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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL CURSO DE DIREITO NOME DO ALUNO TÍTULO DA MONOGRAFIA QUALQUER DÚVIDA CONSULTAR O GUIA UNIJUI DE TRABALHOS ACADÊMICOS II. Está na minha biblioteca (virtual, acesso pelo portal) Ijuí - RS 2023 .. NOME DO ALUNO TÍTULO DA MONOGRAFIA Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Orientador(a): SANTA ROSA - RS 2023 Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada. AGRADECIMENTOS “o direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material como no da cultura e das mentalidades.” Boaventura de Sousa Santos RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso, com o objetivo de ....., utilizando o método faz uma análise das primeiras noções de mediação, a fim de propiciar uma investigação em busca da construção de alternativas à jurisdição. Analisa o conflito e o seu caráter transformador na sociedade. Aborda a jurisdição como forma de solução dos conflitos e a crise jurisdicional ocasionada pelo excesso de litigiosidade, com consequente aumento vertiginoso de demandas e, com isso, uma morosidade processual que vem provocando muitos questionamentos e busca de soluções alternativas. Estuda a mediação como procedimento alternativo para a solução dos conflitos, investigando seus princípios, técnicas e características. Investiga o perfil e a postura do mediador, do advogado e Judiciário diante dessa nova perspectiva. Faz uma breve análise das propostas legislativas e tece considerações sobre as mesmas. Finaliza concluindo que se deve priorizar a pacificação social e, diante dessa prioridade, a necessidade de incentivo ao diálogo e a implementação da mediação de forma efetiva no contexto jurídico. O resumo pode ter, no máximo, 500 palavras. Colocar Objetivo, problema, metodologia... Palavras-Chave: Noções sobre mediação. Alternativas à jurisdição. Solução de conflitos. Incentivo ao diálogo. Máximo 5 palavras ou expressões. ABSTRACT This conclusion of course work is an analysis of the first notions of mediation in order to facilitate an investigation on the construction of alternatives to the jurisdiction. Analyze the conflict and its character on society. Addresses the jurisdiction as the only way to solve the conflict and the crisis caused by excessive court litigation, with consequent steep rise in demand and, therefore, a lengthy procedure that has provoked many questions and search for alternative solutions. Studying the mediation as an alternative procedure for the solution of conflicts, investigating its principles, techniques and characteristics. Investigates the profile and stance of the mediator, the lawyer and the judiciary on this new perspective. Makes a brief analysis of legislative proposals and reflects on them. Ends concluding that it should prioritize social pacification and, given this priority, the need to encourage dialogue and implementation of mediation effectively in the legal context. Keywords: Understanding mediation. Alternatives to court. Conflict resolution. Encouraging dialogue. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 9 2 O CONFLITO E AS SOLUÇÕES JURISDICIONAIS TRADICIONAIS 11 2.1 O CONFLITO 11 2.2 JURISDIÇÃO 15 2.2.1 Jurisdição como única forma de solução dos conflitos no mundo moderno 16 2.2.2 A Crise jurisdicional 17 2.2.3 Acesso à justiça 20 2.3 CONCILIAR, JULGAR, MEDIAR 22 3 MEDIAÇÃO: UMA PROPOSTA ALTERNATIVA À JURISDIÇÃO 25 3.1 MEDIAÇÃO: NOÇÕES E PRINCÍPIOS 25 3.2 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO E SUA APLICABILIDADE 30 3.2.1 Preceitos de comunicação construtiva 32 3.3 O PAPEL DO MEDIADOR, DO ADVOGADO, A POSTURA DO JUDICIÁRIO 35 3.4 MEDIAÇÃO NO DIREITO COMPARADO 40 3.5 AS PROPOSTAS LEGISLATIVAS 42 4 CONCLUSÃO 46 REFERÊNCIAS 48 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta um estudo acerca das primeiras noções sobre a mediação, a fim de efetuar uma investigação em busca da construção de alternativas à jurisdição. Essa busca é necessária face à crescente insatisfação coletiva em relação à prestação jurisdicional atual do Estado, que além de morosa em razão da complexidade processual e da grande demanda existente, emite decisões que muitas vezes não solucionam os conflitos, pois atingem apenas a causa aparente e não a real, gerando vencedores e perdedores. Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também as propostas legislativas em andamento, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da mediação, revelar a importância do diálogo na construção da paz social e apontar novas perspectivas para a problemática da solução de conflitos. Inicialmente, no primeiro capítulo, abordar-se-á o conflito como um agente de mudanças das sociedades e as formas de composição dos conflitos nas sociedades primitivas. Segue uma análise da jurisdição como única forma de solução dos conflitos, onde o Estado chama para si o poder/dever de decidir as lides, a crise jurisdicional e o acesso à justiça como mais um agente da crise. Também são analisados alguns métodos compositivos de solução dos conflitos, como a conciliação e a mediação. No segundo capítulo será analisada mais profundamente a mediação, seu conceito, princípios, procedimentos e técnicas de aplicação. Também são analisados o papel do mediador e a qualificação necessária para o desempenho dessa função, o papel do advogado como colaborador na construção de uma sociedade mais consciente de suas responsabilidades na solução dos conflitos e a postura do Judiciário, que deve ver na mediação uma mão amiga e indispensável ao deslinde de conflitos aos quais tenha abrangência. A fim de demonstrar que há muito se vem buscando alternativas à jurisdição através, inclusive, da mediação, se apresenta um levantamento do direito comparado. Por fim, as propostas legislativas em andamento são mencionadas em função de sua relevância na viabilização da aplicação da mediação no meio judicial e extrajudicial. Verifica-se que a mediação apresenta características essenciais para a contribuição dessa construção de alternativas a jurisdição, em razão de utilizar o método onde as partes são levadas a encontrar uma solução construída conjuntamente, através do diálogo, com a participação imparcial de um mediador, qualificado para conduzir o procedimento, em busca da paz social. ATENÇÃO: Na introdução falar do objetivo, o problema, a metodologia e falar um pouco de cada capítulo. Não apresentar resultados. Observo ainda que esta monografia não está em sua íntegra, grande parte foi deletada, ela serve apenas como exemplo. 2 O CONFLITO E AS SOLUÇÕES JURISDICIONAIS TRADICIONAIS No presente capítulo será abordado o conflito como um agente de mudanças das sociedades, a prestação jurisdicional do Estado e sua evolução histórica, bem como a crise da jurisdição no decorrer das mudanças sociais diante de suas novas perspectivas. A necessidade da busca de alternativas, inclusive extrajudiciais, também será analisada como forma alternativa de solução dos conflitos, uma vez que atualmente a sociedade como um todo vem exigindo uma prestação jurisdicional mais adequada às suas necessidades. Pequena introdução do capítulo. Segue abaixo alguns fragmentos de cada subcapítulo para servir de exemplo. 2.1 O CONFLITO O conflito é inerente ao ser humano, pois as divergências fazem parte do cotidiano, das diferenças entre os indivíduos. Posições antagônicas permitem um estudo sob várias óticas em relação ao mesmo objeto do conflito, permitindo que se evolua e reavalie o status quo. A vida em sociedade faz com que haja disputa pelo mesmo objeto de desejo, poruma posição de destaque no grupo ou simplesmente para demonstrar ao outro a sua superioridade, seja física, intelectual ou material. É intrínseco ao homem a postura conflitiva. Nesse sentido, convém conceituar o conflito, a fim de que seja compreendido mais profundamente. Conforme lecionam José Luis Bolzan de Morais e Fabiana Marion Spengler (2008, p. 45, grifo dos autores): Nascido do antigo latim, a palavra conflito tem como raiz etimológica a idéia do choque, ou a ação de chocar, de contrapor idéias, palavras, ideologias, valores ou armas. [...] Consiste em um enfrentamento entre dois seres ou grupos da mesma espécie que manifestam, uns a respeito dos outros, uma intenção hostil, geralmente com relação a um direito. Para manter esse direito, afirmá-lo ou restabelecê-lo, muitas vezes lançam mão da violência, o que pode trazer como resultado o aniquilamento de um dos conflitantes. As partes conflitantes, adversárias, podem ser dois indivíduos, indivíduo e grupo, grupos ou mesmo nações, e têm como objetivo submeter o oponente, impondo-lhe a sua vontade. Essa imposição pode se dar através de violência ou simples ameaça, de forma física ou psicológica. Assim, de acordo com Morais e Spengler (2008) o conflito é uma maneira de ter razão independentemente dos argumentos racionais ou razoáveis. Conforme demonstrado, o conflito é inevitável, mas é preciso formas de controle sobre o mesmo, enfocando o resultado positivo a que pode chegar, sob pena de, na falta de controle, a sociedade se tornar uma terra de ninguém, onde a segurança e a garantia da justiça[footnoteRef:0] não prevaleçam. [0: Para o presente trabalho justiça é o equilíbrio entre o direito das partes, é a busca do correto, considerando a igualdade das partes, levando em consideração as suas desigualdades.] O conflito pode permanecer oculto, quando não manifestada a posição antagônica da parte, caracterizando-se como velado e latente. Já na forma de manifestação aberta, se transforma em disputa, envolvendo terceiros na condição de apoiadores ou de intermediadores, com consequente comportamentos referentes ao fato. É importante destacar que nem toda a disputa é oriunda de um conflito, podendo ser mera competição harmônica, como um concurso ou uma competição desportiva. As relações sociais são entrelaçadas, onde cada indivíduo possui o seu espaço. Quando alguma parte não desempenha bem o seu papel no conjunto, surge um conflito. Em função das relações humanas estarem em constantes mudanças, muitas das adequações e alterações ocorrem em função dos conflitos, que podem ser positivos os negativos, variando conforme os seus propósitos. As forças antagônicas, geradoras do conflito, promovem o movimento, a mudança, a transformação. Sob esse aspecto, não há sociedade homogênea, sem divergências, sem diferenças entre o grupo. E como numa via de mão dupla, Morais e Spengler (2008) salientam que as divergências oriundas do conflito modificam a sociedade, portanto, o conflito transforma os indivíduos, seja em sua relação um com o outro, ou na relação consigo mesmo, demonstrando que traz conseqüências desfiguradoras e purificadoras, enfraquecedoras ou fortalecedoras. Por outro lado, o conflito externo ao grupo faz com que seus integrantes se unam e se sintam identificados com os demais, além de possibilitar a formação de simpatizantes de outros grupos. Já no conflito interno, entre dois integrantes do grupo, o objeto, a razão do litígio, embora os afaste, também os aproxima, fazendo-os se relacionarem e interagirem, podendo resultar em um processo positivo ou negativo, de acordo com o desenrolar do processo desse litígio. Essa resistência provém, em parte, da própria comunidade jurídica. É comum no meio profissional e até mesmo acadêmico ouvir opiniões equivocadas em relação à viabilidade e operabilidade dos métodos alternativos de solução de conflito. Contribui, nesse sentido, a insegurança em se distanciar das lides judiciais de confronto, com seus laudos periciais, exaurimento de provas, vasta doutrina e jurisprudência. Comunga dessa posição Garcez (2004, p. 9) ao afirmar que é preciso nessas hipóteses talvez reconhecer que, em muitos casos, até inconscientemente, esta conduta pode derivar da impressão que a prática do litígio é um meio profissional de subsistência e que a cultura não adversarial irá enfraquecer a prática profissional da advocacia tradicional, esquecendo-se os profissionais que assim reagem que a metodologia não adversarial para solução de controvérsias representa um campo absolutamente propício ao oferecimento e contratação de serviços de advogados. Na verdade, o que ocorre é um avanço inevitável de mudanças essenciais para a viabilidade do convívio social, com formas alternativas de solucionar questões que a atual estrutura não mais comporta, na velocidade e dimensão necessárias. É uma grande oportunidade para a formação e inserção de novos profissionais voltados para essa nova realidade. Deixei apenas fragmentos da monografia, lembrando que é preciso usar paráfrases, sempre trazendo o autor lido. Fazer mais paráfrases que citações. 2.2 JURISDIÇÃO Inicialmente a sociedade primitiva resolvia seus conflitos de forma direta, entre as partes, pela força. Essa forma, além de se caracterizar essencialmente pela violência, seja de um indivíduo ou do grupo, muitas vezes acabava pelo extermínio ou expulsão do adversário. Isso deixava em permanente alerta a todos, pois, não tinham um amparo imparcial, nem uma análise se sua causa era justa. Ficavam a mercê de um confronto, onde a lei era determinada pelo mais forte. Essa estrutura evoluiu, na busca de segurança e equilíbrio nas relações primitivas, surgiu o Estado como o centralizador do poder de polícia, cabendo somente a ele exercer a violência para fins de controle social. A sociedade é submetida ao poder do Estado, que se torna o responsável pela segurança e a organização social. A partir daí, surge a jurisdição, onde o Estado chama para si o poder/dever de decidir as lides através das leis e costumes vigentes, atuando de forma imparcial e impondo a decisão a qual as partes devem sujeitar-se. O Estado exerce suas funções através dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, sendo este último através da jurisdição, que, segundo Cintra, Grinover e Dinamarco (2003, p. 131), é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação do direito subjetivo que rege o caso concreto para ser solucionado. Nesse sentido, a jurisdição é poder, manifestado através de decisões imperativas, é função, como atribuição de pacificar os conflitos através do devido processo legal e é atividade, como o conjunto de atos do juiz no processo (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2003, p. 131). As características da jurisdição são o caráter substitutivo, uma vez que “o Estado substitui, com uma atividade sua, as atividades daqueles que estão envolvidos no conflito trazido à apreciação [...]” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2003, p. 132) e o escopo jurídico de atuação do direito, que é a atuação das normas do direito objetivo, a fim de que se obtenha o resultado enunciado no ordenamento jurídico. 2.2.1 Jurisdição como única forma de solução dos conflitos no mundo moderno A sentença judicial prolatada pelo juiz, até pouco tempo era vista como a única forma segura de ter havido o devido processo legal, com equidade, qualidade e imparcialidade na decisão. O julgamento pelo especialista em direito, que está acima do interesse das partes, é o objetivo maior, a resposta a que as partes tanto esperam. Contudo, o volume das ações judiciais está tão desproporcional à capacidade do atual sistema, que os magistrados têm sido pressionados a optarem entre a qualidade e a quantidade de suas sentenças, sendo levados, na maioria das vezes, a escolher pela última. A etapa final do desenrolar do processo, o desfecho de todo o curso processual, tem ficadoaquém do esperado. Gabinetes cheios de estagiários e auxiliares são a prova de que a estrutura está comprometida. É necessária a criação de medidas alternativas, com o condão de dar vazão à crescente demanda. Possibilidades alternativas de composições consensuais são uma forma de auxiliar e qualificar a solução de conflitos. Confirmando essa possibilidade, menciona Roberto Portugal Bacellar (2003, p. 85): Sem qualquer quebra ao Estado de direito e à segurança jurídica, algumas atividades administrativas negociais, consensuais e enunciativas, embora possam ser desenvolvidas só por juízes, prescindem de sua atuação direta e podem ser praticadas por auxiliares da justiça dentro ou fora do ambiente do Poder Judiciário. Bacellar (2003) assevera ainda que concomitante ao monopólio jurisdicional é necessário e recomendável o incentivo a outros meios extrajudiciais e complementares de solução das controvérsias. 2.2.2 A Crise jurisdicional A análise da crise jurisdicional necessita de uma visão histórica do comportamento social e suas mudanças, a fim de identificar as causas e suas carências, para uma construção de medidas alternativas que auxiliem a atual estrutura a dar uma resposta eficaz condizente com as atuais necessidades. Na década de 60, as sociedades capitalistas incrementaram as relações de emprego, de consumo e de lutas sociais de classes, em especial dos até então com pouca expressão, como negros e estudantes, que buscavam melhores condições de vida, segundo Boaventura de Sousa Santos (1989). Nesse período o Estado assumiu uma postura assistencialista, a fim de propiciar melhores condições de vida à sociedade, se responsabilizando pela solução dos conflitos sociais, cada vez mais intensos, o que sobrecarregou a sua capacidade de gestão, iniciando-se aí a crise jurisdicional. A mudança de comportamento geral impulsionou uma mudança na aplicação da lei. Santos (1989, p. 43) analisa que, A consolidação do Estado-providência significou a expansão dos direitos sociais e, através deles, a integração das classes trabalhadoras nos circuitos do consumo anteriormente fora do seu alcance. Esta integração, por sua vez, implicou que os conflitos emergentes dos novos direitos sociais fossem constitutivamente conflitos jurídicos cuja dirimição caberia em princípio aos tribunais, litígios sobre a relação de trabalho, sobre a segurança social, sobre a habitação, sobre os bens de consumo duradouros etc. etc. Entretanto, frisa-se que o Judiciário atua sobre os conflitos, mas não sobre as causas, que são as relações no trabalho, na família e na sociedade em geral. Está fora da competência do Judiciário resolver a própria existência das relações, oriundas do vínculo entre as partes (MORAIS; SPENGLER, 2008). A crise jurisdicional está proporcionalmente vinculada à crise estatal. O Estado tem sido assolado por crises “[...] criadas e fomentadas a partir da globalização cultural, política e econômica [...]” (MORAIS; SPENGLER, 2008, p. 76). Diante do enfraquecimento oriundo de sua incapacidade de gerir as mudanças, que ocorrem numa velocidade muito acima do que se pode adaptar a máquina estatal, ocasionadas pela desterritorialização da produção, da transnacionalização dos mercados, da superação das barreiras geográficas “pela expansão da informática, das comunicações, dos transportes [...]” (MORAIS; SPENGLER, 2008, p. 76), o Estado transfere para as suas instituições a crise, afetando tanto os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Assim sendo, o Judiciário, expõem Morais e Spengler (2008, p. 77): enquanto estrutura fortemente hierarquizada, fechada, orientada por uma lógica legal-racional, submisso à lei, se torna uma instituição que precisa enfrentar o desafio de alargar os limites de sua jurisdição, modernizar suas estruturas organizacionais e rever seus padrões funcionais para sobreviver como um poder autônomo e independente. A falta de políticas públicas que atuem na causa dos conflitos demonstra a fragilidade do sistema, uma vez que a “produção de conflitos” é vertiginosa. A estrutura é analisada por Eligio Resta (2004, p. 100, grifo nosso): Sobre a quantidade e a qualidade das “lides”, intervêm muitas variáveis, algumas endógenas (formalização de novos direitos, normatizações nem sempre universalistas, categorias profissionais excessivas e, sobretudo, orientadas ao direito como cultura do conflito, crescente tendência do direito a “colonizar” todos os espaços da vida), e muitas outras exógenas: economias expansivas e conflituosas, ausência de culturas solidárias da esfera pública, pouca interiorização da legalidade, déficit de mediação política, mas também diferentes abordagens da ética religiosa. Em face de tal hipertrofia, a direção da política do direito, na qual mover-se, me parece que deva ser no sentido de uma “jurisdição mínima”, contra uma jurisdição tão onívora quanto ineficaz. Frente ao quadro preocupante da saturação das vias judiciais diante do volume e da “qualidade das demandas”, a chamada “crise jurisdicional”, ainda soma-se uma outra mazela social, que é a dificuldade de uma grande parte da população de ter acesso ao Judiciário. 2.2.3 Acesso à justiça O cidadão, hoje, dispõe de uma gama imensa de leis para a proteção de seus direitos. Entretanto, pode-se verificar que a quantidade de litígios levados ao Judiciário está muito aquém das necessidades da população. Nesse sentido, é necessário analisar as razões que levam a pessoa a conviver com o conflito, sem buscar a tutela do Estado. Enquanto que se questiona o aumento vertiginoso das demandas judiciais, também é fundamental trazer à baila a questão do perfil daqueles que acionam a máquina do judiciário. Há estudos que apontam que, quanto mais baixa a classe social do indivíduo, menor o acesso à justiça (SANTOS, 1989). As causas são inúmeras, destacando-se como principais o custo do processo judicial, a falta de profissionais que atendam gratuitamente estes cidadãos, a desconfiança em relação à qualidade das decisões tomadas em razão de, em muitos casos, já haver uma experiência frustrante por causa mal defendida por advogado de pouca qualificação, o medo de sofrer represálias e o próprio desconhecimento em relação a seus direitos e obrigações (SANTOS, 1989). As imensas filas que se formam de pessoas sem condições financeiras de pagar os honorários de advogado, que aguardam uma oportunidade de serem assistidas pela Defensoria Pública do Estado é um exemplo de que, embora conste no texto constitucional, em seu artigo 5º, inciso XXXV, de que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988), na prática, a realidade é outra. Diante dos dados apresentados, há que se destacar, conforme as palavras de Zoraide Amaral de Souza (2004, p. 29), que “[...] todos esses direitos básicos, para gozarem de efetividade, necessitam de um direito maior, que é o direito de ter acesso à justiça.” A necessidade de uma jurisdição mais eficaz traz à tona a possibilidade de formas alternativas de solução de conflitos, inclusive extrajudiciais, conforme será abordado a seguir. 2.3 CONCILIAR, JULGAR, MEDIAR Diante da situação crítica em que se encontra a prestação jurisdicional, que não é um caso isolado no Brasil, mas inclusive em outros países, é importante fazer uma breve análise sobre as formas de resolução de conflitos através do ato de conciliar, julgar e mediar. A conciliação é uma forma de resolução de conflitos em que as partes buscam um acordo em relação a sua divergência através do intermédio de um conciliador. O seu papel é intermediar o diálogo, apresentando e sugerindo soluções a partir do que é falado pelas partes (SALES, 2007). A conciliação pode ser realizada judicial ou extrajudicialmente. Confirmando esse entendimento, afirma Sales (2007, p. 45): No Direito brasileiro, existe a conciliação extrajudicial e judicial. A primeira ocorre antes do processo. Caso não haja acordo, as partes envolvidas, se assim decidirem, encaminham o litígio ao Poder Judiciário. Em se tratando da conciliaçãojudicial, que acontece durante o processo, não havendo solução para a controvérsia, dá-se prosseguimento ao processo para apreciação e decisão do juiz. É importante destacar que a conciliação é um acordo de vontades que resulta de concessões mútuas. O conciliador é um terceiro imparcial que ajuda, orienta e facilita a composição, podendo inclusive sugerir soluções. Os resultados obtidos podem ser o reconhecimento do pedido, a renúncia à pretensão, a desistência da ação ou concessões recíprocas. 3 MEDIAÇÃO: UMA PROPOSTA ALTERNATIVA À JURISDIÇÃO A partir de uma análise do conflito como um elemento inerente às relações humanas e agente de mudanças das sociedades, faz-se necessária uma busca de alternativas à prestação jurisdicional do Estado, a fim de regular essas relações de forma construtiva e solucionadora. A conjuntura atual não permite mais que se prolonguem conflitos em razão da falta de uma utilização adequada de métodos alternativos. Dentre as várias formas de meios alternativos de resolução de controvérsias, quais sejam, a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem, a mediação será abordada de forma mais aprofundada, face à sua peculiaridade de procedimento que visa analisar e trabalhar não só o conflito aparente, mas busca a real causa desse conflito e os meios para a sua harmonização, com a ruptura da corrente de mágoas e ressentimentos que afastam e engessam as partes envolvidas. 3.1 MEDIAÇÃO: NOÇÕES E PRINCÍPIOS A mediação é uma proposta inovadora no atual contexto jurídico e social e se realiza através de um procedimento específico entre partes conflitantes, assistidas por um terceiro imparcial, que tem como missão facilitar o diálogo entre as mesmas e permitir que elas próprias, mediante as trocas de impressões pessoais, encontrem a solução conjunta que melhor lhes satisfaça em relação ao conflito em questão. Nas palavras de Lília Maia de Morais Sales (2007, p. 23), a mediação é um procedimento consensual de solução de conflitos por meio do qual uma terceira pessoa imparcial – escolhida ou aceita pelas partes – age no sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma divergência. As pessoas envolvidas nesse conflito são as responsáveis pela decisão que melhor lhes satisfaça. A mediação representa assim um mecanismo de solução de conflitos utilizado pelas próprias partes que, movidas pelo diálogo, encontram uma alternativa ponderada, eficaz e satisfatória. Dentre seus objetivos, convém destacar a solução dos conflitos, um remédio imprescindível numa sociedade que está cada vez mais carente de pacificação em função da propagação de uma cultura conflitiva. O diálogo está cada vez mais sendo posto de lado e o individualismo toma lugar do coletivismo. A solução de conflitos, realizada de forma consensual, tem abrangido um grande número de indivíduos de forma eficaz, face à construção dos caminhos a serem trilhados de forma conjunta pelas partes. Essa forma de solução do conflito previne o surgimento de novos litígios envolvendo as mesmas partes e oriundos da mesma causa, o oposto de muitas decisões impostas, que encerram a demanda, mas abrem caminhos para novos conflitos, uma vez que a paz não foi restabelecida e o conflito inicial não foi de fato solucionado. 3.2 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO E SUA APLICABILIDADE A atuação do mediador deve levar em consideração a aplicação de algumas técnicas para o deslinde da controvérsia, que, conforme Sales (2007) são divididas em quatro pontos, quais sejam: separar as pessoas dos problemas, concentrar-se nos interesses e não nas posições, elaborar de opções e ganhos mútuos e trabalhar com critérios objetivos. O primeiro ponto, que é a necessidade de separar as pessoas dos problemas, se dá em razão de que na discussão pode se misturar o objeto do litígio com a própria relação entre as partes, causando confusão. O mediador, nesse caso, deve estar apto, primeiro, para perceber essa confusão e, segundo, para separar a relação das pessoas do problema (SALES, 2007). Cabe também ao mediador estar atento à questão do diálogo, que, muitas vezes é difícil de fluir, pois as partes não conseguem estabelecer uma comunicação em função de seus sentimentos, devendo aí procurar facilitar esse diálogo destacando os interesses, estimulando um a procurar ver os fatos no lugar do outro e, principalmente, estando atento aos mal-entendidos, que são muito comuns. A mediação, nos ensina Sales (2007, p. 74), deve ser conduzida de maneira que as pessoas cheguem as suas conclusões a partir do reconhecimento da percepção do outro, de forma a evitar que suas conclusões resultem de seus próprios medos. Lidar com percepções diferentes a partir da discussão e da clareza das idéias contribui para um diálogo franco. Ao mediador cabe organizar essas idéias, encontrando os pontos de congruência e explorando-os. Aqui é apenas um exemplo, foi suprimido o restante. Lembro, nunca terminar um tópico com uma citação. 3.2.1 Preceitos da comunicação construtiva A comunicação é a essência das relações humanas, é fundamental para que as relações sociais existam e, como não poderia deixar de ser, é a chave para o êxito das soluções conflitivas usada pela mediação. Conforme leciona Carlos Eduardo de Vasconcelos (2008, p. 63): comportamento é comunicação. Toda a comunicação é interacional, é troca de mensagens. Por mais que um indivíduo se esforce é-lhe impossível não comunicar. Atividade e inatividade são comunicações. Portanto, palavra ou silêncio são comunicação. Possuem valor de mensagem e, dessa forma, influenciam outros e estes não podem não responder a essas comunicações e, portanto, também estão comunicando. A reciprocidade discursiva é o ato de falar e ouvir, respeitando o momento de cada um, sem interferência, a fim de manter um equilíbrio. A mensagem deve ser enviada como opinião pessoal, utilizando-se a “linguagem do eu”, falando por si e não pelo outro. Caso a parte comece a dizer “você não devia...”, o mediador deve intervir, a fim de evitar que a parte se sinta invadida ou julgada, conforme Vasconcelos (2008, p. 67). O reconhecimento da diferença é a capacidade de aceitar que cada um tem suas impressões dos fatos e do mundo através de sua história pessoal, de suas experiências, necessitando, a fim de estabelecer uma compreensão maior, deslocar-se de sua posição e colocar-se no lugar do outro, desapegar-se de sua “verdade única” e estar aberto a entender as diferenças, consoante Vasconcelos (2008, p. 70). Para reforçar esse entendimento, diz o educador Paulo Freire (2005 apud VASCONCELOS, 2008, p. 70): “Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode dar.” 3.3 O PAPEL DO MEDIADOR, DO ADVOGADO, A POSTURA DO JUDICIÁRIO Após uma análise mais aprofundada sobre a mediação, convém que seja dada uma atenção especial ao papel do mediador, ao papel do advogado e a postura do Judiciário em relação a esse procedimento. O mediador é aquele indivíduo previamente capacitado, que desempenha o papel de terceiro imparcial e conduz o diálogo entre as partes conflitantes a fim de construírem juntas a solução do conflito. Segundo Sales (2007, p. 69), “é aquela terceira pessoa escolhida ou aceita pelas partes que, com técnicas próprias, facilita a comunicação, possibilitando um diálogo pacífico e um acordo satisfatório.” O mediador tem a missão de controlar os ânimos das partes, a fim de evitar discussões movidas pela raiva e o descontrole. Precisa demonstrar que está atento ao problema apresentado, que tem compromisso com a imparcialidade e o sigilo, bem como de que não há necessidade de se estabelecer um acordo se as partes não estiverem convencidas dos seus termos, pois não há imposição. Deve procurar trabalhar no sentido de trazer à tona a responsabilidade e a participação de cada um, a fim de que consigam analisar sob um outro prisma a questão, em especial procurando ver o lado do outro. O mediador tem a atribuição de, consoante Sales (2007, p. 94-96, grifo da autora), a) Descrever o processo da Mediação para as partes.[...] b) Definir,com os mediados, todos os procedimentos pertinentes ao processo. [...] c) Esclarecer quanto ao sigilo. [...] d) Assegurar a qualidade do processo, utilizando todas as técnicas disponíveis e capazes de levar a bom termo os objetivos da Mediação. [...] e) Zelar pelo sigilo dos procedimentos, inclusive no concernente aos cuidados a serem tomados pela equipe técnica no manuseio e arquivamento de dados. [...] f) Sugerir a busca e/ou a participação de especialistas na medida que suas presenças se façam necessárias a esclarecimentos para a manutenção da equanimidade. [...] g) Interromper o processo frente a qualquer impedimento ético ou legal. [...] h) Suspender ou finalizar a Mediação quando concluir que sua continuação possa prejudicar qualquer dos mediados ou quando houver solicitação das partes. [...] i) Fornecer às partes, por escrito, as conclusões da Mediação, quando por elas solicitado. [...] Em relação à postura do advogado, John W. Cooley (2002) observa que o mesmo tem um amplo espaço de trabalho a ser explorado na mediação. Desempenha um papel fundamental de orientação e auxílio a seu cliente tanto para a escolha desse procedimento, na preparação prévia e durante a sessão e, ainda, se necessário, posteriormente, em caso de não cumprimento do acordo. No caso de não ocorrer o cumprimento, pode ser buscada a solução com um novo procedimento de mediação, outro procedimento alternativo de solução extrajudicial de conflito, também chamadas de solução alternativas de disputas (ADR), ou, por fim, através Menciona ainda Cooley (2001, p. 15) que: já não basta o fato de o advogado conceber problemas jurídicos magnificamente elegantes e suas soluções e os levar ao tribunal para julgamento. Hoje em dia, os clientes estão começando a esperar, e às vezes a exigir, que seus advogados escolham ou concebam mecanismos enxutos e eficientes em termos de custos para transformar as matérias-primas ou os problemas e soluções jurídicos, [...] em produtos finais práticos, úteis e economicamente atraentes, sob a forma de acordos expeditos mutuamente vantajosos ou de julgamentos privados de risco limitado. Ocorre que, como o procedimento da mediação é ainda desconhecido ou conhecido superficialmente por alguns advogados, existe uma certa resistência desses profissionais na opção por esse procedimento, uma insegurança quanto ao novo. Quanto à questão do procedimento extrajudicial tem havido posições divergentes em razão de entendimentos que, mesmo extrajudicial, deveria haver a supervisão do Poder Judiciário face à sua condição de instituição organizada e delegada do Poder Estatal para a distribuição da Justiça (TORRES, 2005, p. 156) e entendimentos que visam apenas o resultado pacificador do procedimento, independentemente de quem o tenha promovido, conforme menciona Cintra, Grinover, Dinamarco (2003, p. 25-26): vai ganhando corpo a consciência de que, se o que importa é pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou por outros meios, desde que eficientes. Por outro lado, cresce também a percepção de que o Estado tem falhado muito na sua missão pacificadora, que ele tenta realizar mediante o exercício da jurisdição e através de formas do processo civil, penal ou trabalhista. Nesse sentido, a fim de ampliar a visão do comportamento de outros países em face desse procedimento, será apresentada uma breve exposição da mediação no direito comparado. 3.4 MEDIAÇÃO NO DIREITO COMPARADO Analisando o direito comparado, conforme Zoraide Amaral de Souza (2004), países como os Estados Unidos da América já aplicam a mediação desde 1926, através da criação da American Arbitration Association (AAA), uma organização privada de serviço público, que possui instalações em diversos locais. Na área trabalhista, a mediação foi reconhecida pelo governo em 1898. Na Alemanha foi criado o Centro Público de Aconselhamento Jurídico e Mediação de Hamburgo em 1922, sendo que “em 1936 o Sistema de Serviço Jurídico Nazista assumiu o controle.” (SOUZA, 2004, p. 97), havendo a reorganização do Centro em 1946. 3.5 AS PROPOSTAS LEGISLATIVAS O Primeiro Projeto de Lei brasileiro “que teve como objeto institucionalizar e disciplinar a mediação de conflitos foi PL n. 4.827/1998, de autoria da Deputada Federal Zulaiê Cobra (PSDB).” (SALES, 2007, p. 284), composto de 07 (sete) artigos, conceituou mediação e estabeleceu a mediação judicial e extrajudicial, prévia ou incidental, os critérios para o exercício da função do mediador, bem como “estabelecia a mediação para toda matéria que admitisse conciliação, reconciliação, transação ou acordo de outra ordem, para os fins que consistissem a lei civil ou penal.” (SALES, 2007, p. 284). Em 2000, conforme Sales (2007, p. 284), foi apresentado um anteprojeto de lei de autoria do Instituto Brasileiro de Direito Processual, representado por Ada Pellegrini. Esse projeto apresentou detalhadamente a mediação paraprocessual limitada à esfera civil. Trouxe a previsão da mediação prévia facultativa e da mediação incidental obrigatória. Em 2003, houve a fusão desses dois projetos, uma “versão consensuada”, que, após algumas alterações do Senado Federal, foi apresentado o substitutivo ao Projeto de Lei n. 94/02 (número atual do projeto), composto de 47 (quarenta e sete) artigos, divididos em 06 (seis) capítulos, encontrando-se ainda em tramitação. O artigo 134 do Anteprojeto do Novo CPC menciona que “Cada tribunal pode propor que se crie, por lei de organização judiciária, um setor de conciliação e mediação.” Menciona ainda os princípios da independência, neutralidade, autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade e informalidade. Nos demais artigos são trabalhados o propósito de serem estimuladas a conciliação e a mediação pelos operadores do direito, inclusive no curso do processo judicial. Estabelece também que os tribunais controlarão um cadastro de conciliadores e mediadores habilitados. Aqui houve uma alteração significativa em relação ao substitutivo que determinava no seu artigo 11, como critério para a habilitação à função de mediador judicial ser advogado “com pelo menos três anos de efetivo exercício de atividades jurídicas”. O Anteprojeto do Novo CPC descartou esse prazo de três anos no artigo 137, § 1º, constando que: Preenchendo os requisitos exigidos pelo tribunal, entre os quais, necessariamente, inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e a capacitação mínima, por meio de curso realizado por entidade credenciada pelo tribunal, o conciliador ou o mediador, com o certificado respectivo, requererá inscrição no registro do tribunal. (BRASIL, 2010). Essa alteração foi positiva no sentido de que muitos bons profissionais, com condições de habilitarem-se em cursos preparatórios, estariam descartados dessa possibilidade, pois a mediação necessita “desse terceiro imparcial” com um certo conhecimento jurídico, a fim de não surgirem acordos contrários a lei e, por causa disso, inexeqüíveis, mas não necessariamente prática em atividades jurídicas. Essa abertura aos procedimentos extrajudiciais acima mencionados demonstra a preocupação do legislador em utilizar as formas de composição extrajudiciais para contribuir com a solução de litígios, uma grande evolução na forte postura conservadora, o que certamente elevará o nível de satisfação da sociedade em razão de uma maior agilidade e eficácia na pacificação dos conflitos. 4 CONCLUSÃO As relações humanas, pela própria natureza do homem como indivíduo que necessita do convívio em grupo e nesse grupo desenvolve ligações afetivas, de liderança, de disputa, são complexas e acompanhadas de constantes conflitos. O conflito é a mola propulsora que estimula as mudanças, a releitura das situações e a criação de novas oportunidades, apresentando uma conotação positiva na evolução social, desde que administrado para que não se torne um mal descontrolado. O Estado presta a jurisdição a fim de solucionar os conflitos e pacificar a sociedade. A jurisdição tem sido apresentada como única forma de solução dos conflitos no mundo moderno,entretanto, vem demonstrando sua incapacidade de se concretizar como ideal de justiça face à morosidade na solução das lides e a baixa eficácia em suas soluções, oriundas de decisões que não atingem a causa real do conflito, apenas a aparente. Essa incapacidade de uma prestação jurisdicional plena tem como causas principais o aumento acelerado de processos judiciais em função do crescimento da litigiosidade e da ausência de uma cultura de pacificação, bem como em razão da complexidade processual que atravanca o deslinde das demandas. Nesse contexto, se verifica a busca incessante de juristas e estudiosos de alternativas à jurisdição, uma preocupação em nível mundial, dada à crise do sistema jurisdicional tradicional, que tem abalado a credibilidade do Estado como gestor dos conflitos. As medidas autocompositivas de conflitos, como a conciliação, a mediação e a arbitragem são apontadas como possibilidades de uma primeira abordagem ao conflito, que muitas vezes não se resolve em função da ausência do diálogo entre as partes. Dentre as medidas autocompositivas mencionadas, a mediação, objeto deste estudo, tem apresentado um fator diferenciador e eficaz, que é a construção conjunta da solução do conflito pelas próprias partes, acompanhadas de um terceiro imparcial, o mediador, que as auxilia na restauração do diálogo, de forma imparcial e através de técnicas específicas, restabelecendo, muitas vezes, a relação rompida. O trabalho da mediação traz à tona a responsabilização das pessoas pelas suas ações e a consciência da necessidade de seu comprometimento na solução apresentada. Também os advogados têm seu compromisso com a postura pacificadora, devendo estar preparados para o procedimento da mediação. Com o auxílio da mediação, muitos conflitos deixam de se tornarem processos judiciais, desafogando o Judiciário e permitindo que os juízes e demais auxiliares da justiça se dediquem à solução de lides que envolvam uma maior complexidade jurídica. O foco principal da solução dos conflitos é a pacificação social, e, assim sendo, não há como não se falar em mediação como uma ferramenta a ser utilizada pelo meio jurídico, uma vez que sua abordagem através do incentivo ao diálogo e da aplicação de técnicas específicas soluciona de forma eficaz uma gama significativa de conflitos, especialmente os oriundos de relações afetivas. REFERÊNCIAS BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados especiais: a nova mediação paraprocessual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. BRASIL. Projeto de Lei n. 94/02. Institucionaliza e disciplina a mediação, como método de prevenção e solução consensual de conflitos. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ32F24490ITEMID4351CB017E0140F6AC0AD3DCBCB6F669PTBRIE.htm. Acesso em: 22 out. 2010. BRASIL. Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf. Acesso em: 17 out. 2010. Apenas exemplos de referências. Ver os slides sobre referências. image6.png image9.png image8.png image3.png image2.png image5.png image4.png image1.png image7.png