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Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	
próximos,	práticas	próprias,	resultados	de	
sempre.	 Au
la
	 4
\ 
Meta	da	Aula		
Mostrar	 que	 os	mecanismos	alternativos	de	 resolução	de	 conflitos	 tratáveis	 ,	
como	 a	 conciliação,	 a	 mediação	 e	 a	 arbitragem,	 instituídos	 no	 contexto	 do	
“acesso	 à	 justiça”,	 tem	 significados	 próximos,	 ou	 seja,	 foram	 pensados	 para	
aumentar	a	eficácia	do	sistema	judicial	e	reduzir	o	tempo	do	processo.	Apesar	
disso,	possuem	práticas	próprias,	ou	 seja,	apesar	das	 três	visarem	o	aumento	
da	 justiça	 social,	 processo	 judicial,	 suas	 estratégias	 são	 distintas.	 Entretanto,	
procuraremos	argumentar	que,	em	face	a	nossa	cultura	jurídica,	os	resultados	
são	 determinados	 pelo	 sistema	 judicial,	 o	 que	 mantêm	 o	 distanciamento	 da	
decisão	sobre	a	possibilidade	de	pacificação	do	conflito.		
	
Ao	final	desta	aula,	desejamos	que	você	seja	capaz	de:	
1.	 Identificar	 as	 singularidades	 e	 semelhanças	 de	 cada	 uma	 das	 formas	
alternativas	 de	 Resolução	 Alternativa	 de	 Disputas	 (RAD)	 existentes	 em	
nossa	cultura	 jurídica,	 vinculando	cada	uma	delas	a	uma	matriz	 conceitual	
construída	a	partir	da	década	de	setenta	do	século	passado.	
2.	Associar	alguns	conflitos	tratáveis	com	a	estratégia	de	RAD	que	seria	mais	
adequada,	 ou	 aquela	 que	 que	 o	 sistema	 judicial	 indicaria,	 com	 alguns	
exemplos	empíricos.		
3.	Avaliar	o	grau	de	eficácia	desta	estratégia,	 seu	potencial	harmonizador,	
para	 concordar,	 ou	 discordar	 fundamentadamente,	 da	 afirmativa	 que,	 do	
ponto	de	vista	da	sociedade,	o	resultado	da	RAD	é	praticamente	o	mesmo	
que	o	sistema	judicial	tradicional,	nos	termos	que	vimos	na	Aula	3.		
.	
Esta	aula	contou	com	a	participação	de	Fernanda	Medeiros	e	Rute	Curvelo	em	sua	
elaboração.	
Atenção!	
O	texto	desta	aula	e	das	seguintes	não	está	formatado	no	padrão	do	
CEDERJ.	Entretanto,	o	conteúdo	é	exatamente	o	mesmo	que	vocês	
receberão	no	livro	texto.	Pedimos	desculpas,	mas	temos	certeza	que	
eventuais	dificuldades	serão	superadas	com	a	qualidade	da	discussão	
com	os	tutores!	
Boas	aulas.	
Professores	Conteudistas	e	Tutores.		
Nesta	 aula	 mostraremos	 que	 a	 pequena	 “eficácia”	 do	 sistema	 penal	
universalizado	no	Ocidente,	aquele	que	vimos	na	Aula	3,	 	para	a	redução	da	
conflituosidade	 social	 ou	o	 alcance	de	novos	 patamares	 de	 justiça	 social	 foi	
notada	há	algum	tempo.		
Nos	 Estados	 Unidos,	 desde	 a	 década	 de	 cinquenta	 do	 século	 passado,	 a	
arbitragem	 é	 um	 importante	 mecanismo	 de	 administração	 de	 conflitos	 no	
mundo	 dos	 negócios.	 	 Divergências	 entre	 interpretações	 sobre	 direitos	 e	
deveres	 em	 transações	 comerciais	 são	 resolvidos	 fora	 da	 esfera	 estatal,	
quando	 as	 partes	 escolhem	 um	 árbitro	 privado	 e	 delegam	 a	 ele,	 sob	
remuneração,	 resolução	 da	 disputa.	 Veremos	 um	 pouco	 mais	 sobre	
arbitragem	adiante.	
Também	 nesse	 país,	 em	 1976,	 foi	 realizada	 a	 Conferência	 Pound,	 na	 qual	
pesquisadores	 da	 Universidade	 de	 Harvard	 apresentaram	 a	 proposta	 da	
ampliação	 de	 “formas	 alternativas	 de	 resolução	 de	 disputas”	 (Resolução	
Alternativa	 de	 Disputas	 -	 RDA),	 como	 um	 mecanismo	 para	 superar	 a	
dependência	das	formas	estatais	de	administração	de	conflitos.		
Além	das	mudanças	ocorridas	no	sistema	de	 justiça	norte-americano,	com	a	
criação	de	“juizados	com	várias	portas	de	entrada”	(Multi-Door	Courthouses),	
houve	a	disseminação	da	“Ideologia	da	Harmonia”,	ou	“Harmonia	Coerciva”,	
nos	termos	da	antropóloga	norte-americana	Laura	Nader,	que	vimos	na	Aula	
01.		
O	 comum	 a	 estas	 duas	 estratégias	 na	 common	 law	 norte-americana,	 era	 o	
objetivo	 central	 diminuir	 a	 presença	 das	 instituições	 estatais	 na	 redução	 da	
conflituosidade	social,	ou	promover	a	autonomia	da	engenharia	social,	que	o	
realismo	 e	 o	 pragmatismo	 jurídico	 norte-americanos	 haviam	 se	 proposto	 a	
fazer	 desde	 o	 início	 do	 século	 XX	 (Scheppele,	 1988;	 Posner,	 2010).	 	 A	
sociedade	 deveria	 ela	 mesma	 se	 encarregar	 da	 construção	 da	 vida	 em	
comunidade	através	da	via	da	harmonia,	quando	a	conflituosidade	inerente	à	
vida	em	sociedade	seria	substituída	pela	harmonia	da	comunidade.		
Na	 Europa	 (com	 financiamento	 da	 Fundação	 Ford	 norte-americana,	 vale	 a	
pena	 notar)	 foi	 realizado	 nas	 décadas	 de	 sessenta	 e	 setenta,	 uma	 pesquisa	
multisituada	sobre	o	panorama	dos	sistemas	judiciais	de	vários	países	que	se	
INTRODUÇÃO	
chamou	 “Projeto	 Florença”.	 Em	 paralelo	 à	 coleta	 de	 dados,	 um	movimento	
entre	os	acadêmicos	de	diversos	países	tinha	com	foco	o	“acesso	à	justiça”.	A	
fusão	 do	 movimento	 com	 o	 Projeto	 Florença	 resultou	 no	 livro	 “Acesso	 à	
Justiça”,	 publicado	 em	 1978,	 sobre	 a	 supervisão	 de	 Mauro	 Cappelletti	 e	
Bryant	Garth.	
Neste	 texto	 o	 Acesso	 à	 Justiça	 foi	 entendido	 como	 um	 sistema	 no	 qual	 as	
pessoas	poderiam	reivindicar	direitos	e/ou	resolver	conflitos	sob	os	auspícios	
do	Estado.	Dois	parâmetros	seriam	imutáveis:	o	acesso	universal	e	resultados	
individual	 e	 socialmente	 justos.	 Para	 alcançar	 tal	 objetivo,	 os	 autores	
defendiam	 o	 pressuposto	 que	 não	 haveria	 nenhum	 procedimento	 ou	
instituição	jurídica	imutável	e	o	desenvolvimento	de	“Três	Ondas”,	a	saber:	
1ª	 Onda	 -	 	 Assistência	 Judiciária	 para	 os	 pobres	 (judicare;	 defensoria	
pública,	advogados	pro	bono,	etc.);		
2ª	 Onda	 -	 Representação	 dos	 Interesses	 Difusos	 pela	 ação	
governamental	 ou	 procuradores	 privados	 ou	 ainda	
advogados	particulares	com	interesse	público	–	vinculados	à	
Organizações	Não	Governamentais;	
3ª	 Onda	 –	 Mudanças	 no	 conjunto	 de	 instituições,	 mecanismos,	
procedimentos	 para	 administrar	 e/ou	 prevenir	 disputas:	
Resolução	Alternativas	de	Disputas	(RAD).		
Ao	 final	 dos	 trabalhos,	 os	 relatores	 do	 Projeto	 Florença	 fazem	 algumas	
advertências.	 Pensado	 a	partir	 dos	de	 sistemas	 judiciais	 de	 vários	 países,	 as	
“ondas”	 ao	 chegarem	 um	 determinado	 país	 deveriam	 ser	 incorporadas	 aos	
sistemas	 nacionais	 com	 o	 cuidado	 de	 não	 se	 pretender	 transplantar	
instituições	de	uma	cultura	 jurídica	para	outra.	Todo	o	processo	deveria	 ser	
acompanhado	de	 pesquisas	 empíricas	 e	 interdisciplinares	 para	monitorar	 as	
mudanças	 efetivadas.	 E	 talvez	 o	 mais	 importante,	 esse	 novo	 modelo	 não	
deveria	permitir,	de	forma	alguma	o	abandono	de	conquistas	pretéritas,	como	
são	os	direitos	do	trabalhador	entre	nós.		
Mas	 será	que	esses	 cuidados	 foram	seguidos	entre	nós?	É	o	que	veremos	a	
seguir.	
	
Podemos	 identificar	 essas	 ondas	 batendo	 em	 nosso	 ordenamento	 jurídico,	
por	exemplo,	na	Constituição	de	1988,	que	estabeleceu	no	Artigo	5o	(Direitos	
e	Garantias	 Fundamentais),	 inciso	 LXXIV,	 que	 “o	 Estado	 prestará	 assistência	
jurídica	integral	e	gratuita	aos	que	comprovarem	insuficiência	de	recursos”.			
A	 Defensoria	 Pública,	 modelo	 adotado	 pelo	 legislador	 constituinte,	 foi	
definida	 no	 artigo	 134	 da	 Constituição	 como	 “instituição	 essencial	 à	 função	
jurisdicional	do	Estado,	 incumbindo-lhe	a	orientação	 jurídica	e	a	defesa,	 em	
todos	 os	 graus,	 dos	 necessitados”.	 Posteriormente,	 em	 2004,	 através	 da	
Emenda	 Constitucional	 45,	 a	 Defensoria	 Pública	 conquistou	 autonomia	
funcional	e	administrativa,	dando-lhes	tratamento	equiparável	à	Magistratura	
e	ao	Ministério	Público.		
A	 este	 último,	 o	 Ministério	 Público,	 nas	 esferas	 federal	 e	 estadual,	 a	
Constituição	determinou	a	efetivação	da	“segunda	onda”	do	Projeto	Florença.	
Os	interesses	difusos	ficaram	sob	sua	tutela,	dos	quais	o	Meio	Ambiente	é	o	
mais	evidente.			
A	 “terceira	 onda”	 teve	 seu	 desenvolvimento	 de	 forma	mais	 complexa	 e,	 de	
certa	forma,	chegou	aqui	antes!	Isso	por	que	veio	a	partir	das	experiências	das	
Small	 Claims	 Courts	 norte-americanas.	 No	 início	 da	 década	 de	 oitenta	 dois	
movimentos	 se	 entrecruzaram.	 No	 âmbitofederal,	 o	 movimento	 pela	
desburocratização	 e	 racionalização	 da	 máquina	 administrativa,	 com	 uma	
consequente	redução	da	presença	do	Estado	na	vida	do	cidadão,	apontava	na	
direção	da	criação	de	agências	específicas	para	lidar	com	a	conflituosidade	do	
dia	 a	 dia	 da	 sociedade.	 Coetânea	 a	 este	 movimento	 houve	 a	 criação,	 pelo	
Tribunal	 de	 Justiça	 do	 Rio	 Grande	 do	 Sul	 de	 Conselhos	 de	 Conciliação	 e	
Arbitragem,	em	1982	(Vianna,	1999).		
Na	 esfera	 federal,	 em	 1984	 foi	 aprovada	 a	 Lei	 7.244,	 que	 disciplinou	 a	
abertura	 de	 Juizado	 de	 Pequenas	 Causas	 (JPC),	 vinculados	 aos	 sistemas	 de	
justiça	estaduais.	 Estes	 juizados	deveriam	 ter	 como	princípios	a	oralidade,	 a	
simplicidade,	 a	 informalidade,	 a	 economia	 processual	 e	 a	 celeridade,	
“buscando	sempre	que	possível	a	conciliação	das	partes”.		
1.	A	INCORPORAÇÃO	DA	
RESOLUÇÃO	
ALTERNATIVA	DE	
DISPUTAS	EM	NOSSA	
CULTURA	JURÍDICA	
		
As	 causas	 que	 poderiam	 ser	 levadas	 aos	 JPC	 eram	 as	 de	 pequeno	 valor	
econômico	ou	que	tratassem	de	direitos	patrimoniais	que	não	excedessem	o	
valor	de	20	salários	mínimos	vigentes	e	que	tivessem	por	objeto:	
“I	-	a	condenação	em	dinheiro;	
II	 -	 a	 condenação	 à	 entrega	 de	 coisa	 certa	 móvel	 ou	 ao	
cumprimento	 de	 obrigação	 de	 fazer,	 a	 cargo	 de	 fabricante	 ou	
fornecedor	de	bens	e	serviços	para	consumo;	
III	 -	 a	 desconstituição	 e	 a	 declaração	 de	 nulidade	 de	 contrato	
relativo	a	coisas	móveis	e	semoventes.”	(Lei	7.244,	art.	3o.)	
Como	 se	 vê,	 um	 conflito	 que	 poderia	 ser	 levado	 ao	 JPC	 deveria	 ter	 como	
objeto	 uma	 significação	 comum	 e	 que	 pudesse	 ser	 traduzida	 em	 termos	
monetários.	 Por	 outro	 lado,	mesmo	 que	 sendo	 um	 organismo	 vinculado	 ao	
sistemas	 de	 justiça	 estaduais,	 vários	 estados	 criaram	 sistemas	 de	
administração	de	 conflitos	na	esfera	do	Poder	 Executivo,	 com	a	 criação	dos	
Programas	 de	 Defesa	 do	 Consumidor	 (PROCON)	 e	 suas	 “audiências”	 de	
conciliação.		
Na	Constituição	de	1988,	os	JPC	aparecem	vinculados	à	União,	aos	Estados	e	
ao	 Distrito	 Federal	 como	 sendo	 de	 competência	 concorrente,	 conforme	 o	
artigo	 24,	 inciso	 X.	 Mas	 ao	 disciplinar	 a	 organização	 do	 Poder	 Judiciário,	 a	
CFRB	1988	traz	a	previsão	dos	Juizados	Especiais	Cíveis:		
“Art.	 98.	 A	 União,	 no	 Distrito	 Federal	 e	 nos	 Territórios,	 e	 os	
Estados	criarão:	
I	-	juizados	especiais,	providos	por	juízes	togados,	ou	togados	e	
leigos,	 competentes	 para	 a	 conciliação,	 o	 julgamento	 e	 a	
execução	de	causas	cíveis	de	menor	complexidade	e	infrações	
penais	 de	 menor	 potencial	 ofensivo,	 mediante	 os	
procedimentos	oral	e	sumariíssimo,	permitidos,	nas	hipóteses	
previstas	 em	 lei,	 a	 transação	 e	 o	 julgamento	 de	 recursos	 por	
turmas	de	juízes	de	primeiro	grau”.	(CFRB	1988,	art.	98)	
Em	 1995	 foi	 aprovada	 a	 Lei	 Federal	 9.099,	 que	 criou	 os	 Juizados	 Especiais	
Cíveis	 e	 Criminais	 (JEC/JECRIM)	 e	 revogou	 a	 Lei	 7.244/1984.	 	 Os	 princípios	
norteados	 dos	 JPC,	 ou	 sejam,	 oralidade,	 a	 simplicidade,	 a	 informalidade,	 a	
economia	 processual	 e	 a	 celeridade	 foram	 mantidos	 e	 se	 somaram	 ao	
princípio	da	 inversão	do	ônus	da	prova	 (que	 teve	 como	objetivo	proteger	o	
consumidor	 uma	 vez	 que	 este	 se	 encontre	 em	 posição	 de	 hipossuficiência	
frente	ao	mercado),	 incluído	no	ordenamento	 jurídico	brasileiro	pelo	Código	
de	Defesa	do	Consumidor,	Lei	8.078/90.		
À	 busca	 pela	 conciliação	 prévia	 entre	 as	 partes,	 fez	 com	 que	 a	 lei	
acrescentasse	 ainda	 a	 possibilidade	 do	 estabelecimento	 de	 um	 “juízo	
arbitral”,	a	ser	definido	entre	as	partes.		Orientado	pelo	estabelecido	na	lei	e	
pelo	princípio	da	equidade.		
O	discurso	legitimador	da	criação	dos	Juizados	Especiais	era	o	da	celeridade.	O	
sistema	 judicial	 comum	 era	 considerado	 lento	 e	 incapaz	 de	 promover	 a	
redução	da	conflituosidade	social.	Estava	presente	o	discurso	da	Conferência	
Pound,	mas	ressignificado	por	nossa	cultura	jurídica	que	o	manteve	associado	
ao	sistema	estatal.	Ou	seja,	ambos	discursos,	o	da	Terceira	Onda	do	Projeto	
Florença	 e	 o	 da	 Conferência	 Pound	 receberam	 uma	 tratamento	 local,	 que	
chegou	até	a	criação	do	Juizado	Especial	contra	a	Violência	contra	a	Mulher,	
previsto	na	Lei	Maria	da	Penha	(Lei		11.240/2006).			
Mais	de	20	anos	após	a	lei	que	criou	dos	Juizados	Especiais	e	mais	de	30	anos	
dos	 Juizados	 de	 Pequenas	 Causas,	 o	 que	 se	 vê	 é	 que,	 em	 alguns	 estados,	
houve	um	“engarrafamento”	das	causas	nos	JEC’s	e	um	“desafogamento”	das	
varas	cíveis	comuns.	A	celeridade	não	é	uma	das	marcas	do	 JEC	nos	dias	de	
hoje.		
Mas	 o	 mais	 importante	 é	 que	 o	 modelo	 não	 conseguiu	 reduzir	 a	
conflituosidade	social.	Empresas	demandadas	nos	 juizados	não	alteram	suas	
práticas	 ilícitas,	 preferindo	 pagar	 indenizações	 do	 que	 ajustar-se	 ao	 que	
deveria	ser	seu	comportamento	no	mercado.		
Da	mesma	forma,	em	outras	áreas	onde	o	modelo	de	RAD	foi	adotado,	como	
em	 processos	 de	 família,	 também	 se	 questiona	 o	 sucesso	 da	 ideologia	 da	
harmonia,	ou	do	“acesso	à	justiça”.	É	sobre	isso	que	trataremos	agora.			
	
	
	
	
	
	
	
	
Equidade	
Equidade	é	um	conceito	
polissêmico.	Em	sua	
etimologia,	seria	o	
equivalente	à	igualdade.	
Mas	em	uso	contemporâneo	
é	mais	que	isso.	Por	
exemplo,	a	Constituição	de	
1988	consagra	como	
princípios	do	Sistema	Único	
de	Saúde	(SUS)	a	
universalidade,	a	
integralidade	e	a	equidade.	
Aqui,	a	equidade	significa	a	
atenção	à	saúde	dos	
indivíduos	de	acordo	com	
suas	necessidades,	ou	seja,	
cuidar	mais	de	quem	precisa	
e	menos	a	quem	requer	
menor	atenção.			
O	Direito	não	só	atribui	
vários	sentidos	à	equidade,	
como	adjetiva-o,	conforme	
seu	objeto.	Em	um	sentido	
mais	geral,	a	equidade	
implica	em	respeitar	o	
direito	de	cada	pessoa	de	
acordo	com	um	sentido	de	
justiça	amplo.	Isso	permite	
ao	Direito	reconhecer	como	
justas	decisões	diferentes	
sobre	causas	semelhantes	
em	função	das	diferentes	
necessidades	dos	sujeitos.	
Qualificada,	a	equidade	
pode	ser	interpretativa	–	
acionada	pelo	magistrado	
para	o	caso	concreto	–,	
corretiva	–	alterando	
dispositivos	
predeterminados,	como	o	
tempo	da	pena	–,	
quantificadora	–	quando	é	
definido	um	valor	de	uma	
indenização	por	dano	moral,	
por	exemplo	–,	integrativa	–	
quando	mais	de	um	
dispositivo	é	acionado	para	
alcançar	adequadamente	o	
sentido	de	justiça	–,	ou	
processual	–que	
corresponde	à	flexibilização	
de	normas	ou	regras,	de	
acordo	com	a	vontade	das	
parte,	ou	do	magistrado,	
como	em	casos	de	
arbitragem.	
	
	
	
 Saiba	Mais!	
Assista	 o	 vídeo	 no	 YouTube	 o	 vídeo	 “Maria	 da	 Penha:	 un	 caso	 de	 litígio	 internacional”.	 Observe	 a	 tabela	
abaixo,	elaborada	por	uma	Comissão	do	Conselho	Nacional	de	Justiça	(CNJ),	divulgada	em	publicação	de	2013	
e	reflita,	tendo	como	exemplo	a	tabela	abaixo,		sobre	o	papel	da	Lei	e	do	Judiciário	na	redução	da	violência	
doméstica	contra	a	mulher	e	 se	as	expectativas	 retratadas	no	vídeo	pelas	protagonistas,	 inclusive	Maria	da	
Penha.		
	
Comentário	
Não	há	dúvida	que	a	decisão	interpõe	um	obstáculo	ao	desejo	da	empresa	concessionária	que	seria	o	
fim	do	furto	de	energia	e	a	efetivação	um	“mercado	de	consumo	e	consumidores	de	energia”.	Por	outro	
lado,	 o	 argumento	 do	magistrado	 foca	 o	 passado,	 o	 evento.	 O	 acusado	 havia	 tido	 a	 “intenção”	 de	
furtar?	 Fora	 ele	 o	 autor?	Ou	 o	 processo	 deveria	 focar	 no	 dano	 que	 o	 “gato”	 provoca	 na	 sociedade,	
quando	os	consumidores	arcam	com	os	prejuízos	da	empresa	causado	pelas	perdas	de	energia?	
	
1.1 A	Conciliação	como	Conceito	/	Norma	
A	expressão	“conciliação”	tem	procedência	 latina:	conciliatione,	que	significa	
“ato	 ou	 efeito	 de	 conciliar;	 ato	 ou	 efeito	 de	 apaziguar-se	 com;	 pacificação,	
acomodação.	
De	acordo	com	o	Tribunal	do	Estado	do	Paraná	o	conceito	de	conciliação,	em	
síntese	representa		
“um	meio	alternativo	de	resolução	de	conflitosem	que	as	partes	
confiam	a	uma	terceira	pessoa	(neutra),	o	conciliador,	a	função	de	
aproximá-las	 e	 orientá-las	 na	 construção	 de	 um	 acordo.	 O	
conciliador	 é	 uma	 pessoa	 da	 sociedade	 que	 atua,	 de	 forma	
voluntária	 e	 após	 treinamento	 específico,	 como	 facilitador	 do	
acordo	 entre	 os	 envolvidos,	 criando	 um	 contexto	 propício	 ao	
entendimento	 mútuo,	 à	 aproximação	 de	 interesses	 e	 à	
harmonização	das	relações”	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
CEDER J 	
A	 partir	 desse	 conceito,	 fica	 fácil	 perceber	 que	 a	 conciliação	 está	 composta	
por	elementos	 subjetivos	e	objetivos.	Dentro	dos	primeiros	estão	as	partes,	
solicitante	 (autor)	 e	 solicitada	 (réu),	 e	 o	 conciliador,	 com	 todos	 os	 seus	
direitos,	 deveres	 e	 responsabilidades.	 Como	 elementos	 objetivos,	 temos	 a	
objeto	 conciliável,	 a	 existência	 de	 um	 conflito,	 o	 animo	 conciliatório	 e	 o	
acordo	afirmado	em	ata.		
A	essência	da	conciliação	é	a	existência	de	um	choque	de	interesses	subjetivos	
que	 admitam	 composição.	A	 incerteza	de	uma	decisão	 impositiva	 (sentença	
heterônoma)	 é	 um	 dos	 pressupostos	 que	 levam	 as	 partes	 em	 litígio	 a	
desejarem	obter	um	acordo.	
Outro	aspecto	fundamental	em	um	conciliação	é	que	o	objeto	da	disputa	seja	
significado	 de	 forma	 similar	 pelas	 partes.	 E,	 em	 muitos	 casos,	 	 esta	 é	 a	
principal	tarefa	do	conciliador:	construir	nas	partes	um	significado	único	para	
o	objeto	da	disputa.		
O	acordo	que	se	busca	desenvolver	na	conciliação,	sua	conclusão	satisfatória	
para	as	partes,	é	que	ele	deve	ser	 justo,	equânime	e	 legítimo,	que	contenha	
um	 horizonte	 temporal	 adequado	 e	 que	 reflita	 questões	 materiais	 e	 não	
somente	de	forma.	
O	procedimento	de	conciliação	é	um	processo	artesanal,	que	demora	em	ser	
feito.	Deve-se	ter	cuidado	na	análise,	qualificação	do	conciliador	e	dedicação	
para	obtenção	de	um	melhor	resultado	(Pinho,	s.d.)			
Pode-se	 dizer	 que	 o	 processo	 de	 conciliação	 se	 operacionaliza	 em	 quatro	
etapas,	nos	termos	seguintes:	
	“(1)	abertura,	onde	são	feitos,	por	 intermédio	do	conciliador,	
os	 esclarecimentos	 iniciais	 sobre	 o	 procedimento	 e	 todas	 as	
implicações	 legais	 referentes	 ao	 alcance	 do	 acordo	 gerado	
naquela	 oportunidade	 ou	 de	 sua	 impossibilidade.	 Logo	 após,	
passa-se	para	os		
(2)	 esclarecimentos	 das	 partes	 sobre	 suas	 ações,	 atitudes	 e	
iniciativas	que	acabaram	por	fazer	nascer	o	conflito.	Momento	
de	 vital	 importância	 no	 procedimento,	 pois	 é	 nele	 que	 se	
manifestam	as	posições	de	cada	uma	das	partes.	O	conciliador,	
por	 seu	 turno,	 deverá	 identificar	 os	 pontos	 convergentes	 e	
divergentes	da	 controvérsia,	 através	do	desencadeamento	de	
perguntas	sobre	o	fato	e	a	relação	causal	entre	eles,	bem	como	
se	fazer	valer	de	uma	escuta	ativa	sobre	a	comunicação	verbal	
e	 não	 verbal	 das	 partes.	 Na	 sequência,	 encaminha-se	 para	 o	
estímulo	a		
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
CEDER J 	
(3)	criação	de	opções,	quer	seja	através	de	sugestões	trazidas	
pelo	 terceiro,	 quer	 seja	 por	 intermédio	 de	 propostas	
delineadas	 pelas	 partes,	 com	 o	 objetivo	 de	 se	 atingir	 o	
almejado	consenso	pela	solução,	e,	posteriormente,		
(4)	 acordo,	 sua	 redação	 e	 sua	 assinatura.	 ”	 (BRAGA	 NETO,	
2007)	
O	 novo	 código	 de	 processo	 civil,	 publicado	 em	 16/03/2015,	 fortalece	 a	
conciliação,	a	mediação	e	a	arbitragem	como	mecanismos	hábeis	aos	fins	dos	
litígios.	 Na	 realidade,	 a	 nova	 codificação	 estabelece	 como	 uma	 de	 suas	
principais	 premissas	 o	 incentivo	 à	 utilização	 dos	 métodos	 de	 solução	
consensual	 de	 conflitos,	 conforme	 se	 vê	 no	 artigo	 3º,	 §	 3º,	 inserido	 no	
capítulo	inicial	que	trata	das	normas	fundamentais	do	processo	civil.	
Dentre	as	inovações	no	texto	do	novo	código,	o	mais	inquietante	neste	tema,	
devido	aos	impactos	imediatos	na	estrutura	do	Poder	Judiciário,	é	a	 idéia	de	
audiência	de	conciliação/mediação	como	ato	inicial	do	procedimento	comum,	
ou	seja,	antes	da	apresentação	da	contestação	pelo	réu.	
Isso	porque	os	tribunais	não	estão	preparados	para	essa	realidade	legislativa,	
uma	 vez	 que	 a	 estrutura	 dos	 tribunais	 no	 interior	 dos	 Estados	 não	 permite	
atender	 aos	 anseios	 do	 acesso	 a	 justiça,	 pois	 certamente	 os	 agentes	 não	
teriam,	ainda,	qualificação	adequada	para	a	função.		
1.2 A	Mediação	como	Conceito	/	Norma	
Primeiramente,	não	há	dúvida	de	que	a	Mediação	é	tida	como	um	dos	meios	
de	 resolução	 alternativa	 de	 disputas,	 pois	 é	 considerada	 uma	 alternativa	 à	
pura	litigância.	
Ademais,	seu	modelo	é	traçável	da	seguinte	forma:	há	um	mediador,	que	não	
tem	uma	relação	pessoal	com	as	partes	em	conflito,	e	que	deve	agir	como	um	
facilitador,	escutando-as	e	conduzindo-as	a	que	cheguem	a	um	acordo	entre	
si.	O	número	de	partes	envolvidas	no	conflito	pode	ser	de	dois	ou	mais,	não	
havendo	uma	limitação.	
As	 características	 acima	 pontuadas	 são	 de	 caráter	 genérico,	 no	 sentido	 de	
que,	 ao	 menos	 no	 âmbito	 do	 tema	 Resolução	 Alternativa	 de	 Disputas,	 se	
tratam	de	aspectos	que	parecem	ser	comumente	atribuídos	à	Mediação.	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
CEDER J 	
Buscando	 um	 aprofundamento	 do	 conceito,	 encontramos	 a	 discussão	
levantada	pela	professora,	mediadora	e	advogada	Fabiana	Marion	Spengler,	
quem	defende	que	
	“enquanto	o	 juiz	é	pensado,	nos	sistemas	modernos,	como	o	
‘nem	 um,	 nem	 outro,	 nem	 isto	 nem	 aquilo’,	 justamente	
neutro,	 o	 mediador	 deve	 ser	 ‘isto	 e	 aquilo’,	 deve	 perder	 a	
neutralidade	e	perdê-la	até	o	fim.	Enquanto	as	partes	litigam	e	
só	 veem	 seu	próprio	 ponto	de	 vista,	 o	mediador	 pode	 ver	 as	
diferenças	 comuns	 aos	 conflitantes	 e	 recomeçar	 daqui,	
atuando	com	o	objetivo	das	partes	retomarem	a	comunicação,	
exatamente	 o	múnus	 comum	 a	 ambas.	 O	mediador	 torna-se	
meio	 para	 a	 pacificação,	 remédio	 para	 o	 conflito,	 graças	 ao	
estar	entre	os	conflitantes,	nem	mais	acima,	nem	mais	abaixo,	
mas	no	seu	meio”.	
Nesse	sentido,	a	autora	afirma	que	o	mediador	não	seria	um	terceiro	distante	
das	 partes,	 mas	 uma	 pessoa	 que	 se	 coloca	 no	 lugar	 de	 cada	 um	 dos	
envolvidos	 no	 conflito,	 identificando	 as	 questões	 por	 estes	 colocadas	 e	
tentando	fazer	com	que	retomem	entre	si	uma	comunicação	que	os	leve	a	um	
acerto	mútuo,	a	conclusões	em	comum.	
De	 acordo	 com	 o	 Conselho	 Nacional	 das	 Instituições	 de	 Mediação	 e	
Arbitragem,	a	postura	do	mediador	deve	ser	direcionada	pela	imparcialidade	
(que	 se	 difere	 da	 noção	 de	 neutralidade),	 credibilidade,	 competência,	
confidencialidade	e	diligência.	
Outra	 característica	 da	Mediação,	 no	 sentir	 e	 experiência	 da	 autora,	 é	 a	 de	
que	 este	método	 não	 teria	 um	 tempo	 delimitado:	 poderia	 se	 dar	 de	 forma	
mais	curta	ou	mais	prolongada	no	tempo,	a	depender	do	que	necessitam	as	
partes	para	chegar	a	um	acordo,	se	é	que	o	desejam	
.	
	
Sessão	Pipoca!	
	
Assista	um	vídeo	da	TV	Justiça	e	observe	as	posições	dos	entrevistados	
sobre	a	temporalidade	nos	processos	de	Resolução	Alternativa	de	
Disputas.	Disponível	no	YouTube	
(https://www.youtube.com/watch?v=fb23kePLvb8)	pelo	título	de	
“Repórter	Justiça	–	Arbitragem,	Mediação	e	Conciliação”.	
	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
CEDER J 	
Apesar	 de	 ser	 possível	 apresentar	 um	 conceito	mais	 ou	menos	 genérico	 do	
que	 é	 a	Mediação,	 devemos	 tomar	 em	 conta	 que	 seu	 formato	 pode	 sofrer	
modificações	a	depender	do	contexto	em	que	é	instituída	e	aplicada.	
Considerando	aqui	o	 contexto	 jurídico-normativo	brasileiro,	por	 assim	dizer,	
apontamos	duas	das	espécies	normativas	mais	significativas	sobre	o	assunto:	
a	 Resolução	 n.º125/2010	 do	 ConselhoNacional	 de	 Justiça	 (CNJ)	 e	 o	 Novo	
Código	de	Processo	Civil.	A	regulamentação	trazida	pelo	CNJ	em	2010,	dentre	
outras	coisas,	levou	os	Tribunais	de	Justiça	estaduais	e	federais	a	organizarem	
os	chamados	Centros	Judiciários	de	Solução	de	Conflitos	e	Cidadania,	os	quais	
serviriam	 a	 prestar	 serviços	 de	 Conciliação	 e	 Mediação	 externamente	 aos	
processos	 judiciais.	 Tais	 centros	 voltam-se,	 portanto,	 a	 mediações	 que	 se	
deem	seja	num	momento	anterior	ao	início	de	um	processo	litigioso	(inclusive	
evitando-o,	 se	alcançado	um	acordo);	 seja	ao	 longo	desse	processo,	 caso	as	
partes	 decidam	 “pará-lo”	 para	 tentar	 mediar	 o	 conflito	 fora	 do	 rito	
processual.	
O	Novo	Código	de	Processo	Civil,	por	sua	vez,	além	de	ter	absorvido	muito	do	
que	 já	 estava	 disposto	 na	 referida	 Resolução,	 passa	 a	 estabelecer,	 ainda,	
regras	para	Conciliação	e	Mediação	que	se	realizem	não	apenas	externamente	
aos	 processos	 judiciais,	 mas	 também	 “dentro”	 destes.	 A	 influência	 dos	
modelos	 de	 Resolução	 Alternativa	 de	 Disputas	 é	 tamanha	 no	 Novo	 Código,	
que	 o	 estímulo	 a	 métodos	 de	 solução	 consensual	 de	 conflitos	 passa	 a	 ser	
definido	como	uma	nova	norma	fundamental	do	processo	civil.	
1.3 A	Arbitragem	como	Conceito	/	Norma	
A	 arbitragem	 ganhou	 novo	 impulso	 na	 década	 de	 noventa,	 através	 de	 sua	
introdução	 	 em	 nosso	 ordenamento	 jurídico	 através	 da	 Lei	 9.307/1996.	
Mecanismo	 presente	 em	 outros	 modelos	 jurídicos,	 a	 arbitragem	
contemporânea	entre	nós	 também	pode	ser	vista	no	contexto	da	Resolução	
Alternativa	de	Disputas,	seja	no	viés	norte-americano,	seja	no	viés	do	Acesso	
à	Justiça	do	Projeto	Florença.	
Como	um	mecanismo	de	resolução	de	conflitos,	a	arbitragem	 	 também	está	
fundada	na	expressão	pelas	partes	em	prol	de	um	acordo	que	ponha	fim	uma	
disputa	que	tenha	por	objeto	um	direito	patrimonial	disponível.		
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
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Como	 um	 processo	 que	 ocorre	 na	 esfera	 extrajudicial,	 no	 contexto	
internacional,	 a	 arbitragem	 permite	 que	 as	 partes	 –	 litigantes	 e	 árbitro	 –	
acionem	e	busquem	convergir	a	partir	de	sistema	judiciais	distintos,	o	que	a	
faz	 um	 interessante	 instrumento	 para	 conflitos	 internacionais,	 quando	 se	
pode	construir	uma	ambiente	de	total	autonomia	de	vontade	entre	as	partes.	
Estes	 esforços	 não	 devem	 descuidar	 de	 valores	 fundamentais	 como	 a	
segurança	 e	 a	 justeza	 da	 decisão	 final,	 principalmente	 em	 conflitos	 que	
envolvem	natureza	econômica	de	valores	elevados.		
Conforme	a	lei	9.307/1966,	com	alterações	promovidas	pela	Lei	13.129/2015,	
a	 arbitragem	 pode	 ocorrer	 em	 substituição	 ao	 procedimento	 na	 justiça	
comum.	Este	procedimento	pode	ser	desdobrado	em	duas	etapas.	A	primeira	
corresponderia	 ao	 que	 a	 lei	 denomina	 “convenção	 arbitral”,	 formada	 pela	
cláusula	compromissória	e	o	compromisso	arbitral.	A	primeira	diz	respeito	ao	
compromisso	 formal	das	partes	com	o	procedimento	arbitral.	A	segunda	diz	
respeito	à	concordância	com	o	que	for	estipulado	pelas	partes	na	arbitragem.		
A	 arbitragem	 começa	 propriamente	 quando	 há	 a	 escolha	 e	 nomeação	 do	
árbitro,	ou	 colégio	arbitral,	 pelas	partes.	 Em	seguida	 tem-se	a	definição	dos	
termos	 e	 requisitos	 da	 convenção	 arbitral	 para	 que	 possa	 se	 reduzir	 ao	
máximo	a	possibilidade	de	erro.		
é	a	verificação	de	todos	os	termos	e	requisitos	da	convenção	arbitral,	a	fim	de	
que	possam	ser	sanadas	algumas	irregularidades,	se	houver.	Dentro	do	juízo	
arbitral,	as	partes	devem	expor	seus	pontos	de	vista	e	apresentar	suas	razões,	
dentro	 do	 princípio	 do	 contraditório,	 em	 tantas	 rodadas	 quanto	 o	 árbitro	
julgar	 necessárias	 para	 a	 formação	 de	 seu	 convencimento.	 Diferente	 do	
sistema	do	contraditório,	que	uma	vez	 iniciado	(com	algumas	exceções,	vale	
dizer),	 só	 termina	 com	 a	 decisão	 do	 juiz,	 na	 arbitragem	 as	 partes	 podem	
desistir	 a	 qualquer	 momento,	 seja	 por	 chegarem	 a	 um	 acordo	 satisfatório,	
seja	por	discordarem	do	andamento	da	arbitragem.		
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
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CEDER J 	
	Em	 termos	 conceituais,	 então,	 conciliação,	 mediação	 e	 arbitragem	 são	
modelos	 de	 resolução	 alternativa	 de	 disputas	 que	 se	 afastam	 do	 modelo	
clássico	do	judiciário,	no	qual	um	ganha	e	outro	perde,	o	que	faz	com	que	a	
sentença	resulte	em	um	sistema	de	soma	zero.	A	RAD,	como	vimos,	ou	busca	
fazer	 com	 que	 ambas	 partes	 ganhem,	 talvez	 menos	 do	 que	 alguma	 delas	
ganharia	no	sistema	anterior,	mas	fazendo	com	que	o	final	do	procedimento	a	
soma	dos	ganhos	das	partes	não	seja	zero.		
A	 arbitragem,	 como	 um	 caso	 particular,	 não	 necessariamente	 se	 afasta	 do	
resultado	 clássico	 da	 soma	 zero,	 mas	 mesmo	 para	 o	 perdedor,	 o	
procedimento	 fora	da	esfera	do	Estado	representa	um	ganho	em	termos	de	
tempo	e	de	segurança	sobre	a	adequação		do	resultado	da	arbitragem	–	o	que	
nem	 sempre	 está	 presente	 em	 uma	 sentença,	 como	 vimos	 para	 o	 caso	 da	
Marina	de	Arraial	do	Cabo.	
O	Conselho	Nacional	de	Justiça	apresenta	sua	visão	sobre	as	diferenças	entre	
a	conciliação	e	a	mediação:		
	
A	Mediação	é	uma	forma	de	solução	de	conflitos	na	qual	uma	
terceira	pessoa,	neutra	e	 imparcial,	 facilita	o	diálogo	entre	as	
partes,	 para	 que	 elas	 construam,	 com	 autonomia	 e	
solidariedade,	a	melhor	solução	para	o	problema.	Em	regra,	é	
utilizada	 em	 conflitos	 multidimensionais,	 ou	 complexos.	 A	
Mediação	é	um	procedimento	estruturado,	não	tem	um	prazo	
definido,	 e	 pode	 terminar	 ou	 não	 em	 acordo,	 pois	 as	 partes	
têm	autonomia	para	buscar	soluções	que	compatibilizem	seus	
interesses	e	necessidades.		
A	conciliação	é	um	método	utilizado	em	conflitos	mais	simples,	
ou	 restritos,	 no	 qual	 o	 terceiro	 facilitador	 pode	 adotar	 uma	
posição	 mais	 ativa,	 porém	 neutra	 com	 relação	 ao	 conflito	 e	
imparcial.	 É	 um	 processo	 consensual	 breve,	 que	 busca	 uma	
efetiva	harmonização	social	e	a	restauração,	dentro	dos	limites	
possíveis,	da	relação	social	das	partes.	
As	 duas	 técnicas	 são	 norteadas	 por	princípios	 como	
informalidade,	 simplicidade,	economia	processual,	 celeridade,	
oralidade	e	flexibilidade	processual.	
Os	mediadores	e	conciliadores	atuam	de	acordo	com	princípios	
fundamentais,	 estabelecidos	 na	 Resolução	 125/2010:	
confidencialidade,	 decisão	 informada,	 competência,	
imparcialidade,	independência	e	autonomia,	respeito	à	ordem	
pública	e	às	leis	vigentes,	empoderamento	e	validação.		
2.	ALGUMAS	PRÁTICAS	
DE	RESOLUÇÃO	
ALTERNATIVA	DE	
DISPUTAS	EM	NOSSO	
SISTEMA	JUDICIAL	
	
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	No	 mundo	 jurídico	 e	 social	 tais	 nomenclaturas	 se	 confundem	 e	 podemos	
oferecer	 duas	 imagens	 para	 ressaltar	 as	 diferenças	 entre	 esses	 processos.	
Imagine	a	Conciliação	como	um	pequeno	concerto,	no	qual	dois	músicos,	as	
partes,	 ficam	 diante	 de	 um	 maestro	 que	 busca	 conduzir	 reclamante	 e	
reclamado	 a	 produzir	 uma	 harmonia	 onde	 havia	 conflito.	 O	 conciliador,	
diferente	do	maestro,	entretanto,	não	deve	escolher	a	partitura,	ou	a	norma,	
deve	 deixar	 que	 os	 músicos	 procurem,	 a	 partir	 das	 suas	 respectivas	
vocalizações,	encontrar	um	acorde,	ou	um	discurso	comum.	Nesse	acorde,	ou	
acordo,	nenhum	dos	dois	sons	deverá	prevalecer	sobre	o	outro,	sem	que	seja	
de	comum	acordo.	E,	em	tese,	o	“maestro”	não	produz	sonoridade!		
Já	a	Mediação	pode	ser	pensada	como	dois	atores	que	buscam	produzir	um	
novo	texto	sob	a	orientação	de	um	diretor.	O	diretor	não	propõe	o	texto,	mas	
ele	 conhece	 o	 que	 é	 mais	 adequado.	 Ele	 pode	 dirigir	 os	 atores	 para	 um	
objetivo,	mas	não	pode	impor.	O	resultado	da	direção	pode	ser	a	recusa	dos	
atores	em	continuar	com	a	produçãoe	buscar	outro	diretor,	no	caso	um	juiz.		
Alguns	exemplos	podem	ajudar	a	 compreender	as	diferenças,	mesmo	que	a	
nomenclatura	formal	apareça	trocada!	
2.1	PROCON	e	as	Audiências	de	conciliação	
Os	Programas	de	Defesa	do	Consumidor	(PROCON),	órgãos	da	administração	
direta	 dos	 Estados	 e	Municípios	 que	 se	 dedicam	 à	 proteção	 dos	 interesses	
individuais	 e	 coletivos	 dos	 consumidores,	 também	 ganharam	 destaque	 no	
contexto	na	2º	onda	do	movimento	de	acesso	a	justiça	e	frente	à	ineficácia	do	
Estado	na	tutela	de	direitos	dos	consumidores,	postulada	pela	criação	de	um	
código	próprio	sobre	a	matéria	–	o	Código	de	defesa	do	Consumidor	(CDC).		
Os	 PROCON	 são	 tidos	 como	 uma	 instância	 de	 resolução	 de	 conflitos	
individuais	de	consumo,	como	uma	opção	alternativa	a	via	judicial.	Essa	fama	
se	dá	em	virtude	dos	grandes	números	de	acordos	firmados	nas	audiências	de	
conciliação	realizados	por	eles.				
	De	acordo	Igor	Rodrigues	Britto:		
“essas	audiências	 realizadas	pelos	PROCONS,	hoje	configuram	
uma	das	 ferramentas	 de	 acesso	 à	 justiça	mais	 usuais	 para	 os	
consumidores.	 A	 inexistência	 de	 custos	 para	 o	 cidadão,	 a	
celeridade	 do	 processo	 administrativo	 e	 o	 grande	
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aproveitamento	 das	 audiências	 em	 favor	 dos	 consumidores,	
elevam	os	níveis	de	satisfação	da	comunidade	em	relação	aos	
trabalhos	 do	 PROCON,	 fazendo	 com	 que	 a	 procura	 por	 estes	
órgãos	 seja	 muito	 maior	 do	 que	 em	 relação	 aos	 Juizados	
Especiais	Cíveis.	Os	altos	índices	de	solução	dos	conflitos	pelas	
audiências	 dos	 órgãos	 é	 a	 principal	 causa	 do	 constante	
aumento	da	demanda	dos	administrados	pelos	PROCON.”	
Como	 se	 lê,	 a	 opção	 pela	 procura	 ao	 órgão	 não	 seria	 pela	 efetividade	 do	
Direito,	 mas	 sim	 por	 razões	 econômicas	 e	 temporais.	 Na	 pratica,	 o	
consumidor	aceita	as	ofertas	das	empresas,	pois	temem	a	longevidade	de	um	
processo	judicial	e	não	há	ônus	imediato	para	sua	reparação.	Por	outro	lado,	
as	 empresas	 têm	 interesse	 em	 acordos	 feitos	 dentro	 do	 PROCON,	 pois	
diminuem	 seus	 custos	 operacionais,	 como	 advogado,	 custas	 processuais,	
dentre	outros.			
Em	que	pese	os	 expressivos	números	de	 acordos	 feitos	pelo	PROCON,	 cabe	
refletir	a	qualidade	dos	acordos	firmados.	Como	dito,	o	acesso	a	justiça	requer	
matéria	e	não	somente	forma.		
2.2	A	Mediação	e	as	Varas	de	Família	
Os	 conflitos	 são	 inerentes	 às	 relações	 interpessoais,	 e	 isso	 pode	 ser	
vastamente	 percebido,	 por	 exemplo,	 no	 âmbito	 familiar.	 Geralmente,	 os	
problemas	 relacionais	 familiares	 não	 surgem	 do	 dia	 para	 a	 noite:	 são	 um	
somatório	 de	 insatisfações	 pessoais,	 de	 emoções	 reprimidas,	 de	
desinteresses,	traições,	dentre	outros	sentimentos.	
O	mediador	deve	atuar	facilitando	às	partes	que	percebam	o	que	lhes	estaria	
impedindo	de	tomarem	uma	decisão	quanto	a	seus	impasses,	sejam	estes	de	
cunho	 patrimonial,	 financeiro	 e/ou	 de	 cuidado	 e	 obrigações	 para	 com	 os	
filhos,	 o	 que	 pode	 ocasionar	 alguma	 parte	 a	 se	 decepcionar	 com	 o	
procedimento,	partir	para	ameaças	e	outras	desavenças.		
O	 Conselho	 Nacional	 das	 Instituições	 de	Mediação	 e	 Arbitragem	 (CONIMA)	
reconhece	o	profissional	mediador	como:	
“Um	 terceiro	 imparcial	 que,	 utilizando	 procedimentos	
adequados,	se	põe	a	colaborar	com	as	partes	para	que	possam	
conjuntamente	 identificar	 os	 seus	 conflitos	 e	 interesses,	
proporcionando	que	ambas	atinjam	o	consenso	capaz	de	fazê-
los	encontrar	alternativas	de	solução	e	consequente	realização	
de	acordo.”		
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
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	A	 imparcialidade,	 credibilidade,	 competência,	 confidencialidade,	 diligência	
são	 os	 princípios	 que	 devem	 direcionar	 a	 postura	 do	 mediador,	 de	 acordo	
com	o	CONIMA.		
Nesse	 sentido,	 principalmente	 na	 área	 de	 família,	 o	 sucesso	 do	 instituto	 da	
mediação	parece	ter	a	ver	com	certo	aspecto	deontológico,	que	diz	respeito	
ao	 dever-ser	 do	mediador,	 principalmente	 nos	 conflitos	 envolvendo	 família,	
que	têm	como	característica	a	implicação	de	fortes	sentimentos.	
Não	podemos	deixar	de	destacar	que	na	mediação	em	conflitos	de	família	(	e	
porque	 não	 pensar	 nos	 conflitos	 socioambientais)	 os	 sentimentos	 de	
mediador	 se	 somam	aos	 das	 partes,	 criando	 um	novo	 contexto,	 tripartite	 e	
não	mais	dialógico,	por	mais	capacitado	que	o	mediador	tenha	sido.			
Uma	discussão		sobre	a	pratica	em	relação	aos	imperativos	da	neutralidade	e	
imparcialidade	na	profissão	do	mediador,	na	perspectiva	dos	estudos	da	fala-
em-interação,	 em	pesquisa	de	natureza	qualitativa	e	 interpretativa,	de	base	
colaborativa,	concluiu	que:		
“	 A	 perspectiva	 dos	 estudos	 de	 pequenas	 comunidades	
permite-nos	 fazer	 uma	 recalibragem	 das	 descrições	 dos	
manuais	 de	 mediação.	 Teríamos	 a	 dizer,	 ao	 contrário	 dos	
manuais,	 que	 mediadores	 usam,	 sim,	 	 a	 avaliação	 para	
administrar	conflitos	e	tomar	posição	perante	os	“mediandos”,	
mesmo	 que	 seja	 a	 posição	 da	 lei.[...]	 Em	 decorrência	 desses	
fatos,	somente	podemos	conceder	a	“neutralidade”	como	uma	
ficção;	 não	 há	 um	 discurso	 sem	 avaliação.	 A	 neutralidade	
apregoada	nos	manuais	de	mediação	pauta-se	por	uma	visão	
objetivista	 de	 linguagem	 desconectada	 do	 que	 mediadores	
reais	 fazem	 em	 situações	 reais	 de	mediação.”(Santana	 et	 al.,	
2012)	
Veja-se	que	o	mesmo	modelo	de	procedimento	de	Mediação	é	usado	 tanto	
para	 as	 questões	 civis	 (comerciais),	 quanto	 para	 as	 de	 família.	 Apesar	 da	
demanda	 ser	 totalmente	 diferente,	 o	modus	 operandi	 do	 procedimento	 de	
mediação	é	 igual,	 inclusive	em	relação	ao	tempo	das	sessões	de	audiência	e	
qualificação	do	mediador.	
Assim,	em	nosso	sentir,	na	Mediação	de	conflitos	familiares	haveria	um	maior	
peso,	por	assim	dizer,	na	figura	do	mediador,	já	que	lhe	é	demandado	um	agir	
diferenciado	no	lidar	com	questões	mais	sensíveis	 inerentes	a	esses	tipos	de	
conflitos.	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
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2.3	A	Arbitragem	no	Mercado	ou	o	Mercado	de	Arbitragem	
Em	São	Paulo,	uma	entidade	privada,	 independente	e	sem	fins	 lucrativos	 foi	
fundada	 por	 dois	 advogados	 e	 se	 apresenta	 como	 um	 “Conselho	 Arbitral”.	
Seus	 objetivos	 são	 a	 harmonização	 das	 relações	 humanas	 através	 da	
mediação	 e	 da	 arbitragem,	 e	 se	 apresenta	 como	 um	 corpo	 de	 árbitros,	
advogados	 e	 profissionais	 capacitados	 para	 a	 administrar	 um	 conflito	 de	
maneira	 justa	 e	 eficaz.	 Um	 dos	 diferenciais	 da	 entidade	 é	 contar	 com	 uma	
equipe	especializada	em	várias	áreas	do	Direito,	voltada	para	a	oferta	de	uma	
rápida	e	justa	administração	e	solução	de	conflitos.	
A	oferta	da	harmonização	da	conflituosidade	social	no	mercado	é	associada	a	
uma	 tabela	 de	 custas.	 Os	 custos	 da	 arbitragem	 são	 variáveis	 em	 função	 do	
valor	 que	 as	 partes	 atribuem	 à	 causa.	 Há	 um	 valor	 mínimo	 para	 as	 custas	
iniciais	que	começam	em	R$	4.000,00	chegando	a	R$	200.000,00	para	causas	
com	valor	acima	de	R$	10.000.000,00.	As	audiências		adicionais	são	cobradas	
com	valores	que	variam	de	R$	500,00	a	R$	1.000,00	por	hora.	Os	custos	são	
reembolsados	 pelas	 partes,	 conforme	 comprovação	 da	 instituição.	 Além	
disso,	 os	 árbitros	 são	 remunerados	 por	 hora	 de	 trabalho,	 que	 varia	 de	 R$	
400,00	a	R$	500,00.		
Não	é	necessário	dizer	que,	nos	termos	atuais,	a	arbitragem	não	é	um	veículo	
factível	para	a	administração	de	conflitos	socioambientais...	
	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
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	Seja	pela	via	norte-americana,	seja	pela	via	europeia,	ou	em	outros	termos,	
seja	em	conformidade	com	a	Conferência	Pound	ou	com	a	3a	Onda	do	ProjetoFlorença,	 a	Resolução	Alternativa	de	Disputas	entre	nós	 seguiu	o	padrão	de	
absorção	pelo	Estado	de	processos	que	 foram	pensados	como	pertinentes	à	
esfera	da	sociedade.		
Em	 outras	 palavras,	 com	 exceção	 da	 Arbitragem,	 seja	 a	 mediação,	 seja	 a	
conciliação	são,	via	de	regra,	ou	etapas	prévias	ao	processo	 judicial	mas	por	
ele	 determinadas,	 ou	 se	 desenvolvem	 ao	 longo	 do	 processo.	 Em	 todos	 os	
casos,	 do	 ponto	 de	 vista	 das	 	 partes,	 o	 desejável	 é	 a	 palavra	 do	 juiz,	 da	
autoridade,	e	não	de	um	mediador	ou	conciliador	leigos.			
Essa	constatação,	por	outro	lado,	nos	leva	a	uma	outra	consideração:	pode	a	
ideologia	 da	 harmonia	 ser	 incorporada	 às	 sociedades	 de	 forma	 coercitiva?	
Segundo	 os	 argumentos	 de	 Laura	 Nader,	 mesmo	 na	 sociedade	 norte-
americana	 a	 ideologia	 da	 harmonia	 foi	 introduzida	 na	 administração	 de	
conflitos	 de	 forma	 heterônoma,	 ou	 seja,	 de	 fora	 para	 dentro.	 	 Qual	 seria,	
então,	as	diferenças	entre	nós	e	eles?	
Uma	pista	pode	vir	da	observação	das	relações	entre	Sociedade	e	Estado.	Não	
seria	 descabido	 afirmar	 que	 há	 relações	 simétricas	 entre	 esses	 polos.	 Em	
alguns	processos	históricos,	 foi	a	Sociedade	quem	criou	o	Estado,	de	acordo	
com	seus	 interesses.	Em	outros,	 foi	o	Estado	quem	conformou	a	Sociedade,	
para	que	uma	elite	se	perpetuasse	no	poder.	Deixamos	para	você	pensar	qual	
dos	processos	descreveria	a	nossa	trajetória	histórica.	
Nos	 termos	 de	 nossa	 aula,	 podemos	 afirmar	 que	 a	 harmonia	 pode	 ser	
coercitiva	 em	 contextos	 nos	 quais	 tenha	 sido	 a	 sociedade	 quem	 tenha	
constituído	 o	 Estado.	 Neste	 processo	 a	 coerção	 ganha	 uma	 legitimidade	
autônoma	 (de	 dentro	 para	 fora),	 que	 supera	 a	 decisão	 heterônoma	 pela	
mudança.		
Em	nosso	caso,	nos	parece	óbvio,	que	a	RAD	acabou	por	ser	 incorporada	ao	
sistema	judicial,	em	parte	ou	no	todo	e,	assim,	não	tem	a	potencialidade	de	
produzir	o	efeito	desejado	de	redução	da	conflituosidade	social	à	margem	do	
Estado	e	produzir	uma	sociedade	com	menor	conflituosidade.				
CONCLUSÃO,	OU	A	
HARMONIA	PODE	SER	
COERCIVA?	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
CEDER J 	
	
Vimos	 nessa	 aula	 os	 três	 modelos	 de	 Resolução	 Alternativa	 de	 Disputas	
(Conciliação,	Mediação	e	Arbitragem)	que	chegaram	até	nós.	Vimos	também	
que	 essas	 trajetórias	 tiveram	 inícios	 distintos,	 que	 seja	 a	 via	 do	 Projeto	
Florença,	 seja	 via	 Conferência	 Pound	 acabaram	 por	 produzir	 efeitos	
semelhantes,	ou	seja,	foram	incorporados	pelo	sistema	judicial	estatal.	
Vimos	também	que	apenas	a	Arbitragem	conseguiu	se	manter	autônoma	em	
relação	ao	Estado,	apesar	de	em	função	dos	custos	que	implica	não	estar	ao	
alcance	da	enorme	maioria	da	população.	
Por	 fim,	vimos	que,	mesmo	representando	novos	modelos	de	administração	
de	conflitos,	a	conciliação	e	a	mediação	não	representam	modelos	com	maior	
capacidade	 de	 administrar	 conflitos	 tratáveis	 ou	 conflitos	 intratáveis,	 por	
reproduzirem	a	lógica	do	sistema	judicial	oficial.			
	
RESUMO	
Conciliar,	Mediar,	Arbitrar:	significados	próximos,	práticas	próprias,	
resultados	de	sempre	
CEDER J 	
BRAGA	NETO,	Adolfo.	2007.	Alguns	aspectos	relevantes	sobre	a	mediação	de	
conflitos	 In:	GRINOVER,	Ada	Pellegrini;	WATANABE,	Kazuo;	LAGRASTA	NETO,	
Caetano	 (Coord.).	 Mediação	 e	 gerenciamento	 do	 processo:	 revolução	 na	
prestação	jurisdicional.	São	Paulo:	Atlas.	
CAPPELLETTI,	Mauro	&	GARTH,	Bryant.	2002.	Acesso	à	 Justiça.	Porto	Alegre:	
Sérgio	Fabris	Editor.		
NADER,	 Laura.	 1994.	 Harmonia	 coerciva:	 a	 economia	 política	 dos	 modelos	
jurídicos.	Revista	Brasileira	de	Ciências	Sociais,	v.9,	n.26,	São	Paulo	out.	1994.	
PINHO,	 Humberto	 Dalla	 B.	 2004.	 	 Mecanismos	 de	 Solução	 Alternativa	 de	
Conflitos:	algumas	considerações	introdutórias,	in	Revista	Dialética	de	Direito	
Processual,	vol	17,	pp.	09/14,	São	Paulo:	Oliveira	Rocha.	
POSNER,		Richard	.	2010.	A	Economia	da	Justiça.	São	Paulo:	Martins	Fontes.			
SCHEPPELE,	Kim	L.	1988.	Legal	Secrets:	equality	and	efficiency	in	the	Common	
Law.	Chicago:	The	Chicago	University	Press.		
SPENGLER,	 Fabiana	 Marion.	 2016.	 “O	 Tempo	 do	 Processo	 e	 o	 Tempo	 da	
Mediação”,	in	Revista	Eletrônica	de	Direito	Processual,	vol.	VIII.	
	
	
	
	
	
REFERÊNCIAS	
BIBLIOGRÁFICAS

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