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Sumário: 1. Origem e finalidade do Direito-2. Conceito de Direito-3. Direito 
objetivo e Direito subjetivo-4. Direito e moral. 
1. ORIGEM E FINALIDADE DO DIREITO 
O Direito nasceu junto com a civilização, sob a forma de costumes que se 
tornaram obrigatórios. Sua história é a história da própria vida. Por mais que 
mergulhemos no passado sempre vamos encontrar o Direito, ainda que em 
estágio rudimentar, a regular as relações humanas. É que os homens, 
obrigados ao convívio1, labutando uns ao lado dos outros, carecem de certas 
regras de conduta, de um mínimo de ordem e direção. A história de Robinson 
Crusoé, vivendo só na ilha deserta, é alegoria que não infirma esta verdade. 
Daí a atualidade do velho apotegma: ubi homo, ibi jus (onde está o homem 
está o Direito). Essas regras de procedimento, disciplinadoras da vida em 
sociedade, recebem o nome de Direito. 
Portanto, a finalidade do direito se resume em regular as relações 
humanas, a fim de que haja paz e prosperidade no seio social, impedindo a 
desordem ou o crime. Sem o Direito estaria a sociedade em constante 
processo de contestação, onde a lei do mais forte imperaria sempre, num 
verdadeiro caos. 
2. CONCEITO DE DIREITO 
Vulgarmente, costuma-se dizer que o Direito não passa de um 
“sentimento”, algo assim como o amor, que nasce no coração dos homens. 
“Não é exagero mesmo afirmar-se que todos sentem o Direito e que, de certo 
modo, todos sabem o que o Direito é. Vocábulo corrente, empregado a todo 
instante nas relações da vida diária para exprimir sentimento que todos já 
experimentamos, está gravado na mente de cada um, representando ideia 
esboçada em traços mais ou menos vagos e obscuros. ‘Isto é direito’, ‘o meu 
direito foi violado’, ‘o juiz reconheceu o nosso direito’, são expressões 
cotidianas ouvidas, que envolvem a noção vulgar a respeito do fenômeno 
jurídico”.2 
Os especialistas, entretanto, dada a precariedade dessa noção vulgar, 
buscam, incessantemente, um conceito mais aprofundado do que seja o 
Direito. 
Na verdade, para não adentrarmos ao estudo da filosofia jurídica, à qual 
pertence a questão, diremos que o Direito é um complexo de normas 
reguladoras da conduta humana, com força coativa.3 Sim, a vida em 
sociedade seria impossível sem a existência de um certo número de normas 
reguladoras do procedimento dos homens, por estes mesmos criadas, 
julgadas obrigatórias, e acompanhadas de punições para os seus 
transgressores. A punição é que torna a norma respeitada. De nada adiantaria 
a lei dizer, por exemplo, que matar é crime, se, paralelamente, não impusesse 
uma sanção àquele que mata. A coação, ou possibilidade de constranger o 
indivíduo à observância da norma, torna-se inseparável do Direito. Por isso, 
como mostra conhecida imagem, “a justiça sustenta numa das mãos a 
balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o 
defender. A espada sem a balança é a força bruta; a balança sem a espada é 
a impotência do Direito”.4 
3. DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO 
A palavra Direito tem diferentes sentidos ou acepções, tornando-se 
praticamente impossível reuni-las numa única fórmula significativa. As mais 
importantes são as traduzidas pelas expressões direito objetivo edireito 
subjetivo. 
O Direito objetivo designa o Direito enquanto regra de ação (norma 
agendi), isto é, o conjunto de regras vigentes num determinado momento, 
para reger as relações humanas, e que são impostas, coativamente, à 
obediência de todos. Assim, quando eu me reporto ao Código Penal, ao 
Código Civil, à Lei do Inquilinato, ao Estatuto da Cidade etc., bem como a 
qualquer uma de suas regras, estou me referindo ao direito objetivo. 
O Direito subjetivo, a seu turno, encerra o poder de ação derivado da 
norma (facultas agendi), isto é, a faculdade ou prerrogativa de o indivíduo 
invocar a lei na defesa de seu interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma 
pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá 
ser compelida a observá-lo através de medidas judiciais. 
Melhor explicitando: a Constituição Federal garante o direito de 
propriedade, ao dispor no art. 5.º, XXII, que “é garantido o direito de 
propriedade”. Essa regra é um preceito de direito objetivo. Agora, se alguém 
violar a minha propriedade, poderei acionar o Poder Judiciário para que a 
irregularidade seja sanada. Essa faculdade que tenho de movimentar a 
máquina judiciária para o reconhecimento de um direito que a lei me garante é 
que constitui o direito subjetivo. Disso resulta que o direito objetivo é o 
conjunto de leis dirigidas a todos, ao passo que o direito subjetivo é a 
faculdade que tem cada um de invocar essas leis a seu favor sempre que 
houver violação de um direito por elas resguardado. 
4. DIREITO E MORAL 
A vida social só é possível uma vez presentes regras determinadas para o 
procedimento dos homens. Essas regras, de cunho ético, emanam da moral e 
do Direito, que procuram ditar como deve ser o comportamento de cada um. 
Sendo ambos – moral e Direito – repositórios de normas de conduta, 
evidentemente apresentam um campo comum. Assim, aquele que estupra 
uma mulher viola, a um tempo, normas de cunho jurídico (art. 213 do CP) e 
moral (neminem laedere= não prejudicar a ninguém). 
Assim sendo, poder-se-ia representar o Direito e a moral por um único 
círculo, já que comum o campo de ação de ambos. 
 
Sustenta-se, por outro lado, que o Direito, embora não sendo algo diverso 
da moral, é uma parte desta, armada de certas garantias. MIGUEL REALE, ao 
expor essa ideia, elucida que “o Direito representa apenas o mínimo de Moral 
declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem 
todos podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações 
morais, é indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a 
sociedade não soçobre. A moral, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, 
é cumprida de maneira espontânea, mas como as violações são inevitáveis, é 
indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão dos 
dispositivos que a comunidade considerar indispensáveis à paz social”.5 
Essa teoria, chamada do “mínimo ético”, pode ser reproduzida por dois 
círculos concêntricos, sendo o círculo maior o da moral, e o círculo menor o 
do Direito. Haveria, portanto, um campo de ação comum, sendo mais amplo o 
da moral. De acordo com essa imagem, poderíamos dizer que “tudo o que é 
jurídico é moral, mas nem tudo o que é moral é jurídico”. 
 
Mas, seria certo dizer que todas as normas jurídicas estão contidas no 
plano moral? Evidentemente que não. 
Ações existem, de fato, que interessam apenas ao Direito, como ocorre, 
por exemplo, com as formalidades de um título de crédito. Finalmente, outras 
existem que ao Direito são indiferentes, mas que a moral procura disciplinar. 
É o que acontece, por exemplo, com a prostituição. A mulher que se dedica à 
prostituição, que mercadeja seu corpo, não sofre qualquer sanção legal, por 
isso que a prostituição em si não encerra conduta reprovada pelo Direito. 
Contudo, é considerada como chaga social e a mulher que a pratica, por um 
motivo de ordem ética, fica marginalizada, sujeitando-se a repulsa de muitos. 
Destarte, conquanto tenham um fundamento ético comum, também 
possuem caracteres próprios que os distinguem, embora as normas morais 
exerçam, em sua maior parte, enorme influência sobre as normas jurídicas. 
Daí a elucidativa figura, onde o Direito e a moral, embora com um campo em 
comum, se situam em círculos excêntricos, possuindo o da moral diâmetro 
maior que o do Direito. 
 
Esses caracteres distintivos podem ser sistematizados sob tríplice 
aspecto: em razão do campo de ação, da intensidade da sanção que 
acompanha a norma ou nos efeitos desta. 
 
(a) Sob o aspecto do campo de ação, tem-se que a moral atua, 
predominantemente,no foro íntimo do indivíduo, enquanto o Direito se 
interessa apenas pela ação exteriorizada do homem, ou seja, aquilo que ele 
fez ou deixou de fazer no mundo social. Assim, a maquinação de um crime, 
conquanto indiferente ao Direito, é repudiada pela moral, encontrando 
reprovação na própria consciência. Já a exteriorização desse pensamento, 
com a efetiva prática do crime, importa em conduta relevante para o Direito, 
que mobiliza o aparelho repressivo do Estado para recompor o equilíbrio 
social. 
(b) Quanto à intensidade da sanção, a moral estabelece sanções 
individuais e internas (remorso, arrependimento, desgosto íntimo) ou de 
reprovação social (ex.: a prostituta é colocada à margem da sociedade). O 
Direito estabelece sanções mais enérgicas, consubstanciadas em punições 
legais (ex.: aquele que comete um homicídio simples fica sujeito a uma pena 
que varia de 6 a 20 anos de reclusão; o que polui deve recompor o ambiente 
agredido ou pagar indenização pelo dano perpetrado). Como às regras da 
moral não se submetem os indivíduos sem consciência, costuma-se assinalar 
que o Direito tem a coação, a moral é incoercível.6 
(c) Quanto aos efeitos, observa-se que da norma jurídica decorrem 
relações com um alcance bilateral,entre duas ou mais pessoas, ao passo que 
da regra moral derivam consequências unilaterais, isto é, ninguém está 
obrigado ao seu cumprimento. Assim, “quando a Moral diz a um que ame o 
seu próximo, pronuncia-o unilateralmente, sem que ninguém possa reclamar 
aquele amor; quando o Direito determina ao devedor que pague, proclama-
o bilateralmente, assegurando ao credor a faculdade de receber”.7 
Nessas condições, “embora não se confundindo, ao contrário, separando-
se nitidamente, os campos da moral e do direito entrelaçam-se e 
interpenetram-se de mil maneiras. Aliás, as normas morais tendem a 
converter-se em normas jurídicas”,8 como oportunamente exemplifica SILVIO 
RODRIGUES: “No passado era ato altamente meritório o fato de o patrão 
socorrer seu empregado acidentado. Mas a desobediência a essa regra de 
moral não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Este, entretanto, 
observando a conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer 
seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como obrigação 
jurídica aquilo que não passava de mero dever moral”.9 
 
 
Sumário: 1. Quadro geral do Direito-2. Direito positivo e Direito natural-3. 
Direito internacional e Direito nacional-4. Direito público e Direito privado – 5. 
Abrangência do Direito público e do Direito privado. 
1. QUADRO GERAL DO DIREITO 
 
2. DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL 
O Direito positivo compreende o conjunto de regras estabelecidas pelo 
poder político em vigor num país determinado e numa determinada época. É o 
Direito histórico e objetivamente estabelecido, encontrado em leis, códigos, 
tratados internacionais, costumes, decretos, regulamentos etc. É o Direito cuja 
existência não é contestada por ninguém.10 É com esse significado que nos 
referimos ao Direito romano, ao Direito alemão, ao Direito português, ao 
Direito brasileiro. 
O Direito natural, para os que aceitam a sua existência, é aquele que fixa 
regras de validade universal, não consubstanciadas em regras impostas ao 
indivíduo pelo Estado. Ele se impõe a todos os povos pela própria força dos 
princípios supremos dos quais resulta, constituídos pela própria natureza e 
não pela criação dos homens, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o 
direito de viver etc. 
Numa palavra: o Direito positivo é o direito que depende da vontade 
humana, enquanto o Direito natural é o que independe de ato de vontade, por 
refletir exigências sociais da natureza humana, comuns a todos os homens. 
3. DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO NACIONAL 
Direito internacional vem a ser o complexo de normas aplicáveis nas 
relações entre países (Direito internacional público), e aos particulares que 
tenham interesse em mais de um país (Direito internacional privado). 
Exemplificando: se o Brasil e o Paraguai, na exploração da Usina Hidrelétrica 
de Itaipu, construída por ambos, tiverem alguma divergência, a questão será 
resolvida por meio de aplicação de normas de Direito internacional público. Já 
o inventário de um falecido que tenha deixado bens em vários países cria 
problemas de Direito internacional privado, por isso que em jogo estão 
interesses de particulares em mais de um país. 
Direito nacional é o que existe dentro das fronteiras de um país. 
4. DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO 
O Direito nacional, assim como o Direito internacional, se desdobra em 
dois grandes ramos: o Direito público e oDireito privado. O Direito público 
disciplina os interesses gerais da coletividade, e se caracteriza pela 
imperatividade de suas normas, que não podem nunca ser afastadas por 
convenção dos particulares. Já o Direito privado versa sobre as relações dos 
indivíduos entre si, tendo na supletividade de seus preceitos a nota 
característica, isto é, vigora apenas enquanto a vontade dos interessados não 
disponha de modo diferente que o previsto pelo legislador. 
Para melhor compreensão, tomemos dois exemplos: 
(a) Empregado e patrão celebram um contrato de trabalho, 
convencionando que o primeiro ganhará 2/3 (dois terços) do salário mínimo, 
visto que não tem mulher nem filhos. É válido o acordo? Obviamente, não. O 
patrão terá que pagar de qualquer forma o salário mínimo, por se tratar de 
uma norma de ordem pública, de proteção ao trabalhador. 
(b) Peço emprestadas 20 (vinte) sacas de arroz. O art. 586 do CC diz que 
sou obrigado a restituir coisas do mesmo gênero, qualidade e quantidade. No 
entanto, quem me emprestou aceita que eu faça a devolução com sacas de 
milho. É válido o acordo? Sim, porque aqui estamos no terreno do Direito 
privado, onde o particular pode exigir ou deixar de exigir o cumprimento da lei. 
A lei lhe dá a faculdade de agir, ou o Direito subjetivo de agir, deixando-lhe, 
porém, a iniciativa da ação. 
Vale observar, no entanto, que essa divisão do Direito em público e 
privado, embora milenar, não é aceita pacificamente entre os autores. Daí 
falar-se num Direito misto, já que no mundo atual, entre os dois grandes e 
tradicionais campos do Direito se encontram regras que tutelam tanto o 
interesse público quanto o privado, como, por exemplo, no caso do Direito de 
família, do trabalho etc. Com efeito, observa-se, presentemente, acentuada 
tendência publicística no Direito privado, como acontece com a legislação 
protetora do inquilinato e da família. Aliás, todo o Direito de família caminha 
para o Direito público. Por igual, a doutrina mais moderna vem se referindo a 
uma nova categoria de direitos — chamados de terceira geração, que 
materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a 
todas as formações sociais, e que não se afeiçoam à dicotomia (público ou 
privado) do Direito tradicional, como são exemplos o Direito do ambiente e o 
Direito do consumidor. 
Para fins didáticos, entretanto, continuamos com a bipartição do Direito em 
público e privado. 
5. ABRANGÊNCIA DO DIREITO PÚBLICO E DO DIREITO PRIVADO 
Ao Direito público interno pertencem o Direito constitucional (fixa a 
estrutura do Estado e estabelece os direitos fundamentais da pessoa 
humana), o Direito administrativo (estabelece os preceitos relativos à 
administração da coisa pública, tendo em vista os fins sociais, políticos e 
financeiros perseguidos pelo Estado), o Direito penal (define as condutas 
criminosas, visando preveni-las e reprimi-las), o Direito financeiro (regula a 
atividade desenvolvida pelo Governo para obter e aplicar os meios 
econômicos necessários à realização de seus fins), o Direito 
tributário (orderna a forma de arrecadação de tributos e o relacionamento 
entre o poder público fiscal e o contribuinte), o Direito processual,subdividido 
em civil e penal (trata da distribuição da Justiça, regulando o processamento 
das ações perante o Poder Judiciário), Direito trabalhista (tem por objeto reger 
as relações de trabalho subordinado) e Direito do Consumidor (regula as 
relações de consumo).11 
O Direito privado, por seu turno, compreende o Direito civil (regula os 
direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e 
às suas relações) e o Direito comercial ou empresarial (regula o exercício 
profissional de atividade econômica organizada para a produção ou a 
circulação de bens ou serviços).12 
 
 
Sumário: 1. Significado-2. Classificação: 2.1 Fontes diretas: a lei e o 
costume; 2.2 Fontes indiretas: a doutrina e a jurisprudência. 
1. SIGNIFICADO 
A palavra fonte deriva do latim fons, fontis, que significa nascente, 
designando tudo o que origina ou produz algo. A expressão fontes do 
Direito, portanto, encerra uma metáfora para indicar a própria gênese do 
Direito, ou seja, os meios pelos quais se formam as regras jurídicas.13 
2. CLASSIFICAÇÃO 
Segundo WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, dentre as várias 
classificações das fontes do Direito, a mais importante divide-as em fontes 
diretas ou imediatas e fontes indiretas ou mediatas: “Fontes diretas ou 
imediatas são aquelas que, por si sós, pela sua própria força, são suficientes 
para gerar a regra jurídica. São a lei e o costume. Fontes indiretas ou 
mediatas são as que não têm tal virtude, porém encaminham os espíritos, 
mais cedo ou mais tarde, à elaboração da norma. São a doutrina e a 
jurisprudência.”14 
Vejamos, resumidamente, cada uma. 
2.1 Fontes diretas: a lei e o costume 
Lei. Em países como o nosso, em que o Direito é escrito, a lei assume 
papel de suma importância, figurando como a principal fonte do Direito. Dela 
trataremos, mais detidamente, no próximo Capítulo. 
Anote-se por ora: “Lei é uma regra geral, que, emanando de autoridade 
competente, é imposta, coativamente, à obediência de todos.”15 
Com efeito, caracteriza-se por ser uma norma geral, dirigindo-se a todos 
os membros da coletividade, sem exclusão de ninguém. O poder 
competente para editá-la é o Legislativo, conquanto, entre nós, em casos 
excepcionais, ditados pela urgência e relevância da matéria, possa também o 
Presidente da República editar medidas provisórias, com força de lei (CF, art. 
62). Por fim, é ela provida de coação, visando a tornar o preceito inviolável. 
Regra jurídica sem coação, disse IHERING, é uma contradição em si, um fogo 
que não queima, uma luz que não alumia. 
Costume. As leis escritas não compreendem todo o Direito. Há normas 
costumeiras, também chamadasconsuetudinárias, que obrigam, igualmente, 
ainda que não constem de preceitos aprovados por órgãos competentes. 
O costume pode ser entendido como “a norma jurídica que resulta de uma 
prática geral constante e prolongada, observada com a convicção de que é 
juridicamente obrigatória”.16 
Era ele muito importante antes do Direito escrito. Hoje perdeu a maior 
parte de sua importância, sendo aplicado somente por exceção, em caso de 
omissão da lei (v. art. 4.º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro). 
Realmente, havendo lacuna na lei, não se segue que lacunosa seja a 
ordem jurídica, e então a questão será resolvida mediante recurso aos 
costumes, segunda fonte imediata do Direito. 
A obediência a uma conduta por parte de uma coletividade configura um 
uso. A reiteração desse uso forma o costume, que, na lição de VICENTE 
RÁO, vem a ser “a regra de conduta criada espontaneamente pela 
consciência comum do povo, que a observa por modo constante e uniforme, e 
sob a convicção de corresponder a uma necessidade jurídica”.17 Ou, como 
observa JOÃO FRANZEN DE LIMA, é o produto de uma elaboração entre os 
homens. O emprego de uma determinada regra para regular determinada 
situação, desde que se repita reiteradamente, quando igual situação se 
apresente de novo, constitui uma prática, um uso, cuja generalização através 
do tempo leva a todos os espíritos a convicção de que se trata de uma regra 
de Direito. Esse hábito que adquirem os homens de empregar a mesma regra 
sempre que se repete a mesma situação, e de segui-la como legítima e 
obrigatória, é que constitui o costume.18 
Nestas condições, pondera RICARDO TEIXEIRA BRANCATO “algumas 
normas há em nossa sociedade que, embora não escritas, são obrigatórias. 
Tais normas são ditadas pelos usos e costumes e não podem deixar de ser 
cumpridas, muito embora não estejam gravadas numa lei escrita. Aliás, mais 
cedo ou mais tarde determinados costumes acabam por ser cristalizados em 
uma lei, passando, pois, a integrar a legislação do País. Exemplo de norma 
costumeira que, não obstante não estar consagrada em lei escrita nem por 
isso deixa de ser obrigatória, é a chamada ‘fila’, seja de ônibus, seja para 
ingresso em qualquer lugar. Assim, no caso exemplificado, preserva-se, com 
caráter obrigatório, o direito de precedência dos que chegam primeiro, de 
acordo com os costumes tradicionais. Outro exemplo de Direito costumeiro 
em nosso País são as normas das Juntas Comerciais que, baseadas nos 
usos e costumes da praça mercantil, tornam obrigatória a sua observância”. E 
aduz: “Para que um costume seja reconhecido como tal é preciso: (a) que 
seja contínuo; fatos esporádicos, que se verificam vez por outra não são 
considerados costumes; (b) que seja constante, vale dizer: a repetição dos 
fatos deve ser diuturna, sem dúvidas, sem alteração; (c) que seja moral;quer 
dizer: o costume não pode contrariar a moral ou os bons hábitos, não pode 
ser imoral; (d) que seja obrigatório,isto é, que não seja facultativo, sujeito à 
vontade das partes interessadas”.19 
Enquanto o costume é espontâneo e se expressa oralmente, a lei dimana 
de um órgão do Estado (o Legislativo), através de um processo próprio de 
elaboração, e se expressa por fórmula escrita. Essas as principais diferenças 
entre eles. 
2.2 Fontes indiretas: a doutrina e a jurisprudência 
Doutrina. Do latim doctrina, de docere (ensinar, instruir, mostrar), como 
obra científica dos cultores do Direito, pode ser compreendida como o 
conjunto de investigações e reflexões teóricas e princípios metodicamente 
expostos, analisados e sustentados pelos autores, tratadistas, jurisconsultos, 
no estudo das leis. Por seu intermédio, “depura-se e cristaliza-se o melhor 
critério interpretativo, a servir de guia para o julgador e de boa orientação para 
o legislador”.20 
Com efeito, de grande valor o trabalho dos doutrinadores na elaboração 
do direito positivo, já que, apontando as falhas, os inconvenientes e defeitos 
da lei vigente, acaba encaminhando o legislador para a feitura de lei mais 
perfeita. 
Jurisprudência. Do latim jurisprudentia, de jus (Direito) 
e prudentia (sabedoria), entende-se literalmente como o Direito aplicado com 
sabedoria. São regras gerais que se extraem das reiteradas decisões dos 
tribunais num mesmo sentido, numa mesma direção interpretativa. Sempre 
que uma questão é decidida reiteradamente no mesmo modo surge a 
jurisprudência. Em regra não vincula o juiz, mas costuma dar-lhe importantes 
subsídios na solução de cada caso. 
A Emenda Constitucional 45, de 2004, criou a súmula vinculante, em que 
entendimento do Supremo Tribunal Federal, em matéria constitucional, passa 
a ser de observância obrigatória pelos demais tribunais (CF, art. 103-A). Salvo 
esta hipótese, a jurisprudência não vincula o juiz. 
 
 
 
Sumário: “1. Definição de lei-2. O processo legislativo: 2.1 Emendas à 
Constituição; 2.2 Leis complementares à Constituição; 2.3 Leis ordinárias; 2.4 
Leis delegadas; 2.5 Medidas provisórias; 2.6 Decretos legislativos; 2.7 
Resoluções – 3. Classificação das leis: 3.1 Normas cogentes e dispositivas; 
3.2 Normas federais, estaduais e municipais – 4.Hierarquia das leis – 5. 
Vigência da lei – 6. Cessação da obrigatoriedade da lei – 7. Retroatividade e 
irretroatividade da lei – 8. Interpretação das leis: 8.1 Interpretação em sentido 
estrito; 8.2 Interpretação integrativa. 
1. DEFINIÇÃO DE LEI 
A lei, juridicamente falando, consiste numa regra de conduta, geral e 
obrigatória, emanada de poder competente, e provida de coação. 
Efetivamente, traça regras de conduta que se dirigem à toda coletividade, 
sem exceção. Emana de um poder especialmente instituído para tal fim. Entre 
nós, esse poder é o legislativo, conquanto, excepcionalmente, também o 
poder executivo exerça funções legislativas, como se dá, v.g., nos casos de 
elaboração de medidas provisórias, com força de lei, e leis delegadas (CF, 
arts. 62 e 68). Por fim, a coação, que atua como condição de eficácia da lei, é 
a característica que mais colorido lhe dá, pois se não houvesse coação aberta 
estaria a porta para a resistência ao cumprimento de seus preceitos. 
A lei, já vimos, é a principal fonte do direito, por via da qual o Estado 
politicamente organizado dita as regras de comportamento, a que os cidadãos 
devem obediência. 
2. O PROCESSO LEGISLATIVO 
Processo legislativo vem a ser o conjunto de regras que informa a 
elaboração da lei. 
O processo legislativo é contemplado na Constituição da República, nos 
arts. 59 a 69, cujas disposições se aplicam a todas as unidades da 
Federação. 
O primeiro deles, o art. 59, estabelece que o processo legislativo 
compreende a elaboração de: 
I – emendas à Constituição; 
II – leis complementares; 
III – leis ordinárias; 
IV – leis delegadas; 
V – medidas provisórias; 
VI – decretos legislativos; e 
VII – resoluções. 
Observe-se, ao de logo, que a Constituição Federal não integra o 
processo legislativo porque, como Lei Fundamental, o antecede. 
2.1 Emendas à Constituição 
São leis constitucionais que modificam parcialmente a Constituição. 
“Assumem as emendas à Constituição o vértice da pirâmide do processo 
legislativo, demonstrando não somente a superioridade hierárquica, mas 
também a necessidade premente da adequação das normas jurídicas à 
evolução social. Não há leis eternas, perenes ou universais, mas, apenas, leis 
dotadas de eficácia social”.21 
As propostas de emendas à Constituição devem partir: (i) de um terço, no 
mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; (ii) 
do Presidente da República; (iii) de mais da metade das Assembleias 
Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, 
pela maioria relativa de seus membros. 
Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
(i) a forma federativa de Estado; (ii) o voto direto, secreto, universal e 
periódico; (iii) a separação dos Poderes; (iv) os direitos e garantias individuais. 
A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, 
em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos 
dos votos dos respectivos membros. 
A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos 
Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. 
Independe, portanto, de sanção do chefe do Poder Executivo. 
A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por 
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão 
legislativa. A Constituição não poderá ser emendada na vigência de 
intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. 
2.2 Leis complementares à Constituição 
As leis complementares, como a própria denominação faz 
ver, complementam a Constituição, regulamentando assunto nela contido. 
Não se pode atribuir a qualquer espécie normativa o caráter de lei 
complementar. Deve acolher matéria constitucionalmente reservada à sua 
especificidade. A própria Constituição, portanto, estabelece os casos em que 
deve haver a complementação. Por exemplo, o assunto referente à 
elaboração, redação, alteração e consolidação das leis foi objeto da Lei 
Complementar 95/1998 por determinação do art. 59, parágrafo único, da CF.A 
Lei Complementar 75/1993 estabeleceu o Estatuto do Ministério Público da 
União, em obediência ao preceituado no art. 128, § 5.º, da CF. A proteção da 
relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa causa também é 
matéria reservada à Lei complementar (CF, art. 7.º, I) etc. 
Vê-se, assim, que as leis complementares regulam preceitos 
constitucionais que não sejam autoaplicáveis. Tais leis somente serão 
aprovadas se obtiverem maioria absoluta dos votos dos membros das duas 
Casas do Congresso Nacional (CF, art. 69), observados os demais termos da 
votação das leis ordinárias. 
2.3 Leis ordinárias 
Na multiplicidade dos atos que compõem o processo legislativo, a lei 
ordinária é o mais frequente. São assim denominadas apenas para distingui-
las das leis complementares ou delegadas, certo que, na prática, recebem a 
denominação pura e simples de lei. 
Segundo disserta GOFFREDO TELLES JÚNIOR, “as leis ordinárias são 
as leis reguladoras das relações comuns entre os homens, em sua vida 
quotidiana, isto é, as leis sobre a aquisição, o resguardo, a transferência, a 
modificação ou a extinção dos direitos das pessoas. São as leis sobre os 
direitos e obrigações da vida comum, ou seja, as leis que determinam o que é 
permitido e o que é proibido, em atenção às conjunturas de cada tempo, de 
cada lugar, de cada grupo social. Estas leis, sendo conjunturais, podem ser 
revogadas e substituídas por outras leis ordinárias, de acordo com as 
mutáveis exigências da vida”.22 
As leis ordinárias distanciam-se das complementares no tocante 
ao quorum de sua aprovação. Estas carecem da maioria absoluta dos votos 
dos membros das duas Casas do Congresso Nacional, enquanto aquelas, de 
acordo com o texto constitucional, estão sujeitas a aprovação por maioria 
simples, presente a maioria absoluta dos membros daquelas casas (CF, art. 
47). 
Para ser elaborada passa a lei ordinária pelas seguintes fases: iniciativa, 
aprovação, sanção, promulgação e publicação. 
Suponhamos carecer a sociedade de uma nova lei sobre inquilinato. O 
que fazer? 
Primeiramente, cria-se um projeto de lei. 
Surge, então, a primeira fase da elaboração da lei, que é a da iniciativa da 
apresentação do projeto. Entre nós a iniciativa das leis ordinárias23 cabe a 
qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado 
Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo 
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República 
e aos cidadãos, através da iniciativa popular, que pode ser exercida pela 
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no 
mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco 
Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um 
deles (CF, art. 61, § 2.º). 
A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da 
República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão 
início na Câmara dos Deputados (CF, art. 64). 
Apresentado o projeto, a fase seguinte é a aprovação, que consiste no 
estudo, nas deliberações, nas redações, nas emendas, nos debates e na 
votação, até chegar-se à sua aprovação ou rejeição. A aprovação da lei 
ordinária, como já se disse, em regra, dá-se por maioria simples ou relativa 
(metade mais um do quorum). Geralmente, não há prazo determinado para a 
aprovação ou rejeição do projeto. Todavia, pode o Presidente da República 
solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa, que, então, 
deverá ocorrer dentro de 45 dias, a contar do seu recebimento na Câmara dos 
Deputados, e de igual prazo no Senado Federal. A solicitação desse prazo 
poderá ser feita depois da remessa do projeto e em qualquer fase de seu 
andamento. Se a Câmarados Deputados e o Senado Federal não se 
manifestarem sobre a proposição, sucessivamente, em até 45 dias, sobrestar-
se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com 
exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime 
a votação. A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos 
Deputados far-se-á no prazo de dez dias. Esses prazos, convém assinalar, 
não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se aplicam 
aos projetos de codificação (CF, art. 64, §§ 1.º a 4.º). 
Se o projeto não for aprovado, será arquivado. Uma vez aprovado é 
encaminhado à sanção do Poder Executivo. 
A sanção, portanto, terceira fase da elaboração da lei ordinária, é o ato 
pelo qual o chefe do Executivo manifesta sua concordância com o projeto de 
lei elaborado pelo Legislativo. A sanção será expressa,quando o chefe do 
Executivo declarar o seu assentimento, ou tácita, quando deixar transcorrer 
15 (quinze) dias úteis, contados do dia em que receber o projeto, sem 
qualquer manifestação expressa. 
Não concordando com o projeto de lei aprovado pelo Legislativo pode o 
chefe do Executivo, dentro de 15 (quinze) dias úteis, contados daquele em 
que o receber, vetá-lo total ou parcialmente, comunicando, dentro de 48 
(quarenta e oito) horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto 
(CF, art. 66, § 1.º). Comunicado o veto ao Presidente do Senado Federal, este 
convocará as duas Casas para, em sessão conjunta, dele conhecer e sobre 
ele deliberar, considerando-se aprovado o projeto que, dentro de 30 (trinta) 
dias, em votação secreta, obtiver o voto da maioria absoluta dos Deputados e 
Senadores. Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para 
promulgação, ao Presidente da República. Se no prazo de 30 (trinta) dias 
nada for deliberado, o veto será colocado na ordem do dia da sessão 
imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. 
Se a lei não for promulgada dentro de 48 (quarenta e oito) horas pelo 
Presidente da República, nos casos de sanção tácita e rejeição de veto, o 
Presidente do Senado Federal a promulgará e, se este não o fizer em igual 
prazo, fá-lo-á o Vice-Presidente do Senado Federal (CF, art. 66, §§ 4.º a 7.º). 
Nos casos do art. 49 da CF, em que os projetos de lei são da competência 
exclusiva do Congresso Nacional, após a aprovação final, a lei será 
promulgada pelo Presidente do Senado Federal. 
A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir 
objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da 
maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso 
Nacional (CF, art. 67). 
A promulgação é o ato pelo qual o chefe do Estado atesta a existência da 
lei perante o povo e ordena o seu cumprimento. A promulgação é a 
consequência necessária da sanção. Uma vez sancionada a lei, o chefe do 
Poder Executivo não se poderá furtar à sua promulgação, pois é por meio 
desta que se confere força executória à lei. A sanção, assim, é facultativa, a 
promulgação é obrigatória. A sanção e a promulgação se dão ao mesmo 
tempo, com a assinatura do chefe do Poder Executivo, salvo nas hipóteses de 
sanção tácita e rejeição de veto, antes referidas, em que a promulgação 
poderá ser ato do Presidente ou Vice-Presidente do Senado Federal. 
Finalmente, para que a lei seja cumprida, é preciso que seja conhecida em 
todos os seus termos. Surge, então, a última fase da elaboração da lei 
ordinária, que é a publicação. A publicação serve para tornar a lei conhecida 
de todos. É de nosso Direito que a ninguém é lícito deixar de cumprir a lei 
alegando que não a conhece. Se fosse possível escusar-se o indivíduo de 
cumprir a lei com a simples alegação de ignorância, a norma deixaria de ter 
força e, pois, perderia sua finalidade, o que, evidentemente, iria contrariar a 
ordem pública. A publicação da lei, para obrigar a todos, deve ocorrer no 
Diário Oficial, consoante dispõe o art. 1.º da Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro (Dec.-lei 4.657, de 04.09.1942). 
No tocante à lei municipal, não havendo imprensa oficial, a publicação 
poderá ser efetuada em órgão da imprensa local ou regional, ou por afixação 
de seu texto integral na sede da Prefeitura ou Câmara, conforme o caso. 
Nesta última hipótese, a lei será obrigatoriamente arquivada no Cartório de 
Registro do distrito da sede, permitida a consulta gratuita a qualquer 
interessado. 
2.4 Leis delegadas 
Constituem uma inovação da anterior Constituição, sendo uma forma 
moderna do processo legislativo. Refletem, sem dúvida, a contemporânea 
tendência do Direito público quanto à admissibilidade de o Legislativo delegar, 
ao Presidente da República, poderes para elaboração de leis em casos 
expressos. “Delegar” significa encarregar alguém de fazer alguma coisa. Na 
lei delegada, o Congresso Nacional, em certos casos, encarrega o Presidente 
da República (delegação externa, dada através de uma resolução) de 
elaborar determinada lei. Nesse caso, o Presidente da República redigirá e 
promulgará a lei diretamente, ou a submeterá ao exame do Congresso 
Nacional, para confirmação – se assim foi determinado na Resolução –, o que 
será feito em votação única, vedada qualquer emenda. 
Há matérias insuscetíveis de delegação legislativa. São as enumeradas no 
§ 1.º do art. 68 da CF, assim redigido: “Não serão objeto de delegação os atos 
de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência 
privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria 
reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: (i) organização do 
Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus 
membros; (ii) nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e 
eleitorais; (iii) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos”. 
As leis delegadas são equiparadas às leis ordinárias, pelas quais podem 
ser alteradas ou revogadas. 
2.5 Medidas provisórias 
Inspirado nas Constituições da Itália e da Espanha, o instituto das 
“medidas provisórias” nada mais é que um diploma emanado do Poder 
Executivo para a disciplina de casos urgentes e relevantes. Com efeito, a 
Constituição Federal, em seu art. 62, com a redação que lhe deu a Emenda 
Constitucional 32/2001, estatui: “Em caso de relevância e urgência, o 
Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, 
devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (…)”. As medidas 
provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados (art. 62, § 
8.º). 
As medidas provisórias perderão eficácia, desde a edição, se não forem 
convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável uma vez por igual 
período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as 
relações jurídicas delas decorrentes”. Não editado o decreto legislativo até 
sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as 
relações jurídicas constituídas ou decorrentes de atos praticados durante sua 
vigência conservar-se-ão por ela regidas. Aprovado projeto de lei de 
conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á 
integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto (CF, art. 
62, §§ 3.º, 11 e 12). 
As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação da 
Emenda Constitucional 32/2001 continuam em vigor até que medida 
provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do 
Congresso Nacional. 
Por isso, “quando a matéria não é verdadeiramente relevante e urgente – 
isto é, quando a matéria, sendo relevante, pode aguardar alguns dias, e ser 
solucionada por lei – a medida provisória, em lugar da lei, é expediente 
impróprio, descabido, irregular. É inconstitucional”.”24 
Como se vê, as características do instituto – relevância e urgência – são 
subjetivase se tornam de difícil avaliação, a recomendar parcimônia na sua 
edição, sob pena de se abrir uma brecha para o Executivo substituir-se ao 
Congresso e instaurar a democracia da medida provisória. 
2.6 Decretos legislativos 
Traduzem os atos normativos administrativos de competência exclusiva do 
Poder Legislativo, destinados a regular matérias que tenham efeitos externos. 
Por não terem caráter de lei, os decretos legislativos prescindem da 
sanção do chefe do Executivo. 
O art. 49 da CF enumera as matérias que são objeto dos decretos 
legislativos, ao definir os atos da competência exclusiva do Congresso 
Nacional. Nestes casos, o Poder Executivo envia mensagem solicitando 
manifestação do Poder Legislativo. A mensagem, porém, não vale como uma 
peça introdutória do processo legislativo, pois caberá à Comissão do 
Legislativo, incumbida de dar parecer sobre a mensagem, propor, se for o 
caso, o projeto de decreto legislativo. 
2.7 Resoluções 
São atos normativos administrativos por meio dos quais o Legislativo 
dispõe sobre matéria que não se insere nem no âmbito da lei, nem do decreto 
legislativo. As resoluções, a exemplo dos decretos legislativos, destinam-se a 
regular matéria de competência do Congresso, tendo caráter administrativo ou 
político. As resoluções cuidam, geralmente, de assuntos de 
interesse interno do Legislativo, e distinguem-se dos decretos legislativos no 
aspecto formal, pois, enquanto o decreto legislativo é elaborado segundo o 
procedimento prescrito para as leis, a resolução é norteada por uma 
elaboração mais simples. 
Como regra, destinam-se as resoluções a regular matérias de caráter 
político, administrativo ou processual, sobre o que deve o órgão legislativo 
pronunciar-se em casos concretos, tais como a perda de mandato, concessão 
de licença a parlamentar para desempenhar missão diplomática ou cultural, 
criação de Comissão Especial de Inquérito etc. 
3. CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS 
Dentre as maneiras de se classificar a lei, duas merecem ser ressaltadas 
nesta oportunidade. Uma, assentada em sua força obrigatória, estabelece que 
as normas podem ser cogentes (ou de ordem pública) e dispositivas (ou 
supletivas). Outra, relacionada ao domínio geográfico em que ela impera, diz 
que as leis são federais, estaduais e municipais. 
3.1 Normas cogentes e dispositivas 
Norma cogente é aquela que por atender mais diretamente ao interesse 
geral não pode ser alterada, prevalecendo de modo absoluto sobre a 
liberdade de contratar das partes. Exemplo: o art. 1.521, VI, do Código Civil, 
proíbe o casamento de pessoas já casadas. Como se percebe, trata-se de 
regra que interessa à própria estrutura da sociedade, de modo que, mesmo 
de acordo os nubentes, nulo será seu casamento, se um deles estiver ligado a 
matrimônio anterior. 
Norma dispositiva é a que se limita a prescrever uma conduta ou 
estabelecer um direito, sem tirar do seu destinatário a faculdade de alterá-la. 
Exemplo: o art. 327 do CC determina que o pagamento se efetuará no 
domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente. Ora, 
tratando-se de regra supletiva, nada impede que os contratantes 
convencionem diferentemente e, se o fizerem, o preceito deixa de vigorar em 
relação àquele negócio jurídico.25 
3.2 Normas federais, estaduais e municipais 
Numa federação, como o nosso País, o domínio geográfico ou a extensão 
espacial das leis compreende: o domínio nacional ou domínio da União, que 
abrange todo o território do País; o domínio estadual, que compreende o 
território de cada Estado e o do Distrito Federal; e, finalmente, o domínio 
municipal, que compreende o território de cada Município. 
Em razão de seus respectivos domínios geográficos, três são, portanto, as 
categorias de leis: a das leis federais, a das leis estaduais e a das leis 
municipais. 
As leis federais têm domínio geográfico nacional. Todas elas imperam em 
todo o território do País. 
A lei estadual tem domínio geográfico circunscrito ao Estado em que foi 
elaborada. As leis elaboradas no Distrito Federal têm domínio geográfico 
circunscrito a esse Distrito. 
A lei municipal tem domínio geográfico circunscrito ao Município que a 
elaborou.26 
4. HIERARQUIA DAS LEIS 
Como visto, num Estado federal os campos ou domínios geográficos das 
leis acham-se sobrepostos uns aos outros, implicando verdadeira hierarquia. 
Segundo a sempre precisa lição de GOFFREDO TELLESJÚNIOR, “as leis 
federais, com domínio nacional, são, por assim dizer, superiores às leis 
estaduais. Por sua vez, as leis estaduais, com domínio geográfico circunscrito 
a seus Estados, são, por assim dizer, superiores às leis municipais. Isso 
significa, apenas, que, havendo leis superiores e inferiores, não pode uma lei 
inferior contrariar disposição competente de lei superior a ela: uma lei 
municipal não pode contrariar disposição competente de lei estadual, e uma 
lei estadual não pode contrariar disposição competente de lei federal. 
Convém lembrar que, no alto da hierarquia legislativa, predomina, 
soberana, a Lei Magna, a Constituição do Brasil, com domínio geográfico e 
domínio de competência sobrepostos aos domínios de todas as demais leis. 
Contra a Constituição Federal, nenhuma lei prevalece, nenhuma impera. 
Em cada Estado, existe, também, uma Lei Magna, a Constituição do 
Estado, com domínio geográfico e domínio de competência restritos ao 
Estado a que ela pertence. Estes domínios das Constituições Estaduais se 
sobrepõem aos domínios das demais leis estaduais e aos domínios das leis 
municipais”.27 
Mas, a hierarquia das leis precisa ser bem entendida para se evitar 
confusões muito comuns. É que ela não depende somente do seu maior ou 
menor alcance territorial, mas também do domínio de competência de cada 
lei. 
De fato, na Constituição Federal vamos encontrar a competência para 
legislar das pessoas jurídicas de Direito público interno. Assim, no seu art. 22, 
estabelece a competência exclusiva da União para legislar sobre a matéria 
que discrimina em seus incisos I a XXIX. No seu art. 24 e incisos, estabelece 
a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para 
legislar sobre as matérias lá discriminadas. No art. 30 e incisos, estabelece a 
competência exclusiva dos Municípios para legislar sobre as matérias também 
lá elencadas. 
Isso demonstra que a competência para legislar é distribuída ratione 
materiae, isto é, cada uma das pessoas jurídicas de Direito público interno é 
competente e tem legitimidade para legislar sobre determinadas matérias. Daí 
dizerem muitos não existir qualquer hierarquia entre tais normas jurídicas, 
ressalvadas, é claro, as constitucionais. Assim, as leis municipais, que são as 
de menor domínio geográfico, prevalecem contra as leis federais e 
estaduais, nas matérias de seu domínio de competência privativa. Da mesma 
forma, as leis estaduais, cujo domínio geográfico é inferior ao domínio 
geográfico das leis federais, prevalecem contra as leis federais, nas matérias 
de seu domínio privativo de competência.28É o que ocorre, por exemplo, com 
a questão dos transportes coletivos urbanos, reservada à competência dos 
Municípios pela Constituição Federal (art. 30, V), que não pode sofrer 
interferência de qualquer outra lei, seja federal ou estadual. 
5. VIGÊNCIA DA LEI 
A lei é levada ao conhecimento de todos por meio de sua publicação no 
Diário Oficial. Publicada, ninguém se escusa de cumpri-la, alegando que não 
a conhece (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 3.º). Sua 
força obrigatória, todavia, está condicionada à sua vigência, ou seja, o dia em 
que começa a vigorar. 
As próprias leis costumam indicar a data em que entrarão em vigor. Por 
exemplo, a Lei 6.015, de 31.12.1973, que dispõe sobre os Registros Públicos, 
foi publicada no Diário Oficial de 31.12.1973, mas somenteentrou em vigor no 
dia 01.01.1976, porque seu art. 298 enunciava: “Esta lei entrará em vigor no 
dia 1.º de janeiro de 1976”. Outro exemplo: a Lei 6.515, de 26.12.1977, que 
regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, foi 
publicada no Diário Oficial de 27.12.1977, e entrou em vigor no mesmo dia, 
porque seu art. 53 assim dispôs: “A presente Lei entra em vigor na data de 
sua publicação”. Agora, se nada dispuserem as leis a respeito, entrarão em 
vigor 45 dias depois de oficialmente publicadas (Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro, art. 1.º, caput). Fora do País, o prazo é de três meses 
(Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 1.º, § 1.º). 
O espaço de tempo compreendido entre a publicação da lei e sua entrada 
em vigor denomina-sevacatio legis. Serve para que todos se adaptem à nova 
lei, sendo que esse período varia de acordo com a complexidade do diploma 
legal. Foi o que aconteceu com a Lei de Registros Públicos, já citada, que 
teve dois anos de vacatio legis. Para a entrada em vigor de nosso Código 
Civil, entendeu-se necessário o prazo de um ano. 
Se, antes de entrar em vigor a lei, ocorrer nova publicação de seu texto, 
para correções, o prazo da obrigatoriedade começará a correr da nova 
publicação. De outra parte, as correções a texto de lei já em vigor 
consideram-se lei nova (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 
1.º, §§ 3.º e 4.º). 
6. CESSAÇÃO DA OBRIGATORIEDADE DA LEI 
Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a 
modifique ou revogue (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 
2.º). Não há revogação pelo desuso. 
Revogar uma lei significa torná-la sem efeito. A revogação pode 
ser expressa ou tácita. É expressa quando a lei nova taxativamente declara 
revogada a lei anterior (“Fica revogada tal lei ou revogam-se os dispositivos 
de tal lei…”). É tácita quando a nova lei é incompatível com a anterior ou 
regula inteiramente a matéria de que a outra tratava. 
Frise-se, todavia, que a revogação de uma lei só é possível através de 
outra lei de igual ou superior hierarquia. Assim, uma lei ordinária só se revoga 
por outra lei ordinária, ou de hierarquia superior. 
De se ter presente que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou 
especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
Ainda, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a 
lei revogadora perdido a vigência (Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro, art. 2.º, §§ 2.º e 3.º). 
REVOGAÇÃO: 
1. Pelo decurso do tempo estabelecido na própria lei. 
2. Por outra lei: 
a) Expressa: quando a lei nova declara revogada e lei anterior; 
b) Tácita: 
– quando a nova lei é incompatível com a anterior; 
– quando a nova lei regula inteiramente a matéria tratada pela anterior. 
7. RETROATIVIDADE E IRRETROATIVIDADE DA LEI 
Em princípio, a lei é editada para regular situações futuras, que irão 
ocorrer durante o seu período de vigência. O passado escapa ao seu 
comando. É a regra de que a lei nova não pode atingir situações já 
consolidadas sob o império da lei antiga. É o princípio da irretroatividade da 
lei, expressamente agasalhado pela nossa Constituição Federal (art. 5.º, 
XXXVI), sem o qual não haveria estabilidade jurídica. Fazer retroagir as leis é 
evidentemente um ato contrário ao fim do direito, que é a realização da 
harmonia e do progresso social. E não há harmonia sem estabilidade. 
Contudo, em casos especialíssimos, pode a lei retroagir, desde que haja 
disposição legislativa expressa, exceto no Direito penal, onde constitui 
princípio a retroação da lei mais benigna. 
Em outro modo de dizer, é o da irretroatividade das leis. A retroatividade é 
exceção e não se presume, decorrendo de determinação legal expressa. 
Portanto, não havendo declaração em contrário, a lei respeita o direito 
adquirido (situação definitivamente constituída), o ato jurídico perfeito (já 
consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou) e a coisa 
julgada (decisão judicial de que já não caiba recurso). 
8. INTERPRETAÇÃO DAS LEIS 
O que significa interpretar um texto legal? 
Interpretar vem a ser o processo lógico pelo qual se determina o sentido 
da lei. Interpretar é procurar o pensamento, o alcance do texto, a vontade da 
lei. Numa palavra, “interpretar a lei será, pois, reconstruir amens legis, seja 
para entender corretamente seu sentido, seja para suprir-lhe as lacunas”.29 
8.1 Interpretação em sentido estrito 
É evidente que o legislador, por mais cauteloso e previdente, jamais 
poderá prever todos os futuros e possíveis casos que o juiz será chamado a 
resolver. E o juiz, ainda que a lei seja omissa, lacunosa ou obscura, terá que 
decidir a questão que lhe é submetida a julgamento. A propósito, FRANCO 
MONTORO ensinou que “podem existir lacunas na lei, mas não no sistema 
jurídico, porque esse possui outras fontes, além dos textos legais, e, por isso, 
fornece ao aplicador do Direito elementos para solucionar todos os casos. Na 
omissão da lei, cabe-lhe encontrar ou mesmo criar uma norma especial para o 
caso concreto. Trata-se, então, não apenas, propriamente da interpretação de 
uma norma pré-existente, mas de integração de uma norma no ordenamento 
jurídico. Em síntese, podemos dizer que há interpretação, em sentido estrito, 
quando existe uma norma, prevendo o caso; recorre-se à integração, quando 
não existe essa norma explícita”.30 
Segundo preleciona WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, existem 
vários modos de interpretação: (a) quanto às fontes; (b) quanto aos meios; (c) 
quanto aos resultados. 
Quanto às fontes, a interpretação pode ser: autêntica (se emanada do 
próprio poder que elaborou a norma), doutrinária (a que provém dos 
doutrinadores), e jurisprudencial (ministrada pelos tribunais, mercê da 
reiteração uniforme de seus julgamentos). 
Quanto aos meios, a interpretação pode ser: gramatical (se funda nas 
regras da linguística, procurando analisar o sentido das palavras e das frases 
pela aplicação das regras da linguagem), lógica (visa a reconstruir o 
pensamento e a vontade do legislador, mediante exame da lei em seu 
conjunto orgânico, no sistema jurídico em geral, de molde a resultar perfeita 
harmonia e coerência), histórica (se atém às necessidades jurídicas 
emergentes no instante da elaboração da lei, às circunstâncias eventuais e 
contingentes que provocaram a expedição da norma), e sistemática (o 
intérprete compara a lei com a anterior que regulava a mesma matéria, 
confronta-a com outros textos, de sorte a harmonizá-la com o sistema 
jurídico). 
Quanto aos resultados, a interpretação pode ser declarativa (quando a 
letra da lei corresponde precisamente ao pensamento do 
legislador), extensiva (quanto se afirma que a fórmula legislativa é menos 
ampla que a vontade do legislador – lex minus dixit quam voluit), 
e restritiva (quando se afirma que a fórmula legislativa é mais ampla que o 
pensamento do legislador-lex plus dixit quam voluit).31 
Além dessas regras, não poderá o intérprete desprezar os fatores sociais, 
pois segundo o art. 5.º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
“na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às 
exigências do bem comum”. Procura-se, com isso, a harmonização da lei com 
as necessidades e tendências da sociedade. 
Vários e preciosos critérios interpretativos são subministrados pela 
doutrina e jurisprudência: (a) deve-se preferir uma interpretação que faz 
sentido à que não faz; (b) deve-se procurar a interpretação que esteja em 
consonância com a tradição jurídica; (c) as leis penais e as leis fiscais devem 
ser interpretadas de forma restritiva e não ampliativa; (d) na aplicação da lei 
deve ser considerada a sua finalidade social; (e) deve-se entender sempre 
quea lei não possui palavras inúteis; (f) onde a lei não distingue o intérprete 
não deve distinguir; (g) deve ser afastada a exegese que conduza ao vago, ao 
inexplicável, ao contraditório e ao absurdo etc.32 
8.2 Interpretação integrativa 
Como se disse, o legislador não consegue, por mais cauteloso que seja, 
prever toda a prodigiosa diversidade dos fatos que podem ocorrer na vida 
real. Esta, em sua manifestação infinita, cria a todo instante situações que ele 
não lograra fixar em fórmulas legislativas. 
Pode ocorrer que ao julgar determinada questão o juiz não encontre no 
ordenamento jurídico a solução legislativa adequada. Houve época em que, 
na falta de disposição legal aplicável ao caso concreto, o juiz abstinha-se de 
julgar. Hodiernamente, tal solução não mais se admite, sob pena de 
remanescerem questões sem pronunciamento definitivo. Daí prescrever o 
Código de Processo Civil: “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar 
alegando lacuna ou obscuridade da lei (…)” (cf. art. 126). 
Aparece, então, o problema da integração da norma, que vem a ser, no 
dizer de RUY REBELLO PINHO e AMAURI MASCARO NASCIMENTO, “o 
processo com o qual o magistrado recorre a critério de típica criação do 
Direito para o caso concreto, à falta de norma jurídica regulando a espécie”.33 
São meios de integração da norma jurídica: a analogia, a equidade e os 
princípios gerais do Direito. 
(a) Analogia. Do grego analogia, diz respeito aos pontos de semelhança 
entre coisas distintas, e consiste em aplicar a um caso não previsto a norma 
que rege caso análogo, pois fatos semelhantes exigem regras disciplinadoras 
semelhantes. Assim, por exemplo, a regra do art. 13 da Lei 6.515, de 
26.12.1977 (Lei do Divórcio), que autoriza o juiz, em casos graves, a alterar 
as disposições legais sobre guarda de filhos menores, quando dissolvida a 
sociedade conjugal, se aplica analogicamente à tutela, podendo o juiz 
modificar a ordem de precedência estabelecida pela lei civil para nomeação 
de tutor. 
Mas cumpre notar, segundo adverte GOFFREDO TELLESJÚNIOR, que a 
decisão por analogia nem sempre é permitida. “Assim, em matéria 
criminal, não pode alguém ser condenado pela prática de atoanálogo ao ato 
qualificado como crime. Não há crime por analogia. Somente são crimes os 
atos que a lei assim os considera. Reza o art. 1.º do Código Penal: ‘Não há 
crime sem lei anterior que o defina’. Logo, não pode o juiz fundar-se 
na analogia para condenar réu acusado da prática de ato não expressamente 
incluído pela lei no rol dos crimes. Aliás, não pode o juiz aplicar penas por 
analogia, porque as únicas penas comináveis são as penas estabelecidas 
pela lei, para cada tipo de crime. O mesmo art. 1.º do Código Penal 
estabelece: ‘Não há pena sem prévia cominação legal’. Igualmente, não é 
permitida a decisão por analogia para a cobrança de impostos e taxas não 
exigidos por lei. Dispõe o art. 108, § 1.º, do Código Tributário Nacional: ‘O 
emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto 
em lei’”.34 
(b) Equidade. Do latim aequitate, vem a ser a justiça do caso concreto. Por 
vezes o juiz se encontra face a um caso em que a lei lhe impõe determinada 
decisão, quando a consciência lhe dita uma solução contrária. A máxima do 
Direito romano Summum jus, summa injuria (Suma justiça, suma injustiça) já 
trazia a advertência de que a aplicação rigorosa da formalidade da norma 
poderia conduzir a um julgamento injusto. Entretanto, o julgador deve 
subordinar-se à lei, e só excepcionalmente, quando expressamente 
autorizado pelo legislador, poderá socorrer-se da equidade (v. art. 127 do 
CPC). De fato, a nossa lei processual, em matéria de equidade, é de um 
anacronismo alarmante, bastando lembrar que, enquanto o Código de 1939 
corajosamente declarava que, em havendo lacunas na lei, o juiz poderia 
decidir “como se fosse legislador” (art. 114), o atual somente admite decisões 
por equidade nos casos nele previstos. Nesse ponto, a Lei de Arbitragem (Lei 
9.307, de 23.09.1996) enseja com mais amplitude julgamentos por equidade, 
desde que autorizados previamente, sendo de esperar que o princípio da 
equidade passe a se tornar realidade, apesar de já constante da legislação 
anterior como simples esperança.35 
A bem ver, “situa-se a equidade em um campo intermediário entre a moral 
e o Direito, elevando-se a instrumento superior de justiça. O problema 
transcende do Direito positivo para significar um aperfeiçoamento da ação de 
julgar dentro de um ideal de justiça concretamente aplicado”.36 
(c) Princípios gerais do Direito. Os princípios gerais do Direito têm grande 
importância no preenchimento das lacunas da lei, face o seu caráter 
normativo. 
Para MIGUEL REALE, “princípios gerais do Direito são enunciações 
normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do 
ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a 
elaboração de novas normas”.37 
Esses princípios não vêm especificados pelo legislador, constituindo seu 
enunciado manifestação do espírito de uma legislação. Assim, examinando-se 
o nosso Direito de família, vamos verificar que seus princípios gerais visam ao 
reforço do núcleo familiar. No Direito do trabalho o princípio dominante é a 
proteção ao empregado. 
“A invocação dos princípios gerais de direito faz apelo às inspirações mais 
altas da humanidade civilizada, e joga com aquelas regras incorporadas ao 
patrimônio cultural e jurídico da nação, permitindo ao juiz suprir a deficiência 
legislativa com a adoção de um cânon que o legislador não chegou a ditar sob 
a forma de preceito, mas que se contém imanente no espírito do sistema 
jurídico.”38 
Afinal, quais são esses princípios gerais? 
Nosso legislador não os especificou, já que seus enunciados são 
manifestações do próprio espírito de uma legislação. A título de exemplo, 
podem ser mencionados os seguintes princípios gerais de direito: (a) ninguém 
pode transferir mais direitos do que tem; (b) ninguém deve ser condenado 
sem ser ouvido; (c) ninguém pode invocar a própria malícia para tirar proveito 
disso; (d) os contratos devem ser cumpridos(pacta sunt servanda) etc. 
 
PARTE II - DIREITO PÚBLICO 
Seção I 
 
Sumário: 1. Conceito de Direito Constitucional – 2. Conceito de 
Constituição – 3. Espécies de Constituição – 4. O Poder Constituinte – 5. O 
controle da constitucionalidade das leis. 
1. CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
Ao tratarmos dos ramos do Direito, vimos que, metodologicamente, ele se 
divide em público e privado. O Direito Público disciplina os interesses gerais 
da coletividade e se caracteriza pela imperatividade de suas normas, que não 
podem nunca ser afastadas por convenção dos particulares. O Direito 
Privado, ao revés, versa sobre as relações dos indivíduos entre si, tendo na 
supletividade de seus preceitos a nota característica, isto é, vigoram apenas 
enquanto a vontade dos interessados não disponha de modo diferente que o 
previsto pelo legislador. 
O Direito Constitucional pertence ao Direito Público, sendo considerado 
um superdireito, porque, estabelecendo, como estabelece, através da 
Constituição, os princípios e as normas gerais que informam os demais 
Direitos, domina-os, indubitavelmente. Tem, assim, em relação aos outros 
ramos do Direito, uma posição de superioridade. 
O saudoso Prof. VICENTE RÁO assim o conceituou: “É o ramo do direito 
público interno que disciplina a organização do Estado, define e limita a 
competência de seus poderes, suas atividades e suas relações com os 
indivíduos, aos quais atribui e assegura direitos fundamentais de ordem 
pessoal e social”.1 
Do conceito, inferem-se suas metas: 
(a) estabelecer a estrutura básica, a organização do Estado (forma do 
Estado e do Governo, o regime governamental, os poderes do estado etc.); 
(b) resguardaros direitos fundamentais da pessoa humana (não só os 
individuais, mas também os direitos sociais). 
2. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
Assim como uma sociedade empresarial, um clube ou uma associação 
carecem de um estatuto que discipline suas atividades, com maior razão um 
país necessita de uma lei que o organize, o estruture e discipline. 
Essa lei, ordinariamente, chama-se Constituição. Chamam-na também de 
Carta Magna, Lei Fundamental, Lei Maior, Código Supremo, Estatuto Básico. 
É conceituada como sendo um conjunto de normas, escritas ou 
costumeiras, que regem a organização política de um país. 
3. ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO 
Podem as Constituições ser classificadas quanto: (i) à forma (escritas ou 
costumeiras), (ii) àconsistência (rígidas ou flexíveis) ou (iii) 
à origem (promulgadas ou outorgadas). 
Escritas são aquelas cujos dispositivos estão reunidos num instrumento. 
Exemplo: a Constituição brasileira. 
Costumeiras aquelas que vão se formando aos poucos, pela reiterada 
prática de certos atos. Exemplo: a Constituição da Inglaterra. 
Rígidas aquelas que só se alteram mediante processos especiais, 
caracterizando-se pela prevalência de seus preceitos aos das leis ordinárias. 
Exemplo: a atual Constituição brasileira. 
Flexíveis aquelas que se alteram mais facilmente, através do processo 
legislativo ordinário, e que se caracterizam pela inexistência de qualquer 
hierarquia entre a Constituição e a lei ordinária. Exemplo: o estatuto Albertino, 
Constituição do reino da Itália. 
Promulgadas são as elaboradas por uma Assembleia Constituinte, eleita 
pelo povo especialmente para esse fim. Exemplo: a Constituição brasileira de 
1946. 
Outorgadas são as impostas à coletividade por determinada pessoa ou 
determinado grupo de pessoas. Exemplo: a Constituição do Império, de 1824. 
 
4. O PODER CONSTITUINTE 
Em significação comum, podemos dizer que Poder Constituinte é aquele 
que tem por missão traçar as regras jurídicas fundamentais da Nação, que se 
consubstanciam num documento chamado Constituição. 
Compete a esse Poder, deixando de lado os preceitos até então vigentes, 
dar um novo ordenamento jurídico-institucional ao País. 
É formado por representantes do povo, especialmente eleitos para editar 
uma nova Constituição, ou através da investidura de Poder Constituinte pleno 
nos deputados federais e senadores escolhidos pelo sufrágio do povo. Daí se 
dizer, em última análise, que o titular do Poder Constituinte é o povo, pois os 
seus representantes, em reunião especial, com a finalidade de votar e 
promulgar uma nova Constituição, nada mais fazem do que auscultar sua 
vontade e transmiti-la com fidelidade. 
Votada a Constituição, extingue-se o Poder Constituinte, ficando como seu 
remanescente o Poder Legislativo ordinário, que pode propor emendas à 
Constituição, segundo condições nela previstas. 
Destarte, o Poder Constituinte será originário (quando edita Constituição 
nova em substituição à Constituição anterior) ou derivado (quando se destina 
à revisão da Constituição, modificando parcialmente o seu texto). O primeiro é 
original, na medida em que pertence ao povo e à Assembleia Constituinte; o 
segundo é derivado, porque constituído por determinação do primeiro e 
pertencente ao Congresso Nacional. 
5. OCONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS 
O princípio da constitucionalidade das leis é, em síntese, o de que, sendo 
a Constituição a lei básica e fundamental, todas as outras leis devem ser 
conformes aos seus preceitos e ao seu espírito. Toda lei que, no todo ou em 
parte, contrarie ou transgrida um preceito da Constituição, diz-
se inconstitucional, tem um vício que a anula e deve ser declarada como tal 
pelo poder competente, que é o Judiciário. 
O efeito da inconstitucionalidade é, portanto, a não aplicação da lei ao 
caso concreto. O controle da constitucionalidade é realizado de forma rotineira 
pelo Poder Judiciário. O juiz, ao examinar um caso, deve atender à hierarquia 
das leis, afastando naturalmente a norma que estiver em desacordo com a 
Constituição. 
Como ensina o Prof. MANOEL GONÇALVES FERREIRA 
FILHO,2 “cabendo ao Judiciário dizer o que é o Direito, é a ele que compete 
indagar da constitucionalidade de uma lei. De fato, se duas leis entrarem em 
conflito, deve o Juiz decidir qual aplicará. Ora, se uma lei entrar em conflito 
com a Constituição, é ao juiz que cabe decidir se aplicará a lei, violando a 
Constituição, ou, como lógico, se aplicará a Constituição, recusando a lei”. 
Contudo, observe-se que a sentença do juiz não revoga a lei 
inconstitucional. Ele apenas deixa de aplicá-la ao caso concreto. Por isso, a 
lei inconstitucional continua plenamente em vigor, apesar de seu vício, até ser 
revogada por outra lei. 
A suspensão da execução de leis, declaradas inconstitucionais pelo 
Judiciário, é de competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52, X). 
 
 
Sumário: 1. Origem – 2. Conceito – 3. Elementos essenciais – 4. 
Finalidades – 5. Formas de Estado. 
1. ORIGEM 
Sob o ponto de vista jurídico, o Estado deve sua existência ao fato de 
possuir uma Constituição. “Pouco importa o modo como o poder se formou, 
como as pessoas que o exercem foram designadas. Desde o momento em 
que a coletividade estatal se organiza e possui órgãos que querem e agem 
por ela, o Estado existe. Nem influem sobre a sua existência as 
transformações posteriores da Constituição e forma de governo: o Estado 
nasceu e permanece através de todas as mudanças”.3 
Intencionalmente, dadas as limitações do nosso Manual, ficaremos com 
essa lição, aceitável sob o aspecto formal, posto que determina, com 
precisão, o momento legal em que o Estado começa a existir como 
organização de Direito. 
2. CONCEITO 
Numa síntese do pensamento dos doutos da matéria, podemos conceituar 
o Estado como a pessoa jurídica formada por uma sociedade que vive num 
determinado território e subordinada a uma autoridade soberana. 
3. ELEMENTOS ESSENCIAIS 
Do conceito retroenunciado se dessume a existência de três elementos 
básicos do Estado: povo, território e poder soberano. 
(a) Povo – É o conjunto dos nacionais. Não se confunde com população, 
que exprime um conceito aritmético, de caráter quantitativo, compreendendo 
tanto os nacionais como ainda os estrangeiros e apátridas. 
(b) Território – É a parte delimitada da superfície terrestre, sobre a qual 
vigora a ordem jurídica do Estado. Compreende, também, o subsolo e o 
espaço aéreo correspondente à superfície, e o mar territorial que, no caso do 
Brasil, se estende a 12 (doze) milhas marítimas da nossa costa (Lei 8.617, de 
04.01.1993).4 O alto-mar é de uso comum, pois Estado algum tem jurisdição 
sobre ele. 
Por ficção jurídica, ainda se consideram território nacional os navios e os 
aviões de guerra das Forças Armadas brasileiras, os navios e os aviões de 
passageiros ou carga, sede das embaixadas e de repartições diplomáticas do 
Brasil em outros países. 
(c) Poder soberano – É o poder que tem o Governo de efetivar a sua 
ordem jurídica, sem qualquer subordinação a outra ordem. 
4. FINALIDADES 
Juridicamente falando, visa o Estado, no plano externo, defender sua 
independência e o território nacional, e, no âmbito interno, manter a ordem 
pública, dizer o direito e distribuir justiça. 
Tem também uma finalidade social, que é a de promover o bem público, 
cabendo-lhe usar de todos os meios para favorecer ao indivíduo uma vida 
melhor. 
5. FORMAS DE ESTADO 
O exame das formas de Estado, na lição de ANACLETO DE OLIVEIRA 
FARIA, implica a pesquisa da maneira pela qual o mesmo se estrutura. Assim, 
enquanto alguns Estados se apresentam como um todo homogêneo, com 
uma soberania absolutamente indivisa, outros, à primeira vista pelo menos, 
surgem como formados de um conjunto de outros Estados, fracionando-se, de 
certo modo, a soberania.Temos, assim, a divisão tradicional de formas de 
Estado: a forma unitária e a forma composta.5 
(a) Estado simples ou unitário: é o formado por um todo indivisível e 
soberano perante o povo e também em relação aos outros Estados (no 
sentido de País ou Nação), diante dos quais mantém a sua 
independência.6 Nele, o governo nacional assume a direção exclusiva de 
todos os negócios públicos. Não é divisível internamente em partes que 
mereçam o nome de Estado. Somente existe um Poder Executivo, um Poder 
Legislativo e um Poder Judiciário, todos centrais, com sede na capital. Todas 
as autoridades executivas ou judiciárias que existem no território são 
delegações do Poder Central, tiram dele sua força. É ele que as nomeia e 
lhes fixa as atribuições. O Poder Legislativo de um Estado Simples é único, 
nenhum outro órgão existindo com atribuições de fazer leis nesta ou naquela 
parte do território. Exemplos: França, Espanha, Itália e Portugal. 
(b) Estado composto: os Estados compostos, como a própria expressão 
indica, são aqueles formados por dois ou mais Estados que se unem por 
motivos diversos. 
Conhecem-se duas espécies de Estados compostos: a Federação e 
a Confederação. 
Federação – é formada pela união de várias unidades territoriais (Estados-
membros), que perdem a soberania em favor da União Federal. Exemplos: 
Brasil, EUA, Canadá, Índia, Argentina, México etc. 
Confederação – é formada por Estados soberanos, com base em tratados 
internacionais, tendo por objetivo defender o território e assegurar a paz 
interior, além de outras finalidades que podem ser pactuadas. 
Por resultar de tratados internacionais, têm as confederações vida 
passageira, já que cada Estado dela pode retirar-se a qualquer momento. 
Concluindo: na federação os Estados-membros estão unidos não por um 
tratado, mas por umaConstituição, de modo que o Estado Federal é regulado 
pelo Direito Constitucional. Na confederação os Estados estão ligados por 
um tratado internacional, do domínio do Direito Internacional. 
 
 
 
Sumário: 1. Formas de governo – 2. Democracia. Conceito – 3. Os valores 
fundamentais da democracia – 4. Pressupostos e condições da democracia – 
5. As formas de democracia – 6. Regimes governamentais. 
1. FORMAS DE GOVERNO 
O governo, já vimos, representa um dos elementos essenciais do Estado. 
Vem a ser o conjunto de funções por meio das quais o Estado realiza os seus 
objetivos. 
Trata-se de questão que sempre exigiu a atenção dos estudiosos. 
ARISTÓTELES, em sua Política, alinhava três formas legítimas de governo: 
(a) monarquia, governo de um só; (b) aristocracia, governo de uma classe; 
(c) democracia, governo de todos, do povo. Legítimas porque tinham o bem 
geral como meta a ser alcançada. 
A elas correspondiam as formas ilegítimas: (a) tirania, governo sem lei; 
(b) oligarquia, governo de uma minoria poderosa; (c) demagogia, governo 
com predomínio de facções populares. Para essas formas de governo o bem 
da coletividade figurava em plano secundário. 
Hoje, podemos dizer que duas são as formas de governo: monarquia, 
onde o rei reina e o povo governa por meio do Parlamento, e república, onde 
o povo reina e governa por intermédio de seus representantes (Presidente, 
Diretório ou Gabinete).7 
Na monarquia o governo cabe a uma única pessoa (rei, monarca, 
soberano, imperador), sucessível por herança e cujo cargo é exercido em 
caráter vitalício. Na república, a chefia do governo é de livre escolha do povo 
e exercida em caráter temporário. 
A monarquia será absoluta ou limitada, conforme tenham limite ou não os 
poderes do rei. A primeira é condenada pelos povos civilizados. A segunda é 
plenamente aceita, porque o poder do soberano é delimitado pela 
Constituição. É o caso da Inglaterra e da Bélgica. 
Por seu turno, a república será parlamentar, presidencial ou colegiada. Na 
república parlamentar o governo é exercido por um Conselho de Ministros 
chefiado pelo Primeiro-Ministro. Na república presidencial o governo é 
exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros, escolhidos 
livremente por ele. Na república colegiada o governo é exercido por um grupo 
de pessoas. 
 
2. DEMOCRACIA. CONCEITO 
Democracia (do grego demos = povo e kratos = governo) é o governo de 
todos, ou na expressão de ABRAHAM LINCOLN, “é o governo do povo, pelo 
povo, e para o povo” (discurso de Gettysburg, em 19.11.1863). 
É a forma de governo em que se reconhece que o poder emana do povo e 
em seu nome é exercido, repelindo-se o predomínio de classes ou grupos. 
3. OS VALORES FUNDAMENTAIS DA DEMOCRACIA 
Dois os valores fundamentais que inspiram a 
democracia: liberdade e igualdade. 
A liberdade que a democracia supõe, como fundamento e finalidade, é 
fruto de uma longa elaboração histórica e está expressa em documentos 
públicos, cuja letra e espírito formam o ideal político da nossa civilização: são 
os direitos individuais, também chamados liberdades individuais, proclamadas 
solenemente nos EUA e na França em 1789, e incorporadas a todas as 
Constituições democráticas. Essa liberdade, que tanto pode ser encarada sob 
o aspecto político (direito de escolher os governantes) como sob o aspecto 
civil (direito à vida, à propriedade, à associação, à comunicação do 
pensamento, à religião, à locomoção etc.), não é absoluta. O indivíduo não 
poderá fazer tudo e só o que bem entenda. Nem isso seria liberdade, mas 
anarquia. O que a democracia pretende dar é a liberdade social, isto é, o 
direito de cada um fazer tudo o que não prejudique a liberdade dos outros.8 
Por outro lado, a igualdade, de que se fala, como valor fundamental da 
democracia, é a igualdade perante a lei, magistralmente definida na 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789: “A lei deve ser a 
mesma para todos, quer quando protege, quer quando pune. Todos os 
cidadãos são iguais perante ela e são igualmente admissíveis a todas as 
dignidades, cargos e funções públicas, conforme a sua capacidade, e sem 
outras distinções senão as de suas virtudes e talentos”. 
4. PRESSUPOSTOS E CONDIÇÕES DA DEMOCRACIA 
A democracia só se configura com a presença de dois pressupostos: o 
social e o econômico. Sob o prisma social, a democracia consiste na difusão 
da cultura, a fim de poder o ser humano por si mesmo julgar o que lhe pareça 
melhor, sem o risco de ser doutrinado por propaganda deturpada. O 
pressuposto econômico diz respeito à participação do povo nos bens 
materiais, pois a democracia seria uma farsa se tivesse o homem que pensar 
apenas no pão de cada dia, sem qualquer tempo para o lazer e a instrução. 
Indispensável, ainda, para a configuração da democracia, que 
certas condições estejam presentes: (a)informação abundante, para se evitar 
a doutrinação; (b) amplas liberdades públicas, para que haja livre participação 
nos assuntos de interesse do povo; (c) sistema de partidos, a fim de que o 
povo seja orientado no que diz respeito à solução dos problemas do Estado, e 
tenha um mecanismo que receba e transmita sua vontade. 
5. AS FORMAS DE DEMOCRACIA 
Distinguem-se três formas de democracia: direta, indireta e semidireta. 
(a) Direta: é aquela em que as decisões são tomadas diretamente pelos 
cidadãos em assembleias. Trata-se de reminiscência histórica, já que nenhum 
Estado pode adotá-la, pela impossibilidade de se reunir milhões de cidadãos, 
diuturnamente, para que resolvam os problemas comuns. 
(b) Indireta: é aquela onde o povo governa por intermédio de 
representantes; daí ser ela conhecida como democracia representativa. A 
democracia representativa é o sistema comum de governo nos Estados 
modernos. 
(c) Semidireta: trata-se de uma aproximação da democracia direta, porque 
o povo, embora não se governando diretamente, tem o poder de intervir, às 
vezes, em certas decisões. Em geral, essa participação se dá pelainiciativa 
popular (quando determinado número de eleitores se manifesta pela 
necessidade de uma certa lei, o Parlamento fica juridicamente obrigado a 
discuti-la e votá-la), peloreferendum (consiste em que a lei, depois de 
elaborada, somente se torna obrigatória quando o corpo eleitoral, 
expressamente convocado, a aprova) e pelo veto popular (pressupõe uma lei 
já feita, e que é repudiada por certo número de cidadãos). 
6. REGIMES GOVERNAMENTAIS 
Os regimes governamentais podem ser divididos em três ramos – regime 
presidencial, parlamentar e de assembleia – conforme a natureza e o grau 
das relações entre o Poder Executivo e o Legislativo. 
(a) Presidencialismo – Juridicamente, o presidencialismo se caracteriza, 
em primeiro lugar, por ser um regime de separação de poderes (Executivo, 
Legislativo e Judiciário), harmônicos e independentes. Em segundo lugar, por 
conferir a chefia do Estado e do governo a um órgão unipessoal, a 
Presidência da República, uma vez que os chefes dos grandes 
departamentos da administração são meros auxiliares do Presidente, que os 
escolhe e demite quando bem entende. Exemplo: Brasil, EUA etc. 
(b) Parlamentarismo – Também é um regime de divisão de poderes 
(Legislativo, Executivo e Judiciário), mas o Executivo e Legislativo são 
interdependentes, pois o governo depende, para manter-se no poder, do 
apoio da maioria parlamentar. Em segundo lugar, o Executivo tem estrutura 
dualista. O rei, ou o Presidente da República, é o chefe de Estado, com 
funções de representação e de cerimoniais, enquanto o governo é exercido 
por um órgão coletivo, o conselho de ministros ou gabinete, à testa do qual 
está um chefe, o primeiro-ministro, verdadeiro chefe de governo. O 
Parlamento tem poderes de aprovar o Conselho ou Gabinete, ou de o 
desfazer se obtiver voto de desconfiança. Exemplo: Inglaterra, Itália, França 
etc. 
Características: 
 
(c) Governo de assembleia – Caracteriza-se pela inseparabilidade dos 
poderes, com exceção do Judiciário. Este é independente e especializado. 
Todavia, as decisões sobre a elaboração das leis e sua aplicação estão 
concentradas nas mãos do mesmo órgão, no caso, a Assembleia. O único 
exemplo conhecido é o da Suíça. 
 
 
Sumário: 1. Princípios fundamentais – 2. A organização governamental. A 
divisão dos Poderes – 3. O Poder Executivo: 3.1 Área federal; 3.2 Área 
estadual e Distrito Federal; 3.3 Área municipal – 4. O Poder Legislativo: 4.1 
Área federal; 4.2 Área estadual e Distrito Federal; 4.3 Área municipal – 5. O 
Poder Judiciário: 5.1 Justiça Federal comum; 5.2 Justiça Federal 
especializada; 5.3 Justiça Estadual comum; 5.4 Justiça Estadual 
especializada – 6. Funções essenciais à Justiça: 6.1 O Ministério Público; 6.2 
A Advocacia Pública; 6.3 A Advocacia; 6.4 A Defensoria Pública. 
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
A estrutura do Estado brasileiro, segundo se vê do art. 1.º da Constituição 
Federal, está assentada nos seguintes princípios básicos: República, 
Federação e Estado Democrático de Direito. 
(a) O Brasil é uma República: o País é dirigido por um Presidente, eleito 
por período certo (4 anos), com possibilidade de apenas uma reeleição. O 
Poder é exercido por três órgãos distintos, com funções especificadas: o 
Legislativo, que é incumbido de fazer as leis; o Executivo, a quem cabe a 
administração do País; e o Judiciário, encarregado de aplicar as leis aos 
casos concretos. 
(b) O Brasil é uma Federação: sim, porque o governo é repartido em três 
esferas territoriais. Temos, assim, a União, que abrange todo o território 
nacional, os Estados-membros, que são circunscrições regionais e 
os Municípios, que constituem divisões dos Estados-Membros. Devemos 
considerar, ainda, oDistrito Federal, que é a capital da União, e que, como as 
demais entidades estatais, desfruta de autonomia em sentido amplo. 
A competência de cada uma dessas esferas de governo é fixada pela 
Constituição Federal, que atribuiu à União e aos Municípios competências 
expressas ou enumeradas, e aos Estados competências residuais ou 
remanescentes (v. arts. 21, 22, 23, 24, 25, § 1.º, e 30). Ao Distrito Federal são 
atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios 
(v. art. 32, § 1.º). 
(c) O Brasil é um Estado Democrático de Direito: vale dizer, admite o 
pressuposto de que o poder emana do povo e em seu nome é exercido (CF, 
art. 1.º, parágrafo único), refletindo as propostas democráticas de exercício do 
poder, no regime democrático da representatividade popular, mediante a 
eletividade dos governantes, e, em alguns casos, através da participação 
direta.9 
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (i) 
construir uma sociedade livre, justa e solidária; (ii) garantir o desenvolvimento 
nacional; (iii) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais; (iv) promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação (CF, art. 3.º). 
Nas suas relações internacionais rege-se pelos seguintes princípios: (i) 
independência nacional; (ii) prevalência dos direitos humanos; (iii) 
autodeterminação dos povos; (iv) não intervenção; (v) igualdade entre os 
Estados; (vi) defesa da paz; (vii) solução pacífica dos conflitos; (viii) repúdio 
ao terrorismo e ao racismo; (ix) cooperação entre os povos para o progresso 
da humanidade; (x) concessão de asilo político (CF, art. 4.º). 
2. A ORGANIZAÇÃO GOVERNAMENTAL. A DIVISÃO DOS PODERES 
A base da organização do governo está assentada na divisão dos 
Poderes, nos termos do estatuído no art. 2.º da Constituição Federal, verbis: 
“São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o 
Executivo e o Judiciário”. 
Os Poderes vêm a ser os órgãos que realizam as diversas funções 
atribuídas ao Estado, quais sejam, as funções legislativas, administrativas e 
jurisdicionais. 
Essa clássica tripartição dos Poderes surgiu com MONTESQUIEU, na sua 
famosa obra L’Esprit des Lois, em meados do século XVIII, que alcançou 
repercussão universal e passou a constituir um dos pontos básicos 
sustentados pelos pensadores daquele século. Nessa obra procurou-se 
demonstrar a necessidade de se separarem as várias atribuições do Estado, a 
fim de que pudessem ser melhormente cumpridas, já que não existe liberdade 
quando todas as funções do Estado estão enfeixadas nas mãos de uma só 
pessoa, que as pode exercer tiranicamente. 
Assim, aquele que faz as leis não deve ser encarregado de julgá-las, nem 
de executá-las; aquele que as executa não deve ser encarregado de fazê-las 
e nem de julgá-las; aquele que julga não deve ser encarregado de fazê-las e 
nem de executá-las. 
A fórmula ideal, portanto, é que as operações fundamentais do Estado 
sejam repartidas entre vários órgãos autônomos, vale dizer, que atuam dentro 
de suas esferas de atribuições. Apesar desse princípio constitucional, deve 
ser posto em destaque que há sempre uma pequena invasão de um Poder no 
outro. Isso ocorre, por exemplo, quando o Executivo elabora as chamadas leis 
delegadas (CF, art. 68), ou, em caso de relevância e urgência, adota medidas 
provisórias, com força de lei (CF, art. 62); ou quando o Legislativo susta atos 
normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (CF, art. 
49, V); ou, na esfera do Judiciário, quando o chefe do Executivo concede 
indulto e comuta penas (CF, art. 84, XII). 
Como regra, não faz mal repetir, cada Poder é independente, não 
podendo subtrair funções atribuídas a outro. 
3. O PODER EXECUTIVO 
O Poder Executivo é o órgão incumbido de executar as leis e administrar o 
País. 
3.1 Área federal 
É exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de 
Estado. Os Ministros são pessoas da confiança direta do Presidente, 
demissíveis a qualquer momento,e que têm por função executar a política por 
ele fixada no campo que lhe for confiado. 
Condições de elegibilidade: ser brasileiro, no pleno exercício dos direitos 
políticos, alistado, com domicílio eleitoral na circunscrição, filiado a um partido 
político e maior de 35 anos de idade (CF, art. 14, § 3.º). 
Eleição do Presidente da República: a eleição do Presidente da República 
se faz por sufrágio universal e voto direto e secreto, em todo o País, no 
primeiro domingo do mês de outubro, para a realização do primeiro turno, e o 
último domingo do mês de outubro, para a realização do segundo turno, no 
último ano do mandato presidencial. 
A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com 
ele registrado. Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado 
por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os 
em branco e os nulos. 
Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-
se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, 
concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele 
que obtiver a maioria dos votos válidos. Se, antes de realizado o segundo 
turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, 
convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. E se 
remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, 
qualificar-se-á o mais idoso (CF, art. 77). 
Mandato do Presidente da República: o mandato do Presidente da 
República é de quatro anos, com possibilidade de reeleição para o período 
imediato. 
Posse do Presidente: O Presidente e o Vice-Presidente da República 
tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso 
de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o 
bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a 
independência do Brasil. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, 
o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver 
assumido o cargo, este será declarado vago (CF, art. 78). 
Impedimentos ou vacância do cargo: Em caso de impedimento do 
Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão 
sucessivamente chamados ao exercício do cargo o Presidente da Câmara 
dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. 
Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á 
eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. 
Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a 
eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo 
Congresso Nacional, na forma da lei. Em qualquer dos casos, os eleitos 
deverão completar o período de seus antecessores. O Presidente e o Vice-
Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso Nacional, 
ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do 
cargo (CF, arts. 80, 81 e 83). 
3.2 Área estadual e Distrito Federal 
O Poder Executivo Estadual é exercido pelo Governador do Estado-
membro, auxiliado pelos Secretários de Estado, para mandato de 4 anos. 
Para o Poder Executivo distrital valem as mesmas regras, havendo 
apenas distinção na nomenclatura: o Poder Executivo é exercido pelo 
Governador do Distrito Federal. A eleição do Governador se faz por sufrágio 
universal e voto direto e secreto. O Governador deve ter, no mínimo, 30 anos 
de idade e estar em pleno gozo dos direitos políticos. 
O Governador de Estado-membro toma posse perante a respectiva 
Assembleia Legislativa. O Governador do Distrito Federal toma posse perante 
a Câmara Legislativa, que é o órgão de representação do Poder Legislativo 
no Distrito Federal. 
O Governador é substituído, em caso de impedimento ou vacância, pelo 
Vice-Governador, e, na falta ou impedimento deste, sucessivamente pelo 
Presidente da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça. No Distrito 
Federal, o Vice-Governador é substituído pelo Presidente da Câmara 
Legislativa e este pelo Presidente do Tribunal de Justiça. 
Se a falta do Governador e do Vice-Governador ocorrer nos três primeiros 
anos do período governamental, far-se-á eleição de ambos para o restante do 
período. Se a falta ocorrer no último ano, o restante do período de governo 
será completado pelas autoridades retromencionadas. 
De acordo com o art. 28, § 1.º, da CF, “perderá o mandato o Governador 
que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, 
ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no 
art. 38, I, IV e V”, que trata das regras para o afastamento do servidor público. 
3.3 Área municipal 
O Poder Executivo Municipal é exercido pelo Prefeito Municipal, mediante 
pleito direto, para mandato de 4 anos. Deve o Prefeito ter, no mínimo, 21 anos 
de idade e se encontrar no gozo dos direitos políticos. 
O Prefeito toma posse perante a Câmara Municipal. 
É substituído, em caso de impedimento ou vacância, pelo Vice-Prefeito e, 
na falta ou impedimento deste, pelo Presidente da Câmara. 
4. O PODER LEGISLATIVO 
O Poder Legislativo é o órgão incumbido de fazer as leis, pelas quais deve 
reger-se o País. 
4.1 Área federal 
O Poder Legislativo é exercido, no âmbito federal, pelo Congresso 
Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. 
Adotou-se, portanto, no Brasil o sistema bicameral, visto que o Poder 
Legislativo se desdobrou em duas casas: Câmara dos Deputados e Senado 
Federal. 
A distinção entre elas está em que a Câmara dos Deputados representa o 
povo (daí ser proporcional à população de cada entidade estatal o número de 
seus representantes), enquanto o Senado Federalrepresenta os Estados-
membros e o Distrito Federal (daí ser igual a representação deles, ou seja, 3 
senadores para cada um). 
A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos 
dentre cidadãos maiores de 21 anos e no exercício dos direitos políticos, por 
voto direto e secreto, em cada Estado e no Distrito Federal. O art. 45 da 
Constituição Federal faz menção ao sistema eleitoral proporcional, que 
consiste na distribuição de cadeiras na Câmara na mesma proporção das 
obtidas pelos partidos políticos. 
O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e 
pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, 
proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no 
ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação 
tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados. Atenta a essa 
determinação, a LC 78, de 30.12.1993, fixou em 513 o número de deputados 
federais. São Paulo, o Estado mais populoso da Federação, conta com a 
representação máxima de 70 deputados. 
O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito 
Federal, eleitos dentre cidadãos maiores de 35 anos e no exercício dos 
direitos políticos, por voto direto e secreto, segundo o princípio majoritário. 
Cada Estado e o Distrito Federal elegerão 3 senadores, com mandato de 8 
anos, renovando-se a representação de 4 em 4 anos, alternadamente, por um 
e dois terços. 
Câmara e Senado trabalham em estreita colaboração. O Projeto 
examinado por uma das Casas é revisto depois pela outra, e vice-versa. Em 
certas ocasiões dá-se a sessão conjunta do Congresso Nacional, reunindo 
ambas as Casas, como no caso previsto pelo art. 57, § 3.º, da Constituição 
Federal (inauguração de sessão legislativa, elaboração de regimento comum, 
conhecimento do veto e deliberação sobre ele etc.). 
Cada uma das Casas é dirigida por uma Mesa, composta de um 
Presidente e vários participantes. A Mesa do Congresso Nacional será 
presidida pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão 
exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na 
Câmarados Deputados e no Senado Federal. 
4.2 Área estadual e Distrito Federal 
Nesse âmbito, o Poder Legislativo é exercido pela Assembleia Legislativa, 
constituída de Deputados, eleitos dentre cidadãos maiores de 21 anos e no 
exercício dos direitos políticos, por voto direto e secreto, para uma legislatura 
de 4 anos. 
No âmbito distrital o Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa 
do Distrito Federal, constituída por 24 deputados distritais, eleitos nas 
mesmas condições dos deputados que exercem o Poder Legislativo nos 
Estados-membros. 
4.3 Área municipal 
O Poder Legislativo, aqui, é exercido por uma Câmara, constituída de 
Vereadores, eleitos dentre cidadãos maiores de 18 anos e no exercício dos 
direitos políticos, por voto direto e secreto, para uma legislatura de 4 anos. 
Ao contrário do que ocorre com os chefes do Poder Executivo, todos os 
representantes do Poder Legislativo podem ser reeleitos para períodos 
subsequentes. 
5. O PODER JUDICIÁRIO 
“A sociedade é um caldeirão de conflitos. Cada pessoa é fonte geradora 
de opiniões e estas, obviamente, se chocam com posicionamentos de outros 
figurantes. É o inevitável. Esta realidade, contudo, precisa ser intermediada, 
pois, caso contrário, se instalaria o caos e este rompe a possibilidade da 
convivência social. Ora, a convivência social exige, por sua vez, que 
determinadas regras mereçam atendimento. Ou seja, o acatamento às leis, 
costumes e hábitos de determinada sociedade é elemento indispensável para 
um convívio social de razoável qualidade. Quando as leis, os costumes e os 
hábitos são agredidos por determinado parceiro, só resta à parte molestada 
três saídas. O desforço pessoal, de perfil primitivo, a aceitação da ofensa, 
como ato de abnegação moral ou então a busca do intermediário para 
resolver a situação criada pela lesão produzida. O intermediário qualificado 
para resolver conflitos, em uma sociedade organizada, é o Poder Judiciário. 
Uma democracia só se consolida e se mantém sólida quando o Judiciário, 
como instituição imparcial, é acionado e oferece soluções aos casos 
concretos levados a seu conhecimento pelas partes.”10 
O Poder Judiciário é, assim, o órgão incumbido de aplicar o Direito, 
dirimindo litígios e controvérsias trazidos à sua apreciação. 
O ingresso na carreira da Magistratura se dá através de concurso público 
de provas e títulos, salvo na hipótese disciplinada no art. 94 da atual 
Constituição, que, ao tratar do chamado “quinto constitucional”, estabelece 
que “um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais 
dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros do 
Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de 
notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva 
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de 
representação das respectivas classes”. 
Objetivando impedir ingerência externa e assegurar o desempenho 
soberano da justiça, a Constituição estabelece certas garantias à 
Magistratura. Com efeito, são predicamentos inerentes a ela: 
(a) Vitaliciedade: garante ao juiz a permanência em seu cargo, ainda que 
suas decisões venham contrariar interesses dos outros Poderes de Estado. 
Adquirida a vitaliciedade, após 2 anos de exercício do cargo, o juiz só a 
perderá por sentença judicial transitada em julgado. 
(b) Inamovibilidade: garantia de permanência no cargo, salvo por motivo 
de interesse público e através de decisão fundada no voto de 2/3 do tribunal a 
que estiver vinculado. 
(c) Irredutibilidade de vencimentos: traço garantidor da independência do 
juiz na difícil missão de julgar, o que não o libera da sujeição aos impostos 
gerais, inclusive o de renda e extraordinário. 
Como consequência do princípio que norteia o sistema federativo, temos, 
no Brasil, duas esferas judiciárias: a Justiça Federal e a Justiça Estadual. 
Ambas, por sua vez, se subdividem em duas espécies: a Justiça Comum e 
a Justiça Especializada. Igualmente, ambas possuem órgãos de primeira 
instância (ou primeiro grau de jurisdição) e de segunda instância (ou segundo 
grau de jurisdição). 
A Justiça Federal somente aplica a lei de origem federal. A Justiça 
Estadual tanto aplica a lei federal quanto a estadual, cuja jurisdição, 
entretanto, se circunscreve ao território de cada Estado-membro. 
A Justiça Comum (Federal ou Estadual) tem competência para conhecer e 
julgar toda matéria que não houver sido reservada, em razão de sua natureza, 
à Justiça Especializada (Federal ou Estadual). 
O art. 92 da CF arrola os órgãos do Poder Judiciário: (i) o Supremo 
Tribunal Federal; (ii) o Conselho Nacional de Justiça; (iii) o Superior Tribunal 
de Justiça, (iv) os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; (v) os 
Tribunais e Juízes do Trabalho; (vi) os Tribunais e Juízes Eleitorais; (vii) os 
Tribunais e Juízes Militares; (viii) os Tribunais e Juízes dos Estados e do 
Distrito Federal e Territórios. 
5.1 Justiça Federal comum 
(a) Supremo Tribunal Federal: é o órgão máximo do Poder Judiciário, com 
sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional. Compõe-se 
de 11 Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de 35 e menos de 65 
anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo 
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta 
do Senado Federal. 
Sua competência vem regulada no art. 102 da Constituição, sob tríplice 
aspecto: originária, em grau de recurso ordinário e em grau de recurso 
extraordinário. A sua principal missão, no entanto, consiste na guarda da 
Constituição. 
O art. 103-A da CF, incluído pela EC 45/2004, prevê que “o Supremo 
Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de 
dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria 
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa 
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder 
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, 
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na 
forma estabelecida em lei”. 
As súmulas vinculantes instituídas por esse artigo foram regulamentadas 
pela Lei Federal 11.417/2006, que, dentre outros aspectos, disciplina a 
edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo 
Supremo Tribunal Federal. 
Até o momento foram editadas 32 súmulas vinculantes. 
(b) Conselho Nacional de Justiça: corresponde ao denominado Controle 
Externo do Judiciário, incumbido do controle administrativo e financeiro e do 
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes (art. 103-B da CF). É 
integrado por 15 membros, com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) 
recondução, sendo: 
I – o Presidente do Supremo Tribunal Federal; 
II – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo 
tribunal; 
III – um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo 
respectivo tribunal; 
IV – um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo 
Tribunal Federal; 
V – um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; 
VI – um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal 
de Justiça; 
VII – um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; 
VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal 
Superior do Trabalho; 
IX – um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; 
X – um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-
Geral da República; 
XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-
Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de 
cada instituição estadual; 
XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordemdos 
Advogados do Brasil; 
XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, 
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal. 
(c) Superior Tribunal de Justiça: ao enumerar os órgãos jurisdicionais, o 
legislador constituinte inovou a estrutura do Poder Judiciário em relação à 
anterior Constituição, extinguindo o Tribunal Federal de Recursos e criando o 
Superior Tribunal de Justiça e os Tribunais Regionais Federais. 
O Superior Tribunal de Justiça tem sede na Capital Federal e jurisdição 
em todo o território nacional. Compõe-se de, no mínimo, 33 Ministros, 
nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de 35 e 
menos de 65 anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada, 
depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal. 
É dotado de competências privativas, enumeradas de forma exaustiva no 
art. 105 da Constituição Federal, algumas retiradas do Supremo Tribunal 
Federal e outras do extinto Tribunal Federal de Recursos. 
(d) Tribunais Regionais Federais: funcionam como instância recursal às 
decisões proferidas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício 
da competência federal da área de sua jurisdição. Os Tribunais Regionais 
Federais compõem-se de, no mínimo, 7 juízes, recrutados, quando possível, 
na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre 
brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos. 
(e) Juízes federais: funcionam como juízo de primeira instância da Justiça 
Federal comum. Têm por competência o processo e o julgamento das causas 
em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem 
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto 
as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à 
Justiça do Trabalho, além das demais matérias enunciadas no art. 109 da 
Constituição Federal. 
5.2 Justiça Federal especializada 
(a) Justiça do Trabalho: é o primeiro dos ramos especializados da Justiça 
Federal, formado pelo Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do 
Trabalho e Varas do Trabalho. Junto ao Tribunal Superior do Trabalho 
funciona o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, ao qual incumbe a 
supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do 
Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas 
decisões terão efeito vinculante.11 
Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e 
coletivos entre trabalhadores e empregadores, e, na forma da lei, outras 
controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que 
tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive 
coletivas (CF, art. 114). 
(b) Justiça Eleitoral: é outro dos ramos da Justiça Federal especializada, 
composta dos seguintes órgãos: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais 
Regionais Eleitorais, Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais. A competência da 
Justiça Eleitoral gira em torno das eleições, que prepara, realiza e apura. Os 
pormenores sobre a organização e competência dos Tribunais, Juízes e 
Juntas Eleitorais serão objeto de disciplina por meio de lei complementar (CF, 
art. 121, caput). 
(c) Justiça Militar: é um foro especial, constituído para processar e julgar 
os crimes militares. A Lei 8.457, de 04.09.1982, organizou a Justiça Militar da 
União e regulamentou o funcionamento de seus serviços auxiliares. 
Seus órgãos decisórios são o Superior Tribunal Militar, os Tribunais e 
Juízes Militares. 
5.3 Justiça Estadual comum 
Ao lado da Justiça Federal, reconheceu-se, como consequência da forma 
de Estado federativo, a Justiça Estadual, que julga as questões suscitadas 
dentro do Estado-membro. 
São órgãos da Justiça Estadual comum o Tribunal de Justiça, os Tribunais 
do Júri e os Juízes de Direito.12 
São de sua competência todos os casos que, por força da Constituição 
Federal, não tiverem sido atribuídos a outros órgãos do Poder Judiciário, bem 
como aqueles que, porventura, a Constituição ou as leis estaduais não hajam 
deferido à Justiça Militar estadual. 
5.4 Justiça Estadual especializada 
Como ramo especializado, na esfera estadual, a lei poderá criar, mediante 
proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em 
primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em 
segundo, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar 
nos Estados em que o efetivo da polícia militar seja superior a vinte mil 
integrantes. 
Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares 
e bombeiros militares nos crimes militares, definidos em lei, cabendo ao 
tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e 
da graduação dos praças. Conforme estabelecido nos §§ 4.º e 5.º do art. 125 
da CF: “§ 4.º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os 
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações 
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri 
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a 
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. § 5.º. 
Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, 
singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais 
contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a 
presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares”. 
6. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA 
Como funções essenciais à justiça, arrolou o legislador constituinte o 
Ministério Público, a Advocacia Pública da União, a Advocacia e a Defensoria 
Pública. 
6.1 O Ministério Público 
Trata-se de uma instituição que atua junto ao Poder Judiciário, para 
promover a execução das leis e velar pelo seu exato cumprimento. A 
Constituição Federal de 1988 deu ao Ministério Público plena autonomia em 
relação aos demais Poderes do Estado, editando constituir-se ele em 
“instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos 
interesses sociais e individuais indisponíveis” (art. 127, caput). 
Sua atuação verifica-se não só na área criminal, como na civil, onde 
representa e defende os interesses da sociedade. É o agente ativo da Justiça, 
no exercício de um mister que mais destaca sua característica de promotor 
dos interesses globais da sociedade. 
Portanto, é para a defesa da própria sociedade que nos casos criminais o 
Promotor de Justiça tem a função de acusar todos os que praticam crimes, já 
que todo crime é um atentado contra um dos valores fundamentais protegidos 
pela Lei. 
Não se imagine, contudo, que o Promotor de Justiça é obrigado a acusar 
mesmo contra o seu convencimento. Se ele entender, ao apurar os fatos, que 
a pessoa apontada como autor de um crime é inocente, pode e deve pedir a 
sua absolvição. E isto tanto num processo perante o Juiz de Direito como num 
julgamento perante o Tribunal do Júri. 
Nestes momentos em que se fala tanto da violência, como um dos fatores 
mais importantes na intranquilidade da vida moderna, relevante papel cabe ao 
Ministério Público nessa sua luta pela punição dos criminosos. 
Condenado o réu, o Ministério Público não o abandona à sua própria 
sorte. Tem ele o dever de fiscalizar as condições do ambiente carcerário e o 
exato cumprimento da pena imposta. 
Mas a defesa de valores protegidos pelas leis penais não esgota a 
atribuição do Ministério Público. 
Na área extrapenal, o representante do Ministério Público age também na 
proteção de valores igualmente importantes. Assim, é o Ministério Público 
quem defende o crédito – instituição importantíssima no nosso sistema 
econômico-financeiro – nos processos de falênciae recuperação judicial. 
Defende ainda a exata aplicação da Lei em todos os processos referentes ao 
casamento – sobre o qual se assenta a nossa organização social – desde a 
sua realização até os casos de nulidade, anulabilidade, separação e 
desfazimento através do divórcio. Não há processo envolvendo interesse de 
menor ou incapaz em que lá não esteja o Ministério Público, velando por eles, 
protegendo-os da ganância e cupidez dos maiores e capazes. 
O trabalhador – quer para reivindicar judicialmente seus direitos 
decorrentes de um contrato de trabalho, quer para haver o que lhe é devido 
por acidente do trabalho – tem no Ministério Público o seu advogado gratuito 
e dedicado. Com efeito, o Ministério Público do Trabalho atua na defesa dos 
direitos difusos, coletivos e individuais indisponíveis dos trabalhadores, 
pugnando pela erradicação do trabalho infantil e pela regularização do 
trabalho do adolescente, assim como o do indígena, combatendo o trabalho 
escravo e todas as formas de discriminação no trabalho, buscando sempre 
preservar a saúde e a segurança do trabalhador. 
As matérias jurídicas relevantíssimas discutidas nos mandados de 
segurança – que cabe para a proteção de direito líquido e certo violado pelo 
Poder Público –, nos habeas corpus – onde se discute o cerceamento da 
liberdade de locomoção – e nas ações populares – utilizadas pelos 
particulares contra o mau uso do dinheiro público, contra os atos lesivos à 
moralidade administrativa, ao meio ambiente, e ao patrimônio histórico e 
cultural –, recebem sempre o parecer do Ministério Público, que vela pela 
estrita observância da Lei. 
Recentes leis ampliaram, ainda mais, as funções do Ministério Público. 
Assim, ao prestar assistência judiciária aos necessitados, no atendimento ao 
público, que, rotineiramente, é feito no Fórum, o Promotor procura conciliar as 
partes, propondo um acordo. Se este for aceito, faz-se o “termo”, ou seja, o 
acordo vai para o papel e será assinado pelas partes e pelo Promotor, sem 
ônus algum. Este termo terá o valor de um título executivo extrajudicial, 
conforme consta do art. 57, parágrafo único, da Lei 9.099, de 26.09.1995, e 
do inc. II do art. 585 do CPC. Isso quer dizer que se ele não for cumprido, a 
pessoa lesada poderá executá-lo judicialmente. 
Vale ressaltar que a assistência judiciária é, em regra, prestada pela 
Defensoria Pública, conforme disposto no art. 134 da CF. A atuação do 
Ministério Público, nesses casos, se dá por exceção, em hipóteses previstas 
em legislação específica. Como exemplo dessas hipóteses, vale citar: art. 68 
do CPP (execução de sentença penal condenatória ou promoção de ação 
civil ex delicto em favor de vítima pobre); no art. 201, V, da Lei 8.069/1990 
(promoção de ação civil pública para a proteção de interesses individuais 
relativos à infância e adolescência); e art. 74 da Lei 10.741/2003 
(representação do idoso para proteção de direitos individuais indisponíveis). 
Além desse atendimento a casos individuais, cabe também ao Ministério 
Público, consoante expresso na Lei 7.347, de 24.07.1985, a propositura de 
ações em favor de um número indeterminado de pessoas, como aquelas 
tendentes à defesa do meio ambiente, dos interesses dos consumidores, do 
patrimônio histórico e cultural etc. 
Foi reconhecendo essa vocação do Ministério Público para a defesa do 
interesse público que a nova Constituição estabeleceu como funções 
institucionais suas: (i) promover, privativamente, a ação penal pública, na 
forma da lei; (ii) zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos 
serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, 
promovendo as medidas necessárias à sua garantia; (iii) promover o inquérito 
civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do 
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; (iv) promover a ação 
de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e 
dos Estados, nos casos previstos na Constituição; (v) defender judicialmente 
os direitos e interesses das populações indígenas; (vi) expedir notificações 
nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando 
informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar 
respectiva; (vii) exercer o controle externo da atividade policial; (viii) requisitar 
diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os 
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; (ix) exercer outras 
funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, 
sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de 
entidades públicas (CF, art. 129). 
Esse Ministério Público de que se fala, o Ministério Público brasileiro, não 
deve ser comparado com os modelos estrangeiros, não raro caracterizados 
como o acusador implacável ou vítima ingênua da astúcia de um advogado no 
Tribunal do Júri, divulgados pela televisão e pelo cinema. 
Nem deve ser confundido com a Magistratura, eis que são carreiras 
distintas: o Ministério Público congregando os Promotores de Justiça, aquela 
congregando os Juízes de Direito. Em todas as duas se ingressa mediante 
concurso público de títulos e provas, mas elas são autônomas. Quem 
ingressa no Ministério Público percorrerá todos os degraus dessa carreira e 
deverá se aposentar dentro dela, caso não seja levado a um dos Tribunais, 
cujo quinto dos cargos, por dispositivo constitucional, é preenchido por 
membros do Ministério Público e advogados.13 
Todas as atribuições do Ministério Público acima recordadas, dentre 
inúmeras outras que exerce, dão-lhe legitimidade para representar a 
sociedade, velando sempre pelo exato cumprimento da Lei e defendendo os 
seus valores fundamentais.14 
6.2 A Advocacia Pública 
A União é representada, judicial e extrajudicialmente, pela Advocacia 
Geral da União, à qual cabem, nos termos da LC 73, de 10.02.1993, as 
atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. 
A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, 
de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de 
35 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada (CF, art. 131). O 
ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição far-se-á mediante 
concurso público de provas e títulos.15 
No âmbito estadual e distrital, os Procuradores dos Estados e do Distrito 
Federal, organizados em carreira na qual o ingresso dependerá de concurso 
público de provas e títulos, exercerão a representação judicial e a consultoria 
jurídica das respectivas unidades federadas.16 
6.3 A Advocacia 
O texto constitucional de 1988, de forma inovadora, institucionalizou o 
exercício da advocacia como função essencial à administração da justiça, ao 
estabelecer, no art. 133: “O advogado é indispensável à administração da 
justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da 
profissão, nos limites da lei”.17 
Como se disse alhures, o fato de ser indispensável na atuação descrita 
reforça a doutrina, que confere à função do advogado, enquanto atuando no 
processo, nítido caráter de múnus público, enfraquecendo a teoria de que a 
atividade por ele desempenhada é privada e liberal. Aliás, particularmente nos 
processos criminais, a presença do advogado é imprescindível, sob pena de 
não haver julgamento do réu, nomeando-se, na hipótese, um advogado 
dativo. Em verdade, essa condição confere o adequado realce à função 
desempenhada pelo profissional em causa. 
O artigo citado, além da indispensabilidade do advogado, prescreve, 
também, sua inviolabilidade por atos e manifestações na prática profissional. 
Tal prerrogativa é deveras salutar, pois confere independência e segurança à 
atuação do advogado, afastando eventuais receios e hesitações para o livre 
cumprimento de suas tarefase deveres. 
6.4 A Defensoria Pública 
À Defensoria Pública, corporação preordenada e eleita pela Constituição 
Federal para a defesa integral e gratuita das multidões de necessitados (cf. 
arts. 5.º, LXXIV e 134, caput),18 foi conferido o status de “instituição 
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como 
expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a 
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os 
graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma 
integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inc. 
LXXIV do art. 5.º da Constituição Federal” (art. 1.º da LC 80/1994, com 
redação determinada pela LC 132/2009). 
Como adverte José Augusto Garcia de Sousa, ilustre Defensor Público no 
Estado do Rio de Janeiro, “nunca foi irrelevante, à evidência, o papel da 
Defensoria Pública dentro do Estado brasileiro. Em um solo tão desigual, a 
instituição destinada a materializar a assistência jurídica integral e gratuita aos 
necessitados (Constituição, art. 5º, LXXIV, c/c o art. 134, caput) deve ser 
considerada autêntica cláusula pétrea constitucional, eis que essencial à 
concretização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil 
(Constituição, art. 3º). Em especial, a Defensoria serve à tutela dos direitos 
fundamentais, pois trabalha para quem mais carece – e se vê injustamente 
esbulhado – desses direitos. A Defensoria, enfim, existe para viabilizar, antes 
de mais nada, o importantíssimo direito de ter direitos, dando voz a quem 
possui uma cidadania apenas formal.”19 
A par disso, e seguindo irrefreável tendência mundial da ampliação 
possível do acesso à justiça, principalmente em tema de conflitos 
transindividuais, a Lei 11.448/2007 incluiu a Defensoria Pública entre os 
atores coletivos do rol previsto no art. 5º da Lei da Ação Civil Pública. 
 
 
Sumário: 1. Os direitos e deveres individuais e coletivos – 2. Os direitos 
sociais – 3. Nacionalidade e cidadania – 4. Os direitos políticos. 
1. OS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 
Hodiernamente, todas as Constituições dos países livres consignam capí 
tulo especial aos direitos e garantias fundamentais, como condição essencial 
da manutenção da vida em sociedade. Trata-se, sem dúvida, de uma das 
maiores conquistas da civilização, em prol da valorização da pessoa humana. 
A atual Constituição brasileira, como as anteriores, ao elencar os direitos e 
garantias fundamentais, não pretendeu esgotar o seu rol nos 78 incisos do art. 
5.º, pois admite existirem outros “decorrentes do regime e dos princípios por 
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa 
do Brasil seja parte” (§ 2.º). 
Os §§ 1.º e 3.º do art. 5.º da CF asseguram que “as normas definidoras 
dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”, assim como a 
equivalência à emenda constitucional dos tratados e convenções 
internacionais que versarem sobre direitos humanos, desde que “aprovados, 
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos 
votos dos respectivos membros”. 
Lembrando que as garantias são os meios que o ordenamento 
constitucional adota para a proteção dos direitos – a liberdade de locomoção, 
por exemplo, tem como garantia de proteção o habeas corpus -, vamos 
analisá-los, sucintamente, seguindo a ordem da Constituição: 
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
• I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição; 
A Constituição abre o capítulo dos direitos e deveres individuais e 
coletivos insculpindo o princípio da igualdade, entre homens e mulheres, 
consagrando preceito universal da proibição de toda e qualquer 
discriminação. 
A igualdade preconizada pela Constituição é a de 
natureza jurídica, denominada isonomia, que visa a conferir a todos os 
mesmos direitos, desde que se encontrem em situações idênticas. Não se 
trata, bem de ver, da igualdade real. 
• II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão 
em virtude de lei; 
Cuida-se do princípio da legalidade, pedra de toque do Estado de Direito, 
que procura tutelar a liberdade de ação, de sorte que só por determinação 
legal alguém pode ser obrigado a agir de determinado modo ou deixar de 
fazer alguma coisa. 
O princípio da legalidade pode ser enxergado sob um duplo prisma, quer 
seja o mesmo encarado do aspecto de conduta do administrado, quer seja 
compreendido quanto à atuação da Administração. 
De fato, como diz CLÓVIS BEZNOS, “não se podendo exigir do 
administrado, ou impedir-lhe conduta, senão segundo a previsão legal, 
evidencia-se que o mesmo pode fazer tudo aquilo que não seja proibido. Está-
se, pois, diante da regulação negativa disposta pelo ordenamento jurídico, via 
da qual se exige do administrado tão somente uma conduta lícita. Sob o 
aspecto da conduta da Administração, entretanto, o princípio da legalidade 
informa que a mesma somente pode agir quando a lei lhe deferir a conduta. 
Exige-se, pois, da Administração, uma conduta não somente lícita, mas 
também legal”.20 
• III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante; 
Trata-se de uma inovação em nível da legislação constitucional, 
traduzindo o preceito fundamental da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem quanto à dignidade da pessoa, proibindo expressamente práticas 
atentatórias à condição humana. O inciso XLIII enfatiza que a tortura será 
considerada crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 
Sobre a matéria, convém ter presente a Lei 9.455/1997, que define os 
crimes de tortura, o Dec. 40/1991, que ratifica Convenção contra a tortura e 
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes e o Dec. 
678/1992, que promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos – 
Pacto de São José da Costa Rica. 
• IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
Assegura-se a liberdade de expressão do pensamento, seja pela palavra 
falada ou escrita, com a proibição do anonimato. A propósito, a Constituição, 
em seu art. 220, dispõe que “a manifestação do pensamento, a criação, a 
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não 
sofrerão qualquer restrição”, sendo “vedada toda e qualquer censura de 
natureza política, ideológica e artística” (§ 2.º). Eventuais abusos no exercício 
da manifestação do pensamento são passíveis de apreciação pelo Poder 
Judiciário, com a consequente responsabilidade civil e penal de seus autores. 
• V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem; 
Cuida o legislador de garantir o direito de resposta, proporcional ao 
agravo, a todo aquele que se sentir injustamente agredido, sem prejuízo dos 
efeitos indenizatórios por danos materiais, morais e à imagem. 
Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA, “o exercício do direito de resposta 
tem como pressuposto a divulgação, por qualquer meio de comunicação, de 
fato inverídico ou errôneo referido a alguém (…) Para o nascimento concreto 
do direito de resposta não se exige a culpa do emitente do pensamento. Basta 
sua existência objetiva. Consiste, pois, o direito de resposta na faculdade de 
ver divulgada, da mesma maneira, pronta e gratuitamente, a contestação ou a 
retificação de afirmativas inverídicas ou errôneas atribuídas ao seu titular por 
qualquer meio de divulgação do pensamento”.21 
O texto constitucional se preocupou não só com os danos materiais, mas 
também com os morais, os quais, quando oriundosdo mesmo fato, podem ser 
cumulados (Súmula 37 do STJ). 
O direito à imagem, no dizer de KILDARE GONÇALVES CARVALHO, 
“envolve duas vertentes: a imagem-retrato e a imagem-atributo. No primeiro 
sentido significa o direito relativo à reprodução gráfica (retrato, desenho, 
fotografia, filmagem, dentre outros) da figura humana, podendo envolver até 
mesmo partes do corpo da pessoa, como a voz, a boca, o nariz, as pernas 
etc. No segundo sentido, é entendido com a imagem dentro de um 
determinado contexto, é dizer, o conjunto de atributos cultivados pelo 
indivíduo e reconhecidos pelo meio social”.22 
• VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, 
a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
Assegura-se a liberdade de consciência e de crença. Não só sob o prisma 
do foro íntimo, já que ninguém pode ser obrigado a pensar deste ou daquele 
modo, mas também nas suas manifestações, mediante a prática, por 
exemplo, dos cultos religiosos. Relega-se à lei a proteção aos locais de culto 
e suas liturgias. 
• VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência 
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; 
Nos termos do dispositivo, não pode ser negada a assistência religiosa 
nas entidades civis e militares de internação coletiva (asilos, orfanatos, 
presídios etc.). A propósito, a Lei 9.982/2000 dispõe sobre a prestação de 
assistência religiosa nas entidades hospitalares públicas e privadas, bem 
como nos estabelecimentos prisionais civis e militares. Entende-se que esta 
assistência não poderá ser imposta sem anuência do interessado, sob pena 
de ferir-se o direito individual. Não é possível, também, a distinção entre as 
religiões, uma vez que há liberdade de crença. 
• VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou 
de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de 
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, 
fixada em lei; 
Em consonância com o regime jurídico-constitucional das liberdades do 
pensamento, assegura-se a liberdade de consciência (de crença e de opinião 
política ou filosófica). A liberdade de exteriorização do pensamento, porém, 
por envolver manifestação de ideias e de crença religiosa, política ou 
filosófica, submete-se ao poder de polícia do Estado, não podendo ser 
invocada com o objetivo de obter exoneração de obrigação legal a todos 
imposta. Nessa hipótese a lei poderá fixar uma prestação alternativa. Assim, 
por exemplo, aquele que se recusa à prestação do serviço militar por 
convicção religiosa pode ser obrigado ao trabalho de assistência social, 
conforme dispuser a lei ordinária. 
Cuidou do assunto a Lei 8.239/1991, que trata da prestação de serviço 
alternativo ao serviço militar obrigatório. 
• IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença; 
Consagra o inciso a liberdade de expressão da personalidade, 
proscrevendo-se a censura e a licença. Assegura-se, no caso, a liberdade de 
exteriorização da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
as quais são formas de difusão e manifestação do pensamento, “tomado esse 
termo em sentido abrangente dos sentimentos e dos conhecimentos 
intelectuais, conceptuais e intuitivos”.23 
• X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral 
decorrente de sua violação; 
Esse inciso, conforme adverte JOSÉ AFONSO DA SILVA, contempla um 
conjunto de direitos não referidos de forma expressa no caput do art. 5.º, 
embora se possa tê-los como direitos conexos ao da vida.24 
Trata-se de novidade na ordem dos direitos individuais, tutelando o 
legislador a vida privada e a intimidade das pessoas, assim como a honra e a 
imagem. A violação desses valores tem como consectário o direito 
indenizatório pelo eventual dano material ou moral. 
Aplica-se, também aqui, o enunciado da Súmula 37 do STJ, segundo a 
qual “são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral 
oriundos do mesmo fato”. 
• XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo 
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou 
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; 
Como ensina PONTES DE MIRANDA, casa (ou domicílio) é a porção 
espacial, delimitada, autônoma, que alguém ocupa, só ou em companhia de 
outrem, com exclusão das outras pessoas. É onde se habita e onde se ocupa 
espaço, próprio, para uso pessoal, ou para negócios, oficina, escritório, e 
abrange o pátio, o quintal, as estrebarias, a garagem, os quartos de 
empregados etc.: o total da habitação ou do prédio ocupado para uso 
exclusivo dos ocupantes.25 
A expressão “casa” compreende, portanto, qualquer compartimento 
habitado, aposento ocupado de habitação coletiva, ou compartimento não 
aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 
Ninguém pode penetrar nela sem o consentimento do morador, salvo em 
caso de desastre ou quando algum crime está sendo ali praticado ou na 
iminência de o ser. Durante o dia as autoridades ou seus agentes, observadas 
as formalidades legais, poderão entrar em casa alheia para efetuar prisão ou 
outra diligência. As exceções para a penetração podem ter os mais variados 
fundamentos (medidas profiláticas, de polícia sanitária ou fiscal, de 
investigação criminal, de recenseamento etc.), e valem desde que constem de 
lei. 
A violação de domicílio constitui crime, nos termos do art. 150 do CP. 
• XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações 
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, 
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de 
investigação criminal ou instrução processual penal; 
A regra procura tornar intocável todos os meios de que dispõe a pessoa 
para corresponder-se e comunicar-se. O dispositivo inova em relação à 
anterior Constituição no que se refere a dados (âmbito da informatização) e 
excepciona as ligações telefônicas, para fins de investigação criminal ou 
instrução processual, mediante ordem do juiz competente da ação principal, 
sob segredo de justiça, nos termos da Lei 9.296, de 24.07.1996. 
Atento a tal regra, o Código Penal disciplinou, nos arts. 151 e 152, os 
crimes contra a inviolabilidade de correspondência, de comunicação 
telegráfica, radioelétrica e telefônica. 
• XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, 
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; 
Proclama-se, aqui, a liberdade profissional, limitada, apenas, pelos 
requisitos que a lei comum entender necessários para aferição de 
capacidade. Absurdo, aliás, que se permitisse a prática de qualquer profissão, 
sem nenhuma limitação, quando, v.g., um leigo poderia exercer o mister de 
médico. Daí o grande número de atividades regulamentadas nos dias 
correntes, a representar fator de segurança e equilíbrio social. 
Constitui ilícito penal “qualquer atentado aos direitos e garantias legais 
assegurados ao exercício profissional”, punível com as penas de multa, 
detenção de 10 dias a 6 meses, perda do cargo e inabilitação para o exercício 
de qualquer outra função pública por prazo até 3 (três) anos (art. 3.º, j, e 6.º, § 
3.º, da Lei 4.898, de 09.12.1965). 
• XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o 
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; 
Outra significativa conquista da atual Constituição é a garantia do acesso 
de todos à informação. Os cidadãos com acesso à informação têm melhores 
condições de atuar sobre a sociedade,de articular mais eficazmente desejos 
e ideias e de tomar parte ativa nas decisões que lhes interessam diretamente. 
Resguarda-se o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional, 
conforme também consta dos Códigos Civil e Processual Civil, segundo os 
quais ninguém pode ser obrigado a depor de fatos a cujo respeito, por estado 
ou profissão, deva guardar segredo (arts. 229, I, e 406, II, respectivamente). 
Quem se encontra na condição de dever guardar segredo da fonte de onde 
emanou determinada informação estará, moral e juridicamente, na situação 
de respeitá-lo. É que, como salienta MOACYR AMARAL SANTOS, “o dever 
de não revelar o segredo se justifica como princípio de ordem pública, tendo 
em vista o interesse da sociedade, qual o da necessidade de os indivíduos 
depositarem confiança nos que os aconselham, os guiam, os servem em 
dados setores da vida social”.26 
O dispositivo ora em exame se completa com as regras insertas no art. 
5.º, XXXIII, regulamentado pela Lei 12.527/2011, e no art. 220 do texto 
constitucional, que conferem a todos o direito de receber dos órgãos públicos 
informações de seu interesse particular, coletivo e geral, sem qualquer 
restrição que não as estabelecidas na própria Lei Maior. 
• XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, 
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele 
sair com seus bens; 
Trata-se da liberdade de locomoção, que a todos se garante, em tempo de 
paz, respeitadas as condições estabelecidas em lei. 
A liberdade de locomoção constitui, no preciso dizer de JOSÉ AFONSO 
DA SILVA, “o cerne da liberdade da pessoa física no sistema jurídico, abolida 
que foi a escravidão”. No dispositivo, explicitam-se duas situações: “uma é 
a liberdade de locomoção no território nacional; a outra é a liberdade de a 
pessoa entrar no território nacional, nele permanecer e dele sair com seus 
bens. A liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz 
contém o direito de ir e vir (viajar e migrar) e de ficar e de permanecer, sem 
necessidade de autorização”.27 
A Lei 7.685/1988, regulamentada pelo Dec. 96.998/1988, disciplinou o 
registro provisório para o estrangeiro em situação ilegal no território nacional. 
• XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais 
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não 
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo 
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; 
Mira-se, no caso, a liberdade de reunião, para um fim determinado. A 
reunião é livre desde que seus participantes estejam desarmados e não vise a 
frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local. A 
autoridade só intervirá em caso de desordem, para recomposição do equilíbrio 
rompido. Haverá, sempre, simples comunicação e nunca pedido de 
autorização. 
Como consequência da liberdade de reunião, garantiu-se também a 
liberdade de associação de toda natureza, sejam literárias, artísticas, 
científicas, recreativas etc., desde que seus fins sejam lícitos. A diferença 
entre a liberdade de reunião e a de associação é que esta tem caráter 
permanente e aquela transitório. Veda-se, apenas, a criação de associações 
de caráter paramilitar, ou seja, de corporações particulares de cidadãos, 
armados, fardados e adestrados, que não fazem parte das forças armadas ou 
da polícia do País. 
O direito de reunião e o direito de associação, até 1965, não encontravam 
proteção no âmbito do Direito Penal, porquanto nenhuma norma penal existia, 
até então, disciplinando o assunto. 
Como as violações desses dois direitos, em sua maioria, decorrem de 
ações emanadas da própria Administração Pública, porque regula os casos 
de “abuso de autoridade”, a Lei 4.898/1965 expressamente estendeu a tutela 
penal a esses direitos, dispondo em seu art. 3.º: 
“Art. 3.º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (…) f) à 
liberdade de associação; (…) h) ao direito de reunião.” 
Tais violações são puníveis com as penas de multa, detenção de 10 dias a 
6 meses, a perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer outra 
função pública por prazo até 3 (três) anos (art. 6.º, § 3.º, da lei referida). 
• XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de 
caráter paramilitar; 
• XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas 
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu 
funcionamento; 
O texto constitucional, além de inscrever regra de vedação de interferência 
estatal em seu funcionamento em razão do princípio da liberdade individual, 
também incorpora regra civilista que proíbe a tutela do Estado às associações 
civis. 
Referiu-se o inciso à “forma da lei” em relação à criação de cooperativas, 
para indicar que elas se regem por normas diversas das civis ou comerciais 
que regulam a criação das associações em geral, pois, do contrário, as 
associações passariam a depender também de nova forma estabelecida na lei 
prevista no texto, e não mais da legislação.28 
• XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou 
ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro 
caso, o trânsito em julgado; 
As associações que distorcerem suas finalidades poderão ser 
compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão 
judicial. A dissolução só se efetivará com decisão judicial transitada em 
julgado, ou seja, decisão definitiva, sem qualquer possibilidade de recurso. 
• XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer 
associado; 
É defeso impor-se limitações preventivas à livre formação das associações 
e, consequentemente, como o princípio é a liberdade total do indivíduo, não 
se pode compeli-lo a associar-se ou a permanecer associado contra a sua 
vontade. 
• XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, 
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; 
Inovou, também, a Constituição, ao conferir às associações legitimidade 
para representar seus filiados em juízo ou fora dele, desde que 
expressamente autorizadas por seus estatutos.29 Essa legitimidade, é também 
reconhecida aos sindicatos, conforme se vê do art. 8.º, III, da CF: “ao 
sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da 
categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”. 
• XXII – é garantido o direito de propriedade; 
• XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; 
• XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por 
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e 
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta 
Constituição; 
• XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente 
poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização 
ulterior, se houver dano; 
• XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que 
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de 
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios 
de financiar o seu desenvolvimento; 
Consagra a Constituição o direito de propriedade, cujo uso deverá ser 
condicionado ao bem-estar social e ao cumprimento de sua função 
socioambiental. Dada a relevância de sua função social, prevê-se a 
possibilidade de desapropriação, mediante prévia e justa indenização em 
dinheiro, pela sua perda. Em caso de perigo público iminente, em que o 
interesse coletivo exige que o Estado lance mão da propriedade particular, 
será assegurada ao proprietário indenização posterior, se houver danos. 
A inovação, aqui, ficou por conta do inc. XXVI, que instituiu a 
impenhorabilidade pró-labore da pequena propriedade familiar, visandoà 
fixação do pequeno proprietário à terra. É também uma forma não expressa 
de assegurar o princípio da função social da propriedade. Ao garantir a 
propriedade, propicia também a estabilidade e o fortalecimento da família 
mediante sua fixação em caráter definitivo à terra, concorrendo, assim, para a 
diminuição do êxodo rural. 
São hipóteses ensejadoras de desapropriação aquelas previstas nos arts. 
182, § 2.º, 184 c/c 186, e 243, todos da CF. 
• XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação 
ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a 
lei fixar; 
• XXVIII – são assegurados, nos termos da lei: 
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à 
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; 
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que 
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas 
representações sindicais e associativas; 
Consagra-se o direito do autor sobre a própria obra. Trata-se de um direito 
mais amplo que o outorgado aos autores de inventos industriais, por isso que 
vitalício, e transmissível por herança. Os herdeiros, porém, só desfrutarão o 
direito autoral pelo tempo fixado em lei, ou seja, durante 70 anos, contados de 
1.º de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, caindo no domínio 
público, em não havendo herdeiro, ou após o decurso desse prazo (cf. Lei 
9.610/1998, arts. 41 e 45, I). 
O texto anotado – em confronto com a anterior Constituição – apresenta-
se ampliado em relação à participação individual em obras coletivas e à 
reprodução da imagem e da voz humana, bem como no tocante ao direito da 
fiscalização quanto ao aproveitamento econômico da obra produzida, ou 
participada. 
• XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio 
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à 
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos 
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico 
e econômico do País; 
Os autores de inventos industriais terão o privilégio temporário de explorá-
los. Nos termos do art. 40 do Código de Propriedade Industrial (Lei 
9.279/1996), o prazo de privilégio de utilização da patente de invenção é de 
20 (vinte) anos e a do modelo de utilidade de 15 (quinze) anos, contados da 
data do depósito do pedido. Consagra-se, também, proteção à propriedade 
das marcas, do nome comercial e outros signos distintivos, com a inovação de 
que estarão voltados para o interesse social e o desenvolvimento tecnológico 
e econômico do País. 
• XXX – é garantido o direito de herança; 
O direito das sucessões está diretamente ligado à organização social e às 
instituições políticas de cada Nação. Instituto dos mais polêmicos, a herança 
tem suscitado intensos debates: para alguns, gera desigualdade entre as 
pessoas, contrariando princípios de justiça e o interesse social; para outros, 
constitui verdadeiro estímulo ao trabalho e à economia, bem como à 
organização familiar. Na verdade, a herança é o corolário do direito de 
propriedade, que, sem ela, não se completaria, configurando-se, ainda, como 
meio de subsistência familiar. O direito das sucessões seria inapreensível se 
não tivesse por supedâneo a instituição da família. Fica assim o instituto das 
sucessões garantido constitucionalmente, cabendo à lei civil dar-lhe os 
parâmetros de aplicabilidade. O Código Civil brasileiro de 2002 tratou da 
matéria em seu Livro V da Parte Especial. 
• XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será 
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, 
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”; 
Visando a proteção dos brasileiros, consagra o inciso a aplicação da lei 
pátria para regular a sucessão de bens de estrangeiros. É preciso, porém, que 
o alienígena esteja vinculado a brasileiros, por relações jurídicas regidas pelo 
direito de família e sucessões. Só não prevalecerá a regra quando mais 
favorável for a lei pessoal do estrangeiro falecido, que, então, incidirá na 
hipótese. 
• XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
A promoção da defesa do consumidor, em boa hora, 
adquiriu status constitucional. O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, 
de 11.09.1990) considera consumidor toda a pessoa física ou jurídica que 
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, ou a coletividade 
de pessoas, ainda que indetermináveis, ligada às relações de consumo. 
• XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de 
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão 
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas 
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; 
A par do direito de petição aos Poderes Públicos, bem como do direito 
constitucional de haver certidões das repartições públicas, para defesa de 
direito e esclarecimento de situações (CF, art. 5.º, XXXIV, a e b), a 
Constituição introduz a novidade conferida aos cidadãos de receber dos 
órgãos públicos, de qualquer esfera, informações de interesse particular, 
coletivo ou geral, portanto de muito maior abrangência, ressalvadas aquelas 
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Atribui, 
assim, ao administrado amplo poder de acompanhar a atividade pública, 
conferindo-lhe maior transparência e facilitando a fiscalização, o que, além de 
ser atribuição específica do Legislativo e dos órgãos de contas, passa a 
contar com o auxílio popular. O referido dispositivo constitucional acrescenta 
que essas informações, sob pena de responsabilidade, deverão ser prestadas 
pela autoridade competente, no prazo que a lei ordinária vier a fixar. 
A Lei 12.527/2011 regula o acesso a informações previsto neste inciso. 
• XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de 
taxas: 
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou 
contra ilegalidade ou abuso de poder; 
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de 
direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; 
Cuida o referido dispositivo constitucional do asseguramento, a todo 
cidadão, do direito de petição ao Poder Público, bem como do de requerer 
certidões para defesa dos direitos individuais, no sentido de estrita proteção 
em face dos atos praticados pelos Poderes do Estado, que repercutem na 
esfera individual ou coletiva. As certidões devem ser expedidas no prazo de 
15 dias, contado do registro do pedido no órgão expedidor (cf. Lei 
9.051/1995). 
• XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito; 
Trata-se de uma garantia que todos têm de ver seus direitos tutelados pelo 
Poder Judiciário, do qual nenhuma questão pode ser subtraída. 
Na Constituição anterior, garantia-se o acesso à Justiça apenas para a 
defesa de direitos individuais, o que não ocorre com a atual, que se refere a 
“lesão ou ameaça a direito”. Com isso, procurou-se garantir o acesso ao 
Judiciário também para apreciação das violações a 
interesses transindividuais, como são, por exemplo, os ligados à proteção do 
meio ambiente, do patrimônio histórico-cultural etc. Nem se omitiu, como 
anteriormente, de garantir a faculdade de pedir a tutela do Judiciário para 
a ameaça de lesão. 
Assim, com base no dispositivo enfocado, exclui-se a possibilidade de 
implantação de um contencioso exclusivamente administrativo, na medida em 
que nenhum litígio pode ser subtraído da apreciação judicial. 
• XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e 
a coisa julgada; 
Com essa regra assegura a Constituição o princípioda irretroatividade da 
lei. A lei nova, portanto, não pode atingir situações já consolidadas sob o 
império da lei antiga, resguardando-se o direito adquirido (faculdade já 
integrada no patrimônio do titular), o ato jurídico perfeito (situação jurídica 
definitivamente constituída) e a coisa julgada (decisão judicial de que já não 
caiba recurso). 
• XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; 
Estabelece o dispositivo a igualdade perante a justiça, não admitindo foros 
privilegiados ou tribunais de exceção. Todos têm que ser julgados segundo as 
mesmas regras de competência. Consagra-se, assim, o princípio do 
chamado juiz natural ou juiz competente, inscrito no inciso LIII (infra). 
Segundo ALEXANDRE DE MORAES, “as justiças especializadas no Brasil 
não podem ser consideradas justiças de exceção, pois são devidamente 
constituídas e organizadas pela própria Constituição Federal e demais leis de 
organização judiciária. Portanto, a proibição de existência de tribunais de 
exceção não abrange a justiça especializada, que é atribuição e divisão da 
atividade jurisdicional do Estado entre vários órgãos do Poder Judiciário”.30 
• XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe 
der a lei, assegurados: 
a) a plenitude de defesa; 
b) o sigilo das votações; 
c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; 
O Tribunal do Júri é um órgão de primeira instância, ou primeiro grau, da 
Justiça estadual comum. Compõe-se de um juiz de direito, que é o seu 
presidente, e de 25 juízes de fato, ou jurados, que se sortearão dentre os 
alistados, sete dos quais constituirão o conselho de sentença em cada 
julgamento. 
Nos termos do texto constitucional, sua competência se restringe ao 
julgamento dos crimes dolosos (propositais) contra a vida (homicídio; 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio; infanticídio e aborto). Assegura-
se, ademais, a plenitude de defesa, o sigilo das votações e a soberania dos 
veredictos. Assim, não pode o Tribunal de Justiça, em caso de recurso, 
reformar, quanto ao mérito, as decisões do Júri. Há, contudo, no art. 593, § 
1.º, do CPP hipótese em que o tribunal poderá reformar a decisão proferida 
pelo Tribunal do Júri: “Se a sentença do juiz presidente for contrária à lei 
expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad 
quem fará a devida retificação”. 
O júri é uma instituição quase milenar, grandiosa e complexa, cujos 
defeitos e virtudes foram acaloradamente discutidos através dos tempos, sem 
que ninguém tenha chegado até agora a uma conclusão definitiva. O fato é 
que, boa ou má, a instituição perdura e sobrevive a todas as críticas, 
exercendo sempre um grande fascínio popular. Deve conter alguma qualidade 
de valor essencial. 
• XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem 
prévia cominação legal; 
Trata-se do princípio da legalidade penal, consubstanciado na 
máxima nullum crimen, nulla poena sine praevia lege, formulada por Anselm 
Feuerbach e previsto no art. 1.º do Código Penal. Destarte, não há crime sem 
que, antes de sua prática, haja uma lei descrevendo-o como fato punível. Por 
outro lado, a pena não pode ser aplicada sem lei anterior que a contenha. É 
lícita, pois, qualquer conduta que não se encontre definida em lei penal 
incriminadora. 
• XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
Essa regra decorre do princípio nullum crimen, nulla poena sine praevia 
lege, sem o qual não haveria nem segurança nem liberdade na sociedade. Se 
não há crime sem lei anterior, claro é que não pode retroagir para alcançar 
condutas que, antes de sua vigência, eram fatos lícitos. O princípio da 
irretroatividade vigora, entretanto, somente em relação à lei mais severa, já 
que se admite a retroação da lei mais benigna. 
• XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e 
liberdades fundamentais; 
O dispositivo reforça o tratamento isonômico do Capítulo, repudiando 
discriminações odiosas e atentatórias às liberdades públicas, máxime com 
relação ao racismo ou preconceito de cor, religião, etnia ou procedência 
nacional. Pelo enunciado abrangente da cláusula constitucional, “entende-se 
que haverá discriminação toda vez que a norma contrariar o princípio da 
dignidade da pessoa humana, negando ao indivíduo a condição de humano, 
ou se fundando em preconceito que faz da pessoa humana ser inferior ou a 
exclua da sociedade”.31 A matéria foi regulamentada pelas Leis 7.716, de 
05.01.1989 e 8.081, de 21.09.1990. 
• XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, 
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 
Eleva-se, a teor do estatuído no inciso anterior, à condição de crime 
inafiançável e imprescritível o racismo. Para dar vida ao dispositivo já se 
promulgou a Lei 7.716, de 05.01.1989, que definiu os crimes resultantes de 
preconceito de raça ou de cor. 
• XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou 
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os 
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; 
Trata-se de uma inovação em nível da legislação constitucional, 
traduzindo o preceito fundamental da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem quanto à dignidade da pessoa, proibindo expressamente práticas 
atentatórias à condição humana. 
Segundo a Lei 8.072, de 25.07.1990, são considerados hediondos os 
crimes de homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo 
de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado 
(art. 121, § 2.º, I, II, III, IV e V), latrocínio (art. 157, § 3.º, in fine), extorsão 
qualificada pela morte (art. 158, § 2.º), extorsão mediante sequestro e na 
forma qualificada (art. 159, caput e §§ 1.º, 2.º e 3.º), estupro (art. 213, caput e 
§§ 1.º e 2.º), estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1.º, 2.º, 3.º e 4.º), 
epidemia com resultado morte (art. 267, § 1.º), falsificação, corrupção, 
adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou 
medicinais (art. 273, caput e § 1.º, § 1.º-A e § 1.º-B, com a redação dada pela 
Lei 9.677, de 02.07.1998), todos do Código Penal (Dec.-lei 2.848, de 
07.12.1940), e de genocídio (arts. 1.º, 2.º e 3.º da Lei 2.889, de 
01.10.1956), tentados ou consumados (art. 1.º). 
Pelo art. 2.º da Lei 8.072/1990, de 25.07.1990, os crimes hediondos, a 
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o 
terrorismo são insuscetíveis de: I – anistia, graça e indulto; II – fiança. 
Sobre o assunto, vale atentar para as disposições da Lei 9.455, de 
07.04.1997, que define os crimes de tortura, bem como às da Lei 11.343, de 
23.08.2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre 
Drogas (Lei Antidrogas). 
Por fim, vale mencionar a Lei 11.464/2007 que introduziu as seguintes 
alterações na Lei 8.072/1990: (i) pode ser concedida liberdade provisória ao 
acusado de crime hediondo; (ii) a pena não poderá mais ser cumprida em 
regime integralmente fechado, deverá haver progressão; (iii) a progressão se 
dará após o cumprimento de 2/5 da pena, para os primários, e 3/5, para os 
reincidentes; (iv) o juiz decidirá sobre a possibilidade do réu apelar em 
liberdade; (v) a prisão temporária terá prazo de 30 dias, prorrogáveis por igual 
período. 
• XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos 
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado 
Democrático; 
Cuida-se de obstaculizar o crime organizado, de natureza civil ou militar, 
que atente contra a ordem institucional e o Estado Democrático, impedindo-se 
seja o mesmo alcançado pela prescrição ou beneficiado com afiança os 
responsáveis por sua execução. Em nível infraconstitucional, a matéria foi 
objeto de disciplina pela Lei 9.034, de 03.05.1995. 
• XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a 
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos 
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o 
limite do valor do patrimônio transferido; 
A pena deve incidir unicamente sobre a pessoa do delinquente, não 
podendo, v.g., estender-se aos seus descendentes ou ascendentes. 
Continuam vigendo também a obrigatoriedade da reparação do dano pelo 
ilícito praticado e o perdimento de bens auferidos ilicitamente. Nessas 
hipóteses, de reparação civil, possibilita-se a propositura ou prosseguimento 
da ação ou execução contra os sucessores do autor do ilícito. A 
responsabilidade destes, porém, não ultrapassa o patrimônio adquirido com a 
sucessão. A lei ordinária deverá regular o dispositivo. 
• XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, 
as seguintes: 
a) privação ou restrição da liberdade; 
b) perda de bens; 
c) multa; 
d) prestação social alternativa; 
e) suspensão ou interdição de direitos; 
A individualização é uma das chamadas garantias do caráter repressivo 
próprio de cada pena, constituindo postulado básico de justiça. Pode ser ela 
determinada no (i) plano legislativo, quando se estabelecem e se disciplinam 
as sanções cabíveis nas várias espécies delituosas (individualização in 
abstracto); no (ii) plano judicial, no emprego do prudente arbítrio do juiz; e (iii) 
no momento executório, no período de cumprimento da pena. São 
dispositivos legais fundados na individualização os arts. 59 (culpabilidade, 
antecedentes, conduta social, personalidade), 61, I (reincidência), 67 e ss., do 
CP; art. 5.º e ss. da Lei de Execução Penal etc. Preveem-se espécies de 
penas admissíveis: privação de liberdade (por exemplo, reclusão, detenção, 
prisão simples); perda de bens, multa, prestação social alternativa (já 
existentes no Código Penal com o nome de prestação de serviços à 
comunidade); suspensão e interdição de direitos (também previstas no Código 
Penal: proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam 
de habilitação especial, de licença, ou autorização do Poder Público). 
Não se impede a instituição ou execução de outras penas além das 
enumeradas, desde que, evidentemente, não ofendam os termos 
constitucionais. 
• XLVII – não haverá penas: 
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, 
XIX; 
b) de caráter perpétuo; 
c) de trabalhos forçados; 
d) de banimento; 
e) cruéis; 
A pena de morte, proibida pela Constituição Federal de 1988, somente 
será possível na hipótese dos chamados crimes de guerra, sendo executada 
por fuzilamento, nos termos dos arts. 55, a, e 355 e ss., do Código Penal 
Militar. O Brasil, desde 25.09.1992, é parte na Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos, o chamado “Pacto de San José da Costa Rica”, de 1969, 
obrigando-se ao não estabelecimento da pena de morte no País. Isso o 
sujeita, em caso de violação da obrigação, a responsabilidade internacional. 
Continuam vedadas, também, as penas de caráter perpétuo (sem termo 
fixado em lei), de trabalhos forçados, de banimento (que se traduz no exílio, 
degredo ou desterro) e cruéis (atentatórias à integridade física e moral do 
condenado). 
A prisão perpétua tem sua razão de ser, na medida em que contraria um 
dos princípios da pena, que é a ressocialização e reeducação do delinquente, 
para que possa voltar ao convívio social, estimulando-lhe ainda a revolta, pela 
ausência de perspectiva de oportunidade.32 
O trabalho forçado, a seu turno, não é trabalho, pois que não reeduca, 
mas constitui ocupação vazia de significado laborativo, contrariando o 
disposto no art. 5.º, XIII, da Constituição, que assegura o livre exercício de 
qualquer trabalho, ofício ou profissão.33 
O dispositivo não impede, porém, as medidas de extradição, expulsão e 
deportação de estrangeiro conforme disponha a lei ordinária. 
• XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo 
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; 
De acordo com estudos referentes à execução da pena, conclui-se que 
não pode ser ela igual para todos os presos, justamente porque nem todos 
são iguais, mas tão diferentes e a tal ponto que tampouco a execução pode 
ser homogênea durante todo o período de cumprimento. Determina-se, assim, 
a existência de estabelecimentos penitenciários distintos, levando-se em 
conta a natureza do delito, bem como circunstâncias pessoais, como a idade 
e o sexo do apenado. 
• XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 
Mantém-se a proteção aos direitos humanos fundamentais do homem 
(vida, saúde, integridade corporal e dignidade humana): aqueles sem os quais 
os demais não existiriam. Estão proibidos, assim, os maus-tratos e castigos 
que, por sua crueldade ou conteúdo desumano, degradante, vexatório e 
humilhante, atentam contra a dignidade da pessoa, sua integridade física e 
moral, e contra sua vida. 
• L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam 
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; 
No interesse da família eleva-se à categoria de norma constitucional, em 
favor da criança, o direito da presidiária para permanecer com seus filhos 
durante o período de amamentação. A execução da pena atinge, 
indiretamente, os filhos dos condenados e se torna indispensável que sejam 
eles assistidos, ao menos enquanto estiverem na idade de dependência 
estreita com a mãe presidiária, como na hipótese de amamentação. 
Atualmente, prevê-se, em penitenciária de mulheres, a existência de uma 
seção para gestantes e parturientes, além de creche para assistência ao 
menor desamparado cuja responsável esteja presa (LEP, art. 89). 
• LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de 
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado 
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da 
lei; 
Extradição é o ato pelo qual se efetua a entrega, a um Estado estrangeiro, 
de pessoa acusada de crime, a fim de que esta seja processada e julgada 
perante seus tribunais. 
A extradição de brasileiro nato é totalmente vedada e fixa a Constituição 
um limite específico para os naturalizados, possibilitando-a em caso de crime 
comum e tráfico ilícito de drogas e entorpecentes. Esta parte final é uma 
inovação do texto constitucional. 
Embora exista uma cooperação entre os países no combate ao crime, as 
Constituições, no geral, repudiam a figura da extradição de criminoso ao país 
aonde ocorreu o delito. Na ordem jurídica internacional o direito e o dever da 
extradição só se efetivarão se houver um tratado internacional. Não existe 
uma obrigação internacional sem o tratado, uma vez que as leis dos Estados 
podem ser modificadas a qualquer tempo, unilateralmente. 
Regras infraconstitucionais sobre a matéria podem ser encontradas na Lei 
6.815/1980 (Estatuto do Estrangeiro), no Dec. 98.961/1990, que trata da 
expulsão de estrangeiro condenado por tráfico de entorpecentes, e na Lei 
11.343/2006 (Lei Antidrogas). 
• LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou 
de opinião; 
Texto redigido à semelhança do art. 153, § 19, da Carta de 1969, ficando 
claro que poderá ser deferida a extradição de estrangeiro desde que não seja 
motivada por crime político ou de opinião. A grande dificuldade para a 
aplicabilidade desta garantia é a caracterização dos crimes políticos, que 
normalmente não são definidos pelo Estado. Na doutrina, encontramos dois 
critérios de aplicação: (a) o objetivista – define crime político como sendo 
aquele perpetrado contra a ordem políticaestatal; o importante é que o bem 
jurídico atingido seja de natureza política; (b) o subjetivista – que considera 
crime político o que foi cometido com finalidade política. O crime de opinião é 
uma espécie de delito político e não pode subsistir em uma Constituição que 
inscreve o princípio da liberdade de pensamento e de expressão. 
• LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade 
competente; 
Estatui o inciso, como forma de garantia do cidadão, o princípio do juiz 
natural. Esse princípio consiste na garantia de que determinado caso concreto 
seja apreciado pelo juiz competente, disciplinado pela própria Constituição ou 
pela lei. Exemplo: há uma regra legal dizendo que o juiz do local onde ocorre 
a consumação do crime é o competente para julgá-lo. Se o homicídio se 
consumou em Santos, o juiz de Santos é o juiz natural ou autoridade 
competente para julgar esse delito. 
O princípio do juiz natural se destina a impedir “que, após acontecido o 
caso concreto, seja editada uma lei atribuindo a apreciação desse caso a 
outro órgão jurisdicional diferente daquele que era seu juiz natural”.34 
Juiz natural, ou juiz legal, ou juiz competente se contrapõe, assim, 
a juízo ou tribunal de exceçãoinstituídos para contingências particulares, 
consoante regra constitucional expressa (art. 5.º, XXXVII). 
• LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal; 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem garante que “todo homem 
acusado de um ato delituoso tem direito de ser presumido inocente até que a 
sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento 
público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias 
à sua defesa”. 
Assim, a privação da liberdade, em consequência de ilícito penal, assim 
como a privação de alguém de seus bens, em consequência de ilícito civil, 
somente serão legítimas quando precedidas de regular procedimento onde a 
defesa plena não seja comprometida. Se isto não ocorrer, os direitos de 
liberdade e propriedade estarão sendo atingidos sem o “devido processo 
legal”, o que torna írrita e contra o direito a ação do Estado. Dessa forma, o 
direito de pedir a intervenção do Judiciário em caso de lesão ou ameaça a 
direito (CF, art. 5.º, XXXV), consiste em direito ao devido processo legal, com 
suas diversas implicações essenciais: a garantia do direito de ação de par 
com a garantia do direito de defesa; a adoção do contraditório processual, a 
equidistância do juiz no tocante aos interesses em conflito, como órgão estatal 
desinteressado, justo e imparcial. 
• LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os 
meios e recursos a ela inerentes; 
Tanto no processo judicial quanto na instância administrativa assegura-se 
aos litigantes e aos acusados em geral o direito de produzir, o mais 
amplamente possível, a sua defesa, com os meios e recursos que lhe são 
peculiares, sob pena de nulidade do processo. 
Como consequência do princípio da ampla defesa, consagra-se o princípio 
do contraditório, ou seja, da audiência bilateral, expresso no brocardo 
romano auditur et altera pars. 
Com efeito, por ampla defesa “entende-se o asseguramento que é dado 
ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os 
elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-
se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria 
exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo 
(par conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da 
defesa de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou, 
ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa feita pelo autor”.35 
A Lei 9.784/1999 regulamentou a matéria referente ao processo 
administrativo no âmbito federal. O art. 2.º dessa Lei menciona como 
princípios da administração pública a ampla defesa e o contraditório, dentre 
outros, bem como garante, no inciso X do seu parágrafo único, que “nos 
processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: (…) 
X – garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, 
à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que 
possam resultar sanções e nas situações de litígio”. 
A Súmula Vinculante 3 do STF consagra os princípios da ampla defesa e 
do contraditório ao dispor que “nos processos perante o Tribunal de Contas 
da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão 
puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o 
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial 
de aposentadoria, reforma e pensão”. 
• LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios 
ilícitos; 
Consagra-se a inadmissibilidade da utilização de provas ilícitas, na esteira 
do sistema probatório do processo brasileiro, que admite apenas os meios 
idôneos relativamente à instrução processual. Prova ilícita, segundo o art. 
157, caput, do CPP, com a redação determinada pela Lei 11.690/2008, vem a 
ser a obtida em violação a normas constitucionais ou legais. 
No ponto, segundo ensinamento do Min. Celso de Mello, “a cláusula 
constitucional do due process of law – que se destina a garantir a pessoa do 
acusado contra ações eventualmente abusivas do Poder Público – tem, no 
dogma da inadmissibilidade das provas ilícitas, uma de suas projeções 
concretizadoras mais expressivas, na medida em que o réu tem o 
impostergável direito de não ser denunciado, de não ser julgado e de não ser 
condenado com apoio em elementos instrutórios obtidos ou produzidos de 
forma incompatível com os limites impostos, pelo ordenamento jurídico, ao 
poder persecutório e ao poder investigatório do Estado”.36 
• LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória; 
A norma constitucional consagra a presunção de inocência, assegurando 
o direito de ninguém ser considerado culpado, a não ser após transitar em 
julgado a sentença penal condenatória, como de resto já ocorre no sistema 
penal brasileiro. 
• LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação 
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; 
Trata-se de inovação que preserva a pessoa do constrangimento da 
identificação criminal datiloscópica, desde que já esteja identificada para os 
efeitos da vida civil, salvo hipóteses excepcionais a serem definidas pelo 
legislador ordinário. 
A Lei 9.034/1995 traz uma hipótese de identificação criminal obrigatória: 
“Art. 5.º A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada 
por organizações criminosas será realizada independentemente da 
identificação civil”. 
A Lei 12.037/2009, regulamentando o inciso em comento, estabeleceu que 
a identificação civil é atestada por qualquer dos seguintes documentos: (i) 
carteira de identidade; (ii) carteira de trabalho; (iii) carteira profissional; (iv) 
passaporte; (v) carteira de identificação funcional; (vi) outro documento 
público que permita a identificação do indiciado. 
• LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta 
não for intentada no prazo legal; 
A Constituição encampou norma inserida no Código de Processo Penal, 
constante do art. 29, que dispõe: “Será admitida ação privada nos crimes de 
ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério 
Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em 
todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, 
a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como 
parte principal”. 
Em adição, vale mencionar que a Lei 11.101/2005, ao dispor sobre a 
recuperaçãojudicial, a extrajudicial e a falência da sociedade empresária, 
estabelece em seu art. 184, caput, que os crimes nela previstos são de ação 
penal pública incondicionada, porém, decorrido o prazo do art. 187, § 1.º, da 
mesma Lei, “sem que o representante do Ministério Público ofereça denúncia, 
qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação 
penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 
(seis) meses”, conforme disposto no parágrafo único do citado art. 184. 
A admissibilidade da ação penal privada subsidiária da pública pressupõe, 
nos termos do inciso ora em exame, a inércia do Ministério Público em adotar, 
no prazo legal (CPP, art. 46), uma das seguintes providências: oferecer 
denúncia, requerer arquivamento do inquérito policial ou requisitar novas 
diligências. 
• LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando 
a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; 
O sigilo processual somente será admitido quando a defesa da intimidade 
ou o interesse social assim o exigirem. Trata-se de disposição constitucional 
nova, que estabelece as exceções à publicidade dos atos processuais como 
regra geral. O Código de Processo Civil de 1973 já houvera tratado da matéria 
no que tange aos processos que correm em segredo de justiça, como, por 
exemplo, o processo de investigação de paternidade. 
• LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita 
e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de 
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; 
Visando a resguardar a liberdade do indivíduo, a Constituição estatui que, 
em regra, ninguém poderá ser preso. Para que a prisão (preventiva ou 
temporária) venha a efetivar-se, deverá existir ordem escrita e fundamentada 
de autoridade judiciária competente, ou, então, flagrante delito. Flagrante vem 
de flagrans,ardente, queimando, e significa, assim, a plena posse da 
evidência, o momento em que o crime é praticado ou os instantes que se lhe 
seguem com a perseguição do criminoso. 
Referindo-se especificamente à autoridade judiciária, o novo dispositivo 
impede a chamada prisão administrativa, determinada, por exemplo, por 
Ministro de Estado em caso de peculato. 
• LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão 
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à 
pessoa por ele indicada; 
Havendo qualquer restrição à liberdade de locomoção, mediante prisão ou 
detenção, seja qual for a pessoa presa ou detida, o fato terá que ser, pela 
gravidade da violação àquela liberdade, comunicado ao juiz competente e à 
família do preso ou à pessoa por ele indicada, sob pena de crime de abuso de 
autoridade. O juiz, se as restrições não forem legais, relaxará a prisão ou a 
detenção, devolvendo, pois, a liberdade ao indivíduo. 
Recentemente, a Lei 12.403/2011 alterou o art. 306 do CPP, determinando 
o encaminhamento, em até 24 horas após a realização da prisão, do auto de 
prisão em flagrante e à Defensoria Pública, caso o autuado não informe o 
nome de seu advogado, com vistas a melhor salvaguarda dos direitos do 
indivíduo preso ou detido. 
• LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de 
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de 
advogado; 
A necessidade de ser o preso informado de seus direitos, entre os quais o 
de permanecer calado, o de ter a assistência da família e de advogado visam 
a garantir-lhe não só o controle jurisdicional como a possibilitar-lhe ampla 
defesa em matéria criminal, em especial na prisão provisória (flagrante, prisão 
preventiva etc.) e ainda na execução da pena. 
• LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua 
prisão ou por seu interrogatório policial; 
Como corolário do disposto no inciso LXI, dispõe-se a respeito da 
identificação dos responsáveis pela prisão ou interrogatório policial de 
qualquer pessoa. A prisão e autuação em flagrante, determinadas por 
autoridade competente (principalmente policial), e a prisão por mandado (de 
autoridade judiciária) podem constituir-se em abuso de poder. No 
interrogatório pode haver coação, também abusiva. Assim, permite-se ao 
preso ou àquele que for interrogado a possibilidade de defender seus 
interesses e providenciar a responsabilidade daqueles que cometerem abusos 
e arbitrariedades. A respeito destes já dispõe, principalmente, a Lei 4.898, de 
09.12.1965 (Lei de Abuso de Autoridade). 
• LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade 
judiciária; 
Como já se disse, qualquer cerceamento à liberdade de locomoção fica 
sob controle jurisdicional, devendo o juiz, comprovada a ilegalidade do ato, 
relaxar incontinenti a prisão. 
• LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei 
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; 
Manteve-se o instituto da fiança criminal, previsto na anterior Constituição 
(art. 153, § 12, segunda parte). Assegura-se, na conformidade da lei ordinária, 
que o preso em flagrante ou condenado por sentença recorrível possa 
aguardar em liberdade o julgamento definitivo do feito. Elevou-se ao nível 
constitucional a liberdade provisória sem fiança, já admitida, por exemplo, no 
Código de Processo Penal (arts. 309 e 310). 
• LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo 
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do 
depositário infiel; 
Mantém-se como regra a proibição da prisão por dívida civil com apenas 
uma exceção (devedor de alimentos), conforme já se assinalava na EC 1, de 
1969, art. 153, § 17. Ressalta-se, contudo, como se tem feito na doutrina e 
jurisprudência, que não poderá ser decretada a prisão civil, nessa hipótese, 
quando se tratar de inadimplemento involuntário ou escusável. Havendo, 
portanto, uma justa causa para o inadimplemento, não é possível a prisão 
civil. 
A prisão civil por alimentos definitivos não pode, por lei, exceder a 
sessenta dias (Lei 5.478/1968, art. 19), e a referente a alimentos provisionais 
varia de um a três meses (CPC, art. 733, § 1.º). 
• LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se 
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de 
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; 
É garantida ao cidadão a liberdade pessoal de ir e vir ou ficar, isto é, de 
locomover-se sem impedimentos além daqueles determinados em lei. 
Sem dúvida, a liberdade de locomoção é uma das mais importantes 
liberdades da pessoa. Protege-a, especificamente, a garantia constitucional 
do habeas corpus, que é o remédio a ser usado por quem esteja preso ou 
ameaçado de sê-lo, em razão de algum ato ilegal ou praticado com abuso de 
poder. 
Cabe, em regra, contra ato de autoridade, embora surjam, às vezes, 
decisões isoladas expedindo a ordem contra coatores particulares, como, por 
exemplo, no caso de uma paciente colocada em cárcere privado, em casa de 
tratamento de doenças nervosas (cf. RT 371/138). 
Apesar do nome latino, o habeas corpus é de origem inglesa, tendo 
surgido com a Magna Carta, em 1215. Significa “tenhas o corpo” ou “tomes o 
corpo”. A fórmula dos juízes ingleses dizia: “Tomes o corpo do detido e 
venhas submeter ao tribunal o homem e o caso”. 
O habeas corpus pode ser preventivo, quando o paciente estiver sob 
ameaça de violência ou coação ilegal, e liberativo, quando a violência ou 
coação ilegal já foi praticada. 
A ação de habeas corpus é gratuita (v. inciso LXXVII, infra). 
• LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito 
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o 
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou 
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
a) partido político com representação no Congresso Nacional; 
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente 
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos 
interesses de seus membros ou associados; 
Como vimos, o habeas corpus protege direitos que tenham como 
pressuposto a liberdade de locomoção do indivíduo, ou seja, a liberdade 
pessoal corpórea. O habeas data, veremos, é o instrumento hábil a propiciar o 
conhecimento de informações e para a retificação de dados constantes de 
registros de entidades governamentais ou de caráter público. 
O mandado de segurança, por sua vez, completa essas garantias, 
amparando todos os demais direitos fundamentais do cidadão, contra atos 
ilegais das autoridades. 
É remédio específico contra a violação pela autoridade pública ou agente 
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público de direito 
líquido e certo. O seu campo de ação é definido por exclusão: onde não 
cabe habeas corpus, nem habeas data, cabe mandado de segurança. 
Na lição de HELY LOPES MEIRELLES, direito líquido e certo é o que se 
apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a 
ser exercitado no momento da impetração.37 Neste campo, a inovação mais 
relevante e de grande sentido prático parece ser o mandamus coletivo, do 
inciso LXX, impetrável por diversas pessoas que se encontram na mesma 
situação jurídica ensejadora da impetração. Confere-se, aqui, legitimidade aos 
partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados ou no 
Senado, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente 
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano – em defesa dos 
interesses de seus membros ou associados.38 Isto amplia sobremodo o 
instituto, tornando-o mais flexível no âmbito da defesa das comunidades, por 
via das organizações partidárias, das entidades sindicais e associações 
legalmente instituídas, abrindo, ainda, perspectivas de dinamização da Justiça 
e de desafogo das atividades forenses, normalmente congestionada por 
pedidos redundantes, versantes sobre o tema da proteção requerida. 
• LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades 
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à 
cidadania; 
Embora já existente no direito comparado, cuidou o legislador 
constitucional de introduzir no sistema brasileiro um novo e importante 
instrumento de proteção aos superiores direitos e liberdades consagrados 
pela ordem constitucional. 
Ressalte-se, neste primeiro passo, a excelência deste remédio 
constitucional relativamente à preservação de direitos não amparados por 
mandado de segurança, na hipótese de ausência de norma regulamentadora 
que inviabilize, nos termos do dispositivo, o exercício pleno “dos direitos e 
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à 
soberania e à cidadania”. É medida destinada a pôr em prática direitos 
fundamentais retoricamente concedidos pelo legislador constitucional. 
Imagine-se, por exemplo, uma criança de 10 anos que pretenda ter acesso a 
alguma escola pública e que, por falta de vagas, o Estado se recuse a admiti-
la. Como fica a situação diante dos termos do art. 208, § 1.º, da Constituição 
Federal, que reza ser o acesso ao ensino obrigatório e gratuito um direito 
público subjetivo? 
• LXXII – conceder-se-á habeas data: 
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do 
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades 
governamentais ou de caráter público; 
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo 
sigiloso, judicial ou administrativo; 
Trata-se de uma das mais importantes inovações do legislador 
constitucional de 1988, no tocante à defesa dos direitos do cidadão quanto à 
divulgação de informações pessoais, de qualquer natureza, por entidades 
públicas ou privadas. Tais divulgações vêm-se constituindo, nos últimos anos, 
numa agressão à privacidade das pessoas, trazendo-lhes graves 
consequências, na maioria das vezes irreparáveis, pelos efeitos funestos e 
deletérios que se imprimem à personalidade e ao caráter do indivíduo, 
maculados por informações e assentamentos, em geral imprecisos, 
deformados e insidiosamente “plantados”, principalmente por autoridades de 
organismos policiais. Doravante, com o advento do habeas data, assegura-se 
o direito ao conhecimento de informações relativas à pessoa – constantes de 
registros ou de bancos de dados de entidades governamentais, ou de caráter 
público, bem como a retificação de dados, mediante formulação de pedido ao 
Judiciário. 
A Lei 9.507, de 12.11.1997, regulou o direito de acesso a informações e 
disciplinou o rito processual do habeas data. 
A ação de habeas data é gratuita (v. inc. LXXVII, infra). 
• LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que 
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado 
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio 
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas 
judiciais e do ônus da sucumbência; 
A ação popular é um remédio constitucional nascido da necessidade de se 
melhorar a defesa do interesse público e da moral administrativa. Inspira-se 
na intenção de fazer de todo cidadão um fiscal do bem comum. Consiste ela 
no poder de reclamar o cidadão um provimento judiciário – uma sentença – 
que declare nulos ou torne nulos atos do poder público lesivos ao patrimônio 
público, seja do patrimônio das entidades estatais, seja das entidades de que 
o Estado participe. Este importante instrumento de defesa dos interesses da 
coletividade vem com nova roupagem no texto comentado, ampliando 
consideravelmente o campo de sua incidência protetiva, alcançando, agora, e 
em nível constitucional, a moralidade administrativa, o meio ambiente e o 
patrimônio histórico e cultural do povo brasileiro. Evidentemente, o referido 
dispositivo ampliado deverá sofrer meticuloso tratamento infraconstitucional, 
com sensíveis modificações na Lei 4.717/1965, que ainda rege o instituto, 
visando a adaptar a ação popular ao seu novo modelo constitucional. 
Registre-se, como importante incentivo, a isenção de custas judiciais e do 
ônus da sucumbência, ao autor da ação, a não ser nos casos de comprovada 
má-fé. 
O direito de propor ação popular é deferido apenas àquele que ostente a 
condição de cidadão, ou seja, aos eleitores, que participam dos destinos 
políticos da Nação. 
• LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que 
comprovarem insuficiência de recursos; 
Trata-se de regra essencial, para que haja igualdade na distribuição da 
justiça. Em verdade, embora inexistam foros privilegiados e todos possam 
bater às portas do Judiciário na defesa de seus direitos (incisos XXXV e 
XXXVII), na prática, os desprovidos de recursos materiais estariam impedidos 
de gozar tais regalias se o Estado não lhes concedesse a assistência 
judiciária, consistente não só na isenção de custas como no patrocínio de 
advogado, por aquele indicado e custeado. 
Certamente o texto refere-se à assistência judiciária aos necessitados em 
razão de demandas judiciais. 
Sobre a matéria, vide LC 80/1994, com nova redação determinada pela LC 
132/2009, que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e 
dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados. 
• LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como 
o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; 
Inovação do legislador constitucional é a obrigatoriedade de indenização 
ao condenado por errojudiciário ou pelo excesso do tempo de prisão fixado 
na sentença. De acordo com a doutrina e jurisprudência dominantes, essa 
indenização tem sido determinada apenas na hipótese de dolo (má-fé) ou 
culpa da autoridade competente. O dispositivo, porém, é abrangente e será 
determinada a indenização quer no caso de erro judiciário, comprovado em 
juízo, quer quando o condenado ficar recolhido à prisão além do tempo fixado 
em sentença penal irrecorrível, presumindo-se, evidentemente, a culpa das 
autoridades responsáveis pelo excesso. 
• LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: 
a) o registro civil de nascimento; 
b) a certidão de óbito; 
Aos necessitados, reconhecidamente pobres, a Constituição de 1988 
assegura a gratuidade do registro civil (nascimento e óbito) na forma do art. 
30 da Lei 6.015, de 31.12.1973, com a redação determinada pela Lei 9.534, 
de 10.12.1997. 
• LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na 
forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. 
No afã de garantir o acesso ao Judiciário da forma mais ampla possível, 
cuidou-se de estabelecer a gratuidade das ações de habeas corpus, habeas 
data e de todos os atos necessários ao exercício da cidadania, como o 
mandado de injunção e a ação popular, por exemplo. Esse inciso foi 
regulamentado pela Lei 9.265, de 12.02.1996, considerando como 
necessários ao exercício da cidadania os atos: (i) que capacitam o cidadão ao 
exercício da soberania popular, a que se reporta o art. 14 da Constituição 
Federal; (ii) aqueles referentes ao alistamento militar; (iii) os pedidos de 
informações ao poder público, em todos os seus âmbitos, objetivando a 
instrução de defesa ou a denúncia de irregularidades administrativas na órbita 
pública; (iv) as ações de impugnação de mandato eletivo por abuso do poder 
econômico, corrupção ou fraude; (v) quaisquer requerimentos ou petições que 
visem às garantias individuais e à defesa do interesse público; (vi) o registro 
civil de nascimento e o assento de óbito, bem como a primeira certidão 
respectiva. 
• LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a 
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua 
tramitação. 
Este inciso foi acrescentado pela EC 45/2004, e visa a garantir aos 
brasileiros e residentes no país o direito à razoável duração do processo, 
judicial ou administrativo. Razoável duração do processo, no dizer de 
NELSON e ROSA NERY, “é conceito legal indeterminado que deve ser 
preenchido pelo juiz, no caso concreto, quando a garantia for invocada (…) 
Cabe ao Poder Executivo dar os meios materiais e logísticos suficientes à 
administração pública e aos Poderes Legislativo e Judiciário, para que se 
consiga terminar o processo judicial e/ou administrativo em prazo razoável”.39 
2. OS DIREITOS SOCIAIS 
Analisados, ainda que perfunctoriamente, os direitos e deveres individuais 
e coletivos, vejamos agora os chamados direitos sociais. 
Sendo a Constituição a norma jurídica fundamental que contém os valores 
considerados, pela Nação, aptos à realização dos seus fins primeiros, 
os direitos sociais devem ser nela incluídos, pelo significado de que se 
revestem na vida contemporânea. São os direitos ligados à atividade social do 
Estado, constituindo-se numa obrigação de fazer da parte deste último e, por 
esse motivo, tais direitos são também qualificados “positivos”, ao invés dos 
individuais, denominados “negativos”.40 
No Brasil, os direitos sociais só foram proclamados com a Constituição de 
1934. Na Carta emendada de 1969 apresentavam-se esparsos em diferentes 
contextos. Agora, foram eles ampliados e disciplinados em todo um capítulo 
que lhes empresta substância e sistematização. 
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade 
e à infância, a assistência aos desamparados (CF, art. 6.º, com redação 
determinada pela Emenda Constitucional 64/2010), manifestando-se, dentre 
outros, por meio de: 
(a) regras concernentes à proteção do trabalho, estatuídas no art. 7.º 
(dentre outras: proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou 
sem justa causa; seguro-desemprego; fundo de garantia do tempo de serviço; 
salário mínimo nacionalmente unificado; décimo terceiro salário; remuneração 
do trabalho noturno superior à do diurno; participação nos lucros e na gestão 
da empresa; salário-família; duração do trabalho normal não superior a oito 
horas diárias e quarenta e quatro semanais; repouso semanal remunerado; 
férias anuais remuneradas; aviso-prévio; licença à gestante; licença-
paternidade; aposentadoria; proteção em face da automação; seguro contra 
acidentes do trabalho; proibição de discriminação ao trabalhador portador de 
deficiência; proteção ao trabalho da mulher e do menor etc.); 
(b) reconhecimento da associação profissional ou sindical (CF, art. 8.º); 
(c) garantia do direito de greve (CF, art. 9.º) nos termos estatuídos na Lei 
7.783, de 28.06.1989; 
(d) participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos 
órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários 
sejam objeto de discussão e deliberação (CF, art. 10); 
(e) eleição de representante dos empregados, nas empresas com mais de 
duzentos, para entendimento direto com os empregadores (CF, art. 11). 
3. NACIONALIDADE E CIDADANIA 
Em face do Estado, todo indivíduo ou é nacional ou estrangeiro. 
Nacional é o sujeito natural do Estado. Ao conjunto de nacionais dá-se o 
nome de povo, sem o qual não pode haver Estado, pois que é um de seus 
elementos essenciais como já vimos. Estrangeiro, por exclusão, é o sujeito 
natural de outro Estado. 
Portanto, nacionalidade é o vínculo que liga o indivíduo a um Estado. É 
entendida sob dois aspectos: deorigem, baseada no lugar onde se nasce (jus 
soli), e secundária, decorrente dos laços de sangue (jus sanguinis). 
O Brasil adotou, como regra, o critério do jus soli, consoante se verifica do 
art. 12, I, a, da Constituição Federal, pois que considera brasileiros natos os 
nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, 
desde que estes não estejam a serviço de seu país. Aceitou, entretanto, 
paralelamente, o critério do jus sanguinis, como se vê do mesmo art. 12, 
I, b e c. Forma secundária de aquisição da nacionalidade, por excelência, é a 
derivada da naturalização, situação em que se encontram todos aqueles que 
se enquadrarem nas hipóteses constantes do art. 12, II, a e b, da Constituição 
Federal. 
A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e 
naturalizados, salvo nos casos previstos na Constituição, como se vê do § 3.º 
do referido art. 12, que diz serem privativos de brasileiro nato os cargos: (i) de 
Presidente e Vice-Presidente da República; (ii) de Presidente da Câmara dos 
Deputados; (iii) de Presidente do Senado Federal; (iv) de Ministro do Supremo 
Tribunal Federal; (v) da carreira diplomática; (vi) de oficial das Forças 
Armadas; (vii) de Ministro de Estado da Defesa. 
Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: (i) tiver 
cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade 
nociva ao interesse nacional; (ii) adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: 
(a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; 
(b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro 
residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu 
território ou para o exercício de direitos civis (CF, art. 12, § 4.º, II, com 
redação determinada pela Emenda Constitucional de Revisão 3/1994). 
Não se confunde nacionalidade com cidadania. A cidadania é inerente 
apenas à parcela dos nacionais admitida a participar da formaçãodo governo. 
Trata-se, bem de ver, de um status ligado ao regime político. Assim, por 
exemplo, os menores, os loucos, os condenados durante os efeitos da 
condenação etc., apesar de nacionais, não são considerados cidadãos, pois 
não podem participar do processo político. 
4. OS DIREITOS POLÍTICOS 
Reza a Constituição Federal, em seu art. 14, caput: “A soberania popular 
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor 
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; 
III – iniciativa popular”. 
Com o dispositivo fortalece-se a democracia, na medida em que, através 
do sufrágio universal, do exercício do voto, do plebiscito, do referendo e da 
iniciativa popular, procura-se fundar a soberania popular. 
O sufrágio universal supõe que o direito de voto é atribuído a todos os 
cidadãos, ou seja, praticamente a todos os habitantes que preencham as 
condições de idade e de nacionalidade. É através do voto que o poder emana 
do povo, seja elegendo representantes, seja manifestando-se diretamente. A 
igualdade dos cidadãos, a garantia de que cada um, independentemente de 
sua situação social, disponha da mesma parcela de soberania, fica realçada 
pelo mandamento de que o voto terá igual valor para todos. 
Institui-se, também, os mecanismos da democracia direta, isto é, de 
emanação direta do poder popular a que se refere o art. 1.º, parágrafo único, 
da Constituição Federal, e que são: o plebiscito, o referendo e a iniciativa 
popular. Esses mecanismos foram regulamentados pela Lei 9.709, de 
18.11.1988. 
O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18 
anos e facultativos para os analfabetos, os maiores de 70 anos e os menores 
a partir de 16 anos. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, 
durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos, isto é, os 
recrutados. 
São condições de elegibilidade: (i) a nacionalidade brasileira; (ii) o pleno 
exercício dos direitos políticos; (iii) o alistamento eleitoral; (iv) o domicílio 
eleitoral na circunscrição; (v) a filiação partidária; (vi) a idade mínima de: a) 35 
anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) 30 anos 
para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) 21 
anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz; d) 18 anos para Vereador (art. 14, § 3.º, CF). 
O atual ordenamento constitucional proíbe a cassação de direitos políticos, 
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (i) cancelamento da 
naturalização por sentença transitada em julgado; (ii) incapacidade civil 
absoluta; (iii) condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem 
seus efeitos; (iv) recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação 
alternativa, nos termos do art. 5.º, VIII, da CF; (v) improbidade administrativa, 
nos termos do art. 37, § 4.º, também da CF (art. 15). 
 
 
Sumário: 1. Definição – 2. Características do ato administrativo – 3. Os 
poderes administrativos – 4. O poder de polícia: 4.1 Jurisprudência – 5. As 
entidades estatais – 6. As entidades paraestatais – 7. Administração direta e 
indireta – 8. Serviços públicos – 9. Delegação de serviços públicos: a 
concessão, a permissão e a autorização: 9.1 Parceria público-privada – 10. 
Os contratos administrativos – 11. A licitação: 11.1 Espécies de licitação; 11.2 
Critérios para a avaliação das propostas; 11.3 Sanções administrativas e 
criminais; 11.4 Efeitos da adjudicação – 12. Bens públicos – 13. Servidores 
públicos. 
1. DEFINIÇÃO 
Direito Administrativo é o conjunto de normas que regem a Administração 
Pública. As normas de ordem pública, ao contrário das normas de direito 
privado, não podem ser afastadas nem por acordo dos interessados. 
O ato administrativo pode ser unilateral ou bilateral. O ato administrativo 
unilateral é a atividade da Administração Pública, que cria, modifica ou 
extingue direitos em relação aos administrados, aos seus servidores, ou a ela 
própria. 
O ato administrativo bilateral refere-se aos contratos realizados pela 
Administração, tendo por fim a satisfação de algum interesse público. 
2. CARACTERÍSTICAS DO ATO ADMINISTRATIVO 
O ato administrativo possui várias características próprias, algumas 
referentes ao ato em si e outras à pessoa do administrador, conforme vemos 
a seguir. 
 
3. OS PODERES ADMINISTRATIVOS 
Para que a Administração Pública possa funcionar e atingir os seus fins, 
atribui-lhe a lei poderes adequados. Tais poderes são vinculados, quando o 
modo de se praticar o ato já vem descrito na lei. E sãodiscricionários, quando 
o administrador tem certa liberdade de escolher a oportunidade ou a forma de 
se realizar o ato. 
Em geral, todos os atos administrativos são parcialmente vinculados e 
parcialmente discricionários. O que não se admite é o ato arbitrário, ou seja, o 
ato alheio à lei e ao interesse público, em que se percebe não a vontade da 
Administração, mas a vontade pessoal e exorbitante de um determinado 
agente. 
Entre os poderes da Administração está o chamado poder de polícia, que 
veremos em separado, no ponto seguinte. 
4. O PODER DE POLÍCIA 
O poder de polícia consiste na faculdade de a Administração Pública coibir 
atos individuais que contrariem a lei e os interesses públicos. Como ensina 
THEMISTOCLES BRANDÃO CAVALCANTI, o poder de polícia “inclui todas 
as restrições impostas pelo poder público aos indivíduos, em benefício do 
interesse coletivo, saúde, ordem pública, segurança, e, ainda mais, os 
interesses econômicos e sociais”.41 
O poder de polícia deve ser exercido com cautela, para que não sejam 
feridos direitos individuais assegurados pela Constituição Federal. “As 
condições de validade do ato de polícia são as mesmas do ato administrativo 
comum, ou seja, a competência, a finalidade e a forma, acrescidas da 
proporcionalidade da sanção e da legalidade dos meios empregados pela 
Administração”.42 
Se o ato da autoridade extravasa os limites da lei, pode o prejudicado 
recorrer ao Poder Judiciário, apelando especialmente para os remédios 
constitucionais do habeas corpus ou do “mandado de segurança”. 
“Polícia”, bem como “política”, derivam de polis (cidade), significando 
“administração da cidade”. Divide-se em polícia judiciária e polícia 
administrativa. 
4.1 Jurisprudência 
Caso 1 – Poder de polícia. Estabelecimento comercial Drive-
in. Fechamento por ordem de autoridade municipal, sob a alegação de 
desvirtuamento das respectivas finalidades. Inexistência, contudo, de prova 
nesse sentido, ao menos da instauração de sindicância. Ato ilegal. Segurança 
concedida (RT 445/186). 
Caso 2 – Poder de polícia. Cartazes, faixas e painéis. Colocação proibida 
por prefeito municipal. Proteção de belezas naturais. Ato legal. Segurança 
denegada (RT 426/109). 
Caso 3 – Estabelecimento industrial em zona residencial. Intimação para 
fechar. Ato legal. Inexistência de violação de direito líquido e certo. Segurança 
cassada (RT 426/103). 
Caso 4 – Toldos sobre passeios. Colocação com infração de lei municipal. 
Autuação do fabricante. Segurança concedida (RT 407/185). 
Caso 5 – Fábrica. Ruídos. Poluição. Licença cassada. Ilegalidade. Falta de 
notificação para eliminá-los. Segurança concedida (RT 456/1999). 
Caso 6 – Lonas de pneumático e aparas de borracha utilizadas por 
indústria como combustível. Poluição do ar. Apreensão por autoridade 
sanitária. Segurança impetrada. Denegação (RT 394/176). 
Caso 7 – Autoridade policial que ameaça instaurar inquérito contra o 
paciente, se não se mudar da cidade. Inadmissibilidade. Excesso do poder de 
polícia. Concessão de habeas corpus (RT 363/64). 
5. AS ENTIDADES ESTATAIS 
As entidades estatais são a União, os Estados e os Municípios com as 
suas diversas e variadas repartiçõesadministrativas, bem como as suas 
autarquias. As autarquias são entes públicos autônomos, com personalidade 
jurídica e patrimônio próprios, detentoras de uma parcela do poder estatal, 
destacadas da administração direta, com a finalidade de descentralizar os 
serviços públicos. Exemplo de autarquia: INSS. 
As autarquias gozam dos mesmos privilégios que a entidade estatal que 
as criou. 
 
6. AS ENTIDADES PARAESTATAIS 
Também com a finalidade de descentralização dos serviços públicos, 
existem entidades, como as abaixo indicadas, que assumem forma civil, 
embora sejam públicas na essência. 
Empresas Públicas – são pessoas jurídicas de direito privado, mas com 
capital inteiramente público, como o Banco Nacional do Desenvolvimento 
Econômico e Social, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos etc. 
Sociedades de Economia Mista – são pessoas jurídicas de direito privado, 
formadas com capital público e particular, com predominância de direção 
estatal. Regem-se pelas regras das sociedades comerciais, mas não estão 
sujeitas à falência. Exemplo: Petrobras. 
Fundações Públicas – constituem uma universalidade de bens, com 
personalidade jurídica própria, destacada do patrimônio da entidade estatal 
instituidora, com finalidades predeterminadas, administrada por curadores 
nomeados na forma do estatuto. Exemplos: Fundação Nacional do Índio, 
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística etc.43 
Entes de colaboração – são organizações que auxiliam o Estado, mas não 
se enquadram na administração direta, nem na indireta. Exemplo são os 
serviços sociais autônomos, como o SENAI ou o SESI. 
 
7. ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA 
A Administração Pública é denominada direta quando exercida pelos 
próprios órgãos estatais. E é denominada indireta quando exercida através 
das autarquias ou das entidades paraestatais. 
 
8. SERVIÇOS PÚBLICOS 
Como ensina MÁRIO MASAGÃO, serviço público administrativo é toda 
atividade que o Estado exerce para cumprir seus fins, exceto a judiciária.44 
Varia bastante, porém, o conceito dos fins do Estado, e de quais seriam os 
serviços que o mesmo deveria assumir, dependendo da filosofia política de 
cada época e das características de cada país. 
De qualquer forma, todos concordam que o serviço público deve ser geral, 
uniforme, regular e contínuo, e que deve tutelar o direito e o bem-estar geral. 
9. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS: A CONCESSÃO, A 
PERMISSÃO E A AUTORIZAÇÃO 
O Poder Público pode delegar a particulares a execução de tarefas de 
interesse público, através da concessão, da permissão ou da autorização. 
Concessão – A concessão pode ser de serviços, de obras ou de uso de 
bem público. 
 
Na concessão de serviços o particular firma um contrato com a 
Administração Pública, obrigando-se a fazer funcionar certo serviço público, 
como uma balsa, por exemplo, por sua própria conta e risco, mediante a 
percepção de uma tarifa, paga pelos usuários. 
Na concessão de obra pública o particular se compromete a construir uma 
determinada obra, como uma estrada ou uma ponte, explorando-a por certo 
tempo, e devolvendo-a depois sem ônus à Administração. 
Na concessão de uso de bem público o particular fica com o direito de se 
instalar em determinado bem da Administração, como um box do mercado, 
explorando ali uma atividade lucrativa. 
A concessão é um contrato administrativo bilateral, oneroso, comutativo, 
sucessivo, formal, principal, e consensual. 
O contrato de concessão pode ser alterado ou extinto unilateralmente pelo 
Poder Público concedente, a qualquer momento, garantida porém a 
indenização ao concessionário pelos danos emergentes e lucros cessantes 
que tiver. 
Entre os favores concedidos ao concessionário podem estar o privilégio de 
exclusividade, isenções fiscais, utilização de bens públicos, faculdade de 
promover desapropriações etc. 
Permissão – Através da permissão o Poder Público delega a um particular, 
a título precário, a execução de determinado serviço, por sua própria conta e 
risco, mediante a percepção de uma tarifa, paga pelo usuário. Dá-se por ato 
unilateral e discricionário do Poder Público, por meio de contrato de adesão 
(Lei 8.987/1995, art. 40). 
Salvo estipulação em contrário, a permissão não implica em exclusividade 
e pode ser revogada a qualquer momento. Tem aplicação em vários serviços 
públicos transitórios ou permanentes. No transporte coletivo, por exemplo, as 
Administrações têm preferido a permissão ao invés da concessão. 
Autorização – A autorização é um instituto semelhante à permissão, 
caracterizando-se porém em ser ainda mais precária do que esta, e por ter 
uma regulamentação menos rígida. Entre os serviços autorizados, contam-se 
os serviços de táxi, de guarda particular etc. 
 
9.1 Parceria público-privada 
A parceria público-privada, criada pela Lei 11.079/2004, é uma modalidade 
especial de concessão de serviços públicos. 
O contrato depende de concorrência pública, consulta pública e criação de 
uma sociedade chamada “sociedade de propósito específico”, formada 
especialmente para gerir o objeto da parceria. 
O parceiro privado pode cobrar tarifa dos usuários e receber subsídio do 
parceiro público (concessão patrocinada). Ou ser pago integralmente pelo 
parceiro público (concessão administrativa). 
10. OS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS 
Contrato é a convenção estabelecida entre duas ou mais pessoas, para 
constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial. A 
validade do contrato exige acordo de vontades, agente capaz, objeto lícito e 
forma prescrita ou não proibida em lei. 
O contrato administrativo caracteriza-se pela participação do Poder 
Público, como parte predominante, e pela finalidade de atender a interesses 
públicos. 
Tem ainda o contrato administrativo as seguintes características especiais: 
Intransferibilidade – em regra, o particular não pode ceder seus direitos 
contratuais, e o cumprimento das obrigações assumidas perante a 
Administração não pode ser delegado a outrem. 
Alterabilidade – a qualquer tempo, pode a Administração alterar o contrato, 
cabendo porém indenização. 
Revogabilidade – a qualquer tempo, pode a Administração revogar o 
contrato, cabendo porém indenização. 
Prorrogabilidade – pode a Administração, no interesse público, prorrogar 
um contrato, sem nova concorrência pública, mediante termo aditivo.45 
Execução inafastável – o particular não pode interromper a obra ou o 
serviço contratado, sob a alegação de que o Poder Público não está 
cumprindo a sua parte; cabe-lhe continuar o trabalho, podendo porém obter a 
indenização dos prejuízos e a rescisão do contrato.46 
Publicidade – salvo determinação expressa em contrário, a validade do 
contrato administrativo, exige a sua publicação no órgão oficial. 
Licitação prévia – em regra, o contrato administrativo é obrigatoriamente 
precedido de licitação, sob pena de nulidade. 
 
Podem ser objeto do contrato administrativo a execução de serviços e de 
obras, bem como o fornecimento de coisas e a concessão de serviços, de 
obras e de uso. 
11. A LICITAÇÃO 
A licitação corresponde a um procedimento prévio de escolha do 
contratante pela Administração, sendo obrigatória para todas as entidades 
controladas direta ou indiretamente pelo poder público. As licitações regulam-
se pela Lei 8.666, de 21.06.1993. 
A licitação é dispensável em certos casos, como na ocorrência de guerra 
ou grave perturbação da ordem. E é inexigível quando não houver 
possibilidade de competição, como na contratação de artista consagrado ou 
de serviço técnico especializado. 
O procedimento da licitação é sempre público, proibidos quaisquer 
critérios sigilosos, secretos ou subjetivos. 
O objeto da licitação será adjudicado ao apresentador da melhor proposta, 
dentro dos critérios fixados.Após o julgamento de eventuais recursos, a 
adjudicação feita pela Comissão de Licitação será homologada pela 
autoridade administrativa superior, tornando-se então definitiva. 
11.1 Espécies de licitação 
Licitação é o termo genérico, que engloba a concorrência, a tomada de 
preços, o convite, o concurso, o leilão e o pregão. É proibida a criação de 
outras modalidades de licitação ou a combinação destas. 
A concorrência é usada para contratos de vulto, de acordo com os valores 
estabelecidos na lei, corrigidos periodicamente. 
A tomada de preços é usada para contratos de valor médio, com a 
participação de interessados já cadastrados. 
Convite é a licitação adequada para valores mais reduzidos, estabelecidos 
na lei e corrigidos periodicamente, com a participação de três interessados, no 
mínimo, escolhidos pela unidade administrativa. 
Nos casos em que couber convite, a Administração poderá utilizar a 
tomada de preços e, em qualquer caso, a concorrência. 
Concurso é a licitação adequada para escolha de trabalho técnico, 
científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos 
vencedores. 
O leilão é usado na venda de bens móveis inservíveis ou de produtos 
apreendidos, por lance igual ou superior ao da avaliação. 
O pregão é um sistema misto, com o recebimento prévio de propostas, 
seguido de um leilão restrito aos que oferecerem as melhores propostas (Lei 
10.520/2002). 
 
11.2 Critérios para a avaliação das propostas 
Em regra, o critério para a avaliação da melhor proposta é o do menor 
preço. Mas no caso de serviço predominantemente intelectual podem ser 
usados os critérios de “melhor técnica” ou de “técnica e preço”. 
Havendo empate, faz-se o desempate por sorteio (Lei 8.666/1993, art. 45, 
§ 2.º). 
 
11.3 Sanções administrativas e criminais 
Na área administrativa, havendo atraso no cumprimento, ou 
descumprimento do contrato, pode ser imposta multa, advertência, suspensão 
temporária de participação em licitações, ou declaração de inidoneidade para 
licitar ou contratar com a Administração. 
Na área criminal, a lei estabeleceu várias figuras penais, como, por 
exemplo, fraudar a licitação, dispensar a licitação fora das hipóteses previstas 
na lei, impedir ou perturbar qualquer ato de licitação, devassar o sigilo de 
proposta, contratar com empresa declarada inidônea etc. As penas variam, 
conforme o caso, de 6 meses a 6 anos de detenção, e multa. 
11.4 Efeitos da adjudicação 
Como vimos, a adjudicação atribui a obra ou o serviço ao vencedor da 
licitação. 
A adjudicação homologada confere ao vencedor o direito ao contrato, com 
preferência sobre qualquer terceiro. Mas o momento e a oportunidade da 
assinatura do contrato fica ainda na dependência da vontade discricionária da 
Administração. Havendo motivo justo e fundamentado, de interesse público, 
pode o contrato não se concretizar. 
A licitação pode ser revogada a qualquer tempo pela Administração, se 
surgir motivo ponderável, de interesse público, que passe a desaconselhar a 
realização da obra ou do serviço. 
Se houver irregularidade ou ilegalidade no decorrer da licitação, o caso 
não será de revogação, mas de anulação, que pode ser decretada pela 
própria Administração ou pelo Poder Judiciário. 
12. BENS PÚBLICOS 
Bens públicos de uso comum são os que estão fora do comércio e podem 
ser utilizados por todos, como os mares, os rios, as estradas, as ruas e as 
praças, tendo o Poder Público a administração dos mesmos. 
Bens públicos dominicais são os de propriedade da União, dos Estados ou 
dos Municípios que não possuem destinação pública e podem ser alienados. 
Bens públicos de uso especial são também de propriedade da União, dos 
Estados ou dos Municípios, mas com uma destinação específica, como os 
prédios onde funcionam as repartições públicas. Enquanto perdurar esta 
destinação especial, são absolutamente inalienáveis. 
Os bens públicos são impenhoráveis e não estão sujeitos ao usucapião 
(CF, arts. 183, § 3.º, e 191, parágrafo único; STF, Súmula 340; CPC, art. 649, 
I). 
 
13. SERVIDORES PÚBLICOS 
Regime jurídico. O regime jurídico é o estatutário para os servidores 
públicos e o celetista para os chamados empregados públicos, ambas as 
classes só admitidas, em regra, mediante concurso. 
Remuneração. Os servidores públicos recebem vencimentos, formados 
pelo vencimento padrão, mais vantagens, como adicionais e gratificação. Os 
membros de Poder, porém, recebem subsídio, fixado em parcela única (CF, 
art. 39, § 4.º). 
Estabilidade. A estabilidade é adquirida pelo servidor concursado, após 
três anos no exercício de cargo efetivo e aprovação em avaliação de 
desempenho. O estável só pode ser demitido mediante processo 
administrativo, com ampla defesa, sentença judicial transitada em julgado, ou 
desempenho insuficiente, demonstrado em avaliação periódica. Pode também 
ser exonerado em consequência de excesso de despesa com pessoal, de 
acordo com critérios a serem fixados em lei complementar (CF, arts. 41 e 
169). A demissão tem caráter de penalidade. A exoneração, ao contrário, é 
uma dispensa sem nenhuma conotação de penalidade. 
Vitaliciedade. Na vitaliciedade a demissão só pode dar-se em virtude de 
sentença judicial transitada em julgado. São vitalícios os juízes de direito e 
membros do Ministério Público e dos Tribunais de Contas. O prazo para a 
aquisição da vitaliciedade é de dois anos. 
Acumulação de cargos. Em princípio, não cabe acumulação de cargos no 
serviço público, salvo algumas exceções, previstas no art. 37, XVI, da CF, 
como a acumulação de dois cargos de professor. 
Penalidades. Entre as penalidades estão a advertência, a suspensão por 
até 90 dias, a demissão (nos casos graves) e a cassação de aposentadoria 
(por falta cometida quando ainda na ativa). 
Seção III 
 
Sumário: 1., O fato típico: 1.1 Conceito de crime; 1.2 O fato típico; 1.3 O 
tipo; 1.4 A tipicidade; 1.5 A conduta; 1.6 Formas de conduta. Ação e omissão; 
1.7 O dolo; 1.7.1 Espécies de dolo; 1.8 A culpa; 1.8.1 Espécies de culpa; 1.9 
O preterdolo; 1.10 A teoria tradicional ou causalista da ação; 1.11 A teoria 
finalista da ação; 1.12 O resultado; 1.13 A relação de causalidade; 1.14 
Crimes materiais, formais e de mera conduta; 1.15 Erro de tipo – 2. A 
antijuridicidade: 2.1 Conceito de antijuridicidade; 2.2 Causas justificativas ou 
de exclusão da antijuridicidade; 2.3 O estado de necessidade; 2.4 A legítima 
defesa; 2.5 O estrito cumprimento de dever legal; 2.6 Exercício regular de 
direito – 3. A culpabilidade: 3.1 Conceito e elementos da culpabilidade; 3.2 A 
imputabilidade; 3.3 A consciência potencial da ilicitude; 3.4 A exigibilidade de 
conduta diversa; 3.5 A emoção, a paixão e a embriaguez; 3.6 Erro de 
proibição (ou sobre a ilicitude do fato); 3.7 Diferença entre erro de tipo e erro 
de proibição – 4. Crimes ou delitos. Contravenções – 5. Autoria e participação 
– 6. A tentativa – 7. O crime impossível – 8. Concurso de crimes: 8.1 
Concurso material de crimes; 8.2 Concurso formal de crimes; 8.3 Crime 
continuado – 9. Reincidência – 10. As penas – 11. Sistemática da substituição 
das penas privativas de liberdade – 12. Regimes de cumprimento das penas 
privativas de liberdade – 13. Medidas de segurança – 14. O sursis – 
Suspensão condicional da pena – 15. O livramento condicional – 16. Ação 
penal: 16.1 Extinção da punibilidade – 17. Prescrição – 18. A responsabilidade 
penal da pessoa jurídica. 
1. O FATO TÍPICO 
1.1 Conceito de crime 
A doutrina define o crime como sendo o “fato típico e antijurídico” 
(DAMÁSIO DE JESUS, MIRABETE). Considera-se fato típico o que 
corresponde à descrição do crime, feita pela lei. Considera-se antijurídico o 
fato que, além de típico, não tem a seu favor nenhuma justificativa como a 
legítima defesa ou o estado de necessidade.47 
O fato, portanto, àsvezes é típico, ou seja, corresponde a uma descrição 
penal, como, por exemplo, o fato de matar alguém, mas, ainda assim, não é 
crime, por estar autorizado ou justificado pela legítima defesa ou outra 
excludente legal. 
Crime é o fato típico e antijurídico 
1.2 O fato típico 
O fato típico compõe-se de vários elementos, desdobrando-se em 
tipicidade, conduta, resultado e relação de causalidade. 
1.3 O tipo 
Denomina-se tipo a descrição do fato criminoso feita pela lei. O tipo é um 
esquema, ou uma fórmula, que serve de modelo para avaliar se determinada 
conduta está incriminada ou não. O que não se ajusta ao tipo não é crime. O 
direito penal não aceita o ajuste por mera analogia ou semelhança. 
Cada um dos artigos incriminadores do Código Penal é um tipo. O tipo 
básico do crime de homicídio está assim redigido: “Art. 121. Matar alguém: 
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”. E o tipo do crime de quadrilha 
ou bando vem assim moldado: “Art. 288. Associarem-se mais de três 
pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena – 
reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos”. 
1.4 A tipicidade 
A tipicidade consiste no ajuste perfeito do fato ao tipo, ou seja, na exata 
correspondência do fato praticado com a descrição legal existente. Quando 
não há tipicidade não há crime. 
No crime de quadrilha ou bando, acima citado, por exemplo, não haverá 
tipicidade se a associação reunir apenas duas ou três pessoas, vez que o tipo 
exige um mínimo de quatro (mais de três). Assim também se a finalidade se 
voltar apenas para a prática de contravenções ou irregularidades 
administrativas, pois o tipo exige a deliberação específica de cometer crimes. 
1.5 A conduta 
A conduta ou ação é o comportamento humano, avaliado pelo direito. É 
necessário que a ação seja voluntária e consciente, não se considerando 
ação o ato meramente reflexo ou inconsciente. 
1.6 Formas de conduta. Ação e omissão 
As infrações penais podem ser praticadas por ação (crimes comissivos) ou 
por omissão (crimes omissivos). Os crimes comissivos consistem num fazer, 
numa ação positiva. Os crimes omissivosconsistem na abstenção da ação 
devida (não fazer o que a lei mandava que fosse feito), como no crime de 
omissão de socorro. 
Há também a classe dos crimes comissivos por omissão. Estes só podem 
ser praticados por certas pessoas, chamadas “garantes”, que por lei têm o 
dever de impedir o resultado, e a obrigação de proteção e vigilância, como 
parentes próximos entre si, ou o guia de uma caravana de alpinistas.48 
Exemplo clássico de crime comissivo por omissão é o da mãe que deixa 
de alimentar seu bebê, causando-lhe a morte. 
Característica dos crimes comissivos por omissão é a de terem a 
descrição, ou o tipo, de crimes de ação, sendo perpetrados, porém, 
excepcionalmente, através de uma omissão. 
 
1.7 O dolo 
O dolo consiste no propósito de praticar o fato descrito na lei penal. 
Crimes dolosos são os crimes intencionais. Diz-se o crime doloso, quando o 
agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 
Na teoria clássica o dolo faz parte da culpabilidade, como uma de suas 
formas. Na teoria finalista da ação, porém, o dolo faz parte da conduta e, em 
consequência, do tipo, pois a conduta é o primeiro elemento do tipo. 
1.7.1 Espécies de dolo 
Dolo direto é aquele em que o agente quer o resultado. 
Dolo eventual é aquele em que o agente não visa diretamente o resultado, 
cuja possibilidade de ocorrência, porém, não o afasta da conduta, assumindo 
ele assim o risco deliberado de produzir o resultado. Exemplo: terrorista que 
faz explodir uma bomba na rua, pouco se lhe dando se irá ferir alguém ou 
não. 
Dolo específico é o referente a um fim especial buscado pelo agente, 
mencionado na lei, como o fim libidinoso ou o fim de lucro. Tem também a 
denominação de “elemento subjetivo do injusto”. 
Dolo de dano é aquele em que o agente quer ou assume o risco de causar 
dano efetivo. 
Dolo de perigo é o voltado apenas para a criação de um perigo (o próprio 
perigo constitui o resultado previsto na lei), como o crime de perigo de 
contágio venéreo (CP, art. 130). 
Diz-se o crime doloso quando o agente quis o resultado (dolo direto), ou 
assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual). 
 
1.8 A culpa 
A culpa consiste na prática não intencional do fato delituoso, faltando, 
porém, o agente a um dever de atenção e cuidado. As modalidades da culpa 
são: a negligência, a imprudência e a imperícia. 
Diz-se o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado por 
imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, do CP). 
A negligência é a displicência, o relaxamento, a falta de atenção devida, 
como não observar a rua ao dirigir. Imprudência é a conduta precipitada ou 
afoita, a criação desnecessária de um perigo, como dirigir veículo em excesso 
de velocidade. A imperícia é a falta de habilidade técnica para certas 
atividades, como não saber manobrar direito um veículo. 
A essência da culpa está na previsibilidade. Se o agente não podia prever 
as consequências de sua ação, não há culpa. 
A forma culposa só é punida se houver disposição expressa da lei nesse 
sentido. 
1.8.1 Espécies de culpa 
Culpa inconsciente é a culpa comum. Fato previsível, mas não previsto 
pelo agente. 
Culpa consciente é uma forma excepcional de culpa, em que o agente 
prevê o resultado, mas acredita que não acontecerá nada, por confiar 
erradamente na sua perícia ou nas circunstâncias. 
Exemplo: um motorista tira uma “fina” de um transeunte. Prevê a 
possibilidade de ferir a vítima, mas confia imprudentemente na sua perícia e 
vem a causar o dano. 
Culpa imprópria (ou culpa por extensão) é uma forma excepcional de 
culpa em que o agente quer o resultado, mas só o deseja por engano ou 
precipitação, como no caso daquele que atira numa pessoa na sala, 
pensando defender-se de um ladrão, quando se tratava de um visitante 
(precipitação injustificada). 
 
1.9 O preterdolo 
O crime é preterdoloso quando o resultado, por imprudência do agente, vai 
além da intenção inicial. Pedro, por exemplo, quer ferir Paulo apenas de modo 
leve, mas acaba causando lesões graves ou a morte da vítima. João dá um 
soco no rosto de Albino; este cai com a cabeça numa pedra e morre. 
Dolo na agressão inicial; culpa na consequência mais grave, previsível, 
mas não prevista. 
1.10 A teoria tradicional ou causalista da ação 
Para a teoria tradicional, a ação era um movimento corporal voluntário 
(LIZT, BELING). O exame da ação era dividido em duas fases. Numa primeira 
fase, verificava-se apenas se a conduta era voluntária ou não e se a mesma 
tinha causado o resultado (daí o nome de teoria causalista). 
O dolo e a culpa ficavam para ser examinados numa fase posterior, em 
separado, por ocasião da verificação da culpabilidade. Dolo e culpa figuravam 
então como as duas espécies de culpabilidade. 
1.11 A teoria finalista da ação 
A teoria finalista da ação (de WELZEL) considerou que a ação não é 
apenas um movimento corporal voluntário, mas uma atividade psiquicamente 
dirigida para a prática de um determinado fato (ação finalista). Por isso, o 
dolo, ou o propósito da ação, passou a ser examinado desde logo, com a 
conduta, para verificar se a ação tinha ou não como fim a realização do fato 
típico. 
A culpa também passou a ser examinada sob o critério da finalidade da 
ação, só que, neste caso, o fim visado pelo agente é geralmente lícito e 
indiferente ao direito, ocorrendo, porém, o dano pela falha da cautela devida. 
Dolo e culpa foram então retirados da culpabilidade e inseridos na 
conduta, passando em consequência a fazer parte do tipo, vez que a conduta 
é o primeiro elemento do tipo. 
1.12 O resultado 
Existem crimes de resultado e crimes de mera conduta. Nos crimes de 
resultado, o tipo descreve um determinadoresultado que o agente alcança ou 
tenta alcançar. 
Nos crimes de mera conduta, o tipo não descreve nenhum resultado, pelo 
qual a lei se desinteressa, como no crime de omissão de notificação de 
doença (CP, art. 269). 
1.13 A relação de causalidade 
Entre a ação e o resultado deve existir uma relação de causa e efeito, 
considerando-se causa toda a ação ou omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido (CP, art. 13, segunda parte). 
Mas a responsabilidade é excluída se sobrevier outra causa, relativamente 
independente, que por si só produza o resultado, como a morte da vítima no 
hospital, em virtude de desabamento. 
1.14 Crimes materiais, formais e de mera conduta 
Crimes materiais são aqueles em que o tipo descreve uma ação e um 
resultado destacado da ação, sem o qual a infração não se consuma. 
Constituem a maioria dos tipos penais dispostos na legislação vigente. 
Crimes formais são aqueles cujo resultado surge ao mesmo tempo em que 
se desenrola a conduta, como no crime de ameaça ou de injúria verbal.49 
Crimes de mera conduta, como já vimos, são aqueles em que o tipo não 
descreve resultado, consumando-se a infração com a simples conduta, como 
no crime de violação de domicílio ou no de omissão de socorro. 
1.15 Erro de tipo 
Denomina-se erro de tipo o engano do agente sobre alguma circunstância 
da descrição legal. 
O engano pode referir-se a uma situação de fato (elemento objetivo do 
tipo), como atirar numa pessoa, pensando tratar-se de uma figura de cera. 
O engano do agente pode versar também sobre o significado de uma 
expressão da lei (elemento normativo do tipo), como, por exemplo, a 
expressão “ato obsceno” ou “sem justa causa”. 
O erro de tipo exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se o 
fato for punível a título de culpa. 
2. A ANTIJURIDICIDADE 
2.1 Conceito de antijuridicidade 
Para que exista crime não basta ser o fato típico. É necessário também 
que seja antijurídico, pois crime é o fato típico e antijurídico. 
Age de modo antijurídico quem pratica um fato típico, sem que para isso 
tenha uma justificativa legal, como a legítima defesa ou o estado de 
necessidade. 
A antijuridicidade consiste, portanto, em dois elementos: (a) prática de um 
fato típico; (b) ausência de uma causa de justificação. 
2.2 Causas justificativas ou de exclusão da antijuridicidade 
A antijuridicidade ou ilicitude do fato típico é excluída por certas 
justificativas, tornando-se o fato lícito, embora típico. 
As principais justificativas são o estado de necessidade, a legítima defesa, 
o estrito cumprimento de dever legal e o exercício regular de direito (CP, art. 
23). 
As justificativas, na lei penal, reconhecem-se pela expressão “não há 
crime”. Não há crime, por exemplo, se o fato é praticado em legítima defesa. 
2.3 O estado de necessidade 
Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar 
de perigo atual (ou iminente), que não provocou por sua vontade, nem podia 
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era razoável exigir-se (CP, art. 24). 
Exemplo de estado de necessidade é a disputa de náufragos pela posse 
de uma tábua de salvação. 
O bem sacrificado deve ter valoração igual ou inferior ao bem preservado. 
Caso contrário não haverá exclusão do crime, mas apenas a possibilidade de 
redução de pena (CP, art. 24, § 2.º). 
Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de 
enfrentar o perigo, como o bombeiro ou o policial no exercício das funções. 
2.4 A legítima defesa 
Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de 
outrem (CP, art. 25). 
A defesa deve ser contra ser humano. Contra animais ou coisas poderá 
haver estado de necessidade, mas não legítima defesa. A agressão a ser 
repelida deve ser injusta. Não é injusta, por exemplo, a detenção dentro dos 
requisitos da lei. 
A agressão deve ser atual ou iminente (acontecendo ou em vias de 
acontecer), não se estendendo a justificativa a agressões passadas ou 
futuras. O bem defendido pode ser próprio ou alheio, pessoal ou patrimonial. 
A reação deve ser moderada, proporcional, dentro do possível, à 
agressão. Os meios devem ser necessários. Exemplo clássico de imoderação 
e de meios não necessários é o de matar a tiros um menor, para impedir a 
subtração de frutos de uma árvore. 
O excesso da reação pode ser punido a título de dolo ou de culpa, se for o 
caso (CP, art. 23, parágrafo único). 
2.5 O estrito cumprimento de dever legal 
Não há crime quando o agente pratica o fato em estrito cumprimento de 
dever legal, como no caso do policial que efetua uma prisão em flagrante (CP, 
art. 23, III, primeira parte). 
2.6 Exercício regular de direito 
Não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de 
direito, como na intervenção cirúrgica ou na violência esportiva, desde que 
respeitadas as regras da atividade (art. 23, III, segunda parte, CP). 
3. A CULPABILIDADE 
3.1 Conceito e elementos da culpabilidade 
O crime existe desde que haja tipicidade e antijuridicidade. Mas a 
imposição da pena fica ainda na dependência de mais um elemento: a 
culpabilidade. 
Na teoria tradicional ou causalista, a culpabilidade compunha-se do dolo e 
da culpa em sentido estrito (negligência). Dolo e culpa eram as duas espécies 
da culpabilidade. Pertencia também à culpabilidade o fator da imputabilidade 
do agente, como pressuposto da culpa, e, para alguns autores também a 
inexigibilidade de outra conduta. 
A teoria finalista da ação, porém, tirou o dolo e a culpa da culpabilidade, 
inserindo-os na ação, e, em consequência, no tipo, vez que a ação é o 
primeiro elemento do tipo. 
Esvaziou-se assim a culpabilidade do dolo e da culpa. 
Em compensação, passou-se a entender que a culpabilidade é um juízo 
de reprovação (de censurabilidade), cujos elementos ou requisitos são 
a imputabilidade, a consciência potencial da ilicitudee a exigibilidade de 
conduta diversa. 
 
3.2 A imputabilidade 
A imputabilidade refere-se à capacidade do agente de ser 
responsabilizado penalmente. 
Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos 
apenas às normas do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Os doentes mentais, conforme o grau da doença que os aflige, têm 
responsabilidade criminal excluída ou reduzida, podendo ficar sujeitos não a 
uma pena, mas apenas a uma medida de segurança. 
3.3 A consciência potencial da ilicitude 
A consciência potencial da ilicitude é o segundo requisito da culpabilidade. 
Diz-se também consciência potencial da antijuridicidade, expressão sinônima. 
A consciência da ilicitude, por parte do agente, não precisa ser efetiva. 
Basta a demonstração de que ele poderia saber que o fato é ilícito, se se 
esforçasse nesse sentido ou observasse melhor as circunstâncias. 
3.4 A exigibilidade de conduta diversa 
O terceiro requisito da culpabilidade é a exigibilidade de conduta diversa. 
Refere-se ao fato de se saber se, nas circunstâncias, seria exigível que o 
acusado agisse de modo diverso. 
Não haverá pena se, nas circunstâncias, for impossível para o acusado 
agir de outra forma. 
A avaliação deve ser feita em função de um acusado real, diante das 
circunstâncias concretas, com base nos padrões sociais vigentes. 
Na prática esse requisito tem tido pouca ou nenhuma aplicação. A não ser 
nos casos expressamente referidos na lei, como a coação moral irresistível ou 
a obediência hierárquica, a ordem não manifestamente ilegal (CP, art. 22). 
Mas aí a teoria da inexigibilidade não tem função autônoma, figurando 
mais como fundamento ou pressuposto de uma justificativa legal. 
3.5 A emoção, a paixão e a embriaguez 
Não excluem nem diminuem a responsabilidade penala emoção, a paixão 
e a embriaguez (CP, art. 28). 
Se a embriaguez for proveniente de causa alheia à vontade do agente, 
poderá haver isenção ou diminuição de pena, conforme o grau de 
comprometimento das faculdades mentais. 
3.6 Erro de proibição (ou sobre a ilicitude do fato) 
A princípio, não exime de pena o desconhecimento da lei. Mas se o 
agente, por erro inevitável, julgar lícita uma conduta proibida, estará isento de 
pena. Se o erro for evitável, a pena poderá ser diminuída de um sexto a um 
terço. 
Exemplo de erro de proibição é o do turista, vindo de país que admite a 
poligamia, que se casa duas vezes, ignorando incorrer em crime de bigamia. 
Como ensina WESSELS, no erro de proibição o agente sabe o que faz, mas 
supõe erroneamente que o fato é permitido. 
3.7 Diferença entre erro de tipo e erro de proibição 
O erro de proibição é diferente do erro de tipo. 
No erro de tipo, o agente se engana sobre o fato; pensa estar fazendo 
uma coisa, quando na verdade está fazendo outra, como, por exemplo, 
subtrair coisa alheia, julgando-a própria (ver “Erro de tipo”, n. 1.15 deste 
capítulo). 
No erro de proibição, o agente não se engana sobre o fato que pratica, 
mas pensa erroneamente que o mesmo é lícito (por exemplo, subtrair algo de 
um devedor, para cobrir uma dívida). 
O erro de tipo pode excluir o crime, ao passo que o erro de proibição pode 
excluir a culpabilidade e, em consequência, a pena. 
4. CRIMES OU DELITOS. CONTRAVENÇÕES 
As infrações penais dividem-se em crimes ou delitos e contravenções. Não 
há diferença entre crimes e delitos, palavras equivalentes, que podem ser 
usadas indistintamente. 
O crime difere da contravenção. Mas a diferença não é essencial, sendo 
apenas uma diferença de gravidade, a critério do legislador. 
Os crimes estão no Código Penal e em outras leis especiais. As 
contravenções estão relacionadas principalmente na Lei das Contravenções 
Penais. 
5. AUTORIA E PARTICIPAÇÃO 
Consideram-se autores do crime (ou coautores) aqueles que realizam a 
ação descrita no tipo. Consideram-se partícipes os que realizam ação 
acessória, não descrita no tipo, mas que contribui moral ou materialmente 
para o resultado. 
Em princípio, tanto autores como partícipes respondem da mesma forma, 
pois “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade” (CP, art. 29). 
Há, porém, um tratamento mais benevolente para aquele cuja participação 
foi de menor importância (redução de pena), ou do que quis participar de 
crime menos grave (aplicação da pena deste).50 
6. A TENTATIVA 
Diz-se o crime tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. Salvo disposição em contrário, 
pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, 
diminuída de um a dois terços (CP, art. 14, II, e parágrafo único). 
Não há tentativa no crime culposo. 
7. O CRIME IMPOSSÍVEL 
Ligado ao assunto da tentativa, encontra-se a teoria do crime impossível. 
Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por 
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime (CP, art. 
17). 
Dar açúcar à vítima, pensando que é arsênico, é uma ineficácia absoluta 
de meio. Atirar num cadáver, pensando tratar-se de pessoa viva, é uma 
impropriedade absoluta de objeto. 
8. CONCURSO DE CRIMES 
8.1 Concurso material de crimes 
Se o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou 
mais crimes, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade, 
até o limite de 30 anos (concurso material – CP, art. 69). Exemplo de 
concurso material: A mata B e fere C. 
8.2 Concurso formal de crimes 
No concurso formal o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica 
dois ou mais crimes, idênticos ou não. A pena aplicável será a mais grave, ou 
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um 
sexto até a metade (CP, art. 70). 
Exemplo de concurso formal: A agride B, mas atinge também a C, ferindo 
ambos. 
Mas se houve a intenção de atingir a ambos, as penas serão somadas, 
como no concurso material. 
8.3 Crime continuado 
Existe o crime continuado real e o crime continuado fictício. 
No crime continuado real o agente pratica uma série de ações com uma só 
finalidade, como, por exemplo, tirar todo dia um pedaço de lã, para no fim ficar 
com um novelo (ligação subjetiva e objetiva entre as várias ações). 
No crime continuado fictício o agente, na verdade, pratica vários crimes 
distintos, mas a lei finge que há uma continuidade entre eles, para aplicar uma 
pena só (ligação puramente objetiva entre as várias ações). Esta é a teoria 
adotada pelo Código Penal. 
“Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois 
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, 
maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser 
havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos 
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer 
caso, de um sexto a dois terços” (CP, art. 71).51 
9. REINCIDÊNCIA 
Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de 
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha 
condenado por crime anterior (CP, art. 63). Fica sem efeito a reincidência 
após 5 anos, contados do cumprimento ou da extinção da pena (CP, art. 64, 
I). 
10. AS PENAS 
As penas podem ser restritivas de liberdade, restritivas de direitos e multa. 
As restritivas de liberdade são: a reclusão e a detenção. Não existe mais 
diferença essencial entre reclusão e detenção. A lei usa esses termos mais 
como índices ou critérios para a determinação dos regimes de cumprimento 
da pena. 
A reclusão é cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A 
detenção é cumprida só nos regimes semiaberto ou aberto (salvo posterior 
transferência para regime fechado, por incidente da execução). 
As penas restritivas de direitos são as seguintes: (a) prestação 
pecuniária, inserida no CP pela Lei 9.714/1998; (b) perda de bens e valores; 
(c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, com 
tarefas gratuitas junto a hospitais, escolas ou orfanatos; (d) interdição 
temporária de direitos, com a proibição do exercício de profissão ou atividade, 
ou suspensão da licença para dirigir veículo; (e) limitação de fim de 
semana, com a obrigação de permanecer o condenado, aos sábados e 
domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro 
estabelecimento adequado. 
A pena de multa varia de 10 a 360 dias-multa, sendo que um dia-multa 
corresponde, no mínimo, a 1/30 do salário mínimo, e, no máximo, a 5 salários 
mínimos, conforme a situação econômica do réu. 
 
11. SISTEMÁTICA DA SUBSTITUIÇÃO DAS PENAS PRIVATIVAS DE 
LIBERDADE 
Sistematicamente deve o juiz, na sentença, procurar substituir a pena 
privativa de liberdade por uma restritiva de direitos ou pela multa (CP, art. 59, 
IV). A pena corporal, no caso, servirá de índice para a aplicação da pena 
substitutiva. 
Por exemplo, se não houver reincidência e a pena privativa de liberdade 
for inferior a um ano, deverá o juiz substituí-la por uma pena restritiva de 
direitos. 
O objetivo da lei é o de diminuir, tanto quanto possível, a aplicação das 
penas privativas de liberdade. 
12. REGIMES DE CUMPRIMENTO DAS PENAS PRIVATIVAS DE 
LIBERDADE 
Existem três regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade: (a) 
o regime fechado, a ser cumprido na penitenciária, para as penas de reclusão; 
(b) o regime semiaberto, a ser cumprido em colônia agrícola, industrial ou 
similar, nas penas de reclusão e detenção; (c) o regime aberto, cumprido em 
casa de albergado, para a reclusão e a detenção.52 
Os que cumprem pena em regime aberto ficam nacasa de albergado 
durante a noite e nos dias de folga, trabalhando normalmente, no emprego ou 
atividade própria, durante os dias úteis. 
A determinação do regime inicial depende de vários fatores, como 
reincidência ou não, tipo da pena (reclusão ou detenção), duração da pena 
(número de meses ou anos), e tipo de crime. 
Se a pena for maior que 8 anos de reclusão, por exemplo, o regime inicial 
terá de ser o fechado (CP, art. 33, § 2.º, a). Será semiaberto, com menos de 8 
anos e mais de 4 anos de reclusão (CP, art. 33, § 2.º,b). E poderá ser aberto 
se a pena for inferior a 4 anos de reclusão (CP, art. 33, § 2.º, c). Nos crimes 
hediondos o regime será inicialmente o fechado. 
 
Na detenção (sem reincidência) o regime inicial será o semiaberto (pena 
superior a 4 anos) ou o aberto (menos de 4 anos de detenção), salvo casos 
excepcionais em que haja necessidade de transferência para o regime 
fechado.53 
13. MEDIDAS DE SEGURANÇA 
De acordo com a doutrina, as medidas de segurança não são penas, mas 
tão somente meios defensivos da sociedade. A pena refere-se mais à 
gravidade do delito, ao passo que a medida de segurança preocupa-se com a 
periculosidade do agente. As penas encaram o passado. As medidas de 
segurança voltam-se para o futuro. 
As medidas de segurança são aplicáveis aos inimputáveis. E também, em 
caráter substitutivo da pena, aos semi-imputáveis. No direito atual não há 
mais cumulação de pena e medida de segurança, ou se aplica uma ou outra. 
As medidas de segurança consistem na internação em hospital de 
custódia e tratamento psiquiátrico ou na sujeição a tratamento ambulatorial, 
por tempo indeterminado, no mínimo de 1 a 3 anos, até a cessação da 
periculosidade, verificada em perícia médica. A desinternação ou liberação 
será sempre condicional (à cessação da periculosidade). 
 
14. OSURSIS – SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA54 
Se o condenado não for reincidente em crime doloso, pode a pena, se não 
for grave, ser suspensa, mediante certas condições e durante certo prazo, 
cumprindo ele a pena solto. 
Os requisitos para a concessão do benefício do sursis são os seguintes: 
(a) detenção ou reclusão não superior a dois anos; (b) antecedentes 
favoráveis; (c) não reincidência em crime doloso; (d) não cabimento da 
substituição por uma pena restritiva de direitos (CP, arts. 77 a 82). 
Além do sursis simples ou comum, acima mencionado, existem três outros 
tipos de sursis, com requisitos e condições um pouco diferentes. 
Temos assim, em acréscimo, o sursis etário, para maiores de 70 anos, 
o sursis por razões de saúde, para doentes graves, e ainda o sursis especial, 
para condenados com antecedentes inteiramente favoráveis e que, podendo, 
repararam o dano. 
 
15. O LIVRAMENTO CONDICIONAL 
O condenado que cumprir certa parte da pena privativa de liberdade 
poderá cumprir solto o período restante, no caso de detenção ou reclusão 
superior a dois anos. 
Os requisitos para o livramento condicional são os seguintes: cumprimento 
de mais de 1/3 (um terço) da pena; ou mais da 1/2 (metade) se houver 
reincidência em crime doloso;55 comportamento satisfatório; bom desempenho 
no trabalho carcerário, se houver; aptidão para manter-se fora da prisão, com 
trabalho honesto; a reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo (CP, 
arts. 83 a 90). 
16. AÇÃO PENAL 
Em regra, a ação penal é pública, devendo a autoridade agir de ofício 
(ação pública incondicionada). Em certos casos, porém, como no crime de 
ameaça, a autoridade não pode agir sem que assim o queira a vítima ou seu 
representante legal (ação pública condicionada).56 Em outros casos o próprio 
interessado – vítima ou algum dos colegitimados para tanto (cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão) – deve propor e conduzir a ação penal, 
como nos crimes de concorrência desleal (ação privada exclusiva), ou nos 
crimes contra a honra. 
A ação privada subsidiária é a que pode ser intentada pelo particular, se o 
Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal (arts. 100 a 106, CP). 
O interessado assim age para evitar a extinção da punibilidade por prescrição. 
 
16.1 Extinção da punibilidade 
A punibilidade, ou seja, a possibilidade de o sujeito ativo do delito ser 
responsabilizado penalmente pela prática da infração, extingue-se nas 
seguintes hipóteses: pela morte do agente; anistia, graça ou indulto; 
retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; pela 
prescrição, decadência ou perempção; renúncia do direito de queixa ou pelo 
perdão aceito, nos crimes de ação privada; pela retratação do agente e 
perdão judicial nos casos em que a lei a admite. 
17. PRESCRIÇÃO 
A prescrição extingue a punibilidade e se baseia na fluência do tempo. Se 
a aplicação da pena é por demais demorada, torna-se inútil e até injusta. Por 
isso as leis penais estabelecem tabelas de prescrição, extinguindo a 
punibilidade dos crimes que não foram punidos em tempo hábil. 
O crime de violação de domicílio, por exemplo, prescreve em três anos, e 
o de homicídio prescreve em vinte anos. 
Há, porém, crimes imprescritíveis, como, exemplo, os crimes resultantes 
de preconceito de raça ou de cor (art. 5.º, XLII, da Constituição Federal, e Lei 
7.716, de 05.01.1989). 
18. A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
A Lei 9.605, de 12.02.1998, que definiu crimes contra o meio ambiente, 
passou a responsabilizar penalmente também as pessoas jurídicas, 
juntamente com os seus dirigentes (art. 3.º). 
Quanto ao fator psíquico, a lei citada considera que o dolo ou a culpa da 
pessoa jurídica será o dolo ou a culpa demonstrados por seus dirigentes 
(elemento subjetivo transferido ou deslocado). 
A matéria restringe-se exclusivamente aos crimes contra o meio ambiente 
previstos na Lei 9.605/1998. 
Entre os crimes contra o meio ambiente estão: os crimes contra a fauna e 
a flora, contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, o crime de 
poluição e outros crimes ambientais. 
As penas aplicáveis às pessoas jurídicas são: multa, restrição de direitos e 
prestação de serviços à comunidade. Tratando-se de pessoa jurídica, as 
penas restritivas de direitos são a suspensão parcial ou total de atividade, a 
interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e a proibição de 
contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções 
ou doação (Lei 9.605/1998, art. 22). A prestação de serviços, no caso das 
pessoas jurídicas, é uma pena autônoma, podendo consistir em custeio de 
programas e de projetos ambientais, execução de obras de recuperação de 
áreas degradadas, manutenção de espaços públicos ou contribuição a 
entidades ambientais ou culturais públicas (Lei 9.605/1998, art. 23). 
A restrição de direitos pode consistir em suspensão parcial ou total de 
atividades, interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, e a 
proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, 
subvenções ou doações. 
Seção IV 
 
Sumário: 1. Conceito – 2. Divisões do Direito do Trabalho – 3. 
Irrenunciabilidade dos direitos e fraude à lei. 
INTRODUÇÃO 
1. CONCEITO 
O Direito do Trabalho rege as relações do trabalho subordinado e não 
eventual. Não abrange, portanto, o trabalho autônomo, como o dos 
profissionais liberais ou empreiteiros, nem o trabalho eventual, esporádico ou 
ocasional. Não abrange também as relações estatutárias dos servidores 
públicos. Abrange, em parte, o empregado doméstico, por se aplicarem a este 
apenas certas regras trabalhistas, e não todas. O trabalho rural foi equiparado 
ao urbano (CF, art. 7.º) e se regula pela Lei 5.889/1973. 
A disciplina tem recebido também a denominação de Direito Industrial, 
Direito Operário ou Legislação Social, sendo que, esta última, Legislação 
Social, merecia a preferência do mestre CESARINO JÚNIOR, que pontificava 
navelha e sempre nova academia do Largo de São Francisco. 
Em 1939 foi instituída a Justiça do Trabalho. Em 1943 editou-se a 
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. 
2. DIVISÕES DO DIREITO DO TRABALHO 
O Direito do Trabalho divide-se em quatro ramos: 
(a) Direito individual do trabalho, que se refere às relações entre o 
empregado, individualmente considerado, e o empregador; 
(b) o Direito coletivo do trabalho, que contempla as relações entre grupos 
ou associações de trabalhadores e de patrões, seus contratos e suas lutas; 
(c) o Direito judiciário do trabalho, que abrange o processo trabalhista e a 
Justiça do Trabalho; 
(d) o Direito previdenciário, que compreende o amparo ao trabalhador em 
várias contingências, como doença, invalidez, acidentes, morte, velhice etc. É 
um ramo que está se destacando do Direito do Trabalho para se tornar um 
ramo autônomo do Direito. 
3. IRRENUNCIABILIDADE DOS DIREITOS E FRAUDE À LEI 
Em princípio, as regras do Direito do Trabalho são de ordem pública, não 
podendo ser afastadas ou alteradas por convenção das partes, especialmente 
no que se refere às garantias mínimas do trabalhador. São nulos de pleno 
direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a 
aplicação dos preceitos trabalhistas (CLT, art. 9.º). 
 
 
Sumário: 1. Conceito – 2. Requisitos de validade – 3. Contratos por prazo 
indeterminado e por prazo determinado – 4. Períodos descontínuos de 
trabalho para o mesmo empregador. 
1. CONCEITO 
Contrato individual de trabalho é o acordo expresso ou tácito pelo qual 
uma pessoa física se obriga a prestar serviços não eventuais sob a 
dependência do empregador e mediante salário (CLT, arts. 2.º, 3.º e 442). 
A subordinação jurídica caracteriza-se como o direito do empregador de 
dar ordens e fiscalizar a atividade do empregado. 
Considera-se empregador a pessoa física ou jurídica que admite, assalaria 
e dirige a prestação pessoal de serviços. 
No caso de grupo de sociedades, constituído por uma controladora e suas 
controladas, são solidariamente responsáveis, para efeitos trabalhistas, tanto 
a empresa principal, ou de comando de grupo, como cada uma de suas 
subordinadas (CLT, art. 2.º, § 2.º). 
Havendo sucessão de empregadores, o sucessor responde pelas 
obrigações trabalhistas do sucedido. Alterações na estrutura jurídica da 
empresa não afetam os direitos dos empregados (CLT, art. 10). 
2. REQUISITOS DE VALIDADE 
O contrato de trabalho, como todo ato jurídico, requer acordo de vontades, 
agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não proibida por lei (CC, art. 
104). 
Os menores entre dezesseis e dezoito anos de idade são considerados 
relativamente incapazes, devendo ser assistidos por seus responsáveis ao 
firmarem o contrato de trabalho, presumindo-se a assistência se já houver 
Carteira de Trabalho e Previdência Social. 
O contrato de trabalho não exige formalidades especiais. Pode ser feito 
por escrito, pode ser oral. Pode até ser tácito ou implícito, sem ajuste prévio 
de condições, desde que se possa deduzir o acordo das partes, embora não 
declarado. Neste caso, as condições serão aquelas estabelecidas para os 
demais empregados, ou aquelas de uso e costume do lugar. 
A prova do contrato individual de trabalho é feita pelas anotações da 
Carteira de Trabalho e Previdência Social, por documento escrito, por 
testemunhas, ou por qualquer outro meio de prova. 
3. CONTRATOS POR PRAZO INDETERMINADO E POR PRAZO 
DETERMINADO 
Os contratos de trabalho firmam-se geralmente por prazo indeterminado, 
valendo enquanto não houver rescisão por uma ou por ambas as partes. 
Os contratos por prazo determinado são os que têm estipulada uma data 
ou uma ocasião pré-fixada para o seu término. A ocasião pode referir-se à 
conclusão dos serviços tratados, como a construção de uma máquina, ou a 
ocorrência de um fato, como a colheita de uma safra agrícola (CLT, art. 443, § 
1.º). 
Mas o contrato por prazo determinado não pode ser estabelecido por mais 
de dois anos (CLT, art. 445). Só pode ser prorrogado uma única vez (art. 
451). Não pode ser renovado antes de decorridos seis meses de contrato 
determinado anterior, salvo se este se referir à conclusão de serviços tratados 
ou a ocorrência de fato futuro (art. 452). 
O contrato de experiência é um tipo de contrato por prazo determinado, 
mas com duração máxima permitida de noventa dias, incluídos eventuais 
períodos fracionados. Depois de noventa dias, persistindo a prestação de 
serviços, o contrato de experiência transforma-se em contrato por prazo 
indeterminado (art. 445, parágrafo único). 
4. PERÍODOS DESCONTÍNUOS DE TRABALHO PARA O MESMO 
EMPREGADOR 
No tempo de serviço do empregado, quando readmitido, serão 
computados os períodos, ainda que não contínuos, em que tiver trabalhado 
anteriormente para o mesmo empregador. Em havendo consórcio 
empresarial, ao empregado readmitido numa empresa consorciada 
igualmente é assegurado o direito de somar o tempo anterior de serviço 
prestado à outra coligada. 
A essa regra, o art. 453 da CLT estabelece três exceções: (a) o período 
anterior não será computado no tempo de serviço quando o empregado foi 
despedido por falta grave; (b) quando foi legalmente indenizado; ou (c) 
quando se aposentou espontaneamente. 
 
 
Sumário: 1. Conceito – 2. Jornada prorrogada – 3. Horário noturno – 4. 
Períodos de descanso. 
1. CONCEITO 
Entende-se como jornada a duração do trabalho diário, ou o período em 
que o empregado, no dia, tem a obrigação de prestar serviços e ficar à 
disposição do empregador. 
A jornada máxima é de oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, 
facultada a compensação de horários (CF, art. 7.º, XIII). O excedente é 
considerado hora extra, com remuneração superior, no mínimo, em 50% à da 
hora normal (CF, art. 7.º, XVI). A Lei 9.601/1998 criou o banco de horas, 
possibilitando o não pagamento de adicional de hora extra, se for prevista 
compensação em acordo ou convenção coletiva (CLT, art. 59). 
A jornada pode ser menor, em certos casos, como a de seis horas para o 
trabalho em turnos ininterruptos de revezamento (CF, art. 7.º, XIV), a dos 
bancários, também de seis horas (CLT, art. 224), ou a dos médicos, de quatro 
horas (Lei 3.999/1961). 
2. JORNADA PRORROGADA 
A jornada de trabalho pode ser prorrogada por acordo das partes, até o 
limite de mais duas horas extras (CLT, art. 59). E também por necessidade 
imperiosa, independentemente de acordo ou contrato coletivo e sem limite de 
horas adicionais, quando houver motivo de força maior ou para atender à 
realização ou conclusão de serviços inadiáveis, ou cuja inexecução possa 
acarretar prejuízos (CLT, art. 61). 
3. HORÁRIO NOTURNO 
Considera-se horário noturno o período entre as 22 horas de um dia até as 
5 horas do dia seguinte. 
O art. 73, § 1.º, da CLT manda computar a hora de trabalho noturno como 
de 52 minutos e 30 segundos, enquanto o art. 73, caput, reza que a 
remuneração do trabalho noturno terá um acréscimo de 20%, pelo menos, 
sobre a hora diurna. 
“É devido o adicional de serviço noturno, ainda que sujeito o empregado 
ao regime de revezamento” (STF, Súmula 213). 
4. PERÍODOS DE DESCANSO 
Além das férias anuais e do descanso semanal remunerado, que serão 
estudados adiante, prevê a lei intervalos para descanso entre duas jornadas 
de trabalho e também dentro de uma mesma jornada. 
Entre duas jornadas de trabalho deverá haver um intervalo mínimo de 
onze horas (CLT, art. 66). 
Dentro de uma mesma jornada de trabalho não há intervalo se a jornada 
for inferior ou igual a quatro horas. Na jornada superior a quatro horas e 
inferior ou igual a seis horas, deverá haver um intervalo de quinze minutos. 
Sendo a jornada superior a seis horas, haverá um intervalo, para repouso e 
alimentação, não inferior a uma horae, salvo acordo escrito ou contrato 
coletivo em contrário, nunca superior a duas horas (CLT, art. 71). 
A Lei 8.923, de 27.07.1994, determinou que a não concessão do intervalo 
para repouso e alimentação obriga o empregador a remunerar o período 
correspondente com o acréscimo de no mínimo 50% sobre o valor da 
remuneração da hora normal de trabalho (CLT, art. 71, § 4.º). 
Nos serviços permanentes de mecanografia (datilografia, digitação, 
escrituração ou cálculo), a cada período de noventa minutos de trabalho 
consecutivo corresponderá um repouso de dez minutos não deduzidos da 
duração normal de trabalho (CLT, art. 72). 
 
 
O empregado tem direito a um dia de repouso semanal remunerado, 
preferencialmente aos domingos (CF, art. 7.º, XV; Lei 605/1949). 
No caso de empregado que trabalhe normalmente também aos domingos, 
o repouso semanal remunerado deverá coincidir com um domingo, pelo 
menos uma vez no período máximo de quatro semanas (Lei 10.101, de 
19.12.2000 – anterior MP 1.698 – ver também CLT, art. 67, parágrafo único). 
Excetuam-se os elencos teatrais. 
A remuneração do dia de descanso está condicionada à frequência 
integral na semana correspondente, salvo exceções previstas no art. 473 da 
CLT, como falta ao trabalho por motivo de luto, ou de casamento, ou de 
doação de sangue. 
No dia de repouso o empregado deverá ganhar o que costuma ganhar 
quando em serviço, computadas no cálculo as horas extras habitualmente 
prestadas (Lei 605/1949, art. 7.º). 
É devida a remuneração do repouso semanal e dos dias feriados ao 
empregado que trabalha por comissão (TST, Súmula 27). Pela Resolução 
TST 129/2005, os Enunciados passaram a ser denominados como “súmulas”. 
Feriados – O repouso remunerado abrange também os feriados. Quando o 
empregado trabalhar em feriado e o empregador não lhe conceder outro dia 
de folga em compensação, terá direito ao pagamento em dobro do salário 
correspondente ao dia do repouso trabalhado. Não serão acumuladas a 
remuneração do repouso semanal e a do feriado que recaírem no mesmo dia. 
 
 
Sumário: 1. Período aquisitivo – 2. Da concessão e da época de férias – 3. 
Remuneração das férias – 4. Férias vencidas e férias proporcionais – 5. 
Férias coletivas – 6. Férias do empregado doméstico – 7. Férias dos 
professores – 8. Prescrição. 
1. PERÍODO AQUISITIVO 
O direito a férias é adquirido após cada período de doze meses de 
vigência do contrato de trabalho, na proporção dada pelo art. 130 da CLT, 
variando de doze a trinta dias, conforme o número de faltas injustificadas 
dadas no período aquisitivo. Mais de 32 faltas injustificadas cancelam as 
férias. 
Não se consideram falta ao serviço, para o efeito de férias, os casos 
previstos nos arts. 131 e 473 da CLT, como, por exemplo, até três dias em 
virtude de casamento, ou um dia, em caso de nascimento de filho, no decorrer 
da primeira semana. 
O período de aviso-prévio integra o tempo de serviço (CLT, art. 487, § 1.º). 
2. DA CONCESSÃO E DA ÉPOCA DE FÉRIAS 
As férias devem ser concedidas dentro dos doze meses seguintes ao 
término do período aquisitivo, sob pena de pagamento em dobro (CLT, arts. 
134 e 137). 
A concessão das férias será num só período, salvo casos excepcionais, 
quando poderão ser divididas em dois períodos, nenhum inferior a dez dias 
corridos (CLT, art. 134, § 1.º). Aos menores de dezoito anos e aos maiores de 
cinquenta anos de idade, as férias serão sempre concedidas de uma só vez 
(CLT, art. 134, § 2.º). 
Um terço das férias pode ser convertido em dinheiro (CLT, art. 143). A 
época da concessão das férias cabe à empresa fixar. O empregado 
estudante, menor de dezoito anos, terá direito a fazer coincidir suas férias 
com as férias escolares (CLT, art. 136, § 2.º). 
3. REMUNERAÇÃO DAS FÉRIAS 
A remuneração das férias é igual à dos dias de trabalho, com o acréscimo, 
porém, de um terço a mais do que a remuneração normal (o chamado terço 
constitucional – CF, art. 7.º, XVII). Observe, porém, que o terço constitucional 
incide apenas sobre os 30 dias de férias, mas também sobre o pagamento 
dos dias eventualmente não gozados e trabalhados, pagos pela empresa 
(Súmula 328 do TST). 
No caso de remuneração variável, por produção, por tarefa, ou por 
comissão, deve-se calcular a média mensal da remuneração no período, 
atualizada até a data da concessão (CLT, art. 142). 
4. FÉRIAS VENCIDAS E FÉRIAS PROPORCIONAIS 
Se o empregado tinha mais de um ano de casa, são devidas férias 
vencidas sempre, e mais férias proporcionais para períodos incompletos, na 
extinção do contrato de trabalho, se não tiver havido despedida por justa 
causa ou pedido de demissão (CLT, art. 146). As férias proporcionais 
correspondem a 1/12 por mês de serviço ou fração superior a catorze dias. 
Os empregados com menos de um ano de serviço e os contratados por 
prazo determinado têm também direito a férias proporcionais na cessação do 
trabalho, desde que, no primeiro caso, não tenha ocorrido despedida por justa 
causa ou pedido de demissão (CLT, art. 147). 
5. FÉRIAS COLETIVAS 
Poderão ser concedidas férias coletivas a todos os empregados ou a 
setores da empresa, em período único, ou em dois períodos, nenhum inferior 
a dez dias corridos. 
Os empregados com menos de um ano de casa gozarão na oportunidade 
férias proporcionais, iniciando-se então novo período aquisitivo (CLT, art. 
139). 
6. FÉRIAS DO EMPREGADO DOMÉSTICO 
O empregado doméstico tem também férias anuais remuneradas de 30 
(trinta) dias (Lei 5.859/1972, art. 3.º – com redação dada pela Lei 
11.324/2006), com o acréscimo de pelo menos 1/3 (um terço) do salário 
normal (CF, art. 7.º, XVII), a cada período de 12 (doze) meses de trabalho, 
prestado à mesma pessoa ou família. 
7. FÉRIAS DOS PROFESSORES 
“É assegurado aos professores o pagamento dos salários no período de 
férias escolares. Se despedido sem justa causa, ao terminar o ano letivo ou 
no curso dessas férias, faz jus aos referidos salários” (TST, Súmula 10). 
8. PRESCRIÇÃO 
A ação para reclamar as férias começa a prescrever a partir do término do 
período concessivo, ou a partir da cessação do contrato de trabalho (CLT, art. 
149). O prazo é de cinco anos, na constância do contrato de trabalho, e de 
dois anos, após a extinção do contrato (CF, art. 7.º, XXIX, na redação da EC 
28, de 25.05.2000). 
 
 
Sumário: 1. Remuneração e salário. Distinção – 2. Composição do salário 
– 3. Salário fixo – 4. Comissões – 5. Gratificações – 6. Décimo terceiro salário 
– 7. Diárias para viagem – 8. Ajudas de custo – 9. Abonos – 10. Equiparação 
salarial – 11. Proteção do salário. 
1. REMUNERAÇÃO E SALÁRIO. DISTINÇÃO 
Na linguagem corrente, remuneração e salário são vocábulos usados com 
o mesmo sentido. Distingue-os, contudo, a CLT, consoante se observa da 
redação do art. 457, que caracteriza o salário como uma espécie do gênero 
remuneração. DÉLIO MARANHÃO, com a habitual acuidade, assim disserta: 
entende-se por remuneração o total dos proventos obtidos pelo empregado 
em função do contrato e pela prestação do trabalho, inclusive aqueles a cargo 
de outros sujeitos, que não o empregador. Salário é a retribuição pelo trabalho 
prestado, paga diretamente pelo empregador.57 
A distinção não é despida de importância prática, tanto que a CLT impõe 
que, em caso de indenização, o pagamento seja feito com base na 
maior remuneração percebida (cf. art. 477), enquanto o aviso-prévio, por 
exemplo, é pago na base dos salários correspondentes ao prazo do aviso (cf. 
art. 487, §§ 1.º e 2.º). Assim, um garçom que perceba salário mínimo e 
gorjetas, em caso de despedida injusta terá sua indenização calculada com 
base na soma das duas parcelas. O aviso-prévio, porém, corresponderá 
apenas ao salário mínimo. 
2. COMPOSIÇÃO DO SALÁRIO 
Integram o salário, dispõe o art. 457, § 1.º, da CLT, não só a importânciafixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações 
ajustadas, diárias para viagem (salvo exceção que será apresentada logo 
abaixo) e abonos pagos pelo empregador. 
Não só as quantias em dinheiro (salário em espécie) compreendem-se no 
salário, mas também as utilidades (salário in natura) fornecidas por força do 
contrato ou de costume, como alimentação, habitação, transporte e vestuário. 
Frise-se, porém, que essas utilidades só se compreenderão no salário quando 
concedidas a título oneroso, isto é, quando tiverem efeito retributivo.58 
Não se incluem no conceito de salário in natura os vestuários, 
equipamentos e outros acessórios fornecidos ao empregado e utilizados no 
local de trabalho, para a prestação dos seus serviços. É que, no caso, se 
cuida de utilidades funcionais, necessárias ao normal desenvolvimento do 
serviço. 
Também não integrarão o salário as ajudas de custos e as diárias para 
viagem que não excederem de 50% do salário percebido pelo empregado (cf. 
CLT, art. 457, § 2.º). Isso porque se referem a simples quantias pagas como 
custeio de despesas necessárias à execução do trabalho, e não como 
retribuição do próprio trabalho prestado. 
3. SALÁRIO FIXO 
“Salário fixo é a quantia invariável percebida pelo empregado, constituindo 
a principal e, na maioria dos casos, a única prestação salarial”.59 
4. COMISSÕES 
A comissão corresponde a uma participação do empregado sobre o valor 
de venda realizada, ou de negócio concluído por seu intermédio, tomando o 
seu pagamento a forma de percentagem. 
O comissionista tanto pode trabalhar no estabelecimento do empregador 
(quando terá direito ao recebimento de um salário fixo), como em serviço 
externo (quando então se pode admitir o sistema puro de pagamento por 
comissões). 
O pagamento de comissões e percentagens só é exigível se o pedido não 
foi recusado por escrito, dentro de dez dias, ou noventa dias para vendas em 
outros Estados ou no estrangeiro, e se não foi estornado por insolvência do 
cliente. 
A Lei 3.207, de 18.07.1957, regulamenta as atividades dos empregados 
vendedores, viajantes ou pracistas. 
5. GRATIFICAÇÕES 
As gratificações, em princípio, traduzem liberalidade do empregador, não 
integrando o salário. Mas perdem esse caráter quando ajustadas, isto é, 
quando as partes contratantes combinaram determinada gratificação (CLT, 
art. 457, § 1.º), ou, de acordo com a jurisprudência, quando a gratificação se 
repete periodicamente, vindo a tornar-se habitual. 
6. DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO 
O 13.º salário tem duas parcelas: a primeira (adiantamento) deve ser paga 
entre os meses de fevereiro e novembro, e a segunda até o dia 20 de 
dezembro. Corresponde a 1/12 do valor da remuneração de dezembro, 
multiplicado pelos meses de serviço prestados no ano, deduzindo-se o 
adiantamento, isto é, o valor da primeira parcela, já paga. No cálculo, frações 
iguais ou superiores a quinze dias equivalem a um mês. O prazo do aviso-
prévio conta-se também para efeito do 13.º salário. 
Se o empregado assim requerer, logo em janeiro, a primeira parcela 
deverá ser paga juntamente com as férias. 
Não é devido o 13.º ao empregado despedido por justa causa. Não perde 
o direito ao 13.º o empregado que pede demissão. O 13.º também é devido 
nos contratos por prazo determinado e na aposentadoria (Lei 4.090/1962, art. 
1.º, § 3.º). 
7. DIÁRIAS PARA VIAGEM 
As diárias destinam-se a suprir as despesas de viagem e manutenção do 
empregado viajante. Não têm caráter salarial quando inferiores a 50% do 
salário percebido pelo empregado (CLT, art. 457, § 2.º). 
8. AJUDAS DE CUSTO 
Assim como as diárias para viagem, têm as ajudas de custo sentido 
indenizatório, porque visam antecipar despesas decorrentes de transferência 
do empregado para local diverso daquele em que está domiciliado. 
Correspondem, em geral, a um único pagamento, enquanto as diárias para 
viagem são pagas continuadamente, durante a viagem. 
Não integram o salário, salvo se ultrapassarem 50% do salário percebido 
pelo empregado (CLT, art. 457, § 2.º). 
9. ABONOS 
Os abonos não incorporáveis ao salário foram banidos de nosso Direito. A 
menos que, sob tal color, se atribua ao empregado alguma prestação 
econômica que, por sua finalidade, não tenha caráter retributivo. Exemplo: um 
Banco paga ao recebedor quebra de caixa para cobertura de desvios não 
culposos de dinheiro, e rotula tal prestação de “abono”. 
É evidente que, nesse caso, referida prestação não integrará o salário, em 
virtude de seu caráter indenizatório. Fora daí, os abonos não passam 
de salário. 
10. EQUIPARAÇÃO SALARIAL 
A todo trabalho de igual valor deve corresponder salário igual, sem 
distinção de sexo (CF, art. 7.º, XXX; CLT, arts. 5.º e 461). 
Entende-se por trabalho de igual valor o que for feito com igual 
produtividade, e com a mesma qualidade técnica, entre pessoas cuja 
diferença de tempo no exercício da função não seja superior a dois anos. 
Não cabe a equiparação quando o empregador tiver pessoal organizado 
em quadro de carreira, hipótese em que as promoções deverão obedecer aos 
critérios de antiguidade e merecimento, alternadamente, dentro de cada 
categoria profissional (CLT, art. 461, §§ 2.º e 3.º). 
11. PROTEÇÃO DO SALÁRIO 
Tendo em conta sua natureza alimentar e seu caráter de meio de 
subsistência para o trabalhador, o salário é objeto de forte proteção legal. É o 
princípio da integralidade dos salários. 
O salário não pode sofrer descontos, salvo os provenientes de 
adiantamento, os previstos em lei (contribuição sindical, contribuição para o 
INSS etc.) e os decorrentes de convenções coletivas. Lícito, ainda, o desconto 
no caso de danos causados pelo empregado, desde que tenha havido acordo 
nesse sentido, ou dolo de sua parte. 
Por outro lado, o salário é intangível, isto é, não pode ser penhorado (art. 
649, IV, do CPC), salvo para pagamento de prestação alimentícia (CPC, art. 
649, § 2.º). Pode, todavia, ser objeto de retenção pelo empregador ao qual o 
empregado deixou de dar aviso-prévio (CLT, art. 487, § 2.º). 
Em caso de falência do empregador, o salário constitui crédito privilegiado 
(CLT, art. 449). 
Rescindido o contrato de trabalho, se houver controvérsia sobre parte da 
importância dos salários, fica o empregador obrigado, na primeira vez que 
comparecer ao Tribunal do Trabalho, a pagar ao empregado a parte 
incontroversa, sob pena de ser condenado a pagá-la em dobro (CLT, art. 
467). 
A Constituição considera crime a retenção dolosa de salários (CF, art. 7.º, 
X). 
 
 
O empregador e seus empregados podem negociar a participação destes 
nos lucros ou resultados da empresa (Lei 10.101, de 19.12.2000 – anterior 
MP 1.698). 
A participação pode resultar de convenção ou acordo coletivo, ou do 
trabalho de comissões bilaterais, de empregados e de empregadores, 
devendo integrar cada comissão um representante sindical da categoria. 
Se houver algum impasse nas negociações, podem as partes, de comum 
acordo, utilizar-se de mediadores ou de árbitros. 
O mediador auxiliará as partes a chegarem a um consenso. 
No caso de arbitragem, o árbitro escolhido se limitará a optar 
simplesmente por uma das propostas definitivas apresentadas pelas partes. 
Esse sistema tem o nome de “arbitragem de ofertas finais”. O laudo arbitral 
tem força normativa, independentemente de homologação judicial. 
A participação nos lucros ou resultados não integra a remuneração (CF, 
art. 7.º, XI), nem sofre a incidência de qualquer encargo trabalhista. Mas pode 
ser deduzida pelo empregador como despesa operacional. 
As disposições da lei de participação nos lucros não se aplicam a 
empregadores pessoas físicas, nem a certas entidades sem fins lucrativos, 
indicadas no seu texto. 
 
 
Em princípio, o contrato de trabalho é inalterável. Por exceção, porém,pode o contrato de trabalho ser alterado em alguns casos, como, por 
exemplo, os seguintes: 
(a) Alteração de cláusulas por mútuo consentimento, desde que não haja 
prejuízo para o empregado (CLT, art. 468). 
(b) Alteração de remuneração por convenção ou acordo coletivo (CF, art. 
7.º, VI), ou por motivo de força maior – neste caso, com redução de até 25% 
dos salários (CLT, art. 503). 
(c) Alteração de funções, em decorrência de promoção, de retomo à 
função anterior (nos casos de comissionamento ou interinidade – CLT, art. 
450), ou de extinção do cargo, com transferência para outro compatível. 
(d) Alteração de horário, sem aumento da jornada. Permite-se a 
transferência do período noturno para o diurno com perda do adicional 
noturno (TST, Súmula 265). 
(e) Alteração de local de trabalho, para os empregados que exerçam 
cargos de confiança, e aqueles cujos contratos tenham como condição, 
mesmo que implícita, a transferência decorrente de real necessidade do 
serviço (CLT, art. 469, § 1.º), ou no caso de extinção do estabelecimento 
(CLT, art. 469, § 2.º). 
 
 
A suspensão e a interrupção do contrato de trabalho são institutos 
semelhantes, apresentando, porém, diferenças, especialmente nos seus 
efeitos. 
Na suspensão, o empregado se afasta sem direito à percepção de salário 
e, em regra, não se conta o período de afastamento como tempo de serviço. 
Exemplos de suspensão: aposentadoria por invalidez, enquanto durar a 
causa da invalidez (CLT, art. 475),60 participação em curso de qualificação 
profissional (CLT, art. 476-A). 
Na interrupção, o empregado, embora afastado do serviço, continua 
ganhando os seus salários e, em regra, conta-se o período de afastamento 
como tempo de serviço efetivo. 
Exemplos de interrupção: férias anuais remuneradas, aviso-prévio em 
dinheiro (CLT, art. 487, § 1.º), afastamento para funcionar como jurado (CPP, 
art. 441), os quinze primeiros dias na ocorrência de acidente do trabalho (art. 
60, § 3.º, e art. 61 da Lei de Benefícios da Previdência Social, Lei 
8.213/1991). 
Como se trata de uma vantagem para o trabalhador, a empresa poderá 
conceder a interrupção por outras razões que considerar convenientes, 
fixadas em regulamento interno. 
O empregado, quando retornar ao serviço depois da suspensão e da 
interrupção, terá asseguradas as vantagens gerais atribuídas durante seu 
afastamento, como, por exemplo, aumento salarial da categoria a que 
pertencia na empresa (CLT, art. 471). 
 
 
Sumário: 1. A rescisão do contrato – 2. Indenizações – 3. Aviso-prévio – 4. 
As justas causas – 5. Culpa recíproca – 6. Morte do empregador – 7. Factum 
principis e força maior. 
1. A RESCISÃO DO CONTRATO 
Rescisão é a ruptura do vínculo jurídico trabalhista por iniciativa das 
partes. Advém sempre da manifestação de vontade das partes, unilateral ou 
bilateral. Se bilateral, configura-se o distrato. Seunilateral, teremos 
o despedimento (rescisão partida do empregador) ou a demissão (rescisão 
partida do empregado). 
2. INDENIZAÇÕES 
Violado o contrato, a parte que der causa à sua rescisão fica sujeita ao 
ônus de pagar ou conceder à outra parte aviso-prévio. Se culpado for o 
empregador, terá que pagar também indenização compensatória, além de 
outros direitos, nos termos de lei complementar a ser editada (CF, art. 7.º, I). 
Enquanto não vigorar a referida lei, deverá o empregador, na despedida 
arbitrária, pagar ao empregado a percentagem de 40% calculada sobre todos 
os depósitos de FGTS feitos pelo empregador, mais 10% a título de 
contribuição social (LC 110/2001). 
3. AVISO-PRÉVIO 
O aviso-prévio é uma comunicação (escrita ou oral) que uma das partes 
do contrato (empregado ou empregador) faz à outra de que, decorrido certo 
prazo, o contrato se extinguirá. 
Nos termos da Constituição Federal, o prazo do aviso-prévio é de, no 
mínimo, de trinta dias (CF, art. 7.º, XXI).61 Acrescenta-se mais 3 dias por ano 
de serviço prestado na mesma empresa, até o limite de vinte acréscimos (60 
dias) (Lei 12.506/2011). Desta maneira, o aviso-prévio máximo concedido ao 
empregado é de 90 dias. O empregado com mais de um ano de serviço 
ininterrupto (um ano e um dia, por exemplo) já faz jus ao acréscimo de 3 dias 
referente ao primeiro ano. 
 
Note-se, porém, que o aviso-prévio devido ao empregador é sempre de 30 
dias. 
A obrigação de dar aviso-prévio só surge com a rescisão sem justa causa, 
pois, havendo justa causa, é desnecessário. 
O aviso-prévio obriga o pagamento dos salários do período de sua 
duração, conferindo ao empregado todos os direitos advindos durante esse 
período. Reduz de duas horas a duração da jornada de trabalho, sem prejuízo 
do salário integral (CLT, art. 488). É contado como tempo de serviço para 
todos os fins (art. 487, § 1.º). Estabelece o termo final do contrato (art. 489). 
Pode-se desistir do aviso-prévio e da extinção do contrato, havendo 
concordância da outra parte (art. 489). Se o empregado continua trabalhando 
normalmente após o aviso, a presunção é de que o mesmo ficou sem efeito, 
continuando o contrato a vigorar como se o aviso não tivesse sido dado. 
4. AS JUSTAS CAUSAS 
Justa causa é todo ato doloso (intencional) ou culposo (não intencional, 
mas negligente ou imprudente), expressamente previsto em lei ou disposição 
normativa, que torna insustentável a continuidade da relação de emprego. 
O art. 482 da CLT arrola as causas que autorizam o empregador a 
despedir o empregado sem ônus; e o art. 483, aquelas que rendem ensejo à 
rescisão por parte do empregado, com ônus para o empregador. 
Examinemos as justas causas previstas no art. 482: 
(a) Ato de improbidade: é o ato desonesto, que importa em lesão ao 
patrimônio do empregador ou de terceiro no local de trabalho, como furto, 
roubo ou apropriação indébita. 
(b) Incontinência de conduta ou mau procedimento: é o comportamento 
irregular do empregado, em serviço ou fora dele, incompatível com a moral e 
os bons costumes, como, por exemplo, utilização de tóxicos. 
(c) Negociação habitual: vem a ser a prática reiterada de atos de 
comércio, prejudicial ao serviço ou que importe em concorrência para o 
empregador. 
(d) Condenação criminal: no caso de não ter havido suspensão da 
execução da pena. 
(e) Desídia: é o desinteresse pelo trabalho. Ocorre, na maioria das vezes, 
por uma repetição de faltas leves (indolência, desmazelo, atrasos etc.), mas 
pode, todavia, ser configurada num único ato isolado (caso do mecânico, por 
exemplo, que inutiliza máquina de uma indústria por imprudência ou 
negligência no desempenho da função). A comprovação, na primeira 
hipótese, poderá ser feita por meio de sindicância, acompanhada de 
advertência e suspensões, fichas de controle de ponto etc. No segundo caso, 
por perícia e testemunhas. 
(f) Embriaguez habitual ou em serviço: habitual é a embriaguez repetida. 
Na embriaguez em serviço, basta uma vez, apresentando-se o empregado no 
local de trabalho nesse estado. A embriaguez pode ser alcoólica ou 
decorrente de tóxicos. 
(g) Violação de segredo da empresa: refere-se à divulgação não 
autorizada de patentes de invenção, métodos de execução, fórmulas ou 
escrita comercial, ou de qualquer assunto particular da empresa, que não 
deve ser divulgado, como o fato de fornecer a um concorrente o projeto de um 
novo modelo de automóvel. 
(h) Indisciplina e insubordinação: o não cumprimento de regras gerais da 
empresa caracteriza a indisciplina. O desrespeito a ordens pessoais 
caracteriza a insubordinação. 
(i) Abandono de emprego: configura-se o abandono de emprego quando o 
empregado, imotivadamente, dele se afasta por mais de trinta dias, ou passa 
a trabalhar para outro empregador, dentro do período de sua jornada de 
trabalho. A prova do abandono se faz por meio de notificação para que o 
empregado, querendo, volte ao emprego. Sendoconhecido seu paradeiro, a 
notificação será feita por via postal, mediante carta registrada, com aviso de 
recebimento (AR), ou por intermédio de cartório de registro de títulos e 
documentos. Estando ele em local desconhecido, será notificado por editais 
publicados pela imprensa. 
(j) Ato lesivo da honra e boa fama ou ofensas físicas praticadas, no 
serviço, contra qualquer pessoa. 
(k) Ato lesivo da honra e boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o 
empregador e superiores hierárquicos. 
(l) Prática constante de jogos de azar: a norma refere-se aos jogos 
proibidos por lei, como o jogo do bicho e rifas não autorizadas. 
(m) Atos atentatórios à segurança nacional. 
O art. 482 não esgota a lista das justas causas para o despedimento do 
empregado, havendo outras, em pontos diversos da CLT. 
No reverso da medalha estão os atos praticados pelo empregador e 
considerados justas causas, que dão ao empregado o direito de dar o contrato 
por rescindido, por culpa do empregador, sem prejuízo das indenizações 
cabíveis (CLT, art. 483).62 
5. CULPA RECÍPROCA 
Diz-se que há culpa recíproca quando empregado e empregador 
contribuem concomitantemente para a rescisão do contrato de trabalho. 
Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão, a indenização 
será pela metade. O FGTS, na hipótese, limita-se a 20%, em vez de 40% (Lei 
8.036/1990, art. 18, §§ 1.º e 2.º). 
Exemplo típico de culpa recíproca temos no caso de empregado e patrão 
se agredirem mutuamente. 
Nos termos da Súmula 14 do TST, reconhecida a culpa recíproca, o 
empregado fará jus a 50% dos valores do aviso-prévio, das férias 
proporcionais e da gratificação natalina (13.º salário) do ano respectivo. 
6. MORTE DO EMPREGADOR 
O art. 483, § 2.º, da CLT concede ao empregado a faculdade de rescindir 
seu contrato de trabalho quando morre o empregador constituído em empresa 
individual. Trata-se de faculdade que não gera direito à indenização, já que a 
rescisão parte de iniciativa do empregado, que pode não querer ou não ter 
condições de trabalhar com o sucessor. Em contrapartida, fica desobrigado de 
dar aviso-prévio ao empregador. 
Em ocorrendo a morte do empregador, com extinção da empresa, o 
empregado terá assegurado todos os seus direitos trabalhistas (CLT, art. 
485), inclusive aviso-prévio, nos termos da Súmula 44 do TST. 
7.FACTUM PRINCIPIS E FORÇA MAIOR 
Factum principis vem a ser o ato de autoridade pública (municipal, 
estadual ou federal) que torna impossível a continuidade da relação de 
emprego, como ocorre, por exemplo, nas desapropriações. Neste caso 
prevalecerá o pagamento de indenização, que ficará a cargo do governo 
responsável (CLT, art. 486). 
Por força maior entende-se todo acontecimento inevitável em relação à 
vontade do empregador, e para a realização do qual este não concorreu, 
direta ou indiretamente (CLT, art. 501). A imprevidência do empregador exclui 
a razão da força maior. 
A força maior não libera o empregador de suas obrigações, apenas lhe 
atenuando as responsabilidades. Daí dispor a lei que, ocorrendo motivo de 
força maior que determine a extinção da empresa ou de um dos 
estabelecimentos em que trabalhe o empregado, é assegurada a este, 
quando despedido, uma indenização paga por metade da que seria devida em 
caso de rescisão sem justa causa (CLT, art. 502). 
Se o estabelecimento não se extingue, poderá o empregador, havendo 
convenção coletiva nesse sentido, proceder à redução de salários até 25%, 
respeitado, em qualquer caso, o salário mínimo. Cessados os efeitos 
decorrentes do motivo de força maior, é garantido o restabelecimento dos 
salários reduzidos. 
 
 
Sumário: 1. Noção – 2. Depósitos – 3. Movimentação da conta vinculada. 
1. NOÇÃO 
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS – regula-se pela Lei 
8.036/1990, e veio substituir o antigo sistema de indenização baseado no 
número de anos de tempo de serviço. 
2. DEPÓSITOS 
O FGTS é formado por depósitos das empresas sobre a remuneração 
paga no mês anterior aos seus empregados, em conta vinculada, incluídas as 
parcelas mencionadas nos arts. 457 e 458 da CLT e o 13.º salário. 
Assim, incluem-se no cálculo: (a) o salário pago diretamente pelo 
empregador; (b) gorjetas; (c) comissões; (d) percentagens; (e) gratificações 
ajustadas; (f) 13.º salário; (g) diárias para viagem e ajudas de custo, 
excedentes de 50% do salário percebido pelo empregado; (h) abonos pagos 
pelo empregador; (i) prestações in natura; (j) horas extras habituais ou não; 
(k) adicionais de insalubridade, periculosidade e noturno. 
O depósito do FGTS é de 8%. Para as empresas não participantes do 
sistema Supersimples, há ainda o acréscimo de 0,5%, a título de contribuição 
social (LC 110/2001). Na dispensa sem justa causa deverão ser depositados 
40%, calculados sobre todos os depósitos feitos pelo empregador, mais 10% 
a título de contribuição social (LC 110/2001). 
O depósito é também exigível nos seguintes casos de afastamento do 
serviço: (a) para prestação de serviço militar; (b) por motivo de doença, até 
quinze dias; (c) por acidente do trabalho; (d) por motivo de gravidez e parto; 
(e) por outros motivos considerados de interrupção do contrato de trabalho 
(ver Capítulo 9). 
Obs.: Na prestação de serviço militar, não há pagamento de salário, 
havendo, porém, contagem de tempo de serviço e recolhimento de FGTS. 
3. MOVIMENTAÇÃO DA CONTA VINCULADA 
A conta vinculada do FGTS pode ser movimentada em várias hipóteses, 
dependendo de autorização prevista em Lei, como, por exemplo, despedida 
sem justa causa, extinção da empresa, aposentadoria, falecimento do 
trabalhador, aquisição de moradia etc. 
Havendo discordância entre empregado e empregador sobre o FGTS, a 
competência será da Justiça do Trabalho. 
 
 
Sumário: 1. Trabalho proibido à mulher – 2. Períodos de descanso – 3. 
Proteção à maternidade. 
1. TRABALHO PROIBIDO À MULHER 
Não são mais proibidos para a mulher a prorrogação de jornada e o 
trabalho insalubre, perigoso, noturno, em subterrâneos, minerações, subsolos, 
pedreiras e obras de construção, em virtude do princípio da igualdade (CF, 
art. 5.º, I, e art. 7.º, XXX) e da revogação de vários dispositivos da CLT pela 
Lei 7.855/1989. 
Em relação à mulher, resta a proibição de serviços que demandem força 
muscular superior a vinte quilos, para o trabalho contínuo, e vinte e cinco 
quilos para trabalho ocasional, salvo se houver auxílio de aparelhos 
mecânicos, como o carrinho de mão (CLT, art. 390 e seu parágrafo único). 
2. PERÍODOS DE DESCANSO 
Durante a jornada de trabalho será concedido à empregada um intervalo 
de duas horas, no máximo, e de uma hora, no mínimo, para repouso e 
alimentação. Entre duas jornadas haverá um intervalo mínimo de onze horas 
consecutivas para repouso. 
3. PROTEÇÃO À MATERNIDADE 
Não constitui justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho da 
mulher o fato de haver contraído matrimônio ou de encontrar-se em estado de 
gravidez (CLT, art. 391). Ao reverso, a mulher grávida pode romper o contrato 
quando o trabalho for prejudicial à gestação, sem obrigação de conceder 
aviso-prévio (CLT, art. 394). 
Constitui crime a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, 
declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou a 
atestado de gravidez (Lei 9.029/1995, art. 2.º). 
Nos termos do art. 7.º, XVIII, da CF, a mulher faz jus à licença-
maternidade, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de 120 
dias. A remuneração, durante o afastamento, é paga pelo empregador, que 
será reembolsado pelo Instituto Previdenciário, já que tal encargo, por força 
da Lei 6.136, de 07.11.1974, é da alçada da Previdência Social. O reembolso 
se opera mediante o desconto nos recolhimentos previdenciários devidos. A 
empregada doméstica, porém, recebe diretamente do INSS.Para amamentar o filho, até que complete seis meses de idade, a mulher 
terá direito, durante a jornada de trabalho, a dois descansos especiais, de 
meia hora cada um, sem redução de salário (CLT, art. 396). O período de seis 
meses pode ser dilatado, quando o exigir a saúde do filho, a juízo da 
autoridade competente. 
 
 
Sumário: 1. Maioridade para fins trabalhistas – 2. Trabalho proibido ao 
menor – 3. Recibos e quitações. A prescrição – 4. O aprendiz. 
1. MAIORIDADE PARA FINS TRABALHISTAS 
A maioridade trabalhista, assim como a civil, ocorre aos 18 anos, sendo 
que a idade mínima para trabalhar é de 16 anos. O menor com 14 anos, 
porém, pode ser admitido como aprendiz. 
2. TRABALHO PROIBIDO AO MENOR 
O menor não pode participar de trabalho noturno, perigoso, insalubre, ou 
em locais ou serviços prejudiciais à sua moralidade (CF, art. 7.º, XXXIII; CLT, 
art. 405). 
3. RECIBOS E QUITAÇÕES. A PRESCRIÇÃO 
O menor tem capacidade para firmar recibos de pagamentos dos salários. 
Não a tem, porém, para dar quitação de rescisão do contrato de trabalho, 
caso em que se torna necessária a assistência do seu responsável legal 
(CLT, art. 439). 
Contra os menores de dezoito anos não corre nenhum prazo de prescrição 
(CLT, art. 440). 
4. O APRENDIZ 
Aprendiz é o maior de quatorze anos e menor de vinte e quatro anos que 
celebra contrato de aprendizagem, ficando sujeito a formação profissional 
metódica do ofício em que exerça o trabalho, nos termos do art. 428 da CLT. 
Deve o aprendiz frequentar escola, se não tiver concluído o ensino 
fundamental, e ser inscrito em programa de aprendizagem nos cursos dos 
Serviços Nacionais de Aprendizagem ou, na falta, nos cursos de outras 
entidades qualificadas (Dec. 5.598/2005, art. 8.º). 
O contrato de aprendizagem deve ser anotado na Carteira de Trabalho. A 
remuneração mínima será o salário mínimo hora (Dec. 5.598/2005, art. 17). A 
jornada não excederá de seis horas diárias, vedadas prorrogações e 
compensações (CLT, art. 432, na redação da Lei 10.097, de 19.12.2000 – 
disposição confirmada pelo art. 18 e ss. do Dec. 5.598/2005). 
 
 
Sumário: 1. Trabalhador eventual – 2. Trabalhador avulso – 3. Empregado 
rural – 4. Empregado doméstico – 5. Aprendiz – 6. Trabalhador autônomo – 7. 
Trabalhador temporário – 8. Estagiário – 9. Servidor público – 10. Empregado 
público. 
1. TRABALHADOR EVENTUAL 
É o prestador ocasional de serviços, como o jardineiro volante ou aquele 
que conserta telhados ou calhas. Não há relação trabalhista. 
2. TRABALHADOR AVULSO 
É o colocado à disposição do tomador de serviços, por intermédio de um 
órgão de classe, como ocorre nos trabalhos portuários. A Constituição Federal 
equiparou o avulso ao empregado (art. 7.º, XXXIV). A Lei 12.022/2009 dispõe 
sobre o trabalhador avulso. 
3. EMPREGADO RURAL 
Empregado rural é toda pessoa física que, sob a dependência do 
empregador rural e mediante salário, em propriedade rural ou prédio rústico, 
presta serviços de natureza não eventual a: (a) pessoa física ou jurídica, 
proprietário ou não, que explore atividade agroeconômica, em caráter 
permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos; (b) quem 
realize exploração industrial em estabelecimento agrário não compreendido 
na CLT ou, ainda; (c) aquele que, habitualmente, em caráter profissional e por 
conta de terceiros, execute serviços de natureza agrária, mediante utilização 
do trabalho de outrem. Regula-se pela Lei 5.889/1973. A Constituição Federal 
equiparou o trabalhador rural ao urbano (art. 7.º, caput). 
4. EMPREGADO DOMÉSTICO 
É o que presta serviços contínuos no âmbito residencial de pessoa física 
ou família, ou em extensões da residência, como sítios e chácaras de recreio, 
sem atividade econômica. 
A Constituição Federal atribuiu ao empregado doméstico quase todos os 
direitos trabalhistas, mas não todos. 
Assim, nos termos do art. 7.º, parágrafo único, da CF, a proteção por 
despedida arbitrária, o seguro desemprego, o Fundo de Garantia por Tempo 
de Serviço, a remuneração maior pelo trabalho noturno, o salário família, a 
assistência gratuita aos filhos de até 5 anos em creches e pré-escolas e a 
proteção contra a automação dependem de regulamentação legal. O feriado 
trabalhado deve ser pago em dobro. As férias anuais são de trinta dias 
corridos, com acréscimo de 1/3 do salário normal (Art. 3º da L.5859/1972). 
5. APRENDIZ 
É o maior de quatorze anos e menor de vinte e quatro anos de idade, 
sujeito à formação profissional metódica de ofício (ver acima, Capítulo 13, 
item 4). 
6. TRABALHADOR AUTÔNOMO 
É o que trabalha por conta própria, sem vínculo empregatício, não se 
colocando sob a subordinação de outrem, como, por exemplo, o empreiteiro. 
7. TRABALHADOR TEMPORÁRIO 
É a pessoa física que presta serviços a uma empresa urbana para atender 
à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e 
permanente ou a acréscimo extraordinário em sua demanda. Regula-se pela 
Lei 6.019/1974. 
8. ESTAGIÁRIO 
É o aluno regularmente matriculado e que esteja frequentando curso 
superior, de ensino médio, de educação profissional de nível médio ou 
superior ou alguma escola de educação especial, e que vem a trabalhar sob a 
supervisão de pessoas jurídicas de direito privado, órgãos da Administração 
Pública ou instituições de ensino com a finalidade de complementar seus 
estudos e adquirir uma visão prática da carreira, por meio de atividades 
desempenhadas com planejamento, execução, acompanhamento e avaliação 
conforme os currículos, programas e calendários escolares. Intervém 
obrigatoriamente, no contrato, a instituição de ensino. O estágio não cria 
qualquer vínculo empregatício, salvo se desatendido requisito previsto na Lei 
11.788/2008, que regulamentou o estágio. 
9. SERVIDOR PÚBLICO 
Nos termos da Lei 8.112/1990, servidor é a pessoa legalmente investida 
em cargo público que é o conjunto de atribuições e responsabilidades 
previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor. 
É o trabalhador contratado por órgão público, em regime estatutário. 
10. EMPREGADO PÚBLICO 
É o trabalhador contratado por órgão público, em regime da CLT e 
legislação trabalhista correlata, com as modificações dadas por leis 
administrativas específicas (Lei 9.962/2000). 
A contratação do empregado público depende de concurso. 
A despedida só pode dar-se em quatro hipóteses: (a) falta grave; (b) 
acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; (c) excesso de 
despesa com pessoal, cabendo neste caso indenização de um mês de 
remuneração por ano de serviço (CF, art. 169, § 5.º); (d) insuficiência de 
desempenho (Lei 9.962/2000, art. 3.º, IV). Órgãos com autonomia gerencial 
(CF, art. 37, § 8.º), como as fundações, não estão sujeitas às limitações 
acima, podendo demitir também por outros motivos. 
 
 
Sumário: 1. Introdução – 2. Dissídios individuais – 3. Procedimento 
sumaríssimo – 4. Comissões de Conciliação Prévia – CCP – 5. Dissídios 
coletivos – 6. Recursos – 7. Gráficos. 
1. INTRODUÇÃO 
A Justiça do Trabalho julga: (a) ações oriundas da relação de trabalho 
(sejam dissídios individuais, sejam dissídios coletivos); (b) ações que 
envolvam exercício de direito de greve; (c) ações que versem sobre 
representação sindical; (d) mandados de segurança, habeas corpus e habeas 
data, referentes a matéria sujeita à sua jurisdição; (e) conflitos de 
competência dentro da jurisdição trabalhista, salvo exceção constitucional; (f) 
ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação 
de trabalho; (g) ações sobre penalidades administrativas, de cunho 
trabalhista, impostas aos empregadores por órgãos de fiscalização; (h) 
execução, de ofício, das contribuições sociais, decorrentes das sentenças que 
proferir; (i) na forma da lei, de quaisquer outras controvérsiasdecorrentes da 
relação de trabalho (CF, art. 114). 
É composta pelos juízes do Trabalho, que atuam singularmente junto às 
Varas do Trabalho, pelos Tribunais Regionais do Trabalho – TRT (ao menos 
um em cada Estado), e, na cúpula, pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). 
Onde não houver Vara do Trabalho, poderá funcionar, em competência 
trabalhista, o juízo de direito da comarca. 
A EC 24, de 09.12.1999, extinguiu as antigas Juntas de Conciliação e 
Julgamento, bem como os cargos dos juízes classistas, resguardando, porém, 
os seus mandatos, até os respectivos términos. 
Órgãos da Justiça do Trabalho: 
• Juízes do Trabalho (ou juízes de direito, onde não houver Vara do 
Trabalho); 
• Tribunais Regionais do Trabalho (TRT); 
• Tribunal Superior do Trabalho (TST).63 
2. DISSÍDIOS INDIVIDUAIS 
Os dissídios individuais envolvem interesses de pessoas singularmente 
consideradas. Assim, por exemplo, o empregado A reclama contra o 
empregador B, pleiteando o pagamento de indenização por dispensa sem 
justa causa. Tais controvérsias são conhecidas e julgadas pelas Varas do 
Trabalho, ou, onde não as houver, pelos juízes de direito locais. 
Podem iniciar-se através de petição inicial, redigida por advogado, ou por 
termo de reclamação, redigido por funcionário da Justiça do Trabalho, que 
formaliza a reclamação dada oralmente pelo trabalhador. O reclamado é 
notificado para comparecer à audiência, que será a primeira desimpedida 
depois de cinco dias (CLT, art. 841). Na audiência, presentes o reclamante e 
o reclamado, independentemente do comparecimento de seus 
representantes, realiza-se, como primeiro passo, a tentativa de conciliação, 
empregando o juiz seus esforços no sentido de uma solução amigável. 
Havendo acordo, será redigido termo de conciliação, com valor de 
sentença. 
Não havendo acordo, pode o reclamado apresentar a sua defesa, por 
escrito ou oralmente (em 20 minutos, após leitura da reclamação – CLT, art. 
847), vindo em seguida a fase probatória, com apresentação de documentos, 
oitiva das partes e testemunhas, esclarecimentos de peritos etc. 
Encerrada a instrução, poderão as partes apresentar razões finais, em até 
dez minutos cada uma. Em seguida, renova-se a proposta de conciliação. 
Aceita, lavra-se o termo de conciliação. Não se obtendo acordo, profere-se a 
sentença, encerrando-se o litígio. Os trâmites de instrução e julgamento serão 
resumidos em ata, da qual constará, na integra, a decisão. Havendo recurso, 
a questão será reexaminada na instância superior. 
3. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO 
Nos dissídios individuais de valor não superior a quarenta salários 
mínimos há um procedimento simplificado, devendo-se decidir a causa em 
quinze dias, numa única audiência, ou, no máximo, em trinta dias (Lei 
9.957/2000). 
São admitidas apenas duas testemunhas para cada parte. As atas serão 
resumidas. A sentença dispensa o relatório. Os recursos têm andamento 
simplificado. 
4. COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – CCP 
Os sindicatos e as empresas, ou grupos de empresas, podem criar 
Comissões de Conciliação Prévia – CCP, destinadas à solução amigável de 
divergências entre patrões e empregados (CLT, art. 625-A e ss., acrescidos 
pela Lei 9.958, de 12.01.2000). 
A composição da CCP deve ser paritária, com número igual de 
representantes dos empregados e dos empregadores, num total de dois a dez 
membros, metade indicada pelo empregador e a outra metade eleita pelos 
empregados. 
Não são de criação obrigatória. Mas, uma vez criadas, tornam-se de 
acesso obrigatório, como condição prévia para o ingresso na Justiça. As 
iniciais das reclamações trabalhistas devem vir acompanhadas de declaração 
da CCP (onde houver), atestando que não se conseguiu o acordo, ou que a 
sessão para a tentativa de acordo não se realizou no prazo legal de dez dias 
a contar da apresentação do caso. 
Havendo acordo perante a CCP, esse será reduzido a termo e configura 
título executivo extrajudicial, equivalendo, praticamente, a uma sentença.64 
5. DISSÍDIOS COLETIVOS 
Denominam-se dissídios coletivos as ações judiciais entre empregados e 
empregadores, envolvendo reivindicações de uma classe ou categoria 
profissional.65 
Os dissídios coletivos iniciam-se geralmente por representação escrita de 
sindicato ou órgão de classe interessado. Mas podem ter início também de 
ofício, por iniciativa do TRT, se tiver havido suspensão do trabalho. Ou, no 
mesmo caso, por iniciativa da Seção de Dissídios Coletivos (SDC) do Tribunal 
Superior do Trabalho, nos dissídios que excedam a jurisdição territorial do 
Tribunal Regional do Trabalho. 
A empresa também pode propor dissídio coletivo, diretamente, quando 
não houver entidade sindical no âmbito de sua atividade. 
Os dissídios coletivos devem ser precedidos de negociações coletivas e 
eventual escolha conjunta de árbitros. 
Havendo recusa para tanto, de uma das partes, pode ser ajuizado o 
dissídio coletivo. 
O art. 114, § 2.º, da Constituição Federal (na redação dada pela Emenda 
Constitucional 45/2004) parece exigir que as partes entrem em comum acordo 
para o ajuizamento do dissídio. A exigência de “comum acordo”, porém, deve 
ser desconsiderada, pois nenhuma lesão de direito pode ser subtraída à 
apreciação do Judiciário, conforme cláusula pétrea do art. 5.º, XXXV, da CF e 
não seria razoável exigir-se o beneplácito da parte contrária para se requerer 
algo em juízo. 
Houve ampliação da legitimidade das partes para promover dissídios 
coletivos (antes adstritos aos sindicatos). Além dessa ampliação, as partes 
envolvidas nas negociações podem, havendo divergência, propor o dissídio: 
(a) isoladamente, diante do princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional; 
(b) em conjunto, quando entenderem mutuamente que o Judiciário deverá ser 
responsável por resolver o conflito coletivo. 
Instaurado o dissídio, procede-se à notificação da parte contrária, com a 
designação de audiência. 
O procedimento é conduzido de início pelo juiz instrutor, que será o 
Presidente do Tribunal ou juiz por ele designado. 
Na audiência, o juiz instrutor procede à tentativa de conciliação, propondo, 
se necessário, uma solução que lhe pareça capaz de acabar com a 
divergência. Se sair acordo, encerra-se o dissídio. Não tendo havido acordo, 
realizam-se as diligências pertinentes, apresentando as partes as suas razões 
finais. 
Encerrada a instrução do processo, o juiz instrutor remete os autos ao 
órgão colegiado competente, que proferirá a sentença. No dissídio coletivo, a 
sentença denomina-se sentença normativa, porque vale como norma ou lei 
entre as partes. 
As decisões normativas podem ser estendidas a todos os empregados de 
uma mesma empresa (CLT, art. 868), ou de uma mesma categoria 
profissional, dentro da jurisdição do Tribunal (CLT, art. 869). Poderão também 
sofrer revisão, decorrido mais de um ano de sua vigência (CLT, art. 873). 
6. RECURSOS 
A parte que não se conformar com alguma decisão pode interpor recurso, 
visando à sua modificação, em regra perante a instância superior. 
Na CLT são previstos os recursos adiante relacionados, todos com prazo 
de oito dias. 
(a) Recurso ordinário (CLT, art. 895): é o remédio próprio para impugnar 
as decisões finais das Varas do Trabalho ou Juízos de Direito. Equivale à 
apelação no cível, abrangendo toda a matéria de fato e de direito. Cabe 
também nas decisões definitivas dos TRT, em processo de sua competência 
originária (dissídios coletivos, mandados de segurança, ação rescisória etc.). 
(b) Recurso de revista (CLT, art. 896): é o recurso interponível das 
decisões de última instância, quando houver divergência jurisprudencial ou 
violação de literal disposição de lei ou de sentença normativa. Tem por 
finalidade dar interpretação uniforme a dispositivo legal (uniformização da 
jurisprudência), ou restaurar a soberaniade literal disposição de lei ou 
sentença normativa. É julgado pelo TST. 
(c) Embargos: visam ao reexame da questão pelo próprio Tribunal que 
efetuou o julgamento. Do acórdão proferido por uma das Turmas do TST 
cabem embargos para uma divisão especial do próprio TST, que é a SDI – 
Seção Especializada em Dissídios Individuais (Lei 7.701/1988), quando 
houver divergência jurisprudencial ou violação de lei federal ou da 
Constituição Federal. Antigamente os embargos eram julgados pelo Pleno do 
TST, como ainda consta no art. 894 da CLT. 
(d) Agravo de petição (CLT, art. 897, a): é o recurso trabalhista cabível em 
incidentes ocorridos nas execuções de sentença. Só nas execuções de 
sentença. Não confundir com o recurso de agravo do processo civil, de 
estrutura inteiramente diversa. O agravo de petição trabalhista é conhecido 
pelo próprio juiz da execução, subindo, porém, à instância superior, se ele 
mantiver a sua decisão. 
(e) Agravo de instrumento (CLT, art. 897, b): é um recurso adicional, ou 
suplementar, que cabe dos despachos que denegarem a interposição de 
recursos. Também não deve ser confundido com o agravo de instrumento do 
processo civil. Como bem observou WAGNER D. GIGLIO, o agravo de 
instrumento trabalhista e o agravo de instrumento cível são, a toda evidência, 
recursos diferentes, que coincidem apenas no nome.66 
Além dos recursos previstos na CLT, cabem também no processo 
trabalhista vários recursos que constam do Código de Processo Civil, como o 
recurso adesivo, os embargos declaratórios ou o recurso extraordinário. E 
ainda recursos que constam de leis esparsas, como a revisão do valor da 
causa, o recurso de ofício, a correição parcial e os agravos regimentais. 
7. GRÁFICOS 
Esquemas dos dissídios individuais e dos dissídios coletivos. 
 
 
Seção V 
 
1. GERAL 
O Código de Processo Civil dispõe sobre as partes e seus procuradores, 
sobre a forma dos atos processuais, bem como sobre a atuação do juiz cível e 
o modo pelo qual ele dará a sua prestação jurisdicional. 
O processo civil é um actum trium personarum, ou seja, uma relação entre 
três pessoas, em que um litigante (autor) pede ao juiz que lhe reconheça ou 
faça valer um direito contra uma outra pessoa (que será o réu). 
Primeiro o autor terá de pedir ao juiz que este lhe reconheça seu direito. 
Teremos então o processo de conhecimento, em que o juiz entrará no mérito 
da questão, e tomará conhecimento das razões de ambas as partes. O 
processo de conhecimento termina com a sentença do juiz, acolhendo ou não 
a pretensão do autor, condenando ou não o réu a uma determinada 
prestação. 
 
Após a sentença, poderá o vencido recorrer para o 2.º grau, no prazo de 
15 (quinze) dias, onde a sentença será confirmada ou modificada. Quando 
não houver mais possibilidade de recurso, diz-se que a sentença transitou em 
julgado. Sobrevindo o trânsito em julgado, deve o réu cumprir o que foi 
determinado pela sentença. 
Para a compreensão do assunto é necessário esclarecer a diferença entre 
“processo” e “procedimento”. O processo é o conjunto das normas 
estabelecidas para a solução dos litígios. E procedimento é apenas um 
aspecto do processo, ou seja, é o modo ou o rito pelo qual o processo anda. 
O processo se divide em processo de conhecimento, processo de 
execução e processo cautelar. No processo de conhecimento o autor pede ao 
juiz que este lhe reconheça seu direito. No processo de execução o autor 
pede ao juiz que este faça valer um direito já reconhecido num título judicial 
ou extrajudicial. E no processo cautelar o autor pede ao juiz que este 
determine certas providências urgentes e inadiáveis, mesmo antes do 
processo principal, que será proposto logo após. 
Além dessas formas básicas, existem ainda inúmeros procedimentos 
especiais, regulados pelo Código de Processo Civil ou por leis avulsas, em 
que temos às vezes uma mistura de processo de conhecimento e processo de 
execução. 
2. OS PARTICIPANTES DO PROCESSO 
De forma esquemática, o processo é uma relação jurídica triangular, 
figurando o juiz no vértice e as duas partes, autor e réu, em oposição, na 
base. Várias outras pessoas, porém, participam do processo, algumas 
necessariamente e outras de modo facultativo. Em primeiro lugar, teremos ao 
lado de cada parte o seu respectivo advogado, pois ninguém pode estar em 
Juízo sem procurador legalmente habilitado (salvo no Juizado Especial Cível). 
Temos depois os auxiliares da Justiça, sem os quais não seria possível o 
andamento do processo, como o escrivão, os escreventes, o oficial de justiça, 
os peritos, os depositários, os administradores e os intérpretes. 
Em muitos processos intervém também o órgão do Ministério Público, 
como fiscal da lei ou como defensor, quando estão envolvidos interesses de 
menores, incapazes, ou nas causas referentes ao estado da pessoa, família, 
poder familiar, tutela, curatela, interdição, casamento, testamento, e em todos 
os casos em que há interesse público, evidenciado pela natureza da lide ou 
qualidade da parte. 
Também nos processos de violência doméstica contra a mulher (Lei 
11.340/2006 – Lei Maria da Penha). 
Além disso, podem ainda surgir outros participantes, como, por exemplo, 
nos seguintes casos: 
Litisconsórcio – quando há mais de um autor ou mais de um réu, litigando 
no mesmo processo. 
Assistência – alguém que tenha interesse jurídico na vitória de um dos 
litigantes pode entrar no processo como assistente, colocando-se ao lado do 
autor ou do réu, para auxiliá-lo. 
Oposição – pode também surgir um terceiro, que entra no processo para 
lutar tanto contra o autor como contra o réu, alegando que a coisa ou o direito 
pertence a ele, opoente, e não a qualquer um deles. 
Nomeação à autoria - A está usando um automóvel de B, a título de 
empréstimo, quando recebe uma citação judicial de C, que requereu a 
apreensão do veículo. A então deve comparecer ao processo e nomear o 
verdadeiro réu, que é B. 
 
3. DAS PROVAS 
Quem entra em Juízo deve provar o que alega, pois alegar e não provar é 
o mesmo que não alegar nada. Todos os meios de prova são válidos, desde 
que não sejam ilícitos ou imorais. Os meios de prova usuais são os 
documentos, as testemunhas, as declarações das partes, as vistorias e 
perícias, a inspeção judicial etc. Cada parte pode trazer até 10 testemunhas, 
mas se forem mais de 3 para a prova de cada fato, o juiz poderá dispensar as 
restantes. 
Se a testemunha intimada deixar de comparecer, sem motivo justificado, 
poderá ser conduzida, ou seja, trazida à força, por ordem do juiz, 
respondendo ainda pelas despesas causadas. O juiz ouve as testemunhas 
separada e sucessivamente, de modo que uma não ouça o depoimento das 
outras. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as 
incapazes (doentes mentais, menores de 16 anos, os cegos e os surdos, 
quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam), os 
impedidos (os parentes, salvo algumas exceções) e os suspeitos 
(condenados por falso testemunho, pessoa de maus costumes, amigos ou 
inimigos das partes, e os que tiverem interesse no litígio). 
Antes de iniciar seu depoimento, a testemunha presta o compromisso de 
dizer a verdade, e é advertida pelo juiz de que poderá ser processada 
criminalmente se fizer afirmação falsa, ou calar ou ocultar a verdade. O art. 
342 do CP impõe a pena de reclusão, de 1 a 3 anos, além de multa, para o 
crime de falso testemunho. 
Todavia, algumas pessoas podem escusar-se de depor. A testemunha não 
é obrigada a depor de fatos que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu 
cônjuge e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta, ou na 
colateral, em segundo grau (art. 406, I, do CPC). Também não são obrigadas 
a depor as pessoas que por estado ou profissão devam guardar sigilo. O 
advogado e o médico, por exemplo, têm odever de manter segredo do que 
souberam no exercício da profissão em relação ao cliente. 
 
4. O PROCESSO DE CONHECIMENTO 
O processo de conhecimento principia com a petição inicial, subscrita por 
advogado, em que o autor indicará a sua pretensão e os fundamentos 
jurídicos do pedido. O juiz poderá indeferir a petição inicial se entender que 
não está formulada de modo adequado. Poderá ordenar, também, que o autor 
a corrija ou complete. 
Se a petição estiver em ordem, o juiz determinará, então, a citação do réu. 
Como diz o art. 213 do CPC, a citação é o ato pelo qual se chama a juízo o 
réu ou o interessado a fim de se defender. Em regra, a citação é feita pelo 
correio, exceto nos casos indicados no art. 222 do CPC. Mas, conforme o 
caso, pode também ser feita por oficial de justiça ou por edital. 
Citado, terá o réu 15 (quinze) dias para apresentar a sua resposta. 
Decorrido o prazo de resposta, o juiz tomará providências para consertar 
eventuais irregularidades (providências preliminares). Em seguida fará uma 
avaliação geral, chamada julgamento conforme o estado do processo. 
No julgamento conforme o estado do processo abrem-se três caminhos 
para o juiz: 
(a) Extinção do processo. O juiz extinguirá o processo, por sentença, se 
não houver condições de prosseguimento regular, como na falta de 
pressupostos processuais ou de condições da ação, ou se ocorrerem certos 
fatos, como o acordo entre as partes. 
(b) Julgamento antecipado da lide. O juiz decidirá desde logo a questão, 
por sentença, se entender que os elementos existentes nos autos já são 
suficientes, especialmente no caso de revelia do réu. 
(c) Designação de audiência preliminar ou de conciliação. Se não for caso 
de extinção do processo, nem de julgamento antecipado, o juiz designará uma 
audiência de conciliação. Obtida a conciliação, será reduzida a termo e 
homologada por sentença, encerrando-se o processo. Caso contrário, o juiz 
confere a regularidade do processo e determina o seu prosseguimento, 
autorizando provas e designando audiência de instrução e julgamento, se 
necessário (decisão de saneamento). 
Realizam-se então diligências e perícias, e todos os atos necessários ao 
esclarecimento da causa. Na audiência de instrução e julgamento ouvem-se 
as partes (se for o caso) e as testemunhas, e se realizam os debates. 
Terminados os debates, profere o juiz a sentença, na própria audiência, ou no 
prazo de 10 (dez) dias, acolhendo ou rejeitando, total ou parcialmente, o que 
foi pedido pelo autor, condenando, ou não o réu a uma determinada 
prestação. 
ESQUEMA DO PROCESSO DE CONHECIMENTO 
(procedimento comum ordinário) 
 
5. OS RECURSOS 
No primeiro grau de jurisdição, os recursos mais usuais são a apelação, o 
agravo e os embargos de declaração. 
Apelação é o recurso que se pode interpor das sentenças proferidas pelos 
juízes. Entende-se como sentença o ato pelo qual o juiz põe termo ao 
processo, decidindo ou não o mérito da causa. O prazo da apelação é de 15 
dias. 
Agravo é o recurso que se pode interpor de certas decisões que resolvem 
apenas incidentes isolados do processo, sem encerrá-lo definitivamente. O 
prazo é de 10 dias. Na primeira instância, divide-se em agravo retido (regra) e 
agravo de instrumento (exceção). 
Embargos de declaração são um tipo de recurso dirigido ao próprio juiz da 
causa, e por ele decidido, em que se pede o esclarecimento de obscuridade, 
lacuna ou contradição da sentença. O prazo é de 5 dias. 
Além dos recursos citados, há ainda outros, cabíveis apenas em 2.ª 
instância, contra acórdãos, como os embargos infringentes, o recurso 
extraordinário ou o recurso especial, agravos regimentais e agravo contra 
despacho denegatório. 
A correição parcial não figura entre os recursos, mas constitui uma medida 
administrativa cabível contra atos do juiz que tumultuem o processo, em 
prejuízo da parte, quando no caso não houver um recurso específico. 
6. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA 
Transitada em julgado a sentença deve o réu cumpri-la. 
Na condenação em quantia certa ou já fixada em liquidação o pagamento 
deve ser efetuado em 15 dias, a contar do trânsito em julgado, sob pena de 
multa de 10% revertida a favor do credor (CPC, art. 475-J, na redação dada 
pela Lei 11.232/2005). 
Não tendo havido cumprimento passa-se para a execução, a requerimento 
do credor, com a expedição de mandado de penhora e avaliação, a cargo de 
oficial de justiça. Podem ser requisitadas informações ao sistema bancário 
sobre depósitos em dinheiro, com ordem de retenção (penhora on line). Pode 
ser determinada penhora de percentual de faturamento de empresa. 
Após a penhora o devedor poderá oferecer impugnação, no prazo de 15 
dias, caso entenda haver elementos a seu favor. 
Não oferecida impugnação, ou rejeitada esta, passa-se para a fase 
expropriação dos bens penhorados, para solução da dívida, na seguinte 
ordem de precedência: I) adjudicação, com a transferência de propriedade 
dos bens penhorados para o credor; II) venda por iniciativa particular; III) 
alienação em hasta pública; IV) usufruto do móvel ou imóvel penhorado, a 
favor do credor, pelo tempo julgado necessário à quitação da dívida. 
Nas obrigações de fazer ou não fazer, ou de entregar coisa, o 
cumprimento da sentença se fará por determinações do juiz (provimentos 
mandamentais), com aplicação de multa ou outras sanções. O desrespeito às 
determinações podem constituir ato atentatório à jurisdição com sanções civis 
e criminais (CPC, art. 14, parágrafo único). 
A execução pode ser definitiva ou provisória. A provisória cabe no caso de 
existir ainda recurso em andamento. 
7. EXECUÇÃO DE TÍTULOS JUDICIAIS 
Além da sentença há outros títulos judiciais, como o acordo judicial 
homologado, a sentença estrangeira homologada, o formal e a certidão de 
partilha etc. (CPC, art. 475-N). 
Em princípio, a execução desses outros títulos judiciais segue o mesmo 
procedimento da execução de sentença, com as adaptações devidas. 
8. EXECUÇÃO DE TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS 
Títulos extrajudiciais são títulos com força executiva própria, como por 
exemplo o cheque, a nota promissória ou a duplicata. 
A execução de títulos extrajudiciais tem procedimento autônomo, diverso 
da execução de sentença. Esta corre nos mesmos autos do processo de 
conhecimento, sem solução de continuidade, ao passo que nos títulos 
extrajudiciais trata-se de processo novo e independente. 
Na execução de título extrajudicial haverá sempre citação do réu, o que 
em regra não ocorre na execução de título judicial (salvo no caso de sentença 
penal nos seus efeitos civis, sentença arbitral e sentença estrangeira 
homologada pelo STJ). A defesa na execução extrajudicial faz-se por 
embargos e não por impugnação. 
9. O JUIZADO ESPECIAL CÍVEL 
A Lei 9.099, de 26.09.1995, instituiu os Juizados Especiais Cíveis e 
Criminais, devendo os Estados e o Distrito Federal providenciar a instalação 
dos mesmos. O art. 97 da Lei 9.099/1995 revogou a Lei 7.244/1984, que 
dispunha acerca do Juizado Especial de Pequenas Causas.67 
O Juizado Especial Cível julga uma série de causas menos complexas, 
assim consideradas, por exemplo, as que tenham valor até 40 salários 
mínimos, a ação de despejo para uso próprio, todas as ações relacionadas no 
art. 275, II, do CPC, como as ações de reparação de dano causado em 
acidente de veículo de via terrestre etc., e as ações possessórias sobre bens 
imóveis de valor não excedente a 40 salários mínimos. 
O Juizado trata também da execução de seus julgados, bem como da 
execução de títulos executivos extrajudiciais até 40 salários mínimos. 
O Juizado é opcional, não revogando os outros procedimentos. 
Figuram no Juizado Cível o juiz de direito, os conciliadores, os juízes 
leigos, os árbitros e a Secretaria. 
Os conciliadores auxiliam o juiz na tentativa de seobter um acordo entre 
as partes. 
Os juízes leigos podem substituir o juiz de direito em várias funções, até 
na prolação da sentença (nos casos em que tiverem dirigido o processo). Mas 
a sentença do juiz leigo tem de ser confirmada pelo juiz de direito, por 
homologação. 
O juiz de direito pode rejeitar a sentença do juiz leigo, proferindo outra em 
substituição. 
Os conciliadores devem ser bacharéis em direito e os juízes leigos devem 
ser advogados com mais de cinco anos de prática. A denominação “juízes 
leigos” não parece adequada, pois advogados não são leigos, ainda mais com 
cinco anos de experiência. 
O árbitro é um integrante do quadro de juízes leigos, que pode ser 
escolhido pelas partes, de comum acordo, para decidir a questão. O momento 
para a escolha do árbitro é na sessão de conciliação, depois de verificada a 
impossibilidade de acordo. 
A solução do árbitro chama-se laudo arbitral, devendo o mesmo ser 
confirmado pelo juiz de direito, por homologação. O laudo arbitral homologado 
é irrecorrível, não parecendo, por isso, a arbitragem, uma solução muito 
interessante para as partes, vez que das sentenças do juiz de direito ou do 
juiz leigo sempre cabe recurso. 
Não aceito o arbitramento, segue o processo normalmente, sob a direção 
do juiz, até final sentença. 
Só pessoas físicas podem demandar perante o Juizado, ficando excluídas, 
portanto, as pessoas jurídicas, que só podem figurar como rés. 
O processo é gratuito e se inicia pela reclamação do demandante perante 
a Secretaria do Juizado, de forma escrita ou oral. 
O processamento divide-se em duas fases. Primeiro o réu é citado para 
comparecer à sessão de conciliação e depois, se não houver acordo, e não 
for instituído o juízo arbitral, é ele intimado para comparecer à audiência de 
instrução e julgamento, caso possa resultar prejuízo à defesa a sua imediata 
realização, logo em seguida à tentativa de conciliação. 
O réu não pode faltar em nenhuma dessas duas ocasiões. A sua 
ausência, em qualquer delas, implica na aceitação da palavra do autor como 
verdadeira (em princípio) e julgamento imediato da lide. 
O réu, se for pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser 
representado por preposto credenciado. 
Nas causas de valor até 20 salários mínimos as partes podem comparecer 
com ou sem advogado, nas de valor superior, porém, é obrigatória a presença 
de advogado. 
As partes podem trazer testemunhas à audiência (até 3 para cada parte), 
ou requerer a intimação das mesmas, com cinco dias de antecedência. 
Da sentença cabe recurso, no prazo de 10 dias, para uma turma composta 
por três juízes de direito, do próprio Juizado. Para recorrer é necessário 
contratar advogado e pagar as custas. 
Não cabe recurso da homologação de acordo ou do laudo arbitral. 
A execução do julgado processa-se no próprio Juizado, sem nova citação. 
O devedor poderá oferecer embargos alegando falta ou nulidade de citação, 
excesso de execução erro de cálculo e existência de causa modificativa, 
impeditiva ou extintiva da obrigação, superveniente à sentença. 
Improcedentes os embargos, será o executado condenado ao pagamento de 
custas. 
10. A ARBITRAGEM 
A lei permite que as pessoas estabeleçam num contrato que eventuais 
divergências futuras, referentes ao contrato, sejam decididas por um ou mais 
árbitros previamente indicados pelos contratantes, ao invés de recorrerem ao 
Judiciário (Lei 9.307, de 23.09.1996). 
A arbitragem abrange somente direitos patrimoniais disponíveis. Questões 
de família, ou de ordem pública, por exemplo, não podem ser decididas por 
este meio. 
Árbitros podem ser particulares, órgãos arbitrais institucionais ou 
entidades especializadas. Pode ser indicado umárbitro só, ou três, ou vários 
árbitros, mas sempre em número ímpar. O tribunal arbitral é composto pela 
reunião dos árbitros indicados, um deles como presidente, por eles eleito. 
A opção pela arbitragem é feita no contrato, ou em documento avulso, por 
uma cláusula, chamadacláusula compromissória, com a indicação desde logo, 
ou não, do árbitro ou dos árbitros. 
Nos contratos de adesão, em série, ou de massa, a cláusula 
compromissória deve ser feita em documento anexo, ou em negrito, com 
assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. 
Se mais tarde surgir uma divergência, referente ao contrato, devem as 
partes reduzir a escrito o teor da controvérsia, indicando o árbitro ou os 
árbitros, se não o fizerem antes, comprometendo-se outrossim a acatar a 
decisão arbitral. Este segundo documento tem o nome de compromisso 
arbitral. 
A convenção de arbitragem envolve, portanto, dois compromissos, 
primeiro a cláusula compromissória, por ocasião do contrato ou em 
documento avulso, e depois o compromisso arbitral, quando surgir uma 
divergência referente ao contrato, a ser solucionada. 
Se uma das partes se esquivar ou se recusar a firmar o compromisso 
arbitral, pode a outra parte notificá-la pelo correio, ou por outro meio, 
mediante comprovação de recebimento, para comparecer e assinar o 
compromisso, em dia, hora e local indicados. 
Não comparecendo a parte convocada, deve o interessado dirigir-se ao 
Judiciário, onde o compromisso arbitral, se for o caso, poderá até ser imposto 
por sentença, em cumprimento à cláusula compromissória estabelecida no 
contrato. 
Investidos finalmente os árbitros nas suas funções, cabe-lhes decidir a 
controvérsia existente, respeitando os princípios do contraditório, da igualdade 
das partes e da imparcialidade. 
As partes podem postular por intermédio de advogado e designar quem as 
represente ou assista no procedimento arbitral, se assim desejarem. 
O que o árbitro decidir é definitivo. 
“O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica 
sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário” (Lei 9.307/1996, 
art. 18). 
Cabe, porém, pedido de esclarecimento aos árbitros, em 5 dias, no caso 
de obscuridade, dúvida, contradição ou omissão da sentença arbitral. 
A sentença do árbitro pode ser anulada, por ação judicial ordinária, 
proposta em 90 dias, no caso de nulidade do compromisso ou impedimento 
do árbitro, ou de algum outro vício arrolado no art. 32 da Lei 9.307/1996. 
As nulidades da sentença arbitral podem também ser arguidas nas 
execuções judiciais, por meio de embargos do devedor. 
 
Cabe salientar ainda que a arbitragem pode também ser pactuada pela 
partes na ocorrência de uma divergência sobre determinada questão 
patrimonial disponível, independentemente de convenção antecipada em 
contrato. 
Finalmente, é preciso destacar bem que o Código de Defesa do 
Consumidor (CDC) taxa de abusiva e nula de pleno direito a cláusula 
contratual relativa ao fornecimento de produtos e serviços que determine a 
utilização compulsória de arbitragem (art. 51, VII). 
Seção VI 
 
1. O INQUÉRITO POLICIAL 
Em regra, o processo penal é precedido por um inquérito policial, em que 
se investigam o crime e as circunstâncias envolvidas. Os elementos colhidos 
no inquérito servem de base para a posterior ação penal, a ser proposta em 
Juízo. O inquérito não é indispensável, podendo a ação penal iniciar-se sem o 
mesmo, desde que se disponha de outros elementos, que contenham indícios 
sobre a materialidade e a autoria do delito. 
O inquérito policial é instaurado pela autoridade policial, mediante a 
simples notícia do crime, ou a requerimento do ofendido, ou por requisição do 
juiz ou do promotor de justiça. 
2. A DENÚNCIA E A QUEIXA 
O processo penal inicia-se com o oferecimento da denúncia, que é um 
requerimento padrão elaborado pelo representante do Ministério Público. 
Deve a denúncia conter a descrição dos fatos, a imputação da autoria e a 
classificação do crime. Nos crimes de ação penal privada, a ação inicia-se 
com o oferecimento da queixa, que é uma peça técnicaidêntica à denúncia, 
só que subscrita pelo advogado, com poderes especiais, do ofendido. A 
denúncia e a queixa são apresentadas ao juiz, que poderá recebê-las ou não. 
A denúncia ou a queixa será rejeitada nas hipóteses arroladas nos incisos do 
art. 395 do CPP. 
3. CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA E CRIMES DE AÇÃO PRIVADA 
A ação penal pública, ou seja, o processo é instaurado, desenvolvido e 
concluído de ofício, pelas autoridades competentes, independentemente da 
vontade ou da iniciativa das partes. Às vezes a ação penal pública é 
condicionada, dependendo o seu início de representação do ofendido ou de 
seu representante legal, ou da requisição de certas autoridades, como, por 
exemplo, no crime contra a honra cometido contra o Presidente das República 
(art. 141, I c/c art. 145, parágrafo único, do CP). Em outros casos, porém, a 
ação penal é privada, ficando o seu exercício a critério do ofendido, como no 
crime de exercício arbitrário das próprias razões. Nos crimes de ação penal 
privada, portanto, o ofendido deve contratar advogado para propor a queixa-
crime e conduzir o processo penal até o fim, se quiser. 
Ação penal privada subsidiária da pública é a que se admite nos casos de 
ação penal pública, se esta não for iniciada pelo representante do Ministério 
Público dentro do prazo legal. Na ação penal privada subsidiária da pública o 
Ministério Público pode aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia 
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de 
prova, interpor recurso e, a todo tempo retomar a ação como parte principal, 
se o querelante for negligente. 
4. AS FORMAS PROCESSUAIS 
O processo penal pode desenvolver-se de várias formas. Temos o 
procedimento comum e os procedimentos especiais, sendo que o 
procedimento comum divide-se em ordinário, sumário e sumaríssimo. 
O procedimento comum ordinário aplica-se nos crimes com pena privativa 
de liberdade igual ou superior a 4 anos. O sumário com pena inferior a 4 anos. 
E o sumaríssimo com pena máxima cominada não superior a 2 anos 
(infrações penais de menor potencial ofensivo), cujo julgamento é atribuído ao 
Juizado Especial Criminal (CPP, art. 394; Lei 9.099/1995). 
Procedimentos especiais são os que no todo ou em parte se afastam do 
andamento comum, como o procedimento do Júri ou o referente a crimes 
contra a propriedade imaterial. 
5. PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO 
Com base no inquérito policial, ou com apoio em outros elementos, o 
representante do Ministério Público oferece a denúncia. Em certos casos, 
como vimos, a denúncia é substituída pela queixa (ou queixa-crime), oferecida 
pelo advogado do ofendido. Tanto a denúncia como a queixa podem ser 
rejeitadas pelo juiz, cabendo recurso dessa decisão. 
Em vez de oferecer a denúncia, poderá o representante do Ministério 
Público requerer o arquivamento do inquérito policial ou das peças de 
informação, se entender que não há indícios de crime. Se o juiz não 
concordar com o arquivamento, remeterá os autos ao Procurador-Geral de 
Justiça, para que este ofereça a denúncia, designe outro promotor para 
oferecê-la ou insista no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o 
juiz obrigado a atender. 
Ao receber a denúncia ou a queixa, o juiz manda citar o acusado, que terá 
10 dias para apresentar defesa. 
O juiz o absolverá desde logo (absolvição sumária) se verificar ausência 
de ilicitude ou culpabilidade, inexistência de crime ou punibilidade já extinta. 
Não sendo caso de absolvição sumária é designada audiência, ouvindo-se 
o ofendido e as testemunhas de acusação e de defesa, com as diligências 
necessárias, como perícias, acareações, reconhecimento de pessoas etc., 
seguindo-se por último o interrogatório do réu. 
Após o interrogatório, e não havendo necessidade de outras diligências, 
acusação e defesa terão 20 minutos cada para alegações finais orais, 
seguindo-se a sentença. Nos casos mais complexos poderão ser permitidas 
alegações finais por escrito, em 5 dias.68 
6. FUNCIONAMENTO DO JÚRI 
O júri julga os crimes dolosos contra a vida, que são os seguintes: 
homicídio, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, infanticídio e aborto 
(CP, arts. 121 a 128). 
O Tribunal do Júri compõe-se de um juiz de direito, que é o seu 
presidente, e de vinte e cinco (25) jurados (ou juízes de fato), sorteados entre 
os alistados, sete (7) dos quais constituirão o conselho de sentença em cada 
sessão de julgamento. 
O serviço do júri é obrigatório e os jurados, dentro de suas funções, têm as 
mesmas responsabilidades do juiz de direito. O exercício efetivo da função de 
jurado constitui serviço público relevante, estabelece presunção de 
idoneidade moral e assegura preferência, em igualdade de condições, nas 
concorrências públicas, concursos públicos e promoções funcionais (CPP, 
arts. 439 e 440). 
Todo ano o juiz-presidente elabora uma lista de 80 a 1.500 pessoas, 
conforme a comarca, registrando os nomes em cédulas, colocadas numa urna 
geral. 
Na época apropriada, antes de um julgamento ou de uma série de 
julgamentos, tiram-se da urna geral os nomes dos vinte e cinco (25) jurados, 
que serão chamados para servirem na sessão periódica. Esses 25 nomes 
serão colocados numa urna menor chamada urna de sorteio. 
No dia de cada julgamento tiram-se da urna de sorteio as cédulas 
correspondentes a sete jurados (sorteados dentre os 25) para comporem o 
conselho de sentença. 
Perante o juiz-presidente e os sete jurados, bem como os representantes 
da acusação e da defesa, ouvem-se a vítima e as testemunhas, procede-se à 
inquirição do réu, examinam-se as provas e se realizam os debates. 
Terminados os trabalhos os sete jurados são convidados para irem à sala 
especial (sala secreta). Nesta sala deverão eles dar a decisão sobre o caso, 
votando quesitos formulados e explicados pelo juiz-presidente. Conforme a 
votação dada aos quesitos, os jurados estarão condenando ou absolvendo o 
réu. Segue-se a sentença elaborada pelo juiz-presidente, de acordo com a 
votação dos jurados. 
7. O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL 
A Lei 9.099, de 26.09.1995, instituiu os Juizados Especiais Cíveis e 
Criminais, devendo os Estados e o Distrito Federal providenciar a instalação 
dos mesmos.69 
Compete ao Juizado Especial Criminal a conciliação, processo, julgamento 
e execução dascontravenções penais e dos crimes apenados com pena 
máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa (Lei 
11.313/2006). 
Figuram no Juizado Especial Criminal o juiz (juiz togado), os conciliadores, 
os juízes leigos e a Secretaria (equivalente ao Cartório). A lei federal, no caso, 
deixou a definição das funções dos juízes leigos para as leis locais, de 
organização judiciária. 
Nas infrações penais abrangidas pelo Juizado, a autoridade policial, ao 
tomar conhecimento do fato, lavra um termo circunstanciado (TC), requisita os 
exames necessários, e encaminha as partes imediatamente para o Juizado 
Especial Criminal, sem abertura de inquérito policial.70 
Em juízo há uma fase preliminar, em que se tenta um acordo entre as 
partes sobre a indenização dos danos, e o representante do Ministério Público 
propõe a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, a ser 
especificada na proposta, nos casos em que o agente possa merecer este 
tipo de tratamento (Lei 9.099/1995, art. 76, § 2.º). 
Havendo acordo sobre a indenização dos danos é o mesmo homologado, 
passando a valer como título executivo. 
Se o agente aceitar a proposta feita pelo representante do Ministério 
Público, pode o juiz aplicá-la por sentença, se entender estar a mesma dentro 
dos requisitos legais. 
Não aceita a proposta de pena, ou ausente o autor do fato, prossegue-se 
com imediata denúncia oral, formulada pelo representante do Ministério 
Público, se não houver necessidade de diligência. 
A denúncia é reduzidaa termo e se procede à citação do autor do fato, 
com a designação de audiência de instrução e julgamento. Se o agente 
estiver presente, a citação dá-se com a mera entrega a ele de cópia da 
denúncia. 
Se o agente não for encontrado para ser citado, cessa a função do 
Juizado Especial Criminal e se encaminha o caso para o Juízo comum para 
adoção do procedimento previsto em lei. 
Na data marcada para a audiência, repete-se a fase preliminar, antes da 
audiência, se não houve possibilidade de concretizá-la na ocasião própria, por 
não ter sido possível a intimação do agente. Sendo infrutífera a repetição da 
fase preliminar, passa-se para a audiência. 
Aberta a audiência de instrução e julgamento, fala primeiro a defesa, para 
responder à acusação; segue-se o recebimento da denúncia, a ouvida da 
vítima e das testemunhas, o interrogatório, os debates e a sentença. 
Da sentença cabe apelação, no prazo de dez dias, para uma turma de três 
juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição. 
8. SUSPENSÃO DO PROCESSO 
Em todos os crimes em que a pena mínima for igual ou inferior a um ano, 
pode o representante do Ministério Público, ao oferecer a denúncia, propor 
a suspensão condicional do processo, por dois a quatro anos, mediante certas 
condições, como, por exemplo, comparecer mensalmente a juízo. 
Se o acusado aceitar a proposta, e o prazo terminar sem revogação do 
benefício, fica extinta a punibilidade. Se a proposta não for aceita, segue o 
processo normalmente. 
Outro caso de suspensão do processo ocorre na suspensão em 
decorrência de citação por edital. Se o acusado, citado por edital, não 
comparecer, nem constituir advogado nos autos, no prazo de defesa prévia, 
suspende-se o processo e o curso do prazo prescricional, até o seu 
comparecimento. Comparecendo o acusado, passa o processo a andar 
normalmente. 
O juiz pode determinar a produção antecipada de provas, podendo 
também decretar a prisão preventiva, se for o caso (CPP, art. 366, caput). 
PARTE III - DIREITO PRIVADO 
Seção I 
 
INTRODUÇÃO 
O Direito civil é um conjunto de normas que regulamentam as relações 
jurídicas das pessoas entre si. 
A parte geral do Código Civil, de 2002, trata das pessoas naturais e 
jurídicas, dos bens e dos fatos jurídicos, dispondo sobre a criação, a 
modificação e a extinção de direitos. 
A parte especial trata das obrigações, do direito de empresa, do direito das 
coisas, do direito de família e do direito das sucessões. 
O direito das obrigações trata do vínculo pessoal que liga credores e 
devedores, tendo por objeto uma prestação patrimonial. O direito de 
empresa refere-se ao exercício profissional de atividade econômica 
organizada, para a produção ou circulação de bens ou de serviços. O direito 
das coisas versa sobre o vínculo que se estabelece entre as pessoas e os 
bens, como a propriedade, a posse ou a hipoteca. Odireito de 
família disciplina as relações pessoais e patrimoniais da família, como 
casamento, filiação, parentesco, poder familiar etc. E o direito das 
sucessões regula a transmissão dos bens das pessoas falecidas. 
 
 
1. PESSOA NATURAL OU FÍSICA 
Pessoa natural ou física é o ser humano, ou seja, a criatura que provenha 
de mulher. 
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a 
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. A existência da 
pessoa natural termina com a morte.1 Para efeitos civis, presume-se a morte 
em dois casos: (a) abertura de sucessão definitiva em processo de ausência; 
(b) indícios veementes (declarados por sentença), como morte provável de 
quem estava em perigo de vida (CC, art. 7.º). 
A morte presumida abre a sucessão definitiva (CC, art. 37) e dissolve o 
vínculo conjugal (CC, art. 1.571, § 1.º, e art. 6.º). 
2. CAPACIDADE CIVIL 
Capacidade civil é a aptidão da pessoa física para exercer direitos e 
assumir obrigações. Nem todos têm capacidade plena, pois há fatos que 
reduzem ou anulam essa capacidade. 
A maioridade civil ocorre aos 18 (dezoito) anos de idade. 
Poderá a maioridade ser declarada antes, nos seguintes casos: (a) 
emancipação, por concessão dos responsáveis; (b) casamento; (c) emprego 
público; (d) colação de grau em curso superior; (e) aquisição de economia 
própria, resultante de emprego ou estabelecimento civil ou comercial. 
Relativamente incapazes (que devem ser assistidos pelos pais ou 
responsáveis nos atos da vida civil) são os menores entre 16 (dezesseis) e 18 
(dezoito) anos, os ébrios habituais, os toxicômanos, os deficientes mentais, os 
excepcionais e os pródigos. Pródigo é quem esbanja desmedidamente os 
seus bens. 
Absolutamente incapazes (que devem ser representados pelos pais ou 
responsáveis nos atos da vida civil) são os menores de 16 (dezesseis) anos, 
os sem discernimento suficiente, por enfermidade ou deficiência mental, e os 
que não puderem exprimir a sua vontade. 
A capacidade civil dos índios regula-se por lei especial. 
A emancipação é dada em Cartório, por instrumento público, 
independentemente de homologação judicial. 
3. DIREITOS DA PERSONALIDADE 
O Código Civil protege os direitos da personalidade, assim entendidos os 
referentes ao nome, à divulgação não autorizada de escritos ou da própria 
imagem, bem como à disposição de órgãos para transplante (CC, arts. 11 a 
21). 
4. AUSÊNCIA 
Considera-se ausente a pessoa que desaparece de seu domicílio, não 
havendo dela notícia. A lei dá à ausência uma solução em três etapas. 
Se o ausente não deixou representante ou procurador, será feita a 
arrecadação judicial de seus bens, com a nomeação de um curador, 
publicando-se editais sobre o fato, de dois em dois meses. 
Um ano após o primeiro edital poderá ser aberta a sucessão provisória, 
entrando os herdeiros na posse dos bens, se prestarem garantia pignoratícia 
ou hipotecária de devolução integral, em caso de retorno do ausente. 
Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a 
abertura da sucessão provisória ou em 5 (cinco) anos das últimas notícias, se 
o ausente contar 80 (oitenta) anos de idade, converte-se a sucessão 
provisória em definitiva, com o levantamento das cauções prestadas. 
Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão 
definitiva, receberá ele os bens no estado em que se acharem. 
A sucessão definitiva faz presumir a morte e dissolve o vínculo conjugal. 
 
4.1 Morte presumida 
Independentemente do processo de ausência, pode também ser 
presumida a morte, desde logo, de pessoa que estava em perigo de vida, com 
falecimento extremamente provável, ou de pessoa desaparecida na guerra, 
em campanha ou feita prisioneira (CC, art. 7.º). A morte presumida abre a 
sucessão definitiva (CC, art. 37) e dissolve o vínculo conjugal (CC, art. 1.571, 
§ 1.º, c/c o art. 6.º, segunda parte). 
5. PESSOA JURÍDICA 
Pessoa jurídica é a entidade constituída de homens ou bens, com vida, 
direitos, obrigações e patrimônio próprios. 
São pessoas jurídicas de Direito público interno, por exemplo, a União, os 
Estados-membros, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e as 
autarquias. Os estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas 
pelo direito internacional público constituem as chamadas pessoas jurídicas 
de Direito público externo. 
São pessoas jurídicas de Direito privado as sociedades (civis e 
empresariais), associações e fundações, bem como as organizações 
religiosas e os partidos políticos (CC, art. 44). 
As sociedades e associações são organizações de pessoas reunidas 
intencionalmente para determinado fim, que se apresentam perante terceiros 
como se fossem uma pessoa só – a pessoa jurídica, que tem personalidade 
distinta da de seus membros. 
As associações destinam-se a fins não econômicos. 
A fundação, por sua vez, é a organização de um patrimônio destacado 
pelo instituidorcom uma finalidade. A fundação pode ser criada por escritura 
pública ou testamento, devendo o instituidor doar os meios necessários e 
especificar o fim a que se destina e a maneira de administrá-la. Para muitos 
autores, as fundações públicas são uma espécie de autarquia. 
A personalidade das pessoas jurídicas de direito privado inicia-se com a 
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro competente e termina com 
a sua dissolução. 
A falta do registro competente acarreta para a sociedade a consequência 
de ser considerada umasociedade de fato, ou “sociedade em comum”, 
respondendo os sócios solidária e ilimitadamente por todas as dívidas sociais. 
As pessoas jurídicas são representadas, ativa e passivamente, nos atos 
judiciais e extrajudiciais, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, 
não o designando, pelos seus diretores. 
6. DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA 
Os administradores ou sócios da pessoa jurídica poderão ser chamados a 
responder pessoalmente pelas dívidas destas, se a usarem para obter 
vantagens indevidas, em prejuízo dos credores, confundindo os patrimônios 
ou usando o nome social para fins alheios à sua finalidade (CC, art. 50). 
7. DOMICÍLIO 
A noção de domicílio é importante para completar a qualificação de uma 
pessoa, e para estabelecer o lugar onde deva responder por suas obrigações. 
Em regra, o devedor deve ser demandado no lugar do seu domicílio. 
O domicílio civil da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua 
residência com ânimo definitivo (CC, art. 70). 
Nesta definição, emprega a lei dois critérios; um critério objetivo (lugar) e 
um critério subjetivo ou psicológico (ânimo definitivo). Não basta, portanto, a 
simples residência temporária ou ocasional para se estabelecer o domicílio de 
uma pessoa. 
Pode, porém, a pessoa natural ter mais de um domicílio, o que ocorre 
quando tem duas ou mais residências, onde viva alternadamente, ou quando 
tenha vários centros de ocupações habituais. Neste caso, qualquer dessas 
residências ou centros de ocupação serão considerados como domicílio. 
E se a pessoa não tem residência habitual e vive viajando de um lugar 
para outro, como os saltimbancos de circo e certos ambulantes? Neste caso, 
o domicílio dessas pessoas será o lugar onde forem encontradas (CC, art. 72, 
parágrafo único). 
Domicílio voluntário é aquele cuja escolha depende apenas da vontade do 
indivíduo. 
Domicílio legal ou necessário é o estabelecido pela lei. Por exemplo, o 
domicílio do funcionário público efetivo será o do lugar onde exerce as suas 
funções; o domicílio do filho menor será o do pai; o dos presos, onde 
cumprem a sentença etc. 
O domicílio ou foro de eleição é o estabelecido por convenção das partes 
nos contratos. 
O domicílio da pessoa jurídica de direito privado será o da sua sede, mas 
se uma empresa tiver vários estabelecimentos em lugares diferentes, cada 
um será considerado domicílio para os atos nele praticados (CC, art. 75, § 
1.º). 
8. BENS E SUA CLASSIFICAÇÃO 
Bens ou coisas são os elementos que podem constituir o patrimônio de 
alguém. 
Os bens se classificam em: 
(a) corpóreos e incorpóreos; 
(b) móveis, imóveis e semoventes; 
(c) fungíveis e infungíveis; 
(d) consumíveis e inconsumíveis; 
(e) divisíveis e indivisíveis; 
(f) singulares e coletivos; 
(g) principais e acessórios; 
(h) pertenças; 
(i) públicos e particulares; 
(j) no comércio e fora do comércio. 
Corpóreos – são os bens físicos (uma mesa). 
Incorpóreos – são os bens abstratos (um direito). 
Móveis – são os suscetíveis de locomoção (uma cadeira). 
Semoventes – são os animais; no direito os animais estão incluídos na 
classe dos móveis ou dos imóveis por destinação. 
Imóveis – são os que não podem ser transportados sem alteração de sua 
substância. 
Subdividem-se em: 
(a) imóveis por natureza (o solo, o subsolo, o espaço aéreo etc.); 
(b) imóveis por acessão (construções, sementes lançadas a terra etc.); 
(c) imóveis por destinação (utensílios agrícolas, animais, fazenda de 
porteiras fechadas etc.); 
(d) imóveis por disposição legal (penhor agrícola, sucessão aberta etc.). 
Fungíveis – são os que podem ser substituídos por outros da mesma 
espécie, qualidade e quantidade (5 metros de tecido, 20 sacas de milho, o 
dinheiro etc.). 
Infungíveis – são os bens a que se atribui valor pela sua individualidade 
(uma tela de Portinari, a coroa de D. Pedro II, e todo e qualquer objeto que se 
deseja por si, sem admitir substituição). 
Consumíveis – são os que se destroem à medida que vão sendo utilizados 
(alimentos em geral, bens de consumo). O art. 86 do CC também considera 
como consumíveis os bens destinados à alienação; (neste sentido, tudo que 
está numa loja é consumível). 
Inconsumíveis – são os bens duráveis, ou seja, as coisas destinadas para 
uso e não para o consumo (um livro, uma máquina). 
Divisíveis – são os que podem se partir em porções reais e distintas, 
formando cada qual um todo perfeito (um prédio de apartamentos, um 
terreno). 
Indivisíveis – são os que não admitem divisão (um relógio, um cavalo etc.). 
Singulares – são as coisas consideradas de per si (um boi, um livro). 
Coletivos – são coisas agregadas num todo (uma boiada, uma biblioteca 
etc.). 
Principais – são os que assim se consideram em relação a outros, 
considerados acessórios (a árvore, em relação ao fruto). 
Acessórios – são as coisas que se consideram decorrentes de outras, 
chamadas principais (o fruto, em relação à árvore). 
Entre os acessórios contam-se as benfeitorias e os frutos. 
As benfeitorias se classificam em: 
(a) necessárias (conservação); 
(b) úteis (melhoramentos); 
(c) voluptuárias (embelezamento). 
Os frutos se classificam em: 
(a) naturais (frutos das árvores, crias dos animais etc.); 
(b) industriais (provenientes de atividades ou cultura); 
(c) civis (rendimentos). 
Pertenças – são bens com características próprias e individualizadas, que 
se juntam a outros bens, de modo duradouro, para uso, serviço ou 
embelezamento destes, como um ventilador dentro de um automóvel, ou 
flores artificiais dentro de uma casa. Parecem acessórios, mas não são, 
porque sua existência independe de outros bens, nem deles decorre. A rigor, 
poderiam ser classificados como bens acessórios acidentais. O contrato sobre 
o bem principal não abrange a pertença, salvo lei ou estipulação em contrário 
(CC, art. 94). 
Públicos – são os bens do domínio nacional, pertencentes à União, aos 
Estados ou Municípios. 
Particulares – são os bens que pertencem a pessoas físicas ou pessoas 
jurídicas de direito privado. 
No comércio – são os bens negociáveis. 
Fora do comércio – são os bens insuscetíveis de apropriação (luz solar, ar 
atmosférico etc.), e também as coisas inalienáveis, por destinação ou por lei 
(bem de família, imóvel gravado com inalienabilidade por cláusula 
testamentária etc.). 
9. NEGÓCIO JURÍDICO 
Chama-se fato jurídico o acontecimento decorrente da natureza ou da 
ação humana, que possa interessar ao direito. A chuva, por exemplo, é um 
fato natural, mas se estiver relacionada com um contrato de seguro, essa 
mesma chuva passa a ser um fato jurídico, que interessa para determinada 
relação de direito. 
Se o fato decorre da ação humana, e interessar ao direito, temos o que se 
denomina ato jurídico. 
O ato jurídico divide-se em duas categorias. 
A primeira classe é a do ato jurídico em sentido estrito. A lei, neste caso, 
delineia quase que inteiramente a forma, os termos e as decorrências ou as 
consequências do ato, restando ao agente pouca margem deliberativa. 
Exemplos citados são o reconhecimento de filho, ou o procedimento de 
interpelação judicial. 
A segunda categoria é o negócio jurídico, colocado agora em destaque no 
Código Civil. 
No negócio jurídico (queé espécie de ato jurídico), o agente tem um 
campo mais amplo de deliberação. Pode ele, no negócio jurídico, criar ou 
modificar direitos, estabelecer os termos do ato, e indicar as suas 
decorrências ou consequências, naturalmente dentro das balizas da lei. Diz 
VON BÜLOW que negócio jurídico é “a norma concreta estabelecida pelas 
partes”. O negócio jurídico típico é o contrato. 
A validade do ato e do negócio jurídico requer agente capaz, objeto lícito, 
possível, determinado ou determinável, e forma prescrita ou não proibida por 
lei (CC, art. 104). 
10. CONDIÇÃO, TERMO, ENCARGO 
A condição constitui uma cláusula, inserida no negócio jurídico, referente a 
evento futuro, do qual dependem os efeitos do ato. Não vale a condição 
deixada ao inteiro arbítrio da parte (pagarei 100, quando quiser). Tal condição 
invalida inclusive todo o negócio. Condição resolutiva é aquela cuja ocorrência 
extingue o ato ou a obrigação, como no caso da propriedade fiduciária, que 
desaparece com o pagamento final do débito. 
Termo é o momento, ou o fato, que marca o início (termo inicial) ou o fim 
(termo final) de um direito, de uma obrigação, ou de um prazo. Prazo é o 
espaço de tempo que corre entre o termo inicial e o termo final. 
Encargo é a imposição de fato ou tarefa acessória, exigida para se 
considerar válido o negócio jurídico, ou cumprida a obrigação. Considera-se 
não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo 
determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico (CC, 
art. 137). 
11. DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: ERRO, DOLO, COAÇÃO, 
ESTADO DE PERIGO, LESÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES 
Os atos jurídicos podem ser anulados se forem viciados por algum dos 
defeitos em epígrafe (CC, arts. 138 a 165). 
Erro é a falsa noção sobre alguma coisa. Equivale à ignorância, que é a 
ausência de conhecimento. Só anula o ato jurídico o erro substancial ou 
essencial (fazer uma doação, pensando tratar-se de venda; comprar um 
quadro de um pintor, pensando que é de outro). Não anula o ato o erro 
acidental ou secundário (comprar uma casa com duas janelas de frente, 
pensando que tinha três). 
Dolo é o artifício empregado para enganar alguém (não confundir com o 
dolo do Direito Penal). Não se considera dolo o simples elogio da mercadoria 
ou o exagero da publicidade (dolus bonus). Aqui também, à semelhança do 
que ocorre no erro, o dolo deve ser de certa gravidade (dolus malus); a ponto 
de se considerar que o ato jurídico sem ele não seria praticado. O dolo sobre 
aspectos secundários do negócio (dolo acidental) não anula o ato, dando 
direito, porém, a perdas e danos. 
Coação é a violência física ou moral que impede alguém de proceder 
livremente. Também deve ser de certa gravidade, a ponto de incutir fundado 
temor (CC, art. 151). Não se considera coação a ameaça do exercício normal 
de um direito, nem o simples temor reverencial (CC, art. 153). 
Estado de perigo caracteriza-se quando uma pessoa assume obrigação 
excessivamente onerosa, para salvar-se, ou a pessoa de sua família, de 
grave dano, conhecido pela outra parte (CC, art. 156). 
Lesão ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor 
da prestação oposta (CC, art. 157). 
Fraude contra credores é praticada pelo devedor insolvente, ou na 
iminência de o ser, que desfalca seu patrimônio, onerando ou alienando bens, 
subtraindo-os à garantia comum dos credores (CC, arts. 158 a 165). 
Caracteriza-se também a fraude pela simulação de dívidas, pagamento de 
dívida não vencida, remissão de dívida etc., desde que esses atos acarretem 
ou agravem a insolvência do devedor. Tais atos fraudulentos podem ser 
anulados. 
12. NULIDADES. ATOS NULOS E ATOS ANULÁVEIS 
A falta de algum elemento substancial do ato jurídico torna-
o nulo (nulidade absoluta) ou anulável(nulidade relativa). 
É nulo o ato jurídico: 
(a) quando praticado por pessoa absolutamente incapaz (menores de 16 
(dezesseis) anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem 
o necessário discernimento para a prática desses atos; os que, mesmo por 
causa transitória, não puderem exprimir sua vontade); 
(b) quando for ilícito ou impossível ou indeterminável o seu objeto (dívida 
de jogo, venda de terrenos em Marte); 
(c) o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
(d) quando não revestir a forma prescrita em lei (contrato verbal de 
seguro); 
(e) quando for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial 
para a sua validade (solenidades do casamento civil); 
(f) tiver por objetivo fraudar lei imperativa; 
(g) quando a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem 
cominar (alguma outra) sanção (casamento contraído perante autoridade 
incompetente, art. 166 do CC). 
É anulável o ato jurídico (além dos casos expressos em lei): 
(a) quando praticado por pessoa relativamente incapaz (maiores de 16 e 
menores de 18 anos); 
(b) quando viciado por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou 
fraude contra credores. 
A diferença entre ato nulo e anulável está no grau ou na gravidade do ato. 
Da violação de preceitos de ordem pública surge o ato nulo (nulidade 
absoluta), podendo esta nulidade ser arguida a qualquer tempo, por qualquer 
pessoa ou pelo Ministério Público. A nulidade absoluta deve ser pronunciada 
de ofício, pelo juiz, quando conhecer do ato ou dos seus efeitos. O ato nulo 
não pode ser convalidado nem ratificado. 
O ato anulável (nulidade relativa), ao contrário, pode ser ratificado pelas 
partes. Só os interessados diretos podem alegar a nulidade relativa. O 
Ministério Público não pode argui-la e o juiz não pode declará-la de ofício, 
sem provocação da parte. 
Alguns doutrinadores referem-se também a uma terceira categoria, a 
dos atos inexistentes, em que o grau de nulidade seria tão grande e tão 
patente, que não necessitaria ser declarado em Juízo, como o casamento de 
pessoas do mesmo sexo ou a compra e venda em que não se tenha fixado o 
preço. 
13. SIMULAÇÃO 
No direito anterior a simulação figurava entre os atos anuláveis, como 
defeito do ato jurídico (CC/1916, art. 102). 
No Código Civil atual a simulação torna o ato nulo (nulidade absoluta). 
A simulação consiste na realização de um negócio jurídico aparente, que 
não corresponde a real intenção das partes. Trata-se de ação bilateral, para 
enganar terceiros ou contornar a lei. 
Diz-se absoluta a simulação quando as partes não desejam realizar 
negócio algum, como na compra e venda fictícia, entre amigos, só para 
ludibriar credores. 
A simulação relativa (também chamada dissimulação) ocorre quando o 
negócio jurídico é um disfarce, para a obtenção dos efeitos de um outro 
negócio, constitutivo do verdadeiro objetivo das partes. Exemplo é uma 
compra e venda para disfarçar uma doação. 
Excepcionalmente, poderá até subsistir o negócio jurídico desejado, se por 
acaso o contrato fictício contiver requisitos para tanto, de substância e de 
forma (CC, art. 167, segunda parte, e art. 170). Hipótese, porém, de difícil 
alcance prático, diante da natureza da matéria. 
14. ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL 
Ato ilícito é o ato contrário ao direito, do qual resulta dano para outrem. A 
consequência do ato ilícito, na esfera civil, é a obrigação de reparar o dano 
(responsabilidade civil). 
O dano pode ser material ou moral. Dano material é o que afeta o 
patrimônio. Dano moral é o dano não econômico, que afeta diretamente a 
pessoa, física ou moralmente (em vez de “dano moral”, melhor seria dizer 
“dano pessoal”). 
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito” (CC, art. 186). 
O abuso de direito constitui tambémato ilícito, assim entendido o seu 
exercício além dos limites razoáveis, econômicos, sociais, de boa-fé ou de 
bons costumes (CC, art. 187). 
Deve haver um nexo causal entre a conduta do agente e o evento lesivo. 
Se não houver esse nexo, não haverá culpa nem dolo, mas apenas caso 
fortuito ou força maior (caso fortuito é o fato imprevisível, força maior é o fato 
previsível, mas inevitável). 
Responsabilidade objetiva. Em certos casos, a responsabilidade civil pode 
ser objetiva, independente de culpa, como ocorre na responsabilidade das 
estradas de ferro (Dec. 2.681, de 1912, art. 17), ou no caso de coisas caídas 
de uma habitação (CC, art. 938). 
Pode haver compensação de culpas. Se o prejudicado também for 
culpado, em parte, a indenização terá redução proporcional. 
15. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 
Prazo de prescrição é o prazo dado pela lei para reclamar, em Juízo ou 
fora dele, contra a violação de um direito (CC, art. 189). Prescreve, por 
exemplo, em três anos, a pretensão de obter ressarcimento de dano, por ato 
ilícito, a partir da data do fato (CC, art. 206, § 3.º, V). 
Prazo de decadência é o prazo fixado pela lei, ou convenção, dentro do 
qual a pessoa poderá exercer um direito, uma faculdade ou uma opção (CC, 
art. 207). Decai, por exemplo, do direito de arrependimento da compra 
realizada, o adquirente que não o exerce em 7 dias, a contar do recebimento 
do produto, se a encomenda foi feita por telefone (CDC, art. 49). 
A prescrição nasce depois da violação do direito. A decadência nasce com 
o próprio direito. A prescrição extingue a pretensão de agir em juízo ou fora 
dele contra a violação do direito. A decadência extingue o próprio direito. Os 
prazos de prescrição, no Código Civil, estão relacionados nos arts. 205 e 206, 
na Parte Geral. Os prazos de decadência encontram-se esparsos, na Parte 
Especial, junto ao artigo a que se referem. 
Os prazos de prescrição podem ser interrompidos (uma só vez), ou 
suspensos. Os prazos de decadência, salvo disposição em contrário, são 
contínuos e peremptórios, não podendo ser interrompidos nem suspensos. 
A prescrição pode ser interrompida (uma só vez) por diversos meios, como 
o protesto judicial, a citação e outras diligências previstas no art. 202 do CC. 
Interrompida a prescrição, volta ela a correr novamente, por inteiro, a partir do 
momento em que foi interrompida. No caso de suspensão, porém, o curso do 
prazo é bloqueado, por um determinado fato, voltando a correr depois por 
força de outro fato, apenas pelo tempo restante, não se contando o tempo em 
que ficou suspensa. A prescrição, por exemplo, é suspensa no tempo em que 
o titular do direito estiver servindo as Forças Armadas, em tempo de guerra 
(CC, art. 198, III). 
Em certos casos a prescrição é impedida, não podendo nem começar a 
correr. Não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade 
conjugal (CC, art. 197, I). Não corre a prescrição, entre várias outras 
hipóteses, contra os menores de 16 (dezesseis) anos (CC, art. 198, I). 
Há também certos direitos que são imprescritíveis, como o do marido de 
contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher (CC, art. 1.601). 
Com o advento da Lei 11.280/2006, a prescrição deve também ser 
decretada de ofício pelo juiz, assim como já ocorria com a decadência. 
 
Sumário: 1. Conceito – 2. Modalidades das obrigações – 3. Transmissão 
das obrigações – 4. Adimplemento e extinção das obrigações: 4.1 
Pagamento; 4.2 Pagamento por consignação; 4.3 Pagamento com sub-
rogação; 4.4 Imputação do pagamento; 4.5 Dação em pagamento; 4.6 
Novação; 4.7 Compensação; 4.8 Confusão; 4.9 Remissão – 5. 
Inadimplemento das obrigações: 5.1 Mora; 5.2 Perdas e danos; 5.3 Juros 
moratórios; 5.4 Cláusula penal; 5.5 Arras ou sinal. 
1. CONCEITO 
Obrigação é o vínculo de direito que se estabelece entre credores e 
devedores, tendo por fim uma prestação de valor econômico. As obrigações 
têm várias origens, como a lei, o contrato, o ato ilícito, ou a responsabilidade 
civil. 
2. MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES 
Basicamente as obrigações dividem-se em obrigações de dar ou 
restituir (dar ou restituir dinheiro ou um livro), de fazer (fazer uma casa), ou de 
não fazer (não abrir outro estabelecimento no mesmo bairro). A coisa a ser 
dada é certa, quando perfeitamente especificada (cinco livros de Vitor Hugo, 
encadernados, da editora X, edição de 1930), e é incerta quando não 
perfeitamente especificada (cinco livros). 
As obrigações podem ainda ser classificadas em simples, quando há um 
só credor, um devedor e um objeto; complexas, quando há mais de um credor 
ou devedor ou mais de um objeto; cumulativas, quando há várias obrigações 
e o devedor só se exonera cumprindo todas; alternativas, quando há só uma 
obrigação estipulada, mas a lei ou o contrato permitem que o devedor se 
exonere entregando uma outra prestação; divisíveis, quando o devedor pode 
cumprir a obrigação por partes; indivisíveis, quando o devedor não pode 
cumprir a obrigação por partes; solidárias, quando há mais de um credor ou 
mais de um devedor, cada um com direito ou obrigação à dívida toda (a dívida 
solidária é indivisível); de resultado, quando a obrigação só se considera 
cumprida com a obtenção de determinado resultado; de meio, quando o 
devedor só é obrigado a empenhar-se para conseguir certo resultado, estando 
cumprida a obrigação mesmo que este não venha a ser alcançado, como o 
médico ou o advogado em relação ao cliente;principais, as que têm vida 
própria; acessórias, as subordinadas ou dependentes das 
principais;condicionais, quando vinculadas a acontecimento futuro e incerto, 
como a doação dependente do casamento do donatário; modais, quando se 
impõe um encargo ao beneficiário de uma liberalidade etc. 
 
3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES 
Cessão de crédito. O crédito pode ser cedido a outrem (CC, art. 286). Para 
ter valor contra terceiros, deve a cessão ser feita por instrumento público, em 
cartório, ou por instrumento particular, com indicação dos dados do negócio, à 
semelhança do que ocorre na outorga de mandato, referida no art. 654, § 1.º, 
do CC. 
Assunção de dívida. Havendo consentimento expresso do credor, pode 
terceiro assumir a obrigação do devedor (CC, art. 299). 
4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 
O Código regula o adimplemento (ou cumprimento) das obrigações, e os 
modos de sua extinção: pagamento, pagamento em consignação, pagamento 
com sub-rogação, imputação de pagamento, dação em pagamento, novação, 
compensação, confusão e remissão. 
4.1 Pagamento 
O pagamento é o cumprimento dado a uma obrigação, em dinheiro ou 
coisa. Constitui meio de extinção da obrigação. O pagamento possui três 
elementos básicos: (a) um vínculo obrigacional que o justifique; (b) a pessoa 
que paga; (c) a pessoa que recebe. 
O pagamento indevido ocorre quando não há vínculo obrigacional que o 
justifique. É necessário verificar se a pessoa que recebe é o credor legítimo, 
ou tem procuração bastante para receber e dar quitação, pois, quem paga mal 
paga duas vezes. 
4.2 Pagamento por consignação 
O pagamento por consignação é o depósito judicial feito em pagamento de 
uma dívida, quando o credor se recusa a receber, quando o credor for 
desconhecido ou ausente, ou quando ocorrer dúvida sobre quem deve 
receber. O depósito se efetua por meio de ação própria, chamada ação de 
consignação em pagamento. O depósito também pode ser feito em 
estabelecimento bancário (CC, art. 334; CPC, art. 890, § 1.º). 
4.3 Pagamento com sub-rogação 
O pagamento com sub-rogação ocorre quando a dívida é paga por um 
codevedor, ou interessado, transferindo-se para ele os direitos do título. Ou, 
no caso de o débito ser pago pelo adquirente do imóvel hipotecado, a 
transferência para ele dos direitos respectivos (art. 346 do CC). 
4.4 Imputação do pagamento 
Significa indicaçãode qual débito se está pagando, existindo dois ou mais, 
líquidos e vencidos, relativos ao mesmo credor (CC, art. 352). 
4.5 Dação em pagamento 
O credor pode consentir em receber coisa que não seja dinheiro, em 
substituição da prestação que lhe era devida; o pagamento feito dessa forma 
chama-se “dação em pagamento”. 
4.6 Novação 
A novação é a substituição de uma obrigação por outra. Opera-se pela 
substituição do objeto da obrigação, pela substituição do sujeito passivo, ou, 
ainda, pela substituição do sujeito ativo. Em todos esses casos, surge uma 
nova relação jurídica, que extingue e substitui a anterior. Exemplo: A deve 100 
para B; mas B transfere o crédito para C (substituição do sujeito ativo). 
4.7 Compensação 
A compensação é a extinção de uma obrigação pela recíproca 
equivalência de débitos entre os contratantes. A compensação é matéria de 
defesa, e só pode ser alegada quando os dois débitos são líquidos e 
vencidos. Exemplo: A deve 100 para B, mas B também deve 100, para A. 
4.8 Confusão 
A confusão ocorre quando o devedor e o credor passam a ser uma só 
pessoa, extinguindo-se por isso a obrigação. Exemplo: A deve 100 para B, 
mas B morre e A é o seu único herdeiro. 
4.9 Remissão 
A remissão é o ato pelo qual o credor dispensa graciosamente o devedor 
de pagar a dívida. É um ato bilateral, pois depende da concordância do 
devedor. 
5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 
O Código Civil regula o inadimplemento (ou descumprimento) das 
obrigações, e seus aspectos correlatos: mora, perdas e danos, juros 
moratórios, cláusula penal, arras ou sinal. 
5.1 Mora 
A mora ocorre quando o devedor não efetua o pagamento, ou o credor 
não quiser receber no tempo, lugar e forma convencionados. A mora pode 
ser, portanto, do devedor ou do credor. O local do pagamento é importante 
para se saber se a mora é do devedor ou do credor. 
Se o pagamento devia ser feito no domicílio do devedor (dívida querable) 
e o credor não foi lá para receber, não houve mora do devedor. E se o 
pagamento devia ser feito no domicílio do credor ou em local por ele indicado 
(dívida portable), e o devedor não foi lá para pagar, então houve mora do 
devedor. Se nada nesse sentido foi estipulado no contrato, presume-se que o 
local para o pagamento é o domicílio do devedor. 
5.2 Perdas e danos 
Perdas e danos. Deve reparar as perdas e danos aquele que causar 
prejuízos a alguém, ou pelo descumprimento de um contrato ou pela prática 
de ato ilícito, por dolo ou por culpa. A indenização devida abrange não só o 
prejuízo efetivo imediato (danos emergentes), mas também o que o 
prejudicado deixou de lucrar (lucros cessantes). 
Exemplo: Um caminhão abalroa um táxi. O dono do táxi pode reclamar 
não só as despesas de conserto (danos emergentes), mas também o que 
deixou de ganhar, por ficar parado (lucros cessantes). 
 
5.3 Juros moratórios 
Quando não convencionados, ou sem taxa estipulada, ou devidos em 
razão de lei, seguem a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento 
de impostos devidos à Fazenda Nacional (CC, art. 406; CTN, art. 161, § 1.º). 
5.4 Cláusula penal 
A cláusula penal, ou multa convencional, é uma convenção na qual as 
partes se obrigam a pagar uma determinada multa no caso de violação do 
contrato. Num compromisso de compra e venda, por exemplo, se estabelece 
uma pena para aquele que infringir o contrato. A cláusula penal é uma 
obrigação acessória, que serve para reforçar o cumprimento da obrigação 
principal, bem como para fixar previamente o valor das perdas e danos em 
caso de descumprimento. 
A multa estabelecida não pode ser superior ao valor da obrigação 
principal. Nos contratos de mútuo (empréstimo de coisas fungíveis, como o 
dinheiro, por exemplo), a multa contratual não poderá ser superior a 10% (dez 
por cento) do valor da dívida (Lei de Usura – Dec. 22.626, de 07.04.1933). Se 
a obrigação foi parcialmente cumprida, pode o juiz reduzir proporcionalmente 
a multa estipulada, se o caso chegar a ser discutido em juízo. 
A multa é moratória quando há atraso na prestação ou descumprimento de 
uma cláusula. E écompensatória quando ocorre a inexecução total da 
obrigação principal. Ocorrendo mora, o credor pode exigir o cumprimento da 
obrigação principal, e mais a multa. Na inexecução total, porém, o credor só 
pode exigir, alternativamente, ou a multa ou o cumprimento da obrigação. 
A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação 
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for 
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do 
negócio (CC, art. 413). 
5.5 Arras ou sinal 
As arras ou sinal constituem uma garantia dada pela parte, para a 
conclusão ou a execução do contrato. Se for admitido o direito de 
arrependimento, quem deu as arras perde-as para a outra parte, e quem as 
recebeu deverá devolvê-las em dobro (CC, art. 420). 
 
Sumário: 1. Conceito e elementos – 2. Proposta de contrato – 3. 
Classificação dos contratos – 4. Estipulação em favor de terceiro – 5. 
Promessa de fato de terceiro – 6. Vícios redibitórios – 7. Evicção – 8. Extinção 
do contrato. Terminologia: resolução, resilição, rescisão – 9. Cláusula 
resolutiva – 10. Exceção de contrato não cumprido – 11. Resolução por 
onerosidade excessiva. 
1. CONCEITO E ELEMENTOS 
Contrato é a convenção estabelecida entre duas ou mais pessoas, para 
constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial. O 
contrato se forma pela proposta e pela aceitação. Considera-se celebrado o 
contrato no lugar em que foi proposto. 
A validade do contrato exige os requisitos do negócio jurídico: agente 
capaz, objeto licito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita 
ou não proibida por lei. 
Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (CC, art. 426). 
2. PROPOSTA DE CONTRATO 
Em princípio, a proposta de contrato e a oferta ao público vinculam o 
proponente. Salvo em certos casos, previstos nos arts. 427 a 429 do CC, 
como a proposta a pessoa presente, não imediatamente aceita. A informação 
ou publicidade obriga o fornecedor e integra o contrato que vier a ser 
celebrado (CDC, art. 30). 
3. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
A classificação correta de um contrato é muito útil para uma boa 
interpretação e uma definição mais perfeita das obrigações de cada 
contratante. Os contratos costumam ser classificados da seguinte forma: 
(a) Bilaterais ou unilaterais. Nos bilaterais há obrigações para ambas as 
partes, como na compra e venda. Nos contratos unilaterais apenas uma das 
partes se obriga em relação à outra, como na doação pura. 
(b) Onerosos ou gratuitos. Nos onerosos, ambas as partes têm obrigações 
patrimoniais, como na compra e venda. Nos gratuitos, apenas uma das partes 
se compromete economicamente, como na doação pura. 
(c) Comutativos ou aleatórios. Nos comutativos, cada uma das partes 
recebe uma contraprestação mais ou menos equivalente, como na compra e 
venda. Nos contratos aleatórios, porém, uma das partes se arrisca a não 
receber nenhuma contraprestação patrimonial efetiva e equivalente, como no 
contrato de seguro ou de aposta (alea, em latim, significa ‘sorte’). 
(d) Instantâneos ou sucessivos. Instantâneos são os de cumprimento em 
uma só prestação. Sucessivos, os que se cumprem em várias prestações 
sucessivas. A compra e venda será instantânea ou sucessiva, conforme o 
pagamento seja em uma ou mais prestações. 
(e) Formais ou não formais. Formais são os contratos em que a lei exige 
que sejam feitos de determinada forma, como, por exemplo, o seguro, que 
deve ser feito por escrito; ou a compra e venda de imóvel, que deve ser feita 
por escritura pública; ou a fiança, que só pode dar-se por escrito etc. Os 
contratos não formais são os de forma livre, ou seja, os que podem ser feitos 
como os contratantesquiserem, à vontade, tanto por escrito como 
verbalmente, com ou sem testemunhas etc., como, por exemplo, a compra e 
venda de bens móveis em geral. A maioria dos contratos encontra-se na 
classe dos não formais. 
(f) Principais ou acessórios. Principais são os contratos que têm vida 
própria e existem de modo independente, como o contrato de locação ou 
aluguel. Acessórios são os contratos que só existem em razão de um outro, 
que é o principal, como o contrato de fiança em relação ao contrato de 
aluguel, ou o contrato de penhor em relação ao contrato de empréstimo. 
(g) Paritários ou de adesão. No contrato paritário ambas as partes estão 
em pé de igualdade e debatem livremente todos os aspectos do negócio, 
escolhendo livremente o outro contratante, como na compra e venda de bens 
móveis, na troca etc. 
No contrato de adesão, porém, uma das partes detém o monopólio de um 
determinado serviço, e impõe todas as cláusulas, em bloco, cabendo à outra 
apenas aderir ou não ao estipulado. Daí o nome de contrato de adesão. São 
contratos de adesão os oferecidos por concessionários de serviços públicos, 
como o transporte urbano, fornecimento de água, gás, energia elétrica etc. 
Nos contratos de adesão as cláusulas ambíguas ou contraditórias são 
interpretadas a favor do aderente (CC, art. 423). 
“Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com 
caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao 
corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor” (art. 54, § 
3.º, do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/1990). 
(h) Abstratos ou causais. Abstratos são os contratos que valem pela forma 
externa, independentemente do negócio que os originou, como a entrega de 
uma nota promissória. Causais são os contratos onde se pode discutir a 
validade do negócio subjacente, como na duplicata. 
(i) Consensuais ou reais. Num sentido amplo, todos os contratos são 
consensuais, pois a validade do contrato exige acordo de vontades. Mas num 
sentido mais estrito, diz-se que são consensuais os contratos que se 
completam com o simples consentimento das partes, como no contrato de 
compra e venda. Os contratos reais, ao contrário, são aqueles que, além do 
consentimento, exigem a entrega da coisa para se completarem, como o 
empréstimo, o depósito, o penhor etc. 
Atípicos. São os contratos não previstos expressamente em lei. As partes 
podem criá-los, respeitadas as normas gerais (CC, art. 425). 
Observe-se que um mesmo contrato encontra-se geralmente sob várias 
classificações. Assim, por exemplo, o contrato de compra e venda de uma 
mesa, com pagamento à vista, será um contrato bilateral, oneroso, 
comutativo, instantâneo, não formal, principal, paritário, causal e consensual. 
 
4. ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO 
Na lição de CLÓVIS BEVILAQUA, a estipulação em favor de terceiro 
ocorre “quando uma pessoa convenciona com outra certa vantagem em 
benefício de terceira, que não toma parte no contrato”. Exemplos são a 
constituição de renda, o seguro em favor de terceiro e a fundação. 
Pode ser feita por contrato ou por testamento. O estipulante pode 
reservar--se o direito de substituir o terceiro designado (CC, art. 438). 
5. PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO 
A pessoa pode fazer um contrato, comprometendo-se a obter determinado 
fato de terceiro. 
O contratante assume uma obrigação de fazer (de obter a ação do 
terceiro) e responde por perdas e danos se o terceiro não executar o 
pactuado. O terceiro é alheio ao contrato e por ele não responde. 
Exemplo seria a venda de imóvel indiviso, prometendo-se que um dos 
coproprietários, ainda menor, venderá também a sua parte quando se 
emancipar (cf. CARVALHO DOS SANTOS). 
6. VÍCIOS REDIBITÓRIOS 
Chamam-se vícios redibitórios os defeitos ocultos da coisa, que a tornam 
imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminuam o valor. Por exemplo, 
uma máquina têxtil, com um defeito que não podia ser percebido pelo 
comprador. 
O vício redibitório pode ser alegado em qualquer contrato comutativo e 
aplica-se especialmente à compra e venda. O prejudicado pode rescindir o 
contrato e exigir a devolução da importância paga (ação redibitória). Pode 
também, se preferir, pedir apenas um abatimento de preço (ação quanti 
minoris). 
O prazo para reclamação é de 30 (trinta) dias, nas coisas móveis, e um 
ano, nos imóveis, contados da entrega efetiva (CC, art. 445). Para os defeitos 
que só se podem ver mais tarde, conta-se o prazo a partir da constatação do 
defeito, até 180 (cento e oitenta) dias para móveis e um ano para imóveis 
(CC, art. 445, § 1.º). 
No Código de Defesa do Consumidor o prazo é de 30 (trinta) dias para 
produtos não duráveis e de 90 (noventa) dias para duráveis, a partir da 
constatação do defeito (CDC, art. 26). 
7. EVICÇÃO 
Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção (CC, art. 447). 
“Dá-se a evicção quando o adquirente de uma coisa se vê total ou 
parcialmente privado da mesma, em virtude de sentença judicial, que a atribui 
a terceiro, seu verdadeiro dono”.2 
8. EXTINÇÃO DO CONTRATO. TERMINOLOGIA: RESOLUÇÃO, 
RESILIÇÃO, RESCISÃO 
Resolução é a extinção do contrato, por uma das seguintes causas: (a) 
cumprimento; (b) descumprimento; (c) termo final; (d) advento de um fato ou 
uma condição. Do latim, resolvo, ere, dissolver, desligar. 
A parte lesada pelo inadimplemento (descumprimento) pode pedir a 
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em 
qualquer dos casos, indenização por perdas e danos (CC, art. 475). 
Resilição é o desfazimento do contrato por vontade das partes. Sendo 
bilateral, chama-se também “distrato”. Se for unilateral, por vontade de uma 
só das partes, denomina-se “resilição unilateral” (CC, art. 473), ou, também, 
“denúncia”. Do latim, resilio, ire, saltar para trás, voltar saltando. No que tange 
à denúncia, do latim denunciare, declarar solenemente, anunciar. 
O distrato deve ter a mesma forma do contrato (CC, art. 472). A resilição 
unilateral, ou denúncia, faz-se por notificação (CC, art. 473). Se envolver 
investimentos de vulto, a resilição unilateral não produzirá efeito de imediato, 
mas só depois de um prazo razoável (CC, art. 473, parágrafo único). 
Rescisão é um termo genérico, que abrange tanto a resolução como a 
resilição, sendo mais empregada na extinção por via judicial. Do 
latim, rescindo, ere, romper, cortar, separar rasgando. 
 
9. CLÁUSULA RESOLUTIVA 
Considera-se que em todos os contratos existe implícita ou tacitamente 
uma cláusula que rescinde o pacto no caso de descumprimento. O fato deve 
ser objeto de interpelação judicial, desnecessária, porém, se a cláusula 
constar expressamente do contrato (CC, art. 474). 
10. EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO 
Exceção de contrato não cumprido é a regra segundo a qual, nos 
contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprir a sua 
obrigação, pode exigir o cumprimento da do outro (CC, art. 476). 
11. RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA 
Nos contratos de execução continuada, ou para cumprir depois de certo 
tempo, pode o devedor pedir a resolução (rescisão) do mesmo, se a sua 
prestação aumentar desmedidamente, por causa de fatos extraordinários e 
imprevisíveis (CC, art. 478). 
A regra baseia-se na teoria da imprevisão, que se contém na 
cláusula rebus sic stantibus (enquanto as coisas ficarem como estão), 
implícita em todos os contratos. Exemplo seria a eclosão de uma inflação 
repentina e inesperada. 
 
 
Sumário: 1. Compra e venda – 2. Modalidades da compra e venda – 3. 
Troca ou permuta – 4. Contrato estimatório (venda em consignação) – 5. 
Doação – 6. Locação de coisas – 7. Empréstimo: o comodato e o mútuo – 8. 
Prestação de serviço – 9. Empreitada – 10. Depósito – 11. Mandato – 12. 
Comissão – 13. Agência e distribuição – 14. Corretagem– 15. Transporte – 
16. Seguro – 17. Constituição de renda – 18. Jogo e aposta – 19. Fiança – 20. 
Transação – 21. Compromisso (arbitragem). 
1. COMPRA E VENDA 
Pelo contrato de compra e venda, a pessoa transfere a propriedade de 
coisa, mediante pagamento em dinheiro. São elementos essenciais o acordo 
de vontades, a coisa, e o preço (CC, art. 481). 
Considera-se concluído o contrato com a aceitação da oferta. E cumprido 
com a transferência da propriedade e o pagamento do preço. 
O vendedor responde por vícios redibitórios e pela evicção. 
2. MODALIDADES DA COMPRA E VENDA 
Venda de coisa futura. Pode-se vender coisa futura, mas o contrato ficará 
sem efeito se a coisa não vier a existir, salvo se o comprador tiver assumido 
esse risco (CC, art. 483). 
Venda por amostra. A coisa vendida deve corresponder à amostra, se esta 
serviu de modelo (CC, art. 484). 
Venda de ascendente a descendente. É anulável se feita sem o 
consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do vendedor (CC, art. 
496). 
Retrovenda. É uma cláusula pela qual o vendedor, após a venda, poderá 
recomprar a coisa, valendo a estipulação inclusive contra terceiros, em até 3 
(três) anos (CC, art. 505). 
Preempção ou preferência. É o direito do vendedor de ter preferência na 
recompra da coisa, durante certo período, preço por preço, se futuramente o 
comprador resolver vendê-la ou dá-la em pagamento (CC, art. 513). 
Venda com reserva de domínio (coisas móveis). O vendedor só entrega a 
posse, transferindo-se a propriedade somente a final, com o pagamento 
integral do preço (CC, art. 524). O contrato deve ser escrito e registrado. 
Havendo mora, tem o vendedor dois caminhos: (a) ação de cobrança das 
prestações vencidas e a vencer, mais encargos devidos; (b) recuperar a 
posse da coisa, começando, para isso, com o protesto do título ou 
interpelação judicial (CC, arts. 525 e 526). Na última hipótese, pode o 
vendedor reter prestações pagas, na medida suficiente para se ressarcir da 
depreciação da coisa, das despesas, e do mais que de direito lhe for devido, 
devolvendo o resto ao comprador (CC, art. 527). 
Venda sobre documentos. Na venda sobre documentos, a entrega da 
coisa é substituída pela entrega do seu título representativo (CC, art. 529). 
Exemplo da espécie é o conhecimento de depósito, dos armazéns gerais, cujo 
endosso transfere a propriedade das coisas depositadas. 
Venda ad corpus ou ad mensuram. Refere-se à venda de imóveis. Ad 
corpus é a venda do imóvel como peça ou unidade caracterizada, sem 
relação exata da área com o preço, como, por exemplo, a venda do “sítio do 
Pica-pau Amarelo”, com cerca de 3.000 m2 (três mil metros quadrados). Ad 
mensuram é a venda de imóvel com preço vinculado exatamente com a área. 
Venda em consignação. Ver, adiante, o item contrato estimatório. 
3. TROCA OU PERMUTA 
A troca ou permuta é um contrato semelhante à compra e venda, mas com 
pagamento em mercadorias, em vez de dinheiro. 
Como bem definia o revogado art. 221 do CC, “o contrato de troca ou 
escambo mercantil opera ao mesmo tempo duas verdadeiras vendas, 
servindo as coisas trocadas de preço e compensação recíproca. Tudo o que 
pode ser vendido pode ser trocado”. 
4. CONTRATO ESTIMATÓRIO (VENDA EM CONSIGNAÇÃO) 
O Código Civil trata da matéria de modo autônomo. Na verdade, porém, 
trata-se de mera modalidade de compra e venda. O fornecedor entrega em 
depósito, a um revendedor, certa quantidade da mercadoria. Ao fim de certo 
tempo, o revendedor paga as mercadorias que conseguiu revender, e devolve 
as restantes. A compra e venda restringe-se às mercadorias revendidas. 
Contrato estimatório era o nome dado à espécie na Roma antiga. 
Modernamente, no comércio, usou-se sempre “venda em consignação”. Mas 
o Código Civil preferiu voltar à antiga denominação romana, contrato 
estimatório (CC, art. 534). 
5. DOAÇÃO 
Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, 
transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o patrimônio de outra, 
que os aceita (CC, art. 538). 
A doação é pura, quando feita por simples liberalidade; remuneratória, 
quando com a mesma se pretende retribuir um serviço ou favor prestado 
gratuitamente; com encargo, quando o doador impõe ao donatário uma 
obrigação que ele deve cumprir, como a doação de um terreno com o encargo 
de cuidar sempre de determinadas árvores, sob pena de revogação da 
liberalidade; condicional, quando sua eficácia depende de acontecimento 
futuro e incerto. 
É nula a doação de todos os bens (CC, art. 548). A doação pode ser 
revogada por ingratidão ou descumprimento do encargo (CC, art. 555). Se a 
coisa é dada como pagamento, não será doação, mas dação em pagamento 
(CC, art. 356). 
 
6. LOCAÇÃO DE COISAS 
Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por 
tempo determinado ou indeterminado, o uso e o proveito de coisa não 
fungível, mediante retribuição (CC, art. 565). A alienação da coisa, durante a 
locação, rompe o contrato, exceto no caso de ressalva expressa, registrada 
(CC, art. 576). 
A locação de prédios urbanos tem tratamento à parte, em legislação 
especial. 
7. EMPRÉSTIMO: O COMODATO E O MÚTUO 
O empréstimo divide-se em comodato e mútuo. 
Comodato é o empréstimo de coisa não fungível (que não pode ser 
substituída) (CC, art. 579). Completa-se com a entrega do objeto. É um 
contrato gratuito, pois, se remunerado, passa a ser aluguel. 
Mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis (que podem ser substituídas 
por outras de mesmo gênero, qualidade e quantidade, como sacos de arroz, 
dinheiro etc.). Com o mútuo, considera-se transferida a propriedade da coisa. 
Mas o mutuário é obrigado a restituir o que recebeu, em coisas do mesmo 
gênero, qualidade e quantidade (CC, art. 586). 
A lei de usura limita os juros a 12% ao ano (Dec. 22.626/1933), salvo no 
que se refere às instituições financeiras (Lei 4.595/1964). 
O contrato de mútuo pode ser garantido por penhor ou hipoteca. 
8. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 
A prestação de serviços com vínculo empregatício pertence ao Direito do 
trabalho. 
A prestação de serviços sem vínculo empregatício, que envolve os 
autônomos e as empresas de serviços, regula-se pelos arts. 593 a 609 do CC. 
Mas com inúmeras alterações e aditamentos, peculiares a cada setor, 
constantes dos vários regulamentos profissionais, como os referentes a 
representantes comerciais, publicitários, jornalistas, corretores de imóveis etc. 
9. EMPREITADA 
A empreitada consiste na contratação de tarefa ou obra, incluindo ou não 
o fornecimento de materiais (CC, art. 610). Nas construções de vulto, deve 
haver um prazo de garantia de 5 (cinco) anos (CC, art. 618). A obra pode ser 
suspensa a qualquer tempo, pagando-se a parte já feita, mais uma 
indenização razoável (CC, art. 623). 
10. DEPÓSITO 
Pelo contrato de depósito recebe o depositário um bem móvel, para 
guardar, até que o depositante o peça de volta. É geralmente um contrato 
gratuito, mas as partes podem estipular que o depositário seja gratificado (CC, 
arts. 627). 
O depósito é voluntário quando decorre de ajuste das partes. E 
é necessário quando feito por disposição legal ou por ocasião de alguma 
calamidade, como incêndio, inundação ou naufrágio. 
O depositário que não restituir o objeto depositado será compelido a fazê-
lo mediante prisão não excedente a um ano, e a ressarcir os prejuízos. 
Observe-se, a propósito, que a Constituição Federal não permite a prisão por 
dívidas, salvo o caso do depositário infiel3 e do devedor de alimentos. 
Há jurisprudência, porém, no sentido de não caber prisão de depositário 
após a ratificação pelo Brasil, em 1992, do Pacto Internacional de São José 
da Costa Rica (RT 855/155, 887/93). 
11. MANDATO 
Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em 
seu nome, praticar atos ou administrar interesses.

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