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TEORIA E PRÁTICA DA 
NEUROPSICOPEDAGOGIA
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autora: Cláudia Regina Pinto Michelli
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza
 Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
 Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
 Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
 Revisão de Conteúdo: Profª. Cristiane Lisandra Danna 
 Revisão Gramatical: Profª. Iara de Oliveira
 
 Diagramação e Capa: Carlinho Odorizzi
Copyright © Editora UNIASSELVI 2012
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri – UNIASSELVI – Indaial
 
616.89
M623t Michelli, Cláudia Regina Pinto
 Teoria e prática da neuropsicopedagogia /
 Cláudia Regina Pinto Michelli. Indaial : Uniasselvi, 2012.
 98 p. : il 
 Inclui bibliografia. 
 ISBN 978-85-7830- 610-6
 1. Neuropsicopedagogia.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Cláudia Regina Pinto Michelli
Professora Cláudia R. P. Michelli, Licenciada em 
Normal Superior Séries Iniciais do Ensino Fundamental 
pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). 
Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Catarinense de Pós-
Graduação (ICPG). Atuou durante cinco anos em atendimentos com 
crianças com dificuldades na aprendizagem. É Mestre em Educação pela 
Universidade Regional de Blumenau (FURB). Atua em prática escolar 
desde 1996. É tutora da UNIASSELVI-POS, responsável pelos cursos de 
Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia e áreas fins de cursos voltados 
à educação. Tem como campo de investigação e discussão acadêmica 
a história de vida do aluno, a prática pedadagógica e o contexto 
escolar como apoio necessário para entendimento dos processos 
de aprendizagem e não aprendizagem do sujeito.
Sumário
APRESENTAÇÃO ......................................................................7
CAPÍTULO 1
Diálogo entre eDucação e SaúDe ............................................... 9
CAPÍTULO 2
o lauDo e Sua contribuição para a eDucação .......................... 31
CAPÍTULO 3
oS encaminhamentoS ................................................................ 57
CAPÍTULO 4
implicaçõeS DoS lauDoS para o contexto eDucacional .............. 77
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Observe a imagem do Pequeno 
Príncipe de Exupéry. Ele rega sua rosa e 
cuida dela com carinho e atenção. A água 
para a rosa é necessária, pois precisa para 
se manter viva. Porém, o que assegura 
sua vida é o investimento do Pequeno 
Príncipe em querer estar ao seu lado, 
acompanhando seu desenvolvimento.
As crianças com quem lidamos 
diariamente não são rosas, mas precisam 
de investimento. O que seria essencial para elas? Você já se perguntou sobre 
isso? Veja como é importante saber sobre ela e sobre o contexto em que vive!
A cada dia, mais e mais crianças são diagnosticadas com algum tipo de 
distúrbio, transtorno ou dificuldade de aprendizagem. Mas, o que será que elas 
querem dizer com isso? Você já se perguntou? Por que elas não aprendem? O 
que é aprender para cada uma delas?
Qual o significado do laudo médico que estará dizendo sobre a não 
aprendizagem da criança que convive no contexto escolar do qual você faz parte? 
Como significar esse documento neste contexto?
Acreditamos que muitas respostas para a não aprendizagem de nossas 
crianças podem ser respondidas a partir do entendimento de sua história e em 
conjunto com a prática metodológica adequada para cada situação específica.
Neste caderno de estudos, você terá acesso a uma discussão que 
tem como eixo norteador a consideração da criança como sujeito social 
ativo e participativo no contexto escolar. A partir das neurociências e do 
entendimento do sujeito biológico, buscamos encontrar esse sujeito social, 
as raízes de seu processo de aprendizagem ou não aprendizagem escolar. 
A neuropsicopedagogia tecerá esse entendimento em consonância com os 
discursos de profissionais da saúde e da educação. 
Assim, o presente caderno de estudos está dividido em quatro capítulos: 
no primeiro buscamos um diálogo entre a saúde e a educação e uma breve 
construção histórica em torno do entendimento dessa relação.
8
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
No segundo capítulo, trataremos de discutir sobre a importância do laudo, 
do diagnóstico médico em torno desse sujeito que supostamente não aprende 
na escola ou que está apresentando dificuldades no processo de aprender.
O capítulo subsequente discute a prática pedagógica pós laudo, ou seja, 
após o diagnóstico do profissional da saúde é preciso pensar numa forma 
de intervir na aprendizagem desse sujeito. Assim, você compreenderá que o 
laudo é o alicerce, mas que a prática é o caminho.
No último capítulo, faremos uma análise da demanda por laudos e sobre o 
papel da família e da escola frente as questões elencadas e discutir a prática 
pedagógica pós-laudo.
Bons estudos!
A autora. 
CAPÍTULO 1
Diálogo entre eDucação e SaúDe
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Apresentar a correlação entre a saúde e a educação. 
 3 Conhecer os aspectos da neurologia relacionados ao processo de 
aprendizagem do sujeito. 
 3 Compreender a importância das especializações da medicina como uma 
ferramenta de auxílio para o professor na sala de aula. 
10
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
11
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
contextualização
Caro(a) leitor(a), neste primeiro capítulo, pretendemos desenvolver uma 
compreensão entre a indissociabilidade da educação e da saúde, pois não há 
como separarmos essas áreas. Precisamos entender o processo educativo e 
a promoção da saúde como o fio condutor da prática neuropsicopedagógica.
Para compreender sobre a crescente demanda de problemas que afetam 
as crianças em sala de aula e sua aprendizagem, necessitamos manter 
uma postura vigilante em torno daquilo que, neste momento histórico em 
que vivemos, remete-nos a reflexões urgentes: as crianças, as dificuldades, 
transtornos e distúrbios de aprendizagem, bem como as altas habilidades.
A saúde e a educação caminham lado a lado no sentido de promover, 
prevenir e participar da vida social/coletiva e individual dos sujeitos. E é neste 
contexto que há de se compreender a caminhada desses dois termos e a 
necessidade da sua inter-relação. 
a inDiSSociabiliDaDe entre eDucação e SaúDe
Prezado(a) leitor(a), para iniciarmos a discussão em torno da 
indissociabilidade entre os termos educação e saúde, precisamos, inicialmente, 
compreender a definição de ambos.
Podemos iniciar essa reflexão a partir do conceito de saúde apresentado 
pela Organização Mundial de Saúde, publicado a partir da Conferência 
Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde (1978) o qual define o 
termo como o “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não 
simplesmente a ausência de doença ou enfermidade.” (DECLARAÇÃO DE 
ALMA-ATA, 1978). Porém, necessitamos pensar a saúde, esclarecendo que 
a questão do “bem-estar” precisa ser pensada dentro da legitimação das 
crenças, valores e subjetividade, além da imersão na cultura em que o sujeito 
está inserido. O ritmo, estilo de vida e demais situações ou fatores se agregam 
à compreensão de seu significado.
É muito importante que o(a) professor(a) ou profissional que 
atua com crianças, adolescentes e adultos, conheça o contexto em 
que estará atuando).
12
 Teoria e Práticada Neuropsicopedagogia
A educação também aqui precisa ser definida. e então, partimos da ideia 
de Alvaro Vieira Pinto (2000), argumentando ser a educação um processo, 
um fato existencial e social e um fenômeno cultural. Além disso, relaciona-
se com a economia e a antropologia de uma sociedade. Está sempre dirigida 
para algo, é um processo exponencial, precisa de movimento. É inacabado e, 
por essa razão, tem potencial criador. Envoltos nisso, precisamos entendê-la 
também como contraditória, pois é dessa forma que se recria, retoma, inova.
A saúde e a educação refletem-se no âmbito educacional num movimento 
histórico. Não pretendemos apresentar aqui uma sequenciação de datas e 
períodos. Entendemos a história de forma não linear, num revisitamento entre 
diferentes, complexos e contraditórios períodos vividos em nosso país.
Visite o site da Organização Mundial de Saúde e acesse a 
biblioteca. Lá você encontrará muitas informações sobre esse 
assunto, inclusive às modificações históricas que foram ocorrendo 
e legislações. Site: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/
area/11/biblioteca.html>.
Quando falamos em saúde e em educação, certamente direcionamo-nos 
a alguém. Nesse caso, a atenção à infância. E para melhor compreendê-la 
precisamos significá-la:
Os significados atribuídos à infância são o resultado de um 
processo de construção social, dependem de um conjunto de 
possibilidades que se conjugam em determinado momento 
da história, são organizados socialmente e sustentados 
por discursos nem sempre homogêneos e em perene 
transformação. Tais significados não resultam, como querem 
alguns, de um processo de evolução, nem estão acima e 
à parte de divisões sociais, sexuais, raciais, étnicas... São 
modelados no interior de relações de poder e representam 
interesses manifestos da Igreja, do Estado, da Sociedade 
Civil... Implicam intervenções da filantropia, da religião, da 
medicina, da psicologia, do serviço social, das famílias, da 
pedagogia, da mídia... Contudo, esses significados não são 
estáveis, nem únicos e as linguagens que usamos, ao mudar 
constantemente, são indicativos da fluidez e da mutabilidade 
a que estão sujeitos. (BUJES, 2003, p. 24-25).
Em diferentes momentos da história, houve, também, diferentes 
preocupações em torno da infância, da criança e de sua educação. 
Certamente, caro(a) leitor(a), você já tenha ouvido falar em Philippe Ariès 
13
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
(1981), que tornou-se pioneiro em discutir a história social da criança e 
da família. Este autor é uma referência na discussão por construir uma 
compreensão da infância como um acontecimento caracteristicamente 
moderno. Ele fala de como vai sendo tecida a compreensão da infância e 
define isso como o sentimento da infância. Nesse caso, o “[...] sentimento 
da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde 
à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue 
essencialmente a criança do adulto.” (ARIÈS, 1981, p. 99).
Talvez você esteja se perguntando sobre a relação entre a saúde, a 
educação e a história da infância e da criança. Saiba que é a partir disso que 
conseguiremos tecer entendimentos em torno da saúde e da educação.
Fazendo um recorte histórico, podemos afirmar, por meio de Kuhlmann 
Jr. (1998), que, a partir do final do século XVIII, com a influência do médico-
higienismo, houve uma preocupação com questões de saúde e educação. O 
médico-higienismo, por exemplo, foi um movimento que ocorreu tendo em 
vista a eliminação de doenças na população. Esse trabalho era desenvolvido 
por médicos que também visitavam escolas com esse intuito definido.
Nessa época, iniciavam-se estudos em torno de doenças e micro-organismos. 
Porém, assuntos como a prevenção de doenças e resultados em torno de 
descobertas, tornaram-se mais frequentes a partir de Louis Pasteur (século XIX) 
e demais cientistas, os quais preocuparam-se com o campo da epidemiologia 
e, como consequência, atribuíram à medicina e à higiene uma autoridade 
incontestável. Com base nesses estudos e nas crescentes descobertas em torno 
de doenças e prevenção, os médicos e a medicina foram ganhando espaço e um 
papel importante, senão decisivo nas discussões em torno da criança.
Louis Pasteur era francês. Desenvolveu vacinas 
importantes e pesquisas na área da saúde pública. 
Consolidou estudos em torno da fermentação láctea e até 
hoje se usa o termo “pasteurização”, provindo de seu nome 
Pasteur. Mais informações podem ser obtidas no site: <http://
www.pasteur.saude.sp.gov.br/historia_02.htm>.
 
A partir do século XX, muitas modificações ocorreram no 
campo da medicina e refletiram-se no campo da educação. 
Essas modificações poderão ser acompanhadas de forma mais 
dinâmica se você assistir, através do link abaixo, um filme clássico 
chamado: “Políticas de Saúde no Brasil”. (http://www.youtube.
com/watch?v=cSwIL_JW8X8&feature=endscreen&NR=1).
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Figura 1 – Documentário Políticas de Saúde no Brasil
Fonte: Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br>. Acesso em: 02 out. 2012.
Sinopse: 
TAPAJÓS, Renato. Política de Saúde no Brasil. São Paulo: 
Tapiri Cinematográfica, 2006.
Renato Tapajós é considerado um dos maiores nomes do 
cinema político do país. No documentário Política de Saúde no 
Brasil, ele coloca recortes históricos e socioeconômicos de todo o 
século XX. Tapajós disse em entrevista: “Procuro intercalar diálogos 
e representações: um passo além do simples depoimento”. 
No início do longa-metragem, percebe-se um entusiasmo do 
povo em relação ao ano novo de 1900: Mostrando um contingente 
de pessoas em festa conotando a esperança de um ano próspero 
e feliz. Há muito regozijo e clima de folia. Paradoxalmente, em tom 
jornalístico, surge a figura de um menino que traz sempre novas 
notícias de epidemias ou doenças, as quais acabam de acometer 
o Brasil – em especial nas grandes capitais- como a febre amarela, 
cólera, varíola e malária. 
Em algumas cenas, aborda os operários trabalhando 
em condições insalubres nas fábricas onde são explorados e 
maltratados. Nesse contexto, é revelado que até o início do século 
XX a população pobre só dispunha de atendimento filantrópico, 
nos hospitais de caridade mantidos pelas igrejas. 
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Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
Pelo descaso com a saúde no Brasil e muitas epidemias a 
assolá-lo, as notícias se espalhavam e estrangeiros ou visitantes 
não mais queriam entrar no país. Assim, são tomadas, pelo 
governo, algumas medidas sanitárias de saúde, com o intuito de 
melhorar a visão do Brasil no exterior. 
O médico sanitarista Osvaldo Cruz recorreu a técnicas para 
eliminar o mosquito transmissor da febre amarela, doença em 
alta, utilizando a dedetização dos lugares mais propícios ao 
desenvolvimento do mosquito. No ano de 1904, é decretada a 
vacina obrigatória das massas populares para combater a febre 
amarela. Mais tarde, o médico Emilio Ribas reside com doentes 
de febre amarela com o objetivo de provar que a doença não é 
transmitida pelo contato e convívio humano e, por meio de seu 
sistema de saneamento básico diminui as epidemias no porto da 
cidade de Santos. 
No ano de 1917, ano da Revolução Russa, começa a 
haver greves dos operários, motivados pelas ideologias marxistas 
e anarquistas. No próximo ano, existe uma forte gripe espanhola 
no Brasil, que mata milhares de cidadãos. Na década de 1920, 
os grevistas fazem acordos com os seus patrões voltam para as 
indústrias, a sua revolta foi tão extrema que dominaram a cidade, 
fazendo com que o governador abandonasse o estado de São 
Paulo. A partir disso é criada a lei que regulariza a aposentadoria, 
no ano de 1923: o trabalhador teria que contribuir durante30 anos e 
depois poderia usufruir de uma aposentadoria e assistência médica.
Quase no final das décadas de 20 e começo da de 30, a 
Coluna Prestes percorreu o interior do Brasil e queria implantar 
uma série de reformas, segundo as ideias positivistas vigente na 
época. A Coluna não tem sucesso, desfaz-se e Getúlio toma posse 
da presidência, assumindo uma política que parecia favorecer 
os pobres e menos favorecidos. É considerado pelo povo o “Pai 
dos pobres”. Getúlio cria os IAPs, um tipo de assistência médica. 
Em 1935, é desenvolvido o sistema de saúde chamado de SESP, 
financiado pelos Estados Unidos, que tinha interesse na borracha 
presente na Amazônia. Dessa maneira, a assistência médica 
poderia chegar a diversos lugares carentes e isolados do Brasil, 
nessa região. 
A saúde pública foi sucateada durante mais de 50 anos e essa 
intensificada na Ditadura Militar. Movimentos populares levam à 
criação do SUS- Sistema Único de Saúde- e sua implantação na 
16
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
década de 80, o qual, apesar de sua mazela e ineficiência devido 
à falta de estrutura e investimento, segundo o IBGE, atende quase 
100% da população Brasileira. Os movimentos sociais ainda 
esperam que haja uma humanização maior e maior atenção e 
demanda de recursos financeiros para melhorar o seu atendimento.
Fonte: Disponível em: <http://pt.scribd.com>. 
Acesso em: 02 out. 2012.
Caro(a) leitor(a), foi precisamente a partir de 1920 que se firmou a 
convicção “[...] de que medidas de política sanitária seriam ineficazes se não 
abrangessem a introjeção, nos sujeitos sociais, de hábitos higiênicos, por 
meio da educação”. (CARVALHO, 2003, p. 305). Além disso, o mesmo autor 
afirma que foi a partir da compreensão de agentes políticos da época (a partir 
de 1920) sobre os problemas de saúde pública (certamente havia interesses 
políticos), que se apresentavam de forma crescente, que se pôde pensar 
na reforma dos serviços públicos, da participação política. A modernização 
do país aconteceria dessa forma. Por essa razão, a saúde e a educação se 
configuravam como questões indissociáveis. Há de se considerar a saúde e a 
educação nesta relação, pois uma promove a outra.
A busca por atendimento à saúde não foi algo conquistado de forma fácil 
e ainda não é. Todos nós temos essa consciência. Mas, foi a partir de muitos 
movimentos, interesses e investimentos políticos que a história em torno da 
saúde foi sendo tecida em nosso país, assim como a associação dela com a 
educação.
Para melhor elucidar esses movimentos, caro(a) leitor(a), faremos um 
recorte histórico nos preocupando apenas com o movimento entre saúde 
e educação ou os primeiros indícios dessa relação. Ressaltamos que esse 
movimento certamente teria relação com outros acontecimentos históricos, 
pois não há como fazer história numa linearidade e sucessão de datas apenas. 
Mas, por uma questão didática e para especificar a questão saúde e educação, 
trataremos agora de utilizar um resumo de um trabalho de Patrícia Carla Silva 
do Vale Zucoloto (2007), intitulado: “O Médico Higienista na Escola: As origens 
históricas da medicalização do fracasso escolar”. O referido trabalho é parte 
da sua dissertação de mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento 
Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e consta na 
íntegra no link: <www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rbcdh/v17n1/13.pdf>.
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Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
A presente linha do tempo é um recorte histórico trazendo 
proximidades nas datas e refere-se às primeiras interferências do 
Estado Brasileiro em torno da relação entre saúde e educação:
1850 – A partir dessa data houve grande busca pelo controle 
de epidemias no Rio de Janeiro.
1860 – Movimento médico-higienista começa a tomar força 
nas escolas como forma de controle e fiscalização da saúde das 
crianças.
1865 – Estudos, pesquisas e teses começaram a ser feitas 
por médicos numa área denominada “higiene escolar”. Os estudos 
ficavam concentrados na Faculdade de Medicina da Bahia e na 
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tanto os estudos como 
as pesquisas e teses tinham como objetivo discutir: higiene pública 
escolar; o papel do médico na escola; prescrições higiênicas 
quanto à escola; prescrições higiênicas quanto ao local construído; 
concepção de educação e trabalho pedagógico.
1870/1880 – A questão da higiene pública é entendida e 
definida com olhar de prevenção de doenças.
1890 – Por volta dessa década, começa-se a pensar numa 
higiene escolar com o intuito de elevar a nação brasileira. 
Entendendo que era preciso zelar pelas crianças e jovens, pois 
são o futuro de nosso país e a força propulsora para o progresso 
da nação.
1900 – A importância da higiene escolar era vista como 
forma de possibilitar a renovação do caráter, o combate a vícios, 
transformar os interesses individuais em coletivos, incutir deveres 
para com o trabalho e a nação.
1910 – É criado o serviço de Inspeção Médica Escolar da 
Cidade do Rio de Janeiro, sob direção de Morcovo Filho, médico 
do Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Rio de Janeiro.
1920/ 1930- Médicos marcam presença nas escolas públicas 
e começam a desenvolver a formação dos profissionais da 
educação. Na Bahia, criam-se centros e clínicas de higiene mental 
escolar.
18
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
1939 – É produzido e lançado o primeiro livro sobre problemas 
na aprendizagem escolar, com o título: “A criança problema”, sob 
autoria de Arthur Ramos, que tinha como formação de base a 
medicina e a antropologia.
1940/ 1950- A partir desse período, disseminaram-se, cada 
vez com mais força, pesquisas, trabalhos e investimentos de 
pessoas em torno da problemática saúde e educação. Havia um 
olhar em torno da indisciplina na escola e do mau comportamento 
do(a) aluno(a). Era entendido esse problema como algo próprio do 
sujeito (biológico) e visto como uma anomalia. Houve, então, uma 
crescente busca pela compreensão desse problema.
1940/1950 – Ainda durante esse período e se estendendo até 
o final da década de 60, muitos trabalhos foram publicados tendo 
como objetivo central: o ensino e a educação dos anormais e 
débeis mentais (na época era assim designado aquele que fugia 
dos padrões de normalidade estipulados no contexto); problemas 
de adaptação e desajuste social; problemas de má conduta e 
desvio de caráter; problemas de desajustes no ambiente escolar; 
desajustamentos de condutas infantis.
1970/1980 - Importante ressaltar que em torno dessas 
décadas houve programas de vacinação das crianças na 
escola. Atualmente, ainda são feitas campanhas de vacinação e 
divulgadas em meios de comunicação para imunizar as pessoas e 
evitar epidemias. 
A questão do acompanhamento médico em nosso país varia entre 
localidades e atualmente cada uma delas têm suas políticas de funcionamento, 
sempre seguindo as normas e legislações do Ministério da Saúde e 
demais leis que protegem o cidadão. Inclusive, em determinados locais, há 
acompanhamento médico das crianças na escola, sendo feitas triagens 
com o intuito de buscar possíveis problemas que possam ser trabalhados 
precocemente e, dessa forma, proporcionar uma vida mais saudável para 
essa criança ou, ao menos, oferecer-lhe tratamento de saúde caso necessite, 
promovendo, então, qualidade de vida.
Oferecer tratamentos ou, até mesmo, desenvolver campanhas de prevenção 
de doenças sabemos que não é o único meio de promover a saúde. Essa 
promoção é algo que se conquista com o conhecimento, com esclarecimentos 
em torno das situações da vida. E a escola é o palco por excelência onde o 
19
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
saber institucionalizado se dá. Estar informado, conversar sobre o assunto,buscar conhecimento, questionar, tudo isso faz parte do campo de atuação 
educacional, pois a educação é uma forma de emancipação humana.
Atividade de Estudos: 
1) Caro(a) leitor(a), com esse primeiro item discutido e como 
forma de exercitar a memória dentro dessa construção histórica 
da saúde e da educação, tente conversar com pessoas de 
diferentes faixas etárias sobre a saúde, a vacinação, visita de 
médicos e campanhas dentro do espaço escolar. Veja o que as 
pessoas têm a dizer e faça suas anotações:
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a inter-relação entre neurociência e 
PSicoPeDagogia: interPretanDo o Sujeito 
aPrenDente
Quando pensamos sobre o sujeito em seu processo de aprendizagem ou 
sobre a forma como ele aprende ou não aprende, partimos da ideia de que há 
eixos que sustentam a forma como as pessoas constroem a aprendizagem em 
suas vidas. Poderíamos definir tais eixos como: biológico e social. Certamente 
eles têm uma carga afetiva, cognitiva e psicológica que assegura e configura 
cada pessoa, pois somos construídos pelas experiências que tivemos ao longo 
de nossas vidas.
20
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Sabe-se que mantemos uma carga genética quando nascemos. Chegamos 
ao mundo com bases inscritas a partir daqueles que são nossos pais. 
Mantemos uma espécie de “estrutura” a partir do DNA. Essa herança é o que 
resguarda e fisiologicamente nos faz únicos. Contudo, podemos afirmar que o 
sujeito não pode ser definido apenas nesse sentido. Precisamos pensar nessa 
base biológica para ser possível todo o restante do nosso desenvolvimento. 
Ou seja, é necessário ter pré-condições para desenvolver-se. Nessa direção, 
o cultural não está dissociado do biológico e pensar sobre o é possível.
O cérebro humano é o ponto de partida dessa discussão. Não nos 
limitaremos a discorrer acerca de sinapses, nem sobre partes específicas de 
cada região do cérebro. Nossa discussão partirá da neurociência como suporte 
para compreender os processos de aprendizagem do sujeito e fazer disso o 
embasamento da prática psicopedagógica.
Para aprofundar conhecimentos sobre as partes específicas 
do cérebro e a sua relação com a aprendizagem, sugerimos ler 
o livro: O cérebro e o corpo no aprendizado, escrito por Malcon 
Anderson Tafner e Julianne Fischer e publicado pela editora da 
Uniasselvi no ano de 2004.
Mas, a neurociência, o que seria esse termo? 
Segundo Ésper Cavalheiro (2011), pesquisador da Universidade Federal 
de São Paulo e um dos mais importantes neurocientistas do Brasil, o termo 
neurociência é relativamente recente. Esse termo tentou abarcar todas 
as divisões das pessoas que estudam o sistema nervoso. A neurociência é 
um ramo da biologia. É a biologia interessada na compreensão da função 
cerebral. A partir da neurociência foi possível, com aparelhos específicos, 
capturar imagens do cérebro em atividade e compreendê-lo em seu 
funcionamento. Através da neurociência, é possível entender as razões 
fisiológicas relacionadas ao sujeito e possíveis lesões que causam ou podem 
causar problemas no seu desenvolvimento e na aprendizagem. É através 
da neurociência que poderemos compreender como se dá o processo de 
aprendizagem para qualquer pessoa e, então, através da contextualização, 
compreender como o sujeito específico aprende. Pois a estrutura cerebral 
entre os sujeitos pode ser semelhante, mas os caminhos para a aprendizagem 
consolidar-se é construído de forma singular.
21
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
Relacionado a esse assunto e para aprofundar os 
conhecimentos, sugerimos que ouça pesquisadores da área e 
também o professor Ésper Cavalheiro, da Universidade de São 
Paulo. Convidamos você, caro(a) leitor(a), a assistir a um vídeo 
sobre o cérebro e a neurociência que apresenta, com imagens e 
uma discussão bastante didática, esclarecimentos em torno dessa 
questão. Acesse o link: <http://www.youtube.com/watch?v=h9AJbri
NqSw&feature=related>.
Jean Piaget (1990) foi um dos pioneiros a discutir sobre a base biológica 
da aprendizagem do sujeito. Para pensarmos sobre essa questão, precisamos 
entender que nosso cérebro se desenvolve a partir da organização, reorganização 
e estabilização (Piaget usava os termos: assimilação, acomodação e equilibração) 
do conhecimento, considerando as experiências vividas. 
Nesse caso, para o autor, a assimilação refere-se a um novo conhecimento 
adquirido, um conhecimento que se consolida através do entendimento 
da pessoa (subjetivo). A acomodação relaciona-se ao assentamento das 
experiências que já vivemos e entendemos e que, por meio da assimilação 
estão estruturadas, mas que, à medida que vivemos outras experiências, 
acabamos reestruturando-as constantemente. Já a equilibração funciona 
como um mecanismo autorregulador. (PIAGET, 1984). Por exemplo, digamos 
que uma criança está vivendo uma determinada experiência (completamente 
nova ou já vivida noutro momento). Através disso, tenta entender (assimilar) o 
estímulo que está recebendo. Feito isso, ela acomoda o novo conhecimento 
e permanece num estado de equilibração dessa experiência. Assim, organiza 
suas ideias em torno da situação, mantém-se em equilíbrio. Importante lembrar 
que para haver aprendizagem é preciso haver “desequilíbrio”, pois o que faz 
com que o sujeito aprenda (assimile) é justamente a busca pelo entendimento 
através da experiência. Se não houver busca por entendimento não há como 
organizar o conhecimento. 
Essa questão do conhecimento independe de a criança ou o sujeito 
ter alguma dificuldade, transtorno ou distúrbio na aprendizagem ou, até 
mesmo, alguma deficiência, pois, antes de qualquer “problema” que se possa 
apresentar, todo e qualquer sujeito, dentro de suas limitações, tem capacidade 
de aprender, de organizar o conhecimento.
O ponto chave do processo de aprendizagem a partir de Jean Piaget (1984) 
e para o trabalho prático dentro da neuropsicopedagogia é compreender que 
22
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
é destituído de sentido o conhecimento que não se relacione com o interesse 
do educando. Por essa razão, tanto se fala da importância da contextualização 
para poder promover a materialização de uma prática pedagógica em sala de 
aula. Também por essa razão não há como desenvolver práticas possíveis de 
serem aplicadas sem devidos “ajustes” que façam sentido em meios sociais 
diferentes, pois é preciso primeiro conhecer uma realidade e os sujeitos dela 
para, então, conseguir compreender como esse sujeito vai aprender. 
Conhecer a realidade significa conhecer o(a) aluno(a), sua 
família, sua história, a comunidade em que vive, enfim, tudo 
aquilo que se relaciona com o sujeito e que é importante de ser 
considerado no seu processo de aprendizagem.
Um passo muito importante para compreender como a criança aprende 
é considerar a motivação e o interesse dela na aprendizagem. Logo abaixo, 
apresentamos uma tirinha do personagem Calvin que elucida a situação:
Fonte: Disponível em: <http://depositodocalvin.blogspot.
com/2010/03/blog-post.html>. Acesso em: 02 out. 2012.
Na tirinha acima vemos que, a princípio, não há motivação do personagem 
“Calvin” para ir à escola. Mas, algo dentrodele o fez levantar e ir a partir 
do questionamento da mãe. Com essa ilustração, queremos apresentar a 
você, caro(a) leitor(a), que a motivação e o interesse, embora pareçam ser 
externos ao sujeito, são um processo que acontece internamente a partir 
da reestruturação do seu conhecimento quando encontram situações ou 
experiências que conflitam com as suas previsões e, de alguma forma, 
despertam sua atenção. Motivação é aquilo que move o sujeito para seguir em 
busca daquilo que o interessa. (PIAGET, 1984). Além disso, esta questão está 
relacionada a aspectos da afetividade. 
23
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
Nunca há ação puramente intelectual (sentimentos múltiplos 
intervém, por exemplo: na solução de um problema 
matemático, interesses, valores, impressão de harmonia, 
etc.) Assim como também não há atos que sejam puramente 
afetivos (o amor supõe a compreensão.) Sempre e em todo 
o lugar, nas condutas relacionadas tanto a objetos como a 
pessoas, os dois elementos intervém, porque se implicam 
um ao outro. (PIAGET, 1984, p. 38).
A questão do interesse, como vimos, está relacionada também à 
afetividade para, assim, construir a compreensão das coisas. Isso, de certa 
forma e para qualquer situação, causa desequilíbrio e o que chamados 
de “conflitos cognitivos”. São eles que impulsionam hipóteses a partir 
de quando o raciocínio não é confirmado. Por essa razão, é importante 
promover situações em que os alunos estejam em conflito, reflitam para 
transpor suas limitações cognitivas e reorganizar o saber, o conhecimento. 
Também nesse movimento ocorrem as interações sociais, as amizades, 
a cooperação entre os sujeitos, o meio que promove também conflitos, 
desequilíbrio e, consequentemente, aprendizagem. 
É importante lembrar que em termos de trabalho pedagógico, na 
construção da aprendizagem escolar todo esse movimento se constrói e se 
conquista a partir do momento em que se conhece esse sujeito, seu contexto 
e sua história. É a partir disso que se torna possível a construção da prática 
educacional porque então saberemos sobre o que motiva esse sujeito, o que 
gera interesse em sua vida. Lembre-se daquilo que afirmamos inicialmente: o 
sujeito tem uma carga biológica e outra social.
Vimos discutindo sobre a forma de conduzir os processos de aprendizagem 
e indicamos caminhos para refletir sobre o assunto por meio da neurociência. 
A não aprendizagem, quando não considerada como assunto relevante, pode 
atingir o campo emocional da criança, desenvolvendo sentimentos negativos 
a respeito de si, do conteúdo, da escola e daqueles sujeitos envolvidos na 
situação. Dessa gama de relações podem surgir as lacunas de aprendizagem, 
que necessitam ser reconstruídas a partir da intervenção psicopedagógica ou 
numa abordagem pedagógica relacionada à neurociência. Pois, entendendo 
como o sujeito aprende e quais os caminhos percorridos para a aprendizagem, 
é possível intervir de modo eficaz.
24
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Importante lembrar que a psicopedagogia tem como eixo 
norteador de trabalho a busca pela compreensão dos processos 
de aprendizagem e não aprendizagem e a construção dos 
caminhos que levam um sujeito a aprender. Para aprofundar 
estudos em torno do que é de competência da psicopedagogia 
trabalhar, informações e legislação sobre o assunto, 
convidamos você a visitar a página da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia por meio do link: <www.abpp.com.br/>.
Atividade de Estudos: 
1) Como forma de refletir sobre o que vimos discutindo e exercitar 
as novas informações adquiridas, tente pensar na sua prática 
profissional em uma ou mais situações em que você, conduzindo 
o processo de aprendizagem de crianças ou jovens, conseguiu 
perceber o conflito e a reorganização do saber desse sujeito.
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Entender o sujeito tendo em vista suas bases biológicas, sua história e 
o contexto, ou seja, os aspectos sociais é determinante para a construção 
da aprendizagem escolar. Além disso, é muito importante poder contar com 
o suporte de algumas especialidades da área da saúde como auxílio neste 
processo quando assim for necessário. Sobre esse assunto trataremos de 
discutir na próxima seção.
25
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
aS eSPecializaçõeS Da MeDicina coMo aPorte 
Do ProceSSo De enSino e aPrenDizageM.
Certamente você deve lembrar, caro(a) leitor(a), sobre a construção 
histórica em torno da medicina e a relação dela com a educação, a qual 
discutimos no início deste capítulo. Gostaríamos de reforçar a presença 
e importância de áreas da medicina na educação diante das dificuldades 
encontradas em torno dos processos de aprendizagem.
Áreas da medicina como: psiquiatria, neurologia (neuropediatria), 
otorrinolaringologia, ortopedia, nutrologia são os campos indicados como 
suporte aos processos de aprendizagem. 
Lembre-se, caro(a) leitor(a), de algumas definições, segundo 
o dicionário Aurélio (1999):
Psiquiatria: Parte da medicina que trata do estudo e do 
tratamento de doenças mentais.
Neurologia: Ramo da medicina que se ocupa das doenças do 
sistema nervoso em todos os seus aspectos.
Neuropediatria: Ramo da medicina que se ocupa das doenças 
do sistema nervoso em todos os seus aspectos em crianças.
Otorrinolaringologia: Parte da medicina consagrada ao 
estudo e tratamento das doenças do ouvido, do nariz e da garganta.
Ortopedia: Ramo da medicina que se ocupa do tratamento e 
estudo de doenças do esqueleto.
Nutrologia: Ramo da medicina que se ocupa da nutrição em 
todos os seus aspectos: normais, patológicos, clínicos e terapêuticos.
Além disso, sabemos que áreas equivalentes, como a psicologia, 
fisioterapia, fonoaudiologia, nutricionismo, odontologia, embora não sejam 
áreas da medicina, estão inseridas no campo da saúde, exercem a práxis no 
resgate desse sujeito e atuam como suporte da educação.
26
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Lembre-se, caro(a) leitor(a), conforme o dicionário Aurélio (1999):
Psicologia: Ciência dos fenômenos psíquicos e do 
comportamento. (Profissional que atua: psicólogo).
Fisioterapia: Tratamento de doença por meio do exercício e 
de agentes físicos. (Profissional que atua: fisioterapeuta).
Fonoaudiologia: Estudo da fonação e da audição das 
suas perturbações e tratamento delas. (Profissional que atua: 
fonoaudiólogo).
Nutricionismo: Estudo sistemático dos problemas relativos à 
nutrição. (Profissional que atua: nutricionista, que planeja dieta de 
acordo com o sujeito e a situação).
Odontologia: ciência que se ocupa da higiene, profilaxia e 
tratamento das doenças dentárias. (Profissional que atua: dentista).
Sabe-se que a questão da promoção da saúde também está relacionada 
a políticas públicas. Nesse caso, salientamos os direitos da criança e do 
adolescente garantidos em forma de lei pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA (BRASIL, 1990):
Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à 
vida e à saúde, mediante a efetivaçãode políticas sociais 
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento 
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único 
de Saúde, o atendimento pré e perinatal. 
§ 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis 
de atendimento, segundo critérios médicos específicos, 
obedecendo-se aos princípios de regionalização e 
hierarquização do Sistema.
27
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
§ 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo 
mesmo médico que a acompanhou na fase pré-natal.
§ 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à 
gestante e à nutriz que dele necessitem.
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência 
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-
natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as 
consequências do estado puerperal. (Incluído pela Lei nº 
12.010, de 2009)Vigência
§ 5º A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser 
também prestada a gestantes ou mães que manifestem 
interesse em entregar seus filhos para adoção. (Incluído pela 
Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores 
propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, 
inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa 
de liberdade.
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à 
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de 
prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua 
impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, 
sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade 
administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica 
de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem 
como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem 
necessariamente as intercorrências do parto e do 
desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a 
permanência junto à mãe.
Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da 
criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único 
de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da 
saúde. (Redação dada pela Lei nº 11.185, de 2005).
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência 
receberão atendimento especializado.
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles 
que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos 
relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
28
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde 
deverão proporcionar condições para a permanência em 
tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de 
internação de criança ou adolescente.
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-
tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente 
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, 
sem prejuízo de outras providências legais. 
Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem 
interesse em entregar seus filhos para adoção serão 
obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da 
Juventude. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas 
de assistência médica e odontológica para a prevenção 
das enfermidades que ordinariamente afetam a população 
infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, 
educadores e alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos 
casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
Fique atento(a), caro(a) pós-graduando(a): as leis podem 
sofrer modificações em sua estrutura, mas elas existem para 
defender o sujeito e também cobrar seus deveres. Mesmo que 
mude em algum aspecto, elas continuarão exercendo sua função.
O ECA (BRASIL, 1990) é um meio de assegurar os direitos a toda e 
qualquer criança e adolescente que necessite de acompanhamento médico, 
seja qual for a área da medicina ou saúde. E o papel do(a) professor(a) é 
muito importante neste caso, pois ele é o agente que intermediará esse 
atendimento ou fará esta solicitação e/ou encaminhamento junto aos órgãos 
afins. O(A) professor(a), por atuar diretamente com a criança ou o adolescente 
que possa apresentar algum problema relacionado à saúde e processos de 
aprendizagem, tem a obrigação de buscar uma solução junto aos órgãos 
competentes e esta atuação está assegurada em forma de lei.
Certamente é necessário que se tenha a consciência de que há diferenças 
individuais no desenvolvimento intelectual das crianças. Isso não significa 
ser “mais” ou “menos” inteligente e também não servirá como mecanismo de 
comparações. As pessoas aprendem de maneiras distintas e a aprendizagem 
acontece dentro do tempo de cada sujeito. As áreas da medicina e saúde vêm 
para auxiliar a educação, na medida em que a educação necessite de aporte 
para construir, reconstruir e ressignificar a aprendizagem. 
29
Diálogo entre eDucação e SaúDe Capítulo 1 
alguMaS conSiDeraçõeS
Caro(a) leitor(a), neste capítulo você pode conhecer aspectos sobre 
a correlação entre a saúde e a educação através de momentos históricos 
importantes, bem como os aspectos das neurociências (e neurologia) que 
estão relacionados à aprendizagem do sujeito. Compreendeu a importância da 
medicina como uma ferramenta de auxílio para o(a) professor(a) em sala de 
aula, bem como aparatos legais que asseguram esse processo.
Salientamos que a medicina teve e ainda tem um grande peso nas 
decisões sobre a aprendizagem e a não aprendizagem das crianças na escola. 
De um lado, ela pensou e, em algumas circunstâncias, ainda pensa a saúde 
das crianças e jovens tendo em vista a base biológica de seu desenvolvimento 
com maior peso. Por vezes, a medicina vê que a saúde é uma questão 
individual e decorrente do organismo (biológico) do sujeito. Mas não podemos 
deixar de considerar que a saúde também é um problema de políticas públicas 
e que a aprendizagem e não aprendizagem escolar está relacionada muito 
fortemente à qualidade de vida do sujeito, seu meio e sua história.
referênciaS
ARIÈS, Philippe. A História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: 
LTC, 1981.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 
13/07/1990. Florianópolis: IOESC, 1990.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Infância e Maquinarias. Rio de Janeiro: 
DP&A, 2003.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Quando a história da Educação é a 
história da disciplina e da higienização das pessoas. In: FREITAS, Marcos 
Cezar. (Org.). História Social da Infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 
2003.
CAVALHEIRO, Ésper. O Cérebro e a Neurociência: Programa produzido 
pela Univesp TV para o curso de extensão Ética Valores e Saúde na 
Escola, oferecido pela Universidade de São Paulo. 2011. Disponível 
em: <http://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&feature=related>. 
Acesso em: 27 out. 2012.
30
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
FERREIRA, A. B. H. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. [CD-ROM] 
versão 3.0. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática; 
1999.
KUHLMANN JÚNIOR, Moysés. Infância e Educação Infantil: Uma 
abordagem histórica. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 1998.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Declaração de Alma-Ata. 1978.
PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense-
Universitária, 1984.
______. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
PINTO, Alvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo: 
Cortez, 2000.
ZUCOLOTO, Patrícia Carla Silvado Vale. O médico higienista na escola: as 
origens históricas da medicalização do fracasso escolar. Revista Brasileira 
de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 1, n. 17, p.136-
145, 1 fev. 2007. Semestral.
CAPÍTULO 2
O LaudO e sua COntribuiçãO 
para a eduCaçãO
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Discutir a importância legal do laudo. 
 3 Compreender o laudo e construir a prática pedagógica a partir disso. 
 3 Descrever o papel dos profissionais da educação em relação ao sujeito 
diagnosticado e o seu contexto social. 
32
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
33
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
COntextuaLizaçãO
Caro(a) leitor(a), neste segundo capítulo, após discutirmos e nos 
conscientizarmos da importância de compreender a saúde e a educação como 
indissociáveis, apresentaremos a você a importância do laudo médico em 
seus aspectos legais e o apoio dos demais profissionais que podem auxiliar no 
processo de aprendizagem da criança quando for necessário.
Pretendemos abrir uma discussão e uma reflexão crítica em torno da 
necessidade dos encaminhamentos e possíveis equívocos que podem 
surgir caso esse documento não seja interpretado adequadamente. Além 
disso, buscaremos problematizar algumas questões sobre o consumo de 
medicamentos no momento histórico em que vivemos.
Sabe-se que a partir do laudo apresentado pelo médico ou profissional da 
saúde, é preciso construir uma prática pedagógica que possibilite interação e 
aprendizagem escolar do sujeito diagnosticado. Em virtude disso, perguntamo-
nos: como poderemos pensar sobre isso? Como materializar essa prática? 
Como criaremos significados em torno do que foi dito ou escrito a partir do 
diagnóstico, tanto para a vida escolar do(a) aluno(a) quanto para ele(a) como 
sujeito social?
Essas reflexões tecerão este capítulo com o intuito de auxiliá-lo(a), 
caro(a) leitor(a), em sua caminhada de ensinante e aprendente em diferentes 
contextos diante da problemática apresentada.
apOrtes Legais dO LaudO e sua COntribuiçãO 
para a prátiCa pedagógiCa
Transtornos, distúrbios, dificuldades de aprendizagem, “desajustes 
comportamentais”, sofrimentos alheios, enfim, muitas vezes, encontramo-nos 
de mãos atadas diante da dimensão a enfrentar em torno das adversidades da 
profissão nos mais diferentes contextos a atuar.
Certamente, ao pensar na profissão de professor, há que se compreender 
que o “ensino” e a “aprendizagem” são um processo, em determinados 
momentos, de difícil compreensão e apreensão, que não se restringe apenas 
a processos mentais e individuais, mas sociais e intersubjetivos.
Para auxiliar o trabalho docente, atualmente há pesquisas, leis e incentivo, 
auxílio e/ou apoio às crianças que apresentam algumas necessidades 
especiais ou deficiência e que, de certa forma, necessitem de adequações 
34
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
em relação aos conteúdos, ao currículo proposto, às instalações locais e 
procedimentos atitudinais. Certamente o funcionamento disso, na prática, 
acontecerá com o apoio de políticas públicas locais. Porém vale ressaltar 
que tais processos são determinados em lei e que nós, professores, quando 
percebemos a necessidade de encaminhamento das crianças para o 
atendimento, precisamos buscar nos órgãos competentes o devido apoio.
É muito importante, caro(a) leitor(a), conhecer os caminhos 
que asseguram o sujeito que está precisando de atendimento 
educacional especializado. Para isso, indicamos como leitura 
o portal do Governo Federal. Nele há inúmeras leis, decretos 
e normatizações relacionadas ao assunto. Vá em busca desse 
conhecimento acessando o link: <http://portal.mec.gov.br/index.
php?option=com_content&view=article&id=16761&Itemid=1123>. 
Sabe-se que a partir da Constituição Federal (1988), os direitos (e 
deveres) de todo e qualquer cidadão foram assegurados. Assim, temos leis 
específicas em cada setor (Ministérios) para a efetivação desses direitos 
e deveres. Queremos, com isso, afirmar que a Constituição seria o primeiro 
caminho para buscar a efetivação dos direitos (e deveres), principalmente para 
o atendimento médico do sujeito que necessite. 
No caso de este sujeito ser uma criança ou adolescente, se observarmos 
o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), instituído pela Lei no 
8.069, nele consta, em seus direitos fundamentais, orientações de atendimento 
na área da saúde desde o nascimento, incluindo, se necessário, exames, 
laudos e/ou diagnósticos, conforme discutimos no capítulo primeiro de nosso 
caderno de estudos. O Estado e seus Municípios assegurarão o acesso a 
esses serviços e seu devido funcionamento.
Muitas vezes, é a partir do momento em que a criança passa a frequentar 
Instituições de Educação que são detectados problemas na aprendizagem. Há 
momentos em que isso ocorre na Educação Infantil e outros apenas no Ensino 
Fundamental.
É papel do professor(a) conversar e orientar os pais quando percebe 
dificuldades no desenvolvimento das atividades escolares, alterações no 
comportamento da criança e, então, é dever da família buscar atendimento 
na área da saúde. Porém, é importante salientar que ao(à) professor(a) não 
cabe a tarefa de diagnosticar, definir ou nominar o problema que o(a) aluno(a) 
35
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
tenha. O(A) professor(a) apenas esclarecerá aos pais sobre a necessidade 
de a criança ser encaminhada para um profissional da saúde, geralmente um 
médico clínico geral e este reencaminha aos profissionais específicos para 
tratar e acompanhar a criança em questão.
O laudo médico é o documento necessário que assegura atendimento 
especializado para a criança que apresentar alguma deficiência e explica 
em termos médicos o que a criança apresenta como consequência do “não 
aprender” ou das dificuldades enfrentadas no âmbito escolar, sejam estas de 
ordem cognitiva/comportamental sejam de ordem social. É muito importante, 
conforme Montoya (1996) e Ramozzi-Chiarottino (1994), que criança tenha um 
diagnóstico precoce, para que, então, seja feita uma intervenção adequada 
conforme suas necessidades. 
A questão do laudo do diagnóstico é discutida amplamente 
num documento chamado: “Documento Subsidiário à Política da 
Inclusão”. É muito importante tomar conhecimento disso, caro(a) 
pós-graduando(a). É possível obter o documento na íntegra, 
acessando o link: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/doc
subsidiariopoliticadeinclusao.pdf>.
Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), Lei 
no 9.394/96, houve especificações sobre o atendimento à educação e 
suas diferentes faixas etárias, bem como o direcionamento a posteriores 
documentos, buscando assegurar à criança seu pleno desenvolvimento no 
âmbito educacional. Assim, a partir da LDB, foram discutidos e elaborados 
documentos norteadores para o atendimento educacional em escolas e demais 
Instituições de Educação. Um documento importante para seu conhecimento, 
caro(a) leitor(a), é o Decreto no 3.298 de 20 de dezembro de 1999. Parte dele, 
destinada à área da Saúde, descreve sobre os diagnósticos (BRASIL, 1999):
Seção I
Da Saúde
Art. 16. Os órgãos e as entidades da Administração Pública 
Federal direta e indireta responsáveis pela saúde devem 
dispensar aos assuntos objeto deste Decreto tratamento 
prioritário e adequado, viabilizando, sem prejuízo de outras, 
as seguintes medidas:
36
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
§ 2º A deficiência ou 
incapacidade deve 
ser diagnosticada 
e caracterizada por 
equipe multidisciplinar 
de saúde, para fins 
de concessão de 
benefícios e serviços.
§ 2º Para efeito do 
dispostoneste artigo, 
toda pessoa que 
apresente redução 
funcional devidamente 
diagnosticada 
por equipe 
multiprofissional terá 
direito a beneficiar-
se dos processos 
de reabilitação 
necessários para 
corrigir ou modificar 
seu estado físico, 
mental ou sensorial, 
quando este constitua 
obstáculo para sua 
integração educativa, 
laboral e social.
I - a promoção de ações preventivas, como as referentes 
ao planejamento familiar, ao aconselhamento genético, ao 
acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, à 
nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao controle 
da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças 
do metabolismo e seu diagnóstico, ao encaminhamento 
precoce de outras doenças causadoras de deficiência, e à 
detecção precoce das doenças crônico-degenerativas e a 
outras potencialmente incapacitantes;
§ 2º A deficiência ou incapacidade deve ser diagnosticada e 
caracterizada por equipe multidisciplinar de saúde, para fins 
de concessão de benefícios e serviços.
§ 2º Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que 
apresente redução funcional devidamente diagnosticada 
por equipe multiprofissional terá direito a beneficiar-se 
dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou 
modificar seu estado físico, mental ou sensorial, quando este 
constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e 
social.
Art. 20. É considerado parte integrante do processo de 
reabilitação o provimento de medicamentos que favoreçam 
a estabilidade clínica e funcional e auxiliem na limitação da 
incapacidade, na reeducação funcional e no controle das 
lesões que geram incapacidades. 
Art. 21. O tratamento e a orientação psicológica serão 
prestados durante as distintas fases do processo reabilitador, 
destinados a contribuir para que a pessoa portadora de 
deficiência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua 
personalidade.
Parágrafo único. O tratamento e os apoios psicológicos 
serão simultâneos aos tratamentos funcionais e, em todos 
os casos, serão concedidos desde a comprovação da 
deficiência ou do início de um processo patológico que 
possa originá-la.
Art. 22. Durante a reabilitação, será propiciada, se 
necessária, assistência em saúde mental com a finalidade 
de permitir que a pessoa submetida a esta prestação 
desenvolva ao máximo suas capacidades.
Art. 23. Será fomentada a realização de estudos 
epidemiológicos e clínicos, com periodicidade e abrangência 
adequadas, de modo a produzir informações sobre a 
ocorrência de deficiências e incapacidades.
Diante disso, vemos a importância do amparo da área da saúde, por meio 
de laudos médicos, para auxiliar na conquista do apoio necessário para o 
37
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
atendimento às crianças que apresentem não apenas as deficiências comuns 
que encontramos nas escolas como: deficiência visual, mental, física, paralisia 
cerebral, surdez, etc., mas, também, os transtornos globais do desenvolvimento 
como, por exemplo: transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a 
Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett, distúrbios 
e dificuldades que interferem no processo de aprendizagem e atingem muitas 
crianças em diferentes contextos. 
Sobre os Transtornos Globais do desenvolvimento, assim como 
sobre deficiências, dificuldades e distúrbios de aprendizagem, 
convidamos você, caro(a) leitor(a), a visitar o site da Revista Nova 
Escola e ler um pouco sobre o assunto. A referida revista traz 
conteúdos didáticos, de fácil compreensão, e boas indicações de 
bibliografias para aprofundamento do assunto. O link de acesso é: 
<http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/
transtornos-globais-desenvolvimento-tgd-624845.shtml>.
É importante salientar que muitos problemas que acompanham as 
crianças e podem interferir ou dificultar o seu desenvolvimento escolar 
não estão caracterizados como problemas de fato. Por exemplo, muitas 
vezes a forma como fala, a forma como expressa seus pensamentos por 
conta de expressões culturais e/ou regionais, o jeito como interage com os 
demais sujeitos, são vistos a partir de preconceitos que são estabelecidos 
e normalizados no local. Nesse caso, refletimos fazendo uso do que foi 
disposto na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994). Embora muitos 
acreditem que ela esteja direcionada à Educação Especial, destina-se à 
Educação para todos, afirmando que compete aos governos atribuírem 
“[...] a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de 
seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem 
todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades 
individuais.” (UNESCO, 1994, item 2). Afirma-se, ainda, que: 
• toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a 
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,
• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades 
de aprendizagem que são únicas. (UNESCO, 1994, item 2).
A Declaração de Salamanca foi um dos documentos que trouxe 
importantes reflexões em torno da Educação. Foi a partir dela que houve a 
38
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
reorganização e a reformulação de documentos, políticas e práticas voltadas 
ao atendimento especializado às crianças nas escolas e que abarcassem não 
apenas às crianças com deficiências, mas a todas as crianças considerando 
suas especificidades. Com a declaração de Salamanca reafirma-se que 
a escola é o local em que há diversidade e que nenhuma criança é igual à 
outra. Que todos têm direito de aprender e aprendem em seu tempo. Neste 
documento é possível de se entender também que as crianças são mais 
importantes do que suas diferenças e limitações e não deve ser é isso um 
elemento gerador de impasses e impedimentos, mas acesso ao conhecimento 
e troca a partir da diversidade, respeito e alteridade mútuos.
A partir desse entendimento, caro(a) leitor(a), e como forma de 
aprofundar seus conhecimentos em torno da discussão sobre as diferenças 
individuais, convidamos você a fazer a leitura de um trecho de um 
importante documento intitulado: 
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva 
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2007). 
V – Alunos atendidos pela Educação Especial
[...]
Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as 
escolas regulares com orientação inclusiva constituem os meios 
mais eficazes de combater atitudes discriminatórias e que alunos 
com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à 
escola regular, tendo como princípio orientador que “as escolas 
deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas 
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas 
ou outras.” (BRASIL, 2006, p.330). O conceito de necessidades 
educacionais especiais, que passa a ser amplamente disseminado 
a partir dessa Declaração, ressalta a interação das características 
individuais dos alunos com o ambiente educacional e social. No 
entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para 
a organização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta 
o acesso de todos os alunos e os apoios necessários para sua 
participação e aprendizagem, as políticas implementadas pelos 
sistemas de ensino não alcançaram esse objetivo. 
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial 
passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, 
promovendo o atendimento às necessidades educacionais 
39
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de 
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes 
casos e outros, que implicam em transtornos funcionais 
específicos, a educação especial atua de forma articuladacom o ensino comum, orientando para o atendimento às 
necessidades educacionais especiais desses alunos. 
A educação especial direciona suas ações para o atendimento às 
especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito 
de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de 
redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, 
serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. 
Os estudos mais recentes no campo da educação especial 
enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser 
contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou 
categorização atribuída a um quadro de deficiência, transtorno, 
distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as pessoas se 
modificam continuamente, transformando o contexto no qual se 
inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada 
para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos 
ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de 
todos os alunos. 
A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com 
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de 
natureza física, mental ou sensorial que, em interação com 
diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena 
e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos 
globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam 
alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e 
na comunicação, um repertório de interesses e atividades 
restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo 
alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e 
psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação 
demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes 
áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, 
psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, 
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas 
de seu interesse.
Fonte: Documento n° 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria 
n° 948, de 09 de outubro de 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seesp/arquivos/txt/revinclusao5.txt>. Acesso em: 14 ago. 2012.
40
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
É importante salientar que o trabalho pedagógico de sala de aula requer, 
em vários momentos, adequações para o atendimento ao alunado. Não são 
as crianças que precisam se adequar à Escola, mas a Escola comprometer-
se em atender a diversidade. Por essa razão, fala-se no termo “Inclusão” num 
sentido maior, pois:
Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às 
necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos 
os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma 
educação de qualidade a todos através de um currículo 
apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de 
ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. 
Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e 
apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais 
encontradas dentro da escola. (UNESCO,1994).
Certamente nós, professores, não iremos atingir a todos os alunos a todo 
o momento em relação ao processo de aprendizagem, mas é nosso papel 
refletir sobre o assunto e ter um entendimento de que as classes escolares são 
heterogêneas e, cada vez mais, faz-se necessário adequar-nos a sistemas de 
ensino que compreendam e exerçam sua função: construir o conhecimento 
a partir da diversidade, oferecendo, também, meios diversos de aprender de 
acordo com a demanda que se apresenta.
Para acompanhar os professores frente à demanda existente diante dos 
problemas de aprendizagem dos alunos, vem a área da saúde atuar como auxiliar, 
buscando oferecer o diagnóstico e a terapêutica complementar independente do 
meio utilizado. Mas, precisamos refletir novamente, conforme já questionado no 
início deste capítulo, sobre como construir uma prática pedagógica que possibilite 
interação e aprendizagem escolar desse sujeito diagnosticado. Como poderemos 
pensar sobre isso? Como materializar essa prática? Como criaremos significados 
em torno do que foi dito ou escrito a partir do diagnóstico, tanto para a vida 
escolar do(a) aluno(a) quanto para ele(a) como sujeito?
É importante salientar, conforme discutido anteriormente, que o diagnóstico 
médico ou de profissional da saúde assegura atendimento à criança que precise 
de apoio especializado por apresentar problemas específicos na aprendizagem. 
Ele é necessário a partir de leis, esclarecedor em torno do que o sujeito apresenta 
e decisivo na busca de mais esclarecimentos sobre problemas específicos que o 
sujeito apresentou. Sendo assim, ele possibilita a busca por aprofundamento 
na pesquisa sobre o assunto e na construção de caminhos pedagógicos que 
incluam e conduzam o sujeito no processo de aprendizagem.
41
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
Atividade de Estudos: 
1) A partir dos questionamentos apresentados anteriormente, 
convidamos você, caro(a) leitor(a), a buscar, na secretaria de 
sua escola, um laudo médico de um(a) aluno(a). Faça a leitura 
dele e escreva nas linhas abaixo o que compreendeu desse 
laudo e como poderia ser possível o trabalho com esse sujeito 
no contexto da sala de aula.
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Leitura e prOduçãO de signifiCadOs: O LaudO 
para O sujeitO e seu COntextO eduCaCiOnaL
Até o momento, caro(a) pós-graduando(a), vimos discutindo sobre a 
importância do laudo para o trabalho pedagógico. Certamente, o laudo em 
si e isoladamente não resolverá nossos problemas em sala de aula, pois é 
a partir dele que será materializada a prática pedagógica de resgate desse 
sujeito em relação ao processo de ensino e aprendizagem. O laudo é 
importante e necessário para conquistar o atendimento paralelo (por direito), 
para um segundo professor em sala de aula (quando necessário) e demais 
procedimentos técnicos que somente um médico poderá prescrever.
42
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Sobre o segundo professor e sobre o apoio legal que assegura 
atendimento diferenciado neste caso, convidamos você, caro(a) 
leitor(a), a aprofundar a leitura com a Resolução no 4 de 2 de 
outubro de 2009. O link de acesso é: <http://peei.mec.gov.br/
arquivos/Resol_4_2009_CNE_CEB.pdf>.
Diante disso, é importante saber que, em alguns casos, esse sujeito 
diagnosticado já perpassou outras instituições. Muitas vezes, diante da 
própria “dificuldade, distúrbio ou transtorno” que tem, muitas frustrações o 
acompanham. Por vezes, há grande desmotivação dele e da família. O trabalho 
pedagógico pós-laudo, nesse caso, tem como eixo norteador uma espécie de 
reconfiguração do aprender.
Para melhor compreender a questão, apresentamos a você, caro(a) 
leitor(a), o laudo de uma criança que frequentou, no ano de 2008, o 4º ano 
do ensino fundamental em escola pública no Estado de Santa Catarina. 
Este aluno frequentou a sala de aula em que eu, professora Cláudia, tive a 
oportunidade de atuar eaprender a construir a prática.
LaudO neurOLógiCO:
O menor João dos Santos, 9 anos, apresenta atraso no desenvolvimento 
neuropsicomotor com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e 
transtorno opositor-desafiador secundários.
O mesmo precisa de estimulação global com postura familiar em todos os 
aspectos, elogiando e recompensando os pontos positivos, com limites claros 
e objetivos, tendo uma disciplina equilibrada nas situações em que João não 
as cumpre.
A escola se possível deve ter intervenções específicas como sempre ter 
a mesma arrumação de carteiras; colocar João perto do(a) professor(a), longe 
de crianças que o provoquem; começar com tarefas simples e gradualmente 
mudar para mais complexas; comunicar-se com os pais; favorecer 
oportunidades para movimentos monitorados; recompensar os esforços e o 
comportamento bem sucedido. A escola e o(a) professor(a) não devem ser 
mártires e sim reconhecer seus limites e sua tolerância.
43
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
Estou à disposição para maiores informações.
Doutor Castilho Fernandes
CRM 0101
Neuropediatria
Observação: O laudo traz pseudônimos, mas o conteúdo é real.
O aluno ao qual o laudo se refere passou a frequentar a sala de aula em que 
atuava a partir da metade do ano. Apresentava baixa tolerância a frustrações, 
frequentemente batia nos colegas, agredia a todos com palavras e gestos 
obscenos. Opunha-se a desenvolver os trabalhos apresentados, negava-se 
a construir sua aprendizagem. Mas, diante da negação, diante do caos, era 
preciso encontrar um caminho. João era um menino de apenas nove anos 
que precisava ser aceito, inserido no grupo e trabalhadas suas capacidades, 
investindo na construção do saber e do fazer. Além disso, precisava saber 
sobre o seu lugar e o lugar do outro. Entendendo até onde poderia ir e parar, 
ou seja, precisava aceitar os limites alheios e os seus.
Essa reconstrução iniciou com muito diálogo. Foi a partir da palavra que 
começamos a construir o caminho:
Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto 
pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para 
alguém. Ela constitui justamente o produto da relação do locutor e do ouvinte. 
Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro, isto é, em última 
análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada 
entre mim e os outros. (BAKHTIN, 2004, p. 113).
Essa “ponte”, escrita por Bakhtin (2004), deu-se a partir de uma 
construção em grupo, pois era preciso muita compreensão deste para ser 
possível o trabalho. As constantes agressões e demais formas de expressão 
comportamentais precisavam ser compreendidas pelo grupo para, então, juntos 
– pois vivemos em sociedade – buscarmos um meio de convívio possível. 
O laudo não pode criar uma barreira de “pena”, “lamento” ou “exclusão”. 
Era preciso construir um significado. Estar diagnosticado para nós, naquele 
momento, apresentava partes ditas pelo médico do “estado” do João, naquela 
circunstância. Havia elementos que o limitavam, precisávamos descobrir quais 
eram e ele também precisava entender isso, para tentar controlar-se diante 
dessas situações. Isso significou para todos a transposição de obstáculos.
44
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
A partir de conversas coletivas, representações escritas e desenhadas 
daquilo que cada um do grupo mais se interessava em fazer, conseguimos 
elaborar uma proposta de projeto. Trabalhamos um projeto sobre cobras e, 
com muito empenho e compreensão, o grupo, eu e o Henrique produzimos 
conhecimento. 
Esse processo não foi fácil, requereu, acima de tudo, muita paciência, 
sensibilidade, aceitação e regras. Constantemente precisávamos retomar 
conversas e “combinados” para resolver conflitos. Mas, como sabíamos das 
razões deles por ter anteriormente já delimitado e deixado tudo claro, era 
possível continuar caminhando.
O primeiro passo para construir a prática pós-laudo é apresentar ao grupo 
o que ocorre, explicar de forma simples. Deixar claro os limites de cada um, 
sem comparações entre si. Pois as notas e os conceitos embora sejam os 
mesmos não são iguais. Cada um a partir da sua história entenderá isso 
individualmente.
O fazer pedagógico é possível em cada contexto com os sujeitos que 
dele fazem parte. Quando obtivemos esse laudo, não tínhamos ideia do 
que poderia ser desenvolvido. Tínhamos conhecimento científico do que 
isso significava, mas somente isso. Nenhuma prática é construída a partir 
de receitas. O que é possível de ser feito vem a partir do diálogo com outros 
professores, com a família e com outros profissionais para traçar objetivos, 
mobilizando pessoas e caminhando.
O que não pode acontecer é usar o laudo como limitador de aprendizagens, 
deixando o(a) aluno(a) no fundo da sala para não “incomodar” e criar uma 
atmosfera de “piedade”. Por mais limitador que possa parecer um laudo, 
mesmo assim é possível aprender e conviver. Nosso cérebro tem a chamada 
“plasticidade”, que é a capacidade de reorganizar-se diante de possíveis 
limitações. Além disso, dependendo de como conduzirmos as situações, 
poderemos limitar mais ou possibilitar mais situações de aprendizagem.
Sobre a plasticidade cerebral, é importante aprofundar a 
leitura. Há um artigo, publicado pelo jornal da Universidade do 
Estado de Campinas (UNICAMP), que elucida o assunto. O link 
de acesso é: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornal 
PDF/ju371pag04.pdf>.
45
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
Acreditar no outro seria a palavra de ordem. Depositar tempo neste outro 
também. Além de possibilitar a “palavra” ao outro, também é preciso permitir-
se ouvir. Ouvir o outro e ouvir-se. 
Para aprender a falar necessitamos ser escutados, para 
aprender a olhar, necessitamos ser olhados. A capacidade 
atencional se constrói nessa continuidade e descontinuidade, 
que abre um espaço entre: espaço atencional. Está aqui o 
valor do silêncio que nada tem a ver com silenciar-se, mas, 
muito com escutar e escutar-se. (FERNÁNDEZ, 2012, p. 43.)
Figura 2 - Representação através de desenho: Tempo de falar e tempo de 
ouvir. Momentos especiais construídos em sala durante aquele semestre letivo
Fonte: Aluna Carolina de Souza.
 
A construção da prática, parafraseando Alicia Fernández (2012), existirá 
e se constituirá num espaço e momento únicos, pois lidamos com histórias 
de vida e circunstâncias próprias de cada local. Esse seria então um ponto 
importante para transformação e materialização da prática. Não importa o 
currículo e a quantidade de “saberes” que ele prevê, importa é como será 
feito para acontecer o processo do “aprender” para todos os alunos e suas 
diferenças, contemplando o currículo.
Para essa experiência, em específico, sempre mantivemos diálogo 
sobre os saberes adquiridos, sobre nossas vidas. Num desses momentos, 
registramos as respostas dos alunos. E o aluno João, quando relatou sobre os 
seus saberes e sua vida, após o convívio de cinco meses na turma do quarto 
ano de nossa escola, disse o seguinte:
46
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Na escrita do João, fica evidente o quanto para ele foi importante aprender 
“coisas” na sala de aula. Quando ele diz: “aprendi a ser mais inteligente, mais 
cabeça e mais honesto”, faz-nos acreditar que o trabalho desenvolvido na sala 
de aula fez a diferença, principalmente para ele na condição de sujeito, como 
autor de sua história. A sala de aula possibilitou o espaço de autoria, mas foi ele 
que se tornou autor da mudança da própria história. Como afirma Fernández 
(2012, p. 13), “[...] os espaços de autoria iniciam onde há o reconhecimento 
daquilo que se é e do que se tem sido e construído ao longo da existência.”Acreditar no outro, acreditar que é possível o trabalho pedagógico a 
partir do laudo médico, como escreveu Alicia Fernández (2012), não tem 
nenhuma relação com crenças ou ingenuidade. Enquanto acreditamos no 
outro, permitimos a ele a construção do próprio espaço, da própria história 
e de sua modificação.
Atividade de Estudos: 
1) A partir dessas reflexões, caro(a) leitor(a), convidamos você 
a escrever sobre aquilo de que se lembra da sala de aula de 
algum ano do ensino fundamental, na qual você conviveu com 
outras crianças que não “aprendiam” ou que apresentavam 
comportamentos diferentes. Como se dava a aprendizagem 
neste grupo? O que era feito com essas crianças?
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O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
Deixamos como sugestão de leitura para você, caro(a) pós-
graduando(a), o livro: “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon. 
Ele pode ser lido dia a dia na sala de aula para os alunos pensarem 
sobre as diferenças que existem entre as pessoas. Além de estimular 
o hábito de ler você instiga a reflexão do assunto no grupo.
O livro fala de um menino, o Tistu, muito feliz e criado com 
muito cuidado e atenção pelos pais, que eram donos da maior 
fábrica de canhões do mundo. Eles tinham muito dinheiro. Morava 
na “Casa-que-Brilha” - e tinha empregados que o adoravam. Ao 
completar oito anos, seus pais decidem que já é hora do filho 
conhecer as coisas da vida e se preparar para, no futuro, assumir 
e dar continuidade aos negócios da família. Matriculam Tistu na 
escola. No entanto, logo no terceiro dia de aula o menino é expulso 
do colégio por dormir durante as explicações da matéria pela 
professora. Com isso, os pais de Tistu decidem que a educação do 
menino se fará dentro de casa, sem livros, através de suas próprias 
experiências e observações. No dia de sua primeira aula com o 
jardineiro Bigode, Tistu descobre um dom excepcional: ele tem o 
dedo verde - o que significa que basta um toque de seu polegar 
para que surjam plantas e flores onde quer que ele encoste. Com as 
aulas do Senhor Trovões, ele entra em contato com a violência urbana 
cotidiana e conhece a infelicidade e a tristeza. Inconformado, Tistu 
decide mudar o mundo apenas com o toque de seu dedo verde, 
começando pela cidade onde mora, Mirapólvora.
“O Menino do Dedo Verde”, de Maurice Druon, tornou-se um 
clássico da literatura para crianças e jovens em todo o mundo e 
permanece atual há três décadas, sendo adotado em escolas do 
Ensino Fundamental todos os anos. Esta fábula trata de questões 
relacionadas com os conceitos de convívio social, ética e cidadania; 
e foi pioneira ao abordar o tema ecologia.
Fonte: Disponível em: <http://omelhorparaseler.
blogspot.com>. Acesso em: 02 ago. 2012.
Importante ter claro, caro(a) leitor(a), que quando desenvolvemos um 
trabalho pedagógico que tem como eixo central os sujeitos como pessoas e 
não como problemas, é possível construir um espaço de autoria da própria 
história, baseado na capacidade de reinventá-la sempre que for possível e 
necessário para sua vida.
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
O papeL dOs prOfissiOnais que atuam em 
auxiLiO aO sujeitO diagnOstiCadO.
Caro(a) pós-graduando(a), falamos sobre a importância do laudo, sobre 
sua produção de significados e de como seria possível uma prática em sala 
de aula do ensino regular com um(a) aluno(a) diagnosticado. Realidade esta 
vivenciada em muitas salas de aula e, não raros os casos, com mais de um(a) 
aluno(a) diagnosticado(a) no mesmo grupo.
Mesmo a partir do laudo, sabemos que o(a) aluno(a) frequentará o ensino 
regular como qualquer outro, em virtude de uma política de Educação Inclusiva 
a qual temos consciência de que prevalece atualmente nas escolas. Em 
algumas situações, por questões de excesso de debilidade, a família opta por 
um trabalho em clínicas específicas ou, até mesmo, por locais onde o trabalho 
é direcionado a demandas específicas.
Atualmente, as políticas de educação que permeiam os Estados tentam 
oferecer equipes multidisciplinares com o intuito de dar continuidade aos 
laudos médicos. Ou seja, a partir daquilo que o médico afirmou sobre o 
sujeito, são indicados procedimentos para melhor desenvolver habilidades e 
reconstruir as possíveis lacunas de aprendizagem.
Fonoaudiólogo, psicólogo, psicopedagogo são as principais especialidades 
que entram em cena quando a questão é o “resgate” desse sujeito. Além 
disso, há que se construir uma ponte entre o trabalho desses profissionais e a 
prática pedagógica na escola para obter um bom desempenho desse sujeito 
frente aos processos de aprendizagem. Importante lembrar que essa ponte 
poderá ser feita mediante a disponibilidade de conversas com os profissionais 
que atendem o(a) aluno(a), pois, a partir do trabalho complementar, vamos 
percebendo as mudanças que acabam ocorrendo no sujeito e com um trabalho 
colaborativo constroem-se novas estratégias de atendimento e práticas de 
intervenção pedagógica. 
Alguns laudos podem apresentar especificações e nomenclaturas de 
difícil compreensão. Nesse caso, cabe à escola solicitar mais informações 
sobre o assunto com pessoas capacitadas, tentando, assim, tornar possíveis 
as intervenções e a construção da prática.
É importante manter contato constantemente com os demais profissionais 
que atendem a criança. Esse movimento de intercâmbio entre diferentes 
saberes trará benefícios para a criança/adolescente que está sendo 
acompanhada(o). 
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O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
Para todo o trabalho que for desenvolvido em torno da reconstrução 
da aprendizagem dessa criança, sejam aspectos psicológicos, sejam 
educacionais, sejam neurológicos, sejam fonoaudiológicos, é importante ter claro 
que a aprendizagem relaciona-se a duas condições: as externas, ou seja, os 
estímulos; e as internas, próprias do sujeito. Como afirma Sara Paín (2008, p. 25):
Umas e outras podem ser estudadas em seu aspecto 
dinâmico, como processos, e em seu aspecto estrutural 
como sistemas. A combinatória de tais condições nos leva a 
uma definição operacional da aprendizagem, pois determina 
as variáveis de sua ocorrência. 
A partir dessa ideia, temos claro que a combinação entre os dois fatores é 
determinante para o processo de aprender. Não há limites para que isso ocorra, 
mesmo havendo problemas, transtornos ou dificuldades de aprendizagem, 
pois o limite do aprender é o que se constrói como limite. 
Para discutir um pouco sobre esse assunto, convidamos você, caro(a) 
leitor(a) a fazer a leitura de uma entrevista realizada com Alicia Fernández, 
escritora e pesquisadora, que há quarenta anos trabalha com a psicopedagogia 
em Buenos Aires, analisando importantes questões que envolvem as 
dificuldades de aprendizagem num sentido maior.
Entrevista: Alicia Fernández
(Por Luiza Oliva)
A psicopedagoga argentina Alicia Fernández foi uma das 
precursoras da psicopedagogia no Brasil e é responsávelpela 
formação de parte dos profissionais da área em nosso país. É autora 
de Os idiomas do Aprendente, O Saber em jogo, A Inteligência 
Aprisionada e A Mulher escondida na professora (todos pela Artmed) 
e de Psicopedagogia em Psicodrama – morando no Brincar (Editora 
Vozes). É diretora da Escola Psicopedagógica de Buenos Aires. Alicia 
concedeu esta entrevista à Direcional Educador, que analisa questões 
as quais envolvem os problemas de aprendizagem.
DIRECIONAL EDUCADOR - Como a senhora pode definir 
as dificuldades/problemas de aprendizagem?
ALICIA FERNÁNDEZ - Antes de falarmos de dificuldades 
ou problemas, devemos falar de capacidades e possibilidades. 
Somente assim poderemos realizar duas tarefas: primeiro, tratar 
50
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
dos problemas e segundo, o que é mais importante, evitar que 
apareçam. A aprendizagem não é um meio para se obter outra 
coisa. É um fim em si mesmo. Nós humanos nascemos carentes. 
Somos os mais indefesos da espécie animal. O filhote humano 
se faz humano graças à aprendizagem. Esta “fraqueza” instintiva 
orgânica é seu grande potencial. Porque, como todo bebê nasce 
imaturo biologicamente, sem os mínimos recursos próprios para 
sobreviver, precisa de outro humano que o ensine, que o reconheça 
como semelhante, que queira e que acredite que pode aprender. 
Todo aprender é problemático, porque inclui, no mínimo, três 
sujeitos: “o aprendente”, “o ensinante” e o sujeito social (a sociedade 
na qual está inserido). Não é o organismo que aprende atividades 
quase biológicas como o caminhar, o controle dos esfíncteres, 
o comer sozinho; para serem adquiridas não requerem apenas 
um organismo sadio, e sim, principalmente, uma aprendizagem. 
Aprendizagem que ocorrerá de acordo com o ambiente, mais ou 
menos favorável no qual a criança se desenvolve. Quer dizer, se 
falamos de dificuldades de aprendizagem, falamos de dificuldades 
no ou para o meio familiar e/ou educativo/ ensinante.
DIRECIONAL EDUCADOR - Como o meio interfere nos 
problemas de aprendizagem?
ALICIA FERNÁNDEZ - A palavra interferir é diferente de intervir. 
O meio sempre intervém e às vezes pode interferir. Que quero dizer 
com isto? Inter-vir (vir “entre”). Inter-ferir (ferir “entre”). Maravilha 
dos nossos idiomas. Nossa tarefa consiste em “intervir” e conseguir 
que o meio não “interfira”, negativamente. Como estávamos 
dizendo, não se pode esquecer do diagnóstico do “meio”, do 
ambiente, quando realizamos um diagnóstico psicopedagógico. 
A partir desta ideia central, eu escrevi meus dois primeiros livros: 
A inteligência aprisionada, nele trago fundamentos de como a 
família pode ser possibilitadora ou produtora de problemas de 
aprendizagem dos filhos, e desse modo, estruturo um modelo 
de diagnóstico interdisciplinar familiar, que venho utilizando em 
diversos países. E no meu segundo livro, traduzido em português, 
A mulher escondida na professora, explico e fundamento o lugar 
e a importância dos professores, tanto como agentes de saúde 
na aprendizagem como às vezes (ainda que sem propor a sê-lo) 
desencadeadores de problemas de aprendizagem. A escola, e 
todos os seus atores, têm um papel subjetivante em relação aos 
alunos. Nós, humanos, aprendemos a partir de identificações 
com nossos ensinantes e, somente em um ambiente familiar, e, 
depois, no escolar e social, que nos aceite como seres pensantes. 
51
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
Quero dizer, que permita e favoreça nossas perguntas, dê lugar 
à diferença, em síntese, que favoreça a autoria de pensamento. 
A inteligência se constrói, a atividade de pensamento se constrói, 
como também a atenção e a capacidade de se prestar atenção.
DIRECIONAL EDUCADOR - Como a senhora entende 
a abordagem organicista a respeito das dificuldades de 
aprendizagem?
ALICIA FERNÁNDEZ - As tendências à patologização dos 
avatares da aprendizagem se acrescentam, promovidas pela 
indústria farmacêutica e pela difusão das notícias pela mídia. 
Sem dúvida, tal discussão não teria o êxito alarmante que 
está tendo se não se sustentasse nas formas de subjetivação 
impostas pela sociedade do mercado globalizado. Preocupa-nos a 
inquietante proliferação de posturas que não só psicopatologizam 
e medicalizam os mal estares psíquico-sociais, como também 
consideram suspeita e até perigosa a própria atividade da alegria 
e o brincar, desvitalizando a autoria de pensamento. Quanto se 
trata de crianças e da aprendizagem, tal tendência encontra fáceis 
adeptos e propulsores em professores e pais aprisionados pelas 
lógicas da competitividade, pela eficiência (que mata a eficácia) 
e pelo cumprimento imediato para se chegar a um fim exitoso, 
sem considerar os meios para se alcançá-lo. A aprendizagem 
perde, assim, seu caráter subjetivante – fim em si mesmo - para 
transformar-se em um triste meio para obter um resultado exigido 
pelo outro. A atividade de pensar é fascinante. Como se produz 
a maravilhosa e transformadora atividade de pensamento? A 
“fábrica” de pensamentos não se situa nem dentro, nem fora da 
pessoa, está localizada entre. “Entre”, em psicopedagogia, não é 
uma palavra a mais, é um conceito. A atividade do pensar nasce na 
intersubjetividade promovida pelo desejo de se fazer próprio que 
nos é desconhecido, mas também nutrida pela necessidade de 
entendermos e que nos entendam. O pensar, ademais, se alimenta 
do desejo de que este outro nos aceite como seu semelhante. 
Desejos, aparentemente contraditórios, mas que juntos vão 
armando a trama do nosso existir em sociedade. Entendendo assim 
a atividade do pensar, poderemos encontrar outros caminhos para 
a construção de regras. A função do pensamento em seu sentido 
mais radical tem a ver com superar a racionalidade pragmática. A 
sustentação do pensar se dá naquilo que se quer alcançar e não 
no que está dado. Definimos a inteligência como a capacidade de 
desadaptar-se criativamente. Quando o modo de pensar perde 
a provisioriedade necessária a todo o pensar, as observações 
52
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
descritivas e particulares são utilizadas como se fossem 
explicações gerais. O devastador de tal modo de pensar abrange 
não somente os sujeitos observados, e assim transformados em 
“objetos”, como também a quem pretendemos “diagnosticar”. As 
perturbações na aprendizagem expressam uma mensagem que 
é sempre singular. O “rótulo” esconde a mensagem que está 
entrelaçada no drama singular de cada criança ou jovem. 
DIRECIONAL EDUCADOR - Pode explicar o conceito de 
aprisionamento da inteligência?
ALICIA FERNÁNDEZ - A inteligência se constrói. Não 
nascemos inteligentes, nascemos com a possibilidade de sermos 
inteligentes, quer dizer, de podermos eleger nosso destino. A 
maioria das crianças diagnosticadas como deficientes mentais, 
não o são. Sua inteligência encontra-se aprisionada. Quando, 20 
anos atrás, publiquei o livro A inteligência aprisionada, a indústria 
farmacêutica não havia penetrado nas escolas do modo que ocorre 
hoje, e os efeitos devastadores do neoliberalismo não colonizavam 
as mentes de tantos profissionais como na atualidade, portanto 
não considerava urgente denunciar a medicalização das crianças. 
Ademais, o pretendido caráter orgânico e hereditário da inteligência 
já estava suficientemente questionado pela epistemologia 
genética, pela psicanálise, pela sociologia da educação e pela 
psicopedagogia. Apoiando-me nestes saberes, que contextualizam 
a inteligência humana em um sujeito inserido em um meio familiar 
e social, pude explicar os possíveis e diferentes aprisionamentos 
de que padece. A partir destes aportes teóricos e clínicos consegui 
propor outros modos de “diagnosticar” a capacidade intelectual 
frente a aqueles que pretendiam fazê-lo através de “cocientes 
intelectuais” (CI) epercentuais. Em síntese, sobre a atividade 
intelectual estavam então (e estão agora) suficientemente 
estudadas uma série de questões: que a inteligência se constrói; 
que tal construção nasce e cresce na intersubjetividade - pelo 
que não pode explicar-se do ponto de vista neurológico - e que 
os meios ensinantes (familiares, educativos e sociais) participam 
favorecendo ou perturbando a capacidade de pensar. Quer dizer, 
para questionarmos os modos instituídos de pensar a inteligência, 
contávamos então com teorias que desde o século XX vinham 
rebatendo as ideias de épocas anteriores que a consideravam 
uma função orgânica. A situação varia quando se trata de pensar 
a atividade atencional. Os diagnósticos de “déficit de atenção” 
se realizam sobre supostos (não explícitos) que desconhecem 
os avanços produzidos no século XX em relação aos estudos 
53
O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
da subjetividade humana e da inteligência. Assim, atualmente se 
definem tipos de atenção de modo semelhante ao determinado 
pela psicologia experimental do século XIX. Necessitamos analisar 
a atenção aprisionada, para diferenciá-la da desatenção reativa (e 
a ambas dos poucos casos de dano neurológico que comprometem 
a atenção). Hoje é urgente trabalhar e estudar a capacidade 
atencional como aquilo que é: uma capacidade. Partindo desta 
postura, a psicopedagogia pode fazer importantes aportes.
DIRECIONAL EDUCADOR - Há quantos anos trabalha com 
a psicopedagogia? Pode fazer um breve histórico de como 
iniciou na área? E como vê a evolução da psicopedagogia 
nesse período? 
ALICIA FERNÁNDEZ - Neste ano (2008), completam-se 40 
anos que desenvolvo a maravilhosa atividade da psicopedagogia. 
Fazer psicopedagogia é uma atividade que não somente nos 
permite, como também exige, fazermos por nós mesmos, o que 
podemos fazer pelos outros. A exigência de fazer por nós mesmos 
se refere a ir ressignificando nossas próprias modalidades de 
aprendizagem/ensinagem, e ir nutrindo as fontes propiciadoras 
de nossa própria autoria de pensamento. Uma destas fontes 
é a “alegria” que vem de mãos dadas com a capacidade de 
surpreender-se. Você me pergunta como iniciei minha carreira. 
Na Argentina, a psicopedagogia é uma formação que ocorre na 
graduação. Eu comecei trabalhando como orientadora educacional 
em escolas de regiões carentes, as quais me serviram como uma 
grande aprendizagem, já que ao mesmo tempo em que estudava 
na faculdade, podia receber as perguntas que aquela realidade 
educativa colocava a professores e alunos.
DIRECIONAL EDUCADOR - Como vê o futuro da 
psicopedagogia? Há exageros na questão do encaminhamento 
psicopedagógico? 
ALICIA FERNÁNDEZ - Um dos aspectos da subjetividade 
– mais atacado pela sociedade neoliberal – é a possibilidade 
de pensar. Este ataque é lento, persistente e perigoso. Vai se 
dando imperceptivelmente. Jovens e adultos o sofremos. Na 
escola se evidenciam os efeitos de tal bombardeio. Nos alunos 
se manifesta como um aborrecimento-tédio e pode expressar-se 
como “desatenção”. Nos docentes pode aparecer como desânimo 
e “queixa-lamento”. Portanto o futuro da psicopedagogia depende 
da postura que cada psicopedagogo pode ir construindo, quer 
54
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
dizer, priorizando a saúde da aprendizagem tanto nas escolas, nas 
famílias e nos meios de comunicação. Esta é a tarefa principal. 
Encaminhar uma criança ou jovem a um tratamento é só uma última 
instância. A psicopedagogia tem muito que contribuir se conseguir 
ser fiel à proposta psicopedagógica da saúde. Em síntese, frente à 
nossa inteligência aprisionada, a tarefa de cada um de nós, como 
ensinantes e aprendentes, passa por: o autorizar-se a pensar; o 
permitir-se perguntar, o perguntar, o deixar espaço à imaginação e 
ao prazer de aprender; e, em consequência, ao prazer de ensinar.
 
Fonte: Matéria publicada na Revista Direcional Educador - edição 43 
de agosto/2008. Disponível em: <http://www.direcionaleducador.com.
br/artigos/entrevista-alicia-fernandez>. Acesso em: 02 ago. 2012.
 
Fica como dica para você, caro(a) leitor(a), a leitura de 
importantes materiais e trabalhos da autora Alicia Fernández. 
Visite a página da autora, em que exerce a função de Diretora da 
Escola Psicopedagógica de Buenos Aires, em: <www.epsiba.com/
index.htm>.
Atividade de Estudos: 
Como atividade complementar, busque refletir sobre sua 
prática pedagógica, tentando responder à seguinte pergunta:
1) Qual a ferramenta imprescindível para o trabalho de resgate dos 
processos de aprendizagem do(a) aluno(a) diagnosticado(a)?
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O LaudO e sua COntribuiçãO para a eduCaçãO Capítulo 2 
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aLgumas COnsiderações
Caro(a) leitor(a), neste capítulo discutimos sobre a importância legal do 
laudo e buscamos compreender, por meio de um exemplo, a importância 
de construir um caminho possível de intervenção pedagógica. Além disso, 
reafirmamos a importância dos profissionais da educação agirem em relação 
ao sujeito diagnosticado e ao seu contexto social, tendo como eixo norteador 
de trabalho o sujeito e não a sua dificuldade apenas.
Assim, fechamos este capítulo com um pensamento escrito por Alicia 
Fernández (2012) e apresentado na epígrafe de um de seus livros, referindo-
se ao atendimento pedagógico e às dificuldades que nós professores 
encontramos em chão de sala diariamente:
Um moinho
ainda que somente um,
colocado na terra, 
ainda que árida,
com a energia dos diversos ventos
e ainda que com tempestades distantes,
encontra atua,
ainda que a mais escondida,
fazendo brotar as sementes,
ainda que as mais imprevistas.
Alicia Fernández.
56
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
referênCias
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: 
Hucitec, 2004.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 
13/07/1990. Florianópolis: IOESC, 1990.
______. Constituição da República Federativa do Brasil. 14. ed. Brasília: 
Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2000.
______. Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, 
de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 14 ago. 2012.
______. Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de 
Deficiência. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 14 ago. 
2012.
______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da 
Educação Inclusiva. Documento nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada 
pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007. Disponívelem: <http://portal.
mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/revinclusao5.txt>. Acesso em: 14 ago. 2012.
FERNÁNDEZ. Alicia. A atenção aprisionada: Psicopedagogia da capacidade 
atencional. Porto Alegre: Penso, 2012.
MONTOYA, A.O.D. Piaget e a criança favelada: epistemologia genética, 
diagnóstico e soluções. Petrópolis: Vozes, 1996.
PAÍN. Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 
Porto Alegre: Artmed, 2008.
RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Prisonniers du présent: le développement 
cognitif et Ia socialisation de I’enfant défavorisé. Psychoscope, v.18, p. 8-10, 
1994.
UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação: Sobre 
necessidades educativas especiais. Conferência Mundial sobre Educação 
para Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade. Salamanca, 7-10 de 
junho, 1994.
CAPÍTULO 3
Os EncaminhamEntOs
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Refletir sobre o perfil da turma e a individualidade dos sujeitos. 
 3 Exemplificar questões relacionadas aos problemas de aprendizagem.
 3 Refletir sobre a prática pedagógica a partir do laudo. 
 3 Possibilitar o resgate do sujeito e das suas relações sociais no contexto 
educacional. 
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
59
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
cOntExtualizaçãO
Aquilo do qual as crianças precisam não é de 
resignação, mas de paixão. Elas sonham com um 
mundo onde os atores possam falar em nome próprio 
escapando da obrigação de parecerem conformes.
(MAUD MANNONI)
Prezado(a) leitor(a), com este capítulo temos a intenção de fazer com 
que você reflita sobre o sujeito “aprendiz” e as suas particularidades, além de 
compreender que o espaço escolar e de aprendizagem deverá ser um local de 
confiança que lhe cause segurança e vontade de ficar e retornar. 
No entanto, cabe ao(à) professor(a) saber quais são os indivíduos que 
compõem o grupo em que atua, pois isso possibilita o reagrupamento por 
saberes e a possibilidade de desenvolvimento social e individual.
Fazendo uma analogia com a epígrafe de Mannoni, a educação carece 
de profissionais preocupados com o outro e de práticas de reconstrução 
da aprendizagem do outro. As dificuldades, distúrbios ou transtornos de 
aprendizagem devem ser transcendidos, para que as crianças estejam e 
sejam vistas e compreendidas além da sua limitação. Que possam construir 
seu espaço, seu caminho, dentro de suas possibilidades e, talvez, sigam 
além delas. Pois não somos todos iguais e precisamos aprender a respeitar, 
aceitar e conviver com esta condição de diferença, tanto no âmbito do ser 
como do aprender.
Com base nisso, refletiremos sobre a aprendizagem, o encontro com 
certas limitações e o saber/fazer pedagógico. Compreenderemos o sujeito 
dentro do seu contexto social, fazendo-o interagir no meio em que vive e, a 
partir disso, construir suas bases para a aprendizagem.
O Olhar dO PrOfEssOr: a PErcEPçãO dOs 
PrOblEmas E O cOmPrOmissO cOm O sujEitO
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), é direito das 
crianças frequentarem uma escola, mas você já parou para pensar se as 
crianças querem e gostam de estar na escola? Essa é a primeira indagação 
que deve surgir quando se deparar com um grupo de aprendizes. 
60
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Como professor(a) o seu primeiro objetivo em sala de aula é conhecer os 
sujeitos e compreender em que espaços sociais eles estão inseridos. Depois 
de realizada essa sondagem, ficam mais visíveis possíveis diferenças que 
possam surgir no grande grupo. Lembrando sempre que antes de construir 
um rótulo ou um estigma, ele é uma pessoa com desejos, anseios, verdades, 
valores, crenças. Queremos dizer com isso que os problemas enfrentados na 
sala de aula são pequenos segmentos desse sujeito como um todo. 
São crescentes os casos de problemas de aprendizagem e queixas 
relacionadas ao assunto. A demanda por diagnósticos e atendimentos cresce 
diariamente e o encontro com diferentes tipos de problemas no âmbito educacional 
também. Para refletirmos sobre o assunto, queremos convidar você, caro(a) 
leitor(a), para assistir a um vídeo intitulado: “Medicalização da Vida Escolar”. O 
Vídeo foi produzido por Helena Rego Monteiro para apresentação da dissertação 
de Mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Educação da 
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, em julho de 2006. 
O vídeo a que nos referimos é apresentado por uma 
suposta professora que encontra em todos os alunos de sua 
sala algum problema, dificuldade, distúrbio ou transtorno 
na aprendizagem. Ele é um convite para refletirmos sobre 
quem de fato teria problemas de aprendizagem numa sala 
de aula? Como pensar sobre o assunto sem estigmatizar 
ou negligenciar o(a) aluno(a)? Confira no link: <https://www.
youtube.com/watch?v=fbUfrZzIYRI>.
Agora que você assistiu ao vídeo e para dar continuidade a essa ideia, 
convidamos você a fazer a leitura do poema de Chico Buarque: Ciranda da 
Bailarina.
Ciranda da Bailarina
Chico Buarque
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
61
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
62
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Tanto no vídeo como no poema de Chico Buarque, de fato se nos 
prendermos a cada sujeito e sua vida como um todo, certamente encontraremos 
muitos problemas. Problemas, dificuldades, todos nós temos ou algum dia 
teremos diante de algo que, num primeiro momento, não encontramos uma 
solução ou de imediato não compreendemos suas razões. É preciso tomar 
cuidado com a generalização dos problemas e a banalização dos sintomas.
Diante dessa questão e conforme já mencionamos no primeiro capítulo, 
precisamos refletir sobre como se dá o processo de aprender. Já anteriormente 
dissemos que a aprendizagem tem as dimensões: biológica, cognitiva e social.
Na dimensão biológica e a partir dos ensinamentos de Piaget (1984), 
o sujeito necessita da presença de duas funções: a conservação da 
informação e a antecipação. Recebemos uma herança genética, porém ela 
por si só não garante a aprendizagem. Ao longo de sua vida, o sujeito, a 
partir do ponto de vista biológico e em função das experiências e da forma 
como ele esquematizará e estruturará essas experiências, irá assimilando e 
acomodando aprendizagens. 
A dimensão cognitiva refere-se à forma como o saber se estruturará neste 
sujeito. Essa forma é individual, pois o caminho é do sujeito. Quando ele vive 
uma nova experiência ou uma experiência diferente daquela já conhecida, 
vivenciará a dinâmica do ensaio e do erro ou êxito. Esse processo é necessário 
para a construção de novos esquemas de aprendizagem, pondo em cheque 
os saberes anteriores e reorganizando os novos.Quando surge uma nova 
experiência, esta desequilibrará aquilo que ele já conhece, desorganizando 
seu saber. É a partir disso que ele reconstruirá o saber, incorporando esse 
novo contato com a nova experiência.
A dimensão social envolve, segundo Paín (2008), o processo de 
transmissão da cultura. Nesse caso, refere-se tanto à escola quanto à 
família. A sua dimensão social caracteriza um sujeito histórico que incorpora 
uma linguagem e manejos específicos de vida, são particularidades de um 
grupo de pertencimento. Assim, o sujeito aprende e garante a continuidade 
da sua história e do processo histórico da sociedade e do seu grupo como 
tal. “A transmissão da cultura é sempre ideológica na medida em que é 
seletiva e é própria da conservação de modos peculiares de operar, e, 
portanto serve à manutenção de estruturas definidas de poder.” (PAÍN, 
2008, p.18). Certamente a relação entre o ensino e a aprendizagem no 
contexto escolar envolve trocas ideológicas e de saberes entre professores 
e alunos e alunos entre seus pares. Assim, vão sendo inseridos e reinscritos 
novos saberes e novas verdades na cultura.
63
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
As dimensões apresentadas referem-se a condições internas e externas 
de aprendizagem. Desde que nasce, o bebê vai aprendendo e apreendendo o 
mundo em que vive.
Parafraseando Paín (2008), as condições externas de aprendizagem 
referem-se ao meio em que a criança ou o sujeito vive. A forma como se 
conduzem ou se possibilitam as experiências, a velocidade, o ritmo, a 
riqueza ou pobreza – não se referindo à condição social e financeira, mas 
aos experimentos de vida – estão diretamente ligados à aprendizagem. Ou 
seja, aquilo que o sujeito vive e interage com outras pessoas e seu meio 
vai se configurando como experiências, como aprendizagem. Independente 
da condição social ou da própria história, é sempre possível obter novas 
experiências e melhorar as antigas. 
A mesma autora ainda remete-nos a pensar sobre as condições internas 
do aprender, ou seja, inicialmente questões neurofisiológicas garantem a 
conservação daquilo que foi aprendido, assim como a disponibilidade e 
as condições para o aprender. É isso exatamente o que nos difere uns dos 
outros, sem sermos melhores ou piores, mas sendo diferentes dentro de suas 
limitações. Lembrando que isso também está relacionado à necessidade 
que o sujeito tem, a motivação que ele encontra para o ato de aprender que 
inicialmente é interna e, dependendo da situação em que se encontra, pode 
ter sua relevância externa.
Em relação a isso, convidamos você, caro(a) leitor(a), 
a assistir a um vídeo do Charlie Brown e a Turma do 
Snoopy, disponível no link: <https://www.youtube.com/
watch?v=P5LRa8P6-Qk&feature=related>.
O vídeo apresenta comentários importantes de alunos enquanto resolvem 
as atividades propostas pelos professores em situações cotidianas na escola, 
como: apresentação de trabalhos, provas, entregas de boletins, entre outros. A 
partir deles é possível refletir, de forma bastante descontraída, sobre questões 
relacionadas à motivação e àquilo que é oferecido em sala de aula aos alunos.
Diante desse vídeo, permitimo-nos levantar algumas questões: Quantos 
alunos daquela classe teriam problemas de aprendizagem? Será que os 
problemas de aprendizagem estão nos alunos ou caracteriza-se como a forma 
como o(a) professor(a) os reconhece e legitima? Será que esses problemas 
relacionam-se aos alunos ou à forma como é conduzido o processo de 
construção de novos saberes?
64
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Essas questões referem-se ao olhar do(a) professor(a) frente aos alunos e 
seu processo de aprendizagem, suas dificuldades, facilidades e a forma como 
eles se apresentam no âmbito escolar, mais especificamente em sala de aula. 
Se tivermos uma sala de aula com vinte alunos, certamente os vinte alunos 
terão especificidades que os configuram como sujeitos únicos no mundo. 
Isso se refere ao aprender e ao não aprender também. Como havíamos dito 
anteriormente, é preciso tomar cuidado com a generalização dos problemas e a 
banalização dos sintomas. Podemos considerar, como afirma Paín (2008), que 
o problema de aprendizagem é um sintoma, entendendo que o não aprender 
não se configura como um quadro permanente, mas como um estado particular 
de comportamentos e situações específicas que cumprem alguma função 
para esse sujeito. Por essa razão é tão importante e necessário o olhar do(a) 
professor(a) para compreender até que ponto essa dificuldade ou problema de 
aprendizagem é algo próprio do sujeito e que precisa de intervenção e até que 
ponto ela é o reflexo de algo que não está em consonância com a caminhada 
deste aprendente, referindo-se ao próprio trabalho escolar e pedagógico. 
É sempre importante ao(à) professor(a) refletir sobre o(a) aluno(a) que 
não aprende e pontuar quais foram as alternativas utilizadas para a construção 
da aprendizagem deste(a). Lembrando, como afirma Fernández (1991, p. 32):
Sabemos que para aprender é necessário um ensinante 
e um aprendente que entrem em relação. Isto é algo 
indiscutível quando se fala de métodos de ensino e de 
processos de aprendizagem normal; não obstante, costuma-
se esquecê-lo quando se trata de fracasso de aprendizagem. 
Aqui, pareceria então, que só entra em jogo o aprendente 
que fracassa. Como se não se pudesse falar de ensinantes 
ou de vínculos que fracassam e produzem sintomas. Por 
ensinantes entendo tanto o docente e a instituição educativa, 
como o pai, a mãe, o amigo ou quem seja investido pelo 
aprendente e/ou pela cultura para ensinar.
Atividade de Estudos: 
1) A partir desses dizeres, podemos fazer um exercício de reflexão 
sobre a própria caminhada de aprendente. Como você se sentia 
quando não entendia algo que o(a) professor(a) explicava e 
acabava por tirar uma nota baixa numa prova? De que modelo 
de aprendizagem você lembra como aprendiz em sala de aula?
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Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
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Em relação ao compromisso do(a) professor(a) com o(a) aluno(a) e sua 
forma particular de aprender ou com suas dificuldades em aprender, seguimos 
a mesma ideia de Tardif (2005, p. 129):
A primeira característica do objeto do trabalho docente 
é que se trata de indivíduos. Embora ensinem a grupos, 
os professores não podem deixar de levar em conta as 
diferenças individuais, pois, são os indivíduos que aprendem, 
e não os grupos. Esse componente individual significa que 
as situações de trabalho não levam à solução de problemas 
gerais, universais, globais, mas se referem a situações 
muitas vezes complexas, marcadas pela instabilidade, 
pela unicidade, pela particularidade dos alunos, que são 
obstáculos inerentes a toda generalização, às receitase às 
técnicas definidas de forma definitiva.
A atuação do(a) professor(a) é um grande compromisso, marcado pela 
busca de ações pensadas para os sujeitos e suas especificidades, na medida 
em que ele(a) ocupa, através do trabalho com os alunos, a posição de ator/
atriz e mediador(a) da cultura e dos saberes escolares. (TARDIF, 2005).
Para finalizar esse item e abrir o próximo, vale refletir a partir da frase de 
Fernando Pessoa:
“Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar. Porque eu sou do 
tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura.”
66
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
indicativOs dOs PrOblEmas dE aPrEndizagEm
A criança que dele padece (problemas de aprendizagem) 
sofre pela subestimação que sente ao não poder 
responder às expectativas dos pais e dos professores. 
Por sua vez, a identidade não é algo que se adquire de 
uma vez e para sempre, mas é o produto de construções 
identificatórias para as quais cumpre um papel 
importante os modos como os demais nos definem. 
(Alicia Fernández)
Para a autora Alicia Fernández (2001a), os problemas de aprendizagem 
são uma realidade imobilizadora que pode apresentar-se individual ou 
coletivamente. “Em sua produção, intervém fatores que dizem respeito ao 
socioeconômico, ao educacional, ao emocional, ao intelectual, ao orgânico 
e ao corporal”. (FERNÁNDEZ, 2001a, p. 26). Portanto, é através do olhar e 
da percepção do(a) professor(a), da prática diária de interações e, muitas 
vezes, sendo o(a) primeiro(a) a detectar isso no(a) aluno(a) que será, então, 
necessária a intervenção terapêutica especializada através da: psicologia, 
psicopedagogia, assistência social, pediatria, neurologia, fonoaudiologia, 
entre outras áreas.
É importante ressaltar que muitos dos problemas de aprendizagem são 
fabricados ou reproduzidos ideologicamente. Vale ter clara esta questão, 
pois todos nós precisamos de um tempo para aprender e apreender, para 
apropriarmo-nos de um saber e dele fazer uso. 
Importante refletir, também, diante da questão dos saberes, sobre quantos 
e quais dos saberes escolares fazemos uso? Qual a relação do saber com o 
sujeito que aprende? Muito dos problemas escolares que são apresentados em 
consultórios, tecnicamente, nada têm a ver com problemas de aprendizagem 
em si, mas com a forma como esse saber se deu na sala de aula e que, no 
caso, para determinados alunos, acabou perdendo-se no caminho.
Em relação ao grande número de crianças encaminhadas 
para consultórios e que tecnicamente não teriam problemas de 
aprendizagem, sugerimos a leitura da tese de livre docência em 
pediatria social na Unicamp, da autora Maria Aparecida Affonso 
Moysés. Ela desenvolveu um trabalho com setenta e cinco 
crianças ditas com ”problemas de aprendizagem”, que acabaram 
incorporando um suposto fracasso escolar que não existia, mas 
que lhes foi imputado. O trabalho virou livro e tem como título: A 
67
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
institucionalização invisível: crianças que não aprendem na escola, 
da editora Mercado de Letras. Mas, se você preferir inicialmente 
fazer a leitura de uma resenha dele, segue o link: <http://www.
google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd
=1&sqi=2&ved=0CCEQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.seer.ufu.
br%2Findex.php%2Femrevista%2Farticle%2Fdownload%2F7920
%2F5026&ei=jL6OUK7MJO3p0QGfqYGQBg&usg=AFQjCNEjaID
MOGIgiDKOyJlgX5wPMMozNA>.
Como dissemos anteriormente e a partir de Paín (2008), o problema de 
aprendizagem aparece com um sintoma: o não aprender. O(A) professor(a), 
a partir da sua dinâmica de prática pedagógica e por conviver diariamente 
com esse(a) aluno(a) e esse sintoma, juntamente à equipe pedagógica, 
poderá refletir sobre a necessidade do encaminhamento ao profissional de 
saúde. A partir disso, a família precisará agir, sempre tentando ponderar 
decisões, buscando mais de uma opinião quando houver algum problema 
diagnosticado na criança. 
Em relação à aprendizagem, como dissemos anteriormente, há fatores 
internos e externos para o ato de aprender se concretizar. Para tanto, o(a) 
professor(a) poderá perceber algumas dificuldades que os alunos podem 
enfrentar em relação ao processo de aprendizagem, observando os fatores: 
orgânicos, específicos, psicógenos e ambientais, segundo Paín (2008). 
Neste momento, convidamos você, caro(a) pós-graduando(a), a fazer a 
leitura de um resumo que explica sobre esses fatores, a partir de Sara Paín 
(2008, p. 27-33). 
OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E SEUS FATORES:
Em relação aos fatores orgânicos, é fundamental a integridade 
anatômica e de funcionamento dos órgãos [...] bem como dos dispositivos 
que garantem sua coordenação no sistema nervoso central. [...] O sistema 
nervoso sadio, se caracteriza, no âmbito de comportamento, por seu ritmo, 
sua plasticidade, seu equilíbrio. Isso lhe garante harmonia nas mudanças e 
consequência na conservação. O contrário acontece quando há lesões ou 
desordens corticais (primárias, genéticas, neonatais, ou pós-encefalíticas, 
traumáticas, etc.), encontramos uma conduta rígida, estereotipada, confusa, 
patente na educação perceptivo-motora ou na compreensão. Há também 
especificação do funcionamento glandular que podem causar hipomnésia, 
falta de concentração, sonolência. Estas especificações podem causar 
68
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
problemas mais ou menos graves, porém mesmo assim, não impedem 
por si só do sujeito aprender. Elas devem ser sanadas, acompanhadas 
por profissionais como, por exemplo, um neurologista juntamente com o 
pediatra ou endocrinologista, mas isoladamente não são fatores e muito 
menos justificativa para a não aprendizagem.
Os fatores específicos referem-se a aspectos de nível da linguagem e sua 
articulação. Aspectos da grafia, lateralidade (direito/esquerdo), compreensão 
espaço/temporal. Estas questões em alguns momentos confundem-se a 
aspectos orgânicos, mas na maioria das vezes não se relaciona com dano 
cerebral e em muitos casos é sanado com acompanhamento psicopedagógico 
adequado ao sujeito.
Fatores psicógenos relacionam-se a questões da inibição ao aprender. 
Muitas crianças ou adolescentes apresentam uma sintomatologia em torno 
disso enquanto elaboram o luto, no caso não apenas a morte de alguém 
querido, mas à elaboração de alguma morte simbólica, ou repressão.
Aos fatores ambientais referimo-nos às possibilidades reais oferecidas a 
esse sujeito, como quantidade, qualidade, freqüência, abundância de estímulos 
e também o acesso ao lazer, ao esporte, às tecnologias. Porém salientamos 
que também é necessário certo grau de consciência, participação e motivação 
do sujeito para com esse acesso. 
Certamente existem inúmeros problemas de aprendizagem que são 
apresentados no âmbito da sala de aula. Apresentamos a você, caro(a) 
leitor(a), indicativos discutidos a partir de Paín (2008) para investigar certos 
problemas com os quais nos deparamos em sala de aula e assim refletir 
sobre eles, caracterizá-los para uma maior compreensão e, então, fazer os 
encaminhamentos necessários.
É urgente refletir sobre isso e, conforme a própria autora salientou 
anteriormente, entendermos que é importante fazer a verificação do que 
leva o(a) aluno(a) a não conseguir aprender e tentar adequar o problema 
dele(a) aos meios necessários, a partir de metodologias apropriadas para 
resgatar e inseri-lo(a) no processo de aprendizagem, aceitando e convivendo 
com as diferentes formas como os(as) alunos(as) aprendem; aceitando, 
principalmente, a condição de uma sala de aula heterogênea em torno dos 
aspectos sociais, econômicos, culturais, cognitivos e subjetivos. Também é 
preciso compreender que estas condições interferem diretamente na forma 
e no manejo dos processos de aprender e, consequentemente, de ensinar; 
ter consciência de que, muitasvezes, o sintoma do(a) aluno(a) é o reflexo da 
dinâmica usada para ensinar pelo(a) professor(a). 
69
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
Outro grande problema que acompanha e assombra as práticas de 
sala de aula, desorganizando a dinâmica do trabalho pedagógico de muitos 
professores atualmente e que, por vezes, tornou-se modismo, é a desatenção 
e a hiperatividade. 
Lembrando que a desatenção e a hiperatividade são transtornos 
que merecem atenção. Muito embora tenham virado modismos, 
precisam ser levados a sério e investigados por profissional da 
medicina ou saúde. O(A) aluno(a) desatento(a) e hiperativo(a) 
não consegue manter-se concentrado(a) por muito tempo em 
atividades e, por vezes, demonstra-se desmotivado(a) para 
aprender, mas não é somente isso que caracteriza a desatenção e 
a hiperatividade. Por essa razão e como forma de aprofundamento 
no assunto, indicamos que você visite a página da Associação 
Brasileira do Déficit de Atenção e explore novos saberes sobre o 
assunto. O link de acesso é: <http://www.abda.org.br/>.
Para Fernández (2012), tanto a desatenção como a hiperatividade 
seriam sintomas sociais contemporâneos. Inúmeros diagnósticos são feitos 
por profissionais seguindo essa nomenclatura. Muitas vezes sequer são 
diagnósticos, mas terminologias emprestadas da área da saúde para designar 
a não aprendizagem ou encobrir o fracasso do processo de ensinar. Faz-
se urgente perceber esses sintomas e, a partir dessa percepção, adequar 
as condições sociais e de aprendizagem para reconstruir a metodologia do 
aprender em grupo no contexto de sala de aula. Pois mesmo que o sujeito 
de fato seja desatento e hiperativo, é preciso encontrar uma forma de fazê-lo 
aprender no contexto escolar e, mais especificamente, na sala de aula. Para 
o(a) professor(a), não ter a atenção dos alunos é algo que afeta diretamente 
o seu trabalho. Pois ele(a) tem como primeira instância ser ouvido pelo grupo 
para, supostamente, acreditar que eles estejam atentos e aprendendo.
É importante que o(a) professor(a) possa perceber em seu grupo de 
alunos algumas questões importantes que indiquem ou não problemas de 
aprendizagem e, a partir disso, inicie uma busca em torno da construção da 
prática. Pontuaremos a seguir, a partir da autora Alicia Fernández (2012), 
alguns aspectos importantes, que devem ser percebidos no âmbito de sala de 
aula, sobre a atenção, a vida e o aprender dos nossos alunos. São eles:
Compreender o que é a desatenção necessária, saudável e criativa 
daquela que aprisiona num mundo à parte.
70
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
A atividade atencional refere-se àquilo que habitualmente fazemos. 
Lembremos que as crianças estão inseridas num momento histórico em que 
o foco de atenção não é apenas num aspecto, e sim em alguns aspectos ao 
mesmo tempo. As crianças são “bombardeadas” por informações simultâneas 
no contexto em que vivem.
• Precisamos compreender o novo cenário que se configura em torno da 
atenção das crianças. Não precisamos sofrer com isso e sim tentar, a partir 
disso, encontrar um caminho para conduzir o processo de aprender.
• Ouvir as crianças, seus pais e seus argumentos. Para poder entender o 
que acontece com eles é necessário ouvi-los. Muitas vezes, são ditos e 
outros não ditos, ou seja, silêncios.
• Fazer da sala de aula um espaço de autoria de pensamento, onde o(a) 
aluno(a) sinta-se à vontade para perguntar e construir suas respostas, 
construir seu processo de aprendizagem entre pares, sentindo alegria e 
prazer em estar diariamente envolvido(a) com a dinâmica do saber e do fazer.
• Transformar o espaço da sala de aula num local onde cada um possa 
aprender. Que seus limites não sejam barreiras e sim diferenças que os 
tornam pessoas, únicas num universo coletivo.
Atividade de Estudos: 
1) Caro(a) leitor(a), agora é com você. Tente pensar e escrever, 
a partir das pontuações da autora Alicia Fernández sobre 
aspectos importantes a serem considerados no espaço da 
sala de aula e que auxiliem na construção de uma prática 
pedagógica dinâmica de atuação. Tente pensar numa proposta 
prática, que leve em consideração os alunos como sujeitos 
ativos neste processo e que seja possível de ser aplicada em 
seu contexto.
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Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
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rEtOmandO a Prática PEdagógica Pós-laudO: 
POssibilidadEs dE rEsgatE dO sujEitO E a 
rEcOnstruçãO dO PrOcEssO dE Ensinar E 
aPrEndEr
Aprender é quase tão lindo quanto brincar
(Lucia, 3 anos)
A partir da epígrafe, temos, então, o primeiro passo para tecer a 
prática de reconstrução do processo de aprender e ensinar. O sujeito que é 
diagnosticado, muitas vezes passou por situações difíceis até que alguém 
fizesse um encaminhamento para que um profissional o ouvisse, o assistisse e 
apresentasse de forma escrita, as razões para o “não aprender”. 
O pós-laudo para a instituição e para o contexto da sala de aula funciona 
como um documento capaz de “cobrar” os devidos direitos desse(a) aluno(a), 
caso necessite de acompanhamento de outros profissionais da área da 
saúde ou da educação, conforme você já pode ter acesso no capítulo dois 
deste caderno de estudos. Porém existe o outro lado do laudo, talvez o mais 
importante: acreditar no sujeito. Acreditar aqui não tem tom de crença em alguma 
entidade à parte que fará com que os conhecimentos sejam apropriados pelo 
sujeito através de algo sobrenatural. Acreditar aqui relaciona-se à capacidade 
de compreender que o outro é capaz. Conforme afirma Fernández (2001a, p. 
104), quando discute sobre a importância de acreditar e possibilitar espaço 
ao(à) aluno(a) tornar-se autor(a), construtor(a) e reconstrutor(a) da própria 
72
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
história: “para que a criança possa aprender devemos deixá-la ensinar.” Com 
isso, a autora quer dizer que a criança precisa ter voz neste contexto e o(a) 
professor(a) saber auscultar os indicativos dessa tentativa de apresentar-se. 
A auscultação está além do ato de ouvir, ela sugere uma escuta que percebe 
sons que foram silenciados para, então, na interação entre ouvinte e falante 
ser possível reafirmar-se como pessoa. 
Convidamos você, caro(a) leitor(a), a ler a seguinte conversa 
entre duas meninas, uma de três anos e uma de seis, sem a 
interferência de um adulto falando sobre o que é aprender:
Aprender é quase tão lindo quanto brincar.
•	 Vou	aprender	a	nadar	–	diz Silvina com alegria dos seus seis anos recém-
feitos.
• Vai nadar? – intervém a irmã, três anos mais jovem.
• Não, vou	aprender	a nadar.
• Eu também vou brincar na piscina.
• Não é o mesmo. Eu vou aprender	a nadar, diz Silvina.
• O que é aprender?
• Aprender é... como quando papai me ensinou a andar de bicicleta.Eu queria 
muito andar de bicicleta. Então ...papai me deu uma bici ... menor do que a 
dele. Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando...
• Eu fico com medo de andar sem rodinhas.
• Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua 
bicicleta grande e disse “ assim se anda de bici” ... não, ele ficou correndo 
ao meu lado sempre segurando a bici ... muitos dias e, de repente, sem 
que eu me desse conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao meu lado. 
Então, eu disse: - Ah! Aprendi!
Uma mulher que escutava a conversa de longe não pode deixar de ver a 
alegria com que foi pronunciado “aprender”, que se transfere para o corpo da 
mais moça e surge no brilho de seus olhos.
• Ah! Aprender é quase tão lindo quanto brincar – respondeu.
• Sabe, papai não fez como na escola. Ele não disse “Hoje é o dia de 
aprender a andar de bicicleta”. Primeira lição: andar direito. Segunda lição: 
andar rápido. Terceira lição: dobrar. Não tinha um boletim onde anotar: 
muito bem, excelente, regular... porque se tivesse sido assim, não sei, algo 
nos meus pulmões, no meu estômago, no coração não me deixaria aprender.
73
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
A mulher, uma psicopedagoga que presenciava a cena, nunca havia 
escutado, nem lido, nem conseguido escrever uma explicação tão acertada do 
ato de ensinar e aprender. (FERNÁNDEZ, 2001b, p. 28).
Atividade de Estudos: 
1) A partir dessa reflexão, caro(a) leitor(a), o que você conseguiu 
compreender do ato de ensinar e do ato de aprender? Como 
você conseguiria transferir esse pequeno diálogo para o ato 
de ensinar e de aprender no contexto do “chão de sala”? Tente 
escrever nas linhas abaixo:
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É importante entender que o ensinante apresenta e “entrega algo, mas, 
para poder apropriar-se daquilo, o aprendente necessita inventá-lo de novo.” 
(FERNÁNDEZ, 2001b, p. 29). Neste caso, andar de bicicleta, como qualquer 
outro saber, não é algo possível de ser transmitido e absorvido mecanicamente. 
O saber, para ser assimilado e acomodado, perpassa nossos sentidos e, 
então, vamos dando significado e reorganizando da forma como melhor se 
adéqua às nossas condições subjetivas. Se pedir para uma pessoa explicar 
como aprendeu a andar de bicicleta, mesmo que todas tenham tido o pai ao 
seu lado, oferecendo as mesmas condições que o relato anterior apresentou, 
a compreensão, a apropriação e a materialização é própria do sujeito e do 
ato que se fez. Pois cada qual aprendeu a andar de bicicleta em um dado 
momento, dentro de um contexto, a partir de uma história particular.
74
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
É importante salientar, também, que em torno do processo de ensino e 
aprendizagem pós-laudo, é necessário tomar cuidado quanto à supervalorização 
dos dizeres contidos nele e, a partir disso, torná-lo uma “desculpa” para o não 
aprender, tanto por parte de profissionais e familiares quanto por parte do 
próprio sujeito. É importante deixar claras as razões do laudo e sua função e, a 
partir disso, retomar a prática. Por exemplo, digamos que você tenha recebido 
o laudo de um(a) aluno(a) diagnosticado(a) com dislexia. Há inúmeros 
trabalhos e livros que tratam do assunto, mas não há nenhum que dirá para 
você como o seu(sua) aluno(a) irá aprender a ler e escrever. Pesquisar sobre 
o assunto é importante, mas o caminho para aprender é o(a) professor(a), com 
o psicopedagogo, o fonoaudiólogo ou a equipe multidisciplinar, disponível para 
o atendimento que construirão. Na medida em que houver investimento nessa 
criança também haverá possibilidades de aprendizagem efetivada. 
Também temos outra questão a frisar. Por vezes, quando se tem o laudo, 
muito da autoestima da criança já se desgastou. Nesse caso, “[...] mais 
importante do que o conteúdo ensinado é certo molde relacional que se vai 
imprimindo na subjetividade do aprendente.” (FERNÁNDEZ, 2001b, p. 29). Ou 
seja, a forma como se conduz a dinâmica do ato de relacionar-se com esse 
sujeito e com a aprendizagem poderá ser determinante na reconstrução do 
processo de aprender.
Romero (1995, p. 79) nos explica sobre a importância do relacionamento 
com o outro, no âmbito social/ escolar em torno da autoestima: “[...] sentimentos 
de fazer parte do grupo, reconhecimento do valor pessoal por parte dos demais 
e conhecimento das próprias habilidades e competências.” É preciso que o 
sujeito sinta-se aceito pelo que é e pelo que pode contribuir, assim como saber 
sobre si e aquilo que é capaz de desenvolver.
Certamente, caro(a) leitor(a), sabemos que todo(a) professor(a), no 
exercício de sua profissão, encontrará dificuldades quando tiver em sua 
frente alunos com problemas de aprendizagem específicos, com laudos 
descritos que, muitas vezes, induzem a acreditar que são sentenças. 
É preciso ter a ousadia necessária para seguir, acreditando que o 
embasamento da prática partirá do contexto, da história individual, da 
plasticidade neural (lembre-se de que o conceito de plasticidade neural foi 
discutido no capítulo dois), dos fatores biológicos, da disponibilidade, do 
estímulo, da aceitação e da intervenção da família, da escola e da prática 
pedagógica elaborada a partir do estudo desse sujeito.
75
Os EncaminhamEntOs Capítulo 3 
Para auxiliar e exemplificar formas de intervir em contextos 
diferentes a partir de laudos, sugerimos como leitura o livro: 
Caminhos Pedagógicos da inclusão: como estamos implantando 
a educação de qualidade para todos nas escolas brasileiras, da 
autora Maria Teresa Eglér Mantoan (Org.).
Também indicamos a você, caro(a) leitor(a), que navegue no Portal do 
Ministério da Educação, buscando no item “publicações” relatos de trabalhos 
desenvolvidos por professores com crianças que apresentam problemas na 
aprendizagem ou deficiências.
algumas cOnsidEraçõEs
Caro(a) pós-graduando(a), neste capítulo você pode conhecer um pouco 
mais sobre a questão da individualidade dos sujeitos e sua forma de aprender. 
Também foi possível refletir sobre a prática pedagógica a ser construída 
a partir do laudo feito por profissional da área da medicina ou saúde, bem 
como a importância de acreditar no sujeito como eixo central para possibilitar a 
reconstrução do processo de aprender.
Finalizamos o capítulo com a seguinte reflexão: 
“Diferentemente	 de	 respirar	 ou	 de	 outra	 função	 orgânica	 que	 vem	
programada	 de	 modo	 instintivo,	 andar	 de	 bicicleta,	 assim	 como	 caminhar,	
escrever	 e	 os	 demais	 conhecimentos	 requerem	 uma	 aprendizagem.	 É	
precisamente	por	isso	que	os	processos	de	aprendizagem	são	construtores	de	
autoria.	O	essencial	do	aprender	é	que	ao	mesmo	tempo	se	constrói	o	próprio	
sujeito.”		(FERNÁNDEZ,	2001b,	p.	31).
rEfErEncias 
BRASIL. Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, 
de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 14 ago. 2012.
FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes 
Médicas,1991.
76
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
______. Os idiomas do Aprendente: Análise de modalidades ensinantes em 
famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001a.
______. O saber em Jogo: A psicopedagogia propiciando autorias de 
pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001b.
______. A atenção aprisionada. Psicopedagogia da capacidade atencional. 
Porto Alegre: Penso, 2012.
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 
Porto Alegre: Artmed, 2008.
PIAGET. Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense-
Universitária, 1984.
ROMERO, Juan F. As relações sociais das crianças com dificuldades de 
aprendizagem. In: COLL, César; MARCHESI, Alvaro; PALACIOS, Jesús (Org.). 
Desenvolvimento Psicológico e Educação: Necessidades educativas 
especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
TARDIF. Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: 
Vozes, 2002.
CAPÍTULO 4
ImplIcações dos laudos para 
o contexto educacIonal
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Compreender a crescente demanda dos laudos e dos medicamentos dentro 
da escola. 
 3 Descrever o papel da instituição “escola” frente aos laudos. 
 3 Descrever o papel da família frente aos laudos. 
 3 Discutir sobre a necessidade dos laços entre a família e a escola para o 
desenvolvimento do sujeito diagnosticado. 
78
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
79
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
contextualIzação
Ultimamente venho sendo consumidor forçado de drágeas, 
comprimidos, cápsulas e pomadas que me levaram a 
meditar na misteriosa relação entre a doença e o remédio. 
... Ninguém sai de uma farmácia sem ter comprado, no 
mínimo, cinco medicamentos prescritos pelo médico, 
pelo vizinho ou por ele mesmo, cliente. Ir à farmácia 
substitui hoje o saudoso hábito de ir ao cinema ou ao 
Jardim Botânico. Antes do trabalho, você tem de passar 
obrigatoriamente numa farmácia, e depois do trabalho 
não se esqueça de voltar lá. Pode faltar-lhe justamente 
a droga para fazê-lo dormir, que é a mais preciosa de 
todas. A consequente noite de insônia será consumida 
no pensamento de que o uso incessante de remédios vai 
produzindo o esquecimento de comprá-los, de modo que 
a solução seria talvez montar o nosso próprio laboratório 
doméstico, para ter à mão, a tempo e a hora, todos os 
recursos farmacêuticos de que pode necessitar o homem, 
doente ou sadio, pouco importa, pois todo o sadio é 
um doente em potencial, ou melhor, todo ser humano é 
carente de remédio. Principalmente, de remédio novo, 
com embalagem nova, propriedades novas e novíssima 
eficácia, ou seja, que se não curar este mal, conhecido, 
irá curar outro, de que somos portadores sem sabê-lo. ... 
Estou confuso e difuso, e não sei se jogo pela janela os 
remédios que médicos, balconistas de farmácia e amigos 
dedicados me receitaram, ou se aumento o sortimento 
deles com a aquisição de outras fórmulas que forem 
aparecendo, enquanto o Ministério da Saúde não as 
desaconselhar. E não sei, já agora, se se deve proibir os 
remédios ou o homem. Este planeta anda meio inviável. 
Carlos Drummond de Andrade
A epígrafe acima foi escrita no ano de mil novecentos e oitenta, por Carlos 
Drummond de Andrade. Intitulada: “O homem e o remédio: Qual o problema?” 
e publicada no Jornal do Brasil. O texto abre alguns questionamentos que 
temos como meta discutir com você, caro(a) leitor(a). 
Dos laudos e prescrições de uso de medicamentos que recebemos 
constantemente nas escolas, quantos de fato são determinantes em seu uso e 
quantos poderiam ser problematizados por reflexões e práticas contextualizadas 
e diferenciadas, conforme a demanda? Até quando a doença da “não 
aprendizagem”, demonstrada por comportamentos desatentos, hiperativos e 
desobedientes serão medicadas? Quantos dos encaminhamentos feitos por 
parte das instituições de educação para profissionais da área da psiquiatria, 
neuropediatria e outras em busca de respostas normatizadoras, reguladoras 
e medicamentosas são de fato necessárias? E o(a) professor(a), como está 
80
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
desempenhando o seu papel e se posicionando frente a essa questão? Será 
que ele(a) tornar-se-á identificador(a) de anormalidades? O que é ser normal 
afinal? Qual o parâmetro de aprendizagem que se busca para definir metas de 
normalidade ou anormalidade em educação? Qual o papel da família diante 
dessa problemática? Como a escola e a família se comunicam e intervém 
frente a essa discussão? 
Estas são algumas questões para as quais construiremos respostas, 
contando com sua colaboração e tentando construir na caminhada, indagações 
que possibilitem a reflexão por parte de cada um em seu contexto. Ser capaz 
de identificar em sua história e nas histórias de seus alunos as respostas que 
procuramos para construir o processo de ensino e aprendizagem possível e 
palpável dentro dos limites de cada um e além deles, quando se têm o desejo 
da busca por resultados possíveis.
a crescente demanda por laudos e 
medIcamentos
O medo, a ansiedade, a desconfiança, a timidez, o desassossego, o biótipo 
são características muitas vezes vistas como patológicas com indicativos para 
tratamento. A forma como cada um se relaciona, age, reage e aprende tornou-
se um problema a ser resolvido por laudos médicos e uso de medicamentos. 
O que noutros períodos da história era resolvido pelo poder de autoridade dos 
pais e professores, hoje é exercido por vias medicamentosas, conforme afirma 
Luísa Alcalde (1997).
Não precisamos fazer muito esforço para pensar esta questão na prática. 
Apenas refletiremos sobre nossa sala de aula e os alunos que a compõem. 
Se tivermos uma turma de vinte alunos, serão vinte personalidades que 
agem, reagem, aprendem e se relacionam de formas distintas. Seria isso um 
problema? Ou isso faria parte do caráter da pessoa? Muitas vezes, essas 
reflexões são feitas no período de entrega de avaliações ou notas de alunos, 
com o fechamento dos bimestres ou semestres. Então, acabamos por fazer 
comparações entre a aprendizagem deles, tentamos padronizar subjetividades. 
Logicamente, precisamos de parâmetros para avaliar a aprendizagem de 
nossos alunos, para compreender como está acontecendo esse processo. 
Esses parâmetros devem estar claros na Proposta Pedagógica da Escola e 
devem, constantemente, ser revisitados e reformulados, criando, assim, uma 
atmosfera reflexiva no ambiente, ou seja, a proposta pedagógica precisa 
apresentar a forma como se pensa a avaliação dos alunos como sujeitos 
diferentes, sujeitos singulares.
81
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
De que forma ou a partir de que caminho será possível possibilitar ao(à) 
aluno(a) a compreensão e a consequente aprendizagem de algum conteúdo? 
O que impossibilita alguém de aprender? Será que há impossibilidades ou 
diferentes caminhos? 
Embora possamos buscar em diferentes teorias, por meio de estudos 
aprofundados, localizando áreas específicas do cérebro, a fim de compreender 
questões físicas de como aprendemos, de como pensamos, mesmo assim, a 
forma como será construído o caminho para a apreensão do conhecimento 
será feita no chão de sala entre professores e alunos, numa relação de 
reciprocidade, respeito, alteridade e empatia. 
Para refletirmos um pouco sobre o assunto, pedimos a você, 
caro(a) pós-graduando(a), para assistir novamente ao vídeo sobre 
a Medicalização da Vida Escolar, aquele que você assistiu no 
terceiro capítulo deste caderno e que se encontra no link: <http://
www.youtube.com/watch?v=fbUfrZzIYRI>. Lembrandoque o vídeo 
foi desenvolvido por Helena Rego Monteiro e é apresentado por 
uma professora, refletindo sobre os problemas de cada aluno(a) 
que compõe a sua turma durante o fechamento das médias e 
consequente aprovação e reprovação para o ano subsequente.
Maria Helena do Rego Monteiro de Abreu, produziu esse 
vídeo para a apresentação e defesa de sua dissertação, intitulada: 
“Medicalização da Vida Escolar” – Rio de Janeiro, 2006.
Atividade de Estudos: 
1) Após assistir ao vídeo, pedimos que escreva nas linhas abaixo 
de que forma seria possível resgatar esses alunos que a professora 
diz apresentar problemas. Liste os alunos e sugira caminhos.
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
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Durante a escrita da atividade anterior, talvez você tenha lembrado 
situações que viveu ou vive em seu contexto. Pensamos que seja necessário 
entender por qual razão há essa tendência em consumir remédios e buscar 
problemas em nossos alunos.
Primeiramente, é importante entender que não foi apenas um fator 
que desencadeou essa visão, mas um entrecruzamento de fatores. Eles 
relacionam-se com a história do nosso país, influências de outros países sobre 
ele, tentando construir uma atmosfera de desenvolvimento e progresso da nação.
Certamente será preciso fazer um recorte histórico para que não tornemos 
nossa leitura uma sucessão de datas e acontecimentos que desencadearão o 
entendimento da problemática, justamente por acreditarmos que a história não 
é apenas isso e não há uma linearidade para essa compreensão.
Vamos pensar a prática educativa a partir do movimento da Escola Nova 
(primeira metade do século XX), que foi uma corrente inserida no Brasil, 
tendo como eixo matricial as ideias do filósofo e pedagogo norte americano 
John Dewey (1859- 1952). A princípio, a perspectiva teria como norte a 
compreensão de que a educação é uma necessidade social e que as pessoas 
deveriam obter conhecimentos que fossem aperfeiçoados e que, como 
consequência, pudessem trazer progresso social. Esse movimento acontecia 
no Brasil, concomitantemente a um rápido processo de urbanização, progresso 
industrial, econômico e que também começou a apresentar problemas sociais 
e políticos. Em sua essência, o ideário escolanovista era de que a educação 
é o único elemento eficaz para a construção de uma sociedade democrática. 
(KUHLMANN JÚNIOR, 1998).
Uma sociedade seguindo os parâmetros escolanovistas e também com 
ideias liberais constrói aos poucos o “[...] homem moderno, este novo homem, 
exigido pela nova ordem urbano industrial, deveria ser disciplinado, hígido, 
saudável, ativo e amante da pátria.” (ABREU, 2006, p. 29).
Partindo dessa premissa, logicamente o que foge a esses padrões de 
sujeito, fugiria também dos padrões instituídos como forma de produção 
social, de progresso, crescimento e desenvolvimento. Portanto, a Escola 
seria um dos locais onde o “olhar” do(a) professor(a) em busca dos “desvios” 
83
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
comportamentais e cognitivos detectaria problemas para serem resolvidos. E 
quem os resolveria? Certamente a medicina. A medicina é um saber que incide 
sobre o corpo, sobre o organismo, tendo e mantendo efeitos disciplinares e 
regulamentadores. (FOUCAULT, 1976). Seguindo essa lógica, podemos 
pensar que a medicina tem o poder de “normalizar” a vida. O normal, neste 
caso, seria aquele que se enquadra sem resistências aos padrões, regras, 
normas e demais atributos para uma vida harmônica e produtiva socialmente. 
Quem fugiria dos padrões? Loucos, deficientes, criminosos, enfim.
Atividade de Estudos: 
1) Certamente você deve estar pensando: Será que isso 
acontece na prática mesmo? O olhar “clínico” do(a) professor(a), 
o que busca? O que vê? Quantas vezes o olhar dirigido ao(à) 
aluno(a) vê o que sobressai: desatenção, inquietação, distração, 
impulsividade, desobediência? Quantas vezes esses atributos 
são vistos antes dos demais no comportamento e nas atividades 
diárias de alguns de nossos alunos? 
 Tente fazer uma reflexão sobre um(a) aluno(a) que “incomoda” 
ou “foge dos padrões” instituídos em sala de aula. Quais 
atributos negativos ele(a) apresenta? Quais atributos positivos 
ele(a) apresenta? O que sobressai?
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
A ideia da reflexão é a de tentar mostrar a você, caro(a) pós-graduando(a), 
que muitos dos encaminhamentos feitos para consultórios médicos com a 
queixa de que o aluno não aprende ou a dita “doença do não aprender” se 
encaixa no olhar do(a) professor(a) diante disso, e não necessariamente num 
problema a ser resolvido.
Para refletir sobre isso, convidamos você para ler um trecho da dissertação 
de Maria Helena do Rego Monteiro de Abreu que fala sobre a questão do olhar 
do(a) professor(a) frente ao processo de aprendizagem e não aprendizagem 
do(a) aluno(a): 
André Luiz não mais resiste, já se submeteu e é refém de uma 
incapacidade que não tem, mas introjetou. 
Está preso em uma doença que não existe. 
Está confinado em uma instituição invisível, sem paredes, virtual. 
André Luiz está institucionalizado. 
André Luiz não é um personagem de um tempo que passou, 
nem foi encontrado em uma estante com referência catalográfica, 
André Luiz é criança do nosso tempo – anda bem de bicicleta, faz 
pipas bonitas, mas teme ser internado. André Luiz foi atendido por 
uma médica neurologista quando tinha nove anos e cinco meses, 
a partir de uma queixa da professora que, em poucas palavras, 
proferiu a sua sentença: 
André Luiz é desinteressado, apático, concentração mínima. 
Acho que tem problema neurológico, ele só tem um assunto: 
cavalo. No ano passado, apanhava muito da professora, ela 
puxava as orelhas. Em casa faz todos os serviços. 
Ao entrar no consultório da médica, André Luiz teve que ser 
arrastado pela mãe e, com medo, perguntou à médica: 
• Eu vou ficar internado?
• Internado por quê? – respondeu a médica.
• Por causa que eu não sei ler nem escrever? Eu não aprendia 
porque ela me batia. Eu não sou inteligente, não. Só um pouquinho. 
Porque eu não sei ler. Eu adoro cavalo! Sei montar desde pequeno, 
monto muito bem em pelo! Eu tenho um cavalo só meu! 
No encontro com André Luiz, o olho da médica não viu a apatia 
descrita pela professora. O olho da médica viu em André Luiz uma 
criança inteligente e desenvolta que tem um cavalo e o adora. 
André Luiz considera-se doente porque não aprende na escola. 
A história de André Luiz e de tantosoutros que não aprendem na 
85
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
escola e são sistematicamente encaminhados aos serviços de 
saúde para terem suas sentenças proferidas do alto de um saber 
que se quer sempre poder, nos fazem problematizar a demanda 
que vem superlotando os consultórios, sejam eles públicos ou 
privados. (ABREU, 2006, p. 16-17).
Quantas vezes avaliamos e determinamos a vida de nossos alunos através 
do olhar e daquilo que dizemos sem ao menos considerar todo histórico vivido 
por eles além das quatro paredes da sala de aula? É importante que tenhamos 
esse olhar reflexivo, pois a demanda por encaminhamentos da educação 
para a saúde é muito grande, como se os diagnósticos por si só resolvessem 
um problema a partir do que foi dito e associado ao uso de um medicamento 
complementar: pílulas para aprender. Será que elas existem e resolvem 
nossos problemas de sala de aula em longo prazo?
Convidamos você, caro(a) acadêmico(a), para assistir a 
um vídeo e refletir um pouco sobre esse assunto. Acesse o 
link: <http://www.youtube.com/watch?v=SVtZwUEdFgA>.
Neste link você assistirá a um episódio dos Simpsons em que o 
Barth Simpson é diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e 
Hiperatividade e começa a fazer uso de um novo medicamento para ajudar a 
se concentrar na escola e tornar-se um “bom aluno”. É uma sátira do consumo 
de psicotrópicos como regulador de comportamentos.
Atividade de Estudos: 
1) Após assistir a este episódio dos Simpsons, gostaríamos 
que você escrevesse nas linhas abaixo sobre um momento 
importante do vídeo. Em que momento acreditou-se no menino 
como sujeito capaz de vencer seus obstáculos sem o uso de 
medicamentos? Você imagina que é possível viver na realidade 
uma situação assim?
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
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Com a discussão em torno dos laudos e medicamentos, quisemos 
problematizar uma demanda que, em alguns casos, não existe, e sim que é 
criada por estar em busca de uma homogeneização do aprender ou por uma 
homogeneização de comportamentos escolares. É importante pensarmos que, 
em sala de aula, lidamos com personalidades distintas entre si e que essas 
distinções, como já discutimos no capítulo anterior, são parte da subjetividade 
de cada um, é o que nos legitima como únicos.
Ressaltamos que o saber médico e o diagnóstico têm papel 
determinante para auxiliar no entendimento do que pode estar acontecendo 
com o desenvolvimento de um suposto aluno que não aprende. Descobertas 
da área da medicina são importantes para oferecer qualidade de vida às 
pessoas, porém é preciso que não façamos desse saber algo em torno da 
divulgação e invenção desenfreada de doenças ou um estímulo ao consumo 
inconsciente e inconsequente de pílulas para solucionar problemas de 
ordens psíquicas variadas.
Sobre esse assunto existe um documentário muito 
interessante, dividido em dezoito partes, disponível na internet. 
Acesse o link: <http://www.youtube.com/watch?v=6X3Khv2ura4>. 
Lá, você terá acesso ao primeiro deles e depois é só continuar 
acessando as demais partes. É muito importante assisti-lo, nele é 
possível problematizar e refletir sobre a questão do consumo de 
medicamentos atualmente. 
87
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
o papel da InstItuIção Frente às respostas 
encontradas com o laudo
[...] A educação se conduz como se se enviara
A uma expedição polar às pessoas vestidas com
Roupa de verão e equipadas com mapas dos lagos italianos.
(FREUD, 2010).
Escolhemos a epígrafe acima para apresentar uma das angústias 
com a qual nos deparamos com certa frequência em sala de aula. Essas 
angústias giram em torno da prática de “chão de sala”. O que fazer com um(a) 
aluno(a) que apresenta um laudo de algum transtorno, distúrbio, deficiência 
ou dificuldade de aprendizagem? Quais “equipamentos” precisamos para 
construir o caminho possibilitador de aprendizagens para esse(a) aluno(a)? O 
que a escola poderá fazer nesse caso?
Convidamos você, caro(a) pós-graduando(a), a fazer a leitura do desfecho 
do caso de um menino autista, diagnosticado aos sete anos, a partir do 
encaminhamento da professora e da angústia encontrada por ela no trabalho 
com o grupo em uma sala de aula do 1º ano do ensino fundamental. Este texto 
servirá de base para responder aos questionamentos anteriores.
O trabalho com o primeiro ano sempre foi um grande desafio. Aliás todo 
novo ano letivo sempre trará novos desafios. Que bom, afinal é com eles que 
crescemos e nos desenvolvemos como profissionais e pessoas.
Como forma de preparar esse caminho, eu, professora Georgete, sempre 
busquei a ficha de matrículas dos alunos e, alguns dias antes de iniciar as 
atividades letivas, fazer através de um levantamento, a construção do perfil 
da turma. O primeiro passo é saber de onde vêm os alunos que foram 
matriculados no primeiro ano na escola. A partir disso, agendava uma visita 
à Instituição de Educação Infantil que a maioria dos alunos havia frequentado 
no ano anterior. Além da visita para compreender questões do trabalho local, 
sempre busquei conversar com as professoras que atenderam esses alunos e 
ouvir delas como foi o desenvolvimento deles naquele ano.
Certamente para saber sobre alguns desses alunos não era possível ir 
até a Instituição que haviam estudado no ano anterior, então, no início das 
atividades letivas, buscava solicitar aos pais a ficha de avaliação dos anos 
anteriores e entregava para eles também uma ficha com a seguinte questão: 
“Escreva nas linhas abaixo como foi o desenvolvimento de seu filho 
(a) do nascimento até a presente data. Sua escrita deve contemplar: O 
88
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
desenvolvimento inicial dele: condições de gestação e parto, alimentação, 
sono, desenvolvimento motor, linguagem, controle de esfíncteres, 
responsabilidades, personalidade, socialização. Pontue o que acha importante 
sobre as coisas que ele(a) aprendeu, sobre a vida familiar e social. Fale sobre 
a vida de seu(sua) filho(a)!” 
Com as fichas, o depoimento da professora do ano anterior e o 
depoimento dos pais, construía o perfil da turma. Cruzava dados, informações 
que me faziam nortear a prática e compreender a vida de meus alunos. Além 
disso, podia tirar as minhas conclusões sobre cada um dos depoimentos e 
analisar cada um de meus alunos. Saber sobre essas questões possibilita: 
compreender as condições de desenvolvimento dessas crianças, sobre o 
investimento dos pais na vida dos filhos e o que a professora do ano anterior 
poderia me dizer sobre a aprendizagem dessa criança. Certamente leva tempo 
ler, analisar e compreender esses dados, mas eles são importantes para 
elaborar a prática no referido ano. Apenas ressalto que mesmo havendo todas 
essas informações, é importante o(a) professor(a) se posicionar frente a isso e 
construir a sua história com seus alunos.
No ano de 2009 recebi uma turma com trinta alunos, todos muitoativos: 
crianças, apenas isso. Dentre eles o Rafael. A mãe de Rafael o trouxe até a 
sala de aula e me disse: professora, fica de olho porque ele faz cocô e xixi na 
calça. Também ele é muito nervoso, apronta direto, bate nos outros, não me 
obedece, mente. Ele não sabe fazer letras e nem o nome. Ele não consegue 
aprender as coisas muito rápido. Não sei como vai ser aqui na escola.
Todo professor que no primeiro dia letivo recebe um aluno com essa fala 
proferida pela mãe fica assustado. Eu fiquei assustada. Rafael tinha seis anos 
na época.
Na ficha desse menino a mãe havia escrito que teve uma boa gestação, 
mas que enfrentara problemas conjugais. Porém não se queixou de nada 
especificamente em termos pré-natais. 
Após o nascimento de Rafael começou a perceber que ele sempre 
chorava muito, demorou além do comum para sentar, engatinhar, andar. 
Falou tardiamente. O menino dormia com a mãe e ela dizia que não 
conseguia ser de fato a mãe, quem comandava as coisas na casa era a 
avó. A mãe sempre mantinha uma postura secundária na educação da 
criança. O pai não era uma pessoa presente, mas quando estava com o 
menino, demonstrava amor por ele.
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ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
No decorrer do ano eu tive muitas dificuldades com o Rafael, ele não 
conseguia entender os sentimentos dos outros, criava situações de conflito e 
as crianças tinham medo dele. Parecia que ele não gostava de ficar sozinho, 
mas quando se aproximava dos outros, na maioria das vezes, os machucava.
Rafael fazia desenhos aleatoriamente, quando percebia, ao invés do 
desenvolvimento dos trabalhos, ele preenchia folhas do caderno com riscos 
sequenciais. Mas o que me chamava a atenção era que quando eu sentava 
do lado dele, este conseguia fazer o traçado de letras.
Rafael tinha comportamentos estranhos em sala. Usava a tesoura não 
para cortar o papel e montar o exercício, mas para cortar o livro, a roupa e 
os cabelos tanto seus quanto de outros. A cola era usada para lambuzar-se 
e para comer. Tinha momentos que emitia gritos ensurdecedores, assustava 
todos com os gritos e as gargalhadas. Batia nos colegas, sacaneava-os 
e mentia. Tinha pouca capacidade atencional. Toda vez que era chamado 
para cobrar o comportamento, olhava com piedade, negava o que fizera e 
chorava compulsivamente.
De tudo isso que Rafael fazia, havia um caminho. Rafael era apaixonado 
por Trens. Consegui desenvolver algumas de suas potencialidades com um 
trem de brinquedo, com histórias de trens, textos de diversos gêneros que 
tratavam desse assunto, trabalhos na área da matemática com essa temática e, 
assim, o tempo foi seguindo com situações de conflitos extremos, mas também 
de aprendizagem para todos. Sentia que com o Rafael sua aprendizagem não 
aconteceria da forma convencional: quadro, caderno, lápis, professor, aluno. 
Rafael levou para casa muitos bilhetes em sua agenda, solicitando a 
presença da mãe na escola, a fim de cobrar da família uma postura frente 
à questão. Todas as vezes que a família foi chamada à escola era solicitado 
encaminhamento a um neurologista. Inicialmente a família apresentava 
disposição a levar Rafael ao médico, mas sempre havia uma “desculpa” para 
o ato não se consumar.
Cada quinze dias a família era chamada na escola. Teve uma vez que 
eu fiz um documento, cobrando da Direção da Escola uma postura. Foi uma 
forma de registrar a angústia e cobrar das políticas públicas o desfecho para 
esta história. O referido documento foi entregue à Secretaria da Educação e, 
então, foi conseguido encaminhamento para neurologista, mas apenas para o 
início do ano seguinte.
90
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Segue o laudo:
Após o laudo, o Rafael já não era mais o meu aluno. Mesmo assim, o 
laudo foi uma conquista para conseguir o segundo professor na turma e, 
assim, facilitar o trabalho pedagógico em sala tanto para o professor como 
para o próprio aluno. Mas, havia outra questão que implicava o trabalho com 
Rafael. Não havia uma prática pronta e aplicável. Era preciso construir uma 
prática para que ele se desenvolvesse.
A partir do laudo, tanto a professora quando a auxiliar da turma começaram 
a aprofundar leituras sobre a síndrome de Asperger e construíram a prática 
pós-laudo:
Quadro de rotina, horários pré-estabelecidos, previsibilidade nos 
trabalhos, sequenciação deles. Regras estabelecidas, fixadas na sala e 
cobradas dele e de todos. Reforçar o comportamento positivo com elogios 
e estímulos pedagógicos. Também foi importante construir com os alunos o 
entendimento de que Rafael era diferente em alguns aspectos (como todos 
nós somos), mas com todos os direitos de criança e deveres também, como 
qualquer outro aluno.
91
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
A Secretaria da Educação no decorrer daquele ano construiu um programa 
de atendimento de equipe multidisciplinar na escola. Havia acompanhamento 
psicológico e psicopedagógico, encaminhamentos à neuropediatra, sendo 
possível a intervenção de outros profissionais e o consequente auxílio para o 
desenvolvimento do trabalho pedagógico escolar.
Certamente cada contexto retratará uma realidade. Embora haja equipes 
multidisciplinares para atender aos alunos que apresentem distúrbios, 
transtornos ou dificuldades de aprendizagem, será sempre o professor em 
sala de aula que construirá o caminho.
Através das pontuações da professora Georgete, é importante refletirmos 
sobre o posicionamento da escola frente aos laudos. Na verdade, pensamos 
que não seria a escola frente aos laudos, mas frente à diversidade do contexto. 
Por essa razão, é tão importante que sejam feitas adequações curriculares e 
que o Projeto Político Pedagógico da Escola seja revisitado anualmente.
Isso implica que as decisões, tanto curriculares como de 
definição e de funcionamento da escola devem ser tomadas 
por aqueles que vão implementá-las, em função da sua 
realidade, adequando às suas características concretas as 
propostas que os gestores estabeleçam. (ROSA, 2004, p. 291).
Embora cada profissional da equipe multidisciplinar contribua para 
melhorias no desenvolvimento de uma criança que apresente algum problema 
na escola, é a escola, com os gestores, professores e demais profissionais 
que precisa promover os encontros com a aprendizagem. 
Através de formação continuada de professores, de reuniões e grupos 
de estudos, de reuniões pedagógicas e também direcionadas à discussão do 
Projeto Político Pedagógico será possível construir uma resposta a partir do 
laudo que recebeu de um(a) aluno(a). 
A resposta certamente afeta a escola e implicará o questionamento da 
prática, a introdução das mudanças e adequações necessárias. Seguramente, 
em alguns momentos, essa resposta frente às adequações e às mudanças 
poderá causar certo mal estar por parte de docentes. Mas o que se sabe 
definitivamente é que somente haverá construção de aprendizagem 
nessas situações, na medida em que houver uma equipe funcionando 
integradamente. Uma escola funciona com um grupo, com um contexto, com 
a construção e reconstrução de histórias e não com o trabalho apenas dos 
professores isoladamente. (ROSA, 2004). Ressaltamos que buscar aprofundar 
conhecimentos sobre o problema que o(a) aluno(a) apresenta trará condições 
de tecer intervenções adequadas para a situação a que se encontra e, neste 
caso, em se tratando de chão de sala, é papel do(a) professor(a) construir 
esse conhecimento, pois é ele(a) que estará diariamente com o(a) aluno(a).
92
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
É importante lembrar que o(a) aluno(a) que apresenta o referido laudo 
não é apenas o(a) aluno(a) da professora Georgete ou da professora Maria. 
Ele(a) é o(a) aluno(a) da Escola “X,Y,Z”, pertencente a umadeterminada 
comunidade e inserido(a) em determinado grupo social. Portanto, é um sujeito 
de responsabilidade de muitos e não apenas de alguém.
Atividade de Estudos: 
1) Diante dessas questões, convidamos você, caro(a) leitor(a), 
a refletir sobre o trabalho multidisciplinar e sobre o trabalho 
do grupo escolar frente aos alunos que apresentam laudos e 
diagnósticos médicos. Se fosse representar em um desenho 
como deve funcionar o atendimento em equipe de um(a) 
aluno(a) diagnosticado(a), que desenho você faria? Faça esse 
desenho no retângulo abaixo e nas linhas posteriores escreva 
por qual razão o fez.
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o papel da FamílIa Frente às respostas 
encontradas com o laudo e sua Inter-
relação com a escola.
A partir da promulgação da Constituição de 1988 muitas conquistas 
através de leis foram possíveis. Foi também ela que trouxe os princípios da 
elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. (BRASIL, 1990). 
Em ambos os documentos fala-se dos direitos, mas também dos deveres da 
família frente ao acompanhamento e desenvolvimento de seus filhos.
 
93
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
Muitas vezes, a família não tem conhecimento necessário para buscar 
seus direitos quando seus filhos apresentam problemas na escola, e 
também não tem conhecimento sobre os seus deveres em torno dessas 
questões. É importante haver esses esclarecimentos para que cada um 
exerça o seu papel da melhor forma, pensando no desenvolvimento da 
criança, que é o foco da discussão.
Você pode sugerir em sua escola grupos de estudos e/ou 
encontros com depoimentos de pais de alunos que tenham algum 
laudo médico e que apresentem problemas reais de seu contexto. 
Também rodas de conversa com profissionais da saúde e/ou 
da medicina. Promovendo discussões, aprofundando estudos, 
interagindo com demais sujeitos, o conhecimento se constrói e 
caminhos se abrirão e poderão auxiliar a prática do(a) professor(a) 
e a aprendizagem do(a) aluno(a).
Em algumas situações, também, a família não aceita o fato de o filho 
apresentar problemas e acaba por desconsiderar essa possibilidade sem ao 
menos ter alguma confirmação médica sobre o assunto. Sabe-se que “um 
filho é sempre fonte de ilusões ou medos. A fantasia e as vivências que se 
produzem em torno dele são muito profundas e refletem não só a projeção 
de si mesmo, como também expectativas idealizadas.” (PANIAGUA, 2004, 
p. 330). Cabe ao(à) professor(a), em parceria com a escola e a equipe 
pedagógica, conversar com a família sobre o assunto e quando não conseguir 
através desse contato, tentar buscar auxílio com o Conselho Tutelar da cidade 
ou com órgãos do Serviço Social.
Lembramos também que há situações em que as famílias determinam 
o problema do filho como uma enfermidade genética, conforme afirma 
Fernández (1991). Sobre esse assunto, convidamos você, caro(a) leitor(a), 
a fazer a leitura de um artigo muito interessante que fala da relação da 
família com o processo de aprendizagem das crianças. Você consegue 
buscar a leitura no link: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0103-
84862011000200011&script=sci_arttext> ou também através de uma Busca 
na Revista de Psicopedagogia , vol. 28, no.86 – SP. – ISSN 01038486. O 
referido artigo tem como título: “Quando o vínculo é doença: a influência 
da dinâmica familiar na modalidade de aprendizagem do sujeito”, a 
autora é Ana Paula Decnop de Almeida. O artigo fala do vínculo normal 
do patológico nas relações familiares e busca compreender até que ponto 
é possível atribuir a essa dinâmica familiar a influência na modalidade de 
aprendizagem do sujeito, causando como sintoma o não aprender.
94
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Atividade de Estudos: 
1) Após a leitura desse artigo, escreva nas linhas abaixo qual a 
sua visão em torno do que leu. Você concorda com a posição 
da autora? Posicione-se.
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Sabe-se que quando se consegue encaminhar um(a) aluno(a) para 
a investigação médica em torno dos problemas de aprendizagem e este(a) 
adquire um laudo, para muitos ele pode retratar uma sentença com um tom 
negativo. É preciso que o(a) professor(a) e demais sujeitos do contexto escolar 
demonstrem à família o significado desse documento e as conquistas que ele 
pode trazer. O laudo é positivo na medida em que apresentar, de forma escrita, 
problemas relacionados ao desenvolvimento e à aprendizagem desse sujeito 
para, com isso, equipes multidisciplinares possam atuar de maneira eficaz 
na retomada do processo de aprendizagem desse sujeito. Ele jamais poderá 
significar perdas, culpa, incapacidades e rotulagem.
Desde o momento em que os pais saibam da existência de algum 
problema de aprendizagem nos filhos, a preocupação com a sua vida e seu 
futuro aumentará e causará o aparecimento de muitos sentimentos diferentes, 
como medo, insegurança, sensação de impotência frente à situação. Esses 
sentimentos, essa preocupação certamente acompanhará a família por 
95
ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
muito tempo e talvez por toda a vida. Mas a forma como cada um enfrentará 
essa situação, perpassará a subjetividade e relacionar-se-á com a forma 
como enfrenta os problemas da vida. (PANIAGUA, 2004). Além disso, eles 
também terão de decidir sobre tratamentos, uso de medicamentos (quando 
necessário), acompanhamento por outros profissionais como forma de 
investimento educativo, sem contar toda a dedicação e tempo destinado à 
criança, independente de ela ser atendida por programas públicos específicos.
É importante que à família fique claro que quanto maior a participação 
e envolvimento com a aprendizagem de seu filho e quanto maior for sua 
interação com a escola, melhores serão os resultados. Assim como também 
é importante que a escola proporcione meios para que essa inter-relação 
aconteça de fato. Conforme afirma Rosa (2004, p. 304):
É importante informar os pais sobre as decisões adotadas 
para orientá-los sobre o tipo de ajudas que podem 
proporcionar a seu filho e promover sua participação com 
relação à aprendizagem de determinados conteúdos. A 
colaboração da família é de vital importância para favorecer 
a contextualização e a generalização de determinadas 
aprendizagens e conseguir que estas sejam mais 
significativas para a criança, já que pode relacionar o que faz 
em casa e o que faz na escola.
Da mesma forma como aos pais é delegada a incumbência de estar 
atentos, incentivar e participar ativamente da vida do filho na escola, também 
é importante que eles busquem participar das reuniões e da elaboração do 
Projeto Político Pedagógico da escola, pois é a partir disso que eles poderão 
opinar, discutir, propor, intervir diretamentena proposta que a escola tem como 
forma interventiva de trabalho pedagógico/educativo. A esta questão relaciona-
se uma Gestão Democrática que visa a um envolvimento maior entre pais, 
comunidade e escola.
Certamente você, caro(a) leitor(a), já se deparou com situações em que 
era necessário muito envolvimento e empenho dos pais para o sucesso e 
avanço na aprendizagem da criança na escola. Cada escola, a partir de seu 
contexto, a partir da história local e através do perfil da comunidade precisará 
encontrar uma forma de construir essa ponte. Como forma de elucidar o 
assunto, convidamos você, caro(a) leitor(a) a assistir um projeto de trabalho 
feito em Taboão da Serra, SP, no qual buscaram-se parcerias entre família 
e escola visando a um maior desenvolvimento e aprendizado das crianças, 
não apenas aquelas que apresentavam problemas, mas as crianças de modo 
geral.Os professores buscam fazer visitas à casa dos alunos, conhecendo 
a relação da família com a criança, interessando-se por saber sobre essa 
relação e sobre a história de cada família. O link de acesso é: <http://www.
youtube.com/watch?v=WP8DshqeFJc&feature=related>.
96
 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
Atividade de Estudos: 
1) A partir dessa reportagem, tente refletir, caro(a) pós-graduando(a), 
de que forma você, ao longo de sua prática, consegue promover 
a interação entre a família de seus alunos e a escola no qual 
atua. Ou de que forma é possível promover essa interação 
com um(a) aluno(a) que apresente algum problema em seu 
desenvolvimento escolar.
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Gostaríamos de deixar como dica que muitos textos interessantes são 
disponibilizados em sites do Ministério da Educação, dentre eles, alguns 
oferecem dicas práticas aos pais, encaminhamentos aos professores e 
orientações para discutir sobre essa importante relação entre família, 
comunidade e escola. O endereço é: <http://educarparacrescer.abril.com.br/
guias-da-educacao/>. Lá, você encontra alguns encaminhamentos importantes 
que poderão auxiliá-lo(a) a aprofundar leituras sobre o assunto.
algumas consIderações
Chegamos ao final de nosso caderno de estudos e certamente não somos 
os mesmos após as leituras e discussões diante de assuntos tão importantes 
que vivenciamos nele.
Neste capítulo, especificamente, foi possível compreender sobre a 
crescente demanda por laudos e medicamentos, discutimos sobre o papel 
da escola e da família frente aos laudos e sobre a importância da relação 
entre a família e a escola para o desenvolvimento do sujeito diagnosticado. 
Para fechar nosso caderno de estudos, queremos deixar como mensagem 
uma última reflexão sobre a importância do olhar e do incentivo na vida 
de nossos alunos, independente do problema que enfrentem ou da sua 
dificuldade diagnosticada:
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ImplIcações dos laudos para o contexto educacIonal Capítulo 4 
O silêncio da sala de espera é interrompido pela alegria contagiante de 
médicos e enfermeiras, despedindo-se de um homem de seus 80 anos, que 
está recebendo alta hospitalar após 40 dias de UTI entre a vida e a morte. 
A comovedora situação incita-me a aproximar-me do ancião quando ia 
caminhando – já sozinho – pelo corredor.
__Quero fazer-lhe uma pergunta – digo.
__Você tem tempo de me escutar? Responde, oferecendo-me de entrada, 
a primeira reflexão que me faz pensar quantas vezes perguntamos sem 
oferecer tempo para escutar. E, ao olhá-lo, surge a pergunta:
__De onde o senhor tirou forças para se curar?
__Essa é uma longa história. Se quiser, eu conto. Tenho 83 anos, tive 
um acidente na rua e me trouxeram inconsciente. Escutava tudo o que os 
médicos falavam, mas eu não podia falar. Dava-me conta que eles diziam que 
eu ia morrer. Eu pensava que queria dizer-lhes: quero viver. E não me saíam 
as palavras. Então, comecei a pensar em alguém que tivesse acreditado em 
mim e assim, depois de tanto tempo, recordei-me da professora Teresa, minha 
terceira professora. Quer que siga contando?
__Sim, me interessa. O que recordou?
__O modo como me olhava, me escutava... Desde que comecei a escola, os 
professores diziam a minha mãe que eu não ia aprender a ler e a escrever. Por 
um tempo, deixei de ir a escola, “não vai aprender tudo”. No ano em que retornei, 
porque tinha muita vontade de aprender, e tive outra professora, repetiu a mesma 
história, voltaram a me tirar da escola. No ano seguinte, insisti pela terceira vez e, 
então, conheci a professora Teresa. Lembrei-me dela 70 anos mais tarde, estando 
em terapia intensiva, quando eu queria tirar forças para me curar...
__E o que foi que o senhor recordou sobre ela? – perguntei.
__Me lembrei que ela me olhava como que dizendo: VOCÊ PODE...
Fonte: Testemunho vivido por Acilia Fernández num 
hospital público em Buenos Aires, 2012, p. 215.
Que possamos ser a professora Teresa na vida de muitos alunos. Que 
possamos olhar nos olhos deles com a certeza de que é possível construir 
um caminho que sobrepõe suas limitações. Sabemos que isso significa um 
grande desafio e que, por vezes, podemos nos sentir sós. Mas as mudanças 
dependem a priori, da nossa capacidade de acreditar. Com ela, pequenas 
brechas se abrem, mas podem significar grandes transformações.
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 Teoria e Prática da Neuropsicopedagogia
reFerencIas BIBlIograFIcas
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