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DIMENSÕES 
DO JOGO
Mariluce Ferreira 
Romão
Semelhanças e diferenças 
entre brincadeira, jogo 
e esporte
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Listar diferenças e semelhanças entre brincadeira, jogo e esporte.
 � Reconhecer as diferenças entre brincadeira, jogo e esporte na 
concepção do trabalho pedagógico e formativo do professor de 
educação física.
 � Planejar atividades pedagógicas relacionadas à prática de brincadeiras, 
jogos e esportes na educação básica.
Introdução
Os jogos, os esportes e as brincadeiras são alguns dos diversos meca-
nismos considerados “facilitadores” pedagógicos. Além disso, eles são 
capazes de espelhar a sociedade. Os jogos cooperativos, por exemplo, 
envolvem valores e atitudes que podem ser assimilados pelas crianças 
e adolescentes. Por isso, defende-se a representatividade dos jogos, dos 
esportes e das brincadeiras no processo de ensino e aprendizagem na 
escola.
Neste capítulo, você vai ver diferenças e semelhanças entre brin-
cadeira, jogo e esporte. Também vai conhecer as diferenças entre 
brincadeira, jogo e esporte na concepção do trabalho pedagógico e 
formativo do professor de educação física. Além disso, vai ver como 
desenvolver atividades pedagógicas relacionadas a essas práticas na 
educação básica.
Brincadeira, jogo e esporte
Para começar o estudo deste capítulo, você precisa compreender e relacionar 
as características da brincadeira, do jogo e do esporte. Murcia e colaboradores 
(2008) define jogo como uma atividade ou ocupação voluntária. Tal atividade 
é exercida em determinado tempo e espaço segundo regras livremente permi-
tidas, entretanto obrigatórias, e é caracterizada como um fim em si mesma. 
Em um jogo, identificam-se os sentimentos de tensão e alegria e a consciência 
de ser diferente do senso comum.
O jogo, na condição de ferramenta de aprendizagem, é um recurso de 
grande interesse para os educadores. Afinal, ele está intimamente associado 
ao desenvolvimento do ser humano, em uma esfera social, criativa, afetiva, 
histórica e cultural. Partindo desse pressuposto, é de grande relevância que os 
profissionais que lidam com crianças busquem conhecimento sobre o tema, 
favorecendo um melhor direcionamento pedagógico. Sobretudo, é importante 
você ter em mente que o jogo é uma oportunidade de desenvolvimento (MELO; 
VALE, 2005).
Vivenciando situações de jogos, a criança descobre, aprende e desenvolve 
várias habilidades, bem como experimenta e inventa infinitamente. Aspectos 
referentes à inteligência e à sensibilidade são continuamente desenvolvidos. 
A qualidade do que é oportunizado à criança por meio de jogos define o 
equilíbrio entre as suas potencialidades e a sua afetividade. Desse modo, o 
jogo é importante não somente para incentivar a imaginação das crianças, mas 
também para auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas 
(ALVES; BIANCHIN, 2010).
No link a seguir, você encontra o artigo O jogo como recurso de aprendizagem, um 
estudo muito interessante sobre esse tema.
https://goo.gl/eoKadL
Tendo em vista a dificuldade de diferenciar jogo e brincadeira, opta-se 
frequentemente por utilizar os termos indistintamente. Tal costume permanece 
Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte2
difundido nos estudos sociológicos, psicológicos, filosóficos e/ou pedagógicos. 
Devido à tal complexidade, a ciência muitas vezes fraciona esses conceitos, 
deixando-os sob a responsabilidade de quem os define.
Algumas características podem ser verificadas no jogo. Por exemplo: um 
jogo possui normas, é prazeroso, está fora da realidade, não dispõe de obriga-
ção, tem perfil absorvente, possui tempo e lugares próprios, bem como propõe 
limites, liberdade e invenção. Contudo, o jogo facilita o que era complexo, em 
níveis variados. Daí a importância da sua utilização na escola, considerando 
a pedagogia e a psicologia, para as quais o jogo detém “[...] um papel vital na 
história da autoafirmação da criança, e na formação da sua personalidade” 
(METODOLOGIA..., 2012).
Você conhece a queimada? Organizada em duas equipes, ela envolve a situação 
fictícia de uma “guerra”, na qual uma equipe vence a outra com arremessos de 
bola. O elemento imaginário do jogo vai sendo mascarado pelas regras, cuja 
complexidade vai aumentando e às quais os jogadores devem manter um nível 
alto de atenção.
Por essa razão, é necessário propor aos alunos debates com enfoque nas situações 
de violência que o jogo pode ocasionar. Esses debates devem abordar também as 
consequentes regras para o domínio de tal violência. Assim, os alunos serão capazes 
de perceber, por exemplo, que um jogo como a queimada é discriminatório, visto que 
os mais fracos são eliminados (queimados) primeiramente, perdendo a oportunidade 
logo no início do jogo. Note que isso não significa que não se deve jogar queimada. É 
apenas necessário adaptar as regras, de maneira que a competição não se sobreponha 
à ludicidade.
O esporte moderno tem suas origens na Inglaterra, no período da Revolução 
Industrial, no final do século XIX. Esse momento histórico tem características 
similares às do atual. Destaca-se, por exemplo, a especialização e a raciona-
lização. Muitas modalidades esportivas conhecidas atualmente têm as suas 
“raízes” nesse tempo, como o futebol, o atletismo moderno e o rúgbi.
3Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte
Se você se interessa por rúgbi e quer saber mais sobre esse esporte, leia o artigo Perfil 
antropométrico e fisiológico de atletas brasileiros de rugby, disponível no link a seguir.
https://goo.gl/FH8GT5
O esporte representa uma ação social institucionalizada. Ele é composto 
por regras e se desenvolve com alicerce lúdico, perfil competitivo, entre dois 
ou mais oponentes, ou contra a natureza, com o objetivo de comparar desem-
penhos, determinar o vencedor ou registrar os resultados. Os “fins” atingidos 
pelos praticantes sinalizam as habilidades ou estratégias utilizadas por eles, 
que podem ser intrínsecas ou extrinsecamente gratificantes. Com maior rigor, 
o jogo é definido como uma atividade corporal de movimento, com caráter 
competitivo, que surgiu na Europa em torno do século XVIII. A sua prática 
difundida mundialmente foi desenvolvendo e assumindo características básicas, 
como a competição, o rendimento físico e técnico, o record, a racionalização 
e o treinamento com cunho científico.
Na condição de uma prática social, o esporte é capaz de institucionalizar 
a ludicidade da cultura corporal, envolvendo códigos, sentidos e significados 
da sociedade. Esta, por sua vez, é responsável pela criação e pela execução 
dos esportes. Por essa razão, é necessário refletir sobre as interfaces, a fim 
de definir uma abordagem pedagógica que foque o esporte em relação com a 
escola, não o esporte na escola.
O esporte é subordinado aos códigos e significados predeterminados pela 
sociedade capitalista. Portanto, está vinculado social e culturalmente a ela, 
bem como às condições que lhe são inerentes, especificamente quando a 
referência é o valor educativo no currículo escolar. Entretanto, suas caracte-
rísticas próprias podem reproduzir as desigualdades sociais. Por essa razão, 
o esporte pode ser considerado uma forma de controle social. Tal controle se 
dá pela adaptação do praticante aos valores e normas dominantes defendidos 
para a “funcionalidade” e o desenvolvimento da sociedade.
Em contrapartida, o que a aprendizagem no esporte preconiza, como o 
domínio dos elementos técnico-táticos e a predisposição fisiológica para a 
sua execução, destaca nitidamente que a finalidade é vencer a competição, 
o que é encarado como fim em si mesmo. Tendo em vista a certificação do 
Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte4
esporte como fenômeno social, tema da cultura corporal, é necessário ser 
crítico diante das suas normas, condições de adaptação à realidade social e 
cultural da comunidade que o pratica, criae recria.
Na escola, é preciso ter a preocupação em resgatar os valores que benefi-
ciam o coletivo sobre o individual, ressaltando os aspectos colaborativos, o 
entendimento de que não se joga sozinho e de que jogar com o companheiro 
é diferente de jogar contra o adversário. Em resumo, no esporte as regras não 
podem ser alteradas, por serem consideradas universais, e os atletas devem 
estar sempre paramentados. Além disso, é de praxe haver benefícios, como 
medalhas, troféus ou dinheiro. No jogo, as regras têm perfil mais flexível, livre, 
com vistas a alterações. Na brincadeira, as regras são passíveis de alteração 
em qualquer tempo.
Nas Olimpíadas e na Copa do Mundo, há competições de esportes em que as regras 
são iguais para todos e os participantes são obrigados a aceitá-las. Já em um jogo de 
futebol que acontece no final de semana, as regras devem ser estabelecidas antes de 
a partida começar, para que não haja brigas. Mas elas são fixadas de acordo com os 
participantes. Por fim, em uma brincadeira de futebol, o número de jogadores varia 
e é possível entrar e sair de campo a qualquer hora.
Brincadeira, jogo e esporte no trabalho do 
professor de educação física
Os jogos e as brincadeiras infantis devem ser aplicados, preferencialmente, 
às próprias crianças na educação infantil. Por exemplo, as brincadeiras de 
corre-cotia e batata quente, amplamente conhecidas na infância, são mais 
adequadas para crianças menores, pelo baixo nível de exigência e organi-
zação. Em contrapartida, existem brincadeiras e jogos, como escravos de 
Jó, que podem ser interessantes e motivadores para crianças e adolescentes, 
dependendo de como são propostos. Por isso, todos podem e devem jogar, 
mas o nível (de complexidade/exigência) de cada brincadeira e jogo deve ser 
adaptado ao patamar (de compreensão/habilidade) de quem executa, assim 
como ocorre com todas as demais atividades da cultura corporal.
5Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte
Uma pesquisa realizada com alunos do ensino médio implementou um programa 
de educação física que utilizou apenas o conteúdo de jogos por um bimestre. Entre 
os jogos, o pesquisador propôs: diferentes tipos de queimadas, hand sabonete, 
pique-bandeira, quatro cantos e outros. Ao fim do programa, os alunos avaliaram 
positivamente o curso e ressaltaram que esses conteúdos (jogos) deveriam estar 
presentes sempre que possível nas aulas regulares de educação física. Como você 
pode notar, isso mostra o bom trânsito que os jogos podem ter, inclusive com 
alunos mais velhos.
Concepção de educação física
Conforme Darido e Rangel (2017), a educação física é considerada uma 
prática pedagógica que referencia a cultura corporal do movimento. Par-
tindo desse pressuposto, a preocupação prioritária é direcionada à prática 
pedagógica que caracteriza a educação física na educação básica. Entende-se 
que o objetivo central da educação física escolar é introduzir e integrar os 
alunos na cultura corporal de movimento, desde a educação infantil até́ o 
ensino médio. Assim, a ideia é formar cidadãos que vão usufruir, partilhar, 
produzir, reproduzir e transformar as manifestações que caracterizam 
essa área, como o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, a luta e as práticas 
alternativas. O conjunto de tais manifestações consiste nos conteúdos da 
educação física escolar, que devem ser elaborados em todas as suas dimen-
sões: conceitos, procedimentos e atitudes. Assim, nas aulas de educação 
física, são tais conteúdos que devem ser vivenciados e contextualizados, 
a partir de elaborações e reflexões cada vez mais críticas e complexas. Os 
alunos devem saber não só conceitos sobre os conteúdos, mas também 
procedimentos e atitudes necessários para realizar quaisquer atividades 
propostas, respeitando a sua individualidade e o grupo.
Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte6
A finalidade de cada aula deve ser discutida com os alunos. É preciso explicar as 
diferentes experiências vivenciadas e demonstrar que qualquer um pode alcançar 
o objetivo proposto. Para isso, é possível utilizar meios diversificados. O processo de 
ensino e aprendizagem que ocorre em cada aula deve ser avaliado pelo professor e 
pelos alunos, a fim de melhorá-lo, adequando-o à realidade de cada turma. Para isso, 
devem ser organizados momentos de avaliação democráticos, com enfoque sistemático 
e direcionamento coletivo. Além disso, o professor deve, em geral, conscientizar 
os estudantes acerca de critérios fundamentais. Enfim, é considerado fundamental 
que o professor compartilhe com os alunos suas propostas, suas intenções, seus 
conhecimentos e também suas dúvidas e preocupações.
De acordo com Murcia e colaboradores (2008), o alicerce da aprendizagem 
motora na proposta dos jogos motores, bem como dos esportivos, em um 
espectro compreensivo, está na teoria do esquema. Trata-se de uma exe-
cução ampla e diversa, considerada favorável à aprendizagem motora. Esse 
mesmo contexto, associado à aprendizagem esportiva, sugere a observação 
de situações de jogos e desenvolvimento de habilidades na infância, o que 
remete à importância da prática na evolução motora e explica as diferenças na 
progressão da aprendizagem esportiva, tendo em vista o nível de conhecimento 
específico sobre as ações.
Na aprendizagem esportiva, diversificar as condições significa induzir os 
alunos a novas respostas e, sobretudo, ocasionar mudanças no aprendiz que 
causem adaptações às respostas, com vistas a estabelecer novos parâmetros. 
Dessa forma, a variação da prática pressupõe que quem aprende emprega 
recursos de processamento para:
 � reconhecer as diferentes variações da tarefa, em termos de semelhança 
ou diferença com o previamente praticado;
 � recuperar sua memória de exemplos de experiências passadas, com as 
correspondentes consequências sensoriais;
 � decidir sobre o plano motor a ser executado, especificando os parâmetros 
concretos em cada situação;
 � corrigir o movimento, enquanto o está executando ou posteriormente, 
atualizando seu plano motor;
 � avaliar as consequências e os efeitos de sua ação;
 � colocar em dia e revisar o esquema motor de resposta.
7Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte
A aprendizagem esportiva pressupõe que o aprendiz se vincule às novas 
ações, que necessitam ser ajustadas às diversas e variáveis situações de jogo.
Os jogos cooperativos são considerados uma nova tendência na educação 
física, por priorizar e valorizar a cooperação em detrimento da competição. 
Trata-se de detalhar as análises filosóficas e sociológicas, considerando os 
efeitos do capitalismo sobre a competição e a importância da cooperação no 
meio social atual, em contexto de jogo. A ênfase está na busca de valores 
mais humanitários no âmbito da aprendizagem escolar (CORREIA, 2006).
A cooperação e a solidariedade representam valores que vêm conquistando 
maior destaque em vários setores da sociedade. A educação física, desde os 
anos 1980, tem demonstrado a intenção de amenizar o seu perfil esportivo e 
competitivo. Assim, os jogos cooperativos delineiam o melhor meio para tal fim.
Atividades relacionadas à prática de brincadeiras, 
jogos e esportes na educação básica
O desenvolvimento da prática e da consciência de regras
Para compreender como os indivíduos se adaptam às regras, é indicado, 
conforme De Rose Júnior et al. (2009), avaliar tanto a afetividade quanto o 
nível de maturidade, evidenciando o respeito aos limites. Vale destacar que é 
importante questionar acerca da própria percepção, sobretudo diante de novas 
invenções, e sobre o que isso representa para os seus pares. Partindo desse 
pressuposto, quatro níveis foram convencionados para a prática da regra e três 
níveis para a consciência da regra. Você pode ver um resumo no Quadro 1. 
Mais adiante, os itens são descritos detalhadamente.
Fonte: Adaptado de De Rose Júnior e colaboradores (2009).
Idade aproximada Prática da regra Consciência da regra
Até 3 anos
Até 6anos
Até 11 anos
11 anos em diante
1 – Motor individual
2 – Egocêntrico
3 – Cooperação nascente
4 – Codificação de regras
1 – Não obrigatoriedade 
da regra
2 – Obrigatoriedade sagrada
3 – Obrigatoriedade devido 
ao consentimento mútuo
Quadro 1. Níveis de Piaget para a prática e a consciência das regras
Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte8
No desenvolvimento da prática das regras, identificam-se o nível motor 
individual, o egocêntrico, o de cooperação nascente e o de codificação de 
regras, de acordo com o que você pode ver no Quadro 2. Também se destaca a 
consciência das regras na criança: identifica-se o nível da não obrigatoriedade, 
o da obrigatoriedade sagrada e o da obrigatoriedade devido ao consentimento 
mútuo, conforme o Quadro 3.
Fonte: Adaptado de De Rose Júnior e colaboradores (2009).
Motor individual Egocêntrico
Cooperação 
nascente
Codificação 
de regras
Prevalecem 
relações 
individuais que 
correspondem à 
simples aplicação 
funcional dos 
esquemas de 
ação. As regras 
ainda não 
são impostas, 
entretanto a 
repetição dos 
atos condiciona a 
aceitação futura 
nos jogos sociais. 
Um exemplo 
desse tipo de 
“jogo” é o do 
bebê que atira um 
objeto no chão, 
repetidamente, 
para que o 
adulto o pegue, 
revelando, assim, 
o início de uma 
coordenação 
mútua das ações.
Caracteriza-se 
pela “imitação 
superficial” das 
regras. Nesse 
momento, as 
regras se tornam 
nítidas, entretanto 
“espelho” de 
crianças maiores, 
sem, contudo, o 
seu cumprimento. 
Nesse momento, a 
criança considera 
as regras, mas 
não assimila, 
necessariamente, 
o seu acato. 
Um exemplo é 
considerar limites 
demarcados 
em um jogo 
e, por diversas 
vezes, não os 
respeitar. Nesse 
tipo de jogo, são 
identificados 
vários vencedores, 
pois o objetivo 
consiste somente 
no prazer motor.
Nessa etapa, a 
regra normatiza as 
ações, de maneira 
real, entre os 
competidores. Ao 
prazer motor, da 
fase egocêntrica, 
é adicionado o 
foco na vitória 
sobre o oponente. 
A criança passa 
a respeitar 
rigorosamente 
as regras do 
jogo. O seu não 
cumprimento 
é considerado 
uma falha grave.
Finalmente, a 
criança demonstra 
maior interesse 
pela regra em si 
e por possíveis 
estratégias para 
tirar proveito e 
vencer cumprindo 
a regra. É comum 
a elaboração 
de novas regras 
e estratégias 
de jogo.
Quadro 2. Desenvolvimento da prática de regras
9Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte
Fonte: Adaptado de De Rose Júnior e colaboradores (2009).
Não obrigatoriedade
Obrigatoriedade 
sagrada
Obrigatoriedade 
devido ao 
consentimento mútuo
Associada à prática de 
regras, essa fase vai até o 
nível egocêntrico. Nesse 
momento, não é dada 
nenhuma importância 
à regra nem à sua 
prática. Mediante o 
desrespeito às regras, 
quaisquer mudanças são 
fáceis de serem aceitas. 
Atribui-se a origem das 
regras à criação divina, 
mitológica ou paterna.
Essa fase vai até meados 
do nível de cooperação 
nascente, considerando 
a prática das regras. Esse 
nível é caracterizado 
pela ilegitimidade de 
qualquer modificação 
ou adaptação à regra 
tradicional do jogo. 
A criança já é capaz 
de criar uma nova 
regra, ainda que com 
perfil radical contrário, 
mantendo a origem 
da regra como criação 
divina e paterna.
Surge, nesse nível, a 
consciência do caráter 
arbitrário e necessário 
das regras, como 
resultado de cooperação 
e aceitação mútuas 
entre os competidores. 
A origem é atribuída 
a uma convenção 
social. Contudo, a 
evolução da prática 
da regra não ocorre 
simplesmente pelo 
aumento do número de 
regras, e sim por uma 
essência qualitativa 
dada pela consciência. 
Quadro 3. Consciência das regras
Aspectos lúdicos para o ensino do desporto
A dimensão lúdica, conforme Tani, Bento e Petersen (2006), pode ser analisada 
tendo em vista cinco indicadores: o prazer funcional, o desafio, a criação de 
possibilidades, a dimensão simbólica e a expressão construtiva ou relacional. 
Você pode ver cada um deles a seguir.
1. Prazer funcional: representa as aptidões inatas, ou seja, a ação sina-
liza domínio sobre uma habilidade. Nesse contexto, os jogos não são 
considerados meios para outros fins, e sim fins em si mesmos. Quem 
aprende não tem o objetivo de desenvolver a inteligência, pois o foco está 
na repetição da atividade pelo prazer da execução. Na escola, é comum, 
Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte10
por exemplo, os alunos controlarem a bola com os pés aleatoriamente, 
sem o objetivo de aprender algo, ou até mesmo de fazer gol. Trata-se 
do mero prazer do movimento. Não obstante, na infância, o bebê repete 
inúmeras vezes a mesma ação, também pelo simples prazer funcional.
2. Desafio: sinaliza uma situação-problema, que representa um obstáculo 
a ser vencido, resultando em superação, de maneira que o resultado não 
possa ser previsto exatamente. Nesse momento, as propostas devem ser 
inéditas para que o aprendiz possa refletir sobre o que fazer, estabele-
cendo relações com suas competências e habilidades, bem como com 
a situação ou o adversário.
3. Mobilização de possibilidades: é a verificação de tarefas possíveis. 
Nesse momento, o aprendiz dispõe de subsídios suficientes para realizar 
a tarefa ou, pelo menos, parte dela.
4. Dimensão simbólica: possui perfil motivador e histórico, de maneira 
que a essência do que é executado na tarefa estabelece vínculo entre 
quem pratica e o que é feito. Trata-se de um aspecto essencial para a 
ludicidade na prática, visto que se relaciona com o mundo, por meio da 
imaginação, do conceito e da representação. O jogo simbólico presente 
nas atividades das crianças é o exemplo mais significativo da gênese 
desse aspecto na dimensão lúdica. Nesse momento, são atribuídos 
sentidos aos objetos. Isso é acompanhado de simulações de persona-
gens e fatos que projetam vontades, sentimentos e valores, capazes de 
expressar a própria cultura e o universo. Por exemplo, nas crianças 
mais velhas e adolescentes, observa-se que se espelham em adultos e/
ou jogadores que se destacam pela habilidade, como o saque conhecido 
como “jornada nas estrelas” do voleibol, as “enterradas” no basquetebol 
e o drible “pedalada” no futebol. Isso ressalta a representatividade da 
dimensão lúdica das ações no desporto.
5. Expressão construtiva ou relacional: a principal característica desse 
aspecto é o desafio de considerar algo sob vários pontos de vista. Em 
geral, não é possível apreender detalhes dos objetos de uma só vez. 
No futebol, por exemplo, a prática exige observação das posições e 
deslocamentos dos oponentes e companheiros, bem como da bola, 
do ataque, da defesa, entre outros aspectos. Portanto, o processo de 
aprendizagem implica investigar, planejar, estudar possibilidades, rever 
posições, pensar estratégias e alternativas, estabelecendo direções que 
ora diferenciam esses aspectos, ora os integram.
11Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte
A ludicidade das ações no ensino do desporto pode ser destacada em ambientes 
de aprendizagem. Você deve levar em conta o prazer funcional, o enfrentamento e 
a superação de desafios, a mobilização de possibilidades e suas significações. No dia 
a dia, é frequente ver crianças e adolescentes agregarem elementos lúdicos a suas 
atividades. Partindo desse pressuposto, por que não aprender com eles?
1. Em relação à prática de regras, qual é 
o objetivo na fase do egocentrismo?
a) O objetivo consiste em repetir 
atos que condicionam a 
aceitação futura de regras.
b) O objetivo consiste no prazer 
motor e na imitação superficial.
c) O objetivo consiste na 
vitória sobre o oponente.
d) O objetivo consiste em maior 
interesse pelas regras.
e) O objetivo consiste em 
relações individuais.
2. Sobre os aspectos lúdicos 
para o ensino do desporto, 
assinale a alternativa correta.
a) O perfil deve ser real.
b) É necessário superar dificuldades.
c) As propostas devem 
ser repetitivas.
d) As atividades devem ser 
individualizadas.
e) As possibilidadespara realizar 
as tarefas são inexistentes.
3. A variação da prática pressupõe que 
quem aprende emprega recursos de 
processamento. Com qual objetivo?
a) Aprender o movimento novo.
b) Ser avaliado pelas suas ações.
c) Reconhecer diferentes tarefas.
d) Conhecer um novo plano motor.
e) Iniciar um esquema 
motor de resposta.
4. Levando em conta as definições de 
jogo, brincadeira e esporte, o que 
é correto afirmar sobre o esporte?
a) Ao final, são apontados 
vários vencedores.
b) As regras podem ser alteradas 
a qualquer tempo.
c) As regras são flexíveis e 
passíveis de alteração.
d) Os valores beneficiam o 
individual sobre o coletivo.
e) As regras não podem ser 
alteradas em nenhum momento.
5. O jogo, como ferramenta de 
aprendizagem, é capaz de desenvolver 
quais competências e/ou habilidades?
a) Oportuniza desnivelamento entre 
as potencialidades do aprendiz.
b) Potencializa o egocentrismo 
do aprendiz.
c) Desenvolve a criatividade 
no aprendiz.
d) Dificulta o desenvolvimento 
cognitivo.
e) Estimula as divisões sociais.
Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte12
ALVES, L.; BIANCHIN, M. A. O jogo como recurso de aprendizagem. Rev. Psicopedagogia, 
v. 27, n. 83, p. 282-287, 2010.
CORREIA, M. M. Jogos cooperativos: perspectivas, possibilidades e desafios na edu-
cação física escolar. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 27, n. 2, p. 149-164, jan. 2006.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. (Coord.). Educação física na escola: implicações para a 
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DE ROSE JÚNIOR, et al. (Org.). Esporte e atividade física na infância e na adolescência: uma 
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MURCIA, J. A. M. et al. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed, 2008.
TANI, G.; BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S. Pedagogia do desporto. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2006.
Leituras recomendadas
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 4. ed. São 
Paulo: Scipione, 1997. (Pensamento e Ação no magistério).
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 
LOPES, A. L. et al. Perfil antropométrico e fisiológico de atletas brasileiros de “rugby”. 
Rev. Bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 387-395, jul./set. 2011. 
13Semelhanças e diferenças entre brincadeira, jogo e esporte
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