, o réu é citado para apresentar defesa; 4) Fase de instrução: se houver necessidade de mais provas (como oitiva de testemunhas), o tribunal pode abrir uma fase de instrução probatória, onde as provas são produzidas. No entanto, a maioria das ações rescisórias se baseia em prova documental, o que dispensa essa fase; 5) Julgamento: a ação é julgada por um colegiado de desembargadores ou ministros. O julgamento pode ter dois resultados: a) Juízo rescindente: o tribunal decide que a decisão original deve ser anulada por um dos motivos do Art. 966; b) Juízo rescisório: depois de anular a decisão, o tribunal julga novamente o mérito da causa.