Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Resumo Processo Penal Canvas 
Semana 2 - Introdução ao Direito Processual Penal 
Desenvolvimento do Conteúdo 
1. O Processo Constitucional: principais tendências, conceito e natureza jurídica e 
legislação brasileira 
O processo penal é posterior ao direito penal e nasceu da correlação entre processo e pena, 
a partir da necessidade de concretizar a coerção imposta pelo direito penal. Dessa forma, 
o Estado assume o papel de administrar a aplicação dessa sanção, o que, no Brasil, 
inicialmente, ocorreu por meio de códigos rígidos e punitivistas, como o Código de 
Processo Criminal de Primeira Instância, de 1832, o Código de Processo Penal, de 1930, 
e o atual Código de 1941, que sofreu grandes alterações da década de 1970. 
A promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 se tornou um 
marco transformativo em todo ordenamento jurídico, incluindo o Código de Processo 
Penal de 1941, que, até então, era marcadamente autoritário. O processo penal teve que 
se constitucionalizar (ser lido à luz da Constituição) e se democratizar, passando por um 
processo de instrumentalidade constitucional, ou seja, de readequação, uma espécie de 
conformação aos ditames constitucionais democráticos, para que fosse considerado como 
um instrumento a serviço da máxima eficácia do sistema de garantias fundamentais do 
indivíduo, o que o professor Nucci (2023, p. 22) denominou “devido processo penal 
constitucional”. É importante ressaltar que não se pode confundir garantias processuais 
com impunidade; é necessária a coexistência entre garantir e punir, de modo que se possa 
garantir para punir e punir garantindo. 
O processo penal é um sistema normativo processual voltado a concretizar o direito penal, 
muito embora seja possível que resulte em sentenças absolutórias, de modo que se presta 
a reconstituir um fato delituoso, servindo de instrumento para que o Estado possa exercer 
o seu jus puniendi (direito de punir), regulando a persecução penal observadas as 
garantias e formalidades processuais, para que, ao final, possa imputar ou não ao autor do 
delito a respectiva sanção. 
Nas palavras de Capez (2023, p. 168) “Direito Processual Penal é o conjunto de princípios 
e normas que disciplinam a composição das lides penais, por meio da aplicação do Direito 
Penal objetivo”. Para atingir a sua finalidade, o processo penal compreende uma relação 
jurídica processual de instrumentalização, por meio de um procedimento que será 
definido a partir da pena cominada ao delito e/ou a partir de previsão em legislação 
especial. 
Definir a natureza jurídica do processo penal foi desafiador; vários autores e várias teorias 
foram cunhadas ao longo do tempo, principalmente em razão da dificuldade de inserir o 
processo penal na teoria geral do processo que possuía um cunho predominantemente 
cível. Dentre as teorias que buscam explicar a natureza jurídica do processo estão: a teoria 
do processo como contrato; processo como quase contrato; processo como relação 
jurídica processual; processo como situação jurídica; e processo como procedimento em 
contraditório – é certo que essas três últimas são as mais aceitas pela doutrina, de maneira 
combinada, formando o que chamam de uma teoria mista ou temperada. 
Ainda segundo Capez (2023, p. 21), a relação jurídica processual é de uma sucessão de 
posições jurídicas em que as partes revezam entre situações ativas e passivas e 
constituindo o que se denomina “elementos identificadores da relação processual”, 
formados pelos sujeitos processuais (estado-juiz, autor e réu), pelo objeto da relação 
processual (bem da vida) e por pressupostos processuais (requisitos necessários para a 
formação da relação processual). 
Nesse sentido, afirma Nucci (2023, p.30) que “Deve-se eliminar a teoria geral do processo 
e somente se utilizar do processo civil, no contexto do processo penal, quando para fins 
de suprimento de lacunas, conforme dispõe o art. 3.º do Código de Processo Penal. Nada 
mais.”. 
Alguns sistemas caracterizam a relação entre juiz, defesa e acusação, a atuação do 
magistrado na produção da prova e os meios de defesa utilizados pelo acusado: 
 Sistema inquisitório: as atividades de acusar e julgar estão concentradas em uma 
só pessoa: o juiz. Trata-se de um sistema rígido e secreto, em que vale qualquer 
coisa em busca da verdade real. O magistrado possui amplos poderes 
investigativos, pois nele se concentra a gestão da prova; admitia-se até mesmo a 
tortura do acusado para se obter a sua confissão. Nesse sistema, o acusado é mero 
objeto do processo e não possui direitos, e disso decorre a ausência de 
contraditório. Por isso, o sistema inquisitorial é considerado incompatível com os 
direitos e garantias individuais resguardados pela Convenção Americana de 
Direitos Humanos. 
 Sistema acusatório: sistema criado com base na oralidade e publicidade de atos. 
Nele há uma separação clara entre as funções de acusar, julgar e defender, que 
ficam a cargos de sujeitos diferentes, em que acusação e defesa possuem direitos 
e deveres observados em razão do contraditório, e ampla defesa, que é exercida 
pelas partes com o auxílio da produção probatória. O acusado é tratado como 
sujeito de direito, e suas garantias individuais são observadas, especialmente, em 
relação ao princípio da presunção de inocência. O juiz figura de maneira imparcial 
e atua no processo apenas quando provocado, em regra, com o advento do Pacote 
Anticrime (Lei nº 13.964/2019), que inseriu a adoção expressa pelo sistema 
acusatório em seu art. 3º-A, apesar de ainda ser possível encontrar algumas 
mitigações em seu bojo. 
 Sistema misto ou francês: é formado por duas fases: uma inquisitorial – escrita 
e sigilosa, com a finalidade de descobrir a autoria e materialidade do fato – e outra 
acusatória – por meio de procedimento oral e público e com a observâncias das 
garantias do acusado. Era prevalente o entendimento doutrinário de que o atual 
CPP havia adotado o sistema misto, porém, com a promulgação da CF/1988 e a 
previsão expressa da separação das funções de acusar, defender e julgar e a 
observância de princípios como o do contraditório, ampla defesa e não 
culpabilidade, esse entendimento foi alterado, e o CPP passou a ser considerado 
um sistema acusatório, sendo tal entendimento expressamente consolidado em seu 
art. 3°-A, muito embora alguns autores defendam que não se trata de um sistema 
acusatório puro, em razão de algumas mitigações, como o art. 156, I do CPP, que 
faculta ao juiz de ofício a produção antecipada de prova. 
1.1 Evolução Doutrinária: em direção ao garantismo, à jurisdição e à soberania do 
Estado 
Com o dever de observância aos princípios que regem o Estado Democrático de Direito, 
houve a necessidade de uma readequação do CPP aos novos ditames que regem o 
ordenamento jurídico, para que observasse os direitos e garantias fundamentais, o que 
culminou na aplicabilidade ao processo penal de princípios constitucionais voltados à 
proteção de direitos fundamentais, de modo a relativizar a aplicação desmedida da tutela 
penal, o que ocorre, principalmente, por meio de mandamentos constitucionais como a 
proibição dos excessos e da máxima efetividade dos direitos fundamentais. 
Com certa frequência, é comum confundir esse mandamento constitucional de 
observância a garantias e direitos fundamentais com o garantismo, como se fosse uma 
espécie de proteção desmedida e a qualquer custo dos direitos do réu no processo penal. 
Contrariamente, o garantismo se relaciona à proteção das liberdades individuais, 
proibindo excessos por parte do Estado, como aplicação de penas corporais, tortura, 
antecipação de condenações etc. e, consequentemente, conferindo máxima efetividade 
aos direitos fundamentais. Além disso, permite que as penas aplicadas sejam baseadas em 
um acervo probatório robusto, com respeito ao contraditório e ampla defesa, e nãoextinção 
da punibilidade do agente. 
 Ação penal privada subsidiária da pública 
Apenas se aplica em caso de inércia comprovada do Ministério Público, quando 
ultrapassa o prazo para o oferecimento da denúncia sem que haja qualquer outro 
movimento processual necessário a formação do opinio delicit. Nesse momento surge 
para o ofendido o exercício do direito de queixa que é discricionário. 
Atenção! Não se aplica aos casos de arquivamento, uma vez que houve uma ação do 
Ministério Público. 
De tão relevante encontra previsão na Constituição Federal (art. 5º, LIX), no Código Penal 
(art. 100, §3º) e no Código de Processo Penal (art. 29). 
É um caso de legitimidade concorrente, a queixa do ofendido não obsta o oferecimento 
da denúncia por parte do Ministério Público. E, ainda que não ofereça a denúncia deve 
atuar no processo como parte adjunta sob pena de nulidade. 
O prazo para o exercício da ação penal privada subsidiária da pública é decadencial 
impróprio, uma vez que seu término não extingue a punibilidade, não é suspenso, nem 
interrompido. 
 Extinção de punibilidade na ação penal privada 
Entre as hipóteses de extinção de punibilidade da ação penal privada estão: 
Perdão 
É uma espécie de desculpas concedida pelo ofendido ou seu representante legal ao autor 
do fato delituoso e depende da sua concordância para que possa produzir os efeitos legais 
na ação penal privada (exclusivamente privada ou personalíssima). Ocorre depois de já 
exercido o direito de queixa até antes do trânsito em julgado em razão do princípio da 
disponibilidade da ação privada. 
CPP - Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais. 
O perdão ofertado a um dos autores se estende aos demais desde que aceitem. A aceitação 
do acusado pode ser tácita (to incompatível com o exercício da queixa, silêncio por mais 
de três dias na forma do art. 58 do CPP) ou expressa (por declaração). 
CPP - Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado 
será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser 
cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. 
O perdão ofertado por uma das vítimas não se estende as demais, é ato de vontade 
individual. 
CPP – Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que 
produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar. 
Perempção 
É a perda do direito de prosseguir com a ação privada (exclusivamente privada ou 
personalíssima) diante da desídia, do descuido do ofendido na condução processual, trata-
se de uma espécie de punição do legislador a negligência do querelante. 
CPP – Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á 
perempta a ação penal: 
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo 
durante 30 dias seguidos; 
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em 
juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das 
pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; 
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato 
do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas 
alegações finais; 
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. 
Decadência 
Trata-se do não agir do ofendido que ocasiona a perda do exercício do seu direito de 
queixa na ação penal privada ou na ação penal pública condicionada a representação que 
ocasiona a extinção de punibilidade do agente. E, Segundo Nucci: 
“É a perda do direito de agir, pelo decurso de determinado lapso temporal, estabelecido 
em lei, provocando a extinção da punibilidade do agente. Na realidade, enquanto a 
decadência faz perecer o direito de ação, que, indiretamente, atinge o direito de punir do 
Estado, já que este não pode prescindir do devido processo legal para aplicar sanção 
penal a alguém, a prescrição, quando ocorre, atinge diretamente o direito de punir 
estatal.” (2023, p. 267) 
CPP - Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante 
legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo 
de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso 
do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. 
O prazo decadencial é de 06 (seis) meses contados, em regra, a partir do conhecimento 
da autoria do fato delituoso. Não se interrompe, nem é suspenso, contado na forma do 
prazo penal (art. 10 do CP) 
Atenção! Nos casos de ação penal privada subsidiária da pública não haverá extinção da 
punibilidade em razão do seu caráter público. 
Renúncia 
É um ato de vontade do ofendido ou seu representante legal que pode ser tácita (art. 57 
do CPP) ou expressa (art. 50 do CPP), em não exercer seu direito de queixa, portanto 
ocorre antes da ação penal privada (exclusivamente privada ou personalíssima) ser 
iniciada com a queixa. 
CPP – Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por 
seu representante legal ou procurador com poderes especiais. 
CPP – Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova. 
Nucci conceitua renúncia da seguinte forma: “Renunciar significa desistir ou abdicar de 
algo. No contexto processual penal, demonstra que a vítima se recusa a tomar 
providência contra o seu agressor, em se tratando de crime de ação penal privada.” 
(2023, p. 270). 
A renúncia não depende da aceitação do autor do delito, e concedido a um dos autores se 
estenderá aos demais. Assim como a renúncia de uma das vítimas não se estende as 
demais, por ser um ato pessoal de vontade. 
CPP - Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores 
do crime, a todos se estenderá. 
Ação penal popular 
Apesar da nomenclatura não é possível que qualquer pessoa ajuíze, e se restringe apenas 
a duas situações: 
 Habeas corpus – qualquer pessoa pode oferecê-la para beneficiar qualquer outra 
pessoa, trata-se de uma ação autônoma de impugnação. 
 Crime de responsabilidade contra determinados agentes políticos – a Lei n. 
1.079/1950 prevê que qualquer pessoa poderá oferecer denúncia (uma atecnia 
legislativa, quando na verdade se trata de notitia criminis). Porém, crime de 
responsabilidade, apesar da nomenclatura, não se trata de crime, mas de infração 
político-administrativa, por isso não daria início a uma ação penal, mas a um 
procedimento político. 
AS CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL: A REFORMA. 
A ação penal se concretiza por meio do processo penal que é um conjunto de atos 
ordenados. Nas palavras de Nucci “São requisitos que subordinam o exercício do direito 
de ação. Para exigência, no caso concreto, da prestação jurisdicional, faz-se necessário, 
antes de tudo, o preenchimento das condições da ação.” (2023, p. 61) 
Com a chamada Reforma do Processo Penal ocorrida por meio da Lei n. 11.690/2008 as 
condições da ação passaram a ser fundamento para rejeição da denúncia ou queixa, assim 
como também em caso de inépcia e ausência de justa causa, o que conferiu mais 
celeridade ao processo. 
CPP – Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
I - for manifestamente inepta; 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
As condições da ação decorrem da teoria geral do processo e são requisitos formais para 
que seja possível exercer o direito de ação. Com o advento do CPC/15 a expressão 
“condições da ação” foi suprimida, o que não atingiu o processo penal. 
O processo penal adotou a Teoria da Asserção que dispõe que a análise das condições da 
ação deve ocorrerde plano, inicialmente, sem que o magistrado precise adentrar no mérito 
e, se for o caso rejeitar a denúncia ou a queixa. 
 Condições de procedibilidade da ação penal. 
As condições da ação se dividem em genéricas e específicas: 
 Condições da ação genéricas: devem, necessariamente, estar presentes em todas 
as ações penais. 
o Legitimidade para agir (partes): Aduz Nucci que “Ingressando ação 
penal, deve o juiz certificar-se da legitimidade da parte nos dois polos: 
ativo e passivo. E mais, necessita verificar a legitimidade para a causa 
(ad causam) e a legitimidade para o processo (ad processum).” (2023, p. 
257). A legitimidade é a pertinência subjetiva da ação, constituída pela: 
1. Legitimidade ad causam formada pela legitimidade para ocupar o 
polo ativo (na ação penal pública será o Ministério Público e na 
ação penal privada será o ofendido ou seu representante legal em 
alguns casos) e pela legitimidade para ocupar o polo passivo (o 
suposto autor do fato delituoso), qualquer vício nessa configuração 
implica nulidade absoluta (art. 564, II do CPP). 
2. Legitimidade ad processum se relaciona com a capacidade para 
atuar no processo, trata-se de pressuposto de validade, e não se 
confunde com a capacidade postulatória. 
o Possibilidade jurídica do pedido (pedido): Nas palavras de 
Nucci “Significa ter o Estado a possibilidade, em tese, de obter a 
condenação do réu, motivo pelo qual é indispensável que a imputação 
diga respeito a um fato considerado criminoso.” (2023, p. 255). É 
condição para que o Estado possa prosseguir com a persecução penal e 
possível condenação do acusado, é necessário que o fato narrado na inicial 
(denúncia ou queixa) seja considerada uma infração penal, ou seja, o fato 
deve encontrar previsão no texto legal. 
o Interesse de agir (causa de pedir): Segundo Nucci “Detecta-se o 
interesse de agir do órgão acusatório quando houver necessidade, 
adequação e utilidade para a ação penal.” (2023, p. 257) 
a. Necessidade: é presumida, pois se relaciona com o devido processo 
legal, é o meio para se alcançar a condenação. 
b. Adequação: é a relação entre o direito pretendido e os 
procedimentos processuais. 
c. Utilidade: é a satisfação do interesse do autor, a condenação do 
acusado. 
 Justa causa: passou a ser considerada condição da ação 
autônoma com a Reforma do CPP (Lei n. 11.719/2008), 
antes era considerada interesse de agir. Envolve a análise 
do suporte probatório mínimo que são os indícios 
suficientes de autoria e de materialidade do delito. 
o Condições da ação específicas: se aplicam em algumas situações apenas, 
por isso são consideradas condições de procedibilidade: representação do 
ofendido e a requisição do Ministro da Justiça. 
Denúncia e Queixa 
A denúncia é a peça acusatória privativa do Ministério Público na ação penal pública. E 
a queixa é a peça acusatória do ofendido ou de seu representante legal na ação penal 
privada. 
Os requisitos estão presentes no art. 41 do CPP: 
CPP - Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas 
as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa 
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. 
Ressalte-se que em relação a queixa é necessária ainda que esteja acompanhada por uma 
procuração com poderes especiais. 
 Requisitos 
Dessa forma, os requisitos formais presentes no art. 41 do CPP que deverão estar 
presentes na denúncia e na queixa são: 
 Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias: trata-se de uma 
narrativa, simples, objetiva, pormenorizada que abarque todas as circunstâncias 
relacionadas a dinâmica do fato, tempo, modo, local, sem externar qualquer juízo 
de valor. A inobservância desse requisito acarreta a inépcia da inicial, assim como 
viola o princípio da ampla defesa, uma vez que, no processo penal, o acusado se 
defende dos fatos que lhe foram imputados. 
 Qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-
lo: indicação do nome completo, dados pessoais, documentos como identidade e 
CPF, além do seu endereço. Porém, é possível que a peça acusatória contenha 
dados acerca identidade física do acusado na forma do art. 259 do CPP. 
 Classificação do crime: como o acusado se defende dos fatos e não do delito que 
lhe é imputado, a classificação não é obrigatória, pois é possível que em sede 
de emendatio libelli (modificação da classificação, da tipificação do delito) ou 
de mutatio libelli (modificação na dinâmica fática que consequentemente implica 
na alteração da classificação), a classificação seja alterada. 
 Rol de testemunhas: é facultativa, mas sua inobservância acarreta preclusão, não 
se inclui nesse número os informantes e a vítima. O número de testemunhas difere 
a depender do procedimento adotado, e se refere a cada fato criminoso quando se 
tratar de concurso de crimes. 
o Três testemunhas: procedimento comum sumaríssimo; 
o Cinco testemunhas: segunda fase do júri, procedimento comum sumário 
e no rito da Lei de Drogas; 
o Seis testemunhas: no processo penal militar; 
o Oito testemunhas: primeira fase do júri e procedimento comum 
ordinário. 
Além dos requisitos expressos existem outros que devem ser observados na elaboração 
da peça acusatória: 
 Endereçamento: indicação do órgão competente para o processamento e 
julgamento da peça acusatória, sua inobservância não acarreta inépcia. 
 Pedido de condenação: solicitação genérica pedindo apenas que o acusado seja 
condenado, não necessita mencionar pena ou regime de condenação. É possível 
ainda que o pedido seja de absolvição imprópria na denúncia. 
 Nome e assinatura: o autor deve assinar a peça acusatória sob pena de ser 
considerada inexistente. A queixa será subscrita pelo advogado do querelante 
dotado de procuração com poderes especiais e a denúncia pelo membro do 
Ministério Público. 
 Redação em vernáculo: a peça acusatória deve ser redigida em português. 
 Prazos 
Denúncia: em regra, é o prazo constante do art. 46 do CPP, ou seja, de 05 (cinco) dias se 
o acusado estiver preso e 15 (quinze) dias se o acusado estiver solto. Porém, algumas 
legislações especiais dispõem de prazos diferenciados. 
Queixa: entende-se que é o mesmo prazo para o exercício da ação penal, que é 
decadencial de 06 (seis) meses a partir do conhecimento da autoria. 
 Aditamento 
Denúncia: é facultado ao Ministério Público aditar a denúncia ou oferecer nova denúncia 
para incluir novos fatos ou fatos que tenham algum tipo de conexão ou continência com 
os fatos narrados na inicial acusatória. 
Queixa: é aditada pelo Ministério Público (art. 45 do CPP) no prazo de até 03 (três) dias 
do seu recebimento. Sua atuação se restringe apenas a inclusão de circunstâncias que 
possam influenciar na classificação do delito, como dia, hora, local, modo, motivo, meio 
utilizado, qualificação do acusado. Em se tratando de ação penal privada subsidiária da 
pública, o Ministério Público pode desconsiderar a queixa e oferecer denúncia 
substitutiva (art. 29 do CPP). 
São espécies de aditamento: 
 Próprio: inclusão de novos fatos ou novos acusados que tenham relação com a peça 
acusatória inicial. 
 Real: inclusão de novos fatos que tenham conexão com a acusação inicial. 
 Pessoal: inclusão de novos acusados que tenham relação com a peça acusatória inicial. 
 Impróprio: inclusão de circunstâncias relevantes como, por exemplo, a qualificação do 
acusado, local, dia, horário, modo, meio. 
 Espontâneo: o Ministério Público promove o aditamento de ofício. 
 Provocado: o Ministério Público é instado pelo magistrado a promover o aditamento. 
Semana 8 - Ação Civil Ex Delicto 
Desenvolvimento do Conteúdo 
Origens e considerações gerais e as teorias da responsabilidade civil 
Nos primórdios vigia a vingança privada emque qualquer dano cometido era resolvido 
imediatamente com base na força bruta, se fosse posterior tinha como fundamento a Lei 
de Talião “olho por olho, dente por dente” pautada nos castigos físicos um pouco mais 
limitada que a anterior. Logo em seguida, começou a se substituir os castigos físicos por 
recompensas econômicas. 
Um fato delituoso enseja uma responsabilização criminal e pode dar ensejo também a 
uma responsabilização cível. O dever de reparar o dano no âmbito civil possui previsão 
nos arts. 186 e 927 do CC/02, além de ser um desdobramento da condenação penal 
conforme art. 91, I do CP. 
Segundo Nucci: “Trata-se da ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter 
indenização pelo dano causado pela infração penal, quando existente. Há delitos que não 
provocam prejuízos, passíveis de indenização – como ocorre nos crimes de perigo, como 
regra. O dano pode ser material ou moral, ambos sujeitos à indenização, ainda que 
cumulativa.” (2023, p. 303). 
O ofendido propõe a ação civil ex delicto independentemente da ação penal, que seguirá 
o processo de conhecimento, pois a responsabilidade civil não depende da 
responsabilidade penal. 
CPP - Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do 
dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o 
responsável civil. 
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso 
desta, até o julgamento definitivo daquela. 
A legitimidade ativa na ação civil ex delicto é do ofendido ou de seu representante legal, 
porém o art. 68 do CPP prevê que caberá ao Ministério Público a propositura caso o 
ofendido seja próprio, tanto para propor a ação civil ex delicto quanto para a ação civil de 
execução ex delicto. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal determinou que este 
dispositivo se encontra em inconstitucionalidade progressiva ou temporária, o que 
implica dizer que o Ministério Público terá legitimidade até que haja uma adequação das 
Defensorias Públicas estaduais, de modo que nos locais onde não houver a atuação da 
Defensoria o Ministério Público será o legitimado ativo quando o titular da ação for 
considerado comprovadamente hipossuficiente econômico. 
CPP - Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1º e 
2º), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, 
a seu requerimento, pelo Ministério Público. 
Vale ressaltar que a legitimidade passiva, em regra, é do autor do crime na ação civil ex 
delicto, mas pode ser que a responsabilidade seja atribuída a terceiro que não atuo na ação 
penal. De toda forma a ação civil ex delicto por ser uma ação de conhecimento, chegará 
ao responsável pela reparação do dano causado. 
Uma vez intentada a ação penal, o juiz da ação civil ex delicto poderá optar em suspender 
o curso da decisão até o julgamento pelo juízo criminal para evitar decisões conflitantes 
(art. 64, parágrafo único do CPP). 
A competência para o processamento da ação civil ex delicto é do domicílio da vítima ou 
local do fato, cabendo a vítima a escolha. 
Acerca da responsabilização civil, algumas teorias versam sobre a ilicitude do fato e o 
dever de indenizar: 
Responsabilidade objetiva: Necessita que se prove a relação entre o a conduta humana 
(comissiva ou omissiva) e o dano por meio de um nexo causal. É devida, 
independentemente da existência de culpa, desde que comprovado o risco de dano ou o 
dano em si. 
Responsabilidade subjetiva: está pautada na conduta do agente, além da correlação entre 
a conduta humana (comissiva ou omissiva) e o dano por meio do nexo causal, é preciso 
avaliar o dolo e a culpa em sentido estrito (negligência, imprudência e imperícia). A 
responsabilidade penal será sempre subjetiva. 
A exclusão da ilicitude penal e a ação civil ex delicto. 
Excluem a ilicitude e, por consequência, a responsabilização penal: o estado de 
necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento de dever legal e o exercício regular 
de direito. 
CPP - Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato 
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever 
legal ou no exercício regular de direito. 
Frise-se que a coação irresistível e obediência hierárquica que também são causas 
excludentes de ilicitude previstas no art. 22 do CP não impossibilitam a ação civil ex 
delicto. 
A sentença penal: condenatória e absolutória 
A sentença penal condenatória transitada em julgado enseja a ação de execução civil ex 
delicto, uma vez que possui em seu bojo a previsão de condenação civil em reparar o dano 
causado à vítima independente de pedido da parte e, por isso funciona como título 
executivo judicial (art. 515, VI do CPC), sem a necessidade de rediscussão da matéria no 
âmbito cível. Apesar de não arbitrar dano moral, mas tão somente material, uma vez que 
não teria como quantificar o valor do sofrimento percebido pela vítima. Segundo Nucci: 
Tem um sentido amplo a reparação do dano provocado pelo crime, implicando não 
somente restituição da coisa – quando for possível –, mas também pagamento do prejuízo 
causado, abrangendo os lucros cessantes. Lembremos, ainda, que há prejuízos que não 
podem ser quantificados em dinheiro, pela falta de correspondência ao patrimônio, 
merecendo, então, que a indenização se dê pelo dano moral causado.” (2023, p. 307) 
CPP - Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a 
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante 
legal ou seus herdeiros. 
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser 
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem 
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. 
Na ação de execução ex delicto a competência será que será no domicílio do executado, 
no local em que se encontrarem seus bens, ou no local em que deva ser executada a 
obrigação, a escolha também é feita pelo ofendido. 
O prazo prescricional para a ação civil de execução ex delicto é de 03 (três) anos 
conforme regra do art. 206, §3º, V do CPC. 
A sentença penal condenatória rescindida por revisão criminal obsta o prosseguimento da 
ação de execução civil ex delicto se ainda não houver sido cumprida, se estiver em 
cumprimento será suspensa, se já estiver sido cumprida ensejará o requerimento de 
indenização ao Estado. 
Entretanto, algumas hipóteses envolvendo sentença penal absolutória podem ou não 
impossibilitar a indenização civil reparatória na forma do art. 386 do CPP: 
CPP - Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde 
que reconheça: 
I – estar provada a inexistência do fato; 
II – não haver prova da existência do fato; 
III – não constituir o fato infração penal; 
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; 
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; 
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 
22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida 
sobre sua existência; 
VII – não existir prova suficiente para a condenação. 
IMPEDEM a ação civil ex delicto 
NÃO IMPEDEM a ação civil ex delicto 
I – estar provada a inexistência do fato; 
II – não haver prova da existência do fato; 
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; 
III – não constituir o fato infração penal; 
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo 
se houver fundada dúvida sobre sua existência; 
Obs.: exceto a coação irresistível e obediência hierárquica.V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; 
VII – não existir prova suficiente para a condenação. 
IMPEDEM a ação civil ex delicto NÃO IMPEDEM a ação civil ex delicto 
I – estar provada a inexistência do fato; II – não haver prova da existência do fato; 
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; III – não constituir o fato infração penal; 
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou 
mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; 
Obs.: exceto a coação irresistível e obediência hierárquica. 
V – não existir prova de ter o réu 
concorrido para a infração penal; 
 
VII – não existir prova suficiente para a 
condenação. 
Efeitos civis decorrentes de outras decisões 
Além dessas, há outras causas que não impedem a ação civil ex delicto presentes nos arts. 
66 e 67 do CPP: 
CPP - Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá 
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material 
do fato. 
CPP - Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: 
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; 
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; 
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime. 
 Sentença absolutória proferida pelo júri: não impede ação civil ex delicto por não 
saber qual o motivo que levou a absolvição. 
 Sentença absolutória imprópria: não impede ação civil ex delicto, pois há o 
reconhecimento da existência de um fato típico e ilícito. 
 Transação penal: não impede ação civil ex delicto em razão de expressa previsão 
legal presente no art. 76, § 6º da Lei n. 9.099/95. 
Pontos Importantes: 
 Da sentença declaratória que concede o perdão judicial: Nas palavras de Nucci 
“Entendemos que se trata de decisão de natureza condenatória, pois não se perdoa quem 
é inocente, mas sim aquele que é culpado, embora não mereça sofrer a imposição de 
pena” (2023, p.306). Dessa forma, a sentença que declara a concessão do perdão judicial 
não obstaria a ação civil ex delicto. 
 Prescrição da pretensão punitiva: Nucci pontua que não haveria efeito em eventual 
sentença condenatória já prolatada, de modo que o reconhecimento da prescrição antes 
do trânsito em julgado da sentença penal condenatória da prescrição afastaria a formação 
de um título executivo judicial, ou seja, não haveria mais o direito de interpor uma ação 
de execução civil ex delicto. 
 Prescrição da pretensão executória: Nesse mesmo diapasão, Nucci ressalta que 
decorrido o lapso temporal após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, 
subsistiria o direito de interposição de uma ação de execução civil ex delicto enquanto 
um dos efeitos secundários da sentença. 
 Responsabilidade civil de terceiro: Nucci entende não ser possível estender os efeitos 
de uma ação penal à terceiros que não integraram o processo, devendo, nesse caso, ser 
aberta uma ação de conhecimento na seara cível para que o ofendido busque seu direito 
de reparação, em atenção ao princípio do devido processo legal. 
1 - CONCEITO E CRITÉRIOS DE REPARTIÇÃO DA COMPETÊNCIA 
Antes de conceituar competência é necessário que saibamos o que é jurisdição, segundo 
Nucci: “É o poder-dever atribuído, constitucionalmente, ao Estado para aplicar a lei ao 
caso concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos.” (2023, p. 315). Já para 
Capez “(...) jurisdição é a função estatal exercida com exclusividade pelo Poder 
Judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso concreto, 
com a consequente solução do litígio.” (2023, p. 96) 
Dessa forma, jurisdição é entendida como o exercício da função típica do Poder Judiciário 
ao aplicar as normas para a solução de conflitos a partir de um caso concreto, e que o faz 
através do magistrado, regularmente investido na função e com competência para o ato. 
Capez traz importantes princípios para o entendimento sobre a jurisdição que, 
consequentemente também auxilia na compreensão do conceito de competência: 
 Princípio do juiz natural: determina que quem deve conduzir o processo é um 
juiz competente, assim como veda a aplicação de tribunais de exceção conforme 
art. 5º, LIII e XXXVII da CRFB/88. 
 Princípio da investidura: o magistrado deve estar regularmente investido na 
função. 
 Princípio do devido processo legal: art. 5º, LIV da CRFB/88. 
 Princípio ne procedat judex ex officio: o processo não se inicia de ofício, 
necessita de impulso das partes. 
 Princípio da indeclinabilidade da prestação jurisdicional: ao juiz não caberá 
negar o exercício da jurisdição segundo art. 5º, XXXV da CRFB/88. 
 Princípio da improrrogabilidade: em regra, a competência não se prorroga. Um 
juiz incompetente não se torna competente, salvo em situações previstas em lei. 
 Princípio da inevitabilidade de jurisdição: as partes não podem recusar o juiz 
designado, salvo em situações de impedimento ou suspeição. 
 Princípio da correlação ou da relatividade: o magistrado deve sentenciar de 
acordo com o que foi pedido. 
Assim, a jurisdição tem como principais características a substitutividade, pois a vontade 
das partes é substituída pela decisão judicial; e a definitividade que ocorre com o trânsito 
em julgado que torna o decisium definitivo. 
Agora que entendemos o que é jurisdição, seus princípios e características, passaremos 
ao conceito de competência, que é o limite a essa jurisdição estatal, de modo que a 
autoridade judiciária só poderá atuar dentro dos limites previamente estipulados em lei. 
“Trata-se da delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço dentro do qual pode 
determinada autoridade judiciária aplicar o direito aos litígios que lhe forem 
apresentados, compondo-os.” (NUCCI, 2023, p. 318). E, segundo Capez: “Em poucas 
palavras, competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos 
quais o juiz pode prestar jurisdição). Aponta quais os casos que podem ser julgados pelo 
órgão do Poder Judiciário. É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do poder de 
julgar.” (2023, p. 98) 
2 - ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA: ABSOLUTA E RELATIVA 
Possui relação com a divisão realizada pela doutrina e pela jurisprudência sobre a 
competência que pode ser: 
 Competência absoluta 
Baseada no interesse público conforme previsão constitucional. “Chama-se absoluta a 
hipótese de fixação de competência que não admite prorrogação, isto é, deve o processo 
ser remetido ao juiz natural determinado por normas constitucionais ou processuais 
penais, sob pena de nulidade do feito.” (NUCCI, 2023, p.319). 
Nessa espécie estão inseridos os seguintes critérios de competência: em razão da 
matéria (ratione materiae); por prerrogativa de função (ratione personae ou funcionae); 
e funcional. Por ser absoluta pode ser arguida a qualquer tempo, de ofício pelo juiz ou 
pelas partes em razão do interesse público envolvido, não se prorroga nem se modifica, e 
sua inobservância acarreta nulidade absoluta. 
 Competência relativa: 
É definida segundo a vontade das partes baseada em normas 
infraconstitucionais. “Chama-se relativa à hipótese de fixação de competência que 
admite prorrogação, ou seja, não invocada a tempo a incompetência do foro, reputa-se 
competente o juízo que conduz o feito, não se admitindo qualquer alegação posterior de 
nulidade” (NUCCI, 2023, p.319). 
Tal espécie possui como critérios de competência: em razão do local (ratione loci); por 
prevenção; por distribuição; por conexão ou continência. Por ser absoluta deve ser arguida 
como matéria de defesa pela parte sob pena de preclusão, pode ser modificada por 
conexão ou continência, sua inobservância acarreta nulidade relativa desde que 
comprovado o prejuízo. 
3 - CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA3.1. Critérios de determinação da competência absoluta 
3.1.1. Em razão da matéria 
Como o próprio nome diz, a definição do local competente para processar e julgar leva 
em consideração a natureza da infração, a matéria envolvida no delito. “Por vezes, a lei 
deixa de considerar principal o critério do lugar da infração ou do domicílio do réu para 
eleger princípio diverso, que é o da natureza da infração penal. É a competência em 
razão da matéria (ratione materiae).” (NUCCI, 2023, p. 324). 
 
Justiça Federal 
 
 
Justiça Militar 
 
 
Justiça Eleitoral 
 
 
Tribunal do Júri 
 
 
Justiça Estadual 
 
3.1.2. Por prerrogativa de função: 
Relaciona-se com a previsão normativa que confere a algumas funções públicas 
prerrogativas para que os agentes que a exercem sejam processados e julgados 
originariamente por um Tribunal. Segundo Nucci “quando houver prerrogativa de 
função, isto é, a existência da eleição legal de um foro privilegiado para julgar 
determinado réu, que cometeu a infração penal investido em função especial, relevam-se 
as demais regras naturais de fixação da competência, passando-se a respeitar o foro 
específico, que diz respeito à qualidade da pessoa em julgamento (ratione 
personae).” (2023, p. 332). Nucci ainda esclarece que 
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
https://a10349-20362705.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362705/course%20files/material_web/modulo_02/semana_10/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362705&inline=1
 “As autoridades em geral, que possuem o foro privilegiado, somente podem ser 
processadas, ainda que o delito seja cometido antes do início do exercício funcional, nas 
Cortes especificadas na Constituição ou em lei. Assim, caso alguém esteja respondendo 
por um determinado delito em Vara comum de 1.º grau, uma vez que seja eleito, por 
exemplo, deputado federal, o feito será remetido, para continuidade, ao Supremo 
Tribunal Federal. Entretanto, se ele deixar o cargo, sem ter sido julgado, retornará à 
instância original, pois o crime foi praticado antes do exercício do mandato.” (2023, p. 
332). 
CPP – Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal 
Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais 
de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam 
responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. 
Foro por Prerrogativa de Função 
STF 
Crime comum 
Presidente da República; Vice-Presidente da República; Deputados Federais e 
Senadores; Ministros do STF; Procurador Geral da República; Ministros de Estado 
e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; Advogado Geral da 
União; membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os 
chefes de missão diplomática de caráter permanente. 
Crime de 
responsabilidade 
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; 
membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes 
de missão diplomática de caráter permanente. 
Senado Federal 
ou Câmara dos 
Deputados 
Crime de 
responsabilidade 
Presidente da República; Vice-Presidente da República; Deputados Federais e 
Senadores; Ministros do STF; Procurador Geral da República; Membros do 
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do MP; Advogado Geral da 
União; 
STJ 
Governadores; Desembargadores (TJ, TRF e TRT); Membros do TRE; Conselheiros 
dos Tribunais de Contas; Membros do MPU que atuem perante os tribunais. 
TRF Juiz Federal, Militares e do Trabalho; e Procurador que atue no 1º grau. 
TJ Prefeito; Juiz Estadual e Promotor. 
Quadro 1: Foro por Prerrogativa de Função Fonte: Adaptado pelo autor 
Atenção 
As Constituições Estaduais podem trazer regras de competência específicas aplicáveis 
aos vereadores e vice-governadores. 
Atenção 
Membros do Ministério Público e magistrado devem ser julgados pelo órgão a que 
estejam vinculados, independentemente da natureza da infração, como, por exemplo, um 
magistrado que atua na justiça estadual e cometa um crime federal será julgado pelo 
Tribunal estadual. 
3.1.3. Funcional: 
Possui relação com a organização judiciária como a determinação de acordo com as fases 
processuais (conhecimento e execução), objeto e grau de jurisdição. Geralmente seu 
regramento é encontrado no Regimento Interno dos Tribunais. 
3.2. Critérios de determinação da competência relativa 
3.2.1. Lugar da infração (ratione loci) 
De acordo com o art. 70 do CPP, a regra é que o foro competente seja o do lugar da 
infração, espécie de competência territorial com base na teoria do resultado, é relativo e 
por isso admite prorrogação. Portanto, o CPP adotou a teoria do resultado. 
CPP - Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar 
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de 
execução. (...) 
Outrossim, havendo dúvida entre duas jurisdições ou mais, e se não for possível 
determinar com plena certeza o local da infração, se aplicará a regra da prevenção, 
aplicável também aos crimes continuados ou permanentes envolvendo mais de uma 
jurisdição. 
3.2.2. Domicílio ou residência do réu: 
Quando não for possível determinar com certo grau de certeza o local da ocorrência da 
infração penal, a competência territorial será do domicílio ou residência do réu. Esclarece 
Nucci 
“O domicílio do réu é a residência com ânimo permanente e definitivo, portanto o lugar 
onde a pessoa mantém o seu centro principal de atividades, negócios e, principalmente, 
sua família. Dispõe o art. 70 do Código Civil que “o domicílio da pessoa natural é o 
lugar ondeela estabelece a sua residência com ânimo definitivo”. Caso a pessoa tenha 
várias moradas, onde igualmente fixe seu centro de ocupações habituais, estabelece o 
art. 71 do Código Civil que qualquer delas pode ser considerada seu domicílio. 
Finalmente, quando não tiver a pessoa residência habitual, por ser um viajante solteiro, 
sem vínculo familiar, considera-se seu domicílio o lugar onde for encontrada (art. 73, 
CC).” (2023, p. 322) 
CPP - Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo 
domicílio ou residência do réu. 
§ 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. 
§ 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente 
o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. 
3.2.3. Por distribuição 
Capez preleciona que 
“Havendo mais de um juiz competente no foro do processo, a competência será 
determinada pelo critério da distribuição. Nesse caso, existem dois ou mais juízes 
igualmente competentes, por qualquer dos critérios, para o julgamento da causa. A 
distribuição de inquérito policial e a decretação de prisão preventiva, a concessão de 
fiança ou a determinação de qualquer diligência (p. ex.: busca e apreensão), antes 
mesmo da distribuição do inquérito, tornam o juízo competente para a futura ação 
penal.” (2023, p.107) 
CPP - Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma 
circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. 
Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da 
decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa 
prevenirá a da ação penal. 
Trata-se de um critério de competência cumulativa supletiva e, portanto, aplicável aos 
casos em que houver mais de um juiz igualmente competente em um mesmo juízo. 
3.2.4. Por conexão ou continência: 
Na verdade, se trata de um critério de alteração da competência quando houver mais de 
um crime decorrente de uma mesma dinâmica fática com competências distintas que 
poderá ensejar a junção ou separação do feito, em regra. 
 Conexão 
“Conexão é o vínculo, o liame, o nexo que se estabelece entre dois ou mais fatos, que os 
torna entrelaçados por algum motivo, sugerindo a sua reunião no mesmo processo, a fim 
de que sejam julgados pelo mesmo juiz, diante do mesmo compêndio probatório e com 
isso se evitem decisões contraditórias. São efeitos da conexão: a reunião de ações penais 
em um mesmo processo e a prorrogação de competência.” (CAPEZ, 2023, p. 107), 
Dentre as espécies de conexão estão: 
Intersubjetiva: quando duas ou mais infrações envolverem dois ou mais agentes. Se 
subdivide em: 
a) Por simultaneidade: quando duas ou mais infrações envolverem dois ou mais agentes 
ao mesmo tempo, sem ajuste prévio de vontade. 
b) Por concurso: quando dois ou mais agentes cometem duas ou mais infrações em 
concurso, porém em condições de tempo e lugar diversos. 
c) Por reciprocidade: quando duas ou mais infrações envolverem várias pessoas e forem 
praticadas umas contra as outras. 
Objetiva: envolve mais de uma infração e outro requisito de cunho objetivo. 
a) Teleológica, Finalística, Consequencial: quando duas ou mais infrações forem 
praticadas para encobrirem, facilitarem as demais, ou ainda para garantirem a impunidade 
ou quaisquer vantagens pela prática delas. Há uma finalidade, uma consequência, na 
ocorrência dos demais crimes. 
b) Instrumental, Probatória, Ocasional: como o próprio nome sugere, ocorre quando a 
prova utilizada influi na comprovação de outra infração penal. 
CPP - Art. 76. A competência será determinada pela conexão: 
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por 
várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o 
lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; 
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, 
ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; 
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares 
influir na prova de outra infração. 
Continência 
Capez ensina que “Na continência não é possível a cisão em processos diferentes, porque 
uma causa está contida na outra”. (2023, p. 107). Dessa forma, a continência se configura 
quando um delito engloba outro. 
A continência se subdivide em: 
a) Por cumulação subjetiva (art. 77, I, do CPP): mais de um agente cometendo a mesma 
infração. Se diferencia da conexão intersubjetiva por concurso pela ocorrência de apenas 
um delito. 
b) Por cumulação objetiva (art. 77, II, do CPP): quando cometida em concurso formal de 
crimes em algumas condições legais. 
CPP - Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: 
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; 
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda 
parte, e 54 do Código Penal. 
Persistindo o conflito de competência em conexão ou continência, o art. 78 do CPP traz 
a previsão sobre qual foro deverá prevalecer. 
CPP - Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão 
observadas as seguintes regras: 
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, 
prevalecerá a competência do júri; 
II - no concurso de jurisdições da mesma categoria: 
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; 
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as 
respectivas penas forem de igual gravidade; 
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; 
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; 
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. 
Ademais, o art. 79 do CPP trata das hipóteses de separação obrigatória dos processos e o 
art. 80 do CPP das situações em que a separação será facultativa. 
CPP – Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, 
salvo: 
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; 
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. 
§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, 
sobrevier o caso previsto no art. 152. 
§ 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que 
não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461. 
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido 
praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo 
número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo 
relevante, o juiz reputar conveniente a separação. 
 Perpetuação da Jurisdição (Perpetuatio Jurisdictionis) 
Na forma do art. 81 do CPP ainda que o juízo prevalecente responsável pela junção dos 
processos resulte em uma sentença absolutória ou na desclassificação para delito que não 
seja de sua competência, ocorrerá a perpetuação da jurisdição, de modo que continuará a 
ser competente para julgar e processar o(s) delito(s) remanescente(s). 
CPP – Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que 
no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença 
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua 
competência, continuará competente em relação aos demais processos. 
3.2.5. Por prevenção: 
“Não sendo possível utilizar os vários outros critérios para estabelecer a competência 
do juiz, porque há mais de um que, pela situação gerada, poderia conhecer do caso, deve-
se aplicar o critério da prevenção (é o conhecimento, em primeiro lugar, de uma questão 
jurisdicional,proferindo qualquer decisão a seu respeito).” (NUCCI, 2023, p. 355) 
A prevenção é o critério residual de fixação da competência que determina que o juiz que 
primeiro atuou será prevento, quando houver mais de um juiz igualmente competente. 
CPP - Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo 
dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver 
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, 
ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, 
e 78, II, “c”). 
 
 
 
 
 
 
Semana 11 - Questões e Processos Incidentes 
Desenvolvimento do conteúdo: 
1 - ORIGEM E NATUREZA JURÍDICA 
“Incidentes processuais são as questões e os procedimentos secundários, que incidem 
sobre o procedimento principal, merecendo solução antes da decisão da causa ser 
proferida.” (NUCCI, 2023, p. 387). Esclarece que os incidentes processuais são formados 
por questões prejudiciais e procedimentos incidentes e não processos incidentes, uma vez 
que se trata de atos procedimentais. 
Segundo Capez incidente possui relação com algo que é acessório ao procedimento; e 
questão é o objeto da controvérsia no procedimento. (2023, p. 175). Questões prejudiciais, 
nas palavras de Nucci “(...) são os pontos fundamentais, vinculados ao direito material, 
que necessitam ser decididos antes do mérito da causa, porque a este se ligam. Em 
verdade, são impedimentos ao desenvolvimento regular do processo.” (2023, p. 
387). Dessa forma, por obstarem o prosseguimento do processo, as questões prejudiciais 
necessitam de esclarecimento antes da sentença. 
A natureza jurídica das questões prejudiciais de acordo com a corrente majoritária é de 
espécie de conexão probatória dada a correlação entre a questão prejudicial e a questão 
prejudicada. 
É importante diferenciar questão prejudicial de questão preliminar. A primeira é 
autônoma pode ser objeto de processo autônomo, além disso está relacionada ao mérito, 
por isso necessita ser apreciada antes do decisium pela possibilidade de influir no mérito. 
Já a questão preliminar impede a apreciação do mérito e prosseguimento da ação se for 
acolhida pelo magistrado, sendo totalmente dependente dela. 
1.1. Espécies de questões prejudiciais: obrigatórias e facultativas 
Insta salientar que as questões prejudiciais se dividem em homogêneas e heterogêneas. 
As questões prejudiciais homogêneas são aquelas cuja resolução ocorre dentro do mesmo 
âmbito jurídico. Enquanto as questões prejudiciais heterogêneas ocorrem quando a 
resolução depende de outro ramo do direito. Em razão da adoção do sistema misto ou 
eclético pelo CPP, as questões prejudiciais em matéria processual penal são as 
heterogêneas obrigatórias e as heterogêneas facultativas (arts. 92 e 93 do CPP). 
Obrigatórias: ocasionam a suspensão do processo penal, de ofício ou por requerimento 
das partes, até que haja decisão definitiva no juízo cível que fará coisa julgada no âmbito 
penal. 
“São aquelas que se referem ao estado civil das pessoas, obrigando o juiz criminal a 
aguardar a solução da questão na órbita cível (art. 92, CPP). Logicamente, a avaliação 
sobre o obstáculo surgido para o julgamento da causa penal cabe ao magistrado, que 
somente deverá suspender o feito caso repute séria e fundada a controvérsia existente. 
Exemplo de ponto a ser ultrapassado sem a suspensão do processo é a discussão sobre a 
filiação exclusivamente voltada à avaliação da agravante prevista no art. 61, II, e, do 
Código Penal (crime praticado contra ascendente ou descendente). Note-se que o art. 92 
do Código de Processo Penal menciona controvérsia pertinente à existência da infração 
e não a circunstâncias do crime, influenciadoras, apenas, na fixação da pena.” (NUCCI, 
2023, p. 388). 
Da decisão que suspende o processo cabe Recurso em Sentido Estrito (art. 581, XVI, do 
CPP) e do despacho que nega o pedido de suspensão não há previsão recursal, porém, 
pela possibilidade de acarretar nulidade, pode ser arguida posteriormente em sede 
recursal. 
CPP – Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de 
controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso 
da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por 
sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e 
de outras provas de natureza urgente. (...) 
Facultativas: facultam ao magistrado criminal, de ofício ou a requerimento das partes, a 
possibilidade de suspensão do processo penal enquanto pendente a apreciação da questão 
prejudicial pelo juízo cível, quando for considerado de difícil solução e desde que não 
dependa de prova cuja apreciação não caiba ao juízo cível. 
“Outra hipótese de questão prejudicial ao julgamento do mérito da causa criminal pode 
surgir, desde que o reconhecimento da existência da infração penal depender de questão 
diversa da prevista no artigo anterior, isto é, toda e qualquer questão diferente do estado 
das pessoas, sendo igualmente da competência do juízo cível a sua apreciação (art. 93, 
CPP). Neste caso, no entanto, é preciso ponderar dois aspectos fundamentais: a) para 
ocorrer a suspensão do processo criminal torna-se indispensável que a ação civil já 
esteja ajuizada; b) a questão em debate no cível deve ser de difícil solução, não versando 
sobre direito cuja prova é limitada pela lei civil.” (NUCCI, 2023, p. 389). 
Assim como na questão prejudicial obrigatória, da decisão que suspende o processo cabe 
Recurso em Sentido Estrito (art. 581, XVI, do CPP) e do despacho que nega o pedido de 
suspensão não há previsão recursal, porém, pela possibilidade de acarretar nulidade, pode 
ser arguida posteriormente em sede de recurso. 
CPP - Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão 
sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se 
neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa 
questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, 
suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras 
provas de natureza urgente. (...) 
1.2. Sistema adotado no direito brasileiro 
As questões prejudiciais possuem alguns sistemas de solução como: 
 
Sistema de cognição incidental (Do predomínio da jurisdição penal) 
 
 
Sistema da prejudicialidade obrigatória (Da separação jurisdicional 
absoluta) 
 
 
Sistema da remessa facultativa ao juiz especializado (Da prejudicialidade 
facultativa) 
 
 
Sistema misto ou eclético 
 
2 - CONCEITO, ESPÉCIES E NATUREZA JURÍDICA DOS PROCESSOS 
INCIDENTES. 
Comumente denominados de questões incidentes ou processos incidentes, mas que Nucci 
esclarece se tratar de procedimentos incidentes pela sua relação com os atos processuais 
e não com processos, e em sua maioria, são suscitadas no processo por meio de exceções 
que poderão ou não ser autuadas em autos apartados. 
Procedimentos incidentes “são os interpostos ao longo da causa principal, que 
demandam solução pelo próprio juiz criminal, antes que o mérito seja conhecido e 
decidido. Correm ao largo do procedimento principal para não o tumultuar, embora com 
ele tenham íntima ligação.” (NUCCI, 2023, p. 387). 
Os procedimentos incidentes possuem uma natureza jurídica relacionada a resistência da 
parte sobre determinado ponto processual controvertido que pode ser dilatória com o 
objetivo que prolongar o curso processual ou peremptória com a finalidade de fulminar, 
extinguir o processo. 
Assim como o autor da ação penal possui o direito de ação, ao réu cabe a oposição, a 
resistência, por meio das exceções. São processadas em autos separados e não possuem o 
condão de suspender oandamento processual, muito embora o prolongue. 
2.1. Das exceções dilatórias 
Possuem a finalidade procrastinatória, prolongando a marcha processual, por isso, caso o 
magistrado ou o tribunal vislumbre se tratar de um artifício da defesa para atrasar 
propositalmente a marcha processual por saber previamente que a sua alegação não possui 
fundamento ou está fundamentada em razões falsas, será aplicada multa. 
 Das suspeições, incompatibilidades e impedimentos 
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
A exceção de suspeição está disciplinada no art. 254 do CPP. Em regra, deve preceder a 
qualquer outra exceção por força do disposto no art. 96 do CPP. 
CPP - Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por 
qualquer das partes: 
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; 
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por 
fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; 
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, 
sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das 
partes; 
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; 
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; 
VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. 
“Destina-se a rejeitar o juiz, do qual a parte arguente alegue falta de imparcialidade ou 
quando existam outros motivos relevantes que ensejam suspeita de sua isenção em razão 
de interesses ou sentimentos pessoais (negócios, amor, ódio, cobiça etc.).” (CAPEZ, 
2023, p. 177). 
Note que a suspeição está relacionada a um requisito subjetivo, de foro íntimo, por 
exemplo, a amizade íntima, próxima, porém o mero tratamento cordial ou de apreço por 
si só não é causa de suspeição. 
A exceção de suspeição pode ser reconhecida de ofício ou a requerimento da parte por 
meio de petição devidamente assinada pela parte ou por seu procurador com poderes 
especiais, e estar acompanhada de prova documental e testemunhal que embasem os 
motivos da suspeição. O magistrado ao receber a petição pode se reconhecer suspeito 
ocasião em que remeterá os autos do processo principal para um magistrado que o 
substitua e dessa decisão não caberá recurso; ou declarar a inexistência da suspeição 
apartando a exceção dos autos e apresentando resposta escrita no prazo de 03 (três) dias 
com rol de testemunhas, caso entenda ser necessário poderá remeter os autos para o 
Tribunal de Justiça. 
A exceção de suspeição é oposta pelo excipiente contra o excepto que pode ser o 
magistrado de qualquer instância, membro do ministério público, serventuários, peritos e 
demais funcionários da justiça. 
A procedência da exceção de suspeição implica nulidade absoluta (art. 564, I, do CPP), 
possui efeito retroativo e atinge todos os atos do processo principal, a partir 
reconhecimento do primeiro ato em que foi identificada a suspeição. 
As causas da exceção de impedimento ou incompatibilidade estão previstas nos arts. 252 
e 253 do CPP. É pautado em requisitos mais objetivos que se relacionam a fatos capazes 
de comprovar a parcialidade no processo. Por exemplo, alguma atuação direta sua no 
processo ou de algum familiar. Segue os mesmos ritos da exceção de suspeição, prazos e 
observações da exceção de suspeição. 
CPP - Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: 
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou 
colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério 
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; 
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como 
testemunha; 
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, 
sobre a questão; 
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou 
colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. 
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem 
entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, 
inclusive. 
Segundo Eugênio Pacelli, as causas de impedimento estão previstas no art. 112 do CPP e 
nela se incluem todas as situações que possam interferir na parcialidade do julgador que 
não estejam nas hipóteses de suspeição e impedimento. 
CPP - Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários 
de justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver 
incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a 
abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser argüido pelas partes, 
seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição. 
 Da incompetência 
Prevista no art. 109 do CPP se destina ao reconhecimento da incompetência relativa, 
territorial, e até mesmo daincompetência absoluta. 
CPP - Art. 109. Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne 
incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na 
forma do artigo anterior. 
“É a defesa indireta que a parte pode interpor contra o juízo, alegando sua 
incompetência para julgar o feito, fundamentada no princípio constitucional do juiz 
natural. Embora todo magistrado possua jurisdição, a delimitação do seu exercício é 
dada pelas regras de competência, que devem ser respeitadas. Não fosse assim e 
qualquer juiz decidiria qualquer matéria, infringindo-se o espírito da Constituição, que 
garantiu expressamente a divisão dos órgãos judiciários, cada qual atuando na sua 
esfera de competência.” (NUCCI, 2023, p.401) 
Apenas a incompetência absoluta pode ser reconhecida de ofício no processo penal, a 
despeito da Súmula n. 33 do STJ. E, em qualquer fase processual pelo magistrado de 
ofício ou a requerimento da parte com seu respectivo fundamento. No que tange a 
incompetência relativa apenas pode ser arguida por meio da exceção de incompetência 
até o prazo da defesa prévia, oralmente ou por escrito, sob pena de preclusão. 
A exceção de incompetência não possui o condão de suspender o processo, deve ser 
ouvido o Ministério Público antes da decisão. Aceita a exceção de incompetência relativa 
os autos serão remetidos para o juízo considerado competente que poderá ratificar os atos 
processuais já realizados ou renovar os atos decisórios prosseguindo com o processo. 
Diferentemente da exceção de incompetência absoluta que, após oitiva do Ministério 
Público, sendo aceita pelo magistrado acarreta nulidade absoluta de todos os atos 
processuais e serão refeitos pelo juízo competente. Recusada a exceção de incompetência 
o processo continua. 
A decisão que acolhe a exceção de incompetência pode ser combatida por meio de 
Recurso em Sentido Estrito (art. 581, II e III, do CPP). E da decisão que a rejeita não há 
previsão recursal, muito embora possa ensejar o manejo de um mandado de segurança 
criminal, a impetração do habeas corpus ou em ser arguida em sede de apelação. 
2.2. Das exceções peremptórias 
 Litispendência 
A litispendência é reconhecida quando o acusado responde a duas ações penais idênticas 
pelo mesmo fato delituoso, mesma dinâmica fática, ainda que sejam vítimas distintas. 
Conforme Nucci “É a defesa indireta, apresentada por qualquer das partes, 
demonstrando a determinado juízo que há causa idêntica em andamento em outro foro, 
ainda pendente de julgamento, razão pela qual o processo deve ser extinto.” (2023, p. 
403). 
Segue o mesmo rito da exceção de incompetência (art. 110 CPP). É configurada com o 
recebimento da segunda peça acusatória. Pode ser arguida a qualquer tempo. O 
reconhecimento de ofício da litispendência é passível de apelação, já do reconhecimento 
da exceção de litispendência arguido pela parte cabe Recurso em Sentido Estrito. Da 
improcedência cabe habeas corpus. 
 Ilegitimidade da parte 
Nas palavras de Capez “Tal exceção abrange não só a titularidade do direito de ação, 
como também a capacidade de exercício, isto é, a necessária para a prática dos atos 
processuais (posição majoritária na doutrina, vide item seguinte).” (2023, p.180) 
A ilegitimidade da parte pode ser ad causam que uma condição da ação relacionada a 
titularidade do direito violado e enseja a nulidade absoluta de todos os atos processuais. 
E pode ser ad processum que está relacionado a capacidade para ser titular da ação, 
portanto ligado aos pressupostos processuais, situação que enseja nulidade relativa 
passível de saneamento dos atos praticados que poderão ser ratificados. 
“(...) pode-se arguir a exceção quando a queixa é oferecida em caso de ação pública; 
quando a denúncia é oferecida em hipótese de ação privada; quando o querelante é 
incapaz, não podendo estar em juízo; quando o querelante não é o representante legal 
do ofendido; quando, na ação privada personalíssima, a queixa é oferecida pelo sucessor 
da vítima etc.” (CAPEZ, 2023, p.180) 
Segue o mesmo rito da exceção de incompetência (art. 110 CPP). Da decisão que acolhe 
a exceção de ilegitimidade cabe RESE (art. 581, III, do CPP). Da decisão que anula o 
processo em razão do reconhecimento da exceção de ilegitimidade cabe RESE (art. 581, 
XIII, do CPP). Do reconhecimento de ofício da ilegitimidade cabe RESE (art. 581, I, do 
CPP). Da decisão que rejeita a exceção de ilegitimidade não há previsão recursal. 
 Coisa julgada 
Tem relação com a imutabilidade do conteúdo decisório dentro do processo em que foi 
proferido. Aplicável a formação da coisa julgada formal quando a decisão final decorre 
da preclusão em razão da ausência de recurso, ou material quando esgotadas as vias 
recursais e a decisão se torna estável. Assim como aos limites da coisa julgada de ordem 
subjetiva relacionada a produção de efeito entre as partes do processo e de ordem objetiva 
no que tange às questões incidentais. 
“É a defesa indireta contra o processo, visando a sua extinção, tendo em vista que 
idêntica causa já foi definitivamente julgada em outro foro. Ninguém pode ser punido ou 
processado duas vezes pelo mesmo fato, razão pela qual, havendo nova ação, tendo por 
base idêntica imputação de anterior, já decidida, cabe a arguição de exceção de coisa 
julgada.” (NUCCI, 2023, p. 404) 
A exceção de coisa julgada pode ser reconhecida de ofício por ser matéria de ordem 
pública acarretando nulidade absoluta e não preclui, ou a requerimento da parte com a 
oitiva da parte contrária. O procedimento segue o mesmo rito da exceção de 
incompetência (art. 110 do CPP). 
Do reconhecimento de ofício da coisa julgada cabe apelação. Da decisão que acolhe a 
exceção de coisa julgada cabe RESE (art. 581, III, do CPP). Da rejeição não há previsão 
recursal, devendo ser arguida na primeira oportunidade recursal. 
 Conflito de jurisdição 
O conflito de jurisdição ocorre quando dois juízes se entendem competentes (conflito 
positivo) para o julgamento e processamento do mesmo dinâmica fática ou quando 
ambos entendem serem incompetentes (conflito negativo) na forma do art. 114 do CPP. 
Conforme Capez “Tem-se o denominado conflito de jurisdição toda vez que, em qualquer 
fase do processo, um ou mais juízes, contemporaneamente, tomam ou recusam tomar 
conhecimento do mesmo fato delituoso.” (2023, p.182) 
Pode ser suscitado por magistrados ou tribunais por meio de representação, ou pela parte 
através de requerimento na forma do art. 116 do CPP. 
Art. 116. Os juízes e tribunais, sob a forma de representação, e a parte interessada, sob a 
de requerimento, darão parte escrita e circunstanciada do conflito, perante o tribunal 
competente, expondo os fundamentos e juntando os documentos comprobatórios. 
§ 1º Quando negativo o conflito, os juízes e tribunais poderão suscitá-lo nos próprios 
autos do processo. 
§ 2º Distribuído o feito, se o conflito for positivo, o relator poderá determinar 
imediatamente que se suspenda o andamento do processo. 
§ 3º Expedida ou não a ordem de suspensão, o relator requisitará informações às 
autoridades em conflito, remetendo-lhes cópia do requerimento ou representação. 
§ 4º As informações serão prestadas no prazo marcado pelo relator. 
§ 5º Recebidas as informações, e depois de ouvido o procurador-geral, o conflito será 
decidido na primeira sessão, salvo se a instrução do feito depender de diligência. 
§ 6º Proferida a decisão, as cópias necessárias serão remetidas, para a sua execução, às 
autoridades contra as quais tiver sido levantado o conflito ou que o houverem suscitado 
A decisão sobre o conflito de jurisdição é passível de impetração de habeas corpus ou de 
manejo de mandado de segurança criminal, a depender do tipo de conflito, pode ainda ser 
objeto de Recurso Especial ou Recurso Extraordinário se versarem sobre questões 
constitucionais.2.3. Outros incidentes 
 Restituição de coisas apreendidas 
Destina-se a devolução do objeto apreendido que de alguma forma tenha importância na 
dinâmica do delito, seja de origem lícita, seja de origem ilícita. Pode ser requerido em 
fase de inquérito ou em fase processual. A restituição será deferida pela autoridade 
policial ou pelo magistrado desde que o direito seja inequívoco, em caso de dúvida o 
incidente será autuado em autos apartados, devendo o solicitante apresentar prova 
inequívoca da titularidade do bem. 
“É o procedimento legal de devolução a quem de direito de objeto apreendido, durante 
diligência policial ou judiciária, não mais interessante ao processo criminal. Pode 
constituir-se em procedimento incidente, quando houver litígio ou dúvida sobre a 
propriedade da coisa.” (NUCCI, 2023, p. 417). 
O incidente de restituição de coisa apreendida tem como autor, a vítima, o réu ou terceiro 
de boa-fé, desde que comprove a titularidade do bem. Caso duas ou mais pessoas 
pleiteiem a titularidade do mesmo bem ou quando o conflito de titularidade envolver a 
Fazenda Pública, o âmbito cível será competente para julgar o incidente. Ressalte-se que 
não há previsão na legislação quanto a decisão que acolhe ou rejeita o incidente de 
restituição de coisa apreendida, prevalecendo na doutrina o entendimento de que essa 
decisão deverá ser abordada em sede de apelação. 
Não havendo quem reclame o bem no prazo de 90 (noventa) dias após o trânsito em 
julgado da sentença penal condenatória, o juiz de ofício, ou a requerimento da parte ou 
do Ministério Público poderá determinar a avaliação do bem para que seja posto em leilão 
público. 
Será decretado o perdimento em favor da União dos instrumentos do crime ou dos objetos 
de confiscos que serão inutilizados ou recolhidos ao museu criminal conforme arts. 124 
e 124-A do CPP. 
 Medidas assecuratórias 
Essa ação tem cunho patrimonial e cautelar com a finalidade de garantir os efeitos 
secundários de uma eventual sentença penal condenatória. 
“São as providências tomadas, no processo criminal, para garantir a futura indenização 
ou reparação à vítima da infração penal, o pagamento das despesas processuais ou das 
penas pecuniárias ao Estado ou mesmo para evitar que o acusado obtenha lucro com a 
prática criminosa. Dividem-se em sequestro, arresto e especialização de hipoteca legal. 
Fazem parte dos procedimentos incidentes, merecedores de decisão em separado, na 
pendência do processo principal, onde se apura a responsabilidade do réu pela infração 
penal.” (NUCCI, 2023, p. 421). 
Por serem medidas cautelares, necessitam de comprovação do fumus comissi 
delicti (plausibilidade do direito em relação a punição do acusado) e do periculum in 
mora (comprovação do risco de dissolução do patrimônio) conforme art. 282, §3º do 
CPP. 
São medidas assecuratórias: 
 
a) Sequestro 
 
Atenção 
Com o advento do Pacote Anticrime o magistrado não pode mais decretar sequestro de 
ofício, assim como as demais medidas cautelares. 
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
 
b) Arresto 
 
 
c) Hipoteca legal 
 
 
Semana 16 – Incidente de Falsidade Documental e Insanidade Mental do Acusado 
Desenvolvimento de conteúdo: 
1. As Espécies de Falsidade 
O falso é algo simulado, inverídico, que possui a finalidade de enganar, de ludibriar, e 
essa falsidade pode ser material ou ideológica. A falsidade material é aquela simulação 
colocada sobre a forma do documento, ou seja, o próprio documento que é o alvo da 
dissimulação, enquanto a falsidade ideológica é aquela em que o falso está nas 
informações inseridas no conteúdo do documento verdadeiro; dessa forma, um contrato 
em que uma de suas cláusulas foi adulterada após a assinatura das partes é exemplo de 
falsidade material, e uma carteira de profissional verdadeira utilizada por médico que não 
é o seu titular é um exemplo de falsidade ideológica. 
1.1 O conceito de documento 
Capez (2023, p. 169) conceitua documento como “a coisa que representa um fato, 
destinada a fixá-lo de modo permanente e idôneo, reproduzindo-o em juízo”. 
Para Nucci (2023, p. 571), “É toda base materialmente disposta a concentrar e expressar 
um pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade do ser humano, que sirva 
para demonstrar e provar um fato ou acontecimento juridicamente relevante”. 
Já o art. 232 do CPP (Brasil, 1941) traz o conceito de documento: 
CPP - Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, 
públicos ou particulares. 
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo 
valor do original. 
Assim, o conceito de documento, no processo penal, é muito mais amplo e engloba 
vídeos, fotos, desenhos, inclusive oriundos de meios digitais, como e-mails ou redes 
sociais, além dos tradicionais documentos públicos ou particulares, sendo irrelevante a 
sua autoria ou formato; o que importa é que sejam autênticos e que não sejam obtidos por 
meio ilícito ou derivados de prova ilícita. 
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
https://a10349-20362716.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362716/course%20files/material_web/modulo_03/semana_11/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362716&inline=1
1.2 O procedimento da arguição de falsidade e os efeitos e a natureza jurídica da 
decisão 
A existência de dúvida sobre a autenticidade de quaisquer documentos utilizados como 
prova no processo penal enseja a arguição de falsidade pela parte; trata-se de uma espécie 
de incidente processual. É válido ressaltar que, a depender do documento sobre o qual 
recai a dúvida, nem sempre será possível a sua submissão à análise pericial para 
comprovação da falsidade, assim como o juiz não fica adstrito ao laudo pericial, conforme 
art. 182 do CPP, uma vez que pode ser contrário às demais provas dos autos, por 
exemplo. 
Segundo o art. 145 do CPP, a arguição de falsidade documental deve ser feita por meio 
de pedido escrito; o juiz autoriza a tramitação dos autos em apartado, com 48 horas para 
que a parte que juntou o documento supostamente falso se manifeste. Seguidamente, abre-
se o prazo de três dias sucessivos para que cada parte apresente prova do falso ou da 
autenticidade, e, por ser um prazo muito exíguo, é possível que a parte apenas discorra 
sobre quais formas pretendem provar a falsidade ou autenticidade do documento. 
A arguição de falsidade documental não tem condão de suspender o processo que segue, 
até que haja decisão sobre o incidente que não faz coisa julgada em razão da sua natureza 
de cognição sumária. Por exemplo, um documento reconhecido como falso no processo 
principal pode ser objeto de processo civil, com o objetivoapenas 
como uma externalização da demonstração de poder do próprio Estado. 
Note que não se trata apenas de uma proteção aos direitos e garantias do acusado; uma 
constituição garantista se propõe, também, a resguardar bens jurídicos e reforçar o direito 
de punir por parte do Estado. Por isso, na atual CF/1988, é possível encontrar vedação a 
condutas lesivas como tortura, racismo e tráfico de drogas, bem como prevê 
procedimentos penais diferenciados. Por isso, não há que se falar em quaisquer 
incompatibilidades entre o garantismo e a necessária intervenção estatal, desde que 
observado o “devido processo penal constitucional” exercido por meio da jurisdição. 
Princípios inerentes à jurisdição e a soberania do Estado 
O Estado-juiz deve observar alguns princípios expressos e implícitos, constitucionais e 
processuais, durante a persecução penal e aplicação das sanções decorrentes da violação 
do direito material no exercício da sua jurisdição. 
Dentre os principais princípios que regem a jurisdição processual penal estão: 
1. Princípio da investidura: o juiz responsável pelo exercício da jurisdição deve 
estar regularmente investido na função. 
2. Princípio da indeclinabilidade: nenhum juiz pode subtrair-se do exercício da 
função jurisdicional. 
3. Princípio da improrrogabilidade: as partes não podem retirar do juiz da causa 
o conhecimento sobre o conflito em matéria criminal, sendo certo que há, no 
processo penal, a possibilidade de prorrogação da competência, ou seja, de que 
um juiz que inicialmente não seria competente se tornar competente, mas o 
contrário não é possível. 
4. Princípio da inevitabilidade: a jurisdição é imposta sendo irrelevante a vontade 
das partes. Note que tal princípio esclarece que as partes não poderão recusar o 
juiz, salvo em situações de comprovada suspeição ou impedimento. 
5. Princípio da indelegabilidade: o juiz natural não poderá delegar o exercício da 
função jurisdicional a outrem que não esteja regularmente investido. 
6. Princípio da inafastabilidade: “a lei não excluirá da apreciação do Poder 
Judiciário, lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV, CF/1988). 
7. Princípio da unidade: a jurisdição é realizada unicamente pelo Poder Judiciário 
e dentro dele se especializa. 
8. Princípio do devido processo legal: art. 5°, LIV da CF/1988 – “ninguém pode 
ser privado de sua liberdade e de seus bens sem o devido processo legal, e todas 
as pessoas têm o direito de saber as regras do devido processo legal”. 
9. Princípio do juiz natural: previsto no art. 5º, XXXVII (“não haverá juízo ou 
tribunal de exceção”) e LIII (“ninguém será processado nem sentenciado senão 
pela autoridade competente”) da CF/1988. 
1.2 A Função Jurisdicional e os Limites da Jurisdição 
A jurisdição é uma das funções do Estado soberano e consiste na aplicação do direito para 
solucionar conflitos diante de um caso concreto que lhe foi levado para apreciação. Trata-
se de uma função típica do Poder Judiciário que é exercida pelo juiz regularmente 
investido, mas que pode ser exercida de maneira atípica pelos Poderes Legislativo e 
Executivo. Nas palavras de Nucci (2023, p. 315), “Em suma, todo juiz, todo juiz, 
investido na sua função, possui jurisdição, que é a atribuição de compor os conflitos 
emergentes na sociedade, valendo-se da força estatal para fazer cumprir a decisão 
compulsoriamente”. 
O processo é o meio de atuação estatal para exercer jurisdição diante de um conflito em 
determinado território. Como bem sintetiza Capez (2021, p. 24) “A jurisdição é, portanto, 
a função; o processo, o instrumento de sua atuação”. 
Do processo decorre a relação jurídica processual formada por autor, réu e Estado-juiz 
que se desenvolve por meio de um procedimento, que é previamente delimitado pela 
competência, poder conferido pela norma para a solução do litígio. Nas palavras de Nucci 
(2023, p. 318) “Trata-se da delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço dentro do qual 
pode determinada autoridade judiciária aplicar o direito aos litígios que lhe forem 
apresentados, compondo-os.” 
A jurisdição possui como características: 
1. inércia: necessita de provocação das partes para a sua atuação; 
2. lide: existência de um conflito e de uma pretensão resistida; 
3. substitutividade: a decisão do Estado-juiz substitui a vontade das partes, 
impedindo o exercício da autotutela, ressalvadas situações excepcionais previstas 
em lei; 
4. imutabilidade: as decisões são revestidas de caráter definitivo, salvo disposição 
contrária prevista legalmente. 
A classificação da jurisdição penal 
A competência possui previsão constitucional a partir de normas que organizam o Poder 
Judiciário no exercício da jurisdição. Essa competência pode ser absoluta (quando não 
poderá ser modificada) ou relativa (quando se permite alguma modificação) e se divide 
em: 
 competência em razão da matéria (ratione materiae): definida conforme a natureza da 
infração penal; 
 competência em razão da pessoa (ratione personae): conhecida como foro por 
prerrogativa de função, leva em consideração a função ou cargo desempenhado pelo autor 
do fato; 
 competência em razão do local (ratione loci): determinada pelo local em que foi 
cometida a infração penal; 
 competência funcional: tem relação com a organização judiciária. 
o Por fase do processo: a depender da fase (conhecimento ou execução) em que se 
encontra o procedimento criminal. 
o Pelo objeto do juízo: a competência será definida a partir de questões que 
deverão ser esclarecidas, como a competência do Júri, que depende da decisão de 
pronúncia. 
o Pelo grau de jurisdição: diz respeito ao duplo grau de jurisdição composto por 
órgãos ordinários e superiores. 
 
Semana 3 - Interpretação e Aplicação da Norma Processual Penal 
Desenvolvimento do Conteúdo 
1. As Fontes e Natureza Jurídica das Normas Processuais Penais e Princípios Gerais 
do Processo Penal 
A fonte de uma norma jurídica é o seu nascedouro, e pode criar direitos (fontes materiais) 
ou auxiliar na interpretação do direito (fonte formal), sendo certo que a fonte máxima de 
um ordenamento jurídico é a sua Constituição. 
 Fontes materiais 
Tratando-se de direito processual, a CF/1988 dispõe que a criação de suas normas é de 
competência exclusiva da União: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar 
sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, 
aeronáutico, espacial e do trabalho”. Ressalvadas: 
 a previsão de que os estados possam legislar sobre questões específicas por meio 
de lei complementar, conforme previsão do parágrafo único do mesmo 
dispositivo; 
 a permissão para que estados legislem sobre alguns temas processuais penais, 
como questões penitenciarias, custas processuais, processos no âmbito do juizado 
especial criminal e procedimentos, o que se depreende do art. 24, I, IV, X, XI da 
CF/1988; 
 as normas de organização judiciária por parte dos estados e regiões que também 
encontra assento constitucional (art. 25, §1º da CF/1988); 
 os regimentos internos dos tribunais que não contrariem a legislação; 
 as súmulas vinculantes editadas pelo STF, em razão da alteração promovida pela 
Emenda Constitucional n. 45/2004. 
 Fontes formais 
É a responsável por revelar a norma por meio de um processo interpretativo. Subdividem-
se em: 
 imediatas: são as leis, os tratados e convenções incorporados formalmente ao 
nosso ordenamento jurídico; 
 mediatas: são os costumes, os princípios gerais do direito. Os costumes são 
práticas jurídicas reiteradas, como habitualidade. Classificam-se em: secundum 
legis (segundo a lei), que ocorre quando o costume se torna posteriormente 
lei; praeter legem (na ausência da lei), aplicada nos casos de omissão legal; contra 
legis (contrária a lei), que dispõe sobre o contrário do que está previsto em lei e 
não é permitido no ordenamentode aferir a sua autenticidade, 
ou de um outro processo criminal, para apurar eventual novo delito decorrente daquele 
documento. 
A decisão que reconhecer a falsidade documental não fará coisa julgada em prejuízo de 
ulterior processo penal ou civil. Desta forma, o único efeito do incidente é manter ou não 
o documento nos autos da ação principal. Por conseguinte, um documento pode ser 
reconhecido falso em incidente de falsidade, e o réu restar absolvido no processo que se 
instaurar em razão do crime de falsidade material ou ideológica. (Capez, 2023, p. 193) 
A arguição de falsidade pode ser feita pelas partes, por seus procuradores com poderes 
especiais ou de ofício pelo juiz. Reconhecida ou rejeitada a falsidade documental, caberá 
Recurso em Sentido Estrido, na forma do art. 581, XVIII, do CPP. Vale ressaltar que, 
após o trânsito em julgado do processo criminal, o documento comprovadamente falso 
será retirado dos autos do processo principal e remetido ao Ministério Público, junto com 
o processo incidente, para que as devidas providências sejam tomadas. 
2. Conceito e Natureza Jurídica de Insanidade Mental e o Exame de Insanidade 
Mental 
Segundo Nucci (2023, p. 432), incidente de insanidade mental “É o procedimento 
incidente instaurado para apurar a inimputabilidade ou a semi-imputabilidade do acusado, 
levando-se em conta a sua capacidade de compreensão do ilícito ou de determinação de 
acordo com esse entendimento à época da infração penal”. 
Capez (2023, p. 194) ensina que “O incidente é instaurado quando há dúvidas acerca da 
integridade mental do autor de um crime. Pode ser instaurado em qualquer fase da 
persecução penal, seja durante a ação penal, seja no inquérito policial”. 
Dessa forma, o incidente de insanidade mental é um ato processual adotado quando há 
dúvidas sobre a sanidade mental do acusado, uma vez que a sua confirmação enseja a 
adoção de procedimentos diferenciados, em razão da ausência de culpabilidade, ou seja, 
a falta do entendimento sobre o caráter ilícito no momento da ocorrência da conduta 
criminosa. Pode ser arguido até mesmo em fase de inquérito, conforme art. 149 do CPP, 
e sua apreciação deve ser feita pelo juiz das garantias, ao analisar o pedido (art. 3º-B, 
XIII, do CPP). 
CPP - Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz 
ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do 
ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame 
médico-legal. 
1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da 
autoridade policial ao juiz competente. 
2º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o 
processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser 
prejudicadas pelo adiamento. 
Assim, são legitimados para requerer a arguição do incidente de insanidade mental o juiz 
de ofício, o Ministério Público, a defesa do acusado, o seu curador, seus ascendentes, 
descendentes, irmãos ou cônjuge. E, caso ainda esteja em fase de inquérito, o delegado 
de polícia poderá requerer ao juiz o exame de sanidade mental do acusado. Entretanto, 
não se pode determinar que o exame de insanidade mental seja realizado de maneira 
compulsória, sem a concordância do acusado, de sua defesa ou de seus representantes 
legais. 
3. A Suspensão do Processo e os Efeitos do Incidente de Insanidade Mental 
A arguição de sanidade mental requer a nomeação de curador que deve acompanhar o 
procedimento. Assim que o juiz determinar a realização do exame de sanidade, ocorrerá 
a suspensão do processo, que não importará na interrupção do curso do prazo 
prescricional. 
Ressalta-se que, caso o incidente seja requerido em fase de inquérito, não haverá a 
suspensão do curso do inquérito nem das investigações. O incidente de arguição de 
sanidade mental será autuado em autos apartados do processo principal e apenas com o 
laudo pericial voltará a ser apenso aos autos principais. 
O oferecimento de quesitos pelas partes é opcional. Os médicos peritos realizarão todos 
os exames necessários, que não deverão ultrapassar o prazo de conclusão de 45 dias, 
prorrogáveis apenas se restar demonstrada a necessidade. Caso o laudo pericial afirme 
que, ao tempo do crime, o acusado era inimputável ou semi-imputável, o processo voltará 
ao seu curso normal, com a presença do curador para os demais atos. Entretanto, se restar 
comprovado que a inimputabilidade constatada foi posterior ao crime, o processo 
continuará suspenso enquanto durar o seu estado de doente mental, retornando após a sua 
recuperação. Se a doença mental for identificada em fase de execução e for uma doença 
transitória, o réu será transferido para um hospital psiquiátrico; se for uma doença 
permanente, a pena privativa de liberdade será convertida em medida de segurança. 
A inimputabilidade será causa de uma sentença absolutória imprópria, e será aplicada ao 
acusado uma medida de segurança. A semi-imputabilidade é causa de diminuição de pena 
na terceira fase da dosimetria. 
 A decisão que determina a realização do incidente de insanidade mental não comporta 
recurso, por se tratar de um despacho. Da decisão que nega a realização do incidente 
caberá habeas corpus, se houver risco à liberdade de locomoção do acusado, assim como 
também poderá ser alegado na primeira oportunidade recursal. 
 
Semana 17 – Sentença 
Desenvolvimento do conteúdo: 
1. Da Sentença Condenatória e Absolutória 
Os atos jurisdicionais se dividem em: despachos, que não possuem conteúdo decisório; 
decisões interlocutórias, que suprem controvérsias antes do fim do processo; decisões 
definitivas, que finalizam o processo sem analisar a procedência ou improcedência do 
pedido, mas tão somente a pretensão punitiva estatal; e a sentença, que é a decisão 
definitiva que põe fim ao processo, com a análise do mérito por meio da improcedência 
ou procedência do pedido concretizando a pretensão punitiva do Estado – segundo Nucci 
(2023, p. 771), “É a decisão terminativa do processo e definitiva quanto ao mérito, 
abordando a questão relativa à pretensão punitiva do Estado, para julgar procedente ou 
improcedente a imputação”. 
A sentença pode ser: condenatória, quando reconhece a procedência do pedido realizado 
pela acusação que se concretiza por meio da aplicação de sanção ao agente; absolutória 
própria, quando se reconhece a improcedência do pedido da acusação sem que haja 
nenhuma imputação; ou absolutória imprópria, nos casos de inimputabilidade, com a 
consequente imposição de medida de segurança. Além disso, ainda pode ser declaratória 
da extinção de punibilidade do agente. 
Segundo Capez (2023, p. 195), “A sentença é uma manifestação intelectual lógica e 
formal emitida pelo Estado, por meio de seus órgãos jurisdicionais, com a finalidade de 
encerrar um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida, mediante a 
aplicação do ordenamento legal ao caso concreto”. 
Outrossim, o CPP se refere ao conceito de sentença em sentido estrito, em seu art. 381, 
quando descreve os seus requisitos, muito embora, em outros dispositivos, o código faça 
menção à sentença em sentido lato, quando, em verdade, se trata de decisões 
interlocutórias. “No Código de Processo Penal, no entanto, usa-se o termo sentença, em 
sentido amplo, para abranger, também, as decisões interlocutórias mistas e as definitivas, 
que não avaliam a imputação propriamente dita.” (Nucci, 2023, p. 771). 
CPP - Art. 381. A sentença conterá: 
I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-
las; 
II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; 
III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; 
IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; 
V - o dispositivo; 
VI - a data e a assinatura do juiz.1.1 Sentença absolutória 
As hipóteses de sentença absolutória estão presentes nos incisos do art. 386 do CPP, por 
meio de um rol taxativo: 
I – estar provada a inexistência do fato; 
II – não haver prova da existência do fato; 
III – não constituir o fato infração penal; 
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; 
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; 
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 
22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida 
sobre sua existência; 
VII – não existir prova suficiente para a condenação. (Brasil, 1941) 
A sentença absolutória enseja: a soltura do réu; a cassação de medidas cautelares que 
porventura estejam sendo cumpridas; ou a aplicação de medida de segurança, nos casos 
de sentença absolutória imprópria decorrente da inimputabilidade do agente. 
1.2 Sentença condenatória 
A sentença condenatória deve observar os requisitos presentes no art. 387 do CPP: a 
menção das circunstâncias agravantes ou atenuantes, se houver; a menção às 
circunstâncias apuradas que sejam relevantes para a aplicação da pena; a aplicação da 
pena com base nos fatos narrados; a fixação de valor mínimo destinado ao ofendido, pela 
reparação do dano causado pelo delito; aplicação de medidas cautelares ou medidas de 
segurança, se for o caso; determinação da publicação da sentença; a manutenção da prisão 
preventiva ou de cautelar em curso e a decisão sobre o tempo de uma eventual prisão 
provisória cumprida no Brasil ou no exterior, para fins de contagem de pena e regime 
inicial de cumprimento. 
2. A Correlação entre Sentença e Pedido 
O princípio da congruência ou princípio da correlação entre acusação e defesa estabelece 
que o conteúdo da sentença deve estar correlacionado ao pedido da acusação, seja para 
absolver ou para condenar. Nas palavras de Nucci (2023, p. 775), “É a regra segundo a 
qual o fato imputado ao réu, na peça inicial acusatória, deve guardar perfeita 
correspondência com o fato reconhecido pelo juiz, na sentença, sob pena de grave 
violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa, consequentemente, ao devido 
processo legal”. 
De acordo com o princípio da congruência, não cabe ao magistrado em sede de sentença 
julgar além do pedido (ultra petita), menos do que foi pedido (citra petita) ou 
diversamente do pedido (extra petita). 
A violação da regra da correlação entre a acusação e a sentença é causa de nulidade 
absoluta, pois ofende os princípios do contraditório e da ampla defesa, consequentemente, 
o devido processo legal. Aliás, essa regra passou a ser expressa no caput do art. 383, vale 
dizer, o juiz não pode modificar a descrição do fato contida na peça acusatória. (Nucci, 
2023, p. 775) 
CPP - Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, 
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de 
aplicar pena mais grave. 
2.1 Emendatio libelli 
Em razão de o réu se defender dos fatos que lhe são imputados na denúncia ou queixa, e 
por força do princípio da correlação, em algumas situações é possível que o magistrado 
modifique a classificação jurídica a partir dos fatos descritos na inicial acusatória, ainda 
que dessa nova classificação jurídica advenha uma sanção penal mais gravosa em razão 
da alteração da tipificação do delito. 
De maneira esclarecedora, narra Capez (2023, p. 197): 
Por exemplo: a denúncia narra que fulano empurrou a vítima e arrebatou-lhe a corrente 
do pescoço, qualificando como furto tal episódio. Nada impede seja proferida sentença 
condenatória por roubo, sem ofensa ao contraditório, já que o acusado não se defendia de 
uma imputação por furto, mas da acusação de ter empurrado a vítima e arrebatado sua 
corrente. Nesse caso, diz-se que houve uma simples emenda na acusação (emendatio 
libelli), consistente em mera alteração na sua classificação legal. Trata-se de aplicação 
pura do brocardo jura novit curia, pois, se o juiz conhece o direito, basta narrar-lhe os 
fatos (narra mihi factum dabo tibi jus). 
Segundo o entendimento doutrinário, a sentença é o momento adequado para que o 
magistrado proceda com a emendatio libelli, e não quando do recebimento da denúncia 
ou queixa, uma vez que, no início do processo, o juiz não poderá substituir a atuação 
ministerial (que é o titular da ação penal), promovendo quaisquer alterações na denúncia, 
nem atuar em substituição à vontade do ofendido em caso de queixa-crime. 
CPP - Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, 
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de 
aplicar pena mais grave. 
§ 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta 
de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. 
§ 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os 
autos. 
O §1º do art. 383 do CPP permite a possibilidade de aplicação de suspensão condicional 
do processo, o que é corroborado pela Súmula nº 337 do STJ (2007): “É cabível a 
suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial 
da pretensão punitiva”. Já o § 2º do mesmo dispositivo prevê que, caso a nova definição 
jurídica resulte em um tipo penal ao qual tenha como destino um juízo especializado, os 
autos da infração deverão ser remetidos a esse novo juízo. 
Importa frisar que é possível a aplicação do instituto da emendatio libelli em segundo 
grau de jurisdição, porém, se resultar em uma tipificação penal que possua uma sanção 
penais mais gravosa, não poderá ser aplicada a nova definição jurídica, em razão do 
princípio da vedação da reformatio in pejus. 
2.2 Mutatio libelli 
Decorre de um fato distinto, relacionada ao fato elementar ou circunstância do delito, 
capaz de alterar a definição jurídica do fato narrado na inicial acusatória e, 
consequentemente, ensejando o seu aditamento; por isso ocorre após a instrução 
probatória. Por se tratar de uma alteração fática, a mutatio libelli é promovida pelo titular 
da ação penal, ou seja, o Ministério Público, em caso de denúncia ou queixa. 
Em atenção ao princípio da ampla defesa, do princípio do contraditório e do princípio da 
congruência, com a mutatio libelli, os atos processuais deverão ser renovados com a 
posterior oitiva da defesa, uma vez que o réu se defende dos fatos que lhe foram 
imputados, sob pena de nulidade de eventual condenação, com base em fatos distintos 
dos comprovados durante a instrução. 
O rito da mutatio libelli está previsto no art. 384 do CPP: 
CPP - Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição 
jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou 
circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá 
aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido 
instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, 
quando feito oralmente. 
§ 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 
deste Código. 
§ 2º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o 
juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da 
audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de 
debates e julgamento. 
§ 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art. 383 ao caput deste artigo. 
§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 
5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento. 
§ 5º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.Assim, quando o magistrado constatar que os fatos narrados na inicial forem diferentes 
dos fatos comprovados, deverá provocar o Ministério Público para que este promova o 
aditamento da denúncia em observância ao sistema acusatório, não podendo desde logo 
promover a absolvição ou condenação do acusado, sob pena de nulidade. 
Atenção! A mutatio libelli se aplica a fatos diferentes, e não a fatos novos. No caso de 
fatos novos, deve haver uma nova denúncia, outro processo. 
Para que seja mais fácil compreender, de maneira exemplificativa, temos uma denúncia 
que narra fatos que se amoldam à capitulação de um furto simples (art. 155, caput, do 
CPP), mas que, durante a instrução probatória, foi localizada uma câmera de segurança 
no local do delito, que demonstra que o acusado utilizou de violência para subtrair o bem 
da vítima, ou seja, há uma alteração elementar na dinâmica fática que caracteriza o crime 
de roubo (art. 157 do CPP). Entretanto, o magistrado não poderá condenar o acusado por 
roubo; antes disso, o Ministério Público deverá promover o aditamento da denúncia. 
A mutatio libelli não pode sofrer alterações em segunda instância, em razão da 
impossibilidade de supressão de instância, na forma da Súmula nº 453 do STF (1964): 
“Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do código de processo 
penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de 
circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou 
queixa.”. 
Emendatio Libelli Mutatio Libelli 
Magistrado – Sentença Ministério Público – Denúncia 
Alteração realizada pelo magistrado da classificação 
jurídica sobre os mesmos fatos narrados na inicial 
acusatória. 
Aditamento promovido na denúncia pelo Ministério Público, em 
razão de fato diverso constatado durante instrução probatória. 
Permitido em segunda instância – Súmula nº 337 do STJ. Não permitido em segunda instância – Súmula nº 453 do STF. 
Mesmo fato e classificação diferente. Fato diferente e tipificação diferente. 
Ação penal pública condicionada; ação penal pública 
incondicionada; ação penal privada. 
Ação penal pública condicionada; ação penal pública 
incondicionada; ação penal privada subsidiária da pública. 
 Quadro 1: Emendatio libelli e Mutatio libelli. Fonte: Elaborado pelo autor. 
 3. Motivação e Dispositivo das Sentenças 
O conteúdo da sentença está presente no art. 381 do CPP; trata-se de requisitos 
necessários que devem ser observados sob pena de nulidade por ausência de formalidade 
do ato. Resumidamente, a sentença é composta por relatório, fundamentação, dispositivo 
e autenticação. 
 Relatório: é o resumo das alegações da acusação e da defesa durante todas as 
manifestações processuais; dada sua relevância, sua ausência causa nulidade 
absoluta. Porém o relatório é dispensando no contexto do procedimento 
sumaríssimo no rito do Juizado Especial Criminal (Lei nº 9.099/1995). 
 Fundamentação: é um mandamento constitucional presente no art. 93, IX, da 
CRFB/1988, sob pena de nulidade absoluta, composta pelos fundamentos de fato 
e de direito; possui repercussões endoprocessuais, que permitem que sejam 
combatidas pelas partes por recursos, e extraprocessuais, como resposta à 
sociedade sobre a resolução do conflito. A única exceção é em relação ao voto 
dos jurados no rito do Tribunal do Júri, salvaguardado pelo sigilo das votações. 
 Dispositivo: é a conclusão do julgamento por meio da condenação ou absolvição. 
A ausência de dispositivo torna o ato inexistente. 
 Autenticação: é composto pela data e a assinatura do juiz. 
Ressalta-se que os recursos cabíveis em caso de obscuridade (quando a redação não 
demonstrar clareza), omissão (ausência de abordar algum ponto imprescindível), 
contradição (quando os fundamentos não se coadunam com a decisão final) ou 
ambiguidade (quando do texto for possível depreender interpretações distintas) são os 
embargos de declaração, conforme art. 382 do CPP, no prazo de dois dias para que o juiz 
esclareça a obscuridade, omissão, contradição ou ambiguidade. Em sede de Juizado 
Especial Criminal, o prazo dos embargos de declaração do recurso é de cinco dias. 
CPP - Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que 
declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou 
omissão. 
3.1 Intimação da sentença 
A sentença ganha publicidade com uma formalidade realizada pelo escrivão, conforme 
preceitua o art. 389 do CPP, ou oralmente, durante a audiência. Há entendimento 
jurisprudencial no sentido de que apenas a movimentação dos autos no processo 
eletrônico não é considerada publicação. 
Para que produza efeitos com relação às partes e terceiros é necessário que a sentença 
seja publicada (art. 389, 1ª parte). A publicação da sentença dá-se no momento em que 
ela é recebida no cartório pelo escrivão. É a data de entrega em cartório, e não da 
assinatura da sentença. Em outros casos, quando esta é proferida em audiência, ter-se-á 
por publicada no instante da sua leitura pelo juiz. (Capez, 2023, p. 199). 
Após a publicação pelo escrivão, no prazo de três dias, haverá a intimação das partes 
sobre a sentença, primeiro ao Ministério Público (art. 391 do CPP) e depois ao acusado 
(art. 392 do CPP). A sentença se torna inalterável, ressalvada a modificação decorrente 
do acolhimento de embargos de declaração ou a correção de ofício de erros materiais que 
não alterem o conteúdo decisório. 
A intimação da sentença deverá ser feita ao réu pessoalmente, esteja solto ou preso, por 
adoção do princípio da ampla defesa, bem como a seu defensor, fluindo o prazo recursal 
a partir da última intimação efetuada. O defensor público deve sempre ser intimado 
pessoalmente da sentença, por exigência do art. 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/50, e imposição 
do princípio da ampla defesa. O defensor constituído também deve ser intimado 
pessoalmente da sentença, não sendo possível invocar-se a norma genérica do art. 370, 
§§ 1º e 2º, do Código de Processo Penal, que prevê a intimação por meio de simples 
publicação dos atos processuais no órgão oficial, ante a incidência de norma específica 
do art. 392 do Estatuto Processual Penal. O defensor dativo também deve ser intimado 
pessoalmente da defesa, com igual ou até maior razão. O réu revel deve ser intimado por 
edital da sentença. O Ministério Público será sempre intimado pessoalmente da sentença 
(CPP, art. 390), sendo firme a jurisprudência no sentido de que a intimação se efetiva com 
o recebimento dos autos no setor administrativo da instituição, pouco importando a data 
que os autos efetivamente chegam ao representante do Ministério Público. (Capez, 2023, 
p. 200) 
Tratando-se de sentença penal condenatória que implique restrição da liberdade de 
locomoção e o acusado já esteja presado, este deverá ser intimado pessoalmente. Com o 
mandado de prisão expedido e não cumprido, nas situações em que o acusado não for 
encontrado, seu advogado ou defensor será intimado da sentença. Quando não estiverem 
presentes os requisitos da prisão preventiva do art. 387, § 1º, do CPP, mesmo com a 
condenação do acusado, há a possibilidade de que se recorra em liberdade. 
O lançamento do nome do acusado no livro dos réus somente ocorrerá com o trânsito em 
julgado da sentença penal condenatória, em atenção às garantias presentes na 
Constituição Federal de 1988, com a consequente expedição do mandado de recolhimento 
para a vara de execuções penais. 
3.2 Coisa julgada em matéria penal 
A coisa julgada é um instituto que visa garantir a segurança jurídica das decisões perante 
toda a sociedade, de modo que a decisão se torna estável, não passível de rediscussão ou 
modificação, ou seja, quando não é mais possível o manejo de quaisquer recursos. Porém 
essa diretriz não é absoluta e suporta ressalva, apenas em benefício do acusado, noscasos 
de sentença condenatória ou sentença absolutória imprópria, por meio de habeas 
corpus ou revisão criminal. Importa ressaltar que a sentença absolutória imprópria 
proveniente da extinção da punibilidade do agente faz coisa julgada absoluta ou coisa 
soberanamente julgada. 
Ocorre a coisa julgada quando não há mais possibilidade recursal que discuta ou 
modifique a sentença. A coisa julgada será formal quando tiver relação com as 
formalidades não realizadas pela parte que resultaram na preclusão e seus efeitos se 
restringem ao processo em que está sendo discutido. Já a coisa julgada material tem 
relação com o conteúdo do direito material discutido, e, portanto, seus efeitos reverberam 
dentro e fora do processo, impossibilitando sua discussão em um novo processo. Por 
exemplo, a rejeição da peça acusatória por algum vício ou ausência dos requisitos formais 
faz coisa julgada formal, enquanto a absolvição sumária em razão da inimputabilidade do 
acusado faz coisa julgada material.jurídico brasileiro. Já os princípios gerais do 
direito são mandamentos éticos que orientam a interpretação e aplicação da norma 
processual. 
Atenção: Não se admite no ordenamento jurídico brasileiro o costume revogador, ou seja, 
aquele que tem a capacidade de revogar a lei. 
As normas processuais penais possuem natureza jurídica de uma relação jurídica pública, 
complexa e autônoma. Com a desvinculação do direito penal, o processo penal passou a 
constituir uma disciplina independente, pública, por ser gerida e organizada pela 
jurisdição estatal, e complexa, dados o objeto do conflito e as relações entre as partes do 
processo. 
 Princípios Gerais do Processo Penal 
Os princípios que regem o processo penal se dividem: em constitucionais, que são 
mandamentos constitucionais aplicados ao processo penal, seja de maneira coercitiva, 
como norma jurídica (explícitos), ou como mandamentos que orientam a aplicação da 
norma (implícitos); e os princípios processuais penais propriamente ditos. 
Dentre os princípios constitucionais explícitos estão: 
 Princípio da publicidade (art. 5º, LX e XXXIII da CF/1988): como uma forma 
de incentivo à participação democrática nos atos públicos realizados na audiência, 
tal princípio prevê a garantia de acesso aos atos praticados no processo de maneira 
transparente, clara e irrestrita, para que possa ser fiscalizado pelos cidadãos, partes 
e toda a comunidade, ressalvadas as situações em que se impõe a necessidade de 
“segredo de justiça”. 
 Princípio da vedação das provas ilícitas (art. 5º, LVI da CF/1988): inadmite 
qualquer prova que tenha sido obtida por meio ilícito em conformidade com a 
previsão do art. 5º, XXXVII e LIII da CF/88 – “são inadmissíveis, no processo, 
as provas obtidas por meios ilícitos” – e do art. 157 do CPP – “São inadmissíveis, 
devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as 
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais”. 
 Princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV da CF/1988): dirige-se tanto 
ao Judiciário quanto ao Executivo. Ao Judiciário, em relação à observância de 
garantias e respeito restrito à lei (art. 5°, LIV da CF/88 – “ninguém pode ser 
privado de sua liberdade e de seus bens sem o devido processo legal, e todas as 
pessoas têm o direito de saber as regras do devido processo legal”), e em relação 
ao Executivo, na observância da razoabilidade e proporcionalidade no 
procedimento legislativo. 
 Princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade (art. 5º, LVII da 
CF/1988): “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória”. Desdobra-se em duas orientações: a regra de 
tratamento, que se refere à forma como o acusado deve ser tratado, que, em regra, 
responderá ao processo em liberdade, sendo possível a prisão ou aplicação de 
medidas cautelares diversas desde que demonstrada a situação excepcional e a 
indispensabilidade de sua adoção – por isso esse princípio é relativo –; e a regra 
probatória, que incumbe à acusação o ônus de provar a culpabilidade do acusado. 
Atenção: O Supremo Tribunal Federal alterou seu entendimento, por diversas, vezes em 
relação à possibilidade ou não da execução provisória da pena. Até fevereiro de 2009, 
entendia pela possibilidade da execução provisória da pena; entre fevereiro de 2009 e 
fevereiro de 2016, alterou esse entendimento, impedindo a execução provisória da pena; 
de fevereiro de 2016 até novembro de 2019, voltou a permitir a execução provisória da 
pena; apenas em 2016 firmou entendimento pela impossibilidade da execução provisória 
da pena, o que permanece até os dias atuais, reforçada pela alteração do Pacote Anticrime 
(Lei nº 13.964/2019), que inseriu, no art. 283 do CPP, a impossibilidade de prisão cautelar 
antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória e com o advento da Súmula 
643 do STJ. Tantas mudanças de entendimento fizeram com que o Supremo sofresse 
massivas críticas doutrinárias, dada a situação de insegurança jurídica gerada nesses 
períodos. 
 Princípio da igualdade processual (art. 5º, caput da CF/1988): se todos são 
iguais perante a lei, devem ter garantida a igualdade de participação no processo, 
ressalvada a igualdade substancial, que confere tratamento desigual na medida de 
suas desigualdades. 
 Princípio da ampla defesa (art. 5º, LV da CF/1988): trata-se de um direito, uma 
garantia conferida ao acusado, que desequilibra a situação de igualdade, mas sem 
violar o Princípio do Contraditório, que é concretizado por meio da sua defesa 
técnica exercida por advogado regularmente constituído ou defensor público e da 
sua defesa material (autodefesa) exercida pelo próprio acusado em momentos 
específicos do procedimento, como o direito à presença em alguns atos e o direito 
à audiência, ou seja, de ser ouvido e relatar a sua versão dos fatos. 
 Princípio do favor rei ou in dubio pro reo (art. 5º, LVII da CF/1988): prevê a 
criação de garantias e direitos ao acusado e que lhe deixem em situação de 
igualdade substancial em relação à acusação; por exemplo, alguns recursos que 
são exclusivos da defesa, o in dubio pro reo (a dúvida deve beneficiar o réu, 
absolvê-lo) e a reformatio in pejus (impede a piora da situação do réu em algumas 
situações). 
 Princípio do contraditório (art. 5º, LV da CF/1988): confere às partes a 
paridade de tratamento, a igualdade de informação (direito de saber os motivos 
pelos quais está sendo acusado, bem como de ser informado de todos os atos 
processuais) e de participação (de se manifestar e atuar em prol da sua defesa). 
 Princípio do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII da CF/1988): XXXVII (“não 
haverá juízo ou tribunal de exceção”) e LIII (“ninguém será processado nem 
sentenciado senão pela autoridade competente”) vedam a criação de tribunal de 
exceção, de modo que as regras de competência e órgão devem anteceder o 
cometimento do delito, assim como confere ao acusado o direito de julgado pelo 
juiz competente, imparcial e regularmente investido. 
 Princípios constitucionais implícitos: 
o Princípio do duplo grau de jurisdição: refere-se ao direito de se observar 
a recorribilidade das decisões em matéria processual penal, respeitando-se 
as estruturas da organização judiciária para a garantia do reexame de uma 
decisão considerada injusta. 
o Princípio da demanda: o juiz não pode iniciar o processo penal de ofício, 
dependendo de provocação da parte, de modo que caberá privativamente 
ao Ministério Público a provocação por meio de denúncia nas ações penais 
públicas (art. 129, I da CF/1988). 
o Princípio Nemo tenutur se detegereou da não autoincriminação: com 
previsão na CF/1988 (art. 5º, LXIII) e na CADH (art. 8º, 2, g), veda a 
produção de prova contra si mesmo. Dele decorre o direito ao silêncio, 
direito de mentir, direito de não participar de maneira ativa na produção 
da prova (por exemplo, fornecer material grafotécnico etc.) e o direito de 
não permitir prova invasiva (como a colheita de material genético, sangue, 
saliva etc.). 
o Princípio do promotor natural: por simetria ao princípio do juiz natural, 
uma vez que o art. 5º, LIII da CF/1988, refere-se à “autoridade 
competente”. As atribuições do membro do Parquet devem estar 
previamente previstas em lei. Tal princípio veda a designação posterior de 
um promotor, de forma arbitrária, para atuar em um determinado processo. 
É importante ressaltar que a adoção desse princípio não é pacífica em sede 
doutrinária, assim como o princípio do defensor natural, mas um dos 
argumentos em prol da simetria desses princípios é o de sua adequação ao 
sistema acusatório. 
o Princípio do defensor natural: seguindo a mesma lógica do juiz natural 
e do promotor natural, impede a designação posterior de outro defensor 
público ou dativo para atuação em um caso específico. 
o Princípio da intranscendência:assegura que apenas deve figurar no 
processo penal aquele que cometeu a infração penal, não sendo possível 
transferir a responsabilização para outrem, ainda que entre eles exista uma 
relação hierárquica, emocional ou familiar. 
o Princípio do ne bis in idem: impede que a mesma pessoa seja processada 
e julgada duas vezes pelo mesmo fato, ainda que tenha sido anteriormente 
absolvido. 
 Princípios processuais penais: 
o Princípio da busca da verdade: tem o objetivo de se aproximar o juiz o 
máximo possível da certeza dos fatos, diante da impossibilidade de se 
alcançar a verdade real. Vários dispositivos no CPP demonstram esse 
princípio, por exemplo, nos arts. 196, 209, §1°, e 616, conferindo ao 
magistrado uma atuação ativa na instrução probatória em prol da formação 
da sua convicção. 
o Princípio do livre convencimento motivado: decorre da exigência 
constitucional de que as decisões judiciais sejam devidamente 
fundamentadas, muito embora, em algumas situações, a sua aplicação seja 
mitigada, como no Tribunal do Júri, onde os jurados não precisam motivar 
a sua decisão. 
o Princípio da oralidade: orienta que a maioria dos atos do procedimento 
penal deve ser realizada de forma oral. Dele decorrem os princípios da 
concentração (que orientam que a audiência seja una sempre que possível), 
da imediatidade (que vincula o magistrado que teve contado com a prova 
colhida ao processo) e da identidade física do juiz (que prevê que o mesmo 
juiz que participou da colheita da prova deverá instruir e julgar a causa). 
o Princípio da comunhão da prova: a prova já produzida pertence ao 
juízo, e o seu acesso é franqueado às partes e ao juiz, uma vez que não 
existe o titular da prova, mas apenas seu requisitante. 
 Princípio da lealdade processual: veda a aplicação de meios fraudulentos. Dele 
decorre o tipo penal que pune a fraude processual (art. 347 do CP). 
2. Métodos de Integração e Interpretação das Leis Processuais Penais 
Os meios de integração da norma no ordenamento jurídico brasileiro se prestam a dar 
sentido a normas nos casos de lacuna e estão previstos na Lei de Introdução das Normas 
Brasileiro – LINDB (Decreto-lei nº 4.657/1942), em seu art. 4º, analogia, costumes e 
princípios gerais do direito, acrescidos pela doutrina à equidade e aos tratados e 
convenções recepcionados formalmente. 
 Analogia: em casos de ausência de previsão legal, é possível a aplicação de norma 
semelhante, que pode ser uma outra lei (analogia legis) ou um princípio 
(analogia iuris). 
Atenção: é vedada a analogia in malam parte no direito penal, mas nada impede a sua 
aplicação no processo penal, desde que observadas a proporcionalidade e a razoabilidade 
na aplicação do dispositivo análogo. 
 Costumes: prática normativa reiterada e que de fato auxilie a função de integração 
normativa. Nas palavras de Nucci (2023, p. 156): 
Não serve o costume para permitir o nascimento de lei penal, mas pode produzir normas 
de caráter processual penal, conforme o caso. Assim, da mesma forma, não tem o condão 
de provocar a revogação de norma penal, mas possibilita o afastamento ou a 
inaplicabilidade de norma processual penal. 
 Princípios Gerais do Direito: são princípios norteadores que expressam 
mandamentos éticos gerais que orientam a integração da norma. 
CPP – Art. 3º: A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação 
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 
 Tratados e convenções: extremamente relevantes para orientar a integração da 
norma, especialmente em matéria de direitos humanos. 
A intepretação das leis processuais penais poderá ocorrer de maneiras diferentes: 
 Quanto à sua origem: 
o legislativa: realizada pelo próprio legislador, seja na elaboração da lei ou 
no texto que interpreta a norma; 
o jurisprudencial: decorre das decisões tomadas pelo Poder Judiciário, 
quando da aplicação da norma; 
o doutrinária: feita pelos estudiosos do direito, ao interpretarem a norma. 
 Quanto ao seu modo: 
o literal: considera o próprio sentido das palavras contidas na norma; 
o teleológica: interpretação realizada considerando a finalidade da norma; 
o histórica: remonta ao momento histórico em que a norma entrou em vigor 
para a sua interpretação; 
o sistemática: percebe a norma inserida dentro de um amplo sistema 
jurídico; é conhecida como “diálogo das fontes”. 
 Quanto ao seu resultado: 
o declarativa: quando há uma conexão exata entre o texto legal e a vontade 
da lei; 
o expansiva: quando a norma é extremamente sintética e diz menos do que 
queria dizer, a interpretação deve ser ampliada; 
o restritiva: quando a norma é prolixa e diz mais do que era preciso, a 
interpretação deve ser reduzida. 
3. Eficácia da Norma Processual no Tempo e no Espaço 
 Lei processual penal no tempo 
A LINDB estabelece, em seu art. 1º, um período de vacância da lei: “Salvo disposição 
contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de 
oficialmente publicada”, em razão da necessidade de que se tome conhecimento da nova 
norma. Entretanto, de maneira excepcional, esse período de vacatio legis pode ser 
relativizado e a lei aplicada imediatamente a partir da sua publicação, como acontece com 
a lei processual penal, em razão de não conter em seu bojo norma criminalizadora. 
CPP – Art. 2º: A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade 
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. 
Trata-se de uma clara opção do legislador pelo Princípio do Tempus Regit Actum (tempo 
rege o ato), de modo que a lei processual penal se aplicará aos atos a partir do momento 
da sua publicação em diante, não importando se o início do procedimento é anterior, nem 
dos atos já praticados. 
Atenção! É importante diferenciar a norma penal da norma processual penal, para fins de 
sua aplicação no tempo. A norma penal é aquela que tem repercussões na pretensão 
punitiva estatal, pouco importando sua posição no ordenamento jurídico. Já a norma 
processual penal se divide em genuinamente – aquela que se refere apenas aos atos e 
procedimentos penais, sem alcançar a pretensão punitiva – e materialmente – engloba 
direito penal e processual penal, sendo, portanto, considerada mista. 
Assim, ao ser exteriorizada no ordenamento jurídico com a sua publicação, a lei 
processual penal passa, imediatamente, a produzir seus efeitos. O mesmo ocorre com a 
sua revogação, que põe fim à produção de seus efeitos com a consequente eficácia 
imediata da lei que a substitui. 
 Lei processual penal no espaço 
O legislador processual penal fez uma opção clara em seu art. 1º do princípio da 
territorialidade (locus regit actum), uma vez que a jurisdição, enquanto exercício da 
soberania, não pode ser exercida fora dos seus limites territoriais, em regra. 
CPP – Art. 1º: O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este 
Código, ressalvados: (...). 
Dessa forma, o CPP será aplicado aos processos em trâmite no território nacional, com 
algumas exceções: 
o nos territórios ocupados em caso de guerra; 
o nos lugares em que não haja soberania nem jurisdição estrangeira; 
o nas situações em que haja permissão do Estado estrangeiro para que incida 
a norma processual penal brasileira. 
Entretanto, existem situações em que a norma processual penal será afastada para que 
outra norma incida; são as situações previstas nos incisos do art. 1º do CPP: 
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional: muito comum em 
atuações de cooperação internacional relacionadas às investigações penais e nas 
imunidades diplomáticas. 
Atenção! A prerrogativa conferida ao cônsul é restrita aos crimes relacionados apenas 
com o exercício da sua função. 
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, 
nos crimes conexoscom os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo 
Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade: não são infrações penais, mas sanções 
político-administrativas. 
III - os processos da competência da Justiça Militar: incide o Código de Processo Penal 
Militar. 
V - os processos da competência do tribunal especial: revogado tacitamente, por não mais 
existir o Tribunal de Segurança Nacional, destinado aos crimes envolvendo a segurança 
nacional. 
V - os processos por crimes de imprensa: a Lei de Imprensa não foi recepcionada pela 
CF/1988. 
Algumas leis especiais trazem procedimentos específicos, como os procedimentos do 
Juizado Especial Criminal, da Lei Maria da Penha, da Lei de Droga, do Estatuto do Idoso, 
dos Crimes Falimentares, e de Competência Originária dos Tribunais etc. Nesses casos, 
o CPP será aplicado de maneira subsidiária. 
 
Semana 4 - Inquérito Policial 
Desenvolvimento do Conteúdo 
1. Conceito e Natureza Jurídica 
A persecução penal tem início com a investigação, que pode ser cível, administrativa ou 
criminal, que culmina no procedimento judicial. Desse modo, o inquérito policial é um 
procedimento administrativo decorrente da apuração de delitos. 
Apesar de não ser o único, existem alguns outros procedimentos, como o boletim de 
ocorrência e o termo circunstanciado. Capez (2021, p. 45) conceitua inquérito policial 
como: 
O conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma 
infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal tenha condições de 
ingressar em juízo dispondo de elementos informativos (CPP, art. 4º). Trata-se de 
procedimento persecutório de caráter administrativo instaurado pela autoridade policial. 
Tem como destinatários imediatos o Ministério Público, titular exclusivo da ação penal 
pública (CF, art. 129, I), e o ofendido, titular da ação penal privada (CPP, art. 30); como 
destinatário mediato tem o juiz, que se utilizará dos elementos de informação nele 
constantes, para o recebimento da peça inicial e para a formação do seu convencimento 
quanto à necessidade de decretação de medidas cautelares. 
Assim, o inquérito policial é o principal instrumento de investigação penal que tem como 
finalidade fornecer os indícios de autoria e materialidade consubstanciado em elementos 
informativos que embasarão a instauração do processo penal. 
O inquérito policial possui natureza jurídica de procedimento administrativo. As provas 
colhidas possuem uma presunção relativa; não há observância de contraditório e ampla 
defesa; os possíveis vícios não contaminam o processo, bem como não há a aplicação de 
uma sanção, presidido pela autoridade policial para embasar a atuação do titular da ação 
penal. E, por não haver a observância de contraditório e ampla defesa, é considerado um 
procedimento inquisitorial. 
Polícia administrativa e judiciária 
 Polícia administrativa: atua de maneira preventiva e ostensiva com a finalidade 
de evitar a ocorrência de infrações penais e interferir nas que estiverem em curso. 
Fica a cargo das policiais militares, conforme atribuição constitucional (art. 144, 
§5º, CF/1988). 
 Polícia judiciária: exercida pelas polícias civil e federal (art. 144, §§ 1º e 4º, 
CF/1988), tem a finalidade de apurar infrações penais e seus autores. Também é 
chamada de polícia investigativa, uma vez que a sua função é a colheita de 
elementos de informação destinados a instruir a ação penal. 
CPP – Art. 4º: A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território 
de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua 
autoria. 
Importante 
É de extrema relevância esclarecer que a investigação criminal (gênero) que pode ser 
exercida por outros órgãos é diferente do inquérito policial (espécie), que é de atribuição 
da polícia judiciária. Por exemplo, o Ministério Público possui atribuição para realizar 
investigação criminal, com base em previsão implícita de alguns dispositivos do CPP 
(arts. 4º, 12 e 47) e da CF/1988 (art. 129, VI, VIII e IX), e o inquérito civil, que também 
é de sua atribuição, assim como os inquéritos parlamentares, que ficam a cargo das 
Comissões Parlamentares de Inquérito, por força do disposto no art. 58, §3º, da CF/1988. 
As atribuições e a instrução do inquérito policial 
A finalidade principal do inquérito está na colheita e preservação dos elementos 
informativos relacionados à autoria e materialidade para auxiliar o titular da ação penal 
na formação de sua opinio delicti, muito embora também possa ser utilizado para 
fundamentar pedidos de medidas cautelares. 
Importante 
É necessário diferenciar prova de elementos de informação. A prova é colhida na fase 
processual e é submetida ao contraditório e à ampla defesa, diferentemente dos elementos 
informativos, que são colhidos na fase pré-processual, sem a observância do contraditório 
e da ampla defesa. Essa distinção aparece claramente no art. 155 do CPP: 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em 
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos 
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não 
repetíveis e antecipadas. 
O inquérito policial tem início com ciência da autoridade responsável pela polícia 
investigativa da ocorrência de uma infração penal, o que pode ocorrer por meio: 
 de ofício: em decorrência de um auto de prisão em flagrante (notitia criminis de 
cognição coercitiva) ou de quando a própria autoridade toma conhecimento do 
delito espontaneamente, sem provocação, em suas atividades de rotina (notitia 
criminis de cognição direta ou imediata); 
 pela vítima ou de seu representante legal: por meio do requerimento por meio 
do ato formal (notitia criminis de cognição indireta ou imediata); 
 Por qualquer do povo: por meio da delatio criminis em que qualquer pessoa que 
possa comunicar a autoridade policial, por escrito ou oralmente, a ocorrência de 
uma infração penal; 
Importante 
É vedada a instauração de procedimento investigativo baseado UNICAMENTE em 
denúncia anônima (delatio criminis apócrifa), muito embora nada impeça que a 
autoridade policial investigue para conseguir os elementos informativos que poderão 
embasar a instauração do inquérito policial. 
 por requisição da autoridade competente: comunicação formal do delito por 
autoridade judiciária, membro do Ministério Público ou Ministro da Justiça 
(notitia criminis de cognição indireta ou imediata). 
Após tomar conhecimento do ilícito penal, a autoridade policial tomará as medidas 
necessárias para formalizar, por meio de uma peça inaugural, conforme art. 5º do CPP: 
 Portaria: de ofício (art. 5º, I, do CPP), deve observar alguns requisitos de forma 
a ser o mais detalhado possível para facilitar a elucidação dos fatos, além do 
enquadramento do tipo penal. 
 Auto de prisão em flagrante: na ocorrência de qualquer infração penal, 
excetuando-se os crimes de menor potencial ofensivo que serão objeto de termo 
circunstanciado. 
 Requerimento do ofendido ou do seu representante legal (art. 5º, II, do CPP): 
trata-se de uma solicitação e, por isso, pode ser indeferida nos crimes de ação 
penal pública condicionada à representação. 
 Requisição do Ministro da Justiça (art. 5º, II do CPP): trata-se de uma exigência 
legal nos crimes de ação penal pública incondicionada, de modo que a autoridade 
policial não a poderá deixar de cumprir. 
 Requisição do Ministério Público ou da Autoridade Judiciária (art. 5º, II, do 
CPP): trata-se de uma exigência legal nos crimes de ação penal pública 
incondicionada, de modo que a autoridade policial não a poderá deixar de 
cumprir. 
É importante ressaltar que o CPP prevê uma ritualística por meio de algumas providências 
que deverão ser seguidas pela autoridade policial,que engloba a cadeia de custódia, na 
forma do art. 6º: 
CPP – Art. 6º: Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade 
policial deverá: 
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das 
coisas, até a chegada dos peritos criminais; 
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos 
criminais; 
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas 
circunstâncias; 
IV - ouvir o ofendido; 
V - Ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III 
do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas 
que Ihe tenham ouvido a leitura; 
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; 
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer 
outras perícias; 
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e 
fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; 
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e 
social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e 
durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu 
temperamento e caráter. 
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem 
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos 
filhos, indicado pela pessoa presa. 
Mas o que acontece se o requerimento do ofendido ou de seu representante legal for 
indeferido? E se deixar de cumprir a requisição da autoridade judiciária, Ministério 
Público ou Ministro da Justiça? 
O indeferimento do requerimento do ofendido ou seu representante legal, segundo o art. 
5º, § 2º, do CPP, ensejará um recurso para o chefe de Polícia. 
Em relação à requisição da autoridade judiciária, Ministério Público ou Ministro da 
Justiça, a autoridade policial apenas poderá se negar a prosseguir com a instauração do 
inquérito, se essa requisição estiver lastrada por uma manifesta legalidade, ocasião em 
que o delegado deverá oficiar ao requisitante os motivos que embasam o não 
cumprimento. 
As características e princípios informadores do inquérito policial 
 Discricionário 
 
 Escrito 
 
 Inquisitivo 
 
 Temporário 
 
 Administrativo 
 
 Indisponível 
 
 Dispensável 
 
 Oficioso 
 
 Sigiloso 
 
 Oficial 
 
Importante 
A utilização de um mnemônico auxilia a memorizar, considerando, nessa sequência, as 
iniciais de cada palavra. É possível formar a frase “DEITA 
IDOSO” (discricionário, escrito, inquisitivo, temporário, administrativo, indisponível, 
dispensável, oficioso, sigiloso, oficial). 
 
Figura 1: Mnemônico DEITA 
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
https://a10349-20362665.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362665/course%20files/material_web/modulo_01/semana_04/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362665&inline=1
IDOSO (discricionário, escrito, inquisitivo, temporário, administrativo, indisponível, di
spensável, oficioso, sigiloso, oficial). Fonte: Dreamstime. 
Conclusão do inquérito, indiciamento, desindiciamento e arquivamento 
Indiciamento:é atribuição privativa do delegado, conforme art. 2º, §6º, da Lei 
12.830/2013. Assim, após tomar conhecimento da infração penal pelos meios já 
estudados, instaurar o inquérito policial e seguir as demais orientações contidas no art. 6º 
do CPP, alguns prazos deverão ser observados para a sua conclusão. Dentre eles os mais 
comuns são: 
 Indiciado preso: 10 dias em caso de prisão em flagrante ou prisão preventiva, na 
forma da parte inicial do art. 10º do CPP. 
Apesar da previsão do art. 21 do CPP acerca da incomunicabilidade do preso, é possível 
constar que tal dispositivo não foi recepcionado pela CF/1988, conforme art. 5º, LXII e 
LXIII, com a previsão de que entre os direitos do preso está a assistência da família e de 
seu advogado. Nem mesmo em situação excepcionais, como na decretação de Estado de 
Defesa (art. 136, §3º, IV da CFRB/88), permite-se a incomunicabilidade. 
 Indiciado solto: 30 dias com o arbitramento de fiança ou não, a depender do caso 
concreto, conforme parte final do art. 10º do CPP. 
A dilação do prazo em caso de indiciado solto pode ocorrer mediante solicitação 
fundamentada do delegado ao juiz e oitiva do Ministério Público. Porém, em caso de 
indiciado preso, esse prazo não poderá ser interrompido nem estendido, de modo que, 
antes da finalização do prazo, o delegado deverá solicitar a conversão da prisão em 
preventiva ao juiz, que poderá também determinar o relaxamento da prisão ao final do 
prazo, se assim entender. 
 Lei de drogas: 30 dias, em caso de indiciado preso, e 90 dias, caso o indiciado 
esteja solto. Esses prazos podem ser duplicados em eventual prorrogação, 
mediante solicitação fundamentada do delegado ao juiz e ouvido o Ministério 
Público (art. 51, parágrafo único da Lei nº 11.343/2006). 
 Crimes militares: 20 dias, em caso de indiciado preso, e 40 dias, caso o indiciado 
esteja solto, considerando a prorrogação de 20 + 20 dias, segundo art. 20 do 
CPPM. 
Desindiciamento: decorre do exercício do poder de autotutela, ou seja, de revisão dos 
próprios atos da Administração Pública. De modo que, o delegado de polícia poderá 
chegar à conclusão que cometeu um equívoco, por exemplo, que o autor do fato não era 
o indiciado. Também pode decorrer de uma solicitação comprobatória do indiciado ao 
Poder Judiciário em razão da ausência de elementos, via Habeas Corpus. 
Arquivamento: em razão do princípio da indisponibilidade, não cabe à autoridade 
policial o arquivamento de ofício do inquérito policial, mas ao destinatário da opinio 
delicti, o titular da ação penal. Assim, concluído o inquérito, os autos do inquérito deverão 
ser remetidos ao Ministério Público, que poderá oferecer denúncia, solicitar o 
arquivamento ao juiz ou requisitar novas diligências a autoridade policial. 
CPP - Art. 28-A: Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado 
formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça 
e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo 
de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção 
do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: (...) 
 Acordo de Não Persecução Penal (ANPP): após a conclusão do inquérito 
policial, o Ministério Público poderá pedir o arquivamento, oferecer denúncia ou 
requisitar novas diligências à autoridade policial, em regra. De modo que, em 
algumas situações, poderá propor um acordo de não persecução penal, desde que 
a infração penal se amolde aos requisitos presentes no art. 28-A do CPP. Trata-se 
de uma espécie de negócio jurídico anterior ao processo que fica sob a 
discricionariedade do Ministério Público; seu oferecimento é uma possibilidade 
diante do enquadramento dos requisitos legais, e não uma obrigatoriedade, como 
é possível depreender do verbo “poder”, inserido no texto legal. Uma vez proposto 
pelo Ministério Público, aceito pelo acusado, necessita da homologação por parte 
do magistrado que poderá conceder ou não, se entender, por exemplo, que as 
condições inseridas no ANPP são abusivas. 
 
Requisitos (art. 28-
A, caput do CPP) Condições (art. 28-A, I ao V, do CPP) 
Não se aplica (art. 28-A, §2º I ao 
IV, do CPP) 
Não ser o caso de 
arquivamento;Confissão 
formal; 
Crime cometido sem 
violência ou grave ameaça; 
Pena mínima inferior a 
quatro anos. 
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na 
impossibilidade de fazê-lo; 
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados 
pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou 
proveito do crime; 
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas 
por período correspondente à pena mínima cominada ao 
delito diminuída de um a dois terços, em local a ser 
indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do 
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código 
Penal); 
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos 
termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou 
I - se for cabível transação penal de 
competência dos Juizados Especiais 
Criminais, nos termos da lei; 
II - se o investigado for reincidente 
ou se houver elementos probatórios 
que indiquem conduta criminal 
habitual, reiterada ou profissional, 
exceto se insignificantes as infrações 
penais pretéritas; 
III - ter sido o agente beneficiado nos 
5 (cinco) anos anteriores ao 
cometimento da infração, em acordo 
de não persecução penal, transação 
penal ou suspensão condicional do 
Requisitos (art. 28-
A, caput do CPP) Condições (art. 28-A, I ao V, do CPP) 
Não se aplica (art. 28-A, §2º I ao 
IV, do CPP) 
de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, 
que tenha, preferencialmente, como função proteger bens 
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente 
lesados pelo delito; ou 
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição 
indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional 
e compatível com a infração penal imputada. 
processo; e 
IV - nos crimes praticados no âmbito 
de violência doméstica ou familiar, 
ou praticados contra a mulher por 
razões da condição de sexo 
feminino, em favor do agressor. 
 
 
Quadro 1: Acordo de Não Persecução Penal (ANPP). Fonte: Adaptado de Brasil (1941). 
Juiz das Garantias 
Uma inovação legislativa trazida pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), dentre 
várias alterações, introduziu o art. 3º-B no CPP, que, em seus incisos e parágrafos, destina 
uma série de atribuições em rol exemplificativo: 
CPP – Art. 3º-B: O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da 
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido 
reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (...) 
Assim, a atuação do juiz das garantias ocorre durante a fase de inscrição criminal, com o 
controle da legalidade e a salvaguarda dos direitos individuais do investigado e tem fim 
com o oferecimento da denúncia, garantindo que o juiz que atuou na fase de inquérito não 
atue na fase processual, em uma tentativa de não contaminar a convicção do julgador. 
É importante ressaltar que, apesar da publicação do Pacote Anticrime no ano de 2019, 
alguns dispositivos ficaram suspensos a partir de uma decisão do Ministro Luiz Fux, 
inicialmente por 180 dias e depois por tempo indeterminado STF, em razão do julgamento 
de algumas Ações Diretas de Inconstitucionalidades sobre o artigo que trata do juiz das 
garantias, dentre elas a ADI nº 6.299, sob a alegação do aumento da despesa do Poder 
Judiciário para sua implementação e ADI nº 6.298, que argumentam sobre a 
constitucionalidade do dispositivo, uma vez que caberia ao Supremo, por meio de lei 
complementar, dispor sobre a organização judiciária. 
Em 24 de agosto de 2023, essas ações foram finalmentejulgadas e, em relação à atuação 
do juiz das garantias, ficou definido um prazo de 12 meses, prorrogáveis por mais 12 
meses, para a adequação das leis de organização judiciaria adequarem as medidas 
legislativas e administrativas necessárias seguindo as diretrizes do Conselho Nacional de 
Justiça, assim como afastou a atuação do juiz das garantias dos processos de competência 
originária do STJ e STF, de competência do Júri, envolvendo violência doméstica e 
familiar contra a mulher e nos casos de infração de menor potencial ofensivo. 
 
Semana 6 - Ação Penal 
INTRODUÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA AÇÃO PENAL: 
O Estado é o detentor do monopólio do direito de ação por uma disposição constitucional: 
“Art. 5º (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito;”. Por isso, o direito de ação é um direito público subjetivo que a parte 
possui de pedir ao Estado-juiz que aplique o direito material ora violado em busca de uma 
solução adequada. 
Fernando Capez conceitua ação penal: 
“É o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso 
concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular 
do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, 
com a consequente satisfação da pretensão punitiva.” (2023, p. 61) 
Dessa forma, é vedada, em regra, que o particular usurpe esse direito agindo em 
autodefesa. 
A doutrina majoritária ostenta que a ação penal é classificada como: 
 Direito Público: a jurisdição é uma atividade de natureza pública em que o Estado 
é detentor; 
 Direito Subjetivo: é exigido pelo titular do direito violado; 
 Direito Abstrato: não depende de que de um resultado para que seja exercido; 
 Direito Autônomo: independe do direito material para o seu exercício; 
 Direito Específico: seu conteúdo possui natureza penal, relacionada a uma 
infração penal; 
 Direito Determinado: tem a pretensão de solucionar fato oriundo do direito 
material; 
 Direito Instrumental: meio para que se chegue ao direito de punir. 
O direito de ação penal é entendido como ato jurídico de se buscar uma pretensão ao 
Estado-juiz, o que difere da ação penal propriamente dita consubstanciada em um 
conjunto de atos processuais. 
 Espécies de ação penal 
As ações penais são categorizadas de acordo com o titular do exercício do direito de ação. 
A regra é que a ação penal seja pública e seu exercício é destinado ao Ministério Público 
(art. 129, I da CRFB/88), ressalvada a ação penal privada que é de titularidade do 
ofendido. 
https://a10349-20362715.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362715/course%20files/material_web/modulo_02/semana_06/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362715&inline=1#main-content
https://a10349-20362715.cluster259.canvas-user-content.com/courses/10349~118043/files/10349~20362715/course%20files/material_web/modulo_02/semana_06/index.html?context_id=10349~118043&context_type=Course&download=1&id=103490000020362715&inline=1#main-content
A ação penal tem início com o oferecimento da denúncia (ação penal pública) ou da 
queixa (ação penal privada) conforme art. 24 do CPP e art. 100 do CP. 
CPP – Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do 
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da 
Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. 
 1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão 
judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente 
ou irmão. 
 2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou 
interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública. 
CP – Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara 
privativa do ofendido. 
 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a 
lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. 
 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de 
quem tenha qualidade para representá-lo. 
 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o 
Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. 
 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão 
judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão. 
Importante 
Quando o tipo penal não trouxer expressamente a espécie de ação penal, deve-se 
considerar que o crime é de ação penal pública incondicionada. As ações penais privadas 
geralmente acompanham a expressão “somente se procede mediante queixa” no texto 
legal do tipo penal a que se referem. O que também se aplica as ações penais públicas 
condicionadas a representação do ofendido que apresentarão a frase “somente se procede 
mediante representação” e a requisição do Ministro da Justiça “procede-se mediante 
requisição do Ministro da Justiça”. 
A ação penal é regida por princípios gerais e por princípios específicos relacionados a 
cada espécie. 
Dentre os princípios gerais da ação penal estão: 
1. Princípio da oficialidade: a ação penal é conduzida pelos órgãos oficiais do 
Estado que detém o direito de punir. 
2. Princípio da oficiosidade: os órgãos responsáveis pela persecução penal devem 
agir de ofício, independentemente de provocação, em regra. Ressalvado os casos 
de ação penal pública condicionada a representação, ação penal condicionada a 
requisição do Ministro da Justiça e ação penal privada. 
3. Princípio do ne bis in idem: veda que alguém seja processado duas vezes pelo 
mesmo delito, seja em caso de litispendência (mesmo fato, mesma parte e mesma 
causa de pedir), seja quando já houver o trânsito em julgado em uma das ações. 
4. Princípio do ne procedat iudex ex officio: o processo decorre da iniciativa das 
partes ao exercer o direito de ação, é concretizado pela adoção ao sistema 
acusatório. A única exceção é o Habeas Corpus de ofício dada a sua natureza de 
garantia da liberdade individual. 
5. Princípio da intranscendência: a persecução penal não pode atingir sujeito 
diferente do que tenha praticado o delito, como amigos e familiares ou quem não 
tenha participado do crime. 
A responsabilidade extrapenal consistente no dever de reparar o dano causado à vítima, 
poderá ser transferido aos sucessores em caso de morte do autor do fato delituoso. 
Passaremos então a análise de cada uma das espécies de ação penal: 
AÇÃO PENAL PÚBLICA 
A ação penal pública é regida por alguns princípios específicos, são eles: 
1. Princípio da obrigatoriedade da ação penal: quando a hipótese prevista no tipo 
penal se concretiza no mundo dos fatos, nasce a obrigatoriedade para a polícia 
judiciária investigá-los, e após sua conclusão, para que o Ministério Público 
enquanto titular da ação penal inicie o processo penal. Não se trata de uma 
discricionariedade, mas um dever de agir obrigatório. Entretanto, existem algumas 
exceções a este princípio como: colaboração premiada; termo de ajustamento de 
conduta; acordo de não persecução penal; transação penal; acordo de leniência; e 
parcelamento do débito tributário. 
2. Princípio da indisponibilidade da ação penal: é um desdobramento lógico do 
princípio da obrigatoriedade, e consiste no fato de que o Ministério Público não 
pode desistir da ação penal proposta (art. 42 do CPP), nem do recurso interposto 
(art. 576 do CPP), ainda que não haja uma obrigatoriedade recursal por parte do 
Ministério Público, porém uma vez interposto o recurso não poderá desistir. A 
exceção se restringe aos casos de suspensão condicional do processo. 
3. Princípio da divisibilidade daação penal: o Ministério Público não tem a 
obrigação de denunciar todos os acusados envolvidos no fato delituoso, pois cada 
conduta é individualizada ainda que cometida conjuntamente. 
Ação penal pública incondicionada 
É de titularidade do Ministério Público conforme art. 129, I da CRFB/88 e art. 257, I do 
CPP, que o exerce por meio da denúncia que é a peça inicial. A regra é que a ação penal 
seja pública incondicionada e suas exceções são expressas no texto legal. É 
incondicionada pois não depende de anuência da vítima ou de seu representante legal, 
não se exige nenhuma condição específica para que se proceda. 
Atenção! A ação penal privada subsidiária da pública por previsão constitucional (art. 5º, 
LIX, CRFB/88) se aplica apenas aos casos em que o Ministério Público se quedar inerte 
ao não oferecer denúncia no prazo legal. Momento em que surge para o ofendido o direito 
de oferecer ação penal privada em substituição a ação penal pública. 
Ação penal púbica condicionada 
Também é de titularidade do Ministério Público, porém depende de uma condição que é 
a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça decorrente de previsão 
expressa do texto legal. Vale ressaltar que mesmo diante da representação ou requisição, 
o Parquet não é obrigado a oferecer a denúncia, o fará apenas depois de formar a 
sua opinio delicti a partir dos elementos de informação oriundos da investigação 
criminal. 
 Representação do ofendido 
É a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal (oralmente ou por 
escrito) pelo interesse em prosseguir com a persecução penal. Trata-se de uma condição 
específica de procedibilidade sob pena de rejeição da peça acusatória. 
CPP - Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por 
procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao 
órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. 
 1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente 
autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida 
a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério 
Público, quando a este houver sido dirigida. 
 2º A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do 
fato e da autoria. 
 3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá 
a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. 
 4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será 
remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito. 
 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação 
forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste 
caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. 
Por entendimento doutrinário e jurisprudencial não cabe renúncia do direito de 
representação, uma vez que o texto legal se atém aos casos de queixa, apenas. A exceção 
está na Lei n. 9.099/95 em eventual composição civil dos danos. Entretanto, é possível 
que ocorra a retratação da representação desde que aconteça antes do oferecimento da 
denúncia (art. 25 do CPP). Assim como existe um consenso doutrinário que também é 
possível a retratação da retratação da representação que consiste na possibilidade de que 
o ofendido ou seu representante legal desista da retratação e opte pela representação desde 
que exerça no prazo decadencial de 06 (seis) meses contados do conhecimento da autoria 
do fato. 
Atenção! Em relação a previsão do art. 16 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) 
há uma hipótese de retratação da representação, apesar do texto trazer como renúncia a 
representação, uma vez que ocorre antes do recebimento da denúncia. Ressalte-se que 
essa retratação é feita obrigatoriamente em audiência, mas há decisão do STJ sobre o 
Tema n. 1.167 que restringe a obrigatoriedade dessa audiência nos casos em que a 
retratação da representação ocorrer ainda em fase de inquérito. 
O ofendido detém a legitimidade para fazer a representação e poderá exercê-la 
pessoalmente ou por procurador (art. 39 do CPP). O menor de 18 (dezoito anos), o 
mentalmente enfermo ou com retardado mental atua por meio do seu representante legal, 
caso não o tenha ou tenha conflitos de interesse com seu representante, será nomeado um 
curador especial (art. 33 do CPP). Com a morte da vítima haverá uma sucessão processual 
e deverá figurar como representante legal os seus sucessores: cônjuge, ascendente, 
descendente ou irmão. (art. 31 do CPP). A pessoa jurídica é representada por seus 
diretores ou sócios-gerentes (art. 37 do CPP). 
Atenção! A doutrina majoritária e a jurisprudência consolidada entendem que o direito 
de representação em caso de sucessão processual se estende ao companheiro. 
 Requisição do Ministro da Justiça 
É a manifestação de vontade do Ministro da Justiça, trata-se de condição de 
procedibilidade para que a denúncia seja oferecida, é dirigida ao Procurador Geral do 
Ministério Público nos casos de crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do 
Brasil (art. 7º, §3º, “b”, do CP) e a crimes contra a honra cometidos contra o Presidente 
da República ou chefe de governo estrangeiro (arts. 141, I, e 145, parágrafo único, do 
CP). Nessa situação também não há vinculação do Ministério Público que apenas 
oferecerá a denúncia depois de formar a sua opinio delicti. 
A requisição não se sujeita a prazo decadencial, podendo ser exercida a qualquer tempo. 
E, assim como a representação do ofendido, pode se sujeitar a retratação da requisição até 
o oferecimento da denúncia. 
 AÇÃO PENAL PRIVADA: 
Tem como princípios regentes: 
1. Princípio da oportunidade e conveniência: a decisão acerca do oferecimento da 
queixa é uma faculdade do ofendido ou de seu representante legal, que poderá 
exercê-la ou não. O que se aplica também a representação do ofendido e a 
requisição do Ministro da Justiça na ação penal pública condicionada. A falta do 
exercício do direito de queixa implica decadência ou renúncia, a depender da 
situação fática. 
2. Princípio da disponibilidade: o ofendido pode desistir da ação penal em curso, 
e poderá fazê-lo por meio da concessão de perdão do ofendido; perempção; 
conciliação; ou termo de desistência. 
3. Princípio da indivisibilidade: o querelante não pode escolher contra quem irá 
exercer o direito de queixa e, por força do disposto no art. 48 do CPP é obrigado 
a oferecer queixa contra todos os autores do crime. E, se ainda assim o fizer terá 
diferentes consequências a depender do tipo de omissão: se a omissão for 
voluntária será o caso de renúncia tácita que se estenderá a todos os autores; caso 
a omissão seja involuntária o Ministério Público intimará o ofendido para que faça 
o aditamento da queixa-crime incluindo o(s) autor(es) que porventura não foram 
mencionados, se após a intimação o ofendido realizar o aditamento o processo 
segue seu curso, caso contrário haverá a extinção da punibilidade que aproveitará 
a todos em razão da renúncia pela inércia do ofendido. 
Os crimes de ação penal privada geralmente atingem a honra e a dignidade da vítima, por 
isso o legislador optou em deixar sob a discricionariedade do ofendido ou de seu 
representante legal, expressamente, a possibilidade de iniciar a persecução penal. 
 Ação penal exclusivamente privada 
Dentre as ações penais privadas, a regra é que seja exclusivamente privada, uma vez que 
apenas o ofendido por exercer o direito de queixa. A exceção ocorre apenas em caso de 
morte do ofendido quando há a sucessão processual conforme disposto no art. 31 do CPP. 
 Ação penal privada personalíssima 
Apenas o ofendido pode exercê-la pessoalmente, não admite representação legal nem 
sucessão processual, ainda que ocorra a morte do ofendido, situação que enseja a

Mais conteúdos dessa disciplina