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PROFESSORES Dr. Rui Resende Me. Suelen Rodrigues da Luz Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store ATIVIDADE INTEGRADORA COMUM II: INICIAÇÃO ESPORTIVA 2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Lucas Pinna Silveira Lima, Designer Educacional Leticia Matheucci Zambrana Grou, Curadoria Ana Carolina Caputi, Emerson Viera Revisão Textual Elias Lascoski, Ilustração Bruno Cesar Pardinho Figueiredo, Fotos Shutterstock. Impresso por: Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). N964 Núcleo de Educação a Distância. RESENDE, Rui; LUZ, Suelen Rodrigues da. Atividade Integradora Comum II: Iniciação Esportiva / Rui Resende, Suelen Rodrigues da Luz. - Florianópolis, SC: Arqué, 2024. 164 p. ISBN papel 978-65-6137-264-0 | ISBN digital 978-65-6137-265-7 1. Iniciação 2. Esportiva 3. Educação Física 4. EaD. I. Título. CDD - 796 02511305 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17299 minha história meu currículo Suelen Rodrigues da Luz Olá, aluno! Sou a professora Suelen e gostaria de compartilhar um pouquinho da minha trajetória acadêmica com vocês. Bom, eu cresci como atleta de futebol/futsal e essa minha paixão pelo esporte fez com que eu me interessasse pelo curso de Educação Física. Gostei tanto que cursei licenciatura (2010) e bacharelado (2012) em Educa- ção Física. Após a graduação, me especializei em Educação Especial (licenciada) e Personal Trainer (bacharel). Como meu objetivo era seguir carreira acadêmica, após atuar em escolas e academias, em 2017 iniciei meu mestrado em Fisiologia do Exercício na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmente, estou cursando o Douto- rado em Educação Física na mesma Universidade e minha linha de pesquisa abrange diferentes modalidades esportivas, incluindo o futebol, minha paixão inicial. http://lattes.cnpq.br/1489736621464036 Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12306 minha história meu currículo Rui Resende Possui Bacharelado em Educação Física e Desporto pela Universida- de do Porto (1988), graduação em Licenciatura em Educação Física e Desporto pela Universidade do Porto (1990), especialização em Profissionalização no Ensino da Educação Física pela Escola Superior de Educação do Porto (1995), mestrado em Alto Rendimento Des- portivo pela Universidade do Porto (1996), doutorado em Ciências da Atividade Física e do Desporto pela Universidade da Corunha (2009) e aperfeiçoamento em Estudos Avançados em Ciências da Atividade Física e do Desporto: Avances e pela Universidade da Co- runha (2005). Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. http://lattes.cnpq.br/5443241436070731 provocações iniciais ATIVIDADE INTEGRADORA COMUM II: INICIAÇÃO ESPORTIVA Quando pensamos em Educação Física, pensamos em esporte, e por mais que o conteúdo “esporte” seja apenas mais um dentro das diferentes práticas corpo- rais que Educação Física abrange, podemos dizer que o processo de ensino-aprendizagem das modalidades esportivas possui grande destaque. Assim como nas demais práticas corporais, é essencial que o profissio- nal que exerce a sua atividade no contexto esportivo, seja dentro do espaço escolar, ou fora dele, tenha uma preparação adequada, que seja uma pessoa culta, empenhada, e que, por via disso, seja capaz de exercer com competência e proficiência esta profissão. Como ser um professor/treinador competente? O que é preciso saber? Como posso ensinar? Como devo me portar? Bom, nosso objetivo, aqui, é ajudá-lo a respon- der essas perguntas. Para isso, apresentamos, no decorrer das cinco unidades deste livro, informações que lhe darão um aporte teórico e prático, por meio de exemplos, para atuar de forma competente na iniciação esportiva. De modo geral, você adentrará no contexto histó- rico-político do esporte como conteúdo da Educação Física, os conceitos relacionados aos esportes e todas suas formas de manifestação (esporte de rendimen- to, esporte de participação e esporte educacional). Terá acesso a alguns modelos de ensino que prezam por uma abordagem mais construtivista, juntamente com exemplos de atividades dentro do contexto de cada modelo e que podem ser utilizados no proces- so de ensino das modalidades esportivas. Ainda, verificará os conhecimentos e as competências que um bom treinador/professor deve possuir, além de como este deve atuar para que o processo de trei- namento seja positivo. Por fim, aprenderá algumas formas de organizar e programar todo o processo de treinamento, tendo como base diferentes exemplos de planilhas para periodização. Para que fique mais clara a importância dos con- teúdos descritos anteriormente, podemos pensar de forma mais prática, seguindo a linha do que é apresentado em cada unidade do livro e em como isso pode impactar no seu processo de formação. 1. Em um primeiro momento, seu foco será entender os conceitos relacionados ao esporte e a forma como ele pode se manifestar, além de suas classi- ficações. Sabendo disso, você conseguirá entender a importância do esporte no campo educacional, do rendimento ou de participação, e ainda verificar a possibilidade de atuação em cada área. 2. O próximo passo será conhecer modelos de ensino que podem ser utilizados na iniciação esportiva. Ou seja, você aprenderá a ensinar! Além de entender como o processo de iniciação deve acontecer, considerando as etapas de de- senvolvimento da criança ou adolescente, você também terá exemplos de atividades que podem ser utilizadas durante esse processo. 3. Em seguida, o foco passa a ser as competências do professor/treinador. Nesse momento, você enten- derá seu papel como professor/treinador e quais conhecimentos deverá dominar para que sua atuação profissional seja adequada e eficiente. provocações iniciais 4. Após entender o que você precisa saber para ser um bom profissional, a próxima etapa é enten- der como atuar para que sua intervenção seja positiva. Entender a importância de uma relação saudável entre professor/treinador, alunos/atle- tas e familiares, facilita para que o processo de iniciação esportiva resulte nodesenvolvimento positivo da criança/adolescente. 5. Por fim, após entender a importância do esporte, aprender como o esporte pode ser ensinado, e co- nhecer o que você, como profissional, precisa ter e como deve atuar, o último passo é saber como organizar tudo isso na prática. Assim, na última unidade do livro, você aprenderá a estruturar e planejar o treinamento, considerando um período competitivo completo. Você terá exemplos de planilhas semanais, mensais e anuais, além de exemplos de planos de aula/unidade de treino. As informações apresentadas não são específicas para uma única modalidade ou um único contexto. Os modelos de ensino, as planilhas e os exemplos de atividades podem (e devem) ser modificados consi- derando o contexto de atuação, além da modalidade a ser ensinada. Assim, caberá a você, futuro profes- sor/treinador, adaptar o conhecimento adquirido para seu contexto de sua atuação. O esporte é um fenômeno complexo e devemos entender a importância dele para o desenvolvimento de uma sociedade mais participativa e saudável. Além disso, também devemos destacar o papel que o esporte pode ter no desenvolvimento positivo dos jovens e na transição que as competências esportivas podem ter para as competências de vida no seu geral, desde que manifestamente ensinadas. O papel dos treinadores é fundamental, e, por isso, há necessidade de melhorar a sua qualificação. O aperfeiçoamento dos seus conhecimentos reforça- rá a sua ação, e, por meio de uma prática reflexiva, melhorará sucessivamente as suas competências. Após identificar as razões pelas quais ele está no esporte, o treinador deverá desenvolver uma filosofia de treino de acordo com os seus valores morais e éticos, adequando a sua prática ao contexto espe- cífico onde atua. Os procedimentos para concretizar as suas atitu- des no processo de treino e na competição serão a emanação do empenho que ele coloca na sua ativi- dade e a demonstração da sua qualidade. Esta, ao ser reconhecida pelos atletas, pela família, pelos pares e empregadores, poderá exaltar a importância que a profissão de treinador exerce na sociedade atual. Sugere-se a utilização de instrumentos para plane- ar e controlar o processo de treino, sendo o treinador mais preciso e rigoroso no desenvolvimento da sua atividade, tornando-a mais eficaz. Enfatiza-se, sobre- tudo, a importância que o planeamento do microciclo tem para esse processo e a forma como este deve “desaguar” na construção da Unidade de Treino. Estamos conscientes que a atividade do treinador é muito complexa e que o seu exercício depende de inúmeros fatores. Contudo, independentemente do contexto em que ela se realiza, pode constituir uma atividade fascinante, pela qual valerá a pena se aplicar. Ao final de cada unidade, você poderá testar os conhecimentos adquiridos por meio de questões interpretativas e de recordação. Busque ler as in- formações das questões com atenção. O objetivo é a fixação do conteúdo. Bom estudo! sumário UNIDADE I 10 INTRODUÇÃO À INICIAÇÃO ESPORTIVA UNIDADE II 36 MODELOS DE ENSINO PARA A INICIAÇÃO ESPORTIVA UNIDADE III 66 CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO TREINADOR UNIDADE IV 94 EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS DO ESPORTE UNIDADE V 120 INTERVENÇÃO DO TREINADOR: PREPARAÇÃO E PLANEJAMENTO Dr. Rui Resende Me. Suelen Rodrigues da Luz Oportunidades de aprendizagem Na Unidade 1, você terá a oportunidade de se aprofundar no fenômeno “esporte”, no que se refere ao seu conceito e as suas diferentes formas de manifestações na sociedade atual, perspectivando como se desenvolverá no futuro, além de refletir melhor sobre a forma como se deve preparar o professor/profissional do esporte para ele atuar com competência, tanto dentro quanto fora dele. Vamos lá? INTRODUÇÃO À INICIAÇÃO ESPORTIVA unidade I 12 É fato que todos nós, em algum momento da vida, tive- mos contato com o esporte, seja pela prática de alguma modalidade, pelo prazer de assistir a jogos e acompa- nhar competições diversas, ou ambos. Dessa forma, é possível afirmar que o esporte, e suas diferentes mani- festações, está presente quase que diariamente em nossa vida e pode impactar diretamente em nossas vivências. A partir disso, e considerando que a Educação Física atua diretamente com o esporte, podemos nos perguntar: qual a importância do esporte na vida das pessoas? Para algumas pessoas, o contato com o esporte pode ser simples, singelo, sem muita importância. No entan- to, para muitos, o esporte pode ser algo transformador! Certamente você já viu ou leu alguma reportagem sobre alguém que teve a vida totalmente transformada pelo es- porte. Não falo somente sobre aquele menino ou aquela menina, de origem pobre, que, por conta do futebol ou de outra modalidade, mudou de vida e hoje é atleta reco- nhecido mundialmente. Ou daqueles que venceram di- ficuldades e preconceitos para se tornarem medalhistas olímpicos. Falo, também, daqueles que tiveram vivências mais simples, que cresceram e foram moldados dentro do esporte, mesmo que de forma amadora ou recreacio- nal, que foram e/ou são atletas de fim de semana, que mudaram para um estilo de vida saudável por conta da prática, além daqueles que vivem do esporte e/ou para o esporte, como é o caso de muitos professores e profissio- nais de Educação Física. Pensou na importância ou no impacto que o esporte pode causar na vida das pessoas? Para conseguir visualizar melhor e dar mais significado ao tema, que tal fazermos um mapa mental utilizando algumas palavras-chaves que representam vivências a partir do esporte? Utilize o info- gráfico a seguir e descreva, no mínimo, cinco palavras que expressem a importância do esporte para a população em geral, considerando atletas de alto nível, praticantes recre- acionais, além da prática esportiva que objetiva a melho- ra da saúde e qualidade de vida. Para facilitar, você pode pensar nas palavras-chave a partir das suas próprias ex- periências com o esporte e depois expandir para o geral. Para ajudá-lo, adicionei duas palavras-chave que, muito provavelmente, serão comuns a você. ESPORTE 13 EDUCAÇÃO FÍSICA A partir dessa reflexão sobre a importância do esporte para as pessoas, de modo geral, imagine as possibilida- des que você, futuro professor/profissional de Educação Física, poderá oferecer para seus alunos/atletas a partir da vivência esportiva. Registre essas possibilidades no diário de bordo. Seguindo essa linha, iniciaremos nossa contextualização, justamente entendendo o conceito geral e as manifesta- ções do esporte. De acordo com Betti (1991), o esporte é caracterizado por uma atividade social institucionali- zada, composta por regras e que possui uma base lúdica. A ação acontece em forma de competição entre dois ou mais oponentes ou contra a natureza. O objetivo é de- terminar o vencedor ou registrar o recorde, por meio de comparação de desempenhos. Se o esporte está presente na vida da maio- ria das pessoas e tem poder de mudar a vida de muitas delas, como você, futuro professor/ profissional de Educação Física, pode contribuir nesse processo? 14 A partir disso, o esporte pode ser classificado em: educa- ção, participação e performance. O esporte-educação tem como foco o contexto escolar e deve ter como objetivo proporcionar aos alunos vivências de diferentes modali- dades, além da reflexão crítica do esporte na sociedade. O esporte-participação refere-se a atividades livres de com- prometimento e obrigações, que podem ser praticadas por todas as populações e que tem como objetivo prin- cipal a diversão, desenvolvimento pessoal ou interação social. Por fim, o esporte-performance, ou de rendimento, envolve atletas de alto nível e é praticado considerando regras e códigos éticos pré-estabelecidos por instituições que organizam as competições (ligas, federações, confe- derações, comitês olímpicos). Está fortemente vinculado à ideia de vitória e derrota (DARIDO;RANGEL, 2011). Iniciaremos nosso conteúdo abordando o esporte como um conteúdo da Educação Física (EF), dedi- cando atenção às razões que levaram à incorporação do esporte nos currículos da Educação Física. Contudo, an- tes de abordarmos o esporte na escola, é importante ob- servarmos um pouco a EF, que é a disciplina que assume o ensino formal do esporte na escola. O termo EF é usado para identificar a área curri- cular correspondente aos anos de escolaridade das crianças e dos jovens, tendo como propósito desenvolver competências e habilidades em dife- rentes atividades motoras (RESENDE; LIMA, 2016). Deve constituir-se como a base de um conhecimento da atividade física e esportiva, fomentando nos alunos a procura por um estilo de vida ativo, de forma que venha a repercutir no futuro deles quando adultos. Aliás, é in- teressante salientar que as percepções físicas formadas durante a adolescência são, muitas vezes, determinantes no comprometimento com os níveis de atividade físi- 15 EDUCAÇÃO FÍSICA ca subsequentes. Nesse sentido, os contributos que a EF pode providenciar e promover no aluno são inúmeros: o respeito pelo corpo, o seu e o dos outros; melhoria da autoestima e da autoconfiança; desenvolvimento de competências sociais e cognitivas que, por sua vez, po- dem refletir em um melhor desempenho acadêmico, como muitos estudos apontam (PERALTA et al., 2014). Não se pode deixar de referir, porém, que, devido a vá- rias inabilidades, a EF pode provocar “aversão” à atividade física e esportiva por parte dos jovens e, assim, condicionar a sua adesão, no futuro, ao proclamado e desejado estilo de vida saudável. Esse aspecto não deve ser escamoteado, pois a simples prática da EF, com todas as virtudes que se enun- ciam e lhe reconhecem, podem não ser suficientes para alcançar os objetivos a que ela se propõe. Nesse contexto, o professor e profissional de EF é um ator de importância crucial, pois o seu empenho na forma como leciona fará toda a diferença na percepção que o aluno terá sobre a im- portância da atividade física para toda a sua vida. sável para a formação integral da juventude. Desde então, vem agregando elementos históricos, marcos sociais, com conflitos e conquistas, por exemplo, a sua consolidação enquanto área de conhecimento. Sofreu, desde a sua inclusão, influências das instituições onde era lecionada, nomeadamente de caráter militar e mé- dico (MARTINS; PAIXÃO, 2014). Reforma Couto Ferraz (1951) – tornou obri- gatória a Educação Física nas escolas do mu- nicípio da Corte. Houve resistência por parte dos pais dos alunos, por serem atividades que fugiam do contexto intelectual. Alguns pais proibiram suas filhas de participarem. Para os meninos, essa resistência era menor, visto que a ginástica era baseada em atividades militares. Rui Barbosa (1982) – A partir da Reforma do Ensino Primário, deu-se destaque especial à Educação Física como agente formador de jovens. A princípio, a Educação Física foi de- senvolvida a partir das pedagogias tecnicista e tradicional. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), a EF é componente curricular obriga- tório para a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). As diretrizes curricula- res reforçam a ideia de se estabelecer o desenvolvimento pleno e gradual do aluno, preparando-o para a cidada- nia em articulação com todos os componentes curricu- lares, privilegiando o desenvolvimento humano. A for- Tendo em conta a saúde pública e a cultura espor- tiva, a EF deve constituir-se como uma defesa na promoção de um estilo de vida saudável. Para isso, é determinante que as atividades propostas refor- cem os sentimentos de competência, estimulando a realização da atividade física de forma prazerosa. A EF escolar brasileira possui uma trajetória que ini- cia no ano de 1851, com a reforma Couto Ferraz, ini- cialmente denominada Ginástica, com a sua inclusão no rol de disciplinas operacionalizadas na escola e com o propósito da prática de exercícios físicos. So- mente em 1882, com Rui Barbosa e a sua reforma do ensino primário, secundário e superior, é que se atri- bui importância à ginástica como elemento indispen- 16 ma como a EF se apresenta atualmente, difere das razões que a fizeram surgir na generalidade dos sistemas edu- cativos contemporâneos. Considerando o Brasil, inicial- mente (1889-1930), sob uma ótica médica e higienista, os governantes passaram a prestar mais atenção à saúde dos habitantes nas cidades. Pretendia-se a formação de indivíduos fortes, sau- dáveis e propensos à aderência às atividades boas em detrimento de maus hábitos. Curiosamente, assiste-se, atualmente, a uma preocupação semelhante com o combate à obesidade e ao sedentarismo. Posteriormen- te (1930-1945), tal preocupação veio com uma pers- pectiva militarista, a qual se pretendia que os jovens es- tivessem fisicamente aptos e, assim, melhor preparados para as obrigações militares. Em seguida, veio um período considerado pedago- gicista (1945-1965), em que a EF era proposta como for- mação do indivíduo. A EF competitivista (1964-1985), uma visão do regime militar de então, enaltece os es- portes com competições oficiais e o culto do atleta-he- rói. Essa fase, em que existe uma apropriação da EF pelo regime, condiciona, em grande medida, a forma como o esporte é visto hoje no Brasil. Apesar de tudo, o esporte, atualmente, surge como parte integral do programa curricular da EF. Acrescen- tamos que o vigor com que o faz advém dos desenvolvi- mentos sociais das últimas décadas, que promoveram o esporte à escala mundial, transformando-o em um pro- duto extremamente midiático e com grande impacto co- mercial. Tal como já referimos, a inclusão do esporte nas aulas de EF ainda é considerado controverso por mui- tos, por via do peso político e ideológico que contempla (MARTINS; PAIXÃO, 2014). Com efeito, a tentativa de reproduzir, na escola, o esporte-espetáculo, ou servir-se da escola como viveiro de futuros alunos “atletas”, enfa- tizando a competição, a vitória e, como consequência, a 17 EDUCAÇÃO FÍSICA 18 exclusão dos menos habilidosos, levou a sua base com- ponente educativa e formadora ao enfraquecimento. A inserção do esporte na escola constitui uma re- alidade hegemônica no Brasil (FERREIRA; LUCENA, 2006), mas também no mundo, com um tempo destina- do à sua prática nas aulas de EF superior a 40% (HARD- MAN, 2008). Esses dados reforçam a importância que deve ser dada ao ensino desta matéria em contexto es- colar. Não pretendendo aflorar os contornos políticos que levam à discussão da importância desta hegemonia, consideramos, contudo, que o esporte deve ter um lugar importante na formação das crianças e dos jovens. Os jogos esportivos “são atraentes pela dinâmica que exploram e as disputas que desencadeiam, enaltecendo o incerto (pela presença de um adversário), a tomada de decisão e a inevitável solidariedade para a conquista de um objetivo comum” (RESENDE; SÁ; LIMA, 2017, p. 12). De acordo com os autores citados, o esporte tem a possibilidade de transportar mais-valias pedagógicas para o espaço educativo, potenciadoras de um desenvol- vimento positivo dos jovens. Os resultados positivos da participação esportiva na inclusão social, na saúde men- tal e física e na aparente melhoria cognitiva e acadêmica dos jovens (BAILEY, 2005) deve constituir um forte ar- gumento para perspectivar um ensino esportivo de qua- lidade. A própria ONU (2003) enaltece o esporte como inclusivo e promotor da cidadania, contribuindo para a economia e fomentando um ambiente limpo e saudável. Nesse contexto, a EF é uma área curricular que se preocupa com o desenvolvimento dos alunos em termos de competência física e autoconfiança, de forma a usar essas habilidades em um leque alargado de atividades. Deve preocupar-se, em consequência, em ensinar os alunos a “aprender a mover-se” e a “mover-se para apren-der”. Centra-se no ensino de habilidades que envolvem a participação física, com o conhecimento do próprio corpo e a sua capacidade de movimento. Contudo, tem igualmente incluído, no seu âmago, valores educacio- nais, como habilidades sociais e éticas. A legitimação do ensino do esporte, na escola e fora dela, advém do seu próprio valor enquanto potencial de desenvolvimento do ser humano, por meio de uma práti- ca que, apesar de lúdica e prazerosa, exige o cumprimento de regras preestabelecidas e, por isso, implica organização. Dessa forma, ensinar um jogo esportivo implica a orienta- ção e o comprometimento com um objetivo, exigindo es- forço e persistência, qualidade de desempenho e resulta- do. Essas virtudes levam ao espaço educativo mais-valias pedagógicas que sustentam a sua importância curricular. Na Unidade 2, aprofundaremos em métodos e mo- delos de ensino do esporte que podem (e devem) ser uti- lizadas tanto no meio escolar, como fora dele. 19 EDUCAÇÃO FÍSICA Quando pensamos em sua perspectiva para o futu- ro, o esporte tem sido um instrumento para a indústria que, por meio da sua utilização, obtém grandes provei- tos, impulsionando as economias nacionais. Para esse feito, com o apoio dos órgãos de comunicação social, promovem-se espetáculos esportivos e originam-se no- vas estrelas midiáticas que alcançam grande repercussão mundial. Contudo, apesar de o esporte de rendimento ser seguido apaixonadamente por cada vez mais pesso- as, não existe um reflexo desta paixão no incremento do número de praticantes esportivos. Tomando o exemplo do Brasil, quantas pessoas praticam esporte e de que maneira o fazem? O Minis- tério do Esporte (BRASIL, 2015) encomendou uma pesquisa denominada Diagnóstico Nacional do Espor- te (Diesporte), em que traçou, por um lado, o perfil do praticante de esporte ou de atividade física e, por outro lado, o sedentário (indivíduo que não faz atividade fí- sica ou esporte). Os resultados indicam que 45,9% dos brasileiros (67 milhões) são sedentários, sendo que as mulheres representam uma maior percentagem, com 50,4%, enquanto os homens estão em 41,2%. Os seden- tários são em menor número na faixa etária mais jo- vem, mas progridem com a idade. Título: Educação Física no Ensino Superior - Educação Física na Escola: Implicações para a Prática Pedagógica. 2ª edição Autor: Suraya Cristina Darido; Irene Conceição Andrade Rangel] Editora: Guanabara koogan Sinopse: aborda o papel da Educação Física na formação do cidadão que conhece parte da cultura corporal de movimento, que usufrui efetivamente dela para se beneficiar das inúmeras possibilidades advindas da sua prática e melhorar aspectos relacionados à saúde, lazer e comu- nicação, que deseja se tornar autônomo a fim de tomar decisões de fundamental importância para sua vida 20 Com relação a países como Argentina (68,3%) e Portugal (53%), verificamos que a taxa de seden- tarismo do Brasil é bem inferior. É ligeiramente menor que a da Itália (48%) e ligeiramente maior que a dos Estados Unidos (40%). A população de sedentários é muito inferior em países como Es- panha (35%), Uruguai (34,1%), Canadá (33,9%), França (22%) e Inglaterra (17%). Será importante notar, no relatório referido, que a faixa de idade dos brasileiros na qual se regista um maior abandono do esporte ou da atividade física se dá entre os 16 e 24 anos, indicando, igualmente, que 90% dos aban- donos surgem até os 34 anos. É interessante constatar, no mesmo relatório, que os praticantes esportivos são 25,6% da po- pulação, enquanto os outros 28,5% se declaram praticantes de atividade física. Caracterizando um pouco melhor, verifica-se que os homens (35,9%) praticam mais esportes que atividades físicas (22,9%), e que esta tendência se inverte quando consideramos as mulheres, com somen- te 15,6% praticando esporte e 34% relatando que fazem atividade física. É estimulante, para essa disciplina, perceber que o caminho pelo qual o brasileiro inicia a sua prática esportiva é, maioritariamente (48%), na escola, com a orientação de um professor, e se ini- cia entre os 6 e 14 anos. A modalidade esportiva mais praticada é, sem surpresa, o futebol (59,9%), sendo seguida do voleibol (9,7%). Os autores do estudo registraram, ainda, que 90,3% dos entre- vistados não recebem qualquer tipo de orientação quando fazem atividade esportiva, e que 92,4% não têm qualquer filiação a uma instituição para efetuar a prática esportiva. A gestão esportiva profissional trouxe no- vas estratégias de marketing, planos de negócios 21 EDUCAÇÃO FÍSICA e expansão dos esportes para novos mercados. O crescimento do rádio e da televisão fez com que o esporte se tornasse parte do dia a dia das pessoas. As estrelas esportivas passaram a fazer parte dos tabloides e das televisões, vendendo produtos di- versos, tornando-se parte da realidade mundana e roubando o protagonismo que, no século passado, pertencia às estrelas de cinema. Assim, quando a globalidade dos indivíduos reflete sobre o esporte ou a atividade física, não lhe ocorre o que ela pode fazer como praticante, mas, sim, os resultados esportivos do seu clube, das grandes competições em que o seu país está envol- vido ou as medalhas obtidas nas Olimpíadas. Por outro lado, essa globalidade associa ao esporte as personagens mais relevantes e as marcas que a elas estão relacionadas (SPRACKLEN, 2015). Refletindo sobre aquilo que pode ser o es- porte no futuro, não podemos deixar de consi- derá-lo e aceitá-lo como um espetáculo no qual as regras do mercado econômico ditarão as suas leis. Contudo, o esporte pode desempenhar uma importante função social, pois oferece oportu- nidades para melhorar o autoconhecimento e a autovalorização, reforçando, dessa forma, a pró- pria identidade e, com isso, a da comunidade em que ele está inserido. Para além das sensações descritas anterior- mente, o esporte pode constituir uma importante forma de promoção da saúde, combatendo aquilo que já se chama de doença do século: a obesidade. Nesse sentido, ao fomentar um estilo de vida sau- dável e promover os valores que lhe são próprios, o esporte suscita um ser humano melhor. Carece, por isso, de se considerá-lo como uma atividade educativa e formativa, em que o intuito será criar um cidadão com um estilo de vida ativa. 22 Dessa forma, ao olhar para o fenômeno esportivo, deve- remos ter consciência do seu alcance e de sua amplitude. A atividade física e a competição estão no âmago das de- finições de esporte. De acordo com Resende (2016), uma organização internacional denominada SportAccord, que aglomera federações esportivas internacionais, além de ou- tras organizações, define esporte como uma atividade que: • Deve incluir um elemento de competição. • Não deve recair em qualquer elemento de ‘sorte’. • Não deve apresentar risco para a saúde ou segu- rança dos seus praticantes. • Não pode, de nenhuma forma, ser prejudicial para qualquer criatura viva. • Não deve depender de equipamentos providen- ciados por um só fornecedor. Ainda, segundo o mesmo autor, além dessas característi- cas, o esporte se situa como: • Principalmente físico. • Principalmente mental. • Principalmente motorizado. • Principalmente coordenativo. • Principalmente suportado por animais. Você acredita que esportes considerados radi- cais, ou mesmo as lutas, possuem risco à saúde dos praticantes? 23 EDUCAÇÃO FÍSICA Podemos partir da premissa de que o esporte depende de estruturas formais e de organizações que estabelecem as regras da competição e monitoram os participantes. Su- gere-se que os profissionais da área apreciem esta ativida- de como constituída por múltiplos esportes, pois implica considerar distintos enquadramentos na sua formulação. Sobre essa temática, alertamos que a generalidade dos clu- bes está formatada para o alto rendimento esportivo, mes- mo os que sabem que nunca terão as possibilidades de lá chegar, sendo que o esporte dealto rendimento é somente uma parte muito reduzida dessa atividade. Como potencializador da saúde, no futuro, espe- ra-se que o esporte continue a se evidenciar nas diferen- tes comunidades, tanto sob a sua forma mais popular, por meio do esporte-espetáculo, quanto em uma pers- pectiva mais global, em que faixas maiores da população desfrutarão das suas potencialidades. O reconhecimen- to de que as implicações da prática do esporte poderão ser benéficas, sendo reflexos positivos sociais, implicará a promoção e a maximização da sua prática. As razões pelas quais é importante promover o es- porte, sobretudo nas faixas etárias mais precoces, assi- nala que os esportistas têm uma maior disposição para hábitos alimentares mais saudáveis, para manter um peso menor, e uma diminuição da sedução pelo fumo ou pelas drogas. Possuem, igualmente, menor tendência para expressar sentimentos de desânimo e de aborreci- mento ou tédio (MULHOLLAND, 2008). 24 A investigação tem contribuído para a solidificação da opinião de que a atividade física e esportiva praticada pelos jovens e pelos adolescentes tem um forte tributo na promoção da saúde pública. Acresce esta importân- cia, em termos de benefícios, quando a participação esportiva é realizada de uma forma consistente (TE- LAMA, 2009). Por isso a importância de a participa- ção esportiva ser integrada em um programa esportivo, desenvolvendo- se de forma significativa e persistente ao longo do tempo. Aliás, reforçando a ideia anterior, Kjonniksen, Fjortoft e Wold (2010), em uma pesquisa com 630 participantes, verificaram uma relação positiva entre a participação esportiva organizada e o desenvol- vimento de atividade física em idades adultas. Ou seja, a prática esportiva em idades mais jovens antevê o envol- vimento com a atividade física quando se é mais velho, sendo consistente defender a formação esportiva como um instrumento para a promoção de hábitos de saúde no presente e para o futuro. Salienta-se a evidência de que o esporte promove, para além das competências esportivas, competências de vida (aspecto que trataremos com maior relevância), o que, naturalmente, faz com que o treinador deva inves- tir nessa ideia. Aliando o conhecimento que ele possui dos atletas e das suas necessidades, o treinador poderá incrementar de forma muito positiva as aptidões des- ses atletas para a vida (WHITLEY; WRIGHT; GOULD, 2016), considera-se que as competências de vida oriun- das por meio do esporte podem ser transferidas para outras realidades. Para isso, o treinador terá de agir de uma forma consciente, enfatizando a aquisição de habi- lidades transversais aos diferentes domínios em que está envolvido e, assim, dotando os atletas de uma melhor preparação para enfrentar com sucesso a vida cotidiana. 25 EDUCAÇÃO FÍSICA OLHAR CONCEITUAL Dentro de tudo o que foi abordado, é importante olhar para o esporte a partir das suas possibilidades de manifestações. De modo geral, podemos entender essas manifestações a partir de duas categorias (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007): O sentido da prática considera as intenções e o contexto em que o esporte é inserido. Já a modalidade esportiva refere-se às atividades realizadas com intuito competitivo, que possuem regras e normas. Todavia, é importante entendermos que a prática esportiva não é dualista, e que as categorias citadas se interpõem e, muitas vezes, se completam. Em um jogo de final da Copa do Mundo de futebol, por exemplo, por mais que seja característico da modalidade esportiva, ainda haverá um contexto social por trás, que dará sentido à prática (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007). Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que apresenta os aspectos inerentes às modalidades esportivas, o sentido que leva à prática, e que compõem as manifestações esportivas. O fluxograma se inicia, na parte central superior, com a escrita “Esporte”, e dessa palavra saem duas linhas, uma à esquerda, que apresenta “Modalidades Esportivas” e possui três itens: “Regras”, “História” e “Forma de Disputa”. À direita, saindo da palavra “Esporte”, temos “Sentido para a prática”, que traz três itens: “Valores Morais”, “Significado da prática” e “contexto cultural”. Os três itens de cada lado são interligados a um único ponto: “Forma de manifestação do esporte”. Figura 1 – Modelo de concepção das formas de manifestação do esporte / Fonte: adaptado de Marques, Almeida e Gutierrez, (2007). 26 Pensando nos diferentes tipos de participação dentro do esporte, o alto rendimento não é a única forma pela qual devemos observar e considerar a atividade esporti- va. Considerando o espectro da participação esportiva, protagonizado pelo ICCE (International Council for Coach Education) e pela ASOIF (Association of Sum- mer Olympic International Federations), em 2012, duas organizações internacionais que fomentam o esporte, o estudam e o promovem, procurando qualificá-lo pela melhor preparação dos treinadores, identificaram dois tipos diferentes de participação esportiva, o que também foi evidenciado por Resende (2016) e que podemos ob- servar na citação a seguir, assim como na Figura 2. • O esporte de participação, que envolve crianças, jovens adolescentes e adultos, tem como objetivo resultados autorreferenciados como o entrete- nimento, o desenvolvimento de habilidades e o vínculo com um estilo de vida saudável. • O esporte de rendimento, que engloba atletas emergentes, atletas de performance e atletas de elite. Figura 2 – Espectro da participação esportiva / Fonte: ICCE e ASOIF (2012) Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que apresenta as etapas da vida em que cada tipo de esporte é geralmente praticado. Ao lado esquerdo, temos três itens: adultos; adolescentes; crianças. Do lado direito, atletas de elevada performance; atletas de performance; atletas emergentes. Cada etapa da vida corresponde à prática esportiva citada, respectivamente. 27 EDUCAÇÃO FÍSICA Essa distinção obriga a oferecer uma atenção par- ticular sobre os objetivos esportivos para cada um dos programas em que os atletas se inserem. Con- sequentemente, as exigências que consideram o nível do treino e da competição deverão ser con- venientemente adequadas, sugerindo-se a premissa de que todos que praticam esporte merecem trei- nadores qualificados. O esporte, neste século, deve almejar a mas- sificação da participação esportiva com o intuito da promoção do desenvolvimento e da integração social e, paralelamente, da melhoria da saúde e ap- tidão física das populações. Todavia, apesar de al- gumas iniciativas políticas com o intuito de mas- sificar a participação esportiva, ainda são escassas as oportunidades para praticar esporte por prazer, nomeadamente, de forma organizada. Existe, assim, um abundante trabalho para integrar todos os que gostariam de participar do esporte, prestando aten- ção também nas populações especiais, nas mulheres e nos idosos. Os decisores políticos investem mui- ta da sua energia na promoção de grandes eventos esportivos com a perspectiva de obter dividendos eleitorais, cabendo à sociedade um papel reivindi- cativo no apelo para que se criem melhores condi- ções de generalização da prática esportiva. É de elevada relevância social o que o esporte pode realizar na potencialização da saúde das populações, tendo em consideração os diferentes tipos de partici- pação esportiva e adequando os seus propósitos a cada população que os procuram. Dessa forma, o esporte poderá alargar exponencialmente a sua penetração e, consequentemente, a promoção dos seus valores. Quando pensamos em clubes esportivos, a modernização destes será uma realidade no pano- rama de uma sociedade plural, desenvolvida e a ser- viço das populações. O campo de intervenção dos clubes esportivos (inspirado no livre associativismo) está-se a alte- rar pois, de locais onde os jovens ingressavam para jogar, numa perspectiva de proximidade e oportu- nidade, de onde emergiamos mais aptos para voos mais desafiantes, estão, para fazer face às despesas, a transformar-se em empresas para sobreviver. Desta forma, apesar de essencialmente motivados para o esporte de rendimento, os clubes passaram igual- mente a prestar um serviço de participação espor- tiva. Aliás, assiste-se à emergência de um grande número de ‘escolinhas’ e ‘academias’ esportivas, com vínculos aos clubes esportivos tradicionais ou a atu- arem de forma autónoma (RESENDE, 2016, p. 38). 28 Esse novo cenário esportivo provoca profundas altera- ções na adesão ao esporte, pois os atletas começaram a se constituir como clientes, exigindo a prestação de um serviço melhor. A procura do esporte pelas crianças e pelos jovens que nasce de uma vontade intrínseca de praticar, e com forte apoio dos pais, que valorizam mui- to a atividade, as quais consideravam uma boa ocupa- ção que, além de estimular o corpo, também desviava os jovens de “más companhias”, passou a constituir uma necessidade educativa que transcende a mera prática. Assim, a qualidade do serviço prestado passa a ser equa- cionado sob perspectivas substancialmente distintas das que eram observadas no passado, exigindo melhores condições materiais e um acompanhamento pedagógi- co de qualidade (RESENDE, 2016). Com essa nova postura, o treinador esportivo será forçado a adaptar-se e a preparar-se de forma condizente. Constituindo-se como empresa, o clube esportivo, apesar de estar configurado para o esporte de rendimento, terá que se reinventar, alargando o seu campo de recrutamento para o esporte de participa- ção, fornecendo um serviço reputado com treinadores profissionais altamente qualificados, e bem equipado em termos materiais e de instalações. Nesse contexto, e tendo como referência as academias e a sua enorme expansão – o Brasil tem o maior número de acade- mias do mundo, cerca de 20 mil, contando com 3,6 milhões de usuários (ANDREAZZI et al., 2016) –, os melhores exemplos reúnem um conjunto de valias que são muito apelativas, a saber (RESENDE, 2016): • Um ambiente atraente. • Atividades diversificadas. • Autonomia de horários. • Profissionais qualificados e profunda- mente diligentes. • Avaliações e aconselhamentos pessoais ao nível da prescrição do exercício e de nutrição. • Constante renovação de atividades. • Acompanhamento personalizado se de- sejado pelo cliente. • Possibilidade de um retorno à calma so- fisticada, como é o SPA. Para enfrentar a modernidade, o clube esportivo terá que ser atraente, não sendo suficiente possuir um espaço para a prática de uma modalidade. Nesse sentido, assi- nalamos que a prática esportiva atual e futura: • Deverá ter dirigentes preparados conveniente- mente para uma nova era de consumidores, pois o tempo dos dirigentes voluntários, generosos e bem-intencionados, mas com escassa prepara- ção, não combina com as novas necessidades. Es- tes continuam a ser determinantes pela ligação à história e aos valores do clube, contudo, a gestão diária das atividades terá que, forçosamente, en- contrar outro tipo de resposta mais profissional e, por isso, mais qualificada. • Os treinadores terão de estar preparados para o contexto específico onde irão operar e para as necessidades de aprendizagem do grupo que vão liderar, sob pena do serviço prestado ficar com- prometido. • Os funcionários terão de ser o reflexo dos valores do clube, cuidando da relação social e estabele- cendo pontes para uma boa relação entre todos. Nesta perspectiva, de acordo com Resende (2016, p. 40), um clube moderno deve: • Apontar para uma lógica integrada em que o es- porte, apesar de ser o core da sua atividade,” pode 29 EDUCAÇÃO FÍSICA agregar outras valências. Para isso, deve haver um projeto esportivo de onde emanem os seus propósitos e que sirvam de identificação para quem procura os seus serviços. • Ser um espaço social em que os valores que pro- move devem estar bem determinados e sobre os quais deve assentar a dinâmica da sua atividade. • Providenciar este aspecto: o acolhimento dos ‘clientes’ será efetuado por alguém preparado, num espaço adequado e reservado, onde se ex- plicará o tipo de serviço que o clube presta, ade- quando-o ao perfil e desejo manifestado. • Proporcionar uma avaliação física ao atleta, aconselhamento nutricional, disponibilizar serviços de fisioterapia e de reabilitação capa- zes e eficientes. • Fornecer orientação psicológica e social. De modo geral, os clubes deverão incluir, além do esporte de performance, o esporte de participação, consideran- do os níveis de rendimento/competição diferenciados e, por via dessas diferenças, estratégias de intervenção ade- quadas aos objetivos de cada uma das realidades. Como exemplo disso, podemos pensar em duas equipes infan- tojuvenis, em que uma treina duas vezes por semana e a outra quatro vezes, aos quais se acrescentam as competi- ções (habitualmente aos fins de semana). Nesse exemplo, o tipo de exigência colocado na qualidade do treino e da qualificação do treinador deverão ser idênticos, pois o objetivo continua o mesmo, ou seja, competir e prepa- rar-se para essa competição, contudo, o tempo de treino é distinto e, obviamente, o tipo de investimento pessoal dos atletas também é diferente. Assim, a seriedade com que se encara o processo de treinamento deverá ser similar, considerando os objeti- vos diferenciados. Ainda, se os projetos esportivos das diferentes realidades estiverem claramente definidos, a coexistência é benéfica, podendo haver a possibilidade de transversalidade entre os projetos, pelo aumento ou diminuição do investimento pessoal do atleta. Esse processo faz apelo a uma seriedade profissional na intervenção com os jovens a qual, por sua vez, não se compadece com leviandades. Está em risco o abandono prematuro da atividade esportiva por parte dos jovens e esse pode ser combatido por uma visão que não tenha como única direção o esporte de rendimento, em que se investe, progressivamente, mais tempo, ou se desiste. Reforçamos que a todos deve ser dada a oportunida- de de praticar esporte de acordo com as suas motivações e a possibilidade de tempo ou de talento demonstrado. Para alcançar esse objetivo, o serviço a ser prestado pelos clubes deverá ser melhorado, assegurando aos pais e en- carregados da educação que o filho esteja bem acompa- nhado, desfrutando de uma formação holística, em um ambiente seguro, e com o propósito de um desenvolvi- mento de maneira positiva. 30 Dessa forma, os pais terão de ser considerados como parceiros essenciais na dinâmica do clube e no projeto esportivo do seu filho. Por isso, se torna determinante fundamentar devidamente o que se pretende deles para que o desenvolvimento do seu filho ocorra de forma in- tegral. Uma sã convivência entre todos os parceiros fará emergir uma dinâmica social no clube, o que conduzirá a melhores resultados educacionais e esportivos. A política de exclusão, tantas vezes observada nas rotinas dos clubes, deve ser evitada. Ao invés disso, os clubes devem apostar claramente em estratégias de inte- gração no processo esportivo dos seus filhos, com nor- mas e procedimentos bem claros e aceitos por estes. Nesse sentido, o treinador, responsável máximo pelo processo esportivo, deverá proporcionar informação aos pais, de forma a que estes possam constatar a evolução do seu filho, seguindo o exemplo da escola, que o faz por meio do boletim de resultados escolares. Para isso, indi- ca-se a criação de uma ficha do atleta com informações periódicas do atleta. A qualidade dessa informação e a forma como é veiculada, diferencia a qualidade do ser- viço que é prestado no clube, assim como o empenho que o treinador revela na forma como se preocupa com a evolução do atleta. Dentre as competências dos treinadores, evidencia- -se a necessidade de uma boa relação com os pais dos seus atletas e um comprometimento com o seu desen- volvimento, em total sintonia e cumplicidade,conside- rando que o esporte está longe de se esgotar nos mais jovens. No caso do esporte de participação para adultos, o acompanhamento e rigor deverá ser similar e o trei- nador deverá adaptar-se às exigências do processo de treino através de uma forma negociada com os atletas. O uso dos novos meios de controle do esforço, pos- sibilitados pelas aplicações informáticas, podem ser um auxiliar fundamental na promoção da motivação para uma regularidade da prática esportiva. Considerando o perfil desse segmento etário, o treinador deverá conside- rar outras vertentes para a sua atuação, nomeadamente, a de promotor de eventos de aspecto social, valorizando formas de confraternização, reforçando, dessa forma, o sentimento de pertença e o valor da vida na sua plenitude. Acreditamos que, envolvendo os clubes, os dirigentes, os treinadores, os pais e os atletas, será evidenciada uma forma positiva de encarar o esporte e reforçará a sua im- portância na esfera social. Nesse sentido, a ideia de pro- fessores e treinadores que encarem o esporte com uma responsabilidade que ultrapassa o próprio esporte, e que promovem o exercício profissional de uma forma pro- gressista, pode ser mais relevante. Para fazer face às inten- ções enunciadas anteriormente, as competências do trei- nador, figura nuclear de todo o processo, deverão emergir de amplos conhecimentos, de forma que ele exerça profis- sionalmente a sua atividade de maneira eficaz. 31 EDUCAÇÃO FÍSICA Esporte-educação: pode ser entendido como o esporte escolar e tem como objetivo “[...] democratizar e gerar cultura pelo movimento de expressão do indivíduo em ação como manifestação social e do exercício crítico da cidadania, evitando a exclusão e a competitividade exacerbada”. No contexto escolar, o foco deve ser em proporcionar aos alunos vivências de diferentes modalidades, além da reflexão crítica do esporte na sociedade (DARIDO; RANGEL, 2011, p.184). Esporte-participação: caracterizado por atividades não comprometidas com tempo ou livre de obrigações e tem como objetivo a diversão, desenvolvimento pessoal e/ou interação social. Pode ser praticado por todas as populações, sem distinção de idade ou gênero (DARIDO; RANGEL, 2011). Esporte-performance: também chamado de esporte de rendimento, está intimamente vinculado à ideia de vitória ou derrota. É praticado considerando regras e códigos éticos preestabelecidos por instituições que organizam as competições (ligas, federações, confederações, comitês olímpicos). Envolve atletas de alto nível e possibilita a existência de profissões especializadas no esporte (DARIDO; RANGEL, 2011). O que o esporte significa em sua vida? Bem, é fato que todos nós, em algum mo- mento da vida, tivemos contato com algum esporte, seja pela prática de alguma modalidade, pelo prazer de assistir a jogos e acompanhar competições diversas, ou ambos. Para alguns, esse contato pode ter sido simples, singelo, sem muita importância. No entanto, para muitos, o contato com o esporte pode ser algo transformador! Considerando essas informações, neste podcast falaremos um pouco mais sobre o fenômeno esporte, suas vertentes e o impacto que estas têm na vida das pessoas! Aperte o play e vamos lá! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12300 32 Título: Menina de ouro Ano: 2005 Sinopse: Frankie Dunn passou a vida nos ringues, tendo agenciado e treinado grandes boxeadores. Magoado com o afastamento de sua filha, Frankie é uma pessoa fechada e que apenas se relaciona com Scrap, seu único amigo, que cuida também de seu ginásio. Até que surge em sua vida Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), uma jovem determinada que possui um dom ainda não lapidado para lutar boxe. Maggie quer que Frankie a treine, mas ele não aceita treinar mulheres e, além do mais, acredita que ela esteja velha demais para iniciar uma carreira no boxe. Bem, como estudamos no decorrer da unidade, o pri- meiro contato com o esporte, na maioria das situações, acontece dentro do âmbito escolar. Nesse sentido, com- preender como se pode intervir pedagogicamente para que essa experiência seja positiva e conquiste os alunos para uma prática esportiva continuada é incumbência do professor/profissional de Educação Física. Ainda, considerando o enquadramento do esporte na socie- dade deste século, o qual possui uma grande relevância não só dentro da escola, cabe a esse profissional equa- cionar e projetar de forma adequada a sua intervenção, sempre com a preocupação subjacente de fazer com que o esporte contribua para melhorar a saúde das po- pulações, nomeadamente por meio do fomento de um estilo de vida saudável. Para isso, o professor/profissional de Educação Fí- sica terá que idealizar a sua intervenção de uma forma contextualizada a cada grupo que lidera, pautando a sua intervenção adequadamente, com o intuito de fazer as crianças e os jovens tirarem o máximo partido da ati- vidade e tendo em mente a inclusão e a valorização de todos. Será determinante equacionar estratégias que evidenciem todos os aspectos relacionados ao jogo e à competição esportiva. Além disso, considerando que o perfil profissional do treinador vem se alterando pelas demandas cada vez mais complexas e específicas, não será mais possível ao treinador somente saber do espor- te em concreto. Ele terá que dominar um conjunto de conhecimentos diversificados, alicerçados nas ciências que suportam a atividade esportiva (ciências biológicas, ciências humanas e sociais) para, com a intervenção pe- dagógica adequada, estimular uma aprendizagem sólida do atleta, seja este de participação (criança, jovem, adul- to) ou de rendimento (jovem ou adulto). Assim, tanto em ambiente escolar, quanto fora dele, o professor/profissional de Educação Física terá que dar respostas às crescentes exigências que lhe são colocadas, demonstrando uma capacitação e uma maestria revela- dora dos desafios que enfrentará. Somente desse modo ele poderá reivindicar e exigir a consideração merecida pela sua atividade profissional. 33 agora é com você 1. O esporte é entendido como uma atividade social institucionalizada, composta por regras, que possui uma base lúdica, no qual o objetivo é determinar o vencedor ou registrar o recorde, por meio de comparação de desempenhos. Nesse sentido, o esporte pode ser dividido em educação, participação e performance. Sobre as três vertentes do esporte, analise as afirmativas a seguir: I. O esporte-educação refere-se ao esporte escolar e tem como um dos objetivos a reflexão do esporte na sociedade. II. O esporte-performance é aquele praticado por todas as populações e tem como objetivo a socialização focada na vitória. III. O esporte-participação refere-se a atividades realizadas sem compromisso e que tem como objetivo a interação social e desenvolvimento pessoal. É correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. II, apenas. c. II e III, apenas. d. I e III, apenas. e. I, II e III. 2. Como vimos no decorrer da unidade, a Educação Física é componente curricular obrigatório para a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). Nesse contexto, analise as alternativas a seguir e assinale aquela que corresponde ao objetivo da Educação Física escolar: a. Ensinar o esporte. b. Disciplinar os alunos. c. Detectar futuros atletas olímpicos. d. Divertir os alunos por meio de um recreio supervisionado. e. Desenvolver em todos os alunos competências e habilidades motoras. 3. Ao longo de sua história, a Educação Física manifestou-se de várias maneiras. Houve o período higienista, o pedagogicista e o competitivista, por exemplo. Sendo que, nesse último período, os militares apossaram-se da EF e até hoje influenciam a maneira com que o esporte é visto no Brasil. Apesar de ser considerado um conteúdo de docência, o ensino do esporte na escola ainda é visto com alguma desconfiança. Com relação ao motivo dessa desconfiança, assinale a alternativa correta: a. Só serve para jogar futebol. b.Retira tempo das atividades gímnicas. 34 agora é com você c. Contribui para a integração e socialização dos jovens. d. Favorece o desenvolvimento global de todos os alunos. e. Exalta o aluno atleta e a supervaloriza competições. 4. “O esporte pode constituir uma importante forma de promoção da saúde. [...] Nesse sentido, ao fomentar um estilo de vida saudável e promover os valores que lhe são próprios, o esporte suscita um ser humano melhor”. RESENDE, R. Iniciação Esportiva. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2021. p.46. Em resumo, o trecho cita que: a. O esporte vai além da performance. b. O esporte pode promover saúde e qualidade de vida. c. O esporte-educação também pode ser esporte-saúde. d. O esporte tem como intuito somente a promoção da saúde. e. O esporte pode transformar o ser humano por meio da educação e saúde. 5. O esporte-performance ou de rendimento engloba atletas emergentes, atletas de performance e atletas de elite. Essa distinção obriga a oferecer uma atenção particular sobre os objetivos es- portivos para cada um dos programas nos quais os atletas se inserem. Considerando o trecho anterior, analise as afirmativas e marque V para verdadeira e F para falsas. ( ) Adolescentes são classificados como atletas de performance. ( ) Crianças podem ser consideradas atletas emergentes e também de performance. ( ) Crianças, adolescentes e adultos podem ser classificados como atletas emergentes. ( ) No esporte-performance, adultos são classificados como atletas de elite, enquanto crianças são classificadas como atletas emergentes. As afirmativas são, respectivamente: a. V, F, F, V. b. F, F, V, F. c. V, V, F, V. d. F, F, F, V. e. V, F, V, V. UNIDADE II Dr. Rui Resende Me. Suelen Rodrigues da Luz Oportunidades de aprendizagem Com objetivo de auxiliá-lo na tarefa de atuar profissionalmente com excelência, nesta unidade, você terá a oportunidade de se aprofundar ainda mais no conceito de esporte, a partir da classificação das modalidades esportivas. Além disso, adentraremos em alguns dos principais modelos de ensino utilizados na iniciação esportiva, que podem ser utilizados tanto em ambiente escolar quanto fora dele. MODELOS DE ENSINO PARA A INICIAÇÃO ESPORTIVA unidade II 38 Todos nós, em algum momento da vida, tivemos algum tipo de contato com o esporte, correto? Você se lembra como o seu professor/profissional de Educação Física ensinou um esporte a você, durante a aula de Educação Física ou em escolinhas de treinamento? Como você aprendeu os fundamentos, as regras, além de ações táti- cas? Foi por meio de exercícios isolados, focados na exe- cução e repetição de movimentos? Ou dentro do contex- to do jogo (aprender a jogar, jogando)? Para entender o contexto das perguntas anterio- res, imagine as duas atividades a seguir: • Atividade 1 – Alunos/atletas divididos em du- plas, posicionados um de frente para o outro, com cerca de 5 metros de distância um do ou- tro. Cada dupla terá uma bola e o objetivo da atividade é realizar passes entre si. • Atividade 2 – Alunos/atletas dispostos em cír- culo. Um deles deverá ficar ao centro do círcu- lo, para ser o “bobinho”. O objetivo da atividade é trocar passes entre os alunos que formam o círculo, sem que o “bobinho”, roube a bola. Tanto a atividade 1 quanto a atividade 2 têm como objetivo realizar passes, certo? Todavia, há alguns pontos que devemos observar em cada uma das situ- ações. A atividade 1 foca na execução do gesto mo- tor, por meio da repetição do movimento do passe. Já a atividade 2 foca no passe em situação de jogo, ou seja, inclui outros elementos que fazem parte do jogo formal, como o adversário (representado pelo “bobi- nho”), por exemplo. Essa diferença dos “meios” de ensino para um mesmo “fim” (ou objetivo), que no exemplo foi repre- sentado pelo fundamento do passe, indica a existência de métodos e modelos diferentes para o ensino das modalidades esportivas, os quais são utilizados tanto em ambiente escolar quanto fora dele. 39 EDUCAÇÃO FÍSICA Voltando aos exemplos de atividades, além do que foi citado, há alguma outra observação a fazer com relação às atividades? Você notou mais algum detalhe? Alguma outra semelhança ou diferença entre as atividades e que não foi pontuada? Utilize seu diário de bordo para fazer suas anotações acerca dos questionamentos anteriores. Caso não tenha nenhuma observação, analise e reflita sobre a pergunta a seguir, e responda de acor- do com sua opinião. A resposta para essa questão será descrita no decorrer da unidade. a. As atividades propostas são específicas para alguma modalidade esportiva ou estas podem ser adaptadas para diferentes modalidades? Justifique sua resposta e dê exemplos. Utilize, mais uma vez, o diário de bordo. Entendemos que o esporte pode ser classificado de acordo com as diferentes formas de manifestação (educação, participação e performance). Agora, de forma mais específica, abordaremos as classificações e a categorização das modalidades esportivas, consi- derando suas características. 40 De acordo com a descrição de Darido e Rangel (2011), as modalidades esportivas podem ser clas- sificadas considerando o número de participantes. Assim, as modalidades podem ser classificadas em esportes individuais e esportes coletivos, que ainda podem ser divididos considerando a presença ou não de adversários (GONZALES, 2004). Os esportes indi- viduais caracterizam-se pela atuação individual, com ou sem a oposição de um adversário. Da mesma for- ma, os esportes coletivos caracterizam-se pela ação em grupos ou equipes e que podem confrontar (ou não) outras equipes (DARIDO; RANGEL, 2011). No Quadro 1, a seguir, há alguns exemplos de modalida- des esportivas coletivas e individuais. Além desses, há uma infinidade de outras modalidades esportivas que se encaixam dentro dessas classificações. Seguindo essa linha, a Base Nacional Comum Curri- cular (BNCC) (BRASIL, 2018) propõe uma categori- zação para os esportes, a qual considera a lógica inter- na das modalidades e tem como referência os critérios de cooperação, a interação com o adversário, o desem- penho motor e objetivos táticos da ação. Tal modelo de categorização possibilita que as modalidades sejam distribuídas de acordo com as ações motoras intrínse- Modalidade esportiva Sem interação com o adversário Com interação com o adversário Individual Atletismo Natação Badminton Tênis Coletiva Ginástica rítmica Nado sincronizado Futebol Handebol Basquete Voleibol Quadro 1 – Exemplos de modalidades esportivas individuais e coletivas / Fonte: adaptado de Darido e Rangel (2011) cas realizadas, ou seja, reúne esportes que apresentam exigências motrizes semelhantes no desenvolvimen- to de suas práticas. Assim, as modalidades esportivas são classificadas em: marca; precisão; invasão; campo e taco; combate; técnico-combinatório e rede/parede. A figura a seguir (Figura 1) apresenta as característi- cas de cada categoria, bem como as modalidades que fazem parte de cada uma (BRASIL, 2018 p. 216, 217). 41 EDUCAÇÃO FÍSICA Figura 1 – Representação da categorização dos esportes e suas características, de acordo com a BNCC Fonte: adaptado de Brasil (2018 p. 216, 217) 42 Considerando que nosso objetivo, aqui, é apresentar informações gerais sobre a iniciação esportiva que po- dem ser utilizadas tanto em ambiente escolar, como fora dele, iremos focar nas modalidades coletivas que possuem interação com o adversário, principal- mente as de invasão. Fique tranquilo, pois no decor- rer da sua formação como professor/profissional de Educação Física, você terá disciplinas específicas de modalidades pertencentes a outras categorias, como o atletismo na categoria de esportes de marca, ginástica nos esportes de técnica combinatória, algumas mo- dalidades de lutas para esportes de combate, e outras modalidades que contemplem as demais categorias. Conforme descrito anteriormente,as modalida- des esportivas coletivas ou Jogos Esportivos Cole- tivos (JEC) exigem a interação e a cooperação entre duas ou mais pessoas que buscam superar outra dupla ou equipe. Essa categoria é considerada um fenômeno esportivo moderno, devido aos poucos registros desse tipo de atividade na antiguidade (GONZALES, 2004). Atualmente, as modalidades coletivas são as que mais chamam atenção da população, devido as suas características de interação em grupo, que, para Da- rido e Rangel (2011, p. 186), “[...] reforçam a neces- sidade humana de socialização, além, obviamente, do elemento lúdico envolvido na disputa do tipo jogo”. Nesse contexto, a legitimação do ensino do esporte, na escola e fora dela, advém do seu próprio valor en- quanto potencial de desenvolvimento do ser humano, por meio de uma prática que, apesar de lúdica e praze- rosa, exige o cumprimento de regras preestabelecidas e, por isso, implica organização. Dessa forma, ensinar um jogo esportivo coletivo implica a orientação e o comprometimento com um objetivo, exigindo esforço e persistência, qualidade de desempenho e resultado. Para que isso aconteça, ao longo dos anos, diferen- tes métodos e modelos de ensino foram descritos na literatura, aumentando o leque de possibilidades para um ensino mais eficaz dos JEC, seja na área do lazer, da educação ou da performance. Primeiramente, precisamos ter em mente que os modelos de ensino seguem abordagens metodológicas que podem ser classificadas em tradicionais e contem- porâneas (inovadoras). As abordagens tradicionais ou analíticas, têm como foco geral a eficiência técnica por meio da repetição de padrões de movimento, o que pode gerar seletividade entre os praticantes, além de um estado de dependência multifatorial, não só na di- mensão da prática esportiva (GASPAR, 2011). Como exemplo de método de ensino baseado na abordagem tradicional, temos o ensino particional, também conhecido como método por partes ou analí- tico, no qual as ações do jogo são divididas e trabalha- das de forma isolada. O objetivo desse modelo é en- sinar as ações técnicas e táticas separadamente, para que os praticantes consigam realizá-las com eficiência, unindo-as em situação de jogo (GONÇALVES, 2012). Acesse o QR code a seguir para verificar um exemplo de atividade que tem como foco o gesto motor (téc- nica). Perceba que, durante todo o vídeo, que apre- senta o fundamento passe da modalidade futebol, a preocupação dos jogadores é totalmente voltada para a execução do fundamento. 43 EDUCAÇÃO FÍSICA não corresponder nem às expectativas dos alunos, nem aos objetivos que persegue, visto que o foco de um ensino centrado em um método de aquisição das técnicas específicas de cada um dos esportes, desli- gada do contexto real do jogo, implica uma escassa aquisição de competência por parte dos alunos em resolver as situações reais que o jogo levanta. Isso, aliado à exaltação de uma maestria técnica, traz des- motivação aos alunos pela falta de sentido que leva a sua aprendizagem do jogo. A questão de como ensinar os jogos esportivos constitui um assunto controverso e tem sido objeto de grande curiosidade acadêmica. As novas correntes pedagógicas sustentadas nas teorias da aprendizagem cognitiva e construtivista, assim como a teoria da aprendizagem situada, são consideradas abordagens inovadoras no ensino dos esportes (ROBLES et al., 2013) e têm dado destaque ao conceito de modelo em Título: Exemplo de exercício focado na execução do gesto motor (técnica). Sinopse: O vídeo apresenta dois indi- víduos, vestidos com trajes esportivos rela- cionados ao futebol, em posse de uma bola, realizando passes rasteiros entre si. Apesar de apresentar algumas vantagens, como a maior facilidade no ensino e a correção das ações técnicas do jogo, o ensino dos esportes por meio de métodos tradicionais tem sido objeto de críticas por https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14176 44 detrimento do método. Os modelos de ensino são de- senvolvidos para que haja uma participação equitati- va, desafiando o raciocínio dos praticantes para além da replicação das técnicas ou das habilidades. A esse propósito, Metzeler (2005) refere que o modelo: A importância de conceber o esporte e, mais particu- larmente, os jogos esportivos coletivos dessa forma, permite ensinar o jogo de uma maneira modificada, mantendo a sua essência, mas reduzindo a sua com- plexidade e possibilitando aos alunos compreender os seus elementos-chave (ALMOND, 2015). Usando as formas de jogo reduzido, permite-se um estilo de ensino que se pode apelidar de descoberta guiada, • Fornece um plano global e uma abordagem coerente para ensinar e aprender. • Clarifica as prioridades nos diferentes domínios de aprendizagem e de suas interações. • Fornece uma ideia central para o ensino. • Permite ao professor e aos alunos entenderem o que está acontecendo e o que virá a seguir. • Fornece uma estrutura teórica unificada. • Apoia-se na investigação. • Fornece uma linguagem técnica aos professo- res e treinadores. • Permite que a relação entre instrução e apren- dizagem seja verificável. • Permite uma avaliação mais válida da apren- dizagem. • Facilita a tomada de decisão do professor den- tro de uma estrutura de trabalho conhecida. pois, por meio da colocação do aluno em uma si- tuação de jogo de enfrentamento do adversário, ele é estimulado a encontrar as melhores soluções para resolver os problemas que o jogo induz. Assim, o aluno/atleta alcança um nível de compreensão cons- ciente e age intencionalmente sobre a tática do jogo (GRAÇA; MESQUITA, 2007). A prática de jogos reduzidos oferece, igualmente, a vantagem de permitir aos professores e treinadores integrar o ensino de modalidades similares, pois a transferibilidade entre elas é possível. Como exemplo, podemos citar o popular jogo dos “10 passes” em que se pretende que uma das equipes mantenha a posse de bola, em que o objetivo, para além de manter a posse de bola, é efetuar uma progressão no terreno de jogo. 45 EDUCAÇÃO FÍSICA Outro exemplo bastante conhecido, é o “bobinho” (acesse o QR code a seguir para verificar essa ativida- de na prática), citado como exemplo de atividade 2, no início da unidade. Perceba que a descrição da atividade 2 não cita nenhum esporte em específico, podendo ser adaptada para diferentes modalidades que possuem ca- racterísticas semelhantes (a exemplo dos jogos coleti- vos de invasão), considerando, é claro, a especificidade de cada uma. Nesse caso, por exemplo, enquanto o pas- se do “bobinho” pensado para ensino do futebol pode ser realizado com os pés, para o ensino do basquete ou handebol, o passe pode ser realizado utilizando as mãos. Outros elementos característicos das modalida- des, como o tipo da bola e a forma de passar, também podem ser adicionados pelo professor/treinador. A ideia geral, nesse caso, é que indiferente de qual modalidade seja, a atividade do “bobinho” reproduz situações que acontecem durante o jogo de fato, por exemplo, realizar um passe tendo a figura de um (ou mais) adversário que tentará “roubar” a bola. Lembrete: utilize essas informações para ela- borar sua resposta para a pergunta “a”, feita no início da unidade. No âmbito escolar, idealizar o ensino do esporte dessa forma tem como grande objetivo fomentar a participa- ção dos alunos, pois a motivação para o jogo é muito mais entusiasmante do que a realização de exercícios analíticos que induzem a longos tempos de espera para entrar em atividade. Esse tipo de abordagem implica em o professor assumir uma intervenção que, para além da liberdade de deixar jogar, ajude o aluno a en- contrar soluções, comunicando de forma positiva e es- timuladora uma reação à prestação do aluno. Nesse contexto, de acordo com Tani (2002), as principais caraterísticas do esporte enquanto conteú- do da EF são: • Ser objetivo no que diz respeito ao rendimento, implicando consideração pelas diferençasindi- viduais, nomeadamente, as caraterísticas físicas, psicológicas, sociais e culturais dos alunos. • Levar em consideração as diferenças individu- ais quanto às expectativas individuais, às aspi- rações e aos valores. • Estabelecer metas de desempenho realistas, evitando, por um lado, a superestimulação e, por outro, a subestimulação. • Visar a aprendizagem e, com isso, o conheci- mento esportivo. • Abranger todos os alunos, independentemen- te do gênero, do seu nível de desenvolvimento motor e das suas capacidades físicas. • Ser objeto de avaliação, permitindo fornecer in- dicações objetivas sobre o progresso do aluno. • Ter como alicerce que a sua disseminação cons- titui um patrimônio cultural da humanidade. Título: Exemplo da atividade “bobinho” realizada para a mo- dalidade futebol. Descrição: o vídeo apresenta atletas da Seleção Brasileira de Futebol, dispostos em cír- culo, trocando passes entre si. Dentro do círculo, há dois atletas que buscam recuperar a bola. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14177 46 Considerando o exposto, apresentamos algumas pro- postas de modelos de ensino para os JEC, que têm sido alvo de bom acolhimento a nível internacional. Tais modelos têm despertado a curiosidade da co- munidade científica, a qual tem produzido material empírico (fruto de pesquisas com recurso a diferentes metodologias e em diferentes sistemas de ensino) que dá sustento e incentiva a sua aplicação. São modelos cujo objetivo é empregar meto- dologias pedagógicas mais democráticas, provi- denciando aos alunos experiências esportivas que realmente lhes permitam aprender a jogar bem e, com isso, ter maior desfrute com a sua prática. Nesse sentido, o conhecimento do jogo refere-se não somente à capacidade para executar habilida- des motoras complexas, mas também às decisões apropriadas do uso dessas habilidades no contex- to do jogo. Os modelos que serão apresentados rompem com as abordagens mais tradicionais ao nível dos conteúdos, dos métodos e das estraté- gias de ensino. Reconfiguram os papéis e as res- ponsabilidades de quem ensina e de quem apren- de, estabelecendo novos cenários de contextos de instrução e aprendizagem. Estes novos modelos surgem em oposição à perspectiva tradicional de fragmentação do jogo em habilidades básicas e ao ensino das técnicas isoladas, onde é ignorada a complexidade e a es- pontaneidade do jogo, para enfatizar a tomada de decisão e a capacidade de intervenção em si- tuações autênticas de prática em referência aos problemas impostos pelo jogo (MESQUITA; PEREIRA; GRAÇA, 2009, p. 945). Dessa forma, sugere-se que, quando os professores ou treinadores ajudam as crianças e os jovens a “enten- der” o jogo e reduzem a importância do ensino das técnicas de forma isolada, o divertimento e a satisfa- ção com o jogo são abertos a todos, independente- mente da sua habilidade. Dentro desse contexto, o modelo do Ensino dos Jogos para a sua Compreensão – TGfU (Teaching Games for Understanding - TGfU) –, proposto por Bunker e Thorpe (1982), teve um forte impacto na forma como se começou a encarar o ensino das mo- dalidades esportivas. De forma oposta a um ensino tradicional, que iniciava a aprendizagem do jogo pelo domínio das técnicas, os autores propuseram uma forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua essência. Dessa forma, promoveu-se uma participa- Título: Pedagogia do Desporto Autor: Go Tani; Jorge Olímpio Bento e Ricardo Demétrio de Souza Petersen Editora: Guanabara Koogan Sinopse: o livro estrutura-se em quatro partes. Na primeira, surge uma fundamentação normativa da área, por meio da formulação de orientações e conceitos reguladores da pedagogia do desporto. A segunda parte é um prolongamento da primeira e aproxima a teoria da prática nos campos em que a Pedagogia do Desporto se espraia. Nas terceira e quarta partes, os autores trazem as preocupações e operações da didática e da metodologia acerca do ensino do desporto. 47 EDUCAÇÃO FÍSICA ção mais igualitária entre os estudantes, desafiando o entendimento do esporte para além das execuções técnicas e habilidades respectivas. O ensino centrado no aluno, no qual esse mo- delo se apoia, pretende proporcionar sucesso em uma grande variedade de jogos, explorando as técnicas e táticas que lhes são comuns, como “o passar e desmar- car”, “encontrar espaços vazios” ou “abrir linhas de passe”. Assim, o professor ou o treinador centra o seu foco no ensinar a jogar ao invés de ensinar as técnicas específicas de cada modalidade. Os alunos devem exe- cutar estratégias apropriadas à complexidade do jogo e empregar tempo satisfatório para jogar. O foco pedagógico desse modelo é: 1. Representar jogos complexos de forma sim- plificada. 2. Modificar os princípios do jogo em si, de forma a diminuir as suas exigências. 3. Exagerar procedimentos no sentido de salien- tar determinados aspectos do jogo que são importantes para a sua compreensão. Uma das primeiras preocupações é evitar que o jogo se torne uma obsessão, dessa forma, colocando aos alunos questões como: o que fazer? Quando fazer? Como fazer? O contexto do jogo tem precedência sobre o ensino das técnicas. Assim, a escolha da for- ma do jogo é crucial e será determinante para que não faça uso de técnicas que impeçam a sua reali- zação. Consequentemente, deve permitir aos alunos enfrentar de forma inteligente as situações coloca- das, interpretá-las, identificar uma possibilidade de solução e, consequentemente, agir intencionalmente de acordo com os objetivos. Acesse os QR codes a seguir para visualizar exem- plos de atividades que podem ser utilizadas no mode- lo TGfU. O primeiro vídeo apresenta o “jogo dos 10 passes”, baseado na modalidade basquetebol, no qual o objetivo é realizar 10 passes entre os jogadores da mesma equipe, sem que a equipe adversária recupere a bola. No segundo vídeo, é apresentada uma ativida- de de jogo reduzido, “4 x 4”, ou seja, em um espaço menor e com número menor de jogadores que a quan- tidade oficial, baseado na modalidade futebol. Obser- ve que ambas as atividades contemplam as situações de “passar e desmarcar”, “encontrar espaços vazios” e “abrir linhas de passe”, mencionadas anteriormente. Exemplo de atividades que pode ser utilizada no modelo TGfU. No primeiro vídeo, o objetivo da atividade é realizar 10 passes en- tre os jogadores da mesma equipe, sem que a equipe adversária recupere a bola. O segundo vídeo apresenta uma animação com bonecos vestidos com trajes esportivos específicos do futebol, divididos em dois times, em um espaço menor que o campo de futebol. A animação demonstra como o jogo redu- zido, de 4 x 4 jogadores, que pode ser realizado com adaptação das regras (por exemplo, ter apenas um goleiro). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14183 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14184 48 Quando se apresenta um jogo aos alunos, esse deve ser adequado a sua idade e ao seu nível de experiência. Na prática, o professor desenha cenários de jogo em forma de puzzles (quebra-cabeça), que necessitam ser resolvidos e que representam aquilo que o aluno nor- malmente encontra no jogo. A apreciação do jogo envolve o conhecimento das suas regras, que podem ser adaptadas em função dos constrangimentos situacionais. A compreensão tática Os seis passos para o ensino do TGfU propostos por Bunker e Thorpe (1982) são: 1. Jogo. 2. Apreciação do jogo. 3. Consciência tática. 4. Tomada de decisão. 5. Habilidade de execução. 6. Performance em competição. implica o aluno na consciencialização dos problemas táticos que o jogo aporta e preconiza o entendimen- to das táticas mais elementares. A tomada de decisão incita o aluno a resolver questões (o que fazer? Como fazer), atribuindo, dessa forma, significado ao uso da técnica, em função dos problemas táticos suscitados pelas ocorrências do jogo. A habilidade de execução procura dotar os alu- nos de um maior domínio e de uma maior eficáciana execução das técnicas. Todas as fases anteriores se reúnem para se corporizar na consolidação do jogo. O ciclo voltará a se repetir, implicando o desenvolvi- mento de procedimentos cognitivos e técnicos cada vez mais complexos, até atingir o jogo formal, como exemplificado na Figura 2, a seguir. Contudo, é im- portante salientar que, apesar do propósito ser o ensi- no em direção ao domínio do jogo formal, se esse não for alcançado, não diminui em nada a importância das aprendizagens obtidas pelos alunos no decorrer de todo o processo. 49 EDUCAÇÃO FÍSICA Figura 2 – Ciclo do modelo de ensino TGfU / Fonte: Adaptado de Graça e Mesquita (2007) Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que representa o ciclo do modelo de ensino dos esportes por meio do modelo TGfU em seis passos. O fluxograma inicia com uma caixa de texto centralizada, com a descrição “Jogo” e segue com uma flecha para a esquerda, para a próxima caixa de texto, que representa “Apreciação do jogo”. Abaixo, indicada também por uma flecha, há a caixa de texto da “Consciência tática”. Em seguida, indicada por uma flecha para a direita, há uma caixa de texto maior, centralizada, que representa a “Tomada de decisão” e possui a descrição “o que fazer/como fazer”. Seguindo para a direita, apontada por uma flecha, há a caixa de texto descrita como “Habilidade de execução”. Em seguida, uma flecha para cima, apontando para a caixa de texto da “Performance”, que finaliza o fluxograma com uma fle- cha em direção à primeira caixa de texto, “Jogo”, fechando o ciclo. Ao centro do fluxograma, há uma caixa de texto descrita com “Aluno”, para representar o foco do modelo de ensino. Esses passos metodológicos estão subordinados a quatro princípios pedagógicos: • O primeiro, chamado de amostragem (Sam- pling), evidencia como a compreensão das soluções táticas, regras e habilidades permite a transferibilidade entre jogos similares ou da mesma categoria. Significa que, por exemplo, a desmarcação no handebol possui um princí- pio similar à desmarcação no basquetebol. • O segundo princípio consiste na representa- ção do jogo (Game representation), no qual os professores criam um desenvolvimento apro- priado por meio de cenários de jogo que pro- porcionem formas de usar uma determinada habilidade ou solução tática dentro do jogo. Como exemplo, podemos ilustrar com o jogo dos dez passes ou o “bobinho”, já menciona- dos anteriormente. Tais atividades instigam a manutenção da posse de bola e impedir que o adversário a conquiste. • O terceiro princípio, designado como exage- ro (Exaggeration), implica que os professores definam um objetivo específico tendo como ponto de partida o jogo formal, concebendo um outro jogo que procure exagerar o concei- to específico que escolheram anteriormente. 50 Utilizando novamente o jogo dos dez passes como exemplo, coloca-se um constrangimen- to ao jogo, em que se penaliza com perda de posse de bola se houver um passe devolvido a quem lhe passou. • O quarto e último princípio, complexidade tática (Tactical complexity), assenta-se na pre- missa de que existe um desenvolvimento pro- gressivo de soluções táticas que inclui as ha- bilidades com bola e respectivos movimentos. Mais uma vez, por meio do jogo dos 10 passes como exemplo, o professor pode solicitar (até com ajuda de uma pontuação) formas diferen- ciadas de passar a bola. O modelo de ensino do jogo, para a sua compreensão, não deve ser reduzido ao ensino de uma competência cognitiva ou tática, pois tem grande potencial de con- firmar a humanidade da EF e do esporte por meio das formas em que destaca a interação humana e as dimen- sões afetivas dos jogos. A operacionalização do ensino desse modelo, segundo Almond (2015), envolve: Em sua essência, jogar pressupõe esforçar-se pela obten- ção da vitória, o professor deve refletir sobre a melhor estratégia para desenvolver o aluno nesse particular. Noções básicas sobre o jogo: a necessidade de aprender a vencer os adversários • Reconhecer como a sua equipe pode jogar (quais são as opções). • Reconhecer como jogam os adversários. • Ser sensível às mudanças que ocorrem du- rante o jogo. • Estabelecer conexões entre a forma como se está jogando e as forças e fraquezas do adver- sário e da própria equipe. • Decidir o que fazer (como equipe/indivíduo). • Reconhecer que aquilo que é taticamente exe- quível deve ser tecnicamente possível. Uma das muitas vantagens do TGfU é que ele permite ao professor integrar a sua abordagem em diferentes categorias de jogos. Isso pode ser alcançado procu- rando similaridades e diferenças nas técnicas, estraté- gias, táticas, regras e, inclusive, variáveis psicológicas. O modelo de ensino de Educação Esportiva (Sport Education) proposto por Siedentop (1994), foi elaborado para providenciar experiências des- portivas enriquecedoras para todos os gêneros, no contexto da EF, e constitui-se como uma alternati- va ao ensino de unidades didáticas de curta duração compostas por multiatividades. A importância desse modelo é reconhecida pela comunidade internacional que investiga a área da EF e tem sido alvo de pesquisas incidindo, por um lado, na forma como se pode implementá-lo e, por outro, so- bre os resultados da sua aplicação. O grande objetivo “será reconhecer que o esporte é uma forma de jogo e, Entender o jogo: • As regras do jogo e a forma como o podem in- fluenciar. • Estratégia, táticas e princípios de jogo. • Os princípios de jogo dentro de uma partida reco- nhecendo a sua relevância em situações específicas. • Como trabalhar em equipe e para a equipe – fo- mentando a responsabilidade coletiva. • Por que jogar desta forma ou daquela. • Onde os próprios colegas estão e para onde eles são suscetíveis de se movimentar. • A forma e o fluxo do jogo. • O papel e a responsabilidades individuais: • No ataque e na defesa. • Quando não tem a posse da bola. 51 EDUCAÇÃO FÍSICA que numa sociedade onde formas superiores de ativi- dade lúdica são perseguidas vigorosamente por todas as pessoas, a sociedade é mais madura” (CURTNER- -SMITH; SOFO, 2004, p. 347). Dessa forma, tem como fim mais específico gerar pes- soas com competência esportiva, literadas e entusiásticas. A ideia contida nesse modelo será a de introduzir o conceito de época desportiva, que: • Articula a prática desportiva com a institucio- nalização de clubes. • Junta a filiação duradoura e a competição ca- lendarizada com a conservação de registos de resultados e estatísticas dos desempenhos in- dividuais e de grupo. • Atribui papéis e funções que compõem o en- volvimento desportivo (capitães, treinadores, árbitros, diretores, jornalistas, dentre outras possíveis funções). • Uma pessoa competente no esporte é aquela que possui habilidade, entende e executa a estratégia de jogo de forma a participar com sucesso no jogo. • Uma pessoa com conhecimento espor- tivo é aquela que entende os valores e tradições do esporte, assim como os seus rituais e regras, além de ser capaz de dis- tinguir uma boa de uma pobre realização. • Um esportista entusiasta é aquele que participa de forma a melhorar, preservar e proteger a cultura desportiva. Para concretizar tudo isso, os alunos são chamados a desempenhar diferentes papéis além de jogar. À medi- da que a “época” progride, o professor altera um estilo de ensino mais diretivo para um estilo menos diretivo e mais centrado no aluno. Dessa forma, ao aumentar a responsabilidade em todos os aspectos do ambien- te de aprendizagem sobre os alunos, gradualmente, o professor assume mais um papel de facilitador. A importância que a competição tem como ele- mento central da experiência esportiva exige critérios cuidadosos na criação das equipes e pretende fazer uma clara distinção entre o treinar (preparar para a competição) e o competir. O modelo visa, igualmente, evidenciar o com- ponente diversão e a competência esportiva, que se traduz na prática da competição esportivainstitucio- nalizada. O que faz todo o sentido, pois competir e esforçar-se pela vitória é inerente à prática do jogo e à cultura esportiva que lhe está subjacente. Como princípios fundamentais dos conteúdos de ensino da EF e do esporte, o espírito da competição deve fundar-se em um forte espírito ético de respeito pelo jogo e por todos os que nele intervêm. É funda- mental que a competição favoreça a participação de todos e, com isso, o seu desenvolvimento pessoal, criando a oportunidade de todos jogarem e, por via disso, aprenderem a jogar. Possuindo uma orientação que pretende ver to- dos os alunos incluídos no processo, o modelo de Educação Esportiva tem que saber lidar com valores um pouco divergentes, que são ganhar e garantir que todos tenham oportunidade de participação efetiva no jogo. Nesse sentido, a esse modelo é importante corresponderem formas de jogo adequadas às capa- cidades dos alunos, motivando e mobilizando a sua participação de forma relevante. 52 53 EDUCAÇÃO FÍSICA O objetivo do modelo de educação esportiva é: • Melhorar a capacidade de jogo por meio do progresso das habilidades específicas da leitura de jogo e da consequente tomada de decisão. • Melhorar as capacidades físicas e psicológicas. • Fomentar a autonomia, a liderança e a parti- lha de responsabilidades na organização da experiência esportiva (isso obtido por meio de uma transferência progressiva da organização para os alunos). Um dos pontos fundamentais que o modelo da Educação Esportiva propõe é uma apren- dizagem cooperativa por meio da consti- tuição de pequenos grupos heterogêneos e que tenham uma grande duração. Esse é um ponto fundamental para que o modelo seja eficaz. Criar um sentimento de identi- dade no grupo, um espírito consolidado nos objetivos comuns de alunos que se ajudam mutuamente para o alcançar. Naturalmente que, tratando-se de um grupo e, ainda, formado por jovens, serão desencadeados tensões e conflitos. Esses de- vem ser tratados por meio do diálogo e, para a sua resolução, deve contribuir o saber do professor que, com o seu empenho e a sua boa influência, fará resultar o processo. 54 O vídeo no QR apresenta um exemplo de atividade pré-desportiva (Handebol Spinner Cones), que pode ser aplicada dentro do modelo da Educação Esportiva. Você ainda pode variar ou adaptar a atividade, colo- cando os alunos em outras funções dentro da atividade, como o árbitro do jogo ou aquele quem vai marcar a pontuação das equipes. Lembrando que é uma ativida- de que pode ser utilizada em ambiente escolar, confor- me apresenta o vídeo, e, também, fora dele. Seguindo a mesma linha que os modelos de ensi- no apresentados anteriormente, o modelo de ensino da Iniciação Esportiva Universal (IEU), proposto por Greco e Benda (1998), se contrapõe aos méto- dos tradicionais e apresenta-se como um modelo que prioriza uma sequência focada inicialmente nas for- mas de aprendizagem incidental (aprender jogando), evoluindo para as formas de aprendizado intencional (jogar para aprender). De acordo com os autores, o processo de ensino- -aprendizagem-treinamento baseado nesse modelo de ensino deve estar “orientado para um corpo de co- nhecimento teórico (adquirido através da prática) que promova a melhora do rendimento esportivo” (GRE- CO; BENDA, 1998, p. 19). Isso se dará a partir da compreensão e da vivência de atividades que simulem situações de jogos, promovendo tanto a “aquisição e domínio dos elementos coordenativos gerais básicos, como também o domínio dos processos psicológicos, cognitivos e sociais envolvidos” nas atividades (GRE- CO; BENDA, 1998, p. 19). Seguindo essa linha, o objetivo da IEU é conscien- tizar o professor e o aluno da importância da prática esportiva, “tornando o indivíduo capaz de compreen- der e aprender a modalidade esportiva, de discernir diferentes situações-problema e agir, de forma inde- pendente e inteligente, para a solução das tarefas-pro- blema no esporte” (GRECO; BENDA, 1998, p. 16). É importante salientar que a IEU não possui foco específico no rendimento. Todavia, a proposta de en- sino oferece um aporte para que o aluno/atleta tenha condições de, no futuro, optar pelo alto rendimento, se assim preferir. Assim, é sempre considerado que o alu- no possa ser um futuro atleta de rendimento, contudo, entende-se que é um processo de longo prazo, não ha- vendo preocupação com a especialização precoce. Paralelamente a isso, os autores ainda pregam a rela- ção do “ensinar o esporte” com o “ensinar pelo esporte”. Ou seja, que “quando se ensina o esporte, ensina-se mui- to mais do que uma modalidade esportiva, desenvolve- -se cidadania, humanidade, personalidade” (GRECO, 2012, p. 148). Assim, a base do modelo se dá por meio dos princípios éticos, educativos e formativos que pro- movem o desenvolvimento da criança e/ou do adoles- cente como um todo, e não como uma soma das partes. De modo geral, a IEU propõe que o ensino-apren- dizagem-treinamento das modalidades esportivas coletivas integre o desenvolvimento das capacidades táticas simultaneamente com as capacidades coorde- nativas, técnicas, físicas, sociais e psicológicas. A se- guir, são apresentados os “fins” e os “meios” relacio- nados ao modelo em questão, conforme descrito por Greco e Benda (1998, p. 23). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15021 55 EDUCAÇÃO FÍSICA “Fins” e metas da IEU • Tem objetivos em curto, médio e longo prazo. • Baseia-se nas inter-relações professor-aluno e alunos-alunos. • Pretende o desenvolvimento das capacidades coordenativas que servem de base para o pos- terior domínio de técnicas sem deixar a criação de novos movimentos. • Constrói-se em base a constituição do potencial do indivíduo. • Oferece a possibilidade de compartilhar deci- sões com os outros. • A conscientização passa pela contextualização político-social, que deve ser desenvolvida à medida que as capacidades de elaboração do pensamento crítico estejam aptas para tal. • Constrói regras de jogo de tomada de decisão por meio da ação conjunta e sua contextualização “Meios” adotados na IEU • Fundamenta-se na integração entre as ciências biológicas e pedagógicas. • Apoia-se em resultados de pesquisas nas áreas de aprendizagem motora, do treinamento téc- nico, das psicologias geral e do esporte, dos métodos de ensino moderno e das formas de aprendizagem. • Encaminha-se à especialização após uma forte base de generalização. O vídeo do QR code a seguir apresenta a atividade “pi- que bandeira”, a qual pode ser utilizada dentro do con- texto da IEU. Lembrando que muitas outras atividades podem ser utilizadas, desde que proporcionem desen- volvimento das capacidades táticas simultaneamente com as capacidades coordenativas, técnicas etc., con- forme mencionado anteriormente. O vídeo apresenta crianças dispostas em círculo, sendo que uma delas está explicando verbalmente a brincadeira “pique ban- deira”. Enquanto ela explica, é mostrado no vídeo os materiais utilizados na atividade e como ela é realizada. O modelo de ensino IEU apresenta um sistema de formação esportiva no qual se inter-relacionam estrutu- ras que são inerentes às modalidades esportivas. Embo- ra cada estrutura deva ser entendida de forma indepen- dente, estas devem atuar em conjunto, considerando os objetivos e metas estipulados. Tais estruturas são dividi- das em: administrativa, institucional, área de aplicação, conteúdos e temporal (GRECO; BENDA, 1998). 56 Sem minimizar a importância de todas as estruturas que compõem o sistema de formação da IEU, da- remos foco para a Estrutura Temporal, visando um maior entendimento do processo ensino-aprendiza- gem-treinamento desse modelo. A estrutura temporal da IEU é dividida em nove fases: fase pré-escolar, fase universal, fase de orien- tação, fase de direção, fase de especialização, fase de aproximação, fase de alto nível, fase de recuperação e fase de recreação e saúde, conforme descritoa seguir (GRECO; BENDA, 1998). • Estrutura administrativa – tem como finalidade sistematizar as diferentes formas de manifesta- ção da atividade física. • Estrutura institucional – é composta por órgãos e instituições, como ministérios, secretarias de esporte, federações etc. • Estrutura da área de aplicação – entendida como as diferentes formas de manifestação da atividade física, como as expressões esportivas relacionadas ao lazer, à saúde, à escola e outros. • Estrutura dos conteúdos – caracteriza-se pelas capacidades e áreas de capacidades inerentes à ação motora em qualquer nível de expressão da atividade física, ou seja, as capacidades básicas para ação esportiva. Podem ser classificadas em: capacidades biológicas, físicas, táticas, téc- nicas, psíquicas e socioambiental. • Estrutura temporal – abrange a sequência de fases e momentos que compõem os diferentes níveis de rendimento esportivo, conforme a fai- xa etária e o acervo de experiência. • Ensino dos jogos para sua compreen- são (TGfU) – prega o ensino do espor- te a partir da resolução de problemas inerentes ao jogo, ou seja, através da compreensão da lógica do jogo. Assim, o conhecimento tático é oferecido antes das habilidades técnicas, que são intro- duzidas no momento em que o aluno entende “o quando” e “o que fazer”. • Educação Esportiva – caracteriza-se, principalmente, pela cooperação entre professores e alunos na organização das diferentes tarefas, bem como na distri- buição de funções e responsabilidades. O ensino do esporte passa pelo fator lúdi- co e contextualização esportiva, havendo um peso substantivo à prática motora. • Iniciação Esportiva Universal (IEU) – foca a imprevisibilidade tática e na tomada de decisão durante o jogo e considera que, embora cada modalidade esportiva coletiva possua características técnicas específicas, o processo de ensino deve se desenvolver a partir de capacidades coordenativas e habilidades técnicas glo- bais que formam a base do treinamento. 57 EDUCAÇÃO FÍSICA FASE PRÉ-ESCOLAR Nesse período, que compreende os primeiros anos de vida da criança, o foco deverá ser nas diversas pos- sibilidades de movimentos. Ou seja, o professor/pro- fissional de Educação Física deverá propor atividades que proporcionem uma vivência ampla de movimen- tos, sem que haja preocupação com a execução. De acordo com Krebs (1992), “o padrão de movimento deve ser tomado apenas como estímulo para que a criança construa seu próprio padrão motor” (apud GRECO; BENDA, 1998, p. 66). Para isso, indica-se a realização de atividades bási- cas de descolamento, equilíbrio, coordenação, esque- ma corporal, espaço-temporal etc., em forma de jogos de estafetas, de imitação, perseguição e outros. FASE UNIVERSAL Compreende o período entre os 6 e 12 anos de idade e pode ser considerada a fase mais ampla e rica em movimentos do processo de formação esportiva. É importante salientar que, nesse período, as ativida- des esportivas sistemáticas não devem ultrapassar três vezes por semana, para que não haja interferên- cia em outros interesses e necessidades que a criança possa apresentar. Como nessa fase a criança já apresenta habilidades básicas de locomoção, manipulação e estabilização, já é possível a apresentação de atividades motoras mais complexas. Entre a faixa etária de 7 a 10 anos de ida- de, denominada estágio geral ou transitório, a criança já é capaz de combinar e aplicar habilidades motoras 58 fundamentais. Já no estágio de habilidades específicas, dos 11 aos 13 anos de idade, há um maior desenvolvi- mento cognitivo e físico, o que somado aos fatores cul- turais, possibilitam à criança utilizar suas capacidades motoras dentro de estruturas esportivas mais definidas (GALLAHUE, 1989 apud GRECO; BENDA, 1998). De modo geral, podemos entender que crianças de 6 a 8 anos devem trabalhar com jogos de perse- guição, estafetas, dentre outros. A partir dos 8 a 10 inicia-se os aspectos esportivos por meio de jogos re- duzidos, jogos de iniciação, grandes jogos e em alguns casos, jogos pré-desportivos. O foco nessa fase é desenvolver todas as capacidades motoras e coordenativas gerais, criando uma base ampla e variada de movimentos, utilizando de atividades que exaltem o aspecto lúdico. Temos sempre que lembrar que a criança e/ou o adolescente não são “miniadultos”. FASE DE ORIENTAÇÃO Inicia-se entre os 11-12 anos e vai até os 13-14 anos de idade e possui uma frequência média recomenda- da de atividades esportivas sistemáticas de três encon- tros semanais, com duração entre 60 a 90 minutos. Nessa fase, busca-se o desenvolvimento e evolução das capacidades físicas e técnicas adquiridas nas fases anteriores. O objetivo dessa fase é a iniciação técnica, ou seja, o gesto motor de forma global ou ações moto- ras gerais que possam ser utilizadas em tarefas espor- Considerando os esportes de invasão, quais capacidades podem ser aprimoradas a partir da atividade do “pique bandeira”? tivas diversas. Salienta-se que essa iniciação técnica não deve visar a perfeição do gesto técnico. A ideia é que haja uma passagem pelas técnicas das diferen- tes modalidades esportivas, observando as exigências que se apresentam em cada uma delas. Indica-se a realização de jogos com diferentes for- mas de organização (jogos de iniciação, pré-desporti- vos, grandes jogos, jogo recreativo etc.) a partir do as- pecto recreativo, porém, com teor educativo, pois serão estabelecidas as bases para uma “ação inteligente”. FASE DE DIREÇÃO Abrange o período entre os 13/14 anos a 15/16 anos. A frequência de atividades esportivas sistematizadas indicadas continua de três vezes semanais, para que não haja conflito com os demais interesses e neces- sidades do jovem. Nessa fase, inicia-se a especialização técnica em uma modalidade esportiva. Todavia, os autores des- tacam a importância de o jovem participar de duas ou mais modalidades, de preferência complementares (que possuam características semelhantes, como por exemplo modalidades coletivas de invasão), para que não haja dificuldade nos processos de transferência de técnica-tática. De acordo com Greco e Benda (1998), a participação em diferentes modalidades possibilita a “variabilidade prática” no processo de ensino-apren- dizagem-treinamento, conceito que é de fundamental importância para o desenvolvimento de habilidades motoras e do treinamento técnico-tático, além de evi- tar a especialização precoce. Ao fim dessa fase, o jovem terá um acervo mo- tor que permitirá, de acordo com suas necessidades e interesse, optar por escolher a prática esportiva com vistas ao alto nível de rendimento. 59 EDUCAÇÃO FÍSICA FASE DA ESPECIALIZAÇÃO Inicia-se aos 15/16 anos, até os 17/ 18 anos, que é, em média, o tempo em que o jovem finaliza o ensino médio. Orienta-se que o treinamento esportivo siste- matizado aconteça em até três vezes semanais, com duração de 90 a 120 minutos. De acordo com Gallahue (apud GRECO; BENDA, 1998, p. 73), nessa fase, o jovem está no ápice de seu desenvolvimento e é “caracterizado pelo desejo indi- vidual em participar de uma atividade que possui um número limitado de movimentos”. Ainda segundo o autor, o nível de participação em alguma atividade, seja ela de competição a nível escolar, municipal, esta- dual etc. ou de recreação e lazer, dependerá do talento individual do jovem, bem como das oportunidades, das condições físicas e da motivação. A partir disso, essa fase indica o momento de concretizar a especialização na modalidade escolhida pelo indivíduo, que passa a se considerar atleta. Deve- rá ocorrer o “aperfeiçoamento e otimização do poten- cial técnico e tático, que sirvam de base para o empre- go de comportamentos táticos de alto nível” (GRECO; BENDA, 1998, p. 74). 60 FASE DE APROXIMAÇÃO/INTEGRAÇÃO Abrange dos 18 aos 21 anos e pode ser considerada o momento mais importante na transição para uma possível carreira esportiva. Nesse momento,a fase de crescimento está finalizada, resultando em um bioti- po corporal específico, além dos traços psicológicos do jovem adulto. Nessa fase, além da otimização das capacidades técnicas, táticas e físicas, também é essencial um espa- ço de tempo para que haja a otimização também das capacidades psíquicas e sociais. FASE DE ALTO NÍVEL Nessa fase, os domínios técnico-tático-psíquicos atingidos na fase anterior serão aprimorados, consi- derando o aumento da carga de treinamento, no que se refere ao volume, intensidade e densidade e, “con- sequentemente, será dirigido o processo para a meta de otimização dos processos cognitivos (em relação à situação esportista/alto rendimento/estilo de vida) e psicológicos” (GRECO; BENDA, 1998, p. 75). FASE DE RECUPERAÇÃO/READAPTAÇÃO A fase de recuperação visa a readaptação do ex-atleta à sociedade, bem como a aplicação de atividades físi- cas e programas adequados, que contribuam para o destreinamento de maneira gradativa, conduzindo-o ao esporte como forma de benefício à saúde (GRECO; BENDA, 1998, p. 75). FASE DE RECREAÇÃO E SAÚDE Na última, as experiências passadas e presentes em ativi- dade física devem proporcionar ao indivíduo estrutura básica de programas de atividade física que assegurem os efeitos positivos na manutenção da função fisiológica. A Figura 3, a seguir, apresenta a estrutura tempo- ral da IEU em uma linha do tempo, considerando a faixa etária e a experiência do indivíduo. De acordo com os autores, essa classificação estrutural pode ser considerada tanto na escola quanto em instituições especializadas, como escolinhas de iniciação. Lem- brando que iniciação esportiva propriamente dita vai até a fase de especialização e que as demais fases com- pletam o ciclo esportivo (GRECO; BENDA, 1998). 61 EDUCAÇÃO FÍSICA Figura 3 – Fases e níveis de rendimento esportivo considerando a duração, a frequência de treinamento e a idade Fonte: Greco e Benda (1998, p. 77) Descrição da Imagem: o infográfico apresenta cada uma das nove fases da estrutura temporal do modelo de ensino IEU, cada uma inserida dentro de uma caixa de texto, com as bordas em preto, detalhando as informações da idade, duração e a frequência das sessões de treinamento para cada uma delas. Cada caixa de texto está interligada por uma linha do tempo de acordo com a faixa etária e a experiência dos praticantes. As informações são apresentadas na vertical, de baixo para cima. No canto inferior esquerdo, inicia-se com a caixa de texto da fase pré-escolar (idade: 3 a 6 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes). Em seguida, temos a caixa de texto da fase universal (idade: 6 a 12 anos; duração: 6 anos e frequência: 2 a 3 vezes), seguida pela fase de orientação (idade: 12 a 14 anos; duração: 2 a 4 anos e frequência: 2 a 3 vezes) e a fase de direção (idade: 14 a 16 anos; duração: 2 a 4 anos e frequência: 3 a 4 vezes). Em diagonal, logo acima, há a caixa de texto da fase de especialização (idade: 16 a 18 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 3 a 4 vezes). Seguindo em diagonal para a direita da página, há a caixa de texto da fase de aproximação (idade: 18 a 21 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes), finalizando com a fase de alto nível (idade: acima de 21 anos; duração: 6 a 10 anos e frequência: 8 a 10 vezes), no canto superior direito. Abaixo da caixa de texto da fase aproximação, seguindo em linha reta, acima da caixa da fase de direção, há a caixa de texto da fase de recreação e saúde (idade: acima dos 16 anos; sem tempo de duração e frequência: 2 a 3 vezes). Para finalizar, logo acima, em linha reta, há a caixa de texto da fase de readaptação, no canto inferior direito, (sem descrição para idade; duração: 2 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes). No canto superior esquerdo da página, há a caixa de legendas, na qual a letra I representa a idade; a letra D, duração do período; a letra F, de frequência semanal de treinamento; e o símbolo hífen, que significa sem determinação específica. Após entendermos um pouco mais o esporte e suas diferentes manifesta- ções na unidade anterior, é essencial que saibamos, também, como ensinar o esporte, considerando todos os aspectos que o cercam. Assim, nesse podcast, falaremos um pouco mais sobre a iniciação esportiva e alguns mo- delos de ensino que podem ser utilizados nela, principalmente das modali- dades coletivas, tanto na escola, quanto fora dela. Aperte o play e vamos lá! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12301 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12301 62 Nessa unidade, abordamos algumas informações e conceitos importantes acerca dos esportes e suas clas- sificações, e apresentamos modelos de ensino que ex- põem estratégias agregadoras para ensinar o esporte de forma motivadora e prazerosa, não esquecendo que é quase inerente ao ser humano gostar de jogar. Os modelos de ensino apresentados fazem con- traponto aos métodos tradicionais que fragmentam o jogo em habilidades técnicas, e propõem o ensino do esporte dentro de um aspecto construtivista, con- siderando a complexidade e espontaneidade de cada modalidade e enfatizando a tomada de decisão e in- tervenção em situações e problemas impostos pelo jogo em si. No centro da aplicação dessas estratégias de ensino está o professor, que, pelo seu empenho e competência, ensinará a criança e o jovem a jogar. Para isso, ele terá que idealizar a sua intervenção de uma forma contextualizada a cada grupo que li- dera, pautando a sua intervenção adequadamente, com o intuito de fazer as crianças e os jovens tirarem o máximo partido da atividade. Tendo em mente a inclusão e a valorização de todos, será determinante equacionar estratégias que evidenciem todos os as- pectos relacionados ao jogo e à competição esportiva de forma saudável. É importante ressaltar que não há um modelo que seja melhor ou pior. Dada a singularidade de cada in- divíduo no processo pedagógico, alguns modelos po- dem ser mais adequados para uma turma, por exem- plo, e menos adequados para outras. Assim, caberá ao professor analisar o contexto no qual está inserido e optar pela proposta de modelo mais adequada. 63 agora é com você 1. As modalidades esportivas podem ser classificadas de acordo com o número de participantes, em individuais e coletivas, e também considerando a intera- ção ou não com adversário. Dentro desse contexto, ainda, há uma categoria denominada Esportes Coletivos de Invasão. Considerando tais informações, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I. O basquetebol, o futebol americano e o futsal são caracterizados como moda- lidades esportivas coletivas de invasão. PORQUE II. São esportes em que as equipes dividem o mesmo campo de jogo e buscam invadir o campo adversário para marcar ponto e/ou gol. a. As asserções I e II são falsas. b. A asserção I é falsa e a II é verdadeira. c. A asserção I é verdadeira e a II é falsa. d. As asserções I e II são verdadeiras, e a II justifica a I. e. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não justifica a I. 2. Baseado em abordagens mais tradicionais, no ensino particional ou método por partes ou analítico, as ações do jogo são divididas e trabalhadas de forma isola- da, para que os praticantes consigam realizá-las com eficiência. Considerando o exposto, analise as afirmativas a seguir acerca da utilização desse método. I. Facilita o ensino e a correção da execução do movimento. II. Explora a criatividade da criança a partir de atividades que recriam situações do jogo. III. Desenvolve a motivação da criança para a prática esportiva. É correto o que afirma em: a. I, apenas. b. II, apenas. c. III, apenas. d. I e II, apenas. e. II e III, apenas. 64 agora é com você 3. As formas de jogo reduzido permitem o ensino esportivo a partir da desco- berta guiada, colocando o aluno em uma situação de jogo de enfrentamento do adversário. Além disso, os jogos reduzidos permitem aos professores e treinadores integraro ensino de modalidades similares, a partir da “transferi- bilidade”. A partir da análise do trecho, a transferibilidade refere-se ao: a. Princípio da transferência entre atividades a partir da técnica e da tática. b. Princípio da transferência de habilidades entre modalidades esportivas seme- lhantes. c. Princípio da transferência entre as crianças ou jovens participantes da atividade. d. Princípio da transferência da técnica entre esportes individuais e coletivos. e. Princípio da transferência em modelos de ensino diferentes. 4. O modelo do ensino dos jogos para a sua compreensão (Teaching Games for Understanding - TGfU) faz oposição a um ensino tradicional e propõe uma forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua essência, promovendo a participação mais igualitária entre os estudantes e desafiando o entendi- mento do esporte para além das execuções técnicas e habilidades respectivas. Considerando as características do modelo de ensino TGfU, analise as afirma- tivas a seguir e assinale V para verdadeiras e F para falsas: ( ) A performance técnica, ou seja, a execução do gesto motor é priorizada. ( ) Um dos focos do modelo é modificar os princípios do jogo em si, de forma a diminuir as suas exigências. ( ) Propõe o ensino por meio de uma variedade de jogos, explorando as técnicas e táticas que lhes são comuns. As afirmações são, respectivamente: a. V, V, V. b. F, F, V. c. V, V, F. d. F, V, V. e. F, V, F. 65 agora é com você 5. Em contraponto aos métodos e abordagens de ensino tradicionais, são pro- postos três modelos de ensino baseados em novas correntes pedagógicas sustentadas nas teorias da aprendizagem cognitiva e construtivista, o ensino dos jogos para a sua compreensão (TGfU), a Educação Esportiva e a Iniciação esportiva Universal (IEU). Sobre os modelos de ensino citados, analise as afir- mativas a seguir: I. No modelo de ensino TGfU, os aspectos táticos são abordados antes dos as- pectos técnicos através de jogos variados. II. No modelo IEU, o processo de ensino se desenvolve a partir de capacidades co- ordenativas e habilidades técnicas globais que formam a base do treinamento. III. O modelo de Educação Esportiva prega o ensino esportivo por meio de um contexto lúdico e caracteriza-se principalmente pela cooperação entre alunos e professores. É correto o que se afirma em: a. II, apenas. b. I e II, apenas. c. I e III, apenas. d. II e III, apenas. e. I, II e III. Dr. Rui Resende Me. Suelen Rodrigues da Luz Oportunidades de aprendizagem Um professor/treinador competente deve adquirir um conjunto de conhecimentos que o permitam lidar tanto com o que é específico para o processo de treinamento e iniciação esportiva quanto com os demais aspectos que fazem parte do contexto esportivo. Assim, nesta terceira unidade, você terá a oportunidade de se aprofundar um pouco nos conhecimentos e competências necessárias para que o processo da iniciação e treinamento esportivo seja realizado de forma adequada e eficaz. CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO TREINADOR unidade III 68 É fato que para desempenhar com qualidade qual- quer atividade profissional, é necessário possuir um conjunto de conhecimentos que permitam atuar com competência. Antigamente, no caso do treinamento esportivo, para ser professor ou treinador, considera- va-se suficiente o domínio do conteúdo específico da modalidade. Ou seja, ter sido um atleta preconizava requisitos suficientes para exercer a atividade. Mas será que somente conhecer os fundamentos e regras da modalidade é suficiente? Você acredita que, por exemplo, para ser um bom treinador, é necessário ter sido um bom atleta? Será que um indivíduo sem histórico de prática de uma modalidade pode vir a se tornar um bom professor ou treinador? Os problemas e as situações com os quais o trei- nador se depara durante o processo de iniciação ou treinamento esportivo são muito mais abrangentes que aqueles contidos no esporte por si só. Carece o pro- fessor/treinador de adquirir um conjunto de conheci- mentos para lidar com o processo de treino de forma a promover os que nele estão envolvidos. A sua instrução não tem uma via única e pode ser obtida de diversas formas. O mais importante é que as formações obtidas ao longo da sua carreira mobilizem a sua capacidade de pensar, decidir e refletir a sua prática de forma con- tínua. Além disso, a atuação deve ter uma base peda- gógica que permita o melhor desenvolvimento desses atletas de acordo com os valores inerentes ao esporte. Em resumo, para promover a eficácia da sua atividade, o professor/treinador deverá desenvolver conhecimen- tos de nível profissional, interpessoal e intrapessoal. Para facilitar o entendimento, que tal pensarmos nesses conhecimentos de forma mais prática? Primei- ramente, vamos aos conceitos relacionados aos tipos de conhecimentos citados (profissional, interpessoal e in- trapessoal). No decorrer desta unidade, você verá cada um desses conhecimentos de forma mais completa. • Conhecimento profissional – refere-se à ba- gagem teórica e prática do professor/treinador, relacionada especificamente com a modalida- de de atuação. • Conhecimento interpessoal – está ligado ao modo de se relacionar com as demais pesso- as. Nesse caso, seria a forma de relação entre o professor/treinador, o atleta e as demais pesso- as que fazem parte do contexto esportivo. • Conhecimento intrapessoal – refere-se ao autoconhecimento, ou seja, à capacidade de se relacionar com suas próprias emoções e senti- mentos e a como aplicar essas ferramentas em nossas vidas. A partir desses conceitos, pense em quais caracte- rísticas ou qualidades necessárias para ser um bom professor/treinador se encaixam em cada um desses conhecimentos, seguindo o exemplo a seguir: Conhecimento Característica/qualidade Profissional Boa didática Interpessoal Saber incentivar seus alunos/atletas Intrapessoal Autocontrole Quadro 1 – Características do professor/treinador Fonte: o autor Pensou? Utilize o espaço do diário de bordo para des- crever outras características ou qualidades que, ao seu ver, um bom professor/treinador deve possuir. Descreva uma ou mais, para cada um dos conhecimentos citados. 69 EDUCAÇÃO FÍSICA Considerando o que já foi exposto, iniciaremos nosso assunto a partir do contexto histórico da intervenção do treinador. Para evitar que o texto fique repetitivo, utilizaremos somente o termo “treinador”, tanto em contexto escolar como fora dele. 70 A figura do treinador surge de forma pouco respeitada, pois no início da sua popularização, o esporte não era considerado conteúdo de ensino (DURING, 1994). De acordo com o autor citado, os pedagogos ingleses indi- cavam que a passagem das regras do jogo para as regras da vida era tão mais eficiente quanto mais discreta fosse a interferência do adulto. Nesse sentido, o esporte ser- viria para educar de forma cívica e moral por si só e, por isso, não carecia de professores. Os treinadores, genericamente, emergiram do in- terior da própria atividade como antigos atletas, fa- zendo uso do seu conhecimento e de suas habilidades práticas, adquiridas durante o tempo em que estive- ram eles próprios em competição. Aproveitando essa experiência, eles formularam os seus próprios méto- dos de treino, assim como os entendimentos acerca das técnicas e as abordagens competitivas. Como ne- nhuma geração pode ser imune aos desenvolvimentos 71 EDUCAÇÃO FÍSICA contemporâneos, os treinadores mais aptos experi- mentaram e aplicaram conhecimentos inovadores. No século XIX, a expertise na preparação espor- tiva passava, essencialmente, pelas comunidades de prática, no sentido em que a partilha dos mesmos problemas encorajava a procura de novas soluções. A essa altura, aumentou muito o número de fontes aces- síveis aos treinadores. A produção de manuais que se referiam aos métodos de treino, à psicologia, à ajuda ergogênica e à dieta ajudaram a entendera evolução do processo de treino. Contudo, não são perceptíveis os aspetos mais implícitos do treino, a prática deste por si mesma, pois é assumido que esse conhecimento só pode ser adquirido pela prática e por meio da expe- riência, observação, ensaio e erro. Apesar do aumento institucional da ciência, a prá- tica no treino continuou a usar o conhecimento tradi- cional em todos os estádios do processo e, ainda que sistemáticos na sua abordagem, os treinadores consis- tentemente se descreveram como práticos. Aliás, essa dicotomia entre aqueles que se intitulavam como práti- cos (antigos atletas que, após o término da sua carreira de sucesso, tornaram-se treinadores) e os teóricos (ha- bitualmente, os que vinham do mundo acadêmico e, não raramente, sem currículo esportivo de grande des- taque) ainda constitui uma realidade nos dias de hoje. 72 Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os confron- tos políticos e ideológicos são igualmente exportados para o esporte, com o intuito de evidenciar a superioridade de um sistema em relação a outro (GREEN; HOULIHAN, 2005). De um lado, o sistema capitalista liderado pelos Estados Unidos e, do outro, a União Soviética comunista. O sucesso no esporte internacional destaca-se pela valorização que os povos atribuem ao nacionalis- mo, para além dos lucros econômicos da organização de grandes eventos, como Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. Ao colocar em evidência a discussão do número de medalhas obtidas, as Olimpíadas fazem emergir uma discussão sobre a avaliação do desenvol- vimento esportivo em cada país. Essa discussão tem como consequência alimentar a propaganda sobre a eficácia do respectivo sistema político. Não negligenciando o protagonismo político que o esporte atrai, os países, desejosos de se afirmarem por meio das grandes competições internacionais, aplica- ram um sistema que permitisse a constituição da me- lhor elite possível de atletas. O interesse no esporte le- vou ao fato de que mais recursos, tanto materiais como humanos, fossem para aí canalizados. Dessa forma, o estudo e a pesquisa científica contribuíram para elevar a performance dos esportistas. Essa fase da evolução do esporte denomina-se período científico (TUBINO, 1987), ou de sistematização (GOMES; MANSO; VAL- DIVIESO; CABALLERO, 1996), em que se multiplicam laboratórios de pesquisa científica nas áreas biológicas e se promovem novas concepções de treino. Seguindo essa evolução científica, sobressai a for- mação de treinadores em uma base nacional, colocan- do esses profissionais como personagens centrais no processo de treino, essencialmente nos países do Leste Europeu. Consequentemente, essa alteração valorizou a função da liderança do processo de treino do ponto de vista social e, também, enquanto profissão. 73 EDUCAÇÃO FÍSICA Ao reconhecer a importância da qualifi- cação de treinadores em relação à promoção do esporte, foram criados programas de for- mação especializada desses agentes. Como consequência, exercer a profissão de treina- dor é uma ocupação respeitada nesses países (WOODMAN, 1993). O desenvolvimento da Educação Física (EF) como uma disciplina acadêmica a partir dos anos 1970 deu um impulso à qualidade de treino, particularmente no que se refere à área da Peda- gogia. A esse propósito, Lyle (2002), referindo-se a um relatório do English Sport Council, de 1997, assinala que 13% dos treinadores em atividade eram oriundos do ensino. Esse autor acrescen- ta, ainda, que a grande maioria dos professores de EF eram treinadores após cumprirem as suas obrigações profissionais nas escolas. A partir dos anos 1980, houve uma alteração gradual e de grande importância entre a lógica política e a lógica do mercado. A representação do clube e do país enquanto embaixadores políti- cos do seu regime foi substituída pela representa- ção de grandes multinacionais (PISANO, 2003). 74 Com a crescente exigência competitiva e os montan- tes econômicos envolvidos, a direção do processo de treino de alto rendimento é liderado por um treina- dor que reúne uma equipe de especialistas sob as suas ordens. Podemos enumerar como exemplo: os assis- tentes diretos do treinador em campo, depois, os que colaboram de forma mais indireta, como o médico e o fisioterapeuta, ou o estatístico e o scouter (técnico cuja missão é observar a equipe adversária), dentre outros profissionais que cuidam para que nada falte aos atle- tas na busca da sua melhor performance. Como consequência, a preparação para ser treina- dor de elevado rendimento, um líder de um processo de treino, exige o domínio de conhecimentos que lhe permitam “digerir” todo o manancial de informação que os seus colaboradores lhe trazem para, assim, to- mar as decisões mais adequadas. Mas quais, então? O que é preciso para ser treina- dor? Como fazer para ser um bom treinador? Medir a qualidade desse profissional pelos resultados desporti- vos alcançados é uma visão muito redutora da sua ati- vidade, apesar de ser essa a forma mais vinculada ao senso comum. Exploraremos a razão pela qual consi- deramos que o treinador necessita de amplos conheci- mentos para desempenhar com sucesso a sua atividade. A complexidade e a responsabilidade do treina- dor não se extinguem no domínio e no conhecimento específico da modalidade (nos seus aspectos técnicos, táticos e estratégicos), pois a generalidade das solici- tações às quais ele é sujeito extravasa, em muito, esse tipo de competência. O treinador assume múltiplos papéis, dentre os quais o de líder, amigo e confidente e, por vezes, de pai ou de mãe. Nesse contexto, esta unidade pretende elucidar a complexidade que envolve a atuação do treinador e que, por consequência, exige um leque grande de co- nhecimentos, os quais devem despontar a partir de uma pessoa culta. A razão pela qual chamamos a aten- ção para a palavra “culto” advém do fato de se requerer que um treinador concentre em si muito mais que o co- nhecimento e o domínio específicos de um esporte. Ele deverá ter uma profunda consciência do mundo que o rodeia e promover os valores sociais e culturais, incen- tivando a participação cívica de todos os envolvidos. Questiona-se, então, quais tipos de conhecimen- tos serão necessários para o treinador exercer com competência e eficácia a sua função. Como já afirma- mos, a atividade do treinador é complexa e apela a um domínio de matérias que extravasam o âmbito do trei- no, dos atletas ou da competição. Implica saber como colocar em prática uma atividade desportiva (ou um processo de treino), mas, igualmente, possuir uma compreensão crítica de como o conhecimento deve ser relacionado com a prática de forma adequada. Consequentemente, o treinador necessita desen- volver competências que vão ao encontro do contexto em que ele atuará e de acordo com as necessidades dos atletas. Ao ampliar a sua experiência, ele precisa alargar o seu leque de conhecimentos, suportados nas diferentes ciências que apoiam o esporte, como são as ciências biológicas, as ciências sociais e as metodolo- gias de treino, nas quais se inserem com cada vez mais premência as novas tecnologias. Para alcançar esse objetivo, o treinador terá de se envolver em ações de formação de caráter formal, não formal e informal. A seguir, serão definidos esses conceitos. 75 EDUCAÇÃO FÍSICA 76 A atividade do treinador é sustentada por um conjun- to de conhecimentos e competências que se relacionam especificamente com o domínio da sua área de interven- ção, mas requer igualmente o envolvimento com os ou- tros atores do cenário esportivo. Mobiliza, por isso, a ca- pacidade de pensar, decidir e refletir sobre a sua prática. Concretamente, quais serão, então, as habilidades a serem desenvolvidas pelo treinador como forma de ser eficaz na execução da sua tarefa? Sentimos, por isso, a necessidade de definir eficácia, e recorremos à definição de Côté e Gilbert (2009, p. 316), que in- dicam ser “a aplicação consistentede conhecimento profissional integrado, interpessoal e intrapessoal para melhorar os atletas” na sua competência, con- fiança, caráter e conexão com os outros em contextos específicos de treinamento. Os autores consideram que a eficácia de um trei- nador depende de três fatores: • Do conhecimento do treinador. • Dos resultados dos atletas. • Dos diferentes contextos em que os treinado- res tipicamente trabalham. Definimos, em seguida, o que os autores entendem por conhecimento profissional, interpessoal e intra- pessoal (RESENDE; GILBERT, 2015, p. 28). O conhecimento profissional engloba o conteúdo específico do processo de treino e a forma como o treina- dor vai processar o ensino e a aprendizagem das habilida- des esportivas. Esses conhecimentos podem considerar: • As áreas específicas do esporte, como a técnica e a tática, os diferentes regulamentos e regras das modalidades, as instalações e os equipamentos. • Os atletas, nomeadamente por meio do conhe- cimento sobre as suas capacidades, respectivos estágios de desenvolvimento e a sua motivação. • As ciências do esporte: as áreas biológicas, so- ciais e pedagógicas, como a fisiologia e a medi- cina, ou a sociologia e a psicologia, ou a didáti- ca e a gestão esportiva. • O domínio da comunicação, tanto na sua ora- lidade como na sua escrita, a matemática, o uso da tecnologia. Por outro lado, o conhecimento interpessoal incide na forma como são estabelecidas as relações dentro do ambiente esportivo. Podem ser consideradas as se- guintes áreas: • O contexto social, no qual o treinador deve inte- grar a macro e a microcultura do treino espor- tivo; o domínio ético e a segurança da partici- pação esportiva por parte dos atletas; a relação com a família e com as pessoas que mais direta- mente acompanham os atletas; a afinidade com os colegas treinadores; a relação com os agentes esportivos como árbitros, dirigentes e com as entidades como os clubes e as federações; a rela- ção com os meios de comunicação social. • A forma como se estabelece o relacionamento por meio da comunicação; fomentar a empatia e simpatia; ser um bom ouvinte e questionar de forma pertinente; ter uma conduta pessoal apro- priada; gerir e formar adequadamente o grupo como um todo e os atletas individualmente. • • O conhecimento da metodologia do treino inclui-se no conhecimento interpessoal, pois enfatiza-se que o treino, pelo desenvolvimento que potencializa, se efetiva no contexto da rela- ção pedagógica estabelecida entre o treinador e o atleta. Nesse contexto, emergem as seguintes 77 EDUCAÇÃO FÍSICA áreas: metodologia e teoria da aprendizagem; planejamento, organização e concretização; criação de um clima positivo de aprendizagem; observar, avaliar e proporcionar um feedback adequado; explicar e demonstrar, instruir de forma apropriada Por fim, o conhecimento intrapessoal refere-se à au- toconsciência do treinador e a sua capacidade autor- reflexiva. Nesse conhecimento, podem ser observadas as seguintes áreas: • Filosofia pessoal, identidade, valores e crenças do treinador, além do seu estilo de liderança. • A aprendizagem ao longo da vida, que exige do treinador competência na aprendizagem, au- tonomia e responsabilidade. O treinador deve desenvolver uma mentalidade adequada – a au- torreflexão – de forma contínua e consistente, a capacidade de síntese crítica, a promoção da inovação e a criação de conhecimento. Considerando a noção de eficácia expressa anterior- mente, as áreas de conhecimento descritas deverão constar no repertório do treinador, de forma a poder aplicá-las de forma crítica e com consistência enquan- to decorre a sua intervenção. Aproveite tais informações, retorne ao início da unidade e verifique se as características que você descreveu em seu Diário de Bordo para cada um dos conhecimentos no início da unidade estão de acordo com o conteúdo de- talhado anteriormente! Com relação às competências do treinador, o termo “competência”, em seu sentido mais lato, significa ser capaz de aglomerar um conjunto de conhecimentos diversificados, desde os teóricos até os práticos, de forma a corresponder à realização de uma tarefa com qualidade. Nesse sentido, competência traduz-se pela qualificação de uma pessoa que expressa grande auto- ridade em um determinado assunto. Por meio do domínio de conhecimentos gerais (ciên- cias que apoiam o processo de treino, como a fisiologia ou a biomecânica nas ciências biológicas, ou a psicolo- gia ou a pedagogia nas ciências sociais) e específicos da modalidade (técnica, tática, arbitragem, dentre outras), o treinador desenvolve a competência para saber como desempenhar a função. A competência emerge como fruto do domínio dos conhecimentos adquiridos e ten- de a reconstruir-se de forma permanente com a expe- riência adquirida, em função da reflexão que advém dessa mesma experiência. Acredita-se que a reflexão resulta da forma como se colocou em prática o proces- so de treino e dos contextos reais vivenciados, transfor- mando, assim, experiências em melhores competências e, consequentemente, em autonomia profissional. Um exercício sobre a eficácia de um treinador é pensar em um desses profissionais que você já teve a oportunidade de encontrar. Quais as suas três melhores qualidades? E três delas que menos lhe agradaram? Ao registrar por escrito esses aspectos, você refletirá sobre a forma como os seus futuros atletas o recordarão. 78 OLHAR CONCEITUAL O International Council for Coaching Excellence (ICCE, 2013, p. 16) refere e elenca as competências que o treinador necessita para a sua atuação, estabelecendo um conjunto de funções primárias que confluem em habilidades específicas (competências): 79 EDUCAÇÃO FÍSICA Ao descrever o conjunto de competências listadas anteriormente, pretende-se ilustrar os saberes-fazer que os treinadores precisam de desenvolver de for- ma continuada. Quando pensamos nas características de treina- dores de sucesso, uma forma de observar criticamente o perfil de competências é identificar se há caracte- rísticas comuns com treinadores que, durante a sua carreira, obtiveram sucesso. Por exemplo, em uma pesquisa com o propósito de avaliar como os treina- dores bem-sucedidos de esportes coletivos adquirem conhecimento, Salmela, Draper e Laplante (1993) reportaram oito caraterísticas relacionadas com o sucesso: (1) envolvimento “precoce” em esporte; (2) aprendizagem com mentores; (3) carreira “precoce” e desenvolvimento de carreira amadurecida; (4) outras fontes de conhecimento; (5) construção e equipe; (6) capacidade no envolvimento do treino; (7) operante em competição; (8) futuros mentores de treinadores. Por outro lado, os autores registraram que treinado- res ligados ao meio acadêmico e com conhecimentos semelhantes aos treinadores de sucesso têm dificulda- de em competir com os conceitos integrados obtidos pela experiência destes últimos. Competente é o treinador que, à medida que con- quista experiência pela resolução dos problemas levan- tados pelo processo de treino e os registra na sua me- mória, começa a reconhecer similitudes em contextos diferenciados, ou seja, a competência emerge quando, após a apreciação de cada nova experiência, se encon- tram novas soluções para os problemas ou novos planos de atuação. Proficiente é o treinador que demonstra, de forma consistente, distinguir o importante do acessó- rio no processo de aprendizagem, e possui a noção de timing para alterar as tarefas que não estão decorrendo satisfatoriamente, tomando decisões segundo um pro- cesso de análise consciente e deliberada. O treinador de sucesso tem como característica uma forte intuição sobre o que rodeia o processo de treino, tendo como resultado respostas rápidas, flui- das e naturais às situações enfrentadas. É uma pessoa que edifica a sua competência de forma contínua, re- fletindo sobre a sua prática e comparando os seus pro- cedimentos com os dos seus pares. Cassidy,Jones e Potrac (2004) propõem que a refle- xão por parte do treinador se situe em nível técnico, prá- tico e crítico. Considerando o nível técnico, as questões que o treinador deve colocar a si mesmo podem ser: • Como assegurar que todos os atletas me es- cutem? • A quais materiais posso recorrer para melho- rar o ensino dessa tarefa? • Alcancei os objetivos definidos para essa ses- são de treino? • Como posso solucionar esse problema? • Qual parte do treino é passível de ser alterada para que ele termine na hora estipulada? • O que não está certo com os atletas? • Por que é que não lhes agrada fazer esse exercício? • Quais alterações posso fazer para que esse exercício decorra de uma forma mais atrativa? • Será esse exercício adequado aos propósitos da sessão de treino? Em um nível prático, o treinador considera os atletas como pessoas ao se questionar sobre: • Quais são as alternativas para transmitir a mi- nha mensagem? 80 • Qual informação transmito pela minha pos- tura e pelo que eu visto? • A minha experiência como atleta influencia a minha atuação e as minhas expectativas? • O meu comportamento reforça estereótipos? • Quais são os feedbacks sobre a performance e os feedbacks comportamentais? E quem os tem? • O tipo de feedback reforça a aprendizagem? • Recorro de forma suficiente à tecnologia dispo- nível? Adquirindo uma postura crítica, o treinador incide a sua reflexão sobre o significado político, moral e ético da sua intervenção. Ele se questiona sobre o valor do co- nhecimento, de que forma ele valoriza a justiça e a igual- dade. Consequentemente, o treinador pode considerar: • Qual a representação do conhecimento duran- te o treino? • Como procedo se um dos melhores atletas da equipe está a 80%? • Como proceder quando a tradição da equipe ou do clube não são equitativas ou são injustas? • Dou feedbacks diferentes de acordo com a qualidade dos atletas? Por quê? 81 EDUCAÇÃO FÍSICA Conjuntamente, esses níveis de reflexão podem auxi- liar o treinador em sua tarefa de adequar a sua ativi- dade ao contexto em que ela ocorre. Concretamente, o treinador se depara sempre com uma situação única em face da especificidade dos seus atletas (idade, sexo, nível de desenvolvimento, dentre outras), do ambiente sociocultural e das condições materiais que ele usufrui. Naturalmente, não existem situações de treino iguais, pois todas as soluções deverão ser específicas e de acor- do com o conhecimento desenvolvido pelo treinador. Os conhecimentos adquiridos pelos treinadores devem resultar nas aprendizagens dos atletas. Nesse sentido, é importante operacionalizar a sua interven- ção a partir de uma base de atuação pedagógica que, por sua vez, permita o melhor desenvolvimento do atleta de acordo com os valores inerentes ao esporte. A ação do treinador com relação aos atletas procu- ra proporcionar-lhes autonomia, e tem como meta a construção de uma carreira atlética prolongada, com ênfase na manutenção de um estilo de vida saudável. A forma qualificada como o treinador comuni- ca, explica e demonstra é decisiva para o processo de aprendizagem e motivadora do seu sucesso. Se o trei- nador conceber empenhamentos de prática que promo- vam a motivação para a aprendizagem, o atleta reforça a sua aptidão e o seu comprometimento com a atividade. O treino intenciona desenvolver os atletas em quatro domínios (4Cs – competência, confiança, co- nexão e caráter) (ERICKSON; GILBERT, 2013). Con- tudo, o treinador deverá estar consciente de que esse desenvolvimento se circunscreve em um contexto esportivo específico. Será importante considerar que essa proposta se insere na perspectiva de desenvolvi- mento positivo do jovem enquanto praticante espor- tivo e enquanto ser humano. Segue o Quadro 2 sobre os quatro domínios (4Cs): 82 Competência Por competência, entende-se as caraterísticas específicas do esporte no que diz respeito às técnicas e táticas respectivas, a aptidão para a performance e a capa- cidade em melhorar os índices de saúde, assim como a obtenção de hábitos de treino saudáveis. • A competência técnica refere-se à capacidade de o atleta realizar as tarefas necessárias para alcançar o sucesso esportivo. • A competência tática incide na habilidade das ações e decisões que os atletas efetuam durante a competição para obter vantagem sobre os seus oponentes (tomada de decisão, leitura de jogo e estratégia). • As qualidades funcionais, conjuntamente com a aptidão física, são as compe- tências que possibilitam ao atleta manifestar a capacidade esportiva específica (velocidade, agilidade e endurance). Confiança É a percepção que um atleta possui acerca do seu valor pessoal em termos globais e esportivos, nomeadamente por meio da sua autoestima e autoeficácia. É deter- minante que essa característica seja equacionada na qualidade da participação esportiva. Nessa particularidade, o tempo (continuidade) despendido, assim como a intensidade pelo número de anos em que o atleta esteve comprometido com uma determinada atividade, é determinante para avaliar os efeitos positivos que o esporte pode ter na formação pessoal do atleta como pessoa. Conexão Constitui-se das obrigações positivas e das relações sociais que os atletas criam com as pessoas, dentro e fora do esporte. Constitui-se das medidas de qualidade criadas, assim como do grau de interação com os pares, treinadores, dirigentes e outros envolvidos no ambiente esportivo. Caráter Engloba o respeito com o esporte e com os outros (conceito de moralidade), a inte- gridade, a responsabilidade e a empatia genericamente estabelecida. O caráter, no esporte, está tipicamente relacionado com os comportamentos sociais e a preven- ção de comportamentos antissociais. Quadro 1 – Os quatro domínios / Fonte: Resende e Gilbert (2015, p. 29) 83 EDUCAÇÃO FÍSICA Os três últimos domínios constituem medidas psicos- sociais que revelam a importância para a construção de um atleta, sustentando a relevância que deve ser atribu- ída à sua compreensão para um treino mais eficaz. Tendo em conta o desenvolvimento holístico do jovem atleta e respectiva contextualização em que se desenrola a prática esportiva, o treinador deve estar consciente dos diferentes tipos de participação es- portiva que com os quais se pode deparar nos jovens. Aqui, surge uma nova forma de estar no esporte e que implica uma posição substancialmente diferente da vivida no meio esportivo até recentemente. Identificam-se dois tipos de participação esporti- va: uma em que os atletas procuram, como resultado da sua prática o divertimento, o desenvolvimento de habilidades e envolver-se num estilo de vida saudá- vel; e outra, que abrange o esporte de performance, em que o desenvolvimento de capacidades atléticas e a sua colocação em evidência surgem por meio da com- petição (RESENDE; GILBERT, 2015, p. 29). No Quadro 3, estão expostas as características que um treinador de jovens deve ter para ser eficaz. Relacio- na-se à busca pelo melhor desempenho esportivo com os resultados psicossociais positivos dos seus atletas (ERI- CKSON; GILBERT, 2013). Os autores referenciam que os treinadores que fomentam a autonomia parecem ter uma melhor resposta por parte das crianças e jovens, pois es- ses profissionais promovem uma atmosfera de conheci- mento por meio do esforço pessoal em vez de procurar evitar a incompetência (o erro, o fracasso ou a derrota). Construto Características de treino eficiente Exemplos práticos Comportamentos dominantes Instrução. Suporte. Ausência de punições. Elogio dos esforços desejados. Encorajamento e instruções técnicas rele- vantes após os erros. Tom (entoação) motivacional Autonomia-suporte. Inclusão dos atletas no processo de toma- da de decisão. Justificativas para as decisões técnicas. Solicitação das perspectivas dos atletas. Orientação dos objetivos Maestria/clima de aprendi- zagem. Avaliação da performance dos atletascom base na melhoria autorreferenciada, aprendizagem e esforço. Interatividade com o atleta Encorajar. • Questionar os atletas. • Promover a discussão. • Confirmar verbalmente o entendimento por parte dos atletas sobre os conceitos/ instruções. Quadro 3 - Qualidades de treinadores de jovens eficientes / Fonte: Erickson e Gilbert (2013, p. 30) 84 A qualificação do processo de treino deve incidir nas necessidades dos atletas em cada momento do treino, de forma que eles possam alcançar os seus objetivos (os quais podem ser distintos uns dos outros, mesmo em um grupo muito similar). De acordo com Côté (2009), e levando em conta os contextos de treino, é fundamental relacionar as etapas de formação dos praticantes com as exigências de performance de cada modalidade esportiva. Desenvolver um conceito de formação esportiva abrangente e plural deve fundamentar a ação do treinador no sentido da qualificação da prática esportiva. Assim, um treinador deve assumir uma abor- dagem holística na sua intervenção, considerando o processo de treino de uma forma integrada e que solicita diversos conhecimentos, como são os aspectos pessoais e emocionais do atleta, além do contexto em que este se insere, o qual determina a sua identidade social. Dentro desse contexto dos conhecimentos e competências do treinador, também é neces- sário entender a caracterização do esporte ju- venil. A cultura juvenil, pelo menos no mundo desenvolvido, expressa-se de forma muito idên- tica. A maneira como os jovens gastam o seu 85 EDUCAÇÃO FÍSICA tempo, entre as tarefas escolares e as folgas, é muito similar. A partilha de gostos e a forma como eles uti- lizam o seu próprio dinheiro, a moda, as preferências musicais e, por inferência, o esporte, têm caracterís- ticas muito semelhantes. A essa generalização, que influencia de modo determinante o estilo de vida desses jovens, não são imunes os avanços tecnológi- cos e a sua globalização, fazendo com que essa parte da população manifeste um crescente desinteresse pela leitura (ZUZANEK, 2005). O ambiente esportivo deve ser encarado, quando se equaciona os tempos atuais, como uma micror- reprodução da sociedade, na qual a volatilidade de processos é uma caraterística, e a capacidade para a perseverança e a concentração em uma tarefa decaiu na exata proporção em que a velocidade de aquisição de informação aumentou. Contudo, o esporte pode constituir-se como um local onde a sociedade pode reproduzir e facilitar, por meio de uma intervenção adequada, uma preparação para a vida. Considerando os apontamentos prévios, não de- vemos nos esquecer de que as crianças e jovens, ape- sar das idades relativamente próximas, não têm gostos e interesses coincidentes. Uma criança com 7 anos tem motivações bem divergentes de um pré-adoles- cente de 13 anos, ou seja, a intervenção pelo esporte deve ter em forte consideração as diferentes idades das crianças e dos jovens, assim como os seus estágios de desenvolvimento. Refletindo sobre como se processa a adesão ao esporte, verificamos a importância da família como agente primário. Ela atribui importância às ativida- des físicas e, consequentemente, apoia o ingresso da criança no mundo esportivo, sustentando a sua par- ticipação tanto material como financeiramente (GO- MES, 2010). Sobre essa matéria, Smoll, Cumming e Smith (2011) alertam que os familiares influenciam a 86 integração social por meio do esporte, mas também têm um impacto profundo nas consequências psico- lógicas que daí resultam. Considera-se, por isso, mais importante que estas experiências sejam positivas e fomentadoras de uma atitude perante a vida, atitude esta que seja, acima de tudo, saudável. No extremo contrário, Gomes (2011) aponta exemplos negativos de pais que colocam expectativas elevadas na per- formance esportiva dos filhos, fomentando níveis de pressão tão elevados que podem tornar a experiência esportiva desagradável e indesejável e, por isso, levan- do ao seu abandono de uma forma precoce. servando que essas abordagens foram inadequadas ou infrutíferas. Este será, eventualmente, um tema ao qual a investigação deverá dar maior atenção, no sen- tido de propor programas de formação dos pais quan- do envolvidos no esporte dos seus filhos. Para além da família (agente primário), a escola (agente secundário), fundamental na adesão e perma- nência no esporte, possui, na generalidade dos currí- culos, a disciplina de Educação Física. Esta tem como importante função promover o conhecimento espor- tivo e possibilitar o primeiro contato com esse meio. Nesse contexto, pode ser determinante a forma empe- nhada com a qual professor de Educação Física leva à prática e constrói a sua atividade, o relacionamento que estabelece com os alunos e o entusiasmo que ele lhes provoca para que continuem a praticar esporte (RESENDE et al., 2014). Os mesmos autores afirmam que, além de influenciar positivamente os alunos para aderirem à prática esportiva, o professor de Educação Física, muitas vezes, estabelece e promove contatos entre a escola e o clube esportivo, seja este escolar ou federado. O meio onde se insere a criança e o jovem poderá conter fortes estímulos para potencializar a adesão ao esporte. A identidade social dos grupos aos quais se associa o jovem, quando este inicia a sua exploração do mundo para além do círculo familiar mais próximo, é determinante para a construção da sua personalidade. Nesse sentido, os interesses co- muns poderão catalisar a aderência e a permanência no meio esportivo, pois, para os jovens, a participação esportiva é motivadora e facilitadora de relações so- ciais (GREEN, 2010). Apesar de não constituir um objetivo do presente trabalho, não há de se descuidar da importância que aqueles que se configuram como líderes entre os jo- vens têm na forma como estes enfrentam a participa- ção esportiva (PRICE; WEISS, 2011). Título: Glory road - Es- trada para a glória Ano: 2004 Sinopse: o filme, que se passa em 1966, conta a história do primei- ro time de basquete formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins os avalia por suas habilidades, e luta para o fim do preconceito racial, levando o time à vitória. Baseado em fatos. Reforçando essa perspectiva, Ross, Mallett e Parkes (2015), em uma investigação qualitativa com treina- dores de jovens australianos e a sua interação com os pais, se referem, consideravelmente, a mais interações negativas do que positivas. Alguns participantes re- portaram, ainda, esforços na formação dos pais, ob- 87 EDUCAÇÃO FÍSICA Ao promover e incentivar a prática esportiva, providenciando instalações e materiais, a in- tervenção política visa a promover a atividade física e o esporte, aceitando e compreenden- do o importante benefício social que ela mes- ma pode retirar desse investimento. As experiências prematuras e bem-sucedidas com o es- porte parecem influenciar as tendências de ocupação do tempo livre por parte dos jovens. No seguimento dessas considerações, será interessante considerar qual o tipo de impacto que a mercantilização do esporte tem nos jovens, nomeadamente os feitos e vitórias das suas equipes de eleição em geral, e dos seus ídolos em particular. Esse impacto sai, ainda, reforçado com as agressivas estratégias de marketing que estão associa- das a esses eventos. Contudo, naquilo que estamos ana- lisando, para a adesão esportiva por parte dos jovens, é questionável o impacto dessas realizações. A esse pro- pósito, Green (2010, p. 157), após considerar diversas pesquisas, enuncia que o impacto dos ídolos esportivos na adesão esportiva dos jovens é “muitas vezes mal-en- tendida e frequentemente exagerada”. Ao considerar e caracterizar o esporte juvenil, é fundamental refletir sobre a importância que a famí- lia mais próxima do atleta atribui à sua frequência, assim como o tipo de ajuda que esta lhe presta.Essa preocupação tem, como base, o desejo de incremen- tar a prática esportiva das crianças e dos jovens. Des- sa forma, deve-se ponderar que a harmonia fami- liar é frequentemente perturbada pelos horários da participação esportiva, tanto nos treinos quanto nas competições, e uma necessária envolvência e corres- ponsabilização da família são cruciais para o êxito dos programas esportivos. Nesse sentido, os projetos da área devem procurar integrar todo um processo que se desencadeia, habi- tualmente, pela mão de um adulto, e que se prolonga até a sua fidelização e autonomia. As investigações sugerem que esse processo é, em inúmeras vezes, preenchido de insucessos e frustrações, tendo, como resultado, o abandono precoce da atividade espor- tiva. Será, então, de grande importância considerar, em cada contexto particular, o início da atividade esportiva pela criança, pois, quando jovem, a sua ex- periência é uma mais-valia para uma vida ativa em longo prazo (RESENDE; GILBERT, 2015). Assim, teremos que considerar e reconsiderar a oferta esportiva, não olhando para a sua iniciação como uma via de sentido único para o rendimento ou a elevada performance. Poucos são os atletas que al- cançam o elevado rendimento e, por isso, a participa- ção esportiva deve contemplar na sua gênese e, como consequência, na sua prática, um conjunto de valores adequados a essa realidade. Apoiando esse comentá- 88 rio, Muir et al. (2011) referem-se à existência de dois tipos de abordagem ao processo de treino que envolve as crianças e os jovens, sendo que em nenhum deles são equacionadas as suas necessidades de desenvol- vimento em longo prazo. Um é o esporte de elevado rendimento reproduzido pelos adultos (em que, mui- tas vezes, ocorre uma especialização precoce e uma seleção de atletas com base na sua performance atual, sem considerar as suas potencialidades de desenvolvi- mento), a outra é aquela que somente pretende a ocu- pação ativa das crianças e dos jovens. Contudo, a crítica feita a essas organizações é que, apesar de as atividades serem esportivas e com um espírito lúdico, carecem de uma estrutura e de uma organização que fomentam uma aprendizagem con- sistente. Dessas duas situações derivam, no primei- ro caso, programas demasiado exigentes ao nível de volume de treinos, de competições e de pressão para vencer. Na situação considerada mais de lazer, a prá- tica, quando tão livre e pouco exigente, dificilmente faz ocorrer o desenvolvimento, sobressaindo apenas os naturalmente mais dotados (MUIR et al., 2011). Considerando os pressupostos anteriores, de- fendemos uma ideia mais moderna e de acordo com aquilo que deve ser o pressuposto do esporte para todos, ou seja, uma atividade social que deve pro- mover o desenvolvimento físico e a fruição pela ati- vidade física para todos os jovens, de acordo com as suas necessidades e objetivos. Claro que o desejo de rendimento esportivo deve ser respeitado para quem o almeja, mas não deve constituir a única finalidade. 89 EDUCAÇÃO FÍSICA Projetar um programa esportivo constitui um de- safio, e esse programa deve considerar as fases de de- senvolvimento das crianças e dos jovens, assim como o contexto no qual ele se implementará. De acordo com Resende e Gilbert (2015), entre os 5 e 8 anos, a estru- turação do esporte deve ser pouco formal, não existin- do a necessidade da existência de equipes formais. O grande objetivo é entusiasmar a participação esportiva, a fruição da atividade e o estabelecimento de relações sociais. Nessa faixa etária, a forma como os pais e os treinadores encaram o esporte é determinante para a forma como os jovens se julgam quando estão em ativi- dade. Nesse sentido, as suas expectativas devem se con- centrar no esforço desenvolvido e na envolvência com a atividade, tendo como objetivo maior a diversão por meio da aprendizagem de novas habilidades. Considerando as informações apresentadas nesta unida- de, reforçaremos, neste podcast, alguns pontos específi- cos destacados no texto, dentro do contexto dos conhe- cimentos e das competências necessárias para que um indivíduo seja um bom treinador. Aperte o play e vamos lá! um bom profissional, constatamos que os seus pro- cedimentos terão de se sustentar em conhecimentos sólidos e abrangentes, de forma que desempenhe a sua atividade com competência, certificando-se que os seus atletas se desenvolvam de forma holística, in- dependentemente do nível de participação esportiva na qual estejam. Competências como ter uma visão estratégica da sua atividade, construir relações e con- duzir práticas são exemplos de atributos relacionados à liderança de um processo de treino. Ressaltamos a importância de uma formação continuada, independentemente da sua origem, sa- lientando a importância de o treinador colocar, de forma incessante, a sua atividade em equação para, por via da autorreflexão, inovar na resolução dos problemas que ele enfrenta cotidianamente. Nes- se sentido, o treinador pode colocar para si mesmo questões de nível técnico, prático e crítico, de for- ma a melhorar e adequar as suas ações. Assim, ele se torna um fomentador de novos conhecimentos que, concomitantemente, lhe proporcionam uma maior expertise, à medida que adquire experiência. A ati- vidade do treinador, para se revestir de sucesso, deve se sustentar em ações pedagógicas que fomentam a aprendizagem, a despeito do nível de participação esportiva dos atletas. Nesse sentido, o treinador de- verá desenvolver os atletas ao nível da sua competên- cia (medida de performance), confiança, conexão e caráter (medidas psicossociais). No processo esportivo, as crianças e os jovens de- vem ser considerados de forma distinta, pois os seus interesses, gostos, preferências e vontades, para além de se alterarem rapidamente em função do desenvol- vimento tecnológico, podem ser pouco coincidentes por causa das diferenças de idade. O treinador terá, por isso, de fomentar o processo de treino adequado para cada situação em particular. Os conteúdos abordados até aqui evidenciam a com- plexidade da atuação do treinador. Pensando no que é necessário para ser treinador e como fazer para ser https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12302 90 agora é com você 1. Genericamente, os treinadores emergiram do interior da própria atividade como antigos atletas. Por conta disso, os treinamentos eram baseados em seus conhecimentos e habilidades práticas adquiridas durante o tempo em que estiveram eles próprios em competição. Em resumo: a. Os treinadores baseavam-se em livros e informações científicas para elaborar seus treinamentos. b. As técnicas e as abordagens competitivas eram baseadas nas próprias expe- riências dos treinadores. c. Os indivíduos considerados melhores atletas eram, consequentemente, os melhores treinadores. d. Somente indivíduos com histórico de atletas eram permitidos a serem treina- dores. e. Não era necessário ser um bom atleta para ser um bom treinador. 2. Diante da evolução científica, a formação do treinador é evidenciada. Assim, com base nessa informação, analise as asserções a seguir: I. O treinador não poderá conhecer somente sobre o esporte em si, necessitan- do dominar conhecimentos diversificados PORQUE II. O perfil profissional do treinador vem se alterando pelas solicitações cada vez mais complexas e específicas. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. 91 agora é com você 3. Ao ampliar a sua experiência, o treinador precisa aumentar seu leque de co- nhecimentos, abrangendo as diferentes áreas que apoiamo esporte, como as ciências biológicas, as ciências sociais e as metodologias de treino, nas quais se inserem com cada vez mais premência as novas tecnologias. Nesse sentido, o treinador terá de se envolver em ações de formação de caráter formal, não formal e informal. Considerando os tipos de formações, analise as afirmativas a seguir e assinale V para verdadeiras e F para falsas: ( ) A formação regular ocorre em ambientes institucionalizados, como os cursos de ensino superior relacionados à Educação Física e às Ciências do Esporte. ( ) A formação não formal ocorre por meio da interação com outros treinadores pelas experiências profissionais vivenciadas diariamente e das reflexões sobre a própria atividade, dentre outros. ( ) As formações não formal e informal são sinônimos e ocorrem fora do am- biente formal, em locais como workshops e seminários. ( ) A formação informal resulta de um processo contínuo de formação que se prolonga durante toda a vida. As afirmações são, respectivamente: a. V, V, F, V. b. V, F, V, F. c. F, F, F, V. d. V, F, F, V. e. F, V, F, F. 4. De acordo com a International Council for Coaching Excellence (ICCE, 2013), o trei- nador necessita de uma série de competências para sua atuação profissional. Tais competências estabelecem um conjunto de funções primárias que con- fluem em habilidades específicas como: definir visão e estratégia; moldar am- biente; construir relações; conduzir práticas; ler e responder ao campo de ação; aprender e refletir. Sobre tais competências, analise as afirmações a seguir: I. Definir a visão de estratégia está relacionado à análise das necessidades dos atletas e aos objetivos do trabalho. II. Ler e responder ao campo de ação corresponde a uma tomada de decisão eficaz a todas as ocorrências. 92 agora é com você III. Aprender e refletir indica uma aprendizagem de forma contínua, além da au- toavaliação e reflexão. IV. Construir relações refere-se somente à relação atleta e colega de equipe. É correto o que se afirma em: a. I e III, apenas. b. II e IV, apenas. c. I, II e III, apenas. d. II, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 5. Sem minimizar os demais conhecimentos que um bom treinador precisa ter, o conhecimento profissional é de extrema relevância. Trata-se de conhecimen- to que engloba o conteúdo específico do processo de treino e a forma como o treinador vai processar o ensino e a aprendizagem das habilidades esportivas. Considerando tais informações, analise as afirmativas a seguir acerca do co- nhecimento citado: I. Considera as áreas específicas do esporte, como a técnica e a tática, os diferen- tes regulamentos e regras das modalidades, as instalações e os equipamentos. II. Abrange as ciências do esporte, como, por exemplo, as áreas biológicas, so- ciais e pedagógicas, como a fisiologia ou a didática e a gestão esportiva. III. Aborda a filosofia pessoal, identidade, valores e crenças do treinador, além do seu estilo de liderança. IV. Considera o relacionamento por meio da comunicação; fomenta a empatia e simpatia. É correto o que se afirma em:. a. I e II, apenas. b. II e IV, apenas. c. I, II e III, apenas. d. II, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. UNIDADEIV Dr. Rui Resende Me. Suelen Rodrigues da Luz Oportunidades de aprendizagem A base para uma vida adulta ativa é criada durante a infância e a juventude por meio da prática esportiva, a qual deve, então, ser uma experiência enriquecedora. Nesse contexto, o desenvolvimento positivo dos atletas depende da forma como o esporte está organizado e da configuração das relações entre as pessoas envolvidas. Assim, nesta unidade, você terá a oportunidade de entender o esporte como uma ferramenta positiva no processo de desenvolvimento integral de crianças e jovens. EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS DO ESPORTE unidade IV 96 processo, uma vez que, ao materializar um processo de treinamento, o objetivo será desenvolver o atleta de forma integral. Ou seja, o treinador deverá ser capaz de proporcionar o desenvolvimento de habilidades (além das que compõem a técnica e a tática de jogo) que contribuam com a formação pessoal e social da criança e do jovem, contemplando todos os benefícios que a prática esportiva possibilita (PALHETA et al., 2016). Como a tarefa de desenvolver os jovens não se compadece de ações isoladas, o apoio da família tam- bém é crucial. Assim, os pais ou responsáveis dos alu- nos/atletas terão uma participação importante nesse processo e deverão cooperar no desenvolvimento es- portivo dos jovens de forma solidária com o treinador. Considerando a importância do treinador, a cons- trução de uma boa relação entre este e os jovens alu- nos/atletas é fundamental para que haja uma formação Apesar do impacto do esporte na sociedade, não se pode esperar que somente pela prática esportiva as crianças e os jovens adquiriram competências que se prolonguem para as outras facetas da intervenção so- cial. É necessário ter consciência da sua importância e trabalhá-las de forma intencional para que, assim, os jovens desenvolvam, de uma forma saudável e cons- trutiva, todo o potencial que detêm. Nesse sentido, como deve ser o processo de treinamento/iniciação esportiva para que o desenvolvimento das crianças e dos jovens seja positivo? Quem são os agentes respon- sáveis por esse processo? Tendo em vista que o resultado do desenvolvi- mento por meio do esporte depende da forma como o ambiente esportivo está organizado – o que inclui o processo de treinamento em si, além das relações interpessoais – o treinador é uma peça-chave nesse 97 EDUCAÇÃO FÍSICA esportiva positiva. Nesse sentido, feedbacks positivos e elogios podem melhorar a autoestima dos jovens, fa- zendo com que estes deem continuidade à prática. Ou- tra boa estratégia que pode ajudar a criar e manter uma boa relação com os alunos/atletas é torná-los respon- sáveis por parte dos processos de desenvolvimento dos treinos, por exemplo, instigando a autonomia. Seguindo essas informações, imagine você como um futuro treinador e pense em quais outras estraté- gias, além das já citadas, poderiam ser utilizadas para criar e/ou manter um bom relacionamento entre o treinador e os jovens alunos/atletas. Para auxiliá-lo com essa tarefa, utilize de experi- ências anteriores, caso tenha sido (ou ainda seja) atle- ta de alguma modalidade esportiva. Busque, ainda, refletir sobre como deve ser a comunicação entre pro- fessor/treinador e aluno/atleta e sobre a abordagem comunicativa que pode ser positiva e abordagens que podem gerar um resultado negativo no processo de desenvolvimento esportivo, e sobre o que irá motivar e ajudar na criação de um ambiente esportivo saudá- vel e o que pode desmotivar e gerar desinteresse com relação à modalidade praticada. Utilize o diário de bordo, a seguir, para descrever de uma a três estratégias que podem ser utilizadas para criar ou manter um bom relacionamento entre treinador e aluno/atleta. 98 Inicialmente, para que haja evolução positiva, é es- sencial que o processo de formação esportiva ocorra de forma adequada. Ou seja, considerando, sempre, as etapas de desenvolvimento da criança e do jovem. Nesse sentido, Côté et al. (2007) indicam que o de- senvolvimento esportivo se inicia por uma adesão ao esporte (sampling years), em que as atividades lúdicas, por meio do esporte e em vários deles, são prioritárias. A seguir, vêm os anos de especialização esportiva (spe- cializing years), seguidos pelos anos de investimento esportivo (investment years). Simultaneamente a essas duas fases, os autores ressaltam que quem procura o esporte de participação eleva a percentagem de jogo em detrimento do tempo dedicado à prática delibera- da, focando-se, com igual importância, nas atividades cujo foco são o fitness e a saúde. De forma mais específica, Hancock e Côté (2014) aconselham que: • Entre os 6-12 anos, a importância maior deve ser o jogo, propondouma percentagem de 80% para as atividades de jogo e 20% para a prática deliberada. Dessa forma, as crianças experien- ciam diferentes esportes, reduzindo a seleção, fomentando equipes pequenas, aumentando o tempo de jogo e incentivando o esporte como forma de prazer e excitamento. • Os anos de especialização, dos 12-16 anos, de- vem incluir um equilíbrio entre o jogo e o trei- no, diminuindo o número de esportes, inician- do-se a diferenciação em níveis competitivos. Nesse contexto, e apesar do divertimento e do prazer que advêm da prática esportiva, emerge a especificidade esportiva como uma caracte- rística determinante. • Os anos de investimento ocorrem, depen- dendo da modalidade esportiva, a partir dos 16 anos, em que a prática deliberada (treino) 99 EDUCAÇÃO FÍSICA constitui a maior parte do tempo (80%), im- plicando que o jovem está vinculado a atingir patamares de rendimento esportivo elevado em um determinado esporte. As percentagens propostas anteriormente podem ser- vir de linha de orientação para o desenvolvimento de um processo de treino, tendo em conta as necessida- des de cada grupo em concreto. Dessa forma, evita-se a especialização precoce e possibilita-se um desenvol- vimento mais global do atleta, o que poderá ser cru- cial caso ele opte pelo esporte de rendimento. A partir disso, seguindo na busca por uma evo- lução esportiva positiva, devemos, então, enxergar o esporte para além da sua prática. Ou seja, enxergar o esporte também como um fenômeno social e uma fer- ramenta educacional. É característica do esporte reivindicar para si valores importantes na formação do indivíduo como um todo, e não somente do atleta. Inse- rido em um contexto de intervenção no esporte, o desenvolvimento positivo dos jovens tem sido apontado como uma excelente possibilidade para contribuir com uma transição bem-sucedida para a vida adulta (DIAS, 2011). A aquisição de com- petências essenciais por parte dos jovens para en- frentar com sucesso os desafios da sociedade atual deve, por isso, constituir um grande objetivo do es- porte. Nesse sentido, ele deve consistir em um es- paço educativo por excelência, dotando os jovens de atributos que lhes permitam encarar a vida de uma forma saudável por meio de um estilo de vida ativo, e de se incorporarem de forma cívica e atu- ante na sociedade. 100 Apoiando essa intervenção, investigações empíricas têm evidenciado que o esporte eleva a autoestima, a autoconfiança e o aproveitamento acadêmico (CÔTÉ et al., 2010). Realçando, no entanto, que subsistem dúvidas no meio acadêmico sobre o esporte ser um meio de desenvolvimento de competências de vida (GOULD; WESTFALL, 2014). Aliás, esses autores alertam, baseando-se em investigações sobre a reper- cussão do esporte nos jovens, que a atividade espor- tiva não é somente associada ao desenvolvimento de competências de vida positivas e pode, igualmente, ser fruto de consequências negativas. Os programas esportivos podem (e talvez de- vam) ser desenhados de forma a privilegiar o desen- volvimento positivo dos jovens, aproveitando o clima intrinsecamente motivante promovido pela prática esportiva e pelo potencial que a competição traz. A energia com que a competição é vivenciada pelos jovens deve ser aproveitada para esse fim. Ali- ás, essa intervenção é pertinen- te, pois é nesse período da vida onde ocorrem, tendencialmente, mais riscos associados a proble- mas comportamentais (GREEN, 2010) pelo excesso de sedentaris- mo, com reflexos no aumento do sobrepeso ou da obesidade, abuso do consumo do álcool e do taba- co e a experimentação de drogas. Reforçando os benefícios alcança- dos pela prática esportiva, Malina (2011) indica melhorias em nível de saúde em geral, da aptidão fí- sica, da regulação cardiovascular, da composição corporal e, conse- quentemente, da redução de fato- res de risco metabólicos. A par desses benefícios, o au- tor afirma que o esporte está relacionado com o menor envolvimento por parte dos jovens em criminalidade, gravidez indesejada, condutas sexuais de risco e ideias de suicídio. Para que o esporte seja efetivo na aquisição dessas mais-valias, ele necessita provocar estímulos que vão de moderados a intensos (AAHPERD, 2013), pois uma atividade demasiado ligeira não produzirá os efeitos enunciados anteriormente. Em suma, os benefícios provocados pelo esporte podem ser físicos, mas também de caráter psicológico, como a elevação dos níveis de autoconfiança, o desen- volvimento de competências de liderança e de iniciativa, o desenvolvimento de hábitos de autodisciplina, per- severança e resiliência na procura de atingir objetivos previamente definidos. A inserção social adquirida pela cooperação e pelo respeito aos outros, pela autoridade, 101 EDUCAÇÃO FÍSICA nomeadamente pelos árbitros e juízes, constitui outro fa- tor determinante pelo qual o esporte pode trazer benefí- cios aos jovens. Fazer novos amigos e conhecidos, cons- truindo uma rede social em contínuo desenvolvimento, promove as competências sociais (SMOL; CUMMING; SMITH, 2011; CARRERES-PONSODA et al., 2012). A esse propósito, Rutten et al. (2011) efetuaram um estudo com 439 jovens de idades entre 14 e 17 anos, envolvidos em 67 equipes esportivas, e confirmaram que a existên- cia de ambientes morais positivos está associada a com- portamentos pró-sociais no contexto esportivo. O envolvimento com o esporte também tem sido cor- relacionado com melhorias cognitivas (aumento da capa- cidade de atenção e do trabalho da memória), resultados acadêmicos superiores ao nível das classificações obtidas, maior gosto pela escola e, consequentemente, redução de absentismo e de abandono precoce dos estudos (TRUDE- AU; SHEPHARD, 2008; JONKER; ELFERINK-GEMSER; VISS- CHER, 2009; ZENHA; RESENDE; GOMES, 2009; SINGH; UIJT- DEWILLIGEN; TWISK, 2012). Como atores conscientes da in- tervenção esportiva, não devemos deixar de olhar para os possíveis pe- rigos decorrentes da prática espor- tiva, como os riscos da ocorrência de lesões traumáticas durante essa prática, exagero na forma como se vivencia a competição e a conse- quente possibilidade de síndrome de burnout, influência menos posi- tiva na maturação física dos jovens pela inadequação de cargas de trei- no desajustadas (MALINA, 2011), apesar de, em um contexto espe- cífico, como a ginástica esportiva, Pinheiro et al. (2012) descreverem, por meio de entre- vistas retrospectivas com atletas femininas sobre as suas experiências, constrangimentos centrais, como treinar e competir lesionadas, controle excessivo do peso e casti- gos corporais aplicados. Essas evidências ajudam a alertar que nem tudo no esporte pode ser positivo e, assim, as circunstâncias em que se delineia e aplica um programa esportivo devem ser convenientemente escrutinadas. Em consequência, alerta-se para uma maior cons- ciencialização política por meio de uma produção le- gislativa que defenda o praticante esportivo, que exerça uma efetiva fiscalização, promova a formação de trei- nadores e dirigentes para implementar as políticas de desenvolvimento positivo dos jovens pelo esporte. De- vemos ter consciência de que é a configuração da orga- nização esportiva, em todos os seus recursos, que in- fluencia o desenvolvimento dos jovens (HOLT, 2008). 102 Com o intuito de construir uma sociedade mais har- moniosa e significativa para todos, e considerando o impacto do esporte nas competências da vida, o de- senvolvimento positivo do ser humano deve ser enca- rado como um objetivo pelo qual todos devemos nos empenhar. Essa filosofia de bem-estar e de formação tem total pertinência no desenvolvimento dos jovens. De acordo com Orlick (2014), as pessoas que, de al- guma forma, expressam sentimentos negativos, o fa- zem porque, em algum momento, fracassaram na sua aprendizagem de como ser positivas. Nesse sentido, se o objetivo for que as crianças, os jovens e os adultos aprendam a encarar a vida de formapositiva, então, será necessário ensinar como fazê-lo. Para ensinar as competências de vida positi- vas por meio do esporte, de acordo com Lerner, Dowling e Anderson (2003), é necessário que os jovens se empenhem moral e comportamen- talmente nessa construção social, constituindo- -se como agentes autônomos nesse esforço. Essa perspectiva se reforça no sentido de que o desen- volvimento positivo dos jovens propõe que todos eles possuem uma grande capacidade para se de- senvolver de forma bem-sucedida, construtiva e saudável (LERNER et al., 2005). É nesse sentido que a construção de progra- mas que visem o desenvolvimento positivo de jovens se apoia substancialmente no talento, nos interesses e no potencial que se evidencia nessas idades. As lideranças devem almejar o enquadra- mento dos jovens em parcerias sustentadas de colaboração com adultos para que o desenvolvi- mento e a construção das competências preten- didas decorram de forma harmoniosa (LERNER; LERNER; PHELPS, 2008). Deve-se reforçar que os esforços que motivam os jovens a descobrir um desígnio para as suas vidas sustentam o seu desenvolvimento positivo, pois determinam ou, pelo menos, os estimulam a colocar metas e a se esforçarem para as ultrapassar (HILL et al., 2010). Claro que se deve ter a percepção de que este de- senvolvimento terá de ser empreendido de forma glo- bal, em todas as interações concretizadas diariamente, mas é no esporte que concentramos a nossa atenção. Somos da opinião que o esporte é um meio, desde que orientado para esse efeito, capaz de proporcionar às crianças e aos jovens a oportunidade de colocarem em ação atitudes positivas, sendo estas passíveis de serem transferidas para outros contextos sociais. Apesar de, como abordado anteriormente, o es- porte ter a presunção de, somente pela sua ativida- de, já produzir um impacto significativo em outros domínios da vida dos jovens, essa relação ainda não está consistentemente estabelecida (VIERIMAA et al., 2012). É assim determinante que o esporte, antes de reivindicar o fomento de um desenvolvimento positi- vo dos jovens em outras áreas, deve evidenciar que os seus programas produzem esses efeitos. Especificamente, as competências de vida no con- texto esportivo são vistas como: [...] ativos internos pessoais, características e competências, como estabelecer objetivos, con- trole emocional, autoestima e um trabalho duro e ético que pode ser facilitado ou desenvolvido no esporte, podendo ser transferido para outros envolvimentos não esportivos (GOULD; CAR- SON, 2008, p. 60). Para que a participação em programas esportivos potencialize os efeitos positivos pretendidos no de- senvolvimento dos jovens, deverão ser considerados os seguintes itens: 103 EDUCAÇÃO FÍSICA Na continuação do exposto anteriormente, a AAHPERD (2013) reafirma que a forma como o es- porte está organizado, o envolvimento das pessoas (pares, pais e treinadores), a importância que o jovem atribui ao esporte e como isso o integra em outras ati- vidades da sua vida, determinam o alcance dos resul- tados positivos da participação esportiva. Uma situação determinante na ponderação da organização dessas atividades é a noção de sucesso no esporte. É comum os meios que relatam o espor- • Envolvimento físico e psicológico seguro no decorrer da atividade esportiva. • Um programa claro e consistente, que decorra sob a supervisão dos adultos. • Apoio e mútuo comprometimento de todos que estão envolvidos na realiza- ção do programa. • Chances de participação para todos que mostrarem desejo para tal. • Normas e regulamentos implementa- dos de forma positiva. • Estratégias que impliquem e correspon- sabilizem o jovem na atividade desen- volvida. • Estratégias que impliquem a participa- ção e a oportunidade para todos. • Estender e integrar a família, a escola e a comunidade nos programas desen- volvidos. te, nomeadamente os meios informativos (mídias), confundirem sucesso com vitória. Será fundamental os responsáveis pela formação esportiva tornarem-se empreendedores e substituírem, ou mesmo elimina- rem a filosofia de “o ganhar não é tudo; ganhar é a úni- ca coisa que interessa”. Colocando a vitória como fim único do esporte, os jovens podem deixar de aprovei- tar excelentes oportunidades para desenvolver habili- dades únicas por meio da prática esportiva, desfrutar do que a competição permite, além de crescer social e emocionalmente. Tal como muitos responsáveis têm alertado, a implementação de sucesso terá que ser vin- culada a políticas que atribuam ao esforço em vencer a maior virtude no êxito pessoal e coletivo, criando um forte princípio para a criação de um favorável clima motivacional (SMOLL; CUMMING; SMITH, 2011). É de acordo com essas preocupações que decorre o objetivo de formação do jovem esportista. O trei- nador precisa estar consciente sobre a forma como o esporte é encarado atualmente, quais são as necessi- dades dos jovens e com quem eles se identificam, e ter também consciência de que, entre a criança e o jovem adulto, essas percepções se alteram substancialmente. Não será fácil esse entendimento, pois ele é fortemen- te dependente do contexto e da própria atualidade, contudo, será fundamental o treinador se preparar adequadamente para esses tipos de fenômenos, por- que eles impactarão de forma decisiva a sua atuação. A consciência de que um ensino/treino dirigido para a promoção da autonomia, com um forte apoio so- cial, uma visão inspiradora para o futuro e a partilha das tomadas de decisão estimulará os jovens a ficarem mais aptos a experimentar o bem-estar pela aquisição de pensamentos, emoções e comportamentos mais adaptados à sua realidade (QUESTED; DUDA, 2011). Será com base nessa orientação que o treinador deverá desenvolver o atleta jovem de uma forma ho- 104 lística, ou seja, integral. Um treinador que assimila a importância do desenvolvimento dos jovens de forma holística revela a capacidade de integrar diferentes ti- pos de conhecimento, compreendendo os que se re- ferem aos aspetos pessoais, emocionais, psicológicos, culturais e de identidade social. Consequentemente, encara o processo de treino de uma forma assimilada e integral, levando em conta que este é muito mais do que a soma das partes. A investigação efetuada por Gould, Carson e Blanton (2013) sugere que o ensino de competências de vida por meio do esporte evidencia os seguintes aspectos: O holismo constitui-se em uma doutrina que proclama o todo não ser a mera soma das partes, aglomerando, no seu conjunto, pro- priedades que carecem aos elementos de uma forma individual (particularmente no ser vivo). Enfatizando os desafios que o treinador enfrenta, con- cordamos com Cordovil (2005), que afirma serem es- peciais os treinadores de jovens, pois estão disponíveis para trabalhar em longo prazo, transmitindo valores que não são os dominantes, porque trabalham com gru- pos heterogêneos e em constante mutação, nos quais o reconhecimento profissional é ainda muito escasso. • Uma ligação estreita entre a participação es- portiva e o desenvolvimento de competências de vida. • A consciência de que é importante desenvol- ver as competências de vida dos jovens. • Competências-chave para o desenvolvimento dos atletas, como a responsabilidade, a mo- tivação/estabelecimento de objetivos e a comunicação como as mais importantes. • Filosofias que priorizam a participação es- portiva parecem estar relacionadas com os treinadores mais eficazes no ensino das competências de vida. • Essas competências são intencionalmente ensinadas de forma direta e indireta. • A criação de um ambiente de afeto é verdadeiramente importante para de- senvolver a confiança com os atletas e fundamental no desenvolvimento de com- petências de vida. • O adágio “eles não querem saber o que tu sabes enquanto não souberem quem és”, com toda a certeza, é adequado para quando se ensina competências de vida. • A possibilidadede os jovens testarem e demonstrarem as suas competências por meio da interação com os pares, treina- dores e todos os que estão envolvidos no esporte, facilita excelentes oportunidades para favorecer competências de vida. 105 EDUCAÇÃO FÍSICA Considerando a efetivação de um programa de trei- namento esportivo para o desenvolvimento de com- petências de vida pelo jovem atleta, é necessário incluir o treinador como elemento crucial nesse processo de formação. Isso porque ele deve ser o responsável máximo pelo desenvolvimento dos atle- tas, garantindo, acima de tudo, o desenvolvimento harmonioso e o bem-estar destes. Por isto, lhe é im- putada a responsabilidade de proporcionar experi- ências positivas que contribuam para que o jovem adote, quando adulto, independentemente do espor- te praticado, um estilo de vida ativo. O treinador de- verá, por isso, ser inspirador, motivando para a prá- tica e assegurando que ela se assente, essencialmente, em razões intrínsecas. Certamente, com esse tipo de atuação, o profissional potencializa o alcance dos be- nefícios relevantes para o seu desenvolvimento, fo- Gould, Voelker e Griffes (2013) estudaram uma abordagem para ensinar a liderança por meio do esporte. A liderança pode ser definida como um indivíduo que motiva, inspira e incentiva um grupo de pessoas para atingir um objeti- vo comum. Treinadores que comunicam para seus atletas os papéis e as responsabilidades de um líder eficaz têm mais chances de serem bem-sucedidos. Você concorda? mentando a sua autoestima e a vivência de experiên- cias agradáveis, estimulando a edificação de relações amigáveis de longa duração e uma atitude favorável em relação à atividade física (WEISS, 2004). A forma e o comportamento que o treinador mos- tra quando ele se apresenta aos atletas, no contexto es- portivo, tem um impacto relevante, pois, tal como os pais, o treinador pode exercer uma forte influência nos jovens. A sua forma de interagir, a postura que adota e, inclusive, a indumentária que enverga, está impreg- nada de representações e significados com impacto profundo no jovem. Acrescenta-se que a qualidade das relações interpessoais estabelecidas com os treinadores, identificando-os como professores, amigos e mentores, reconhecendo a sua capacidade de saber ouvir, de ser pacientes e profissionais, dentro e fora do contexto de prática, assume uma importância essencial no de- senvolvimento positivo dos jovens (BECKER, 2009). Considera-se, assim, que o desenvolvimento de com- petências de vida por meio do esporte é determinado pela forma como o treinador concebe um ambiente que fomente esse progresso (GOULD; CARSON, 2008). A competência do treinador se expressa de múl- tiplas formas, mas tem a sua maior exaltação na forma como ele ensina e como faz os jovens apren- derem as técnicas do esporte e melhorarem a sua ca- pacidade tática, estratégica e de tomada de decisão. Por outro lado, também é definidora a forma como são capazes de, conjuntamente, definir e atingir os ob- jetivos no nível da performance. 106 Em consequência, os treinadores determinam o terre- no moral e os valores nos quais edificam a formação dos jovens e, assim, podem contribuir decisivamente para um desenvolvimento positivo por meio do es- porte. A ética e a moral que o esporte pode trazer não sucedem das suas regras específicas, mas da sua natu- reza intrínseca, e esta é, desde o começo, profunda- mente influenciada pelo treinador pelo exemplo que ele dá (HARDMAN; JONES; JONES, 2010). O treinador concretiza a sua atividade por meio da instrução, por isso, a pedagogia surge como agre- gadora dos diferentes conhecimentos que sustentam a sua atividade. Essa instrução se inicia desde que o atleta chega ao local do treino, continua no vestiário e materializa-se durante a sessão de treino e compe- tição. É importante, igualmente, referir que o esporte contempla um importante espaço de formação quan- do são proporcionadas as deslocações para as com- Faz parte da capacidade do treinador as- segurar a conjugação de ingredientes que motivem os jovens para a prática espor- tiva quando esse profissional realiza as seguintes ações: • Providencia estímulos ótimos. • Estimula da melhor forma possível o apoio e o reconhecimento social em relação à sua atividade. • Certifica-se de que as experiências que o atleta vivencia são divertidas e estimu- lam a sua continuação. • Fomenta um clima de ativação favorável à atividade. • Educa para a autonomia. petições nos terrenos dos adversários. Aqui é uma excelente oportunidade de formação, porque existe um tempo maior de convívio para fomentar compor- tamentos proativos no seio do grupo. Os ambientes estabelecidos nessas circunstâncias incrementam e testam as dimensões morais em desenvolvimento do jovem atleta, transportando-o para uma urbanidade concordante com os valores sociais contemporâneos. Ao considerar a atividade como treinador, sugere- -se que este coloque a si mesmo três questões, as quais nortearão a sua atuação como treinador de jovens: A resposta a essas questões por parte do treinador facilita ganhar consciência com relação a como se comportar no momento de incorporar a “pele” de um treinador de jovens. Implica a sua personalidade e a forma como ela se manifesta nas diferentes situações 107 EDUCAÇÃO FÍSICA do contexto esportivo enquanto líder de um processo de treino e competição. O treinador também não deve diminuir a importância relativa a como a sua perso- nalidade será vista, apreciada e avaliada pelos atletas, dirigentes, família e todo o entorno que rodeia o fe- nômeno esportivo. Por isso, o treinador encontra ar- gumentos para “trabalhar” o efeito que o seu caráter, temperamento e valores trazem à função. Reforça-se que o empenho nos valores e princí- pios que devem pertencer ao esporte constituem uma pedra angular na personalidade do treinador, forne- cendo-lhe as bases para fazer face às pressões que re- sultam do processo de treino e, mais vigorosamente, da competição. Essas pressões, que podem surgir de inúmeros lugares e pessoas, também podem abalar as convicções e comprometer os princípios. O compor- tamento do treinador tem sido reconhecido como crí- tico na forma como os atletas encaram o esporte, pelas performances que alcançam e pela coesão de grupo que demonstram (ARTHUR et al., 2011). Outra forma de olhar para o treinador é pelo pon- to de vista dos alunos. Aqui, uma das caraterísticas mais salientadas pelos atletas/alunos para, qualitati- vamente, considerarem um treinador bom, resulta do empenho demonstrado por ele para que os jovens se desenvolvam como pessoas e atletas (RESENDE et al., 2014), reportando as características de índole social como mais determinantes do que as exclusivamente específicas e mais técnicas da modalidade esportiva em causa. Sobressai-se a noção de que os treinadores com maior eficácia são, igualmente, bons professores, pois serão incapazes de ensinar se não tornarem com- preensível aquilo que pretendem que os atletas apren- dam, com objetivos desafiadores, mas alcançáveis. A instrução, a par do suporte que dá às realiza- ções dos atletas e à ausência de punições, constitui uma característica de um treinador eficaz (ERICK- SON; GILBERT, 2013). Esses autores referem que o treinador deve incorporar, no seu cotidiano com os atletas, o elogio aos esforços destes e a instrução por meio de feedbacks positivos. Partilhar com os atletas o processo de decisão, levando em conta as suas pers- pectivas e providenciando argumentos coerentes para as suas decisões. Essas atitudes ajudam a implementar e a desenvolver a autonomia dos atletas. Um ambiente de aprendizagem favorável poten- cializa uma definição clara de objetivos e permite a avaliação da performance com base na aprendizagem e nos esforços realizados. Os treinadores com maior relevância na aquisição de competências de vida dos atletas são aqueles que se caracterizam por evidenciarfilosofias de treino de sua preferência e são proativos no desenvolvimento des- sas competências de forma explícita, preocupando-se permanentemente com as transferências dessas com- petências para outros ambientes. Destacam o esporti- vismo, fomentam relações fortes com os seus atletas, focam em delinear objetivos, traçam estratégias com- petitivas concordantes com o contexto esportivo em que estão inseridos e consideram as suas caraterísticas sociodemográficas. 108 OLHAR CONCEITUAL Concretizando as ideias referidas anteriormente e apoiados em uma extensa revisão da literatura, Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015, p. 26, tradução nossa) propõem seis estratégias de ensino para o desenvolvimento positivo dos jovens por meio do esporte: 109 EDUCAÇÃO FÍSICA As estratégias enunciadas anteriormente são materia- lizadas na Tabela 1, a seguir, em que se descrevem as tarefas a ser desenvolvidas e se providenciam exem- plos práticos que podem ser empregados pelos treina- dores no exercício da sua atividade. Estratégia Descrição Exemplos de treino 1. Focar no esforço e na persistência Promove e elogia o esforço e a per- sistência. Providencia oportunidades de prática deliberada de competências de vida e técnicas esportivas específicas. • Usa elogios para o processo (evitar elogios pessoais). • Providencia tempo para a prática deliberada de competências de vida durante o treino, como defi- nição de objetivos. 2. Promover desafios Desafia os jovens para tarefas difíceis que permitam a oportunidade de realizar novas habilidades, providen- ciando feedback à performance. • Planeja treinos com um nível elevado de dificuldade. • Permite um clima de maestria. • Planeja objetivos desafiadores para os jovens. 3. Promover o valor do insucesso Interpreta o erro e os insucessos como oportunidades válidas para promover a aprendizagem de competências, como a regulação do comportamento, planejamento e monitoramento. • Atribui o erro a fatores controláveis que podem ser melhorados e planeja treinos de acordo com isso. • Usa o erro para monitorar a realização de objetivos. 4. Perceber o sucesso Define sucesso por meio de fatores controláveis, como o esforço e a persistência. • Planeja auto-objetivos e ajuíza o sucesso pela sua obtenção. • Não olha para o marcador para determinar o seu grau de satisfação com a performance. 5. Promover a aprendizagem Promove aprendizagem da orien- tação por objetivos e um clima de proficiência. • Foca na aprendizagem em vez da vitória. • Partilha responsabilidades com os atletas. • Usa alta frequência de reforços positivos particu- larmente nos que dizem respeito ao processo e às instruções técnicas. 6. Providenciar expectativas elevadas Comunica expectativas a atletas que estão abaixo do nível médio de performance, e integra-os em um ambiente positivo de apoio. • Planeja objetivos difíceis para os atletas jovens, preferivelmente objetivos de processo. • Comunica alto nível de crença na capacidade de os jovens atletas melhorarem. Tabela 1 – Sumário de estratégias de instrução para promover desenvolvimento positivo dos jovens a partir do esporte Fonte: Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015, p. 27, tradução nossa) 110 Com essas ferramentas, os treinadores têm a possibi- lidade de incorporar na sua atividade o ensino de es- tratégias que fomentem a aquisição de competências positivas de vida pela parte dos jovens atletas, e con- tribuir, dessa forma, para que o seu desenvolvimento se processe de forma mais harmoniosa, saudável e in- tegrada na sociedade. Além do treinador, os pais e a família são cruciais na educação e, consequentemente, no desenvolvimen- to dos filhos. Confrontados com as exigências cada vez mais bem informadas e críticas dos pais (família) em relação às atividades nas quais são os filhos inseri- dos, os locais da prática esportiva necessitam contem- Título: Desenvolvimento positivo de jovens através do esporte: dos pressupostos ao papel do treinador esportivo Autores: Carlos Ewerton Palheta, Eduardo Leal Goulart Nunes, Rui Resende e Michel Milistetd Revista: Iberoamericana de Psicología del Ejer- cicio y el Deporte, Las Palmas de Gran. Canaria, v. 11, n. 2, p. 289-296 Ano: 2016 Comentário: Ótima leitura complementar para o tema da unidade. Os autores do artigo destacam o papel do treinador na formação positiva de jovens por meio do esporte e apre- sentam algumas estratégias que podem ser utilizadas pelos treinadores para que o pro- cesso de desenvolvimento esportivo aconteça de forma adequada] plar o esporte de participação de forma que o objetivo do clube não seja unicamente determinado e decalca- do pelo esporte de rendimento. Os pais que, na maioria das situações, promovem a experiência esportiva dos filhos, fomentam e ani- mam a continuação dessa prática, muitas vezes, com apoio material e financeiro, além da disponibilidade para acompanhar (GOMES, 2010). A presença dos pais é importante para a boa integração e a socialização esportiva dos filhos, providenciando bem-estar psicológico e índices elevados de satisfação com a prática esportiva. Contudo, também podem ser exemplos contra- producentes quando têm expectativas demasia- do elevadas quanto ao rendimento esportivo dos seus filhos, colocando uma pressão tão alta que podem tornar a experiência esportiva aversiva e indesejável (GOMES, 2011). Smoll, Cumming e Smith (2011) indicam que a pesquisa evidenciou a influência da família na socialização esportiva das crianças e tem um impacto profundo nas consequências psicológicas que daí decorrem. Nesse sentido, os autores indicam que as crian- ças e os jovens têm o direito de não querer parti- cipar e, dessa forma, impor o esporte pode pro- duzir os efeitos contrários aos desejados. Gomes e Zão (2007), em uma pesquisa em que estu- daram a relação entre a influência parental e a mo- tivação no esporte, com recurso a dois instrumentos relativos aos pais e aos atletas, constataram que, com relação aos atletas, existe maior apoio parental nas modalidades de caráter individual; maior apoio, influ- ência técnica e menos reações negativas por parte dos 111 EDUCAÇÃO FÍSICA pais dos atletas que estão nos níveis iniciais de forma- ção e maior apoio dos pais dos atletas que não têm reprovações escolares. No estudo dos pais, verificaram que os pais dos atletas do sexo masculino evidenciam maior apoio e influência técnica; os pais dos atletas que praticam modalidades esportivas individuais as- sumiram maior apoio e orientação motivacional para o divertimento e menos reações negativas; e os pais com menor formação escolar demonstraram menos apoio e influência técnica, maior orientação para os resultados e para as reações negativas. Esse tipo de pesquisa permite ao treinador ga- nhar consciência em relação às diferenças dos pais e às respectivas influências nos comportamentos dos filhos e, assim, permitir a esse treinador agir por antecipação. A família é crucial para um desenvol- vimento positivo dos jovens por meio do esporte, procurando que contribua para o pleno desenvolvi- mento físico, mental e social. Dessa forma, os pais são pilares fundamentais na iniciação e promoção do esporte, constituindo-se como elos facilitadores des- se processo, pelo entusiasmo e pela dedicação que podem evidenciar. Assim, faz todo o sentido que a instituição que recebe o jovem estabeleça uma re- lação de elevada confiança com os pais dos atletas. Nessa relação, o primeiro contato, habitualmente, é pelo treinador, profissional responsável pela integra- ção e pelo acompanhamento do jovem, fomentando a sua inclusão e promovendo a atividade a ser desen- volvida no seio do clube esportivo. 112 Título: Um sonho possível Ano: 2009 Sinopse: Michael Oher (Quinton Aaron) era um jovem negro, filho de uma mãe viciada e não tinha onde morar. Com boa vocação para os esportes, um dia ele foi avistado pelafamília de Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock), andando em direção ao estádio da escola para poder dormir longe da chuva. Ao ser convidado para passar uma noite na casa dos milionários, Michael não tinha ideia que aquele dia iria mudar para sempre a sua vida, tornando-se, mais tarde, um astro do futebol americano. Gomes (2011) propõe que a postura do treinador em relação aos pais menos vinculados e interessados com a prática esportiva dos filhos será a de fomentar e encorajar o seu envolvimento, entusias- mando a sua participação em atividades que enaltecem a sua utilidade e relevân- cia para o projeto esportivo com o qual o filho está comprometido. Com relação àqueles pais que são excessivamente crí- ticos ou, quando nas competições, re- velam comportamentos inapropriados, ou até mesmo, descontrolados, deve-se procurar uma abordagem personalizada e evidenciar a repercussão negativa para o rendimento do jovem que essas atitu- des podem ter. O autor citado anteriormente reco- menda, por isso, que o treinador pro- mova uma reunião na qual esclareça o projeto esportivo e o que se espera de cada um dos seus intervenientes. Essa reunião tem como objetivo integrar a família em três áreas: 113 EDUCAÇÃO FÍSICA O treinador pode, ainda, ser o mentor de eventos so- ciais que promovam afinidades entre atletas, família, treinadores e dirigentes. Realizações que vão além do treino e da competição fomentam o sentimento de per- tença e constituem uma oportunidade importante para que as pessoas se conheçam e ganhem laços de empatia. A qualidade da atividade do treinador pode ser incrementada e valorizada pelos pais dos atle- tas por meio da criação de uma ficha do atleta. Ela reunirá a informação pessoal do atleta e re- sultados de sua atividade esportiva, e deverá ser enviada aos pais em, pelo menos, duas vezes por • Contenha uma informação pessoal básica (quem desejar ser um pouco mais profundo poderá caracterizar mais a filiação com, por exemplo, a idade dos pais e a sua ocupação profissional). • Dados biométricos, em que se pode registar de forma muito fácil a evolução física (com o peso, a altura e a envergadura), o cálculo do IMC, que dá uma indicação se o atleta está dentro da Zona Saudável, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Os testes físicos a serem realizados dependem do esporte em questão e das condições materiais para os efetuar. Contudo, sugere-se que se apliquem testes que avaliem a globalidade das capacidades condicionais (resistência, velocidade, força e flexibilidade). • Dados técnico-táticos, mencionados em consonância com a modalidade e de acordo com aquilo que o treinador considerar pertinente para a idade dos atletas. Sugere-se algum tipo de avaliação qualitativa, a qual corresponde a um índice quantitativo para, assim, ser mais fácil tanto a execução como a sua visualização, e correspondente grau de evolução. • Dados sociopsicológicos. Essa caracterização pode ser de importância fundamental, pois, tal como já comen- tado anteriormente, o treinador é responsável por fazer o atleta evoluir em mais dimensões que aquelas que se relacionam diretamente com a performance (físicas, técnicas e táticas). Propõe-se que se avalie o atleta na sua integração social e nas suas capacidades volitivas por meio de uma escala de 1 a 5 (de débil a robusto). Existe igualmente um espaço para observações, pois essa classificação poderá ser insuficiente e, assim, existir a necessidade de complementar informação. • Perspectivas de evolução expõem a opinião do treinador sobre o possível desenvolvimento do atleta nas diferentes áreas analisadas. • A informação sobre a atividade acadêmica é um espaço que se reveste de importância crucial no acompa- nhamento e no interesse pelo atleta para além da sua performance atlética. • Reuniões com os pais. O espaço para o registo de reuniões (ou outras interações) com os pais, assim como um resumo dos assuntos abordados, permite acompanhar com maior rigor o tipo de relacionamento es- tabelecido e, assim, monitorar o interesse familiar pela prática esportiva do atleta. época esportiva. O serviço prestado pelo clube poderá constituir um diferenciador positivo, e demonstra o empenho que o treinador coloca em ação para que a evolução do atleta decorra da me- lhor forma possível. Tal ficha, da qual se sugere um exemplo na Figu- ra 1, mais adiante, poderá registrar diferentes tipos de informação. Temos consciência que a construção de uma ficha deverá ser pessoal (do treinador ou do clu- be) e terá que ser adaptada ao contexto específico no qual se desenvolve o trabalho, assim como à moda- lidade esportiva. Contudo, propõe-se que essa ficha: 114 A ficha do atleta deve fazer par- te integrante do dossiê pessoal do treinador. Desta ficha, reco- menda-se extrair a informação mais pertinente e adequada para enviar aos pais dos atletas. As informações registradas tra- çam um perfil do crescimento dos atletas e atribuem um sig- nificado especial à sua trajetó- ria no clube, permitem obter dados para posterior pesquisa e reforçar ou alterar trajetórias de trabalho e personificam de forma substantiva o empenha- mento e o rigor com o qual o treinador desempenha a sua função, reforçando a sua posi- ção perante os pais. Figura 1 – Exemplo de ficha do atleta Fonte: Os autores Descrição da Imagem: trata-se de um exemplo de ficha para acompanhamen- to dos atletas que o treinador pode uti- lizar para preencher dados biográficos (nome, data de nascimento, filiação, endereço, CPF), dados biométricos (al- tura, peso, IMC, envergadura), dados técnicos-táticos, dados sociopsicoso- ciais, dados acadêmicos e informações sobre reuniões com os pais de cada um dos seus atletas 115 EDUCAÇÃO FÍSICA O Índice de Massa Corporal (IMC) (des- crito no exemplo de ficha de atleta) é uma medida internacional usada para calcular se uma pessoa está no peso ideal. Desenvolvido pelo polímata Lambert Quételet, no fim do sé- culo XIX, trata-se de um método fácil e rápido para a avaliação do nível de gordura de cada pessoa, sendo, por isso, um preditor interna- cional de obesidade adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Você pode calcular imediatamente seu IMC, introduzindo a altura e o peso, para ve- rificar se você está dentro da normalidade em relação ao seu peso. Lembrando que o IMC é uma medida geral que não considera o percen- tual de massa magra e gordura separadamen- te. Para saber mais, acesse o QR Code . É nossa função, como profissionais e futuros profis- sionais de Educação Física, enxergar o esporte para além da sua prática e aproveitar de todo seu potencial, como fenômeno sociocultural, para possibilitar um desenvolvimento integral de crianças e jovens atletas. Para que isso aconteça, tanto o treinador quanto a família possuem papeis importantes nesse processo. Assim, nesse podcast, falaremos de forma mais especí- fica sobre como o esporte pode promover uma forma- ção esportiva positiva, além dos papeis do treinador e da família. Acesse o QR Code para saber mais! O desenvolvimento positivo dos jovens deve cons- tituir o objetivo de uma sociedade evoluída, e o es- porte, de acordo com inúmeros estudos e pesquisas científicas, pode contribuir de forma significativa para esse fim, nomeadamente, por meio da melhoria da aptidão física e da saúde. Contudo, a influência do esporte pode ir além, com o desenvolvimento de competências psicológicas, como são exemplos a li- derança, o espírito de iniciativa, o estabelecimento de objetivos, a superação e a resiliência. Em termos da integração social, o esporte pode promover a possibi- lidade de fazer novos amigos, reforçando a solidarie- dade interpares, tornando-se parte de um grupo em desenvolvimento e, assim, fortalecendo o sentimento de pertença. Todavia, o esporte também comporta riscos e ameaças no seu seio. Como exemplos, temos o risco de lesões esportivas que podem decorrer da prática e de forma acidental,ou, mais grave, a ocor- rência de situações de abuso de nível físico (aplica- ção de cargas de treino desadequadas) e psicológico (pressões exageradas para obter rendimento). O treinador é, pela sua formação e responsabilida- de na liderança do processo esportivo, quem deve as- segurar um desenvolvimento positivo e sustentado do jovem atleta. Para alcançar esse objetivo, o treinador terá que se preparar adequadamente no que concer- https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15030 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12304 116 ne aos aspectos científicos e tecnológicos necessários para desempenhar a sua atividade, e ter, igualmente, uma formação que lhe permita incorporar, na sua prática cotidiana, as competências de vida que estão para além dos ensinamentos do esporte. Contudo, os conhecimentos adquiridos somente se transformarão em competências se o treinador as exercitar de for- ma crítica, reflexiva e contínua. Ele deverá sempre ter a consciência de que o fator mais valorizado pelo ambiente socioesportivo são as características do seu caráter. Consequentemente, a personalidade do trei- nador é a janela pela qual a sua atuação será escruti- nada. Conquistar a família, envolvendo-a no processo esportivo, é determinante para alcançar o sucesso a que o treinador se propõe. 117 agora é com você 1. O processo de formação esportiva deve sempre considerar as etapas de de- senvolvimento da criança e do jovem, para que aconteça de forma adequada. Nesse contexto, Côté et al. (2007) indicam que o desenvolvimento esportivo se inicia por uma adesão ao esporte (sampling years), em que as atividades lúdicas são prioritárias. Em seguida, há a especialização esportiva (specializing years) e, posteriormente, os anos de investimento esportivo (investment years). Considerando o processo de desenvolvimento esportivo proposto por Côté et al. (2007), analise as afirmações a seguir: I. Nos anos de investimento, o jovem busca o rendimento esportivo em um de- terminado esporte. II. Nos anos iniciais, entre os 6-12 anos, é indicado que as crianças experimen- tem diferentes modalidades esportivas. III. Os anos de especialização acontecem após os 16 anos e devem incluir 80% para as atividades de jogo e 20% para a prática deliberada. IV. Nos anos de especialização, a participação em diferentes esportes deve dimi- nuir e o jovem começa a participar de atividades competitivas. É correto o que se afirma em: a. I e II, apenas. b. II e III, apenas. c. I, II e IV, apenas. d. II, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 2. De acordo com as informações do livro, o processo de treinamento esportivo deve ter como objetivo desenvolver o atleta jovem de uma forma holística. Considerando o conceito de holismo descrito no livro, o processo de treina- mento esportivo deve ter como objetivo: a. Desenvolver os atletas sem preocupação em considerar todos os aspectos envolvidos no processo de treinamento. b. Desenvolver os atletas a partir das experiências que o treinador possui em relação a aspectos específicos da modalidade. c. Desenvolver os atletas considerando os aspectos físicos, técnicos e táticos de diferentes modalidades que possam ser transferidas entre si. 118 agora é com você d. Desenvolver os atletas de forma a integrar diferentes tipos de conhecimento, considerando que o processo de treino é muito mais do que a soma das partes. e. Desenvolver os atletas de forma integral, trabalhando individualmente os as- pectos técnicos, táticos, físicos, sociais e emocionais para que o resultado seja somado, no fim. 3. Considerando a importância de um programa de treinamento que seja efeti- vo, é fato que o treinador possui um papel essencial no processo da formação esportiva positiva de crianças e jovens. Considerando isso, analise as asser- ções a seguir e a relação entre elas: I. O treinador é o responsável máximo pelo desenvolvimento dos atletas PORQUE II. É responsabilidade do treinador proporcionar experiências esportivas positi- vas que contribuam para que no futuro o jovem adote um estilo de vida ativo. Sobre as asserções, é correto afirmar que: a. As asserções I e II são falsas. b. A asserção I é falsa e a II é verdadeira. c. A asserção I é verdadeira e a II é falsa. d. As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. e. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. 4. Os treinadores que promovem a aquisição de competências de vida dos atle- tas são aqueles que propõem filosofias de treino de sua preferência, proativos no desenvolvimento dessas competências e sempre se preocupam com as transferências dessas competências para outros ambientes. Nesse contexto, Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015) propõem seis estratégias de ensino para o desenvolvimento positivo dos jovens por meio do esporte. Considerando as estratégias apresentadas pelos autores, analise as afirmati- vas abaixo e marque V para verdadeiras e F para falsas. ( ) Para promover a aprendizagem, o treinador deve planejar objetivos difíceis para os atletas jovens, preferivelmente objetivos de processo. ( ) Para estimular expectativas elevadas, os atletas podem ser inspirados, moti- vados a melhorar a sua autoconfiança por meio dos adultos. 119 agora é com você ( ) Um exemplo de como promover desafios durante o processo de desenvolvi- mento é planejar treinos com um nível elevado de dificuldade. ( ) A estratégia de focar no esforço e na persistência pode ser exemplificada por meio de elogios durante o processo de treino, principalmente elogios pessoais. As afirmações são, respectivamente: a. F, V, F, V. b. F, V, V, F. c. V, F, V, F. d. V, V, V, V. e. F, V, V, V. 5. O apoio da família também é essencial para que haja uma formação positiva por meio do esporte, pois fomentam e animam a continuação dessa prática. Todavia, essa participação, se feita de forma inadequada, pode ser prejudicial no processo de formação. Considerando isso, analise as afirmações a seguir acerca da participação inadequada da família no processo de desenvolvimen- to esportivo positivo: I. Expectativas muito elevadas em relação ao rendimento esportivo do jovem atleta podem tornar a experiência esportiva aversiva e indesejável. II. O apoio material e financeiro, além da disponibilidade de tempo para acompa- nhar o jovem atleta podem ser prejudiciais no processo de formação. III. A insistência contínua para a participação de esportes que sejam contra a von- tade da criança e do jovem pode produzir efeitos contrários aos desejados. É correto o que se afirma em: a. I e III, apenas. b. II e III, apenas. c. I e II, apenas. d. III, apenas. e. I, apenas. Dr. Rui Resende Me. Suelen Rodrigues da Luz Oportunidades de aprendizagem Nesta última unidade, você terá a oportunidade de aprender a preparar e planejar sua intervenção como professor/profissional de Educação Física. Abordaremos informações gerais sobre a preparação do profissional, bem como planejar sua intervenção em nível anual, mensal e semanal. Ainda, apresentaremos exemplos de planilhas anuais, mensais, semanais, além de planos diários de aula/treino. INTERVENÇÃO DO TREINADOR: PREPARAÇÃO E PLANEJAMENTO unidade V 122 No decorrer deste livro, você teve acesso a uma gama de informações relacionadas ao processo de iniciação esportiva, certo? Os conteúdos aborda- ram as classificações dos esportes e suas diferentes possibilidades de manifestações, alguns modelos de ensino baseados em teorias construtivistas, conhecimentos e competências para ser um bom treinador, além de como o treinador pode e deve agir, como peça essencial no processo de iniciação esportiva, para que o desenvolvimento esportivo seja positivo. Tendo isso em vista, como você, fu- turo professor/profissional de Educação Física, deve se organizar e se programar para colocar em prática todas essas informações aprendidas nas unidades anteriores? Primeiramente,é importante ressaltar que, quando alguém assume o papel de treinador, deve ter consciência da importância da sua decisão, pois ser treinador implica ter a capacidade de liderar e imple- mentar um processo de treinamento com crianças, jovens ou adultos. Nesse sentido, será determinante ganhar consciência sobre a forma como vai idealizar e liderar toda a sua intervenção. Assim, além da im- portância de estar preparado para liderar o processo de treino, no que se refere à projeção e previsão dos acontecimentos durante todo o período esportivo, considerando os objetivos definidos para cada etapa, também será determinante que o treinador conceba uma filosofia de treino que o leve a ser congruente nas suas ações como profissional. Nesse contexto, a filosofia do treinador surge como um princípio orientador do seu comportamento pe- rante o ambiente de treino e permite edificar um estilo de liderança. Elementos para auxiliar na construção desta filosofia por parte do treinador são sugeridos. Para além disso, é proposta uma operacionalização desses conceitos, ideias, em elementos concretos de atuação quando para quando o treinador enfrentar a prática ter um comportamento de liderança adequado à filosofia formulada. Para facilitar o entendimento da ideia da filosofia do treinador, pensemos de forma mais prática, tendo como base quatro conceitos filosóficos descritos por Hardman e Jones (2013), que podem ser representa- dos pelas seguintes perguntas: 1) O que o treinador valoriza? 2) O que o treinador ajuíza sobre o que é moral e imoral? 3) Qual o sentido que atribui ao processo de treinamento? 4) Quais as reflexões so- bre a experiência de ser treinador? Assim, a partir dessas informações, imagine-se como um treinador de uma equipe de iniciação, ou seja, de equipe formada por jovens e adolescentes e pense em qual seria a sua filosofia de treinamento para que o processo de desenvolvimento esportivo desses jovens tivesse um resultado positivo. Reflita sobre as perguntas que representam os conceitos filósofos citados anteriormente e descreva sua filosofia de treinamento. Baseie-se nas seguintes perguntas para elaborar sua resposta. • O que eu valorizo em meus treinamentos? • O que eu considero moral ou imoral? • O que o treinamento significa para mim? • Como é, para mim, ser treinador? Utilize o espaço do seu Diário de Bordo para realizar essa tarefa! 123 EDUCAÇÃO FÍSICA Bom, agora que você foi introduzido ao conteúdo, abordaremos de forma mais detalhada as informações referentes à filosofia do treinador e à organização e programação do processo de treinamento durante o período esportivo. A filosofia pode ser definida como uma teoria ou atitude realizada por uma pessoa ou organização que atua como um princípio orientador para o comporta- mento. Nesse sentido, a filosofia do treinador con- siste nos princípios que guiam o treinador no de- senvolvimento dos atletas e das equipes. A palavra filosofia toma muitos significados no seio do treino esportivo, contudo, o desenvolvimento de uma filo- sofia clara por parte do treinador e, por consequência, da equipe que tem sob o seu comando, tem sido asso- ciado ao sucesso do processo de treino, pois apresenta uma mensagem positiva e consistente aos atletas. Em termos gerais, aceita-se que a filosofia do trei- nador serve para guiar os seus princípios de atuação, sendo definida pelas crenças e valores que orientam a sua prática. Assim, em termos objetivos, constitui a forma como ‘vê’ o treino esportivo. Permite sustentar um estilo de liderança, as preferências por uma deter- minada forma de ensinar, a maneira como organiza e faz a gestão do ambiente de treino. Nesse sentido, uma filosofia do treinador se cons- trói sobre um conjunto de padrões pelos quais o trei- nador vai influenciar, ensinar e modelar os seus atle- 124 tas. Idealmente, reflete a sua própria filosofia de vida (MARTENS, 1990), pois os objetivos e os valores têm que ser significativos em nível pessoal, se não, são so- mente propósitos vazios. Será importante realçar que a influência que um treinador pode ter no atleta pode ir muito além das esportivas e ter um forte impacto em anos subsequentes. De acordo com Hardman e Jones (2013), uma fi- losofia do treinador deve ser edificada sobre quatro conceitos filosóficos, que se definem em: axiologia (o que o treinador valoriza), ética (o que o treinador aju- íza sobre o que é moral e imoral), ontologia (o sentido que atribui ao processo de treino), e fenomenologia (reflexões sobre a experiência de ser treinador). Contudo, devemos ter presente que desenvolver uma filosofia de treino, dentre outras coisas, requer tempo e reflexão sobre as suas próprias experiências (CAMIRÉ; TRUDEL; FORNERIS, 2012), sendo que os treinadores jovens apresentam dificuldades em explicar como im- plementam os valores que defendem na sua prática coti- diana (MCCALLISTER; BLINDE; WEISS, 2000). Ajudando a construir uma filosofia de treino e do treinador (GILBERT, 2017), será importante identifi- car a razão pela qual se pretende ser treinador, quais são os objetivos pretendidos e quais os valores que vão orientar a sua atuação quando estiver a dirigir e liderar um processo de treino. O passo seguinte será criar estratégias de treino e competição que permitam ensinar e reforçar os valores anteriormente definidos. Nesse sentido, os objetivos do treino e os valores que lhe estão associados devem ser usados para sustentar as decisões do dia a dia. O que o treinador deve considerar para iniciar a construção da sua filosofia é entender-se como se é, enquanto treinador e enquanto pessoa. A lógica dessa ideia é que a sua ação (atividade como treina- dor) depende de quem a pessoa é, do seu ideal de vida, das circunstâncias particulares em que se insere e da forma como o demonstra. Assim, responder às se- guintes perguntas pode auxiliá-lo nesse propósito, pois permite refletir sobre os próprios valores e, dessa forma, desenvolver uma filosofia de treino que coin- cida com aquilo em que acredita. É importante referir que o objetivo de treino e os valores não necessitam ser validados por outros, estão corretos quando são inspiradores e significativos no âmbito pessoal. 125 EDUCAÇÃO FÍSICA 126 O próximo estágio para a construção de uma filosofia pessoal de abordagem ao processo de treino consiste em explanar a sua ideia (valores), acerca do processo de treino e do que pretende atingir (objetivos). Uma frase será suficiente e servirá a razão pela qual o treinador toma os procedimentos que acha mais adequados. Será importante destacar que esse exercício não deve ser imutável ao longo do tempo em que o trei- nador exerce a sua atividade. Pelo contrário, na me- dida em que vai exercendo a sua prática, acumulando conhecimento e experiência, é natural e saudável que existam reformulações na sua filosofia de treino. De forma a ilustrar a aplicação desse procedimento, iremos destacar como exemplo uma filosofia de treino que irá nortear toda a exposição subsequente. O conse- lho dado por Gilbert (2017) indica que o treinador deve começar por dizer “Como treinador, eu sou....” e que a frase deve conter poucas linhas e ser um sumário das principais ideias que irão nortear a sua ação. Então, de acordo com a linha de raciocínio expli- citada, expomos, a título de exemplo: Como treinador, desejo que os meus atle- tas tenham satisfação com a superação pessoal, entendam o treino de forma au- tônoma e sejam corresponsáveis com os objetivos da equipe. A filosofia de treino descreve a maneira como será efe- tuada a abordagem como treinador e assegura que esta seja fiel aos objetivos e valores definidos. O passo se- guinte consiste em descrever os principais valores que vão orientar os propósitos definidos anteriormente. To- davia, é importante definir os valores e atribuir-lhes um significado prático (Tabela 1) para que se tornem claros para os atletas e sirvamde orientação ao treinador. Os valores podem ser abertos à discussão por par- te da equipe e até ser ligeiramente alterados de forma a se adequarem ao grupo de atletas a quem se diri- gem. A razão pela qual se sugere esta abertura é que os atletas “compram a ideia” de forma mais convicta se tiverem a oportunidade de colaborarem na definição dos valores da equipe. Valores Aplicação Su pe ra çã o pe ss oa l • Vou ser competitivo. • Todas as vezes contam para melhorar. • Lutar por todas as bolas. Co m pr om is so • Com a equipe e com os objetivos definidos. • Aceitar responsabilidades e ter consci- ência do meu valor para a equipe. Co rr es po ns ab ili za çã o • Todos somos treinadores. • Contribuir para uma boa atmosfera de treino, divertida e empenhada. • Entusiasmar o meu parceiro, avaliar a sua performance para que ele tenha uma melhor consciência do seu de- sempenho. • Ajudo no treino com as bolas e mate- rial para que haja mais tempo útil de treino. Au to no m ia • Consciência do que se pretende nas tarefas de treino e competição. • Esforçar-me porque valorizo a razão pela qual estou aqui. Tabela 1 - Valores e sua aplicação prática Fonte: o autor 127 EDUCAÇÃO FÍSICA A estratégia de ação passa, então, por: Poderíamos, igualmente, incluir como sugestão para gru- pos mais avançados, no que diz respeito à competição: • Definir e, de forma repetida, articular os valores desejados. • Criar ferramentas e estratégias de ensino que ajudem os atletas a en- tenderem os valores definidos com consistência. Estabelecer estratégias de recrutamento que assegurem atletas que compartilhem os mesmos valores e que já foram aceitos e assumidos pela equipe. Implementar sistemas de recompensa e punição que reforcem os valores do grupo. Por exemplo, se alguém responsável por arrumar o material não o fez, toda a equipe ter uma tarefa suplementar para reforçar a corresponsabilização de todos quanto à importância de arrumar o material. 128 A importância e a vantagem de ganhar consciência de uma filosofia de treino bem delineada é que o treina- dor aprende sobre si mesmo, constata as suas insufi- ciências e as suas potencialidades, apercebe-se das ra- zões pelas quais está a treinar e do que necessita para melhorar as suas competências como treinador. Após a tomada de consciência da filosofia a imple- mentar num processo de treino por parte do treina- dor, chega a hora de operacionalizar toda uma estra- tégia no sentido de concretizar os objetivos definidos. Estes devem ser competitivos e formativos indepen- dentemente do nível de performance com que se tra- balha, pois o treinador não deve nunca deixar de se sentir um professor (GALLIMORE; THARP, 2004). A planificação ou periodização que se sugere nes- tas páginas envolve uma organização e direcionamen- to de propósitos de treino e pressupõe que o treinador domine os princípios de adaptação das cargas de treino que serão suportadas e aplicadas aos atletas. O exercício de planear ou planejar é procurar antecipar e prever uma sequência lógica e coerente de acontecimentos que se vão desenrolar durante a época desportiva e que apontam para a concretização dos objetivos definidos. Nesse sentido, o planeamento constitui o processo por meio do qual o treinador define as linhas de orientação que vai colocar em prática durante a época e onde pre- tende procurar prever o futuro. A partir dessas informações, ficou mais fácil entender o conceito de filosofia do treinador? Você mudaria a ideia da sua filosofia como trei- nador proposta no início da unidade? Será importante afirmar que, numa perspectiva de carreira em longo prazo de um atleta, a planificação não se deve resumir a uma só época esportiva. Con- tudo, tendo em conta a realidade, em que os treinado- res não têm uma permanência com os mesmos atletas durante épocas sucessivas, iremos concentrar a nossa atenção numa época esportiva. Considerando que não se planeja de forma abs- trata, mas, sim, a partir de situações reais, o treinador terá que fazer uso da sua capacidade de análise da si- tuação que enfrenta para tomar as melhores decisões. Realizar uma periodização para esportes de equipe coloca múltiplos desafios devido à grande variedade de objetivos, de volume de treino e de treinos, da du- ração da época esportiva, dentre outros. Nesse sen- tido, algumas variáveis precisam ser consideradas para que o planejamento de uma temporada espor- tiva seja realizado de forma adequada. 129 EDUCAÇÃO FÍSICA Iniciaremos o planejamento a partir do plano anual ou macrociclo. Tal como afirmamos ante- riormente, o plano anual é um roteiro das ativida- des a realizar pela equipe e pretende idealizar de uma forma genérica a forma como pretendemos preparar a época esportiva. Também será impor- tante realçar que essa tarefa é pessoal e que o que se sugere deverá servir de indicador para cons- truir a sua própria. Para ajudar na realização do planeamento anual, sugerimos a utilização de uma folha de cálculo do Excel. Essa ficha, que deve fazer parte do dossiê do treinador, é um instrumento simples que depois irá se materializar progressivamente com maior pormenor ao longo do decurso da época. Serve igualmente para monitorizar a adequação do planeado com a realida- de do que vai acontecendo. Salientamos que existiu a preocupação de permitir a integração de todos os es- portes coletivos que depois, necessariamente, deverão ser trabalhados de acordo com as suas especificidades. A Figura 1 apresenta-se como exemplo de plano anual e aponta para duas fases distintas de competi- ção. Poderíamos chamar a primeira de campeonato estadual e a segunda de campeonato nacional. Cada item dentro do plano é explicado a seguir. 130 Figura 1 - Exemplo de periodização para uma temporada esportiva / Fonte: os autores Descrição da Imagem: a figura apresenta um exemplo de ficha composta por 16 linhas e 38 colunas, com todos os dados e espaço para pla- nejamento ou periodização de uma temporada esportiva. Na primeira coluna à esquerda, há a descrição das variáveis que serão analisadas (meses, microciclos, treinos, jogos, periodização, mesociclos). Os microciclos são divididos em colunas subsequentes numeradas que vão do 1 ao 36. Abaixo, o item descrito como “jogos” é representado também por colunas coloridas que que vão de 1 a 36, considerando os períodos de preparação de competição (representado pela cor azul clara), competição de controle (azul escuro), campeonato (azul) e preparação (azul cobalto). Mais abaixo, a periodização é dividida em quatro períodos: preparatório, pré-competitivo, competitivo. Abaixo do item “periodização”, temos os mesociclos, divididos entre as colunas subsequentes em: condicionamento, básico geral, pré-competitivo e competitivo, sempre considerando a divisão da periodização. Abaixo do item “mesociclo”, na primeira coluna à esquerda, estão descritas as variáveis de preparação física (capacidade aeróbia, força, velocidade e flexibilidade), a técnica e a tática e o teste. O item capacidade aeróbia é dividido, nas colunas subsequentes, em “aquisição” e “manutenção”. O item força, é dividido nas colunas subsequentes em “resistência de força”, “força máxima” e “potência”. A velocidade é dividida, em colunas subsequentes, em “velocidade geral” e “velocidade específica”. A flexibilidade é dividida, em colunas subsequentes, em “desenvolver” e “manutenção”. A técnica é dividida, nas colunas subsequentes, em “aquisição e estabilização”. A tática é dividida, nas colunas subsequentes, em “aquisição”, “aquisição avançada”, “estabilização” e “estabilização: trabalho de equipe/cooperação”. O item “teste” é dividido, nas colunas subsequentes, em “médicos/físicos” e “exercícios/critérios”. As subdivisões do item Mesociclos e das demais variáveis da preparação física, técnica, tática e testes são divididas considerando as fases da periodização (preparatório, pré-competitivo, com- petitivo). Nas duasúltimas linhas da ficha, na primeira coluna da esquerda, há a descrição das horas de treino (horas de treino e horas reais de treino). As colunas subsequentes estão em branco para o preenchimento. O conteúdo do plano anual divide-se genericamente em duas partes, uma em que se prevê o tempo previsto de trei- no (treino é aquele em que efe- tivamente o treinador está com a equipe a treinar) e as compe- tições que se vão efetuar e ou- tro com o tipo de preparação a ser ministrada nesse período. • Meses: deve conter os meses desde que se inicia a prepa- ração da equipe até ao seu término antes do período de fé- rias. Permite visualizar a sequência do período competitivo, a coincidência com períodos que possam perturbar de alguma forma a preparação da equipe (épocas de exames para atletas estudantes, ou alturas de festas como o carnaval) e períodos de férias em que se pode aumentar o tempo dedicado ao treino, pois os atletas poderão estar mais predispostos e mais concentrados nessa tarefa. 131 EDUCAÇÃO FÍSICA 2. Período Pré-Competitivo: momento em que se prepara a equipe para competir. 3. Período Competitivo: altura em que se preten- de que a equipe evidencie o seu maior potencial. 4. Período de Transição: ocasião em que a equi- pe deixa de ter o foco no desenvolvimento es- pecífico do esporte em causa e aproveita para melhorar outras capacidades. Os mesociclos são as unidades mensais (normalmen- te, de 3 a 6 semanas) de treino e que podem ser de: • Condicionamento: de preparação básica com incidência maior na parte da condição física. • Básico Geral: em que se aprimoram as capaci- dades gerais necessárias para a prática do es- porte específico. • Pré-competitivo: preparação da equipe de uma forma mais próxima às necessidades competitivas. • Competitivo: manutenção da melhor forma da equipe. Os microciclos são habitualmente coincidentes com uma semana de treinos que culmina na competição, também habitualmente, no fim de semana. No item “Treino”, indica-se a previsão de treinos que se irá efetuar por semana e que permite prever o total de treinos a realizar na época desportiva. O treino é composto de três conteúdos básicos, que são: a Pre- paração Física, o Treino Técnico e o Treino Tático. No que diz respeito à Preparação Física, gostarí- amos de evidenciar a sua importância para um bom desempenho competitivo de uma equipe, seja qual for • Microciclos: enumera-se o número de ciclos semanais de treino no total da época esportiva. Abordaremos de forma mais detalhada a seguir. • Treinos: contabiliza-se o número de Unidades de Treino que se tem pre- vistas para cada microciclo. No término de cada coluna, indica- se o número de horas prevista para treinar em cada microciclo e o número efetivo de ho- ras que se treinou. No fim das linhas, será evidenciado o somatório do total da época do número de treinos e das horas correspondentes. Essa contabilidade ajuda a refletir, tendo em linha de con- ta o que se previu fazer e o que efetivamente se realizou. No exemplo dado, a periodização é dividida em qua- tro períodos: 1. Período Preparatório: altura em que se efetiva a preparação da equipe para encarar a competi- ção, tendo como maior índice de preocupação o condicionamento físico geral e específico. Idealize-se como treinador de um esporte a sua escolha e tente projetar uma periodização adequada à realidade específica da sua compe- tição. Utilize as variáveis sugeridas e complete a ficha apresentada. 132 o seu grau de desenvolvimento. O desempenho es- portivo sustenta-se num bom aprimoramento físico, pois o reforço da condição física é fundamental para preparar o atleta para um bom desempenho esportivo em termos de performance e como forma de prevenir lesões. O treinador deve atribuir a devida importância a essa atividade durante toda a época desportiva e, ob- viamente, levar em linha de consideração para quem é dirigido o processo de treino. No treino físico ou preparação física, são traba- lhadas as capacidades condicionais: • Aeróbia. • Aquisição. • Manutenção. • Força. • Resistência. • Força Máxima. • Potência. • Velocidade. • Velocidade geral. • Velocidade especial. • Flexibilidade. • Desenvolver. O treino técnico é dividido em aquisição, estabiliza- ção e velocidade de execução, e o treino tático, em aquisição e estabilização. Os testes podem ser divididos em: • Médicos – permitem avaliar a saúde dos atle- tas e indagar da sua predisposição para a prá- tica esportiva. • Físicos – servem para avaliar a melhoria da condição física individual, aquilatar dos pro- gressos gerais efetuados e estabelecer uma re- lação com o treino efetuado. • Exercícios-critério – são exercícios específi- cos da modalidade, que permitem confirmar a evolução da equipe de acordo com a filosofia do treinador, revelando indicações sobre se a sua prática está em sintonia com as ideias ide- alizadas para a equipe (RESENDE et al., 2017). 133 EDUCAÇÃO FÍSICA OLHAR CONCEITUAL Descrição da Imagem: a imagem apresenta um infográfico que representa a organização de um período esportivo que inicia no macrociclo, passa para o mesociclo, microciclo e finaliza na unidade de treinamento (UT). O infográfico inicia com uma caixa de texto de cor vermelho, acima e no centro da figura, descrita como macrociclo (que representa a organização semestral ou anual). Da caixa de texto do macrociclo, saem três setas (na cor vermelho) em direção a três caixas de texto descritas como mesociclo (organização mensal), localizadas logo abaixo, na cor verde. Da mesma forma, cinco setas da cor verde saem das caixas de texto dos mesociclos, em direção a cinco caixas de texto, localizadas abaixo, na cor azul mari- nho, descritas como microciclo (organização semanal). Por fim, seguindo a sequência, dez setas na cor azul marinho saem das caixas de texto dos microciclos em direção a dez caixas de texto vermelhas, localizadas na parte inferior da figura, que representam a unidade diária de treino (UT). Figura 2 – Organização do planejamento de um período esportivo (periodização) / Fonte: adaptado de Jackix e dos Santos (2018) Em resumo, temos o MACROCICLO, que configura a maior divisão do processo de treinamento (com duração de 6 ou 12 meses, geralmente). O MACROCICLO é composto por MESOCICLOS (com duração média de 3 a 6 semanas), que, por sua vez, são divididos em MICROCICLOS (geralmente, têm duração de uma semana). Por fim, os MICROCICLOS são compostos pelas UNIDADES DE TREINAMENTO (UT). Após a construção do plano anual e tendo em vista que se deveria passar para uma planificação intermé- dia (mesociclo), optamos por focar concretamente numa semana de treinos (microciclo). Essa decisão se sustenta no fato de os esportes coletivos se consti- tuírem de vários fatores imponderáveis e que exigem uma adequação mais imediata. Não queremos, com isso, deixar de dar importância a uma previsão mais intermédia como o Mesociclo. Aliás, pensamos que é importante no sentido de controle do processo de treino, pois, fazendo uso das potencialidades do pro- grama Excel enquanto folha de cálculo, conseguimos saber a quantidade de tempo que temos destinada às diferentes componentes do treino. Dessa forma, con- 134 juntamente com outros meios de análise, como a estatística de jogo, é possível re- orientar ou ajustar os procedimentos de planeamento semanal. O plano anual indica qual o tipo de momento que estamos a preparar e, assim, determina-se o objetivo do microciclo. Na Figura 3, apresentamos a estrutura da ficha de microciclo que propomos e que constitui uma forma de operacionalizar a semana de treinos. Os campos abertos serão para pre- encher de acordo com a modalidade que se está a treinar, de acordo com as concepções individuais do treinador e as exigências de preparação da equipe que lidera. Figura 3 – Exemplo de ficha para o microciclo / Fonte: os autores Descrição da Imagem: a figura 3 apresenta um exemplo de ficha com todos osdados e espaço para planejamento de um microciclo. A ficha é composta por trinta e duas linhas e nove colunas. No cabeçalho da ficha, na coluna à esquerda, há os dados gerais do microciclo, como a data, o objetivo, seguido de um espaço em branco, nas colunas subsequentes, para preenchimento. Ainda no cabeçalho, na sexta coluna, há a descrição dos percentuais (quantidade de tempo) relacionados à preparação física, técnica e tática que serão trabalhados. A coluna seguinte está em branco para preenchimento dos percentuais. Na linha abaixo, a primeira coluna à esquerda é descrita como “Física”, referindo-se à preparação física. As colunas subsequentes são divididas entre os dias da semana e vão de segunda a domingo. Na linha abaixo da caixa que descreve a preparação física, há as divisões em: aquecimento, resistência, velocidade, força e flexibilidade, uma na linha abaixo da outra. As colunas subsequentes estão em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. A linha abaixo, na primeira coluna à es- querda, representa o “total da preparação física geral”. As colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. Em seguida, nas linhas abaixo, ainda na primeira coluna à esquerda, há os itens “velocidade especial”, “resistência especial” e “outros”. Abaixo desses itens, na primeira coluna à esquerda, há o item referente à preparação técnica descrito apenas como “técnica”. As cinco linhas abaixo e as colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. Da mesma forma, na linha abaixo, há o item “tática”, sendo que as cinco linhas abaixo e as colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. Nas últimas duas linhas da ficha, há os itens que se referem ao total de tempo para a técnica (total técnica) e para o treino (total treino). As colunas subsequentes ao “total técnica” seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. As cinco colunas subsequentes ao “total treino” são preenchidas pelo número zero, para exemplificar que não houve tempo de treinamento. A sétima coluna é relativa ao “total treino” ao item “jogo”, sendo que as colunas subsequentes a ela seguem em branco para preenchimento. Todas as células da ficha que apresentam uma descrição estão na cor azul claro. As células descritas como “física”, “técnica” e “tática” são diferenciadas pela cor azul marinho. 135 EDUCAÇÃO FÍSICA Considerando que é mais fácil acompanhar e enten- der tal conteúdo a partir de um exemplo prático, pla- nejaremos uma semana de treinamento (microciclo), imaginando um cenário hipotético em que você é trei- nador de uma equipe. O exemplo sugerido é de uma equipe de fute- bol infanto-juvenil masculina que está disputando o campeonato estadual, e com fortes possibilidades de se apurar para a fase nacional. A equipe treina quatro vezes por semana, sendo que três treinos são de 90 minutos e um é de 60 minutos, o que perfaz um total de 330 minutos disponíveis para treinar. A primeira operação a fazer, após contabilizar o tempo total de treino na semana, consiste em deter- minar qual porcentagem desse tempo se irá atribuir a cada uma das componentes definidas: Física, Técnica e Tática, conforme descrito a seguir. Idealmente, nenhum desses componentes deve ul- trapassar os 40% nem ser inferior a 30%. Contudo, a sua variabilidade depende, em grande medida, do tempo disponível, dos objetivos pretendidos em cada microci- clo e do nível competitivo com o qual se está a trabalhar. O microciclo é competitivo, a equipe está numa fase decisiva e vai ter um jogo no fim de semana com um ad- versário direto. Perante essa realidade, tomou-se a deci- são de dedicar o maior tempo disponível ao treino Tático, dedicando-lhe 40%, o que perfaz um total de 132 minu- tos, restando 99 minutos para a parte Técnica e Física. Preparação Tempo em minutos Percentual (%) Física 99 30% Técnica 99 30% Tática 132 40% Total 330 100% Quadro 1 - Tempo total de treino dividido percentualmente em preparação Física, Técnica e Tática / Fonte: os autores. Após essa decisão, inicia-se o preenchimento da fi- cha (Figura 4) com os conteúdos e o tempo que se vai dedicar a cada um deles de uma forma geral. Posteriormente, na Unidade de Treino (UT), serão especificados. Nessa fase do planeamento, uma di- ficuldade é decidir o que inserir em cada um dos componentes, pois, se em alguns conteúdos não existem dúvidas, em outros, a decisão poderá não ser tão simples. Por exemplo, se devido à escassez de tempo que se tem para treinar, o aquecimento já é efetua- do com bola e se aproveita esse momento para exercitar alguma técnica, este conteúdo faz par- te da componente física ou da técnica? A res- posta para estas questões está na Componente Crítica (CC) do conteúdo que desejamos pra- ticar. “Componentes Críticas são os pontos es- senciais que o(a) treinador(a) estabeleceu como fundamentais” (RESENDE et al., 2017, p. 45). Assim, no exemplo anunciado, o aquecimento fará parte do componente físico, ou seja, nesse caso, e em qualquer outro no processo de treino, o trei- nador, ao estabelecer a CC, irá dedicar a sua aten- ção prioritariamente a esse aspecto, desenvolvendo uma estratégia de comunicação adequada por meio da emissão dos feedbacks correspondentes (RE- SENDE et al., 2017). Outra situação de dúvida é a da “teoria”: onde colocá-la? Entendemos por teoria o tempo que o treinador demora, na sessão de treino, a indicar os objetivos do treino e o seu relacionamento com a competição. Nesse sentido, inserimos esse tempo no componente tática. Toda outra informação referente à explicação dos exercícios ou outro tipo de para- gem que o treinador resolva fazer estará incluída no tempo específico dos conteúdos. 136 Como estratégia para o preenchimento da ficha, ini- ciamos pela parte do componente físico. Distingui- mos Preparação Física geral de específica. A primeira trabalha as capacidades condicionais de uma forma geral (por exemplo, sprints de velocidade de 20, 30 metros) e de forma específica (por exemplo, veloci- dade com mudanças de direção). Aqui, manifesta-se a preocupação com a dinâmica das cargas existindo a preocupação de “olhar” para a semana com a inten- ção de que a equipe chegue nas melhores condições ao jogo (por exemplo, trabalhar a resistência numa fase mais inicial da semana, pois a sua recuperação é mais lenta, e a velocidade numa fase mais adianta- da porque a sua recuperação é mais acelerada). Sa- lientamos que qualquer desses conteúdos podem ser executados com bola, mas o que determina o seu po- sicionamento no plano é a ênfase (CC) atribuída pelo treinador. Por exemplo, no caso exposto, o primeiro treino da semana é exigente do ponto de vista físico porque é o que está mais longe do jogo e, também, porque no dia seguinte é folga, o que permitirá aos atletas uma maior recuperação. Na preparação da componente técnica, deve se so- bressair em termos de ênfase (CC) aquilo que se pre- tende aperfeiçoar com os atletas e que deverá estar em linha com as performances anteriores e, consequente- mente, com as necessidades individuais dos atletas no seu conjunto. Sugere-se que, em termos de planeamen- to, as CC definidas tenham relação com o que se vai fazer na componente tática e, assim, otimizar atenção dos atletas e do treinador para a sua relação com o jogo. A preparação da componente tática deverá focar essencialmente no aprimoramento da estratégia deli- neada para fazer face ao adversário, e será importante ter uma relação diária com a parte técnica no sentido de otimizar a atenção dos alunos nos particulares que estiverem em foco na sessão de treino. Os valores descritos representam o tempo em minu- tos, considerando os dias de treinamento(segunda, quar- ta, quinta e sexta-feira). Note que os valores descritos na última linha da ficha (total treino), representam o tempo de total de treino (90 minutos segunda, quarta e quinta e 60 minutos na sexta-feira) para cada dia, conforme des- crito anteriormente, na situação hipotética exposta. 137 EDUCAÇÃO FÍSICA Descrição da Imagem: a figura apresenta um exem- plo de ficha de microciclo preenchida com todos os dados, considerando o cenário hipotético em que você é treinador de uma equipe. A ficha é composta por trinta e duas linhas e nove colunas. No cabeçalho da ficha, na coluna à esquerda, há os dados gerais do mi- crociclo, como a data, o objetivo. O objetivo descrito no cenário hipotético é apresentado como “competitivo”. Ainda no cabeçalho, na sexta coluna, há a descrição dos percentuais (quantidade de tempo) relacionados à preparação física, técnica e tática que serão traba- lhados. A coluna seguinte é preenchida com o tempo em minutos (99 para a física e técnica e 132 para tá- tica). A primeira coluna à esquerda é descrita como “Física”, referindo-se à preparação física. As colunas subsequentes são divididas entre os dias da semana e vão de segunda a domingo. A última coluna repre- senta o “total”. Na linha abaixo da caixa que descreve a preparação física, há as divisões em: aquecimento, resistência, velocidade, força e flexibilidade, uma na linha abaixo da outra. Para o aquecimento, consi- derando situação hipotética, as células referentes à segunda-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira são preenchidas com o número 10 (que representa o tempo). A coluna “total”, é preenchida pela soma desses valores (40). Para a resistência e velocidade, as colunas ficam sem preenchimento e o “total” com o valor zero. Para a variável força, é adicionado o valor 20 na célula que corresponde à segunda-feira. O total fica com o valor 20. Para a flexibilidade, é adicionado o valor 10 na célula que corresponde à sexta-feira. O total fica com o valor 10. A linha abaixo, na primeira coluna à esquerda, representa o “total da preparação física geral”. As colunas subsequentes apresentam o valor total de tempo que cada capacidade descrita foi treinada, considerando os dias da semana. Assim, para segunda-feira, há o valor 30, para a quarta-feira e quinta-feira, o valor 10, e para a célula de sexta-feira, 20. A célula correspondente ao “total” tem valor 70. Ainda na primeira coluna à esquerda, há as variáveis “velocidade especial”, “resistência especial” e “outros”, nas linhas abaixo. Para a velocidade especial, há o valor 20 na célula que corresponde à quarta-feira. O total também fica com o valor 20. Para a resistência especial, há o valor 9, na célula que corresponde à segunda-feira. A linha abaixo representa o valor total da preparação física geral e da específica. Assim, na célula que corresponde à segunda-feira, há o valor 39. A célula que corresponde à quarta-feira, o valor 30. A célula que corresponde à quinta-feira, o valor 10 e a célula da sexta-feira, o valor 10. Na célula que representa o “total”, o valor é 99. Abaixo desses itens, também na primeira coluna à esquerda, há o item referente à preparação técnica descrito apenas como “técnica”. Nas linhas abaixo, há a descrição das variáveis técnicas (desmarcação, finalização, ataque-drible, defesa contenção/desarme), uma em cada linha. Passe e desmarcação, valor 20 para a célula que representa a quinta-feira. Para a finalização, o valor 10, para a sexta-feira. Ataque-drible, o valor 20 para a quarta-feira. Defesa contenção/desarme, 29 para a segunda-feira e o valor 20 para a quinta-feira. A linha abaixo representa o total da técnica. Assim, apresenta o valor 29 para a célula de segunda-feira, 20 para quarta-feira, 40 para quinta-feira e 10 a sexta-feira. A célula do valor total ficou em 99. Para a organização defensiva, o valor 17 é descrito na célula referente à segunda-feira. Para a transição ofensiva, 35 para a célula da quarta-feira. Para a organização ofensiva, 35 para quinta-feira. Os valores 15 e 10, são descritos nas células correspondentes à sexta-feira, para as variáveis transição defensiva e bolas paradas. Para a teoria, os valores são 5 para as células na segunda-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira. As duas últimas linhas da ficha são destinadas para o preenchimento do tempo “total tática” e “total treino”. Para o tempo total da tática, é adicionado o valor 22 para a célula correspondente da segunda-feira, 40 para a quarta-feira e quinta-feira e 30 para a sexta-feira. Na coluna do total, é descrito o valor 132. Para o total do treino (tempo total em minutos de treino), 90 para a segunda-feira, quarta-feira e quinta-feira e 60 para a sexta-feira. Na sétima coluna relativa ao “total treino” ao item “jogo” sendo que as colunas subsequentes a ela seguem em branco para preenchimento. Todas as células da ficha que apresentam uma descrição estão na cor azul claro. As células descritas como “física”, “técnica” e “tática” são diferenciadas pela cor azul marinho. Figura 4 – Ficha do microciclo preenchida considerando o exem- plo dado / Fonte: o autor 138 A ideia comum na generalidade dos treinadores é que o tempo é escas- so para cumprir todas as necessidades da equipe. Por isso, planejar é decisivo para otimizar a gestão do tempo disponível para treinar. Uma outra virtude da realização desse tipo de planificação relaciona-se com a possibilidade de aprofundar o controle de treino, pois os microciclos acumulados (nos mesociclos e, por fim, na época) revelam a quanti- dade de tempo atribuída a cada componente e, assim, constituem mais um fator de reflexão a ser utilizado pelo treinador. Por fim, temos a Unidade de Treino (UT), a qual representa a sessão de treino ou aula prevista no microciclo, idealizado de forma a contemplar os seus objetivos específicos. Dessa forma, visa – na maio- ria das situações – operacionalizar a ideia de preparar melhor possível os atletas, tendo em linha de conta os constrangimentos contextuais da equipe para vencer o adversário no fim de semana. 139 EDUCAÇÃO FÍSICA Para realizar a UT, apresenta-se uma sugestão na Figura 5. Segundo Hughes, Lee e Chesterfield (2009), a UT está dividida em três partes, além da reflexão. A primeira parte é de caraterização, em que se contextualiza a sessão de treino. Contempla o número da sessão de treino; o número do microciclo; a data, a hora e o local onde se realiza o treino; o material de que se vai necessitar para cumprir todas as tarefas do treino; a duração da sessão e qual o tempo em minutos que se dedicará a cada uma das componentes; os con- teúdos a serem abordados durante a sessão de treino e o objetivo geral que se pretende atingir com a sessão. A segunda parte representa o desenho da sessão de treino propriamente dito, em que se contempla o tempo destinado às tarefas (T); os objetivos especí- ficos de cada exercício que permitem orientar e di- recionar as intenções de cada prática; a descrição e organização (desenho) das tarefas em que devem ser colocadas as Componentes Críticas que constituirão o rumo da comunicação a ser efetuada pelo treinador. As palavras-chave constituem um resumo das CC e têm significado de aprendizagem para os atletas, di- recionando a sua atenção para os aspetos particulares que o treinador considera importantes para melhorar a sua ação; os critérios de sucesso subdividem-se em eficácia (medida quantificada) e eficiência (medida da qualidade da execução). A terceira parte constitui o campo de reflexão de análise do treino e permite orientar sugestões de me- lhoria para as próximas UT. Com o uso de uma escala de Likert, que varia entre 1 (medíocre) e 5 (excelente), o treinador avalia: • A performance dos atletas em Esforço; Perfor- mance; Corresponsabilização; e Autonomia. • Avalia a performance do treinador em Obser- vação; Comunicação; Tomada de Decisão; e Team Work. Reflexão é o espaço que permite aotreinador descrever os seus sentimentos, sensações, sobre o rendimento do treino do que correu bem e dos aspectos a melhorar, apontar possíveis soluções e áreas de melhoria a imple- mentar no futuro. Tem um grande potencial em elevar o grau de conhecimento dos treinadores pelo fomento da tomada de consciência do seu envolvimento. Será importante salientar que a UT que se sugere pretende ser um exemplo e consideramos que a cons- trução e planificação da UT é pessoal, e deve, por isso, servir à filosofia do treinador, corporizando-se na sua ação e relação prática com os atletas. A relevância desta estrutura de UT é que impele o treinador a ser rigoroso e eficiente na sua planificação. Para além da discriminação das atividades, ao decidir quais são as CC e respectivas palavras-chave, o treina- dor elabora uma estratégia de comunicação, centra a sua atenção e as dos atletas no que determinou como mais importante focar. Consequentemente, aporta qualidade ao processo. Por outro lado, tendo o cuidado de delinear exercícios que sejam competitivos e fazen- do uso permanente dos critérios de sucesso, faz com que o atleta se foque de forma consistente em elevar a sua performance. Os atletas gostam na sua essência de competir, pelo que tarefas desafiadoras são um ingre- diente que também faz emergir um treino com quali- dade realizado de forma empenhada por todos. 140 Descrição da Imagem: a figura apresenta um exemplo de ficha para o preenchimento dos dados relacionados à unidade de treino (UT). O cabeçalho da ficha é dividido entre os dados gerais da unidade de treino, como o núme- ro do treino, número do microciclo e data (na pri- meira linha). Na segunda linha, a descrição da hora e do local, com espaço em branco para preenchimen- to. Abaixo, há a descrição dos materiais, a duração e os percentuais de tempo separado em físico, técnico e tático. Todos com espaço em branco para preenchimento. Para fechar os dados do cabeçalho, as duas linhas abaixo apresentam o conteúdo e o objetivo geral, além do espaço em branco para preenchimento dessas informações. Abaixo, há divisão em duas linhas e cinco colunas. Na primeira linha são descritas as variáveis “T”, que representa o tempo, “objetivos específicos”, a “descrição e organização/componentes/críticas”, as “palavras-chave” e a “eficiência/eficácia”. Cada uma em uma coluna. A linha abaixo fica em branco para preenchimento. Abaixo dessas informações, há a descrição das variáveis relacionadas à reflexão/análise do treino, divididas em seis linhas e 12 colunas. Na primeira linha, temos, como cabeçalho, a descrição “performance dos atletas” e “performance treinador”, divididas em duas colunas. Abaixo da primeira classificação para a “performance dos atletas”, há as descrições “medíocre”, “fraco”, “suficiente”, “muito bom” e “exce- lente”. Abaixo, temos opções para classificações que consideram as variáveis: esforço, performance, corresponsabilidade e autonomia, cada uma em uma linha, descritas na primeira coluna à esquerda. Nas colunas subsequentes a essas variáveis, há os números 1 (na célula que corresponde a classificação medíocre), 2 (na célula que corresponde a classificação fraco), 3 (na célula que corresponde a classificação suficiente), 4 (na célula que corresponde a classificação muito bom) e 5 (na célula que corresponde a classificação excelente). Da mesma forma, abaixo da segunda clas- sificação, “performance treinador”, há as descrições “medíocre”, “fraco”, “suficiente”, “muito bom” e “excelente”. Abaixo dessas, temos opções para classificações que consideram as variáveis: observação, comunicação, decisão e trabalho em equipe, cada uma em uma linha, descritas na sétima. Nas colunas subsequentes a essas variáveis, há os números 1 (na célula que corresponde a classificação medíocre), 2 (na célula que corresponde a classificação fraco), 3 (na célula que corresponde a classificação suficiente), 4 (na célula que corresponde a classificação muito bom) e 5 (na célula que corresponde a classificação excelente). Figura 5 – Exemplo de ficha para uma unidade de treino (UT). Fonte: os autores 141 EDUCAÇÃO FÍSICA É importante o treinador considerar a preparação para desenvolver a sua atividade como fundamen- tal para ser mais eficiente na condução e direção do processo de treino. Esse instrumento é essencial para adequar as estratégias de ação, ser congruente com os valores que assume e, por isso, fazer com que os atletas aprendam mais e melhor. Porque não se pode treinar tudo ao mesmo tempo, as escolhas sobre onde vai re- cair o foco do treinador e atletas é fundamental para uma gestão da equipe. Além da importância de planejar e planificar cada UT, considerando as três etapas propostas por Hughes, Lee e Chesterfield (2009), também é essencial enten- dermos como funciona essa estrutura na prática, ou seja, como a aula ou UT deve ser organizada e estrutu- rada, considerando os objetivos e atividades propostas. Nesse sentido, Gonzáles et al. (2017) propõe que a aula ou UT deve ser estruturada em três grandes blocos: a roda inicial, as vivências (aplicação das atividades) e a roda final. A roda inicial e a roda final são os momentos de conversa entre professor/ treinador e aluno/atleta. Na roda inicial, o treinador apresenta o que será trabalhado durante a aula ou UT, além de levantar informações sobre o que os alunos já conhecem em relação ao conteúdo que será abordado no dia. Esse também é o momento de valorizar o pensamento re- flexivo e crítico a partir de vivências já realizadas, con- siderando situações positivas e negativas. A roda final é momento de avaliação do que foi realizado no dia. Nesse momento, treinador e atleta de- vem discutir e refletir sobre as dificuldades e facilidades encontradas durante o treinamento, além das possibi- lidades de adaptação e a transformação das atividades realizadas e outros aspectos que julgarem relevantes. Entre o momento inicial (roda inicial) e final (fi- nal) da UT, acontecem as atividades práticas, que po- dem ser divididas, ainda, em cinco ou seis momentos (caso inclua o campeonato na parte final), conforme a Figura 6. Cada elemento dessa estrutura é descrito com detalhes em sequência (GONZÁLES et al., 2017 apud MENEGASSI, 2021). 142 Figura 6 – Infográfico da representação da estrutura e momentos da aula ou UT Fonte: adaptado de Gonzaléz et al. (2017 apud MENEGASSI, 2021) Descrição da Imagem: a imagem apresenta oito caixas de texto em forma de setas em círculo, com a descrição de cada momento de aula ou UT. Na parte superior e inferior da figura, há uma caixa de texto que representa os momentos “Roda inicial” e “Roda final”, na cor amarela. No centro, entre as o círculo formado pelas setas, há a caixa de texto que representa as “Vivências”, na cor rosa. Ao redor dela, há setas, representando os cinco momentos das vivências da aula ou UT, todas na cor azul claro. O ciclo de momentos da aula que representam as vivências inicia com a seta dos “primeiros movimentos” também representada pelo número 1, que fica na parte de cima da imagem, logo abaixo da “roda inicial”. Seguindo no sentido horário, na sequência, há a seta indicando o “jogo inicial” (número 2). Logo abaixo, temos a seta que representa o momento de “cons- cientização tática” (número 3) seguido de outra seta que representa o momento das “tarefas e exercícios” (número 4), localizada à esquerda da caixa anterior. Para finalizar o ciclo, logo acima da seta anterior (na mesma linha que a seta 2), temos a seta que representa o “jogo final” (número 5). Todas as setas do ciclo são indicadas, seguindo o sentido horário. No canto superior esquerdo, fora do ciclo, há um caixa de texto, em formato de retângulo, que representa o campeonato, também na cor azul claro. 143 EDUCAÇÃO FÍSICA 1. Primeiros movimentos: caracteriza o início da prática. Considerando a idade dos alu- nos/atletas, essa primeira etapa da aula pode iniciar a partir de atividadesde aquecimen- to e alongamento. Nesse momento, também são propostos jogos de baixa organização ou complexidade (atividades de perseguição, por exemplo) que proporcionem vivências das ha- bilidades básicas do jogo, além da coordenação motora e criatividade tática. A atividade “jogo da velha”, é um exemplo de jogo que pode ser utilizado nessa primeira etapa da aula, pois aten- de às características de baixa organização, além de estimular a coordenação motora e criatividade. Acesse o QR code para verificar o vídeo que exem- plifica a atividade. 2. Jogo inicial: representa o jogo reduzido da modalidade ensinada, ou seja, um jogo com menos jogadores (exemplo: 2x1; 2x2; 3x2; 3x3 etc.), podendo ser em um espaço menor que o espaço oficial de jogo e com condições e regras adaptadas (exemplo: limitar o número de to- ques na bola; exigir que a bola passe por todos os jogadores antes de finalizar etc.). Essas adaptações (menor número de jogadores e com diferentes regras e condições) permitem condicionar a atividade ou jogo ao aspecto/ problema tático específico que foi escolhido para o dia. Esse formato adaptado difere o jogo inicial do jogo final. 3. Conscientização tática: semelhante à roda inicial, nesse momento da aula ou treino, o treinador se reúne com os atletas para discu- tir e refletir sobre o comportamento tático e a tomada de decisão, considerando o objetivo proposto para a aula/treino. As perguntas re- alizadas pelo professor/treinador devem estar associadas a respostas que possibilitem a con- tinuidade nas discussões. Acesse o QR code para verificar um exemplo de atividade para esse momento da aula, ten- do o handebol como modalidade base. O vídeo apresenta uma atividade com situação de superioridade numéri- ca, iniciando com 1x0 (atleta finalizando a jogada sem interferência defensiva de jogador de linha), seguindo para o 2x1 (dois atletas atacando e um jogador de linha defendendo) e 3x2 (três atletas atacando e dois jogadores de linha defendendo). Nesse podcast, abordamos o planejamento e a pe- riodização de um período esportivo, passando pelas etapas do macrociclo, mesociclo e do microciclo, além de discutir a estruturação e os momentos da unidade de treino (UT) e trazer exemplos de atividades. Acesse o QR code e ouça agora! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15186 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12305 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15187 144 Considerando o exemplo de atividade apre- sentada anteriormente no momento do “Jogo inicial” (atividade de superioridade numéri- ca da modalidade handebol), seguem alguns exemplos de perguntas que podem ser feitas pelo professor/treinador. • “Qual foi o objetivo dessa atividade?” R: fi- nalizar a jogada/fazer gol em situação de con- tra-ataque. • Como contra-atacar com eficácia? R: finali- zar a jogada/fazer o gol em um menor tempo possível. • Como finalizar a jogada/fazer o gol? R: bus- car melhor posição para o arremesso ou passar a bola para o atleta que estiver desmarcado e/ ou mais bem posicionado para o arremesso. 4. Tarefas e exercícios: esse momento se caracteriza por atividades menos complexas do que no “jogo inicial” ou exercícios em que não haja interação/ interferência do adversário, para que o aluno/ atleta se aprofunde na dimensão tática proposta ou exercite habilidades motoras específicas. No entanto, sempre que possível, tais exercícios ou atividades devem ser realizados considerando si- tuações de jogo da modalidade ensinada. Como exemplo de atividades para esse momento, ainda consi- derando a modalidade handebol, temos os vídeos a seguir, os quais apresentam exercícios de finalização/arremesso para o gol, de atletas que atuam como pontas (direito e esquerdo) e pivô. Acesse os QR codes a seguir para visualizar os exemplos. 5. Jogo final: pode ser semelhante ao jogo inicial, todavia, deve apresentar condições ou adap- tações que coloquem em prática os conteúdos aprendidos durante a UT. Ainda, deve ser reali- zado em maior complexidade, seguindo o mais próximo possível as características do jogo for- mal e da situação competitiva do esporte trei- nado (exemplo: no futebol, o mais próximo do 11x11; no handebol, o mais próximo de 7x7 etc.) Como exemplo, o vídeo do QR code a seguir apresenta uma situação de ataque contra a de- fesa, em que o objetivo principal é a movimenta- ção ofensiva. A atividade representa uma situação normal de jogo, com a mesma quantidade de jogadores do jogo formal. Acesse e verifique. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15188 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15189 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15190 145 EDUCAÇÃO FÍSICA Para finalizar a estruturação e momentos da aula ou UT, mais do que as situações de jogo formal, criar ex- periências esportivas mais autênticas, em formato de torneios ou festivais, é essencial para potencializar a aprendizagem dos elementos trabalhados durante as aulas e treinamentos da modalidade ensinada. Nesse sentido, há um momento que compõe a estruturação da UT, descrito como “Campeonato”. Esse momento não acontece em todas as aulas. Sugere-se uma vez ao mês, ou a cada seis semanas. A realização de campeonatos, torneios ou festi- vais também possibilita que os alunos/atletas viven- ciem outras funções dentro da modalidade. Assim, quando não estiverem jogando no momento, podem realizar funções como árbitro, treinador, gandula, repórter, bandeirinha etc. Considerando essa estruturação e os momentos de uma aula ou UT descritos, a seguir, apresentamos um exemplo de Plano de Aula/Treino para a modalidade de handebol, proposto por Gonzáles et al. (2017 p. 361). Quer conhecer ativi- dades diferentes para utilizar na iniciação es- portiva? Acesse o link a seguir e baixe o livro “Manual de Práticas para Iniciação Esportiva no Programa Segun- do Tempo”. O manual apresenta informações a respeito de organização e planejamento de aulas/treinos, além de diversas atividades que podem ser aplicadas na iniciação de diferentes modalidades esportivas coletivas e individuais. O material é gratuito! Aproveite! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15191 146 Handebol: Plano de Aula/Treino Problema tático: Manter a posse da bola Objetivos: Procurar ficar de frente para a meta adversária quando receber a bola e observar antes de agir Roda inicial: Nessa aula/treino, a conversa com os alunos pode começar por uma pergunta como: será que é possível, em esportes como o handebol, o basquete, o futsal, o futebol, jogar sem pensar em como agir durante a partida? Qual a diferença desses esportes com o lançamento da pelota do atletismo, por exemplo (ou outra prática esportiva sem interação entre adversários que os alunos conheçam)? Ao lançar a bola, é necessário pensar no que fazer? Não! É preciso lançar a bola o mais longe possível. Não é necessário se deter em como fazer esse movimento. No handebol, no basquetebol, no futsal, no futebol é diferente? É necessário pensar no que fazer quando estou com a bola? Sim, pois tenho muitas alternativas. Não dá para sair dando um passe, sem ver como está o jogo, quem está mais perto, quem está mais longe, se tem alguém que pode marcar pontos. No mesmo sentido, não posso tentar final- izar sem levar em conta os defensores e o goleiro. Isso significa que sempre é necessário ‘ler o jogo’ antes de agir. Por esse motivo, é importante que, ao participar de esportes como o handebol, o frisbee, o basquetebol, o futsal, o futebol, ou seja, esportes de invasão, haja atenção ao que se passa no espaço de jogo. Exemplos dos próprios alunos em experiências anteriores, em diversas situações de jogo, ajudam a esclarecer o con- ceito. Além disso, essas falas são bons indicadores do ‘domínio’ do tema objeto da aula. É importante recuperar as regras da modalidade trabalhada na(s) aula(s) anterior(es). Sempre é bom incentivar a confecção de bolas que se possam agarrar com uma só mão, assim como o uso delasem jogos de malabares, para os alunos melhorarem suas habilidades manipulativas. 1. Primeiros movimentos Em pequenos grupos (3, 4, 5 integrantes) os alunos passam a bola e se movimentam por todo o espaço, evitando esbarrar nos colegas. Durante a execução dos passes, devem experimentar diferentes formas de realizar a ação e os deslocamentos, variar: as distâncias dos passes, mudar o tipo de passe, utilizar a ‘outra mão’, realizar passes em suspensão. A seguir, se propõe que, dentro do grupo, se designe um pegador que terá como objetivo tocar o jogador com posse de bola. Esse, por sua vez, deverá passar a bola aos colegas antes de ser alcançado. Joga-se dentro de um espaço determinado, não é permitido andar com a bola. Durante esses jogos, são apresentadas as primeiras informações sobre as regras a respeito de ‘andar’ e os contatos ilegais com o adversário. Inicialmente, não é necessário liberar o drible. Sem exigir sua estrita observação das regras, é importante que os alunos entendam as características particulares da modalidade 2. Jogo inicial: Jogo: 4x4 ou 5x5 Objetivo: Derrubar os cones (ou garrafas pet 2l) da equipe adversária. Descrição: a equipe com posse da bola deve realizar passes até encontrar uma situação clara para atingir os alvos adversários (quatro ou cinco). Enquanto isso, a equipe da defesa procura evitar o lançamento e conseguir a posse da bola para passar ao ataque. Os alvos devem ficar na linha do fundo da quadra, atrás de uma linha a qual não pode ser ultrapassada (a distância da linha em relação aos alvos pode variar em função do nível dos grupos, ainda assim, é recomendável que, nos primeiros jogos, não seja superior a três metros). 147 EDUCAÇÃO FÍSICA Condições: - Não é permitido quicar a bola. - Não é permitido tirar a bola do atacante com posse de bola (só é possível interceptar a bola na trajetória do passe). - Após do gol, reinicia-se com um tiro de meta. 3. Consciência tática Pergunta (P): Qual era o objetivo do jogo? Resposta (R): Derrubar os cones, sem quicar a bola. P: O que é necessário fazer quando se recebe a bola? R: Deve-se receber a bola de frente para a meta ou se virar para os cones. P: É importante observar a situação do jogo antes de tomar uma decisão e realizar uma ação? Por quê? R: Sim, senão vai dar errado. Pode passar para quem está marcado ou não lançar quando há espaço para lançar. P: Algumas vezes durante o jogo tentaram atingir o alvo estando marcados ou não lançaram estando desmarcados? Será que a situação foi observada? P: Como faço para observar? R: Tento receber a bola olhando para os cones. Procuro olhar para frente antes de dar continuidade ao jogo. P: Como faço para não andar? R: Não dou mais de três passos com a bola na mão. 4. Tarefa(s) Participantes: 4x4 ou 5x5 + 1 Curinga/Prisioneiro Objetivo do jogo: passar a bola para o curinga que se encontra dentro do círculo. Descrição: a equipe no ataque, posicionada fora do círculo, passará a bola entre seus jogadores até que encontrem o momento de passá-la ao ‘prisioneiro’ (jogador no centro). A equipe de guardiães (defensores) tentará evitar o passe de- fendendo o espaço onde se encontra o prisioneiro. Os jogadores defensores devem marcar sem sair do espaço limitado pelos dois círculos concêntricos. Não é permitido tirar a bola do atacante com posse de bola (só é possível interceptar a bola na trajetória do passe). Os atacantes devem realizar passes quicados para o prisioneiro. 5. Jogo final: Idem ao jogo inicial. Roda final Ao final da aula, dialogar sobre a importância do conteúdo trabalhado, apontando as vantagens dessa ação e o quanto pode qualificar a participação nos jogos. Reforce, brevemente, as várias possibilidades que surgem para o atacante com posse de bola, quando ele observa antes de agir (o que muitas vezes acontece em milésimos de segundos). Tra- ta-se de convencer os alunos sobre a importância e a necessidade de ler a situação antes de jogar. Quadro 2 - Plano de Aula/Treino para a modalidade de handebol / Fonte: adaptado de Gonzáles et al. (2017 p. 361) 148 Com as ferramentas apresentadas nesta unidade, o treinador pode construir um plano de ação, desde a ideia sobre o que pensa do treino e forma como o pretende implementar até a sua materialização com os atletas. Será importante realçar que liderar um pro- cesso de treino é uma tarefa complexa, muito variável, muito contextual e, por isso, exige a melhor prepara- ção. É nesse sentido que se disponibilizam os instru- mentos aqui apresentados. Não pretendem ser guias estritos, pois planejar é, sem dúvida, uma tarefa muito pessoal. Contudo, com essas orientações, o professor/ treinador pode adaptar e construir os seus próprios materiais e assim operacionalizar todo o processo. Sa- lientamos que o controlar o processo de treino, para além dos resultados competitivos, é importante para a reflexão sobre esse mesmo processo, e ajuda a corrigir eventuais desvios do caminho traçado, melhora a sua atuação e, por via disso, aumenta a sua eficácia. Título: Práticas Corporais e a Organização do Conhecimento - Esportes de invasão: basquetebol – futebol – futsal – handebol – ultimate frisbee Autor: Organização: Suraya C.Darido, Fernando J.González e Amauri A.Bassoli de Oliveira Editora: Eduem Sinopse: A coleção “Práticas Corporais e a Organização do Conhecimento” tem servido de subsídio aos que atuam nessa área do conhecimento dando suporte pedagógico e contribuindo na organização das aulas dos projetos sociais esportivos, bem como nas aulas de Educação Física curricular. Para que você seja capaz de materializar sua ativida- de como treinador de forma eficaz, é determinante ter princípios orientadores que se edificam a partir dos seus valores pessoais e como treinador, os quais apelidamos de filosofia do treinador. Com efeito, a congruência entre a ideia e a sua aplicação permite ao treinador uma maior eficiência e controle do processo de treino. A construção da filosofia do treinador sur- ge, assim, como o passo inicial mais importante para liderar um projeto de treino. Após a determinação dos valores e princípios que vão nortear a sua atua- ção, assim como a forma como os vai aplicar, o trei- nador necessita antecipar e planear um roteiro para as suas atividades. Essa periodização se apresenta num formato anual (normalmente coincidente com uma época esportiva) num plano semanal (que também habitualmente corresponde ao calendário da maioria das competições) e na unidade treino (UT) que é o projeto do que se pretende efetivamente fazer com os atletas enquanto estão sob a direção do treinador. 149 agora é com você 1. De acordo com as informações apresentadas no início da unidade, a filosofia do treinador serve para guiar os seus princípios de atuação, sendo definida pelas crenças e valores que orientam a sua prática. A partir disso, podemos entender que: a. A filosofia do treinador se baseia nas experiências motoras do profissional enquanto pessoa. b. A filosofia do treinador é influenciada pelas características pessoais do profis- sional enquanto pessoa. c. A filosofia do treinador é definida pelas experiências do profissional e dos seus alunos atletas. d. A filosofia do treinador é proposta a partir dos objetivos e da filosofia já im- plantada no clube ou escola em que o professor ou treinador atua. e. A filosofia do treinador é criada a partir das novas práticas e experiência que se- rão vivenciadas pelo profissional a partir do início da sua jornada como treinador. 2. A filosofia de treino descreve a maneira que o profissional, enquanto treina- dor, irá efetuar sua abordagem, assegurando que esta seja fiel aos objetivos e valores definidos, sendo, dessa forma, essencial no processo do treinamento esportivo. A respeito disso, analise as afirmações a seguir acerca da importân- cia da filosofia de treino: I. A filosofia de treino é essencial para que o treinador consiga identificar gran- des talentos esportivos a partir da iniciação. II. Umafilosofia de treino bem delineada é aquela em que o treinador aprende sobre si mesmo, constata as suas insuficiências e as suas potencialidades. III. A partir da filosofia de treino, o treinador conseguirá estabelecer as melhores metodologias e modelos de ensino, tornando o processo de iniciação e desen- volvimento esportivo mais eficaz. É correto o que se afirma em: a. II, apenas. b. III, apenas. c. I e III, apenas. d. II e III, apenas. e. I, II e III. 150 agora é com você 3. A periodização ou planejamento possibilita uma melhor organização do pro- cesso de treinamento durante a época desportiva, podendo ser organizada em plano anual (macrociclo), mensal (mesociclos), semanal (microciclo), além da unidade de treino (UT). Com relação às etapas da periodização, analise as afirmativas a seguir e marque (V) para verdadeiras e F para falsas. ( ) Os mesociclos são compostos de 3 a 6 semanas de treino, que podem ter como objetivo o aprimoramento do condicionamento, das capacidades básicas gerais, além da preparação pré-competitiva e da manutenção da equipe no perí- odo competitivo. ( ) Os microciclos representam os dias de treinamento e podem ter como foco o período competitivo e de desenvolvimento das habilidades básicas da modali- dade treinada, além da preparação física. ( ) A UT representa a unidade de treino, ou seja, as sessões de treinamento, e tem como premissa contemplar os objetivos específicos. As afirmações são, respectivamente: a. F, F, V. b. V, V, F. c. F, V, V. d. V, F, V. e. F, V, V. 4. Considerando a proposta de Gonzáles et al. (2017), a aula ou UT deve ser estru- turada em três grandes blocos: a roda inicial, as vivências (aplicação das ativida- des) e a roda final. Com relação a essa estrutura, analise as afirmações a seguir: I. As “vivências” representam a realização das atividades programadas para o dia de treino e podem ser divididas em 5 ou 6 momentos. II. O momento denominado “campeonato” precisa acontecer em todos os dias de treinamento para que os alunos/atletas vivenciem formas mais autênticas de competição. III. A roda inicial e a roda final são os momentos de conversa nos quais o profes- sor/treinador apresenta o que será realizado durante a UT e realiza o feedba- ck (avaliação) da aula/treino. IV. O momento denominado “conscientização tática”, embora faça parte das vi- vências, é o momento em que professor/treinador e o aluno/atleta se reúnem para refletir sobre as atividades e as tomadas de decisão, considerando o ob- jetivo proposto para a UT. 151 agora é com você É correto o que se afirma em: a. I e II, apenas. b. II e IV, apenas. c. I, III e IV, apenas. d. II, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 5. Durante um treinamento da modalidade de basquete, o professor/treinador realizou a atividade conhecida como “Siga o chefe”, conforme descrita a seguir: Organizados em duplas, os alunos se deslocam um atrás do outro a uns dois me- tros de distância. O que está na frente faz o papel de guia, e o que está atrás, de seguidor. O guia vai alterando seus deslocamentos de forma aleatória tentando ampliar a distância de dois metros. O seguidor, contrariamente, tenta sempre estar a dois metros de distância. Na mesma organização (um atrás do outro) os alunos se deslocam numa corrida suave. Quando o professor grita ‘1’ (ou qual- quer outro tipo de sinal combinado) o seguidor tenta tocar as costas do guia antes que este complete cinco passos. Caso completados os cinco passos, os atletas voltam a se deslocar de forma lenta. Quando o professor grita ‘2’, o guia é quem tenta pegar o seguidor, e este busca fugir para evitar que o toquem nos cinco primeiros passos. Considerando os momentos da UT proposto Gonzáles et al. (2017) e as carac- terísticas da atividade citada, é correto afirmar que: a. A atividade proposta faz parte do “jogo inicial”, visto que apresenta uma orga- nização de 1x1, ou seja, um aluno contra o outro. b. A atividade proposta faz parte da “conscientização tática”, visto que promove a organização tática específica do jogo de basquete. c. A atividade proposta faz parte das “tarefas e exercícios”, visto que promove o desenvolvimento de habilidades específicas da modalidade, como a finta ou arremesso. d. A atividade proposta faz parte do “jogo final”, visto que promove o desloca- mento em situação próxima do jogo formal de basquete, todavia, com menos jogadores (1 x 1). e. A atividade proposta faz parte dos “primeiros movimentos”, visto que apresen- ta características de uma atividade de aquecimento, com baixa complexidade e que estimula a coordenação. 152 referências UNIDADE 1 ANDREAZZI, I. M. et al. Exame pré-participação esportiva e o par-q, em praticantes de academias. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 22, n. 4, p. 272-276, 2016. Dispo- nível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/vWDzvVprXJ8fRgJf6dFGJWB/abstract/?lang=pt. Acesso em: 12 jul. 2022. BAILEY, R. 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O ensino do esporte no contexto escolar ainda é visto com desconfiança por, muitas vezes, promover a exaltação do atleta e supervalorizar as com- petições. 4. B. Trata-se de uma questão de interpretação do trecho em destaque, o qual indica que o esporte pode promover tanto a saúde quanto a qualidade de vida de seus praticantes. 5. A. As afirmações I e II estão incorretas, pois crianças não são classificadas como atletas de performance, e adultos não são considerados atletas emergentes. UNIDADE 2 1. D. Tanto o basquetebol, quanto o futebol americano e o futsal são descritos como esportes de invasão, pois as equipes dividem o mesmo espaço de jogo e há necessidade de invadir o espaço ou campo alheio para marcar a pontu- ação ou gol. 2. A. O desenvolvimento da motivação e da criatividade da criança se dá por meio de metodologias inovadoras e não tradicionais. 3. B. A transferibilidade refere-se à transferência de habilidades entre moda- lidades esportivas que possuem características similares. Utilizando os es- portes de invasão como exemplo, se o aluno entender o princípio desses es- portes (dividir o mesmo campo de jogo e invadir o campo alheio), terá maior facilidade em praticar modalidades diferentes, como o rugby e o futsal. 4. D. A primeira afirmação é falsa, pois o foco do modelo de ensino em questão é a aprendizagem a partir do jogo como um todo, e não a partir da execução do gesto motor. 5. E. Todas as afirmativas apresentam informações corretas, visto que atendem às características inovadoras dos modelos citados. 162 gabarito UNIDADE 3 1. B. A alternativa “b” apresenta de forma resumida o trecho do texto base e explica que os treinamentos eram baseados nas próprias experiências dos treinadores. 2. B. O treinador precisa ter conhecimento específico da modalidade e, tam- bém, de outras áreas. Assim, as duas afirmativas são corretas, sendo que a afirmativa II explica a informação da afirmativa I. 3. D. As afirmativas II e III são falsas pois, a aprendizagem não formal acontece pelo engajamento em atividades sistematicamente organizadas, ocorridas fora do ambiente formal, e a aprendizagem não formal e informal não são sinônimos.. 4. C. A afirmativa IV é incorreta pois “construir relações” refere-se a todos que participam do processo, e não somente aos atletas e seus colegas. 5. A. O conhecimento profissional aborda os aspectos diretos ou indiretos li- gados à profissão, dos aspectos relacionados à modalidade ensinada, bem como do processo metodológico de treinamento. Características e crenças pessoais não fazem parte desse conhecimento. UNIDADE 4 1. C. A afirmação III está incorreta, pois os anos de especialização não iniciam após os 16 e não possuem as características de incluir 80% para jogo e 20% para outras atividades. 2. D. A alternativa “d” está correta, pois atende ao conceito de holismo descrito no livro, ou seja, de desenvolver o atleta de forma integral, considerando que o processo é muito mais do que a soma das partes. 3. D. O treinador é o maior responsável pela formação esportiva positiva por- que é ele quem pode e deve proporcionar experiências positivas aos seus alunos/atletas. 4. B. As afirmações I e IV são falsas, pois planejar objetivos de processodifíceis refere-se a planejar expectativas elevadas, e para a estratégia de foco e per- sistência, indica-se não realizar elogios pessoais. 163 gabarito 5. A. A afirmativa II é incorreta, pois o apoio material, financeiro e a disponibili- dade de tempo são exemplos de participação adequada da família no proces- so de desenvolvimento esportivo positivo. UNIDADE 5 1. B. Conforme apresentado no texto base, a filosofia “é definida pelas crenças e valores que orientam a sua prática”, ou seja, pelas características pessoais do indivíduo. 2. A. A filosofia de treino diz respeito ao que o treinador entende e aprende so- bre si mesmo, e não sobre a identificação de talentos ou sobre metodologias de ensino. 3. D. A afirmativa II é falsa, pois os microciclos representam as semanas de trei- no, e não os dias. 4. C. A afirmativa II é falsa, pois o “campeonato” não precisa acontecer em to- das as sessões de treino, e pode ser realizado uma vez a cada quatro ou seis semanas. 5. E. A partir da interpretação das características da atividade, é possível dizer que ela representa os “primeiros movimentos”, visto que atende as caracte- rísticas (aquecimento, baixa organização e coordenação) dessa etapa da UT, conforme proposto por Gonzáles et al. (2017). UNIDADE I Introdução à iniciação esportiva UNIDADE II Modelos de ensino para a Iniciação Esportiva UNIDADE II Conhecimentos e competências do treinador UNIDADE II Evolução positiva através do esporte UNIDADE II Intervenção do treinador: Preparação e Planejamento U01 - EDUCA.pdf UNIDADE I Introdução à iniciação esportiva UNIDADE II Modelos de ensino para a Iniciação Esportiva UNIDADE II Conhecimentos e competências do treinador UNIDADE II Evolução positiva através do esporte UNIDADE II Intervenção do treinador: Preparação e Planejamento U01 - EDUCA.pdf UNIDADE I Introdução à iniciação esportiva UNIDADE II Modelos de ensino para a Iniciação Esportiva UNIDADE II Conhecimentos e competências do treinador UNIDADE II Evolução positiva através do esporte UNIDADE II Intervenção do treinador: Preparação e Planejamento Botão 7: Botão 8: Botão 14: Botão 15: Botão 10: Botão 9: Botão 11: Botão 12: Button 33: Botão 41: Botão 36: Botão 37: Botão 38: