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Adolescências Unidade 1. As adolescências 2 APOIO TÉCNICO Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social (LEPES) Coordenação do projeto Mayra Antonelli Ponti Autoria Mayra Antonelli Ponti Julia Teodoro da Silva Luccas Tonon Zanelatto Simao Larissa Renata de Oliveira Samanta Rodrigues Mariano Izabela Aparecida de Souza Victor Augusto Both Eyng Leitura crítica Aline Pereira Rennó Coordenadora Institucional Juliana Castelo Branco Paz da Silva Coordenador Adjunto Gabriel Maldonado Fabbro Sarturato Coordenador Pedagógico Francisco Wellington Borges Gomes FICHA TÉCNICA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO | MEC Ministro da Educação Camilo Sobreira de Santana Secretário Executivo Leonardo Barchini Rosa Secretária de Educação Básica I SEB Katia Helena Serafina Cruz Schweickardt Diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica Alexsandro do Nascimento Santos Coordenadora Geral de Ensino Fundamental Tereza Santos Farias Coordenadora de Projetos Érika Botelho Guimarães Técnica em Assuntos Educacionais Ananda Carrias Lima Sousa Analista administrativa Letícia Ribeiro da Costa do Carmo Técnica em Secretariado Isaene Francisco Cordeiro dos Santos Consultoria Especialista Allan Greicon Macedo Lima Lívia Prado Martins Stael Borges Campos Victor Augusto Both Eyng Comitê Gestor Nacional do Programa Escola das Adolescências (CONAPEA) Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) Vitor de Angelo - Presidente Roseane Vasconcelos – Secretária de Estado da Educação de Alagoas União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) Alessio Costa Lima - Presidente José Marques Aurélio de Souza – Dirigente Municipal de Educação de Jucás/CE, Presidente da Undime Ceará Magda Elaine Sayão Capute – Dirigente Municipal de Educação de Vassouras/RJ. 3 PÓS-PRODUÇÃO CEAD/UFPI UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Reitora Nadir do Nascimento Nogueira Vice-Reitor Edmilson Miranda de Moura CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA Diretora Lívia Fernanda Nery da Silva Vice-Diretor Ildemir Ferreira dos Santos Coordenadora do Setor de Diagramação e Revisão de Material Maria do Socorro de Andrade Oliveira Supervisora do Setor de Diagramação e Revisão de Material Mariana Barros Pereira Análise Pedagógica Maria Elenice Pereira da Silva Revisão Elizandra Dias Brandão Projeto Gráfico e Diagramação Jader Cleiton Damasceno de Oliveira 4 Sumário A. Compreendendo as especificidades da adolescência: análise do desenvolvimento adolescente para um cuidado responsivo ......... 6 Análise das particularidades do desenvolvimento adolescente para um cuidado responsivo ......................................................................................................... 9 Atividade: ........................................................................................................................................ 13 B. Transformações biológicas e cerebrais: características do cérebro adolescente e mudanças neuroendócrinas ................................... 14 Atividade: ........................................................................................................................................ 23 C. Neuroplasticidade cerebral: a influência de ambientes seguros no desenvolvimento cognitivo e nas decisões................................................. 24 Atividade: ........................................................................................................................................ 28 D. Transformações psicossociais: relações interpessoais, construção de identidade, e sensação de pertencimento ..................... 29 Atividade: ........................................................................................................................................ 38 E. Cultura digital, educação midiática e redes sociais: o impacto da cultura digital na vida dos(as) adolescentes. ...................................................... 39 Atividade: ........................................................................................................................................ 53 Referências: .................................................................................................................................. 54 5 Olá, professor(a)! Bem-vindo ao curso Especialização em Formação de Professores de Língua Inglesa para uma Escola das Adolescências! Neste módulo, nosso objetivo é apoiá-lo(a) a compreender melhor os(as) estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Essa etapa corresponde a um período singular e de grande importância em suas vidas, o qual denominamos, aqui, de “Adolescências”. Chamamos assim mesmo, no plural, para reconhecer a diversidade de vivências e experiências dessa fase. As primeiras etapas são comuns a adolescentes de qualquer lugar deste planeta, pois são características próprias da espécie humana e dizem respeito à forma como ocorre o desenvolvimento ao longo da vida. Já as características particulares são aquelas que dizem respeito a cada indivíduo e à forma como vivencia essa fase de acordo com sua realidade. É fundamental tratar do conceito no plural – por isso dizemos adolescências, para não considerar o(a) adolescente como um sujeito “genérico”. Especialmente em um país continental e diverso como o Brasil, essa perspectiva reconhece a pluralidade de vivências, tanto do ponto de vista pessoal quanto social (histórico familiar, condições socioeconômicas, gênero, raça, sexualidade, deficiências, território etc.), que podem afetar de maneiras diferentes o modo como cada pessoa vivencia esta etapa da vida. Sendo assim, entender sobre estas características que marcam as adolescências te ajudará muito a compreender os(as) estudantes, em suas emoções, reações, sentimentos, comportamentos e atitudes; além de apoiar no planejamento de suas aulas; a melhor se conectar com os(as) estudantes e se antecipar para possíveis situações que possam surgir. Compreender a etapa da adolescência, suas especificidades e potencialidades, é o ponto de partida para a construção da Escola das Adolescências. 6 A. Compreendendo as especificidades da adolescência: análise do desenvolvimento adolescente para um cuidado responsivo A adolescência é uma fase única e de transição, cheia de descobertas e desafios, na qual as pessoas estão construindo suas identidades e buscando seu lugar no mundo. Os(as) estudantes que chegam aos Anos Finais do Ensino Fundamental estão vivenciando um momento singular de seu desenvolvimento físico, emocional, intelectual, social e cultural, justamente por estarem em plena transição da infância para a adolescência, essa fase é frequentemente percebida apenas como uma passagem para a vida adulta. Assim como os Anos Finais que, em muitos casos, são tratados somente como a ponte dos Anos Iniciais para o Ensino Médio. A proposta da Política Nacional Escola das Adolescências, expressa neste curso, é ampliar esse olhar, reconhecendo e valorizando as múltiplas dimensões dessa etapa da vida, de modo que o(s) estudantes dos Anos Finais sejam reconhecido(a)s a partir de um momento importante da sua constituição, que na maioria das vezes, não é percebido pelos(as) gestores, educadores e a sociedade. Veja como o programa tem se estruturado: https://www.gov.br/mec/pt-br/escola-das-adolescencias E a forma como as escolas podem se adequar para atender às adolescências, por meio do documentário “Uma Escola para as Adolescências”, produzido pelo Ministério da Educação (MEC) e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). O documentáriocomo o ChatGPT, por exemplo, levantou-se a 49 discussão sobre a autoria de textos gerados por estudantes por meio desta tecnologia. Vale lembrar, contudo, que muito antes dessa tecnologia esse já era um problema enfrentado por professores com cópias de pesquisas em buscadores on-line sem citação de fontes. O caminho, portanto, não seria o rechaço, mas sim entender de que forma podemos propor situações de aprendizagem que exijam dos estudantes a capacidade de análise, produção, reflexão e criatividade, estabelecendo conexões com sua realidade e, a partir de experiências como estas, ensinar a utilizar a IA de forma ética e responsável. Desigualdade de Acesso e Oportunidades As múltiplas adolescências brasileiras também têm múltiplas experiências com a tecnologia, com a internet, e com as redes sociais. De acordo com a Agência Brasil, em sua reportagem sobre o relatório Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil, lançado em abril de 2024: “Apenas 22% dos brasileiros com mais de 10 anos de idade têm condições satisfatórias de conectividade, apesar de o acesso à internet estar perto da universalização no país. Outros 33% da população estão no nível mais baixo do índice que mede a conectividade significativa no país (de 0 a 2 pontos), e 24% ocupam a faixa de 3 a 4 pontos. Os índices são mais baixos entre pretos e pardos, nas classes D e E, nas regiões Norte e Nordeste e nas cidades menores”. Quando a escola possui recursos digitais e pode propor situações de aprendizagem mediadas por eles, é fundamental considerar essa desigualdade ao planejar e oferecer, para que todos(as) se desenvolvam. A escola pode ser um agente de democratização do acesso à tecnologia e desenvolvimento de habilidades digitais. https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-04/apenas-22-dos-brasileiros-tem-boas-condicoes-de-conectividade 50 Em escolas que possuem salas com computadores, mesmo sem internet, é possível trabalhar com sistemas básicos e úteis, como, por exemplo, aprender a utilizar planilhas e tabelas para organizar dados e informações ou fazer cálculos ou elaborar apresentações. Recomendações: A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, responsável pela Estratégia Brasileira de Educação Midiática, oferece, junto ao MEC, a Coletânea de Cursos de Educação Midiática para professores, desenvolvido por especialistas da sociedade civil, por meio da plataforma AVAMEC. Confira os cursos disponíveis: ● Educação midiática para adolescentes e jovens - Cidadão Digital Descubra o que são informações e como elas impactam nossa sociedade. Explore os prejuízos da desinformação no cenário social e político, conheça os sete tipos mais comuns de desinformação e entenda como a educação midiática pode contribuir para a formação de cidadãos críticos e conscientes. O curso também aborda o papel das agências de checagem na verificação de fatos e a responsabilidade das plataformas digitais no combate à disseminação de conteúdos enganosos. ● Educando para boas escolhas on-line Neste curso, você aprenderá a navegar no ambiente digital de forma responsável e segura! São abordados temas essenciais como: direitos e deveres on-line; ciberbullying; sexualidade on-line; segurança digital; bem-estar e saúde mental no uso da tecnologia; além de estratégias para lidar com a desinformação. ● Fake Dói: verificação de conteúdo na internet com técnicas abertas O projeto "Fake Dói" foi criado com a missão de capacitar usuários(as) de internet para combater a desinformação, empoderando-os(as) com técnicas e ferramentas de investigação jornalística adaptadas ao ambiente digital. Seu objetivo principal é oferecer um treinamento acessível e eficaz, que permita aos(às) participantes identificarem e verificarem informações de forma autônoma, promovendo uma compreensão mais crítica e consciente sobre os conteúdos consumidos on-line. https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/safernetbrasil/curso/16012/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/safernetbrasil/curso/16058/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/safernetbrasil/curso/16058/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/institutovero/curso/16014/informacoes 51 ● O potencial do uso de tecnologias digitais na formação de crianças e jovens para promoção da inovação O Curso "O potencial do uso de tecnologias digitais na formação de crianças e jovens para promoção da inovação" tem como objetivo geral apresentar estratégias e tecnologias digitais como potencial de promoção da inovação na formação de crianças e jovens. ● Segurança e Cidadania Digital em Sala de Aula Este curso é ofertado no Avamec, em parceria do Ministério da Educação com o Governo do Reino Unido. A formação integra o projeto do componente de Cidadania Digital da SaferNet Brasil, que apoia escolas públicas e secretarias de educação na elaboração de um currículo sobre o uso seguro das tecnologias para estudantes do Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental. ● Tecnologias Digitais: ferramentas para criatividade e aprendizagem O curso “Tecnologias digitais: ferramentas para criatividade e aprendizagem” traz uma trilha de aprendizagem sobre o uso pedagógico de diversas ferramentas digitais para apoiar professores no desenvolvimento de materiais didáticos, roteiros de aprendizagem e estratégias de avaliação. ● Inteligência Artificial e educação midiática: uma introdução O objetivo deste curso é abordar, em linhas gerais, conceitos e características da inteligência artificial generativa, capaz de gerar conteúdo a partir de comandos do usuário, e as possibilidades de abordá-la em contextos educativos. O curso introduz a inter-relação entre inteligência artificial e educação midiática. ● Guia sobre proteção de crianças e adolescentes no uso de tecnologias nas escolas O objetivo deste material é auxiliar famílias, responsáveis, educadores e gestores escolares a compreender melhor o contexto atual do uso da internet. Além disso, destaca a importância da proteção de dados pessoais estudantis, que vai além das tendências tecnológicas e do mundo on-line, explicando como já são e podem ser protegidos. Além disso, apresenta alguns modelos alternativos para uma educação livre de exploração comercial e respeitosa à privacidade e segurança de crianças e adolescentes, enquanto estudantes e pessoas em formação, participantes ativos do ambiente digital. https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/ufms/curso/15799/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/ufms/curso/15799/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/safernetbrasil/curso/16019/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/seb/curso/15475/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/palavraaberta/curso/16351/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/intervozes/curso/16067/informacoes https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/intervozes/curso/16067/informacoes 52 ● Educação Midiática na prática Um curso para apoiar educadores na elaboração ou condução de projetos e atividades que visam desenvolver, com os estudantes, habilidades essenciais para o mundo conectado, como a leitura reflexiva e a produção responsável de mídias para participar plenamente da sociedade. ● Atividades complementares de educação midiática O curso busca ampliar o conhecimento sobre temas que envolvem desinformação, discurso de ódio, segurança digital de crianças e adolescentes e influência responsável por meio de guias, vídeos e artigos. ● Além disso, a Matriz de Saberes Digitais do MEC é um documento importante que define as competências digitais essenciais para professores(as) e estudantes e traz um instrumento de autoavaliação para você, professor(a), identificar caminhos para seu desenvolvimento também neste âmbito. https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/palavraaberta/curso/16047/informacoeshttps://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/redescordiais/curso/16015/informacoes https://www.gov.br/mec/pt-br/escolas-conectadas/20240822MatrizSaberesDigitais.pdf 53 Atividade: Imagine que você, como professor(a), se depara com a seguinte situação: um grupo de adolescentes está compartilhando nas redes sociais uma foto constrangedora de um colega de sala, gerando grande desconforto para o estudante que teve sua imagem exposta. Questão Com base no texto e na situação apresentada, qual a ação MAIS adequada para você, como professor(a), lidar com essa situação, focando no desenvolvimento da ética digital dos(as) estudantes envolvidos? a) Ignorar a situação, pois se trata de um problema externo à escola e à sala de aula. b) Punir severamente os(as) adolescentes que compartilharam a foto, como forma de dar exemplo para a turma. c) Conversar apenas com o adolescente que teve a foto exposta, oferecendo apoio e aconselhamento. d) Intervir de forma mediadora, promovendo o diálogo com todos(as) os(as) envolvidos(as) e utilizando a situação como oportunidade para discutir ética digital com a turma. Referências: ANTONELLI-PONTI, M.; FERRAZ, T.; CORDOBA-VIEIRA, J.E. Adolescências e Transições: Estruturas e currículos voltados para os anos finais do ensino fundamental e transição para o ensino médio. São Paulo. Lopes e Itaú Social, 2024. BLANCHFLOWER, D. G.; BRYSON, A.; XU, X. The Declining Mental Health Of The Young And The Global Disappearance Of The Hump Shape In Age In Unhappiness. Disponível em: . COSTA, R. L. S. Neuroscience and Learning. Revista Brasileira de Educação, v. 28, p. 1–22, 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-24782023280010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/ZPmWbM6n7JN5vbfj8hfbyfK/?format=pdf & lang=pt. DOW-EDWARDS, D. et al. Experience during adolescence shapes brain development: From synapses and networks to normal and pathological behavior. Neurotoxicology and Teratology, v. 76, p. 106834, nov. 2019. EBEM. Estratégia Brasileira de Educação Midiática - EBEM apresenta as políticas públicas voltadas para a população. Secretaria de Comunicação Social, 2023.Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt- br/assuntos/noticias/2023/10/estrategia-brasileira-deeducacao-midiatica- apresenta-as-politicas-publicas-voltadas-paraa-populacao. Acesso em: 17 dez 2024. EYNG, Victor A. B. A formação continuada durante o ensino online emergencial: objetivos formativos e narrativas docentes. 2024. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Alagoas, UFAL, Maceió, 2024. HANCOCK, J. et al. Psychological Well-Being and Social Media Use: A Meta- Analysis of Associations between Social Media Use and Depression, Anxiety, Loneliness, Eudaimonic, Hedonic and Social Well-Being. SSRN Electronic Journal, v. 24, n. 9, 2022. https://doi.org/10.1590/S1413-24782023280010 https://www.scielo.br/j/rbedu/a/ZPmWbM6n7JN5vbfj8hfbyfK/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rbedu/a/ZPmWbM6n7JN5vbfj8hfbyfK/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rbedu/a/ZPmWbM6n7JN5vbfj8hfbyfK/?format=pdf&lang=pt 55 LÉVY, P. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório mundial da saúde. Genebra: OMS, 1998. PAPALIA, DIANE E. Desenvolvimento Humano. 14 ed. [s.l]: Artmed, 2021. SIEGEL, D. J. Cérebro adolescente: a coragem e a criatividade da mente dos 12 aos 24 anos. São Paulo: Versos, 2016. YANG, Q. et al. The Mutual Relationship Between Self-Compassion, Perceived Social Support, and Adolescent NSSI: A Three-Wave Longitudinal Study. Mindfulness, [s.l.], v. 14, n. 9, p. 1940-1950, 01 jul. 2023. doi: 10.1007/s12671-023- 02169-6 ZHOU, X. et al. Family intimacy and adolescent peer relationships: investigating the mediating role of psychological capital and the moderating role of self- identity. Frontiers in Psychology, [s.l.], v. 14, n., p. 1- 14, 29 jun. 2023. DOI: 10.3389/fpsyg.2023.1165830 i ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório mundial da saúde. Genebra: OMS, 1998.discute os desafios enfrentados pelos(as) adolescentes nesta etapa do desenvolvimento humano e os reflexos na vida escolar. Entremeados https://www.gov.br/mec/pt-br/escola-das-adolescencias https://youtu.be/ZSRErIopdII 7 pelos desafios dessa etapa educacional, o documentário apresenta como o Ministério da Educação, redes de ensino e escolas têm atuado pela melhoria da qualidade dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Uma das ações iniciais do processo de construção da Política Nacional Escola das Adolescências foi um amplo diagnóstico nacional, a “Semana da Escuta das Adolescências” nas escolas, construída junto às redes de ensino para evidenciar a importância de escutar os(as) estudantes, além de considerar as suas vozes tanto no diagnóstico dos problemas quanto na construção de soluções para a melhoria das escolas dos Anos Finais. Enquanto assiste, busque relacionar as falas expostas com sua realidade: 1. A percepção dos(as) seus(suas) estudantes é parecida com aquelas do documentário? 2. De que forma as falas dos(as) especialistas te ajudam a compreender seus desafios profissionais? A adolescência é uma etapa da vida marcada por complexas interações entre o organismo e o meio em que ele vive, representado por questões climáticas, sociais, econômicas e culturais. Embora frequentemente associada a transformações físicas e hormonais, a maneira como essa fase é vivenciada e compreendida varia consideravelmente entre os diferentes grupos sociais, refletindo suas particularidades culturais, econômicas e contextuais. A própria delimitação do período, comumente atrelada à faixa etária entre 10 e 20 anos segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) iou 12 e 18 anos de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), se mostra fluida e permeada por construções socioculturais. Um exemplo marcante dessa diversidade relacionada à compreensão da adolescência se manifesta nas culturas dos povos indígenas. Em muitas comunidades, a transição para a vida adulta se dá por meio de ritos de passagem e marcos simbólicos próprios, que não se encaixam na concepção ocidental de adolescência. Alguns estudiosos argumentam que a própria noção de "adolescência", com suas características de experimentação, rebeldia e busca por identidade, pode ser inadequada para descrever a experiência de pessoas 8 indígenas em suas fases de desenvolvimento mais intensas, cuja inserção na comunidade e nos papéis sociais se dá de forma distinta. É fundamental, portanto, reconhecer a pluralidade de experiências e evitar as generalizações ao abordar a adolescência, ou melhor, as adolescências. Considerar as particularidades e pluralidades possíveis considerando um país tão grande e diverso como o nosso amplia nossa compreensão sobre essa fase da vida, e contribui para práticas sociais e educacionais mais inclusivas e respeitosas. As ações educacionais pensadas para este público devem levar em consideração que, no período da adolescência, os(as) estudantes experimentam transformações físicas, emocionais, cognitivas e sociais, e geralmente, ● Vivem transições e descobertas com mudanças de responsabilidades entre a infância e a vida adulta; ● Buscam autonomia e independência; ● Entram em uma fase repleta de oportunidades para o seu desenvolvimento; ● Estão em processo de construção da sua identidade; ● Enfrentam os estereótipos e os estigmas da adolescência; ● Expandem seu círculo social e buscam pertencer a um grupo. Veja a seguir o trecho do documentário “Esquecidos: a crise dos anos finais do ensino fundamental”, que aborda a adolescência, narrada por adolescentes e também a visão de membros da comunidade escolar sobre o papel da família. Ao assistir, note que os(as) estudantes têm muito a dizer sobre a escola e sobre a vida. Reflita sobre como as pessoas adultas podem oferecer um apoio mais efetivo se souberem o que eles(as) pensam. EPISÓDIO 3: ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA | DOCUMENTÁRIO "ESQUECIDOS!" EM FORMATO SERIADO https://www.youtube.com/watch?v=LA48n2LKrSg https://www.youtube.com/watch?v=LA48n2LKrSg https://www.youtube.com/watch?v=LA48n2LKrSg 9 Análise das particularidades do desenvolvimento adolescente para um cuidado responsivo O cuidado com as adolescências pode começar com o entendimento de suas especificidades e pluralidades. Há diversas formas de ser e existir no mundo, especialmente em um momento tão crucial do desenvolvimento, em que as transformações biológicas e psicossociais estão acontecendo com intensidade. Nesse processo, a construção da identidade e o desejo de pertencimento e reconhecimento constituem dois aspectos fundamentais. Para entender as transformações e como os(as) adolescentes estão lidando com todas elas, é preciso notá-los(as) e escutá-los(as). A escuta tem benefícios mútuos, tanto para quem ouve, quanto para quem compartilha: se bem conduzida, possui o potencial de fortalecer os vínculos na dupla ou no grupo, legitimar os sentimentos dos(as) estudantes e colocar a escola como um ambiente de apoio e acolhimento. A escuta intencional, assim como os espaços oportunos para diálogos sensíveis, deve ser conduzida de forma responsiva. Isso quer dizer que, é preciso estar atento(a) às ações e condutas para que seja proporcionado um acolhimento genuíno e seguro. Os tópicos da Unidade 2, O Papel da Escuta e do Acolhimento, fazem um aprofundamento em estratégias que orientam este cuidado, mas, para já ficar no radar é importante que você, professor(a), reconheça o quanto pode impactar positivamente na vida de seus(suas) estudantes, respeitando as individualidades e os seus meios de expressá-las; evitando estigmas associados à adolescência; e mantendo em vista que os(as) estudantes são sujeitos em desenvolvimento, que estão construindo suas bagagens de mundo para enfrentarem situações desafiadoras, para isso, eles precisam ser respeitados(as) e orientados(as) de forma que tenham seus sentimentos considerados(as). É importante reforçar: adolescentes não são todos(as) iguais! Diferentes grupos sociais, territoriais e culturais vivem a adolescência com trajetórias, realizações e desafios distintos. Por exemplo: 10 ● Adolescentes indígenas, trazem consigo saberes e tradições de seus povos, cuja vivência é profundamente conectada com a cultura, a natureza e os valores coletivos. Enfrentam desafios ligados à preservação de suas tradições e, por vezes, à dificuldade de acesso a elementos da sociedade urbana. Ações educativas devem valorizar e integrar os saberes indígenas no currículo escolar, garantir um ambiente de respeito às suas tradições e promover o diálogo intercultural, sem deixar de oportunizar outros e novos repertórios e de garantir o direito à aprendizagem. ● Adolescentes quilombolas, enfrentam além dos desafios comuns à adolescência, questões relacionadas ao racismo estrutural, à desigualdade de oportunidades e à luta pela preservação de suas culturas e territórios. De igual modo, é importante que a história e a cultura quilombola sejam valorizadas, sem deixar de oportunizar outros e novos repertórios e de garantir o direito à aprendizagem. ● Adolescentes ribeirinhos(as), têm seu cotidiano profundamente influenciado pelo meio ambiente em que vivem, com rotinas e desafios específicos associados à vida nas margens de rios, o que influencia desde o acesso à escola até as interações sociais. As ações devem garantir a acessibilidade física e pedagógica às escolas, integrar os contextos culturais e ambientais ribeirinhos ao currículo e oferecer suporte para superar as dificuldades logísticas e sociais específicas dessa realidade. ● Adolescentes com deficiência e neurodivergentes, têm vivências que demandam atenção às suas condições, mas que, acima de tudo, precisam ser reconhecidas por suas potencialidades e individualidades. A inclusão desses(as) adolescentesna escola vai além da adaptação física; é essencial promover ambientes e oportunidades que valorizem suas habilidades e criem oportunidades para seu desenvolvimento pleno. ● Adolescentes LGBTQIA+ enfrentam desafios relacionados à aceitação de sua orientação sexual e identidade de gênero em um contexto muitas vezes marcado por preconceitos, discriminação e violência. Promover um ambiente escolar acolhedor e inclusivo, onde possam se expressar e se sentir respeitados(as), é essencial para seu bem-estar e desenvolvimento integral. ● Adolescentes que se tornam mães, enfrentam desafios para conciliar os estudos, a maternidade e, muitas vezes, a necessidade de contribuir financeiramente com suas famílias. Em muitos casos, não continuam os estudos. A escola deve ser um espaço acolhedor e compreensivo, que 11 valorize seu protagonismo e ofereça oportunidades para que possam construir seus projetos de vida. Você pode imaginar como seria, por exemplo, viver em uma sociedade que não valida o idioma que você fala? A Língua Brasileira de Sinais só foi considerada um idioma oficial no Brasil recentemente, no ano de 2002 (Lei nº 10.436). No entanto, ainda existem idiomas falados por povos indígenas que não são reconhecidos. Saiba mais Este artigo discute a riqueza e a diversidade das línguas indígenas no Brasil, destacando os desafios enfrentados para sua preservação, como o risco de extinção devido à falta de reconhecimento e políticas públicas eficazes. Quantas são as línguas indígenas do Brasil, onde são faladas e o que as ameaça? Este vídeo aborda a deficiência auditiva, apresentando as experiências e histórias de diversas pessoas. Ele destaca os desafios enfrentados, as estratégias de superação e a importância de promover inclusão e acessibilidade, bem como a valorização da LIBRAS. Deficiência auditiva | Inclusive Eu Você pode imaginar como é, por exemplo, viver em uma sociedade em que a maioria dos(as) estudantes com trajetórias bem-sucedidas e regulares na escola, de acordo com os padrões sociais, são muito diferentes de você? https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-2779c755-7af1-495a-a41c-d02995e459b8 https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-2779c755-7af1-495a-a41c-d02995e459b8 https://youtu.be/SS6oo1e2eWE?si=A-XQEXraWtbtjFqw 12 As escolas com adolescentes de nível socioeconômico mais altos, ou que são localizadas em centros urbanos, têm, em sua maioria, estudantes brancos, enquanto escolas com mais baixos índices socioeconômicos e em localidades menos privilegiadas têm maior quantidade de estudantes negros(as). Saiba mais A reportagem do Alma Preta destaca um estudo que revela a persistente desigualdade racial no desempenho escolar no Brasil, especialmente em componentes curriculares como português e matemática. O texto aborda como fatores estruturais e raciais impactam negativamente a aprendizagem de estudantes negros(as), refletindo desigualdades históricas e sociais. Além disso, o estudo discute a necessidade de políticas educacionais inclusivas que combatam o racismo e promovam a equidade no sistema educacional brasileiro. Estudo aponta desigualdade racial nas escolas em disciplinas de português e matemática O documentário “Nunca me Sonharam” aborda os desafios e as esperanças da educação pública brasileira a partir de relatos de estudantes, professores, especialistas e gestores escolares. O filme explora as desigualdades no acesso à educação de qualidade, o impacto de condições socioeconômicas e a importância de políticas públicas para transformar a realidade das escolas públicas. É uma reflexão profunda sobre o papel da escola na formação da juventude e o futuro do país. Nunca Me Sonharam | Trailer https://almapreta.com.br/sessao/cotidiano/estudo-aponta-desigualdade-racial-nas-escolas-em-disciplinas-de-portugues-e-matematica/ https://almapreta.com.br/sessao/cotidiano/estudo-aponta-desigualdade-racial-nas-escolas-em-disciplinas-de-portugues-e-matematica/ https://youtu.be/KB-GVV68U5s?si=xeix8b6e6zOr832Z 13 Atividade: Qual alternativa NÃO representa uma característica dos(as) estudantes nos Anos Finais do Ensino Fundamental? a) Estão em processo de construção da sua identidade. b) Enfrentam os estereótipos e os estigmas da adolescência. c) Vivem em uma fase de estabilidade, sem grandes transformações. d) Expandem seu círculo social e buscam pertencer a um grupo. 14 B. Transformações biológicas e cerebrais: características do cérebro adolescente e mudanças neuroendócrinas Durante a adolescência, ocorrem intensas transformações no corpo e no funcionamento do cérebro, que impactam diretamente seu comportamento e desenvolvimento. A passagem da infância para a adolescência é marcada pela puberdade, um período de mudanças significativas no sistema neuroendócrino — responsável pelas alterações hormonais que afetam o desenvolvimento e as interações dos(as) adolescentes. O corpo passa por transformações hormonais que desencadeiam o crescimento e o desenvolvimento sexual, enquanto o cérebro continua a se desenvolver, especialmente as áreas responsáveis pelo controle dos impulsos e pela tomada de decisões. Estudos como os da neurociência mostram que a fase mais intensa do desenvolvimento cerebral acontece durante a adolescência. Nessa fase, o cérebro passa por intensos processos de reorganização e de maturação. Dentre eles, vamos aprofundar em três dos grandes aspectos que marcam essas fases de transformações que ocorrem no cérebro adolescente: a poda neural, os receptores de dopamina e o amadurecimento do córtex pré-frontal. A seguir, essas informações serão explicitadas e contextualizadas no âmbito do processo educacional e do cotidiano escolar. 15 Poda neural Durante a adolescência, o cérebro passa por processos fundamentais de reorganização, como a poda neural que ocorre durante o desenvolvimento cerebral, em especial na adolescência, a qual consiste na eliminação das conexões sinápticas menos utilizadas, permitindo que as conexões mais eficientes e frequentemente usadas se fortaleçam. Esse processo otimiza a comunicação entre neurônios e aumenta a eficiência do cérebro, fazendo com que as informações sejam transmitidas mais rapidamente, resultando na melhoria da memória e na tomada de decisões. Ao mesmo tempo em que aumenta a eficiência do cérebro, exige que o(a) adolescente se adapte a novos ambientes e desafios, pois as conexões mais utilizadas e fortalecidas serão aquelas relacionadas às experiências vividas. Imagem 1: Poda Neural Fonte: elaborada pela autora 16 Poda neural: eficiência cerebral e desempenho escolar Talvez você esteja se perguntando: se a poda neural torna o cérebro mais eficiente, por que muitos(as) estudantes apresentam dificuldades de aprendizagem nos anos finais do ensino fundamental? É verdade que a poda neural otimiza as conexões cerebrais, mas ela não age sozinha. Existem outros fatores que influenciam diretamente o desempenho escolar dos(as) adolescentes e é fundamental que você, professor(a), esteja atento(a) a eles: 1. Mudanças no ambiente escolar A transição dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental marca um grande ciclo na vida dos(a) estudantes. Nesta transição, migram de um ambiente com um(a) professor(a) polivalente para um sistema com múltiplos(as) professores(as), cada qual com seu estilo de ensino e expectativas específicas. Essas mudanças exigem que os(a) adolescentes se adaptem a novas rotinas, dinâmicas e relações interpessoais, o que pode gerar insegurança e impactar no aprendizado. É fundamental que você, professor(a), esteja atento(a) a essas adaptações, criando um ambiente acolhedor e de apoio para seus(suas) estudantes.2. Lacunas na aprendizagem É nesse contexto de transição que algumas defasagens na educação básica, como dificuldades de alfabetização e domínio de conceitos básicos, podem se tornar mais evidentes nos anos finais, quando os objetos de conhecimento se tornam mais complexos. É importante que você, professor(a), identifique essas lacunas e busque estratégias para auxiliar os(as) estudantes a superá-las, como atividades de reforço, acompanhamento individualizado e projetos de recomposição das aprendizagens. Por mais difícil que seja essa realidade, buscar culpados não ajudará ao(à) educador(a) e tampouco aos(às) estudantes. Contar com a escola, os colegas e a 17 equipe gestora para aplicar estratégias de recomposição da aprendizagem, é o melhor caminho. 3. Adaptação a novas demandas Nos anos finais do ensino fundamental os(as) estudantes precisam aplicar seus conhecimentos em contextos mais desafiadores, o que exigirá maior autonomia, capacidade de análise e resolução de problemas. Nesse novo cenário alguns(mas) estudantes podem ter dificuldades em transpor o que aprenderam para esse novo contexto, o que pode afetar diretamente seu desempenho. Você, professor(a), pode ajudá-los(as) a desenvolver essas habilidades, propondo atividades que estimulem o pensamento crítico, a criatividade e a colaboração. Lembre-se: a poda neural é apenas uma peça do quebra-cabeça do desenvolvimento cerebral na adolescência. Ao compreender os desafios e as necessidades dessa fase, você poderá criar um ambiente de aprendizagem mais eficaz e contribuir para o sucesso de seus(suas) estudantes! 18 Receptores de dopamina Durante a adolescência, há uma mudança significativa nos receptores de dopamina no cérebro, um neurotransmissor crucial para a recompensa e a motivação. O cérebro adolescente perde cerca de um terço dos receptores de dopamina. Com menos receptores, o sistema de recompensa fica mais sensível, o que pode levar à busca por experiências intensas, comportamentos de risco e busca por recompensas, satisfações, de forma mais intensa e impulsiva. 1. Impulsividade e comportamentos de risco Essa busca por "emoções fortes" pode se manifestar em comportamentos de risco, como a participação em grupos que praticam bullying, o consumo de álcool e drogas ilícitas, desafiar limites e o envolvimento em relacionamentos instáveis. É importante estar atento(a) a esses comportamentos e promover conversas sobre os perigos e as consequências das escolhas impulsivas, porém, com abordagens que rompam com a perspectiva do medo ou unicamente da repressão, e que busquem pelo diálogo o entendimento. Lidar com essa fase requer paciência e compreensão. Guiar, apoiar e ouvir pode ajudá-los(as) a passar por toda a turbulência de maneira mais branda, e a tomar decisões mais seguras. Lembre-se que, muitas vezes, esses comportamentos não são expressos intencionalmente, mas sim, pela necessidade de se sentirem aceitos(as) e de experimentarem novas sensações. Compreender o que pode explicar os comportamentos dos(as) adolescentes não implica em permissividade ou leniência por parte das pessoas adultas que convivem com eles(as). É fundamental que haja uma presença funcional, com a definição de limites claros e de consequências para atos graves sempre que necessário. Nesse contexto, o papel dos(as) professores(as) se torna ainda mais importante, atuando como educadores(as) e orientadores(as), capazes de acolher as necessidades dos(as) adolescentes, ajudando-os(as) a canalizar suas energias para atividades construtivas e a 19 promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais para a vida adulta. 2. Protagonismo e metodologias ativas Na sala de aula, a necessidade por estímulos intensos pode ser canalizada de forma positiva, por meio de propostas pedagógicas que promovam o protagonismo e o engajamento dos(as) estudantes. Metodologias ativas e propostas diversificadas como jogos, debates, projetos e trabalhos em grupo permitem que os(as) adolescentes explorem sua criatividade, colaborem entre si e sintam-se parte do processo de aprendizagem. 3. Interação e colaboração Promover o convívio e a colaboração entre os(as) estudantes é essencial para estimular a interação, de modo a atender às necessidades sociais e emocionais dos(as) adolescentes. Planejar aulas que promovem a colaboração, a troca de ideias e o trabalho em equipe, gera um ambiente mais dinâmico e motivador, favorecendo o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Lembre-se: ao compreender a influência da dopamina no comportamento dos(as) adolescentes, você poderá proporcionar um ambiente de aprendizagem mais estimulante e acolhedor, que atenda às necessidades dos(as) adolescentes, e assim, os(as) ajudem a trilhar um caminho positivo e saudável. 20 Amadurecimento do córtex pré-frontal O amadurecimento do córtex pré-frontal é um processo longo, complexo e fascinante. Essa é a última área do cérebro a amadurecer, e é responsável por funções executivas como tomada de decisão, organização, controle de impulsos, resolução de problemas, raciocínio lógico, memória, autocontrole, autorregulação, planejamento, regulação das emoções e do comportamento social. 1. Expectativas realistas É habitual que a sociedade tenha expectativas de que os(as) adolescentes ajam como pessoas adultas, mas é fundamental lembrar que suas funções executivas ainda não estão desenvolvidas. Isso significa que eles(as) podem ter dificuldades em controlar seus impulsos, tomar decisões racionais, lidar com frustrações e regular suas emoções de forma consistente. Nesse caso, compreender essa fase do desenvolvimento é essencial para que você, professor(a), tenha expectativas realistas em relação aos(às) seus(suas) estudantes, evitando frustrações excessivas e contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades socioemocionais. 2. Comportamentos considerados inadequados É essencial compreender as possíveis causas e contextos por trás de situações como choros compulsivos, gritos ou ataques de riso em momentos inapropriados, que são comuns na adolescência, mas que refletem a falta de maturidade do córtex pré-frontal. No entanto, ao em vez de repreender os(as) estudantes de forma punitiva, aproveite essas situações para abordar a importância da autorregulação e do respeito ao ambiente e aos(às) colegas, além de trabalhar algumas estratégias práticas de autorregulação com eles(as). Ao longo do curso, aprenderemos algumas. 21 3. Metodologias ativas e desenvolvimento das funções executivas Apenas aulas expositivas e atividades repetitivas não favorecem o desenvolvimento das funções executivas, e podem gerar desmotivação e comportamentos inadequados nos(as) adolescentes. A escola tem um papel fundamental de criar um ambiente que promova o desenvolvimento das funções executivas dos(as) adolescentes. Priorize metodologias ativas que estimulem a participação, a colaboração, o pensamento crítico e a resolução de problemas, criando um ambiente de aprendizagem desafiador e engajador. Vejamos as possibilidades de algumas metodologias ativas para utilização em suas aulas na seção “Saiba Mais”. A organização da sala de aula é fundamental para criar um ambiente que favoreça a aprendizagem e o desenvolvimento. Nesse sentido, considerando seu contexto e possibilidades, organize a sala de aula de forma a favorecer a interação e o trabalho em grupo, ofereça atividades desafiadoras que estimulem a tomada de decisão e promova um clima de respeito e colaboração. No começo, as primeiras tentativas podem ser mais desafiadoras, por romper com uma cultura escolar eventualmente já muito enraizada, mas você notará os efeitos ao longo do tempo. Lembre-se: o cérebro adolescente está em constante desenvolvimentoe é moldado pelas experiências e interações que vivencia. Ao oferecer um ambiente estimulante e acolhedor, você contribui para o amadurecimento do córtex pré-frontal e para o desenvolvimento integral dos(as) seus(suas) estudantes. Saiba mais: Veja o artigo que explora as mudanças no cérebro durante a adolescência, explicando como essas transformações impactam o comportamento, a 22 tomada de decisões e o desenvolvimento emocional dos(as) adolescentes: O cérebro adolescente Nesta outra página você poderá ver conceitos, práticas e benefícios das metodologias ativas de ensino, destacando sua capacidade de envolver os(as) estudantes como protagonistas do aprendizado: Especial Metodologias Ativas https://veja.abril.com.br/ciencia/o-cerebro-adolescente/ https://veja.abril.com.br/ciencia/o-cerebro-adolescente/ https://novaescola.org.br/tudo-sobre/especial-metodologias-ativas/ 23 Atividade: Quais das afirmações abaixo estão relacionadas às transformações cerebrais que ocorrem na adolescência e impactam o processo de aprendizagem? I. A poda neural aumenta a eficiência do cérebro, mas exige adaptação a novos ambientes e desafios. II. A diminuição dos receptores de dopamina pode levar à busca por experiências intensas e exige atenção do(a) professor(a) para canalizar essa energia em propostas pedagógicas engajadoras. III. O amadurecimento do córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas, justifica a necessidade de expectativas realistas e o uso de metodologias ativas para o desenvolvimento integral dos(as) estudantes. a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) I, II e III. C. Neuroplasticidade cerebral: a influência de ambientes seguros no desenvolvimento cognitivo e nas decisões A adolescência é um período de grande neuroplasticidade, ou seja, o cérebro está em constantes transformações e desenvolvimento. As experiências vividas durante esse período, incluindo as escolares, influenciam diretamente na formação do cérebro e na aprendizagem. Imaginem o cérebro dos(as) seus(suas) estudantes como um jardim em constante transformação. A neuroplasticidade é a capacidade que esse jardim tem de se remodelar, criar novos caminhos e se adaptar às situações. É como se as experiências, os aprendizados e até mesmo os desafios fossem jardineiros moldando esse espaço, que pode se tornar florido, ter diversas plantas e árvores frutíferas. Mas, se for descuidado, pode se tornar um solo árido e sem vida. A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro se modificar a partir das experiências, estímulos e aprendizados que se vivencia e desenvolve. E o que isso significa para você, professor(a)? Significa que você tem um papel fundamental nesse processo de "jardinagem cerebral"! Cada atividade que você propõe, cada interação em sala de aula, cada feedback que você oferece, contribui para a construção de novas conexões cerebrais nos(as) seus(suas) estudantes. Em contrapartida, fatores contextuais como a pobreza, a violência doméstica, a falta de acesso a oportunidades educacionais, a exposição e a outras violências aumentam o risco de transtornos mentais na adolescência. Neste sentido, a escola pode ser um ambiente positivo ou negativo. 25 Imagem 2: Maleabilidade do Cérebro em Desenvolvimento. Fonte: elaboração própria Saiba mais: Veja mais informações relacionadas às neurociências e cognição, incluindo técnicas pedagógicas e exemplos práticos: Ciências e Cognição https://cienciasecognicao.org/redeneuro202401/ 26 Mas por que isso é tão importante na adolescência? A adolescência é uma fase de intensa neuroplasticidade. O cérebro dos(as) seus(suas) estudantes está a todo vapor, se modificando, se reorganizando, se desenvolvendo. É como se o jardim estivesse em plena floração, com novas mudas surgindo a todo momento. "Esses anos são a melhor década da vida. Nenhuma idade é tão receptiva a tudo que há de melhor e mais verdades no esforço adulto. Em nenhum solo psíquico, além disso, as sementes, tanto boas quanto mais, criam raízes tão profundas, crescendo com tanto vigor ou dão frutos com tanta rapidez ou tanta certeza" (Hall, 1904, apud Jensen; Nutt, 2016, p.15). Como aproveitar a neuroplasticidade na sua prática pedagógica? ● Estimule a curiosidade: lance desafios, promova debates, incentive a pesquisa e a descoberta; ● Varie as estratégias de didáticas: use diferentes recursos e metodologias para manter o "jardim" sempre ativo e estimulado; ● Crie um ambiente de aprendizagem positivo: um ambiente acolhedor e seguro, onde os(as) estudantes se sintam à vontade para errar e aprender, favorecendo a neuroplasticidade; ● Incentive a interação social: o contato com os(as) colegas e a troca de experiências também contribuem para o desenvolvimento cerebral; ● Valorize o feedback: mostre aos(às) estudantes como eles(as) estão progredindo e o que podem melhorar. Mesmo em situações simples, faça elogios e reconheça os progressos. Lembre-se: você é o(a) "jardineiro(a)" que ajuda a cultivar (ou não) o potencial dos(as) seus(suas) estudantes! Se o cérebro se molda a partir dos estímulos do ambiente, você é o ambiente das adolescências. Ao compreender a neuroplasticidade, você pode criar um ambiente de aprendizagem mais rico e estimulante, que promova o desenvolvimento integral desses(as) adolescentes. 27 Saiba mais: Neurociências: contribuições para a aprendizagem. O vídeo traz um compilado de informações baseadas em estudos da Neurociências que colaboram para compreensão de como o cérebro aprende e como as evidências neurocientíficas colaboram com as práticas educacionais: Neurociências: contribuições para a aprendizagem Neurociências:%20contribuições%20para%20a%20aprendizagem 28 Atividade: Considerando o conceito de neuroplasticidade apresentado, qual das alternativas descreve a melhor forma de aproveitar essa capacidade cerebral na sua prática pedagógica? a) Manter uma rotina de aulas previsível e com poucas variações para evitar que os(as) estudantes se sintam confusos. b) Priorizar aulas expositivas e exercícios individuais para garantir a concentração e o aprendizado individual. c) Criar um ambiente de aprendizagem estimulante, com atividades desafiadoras e variadas que promovam a interação e o desenvolvimento de novas conexões cerebrais. d) Evitar situações que gerem frustração nos(as) estudantes, como desafios complexos e trabalhos em grupo, para não prejudicar o desenvolvimento cerebral. 29 D. Transformações psicossociais: relações interpessoais, construção de identidade, e sensação de pertencimento Conhecer algumas das características cerebrais e de que maneira o cérebro se desenvolve durante a adolescência contribui para a melhoria do aprendizado dos(as) estudantes, por meio da potencialização das práticas de ensino. No âmbito psicossocial, as mudanças referem-se ao desenvolvimento das relações interpessoais, construção de identidade própria, gestão de emoções e comportamentos sociais. A adolescência é um período de formação de amizades, que se tornam cada vez mais importantes para o desenvolvimento social e emocional dos(as) adolescentes. As amizades fornecem apoio, compreensão e um senso de pertencimento, juntamente com o suporte familiar, educacional e escolar, formando um sistema robusto de apoio para o desenvolvimento do indivíduo. Durante esse período, os(as) adolescentes começam a pensar de forma mais abstrata, complexa e crítica, o que está intimamente ligado ao desenvolvimento da capacidade de perspectiva social. Eles(as) passam a reconhecer e compreender diferentes pontos de vista e perspectivas, um processo que se estende até a fase adulta. Veja a perspectiva de uma mãe ao observar as transições de seu filho durante a adolescência. "Aorelembrar aqueles tempos, percebo quanto do que eu julgava conhecer meu filho durante aquela fase turbulenta de sua vida parecia virar de cabeça para baixo. Andrew parecia preso entre a infância e a idade adulta, ainda às voltas com sentimentos confusos e comportamentos impulsivos, porém mais homem do que menino em termos físicos e intelectuais. Estava fazendo experiências com sua identidade, e o elemento mais básico dessa identidade era a aparência” (Jensen; Nutt, 2016, p.12). 30 Mas como isso reverbera na escola e nas aulas? Quando pensamos nas relações interpessoais, precisamos compreender que nas adolescências as relações se modificam bastante, e que a escola tem um papel para colaborar com essa mudança de cenário na vida dos(as) adolescentes. 1. Ampliação dos círculos sociais É fundamental que os(as) professores(as) estejam atentos(as) aos desafios que a ampliação dos círculos sociais impõe aos(às) estudantes dos Anos Finais. A transição para um ambiente com múltiplos professores e diferentes grupos de colegas exige adaptação e pode gerar insegurança. O(a) professor(a), como figura de referência, pode auxiliar nesse processo, oferecendo apoio, orientação e criando um clima de acolhimento na sala de aula. 2. Orientação e confiança Os(as) adolescentes buscam em adultos confiáveis orientação para lidar com os desafios sociais e emocionais. O(a) professor(a) pode se tornar essa figura de apoio, demonstrando empatia, disponibilidade para o diálogo e oferecendo suporte nas situações de conflito. 3. Conflitos e aprendizagem Os conflitos interpessoais são inevitáveis na adolescência, e o(a) professor(a) deve estar preparado(a) para mediá-los de forma construtiva. É importante incentivar o diálogo, a empatia e a busca por soluções pacíficas, transformando os conflitos em oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento socioemocional. Veja esta outra perspectiva, de uma mãe de um jovem negro: “Foi assim, com muita dificuldade. Aí quando ele cresceu, ele queria trabalhar, mas ele não conseguia. Eu fui na central de vagas com ele... Igual os outros eu fiz, eu fiz pra ele. Mas nenhum deles conseguiu vaga”... “Mas depois não tinha dinheiro pra passagem, ficava mais difícil. . . . Esse dia que ele morreu mesmo ele falou assim: ‘Ô, mãe, eu não vou mexer com esse trem mais, vou arrumar serviço pra mim” (Sílvia, mãe de Benedito) (Cunha; Moreira, 2023, p. 9) 31 Podemos ter uma visão poética de como uma mãe vê seu filho em transição pelo desenvolvimento, incluindo a adolescência, na canção “O Meu Guri” de Chico Buarque. A canção aborda a relação entre a inocência infantil e a experiência, ou a perda da infância, diante das desigualdades sociais e da violência urbana. A letra da canção aproxima a inocência ao sofrimento humano, gerado pelas contradições sociais, nas duas personagens da canção: a que fala e a de quem se fala, a mãe e o seu guri. A perspectiva da mãe sobre as transições de seu filho durante a adolescência revela a complexidade de viver em um contexto marcado por desigualdades sociais, desafios econômicos e barreiras externas. Ao olhar para seu filho, ela não apenas percebe a luta interna entre infância e maturidade, mas também testemunha a realidade de um jovem negro enfrentando dificuldades concretas para alcançar suas aspirações. A transição da adolescência para a vida adulta é um processo de descobertas e escolhas, mas, para jovens negros como Benedito, esse processo é atravessado por dificuldades adicionais. Enquanto Andrew experimentava sua identidade na escola, Benedito, ao buscar sua autonomia e dignidade, se deparava com a constante exclusão e os obstáculos impostos pelo racismo estrutural. A escola, que pode ser um ambiente de aprendizado e acolhimento, muitas vezes não está preparada para lidar com as especificidades dessa vivência, e, como a mãe de Benedito relata, o mercado de trabalho parece fechado, mesmo para aqueles que se esforçam ao máximo. Ao refletir sobre a ampliação dos círculos sociais, como mencionado na primeira perspectiva, é crucial considerar que os(as) adolescentes negros(as) têm suas interações sociais muitas vezes limitadas pelas condições econômicas e sociais que enfrentam. A escola, ao invés de ser um espaço de igualdade, muitas vezes reflete as disparidades do mundo exterior. O(a) professor(a) precisa ser sensível a essa realidade, não apenas como mediador(a) de conflitos interpessoais, mas também como um agente de transformação que ofereça, para todos os https://www.youtube.com/watch?v=ctIQByUHJe4 https://www.youtube.com/watch?v=ctIQByUHJe4 32 estudantes, um ambiente seguro e inclusivo, que reconheça as diversidades e as lutas enfrentadas por cada um deles. Assim, enquanto a adolescência é um período de transições emocionais e identitárias, é também um momento em que o suporte escolar e a orientação de figuras confiáveis, como professores(as), se tornam essenciais para garantir que todas as adolescências tenham as mesmas oportunidades de sucesso e reconhecimento. Em relação à construção da identidade, é importante compreender que as pessoas podem mudar, que estão todas sujeitas a transições durante todo o processo da vida, mas, que na adolescência esse processo é intensificado. Temos três pontos fundamentais para colaborar com sua atuação enquanto professor(a): 1. Autoconhecimento e experimentação A adolescência é uma fase de intensas buscas por autoconhecimento e experimentação. É importante que você compreenda que as mudanças de comportamento, os diferentes estilos e as novas formas de se expressar são manifestações desse processo de construção da identidade. 2. Expectativas e pressões Os(as) adolescentes enfrentam as expectativas e pressões tanto da família quanto do grupo social. É fundamental criar um ambiente escolar acolhedor e livre de julgamentos, onde os(as) estudantes se sintam à vontade para serem eles(as) mesmos(as). Recortes de gênero e classe desempenham papéis marcantes na maneira como os(as) adolescentes vivenciam essa etapa da vida. Adolescentes meninas, especialmente em comunidades marginalizadas, enfrentam expectativas sociais que frequentemente limitam suas escolhas e oportunidades, enquanto adolescentes meninos podem ser pressionados a performar uma masculinidade rígida. 3. Identidade e diversidade Cada grupo que representa as adolescências terá sua identidade moldada a partir das pressões que sofrem. Adolescentes não são todos iguais, porque também não são tratados de maneira igual. Os rótulos de que adolescentes são problemáticos, por exemplo, vêm do fato de que os dados que existiam sobre eles(as) eram dados daqueles(as) cujas famílias procuravam ajuda médica ou psicológica, e esses foram documentados. Mais recentemente, temos uma quantidade considerável de pesquisas sobre as adolescências, especialmente na América do Norte. No entanto, poucas pesquisas são feitas com adolescentes de grupos invisibilizados. Esses grupos invisibilizados incluem adolescentes negros(as), indígenas, de comunidades periféricas, e LGBTQIA+. A linearidade muitas vezes associada ao 34 conceito de adolescência ignora as complexidades dessas vivências. Nem todos(as) os(as) adolescentes experimentam as mesmas fases no mesmo ritmo ou na mesma ordem. 4. Compreensão e acompanhamento Não é esperado que o(a) professor(a) se envolva na construção da identidade de cada estudante. Esse processo de construção de identidade é natural e irá acontecer com cada um. No entanto, a adolescência tem sido uma fase incompreendida e podemos melhorar esta realidade, o papel da escola e do(a) professor(a) com certeza faz muita diferença quando se sabe como ouvir e acolher a fase. Observar as mudanças de comportamento sem julgamento, oferecendo escuta e diálogo, demonstrando respeito às individualidades, não perpetuando estigmas,preconceitos e violências são formas de auxiliar (ou, de não atrapalhar) os(as) adolescentes nesse percurso. Saiba mais O texto apresenta parte dos achados de uma dissertação de mestrado intitulada “NEGRITUDES, ADOLESCÊNCIAS E AFETIVIDADES: experiências afetivo-sexuais de adolescentes negras de uma periferia da cidade de São Paulo”. Trecho da tese de mestrado de Elânia Francisco: "NEGRITUDES, ADOLESCÊNCIAS E AFETIVIDADES" https://www.fazendohistoria.org.br/blog-geral/2019/11/21/mas-adolescncia-no-tudo-igual-recortes-tnico-racial-de-gnero-e-a-nolinearidade-das-adolescncias https://www.fazendohistoria.org.br/blog-geral/2019/11/21/mas-adolescncia-no-tudo-igual-recortes-tnico-racial-de-gnero-e-a-nolinearidade-das-adolescncias 35 E sobre a sensação de pertencimento? O pertencimento é visto como um aspecto central do desenvolvimento humano, profundamente enraizado na história evolutiva da espécie e nos processos sociais e culturais que moldam a vida de cada indivíduo. Na adolescência, especificamente, surge uma tendência de afastamento dos vínculos familiares em busca de integração em novos grupos sociais, como os encontrados no ambiente escolar. Essa transição reflete uma adaptação evolutiva que permite aos(às) adolescentes explorar novos contextos sociais e desenvolver habilidades importantes para a vida em grupo, essenciais para a sobrevivência em sociedades humanas complexas. É importante que você saiba como essa necessidade na adolescência influencia em suas aulas. 1. Importância do grupo O senso de pertencimento é uma necessidade humana fundamental, e na adolescência essa necessidade se intensifica. Você pode incentivar a formação de grupos saudáveis e positivos no ambiente escolar. Por exemplo, se seu contexto permitir, não tenha receio de deixar os(as) estudantes que são amigos(as) sentarem perto um(a) do(a) outro(a) em sala de aula, mas comunique a eles(as) que é importante que prestem atenção e se apoiem para realizar as atividades propostas. 2. Protagonismo e engajamento Incentivar o protagonismo dos(as) estudantes e sua participação em atividades em grupo contribui para o desenvolvimento do senso de pertencimento e para a construção de relações positivas. Além disso, estimular a colaboração, o trabalho em equipe e a participação em projetos e atividades extracurriculares são formas de promover o engajamento e o senso de comunidade entre os(as) estudantes. Caso não existam, estimular sua construção no ambiente escolar pode ser um caminho. 36 3. Prevenção de riscos É importante que os(as) professores(as) estejam atentos(as) aos comportamentos de risco que podem surgir a partir da busca por pertencimento, especialmente em casos em que os grupos se formam como motivação para perpetração de bullying. Nesse sentido, é fundamental promover a cultura da paz, do respeito à diversidade e a inclusão de todos(as) os(as) estudantes. Por outro lado, a adolescência é marcada pela construção da identidade, um fenômeno complexo, recheado de experimentações, frustrações e descobertas. A identidade está alinhada com a ideia de valores, crenças, objetivos, gostos pessoais e desejos. Não podemos desconsiderar, neste sentido, a influência de fatores interpessoais e culturais neste processo. Quando falamos na busca por pertencimento, por exemplo, é possível que os(a) estudantes sofram pressões sociais para se encaixarem em determinados grupos, e terminem se colocando em situações de risco. A adolescência é uma fase marcada pela busca de independência, em que os sujeitos tendem a se distanciar de seus familiares, dedicando mais tempo e energia para investirem nas relações interpessoais com seus pares. Este distanciamento é comum, mas não significa que a família não deva acompanhar, acolher e cuidar do bem estar do(a) estudante. Na unidade seguinte, O Papel da Escuta e do Acolhimento, no tópico Professores: adultos que apoiam, respeitam e acolhem: discussão sobre o papel dos(as) educadores como figuras de apoio e respeito, você verá com maior profundidade como as pessoas adultas próximas a este(a) adolescente conseguem promover uma escuta acolhedora e genuína, legitimando os sentimentos dessa fase. A escuta favorece uma compreensão ampliada sobre o contexto do(a) estudante para além da escola: sua relação com seus familiares, colegas de turma e outras relações interpessoais, ajudando a identificar fortalezas para seu desenvolvimento e possíveis situações de risco. 37 Outros fatores importantes a serem considerados são os valores sociais, culturais e morais a qual esses(a) adolescentes são expostos. E aqui, cabe pensar, quais valores a escola que estes(a) estudantes estão inseridos(a) reflete – é um ambiente acolhedor, democrático, respeitoso e que se preocupa com os anseios e desejos de seus(suas) estudantes? 4. Influência no desempenho escolar Ao dedicar-se à criação de um ambiente escolar acolhedor, que promova a sensação de pertencimento, a escola desempenha um papel fundamental de contribuir para o sucesso escolar dos(as) estudantes, visto que quanto maior a sensação de pertencimento, mais tendem a se engajar com as propostas pedagógicas e com seu aprendizado, apresentando melhores desempenhos nas avaliações. Saiba mais: Saiba mais: Veja essa discussão sobre como a sensação de pertencimento na escola e o suporte familiar influenciam positivamente o desempenho escolar, destacando a importância de relações saudáveis e ambientes acolhedores para o aprendizado: Sensação de pertencimento e suporte familiar melhoram desempenho escolar Recomendação O livro “Planejando o Trabalho em Grupo: Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas”, de Elizabeth G. Cohen e Rachel A. Lotam, traz estratégias importantes sobre como aplicar com sucesso a aprendizagem cooperativa, de modo a construir salas de aula equitativas. A obra apresenta pesquisas sobre como o trabalho em equipe contribui para o crescimento e o desenvolvimento dos(as) estudantes, e como os(as) professores(as) podem organizar suas salas de aula para que todos(as) participem ativamente. https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2021/04/sensacao-de-pertencimento-e-suporte-familiar-melhoram-desempenho-escolar.html 38 Atividade: Em sua experiência como professor(a), dentre as ações abaixo (pode escolher mais de uma) que mais se assemelham com o que você realiza em sala de aula para promover a sensação de pertencimento escolar entre seus(suas) estudantes. ( ) Demonstro interesse por cada um(a), chamo-os(as) pelo nome e valorizo suas individualidades. ( ) Incentivo a participação de todos(as) nas atividades e promover a interação entre os(as) estudantes. ( ) Proponho atividades em grupo e eu mesmo(a) escolho os grupos. ( ) Proponho atividades em grupo e deixo que eles(as) escolham os grupos. ( ) Converso com estudantes que ficam isolados(as), buscando saber como ajudar. 39 E. Cultura digital, educação midiática e redes sociais: o impacto da cultura digital na vida dos(as) adolescentes. Que a internet está cada vez mais dentro da sociedade em que vivemos, não é uma novidade. Você, professor(a), sabe que a escola não é uma exceção: houve um aumento na inserção da tecnologia no cotidiano da comunidade escolar, e elementos como os smartphones, vídeos, redes sociais e inteligências artificiais formam um conjunto de possibilidades que podem ser usadas de maneiras benéficas, ou não. É possível a escola “ignorar” ou se ausentar de considerar as tecnologias no cotidiano dos(as) adolescentes? Na era da comunicação, das tecnologias de informação e das redes sociais, ainda temos a persistência da desigualdade no Brasil e no mundo. Dessa forma, antes de se abordar a temática sob uma perspectiva pedagógica, primeiro é necessário compreender comoessas tecnologias fazem parte da vida dos(as) estudantes. Precisamos levar em conta o nível de acesso dos(as) adolescentes à tecnologia e à conectividade, entendendo como as disparidades podem gerar mais uma camada de exclusão: a digital. O acesso à internet ocorre em casa? Ou os (as) estudantes têm acesso somente na escola? Muitas opiniões e debates permeiam os assuntos da relação da internet com os(as) adolescentes, mas quando se observam os dados de 2023 da TIC Kids Online Brasil, uma pesquisa que tem como objetivo entender o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil, nota-se que dentre uma amostra de 1190 adolescentes entre 11 e 14 anos, 93% deles(as) usam internet, sendo que 86% usam em casa e 32% na escola (não totaliza 100% porque podem utilizar em mais de um lugar). Dentre os motivos comumente citados para o uso da internet estão: ● fazer pesquisas na Internet para trabalhos da escola, com 75%; ● ouvir música, com 74%; 40 ● assistir vídeos, programas, filmes ou séries, com 70%; ● uso de redes sociais, com 67%. As frequências no uso, todavia, não seguem a mesma sequência. Mais de uma vez por dia: ● 44% dos(as) adolescentes usam redes sociais, ● 43% usam aplicativos de mensagens e ● 38% ouvem música. Dados como esses reforçam uma perspectiva já esperada em relação ao uso da internet por adolescentes. Contudo, a cultura digital pode ser compreendida em âmbitos mais gerais e passaremos a tratar de dois conceitos apresentados pelo filósofo francês Pierre Lévy: o ciberespaço e a cibercultura. A Base Nacional Comum Curricular – BNCC, apresenta 10 competências gerais a serem desenvolvidas ao longo de toda a Educação Básica, entre elas a “cultura digital”, que envolve “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”. O ciberespaço é um meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo abrange não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Por sua vez, “[...] “cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 2009, p. 16). 41 Cultura digital e adolescências Nos tópicos anteriores, tratamos das relações interpessoais e construção da identidade, em conjunto com gerenciamento de emoções e comportamentos sociais. A cultura digital exerce influência significativa em diversos aspectos da vida dos(as) adolescentes. De fato, 72% deles(as) afirmam que a internet é importante para pessoas na idade deles(as), o que demonstra o papel central que a tecnologia ocupa em suas vidas. Juntando esse último dado com os outros já apresentados, nota-se que a internet participa do cotidiano dos(as) adolescentes para estudar, consumir mídias como músicas e vídeos e participar de grupos em rede, e isso encaixa-se não só nas potencialidades do período, mas também nos seus riscos. A internet e as redes sociais se tornaram espaços importantes de socialização, entretenimento e busca por informação, especialmente para os(as) adolescentes, que são de uma geração imersa nessas relações virtuais. Ressalta-se que a questão não é estigmatizar a internet e as redes sociais como algo somente e sempre negativo. As redes sociais, na verdade, atendem a demandas bastante importantes das adolescências. O desafio das pessoas adultas no apoio ao desenvolvimento dos(as) adolescentes é alertá-los(as) para não se deixarem levar exclusivamente por este tipo de recompensa, representada por muitos amigos(as), por likes e seguidores. 42 Por um lado… Por outro lado… É preciso reconhecer que as redes sociais facilitam a comunicação e a criação de laços com pessoas que compartilham interesses em comum, o que pode ser especialmente importante para adolescentes que buscam construir sua identidade e sentir-se parte de um grupo. O uso excessivo da internet pode levar ao isolamento social, afetando o convívio familiar, o desempenho escolar, o sono e a saúde física, além de se tornar, para alguns adolescentes, uma forma de escapismo que mascara problemas e dificulta o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais. Jogos, vídeos, músicas e outras formas de entretenimento on-line podem proporcionar momentos de lazer e descontração, auxiliando no alívio do estresse e na expressão da criatividade. A exposição constante a imagens e narrativas idealizadas nas redes sociais pode gerar ansiedade, insegurança e distorção da imagem corporal, contribuindo para problemas de autoestima e depressão. Fonte: elaboração própria. Internet, redes sociais e saúde mental Ainda de acordo com a pesquisa realizada pela TIC Kids Online Brasil, 22% dos(as) estudantes buscam na internet informações sobre seus sentimentos, sofrimento emocional, saúde mental, ou bem-estar. Esse dado conversa com o que discutimos anteriormente sobre a busca pela construção da identidade e gerenciamento das emoções dos(as) estudantes. Isso é preocupante porque 70% dos(as) adolescentes usam redes sociais sozinhos(as), e, ainda, 50% podem postar na Internet fotos ou vídeos em que aparecem. Os dados indicam que os(as) adolescentes têm, portanto, autonomia no uso da Internet enquanto constroem sua própria identidade, estando propensos(as) a entrar em contato com diversos assuntos, conteúdos e relações de maneira não mediada. Este cenário revela a exposição e os riscos relacionados à privacidade e segurança on-line, especialmente quando se considera a vulnerabilidade emocional típica dessa fase da vida. No geral, a literatura encontra um efeito pequeno das redes sociais sobre a saúde mental, podendo ser negativo, nas vias da forma como a internet influencia a percepção que os(as) adolescentes têm de si próprios(as) e das suas vidas em 43 relação ao retrato que os seus pares fazem das suas vidas através das redes sociais; podendo ser positivo, com a aproximação de conteúdos diversos, com mais representatividade e especificidade. O impacto da internet na saúde mental dos(as) estudantes é uma pergunta sem respostas simples, mas parece que o que tem sido prejudicial é o tipo de conteúdo que eles acessam e não o acesso à internet por si. A escola pode fornecer as bases para que os(as) estudantes a utilizem da melhor forma possível. 44 Ética e cultura digital Como uma novidade social, a cultura digital compila atitudes que colocam as práticas éticas no limiar. Os dados apontam que 23% dos(as) adolescentes não sabem ou têm dificuldades de saber quais informações devem ser compartilhadas na internet, e uma proporção parecida (22%) não sabe reconhecer quando alguém está sofrendo cyberbullying. Debater a ética dentro das redes não é diferente da ética fora delas, apenas a aplicação em um “lugar” diferente. A dificuldade em identificar e lidar com o cyberbullying é agravada pelo anonimato que a internet ainda proporciona, criando um ambiente em que agressores se sentem protegidos e encorajados a praticar atos de violência virtual sem a devida responsabilização. Debater a ética dentro das redes, portanto, torna-se crucial, ressaltando que os princípios que regem o comportamento ético no mundo real também se aplicam ao mundo virtual, mesmo com suas particularidades. É preciso conscientizar os(as) adolescentes sobre a importância da empatia, dorespeito e da responsabilidade off-line e on-line, desconstruindo, inclusive, a ilusão de que a internet é uma "terra sem lei" onde o cyberbullying pode ser praticado impunemente. A potencialidade da internet insere-se na possibilidade de integração de diferentes vozes unindo forças para um debate em comum, como as pautas de luta contra o machismo, racismo, lgbtqia+fobia, capacitismo, entre outros. Por outro lado, grupos que promovem discursos de ódio, comportamentos externalizantes e conteúdos impróprios (7% dos(as) estudantes relatam que já viram pornografia na Internet) também podem ser mais facilmente acessados pelos(as) estudantes. A escola pode não ser eficaz no impedimento do acesso aos conteúdos, mas desempenha um papel valioso no fortalecimento ético desses(as) estudantes, ajudando-os(as) a interpretar de forma crítica os conteúdos os quais são expostos. 45 Imagem 3: Concept of choosing a future profession. Fonte: Shutterstock (2025). Relacionadas às competências listadas na BNCC e mencionadas anteriormente, cabe destacar o papel da educação midiática no contexto da cultura digital e como ela pode ser desenvolvida pelos(as) professores(as). A educação midiática pode ser entendida como a capacidade de compreender de forma analítica os contextos amplos e interconectados que envolvem a mídia. Esse entendimento abrange o aprimoramento de um conjunto de habilidades críticas aplicáveis a diferentes aspectos da interação com a tecnologia e a informação. Essas habilidades possibilitam o acesso, a análise e a produção de conteúdos midiáticos, promovendo uma participação no ambiente digital de maneira crítica, reflexiva e saudável. Estratégia Brasileira de Educação Midiática (EBEM) Lançada em 2023 pela Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a EBEM busca promover o desenvolvimento de habilidades e competências com crianças, adolescentes, pessoas adultas e idosas para a compreensão, análise, engajamento e produção crítica de conteúdos midiáticos. Vista como uma perspectiva transversal, a educação midiática é pensada, no texto, no contexto escolar e também extrapolando os ambientes formais de ensino. Além de um conjunto de ações, a Estratégia reconhece a importância da promoção do acesso saudável, crítico e seguro das mídias digitais. Conheça mais aqui. https://www.gov.br/secom/pt-br/arquivos/2023_secom-spdigi_estrategia-brasileira-de-educacao-midiatica.pdf 46 No contexto da educação midiática, a escola e os(as) professores(as), podem orientar os(as) estudantes ao uso responsável e consciente das redes, entendendo seus riscos e potencialidades. Uma consequência direta está, por exemplo, na veracidade da fonte de informação com a qual os(as) estudantes entram em contato: quase a mesma proporção de adolescentes sabe ou não se uma informação da Internet está certa (47% e 43%, respectivamente). Debater sobre as fontes dos conteúdos disponíveis na internet e incentivar uma postura crítica em relação às informações encontradas, é essencial para uma postura ativa e reflexiva no contexto da cultura digital. Isso complementa-se com vários componentes curriculares, sendo possível o uso de referências, exemplos e aplicações práticas. Além da verificação das fontes de informações, é importante destacar que a internet facilitou o acesso à multiplicidade de conteúdos e informações para os(as) estudantes. Eles pesquisam desde temas relacionados a uma alimentação saudável, como dietas ou refeições saudáveis, com 47% afirmando pesquisar sobre, até questões sobre sexualidade, saúde sexual ou educação sexual, com 11% afirmando recorrer à internet como fonte para esse fim. Juntamente com a informação, é importante destacar as relações de poder. Dados indicam que 48% dos(as) estudantes não sabem ou têm dificuldades em diferenciar um conteúdo patrocinado de um não patrocinado, enquanto uma proporção semelhante (46%) acredita que todas as pessoas encontram as mesmas informações quando pesquisam na Internet. Esses números revelam dificuldades em compreender o funcionamento dos algoritmos e os interesses relacionados com o uso dos dados pessoais. A escola tem pouco controle sobre a exposição a esses conteúdos e o funcionamento dos algoritmos, bem como não determina o que os(as) estudantes acessam na internet. Afinal, a rede é um ambiente vasto e dinâmico, com conteúdos diversos e algoritmos complexos que personalizam a experiência de cada usuário. A escola não consegue filtrar aquilo que os(as) estudantes são 47 expostos. Imagine tentar controlar o feed de cada estudante em redes sociais como TikTok ou Instagram! Apesar dessas limitações, a escola pode desempenhar um papel essencial na conscientização dos(as) estudantes sobre como a internet funciona e influencia suas vidas. Isso significa: ● Ensinar sobre os algoritmos: explicar como os algoritmos selecionam as informações que os(as) estudantes veem, com base em seus dados e interesses, e como isso pode criar "bolhas" de informação e influenciar suas opiniões; ● Desconstruir a neutralidade da internet: mostrar que a internet não é um espaço neutro e imparcial, mas sim permeado por relações de poder, interesses comerciais e ideológicos; ● Desenvolver senso crítico: incentivar os(as) estudantes a questionar as informações que encontram on-line, a buscar diferentes fontes e perspectivas, e a analisar criticamente o conteúdo e a intenção por trás dele; ● Promover a cidadania digital: formar estudantes conscientes de seus direitos e deveres on-line, que utilizem a internet de forma ética, responsável e segura. Lembre-se: ● A escola deve integrar a cultura digital ao currículo de forma crítica e reflexiva. ● O objetivo é orientar os(as) estudantes a usar a internet de forma consciente, responsável e ética. ● É importante estar atento(as) às necessidades e aos desafios específicos dos(as) adolescentes no mundo digital. Tecnologias como potencializadoras do processo educacional A tecnologia em si não é um problema, mas sim a forma como é utilizada. Para considerá-la enquanto recurso para a aprendizagem, é preciso integrá-la ao 48 contexto escolar com intencionalidade pedagógica, com objetivos bem definidos e estratégias didáticas claras. O uso do celular nas escolas é um tema amplamente discutido na atualidade, e não há respostas simples para essa questão. O ponto central a ser considerado é que seu uso deve ser sempre planejado e com objetivos pedagógicos, evitando que se torne um distrator. É importante termos consciência de que os(as) estudantes, muitas vezes, não possuem repertórios para explorar outras possibilidades de uso de seus aparelhos, para além do uso que já fazem, geralmente atrelado à socialização on-line e lazer. Portanto, se queremos expandir esse horizonte, é essencial que seja de forma estruturada, planejada e considerando o desenvolvimento de habilidades e competências digitais. Entre essas habilidades estão a pesquisa on-line, a curadoria de informações, a produção de conteúdo, a ética digital, o autocontrole e autorregulação no uso dos dispositivos, dentre outras. Nesse contexto, se os(as) estudantes forem orientados(as) a desenvolver o autocontrole no uso dos celulares e a utilização para finalidades que vão além do ou da socialização on-line, isso poderá ser um fator de proteção para estes alunos(as) É importante promover um diálogo aberto sobre os benefícios e riscos do uso de telas, incentivando hábitos saudáveis e o equilíbrio entre o mundo digital e o mundo real. Lembre-se: A tecnologia está em constante evolução, e é preciso estar atento às novas tendências além de adaptar as práticas pedagógicas para aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios que surgem. Com a Inteligência Artificial (IA) generativa