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1 Transações e negócios jurídicos 2 3 Sumário Negócios Jurídicos Aspectos Introdutórios Acerca dos Negócios Jurídicos Definição de Negócio Jurídico Requisitos do Negócio Jurídico Requisitos de Existência do Negócio Jurídico Requisitos de Validade do Negócio Jurídico Classificação dos Negócios Jurídicos Classificação Quanto ao Número de Declarantes Classificação Quanto às Vantagens Patrimoniais Classificação Quanto ao Aumento da Produção dos Efeitos Classificação Quanto ao Modo de Existência Classificação Quanto às Formalidades a Observar Classificação Quanto ao Número de Atos Necessários Teoria das Invalidades e Nulidades Defeitos dos Negócios Jurídicos Erro ou Ignorância Dolo Coação Estado de Perigo Lesão Fraude Contra Credores CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO 6 7 8 9 10 11 12 12 13 13 13 14 14 16 17 18 19 19 20 20 20 4 Sumário Simulação Invalidades do Negócio Jurídico Nulidade dos Negócios Jurídicos Anulabilidades do Negócio Jurídico Atos Ilícitos Atos Jurídicos Lícitos Atos Jurídicos Ilícitos Responsabilidade Civil Responsabilidade Subjetiva e Responsabilidade Objetiva Responsabilidade Contratual e Extracontratual Prescrição e Decadência Aspectos Introdutórios de Prescrição e Decadência Prescrição Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição Causas que Interrompem a Prescrição Decadência Referências CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO 21 22 23 24 26 27 28 31 33 34 36 37 38 40 41 43 45 5 Objetivos Definição Explicando Melhor Você Sabia? Acesse Resumindo Nota Importante Saiba Mais Reflita Atividades Testando Para o início do desenvolvimento de uma nova competência; Se houver necessidade de se apresentar um novo conceito; Algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; Curiosidades indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forma necessárias; Se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; Quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; Quando forem necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; As observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; Textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; Se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; Quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; Quando o desenvolvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas. 6 @faculdadelibano_ 1 Negócios Jurídicos 7 Transações e negócios jurídicos Capitulo 1 Negócios Jurídicos Aspectos Introdutórios Acerca dos Negócios Jurídicos Os negócios jurídicos são considerados como fundamentais para o âmbito não só do Direito Civil, uma vez que tais relações estão presentes nos desdobramentos cíveis, assim como em diversos momentos das nossas vidas, mesmo que não tenham relação direta com o âmbito jurídico, ainda aparecem de forma direta e indireta. Os primeiros passos a caminho da formação de um negócio jurídico estão relacionados à realização de um pacto ou ao estabelecimento de laço entre as partes, sendo este de suma importância para a configuração dos efeitos e de sua validade, tendo em vista que não é qualquer acordo ou junção de vontade que irá resultar em um negócio jurídico, já que para que ele seja efetuado é imprescindível que alguns requisitos sejam atendidos. Dessa maneira, nos tópicos subsequentes, iremos estudar alguns dos principais aspectos necessários ao entendimento sobre os negócios jurídicos, levando em consideração a sua definição, principais requisitos, classificações, entre outros pontos importantes para a presente temática. Então, vamos lá! Objetivos Neste capítulo, vamos entender a definição de negócio jurídico, englobando, ainda, os requisitos e as classificações referentes a ele, tendo em vista o aspecto fundamental que desempenha no âmbito do Direito Civil e nas relações jurídicas presentes e firmadas em conformidade com as normas desse campo jurídico. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! 8 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Definição de Negócio Jurídico Os negócios jurídicos fazem menção aos atos que se relacionam à aquisição, à modificação ou à extinção do Direito, envolvendo condutas de autorregramento entre as partes envolvidas, tendo como objetivo satisfazer os interesses de todos os envolvidos. Dessa maneira, os negócios jurídicos podem ser compreendidos como apenas um ato ou a pluralidade destes, que apresentam uma relação entre si, apresentando finalidade negocial e tendo sido praticados de forma voluntária, por uma ou mais pessoas, na busca de terem seus interesses e vontades atendidos, tendo em vista a produção de efeitos jurídicos que objetivam adquirir, modificar ou extinguir os direitos. Em outras palavras, os negócios jurídicos surgem de atos de vontades, que dependerão de declaração expressa entre as partes, para que, assim, a relação entre os envolvidos seja firmada, visto que esta poderá englobar tanto pessoas físicas quanto jurídicas. Nesse sentido, os negócios jurídicos são considerados espécies dos fatos jurídicos que dependem da vontade humana para serem formados e produzir efeitos. Assim, segundo Amaral (2017), os contratos podem ser entendidos como símbolos dos negócios jurídicos, porém a afirmação de que essa simbologia só será efetuada por meio dos contratos escritos não é verídica, já que os contratos celebrados verbalmente também são dotados de valor, a diferença entre ambos é que o contrato escrito apresenta maior segurança jurídica do que aquele celebrado verbalmente. Dessa forma, querido aluno, considerando os conhecimentos adquiridos até aqui, seria correto afirmar que os negócios jurídicos são sempre dotados de complexidade? Que não estão presentes em nossas práticas cotidianas? E que os envolvidos no mencionado negócio sempre terão consciência acerca da sua efetuação? As respostas para os questionamentos acima devem ser negativas, por isso é importante mencionar que, mesmo que os negócios jurídicos dependam da vontade e da espontaneidade das partes, alguns doutrinadores afirmam que não é necessário que as pessoas que compõem a relação jurídica tenham conhecimento e compreensão acerca da juridicidade do ato, ou seja, tenham noção que estão firmando um negócio jurídico. 9 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Isso ocorre porque os negócios jurídicos tanto podem envolver situações em que, claramente, seja possível enxergar sua presença, como momentos que, por razão dos seus traços rotineiros, não sejam entendidos popularmente como tal, mesmo que sejam negócios jurídicos. Assim, “a consciência de que se está praticando um ato jurídico não é importante; mas a consciência dos efeitos contextualizados daquilo que se está manifestando ou declarando é, sim, relevante” (CHAVES, et. al. 2004, p. 520). Imagine as situações que acontecem no seu cotidiano: uma compra no supermercado; comprar pão na padaria; adquirir doces e balas na mercearia; comprar os salgadinhos da festinha da sua mãe. Nesse contexto, entre tantos outros atos, mesmo que sejam triviais e simples, não deixam de ser considerados como negócios jurídicos. Assim, a ideia de que a complexidade é requisito para a formação de um negócio jurídico não é verídica. Requisitos do Negócio Jurídico Os requisitos do negócio jurídico são divididos naqueles necessários para que a sua existência seja configurada e os responsáveis por comprovara validade dos mencionados negócios, como representado na Figura 1. FIGURA 1 Requisitos dos negócios jurídicos FONTE Elaborada pela autora, com base em Gonçalves (2011). 10 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Requisitos de Existência do Negócio Jurídico Os negócios jurídicos não podem ser firmados de qualquer maneira, tampouco simplesmente existir. Para que a sua existência seja configurada, é necessário que três requisitos estejam presentes, sendo a manifestação da vontade, a finalidade negocial e a idoneidade do objeto. A manifestação da vontade é indispensável para a formação dos negócios jurídicos. Assim, apenas com base na apresentação e exteriorização da vontade é que os negócios poderão ser firmados. A vontade é compreendida como um elemento subjetivo, tendo em vista que apenas a pessoa que a tem a conhece, por isso o negócio jurídico só poderá ser firmado quando essa vontade for manifestada, caso contrário, não poderá ser conhecida por terceiros, apenas pela pessoa que possui a vontade em questão. Nesse sentido, a vontade interna não serve como instrumento para a existência dos negócios jurídicos, pois a sua comprovação será difícil, sendo, em muitos casos, impossível. Isso ocorre porque a aceitação de uma vontade interna poderia ter como resultado comportamentos oportunistas utilizados com o intuito de enganar ou tirar proveito da outra parte. Existem três formas de manifestação de vontade, as duas primeiras são denominadas expressa e tácita. A primeira é efetuada por meio da palavra, enquanto a segunda será exteriorizada por meio de comportamentos. Além dessas duas manifestações, ainda há a presumida por meio da qual irá se realizar expressamente, porém será deduzida legalmente com base nos comportamentos do agente. Já a finalidade negocial faz menção ao objetivo de adquirir, modificar, conservar ou extinguir os direitos em questão, uma vez que o negócio jurídico depende da manifestação da vontade para uma relação jurídica dotada de finalidade negocial seja formada. Por fim, a idoneidade do objeto se refere ao fato de que o objeto do negócio jurídico precisa ser idôneo, e, portanto, honesto, confiável, íntegro, correto. Em outras palavras, que esteja em conformidade com a lei, pois, caso contrário, poderá acarretar a não existência do negócio jurídico. 11 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Requisitos de Validade do Negócio Jurídico Em razão da importância relativa aos negócios jurídicos, essa temática é abordada por um título específico do Código Civil de 2002, sendo disciplinada pelos artigos 104 a 184 do mencionado Código. Assim, o art. 104 é responsável por afirmar que: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I. agente capaz; II. objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III. forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL, 2002, on-line) Os requisitos de validade do negócio jurídico são o agente capaz, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável e a previsão da norma em lei ou que não seja proibida pelo ordenamento jurídico brasileiro. Em primeiro lugar, destaca-se que o agente capaz será aquele que poderá atuar em negócios jurídicos por si só, isto é, não dependerá de outras pessoas o assistindo para que tais sejam efetuados. Dessa forma, a capacidade exigida para a realização dos negócios jurídicos é aquela denominada como de fato ou de direito, sendo alcançada ao atingir a maioridade civil. O segundo requisito faz menção ao objeto lícito, determinado ou determinável, podendo ser entendido como aquele que obedece as normas jurídicas, não ferindo ou atentando essas normas. Já o objeto possível pode ser compreendido como aquele que pode ser objeto de um negócio jurídico, visto que a lei não apresenta restrições sobre ele. Finalmente, o objeto determinado é aquele já está definido, enquanto o objeto determinável será definido em momento anterior. Salienta-se que, determinável não é indeterminado, pois não é qualquer coisa que poderá ser objeto de negócio jurídico, assim, essa falta definição totalmente fechada se refere apenas a alguns atributos do objeto em questão, e não a todas as suas características e natureza. Por fim, o último requisito de validade faz menção à forma prescrita ou não defesa em lei, o que significa dizer que as partes componentes da relação jurídica referente ao negócio jurídico devem celebrar este por contrato, seja escrito ou verbal, público ou particular, devendo ser atendidos os critérios estabelecidos pelas legislações brasileiras sobre a temática. 12 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 É importante destacar outro requisito referente à validade dos negócios jurídicos, mesmo que este não esteja presente entre os incisos do art. 104 do Código Civil, contudo é necessário que seja atendido, caso contrário, o negócio não será válido. Assim, a causa final do negócio jurídico precisa ser lícita. Em outras palavras, a vontade, o motivo e a finalidade que tornarão possível a união das partes e a celebração do negócio terá que ser lícita. A junção de pessoas que buscam fraudar outras pessoas não é válida, pois a finalidade destas não é legal. Classificação dos Negócios Jurídicos Outro aspecto importante presente no campo do negócio jurídico faz menção à sua classificação. O mencionado assunto será abordado de forma detalhada a seguir. Classificação Quanto ao Número de Declarantes A classificação conforme o número de declarantes pode ser unilateral, bilateral e plurilateral. A unilateral é aquela aperfeiçoada com base em apenas uma manifestação de vontade, podendo, ainda, ser receptícia, quando há a necessidade de que a outra parte envolvida reconheça a vontade, para que a produção de efeitos seja efetuada, ou a não receptícia, quando não for necessário que a outra parte tenha o mencionado conhecimento, sendo exemplo disso os testamentos. O fato do negócio jurídico ser unilateral não implica dizer que ele é formado por apenas uma pessoa, pois esse tipo de negócio não existe, significando apenas que o negócio não depende de outra pessoa para que ocorra. Já o negócio bilateral é aquele que será aperfeiçoado a partir de duas manifestações de vontade sobre o mesmo objeto, sendo vista como um acordo de vontade ou consentimento mútuo. Além disso, pode ser bilateral simples, onde só uma das partes é beneficiada, ou sinalagmáticos, onde ambas as partes têm direitos e obrigações. Por fim, os negócios plurilaterais serão aperfeiçoados com mais de duas manifestações de vontade. 13 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Classificação Quanto às Vantagens Patrimoniais Em conformidade com essa classificação, os negócios gratuitos serão aqueles em que apenas uma das partes é beneficiada com o negócio; já nos onerosos, ambas as partes têm vantagens e desvantagens, sendo necessária uma contraprestação. Ademais, são divididos em comutativos e aleatórios, sendo este caracterizado pela incerteza, à medida que aquele apresenta prestações certas e determinadas. Por sua vez, os negócios neutros são aqueles que não são dotados de atribuição patrimonial, tampouco são destinados a um bem específico; já os bifrontes podem ser compreendidos como aqueles negócios que podem tanto ser onerosos como gratuitos, uma vez que dependerão apenas da vontade das partes para que sejam definidos como um ou como outro. Classificação Quanto ao Aumento da Produção dos Efeitos A produção dos efeitos pode se dar tanto entre partes vivas, sendo, assim, conhecida como intervivos; os negócios jurídicos também podem produzir os seus efeitos após a morte do agente, sendo, assim, conhecido como causa mortis. Assim, a morte seráelemento necessário para que a validação e a eficácia do negócio sejam efetuadas. Classificação Quanto ao Modo de Existência A classificação dos negócios jurídicos, conforme a sua existência, será dividida entre principais, sendo estes dotados de existência própria e independência, enquanto os acessórios são subordinados aos principais, sendo, portanto, dependentes daqueles. Nesse sentido, os negócios derivados ou subcontratos são os que decorrem dos negócios principais. 14 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Classificação Quanto às Formalidades a Observar Os negócios jurídicos podem ser solenes, também conhecido como formais, quando obedecerem à forma apresentada pela lei, uma vez que não são todos os contratos que apresentam tais formas definidas pela norma. Ademais, não são todos os negócios que apresentam regras que exigem obrigatoriedade quanto ao seu atendimento. Diante disso, surgem os negócios jurídicos não solenes, sendo estes os que têm forma livre, dependendo apenas do consentimento e dos requisitos, tanto de existência quanto de validade para que seja efetuado. Classificação Quanto ao Número de Atos Necessários A última classificação referente aos negócios jurídicos é caracterizada pela quantidade de atos necessários para a sua constituição. Aqueles que são constituídos por apenas um ato, são denominados simples, enquanto os que resultam da junção de vários atos e da dependência entre eles são conhecidos como complexos. Os coligados serão o resultado das conexões formadas pelo vínculo que junte o conteúdo dos contratos, havendo, assim, uma multiplicidade de negócios, no qual cada um tem as suas próprias características. 15 Transações e negócios jurídicos Negócios Jurídicos Capitulo 1 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os negócios jurídicos são considerados fundamentais para o campo do Direito Civil, principalmente no que se refere às relações jurídicas. Diante disso, aprendemos que negócios jurídicos podem ser entendidos como ato ou atos que produzam efeitos jurídicos, tendo em vista a aquisição, a conservação, a modificação ou a extinção dos direitos. Em seguida, passamos ao entendimento daqueles que são listados como os requisitos necessários para a existência (manifestação da vontade, finalidade negocial e idoneidade do objeto) e para a validade (agente capaz; objeto lícito, possível, determinado e determinável) dos referidos atos, em conformidade com o disposto no Código Civil de 2002. Por fim, entendemos, de forma detalhada, cada uma das classificações pertencentes aos negócios jurídicos e os seus desdobramentos. Saiba Mais Querido aluno, em razão do espaço e da extensão do conteúdo, para aqueles que querem se aprofundar sobre o assunto, é recomendada a realização da leitura na íntegra dos artigos 104 a 184 do Código Civil de 2002. Acesse aqui. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm 16 @faculdadelibano_ 2 Teoria das Invalidades e Nulidades 17 Transações e negócios jurídicos Capitulo 2 Teoria das Invalidades e Nulidades Defeitos dos Negócios Jurídicos Antes de partimos para a análise referente às invalidades, englobando as nulidades e as anulabilidades, primeiro, é interessante a aquisição do conhecimento acerca dos defeitos presentes nos negócios jurídicos, sendo estes estabelecidos pelo Código Civil de 2002. Os defeitos relativos aos negócios jurídicos irão surgir quando forem detectadas imperfeições relacionadas à vontade das partes, tendo em vista que essa é um dos requisitos de existência dos negócios jurídicos, uma falha será capaz de tornar o negócio jurídico nulo ou anulável. Dessa maneira, nos casos em que a vontade não tiver nem mesmo sido manifestada ou for viciada em sua completude, o negócio jurídico é considerado inexistente. Por outro lado, quando a vontade tiver sido declarada, porém houver alguma falha, vício ou defeito nessa declaração, que a torna sem compreensão, dirigida ou externada, o ato deverá ser anulado. O capítulo IV do Livro III do Código Civil de 2002, intitulado Defeitos dos negócios jurídicos, aborda os detalhes acerca do tema. Objetivos Ao término deste capítulo, você será capaz de entender em que consiste a ciência do Direito e como ela está relacionada com a moral e com a justiça. Certamente isto será fundamental para a compreensão dos capítulos a seguir. Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! 18 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 Em conformidade com o mencionado Código brasileiro, os defeitos jurídicos são classificados em vícios do consentimento e vícios sociais. Dessa forma, os primeiros se referem aos casos em que a vontade não tiver sido expressa de maneira absolutamente livre, englobando o erro, o dolo, a coação, a lesão e o estado de perigo. Por sua vez, os vícios sociais podem ser compreendidos como aqueles nos quais a vontade manifestada não tem intenção pura, tampouco é dotada de boa-fé, fazendo referência à fraude contra credores e à simulação. Dessa forma, iremos estudar, de forma breve, cada um desses defeitos, dando início pelos vícios de consentimento, para, em seguida, adentrar nos vícios sociais. Erro ou Ignorância Tartuce (2006) salienta que o erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, objeto do negócio ou a um direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico. Dessa maneira, o erro pode ser compreendido como uma falsa ideia acerca da realidade e/ou da situação que envolve as coisas. Assim, a pessoa imagina que é uma coisa, quando, na realidade, se refere a outra, por isso o negócio pode ser anulável. Nos termos do art. 138 do Código Civil de 2002, serão considerados anuláveis os negócios jurídicos marcados por erros substanciais, uma vez que estes segundo o art. 139, ocorrerão quando: I. interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II. concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III. sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico (BRASIL, 2002, on-line) Nesses termos, as modalidades do erro substancial são: I) o erro in negotio; II) o erro in corpore; III) o erro in substantia; IV) erro in persona; e V) erro juris ou de direito. 19 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 Dolo Por sua vez, o dolo pode ser entendido como a indução que possa ter resultado o cometimento de erro. A diferença para o mencionado anteriormente é que esse erro não é cometido de forma espontânea, sendo necessário que ocorra a indução, e que o ato não seja cometido em decorrência da vontade da pessoa. Nesse sentido, Gonçalves (2011) conceitua dolo como: o artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém a prática de um ato que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Consiste em sugestões ou manobras maliciosamente levadas a efeito por uma parte, a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito, ou a terceiro. (GONÇALVEZ, 2011, p. 562) Em conformidade com o Código Civil de 2002, os negócios jurídicos anuláveis em razão do dolo só o serão quando este for a sua causa. Assim, o mencionado Código apresenta, ainda, dois tipos de dolo, sendo eles conhecidos como principal e acidental. O dolo acidental pode ser compreendido como aqueleem que o dolo é a causa determinante para a confirmação do negócio jurídico. Dessa forma, o agente só realiza o negócio em razão da indução. Caso contrário, não teria sido efetuado. O art. 146 do Código Civil de 2002 estabelece que “o dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo” (BRASIL, 2002, on-line). Em outras palavras, quando o caso envolver o dolo acidental, o negócio jurídico será realizado de toda forma. Por isso, o dolo não é a causa do negócio e, consequentemente, não o torna anulável, apenas responsável por obrigar a parte que cometeu o dolo a ressarcir a vítima por perdas e danos. Coação A coação pode ser compreendida como resultante de uma pressão física ou psicológica usada com o intuito de obrigar o agente a efetuar um negócio jurídico que não o agrade ou que não o interesse. Dessa forma, o desejo da pessoa não existe até a prática da coação, sendo forçada a realizar o negócio em razão da pressão sofrida. 20 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 Diante disso, não existe vontade, ou seja, não há manifestação de vontade, sendo um requisito básico para a existência dos negócios jurídicos. Em razão disso, Gonçalves (2011) entende que a coação é o vício de maior gravidade, sendo, até mesmo, pior que o dolo, já que impede a manifestação da vontade das pessoas, que é essencial para a existência dos negócios jurídicos. Estado de Perigo Por sua vez, o estado de perigo engloba as situações nas quais o agente está em risco de vida, efetuando o negócio em razão desta e, na tentativa de salvar a sua vida ou de sua família, assumindo a obrigação, mesmo que essa seja injusta e indevida na tentativa de fazer cessar o perigo em questão. A pessoa que comete a ameaça relativa ao estado de perigo, o faz com a intenção de se aproveitar da mencionada situação e, por consequência, conseguir obter vantagens abusivas do agente. Lesão Este é o último dos riscos de consentimento apresentados pelo Código Civil de 2002, que define o momento no qual a lesão é constituída em seu artigo. Sendo assim, ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Agora, passaremos a analisar os vícios sociais, sendo esses apenas dois: fraude contra credores e simulação. Lá vamos nós aprender ainda mais! Fraude Contra Credores Assim, como os vícios de consentimento são abordados pelo Código Civil de 2002, os vícios de natureza social também são. Nesse contexto, a fraude contra credores é apresentada nos artigos 158 a 165 do mencionado Código. A fraude contra credores irá ser efetuada nas hipóteses em que artifícios maliciosos forem utilizados com a intenção de violar, transgredir ou prejudicar direito ou dever pertencente a terceiros. 21 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 É importante salientar que, nesses casos, a fraude contra credores, como o próprio nome nos intui a pensar, é praticada em favor e pelos devedores, que, por seus atos, gera prejuízo para os credores. Essa fraude ocorre em razão da insolvência por parte do devedor. Nesses termos, existem dois requisitos principais para que isso ocorra. O primeiro se refere à má-fé por parte do devedor e, a segunda, à existência da intenção de gerar prejuízo aos credores. Simulação Por fim, a simulação, em conformidade com o parágrafo primeiro do Código Civil de 2002, irá ser configurado quando: I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. (BRASIL, 2002, on-line) Nesse sentido, o caput do artigo referido acima determina que os negócios jurídicos simulados serão nulos, subsistindo àquele que o foi dissimulado, nos casos em que for válido substancialmente e formalmente. No caso da simulação, o que acontece é uma ilusão quanto à manifestação da vontade das partes, já que essa não é fundada nas reais intenções de estabelecer um negócio jurídico, sendo formado já com o intuito de enganar e havendo, portanto, uma falsa manifestação de vontade, estando o real desejo divergente daquilo que foi firmado por negócio jurídico. Assim, o suposto negócio é usado para enganar terceiros que não estão inseridos na situação acerca daquilo que está sendo disfarçado por meio do que foi estabelecido e do conteúdo inverídico. Diante disso, e com a intenção tanto de resumir o aprendido até aqui como de antecipar as discussões presentes no tópico subsequente, analise o Quadro 1. 22 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 QUADRO 1 Vícios e efeitos dos defeitos dos negócios jurídicos FONTE Elaborado pela autora, com base em Aquino (2013). Invalidades do Negócio Jurídico Estamos estudando os assuntos relativos ao negócio jurídico, levando em consideração não apenas àqueles que se relacionam diretamente com o seu conceito, mas também aos que abordam os seus efeitos. Diante disso, no presente tópico, iremos abordar os detalhes acerca da Teoria das Invalidades e o que ela significa sob o ponto de vista jurídico. Essa não é uma temática totalmente pacificada, tendo em vista que existem muitas confusões decorrentes de sua nomenclatura, visto que alguns termos são usados de maneira errada. Isso ocorre com frequência com os termos “nulidade” e “anulabilidade”. Nesse sentido, bem como considerando o assunto abordado durante o tópico anterior, antes de adentramos nas nulidades e anulabilidades, primeiro, é necessário que entendamos que a inexistência não deve ser confundida com essas outras duas palavras. Assim, a inexistência irá ser caracterizada quando da ausência de um dos requisitos necessários para a sua existência, sendo esses a manifestação de vontade, a finalidade negocial e a idoneidade do objeto. 23 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 A invalidade é utilizada com o intuito de designar um negócio jurídico que não produz os efeitos almejados pelas partes, assim, se subdividem em nulidade e anulabilidade, sendo essas duas espécies distintas e dotadas das suas próprias características. Os negócios jurídicos nulos também podem ser chamados de nulidade absoluta, enquanto os negócios jurídicos anuláveis são conhecidos como nulidade relativa. Nulidade dos Negócios Jurídicos A nulidade dos negócios jurídicos também é conhecida como nulidade absoluta, estando prevista, principalmente, pelos artigos 166 e 167 do Código Civil de 2002. Nesse sentido, o negócio nulo pode ser compreendido como aquele que promove ofensa ao estabelecimento de ordem pública, fazendo menção à ausência de algum elemento substancial para o ato jurídico. O art. 166 estabelece que o negócio jurídico será nulo quando: I. celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II. for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III. o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV. não revestir a forma prescrita em lei; V. for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI. tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII. a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. (BRASIL, 2002, on-line) Além dessas formas, destaca-se que a simulação também terá como resultado o negócio jurídico nulo, em conformidade com o caput do art. 167 do Código Civil de 2002. Os negócios jurídicos absolutamente nulos não serão capazes de produzir nenhum efeito, pois existemvícios substanciais e essenciais no momento de sua formação, não havendo possibilidade de que seja corrigido ou reparado. Por isso, quando se configura o negócio nulo, é como se este nunca houvesse existido, tendo em vista que a declaração de invalidade é responsável pela produção de efeitos ex tunc, sendo retroativo. 24 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 Anulabilidades do Negócio Jurídico Por sua vez, a anulabilidade dos negócios jurídicos é conhecida como nulidade relativa, estando prevista, principalmente, pelo art. 171 do Código Civil de 2002. O negócio anulável pode ser compreendido como aquele que agride o interesse particular em favor da pessoa que o legislador buscou proteger, assim, existe a possibilidade de que este se torne válido, desde que a deficiência em questão seja suprida. Assim, o art. 171 é o principal responsável por apresentar as hipóteses de negócio anulável, mas o rol apresentado por ele não deve ser considerado como taxativo, tendo em vista que o caput do próprio artigo apresenta que: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I. por incapacidade relativa do agente; II. por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. (BRASIL, 2002, on-line) Nesse sentido, observe o Quadro 2 para que as características e as distinções acerca dos atos nulos e anuláveis sejam fixadas. QUADRO 2 Distinções e características entre as nulidades relativas e absolutas FONTE Elaborado pela autora, com base em Coelho (2018). 25 Transações e negócios jurídicos Teoria das Invalidades e Nulidades Capitulo 2 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os defeitos jurídicos estão previstos no Código Civil de 2002, visto que estes podem decorrer dos vícios de consentimento, por meio do erro, do dolo, da coação, da lesão e do estado de perigo, assim como podem decorrer dos vícios sociais, sendo esses divididos em fraude dos credores e simulação. Em seguida, aprendemos que a Teoria da Invalidade é espécie da qual a nulidade e anulabilidade são espécies, tendo ficado esclarecido os pontos responsáveis por fixar a distinção entre os dois. Na nulidade absoluta é como se o negócio jurídico nunca houvesse existido, enquanto na nulidade relativa há a possibilidade de correção do vício. Por fim, foi apresentado um quadro com as principais características e diferenças existentes entre nulidade e anulabilidade. Além disso, também aprendemos que nulidade, anulabilidade e inexistência não têm o mesmo significado, cada uma se referindo a um efeito distinto, que pode ser produzido em decorrência dos negócios jurídicos. 26 @faculdadelibano_ 3 Atos Ilícitos 27 Transações e negócios jurídicos Capitulo 3 Atos Ilícitos Atos Jurídicos Lícitos Antes de começarmos a discutir acerca dos atos jurídicos ilícitos, primeiro, é fundamental que compreendamos o assunto relativo aos atos jurídicos lícitos, sendo este breve e abordado pelo Código Civil no art. 185, qual seja: “aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do título anterior” (BRASIL, 2002, on-line). Nesse sentido, o título anterior ao qual o mencionado artigo faz referência aborda as temáticas relativas aos negócios jurídicos. É importante destacar a expressão “no que couber”, já que a aplicação não se dará de forma integral, mas, apenas naquilo que coincidir com a temática relativa aos atos jurídicos lícitos, assim, deve-se levar em conta a utilização dos princípios disciplinadores dos negócios jurídicos, bem como as normas de caráter mais geral sobre o tema. Silva (2012) ressalta que os atos jurídicos lícitos são divididos em atos jurídicos em sentido estrito, negócio jurídico e ato-fato jurídico. Diante disso, o ato-fato jurídico pode ser compreendido como o ato de achar algo, estando relacionado ao encontro do tesouro, conforme Gonçalves (2011). Por isso, independem da vontade ou da consciência do inventor, bem como daquele que tinha determinado objeto em momento anterior. Objetivos Neste capítulo, vamos analisar os atos ilícitos e as suas consequências no âmbito do Direito Civil. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! 28 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Por sua vez, os atos jurídicos em sentido estrito também são conhecidos como atos lícitos, sendo estes aqueles que derivam da vontade humana, porém essa não é qualquer vontade, mas aquelas que obedecem e estão de acordo com as normas legais presentes no ordenamento jurídico brasileiro, e, portanto, compreendidas como submissas às leis. Além disso, é necessário que essa vontade legal seja responsável pela produção de efeitos e consequências perante a esfera judicial. Conforme os ensinamentos de Diniz (2012), a vontade a qual os atos jurídicos lícitos fazem menção são responsáveis por moldar as normas, porém apresenta como uma de suas características a ausência de autonomia do interessado quanto à regulação da sua vontade, tendo em vista que para alcançar os objetivos será necessária a observância da lei. Nesse sentido, Silva (2012) destacou que os atos lícitos apresentam como principais características os fatos de serem embasados na vontade dos indivíduos, sua licitude e efeitos imediatos. O fato de não existir uma livre autonomia da vontade não quer dizer que os atos jurídicos lícitos não dependem ou não contam com a presença da manifestação de vontade. Atos Jurídicos Ilícitos Enquanto os atos lícitos são aqueles que obedecem ao cumprimento das leis, os ilícitos se contrapõem aos anteriores. Em outras palavras, os atos jurídicos ilícitos são aqueles praticados em desacordo com o regido pelo ordenamento jurídico brasileiro, mesmo que os seus efeitos apresentem repercussão no campo do Direito e sejam responsáveis pela promoção dos efeitos jurídicos involuntários. Nota Salienta-se que os atos jurídicos lícitos dotados de vontade qualificada são correspondentes aos negócios jurídicos. 29 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Dessa maneira, em conformidade com Gonçalves (2011), os atos jurídicos ilícitos não serão criadores de direitos, mas de deveres. Apesar de serem considerados ilícitos, atualmente, esses atos fazem parte da categoria relativa aos atos jurídicos presentes no ordenamento jurídico brasileiro, tendo em vista os efeitos que produzem, estando, inclusive, presentes no Código Civil em título próprio. Assim, os artigos 186 a 188 são os responsáveis por disciplinar essa temática no mencionado Código brasileiro. O art. 186 define ato ilícito como “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002, on-line). Nesse mesmo sentido, mas com um aspecto complementar, o art. 187 determina que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (BRASIL, 2002, on-line). Diante disso, e ainda em conformidade com as normas presentes no Código Civil em questão, aquele que praticou o dano ficará obrigado a reparar os prejuízos que comentou, tenham estes afetado a moral ou os bens materiais de outrem. Outro aspecto digno de destaquese dá em razão de que os atos jurídicos ilícitos não são apenas aqueles cometidos por meio das ações, podendo ser englobados nessa categoria também os atos omissivos, visto que ambos são voluntários, ou seja, tanto as ações ou as omissões voluntárias, poderão tanto ser culposas como dolosas, desde que resultem em dano para terceiro. 30 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Assim, levando em consideração a disposição presente nos artigos supramencionados, assim como o posicionamento de Gonçalves (2011) sobre o tema, verifica-se que a temática em questão foi aperfeiçoada perante o atual Código Civil brasileiro, quando comparada ao seu antecessor, pois as disposições sobre os atos ilícitos, agora, são mais claras. Nesse contexto, o elemento subjetivo relativo à culpa é, justamente, a existência do dever violado. Sob o ponto de vista de Cavalieri Filho (2009), o ato ilícito também consiste na manifestação de vontade, visto que esta é contrária às normas presentes no ambiente jurídico e legislativo, porém não deixam de decorrer da vontade humana e de sua conduta voluntária, já que, em razão de sua natureza, o ato ilícito não irá surgir da simples declaração de vontade. Explicando Melhor Os termos “ação” e “omissão” estão presentes em várias áreas do Direito, uma vez que ganham mais destaque no campo do Direito Civil e processual civil, assim como no Direito Penal e processual penal. Dessa forma, enquanto a ação está relacionada à prática do ato, o agir e a sua realização, a omissão é justamente o contrário, assim, é entendida como o ato de não fazer algo ou deixar de fazer alguma coisa. O entendimento e a observância das ações voluntárias são mais fáceis, sendo mais simples de verificar e identificar as situações nas quais o agente praticou o ato de forma culposa ou dolosa. No entanto, mesmo que a omissão, em algumas situações, seja mais complexa de ser identificada, não pode ser ignorada, pois o ato negativo, ou seja, o não fazer, também é capaz de promover danos e agredir o funcionamento e as normas presentes no ordenamento jurídico brasileiro. 31 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Responsabilidade Civil A responsabilidade civil decorre dos atos jurídicos ilícitos e de suas consequências, já que o agente terá que ser responsabilizado pelos atos que praticou ou pratica, assim, havendo um dever preexistente. Cavalieri Filho (2009) define responsabilidade civil como sendo: Um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. Só se cogita, destarte, de responsabilidade civil onde houver violação de um dever jurídico e dano. Em outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir o prejuízo decorrente da violação de um outro dever jurídico. E assim é porque a responsabilidade pressupõe um dever jurídico preexistente, uma obrigação descumprida. (CAVALIERI FILHO, 2009, p. 2) Nesse contexto, a responsabilidade civil pode ser compreendida como o instituto incumbido pela reparação do dano, assim, o beneficiado será aquele que teve os seus direitos feridos em decorrência de ação ou omissão praticada pelo agente, por isso a responsabilidade é criada como a finalidade de promover a justiça, bem como para reparar o equilíbrio que foi violado e, consequentemente, prejudicado. A reparação objetiva restituir o prejudicado para o estado anterior. Mesmo nas situações em que não é possível o alcance do statu quo ante, é aplicada uma indenização. Dessa forma, Diniz (2012) apresenta a sua definição para a responsabilidade civil: A aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal. (DINIZ, 2012, p. 37) A mencionada reparação deve ser estabelecida com a intenção da retomada da situação pertencente à vítima antes do dano, porém a indenização auferida com esse objeto não pode ser responsável por promover o enriquecimento indevido da vítima, pois a intenção é justamente a promoção e o restabelecimento do equilíbrio, e não que sejam gerados mais problemas e desequilíbrio. Assim, a responsabilidade civil não tem em vista o acréscimo patrimonial, por outro lado, intenciona compensar o dano que foi cometido. 32 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Nesse mesmo sentido, não busca promover a ruína financeira do agente, mas impor um caráter sancionatório ao ato praticado, para que não volte a agir de forma ilegal. A indenização em questão será aplicada tanto nos casos de dano ao patrimônio quanto aos danos morais. A responsabilidade civil não poderá ser aplicada de qualquer maneira e sem a observância de seus pressupostos, assim, levando em consideração tanto o disposto pelo art. 186 do Código Civil, bem como as lições apresentadas por Gonçalves (2011). A Figura 2 apresenta os pressupostos da responsabilidade civil, com o objetivo de facilitar o seu entendimento e a memorização do assunto em questão. Assim, para que exista a responsabilidade civil e, consequentemente, o dever de indenizar, é necessário que existam esses quatro pressupostos, pois, segundo Gonçalves (2011), mesmo nos casos em que seja verificada a presença da violação de um dever jurídico, e estejamos diante de um ato ilícito, no qual a culpa ou o dolo estejam presentes, para que a indenização seja conferida, é preciso que algum dano ou prejuízo tenha ocorrido, caso contrário, mesmo que o ato seja ilícito, não existirá a necessidade de indenizá-lo. FIGURA 2 Pressupostos da responsabilidade civil FONTE Elaborada pela autora (2021). 33 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Nesse sentido, o mencionado autor apresenta um exemplo, no qual um motorista pratica diversas infrações de trânsito, mas nenhuma resulta no atropelamento ou na colisão com outros veículos automotivos. Assim, por mais que essa conduta não esteja em conformidade com as normas presentes no ordenamento jurídico, não lhe será conferido o dever de indenizar, pois essa obrigação resulta da violação do direito e do dano, sendo necessária a presença dos dois, e não de apenas um para que a indenização seja estabelecida. Querido aluno, como você bem sabe, o foco do nosso estudo é direcionado para o Direito Civil, porém cabe destacar que esse não é o único campo em que a responsabilidade tem validade. Diante disso, a responsabilidade penal surge quando o agente descumpre as normas referentes ao campo do Direito Penal, sendo este pertencente ao Direito Público. A pena relativa à responsabilidade penal é pessoal e intransferível, e alguns critérios divergem entre a área cível e penal. Assim, nos casos em que os dois âmbitos forem feridos, o agente responderá tanto penalmente quanto civilmente. Responsabilidade Subjetiva e Responsabilidade Objetiva A principal distinção entre a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva se dá em razão da presença ou ausência da culpa. Assim, em conformidade com Gonçalves (2011), a chamada Teoria Clássica, também conhecida como Teoria da Culpa pressupõe a culpa como elemento de responsabilidade civil, ou seja, nos termos da responsabilidade subjetiva só haverá responsabilidade civil se houver culpa, caso contrário, não existirá responsabilidade, por isso é necessário que seja comprovada a culpa para que a indenização possa ser fixada. O Código Civil Brasileiro de 2002 adota como regra a Teoria da Responsabilidade Subjetiva, conforme verificado pelo texto do art. 186, porém existem exceções nas quais a responsabilidade objetiva ou legal é admitida. Nesses casos, odano deverá ser reparado e/ou indenizado mesmo que não exista culpa ou que esta não tenha sido comprovada. Os demais pressupostos, como o nexo causal, o dano e o ato ilícito devem estar presentes, mas o dano será indenizado independentemente da culpa, segundo Gonçalves (2011). Diante desse contexto, e em obediência ao art. 927 do Código Civil, a aplicação da responsabilidade civil objetiva dependerá dos “casos especificados em lei” (BRASIL, 2002, on-line). 34 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Responsabilidade Contratual e Extracontratual A responsabilidade contratual e a extracontratual apresentam alguma relação com os contratos. Diante disso, a contratual se dará quando o ato praticado resultar no descumprimento de um dever ou de uma obrigação presente nos termos do contrato. A responsabilidade contratual tem como resultado o dever de indenizar as perdas e os danos, pois a outra parte esperava e contava com o cumprimento do estabelecido, principalmente quando a sua parte já tiver sido efetuada. A responsabilidade extracontratual, por sua vez, não irá decorrer do contrato, mas de uma infração relacionada a um dever de conduta, também entendido como dever legal, sendo este observado pelo Código Civil de 2002, tendo em vista as disposições presentes no art. 927 da mencionada legislação. Em outras palavras, a responsabilidade extracontratual implica nos descumprimentos das leis de natureza penal e/ou civil, a responsabilidade penal e a responsabilidade civil, respectivamente. QUADRO 3 Distinções entre responsabilidade contratual e extracontratual FONTE Elaborado pela autora, com base em Gonçalves (2011). 35 Transações e negócios jurídicos Atos Ilícitos Capitulo 3 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que tanto os atos lícitos quanto os ilícitos são regulados pelo Código Civil de 2002. Assim, verifica-se a importância dessa temática, tanto no que se refere a si própria quanto ao entendimento de assuntos mais específicos pertencentes a esse campo. Diante disso, foi possível aprender que os atos lícitos são aqueles realizados em observância às normas presentes no ordenamento jurídico, enquanto os ilícitos consistem justamente no oposto, ou seja, na não observância das normas presentes no ordenamento jurídico. Em seguida, pudemos entender que os atos ilícitos, em algumas situações, irão resultar em danos. Em razão disso, tais prejuízos precisam ser reparados para que o equilíbrio seja restaurado e a justiça promovida. Diante dessa necessidade de ressarcimento surge a responsabilidade civil, porém esta não é a única presente no âmbito jurídico, por isso também aprendemos o que são e quais as consequências das responsabilidades penal, contratual, extracontratual, subjetiva e objetiva. 36 @faculdadelibano_ 4 Prescrição e Decadência 37 Transações e negócios jurídicos Capitulo 4 Prescrição e Decadência Aspectos Introdutórios de Prescrição e Decadência Em muitos casos, vemos várias confusões e dúvidas acerca daquilo que pode ser entendido como prescrição e decadência, pois são conceitos que se assemelham de alguma forma, e que, por isso, acabam tendo como resultado confusões. Durante o período em que o Direito Romano primitivo esteve em vigor, as ações destinadas a aqueles que praticassem atos indevidos eram perpétuas. Assim, os interessados nessas ações podem recorrer acerca delas em qualquer momento. Atualmente, essa regra não está em vigor, tendo em vista que existe o tempo correto para que recorramos acerca da prática de certos atos, e este pode variar, a depender da situação e do caso concreto, e bem como deve levar em consideração o posicionamento das leis. Nesse sentido, a prescrição surge com o intuito de flexibilizar a rigidez apresentada pelo Direito Romano primitivo. Tanto a prescrição quanto a decadência são responsáveis por abordar a questão do tempo e a sua relação com o Direito, no nosso caso, dando ênfase ao Direito Civil, que é o nosso objeto de estudo. A preocupação relativa à existência e à aplicação do tempo no âmbito do Direito ocorre, pois segundo Tartuce (2006), o exercício do Direito não pode ser entendido como indefinido, e não pode ser perdido ao longo do tempo. Dessa forma, ainda é importante salientar que o exercício dos direitos não pode durar pouco ou muito tempo, pois as duas situações são responsáveis por ferir a segurança da ordem jurídica, sendo necessário que seja verificada a ação. Objetivos Neste capítulo, vamos compreender os institutos relativos à prescrição e à decadência. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! 38 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 A prescrição e a decadência são abordadas pelo Código Civil de 2002, integrando o Título IV, sendo cada um desses termos abordado em um capítulo distinto. Prescrição A prescrição é mais um assunto relativo às disposições gerais do Código Civil, sendo disciplinada pelos artigos de 189 a 196, enquanto os artigos 205 e 206 apresentam os prazos prescricionais gerais e especiais, respectivamente. Querido aluno, quando paramos para pensar no tempo, podemos ver que esse é um assunto que anima várias discussões e reflexões, pois é considerado um elemento- chave para a vida humana. Diante disso, no campo do Direito, não poderia ser diferente. Assim, o tempo e a sua relação com o Direito deve ser estudado e compreendido. No que se refere à prescrição, o tempo precisa ser considerado como um elemento principal e digno de destaque, uma vez que o decurso do tempo gera influências tanto para a aquisição, quanto para a extinção dos direitos. Nesse sentido, Gonçalves (2011), aponta dois tipos de prescrição: a extintiva e a aquisitiva. Gonçalves (2011), ao abordar a temática da prescrição, enfatiza que esse instituto é necessário para que a tranquilidade e a segurança estejam presentes no ordenamento jurídico, pois se relacionam com a consolidação de todos os direitos. Pensando de forma prática, e traduzindo essa situação em um exemplo, imagine um recibo que comprove a quitação de um pagamento efetuado há 8 anos, você ainda o possui? Seria fácil de encontrá-lo? E um que você pagou há 10 anos? Será que os seus pais ainda têm os recibos de quitação de 30 anos? Então, imaginar essas situações exemplificam, de forma simples, como a prescrição é fundamental na nossa vida, pois caso não existissem, todos esses comprovantes seriam necessários e deveriam ser bem conservados por um período indeterminado, mas, como a prescrição existe, tais comprovantes só precisam ser guardados até que a prescrição seja consumada. Diante disso, a prescrição é responsável por fornecer estabilidade e consolidação para os direitos, pois sem que esta existisse, os negócios jurídicos firmados nunca obteriam status de permanência, e pouca segurança seria fornecida aos sujeitos envolvidos em tais relações jurídicas. 39 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 Assim, em conformidade com Leal (1982), prescrição pode ser definida como a extinção das ações ajuizáveis, levando em consideração a inércia do seu titular durante determinado período de tempo, quando não forem verificadas causas preclusivas de seu curso. Por sua vez, o Código Civil de 2002, em seu art. 189 determina que “violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os artigos 205 e 206” (BRASIL, 2002, on-line) Assim, segundo Leal (1982), existem quatro elementos que integrama prescrição, sendo também conhecidos como condições elementares, quais sejam: 1) existência de ação exercitável; 2) inércia do titular da ação pelo seu não exercício; 3) continuidade da mencionada inércia por determinado período de tempo; e 4) ausência de fatos ou atos que a lei entenda como de eficácia impeditiva, suspensiva ou interruptiva da prescrição. Explicando Melhor A pretensão pode ser compreendida como o poder de exigir pertencente a alguém, e se dá de maneira coercitiva e em razão do cumprimento dos deveres jurídicos em pauta. Já a exceção pode ser entendida como a defesa, que deve ter tempo igual ao fornecido para a acusação, sendo exemplo daquela a contestação e a reconvenção. Considerando o disposto nos artigos 205 e 206 do Código Civil sobre os prazos prescricionais, bem como a importância da prescrição para o âmbito da segurança jurídica, sabe-se que é necessária a sua existência para que os direitos não sejam considerados eternos e sem permanência. No entanto, existem alguns desse direitos que, diante de sua relevância, precisam justamente ser imprescritíveis, para que danos relacionados a eles sejam evitados e protegidos de forma correta, sendo exemplos para essa situação aqueles que se relacionam ao direito à vida, honra, liberdade, integridade física ou moral, entre outros. 40 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 Conforme Gonçalves (2011), e levando em consideração a disposição do art. 189 do Código Civil, não se fala mais em ação exercitável, mas sim na existência ou não de pretensão, e o último elemento não é mais dotado de status elementar, sendo utilizado, atualmente, para a contagem alternativa do prazo. Diante disso, segundo Gonçalves (2011), os verdadeiros requisitos da prescrição são: 1) violação do direito, com o surgimento da pretensão; 2) inércia do titular; e 3) o discurso do tempo determinado pela lei. Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição Mais uma vez, é importante destacar que, confusões costumam ser verificadas entre as causas impeditivas e as suspensivas, por isso chamo a atenção de você para a compreensão desse tema. Assim, é importante destacar que, tanto as suspensões como os impedimentos são responsáveis por fazerem com que os efeitos da prescrição cessem, visto que quando as causas que promovem tanto a suspensão quanto o impedimento forem controladas, a prescrição voltará a correr normalmente. Uma das principais diferenças entre essas duas formas de cessar a prescrição por prazo determinado consiste no fato de que nos impedimentos o prazo prescricional permanece íntegro, e só será dado o seu início após o término da causa impeditiva; já nas situações em que a prescrição for suspensa, ela ocorre após o início do prazo prescricional. Assim, quando a suspensão acabar, o tempo será retomado, e não iniciado. Dessa forma, o tempo que já tiver corrido anteriormente continuará sendo válido e voltará a ser contado. Para facilitar o entendimento, analise o Quadro 4. QUADRO 4 Impedimentos e suspensões das prescrições FONTE Elaborado pela autora, com base em Gonçalves (2011). 41 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 Em conformidade com o ensinado por Maria Helena Diniz (2003): As causas impeditivas da prescrição são as circunstâncias que impedem que seu curso inicie e, as suspensivas, as que paralisam temporariamente o seu curso; superado o fato suspensivo, a prescrição continua a correr, computado o tempo decorrido antes dele. (DINIZ, 2003, p. 341) O Código Civil apresenta as causas impeditivas da prescrição nos artigos 197, I a III, 198, I, e 199, I e II. Diniz (2003) considera que as causas impeditivas da prescrição têm como base elementos relacionados ao status da pessoa, individual ou familiar, considerando, ainda, as razões de confiança, amizade e motivos relativos à ordem moral. Por sua vez, o art. 201 do Código Civil de 2002 determina que a prescrição será suspensa em benefícios dos credores solidários, uma vez que os demais só aproveitam dessa prescrição nos casos nos quais a obrigação for indivisível. Causas que Interrompem a Prescrição Em conformidade com os ensinamentos apresentados por Diniz (2003), a interrupção difere do impedimento e da suspensão, pois são responsáveis por inutilizar a prescrição que já teve início, assim, quando a interrupção tiver fim, será necessário que o prazo seja reiniciado, ou seja, que volte a contar do começo, não podendo ser retomado, como nas suspensões, tampouco simplesmente iniciados, como nos impedimentos, pois já tiveram início. Dessa forma, o prazo prescricional é reiniciado a contar “da data do ato que a interrompeu ou do último ato do processo que a interromper” (BRASIL, 2002, on-line). 42 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 Assim, o art. 202 do Código Civil de 2002 apresenta quais são as causas que promovem a interrupção da prescrição: Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar- se-á: I. por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II. por protesto, nas condições do inciso antecedente; III. por protesto cambial; IV. pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V. por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI. por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. (BRASIL, 2002, on-line) A prescrição poderá ser interrompida por qualquer interessado, destacando, ainda, que o fato da prescrição ter sido interrompida para um credor não significa dizer que também o será para os demais, quando tais não forem solidários, tendo em vista as disposições presentes no artigo 203 e 204 do Código Civil de 2002. Prazos Prescricionais Os prazos prescricionais são determinados pelos artigos 205 e 206 do Código Civil, e o primeiro apresenta a regra geral acerca do prazo prescricional ao determinar que “a prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor” (BRASIL, 2002, on-line), enquanto o art. 206 apresenta regras específicas sobre os prazos prescricionais. 43 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 Decadência Após termos aprendido o que pode ser considerado como prescrição, partimos para a decadência, sendo esse instituto abordado pelo Código Civil de 2002 nos artigos de 207 a 211. Assim, para Amaral (2017), a decadência pode ser entendida como a perda do direito potestativo mediante a inércia do seu titular durante um certo período de tempo, tendo este sido determinado pela lei. Dessa maneira, o direito potestativo apresenta como objetivos os direitos de qualquer espécie, sejam disponíveis ou indisponíveis. Em outras palavras, a decadência pode ser compreendida como a extinção do direito em razão da inércia do titular, ou seja, para que determinado direito fosse dotado de eficácia, era necessário que o titular o exercesse, porém, por conta da sua inércia, este se esgotou sem que fosse exercido. Para tanto, o tempo é considerado como um requisito do ato. Diferentemente do que aprendemos em relação às prescrições, as normas relativas à suspensão, ao impedimento e à interrupção não se aplicam perante a decadência, pois esse instituto, em regra, envolve prazos fatais e peremptórios, conforme o art. 207 do Código Civil. Uma diferença interessante a ser citada quando comparamos a decadência e a prescrição é que esta pode ser arguida pelos interessados, enquantoa decadência deve ser ajuizada ex officio, ou seja, pelo juízo, tendo em vista a disposição presente no art. 210 do Código Civil. Segundo Chaves (2004), a decadência tem duas espécies: legal e convencional. Nesse sentido, a legal será aquela prevista nas legislações, sendo reconhecidas de ofício pelo juiz, mesmo quando envolve direitos patrimoniais; já a convencional será determinada pelas partes. Diante disso, apenas a parte que for ser beneficiada é que poderá alegá- la, em conformidade com o art. 211 do Código Civil de 2002. 44 Transações e negócios jurídicos Prescrição e Decadência Capitulo 4 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a prescrição e a decadência são dois institutos que estão presentes no Direito Civil, sendo muitas confusões destinadas a ambos, porém os dois são termos distintos, não podendo ser entendidos como dotados da mesma função. Diante disso, verificamos que ambos apresentam uma relação com o tempo, sendo responsáveis por limitar o exercício de determinados direitos com o intuito de fornecer segurança jurídica aos mencionados direitos. A prescrição é responsável por fornecer estabilidade e consolidação para os direitos, pois sem a sua existência, os negócios jurídicos firmados nunca obteriam status de permanência, e pouca segurança seria fornecida para os sujeitos envolvidos em tais relações jurídicas; já a decadência pode ser compreendida como a extinção do direito em razão da inércia do titular. 45 Transações e negócios jurídicos Referências AMARAL, F. Direito Civil: introdução. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. AQUINO, L. G. Guia dos defeitos do negócio jurídico e suas repercussões. Jus, 2013. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/23603/ guia-dos-defeitos-do-negocio-juridico-e-suas- repercussoes. Acesso em: 8 jul. 2022. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 2002. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ L10406compilada.htm. Acesso em: 8 jul. 2022. CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2009. CHAVES, R. C. A prescrição e a decadência no Direito Civil. Jus, 2004. Disponível em: https:// jus.com.br/artigos/5588/a-prescricao-e-a- decadencia-no-direito-civil. Acesso em: 8 jul. 2022. COELHO, D. C. Entenda a diferença entre nulidade e anulabilidade (ou nulidade absoluta e nulidade relativa). Jusbrasil, 2018. Disponível em: https://danicoelho1987.jusbrasil.com. br/modelos-pecas/650732435/ entenda-a-diferenca-entre-nulidade-e-anulabilidade- ou-nulidade- absoluta-e-nulidade-relativa. Acesso em: 8 jul. 2022. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2012. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva 2003. GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2012. GONÇALVES, C. R. Direito Civil esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2011. LEAL, A. L. C. Da prescrição e da decadência. Rio de Janeiro: Forense, 1982. 46 Transações e negócios jurídicos Referências SILVA, R. I. da. Dos atos jurídicos lícitos e ilícitos. Conteúdo Jurídico, 2012. Disponível em: http://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/29690/ dos-atos-juridicos-licitos-e- ilicitos. Acesso em: 23 mar. 2020. 47