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CADERNO IED PRIVADO II

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Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
CADERNO – 3º semestre - IED PRIVADO II – MAURÍCIO REQUIÃO 
 
AULA 01 – OBSERVAÇÕES GERAIS DA DISCIPLINA 
 
Observações gerais – conteúdo: 
Suporte fático concreto (ação concreta – mundo dos fatos – que se adequa ao previsto na 
norma) x suporte fático abstrato (previsão da conduta - mundo do dever-ser). Por exemplo, 
no Código Penal, o homicídio é tipificado no Art. 121, caput – matar alguém – e, quando uma 
pessoa mata outra (a partir de um disparo de arma de fogo, por exemplo) há a 
materialização da conduta tipificada. A incidência, portanto, origina um fato jurídico e este 
passa a existir para o Direito. 
Esse mundo jurídico é dividido em três planos: existência (existe no mundo jurídico), 
validade (um fato pode ser nulo ou anulável) e eficácia (o fato produz os seus efeitos). Aqui 
se encerram os conteúdos da primeira avaliação (14/04). 
Em seguida, serão trabalhados os tipos de fatos jurídicos e os atos ilícitos. 
Na segunda unidade, ocorrerá uma abordagem mais detalhada acerca dos planos do mundo 
jurídico: fato nulo x anulável, defeitos do negócio jurídico e eficácia jurídica. Por último, após 
a 2ª avaliação (31/05), será discutido, em duas aulas, prescrição e decadência. 
OBS: As aulas tendem a não ser muito expositivas, sendo importante estudar de antemão o 
assunto a ser dado na aula. 
 
Referências: 
 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 14. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2007. 
OBS: Para a próxima aula, ler os dois primeiros capítulos do referido livro. 
OBS: As avaliações serão realizadas presencialmente e de forma individual. 
OBS: É importante resolver as provas anteriores do professor. 
OBS: Quinzenalmente, às terças (a partir da próxima – 22/02), o professor estará, no período 
vespertino, disponível para tirar dúvidas no Ágata ao vivo. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Atividade: Liste fatos jurídicos que você tenha praticado nas últimas 24 horas. 
1. Assinei o termo de consentimento para a Faculdade Baiana de Direito contabilizar 
presença a partir da biometria (contrato); 
2. Adquiri um curso de Direito Penal – pagando-o via boleto (compra e venda); 
3. Realizei uma compra no supermercado – (compra e venda); 
4. Usei máscara para ir à faculdade. (imposição/obrigatoriedade do uso da máscara em 
ambientes fechados); 
5. Adquiri os livros de Direito Administrativo I e Direito Civil II (compra e venda); 
6. Iniciei um requerimento no Sagres; 
 
AULA 02 – O FATO JURÍDICO 
 
1. O Direito: 
O Direito trata-se de uma fronteira de controle social e capaz de regular o comportamento 
dos indivíduos em sociedade, entretanto, não consiste na única maneira – vide as normas de 
etiqueta/cortesia (cumprimentar as pessoas, por exemplo) e as normas morais 
(determinadas religiões impõem condutas específicas, por exemplo, como o Cristianismo 
que condena o consumo de carne na sexta-feira santa). O Direito, todavia, sendo a última 
fronteira de controle social, apresenta um caráter coercitivo, ou seja, a capacidade de impor 
sanções jurídicas previamente estabelecidas àqueles que, porventura, venham a contrariar 
as normas jurídicas. Destarte, o que o Direito considera adequado está situado nas normas 
(proposições jurídicas) – dispondo acerca dos fatos mais relevantes para a vida em 
sociedade (visa a garantir o mínimo ético-social). 
 
2. O fato jurídico – introdução: 
Para existir um fato jurídico, portanto, deve existir, antes de tudo, uma norma que trate da 
conduta em análise (como o Art. 121 do Código Penal que discorre sobre o ato de homicídio 
– matar alguém: reclusão, de 6 a 20 anos). 
Além de existir a norma, é de suma importância a materialização da norma. Por exemplo, os 
alunos tiveram que assinar (concretização da ação) o termo de consentimento (norma) para 
a Faculdade Baiana de Direito contabilizar presença através do registro da biometria a partir 
do dia 28/02. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
3. Dimensões do Direito: 
Primeiramente pode-se citar a discussão de dimensão política da norma, isto é, do caráter 
axiológico/valorativo da norma. Desse modo, pode-se considerar uma norma justa ou injusta 
– vinculando-se ao atributo das normas jurídicas denominado de legitimidade. A título 
exemplificativo, o professor Maurício Requião considera maléfica a reforma trabalhista pelo 
fato desta prejudicar os interesses dos trabalhadores. 
Há, também, a dimensão sociológica da norma, ou seja, a verificação dos impactos da norma 
na sociedade. Assim, através de um vínculo com o atributo das normas jurídicas denominado 
de eficácia social/eficiência, busca-se compreender se aquela norma é cumprida, de fato, 
pela sociedade. Por exemplo, é notória a ineficiência da norma que criminaliza jogos de azar 
– como o jogo do bicho. 
 
Apesar das análises política e sociológica, a ênfase da disciplina IED Privado II – que segue a 
linha da Teoria Geral do Direito - será dada na dimensão normativa, ou seja, dogmática e 
menos atrativa. Nesse sentido, busca-se entender o que a estrutura normativa propicia. 
OBS: É nítido que não se consegue jamais um isolamento completo nessas atitudes monistas 
(de enxergar o Direito somente como valor, ou somente como fato, ou somente como norma) 
– tendo credibilidade a teoria da tridimensionalidade proposta pelos pós-positivistas e por 
nomes como Miguel Reale – entretanto, para fins epistemológicos é possível essa 
fragmentação. A Teoria Geral do Direito se dispõe da dimensão normativa para análise. 
 
4. A dimensão normativo-dogmática do Direito: 
A mudança da maioridade civil dos 21 para os 18 anos com o advento do novo Código Civil 
de 2002 não provocou mudanças substanciais no ser humano. O Direito, portanto, não 
apresenta a capacidade de influenciar em questões biológicas/naturais. 
A ideia da obrigatoriedade da norma não decorre do fato de estar vinculada a alguma sanção 
jurídica (como defendia Hans Kelsen), mas decorre do fato dela ser incondicional, ou seja, 
toda vez que acontecer no mundo dos fatos o que se encontra previsto na hipótese, 
obrigatoriamente a norma incidirá. 
 
5. O suporte fático: 
O texto que faz parte da norma – e que descreve um possível evento a acontecer – é o 
denominado suporte fático hipotético ou abstrato. A segunda conotação quando se fala em 
suporte fático trata-se daquela que nomeia o próprio fato quando materializado no mundo- 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
suporte fático concreto. A seguir, tem-se uma norma que ilustra melhor essa noção de 
suporte fático. 
Art. 481, Código Civil: Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a 
transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 
Observa-se, portanto, que uma compra e venda se difere de uma mera troca (entre objetos) 
ou doação (uma parte cede algo de forma gratuita). Nesse sentido, para haver uma compra 
e venda deve-se cumprir a integralidade do disposto no suporte fático. 
OBS: Um fato natural pode ser considerado um fato jurídico, desde que interfira nas relações 
humanas. Uma pessoa que, por exemplo, deveria realizar uma entrega em Petrópolis, porém 
não conseguiu realizar no dia das fortes enchentes, não será responsabilizada pela 
inadimplência em virtude de uma causa de força maior. 
 
6. Elementos do suporte fático: 
As condutas humanas podem ser volitivas ou não – ou seja, existem fatos jurídicos que a 
vontade humana compõe o suporte fático (como no caso da compra e venda – fato jurídico) 
e outros em que a vontade humana não compõe o suporte fático. 
Outro dado contido no suporte fático trata-se do psíquico, ou seja, a compreensão acerca da 
intenção do agente (boa-fé ou não). É aqui que será tratado o dolo (que é mais comum ao 
suporte fático de normas de Direito Penal, mas também é encontrado no Direito Privado). 
Encontra-se compondo, também, o suporte fático, estimaçõesvalorativas. Por exemplo, o 
Código Penal, até pouco tempo, continha a expressão “mulher honesta”. Ora, se existe uma 
“mulher honesta”, existe uma “mulher desonesta”, ocorrendo, assim, um juízo de valor. 
Ademais, o Código Civil, mais precisamente no Art. 122, trata da imoralidade do objeto de 
atos jurídicos e aqueles comportamentos atentatórios aos “bons costumes” (Código Civil, 
art. 122 c/c o art. 123,II). 
No Código Penal comum de 1940, o elemento normativo “mulher honesta” era previsto em 
três tipos penais, a saber, o de posse sexual mediante fraude (art. 215 do CP), de atentado 
ao pudor mediante fraude (art. 216 do CP) e de rapto violento ou mediante fraude (art. 219 
do CP). 
 
Compõe, também, o suporte fático, a probabilidade. Por exemplo, no direito de sucessões, é 
comum testamentos deixando bens para pessoas que ainda não existem – tais como netos 
que podem nascer ou não (“deixo esses bens para os meus netos, caso meus filhos tenham 
filhos”). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Antes da compra e venda, deve existir a oferta (fato jurídico), a aceitação (fato jurídico) para 
somente depois ser estabelecido um contrato (fato jurídico). Em síntese, um fato jurídico 
pode ser antecedido de outros fatos jurídicos. Nesse sentido, um fato jurídico pode ser, 
também, um elemento do suporte fático. 
Conforme já mencionado anteriormente, uma causalidade física pode constituir elemento 
de suporte fático desde que os seus efeitos se liguem a uma norma jurídica (vide o caso das 
enchentes em Petrópolis também já referido). 
A passagem do tempo também é elemento do suporte fático (evidente, por exemplo, na 
própria maioridade civil – 18 anos absolutamente capaz e 16 anos relativamente incapaz). A 
passagem do tempo, nesse cenário citado, modifica a maneira pela qual o Direito se 
relaciona para com os indivíduos. Em resumo, a duração dos efeitos jurídicos, a perda e a 
aquisição dos direitos dependem, muitas vezes, do transcurso do tempo. 
Para a próxima aula: ler a parte de suporte fático, preceito e incidência da Teoria do fato 
jurídico – plano da existência/Marcos Bernardes. 
 
AULA 03 – ELEMENTOS DO SUPORTE FÁTICO E PRECEITO 
 
1. Elementos do suporte fático: 
O suporte fático pode ser hipotético (a descrição de algo que pode acontecer no mundo dos 
fatos pela norma) ou concreto (materialização do fato descrito pela norma, ou seja, há a 
incidência da norma). 
O suporte fático apresenta elementos: 
 Nucleares: o suporte fático não existe sem esses elementos, ou seja, esses elementos 
se encontram associados à existência do suporte fático; 
 Complementares: qualificadores de elementos nucleares (sobre o sujeito, sobre o 
objeto, sobre a forma...) associados à validade e à eficácia do suporte fático. A falta 
desses elementos complementares implica, geralmente, na invalidade, mas também 
pode implicar na ineficácia; 
 Integrativos: ampliadores da eficácia (como, por exemplo, o registro de contratos – 
mas que, em determinadas ocasiões, pode ser um elemento complementar); 
 
OBS: Suporte fático concreto x fato jurídico: O suporte fático é mais pontual e proporciona a 
criação de um fato jurídico que perdura. Dessa forma, em regra, o suporte fático que importa 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
é o do momento em que o negócio jurídico foi celebrado – nesse sentido, não importa se os 
indivíduos que celebraram um contrato completaram dezoito anos na semana seguinte e, 
desse modo, esse contrato segue anulável, uma vez que no momento da sua celebração, os 
sujeitos envolvidos na relação eram relativamente incapazes. 
 
2. Preceito: 
A norma é composta por duas partes – o suporte fático, que descreve uma situação que 
pode acontecer; e o preceito, que dispõe acerca da consequência daquele fato. O suporte 
fático e o preceito não necessariamente precisam estar na mesma norma. 
Art. 186 CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar 
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
O suporte fático anterior não apresenta preceito em si, mas pode se agregar a preceitos 
contidos em outros artigos – como o art. 927. 
 
Art. 927 CC. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado 
a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
OBS: Um mesmo preceito pode completar o suporte fático de diferentes normas. Destarte, o 
art. 927 do Código Civil, por exemplo, pode, além de se vincular ao art. 186 do Código Civil, 
ser associado ao crime de homicídio (art. 121 do Código Penal) – uma vez que o infrator 
apresenta a obrigação de arcar com os custos do funeral (reparação do dano a outrem); 
 
AULA 04 – INCIDÊNCIA 
 
EXERCÍCIO INTRODUTÓRIO: 
Dois sujeitos realizaram um determinado ato jurídico ao qual nomearam como sendo o ato 
que tem por suporte fático hipotético os elementos A, B e C, que chamaremos aqui de ATO 
01. Entretanto, em concreto, o que ocorreu foi a realização dos elementos A, B, C e D, que 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
correspondem a outro ato, aqui denominado ATO 02. Levando em conta o acima exposto, 
qual foi o ato praticado pelos sujeitos? Justifique e exemplifique. 
R: Com base na situação anteriormente apresentada, conclui-se que a norma incidente e 
vinculada ao ato praticado pelos sujeitos foi a que discorre sobre o ATO 02 e cujo suporte 
fático engloba os elementos A, B, C e D. Nesse cenário, a aplicação da norma cujo suporte 
fático engloba os elementos A, B e C, tratando sobre o ATO 01, consistiu na aplicação de 
uma norma que não incidiu e, portanto, contra legem, estando sujeita à revisão. Ademais, 
vale ressaltar que a incidência é incondicional, uma vez que a norma incide sempre que o 
suporte fático se concretize, independentemente da vontade das partes. 
 
1. Conceito: 
De acordo com Marco Bernardes de Mello, a incidência é “o efeito da norma jurídica de 
transformar em fato jurídico a parte do seu suporte fáctico considerado relevante para 
ingressar no mundo jurídico”. Essa perspectiva parece ser pouco plausível, tendo em vista 
que restringe o conceito de incidência a uma única consequência: juridicização. 
Assim, pode-se dizer que incidência corresponde ao efeito de uma norma jurídica eficaz 
tendo-se concretizado o suporte fático, gerando consequências jurídicas relevantes. 
 
2. Características da incidência: 
 
 Incondicionalidade: Há incidência sempre que o suporte fático se concretize, 
independentemente da vontade das partes. Isso vale, inclusive, para as normas não 
cogentes, devido à existência de duas incidências: a vinculada à regra geral e a 
vinculada à vontade das partes (caso a vontade das partes não se manifeste, incidirá 
a regra geral); 
 
 Inesgotabilidade: A ocorrência da incidência não altera a capacidade da norma de 
incidir. Destarte, o evento pode se repetir diversas vezes que não se altera a 
capacidade da norma de incidir (ex: nascimento – como acontecem diversos 
nascimentos diários, a norma incide várias vezes). Entretanto, existem exceções, pois 
algumas normas apresentam suporte fático que somente incide uma única vez. 
 
3. Pressupostos para a ocorrência da incidência: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 A norma jurídica deve ser vigente, pois enquanto a norma jurídica não estiver apta a 
produzir os seus efeitos, não haverá incidência. Desse modo, durante o período de 
Vacatio legis (tempo entre a data de publicação e início da vigência da norma 
jurídica), a norma não incide e, portanto, não produz os seus efeitos, mesmo que o 
suporte fático seja preenchido em concreto; 
 
 Ademais, necessita-se da concreção do suporte fático suficiente. Para uma norma 
jurídicaincidir, o suporte fático deve ser preenchido em concreto na sua totalidade – 
salvo os casos de presunção, tais como o disposto no Art. 322 do Código Civil. 
Art. 322 – CC: Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última 
estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. 
 
4. Consequências da incidência: 
 
 Juridicização: A norma incide com o intuito de tornar algo jurídico. Por exemplo, 
quando se estabelece um contrato (negócio jurídico) de compra e venda, o qual 
impõe, no mundo dos fatos, direitos e deveres para os sujeitos envolvidos em tal 
relação; 
 
 Pré-exclusão de juridicidade: Denominamos pré-excludentes de juridicidade as 
normas jurídicas cuja incidência cria fato jurídico que tem a finalidade de impedir: 
que suporte fáctico que seria, normalmente, juridicizado em certo sentido, assim o 
seja; ou que certo fato venha a se tornar jurídico. O art. 188 do Código Civil traz as 
chamadas excludentes de ilicitude, tais como a legítima defesa. Se normalmente uma 
pessoa atira na outra e mata-a, o que iria incidir no Direito Civil corresponde ao art. 
186 do Código Civil. Todavia, se a pessoa agiu em legítima defesa (a outra pessoa 
queria matá-la), o art. 188 do Código Civil incide e o ato não será considerado ilícito, 
ocorrendo, assim, uma pré-exclusão de juridicidade; 
Art. 186 – CC Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido 
 
 Invalidação: Capacidade da norma que incide de invalidar um ato jurídico (o ato 
jurídico é o fato jurídico que contém a vontade das partes em seu suporte fático), 
tornando deficiente o seu suporte fático. Para algo ser nulo ou anulável, esse algo 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
tem que estar no mundo jurídico. O erro, o dolo, a coação, a fraude contra credores, 
o estado de perigo e a lesão constituem causas de anulação de atos jurídicos; 
 
 Desjuridicização: Capacidade da norma incidente em retirar um fato jurídico do 
ordenamento jurídico, trazendo-o de volta ao mundo fático. Por exemplo: dois 
indivíduos resolvem desfazer um contrato e, nesse cenário, incide uma norma que 
vem a retirar esse contrato (algo que estava no mundo jurídico) do mundo jurídico; 
 
 Deseficacização: Capacidade da norma incidente em retirar a eficácia já produzida 
por outro fato jurídico. É o que acontece com o fenômeno da caducidade. 
 
AULAS 05 E 06 – CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS 
 
EXERCÍCIO: Classifique os fatos jurídicos presentes no fragmento a seguir. 
O pai de Daniel morreu afogado enquanto nadava num rio com muita correnteza. 
Quando da morte, ele usava uma corrente que estava na família há algumas gerações, e que 
não foi recuperada juntamente com o corpo. Pretendendo reaver o bem, Daniel anunciou, 
colando cartazes na região, que pagaria recompensa no valor de mil reais para quem 
encontrasse e lhe devolvesse a citada corrente. 
Certo dia um sujeito, que sequer sabia da recompensa, enquanto relaxava nas margens 
do rio, acabou encontrando a corrente. Amigos o informaram sobre o fato e ele procurou 
Daniel, devolvendo a corrente, recebendo a recompensa e assinando uma quitação que 
comprovava o recebimento do valor prometido. 
 
1) A morte do pai de Daniel (art.6 – CC): Fato jurídico stricto sensu, uma vez que a 
conduta humana não compõe o suporte fático; 
 
2) A abertura da sucessão (art. 1784 – CC): Ato-fato jurídico, sendo efeito automático 
de um fato jurídico anterior (a morte do pai de Daniel) – assim como há outros 
efeitos como a perda da personalidade jurídica, por exemplo. A abertura da 
sucessão, porém, é produtora de outros efeitos; 
 
3) A perda da posse (art. 1223 – CC): Ato-fato jurídico, pois o possuidor perde domínio 
sobre a coisa, mesmo que contra a sua vontade; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
4) Promessa de recompensa (art. 854 CC): Negócio jurídico, pois a vontade humana 
compõe o núcleo do suporte fático e, além disso, o indivíduo (Daniel) apresenta a 
capacidade de moldar alguns efeitos jurídicos (como o anúncio será feito, por quanto 
tempo será feito, onde será feito...); 
 
5) O sujeito encontrou a corrente (arts. 1233 e 1234 CC): Ato-fato jurídico, pois a 
conduta humana compõe o suporte fático, porém não a vontade (avolitivo). Se o 
sujeito quisesse encontrar a corrente e encontrá-la (ao invés de achar por acaso), a 
classificação do fato jurídico segue como um ato-fato jurídico, uma vez que essa 
vontade é irrelevante; 
 
6) Devolução da corrente (pagamento – arts. 304, 308, 313, 314, 315 - CC): Ato-fato 
jurídico – o indivíduo que achou tinha o dever, independentemente de sua vontade, 
de devolver a corrente; 
 
7) Daniel paga o indivíduo que devolveu a corrente (pagamento - arts. 304, 308, 313, 
314, 315 – CC): Ato-fato jurídico (pensamento doutrinário majoritário) – Daniel 
cumpre a obrigação de pagar R$ 1000,00 àquele que encontrou a corrente. Se um 
sujeito deve a X e a Y e, querendo pagar a X, acaba pagando a Y – se considerarmos 
um ato-fato jurídico, Y não deve devolver a quantia; se considerarmos um ato 
jurídico, Y deve devolver a quantia. Em outra situação hipotética, se X ameaça Y a te 
pagar apontando uma arma para a sua cabeça, Y pode pedir um valor indenizatório 
em virtude de ter sido vítima de um ato ilícito, entretanto, a quantia não será 
devolvida pelo fato de um pagamento ser um ato-fato jurídico (independente da 
vontade); 
 
8) Assinatura de uma quitação que comprovava o recebimento do valor prometido (art. 
320 CC): Ato jurídico stricto sensu, uma vez que a quitação é um documento emitido 
com base nos requisitos previstos em lei para comprovar o recebimento do valor (e 
essa assinatura é um direito do devedor para comprovar que quitou a sua dívida). 
Não seria um negócio jurídico pelo fato dos efeitos desse fato jurídico serem pré-
estabelecidos em dispositivos normativos e não podem ser moldados pelas vontades 
das partes (Credor não pode dizer: “ah, vou assinar a quitação só se você pagar em 
até dez dias”); 
 
Art. 320 – CC: A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará 
o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo 
e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS: 
 
1. Fato jurídico stricto sensu (no sentido estrito): 
 
 Todo fato jurídico em que, na composição do seu suporte fático, entram apenas fatos 
da natureza, independentes de ato humano como dado essencial. 
 O elemento humano (conduta) não é necessário para a composição do suporte fático 
suficiente. 
 Exemplos: o nascimento, a morte, o implemento de idade, a confusão, a produção de 
frutos, a aluvião, a avulsão, etc. 
 Apesar de se tratarem de eventos naturais, interessam para o Direito em virtude dos 
impactos na sociedade humana. Uma mudança no curso de um rio pode afetar 
direitos de propriedade – os proprietários dos terrenos invadidos pelas águas podem 
ser indenizados por parte dos proprietários dos terrenos acrescidos. 
 Se houver ato humano na origem de um fato jurídico stricto sensu, não há alteração 
do caráter do evento que constitui seu suporte fático. Por exemplo, uma morte 
ocasionada por homicídio (ato humano) não deixa de ser um evento da natureza. 
 
2. O ato-fato jurídico: 
 
 Todo fato jurídico que se materializa através de uma conduta humana, entretanto, 
sem apresentar a vontade como elemento do seu suporte fático. 
 A análise da relevância ou não da vontade humana é feita no suporte fático 
hipotético e não a luz do caso concreto. 
 Exemplos: a caça, a pesca, a especificação,a comistão, a descoberta do tesouro, a 
semeadura, a ocupação, o abandono de bem móvel, a tomada de posse, a tradição 
da posse, o abandono da posse, etc. 
 Vamos supor que um sujeito ache acidentalmente uma corrente. Tem-se aqui um 
ato-fato jurídico. Se o sujeito quisesse encontrar a corrente e encontrá-la (ao invés 
de achar por acaso), a classificação do fato jurídico segue como um ato-fato jurídico, 
uma vez que essa vontade é irrelevante e não compõe o suporte fático dos art. 1233 
e 1234 do Código Civil (que tratam da descoberta). 
 
 
2.1 – Atos reais: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Consistem em atos humanos que geram circunstâncias fáticas geralmente 
irremovíveis. 
 Exemplos: O louco que pinta um quadro detém o direito de propriedade sobre tal 
obra assim como uma criança (incapaz) que descobre um tesouro no fundo do 
quintal de sua casa. 
 Neste último exemplo, a criança é dita incapaz no que tange à capacidade de fato ou 
de exercício e não de gozo, uma vez que titula direitos desde a concepção do seu 
nascimento. 
 
 
2.2 – Atos-fatos jurídicos indenizativos: 
 
 Configuram-se naquelas situações em que de uma conduta humana lícita causadora 
de dano a terceiro, decorre para seu autor ou a ele imputável dever de indenizar. 
 A regra geral é de que aquele que pratica ato ilícito tem o dever de indenizar (arts. 
186, 187, 927 – CC), mas esse dever de indenizar também pode aparecer em 
condutas lícitas – como no exercício regular de um direito ou em estado de 
necessidade. 
 Por exemplo, em uma cidade que está sendo bombardeada, um indivíduo, para se 
proteger, arromba a porta de uma casa e entra (invade). Este indivíduo tem o dever 
de indenizar o proprietário do imóvel mesmo tendo cometido uma conduta lícita 
(estado de necessidade – art. 188, II – CC). 
 O mesmo vale para uma indústria que assume o risco de sua atividade. Mesmo que 
se trate de um acidente, tem, ela, o dever de indenizar os prejudicados pelo 
vazamento de toxinas, por exemplo. 
 A vontade na prática do ato danoso, por se tratar de um ato-fato (classificação mais 
abrangente), é irrelevante. 
 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo 
iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias 
o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a 
remoção do perigo. 
 
Art. 929 – CC: Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não 
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
Observa-se que, conforme o parágrafo único do Art. 188, no caso de aquele com uma 
conduta excedente (passe dos limites do indispensável), isto é, em desconformidade com o 
ordenamento jurídico, comete um ato ilícito. Por exemplo, se aquele indivíduo que invadiu a 
casa de outro para se proteger das bombas, saiu, também, quebrando tudo o que via pela 
frente, comete, este, ato ilícito. 
 
2.3 – Atos-fatos jurídicos caducificantes: 
 
 Concretizam-se naquelas situações que constituem fatos jurídicos cujo efeito 
consiste na extinção (perda) de determinado direito e, por consequência, de 
pretensão, da ação e da exceção dele decorrentes. 
 Conduta lícita cujo efeito desta é perder direito. 
 Exemplos: prescrição, decadência e preclusão (passagem do tempo + inação). 
 
3. Ato jurídico lato sensu: 
 
 Denomina-se ato jurídico o fato jurídico cujo suporte fático prevê como seu cerne 
uma exteriorização consciente da vontade. 
 São essenciais, portanto: um ato humano volitivo, a consciência dessa exteriorização 
de vontade (intuito de realizar aquela conduta) e a obtenção de um resultado lícito e 
possível. 
 Conforme já visto em IED, uma das características do Direito é a exterioridade e, 
portanto, não age sobre pensamentos (dimensão interna dos indivíduos). É 
necessária a declaração da vontade. 
 Quando exigida pela norma jurídica, a falta de declaração faz com que não exista ato 
jurídico (como no caso de um testamento feito sem seguir as regras do Código Civil – 
na verdade, não há testamento). 
 Inconsciência (inexistência do ato) x Erro na manifestação da vontade (ato existe, 
mas é passível de anulação). 
 A exteriorização da vontade não implica na ciência de estar realizando um ato 
jurídico. Por exemplo, quando tomamos um ônibus, não pensamos em fazer um 
contrato de transporte, mas apenas nos deslocando de um local para outro. 
 
3.1 – Ato jurídico stricto sensu: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 A vontade manifestada pelas pessoas se limita, apenas, à função de compor o 
suporte fático de certa categoria jurídica. 
 O ato jurídico stricto sensu tem efeitos previamente estabelecidos pelas normas 
jurídicas. 
 Efeitos “necessários” (determinação dos efeitos já é prevista em lei e, por 
conseguinte, esses efeitos independem da vontade das partes). 
 Ex: Quitação (art. 320 – CC). 
 
3.2 – Negócio jurídico: 
 
 Também conhecido como ato negocial. 
 As partes apresentam o poder de regular a amplitude, o surgimento, a permanência, 
e a intensidade dos efeitos que constituam o conteúdo eficacial das relações 
jurídicas. 
 Os efeitos jurídicos podem ser moldados pela vontade das partes. 
 Efeitos são “queridos”. 
 Não é um “mangue” visto que há limites à manifestação da vontade das partes 
impostos pela lei  as partes podem negociar determinados efeitos, dentro das 
fronteiras impostas pelo Direito. 
 Ex: Contrato de compra e venda – vai ter que envolver um acordo de uma pessoa 
pagar um preço e a outra transferir uma coisa (previsto em lei), mas vários dos 
efeitos podem ser alterados pelas partes (quando será entregue o produto, a forma 
da efetuação do pagamento, etc...). 
 
 
3.3 – Ato jurídico misto: 
 
 É possível haver atos jurídicos em que estejam combinados ato jurídico stricto sensu 
e negócio jurídico. 
 Exemplo: um credor que tem o direito de escolha de uma dentre as prestações A, B 
ou C, comunica ao devedor que escolheu a prestação B (ato jurídico stricto sensu), 
mas lhe concede oportunidade de, dentro de certo prazo, fazer outra prestação à sua 
escolha (negócio jurídico). 
 
Referências: 
Teoria do Fato Jurídico – Plano da existência/ Marco Bernardes de Mello 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
AULA 07 – O ATO JURÍDICO STRICTO SENSU 
 
1. O ato jurídico lato sensu: 
Em um ato jurídico lato sensu, o seu suporte fático contém uma conduta humana e um 
elemento volitivo (a vontade enquanto elemento criador de um fato jurídico – que pode ser 
uma ação ou uma omissão). O ato jurídico lato sensu se subdivide em ato jurídico stricto 
sensu e negócio jurídico. 
 
2. Ato jurídico stricto sensu x Negócio jurídico: 
Relembrando... O negócio jurídico, diferentemente do ato jurídico stricto sensu, permite que 
as partes modulem determinados aspectos da sua eficácia (como, por exemplo, a data do 
vencimento do boleto para pagamento após ser celebrado um contrato de compra e venda). 
Observa-se, entretanto, que essa liberdade para modular efeitos não é plena, ou seja, 
respeita os limites impostos pelo Direito. No contrato de compra e venda mencionado, 
obrigatoriamente, deve ocorrer o fornecimento de um bem (de A para B) e de uma quantia 
financeira (de B para A). 
 
3. O ato jurídico stricto sensu: 
Art. 185 – CC: Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que 
couber, as disposições do Título anterior. 
Conforme mencionado no art. 185 do Código Civil, a regra geral é de que, no que couber, as 
normas que regem os negócios jurídicos também se aplicam aos atos jurídicos stricto sensu. 
 
4. Observaçõesimportantes sobre o ato jurídico stricto sensu: 
 
4.1 – Para que essa vontade componha o suporte fático, é necessário que ela seja 
exteriorizada, uma vez que uma das características do Direito é a exterioridade (não é 
possível regular as circunstâncias inerentes à esfera psíquica do indivíduo). 
A reserva mental, em regra, não é relevante. 
 
Art. 110 – CC: A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva 
mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 112 – CC: Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas 
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
 
Os arts. 110 e 112 do Código Civil, apesar de aparentemente contraditórios, não são, uma 
vez que o art. 112 prioriza a declaração da vontade, só que já dispondo sobre o mundo dos 
fatos. Por exemplo, se um indivíduo quer vender um bem que vale aproximadamente R$ 
5.000,00 e no anúncio escreve “Valor a vista: R$ 5.000,00 ou parcelado em 5x R$100,00”. 
Percebe-se que, apesar de ter colocado 5x100 ao invés de 5x1000, o negócio jurídico não é 
invalidado pois há a prioridade da manifestação da vontade (entende-se que o sujeito quis 
vender o bem por R$ 5.000,00 ou 5x R$1.000,00  prioriza-se a vontade em relação ao 
sentido literal). 
 
Em regra, manifestação e declaração são considerados sinônimos, entretanto, em alguns 
casos, o Código exige uma das duas – a declaração, por essa ser mais complexa. Declaração 
de vontade – A pergunta a B: “Quer comprar o meu notebook por R$ 2.000,00?” (linguagem 
no sentido mais estrito da comunicação) x Manifestação da vontade – A abandona um copo 
no lixo (não é necessário dizer “Estou a abandonar este copo no lixo”). 
 
Art. 107 – CC: A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão 
quando a lei expressamente a exigir. 
No caso do casamento, é necessário que ambos envolvidos nessa relação jurídica digam 
“sim” (declaração da vontade) e não somente manifestem um sim com a cabeça. O fato 
jurídico solene (aquele que exige protocolos pré-estabelecidos para ser válido) vai exigir a 
declaração da vontade; o não solene, pode exigir ou não. 
 
4.2 – A vontade é elemento completante e, portanto, nuclear, do suporte fático. 
Se Requião doou um livro para um aluno e nesse tinha uma nota de cem reais. O aluno deve 
devolver a nota para Requião pelo fato do professor ainda ser o proprietário. A manifestação 
da vontade de Requião consistiu na doação do livro e não da nota de cem reais. 
 
4.3 – A exteriorização da vontade deve ser consciente. A consciência aqui é no sentido de 
querer realizar o ato (se referir a um objeto), não sendo necessário imaginar estar realizando 
um fato jurídico. Por exemplo, A quis pegar um ônibus para se deslocar de X a Y. A não está 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
pensando “quero celebrar um contrato de transporte”, mas somente “quero me deslocar de 
X a Y”. 
Por exemplo, durante um leilão, um indivíduo levanta a mão para cumprimentar um 
conhecido. Esse indivíduo não tinha consciência de que esse ato (levantar a mão) representa 
um lance. Logo, o ato praticado, por ter sido inconsciente, não deve ser considerado como 
um fato jurídico. 
 
4.4 – O objeto do ato jurídico stricto sensu deve ser lícito, possível, determinado ou 
determinável. 
Como as normas, no geral, que tratam do negócio jurídico também regem os atos jurídicos 
stricto sensu, podemos analisar o art. 104, II, o qual aponta a necessidade do objeto ser 
lícito, possível, determinado ou determinável. 
Art. 104 – CC: A validade do negócio jurídico requer: 
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável 
 
 
OBS: Os artigos 121 a 137 (Capítulo III: da condição, do termo e do encargo) somente se 
referem ao negócio jurídico. 
O reconhecimento da paternidade é um ato jurídico stricto sensu, manifestada assim a 
vontade do pai, permite que todos os efeitos previstos em lei sejam aplicados (ele não pode 
dizer, por exemplo: “reconheço a paternidade, desde que não precise pagar pensão”). 
Se uma das partes, durante a celebração de um contrato de compra e venda, só tem a opção 
de aceitar ou não, não classificamos esse fato jurídico como um ato jurídico stricto sensu 
pelo fato da outra parte ter a capacidade de moldar determinados aspectos da eficácia – 
mantendo-se, portanto, a classificação de um negócio jurídico. 
 
5. A classificação dos atos jurídicos stricto sensu: 
 
 Reclamativos: Consubstanciados em reclamações ou provocações. Ex: Interpelação 
para o credor exercer seu direito de escolha nas obrigações alternativas; 
 
 Comunicativos: Constituídos por comunicação de vontade que têm a finalidade de 
dar ciência a alguém. Ex: A comunicação da escolha da prestação; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 Enunciativos: Exteriorizações de conhecimento ou de sentimento. Ex: 
reconhecimento de paternidade e de maternidade fora do casamento; 
 
 Mandamentais: Imposição ou proibição de determinado procedimento por parte de 
outra pessoa. Ex: A manifestação do proprietário para exigir que o dono do prédio 
vizinho proceda à sua demolição ou reparação, quando ameaça ruína; 
 
 Compósitos: Manifestações de vontade seguidas de circunstâncias para se 
completarem. Ex: A constituição de domicílio (estabelecimento de residência + 
ânimo definitivo – não basta só o interesse em ficar no local, mas deve permanecer 
de forma definitiva). 
 
6. O ato jurídico misto: 
Pode ocorrer que, em uma mesma situação, tenha-se um ato jurídico stricto sensu e um 
negócio jurídico. Assim, temos os chamados atos jurídicos mistos. 
Exemplo: Um credor que tem o direito de escolha de uma dentre as prestações A, B ou C, 
comunica ao devedor que escolheu a prestação B (ato jurídico stricto sensu), mas lhe 
concede oportunidade de, dentro de certo prazo, fazer outra prestação à sua escolha 
(negócio jurídico). 
 
7. Os atos jurídicos no Direito Público: 
Também é possível, obviamente, a presença de atos jurídicos stricto sensu e de negócios 
jurídicos no âmbito do Direito Público. 
 Um contrato administrativo resultante de uma licitação consiste em negócio jurídico. 
 Uma sentença do Poder Judiciário é um negócio jurídico. 
 O despacho, por outro lado, é um ato jurídico stricto sensu. 
De acordo com a doutrina de Marco Bernardes de Mello, os atos de direito público se 
subdividem em atos complexos e atos compostos. O ato complexo é aquele conjunto de atos 
e deliberações que são praticados por órgãos integrantes de um mesmo poder de Estado 
(um servidor público em caráter efetivo precisa ser aprovado em concurso público da própria 
entidade interessada). Por outro lado, o ato composto é aquele conjunto de atos e 
deliberações que são praticados por órgãos de poderes ou entidades diversos (o Presidente 
da República – Poder Executivo – indica um nome para ocupar o cargo de ministro do STF, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
mas este somente pode assumir o cargo após aprovado em uma sabatina realizada pelo 
Senado Federal – Poder Legislativo). 
Muitas vezes, pode ocorrer, também no âmbito do Direito Público, uma mescla entre atos 
jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos. Por exemplo, a elaboração de um edital de um 
concurso é um negócio jurídico pelo fato do elaborador poder decidir aspectos como o que 
será cobrado (conteúdo da prova), quantas questões serão realizadas, o modelo das 
questões (dissertativas ou objetivas), quando será feita a prova, etc. Após um candidato ser 
aprovado e for tomar a posse, tem-se um ato jurídico stricto sensu em virtude dos efeitos já 
serem previamente estabelecidos (caso aprovado, será empossado). 
 
OBS: O silêncio somente terá valor jurídico quando o código dispuser sobre (logo, exceções). 
Quando, por exemplo, um credor fica em silêncio após a imposição de um prazo (após 
passadoos 30 dias fixados, por exemplo) – esse silêncio é relevante para o ordenamento 
jurídico. 
 
Referências: 
Teoria do Fato Jurídico – Plano da existência/ Marco Bernardes de Mello 
 
AULAS 08 E 09 – CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
ATIVIDADE: 
Analise os negócios jurídicos abaixo descritos e aponte, de modo fundamentado, todas as 
suas classificações. 
 
 Contrato 
de 
compra e 
venda 
Contrato 
de 
comodato 
Contrato 
de 
doação 
Contrato 
de fiança 
Testamento Promessa 
de 
recompensa 
UNILATERAL X X 
BILATERAL X X X X 
PLURILATERAL 
FIDUCIÁRIO 
NÃO FIDUCIÁRIO X X X X X X 
CAUSAL X X X X X X 
ABSTRATO 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
INTERVIVOS X X X X X 
MORTIS CAUSA X 
CONSENSUAL X X X X X 
REAL X 
PATRIMONIAL X X X X X X 
EXTRAPATRIMONIAL 
SOLENE X X X 
NÃO SOLENE X X X 
PRINCIPAL X X X X X 
ACESSÓRIO X 
TÍPICO/NOMINADO X X X X X X 
ATÍPICO/ORDINÁRIO 
ONEROSO X 
GRATUITO X X X X X 
 
OBS: Contrato de comodato – contrato de empréstimo de um bem infungível (que não pode 
ser trocado). Ex: O empréstimo de um livro da biblioteca 
 
A CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: 
 
1. Unilateral x bilateral x plurilateral: Classificação que leva em consideração os polos e 
o direcionamento das vontades. No negócio jurídico unilateral, há somente um 
único polo (não necessariamente significa que seja um negócio jurídico com uma 
única pessoa – Ex: aprovação por uma Assembleia Geral – vontade única que 
expressa a vontade dos sócios). No negócio jurídico bilateral, há dois polos e, por 
conseguinte, duas vontades distintas, recíprocas e concordantes (ex: Contrato de 
compra e venda). No negócio jurídico plurilateral, há no mínimo dois polos e as 
vontades convergem para uma mesma direção – Ex: contrato de constituição de 
sociedade. Todo contrato (100% das vezes) é bilateral – mesmo em um contrato de 
doação, uma vez que este precisa que uma parte aceite a doação. Essa classificação 
não se confunde com a classificação de oneroso/gratuito. 
 
2. Fiduciário x não fiduciário: Fidúcia vem da ideia de “confiança” e, portanto, os 
negócios jurídicos fiduciários são aqueles por meio dois quais há transferência de 
titularidade sobre bem ou direito e cujo adquirente deve satisfazer às finalidades 
negociadas e, ao fim, restituir a titularidade ou transferi-la a terceiro designado. Os 
negócios jurídicos fiduciários são exceções – Ex: compra e venda de imóvel, com 
promessa de devolução. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
3. Causal x abstrato: Se o motivo entra e é verbalizado como parte da causa do negócio, 
ele importa (isso é raro: raramente, quando compramos algum produto, somos 
questionados o porquê estamos comprando). Os negócios jurídicos causais são 
aqueles que têm uma causa intrínseca, incluída no seu suporte fático – Ex: 
testamento (pode ser revogado caso o testamenteiro atente contra a vida do 
testador, inferindo-se, a gratidão como causa do testamento). Os negócios jurídicos 
abstratos são pensados como “algo que pode circular” (causa não foi incluída no 
suporte fático) – Ex: cessão de crédito, transmissão de propriedade de bens imóveis. 
 
4. Intervivos x mortis causa: Os negócios jurídicos mortis causa são aqueles cuja 
eficácia só se inicia a partir da morte de alguém – Ex: testamento. No geral, os 
negócios jurídicos são intervivos. 
 
5. Consensual x real: Os negócios jurídicos consensuais e reais partem de uma 
exteriorização de vontade. Os negócios jurídicos reais só existem se, além do acordo, 
for entregue determinado bem; já os negócios jurídicos consensuais já existem caso 
ocorra a exteriorização de vontade. Ex de negócio jurídico consensual: contrato de 
compra e venda (art. 481 – CC: “(...) se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e 
o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”); Ex de negócio jurídico real: contrato 
de comodato (art. 579 – CC: “(...) perfaz-se com a tradição do objeto”). A doação, em 
regra, é consensual, entretanto, existem exceções nas quais é obrigatória a entrega 
imediata do bem (o contrato de doação se torna um negócio jurídico real – art. 541, 
parágrafo único - CC, o qual discorre sobre a doação de bem móvel de pequeno 
valor). 
 
6. Patrimonial x extrapatrimonial: Essa classificação não se confunde com a classificação 
de oneroso/gratuito. Os negócios jurídicos patrimoniais são aqueles que importam 
uma prestação de natureza econômica. O contrato de doação, apesar de transmitir 
uma ideia de ser gratuito, envolve, sim, patrimônio – conforme a própria redação do 
art. 481 – CC. A adoção e o casamento são exemplos de negócios jurídicos 
extrapatrimoniais. 
 
7. Solene x não solene: Os negócios jurídicos solenes são aqueles os quais a lei exige 
forma específica para a sua validade (e, em alguns casos, existência – no caso do 
testamento) – Ex: casamento, contrato de doação, contrato de fiança (“dar-se-á por 
escrito” – art. 819 – CC), testamento, etc. Os demais negócios jurídicos são ditos não 
solenes. 
 
8. Principal x acessório: Se o negócio jurídico existe independentemente de qualquer 
outro, é principal; caso sua existência for dependente de outro negócio jurídico, este 
é dito acessório. A título exemplificativo, pode-se citar o contrato de fiança, o penhor 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
e a hipoteca como negócios jurídicos acessórios. Qualquer problema de validade que 
afete o negócio jurídico principal, afeta, também, o negócio jurídico acessório pelo 
fato deste depender daquele. 
 
9. Típico x atípico: Em geral, os negócios jurídicos são típicos, ou seja, existem normas 
que os regulam. A lei permite que as pessoas realizem negócios jurídicos que não 
estejam presentes nas leis, desde que respeitem as disposições legais. Desse modo, o 
contrato de leasing é um exemplo de negócio jurídico atípico. 
 
Art. 425 – CC: É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais 
fixadas neste Código. 
 
10. Oneroso x gratuito: A noção de negócio jurídico oneroso pressupõe a necessidade 
uma “contraproposta” – no caso de uma compra e venda (A cede o produto para B e 
B cede uma quantia financeira para A). Caso contrário, o negócio jurídico é dito 
gratuito – Ex: promessa de recompensa, testamento, contrato de doação, etc. 
 
Referências: 
 Ilícito civil: esse desconhecido – Felipe Peixoto Braga Netto 
 
AULAS 10 E 11 – O ESTUDO DO ATO ILÍCITO 
 
Realize a leitura do texto “Ilícito civil, esse desconhecido...”, de Felipe Peixoto Braga Netto, 
tendo por guia o roteiro a seguir. 
 
a. Relacione ilícito e juridicidade de acordo com as teorias apresentadas pelo autor. 
De acordo com o Felipe Peixoto Braga Netto, existem três vertentes no que tange à 
relação entre ilícito e juridicidade. A corrente defendida por doutrinadores como Caio Mário 
da Silva Pereira e Vicente Ráo sustenta que o ilícito não pode ser considerado jurídico (o 
ilícito fora do/externo ao ordenamento jurídico). A corrente defendida por Kelsen sustenta 
justamente o oposto da anterior, uma vez que considera que para ser considerada jurídica, 
uma norma precisa, obrigatoriamente, estar vinculada a um ilícito e a uma sanção para o 
caso de descumprimento da norma. A terceira postura, adotada por Marco Bernardes de 
Mello e Pontes de Miranda, consiste em um equilíbrio entre as duas anteriores, uma vez que 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
o ilícito é contemplado pelo ordenamento jurídico, mas o ilícito não é condição determinante 
para uma norma ser considerada jurídica. 
A análise de lícito/ilícito, na contemporaneidade, contém uma carga valorativa que é 
feita dentro do próprio ordenamento jurídico. Não significa, desse modo, que um ilícito seja 
menos jurídico ou mais jurídico que o lícito pois ambos estão no ordenamento, apresentando 
a mesma estrutura de incidência. A distinção, portanto, é valorativae tal juízo de valor é 
fixado pelo ordenamento (ações que em dado momento são lícitas podem se tornar ilícitas e 
vice-versa). 
 
b. Analise a importância da culpa enquanto elemento do ilícito. 
O ato ilícito apresenta relação com a culpa, entretanto, esta não é uma relação de 
necessidade, uma vez que a doutrina contemporânea, no seu caráter majoritário, sustenta a 
possibilidade da existência do ilícito sem culpa. 
Art. 186 – CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
A ideia de ilicitude, fundada no art. 186, se encontra vinculada à culpa lato senso 
(tanto do dolo – intencional, quanto da culpa em sentido estrito – desprovida de 
intencionalidade). A culpa em sentido estrito se relaciona a uma negligência (não perceber a 
potencial ilicitude proveniente de uma ação) ou imprudência (assumir o risco – tal como na 
ocasião de dirigir em uma velocidade muito acima da permitida). 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
O art. 187 do Código Civil discorre sobre o ilícito no que tange ao abuso de direito. 
Passa-se a pensar em uma noção de ilicitude não necessariamente vinculada à noção de 
culpabilidade e, por conseguinte, à noção de responsabilidade (há quem discorde e afirme 
que o abuso de direito envolva culpa). 
 
c. Analise a relação entre ilícito civil e responsabilidade civil. 
De acordo com o art. 927 do Código Civil, que dialoga com os arts. 186 e 187 do 
referido código, o ilícito civil indenizante gera como consequência a responsabilidade civil do 
dever de indenizar, isto é, reparar o dano. Quando falamos de ato ilícito, uma das possíveis 
consequências (e talvez a mais comum) é o dever de indenizar, todavia, não é o única. 
Ademais, podem existir atos lícitos que gerem o dever de indenizar: os chamados atos-fatos 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
indenizativos (vide um indivíduo que, para escapar de uma bomba, invade um domicílio – 
estado de necessidade). 
Art. 927 – CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 
d. Discorra sobre as categorias eficaciais do ilícito. 
 
De acordo com Braga Neto, são quatro as categorias eficaciais do ilícito: 
1. Ilícito indenizante: 
Todo ilícito cujo efeito é de indenizar, ou seja, de reparar o dano causado. Por exemplo, 
um indivíduo que comete homicídio deve arcar com as despesas financeiras do funeral da 
vítima (art. 927 CC). 
 
2. Ilícito caducificante: 
Todo ilícito cujo efeito é a perda de um direito. Por exemplo, um pai que castiga 
demasiadamente o filho fisicamente pode perder o poder familiar sobre este (art. 1638 CC); 
 
3. Ilícito invalidante: 
Todo ilícito cujo efeito é a invalidade e todos os efeitos dele decorrente são invalidados. 
Por exemplo, um contrato assinado mediante coação deve ser invalidado (a coação é 
condição de invalidação pois a vontade não pode ser viciada – art. 151 CC) 
 
4. Ilícito autorizante: 
Todo ilícito cujo efeito é uma autorização. Por exemplo, um testador pode revogar o 
testamento caso o testamentário atente contra a sua vida (art. 557 CC). A retirada do 
sobrenome do cônjuge e a revogação de uma doação também são hipóteses de concessão de 
direito a outrem em virtude da ocorrência de um ato ilícito autorizante. 
 
Observa-se que, em um mesmo ato ilícito, podem existir diversas consequências. Um pai, 
por exemplo, que castiga demasiadamente o filho, além de perder o poder familiar sobre 
este, apresenta o dever de indenizar (arcar com os custos de um eventual tratamento 
médico). Destarte, tem-se um ato ilícito caducificante e indenizante simultaneamente. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Em geral, para o Direito Civil, a responsabilização para o causador do dano independe do 
grau de culpa. Tanto faz, desse modo, colidir o veículo em outro veículo por espontânea 
vontade ou por distração. 
Art. 944 – CC: A indenização mede-se pela extensão do dano. 
O art. 927 do Código Civil discorre sobre a indenização, só que no Direito de 
Obrigações, tal indenização é a última solução. Mesmo diante de uma ilicitude de 
descumprimento, tenta-se, primeiramente, a tutela específica da obrigação (tentar que a 
finalidade pretendida seja cumprida). Quando compramos um produto, não estamos 
pensando em uma indenização no caso da não entrega desse produto mas tão somente em 
recebê-lo. 
A noção de ilicitude – conforme o art. 186 do Código Civil – pressupõe uma conduta 
que viola um direito e causa um dano a outrem (ainda que exclusivamente moral). Essa parte 
“exclusivamente moral”, atualmente, no caso de uma nova redação do Código Civil, talvez 
nem fosse incluída (tendo em vista que a própria constituição prevê a possibilidade de dano 
moral). Todavia, essa discussão é irrelevante. 
É importante ressaltar que um indivíduo pode causar um dano sem violar um direito, 
uma vez que o nosso Código Civil fez questão de separar “violar um direito” e “causar dano a 
outrem”. No caso de uma luta de mma, há o consentimento de ambas partes para o 
sofrimento de lesões corporais; ou no caso de um indivíduo que age em legítima defesa. 
É possível, também, alguém violar um direito sem causar um dano. Se Maurício 
adquirir um livro, sem urgência para leitura, que era para ser entregue daqui a dois dias, mas 
este é entregue daqui a quatro dias. Houve, nitidamente, uma violação de direito, 
entretanto, não se pode afirmar a existência de um dano. 
O art. 188 do referido código traz as chamadas “excludentes de ilicitude”. 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo 
iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o 
tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a 
remoção do perigo. 
O efeito da incidência deste artigo trata-se de uma pré-exclusão de juridicidade, uma vez que 
impede a juridicização de condutas que seriam juridicizadas conforme os arts. 186 e 187. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A legítima defesa pressupõe uma ação para evitar a lesão de um bem jurídico de si ou de 
outrem. A tenta matar B só que B mata A; ou A tenta matar C e B mata A, protegendo C. 
O estado de necessidade pode envolver um dano à pessoa ou ao patrimônio (no caso do 
arrombamento de uma porta para se proteger de uma pessoa que está pretendendo matar 
outrem). Incide, nesse caso, o art. 188 e não o art. 186. 
 
e. Indique como a superação do modelo oitocentista de legislação influencia no estudo e 
abordagem do ilícito civil. 
A superação do modelo oitocentista representou um grande avanço para o estudo do 
ilícito civil pela ciência jurídica. Em primeira análise, compreende-se que o ato ilícito 
indenizante é só uma das categorias de ilícito civil quando se considera a eficácia como 
parâmetro de classificação, existindo, destarte, os ilícitos caducificantes, invalidantes e 
autorizantes. Em segundo plano, é possível constatar uma flexibilização no que concerne à 
dicotomia entre público e privado (lógico que esses ramos têm suas próprias regras e estas 
são importantes, mas, atualmente, essa dicotomia não faz muito sentido) Ademais, passa-se 
a compreender, na visão pós-positivista contemporânea, os princípios, além das regras, 
como normas jurídicas. Dessa forma, se reconhece a violação de princípios - como o da 
imagem de uma pessoa - como um ato ilícito e que se encontra passível de uma sanção 
(como o dever de indenizar). Embora os princípios tenham aparecido de forma mais explícita, 
deve-setomar cuidado com os excessos. Se já existe uma regra que resolve um problema, é 
preciso buscar a resolução nesta regra, evitando, assim, “decisões elásticas” dos juízes. O juiz 
deve realizar um procedimento hermenêutico para encaixar princípios no caso concreto, 
detendo, portanto, maior responsabilidade para se chegar a uma decisão. 
 
Para a próxima aula: responder a 2ª questão da atividade. 
 
AULA 12 – ABUSO DE DIREITO 
 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Conforme a interpretação do referido artigo, infere-se a existência de um direito, 
entretanto, o exercício deste é feito de forma indevida e/ou exagerada. 
Não há menção à culpabilidade no art. 187, logo, uma pessoa pode não ser culpada pelo 
abuso de direito (embora, na maioria dos casos, ela tenda a ser). Observa-se que a inclusão 
de outro termo no suporte fático dificulta a comprovação do abuso de direito, visto que 
seria necessário provar a existência de mais um elemento. 
Na França, no século passado, houve um caso que envolveu a função social da propriedade. 
Próximo à propriedade de um indivíduo, existia um terreno de lançamento e aterrisagem de 
dirigíveis. O proprietário, não gostando do lançamento de dirigíveis, construiu estacas de 
madeira pontiagudas e, caso os dirigíveis atingissem essas estacas, podiam ser danificados. O 
proprietário foi obrigado a retirar as estacas em virtude do abuso de direito, uma vez que a 
única finalidade daquelas estacas era prejudicar a sociedade (não detendo, por conseguinte, 
nenhuma finalidade para o proprietário). 
Os empreendedores podem se reunir em associações, contudo, se almejarem prejudicar os 
consumidores através dessas associações, estar-se diante de um abuso de direito. 
Os “bons costumes” representam o conjunto de práticas da sociedade moralmente 
adequadas. Os “bons costumes”, ou seja, as práticas sociais, variam no tempo e no espaço. 
A grande maioria das decisões envolvendo abuso de direito são vinculadas à boa-fé. A boa-
fé, enquanto princípio (boa-fé objetiva), se relaciona a um padrão social de conduta, isto é, 
um agir ético. Essa boa fé, enquanto princípio, pressupõe um modo correto de agir, ou seja, 
existem condutas que são esperadas por parte dos indivíduos. Esse padrão deve ser 
cumprindo independentemente da vontade das partes. Se em um contrato, Maurício coloca 
uma taxa de juros muito alta (além daquilo que a lei permite), percebe-se uma violação à 
boa-fé objetiva. 
Não importa, para o Direito Civil, se um indivíduo agiu contra a boa-fé com consciência ou 
não do abuso de direito, mas somente a sua ação (não é analisada a intencionalidade). 
Se vinculam à boa-fé e, consequentemente, ao abuso de direito: 
 
 Venire contra factum proprium (AÇÃO + INAÇÃO) 
É a proibição de comportamentos contraditórios. Inicialmente, um indivíduo tem um 
comportamento que leva a uma determinada ação e, em um segundo momento, este age de 
forma que contraria a expectativa gerada. Nesse caso, há uma quebra da legítima 
expectativa. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Ex 1: Se A se desentende com B e ambos resolvem se divorciar, entretanto, A demora de 
concretizar o divórcio. A não pode utilizar como próprio argumento a sua demora para 
buscar a separação de bens. 
 
Ex 2: A é sócio de uma empresa que gerava lucro significativo. Certo momento, a empresa 
foi descoberta em um escândalo de corrupção e A, durante as investigações, alega que não é 
sócio de tal empresa. Observa-se um nítido comportamento contraditório por parte de A. 
 
Ex 3: A ocupou, indevidamente, um bem público e, depois de um certo tempo, realizou uma 
benfeitoria do bem. Se esse indivíduo sabia previamente que não poderia ser indenizado no 
caso de benfeitorias e, posteriormente, exige indenização, tal indenização não deve 
acontecer. 
 
 
 
 Supresio e surrectio (INAÇÃO + AÇÃO) 
 
Enquanto a supresio limita uma antiga posição jurídica em função da omissão do seu titular, 
a surrectio estabelece uma nova posição jurídica, quando se verifica a presença da boa-fé 
objetiva e do transcurso de um razoável lapso temporal. Tem-se, portanto, um ganho de 
direito por uma parte, ao mesmo tempo que a outra parte perde um direito. 
 
 
Ex 1: Uma empresa A, operadora de cartão de crédito, determina que, caso o cliente atrase 
uma parcela do pagamento, poderia ocorrer o cancelamento do contrato. Supondo que 
ocorra esse atraso reiteradamente e A não cancele o contrato, gera-se uma legítima 
expectativa no cliente de que o contrato não será cancelado. Certa ocasião, A resolve 
cancelar o contrato, o que não poderá realizar. O sujeito ganha o direito de manter o 
contrato e a empresa perde o direito de extingui-lo. Tem-se um caso de supresio e surrectio. 
 
Ex 2: Uma empresa de gás, impõe no contrato, que o fornecimento deve ser de, no mínimo, 
X litros. Um indivíduo compra uma quantidade inferior do gás (X-Y) e faz isso 
reiteradamente, sem que a empresa de gás fizesse qualquer ressalva. Gera-se uma 
expectativa no cliente de que ele não deveria comprar o mínimo contratual, apresentando 
liberdade para adquirir a quantia que quisesse. Certa vez, a empresa de gás resolve exigir o 
pagamento pelo não cumprimento do mínimo fornecimento contratual pelo cliente. A 
empresa perdeu o direito de tal cobrança e o cliente adquiriu o direito de comprar a 
quantidade de gás que bem pretendesse. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Tu quoque 
Um sujeito age de forma ilícita e reclama da ilicitude feita por outro, ou seja, há uma “falta 
de bom senso”. 
Ex 1: Um médico que, sendo um fumante inveterado, profere palestra educativa 
conscientizando os jovens a não fumarem, pelos diversos malefícios que esta prática traz à 
saúde. 
Ex 2: A, durante a elaboração de um contrato, tentou enganar B, mas B acaba enganando A. 
Ex 3: A se encontra inadimplente em relação a uma dívida com B e cobra o inadimplemento 
que C apresenta consigo. 
Ex 4: A morreu, deixando alguns filhos e dois imóveis. Um dos filhos saiu comprando a 
prestação dos dois imóveis de todos os outros irmãos (13/14 dos dois imóveis), menos de 
uma irmã B (1/14 dos dois imóveis). B ocupa um dos imóveis, mais barato, sem pagar nada; 
enquanto que A ocupa o imóvel que pertence à irmã, mais caro. Certa ocasião, B processa A 
cobrando-lhe o pagamento pela ocupação do seu imóvel. É nítida a falta de bom senso, pois 
B, inadimplente (de um imóvel mais barato), não tem razão em cobrar a inadimplência de A. 
 
 Inalegabilidade das nulidades formais 
 
Um sujeito comete um ato, tendo o conhecimento de que há algo de errado ali, ignorando, 
portanto, tal ilicitude. Posteriormente, tal sujeito quer alegar a coisa errada que ele já sabia 
desde o início, almejando a anulabilidade do ato. 
 
Ex 1: Se um menor, relativamente incapaz, oculta a sua idade (“já completei 18 anos”), para 
realizar um negócio. Posteriormente, ele não pode alegar a sua idade para anular o negócio 
(“ah, tenho 17 anos”). 
 
Ex 2: Existem diversos direitos provenientes da propriedade. Um sujeito celebra um contrato 
de locação com um indivíduo que é proprietário. O indivíduo começa a ocupar o imóvel e, 
posteriormente, o proprietário deseja efetuar uma cobrança. O proprietário não pode 
realizar tal cobrança, mas somente o usufrutuário. 
 
 
 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
AULAS 13 E 14 – PRESSUPOSTOS DE VALIDADE 
 
EXERCÍCIO 
Considerando um contrato que foi celebrado por um menor com 14 anos de idade, e outro 
que foi celebrado por um menor com 16 anos de idade, analise as questões a seguir para 
cada uma das situações: 
 
1. Qual o grau de invalidade de cada um desses contratos? 
Conforme o art. 166, I do Código Civil brasileiro, o primeiro contrato,celebrado por 
um menor com 14 (quatorze) anos de idade, é nulo, em virtude de se tratar de uma 
celebração por pessoa absolutamente incapaz, isto é, menor de 16 (dezesseis) anos. 
Ademais, consoante o art. 171, I do referido diploma, o segundo contrato, celebrado por um 
menor com 16 (dezesseis) anos de idade, é anulável. 
 
2. Esses contratos são eficazes? 
O ato nulo, em regra, não produz a sua plena eficácia, embora existam exceções, 
como no caso do casamento putativo, em que se demonstra a necessidade de se distinguir 
nulo e ineficaz (o casamento putativo é nulo e eficaz). Analisando-se o primeiro contrato, 
elaborado por um menor com 14 (quatorze) anos de idade, é perceptível a sua ineficácia. 
Os atos anuláveis entram, de logo, no plano da eficácia e irradiam seus efeitos, mas 
interimisticamente, pois poderão ser desconstituídos caso sobrevenha a decretação da sua 
anulabilidade. Destarte, o segundo contrato, embora anulável pelo fato de ter sido 
celebrado por um relativamente incapaz – adolescente com 16 (dezesseis) anos de idade -, 
produz os seus efeitos e, por conseguinte, é eficaz. 
 
3. É possível extinguir a invalidade, tornando os contratos válidos? 
A invalidade pode ser extinguida por (I) convalidação ou (II) sanação. Temos por 
convalidação a extinção do defeito invalidante dos atos jurídicos por consequência do ato-
fato jurídico da prescrição e da decadência (efeito do tempo). Se o prazo decadencial 
transcorre sem que o indivíduo que poderia alegar, não alegue, este perde esse direito (vide 
o ato-fato caducificante). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 177 – CC: A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se 
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que 
a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. 
Em síntese, enquanto ninguém se manifestar o ato continua produzindo os seus 
efeitos. 
O menor que não fez o negócio assistido, caso posteriormente o assistente venha a 
confirmar (assertiva posterior), a causa de invalidade do negócio desaparece. O próprio 
indivíduo, ao se tornar maior ou ser emancipado, pode ratificar o negócio feito quando era 
menor (confirmação – arts. 172 a 175, CC) – desde que não tenha passado o tempo de 
decadência. A sanação, ao contrário da convalidação, ocorre como resultado de ato de 
vontade relevante (negócio jurídico) praticado com o fim de remover o defeito invalidante, o 
que depende, portanto, de que haja manifestação expressa ou tácita do elemento volitivo. 
Na sanação, há a consciência e a vontade de considerar o ato como válido, sabendo-se de 
sua invalidade. 
Em regra, o ato nulo pode ser desconstituído a qualquer momento, sendo raras as 
hipóteses em que o código estipula um prazo. 
 
4. Quem pode alegar a invalidade? 
Art. 168 – CC: As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer 
interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. 
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do 
negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-
las, ainda que a requerimento das partes. 
Além dos interessados, pode alegar nulidade o Ministério Público no que lhe couber 
(nos negócios que envolvem menores, por exemplo). 
Essa nulidade pode ser reconhecida pelo próprio juiz, quando este se depara, por 
exemplo, com um contrato celebrado por um menino de quatorze anos. 
 
Art. 177 – CC: A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se 
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que 
a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. 
Os interessados no art. 177 apresentam um sentindo mais restrito, resumindo-se, 
basicamente, ao sujeito e ao seu responsável. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Em regra, o efeito da anulabilidade só afeta quem reclamar. Se duas pessoas foram 
obrigadas a assinar um contrato, mas somente um alega a coação, o contrato será anulável 
apenas para este indivíduo. 
Pode alegar invalidade, no que tange aos atos anuláveis (art. 177 – CC): I) O figurante 
do ato vítima de erro, dolo ou coação; (II) o credor anterior ao de disposição, no caso de 
fraude contra credores; (III) o relativamente incapaz, ao cessar a incapacidade; (IV) aquele 
que deveria assentir, nos casos de necessidade de assentimento protetivo (pais, tutor e 
curador) ou resguardativo (do marido, em relação aos atos da mulher, e da mulher, em 
relação aos atos do marido); (V) aqueles a quem a lei atribui legitimação para a ação de 
anulação nas espécies em que anulabilidade é imposta pela própria lei. 
 
5. É necessária a desconstituição dos contratos? 
A desconstituição sempre precisa ser feita. No anulável isso é ainda mais perceptível 
pois produz os seus efeitos jurídicos até que alguém peça a desconstituição. Já no que tange 
ao nulo, a desconstituição tem duas razões: (I) o nulo, até então, existe no ordenamento; (II) 
embora nulo e não tenha produzido efeitos jurídicos, possa ser que tenha gerado efeitos 
fáticos que precisam ser desconstituídos. 
O art. 170 discorre sobre a conversão. Levando-se em conta o princípio da 
conservação dos negócios jurídicos, mesmo que para o ato nulo, pode ocorrer um 
aproveitamento. 
Art. 170 – CC: Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá 
este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se 
houvessem previsto a nulidade. 
Se houver outro negócio previsto no ordenamento que de, alguma forma, atenda ao 
objetivo do primeiro negócio com menos exigências formais, o ordenamento permite a 
conversão do negócio A para o negócio B. Por exemplo, a conversão de uma promissória 
(nulo) para uma convicção de dívida (válido). 
 
CONTINUAÇÃO DO CONTEÚDO... 
 
1. Pressupostos de validade: 
Art. 104 – CC: A validade do negócio jurídico requer: 
I - agente capaz; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
III - forma prescrita ou não defesa em lei. 
 
2. Agente capaz: 
A incapacidade do agente pode acabar conduzindo aos dois diferentes graus de invalidade. 
O único sujeito que, de acordo com o nosso ordenamento jurídico, é absolutamente incapaz 
trata-se do menor de 16 (dezesseis) anos. 
 
Art. 105 – CC: A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra 
em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for 
indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. 
No que tange à nulidade, o ordenamento repudia com mais força, tanto que o rol de pessoas 
que pode alegar a nulidade é muito mais amplo. A anulabilidade é criada pensando em uma 
situação de dar uma opção ao sujeito pois, quando é anulável, essa anulação só trará o 
efeito invalidante se a pessoa interessada (protegida) a requerer. Daí a disposição que 
consta no art. 105 de que somente pode ser invocada a incapacidade pela pessoa 
interessada (protegida) – como um sujeito menor que celebra contrato com um maior de 
idade. 
Se o menor, dolosamente, omite a sua idade na elaboração de um negócio jurídico, este não 
pode querer anular tal negócio posteriormente pelo fato dele ter agido por má-fé e, por 
conseguinte, ter perdido a “proteção” positivada no art. 105 do CC. Tal disposição consta no 
art. 180 do referido diploma, o qual ressalta a necessidade de existir uma conduta ativa, ou 
seja, alguém perguntá-lo “qual a sua idade?”. 
Art. 180 – CC: O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma 
obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, 
ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. 
 
3. Objeto: 
Fala-se do objeto do negócio, não eventualmente uma coisa que seja objeto do objeto 
(prestação). 
Objetodeterminado é aquele que já se conhece qual é. 
Objeto determinável é aquele que, embora ainda não tenha se especificado qual será o 
objeto, há critérios para se determinar qual será esse objeto. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
O objeto não pode ser indeterminado/indeterminável, uma vez que isso desafia a própria 
lógica do negócio. 
O objeto tem que ser lícito. A ideia da licitude é muito mais uma ideia de que o 
ordenamento não vai permitir que o sujeito realize negócios cujo objeto é um ato ilícito. O 
ordenamento não regula uma relação, por exemplo, de um indivíduo que vende peças 
roubadas de um veículo para outrem e divide o lucro com seu amigo. 
O objeto tem que ser possível. A possibilidade jurídica quase se confunde com a noção de 
ilicitude, uma vez que o Código expressa quais objetos não podem ser objeto de contrato – 
como herança de pessoa viva. A possibilidade fática se vincula à possibilidade de se realizar – 
o indivíduo não pode vender o pedaço de terreno no céu (impossível faticamente e, 
portanto, tem-se um negócio jurídico nulo). 
Essa impossibilidade tem que ser absoluta, isto é, perdurar no tempo. Por exemplo, pode 
ocorrer a venda de um apartamento na planta, embora esse apartamento não exista 
faticamente. Vejamos o art. 106 do Código Civil. 
Art. 106 – CC: A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for 
relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. 
 
A impossibilidade relativa significa que um sujeito assume a obrigação por um determinado 
objeto, mas não vai cumprir, entretanto outro indivíduo pode cumprir. 
Quando acontecer a construção do prédio mencionado no exemplo anterior, o apartamento 
deixa de ser impossível. 
 
4. Forma prescrita ou não defesa em lei: 
Trabalhamos esse tópico quando tratamos de negócios jurídicos solenes e não solenes. 
Em regra, a lei não prescreve nenhuma forma específica; somente quando a lei prescrever e 
ocorrer o não cumprimento dessa forma, o negócio jurídico será invalidado. 
Art. 108 – CC: Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos 
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de 
direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente 
no País. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 109 – CC: No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento 
público, este é da substância do ato 
As partes, ao pactuá-lo, para esse caso específico, só vai ter validade se ele for registrado, 
feito por escritura pública. Esse requisito formal pode, sim, ser criado pelas partes, tendo em 
vista a modulação dos efeitos pelas partes no que concerne ao negócio jurídico. 
 
Referências: 
 Teoria do Fato Jurídico: plano da existência (Marco Bernades de Mello) 
 Teoria do Fato Jurídico: plano da validade (Marco Bernades de Mello) 
 
 
 
AULAS 16 E 17 – A ANULABILIDADE + ATIVIDADE 
 
1. A anulabilidade: 
Um ato pode ser anulável quando um sujeito for relativamente incapaz e falta o 
assentimento de outro sujeito. Esse assentimento é exigido em outras situações, como, por 
exemplo, no caso de um indivíduo casado que para vender um imóvel precisa do 
assentimento do outro cônjuge. O assentimento não se resume, portanto, à hipótese do 
relativamente incapaz. 
Em muitas vezes, há uma imposição da anulabilidade pelo Código. São situações específicas 
que o Código considera como causas de anulabilidade. 
 
Art. 117 – CC: Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o 
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. 
 
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio 
realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos. 
 
Por exemplo, Requião concede uma procuração para Nathália o representar. Nathália vende 
o carro de Requião para si mesma, podendo caracterizar um conflito de interesses. Logo, na 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
dúvida, conforme o art. 117 do Código Civil, essa venda é anulável (há concessão de 
autonomia às partes para decidir). 
 
Art. 550 – CC: A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro 
cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade 
conjugal. 
Se a pessoa é casada e, tendo uma amante, resolve fazer uma doação para essa amante. A 
cônjuge e os herdeiros decidirão pela anulabilidade. O ordenamento, assim como o art. 117 
do Código Civil, concede autonomia às partes para decidir acerca da anulabilidade. 
 
2. Vícios de vontade: 
Vícios de vontade: São situações em que a vontade foi exteriorizada de uma maneira com 
um fator que não deveria existir, mas que acaba influenciando tal exteriorização. São elas: 
erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo. Aqui a proteção é voltada para os negociantes. 
 
3. A fraude contra credores: 
A fraude contra credores, para a doutrina, é analisada de outra forma. O problema aqui é a 
consequência gerada para terceiros. Aqui a proteção é voltada para os terceiros (credores). 
CAPÍTULO IV 
Dos Defeitos do Negócio Jurídico 
Seção I 
Do Erro ou Ignorância 
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade 
emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, 
em face das circunstâncias do negócio. 
Art. 139. O erro é substancial quando: 
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das 
qualidades a ele essenciais; 
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a 
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou 
principal do negócio jurídico. 
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão 
determinante. 
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos 
mesmos casos em que o é a declaração direta. 
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de 
vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder 
identificar a coisa ou pessoa cogitada. 
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. 
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a 
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade 
real do manifestante. 
Seção II 
 Do Dolo 
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental 
quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. 
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a 
respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, 
provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. 
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a 
quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que 
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a 
quem ludibriou. 
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a 
responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do 
representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas 
e danos. 
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular 
o negócio, ou reclamar indenização. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Seção III 
DaCoação 
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao 
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos 
seus bens. 
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o 
juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, 
o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na 
gravidade dela. 
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o 
simples temor reverencial. 
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou 
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com 
aquele por perdas e danos. 
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte 
a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação 
responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 
Seção IV 
Do Estado de Perigo 
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de 
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume 
obrigação excessivamente onerosa. 
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz 
decidirá segundo as circunstâncias. 
Seção V 
Da Lesão 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação 
oposta. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo 
em que foi celebrado o negócio jurídico. 
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou 
se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
Seção VI 
Da Fraude Contra Credores 
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os 
praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, 
poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. 
§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. 
§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação 
deles. 
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, 
quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro 
contratante. 
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e 
este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a 
citação de todos os interessados. 
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o 
preço que lhes corresponda ao valor real. 
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor 
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou 
terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. 
Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da 
dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha 
de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. 
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de 
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. 
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis 
à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do 
devedor e de sua família. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em 
proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. 
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos 
preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na 
anulação da preferência ajustada. 
 
Para a próxima aula: Pesquisar e apresentar decisões judiciais sobre erro, dolo e coação. 
 
ERRO (arts. 138 a 144 – CC) - APELAÇÃO CÍVEL (AC) 0702946-32-2019.8.07.0012 (TJ-DF) 
Caso: José Valdinar vendeu um imóvel a Alberi Farias e, este, rapidamente revendeu o 
imóvel a Edivaldo Pereira, mediante a entrega de um Fiat/Pálio e de uma quantia de R$ 
10.000,00. Sr. Edivaldo, ao iniciar uma construção no terreno adquirido, foi advertido pela 
Administração Regional de São Sebastião-DF de que o lote adquirido encontrava-se 
localizado em área irregular, tendo sido a referida construção objeto de demolição. 
Síntese: Trata-se de pedido de rescisão de contrato verbal de permuta de imóveis em área 
irregular. 
Sentença: A decisão foi unânime pelo não provimento da apelação. Conforme o voto do 
desembargador Robson Teixeira de Freitas, “o autor tinha ciência da irregularidade do 
imóvel, ou seja, daí se extrai que aquiesceu com a permanência de quadro, sendo, portanto, 
latente a possibilidade de futuramente sofrer a ação fiscalizatória dos agentes públicos. (...) 
Ressalto, novamente, que o autor tinha o conhecimento de que o imóvel era oriundo de 
parcelamento irregular, até mesmo diante da situação fundiária de São Sebastião-DF. Não há 
que se falar que o negócio jurídico se concretizou mediante erro. O que se extrai dos autos é 
um arrependimento do autor, que sobreveio quando a Administração demoliu a obra que 
estava fazendo no terreno adquirido”. 
 
DOLO (arts. 145 a 150 – CC) - APELAÇÃO CÍVEL (AC) 1.0188.11.007654-7/001 TJ-MG 
Caso: Uma funcionária de uma empresa assinou, via ligação telefônica não gravada, um 
contrato que lhe fora dito se tratar de um formulário de mera atualização. Entretanto, o 
formulário consistia, na verdade, na adesão a contrato de publicidade. 
Síntese: A empresa GUIA FUTURO PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E PUBLICIDADE LTDA EPP 
contestou a anulabilidade de um contrato de publicidade através da teoria da aparência e da 
inexistência de vício na manifestação da vontade. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Sentença: Assim, a luz da defesa do hipossuficiente pelo Código de Defesa do Consumidor e 
compreendendo que a funcionária em questão não é representante legal da empresa em 
que trabalha, foi constatado o dolo e a má-fé por parte da GUIA FUTURO PRESTAÇÃO DE 
SERVIÇOS E PUBLICIDADE LTDA EPP. A parte autora agira sob dolo, o que inquina o contrato 
com a pecha da anulabilidade. 
 
COAÇÃO (arts. 151 a 155 – CC) - Apelação Cível (AC) 10707120226303002 TJ-MG 
Caso: Sérgio Teles, após uma breve discussão, obrigou outrem a assinar uma folha de papel, 
exibindo arma de fogo que estava em sua cintura. 
Síntese: Consoante a ementa, o recibo firmado sob comprovada coação não possui validade 
e, consequentemente, padece de eficácia liberatória. 
Decisão: Com base nos arts. 171 e 151 do Código Civil e na doutrina de Clóvis Beviláqua, 
inferiu-se flagrante e injusta coação na assinatura de contrato. 
 
 
Outras observações: 
 Maíra solicita um Código Civil a Maurício. Maurício cede o livro por empréstimo. 
Entretanto, Maíra entende que havia se tratado de uma doação. Maurício pode 
solicitar a anulação do negócio jurídico em questão em virtude de erro. Observa-se 
que o erro não tem participação do outro (o indivíduo erra por si) . 
 
 Maurício compra o relógio de Maíra, constatando, internamente, se tratar de um 
objeto de ouro. Posteriormente, Maurício percebe que o relógio, contudo, não é 
feito de ouro e almeja, desse modo, à anulação do negócio jurídico mediante erro. 
Caso Maurício tivesse dito “quero comprar esse seu relógio de ouro” e Maíra 
permanecesse calada ou tivesse dito “tudo bem” – tendo consciência de que o 
relógio não era de ouro – tem-se a possibilidade de anulaçãodo negócio jurídico em 
virtude de dolo (houve a participação do outro). 
 
 A (I) coação moral se diferencia da (II) coação física: (I) A ameaça a família de B de 
morte para que este venha a assinar um contrato (há uma certa capacidade de 
manifestar a vontade, mesmo que corra riscos) x (II) A pega a mão de B para assinar o 
contrato. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
AULA 18 – A ANÁLISE DO ERRO, DO DOLO E DA COAÇÃO 
 
1. Introdução: 
O erro, ou seja, a falsa percepção da realidade, pode ser resultante de uma ação do próprio 
indivíduo (sozinho) ou resultante da participação de outrem (o que pode admitir a 
possibilidade para se constatar dolo). 
Erros absurdos não são erros que vão autorizar uma anulação. Por exemplo: Maurício 
compra uma calça jeans pensando que era de ouro. Ele não conseguirá anular o negócio 
jurídico em questão. Portanto, falamos em erros substanciais. 
O prazo decadencial para pleitear a anulação do negócio jurídico por defeito é de quatro 
anos (art. 178, II, CC). 
 
2. O erro (arts. 138 a 144 – CC): 
Art. 139 – CC: O erro é substancial quando: 
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das 
qualidades a ele essenciais; 
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração 
de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; 
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou 
principal do negócio jurídico. 
 
Destarte, pode-se ter erro: 
 Quanto à natureza do objeto (error in negotio): Diz respeito ao objeto do negócio 
jurídico. Por exemplo, Maurício compra uma corrente de bronze pensando que era 
de ouro; 
 Quanto à qualidade da pessoa (error in persona): Diz respeito ao que uma pessoa 
pode fazer ou não. Supondo que A queira fazer um negócio com Maurício Requião, 
entretanto, entra em contato e faz um negócio com outro indivíduo cujo nome, 
também, é Maurício Requião. Tem-se um erro quanto à qualidade da pessoa. Outro 
erro contra a pessoa consiste no erro vinculado à habilidade de uma pessoa. Por 
exemplo, A acha que B é um advogado, todavia, B é um estudante de Direito; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Error in corpore: Diz respeito à qualidade do objeto do negócio e, nesse sentido, de 
forma diferente em relação ao error in negotio. Por exemplo: A comprou um relógio, 
todavia, este veio com defeito. A outro título exemplificativo pode-se citar o caso de 
um indivíduo que compra uma tinta para pintar sua casa e, ao abrir a lata, constata a 
presença de uma cor diferente da adquirida; 
 Erro iuris (erro contra o direito): Por exemplo, uma construção realizada em terreno 
proibido. 
O erro de cálculo é retificado e o negócio jurídico se mantém. Por exemplo: A realiza uma 
venda de três computadores, a R$ 2.000,00 cada e cobra, após efetuar uma soma 
equivocada, R$ 7.000,00 ao invés de R$ 6.000,00. O negócio jurídico em questão se mantém 
e os compradores pagarão, juntos, R$ 6.000,00 e não R$ 7.000,00. 
Outro erro possível de acontecer, mas que não implica na anulabilidade do negócio jurídico, 
trata-se do erro de menção. Um indivíduo erra ao escrever o nome do seu único filho no 
testamento. Aqui tem-se, conforme já mencionado, um mero erro de menção. 
Exemplo de outro erro possível de acontecer: A compra uma corrente de prata de B achando 
que é de ouro, sem, contudo, exteriorizar a sua percepção errônea de que a corrente é de 
ouro. Posteriormente, A pede a B uma corrente de ouro e B cede-o. Supõe-se a inexistência 
de má-fé por parte de B e o negócio jurídico se mantém já que A, de qualquer forma, 
adquiriu uma corrente de ouro que era o seu objetivo. 
 
3. Dolo (arts. 145 a 150 – CC): 
A noção de dolo parte da mesma lógica da ideia de erro, todavia, esse erro proveniente do 
dolo não se dá, somente, a partir do próprio sujeito. Tem-se, nesse cenário, outra pessoa 
envolvida (não necessariamente o figurante) que causa esse dolo. 
 Dolo causal (dolo invalidante): O dolo causal, como o próprio nome sugere, é aquele 
que é a causa do estabelecimento do negócio jurídico. Desse modo, caso o indivíduo 
soubesse, de fato, da realidade, manifestaria uma vontade distinta da que 
manifestou. Ex: A vende uma cópia de uma obra artística a B. B, achando que era a 
obra original, paga uma quantia expressiva. Entretanto, como se trata de um quadro 
falso, tem-se um dolo causal e, por conseguinte, suscetível a proporcionar a 
anulabilidade do negócio jurídico em questão; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Dolo acidental: Situação que aconteceria mesmo que o indivíduo soubesse da 
verdade, entretanto, em circunstâncias diferentes. Por exemplo, vamos supor que B 
gostou tanto da réplica da obra artística e resolveu ficar com o quadro. Dessa forma, 
como o preço pago em uma obra original é distinto do preço de uma réplica, A terá 
que indenizar financeiramente B (tirar a diferença), contudo, o negócio jurídico em 
questão não será anulado. 
Art. 148 – CC: Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a 
quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que 
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a 
quem ludibriou. 
 
O art. 148 do Código Civil discorre sobre o dolo de terceiro. Por exemplo, no caso de C, no 
exemplo citado anteriormente, confirmasse a autenticidade da obra, enganando B, C agiria 
com dolo. Ademais, caso o negociante não soubesse do dolo do terceiro e nem tivesse o 
dever de saber (no caso de não ser um subordinado do agente que agira com dolo), o 
negócio jurídico seria mantido, já que o negociante agiu por boa-fé. Todavia, poder-se-ia 
exigir uma indenização por parte do terceiro que agiu por dolo, mesmo com a manutenção 
do negócio jurídico em questão. Em síntese, a possibilidade de anulação ou não do negócio 
jurídico com a participação de terceiro depende da boa-fé da parte que está negociando. 
 
Art. 149 – CC: O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a 
responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do 
representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas 
e danos. 
 
O representante legal age em nome do representado. O código diferenciou as situações de 
representação legal e de representação convencional. O menor de dezesseis anos é 
obrigado, por lei, a ter um representante (portanto, representante legal). Ao contrário, 
pode-se ter um representante convencional quando um indivíduo assina uma procuração, 
permitindo que outro realize negócios em seu nome. 
Se se tem um representante legal e este age com dolo para realizar um negócio em nome 
do representado, o representado responde em relação aos proveitos/benefícios (devolver, 
por exemplo, uma quantia financeira) que obteve, retornando, assim, a sua condição inicial 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
(sem vantagens ou desvantagens). Caso existam demais prejuízos à outra parte, o 
representante legal responderá. 
Na hipótese da existência de representante convencional, o representado responde 
solidariamente com o representante convencional, ou seja, significa que o prejudicado pode 
cobrar a indenização integralmente a qualquer um dos dois. 
 
Art. 150 – CC: Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular 
o negócio, ou reclamar indenização. 
Se todos quiseram se enganar, o melhor enganador que prevalecerá. Não se pode, destarte, 
almejar à anulabilidade do negócio jurídico do caso concreto (lembra o tu quoque quando 
discorremos sobre abuso de direito). Por exemplo, A vende um quadro falsificado a B e B 
paga-o com uma pedra preciosa falsa. 
 
4. A coação: 
COATOR COACTO 
Art. 151 – CC: A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta aopaciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos 
seus bens. 
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, 
com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 
 
 Fundado temor: Significa que não tem que haver um risco real, bastando que o 
sujeito acredite nesse risco. Por exemplo, A ameaça B com uma arma de brinquedo 
(mesmo fundado temor em comparação a uma arma de verdade). Esse fundado 
temor pode ser qualquer ameaça (psicológica, física, a um bem...); 
 
 Dano iminente e considerável: A iminência envolve uma proximidade temporal. Por 
exemplo, o professor A diz ao aluno B “vou te reprovar no final do semestre” (é 
diferente de dizer “vou matar seu neto”, sendo que B não possui neto). O dano 
considerável é aquele que lesa um bem jurídico de forma significativa. Por exemplo, 
COAÇÃO 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
o professor A diz ao aluno B “vou te dar um murro” (é diferente dizer “vou te dar um 
peteleco” – lesão não considerável). 
Conforme o parágrafo único do referido artigo, a ameaça pode ser estendida a pessoas que 
não pertencem à família do coacto, mas que apresentam um vínculo com ele. Por exemplo, 
um professor assina um contrato para evitar a morte dos seus alunos. 
 
Art. 152 – CC: No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, 
o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na 
gravidade dela. 
Por exemplo, determinadas circunstâncias podem afetar mais a coação de uma mulher em 
comparação a um homem (ameaça de estupro, por exemplo). Outras circunstâncias podem 
afetar mais a depender da idade do indivíduo (uma ameaça de queda tende a surgir mais 
efeito em pessoas idosas, por exemplo). 
 
Art. 153 – CC: Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o 
simples temor reverencial. 
 
Exemplo: A alocou um imóvel para B e B se encontra inadimplente. A ameaça a despejar B 
do imóvel (exercício normal de um direito). Se A, aproveitando-se do seu direito de despejar 
B passa a exigir vantagens (como pagamentos adicionais), torna-se evidente um abuso de 
direito – o que não se encaixa no disposto no artigo mencionado. 
Temor reverencial, isto é, o receio de desagradar a alguém que merece respeito (exemplo: 
um professor ou um pai), também não é condição de anulabilidade do negócio jurídico. 
 
Art. 154 – CC: Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou 
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com 
aquele por perdas e danos. 
Art. 155 – CC: Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a 
parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação 
responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
Conforme o art. 155 do referido código, somente o coator (o responsável pela coação) 
responde no caso da parte diretamente relacionada com o negócio não ter ou nem devesse 
ter conhecimento da coação realizada. 
 
Para a próxima aula: Pesquisar e apresentar decisões judicias sobre lesão, estado de perigo 
e fraude contra credores. 
 
AULA 19 – ESTADO DE PERIGO E LESÃO 
 
1. Estado de perigo: 
 
 Artigo: 
Art. 156 – CC: Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade 
de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume 
obrigação excessivamente onerosa. 
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz 
decidirá segundo as circunstâncias. 
 
 Conceito (doutrina): 
Se caracteriza quando alguém, precisando se salvar ou salvar um familiar, ou, ainda, salvar 
uma pessoa que não pertence à família (desde que comprovado o vínculo de afinidade), 
assume obrigação excessivamente onerosa. – MELLO, Marco Bernardes de (Teoria do fato 
jurídico: plano da validade) 
 
 Pressupostos: 
 
 Existência de risco de dano pessoal, ou seja, referente à vida, à saúde ou à 
integridade física; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Gravidade do dano e atualidade do risco (negócio jurídico elaborado antes do risco 
cessar); 
 Relação direta entre o estado de perigo e o negócio jurídico; 
 Existência de dolo por parte do outro figurante do negócio jurídico; 
 Onerosidade excessiva assumida pelo figurante do negócio jurídico; 
 
 Observações: 
Essa questão de salvar-se inerente ao estado de perigo se refere à integridade física, à vida 
ou à saúde do próprio indivíduo, de algum familiar ou de uma pessoa com a qual mantenha 
afinidade (neste caso, se reconhecido pelo juiz). Quando se tratar de outro tipo de dano, 
como, por exemplo, um dano ao patrimônio, tem-se uma lesão. 
A coação não se confunde com o estado de perigo. Na coação, o sujeito é envolvido na causa 
do defeito (naquela coação). 
O dolo de aproveitamento somente se encontra presente no estado de perigo. Na lesão, 
não há a necessidade de se provar tal dolo de aproveitamento. 
A análise do “excessivamente oneroso” se faz em um viés objetivo e não subjetivo. Não 
importa se o indivíduo tenha ou não condições de arcar com o ônus financeiro, mas se o 
valor cobrado por uma das partes foi muito acima do “valor padrão”. Por exemplo, um 
procedimento médico tem valor de R$ 10.000,00. Um hospital X cobra R$ 9.500,00 a João 
para realizar tal procedimento. João assina o contrato e, posteriormente, alegando que 
ganha um salário mínimo e, por conseguinte, não teria condições de pagar o valor 
estabelecido, visa à anulabilidade do negócio jurídico em questão. Não se pode falar, neste 
caso, de uma cobrança excessivamente onerosa. Destarte, o negócio jurídico se mantém. 
Estado de perigo (defeito do negócio jurídico) não se confunde com estado de necessidade 
(excludente de ilicitude). 
 
 Exemplo de decisão judicial: 
No que tange ao estado de perigo, as decisões judiciais normalmente se vinculam ao âmbito 
hospitalar. Por exemplo: 
Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG Apelação Cível AC 2670683-63.2006.8.13.070. 
O caso: A sra. Lásara buscou prestar socorro ao esposo (Sr. Álvaro) na rede pública. Em 
virtude da total incapacidade do SUS de recebê-los, se deslocaram para um hospital privado, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
onde Álvaro ficou internado. Todavia, não possuíam condições de arcar com o ônus 
financeiro de tal atendimento. 
A sentença: Carência de quadro emocional da Sra. Lásara à intelecção do documento e às 
suas repercussões. Ademais, o termo de adesão do hospital foi considerado genérico e 
abusivo, buscando a unidade hospitalar obter vantagens em cima do desespero alheio. Em 
síntese, houve a invalidação do negócio jurídico em questão em virtude do estado de perigo e 
de dolo de aproveitamento. 
 
2. A lesão: 
 
 Artigo: 
Art. 157 – CC: Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação 
oposta. 
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo 
em que foi celebrado o negócio jurídico. 
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, 
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
 
 Conceito (doutrina): 
“Em direito nacional, ocorre a lesão invalidante quando alguém, premido por necessidade ou 
levado por inexperiência, formaliza negócio jurídico em que se obriga a prestação 
manifestamente desproporcional ao valor da contraprestação (Código Civil, art. 157).” – 
MELLO, Marco Bernardes de (Teoria do fato jurídico: plano da validade). 
 
 Pressupostos: 
 
 Premente necessidade e/ou inexperiência por parte daquele que sofre a lesão no 
âmbito em que foi firmado o negócio jurídico; 
 
 Desproporcionalidade entre o valor da prestaçãoe o que, realmente, deveria ter sido 
pago; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 Observações: 
Por exemplo, uma pessoa A precisa se deslocar rapidamente para o trabalho para não 
chegar atrasado e resolve pagar um valor três vezes superior ao que normalmente é cobrado 
pelo transporte. Tem-se um caso de lesão, estando o negócio jurídico passível de anulação. 
A questão da inexperiência é analisada levando em conta o caso concreto. O que pode ser 
inexperiência para um, pode não ser para outro. A inexperiência é analisada de forma 
subjetiva, ou seja, verifica-se se cada sujeito é ou não inexperiente em uma determinada 
seara. 
A anulação por lesão só se avalia no momento do negócio. Se a desproporção entre os 
valores surgir depois, o máximo que pode ocorrer é a revisão da obrigação ou mesmo do 
contrato (com base nos arts. 317 e 478 e seguintes, do Código Civil). Por exemplo, Y compra 
um imóvel e a área deste imóvel, no futuro, se supervaloriza. Tal negócio jurídico não se 
encontra inerente à anulação por uma eventual lesão. 
 
 Exemplo de decisão judicial: 
Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul TJ-RS - Apelação Cível AC 0383139-
39.2015.8.21.7000 RS. 
O caso: O Sr. José estava passando por uma situação depressiva decorrente de um acidente 
automobilístico que conduziu-o à perda do seu direito de dirigir. Resolveu procurar, então, o 
Sr. Cezar, que se apresentava como astrólogo e vidente. O Sr. Cezar ofereceu sessões para 
curar a angústia e abrir os caminhos de José. A monta atingida pelo pagamento das sessões 
foi de R$ 340.000,00. O Sr. José, então, pediu, posteriormente, a anulabilidade do negócio 
jurídico, a inexigibilidade de dívida e a indenização pelos danos materiais. 
A sentença: Anulação do contrato de prestação de serviços havido entre as partes em virtude 
da ocorrência de lesão, uma vez que o Sr. Cezar exigiu o pagamento de valores 
desproporcionais aos serviços e aos benefícios esperados. Ademais, foi imposta a 
indenização por danos morais. 
 
Referências: 
 Teoria do fato jurídico: Plano da validade – Marcos Bernades de Mello; 
 Jurisprudência – Jusbrasil; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
AULA 20 – FRAUDE CONTRA CREDORES 
 
1. Fraude contra credores (art. 158 a 165 – CC) – comentários iniciais: 
 
 Não há vício de vontade; 
 Trata-se de um vício social; 
 A pessoa prejudicada é o credor da relação (o devedor deve o cumprimento de uma 
obrigação a um credor e este sai prejudicado); 
 Quando o negócio jurídico parece perfeito, o devedor tenta se eximir da obrigação 
referida. 
 
2. Conceito (doutrina): 
“Constitui fraude contra credores todo o ato de disposição e oneração de bens, créditos e 
direitos, a título gratuito ou oneroso, praticado por devedor insolvente, ou por ele tornado 
insolvente, que acarrete redução de seu patrimônio, em prejuízo de credor preexistente.” – 
MELLO, Marco Bernardes de (Teoria do fato jurídico: plano da validade) 
 
3. Pressupostos: 
 
 Prática de um ato qualquer de disposição que implique redução do patrimônio ativo 
do devedor; 
 Insolvência do devedor; 
 A preexistência de credores ao ato; 
 Prejuízo ao credor (eventus damni); 
 
4. Detalhamento: 
O art. 158 discorre sobre os negócios gratuitos. 
Seção VI 
Da Fraude Contra Credores 
Art. 158 – CC: Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os 
praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, 
poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Insolvente é aquele que não apresenta condições de pagar. O devedor tinha condições de 
pagar no momento em que o negócio foi estabelecido, entretanto, no momento de efetuar 
o pagamento, não apresenta as mesmas condições. 
 
§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. 
Tem-se aqui uma situação de garantia, ou seja, uma obrigação subsidiária (envolvendo, por 
exemplo, hipotecas, penhoras...). Se o devedor assumiu a obrigação e fornece uma garantia 
para demonstrar que cumprirá a sua obrigação, entretanto, essa garantia apresenta um 
valor inferior ao valor do negócio jurídico, o credor pode solicitar a anulabilidade do referido 
negócio. Ex: A vende um bem a B que vale R$ 10.000,00 e B dá como garantia R$ 10,00, A 
(credor) pode anular o negócio jurídico em questão. 
 
§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. 
Só pode anular o negócio jurídico aquele(s) que era(m) credor(es) no momento da fixação do 
negócio. Ex: A realizou um negócio com B e C, que são irmãos. Posteriormente, o irmão D se 
junta a B e a C. Todavia, D não pode anular o negócio jurídico pois não era credor no 
momento do estabelecimento do negócio. 
O credor quirografário é aquele que não apresenta garantias especiais (como um fiador, 
penhor, hipoteca), somente dependendo do patrimônio do devedor. 
 
Art. 159 – CC: Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, 
quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro 
contratante. 
Art. 160 – CC: Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço 
e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a 
citação de todos os interessados. 
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço 
que lhes corresponda ao valor real. 
Observa-se que, conforme o art. 159 do referido código, a insolvência no que concerne aos 
contratos onerosos precisa ser notória, como, por exemplo, o caso de uma empresa que 
decretou estado de falência (lógico que não possui condições de pagar tudo o que deve). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
Art. 161 – CC: A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor 
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou 
terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. 
O depósito em juízo é uma forma de se desobrigar do “golpista” (“um fundo para os 
credores”). Se mesmo assim, o devedor vendeu a um valor inferior ao que vale a outrem, 
esse outrem pode ser convocado. A anulabilidade do negócio pode ser evitada se o terceiro 
depositar esse valor em juízo. 
O negócio jurídico oneroso tem mais pré-requisitos, como a possibilidade de manutenção do 
negócio. 
Ação pauliana se refere à fraude contra credores. 
Art. 162 – CC: O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da 
dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha 
de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. 
Art. 163 – CC: Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de 
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. 
 
Os artigos que tratam da fraude contra credores representam uma exceção a não presunção 
da má-fé, inferindo-se o interesse do devedor em fraudar o credor. Todavia, o art. 164 do 
Código Civil lista uma série de circunstâncias nas quais se deve presumir a boa fé e manter o 
negócio jurídico (não há a anulação do negócio jurídico). 
Art. 164 – CC: Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis 
à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do 
devedor e de sua família. 
Essa presunção de ma-fé não é absoluta. Os negócios tratados pelo art. 164 do Código Civil 
são negócios básicos e presumidos de boa-fé, voltados, basicamente, para a sobrevivência 
do devedor e da sua família. 
A subsistência aqui referida não precisa consistir em uma situação extrema, mas constatar 
uma queda brusca na qualidade de vida do devedor e de sua família, ainda mais se esse for o 
único provedor (o único que sustenta a família). 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 165 – CC: Anuladosos negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em 
proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. 
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, 
mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da 
preferência ajustada. 
Na hipótese mencionada no Parágrafo único do art. 165, o devedor retornará à sua condição 
inicial (sem preferências). 
 
5. Decisão judicial (exemplo): 
O caso: A empresa Mascara Comércio de Cereais Ltda moveu ação cautelar contra Roberto, 
Rafael e Luciano Motta, sob a alegação de que a garantia das Cédulas de Produtor Rural 
(sacas de soja) emitidas pelos réus estão sendo colhidas e entregue para terceiros. 
A sentença: Julgou procedentes os embargos de terceiro fundamentando que o produto da 
soja arrestada pertence ao embargante e não aos devedores da embargada. Inexistência de 
má-fé em frustrar a garantia ofertada nas células em virtude de ter sido realizada com total 
boa-fé e transparência, não tendo qualquer relação com a dívida dos devedores emitentes 
das cédulas. A fraude contra credores não foi evidenciada 
 
Para a próxima aula: causas de nulidade (fraude à lei e a simulação). 
 
AULA 21 – NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
1. Observações iniciais: 
Para além do disposto nos arts. 166 e 167, pode-se ter causas de nulidades caso uma norma 
específica determine. 
Art. 166 – CC: É nulo o negócio jurídico quando: 
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Sempre que uma norma não indicar expressamente a sanção para o seu descumprimento, 
infere-se que a sanção implícita é a nulidade. 
 
2. Análise do art. 166 do Código Civil: 
 
Art. 166 – CC: É nulo o negócio jurídico quando: 
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 
Se um menor de 16 (dezesseis anos) elaborar um negócio jurídico, este é nulo. Quando o 
sujeito é relativamente incapaz, tem-se a anulabilidade. 
 
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; 
Para um negócio jurídico ser válido, seu objeto precisa ser lícito, possível, determinado ou 
determinável. O exposto no inciso II dialoga justamente com essa perspectiva. Quando o 
objeto for ilícito, impossível ou indeterminado, ter-se-á um negócio jurídico nulo (e não 
anulável). 
 
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
Caso o motivo for integrado como determinante, passa esse, a compor o suporte fático do 
negócio jurídico. Se, por exemplo, uma pessoa adquire um animal para fins de reprodução, 
esse fim de reprodução foi inserido como determinante. Destarte, se esse animal não estiver 
apto a reproduzir, ter-se-á uma violação ao disposto contratualmente. 
Esse motivo precisa vir manifestado no próprio negócio jurídico. Por exemplo, A e B 
estabelecem um contrato de locação de imóvel para o armazenamento e venda de drogas 
ilícitas. Lógico que dificilmente as partes vão expressar no contrato a finalidade ilícita. 
 
IV - não revestir a forma prescrita em lei; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Dialoga com o pressuposto previsto no art. 104, III, CC. Observa-se que o não 
preenchimento da forma também será causa de nulidade. Tal forma deve ser prescrita em 
lei (não necessariamente a forma escolhida pelas partes). 
 
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; 
Aqui, há um diálogo com atos de registro (caso esse registro não seja feito), impactando, 
também, na nulidade do negócio jurídico. 
 
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; 
A lei, muitas vezes, vai colocar como causa uma exceção para nulidade (exemplo: art. 497, I, 
Código Civil). 
 
Art. 497 – CC: Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta 
pública: 
 
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua 
guarda ou administração; 
Um menor que não tem pais, por exemplo, e tem um tutor. Se esse tutor fizer uma compra e 
venda de um bem do menor para o tutor, considerando o inciso I do referido artigo, essa 
compra e venda é nula, mesmo que ocorra com as melhores intenções (preservar um bem 
de deterioração, por exemplo). A lei constata o risco iminente de má-fé (tutor comprando 
bem do tutelado, curador comprando bem do curatelado...). Tem-se, nesse cenário, uma lei 
imperativa. 
Ex: Arethusa é viciada em tóxico e, consequentemente, relativamente incapaz. Maurício é o 
seu curador e, se quiser vender um bem da curatelada, tem-se um negócio jurídico nulo. Caso 
Maurício venda tal bem à Maíra e depois Maíra venda novamente a Maurício, tem-se a 
busca por fraudar a lei imperativa (“ultrapassar uma proibição expressa em lei”). Na fraude à 
lei, os negócios jurídicos existem (Maíra paga o dinheiro e compra o bem de Arethusa, 
adquirindo a posse e, posteriormente, Maurício compra e adquire o bem de Maíra). Os 
negócios jurídicos efetivamente acontecem (o que diferencia a fraude à lei imperativa da 
simulação). 
A fraude à lei somente vai efetivamente acontecer quando o bem for vendido. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Na fraude à lei, o indivíduo realiza mais de um negócio jurídico com o intuito de desviar de 
uma proibição legal. 
 
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 
Conforme já mencionado na introdução, sempre que uma norma não indicar expressamente 
a sanção para o seu descumprimento, infere-se que a sanção implícita é a nulidade (art. 166, 
VII, CC). 
 
3. A simulação: 
Art. 167 – Código Civil: 
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: 
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais 
realmente se conferem, ou transmitem; 
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; 
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. 
 
No caso do inciso III, vamos supor que Maurício se tornou devedor de A e, posteriormente 
fica insolvente e resolve doar um bem a outrem. Esse negócio jurídico, caso feito por 
simulação, será nulo, afinal ele devia priorizar a negociação com A. Se a data da doação 
tenha sido em um período anterior, o credor não pode anular o negócio jurídico. 
 
Art. 550 – CC: A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro 
cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade 
conjugal. 
Se um indivíduo vivia em união estável e tinha um amante/uma amante, qualquer doação 
feita para esse amante pode ser anulada pelo outro cônjuge. Se, ao invés de doar para a 
amante, o adúltero doa para a mãe da amante, sendo que, na verdade, é para a amante 
(transmissão à pessoa diferente da qual remente recebe a transferência – art. 167, I, CC), 
tem-se uma simulação. 
Se o indivíduo alegar que foi uma compra e venda ao invés de doação, tal fenômeno descrito 
se encaixa no art. 167, II, CC. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Não há aqui o objetivo de contornar a proibição da lei, mas um negócio que se finge que é 
feito para ocultar o negócio que realmente está sendo feito. Por exemplo: vender um bem 
(negócio jurídico simulado) escondendo, na verdade, que se trata de uma doação (negócio 
jurídico dissimulado). 
A simulação é uma mentira. Na verdade, o que está ocorrendo é outro negócio. 
O negócio jurídico dissimulado se mantém, produzindo os seus efeitos no ordenamento 
jurídico. 
 
4. Simulação nocente x simulação inocente: 
A simulação nocente (como a que dialoga com o art. 550, CC) é aquela que almeja a violar 
uma proibição legal, ocorrendo, dessa forma, um prejuízo a terceiro. 
Vamos supor que o indivíduo em questão não for casado, mas estiver namorando e, 
simultaneamente, tiver um caso com outra pessoa e resolve fazer a doação para a amante, 
dizendo tratar-se de umacompra e venda. Como a disposição legal só discorre sobre 
casamento (e união estável por analogia) e não sobre namoro, tem-se uma simulação 
inocente em virtude da inexistência de dano a terceiro. A compra e venda é nula por conta 
de uma simulação, mas a doação é válida. Esse aproveitamento da simulação inocente é o 
que se chama de extraversão. A extraversão é esse aproveitamento do negócio jurídico 
válido. 
 
5. Simulação relativa x simulação absoluta: 
Nos casos de simulação relativa, algum negócio está verdadeiramente existindo. A simulação 
absoluta é aquela em que inexiste negócio jurídico como, por exemplo, a simulação para fins 
didáticos (como um exemplo citado por um professor em sala de aula) – sequer entra no 
mundo jurídico. 
Se A vende um bem a B (de 15 anos) e C (de dezoito anos), caso o bem for divisível, o 
negócio jurídico só será nulo para B. A parte do negócio jurídico que envolve C continuará 
válida. 
 
Para a próxima aula: Teoria do fato jurídico – plano da eficácia; 
 
AULA 22 – EFICÁCIA 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
1. Aspectos introdutórios: 
A eficácia decorre do fato, ou seja, só se pode falar de efeitos jurídicos no caso da existência 
de um fato jurídico. 
A eficácia tem um modo de acontecer que é um pouco diferente em comparação à 
existência (existe/inexiste absolutamente) e à validade (válido/inválido absolutamente). 
A eficácia passa por uma análise relativa já que podem existir fatos que podem ser eficazes 
para uma pessoa, mas não para outra. 
Os efeitos do negócio jurídico se delimitam aos sujeitos que participaram de tal negócio. 
Quando falamos de limite da eficácia, podemos ter as suas limitações criadas a partir de atos 
de vontade. Ex: A empresta um livro a B até o dia X – esse empréstimo produz seus efeitos 
até o dia X e caso B mantenha esse bem após o dia X, estar-se-á diante de uma ilicitude. 
Um testamento é um negócio jurídico que somente produz os efeitos após a morte do 
testador. 
No geral, os efeitos do fato jurídico se dão do surgimento do fato em direção ao futuro, ou 
seja, a eficácia se dá a partir do momento em que o fato acontece (). 
 
2. Classificação dos efeitos jurídicos: 
 
 Situação jurídica básica: É o menor efeito que pode acontecer e, normalmente, a 
situação jurídica básica é encoberta por outro efeito. Mesmo o negócio jurídico nulo 
existe e traz algum efeito no ordenamento; 
 
 Situação jurídica simples (unissubjetiva): Os efeitos se dão somente em conta do 
sujeito e são, basicamente, efeitos que atribuem status jurídicos aos sujeitos. Para 
que tais efeitos surjam, é necessária a presença de uma única esfera jurídica. Ex: O 
fato de quem nasce tem direitos de personalidade; Ex: Quem nasce no Brasil é 
brasileiro; Ex: Quem completa 18 anos torna-se absolutamente capaz. Destarte, 
todos os demais devem respeitar as situações jurídicas unissubjetivas; 
 
 Situação jurídica complexa: Os efeitos, para que possam vir a acontecer, dependem 
de, no mínimo, dois sujeitos. 
 
 Unilateral: Necessita-se de dois sujeitos, mas os efeitos vinculam apenas um 
deles. Ex: Uma promessa de recompensa só pode ser feita caso exista outra 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
pessoa, mas o seu efeito, inicialmente, somente se vincula àquele que 
promete; 
 
 De relação jurídica: Orlando Gomes considera a possibilidade de existência de 
relações entre pessoa e coisas. Todavia, a maioria da doutrina considera que 
as relações jurídicas são intersubjetivas (entre pessoas). Essa relação jurídica 
gera uma correspectividade de direitos/deveres. Se A vende para B uma 
garrafa por R$ 10,00, A tem o dever de entregar a garrafa e B tem o direito de 
exigir a garrafa; por outro lado, B tem o dever de pagar A e A tem o direito de 
exigir o pagamento; 
OBS: Um indivíduo que vende um bem que não lhe pertence, tal venda, além de nula, é 
ineficaz em virtude da falta de legitimação para esse indivíduo (situação jurídica complexa, 
relação jurídica, compra e venda non domino). 
 
3. Condição x termo x encargo: 
 
CAPÍTULO III 
Da Condição, do Termo e do Encargo 
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade 
das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. 
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública 
ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito 
o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. 
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: 
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; 
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; 
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. 
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de 
não fazer coisa impossível. 
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, 
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, 
fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com 
ela forem incompatíveis. 
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio 
jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. 
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a 
que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua 
realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, 
desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de 
boa-fé. 
Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento 
for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, 
não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu 
implemento. 
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, 
é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. 
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. 
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, 
excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. 
§ 1 o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o 
seguinte dia útil. 
§ 2 o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. 
§ 3 o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no 
imediato, se faltar exata correspondência. 
§ 4 o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. 
Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, 
em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das 
circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os 
contratantes. 
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo 
se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à 
condição suspensiva e resolutiva. 
Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando 
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. 
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o 
motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. 
 
4. Atividade: 
Elabore uma questão sobre condição, termo e encargo e o seu possível barema de 
resolução. Em seguida,compartilhe a questão com os seus colegas de classe para testá-los 
o conhecimento. 
Sara, após concluir o ensino médio em Porto Seguro, na Bahia, resolve prestar o vestibular da 
Faculdade Baiana de Direito, localizada na capital baiana, Salvador. Ansiosa e confiante pelo 
resultado do vestibular, tendo em vista se tratar de uma pessoa inteligente e dedicada, 
recebe a seguinte proposta da sua mãe: “Sarinha, caso seja aprovada, alugarei um 
apartamento no condomínio situado ao lado da faculdade para que você possa morar com 
mais duas amigas e não precise mais pegar ônibus”. Analise, com base no Código Civil e no 
que tange ao plano da eficácia, a proposta oferecida pela mãe de Sara. 
 
BAREMA: 
Apesar de se tratar de uma pessoa inteligente e dedicada, a aprovação de Sara em um 
vestibular concorrido como o da Faculdade Baiana de Direito corresponde a um evento 
futuro e incerto. A aprovação no vestibular consiste em uma condição para a eficácia do 
negócio jurídico de alugar o apartamento, já que as partes (Sara e a mãe) não têm ciência do 
dia da ocorrência de tal aprovação (caso essa, de fato, aconteça). Nesse sentido, tem-se uma 
condição suspensiva em virtude da impossibilidade de produção de efeitos até que o evento 
futuro e incerto seja realizado. 
 
AULA 23 – CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
1. Aspectos gerais: 
São cláusulas que vão, de alguma forma, modificar a eficácia do negócio jurídico. 
 
2. Condição: 
Art. 121 – CC: Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade 
das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. 
A condição se vincula a um evento futuro e incerto. Ex: A diz para B – “se você tirar 10 na 
prova, vou te dar um presente”. 
A condição tem como característica bem marcante o acaso ou algo que dependa, pelo 
menos parcialmente, do sujeito (vide o exemplo mencionado – se B estudar bastante, pode 
tirar 10). 
Se dependesse totalmente da vontade de uma das partes e não de fatores externos, não se 
poderia falar em condição. 
A condição pode ser: 
 Suspensiva: Até a condição existir, a eficácia está suspensa; 
 Resolutiva: A eficácia se mantém até a condição existir; 
 
Art. 122 – CC: São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública 
ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito 
o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. 
“Ordem pública” e “bons costumes” são conceitos jurídicos indeterminados, estando 
vinculados a questões ético-morais. Opinar sobre a sexualidade alheia não será, por 
exemplo, incluída nesse cenário. 
Não se pode ter uma condição que seja mero arbítrio de uma das partes: “se eu quiser” (ato 
ilícito), tendo a vinculação a uma aleatoriedade (pode acontecer ou não). 
 
Art. 123 – CC: Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: 
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; 
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. 
 
Se se cria uma condição impossível de acontecer e o negócio jurídico depende desta 
condição, o negócio jurídico será nulo. Ex: A diz para B: “se você sobreviver 48h sem respirar, 
te doarei o meu notebook”. 
Uma condição contraditória pode ser exemplificada na seguinte hipótese: A diz para B: “se 
você tirar zero e for aprovado, te darei tal coisa”. É contraditório, quase impossível, uma 
pessoa tirar zero e ser aprovada. 
 
Art. 124 – CC: Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de 
não fazer coisa impossível. 
Se A disser a B: “vou te dar meu notebook e ficará contigo até você sobreviver 48h sem 
respirar”. O notebook ficará com B para sempre, tendo-se, nesse cenário, um negócio 
jurídico inexistente. 
 
Art. 125 – CC: Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, 
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. 
Art. 130 – CC: Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, 
é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. 
 
Embora o sujeito ainda não tenha a titularidade do direito, ele pode realizar atos protetivos 
desse direito. 
 
Se A acerta com B um contrato de locação e diz: “Se um parente meu precisar fazer um 
tratamento na cidade, nosso contrato será extinto pois darei o imóvel para o meu parente se 
hospedar”. Supondo que, após seis meses, o tal parente precise realizar tal tratamento. A 
condição resolutiva extingue os efeitos dali para frente (ex nunc) – efeitos não retroativos – 
já que A cobrou seis meses de aluguel licitamente e B ocupou o imóvel licitamente. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 126 – CC: Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, 
fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com 
ela forem incompatíveis. 
Art. 127 – CC: Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio 
jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. 
Art. 128 – CC: Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito 
a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua 
realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, 
desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de 
boa-fé. 
Art. 129 – CC: Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento 
for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, 
não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu 
implemento. 
 
Se A diz para B: “se você completar a travessia em X minutos, te darei um presente”. B 
tomou uma substância que aumentou a sua capacidade física (doping) e, por conseguinte, 
conseguiu bater o tempo. Como B agiu maliciosamente, a condição não aconteceu. 
Supondo que, agora, A agisse maliciosamente e antes de B entrar na água, fornecesse uma 
bebida adulterada a B. Por conta disso, B não conseguiu atingir o prazo estipulado. Nesse 
caso, apesar de B não ter conseguido atingir o prazo, será considerado que a condição 
aconteceu. 
 
3. O termo: 
O termo se vincula a um evento futuro e certo. 
Aqui a certeza é quanto ao evento e não acerca do momento em que ocorrerá. Ex: A morte. 
No momento em que surge a obrigação, ela deve ser cumprida. Ex: A compra um lanche na 
mão de B e recebe esse lanche imediatamente. Há um prazo entre a produção do lanche e a 
entrega, não se falando em condição, termo ou encargo. 
Art. 131 – CC: O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. 
Art. 132 – CC: Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, 
excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
§ 1 o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o 
seguinte dia útil. 
§ 2 o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. 
§ 3 o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no 
imediato, se faltar exata correspondência. 
§ 4 o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. 
 
Supondo que A deu um prazo de quatro dias, a partir de hoje, para B realizar determinado 
negócio. Desconsidera-se 26/05 (hoje) e se conta a partir do dia 27/05. Assim, o prazo 
compreende 27/05, 28/05, 29/05 e 30/05. 
Um prazo de 24 horas é analisado diferentemente, vide o § 4º do artigo transcrito. Supondo 
que A deu um prazo, a partir de agora (26/05 08:05h), de 24 horas, para que B realize um 
negócio. B tem até 08:05h do dia 27/05 para executar talnegócio. 
Se uma contagem de prazo cair no domingo ou em feriado, considera-se na contagem o dia 
útil seguinte. 
A contagem do sábado depende do tipo de relação. Se a resolução cair no sábado e se tiver 
como entregar no sábado, esse dia contará. 
 
No termo suspensivo, ao contrário da condição suspensiva (que é pautada em uma 
eventualidade), o sujeito já tem o direito garantido, todavia, não pode exigi-lo. 
 
Art. 133 – CC: Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, 
em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das 
circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os 
contratantes. 
 
4. Encargo: 
O encargo representa um ônus (uma obrigação). 
O encargo geralmente se encontra presente em contratos de doação. Ex: A diz a B: “vou te 
doar um terreno, mas você terá que construir uma creche”. Logo, é perceptível um encargo 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
(um ônus) para B e, caso ele não venha a cumprir, A readquirirá a posse do terreno a partir 
da revogação do contrato. 
Em regra, o encargo não impede a transmissão. 
Pode-se criar um encargo que seja uma condição suspensiva. Ex: A diz para B: “se você 
construir aqui uma creche (acontecimento inicial), te doarei o terreno”. 
Art. 136 – CC: O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando 
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. 
 
O encargo, no geral, pode acabar com a eficácia, mas não vem como uma condição 
suspensiva. 
 
Art. 137 – CC: Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o 
motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. 
O art. 137 do Código Civil discorre sobre o encargo ilícito ou impossível. Se este não vier 
como a causa de liberalidade, o encargo será ignorado. Somente se invalida o negócio 
jurídico como um todo caso o encargo seja condição determinante. Ex: A diz para B: “vou te 
vender esse terreno para que você construa um armazém para guardamos drogas” (encargo 
ilícito = condição determinante). 
 
AULA 24 – PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 
Na maior parte dos casos, há prazos para que se exerça direitos, limitados dentro do tempo. 
 
1. Direitos à prestação: 
São direitos que, para serem satisfeitos, é necessário que outra pessoa realize uma conduta 
a favor de outrem. Ex: A vende um bem a B e B paga a prestação a A. 
Na prestação, o sujeito tem um direito e quando este se torna exigível, tem-se a pretensão. 
 
Art. 189 – CC: Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela 
prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Nem sempre o disposto no art. 189, CC, se aplica. Ex: Nath está devendo R$ 1.000,00, mas 
ficou certo de Maurício cobrar. Se no dia, Maurício não aparecer para cobrar, quem errou foi 
Maurício e, por conseguinte, não se pode falar em uma violação a direito. 
 
2. Direitos potestativos: 
Não há a correspectividade direitos/deveres, mas um direito ou poder sujeição. 
Um sujeito tem um direito e pode submeter outrem a esse direito. 
Ex: A emite um mandato para B lhe representar e, certo dia, resolve revogar essa 
procuração. 
Ex: Um cônjuge resolve se divorciar do outro (este não pode fazer nada, somente aceitar o 
divórcio). 
 
3. Prescrição e decadência: 
No momento que surge a pretensão, passa a começar a prescrição. Quando se passa o prazo 
prescricional, o sujeito perde o direito de ingressar com uma ação. Se, por exemplo, 
Maurício tem cinco anos para cobrar a dívida de Nath, mas não cobra neste prazo, ele perde 
o direito de ingressar com uma ação a cobrar (a prescrição atinge a prestação), mas a dívida 
se mantém. 
A decadência se vincula aos direitos potestativos, já que não se exige uma conduta de 
alguém, mas há o poder de sujeitar uma pessoa a algo. As ações vinculadas aos direitos 
potestativos são ações desconstitutivas. 
Temos algumas situações (exceções) das chamadas ações ou direitos imprescritíveis. A lesão 
a um direito de personalidade pode ser cessada a qualquer tempo. 
 
4. Prescrição: 
Os prazos trazidos pela lei não podem ser modificados pelas partes. Depois que a prescrição 
se consumar (já aconteceu), as partes podem renunciar a essa prescrição. Ex: A tem que 
pagar a B em cinco anos e, depois desse período, A quita a dívida. 
Essa prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição. Hoje, o juiz pode 
reconhecer a prescrição de ofício, mesmo que ninguém alegue, tendo em vista a economia 
processual. O juiz para reconhecer a prescrição de ofício, não deve simplesmente analisar o 
documento e dizer que prescreveu, já que existem diversas situações que podem mudar a 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
contagem da prescrição. Mesmo quando o juiz, analisando o processo, notar que, 
aparentemente aconteceu a prescrição, antes disso deve intimar as partes para verificar se 
há um evento que altere a contagem do prazo. 
Essa contagem do prazo, conforme já citado, pode sofrer algumas modificações. 
 Impedimento: O prazo nem começou a contar e já aconteceu uma causa listada; 
 Suspensão: O prazo já começou a contar e é pausado. Acabando a causa, volta a 
contar de onde estava; 
 
5. Não corre a prescrição: 
Art. 197 – CC: Não corre a prescrição: 
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; 
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. 
Se A está devendo a B e antes do prazo começar a contar, eles se casam. Por razões óbvias – 
impedir que os cônjuges se processem – não corre a prescrição. Visa-se à estabilidade da 
sociedade conjugal. 
Nos incisos II e III, há um debate sobre pessoas que dependem umas das outras (o filho do 
pai, o tutelado do tutor, o curatelado do curador). Não faz sentido, por exemplo, um pai 
processar um filho; um tutelado o seu tutor; o curatelado o seu curador. 
 
Art. 198 – CC: Também não corre a prescrição: 
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ; 
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; 
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. 
A prescrição só não corre para os absolutamente incapazes (menores de 16 anos). No caso 
de um relativamente incapaz, ao atingir a capacidade pode processar o assistente que foi 
responsável pela perda de um direito. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Os incisos II e III discorrem sobre pessoas que estão prestando serviços públicos. 
 
Art. 199 – CC: Não corre igualmente a prescrição: 
I - pendendo condição suspensiva; 
II - não estando vencido o prazo; 
III - pendendo ação de evicção. 
Só começa a contar a prescrição quando se tem a pretensão. Os incisos I e II são 
redundantes por razões óbvias. 
Acontece evicção quando um sujeito pede um bem para outro que comprove melhor 
direito. Ex: Uma disputa acerca do limite entre dois terrenos (um necessariamente vai perder 
terreno e o outro vai ganhar). 
 
Art. 200 – CC: Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não 
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. 
Art. 201 – CC: Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam 
os outros se a obrigação for indivisível. 
Em uma discussão que dependa de uma ação penal (que discorre, por exemplo, a autoria), 
só se começa a correr a prescrição após a sentença definitiva. 
 
 
6. Interrompe a prescrição: 
Art. 202 – CC: A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: 
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a 
promover no prazo e na forma da lei processual; 
II - por protesto, nas condições do incisoantecedente; 
III - por protesto cambial; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de 
credores; 
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do 
direito pelo devedor. 
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a 
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. 
Art. 203 – CC: A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado. 
Art. 204 – CC: A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; 
semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não 
prejudica aos demais coobrigados. 
§ 1 o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a 
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. 
Na responsabilidade solidária, são afetados não somente aqueles que participaram do 
negócio. 
 
§ 2 o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os 
outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis. 
§ 3 o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador. 
Se há uma ação contra o devedor, interrompe a prescrição, também, no que tange ao fiador. 
 
7. Prazos: 
O prazo geral é de dez anos (art. 205, CC) – regra geral. 
Os parágrafos do art. 206, CC discorrem sobre prazos específicos. 
 
8. Decadência: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 207 – CC: Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas 
que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. 
Art. 208 – CC: Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I. 
A decadência não corre no que tange aos absolutamente incapazes (únicos sujeitos que 
gozam dessa proteção). 
 
Art. 209 – CC: É nula a renúncia à decadência fixada em lei. 
Art. 210 – CC: Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei. 
Art. 211 – CC: Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em 
qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. 
Como já citado, atualmente, o juiz pode reconhecer, de ofício tanto a decadência quanto a 
prescrição. 
Consoante, o art. 209, CC, a pessoa não pode renunciar a uma decadência fixada em lei, já 
que o Código traz, também, a possibilidade dos sujeitos fixarem prazos decadenciais 
maiores. 
 
Art. 178 – CC: É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do 
negócio jurídico, contado: 
 
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; 
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se 
realizou o negócio jurídico; 
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. 
No que tange aos defeitos do negócio jurídico, o prazo decadencial para pleitear a anulação 
é de quatro anos. 
 
Referências: 
 Critério cientifico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as 
ações imprescritíveis - Agnelo Amorim Filho. 
Thiago Coelho – T3A 2022.1/ @taj_studies

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