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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRUSQUE – UNIFEBE LEANDRO INÁCIO BERKMANN LEANDRO JACOMINI LORENZONI IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO ATRAVÉS DE CÉLULA DE MANUFATURA EM UMA INDÚSTRIA METALMECÂNICA BRUSQUE 2010 Leandro Opções Para citação:nullnullBERKMANN, Leandro Inacio; LORENZONI, Leandro Jacomini. Implantação de um sistema de produção através de célula de manufatura em uma indústria metalmecânica. 2010. 168 f. Monografia (Tecnologia em Gestão Empresarial). UNIFEBE. Brusque. 2010. Disponível em: <http://www.unifebe.edu.br/biblioteca/vinculos/000001/00000139.pdf>. Acesso em: ... LEANDRO INÁCIO BERKMANN LEANDRO JACOMINI LORENZONI IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO ATRAVÉS DE CÉLULA DE MANUFATURA EM UMA INDÚSTRIA METALMECÂNICA Relatório Final de Projeto Aplicado apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo no Curso Superior de Tecnologia em Gestão Empresarial do Centro Universitário de Brusque – Unifebe. Orientador: Walter Gomes dos Santos BRUSQUE 2010 TERMO DE APROVAÇÃO IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO ATRAVÉS DE CÉLULA DE MANUFATURA EM UMA INDÚSTRIA METALMECÂNICA Por: LEANDRO INÁCIO BERKMANN LEANDRO JACOMINI LORENZONI Relatório Final de Projeto Aplicado aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo no Curso Superior de Tecnologia em Gestão Empresarial do Centro Universitário de Brusque – Unifebe, pela Banca Examinadora formada por: Orientador/Presidente: ________________________________________ Prof. Walter Gomes dos Santos Professor Convidado: _________________________________________ Prof. George Bleyer Sendo aprovado com a nota: ( ) Brusque (SC) 08 de fevereiro de 2011 AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi elaborado com a ajuda de muitas pessoas. Mesmo correndo o risco de esquecer-nos de nomear alguém, gostaríamos de destacar alguns agradecimentos especiais: As nossas famílias, que desde o início nos incentivaram, apoiaram e fizeram-nos enfrentar muitas barreiras e dificuldades com otimismo, calma e perseverança. Aos professores, que durante toda a jornada estiveram presentes, ajudando da melhor forma possível, o nosso aprendizado e a integração dos conteúdos teóricos com a prática do dia a dia nas empresas. Ao professor e orientador Walter Gomes dos Santos, pela disponibilidade e atenção dedicada na orientação deste trabalho, inclusive pela visita in loco a empresa. Igualmente, um agradecimento especial ao professor George Blayer, que compôs a banca examinadora. Agradecemos a empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio, que dispôs sua estrutura e recursos para a realização do estudo e a implantação prática deste trabalho. Um agradecimento especial à Lívia Lothhammer, que orientou e colaborou diretamente na implantação prática do trabalho. Também a Maciel Levi Laus, Luciano Haussman, Eduardo, Marilaene, Cristiano Fischer e Jonas Soares, membros do grupo de apoio, que colaborou com críticas, avaliações e sugestões. Igualmente, agradecemos aos supervisores Vanderlei e João Machado e aos colaboradores da empresa que cooperaram na coleta de dados, no esclarecimento das dúvidas e sugestões para a elaboração deste trabalho. Também, um agradecimento muito especial a Ana Lorenzoni e Tacla Medeiros pela preciosa ajuda nas traduções de termos. A Sra. Úrsula Rombach pela ajuda no ardiloso trabalho de correção ortográfica do trabalho. E, a todos os colegas e amigos, que direta ou indiretamente colaboraram na elaboração deste trabalho. Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre seu trabalho e seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre seu amor e a sua religião. Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele acredita que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. Domenico de Masi RESUMO Nos tempos hodiernos, as organizações têm se confrontado com um mercado extremamente competitivo. Igualmente, a afirmação de novos padrões por parte dos clientes, o avanço quase sem limites da tecnologia, crises econômicas e o surgimento de uma série de paradigmas em relação à qualidade, logística e vendas, têm imposto diversos desafios às empresas. Para garantirem-se no mercado, muitas empresas têm voltado suas atenções para seus processos produtivos, buscando aumentar a qualidade de seus produtos, reduzir os custos, flexibilizar sua produção e otimizar seus recursos humanos. Diante deste cenário, as ferramentas, práticas e técnicas da Produção Enxuta, desenvolvida a partir da década de 50, nas fábricas da Toyota Motors Company, têm se mostrado uma alternativa com níveis significativos de resultados para diversas empresas, nos mais distintos segmentos e ramos de atuação ao redor do mundo. Focando a eliminação dos desperdícios, ao mesmo tempo em que busca flexibilizar a produção, garante a qualidade dos produtos e serviços. O presente trabalho tem como objetivo, a implantação de uma célula de montagem, tida como uma forma inovadora do arranjo físico, de organização das pessoas, máquinas e estações de trabalho. Alcançou-se ao final deste, um fluxo unitário e continuo na montagem do produto, a manifestação da multifuncionalidade e polivalência dos operadores e uma redução dos custos totais do produto, da mesma forma em que é capaz de atender as necessidades do cliente, na quantidade e no tempo que este exigir. Palavras-Chaves: Administração da Produção; Produção Enxuta; Célula de Manufatura; Churrasqueira Elétrica. ABSTRACT Currently, the companies have been facing an extremely competitive market. Equally, the affirmative of new standards coming from the customers, the almost limitless technology advancement, economic crisis and the arising of a new series of paradigms related to logistics, quality and selling‟s, have imposed several challenges to the companies. In order to keep themselves into the market, many companies have turned their attention to the productive processes, to increase their product quality, reduce the costs, turn their production more flexible and optimize their human resources. Due to this scenery, the tools, usages and Lean Manufacturing techniques, developed as from the 50´s at Toyota Motors Company plants, are becoming an alternative with significant levels of results for several companies, in the most different segments all around the world. The Lean Manufacturing focuses the waste elimination, as well as the production versatility, and assures the product and service quality. This paper aims the implantation of an assembling cell, faced as an innovative way for the physical and people arrangement, machines and working stations. It reached, at the end, an unitary and continuous flow at the product assembling, the multi-functionality and polyvalence of the workers and a reduction of the total costs of the product, as well as attending the customer‟s needs, related to quality and time that they demand. Key-words: ProductionManagement; Lean Production; Manufacturing Cell; Electric Grill. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Principais Teorias Tradicionais da Gestão................................................................27 Figura 2: Elementos da Produção.............................................................................................49 Figura 3: Hierarquia das funções do PPCP...............................................................................52 Figura 4: Composição do preço: Perspectiva tradicional x perspectiva lean...........................64 Figura 5: A Estrutura do Sistema Toyota de Produção.............................................................67 Figura 6: Separação do homem e a máquina............................................................................69 Figura 7: Produção Empurrada versus Produção Puxada.........................................................70 Figura 8: Sistema kanban de dois cartões.................................................................................74 Figura 9: Fluxo de Produção Tradicional versus Fluxo Unitário Contínuo..............................82 Figura 10: Modelos de células de produção em U e Linhas Paralelas......................................84 Figura 11: Número de operadores de acordo com a demanda..................................................85 Figura 12: Nivelamento da produção........................................................................................87 Figura 13: Prédio alugado para início das atividades...............................................................95 Figura 14: Foto aérea e da recepção da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com.................100 Figura 15: Organograma da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com..................................102 Figura 16: Produtos da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com..........................................105 Figura 17: Características dos modelos de Churrasqueiras....................................................109 Figura 18: Churrasqueira Elétrica Fischer..............................................................................110 Figura 19: Programação da produção da churrasqueira elétrica.............................................111 Figura 20: Linha de montagem da churrasqueira elétrica.......................................................115 Figura 21: Configuração da célula vista de cima com dois ou três operadores......................131 Figura 22: Célula de montagem da churrasqueira e seus elementos.......................................132 Figura 23: Quadro de controle de produção e eficiência........................................................140 Figura 24: Compreendendo a função da manufatura..............................................................162 Figura 25: Antigo e novo modelo de paletização das churrasqueiras elétricas.......................163 Figura 26: Novo modelo de etiqueta da embalagem coletiva.................................................164 Figura 27: Máquina para vedação automática da embalagem coletiva...................................165 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Diretores da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com..........................................102 Quadro 2: Principais departamentos e número de colaboradores...........................................102 Quadro 3: Principais clientes da Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com..........................................104 Quadro 4: Principais fornecedores da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com...................104 Quadro 5: Estoque em processo..............................................................................................119 Quadro 6: Postos, tempos individuais e tempo do ciclo completo.........................................125 Quadro 7: Modelo para nivelamento da produção..................................................................139 Quadro 8: Estoque em processo..............................................................................................140 Quadro 9: Linha de montagem versus célula de manufatura..................................................148 Quadro 10: Quadro de controle de produção da linha de montagem......................................156 Quadro 11: Quadro de controle de produção da célula de montagem (2° Turno)..................157 Quadro 12: Quadro de controle de produção da célula de montagem (1° Turno)..................158 Quadro 13: Marcos Históricos da Evolução do Pensamento em Gestão................................160 Quadro 14: Itens e valores usados para implantação da célula de montagem........................166 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico1: Layout versus Custos de Fabricação.........................................................................83 Grafico 2: Participação dos produtos nas vendas da empresa................................................106 Gráfico 3: Crescimento das vendas de churrasqueiras elétricas.............................................107 Gráfico 4: Distribuição das vendas das churrasqueiras elétricas............................................108 Gráfico 5: Vendas das churrasqueiras elétricas por Estados...................................................108 Gráfico 6: Demanda mensal de julho de 2009 a junho de 2010.............................................113 Gráfico 7: Balanceamento da linha de montagem da churrasqueira elétrica..........................117 Gráfico 8: Índices de eficiência da linha de montagem..........................................................120 Gráfico 9: Índices de produtividade semanal da linha de montagem.....................................122 Gráfico 10: GBO da situação atual e o melhorado.................................................................127 Gráfico 11: GBO por operador na situação melhorado..........................................................128 Gráfico 12: Distribuição do trabalho entre os operadores da célula.......................................134 Gráfico 13: Distribuição do trabalho entre os operadores da célula.......................................135 Gráfico 14: Percentuais de eficiência e produtividade na célula durante o treinamento........137 Gráfico 15: Índices de eficiência da célula de montagem.......................................................142 Gráfico 16: Produtividade semanal da célula de montagem...................................................143 LISTA DE ABREVIAÇÕES ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. CCQ – Círculo de Controle de Qualidade. CFA – Conselho Federal de Administração. CIM – Manufatura Integrada por Computador. CNAE – Classificação Nacional de Atividade Econômica. CNC – Controle Numérico Computadorizado. CONPET – Programa Nacional de Racionalização do Uso de Derivados de Petróleo e do Gás Natural. CPM – Gestão de Performance Corporativa. CPM – Método do Caminho Crítico. DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público. EPS – Poliestireno (Comercialmente conhecido por Isopor). FIFO – Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair. GBO – Gráfico de Balanceamento do Operador. GLP – Gás Liquefeito de Petróleo. IDORT – Instituto da Organização Racional do Trabalho. IMVP – Programa Internacional de Veículos Automotores. ISO - Organização Internacional para Padronização. JIT – Just In Time. LEI – Instituto Empresa Enxuta. MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts. MRP – Planejamento de Necessidades de Materiais. MRP II – Planejamento dos Recursos de Manufatura. MTB – Mountain Bike. NBR - Denominação de norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas. NUMMI - New United Motor Manufacturing, Inc. – Empreendimento conjunto entre as montadoras General Motorse Toyota. O.E.M. – Fabricante Original do Equipamento. OMCD - Divisão de Consultoria de Gerenciamento de Operação da Toyota. ONG – Organização Não Governamental. OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo. ORT - Racionalização do Trabalho dos Operários. PDCA – Planejamento, Execução, Controle e Ação – Ciclo de Deming. PERT – Programa de Avaliação e Análise Técnica. PMP – Planejamento Mestre de Produção. PPCP – Planeamento, Programação e Controle da Produção. PVC – Cloreto de polivinila. QFD – Desdobramento da Função da Qualidade. SAC – Serviço de Apoio ao Consumidor. SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. SESI – Serviço Social da Indústria. SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho. STP – Sistema Toyota de Produção. TRF – Troca Rápida de Ferramenta. WIP – Estoques em processo. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 1.1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 15 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................ 16 1.3 JUSTIFICATIVAS ............................................................................................................. 17 1.3.1 Importância e atualidade da produção enxuta ........................................................... 17 1.3.2 Importância da área produtiva .................................................................................... 19 1.3.3 Representatividade da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. ........................... 20 1.4 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 21 1.4.1 Geral ............................................................................................................................... 22 1.4.2 Específicos ...................................................................................................................... 22 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................................... 22 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 24 2.1 GESTÃO EMPRESARIAL ................................................................................................ 24 2.1.1 Definindo gestão empresarial ....................................................................................... 24 2.1.2 História da gestão empresarial ..................................................................................... 25 2.1.2.1 Teorias da gestão empresarial....................................................................................... 27 2.1.2.2 História da gestão no Brasil .......................................................................................... 33 2.1.3 Função da gestão empresarial ...................................................................................... 36 2.2 ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO ............................................................................. 39 2.2.1 Definindo administração da produção ........................................................................ 39 2.2.2 História da administração da produção ...................................................................... 40 2.2.2.1 Administração da produção como ciência .................................................................... 42 2.2.2.2 História da administração da produção no Brasil ......................................................... 45 2.2.3 Função da administração da produção ....................................................................... 49 2.2.3.1 PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção) ...................................... 52 2.3 SISTEMA ENXUTO DE PRODUÇÃO ............................................................................ 54 2.3.1 Definição do sistema enxuto de produção ................................................................... 54 2.3.2 História da produção enxuta ........................................................................................ 56 2.3.2.1 Produção enxuta a partir do IMVP ............................................................................... 60 2.3.2.2 História da produção enxuta no Brasil ......................................................................... 61 2.3.3 Funções do sistema enxuto de produção ..................................................................... 63 2.3.3.1 Bases do sistema enxuto de produção .......................................................................... 66 2.3.3.1.1 Just-in-time ................................................................................................................ 67 2.3.3.1.2 Autonomação ............................................................................................................. 68 2.3.3.2 Ferramentas e técnicas do sistema enxuto de produção ............................................... 70 2.4 CÉLULA DE PRODUÇÃO ............................................................................................... 74 2.4.1 Definição de célula de produção ................................................................................... 74 2.4.2 História da célula de montagem ................................................................................... 75 2.4.2.1 Células de produção no Brasil ...................................................................................... 78 2.4.3 Função da célula de produção ...................................................................................... 79 2.4.3.1 Flexibilidade ................................................................................................................. 80 2.4.3.2 Produtividade ................................................................................................................ 81 2.4.3.3 Configuração e formas.................................................................................................. 83 2.4.3.4 Nivelamento das células ............................................................................................... 86 2.4.3.5 Rota de abastecimento .................................................................................................. 88 2.4.3.6 Padronização dos trabalhos .......................................................................................... 90 3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 91 3.1 FINALIDADE DA PESQUISA ......................................................................................... 91 3.2 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 91 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................................ 92 3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................................... 93 3.4.1 Análise e interpretação .................................................................................................. 93 4 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ............................................................................. 95 4.1 HISTÓRICO DA EMPRESA ............................................................................................. 95 4.2 INFRAESTRUTURA FÍSICA ......................................................................................... 100 4.3 ESTRUTURA ADMINISTRATIVA ...............................................................................101 4.4 SERVIÇOS PRESTADOS ............................................................................................... 103 4.5 LINHAS DE PRODUTOS DA EMPRESA ..................................................................... 105 5 ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL E IMPLANTAÇÃO DA CÉLULA .................... 107 5.1 MERCADO ...................................................................................................................... 107 5.2 PRODUTO ....................................................................................................................... 109 5.3 PROGRAMAÇÃO DE PRODUÇÃO DA CHURRASQUEIRA ELÉTRICA ................ 110 5.4 LINHA DE MONTAGEM ............................................................................................... 111 5.4.1 Demanda e tempo padrão da linha de montagem .................................................... 113 5.4.2 Postos de trabalho e os operadores ............................................................................ 115 5.4.3 Balanceamento da linha de montagem ...................................................................... 116 5.4.4 Estoques na linha de montagem ................................................................................. 118 5.5 ÍNDICADORES DE DESEMPENHO DA LINHA DE MONTAGEM .......................... 119 5.5.1 Eficiência da linha de montagem ............................................................................... 120 5.5.2 Produtividade da linha de montagem ........................................................................ 121 5.5.3 Outros indicadores da linha de montagem ............................................................... 122 5.6 IMPLANTAÇÃO DA CÉLULA DE MONTAGEM ....................................................... 122 5.6.1 Ritmo de produção (“takt time”) ............................................................................... 123 5.6.2 Conteúdo do trabalho da linha de montagem ........................................................... 124 5.6.2.1 Kaizen no papel .......................................................................................................... 124 5.6.2.2 Gráfico de balanceamento do operador ...................................................................... 126 5.6.2.3 Grupo de melhorias .................................................................................................... 129 5.6.3 Máquinas, layout e gerenciamento de material ........................................................ 129 5.6.3.1 Máquinas e equipamentos .......................................................................................... 129 5.6.3.2 Layout ......................................................................................................................... 130 5.6.3.3 Gerenciamento dos materiais...................................................................................... 132 5.6.4 Distribuição do trabalho ............................................................................................. 133 5.6.4.1 Quantidade de operadores .......................................................................................... 133 5.6.4.2 Balanceamento da célula ............................................................................................ 134 5.6.4.3 Treinamento dos operadores ....................................................................................... 136 5.6.5 Programação e nivelamento da produção ................................................................. 137 5.6.5.1 Programação da produção .......................................................................................... 138 5.6.5.2 Nivelamento da produção ........................................................................................... 138 5.6.6 Estoques ........................................................................................................................ 140 5.6.7 Indicadores de desempenho da célula de montagem ................................................ 141 5.6.7.1 Eficiência da célula de montagem .............................................................................. 141 5.6.7.2 Produtividade da célula de montagem ........................................................................ 142 5.6.7.3 Outros indicadores da célula de montagem ................................................................ 143 5.6.7.4 Custos de produção na célula de montagem ............................................................... 144 5.6.8 Padronização ................................................................................................................ 144 6 RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................ 146 7 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 147 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 150 APÊNDICES ......................................................................................................................... 155 ANEXOS ............................................................................................................................... 159 14 1 INTRODUÇÃO O mundo empresarial tem verificado o crescimento da competitividade em níveis internos e externos, a afirmação de novos padrões por parte do mercado, o avanço quase sem limites da tecnologia, crises econômicas que assolam nações e o surgimento de uma série de desafios para as empresas, que exigem novos modelos de gestão, novas abordagens, princípios e paradigmas. (HAYES et al, 2005). Neste cenário, muitas empresas buscam aumentar seus lucros, explorando novos nichos de mercado, disponibilizando suas mercadorias em níveis globais e ampliando seu portfólio de produtos, a fim de satisfazer as necessidades e expectativas de seus clientes, que exigem, mais do que em qualquer época, produtos de qualidade e especialmente, na quantidade, no tempo que desejam e com serviços de pós-vendas satisfatório. (HAYES et al, 2005). Conquanto, é possível verificar um movimento crescente de reconhecimento do papel da manufatura, da necessidade de rever as formas de gerir e estruturar as suas operações de produção. Para satisfazer os clientes e manterem-se no mercado, tornou-se primordial às empresas, produzir com qualidade, de forma flexível, rápida e diversificada e especialmente, com baixo custo. Para Fusco e Sacomano (2007, p. 19): Tais influências e necessidades associadas são resultantes do, assim chamado por muitos, “novo paradigma” de produção. Em função disso é que surgiu uma nova tarefa, antes inexistente, de se examinar e definir continuamente sistemas de gestão da produção, em consonância com as exigências típicas das variações contextuais que vão ocorrendo. Diante do sucesso e resultados alcançados pela Toyota Motors Company, inclusive com a liderança no meio automobilístico, em termos de quantidades produzidas, valor de mercado e lucro, o sistema produtivo desenvolvido nas fábricas da empresa, tem-se mostrado uma alternativa com níveis significativos de utilização por empresas, nos mais distintos segmentos e ramos de atuação ao redor do mundo. O Sistema Toyota de Produção (STP) ou Produção Enxuta (Lean Production), como passou a ser denominado a partir dos trabalhos do Programa Internacional de Veículos Automotores (IMVP), engloba uma série de ferramentas, práticas e técnicas, que buscam eliminar os desperdícios ao longo do sistema produtivo, permitindo às empresas, reduzir os 15 custos, flexibilizar seus processos produtivos e aumentar os lucros. (WOMACK;JONES; ROOS, 2004). Dentre as práticas, ferramentas e técnicas introduzidas pela Produção Enxuta, destaca-se o arranjo físico em células de montagem. Possíveis em vários tamanhos e formas, as células são uma inovadora forma de organização das pessoas, máquinas e estações de trabalho, a fim de promover o fluxo unitário e contínuo na montagem dos produtos e a manifestação da multifuncionalidade e polivalência dos operadores e assim, atender as necessidades do cliente, na quantidade e no tempo exigido. (ROTHER; HARRIS, 2008). 1.1 APRESENTAÇÃO Na conjuntura atual, na qual as empresas estão inseridas, associados às constantes flutuações na demanda do mercado, a competição e os avanços tecnológicos, vêm influenciando e desafiando as organizações, mesmo aquelas tidas como de classe mundial e especialmente, suas áreas produtivas. Para (HAYES et al, 2005, p. 26), “a chave para o sucesso duradouro passou a ser a excelência operacional.” Guiada por muitas décadas pela produção em massa, inaugurada por Henry Ford, a área produtiva teve suas técnicas e diferenciais competitivos questionados, especialmente a partir da década de 80, quando confrontadas com as ferramentas, práticas e técnicas da produção enxuta, difundidas pelas companhias japonesas. Estas, logo se apresentavam como possibilidade viável para as organizações Ocidentais, pois combinava “as vantagens das produções artesanal e em massa, evitando os altos custos desta primeira e a rigidez desta última.” (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 3). Igualmente, as organizações nos tempos hodiernos, demandam por gestores preparados, ágeis, capazes de inovações criativas e principalmente, que façam acontecer. (CARAVANTES; PANNO; KLOECLNER, 2005). Ademais, as empresas demandam por profissionais que conheçam e que transcendam a obtenção de soluções para as dificuldades encontradas, por meio da contumácia do aumento dos recursos financeiros, humanos e físicos. Ele precisa fazer com que as coisas aconteçam com os recursos físicos e humanos que recebeu. Um gerente criativo procura formas criativas de fazer funcionar o sistema com aquilo de que ele e seu grupo dispõem. Casualmente, ele aprende que sua principal contribuição como líder é comunicar e desenvolver a ideia do que pode ser obtido pelo esforço coletivo, apesar da óbvia falta de recursos. (CARAVANTES; PANNO; KLOECLNER, 2005, p. 34). 16 Com vistas a atender a exigência curricular do curso e integrar a formação teórica com a prática, desenvolveu-se a presente pesquisa, objetivando desenvolver as competências para futura atuação profissional, a aproximação da realidade prática e teoria aprendida em sala de aula, nas mais diversas disciplinas estudadas. Segundo Farah Júnior (1999, p. 35): A universidade, ao priorizar a produção do conhecimento, deixa de centrar-se somente no ensino para abarcar a ideia da pesquisa, que se fundamenta no ensino (visão teórica-prática) e na associação entre os esforços da docência e os da investigação científica e sistematizada, capaz de trazer propostas e reflexões para suprir a sociedade de informações necessárias ao processo de superação do velho paradigma. Igualmente, sendo a pesquisa desenvolvida numa empresa, apresente as condições e ofereça ao acadêmico, a oportunidade de desafiar-se, questionar e lançar soluções para os problemas levantados, tornando-se instrumentos de integração, em termos de treinamento prático, aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e relacionamento humano. A tarefa da gestão terá maior chance de sucesso quando o trabalho empresarial for melhor embasado por estudos e projetos desenvolvidos de forma científica, reflexivo-crítica, criativa, a partir dos quais o empresário busca a compreensão de si próprio e da organização onde age e interage. (FARAH JÚNIOR, 1999, p. 36). O desenvolvimento do presente trabalho deu-se na área produtiva da empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio, situada rodovia Antônio Heil, km 23, bairro Limoeiro, na cidade de Brusque, Santa Catarina. Primeiramente, procedeu-se à pesquisa teórica e documental de conceitos e dados, coletados junto a diversos setores da organização, na atuação prática e na literatura, disponível em livros, revistas e meios eletrônicos, especializados no tema central e subjacente a ele. Depois do diagnóstico da situação atual da linha de montagem, organizar uma proposta, passou-se à implantação da célula de montagem no setor de bens de consumo durável, conforme o modelo da produção enxuta. 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA Henry Ford revolucionou a indústria mundial com a implantação da linha de montagem. Processando enormes lotes de um único produto, a linha de montagem não 17 permitia flexibilizar a produção ou adaptá-la à demanda dos clientes. As variações na demanda eram absorvidas por enormes estoques de produtos acabados. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). As mudanças no panorama dos negócios têm exigido das empresas, disponibilizar, aos clientes, os produtos na quantidade e no momento em que eles os desejarem. Igualmente, necessitam manter elevados níveis de qualidade nos produtos e serviços oferecidos. Por sua vez, as empresas passaram a atuar em função de seus clientes, isto é, trabalhar a partir de um sistema operacional flexível o suficiente para atender as novas demandas de maneira rápida e eficiente. As empresas que alicerçam sua produção unicamente em linhas de montagem, certamente terão problemas para alcançar estes objetivos e angariar lucros consideráveis. Nesta perspectiva e diante da realidade diagnosticada na linha de montagem, o problema que perpassa o presente trabalho, refere-se aos passos e os benefícios da implantação de uma célula de montagem na produção da churrasqueira elétrica Fischer. 1.3 JUSTIFICATIVAS A justificativa desta pesquisa quanto ao tema, área de aplicação e local da aplicação, reside respectivamente na importância e atualidade do tema escolhido, na importância do estudo da área produtiva e na representatividade da empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio, no contexto regional e nacional. 1.3.1 Importância e atualidade da produção enxuta Desenvolvido na década de 1950, por Taiichi Ohno 1 , o sistema Toyota de produção, começou a chamar a atenção do mundo ocidental a partir da crise do petróleo em 1973, quando os países integrantes da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), aumentaram o preço do barril em mais de 300%. Enquanto governos, sociedade e, sobretudo a indústria, quase de modo geral, sofriam com a recessão da economia, devido ao alto preço do petróleo e das demais matérias primas, a 1 Taiichi Ohno nasceu em 29 de fevereiro de 1912, em Dalian, China. Formou-se em Engenharia Mecânica na Escola Técnica de Nagoya e entrou para a Toyota Spinning and Wearing (indústria de máquinas têxteis) em 1932. Em 1943 foi transferido para a Toyota Motor Company. Em 1954 tornou-se diretor, diretor gerente (1964), diretor gerente sênior (1970) e vice-presidente executivo em 1975. Morreu em 28 de maio de 1990. 18 Toyota Motor Company apresentava lucros surpreendentes. (OHNO, 1997). Ademais, o crescimento e os resultados financeiros alcançados pela Toyota, consolidando-se como a segunda maior montadora do mundo, já seriam, na opinião de Liker e Meier (2007, p. 25), “razões suficientes para convencer qualquer um de que essa empresa deve estar fazendo alguma coisa certa.” A partir da década de 1980, como outrora os proprietários da Toyota e o engenheiro Ohno viajaram aos Estados Unidos buscando conhecer o sistemade produção, os ocidentais passam a dirigir-se ao Japão, buscando conhecer e entender o sistema que principiava uma revolução na forma de produzir os automóveis. A revolução se concretizou e foi muito além da indústria automotiva, tornando-se algo que nem os fundadores e seu engenheiro sonhavam. (LIKER; MEIER, 2007). Acolá dos muros da empresa, o sistema revolucionário tornou-se “o tópico de muitas conversas em muitos locais de trabalho e escritórios. Ele tem sido estudado e introduzido nos locais de trabalho independentemente do tipo de indústria, escala e mesmo fronteiras nacionais.” (OHNO, 1997, p. ix). Ano após ano, o sistema Toyota ou produção enxuta, como passou a ser denominado (lean production em inglês), mostrou-se uma excelente oportunidade para alcançar a excelência produtiva e agregar valor aos produtos e assim, atender os clientes, que passaram a exigir mais qualidade, preços baixos, diversificação e prazos reduzidos de entrega. Igualmente, conciliando as vantagens dos sistemas que precederam e evitando os altos custos do sistema artesanal e a rigidez da produção em massa de Henry Ford. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). Já há alguns anos, os métodos de melhoria da qualidade e ferramentas como just-in- time, kaizen, fluxo unitário de peças, autonomação, kanban e nivelamento de produção, desenvolvidos e difundidos pela Toyota, são empregados nas empresas do ramo químico, farmacêutico, eletrônicos, eletrodomésticos, construção naval, aérea e civil, calçadista e têxtil. A aplicação dos métodos e ferramentas lean não se restringe apenas à área produtiva das indústrias de manufatura. Mais recentemente, vem acontecendo “uma revolução nas indústrias de serviços, trabalhando para aplicar o pensamento enxuto na eliminação de perdas, incluindo bancos, companhias de seguros, hospitais, correios e outros.” (LIKER; MEIER, 2007, p. 25-26). Enfim, mais do que ferramentas, métodos e filosofia para alcançar expressivos resultados financeiros, agregando valor e melhorias no sistema produtivo, o sistema lean, desenvolvido outrora pela Toyota e atualmente digno de estudos, ensina que “há sempre mais 19 de um modo de chegar ao resultado desejado. O importante é aprender, pensar sobre o que foi aprendido, aplicá-lo, refletir sobre o processo e continuamente melhorar de maneira a fortalecer sua organização a longo prazo.” (LIKER; MEIER, 2007, p. 27). 1.3.2 Importância da área produtiva Para enfrentar a competitividade e as constantes flutuações na demanda do mercado, as empresas vêm, ao longo dos anos, buscando alternativas e diferenciais dentro da qualidade e design dos produtos, na substituição das matérias primas, redução de custos, modernização dos equipamentos, formação da mão-de-obra, na estratégia de vendas e logística. (LODI, 1993). Estas iniciativas trouxeram maior eficiência às vendas, compras, engenharia, distribuição e recursos humanos. Muitas empresas alcançaram números significativos de crescimento, verdadeiro boom no faturamento e firem sua marca no mercado regional e até internacional. Segundo Etzioni (apud LODI, 1993, p. 161): A tendência das sociedades democráticas ocidentais tem sido de encontrar um novo equilíbrio entre a organização e seu ambiente externo, entre as exigências feitas pela organização aos participantes e as necessidades pessoais destes, fora da organização. No interior desta, as considerações sociais e pessoais aumentaram sua importância sobre a tradicional preocupação pela produção e eficiência. Com a saturação do mercado e os clientes comprando com base no preço e na qualidade, as oportunidades de aumentar a participação no mercado e, sobretudo, aumentar as margens de lucro nos produtos produzidos, foram tornando-se limitadas ou até impossíveis. (LODI, 1993). É neste contexto que as empresas passaram a vivenciar o dilema: Reduzir a margem de lucro ou voltar suas atenções e despender valorosos esforços, tempo e recursos para a melhoria dos sistemas produtivos (ARAUJO, 2008). Muitas organizações têm condições de trabalhar com margens mais baixas de lucratividade e ganhar na quantidade comercializada. Outras, no entanto, buscam a redução de custos, do lead time (tempo de atravassamento) e do tempo de entrega aos clientes, da mesma forma que trabalham para agregar valor, no aumentar da qualidade dos produtos e na flexibilização da produção. (WOMACK; JONES, 2004). Estas iniciativas têm recebido cada vez mais a atenção, pois os esforços de uma 20 empresa podem servir para a solução de problemas de empresas. Segundo Davis, Chase e Aquilano (2001, p. 26): A administração da produção vem recebendo reconhecimento crescente em anos recentes devido a várias razões, entre as quais: (a) a aplicação de conceitos AP [administração da produção] em operações de serviços, (b) uma definição expandida de qualidade, (c) a introdução de conceitos de AP em outras áreas funcionais como marketing e recursos humanos, e (d) a compreensão de que a função da AP pode agregar valor ao produto final. Além disso, as iniciativas e a administração da área produtiva são de grande valia para os estudantes e pesquisadores. O raciocínio analítico usado nesta área pode inspirar soluções para problemas da vida cotidiana; igualmente os conceitos e práticas empregados na produção podem ser amplamente utilizados pelas outras funções da empresa. E finalmente, tendo em conta que todas as organizações produzem algum produto ou serviços, o conhecimento na área produtiva é de suma importância para o futuro profissional dos gestores. Atualmente, as agências de emprego esperam que os formandos na área de administração discutam, com conhecimento, muitas questões da área. Embora este seja o caso das empresas de manufatura, esta situação tem sido igualmente importante em serviços, tanto públicos quanto privados. (CHASE; AQUILANO; JACOBS, 2005, p. 22). Assim sendo, a área produtiva é um ótimo campo de pesquisa para os acadêmicos de gestão, que buscam complementar os temas estudados nas disciplinas de administração da produção I e II e consequentemente, enriquecer a preparação para o mercado de trabalho. 1.3.3 Representatividade da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Com mais de 40 anos no mercado, a Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio conquistou paulatinamente um lugar de destaque no cenário industrial e empresarial do Estado e do país, figurando em 2010, segundo a revista Amanhã (2010), entre as 50 maiores empresas de Santa Catarina. Para Andrade (2010), “através da combinação/articulação de seus recursos e capacidades, a empresa desenvolveu uma competitividade estratégica capaz de apresentar uma performance que demonstra sua eficácia” e com mais de 40 mil pontos de venda, sendo mais de mil pontos de assistência técnica, a empresa, com base na qualidade e inovação de seus produtos, tornou-se líder nas áreas de atuação. 21 Atuando no ramo metalomecânico, um dos pilares da economia regional e estadual, caracterizado pela estabilidade e perspectivas de crescimento muito palpáveis, mesmo em períodos de crise, a empresa dedica-se à fabricação e comercialização de quatro linhas de produtos. Eletrodomésticos (fornos elétricos, fogões, churrasqueiras, depuradores, coifas, micro ondas e secadoras de roupa), bicicletas (transporte, infantil, MTB e Full) e artigos para a construção civil (betoneiras, carrinhos de mão e pisos de borracha) e casas modulares. Diante da “franca expansão e crescente conquista do mercado, inclusive no exterior” (FISCHER, 2010) e buscando sempre a inovação, a empresa tem investido no aprimoramento do sistema produtivo, com a formaçãode grupos de estudos, visando a conscientização e esboços de viabilidade, para assim, implantar progressiva das ferramentas do sistema lean. Ademais, a aplicação de projetos em empresas de grande representatividade pode levar o acadêmico a ultrapassar a simples aplicação de técnicas aprendidas em sala de aula. Podem auxiliá-lo naquilo que posteriormente irá trabalhar e desenvolver na empresa. Conforme Vitor José Fabiano: Quando você é relevante em uma empresa pequena, você tem responsabilidades. Quando você tem uma posição não tão relevante em uma empresa grande, você se envolve com processos, sistemas e adquire muito conteúdo técnico. Então você alterna conhecimento técnico com responsabilidade gerencial. (in: MARCHESINI, 2010, p. 14). Desta forma, dado o desempenho na gestão e aplicação dos recursos, a inovação e busca pelas melhorias, a representatividade da Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio no mercado nacional e regional e a possibilidade de antever responsabilidades que posteriormente o acadêmico irá assumir como gestor, a empresa constitui um importante instrumento de pesquisa para os acadêmicos das áreas da administração e gestão empresarial. (ANDRADE, 2010). 1.4 OBJETIVOS Com base nos argumentos apresentados, no problema da pesquisa, este trabalho tem o seguinte objetivo: 22 1.4.1 Geral Analisar a possibilidade de implantação de um sistema de produção com base no lean manufacturing, no setor de bens de consumo durável (churrasqueira elétrica) da Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio. 1.4.2 Específicos - Diagnosticar a situação atual da linha de montagem da churrasqueira elétrica Fischer; - Definir indicadores de desempenho (eficiência, produtividade, a produção por área ocupada e número de colaboradores); - Apresentar propostas de melhoria, a partir da análise crítica dos elementos teóricos encontrados na literatura; - Implantar uma célula de montagem enxuta, descrevendo as principais etapas seguidas; - Avaliar resultados obtidos e apresentar as conclusões e recomendações para futuras melhorias. 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO No primeiro capítulo do trabalho, compõe a introdução, onde são apresentados o tema, os objetivos geral e específicos, a justificativa e a delimitação do estudo. O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica dos assuntos referentes ao tema deste trabalho, objetivando colher as informações e conceitos necessários para o correto entendimento do tema, sobre cada ponto exposto e usado como base para aplicação prática do estudo. No terceiro capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa aplicada neste trabalho, bem como, as fases dessa pesquisa. O quarto capítulo procura apresentar a empresa, no qual foi realizado o estudo e a aplicação prática do mesmo. Além do histórico da empresa, buscou-se ressaltar o ramo de atuação, a relação com os clientes e fornecedores e a infraestrutura da organização. 23 No quinto capítulo, é apresentada a situação atual do processo de montagem da churrasqueira elétrica, sobre a qual, são delineadas as propostas para um novo modelo de layout. Igualmente, é descrito os passos percorridos na implantação do modelo proposto. Ademais, são relatados as melhorias e resultados alcançados após dois meses de funcionamento da célula de montagem. Por fim, são feitas as recomendações e delineado a conclusão acerca do tema tratado e feitos apontamentos que poderão auxiliar a administração da produção e os supervisores em futuras melhorias. 24 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este capítulo tem como objetivo colher e apresentar algumas informações e conceitos necessários para o correto entendimento acerca do tema. Para tanto, serão tratados temas como, gestão empresarial, administração da produção, produção enxuta e célula de montagem, certos de que, a partir deles, será possível implementar a mudança de layout pretendida. 2.1 GESTÃO EMPRESARIAL 2.1.1 Definindo gestão empresarial Embora o uso da palavra gestão tenha se intensificado no Brasil nos últimos anos, no meio acadêmico, empresarial e pelas centenas de obras publicadas anualmente, é difícil encontrar uma definição universalmente aceita para este termo. A dificuldade e até mesmo polêmica, reside principalmente, pela associação e o uso como sinônimos, dos termos gestão e administração, não apenas na língua pátria, mas também em outras línguas. O termo administração advém do latim administrare e designa a função abaixo do comando de outrem, ou seja, que presta serviço a outro na condução, direção ou governo de um bem ou dos assuntos de um grupo, a rigor, “uma aplicação de gerir.” (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 2002, p. 6). Para tanto, muitos autores associam a administração ao bem ou setor público, tal como exposto pelos filósofos gregos e romanos e nos dicionários, principalmente de língua inglesa, onde “nota-se a efetiva utilização da palavra administracion como sinônimo, de forma discreta, de management e uma constante ligação daquela a “administração” pública.” (DIAS, 2002, p. 4). O termo gestão também traz suas origens etimológicas na língua latina, onde o verbo geratione designa a ação de gerir, gerenciar e administrar oficiosamente um bem ou negócios de outrem, por eles responsabilizando-se solidariamente (FERNÁNDES, 1993). Na língua inglesa, por exemplo, o vocábulo gestão é traduzido pela palavra management e “nunca é ligado ao termo administration, aquele sempre ligado à direção pura e simples ou à condução de negócios” (DIAS, 2002, p. 4). Igualmente, na língua portuguesa, o termo gestão “parece se aplicar melhor à esfera empresarial.” (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 2002, p. 6). 25 Indiferente às polemicas, problemas de tradução e o merecimento ou desmerecimento de um ou outro termo, levantado por alguns autores, o presente trabalho irá adotar o termo gestão, tal como apresentado por Dias (2002, p. 10), ou seja, “gestão de algo e administração em algo. Isto não desmerece a administração, ao contrário, seria impossível conceber a gestão sem ela. Mas a gestão incorpora a administração e faz dela mais uma das funções necessárias para seu desempenho”. Quando acompanhado da expressão empresarial, isto é, relativo à empresa ou a empresário, o termo gestão dá a entender a interferência direta dos gestores, através de um conjunto de tarefas, nos sistemas e procedimentos empresariais. Trata-se do emprego eficaz dos recursos disponibilizados pela organização, a fim de serem atingidos os objetivos pré- determinados. Segundo Peter Drucker, “gestão é o órgão social específico da empresa encarregado de tornar produtivos os recursos” (in CARDOSO; RODRIGUES, 2006, p. 89). Na visão de Peter Drucker, a gestão é “uma arte” que se alimenta de ciências como Economia, a Psicologia, a História, a Matemática, a Teoria Política e a Filosofia. E é, também, uma prática – como a Medicina -, no sentido de que o resultado obtido por um desempenho é mais importante do que a forma como esse desempenho foi obtido. (RODRIGUES; CARDOSO, 2006, p. 56). Transcendendo o prisma econômico e de resultados, o mesmo Drucker reconhece e destaca a característica social e humana da gestão empresarial. “A gestão lida com ações e aplicações e é confirmada pelos resultados que obtém: isto faz dela uma tecnologia; mas lida também com pessoas, seus valores, seu crescimento e desenvolvimento e isto a torna uma ciência humana e moral.” (apud COUTINHO et al, 1993, p. 3). 2.1.2 História da gestão empresarial A gestão empresarial é fruto de um longo processo evolutivo, cujas origensremontam a tempos imemoráveis. Contribuições provenientes de civilizações, filósofos, diversas ciências humanas e exatas, correntes de pensamento, Igreja Católica, organizações militares, os economistas liberais e os precursores do empreendedorismo moderno, foram moldando e constituindo o conjunto de conhecimentos, conceitos, princípios, métodos e práticas, que configuram a gestão como ciência. As contribuições, entre outras, acerca da divisão do trabalho, planejamento, organização e controle dos recursos humanos e materiais, liderança, incentivos salariais, 26 especialização, descrições de funções, estrutura organizacional, hierarquia e delegação de autoridade, descentralização, importância da contabilidade e custos, comprovam empiricamente a existência da gestão ou do uso de suas técnicas e conceitos em diversas épocas da humanidade. (SANTOS, 2008). No pensamento de Peter Drucker: A gestão é uma ciência empírica antiga. Sempre teve práticos exímios e muitos profetas. Alguns deles são nomes fundadores que as gerações mais recentes de executivos mal ouviram falar. [...] Doutros ouviram provavelmente só falar mal. [...] Mas só na segunda metade do século XX, o management se tornou numa doutrina assimilável para o comum dos mortais, algo que se poderia aprender e ensinar. (in CARDOSO; RODRIGUES, 2006, p. 95). A partir da metade do século XIX, os avanços da Revolução Industrial haviam se consolidado e transformado drasticamente a indústria e a agricultura, trazendo rápidas e profundas mudanças para as empresas 2 . As grandes transformações tecnológicas permitiram as empresas expandirem-se rapidamente para fornecer novos produtos e assim, atender a demanda existente e àquela em potencial. No entanto, a expansão das empresas muitas vezes acontecia de forma desorganizada, tanto que, passaram a exigir uma ciência, que substituísse o improviso e fosse capaz de aumentar a eficiência, a produtividade e fazer frente à concorrência e competição que o mercado passava a apresentar. (GOMES, 2005). Para enfrentar estes novos desafios e fazer frente à concorrência, muitas empresas viram-se obrigadas a procurar a fusão ou a participação em aglomerados de empresas, que “começaram a ser dirigidos por managers profissionais” (LODI, 1993, p. 4-5), que dedicavam seu tempo às empresas, desenvolvendo algumas técnicas desenvolvidas ao longo dos séculos. Anos mais tarde, Robert Owen surpreende o meio empresarial confiando a gestão de sua fiação aos funcionários, além de oferecer-lhes incentivos não monetários como educação, saúde e assistência social à comunidade onde residem. Neste mesmo tempo, Charles Babbage defende que a produtividade está sujeita à eficácia da divisão do trabalho, estudo dos tempos e movimentos e do uso eficiente das instalações fabris. Propõe ainda, na obra On The Economy of Machinery and Manufactures (1932), a participação dos operários nos lucros das empresas. (BIONDO, 2005; SANTOS, 2008). As primeiras contribuições acerca do ensino da gestão surgem em 1871, quando Joseph Wharton cria o primeiro curso superior de gestão, na Universidade da Pensilvânia 2 Para Ferreira (2008), a condição básica para o surgimento sistemático da ciência do management depende primeiramente da industrialização. 27 (EUA), com o objetivo de ensinar as técnicas até então conhecidas. Em 1886, Henry Towne propunha o desenvolvimento de uma ciência da gestão, com campo de pesquisa independente, a fim de complementar a formação e a atuação profissional e social dos engenheiros. (SANTOS, 2008). (ANEXO A). Para Peter Drucker a gestão surgiu como ciência em 1901, quando Elihu Root, ex- industrial e então secretário de Guerra, foi incumbido pelo de reorganizar o Exército norte- americano e criar a United States Military Academy (CARDOSO; RODRIGUES, 2006). Quando estas contribuições foram associadas à realidade e à busca por respostas do dia a dia, “vieram a desenvolver princípios mais abrangentes, posteriormente integrados em teorias, abordagens ou escolas de pensamento – comumente designadas de teorias3 (ou abordagens) tradicionais da gestão.” (SANTOS, 2008, p. 54). (Figura 1). Figura 1: Principais Teorias Tradicionais da Gestão. Fonte: Santos (2008, p. 55). 2.1.2.1 Teorias da gestão empresarial Segundo Ferreira, Reis e Pereira (2001, p. 3), “apesar de as empresas e sua gestão existirem de forma embrionária desde os primórdios dos tempos, foi somente em 1903 que 3 Uma teoria é um conjunto de proposições (assunto que vai ser discutido ou asserção que vai ser defendida), que procuram explicar os fatos e oferecer princípios que possam nortear os gestores na tomada de ações para obtenção da solução de problemas reais ocorridos no dia-a-dia das organizações. No entender de Caravantes (1998, p. 23), teoria é “a tentativa de associar e integrar os dados coletados através da experimentação e observação, num sistema explanatório compreensível.” 28 surgiu o primeiro estudo científico dos métodos de gestão, apresentado sob a forma de uma teoria”, na obra Shop Management (1903) de Frederick Taylor, dando origem a Teoria Cientifica. Trata-se, segundo Fava (2002, p. 77), de uma combinação de elementos, “de antigos conhecimentos reunidos, analisados, reagrupados e classificados, dos quais puderam se extrair leis e regras que vieram assim a constituir uma ciência.” Enfatizando o trabalho dos operários, Taylor buscou a organização e a racionalização do trabalho dos operários (ORT), enfatizando tempos e métodos, a fim de garantir a realização dos objetivos da empresa, isto é, a máxima produção a mínimo custo. Defende que a eficiência viria do tempo-padrão, plano de incentivo salarial (elaborado a partir da concepção de homo economicus), a divisão do trabalho e sua realização em conjunto, a supervisão funcional e a seleção científica e a superespecialização do trabalhador. (FERREIRA, REIS, PEREIRA, 2002). Na mesma época, Henry Gantt, um dos primeiros consultores profissionais de management (BIONDO, 2005), introduz o gráfico de Gantt, com técnicas de planejamento para o controle diário de produção, sugerindo uma remuneração mínima para os funcionários e um bônus, caso superassem as metas estipuladas. Neste tempo, os engenheiros Frank Gilbreth e Lillian Gilbreth estudam a economia dos movimentos, os fundamentos psicológicos e a adaptação do homem à máquina. E possivelmente, o mais lembrado entre aqueles que difundiram a Teoria Cientifica foi Henry Ford, criador da linha e do fluxo de produção, elementos que fundamentam a produção em massa, isto é, produção de um grande número de produtos, com a garantia de qualidade e menor custo unitário. Na Europa, o francês Henri Fayol lança em 1916, os conceitos da Teoria Clássica da gestão. Enfatizando a estrutura organizacional, com ênfase no trabalho do management, afirma o aumento da eficiência da empresa a partir da sua divisão em funções e pela aplicação dos catorze princípios, “para todas as atividades, para todas as empresas, sejam elas grandes, sejam pequenas ou privadas, simples ou complexas, em qualquer canto do mundo.” (FAVA, 2002, p. 98). Segundo Fayol, a empresa deve ser organizada em cinco áreas ou funções: Técnica (produção e engenharias), comercial (venda e marketing), financeira (procura e gerência capital), segurança (preservação dos bens e pessoas) e contábeis (inventários, registros, balanços e custos) e o sucesso de cada área depende diretamente do desempenho da gestão, que planeja, organiza, comanda, coordena e controla o trabalho das demais áreas.29 Nas áreas sugeridas, assim como em toda a empresa, devem prevalecer os catorze princípios: Divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, unidade de comando, unidade de direção, disciplina, prevalência dos interesses gerais, remuneração, centralização, hierarquia (cadeia escalar), ordem, equidade, estabilidade dos funcionários, iniciativa e espírito de equipe. (CHIAVENATO, 2004). Ademais, a atuação do management deve acontecer a partir de previsões científicas e métodos adequados. Assim, o planejamento, organização, direção, coordenação e controle, “consideradas tradicionalmente o núcleo do management” (BIONDO, 2005, p. 51), garantirão os resultados e permitirão ao gestor, a manipulação dos deveres do cotidiano do seu trabalho com mais segurança e confiança. Seguindo o pensamento de Fayol, Lindall F. Urwick, Luther Gulick e James D. Mooney, buscaram sintetizar e fazer uma revisão histórica, com base no “dever ser” das organizações, a teoria nascente do management e das ideias e práticas, a fim de encontrar princípios de aplicação universal. (BIONDO, 2005). Nos mesmos anos em que Taylor e Fayol expunham suas ideias, o sociólogo; advogado e historiador alemão Max Weber, procurava estabelecer as linhas de poder nas organizações e um modelo ideal, no qual os cargos, objetivos e as tarefas são formalmente definidos, a hierárquica segue linhas de autoridade e a responsabilidades são delimitadas. Desta forma, as organizações não precisariam apoiar-se em apenas um indivíduo, mas obteriam a eficiência e o sucesso seguindo as regras, regulamentos e por “pessoas em funções de sua idoneidade e competência.” (BIONDO, 2005, p. 52). Isto, no entanto, não significaria um apego às regras, excesso de formalismo e papelório ou super-conformidade às rotinas e aos procedimentos. Segundo Ferreira, Reis e Pereira (2002, p. 34): O modelo burocrático segue preceitos rígidos e disciplinadores para o desempenho eficaz do indivíduo e da organização. A instabilidade das emoções e os comportamentos aleatórios eram vistos como perniciosos ao bom desempenho empresarial. Assim, os pressupostos da teoria saíam em defesa de aspectos coerentes com a visão racionalista do ser humano. Assim, denominada Teoria da Burocracia, também exposta por Philip Selznick, Peter Blau, Richard Scott, Robert Merton e Alvin Gouldner, defende a gestão da organização a partir dos princípios da formalização das normas e regulamentos e das comunicações, 30 divisão do trabalho, impessoalidade, hierarquia, padronização das rotinas e procedimentos, competência técnica. (CHIAVENATO, 2004). Apesar das limitações e restrições, o modelo burocrático tornou-se uma boa alternativa para as organizações, pois deixa de lado as prescrições e normas e busca descrever e explicar as organizações, dando ao gestor a escolha daquilo que considera mais apropriado. (CHIAVENATO, 2004). Anos mais tarde, partir dos resultados obtidos na fábrica de Hawthorne da Western Electric Company, situada em Chicago e a integração dos conceitos das ciências humanas, Elton Mayo, principal expoente da Teoria das Relações Humanas, contribuiu para humanizar e democratizar a gestão, deslocando a preocupação nas tarefas e estrutura, para enfatizar a pessoa, visto agora como homem social. Deste modo, foi possível, “compreender melhor o funcionamento da psicologia do trabalhador [...] e a importância da consideração conjunta dos fatores humanos e material para a avaliação da produtividade no trabalho.” (FERREIRA, REIS, PEREIRA, 2002, p. 26). Torna-se indispensável conciliar e harmonizar as duas funções básicas da organização industrial: a função econômica (produzir bens ou serviços para garantir o equilíbrio externo) e a função social (distribuir satisfações entre os participantes para garantir o equilíbrio interno). (CHIAVENATO, 2004, p. 112). Diante do desenvolvimento de estudos comportamentais em vários campos da ciência (antropologia, sociologia e psicologia), as ideias da Teoria das Relações Humanas sofreram reformulações na década de 1950. A denominada Teoria do Comportamento ou Behaviorismo, propunha-se agora a “fornecer uma visão mais ampla do que motiva as pessoas para agirem ou se comportarem do modo que fazem, particularizando as situações específicas do indivíduo no trabalho.” (FERREIRA, REIS, PEREIRA, 2002, p. 40), A partir da pirâmide de Abraham Maslow e da teoria X e Y de Douglas MacGregor, foi possível ao gestor “conhecer as necessidades humanas para melhor compreender o comportamento humano e utilizar a motivação humana como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida dentro das organizações.” (CHIAVENATO, 2004, p. 329). Igualmente, contribuiram nos processos decisórios dos gestores, na prática da liderança, da autoridade e dos conflitos de objetivos. A partir de 1950, Amitai Etzioni, a partir da Teoria da Burocracia, lança as bases da Teoria Estruturalista, buscando resolver os conflitos existentes entre a Teoria Clássica 31 (abordagem mecanicista do homem econômico), das Relações Humanas (visão ingênua do homem social) e a Burocrática (aplicação de um modelo organizacional ideal e universal, mas inviável na prática). Segundo Etzioni, a organização deve ser tratada sob novo prisma, mais amplo e integral. Considerar a organização em todos os seus aspectos como uma estrutura, fornecendo uma visão integrada da mesma: analisar as influências de aspectos sobre a organização, o impacto de seus próprios aspectos internos, as múltiplas relações que se estabelecem entre eles. (FERREIRA, REIS, PEREIRA, 2002, p. 52). A partir disto, a organização passa a ser concebida como um sistema social complexo, aberto e deliberadamente erigido por vários grupos sociais, coordenados por uma hierarquia (tida como custo inevitável), onde os conflitos nas relações empresa-empregado são considerados inevitáveis e até muitas vezes desejáveis, para se atingir os resultados máximos. Neste contexto, os incentivos mistos dão lugar à motivação dos funcionários, vistos como homens organizacionais, em lugar de recompensas materiais (dinheiro) tidas como única fonte de estímulo. (CHIAVENATO, 2004). Na década de 1960, a partir das contribuições das novas ciências, como a informática e da teoria geral dos sistemas, lançado em 1937, por Ludwig Von Bertalanffy, Richard Johnson, Fremont Kast e James Rosenzweig lançam a Teoria dos Sistemas, com a publicação da obra The theory and management of systems. Juntamente com Charles Churchman, passaram a ver a organização como grandes sistemas formados por um conjunto de sistemas menores, que interagem entre si e coordenadas para realizar determinadas finalidades. (FERREIRA, REIS, PEREIRA, 2002, p. 62). Segundo os autores sistêmicos, concebendo a organização como um sistema, permite aos gestores uma visão compreensiva, abrangente, holística (as totalidades representam mais que a soma de suas partes) e gestáltica (o todo é maior que a soma das partes) de um conjunto de coisas complexas, dando-lhes uma configuração e identidade total. Diante a crescente influência das ciências comportamentais na história e prática da gestão, em detrimento dos aspectos econômicos e concretos que envolvem o comportamento das organizações, Peter F. Drucker 4 , Willian Newman, Ernest Dale, Ralph C. Davis, Louis 4 Neste período, cabe destacar o papel de Peter Drucker na história da gestão. Através das obras Concept of Corporation, The Practice of Management, Management: Tasks, Responsibilities, Practices e Manageng for Results, revolucionou a forma de entender a gestão e introduziu conceitos comodescentralização e estratégia empresarial, presentes no dia-a-dia das empresas. Muitos o consideram “pai do Management moderno.” (CARDOSO; RODRIGUES, 2006, p. 10). 32 Allen e George Terry, retomam grande parte do material desenvolvido pela Teoria Clássica, e lançam a Teoria Neoclássica 5 . Para os autores, a gestão consiste em orientar, dirigir e controlar os esforços de um grupo de indivíduos para os objetivos e resultados comuns, da mesma forma que facilita ao grupo alcançar seus objetivos com o mínimo dispêndio de recursos e de esforço e com menos atritos com outras atividades úteis. Afirmando a organização formal, com sua estrutura, filosofia, diretrizes, normas e regulamentos, elas devem primar pela divisão do trabalho, funções especificadas e especializadas, hierarquia, distribuição de autoridade e responsabilidade e a racionalização da organização, isto é, os membros se comportarão racionalmente de acordo com normas lógicas de comportamento. Diante da modernização que estava sobrevindo nas organizações e no ambiente externo, a complexidade crescente do ambiente organizacional e as novas tecnologias adotadas, Alfred Chandler, Joan Woodward, Tom Burns, G. M. Stalker, Alfred D. Chandler, Paul Lawrence e Jay Lorsch, contribuem para a história da gestão com a Teoria Contingencial. Para estes, as organizações são sistemas abertos, que interagem entre si e com o ambiente. Como tal, não atuam isoladamente, mas estão sujeitas a diversos tipos de contingências e influencias externas, quer a nível sociológico, legais, ecológicos, culturais, tecnológicos, políticos ou demográficos, que poderão condicionar a atividade, estrutura organizacional, gestão e as decisões dos seus gestores. Segundo Fava (2002, p. 214), isto levou a “uma nova concepção da organização, ou seja, a estrutura e o funcionamento de uma organização são dependentes da relação e das interfaces que são feitas com o ambiente externo.” Ademais, para os defensores da Teoria da Contingência não seria possível estabelecer uma única forma para gerir as organizações, mas a resolução dos problemas organizacionais básicos, tal como a diferenciação nos ambientes de tarefas, integração entre os departamentos e a influencia externa, deveriam ser tratados individualmente pela gestão. Consequentemente, deve-se estabelecer uma solução específica para cada problema, buscando 5 Muitos autores não consideram o trabalho dos Neoclássicos como uma teoria, tal qual se considera a Clássica, Cientifica e outras. No entender de Faria (2002, p. 82), “a denominação Teoria Neoclássica é na verdade exagerada, já que seus autores não formam propriamente uma escola, mas um movimento heterogêneo.” 33 sempre, ir ao encontro do planejamento estratégico da empresa. (FERREIRA, REIS, PEREIRA, 2002). Além destas teorias, a história da gestão ainda se enriqueceu com teorias mais recentes como: A Teoria da Vantagem Competitiva de Michael Porter, as Teorias Competitivas baseadas nos Recursos, nas Capacidades e nas Competências, a Teoria das Lean Organizations (Teoria da Flexibilidade Organizacional), a Teoria da Reengenharia (também designada de Business Process Reengineering), a Teoria da Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management) e do Kaizen (Teoria da Melhoria Contínua), a Teoria das Learning Organizations (Teoria da Aprendizagem Organizacional), a Teoria do Balanced Scorecard, entre outras. (SANTOS, 2008, p. 108). 2.1.2.2 História da gestão no Brasil Os ensaios de Visconde do Uruguai sobre a descentralização no Império, os textos de Machado de Assis refletindo a vida na burocracia pública de sua época e a admirável saga do Barão de Mauá, demonstram que a ciência do management está presente há vários séculos no país. Na área empresarial, é possível destacar os trabalhos do engenheiro e Roberto Simonsen, que nas primeiras décadas do século XX, começou a elaborar métodos racionais de trabalho, tendo como base, as experiências pioneiras desenvolvidas em sua empresa (Companhia Construtora de Santos). Segundo Weinstein (2000, p. 35): Os relatórios anuais que Simonsen preparava, principalmente a partir de 1916, refletem uma tentativa sistemática e consciente de aplicar métodos racionais de organização a toda a empresa, de desenvolver novas formas de relações de trabalho, como a criação de comissões de trabalhadores e gerentes para negociar as disputas. Nos mesmos anos, Paulo Nogueira Filho tenta aplicar os princípios tayloristas na gestão da fábrica de tecidos Santa Branca, em São Caetano. Enquanto isto, Armando de Salles de Oliveira na Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, Aldo Mário de Azevedo na Fábrica de Tecidos de Jundiaí e do engenheiro Francisco de Salles Oliveira na Companhia Nacional de Artefatos, envolvem-se nos estudos e na aplicação da psicologia industrial, desenvolvidos por Gantt e o casal Gilbreth. (FERREIRA, 2008). Mas o trabalho mais significativo, na década de 1920, para a sistematização da doutrina americana do Management, aconteceu na Escola Profissional Mecânica do Liceu de 34 Belas Artes e Ofícios de São Paulo, através do lançamento de uma série de estudos sobre psicotécnica do trabalho e sua aplicação nas organizações. (FERREIRA, 2008). Na década de 1930, com a atividade industrial superando a atividade agricultura em importância e a área metropolitana de São Paulo emergindo como polo industrial brasileiro, surge o campo propício para o surgimento da gestão empresarial como ciência no Brasil. (FERREIRA, 2008). O fato se concretiza em 1931, com a fundação do IDORT – Instituto da Organização Racional do Trabalho. (FERREIRA, 2008). No editorial da sua revista, o instituto expressa seu objetivo: Constitui-se com objetivo de estudar, aplicar e difundir os métodos de organização científica do trabalho. Com isso tem o intuito de aumentar o bem-estar social, por meio do acréscimo da eficiência do trabalho humano, em todos os seus ramos, expresso no máximo proveito, quer para o indivíduo, quer para a coletividade. (apud BATISTA, 2010, p. 1) Conforme a maioria dos fundadores engenheiros e industriais, o campo de atuação do IDORT deveria ser o setor privado, sobretudo nas empresas industriais, considerado locus favorável para a germinação do management racional e a organização científica do trabalho. (FERREIRA, 2008). No entanto, a partir de 1935, os problemas financeiros fizeram o instituto atuar na reestruturação do governo paulista, dedicando-se aos trabalhos e a formação da Administração Pública. (FERREIRA, 2008). Após quinze anos, o instituto volta-se novamente à realidade empresarial, movido principalmente, segundo opinião de Ferreira (2008, p. 224): A maior presença nos quadros administrativos das empresas dos profissionais formados nas grandes escolas de gestão, mas também, devido a maior presença das indústrias estrangeiras no país que, obrigadas a atuar diretamente na produção de bens industrializados por conta da rigorosa aplicação da lei de similares, contribuíram para que a mentalidade gerencial profissional fosse amplamente disseminada no país. A partir dos anos de 1938, a administração estabelecia-se com criação do Departamento Administrativo do Serviço Público 6 (DASP), em 1938 e do cargo de Técnico em Administração (hoje Administrador). (GOMES, 2005, p. 3). Enquanto isto, o management recebia grande impulso com a criação da Fundação Getúlio Vargas, orientada ao estudo e 6 A partir do DASP, nasceu a Escola de Serviço Público, que enviava técnicos de administração públicaaos Estados Unidos para a realização de cursos de aperfeiçoamento. “Os conhecimentos e as ações desenvolvidas por estes especialistas, no seu retorno ao país, fez deles pioneiros da Administração no Brasil, como profissão” (GOMES, 2005, p. 3). 35 ensino dos problemas da gestão empresarial, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), importante órgão do setor industrial que se fundamentou no princípio taylorista de seleção e treinamento científico do trabalhador e do Serviço Social da Indústria (SESI). (FERREIRA, 2008). A partir dos esforços destas instituições, somada a iniciativas públicas e privadas, especialmente de ensino, a ciência da gestão empresarial tem se afirmado no mercado, através de empresas de consultoria e cursos de graduação e pós-graduação, “quer sejam puramente de gestão ou gestão com qualquer delimitador que tragam (ambiental, da produção etc).” (DIAS, 2010, p. 1). Ademais, as técnicas do management passaram a fazer parte do dia-a-dia de profissionais de várias ciências. Dessa forma, as técnicas do management deixam de ser exclusivas do mundo empresarial. Gestores públicos, cientistas, artistas e outros profissionais passam a utilizá-las. É verdade que esta absorção da visão gerencial contribui para a profissionalização das atividades, imprimindo uma maior racionalidade às decisões e práticas. Entretanto, esta opção também envolve o risco de aprisionar as atividades à lógica do management e assim dissipar as intenções originais de projetos de natureza social, científica ou artística. De fato, este risco é tanto maior quanto mais as técnicas e receitas são tomadas como soluções eficientes per se, ou adquirem o status de dogmas. (WOOD JR.; PAULA, 2010, p. 99-100). Da mesma forma, a publicação de centena de livros e revistas especializadas ou que abordam temas específicos da área. Revistas como EXAME, HSM Management e outras, têm corroborado para a afirmação da gestão no país. Segundo Wood Junior e Paula (2010, p. 100): A imprensa popular complementa o papel da academia na produção de teorias de management e possibilita que estes produtos tornem-se objetos de consumo de massa. A imprensa popular contribui para disseminar o discurso gerencial e promover a ideologização do management, uma vez que alimenta o crescimento das informações sobre negócios e management, bem como consolida sua aceitação na sociedade. (p. 100). E no dia 12 de novembro de 2009, o Conselho Federal de Administração, através da Resolução Normativa CFA, número 374, aprova o registro profissional, nos Conselhos Regionais de Administração, dos profissionais que cursaram o curso superior ou de tecnologia em gestão empresarial e outras denominações. (CFA, 2010). 36 2.1.3 Função da gestão empresarial Embora muitas pessoas tenham dificuldade quanto ao significado correto do termo, a gestão está presente no dia a dia dos seres humano. Está presente, por exemplo, em todos os momentos em que as pessoas intervêm em determinadas situações, fazem acontecer alguma coisa, a fim de direcioná-las ou assegurá-las no rumo que consideram certo. Segundo Nóbrega (2004, p. 17), “como todo mundo tem de fazer alguma coisa para acontecer, então gestão é para todo mundo, seja empresa ou pessoa, ONG, igreja, escola ou agência do governo.” Sendo o exercício da gestão comum a todos os seres humanos, ela não exige licença ou treinamento formal, mas atitudes. Primeiramente uma atitude mental, para discernir as forças reais que movem os fatos e as situações, para a busca e o estabelecimento de alternativas para a tomada de decisões. Em seguida, exige uma atitude prática, para colocar as decisões em prática, fazer acontecer, com o propósito de alcançar um resultado. A gestão será construída a partir da identificação dos fundamentos disso que eu chamo de “gerar resultados”. A partir daí ela vai ter de propor leis e princípios que todos possam usar e verificar. É o resultado que ela obtém no mundo real que vai legitimá-la, como ocorre com qualquer ciência (NÓBREGA, 2004, p. 15). Neste sentido, pode-se antever que a gestão está intimamente ligada ao discernimento dos fatos, à organização de alternativas, à tomada de decisões, em fazer acontecer e principalmente, alcançar resultados. Gestão é a disciplina que torna produtivos os “saberes” de vários campos do conhecimento. É por meio dela que as outras inovações produzem seus efeitos. Gestão começa com uma forma de mentalizar o mundo. Sempre que temos de tomar iniciativas para gerar um resultado precisamos de gestão. [...] Tudo o que implica organizar para alcançar um propósito precisa de gestão – uma disciplina revolucionária porque está ligada ao espetacular salto na produção de riqueza, no aumento de produtividade e na qualidade de vida. (NÓBREGA, 2004, p. 15). Quando o termo gestão vem acompanhado do adjetivo empresarial, supõe-se logicamente a existência de uma empresa, uma organização a ser gerida. Empresa ou organização, definida por Sousa como: Um grupo social em que existe uma divisão funcional de trabalho e que visa atingir, através de sua actuação, determinados objetivos e cujos membros são, eles próprios, indivíduos intencionalmente co-produtores desses objetivos e, concomitantemente, possuidores de objectivos próprios (apud SANTOS, 2008, p. 12). 37 Neste contexto, é necessário direcionar sistematicamente os esforços humanos e recursos disponíveis, para um fim, um objetivo. Assim, cabe à gestão fazer uso das funções técnica, contábil, financeira, comercial e segurança, outrora definidas por Fayol e do conhecimento cientifico, para, através de pessoas, alcançar por meio do planejamento, organização, coordenação e controle, os objetivos da organização que está sob sua responsabilidade, de forma eficiente e eficaz. (DIAS, 2002). Pelo planejamento, o gestor irá relacionar o futuro com as decisões atuais, para alcançar os objetivos das empresas. Trata-se de um processo mental que se completa com uma tomada de decisão. É no planejamento que se definem os objetivos a serem alcançados pela empresa e os métodos ou formas para alcançá-las, incluindo a definição e a forma de utilização dos recursos disponíveis. (FERNÁNDES, 1993). Através da organização, o gestor irá dispor o conjunto de recursos humanos, financeiros e materiais para desenvolver uma estrutura formal de tarefas e de autoridade. Envolve ainda, a distribuição de tarefas ou atividades, agrupadas por departamentos e dar-lhes os recursos humanos, financeiros e materiais adequados. Subjacente a esta função, estão as tarefas de seleção e treinamento dos colaboradores, dando-lhes, em seguida, a autoridade e a responsabilidade consequente. (FERNÁNDES, 1993). Pelo ato de coordenar, entende-se a tarefa de orientar e motivar os colaboradores para alcançar os objetivos. Neste sentido, muitos autores associam a tarefa de coordenar a “motivação” e “liderança”. E por fim, intimamente ligado com o planejamento, o controle é um processo pelo qual se verificam os resultados, se estão sendo alcançados de acordo com padrões predefinidos ou os objetivos traçados. O controle implica a necessidade de padrões pré- estabelecidos e um sistema de informação que compara os resultados com as normas estabelecidas. (FERNÁNDES, 1993). Para Arantes (1994), planejar, organizar, coordenar e controlar, não constituem a função básica da gestão, mas são meios para realização da sua função essencial, que consiste em conduzir a empresa a: Estar permanentemente identificando as expectativas externas e internas e dirigindo o empreendimento para obter os resultados que atendam a essasexpectativas. Os resultados externos são as utilidades que satisfazem as necessidades dos clientes e aos padrões de conduta aceitos pela Sociedade. Os resultados internos são as realizações que atendem aos motivos e necessidades dos empreendedores e 38 colaboradores e aos padrões de conduta coerentes com suas convicções. (ARANTES, 1994, p. 52). Quando abordadas sob prisma econômico, as empresas são mecanismos para maximizar os ganhos, isto é, ganhar mais do que se gasta, ou nas palavras de Nóbrega (2004, p. 45), “as empresas existem porque essa foi a melhor forma que se descobriu para capturar valor econômico em larga escala.” Sob este pensamento, cabe ao gestor atuar na busca de resultados, isto é, gerar riquezas, lucro para os acionistas, ao mesmo tempo em que capta, para si e para os demais atores no processo, uma parte destas riquezas. Quem é pequeno quer primeiro sobreviver e depois crescer (ganhar mais). Quem é grande quer, no mínimo, garantir que vai continuar ganhando o mesmo amanhã (tecnicamente: quer garantir que vai manter suas margens). Tudo nesse mundo é centrado na necessidade de garantir a riqueza dos acionistas. Você só será um bom gestor se for capaz de contribuir para essa riqueza. (NÓBREGA, 2004, p. 45). Para alcançar resultados, o gestor deve desenvolver um conjunto de atividades, algumas voltadas para o meio externo da empresa e outras para o meio interno. Estão entre estas atividades: Criar produtos de valor (utilidades); Criar e manter clientes satisfeitos; Promover a capacidade de evolução deliberada; Atrair, desenvolver e manter talentos; Construir e manter relações significativas; Usar os recursos produtivamente; Praticar princípios de conduta aceitos; Obter um lucro razoável. (ARANTES, 1994, p. 53). Todas estas atividades devem ser executadas permanentemente, embora possam existir momentos em que seja necessário evidenciar uma ou outra, sem que as demais sejam negligenciadas, pois elas conduzem efetivamente o gestor na direção dos resultados empresariais. (ARANTES, 1994). Ademais, em meio à interdisciplinaridade das equipes nas empresas, complexidade de variáveis, exiguidade, multiculturalidade, inovação e competitividades, cabe ao gestor empresarial, otimizar o funcionamento das organizações, por meio de decisões racionais, buscando contribuir para o desenvolvimento da organização, a satisfação dos interesses dos colaboradores e proprietários e das necessidades da sociedade em geral ou de um grupo em particular. Segundo Coutinho et al (1993, p. 3), a gestão empresarial deve “acompanhar as incertezas do ambiente, absorver e provocar inovações em resposta às necessidades de seus clientes e do mercado, reintegrando, a cada evento, em processos de transformação e mudança, as pessoas que compõem o seu corpo social.” 39 2.2 ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO 2.2.1 Definindo administração da produção Dentre as diversas atividades da gestão empresarial, está aquela que visa desenvolver o sistema produtivo da empresa, a fim de transformar insumos, tecnologia, informações ou mesmo, os próprios clientes em produtos e serviços. Denominada como administração da produção, foi por muito tempo, vinculada aos indivíduos “que conseguiam resolver os problemas após o seu surgimento, sem compreender os fundamentos, a simplicidade essencial subjacente à complexidade óbvia.” (ESCORSIM; KOVALESKI; REIS, 2005, p. 72). Novas terminologias e revisões conceituais, contribuíram para uma compreensão correta da expressão administração da produção e rapidamente foram incluídos nos manuais e obras literárias que tratam do assunto. Igualmente, contribuíram para o entendimento da própria produção e da sua contribuição para a competitividade e estratégia da empresa. Apesar de muitos autores designarem por produção as atividades relacionadas à fabricação dos bens físicos, ela também envolve a prestação de um serviço. Buscando uma solução, muitos autores utilizam o termo produção para designar as atividades industriais e empregam a palavra operações para referirem-se às atividades desenvolvidas em empresas de serviços. (MOREIRA, 1999). Partindo de uma visão corporativa, a administração da produção pode ser entendida como “o gerenciamento dos recursos diretos que são necessários para a obtenção dos produtos e serviços de uma organização.” (DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 24). Neste sentido, partilha com as demais funções (financeira, comercial, marketing e recursos humanos), da estratégia da empresa para obter uma vantagem competitiva, atender as necessidades dos clientes e atender os objetivos organizacionais de curto, médio e longo prazo. No nível operacional, a administração da produção está relacionada ao conjunto de máquinas, pessoas e um sistema gerencial, que trabalham na conversão dos insumos em produtos ou serviços desejados, agregando valor, de acordo com os objetivos e estratégia da empresa. De acordo com Monks (1987, p. 5): A administração da produção é a atividade pela qual os recursos, fluindo dentro de um sistema definido, são reunidos e transformados de uma forma controlada, a fim de agregar valor, de acordo com os objetivos empresariais. As responsabilidades da administração da produção incluem a reunião dos insumos em um plano de 40 produção aceitável que realmente utilize os materiais, a capacidade e o conhecimento disponíveis nas instalações de produção. Na perspectiva dos objetivos, a administração da produção pode ser entendida como o campo de estudo dos conceitos e técnicas que, “aplicam-se à tomada de decisão quanto aos recursos produtivos ou, mais diretamente, às formas de utilizá-los, do ponto de vista administrativo, de forma a conseguir melhores resultados” (MOREIRA, 1999, p. 4), isto é, do planejamento, organização, coordenação e controle, em suas partes especificamente, aplicadas às atividades de produção ou à prestação do serviço. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Rocha (1995, p. 5), afirma que a administração da produção é: A parte da administração que comanda o processo produtivo pela utilização dos meios de produção e dos processos administrativos, buscando a elevação da produtividade. O administrador de fábricas deve se preocupar com as operações simplificadas, a qualidade dos produtos, as necessidades dos clientes e com a valorização profissional e humana dos empregados, motivando as pessoas que, assim, desenvolvem melhor seus trabalhos. O termo administração da produção é muitas vezes usado para designar o papel dos gestores, encarregados pela organização para administrar as atividades, decisões e responsabilidades, algum ou todos os recursos envolvidos pela função produção. 2.2.2 História da administração da produção Assim como vários acontecimentos na história da humanidade, é difícil ou até, impossível, precisar a origem da produção. Indiferente à cronologia, quando o homem pré- histórico quebrava, trabalhava e polia as pedras, por exemplo, a fim de transformá-las em utensílios para uso diário, ele estava executando uma atividade de produção. (MARTINS; LAUGENI, 2005). Desde então, a produção evoluiu juntamente com o ser humano, nos mais diversos lugares, tempos e situações. Tanto que, a administração da produção atual é fruto das experiências desenvolvidas ao longo da história, na busca de soluções de problemas concretos, em determinada era e lugar. As Pirâmides egípcias, o Partenon grego, a Muralha chinesa, os aquedutos e estradas do Império Romano, atestam a aplicação da administração da produção pelos povos da 41 Antiguidade. Segundo Santos (2008, p. 51), estasobras “não seriam possíveis sem um planejamento da construção, organização dos recursos disponíveis (pessoas, materiais, etc), direção e liderança dos trabalhadores e controle do seu desempenho.” É importante, no entanto, salientar que a maneira pelas quais esses povos antigos fabricavam os produtos e administravam a produção, são bem diferentes dos métodos e administração da produção atual. Os sistemas de produção anteriores a 1700, muitas vezes, são chamados de sistemas caseiros, porque a produção se dava em casas ou cabanas, onde os artesãos orientavam aprendizes a executarem trabalho manual dos produtos. (ESCORSIM; KOVALESKI; REIS, 2005, p. 66). A partir do século XVIII, a Revolução Industrial e as descobertas científicas e a invenção de máquinas e novas técnicas, alteraram drasticamente a vida do homem, das cidades e da sociedade. Alexis de Tocqueville descreve em 1835, as suas consequências à cidade inglesa de Manchester e seus habitantes, homens, mulheres e crianças que passaram a viver em função das indústrias: Desta vala imunda, a maior corrente da Indústria humana, flui para fertilizar o mundo todo. Deste esgoto imundo, jorra ouro puro. Aqui a humanidade atinge o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a civilização faz milagres, e o homem civilizado torna-se quase um selvagem. (In HOBSBAWM, 2007, p. 43). Ademais, a Revolução Industrial substituiu a força humana e a água pela força mecanizada, trazendo um aumento da produtividade para a agricultura, o crescimento das cidades, a ampliação do comércio, dos serviços financeiros e o estabelecimento das primeiras fábricas, onde se agrupavam vários artesões. Segundo Martins e Laugeni (2005, p. 2): Essa verdadeira revolução na maneira como os produtos eram fabricados trouxe consigo algumas exigências, como a padronização dos produtos e seus processos de fabricação; o treinamento e a habilitação da mão-de-obra direta; a criação e o desenvolvimento dos quadros gerenciais e de supervisão; o desenvolvimento de técnicas de planejamento e controles financeiros e da produção; e desenvolvimento de técnicas de vendas. Diante do crescimento e dos problemas surgidos nas indústrias de manufatura, pós- revolução, muitos pensadores voltaram suas atenções à indústria. Os economistas clássicos, por exemplo, defendiam mudanças na produção. Adam Smith propõe a racionalização da 42 produção através da especialização dos operários. Jean Baptiste Say afirma a necessidade de planejamento. Bowker menciona a necessidade de organização e direção da produção. E, Émile Louis Victor de Laveleye e David Ricardo afirmam a necessidade da racionalização da produção, divisão do trabalho, estudo dos tempos e movimentos e remuneração de acordo com o tipo de trabalho. Newman assegura a necessidade de planejamento, disposição, direção dos diferentes processos de produção. (LODI, 1993). No entanto, a administração da produção permanecia ainda, “muito mais uma arte do que uma ciência.” (DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 34). 2.2.2.1 Administração da produção como ciência A administração da produção tem seu início como ciência com os trabalhos de Frederick Taylor. Assim, a história da produção está intrinsecamente ligada à da própria ciência da gestão, tendo em vista que, os trabalhos de Taylor e seguidores, na denominada Teoria Científica, foram direcionados para as fábricas da época. Embora pudéssemos alegar que a administração da produção existia desde o início da civilização, a administração científica foi, provavelmente, o primeiro marco histórico na área, uma vez que representou pela primeira vez uma abordagem sistemática à manufatura. (DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 34). Aplicando métodos científicos, Taylor buscava a eliminar dos desperdícios, das perdas e o aumento da produtividade a um menor custo. Para tal, defendia a divisão do trabalho em tarefas elementares, a especialização das pessoas que executam estas tarefas e a remuneração por peças produzidas (ou por quantidade). No pensamento tayloriano, “a produtividade resulta da eficiência do trabalho e não da maximização do esforço. A questão não é trabalhar duro, nem depressa, nem bastante, mas trabalhar de forma inteligente.” (MAXIMIANO, 2004, p. 56). Nos mesmos anos, Henry Gantt, discípulo de Taylor, introduz o gráfico de Gantt, com técnicas de planejamento e controle diário de produção, através da visualização das tarefas de cada membro de uma equipe, bem como o tempo utilizado para cumpri-la. Pode-se assim, analisar o empenho de cada membro no grupo, avaliar os seus custos, resultante do consumo de recursos necessários à conclusão de cada uma das tarefas. Gantt sugeriu ainda, uma remuneração mínima para os funcionários e um bônus, caso superassem as metas 43 estipuladas. (CHIAVENATO, 2004). Igualmente, neste período, o casal de engenheiros Frank e Lillian Gilbreth, contribuiu para a administração da produção com os estudos sobre a economia dos movimentos, seus fundamentos psicológicos e a adaptação do homem à máquina. Em 1910, Henry Ford, buscando aumentar a produtividade de sua montadora de automóveis, revolucionou os métodos e processos produtivos até então existentes. A utilização de máquinas e ferramentas capazes de trabalhar os aços mais rígidos para produzir altos volumes de peças e associado a um sistema de medidas, permitiu a padronização, a intercambialidade e a facilidade no ajuste das peças, tornando possível a implantação da linha de montagem em movimento contínuo, permitindo a utilização de trabalhadores responsáveis pela realização de uma única tarefa 7 . (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). Surge o conceito de produção em massa, caracterizada por grandes volumes de produtos extremamente padronizados, isto é, baixíssima variação nos tipos de produtos finais. (...) Novos conceitos foram introduzidos, tais como: linha de montagem, posto de trabalho, estoques intermediários, monotonia do trabalho, arranjo físico, balanceamento de linha, produtos em processo, motivação, sindicatos, manutenção preventiva, controle estatístico da qualidade, e fluxogramas de processos. (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 2-3). No final dos anos 1920 e início da década de 1930, as pesquisas da Harvard Business School, supervisionados por Elton Mayo, na Western Electrics, em Chicago, demonstraram a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários, da mesma forma que a comunicação pode interferir na produtividade dos funcionários. Segundo Davis, Chase e Aquilano (2001, p. 34), além de introduzir mudanças na administração da produção, as descobertas “tiveram enormes implicações para a elaboração de tarefas e a motivação de trabalhadores, e por fim levaram à criação dos departamentos de administração de pessoal e de recursos humanos, na maioria das organizações.” Em 1930, a Teoria das Relações Humanas, adotando uma posição contrária às teorias Cientifica e Clássica, passou a afirmar uma nova forma de dirigir as atividades. “Em vez de hierarquia, sugeria liderança, utilização de grupos, uso de incentivos não monetários e obtenção de melhoria de resultados através, primordialmente, do maior interesse pelo ser humano” (MACHLINE, 1994, p. 92). 7 A produção em massa aumentou de maneira fantástica a produtividade e a qualidade, e foram obtidos produtos bem mais uniformes, em razão da padronização e da aplicação de técnicas de controle estatístico da qualidade (em 1996 a Ford produzia 1800 automóveis por dia, ou seja, 1,25 unidades por minuto). 44 Durante a Segunda GuerraMundial, os problemas de controle logísticos e projetos de sistemas de armas, levaram ao desenvolvimento de pesquisas operacionais, interdisciplinares e matematicamente orientadas, utilizada pelos behavioristas para o desenvolvimento de inúmeras ferramentas quantitativas ainda hoje usadas, não só na administração da produção, mas também, em outras áreas da empresa. Estas pesquisas, segundo Escorsim, Kovaleski e Reis (2005, p. 68): Conhecida principalmente por suas técnicas quantitativas, como por exemplo, a programação linear, a PERT/CPM e os modelos de previsão. As empresas se tornaram maiores e usaram níveis mais elevados de tecnologia e a adoção destas técnicas foram mais intensas. A pesquisa operacional ajudou os gerentes de produção a tomarem decisões diante da complexidade dos problemas. No final dos anos de 1950, começam a difundir-se as obras que abordam especificamente a administração da produção, procurando fazer face à engenharia industrial e à pesquisa operacional dos behavioristas. Edward Bowman e Robert Fetter lançam em 1957, o livro Análise para Gestão de Operações e Produção e Elwood S. Buffa lança em 1961, Administração da Produção Moderna, explanando “nitidamente os problemas em comum enfrentados por todas as organizações de manufatura e enfatizam a importância de encarar uma operação de produção como um sistema.” (DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 36). Estes conceitos, técnicas, controles e processos ganham o mundo produtivo, sendo aperfeiçoados ao longo do tempo, com a contribuição de outros autores, conforme necessidades e prevaleceram até 1960, quando surgem as técnicas da produção enxuta, também denominado Sistema Japonês de Produção, idealizado e concretizado nas fábricas da Toyota. Na área produtiva, o Sistema Japonês afirmou a polivalência e plurifuncionalidade dos funcionários e das máquinas automatizadas. Pela filosofia just-in-time, passou-se a produzir de forma “puxada”, as unidades necessárias, nas quantidades e no tempo necessário e para harmonizar a produção em todos os processos, criou-se o sistema de informações kanban. (OHNO, 1997; ARAÚJO, 2008). A partir das práticas, ferramentas e técnicas japonesas, surgem conceitos como: Engenharia simultânea, tecnologia de grupo, consórcio modular, células de produção, desdobramento da função da qualidade (QFD), comakership, sistemas flexíveis de manufatura (FMS), manufatura integrada por computador (CIM) e benchmarking. (MARTINS; LAUGENI, 2005). 45 Nos anos de 1980, sob orientação de Joseph Juran, Kaoro Ishikawa, William Edwards, Philip B. Crosby e outros, inicia-se a era da qualidade, pela qual, as empresas conseguiram altos índices de produtividade e produtos de alta tecnologia e preços extremamente baixos. Segundo Caravantes, Panno e Kloeckner (2005, p. 245), inicialmente a preocupação “estava centrada na eficiência interna de seu processo produtivo, ou seja, no volume de produção”, mas logo se tornou um modelo de gestão de toda a empresa. Anos mais tarde, procurando uma resposta para as pressões econômicas e à concorrência do século XX, a reengenharia, com base na obra de Michael Hammer, James Champy afirmou a reestruturação radical das empresas e dos seus processos produtivos, a fim de reduzir custos, através da modernização de máquinas, processos e a simplificação dos processos. (MAXIMIANO, 2004, ESCORSIM; KOVALESKI; REIS, 2005, CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005). Na passagem do milênio, a partir do avanço da informática, os vários autores passaram a afirmar o uso de ferramentas digitais, a automação e reafirmando o valor do sistema MRP (Material Requirement Planning - Planejamento de Necessidades de Materiais) e o MRP II (Manufacturing Resource Planning - Planejamento dos recursos de manufatura). Na era da informação, como ficou conhecido, o uso destas tecnologias permitiu dar velocidade na definição das estratégias, nos processos, nas transações comerciais, na logística e no acesso às informações. (ESCORSIM; KOVALESKI; REIS, 2005). Ademais, tecnologia da informação introduziu no meio empresarial, conceitos como: Robótica, organização virtual, logística, competição global, tecnologia de produção avançada e responsabilidade social. No entender de Davis, Chase e Aquilano (2001, p. 36), “a tecnologia da informação tem sempre sido um fator-chave na administração da produção de fábrica; sua aplicação em toda a empresa, em outras áreas funcionais, tais como marketing e finanças, sugere um grande passo evolutivo no desenvolvimento da área.” 2.2.2.2 História da administração da produção no Brasil A indústria brasileira recebeu grande impulso no período da Primeira Guerra Mundial, quando, privada dos insumos estrangeiros, viu-se obrigado a produzir bens industrializados, nos setores têxteis, mecânico, metalúrgico, químico, alimentício e outros. Neste período, enquanto os gerentes das empresas preocupavam-se com a conquista do mercado, a aquisição de equipamentos, o domínio da tecnologia disponível para a 46 fabricação de bens e o aumento da produtividade, a condução da produção cabia aos engenheiros e químicos. Engenheiros e químicos recém-saídos da faculdade, possuidores de alguma bagagem técnica, mas sem qualquer conhecimento administrativo, eram encarregados de dirigir fábricas, com a preocupação dominante de desenvolver a produção e sem sequer suspeitar da existência das doutrinas de administração. (MACHLINE, 1994, p. 93). Salvo algumas multinacionais que dominavam algumas técnicas de inspeção e manutenção da engenharia de produção, a grande parte das empresas não tinha acesso às técnicas de cronometragem, planejamento ou engenharia econômica ou controle de qualidade. No entanto, a história testemunha algumas iniciativas de melhorias e racionalização dos modos produtivos. Algumas destas iniciativas são do engenheiro e empresário Roberto Simonsen, que defendia, com base na obra de Taylor, a racionalização do trabalho nas indústrias brasileiras. Para este: A prosperidade do Brasil no pós-guerra, com ênfase em novos métodos de produção, mais científicos e eficientes, que acarretariam a elevação tanto dos lucros quanto do padrão de vida, por meio da redução dos custos. [...] a redução dos custos de produção não se faria à custa de seus salários, mas antes por meio de uma „máxima eficiência do trabalho‟, que seria obtida com uma „perfeita organização na qual, por disposições inteligentemente adotadas, as perdas de tempo e os esforços não- produtivos sejam reduzidos ao mínimo‟. [...] Os verdadeiros princípios de cooperação cordial entre patrões e operários iriam predominar, em função dessa „perfeita organização‟. (CUNHA, 2005, p. 31). Igualmente, outros empresários evolviam-se com estudos e aplicação das ideias tayloristas acerca da organização e Racionalização do Trabalho dos Operários (ORT), objetivando o aumento da produtividade, passaram a enfatizar tempos e métodos, incentivos salariais, a divisão do trabalho e o controle dos operários pela supervisão funcional. Ao mesmo tempo, empresários estudavam a aplicação da psicologia industrial, desenvolvida pelo casal Gilbreth, os gráficos de controle de produção de Gantt e conceitos de Henry Ford (FERREIRA, 2008). A aplicação destes conceitos incluía a fábrica da Ford, inaugurada em 1919, no bairro Ipiranga em São Paulo, para a montagem dos automóveis, a partir de kits vindos de Detroit e a utilização da linha de montagem e demais elementos da produção em massa. 47 Mas o trabalho mais significativo de aplicação dos conceitos da Teoria Cientifica na produção brasileira, durante a década de 1920, aconteceu com a fundaçãoda Escola Profissional Mecânica do Liceu de Belas Artes e Ofícios de São Paulo, que lançou uma série de estudos sobre psicotécnica do trabalho, logo introduzidos na fábrica da General Motors, fundada em 1923. Em 1931, a partir do esforço dos empresários e engenheiros, acontece a fundação do IDORT – Instituto da Organização Racional do Trabalho (FERREIRA, 2008), com o objetivo de difundir, a partir dos princípios do Taylor Society, meios de racionalização das operações e processos, a medição, controle dos tempos e movimentos e educação profissional. Para os fundadores do instituto, o sucesso na área produtiva e da força de trabalho nas empresas passaria unicamente pela racionalização do trabalho e a simplificação das tarefas, tal como já acontecia nos Estados Unidos. A única maneira de aumentar o controle sobre o processo de trabalho era a simplificação das tarefas e a „des-qualificação‟ da força de trabalho, que iria permitir a rápida substituição dos trabalhadores não-especializados e combativos, que recebiam altos salários, por trabalhadores não especializados. (WEINSTEIN, 2000, p. 36). Enquanto isto, outra vertente de pensamento industrial brasileiro, afirmava a profissionalização e a especialização dos trabalhadores. Embora o objetivo principal fosse disciplinar o trabalhador e garantir a disciplina fabril, estes esforços mostraram a preocupação com a produção. É interessante observar que uma das orientações centrais do empresariado foi o incentivo ao ensino industrial, isto é, havia a preocupação em qualificar a mão de obra para que se pudesse substituir os operários estrangeiros – fonte de efervescência política e das lutas sindicais – por trabalhadores brasileiros. Vem daí o surgimento do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e do Sesi (Serviço Social da Indústria) e outros. (NOZAKI, 2010, p. 1). Com o avanço da industrialização no país, especialmente no governo de Juscelino Kubitschek, concretizam-se novas teorias e modelos produtivos nas indústrias brasileiras. Enquanto Estados Unidos e Europa já vivenciavam uma era pós-fordismo, a produção em massa consolida seu domínio sob as indústrias brasileiras, especialmente nas regiões sul e sudeste. Guiada pelas fábricas automotivas, a indústria brasileira conseguiu um salto tecnológico e passou a implantar conceitos e procedimentos consagrados no meio automotivo. 48 Igualmente, muitas empresas passaram a adotar o controle de qualidade por amostragem, outras investiam no treinamento dos funcionários e a nível nacional, criam-se laboratórios de qualidade, culminando com o lançamento da NBR 5425-30, gênese das normas ISO- 9000/9004. Ademais, as empresas passam a investir no desenvolvimento de fornecedores e nos seguimento de compras, custos (método alemão), engenharia econômica, estoques e projetos (técnicas do CPM – Critical Path Method e PERT – Project Evaluation and Review Technique). (MACHLINE, 1994). Na década de 1970, as empresas brasileiras foram marcadas pela introdução do sistema de produção enxuto, tanto na produção como na sua administração, trazido pelas empresas japonesas e adotado nos mais diversos ramos. Uma das inovações japonesas rapidamente percebida pelos administradores brasileiros foi a participação dos operários em pequenos grupos, para solução de qualidade e produtividade, os chamados Círculos de Controle de Qualidade. Criados em maio de 1971, no ABC e no Vale do Paraíba, espalharam-se nas indústrias de todo o país, e atingiram o auge de sua popularidade em 1980. Naquela época, o Brasil foi considerado o quarto maior detentor de CCQ. [...] E presenciou o lançamento de numerosas campanhas de eliminação de desperdícios. (MACHLINE, 1994, p. 98). As décadas seguintes foram marcadas pela crescente oposição dos trabalhadores ao sistema de produção em massa, a fundação dos sindicatos dos trabalhadores e as greves. Segundo Ferro (in WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 305): O ritmo intenso das linhas de montagem, o trabalho monótono, repetitivo e pouco seguro, a pressão e o pouco respeito das chefias, além da diminuição das oportunidades de ascensão com o fim do milagre econômico e do intenso crescimento da indústria, geraram uma crise nas relações de trabalho. [...] Constitui- se no modelo de sindicalismo da produção em massa, independente da tintura ideológica, ou seja, de confronto e conflito nas relações entre trabalhadores e administração. A crise dos modelos econômicos, a abertura do mercado nacional para os produtos e empresas estrangeiras, a adoção da automação na produção e a necessidade de redução de custo na área produtiva, abriram caminho para a implantação de novas técnicas e modelos de produção. Consequentemente, conforme Ferro, “o Brasil, conhecido principalmente pela sua produção agrícola, passou a ser visto como uma potência industrial emergente, por ser capaz de produzir de forma competitiva um produto relativamente sofisticado” (in WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 308). 49 No geral, a história da administração da produção no Brasil, testemunha a introdução bem sucedida de modelos estrangeiros como o taylorismo, fordismo e toyotismo, que alcançaram o sucesso, ao mesmo tempo em que, revolucionaram a produção nacional, especialmente, quando levou em conta a realidade regional. Ademias, testemunham as profundas mudanças, que constantemente acontecem nesta área. A exacerbação da concorrência, o advento de novas tecnologias e o surgimento de novos paradigmas ensinaram às empresas que elas são eminentemente mortais. Reconheceram que é preciso melhorar continuamente a qualidade, aumentar a produtividade, reduzir custos e encurtar os prazos de entrega, tanto da produção corrente quanto das inovações. Essas palavras-chave constituem os fatores de sucesso que lhes assegurarão a sobrevivência. (MACHLINE, 1994, p. 100). 2.2.3 Função da administração da produção A produção é uma atividade que atinge a todas as organizações, isto é, empresas industriais, de serviços e comércio produzem algum tipo de bem e/ou serviço, tangível ou não. Enquanto as empresas industriais agrupam as atividades para fabricação de seus produtos em um departamento, as empresas de serviços, espalham suas atividades produtivas por toda a organização. Entretanto, nem todas as organizações, necessariamente, denominam de produção as suas atividades de transformação, porém, em todas elas existem elementos em comum, isto é, existem os insumos a serem empregados, um processo de fabricação ou transformação e um produto final. Geralmente estes elementos são colocados como: inputs (constituídos pela mão de obra, capital, energia, informações, consumidores, instalações e outros insumos) – processo de transformação (máquinas, pessoas, ferramentas, ou um sistema gerencial) – outputs (produtos e/ou serviços). (Figura 2). Figura 2: Elementos da Produção. Fonte: Santos (2008, p. 13). 50 Para Tubino (2000), a Produção está intimamente ligada à área de Marketing (incluindo vendas), enquanto a conecta aos clientes e fornece informações acerca da demanda, permitindo o seu planejamento e programação e a concepção de novos produtos. Igualmente, está ligada à área de Finanças, que lhe proverá os recursos necessários para a operacionalização da capacidade produtiva (ampliação da área produtiva, compra de equipamentos, etc.) e o acompanhamento das receitas e despesas da produção. O sucesso de um sistema produtivo depende da forma como essas três funções se relacionam. Por exemplo, Marketing não pode promover a venda de bens ou serviços que a Produção não consiga executar.Ou ainda, a Produção não pode ampliar sua capacidade sem o aval de Finanças para comprar equipamentos. (TUBINO, 2000, p. 17). Não obstante, Slack, Chambers e Johnston (2009), afirmam que a Produção também está ligada às áreas tidas como de apoio, como: Recursos humanos, enquanto oferece o entendimento das necessidades, recruta e treina os recursos humanos que atuam na produção; Contabilidade e custos, que fornecem dados, análise financeira sobre o desempenho e suporte para as decisões; Informação e tecnologia, que fornece sistemas para projetos, planejamento, controle e melhorias da produção; Compras, que abastece a produção com os insumos necessários; Suporte técnico, que se encarrega por manter os equipamentos e instalações em condições de uso, construção de ferramentas e criação de ambientes de salubridade e segurança; e Engenharia de produtos e serviços, que desenvolve novos produtos e permite entender as capacidades e restrições dos processos de produção. Na concepção de Monks (1987), cabe à Produção reunir os recursos, a fim de transformá-los sob forma controlada, dentro de um sistema produtivo, em produtos e serviços com valor agregado para o cliente, da mesma forma que, contribui para os objetivos da organização. Para tanto, devem fazer parte das suas preocupações, a estratégia, os sistemas, o planejamento, projeto de produtos e serviços, arranjos produtivos e a formulação de planos de produção 8 que utilizem os materiais, a capacidade e o conhecimento disponíveis nas instalações de produção. No entender de Monks (1987), a reunião e a transformação dos recursos nos sistemas de produção, acontecem de forma controlada, a fim de agregar valor, de acordo com os objetivos empresariais. 8 Entende-se por sistema de produção, o conjunto de partes inter-relacionadas, as quais, quando ligadas, atuam de acordo com padrões estabelecidos sobre inputs (entradas) no sentido de produzir outputs (saídas). 51 Entende-se por sistema de produção, o conjunto de partes inter-relacionadas, as quais, quando ligadas, atuam de acordo com padrões estabelecidos sobre inputs (entradas) no sentido de produzir outputs (saídas) e podem ser classificados em dois grupos: Sistema de processos contínuos e sistemas de processos discretos, que por sua vez, podem ser subdivididos em processos repetitivos em massa, repetitivos em lotes e processo por projeto. (TUBINO, 2000). Estão entre as responsabilidades da Produção, a satisfação das solicitações de clientes da organização, por meio da utilização eficiente dos recursos e a eficaz, inovadora, criativa e vigorosa produção e entrega de produtos e serviços. Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009, p. 32), “se a produção puder fazer isso, proporcionará à organização meios de sobrevivência a longo prazo, porque dará a ela uma vantagem competitiva sobre seus rivais comerciais.” Para os mesmos autores, pesam sobre os administradores da Produção, as responsabilidades diretas e indiretas. Entre as diretas estão: Entender os objetivos estratégicos de produção; Desenvolver uma estratégia de produção para a organização; Desenhar produtos, serviços e processos de produção; Planejar e controlar a produção; Melhorar o desempenho da produção. Dentre as responsabilidades indiretas dos administradores da Produção, destacam-se: Informar aos departamentos da empresa sobre as oportunidades e as restrições fornecidas pela capacidade instalada de produção; Discutir com os outros departamentos da empresa sobre como os planos de produção e os demais planos da empresa podem ser modificados para benefício mútuo; Encorajar os outros departamentos da empresa e dar sugestões para que a função produção possa prestar melhores serviços aos demais departamentos da empresa. (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009, p. 54-55). Para Tubino (2000, p. 19), a função da Produção e consequentemente, da pessoa responsável pela sua administração, “consiste em adicionar valor aos bens ou serviços durante o processo de transformação.” A partir disto, entende-se que, a produção vai além das atividades produtivas, mas compreende também, por exemplo, as atividades de movimentação, armazenagem, qualidade e neste sentido, “todas as atividades produtivas que não adicionarem valor aos bens ou serviços devem ser consideradas como perdas e eliminadas.” (TUBINO, 2000, p. 19). Em níveis práticos, a função da Produção é desenvolvida pelo PPCP ou Planejamento, Programação e Controle da Produção. 52 2.2.3.1 PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção) O PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção), comumente denominado PCP, pode ser entendido como um conjunto de atividades administrativas a serem executadas, para que se concretize a produção de um produto. Primeiramente, o sistema de PPCP é uma área de decisão da manufatura, cuja função “vai desde o planejamento até o gerenciamento e controle do suprimento de materiais e atividades de processo de uma empresa, a fim de que produtos específicos sejam produzidos por métodos específicos para atender o programa de vendas preestabelecido.” (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 213). Ao mesmo tempo, o PPCP é um sistema de administração e transformação de informações, pois as recebe das diversas áreas da organização e transforma-as em ordens de fabricação. Para Tubino (2000, p. 23), as principais fontes de informação do PPCP são: Da Engenharia de Produto são necessárias informações contidas nas listas de materiais e desenhos técnicos, da Engenharia do Processo os roteiros de fabricação e os lead times, no Marketing buscam-se os planos de vendas e pedidos firmes, a Manutenção fornece os planos de manutenção, Compras/Suprimentos informa as entradas e saídas dos materiais em estoques, dos Recursos Humanos são necessários os programas de treinamento, Finanças fornece o plano de investimentos e o fluxo de caixa, entre outros relacionamentos. Tubino (2000) assinala ainda, que o PPCP é responsável pela coordenação e aplicação dos recursos produtivos, com o objetivo de atender satisfatoriamente aos planos estabelecidos em níveis: estratégicos (Planejamento Estratégico da Produção); tático (Planejamento Mestre de Produção); e operacional (Programação, Acompanhamento e Controle da Produção), que variam no propósito, período de tempo e nível de detalhamento. (Figura 3). Figura 3: Hierarquia das funções do PPCP. Adaptado: TUBINO, 2000, p. 104. 53 No nível estratégico, onde são determinadas as políticas a longo prazo da empresa, o PPCP toma parte na formulação do Planejamento Estratégico da Produção, gerando o Plano de Produção. “Normalmente trabalha com famílias de produtos, tendo como finalidade possibilitar a adequação dos recursos produtivos à demanda esperada dos mesmos.” (TUBINO, 2000, p. 26). Em nível tático, onde são deliberados os planos de médio prazo para a produção, o PPCP desenvolve o Planejamento Mestre de Produção (PMP) ou Plano Mestre de Produção. Com base nas previsões do Marketing (Vendas) ou nos pedidos em carteira, o PMP especifica os itens finais das famílias e identifica “possíveis gargalos que possam inviabilizar esse plano quando de sua execução a curto prazo. Identificando os potenciais problemas, e tomadas as medidas preventivas necessárias, o planejamento deve ser refeito até chegar a um PMP viável.” (TUBINO, 2000, p. 26). A elaboração do Planejamento Mestre de Produção acontece juntamente com as áreas inter-relacionadas com a produção, isto é: Com as informações da área de Finanças, que coordena os gastos com estoques, horas extras, novos equipamentos. O Marketing,que elabora o plano de vendas e a previsão de demanda. A Engenharia, que fornece os padrões atuais de tempos e consumo de materiais para execução das tarefas. A Produção, que limita a capacidade e as instalações. Compras, que informa as necessidades referentes à logística de fornecimento externo. E, por fim, a área de Recursos Humanos, que apresenta um plano de contratação, treinamento de pessoal, etc. (TUBINO, 2000). No nível operacional, com base no Planejamento Mestre de Produção e nos registros de controle de estoques, o PPCP prepara a Programação da Produção. Trabalhando-se a curto prazo, é determinado quanto e quando comprar, fabricado de cada item necessário à composição dos produtos finais e emitindo as ordens de compra, fabricação e de montagem. Segundo Tubino (2000, p. 26): Em função da disponibilidade dos recursos produtivos, a Programação da Produção encarrega-se de fazer o sequenciamento das ordens emitidas, de forma a otimizar a utilização dos recursos. [...] Dependendo do sistema de produção empregado pela empresa (puxado ou empurrado), a Programação da Produção enviará as ordens a todos os setores responsáveis (empurrando) ou apenas à montagem final (puxando). Por fim, por meio da coleta e análise de dados, o PPCP faz o acompanhamento e controle da produção, procurando garantir a execução do programa de produção e a utilização das tecnologias e coletores de dados automatizados, tornando possível o acompanhamento e o 54 controle da produção em tempo real, permitindo a aplicação das medidas corretivas necessárias. Ademais, conforme Tubino (2000, p. 26): Além das informações de produção úteis ao PCP, o Acompanhamento e Controle da Produção normalmente está encarregado de coletar dados (índices de defeitos, horas/máquinas e horas/homens consumidos, consumo de materiais, índices de quebras de máquinas etc.) para outros setores do sistema produtivo. 2.3 SISTEMA ENXUTO DE PRODUÇÃO 2.3.1 Definição do sistema enxuto de produção Definir o Sistema Toyota de Produção ou sistema lean production (produção enxuta) parece uma tarefa bem complexa, tendo em vista que, alguns autores o veem como um conjunto de técnicas, enquanto outros transcendendo a realidade prática, das atividades produtivas e da conjuntura geral da empresa, o definem como uma filosofia. Taiichi Ohno define o sistema Toyota de produção como: Um método para eliminar integralmente o desperdício e aumentar a produtividade. Na produção, “desperdício” se refere a todos os elementos de produção que só aumentam os custos sem agregar valor – por exemplo, excesso de pessoas, de estoques e de equipamento. (1997, p. 71). Nesta concepção, o sistema consiste numa coletânea de métodos e técnicas, que incluem, por exemplo, a reconfiguração de máquinas, do arranjo físico (layout), trocas rápidas de ferramentas, simplificação do produto, treinamento em qualidade, manutenção de equipamentos e outros, que visam eliminar os desperdícios, agregar valor ao produto e atender o cliente no menor tempo possível. Indo além, Araujo (2008, p. 17) entende o sistema Toyota como: Um conjunto de técnicas de gestão da produção e um método de planejamento e controle da produção, as quais requerem resultados elevados em todos os cinco objetivos de desempenho da produção: flexibilidade, qualidade, rapidez, confiabilidade e custos. [...] Busca eliminar os desperdícios que geram aumento do lead time, além de buscar o envolvimento de todos os funcionários e obter qualidade perfeita viabilizado pelo aprimoramento contínuo. Mas o sistema lean vai além de técnicas e ferramentas para eliminar os desperdícios, 55 aumentar e flexibilizar a produtividade. O pensamento e planejamento e as decisões a longo prazo, mesmo que, a custas das metas financeiras a curto prazo, tornam o sistema Toyota uma filosofia. Segundo Liker (2005, p. 56): Ter um senso filosófico de propósito que se sobreponha a qualquer decisão de curto prazo. Trabalhar, crescer e alinhar toda a organização rumo a um objetivo em comum mais importante do que ganhar dinheiro. Compreender seu lugar na história da empresa e trabalhar para levá-la ao próximo nível. Sua missão filosófica é a base para todos os outros princípios. Gerar valor para o cliente, a sociedade e a economia – é seu ponto de partida. Avaliar cada função na empresa em termos de capacidade para atingir esse objetivo. Ser responsável. Lutar para decidir seu próprio destino. Agir com autoconfiança e acreditar em suas próprias habilidades. Aceitar a responsabilidade por sua conduta e manter e melhorar as habilidades que lhe possibilitam produzir agregação de valor. Diante disto, o sistema colabora na definição das estratégias empresariais, a fim de enfrentar a competição ou ampliar sua participação no mercado. De acordo com Ferro (2008, p. 7): É uma estratégia de negócios para aumentar a satisfação dos clientes pela melhor utilização possível dos recursos. A Gestão Lean procura fornecer consistentemente valor aos clientes com os custos mais baixos (PROPÓSITO), através da identificação de melhoria dos fluxos de valor primários e de suporte (PROCESSOS), por meio do envolvimento das pessoas qualificadas, motivadas e com iniciativa (PESSOAS). Destarte, ao mesmo tempo em que permite à empresa dar uma resposta rápida e flexível às flutuações do mercado, oferecendo produtos e/ou serviços com elevado nível de qualidade e custos reduzidos, o sistema realiza uma redução nos estoques, isto é, da quantidade de produtos em processo, de matérias-primas e de produtos acabados, proporcionando uma maior circulação do capital. Assim, o sistema enxuto pode ser entendido como: Uma filosofia de gerenciamento que procura otimizar a organização de forma a atender as necessidades do cliente no menor prazo possível, na mais alta qualidade e ao mais baixo custo, ao mesmo tempo em que aumenta a segurança e o moral de seus colaboradores, envolvendo e integrando não só manufatura, mas todas as partes da organização. (INVERNIZZI, 2006, p. 16). 56 2.3.2 História da produção enxuta Os altos investimentos em máquinas e ferramentas, capazes de trabalhar os aços mais rígidos e produzir altos volumes de peças, associado a um sistema de medidas, possibilitaram a Ford padronizar, intercambiar e facilitar o ajuste das peças do seu produto. Igualmente, permitiram a implantação da linha de montagem, em movimento contínuo e a utilização de trabalhadores responsáveis pela realização de uma única tarefa. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). Consequentemente, alavancou a produção em massa 9 , e permitiu a Henry Ford reduzir os tempos e os custos de fabricação, ao mesmo tempo em que, aumentou a quantidade de unidades produzidas e a qualidade dos produtos. No entanto, segundo Womack, Jones e Roos (2004, p. 3): Por ser a maquinaria tão cara e pouco versátil, o produtor em massa adiciona várias folgas – suprimentos adicionais, trabalhadores extras e espaço extra – para assegurar a continuidade da produção. Por ser a mudança para um novo produto dispendiosa, o produtor em massa mantém os modelos padrão em produção o maior tempo possível. O resultado: o consumidor obtém preços mais baixos, mas à custa da variedade, e com métodos de trabalho que muitos trabalhadores julgam monótonos e sem sentido. Com a produção em massa, a Ford alcançou a liderança no mercado automobilístico e o novo sistema ultrapassou os limites do Highland Park e do Rouge, em Detroit, onde Henry Ford acreditava ter finalizado seu sistema, com o domínio de todos os processos de fabricação doautomóvel, da matéria prima ao veículo acabado. O fordismo passou a orientar a produção dos concorrentes e de quase todos os ramos industriais, independente da região do mundo. Além-mar, a família Toyoda obtinha o sucesso na fabricação de máquinas elétricas e automatizadas para a indústria têxtil e cogitava de seu ingresso na indústria automobilística. Este ramo dava seus primeiros passos, apresentava grande potencial de crescimento e principalmente, “a popularidade dos carros estava aumentando e muitas empresas estavam tentando produzi-los.” (OHNO, 1997, p. 92). Por imposição do governo, a família Toyoda iniciou, na década de 30, sob o método artesanal, a fabricação de caminhões para fins militares. Paralelamente, investia os recursos financeiros, oriundos da venda dos teares, na Inglaterra e nos Estados Unidos, em pesquisas e 9 Ford propôs o termo produção em massa em 1926, no seu artigo para a Enciclopédia Britannica, enquanto contemporâneos denominavam as técnicas de fordismo. 57 desenvolvimento de um carro de passeio e técnicas de produção, tal como afirma Kiichiro Toyoda em 1933: Nós aprendemos técnicas de produção do método americano de produção em massa. Mas nós não iremos copiá-las como são. Usaremos as nossas próprias pesquisas e criatividade para desenvolver um método de produção que seja adequado à situação do nosso país (apud OHNO, 1997, p. 103). O projeto de fabricação de automóveis de passeio se concretizou em 1937, com a fundação da Toyota Motor Company 10 , por Kiichiro Toyoda, após visita de três meses às fábricas da Ford nos Estados Unidos. Em artigo publicado em 1936, Kiichiro assegura: As pessoas chamavam o negócio de imprudente. Nós fomos advertidos de como era difícil operar uma empresa de automóveis. Entretanto, sabíamos disto há vários anos e trabalhamos arduamente para nos preparar. Nós acreditávamos firmemente que a força e a experiência de Toyoda na manufatura com o tear automático fariam com que a nossa tentativa se tornasse possível. (apud OHNO, 1997, p. 94). Seguindo o método artesanal, a produção foi cessada com o envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial, sendo retomada em 1945. Contando com os incentivos protecionistas do governo 11 , a Toyota objetivava alcançar os Estados Unidos na produção de automóveis em três anos, sob as condições de “fornecer carros para o público em geral; aperfeiçoar a indústria de carros de passageiros; produzir carros a preços razoáveis; reconhecer a importância das vendas na manufatura; e estabelecer a indústria básica de materiais (matérias-primas).” (OHNO, 1997, p. 93). Diante a escassez e a falta de recursos, especialmente o petróleo, a empresa viu-se impossibilitada de adotar o modelo da produção em massa, largamente difundido nos Estados Unidos e Europa. Igualmente, a empresa enfrentava outros fatores limitantes: Produtividade da indústria japonesa era baixa, chegando a ser aproximadamente nove vezes inferior à norte americana; Mercado consumidor limitado; Compra de tecnologia estrangeira era 10 Mesmo não existindo significado na língua japonesa, o nome Toyota foi escolhido dentre as 27 mil sugestões enviadas para a empresa, por ocasião do concurso público organizado para a escolha do novo nome da organização. 11 Os incentivos financeiros e principalmente, a proibição dos investimentos estrangeiros na indústria automotiva japonesa aplicada pelo governo japonês, foram fundamentais para o desenvolvimento da Toyota e outras empresas do ramo. Acreditando que a competitividade internacional dependeria de uma escala de produção elevada (redução dos custos) e para evitar a competição doméstica, o governo propôs em 1959, a fusão das várias empresas em duas ou três companhias. A proposta não foi aceita pela Toyota, Nissan e outras empresas, que continuaram seus trabalhos se tornarem produtores independentes e completos e com uma gama de novos modelos. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). 58 economicamente impraticável; E, as possibilidades de exportação eram remotas. (OHNO, 1997). Ao mesmo tempo, as diversas empresas automotivas ocidentais cogitavam a sua entrada no mercado japonês. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). Assim, o objetivo da produção em larga escala de carros de passeio e caminhões comerciais, tal como fora testemunhado nas visitas aos Estados Unidos e Europa, era impossível. Era necessário um modelo de produção que evitasse os altos custos do método artesanal e a rigidez do modelo de Ford, mas combinando as vantagens de ambas para produzir enormes volumes de produtos de vasta variedade. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). Constatando que a diferença de produtividade devia-se à existência de perdas no sistema de produção, o engenheiro Taiichi Ohno, a partir da necessidade, passou a estruturar o novo modelo, que racionalizasse a produção e a identificasse e eliminasse as perdas. (OHNO, 1997). A Toyota percebeu que as organizações americanas, com esses desperdícios, mantinham sua lucratividade, porque o potencial de consumo interno era extraordinário. Assim, a configuração do cenário, “oferta inferior à procura”, influenciou as organizações americanas à convivência com ineficiências, que eram transferidas para os preços dos produtos finais e os consumidores não reclamavam. (ARAUJO, 2009, 46). Na concepção de Ohno (1997, p. 30), o novo modelo é “um sistema de gestão total que desenvolva a habilidade humana até sua plena capacidade, a fim de melhor realçar a criatividade e a operosidade, para utilizar bem instalações e máquinas, e eliminar todo o desperdício.” Os conceitos básicos da mentalidade enxuta não são novos. Eles evoluíram ao longo de diversas etapas ou “eras”, começando há quase um século em 1914, quando Henry Ford montou o que chamava de “produção em fluxo” na sua fábrica de Highland Park em Detroit. Ford pode ser chamado com justiça de o primeiro pensador de processos sistemáticos (enxutos), mas somente na condição especial de um produto altamente padronizado com praticamente nenhuma opção produzida em um ciclo de vida de produto muito longo. (WOMACK, 2010). Depois de várias tentativas, erros e acertos, ao longo de vinte anos (OHNO, 1997), ou como afirma Jidosha Kiki, depois de “um processo de aprendizado lento e difícil para seus funcionários, mesmo levando em consideração a cultura japonesa, porque todas as velhas regras empíricas haviam sido jogadas pela janela, e as ideias profundamente arraigadas 59 tiveram de ser modificadas” (apud DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 415), nasce o Toyota Production System (Sistema Toyota de produção - STP). Alicerçado no just-in-time e na autonomação, ou automação com um toque humano e a utilização de várias técnicas e processos, que ajudam na redução dos custos e consequentemente, na geração de lucros. E tudo isto, controlado pelo sistema de informações kanban, implantado em 1950, que informa ao fornecedor interno e externo, a quantidade e o tempo em que deve ser produzido determinado componente. (OHNO, 1997). O sucesso do sistema criado pela Toyota foi evidenciado na década de 1970. Segundo Ohno (1997, p. 23): A crise do petróleo no outono de 1973, seguido de recessão, afetou governos, empresas e sociedades no mundo inteiro. Em 1974, a economia japonesa havia caído para um nível de crescimento zero e muitas empresas estavam com problemas. Mas na Toyota Motor Company, embora os lucros tenham diminuído, ganhos maiores do que os de outras empresas foram mantidos em 1975, 1976 e 1977. A partir do sucesso e resultados financeiros,o sistema ultrapassou os muros das fábricas das Toyota, sendo adotado pelos fornecedores da companhia, outras empresas do ramo automobilístico e empresas como a Matsushita Electric Corporation, Velas NGK e Canon, convertendo-o num sistema nacional. Assim, o desenvolvimento da Toyota confluía com o desenvolvimento da indústria japonesa nos anos 70. Segundo Lima (2002, p. 20): A história da industrialização japonesa se confunde com a história do toyotismo. O Japão inicia o movimento de mudanças, as quais confluem para uma nova forma de organização do processo de trabalho, responsável pelo salto de produtividade conseguido, desde a década de 1970, pela indústria automobilística. A partir da década de 1980, o sistema passou a ganhar o mundo. Empresas, inclusive concorrentes, buscam conhecer e adotar o modelo que estava revolucionando a indústria automobilística. Enquanto a Ford enviava seus executivos para o Japão para conhecerem o sistema, a General Motors estabeleceu parceria com a Toyota, a fim de reabrir sua fábrica na Califórnia, sob gerencia da empresa japonesa. Em 1986, a partir da implantação das técnicas de produção enxuta, a New United Motor Manufacturing Inc. (NUMMI), funcionando em regime de joint-venture (empreendimento conjunto) entre um produtor em massa (General Motors) e um enxuto (Toyota), já igualava os índices de qualidade e quase igualando a produtividade da matriz japonesa e demonstrava: 60 Que a Toyota havia realmente revolucionado a fabricação, que as velhas fábricas de produção em massa não conseguiriam competir, e que a nova e melhor maneira – a produção enxuta – poderia ser transplantada com sucesso para novos ambientes, como a NUMMI. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 71). Igualmente, outras empresas ao redor do mundo buscavam conhecer e adotar o sistema na sua produção, independente do ramo de atuação. O próprio OHNO (1997, p. 30) afirma que o “sistema de produção representa um conceito em administração que funcionará para qualquer tipo de negócio.” De acordo com Antunes (apud LIMA, 2002, p. 76-77): O sistema industrial japonês, a partir dos anos setenta, teve grande impacto no mundo ocidental, quando se mostrou para os países avançados como uma opção possível para a superação capitalista da crise. Naturalmente, a transferibilidade do toyotismo carecia, para a sua implantação no Ocidente das inevitáveis adaptações às singularidades e particularidades de cada país. Seu desenho organizacional, seu avanço tecnológico, sua capacidade de extração intensificada do trabalho, bem como a combinação de trabalho em equipe, os mecanismos de envolvimento, o controle sindical, eram vistos pelos capitais do Ocidente, como uma via possível de superação da crise de acumulação. 2.3.2.1 Produção enxuta a partir do IMVP Embora muitas empresas ocidentais já estivessem usando o sistema enxuto, ele ganhou o mundo a partir de 1990, através do International Motor Vehicle Program (Programa Internacional de Veículos Automotores - IMVP), onde passou a ser conhecido pelo termo lean production, cunhado pelo pesquisador John Krafcik, traduzido na língua portuguesa como produção enxuta. Constituído a partir de recursos financeiros oriundos de governos, indústrias e universidades de todo o mundo, sediado junto ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), o IMVP tinha por objetivo, pesquisar os sistemas de produção e explanar a lógica e técnicas da produção enxuta. A exposição dos resultados de vários anos de pesquisas, deu-se em vários artigos e principalmente, no livro A máquina que mudou o mundo, uma espécie de resumo dos cinco anos de pesquisa, em 14 países. Passamos assim cinco anos explorando as diferenças entre a produção em massa e a produção enxuta num gigantesco ramo industrial. [...] Em tal processo, tornamo-nos convictos de que os princípios da produção enxuta se aplicam igualmente a todas as indústrias de todo o mundo, e que a conversão para a produção enxuta exercerá profundo efeito sobre a sociedade humana – na verdade, ela irá transformar o mundo. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. XVI). 61 Os princípios e a mentalidade lean continuam sendo propagados pelo mundo pelo Lean Enterprise Institute (LEI), fundado em 1997, por James P. Womack. 2.3.2.2 História da produção enxuta no Brasil Tendo alcançado o sucesso no Japão, a Toyota passou a buscar novos mercados. Depois das experiências nos Estados Unidos e Europa, a Toyota fundou, em 1958, sua primeira fábrica no Brasil. Localizada no bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, a empresa passou a produzir o utilitário Land Cruiser e anos mais tarde, transferida para São Bernardo do Campo, onde passou a produzir o jipe ou camionete Bandeirantes. Mesmo com a racionalização dos meios de produção (mão de obra e máquinas/equipamentos) a empresa enfrentava problemas de lucratividade e não conseguia fazer frente a concorrentes como a Ford, General Motors, Volksvagen, Fiat que estavam instaladas ou estavam instalando-se no país. Segundo Kosaka (2010, p. 1): Com a pequena produção de 250 a 300 veículos por mês, a companhia não era lucrativa. A economia brasileira na época, passara por constantes dificuldades. E para piorar, o fato de ter no seu empreendimento um de seus componentes principais, o motor, comprado de uma outra empresa, colocava a perspectiva de lucro ainda mais distante. A partir de investimentos da matriz, principalmente nos setores de fundição, forjaria e usinagem, a filial brasileira passou a ser uma das únicas fábricas da Toyota, a manter todas as operações industriais sob domínio da própria empresa e garantir a qualidade através do controle completo dos processos de produção. O sistema Toyota de produção passou a ser introduzido a partir das visitas de Taiichi Ohno e dos membros da OMCD – Operations Management Consulting Division (Divisão de Consultoria de Gerenciamento de Operação). Em pouco tempo e vários aprimoramentos, o modelo produtivo da empresa, mostrou grandes resultados, comprovando, mesmo fora do Japão, a sua aplicabilidade na produção verticalizada e de pequena escala. “No Brasil, observa-se a montagem deste método de forma tão eficaz e rápida, a ponto de registrar um crescimento da produtividade de quase 100%: de 20 para 38 carros/dia. Isto em apenas um ano.” (LIMA, 2002, p. 142-143). Ademais, o sistema japonês de produção trouxe contribuições à qualidade da indústria brasileira: 62 Uma das inovações japonesas rapidamente percebida pelos administradores brasileiros foi a participação dos operários em pequenos grupos, para solução de qualidade e produtividade, os chamados Círculos de Controle de Qualidade. Criados em maio de 1971, no ABC e no Vale do Paraíba, espalharam-se nas indústrias de todo o país, e atingiram o auge de sua popularidade em 1980. Naquela época, o Brasil foi considerado o quarto maior detentor de CCQ. [...] E presenciou o lançamento de numerosas campanhas de eliminação de desperdícios. (MACHLINE, 1994, p. 98). Empresas concorrentes como Volkswagen e também, empresas de outros setores, como Johnson e Johnson, Embraer e General Eletric, passaram a implantar as técnicas japonesas na produção. No entanto, a implantação das técnicas toyotistas não se entendeu apenas ao “chão de fábrica”: A Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo passou a incluir em seus cursos disciplinas que incluem noções teóricas sobre “Administração Participativa”. [...] Trata-se de iniciativas que dão suporte e preparam novos quadros para a atuação profissional que vão ao encontro das inovações que estão ocorrendo no setor privado.(LIMA, 2002, 87). Além de servir de base para a nova fábrica da Toyota, inaugurada em Indaiatuba, para a produção do Corolla, o sistema de produção era objeto de divulgação de diversas delegações, que desembarcaram no país. Conforme Lima (2002, p. 107): Passa a fazer parte do cenário empresarial a presença de delegações japonesas, que chegaram ao Brasil imbuídas da missão de promover a divulgação do produto cultural japonês de maior aceitação mundial – o toyotismo. É um movimento que se desdobra na reatualização de conceitos, sempre presentes na estratégia empresarial, tais como modernização, inovação tecnológica, eficiência, mercado livre, qualidade e produtividade. O mesmo autor salienta que, o processo de divulgação e implantação do sistema Toyota de produção também se dá pelos contratos firmados pela empresa com seus fornecedores. Segundo Lima (2002, p. 140): Os termos do contrato incluem a possibilidade de interferência da Toyota na contratada ou subcontratada para propor a reformulação de seus programas de produção e/ou em seu processo de trabalho, visando incluir métodos de organização do trabalho similares ao seu. A partir de 1990, começa a adoção e implantação do sistema japonês de produção nas empresas dos mais diversos ramos de atuação. Impulsionados, principalmente, pela concorrência internacional, ocorrida pela abertura do mercado brasileiro. 63 Os movimentos de implantação das técnicas japonesas, iniciados na década de setenta de forma isolada, passaram pela década de 80 contabilizando ganhos, até se consolidarem na década de 90, quando assumem a configuração de um projeto direcionado, objetivo e consciente de reformulação da base técnica, incorporação do padrão microeletrônico e de reinserção na nova divisão internacional do trabalho com vistas à integração ao capitalismo globalizado. (LIMA, 2002, p. 80). Desde então, diversas empresas e nos mais variados setores, têm trabalhado na aplicação e melhoria das técnicas da produção e da gestão enxuta. De acordo com Ferro (in: WOMACK; JONES; ROOS, 2004), muitos esforços esbarram no fator humano, no alto grau de verticalização das empresas brasileiras, nas diferenças históricas entre as partes envolvidas, nos hábitos enraizados, nas plantas antigas e na resistência a inovação de muitos empresários, o que leva a aplicação das técnicas ao insucesso. No entanto, são inúmeros os exemplos de sucesso, de que a implantação do sistema lean, ou pelo menos, de algumas ferramentas, nos mais diversos setores, pode trazer vantagens para as empresas. Empresas como Mercedes Benz, General Motors, Honda, Bosch, Whirlpool, Dupont, Alcoa, Gerdau, Lever, Vale, Santista, Gessy, Sadia, Shell do Brasil, Caemi Minerações e Brahma e várias empresas do ramo farmacêutico, químico e de serviços (FERRO, 2008; LIMA, 2002), são apenas alguns exemplos que demonstram “claramente que a produção enxuta pode funcionar no Brasil sob as mais diversas condições.” (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 258). Atualmente, o sistema lean é difundido no país pelo Lean Institute Brasil. Coordenado por José Ferro, outrora pesquisador do IMVP, o instituto, fundado em 1998, dedica-se à educação e pesquisa, sem fins lucrativos, aos moldes do Lean Enterprise Institute, na disseminação do conjunto de ideias e mentalidade enxuta, através de publicações didáticas sobre o tema, workshops públicos, treinamentos “in company” e eventos que permitem a troca de experiências. (FERRO, 2008). 2.3.3 Funções do sistema enxuto de produção Na perspectiva tradicional, os preços praticados pelas empresas, representam os custos da matéria prima, mão de obra, os processos de transformação e inegavelmente, as eventuais ineficiências nos seus processos de produção. Diante do acirramento da concorrência e principalmente, da nova conjuntura de mercado, onde os clientes passaram a determinar os preços, não aceitam pagar pelas 64 ineficiências, as empresas enfrentam o dilema: compensar suas ineficiências na margem de lucro ou trabalharem seus processos a fim de reduzir os custos e os desperdícios contidos nestes. Enquanto muitas empresas aceitam reduzir a margem de lucro ou procuram reduzir os custos demitindo colaboradores ou trocando componentes dos produtos, a Toyota seguiu o segundo caminho, isto é, passou a reduzir os custos dos processos de produção. (Figura 4). Segundo Ohno (1997, p. 30), “a redução de custos deve ser o objetivo dos fabricantes de bens de consumo que busquem sobreviver no mercado atual.” Figura 4: Composição do preço: Perspectiva tradicional x perspectiva lean. Fonte: Elaborada pelos autores. Assim, a função básica do sistema enxuto de produção, é a reduzir os custos, para com isto, aumentar os lucros da empresa. Segundo Liker (2005, p. 37): Se perguntarmos por que a maioria das empresas existe, a resposta se resumirá a uma única palavra: lucro. Qualquer economista pode lhe dizer que, em uma economia de mercado, a única coisa que uma empresa precisa é se preocupar em gerar dinheiro – tanto quanto possível, dentro de limites legais, obviamente. Essa é a meta. Na verdade, qualquer outra meta levará a uma distorção do livre mercado. Na percepção da Toyota, a redução de custos se dá na identificação e eliminação dos desperdícios (muda), ou como afirma Fujio Cho: “qualquer coisa que não seja a quantidade mínima de equipamentos, de materiais, de peças e de trabalhadores (tempos de trabalho) que são absolutamente essenciais à produção.” (apud: DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 409). A redução de custos também pode ser alcançada na produção em massa, por exemplo, através da quantidade produzida, onde o custo é rateado por uma quantidade maior 65 de peças e a redução no número de trocas das ferramentas. No entanto, quando relacionado com a diversidade, a eficiência e a efetividade diminuem, além de produzirem muitos desperdícios e não agregarem valor ao cliente. Segundo Invernizzi (2006, p. 14): Este modelo de produção apresenta vantagens e ainda hoje pode ocupar espaços no caso de produções homogêneas e em alta quantidade, nas quais as economias de escala constituem importante vantagem competitiva. [...] A produção em massa conforme idealizada por Ford não é um produtor natural de desperdícios, de excesso de estoques de produtos em processo e de não-conformidades. Foi a departamentalização, o desacoplamento de processos que levou a esta situação. Taiichi Ohno identificou e classificou os desperdícios em sete grandes grupos. Segundo ele, “se pudéssemos eliminar o desperdício, a produtividade deveria decuplicar. Foi esta a ideia que marcou o início do atual Sistema Toyota de Produção.” (OHNO, 1997, p. 25). (ANEXO B). Os desperdícios ocorrem por: - Por superprodução (quantidade e antecipada): Perda por produzir além do volume programado/requerido ou decorrente de uma produção realizada antes do momento necessário. As sobras de peças/produtos ficarão estocadas, aguardando a ocasião para serem consumidas ou processadas pelas etapas posteriores; - Por espera: Ocorrido pelo intervalo de tempo no qual nenhum processamento, transporte ou inspeção é executado. O lote fica estocado esperando a sequência no fluxo de produção. Acontece, especialmente, no processo (aguarda-se a conclusão do lote para encaminhá-lo para o próximo processo), no lote (as primeiras peças aguardam a conclusão do lote para o início do processamento) e na espera do operador (que é obrigação de acompanhar o processo do início ao fim); - Por transporte: Ocorridos, principalmente, pela má definição do layout. São máquinas e célulasde produção mal distribuídas e que não permitem a utilização de melhorias logísticas como esteiras rolantes, transportadores aéreos, braços mecânicos, talhas, pontes rolantes, etc.; - No próprio processamento: São os inúmeros processamentos desnecessários que não alteram ou afetam o produto. Além disto, são provocados pela baixa velocidade, ajuste e manutenção de máquinas e as estampagens desnecessárias ocorridas por projetos inadequados de aproveitamento de material; - Perda por estoque: Trata-se dos estoques de matéria-prima, em processo e produtos 66 acabados, oriundos da falta de sincronia entre os processos; - Por movimentação: Ocorridos pelos movimentos desnecessários realizados pelos operadores na execução das suas operações, advindos da falta de racionalização dos movimentos nas operações e estudos de tempos e movimentos; - Por fabricação de produtos defeituosos: Acontecidos pela fabricação de produtos defeituosos, que apresentam alguma de suas características de qualidade fora das especificações ou padrões estabelecidos e que impossibilitam o uso. (OHNO, 1997; ARAUJO, 2008; INVERNIZZI, 2006; STEVENSON, 2001). Aos sete desperdícios enumerados por Ohno, Liker acrescenta ainda o “desperdício da criatividade dos funcionários. Perda de tempo, ideias, habilidades, melhorias e oportunidades de aprendizagem por não envolver ou ouvir os funcionários.” (2008, p. 48). A identificação e eliminação dos desperdícios não é algo inédito ou inovador da Toyota ou de Ohno, mas é algo da própria cultura japonesa. Não é de surpreender que os japoneses sejam muito sensíveis a aspectos como desperdícios e eficiência. Eles consideram refugos e o retrabalho como sendo desperdícios, e o estoque excessivo como um mal a evitar, porque toma espaço e absorve recursos. (STEVENSON, 2002, p. 504) Por fim, a eliminação dos desperdícios, além de agregar valor ao cliente, reduz o tempo de atravessamento (lead time), isto é, o tempo total que o consumidor necessita esperar depois de fazer o pedido para receber o produto, com uma alta qualidade a um preço reduzido. 2.3.3.1 Bases do sistema enxuto de produção Pensando na realidade do país e da Toyota, o sistema de produção empurrada, usado nas organizações industriais americanas e europeias, foi substituído pela produção puxada. Assim, a Toyota passava a produzir pequenas quantidades, no tempo necessário, em modelos, tamanhos e estilos variados e principalmente, por meio de um fluxo suave, veloz, contínuo e que não produziria desperdícios. Para o desenvolvimento do sistema de produção, Ohno alicerçou-o no just-in-time e na autonomação, ou automação com toque humano. (Figura 5). 67 Figura 5: A Estrutura do Sistema Toyota de Produção. Fonte: Ghinato, 2000. 2.3.3.1.1 Just-in-time Henry Ford já havia alcançado um fluxo contínuo na produção de sua empresa. No entanto, no raciocínio de Ohno, para que o fluxo acontecesse de forma suave, com velocidade e de forma contínua, ajudasse na redução dos desperdícios e do talk time, a produção deveria ser orientada pela filosofia do just-in-time, isto é, produzir as unidades necessárias, nas quantidades necessárias e no tempo necessário. Segundo OHNO (1997, p. 26): Just-in-time significa que, em um processo de fluxo, as partes corretas necessárias à montagem alcançam a linha de montagem no momento em que são necessários e somente na quantidade necessária. Uma empresa que estabelece esse fluxo integralmente pode chegar ao estoque zero. [...] Portanto, para produzir usando o Just in time de forma que cada processo receba o item exato necessário, quando ele for necessário, e na quantidade necessária, os métodos convencionais de gestão não funcionam bem. Em suma, tratava-se de balancear o sistema de produção, a fim de alcançar a suavidade e a velocidade dos materiais através dele, reduzindo os tempos de processamento quanto possível e assim, colocar em prática o princípio da redução dos custos através da 68 completa eliminação das perdas e produzir, baseado no ritmo de vendas, para atender a demanda dos clientes. Para tanto, é necessário: - Eliminar as paralisações: Causadas pelas deficiências na qualidade, quebras de máquinas e equipamentos, mudanças na programação e atraso nos fornecimentos, comprometem a suavidade no fluxo de materiais pelo sistema. - Tornar o sistema flexível: O sistema adapta-se às mudanças no mix de produção ou possíveis variações na demanda. - Diminuir os tempos de setup e dos lead times de fornecimento: O prolongamento dos processos, além de não agregarem valor ao produto, comprometem a flexibilidade do sistema. - Minimizar os estoques: Além de constituírem recursos ociosos, comprometerem o fluxo dos recursos financeiros da empresa, os estoques implicam no aumento de custos, tomada de espaço e muitas vezes, comprometem o tempo dos operários, que “gastam seu tempo procurando espaço para estocagem e catando peças, ao invés de fazer progresso na parte mais importante do seu trabalho – a produção.” (OHNO, 1997, p. 34). - Eliminar o desperdício: Sendo as atividades improdutivas, que não agregam valor ao produto, os desperdícios podem diminuir o nível de produção e comprometer todo o sistema. Na visão de Invernizzi (2006, p. 18): Na Toyota, a redução dos custos através da eliminação das perdas passa por uma análise detalhada da cadeia de valor, isto é, a sequência de processos pela qual passa o material, desde o estágio de matéria-prima até ser transformado em produto acabado. O processo sistemático de identificação e eliminação das perdas passa ainda pela análise das operações, focando na identificação dos componentes do trabalho que não adicionam valor. 2.3.3.1.2 Autonomação A segunda base do sistema enxuto é a autonomação, ou automação com toque humano (jidoka), que reflete a busca pela qualidade, objetivo da Toyota e de todas as empresas japonesas e na possibilidade de um operário atender várias máquinas ao mesmo tempo. Para garantir o fluxo just-in-time, seria necessário o fornecimento de peças sem defeitos, ou seja, obter a qualidade logo na primeira tentativa, tornando o processo “muito mais eficaz e onera menos do que a inspeção e o conserto posteriores dos problemas de 69 qualidade.” (LIKER, 2008, p. 137). A autonomação, inspirada na empresa de teares da família Toyoda, constitui-se de duas partes. Primeiro relativo ao controle autônomo de máquinas, a fim de antecipar a fabricação de peças defeituosas. Para tanto, acoplam-se nas ferramentas e instrumentos das máquinas, os poka-yokes, mecanismos de parada automática que interrompem a fabricação quando peças defeituosas são detectadas por estes mecanismos. (OHNO, 1997). Estes dispositivos também permitiram a separação dos homens das máquinas, permitindo-lhes atender vários equipamentos ao mesmo tempo. Na prática, a separação que ocorre é entre a detecção da anormalidade e a solução do problema. (Figura 6). Figura 6: Separação do homem e a máquina. Fonte: Invernizzi (2006, p. 31). A primeira pode ser uma função da máquina, pois é técnica e economicamente viável, enquanto a solução ou correção do problema detectado pela máquina continua sob responsabilidade do homem. (GUINATO, 2000). A segunda parte da autonomação refere-se à autonomia dada ao operário, que pode interromper o trabalho de toda a linha de produção, através de um botão de parada, assim que for detectada alguma irregularidade. Resumindo as duas partes da autonomação, Kentucky afirma: No caso das máquinas, acrescentamos dispositivos que detectam anomalias eautomaticamente desligam o equipamento. No caso dos seres humanos, damos-lhes o poder de apertar botões ou puxar cordas [...] que podem interromper toda a linha de montagem. Todos os membros da equipe têm a responsabilidade de parar a linha de montagem sempre que virem algo fora do padrão. É assim que colocamos a responsabilidade pela qualidade nas mãos de nossos funcionários. (apud: LIKER, 2008, p. 136). 70 2.3.3.2 Ferramentas e técnicas do sistema enxuto de produção Diante da realidade favorável, como a disponibilidade de recursos financeiros, grande demanda para seus produtos no mercado interno e externo e um sistema completo de fornecedores, a Ford pode produzir uma grande quantidade, de um número limitado de modelos. Numa realidade quase antônima, a Toyota via-se obrigada a produzir pequenos volumes, de vários modelos, com alta qualidade e baixo custo. Limitada pelos recursos financeiros, uma cadeia de fornecedores limitada e um mercado com baixa demanda para sustentar as linhas de montagem e todas as ferramentas e técnicas desenvolvidas pela Ford, a empresa passou a desenvolver, progressivamente e de acordo com a realidade e necessidade, as lean tools (ferramentas enxutas) e lean techniques (técnicas enxutas), que possibilitaram atender os clientes com qualidade, baixo custo e rapidamente. Para evitar os altos estoques, comum no sistema de produção em massa, a Toyota passou a produzir de acordo com a demanda, isto é, produzir somente os itens certos, na quantidade certa e no momento certo. Os japoneses não preocupam-se em atingir as velocidades nominais de seu equipamento. Nas fábricas americanas, uma determinada máquina tem produção estimada em 1.000 peças por hora e, então, se precisarmos de 5.000 peças, iremos operá-la por cinco horas para chegar a essa exigência mensal. Os japoneses produzem apenas a quantidade necessária a cada dia, como necessário. Para eles, o tempo de ciclo é que define como irão montar seus recursos para satisfazer à produção mensal. Se a taxa para o mês seguinte muda, os recursos são reconfigurados. (DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001, p. 414). Passou-se a puxar a produção, tendo como ponto de partida, a demanda do cliente e repercutindo em toda a cadeia, desde o pedido até o fornecimento da matéria prima. (Figura 7). Figura 7: Produção Empurrada versus Produção Puxada. Fonte: Elaborada pelos autores. 71 Conforme Invernizzi (2006, p. 28). Um sistema de produção trabalhando sob a lógica da produção puxada produz somente o que for vendido, evitando a super-produção. Ainda, sob esta lógica, a programação da produção é simplificada e auto-regulável, eliminando as contínuas reavaliações das necessidades de produção e as interferências das instruções verbais, características da produção empurrada. Consequentemente, para evitar os picos na programação da produção diária e principalmente, superar o desafio da diversidade, era necessário o nivelamento da produção, a fim de produzir as quantidades requeridas e no tempo requerido. O nivelamento (heijunka) permite reduzir os estoques entre os processos ou trabalhadores e principalmente, responder adequadamente à demanda do mercado, efetivando a pronta entrega de produtos e reduzindo os inventários no processo. (TUBINO, 2000). Mesmo a produção de grandes quantidades de Coronas é nivelada. Suponha, por exemplo, que fazemos, 10.000 Coronas trabalhando 20 dias por mês. Imagine que isto é escalonado em 5.000 sedans, 2500 hardtops e 2.500 camionetes. Isto significa que 250 sedans, 125 hardtops e 125 camionetes são feitos diariamente. Estes são distribuídos na Lina de produção da seguinte forma: um sedan, um hardtops, depois um sedan, depois uma camionete, e assim por diante. Deste modo, o tamanho do lote e a flutuação na produção podem ser minimizados. (OHNO, 1997, p. 55). Para tornar a eliminação dos desperdícios nos processos, operações, máquinas, atividades ou métodos de produção e assim agregar valor aos produtos, Ohno passou a envolver os colaboradores nas melhorias contínuas ou Kaizen. O treinamento em controle estatístico do processo, melhorias de qualidade e resolução de problemas, garantiria aos colaboradores conhecer as diversas partes do processo, desenvolvimento de uma visão crítica, o monitoramento dos processos e utilizando o ciclo de Deming (PDCA - Plan, Do, Check, Action - ciclo de desenvolvimento que tem foco na melhoria contínua). Ademais, capacitaria os próprios colaboradores, a promoverem a manutenção, melhorias nos processos, e realização do planejamento, padronização e a alteração dos documentos. (INVERNIZZI, 2006). A partir das mudanças no layout, as máquinas passaram a ser distribuídas de forma que permitam a formação de células de trabalho. Normalmente em forma de U, as células passaram a agrupar máquinas e recursos por grupos, de acordo com seus processos (por exemplo, grupo de estamparias, grupo de fresas, etc), a fim de garantir a flexibilidade e o fluxo contínuo da produção, conduzindo a diminuição dos estoques entre processos, perdas 72 por espera e a redução do lead time de produção. Segundo Stevenson (2002, p. 510), “as células constituem centros de produção altamente especializadas e eficientes.” Procurando promover a eficiência e diminuição dos desperdícios de tempo na produção, a Toyota passou a padronizar as peças. Embora tenham perdido na variedade de produtos e criado uma resistência às mudanças nos projetos já padronizados, esta técnica permitiu aos operários trabalharem com um número limitado de peças, proporcionando uma redução dos tempos de manuseio, custos de treinamento, facilidade nas compras e a utilização de procedimentos padrões. (STEVENSON, 2002). A padronização também alcançou os procedimentos, através da implantação da folha de trabalho padrão. Afixada em cada estação de trabalho, as folhas continham informações simples e objetivas sobre o tempo de ciclo, sequência de trabalho e inventário padrão, combinando materiais, operários e máquinas. Segundo OHNO (1997, p. 41): A alta eficiência da produção também foi mantida pela prevenção da ocorrência de produtos defeituosos, erros operacionais, acidentes, e pela incorporação das ideias dos trabalhadores. Tudo isso é possível por causa da imperceptível folha de trabalho padrão. Além disso, os projetos e a confecção de ferramentas foram reestruturados, visando baixar drasticamente o tempo e os custos de set-up. Segundo STEVENSON (2001, p. 509): Sua ideia consistiu em desenvolver métodos simples para a mudança das matrizes, e em mudar as matrizes com frequência – a cada duas a três horas, em contraste com o prazo de dois a três meses –, utilizando carrinhos de rolete para mover as matrizes até sua posição exata e para retirá-las, e utilizando também mecanismos simples para o ajustamento. Como os novos métodos eram simples de dominar e os trabalhadores da produção ficavam ociosos durante as mudanças de matrizes, Ohno teve a ideia de deixar os trabalhadores da produção também fazerem as mudanças de matrizes. Para evitar problemas de qualidade e consequentemente, evitar os desperdícios e o comprometimento do fluxo contínuo da produção, instalou-se um quadro de luz (andon), visível a todos na linha de produção. Assim, quando um operário pedir ajuda para ajustar e diminuir a sua demora no trabalho, devido a problemas, é acionada a luz amarela no andon. Se o problema necessitar parar a linha, aciona-se a luz vermelha e todas as atenções dos colegas e superiores volta-se para aquele ponto da linha, a fim de solucionar rapidamente o problema. (OHNO,1997; INVERNIZZI, 2006). A fim de evitar as constantes paralisações de máquinas e operações devido a problemas técnicos, mecânicos e outros tantos, a Toyota desenvolveu a técnica dos 5 por 73 quês, cujo escopo é evitar que os problemas, outrora resolvidos por medidas paliativas ou temporárias, não voltem a acontecer com periodicidade ou impeçam de forma definitiva, a recorrência do problema. Ademais, esta técnica permitia o controle dos imprevistos da linha de produção e especialmente, evitava-se a produção de peças/produtos defeituosos, sinônimo de desperdício. (ARAUJO, 2008; OHNO, 1997). Ocorrendo a parada da máquina ou da linha, passa-se a utilizar a técnica dos 5 pro quê´s: Se o motivo foi, por exemplo, um problema no eixo da bomba de lubrificação ou um fusível queimado, segue a aplicação da técnica dos por quê´s: Repetindo por quê cinco vezes, dessa forma, pode ajudar a descobrir a raiz do problema e corrigi-lo. Se esse procedimento não tivesse sido realizado, possivelmente ter-se-ia apenas substituído o fusível ou o eixo da bomba. Nesse caso, o problema reaparecia dentro de poucos meses (OHNO, 1997, p. 7). Para aumentar a eficiência da produção e dos operários, partiu-se para a des- especialização dos trabalhadores qualificados, por meio da polivalência e plurifuncionalidade de homens e máquinas. Assim, ao invés da parcelização e da repetitividade do trabalho pregado por Taylor, os trabalhadores deveriam possuir múltiplas habilidades, a fim de operar em diversos processos, três ou quatro máquinas ao mesmo tempo. Além disso, tornaram-se responsáveis pelo produto final e dominando os diferentes processos, passaram a obter um melhor aproveitamento dos recursos, assim como um contínuo desenvolvimento de suas competências e habilidades até sua plena capacidade e, garantindo a segurança moral, conseguiu-se realçar a criatividade e a operosidade de cada um. (OHNO, 1997). Segundo Davis, Chase e Aquilano (2001, p. 417): Quando as pessoas podem identificar-se com a empresa como o lugar onde vão passar a sua vida profissional, e não somente um lugar provisório para buscar o cheque de pagamento, elas têm, a tendência de ser mais flexíveis e querer fazer o que for possível para auxiliar a empresa a atingir suas metas. E, por fim, para controlar harmoniosamente as quantidades de produção em todos os processos, criou-se, inspirado no sistema de reposição dos supermercados, o sistema de informações Kanban, que informa ao fornecedor interno e externo, a quantidade e o tempo em que deve ser produzido determinado componente. (Figura 8). 74 Figura 8: Sistema kanban de dois cartões. Fonte: DAVIS; CHASE; AQUILANO (2001, p. 415). Conforme INVERNIZZI (2006, p. 28-29). Através do sistema kanban, o processo subsequente (cliente) vai até o supermercado (estoque) do processo anterior (fornecedor) de posse do kanban de retirada que lhe permite retirar deste estoque exatamente a quantidade do produto necessária para satisfazer suas necessidades. O kanban de retirada então retorna ao processo subsequente acompanhando o lote de material retirado. No momento da retirada do material pelo processo subsequente, o processo anterior recebe o sinal para iniciar a produção deste item através do kanban de produção, que estava anexado ao lote retirado. 2.4 CÉLULA DE PRODUÇÃO 2.4.1 Definição de célula de produção A célula de produção, também conhecida por célula de montagem ou de manufatura, ilha de fabricação ou “linha” de forma intercambiável (ROTHER; HARRIS, 2008, p. ii), é bastante difundida e usada por várias empresas, em muitos países e nos mais diversos setores da economia de produtos e serviços, que buscam flexibilizar e aumentar os resultados do sistema de produção. O conceito de célula de montagem está intimamente ligado aos conceitos de tecnologia de grupo, isto é, a “filosofia que busca obter vantagens econômicas e operacionais explorando as semelhanças mediante o estabelecimento de um grupo de similar de produtos” (MARODIN; SAURIN, 2007, p. 67), com objetivo de reduzir a complexidade do fluxo produtivo e assim, obtendo ganhos de produtividade e flexibilidade através da redução em perdas na produção. Neste contexto, Invernizzi (2006, p. 12) afirma que a célula de produção “é constituída por um grupo de máquinas adequadamente escolhidas, dimensionadas e arranjadas de tal forma que permitam produzir todos os componentes de uma família de peças em seu 75 interior”, ou artefatos que possuem características e atributos similares, seja de forma geométrica e/ou de processos de fabricação. Na mesma linha de pensamento, Rother e Harris (2008, p. ii), definem célula de produção como: Um arranjo físico de pessoas, máquinas, materiais e métodos em que as etapas do processo estão próximas e ocorrem em ordem sequencial, através da qual as partes são processadas em um fluxo contínuo (ou em alguns casos, de forma consistente, com lotes pequenos mantidos em toda a sequência das etapas do processo). Para alguns autores, a definição de célula de produção deve restringir-se na localização e disposição de pessoas, e máquinas e equipamentos. No entender de Hyer e Brown (apud MARODIN; SAURIN, 2007), qualquer definição de célula deve passar pela relação entre os elementos tempo, espaço e informação. Embora admitidos graus de relação entre os três elementos, o conceito de célula de montagem como agrupamento de pessoas, máquinas, processos e equipamentos, só é perfeita quando reunir, de forma harmônica, os três elementos. Nesta perspectiva, Liker (2005, p. 50) enfatiza que: Na produção enxuta, uma célula consiste em uma minuciosa organização de pessoas, máquinas ou estações de trabalho em uma sequência de processamento. Criam-se células para facilitar o fluxo unitário de peças de um produto ou serviço, através de várias operações, por exemplo, soldagem, montagem, empacotamento de uma unidade por vez, a uma razão determinada pelas necessidades do cliente e com o mínimo de atraso e espera. 2.4.2 História da célula de montagem Na concepção da produção em massa, em vistas à economia em escala, a empresa deve procurar extrair o máximo possível dos equipamentos e funcionários, agrupados em setores ou departamentos, objetivando a redução do custo por unidade produzida. Desta forma, os equipamentos devem funcionar perfeitamente, em todos os dias de trabalho, para se chegar à máxima utilização do recurso. Igualmente, organizando as pessoas em departamentos, a empresa pode aplicar melhorias dos processos, a fim de extrair a maior produtividade (eficiência) possível de cada pessoa. Já o material em processo, reunido em grandes lotes, deve percorrer o caminho previamente determinado no seu processo de fabricação. O movimento do material de um 76 setor ou departamento para outro e longos roteiros de processo, possibilitam atrasos, aumento de estoques em processo (work-in-process – WIP), a ocupação de preciosos espaços físicos, além de não agregar valor e causar atrasos na entrega dos produtos ao cliente. (LIKER, 2005). Trabalhando com funcionários semi ou não qualificados, denominados operários de linha, responsáveis pela realização de uma única tarefa no produto, as linhas passaram a processar grandes lotes, não permitindo caminhos alternativos e para não ocorrerem paradas, preveem “folgas por toda a parte – estoques extras, espaço extra, mão de obra extra – para poder funcionar”. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 89). De acordo com Schonberger (1984, p. 163): No Ocidente, como as empresas tendem a permitira formação de estoques amortecedores, a flexibilidade da linha não tem tanta importância assim. Daí por que a estratégia ocidental de conseguir linhas equilibradas visa à estabilidade. Projeta-se e equilibra-se uma linha com a atenção voltada para longas operações produtivas, com o que raramente será necessário reequilibrá-la. O pensamento da produção em massa, de dispor equipamentos e funcionários em setores ou departamentos e produzir grandes lotes em linhas de montagem, rapidamente ganhou o mundo. Para Askin e Standridge (apud SANTORO; MORAES, 2000, p. 339), linha de montagem é: Um conjunto de estações de trabalho dispostas seqüencialmente, normalmente interligadas mediante um sistema contínuo de movimentação de materiais, e projetada para montar componentes e realizar qualquer operação necessária à obtenção de um produto acabado. As fábricas e a produção passaram a ser configuradas a partir do modelo fordista, inclusive a Toyota, quando “foi organizada, estava operando dessa forma – como as fábricas da Ford.” (LIKER, 2005, p. 104). No pensamento de Ohno, este modelo exigia altos investimentos financeiros, grande número de funcionários, que trabalhariam em apenas uma máquina ou uma única função, produziria desperdícios, sem alcançar a flexibilidade e o fluxo contínuo na produção, não agregariam valor e os problemas da qualidade seriam transferidos para fora das linhas. Além disso, “a Toyota não podia competir com o volume da Ford e com as economias de escala.” (LIKER, 2005, p. 104). 77 Segundo o idealizador do sistema Toyota de produção, a solução seria otimizar o fluxo de material, através da redução do tamanho dos lotes e assim, permitir rapidez na movimentação dentro da fábrica. Para tanto, seria necessário “eliminar os departamentos e “ilhas de processo” e criar células de trabalho agrupadas por produto, não por processo.” (LIKER, 2005, p. 104). A primeira tentativa de criação das células deu-se em 1947, quando as máquinas foram dispostas “em linhas paralelas ou em forma de L e tentamos fazer com que um trabalhador operasse três ou quatro máquinas ao longo da rota de processamento.” (OHNO, 1997, p. 32). A inovação, no entanto, não alcançou sucesso, principalmente pela forte resistência dos funcionários. Segundo Ohno (1997, p. 32): Nossos artífices não gostaram do novo arranjo que exigia que eles passassem a funcionar como operadores de múltiplas habilidades. Eles não gostaram de mudar de “um operador, uma máquina” para um sistema de “um operador, muitas máquinas em processos diferentes”. A ideia da célula de produção foi retomada dois anos mais tarde, quando equipamentos para a fabricação de determina peça foram dispostos em forma de U, a fim de obter-se o fluxo unitário das peças. Colocando os postos muito próximos entre si, permitiram a transferência manual das peças entre um operário e o outro, sem que eles precisem caminhar. Isto reduziu o tempo de ciclo, consumindo apenas o tempo que realmente agrega valor e acima de tudo, eliminou a superprodução e os estoques. (SCHONBERGER, 1984). A partir dos resultados positivos, a Toyota passou a reorganizar o layout de suas fábricas, a fim de abrigar diversas células de produção, onde uma produzia insumos para a outra, guiadas pelo sistema pull (célula de trabalho puxa materiais da célula anterior apenas perante um pedido da seguinte) e todas tendo como destino final a linha de montagem. Orientadas para a flexibilidade, as células estavam “prontas para responder sempre que ocorrerem mudanças nos modelos das peças ou no ritmo de produção – mudanças essas que são frequentes nas fábricas nipônicas” (SCHONBERGER, 1984, p. 163). Igualmente, os resultados levaram o modelo de produção a partir de células, a várias empresas japonesas. Conforme Barbosa (2010, p. 1): Em meados da década de 70, os japoneses com base no Sistema Toyota de Produção inovam com o conceito de célula de produção, dizendo ao mundo que o trabalho 78 organizado em células de produção eliminam desperdícios de espera, superprodução, estoque, defeitos de qualidade, movimentos, transportes, processos desnecessários, além de um ambiente de trabalho polivalente, saudável e adaptado ergonomicamente. O modelo celular ganhou os Estados Unidos e a Europa, através das fábricas joint- venture assumidas pelos japoneses, onde foram mescladas com as linhas de montagem final. Nas empresas ocidentais, a produção de modelos mesclados é encontrada principalmente na montagem final de automóveis, caminhões e tratores e, por vezes, de aparelhos domésticos. Toda uma família de modelos semelhantes pode aí ser processada e encaminhada à montagem final de qualquer ordem. (SCHONBERGER, 1984, p. 174). Atualmente, a produção em células passou a ser utilizada por empresas que optaram por fabricar pequenos e médios lotes e “amplamente difundidos hoje em dia na fabricação de metal, na fabricação de chips para computadores e em trabalhos de montagem.” (CHASE; AQUILANO; JACOBS, 2005, p. 204). 2.4.2.1 Células de produção no Brasil A técnica de produção em células chegou ao Brasil através da Toyota, nos anos de 1970, quando a empresa, a partir dos investimentos da matriz, passou a reestruturar os processos produtivos, buscando competir com empresas automotivas já instaladas no país e conseguir a independência em relação aos fornecedores, na produção do jipe Bandeirantes. Embora tenham exigido grandes investimentos, as células foram implantadas, inicialmente nos setores de forjaria e usinagem, permitindo a produção unitária de peças. A técnica foi aperfeiçoada, ampliada e consolidada mais tarde, com o trabalho de Taiichi Ohno e dos consultores da Divisão de Consultoria de Gerenciamento de Operações da empresa. A produção em células, “em pequenos lotes na forjaria, [...] constituiu um fato histórico, pois serviu de exemplo para a forjaria da matriz da Toyota que relutava em aceitar os conceitos do Sr. Ohno.” (KOSAKA, 2010, p. 1). Mesmo com algumas restrições impostas pelos funcionários, o processo de reestruturação dos processos produtivos e do layout das fábricas e consequentemente a implantação das células de produção, alcançaram também as demais empresas do ramo automotivo. Na opinião de Lima (2002, p. 85): 79 O sucesso do modelo japonês aponta para a sua superioridade como estratégia avançada de resolução de problemas de lucratividade da empresa, tem como locus privilegiado o setor automobilístico, o qual tem um grande poder de expansão das formas de gestão maximizadoras de extração de valor. Mas além das empresas automotivas, outras empresas também aderiram ao modelo das células de montagem. Dell, Johnson e Johnson, Embraer e General Eletric, procuraram seguir a técnica de sucesso, conciliando-as com as linhas de produção. A técnica é uma panaceia para todos os problemas atuais, logo deve ser implantada para melhorar a performance competitiva. Mesmo porque essa técnica permite acenar com a promessa de melhoria na qualidade de vida, tornando o trabalho mais participativo como a única compensação para o trabalhador. (LIMA, 2002, p. 93). A partir dos anos 90, com a abertura para as importações, o acirramento da concorrência e as exigências e demandas dos clientes, as empresas brasileiras viram-se obrigadas a estarem aptas a atender aos pedidos rapidamente. É o caso da Hübner, fabricante de autopeças sediada em Curitiba, que na alteração do layout introduziu algumas células e conseguiu reduzir significativamente seus prazos de entrega aos clientes. (MARTINS; LAUGENI, 2005). Mas a introdução das célulasde produção não tem acontecido somente nos setores automotivos ou autopeças, mas tem sido um objetivo de várias empresas brasileiras, nos mais diversos setores e ramos de atuação. Nossas empresas estão competindo na instalação de células de fabricação. É ponto de honra para cada fábrica ter suas células. Bancos e companhias de seguro usam- nas para processar documentos. As fábricas que aderiram à nova “cultura”, marcada por células, participação, polivalência e autogestão dos funcionários, mostram-se satisfeitas com os resultados obtidos; o pessoal declara-se feliz com a nova organização da produção. (MACHLINE, 1994, p. 100). 2.4.3 Função da célula de produção Na concepção de Taiichi Ohno, a função básica da célula de produção é flexibilizar a produção e por consequência, aumentar a produtividade, reduzindo os espaços e os custos, através da eliminação dos desperdícios, e diminuir os prazos de entrega ao cliente. (OHNO, 1997). 80 No Ocidente, as empresas norteadas pela produção em massa, configuram sua produção em linhas, trabalhando constantemente para equilibrá-las, através de métodos matemáticos e procedimentos, muitas vezes fornecidos por softwares. No Ocidente, as linhas de produção não primam pela flexibilidade, pois são planejadas, “de longe”, por especialistas que procedem a prolongadas análises, devido à inflexibilidade da mão-de-obra e dos equipamentos, devido à forma das linhas, devido à orientação da empresa em relação à qualidade dos produtos e aos estoques de segurança, e também, devido às suas estratégias básicas. SCHONBERGER (1984, p. 162). Busca-se assim, a estabilidade através do equilíbrio das linhas, dividindo em partes iguais a série inteira das operações que nela precisam ser executadas, e atribuir a cada trabalhador um dos procedimentos. No entanto, isto “requer um alto investimento em máquinas e pode apresentar problemas com relação à qualidade dos produtos fabricados. Para os operadores costuma gerar monotonia e estresse” (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 139). Enquanto isto, os japoneses caminham no sentido contrário. Segundo Schonberger (1984, p. 162), “o Japão prefere dar o maior destaque possível à flexibilidade” tanto que, em “algumas subsidiárias japonesas que operam nos Estados Unidos estabelecem a flexibilidade no serviço como uma das condições para o ingresso do trabalhador.” (SCHONBERGER, 1984, p. 164). 2.4.3.1 Flexibilidade Em busca da flexibilidade, as empresas japonesas configuram grande parte da sua cadeia produtiva em células, conseguindo absorver as irregularidades internas, impostas pelas falhas de máquinas, atrasos na entrega dos fornecedores e mudanças nas características e quantidades que os clientes realmente desejam. Conforme Liker (2005, p. 107): Em vez de colocar um novo pedido no sistema e esperar semanas até que o produto esteja pronto, quando o lead time é de apenas algumas horas, podemos atender a um pedido em pouco tempo. E a mudança para uma diferente combinação do produto para executar as modificações exigidas pelo cliente pode ser quase imediata. A flexibilidade de uma célula apoia-se numa nova estirpe de colaboradores, consubstanciado no colaborador multifuncional (multiskilled workers) e de espírito de equipe, capaz de operar mais de uma máquina e responsável por mais de um processo, além de ser 81 capaz de ajudar outros colaboradores quando ocorrem gargalos, comum nas alterações dos modelos em produção ou quando um colega está ausente. Segundo Tubino (2000, p.152-154): A polivalência ou multifuncionalidade dos operadores se dá quando todos têm capacidade para executar as diferentes rotinas de trabalho da célula, não sendo necessário fixá-los num ou noutro posto de trabalho específico. Isso é obtido através de treinamento intensivo e rodízio de tarefas dentro da célula. Igualmente, os operários são os responsáveis pela manutenção preventiva das máquinas antes de iniciarem a jornada de trabalho, de controlarem a carga de trabalho para não sobrecarregar e colocar em risco os equipamentos e até, fazerem pequenos consertos. Isto porque, “a qualidade depende diretamente do estado de conservação das máquinas e equipamentos e a manutenção tradicional corretiva, não atende mais às necessidades das empresas de trabalhar com zero defeito.” (ZAGONEL, 2006, p. 26-27). A multifuncionalidade estende-se também às máquinas e dispositivos. Embora a capacidade possa ser menor do que uma série de máquinas com uma única função, as máquinas multifuncionais e dispositivos simples permitem ciclos e setup rápidos. Segundo Rother e Harris (2008, p. 36), “estes tipos de máquinas proporcionam maior flexibilidade às células para responder às mudanças. (Esta vantagem se mantém se os tempos de carga por máquina não ficarem muito altos).” 2.4.3.2 Produtividade As células de produção também objetivam o aumento da produtividade, conciliando as características dos arranjos físicos em linha e a flexibilidade dos arranjos físicos funcionais e a eliminação dos tempos de espera e transporte entre as operações. Assim, diferente das linhas, nas células, guiadas pelo fluxo unitário das peças, chamado em japonês chaku-chaku (de mão em mão), existem muito poucas atividades que não agregam valor ou que motivam o deslocamento de materiais e trabalho dos colaboradores, acontecendo sem qualquer perda de movimentos. (LIKER, 2005). 82 Figura 9: Fluxo de Produção Tradicional versus Fluxo Unitário Contínuo. Fonte: Ghinato, 2000. Enquanto na produção guiada pelo fluxo tradicional (empurrado), o operador libera o material em processamento para o próximo setor baseado em um programa de produção, na produção por fluxo unitário (puxado), tal como acontece nas células, o operador somente começa a trabalhar em uma peça, quando recebe um sinal da estação seguinte, de que uma ou outra peça é necessária. (Figura 9). Segundo Barbosa (apud SILVA, et al, 2010, p. 4): As células de manufatura, em comparação aos layouts tradicionais, provocam o aumento de 10 a 20 % na produtividade da mão-de-obra direta. Também trazem como benefício a diminuição entre 70 e 90% dos equipamentos de movimentação e manuseio dos materiais, a redução de 95% dos estoques em processo e a diminuição de 50% na área de fabricação. O aumento da produtividade não significa aumento dos problemas com qualidade. Ao contrário, nas células de produção, trabalhando através do fluxo unitário das peças, os próprios operários tornam-se responsáveis por inspecionar as peças que manipulam. Cada operador é um inspetor e trabalha para resolver qualquer problema em sua estação antes de passá-lo para a próxima. Mas se os defeitos não forem notados e passarem adiante, serão detectados rapidamente, e o problema poderá ser logo diagnosticado e corrigido. (LIKER, 2005, p. 106-107). Da mesma forma, o aumento da produtividade não significa necessariamente aumento dos custos, isto porque, através da eliminação das atividades que não agregam valor e especialmente, por liberar recursos através da eliminação ou a redução dos estoques em processo (work-in-process – WIP), disponibilizam capital para outros investimentos. Trata-se 83 da concretização do objetivo do sistema lean, isto é, reduzir os custos de produção, liberando recursos financeiros e aumentando os lucros da empresa. Uma célula de produção, conforme Liker (2005, p. 108): Libera o capital para outros investimentos quando ele não está sendo investido no estoque empilhado no chão. E as empresas não precisam arcar com os recursos de transporte do capitalque liberam. Além disso, a obsolescência do estoque é reduzida. Barbosa representa graficamente a relação entre os diversos layouts e os custos. (Gráfico 1). Gráfico1: Layout versus Custos de Fabricação. Fonte: Barbosa (2010, p. 2). Por fim, as células de produção permitem às empresas reduzir o lead time, isto é, o tempo de processamento ou fluxo de um pedido e o retorno de capital. Pelo mapeamento do fluxo de valor é possível reduzir o tempo entre o momento em que é colocado um pedido na empresa, a transformação da matéria prima em produto acabado e o momento em que o produto é entregue ao cliente. (ROTHER; HARRIS, 2008). 2.4.3.3 Configuração e formas As células de produção podem assumir várias formas, de acordo com os produtos que serão produzidos, as máquinas que serão utilizadas e as características das peças que serão manipuladas pelos operadores. (ROTHER; HARRIS, 2008; LIKER, 2005). Assim, as células podem assumir as formas de L, Z, S ou mesmo em linhas retas, permitindo ao trabalhador operar simultaneamente em dois lados, como ocorre nas cozinhas assim dispostas. No entanto, a forma mais comum é a configuração em U, tal como idealizado 84 pela Toyota, por reduzir os deslocamentos, conferir maior flexibilidade aos operadores, aproximar as áreas de trabalho e reduzir os custos. (Figura 10). Para a Toyota, as células devem ocupar “o mínimo de espaço possível, facilitando a comunicação face a face entre os trabalhadores, e evitando a armazenagem de estoques.” (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 67). Figura 10: Modelos de células de produção em U e Linhas Paralelas. Fonte: Elaborado pelos autores. Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009, p. 378): Num nível detalhado, as típicas técnicas de leiaute colocam as estações de trabalho próximas umas das outras de forma que seja fisicamente impossível aumentar o estoque simplesmente porque não há espaço para isso e organizam as células de uma forma que todos aqueles que contribuem para uma atividade comum estejam à vista dos outros e possam fornecer ajuda mútua, por exemplo, facilitando a movimentação entre as células para equilibrar a capacidade. Tendo em conta que a demanda não é fixa, mas é marcada por variações, a flexibilidade da mão de obra e o arranjo em células, a variação da produção, pode ser controlada pelo acréscimo ou retirando trabalhadores. (Figura 11). (ROTHER; HARRIS, 2008). 85 Figura 11: Número de operadores de acordo com a demanda. Fonte: Elaborado pelos autores. É neste sentido que Hyer e Brown (apud MARODIN; SAURIN, 2007) enfatizam que uma célula vai além do arranjo físico, mas o trabalho e os resultados dependem diretamente da interação entre os elementos tempo, espaço e informação. O elemento tempo refere-se ao espaço de tempo entre o final de uma tarefa e o início da próxima e a transferência e espera em relação aos produtos e materiais. A produção de pequenos lotes, baixo tempo de setup, multifuncionalidade e rodízio entre os postos de trabalho, são práticas que diminuem o efeito dos desperdícios de tempo no trabalho da célula. Considerado como fundamental para a implantação da célula, a redução do espaço entre os equipamentos é o elo de ligação entre os elementos tempo e informação, reduzindo os desperdícios relativos à transferência de materiais e a troca de informações entre máquinas e operadores. Por fim, a troca de informação entre operadores permitirá a solução dos problemas no trabalho da célula. Igualmente, a troca de informações com os demais setores da empresa, permitirá aos operadores conhecer os níveis de estoques, indicadores de metas, pedidos, problemas de qualidade, especificações, procedimentos, gargalos de produção, e outros fatores-chave para o desempenho da célula. A totalidade dos benefícios é alcançada apenas quando a célula de manufatura adere a disciplina de reunir, de forma harmônica, os três elementos, caracterizando assim uma célula [...]. A distribuição desigual da relação entre os elementos resultaria em outros tipos de células de manufatura, com um menor número de benefícios. (MARODIN; SAURIN, 2007, p. 70). 86 2.4.3.4 Nivelamento das células Em sistemas de manufatura tradicionais, orientada pelas previsões de demanda, o nivelamento do volume máximo de produção acontece em um horizonte de tempo, geralmente meses. Para tal, busca-se manter a capacidade constante, utilizando estoques para absorver possíveis ineficiências do processo e as flutuações da demanda. Neste contexto, uma demanda de uma centena de produtos (50 de A, 35 de B e 15 de C), na maneira tradicional, a ordem de produção seria fabricar todas as 50 unidades do produto A, fazer um setup e fabricar todas as 35 unidades de B e por fim, fazer mais um setup para a fabricação das 15 unidades do produto C. Realizando assim, três paradas nas máquinas para fazer os ajustes necessários para a fabricação de um produto diferente e produzindo estoques em processo (WIP). Igualmente, quando acontecem os picos de demanda, as empresas necessitam de uma capacidade extra, geralmente realizada sob a forma de horas extras, subcontratação de serviços, ou até, alterações dos prazos de entrega. Ao definir as estratégias de posicionamento de produtos, a empresa utiliza dados de previsões de vendas para balizar a sua produção, isto é, estimativas da demanda futura com base na demanda histórica e pesquisas de mercado. Neste caso, os estoques são vistos como um suporte ao plano estratégico da empresa. No entanto, visto que a demanda sofre variação mensal, em função das incertezas do mercado, as previsões estarão sujeitas a uma margem de erro, implicando excesso de estoques ou falta de produtos para a venda. (ARAÚJO, 2008, p. 17). Na produção enxuta, com base no plano mestre de produção, a empresa dimensiona os estoques em estimativas de demanda para um único mês. Na prática, para que seja efetivamente implantada a produção enxuta nas células, é necessário fazer o nivelamento e consequentemente, o balanceamento e a sincronização da produção. Primeiramente, efetiva-se o planejamento da capacidade com o balanceamento das células de montagem. Tendo como base a velocidade com que os clientes solicitam os produtos acabados (takt time), é determinado o número de operadores para fazerem a célula trabalhar e através do GBO (Gráfico de Balanceamento do Operador), onde estará “descrito a distribuição de trabalho entre os operadores em relação ao “takt time”, baseado em dados reais. [...] É quantitativo, simples, visual e retira os “chutes” e aproximações no projeto e operação eficiente de células baseadas em operadores.” (ROTHER; HARRIS, 2008, p. 30). 87 Após isto, é possível fazer o nivelamento da produção (leveling production), isto é, planejar e executar uma programação de produção igualitária de produtos, a cada hora ou a cada dia, para produzir pequenos lotes procurando ganhar rapidez e flexibilidade. “Nivelar é, portanto, uma forma de suavizar a produção, evitando flutuações ou picos que vão se espalhar pelos processos precedentes, gerando superprodução e estoque em excesso, ou seja, desperdícios.” (ZAGONEL, 2006, p. 50). Neste cenário, para a produção da mesma centena de produtos (50 de A, 35 de B e 15 de C), na maneira enxuta, a empresa, para melhorar o fluxo e diminuir os estoques, pode ordenar produção de 1/3 do lote de A, 1/3 do lote de B e 1/3 do de C nos primeiros dias do mês, repetindo ciclicamente a mesma sequência nos demais dias do mês. Pode ainda, dividir a demandade A, de B e de C pelos dias de trabalho do mês e produzir todos os dias um pouco de cada produto, de acordo com a necessidade de expedição dos produtos. (Figura 12). Figura 12: Nivelamento da produção. Fonte: Elaborado pelos autores. Para facilitar a comunicação e transparência, a Toyota implantou um quadro kanban mais detalhado e preciso, denominado heijunka box 12 . Segundo Zagonel (2006, p. 51): Trata-se de um quadro onde se pré-determinam os intervalos de tempo de produção, por exemplo, diária ou horária, e onde se colocam as encomendas dos clientes conforme um nivelamento calculado. Desta forma fica claro para todos os operadores o que deve ser fabricado e quando. Quando não acontece o nivelamento, aumenta a possibilidade de atraso, por exemplo, do produto C atrasar caso advenha qualquer imprevisto durante a produção e consequentemente, de todos os pedidos que contenham este produto. Além disso, no caso de 12 O heijunka box foi implantado primeiramente na área de manutenção da Toyota, para deixar claro aos operários desta área, o que teria de ser feito durante o dia e em que sequência deveria ser feito, conferindo uma visão global do trabalho. Posteriormente, usado na produção e por fim, implantado com sucesso também para sincronizar a produção com as dos fornecedores. (ZAGONEL, 2006). 88 haver um aumento de 20% na demanda do produto A, o mesmo não poderá ser incorporado na programação, pois o lote do produto A já foi produzido e o setup das máquinas pode aumentar os custos de produção da empresa. (INVERNIZZI, 2006). Por fim, deve-se sincronizar o trabalho da célula. Nos casos onde são produzidas peças intermediárias, a quantidade diária deve levar em conta a produção das linhas de produção final. Nos casos onde acontece a montagem final do produto, o sincronismo deve acontecer com os demais setores da empresa, especialmente a expedição, de forma que não se formem grandes estoques intermediários ou produtos prontos. (ZAGONEL, 2006). O nivelamento da produção dos processos anteriores às células é ordenado pelo sistema kanban, que servirá como uma ordem para a produção de um determinado item ou transporte de um item e na quantidade retirada para uso do supermercado. Conforme Zagonel (2006, p. 46), “é obter uma sincronização dos processos de forma que todos produzam somente o necessário, no momento e nas quantidades necessárias para abastecer o cliente.” 2.4.3.5 Rota de abastecimento Uma vez implantadas as células, constatou-se que o abastecimento destas apresentava muitos desperdícios, por utilizar equipamentos de movimentação pouco eficientes (empilhadeiras) e a falta de rotas padronizadas formava grandes estoques em torno das células. Ademais, o material era depositado longe dos postos de trabalho, fazendo com que os operadores parassem o trabalho e saíssem das células para abastecerem seus postos. A solução para a eliminação destes desperdícios, fazendo as células trabalharem com duas horas de material (ROTHER; HARRIS, 2008) e principalmente, evitar que os operadores deixassem suas atividades ou as células, quebrando o fluxo contínuo e interrompendo a produção, a Toyota passou a estabelecer rotas de abastecimentos. Nestas rotas, o movimentador, como normalmente é denominada a pessoa responsável por esta função, disponibiliza aos operários das células as quantidades e modelos de peças necessárias e fazendo fluir a matéria prima através do just in time. Não coloque estoque adicional de peças dentro ou próximo do processo, pois isto torna a operação na célula ou linha mais difícil de entender e encoraja os operadores a buscarem suas próximas peças. Isto pode reiniciar o problema do trabalho fora do ciclo. (ROTHER; HARRIS, 2008, p. 46). 89 A fim de agilizar e agregar valor ao trabalho do movimentador e evitar possíveis desperdícios, como a busca por materiais e a verificação das peças necessárias, as rotas e o trabalho do movimentador foram padronizados e programados. Assim, os horários de partida e os trajetos a serem percorridos são previamente determinados e as paradas, acontecem somente em pontos pré-estabelecidos. Assim, segundo Rother e Harris (2008, p. 46), “se o movimentador de materiais falhar na entrega ou na programação, a célula ou linha irá parar em breve, forçando os gerentes a resolver esse problema do fluxo de material.” Igualmente, as quantidades e os contenedores utilizados para as entregas, são definidos de acordo com o trabalho dos operadores, pela quantidade múltipla dos contenedores de peças acabadas, o tempo de abastecimento e as peças a serem entregues. Pelos cartões kanban, o movimentador deve abastecer apenas a quantidade e as peças que realmente estão sendo usadas na produção. Se determinada linha de montagem não está pronta para receber componentes, nenhum componente deve ser entregue. Materiais em excesso geram seus próprios problemas de qualidade e suas próprias complicações. Levam ao desperdício de energia humana e espaço físico. (BATTAGLIA, 2010). Para facilitar o abastecimento, o pitch e especialmente, facilitar a disponibilidade do material para os operadores, as células podem contar com prateleiras dinâmicas (flow racks) e prateleiras com sistemas deslizantes por gravidade. Estes dispositivos permitirão armazenagem segura e adequada a todos os materiais, que ficarão ao alcance das mãos dos operadores, facilitando o acesso bem como a movimentação. Igualmente, podem contar com o sistema FIFO (First In, First Out), que assegurará que o primeiro item a entrar será o primeiro item a sair. O movimentador de materiais também pode ser o responsável pela retirada dos produtos acabados. Baseado no pitch, isto é, “o “talk time” multiplicado por um determinado número de peças que dá um incremento prático de tempo para a liberação e retirada de trabalho da célula” (ROTHER; HARRIS, 2008, p. 66), o movimentador abastecerá as células pelos próximos 30 minutos de produção e simultaneamente retirará 30 minutos de produção. 90 2.4.3.6 Padronização dos trabalhos A padronização do trabalho consiste na descrição simples, prática e de forma ordenada, de cada atividade do trabalho. Trata-se da sequência que é tido como a melhor maneira de realizar determinado conteúdo de trabalho, num dado momento. Embora muitos associem “padronização” a engessamento, ausência de criatividade e pouca ou nenhuma participação dos operadores na elaboração, a padronização pode proporcionar flexibilidade e permitir que as pessoas que executam as tarefas, pensem sobre o que estão fazendo e proponham melhorias, constituindo uma nova referência, o novo padrão. Na Toyota o TP (Trabalho Padronizado) é tratado com extrema seriedade e é através dele que se sustenta a desejada estabilidade no sistema produtivo. Essa estabilidade tem um grande impacto na segurança no trabalho, na qualidade da execução das tarefas que reflete na qualidade do produto e obviamente na produtividade. E como consequência disso a sua influência na moral dos colaboradores torna-se um fator diferenciado de competitividade e de motivação, pois o trabalhador que sabe claramente o que, onde, quando, porque e como as tarefas devem ser executadas, torna-se um colaborador esclarecido e ainda tem no TP uma referência para melhorias contínuas. (KOSAKA, 2010). Constituindo a base para “a melhoria contínua, inovação e o crescimento dos funcionários” (LIKER, 2005, p. 153), os padrões no sistema lean, afixados nas células, contêm o tempo de ciclo, o takt time (ritmo definido pelocliente), a sequência de trabalho das tarefas após algum tempo de aprendizagem e experiência, dimensões e tolerâncias, parâmetros de operações do equipamento (tempo, temperatura, pressão, etc.) e o estoque mínimo disponível para realizar a atividade. Elaborados pelo supervisor ou o líder de equipe da produção, juntamente com os operadores da célula e o suporte do departamento técnico, os padrões de trabalho devem ser suficientemente específicos “para serem guias úteis, mas também gerais o suficiente para permitir alguma flexibilidade.” (LIKER, 2005, p. 153). 91 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 FINALIDADE DA PESQUISA A pesquisa realizada foi de natureza aplicada, tendo por finalidade, gerar novos conhecimentos, resultados e sugestões viáveis para a implantação da célula de montagem da churrasqueira elétrica Fischer. O pesquisador trabalha com problemas humanos; entender a natureza de um problema para que se possa controlar o ambiente. A fonte das questões de pesquisa é centrada em problemas e preocupações das pessoas e o propósito é gerar soluções potenciais para os problemas humanos. (ROESCH, 2006, p, 60). Quanto aos objetivos, a pesquisa realizou-se na forma exploratória, procurando a familiarização com os problemas, a fim de torná-los explícitos e assim, construir soluções. Para tanto, o trabalho compreendeu pesquisa bibliográfica, contatos com pessoas que tiveram experiências práticas com os conceitos e elementos pesquisados e que estimulem a compreensão do tema e levem a mudanças. Para Antonio Carlos Gil (2007, p. 41): Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. 3.2 TIPO DE PESQUISA Buscando uma compreensão mais detalhada e aprimorada do tema em questão, a pesquisa deu-se em caráter qualitativo e quantitativo. Pela quantitativa, traduziu-se em números opiniões e informações, obtidas com a utilização de técnicas estatísticas, a fim de classificá-las e analisá-las. (Gonsalves, 2007). Através da pesquisa qualitativa, onde não houve a aplicação de métodos e técnicas estatísticas, mas interpretaram-se os fenômenos e atribuiram-se significados aos elementos, como exige este tipo de pesquisa. (Gonsalves, 2007). Com o intuito de relacionar a teoria e prática e ainda, ajudar na solução de problemas e quebra de paradigmas, usaram-se os procedimentos técnicos baseados na pesquisa 92 bibliográfica, isto é, pesquisa em livros, revistas, internet e outros artigos relacionados ao tema. Pela pesquisa bibliográfica, foi possível o contato com experiências e escritos que tratam diretamente ou não do tema. Igualmente, na opinião de Gil (2007, p. 44), “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.” Buscando o aprimoramento dos resultados da pesquisa e obter soluções viáveis, recorreu-se, também, à pesquisa documental, ou seja, utilizou-se o sistema, métodos e outros meios de registro de dados disponibilizados pela empresa. Conforme Gil (2007, p. 45): A pesquisa documental assemelha-se muita à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas esta na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA A elaboração e a aplicação do presente trabalho restringe-se à área produtiva da empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio, mais exatamente ao setor de produção da churrasqueira elétrica e setores diretamente ligados à fabricação deste produto. Nesta e a partir desta área e setor, buscou-se conhecer e analisar o sistema de produção dos dois modelos da churrasqueira elétrica, adotado pela empresa há alguns anos. Associando estes dados com os dados, conceitos e referências colhidas a partir da pesquisa bibliográfica, foi possível elaborar propostas e posteriormente, aplica-las na prática, através da implantação da célula de montagem da churrasqueira elétrica. Além daquelas delimitações a que os trabalhos científicos naturalmente estão sujeitos, no presente trabalho, almejando a objetividade na pesquisa bibliográfica e a praticidade na aplicação do mesmo, foram afirmados outros limites, que tangem os seguintes aspectos: - Na fundamentação teórica, os temas não foram analisados de forma ampla e completa, mas foram determinados os conceitos básicos e imprescindíveis para a compreensão do tema e a sua aplicação prática. 93 - O estudo foi realizado na área de produção de uma empresa do ramo metal mecânico, com características e modelos específicos, não podendo assim, ser generalizado, imediatamente, para as outras empresas do mesmo ramo de atuação. - No estudo realizado, não são analisadas todas as perdas de produção da empresa, mas apenas, aquelas que ocorriam na linha de montagem da churrasqueira, que não são mensuradas monetariamente. 3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Segundo Mattar (1999, p. 43), “a coleta de dados compreende o efetivo trabalho de recolhimento dos dados junto à fonte de dados”, a fim de manipulá-los e obter resultados, que, devidamente analisados e interpretados, fundamentam o central de uma pesquisa. Parte dos dados, os denominados secundários, imprescindíveis para a elaboração da fundamentação teórica, foram coletados em livros e artigos publicados em revistas e internet. Estes dados, além de contribuírem para a compreensão dos conceitos e elementos fundamentais relacionados ao tema, serviram de base para a fundamentação das ações apresentadas para solução do problema da questão. Outra parte dos dados, os chamados primários, foram coletados em documentos disponibilizados pela empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio. Trata-se dos relatórios dos setores de vendas, PPCP, engenharias de produtos e processos e comunicações internas, relatórios gerenciais, ordens de produção, entre outros. Estes documentos, por não terem recebido um tratamento analítico, podem gerar dificuldades de compreensão para muitos, mas constituem uma “fonte rica e estável de dados.” (GIL, 2007, p. 46). 3.4.1 Análise e interpretação A análise e interpretação dos dados é uma etapa de grande importância e acima de tudo, fundamental para que o trabalho tenha êxito. De acordo com Mattar (1999, p. 45) “a análise e interpretação compreendem a transformação de dados brutos coletados em informações relevantes para solucionar ou ajudar na solução do problema que deu origem à pesquisa.” Segundo Gil (2007, p. 125): 94 O processo de análise dos dados envolve diversos procedimentos: codificação das respostas, tabulação dos dados e cálculos estatísticos. [...] a interpretação dos dados, que consiste, fundamentalmente, em estabelecer a ligação entre os resultados obtidos com os já conhecidos, quer sejam derivados de teorias, quer sejam de estudos realizados anteriormente. Os dados de caráter documental obtidos foram analisados na sua totalidade, buscando verificar a relação entre os objetivosda pesquisa e os objetivos da empresa. A análise dos dados permitiu identificar e diagnosticar a situação atual, as ferramentas e os métodos utilizados para adequar seus processos produtivos à demanda e às técnicas empregadas para trabalhar a produção e a flutuação do mercado. A análise e a interpretação dos dados secundários contribuíram para clarificar o tema, a situação atual da área de atuação e a interpretação do problema. Ademais, ofereceram uma fundamentação histórica e conceitual para as propostas sugeridas, além de ilustrar o trabalho com exemplos e resultados alcançados por outras empresas que implantaram a produção enxuta e principalmente, a célula de produção. 95 4 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA 13 4.1 HISTÓRICO DA EMPRESA A empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio originou-se a partir de uma modesta oficina de consertos de bicicletas, criado por Ingo Fischer em 1961, num prédio alugado na Rua Barão do Rio Branco, número 326, sob denominação de Oficina de Consertos de Bicicletas. (Figura 13). Figura 13: Prédio alugado para início das atividades. Fonte: Fischer (2010). Já em 7 de janeiro de 1966, os irmãos Ingo e Nivert Fischer, contando com um capital inicial de Cr$ 2.000,00, fundaram a empresa Irmãos Fischer Indústria e Comércio Ltda e gradativamente, foram envolvendo os irmãos Edemar, Egon e Norival Fischer, nas atividades da empresa, em tempo parcial ou integral. A nova empresa tinha por objetivo o conserto de geladeiras, fogões a gás, fornos elétricos e entre outros, a fabricação sob encomenda, de equipamentos e fornos elétricos em aço inoxidável. Dois anos após a fundação, a empresa construía seu primeiro prédio, com uma área de 458m², na Rua Gregório Diegoli, para onde transferiu suas atividades em 1969, quando realizou a contratação dos primeiros colaboradores. 13 Dados coletados no site da empresa, disponível em: http://www.fischer.com.br e documentos internos da organização. 96 Paulatinamente, a empresa aplicava seu know-how na fabricação de novos produtos e com o crescimento da indústria pesqueira em Santa Catarina, na segunda metade dos anos 60, iniciou as atividades de fabricação de equipamentos especiais para o beneficiamento do pescado. As mesas, tanques, mesas para descascar camarões e lavador de pescado, levaram a empresa a tornar-se o maior fabricante do Brasil, fornecendo tais equipamentos para todo o país e até mesmo a outros países sul-americanos. Tal posição permitiu assumir a representação, para todo o Brasil, da famosa marca europeia Baader. Diante das potencialidades mercadológicas e a experiência na fabricação de máquinas para a indústria pesqueira e a necessidade de diversificar sua linha de produtos, a empresa passou a especializar-se na fabricação de equipamentos para matadouros, açougues, frigoríficos e abatedouros de aves. Igualmente, estabeleceu parceria com a Meyn e depois a com a Stork, duas grandes empresas holandesas, especializadas na fabricação de máquinas especiais para abatedouros e frigoríficos. Nesta parceria, a empresa atuou como agente intermediário internacional, na maioria das transações entre esses grupos e os abatedouros e frigoríficos nacionais ou mesmo como fábrica terceirizada de produtos Meyn e Stork, quando os mesmos não eram automáticos. Entre os principais clientes estavam os frigoríficos: Frangosul, Perdigão, Sadia, Ceval, Frigobrás. A fabricação de máquinas especiais e respectivas representações foram encerradas definitivamente em 1995. Decorridos seis anos de atividades, em assembleia realizada em janeiro de 1972, a empresa transformou-se em uma Sociedade Anônima, alterando sua razão social para Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio e admitindo seus primeiros colaboradores como sócios acionistas. Diante da instabilidade que envolvia a indústria pesqueira e alimentícia, a empresa optou por fabricar fornos elétricos para o uso doméstico. Para tal, em 1973, foi implantada a primeira linha de montagem. Com o incentivo do governo à construção civil, a Irmãos Fischer instalou em 1975, uma área fabril para a produção de carrinhos de mão, usados na construção civil. Já em 1981, deu-se o início da produção de artefatos de borracha, como pisos e pneus para carrinhos de mão, cuja aquisição de pneus de borrachas prontos tornou-se dificultosa. Em 1982, a empresa adquiriu uma nova área fabril, na altura do Km 23 da Rodovia Antônio Heil e registrada com a razão social de: Indústria de Máquinas Fischer S.A. Buscando expandir sua linha de produtos e atender os produtores de diversas regiões do país, 97 as novas instalações foram destinadas à fabricação de máquinas para costurar folhas de fumo e canos para estufas de secagem deste produto. Ante a franca expansão do mercado da construção civil, que já absorvia toda a produção de carrinhos de mão e pisos de borracha, a empresa adquiriu em 1983, a ASEAN Indústria de Peças Especiais de Borracha Ltda, a fim de atender sua demanda de rodados para carrinhos de mão e dos recém-lançados carrinhos de transporte de materiais da construção civil. Diante das novas expectativas no mercado, a Indústria de Máquinas Fischer S.A., passou a produzir em 1984, betoneiras e guinchos para construção civil. Assim, a empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio já atuava nos seguimentos de máquinas e equipamentos especiais, fornos para uso domésticos, carros para construção civil, artefatos de borracha e betoneiras. Perante a complexidade legal e fiscal, em ter funcionando no mesmo local, três empresas de razões sociais distintas, nos anos 1989 e 1990, as empresas Indústria de Máquinas Fischer S.A. e a ASEAN Indústria de Peças Especiais de Borracha Ltda, foram fundidas a Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio. A empresa iniciou, em 1989, a fabricação de churrasqueiras elétricas, e no mesmo ano, inaugurou uma nova unidade fabril com área de 16.200 m², localizado na Rodovia Antônio Heil, visando reunir num só conjunto e instalações inteiramente modernizadas, os diversos setores de fabricação. Em parceria com a empresa argentina Longvie em 1995, foram lançados e comercializados até o ano de 1999, no mercado brasileiro, dois modelos de lavadoras de roupa, uma delas pioneira com inclusão de secagem. No mesmo ano, a empresa passou a fabricar bicicletas para esporte, transporte e infanto juvenil, nas modalidades masculina e feminina. Tratava-se de um resgate do produto que deu origem à empresa e o ingresso num ramo em franca expansão. Tal como havia acontecido com os diversos setores de fabricação, em 1 o de abril de 1996, aconteceu a transferência dos escritórios administrativos e da diretoria para as instalações junto à Rodovia Antônio Heil. Concluía-se assim, a reunião de todos os setores num mesmo local. Neste mesmo ano, foi inaugurada a Associação Recreativa Cultural e Beneficente Arthur Fischer, destinada às atividades sociais e culturais dos funcionários. No ano de 2000, a empresa lançou no mercado as caixas d'água em aço inoxidável, com capacidade para 500, 1000, 1500 e 2000 litros. Mas, diante de alto custo e da 98 concorrência com as caixas fabricados em amianto e cloreto de polivinila, a fabricação do produto foi encerrada em 2007. Em 2001, a empresa iniciou a fabricação e comercialização do forno a gás, para uso doméstico (depois desativado) e dos fogões a gás de embutir, nas versões em vidro e aço inoxidável, que logo se tornaram líderes no mercado. A empresa expande sua linha de produtos em 2002, com o lançamento de diversos modelos de coifase depuradores e, no mesmo ano, da secadora de roupas “Amiga”. Assim, a empresa passava a focar suas forças no segmento de built-in, com a complementação da linha de fogões, coifas e depuradores, consolidando no ano seguinte, a liderança nacional neste segmento com o lançamento do forno elétrico de bancada e de embutir. No ano de 2003, com algumas alianças em O.E.M. (Fabricante Original do Equipamento), foi a empresa que mais comercializou fogões de mesa e fornos de embutir, no país. O ano de 2004 foi marcado pelo lançamento da produção de fogões de embutir com mesa vitro-cerâmica e o lançamento do forno de embutir, com frontal vidro/inox e do fogão com tripla-chama. Neste mesmo ano, a empresa vendeu mais fogões de embutir que todos os demais fabricantes somados. No ano de 2005, recebeu o “Selo CONPET” do Programa Nacional de Racionalização do Uso de Derivados de Petróleo e do Gás Natural, dado o baixo consumo energético dos fogões Fischer. Continuando a ampliação da linha de produtos, a empresa realizou o lançamento de dois modelos de churrasqueira a gás de embutir, com 3 ou 5 espetos rotativos, e do forno elétrico de embutir, com frontal de aço escovado e branco. No ano em que completava 40 anos de fundação, em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), deu início as modificações estruturais na produção, treinamento dos colaboradores para pequenas ações e a documentação dos procedimentos e processos para a obtenção do certificado ISO-9001. Também neste ano, reafirma a eficiência energética dos fogões Fischer, recebendo novamente o “Selo CONPET”. Diante das perspectivas de expansão, a empresa realiza a reforma do seu escritório de São Paulo e inaugura em 2007, a ampliação do parque fabril em 15 mil m², do Centro de Convivência Olga Fischer e da instalação de showroom e espaço gourmet, junto à área administrativa. Promove a entrada da empresa no ramo de forno micro-ondas de embutir, fogões de indução e steel-line esmaltado. 99 Neste mesmo ano, recebeu novamente o “Selo CONPET” de eficiência energética. Igualmente, recebeu os prêmios “Balanço Anual”, da Gazeta Mercantil como a maior empresa do setor Linha Branca; “Grandes e Líderes”, ocupando a 73ª posição em Santa Catarina e 304ª entre as 500 maiores do Sul, “Campeã da Inovação”, ficando entre as 30 empresas mais inovadoras da região sul e troféu “Quality Brasil”. Em 2008, diante do aumento das vendas e o crescimento da demanda, a empresa passou a investir na ampliação do parque fabril, mudanças no lay-out e depois de uma longa e sólida preparação, alcançou a certificação ISO-9001:2000 para todas as suas instalações, maquinários, procedimentos industriais e administrativos e todos os produtos fabricados e comercializados pela empresa. A fim de consolidar sua liderança no segmento, promove o lançamento do fogão cooktop TOP (único no país com alimentação a gás e energia elétrica no mesmo aparelho) e Fogão Sistema Dominó (composto por dois queimadores a gás, um queimador tripla chama e dois queimadores elétricos). Igualmente, lança no mercado, o forno elétrico digital Lumem de embutir, a coifa de ilha redonda e a betoneira 130 litros. Em mais um ano, recebeu vários e importantes premiações. “Balanço Anual” da Gazeta Mercantil, como a maior do setor Linha Branca; “Grandes e Líderes” ocupando a 66ª posição em Santa Catarina e 298ª entre as 500 maiores do Sul do país; “Gigante da Ecologia” e a “Comenda Ecológica”, pela atuação responsável na utilização dos recursos naturais em seu segmento de atuação; “Selo CONPET” pela eficiência energética dos seus produtos; e, “Quality Brasil”, pela qualidade dos produtos. No ano de 2009, a empresa passou a investir na modernização dos equipamentos, mudanças no layout das instalações fabris, buscando prepará-las para futuros aumentos na demanda e reformas na área administrativa, destacar a aparência e a funcionalidade. Promove o lançamento da Coifa digital e Coifa de 60 cm com campana em vidro; Forno Maximus de embutir, com capacidade de 56 litros; Fogão de mesa em vidro, com quatro queimadores e tripla chama e trempe dupla e a inovação nos fornos de bancada, lançando versão em aço inox, digital e analógico. Entre os prêmios recebidos neste ano, destacam-se o “Troféu Orgulho Brasileiro” do canal televisivo SBT; novamente o “Selo CONPET” pela eficiência energética de seus produtos; e “Grandes e Líderes”, ocupando a 49ª posição em Santa Catarina e 259ª entre as 500 maiores do Sul. O ano corrente tem sido marcado com o lançamento das bicicletas Vector e Altay, na linha full e Dakar, a primeira bicicleta brasileira dobrável. Da mesma forma, a empresa entra 100 para a história com o lançamento da Casa Modular Fischer, fabricadas a partir de aço carbono, com revestimento em EPS e PVC e pintura eletrostática a pó, que garante durabilidade e fino acabamento. 4.2 INFRAESTRUTURA FÍSICA Os 70.000 m² que constituem o parque fabril da empresa Irmãos Fischer S.A Indústria e Comércio, estão dispostos numa área de 3.600.000 m², localizado na Rodovia Antônio Heil, na altura do Km 23, no Bairro Limoeiro, na cidade de Brusque. (Figura 14). Figura 14: Foto aérea e da recepção da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Fonte: Irmãos Fischer (2010). O parque fabril está dividido em três unidades produtivas: - Bike: Unidade destinada à fabricação de bicicletas, na linha adulta e infantil, para esporte, lazer e transporte, nas versões masculinas e femininas. - Central: Unidade dedicada à fabricação das três principais linhas de produtos da empresa: Produtos para utilidades domésticas (fornos elétricos, churrasqueira elétrica, fogões de mesa a gás, elétricos e de indução, coifas e depuradores de ar, secadoras de roupas); Produtos para construção civil (betoneira em quatro modelos (tamanhos), carrinhos de mãos 101 de diversos modelos em ferro e polipropileno); E, produtos de artefatos de borracha (pisos antiderrapantes e pneu maciço para carrinhos de mão). - Casa: Unidade designada à fabricação da Casa Modular Fischer. Também disposto junto ao parque fabril, o Centro de Convivência Olga Fischer, abriga o Departamento de Recursos Humanos, vestiários e área de lazer dos colaboradores. A empresa conta ainda, com um escritório de vendas localizado na Rua Inhambú, bairro Moema, na cidade de São Paulo, capital, que presta apoio aos representantes da região sudeste. Como todas as grandes empresas, a Irmãos Fischer S.A. conta com um grande número e variedade de equipamentos, que servem e auxiliam seus colaboradores no trabalho diário. Entre outros, são servidores, hardwares, calculadoras, faxes, impressoras multifuncionais, aparelhos de telefone, móveis e utensílios, materiais de escritórios e uma central de telecomunicações. Igualmente, a empresa conta com uma enorme variedade de máquinas e equipamentos. Sobressaem-se as prensas hidráulicas e excêntricas, dobradeiras CNC, viradeiras, guilhotinas, tornos CNC e manuais, ponteadores, máquinas de solda, linhas de montagem e pintura a pó, empilhadeiras de tração elétrica e GLP, fresadoras, máquinas de corte mecânico, automático e laser, máquinas para o corte, curvar e dobra tubos, injetora de poliuretano e, uma da linha de puncionadeiras e corte automático. Destacam-se ainda, as impressoras matriciais e térmicas, balanças digitais, rebitadeiras, parafusadeiras pneumáticas, calibradores automáticos, lixadeiras, maçaricos de corte e máquinas de enrraiamento e calibração das rodas das bicicletas. A relação de veículos da empresa inclui caminhões, ônibus, furgões e automóveis. 4.3 ESTRUTURA ADMINISTRATIVAA estrutura administrativa da empresa Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio, formada pelo conjunto ordenado das responsabilidades, autoridades, comunicações e decisões das unidades organizacionais, está estruturada e disposta de acordo com os departamentos e as relações hierárquicas. Apresentado como instrumento que dispõe das funções de administração, a fim de facilitar o alcance dos objetivos estabelecidos pela empresa, é representado pelo seguinte o organograma. (Figura 15). 102 Figura 15: Organograma da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Fonte: Adaptado pelos autores A empresa é essencialmente familiar e está assim administrada: Cargo Responsável Presidente Ingo Fischer Vice-Presidente Nivert Fischer Diretor Comercial e Financeiro Edemar Fischer Diretor Industrial Norival Fischer Diretor de Suprimentos Egon Fischer Quadro 1: Diretores da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Fonte: Elaborado pelos autores. O quadro de colaboradores da Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio, contava no mês de julho, com 790 colaboradores, divididos da seguinte forma: Área Quantidade Presidência/Vice 2 Diretoria 3 Gerência 8 103 Gestores 4 Compras/Logística/Custos 9 Vendas/Marketing/Assistência Técnica 30 RH/Segurança/Enfermaria 10 Contabilidade/Financeiro 15 Outras áreas 53 Supervisão 12 Operacional 629 Menor aprendiz 15 Quadro 2: Principais departamentos e número de colaboradores. Fonte: Elaborado pelos autores. A empresa tem como missão: “Fornecer produtos que facilitam o trabalho do lar, equipamentos que auxiliem no desenvolvimento da construção civil inclusive moradias de qualidade e satisfazer as necessidades de transporte individual dos clientes.” (Irmãos Fischer, 2005). Buscando o atender à missão, é a empresa se propõe a seguinte visão: Alcançar os melhores padrões possíveis de produção, que proporcionarem competitividade constante no mercado cada vez mais exigente, garantindo o sucesso do empreendimento e com ele o crescimento e estabilidade social de quantos nele fundamentam sua existência. (Irmãos Fischer, 2005). Seu plano de ação, desde sua fundação em 1966, têm como princípio: Uma gestão de valorização profissional, respeitando todos os meios, como ambiente, bem estar social, distribuição de riqueza, de qualidade de vida, levando a seus colaboradores, fornecedores, cliente e consumidores finais, um produto de alta qualidade e tecnologia, que é distribuído em todo país e no exterior. (Irmãos Fischer, 2005). 4.4 SERVIÇOS PRESTADOS A Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio atua na fabricação de produtos de eletrodomésticos, construção civil, bicicletas e casas modulares, vendidos para todo território nacional, através de representantes e um departamento de televendas, que dá suporte constante para os representantes. Estas vendas são direcionadas apenas para clientes Fischer, que estejam em sua carteira de clientes e para lojistas que atuam no ramo do segmento. 104 A empresa disponibiliza aos seus clientes e consumidores finais, diversas ferramentas para o apoio de pós-vendas: Garantia em todos os seus produtos; Televendas; Sac 0800; Assistências Técnicas em todo país; E, site com informações, loja virtual e ferramenta para contato (www.fischer.com.br). A maioria de seus clientes está nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo e representam 80% do faturamento. São lojas de Eletrodomésticos, Departamentos, Materiais de construção, Hipermercados e Atacadistas. Dentre os principais podemos citar: Clientes Estado da Matriz Lojas Colombo RS Lojas Becker RS Benoit RS Volpato RS Salfer SC Koerich SC Breithaupt SC Angeloni SC Wal-Mart SP Grupo Pão de Açúcar SP Carrefour SP Magazine Luiza SP Casas Bahia SP Globex – Ponto Frio RJ Lojas Gazin PR Quadro 3: Principais clientes da Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Fonte: Elaborado pelos autores. A Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. tem como fornecedores várias empresas nacionais, destacando como principais: Empresa Material Estado Arbame Cabos elétricos SP Acesita Chapa em aço inox SP Zoppas Resistências elétricas SP Usiminas Chapa em aço carbono SP Sabaf Componentes para fogão SP Viprado Vidros temperados RS Marcegaglia Tubos industriais SC Zanotti Componentes plásticos SC Unifrax Manta de vidro SP 105 Colibri Componentes plásticos SC Quadro 4: Principais fornecedores da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Fonte: Elaborado pelos autores. 4.5 LINHAS DE PRODUTOS DA EMPRESA A linha de produção da Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio abrange quatro divisões especiais: Eletrodomésticos, construção civil; bicicletas e casa modular em aço. (Figura 16). Figura 16: Produtos da empresa Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. Fonte: Elaborado pelos autores. Na divisão de eletrodomésticos, a empresa fabrica e comercializa fornos elétricos de bancada e de embutir, fogões de embutir em vidro vitrocerâmico, temperado e aço inox escovado, churrasqueiras elétricas e de embutir a gás 3 e 5 espetos, depuradores de embutir e de ambiente, coifas de ilha e de parede. No segmento da construção civil, a empresa fabrica e disponibiliza ao clientes as betoneiras com capacidade de 400 e 130 litros, carrinhos de mão com capacidade de 106, 85, 80, 60 e 50 litros e pisos de borracha isolante e antiderrapante. 106 Entre os modelos fabricados e comercializados na divisão de bicicletas, destacam-se as bicicletas Full Suspension em alumínio e aço aro 26 e 20, MTB e Passeio, em aro 26 masculino e feminino, Dakar dobrável e Ferinha aro 20, 16 e 12. Na divisão de casa, lançada neste ano no mercado, realiza a fabricação e a comercialização da casa modular em aço Fischer. Embora não seja possível mensurar a participação da casa modular nas vendas da empresa, os produtos da empresa, participam nos seguinte percentuais nas vendas da Irmãos Fischer S.A. Indústria e Comércio. (Gráfico 2). Gráfico 2: Participação dos produtos nas vendas da empresa. Fonte: Elaborado pelos autores. 107 5 ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL E IMPLANTAÇÃO DA CÉLULA Depois da fase da coleta de subsídios e do conhecimento teórico acerca do desenvolvimento e implantação de uma célula de montagem, passou-se a realizar a coleta de dados, que permitam traçar um diagnóstico da situação atual e a elaboração de propostas. Para tanto, buscou-se delinear informações sobre o mercado, o produto, programação da produção e principalmente, sobre a linha de montagem, procurando analisar detalhes que servirão de base para as melhorias e implantação da célula de montagem. 5.1 MERCADO Depois de vários anos de testes, para corrigir elementos falhos de um modelo alemão, que levaram o produto ao desuso nos países europeus, a Irmãos Fischer iniciou a produção da churrasqueira elétrica, em 1989, primeiramente em aço inoxidável e depois de alguns anos, posteriormente em aço carbono esmaltado, que garante a durabilidade e a facilidade na limpeza (easy clean). Sob as configurações Grill e Swift Gril, a churrasqueira elétrica pode ser classificada na perspectiva do marketing, quanto à durabilidade e tangibilidade, como um bem de consumo. Quanto aos bens de consumo, a churrasqueira pode ser classificada como um bem de compra comparada, pois diante da variedade demodelos e fabricantes no mercado, o consumidor deverá fazer uma comparação entre os produtos da Fischer e da concorrência, entre os preços, qualidade, estilos e cores. Representando um pouco mais de 4% do faturamento da empresa em 2009, as vendas da churrasqueira elétrica Fischer têm aumentado consideravelmente nos últimos dez anos. (Gráfico 3). Gráfico 3: Crescimento das vendas de churrasqueiras elétricas. Fonte: Elaborado pelos autores. 108 A venda da churrasqueira elétrica Fischer acontece em todo o território nacional, com predominância na região sul do País. Igualmente, mesmo em quantidades não muito expressivas, o produto tem levado a marca da empresa ao exterior, especialmente aos países integrantes do Mercosul. (Gráfico 4). Gráfico 4: Distribuição das vendas das churrasqueiras elétricas. Fonte: Elaborado pelos autores. Tomadas individualmente, isto é, por Estados, as vendas mais expressivas da churrasqueira elétrica acontecem em Santa Catarina, São Paulo e Goiás, tal como pode ser visto a seguir (Gráfico 5). Gráfico 5: Vendas das churrasqueiras elétricas por Estados. Fonte: Elaborado pelos autores. 109 5.2 PRODUTO Conforme a empresa anuncia em seu site (www.fischer.com.br), a churrasqueira elétrica, pelas medidas e peso, é um produto fácil de transportar e de manusear, podendo ser usada interna ou externamente. Conforme Manual de instruções (FISCHER, 2010, p. 4), o produto tem as seguintes características, formas e especificações técnicas. (Figura 17). Figura 17: Características dos modelos de Churrasqueiras. Fonte: Fischer (2010, p. 4). O produto é composto basicamente por cinco elementos. (Figura 18). Cabo: Composto pelo pegador superior e inferior, produzidos a partir de polímeros, que resistem às altas temperaturas e o cabo elétrico, que liga o produto na rede elétrica. Resistência: Elemento blindado (removível) ligado à rede elétrica pelo cabo elétrico e plugue. É a área que aquecerá e assará os alimentos. Cuba: Produzida a partir da estampagem em blaque de aço carbono, posteriormente esmaltada para garantir a durabilidade e facilitar a limpeza. Suporta a resistência e a grade, além de servir como depósito da gordura originária dos assados. Grade: Superfície cromada e removível onde serão depositados os alimentos Puxadores: Elementos que permitem movimentar confortavelmente o produto. 110 Figura 18: Churrasqueira Elétrica Fischer. Fonte: Adaptado a Fischer (2010, p. 3). 5.3 PROGRAMAÇÃO DE PRODUÇÃO DA CHURRASQUEIRA ELÉTRICA Tal como as demais empresas guiadas pela produção em massa, a Irmãos Fischer S.A. utiliza dados oriundos de previsões de vendas para balizar a produção da churrasqueira elétrica, isto é, a partir de estimativas traçadas pelo departamento Vendas, com base na demanda histórica, pesquisas de mercado e as sazonalidades que poderão influenciar as vendas, são estabelecidos e orientados os recursos produtivos para a fabricação do produto. A partir destes dados, o PPCP compõe o Planejamento Mestre de Produção (PMP), buscando a melhor utilização dos recursos da organização, o cumprimento dos prazos de entrega aos clientes e assim, alcançar os objetivos estratégicos da empresa. Para a elaboração do Plano Mestre de Produção, também são levados em conta os pedidos firmados em carteira, pedidos de peças para reposição, quantidades para testes e exposição em feiras, os estoques de segurança e possíveis restrições de capacidade. Segundo Araújo, são informações “relevantes para que o sistema de produção possa ser programado em termos de capacidade, recursos e metas de produção.” (2008, p. 18). Tendo determinado as quantidades a serem produzidos (meta de produção), as informações são introduzidas no sistema MRP (Materials Requirement Planning) que gerará uma estimativa detalhada (desagregada) de consumo dos diversos itens que compõem cada produto acabado. Para determinar o consumo dos diversos itens, o sistema MRP, independente da empresa que desenvolveu o software, leva em consideração, segundo Slack, et al (2009) informações como a estrutura dos produtos (a partir da “explosão das listas de materiais” - bill of materials), estoques (produtos acabados e em processo), lead time, níveis de qualidade e a disponibilidade dos equipamentos. 111 Depois de delineada uma programação da produção considerada viável, gerada a partir dos dados do sistema MRP, são emitidas as ordens a fim de disponibilizar os itens para a montagem final da churrasqueira elétrica. São ordens de compras para os itens comprados (rede elétrica, etiquetas, embalagens, resistências e grades), de fabricação interna (corte da blanque, estampagem e impressão das etiquetas) e externa (esmaltação) e consequentemente, a montagem final do produto, tal como havia sido estipulado no plano mestre de produção. (Figura 19). Plano mestre da produção Programação da produção Ordem de Compras Ordem de Fabricação Ordem de Montagem Figura 19: Programação da produção da churrasqueira elétrica. Fonte: Elaborado pelos autores. Em função da disponibilidade de equipamentos, tempos de setup e estoques, o volume de peças necessárias para a montagem das churrasqueiras, tal como o corte das blaques e estampagem das cubas, são divididos em grandes lotes, a fim de serem providos dentro do mês. 5.4 LINHA DE MONTAGEM De acordo com Martins e Laugeni, entende-se por linha montagem “uma série de trabalhos comandados pelo operador, que devem ser executados em sequência e que são divididos em postos de trabalho, nos quais trabalham um ou mais operadores com o auxílio de máquinas.” (1998, p. 145). As linhas de montagem foram possíveis a partir do desenvolvimento e utilização de máquinas e ferramentas capazes de trabalhar os aços mais rígidos e produzir altos volumes de peças e um sistema de medidas, que permitiram padronizar, intercambiar e ajustar as peças. As linhas de montagem revolucionaram os processos de montagem e incorporaram os elementos principais da administração científica (desenhos padronizados, produção em 112 larga escala, baixos custos de manufatura, mecanização, especialização de mão de obra e peças intercambiáveis). A linha de montagem móvel de Ford consistia em duas tiras de lâmina de metal, sob as rodas nos dois lados do carro, deslocando-se ao longo de toda a fábrica. No final da linha de montagem, as tiras, montadas sobre uma correia transportadora, rolavam para baixo do assoalho, voltando ao início. [...] Como Ford só necessitava da correia e de um motor elétrico para movimentá-la, o custo era mínimo. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 17). A introdução de estoques de peças e materiais necessários para a execução das atividades junto aos postos de trabalho, possibilitou movimentar o item em produção em direção ao trabalhador, que permanece no mesmo local o dia todo. Isto acabou com as perdas de tempo com a movimentação e os engarrafamentos de operários em busca das peças. O montador da linha de produção em massa de Ford tinha apenas uma tarefa: ajustar duas porcas em dois parafusos ou, talvez, colocar uma roda em cada carro. Não tinha ele de solicitar peças, ir atrás das ferramentas, reparar seu equipamento, inspecionar a qualidade ou mesmo entender o que os operários ao seu redor estavam fazendo. (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 19). As linhas de montagem aumentaram a qualidadedos produtos e a eficiência e produtividade dos operários e das empresas. Igualmente, diminuíram os esforços e as fadigas dos trabalhadores e reduziram drasticamente os custos do produto, proporcionando “ao mundo um painel vivo e dramático da realização de Ford” (WOMACK; JONES; ROOS, 2004, p. 16). A inovação de Ford logo despertou a atenção dos competidores e de empresas dos mais diversos ramos, que passaram a distribuir sua produção em linhas, inclusive no Brasil. Na empresa Irmãos Fischer, as linhas de montagem foram introduzidas no ano de 1995, para a fabricação dos fornos elétricos. Progressivamente, passaram a fazer parte do layout da empresa. Inicialmente, tendo em conta a pequena demanda, a churrasqueira elétrica era produzida em bancadas giratórias, onde os operadores permaneciam no mesmo local e depois de realização do trabalho em cada posto, a bancada era movimentada, permitindo aos operários realizarem o trabalho no produto disposto à sua frente. Por ocasião das oscilações na demanda, decorrentes de sazonalidades, a produção passava a ser realizada nas linhas de montagem dos fornos e fogões, quando da disponibilidade destas. 113 Somente nos anos de 2002 e 2003 foi implantada uma linha de montagem dedicada exclusivamente à produção da churrasqueira elétrica. Utilizando um ou dois turnos de trabalho, a linha conseguia atender a demanda que paulatinamente crescia. Por isto, este arranjo era tido como o mais adequado para a montagem contínua do produto, que mostrava um alto grau de padronização e pouca diversificação (mesmo tamanho em duas voltagens). 5.4.1 Demanda e tempo padrão da linha de montagem Depois de vários aperfeiçoamentos ao longo dos anos, a atual linha de montagem da churrasqueira elétrica, disposta em 34, 98 m², está configurada para atender, sob um turno de trabalho, a demanda mensal determinada. Com base no histórico de vendas (Gráfico 6), a demanda mensal média de churrasqueiras elétricas é de 12.000 (doze) mil unidades. Possíveis sazonalidades na demanda ou pedidos extras, provenientes de empresas nacionais e estrangeiras, serão atendidas com trabalho em turno ou horas-extras. Gráfico 6: Demanda mensal de julho de 2009 a junho de 2010. Fonte: Elaborado pelos autores. 114 Para atender a demanda estipulada, a produção da churrasqueira é dividida ao longo do mês com base no tempo padrão, isto é, “o tempo necessário para executar uma operação de acordo com um método estabelecido, em condições determinadas por um operador apto e treinado, possuindo habilidade média, trabalhando com esforço médio durante todas as horas de serviço.” (TOLEDO JUNIOR, 2007, p. 119). A partir da cronometragem, eliminação dos valores irregulares e feita uma média ponderada dos valores verificados in loco, o tempo padrão da linha de montagem ficou estabelecido em 40,8 segundos ou 0,68 minutos por unidade. No cálculo do tempo padrão, foram agregados possíveis tempos de perdas, decorrentes de interrupções, problemas logísticas, setups, e outras paradas. Estas possíveis perdas perfazem 10% e influenciam diretamente na eficiência. Como a linha de montagem conta com um operador (“coringa”) responsável por substituir os operadores temporariamente, o dispêndio de tempo para as necessidades fisiológicas não é incluído no cálculo do tempo padrão. A partir do tempo padrão, foram definidos os números de operadores da linha e a capacidade produtiva horária, diária, semanal e mensal. Assim, para um turno de trabalho de oito horas de trabalho (ou 480 minutos), é possível produzir 700 unidades por dia (valor arredondado). Capacidade = 480 m = 705 ou 700 unidades/dia 0,68 m Desta forma, reunindo as condições ideais, conforme o padrão planejado objetiva-se alcançar sempre uma produtividade de 100% ou 700 unidades, podendo inclusive, ultrapassar este percentual devido às variáveis decorrentes da mão de obra e índices adotados de ritmo, tolerâncias pessoais e esforços. Consequentemente, a meta mensal de 12.000 unidades estipulada para o mês de abril, poderia ser alcançada em 17 dias, restando cinco dias para a recuperação de quantidades atrasadas, atender pedidos extras ou alocar os operadores em outros setores da empresa. No mês no qual foi realizada a coleta dos dados, que permitiram delinear a situação atual, a linha de montagem produziu 12.714 unidades do produto, em 21 dias de trabalho, significando que, o tempo dispendido para a produção unitária, semanal e mensal, foi além do tempo padrão. O fato deve-se principalmente pelas paradas na linha, provocados entre outros, pela falta de material, problemas de qualidade, retrabalhos ou alocação temporariamente dos operadores para outros setores. 115 5.4.2 Postos de trabalho e os operadores Para a realização da montagem da churrasqueira elétrica, a linha está dividida em cinco postos de trabalho, distribuídos ao longo da linha, onde trabalham sequencialmente por meio do FIFO e naquilo que Fusco e Sacomano denominam de produção “contínua com diferenciação.” (2007, p. 30). Assim, trabalhando em um fluxo contínuo, os postos de trabalho são responsáveis pela agregação física de componentes que, paulatinamente, vão formar o produto final, ao longo da esteira em movimento. Igualmente, acontece a diferenciação da churrasqueira elétrica em duas voltagens (110 v e 220 v) e dois tamanhos (Grill ou Swift Grill). Mesmo apresentando uma acentuada inflexibilidade, a configuração em linha é apropriada para as empresas que trabalham com altas taxas de produtividade, grandes volumes de produção, utilizando equipamentos especializados e realizando produtos altamente padronizados. (FUSCO; SACOMANO, 2007). Figura 20: Linha de montagem da churrasqueira elétrica. Fonte: Elaborado pelos autores. Os postos de trabalho, ilustrado na figura, são responsáveis pelas seguintes operações: Posto 1: Parafusar o puxador dianteiro e traseiro na cuba, colar etiqueta no puxador dianteiro e colocar os manuais de instruções e dos postos autorizados. 116 Posto 2: Parafusar a parte inferior e superior do cabo na resistência, testar o isolamento elétrico da resistência e colocar o conjunto na cuba. Posto 3: Colar a etiqueta de voltagem na rede elétrica, alocar a grelha no conjunto de rede e resistência, montar a embalagem individual e embalar o produto. Posto 4: Colar as etiquetas com os números de série (branca para 220v ou amarela para 110v) e aviso “plugues com 3 pinos”, selar a parte inferior da caixa coletiva, etiquetar as caixas individuais, depositá-las na caixa coletiva, selar a parte superior e dispô-las no pallet Na produção em forma contínua, as atividades são sequenciais e padronizadas, ou seja, o operador é responsável por adicionar determinadas peças, que automaticamente ajustam-se ao produto em montagem e numa sequência pré-determinada para tal. Assim sendo, os postos de trabalho não têm necessidade de operadores especializados ou que entendam o processo na totalidade. Consequentemente, o treinamento dos operadores limita-se ao ensinamento daquilo que deve ser realizado no posto. O ganho de ritmo, velocidade e produtividade, é alcançado com o tempo e por ora, amortecidos pelos tempos ociosos dos postos e da esteira. E, como é comum na produção em massa, a linha de montagem conta com um operador extra, denominado “coringa” (elemento número 5 da figura). Tendo um papel fundamental na estabilização das condições operacionais da linha, é responsável pelo abastecimento dos postos, retirada dos produtos acabados e, sobretudo, por conhecer todas as operações dos postos de trabalho, substituios operadores que necessitam deixar seu posto ou não compareçam ao trabalho e assumir pequenas operações ou preparações. 5.4.3 Balanceamento da linha de montagem Balancear uma linha de produção é ajustá-la às necessidades da demanda, maximizando a utilização dos seus postos de trabalho, buscando unificar o tempo unitário de execução do produto em suas sucessivas operações. (ROTHER; HARRIS, 2008). Igualmente, pelo balanceamento é possível sequenciar as operações necessárias para a montagem do produto, evitando a sobrecarga de algum posto de trabalho, evitando desigualdade de tempos e consequentemente, acúmulos de estoques nos postos posteriores, gerando gargalos. No balanceamento observado (Gráfico 7), os tempos de ciclo, ou sejam, as divisões das tarefas na linha de montagem da churrasqueira elétrica, não acontecem de forma 117 igualitária, tal como é recomendado pelos escritores da área produtiva. (DAVIS; CHASE; AQUILANO, 2001). O fato deve-se à existência de tarefas que não podem ser divididas ou transferidas em partes para outros postos, decorrente, principalmente, do projeto do produto e a existência de peças que devem ser adicionadas paralelamente no mesmo processo de fabricação. Gráfico 7: Balanceamento da linha de montagem da churrasqueira elétrica. Fonte: Elaborado pelos autores. Para a realização do balanceamento da linha, tomou-se como base o tempo padrão de 40,8 segundos. Deste modo, é possível verificar que a carga de trabalho dos postos é muito inferior ao tempo disponível, garantindo que a taxa de produção não irá diminuir (mais de 40,8 segundos disponíveis), podendo apenas aumentar (menos de 40,8 segundos disponíveis) ou, como foi planejado e é desejável, que permaneça estável, isto é, nos exatos 40,8 segundos disponíveis. Da mesma forma, é possível observar que o maior tempo no balanceamento está no primeiro posto que, consequentemente, irá ditar o ritmo da linha. Enquanto a diferença entre o seu tempo gasto para realizar os elementos do posto e o tempo padrão configuram os tempos de tolerância pessoal, estresse mental e fadiga, na diferença entre os tempos dos postos 1, 2, 3 e 4 em relação ao primeiro posto, representam tempos de perda ou ociosidade. Embora a localização do posto de trabalho tenha sido determinada pelo tempo de ciclo, procurando minimizar os tempos ociosos, ou seja, a distância entre o posto 1 e o posto 2 118 é menor, dado o fato do tempo de ciclo do segundo posto ser menor que os demais. No entanto, esta alternativa minimiza, mas não elimina o desperdício do tempo ocioso. Para manterem-se em atividade, os operadores passam a produzir peças para a formação de estoques ou simplesmente, ficam ociosos esperando o produto em montagem chegar ao seu posto de trabalho. 5.4.4 Estoques na linha de montagem Entendem-se estoques como quaisquer quantidades de bens físicos, tanto na forma de produto acabado, aguardando a venda ou o despacho, como matérias-primas e componentes que aguardam para serem utilizados nos processos de fabricação, mas que sejam mantidos, de forma improdutiva, por algum intervalo de tempo. (MOREIRA, 1999). Para Slack, Chambers e Johnston (2009), os estoques são formados pela existência de uma diferença de ritmo, ou seja, uma diferença entre o fornecimento e a demanda de material. Caso os itens fossem fornecidos exatamente no momento em que fossem demandados, não haveria estoques. Na prática, embora os estoques sejam parte do capital à disposição da empresa, representam uma estagnação de recursos financeiros, isto é, são cifras que deixam de girar ou serem aplicadas ou investidas em outras fontes de lucros. Por outro lado, representam uma segurança para a organização, no sentido que absorvem ineficiência em um ou mais processos ou as sazonalidades de abastecimento e vendas. Em suma, os estoques, em maior ou menor grau, mesmo que indesejáveis, são um mal necessário. Tratando-se da churrasqueira elétrica, a quantidade de estoque de matéria prima representa uma semana e meia de trabalho da linha de montagem e a quantidade de produto acabado soma cerca de 12.000 unidades ou um mês de demanda, que aguardam a venda ou os despachados, conforme os pedidos colocados pelos clientes. Embora representem quantidades altas, elas obedecem a critérios estipulados pela empresa. Ao longo da linha de montagem também existem estoques de material. (Quadro 6). Trata-se de matéria-prima que abastecerá os postos de trabalho ou material que já sofreu algum processo de transformação, mas deixado de lado por algum motivo. A quantidade de estoque de grelha, por exemplo, permite abastecer a linha por mais de um dia. 119 Itens Quantidade Dias de trabalho Rede elétrica 220v 512 0,73 Rede elétrica 127v 640 0,91 Parafuso 3,5x35 3840 5,49 Parafuso 3,5x12 1280 1,83 Manual de instrução 640 0,91 Manual da rede de autorizados 512 0,73 Puxador dianteiro e traseiro 640 0,91 Cuba 50 0,07 Cabo superior e inferior 301 0,43 Embalagem coletiva 160 0,23 Embalagem unitária 640 0,91 Grelha 806 1,15 Etiqueta 1280 1,83 Resistência elétrica 320 0,46 Quadro 5: Estoque em processo. Fonte: Elaborado pelos autores. A formação do estoque em processo, disposto ao longo da linha de montagem, deve- se, especialmente, às mudanças de ordens de fabricação (mudança de voltagem, modelo ou por um pedido extra), falta de itens necessários para a montagem do produto, obrigando a mudança de modelo ou voltagem e grandes contenedores que obrigam o abastecimento em quantidades superiores à demanda diária e a sobra de material de “ranchos” disponibilizados nos dias anteriores para a linha, conforme ordens de montagem. 5.5 ÍNDICADORES DE DESEMPENHO DA LINHA DE MONTAGEM Os indicadores podem ser entendidos como representações visuais ou numéricos, que expressam uma situação real, de determinada atividade e num determinado espaço de tempo e local. Através dos indicadores, as organizações podem otimizar a eficiência de suas operações e promover melhorias. Segundo Costa Junior (2008, p. 21): Através dos indicadores, a empresa pode obter o monitoramento dos processos produtivos, o gerenciamento das atividades, o acompanhamento das metas e dos objetivos. Além disso, também é possível mostrar tendências, identificar fatores de risco, focalizar ações de melhoria e validar as ações implementadas. 120 Embora existam vários indicadores a serem explorados pelas organizações, no presente trabalho serão explorados e servirão de comparativos da linha e célula de montagem, os indicadores de eficiência e produtividade. 5.5.1 Eficiência da linha de montagem A eficiência, como indicador, está diretamente ligada à meta, ou seja, a quantidade planejada, estipulada e esperada pela empresa, a partir do tempo padrão e da capacidade produtiva de determinado processo. Deste modo, a eficiência pode ser definida pela divisão entre a quantidade produzida e a quantidade planejada para determinado período de tempo. Eficiência = Quantidade produzida Quantidade planejada Por exemplo, a produção semanal planejada para uma linha de montagem do produto A é de 2.400 peças (60 peças por hora, 8 horas de trabalho por turno e 5 dias na semana), mas neste intervalo de tempo, a linha conseguiu produzir apenas 1.992 peças. A divisão entre a quantidade produzida pela quantidade planejada (1.992 / 2.400) mostra que a eficiência da linha da montagem ficou em 83%. Na linha de montagem da churrasqueira elétrica, no mês observado, foram produzidosna primeira semana 3.170, 2.854 na segunda semana, 3.194 na terceira semana e 3495 na quarta semana, correspondendo a índices de eficiência 75,48%, 81,54%, 90,06% e 99,89% sucessivamente. (Gráfico 8). Gráfico 8: Índices de eficiência da linha de montagem. Fonte: Elaborado pelos autores. 121 Embora o índice mensal médio fique em 86,74%, dada a relação entre a quantidade produzida e a quantidade planejada e esperada para o mês, o percentual de eficiência da linha de montagem, calculado no geral, ultrapassa os 100%. Eficiência = 12.714 = 105,95% 12.000 Mesmo que a linha tenha superado a meta, os coeficientes de eficiência semanal foram crescendo gradativamente, graças ao trabalho de gerenciamento dos recursos e dos departamentos auxiliares, que procuraram minimizar ou mesmo, eliminar as paradas por falta de matéria prima, mau aproveitamento do equipamento, falta de mão de obra, manutenção, set-up e todas as paradas do equipamento não previstas dentro do tempo padrão, mas que interferem no índice de eficiência. 5.5.2 Produtividade da linha de montagem A produtividade pode ser entendida como um indicador ou índice de eficiência do trabalho humano, de um setor ou mesmo, da empresa, no tempo efetivo para a realização das atividades. Calculado pela “relação entre o produzido (output) e os recursos empregados para produzi-los (input).” (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 13), pode ser determinado pela relação entre a quantidade possível no tempo disponível, subtraída a quantidade possível no tempo parado e a quantidade produzida, isto é, a quantidade equivalente ao tempo disponível para a produção, determinado pelo descontado dos tempos de paradas, pelos mais diversos fatores. Produtividade = Quantidade produzida Quantidade planejada - Quantidade possível no tempo parado Assim, conforme equação é possível verificar que a linha de montagem atendeu a quantidade de 12.000 programadas e estipulada como meta. No entanto, a quantidade produzida no tempo efetivo, descontando os tempos de parada, os índices de produtividade semanal ficaram em 92,11% na primeira semana, 83,99% na segunda semana, 91,26% na terceira semana, 101,15% na quarta semana. (Gráfico 9). 122 Gráfico 9: Índices de produtividade semanal da linha de montagem. Fonte: Elaborada pelos autores. Considerando os índices semanais, a produtividade mensal média da linha de montagem ficou em 92,12%, o mesmo valor, quando calculado pelos resultados totais do mês. Produtividade = 12.714 = 92,12% 14.700 - 899 5.5.3 Outros indicadores da linha de montagem Embora não tão usuais, para fins de comparação é possível traçar outros indicadores da linha de montagem. Pode-se, por exemplo, determinar a produção mensal de peças por operador, tomando como input a quantidade produzida e como output o número de operadores. Produção/operadores = 12.714 = 2.543 pçs/operador 5 Igualmente, é possível determinar a produção mensal de peças por espaço ocupado pela linha de montagem, equacionando como input a quantidade de produtos acabados produzidos no mês e como output a área ocupada pela linha. Produção/m² = 12.714 = 363 pçs/m² 35 5.6 IMPLANTAÇÃO DA CÉLULA DE MONTAGEM De posse dos dados da situação atual coletados in loco na linha de produção, passou- se a estudá-los, a fim de delinear a proposta que serviu de base para a implantação da célula de montagem da churrasqueira elétrica Fischer. 123 5.6.1 Ritmo de produção (“takt time”) O termo takt time originalmente é composto pelos termos takt que na língua alemã denota o compasso de uma música e time, que no inglês, significa tempo. Com o passar do tempo, passou a ser utilizado na indústria de aviação alemã e foi incorporado rapidamente às práticas da Toyota na década de 50, para significar o ritmo de produção (LIKER, 2005). Também pode ser entendido como o tempo no qual o produto deve percorrer os fluxos produtivos, a fim de atender ao ritmo de compra dos clientes. (ROTHER; HARRIS, 2008). Em outros termos, o takt time (ritmo de produção) significa a velocidade na qual os clientes solicitam os produtos acabados e consequentemente, representa disponível para a empresa para fabricar o produto. Vincula-se assim, a taxa e o ritmo de produção ao ritmo de compras do cliente. Consequentemente, o takt time é calculado pela relação do tempo efetivo disponível por turno de trabalho (já descontadas as paradas dos operadores para as refeições, reuniões, limpeza e outros motivos que podem parar a produção), pela demanda do cliente por turno. No caso da churrasqueira elétrica (nos dois modelos), a demanda ficou estabelecida pelos departamentos de Vendas, com base no histórico de vendas do produto, pesquisas de mercado e possíveis sazonalidades que poderiam influenciar as vendas, em 12.000 unidades. Embora não interfiram nos cálculos ou alterem drasticamente a produção, a demanda total foi dividida nas proporções de 75% no modelo Grill e 25% no modelo Swift Grill e estes percentuais, subdivididos conforme a tensão do produto, ou seja, 38% do modelo Grill deve ser na voltagem 110 e 62% na voltagem 220 e 30% do modelo Swift Grill deve ser na voltagem 110 e 70% na voltagem 220. Inicialmente, as 12.000 unidades do produto seriam produzidas no espaço de tempo de 22 dias úteis de trabalho, divididos em turnos de 8 horas cada. No entanto, diante da adequação dos horários à determinação judicial 14 , o tempo útil para a produção foi aumentado para 23,44 dias e os turnos de trabalho, de segunda a sexta-feira, foram reduzidos para 7,5 horas cada (sete horas e meia) e os sábados para 6 horas (seis). Disponibilizando assim, 2610 minutos por semana. 14 O Ministério Público do Trabalho e o Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, mediante alegação de que, apenas 30 minutos de parada interferem na higiene, saúde e segurança do trabalhador. Assim, consideraram inválidos os acordos ou convenções coletivas de trabalho realizadas pela maioria das indústrias catarinenses, que reduzia para 30 minutos o tempo para descanso e refeições e o cumprimento da jornada de 44 horas semanas em dois períodos integrais no sábado. 124 Segundo Rother e Harris (2008), a determinação do takt time se dá pela divisão do tempo disponível para a produção, pela quantidade demandada para o período. Dada a diferença de horas nos dias disponíveis para o trabalho na semana, optou-se equacionar o tempo e a demanda semanal e posteriormente, converter o tempo em segundos. Takt time = 2.610 minutos/semana = 0,87 min ou 52 segundos 3.000 unidades/semana Assim, a célula de montagem terá no máximo 52 segundos para disponibilizar uma churrasqueira elétrica para ser expedida ao cliente. Também, se o tempo de fabricação for menor que os 52 segundo, conforme o pensamento lean, ocorrerá à superprodução e se, levar mais do que este tempo, fará o cliente esperar pelo produto que comprou. 5.6.2 Conteúdo do trabalho da linha de montagem Após a determinação do takt time, procurou-se verificar e definir os elementos de trabalho contidos na montagem da churrasqueira elétrica. Buscou-se enumerar os elementos reais, cronometrá-los e identificar e eliminar aqueles considerados desperdícios óbvios antes mesmo da implantação da célula. 5.6.2.1 Kaizen no papel A partir dos dados coletados junto à linha de montagem, que caracterizam a situação atual, passou-se a elaborar o kaizen no papel, a fim de avaliar e detectar os elementos plausíveis de eliminação ou melhoriase enumerar os elementos compatíveis com a produção enxuta. Kaizen na língua japonesa significa mudança (kai) e bom/para melhor (zen), isto é, sugere melhores mudanças. Segundo Costa Junior (2008, p. 27), pode-se definir kaizen como “um processo de aprimoramento contínuo, que consiste na busca de melhorias pela inovação dos processos produtivos, dos potenciais de melhoria, o que é possibilitado pela participação de todos os colaboradores na resolução dos problemas.” Segundo Rother e Harris (2008, p. 21): Denominamos esta abordagem de eliminação imediata das etapas desnecessárias de “kaizen no papel” porque você está eliminando alguns desperdícios no papel, antes do processo ser colocado em prática. Naturalmente, muitas melhorias deverão ser 125 feitas quando a nova célula estiver pronta e operando. Mas, existem normalmente muitos desperdícios que você pode eliminar no estágio do kaizen papel. Para tanto, foram observados, enumerados, cronometrados e anotados na folha de estudo do processo, todos os elementos que fazem parte da montagem da churrasqueira elétrica. Do mesmo modo, os elementos de trabalho atual foram filmados, a fim de prover e confirmar com mais exatidão os tempos de cada elemento. Ademais, permitiu esclarecer dúvidas e verificar falhas durante a execução do trabalho nos postos. Durante este trabalho, procurou-se identificar aqueles elementos considerados como desperdícios, isto é, as atividades desnecessárias, como as caminhadas dos operadores, os trabalhos fora do ciclo para pegar periodicamente as caixas com peças ou movimentar contenedores e as esperas ocorridas em função da velocidade da esteira. Estas atividades, no ponto de vista do cliente, não adicionam valor e para tanto, plausíveis de eliminação imediata por ocasião da implantação da célula. Estudo do Processo: Montagem Churrasqueira Elétrica P o st o s Operador M en o r R ep et id o C ic lo C o m p le to Elementos de Trabalho Tempos Observados (seg) P o st o 1 Pegar cuba e colocar no dispositivo. 5,2 3,6 4,2 4,3 2,9 3,6 3,7 4 35,7 Pegar alça dianteira, colocar no dispositivo e fixar. 15,8 11,0 16,9 10,9 10,3 12,3 11,3 11 Colocar etiqueta na alça dianteira. 2,8 2,9 3,3 3,1 3,0 3,1 3,2 3 Pegar alça traseira, colocar no dispositivo e fixar. 13,8 10,1 9,8 11,7 11,7 11,6 12,5 11 Retirar a cuba do dispositivo e colocar manual. 3,3 2,8 3,0 3,4 2,6 3,4 3,1 3 MOVIMENTO DA ESTEIRA 36 P o st o 2 Colocar parte inferior do cabo no dispositivo. 2,4 1,8 1,4 1,6 1,7 2,0 1,7 2 35,4 Pegar resistência e fixar na rede elétrica. 2,9 3,1 3,2 3,5 3,4 3,2 3,0 3 Colocar resistência no dispositivo. 4,1 4,0 6,4 4,5 3,6 5,0 5,6 4 Pegar e fixar rede elétrica na parte inf. do cabo. 12,1 10,3 11,0 9,9 12,1 11,3 11,0 11 Fixar as partes do cabo e parafusar. 6,4 6,4 7,4 6,8 6,5 6,6 7,4 7 Testar resistência. 2,8 3,2 3,1 2,5 2,3 2,9 2,7 3 Colocar resistência na cuba. 1,8 2,0 1,7 1,3 1,1 1,6 1,5 2 MOVIMENTO DA ESTEIRA 21 P o st o 3 Etiqueta rede elétrica. 5,1 4,6 4,4 4,7 5,0 5,5 5,1 5 30,8 Colocar grelha na resistência. 1,6 2,2 2,2 1,7 1,5 2,0 2,1 2 Fixar o cabo da resistência na cuba. 1,4 1,6 1,6 2,0 1,3 1,1 1,1 1 Montar caixa individual. 3,1 3,1 3,7 2,9 3,0 3,0 3,0 3 Colocar o produto na caixa e fechar a caixa. 6,3 6,6 5,7 6,3 6,3 7,7 6,2 6 MOVIMENTO DA ESTEIRA 57 P o st o 4 Colar etiqueta na caixa individual. 1,1 1,0 1,1 1,1 1,1 1,2 1,0 1 35 Colar etiquetas na caixa coletiva. 2,8 3,1 3,2 3,3 2,9 2,9 3,1 3 126 Montar e colar caixa coletiva. 4,7 4,9 4,9 4,2 4,6 4,2 4,0 4 Etiquetar caixa individual (3 pinos) 1,4 1,6 1,6 1,6 1,5 1,8 1,5 1 Colocar caixa individual na caixa coletiva. 2,9 2,8 2,8 3,1 2,9 2,9 2,8 3 Fechar caixa coletiva. 4,4 5,6 6,1 5,9 5,7 5,4 5,7 6 Colocar caixa coletiva no pallet. 4,7 4,8 4,5 5,1 5,2 4,6 4,2 5 Quadro 6: Postos, tempos individuais e tempo do ciclo completo. Fonte: Elaborado pelos autores. A determinação dos elementos de trabalho para a realização do kaizen no papel, permitiu identificar, através de várias cronometragens, os tempos reais necessários para a realização dos elementos individuais de cada posto de trabalho e o tempo do ciclo completo de trabalho de cada operador, para comprovar a existência de movimentos e atividades desnecessárias. (Quadro 6). Igualmente, a coleta dos tempos de cada elemento de trabalho tornou possível, comprovar a existência de desperdícios entre, o tempo real necessário para a execução das atividades e o tempo completo de ciclo das atividades totais de cada operador, passíveis de visualização no gráfico de balanceamento do operador (GBO). 5.6.2.2 Gráfico de balanceamento do operador Tendo à disposição os elementos de trabalho e os respectivos tempos, foi possível aplicar a ferramenta denominada gráfico de balanceamento do operador (GBO) ou diagrama de coluna, a fim de visualizar as possíveis melhorias pelo kaizen. Conforme Rother e Harris (2008, p. 30): O GBO é um quadro onde está descrito a distribuição de trabalho entre os operadores em relação ao “takt time”, baseado em dados reais que você mesmo observou e registrou. Ele é quantitativo, simples, visual e retira os “chutes” e aproximações no projeto e operação eficientes de células baseadas em operadores. Pode-se dispor o gráfico de balanceamento do operador (GBO), da seguinte forma: 127 Gráfico 10: GBO da situação atual e o melhorado. Fonte: Elaborado pelos autores. 128 Dispondo os elementos de trabalho da situação melhorada (Gráfico 10), conforme o quadro de operadores da linha de montagem e confrontando-os com o takt time, foi possível verificar que são utilizados mais operadores que o necessário. Gráfico 11: GBO por operador na situação melhorado. Fonte: Elaborado pelos autores. Pelo GBO por operador, foi possível constatar-se os tempos necessários para a realização dos elementos de trabalho, estariam abaixo do talk time e em dois casos, se os totais dos elementos de trabalho são menores que a metade do takt time, o que provocaria desperdícios. (Gráfico 11). Assim, constatou-se que, não seria necessário o número de operadores utilizados outrora na linha e pelo balanceamento dos elementos de trabalho, os tempos ociosos poderiam ser eliminados. 129 5.6.2.3 Grupo de melhorias Depois da análise e descrição da situação encontrada na linha de montagem, enumeração das melhorias, possíveis eliminações por ocasião da implantação da célula de montagem e a formatação de uma proposta acerca dos itens adjacentes à implantação, foi constituído um grupo de melhorias multidisciplinar. Na formação deste grupo, buscou-se envolver profissionais de diferentes níveis e departamentos da empresa. Para tanto, foram convidados o gerente industrial, supervisores de produção da área de eletrodomésticos e membros dos departamentos de Desenvolvimento de Processos e Produtos, Custos e os operadores selecionados para o trabalho na célula. Nas reuniões do grupo, com o auxilio das filmagens realizadas da situação atual e das simulações, foram analisado criticamente os apontamentos do kaizen no papel e as propostas para a implantação da célula; igualmente, foram questionados os pontos duvidosos e, sobretudo, colhidas sugestões de melhorias no projeto do produto e no processo de montagem. A partir das reuniões do grupo, surgiram propostas que iam além da implantação da célula de montagem. Diante da viabilidade e aprovação das propostas pela gerência,foram modificados, por exemplo, a forma de paletização e armazenamento do produto acabado, para evitar a deformação das caixas coletivas, principalmente, por ocasião da umidade no inverno. (ANEXO C). 5.6.3 Máquinas, layout e gerenciamento de material Tendo identificado e enumerado os elementos de trabalho necessários para a montagem da churrasqueira elétrica, voltou-se a atenção para o arranjo das máquinas, estações de trabalho e o sistema de gerenciamento dos materiais, que permitirão o fluxo contínuo na célula de montagem. 5.6.3.1 Máquinas e equipamentos Como a montagem do produto não exige operações de preparação do material, isto é, não é necessário realizar operações de adaptação da matéria prima antes de agregá-la ao produto, a célula de montagem da churrasqueira não exigirá grandes ou complexas máquinas. 130 Além disso, o tamanho, o peso do produto e a simplicidade dos elementos de trabalho em cada estação de trabalho, não exigirão a automação de algum destes elementos. Assim, optou-se pela utilização de máquinas e equipamentos simples, ergonomicamente corretos e principalmente, dispô-los em locais que não obstruam os movimentos dos operadores, mas que, em movimentos curtos e rápidos os tivessem em mãos para a utilização. Perante a perspectiva de custos, buscou-se verificar a compatibilidade de algumas máquinas usadas na linha de montagem. Assim, por exemplo, as parafusadeiras foram reaproveitadas. Da mesma forma, os dispositivos 15 de teste da resistência e montagem dos puxadores na cuba, foram revistos e adaptados para comportarem as cubas dos dois modelos de churrasqueiras, evitando assim, futuras perdas com setup. Diante dos bons resultados alcançados em outro setor da empresa, optou-se por instalar uma máquina automática para a vedação das caixas coletivas, procurando ganhar alguns segundo na execução deste elemento de trabalho e também, a redução de custos. (ANEXO E). 5.6.3.2 Layout Como visto anteriormente, existem várias formas para a disposição de uma célula de montagem. Com base nos benefícios elencados na literatura pesquisada e várias simulações de layout, optou-se pela configuração da célula em forma de U. Igualmente, a escolha apoiou-se nas afirmações de Rother e Harris (2008, p. 42) acerca desta forma: Um processo que evita as ilhas isoladas de atividades, minimizará a acumulação de estoque entre os processos, eliminará caminhadas excessivas, removerá obstáculos existentes no caminho e trará as etapas de criação de valor tão próximo uma às outras quanto possível. Nesta forma, as máquinas e estações de trabalho foram dispostas o mais próximo possível, procurando respeitar uma largura mínima de 1,5 metros no interior da célula de montagem. Segundo os Rother e Harris (2008), isto permitirá uma maior mobilidade dos 15 Os dispositivos são um conjunto de peças que posicionam e fixam a peça obra no equipamento para serem realizadas as alterações previstas. Em prensas, muitas vezes, o dispositivo e as ferramentas estão montadas num mesmo conjunto. 131 operadores e a flexibilidade nas futuras redistribuições dos elementos de trabalho, por ocasião de alocar mais operadores para atender um aumento na demanda. Da mesma forma, a configuração da célula em U facilitou aproximar as estações de trabalho. Assim, o processo final ficou estabelecido no lado oposto ao inicial e as atividades das outras duas estações de trabalho ficaram dispostas lado a lado, minimizando e até, eliminando os possíveis desperdícios decorrentes da movimentação dos operadores. Nesta configuração, a capacidade produtiva da célula ficará em torno de 12.000 unidades por mês. Em casos de necessidade de complementos da meta ou aumento na demanda mensal, poder-se-á optar entre um turno extra de trabalho ou uma nova disposição das bancadas, o aumento da largura interna e a redistribuição dos elementos de trabalho, para a introdução de mais um operador na célula. (Figura 21). Figura 21: Configuração da célula vista de cima com dois ou três operadores. Fonte: Elaborado pelos autores. Para alguns autores, o fluxo do trabalho e do material deve acontecer da direita para a esquerda, pois “a grande maioria das pessoas utiliza a mão direita e é mais eficiente e natural trabalhar da direita para a esquerda” (ROTHER; HARRIS, 2008, p. 42). No entanto, apoiados em simulações, que indicaram a necessidade de instalação de esteiras, para evitar o esforço excessivo pela transposição de alguns componentes do produto da primeira até a segunda estação de trabalho, optou-se em direcionar o fluxo da esquerda para a direita. Igualmente, esta direção facilitou localizar o final das atividades com o corredor situado à direita da célula e delimitado pela empresa, para o transporte de materiais. Do mesmo modo, foram alterados os elementos que iniciam o processo de montagem da churrasqueira. Na linha, o processo iniciava-se com a montagem da cuba, já na célula, as primeiras atividades serão para a montagem e teste da resistência elétrica. 132 5.6.3.3 Gerenciamento dos materiais Para não interromper o ciclo de trabalho dos operadores para a reposição de peças, foram anexados flow racks nas bancadas de trabalho. Estes elementos permitem disponibilizar as peças aos operadores na quantidade e no momento que forem necessárias. Os flow racks consistem em prateleiras com inclinação da parte superior para frente, de modo que as peças deslizem até a frente, disponibilizando o material, o mais próximo possível do local de uso e dos operadores. (Figura 22). Igualmente, através do uso destes dispositivos, os operadores poderão utilizar simultaneamente, ambas as mãos e os mesmos, poderão dedicar-se unicamente às atividades de cada estação de trabalho e assim, aumentar sua eficiência e produtividade. Além disto, os flow racks facilitam o abastecimento da célula de montagem. Sem interromper o trabalho dos operadores, o movimentador de materiais disponibilizará as peças, transitando pelo corredor que circunda a célula, ao mesmo tempo em que retira as caixas coletivas da máquina de vedação, colocando-as no pallet e futuramento de tempo em tempo, no local de armazenamento. Figura 22: Célula de montagem da churrasqueira e seus elementos. Fonte: Elaborado pelos autores. 133 5.6.4 Distribuição do trabalho Com o processo físico arranjado para o trabalho ser desempenhado de maneira mais eficiente, e constatado pelo GBO que não seriam necessários o mesmo número de operadores da linha, passou-se a estudar e definir o número de operadores realmente necessários para o funcionamento da célula de montagem da churrasqueira elétrica. 5.6.4.1 Quantidade de operadores A quantidade apropriada de operadores para uma célula de montagem não deve, segundo Rother e Harris (2008, p. 51), “ser determinado através de uma estimativa ou de negociações”, mas através de cálculos e análises de realidades, inerentes à própria célula. O cálculo para determinar o número de operadores para a célula, relaciona o conteúdo total de trabalho a ser realizado (elementos de trabalho), após o kaizen no papel e o takt time calculado inicialmente. Dando números à equação, obteve-se o seguinte resultado: 99 segundos = 1,90 operadores 52 segundos Assim, para atender demanda do cliente, sem mais nenhuma melhoria imediata, serão necessários dois operadores para a montagem do produto, consequentemente, significando uma redução de dois operadores em relação à linha de montagem. Parafacilitar o trabalho e principalmente, evitar que os dois operadores deixem seus postos de trabalho, para realizarem o auto abastecimento de materiais, foi destacada uma pessoa para realizar esta função, da mesma forma que, ficará responsável pela retirada dos produtos acabados e as anotações de controle. Tendo em conta que, as três pessoas foram treinadas para desempenhar todas as atividades de trabalho da célula, o movimentador de materiais poderá, em caso de necessidade por ausência ou mesmo, para revezamento, substituir um dos operadores, ou ainda, ser o terceiro operador da célula por ocasião da reorganização e redimensionamento dos elementos de trabalho. 134 5.6.4.2 Balanceamento da célula Tendo em conta que existe a possibilidade de embutir desperdícios na distribuição dos elementos de trabalho, o primeiro balanceamento da célula de montagem seguiu o modelo tradicional, ou seja, dividiu-se o trabalho da situação melhorada, de forma igualitariamente ou com a menor diferença possível entre os dois operadores e partir das simulações, para promover pequenas melhorias. (Gráfico 12). Gráfico 12: Distribuição do trabalho entre os operadores da célula. Fonte: Elaborado pelos autores. 135 Nesta primeira distribuição dos elementos de trabalho entre os dois operadores, seguiu-se a sequência da distribuição encontrada na linha de montagem, constatando que nos tempos de cada operador, não foram considerados os tempos de perda por ineficiência, estariam abaixo do takt time. Rother e Harris (2008) ponderam que os tempos de perda por ineficiência numa célula, somam cerca de 5% do takt time. Isto significa que a montagem da churrasqueira elétrica deverá acontecer em 49 segundos. Já conforme os apontamentos do departamento de Desenvolvimento de Processos da empresa, considerado outrora para a linha de montagem, os tempos de perda somam 10%, exigindo um tempo em torno de 47 segundos. Tendo em conta que, “diversas divisões de trabalho são possíveis [...] que a sequência dos elementos de trabalho que o operador desempenha pode ser diferente da sequência do processo requerida para fabricar o produto” (ROTHER; HARRIS, 2008, p. 56), buscou-se reorganizar a divisão dos elementos de trabalho na célula, a fim eliminar pequenos desperdícios, problemas de ergonomia e atingir tempo talk time. Gráfico 13: Distribuição do trabalho entre os operadores da célula. Fonte: Elaborado pelos autores. 136 Assim, com o auxilio das filmagens realizadas durante as simulações, sugestões dos operadores, do grupo de melhoria, alteração e eliminação de etiquetas (ANEXO D) e a utilização de máquinas como de vedação automática das embalagens coletivas, foi possível dividir o trabalho da célula de montagem e carregar cada um dos operadores em 46 segundos, isto é, tempo inferior ao ritmo de pedido dos clientes. (Gráfico 13). 5.6.4.3 Treinamento dos operadores Tendo exposto as atividades a serem desenvolvidas na célula de montagem e definido que o trabalho aconteceria no segundo turno, coube aos supervisores e gerência de produção, selecionar e designar os três colaboradores para o trabalho diário na célula. Igualmente, foram selecionados três colaboradores, no turno oposto, que trabalhariam algumas horas ou dias na célula, para completar a produção pré-determinada (meta) ou aumentos na demanda. Como a seleção das pessoas aconteceu entre aqueles que trabalhavam na linha de montagem e consequentemente, tratava-se de pessoas que possuíam um conhecimento acerca do produto, elementos de trabalho e processo de montagem, grande parte do treinamento foi dedicado a esclarecer e salientar alguns pontos vitais da produção lean e motivar as pessoas para o trabalho que irão desenvolver. Em contrapartida, no treinamento das pessoas do primeiro turno, ou seja, daquelas que irão trabalhar somente alguns dias na célula, foi incluído o exercício dos elementos de trabalho, que formam o processo de montagem da churrasqueira. Em ambos os treinamentos, procurou-se estimular e conscientizar os operadores acerca do novo modelo de produção e da importância da qualidade, polivalência funcional dos operadores, produtividade, comprometimento e criatividade de cada um deles. Para a familiarização com a nova forma de produção, o primeiro mês de trabalho na célula foi considerado como parte do treinamento dos operadores. Certos de que não seriam atingidas as metas e percentuais, tanto de eficiência como de produtividade estipuladas pelo controle de produção para este período, buscou-se aproveitar este tempo para identificar os pontos limitadores da produção e principalmente, promover pequenas modificações e melhorias no processo. Percebeu-se neste tempo, a dificuldade de integração do novo método de trabalho com a estrutura edificada sob os parâmetros da produção em massa, que ocasionaram várias 137 paradas na produção da célula, por falta de material e problemas de qualidade. Estes fatos, somadas a eventos internos tais como, a Semana interna de prevenção aos acidentes de trabalho – SIPAT e a oscilação da produtividade dos operadores, fizeram que a produção da célula alcançasse apenas 11.410 unidades, quase 5% abaixo da meta estipulada em 12.000 unidades para o mês. Gráfico 14: Percentuais de eficiência e produtividade na célula durante o treinamento. Fonte: Elaborado pelos autores. Embora seja aceito e considerado normal a célula de montagem não alcançar índices iguais ou próximos a 100% no primeiro mês de trabalho (ROTHER; HARRIS, 2008), foi possível identificar o progresso da eficiência e produtividade dos operadores. (Gráfico 14). Igualmente, mostraram a necessidade de realizar um trabalho junto aos setores de apoio. Com a ajuda destes, a fim de evitar a falta de material e problemas de qualidade, haverá um crescimento destes percentuais nos meses seguintes. 5.6.5 Programação e nivelamento da produção Tendo integrado as pessoas (operadores), materiais, máquinas e métodos na célula de montagem da churrasqueira elétrica, passou-se a trabalhar a programação e o nivelamento na nova forma da produção. 138 5.6.5.1 Programação da produção Por natureza, a produção enxuta e a célula de montagem trabalham com pequenos lotes, a fim de responder rapidamente as frequentes oscilações na demanda do cliente. Consequentemente, a programação da produção acontece mensalmente e por tratarem-se de pequenos lotes, esta programação é suscetível de ajustes, conforme as necessidades. (ROTHER; HARRIS, 2008). Dentro desta perspectiva, o programa de produção para a segunda semana, por exemplo, pode ser alterado na semana anterior, durante a própria semana ou mesmo, dentro do próprio dia de trabalho, conforme se altere a necessidade de determinados tipos de produtos, avisados pela expedição de materiais, via sistema kanban. Conforme pensamento inicial, a célula de montagem poderia trabalhar baseada na demanda do cliente, isto é, seria formado um supermercado (estoque), cuja quantidade representaria a produção de um determinado tempo de trabalho e a célula trabalharia para repor as quantidades retiradas diariamente deste supermercado. Isto requereria menos recursos financeiros para a manutenção de estoques de matérias primas e produtos acabados. Entretanto, a empresa optou por manter o sistema atual de programação da produção, baseado na estimativa de demanda, determinado pelo departamento de Vendas. Esta estimativa será processada pelo PPCP e transformada em ordens de montagem de 500 unidades diáriasde segunda a sexta-feira e 400 unidades nos sábados. Do mesmo modo, o nível de estoque de produtos acabados foi mantido nas quantidades atuais, correspondente a um mês da capacidade produtiva da célula de montagem. 5.6.5.2 Nivelamento da produção Pela lógica, para dar uma resposta rápida às quedas de eficiência e produtividade na célula de montagem, é necessário perceber os problemas tão logo que eles ocorram. (ROTHER; HARRIS, 2008). Consequentemente, exigirá a produção de pequenos lotes e uma programação nivelada, através do sequenciamento de pedidos e do nivelamento das variações diárias da demanda, para satisfazer à demanda no longo prazo. Diante da flexibilidade dos operadores, equipamentos, dispositivos e máquinas, a célula de montagem está configurada para produzir, dentro da quantidade possível, os quatro 139 tipos de produtos, isto é, dois modelos e duas voltagens. Isto se deve ao fato de não existirem alterações significativas nos modelos, que demandem mais ou menos tempo de montagem. Por conseguinte, a combinação a ser elaborada pelo programador de produção, poderá contemplar os dois modelos e suas respectivas voltagens num mesmo dia ou semana, conforme a exigência histórica. (Quadro 7). Nivelamento mensal Produto Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4 Grill 220v 1396 1396 1396 1396 Grill 110v 856 856 856 856 Swift Grill 220v 524 524 524 524 Swift Grill 110v 224 224 224 224 Nivelamento semanal Produto Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Grill 220v 256 256 256 256 256 204 Grill 110v 120 120 120 120 120 96 Swift Grill 220v 88 88 88 88 88 72 Swift Grill 110v 36 36 36 36 36 32 Quadro 7: Modelo para nivelamento da produção. Fonte: Elaborado pelos autores. Para a programação da produção mensal ou semanal da churrasqueira, deverá ser levada em conta, a quantidade da embalagem coletiva, isto é, a quantidade estipulada para cada modelo e voltagem deve ser múltiplo de quatro. Isto evitará a formação de produtos acabados junto à célula, embora a formação de estoques seja inevitável, pela falta de contenedores padrões. Para o controle da produção e principalmente, evitar que os responsáveis e até mesmo os operadores, percebam o desenvolvimento e os resultados abaixo do esperado somente próximo do fim do dia, foi instalado um quadro de controle, onde são anotadas, de hora em hora, as quantidades produzidas e no final do dia, é calculado o percentual de eficiência da célula no dia. (Figura 23). 140 Figura 23: Quadro de controle de produção e eficiência. Fonte: Elaborada pelos autores. 5.6.6 Estoques Obedecendo a critérios estipulados pela própria empresa, a quantidade de estoque de matéria prima continua representando uma semana e meia de trabalho da célula de montagem. Já o estoque de produtos acabados, tendo absorvido a quantidade não produzida no primeiro mês de trabalho da célula, soma cerca de 11.500 unidades, que estão alocados no estoque, aguardam a venda ou os despachos, conforme os pedidos colocados pelos clientes. Após o final do mês de setembro, foi possível constatar a existência de estoques de matéria-prima em processo junto à célula de montagem. (Quadro 8). Itens Quantidade Dias de trabalho Rede elétrica 220v 307 0,61 Rede elétrica 127v 384 0,77 Parafuso 3,5x35 2304 4,61 Parafuso 3,5x12 768 1,54 Manual de instrução 384 0,77 Manual da rede de autorizados 307 0,61 Puxador dianteiro e traseiro 384 0,77 Cuba 150 0,30 Cabo superior e inferior 180 0,36 Embalagem coletiva 96 0,19 Embalagem unitária 384 0,77 Grade 484 0,97 Etiqueta 768 1,54 Resistência elétrica 192 0,38 Quadro 8: Estoque em processo. Fonte: Elaborado pelos autores. 141 Em contrapartida, foi possível verificar a redução do material em processo de quase 40%, na grande maioria itens quando comparado à linha de montagem. Diferente da cuba, por exemplo, que aumentou drasticamente. A estas quantidades, dispostas junto à célula, inclusive da cuba, devem-se notadamente, a mudança em uma ordem de fabricação (mudança de voltagem ou de modelo), grandes contenedores (grelhas e especialmente de cubas) ou embalagens fechadas (parafusos) que obrigam o abastecimento em quantidades superiores à demanda diária e sobra de material de “ranchos” disponibilizados nos dias anteriores, conforme ordens de montagem. 5.6.7 Indicadores de desempenho da célula de montagem Tal como foi salientado anteriormente, os indicadores podem ser entendidos como representações visuais ou numéricas, que expressam uma situação, de determinada atividade e num determinado espaço de tempo e local. Após o encerramento do mês de setembro, foi possível fazer uma análise do trabalho da célula e principalmente, fazer um paralelo dos resultados com a linha de montagem. Da mesma forma, foi possível constatar os benefícios ocorridos com a implantação e pontos que futuramente, seriam objeto de ações dos gestores e administradores da produção. Além dos indicadores usados anteriormente, para descrever a linha de montagem, para fins de comparação, da antiga (linha de montagem) e nova situação (célula de montagem), serão delineados os mesmos indicadores e também, o indicador de custos. 5.6.7.1 Eficiência da célula de montagem Diferente do mês de treinamento, onde a eficiência ficou aquém do esperado, no mês de setembro, foi possível verificar uma melhora substancial na eficiência da célula de montagem. Relacionando a quantidade planejada, estipulada e esperada pela empresa para este mês e para as semanas, com as quantidades produzidas nestes períodos, a eficiência semanal oscilou sempre acima dos 90%. (Gráfico 15). 142 Gráfico 15: Índices de eficiência da célula de montagem. Fonte: Elaborado pelos autores. As oscilações devem-se especialmente às paradas ocasionadas, pela saída de algum operador por problemas de saúde, falta de material e a alocação de um operador sem experiência na quarta semana de trabalho. (APÊNDICE 3). Tomando-se as quantidades mensais planejadas e produzidas, a eficiência da célula de montagem comprovou-se um crescimento natural, à medida que os operadores adquirissem experiência. Enquanto no primeiro mês de funcionamento, a eficiência ficou em 95,08%, no mês de setembro ultrapassou os 100%. Eficiência = 12.600 = 100,8% 12.500 Para alcançar a meta estipulada para o mês, foram necessários quatro dias de trabalho no turno da manhã. Pela falta de experiência dos operadores, o índice médio de eficiência ficou em 61,40%, bem abaixo do índice médio do segundo turno. (Apêndice 3). 5.6.7.2 Produtividade da célula de montagem Relacionando a quantidade produzida e a quantidade planejada para o tempo real de trabalho, isto é, descontado dos tempos de paradas, pelos mais diversos fatores, percebe-se que o índice de produtividade da célula de montagem oscilou dentro de uma escala de 10%. (Gráfico 16). 143 Gráfico 16: Produtividade semanal da célula de montagem. Fonte: Elaborada pelos autores. Pode-se constatar que, na primeira semana, a produtividade da célula de montagem ultrapassou os 100%, ou seja, o produto foi montado abaixo do tempo estipulado e consequentemente, foi produzido mais do que a quantidade estipulada para aquele período de tempo. Quando estabelecida uma média mensal, o índice fica em 97,97%. Quando tomadas às quantidades produzidas pelo segundo turno, o percentual de produtividade ficou em 98,05%. Produtividade = 11.372= 98,5% 11.700 - 102 5.6.7.3 Outros indicadores da célula de montagem Tal como foram destacados e calculados para delinear a situação da linha de montagem, para fins de comparação do antigo e o novo modelo de produção da churrasqueira, os mesmos indicadores serão calculados a partir da célula de montagem. Adotando como input as quantidades totais produzidas no primeiro e segundo mês de funcionamento da célula e como output o número de operadores, a produção mensal de peças por operador no primeiro mês ficou em 3.803 peças. 16 Enquanto isto, no segundo mês de funcionamento, esta quantidade aumentou para 4.200 peças por operador. Produção/operadores = 12.600 = 4.200 pçs/operador 3 16 Para o cálculo deste indicador, consideraram-se apenas os três operadores efetivos, ou seja, apenas aqueles do segundo turno, não considerando os três operadores do primeiro turno, que trabalharam apenas quatro dias do mês. Assim como, não foi considerado o operador alocado por duas semanas na linha de montagem. 144 Para determinar o indicador de peças por área ocupada, serão tomadas como input as quantidades produzidas em peças nos dois meses analisados e como output a área ocupada pela célula. Enquanto no primeiro mês o número de peças por metro quadrado ficou em 587, no segundo mês aumentou para 648 peças por m². Produção/m² = 12.600 = 648 pçs/m² 19 5.6.7.4 Custos de produção na célula de montagem O principal objetivo do sistema lean, através de suas técnicas e ferramentas, tais como a célula de montagem, é a redução dos custos no processo de fabricação dos produtos, por meio “do combate aos desperdícios e do melhor aproveitamento dos recursos de transformação” (COSTA JUNIOR, 2008, p. 22). Neste sentido, os objetivos da produção enxuta confluem com o principal objetivo das empresas, isto é, obter o lucro, através da maximização da eficiência e produtividade e a redução de custos. Através da implantação da célula de montagem, observou-se uma redução nos custos de produção da churrasqueira elétrica. Embora a redução possa parecer insignificante, quando tomada unitariamente, ela torna-se substancial quando estendida ao montante produzido mensalmente ou anualmente. A redução alcançou 2,5% no custo unitário do produto e foi possível pela redução da mão de obra direta (número de operadores), dos gastos gerais de fabricação (consumo de energia elétrica), da alteração estrutural do produto (eliminação e substituição de etiquetas) e do método de vedação (troca da cola pela fita adesiva). Alcançando também o retorno do investimento de R$ 3.368,92 usados para a implantação da célula 17 . (ANEXO C). 5.6.8 Padronização Depois de dois meses trabalhando e principalmente, tendo alcançando a estabilidade na execução dos elementos de trabalho, o processo de montagem da churrasqueira elétrica, na sua nova forma e sequência de fabricação, foi padronizado, ou seja, o técnico do 17 Este valor será depreciado em 10 anos. 145 departamento de Desenvolvimento de Processos, sequenciou, detalhou e registrou o novo modelo de montagem do produto. Seguindo padrão de registro adotado pela empresa, em conformidade com as exigências da ISO 9001, o formulário registra os seguintes itens: - Quantidade padrão de estoque em processo; - Quantidade de operadores nos postos; - Equipamento de segurança obrigatório na realização do trabalho; - Recursos (máquinas, equipamentos e dispositivos); - Sequência de atividades e as verificações que devem ser realizadas pelos operadores. Ademais, a padronização do novo modelo de montagem da churrasqueira elétrica garantirá a qualidade e a uniformidade do produto, isto é, da primeira até a última unidade produzida num dia, semana ou mês de trabalho, foram produzidos seguindo a mesma sequência e padrão. 146 6 RECOMENDAÇÕES Inicialmente, cabe destacar as iniciativas e investimentos da empresa Irmãos Fischer na área produtiva. Os cursos, seminários e incentivos a pesquisas nesta área, demonstram a preocupação e a busca da empresa por melhorias que otimizem seus processos e o trabalho de seus colaboradores, a fim de manter-se competitividade, ao mesmo tempo em que, busca aumentar seus lucros, pela redução dos custos e especialmente, o atendimento a seus clientes, nas quantidades e no tempo certo. Os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados com êxito. Implantou-se a célula de montagem conforme a proposta lean e os indicadores de desempenho apurados comprovam os benefícios descritos na literatura acerca da produção enxuta e alcançados por meio deste trabalho. Certamente, o trabalho acerca da célula de montagem da churrasqueira elétrica não se encerra com este trabalho. É possível ainda, realizar novos kaizens e assim: - Implantar uma rota de abastecimento, conjugando-a a outras células de montagem; - Definir e padronizar contenedores, cujas quantidades não formem estoques ao final de um dia de trabalho; - Com a colaboração e sugestões dos operadores, aperfeiçoar alguns elementos de trabalho, a fim de reduzir o takt time, conforme necessidade demandada. Por fim, o sucesso e futuras melhorias na célula de montagem, envolverão esforços e o comprometimento da empresa e seus gestores, no sentido de: - Incentivar e fornecer respostas e soluções rápidas para os problemas que poderão surgir; - Eliminar as causas de paradas como a falta de matéria prima, disponibilizando-a no tempo, na quantidade e nos padrões adequados de qualidade. Estas sugestões, se aplicadas, poderão levar a célula a trabalhar sem paradas, permitirá a empresa reduzir os níveis de estoques, tanto de matéria prima como de produtos acabados e assim, disponibilizar recursos financeiros para outros investimentos. 147 7 CONCLUSÃO Ao final desta pesquisa ficou evidente que, a produção lean, é uma metodologia muito valiosa para as organizações, que buscam otimizar seu sistema produtivo, seus processos, o trabalho dos colaboradores e aumentar seus lucros através da redução das perdas e especialmente, atender seus clientes nas quantidades e no tempo certo. Diante das dificuldades e oportunidades que as empresas têm diante de si, é importante aos gestores e administradores da produção, conhecerem as práticas, ferramentas e técnicas enxutas, que se consagraram ao longo do tempo e levaram a Toyota e tantas outras empresas que seguiram o exemplo da montadora japonesa, a tornarem-se competitivas e lucrativas em pouco tempo. Foram enfrentadas dificuldades na realização deste trabalho, especialmente, na coleta dos dados e na aplicação prática da proposta, dada a resistência das pessoas às mudanças e a falta instrumentos e registros precisos das paradas ocorridas na linha de montagem e célula, o que limitou, por exemplo, os índices de produtividades, que dependem diretamente destes dados. Cumpriu-se o objetivo geral proposto aplicando os conceitos da produção lean por meio da implantação de uma célula de manufatura, para a produção da churrasqueira elétrica, em seus dois modelos, otimizando o processo de fabricação e reduzindo as perdas e os custos gerais de fabricação do produto. Por meio do referencial teórico acerca da produção enxuta, enfocando alguns temas relacionados aos objetivos do trabalho e em especial, aos conceitos e técnicas diretamente arrolados à implantação da célula de montagem, foi possível estudar e comparar criticamente o teórico com o prático, atingindo-se assim, os dois primeiros objetivos específicos. De possedos conceitos teóricos, números e indicadores da situação atual, representado pela linha de montagem, foi possível alcançar o terceiro objetivo específico, que consistia na estruturação de uma proposta de implantação de um novo sistema de produção, representado pela célula de manufatura, uma forma inovadora do arranjo físico, de organização das pessoas, máquinas e postos de trabalho. Foi de grande valia, a formação de uma equipe multifuncional, composta por membros dos departamentos diretamente relacionados à área produtiva e produto em questão. Além da possibilidade de trabalhar em equipe, as discussões, críticas e sugestões permitiram 148 melhorar e aperfeiçoar a proposta, sanar dúvidas e identificar e trabalhar as perdas e realizar ações de melhoria no trabalho da célula de manufatura. A implantação da célula de manufatura, na realidade da empresa estudada, mostrou- se relevante e eficaz. Foi possível alcançar um fluxo unitário e contínuo na montagem da churrasqueira elétrica, manifestar a multifuncionalidade e polivalência dos operadores, reduzir os custos totais do produto, da mesma forma em que, a empresa tornou-se capaz de atender as necessidades do cliente, na quantidade e no tempo que este exigir. No quadro a seguir, é possível visualizar as diferenças mais significativas entre o sistema de produção usado pela empresa e representado pela linha de montagem e o novo implantado por meio deste trabalho. Elementos Linha de montagem Célula de manufatura Capacidade (um/dia) 700 500 Tamanho (m²) 34,98 17,72 Tempo produção 48 seg. 52 seg. Operadores 5 3 Estoques em processo Altos Baixos Eficiência 83% 100,8% Produtividade 92,12% 98,8% Produção/operador 2.543 (pçs/op) 4.200 (pçs/op) Produção/espaço 363 (pçs/m²) 648 (pçs/m²) Quadro 9: Linha de montagem versus célula de manufatura. Fonte: Elaborado pelos autores. Embora alguns números pareçam favorecer a linha de montagem, os resultados gerais alcançados com o novo sistema de produção, através da célula de manufatura, demonstram uma melhoria significativa nos indicadores de produção da churrasqueira elétrica. Foi possível, aplicando as técnicas da célula de manufatura e explorando a multifuncionalidade e polivalência dos operadores, reduzir custos, e num espaço menor, produzir mais, com menos estoques e operadores. Entre os benefícios alcançados pela implantação da célula de montagem da churrasqueira elétrica, está a redução em cerca de 2,5% no custo final de fabricação do produto. Alcançado especialmente pela: - Liberação de dois operadores, que foram deslocados para outros processos produtivos considerados gargalos; - Eliminação de elementos de trabalhos, considerados desperdícios pelo sistema lean; - Criação de um fluxo produtivo contínuo e unitário, acabando com os tempos de espera, constatados na linha de montagem; 149 - Redução dos custos, alcançado pela substituição e eliminação de itens da estrutura do produto e a utilização de novos equipamentos, que também, permitiram reduzir o tempo de fabricação. 150 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANDRADE, Arnaldo Rosa de. A formulação de estratégias a partir do enfoque externo e do interno. Disponível em: http://www.noticenter.com.br/adm_mkt/edicao08/081505_estrate gia.htm. Acesso em: 25/03/2010. ARANTES, Nélio. Sistemas de gestão empresarial. São Paulo: Atlas, 1994. ARAÚJO, Luciano Fonseca de. Método de aplicação da produção nivelada em sistemas de manufatura repetitiva com produção em lotes. 2008. 268f. 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UFPR, Curitiba, 2006. 155 APÊNDICES 156 APÊNDICE A: Produção da linha de montagem Tempo H 48 Produção 4200 Tempo H 39,33 Produção 3170 Tempo M 2880 Meta mês 12000 Tempo M 2360 Paradas 520 5/4 6/4 7/4 8/4 9/4 10/4 700 700 700 700 700 700 352 550 600 508 612 548 50,29% 78,57% 85,71% 72,57% 87,43% 78,29% 145 90 0 155 60 70 Eficiência 75,48% Produtividade 92,11% Meta 26,42% Tempo H 40 Produção 3500 Tempo H 38,83 Produção 2854 Tempo M 2400 Meta mês 12000 Tempo M 2330 Paradas 70 12/4 13/4 14/4 15/4 16/4 17/4 Produção Esperada 700 700 700 700 700 Produção Alcançada 586 574 564 548 582 Eficiência diária 83,71% 82,00% 80,57% 78,29% 83,14% 30 40 Eficiência 81,54% Produtividade 83,99% Meta 50,20% Tempo H 40 Produção 3500 Tempo H 40 Produção 3194 Tempo M 2400 Meta mês 12000 Tempo M 2400 Paradas 0 19/4 20/4 21/4 22/4 23/4 24/4 Produção Esperada 700 700 700 700 700 Produção Alcançada 598 628 600 668 700 85,43% 89,71% 85,43% 89,71% 100,00% Eficiência 90,06% Produtividade 91,26% Meta 76,82% Tempo H 40 Produção 3500 Tempo H 39,50 Produção 3496 Tempo M 2400 Meta mês 12000 Tempo M 2370 Paradas 30 26/4 27/4 28/4 29/4 30/4 Produção Esperada 700 700 700 700 700 Produção Alcançada 660 636 640 780 780 94,29% 90,86% 91,43% 111,43% 111,43% 30 Eficiência 99,89% Produtividade 101,15% Meta 105,95% Dias Produção Esperada Produção Alcançada Índices semanais 12000 Paradas Paradas Eficiência diária Índices semanais Eficiência diária Produção da linha de montagemPlanejado Realizado Índices semanais Índices semanais Dias Paradas Eficiência diária Paradas Planejado Realizado Planejado Realizado Planejado Realizado Dias Dias Quadro 10: Quadro de controle de produção da linha de montagem. Fonte: Elaborado pelos autores. 157 APÊNDICE B: Produção da célula de montagem (2° turno) 12500 Tempo H 22,5 Produção 1500 Tempo H 22,33 Produção 1492 Tempo M 1350 Meta mês 12500 Tempo M 1340 Paradas 10 1/9 2/9 3/9 4/9 Produção Esperada 500 500 500 Produção Alcançada 492 500 500 98,40% 100,00% 100,00% 10 Índices semanais Eficiência 99,47% Produtividade 100,21% Meta 11,94% 12500 Tempo H 36 Produção 2400 Tempo H 35,50 Produção 2304 Tempo M 2160 Meta mês 12500 Tempo M 2130 Paradas 30 6/9 7/9 8/9 9/9 10/9 11/9 Produção Esperada 500 500 500 500 400 Produção Alcançada 500 404 500 500 400 Meta diária 100,00% 80,80% 100,00% 100,00% 100,00% 30 Índices semanais Eficiência 96,00% Produtividade 97,35% Meta 30,37% Tempo H 43,5 Produção 2900 Tempo H 43,50 Produção 2900 Tempo M 2610 Meta mês 12500 Tempo M 2610 Paradas 0 13/9 14/9 15/9 16/9 17/9 18/9 Produção Esperada 500 500 500 500 500 400 Produção Alcançada 500 500 500 500 500 400 Meta diária 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% Eficiência 100,00% Produtividade 100,00% Meta 55,87% 12500 Tempo H 43,5 Produção 2900 Tempo H 43,50 Produção 2676 Tempo M 2610 Meta mês 12500 Tempo M 2610 Paradas 0 Dias 20/9 21/9 22/9 23/9 24/9 25/9 Produção Esperada 500 500 500 500 500 400 Produção Alcançada 500 320 456 500 500 400 Meta diária 100,00% 64,00% 91,20% 100,00% 100,00% 100,00% Índices semanais Eficiência 92,28% Produtividade 92,28% Meta 79,68% 12500 Tempo H 30 Produção 2000 Tempo H 30,00 Produção 2000 Tempo M 1800 Meta mês 12500 Tempo M 1800 Paradas 0 Dias 27/9 28/9 29/9 30/9 Produção Esperada 500 500 500 500 Produção Alcançada 500 500 500 500 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% Índices semanais Eficiência 100,00% Produtividade 100,00% Meta 100,80% Dias Dias Paradas Produção da célula de montagem (2° Turno) Paradas Planejado Paradas Meta diária Paradas Paradas Realizado Índices semanais Planejado Realizado RealizadoPlanejado Meta diária Dias Planejado Realizado12500 Planejado Realizado Quadro 11: Quadro de controle de produção da célula de montagem (2° Turno). Fonte: Elaborado pelos autores. 158 APÊNDICE C: Produção da célula de montagem (1° turno) Tempo H 7,5 Produção 500 Tempo H 7,00 Produção 288 Tempo M 450 Meta mês 12500 Tempo M 420 Parada 30 17/9 500 288 57,60% 30 Eficiência 57,60% Produtividade 61,71% Meta 2,30% 12500 Tempo H 7,5 Produção 500 Tempo H 7,50 Produção 300 Tempo M 450 Meta mês 12500 Tempo M 450 Parada 0 20/9 21/9 22/9 23/9 24/9 25/9 Produção Esperada 500 Produção Alcançada 300 Meta diária 60,00% Eficiência 60,00% Produtividade 60,00% Meta 2,40% Tempo H 15 Produção 1000 Tempo H 14,50 Produção 640 Tempo M 900 Meta mês 12500 Tempo M 870 Parada 30 27/9 28/9 29/9 30/9 Produção Esperada 500 500 Produção Alcançada 332 308 Meta diária 66,40% 61,60% 30 Eficiência 64,00% Produtividade 66,21% Meta 5,12% Dias Paradas Índices semanais Dias Produção da célula de montagem (1° Turno) Planejado 12500 Realizado Realizado 12500 RealizadoPlanejado Produção Alcançada Meta diária Paradas Produção Esperada Índices semanais Paradas Índices semanais Planejado Dias Quadro 12: Quadro de controle de produção da célula de montagem (1° Turno). Fonte: Elaborado pelos autores. 159 ANEXOS 160 ANEXO A: Marcos Históricos da evolução do pensamento em gestão Data Contribuintes Contribuições 5000 a.C. Sumérios Importância atribuída à guarda de registros. 4000 a.C. Egípcios Reconhecimento da necessidade de planejamento, organização e controle (considerando, sobretudo, que a construção de uma simples pirâmide envolvia o recurso a cerca de 100.000 pessoas, durante um período de cerca de 20 anos). 2600 a.C. Egípcios Reconhecimento da importância da descentralização das organizações. 2500 a.C. Organização militar (Sun Tzu, Carl Von Clausewitz, Napoleão Bonaparte, Marechal Joffre, Sir Basil Henri Liddell Hart, Mao Tse-Tung, etc.) Organização linear, unidade de comando, escala hierárquica, delegação de autoridade, centralização do comando e descentralização da autoridade, conceito de estratégica. 2000 a.C. Egípcios Reconhecimento da necessidade de ordens escritas. 600 a.C. Nabucodonosor Pelos desenvolvimentos ao nível do controle da produção e desenvolvimento de sistemas de incentivos salariais. 500 a.C. Chineses Introdução do princípio da especialização. 470 a.C. – 399 a.C. Sócrates Pelo seu entendimento da gestão como uma habilidade pessoal, separada do conhecimento técnico e da experiência. 429 aC. – 347 a.C. Platão Pelas suas contribuições, vertidas na sua República, sobre a forma democrática de governo e a gestão de negócios públicos. 384 a.C. – 322 a.C. Aristóteles Pelas três formas distintas de gestão pública que identificou: a monarquia, a aristocracia e a democracia. 175 a.C. Romanos Utilização de descrições de funções. 0 Igreja Católica Estrutura organizacional piramidal, princípios e regras de gestão, hierarquia de autoridade, unidade de comando, princípio escalar, etc. 1436 Arsenal de Veneza Adoção de práticas de gestão inéditas, como: contabilidade, livros de inventário e balanço, gestão de pessoal e controle de custos. 1525 Maquiavel Pelas suas contribuições ao nível dos princípios da liderança e da importância da coesão nas organizações. 1561-1626 Francis Bacon Pela introdução do princípio de gestão da prevalência do principal sobre o acessório. 1588-1679 Thomas Hobbes Pelas suas contribuições ao nível da origem contratualista do Estado. 1596-1650 René Descartes Pelo desenvolvimento das coordenadas cartesianas, assentadas nos princípios fundamentais da dúvida sistemática, análise e decomposição, síntese e enumeração. 1712-1778 Jean-Jacques Rosseau Pelo desenvolvimento da sua teoria do contrato social (de acordo com o qual o Estado surge de um acordo de vontades). 1776 Adam Smith Pelo desenvolvimento dos princípios de especialização, racionalização da produção e divisão do trabalho. 1776 James Watt Invenção da máquina a vapor e sua posterior utilização na produção. 1ª Revolução Industrial Pelo seu impacto na mecanização da indústria e agricultura, aplicação da força motriz à indústria, 161 1780-1860 (Revolução do carvão e do ferro) desenvolvimento de fábricas assentadas na divisão do trabalho e desenvolvimento dos transportes e comunicações. 1799 Eli Whitney Pelas suas contribuições ao nível, sobretudo, da contabilidade analítica. 1810 Robert Owen Pelas suas contribuições ao nível da gestão de recursos humanos, sobretudo ao nível da formação e incentivos não monetários. 1818-1883 1820-1895 Karl Marx Friedrich Engels Pelas suas contribuições ao nível das origens económicas do Estado. 1826 James Mill Pelas suas contribuições ao nível do estudo dos tempos e movimentos (que propôs como forma de aumentar a produção). 1832Charles Babbage Pelas suas contribuições para a Teoria da Gestão Científica (especialização, divisão do trabalho, estudo do tempo e movimentos, contabilidade analítica, etc), vertidas no seu livro On the Economy of Machinery and Manufactures, publicado em 1932. 1835 Samuel P. Newman Pelo estudo das qualidades que deve ter um gestor. 1856 Daniel McCallum Pelas suas contribuições originais ao nível da representação gráfica das estruturas organizacionais (designadamente através do recurso a organogramas). 1860-1914 2ª Revolução Industrial (Revolução do aço e da eletricidade) Pelo impacto na automatização da indústria, especialização do trabalho, substituição do ferro pelo aço, substituição do vapor pela eletricidade, desenvolvimento dos transportes e comunicações e de novas formas de organização capitalista. Quadro 13: Marcos Históricos da Evolução do Pensamento em Gestão. Fonte: Santos (2008, p. 52-53). 162 ANEXO B: Compreendendo a função da manufatura. Figura 24: Compreendendo a função da manufatura. Fonte: OHNO (1997, 74). 163 ANEXO C: Antigo e novo modelo de paletização das churrasqueiras elétricas Figura 25: Antigo e novo modelo de paletização das churrasqueiras elétricas. Fonte: Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. (2010). 164 ANEXO D: Novo modelo de etiqueta da embalagem coletiva. Figura 26: Novo modelo de etiqueta da embalagem coletiva. Fonte: Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. (2010). 165 ANEXO E: Máquina para vedação automática da embalagem coletiva. Figura 27: Máquina para vedação automática da embalagem coletiva. Fonte: Irmãos Fischer S.A. Ind. e Com. (2010). 166 ANEXO F: Itens e valores usados para a implantação da célula Item Quantidade Preço unitário Total Bancada para montagem 3 416,69 1250,07 Dispositivo de montar resistência 1 350,00 350,00 Escorregador para puxador 4 125,00 500,00 Suporte para resistência 1 165,17 165,17 Suporte para balança 2 120,00 240,00 Escorregador para grelha 1 165,17 165,17 Escorregador para resistência montada 1 165,17 165,17 Suporte para manual 1 330,34 330,34 Suporte para etiqueta 4 50,75 203,00 3.368,92 Quadro 14: Itens e valores usados para implantação da célula de montagem. Fonte: Elaborado pelos autores.