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1 2 Olá, Alunos! Sejam bem-vindos! Esse material foi elaborado com muito carinho para que você possa absorver da melhor forma possível os conteúdos e se preparar para a sua 2ª fase, e deve ser utilizado de forma complementar junto com as aulas. Qualquer dúvida ficamos à disposição via plataforma “pergunte ao professor”. Lembre-se: o seu sonho também é o nosso! Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação! Com carinho, Equipe Ceisc ♥ 3 2ª FASE OAB | PENAL | 41º EXAME Direito Penal SUMÁRIO Segunda Fase do Procedimento do Júri 1.1. Preparação e organização do júri ...................................................................6 1.2. Desaforamento ...............................................................................................6 1.2.1. Conceito............................................................................................................................ 6 1.2.2. Interesse da ordem pública............................................................................................. 6 1.2.3. Dúvida sobre a imparcialidade do júri............................................................................ 6 1.2.4. Segurança pessoal do réu.............................................................................................. 7 1.2.5. Iniciativa do desaforamento............................................................................................ 7 1.2.6. Suspensão do julgamento pelo relator...........................................................................7 1.2.7. Inadmissibilidade do pedido de desaforamento............................................................ 7 1.2.8. Excesso de Serviço..........................................................................................................7 1.3. Ausência do defensor .....................................................................................8 1.4. Ausência do acusado .....................................................................................8 1.5. Imprescindibilidade do depoimento da testemunha .......................................8 1.6 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento da sessão8 1.7. Infrutífera condução coercitiva .......................................................................9 1.8. Realização do julgamento ..............................................................................9 1.9. Preparo para a composição do conselho de sentença ...................................9 1.10. Abertura dos trabalhos .................................................................................9 1.11. Ausência de quórum...................................................................................10 1.12. Reunião prévia do juiz com os jurados .......................................................10 1.12.1. Conceito..........................................................................................................................10 1.12.2. Incomunicabilidade dos jurados...................................................................................10 1.12.3. Manifestação da opinião acerca do processo............................................................11 4 1.12.4. Fiscalização da incomunicabilidade durante o julgamento......................................11 1.12.5 Certidão do oficial de justiça.........................................................................................11 1.13. Formação do conselho de sentença...........................................................11 1.14. Recusas motivadas e imotivadas ...............................................................11 1.15. Separação do julgamento ...........................................................................12 1.17. Estouro da urna ..........................................................................................13 1.18. Instrução em plenário..................................................................................................... 14 1.19. Interrogatório do acusado...............................................................................................14 1.20.1. Correlação entre acusação e pronúncia....................................................................15 1.20.2. Manifestação inicial do querelante............................................................................ 15 Apelação das Decisões do Plenário do Júri 2.1. Identificação....................................................................................................................... 20 2.2. Base legal.......................................................................................................................... 20 2.3. Prazo.................................................................................................................................. 21 2.4. Conteúdo/Plano de Ação................................................................................................. 21 2.5. Pedido................................................................................................................................ 23 2.6. Estruturação...................................................................................................................... 24 2.7 Exercícios para resolver após a aula.............................................................33 Padrão Resposta..................................................................................................................... 35 Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para a 2ª Fase do 41º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. Bons estudos, Equipe Ceisc. Atualizado em julho de 2024. 5 Para dar o soco missioneiro, leia os principais artigos sobre Segunda Fase do Procedimento do Júri. Apelação das Decisões do Plenário do Júri. • Art. 63, CP; • Art. 69, CPP; • Art. 312, CPP; • Art. 386, CPP; • Art. 422, CPP; • Art. 427, CPP; • Art. 428, CPP; • Art. 429, CPP; • Art. 456, CPP; • Art. 457, CPP; • Art. 458,§ 1º c/ 564, III, “j”, CPP; • Art. 461, CPP; • Art. 462, CPP; • Art. 463, CPP; • Art. 464, CPP; • Art. 466, CPP; • Art. 467, CPP; • Art. 468, CPP; • Art. 469, CPP; • Art. 470, CPP; • Art. 471, CPP; • Art. 473, CPP; • Art. 474 e 474-A, CPP; • Art. 476, CPP; • Art. 477, CPP; • Art. 478, CPP; • Art. 479, CPP; • Art. 483, CPP; • Art. 492, CPP; • Art. 564, CPP; • Art. 593, CPP; • Art. 598, CPP; • Art. 600, CPP; • Art. 5º, XXXVIII, alínea “b”, CF; • Súm. Vinculante 11, do STJ; • Súm. 337, do STJ; • Súm. 160, do STF • Súm. 710, do STF; • Súm. 713, do STF 6 Segunda Fase do Procedimento do Júri Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves 1.1. Preparação e organização do júri O libelo foi extinto pela nova redação dada pela Lei nº 11.689/2008. No entanto, de acordo com este artigo, o legislador o substituiu por duas novas peças (inominadas). Assim, ao receber os autos, após a preclusão da pronúncia, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência. 1.2. Desaforamento: art. 427, CPP 1.2.1. Conceito É a decisão jurisdicional que altera a competência inicialmente fixada pelos critérios do artigo 69 do Código de Processo Penal, com a aplicação estrita no procedimento do Tribunal do Júri, dentro dos requisitos legais previamente estabelecidos. A competência, para tal, é sempre da Instância Superior (Câmara ou Turma do Tribunalde Justiça). 1.2.2. Interesse da ordem pública A ordem pública é a segurança existente na Comarca onde o júri deverá realizar-se. Assim, havendo razoáveis motivos e comprovados de que a ocorrência do julgamento provocará distúrbios, gerando intranquilidade na sociedade local, constituído está o fundamento para desaforar o caso. 1.2.3. Dúvida sobre a imparcialidade do júri Não há possibilidade de haver um julgamento justo com um corpo de jurados parcial. Tal situação pode dar-se quando a cidade for muito pequena e o crime tenha sido gravíssimo, 7 levando à comoção geral, de modo que o caso vem sendo discutido em todos os setores da sociedade muito antes do julgamento ocorrer. 1.2.4. Segurança pessoal do réu Em casos anormais e excepcionais, de pequenas cidades, onde o efetivo da polícia é diminuto e não há possibilidade de reforço, por qualquer motivo, é razoável o desaforamento. 1.2.5. Iniciativa do desaforamento Podem pleitear o desaforamento as partes, agora enumerados pela Lei (Ministério Público, assistente, querelante ou acusado). O acusado pode propor por intermédio de seu defensor, mas também diretamente, por petição sua, afinal no processo penal, existe a autodefesa. O Juiz que preside a instrução pode representar pelo desaforamento, exceto quando houver excesso de prazo. 1.2.6. Suspensão do julgamento pelo relator O Código de Processo Penal permite que seja determinada a suspensão do julgamento pelo júri até que o Tribunal possa apreciar o pedido de desaforamento. 1.2.7. Inadmissibilidade do pedido de desaforamento Considerando-se que o pleito de desaforamento somente é admissível entre a decisão de pronúncia, com o trânsito em julgado, e a data de realização da sessão de julgamento em plenário, não há fundamento para ingressar com o pedido enquanto pender recurso contra a referida decisão de pronúncia. Afinal, pode esta ser rejeitada pelo Tribunal e o réu, impronunciado ou absolvido. 1.2.8. Excesso de Serviço: art. 428, CPP Na regra atual, somente se poderá pleitear o desaforamento pela demora no julgamento, caso seja ultrapassado o período de seis meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia, mas fundado em excesso de serviço comprovado. 8 1.3. Ausência do defensor: art. 456, CPP Em primeiro lugar, deve-se frisar que, havendo escusa legítima, adia-se a sessão de julgamento, sem qualquer outra providência. É preciso que a justificativa seja oferecida ao magistrado até a abertura da sessão em plenário. Se não houver motivo razoável, o juiz comunica à OAB, seção local, marcando nova data para o julgamento. Nesta o réu deverá ser, necessariamente, julgado (§ 1º). Para tanto, pode o réu apresentar outro defensor constituído, logo após a determinação de adiamento. Não o fazendo, o magistrado intima a Defensoria Pública para que assuma o patrocínio da defesa, observando o prazo mínimo de 10 dias. 1.4. Ausência do acusado: art. 457, CPP O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado. Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor. 1.5. Imprescindibilidade do depoimento da testemunha: art. 461, CPP É fundamental que as partes, entendendo ser indispensável o depoimento de alguma testemunha, arrolem-na na fase de preparação para o plenário, com o caráter de imprescindibilidade. Não o fazendo, deixa de haver a possibilidade de insistência na sua oitiva, caso alguma delas não compareça à sessão plenária. O momento para arrolar testemunhas, no procedimento preparatório, é o previsto no artigo 422 do Código de Processo Penal, após a intimação determinada pelo juiz. 1.6 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento da sessão Somente ocorre se a testemunha tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibilidade e houver sido intimada. 9 1.7. Infrutífera condução coercitiva É possível que, a despeito da tentativa, falhe a condução coercitiva, razão pela qual não se pode adiar eternamente a realização do julgamento. Assim, se a testemunha não for localizada para a condução ou tiver alterado o domicílio, instala-se a sessão. 1.8. Realização do julgamento, independentemente da inquirição de testemunha arrolada Caso a testemunha tenha sido arrolada sem o caráter de imprescindibilidade, não comparecendo, o julgamento será realizado de qualquer modo, tendo sido ela intimada ou não. Se tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibilidade, se for intimada e não comparecer, é cabível o adiamento, como regra, para que possa ser conduzida coercitivamente na sessão seguinte. Entretanto, arrolada com o caráter de imprescindibilidade, mas não localizada, tomando ciência a parte de que não foi intimada e não indicando o seu paradeiro, com prazo hábil para nova intimação ser feita, perde a oportunidade de insistir no depoimento. 1.9. Preparo para a composição do conselho de sentença: art. 462, CPP Para a composição do Conselho de Sentença, o juiz presidente deve checar se as partes estão presentes, assim como todas as testemunhas indispensáveis, convenientemente separadas e incomunicáveis. Ultrapassada essa fase, poderá voltar-se à formação do Conselho. 1.10. Abertura dos trabalhos: art. 463, CPP Comparecendo ao menos 15 (quinze) jurados, há quórum para a instalação da sessão, que será dada por aberta pelo juiz presidente. O próprio magistrado anuncia o processo a ser julgado (número do processo, nomes do autor e do réu, classificação do crime) e pede ao oficial que faça o pregão (anúncio na porta do plenário para que todos tomem ciência, vez que o julgamento é público). 10 1.11. Ausência de quórum: art. 464, CPP Se o quórum de 15 (quinze) jurados não foi atingido, é impossível instalar a sessão. Deve o magistrado providenciar o sorteio de suplentes e adiar o julgamento para a data seguinte desimpedida. A partir da edição da Lei 11.689/2008, somente se faz o sorteio dos suplentes, caso não se atinja o quórum mínimo 15 (quinze) e não mais o número legal 25 (vinte e cinco). Ou seja, se comparecerem 18 (dezoito) jurados, instala-se a sessão, sem sorteio de suplentes. Se vierem apenas treze, adia-se a sessão e sorteiam-se suplentes até o número máximo 25 (vinte e cinco). 1.12. Reunião prévia do juiz com os jurados: art. 466, CPP 1.12.1. Conceito Somente pode realizar-se, a fim de que o magistrado forneça algumas instruções a respeito da forma e do julgamento e do procedimento do Tribunal do Júri, se as partes estiverem cientes e, desejando, possam estar presentes. 1.12.2. Incomunicabilidade dos jurados Significa que os jurados não podem conversar entre si, durantes os trabalhos, nem nos intervalos, a respeito de qualquer aspecto da causa posta em julgamento, especialmente deixando transparecer sua opinião. Logicamente, sobre os fatos desvinculados do feito podem os jurados conversar, desde que não seja durante a sessão – e sim nos intervalos –, pois não se quer a mudez dos juízes leigos e sim a preservação da sua íntima convicção. A troca de ideias sobre os fatos relacionados ao processo poderia influenciar o julgamento, fazendo com que o jurado pendesse para um ou outro lado. A incomunicabilidade dos jurados existe para resguardar o princípio do sigilo das votações do júri (Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “b”, da CF/88), que constitui garantia das liberdades individuais e, por isso, sua violação configura nulidade absoluta (Art. 564, inciso III, alínea “j”, c/c o Art. 458, § 1º (atual, 466, §1º). 11 1.12.3. Manifestação da opinião acerca do processo Em razão da incomunicabilidade, deseja-se que o jurado decida livremente, sem qualquertipo de influência, ainda que seja proveniente de outro jurado. Deve formar o seu convencimento sozinho, através da captação das provas apresentadas, valorando-as segundo o seu entendimento. Portanto, cabe ao juiz presidente impedir a manifestação de opinião do jurado sobre o processo, sob pena de nulidade da sessão de julgamento. 1.12.4. Fiscalização da incomunicabilidade durante o julgamento É atribuição do juiz presidente, razão pela qual não pode ele afastar-se do plenário por muito tempo, o que coloca em risco a validade do julgamento. Se algum jurado desejar esclarecer alguma dúvida, a ausência do magistrado prejudica a formação do seu convencimento, além do que o jurado pode fazer alguma observação inoportuna, gerando nulidade insanável. 1.12.5 Certidão do oficial de justiça A principal autoridade a controlar a manifestação dos jurados é o juiz presidente. Entretanto, vale-se dos oficiais de justiça presentes para auxiliá-lo. Em suma, ao final do julgamento, cumpre ao oficial lançar certidão de que a incomunicabilidade foi preservada durante todos os momentos processuais. Exemplo: na sala especial, quando estiverem reunidos em intervalos, o juiz pode não estar presente, razão pela qual o oficial incumbe-se de fiscalizar a incomunicabilidade. 1.13. Formação do conselho de sentença: art. 467, CPP O Conselho de Sentença no Tribunal do Júri é composta por sete jurados, escolhidos aleatoriamente, por sorteio, dentre os que comparecerem (mínimo de quinze e máximo de vinte e cinco). 1.14. Recusas motivadas e imotivadas: art. 468, CPP Para a formação do Conselho de Sentença, essas são as duas possibilidades de recusa do jurado, formuladas por qualquer das partes. 12 A recusa motivada baseia-se em circunstâncias legais de impedimento ou suspeição (Arts. 448 e 449, ambos do CPP). Logo, não pode ser jurado, por exemplo, aquele que for filho do réu, nem tampouco o seu inimigo capital. A recusa imotivada – também chamada peremptória – fundamenta-se em sentimentos de ordem pessoal do réu, de seu defensor ou do órgão da acusação. Na constituição do Conselho de Sentença, cada parte pode recusar até três jurados, sem dar qualquer razão para o ato. A nova sistemática, introduzida pela Lei nº 11.689/2008, impõe que, havida a recusa peremptória por qualquer das partes, o jurado está automaticamente excluído da formação do Conselho de Sentença. Anteriormente, seria preciso coincidir a recusa da defesa com a da acusação. 1.15. Separação do julgamento: art. 469, CPP Conforme disposto no artigo 468, parágrafo único, do Código de Processo Penal quando o jurado for recusado imotivadamente (recusa peremptória) por qualquer das partes será excluída daquela sessão, prosseguindo-se o sorteio para a formação do Conselho de Sentença. Logo, a cada recusa de jurado, este não mais permanecerá, independentemente de haver também recusa por parte de outro defensor ou da acusação. Em ilustração, computando-se 25 (vinte e cinco) jurados presentes, com dois corréus. Imaginemos que o primeiro defensor recuse os três primeiros jurados sorteados. Serão excluídos, com ou sem a recusa do segundo defensor e do promotor. Após, outros três jurados, sorteados na sequência, são recusados por parte do segundo defensor. Serão, também, excluídos, independentemente da manifestação do promotor. Serão afastados. Ao todo, nove jurados sorteados foram rechaçados e os envolvidos (dois defensores e um promotor) já não podem exercer o direito de recusa imotivada (são três para cada parte). Logo, dos 16 jurados restantes, por sorteio, serão escolhidos obrigatoriamente 7 para compor o Conselho de Sentença. Não haverá cisão do julgamento. Caso estivessem presentes apenas 15 jurados, a exclusão de 9, recusa dos pelas partes presentes, faria com que restassem apenas 6 e ocorreria o denominado estouro da urna. Se tal se desse, haveria então a separação do julgamento. O juiz verifica qual é o autor do fato. Será ele julgado em primeiro lugar, como determina o artigo 469, § 2º, do Código de Processo Penal. 13 Com relação à preferência de julgamento em caso de separação, impõe-se que, em caso de separação, seja julgado em primeiro lugar o acusado a quem se atribuiu a autoria do fato, ou, em caso de coautoria, aplica-se o critério de preferência do artigo 429 do Código de Processo Penal (presos em primeiro lugar; dentre os presos, os que estiverem há mais tempo na prisão; em igualdade de condições, os que estiverem há mais tempo pronunciado). 1.16. Arguição de impedimento, suspeição ou incompatibilidade: art. 470, CPP Tão logo sejam instalados os trabalhos, deve a parte interessada em levantar qualquer causa de impedimento ou suspeição do juiz presidente, do promotor (no caso de a defesa arguir) ou de qualquer funcionário fazê-lo de imediato, apresentando as provas que possuir. Assim, cabe levar testemunhas, se for o caso, ou documentos para exibição em plenário. Aceita a suspeição, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido. Rejeitada, realiza-se o julgamento, embora todo o ocorrido – inclusive a inquirição das testemunhas – deva constar da ata. Futuramente, caberá ao Tribunal analisar se houve ou não a causa de impedimento ou suspeição. Caso seja arguida contra o jurado, deve ser levantada tão logo seja ele sorteado, procedendo-se da mesma forma, isto é, com a apresentação imediata das provas. 1.17. Estouro da urna: art. 471, CPP Outra hipótese de adiamento da sessão para outra data é a impossibilidade de formação do conselho de sentença por insuficiência do número de jurados presentes, com potencial para o sorteio. Se comparecerem, por exemplo, quinze jurados (quantum mínimo para a instalação dos trabalhos), mas houver a recusa motivada, calcada em causas de impedimento ou suspeição, de vários deles, é possível que o afastamento ocorra em número tal aponto de inviabilizar o sorteio de sete jurados para compor o Conselho. 14 1.18. Instrução em plenário: art. 473, CPP Em primeiro lugar, ouve-se o ofendido. O Juiz Presidente dirige-lhes as perguntas que entender necessárias. Em seguida, passa a palavra ao representante do Ministério Público e ao assistente de acusação, se houver, ou ao querelante (se a ação for privada). Na sequência, poderá a defesa reperguntar. Finda a oitiva da vítima, passa-se à inquirição das testemunhas de acusação. Primeiramente, o juiz faz as perguntas cabíveis. Em seguida, concede a palavra ao Ministério Público e ao assistente, se houver. Depois, à defesa. Após, ouvem-se as testemunhas de defesa. Inicialmente, as perguntas são formuladas pelo juiz. Na sequência, pela defesa. Em seguida, pelo Ministério Público e assistente. Importante registrar a alteração legislativa que inseriu o artigo 474-A, CPP, que determina o respeito à dignidade das vítimas ou testemunhas. Neste ponto, devemos nos atentar a eventual cerceamento de defesa sob o pretexto de proteção. Por certo que todos devem ser respeitados, mas a audiência de instrução é um espaço de construção da verdade processual. 1.19. Interrogatório do acusado: art. 474, CPP Ao final da colheita das provas em plenário, Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado; os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente. Nos termos do §3º, do artigo 474 do Código de Processo Penal, não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes. Por exceção e quando for absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes poderá o réu permanecer algemado. Por unanimidade, o STF decidiu que o usode algemas deve ser adotado em situações excepcionalíssimas, pois, do contrário, violam-se importantes princípios constitucionais, dentre eles a dignidade da pessoa humana (Súmula vinculante n. 11). 1.20. Dos debates: art. 476, CPP 15 1.20.1. Correlação entre acusação e pronúncia Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante. O assistente falará depois do Ministério Público. A acusação é limitada pela Pronúncia Art. 476, CPP: Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante. 1.20.2. Manifestação inicial do querelante Ocorre na hipótese de ação privada, em conexão com ação pública, mas com desmembramento. Exemplo: dois crimes são cometidos no mesmo cenário, um deles é doloso contra a vida e o outro, de ação exclusivamente privada, ocorrendo o julgamento isolado do delito cujo titular da ação é o ofendido. Nesse caso, manifesta-se o querelante (por meio de advogado) e, na sequência, fala o Ministério Público, como custos legis (fiscal da lei). 1.21. Limite de tempo para as partes: art. 477, CPP A Lei 11.689/2008 alterou o tempo de manifestação reservado às partes. De duas horas para acusação e defesa, como tempo original, passou-se a uma hora e meia. Em relação à réplica e à tréplica modificou-se o tempo de trinta minutos para uma hora. Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de uma hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1º deste artigo. 1.22. Referências proibidas: art. 478, CPP É vedado às partes: 16 • fazer referência à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado, bem como ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo (trata-se de dispositivo nitidamente direcionado ao Ministério Público, com prejuízo à acusação); • a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte, abrangendo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. 1.23. Do questionário e sua votação: arts. 482 e 483, CPP Questionário é o conjunto dos quesitos elaborados pelo juiz presidente, que serão submetidos à votação pelo Conselho de Sentença, para obtenção do veredicto final. Nos termos do artigo 483 do Código de Processo Penal, os quesitos serão formulados na seguinte ordem: a) Quesito sobre a materialidade do fato Se o conselho de sentença responder de forma afirmativa a essa questão, seguirá a votação com a questão seguinte. Se responder negativamente, encerra-se o julgamento com a absolvição do réu. b) Quesito sobre a autoria ou participação O juiz indagará aos jurados se o réu de qualquer modo contribuiu para o cometimento do delito. Respondendo o Conselho de Sentença de forma afirmativa, seguirá com a pergunta seguinte. Caso contrário, encerra-se o julgamento com a absolvição do acusado pelo júri. Duas situações podem acontecer aqui: • Caso não haja tese de desclassificação do delito doloso contra a vida para outro que não seja, o quesito seguinte que deve ser inserido perguntará se “o jurado absolve o acusado?” • Se houver alegação de tese de desclassificação para delito diverso do doloso contra a vida, a questão desclassificatória será dirigida aos jurados sempre antes do quesito que indaga se “o jurado absolve o acusado?” 17 É o que se extrai do artigo 483, § 4º, do Código de Processo Penal, ao destacar que uma vez sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o segundo ou terceiro quesito, conforme ocaso. Da mesma forma, deve ser usado para hipótese de tentativa, nos termos do artigo 483, § 5º, do Código de Processo Penal, que enfatiza que se sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito. O quesito seguinte será em relação à causa de diminuição da pena alegada pela defesa, que somente será formulado se o acusado, a essa altura, tiver sido condenado pelos jurados. Por fim, os jurados são inquiridos sobre a existência de circunstâncias qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. 1.24. Sentença: art. 492, CPP A sentença pode ser: a) de condenação, devendo, nesse caso, o juiz fixar apena. b) absolvição, caso em que o réu deverá ser posto imediatamente em liberdade, caso esteja preso. Atente-se para a hipótese de desclassificação do crime pelo Conselho de Sentença, nos casos do artigo 492, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Penal. Diz-se desclassificação própria quando o Conselho desclassifica para outro crime que não é da sua competência, sem especificar qual crime, assim o Juiz presidente deverá decidir. Por exemplo, jurados não reconhecem a tentativa de homicídio, caberá o juiz o julgamento da lesão corporal. Vale frisar que o Juiz aqui assume capacidade decisória integral, poderá até mesmo absolver. Sempre lembrar que sendo possível suspensão condicional do processo ou outra medida despenalizadora devem ser oportunizadas. Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. 18 Já a desclassificação imprópria os jurados reconhecem a incompetência para julgar, mas indicam o delito cometido. Como ocorre quando reconhecem materialidade e lesões, mas desclassificam para homicídio culposo. Aqui o juiz deve julgar com base na decisão dos jurados, estando vinculado. Caso haja desclassificação o crime conexo que não seja da competência do Júri será julgado pelo Juiz Presidente. 1.25. Execução antecipada da pena no júri: art. 492, inciso I, alínea “e”, 2ª parte, CPP Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri é competência de o Juiz Presidente determinar a prisão do condenado, se presentes os requisitos da prisão preventiva previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal. Entretanto, destaca-se que com a publicação da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), foi inserida a regra de execução provisória de pena nos processos julgados pelo Tribunal do Júri quando o quantum aplicado na sentença condenatória for igual ou superior a 15 anos (Art. 492, inciso I, Alínea “e”, 2ª parte, do CPP), sem prejuízo do conhecimento de eventual recurso a ser interposto. O juiz presidente, excepcionalmente, poderá deixar de autorizar a execução provisória se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da condenação. Caso não obtido o efeito suspensivo através de decisão do Juiz Presidente, o Tribunal que julgar o recurso de apelação poderá atribuir efeito suspensivo à apelação quando verificar que o recurso interposto não tem propósito meramente protelatório; e a que há questão substancial que poderá resultar em absolvição, anulação da sentença,novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 anos. O pedido do efeito suspensivo poderá ser feito no corpo da apelação ou, por meio de petição endereçada ao relator, instruída com cópias da sentença, razões de apelação e prova da tempestividade, além das contrarrazões e das demais peças necessárias à controvérsia (Art. 492, § 6º, do CPP). • Observação: caso a peça prática seja uma Apelação da 2ª fase do Júri envolvendo uma condenação cuja pena aplicada seja igual ou superior a 15 anos, tendo o 19 Aqui o Recurso cabível é APELAÇÃO, nos termos do artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal. enunciado informado que o juiz presidente determinou a execução antecipada, deverá ser elaborado um item na peça processual, a fim de requerer ao Tribunal que conceda efeito suspensivo à apelação (Pedido de Efeito Suspensivo) – nos termos do art. 492, §6º, CPP. O pedido deverá ser explorar os fundamentos do §5º, demonstrando que o recurso em questão: I - não tem propósito meramente protelatório; e II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena. IMPORTANTE 20 Apelação das Decisões do Plenário do Júri Prof.ª Letícia Neves @prof.leticianeves 2.1. Identificação Após a decisão dos jurados no Plenário do Júri, o Juiz Presidente passa a proferir a sentença, restringindo-se, se for sentença condenatória, a fixar a pena. Assim, a apelação das decisões do Júri tem cabimento contra a decisão proferida pelo Juiz após o julgamento no Plenário do Júri. 2.2. Base legal: • art. 593, inciso III, CPP A base legal do recurso de apelação contra decisão do Plenário do Júri guarda relação com o artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal, devendo, ainda, o recorrente mencionar a(s) alínea(s) pelo qual está recorrendo, ou seja, artigo 593, inciso III, alínea “a” e/ou alínea “b” e/ou alínea “c” e/ou alínea “d”, sem prejuízo da possibilidade de recorrer por mais de um fundamento. Quando a parte pretender recorrer de decisão proferida no Tribunal do Júri deve apresentar logo na petição de interposição qual o motivo que o leva a apelar, deixando expressa a alínea eleita do inciso III do art. 593 do CPP, ficando vinculado, nas razões de apelação aos argumentos relacionados ao motivo declinado na interposição. Assim sendo, o Tribunal somente pode julgar nos limites da interposição. PEDIU PRA PARAR Lembrete: “Sentença plenário do júri” Peça: Recurso de apelação PAROU! 21 Nesse sentido é a Súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”. 2.3. Prazo O prazo para interposição é, em regra, de 5 (cinco) dias (CPP, art. 593), a contar da intimação, sendo 8 (oito) dias para arrazoar o recurso (CPP, art. 600). Nos termos da Súmula nº 710 do STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou carta precatória ou ordem”. Convém ressaltar que, para fins de prova do Exame da OAB, a banca examinadora tem exigido que a peça de interposição e as razões recursais sejam datadas no mesmo dia. Isso porque a peça de interposição é apresentada com as razões já inclusas. Atenção especial deve ser dada ao Assistente de Acusação, que possui o prazo de 15 (quinze) dias para recorrer caso não esteja habilitado ainda no processo, conforme consta no artigo 598 do Código de Processo Penal. Caso já esteja habilitado, o prazo será de cinco dias. 2.4. Conteúdo/Plano de Ação O recurso de apelação contra decisão proferida pelo Plenário do Júri somente poderá ser manejado com base numa das hipóteses previstas no artigo 593, III, do CPP. Ou seja, o conteúdo se limita: a) Nulidade posterior à pronúncia; b) decisão contra lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. a) Nulidade posterior à pronúncia Tratando-se de nulidade anterior à pronúncia, a questão já foi analisada na própria decisão ou em recurso contra ela interposto, operando-se, por conseguinte, a preclusão. Podemos citar alguns exemplos: • a juntada de documentos fora do prazo estipulado no art.479; • participação de jurado impedido; • inversão da ordem de oitiva das testemunhas de plenário; • produção, em plenário, de prova ilícita; • uso injustificado de algemas durante o julgamento; 22 • referências, durante os debates, à decisão de pronúncia ou posteriores, que julgaram admissível a acusação; • referências, durante os debates, ao silêncio do acusado, em seu prejuízo; • e, o mais recorrente: defeitos na formulação dos quesitos. b) Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos jurados O juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, não havendo supremacia do juiz togado sobre os jurados, mas simples atribuições diversas de funções. Os jurados decidem o fato e o juiz-presidente aplica a pena, de acordo com esta decisão, não podendo dela desgarrar- se. Exemplos: • fixar o regime fechado para o réu primário condenado a uma pena inferior a 8 anos; • deixar de reconhecer atenuante da menoridade; • reconhecer agravante da reincidência, em desacordo com o artigo 63 do CP. • os jurados absolvem o réu e o juiz profere uma sentença condenatória, fixando a pena, e vice-versa; • Os jurados afastam a qualificadora e o juiz a aplica na dosimetria da pena; • o júri reconhece uma privilegiadora e o juiz não faz a respectiva redução da pena; • os jurados acolhem a tese defensiva de desclassificação de homicídio doloso para culposo e o juiz condena o réu por homicídio doloso; Se der provimento ao recurso de apelação interposto com base nesta alínea, o Tribunal ad quem procederá à retificação da sentença, sem necessidade de renovação do julgamento em plenário do Júri (art. 593, § 1º, CPP). c) Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança É outra hipótese que diz respeito, exclusivamente, à atuação do juiz-presidente, não importando em ofensa à soberania do veredicto popular. Logo, o Tribunal pode corrigir a distorção diretamente. A aplicação de penas muito acima do mínimo legal para réus primários, ou excessivamente brandas para reincidentes, por exemplo, sem ter havido fundamento razoável, ou medidas de segurança incompatíveis com a doença mental apresentada pelo réu podem ser alteradas pela Instância superior. 23 Se der provimento à apelação interposta com base na alínea “c”, o Tribunal retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança, sem necessidade de renovação do Julgamento pelo Júri. OBSERVAÇÃO Qualificadoras: Encontra-se pacificado o entendimento no sentido de que a discussão envolvendo o reconhecimento ou afastamento da qualificadora deve ser abordada com base na alínea “d” do inciso III do art. 593. Isso significa que, se der provimento ao recurso de apelação, o réu será submetido a novo julgamento pelo Tribunal do Júri. Em síntese, a interposição do recurso de apelação visando ao afastamento da qualificadora deve ser com base no artigo 593, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo Penal. d) Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos Contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra respaldo em nenhum elemento de convicção colhido sob o crivo do contraditório. Não é o caso de condenação que apoia em versão mais fraca. Só cabe apelação com base nesse fundamento uma única vez. Não importa qual das partes tenha apelado, é uma vez para qualquer das duas. Conforme o artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal, se a apelação se fundar no incisoIII, alínea “d”, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. 2.5. Pedido Como todo recurso, os pedidos que não podem faltar é o de CONHECIMENTO E PROVIMENTO do recurso. Em relação a pedidos específicos, não cabe postular absolvição pelo artigo 386 do CPP, e muito menos pelo artigo 415 do CPP (que existe somente na 1ª fase do procedimento do júri). Não cabe formular pedido de absolvição, porque somente os jurados são competentes para decidir pela absolvição ou condenação do réu, não podendo nem mesmo o Tribunal analisar o mérito. 24 Por isso, conforme o artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal, se a apelação se fundar no inciso III, alínea “d”, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. Da mesma forma, se o fundamento for a nulidade posterior à pronúncia, o tribunal devolverá o processo para o juízo de 1º grau, para a realização de novo júri. 2.6. Estruturação Trata-se de peça bipartida, devendo a peça de interposição ser endereçada para o Juiz Presidente do Tribunal do Júri e as razões para o Tribunal de Justiça ou TRF. 25 a) Peça de interposição: endereçada ao juiz de 1º grau A) AO JUIZ PRESIDENTE DA ... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime da competência da Justiça Estadual) B) AO JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DO ... TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da Justiça Federal)1 Processo nº... FULANO DE TAL, (não inventar dados), por seu procurador infra- assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, inconformado com a decisão de fls..., interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, com base no artigo 593, inciso III (indicar a alínea)2, do Código de Processo Penal. O presente recurso é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo de 5 dias, na forma do artigo 593, caput, do Código de Processo Penal. Assim, requer seja recebido e processado o recurso, já com as razões anexas, remetendo-se os autos ao Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal. Nestes termos, Pede deferimento. Local..., data...3 ADVOGADO... OAB... 1Competência da Justiça Federal – Art. 109 da CF/88. 2Cuidado: se for contra decisão do Tribunal do Júri indicar o fundamento (uma das alíneas do inciso III, do Art. 593, do CPP). Súmula 713 STF 3 CUIDADO: O ENUNCIADO PODE PEDIR A INTERPOSIÇÃO NO ÚLTIMO DIA DO PRAZO 26 b) Peça de razões A) EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... (se da competência da Justiça Estadual); B) EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA REGIÃO... (se da competência da Justiça Federal) Apelante: FULANO DE TAL Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO Processo nº... RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO Colenda Câmara (Justiça Estadual) ou Colenda Turma (Justiça Federal) I) DOS FATOS4 II) DO DIREITO5 A) DAS PRELIMINARES B) DO MÉRITO III) DO PEDIDO Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, com a REFORMA DA DECISÃO DE 1º GRAU, para o fim ....: a) Seja declarada a nulidade do processo a partir do ato tal ... e, por consequência, seja o réu submetido a novo Júri (se pela alínea “a”, do Art. 593, inciso III, do CPP); b) Seja retificada a decisão, a fim de que prevaleça a decisão dos jurados, no sentido de que (se pela alínea “b”, do Art. 593, inciso III, do CPP); c) Seja retificada a pena, a fim de que seja fixada no mínimo legal, fixado o regime carcerário semiaberto, etc (se pela alínea “c”, do Art. 593, inciso III, do CPP); 4Fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar nada nem simplesmente transcrever o enunciado). 5Cuidado: Observar as hipóteses das alíneas do artigo 593, III, do CPP. 27 d) Seja o réu submetido a novo Júri pelo Plenário do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal (se pela alínea “d”, do artigo 593, inciso III). Nestes termos, pede deferimento. Local..., data... ADVOGADO... OAB... 28 2.6. Peça resolvida Peça adaptada Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve como vítima Henrique. No dia 07 de julho de 2015, numa terça-feira, em sessão plenária do Tribunal do Júri, todas as testemunhas asseguraram que Henrique iniciou agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. No momento do julgamento, os jurados reconheceram a autoria e materialidade e optaram por condenar Fernando pela prática do delito de homicídio doloso. Após a prolação da sentença condenatória, que impôs ao réu a pena de 06 (seis) anos, em regime semiaberto, a família de Fernando toma conhecimento de que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos. A intimação da sentença ocorreu na sessão plenária. Com base nas informações acima expostas e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de Habeas Corpus, no 29 último dia do prazo para interposição, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5.00 pontos) Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 30 AO JUÍZO DE DIREITO PRESIDENTE DA... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... Processo nº FERNANDO, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, com base no artigo 593, inciso III, “a” e “d”, do Código de Processo Penal. Assim, requer seja recebido e processado o recurso, já com as razões anexas, remetendo-se os autos ao Tribunal de Justiça do Estado... O presente recurso de apelação é tempestivo, já que interposto dentro do prazo de 5 dias, previsto no artigo 593, “caput”, do Código de Processo Penal. Nestes termos, Pede deferimento. Local..., 13 de julho de 2015. Advogado... OAB.... 31 EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO... Apelante: Fernando Apelada: Ministério Público Processo nº RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO Egrégio Tribunal de Justiça do Estado... Colenda Câmara Criminal I – DOS FATOS O réu foi denunciado e pronunciado pela prática do crime de homicídio doloso. Durante a sessão plenária do Júri, todas as testemunhas disseram que a vítima iniciou as agressões e que o réu agiu em legítima defesa. Os jurados decidiram pela condenação do réu. O Magistrado fixou a pena em 06 (seis) anos, em regime semiaberto. II – DO DIREITO A) Da nulidade posterior à pronúncia Após a sessão plenária, a família do réu tomou conhecimento de que os dois jurados que atuaram no julgamento eram irmãos. Todavia, nos termos do artigo 448, inciso IV, do Código de Processo Penal, irmãos são impedidos de servirem de jurados no mesmo Conselho de Sentença. Logo, considerando que dois dos jurados eram irmãos, deve ser anulada a sessão do plenário do Júri, nos temos do artigo 593, inciso III, “a”, do Código de Processo 32 Penal. B) Da decisão manifestamente contrária à prova dos autos Os jurados reconheceram a autoria e a materialidade e optaram por condenar o réu pela prática do delito de homicídio doloso. Todavia, todas as testemunhas asseguraram que a vítima iniciou as agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. Logo, a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos,devendo o presente recuso ser provido, a fim de sujeitar o réu a novo julgamento, nos termos do artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal. III – DO PEDIDO Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o recurso, com a reforma da decisão, a fim de que: a) Seja anulada a sessão do plenário do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º do Código de Processo Penal; b) Seja o réu submetido a novo julgamento pelo plenário da Sessão do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º do Código de Processo Penal. Nestes termos, Pede deferimento. Local..., 13 de julho de 2015. Advogado... OAB... 33 2.7 Exercícios para resolver após a aula 1) QUESTÃO 3 – XVIII EXAME – 2018-03 Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve como vítima Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua namorada, ouvida na condição de informante, afirmaram que Henrique iniciou agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. Por sua vez, a namorada da vítima e uma testemunha presencial asseguraram que não houve qualquer agressão pretérita por parte de Henrique. No momento do julgamento, os jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por absolver Fernando da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de apelação com fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a decisão foi manifestamente contrária à prova dos autos. A família de Fernando fica preocupada com o recurso, em especial porque afirma que todos tinham conhecimento que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos, mas em momento algum isso foi questionado pelas partes, alegado no recurso ou avaliado pelo Juiz Presidente. Considerando a situação narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de Fernando, os seguintes questionamentos da família do réu: A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos? Justifique. (Valor: 0,60) B) Poderá o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com fundamento em nulidade na formação do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 2) QUESTÃO 1 – XIV EXAME – 2014-02 Gustavo está sendo regularmente processado, perante o Tribunal do Júri da Comarca de Niterói-RJ, pela prática do crime de homicídio simples, conexo ao delito de sequestro e cárcere privado. Os jurados consideraram-no inocente em relação ao delito de homicídio, mas culpado em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O juiz presidente, então, proferiu a respectiva sentença. Irresignado, o Ministério Público interpôs apelação, sustentando que a decisão dos jurados fora manifestamente contrária à prova dos autos. A defesa, de igual modo, 34 apelou, objetivando também a absolvição em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O Tribunal de Justiça, no julgamento, negou provimento aos apelos, mas determinou a anulação do processo (desde o ato viciado, inclusive) com base no Art. 564, III, i, do CPP, porque restou verificado que, para a constituição do Júri, somente estavam presentes 14 jurados. Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado, responda justificadamente às questões a seguir. A) A nulidade apresentada pelo Tribunal é absoluta ou relativa? Dê o respectivo fundamento legal. (Valor: 0,40) B) A decisão do Tribunal de Justiça está correta? (Valor: 0,85) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 35 Padrão Resposta 36 1) QUESTÃO 3 – XVIII EXAME – 2018-03 Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve como vítima Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua namorada, ouvida na condição de informante, afirmaram que Henrique iniciou agressões contra Fernando e que este agiu em legítima defesa. Por sua vez, a namorada da vítima e uma testemunha presencial asseguraram que não houve qualquer agressão pretérita por parte de Henrique. No momento do julgamento, os jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por absolver Fernando da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de apelação com fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a decisão foi manifestamente contrária à prova dos autos. A família de Fernando fica preocupada com o recurso, em especial porque afirma que todos tinham conhecimento que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos, mas em momento algum isso foi questionado pelas partes, alegado no recurso ou avaliado pelo Juiz Presidente. Considerando a situação narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de Fernando, os seguintes questionamentos da família do réu: A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos? Justifique. (Valor: 0,60) B) Poderá o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com fundamento em nulidade na formação do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. Gabarito comentado A) A decisão dos jurados não foi manifestamente contrária à prova dos autos. Isso porque o acusado e sua namorada alegaram a existência de legítima defesa, havendo, portanto, existem duas versões nos autos, com provas em ambos os sentidos. B) Não poderá o Tribunal anular o julgamento com base na existência de nulidade ocorrida durante a sessão plenária. Isso porque o julgamento da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição, nos termos da Súmula 713 do Supremo Tribunal Federal. No caso, o Ministério Público não alegou, no seu recurso, que dois dos 37 jurados que atuaram no julgamento eram irmãos. Logo, o Tribunal não pode reconhecer nulidade não arguida pela acusação, nos termos da Súmula 160 do Supremo Tribunal Federal. 2) QUESTÃO 1 – XIV EXAME – 2014-02 Gustavo está sendo regularmente processado, perante o Tribunal do Júri da Comarca de Niterói-RJ, pela prática do crime de homicídio simples, conexo ao delito de sequestro e cárcere privado. Os jurados consideraram-no inocente em relação ao delito de homicídio, mas culpado em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O juiz presidente, então, proferiu a respectiva sentença. Irresignado, o Ministério Público interpôs apelação, sustentando que a decisão dos jurados fora manifestamente contrária à prova dos autos. A defesa, de igual modo, apelou, objetivando também a absolvição em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O Tribunal de Justiça, no julgamento, negou provimento aos apelos, mas determinou a anulação do processo (desde o ato viciado, inclusive) com base no Art. 564, III, i, do CPP, porque restou verificado que, para a constituição do Júri, somente estavam presentes 14 jurados. Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado, responda justificadamente às questões a seguir. A) A nulidade apresentada pelo Tribunal é absoluta ou relativa? Dê o respectivo fundamento legal. (Valor: 0,40) B) A decisão do Tribunal de Justiça está correta? (Valor: 0,85) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. Gabarito comentado A) A nulidade apresentada pelo Tribunal é absoluta, nos termos do artigo 564, III, alínea "i" c/c 572, ambos do CPP. B) Não, a decisão do Tribunal não está correta, diante da reformatio in pejus indireta. Issoporque o Tribunal de Justiça não pode acolher contra o réu nulidade não alegada pela acusação, nos termos da Súmula 160 do Supremo Tribunal Federal. 38