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CONTATO 143 | 7
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Por Psic. Gabriela Carvalho Teixeira (CRP-08/34768), vice-presidente do 
Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do 
Paraná (CERMA/PR) e coordenadora do Núcleo de Psicologia e Migrações 
(NUPSIM) da Comissão de Direitos Humanos do CRP-PR
O Sistema Único de Saúde (SUS), uma 
conquista da sociedade brasileira, 
distingue-se por sua universalida-
de de acesso, que garante o direito à saúde 
a todas as pessoas e representa um marco 
histórico nas políticas de seguridade social 
do país. Assegurar a diretriz de universa-
lidade, entretanto, depende da garantia 
da equidade, que convoca à estruturação 
de ações que tornem o SUS adaptável às 
desigualdades constituintes da sociedade 
brasileira, observando as particularidades 
sociais, econômicas e culturais das popula-
ções atendidas, ofertando cuidados espe-
cíficos em saúde na medida em que essas 
diferenças estão colocadas.
As populações migrantes residentes no 
Brasil são profundamente plurais, compos-
tas por diversas nacionalidades e origens 
étnicas e raciais. Em sua maioria são forma-
das por pessoas migrantes negras e indíge-
nas oriundas de países como Haiti, Bolívia, 
Venezuela, Angola, República Democrática 
do Congo, Nigéria, entre outros. Em muitos 
casos, essas pessoas têm acesso dificultado 
ao SUS, situação agravada durante a pande-
mia de Covid-19, tempo de urgência política 
e sanitária, comprometendo de forma pro-
funda a universalidade do Sistema.
O debate sobre acesso à saúde nem sempre 
é central nos espaços de discussão sobre a 
temática migratória. Garantir a equidade 
nesse acesso é um aspecto fundamental 
para promover uma política migratória que 
respeite os direitos humanos. A saúde é um 
direito humano básico, e no Brasil é dever 
do SUS atender todas as pessoas, indepen-
dentemente de sua situação documental, 
sua origem, língua ou cultura. Para que 
essa assistência seja efetiva, estratégias 
específicas precisam ser adotadas, tendo 
um horizonte de cuidado intercultural. É 
urgente a garantia do acesso à saúde pú-
blica por essas populações, respeitando e 
observando suas diferenças linguísticas, 
culturais, étnico-raciais, econômicas e 
Psicologia e o controle 
social de políticas públicas: 
migrações, saúde e equidade 
no acesso a direitos 
| CONTATO 1438
sociais, e assegurando o acesso ao SUS in-
dependente de suas situações migratórias 
ou documentais.
Diante desse cenário, observamos a impor-
tância da mobilização de organizações e 
coletivos que atuam com a temática mi-
gratória no país. A participação social na 
construção e monitoramento das políticas 
públicas é fundamental! 
Nesse contexto, o controle social se confi-
gura enquanto mecanismo de participação 
social na gestão pública, no monitoramento, 
fiscalização e proposição de políticas públi-
cas. Uma das possibilidades de participa-
ção da sociedade civil neste processo se dá 
na atuação em Conselhos de Direitos ou de 
Políticas Públicas específicas, além dos espa-
ços de conferências, composição assegurada 
pela Constituição de 1988 e fruto das lutas 
sociais. O controle social é imprescindível 
para tensionar e debater a efetivação de po-
líticas públicas, aproximando a palavra teci-
da em lei da realidade das comunidades.
A garantia de direitos é parte fundamental 
no cuidado em saúde mental. Pensar em 
políticas mais eficientes e respeitosas para 
o acolhimento da população migrante no 
Brasil passa por estabelecer um espaço 
democrático de escuta das demandas em 
relação à migração e à saúde. Tendo como 
horizonte a melhoria de acesso à saúde e 
colocando em relevo a necessidade de nos 
articularmos em um esforço de mobiliza-
ção permanente, e como forma de parti-
cipação no processo de consolidação de 
políticas públicas no Paraná, o Conselho 
Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) 
compõe o Conselho Estadual dos Direitos 
dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do 
Paraná (CERMA/PR) desde seu início, em 
2015, e hoje assume a vice-presidência des-
te espaço (mandato 2022-2024). 
Assumimos essa representação comprome-
tidas(os/es) com a necessidade da constru-
ção de estratégia específica de atenção à 
saúde que considere as particularidades do 
campo migratório, construindo, nas popu-
lações migrantes, uma Política Estadual, 
mas também mobilizando nacionalmente 
o campo da saúde pública e o acesso de 
migrantes, com o propósito de garantir a 
efetivação dos princípios do SUS.
O CRP-PR atua em diversas instâncias do 
controle social, buscando a construção de 
políticas públicas pertinentes para toda 
a população. Devemos refletir, enquanto 
categoria, sobre a nossa participação na 
sociedade e os efeitos políticos das nossas 
intervenções, visando a um trabalho que 
seja implicado com a promoção da saú-
de e o combate às opressões e exclusões. 
Além disso, é preciso recolher da prática 
um saber crítico e analítico sobre a reali-
dade política, econômica, social e cultural 
das comunidades que compomos e assis-
timos, bem como constituir uma parti-
cipação social e a permanente defesa de 
processos que promovam cidadania. Essas 
são pautas que devem ter centralidade no 
cotidiano profissional.
Debater o cuidado em saúde na migração 
deve ser algo permanente, um campo que 
nos convoca ao cuidado transdisciplinar, 
intersetorial e de epistemologias diver-
sas. O engajamento de profissionais da 
Psicologia é essencial nos processos de 
articulação e participação no controle so-
cial, na luta por uma sociedade com efeti-
va justiça social e pelo fortalecimento das 
políticas públicas. 
8
Para saber 
mais
Confira como participar destes espaços 
acessando os links abaixo:
Para ler e 
indicar
VALLA, V. V. (Org.) 
Participação Popular e 
os Serviços de Saúde: 
o controle social como 
exercício da cidadania. Rio 
de Janeiro: Pares, 1993.

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