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NOÇÕES DE DIREITO 1 - ORIGEM E FINALIDADE DO DIREITO O Direito nasceu junto com a civilização. Sua história é a história da própria vida. Por mais que mergulhemos no passado sempre vamos encontrar o Direito, ainda que num estágio rudimentar, a regular as relações humanas. É que os homens, obrigados ao convívio, labutando uns ao lado dos outros, carecem de certas regras de conduta, de um mínimo de ordem e direção. Daí a atualidade do velho apótema: ubi homo ibi jus (onde esta o homem esta o Direito). Essas regras de procedimento, disciplinadoras da vida em sociedade, recebem o nome de Direito. Portanto, a finalidade do Direito se resume em regular as ações humanas, a fim que haja paz e prosperidade no seio social, impedindo a desordem ou o crime. Sem o Direito estaria a sociedade em constante processo de contestação, onde a lei do mais forte imperaria sempre, num verdadeiro caos. 2 - CONCEITO DE DIREITO Vulgarmente, costumava-se dizer que o Direito não passa de um “sentimento”, algo assim como o amor, que nasce no coração dos homens. “Não é exagero mesmo afirmar-se que todos sentem o Direito e que, de certo modo, todos sabem o que o Direito é. Vocábulo corrente, empregado a todo o instante nas relações da vida diária para exprimir sentimento que todos já experimentamos, esta gravada na mente de cada um, representando idéia esboçada em traços mais ou menos vagos e obscuros.” Isto é direito”, “o meu direito foi violado” , “o juiz reconheceu o nosso direito”, são expressões cotidianas ouvidas, que envolvem a noção vulgar a respeito do fenômeno jurídico. Os especialistas, entretanto, dada à precariedade dessa noção vulgar, buscam, incessantemente, um conceito mais aprofundado do que seja o Direito. Na verdade para não adentrarmos ao estudo da filosofia jurídica, a qual pertence a questão, diremos que o Direito é um complexo de normas reguladoras da conduta humana, com força coativa. Sim, a vida em sociedade seria impossível sem a existência de um certo procedimento dos homens, por estes mesmos julgadas obrigatórias, e acompanhadas de punição para os seus transgressores. A punição é que torna a norma respeitada. De nada adiantaria a lei dizer, por exemplo, que matar é crime, se paralelamente não impusesse uma sanção àquele que matasse. A coação, ou possibilidade de constranger o individuo a observância da norma, torna-se inseparável do Direito. Por isso, como mostra conhecida imagem, a justiça sustenta numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada sem a balança é a força brutal; balança sem espada é a impotência do Direito. 3 - DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO A palavra Direito tem diferentes acepções, tornando-se praticamente impossível reuní-las numa única formula significativa. As mais importantes são as traduzidas pelas expressões direito objetivo e direito subjetivo. 3.1 - Direito Objetivo é o conjunto de regras vigentes num determinado momento, para reger as relações humanas, impostas, coativamente, à obediência de todos. Os Códigos Penal, de Processo, Civil, etc., bem como qualquer uma de suas regras, são exemplos de direito objetivo. 3.2 - Direito Subjetivo é a faculdade ou prerrogativa do indivíduo de invocar a lei na defesa de seu interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo através de medidas judiciais. A Constituição Federal garante o direito de propriedade ao dispor no art. 5°, XXII., “é garantido o direito de propriedade” . Essa regra é um preceito de direito objetivo. Agora se alguém violar a minha propriedade, poderei acionar o Poder Judiciário para que a irregularidade seja sanada. Essa faculdade que tenho de movimentar a máquina judiciária para o reconhecimento de um direito que a lei me garante é que constitui o direito subjetivo. Disso resulta que o direito objetivo é o conjunto de leis dirigidas a todos, ao passo que o direito subjetivo é a faculdade que tem cada um de invocar essas leis a seu favor, sempre que houver violação de um direito por elas resguardado. 4 - DIREITO E MORAL A vida social só é possível uma vez presentes regras determinadas para o procedimento dos homens. Essa regra, de cunho ético, emana da Moral e do Direito, que procuram ditar com deve ser o comportamento de cada um. Sendo ambos - Moral e Direito - normas de conduta, evidentemente apresentam um campo comum. Assim, aquele que estupra uma donzela viola uma norma jurídica (art. 213 do CP.) e moral (neminem laedere = não prejudicar a ninguém ). Assim sendo, poder-se-ia representar o Direito Moral por um único círculo, já que comum o campo de ação de ambos. Teoria do mínimo ético Moral Campos de ação DT Todas as normas jurídicas estão contidas no plano moral .? Não. Moral Direito DIREITO MORAL Quanto ao campo de ação Atua no foro exterior Atua predominantemente, no foro interior Quanto a intensidade da sanção Sanções mais enérgicas, Sanções mais brandas, de de natureza material, natureza interna ou de consubstanciadas em reprovação social. punições legais. Quanto aos efeitos das normas Bilateral Unilateral RAMOS DO DIREITO PÚBLICO INTERNACIONAL PRIVADO CONSTITUCIONAL POSITIVO ADMINISTRATIVO PUBLICO FINANCEIRO NACIONAL PENAL DIREITO PROCESSUAL TRABALHISTA PRIVADO CIVIL NATURAL COMERCIAL 1) DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL. 1.1 - Direito Positivo: Compreende o conjunto de regras jurídicas em vigor num país determinado e numa determinada época. Exemplo: Leis, Códigos, Tratados Internacionais, etc... 1.2 - Direito Natural: Para aqueles que aceitam sua existência, é aquele que não se consubstancia em regras impostas ao indivíduo pelo Estado, mas de uma lei anterior e superior ao Direito Positivo, que se impõe a todos os povos pela própria natureza e não pela criação dos homens. Exemplo: O direito de reproduzir, o direito de viver, etc... 2) DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO NACIONAL 2.1 -Direito Internacional: Vem ser o complexo a normas aplicáveis nas relações entre determinados países (Direito Internacional Público), e aos particulares que tenham interesse em mais de um país (Direito Internacional Privado) Exemplo: Se o Brasil e o Paraguai, na exploração da Usina Hidrelétrica de Itaipu, construída por ambos, tiverem alguma divergência, a questão será resolvida por meio de aplicação de normas de Direito Internacional Público. Já o inventário de um falecido que tenha deixado bens em vários países, cria problemas de Direto Internacional Privado, por isso que em jogo, estão interesses de particular em mais de um país. 2.2 - Direito Nacional: É o que existe dentro das fronteiras de um país. 3) DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO 3.1 - Direito Público: Disciplina os interesses gerais da coletividade, e se caracteriza pela imperatividade de suas normas, que não podem nunca ser afastadas por convenção dos particulares. 3.2 - Direito Privado: Versa sobre as relações dos indivíduos entre si, tendo na sua supletividade de seus preceitos a nota característica, isto é, vigora apenas enquanto há vontade dos interessados.FONTES DO DIREITO 1 - CONCEITO DE FONTES: São os meios pelos quais se formam as regras jurídicas. A palavra fonte deriva do latim fons, fontis, que significa nascente, designando tudo o que origina ou produz algo. 2 - TIPOS DE FONTES (CLASSIFICAÇÃO): 2.1 -Fontes Diretas ou Imediatas: São aquelas que por si sós, pela sua própria força, são suficientes para gerar a regra jurídica. Exemplo: A Lei e o Costume. 2.2 - Fontes Indiretas ou Mediatas: São as que não tem tal virtude, porém encaminham os espíritos, mais cedo ou mais tarde, à elaboração da norma. Exemplo: A Doutrina e a Jurisprudência. 3 - INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. O legislador não consegue, por mais previdente que seja, prever todas as hipóteses que podem ocorrer na vida real. 3.1 -Analogia: Consiste em aplicar a um caso não previsto a norma que rege caso análogo, pois fatos semelhantes exigem regras semelhantes. Ex: Tutela e Curatela 3.2 - Equidade: É a aplicação da justiça do caso concreto. Neste caso em especial a Justiça está acima do Direito, mas só pode haver aplicação da equidade nos casos que a lei autoriza. 3.3 -Princípios Gerais de Direito: É aquele com a qual o aplicador investiga o pensamento mais alto da cultura jurídica, juntamente com a fixação da orientação geral do ordenamento jurídico. EX: Direito de família ----- visa o reforço do núcleo familiar Direito do trabalho ----- proteção ao empregado DIRETAS LEI COSTUME FONTES DO DIREITO INDIRETAS DOUTRINA JURISPRUDÊNCIA INTEGRAÇÃO ANALOGIA EQUIDADE PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO A LEI E SUA EFICÁCIA 1 - ESCLARECIMENTOS INICIAIS 1.1 Definição de Lei Como já sabemos a lei, juridicamente falando, consiste numa regra de conduta, geral e obrigatória, emanada de poder competente, e provida de coação. Esta também, conforme ensinamentos anteriores, é a principal fonte do direito, por via da qual o Estado politicamente organizado dita regras de comportamento, a que os cidadãos devem obediência. 1.2 Processo Legislativo O processo legislativo vem a ser o conjunto de regras que informa a elaboração da lei, e está inserto na Constituição Federal nos artigos 59 a 69 e em cujas disposições abragem e se aplicam a todas as unidades da Federação (Estados). O primeiro destes artigos supramencionados, o artigo 59, estabelece que o processo legislativo compreende a elaboração de: 1- emendas à Constituição; 2 – leis complementares; 3 – leis ordinárias; 4 – leis delegadas; 5 – medidas provisórias; 6 – decretos legislativos; 7 – resoluções. 2 - HIERARQUIA DAS LEIS As leis guardam, entre si, uma graduação hierárquica. A mais importante das leis é a Constituição, que não pode ser contrariada por nenhuma outra norma. Abaixo da Carta Magna vem a seguinte ordem hierárquica: I – emendas à Constituição; II – leis complementares; III – leis ordinárias; IV – leis delegadas; V – medidas provisórias; VI – decretos legislativos; VII – resoluções; (Art. 59 da Constituição Federal) 2.1 - CONSTITUIÇÃO FEDERAL. É a Lei Maior do país, a lei fundamental. Os seus dispositivos não podem ser contrariados pelas outras normas, que são notadamente de categoria hierárquica inferior. 2.2 - EMENDAS À CONSTITUIÇÃO. São as leis constitucionais que alteram parcialmente a Constituição Federal, passando a fazer parte do texto da Carta Magna após a sua entrada em vigor. As propostas de emendas Constitucionais devem partir: - 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; - Do Presidente da República; - De mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se cada uma delas pela maioria relativa de seus membros. OBS: A Proposta será discutida no Congresso Nacional, em dois turnos, sendo aprovada se obtiver 3/5 dos votos dos respectivos membros. 2.3 - LEIS COMPLEMENTARES. São leis, como o próprio nome diz, que complementam o texto constitucional. Elas se situam entre a norma constitucional e a lei ordinária. Não se pode atribuir a qualquer espécie normativa o caráter de lei complementar. Deve acolher matéria constitucionalmente reservada à sua especificidade. A própria Constituição, portanto, estabelece os casos em que deve haver a complementação. As leis complementares regulam preceitos constitucionais que não sejam auto-aplicáveis. Exigem quorum especial para sua aprovação (maioria absoluta), observados as demais fases de aprovação das leis ordinárias. 2.4 - LEIS ORDINÁRIAS. São as leis elaboradas pelo Poder Legislativo e que passam por todas as fases descritas acima. Estas são as mais freqüentes, sendo assim denominadas apenas para destingi-las das leis complementares e das leis delegadas, na prática recebem a denominação pura e simples de lei. O quorum para aprovação desta lei é de maioria simples. 2.5 - LEIS DELEGADAS. São as leis elaboradas pelo Poder Executivo, por autorização expressa do Poder Legislativo. 2.6 - MEDIDAS PROVISÓRIAS. São diplomas emanados do Poder Executivo para disciplinamento de situações emergenciais (casos urgentes e relevantes) Emenda Constitucional 32/01, estatui: “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (...)”. 2.7 - DECRETOS LEGISLATIVOS. São atos normativos administrativos de competência exclusiva do Poder Legislativo, destinados a regular matérias que tenham efeitos externos. Os decretos legislativos, por não terem força de lei, dispensam a sanção do chefe do Poder Executivo. 2.8 - RESOLUÇÕES. São atos normativos administrativos através dos quais o Legislativo dispõe sobre matéria que não se insere nem no âmbito da Lei, nem do Decreto Legislativo. As resoluções, a exemplo dos decretos legislativos, destinam-se a regular matéria de competência do Congresso, tendo caráter administrativo ou político. As resoluções cuidam, geralmente, de assuntos de interesse interno do Legislativo, e distinguem-se dos decretos legislativos no aspecto formal, pois enquanto o decreto legislativo é elaborado segundo o procedimento prescrito pelas leis, a resolução é norteada por uma elaboração mais simples. 3 - FASES DE ELABORAÇÃO DE UMA LEI (ORDINÁRIA) Conforme dispõe a Constituição Federal, são 03 (três) os poderes da República: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si. (art. 2º da C.F.). Em regra geral, de acordo com a competência constitucional, cabe ao Poder Legislativo a elaboração das leis, entretanto o Poder Executivo além de colaborar na sua feitura (sanção ou veto, promulgação e publicação) também às vezes tem esta prerrogativa (medidas provisórias). No caso de Lei Ordinária, a mais comum e usual, esta possui o seguinte trâmite antes de entrar em vigor: INICIATIVA ----- apresentação do Projeto. DISCUSSÃO ou APROVAÇÃO ----- Debate no Legislativo, podendo serem apresentadas emendas ao projeto original, e aprovação através de votação com quorum de maioria simples. SANÇÃO ----- ato pelo qual o Poder Executivo manifesta sua concordância com o projeto de lei. PROMULGAÇÃO ---- ato pelo qual o Poder Executivo atesta a existência da lei e ordena a sua publicação e cumprimento. (nascimento da Lei). PUBLICAÇÃO ---- ato pelo qual a lei passa a ser conhecida por todos, ou seja, pela população. No caso da SANÇÃO, esta pode ser expressa ou tácita, a primeira ocorre quando o Chefe do Poder Executivo (Presidenteda República, Governador ou Prefeito) assina o autógrafo da lei (art. 66 caput C.F.). O segundo caso se dá quando o Chefe do Poder Executivo, passado o prazo legal, não assinou o autógrafo nem opôs nenhum veto (art. 66 § 3º C.F.). O Chefe do Poder Executivo não é obrigado a sancionar o projeto de lei encaminhado pelo Legislativo, este pode VETÁ-LO, de forma Total (Ab-rogação) ou Parcial (Derrogação). (art. 66 §§ 1º e 2º C.F.). Geralmente a lei menciona no final do seu texto a data em que entra em vigor, por meio da fórmula clássica: “Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário”. Ocorre que, muitas vezes, o legislador estabelece um prazo entre a publicação da lei e sua entrada em vigor. E em alguns casos o legislador deixa de mencionar a data em que a lei deva entrar em vigor; nessa situação ela entrará em vigência em território nacional 45 (quarenta e cinco) dias após a sua publicação e fora das nossas fronteiras 3 meses. VACATIO LEGIS (Vacância da Lei) ---- é o período compreendido entre a publicação de uma lei e sua entrada em vigor. Se durante a “vacatio legis” ocorrer nova publicação de seu texto, para correção de erros materiais ou falha ortográfica, o prazo começará a correr da nova publicação. A publicação da lei é feita no Diário Oficial (União, Estados ou Municípios). Essa providência é indispensável, pois a publicação gera a presunção de conhecimento geral do texto da lei. 4 - CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS Existem 02 (duas) formas de classificação das leis que merecem destaque; 1 – Quanto à origem: federal, estadual e municipal. 2 – Quanto a sua obrigatoriedade: norma cogente e norma dispositiva. Normas Federais – são aquelas que têm domínio geográfico nacional. Todas elas imperam em todo o território do país. Normas Estaduais – são aquelas que têm domínio geográfico circunscrito ao Estado em que foi elaborada. Normas Municipais – são aquelas que têm domínio geográfico circunscrito ao município que a elaborou. Norma Congente - é aquela que por atender mais diretamente ao interesse geral não pode ser alterada, prevalecendo de modo absoluto sobre a liberdade de contratar das partes.Exemplo: o art.1.521, VI, do Código Civil, proíbe o casamento de pessoas já casadas.Como se percebe, trata-se de regra que interessa à própria estrutura da sociedade, de modo que mesmo de acordo com os nubentes, nulo será seu casamento, se um deles estiver ligado ao matrimônio anterior. Norma Dispositiva – é a que se limita a prescrever uma conduta ou estabelecer um direito, sem tirar do seu destinatário a faculdade de alterá-la. Exemplo: o art.327 do Código Civil determina que o pagamento se efetuará no domicilio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente. 5 – CESSAÇÃO DA OBRIGATORIEDADE DA LEI Não sendo uma lei temporária (exceção) a sua vigência será até o momento que outra a modifique ou revogue (Lei de Introdução ao C.C. art. 2º). Não existe revogação pelo seu desuso. Revogar uma lei é torná-la sem efeito. A revogação pode ser: expressa ou tácita. Expressa: quando a lei nova taxativamente declara revogada a anterior. Tácita – quando a nova lei é incompatível com a anterior ou regula inteiramente a matéria que a outra tratava. OBS: É interessante chamarmos atenção que a revogação de uma lei só é possível através de outra lei de igual ou superior hierarquia. Exemplo: uma lei complementar só pode ser revogada por outra lei complementar ou por outra de hierarquia superior, não podendo ser por lei de hierarquia inferior (Lei Ordinária). 6 – RETROATIVIDADE E IRRETROATIVIDADE DA LEI A lei, em princípio, é editada para regular situações futuras, que irão ocorrer durante o seu período de vigência. Assim sendo a regra é de que a lei nova não pode atingir situações já consolidadas sob a vigência da lei antiga – princípio da irretroatividade da lei (C.F. art. 5º, XXXVI). O princípio imperante é o da irretroatividade das leis. A retroatividade é exceção e não se presume, decorrendo de determinação legal expressa. Dessa forma não havendo declaração em contrário, a lei respeita o direito adquirido (situação definitivamente constituída), o ato jurídico perfeito (já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou) e a coisa julgada (decisão judicial de que não caiba mais recurso). OBS: O Direito Penal é uma exceção à regra da irretroatividade, pois este se norteia pelo princípio da lei mais benigna, podendo existir a retroatividade da lei. DIREITO CONSTITUCIONAL 1 – CONCEITO: É o ramo do direito público interno que disciplina a organização do Estado, define e limita a competência de seus poderes, suas atividades e suas relações com os indivíduos, aos quais atribui e assegura direitos fundamentais de ordem pessoal e social – Prof. Vicente Ráo. 2 – CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO: É um conjunto de normas, escritas ou costumeiras, que regem a organização política de um país. 3 – ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO: Podem as constituições ser classificadas quanto: à forma (escritas ou costumeiras), à consistência (rígidas ou flexíveis) ou à origem (promulgadas ou outorgadas). 3.1 – QUANTO À FORMA Escritas são aquelas cujos dispositivos estão reunidos num instrumento. Exemplo: a Constituição Brasileira. Costumeiras aquelas que vão se formando aos poucos, pela reiterada prática de certos atos. Exemplo: a Constituição da Inglaterra. 3.2 – QUANTO À CONSISTÊNCIA Rígidas aquelas que só se alteram mediante processos especiais, caracterizando-se pela prevalência de seus preceitos aos das leis ordinárias. Exemplo: a atual Constituição brasileira. Flexíveis são aquelas que se alteram mais facilmente, através do processo legislativo ordinário, e que se caracterizam pela inexistência de qualquer hierarquia entre a Constituição e a lei ordinária. Exemplo: o estatuto Albertino, Constituição do reino da Itália. 3.3 – QUANTO À ORIGEM Promulgadas são as elaboradas por uma Assembléia Constituinte, eleita pelo povo especialmente para esse fim. Exemplo: a Constituição brasileira de 1946 e 1988. Outorgadas são as impostas à coletividade por determinada pessoa ou determinado grupo de pessoas. Exemplo: a Constituição do Império, de 1824. 4 – PODER CONSTITUINTE Em significação comum, podemos dizer que o Poder Constituinte é aquele que tem por missão traçar as regras jurídicas fundamentais da Nação, que se consubstanciam num documento chamado Constituição. Compete a esse poder, deixando de lado os preceitos até então vigentes, dar um novo ordenamento jurídico-institucional ao País. É formado por representantes do povo, especialmente eleitos para editar uma nova Constituição, ou através da investidura de Poder Constituinte pleno nos deputados federais e senadores escolhidos pelo sufrágio do povo. Daí se dizer, em última análise, que o titular do Poder Constituinte é o povo, pois os seus representantes, em reunião especial, com a finalidade de votar e promulgar uma nova constituição nada mais fazem do que auscultar sua vontade e transmiti-la com fidelidade. Votada a Constituição, extingui-se o Poder Constituinte, ficando como seu remanescente o Poder Legislativo ordinário, que poder propor emendas à Constituição, segundo condições nela previstas. Destarte, o Poder Constituinte será originário (quando edita Constituição nova em substituição à Constituição anterior) ou derivado (quando se destina à revisão da Constituição, modificando parcialmente o seu texto). O primeiro é original, na medida em que pertence ao povo e à Assembléia Constituinte; o segundo é derivado, porque constituído por determinação do primeiro e pertencente ao CongressoNacional. 5 – O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS O princípio da constitucionalidade das leis é, em síntese, o de que, sendo a Constituição a lei básica e fundamental, todas as outras leis devem ser conformes aos seus preceitos e ao seu espírito. Toda lei que, no todo ou em parte, contrarie ou transgrida um preceito da constituição, diz-se inconstitucional, tem um vício que anula e deve ser declarada tal pelo poder competente, que é o Judiciário. O efeito da inconstitucionalidade é, portanto, a não aplicação da lei ao caso concreto. O controle da constitucionalidade é realizado de forma rotineira pelo Poder Judiciário. O juiz, ao examinar um caso, deve atender à hierarquia das leis, afastando naturalmente a norma que estiver em desacordo com a Constituição. Como ensina o Prof. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “cabendo ao judiciário dizer o que é o Direito, é a ele que compete indagar da constitucionalidade de uma lei. De fato, se duas leis entrarem em conflito, deve o juiz decidir qual aplicará. Ora, se uma lei entrar em conflito com a Constituição é ao juiz que cabe decidir se aplicará a lei, violando a Constituição, ou, como lógico, se aplicará a Constituição, recusando a lei”. Contudo, observe-se que a sentença do juiz não revoga a lei inconstitucional. Ele apenas deixa de aplicá-la ao caso concreto. Por isso, a lei inconstitucional continua plenamente em vigor, apesar de seu vício, até ser revogada por outra lei. A suspensão da execução de leis, declaradas inconstitucionais pelo Judiciário é de competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52, X). ESTADO Profº Paulo César Vidigal 1 – ORIGEM Entende-se que desde o momento em que a coletividade estatal se organiza e possui órgãos que querem e agem por ela, o Estado passa a existir. 2 – CONCEITO. É uma pessoa jurídica formada por uma sociedade que vive num determinado território e subordinada a uma autoridade soberana. 3 – ELEMENTOS ESSENCIAIS São 3 (três) os elementos essenciais do Estado, são eles: Povo – é o conjunto dos nacionais. Diferente de população que compreende tanto os nacionais quanto os estrangeiros. Território – é a parte delimitada da superfície terrestre, sobre a qual vigora a ordem jurídica do estado. Compreende também o subsolo, o espaço aéreo, as milhas marítimas, assim como as sedes de embaixadas e repartições diplomáticas, os navios e aviões de guerra, e os navios e aviões de passageiros ou cargas quando em mar territorial ou em alto- mar. Poder Soberano – é o poder que tem o governo de efetivar a sua ordem jurídica, sem qualquer subordinação a outra ordem. 4 – FINALIDADES No plano externo cabe ao Estado defender a sua independência e o seu território nacional No plano interno cabe ao Estado manter a ordem pública, dizer os direitos e promover e distribuir a justiça, promovendo o bem comum para os seus integrantes. 5 – FORMAS DE ESTADO 5.1 – Estado Simples ou Unitário. É formado por um todo indivisível e soberano perante o povo e também em relação aos outros estados (sentido de País ou Nação). 5.2 – Estado Composto. São aqueles formados por dois ou mais Estados que se unem por motivos diversos. 5.2.1 – Federação. É formada pela união de várias unidades territoriais (Estados-membros), que perdem a soberania em favor da União Federal. 5.2.2 – Confederação. É formada por Estados soberanos, com base em tratados internacionais, tendo como objetivo defender o território e assegurar a paz interior, além de outras finalidades que podem ser pactuadas. 6 – FORMAS DE GOVERNO 6.1 -CLASSIFCAÇÃO ANTIGA (ARISTÓTELES) 6.1.1 – Formas Legítimas. 6.1.1.1 – Monarquia – governo de um só. 6.1.1.2 – Aristocracia – governo de uma classe. 6.1.1.3 – Democracia – governo de todos, do povo. 6.1.2 – Formas Ilegítimas. 6.1.2.1 – Tirania – corrupção da monarquia. (governo sem lei). 6.1.2.2 – Oligarquia – corrupção da aristocracia. (governo de uma minoria poderosa). 6.1.2.3 – Demagogia – corrupção da democracia. (governo com predomínio de facções populares). 6.2 -CLASSIFICAÇÃO MODERNA 6.2.1 – Monarquia. 6.2.1.1 – Absoluta – poder ilimitado do soberano (rei, imperador, monarca), 6.2.1.2 – Limitada – poder limitado do soberano pela Constituição. 6.2.2 – República. 6.2.2.1 – Parlamentar – governo exercido por um Conselho de Ministros chefiado por um Primeiro-Ministro. 6.2.2.2 – Presidencial – governo exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros escolhidos livremente por ele. 6.2.2.3 – Colegiada – governo é exercido por um grupo de pessoas. 7 – DEMOCRACIA Democracia (do grego demos = povo e cratos = governo). É o governo de todos. “É o governo do povo, pelo povo, e para o povo” – Abram Lincoln. É a forma de governo em que se reconhece que o poder emana do povo e em seu nome é exercido. 7.1 – Formas de Democracia 7.1.1 – Direta É aquela em que as decisões são tomadas diretamente pelos cidadãos em assembléias. Utilizada antigamente, atualmente nenhum Estado pode adotá-la pela impossibilidade de se reunir milhões de cidadãos em praça pública. 7.1.2 – Indireta É aquela onde o povo governa por intermédio de representantes, daí ser ela conhecida como democracia representativa. É o sistema comum de governo nos estados modernos. 7.1.3 – Semidireta É aquela que se aproxima da democracia direta, pois o povo, embora não se governando diretamente, tem o poder de intervir, às vezes, em certas decisões. Ex: iniciativa popular, referendum, veto popular, etc. 8 – REGIMES GOVERNAMENTAIS 8.1 – Presidencialismo Este regime se caracteriza, em primeiro lugar, por ser um regime de separação de poderes (executivo, judiciário e legislativo) harmônicos e independentes. Em segundo lugar, por conferir a chefia do estado e do governo a um órgão unipessoal, a Presidência da República, certo que os chefes dos grandes departamentos da administração são meros auxiliares do Presente, que os escolhe e demite quando bem entende. 8.2 – Parlamentarismo Também é um regime de divisão de poderes (legislativo, executivo e judiciário), mas o executivo e legislativo são interdependentes, PIS o governo depende para manter-se no poder do apoio da maioria parlamentar. Em segundo lugar, o executivo tem estrutura dualista. O rei, ou o Presidente da República, é o chefe de Estado, com funções de representação, de cerimonial, enquanto o governo é exercido por um órgão coletivo, o Conselho de Ministros ou Gabinete, à testa do qual está um chefe, o Primeiro-Ministro, o verdadeiro Chefe de Governo. 8.3 – Governo de Assembléia Caracteriza-se pela inseparabilidade dos poderes, com exceção do Judiciário. Este é independente e especializado. Todavia as decisões sobre a elaboração das leis e sua aplicação estão concentradas nas mãos do mesmo órgão, no caso, a Assembléia. O único exemplo conhecido é a Suíça. ALGUMAS DIFERENÇAS PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO O chefe de Estado e o chefe de Governo confundem-se na mesma pessoa. O chefe de Estado é o presidente (ou rei ou imperador na monarquia) e o chefe de Governo é o Primeiro- Ministro. O Executivo é poder completamente autônomo com relação ao Legislativo. O Poder Executivo depende da confiança do Poder Legislativo. A duração dos mandatos é fixa. A duração dos mandatos é flexível. O presidente é legitimado pela votação direta do povo. O Primeiro-Ministro é escolhido pelos membros do Legislativo. O presidente pode vetar as leis aprovadas pelo Legislativo. Após aprovadas pelo Legislativo, não podem as leis serem vetadas pelos Chefes de Estado ou de Governo. Os ministros são meros auxiliares doPresidente, podendo este demití-los sempre que achar conveniente. A escolha dos assessores depende da aprovação do Legislativo. O Presidente não pode em hipótese alguma dissolver o Legislativo. O Presidente ou Primeiro-Ministro pode dissolver o Parlamento, em casos de impasse. Também pode o Legislativo depor o Gabinete (moção de censura).