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TRIBUNAL DO JÚRI Direito Processual Penal II Prof. Msc. Antônio Henrique da M. Corrêa Conceito O júri é um órgão especial do Poder Judiciário de 1ª instância, pertencente à Justiça Comum (Estadual ou Federal), colegiado e heterogêneo (formado pelo juiz-presidente e por 25 jurados), que tem competência mínima para julgar os crimes dolosos contra a vida, temporário (porque constituído para sessões periódicas, sendo depois dissolvido), dotado de soberania quanto às suas decisões, tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela íntima convicção, sem fundamentação, de seus integrantes leigos. Conceito - Observações ■ 1ª) Primeiramente, é necessário esclarecer que o tribunal do júri é um órgão do Poder Judiciário, mas não consta no art. 92 da Constituição Federal1 . ■ Apesar de não constar no art. 92 da CF, o tribunal do júri está consagrado no art. 5º, XXXVIII, CF2 (rol dos direitos e garantias individuais). ■ A doutrina explica a inserção do tribunal do júri no rol dos direitos e garantias individuais (e não no art. 92, CF) possibilita ter a certeza de se estar diante de uma cláusula pétrea. Assim, o tribunal do júri não pode ser extinto enquanto vigorar a CF/1988. ■ O tribunal do júri tem atuação na justiça comum estadual e federal. ■ Exemplo de tribunal do júri federal: imagine que “A” mata dolosamente um funcionário público federal no exercício das funções. Neste caso, “A” será julgado por um tribunal do júri federal. Conceito - Observações ■ O tribunal do júri é órgão colegiado e heterogêneo, pois é composto pelo juiz- presidente e por vinte e cinco jurados, dos quais sete integrarão o Conselho de Sentença. ■ O tribunal do júri é temporário porque ele é constituído para sessões periódicas, sendo posteriormente dissolvido. ■ O voto dos jurados é sigiloso e não precisa ser fundamentado. Princípios Constitucionais CF/88, art. 5º (…): “XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;” Plenitude de Defesa A plenitude de defesa é específica para o tribunal do júri. A plenitude de defesa, de acordo com os hermeneutas, não se confunde com a ampla defesa. • Plenitude de defesa: é exclusiva do âmbito do tribunal do júri. A doutrina afirma que a plenitude de defesa seria algo mais amplo e abrangente do que a própria ampla defesa. • Ampla defesa: é válida para os acusados em geral, inclusive no tribunal do júri. Princípios Constitucionais STF: “(...) Quanto mais grave o crime, deve-se observar, com rigor, as franquias constitucionais e legais, viabilizando-se o direito de defesa em plenitude. PROCESSO PENAL - JÚRI - DEFESA. Constatado que a defesa do acusado não se mostrou efetiva, impõe-se a declaração de nulidade dos atos praticados no processo, proclamando-se insubsistente o veredicto dos jurados. JÚRI - CRIMES CONEXOS. Uma vez afastada a valia do júri realizado, a alcançar os crimes conexos, cumpre a realização de novo julgamento com a abrangência do primeiro”. (STF, 1ª Turma, HC 85.969/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 04/09/2007, Dje 18 31/01/2008). Princípios Constitucionais Sigilo das Votações O sentido do voto dos jurados é sigiloso. ✓ Não é a votação em si que é sigilosa, mas sim o voto. ✓ Ninguém pode conhecer o sentido do voto dos jurados, nem mesmo o juiz- presidente. O jurado não goza das mesmas garantias outorgadas a um juiz togado. Dessa forma, é imprescindível que haja o sigilo da votações. Sala Especial ✓ Sala especial é um local destinado à votação. Princípios Constitucionais Sigilo das Votações CPP, art. 485: “Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz-presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação. § 1o Na falta de sala especial, o juiz-presidente determinará que o público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo. § 2o O juiz-presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente. Princípios Constitucionais Sigilo das Votações Incomunicabilidade dos Jurados No Brasil, vigora a regra da incomunicabilidade dos jurados e isso ocorre porque a própria CF/1988 diz que o voto do jurado é sigiloso. CPP, art. 466: “Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz-presidente esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades constantes dos arts. 448 e 449 deste Código. § 1º O juiz-presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e comoutrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o doart. 436 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2º A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça Princípios Constitucionais Sigilo das Votações Incomunicabilidade dos Jurados Questões: A incomunicabilidade dos jurados é uma vedação de natureza absoluta? ■ não é possível utilizar o celular durante o julgamento, mas não há problemas em utilizar o aparelho por um curto período de tempo, para, por exemplo, comunicar terceiros de que foi sorteado para o julgamento. ■ A incomunicabilidade, portanto, não tem natureza absoluta. Os jurados podem conversar, mas não sobre o processo. ■ O jurado deve tomar cuidado, inclusive, com a linguagem corporal, de modo a não demonstrar qual é a sua opinião acerca do processo. Princípios Constitucionais STF: “(...) Não se constitui em quebra da incomunicabilidade dos jurados o fato de que, logo após terem sido escolhidos para o Conselho de Sentença, eles puderam usar telefone celular, na presença de todos, para o fim de comunicar a terceiros que haviam sido sorteados, sem qualquer alusão a dados do processo. Certidão de incomunicabilidade de jurados firmada por oficial de justiça, que goza de presunção de veracidade. Desnecessidade da incomunicabilidade absoluta. Precedentes. Nulidade inexistente. (...)”. (STF, Pleno, AO 1.047/RR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 28/11/2007, Dje 65 10/04/2008). Princípios Constitucionais Votação unânime Atualmente, a contagem dos votos deverá ser interrompida quando for atingida a maioria. ■ O art. 483, § 1º do CPP determina que só são contados os votos até se atingir a maioria (4). Assim sendo, a votação será automaticamente interrompida quando 4 votos forem computados em um sentido ou em outro. CPP, art. 483: “1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado Princípios Constitucionais Votação unânime No sentido que não mais se faz necessário constar quantos votos foram dados na forma afirmativa ou negativa, respeitando-se, assim, o sigilo das votações e, por consequência, a soberania dos veredictos: STF, 1ª Turma, HC 104.308/RN, Rel. Min. Luiz Fux, j. 31/05/2011, DJe 123 28/06/2011. No sentido de que o procedimento adotado pelo Juiz Presidente de interromper a apuração dos votos de determinado quesito, quando já atingido quórum necessário para se alcançar o resultado final, não macula o feito, eis que dessa prática não decorre qualquer prejuízo ao acusado, não caracterizando sequer nulidade relativa: STJ, 5ª Turma, REsp 957.993/RN, Rel. Min. Felix Fischer, j. 05/05/2009, DJe 22/06/2009. Princípios Constitucionais Soberania dos Veredictos Por conta da soberania dos veredictos, um tribunal formado por juízes togados não pode modificar, no mérito, a decisão dos jurados. ■ A decisão do processo é dos jurados e deve ser respeitada. Portanto, não é possível admitir que tal decisão sejamodificada, no mérito, por um tribunalde juízes togados. ■ Todos os assuntos que são objeto de quesito aos jurados não podem ter a decisão, posteriormente, alterada por um tribunal formado por juízes togados. CPP, art. 483: “ Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato; II – a autoria ou participação; III – se o acusado deve ser absolvido; IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.” Princípios Constitucionais Cabimento de Apelação contra Sentença do Júri Questão: Diante da soberania dos veredictos, cabe recurso das decisões do tribunal do júri? Sim. O CPP prevê o cabimento de apelação nesse caso. Súmula 713: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição.” Conforme a súmula supracitada, o efeito devolutivo do recurso de apelação fica intrinsecamente vinculado aos fundamentos da interposição. CPP, art. 593 (...) III - das decisões do Tribunal do Júri, quando (…) a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; (juízo rescindente) b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; ( (juízo rescindente e o juízo rescisório) c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; (juízo rescindente e o juízo rescisório) d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. (juízo rescindente) § 1º Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. § 2º Interposta a apelação com fundamento no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. § 3º Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. § 4º Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.” Princípios Constitucionais Juízo rescindente: trata-se de juízo de desconstituição/cassação da decisão anterior. Juízo rescisório: trata-se do juízo de reforma. Neste caso, o tribunal cassa a decisão dada (realiza o juízo rescindente) para,posteriormente, proferir uma nova decisão em substituição à impugnada. ■ No caso do art. 593, III, “a” do CPP, o Tribunal, se der provimento ao recurso, fará apenas o juízo rescindente. ■ art. 593, III, “c” do CPP versa sobre matéria de competência do juiz-presidente. ■ No caso do art. 593, III, “d” do CPP, a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos. ■ Na hipótese do art. 593, §3º do CPP, se o tribunal der provimento, ele terá que se restringir ao juízo rescindente. Princípios Constitucionais STF: “(...) A soberania dos veredictos do Tribunal do Júri, não sendo absoluta, está sujeita a controle do juízo ad quem, nos termos do que prevê o artigo 593, inciso III, alínea d, do Código de Processo Penal. Resulta daí que o Tribunal de Justiça do Paraná não violou o disposto no artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea c, da Constituição do Brasil ao anular a decisão do Júri sob o fundamento de ter contrariado as provas coligidas nos autos,Precedentes. O Tribunal local proferiu juízo de cassação, não de reforma, reservando ao Tribunal do Júri, juízo natural da causa, novo julgamento. (...) Ordem denegada”. (STF, 2ª Turma, HC 94.052/PR, Rel. Min. Eros Grau, j. 14/04/2009, DJe 152 13/08/2009). Princípios Constitucionais Competência para o Julgamento dos Crimes Dolosos Contra a Vida Trata-se de competência mínima, que não pode ser suprimida nem mesmo por emenda constitucional. A competência do tribunal do júri pode ser ampliada, inclusive, por lei ordinária. Aliás, o próprio CPP, no art. 78, I , já amplia tal competência, pois o tribunal do júri exerce força atrativa, já que julga não apenas os crimes dolosos contra a vida, mas também crimes conexos e continentes, salvo se militares ou eleitorais. Súmula 721 do STF: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de funçãoestabelecido exclusivamente pela constituição estadual. PROCEDIMENTO BIFÁSICO O procedimento do júri é bifásico ou escalonado, pois está estruturado em duas fases distintas: • A primeira fase é denominada iudicium accusationis ou sumário da culpa. • A segunda fase é chamada iudicium causae ou juízo da causa. - 1ª Fase: sumário da culpa (“iudicium accusationis”) – Essa fase tramita apenas perante o juiz sumariante. - 2ª Fase: juízo da causa (“iudicium causae”) – Nessa fase há, em um primeiro momento, a participação do juiz-presidente. Posteriormente, há o julgamento em Plenário. Questão: Qual é o órgão judiciário que atua na 2ª fase do procedimento do júri? Juiz-presidente (que pode ser o juiz-sumariante). Em um segundo momento, haverá a participação de 7 jurados do Conselho de sentença. PROCEDIMENTO BIFÁSICO Preclusão da Decisão de Pronúncia. CPP, art. 421: “Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 1º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2º Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)” CPP, art. 422: “Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)” PROCEDIMENTO BIFÁSICO IMPRONÚNCIA CPP, art. 414: “Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. Natureza Jurídica da Decisão de Impronúncia e Coisa Julgada. Em relação à natureza jurídica, a decisão de impronúncia é uma decisão interlocutória mista terminativa. ✓ É decisão interlocutória, pois não há apreciação do mérito. ✓ É mista porque a impronúncia põe fim a uma fase procedimental (iudicium accusationis). ✓ É terminativa porque acarreta a extinção do processo antes do final do procedimento. PROCEDIMENTO BIFÁSICO IMPRONÚNCIA Questão: A coisa julgada que se forma em torno da impronúncia é formal ou formal e material? Não existe mais a impronúncia absolutória. Atualmente, a inexistência do fato, a atipicidade da conduta e a negativa de autoria ou de participação passaram a ser objeto de absolvição sumária. ■ A impronúncia só faz coisa julgada formal, ou seja, tal decisão é baseada na cláusula rebus sic stantibus (mantidos os pressupostos, a decisão será mantida. Alterados os pressupostos fáticos ou jurídicos, a decisão poderá ser modificada). Desse modo, se depois da impronúncia surgirem provas novas, é possível que uma nova denúncia seja oferecida contra o indivíduo. PROCEDIMENTO BIFÁSICO IMPRONÚNCIA Provas Novas e Oferecimento de Outra Peça Acusatória. Quando surge prova nova, é necessário o oferecimento de nova peça acusatória. CPP, art. 414: “Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinçãoda punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)” ■ Prova nova é aquela capaz de alterar o contexto probatório dentro do qual havia sido proferida a decisão de impronúncia. PROCEDIMENTO BIFÁSICO IMPRONÚNCIA Infração Conexa Questão: O que ocorrerá com a infração conexa no momento da impronúncia? Quando o juiz profere uma das quatro decisões (pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação), o foco é apenas a imputação referente ao crime doloso contra a vida. Não há a preocupação, nesse momento, com o crime conexo. • Lembrando que o crime conexo é acessório e, dessa forma, segue a sorte do principal PROCEDIMENTO BIFÁSICO IMPRONÚNCIA Despronúncia Trata-se de decisão de pronúncia que será transformada em decisão de impronúncia por conta da interposição do Recurso em Sentido Estrito (RESE). Questão: Qual é o juízo competente pela despronúncia? O RESE é dotado de juízo de retratação, ou seja, os autos retornam às mãos do juízo a quo para uma possível retratação. ✓ Assim sendo, a despronúncia pode ser feita tanto pelo juiz sumariante (em sede de retratação - juízo a quo) como pelo respectivo Tribunal (juízo ad quem). PROCEDIMENTO BIFÁSICO IMPRONÚNCIA Recurso Cabível CPP, art. 416: “Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)” ■ Após a reforma processual de 2008, o recurso adequado contra a decisão de impronúncia é a apelação. Observações: 1ª) A legitimidade para interpor a apelação contra a decisão de impronúncia é do Ministério Público, do querelante e do assistente de acusação (art. 584, §1º, CPP ). PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO CPP, art. 419: “Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. Cabimento: ocorre quando o juiz sumariante concluir que a imputação não versa sobre crime doloso contra a vida. ✓ Partindo da premissa de que o juiz sumariante não fica vinculado à classificação formulada pelo órgão acusatório, ele pode entender, ao final da primeira fase, que a imputação não versa sobre crime doloso contra a vida. Nesse caso, será dada uma decisão de desclassificação do crime. PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Desclassificação X Desqualificação Desqualificação é a exclusão de qualificadoras por ocasião da pronúncia. ✓ Atenção: A exclusão de qualificadoras no momento da pronúncia é decisão excepcional (ocorre em situações teratológicas), pois é o tribunal do júri que tem competência constitucional para julgar os crimes dolosos contra a vida. PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Nova Classificação Questão: Na decisão de desclassificação, o juiz sumariante deve dizer qual é a nova classificação? Não. ■ Por ocasião da desclassificação, o juiz sumariante deve se abster de fixar a nova classificação (pelo menos expressamente), bastando que o magistrado aponte a inexistência de crime doloso contra a vida. ■ Se, entretanto, o juiz sumariante enviar o processo para o JECRIM, implicitamente, ele estará afirmando que se trata de infração de menor potencial ofensivo. ■ Se o juiz sumariante fixasse nova classificação, haveria um pré-julgamento. Além disso, não é da competência do juiz fixar a nova classificação. PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Infração Conexa Nesse item, deve haver o mesmo raciocínio quanto à impronúncia, ou seja, no momento da desclassificação, o juiz não deve se pronunciar sobre o crime conexo. A infração conexa deve aguardar o resultado de eventual RESE interposto quanto à desclassificação. • Mantida a desclassificação, o crime conexo será remetido ao juiz singular competente. • Se o Tribunal der provimento ao RESE (decisão de pronúncia), o crime conexo irá para o Tribunal do Júri. PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO CPP, art. 81: “Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos. Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.” PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Situação do acusado preso diante da desclassificação. A desclassificação do crime não necessariamente acarretará a soltura do acusado preso (art. 419, §único). CPP, art. 419: “Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. Obs.: uma vez recebidos os autos objeto de desclassificação, o novo juízo competente deve se manifestar fundamentadamente quanto à prisão PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Recurso Adequado O recurso adequado é o RESE (recurso em sentido estrito) do art. 581, II do CPP: CPP, art. 581: “Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: (...) II - que concluir pela incompetência do juízo;” Questão: Quem tem interesse recursal para impugnar a desclassificação? Os interessados em recorrer contra essa decisão são o Ministério Público, o querelante e o acusado/defensor. PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Atenção A maior discussão acerca desse assunto gira em torno da possibilidade (ou não) de o assistente da acusação recorrer da decisão de desclassificação. Sobre o assunto, há duas correntes: • 1ª Corrente: afirma que o assistente da acusação não tem interesse recursal. • 2ª Corrente: atualmente, há uma segunda corrente que afirma existir interesse recursal por parte do assistente de acusação, pois a ele interessa a justa aplicação da lei. PROCEDIMENTO BIFÁSICO DESCLASSIFICAÇÃO Questão: Se, todavia, ao receber o processo em questão, o juízo singular entender que a competência é do Tribunal do Júri, ele poderá suscitar um conflito negativo de competência? o 1ª Corrente: não é possível que o novo juízo singular suscite o conflito de competência, pois já houve a preclusão pro judicato. Assim, se já houve a desclassificação e ela foi confirmada pelo tribunal, não seria possível suscitar o conflito de competência. Essa posição deve ser adotada em provas do MP. 2ª Corrente (majoritária): pode ser suscitado o conflito negativo de competência. ■ Não há que se falar em preclusão, pois se trata de matéria de ordem pública - competência absoluta do júri para julgar crimes dolosos contra a vida. ■ Além disso, quando o RESE é interposto, ele deve ser apreciado por uma Câmara especial do TJ (e não por uma câmara qualquer do TJ). PROCEDIMENTO BIFÁSICO ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA CPP, art. 415: “O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: I – provada a inexistência do fato; II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; III – o fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. PROCEDIMENTO BIFÁSICO ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA Observações quanto ao art. 415, CPP: 1ª) A absolvição sumária do júri ocorre ao final da 1ª fase. 2ª) Pela redação dos incisos doart. 415 do CPP, fica nítido que o standart probatório para uma decisão de absolvição é um juízo de certeza, ou seja, o magistrado deve estar convicto da existência de alguma das hipóteses do dispositivo citado. 3ª) O CPP exige no art. 415, §único, para fins de absolvição sumária imprópria, que a inimputabilidade seja a única tese defensiva porque, neste caso, a ele será imposta medida de segurança e esta é uma espécie de sanção penal. PROCEDIMENTO BIFÁSICO ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA Coisa Julgada A decisão de absolvição sumária produz coisa julgada formal e material. ■ A decisão de absolvição sumária é uma verdadeira sentença absolutória, ainda que proferida ao final da 1ª fase. Recurso Adequado. ■ Até o advento da Lei 11. 689/2008, o recurso cabível contra decisão de absolvição sumária era o RESE. PROCEDIMENTO BIFÁSICO ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA Interesse Recursal A apelação pode ser interposta pelo MP, pelo querelante e pelo assistente de acusação. Questão: A defesa tem interesse para recorrer contra a absolvição sumária? A depender do fundamento absolutório, a decisão em questão poderá ou não fazer coisa julgada no cível e isso influenciará um eventual interesse recursal da defesa. • Atenção: Quando o indivíduo é absolvido com base no art. 415, III do CPP, tal decisão não faz coisa julgada. Assim sendo, ainda que o acusado tenha sido absolvido sumariamente com base neste dispositivo, em tese, é possível propor uma ação cível contra ele. Neste caso, a defesa pode demonstrar que pretende mudar o fundamento da absolvição sumária (art. 415, III do CPP) para o art. 415, I do CPP. “All we are is dust in the wind” ”Tudo que somos é poeira ao vento” Kansas, Dust In The Wind https://www.letras.mus.br/kansas/20711/#autoplay Slide 1: TRIBUNAL DO JÚRI Slide 2: Conceito Slide 3: Conceito - Observações Slide 4: Conceito - Observações Slide 5: Princípios Constitucionais Slide 6: Princípios Constitucionais Slide 7: Princípios Constitucionais Slide 8: Princípios Constitucionais Slide 9: Princípios Constitucionais Slide 10: Princípios Constitucionais Slide 11: Princípios Constitucionais Slide 12: Princípios Constitucionais Slide 13: Princípios Constitucionais Slide 14: Princípios Constitucionais Slide 15: Princípios Constitucionais Slide 16 Slide 17: Princípios Constitucionais Slide 18: Princípios Constitucionais Slide 19: Princípios Constitucionais Slide 20: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 21 Slide 22 Slide 23: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 24: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 25: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 26: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 27: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 28: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 29: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 30: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 31: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 32: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 33: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 34: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 35: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 36: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 37: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 38 Slide 39: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 40: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 41: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 42: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 43: PROCEDIMENTO BIFÁSICO Slide 44