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Qualidade do Leite 1. Conceito e Importância A qualidade do leite envolve todos os elos da cadeia produtiva, desde a fazenda até o consumidor final. A manutenção dessa qualidade depende de boas práticas de manejo, higiene, sanidade animal, conservação e processamento industrial. Etapas da Cadeia Produtiva Produção na fazenda: Ordenha higiênica, bem-estar animal e manejo sanitário. 1. Transporte: Resfriamento adequado a 4°C dentro de 3 horas após a ordenha. 2. Indústria: Controle de qualidade da matéria-prima, processamento e embalagem. 3. Mercado: Produtos lácteos seguros e de alta qualidade para o consumidor. 4. 2. Parâmetros de Qualidade do Leite A qualidade do leite é mensurada por análises físico-químicas, microbiológicas e sensoriais. Análises Realizadas Físico-químicas: Densidade, percentual de gordura, proteína, minerais e EST (extrato seco total). Estabilidade térmica e índice crioscópico (IC). Microbiológicas: Contagem Padrão em Placas (CPP): Mede a contagem bacteriana total (CBT) expressa em UFC/mL. Valores elevados indicam leite contaminado. Contagem de Células Somáticas (CCS): Relacionada à sanidade da glândula mamária e à presença de mastite. Sensorial: Avaliação do sabor, aroma e aceitação pelo consumidor Indicadores Críticos CPP: Leite cru na fazenda: Máximo de 300.000 UFC/mL. Leite no beneficiamento: Limite de 900.000 UFC/mL. CCS: Ideal:1. Bactérias Ácido-Láticas (BAL) Gêneros: Lactococcus, Lactobacillus, Streptococcus, Weissella, Enterococcus, Leuconostoc, Pediococcus. Características principais: Gram-positivas, catalase-negativas, ácido-tolerantes. Cultivo em condições aeróbicas ou microaerófilas. Estritamente fermentativas (produzem ATP via fermentação). Funções na indústria de laticínios: Fermentação da lactose → produção de ácido lático → redução do pH. Produção de sabor e aroma (bacteriocinas e peróxido de hidrogênio). Aplicações em leites fermentados, queijos e outros produtos. 2. Bifidobacterium spp. Características principais: Gram-positivas, anaeróbias, catalase- negativas. Produzem ácido lático e acético, conferindo sabor diferenciado (ex.: gosto de vinagre). Importância probiótica: Integram a microbiota do intestino grosso humano. Contribuem para equilíbrio intestinal e síntese de vitaminas. Aplicação: Produtos como Activia utilizam esta bactéria. 3. Propionibacterium spp. Associados à produção de queijos suíços (ex.: Emmental). Produzem ácido propiônico, acetato e CO₂. Impactos: Sabor característico (acetato e propionato). Formação de “olhaduras” (buracos) no queijo. 4. Fungos do Gênero Penicillium Penicillium roqueforti: Utilizado em queijos azuis (ex.: gorgonzola). Proteólise e lipólise intensas → sabores picantes. Cresce no interior do queijo, mesmo em altas concentrações de sal. Penicillium candidum e camemberti: Queijos Brie e Camembert. Crescem na superfície, formando a casca branca característica. 5. Leveduras Gêneros: Kluyveromyces, Saccharomyces. Funções: Fermentação alcoólica em produtos como kefir. Produção de compostos aromáticos Aplicações Tecnológicas Específicas Leites Fermentados Exemplo: Iogurte, kefir, coalhada. Processos: Fermentação da lactose → redução de pH → coagulação do leite. Adição de culturas específicas para garantir propriedades sensoriais e probióticas. Queijos Uso de BAL na fermentação inicial e fungos/propionibactérias na maturação. Exemplo: Queijo Minas Artesanal utiliza o “pingo” como cultura natural. Manteiga Extra Inoculação de culturas bacterianas para melhorar aroma e sabor. Benefícios e Cuidados Benefícios: Melhoria da segurança alimentar (redução de pH). Prolongamento da vida de prateleira. Estímulo ao sistema imunológico. Cuidados: Presença de bacteriófagos pode inativar culturas. Contaminação por resíduos antimicrobianos compromete os processos. Os queijos artesanais de Minas Gerais estão sendo cada vez mais reconhecidos pelo Estado e pela população. Considerando esses fatos, responda: 1. - Qual é o tipo de cultura láctea utilizada na produção de queijo Minas artesanal? No caso da produção de queijo minas artesanal, a cultura lactacea utilizada para é o Pingo. Esta é uma cultura natural a qual pode ser retirada da própria produção, sendo o soro recolhido durante o processo de coagulação do leite. - Como ela é obtida? A obtenção dessa cultura ocorre através do soro que pinga ou sai do próprio queijo no decorrer processo de coagulação. - Como é composta sua microbiota e qual é a sua importância? A microbiota da cultura utilizada para produção do queijo Minas Artesanal é composta por duas espécies do gênero Lactococcus (Lactococcus lactis e Lactococcus cremoris). Estas bactérias são grandes produtoras de ácido lático, metabólito fundamental para diminuir o pH do leite e promovendo a coagulação das proteínas dando origem ao queijo Métodos de Conservação do leite Importância da Conservação O leite cru é altamente perecível devido à sua composição rica em nutrientes. Objetivos: Aumentar a vida útil (prateleira). Manter características sensoriais e nutricionais. Evitar reações químicas de autodegradação. Prevenir crescimento de micro- organismos patogênicos e deteriorantes. Métodos de Conservação 1. Conservação pelo Calor Aplicada para reduzir a carga microbiana e garantir segurança alimentar. São os métodos mais utilizados na indústria. Termização: Pré-aquecimento entre 60–65°C por 10–15 segundos. Reduz a carga microbiana sem eliminar completamente. Usada para prolongar o tempo de armazenamento do leite cru. Pasteurização: Lenta: 63–65°C por 30 minutos. Rápida: 72–75°C por 15–20 segundos. Elimina 100% dos micro-organismos patogênicos e grande parte da microbiota deteriorante. Exige armazenamento refrigerado após o tratamento. Esterilização: Leite aquecido a 130–150°C por 2–4 segundos (UAT) ou 110–120°C por 20–40 minutos (convencional). Elimina 100% dos micro-organismos patogênicos e a maioria da microbiota deteriorante. Permite estocagem em prateleira, mas pode alterar características sensoriais. Desidratação: Remoção de água do leite (ex.: leite em pó). Minimiza reações químicas e crescimento microbiano. Usada para produtos de longa duração. 2. Métodos Físicos Filtração: Retenção de partículas sólidas e sujidades do leite cru. Usada na ordenha e na indústria (peneiras, filtros de linha, bactofugadoras). Refrigeração: Leite resfriado a 4°C em até 3 horas após a ordenha. Benefícios: Reduz o crescimento microbiano (especialmente mesófilos). Mantém a qualidade físico- química. Cuidados: Crescimento de micro-organismos psicrotróficos após 2 dias → produção de enzimas termorresistentes (lipases e proteases). Alterações físico-químicas: contração dos glóbulos de gordura e solubilização de caseínas. Congelamento: Método raro, usado em pequenas escalas. Riscos: Formação de cristais de gelo → ruptura de membranas de gordura → ranço. Prejudica a estabilidade das proteínas. 3. Métodos Químicos Menos utilizados devido a restrições legais. Ácidos e alcalinos: Redução ou aumento do pH para inibir crescimento microbiano. Exemplo: ácido lático pode ser usado para conservar. Açúcar e Sal: Alteram a pressão osmótica, eliminando micro-organismos. Métodos tradicionais em culturas antigas. Gases: Nitrogênio: utilizado em embalagens (ex.: leite em pó). CO₂: inibe micro-organismos psicrotróficos. Conservadores Proibidos: Formol, peróxido de hidrogênio, bronopol, entre outros. Usados ilegalmente como fraude. 4. Métodos Biológicos Fermentação: Reduz o pH por ação de bactérias ácido-láticas, inibindo patógenos. Usada em produtos como iogurtes e kefir. Lacteninas: Substâncias naturais com ação bacteriostática e bactericida. Exemplos: lisozima (permitida em requeijões), nisina. No Brasil, a adição direta ao leite cru não é permitida. Antibióticos: Proibidos em fazendas para conservação do leite, mas usados de forma controlada no tratamento de doenças em animais. Resíduos no leite comprometem a fermentação e qualidade. Efeitos Indesejáveis e Cuidados Refrigeração Prolongada Favorece psicrotróficos, que produzem enzimas resistentes a altas temperaturas. Alterações em derivados: Coagulação doce: degradação de caseínas → aumento da viscosidade. Ranço: degradação de gorduras. Congelamento Alterações físico-químicas em proteínas e gorduras. Predisposição ao ranço e instabilidade em produtos processados. Tratamentos Térmicos Podem comprometer rendimento industrial (ex.: queijos). Excesso de calor desestabiliza cálcio e fósforo, essenciais na estrutura das caseínas. No primeiro gráfico, observa-se que a temperaturas menores (4°C), a carga bacteriana se mantém controlada por até 28 horas após a ordenha. Já em temperaturas acima de 15°C, há um rápido aumento na carga bacteriana, resultando em alterações físico-químicas, como proteólise, que causam deterioração do leite (aspecto azedo e rancificado). No segundo gráfico, verifica-se que o armazenamento prolongado, mesmo sob refrigeração, favorece o crescimento de microrganismos psicrotróficos. Estes produzem enzimas termoestáveis (lipases e proteases) que, mesmo após pasteurização ou UHT, causam defeitos como gelificação doce em leite UHT e sabores rançosos ou amargos em queijos. Por isso, o leite cru deve ser estocado a 4°C por no máximo 2 dias. Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) Definição e Importância DTHA são doenças causadas pelo consumo de alimentos ou água contaminados.Principais fatores associados: Higiene inadequada. Condições sanitárias precárias. Contaminação cruzada e alimentos mal armazenados. Impacto: Alta morbidade e mortalidade. Problema crescente de saúde pública e econômica. Classificação As DTHAs podem ser divididas em três categorias principais: Infecção:1. Ocorre pela ingestão de alimentos contendo micro-organismos patogênicos vivos. Exemplo: Salmonella spp. invade os tecidos do hospedeiro. Intoxicação:2. Resulta da ingestão de alimentos contendo toxinas pré-formadas. Exemplos: Staphylococcus aureus (toxina termorresistente, não inativada pelo calor). Toxinas já presentes no alimento. Sintomas surgem rapidamente, pois a toxina já está ativa. Toxinfecção:3. Ingestão de alimentos com micro- organismos que produzem toxinas na luz intestinal. Exemplo: Escherichia coli enterotoxigênica. Manifestações Clínicas Sintomas inespecíficos: Náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, febre. Afecções graves: Insuficiência renal, meningite, especialmente em idosos e imunossuprimidos. Período de Incubação (PI): Intoxicações: PI curto (2-4 horas). Infecções/Toxinfecções: PI mais longo. Surto de DTHA Definição: Dois ou mais casos com sintomas semelhantes relacionados ao consumo do mesmo alimento ou água. Em doenças graves como botulismo, um único caso já é considerado surto. Locais mais comuns: Residências (manipulação inadequada, conservação deficiente). Menos frequente em hospitais, restaurantes e creches. Agentes Etiológicos Comuns Bactérias: Salmonella spp. Escherichia coli. Listeria monocytogenes. Campylobacter jejuni. Staphylococcus aureus (enterotoxinas estafilocócicas). Vírus: Norovírus, rotavírus. Parasitas: Cryptosporidium, Giardia lamblia. Foco no Staphylococcus aureus Comum em alimentos e leite cru. Produz enterotoxinas estafilocócicas: Termorresistentes, não destruídas por pasteurização. Fontes de contaminação: Manipuladores de alimentos (feridas na pele, higiene inadequada). Produtos lácteos, carnes e confeitarias. Prevenção: Higiene adequada. Respeito à cadeia de frio. Epidemiologia e Dados Relevantes A maioria dos surtos é associada a alimentos de origem animal. Subnotificação: Muitas pessoas não procuram atendimento por ser uma doença autolimitante. Dados epidemiológicos geralmente subestimados. Prevenção Higiene pessoal e ambiental: Lavagem das mãos, superfícies limpas. Cadeia de frio: Conservação adequada dos alimentos. Tratamento térmico: Pasteurização e cozimento. Evitar contaminação cruzada: Separação de alimentos crus e cozidos. Educação sanitária: Conscientização sobre práticas higiênicas. → (1,0 ponto) Febre tifoide, febre entérica e salmonelose são infecções causadas por Salmonella spp, o segundo agente etiológico mais envolvido em surtos de DTA no Brasil, de 2009 a 2018. (V) →(1,0 ponto) A figura 1 refere-se a surtos de DTA. Para todas as doenças, considera-se surto quando uma ou mais pessoas apresentam doença ou sintomas semelhantes após ingerirem alimentos e/ou água da mesma origem, normalmente em um mesmo local. (V) →(1,0 ponto) Staphylococcus aureus é um importante agente etiológico envolvido em surtos de DTA de acordo com a Figura 1, no entanto o que desencadeia a doença não é a presença desse patógeno, mas sim da toxina pré-formada. (V) →(1,0 ponto) Vírus não foram frequentemente associados a ocorrência das DTA no Brasil, no período de 2009 a 2018. (F) É incorreto dizer que os vírus não estão associados a ocorrência de DTA no Brasil, já que seguido das bactérias, os vírus são os mais associados à ocorrência de DTA. (1,0 ponto) Escherichia coli foi o agente etiológico mais frequentemente associado a surtos de DTA no período de 2009 a 2018. De uma forma geral, esse agente leva a quadros de diarreia e, no caso de E. coli enterotoxigênica, ocorre a produção de toxinas, o que caracteriza um quadro de toxinfecção. (V) (1,0 ponto) O número de surtos considerado no período de 2009 a 2018 (n = 2.030) representa um retrato fiel à realidade. Logo, podemos inferir que no período de 2009 a 2018 ocorreram cerca de 2.030 surtos no país e os mesmos foram notificados ao sistema de saúde. (F) O real número de surtos que ocorrem é um valor subnotificado no país, pois em muitos casos as pessoas acometidas por DTA não procuram o sistema de saúde, uma vez que essa é uma doença que possui como característica ser autolimitante. Desse modo, é incorreto definir com precisão o número de casos de fato ocorridos no país em um determinado período