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Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre. Au la 4 \ Meta da Aula Mostrar que os mecanismos alternativos de resolução de conflitos tratáveis , como a conciliação, a mediação e a arbitragem, instituídos no contexto do “acesso à justiça”, tem significados próximos, ou seja, foram pensados para aumentar a eficácia do sistema judicial e reduzir o tempo do processo. Apesar disso, possuem práticas próprias, ou seja, apesar das três visarem o aumento da justiça social, processo judicial, suas estratégias são distintas. Entretanto, procuraremos argumentar que, em face a nossa cultura jurídica, os resultados são determinados pelo sistema judicial, o que mantêm o distanciamento da decisão sobre a possibilidade de pacificação do conflito. Ao final desta aula, desejamos que você seja capaz de: 1. Identificar as singularidades e semelhanças de cada uma das formas alternativas de Resolução Alternativa de Disputas (RAD) existentes em nossa cultura jurídica, vinculando cada uma delas a uma matriz conceitual construída a partir da década de setenta do século passado. 2. Associar alguns conflitos tratáveis com a estratégia de RAD que seria mais adequada, ou aquela que que o sistema judicial indicaria, com alguns exemplos empíricos. 3. Avaliar o grau de eficácia desta estratégia, seu potencial harmonizador, para concordar, ou discordar fundamentadamente, da afirmativa que, do ponto de vista da sociedade, o resultado da RAD é praticamente o mesmo que o sistema judicial tradicional, nos termos que vimos na Aula 3. . Esta aula contou com a participação de Fernanda Medeiros e Rute Curvelo em sua elaboração. Atenção! O texto desta aula e das seguintes não está formatado no padrão do CEDERJ. Entretanto, o conteúdo é exatamente o mesmo que vocês receberão no livro texto. Pedimos desculpas, mas temos certeza que eventuais dificuldades serão superadas com a qualidade da discussão com os tutores! Boas aulas. Professores Conteudistas e Tutores. Nesta aula mostraremos que a pequena “eficácia” do sistema penal universalizado no Ocidente, aquele que vimos na Aula 3, para a redução da conflituosidade social ou o alcance de novos patamares de justiça social foi notada há algum tempo. Nos Estados Unidos, desde a década de cinquenta do século passado, a arbitragem é um importante mecanismo de administração de conflitos no mundo dos negócios. Divergências entre interpretações sobre direitos e deveres em transações comerciais são resolvidos fora da esfera estatal, quando as partes escolhem um árbitro privado e delegam a ele, sob remuneração, resolução da disputa. Veremos um pouco mais sobre arbitragem adiante. Também nesse país, em 1976, foi realizada a Conferência Pound, na qual pesquisadores da Universidade de Harvard apresentaram a proposta da ampliação de “formas alternativas de resolução de disputas” (Resolução Alternativa de Disputas - RDA), como um mecanismo para superar a dependência das formas estatais de administração de conflitos. Além das mudanças ocorridas no sistema de justiça norte-americano, com a criação de “juizados com várias portas de entrada” (Multi-Door Courthouses), houve a disseminação da “Ideologia da Harmonia”, ou “Harmonia Coerciva”, nos termos da antropóloga norte-americana Laura Nader, que vimos na Aula 01. O comum a estas duas estratégias na common law norte-americana, era o objetivo central diminuir a presença das instituições estatais na redução da conflituosidade social, ou promover a autonomia da engenharia social, que o realismo e o pragmatismo jurídico norte-americanos haviam se proposto a fazer desde o início do século XX (Scheppele, 1988; Posner, 2010). A sociedade deveria ela mesma se encarregar da construção da vida em comunidade através da via da harmonia, quando a conflituosidade inerente à vida em sociedade seria substituída pela harmonia da comunidade. Na Europa (com financiamento da Fundação Ford norte-americana, vale a pena notar) foi realizado nas décadas de sessenta e setenta, uma pesquisa multisituada sobre o panorama dos sistemas judiciais de vários países que se INTRODUÇÃO chamou “Projeto Florença”. Em paralelo à coleta de dados, um movimento entre os acadêmicos de diversos países tinha com foco o “acesso à justiça”. A fusão do movimento com o Projeto Florença resultou no livro “Acesso à Justiça”, publicado em 1978, sobre a supervisão de Mauro Cappelletti e Bryant Garth. Neste texto o Acesso à Justiça foi entendido como um sistema no qual as pessoas poderiam reivindicar direitos e/ou resolver conflitos sob os auspícios do Estado. Dois parâmetros seriam imutáveis: o acesso universal e resultados individual e socialmente justos. Para alcançar tal objetivo, os autores defendiam o pressuposto que não haveria nenhum procedimento ou instituição jurídica imutável e o desenvolvimento de “Três Ondas”, a saber: 1ª Onda - Assistência Judiciária para os pobres (judicare; defensoria pública, advogados pro bono, etc.); 2ª Onda - Representação dos Interesses Difusos pela ação governamental ou procuradores privados ou ainda advogados particulares com interesse público – vinculados à Organizações Não Governamentais; 3ª Onda – Mudanças no conjunto de instituições, mecanismos, procedimentos para administrar e/ou prevenir disputas: Resolução Alternativas de Disputas (RAD). Ao final dos trabalhos, os relatores do Projeto Florença fazem algumas advertências. Pensado a partir dos de sistemas judiciais de vários países, as “ondas” ao chegarem um determinado país deveriam ser incorporadas aos sistemas nacionais com o cuidado de não se pretender transplantar instituições de uma cultura jurídica para outra. Todo o processo deveria ser acompanhado de pesquisas empíricas e interdisciplinares para monitorar as mudanças efetivadas. E talvez o mais importante, esse novo modelo não deveria permitir, de forma alguma o abandono de conquistas pretéritas, como são os direitos do trabalhador entre nós. Mas será que esses cuidados foram seguidos entre nós? É o que veremos a seguir. Podemos identificar essas ondas batendo em nosso ordenamento jurídico, por exemplo, na Constituição de 1988, que estabeleceu no Artigo 5o (Direitos e Garantias Fundamentais), inciso LXXIV, que “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. A Defensoria Pública, modelo adotado pelo legislador constituinte, foi definida no artigo 134 da Constituição como “instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados”. Posteriormente, em 2004, através da Emenda Constitucional 45, a Defensoria Pública conquistou autonomia funcional e administrativa, dando-lhes tratamento equiparável à Magistratura e ao Ministério Público. A este último, o Ministério Público, nas esferas federal e estadual, a Constituição determinou a efetivação da “segunda onda” do Projeto Florença. Os interesses difusos ficaram sob sua tutela, dos quais o Meio Ambiente é o mais evidente. A “terceira onda” teve seu desenvolvimento de forma mais complexa e, de certa forma, chegou aqui antes! Isso por que veio a partir das experiências das Small Claims Courts norte-americanas. No início da década de oitenta dois movimentos se entrecruzaram. No âmbitofederal, o movimento pela desburocratização e racionalização da máquina administrativa, com uma consequente redução da presença do Estado na vida do cidadão, apontava na direção da criação de agências específicas para lidar com a conflituosidade do dia a dia da sociedade. Coetânea a este movimento houve a criação, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul de Conselhos de Conciliação e Arbitragem, em 1982 (Vianna, 1999). Na esfera federal, em 1984 foi aprovada a Lei 7.244, que disciplinou a abertura de Juizado de Pequenas Causas (JPC), vinculados aos sistemas de justiça estaduais. Estes juizados deveriam ter como princípios a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade, “buscando sempre que possível a conciliação das partes”. 1. A INCORPORAÇÃO DA RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE DISPUTAS EM NOSSA CULTURA JURÍDICA As causas que poderiam ser levadas aos JPC eram as de pequeno valor econômico ou que tratassem de direitos patrimoniais que não excedessem o valor de 20 salários mínimos vigentes e que tivessem por objeto: “I - a condenação em dinheiro; II - a condenação à entrega de coisa certa móvel ou ao cumprimento de obrigação de fazer, a cargo de fabricante ou fornecedor de bens e serviços para consumo; III - a desconstituição e a declaração de nulidade de contrato relativo a coisas móveis e semoventes.” (Lei 7.244, art. 3o.) Como se vê, um conflito que poderia ser levado ao JPC deveria ter como objeto uma significação comum e que pudesse ser traduzida em termos monetários. Por outro lado, mesmo que sendo um organismo vinculado ao sistemas de justiça estaduais, vários estados criaram sistemas de administração de conflitos na esfera do Poder Executivo, com a criação dos Programas de Defesa do Consumidor (PROCON) e suas “audiências” de conciliação. Na Constituição de 1988, os JPC aparecem vinculados à União, aos Estados e ao Distrito Federal como sendo de competência concorrente, conforme o artigo 24, inciso X. Mas ao disciplinar a organização do Poder Judiciário, a CFRB 1988 traz a previsão dos Juizados Especiais Cíveis: “Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau”. (CFRB 1988, art. 98) Em 1995 foi aprovada a Lei Federal 9.099, que criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais (JEC/JECRIM) e revogou a Lei 7.244/1984. Os princípios norteados dos JPC, ou sejam, oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade foram mantidos e se somaram ao princípio da inversão do ônus da prova (que teve como objetivo proteger o consumidor uma vez que este se encontre em posição de hipossuficiência frente ao mercado), incluído no ordenamento jurídico brasileiro pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90. À busca pela conciliação prévia entre as partes, fez com que a lei acrescentasse ainda a possibilidade do estabelecimento de um “juízo arbitral”, a ser definido entre as partes. Orientado pelo estabelecido na lei e pelo princípio da equidade. O discurso legitimador da criação dos Juizados Especiais era o da celeridade. O sistema judicial comum era considerado lento e incapaz de promover a redução da conflituosidade social. Estava presente o discurso da Conferência Pound, mas ressignificado por nossa cultura jurídica que o manteve associado ao sistema estatal. Ou seja, ambos discursos, o da Terceira Onda do Projeto Florença e o da Conferência Pound receberam uma tratamento local, que chegou até a criação do Juizado Especial contra a Violência contra a Mulher, previsto na Lei Maria da Penha (Lei 11.240/2006). Mais de 20 anos após a lei que criou dos Juizados Especiais e mais de 30 anos dos Juizados de Pequenas Causas, o que se vê é que, em alguns estados, houve um “engarrafamento” das causas nos JEC’s e um “desafogamento” das varas cíveis comuns. A celeridade não é uma das marcas do JEC nos dias de hoje. Mas o mais importante é que o modelo não conseguiu reduzir a conflituosidade social. Empresas demandadas nos juizados não alteram suas práticas ilícitas, preferindo pagar indenizações do que ajustar-se ao que deveria ser seu comportamento no mercado. Da mesma forma, em outras áreas onde o modelo de RAD foi adotado, como em processos de família, também se questiona o sucesso da ideologia da harmonia, ou do “acesso à justiça”. É sobre isso que trataremos agora. Equidade Equidade é um conceito polissêmico. Em sua etimologia, seria o equivalente à igualdade. Mas em uso contemporâneo é mais que isso. Por exemplo, a Constituição de 1988 consagra como princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) a universalidade, a integralidade e a equidade. Aqui, a equidade significa a atenção à saúde dos indivíduos de acordo com suas necessidades, ou seja, cuidar mais de quem precisa e menos a quem requer menor atenção. O Direito não só atribui vários sentidos à equidade, como adjetiva-o, conforme seu objeto. Em um sentido mais geral, a equidade implica em respeitar o direito de cada pessoa de acordo com um sentido de justiça amplo. Isso permite ao Direito reconhecer como justas decisões diferentes sobre causas semelhantes em função das diferentes necessidades dos sujeitos. Qualificada, a equidade pode ser interpretativa – acionada pelo magistrado para o caso concreto –, corretiva – alterando dispositivos predeterminados, como o tempo da pena –, quantificadora – quando é definido um valor de uma indenização por dano moral, por exemplo –, integrativa – quando mais de um dispositivo é acionado para alcançar adequadamente o sentido de justiça –, ou processual –que corresponde à flexibilização de normas ou regras, de acordo com a vontade das parte, ou do magistrado, como em casos de arbitragem. Saiba Mais! Assista o vídeo no YouTube o vídeo “Maria da Penha: un caso de litígio internacional”. Observe a tabela abaixo, elaborada por uma Comissão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgada em publicação de 2013 e reflita, tendo como exemplo a tabela abaixo, sobre o papel da Lei e do Judiciário na redução da violência doméstica contra a mulher e se as expectativas retratadas no vídeo pelas protagonistas, inclusive Maria da Penha. Comentário Não há dúvida que a decisão interpõe um obstáculo ao desejo da empresa concessionária que seria o fim do furto de energia e a efetivação um “mercado de consumo e consumidores de energia”. Por outro lado, o argumento do magistrado foca o passado, o evento. O acusado havia tido a “intenção” de furtar? Fora ele o autor? Ou o processo deveria focar no dano que o “gato” provoca na sociedade, quando os consumidores arcam com os prejuízos da empresa causado pelas perdas de energia? 1.1 A Conciliação como Conceito / Norma A expressão “conciliação” tem procedência latina: conciliatione, que significa “ato ou efeito de conciliar; ato ou efeito de apaziguar-se com; pacificação, acomodação. De acordo com o Tribunal do Estado do Paraná o conceito de conciliação, em síntese representa “um meio alternativo de resolução de conflitosem que as partes confiam a uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo. O conciliador é uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntária e após treinamento específico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício ao entendimento mútuo, à aproximação de interesses e à harmonização das relações” Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J A partir desse conceito, fica fácil perceber que a conciliação está composta por elementos subjetivos e objetivos. Dentro dos primeiros estão as partes, solicitante (autor) e solicitada (réu), e o conciliador, com todos os seus direitos, deveres e responsabilidades. Como elementos objetivos, temos a objeto conciliável, a existência de um conflito, o animo conciliatório e o acordo afirmado em ata. A essência da conciliação é a existência de um choque de interesses subjetivos que admitam composição. A incerteza de uma decisão impositiva (sentença heterônoma) é um dos pressupostos que levam as partes em litígio a desejarem obter um acordo. Outro aspecto fundamental em um conciliação é que o objeto da disputa seja significado de forma similar pelas partes. E, em muitos casos, esta é a principal tarefa do conciliador: construir nas partes um significado único para o objeto da disputa. O acordo que se busca desenvolver na conciliação, sua conclusão satisfatória para as partes, é que ele deve ser justo, equânime e legítimo, que contenha um horizonte temporal adequado e que reflita questões materiais e não somente de forma. O procedimento de conciliação é um processo artesanal, que demora em ser feito. Deve-se ter cuidado na análise, qualificação do conciliador e dedicação para obtenção de um melhor resultado (Pinho, s.d.) Pode-se dizer que o processo de conciliação se operacionaliza em quatro etapas, nos termos seguintes: “(1) abertura, onde são feitos, por intermédio do conciliador, os esclarecimentos iniciais sobre o procedimento e todas as implicações legais referentes ao alcance do acordo gerado naquela oportunidade ou de sua impossibilidade. Logo após, passa-se para os (2) esclarecimentos das partes sobre suas ações, atitudes e iniciativas que acabaram por fazer nascer o conflito. Momento de vital importância no procedimento, pois é nele que se manifestam as posições de cada uma das partes. O conciliador, por seu turno, deverá identificar os pontos convergentes e divergentes da controvérsia, através do desencadeamento de perguntas sobre o fato e a relação causal entre eles, bem como se fazer valer de uma escuta ativa sobre a comunicação verbal e não verbal das partes. Na sequência, encaminha-se para o estímulo a Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J (3) criação de opções, quer seja através de sugestões trazidas pelo terceiro, quer seja por intermédio de propostas delineadas pelas partes, com o objetivo de se atingir o almejado consenso pela solução, e, posteriormente, (4) acordo, sua redação e sua assinatura. ” (BRAGA NETO, 2007) O novo código de processo civil, publicado em 16/03/2015, fortalece a conciliação, a mediação e a arbitragem como mecanismos hábeis aos fins dos litígios. Na realidade, a nova codificação estabelece como uma de suas principais premissas o incentivo à utilização dos métodos de solução consensual de conflitos, conforme se vê no artigo 3º, § 3º, inserido no capítulo inicial que trata das normas fundamentais do processo civil. Dentre as inovações no texto do novo código, o mais inquietante neste tema, devido aos impactos imediatos na estrutura do Poder Judiciário, é a idéia de audiência de conciliação/mediação como ato inicial do procedimento comum, ou seja, antes da apresentação da contestação pelo réu. Isso porque os tribunais não estão preparados para essa realidade legislativa, uma vez que a estrutura dos tribunais no interior dos Estados não permite atender aos anseios do acesso a justiça, pois certamente os agentes não teriam, ainda, qualificação adequada para a função. 1.2 A Mediação como Conceito / Norma Primeiramente, não há dúvida de que a Mediação é tida como um dos meios de resolução alternativa de disputas, pois é considerada uma alternativa à pura litigância. Ademais, seu modelo é traçável da seguinte forma: há um mediador, que não tem uma relação pessoal com as partes em conflito, e que deve agir como um facilitador, escutando-as e conduzindo-as a que cheguem a um acordo entre si. O número de partes envolvidas no conflito pode ser de dois ou mais, não havendo uma limitação. As características acima pontuadas são de caráter genérico, no sentido de que, ao menos no âmbito do tema Resolução Alternativa de Disputas, se tratam de aspectos que parecem ser comumente atribuídos à Mediação. Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J Buscando um aprofundamento do conceito, encontramos a discussão levantada pela professora, mediadora e advogada Fabiana Marion Spengler, quem defende que “enquanto o juiz é pensado, nos sistemas modernos, como o ‘nem um, nem outro, nem isto nem aquilo’, justamente neutro, o mediador deve ser ‘isto e aquilo’, deve perder a neutralidade e perdê-la até o fim. Enquanto as partes litigam e só veem seu próprio ponto de vista, o mediador pode ver as diferenças comuns aos conflitantes e recomeçar daqui, atuando com o objetivo das partes retomarem a comunicação, exatamente o múnus comum a ambas. O mediador torna-se meio para a pacificação, remédio para o conflito, graças ao estar entre os conflitantes, nem mais acima, nem mais abaixo, mas no seu meio”. Nesse sentido, a autora afirma que o mediador não seria um terceiro distante das partes, mas uma pessoa que se coloca no lugar de cada um dos envolvidos no conflito, identificando as questões por estes colocadas e tentando fazer com que retomem entre si uma comunicação que os leve a um acerto mútuo, a conclusões em comum. De acordo com o Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem, a postura do mediador deve ser direcionada pela imparcialidade (que se difere da noção de neutralidade), credibilidade, competência, confidencialidade e diligência. Outra característica da Mediação, no sentir e experiência da autora, é a de que este método não teria um tempo delimitado: poderia se dar de forma mais curta ou mais prolongada no tempo, a depender do que necessitam as partes para chegar a um acordo, se é que o desejam . Sessão Pipoca! Assista um vídeo da TV Justiça e observe as posições dos entrevistados sobre a temporalidade nos processos de Resolução Alternativa de Disputas. Disponível no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=fb23kePLvb8) pelo título de “Repórter Justiça – Arbitragem, Mediação e Conciliação”. Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J Apesar de ser possível apresentar um conceito mais ou menos genérico do que é a Mediação, devemos tomar em conta que seu formato pode sofrer modificações a depender do contexto em que é instituída e aplicada. Considerando aqui o contexto jurídico-normativo brasileiro, por assim dizer, apontamos duas das espécies normativas mais significativas sobre o assunto: a Resolução n.º125/2010 do ConselhoNacional de Justiça (CNJ) e o Novo Código de Processo Civil. A regulamentação trazida pelo CNJ em 2010, dentre outras coisas, levou os Tribunais de Justiça estaduais e federais a organizarem os chamados Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania, os quais serviriam a prestar serviços de Conciliação e Mediação externamente aos processos judiciais. Tais centros voltam-se, portanto, a mediações que se deem seja num momento anterior ao início de um processo litigioso (inclusive evitando-o, se alcançado um acordo); seja ao longo desse processo, caso as partes decidam “pará-lo” para tentar mediar o conflito fora do rito processual. O Novo Código de Processo Civil, por sua vez, além de ter absorvido muito do que já estava disposto na referida Resolução, passa a estabelecer, ainda, regras para Conciliação e Mediação que se realizem não apenas externamente aos processos judiciais, mas também “dentro” destes. A influência dos modelos de Resolução Alternativa de Disputas é tamanha no Novo Código, que o estímulo a métodos de solução consensual de conflitos passa a ser definido como uma nova norma fundamental do processo civil. 1.3 A Arbitragem como Conceito / Norma A arbitragem ganhou novo impulso na década de noventa, através de sua introdução em nosso ordenamento jurídico através da Lei 9.307/1996. Mecanismo presente em outros modelos jurídicos, a arbitragem contemporânea entre nós também pode ser vista no contexto da Resolução Alternativa de Disputas, seja no viés norte-americano, seja no viés do Acesso à Justiça do Projeto Florença. Como um mecanismo de resolução de conflitos, a arbitragem também está fundada na expressão pelas partes em prol de um acordo que ponha fim uma disputa que tenha por objeto um direito patrimonial disponível. Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J Como um processo que ocorre na esfera extrajudicial, no contexto internacional, a arbitragem permite que as partes – litigantes e árbitro – acionem e busquem convergir a partir de sistema judiciais distintos, o que a faz um interessante instrumento para conflitos internacionais, quando se pode construir uma ambiente de total autonomia de vontade entre as partes. Estes esforços não devem descuidar de valores fundamentais como a segurança e a justeza da decisão final, principalmente em conflitos que envolvem natureza econômica de valores elevados. Conforme a lei 9.307/1966, com alterações promovidas pela Lei 13.129/2015, a arbitragem pode ocorrer em substituição ao procedimento na justiça comum. Este procedimento pode ser desdobrado em duas etapas. A primeira corresponderia ao que a lei denomina “convenção arbitral”, formada pela cláusula compromissória e o compromisso arbitral. A primeira diz respeito ao compromisso formal das partes com o procedimento arbitral. A segunda diz respeito à concordância com o que for estipulado pelas partes na arbitragem. A arbitragem começa propriamente quando há a escolha e nomeação do árbitro, ou colégio arbitral, pelas partes. Em seguida tem-se a definição dos termos e requisitos da convenção arbitral para que possa se reduzir ao máximo a possibilidade de erro. é a verificação de todos os termos e requisitos da convenção arbitral, a fim de que possam ser sanadas algumas irregularidades, se houver. Dentro do juízo arbitral, as partes devem expor seus pontos de vista e apresentar suas razões, dentro do princípio do contraditório, em tantas rodadas quanto o árbitro julgar necessárias para a formação de seu convencimento. Diferente do sistema do contraditório, que uma vez iniciado (com algumas exceções, vale dizer), só termina com a decisão do juiz, na arbitragem as partes podem desistir a qualquer momento, seja por chegarem a um acordo satisfatório, seja por discordarem do andamento da arbitragem. Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J Em termos conceituais, então, conciliação, mediação e arbitragem são modelos de resolução alternativa de disputas que se afastam do modelo clássico do judiciário, no qual um ganha e outro perde, o que faz com que a sentença resulte em um sistema de soma zero. A RAD, como vimos, ou busca fazer com que ambas partes ganhem, talvez menos do que alguma delas ganharia no sistema anterior, mas fazendo com que o final do procedimento a soma dos ganhos das partes não seja zero. A arbitragem, como um caso particular, não necessariamente se afasta do resultado clássico da soma zero, mas mesmo para o perdedor, o procedimento fora da esfera do Estado representa um ganho em termos de tempo e de segurança sobre a adequação do resultado da arbitragem – o que nem sempre está presente em uma sentença, como vimos para o caso da Marina de Arraial do Cabo. O Conselho Nacional de Justiça apresenta sua visão sobre as diferenças entre a conciliação e a mediação: A Mediação é uma forma de solução de conflitos na qual uma terceira pessoa, neutra e imparcial, facilita o diálogo entre as partes, para que elas construam, com autonomia e solidariedade, a melhor solução para o problema. Em regra, é utilizada em conflitos multidimensionais, ou complexos. A Mediação é um procedimento estruturado, não tem um prazo definido, e pode terminar ou não em acordo, pois as partes têm autonomia para buscar soluções que compatibilizem seus interesses e necessidades. A conciliação é um método utilizado em conflitos mais simples, ou restritos, no qual o terceiro facilitador pode adotar uma posição mais ativa, porém neutra com relação ao conflito e imparcial. É um processo consensual breve, que busca uma efetiva harmonização social e a restauração, dentro dos limites possíveis, da relação social das partes. As duas técnicas são norteadas por princípios como informalidade, simplicidade, economia processual, celeridade, oralidade e flexibilidade processual. Os mediadores e conciliadores atuam de acordo com princípios fundamentais, estabelecidos na Resolução 125/2010: confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialidade, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e validação. 2. ALGUMAS PRÁTICAS DE RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE DISPUTAS EM NOSSO SISTEMA JUDICIAL Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J No mundo jurídico e social tais nomenclaturas se confundem e podemos oferecer duas imagens para ressaltar as diferenças entre esses processos. Imagine a Conciliação como um pequeno concerto, no qual dois músicos, as partes, ficam diante de um maestro que busca conduzir reclamante e reclamado a produzir uma harmonia onde havia conflito. O conciliador, diferente do maestro, entretanto, não deve escolher a partitura, ou a norma, deve deixar que os músicos procurem, a partir das suas respectivas vocalizações, encontrar um acorde, ou um discurso comum. Nesse acorde, ou acordo, nenhum dos dois sons deverá prevalecer sobre o outro, sem que seja de comum acordo. E, em tese, o “maestro” não produz sonoridade! Já a Mediação pode ser pensada como dois atores que buscam produzir um novo texto sob a orientação de um diretor. O diretor não propõe o texto, mas ele conhece o que é mais adequado. Ele pode dirigir os atores para um objetivo, mas não pode impor. O resultado da direção pode ser a recusa dos atores em continuar com a produçãoe buscar outro diretor, no caso um juiz. Alguns exemplos podem ajudar a compreender as diferenças, mesmo que a nomenclatura formal apareça trocada! 2.1 PROCON e as Audiências de conciliação Os Programas de Defesa do Consumidor (PROCON), órgãos da administração direta dos Estados e Municípios que se dedicam à proteção dos interesses individuais e coletivos dos consumidores, também ganharam destaque no contexto na 2º onda do movimento de acesso a justiça e frente à ineficácia do Estado na tutela de direitos dos consumidores, postulada pela criação de um código próprio sobre a matéria – o Código de defesa do Consumidor (CDC). Os PROCON são tidos como uma instância de resolução de conflitos individuais de consumo, como uma opção alternativa a via judicial. Essa fama se dá em virtude dos grandes números de acordos firmados nas audiências de conciliação realizados por eles. De acordo Igor Rodrigues Britto: “essas audiências realizadas pelos PROCONS, hoje configuram uma das ferramentas de acesso à justiça mais usuais para os consumidores. A inexistência de custos para o cidadão, a celeridade do processo administrativo e o grande Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J aproveitamento das audiências em favor dos consumidores, elevam os níveis de satisfação da comunidade em relação aos trabalhos do PROCON, fazendo com que a procura por estes órgãos seja muito maior do que em relação aos Juizados Especiais Cíveis. Os altos índices de solução dos conflitos pelas audiências dos órgãos é a principal causa do constante aumento da demanda dos administrados pelos PROCON.” Como se lê, a opção pela procura ao órgão não seria pela efetividade do Direito, mas sim por razões econômicas e temporais. Na pratica, o consumidor aceita as ofertas das empresas, pois temem a longevidade de um processo judicial e não há ônus imediato para sua reparação. Por outro lado, as empresas têm interesse em acordos feitos dentro do PROCON, pois diminuem seus custos operacionais, como advogado, custas processuais, dentre outros. Em que pese os expressivos números de acordos feitos pelo PROCON, cabe refletir a qualidade dos acordos firmados. Como dito, o acesso a justiça requer matéria e não somente forma. 2.2 A Mediação e as Varas de Família Os conflitos são inerentes às relações interpessoais, e isso pode ser vastamente percebido, por exemplo, no âmbito familiar. Geralmente, os problemas relacionais familiares não surgem do dia para a noite: são um somatório de insatisfações pessoais, de emoções reprimidas, de desinteresses, traições, dentre outros sentimentos. O mediador deve atuar facilitando às partes que percebam o que lhes estaria impedindo de tomarem uma decisão quanto a seus impasses, sejam estes de cunho patrimonial, financeiro e/ou de cuidado e obrigações para com os filhos, o que pode ocasionar alguma parte a se decepcionar com o procedimento, partir para ameaças e outras desavenças. O Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (CONIMA) reconhece o profissional mediador como: “Um terceiro imparcial que, utilizando procedimentos adequados, se põe a colaborar com as partes para que possam conjuntamente identificar os seus conflitos e interesses, proporcionando que ambas atinjam o consenso capaz de fazê- los encontrar alternativas de solução e consequente realização de acordo.” Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J A imparcialidade, credibilidade, competência, confidencialidade, diligência são os princípios que devem direcionar a postura do mediador, de acordo com o CONIMA. Nesse sentido, principalmente na área de família, o sucesso do instituto da mediação parece ter a ver com certo aspecto deontológico, que diz respeito ao dever-ser do mediador, principalmente nos conflitos envolvendo família, que têm como característica a implicação de fortes sentimentos. Não podemos deixar de destacar que na mediação em conflitos de família ( e porque não pensar nos conflitos socioambientais) os sentimentos de mediador se somam aos das partes, criando um novo contexto, tripartite e não mais dialógico, por mais capacitado que o mediador tenha sido. Uma discussão sobre a pratica em relação aos imperativos da neutralidade e imparcialidade na profissão do mediador, na perspectiva dos estudos da fala- em-interação, em pesquisa de natureza qualitativa e interpretativa, de base colaborativa, concluiu que: “ A perspectiva dos estudos de pequenas comunidades permite-nos fazer uma recalibragem das descrições dos manuais de mediação. Teríamos a dizer, ao contrário dos manuais, que mediadores usam, sim, a avaliação para administrar conflitos e tomar posição perante os “mediandos”, mesmo que seja a posição da lei.[...] Em decorrência desses fatos, somente podemos conceder a “neutralidade” como uma ficção; não há um discurso sem avaliação. A neutralidade apregoada nos manuais de mediação pauta-se por uma visão objetivista de linguagem desconectada do que mediadores reais fazem em situações reais de mediação.”(Santana et al., 2012) Veja-se que o mesmo modelo de procedimento de Mediação é usado tanto para as questões civis (comerciais), quanto para as de família. Apesar da demanda ser totalmente diferente, o modus operandi do procedimento de mediação é igual, inclusive em relação ao tempo das sessões de audiência e qualificação do mediador. Assim, em nosso sentir, na Mediação de conflitos familiares haveria um maior peso, por assim dizer, na figura do mediador, já que lhe é demandado um agir diferenciado no lidar com questões mais sensíveis inerentes a esses tipos de conflitos. Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J 2.3 A Arbitragem no Mercado ou o Mercado de Arbitragem Em São Paulo, uma entidade privada, independente e sem fins lucrativos foi fundada por dois advogados e se apresenta como um “Conselho Arbitral”. Seus objetivos são a harmonização das relações humanas através da mediação e da arbitragem, e se apresenta como um corpo de árbitros, advogados e profissionais capacitados para a administrar um conflito de maneira justa e eficaz. Um dos diferenciais da entidade é contar com uma equipe especializada em várias áreas do Direito, voltada para a oferta de uma rápida e justa administração e solução de conflitos. A oferta da harmonização da conflituosidade social no mercado é associada a uma tabela de custas. Os custos da arbitragem são variáveis em função do valor que as partes atribuem à causa. Há um valor mínimo para as custas iniciais que começam em R$ 4.000,00 chegando a R$ 200.000,00 para causas com valor acima de R$ 10.000.000,00. As audiências adicionais são cobradas com valores que variam de R$ 500,00 a R$ 1.000,00 por hora. Os custos são reembolsados pelas partes, conforme comprovação da instituição. Além disso, os árbitros são remunerados por hora de trabalho, que varia de R$ 400,00 a R$ 500,00. Não é necessário dizer que, nos termos atuais, a arbitragem não é um veículo factível para a administração de conflitos socioambientais... Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J Seja pela via norte-americana, seja pela via europeia, ou em outros termos, seja em conformidade com a Conferência Pound ou com a 3a Onda do ProjetoFlorença, a Resolução Alternativa de Disputas entre nós seguiu o padrão de absorção pelo Estado de processos que foram pensados como pertinentes à esfera da sociedade. Em outras palavras, com exceção da Arbitragem, seja a mediação, seja a conciliação são, via de regra, ou etapas prévias ao processo judicial mas por ele determinadas, ou se desenvolvem ao longo do processo. Em todos os casos, do ponto de vista das partes, o desejável é a palavra do juiz, da autoridade, e não de um mediador ou conciliador leigos. Essa constatação, por outro lado, nos leva a uma outra consideração: pode a ideologia da harmonia ser incorporada às sociedades de forma coercitiva? Segundo os argumentos de Laura Nader, mesmo na sociedade norte- americana a ideologia da harmonia foi introduzida na administração de conflitos de forma heterônoma, ou seja, de fora para dentro. Qual seria, então, as diferenças entre nós e eles? Uma pista pode vir da observação das relações entre Sociedade e Estado. Não seria descabido afirmar que há relações simétricas entre esses polos. Em alguns processos históricos, foi a Sociedade quem criou o Estado, de acordo com seus interesses. Em outros, foi o Estado quem conformou a Sociedade, para que uma elite se perpetuasse no poder. Deixamos para você pensar qual dos processos descreveria a nossa trajetória histórica. Nos termos de nossa aula, podemos afirmar que a harmonia pode ser coercitiva em contextos nos quais tenha sido a sociedade quem tenha constituído o Estado. Neste processo a coerção ganha uma legitimidade autônoma (de dentro para fora), que supera a decisão heterônoma pela mudança. Em nosso caso, nos parece óbvio, que a RAD acabou por ser incorporada ao sistema judicial, em parte ou no todo e, assim, não tem a potencialidade de produzir o efeito desejado de redução da conflituosidade social à margem do Estado e produzir uma sociedade com menor conflituosidade. CONCLUSÃO, OU A HARMONIA PODE SER COERCIVA? Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J Vimos nessa aula os três modelos de Resolução Alternativa de Disputas (Conciliação, Mediação e Arbitragem) que chegaram até nós. Vimos também que essas trajetórias tiveram inícios distintos, que seja a via do Projeto Florença, seja via Conferência Pound acabaram por produzir efeitos semelhantes, ou seja, foram incorporados pelo sistema judicial estatal. Vimos também que apenas a Arbitragem conseguiu se manter autônoma em relação ao Estado, apesar de em função dos custos que implica não estar ao alcance da enorme maioria da população. Por fim, vimos que, mesmo representando novos modelos de administração de conflitos, a conciliação e a mediação não representam modelos com maior capacidade de administrar conflitos tratáveis ou conflitos intratáveis, por reproduzirem a lógica do sistema judicial oficial. RESUMO Conciliar, Mediar, Arbitrar: significados próximos, práticas próprias, resultados de sempre CEDER J BRAGA NETO, Adolfo. 2007. Alguns aspectos relevantes sobre a mediação de conflitos In: GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo; LAGRASTA NETO, Caetano (Coord.). Mediação e gerenciamento do processo: revolução na prestação jurisdicional. São Paulo: Atlas. CAPPELLETTI, Mauro & GARTH, Bryant. 2002. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor. NADER, Laura. 1994. Harmonia coerciva: a economia política dos modelos jurídicos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.9, n.26, São Paulo out. 1994. PINHO, Humberto Dalla B. 2004. Mecanismos de Solução Alternativa de Conflitos: algumas considerações introdutórias, in Revista Dialética de Direito Processual, vol 17, pp. 09/14, São Paulo: Oliveira Rocha. POSNER, Richard . 2010. A Economia da Justiça. São Paulo: Martins Fontes. SCHEPPELE, Kim L. 1988. Legal Secrets: equality and efficiency in the Common Law. Chicago: The Chicago University Press. SPENGLER, Fabiana Marion. 2016. “O Tempo do Processo e o Tempo da Mediação”, in Revista Eletrônica de Direito Processual, vol. VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS