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SAÚDE ÚNICA AULA 4 Profª Cleci Elisa Albiero Profª Ivana Maria Saes Busato 2 CONVERSA INICIAL A saúde única se propõe a uma abordagem interdisciplinar na perspectiva de sistemas para problemas complexos que envolvem as interações entre as esferas de humano, animal e saúde ambiental. As necessidades fundamentais dos humanos, como casa, alimento, saneamento básico e serviços, em especial a urbanização e a produção de alimentos, devem observar o equilíbrio entre meio ambiente, pessoas e animais. Nesse contexto, o processo de territorialização não pode estar em desequilíbrio aos ambientes naturais, podendo estabelecer pontes entre humanos, animais e meio ambiente, evitando promover doenças, mudanças climáticas e desastres ambientais. Busca-se apresentar as principais políticas públicas brasileiras, saúde e assistência social, que são organizadas a partir de territórios, reconhecendo o processo de territorialização para a proteção das pessoas e para a mudança das condições de vida, de adoecer e de saúde, na busca da qualidade de vida e da defesa de direitos. Vamos discutir os conceitos de território, territorialização e saúde única na perspectiva de mudarmos nosso olhar sobre a interação com as pessoas, o meio ambiente e os animais. As explicações serão compostas de fundamentação teórica e exemplos práticos, visando a aplicabilidade do estudo. Bons estudos! TEMA 1 – CONCEITO DE TERRITÓRIO A promoção de espaços saudáveis faz com que compreendamos o que vem a ser território. Nessa linha, compreender o território a partir do conceito do Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental para avançar no entendimento do conceito de saúde única na perspectiva de compreender a condição de vida das pessoas, dos animais e do meio ambiente, relacionadas às políticas sociais públicas e o quanto estas avançam e são efetivas para grande parte da população que vive em determinados espaços geográficos. Todos nós vivemos e convivemos em um determinado espaço geográfico, no qual existem diversas estruturas, sejam elas políticas, equipamentos públicos, privados ou do terceiro setor, aos quais temos acesso e usufruímos 3 para nossa sobrevivência e bem-estar. Basta olhar pela janela e ver todas as construções no espaço, como prédios, ruas, casas, praça de esportes. Segundo Koga (2011, p. 33), esses espaços precisam ser entendidos como território, sendo “o chão concreto das políticas, a raiz dos números e a realidade da vida coletiva”, ou como diz a autora, “território usado (sangue quente)” (Koga, 2011, p. 33). Nessa perspectiva, reitera-se que o território se apresenta com características para entender a organização e as reflexões frente aos espaços de organização política, econômica, social e cultural que expressam relações sociais e de poder entre seus membros. Retomando Koga (2011, p. 33), quando dialoga com a referência de território como o chão do exercício da cidadania, onde “se concretizam as relações sociais, as relações de vizinhança e solidariedade, as relações poder”. Seguindo no pensamento da autora, é no território que as desigualdades sociais tornam-se evidentes entre os sujeitos que lá residem. As condições de vida entre os moradores de uma mesma cidade ou de um mesmo território mostram-se diferenciadas, assim como a presença ou a ausência dos serviços públicos se faz sentir na qualidade desses mesmos serviços ofertados. Avançando sobre o conceito de território, podemos entender também que território pode ser compreendido como o lugar das relações vivas e vividas, constituído e constituinte de diferentes sujeitos em constante desenvolvimento. Milton Santos (2000, p. 22) diz que “território só se torna um conceito utilizável para análise social quando consideramos a partir do seu uso, a partir do momento em que pensamos justamente com aqueles atores que dele se utilizam”. Porém, continua o autor que num sentido mais restrito da palavra, “o território é um nome político para o espaço de um país” (Santos, 2001, p. 19). No entanto, para entender que cada território compreende determinado perfil populacional que se movimenta, tem vínculos cotidianos, trocas, contradições e conflitos, se faz importante a caracterização da população e a identificação de suas demandas e necessidades peculiares do território (Bissacotti; Gules; Blümke, 2019). Dessa forma, território também pode ser compreendido como: espaços de vida, de relações, de trocas, de construção e desconstrução de vínculos cotidianos, de disputas, contradições e conflitos, de expectativas e de sonhos, que revelam os significados atribuídos pelos diferentes sujeitos. É também o terreno das políticas 4 públicas, onde se concretizam as manifestações da questão social e se criam os tensionamentos e as possibilidades para seu enfrentamento. (Brasil, 2008, p. 54) Nesse contexto, alinhar as expressões do território com o conceito de saúde leva a entender que existe uma rede que necessita estar com suas pontas alinhadas e amarradas, a fim de planejar ações para atender às demandas dos sujeitos que residem naquele território, seja ele urbano ou rural. TEMA 2 – TERRITORIALIZAÇÃO O território é o resultado de uma acumulação de situações históricas, ambientais e sociais que promovem condições particulares para a produção de doenças (Barcellos et al., 2002). O território é um espaço, porém singularizado, porque vai além de seus limites político-administrativos; depende também de um determinado grupo de atores sociais que nele vive e que o modifica continuamente. O território vive em constante construção, combinando as relações de poder de atuação tanto do Estado quanto de seus cidadãos. Portanto, as condições de saúde ou doença de uma comunidade dependem do processo histórico de construção de um território (Busato, 2020). A territorialização exige admitir que o território é mutável e socialmente produzido, que é onde a vida acontece e, a partir das necessidades da população adstrita nesse território, organiza os serviços. Conforme citado por Busato (2020), num território há territorialização e territorialidade. A territorialização deriva do território, é o processo de constituição do território. Já a territorialidade representa as estratégias para a territorialização. A territorialização é um processo social e político importante para a realização dos princípios constitucionais do SUS no Brasil (Faria, 2020), em especial a integralização, universalização, igualdade e equidade. Conhecer o território e como as pessoas vivem e adoecem possibilita o planejamento das estratégias e ações para cada comunidade. 2.1 O conceito de território vivo O território vivo é um conceito estudado por Milton Santos e desenvolvido em muitas de suas obras. Para entendê-lo, deve-se compreender que qualquer 5 território (político-administrativo), cidade, vila, estado, país, bairro, entre outros, está continuamente em construção (Busato, 2020). Milton Santos (1996, p. 51) conceitua o território vivo como um “conjunto formado pelos sistemas naturais existentes em um dado território, pelos acréscimos que os homens impõem nesses sistemas naturais”. O território pode ser considerado como delimitado, construído e desconstruído por relações de poder que envolvem uma gama muito grande de atores que territorializam suas ações com o passar do tempo (Saquet; Silva, 2008, p. 31). Lima e Yasui (2014) explicam que o território, como espaço, processo e composição, tem a capacidade de potencializar a relação entre serviço e cultura com a produção do cuidado e atenção à saúde. A chave-mestre está na integração entre as políticas públicas na busca de defesa de direitos, construção do território e compreensão do território vivo. TEMA 3 – TERRITÓRIO E SAÚDE ÚNICA A saúde única (One Health) une o cuidado humano,animal e do meio ambiente, de forma conjunta, como estratégia em saúde pública e garantia de bem-estar das populações. Vamos relembrar o conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS): “completo bem-estar físico, mental e social”. Diversos modelos explicativos do processo saúde-doença buscam descrever os determinantes e condicionantes do adoecer. A Determinação Social da Saúde contempla o conceito de saúde da OMS e possibilita a compreensão do equilíbrio das três dimensões da saúde única (pessoas, meio ambiente e animais). Compreender o processo saúde-doença pela Determinação Social da Saúde, proposto por Dahlgren e Whitehead (2007), reforça a importância do território que vivemos na produção de doenças. Esse modelo aponta que as condições individuais (sexo, idade, fatores hereditários) não são mais as únicas formas de explicações para as pessoas estarem com saúde ou com doença. Elas estão associadas com os demais determinantes e condicionantes. O estilo de vida e as relações sociais familiares e comunitárias têm sua contribuição, além das condições presentes no território onde vivemos e trabalhamos, como: socioeconômicas, educação, renda, condições de vida e de 6 trabalho, aspectos culturais, saneamento básico e outras condições ambientais são determinantes do processo saúde-doença. O conhecimento dos fatores determinantes e condicionantes de saúde, realizada em cada território, possibilita perceber as influências locais que possam favorecer ou prejudicar o processo saúde-doença dessa comunidade, individualmente e coletivamente, possibilitando atuação de políticas públicas na busca do equilíbrio que a saúde única propõe. Devemos também considerar a importância das doenças transmitidas por alimentos (DTAs). Existem mais de 250 tipos dessas doenças, sendo a maior parte delas infecções causadas por vírus, bactérias e outros parasitas. As DTAs têm relação com alguns fatores, como: falta de saneamento básico, má qualidade da água, consumo de alimentos contaminados e práticas inadequadas de higiene pessoal (Brasil, 2013), fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença que podem ser detectados no processo de territorialização. A territorialização permite o conhecimento dos três componentes da saúde única: as necessidades das pessoas, as características ambientais e os animais presentes nesse território. Isso permite ações de promoção da saúde e prevenção das doenças, respeitando as características das comunidades. 3.1 Zoonoses: um problema de saúde pública O contato com animais domésticos atualmente é muito comum, o que acaba aumentando o surgimento de zoonoses. Zoonoses são doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas. Os patógenos podem ser bacterianos, virais, parasitários ou podem envolver agentes não convencionais e podem se espalhar para os humanos por meio do contato direto ou por meio de alimentos, água ou meio ambiente. As zoonoses representam um grande problema de saúde pública em todo o mundo devido à nossa estreita relação com os animais no ambiente doméstico, na agricultura e no ambiente natural. As zoonoses também podem causar interrupções na produção e no comércio de produtos de origem animal para alimentação e outros usos 7 A progressão de grupamentos urbanos em áreas ambientais, reduzindo o território de animais, provocam contatos entre humanos e animais silvestres, possibilitando a ocorrência de zoonoses. TEMA 4 – TERRITORIALIZAÇÃO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS A Constituição Federal Brasileira de 1988 estabeleceu novo conceito de seguridade social no Brasil, constituindo princípios e diretrizes para a previdência, saúde e assistência social, como forma de proteção social a fim de trazer justiça social (Melo, 2017, p. 1034). O caput do art. 194 estabelece que “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (Brasil, 1988). Conforme citado por Busato; Vidigal; Hack (2019, p. 9), Os princípios e diretrizes constantes nas legislações organizaram as políticas de assistência social e saúde em sistemas únicos, com serviços e ações que interagem numa finalidade comum, em todo o território nacional, seguindo os mesmos princípios. Ambas as políticas são sistemas organizados por níveis de complexidade, que têm atuação em território de abrangência, para planejamento de ações e desenvolvimento de suas atividades. A implantação das políticas públicas, do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) têm sua atuação com base territorial, com seus equipamentos responsáveis por uma população adscrita num território definido. Nesse contexto, a territorialização, para essas políticas, é uma estratégia central para definir suas ações e planejamento, em especial na atenção básica e proteção básica. 4.1 A importância do território no Sistema Único de Saúde A preocupação em relacionar saúde e território começou a se consolidar no Brasil nos anos 1980, quando a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) propôs uma estratégia de organização baseada no conceito de território: eram os Sistemas Locais de Saúde (Silos), tendo como foco a municipalização. O SUS é a principal política pública de saúde brasileira, porém a consolidação percorreu um longo caminho. Segundo Brasil (1990), a criação do SUS se deu pela Constituição Federal de 1988 e foi regulamentada por meio da 8 Lei Federal n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Com seus avanços, ao longo desses anos, os transformaram no maior projeto público de inclusão social do país (Quessada; Pacheco, 2021). A política de saúde brasileira é organizada a partir do conhecimento do território, tendo como porta de entrada a atenção básica (unidade básica de saúde) para a construção das Redes de Atenção à Saúde e para a consolidação das regiões de saúde (Busato; Vidigal; Hack, 2019). A vigilância em saúde é uma ferramenta de análise e monitoramento da política de saúde realizada nos territórios, promovendo a construção de território vivo, possibilitando o reconhecimento dos determinantes de condicionantes do processo saúde-doença. É uma estratégia da política de saúde para possibilitar a integralidade da atenção, em abordagem individual e coletiva dos problemas de saúde. A territorialização – onde conhecemos e reconhecemos o território, buscando entender onde as pessoas vivem e trabalham, as relações de poderes, as necessidades de saúde e os condicionantes e determinantes do processo saúde-doença – é essencial para a organização da política de saúde, partindo da atenção básica. A vigilância em saúde é a estratégia da territorialização nos diversos territórios do SUS e integra as vigilâncias epidemiológica, sanitária, ambiental e saúde do trabalhador, trabalhando de forma coordenada e integrada (Brasil, 2010a). Fonte: Busato, 2016. A vigilância em saúde, no processo de territorialização, permite a observação e análise permanente da situação de saúde da população, de um dado território, utilizando um conjunto de ações visando, monitorar, controlar e 9 diminuir determinantes, riscos e danos à saúde da população que vive no território. A Política Nacional da Atenção Básica, conforme Portaria n. 2.436/2017, no art. 5º, aponta a integração entre a Vigilância em Saúde e Atenção Básica […] vigilância em saúde é condição essencial para o alcance de resultados que atendam às necessidades de saúde da população, na ótica da integralidade da atenção à saúde e visa estabelecer processos de trabalho que considerem os determinantes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da intra e intersetorialidade. (Brasil, 2017) O território da atenção básica é deliberado na Política Nacional da AtençãoBásica (PNAB). A PNAB, atualizada na Portaria n. 2.436, de 21 de setembro de 2017, no seu art. 2º, ao definir a atenção básica, afirma que “as ações de saúde individuais, familiares e coletivas da atenção básica devem ser dirigidas à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária” (Brasil, 2017). A territorialização na PNAB permite o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais com foco em um território específico, com impacto na situação, nos condicionantes e determinantes da saúde das pessoas e coletividades que constituem aquele espaço (Brasil, 2017). A estruturação das Redes de Atenção à Saúde, integrando serviços e equipamentos, para a integralização do cuidado em saúde formam as Regiões de Saúde. O Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamentou a Lei no 8.080/90, em seu art. 2º, definiu a região em saúde: espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. (Brasil, 2011 a) No processo de territorialização, a humanização traz a perspectiva de um compromisso ético-estético-político no SUS. A Política Nacional de Humanização (PNH), também conhecida como HumanizaSUS lançada em 2003 com o objetivo de aplicar os princípios do SUS ao cotidiano dos serviços de saúde, produzindo mudanças na forma de gerir e cuidar, tem os seguintes valores: autonomia e protagonismo das pessoas, corresponsabilidade 10 compartilhada entre elas, solidariedade das conexões estabelecidas, direitos dos usuários e participação coletiva no processo de gestão (Brasil, 2010b). TEMA 5 – TERRITORIALIZAÇÃO E INTERSETORIALIDADE Um dos principais direitos do ser humano é o direito de acesso à saúde, a qual é garantida a partir da Constituição Federal de 1988, em seu art. 196, que diz: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Com base neste princípio, além de ser um bem universal, é dever do Estado, que da mesma forma é responsável pela organização dos serviços de saúde nos territórios próximos à dinâmica da vida de seus moradores, onde os equipamentos de tratamento à saúde estão inseridos (Faria, 2013). No estudo de território, avançando para o entendimento de territorialização, é importante acentuar a perspectiva de intersetorialidade para ir além de apenas pensar o território no contexto saúde-doença e trazer o entendimento para um espectro maior de políticas públicas. Medeiros (2019) afirma que a intersetorialidade pode ser um dos instrumentos mais usados e efetivos para operacionalizar as políticas públicas, pois mobiliza a articulação e integração entre as diferentes áreas do saber e as políticas setoriais. A figura a seguir demonstra a intersetorialidade entre pessoas, território e políticas públicas. Fonte: Busato, 2022. De acordo com Inojosa (2001, p. 105), define-se intersetorialidade como PESSOAS TERRITÓRIO Politica de Educação Politica de Saúde Esporte, Cultura e Lazer Trabalho e Formação 11 a articulação de saberes e experiências com vistas ao planejamento, para a realização e avaliação de políticas, programas e projetos com o objetivo de alcançar resultados sinérgicos em situações complexas. Trata-se, portanto, de buscar alcançar resultados integrados visando a um efeito sinérgico. Portanto, para que as políticas públicas possam ser efetivas e atender aos interesses e necessidades da população, torna-se necessário o levantamento de informações com base em diagnósticos da realidade, tendo por objetivo construir estratégias para alcançar melhores resultados sociais e melhoria da qualidade de vida da população. 5.1 O diagnóstico socioterritorial A Resolução n. 33, de 12 de dezembro de 2012, que aprova a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), define que o diagnóstico socioterritorial tem por base o conhecimento da realidade a partir da leitura dos territórios, microterritórios de outros recortes socioterritoriais que possibilitem identificar as dinâmicas sociais, econômicas, políticas e culturais que as caracterizam, reconhecendo suas demandas e potencialidades. O art. 21 da NOB/SUAS define que a realização de diagnóstico socioterritorial requer: I. processo contínuo de investigação das situações de risco e vulnerabilidade social presente nos territórios, acompanhado da interpretação e análise da realidade socioterritorial e das demandas sociais que estão em constante mutação, estabelecendo relações e avaliações de resultados de impactos das ações planejadas; II. identificação da rede socioassistencial disponível no território, bem como de outras políticas públicas, com a finalidade de planejar a articulação das ações em resposta às demandas identificadas e a implantação de serviços e equipamentos necessários. Amparados neste diagnóstico, tanto o conjunto de políticas e programas de projetos que compõem o SUS como as que compõe o SUAS possuem em seus princípios norteadores a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais, a defesa intransigente dos direitos humanos, a ampliação e a consolidação da cidadania, o aprofundamento da democracia, a equidade e a justiça social, a eliminação de todas as formas de preconceito (Brasil, 2011). 12 Estes princípios e diretrizes fomentam práticas integradas de atenção integral aos sujeitos sociais num conceito ampliado, buscam ampliar a saúde, a ação intersetorial, os trabalhos e estudos interdisciplinares e a garantia da integralidade das ações, acrescentando-se todas as políticas sociais viabilizadoras de direitos sociais (Bellini et al., 2014). NA PRÁTICA Caro(a), para você fixar os conteúdos estudados nesta etapa, convidamos a aplicar este conteúdo na prática. Com base nos estudos realizados, faça uma pesquisa no seu município para identificar as políticas que são executadas de forma intersetorial. Após a pesquisa, defina um território, que pode ser próximo ao seu local de moradia ou seu local de trabalho. Identifique se as políticas públicas pesquisadas anteriormente estão sendo ofertadas e executadas junto à população do referido território. Mapeie equipamentos/instituições que prestam atendimento à população no território (hospitais, unidades básicas de saúde, unidades de pronto- atendimento, escolas, CRAS, CREAS, projetos e equipamentos da política ambiental, órgãos e clínicas de atendimento animal, entre outras). Para melhor visualização do seu trabalho, preencha o quadro a seguir: Território (escreva o nome do território que está sendo estudado) Políticas Públicas ofertadas e em execução no território Equipamentos disponíveis Serviços ofertados à população Para finalizar, responda como você percebeu a intersetorialidade entre as políticas públicas em execução no território estudado. FINALIZANDO Nesta etapa, vimos assuntos relacionados à saúde única, voltados a um olhar sistêmico no qual perpassa a saúde humana e animal, vinculadas à saúde do meio ambiente. Abordamos também os conceitos de território, territorialização e, principalmente, o conceito e a aplicabilidade de saúde única no território. 13 Tratamos ainda da territorialização no contexto das políticas públicas, dando ênfase à vigilância em saúde e à Política Nacional da Atenção Básica. Por fim, permitiu-se correlacionar territorialização e intersetorialidadeentre as políticas do Sistema Único de Saúde (SUS) e a política do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), alinhando práticas integradas e viabilizando bem-estar e qualidade nos serviços prestados à sociedade. 14 REFERÊNCIAS BARCELLOS, C. et al. Organização espacial, saúde e qualidade de vida: A análise espacial e o uso de indicadores na avaliação de situações de saúde. Informe Epidemiológico do SUS, n. 11, v. 3, p. 129-138, 2002. BELLINI, M. I. B. et al. A pesquisa sobre intersetorialidade no contexto brasileiro: notas sobre o núcleo de estudos e pesquisas em trabalho, saúde e intersetorialidade. In: BELLINI, M. I. B.; FALER, C. S. F. (Org.). Intersetorialidade e políticas sociais: interfaces e diálogos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014. BISSACOTTI, A. P.; GULES, A.M.; BLÜMKE, A, C. Territorialização em saúde: conceitos, etapas e estratégias de identificação. Hygeia, v. 15, n. 32, p. 41-53, jun. 2019. BRASIL. 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