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OUTROS TÍTULOS DA SÉRIE:
Futuros Homens
Criando meninos para enfrentar gigantes
Reformando o Casamento
A vida conjugal conforme o Evangelho
Fidelidade
Como ser marido de uma só mulher
O Fruto de Suas Mãos
O respeito e a mulher cristã
Sua Filha em Casamento
Cortejo bíblico no mundo moderno
Minha Vida por Você
Caminhando pelo lar cristão
Firmes nas Promessas
Um manual para a educação bíblica de filhos
Gloriosa vocação
A mulher virtuosa e o dom da maternidade
O Marido Federal: a liderança bíblica no lar • Douglas Wilson
© 2018 Editora CLIRE. Authorized translation of the
American-English edition © 1999, Canon Press.
Todos os direitos reservados.
Originalmente publicado em inglês sob o título Federal Husband
Primeira edição em português, 2018.
Publicado com a permissão da Canon Press, P.O. Box 8729, Moscow, ID 83843.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios sem permissão por escrito dos editores, salvo
em breves citações, com indicação da fonte.
PRODUÇÃO EDITORIAL
Editor: Waldemir Magalhães
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Revisão: Waldemir Magalhães, Gerson Júnior
Designer: Heraldo Almeida
Salvo outra indicação, todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada, 2.a edição.
SUMÁRIO
Capa
Títulos da Série
Créditos
PRÓLOGO
O MARIDO FEDERAL E CRISTO
O Que Significa "Federal"?
Liderança e Pacto
Como Cristo Amou a Igreja
Quando não se Está Onde se Deveria Estar
O MARIDO FEDERAL CONTRA SI MESMO
Vendo a Sua Própria Nuca
Trate-a como uma dama
Reações Machistas
Sinais Masculinos
Roupas
Cabelo
Adereços
Homens Trabalhadores
Coisas maiores que as riquezas
Sensualidade
Preguiça
Armadilhas financeiras
O MARIDO FEDERAL E A SOCIEDADE
Masculinidade e Cultura Hierárquica
Segurança Masculina
Eu e a Minha Casa
Mulheres em Combate
O PAI FEDERAL
Incrível Beleza
Fruto Pactual
Cultivando as Raízes
Reconhecendo Problemas
Nutrindo as Diferenças
Disciplina Disciplinada
Escolhendo e Tomando uma Esposa
Q
PRÓLOGO
ualquer pessoa que ouse aumentar o número atual de livros sobre casamento tem de ter
alguma razão muito boa para fazê-lo. Isso é particularmente verdadeiro se o autor em
questão estiver fazendo isso pela segunda vez e tudo for aparentemente não planejado. A
essa altura, era de se esperar que o nosso interesse por livros sobre casamento estivesse
diminuindo; mas da mesma forma que a mulher descrita nos evangelhos, quanto mais médicos
nos tratam, pior é nosso estado de saúde.
Seja como for, aqui vai mais uma medicação. O tema central deste livro, a liderança do
marido, começou a ser desenvolvido em Reformando o Casamento, mas há pelo menos duas
boas razões para trazê-lo de volta.
A primeira é que um tema como esse admite uma grande quantidade de desenvolvimento,
discussão e aplicação. E assim, como Paulo escreveu em outro contexto, o objetivo de escrever
as mesmas coisas não é causar tédio, mas dar segurança (Fp 3.1).
A segunda razão está relacionada à primeira. O pensamento pactual é algo realmente estranho
à mentalidade moderna. Como consequência, podemos pensar que "dominamos" esse
pensamento porque já assimilamos o seu jargão, quando tudo o que estamos fazendo é usar um
"verniz" pactual para encobrir vários tipos de ignorância pactual ou pecado.
Nossa carne não precisa de incentivo para ser egoísta. Em nome do ensino bíblico, muitos
homens estão fugindo de suas responsabilidades de liderança em nome daquilo que chamam de
"amor", ou estão grosseiramente distorcendo o que essa liderança deveria ser em nome daquilo
que chamam de "autoridade".
Amar a esposa não é suficiente para ser um marido bíblico. Ele deve fazer isso do modo como
Cristo fez com a sua Igreja. Se Cristo amou a Igreja como um Senhor Federal, então temos a
responsabilidade de descobrir o que isso significa.
P
CAPÍTULO 1
O MARIDO FEDERAL E CRISTO
O QUE SIGNIFICA "FEDERAL"?
or várias razões, algumas delas são óbvias, a palavra "federal" é muito mal compreendida
hoje em dia. Mas essa expressão vem da palavra latina foedus, que significa "pacto". Assim,
uma união federal, ou confederação associada, deve ser entendida como uma união por
votos de pacto e lealdade. Como homens cristãos que entendem a importância dos pactos na
Bíblia, devemos procurar entender o significado do casamento pactual.
Entre as muitas palavras que nossa época destruiu, a palavra "federal" certamente está no topo
da lista. Esse termo nos faz pensar em coisas grandes e centralizadas, coisas que fazem o coração
dos que apreciam regimes coletivistas pulsar aquecido e aconchegado. "Colamos" essa palavra
em instituições para que pobres velhinhas depositem ali o seu dinheiro. Ninguém coloca num
banco o nome de Caixa do Pôr do Sol do Chico; o nome deve ser alguma coisa que exale solidez
e grandeza, tal como Caixa Econômica Federal.
Porque muitos governos federais têm se tornado tão pouco pactuais quanto se possa imaginar,
não é de surpreender que tenhamos esquecido o significado original dessa expressão. Passamos a
acreditar que "federal" significa centralizado ou grande, e não algo que possa se referir a
qualquer tipo de aliança ou pacto.
Mas a teologia protestante clássica reflete o ensino bíblico sobre esse assunto — e não é
exagero dizer que o pensamento federal ou pactual é a "coluna vertebral" da ortodoxia
protestante histórica. Ele nos traz à mente a distinção entre a teologia protestante clássica e o
moderno pensamento evangélico; este último não raciocina e não tem "coluna vertebral". E
porque a teologia evangélica contemporânea não tem "coluna vertebral", os homens cristãos que
são instruídos dentro do evangelicalismo moderno encontram-se também sem "coluna vertebral".
Por isso, livros como este são tão necessários.
A Bíblia descreve o relacionamento entre Adão e a raça humana como sendo um
relacionamento federal. Isto é, Deus fez um pacto com toda a raça humana, e Adão serviu como
o representante ou cabeça pactual dessa raça. Adão, como cabeça pactual, poderia ser descrito
como o cabeça federal da raça humana. Como veremos mais adiante, é por isso que a Bíblia fala
de nossa queda como algo que ocorreu em Adão.
Do mesmo modo, nossa salvação foi conquistada federalmente. Cristo, o segundo Adão, foi
enviado por Deus para ser Cabeça Federal de uma nova raça. Sua obediência foi representativa e
imputada a todos os seus eleitos, que são identificados como tais por sua fé. É por isso que Cristo
está em um relacionamento de liderança para com a Igreja. Essa liderança é pactual, o que
significa que ela é necessariamente uma liderança federal.
Tudo isso é bom e está correto; mas como se aplica aos maridos? A resposta é que os maridos
são ordenados a amar a esposa como Cristo amou a igreja (Ef 5.25). Pela própria natureza da
questão, isso significa que os maridos devem moldar ou exibir um relacionamento federal para
com a esposa. A ordem aos maridos é que amem a esposa como Cristo amou sua própria noiva.
Isso significa que nossa teologia do amor de Cristo será determinante sobre o modo como
uma esposa cristã deve ser amada. A maneira como um homem entende o amor pactual irá
determinar o modo como ele estabelece o amor pactual. O modo como entende a coisa a ser
imitada irá determinar o modo como ele a imita. Se sua teologia é bíblica (e, portanto, federal ou
pactual), então sua esposa será amada como Cristo realmente ama a Igreja. Se sua teologia tem
algo de subfederal ou antipactual, então a esposa, se de algum modo for amada, será amada
sentimentalmente, não por muito tempo, ou só de vez em quando.
Na igreja moderna, o pecado intelectual central com respeito ao casamento está em sua
definição teológica. Gostamos de pensar o casamento como uma convivência permanente entre
dois indivíduos com certos privilégios sexuais inclusos. Os adúlteros são aqueles que
esqueceram a companheira da sua mocidade, a aliança de seu Deus (Pv 2.17). Os homens de
Israel foram repreendidos porque abandonaram a esposa com quem fizeram aliança (Ml 2.14).
Nós, contudo, temos displicentemente presumido"Praticam, porém, todas as
suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as
suas franjas" (Mt 23.5).
Em nada disso podemos esquecer que Deus supre todas as nossas necessidades. Devemos
confiar em Deus quanto às nossas roupas: "Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje
existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" (Mt
6.30).
Depois de percorrer todas essas passagens, o cerne da questão deve estar óbvio: roupa é algo
relevante. As roupas refletem alegria ou tristeza, riqueza ou pobreza, festividade ou atividades
cotidianas. Sendo assim, não é de surpreender que Deus proíba a existência de androgenia, ou
confusão de sexos, no modo como nos vestimos: "A mulher não usará roupa de homem, nem o
homem, veste peculiar à mulher; porque qualquer que faz tais coisas é abominável ao SENHOR,
teu Deus" (Dt 22.5).
A Bíblia proíbe, em linguagem enérgica, o tipo de confusão sexual que poderia resultar em
uma mulher vestindo a roupa de um homem ou um homem vestindo a roupa de uma mulher. Ser
culpado de confusão nesse ponto é ser culpado de abominação.
A menos que uma cultura esteja entregue à rebeldia e decadência, há diferenças claras entre
roupas. Tal como a proibição de roubo pressupõe a existência da propriedade privada, e a
proibição do adultério pressupõe o casamento, a condenação do vestir-se de modo andrógeno
pressupõe o fato de que homens e mulheres se vestem de maneira diferente. Essa pressuposição
reflete uma mentalidade que todo homem cristão deve compartilhar e demonstrar em seu modo
de se vestir. E, claro, fazemos tudo isso tendo em mente as exortações de um de nossos poetas
contemporâneos, o qual nos lembra de que: "Toda garota é louca por um homem bem vestido".
CABELO
A Bíblia também nos ensina mais do que talvez desejássemos saber sobre a questão do cabelo e
o comprimento dele. A passagem que nos dá mais informações sobre esse assunto é tão
importante que precisa ser mencionada na íntegra:
De fato, eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei. Quero,
entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo.
Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Toda mulher, porém, que ora ou
profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada. Portanto, se a mulher
não usa véu, nesse caso, que rape o cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu.
Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do
homem. Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por
causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça,
como sinal de autoridade. No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da
mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus.
Julgai entre vós mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus sem trazer o véu? Ou não vos ensina a própria natureza ser
desonroso para o homem usar cabelo comprido? E que, tratando-se da mulher, é para ela uma glória? Pois o cabelo lhe foi
dado em lugar de mantilha. Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas
de Deus (1Co 11.11-16).
No verso 14 dessa passagem, Paulo nos ensina que as distinções de tamanho de cabelo entre
homens e mulheres são naturais, não culturais. O fato de que as mulheres receberam cabelo
comprido é parte da ordem da criação de Deus, e os homens têm cabelo curto pela mesma razão.
Alguns têm usado essa passagem para dizer que as mulheres devem usar véu, mas esse não é
de forma alguma o propósito dessa passagem. Paulo diz que o cabelo da mulher lhe é dado como
um véu natural (v. 15). Certamente, se uma mulher com cabeça raspada se convertesse, ela
deveria usar um véu até que o seu cabelo crescesse.
"Tá, tudo bem", dizemos, retrucando ao apóstolo, "quão longo é longo? Quão curto é curto?"
A resposta é realmente muito simples; a própria natureza pode ensinar essa lição. Muitas vezes
nos tornamos sofistas2 quando a Palavra de Deus atropela aquilo de que gostamos. Quando
vemos alguém na rua, é possível descrevê-lo como tendo cabelo longo ou cabelo com corte
curto? Claro! Ao descrever as características de alguém, sempre fazemos isso.
Curto e comprido são expressões comparativas. Um cabelo não é longo em comparação com
uma viagem de dez mil quilômetros. Ele é longo em comparação com um cabelo que é curto. E
Paulo exige que em tais comparações os homens tenham cabelo curto e as mulheres cabelo
comprido. Mas alguns podem ir adiante e insistir no tipo de roupa que se pode encontrar em uma
faculdade bíblica fundamentalista: "Menos de cinco centímetros é considerado curto".
Mas a Bíblia não exige que os homens cortem o cabelo como se estivessem no exército. Ela
exige que os homens tenham cabelo curto em relação ao das mulheres. Especificamente, um
homem deve ter o cabelo mais curto que o de sua esposa. A própria natureza ensina isto àqueles
que conseguem usar a cabeça para pensar. Um homem pode ter o cabelo na altura das orelhas e
este ainda assim ser bem mais curto que o da sua esposa que tem o cabelo na cintura. Essa
passagem da primeira carta aos coríntios proíbe duas coisas: a primeira é que se inverta o uso do
comprimento do cabelo, isto é, que o homem tenha o cabelo longo e a mulher o cabelo curto; e a
segunda é que proíbe a confusão andrógena quando o comprimento do cabelo passa a não ser
mais relevante para distinguir os homens das mulheres.
Embora as mulheres devam ter cabelo comprido, há um sentido no qual os homens devem ser,
digamos, mais cabeludos. Clemente de Alexandria, um dos pais apostólicos, expressou-se de
modo notável quando disse: "É, portanto, ímpio desonrar o símbolo da masculinidade, os pelos".
Clemente estava em guerra com a disseminada prática da depilação corporal na degenerada
Roma. Ele estava em guerra com o crescimento da efeminação nas roupas em seus dias e travou
essa batalha de maneira muito mais consistente do que nós.
Embora a mulher tenha cabelo comprido, o que é a glória dela, os homens foram dotados com
mais cabelos. Especificamente, aos homens foi dada a barba. A questão aqui não é que seja
pecado ou errado de modo algum barbear-se, mas que a Bíblia ensina que a barba é um sinal de
honra masculina. Em uma cultura tal como a nossa, quando a androgenia é a moda, não devemos
nos surpreender com o fato de a barba ter se tornado algo raro, e corpos depilados se tornarem
comuns. Sempre que um homem quiser parecer-se com uma mulher, sua barba será um
empecilho.
Quando os emissários de Davi foram insultados, o rei foi muito generoso com eles: "Mandou
o rei dizer-lhes: Deixai-vos estar em Jericó, até que vos torne a crescer a barba; e, então, vinde"
(2Sm 10.4-5; cf. 1Cr 19.5). Tirar a barba era um sinal de tristeza e angústia: "Vieram homens de
Siquém, de Siló e de Samaria; oitenta homens, com a barba rapada, as vestes rasgadas e o corpo
retalhado, trazendo consigo ofertas de manjares e incenso, para levarem à Casa do SENHOR" (Jr
41.5). Esdras respondeu a uma calamidade da mesma forma: "Ouvindo eu tal coisa, rasguei as
minhas vestes e o meu manto, e arranquei os cabelos da cabeça e da barba, e me assentei atônito"
(Ed 9.3; cf. Is 15.2).
A barba é mencionada como sinal de respeito. A unidade dos santos é descrita como um
precioso óleo sobre uma barba: "É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a
barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes" (Sl 133.2).
Sabemos que o Senhor Jesus teve barba, não por qualquer descrição do Novo Testamento,
mas por uma das profecias de Isaías: "O SENHOR Deus me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde,
não me retraí. Oferecias costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os
cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam" (Is 50.5-6).
Tudo isso se encaixa com a distinção que Deus exigiu que os israelitas mantivessem entre eles
e os povos canaanitas em volta: "Não farão calva na sua cabeça e não cortarão as extremidades
da barba, nem ferirão a sua carne" (Lv 21.5). "Não cortareis o cabelo em redondo, nem
danificareis as extremidades da barba" (Lv 19.27).
Isso era parte do código de santidade que se cumpriu em Cristo (Ef 2.14-15), por isso não
estamos dizendo que os homens cristãos precisam manter a barba. Essa é uma questão que deve
ser regida pela liberdade cristã. Ao mesmo tempo, devemos nos lembrar de que Deus, em sua
bondade, tem dado aos homens a oportunidade de deixar claro e acima de dúvidas qual o seu
sexo, e uma afirmação desse tipo é inteiramente adequada em uma época como a nossa. Embora
usar barba não seja necessário, é necessário rejeitar a aversão disseminada contra a barba.
Biblicamente falando, a barba é um sinal de honra masculina.
ADEREÇOS
As mesmas questões surgem quando consideramos o tema dos adereços. O que devemos pensar
sobre o sujeito que leva argolas nas sobrancelhas, e coisas do tipo? Geralmente, em questões
como essa, os cristãos não têm qualquer problema em ser categóricos, mas eles geralmente o
fazem com base em algum valor tradicional. Contudo, a desintegração da cultura que vemos à
nossa volta há muito já deveria ter nos ensinado que nossos valores tradicionais nada mais são do
que uma barragem de lama feita para resistir a ondas revoltas.
Muitas vezes os homens cristãos simplesmente supõem que sua antipatia por "brincos" está
relacionada ao fato de que não desejam estar em dia com a moda. Quando eles veem a cultura
inteira se movendo nessa direção, sentem que não têm qualquer base bíblica para dizer não. E
caso digam "não", nem sequer sabem como irão justificar isso biblicamente.
O que a Bíblia nos ensina sobre as práticas muito comuns de piercing e mutilação? Antes de
tratar da instrução bíblica, devemos começar com certas verdades autoevidentes.
A atual mania pela automutilação e piercing é claramente a manifestação de um impulso
pagão profundamente enraizado de rebeldia contra Deus. Devemos dar aos incrédulos a
dignidade de explicar e demonstrar a nós o que eles estão fazendo. A difundida prática da
modificação corporal e mutilação é um fenômeno religioso de primeira ordem de magnitude.
Qualquer pessoa que afirme o contrário simplesmente não está ouvindo o que o mundo está
tentando dizer. A ironia é que os muitos adeptos de tais práticas que encontramos na igreja hoje
estão simultaneamente insistindo que prestemos mais atenção àquilo que o mundo está fazendo
enquanto a todo tempo ignoram o que significa tudo o que o mundo está dizendo com tais
práticas. Os que trabalham com piercing (uma pequena indústria surgiu em volta disso) irão, por
uns poucos tostões, fazer um buraco em seus lábios, sobrancelha, língua, nariz, mamilos, umbigo
ou genitália. E alguns cristãos ainda persistem em dizer: "Não se pode realmente afirmar, com
base na Escritura, que tais coisas são necessariamente pecaminosas". E o que é necessário? Uma
tatuagem que diga: "Eu amo o diabo"? Nossa situação deve ser entendida como uma
manifestação cultural da perda de fé e coerência. Homens e mulheres têm a necessidade de
pertencer. Se eles não têm ou não apreciam a marca do batismo, irão acabar fazendo um buraco
em si mesmos e carregar a insígnia da escravidão rebelde. A rebeldia contra Deus
necessariamente envolve escravidão ao pecado, escravidão aos desejos da carne, escravidão à
tolice e escravidão aos homens.
Na Escritura, fazer orifícios claramente significa subordinação: "Então, o seu senhor o levará
aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma
sovela; e ele o servirá para sempre" (Êx 21.6; cf. Dt 15.17). Quando um homem se tornava
escravo, ele deveria ter sua orelha furada. Em adição, uma forma particular de mutilação corporal
foi expressamente proibida a Israel: "Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca
nenhuma sobre vós. Eu sou o SENHOR" (Lv 19.28). Os sacerdotes de Baal serviam ao seu deus
desse modo: "E eles clamavam em altas vozes e se retalhavam com facas e com lancetas,
segundo o seu costume, até derramarem sangue" (1Rs 18.28). Em Provérbios 8, a Sabedoria
declara que todo aquele que a odeia, ama a morte. E também amam aquilo que os conduz à morte
— é uma autoaversão, evidenciada pelo atrativo pedaço de metal na língua.
Uma resposta enganosa a tudo isso poderia ser: "Bem, há muitos exemplos de homens usando
brincos na Bíblia". Os homens israelitas usaram seus brincos para fazer o bezerro de ouro (Êx
32.1-4), os ismaelitas usavam brincos (Jz 8.24), e os homens em Israel poderiam ter a orelha
furada (Dt 15.17). Por trás disso está o fato de que os homens israelitas em questão tinham
acabado de entrar na escravidão ou de deixá-la. Perfurar o corpo é uma marca de escravidão. Os
ismaelitas não eram parte de Israel e poderiam ser escravos.
Outra resposta enganosa entre os cristãos pode ser: "Bem, eu jamais iria assim tão longe".
Mas não é desse modo que um cristão deve pensar. Antes de perguntar quanto de alguma coisa
podemos praticar, devemos primeiro perguntar o que aquilo significa. Essa prática entre nós é o
retorno da mentalidade — uma mentalidade escrava — que vemos condenada na Bíblia: "Por
preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens" (1Co 7.23).
Isso, é claro, suscita a questão sobre se a subordinação é necessariamente má. É claro que não.
No mundo criado por Deus existe uma forma piedosa de subordinação, a de uma esposa para
com seu marido. É por isso que é totalmente apropriado a uma mulher piedosa usar brincos (Êx
15.12) ou que a cultura permita que se use brinco no nariz (Gn 24.30; Ez 16.12; Êx 35.22). Mas
há restrições aqui, pois as mulheres cristãs são mulheres livres, submetidas somente a seu próprio
marido, de modo que não devem escravizar-se. Sua visão dos adereços deve ser a de buscar se
tornarem atrativas ao marido, e isso com toda a modéstia (1Tm 2.8-10). Contudo, o objetivo da
perfuração corporal não é ser atraente, pelo contrário. A intenção é ser repulsiva. Uma garota que
usa uma coleira de cachorro está dizendo o que ela pensa sobre si mesma. Não precisamos
concordar com ela para entender o que ela está querendo dizer.
HOMENS TRABALHADORES
Muitos homens cristãos não pensam em seu trabalho, negócios e dinheiro como algo que está sob
a autoridade específica de Deus. Reconhecemos que tudo pertence ao Senhor, mas
frequentemente supomos que ele é algum tipo de amo ausente, que não se importa muito com o
nosso trato diário com os nossos negócios e dinheiro. Mas esse é claramente um pensamento
equivocado.
Um marido que busca ser um provedor piedoso deve começar com o princípio bíblico: "Sobre
tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida" (Pv
4.23). Um homem deve vigiar seu coração — e isso inclui seus negócios e finanças. O temor de
Deus é o princípio da sabedoria também nessa área: "O temor do SENHOR é o princípio do saber,
mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino" (Pv 1.7).
Um marido pactual deve servir a Deus à medida que obtém o pão para sua casa, e deve fazer
isso do modo que Deus ordena: "Com a sabedoria edifica-se a casa, e com a inteligência ela se
firma; pelo conhecimento se encherão as câmaras de toda sorte de bens, preciosos e deleitáveis"
(Pv 24.3-4).
O esposo nunca deve buscar separar o serviço a Deus de sua provisão para o lar: "O galardão
da humildade e o temor do SENHOR são riquezas, e honra, e vida" (Pv 22.4). Esse processo
obviamente começa à medida que buscamos as bênçãos de Deus por meio do dízimo: "Honra ao
SENHOR com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus
celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares" (Pv 3.9-10). Alguns de nós foram treinados a
dizer:"Ah, mas isso era coisa do Antigo Testamento!". Muitos cristãos pensam que na Nova
Aliança estamos livres para sermos ingratos. Mas Deus ainda ama abençoar aqueles que amam
abençoar. Ainda que não demos a Deus com o propósito de obter mais, ele nos dá de volta para
que voltemos a contribuir.
COISAS MAIORES QUE AS RIQUEZAS
Devemos também buscar as bênçãos de Deus por meio da busca diligente pela sabedoria:
Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça. Melhor é o meu fruto do que o ouro, do que o ouro refinado; e o
meu rendimento, melhor do que a prata escolhida. Ando pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo, para dotar
de bens os que me amam e lhes encher os tesouros (Pv 8.18-21).
A sabedoria personificada está falando nesse capítulo, e com sua presença vemos uma grande
bênção financeira. Porém, entender as implicações financeiras deste convite não é ser grosseiro
nem mercenário.
Quando alguém se propõe a ganhar a vida, a primeira coisa a fazer não é ganhar dinheiro,
mas, sim, sabedoria. Tal homem sabe o que está fazendo e por quê? Ele sabe como Deus quer
que ele busque sua vocação? A sabedoria não é evidenciada tanto pelo lugar em que um homem
trabalha, mas no modo como ele o faz. Sabedoria consiste em mais do que conhecer; consiste em
saber o que fazer com o conhecimento. Um marido sábio busca sabedoria como quem busca ouro
puro.
Um provedor diligente também irá buscar a bênção de Deus através da generosidade: "A
quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-
lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado. Ao que
retém o trigo, o povo o amaldiçoa, mas bênção haverá sobre a cabeça do seu vendedor" (Pv
11.24-26). O comentário de John Bunyan é apropriado: "Havia certo homem, que ser louco
parecia, mas quanto mais ele dava, tanto mais ele tinha". Deus não somente nos abençoa quando
damos a ele; ele nos abençoa quando damos ao pobre. "O generoso será abençoado, porque dá do
seu pão ao pobre" (Pv 22.9). "O que dá ao pobre não terá falta, mas o que dele esconde os olhos
será cumulado de maldições" (Pv 28.27). "Quem se compadece do pobre ao SENHOR empresta, e
este lhe paga o seu benefício" (Pv 19.17).
O cabeça do lar deve estabelecer um conjunto de prioridades piedosas. Embora a riqueza seja
uma bênção, não é de forma alguma a maior bênção que Deus pode conceder. À medida que um
homem estabelece suas prioridades nos negócios, uma série de coisas deve ser mencionada antes
dos lucros.
Sabemos o que se quer dizer com o clichê que afirma: estabelecer prioridades significa "mais
tempo de qualidade com as crianças". Mas é muito comum que apenas invoquemos essa frase
como se pensássemos que ela fosse um mantra e a assumimos como foco de nossas prioridades
(sem perceber que estamos adotando-a da cultura que nos rodeia). Por qual padrão devemos
definir nossas prioridades quando tratamos de riquezas? A Bíblia nos diz. O que é melhor que as
riquezas? O que devemos ter em lugar das muitas riquezas? Novamente, a Bíblia nos fala.
Quando considerarmos as passagens apropriadas, podemos ser surpreendidos com o fato de que a
antítese não é, por exemplo, entre riqueza e família.
A Bíblia também nos ensina a preferir a reputação às riquezas: "Mais vale o bom nome do que
as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro. O rico e o pobre se
encontram; a um e a outro faz o SENHOR" (PV 22.1-2). Um bom nome é especialmente importante
no mundo do trabalho. O que garante um bom nome no mundo dos negócios? Trabalhar com
sabedoria; conduzir seu trabalho com absoluta honestidade; trabalhar com absoluta
transparência; trabalhar arduamente; trabalhar com pontualidade; não se aproveitar do trabalho
feito pelo próximo; trabalhar sem apoiar-se em "esquemas"; conduzir-se apropriadamente no
trabalho.
Uma vez perdido, o bom nome é algo difícil de ser recuperado. O fato de que um homem
possa perder sua reputação não é "injusto", é antes um dos riscos comuns ao se fazer negócios.
As pessoas indicam — ou contraindicam — comerciantes o tempo todo. É assim que as coisas
devem ser.
Outra coisa preferível às riquezas é o contentamento: "Afasta de mim a falsidade e a mentira;
não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder
que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e
profane o nome de Deus" (Pv 30.8-9). Essa passagem é fundamentalmente uma oração por
contentamento. Agur está dizendo: "Senhor, dá-me a porção adequada a mim. Se eu tiver mais
do que ela, serei tentado de um modo; se eu tiver menos, serei tentado de outro modo". Isso pode
soar esquisito, mas muitos cristãos não aprenderam sobre contentamento com as bênçãos que
receberam.
A humildade também é melhor do que as riquezas: "Melhor é ser humilde de espírito com os
humildes do que repartir o despojo com os soberbos" (Pv 16.19). Geralmente dizem que a
soberba é o crachá ou emblema dos ricos, mas de acordo com a Escritura é a vergonha deles.
A Bíblia também louva a calma, a quietude, e o amor acima da abundância material: "Melhor
é um bocado seco e tranquilidade do que a casa farta de carnes e contendas" (Pv 17.1). É melhor
ter um punhado de farinha e tranquilidade do que um gordo peru à mesa e tumulto em volta:
"Melhor é o pouco, havendo o temor do SENHOR, do que grande tesouro onde há inquietação.
Melhor é um prato de hortaliças onde há amor do que o boi cevado e, com ele, o ódio" (Pv
15.16-17). Aqui, o temor do Senhor é igualado ao amor, e a sua ausência não pode ser
compensada com dinheiro. Ao estruturar seus objetivos nos negócios, um homem deve lembrar-
se disto.
SENSUALIDADE
Muitos homens desperdiçam aquilo que pertence ao seu lar porque andam em um padrão de
tropeço na sensualidade. Podemos ser induzidos a desperdiçar nosso dinheiro em um monte de
coisas. Como cristãos, sabemos que todos os pecados são ruins. Isso é óbvio, mas muitos de
nossos pecados são também caros.
Considere a questão dos apetites em geral: "O justo tem o bastante para satisfazer o seu
apetite, mas o estômago dos perversos passa fome" (Pv 13.25). O justo e o perverso têm, cada
qual, um estômago e um apetite. O justo consegue comer e se saciar, enquanto o perverso é
guiado por um apetite fora de controle. Em quaisquer das áreas aqui consideradas, a questão
geralmente não é a coisa considerada, ou seja, sexo, sono, etc., mas se a lei de Deus está sendo
ou não honrada, e se o domínio próprio está ou não em evidência.
Uma vida esbanjadora consome a riqueza e é inapropriada para o tipo de homem atraído por
ela, isto é, o tolo: "Ao insensato não convém a vida regalada, quanto menos ao escravo dominar
os príncipes!" (Pv 19.10). A ostentação de riquezas é algo inapropriado para o tolo — ele não
deveria viver assim. E mesmo que consiga fazê-lo, não o fará por muito tempo. A premissa do
tolo é se ao menos: "Se ao menos eu tivesse um carrão, se ao menos eu tivesse aquela roupa de
grife, se ao menos eu pudesse comer naquele restaurante". Mas isso não é para ele. A Bíblia
condena o desperdício de nossos recursos com frivolidades:
O que lavra a sua terra virá a fartar-se de pão, mas o que se ajunta a vadios se fartará de pobreza. O homem fiel será
cumulado de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não passará sem castigo. Parcialidade não é bom, porque até por
um bocado de pão o homem prevaricará. Aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de
vir sobre ele a penúria (Pv 28.19-22).
Essa passagem trata de várias questões: tentar enriquecer rapidamente, mostrar favoritismo,
ser avarento. Mas o primeiro alerta apresentado é contra a frivolidade. A palavra hebraica pode
significar tanto frivolidade como vaidade, ou pessoas frívolas e vazias. O contraste é com aquele
que lavra a sua terra, de modo que o significado está aparentemente se referindo àquele que
segue propósitos vãos e prazerosos ao invés de trabalhar. Aquilo em que ele se ocupa pode ter ounão a aparência de trabalho, mas ainda resultará em vazio.
Um homem cristão deve rejeitar o sensualismo:
Não tenha o teu coração inveja dos pecadores; antes, no temor do SENHOR perseverarás todo dia. Porque deveras haverá
bom futuro; não será frustrada a tua esperança. Ouve, filho meu, e sê sábio; guia retamente no caminho o teu coração. Não
estejas entre os bebedores de vinho nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza; e a
sonolência vestirá de trapos o homem (Pv 23.17-21).
Na Bíblia, glutonaria não é pôr um pouco mais de lasanha no prato. Glutonaria tem a ver com
a sensualidade — o embriagar-se de comida. Biblicamente, o glutão é aquele que "come de
maneira dissoluta". Essa busca sensual pela comida conduz à pobreza.
"Quem ama os prazeres empobrecerá, quem ama o vinho e o azeite jamais enriquecerá" (Pv
21.17). A questão aqui não está no prazer, mas no amor desordenado. Tudo aquilo que o homem
tolo ama (nesse caso, a experiência sensual), ele põe a perder: "Tesouro desejável e azeite há na
casa do sábio, mas o homem insensato os desperdiça" (Pv 21.20).
PREGUIÇA
Um homem preguiçoso não é necessariamente apático; ele pode ter uma grande intensidade de
desejo: "O preguiçoso morre desejando, porque as suas mãos recusam trabalhar. O cobiçoso
cobiça todo o dia, mas o justo dá e nada retém" (Pv 21.25).
Ao considerar a questão da preguiça, não encontraremos nenhuma ajuda em checar a palavra
hebraica para preguiçoso ou ocioso. Ela significa simplesmente preguiçoso ou ocioso. Algumas
coisas são tão universais que podem ser bem traduzidas em qualquer idioma; todos nós sabemos
como é um sujeito que tem medo de serviço.
Porém, por mais que esse problema seja comum, a Bíblia ensina que a preguiça permanece
sendo uma desgraça: "O que trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes
vem a enriquecer-se. O que ajunta no verão é filho sábio, mas o que dorme na sega é filho que
envergonha" (Pv 10.4-5). Como pecado que traz vergonha, devemos considerar bem algumas de
suas características identificadoras. Como aprendemos, é necessário lembrar que há uma
alternativa óbvia à preguiça: "Vai ter com a formiga, ó preguiçoso!" (Pv 6.6-11). A alternativa é
trabalho duro.
A preguiça produz descontinuidade. O ocioso pode ter surtos de atividade, e pode até mesmo
terminar alguma obra durante um desses surtos. Mas não se mantém ativo; não persevera: "O
preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do homem é ser ele diligente" (Pv 12.27).
Algumas vezes a falta de continuidade é extraordinária: uma coisa muito simples poderia ser
feita para completar todo um projeto, mas ele não faz: "O preguiçoso mete a mão no prato e não
quer ter o trabalho de a levar à boca. Quando ferires ao escarnecedor, o simples aprenderá a
prudência; repreende ao sábio, e crescerá em conhecimento" (Pv 19.24-25). A solução para a
preguiça também é vista nessa passagem — deve-se deixar que o preguiçoso coma daquilo que
ele mesmo cozinhou.
Melhor seria que fossem surdos aqueles que decidem fazer com que o preguiçoso encare as
consequências de sua inércia, porque a preguiça é cheia de desculpas: "Diz o preguiçoso: Um
leão está lá fora; serei morto no meio das ruas" (Pv 22.13). Algumas vezes as desculpas são
irracionais — o equivalente hebraico para "o cachorro comeu meu dever de casa" ou "fui
abduzido por extraterrestres... em que ano estamos?" Outras vezes as desculpas podem ser mais
razoáveis, mas os resultados ainda são os mesmos: "O preguiçoso não lavra por causa do
inverno, pelo que, na sega, procura e nada encontra" (Pv 20.4). Se o trabalho não foi feito por
causa de um alienígena ou de um pneu furado, o resultado é o mesmo: o trabalho não foi feito.
A preguiça é cheia de "sabedoria": "Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém,
levam à penúria. Aos sábios a riqueza é coroa, mas a estultícia dos insensatos não passa de
estultícia" (Pv 14.23-24). O preguiçoso usa sua conversa tola como uma coroa; ao contrário do
sábio, cujas riquezas lhe coroam. O homem preguiçoso pode ser cheio de sabedoria proverbial a
respeito do trabalho, mas sua sabedoria é como as pernas de um coxo (Pv 26.7). Considere:
"Mais sábio é o preguiçoso a seus próprios olhos do que sete homens que sabem responder bem"
(Pv 26.16). Mesmo seu estilo de vida sendo ridículo e a sua tolice sendo evidente a todos (exceto
para os assistentes sociais do governo), o preguiçoso tem tudo sob controle. Ele tem mais
sabedoria (a seus próprios olhos) do que sete sábios.
A preguiça é um aborrecimento para os outros e é necessariamente um sofrimento para
aqueles que ficam na mão: "Como vinagre para os dentes e fumaça para os olhos, assim é o
preguiçoso para aqueles que o mandam" (Pv 10.26). Isso não é nada surpreendente. Quando dois
homens estão trabalhando e um deles é preguiçoso, eles terão ideias bem diferentes do que
significa diligência.
A Palavra nos ensina que a preguiça gera desinteresse: "A preguiça faz cair em profundo
sono, e o ocioso vem a padecer fome" (Pv 19.15); "O preguiçoso deseja e nada tem, mas a alma
dos diligentes se farta" (Pv 13.4). Preguiça não é descanso; não é preparação para o trabalho. É
simplesmente preparação para mais preguiça. À medida que cresce a preguiça, crescem os
desejos frustrados.
Quando um homem guarda o dia de santo repouso, ele está preparado e renovado para seu
trabalho. Mas quando ele "descansa" por vários meses, está incapacitado para o labor. A solução
do problema não é mais descanso, e sim arrependimento.
A preguiça também suscita impaciência e fraude: "Os planos do diligente tendem à
abundância, mas a pressa excessiva, à pobreza. Trabalhar por adquirir tesouro com língua falsa é
vaidade e laço mortal" (Pv 21.5-6). Diligência, o oposto da preguiça, é aqui contrastada com a
pressa excessiva e a mentira. Recusar ter a devida diligência é um caminho para tolices e
mentiras.
E, claro, a preguiça é dolorosa: "O caminho do preguiçoso é como que cercado de espinhos,
mas a vereda dos retos é plana" (Pv 15.19). Provérbios nos ensina que a preguiça é
contraproducente; ela não cumpre o propósito desejado. "A mão diligente dominará, mas a
remissa será sujeita a trabalhos forçados" (Pv 12.24).
Tendo considerado tudo isso, vemos que a preguiça gera uma lição concreta: "Passei pelo
campo do preguiçoso e junto à vinha do homem falto de entendimento; eis que tudo estava cheio
de espinhos, a sua superfície, coberta de urtigas, e o seu muro de pedra, em ruínas" (Pv 24.30-
31). Quando homens preguiçosos se casam — e isso acontece —, as consequências do pecado
atingem outras pessoas. Essa lição concreta deve ser guardada no coração muito antes de um
homem sequer pensar em ter uma esposa.
A única alternativa à preguiça é o trabalho honesto, pondo-se a ênfase na palavra honesto. O
problema da desonestidade no trabalho e ofício é difícil de tratar porque geralmente o primeiro
"enganado" é o próprio mentiroso. Ele é desonesto em seu trabalho e função, e para que possa ser
desonesto de modo mais efetivo, ele tem de ser desonesto consigo mesmo em primeiro lugar.
Lembre-se que a verdade sobre nós mesmos não é encontrada vasculhando em nosso próprio
coração; encontramos a verdade ao olhar no espelho da Palavra (Tg 1.24-25). A Palavra de Deus
é a única solução para o autoengano.
Aquele que deseja que seu lar pertença ao Senhor deve suprir sua casa por meio de um
trabalho digno perante o Senhor. E o único tipo de trabalho digno perante Deus é o trabalho
honesto: "Peso e balança justos pertencem ao SENHOR; obra sua são todos os pesos da bolsa" (Pv
16.11). O Senhor se identifica com o trabalho honesto. Os pesos na balança são dele, os pregos
na parede são dele, o trabalho do operário é dele, o trabalho no escritório é dele — desde que
feito honestamente.
Um homem honesto deve aprender a não procrastinar suas obrigações: "Não te furtes a fazer o
bem a quem de direito, estando na tua mão o poder de fazê-lo. Não digas ao teu próximo: Vai e
volta amanhã; então, to darei, se o tens agora contigo" (Pv 3.27-28).Um homem tem de enfrentar
suas responsabilidades em ordem. Uma importante aplicação deste princípio é: pague primeiro a
dívida mais antiga.
ARMADILHAS FINANCEIRAS
Um homem sábio evita ciladas financeiras. O autor de Provérbios claramente tinha fortes
reservas quanto a ficar como fiador e armadilhas semelhantes. "Quem fica por fiador de outrem
sofrerá males, mas o que foge de o ser estará seguro" (Pv 11.15; 6.1-5). "O homem falto de
entendimento compromete-se, ficando por fiador do seu próximo" (Pv 17.18). É mais comum
que as pessoas entrem em problemas financeiros com amigos do que com pessoas
completamente desconhecidas. "Não estejas entre os que se comprometem e ficam por fiadores
de dívidas, pois, se não tens com que pagar, por que arriscas perder a cama de debaixo de ti?"
(Pv 22.26-27).
Uma forma popular de enlace financeiro é a dívida. Há mais homens cristãos que arruinaram
seu lar por meio de dívidas do que por qualquer outra tolice financeira: "O rico domina sobre o
pobre, e o que toma emprestado é servo do que empresta" (Pv 22.7). Se um homem quer que sua
esposa seja uma mulher livre e que seus filhos cresçam livres, carregá-los com dívidas não é o
modo certo de fazer isso.
Alguns homens buscam garantir o futuro de sua família por meio de vários esquemas de
enriquecimento instantâneo. Mas a Bíblia nos diz o que acontece com o dinheiro que vem desse
modo: "A posse antecipada de uma herança no fim não será abençoada" (Pv 20.21). Pode-se até
conseguir o dinheiro de modo honesto, mas ainda assim será difícil retê-lo honestamente. A
velocidade também macula a honestidade, e como temos visto, a desonestidade é uma derrota:
"Os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta à força do trabalho terá
aumento" (Pv 13.11). Outra pista de "rápido acesso" às riquezas é aproveitar-se da tolice de
outros, porém disto o Senhor não se agrada: "O que aumenta os seus bens com juros e ganância
ajunta-os para o que se compadece do pobre" (Pv 28.8).
Um homem deve também ser conservador e muito cuidadoso ao lidar com as finanças. O
marido e pai tem o dever de economizar: "O homem de bem deixa herança aos filhos de seus
filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo" (Pv 13.22). Aquele emblema
reluzente no capô que proclama como o dono do carro está gastando a herança de seus filhos é
ímpia loucura. Ao mesmo tempo, as crianças, especialmente as crianças indolentes, não devem
ser presunçosas. A herança não deve ser gasta sem consciente cuidado: "O escravo prudente
dominará sobre o filho que causa vergonha e, entre os irmãos, terá parte na herança" (Pv 17.2).
Não se deve jamais esquecer que o Senhor é quem dá a riqueza: "As riquezas de nada
aproveitam no dia da ira, mas a justiça livra da morte" (Pv 11.4); "A maldição do SENHOR habita
na casa do perverso, porém a morada dos justos ele abençoa" (Pv 3.33); "Os tesouros da
impiedade de nada aproveitam, mas a justiça livra da morte" (Pv 10.2); "A boa inteligência
consegue favor, mas o caminho dos pérfidos é intransitável" (Pv 13.15). E não poderia ser
diferente.
1 Publicado em 1989 nos Estados Unidos, Heather has two mothers é um livro "infantil" que conta a história de uma menina
criada por duas mulheres lésbicas. — N. do T.
2 Ou seja, fazemos uso da habilidade de falar eloquentemente com o objetivo de defender ou usar argumentos enganosos ou
logicamente inconsistentes para nos favorecer. — N. do E.
O
CAPÍTULO 3
O MARIDO FEDERAL E A SOCIEDADE
MASCULINIDADE E CULTURA HIERÁRQUICA
ensino de Pedro de que os homens devem viver em consideração com a esposa tendo-a
como "vaso mais frágil" tem contribuído para muitas discussões acaloradas entre homens
e mulheres. O que exatamente o apóstolo quis dizer? Nessa passagem, ele diz isto:
Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher
como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não
se interrompam as vossas orações (1Pe 3.7).
Devemos começar notando que o que Pedro disse aqui deveria ser recebido pelos cristãos
como sendo Palavra de Deus, e nada menos que isso. Contudo, o mesmo não é verdade com
relação a submeter-se a distorções interpretativas ou a um entendimento equivocado da
passagem. E tais mal-entendidos existem.
A distorção mais óbvia a rejeitar é a do igualitarismo feminista dentro da igreja, que deseja
fugir do sentido claro do texto. Mas as palavras de Pedro realmente não deixam espaço para
manobras. Os maridos devem honrar a esposa e viver em consideração com ela, tratando-a como
vaso mais frágil. Felizmente, a maioria dos crentes entende que o feminismo extremista e o
cristianismo bíblico são incompatíveis, e enfrentam pouca dificuldade ao resistir a quaisquer
distorções do ensino de Pedro nessa direção.
Mas uma segunda distorção é bem distinta da primeira e representa uma poderosa tentação
para os cristãos conservadores. É a distorção que podemos chamar de igualitarismo machista.
Segundo essa visão, os homens estão em uma categoria e as mulheres em outra, e qualquer
membro de um dessas categorias pode manter o mesmo relacionamento com qualquer membro
da outra categoria. Em outras palavras, os homens seriam líderes das mulheres e as mulheres
seriam mais fracas do que os homens. A visão de sociedade resultante é que "os homens
mandam". Isso é quase verdade, mas não leva a lugar algum. Os homens mandam em quê? Os
homens enquanto homens não mandam em nada, e as mulheres enquanto mulheres não estão em
submissão a nada.
Nessa visão machista, pode-se ver claramente a suposição de que os homens possuem
autoridade sobre as mulheres. Mas a ênfase igualitária deve também estar clara. Pois, seguindo
essa linha de raciocínio, qualquer homem pode liderar qualquer mulher, logo, qualquer
casamento, qualquer família está no mesmo nível fundamental de qualquer outra família.
Mas a sociedade humana, tal como criada por Deus, é hierárquica: "Ditosa, tu, ó terra cujo rei
é filho de nobres" (Ec 10.17). Apesar das caudalosas ondas da espumejante retórica igualitarista
desde o tempo de Revolução Francesa, todas as sociedades ainda têm homens e mulheres, entre
os quais há instruídos e não instruídos, inteligentes e não inteligentes, refinados e não refinados,
classes altas e baixas, etc. A constante ladainha da propaganda significa que estamos hesitantes
em afirmar que as coisas são assim, mas "quem diz a verdade não merece castigo". Uma imagem
acurada da sociedade irá mostrar que existem homens e mulheres nas classes mais instruídas, e
homens e mulheres entre os menos instruídos. Em ambos os sexos, há convertidos e incrédulos,
gente educada e gente grosseira, inteligentes e não inteligentes, altos e baixos, gordos e magros.
Uma visão bíblica da cultura fatalmente requer a existência de algum tipo de nobreza.
O igualitarismo machista tende a presumir que a fronteira do relacionamento entre homens e
mulheres é prioritária, sendo os demais fatores sociais inexistentes ou negociáveis. Por conta da
presunção dessa supremacia dos homens sobre as mulheres, os adeptos dessa visão presumem
que cada homem deve estar preparado para liderar qualquer lar e que cada mulher deve estar
preparada para entrar em qualquer casamento pronta para seguir tal homem. Ele também
necessariamente presume que as famílias resultantes são mais ou menos iguais em habilidade,
status, etc. Isso tem o impacto que o igualitarismo sempre tem. Como, nessa visão, mulheres
com muitas habilidades são vistas sob forte suspeita de serem quase feministas, algumas ações
são tomadas para retardar ou restringir as habilidades de tais mulheres.
No topo da visão bíblica e hierárquica está o relacionamento entre homem e mulher, e como
consequência, surge daí um amplo (e muito complexo) relacionamento cultural e social entre os
sexos. Isso significa que as esposas devem auxiliar e ser submissas ao próprio marido (e a
ninguém mais). Como resultado dessa submissão em incontáveis famílias, uma sociedadepatriarcal vai de fato surgir. Contudo, essa sociedade patriarcal irá necessariamente conter um
número de mulheres que são bem mais inteligentes, instruídas, e fortes do que muitos homens.
Nenhuma sociedade é verdadeiramente patriarcal a menos que contenha um número significativo
de mulheres nobres, que são de muitas maneiras mais fortes do que muitos homens.
Mas para o igualitarismo machista, uma mulher nobre e altamente instruída é vista como uma
ameaça aos "homens" e como alguém que está sendo arrogante — alguém que resiste ao ensino
de Pedro a respeito do vaso mais frágil. A resposta bíblica é que ela é vaso mais frágil perante o
seu marido. Ela não é vaso mais frágil perante a sociedade, ou o vaso mais frágil de qualquer
joão-ninguém.
Uma posição simplista e tradicionalista acerca dos "valores familiares" diz que os homens são
líderes e as mulheres são seguidoras. Seria mais acurado dizer que o marido é cabeça e a esposa é
sua auxiliadora. Como alguns dos homens são líderes e outros são seguidores, as esposas devem
auxiliá-los a liderar ou a seguir, ou auxiliá-los em todas as possibilidades entre esses dois
estágios. Tal entendimento preserva também o entendimento bíblico de liderança e submissão no
lar como a compreensão bíblica de uma cultura.
Esses relacionamentos complexos são ilustrados nas exigências divinas para o governo da
igreja. Paulo categoricamente exclui toda mulher, não importa o quão capacitada seja, da tarefa
de exercer "autoridade sobre um homem" na igreja de Cristo: "A mulher aprenda em silêncio,
com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem;
esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi
iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através
de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso" (1Tm
2.11-15). Claramente, as mulheres não podem exercer a função de presbíteros ou ministros da
Palavra. Não importa o quanto os exegetas modernos inchem o peito e soprem, eles não podem
derrubar esse verso.
Ao mesmo tempo, Paulo assume que um bispo será casado e irá governar bem a sua casa
(1Tm 3.2,5). Considerado melhor esse aspecto, ele significa que a mulher dele terá uma
influência considerável na igreja por meio de sua influência sobre seu marido. O mesmo padrão é
visto nos contextos que ultrapassam os laços domésticos. Por meio da submissão ao marido,
algumas mulheres podem ter mais influência em uma cultura ou subcultura do que certos
homens. Isso é muito bom; essa é a força do vaso mais frágil.
O problema do machismo é pensar que todas as mulheres devem se submeter a todos os
homens, indistintamente. Em contraste, o padrão bíblico é que as mulheres devem estar em
submissão ao próprio pai ou marido. Isso a livra de submeter-se a outros homens — o que, tendo
vista alguns homens por aí, é algo bom. Assim, uma mulher nobre pode em muitas maneiras ser
superior a um determinado homem. Ela não será um vaso mais frágil para ele. Essa seria uma
excelente razão para ela não se casar com tal homem — pois, caso o fizesse, a Escritura exigiria
que fosse para ele esposa respeitosa e obediente. Um homem de poucas habilidades é capaz de
ser um líder bíblico para algumas mulheres, mas não para outras. Uma mulher com muitas
habilidades é capaz de submeter-se alegremente a alguns homens, mas não a outros. Essa
compreensão irá nos fazer voltar ao padrão bíblico da hierarquia complexa na sociedade e
também nos levar a rejeitar a hierarquia simplista do: "Mim, Tarzan; você, apenas uma mulher".
Certa vez, C. S. Lewis comentou sobre esse padrão ao contrastar a posição de uma grande
mulher (que era uma esposa submissa) e a posição de um homem comum:
Devo lamentar pelo homem comum, tal como eu, que foi levado por esse discurso ao eminente equívoco de dirigir-se a
Belmonte e agir como se Pórcia realmente fosse uma mocinha iletrada. A testa de um homem enrubesce em só pensar
nisso. Ela pode falar assim a Bassânio: mas é melhor não esquecer de que estamos lidando com uma grande dama.3
Os que estão familiarizados com os escritos de Lewis sabem o quanto ele detestava o
feminismo, mas essa passagem mostra que ele também se constrangia com os homens que
pensam que são mais do que realmente são. Ele reconhece que Deus fez o mundo hostil aos
ismos, e amigável à humildade.
Agora, um presbítero de uma igreja cristã, que está comprometido com uma mulher, como diz
Paulo, logo irá perceber que sua esposa tem grande influência na igreja — talvez mais do que
muitos homens ali. Isso abre a porta para que ativistas esposas de pastores e de presbíteros se
tornem "presbíteras"? Isso cria uma oportunidade para aqueles que estão fazendo avançar a
agenda feminista na igreja? De modo algum.
O primeiro ponto a ser destacado é que esse padrão hierárquico não é realmente conjectural.
Um presbítero casado com uma auxiliadora do tipo que deve ter para conduzir sua casa como a
Escritura exige, será um presbítero bem mais eficaz por causa da influência de sua esposa sobre
ele. A ajuda que ele deve receber da esposa não se limita a cuidar dos filhos e preparar as
refeições. Ao mesmo tempo, a influência dela sobre a igreja é indireta e exercida por meio de seu
ministério para com o marido. Como indivíduo, a esposa do pastor não possui ofício na igreja.
Como esposa submissa, ele é provavelmente a amiga mais íntima, confidente, assessora e
conselheira.
Ester, uma esposa submissa, teve mais influência do que todos os anciãos de Israel. Dada a
natureza dessa influência, a escritura não aponta nela falha alguma. Mordecai até estava
preparado para culpá-la, caso ela tentasse fugir da influência que poderia exercer por meio da
submissão. Do mesmo modo submisso, a piedosa esposa de um pastor será uma tremenda bênção
na igreja. "O que você pensa sobre o que Tiago está fazendo? Será que você não deveria chamá-
lo para conversar?".
O segundo ponto é que a verdade sempre pode ser distorcida, e até a ressurreição, ela
certamente o será. Quando aqueles que a distorcem são mulheres encrenqueiras, a verdade pode
ser distorcida de uma maneira notavelmente destrutiva. A Escritura não estabelece um ofício
distinto chamado "casada com um presbítero", o qual concede a portadora o direito de se
ofender, caso alguma coisa na igreja não saia como ela planejou. Certamente, nenhuma mulher
pode ter qualquer autoridade pessoal no governo da igreja. E certamente uma mulher insubmissa
pode chegar a disparar comentários desse tipo, insinuando que algumas mulheres devem ter
influência na igreja. Mas ela pode também justificar seu comportamento apontando o
comportamento antibíblico de homens reacionários, que não podem defender sua doutrina da
tosca superioridade masculina com base na Escritura, e cuja única defesa para seu
comportamento é afirmar que o feminismo é antibíblico e que sua posição não é feminista.
A questão real é se um ensino específico é ou não verdadeiro. Se for verdadeiro, isso
certamente não evitará distorções. Afinal, Pedro nos diz que os ignorantes e instáveis torciam os
escritos de Paulo — naquilo que eram difíceis de entender. Paulo mesmo nos fala de pessoas que
mutilavam suas palavras, mas acrescenta que a condenação destes é justa. A questão, portanto,
não é "o que isso poderia gerar?", mas antes: "isso é bíblico?". Se as mulheres que desejam estar
no comando conseguirem driblar a Escritura, então também conseguirão driblar qualquer
situação.
Minha alegação é que a posição machista é simplesmente tão antibíblica quanto a feminista.
Homens que não são líderes em casa, onde a Escritura o exige, são geralmente tentados a
compensar essa falha em algum outro lugar. Isso algumas vezes é encontrado no conforto de
saber que os "homens" mandam nas "mulheres". Mas isso é autoridade a custo zero. A
arrogância machista amplamente difundida não é substituta para a autoridade piedosa que flui do
consistente servir à semelhança de Cristo no lar. Tal arrogância é comum entre machistas,enquanto a genuína autoridade masculina geralmente está ausente.
Em última análise, o problema das mulheres que ultrapassam seus limites na igreja não é
problema delas. A dificuldade está nos homens que as permitem fazer isso.
SEGURANÇA MASCULINA
É muito difícil achar o equilíbrio. Não conseguimos lidar com os erros do feminismo sem que
alguns homens reajam desproporcionalmente e afirmem que todas as mulheres devem servir de
capacho, etc.
Por exemplo, nos círculos cristãos conservadores, certo número de homens tem se preocupado
com os estudos bíblicos para moças ou reuniões de comunhão por causa do potencial dano que
isso pode trazer ao lar. Por exemplo, o que acontece quando as mulheres estudam a Bíblia e
passam à frente do marido no quesito espiritualidade? Por muitas razões, as pessoas presumem
que a solução é frear as mulheres ao invés de acelerar os homens.
As questões não se limitam apenas ao estudo das Escrituras. Frequentemente me perguntam:
"Qual é o propósito de ter mulheres frequentando escolas com rigorosa formação nas artes
liberais?". E seguindo essa lógica, qual o propósito de dar a elas uma educação formal?
Quando homens procuram saber qual o papel das mulheres em uma cultura cristã que busca
redescobrir o equilíbrio bíblico, diversas questões práticas surgem. "Ela deve fazer isso ou aquilo
outro?". Se, como argumento adiante, as mulheres não devem se envolver em combate, então
talvez devêssemos voltar atrás e questionar tudo que as mulheres modernas fazem. Uma mulher
deve ir para a faculdade? Deve estudar as Escrituras?
Devemos distinguir entre uma atividade e o propósito de uma atividade. A primeira trata do
que se faz enquanto o propósito fala sobre a razão de tal atividade. Embora se possa identificar
um padrão geral entre as atividades e seu propósito, a correspondência entre as duas coisas nem
sempre é exata.
A Bíblia ensina que a orientação fundamental da mulher deve ser doméstica. Como temos
visto, múltiplas passagens mostram isso (Tt 2.1-5; Pv 31.10-31; 1Tm 2.15; 5.3-14). Para muitos,
isso simplifica a questão. As mulheres devem, portanto, se limitar às atividades que são aberta e
obviamente domésticas — lavar e cozinhar. Mas a dedicação de alguém a uma atividade
particular pode ser completamente diferente em motivação e direção da participação de outra
pessoa nessa mesma atividade. Quando se pergunta a uma mulher cristã o que ela está fazendo, a
resposta dela pode ser exatamente a de uma feminista pagã. "Estou estudando para um teste de
Física. Por quê?". Mas quando uma mulher crista é questionada sobre o porquê de estar fazendo
aquilo, a resposta deve ser radicalmente divergente de qualquer resposta que possa ser dada por
uma incrédula. A resposta dela, em outras palavras, deve ser orientada para o lar. "Estou
estudando Física para glorificar a Deus sendo uma esposa e mãe piedosa e eficaz". Ou seja, ela
deve relacionar sua atividade ao propósito biblicamente designado para tal atividade. Por
exemplo, se ela for uma jovem mulher casada, ela é responsável por integrar aquilo que faz com
o que Paulo designa como o dever geral de uma jovem mulher casada.
Entretanto, a potencial flexibilidade nessa resposta aflige alguns machos tradicionalistas, os
quais não querem uma mulher fazendo nada que vá além do cursinho básico de Economia
Doméstica.
Consequentemente, ouvimos em resposta: "Mas isso não vai ajudar a ser esposa e mãe!" A
mulher deve entender que depende de com quem ela se casa e de que tipo de mãe ela quer ser.
Em 1903, a mãe de Gresham Machen publicou um livro.4 Ela era uma mulher muito capaz.
Leitora ávida, inclusive do Novo Testamento em Grego, e dos clássicos ingleses e franceses. E
qual era a vocação dela? Mãe.
Como com tudo o mais, devemos nos voltar para a Escritura a fim de determinar quais
atividades são consistentes com o chamado doméstico de uma mulher. Algumas das coisas que
devemos considerar seriam corrigir a teologia de um homem (At 18.26); ter parte na Escritura
(Lc 1.46-55; 1Sm 2.1-10); comprar propriedades (Pv 31.16); julgar uma nação (Jz 4.4-5); liderar
exércitos (Jz 4.14); assassinar (Jz 5.24-25); entregar em mãos o livro de Romanos (Rm 16.1-2); e
trabalhar na evangelização juntamente com homens (Fp 4.3). Os homens que estão seguros em
uma definição bíblica de masculinidade e feminilidade não se sentirão ameaçados quando
encontrarem mulheres que se conformam à definição bíblica.
Tampouco a Bíblia silencia sobre aquelas coisas que são inconsistentes com o chamado
doméstico da mulher. E isso diz respeito a exposição formal da Escritura a homens (1Tm 2.12),
servir como presbítero em uma igreja cristã (1Tm 2.12), ou liderar o marido (Ef 5.24).
EU E A MINHA CASA
Frases famosas possuem uma aptidão peculiar para se esconder nas regiões mais recônditas de
nossa mente. Pensamos conhecer seu significado porque já as ouvimos muitas vezes antes, mas
as coisas não são bem assim. Em vez de transmitirem verdadeiro conhecimento bíblico, tais
frases acabam apenas nos pondo para dormir. Certamente esse equívoco acontece com a frase
"eu e a minha casa...".
Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos
pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR. Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem
sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja
terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR (Js 24.14-15).
Josué está falando ao povo na renovação pactual em Siquém. Precisamos prestar atenção ao
contexto e ao conteúdo de sua exortação. Muitos compreendem mal a renovação da aliança
porque não compreendem o perdão do pecado. Deus em sua misericórdia nos resgata do lugar
onde estamos e não de onde deveríamos estar. Os efeitos do pecado são tão profundos e difusos
que os pecadores que se afastam da aliança de Deus nunca conseguirão encontrar sozinhos o
caminho de volta. Depois de dois séculos de desobediência, o meu país não pode nem mesmo
juntar as peças, muito menos remontá-las. O mesmo princípio se aplica ao povo de Deus no
Antigo Testamento.
Primeiro, o contexto: Josué reuniu as pessoas e revisou perante elas a história de sua nação,
começando com a idolatria do povo de Abraão. Ele falou sobre a salvação de Abraão e sua
família e prosseguiu tratando da redenção do povo israelita no Egito. Ele menciona como o
Senhor cuidou deles no deserto e como o Senhor lutou por eles quando começaram a conquistar
Canaã. Essa revisitação à história daquele povo, incluindo os tempos de desobediência e
pecados, é a base da exortação de Josué nos versos 14-15. Ele os intima a deitar fora os ídolos —
dois tipos de ídolos.
Eles devem abandonar os ídolos que tinham no Egito, antes de o Senhor redimi-los, libertá-
los, e estabelecer com eles aliança no Sinai. Deveriam jogar fora os ídolos que mantinham em
seu passado antes de tornarem-se cristãos.
Mas, em segundo lugar, Josué os intima a abandonarem os ídolos a quem os pais deles
serviram dalém do rio Eufrates. Note que esses foram deuses que chegaram a Israel após a
libertação do Egito. Em resumo, esses dois tipos de deuses deveriam ser abandonados: deuses de
antítese e deuses do sincretismo.
O conteúdo da exortação de Josué aqui é simples e breve. Temei ao Senhor. Servi ao Senhor.
Temei e servi ao Senhor em sinceridade e verdade. Jogai fora todos os outros deuses. Josué então
se põe diante do povo como um exemplo vívido. Ele não sabe que caminho os outros irão trilhar,
mas quanto a ele, irá servir ao Senhor, e com ele a sua casa.
Em nossa cultura, pequenos deuses abundam como as rãs do Egito. Mas os deuses do Egito
têm a vantagem de serem relativamente fáceis de identificar. Eles são os deuses de antítese — o
culto a Satanás, a blasfêmia, o ateísmo explícito, e assim por diante.
Os deuses do sincretismo, os deuses da mistura e meio tom, os deuses que caminham próximo
a você a fim de sussurrar encorajamentos devocionais são outra coisa. Esses deusesdas
concessões, de conselhos amenos, são perigosos. Por causa deles a igreja moderna está
definhando, e está definhando porque nos lares de Israel — e estou incluindo os lares aos quais
este livro chegou — precisam derribar alguns ídolos. Esses deuses do sincretismo são tão parte
da antítese quanto os outros, mas são muito mais perigosos porque mais difíceis de serem
percebidos.
Deixe-me mencionar algumas dessas pragas espirituais. O primeiro desses deuses é ter outro
deus sob o nome de Yahweh. Arão procurou fazer com que o povo servisse ao Senhor, enquanto
esperava que o bezerro de ouro não fosse mais do que uma distração, e quem sabe, talvez para
alguns israelitas incultos, aquela representação palpável de Yahweh pudesse até trazer algum tipo
de auxílio espiritual. Vivemos em um país livre, e não há nenhuma restrição legal que proíba
você de chamar aquele patético ídolo que está em sua mente de "Jesus". Qual a razão por que um
deus minúsculo não pode ser chamado de Yahweh, Senhor dos Exércitos e Deus das batalhas?
Obviamente, tendo considerado os atributos de tal deus, é de se notar que isso não é possível.
Outro desses deuses é o dos republicanos e de alguns democratas renegados — o deus da
religião civil e das orações antes das refeições. Esse deus seria alegremente adorado por um
pragmático pagão como Cícero. Esse é o deus a quem alguns desejam oferecer orações nas
escolas públicas. Tais orações não passariam dois palmos acima do teto de muitas salas de aula;
o que não é nada mal, porque é ali onde esse deus mora.
Outro deus é o da prosperidade e paz pessoal. Ele é o deus do dinheiro na poupança,
aposentadorias e planos de seguro. O apóstolo Paulo diz em Efésios que a avareza é idolatria.
Ouvimos, muitas vezes, a garantia de que as bênçãos materiais são consistentes com o
cristianismo. É bem verdade, mas nunca devemos esquecer o potencial que tais bênçãos possuem
de consumir a devoção a Cristo. A maravilhosa afirmação, "eu e a minha casa", é uma citação
inspiradora e não pode ser simplesmente impressa e emoldurada. Ela deve ser vivida.
Muitos homens modernos não estão aptos para essa tarefa. Os homens de nossa geração não
têm fibra. Eles abdicaram de suas responsabilidades. Não podemos negar que estamos em meio a
uma crise de liderança. Para usar a expressão bíblica, temos perverso coração de incredulidade.
Deus sempre prometeu enormes bênçãos para aqueles que fielmente guardam o seu pacto. Mas
nós, sábios aos nossos próprios olhos, não acreditamos mais nele. Estamos tão distantes de sua
Palavra que nem sabemos mais o que significa um pacto. Como consequência, não entendemos o
mundo à nossa volta.
A menos que retornemos ao pacto, não temos como compreender o caos cultural que nos
rodeia. O clamor da modernidade cambaleia de uma crise a outra. Como chegamos ao ponto de
nos deixar conduzir por tamanha tolice? Para responder a essa questão, não devemos tentar curar
superficialmente a ferida. Dada a extensão de nossa crise, a tentação constante é passar um
paninho nas bordas da ferida – dói demais fazer qualquer outra coisa.
Deus sempre lida com os homens por meio de alianças. Ele é um Deus que faz e que guarda
alianças. Isso soa bonito e muito piedoso, mas o que isso significa? Como já foi dito neste livro,
essas alianças são pactos solenes, soberanamente administrados, com bênçãos e maldições
atreladas. Para revisarmos o assunto, Deus fez uma aliança de criação com Adão antes da queda
(Os 6.7); quando caímos em Adão, ele fez uma aliança de redenção com Adão (Gn 3.15), Noé
(Gn 6.17-22; 8.20-22; 9.1-7; 9.8-17), Abraão (Gn 17.1-2), Moisés (Êx 2.24) e Davi (2Sm 7.12-
16). Essas últimas alianças não foram uma série de pactos desconexos e sem relação, como se
após alguns séculos Deus estivesse mudando de ideia a respeito do que fazer com o homem.
Essas alianças são todas parte da grande e ainda não completamente revelada aliança da graça,
que encontra seu grande cumprimento na paixão e obra do Senhor Jesus Cristo (Hb 8.7-12).
Tal como o Senhor lida com a humanidade por meio de alianças, ele nos criou de tal modo
que também devemos lidar uns com os outros, abaixo dele, por meio de pactos. No fim das
contas, percebemos que não temos como fugir dos pactos. Não funcionamos sem esses pactos
porque eles são a medula para nossos ossos. Os pactos nessa categoria são: o casamento (Ml
3.14-15), a instituição da igreja (Lc 22.20), e a ordem civil (Rm 13.1-7). Ao ignorar as instruções
de Deus sobre essas alianças, podemos nos tornar pactualmente confusos e desobedientes.
Tornamo-nos antipactuais. Mas só temos duas opções: ou estamos guardando ou estamos
quebrando nossas alianças.
Essas três instituições pactuais foram estabelecidas entre nós diretamente pela mão de Deus. E
assim como não temos autoridade para alterar ou abolir a lei da gravidade, não podemos alterar
ou abolir tais instituições conforme nosso gosto ou preferência. Mas não é suficiente para os
cristãos reconhecerem a existência dessas realidades pactuais; devemos também entender
corretamente a relação entre elas. Seria um terrível engano alinhar as três e então meramente
assinalar os respectivos deveres bíblicos para com cada uma delas. É fato que cada instituição
pactual possui seus respectivos deveres, mas devemos primeiro entender que as instituições
pactuais da igreja e sociedade civil são formadas por unidades de famílias pactuais.
Cada família tem certos deveres designados dentro de sua própria esfera: educação, cuidados
com a saúde, e assim por diante. Mas as famílias juntas também contribuem, como se fossem
moléculas, para a formação dos outros dois governos que estão para além do familiar, isto é, a
ordem civil e a igreja. Cada família torna essa contribuição abençoadora quando apresenta uma
fé com entendimento, e quando é recebida com a mesma atitude por estas outras duas
comunidades pactuais mais amplas.
Em razão da crise de masculinidade em nossos lares, essa representação não está sendo
oferecida pelos líderes dos lares. E se isso ocorresse, seria recebida por nossa ordem civil com
riso e por nossas igrejas com ignorante indignação teológica. Em resumo: estamos em aberta
rebelião contra os designíos de Deus para a família e a cultura. Com respeito ao nosso
entendimento de família, estamos em apostasia. Na igreja, disfarçamos essa rebeldia falando
muito dos valores da família. Esse discurso sobre os valores familiares fala muito sobre filmes
com classificação etária mais rigorosa ou um departamento infantil mais eficiente na igreja.
Jamais sobre representação familiar na igreja ou autoridade familiar na esfera civil.
Nossos homens têm se tornado eunucos espirituais. Na cabeça e coração de cada família está
um homem. Ele não pode evitar ser homem biologicamente, mas a desobediência pode
certamente afastá-lo da masculinidade, isto é, daquela masculinidade que abraça a liderança,
toma iniciativa, serve responsavelmente, provê para os seus, e representa sua casa perante os
governos estabelecidos por Deus. Os homens cristãos modernos podem ser divididos em duas
categorias: aqueles que se renderam às atuais exigências de efeminação e aqueles que pensam
que não se renderam porque em casa, vez por outra, ainda batem na mesa. Os homens que estão
nessa última categoria devem entender sua ampla impotência cultural. O que a liderança do lar
de fato significa? Que os homens seguram o controle remoto quando a família está em frente à
televisão? Que eles estacionam o carro quando a família vai à igreja? O que realmente significa é
que o homem é o responsável perante Deus por agir.
Quando a Suprema Corte americana tomou a infame decisão de permitir a carnificina de
bebês, os cristãos de nossa nação estavam tão cegos pactualmente que não viram esse fato tal
como ele era: o aborto da família pactual. Isso não é de modo algum minimizar a natureza
horripilante dessa carnificina; Deus é justo e ele tomará juízo. Mas por que nem sequer vimos o
outro problema? Considerem o resultado daquela decisão. Quando uma mulher está pensando em
abortar,a Corte nos informa que essa é uma decisão entre ela e seu médico. Até onde importa a
nossa ordem civil, o fato de ela ser casada ou não é completamente irrelevante. O fato de que um
homem fez um voto solene assumindo responsabilidades pactuais por sua descendência foi
julgado por nossa mais alta Corte como uma questão sem consequências legais.
É difícil entender o que é mais trágico, a decisão da Corte de assassinar as crianças ou a
inabilidade dos cristãos modernos de sequer notar que a Corte declarou cada criança a nascer em
nosso país como um bastardo pactual.
Com essa decisão em favor do aborto, a rejeição da realidade legal da família pactual
finalmente chegou ao derramamento de sangue. Mas isso é juízo de Deus sobre nós, quer
percebamos ou não.
Tendo sido exortados por alguns a "nos envolver", pensamos que a solução é "depor os
perversos". Mas os "perversos" são simplesmente a mão do Senhor sobre nós; arrependimento é
a única rota de fuga. O único caminho seguro para escapar do Senhor é voltar-se para ele. O
Senhor diz: "Dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles. Entre o povo,
oprimem uns aos outros, cada um, ao seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil,
contra o nobre" (Is 3.4-5). O Senhor está irado conosco, e o resultado disso se vê em toda parte:
"Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo. Oh! Povo
meu! Os que te guiam te enganam e destroem o caminho por onde deves seguir" (Is 3.12). E,
como nação, ainda não estamos enxergando as causas do justo juízo de Deus sobre nós.
O arrependimento deve começar em cada lar com os maridos e pais abandonando sua
efeminação. Tragicamente, muito de nossa tolice atual é efeminação em nome de Cristo. Ao
contrário do que diz o ensino popular sobre o lar cristão, o dever de um homem não é ser um
cara realmente doce, apreciado por todos na igreja. Muito do esforço da suposta renovação
masculina nada mais é do que um programa de discipulado para frangotes — uma pálida cópia
do movimento secular de homens de alguns poucos anos atrás. Em contraste, o marido deve
assumir seu dever com firmeza e atitude de liderança masculinas. E quando os homens
piedosamente assumem responsabilidades dentro do lar, eles devem então levar essa liderança
representativa para fora de casa. Esse é o teste real. Um homem que pensa liderar em casa, mas
não tem fibra para ser o representante de sua família, terá tanto impacto cultural quanto aquele
companheiro de quarto mandão da faculdade.
Desse modo, nosso arrependimento pode espalhar-se primeiro na igreja, porque ali está, pela
primeira vez em gerações, a oportunidade de receber os líderes dos lares pactuais em sua
capacidade representativa oficial. À medida que a igreja é reformada desse modo, terá sua antiga
e há muito esquecida força restaurada. E então um padrão bíblico será finalmente exibido, de
modo a ser imitado com segurança na esfera civil. Antes disso, todas as tentativas de reforma
cultural são nada mais que alimentar porcos e achar que poderão voar.
Quem viverá em prosperidade em nossa terra? Quem herdará a terra? "A intimidade do
SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança" (Sl 25.14). Mas nós
ainda não tememos a Deus, e ele ainda não se agradou em nos dar uma grande reforma de sua
aliança pactual. Deus tenha misericórdia de nós!
MULHERES EM COMBATE
Porque não estamos inclinados a pensar de maneira unificada (o que é realmente um modo
delicado de dizer que não pensamos como cristãos), parece não haver relação alguma entre
muitas das questões que nos deixam perplexos. Mas é impressionante quantas coisas específicas
podem dar errado em uma cultura simplesmente porque os homens de tal cultura não têm pulso.
Consequentemente, em tempos como os nossos, não é de surpreender que o tema das
mulheres lutando em guerras seja um assunto delicado — mas não deveria ser. A dificuldade que
temos em discutir a questão já ilustra o problema em si. Esse problema é o da rendição básica às
normas e padrões feministas que perpassam nossa cultura, dentro e fora da igreja. A rendição
ocorre primeiro em casa, depois na igreja, e finalmente nos assentos dos aviões de caça.
O primeiro passo para tratar do assunto honestamente deve ser o franco reconhecimento de
que, quando medida pelos padrões contemporâneos, a Bíblia é um livro sexista. Isso seria algo
ruim, se o sexismo fosse realmente pecado, mas no mundo feito por Deus, não é esse o caso.
Quando pesada nas balanças da modernidade, a Bíblia é certamente tida como um livro
"pecaminoso". Mas a única coisa preocupante a esse respeito é o fato de tantos cristãos estarem
constrangidos com a Bíblia.
Contudo, fazer tal afirmação não demonstra de modo algum qualquer tipo de hostilidade para
com as mulheres. Misoginia, ou ódio pelas mulheres, é um pecado claramente proibido a todos
os seguidores de Cristo. Os maridos devem amar a esposa do mesmo modo como Cristo amou a
igreja (Ef 5.25), e o apóstolo Pedro instrui os homens a terem o cuidado especial de honrar a
esposa (1Pe 3.7). Um homem piedoso é aquele que se levanta nos portões da cidade e bendiz a
esposa (Pv 31.28). O homem que encontra uma esposa piedosa encontra um tesouro cujo preço
excede ao de todos os rubis.
Isso é "sexismo" descarado. Então, o que significa essa admissão? Ninguém aqui está dizendo
que é biblicamente aceitável que os homens maltratem as mulheres. Entretanto, existe um debate
sobre o que exatamente significa maltratar. O debate sobre as mulheres em guerra existe
precisamente porque dois grupos de pessoas estão apelando a dois códigos legais diferentes. Os
cristãos apelam à Bíblia para definir o que constitui maus-tratos às mulheres. E os secularistas
apelam à sabedoria humanística, que, em sua forma atual, se opõe a certos tipos de maus-tratos.
A respeito desse tema das mulheres na guerra, pergunto: há injustiça ou maus-tratos quando
uma mulher é excluída de um posto de combate tão só e simplesmente por ser mulher? Um lado
pensa não haver dúvida de que a resposta é sim. O outro lado, no qual me incluo, pensa o
contrário.
Os cristãos devem sempre recorrer à Bíblia para responder perguntas desse tipo; e, a respeito
desse tema, a Bíblia é clara. Deixar as mulheres de fora das batalhas nada mais é do que a
simples prudência bíblica, porque as mulheres como grupo não foram feitas para o combate.
Dizendo de outro modo, as mulheres lutam mal. O fato de a Bíblia ser tão pouco citada nesse
debate, não é de modo algum indicação de um genuíno silêncio bíblico, é indicação real de quão
pouco buscamos respostas bíblicas para nossos problemas.
Quando Isaías declarou o juízo do Senhor contra o Egito, ele falou deste modo sobre os
temores que sobreviriam aos egípcios:
Naquele dia, os egípcios serão como mulheres; tremerão e temerão ao levantar-se da mão do SENHOR dos Exércitos, que ele
agitará contra eles. A terra de Judá será espanto para o Egito; todo aquele que dela se lembrar encher-se-á de pavor por
causa do propósito do SENHOR dos Exércitos, do que determinou contra eles (Is 19.16-17).
Jeremias fala do mesmo modo:
A espada virá sobre os gabarolas, e ficarão insensatos; virá sobre os valentes dela, e ficarão aterrorizados. A espada virá
sobre os seus cavalos, e sobre os seus carros, e sobre todo o misto de gente que está no meio dela, e este será como
mulheres; a espada virá sobre os tesouros dela, e serão saqueados (Jr 50.36-37).
Um capítulo adiante, o mesmo profeta usa a mesma comparação:
Estremece a terra e se contorce em dores, porque cada um dos desígnios do SENHOR está firme contra Babilônia, para fazer
da terra da Babilônia uma desolação, sem que haja quem nela habite. Os valentes da Babilônia cessaram de pelejar,
permanecem nas fortalezas, desfaleceu-lhes a força, tornaram-se como mulheres; estão em chamas as suas moradas,
quebrados, os seus ferrolhos (Jr 51.29-30).
Medido por nossos padrões contemporâneos, Naum não está em situação melhor:
"Eis que as tuas tropas, no meio de ti, são como mulheres;as portas do teu país estão abertas de par em par aos teus
inimigos; o fogo consome os teus ferrolhos" (Na 3.13).
Quando consideramos essas passagens em conjunto, devemos concluir que o modo comum
dos profetas de Deus falarem do fracasso do poder militar de seus inimigos é dizendo que seus
guerreiros chegaram ao ponto de lutar como mulheres. Uma conclusão legítima disto pode ser
que: se não é bom negócio ter homens lutando como mulheres, então certamente será ruim ter
mulheres lutando como mulheres.
Em toda a Bíblia está a pressuposição de que são os homens que devem ir à guerra. Quando
os homens de Israel são contados para a guerra, a contagem é feita com todos os homens de vinte
anos para cima: "Levantai o censo de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo as suas
famílias, segundo a casa de seus pais, contando todos os homens, nominalmente, cabeça por
cabeça. Da idade de vinte anos para cima, todos os capazes de sair à guerra em Israel, a esses
contareis segundo os seus exércitos, tu e Arão" (Nm 1.2-3).
Essas citações não são algum tipo de insulto às mulheres com base bíblica. É certo que
insultos estão sendo usados nas passagens mencionadas, mas não se dirigem às mulheres de
forma alguma. O insulto é dirigido aos guerreiros, que são descritos em tais passagens lutando
como mulheres.
Mas quão insultuoso é para as mulheres quando suas características são usadas como insultos
contra os homens? A resposta é simples, mas temos primeiro de fazer uma distinção básica entre
insultos diretos e insultos comparativos.
Um insulto direto seria dizer que alguém é feio, ou que o trabalho que alguém realizou ficou
deplorável. A descrição negativa é um padrão em si mesmo e não precisa de qualquer contexto
adicional para aclarar seu significado, e o significado é depreciativo.
Mas um insulto comparativo é tomar características de uma coisa, que são adequadas para tal,
e aplicá-las a algo que não deveria ter as mesmas características. Quando dizemos que alguma
coisa voa como um balão de chumbo, não estamos tentando insultar o chumbo, que possui
muitos atributos admiráveis em outras aplicações. Estamos simplesmente dizendo que não
deveria haver um balão com tais características.
Então, quem é superior? Uma furadeira de impacto ou uma taça de porcelana chinesa? A
resposta depende inteiramente do que queremos fazer. Você quer beber chá ou furar uma parede
de concreto? Para furar uma parede de concreto, os atributos de beleza e delicadeza podem ser
um insulto para a furadeira de impacto (não que ela vá se importar com isso), embora não se
esteja insultando os atributos de delicadeza e beleza em si.
A Bíblia nos diz que as mulheres não são tão boas quantos os homens na importante obra que
envolve violência. Os homens têm um tipo de força e as mulheres têm outro. A força de cada
domínio se torna fraqueza fora de seu respectivo domínio. Nenhum homem gostaria de ouvir que
lança granadas como uma menina. E nenhuma mãe gostaria de ouvir que balança seu bebê para
dormir como uma tropa de fuzileiros navais.
Claramente a Bíblia está insultando os guerreiros quando os compara com um bando de
mulheres, mas o insulto só pode ser entendido se as forças das mulheres em outras esferas forem
igualmente compreendidas. A questão das mulheres na guerra não surge porque o chefe do
exército ou seus subordinados estavam clamando por tal reforma a fim de melhorar a eficiência
militar. Pelo contrário, essa política dúbia foi imposta sobre eles de fora. É trágico que nossos
líderes militares, que deveriam ser notáveis por sua coragem, têm mostrado pouco dela em tais
situações; covardia e timidez estão na ordem do dia. Ironicamente, toda essa degradação nos
mostra que nossos guerreiros se tornaram como mulheres.
Por causa do crescimento geral do feminismo em nossa cultura, as mulheres ascenderam a
posições de influência em nossa esfera civil. Embora a Bíblia não proíba a liderança civil de
mulheres — o caso de Débora nos vem à mente — a Bíblia diz que quando a liderança feminina
é comum, ela deve ser reconhecida não como uma bênção, mas como uma maldição: "Os
opressores do meu povo são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo. Oh! Povo meu!
Os que te guiam te enganam e destroem o caminho por onde deves seguir" (Is 3.12).
Em razão do feminismo que subjaz à nossa cultura, às mulheres foram confiadas posições a
que naturalmente não se adéquam. Essas posições incluem muitos postos de responsabilidade na
esfera civil. Como não vivemos em uma ditadura militar, esses avanços feministas dentro do
âmbito civil, por sua vez, colocaram mulheres feministas e pessoas influenciadas por seu
feminismo em posições nas quais podem ditar aos militares o que deve ser feito. E como a mente
feminista funciona de um modo diferente, o objetivo do exército não é mais visto em termos da
eficiência militar (destruição do inimigo), mas como um laboratório para engenharia social no
qual mulheres podem ser aceitas e aprender a se sentir bem consigo mesmas.
O objetivo do exército deve ser o de ser decisivo em batalha, e tal eficiência militar é
grandemente diminuída pela presença de mulheres. Há muitas razões para isso. As mulheres
provêm uma distração sexual; um homem apaixonado pela companheira de combate não vai agir
do modo como deve agir em batalha. A presença de mulheres no exército tende a distorcer a
natureza das linhas pactuais de autoridade (Ef 5.22-25). Terceiro, as mulheres foram feitas por
Deus para cuidar das crianças, e uma mulher grávida irá lutar ainda menos do que as mulheres
normalmente o fazem. Além disso, os custos logísticos de ter de tirar mulheres grávidas do
fronte é considerável, como já temos percebido em nossos experimentos recentes com mulheres
em guerra. E, por fim, a Bíblia exige um claro sistema de pesos e medidas iguais. Deus rejeita
todo tipo de padrão duplo. Mas a presença de mulheres no exército torna tais padrões duplos
necessários. Por exemplo, as academias militares aceitam mulheres que não conseguiriam passar
nos mesmos testes físicos que se costumam ser exigidos dos homens. Dois padrões foram
desenvolvidos, o que significa que um homem pode não ser aceito por razões físicas, mesmo que
esteja à frente, fisicamente, de uma mulher que foi aprovada. Isso cria tensão e hostilidade na
seleção e afeta a eficiência militar.
De acordo com a Escritura, os homens têm a solene responsabilidade de defender seu lar,
esposa e filhos. Quando uma nação chega ao ponto em que tem de ser defendida por mulheres,
tal nação já não merece sequer ser defendida. Neemias certa vez impeliu os homens de Israel a
seus deveres, dizendo: "Inspecionei, dispus-me e disse aos nobres, aos magistrados e ao resto do
povo: não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e temível, e pelejai pelos vossos irmãos,
vossos filhos, vossas filhas, vossa mulher e vossa casa" (Nm 4.14). Esse é um dever que
devemos ter em mente e praticar.
3 Bassânio, personagem de O Mercador de Veneza, de Shakespeare, viaja a Belmonte para cortejar a rica e bela Pórcia, cujo pai
morrera deixando um teste para os que desejassem desposá-la. — N. do T.
4 The Bible in Browning, de Minnie Gresham Machen, analisa a influência da Bíblia na obra do poeta inglês Robert Browning
(1812-1889) — N. do T.
P
CAPÍTULO 4
O PAI FEDERAL
INCRÍVEL BELEZA
ara aprender a ser um pai federal é necessário primeiro aprender a ser um marido federal de
uma mulher ainda grávida. A tarefa é acompanhada de grandes bênçãos:
Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e
tudo te irá bem. Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à
roda da tua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme ao SENHOR! O SENHOR te abençoe desde Sião, para que
vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel! (Sl 128.1-6).
A beleza feminina assume diversas formas, mas atualmente a gravidez é a mais negligenciada
dessasque podemos ter casamentos bíblicos sem nem
mesmo saber o que é um casamento pactual.
Os maridos cristãos não precisam mais de exortações sem conteúdo. A necessidade premente
dos maridos é por definição doutrinal e teológica — em particular, precisamos entender os
pactos. No cerne do relacionamento pactual do casamento está a questão da responsabilidade.
Onde quer que haja liderança federal genuína, o cabeça assume, como representante, a
responsabilidade pela condição espiritual dos membros do corpo pactual, e a conexão orgânica se
aplica em ambas as direções.
Somos seres pactuais; fomos criados desse modo. Considere o mistério de como cada ser
humano está relacionado com o outro. Somos todos primos, o que significa que estamos todos
conectados. Os indivíduos modernos não querem ver essa interconexão e enxergam a imputação
do pecado de Adão a nós como uma afronta aos nossos direitos. Mas ao rejeitar isso, rejeitam
também a salvação providenciada pela justiça de Cristo, a qual também é imputada a nós.
É claro que os maridos não podem replicar essa relação em toda a sua inteireza para o
relacionamento com a esposa. O marido não é Cristo. Mas, embora não possamos replicá-la
completamente, somos ainda assim ordenados a imitar essa relação e a buscar ser como Cristo
em amor federal. Como o casamento é constituído de uma instituição pactual e a relação a ser
imitada também é pactual, tal imitação terá de ser federal. Porque o marido é o cabeça da esposa
como Cristo é o cabeça da Igreja (Ef 5.23), o amor a ser dedicado será o amor de um líder
federal.
A negligência a essa verdade é algo generalizado na igreja moderna. Uma das coisas mais
difíceis para os homens modernos é entender como eles são responsáveis pela esposa. Os
homens chegam para a sessão de aconselhamento matrimonial com o pressuposto de que "ela
tem os problemas dela" e "eu tenho os meus", e o conselheiro está aqui para nos ajudar a dirimir
as diferenças. Mas o marido é o responsável por todos os problemas. E é o responsável
simplesmente por ser o marido, não há outro motivo.
Isso não significa que a esposa não tem responsabilidades pessoais como indivíduo perante
Deus. Ela certamente tem, assim como o marido tem sua responsabilidade pessoal. Os dois são
pessoas específicas perante Deus. Mas o marido permanece o cabeça, e do mesmo modo que
Cristo, como cabeça, assumiu toda a responsabilidade por todos os pecados de todo o seu povo,
assim o marido deve assumir responsabilidade pactual pelo estado de seu casamento. Se um
marido tem algo contra isso, alegando que não é justo ele assumir a responsabilidade pelas falhas
de outros, ele está na verdade dizendo que tem algo contra o evangelho. Acaso foi "justo" Cristo
assumir a responsabilidade por nossos pecados? Mas ainda que, talvez, não tenha sido justo em
nossa definição, foi algo justo e misericordioso.
Depois de ler essas palavras, pode ser que um marido ainda não esteja inteiramente seguro
sobre o que significa "assumir responsabilidade federal". E considerando o padrão divino
deixado a nós para imitação, é certo que nenhum marido tem um entendimento completo do que
ele é chamado a fazer. É por isso que temos de estudar mais detidamente a questão.
LIDERANÇA E PACTO
O que é um pacto? A Bíblia pode ser dividida em duas seções: o Antigo Testamento ou Antiga
Aliança e o Novo Testamento ou Nova Aliança. Um bom indicador da condição da igreja
evangélica moderna pode ser visto no fato de que muitos crentes não entendem a que esses
termos se referem. O que a palavra "pacto" significa exatamente? Devemos começar com uma
definição de pacto, e então chegar às várias passagens da Escritura que instruem o marido em
seus deveres, a fim de aplicar claramente a definição. Um pacto é um laço solene,
soberanamente administrado, que inclui bênçãos e maldições.
A Escritura ensina que Deus fez uma aliança básica com os homens caídos através da história,
a qual podemos chamar de Pacto da Graça. No Novo Testamento, vemos que o nome bíblico
desse pacto é Nova Aliança. Antes da Queda, Deus havia feito um pacto com a humanidade em
Adão, o qual foi rompido em razão do pecado. Gênesis nos conta que Adão pecou pessoalmente
contra Deus; mas Oseias nos diz que Adão também pecou pactualmente contra Deus: "Mas eles
transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim" (Os 6.7).
Embora algumas versões traduzam Adão como "homens", no hebraico a palavra é "Adão".
Após a Queda, e ao longo de toda a história redentiva, Deus tem feito pactos com o seu povo.
Mas eles não são uma série de pactos desconexos, como se Deus estivesse mudando sempre de
ideia sobre como lidar com os homens. Seus pactos se estendem de modo sucessivo e não podem
ser entendidos separadamente. Um único pacto da graça foi administrado ao longo da história.
Deus estabeleceu um pacto com Adão e Eva após eles terem pecado: "Porei inimizade entre ti
e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente" (Gn 3.15). Pelo Novo Testamento,
sabemos que essa foi uma promessa messiânica (cf. Rm 16.20), o que significa que deve ser
entendida pactualmente. Deus também estabeleceu um pacto com Noé: "Contigo, porém,
estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de
teus filhos" (Gn 6.18). Pedro nos diz claramente que isso era um tipo e que o batismo cristão é o
seu antítipo ou a coisa para a qual o tipo apontava (1Pe 3.18-22).
A maioria dos cristãos conhece o pacto que Deus fez com Abraão: "Farei uma aliança entre
mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente" (Gn 17.2). Como o Novo Testamento nos diz em
muitos lugares, Abraão é o pai de todos os que creem (Rm 4.11). Além do mais, a Bíblia nos diz
que "se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa"
(Gl 3.29). As implicações disto são profundas.
O pacto com Moisés é simplesmente a sequência divina dos pactos anteriores. "Ouvindo Deus
o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. E viu Deus os
filhos de Israel e atentou para a sua condição" (Êx 2.24-25). Entender as implicações dessa
passagem é crucial para compreender adequadamente o ensino do Novo Testamento.
O problema hoje é que muitos não entendem as refutações do Novo Testamento às distorções
farisaicas da lei de Moisés. Eles são comumente assaltados por suas próprias distorções
terminológicas heréticas (que aparecem sob palavras como "lei"). Mas o contraste no Novo
Testamento não é entre o Antigo e o Novo; o contraste é entre o Antigo distorcido e o Antigo
cumprido.
Deus fez uma aliança com Davi: "Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus
pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o
seu reino" (2Sm 7.12-16). Quem é o Cristo? Ele é o Filho de Davi.
Todos esses pactos foram um prelúdio para a vinda de Cristo. Os crentes não deveriam pensar
em pactos ou contratos separados ao longo da história. O crente deve pensar em termos de uma
criança crescendo, uma árvore frutífera, um broto desabrochando em flor. Devemos entender a
continuidade orgânica dos pactos. Essa continuidade é encontrada em uma Pessoa e reflete o
propósito redentivo único de Deus do começo ao fim da história, sempre expresso em um pacto.
Agora o Senhor Jesus Cristo é o Senhor da Nova Aliança (Hb 8.6); sempre tem sido o Senhor da
Nova Aliança (1Co 10.1-13); e ministra através de toda a história (Hb 9.15).
A razão por que devemos considerar tudo isto em um livro sobre casamento e família é que o
tratamento de Deus com seu povo no decorrer da história (que foi sempre pactual) é posto
perante nós no Novo Testamento como sendo o padrão a ser seguido pelos maridos. A doutrina
da liderança masculina no casamento é revelada na Escritura de um modo que relaciona o todo a
um correto entendimento da ordem pactual divina: "Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o
cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo" (1Co 11.3).
A ordem pactual é clara. O cabeçaformas de beleza bendita. Porque não prestamos atenção às nossas bíblias, chegamos a um
ponto no qual desprezamos essa bênção de modo arrogante, ou fazemos piada e comentários
grosseiros daqueles que receberam tal bênção. O resultado é que, com muita frequência, as
mulheres cristãs abominam a gravidez porque ela "arruína a aparência". Outras lamentam aquilo
que lhes acontece em razão das inconveniências para sair ou dormir. Outras associam a gravidez
com as náuseas e insistem que jamais querem engravidar de novo. O problema central não é que
as mulheres expressem tais opiniões, mas o contexto que criamos, o contexto no qual tais
opiniões são formadas.
Esse contexto pode ser descrito como uma atitude geralmente negativa para com as crianças e
tudo que está relacionado a elas. A gravidez não é honrada porque as crianças não são
apreciadas. Infelizmente, a resposta cristã a isso não tem tratado do cerne do problema. Alguns
homens aprenderam que filhos são bênçãos, e por isso decidiram com a esposa que desejam ter
mais crianças. Algumas vezes essa decisão é tomada com alguma relutância, mas é tomada.
Entretanto, as decisões são, em geral, tomadas puramente pela força do princípio, sem pensar no
que vem depois. Retornamos ao "dever", mas não às bênçãos.
Como consequência, ficamos entre essas duas posições: rejeitamos a forma como o mundo
trata os resultados da gravidez, mas nós mesmos ainda não aprendemos a honrá-la. Se uma
mulher aparecer numa reunião de cristãos hoje na mesma condição em que Lucas descreveu a
mãe do Senhor (i.e., grávida), há boas chances de que ela ouvirá três comentários rudes antes de
ir embora. Duas pessoas pedirão para passar a mão em sua barriga, como se estar grávida fizesse
do seu corpo propriedade pública, e quem sabe até façam aquela piadinha: "O doutor já
descobriu o que causou isso?". Outros indivíduos mais sérios irão expressar sua preocupação por
ela, o tipo de preocupação que instila o descontentamento: "João está cuidando bem de você?
Você parece tão cansada".
Há um mundo de diferença entre os homens que insistem que as mulheres devem cumprir
seus deveres e aqueles que honram as mulheres que realizam aquilo para que foram
vocacionadas. "Será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e
santificação, com bom senso" (1Tm 2.15). As mulheres, da mesma maneira que os homens, são
salvas pela graça de Deus por meio de seu chamado vocacional. Na sabedoria de Deus, a
gravidez é o começo desse chamado para as mulheres. Deus deu a Adão a tarefa de multiplicar e
encher a terra. Mas Adão era totalmente incapaz de, sozinho, reproduzir-se. Ele precisava de uma
auxiliadora que lhe fosse adequada, alguém capaz de auxiliá-lo a ser frutífero. E quando Adão
recebeu sua auxiliadora, ele a honrou.
Paulo diz que as verdadeiras viúvas devem ser honradas (1Tm 5.3). Se as famílias não podem
cuidar delas, então a igreja deve ajudar, contanto que fossem reconhecidas por suas boas obras, o
que inclui, especificamente, ter criado filhos (v. 10). A vocação que é honrada no final da vida de
uma mulher deve também ser honrada no início dela.
Os homens devem aprender a ver a gravidez como a concessão de uma honra, e devem
também honrar aquela a quem tal honra foi concedida. Os homens devem em geral fazer isso, e
especialmente os maridos. A questão é ver a gravidez como mais do que um bem, mais do que
um dever, mais do que algo importante: ela é algo lindo. Imagine a seguinte situação: uma
mulher, carregando em seu corpo outra alma eterna, entra em uma sala que está cheia de homens.
Todos eles ficam de pé e a cumprimentam, e falam disso e daquilo. Nenhum deles se refere à sua
gravidez, mas a vasta maioria deles está pensando: "Isso é realmente extraordinário. Ela está
linda". A atitude deles é de respeito e honra. Quando os homens em geral respeitarem as
mulheres grávidas, e particularmente os maridos aprenderem a respeitar verbalmente e a honrar e
admirar a beleza da esposa na gravidez, nossa situação com respeito às nossas famílias logo será
bem diferente.
Nos círculos cristãos conservadores tradicionais, um lamento comum é que as mulheres
modernas não se animam com a ideia de ter filhos do mesmo modo que as mulheres da Bíblia.
As mulheres desejam uma vida sem filhos; elas se sentem desapontadas com o chamado que
Deus reservou para elas. Agora, repare no modo como as mulheres grávidas são tratadas em
nosso meio. O que você esperava? Por que as mulheres deveriam honrar aquilo que os homens
depreciam?
Ao aprender essa lição, estaremos mais bem preparados para pensar pactualmente após a
chegada dos filhos. Ao mesmo tempo, aplicações adicionais sempre serão necessárias.
FRUTO PACTUAL
Já vimos que os casamentos são entidades pactuais. Isso não é menos verdade quando se trata do
fruto de tais uniões pactuais. A família não é estabelecida por costumes ou por legislação
governamental. A família é estabelecida e definida somente pela Palavra de Deus. Assim como
vimos a força da união pactual de um homem com sua esposa, não deve nos surpreender o fato
que a Bíblia descreva uma união pactual muito próxima entre um homem e seus filhos.
Em Malaquias 2.14, onde as esposas são descritas como esposas da aliança, também vemos
por que Deus primeiramente desejou essa união pactual: "Não fez o SENHOR um, mesmo que
havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que
prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua
mocidade" (Ml 2.15). A razão de Deus unir marido e mulher pelos laços pactuais é para que
possam suscitar descendência perante ele. Não surpreende o fato de haver uma profunda conexão
pactual entre pais e filhos. Assim como a água corre para o mar, um casamento pactual não pode
dar frutos que não sejam pactuais.
Um entendimento do pacto é maravilhosamente apresentado na descrição bíblica de Jó,
compreendendo sua responsabilidade enquanto pai:
Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por sua vez, e mandavam convidar as suas três irmãs
a comerem e beberem com eles. Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava;
levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os
meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente (Jó 1.4-5).
Nesse texto, Jó não está oferecendo sacrifícios por causa de um sentimento de culpa ou para
encobrir as falhas como pai. Na verdade, essa sua prática é descrita como exemplo de sua justiça.
No primeiro verso do livro, Jó é descrito desse modo: "Havia um homem na terra de Uz, cujo
nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal". Jó era íntegro e
reto. Ele era homem temente a Deus e que se desviava do mal. E então, logo depois, ele é
descrito como oferecendo esses sacrifícios pactuais por seus filhos. Ele faz isso por causa de sua
responsabilidade. Mas note a que ponto ele estende essas responsabilidades. Ele comparece
perante Deus para dar conta daquilo que talvez algum de seus filhos pudesse ter feito no coração.
Jó não é um homem que dá desculpas. Ele não alega ignorância perante Deus. Sua ignorância é
aquilo que o faz apresentar esse tipo de sacrifício. De forma alguma a ignorância o absolve da
responsabilidade.
Como mencionei anteriormente, esse é um conceito difícil de ser aceito pelos homens
modernos. Com frequência, os pais lutam com as questões que envolvem responsabilidade
pessoal porque o individualismo os conduz a pensar em responsabilidade em termos de um ou
outro, em vez de um e outro. Lembre-se do exemplo anterior das bolas de sinuca que não podem
ocupar o mesmo espaço. Mas a regra aqui são as leis do pacto, não as leis da física. A aliança é
hierárquica e as responsabilidades se sobrepõem. Esse tipo de responsabilidade federal não se
divide, antes se multiplica e cresce. Certos princípios-chave são essenciais para compreender
isso.
A responsabilidade pactual dopai não diminui a responsabilidade pessoal de cada filho por
tudo que fazem e pensam; pelo contrário, a fortalece. O pai deve ser cauteloso com a falsa
dicotomia entre individualismo e "patriarcalismo". O individualista diz a cada pessoa na família
que a responsabilidade começa e termina neles. A abordagem "patriarcal" concordaria e, em
seguida, diria que a única pessoa responsável na família é o homem da casa. Se ele é
responsável, então ninguém mais pode fazer qualquer coisa livremente. Essas duas abordagens
estão equivocadas.
O pensamento federal no lar é um ponto de união. Sem esse pensamento pactual, um clima de
adversidade necessariamente irá se desenvolver na família. O marido vê-se de um lado, e a
esposa, de outro. Cada um tem uma perspectiva que julga ser a correta. Novamente, o
pensamento pactual é a base bíblica para que se possa ser capaz de dizer nós de modo que esse
pronome signifique alguma coisa perante o trono de Deus.
A mente pactual não é uma técnica, é sabedoria. Um homem deve sempre ser cuidadoso ao
distinguir uma aplicação de uma conformação indevida. Alguém pode dizer todas as manhãs ao
levantar: "Eu sou o cabeça pactual daqui"; porém mantras pactuais "funcionam" tanto quanto
qualquer outro mantra. Muitas pessoas querem doze passos, ou sete, ou três para solucionar seus
problemas, mas essa abordagem pactual não pode ser manipulada dessa forma.
O pensamento não-pactual, pietista, funciona da seguinte maneira: "Peguei meu filho vendo
pornografia. Não foi isso o que ensinamos pra ele. Como ele pôde fazer isso...?". Agora que o pai
sabe do pecado, ele pensa que é o responsável por dizer alguma coisa; mas ele era responsável
antes de saber. Essa maneira de pensar sugere que o conhecimento traz uma medida de
responsabilidade pessoal — a responsabilidade de exortar outros a respeito das responsabilidades
deles. Mas como notou Ambrose Bierce, aquele sagaz incrédulo, "em questões religiosas,
exortação é a prática de pôr a consciência alheia num espeto e assá-la até que fique
desconfortavelmente tostada". Nesse cenário, o pai usa seu conhecimento como uma arma contra
o filho. Quando o pai nada diz, o filho se desvia. Quando o pai diz alguma coisa, põe o filho para
correr.
Mas o pensamento pactual trabalha da seguinte maneira: "Pai celeste, pode ser que a luxúria
tenha habitado em nosso lar. Chegamos perante ti em nome de Jesus Cristo...". Essa ação se
realiza perante o Senhor. É claro que um homem deve ensinar e instruir. Mas a questão das
responsabilidades pactuais deve estar cravada em seus ossos antes de se lançar à tarefa de
instrução.
Cultivar essa mentalidade irá ajudar a tratar de muitos problemas no lar. Ora, ao enfrentar
"pecados comuns" de um lar, é fácil se concentrar nos pecados comuns que todos conhecem e
reconhecem como pecados — reclamar, brigar, etc. Mas a questão aqui é retroceder um ou dois
passos e tratar de alguns problemas que ajudam a dar forma a esse jardim variado de tentações ao
pecado. E, como deve estar claro, os pecados comuns envolvem a rejeição da responsabilidade
pactual do pai.
CULTIVANDO AS RAÍZES
Frequentemente lidamos com o pecado somente quando seus frutos já se estendem até as últimas
"pontas dos galhos". É possível poupar muita energia espiritual quando se está disposto a tratar
de alguns problemas em sua raiz.
Muitos pais são culpados de negligência pessoal e espiritual. Mas aqueles que não conhecem
a condição de sua própria alma não estão aptos a pastorear outras almas: "A que caiu entre
espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas
e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer" (Lc 8.14). Os pais devem tomar o
cuidado de não negligenciar o estado de sua própria alma. "Como está sua vida com Deus?".
Ativismo não é santidade. Muitos homens, mesmo não sendo ricos ou hedonistas, estão, ainda
assim, atolados em ocupações. Não têm tempo de apresentar seus filhos perante o Senhor em
oração.
Outros homens, às vezes com entusiasmada ajuda da esposa, exibem o que pode se chamar de
isolacionismo defensivo. Buscando ter uma família forte, simplesmente criam uma família
isolada. Mas perceba como Paulo exorta os membros das famílias colossenses: "Esposas, sede
submissas... Maridos, amai... Filhos, em tudo obedecei... Pais, não irriteis" (Cl 3.18-21). O foco
aqui não é o conteúdo das exortações de Paulo, mas antes perceber que elas são dadas no
contexto da igreja. Vivemos em comunidade; a igreja não é um clube de indivíduos isolados.
Isso significa que estamos envolvidos com a vida uns dos outros, o que por sua vez significa que
conhecemos os filhos uns dos outros.
Muitos pais falsamente presumem que conhecem seus filhos melhor do que qualquer outra
pessoa na igreja. Seria mais correto dizer que os pais poderiam conhecer seus filhos melhor se
estudassem a Palavra, e os filhos, com a sabedoria bíblica. Se fizessem isso, então saberiam que
"leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos" (Pv
27.6). Mas muitos pais adotaram uma postura defensiva — "meu filho é um menino muito bom,
etc." — e ninguém pode dizer nada em contrário.
Outros pais não são tão espinhosos e defensivos pela simples razão de que têm todas as suas
defesas preparadas de antemão. Eles se isolaram de tal modo que a prestação de contas com
outros lares cristãos se torna praticamente impossível. Esse é um isolacionismo ignorante. Assim
como o pecado busca as trevas (Jo 3.19), pelo mesmo princípio, ele foge da prestação de contas.
Mas Paulo é claro em sua aplicação de um princípio bíblico contrastante: "Porque não ousamos
classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas eles, medindo-se
consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez" (2Co 10.12). Esse é um
problema comum entre aqueles que praticam homeschooling. Consequentemente, quando os
problemas surgem, eles geralmente não são identificados até que seja tarde demais para fazer
alguma coisa a respeito.
É claro que um pai tolo adepto do homeschooling não resolverá o problema matriculando os
filhos em uma escola cristã. Isso conduzirá ao problema da presunção. Em vez de negligenciar a
comunidade, esse é o pecado de confiar inteiramente na "comunidade". "Tudo que temos a
fazer", se diz, "é enviar nossos filhos a uma boa escola cristã, levá-los a uma boa igreja, e tudo
ficará no lugar certo". Não, não vai. Quando os pais não exercem sábia e constante supervisão
sobre seus filhos, coisas ruins acontecem com frequência e regularidade, pouco importa em que
comunidade as crianças vivam, e pouco importa que escola eles frequentem.
Outros pais querem resolver os problemas familiares tratando de coisas externas
insignificantes. Consequentemente tornam-se tolos, pois estão constantemente buscando as
soluções passageiras da moda. Mas Paulo também proíbe esse comportamento: "para que não
mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento
de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Ef 4.14-15).
Essas modas podem ser divididas em duas categorias — em primeiro lugar, aquelas que se
encaixam exatamente nessa descrição de Efésios e são necessariamente destrutivas em seus
efeitos. Todos os legalismos antibíblicos podem entrar aqui. "Você não é realmente um pai
comprometido a menos que preencha cada um dos mandamentos impostos por nossa associação
de miolos-mole" (mesmo que ela tenha um nome piedoso, exija santidade mediante abstinência
total de bebidas alcoólicas, retidão mediante desprezo à televisão, e assim sucessivamente).
Esse problema com modas podem também incluir, em segundo lugar, as coisas que podem ser
úteis e construtivas se desfrutadas com sabedoria — cortejo, homeschooling, e tudo o mais. Mas
ser precipitado nunca produz sabedoria. Criar filhos é como trabalhar com concreto, e caso
alguém que já trabalhou com concreto não tenha lhecontado, após 45 minutos, você está
esgotado. O tempo é o elemento-chave nessa tarefa; e uma vez passado o tempo, a coisa está
feita.
RECONHECENDO PROBLEMAS
"Você sabe que está em apuros quando...". Uma das maiores perdas de tempo é tentar resolver o
problema de alguém que está convencido de não ter problema algum. Antes de assumir
responsabilidades pela vida de seus filhos perante o Senhor, um pai deve saber que necessita do
ensino da Escritura. Ele deve saber que precisa dos padrões de Deus, e deve saber que precisa da
graça de Deus. Assim, biblicamente, um homem deve saber que tem um problema e precisa
aprender dos padrões e da graça de Deus quando:
a) Seus filhos são rotineiramente desobedientes. "Castiga a teu filho, enquanto há esperança,
mas não te excedas a ponto de matá-lo" (Pv 19.18). "O que retém a vara aborrece a seu filho,
mas o que o ama, cedo, o disciplina" (Pv 13.24). Uma palavra central no último verso é cedo.
Demorar a obedecer é desobedecer. Recusar-se a disciplinar logo à primeira ofensa é o mesmo
que ensinar desobediência.
b) Seus filhos reviram os olhos quando você tenta instruí-los: "Filho meu, guarda o
mandamento de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe" (Pv 6.20; cf. 4.1-4; 13.1). Quando
os filhos não respeitam a sabedoria dos pais ("Ah, mãe!"), há um sério problema no lar.
c) Você se encontra arrumando desculpas para seus filhos. As desculpas assumem duas
formas: lamento e defesa. E a tentação de criar desculpas nasce da natureza do problema: "O
filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe" (Pv 10.1). Quando os
pais são dolorosamente criticados pela conduta de seus filhos, nem sempre pensam corretamente:
"Sê sábio, filho meu, e alegra o meu coração, para que eu saiba responder àqueles que me
afrontam" (Pv 27.11). A tendência ao proverbial "mamãe leoa", que toma o partido dos seus sem
analisar os fatos, certamente destrói os filhos. Do mesmo modo, há grande dano quando um pai
pede desculpas em lugar do filho. A criança precisa aprender a tomar seu próprio remédio.
d) Você se encontra exasperado e frustrado com seus filhos: "Corrige o teu filho, e te dará
descanso, dará delícias à tua alma" (Pv 29.17). As coisas estão fora de controle? Então você está
em desobediência. Quando o lar está andando para onde deveria, nele há descanso e deleite.
e) Seus filhos são mimados: "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele" (Pv 22.6). Como eles devem viver e trabalhar quando
estiverem crescidos? Devem "fazer tudo sem murmurações nem contendas" (Fp 2.14). Essa é
uma lição difícil. Então, é bom começar a aprendê-la desde cedo.
f) Seus filhos são inseguros quanto à identidade masculina ou feminina, ou quanto ao
chamado que possuem: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou" (Gn 1.27). Não vivemos uma neutralidade de gênero até sermos
chamados a assumir nosso papel de marido ou esposa. Antes disso, estamos aprendendo e nos
preparando para esse tempo.
g) Seus filhos são preguiçosos: "O escravo prudente dominará sobre o filho que causa
vergonha e, entre os irmãos, terá parte na herança" (Pv 17.2); "O que ajunta no verão é filho
sábio, mas o que dorme na sega é filho que envergonha" (Pv 10.5). Trabalhar agora é mais difícil
por causa da queda, mas o trabalho em si não é consequência da queda.
h) Seus filhos estão sofrendo porque seu pai não os ama exercendo disciplina: "Porque o
SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem" (Pv 3.12). Um pai
pode confundir seu sentimentalismo com um amor bíblico pelos seus filhos. Mas qualquer
atitude que impeça um pai de disciplinar não é amor, mas algum tipo de imitação destrutiva.
Homens que não disciplinam seus filhos os desprezam.
É claro que nenhum pai pode dizer que tem filhos perfeitos em todas essas áreas. Todos nós
descendemos de Adão; não adianta fingir. Mas, se alguns desses pontos são marcas de um lar,
então está claro que há uma falha nas obrigações pactuais.
Criar nossos filhos é uma obrigação pactual. Como cristãos, sabemos que nenhum pacto é
mantido por nossas obras. Antes, esse pacto, como todos os outros, é mantido por Cristo e nos
apropriamos dele pela fé. Isso significa que os pais devem receber graça pela fé. Ora, a fé que se
apropria é também a fé que age, mas a base para a produção dessa mudança não é a nossa fé.
Essa mudança é produzida pela graça de Deus. Você crê nisso? "Mas a misericórdia do SENHOR é
de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos, para
com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos e os
cumprem" (Sl 103.17-18).
NUTRINDO AS DIFERENÇAS
Como o tema desse livro envolve a questão da masculinidade, algumas coisas precisam ser ditas
sobre treinar e moldar a masculinidade e a feminilidade das crianças. À medida que criamos
nossos filhos perante o Senhor, as distinções entre filhos e filhas devem se tornar cada vez mais
óbvias — para os pais e para o resto do mundo. Três semanas após o nascimento ainda é
razoável a pergunta: "É um menino ou uma menina?". Quinze anos depois, a mesma pergunta
indica problemas.
Nosso objetivo aqui não é ser "tradicional" ou "moderno", mas, antes, bíblico. Dito isso, a
raça humana têm descoberto certas coisas com o passar dos séculos (como o fato de que a grama
cresce para cima, e não para baixo), e isso inclui a verdade de que meninos e meninas são
diferentes. O "igualitarismo" moderno pode ser acusado de duas faltas: como mais uma moda, é
bem provável que esteja errado; e como uma moda moderna, é bem provável que sejamos
afetados por ela. Ao mesmo tempo, a Escritura possui autoridade sobre todas as observações
humanas, não importa quanto tempo tenham.
Falando de meninos e meninas, homens e mulheres, devemos admitir alguma generalização.
Embora generalizar às vezes seja errado, em casos específicos, pode ser algo nobre e necessário
(Mt 23.1ss; Tt 1.12).
Um pai sábio permite as variantes de personalidade entre seus filhos e entre suas filhas:
"Cresceram os meninos. Esaú saiu perito caçador, homem do campo; Jacó, porém, homem
pacato, habitava em tendas" (Gn 25.27). Masculinidade e feminilidade não se produzem com
uma forma especial para modelação de gênero. A mente bíblica aprende a pensar em termos de
princípios, em vez de se apegar aos detalhes.
Os homens foram chamados para glorificar a Deus através do trabalho que são chamados a
realizar no mundo (Gn 2.15). Com respeito às suas famílias, os homens são chamados a proteger
e prover: "Inspecionei, dispus-me e disse aos nobres, aos magistrados e ao resto do povo: não os
temais; lembrai-vos do Senhor, grande e temível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos,
vossas filhas, vossa mulher e vossa casa" (Nm 4.14). E a Bíblia também diz: "Ora, se alguém não
tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o
descrente" (Tt 5.8). Portanto, os meninos devem ser preparados para proteger e prover. Isso
significa que devem aprender a virtude de lutar e a virtude de assumir a responsabilidade do
trabalho de provisão.
As mulheres são chamadas a servir e ajudar um homem: "Disse mais o SENHOR Deus: Não é
bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gn 2.18). E Paulo
diz: "Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também o
homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem" (1Co 11.8-9).
As mulheres devem igualmente trabalhar duro (Pv 31), mas não são responsáveis pelo trabalho
de provisão. Antes, são responsáveis pelo trabalho de servir e administrar. Isso significa que as
meninas devem ser criadas, tal como os meninos, visando a vocação que exercerão quando
adultos.
A Bíblia exige que meninos e meninas tenham aparências distintas (Dt 22.5; 1Co 11.14).
Como foi discutido anteriormente, a Bíblia não é um código de vestuário detalhado. Mas ela
insiste que tenhamosum modo de vestir que não seja andrógino. Não devemos fazer julgamentos
superficiais, tornando absoluta qualquer parte de nossa cultura. Contudo, exige-se que tenhamos
e defendamos uma cultura que distinga macho e fêmea. Embora ninguém nos tempos bíblicos
tenha se vestido com calça jeans e camiseta, somos chamados a refletir diferenças sexuais no
modo como nos vestimos. Ainda que um pai não deva fixar-se em cada detalhe, ele deve ser
zeloso para que haja uma distinção piedosa na maneira como os filhos se vestem.
Essa questão também afeta o modo como as crianças vão à escola. Dois aspectos da educação
de uma criança são importantes e devem ser considerados. O primeiro é o da simples
alfabetização, que dá acesso à Palavra de Deus. Os cristãos são o povo da Palavra, por isso
devemos insistir que nossos filhos sejam também das palavras. Somos cristãos, por isso também
amamos os livros.
Um segundo aspecto deriva do mandato cultural e consiste em exercer domínio nas diversas
áreas para as quais Deus têm nos chamado. Deus não nos chamou para sentar e cruzar os braços.
Ele nos chamou para investigar o mundo e dominá-lo. Isso requer uma educação rigorosa. Os
limites óbvios para essa tarefa devem ser aqueles deixados por Deus e não aqueles que nós
mesmos determinamos. Recusar educar suas filhas é recusar educar os seus netos — e entregar o
domínio àqueles que odeiam a Deus.
Um grande problema para muitos pais é a questão dos esportes. Cada vez que assistimos uma
olimpíada vemos a religião humanista da modernidade com toda a sua força. Não deixe o mundo
ditar o que você "deve" fazer. Os esportes com certeza são lícitos (1Co 9.24-27), e certamente
são líticos para as meninas. Mas não permita que as exigências do atletismo moderno
desbanquem as exigências da modéstia ou dos padrões de conduta feminina.
DISCIPLINA DISCIPLINADA
Todas as sessões anteriores assumem um pano de fundo disciplinar, e por trás de toda nossa
criação e castigo temos de deixar bem claros os princípios que sustentam a disciplina bíblica
consistente. Embora eu tenha discutido com maior detalhe a criação de filhos no livro Standing
on the Promises,5 quero aqui ampliar aqueles princípios dentro do contexto explícito da
paternidade federal, enfatizando certos aspectos em resposta às discussões recentes.
Para começar, um pai não deve se distrair com métodos de disciplina. Embora métodos
bíblicos e métodos biblicamente consistentes sejam importantes, a coisa mais importante para
entender sobre como disciplinar seus filhos são os princípios que a Bíblia ensina sobre o assunto.
A disciplina deve ser administrada com confiança: "A estultícia está ligada ao coração da
criança, mas a vara da disciplina a afastará dela" (Pv 22.15). Deus tem promessas para a
disciplina exercida do modo como ele deseja. Aplicar disciplina sem crer nas promessas que a
acompanham é cinismo. O cinismo pode assumir várias formas: ansiedade, incredulidade, etc.
Muitos pais dirão: "Já tentamos, mas isso não funciona". Primeiro, o que significa: "tentamos
obedecer"? E, em segundo lugar, não funciona porque a forma da religião sem a substância da
religião nunca funciona. A palavra confiança literalmente significa "com fé". Seus filhos devem
ser disciplinados em fé, por meio da fé, e a partir de fé. Um pai federal deve buscar investigar as
promessas de Deus a respeito da disciplina e abraçá-las.
A disciplina, é claro, deve ser afetuosa: "E estais esquecidos da exortação que, como a filhos,
discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies
quando por ele és reprovado" (Hb 12.5). O autor de Hebreus compara a disciplina divina com a
disciplina humana. Um dos pontos de comparação é que a disciplina representa amor, afeição, e
identificação. Na prática, um homem que se recusa a disciplinar seu filho simplesmente o
despreza. Essa rejeição, ou ódio, é fundamentalmente contrário à atitude que os pais cristãos
devem ter para com seus filhos. A disciplina afetuosa dá aos filhos algo para o que retornar após
o arrependimento.
A disciplina deve ser judicial: "Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que
sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também
tentado" (Gl 6.1). Onde quer que uma transgressão ocorra, aqueles que estarão qualificados para
lidar com ela são os espirituais. No lar, isso resulta em uma armadilha comum. Um pai está
qualificado para a disciplina quando ele não tem vontade de disciplinar. E quando ele
emocionalmente tem vontade, não está qualificado. A disciplina da criança deve, portanto,
começar com autodisciplina.
A disciplina deve ser imediata: "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o
homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7). Pelo modo como Deus governa o mundo, não é
incomum que transcorra considerável porção de tempo entre o plantio e a colheita. Assim, um
pai piedoso deve se lembrar de que não está apenas exercendo um princípio, ele está ensinando o
princípio para aquelas jovens mentes. Logo, o tempo entre o plantio e a colheita deve ser tão
curto quanto possível. Mesmo a menor criança entende, a seu modo, a relação entre causa e
efeito; e quanto mais jovem for a criança, mais imediatamente deve ser disciplinada. A Bíblia
ensina isto: "O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina" (Pv
13.24).
A disciplina deve ser dolorosa: "Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser
motivo de alegria, mas de tristeza" (Hb 12.11a). Se a disciplina não é dolorosa, então não se
pode chamar de disciplina. A ternura dos pais, particularmente das mães, é um ponto comum de
tropeço. Essa ternura que se recusa a disciplinar é uma "doçura" que mata. Deus exige de nós que
inflijamos dor àqueles que nos são queridos. O sofrimento relativo à disciplina piedosa é tanto
positivo quanto negativo.
A disciplina imediata e dolorosa não significa dizer que o pai deve ser um ogro, mas
exatamente o contrário. Vemos, em Provérbios 3.11-12, que a disciplina do Senhor exige
conforto e encorajamento depois de aplicada. Se esse é o caso com a disciplina divina, quanto
mais não será necessário quando nossos pais terrenos nos corrigem? "Como um pai se
compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a
nossa estrutura e sabe que somos pó" (Sl 103.13-14).
A Bíblia é clara em suas exigências aos pais quanto a esse ponto: "Pais, não irriteis os vossos
filhos, para que não fiquem desanimados" (Cl 3.21). Não existe meio de provocação mais efetivo
do que uma disciplina inconsistente, cruel, indevida e sem amor. O homem que é incapaz de
amorosamente encorajar seus filhos após a disciplina não está qualificado para exercer disciplina
alguma.
O encorajamento deve incluir instruções adicionais. Se os filhos têm perguntas ou dúvidas,
elas devem ser respondidas. Esse tempo deve também incluir oração. Deus está presente e agindo
por meio da disciplina, e a presença dele deve ser reconhecida. A criança deve estar segura do
perdão. A quebra que havia na comunhão foi reparada, houve restauração. O pai deve ter
especial cuidado em ser amável e gracioso após a disciplina.
Obviamente, a disciplina deve ser efetiva: "Produz fruto pacífico aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça" (Hb 12.11b). Só porque alguma coisa é dolorosa não significa que
isso a qualifica como disciplina. A disciplina é corretiva, enquanto a punição é uma mera questão
de justiça. Quando o magistrado civil manda executar um serial killer, não pretende melhorar o
assassino. O objetivo é punir, não disciplinar. O foco na disciplina é corrigir e mudar o caráter e
o comportamento da criança. Se não está produzindo efeito, então não é disciplina. E a colheita
final pode ser antevista pelos primeiros frutos. Ao dar banho numa criança, você não mensura o
êxito dessa ação pelo tempo que o menino passa embaixo do chuveiro. O sucesso é medido pelos
resultados. Uma parte importante da efetividade na disciplina é a consistência.
A disciplinadeve refletir padrões bíblicos: "E em vão me adoram, ensinando doutrinas que
são preceitos de homens" (Mt 15.9). Um pai nunca deve cair na armadilha de pensar que tudo o
que é "rigoroso" é bíblico. Muitas falsas religiões são rigorosas. Se um homem aplica disciplina
de modo errado, ele pode estragar a cabeça dos filhos pelo resto da vida. Ele não deve confundir
as regras da casa com as regras de Deus. Ele deve ensinar seus filhos a fazer essa distinção
básica. Deus não exige que as crianças pequenas não ponham os pés no assento do sofá. Essa é
uma regra doméstica. Deus requer que as crianças obedeçam aos pais. Essa é uma regra divina. E
é por isso que as crianças devem manter seus pés longe do assento.
Os princípios devem ser aplicados com algum propósito. E quando são aplicados, devem
tomar certo molde ou forma. Quando pais disciplinam seus filhos, deve ser sempre possível ver
claramente os princípios que estão sendo aplicados.
Um bom modo de fazer isso é identificar claramente o pecado em questão. Um pai deve se
lembrar de que a disciplina é ensino. A lição não deve ser: "Certa vez, num passado recente, você
me desapontou ou entristeceu a outros". Em vez disso, a lição deve ser algo como: "Não há
problema em limpar o seu guarda-roupa, mas você deve entender que quando você saiu para
fazer isto, você não está fazendo aquilo que eu disse que você deveria fazer, que era lavar a
louça. Eu aprecio o trabalho que você realizou limpando o guarda-roupa, mas Samuel disse ao
rei Saul que obedecer é melhor do que sacrificar. O que você fez foi desobediência".
O pecado cometido pelo filho deve ser identificado e nomeado. E uma passagem apropriada
da Escritura deve ser mencionada em apoio. A criança deve ser instruída pela Escritura à medida
que é disciplinada pelo pai. Conforme a criança vai sendo disciplinada, devem ser feitas
concessões de acordo com o nível de maturidade. Mas nunca se devem fazer concessões em
assuntos morais. No centro de tudo está o desejo que o pai federal tem de ensinar seus filhos a
honrá-lo e a honrar a mãe deles. Ele não faz isso porque gosta de mostrar que manda, mas porque
quer que seus filhos vivam debaixo das bênçãos de Deus: "Honra teu pai e tua mãe, para que se
prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá" (Êx 20.12); "Filhos, obedecei a
vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro
mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra" (Ef 6.1-3).
Embora todos nós tenhamos o dever de honrar nossos pais, devemos muito mais honrar e
amar a Deus. Isso é fundamental. Nenhum governo humano, nenhum relacionamento humano é
absoluto. Todos eles devem estar abaixo do relacionamento com Deus. Como Jesus ensina:
"Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou
sua filha mais do que a mim não é digno de mim" (Mt 10.37). Ao dizer isso, Cristo não estava
revogando a lei de Deus; antes, a estava confirmando (Mt 19.19). Essa não é uma verdade
limitada à nossa vida emocional; isso afeta aquilo que somos: "Acazias, filho de Acabe, (...) fez o
que era mau perante o Senhor; porque andou nos caminhos de seu pai, como também nos
caminhos de sua mãe e nos caminhos de Jeroboão, filho de Nebate, que fez pecar a Israel" (1Rs
22.52-53). A Bíblia nos diz o que fazer quando nossos pais são ímpios. Nossa lealdade primária
deve ser prestada somente a Deus.
Mas, debaixo da autoridade de Deus, a desobediência ao Quinto Mandamento não é algo
pequeno. Vemos isso primeiro no fato de que essa exigência está posta entre as outras nove.
Também vemos como os escritores do Novo Testamento trataram esse pecado: "pois os homens
serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais,
ingratos, irreverentes" (2Tm 3.2). Ao escrever aos Romanos, Paulo inclui isso numa lista de
grandes formas de impiedade: "caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos,
presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais" (Rm 1.30). Considerando o que
encontramos no texto, a desobediência aos pais não é algo irrelevante.
Honrar aos pais inclui muitos deveres. Primeiro, as crianças devem ser alunas dos pais: "Filho
meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe" (Pv 1.8). Eles devem ter um
desejo claro de agradar a seus pais: "O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a
tristeza de sua mãe" (Pv 10.1; cf. 15.20; 19.26; 23.25). Em correspondência a isso, os filhos
devem dar ouvidos aos pais: "Ouve a teu pai, que te gerou, e não desprezes a tua mãe, quando
vier a envelhecer" (Pv 23.22). Os filhos devem também respeitar as responsabilidades
românticas de seus pais com respeito aos interesses dos filhos: "Porém, se isto for verdade, que
se não achou na moça a virgindade, então, a levarão à porta da casa de seu pai, e os homens de
sua cidade a apedrejarão até que morra, pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu
pai; assim, eliminarás o mal do meio de ti" (Dt 22.20-21). O pai é responsável pela pureza sexual
de seus filhos. Os filhos devem ser receptivos à direção e instrução do pai nesse assunto.
Os filhos têm a obrigação de abençoar seus pais: "Ai daqueles que amaldiçoam a seu pai e
que não bendizem a sua mãe" (Pv 30.11). Relacionado a isso, claro, os filhos devem reverenciar
seus pais: "Cada um respeitará a sua mãe e o seu pai e guardará os meus sábados. Eu sou o
Senhor, vosso Deus" (Lv 19.3).
De forma prática, os filhos devem recompensar seus pais: "Mas, se alguma viúva tem filhos
ou netos, que estes aprendam primeiro a exercer piedade para com a própria casa e a
recompensar a seus progenitores; pois isto é aceitável diante de Deus" (1Tm 5.4). É assim que
Jesus interpreta esse mandamento em Marcos 7.10. Honrar aos pais inclui compromissos
financeiros. Isso corresponde aos deveres anteriores que os pais têm para com seus filhos (2Co
12.14). Esse é um dos deveres que um homem deve buscar cumprir por seus pais, a fim de exibir
um padrão ou exemplo para seus próprios filhos.
Os filhos devem obedecer a seus pais: "Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é
grato diante do Senhor" (Cl 3.20). É óbvio que um filho não deve nunca bater em seus pais:
"Quem ferir seu pai ou sua mãe será morto" (Êx 21.15). É igualmente claro que os filhos não
devem nunca amaldiçoar a seus pais: "Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe será morto" (Êx
21.17; cf. Lv 20.9). E embora ouçamos muitas vezes em nosso mundo moderno que a juventude
é mais sábia do que a velhice, a Bíblia diz que os filhos não devem nunca fazer piadas
desrespeitosas com seus pais: "Os olhos de quem zomba do pai ou de quem despreza a
obediência à sua mãe, corvos no ribeiro os arrancarão e pelos pintãos da águia serão comidos"
(Pv 30.17). Os filhos também não devem demonstrar qualquer tipo de desprezo por seus pais:
"Maldito aquele que desprezar a seu pai ou a sua mãe. E todo o povo dirá: Amém!" (Dt 27.16).
ESCOLHENDO E TOMANDO UMA ESPOSA
Se um pai cria seus filhos e filhas fielmente, então os pequenos terão uma forte tendência a
crescer e finalmente casarem-se, seguindo seu próprio rumo. Como na seção anterior, embora eu
já tenha escrito sobre esses tópicos em Her Hand in Marriage,6 aqui vou expandir alguns
princípios à luz das responsabilidades de um pai federal e à luz do diálogo atual sobre cortejo.
Como um jovem deve buscar uma esposa? Qual deve ser o critério? Primeiro, alguns pontos
importantes sobre o que não fazer. Não distribua cópias deste capítulo na faculdade nem entre na
classe de jovens da igreja anunciando em alta voz que você está pronto para se casar e que está
orando incessantemente a respeito. Isso fará as jovens piedosas fugirem; elas também querem se
casar, mas não com um franco-atirador.
Certas coisas devem ser pontos pacíficos nessa discussão. Um homem não deve nem mesmo
cogitar casar-se com uma mulher que não seja cristã: "Não vos ponhais em jugo desigual com os
incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiçae a iniquidade? Ou que
comunhão, da luz com as trevas?" (2Co 6.14). Um homem não deve nem mesmo considerar
casar-se com uma mulher que tenha se divorciado sem base bíblica (Mt 10.9). Além disso, se ele
se divorciou sem base bíblica (Mt 19.9), então deve esquecer esse assunto. Sendo bem claro,
antes de um homem considerar essa ou aquela mulher, ele deve ter resolvido em sua mente que
irá se casar somente dentro dos limites estabelecidos pela lei de Deus.
Dito isso, chegamos às questões de sabedoria; a tarefa envolve fazer importantes ponderações.
Os vários critérios estabelecidos aqui não estão listados em ordem hierárquica; são simplesmente
considerações que devem fazer parte do pensamento de um jovem homem.
Embora um jovem deixe pai e mãe com o objetivo de tomar uma esposa (Gn 2.24), o conselho
e aprovação de seus pais deve ser parte importante dessa decisão (Gn 28.6-9). Se ele é cabeça-
dura e recusa-se a ouvir conselhos, provavelmente irá se arrepender em seu casamento. Nossa
cultura gosta de fingir que a sabedoria pertence aos jovens, especialmente nas questões de amor.
A Bíblia nos ensina a buscar sabedoria em outro lugar. O caminho de um homem com uma
donzela nem sempre faz muito sentido (Pv 20.18-19).
Um homem deve buscar uma mulher agradável. A Bíblia tem muito a dizer sobre a mulher
rixosa e o incômodo constante resultante da vida junto a ela. "Gotejar contínuo [são] as
contenções da esposa" (Pv 19.13). Alguns homens, não querendo as responsabilidades
associadas à liderança, podem satisfazer-se casando com uma mulher que "dirige" o
relacionamento, mas uma mulher mandona rapidamente se torna uma companhia desagradável.
Devemos desejar o casamento com uma mulher que partilhe conosco da ética bíblica do
trabalho; ela deve entender sua orientação para o lar (Tt 2.3-5). Uma mulher que rejeita o
ambiente doméstico, que deseja viver a vida e um casamento igual ao daquelas bonecas famosas,
deve ser evitada. Um homem bíblico deve desejar uma mulher que queira ter filhos e queira
dedicar-se ao lar.
Ao mesmo tempo, quando um homem está avaliando uma mulher, deve julgar se ela é
sexualmente atrativa para ele. Ele deve banir de seu pensamento todo falso gnosticismo que diz
que o "plano espiritual" é muito mais importante. É claro que é mais importante, mas isso não
torna irrelevante a atração sexual. Quando um homem escolhe uma mulher para dar sua atenção,
deve estar claro em sua mente (e o mesmo se aplica à jovem cristã) que, em alguma medida, uma
de duas coisas está acontecendo. A primeira opção é que o homem está tentando levar a mulher
para a cama de modo desonroso. A outra possibilidade é que ele está tentando fazer isso de modo
honroso. Se isso lhe soa grosseiro, é porque você não aprecia completamente a santidade do leito
conjugal.
Mas, retornando ao ponto anterior, um homem tem de entender que o mundo está cheio de
mulheres sexualmente atrativas que poderão tornar sua vida miserável. Embora a química sexual
seja necessária para um bom casamento, não é de forma alguma suficiente: "Enganosa é a graça,
e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada" (Pv 31.30).
Se um homem e uma mulher vêm de culturas diferentes, as diferenças devem ser levadas
totalmente em conta. A tendência é olhar para tais diferenças com um ar de romantismo e,
quando alguém põe tais diferenças em evidência, minimizá-las com um aceno de mão. "Sim, já
pensamos nisso". Mas pensar "nisso" e considerar conscientemente são duas coisas distintas. Não
se pode dizer que os casamentos interculturais (e aqui poderíamos incluir casamentos inter-
raciais) são antibíblicos. Podemos dizer que eles não devem ser avaliados de modo imprudente.
As diferenças entre homens e mulheres já são grandes o suficiente; se um casal tem de lidar com
outras barreiras culturais à comunicação, isso pode trazer problemas consideráveis. O mesmo se
aplica a certas diferenças "subculturais" — vocacional, regional, etc.
Por fim, um jovem deve saber se a mulher que está considerando o respeita o suficiente para
seguir sua liderança espiritual. Diferenças doutrinárias que podem não ser grandes em uma
"conversa" têm a capacidade de se tornar maiores em uma família quando decisões práticas
precisam ser tomadas. Por exemplo, de que maneira marido e mulher lidam com uma
discordância sobre batismo infantil?
Porque o marido é o responsável espiritual pelo casamento, o jovem homem deve pensar em
tais assuntos com profundidade antes de entrar em um relacionamento. Uma vez que está
cortejando uma mulher e tentando conquistá-la, ele deve começar a pensar sobre como testificar
de suas obrigações pactuais através do modo como realiza seus votos pactuais. Poucos eventos
são tão bem planejados para ressaltar a natureza pactual do casamento do que uma festa de
casamento.
Aqueles que simplesmente seguem as tradições e aqueles que as jogam fora têm ao menos
uma coisa em comum: são igualmente ignorantes. Um preserva aquilo que não conhece; o outro
joga fora aquilo que não conhece. Uma área na qual muitas tradições têm sido desprezadas ou
preservadas sem o devido entendimento é a das festas de casamento. Assim, nos anos 1960,
todos nós começamos a fazer as coisas do nosso próprio jeito: escrever nossos próprios votos,
inventar nossas próprias pequenas cerimônias, e desfilar em volta de nosso pequeno círculo.
Desde então, de alguma maneira, as coisas se acalmaram um pouco, mas nós ainda temos a ideia
de que a cerimônia de casamento pertence ao casal e não à cultura. Chegamos ao ponto de crer
que cada casamento deve ser moldado pela personalidade do casal, em vez de a cultura
reconhecer o casal segundo os costumes de nosso povo.
O que está acontecendo com as festas de casamento também tem acontecido em muitos outros
aspectos de nossa vida cultural com resultado semelhante ao do tempo de Israel, quando se usava
a abordagem do "cada um à sua tenda, ó Israel". Temos um horror pela semelhança, que é a
mesma coisa de detestar a continuidade e estabilidade. No meio desse caos, alguns cristãos têm
feito coro ao clamor geral, querendo repensar tudo e estabelecer do zero seus próprios padrões
para as cerimônias de casamento.
Em contraste, um caminho bem mais sábio seria defender aquilo que podemos chamar de
festa de casamento tradicional, isto é, aproximar-se da adoção de práticas antigas em vez de
inventar novas práticas. Como sempre acontece, quando consideramos o que devemos fazer,
devemos buscar direção final e autoritativa na Escritura.
Essa defesa das cerimônias de casamento tradicionais pode ser dividida em três categorias. A
primeira tem a ver com a descoberta de que muitos elementos de práticas cerimoniais
tradicionais têm raízes na antiguidade e foram seguidas nos casamentos bíblicos do passado. A
segunda categoria são as áreas nas quais temos uma prática correspondente, mas porque somos
santos modernos e pedantes, não praticamos esses costumes com o mesmo entusiasmo. A
terceira categoria inclui as tradições que não adotamos ou que perdemos. Essas, se recuperadas,
podem enriquecer grandemente nossa apreciação dos enlaces matrimoniais. Mas nessa última
categoria, tais adições às cerimônias de casamento devem ser feitas com extremo cuidado e não
como distinções individuais para casamentos individuais. Elas devem ser trazidas aos nossos
casamentos de um modo cultural mais amplo, caso contrário não devem ser incluídas.
Primeiro considere as práticas que temos em comum com as cerimônias bíblicas. Uma das
marcas distintivas dessas bodas era o fato de que a noiva e o noivo estavam gloriosamente
ataviados. Isso era verdade num casamento real, no qual a noiva levava um manto de ouro (Sl
45.13-14), e era verdade nos demais casamentos. A alegria e a glória dos ornamentos da
cerimônia são usadas como figuras maravilhosas de nossa justificação (Is 61.10). O lugar e a
importância da ornamentação nupcial estão implícitos na repreensão que o Senhor faz a Israel:
"Acaso, se esquece a virgem dos seus adornos ou a noiva do seu cinto? Todavia, o meu povo se
esqueceude mim por dias sem conta" (Jr 2.32). É provável que um véu fosse parte da vestimenta
da noiva (Gn 24.65). Nas bodas da ceia do Cordeiro, a noiva se veste de linho finíssimo (Ap
19.8-9). Em cada descrição das cerimônias de casamento que encontramos na Escritura, a noiva
está adornada (Ap 21.2). Smokings e trajes de gala, togas, ternos e véus estão em grande acordo
com o modo como a Escritura descreve um casamento.
Também temos a prática de ter damas de honra e amigos do noivo que permanecem junto aos
noivos na cerimônia. Essa é também uma prática bíblica, embora em pelo menos um caso o
número de acompanhantes tenha sido bem grande: "Sucedeu que, como o vissem, convidaram
trinta companheiros para estarem com ele" (Jz 14.11). De qualquer forma, os acompanhantes do
noivo eram claramente uma parte da cerimônia nos tempos bíblicos. Jesus se refere a seus
discípulos como sendo acompanhantes do noivo (Mt 9.15). Dentre esses, um tinha destaque (Jz
14.20; 15.2) e era chamado de "amigo do noivo" (Jo 3.29); e pode ser que ele tivesse
responsabilidades muito importantes na cerimônia, atuando como um mestre de cerimônias (Jo
2.8-9). Se esse fosse o caso, temos um paralelo com vários deveres que atribuímos a esse amigo
do noivo nos casamentos atuais.
Mas também encontramos algumas práticas comuns que caíram em desuso em nossos dias.
Era comum ter uma festa durante a cerimônia (Gn 29.22; Jz 14). Essas festas não duravam duas
horinhas, e provavelmente não se limitavam a algumas pequenas garrafas de licor. No livro
apócrifo de Tobias7 8.9 se diz: "E celebrou a festa das bodas por quatorze dias". Em nosso
tempo, temos rebaixado essa prática ao que chamamos de "recepção". Em contraste, a prática
bíblica era de celebrar uma festa. Hoje muitas pessoas vão às recepções de casamento por causa
de um senso de dever e não porque a festa vai ser gloriosa. Esse é claramente um aspecto em que
precisamos melhorar.
Os casamentos nos tempos bíblicos era um grito cultural de júbilo. Terrível juízo foi
prometido a Judá quando Deus diz: "Farei cessar nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém a
voz de folguedo e a de alegria, a voz de noivo e a de noiva; porque a terra se tornará em
desolação" (Jr 7.34). No livro apócrifo de Primeiro Macabeus8 9.37-41, encontramos uma festa
de casamento descrita no meio de uma batalha: "Erguendo os olhos, eles se puseram de espreita,
e eis que em grande tumulto e com grande aparato, o esposo saía com seus amigos e seus
irmãos na direção dessa, com tambores, instrumentos de música e uma considerável equipagem.
Os companheiros de Jônatas saíram então de seu esconderijo, e lançaram-se sobre eles, para
massacrá-los". "Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o
casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo,
não podem jejuar" (Mc 2.19; Mt 9.15). Essa festa de casamento inclui boa música: "O fogo
devorou os jovens deles, e as suas donzelas não tiveram canto nupcial" (Sl 78.63).
Em seu ensino, Cristo pressupôs que as roupas especiais de um casamento não se limitavam
ao casal. Todos que iam a um casamento tinham roupas especiais: "E perguntou-lhe: Amigo,
como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu" (Mt 22.1-14). Um aspecto no qual
poderíamos melhorar seria acabar com a prática comum de deixar as acompanhantes da noiva tão
desalinhadas quanto possível, na tentativa de fazer a noiva parecer melhor. Em uma cerimônia
bíblica, todos estão vestidos adequadamente — noiva e noivo, os que participam da cerimônia, e
os convidados.
Nossos casamentos normalmente têm um discurso para o noivo e noiva na recepção. Isso
talvez possa ser melhorado se conscientemente chamarmos esse momento pelo que ele é — uma
bênção: "Abençoaram a Rebeca e lhe disseram: És nossa irmã; sê tu a mãe de milhares de
milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus inimigos" (Gn 24.60). Também
vemos a grande bênção dada a Boaz e Rute: "Somos testemunhas; o SENHOR faça a esta mulher,
que entra na tua casa, como a Raquel e como a Lia, que ambas edificaram a casa de Israel" (Rt
4.11). Essa bênção pode ser incorporada à cerimônia de casamento ou à festa que a segue, e seria
pronunciada pelas famílias da noiva e do noivo.
As mudanças e reformas sugeridas devem ser adotadas com muita cautela — caso sejam
adotadas — mas talvez umas poucas alterações possam ajudar a tornar as coisas mais claras.
Temos vários gestos simbólicos em nossas cerimônias de casamento: nosso antigo costume de
trocar alianças e inovações como a vela da unidade. Um costume que não praticamos, mas que
seria bom recuperarmos caso seja possível, é utilizar algum símbolo como cobrir-se com um
manto. Nas passagens a seguir, as frases "sob tua serva" e "estendi sobre ti" se referem à prática
de estender um manto sobre a noiva: "Disse ele: Quem és tu? Ela respondeu: Sou Rute, tua
serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és resgatador" (Rt 3.9). Quando Deus
falou sobre tomar Israel como noiva, ele usou a mesma figura de cobrir como um sinal de
proteção e segurança pactuais: "Passando eu por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era
tempo de amores; estendi sobre ti as abas do meu manto e cobri a tua nudez; dei-te juramento e
entrei em aliança contigo, diz o Senhor Deus; e passaste a ser minha" (Ez 16.8). Para um
exemplo hipotético, isso pode ser feito com muita elegância se o noivo tiver uma espécie de capa
nupcial que ele use para cobrir sua noiva após os votos.
Os judeus tinham outro costume em seus casamentos que parece impossível de ser resgatado
(e eu não estou defendendo que se traga tal costume de volta), embora o princípio subjacente
deva ser recuperado. Nos tempos bíblicos, o casal recém-casado não saía voando para um quarto
de motel em outro estado; eles eram escoltados até o quarto do noivo, que havia sido preparado
num dos aposentos do local da festa: "o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija
como herói, a percorrer o seu caminho" (Sl 19.5; Jl 2.16; Gn 29.23; Cf., também, Tobias9 7.16–
8.1). Ninguém está pedindo um retorno à consumação das relações na mesma casa em que se
realiza a festa de casamento, mas há um princípio que precisa ser redescoberto: o abandono de
certo excesso de pudor. Um casamento pactual é um pacto público construído em torno de um
relacionamento sexual privado. Em uma cerimônia bíblica de casamento, os cristãos devem
comparecer à igreja para testemunhar os votos que marcam o início de uma vida sexual em
fidelidade. Aqueles que nem sequer conseguem admitir isso têm um real problema com as
cerimônias do Antigo Testamento, nas quais o noivo escoltava sua noiva à sua câmara sob
aplausos e aclamação geral dos convidados. Precisamos crescer um pouco.
Por fim, notável pelo que deixou de ter, o casamento bíblico não é uma proclamação
sacerdotal feita por um ministro que transforma homem e mulher em "marido e esposa". Quanto
antes abandonarmos essa tolice, melhor. A igreja tem um importante papel a desempenhar no
testemunho dos votos, e um ministro pode, com propriedade, declarar que os votos foram feitos,
mas o ministro não é um sacerdote e nem autor do casamento. O casal não está perante ele para
ser "transubstanciado".
Todos os governos estabelecidos por Deus têm um papel a desempenhar no testemunho desse
pacto. Porque o casamento envolve propriedade, a autoridade civil deve ser testemunha de todos
os casamentos, e cada casamento deve ser registrado junto aos magistrados — mas não
licenciado pelo magistrado. Do mesmo modo, a igreja deve testemunhar cada casamento e pode
administrar os votos no casamento, mas a igreja não "cria" nada no casamento. Cristo é Senhor
dos casamentos.
Essa abordagem final da cerimônia de casamento nos leva de volta ao tema com o qual
comecei este livro. Cristo aceitou sua noiva pactualmente, e os maridos são ordenados a amarem
a esposa como Cristo amou a igreja. Meu propósito tem sido mostrar que isso significa que nossa
teologia do amor de Cristo irá determinar como amamos nossa esposa. Se ateologia de um
homem é verdadeiramente bíblica, e por isso federal, então ele irá de fato amar sua esposa como
Cristo ama a igreja, "a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus,
ataviada como noiva adornada para o seu esposo" (Ap 21.2).
5 Standing on the Promises [Firmes nas promessas: um manual para a educação bíblica de filhos] faz parte da série best-seller
sobre família e será publicado em breve pela Editora Clire.
6 Her Hand in Marriage [Sua Filha em Casamento: Cortejo bíblico no mundo moderno] faz parte da série best-seller sobre
família e será publicado pela Editora Clire.
7 Um dos livros apócrifos aceitos pela igreja católica romana como sendo inspirados. Os protestantes, porém, não reconhecem
tais livros como sendo inspirados e nem como tendo alguma autoridade. A Confissão de Fé Belga (1561), um dos padrões
doutrinários das Igrejas Reformadas, esclarece: "A igreja pode ler e tirar deles instrução até onde concordarem com os livros
canônicos. Mas não têm nenhum poder nem autoridade que possam confirmar pelo seu testemunho qualquer artigo da fé ou da
religião cristã; muito menos podem diminuir a autoridade dos livros sagrados." (artigo 6). — N. do E.
8 Veja a nota 7.
9 Veja a nota 7, página 130.
Títulos da Série
Créditos
PRÓLOGO
O MARIDO FEDERAL E CRISTO
O Que Significa "Federal"?
Liderança e Pacto
Como Cristo Amou a Igreja
Quando não se Está Onde se Deveria Estar
O MARIDO FEDERAL CONTRA SI MESMO
Vendo a Sua Própria Nuca
Trate-a como uma dama
Reações Machistas
Sinais Masculinos
Roupas
Cabelo
Adereços
Homens Trabalhadores
Coisas maiores que as riquezas
Sensualidade
Preguiça
Armadilhas financeiras
O MARIDO FEDERAL E A SOCIEDADE
Masculinidade e Cultura Hierárquica
Segurança Masculina
Eu e a Minha Casa
Mulheres em Combate
O PAI FEDERAL
Incrível Beleza
Fruto Pactual
Cultivando as Raízes
Reconhecendo Problemas
Nutrindo as Diferenças
Disciplina Disciplinada
Escolhendo e Tomando uma Esposade Cristo é Deus. Isso não significa que Cristo seja menos
do que Deus em seu ser ou natureza, mas que o Pai exerce autoridade sobre o Filho. O Filho é
igual ao Pai com respeito à sua natureza; os teólogos descrevem isso em termos do que se chama
de ontologia da Trindade. Mas com respeito a como o Pai e o Filho se relacionam um com o
outro, o Pai tem toda a autoridade. Os teólogos descrevem isto em termos daquilo que se chama
de economia ou administração da Trindade.
Dentro do Deus trino, o Pai é o cabeça administrativo do Filho. Isso significa que ele tem
autoridade sobre o Filho com respeito aos seus papéis. O Filho é igual ao Pai em seu ser e
natureza, mas não considerou essa igualdade como algo a ser perseguido (Fp 2.5-8). Ele se
submeteu à vontade do Pai, e tal submissão jamais foi vista por qualquer cristão ortodoxo como
sendo admissão de inferioridade em relação ao Pai.
Em nosso mundo igualitarista moderno, a submissão é sempre vista como uma forma de
derrota ou, de algum modo, inferioridade. Mas caímos nesse erro porque não pensamos mais de
maneira trinitariana. Vemos a submissão como sinônimo de inferioridade porque não
entendemos a deidade de Cristo e sua total submissão ao Pai.
Por sua vez, podemos ver se entendemos bem a doutrina bíblica da Trindade pelo modo como
funciona a relação matrimonial entre homem e mulher. Um homem que tem sua esposa debaixo
de seus pés é um ariano — a heresia que subordina Cristo ao Pai declarando que ele é um ser
criado. Um homem que abdica de sua autoridade funcional sobre sua esposa — aquele que cede
ao igualitarismo feminino — é um sabeliano. Essa é a heresia que não vê distinção real, mas
apenas nomes diferente entre as pessoas da divindade.
O cabeça do homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem. Mas essa liderança não
implica inferioridade. Paulo nos ensina que a mulher é, ontologicamente, igual ao homem.
Macho e fêmea foram criados à imagem de Deus (Gn 1.27), e Paulo enfaticamente declara que
em Cristo as diferenças entre os sexos são inexistentes:
Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de
Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a
promessa (Gl 3.26-29).
Um homem e uma mulher que vivem juntos como marido e esposa vivem juntos como
indivíduos iguais em essência. Pedro exige que os homens vivam juntos com suas esposas,
lembrando-se de que elas são com eles coerdeiras (1Pe 3.7). Contudo, na esfera administrativa, o
marido é o cabeça: "porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da
igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo" (Ef 5.23). Vale lembrar nesse ponto que a palavra
"administração" vem de uma palavra grega que significa "lar".
Bem, alguém pode querer presumir que simplesmente estávamos com a liderança pactual em
mente e, por isso, a encontramos em todas as partes da Escritura. Depois que um homem
encontra um martelo, tudo se parece com um prego. Mas esse ensino não é um exemplo de
sistematização forçada da teologia pactual. Como vimos, a adúltera descrita em Provérbios
abandonou o companheiro da sua juventude, a aliança do seu Deus, e os homens em Malaquias
estava sendo castigados em razão do modo como tratavam a esposa da aliança. Além disso, na
linguagem do pacto, a Bíblia pressupõe a liderança pactual. De fato, não há outro tipo de
liderança na Escritura. Assim, o casamento é claramente descrito na Bíblia como uma instituição
pactual.
Mas esse ensino envolve muito mais do que simplesmente uma expressão. Precisamos olhar
mais de perto os dois paradigmas centrais na Escritura para a liderança — a já mencionada
liderança de Adão e a de Cristo. A relação que existe entre nós e Adão é claramente pactual.
Porque estamos organicamente unidos a ele por aliança, quando ele pecou no Éden, todos nós
pecamos como representados nele. Ele pecou pactualmente e nos colocou diante de Deus como
rebeldes: "Eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim"
(Os 6.7). Em seu pecado, nós pecamos. Mas a liderança federal de Adão é mais claramente vista
na descrição bíblica da liderança de Cristo. Cristo é amplamente descrito como o cabeça do seu
povo, e é descrito como sendo como Adão nesse aspecto. Em sua misericórdia, Deus nos tirou do
pecado do mesmo modo como caímos nele. Da mesma forma que o pecado do primeiro Adão
nos condenou, a obediência do segundo Adão nos resgatou. Contudo, a morte reinou de Adão a
Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, que é um
tipo daquele que estaria por vir (Rm 5.14-15).
Paulo trata do mesmo ponto em sua discussão sobre a ressurreição em 1Coríntios: "Pois assim
está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito
vivificante" (1Co 15.45). "Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos
serão vivificados em Cristo" (1Co 15.22). Juntando estas passagens, vemos que Adão e Cristo
são descritos como cabeças pactuais ou representativos de seu respectivo povo. É desse modo
que nossos pecados podem ser imputados a Cristo, e a sua justiça pode ser imputada a nós. Em
Adão, eis a nossa condenação. Em Cristo, eis a nossa glória e salvação. E, no casamento, eis o
tipo de relacionamento que Deus ordena que os maridos imitem.
Devemos também entender o que isso não significa. Antes de entender o que significa a
autoridade no casamento, devemos nos arrepender de todo o nosso individualismo. No
casamento, não temos dois indivíduos separados um do outro estando um deles em posição de
autoridade. Ao invés disso, temos uma união orgânica sobre a qual somos instruídos a que não
seja esquizofrênica. Toda a tolice da macheza é inconsistente com as realidades pactuais
descritas aqui.
Um entendimento adequado dessas verdades também exclui o jogo da culpa. Um marido não
pode mais culpar sua esposa pelo estado do casamento, assim como um ladrão não pode culpar
suas próprias mãos por seus crimes. Como Cristo assumiu responsabilidade por aquilo que ele
não cometeu, assim também os maridos devem estar dispostos a fazer o mesmo por sua própria
esposa.
Obviamente, marido e esposa podem cometer pecados no casamento. Mas todos esses
pecados ocorrem no contexto de um pacto e dentro da esfera da responsabilidade federal de um
cabeça. A responsabilidade por todos esses pecados, portanto, recai sobre o marido. A esposa
pode e deve reconhecer seus pecados perante o Senhor; a responsabilidade global de seu marido
não deve de forma alguma diminuir o senso de responsabilidade pessoal e individual da esposa.
Se isso for adequadamente entendimento, deverá surtir precisamente o efeito oposto. Quando
uma esposa entende que seu marido é responsável e sabe que ele assume voluntariamente essa
responsabilidade, ela será mais responsável como indivíduo, e não menos. Do mesmo modo que
a salvação federal de Cristo torna um homem livre para fazer o que é correto, assim um marido
liberta sua esposa à medida que assume responsabilidade sobre ela.
Geralmente lutamos com o que acreditamos ser o conflito entre essa responsabilidade federal
e a responsabilidade pessoal, porque o individualismo de nossa era nos tem ensinado a pensar na
responsabilidade em termos de ou um ou outro, e não em termos de um e outro. Mas a
responsabilidade federal do marido e a responsabilidade da esposa não devem ser entendidas
como se fossem bolas de sinuca diferentes que não podem ocupar o mesmo espaço. Uma esposa
pode pensar: "ou eu sou responsável, ou ele é responsável". E algumas vezes buscamos dividir a
responsabilidade: 50% de cada, ou 70% sua e 30% minha. Mas sempre pensamos que o resultado
da soma será 100%.
É assim que a hostilidade toma lugar no casamento. "Você está aí, e eu estou aqui, e cada qual
tem o seu ponto de vista". Mas o pensamento pactual fornece base bíblicapara sermos capazes
de dizer nós estamos aqui.
Responsabilidade pactual desse tipo não causa divisão; antes, causa multiplicação e ascensão.
O pensamento federal preserva a personalidade dos indivíduos; não a aniquila. A consciência de
responsabilidade pactual por parte do marido não diminui a responsabilidade pessoal de sua
esposa em tudo que ela faz e pensa; antes, fortalece essa responsabilidade.
Essa mentalidade não é condenatória, mas libertadora — um marido que considera isso sabe
exatamente o que tem de fazer. É algo difícil, mas não impossível. É algo simples de entender, o
que é bom, porém é difícil de cumprir. Um homem tem de engolir seu orgulho, o que é algo
difícil, e então levantar-se e fazer uma coisa muito simples. Cada doutrina vive à medida que é
aplicada, e não pode ser de outra forma. A aplicação desta doutrina é simplesmente questão de
ter uma mente obediente. Não é uma questão de técnica; mas de uma mentalidade de sabedoria.
COMO CRISTO AMOU A IGREJA
Se este livro tem um refrão central, é que os maridos devem amar a esposa como Cristo amou a
Igreja. Para muitos homens cristãos isso significa simplesmente que Cristo amou muito a Igreja e
que os maridos devem buscar fazer o mesmo. Mas o que isso realmente significa é que os
maridos devem amar a esposa federalmente, que foi a forma como Cristo amou a Igreja.
Considerando a grandeza da natureza do amor divino expresso na cruz, podemos apenas começar
a esboçar o que isso significa. E quando pensarmos que já terminamos, nossos dias serão poucos
para falar sobre o que ainda precisamos aprender.
Primeiro, devemos nos lembrar daquilo que a Bíblia ensina sobre o amor sacrificial de Cristo.
Temos banalizado de muitas formas a nossa compreensão de tal evento — camisetas em
promoção nas lojas evangélicas mostram Cristo com braços estendidos dizendo que nos amou
"muitão assim". Vemos aí o que acontece entre nós quando a teologia da cruz é esquecida.
Quando o significado da crucificação é negligenciado, os homens mantêm a memória da
crucificação, mas começam a focar sobre seu aspecto físico — as feridas, os açoites, os cravos
nas mãos. A Bíblia é clara ao dizer que Cristo sofreu fisicamente, mas que não foi isso o que
encheu sua alma de horror ao contemplar a morte que se aproximava. João nos diz que o coração
de Cristo se angustiou à medida que considerava seu destino nas mãos de homens pecaminosos:
"Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas
precisamente com este propósito vim para esta hora" (Jo 12.27).
Cristo estava horrorizado pela ideia de ser abandonado por seu Pai. Sabemos que ele se fez
pecado sobre a cruz por nós. Ele nunca pecou, mas se tornou pactualmente pecaminoso e
consequentemente esteve debaixo do juízo de Deus: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2Co 5.21). Foi por isso que
Cristo clamou em desespero: "À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá
sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mc 15.34). Na
expiação, Cristo foi ferido e afligido por Deus.
Sem a união federal ou pactual de Cristo com o seu povo, nada disso possui qualquer sentido
moral. Se um homem é culpado de um crime hediondo, o que haveria de justo em matar a outro
em razão de tal crime? Se nos apressamos em explicar que a vítima substitutiva era inteiramente
justa e nada tinha feito de errado, isso apenas torna as coisas piores.
Se Cristo fosse meramente um indivíduo perfeito e nós um grupo de indivíduos imperfeitos,
então aquilo que nos é declarado como sendo o evangelho seria simplesmente uma
monstruosidade moral. Porque Deus é bom, sua morte substitutiva por seu povo deve ter uma
base justa para tal substituição. À parte da genuína união com Cristo, a execução de um homem
pelos pecados de outros é algo pavoroso. Mas a união que temos com Cristo é descrita na Bíblia
como a união de um Adão com sua nação, um cabeça federal com o seu povo. A Bíblia não
ensina qualquer outro tipo de união de Cristo com seu povo. Eis por que a cruz é uma
demonstração de justiça e não uma monstruosidade. Eis por que na cruz Deus estava sendo ao
mesmo tempo justo e justificador (Rm 3.26).
Ora, quando essa compreensão da cruz é negligenciada, como tem sido em nossos dias, isso
não significa que a cruz em si foi esquecida. O sentimentalismo descrito anteriormente tem
domínio, e está uniformemente explícito pela ênfase na angústia física de Cristo sobre a cruz. Tal
angústia é apresentada na Bíblia, mas é apresentada na figura de discurso chamada de sinédoque,
na qual uma parte pode ser dita pelo todo. "Uma mão lava a outra", mas todos sabemos que uma
mão, sozinha, não faz nada. A palavra "mão" é usada aqui para representar a pessoa inteira ou
pessoas que se ajudam. Do mesmo modo, somos redimidos pelo sangue de Cristo (Ef 1.7). Seu
sangue e suas chagas representam tudo aquilo que ele fez por nós na cruz — o derramamento de
seu sangue até à morte enquanto ele esteve pendurado num madeiro debaixo da maldição de
Deus. Cristo nos redimiu da maldição da lei fazendo-se maldição em nosso lugar (Gl 3.13). Esse
"fazer-se maldição" é essencial para entender esse ponto. Como pode um homem inocente
tornar-se maldição em favor de homens culpados? A questão não pode ser respondida fora da
união pactual.
O marido encontra-se em uma união pactual com sua esposa. Ele é instruído a viver nessa
união com a mente de Cristo. Podemos talvez enxergar quão importante é isso se fôssemos
atribuir a Cristo todas as várias coisas que os maridos fazem. Um homem que é o cabeça de sua
esposa está pregando todos os dias sobre Cristo e a Igreja — sua obediência ou desobediência irá
determinar se sua pregação está cheia de mentiras ou não, mas a própria natureza de sua relação
com a esposa significa que, querendo ou não, ele está pregando isso.
Dá para imaginar Cristo murmurando contra sua esposa diante do Pai, dizendo: "A mulher
que me deste"? Dá para imaginar Cristo culpando a Igreja com um dedo acusador? Dá para
imaginar Cristo desejando estar com outra? Imaginar qualquer uma dessas situações seria um
completo absurdo. Quando um homem aprende isso e começa a tratar sua esposa de uma maneira
coerente com tal visão, ele logo percebe a diferença entre ligações sentimentais e identidade
pactual.
Cristo amou sua esposa com um amor eficaz; ele amou a Igreja de um modo que a
transformou. Do mesmo modo, um marido deve assumir a responsabilidade de tornar sua esposa
cada vez mais encantadora. O sujeito casa-se com uma mulher bonita e espera, cruzando os
dedos, que ela vai conseguir se manter assim. Mas um marido federal casa-se com uma mulher
bonita e jura perante Deus e testemunhas que irá nutri-la e cuidar dela de tal modo que ela
floresça em tal beleza. Cristo tornou a sua Igreja encantadora por meio de seu amor. O homem
cristão é chamado a fazer o mesmo. O amor pactual concede graciosidade. O compromisso
federal transmite beleza.
O amor de Cristo foi também um amor encarnado. O Verbo não amou a Igreja de longe. Em
vez disso, ele tomou a forma de servo e esvaziou-se. O amor de Cristo por sua Igreja literalmente
encorpou-se em sua vida sacrificial. Seu amor não foi medido por aquilo que ele sentia; foi
medido por aquilo que ele realizou. Evidentemente, aquilo que ele realizou foi aquilo que
desejou fazer; mas a Bíblia proíbe a separação entre intenções e ações. O amor deve ser definido
como uma ação legítima do coração. Gostamos de separar as duas coisas, agindo como um
fariseu rigoroso friamente dentro da lei ou como os místicos das igrejas que apelam às emoções.
O amor de Cristo se define em termos daquilo que ele fez — e tudo aquilo que fez, ele o fez
de todo o coração. Do mesmo modo, os maridos devem amar a esposa com esse tipo de amor
"encarnacional". Isso se relaciona com a instrução de Paulo aos homens para que amem a esposa
como ao seu próprio corpo: "Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao
próprio corpo. Quem ama a esposaa si mesmo se ama" (Ef 5.28).
Um homem não cuida de seu próprio corpo esporadicamente. Como Paulo afirma, ninguém
jamais odiou a própria carne. Imagine um homem levando seu corpo a um restaurante somente
no dia de seu aniversário, e presenteando-o somente em seu aniversário de casamento. Não. O
relacionamento do homem com seu corpo é muito mais do que isso... é contínuo. De uma
maneira ou de outra, um homem lida com seu próprio corpo a cada minuto de cada dia. E quando
um homem faz aquilo que Paulo exige, ele ama sua esposa desse modo contínuo, encarnado.
Como discutimos anteriormente, Cristo amou seu povo com um amor responsável. Em seu
amor, ele tomou sobre si todos os pecados de seu povo. Esses foram pecados que ele não havia
cometido pessoalmente e pelos quais não tínhamos nenhum direito de culpá-lo. E ainda assim,
com base na união pactual, ele assumiu responsabilidade. A base de nossa salvação é nada
menos do que o fato de Cristo ter assumido essa responsabilidade.
Da mesma forma, um marido pode não ser o culpado por determinado problema em seu
casamento, mas quer esteja em falta ou não, ele permanece responsável. Cristo jamais esteve em
falta em qualquer coisa que Deus colocou sob sua responsabilidade, e ainda assumiu a
responsabilidade por todos os nossos pecados. Alguém pode pensar que nós, maridos, quando
temos parte na culpa pelos problemas, achamos mais fácil assumir a responsabilidade. Mas a
nossa carne reclama, e não queremos assumir um miligrama de responsabilidade além do que
consideramos nossa culpa — e geralmente nem isso queremos. Outro modo de dizer isso é dizer
que os maridos não querem amar a esposa da maneira como a Bíblia ordena.
Dizendo de modo simples, marido e mulher são indivíduos privados e individualmente
responsáveis por aquilo que fazem. Quando o marido peca, ele deve confessar o pecado. Quando
a esposa peca, ela deve confessar o pecado. Mas essa confissão individual não cobre o aspecto
corporativo do casamento. O casal junto é uma pessoa corporativa. Assim, além de ser um
indivíduo privado, o marido é também uma pessoa pública; ele está investido de um ofício. Ele
agora veste um manto invisível de seu ofício de esposo, e em tal ofício, ele tem a
responsabilidade pelo estado espiritual da família. Seu nome é, digamos, João, enquanto pessoa
privada. O nome da esposa enquanto pessoa privada é Maria. Mas o nome dele como pessoa
pública é João da Silva, e nesse sentido de representação e responsabilidade, ele representa os
Silva.
Em último lugar, Cristo amou seu povo com um amor "instrucional". Cristo purificou sua
Igreja com a Palavra, tal como os maridos devem fazer. O Senhor é não somente nosso sacerdote
e rei, mas é também o profeta que instrui o seu povo. Nas cartas de Paulo, ele exige que o marido
ensine a própria esposa do mesmo modo. A ordem não é para que acumule informações; ele deve
lavar a esposa com a água da Palavra "para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da
lavagem de água pela palavra" (Ef 5.26).
Paulo pressupõe que os maridos serão equipados para responder às perguntas da esposa: "Se,
porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para
a mulher é vergonhoso falar na igreja" (1Co 14.35). Muitas mulheres hoje podem exclamar: "Por
que eu deveria perguntar a ele? Ele não sabe a resposta!". Isso porque os homens negligenciaram
a responsabilidade que Escritura dá a todos os maridos. Os homens creem que não têm de saber
porque pensam que não possuem responsabilidades quanto à instrução. Mas como Cristo
purificou a Igreja com a Palavra de Deus, os maridos devem fazer o mesmo com a esposa.
Isso deve sempre ser feito no contexto da expiação substitutiva de Cristo. Sempre que o
ensino religioso é separado do sacrifício de Cristo na cruz, ele degenera em moralismo insípido.
E quando os maridos instruem a esposa sem ter o panorama da expiação moldando seu
pensamento, essa instrução irá exibir somente uma forma piedosa de pensamento com a essência
de cada palavra borrada e desfigurada.
Mais frequentemente, quando os maridos perdem o entendimento da cruz, eles chegam ao
ponto de não dar instrução nenhuma da Palavra à esposa. É claro que, como cabeça da esposa,
um marido ignorante continua ensinando, mas as lições dirão que Cristo está mais interessado no
futebol transmitido pela tevê do que na comunhão com sua noiva.
QUANDO NÃO SE ESTÁ ONDE SE DEVERIA ESTAR
Mas como a liderança federal funciona em situações de desordem? Talvez um casal tenha se
casado quando os dois ainda não eram cristãos, e depois o esposo se converte. Ou talvez ele
fosse um cristão que desobedientemente se casou com uma incrédula. Ele se arrepende depois,
mas, obviamente, permanece casado. Talvez marido e mulher sejam ambos cristãos professos,
contudo, por ele ter abdicado de sua autoridade piedosa, ela se desviou a tal ponto que o marido
simplesmente não sabe se é capaz de liderá-la. Embora a maioria dos homens cristãos casados
não esteja nessa situação, não podemos dizer que esse tipo de problema é extremamente raro.
Claro que os sintomas podem variar. Ele pode estar desgostoso com a forma como a esposa
gasta o dinheiro, com os hábitos dela quanto à televisão, com o peso dela, com a rejeição de sua
liderança, com a preguiça em cuidar da casa, a falta de resposta às suas iniciativas sexuais, ou
qualquer outra coisa. Seja qual for o problema, o que é que um marido deve fazer? Suponha por
um momento que ele realmente queira servir a Deus em seu casamento, e que ela aparente ser
distintamente rebelde quanto a mudar qualquer de seus hábitos. Que caminho o esposo deve
tomar?
Primeiro, o marido, no que diz respeito a si mesmo como "pessoa privada", deve confessar a
Deus seus próprios pecados como indivíduo, pecados que têm contribuído para a situação. A
julgar pela média, tais pecados serão numerosos e podem até mesmo incluir a decisão inicial de
casar-se com ela. Em outras palavras, para tomar um exemplo aleatório, se seu nome é João,
então comece confessando os pecados de João.
Em segundo lugar, o marido, como "pessoa pública", deve começar a confessar o estado
pecaminoso de seu lar perante Deus, assumindo total e completa responsabilidade pelo modo
como as coisas estão. Lembre-se de que o marido é um indivíduo, mas é também um oficial —
está investido com o ofício de esposo. Nesse status, ele não é seu próprio dono, mas é uma
pessoa pública — ele representa outros. As responsabilidades de uma pessoa pública não são a
mesma coisa que a culpa de uma pessoa privada. Quando uma esposa negligencia seus deveres, a
culpa do pecado é dela. A responsabilidade pela negligência da esposa é do marido.
O marido deve, portanto, confessar, diariamente, o estado pecaminoso de seu lar perante Deus
e sua responsabilidade por ele, até que haja mudança. Uma "esposa problemática" não pode ser
tratada como um carro quebrado. Por causa da natureza orgânica e pactual do casamento, o
problema nunca é "um problema com ela", mas "um problema nosso". E quem é que diz esse
"nosso", senão o porta-voz responsável por esse lar específico perante Deus? O marido é quem
deve dizer: "esse é um problema nosso", tendo aprendido a importância de tal confissão
corporativa. Se seu nome é João da Silva, ele deve aprender a confessar os pecados da "família
Silva", e deve fazer isso como o representante pactual dessa casa.
Terceiro, quando ele tiver aprendido (e não antes disso) a assumir total responsabilidade
perante Deus pela condição espiritual de seu lar e as ramificações dessa lição estiverem
entranhadas em sua medula, o marido deve então sentar-se e conversar com sua esposa. Nessa
conversa, ele deve assumir completa responsabilidade pelo modo como as coisas estão. É
provável que ele tenha anteriormente culpado sua esposa muitas vezes, tanto em seu coração
como em voz alta, e essa não deve ser uma reedição hipócrita das mesmas coisas. Enquanto
reconhece a realidade da negligência e culpa individual dela perante o Senhor, sua fala não deve
ser acusatória. Após terreconhecido sua própria responsabilidade e suas falhas em exercê-la
adequadamente, ele deve então esclarecer quais as suas expectativas quanto à esposa no futuro.
Deve também deixar clara sua completa recusa em intervir para fazer por ela aquilo que ela foi
negligente em fazer ou tolerar, por mais um tempo, o velho jeito de fazer as coisas.
Quarto, suas expectativas por mudança não devem ser exaustivas, mas, em vez disso,
representativas. Ele deve querer tratar do problema em princípio, não no todo. O propósito dessa
discussão não é apresentar uma lista de vinte anos de reclamações — o amor não guarda mágoas
— mas antes ajudá-la a aprender a cumprir seus deveres e liderá-la à medida que ela aprende
aquilo que, para ela, é uma difícil lição. Ela pode aprender sobre um problema representativo.
Porém, ficaria sobrecarregada com exigências em todas as áreas, todas de uma só vez. Se, por
exemplo, o problema dela é ser uma péssima dona de casa, o marido deveria exigir coisas muito
simples, por exemplo, que os pratos sejam lavados após a refeição e antes que qualquer outra
coisa seja feita.
A primeira vez que os pratos não estiverem lavados, o marido deve imediatamente sentar-se
com sua esposa e gentilmente lembrá-la de que isso é algo que tinha de ser feito. Em momento
algum ele deve se exasperar, ameaçá-la ou insultá-la, etc. Ele deve constantemente lembrar e
confessar que ele, e não ela, é o problema. Ao chamar gentilmente a atenção da esposa para tais
coisas, o propósito não é primariamente de apontar a necessidade que ela tem de arrepender-se;
ao invés disso, ele está exibindo os frutos de seu próprio arrependimento.
O esposo deve fazer isso sem rancor e sem um espírito acusador, até que ela cumpra ou se
rebele. Se ela cumpre, ele deve avançar mais um passo, agora requerendo que outro dos deveres
da esposa seja feito. Se ela continua a se rebelar após esse esforço paciente, ele deve em algum
ponto chamar os presbíteros da igreja e pedir uma visita pastoral. Quando o governo do lar falha
a tal ponto, e quando fracassam os esforços consistentes e piedosos por parte do marido para
restaurar a situação, então é perfeitamente adequado o envolvimento dos presbíteros da igreja.
D
CAPÍTULO 2
O MARIDO FEDERAL CONTRA SI MESMO
VENDO A SUA PRÓPRIA NUCA
eus nos deu sua Palavra para que pudéssemos ver a nós mesmos. Quando examinamos
nosso próprio coração, há muita coisa que não podemos ver. Por isso a introspecção não é
o caminho para o autoconhecimento, mas para a confusão. O estudo da Palavra de Deus é
o único caminho adequado para se obter um entendimento adequado de nós mesmos. E para que
possamos nos ver adequadamente, sempre temos de nos olhar no espelho da Palavra: "Porque, se
alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num
espelho, o seu rosto natural" (Tg 1.23).
Quando tomamos a Escritura desse modo, Deus nos capacita a ver coisas que normalmente
não vemos — por exemplo, a parte posterior de nossa própria cabeça espiritual. Especificamente,
os maridos podem começar a ver suas responsabilidades biblicamente definidas, bem como
alguns dos pecados mais comumente cometidos por eles.
Algumas vezes a Escritura nos ensina de maneira direta. Quando Paulo exige que os maridos
amem a esposa como Cristo amou a Igreja, ele não está dando voltas. Mas a Escritura muitas
vezes irá ensinar por meio de implicações que são claramente extraídas de uma passagem que
trata primordialmente de outro assunto. Um exemplo disto pode ser encontrado em Êxodo 21.10,
na lei que regula e restringe a poligamia: "Se ele der ao filho outra mulher, não diminuirá o
mantimento da primeira, nem os seus vestidos, nem os seus direitos conjugais". Em outras
palavras, nessa situação, o marido só tinha permissão para tomar uma segunda esposa se ele
pudesse manter certos deveres maritais básicos com respeito à primeira. Esses deveres maritais
eram, respectivamente, as relações conjugais, provisão de roupas e provisão de comida.
A Bíblia é a Palavra de Deus, mas deve-se admitir que as palavras espirituais da Escritura
com frequência assumem uma acepção bem mais terrena do que poderíamos esperar. Não
deveria nos surpreender, por exemplo, se o autor de Provérbios nos exortasse a trocar o óleo do
motor do carro a cada 6.000 quilômetros e fazer rodízio entre os pneus. Somos tentados a pensar
que tais coisas não são importantes para a Escritura porque somos mais gnósticos do que cristãos
em nossa maneira de pensar. O entendimento bíblico é que ao Senhor pertence a terra e tudo o
que nela se contém. A visão gnóstica é que as coisas espirituais são sempre "de cima" e fora de
alcance, ou "internas" de modo que não podemos tocá-las, e o que importa não é o que acontece
aqui e agora. A exigência bíblica é muito diferente dessa visão.
Considere as exigências da lei mencionada em Êxodo 21. O marido tem uma responsabilidade
básica perante Deus de fazer amor regularmente com sua esposa, de manter sua dispensa cheia, e
de encher também o guarda-roupa dela. Isso é muito diferente do "seja infinito enquanto dure"
dos sonetos de amor, e do que ensinam os eventos sobre o romance cristão como a base do
matrimônio.
Ora, alguém pode alegar que estamos esquecendo de que Êxodo 21 trata de uma lei que lida
com a poligamia. É verdade, e por isso o argumento é ainda mais forte. Se Deus exigia que um
polígamo agisse assim com sua primeira esposa, quanto mais um monógamo não deveria
adequar-se a esse padrão? Ou será que alguém diria que agora, na era cristã, com a monogamia
estabelecida como a norma para o povo de Deus (1Tm 3.2; Ef 5.25), Deus tem em sua infinita
sabedoria nos restringido a uma única mulher para que possamos aprender a tratá-la pior do que
se exigia na Antiga Aliança?
Um homem deve amar sua esposa como Cristo amou a igreja. Mas isso não se refere a
qualquer expectativa divina de que experimentemos emoções transcendentais. Isso diz respeito a
uma provisão eficaz e muito terrena. Essa provisão deve ser o que Deus exige, e devemos supri-
la da forma que Deus exige. Um homem pode até mesmo desviar-se da fé caso falhe em cumprir
esta ordem: "Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem
negado a fé e é pior do que o descrente" (1Tm 5.8).
O dever das relações sexuais contínuas é claramente apresentado por Paulo quando diz: "O
marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu
marido" (1Co 7.3). Há pessoas modernas e liberais que gostam de zombar disso, pensando que se
as relações sexuais forem um dever, isso de alguma forma exclui o romance, a excitação, a
chama original. O que supostamente nos levaria a pôr um fim em nossa pobre vida de luxúria
seria aquela combustão instantânea entre homem e mulher, como nesses filmes de hoje em dia
feitos para arrancar suspiros profundos. Mas qualquer pastor que saiba o que é aconselhar um
casal que não pode mais nem sequer tocar um ao outro, conhece o quão fajuta é a ajuda dessa
doutrina do romance espontâneo. E nossa geração, despedaçada pelo divórcio, deveria ser um
pouco mais humilde ao dar conselhos a respeito de satisfação sexual em longo prazo.
Os homens também precisam aprender a negar a si mesmos à medida que proveem as esposas
daquilo que não é sexual. A piada de que a diferença entre homens e meninos é o preço de seus
brinquedos contém mais verdade do que desejamos reconhecer. Muitos homens nunca
abandonaram seus brinquedos (armas, carros, barcos, bicicletas, varas de pesca, etc.), enquanto a
esposa tem de lutar para pôr comida na mesa ou se vestir. Quando isso acontece, tais homens
estão longe dos padrões de Deus.
Os homens cristãos devem cuidar para que esses deveres fundamentais sejam cumpridos. E
isso não se faz "permitindo" que a esposa arrume um trabalho para que possa prover para si
mesma. Em nossa era de avareza e descontentamento, muitas são as desculpas apresentadas
("Não se pode viver sem dois contracheques hoje em dia"), as quais nos permitem enviar nossa
esposa para o trabalhoa fim de ajudá-la a manter-se. Mas, se um homem não é capaz de prover
sua esposa com comida e roupas, então ele está biblicamente desqualificado para ser um marido.
Não tem o direito de casar-se. Em uma época na qual muitas mulheres estão mais qualificadas do
que muitos homens para a tarefa de assumir uma esposa, não é de surpreender que a confusão de
gênero seja tão crescente.
Mas a mordomia bíblica das finanças nunca pode ser desempenhada mediante o desperdício
de dinheiro. Um importante princípio deve estar ligado a tudo isso. Se um homem tem uma
esposa que não é tão responsável quanto deveria em gastar com roupas e comida, ele é o
responsável por supervisionar os gastos dela. Um homem pode ser um mau provedor tanto por
proporcionar uma abundância de coisas sem sentido como pela falta de provisões necessárias.
Mas, se ele serve a Deus com suas duas mãos, então seu trabalho é recebido como culto
espiritual, bom e aceitável. E ele trabalhará para suprir as necessidades da sua esposa nessas três
áreas. Quando essas responsabilidades são negligenciadas, certos pecados comuns irão surgir.
Um pecado óbvio é o de recusar assumir responsabilidade. Como já vimos, o homem é o cabeça
da mulher (1Co 11.3). A única dúvida, portanto, é saber se ele vai aceitar ou recusar encarar esse
fato. Muitos homens cristãos se recusam, e isso é visível em seu casamento.
Ligado a isso está a recusa em ser masculino. Em 1Corínrios 16.13, Paulo ordena aos corintos
que portem-se varonilmente em sua santificação. A palavra usada literalmente significa "ajam
como homem". Especialmente na área do casamento, os homens precisam aprender a ser
homens.
Outro pecado é o da infidelidade mental. As palavras de Jesus são bastante conhecidas: "Eu,
porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já
adulterou com ela" (Mt 5.28). Isso inclui, mas não se limita à luxúria provocada pelas revistas,
colegas de trabalho, filhas e esposas de amigos, imagens da Internet, filmes, músicas, imaginação
ou sonhos, ou qualquer outra coisa que talvez você possa listar.
Alguns maridos pecam por serem grosseiros e amargurados. Paulo enfatiza que o amor inclui
não se amargurar com a conduta da esposa (Cl 3.19). Outros homens optam pelo antigo pecado
da ignorância. Não é exagero dizer que a mulher possui uma natureza complexa. Por isso, Pedro
exige que o marido trate a esposa com discernimento (1Pe 3.7). A Palavra de Deus não permite
que um homem falhe nesse ponto. O marido deve estudar a esposa, e deve fazê-lo de acordo com
aquilo que Deus revelou em sua Palavra.
TRATE-A COMO UMA DAMA
Por mais difícil que seja para os homens entenderem este conceito, a fraqueza feminina não é
fraqueza em si. Nenhuma mulher deve jamais ser avaliada à parte do propósito divino de sua
criação. Tampouco o homem. Deus fez cada um de nós, homem e mulher, para uma missão
específica e nos equipou para essa missão. À medida que essa missão varia, o equipamento
também varia.
Já que uma das forças do homem é simplificar, os homens tendem a avaliar todas as coisas de
acordo com esse critério (fixado em sua mente desde o primário), melhor ilustrado pelas disputas
de luta livre ou competições de corrida. Para um homem, a vida é simples: o mais forte e o mais
rápido é melhor. E como a vida é também uma competição, cada um é avaliado pelo critério de
estar ou não "vencendo". Infelizmente, não são poucas as mulheres tolas que têm sido arrastadas
a essa mentalidade. E, ironicamente, chamamos de "feminismo" essa tentativa das mulheres de
serem mais parecidas com os homens, o que seria mais ou menos como chamar de felinismo a
tentativa de um gato de parecer-se com um cachorro.
Quando essas tentativas não funcionam, e de fato não têm funcionado, embarcamos em outra
direção. Assim, nossa era igualitária vive insistindo que, por alguma razão, devemos agora
aprender a respeitar a "diversidade". Mas, em razão de suas premissas relativistas, não nos é
apresentada nenhuma razão coerente para agirmos desse modo. Sem confiança no design criador
de Deus, não temos razão para respeitar coisa alguma, quanto menos a diversidade. A feminista
moderna reclama que devemos respeitar seus aspectos distintivos, isso após ter passado décadas
tentando abolir tais distinções, tentar competir com os homens no mundo masculino, e fracassar
em diversas tentativas. Uma resposta pode ser a seguinte: iremos respeitar suas peculiaridades
quando vocês apresentarem algum. Nós te daremos a preferência quando você aprender o que é
cortesia.
Mas tal atitude somente é apropriada para aquelas mulheres que abandonaram a dedicação ao
lar em busca daquele grande privilégio moderno de jogar as crianças na creche. A mulher
biblicamente sábia ri de qualquer tentativa de transformar a mulher em seu reverso. A posição da
mulher é honrada e respeitada na Escritura e deve também ser honrada por todos os cristãos. O
quinto mandamento exige que os filhos honrem aos pais. A responsabilidade do pai é ver que
esse mandamento geral é honrado em suas aplicações específicas. Uma das mais importantes
aplicações é a de honrar a mãe do lar.
É claro que os filhos devem honrar pai e mãe. Esse é um mandamento com promessa; os pais
que se preocupam com os filhos irão insistir para que eles aprendam a guardar esse mandamento
(Ef 6.1-4). E isso não porque os pais têm prazer em dar ordens, mas porque estão buscando a
bênção de Deus para seus descendentes. Uma parte importante de ensinar essa lição —
particularmente para os filhos homens — é o respeito e a honra que um marido demonstra à sua
esposa na presença de seus filhos. Inevitavelmente, os filhos aprendem pelo exemplo de seus
pais. Podemos dar a eles um bom exemplo ou um mau exemplo, mas nunca temos a opção de
não dar exemplo algum.
Um marido nunca deve falar à sua esposa como se ela fosse uma das crianças. Uma atitude
condescendente está completamente fora de questão. Tampouco deve interferir nas decisões dela
na frente dos filhos ou discutir com ela ou rebaixá-la de alguma forma. Se a discussão sobre um
ponto discordante for absolutamente necessária, isso deve ocorrer fora da vista das crianças. O
pai deve insistir para que os dois, pai e mãe, sempre se apresentem como um só na frente dos
filhos. Exagerando esse ponto por motivos didáticos, diria que lá pelos 16 anos é que os filhos
deveriam se dar conta que seus pais são na verdade duas pessoas.
O pai deve liderar em gratidão. Ele deve ser o primeiro a agradecer à esposa pelas refeições
que ela preparou, elogiar a aparência dela e o trabalho de manter a casa em bom estado. Ele deve
dizer "muito obrigado" várias vezes por dia, e deve insistir que seus filhos aprendam a fazer o
mesmo.
Um homem deve insistir que seus filhos honrem aqueles que devem ser honrados, e a primeira
pessoa nessa lista deve ser sua esposa, a mãe deles. Ainda me lembro que quando eu era uma
criança meu pai nos advertiu sobre três pecados cardeais que poderíamos cometer enquanto
crianças: "mentir, desobedecer, e desrespeitar a mamãe", nessa ordem. Ora, honra significa muito
mais do que a mera ausência de desrespeito, e as melhores oportunidades para se ensinar sobre o
dever de honrar ocorrem no momento de disciplinar o filho que a desrespeitou.
Como iremos desenvolver em capítulo posterior, um homem deve ensinar a seus filhos sobre
a beleza da gravidez. Nossa geração tem um ódio patológico pelo ventre materno, como se
evidencia na imbecilidade de nossa cultura abortiva para com as crianças. Um entendimento
distinto deve ser estabelecido num lar cristão, no qual o homem honra sua esposa que está
grávida, e cujos seios estão cheios de graça disfarçada de leite. Quando a mulher dá à luz, o
aspecto radiante que seu rosto adquire, dado pelo Senhor, deve ser notado e louvado por seu
marido. O marido deve honrar sua fertilidade. Quando um homem honra sua esposa em todos
esses aspectos, e muitos outros não mencionados, ele está na verdade fazendo duas coisas:
ensinando seus filhos a ter respeito pela mãe e, além disso, incentivandoneles um alto respeito
pela outra metade do quinto mandamento. Ele está ensinando seus filhos a respeitá-lo também, e
está fazendo não ao exigir respeito, mas ao respeitar. Em vez de buscar ser respeitado, ele serve e
ensina o respeito. É evidente que um homem que insiste no respeito e na honra para com a
esposa é ele mesmo um homem honrado. Um homem dificilmente alcança maior altura do que
quando se levanta para uma dama.
Tal respeito pelas mulheres não é ceder ao feminismo, mas, pelo contrário, é o único antídoto
a ele. A falta de discernimento nos círculos cristãos com respeito à verdadeira natureza do
feminismo é atualmente uma pandemia. Como resultado, nos são oferecidos certos "machismos"
como oposição ao feminismo, o que somente reflete essa confusão.
REAÇÕES MACHISTAS
Parece que o único golpe contra nós que somos capazes de entender é o golpe com um daqueles
machados de desossar animais. Se fosse formada uma organização que se dedicasse a "abolir o
casamento como o conhecemos e exterminar todos os homens disponíveis", os cristãos com
"valores tradicionais" veriam o perigo, se mobilizariam, e lutariam, quem sabe até com bons
resultados.
Mas mesmo assim, passados uns dez anos, muitos cristãos iriam pacificamente adotar a
premissa central dos inimigos e começar a difundir essa grande inovação como "simplesmente
aquilo que a igreja de hoje precisa" se queremos ser "relevantes" e comunicar o evangelho "com
eficácia no mundo moderno". A capitulação desnecessária e a subserviência seriam alardeadas
como vitória. O abaixar-se seria difundido como levantar-se. A busca por relevância faria com
que a preocupação com a verdade fosse silenciosamente abandonada.
O feminismo é um ensino muito perigoso, mas parte de seu perigo pode ser visto em sua
versatilidade e sutileza. É por isso que uma adoção sutil do feminismo está acontecendo em dois
tipos diferentes de respostas machistas ao feminismo. Uma é tipificada pela abordagem do
Promise Keeper para a renovação masculina. Mas está também acontecendo na reação
"neoamish" em favor do lar e contra a modernidade. Cada um desses movimentos, a seu próprio
modo, vive em paz secreta com o feminismo e está sutilmente fazendo avançar o cerne da agenda
feminista. Isso não está sendo feito de forma consciente ou explícita, mas está claramente
ocorrendo.
A premissa central, que tem sido adotada por esses dois movimentos, é que a perspectiva
feminina, seja ela qual for, é normativa. De um lado da principal vertente evangélica, isso
acontece quando os homens são ensinados a como se relacionar com outros homens do modo
como as mulheres se relacionam umas com as outras. Esse é um problema comum com a
abordagem dos Promise Keeper na hora de inculcar masculinidade. Os homens reúnem-se em
pequenos grupos para aprender como se relacionar uns com os outros em um nível de maior
proximidade. Em outras palavras, eles se juntam para aprender a se relacionar uns com os outros
da mesma forma que as mulheres costumam se relacionar umas com as outras. A masculinidade
"real" é descrita como sendo sensível, aberta, responsiva, íntima, cuidadosa, e por aí vai (a única
coisa que fica faltando é um implante de seios).
Assim, os homens que têm sido masculinos e ímpios passam a confundir as duas coisas e
abrem mão da masculinidade para que possam se tornar mais piedosos. Mas quando um homem
peca, ele peca como um homem. A solução é lidar com o pecado e não com a parte do "como um
homem". A resposta ao pecado masculino não deve ser a efeminação, mas uma abordagem
masculina da piedade.
Contudo, há sempre uma vala nos dois lados da estrada. Do lado reacionário, podemos ver o
mesmo padrão na reação tradicionalista à modernidade. A perspectiva da mulher sobre o lar e a
família é aceita como normativa e imposta a todos os membros da família. Porque a mulher está
dedicada ao lar, todos os outros membros da casa devem estar também. Quando as mulheres
decidiram que pertenciam ao mercado de trabalho, elas saíram para trabalhar, e muitos homens
mansamente acompanharam esse experimento. Agora muitas mulheres decidiram que o mercado
de trabalho não é lugar para elas (inclusive muitas feministas seculares), e decidiram voltar de
novo ao lar. Mas entre muitos tradicionalistas cristãos, as mulheres decidiram que os homens
devem acompanhá-las. Muitos homens têm pacatamente se submetido mais uma vez. Mas à
medida que os homens adotam uma perspectiva centrada no lar, a qual Deus projetou apenas
para as esposas, eles estão de fato traindo a esposa.
O problema, como sempre, é o da abdicação masculina. Devido ao constatado vácuo de
liderança, certos livros que propõe esse paraíso centrado no lar estão frequentemente circulando
entre as mulheres, e então as esposas descontentes insistem com os maridos para que "voltem
para casa". Na prática, isso se traduz no ensino de que os homens devem ter sua casa como local
de trabalho, e que somente os "assuntos familiares" são legítimos. Um homem que sai de carro e
passa o dia num escritório supostamente está comprometido com o espírito de nossa era.
Bem, é importante enfatizar que não há problema quando acontece de um homem trabalhar
em casa, seja porque tem uma loja em sua porta ou porque produz no terreno próximo de onde
mora. O problema não está no que o homem faz; o problema está nos seus motivos. Se um
homem trabalha num negócio de família porque é algo que ele acredita que Deus o chamou a
fazer, então isso é bom e justo. Mas, se ele acredita que o trabalho dirigido para o lar é algo
obrigatório, então ele perdeu de vista o ensino da Escritura. É claro que, da mesma forma, se um
homem sai para o escritório simplesmente porque aprendeu a fazer isso com a modernidade, ele
também não está conformando seu trabalho ao padrão da Escritura.
Somente o ensino bíblico é normativo. A perspectiva masculina não é normativa para o
casamento e a família, e a perspectiva feminina também não. Nem o tradicionalismo nem a
modernidade têm autoridade, senão somente os mandamentos de Deus. Deus criou homens e
mulheres com orientações diferentes, e ele é o único com a autoridade de designar seus papéis. A
mulher foi orientada para o lar. O marido foi orientado a liderar sua esposa nessa orientação e
ajudá-la à medida que ela mesma o auxilia. Mas, embora a ame, ele não deve partilhar de sua
orientação.
No ensino da Bíblia, vemos muitos exemplos de vocações que são legítimas e que levam um
homem para fora de casa. Isso é visto inicialmente na ordenança da criação e no comentário que
o apóstolo Paulo faz a esse respeito. Adão foi criado para cuidar do jardim e exercer domínio
sobre a terra. Eva foi criada para ajudá-lo a fazer isso. Em outras palavras, a criação dela estava
subordinada a ele, e a tarefa divinamente designada para ela era a de ajudar o marido a cumprir a
missão dele. Para fazer isso, as mulheres são instruídas "a serem sensatas, honestas, boas donas
de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada" (Tt 2.5).
Ela faz isso porque foi criada para ele e não o contrário: "O homem não foi criado por causa da
mulher, e sim a mulher, por causa do homem" (1Co 11.9).
Inúmeras vocações legítimas não podem ser dirigidas para o lar. Entretanto, os homens
empregados em tais vocações precisam de um lar para servir a Deus de modo efetivo. Por
exemplo, Cornélio era soldado (At 10.1-2) e um homem temente, piedoso. Erasto era tesoureiro
da cidade (Rm 16.23) e um irmão em Cristo. Ele, provavelmente, não tinha um computador para
que pudesse fazer seu trabalho de casa. A esposa excelente em Provérbios 31 é administradora
do lar; ela não teme a neve sobre o seu teto (v. 21). Esse não seria o caso, se o marido dela
estivesse em casa, supervisionando seu trabalho, ou acompanhando-a ao supermercado, dizendo
a ela quanto deve comprar de feijão. Ele está onde deveria estar, fora de casa, sentado nos
portões com os anciãos da cidade (v. 23).
Novamente, isso não se aplica aos homens que talvez tenham um escritório em casa ou que
dividem as tarefas daeducação dos filhos em casa. Há muitas boas razões práticas pelas quais se
pode e deve gerir com sucesso um negócio de família em casa. Mas aqueles homens que
aceitaram a visão de que um homem deve voltar-se para o lar como uma exigência bíblica
necessária merecem uma severa repreensão — não por causa de seu tradicionalismo masculino,
mas justamente pelo problema oposto: a efeminada abdicação da masculinidade.
Claro que não devemos louvar aqueles homens que gastam tempo demais fora do lar; tempo
que somente a mãe, e nunca o pai, dedica aos filhos. Mas o oposto não é a solução de forma
alguma. Não devemos louvar aqueles homens que ficam em casa tentando fazer com que os
filhos tenham duas mães. Isso é nada mais do que uma versão tradicionalista reformulada de
Heather e suas duas mamães.1
O problema é muito mais do que um simples equívoco. Os erros aqui envolvem tantas
confusões que, sem a maravilhosa intervenção da graça de Deus, os lares cristãos em nossa
nação serão irremediavelmente destruídos. Aquilo que hoje é chamado de "masculino",
simplesmente não o é. E aquilo que se chama de restauração da masculinidade, também não o é.
Podemos imaginar que as mulheres começassem a restaurar sua feminilidade mascando fumo?
SINAIS MASCULINOS
Estamos acostumados à nossa crença relativista e andrógena de que as manifestações culturais de
masculinidade e feminilidade são infinitamente flexíveis. Como todos os falsos conceitos, esse se
torna mais plausível de acordo com a medida de verdade que há nele. Certas distinções entre os
sexos são culturalmente relativas, mas daí não se segue que todas as distinções se enquadrem na
mesma categoria.
A noção de "masculinidade" é algo de que se pode facilmente zombar e, como consequência,
passa a ser difícil de ser defendida. O propósito dessa seção é discutir os sinais externos de
masculinidade em três áreas: roupas, cabelo e adereços. Vivemos em uma cultura andrógena, e o
mundo em volta de nós está trabalhando incansavelmente para que atenuemos todas as distinções
possíveis entre os sexos. A tarefa do marido e pai cristão é, por meio de sua própria maneira de
viver e ao ensinar bem sua família, evitar o obscurecimento dessas distinções.
ROUPAS
Deve estar claro para nós que não há neutralidade em parte alguma. O relativismo é perigoso em
todas as suas formas. Isso é verdade com respeito às nossas roupas e muito mais ainda com
respeito à coisas simples como modéstia. A visão moderna das roupas é a de que tudo é válido
desde que estampe o símbolo de uma marca famosa em algum lugar.
Mas o modo como um homem se veste pode indicar sua condição espiritual: "Então, disse
Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no
vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes" (Gn 35.2). Um exemplo ainda mais drástico
pode ser visto em Lucas 8.27: "Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem
possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém
vivia nos sepulcros".
Não é de surpreender que nossa salvação seja representada em termos de roupas: "Desperta,
desperta, reveste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupagens formosas, ó Jerusalém,
cidade santa; porque não mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo" (Is 52.1). Poucos
capítulos depois, Isaías reitera o ponto: "A consolar todos os que choram e a pôr sobre os que em
Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de
louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados
pelo SENHOR para a sua glória" (Is 61.3).
Em muitas outras passagens, a Escritura se refere aos homens refletindo seu sofrimento e dor
por meio de suas roupas: "Então, Jacó rasgou as suas vestes, e se cingiu de pano de saco, e
lamentou o filho por muitos dias" (Gn 37.34). Algumas vezes isso era feito publicamente, e
noutras, simplesmente perante o Senhor: "Tendo o rei ouvido as palavras da mulher, rasgou as
suas vestes, quando passava pelo muro; o povo olhou e viu que trazia pano de saco por dentro,
sobre a pele" (2Rs 6.30).
Inversamente, as roupas são usadas para refletir a libertação de um estado de dor: "Então,
Davi se levantou da terra; lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes, entrou na Casa do SENHOR e
adorou; depois, veio para sua casa e pediu pão; puseram-no diante dele, e ele comeu" (2Sm
12.20).
Em uma ocasião festiva, como um casamento, a roupa é algo importante: "Entrando, porém, o
rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial e
perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu" (Mt 22.11-12).
Isaías sabia diferenciar um traje de festa de uma calça jeans: "os vestidos de festa, os mantos, os
xales e as bolsas" (Is 3.22). O pregador de Eclesiastes entendeu o mesmo: "Em todo tempo sejam
alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça" (Ec 9.8).
A roupa revela status social: "E despirá o vestido do seu cativeiro, e ficará na tua casa, e
chorará a seu pai e a sua mãe durante um mês. Depois disto, a tomarás; tu serás seu marido, e ela,
tua mulher" (Dt 21.13).
Quando Tamar enganou seu sogro, ela o fez em parte por meio de suas roupas: "Ela despiu as
vestes de sua viuvez, e, cobrindo-se com um véu, se disfarçou, e se assentou à entrada de Enaim,
no caminho de Timna; pois via que Selá já era homem, e ela não lhe fora dada por mulher. (...)
Levantou-se ela e se foi; tirou de sobre si o véu e tornou às vestes da sua viuvez" (Gn 38.19).
Normalmente não vemos o quanto o relativismo tem invadido nosso pensamento. Esse é
particularmente o caso em qualquer julgamento estético. Mas a Bíblia faz esse tipo de
julgamento estético o tempo todo. Considere o exemplo de Abigail. Quando a Escritura afirma
que ela era uma mulher formosa e inteligente, isso significa que há uma coisa chamada beleza
nas mulheres. Isso pode soar como uma observação do "senso comum", mas considere quão
desesperadamente nossa cultura resiste à noção de qualidade objetiva em tudo aquilo que
envolve a beleza.
No entanto, a neutralidade estética não existe — nem mesmo em nosso guarda-roupa:
"Tomou Rebeca a melhor roupa de Esaú, seu filho mais velho, roupa que tinha consigo em casa,
e vestiu a Jacó, seu filho mais novo" (Gn 27.15). Ezequiel diz: "Estes eram teus mercadores em
toda sorte de mercadorias, em pano de púrpura e bordados, tapetes de várias cores e cordas
trançadas e fortes" (Ez 27.24). Quando Acã caiu no pecado da cobiça, parte da tentação era uma
veste: "Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma
barra de ouro do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na
terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo" (Js 7.21). E vemos que Noemi deu um bom
conselho a Rute: "Banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não
te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber" (Rt 3.3).
Com esse pano de fundo, podemos entender os alertas bíblicos com respeito às roupas. Por
exemplo, não devemos fazer julgamentos superficiais: "Se, portanto, entrar na vossa sinagoga
algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre
andrajoso, e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes: Tu, assenta-te
aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui abaixo do
estrado dos meus pés" (Tg 2.2-3). São as diferenças qualitativas de valor que se apresentam
como tentações em primeiro lugar.
Mas qualidade, de acordo com a Escritura, também pode ser levada ao extremo. Por exemplo,
Jesus repreendeu o vestir-se de modo extravagante quando disse: "Que saístes a ver? Um homem
vestido de roupas finas? Ora, os que vestem roupas finas assistem nos palácios reais" (Mt 11.8).
A aparência de Herodes não se comparava em nada ao look masculino de João Batista. E, é claro,
orgulhar-se de sua aparência é algo que foi descartado por Cristo: