Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

58
Unidade III
Unidade III
7 A FILOSOFIA MODERNA
O Renascimento, ocorrido nos séculos XIV e XV, é nitidamente demarcado pela redescoberta da arte e da 
literatura grega, abrangendo o humanismo, com ênfase na colocação do homem no centro da realidade, o 
repensar da política, o estilo de governo influenciado pelas obras de Maquiavel, o estudo científico e a filosofia 
moderna, com destaque para o poder racional do homem, sinalizando um retorno às raízes do pensamento 
racional e à renúncia do controle do conhecimento pelo misticismo e pela Igreja Católica.
Nesse contexto, a sabedoria não é mais vista como algo sagrado e místico, uma vez que, por meio do pensamento 
e do raciocínio, o homem tem poder para traçar seu próprio destino e caminhar rumo ao conhecimento.
Para começar, é importante lembrar que a filosofia da Idade Moderna nasceu por causa dos trabalhos 
dos grandes mestres do renascimento cultural e científico dos séculos XIV e XV, entre eles Nicolau Copérnico 
e Leonardo da Vinci, e dos esforços de cientistas e pensadores como Galileu Galilei, Francis Bacon, René 
Descartes e Emanuel Kant nos séculos seguintes. A filosofia moderna teve início, de fato, com a Teoria do 
Conhecimento de René Descartes. 
Na Idade Média, tanto na sociedade quanto na política, a palavra de Deus era considerada como 
fonte única do conhecimento absoluto, sendo interpretada pela Igreja, que dominava todos os aspectos 
da vida humana. Por isso, o Renascimento trouxe uma renovação da ciência e a necessidade de uma 
nova definição do ser humano e seu lugar no mundo. A chamada Idade da Razão surgiu para redefinir 
os padrões científicos e filosóficos já existentes. Descartes, na declaração “penso, logo existo”, descobre o 
homem como um ser racional por natureza, com a capacidade de alcançar o conhecimento e, mais que do 
isso, sua existência é definida pelo ato de pensar. As obras de Descartes formaram a base sobre a qual os 
racionalistas desenvolveram seus trabalhos e formularam suas hipóteses.
Figura 10 – Voltaire na corte de Frederick II da Prússia
59
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Danilo Marcondes, em Iniciação à história da filosofia, sintetiza o Iluminismo, ou o Século das 
Luzes, como sendo um movimento do pensamento europeu (mais fortemente na França) concentrado 
principalmente nas últimas cinco décadas do século XVIII. Segundo ele:
o Iluminismo valorizou o conhecimento como instrumento de libertação e 
progresso da humanidade, levando o homem à sua autonomia e a sociedade 
à democracia, ou seja, ao fim da opressão (2007, p. 210).
Portanto, o Iluminismo como movimento dentro da modernidade e mantendo a ênfase na 
racionalidade possui características próprias, como a liberdade e o fim da opressão. Esse esclarecimento 
não requer nada mais que a liberdade, incluindo a mais inofensiva de todas as liberdades, ou seja, a de 
fazer uso público de sua razão em todos os domínios. Esse aspecto é importante, pois só se via limitação 
da liberdade, e o uso público da nossa razão deve ser livre, uma vez que somente ele pode difundir o 
esclarecimento entre os homens.
O Iluminismo influenciou os responsáveis pelos movimentos de libertação no século XVIII, e seu efeito 
foi sentido de forma muito especial na França, sendo um dos fatores que levaram à Revolução Francesa. 
A burguesia, geradora de riqueza, estava presa sobre o jugo da aristocracia, da monarquia absolutista e 
da Igreja, dominantes desde a Idade Média, sendo obrigada a pagar impostos para sustentar o luxo de 
poucos, e ansiosa por uma sociedade livre. 
Ao encontrar aliados prontos para lutar entre as massas de miseráveis parisienses, revoltou-se contra a 
opressão pelo direito de ter liberdade de escolha sobre o curso da própria vida e contra uma voz no governo 
do país que ajudou a enriquecer. De acordo com Danilo Marcondes, uma das características fundamentais 
da filosofia do Iluminismo em relação ao homem é “o individualismo que se baseia na existência do 
indivíduo livre e autônomo, consistente e capaz de se autodeterminar” (2007, p. 208). O homem que, de 
acordo com Rousseau, nasce bom, passa a ser visto como livre, autônomo e senhor do seu próprio destino.
7.1 René Descartes: o Racionalismo
Figura 11 – René Descartes
60
Unidade III
O primeiro pensador moderno
As transformações que ocorreram no século XVI mudaram a concepção de mundo do homem 
ocidental à medida que novas descobertas foram ampliando os horizontes espaciais e temporais da 
experiência humana. Os pensadores dessa época encontravam antigas doutrinas de cunho filosófico 
e científico formuladas pela civilização greco-romana, que renasceu a todo vapor, tornando possível a 
construção de novo saber racional em oposição aos valores e aos princípios que prevaleceram na Idade 
Média, com base em uma nova configuração geográfica do planeta. Nesse contexto, praticamente tudo 
foi contestado, desde a unidade política e religiosa da Europa, passando pela autoridade da Bíblia e 
chegando a abalar o prestígio do Estado e da Igreja. Afinal, com os navegadores cruzando os mares 
e descobrindo novos povos e culturas, era natural que o questionamento das verdades até então 
estabelecidas fosse abalado.
Foi nessa fase de efervescência e de arrebatamento pela compreensão de um mundo ainda 
inédito que nasceu e viveu René Descartes. Ele acreditava ser um iluminado cuja missão consistia 
em unificar todos os conhecimentos humanos a partir de bases sólidas atestadas pela ciência 
para edificar um modo de pensar centrado na verdade e, por isso mesmo, permeado apenas pelas 
certezas racionais. Como matemático e filósofo francês, ele refutou todos os pressupostos e ideias 
que vinham da natureza subjetiva dos sentidos, o que o levou a escrever a máxima “penso, logo 
existo”. Para ele, todo o universo material poderia ser explicado em termos físicos e matemáticos, o 
que o levou a criar a geometria analítica como forma de definir e manipular as formas geométricas 
por meio de expressões algébricas. Deu origem ainda às coordenadas cartesianas, a forma por 
intermédio da qual os pontos são representados nesse sistema, que marcaram para sempre seu 
nome na história da humanidade.
Além de desenvolver a ciência da ótica, Descartes ajudou a conceber e modelar as teorias 
contemporâneas de ciências, como a astronomia, e o estudo do comportamento animal. Como filósofo, 
identificou a coisa pensante ou mente como sendo a alma ou a consciência humana. Já o corpo, apesar 
de interagir de alguma forma com a alma, era uma máquina física, secundária, podendo ser separado 
da alma. Ele defendia que tudo tinha uma causa, destacando que, apesar de toda a matéria estar em 
movimento, ela não se move por si, pois o impulso inicial vem de Deus. O dualismo cartesiano explicava 
que existiam duas substâncias totalmente diferentes em sua composição, a substância espacial, ou seja, 
a matéria, e a substância pensante, da qual a mente faz parte.
René Descartes nasceu em 1596 em La Haye, rebatizada com o nome de Descartes em sua homenagem, 
no sul de Tours, na França. Integrou o exército do príncipe Maurício de Orange e, em 1619, durante uma 
viagem pela Europa, decidiu aplicar os métodos da matemática à metafísica e à ciência. Para isso, foi 
morar nos Países Baixos em 1628, onde tinha mais possibilidades de se libertar das influências e das 
perseguições da Igreja Católica. Em 1649, visitou a corte da rainha Cristina, na Suécia. O trabalho de 
maior destaque de Descartes no campo da matemática foi La Géométrie (A Geometria), publicado em 
1637. Mesmo sem ter sido o primeiro a usar a álgebra na geometria, foi o primeiro a usar a geometria 
na álgebra. Ele foi também pioneiro na classificação das curvas sistematicamente, separando as curvas 
geométricas, que podem ser expressas com exatidão por meio de uma equação, das curvas mecânicas, 
que não admitem esse enquadramento. Entre seus trabalhos mais conhecidos, estão O discurso do 
61
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
método (1637), Meditações sobrea primeira filosofia (1641) e Princípios da filosofia (1644), além de 
várias publicações sobre fisiologia, ótica e geometria.
Também conhecido como Renatus Cartesius (forma latinizada), Descartes ganhou fama por seu 
trabalho revolucionário na filosofia e na ciência; mas também obteve reconhecimento matemático 
por sugerir a fusão da álgebra com a geometria, o que deu origem à geometria analítica e ao sistema 
de coordenadas cartesianas. Além disso, foi um dos pensadores mais importantes na Revolução 
Científica. Muitas vezes chamado de “fundador da filosofia moderna” e “pai da matemática moderna”, 
ele passou para a história como um dos pensadores mais influentes do pensamento ocidental, que 
serviu de modelo e inspiração para várias gerações de filósofos que viriam depois. Boa parte da filosofia 
escrita a partir da época em que viveu foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente 
influenciados por ele. 
Muitos especialistas afirmam que Descartes inaugurou o racionalismo da Idade Moderna, 
enquanto décadas mais tarde, na Grã-Bretanha, John Locke e David Hume deram início a um 
movimento filósofico que pode ser considerado oposto ao seu pensamento, que se convencionou 
chamar de empirismo. No Discurso do método, Descartes declarou sua decepção não com o 
ensino da escola em si, mas com a forma de pensamento baseada na cultura e na tradição que 
era fundamentalmente escolástica, cujo conhecimento científico achava-se confuso, obscuro e 
nem um pouco prático. Ele criticou ainda as escolas da Companhia de Jesus, fazendo com que os 
mestres jesuítas o considerassem um filósofo deficiente. Nessa mesma época, escreveu também 
Larvatus prodeo (Eu caminho mascarado).
No ano de 1637, ficou mais conhecido com a publicação de três pequenos tratados científicos: 
A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria. No entanto, foi o prefácio dessas obras que o tornaram um 
pensador célebre, levando-o ao reconhecimento posterior, intitulado Discurso sobre o método. Em 
1641, lançou sua obra filosófica e metafísica mais importante: Meditações sobre a filosofia primeira, 
juntamente com os primeiros seis conjuntos de Objeções e Respostas. Em 1643, o cartesianismo foi 
condenado pela Universidade de Utrecht, enquanto Descartes publicava Os princípios da filosofia, obra 
que faz uma síntese dos seus princípios filosóficos para a formação da ciência.
Em 1649, a convite da Rainha Cristina da Suécia, escreveu e publicou o Tratado das paixões, dedicado 
à princesa Elizabete da Boêmia, com quem mantinha uma amizade afetuosa. Morreu de pneumonia em 
1650 em Estocolmo, onde estava trabalhando como professor. Por ser católico em um país protestante, foi 
enterrado em um cemitério de crianças não batizadas, em Adolf Fredrikskyrkan. Durante a Revolução Francesa, 
seus restos foram desenterrados para serem deslocados para o Panthéon, ao lado de outras grandes figuras 
ilustres da França. Em 1667, a Igreja Católica Romana colocou suas obras no Índice dos Livros Proibidos.
O pensamento de Descartes pode ser considerado revolucionário para uma sociedade feudalista, 
na qual a influência da Igreja ainda era muito forte e quando ainda não existia uma tradição da 
produção de conhecimento científico. Ele viajou muito e viu que sociedades diferentes possuíam 
crenças diferentes e até mesmo contraditórias. Aquilo que numa região era tido como verdadeiro, 
era considerado ridículo e desprovido de bom senso em outros lugares. Descartes constatou que 
os costumes, a história de um povo, bem como sua tradição cultural, determinavam a forma como 
62
Unidade III
as pessoas pensam naquilo em que acreditam, o que o levou a entender a cultura como inimiga 
da razão. Por isso, o método cartesiano consiste basicamente no ceticismo metodológico, que 
duvida de tudo que pode ser duvidado. Esse pensamento vai de encontro ao dos gregos antigos e 
dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou 
porque assim deve ser.
Ainda nesse contexto, ele também concebeu o método na realização de quatro tarefas básicas: 
verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou da coisa estudada; analisar, 
ou seja, dividir ao máximo as coisas em suas unidades de composição, fundamentais, e estudar essas 
coisas mais simples que aparecem; sintetizar, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo 
verdadeiro; e enumerar todas as conclusões e princípios utilizados para manter a ordem do pensamento.
Quanto à ciência, desenvolveu uma filosofia que influenciou muitos cientistas até ser passada 
pela metodologia de Isaac Newton. Ele acreditava que a matéria não possuía qualidades inerentes, 
sendo apenas o material bruto que ocupava o espaço, dividindo a realidade em res cogitans 
(consciência, mente) e res extensa (matéria). Para Descartes, Deus criou o universo como um 
perfeito mecanismo de moção vertical, que funcionava de forma determinista e sem a intervenção 
divina. Ele instituiu a dúvida, alegando que seria possível dizer que existe apenas aquilo que pode 
ser provado.
Não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade de me haver 
encontrado, desde a juventude, em certos caminhos, que me conduziram a 
considerações e máximas, de que formei um método, pelo qual me parece 
que eu tenha meio de aumentar gradualmente meu conhecimento, e de 
alçá-lo, pouco a pouco, ao mais alto ponto, a que a mediocridade de meu 
espírito e a curta duração de minha vida lhe permitam atingir (DESCARTES, 
1973 p. 42).
A curiosidade de Descartes pela Matemática começou logo cedo, no College de La Flèche, escola 
dirigida pelo clero, por um motivo que já deixava entrever sua visão filosófica, ou seja, a garantia 
que as demonstrações ou as justificativas matemáticas proporcionam às descobertas humanas. Os 
matemáticos reconhecem a importância de Descartes pelo seu estudo pioneiro sobre a geometria 
analítica. Antes dele, a geometria e a álgebra apareciam ainda como segmentos distintos da 
Matemática e foi o filósofo quem mostrou uma forma de traduzir problemas de geometria para o 
campo da álgebra, abordando-os por meio da criação de um sistema de coordenadas. Essa teoria 
serviu de suporte para o cálculo de Newton e de Leibniz, colaborando em grande escala para a 
concepção da matemática estudada atualmente.
 Lembrete
Na declaração “penso, logo existo”, Descartes descobre o homem como 
um ser racional por natureza, com a capacidade de alcançar o conhecimento 
e, mais que do isso, sua existência é definida pelo ato de pensar.
63
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
7.2 David Hume: o empirismo
Figura 12 – David Hume
Considerado um dos mais importantes filósofos da Grã-Bretanha do século XVIII, David Hume 
nasceu em Edimburgo, na Escócia, em maio de 1711. Voltou para a propriedade rural de sua 
família em 1737, depois de estudar na França, e lá permaneceu até a morte, em 1776. Assim 
que regressou, providenciou a publicação de sua obra mais famosa, o Tratado, composta por três 
livros, publicados no anonimato em duas etapas, antes de completar 30 anos. 
O Livro I tem como objetivo fornecer uma explicação do processo de aquisição de conhecimento 
pelo ser humano, desde o surgimento das ideias, passando pelas noções espaciais e temporais, até a 
causalidade e o ceticismo atribuído aos sentidos. Já o Livro II, sobre as “paixões” do homem, apresenta 
um elaborado mecanismo para explicar a ordem afetiva ou emocional no homem, e reserva um papel 
subordinado para a razão. Essas duas partes foram publicadas em 1739, anonimamente. O Livro III 
descreve o bem moral em termos de “sentimentos” de aprovação ou desaprovação que o homem 
sente quando considera o comportamento humano sob a luz do que é de consequência agradável ou 
desagradável para ele ou para os outros. Essa terceira parte foi publicada em 1740.
Ele frequentou a universidade local. Inicialmente, pensou em seguir a carreira jurídica; mas, em suas 
palavras, chegou a uma “aversão intransponível a tudo, exceto ao caminho da filosofia e àaprendizagem 
em geral”. Apesar de muitos acadêmicos considerarem hoje o Tratado sua maior obra e um dos livros 
mais importantes da história da filosofia, o público inglês não se entusiasmou imediatamente. Em 1744, 
foram recusadas a Hume as cadeiras nas Universidades de Edimburgo e Glasgow, provavelmente devido a 
64
Unidade III
acusações de ateísmo e à oposição de um dos seus principais críticos, Thomas Reid. Após esses insucessos, 
trabalhou como curador de um doente psiquiátrico e posteriormente como secretário de um general. 
No entanto, para além dos seus trabalhos no âmbito da filosofia, Hume ascendeu à fama literária como 
ensaísta e historiador com seu célebre História da Inglaterra. Viveu a última década da vida em Edimburgo, 
no novo aldeamento de New Town. O pensamento de Hume possui grande influência na filosofia atual.
Para ele, percepção em estado puro dá origem às impressões que, posteriormente, conferem ao sujeito 
a possibilidade de compor a ideia como uma cópia deturpada da percepção bruta. Essa teoria de Hume 
ficou conhecida como empirismo psicológico, que deu origem ao empirismo lógico. De acordo com essa 
concepção, as palavras só encontram significação se possuírem um ser ou um objeto correspondente no 
mundo, ou seja, uma base empírica. 
Nesse sentido, Hume foi de encontro aos postulados filosóficos complexos e de conclusões metafísicas que 
não têm como fundamento a base no real, pois, para ele, a abstração não existe. Nesse caso, toda forma de 
conhecimento estaria associada às impressões e às relações entre as ideias inatas e originais, como as verdades 
dos princípios matemáticos, que são irrefutáveis, uma vez que as deduções lógicas podem ser demonstradas. 
Dessa forma, os objetos da razão podem ser divididos em relações de ideias e questões de fatos. Fazem 
parte do primeiro grupo as verdades matemáticas, quer dizer, a relação de ideias remonta à razão humana, 
que estabelece as relações entre elas. Essas assertivas possuem validade universal, uma vez que comparam 
ideias que não são efetivas, pois somente os objetos pensados admitem efetividade. Hume também critica 
o conceito de substâcia, seja ela de ordem material, seja de natureza espiritual, descartando o conceito de 
alma concebido por Descartes. Para ele, o ser humano consiste em um feixe de sensações da consciência 
que permanecem em um fluxo constante, sucedendo-se. Portanto, a consciência opera com essa somatória 
de momentos, e o eu passa a existir quando ocorre uma ação de presença; quando se morre, o eu se anula.
Com o objetivo de garantir sua sobrevivência, o homem buscou colocar ordem à sua volta, dando 
prioridade àquilo que é útil. Como o fundamento das ciências naturais para Hume não é racional, a 
natureza sobrepõe-se à razão. Nesse sentido, filosofar seria uma forma de refutar o racionalismo.
Como o princípio causal tem origem na experiência, nossa mente é formatada pelo costume e pela 
experiência. Aceitamos algo como natural; mas, se fosse de outra maneira, aceitaríamos da mesma forma. 
Hume admite a existência objetiva dos efeitos da natureza, uma vez que até mesmo um cético tem de 
aceitar a existência de um objeto concreto. No entanto, as leis da natureza são apenas as mais prováveis 
de acontecer e, como a causalidade não é objetiva, uma vez verificadas que nem sempre as mesmas 
causas surtem os mesmos efeitos, a certeza precisa ser trocada pela probabilidade dos acontecimentos, 
incluindo a expectativa que um evento ocorra, por ser inerente apenas ao homem.
Na visão de Hume, a origem da religião encontra-se no sentimento, assim como a origem da moral. 
O filósofo ainda aborda a questão do que é o bem para o homem em sua teoria moral, que tem um 
tom altruísta que afirma a existência de um Ser supremo e senhor da natureza. Na sua obra Ensaios 
morais, políticos e literários, Hume explica que o ser humano busca a perfeição da natureza por meio da 
inspiração artística, criticando a felicidade artificial, em contraposição aos sentidos. Ele também refuta 
os sábios, pois acredita que o caminho deve vir de dentro e não de teorias, e é nessa caminhada que 
65
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
atingimos o prazer e a virtude. Portanto, sua linguagem é jovial, enaltecendo sempre o arrebatamento 
epicurista pelas paixões como se fosse a doutrina de prazer.
Já no ensaio seguinte, O estoico, Hume continua louvando a natureza, contrapondo a barbárie e 
afirmando que devemos apurar nosso gosto pelas artes. De acordo com ele, a natureza foi generosa com 
o homem, tornando-o superior aos outros animais; mas ele necessita ser civilizado por meio da educação. 
Devemos, então, aperfeiçoar o espírito e refletir. Ao encontrarmos as regras para nossa conduta, seremos 
filósofos; mas, somente quando as aplicarmos do ponto de vista pragmático, seremos sábios. No ensaio 
O platônico, Hume aborda ainda a diversidade dos gostos humanos, além da contemplação filosófica, 
que devem estar relacionados à perfeição e à beleza universal.
Já no ensaio O cético, Hume observa que não é possível recorrer às teorias filosóficas tendo em vista 
o prazer, pois é infinita a gama de variações das possibilidades humanas. Para ele, o único princípio 
filosófico verdadeiro é que as coisas em si não possuem as qualidades que o homem lhe atribui. Hume 
insiste em afirmar que é a paixão a responsável pela proposição dos valores de tudo o que existe. Ao 
vivenciar uma sensação de prazer, quando observa os objetos que trazem um sentimento, o ser humano 
tende a classificá-los pela beleza, seja ela desejável ou abominável. Ao igualar os homens, presume 
que aquilo que os diferencia está na paixão ou na fruição. Ele critica a aspereza de espírito de muitos e 
acredita que a filosofia pode corrigir esse defeito, ainda que seja para poucos, pois ela induz ao prazer. 
Como todos os males vêm do universo que os engloba, para escapar deles e dos seus infortúnios, é 
preciso prevenir-se e conhecê-los.
No ensaio Da origem do governo, Hume afirma que, na sociedade tradicional, uma pessoa 
nascida em família precisa conservar esse laço social, tendo em vista o cumprimento da justiça 
como o principal motivo da existência do poder governamental. Como a natureza humana possui 
sua face maligna, tornam-se necessárias a paz e a ordem para conservar a organização social. 
Por esse motivo, é preciso criar mecanismos para assegurar a obediência por meio dos hábitos, 
para que os homens aprendam a aceitar as regras sem questioná-las. A origem divina do governo 
como vontade de Deus é defendida por Hume no ensaio Do contrato original, justificando ser isso 
necessário para a humanidade como um todo. O filósofo também alega que o vigor dos membros e 
a coragem constituem a força natural de um homem e, depois de consolidada, a obediência passa 
por várias gerações até ser reconhecida como natural. Ele ainda afirma que foi em Atenas que 
ocorreu a maior prática da democracia, apesar de o voto ser limitado aos cidadãos de posse, o que 
o leva a pensar que o governo não surge a partir do consenso popular, pois esse consenso surge da 
força. Da mesma forma, a utopia da justiça é impossível pela natureza humana, já que o fluxo da 
vida implica uma transmissão de valores hereditários.
Para Hume, existem duas espécies de deveres morais, sendo do primeiro grupo aqueles relacionados 
ao instinto natural. Já a segunda espécie decorre da obrigação, uma vez que se tornam necessárias 
leis para viver em sociedade, fazendo surgir o sentido da justiça e a lealdade. Após negar as origens 
filosóficas e religiosas do governo como consenso popular, parte para buscar o motivo da submissão 
no ensaio Da obediência passiva. Para ele, a justiça precisa ter utilidade pública, enquanto a lei deve 
garantir a segurança da coletividade. Mesmo considerando a monarquia arrogante, o filósofo também 
defende o direito de resistência à tirania.
66
Unidade III
Com o ensaio Dos primeiros princípios do governo, Hume demonstra sua admiração pelo fato de muitos 
renunciaremaos seus sentimentos em benefício de uma minoria. A opinião pode ser de interesse ou de 
direito; a primeira origina-se do benefício do governo, enquanto o direito está relacionado ao poder, que 
predomina, e à propriedade. Essas opiniões são fundamentais para o governo, mas os interesses pessoais 
e as características inerentes ao ser humano podem restringi-las. No ensaio Da sucessão protestante, 
o filósofo elabora um estudo da sucessão hereditária, utilizando políticos ingleses da sua época como 
exemplos. Em ensaios anteriores, sua opinião sobre a monarquia não era tão benevolente.
Para Hume, o governo hereditário dos príncipes, uma nobreza sem vassalos e um povo escolhendo 
seus próprios representantes, pode ser considerado o que existe de melhor na monarquia, na aristocracia 
e na democracia, respectivamente. No entanto, ele coloca em dúvida se as formulações gerais da política 
devem ser efetivas. No ensaio Que a política pode ser transformada em ciência, critica o pensamento de 
Maquiavel, alegando que parte de sua teoria baseia-se em falsos princípios. Uma constituição pode ser 
boa se consegue combater a má administração. Já no ensaio Da liberdade civil, ele elogia as pessoas livres 
de preconceitos, que se dedicam a causas partidárias e políticas, contribuindo assim para a sociedade. 
Mas, como todos são ainda muito jovens, não existe uma fórmula aceitável.
Hume também verifica a mudança que se dá no Estado em razão do poder da instituição, ou seja, 
quando se passa de um governo de homens para um governo de leis. Ele apreciava o filósofo pré-
socrático Xenofonte, e nele buscou várias informações históricas. No ensaio Ideia de uma república 
perfeita, expõe o quanto é difícil modificar uma forma de governo, mesmo que seja para melhor. Ao 
abordar os teóricos que traçaram planos imaginários de governo, como Thomas More e Platão, estrutura 
um sistema governamental que inclui o senado, o condado e representantes, ressaltando os poderes 
executivo e legislativo como necessários para o alcance do equilíbrio social.
No ensaio Da superstição e do entusiasmo, coloca a superstição e o entusiasmo como exemplos 
falsos de religião, uma vez que a alma humana pode alcançar um estado de espírito negativo e imaginar 
objetos, atribuindo poderes a algo inexistente. Outro tipo de estado de espírito conduz ao entusiasmo e, 
nele, a imaginação flui, enquanto o mundo material perde a sua grandeza. Hume também acredita que 
sentimentos como a esperança e o orgulho, além da imaginação, são fontes do entusiasmo e parte para 
criticar os membros do clero, chamando-os de tiranos.
No ensaio Da origem e progresso das artes e ciências, alerta para a distinção entre o que é do acaso 
e aquilo que provém da causa. O que depende de poucos vem do acaso e, o oposto, vem das causas. 
Na história da arte e da ciência, deve-se tomar cuidado para não confundir as causas ou achar causas 
inexistentes. Hume ainda acredita que o homem é superior à mulher, embora a natureza tenha se 
encarregado de prover todas as espécies de amor entre os sexos, mesmo que seja por tempo limitado. No 
ensaio Da eloquência, destaca que sentimentos nascidos da vaidade dão origem às disputas. Em todos 
os seus ensaios, Hume defende que a natureza humana possui um lado maligno e que o preconceito 
acaba com a capacidade de raciocinar, fazendo da arrogância um defeito comum entre os homens. 
Como Deus é o ser supremo, deseja o bem, que deve ser experimentado por meio das sensações puras, 
que se encontram pervertidas no processo civilizatório pelos defeitos comuns que afastam de Deus, 
muito embora haja homens com gosto superior.
67
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
De forma resumida, o ceticismo de Hume está na negação não da crença, mas da evidência. É 
a conclusão filosófica de que o homem é mais uma criatura de percepção sensível e prática que 
de razão. O que ele diz é que somente existe nossa experiência de que uma coisa se segue à outra, 
que os padrões de uma experiência passada se repetem e passam a ilusão de causa e efeito. Ele não 
observa nenhuma relação causal entre os dados dos sentidos “externos” porque, quando o homem 
considera quaisquer eventos como causalmente relacionados, tudo que faz e pode observar é que 
eles frequentemente caminham juntos. Nesse tipo de associação, é um fato que a impressão ou 
ideia de um evento traz com ele a ideia do outro. O trabalho da associação do hábito fixa-se na 
mente e passa a ser sentido como compulsão. Com esse sentimento, Hume conclui ser a única 
fonte da ideia de causalidade.
7.3 Immanuel Kant: o apriorismo e o conhecimento
Figura 13 – Immanuel Kant (1724-1804)
O crítico da razão e da moral
Nascido em 1724 no seio de uma família protestante em Königsberg, atual Kaliningrado, 
Emmanuel Kant teve educação rígida em uma escola de princípios pietistas, ou seja, reacionária 
contra o protestantismo dogmático. Na primeira fase da vida adulta, era apenas um metafísico 
menor numa universidade prussiana; mas foi então que uma crise existencial o atormentou, sendo 
possível afirmar que isso teve forte influência na suas convicções posteriores como filósofo e 
pensador.
Em 1740, Kant tinha 16 anos e Frederico II tornou-se o rei da Prússia, trazendo sinais de 
tolerância para uma nação célebre pela disciplina militar. Trouxe também iluministas para sua corte 
e continuou a política de encorajamento à imigração que o pai tinha seguido. Com o falecimento 
do pai em 1746, foi obrigado a trabalhar como professor particular. Ao se tornar professor de 
68
Unidade III
lógica e metafísica na universidade, após quatorze anos como docente, entrou em contato com a 
obra de David Hume, que o despertou do seu sono dogmático, uma vez que se perguntou como 
são possíveis juízos sintéticos a priori; para responder a essa pergunta, escreveu um livro com mais 
de 800 páginas. Em 1773, Frederico II, um protestante, concedeu refúgio à Ordem dos Jesuítas, 
banidos pelo Papa, enquanto Kant, aos 50 anos, vivia o auge do movimento romântico, chamado 
Sturm und Drang.
Sete anos mais tarde, publicou a Crítica da razão pura. A reação aos seus escritos foi pouco 
encorajadora, pois Moses Mendelssohn e Johann Georg Hamann pronunciaram-se de forma 
reticente, o que levou Kant a escrever um artigo intitulado O que é o Iluminismo? Aos 71 anos, 
publicou o tratado Para a paz eterna, no qual surgia a perspectiva de um cidadão do mundo 
esclarecido. Morreu com 80 anos, após uma prolongada doença que apresentava sintomas 
semelhantes à doença de Alzheimer, uma vez que já não reconhecia sequer seus amigos mais 
íntimos. Foi considerado como o último grande filósofo da era moderna, e também um de seus 
pensadores mais marcantes. Há estudiosos que avaliam sua concepção filosófica de mundo como 
uma espécie de síntese entre o racionalismo de René Descartes e Gottfried Leibniz, no qual 
predomina o raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa, de David Hume e John Locke, que 
prioriza o raciocínio indutivo.
Kant ainda recebeu reconhecimento pela sua teoria conhecida como Transcendentalismo, segundo 
a qual todos trazem conceitos a priori, ou seja, aqueles que não vêm da experiência para a vivência 
concreta do mundo. Seguindo essa linha de pensamento, a filosofia da natureza e da natureza humana 
concebida por Kant é, do ponto de vista histórico, uma das mais influentes do relativismo conceptual 
que tomou conta da postura intelectual do século XX. Porém, é possível que o próprio filósofo refutasse 
o relativismo nas suas formas atuais, como o pós-modernismo. Ele também ficou conhecido pela sua 
filosofia sobre a moral e pela proposta moderna de uma teoria a respeito da formação do sistema solar, 
denominada de hipótese Kant-Laplace.
Aos 46 anos, entrou em contato com a obra de David Hume, considerado um empirista ou um 
cético que, para uns, desprezava qualquer tipo de explicação metafísica, para outros era tido como um 
naturalista. Em seu trabalho mais conhecido, alega que nada na experiência humana pode justificara 
existência de poderes causais inerentes às coisas, o que deixou Kant bastante perturbado, por achar o 
argumento de Hume irrefutável, apesar de as conclusões serem inaceitáveis. Depois de dez anos, em 
1781, publicou o célebre Crítica da razão pura, uma das obras mais significativas da filosofia moderna. 
Nesse livro, ele elabora sua ideia de uma teoria transcendental para demonstrar que, mesmo sem saber 
as verdades acerca do universo, somos obrigados a refletir sobre ele, já que podemos ter a certeza de 
um grande número de coisas sobre o mundo enquanto sua aparência, regido por leis da física e da 
matemática, por exemplo.
Nos vinte anos que se seguiram, Kant produziu de forma incessante, completando sua contribuição 
à filosofia moderna com a Crítica da razão prática, que tratava da moralidade de maneira semelhante 
ao modo como a crítica inicial abordava o conhecimento. Em Crítica do julgamento, ele destaca 
os diversos usos dos poderes mentais, que não requerem conhecimento factual nem nos fazem, 
69
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
necessariamente, partir para a ação. Da maneira como Kant os concebeu, os juízos de valor relacionados 
à estética e à teleologia estabelecem uma conexão entre os nossos julgamentos morais e empíricos, 
unindo todo o sistema.
A fundamentação da metafísica dos costumes é considerada por muitos filósofos a mais importante 
obra já escrita sobre a moral. Nela, Kant definiu as funções da ação fundamentada pela moral, introduzindo 
conceitos como o “imperativo categórico” e a “boa vontade”. Ele ainda produziu ensaios mais populares 
sobre história, política e aplicação da filosofia à vida. Quando veio a falecer, estava escrevendo a Quarta 
crítica, por ter concluído que seu pensamento estava incompleto. Esse manuscrito foi publicado como 
obra póstuma.
De acordo com Kant, para fazer uma crítica sobre aquilo que é belo, precisamos nos orientar pelo 
poder do julgamento, e a indagação fundamental que move essa investigação crítica consiste em 
saber se existe um valor universal capaz de conceituar o belo e reivindicar que outros indivíduos, 
a partir da apreciação de uma forma bela da natureza ou da arte, confirmem esse juízo. Se não for 
dessa forma, temos que aceitar o fato de que todo objeto que julgamos ser belo seria, portanto, 
um valor subjetivo. Logo, a capacidade de julgar, que pertence a todos, é universal, entrelaçando o 
julgamento estético e prático. Assim, a investigação crítica que Kant propõe refere-se ao universo 
especulativo das faculdades subjetivas do homem que atuam conforme princípios que fazem farte da 
essência do pensamento humano.
Segundo estudiosos da obra filosófica de Kant, ele reconhece três faculdades do ânimo: a de conhecer, 
a de apetição e o sentimento de prazer e desprazer.
A faculdade de conhecer refere-se ao objeto e à unidade de percepção, já a faculdade de apetição 
consiste nas representações consideradas como causa de efetividade desse objeto, enquanto o 
sentimento de prazer e de desprazer são as representações que se referem ao sujeito e que conservam 
sua existência nele. Ele acredita que o sentimento está localizado em um patamar entre o desejo e o 
conhecimento, conceituando prazer como um sentimento relacionado ao gosto, compreendido como a 
capacidade de apreciação do prazer.
Na Crítica da razão prática, o filósofo discorre sobre o respeito, considerando-o diferente dos demais 
sentimentos por pertencer à razão pura e, por isso, não poder ser atribuído nem ao gozo nem ao 
sofrimento. Para ele, o respeito encontra-se vinculado à representação da lei moral em todo ser racional, 
sem que haja o condicionamento ao prazer ou ao desprazer. Dessa forma, a razão sugere um sentimento 
de satisfação no que diz respeito ao dever cumprido. Essa conclusão vai originar a crítica do gosto, uma 
vez que associa o ânimo com o sentimento moral. O juízo de gosto, então, seria a faculdade de julgar, 
que produz satisfação e descontentamento. Nas palavras do próprio Kant (1987), “gosto é a faculdade de 
julgar um objeto ou uma representação mediante uma satisfação ou descontentamento, sem interesse 
algum. O objeto de semelhante satisfação chama-se belo”. Portanto, é possível compreender o juízo 
de gosto como o “interesse desinteressado”, que vem da contemplação da beleza. Por isso, todo juízo 
referente às artes faz parte da satisfação estética, que é desprovida de interesse e encontra-se no prazer 
diante da contemplação do objeto.
70
Unidade III
Para Kant (1987):
só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, 
a incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que 
podem se tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o 
cepticismo, que são, sobretudo, perigosos para as escolas e dificilmente se 
propagam no público.
Mesmo tendo adaptado a ideia de uma filosofia crítica, cujo objetivo inicial era revelar os limites 
das capacidades intelectuais humanas, ele foi um dos grandes edificadores de sistemas, criticando a 
metafísica, a ética e a estética. Sua famosa citação – “o céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro 
de mim” – consiste em uma síntese dos seus estudos. Com isso, o filósofo busca explicar, por intermédio 
de uma teoria sistemática, que tempo e espaço são formas elementais de a mente humana perceber 
o mundo; mas só podem ser empregadas na prática, uma vez que a mente não pode produzir essa 
ideia. Além disso, nada pode ser percebido, exceto por meio dessas formas, sendo os limites da física as 
fronteitas finais da estrutura mental.
Na visão kantiana, o conhecimento, a priori, possui a capacidade de compreender as 
experiências naturais, que são apresentadas à consciência humana. Em seguida, ela retira 
o mundo real (que ele chamou de numenal) da cena da percepção. Kant denominou seu 
pensamento filosófico crítico de idealismo transcendental, ou seja, descreveu a forma de 
procurar as condições da possibilidade do conhecimento do mundo pelo homem. Porém, esse 
idealismo difere de outros sistemas idealistas. Para ele, os fenômenos dependem das condições 
da sensibilidade, do espaço e do tempo, ao contrário da tese da dependência mental no sentido 
do idealismo de Berkeley.
Em 1784, no ensaio Uma resposta à questão: o que é o Iluminismo?, Kant buscava atingir os grupos que 
tinham levado o racionalismo além dos limites, incluindo os metafísicos, que pretendiam compreender 
tudo sobre Deus e a imortalidade, os cientistas, que presumiam por meio de seus experimentos a descrição 
mais exata da natureza, e também os céticos, que alegavam que a crença em Deus, na liberdade e 
na imortalidade não tinha fundamentos racionais. Apesar de tantas divergências, Kant mantinha-se 
otimista por atribuir à Revolução Francesa uma forma de instaurar o domínio simultâneo da razão e da 
liberdade.
As investigações filosóficas de Kant ocuparam-se de quatro questões principais: a mecânica 
do saber, a ética, a religião e a natureza do sentimento estético, bem como a direção da evolução 
biológica. A respeito de cada uma delas expressou ideias que marcaram de forma decisiva a história 
do pensamento humano. No que se refere à natureza do saber, a importância de Kant reside menos 
no resultado dos seus estudos do que no fato de haver proposto o assunto. Em outras palavras, ele 
foi o primeiro a pensar em estudar a natureza da compreensão humana antes de levar em conta 
seus resultados, concebendo a ideia de razão independente da experiência, e, com isso, provocou 
uma espécie de revolução comparada às transformações que mudaram os conceitos científicos e 
filosóficos do século XIX.
71
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
7.4 Hegel: o idealismo alemão
Figura 14 – Drawing Hands, de Maurits Cornelis Escher
O pensador das contradições
George Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo nascido em 1770, é considerado o expoente máximo do 
idealismo alemão do século XIX, que acabou provocando um impacto profundo no materialismo histórico 
de Karl Marx. Aos 18 anos, ingressouno seminário protestante de Tubingen, para estudar teologia, onde 
conheceu Schelling e Holderlin. O pietismo, uma das correntes gnósticas do protestantismo, influenciou 
profundamente seu pensamento. Hegel foi um ilustre professor universitário de filosofia que iniciou 
suas atividades em Berna, na Suíça, entre 1793 e 1796; depois lecionou em Frankfurt, de 1797 a 1800. 
Foi também mestre de conferências na Universidade de Iena, professor e reitor em um colégio de 
Nuremberg, professor em Heidelberg e, finalmente, em Berlim, onde permaneceu até a morte.
Hegel formulou o modelo analítico da realidade que maior influência teve ao longo dos séculos XIX 
e XX, para pensadores como Schopenhauer, Nietzsche, Marx, Kierkegaard e Jean-Paul Sartre, em razão 
de uma proposta que recusa a concepção filosófica de Kant. Buscou se defrontar com temas diversos, 
como a lógica, o direito, a religião, a arte, a moral, a ciência e a história da filosofia. Em todos esses 
domínios, ele viu a manifestação do espírito absoluto, que se materializa e revela por intermédio da 
história da humanidade. A filosofia hegeliana parte do princípio de que a negatividade é inerente ao real 
e que o positivo realiza apenas por meio do negativo. A dialética, portanto, seria o método que permite 
compreender e esclarecer a racionalidade do real.
A obra inicial e a mais significativa dos estudos de Hegel foi a Fenomenologia do espírito ou 
Fenomenologia da mente. Ele também publicou a Enciclopédia das ciências filosóficas, a Ciência da 
lógica e a Filosofia do Direito. Várias outras obras sobre filosofia, religião e história da filosofia foram 
concebidas com base nas anotações dos seus estudantes, tendo sido publicadas somente após sua 
morte. No entanto, as obras de Hegel ganharam fama de serem de difícil compreensão, tendo em vista 
os temas que pretendem abranger. Ele ainda critica a concepção do conceito como representação no 
sentido de preencher uma ausência. Ele introduziu também um sistema para compreender a história 
72
Unidade III
da filosofia e do mundo da dialética, que pode ser explicado como uma espécie de progressão na qual 
cada sucessão de movimento surge como solução para contradições inerentes do movimento anterior. 
De maneira geral, a dialética pode ser considerada como uma das diversas partes do sistema hegeliano, 
que nunca foi bem compreendido de fato. Um dos possíveis motivos para isso se deve ao abandono, por 
parte dele, da ideia de que a contradição gera um objeto desprovido de conteúdo.
Hegel confere dignidade à contradição, bem como ao negativo; mas, por outro lado, ele não queria 
dizer que absurdos fossem possíveis. No estudo atual do hegelianismo para estudantes de nível superior, 
a dialética costuma ser explicada em três momentos distintos: tese, antítese e síntese. No entanto, 
Hegel não empregou pessoalmente essa classificação. Ele usou esse sistema para explicar a história 
da filosofia, da ciência, da arte, da política e da religião, mas muitos críticos modernos alegam que 
ele tende a analisar as realidades da história de forma superficial para poder enquadrá-las em seu 
paradigma dialético.
O método hegeliano inspirou em grande escala as análises de filósofos contemporâneos sobre as 
relações do eu com o outro. Na luta de duas consciências, Hegel examinou simultaneamente a relação 
de dois “eu” e a relação de cada “eu” com sua própria vida. O “senhor”, aquele que é vitorioso no 
combate, aceitou arriscar a vida. Sendo assim, ele é mais do que ela e, por sua coragem, colocou-se 
acima dos objetos comuns da necessidade e da existência empírica. O vencido, aquele que se rendeu, 
tem medo de perder a vida. Como consequência, ele é escravo da vida e de seus objetos empíricos. 
Hegel quer dizer com isso que o senhor não é senhor “em-si”, mas por meio de uma mediação, isto é, 
de uma relação. O senhor se define por sua relação com o escravo e por sua relação com os objetos, que 
depende, ela própria, da relação com o escravo. No ponto de partida, o senhor domina os objetos da 
necessidade, já que no campo de batalha ele se mostrou corajoso e superior à sua vida e aos objetos das 
necessidades. Secundariamente, o senhor domina os objetos por mediação do escravo que trabalha, isto 
é, que transforma os objetos materiais em objetos de consumo e de fruição para o senhor.
Em suas lições sobre a história da filosofia, Hegel assinala que essa noção envolvia uma contradição 
interna. De fato, a filosofia quer conhecer o imperecível, o eterno, sendo seu fim a verdade. No entanto, 
a história conta o que foi numa época e que desapareceu em outra, substituído por outra coisa. Se a 
verdade é eterna, “ela não penetra na esfera do que passa e não tem história”. Entretanto, a filosofia 
encontra-se toda nos sistemas dos filósofos. A ideia geral de filosofia permanece abstrata se não se 
confunde com os diversos sistemas dos filósofos no decurso da história, assim como a noção geral de 
fruto. Na realidade, Hegel defendia que cada filosofia correspondia a um momento da história e a uma 
etapa na evolução do espírito absoluto. Portanto, cada filosofia é “o espírito da época existente como 
espírito que se pensa”. Ela surge “no devido momento, nenhuma ultrapassou seu tempo”. Por isso, as 
filosofias sucessivas não se anulam, mas as novas filosofias mostram as anteriores como verdades parciais 
e passíveis de serem integradas numa síntese mais ampla que se elabora com o tempo. Dessa forma, a 
história da filosofia oferece momentos privilegiados ou, como diz Hegel, vem reconciliar dialeticamente 
os contraditórios.
Nesse sentido, a razão passa a ser única como a racionalidade, formando um sistema. Por essa razão, 
a evolução das determinações do pensamento é igualmente racional e os princípios gerais surgem 
segundo a necessidade da noção fundamental. Portanto, o princípio de uma filosofia passa, na seguinte, 
73
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
para a categoria de um momento. Não se refuta uma filosofia, apenas sua posição, pois as filosofias 
são as formas do Uno. Um estudo mais avançado nesse campo pode mostrar como progridem seus 
princípios, de maneira que o seguinte é uma nova determinação do precedente.
Essa evolução permanente e contraditória ao mesmo tempo permite vislumbrar a importância de 
conhecer os princípios dos sistemas filosóficos para, na sequência, reconhecer cada um deles como 
necessário em sua época superior. Mais adiante, a determinação precedente torna-se apenas um 
ingrediente da nova, que é assumida sem ser rejeitada. Desse modo, todos os princípios são conservados.
Assim, a unidade consiste no fundamento de tudo. Aquilo que se desenvolve na razão progride na 
unidade dessa razão e conhecer verdadeiramente um sistema significa tê-lo justificado em si. Limitar-se 
apenas a refutar uma filosofia é não compreendê-la, sendo necessário ver a verdade que ela contém. 
Não existe nada mais fácil do que criticar do ponto de vista negativo. No entanto, quem só vê a negação 
ignora o conteúdo, ele sim afirmativo, e o supera sem se encontrar no interior dele. A dificuldade então 
consiste em ver o que os sistemas filosóficos contêm de verdadeiro. Somente quando são justificados 
em si próprios é possível falar das suas limitações e de suas deficiências. O radicalismo dessas oposições 
levou ao individualismo egoísta de Stirner e à versão marxista do comunismo, da mesma forma que os 
teóricos pragmatistas se apropriaram dos aspectos comunitaristas da filosofia hegeliana.
A filosofia de Hegel foi redescoberta no século XX, graças à volta da perspectiva histórica que ele 
projetou em tudo, e também ao reconhecimento cada vez maior do valor da sua metodologia dialética. 
Nesse sentido, o renascimento de Hegel também colocou em evidência a importância fundamental 
das suas obras iniciais, publicadas antes da Fenomenologia do espírito. Porém, não foram apenas os 
teóricos da escola de Frankfurt que viram reviver o vigor e a profundidade da filosofia hegeliana na 
contemporaneidade.
7.5Marx: o materialismo histórico
Figura 15 – Karl Marx, em 1882
74
Unidade III
O pai do materialismo dialético
Karl Heinrich Marx nasceu no seio de uma família judia de classe média em Tréveris, na Alemanha. 
Era filho de mãe judia holandesa e de um pai advogado que teve de se converter ao cristianismo, 
quando Marx tinha 6 anos de idade, em virtude das restrições impostas à presença de membros judeus 
nas atividades públicas. Aos 17 anos, ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito; mas, 
logo depois, transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influência de Hegel ainda era bastante 
sentida no início da sua obra. Com os interesses voltados para a filosofia, ele participou ativamente do 
movimento dos jovens hegelianos. Doutorou-se em Jena, em 1841, com a tese sobre as Diferenças da 
filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro. Nesse mesmo ano, concebeu a ideia de um sistema que 
combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com a dialética idealista de Hegel.
Impedido de seguir uma carreira acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana, 
mas por causa do fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano, em 1843, Marx foi 
para a França. Com a Revolução de 1848 e o exílio que se seguiu a ela, foi obrigado a abandonar 
o jornalismo na Alemanha e tentar ganhar a vida na Inglaterra. Durante a maior parte da vida, 
conseguiu seu sustento escrevendo artigos, que publicava de forma esporádica em jornais alemães 
e norte-americanos, além do auxílio financeiro que recebia do amigo e principal colaborador de seu 
pensamento, Friedrich Engels, economista alemão. Juntos, eles sintetizaram a experiência de muitos 
séculos de lutas de classes oprimidas contra seus opressores, criando a doutrina do socialismo científico 
como uma transformação revolucionária que inaugurou uma nova época no desenvolvimento do 
pensamento social.
Por essa razão, analisar a trajetória da sociedade humana sem se referir a Marx é uma tarefa 
praticamente impossível, dada sua importância à constituição histórica do século XX, que se 
deve, em maior ou menor escala, às influências da sua produção intelectual, apesar da grande 
polêmica gerada até hoje pelos seus pressupostos teóricos. Foi diretamente influenciado por 
Ludwig Feuerbach, que antevia uma visão invertida do materialismo de Hegel. Marx evoluiu dessa 
ramificação, que já superava o idealismo revolucionário dos jovens hegelianos de cujo movimento 
ele mesmo fez parte. Seu pensamento, nitidamente engajado com as lutas proletárias, teve como 
base uma síntese de três correntes distintas: a economia política inglesa, o socialismo francês e 
a filosofia alemã. Da união dessas ideias, ele construiu um raciocínio inédito que ficou conhecido 
como “materialismo dialético histórico”.
Essa teoria consiste no desenvolvimento mais elevado sobre a interpretação materialista e dialética 
da evolução histórica do homem. Para Marx, a realidade material será sempre a grande responsável por 
todas as condições de vida capazes de expor ao ser humano sua condição existencial, sendo que dela 
devem partir todas suas formas de ideologia, ou seja, as visões de mundo.
Diante dessa formulação, pode-se deduzir que não é a ideia que produz a realidade, mas sim a 
realidade que produz as ideias, que acabam se correlacionando de forma dialética para modelar as 
constituições sociais. Inserido no contexto do pensamento alemão que deu origem ao racionalismo 
(idealismo lógico) e ao romantismo (idealismo sensível), resultando no “materialismo contemplativo”, 
Marx defendia a prática de um materialismo ativo.
75
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
No entanto, seu materialismo não pode ser encarado de forma empírica, porque Marx acreditava 
que o racionalismo era ainda muito abstrato quando comparado ao materialismo dialético, uma vez 
que matéria e ideia são categorias opostas que se interrelacionam, mantendo uma espécie de unidade.
Seu pensamento político criticou todas as correntes socialistas por não ter um caráter decididamente 
transformador, somente reformador. Ainda que para Marx a evolução e a revolução são dialéticas e 
cada partido operário, ao realizar suas metas curtas, se torna inútil. Enquanto posição, ele defendia o 
socialismo científico em oposição a um socialismo romântico, ou o comunismo (revolucionário, para 
se opor ao mero reformismo). Ele defendia também não apenas a melhoria das condições de vida do 
proletariado, mas, acima de tudo, a própria emancipação deste, com o fim da condição proletária. 
Não se tratava de amenizar a exploração, mas sim de exterminá-la. No entanto, as condições dessa 
emancipação, que só a prática poderia realizar, estava nas condições reais em que estava inserida. Por 
isso, em Marx, é o desenvolvimento do capitalismo que criou a proletarização, é o exército que vai 
destronar a burguesia, pois a própria hostilidade que o capitalismo produz sobre a condição proletária 
gera as condições subjetivas para a explosão revolucionária.
Na lógica do materialismo dialético histórico, trata-se sempre de um “drama histórico”, termo que 
Marx utiliza em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, e não de um “determinismo histórico”, que resultaria 
em um materialismo mecânico e positivista, oposto ao materialismo dialético. Dessa maneira, Marx 
finalizou as teses de Feuerbach. Não se trata de interpretar o mundo de forma diferente, mas sim de 
transformá-lo, pois somente a ação revolucionária produz a transcendência da ordem em vigor.
Na obra Ideologia alemã, Marx introduz os pressupostos de seu novo pensamento, enquanto no 
Manifesto comunista elabora sua tese política mais importante. Na Questão judaica, ele critica a 
religiosidade, alegando que não se pode tratar dos questionamentos humanos do ponto de vista teológico, 
mas sim considerar a teologia como uma questão humana. Para ele, o foco deve estar em encarar as 
religiões como projeções fantasiosas do homem, embora reproduzam a condição humana real a que 
estamos presos. Na Crítica do Programa de Gotha, Marx produz o mais longo e esquematizado esboço 
daquilo que seria uma sociedade socialista, apesar tentar evitar qualquer esforço de “futurologia”, para 
permanecer restrito ao campo da ciência. Já em Guerra civil na França, ele assume de forma definitiva 
que, apenas com a extinção do Estado, o proletariado pode oferecer a si mesmo as condições necessárias 
para manter o poder recém-conquistado, defendendo que o fim do Estado significa o fim do monopólio 
da violência que o Estado representa.
A colaboração de Engels em todos os textos de Marx foi de suma importância, ainda que 
este sempre frisasse a superioridade de Marx. Uma das obras mais importantes de Engels para o 
comunismo é Do socialismo utópico ao socialismo científico, na qual apresenta de forma mais clara 
as diferenciações do socialismo de Estado com as do socialismo científico, e o Estado como sendo 
um “capitalista coletivo”. Marx considerava a sociedade extremamente capitalista e acreditava que o 
capitalismo traria divisões sociais.
O conceito de mais-valia foi empregado por Marx para explicar a obtenção de lucros contínuos a 
partir da exploração da mão de obra. Os donos dos meios de produção obtêm parte de seus lucros pela 
exploração do trabalhador.
76
Unidade III
Em 1864, Marx foi um dos fundadores da Associação Internacional dos Operários, depois chamada 
I Internacional, na qual encontrou a oposição dos anarquistas, liderados por Bakunin. Em 1872, no 
Congresso de Haia, a associação foi praticamente dissolvida. No entanto, Marx foi responsável pela 
fundação do Partido Social-Democrático alemão em 1875, que foi proibido pouco tempo depois. Entre 
seus trabalhos iniciais, o mais importante foi o artigo Sobre a crítica da filosofia do direito de Hegel, de 
1844, primeira tentativa de interpretação materialista da dialética de Hegel.
Apenas em 1932, foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos econômico-filosóficos, 
datados de 1844. Trata-se do esboço de um socialismo humanista,que se preocupa especialmente 
com a alienação do homem e com a compatibilidade desse humanismo com o marxismo que viria 
posteriormente. Em 1888, Engels publicou as Teses sobre Feuerbach, escritas por Marx em 1845, 
que refutam o materialismo teórico na busca de uma filosofia, além de interpretar o mundo. Esse 
documento já contém o germe do marxismo, que proclama a relação indissolúvel entre filosofia e 
atividade social.
Foi em 1867 que Marx iniciou a publicação de O Capital, sua obra mais importante e direcionada 
especialmente para o estudo da economia, como resultado das pesquisas no British Museum, que 
abordam a teoria do valor, da mais-valia, além da acumulação do capital. Nele, Marx reuniu uma 
documentação imensa para dar continuidade a essa obra. Os volumes II e III de O Capital foram editados 
por Engels em 1885 e 1894. Outros textos foram publicados por Karl Kautsky, como o volume IV (1904-
10). Em O Capital, Marx elabora uma análise das leis econômicas que regem a sociedade capitalista, 
estudando essa sociedade na sua origem, no seu desenvolvimento e na sua decadência.
Essa coletânea também inclui duas obras destinadas por Marx às grandes massas operárias, Trabalho 
assalariado e Capital, e serviram de base para as conferências pronunciadas por ele em 1847, na 
Associação Operária Alemã de Bruxelas. Salário, preço e lucro foi a conferência realizada em 1865, em 
duas sessões do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores. Nesses trabalhos, Marx 
forneceu uma análise teórica profunda, exposta de forma popular, sobre as relações econômicas em 
que está baseada a dominação de classe da burguesia, explicando a origem e a essência da mais-valia 
e levando o leitor à conclusão revolucionária da necessidade de o operariado lutar pela supressão total 
da escravidão assalariada.
De acordo com a dialética marxista, as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. 
Portanto, a dialética consiste em pensamento e realidade ao mesmo tempo. A contradição dialética não 
é somente uma contradição externa, mas sim unidade das contradições e também identidade, como 
esclarece o próprio Lefebvre (1979 p. 192):
A dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser 
concretamente idênticas, como passam uma na outra, mostrando também 
por que a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, 
petrificadas, mas sim como algo vivo e mutável, lutando uma contra a outra. 
Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de 
verdade, mas também de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado 
como unilateral, é recapturado e elevado a uma instância mais elevada.
77
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticos, já que 
o homem não possui dimensões fora da sociedade e da história, sendo pura abstração. Para Marx, 
é fundamental compreender a realidade histórica em suas contradições na tentativa de superá-
las. Os princípios da sua dialética podem ser resumidos em tudo aquilo que se relaciona e se 
transforma, incluindo as mudanças qualitativas como consequências de revoluções quantitativas. 
Embora a contradição seja interna, os contrários passam a ser unidos em um momento seguinte. 
Assim sendo, a luta dos opostos impulsiona o pensamento e a realidade. Na teoria marxista, o 
materialismo histórico pretende explicar a história das sociedades humanas de todas as épocas por 
meio dos fatos materiais essencialmente econômicos e técnicos. Nesse sentido, a sociedade pode 
ser comparada a um edifício no qual as fundações, ou seja, a infraestrutura, seriam representadas 
pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as ideias, os 
costumes e as instituições. A propósito, Marx, na obra A Miséria da filosofia (1847), atestou que as 
relações sociais permanecem interligadas às forças produtivas. Ao produzir de maneira diferente, 
os homens podem modificar o modo de produção, a maneira de sobreviver e, com isso, mudar as 
relações sociais.
O aspecto central da crítica marxista está na questão de como compreender o que é o homem, 
lembrando que ele defende que não se trata de ter consciência e, muito menos, de ser um animal 
político que dá ao homem o sentido da sua existência, mas sim o fato de ele ser capaz de produzir suas 
condições de existência, tanto do ponto de vista material quanto ideal, ou seja, aquilo que o diferencia. 
Se o homem é historicamente determinado pelas suas condições, é responsável por todos seus atos. 
Nesse caso, todas as teorias de Marx estão baseadas na existência humana. Com o objetivo de também 
mostrar uma visão econômica da história, além de propor uma visão histórica da economia, a teoria 
marxista busca explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas no decorrer do 
processo histórico. De acordo com a concepção marxista, haveria uma dialética contínua das forças 
entre fortes e fracos, repressores e oprimidos.
Nesse sentido, a história humana teria avançado por uma luta permanente de classes, como 
enfatiza claramente o início do primeiro capítulo de O Manifesto comunista, de Marx e Engels: 
“A história de toda sociedade passado é a história da luta de classes”. Classes essas que, para 
Engels, são “os produtos das relações econômicas de sua época”. Mesmo com todas as diversidades 
aparentes, a escravidão e o capitalismo seriam etapas sucessivas de um só processo. Com isso, a 
base da sociedade estaria na produção econômica e sobre ela se ergue uma superestrutura, um 
estado e as ideias de toda natureza. Marx almejava a inversão da pirâmide social, com o poder 
sendo colocado a favor do proletariado, como a força capaz de deter o capitalismo e de construir 
uma sociedade socialista.
Para Marx, a vitória do comunismo era inevitável. Ele afirmava que a história segue certas leis 
imutáveis conforme avança de um estágio a outro. O comunismo, na visão dele, seria o último e mais 
alto grau de desenvolvimento, e a grande solução para a compreensão dos estágios do desenvolvimento 
estaria na relação entre as diferentes classes de indivíduos na atividade produtiva. Para o marxismo, a 
luta de classes é o meio pelo qual a história humana avança historicamente. Por acreditar que a classe 
dominante nunca deixaria o poder por livre e espontânea vontade, a luta e a violência eram necessárias 
e inevitáveis.
78
Unidade III
O Manifesto comunista fez o homem caminhar, de fato, na busca da solução de problemas 
como a pobreza e a exploração do trabalho. Por isso, trata-se de um documento histórico. A 
Liga dos Comunistas pediu a Marx e a Engels a redação de um texto que tornasse precisos os 
objetivos dela e sua forma de ver o mundo. Nesse sentido, o Manifesto comunista pode ser 
considerado como um conjunto de ideais em que os revolucionários da época acreditavam, 
por conter os elementos necessários à compreensão das transformações sociais do ponto 
de vista econômico. No que diz respeito à estrutura, traz uma pequena introdução, três 
capítulos e uma conclusão sucinta. A introdução destaca a força do comunismo ao expor o 
modo comunista de ver o mundo e também suas finalidades. A parte I, denominada Burgueses 
e Proletários, resume a história da humanidade, quando duas classes sociais antagônicas 
dominam o cenário. A maior contribuição desse capítulo está na descrição das grandes 
transformações que a burguesia industrial provocava no mundo, representando um papel 
histórico essencialmente revolucionário. Marx e Engels relatam o fenômeno da globalização 
que a burguesia implementava no comércio pela navegação e pelos meios de comunicação da 
época. O Manifesto fala de ontem, mas ainda parece atual.
Já a parte denominada Literatura socialista e comunista, critica as diversas correntes socialistas 
da época, classificando três tipos de socialismo: reacionário, conservador e burguês e socialismo e 
comunismo crítico-utópico. Nesse capítulo, a obra mostra seu caráter temporal, quase local,revelando 
a sua profunda imersão na efervescência das ideias e dos conflitos da época, quando a aristocracia, 
para condenar a burguesia, faz uma espécie de elogio ao socialismo. Marx pode ser considerado como o 
herdeiro da filosofia alemã, ao lado de Kant e Hegel. 
Na condição de um dos maiores pensadores de todos os tempos, possui uma produção teórica com 
a extensão e a densidade de um pensador como Aristóteles, de quem era admirador.
7.6 Augusto Comte: o positivismo
Figura 16 – Auguste Comte
79
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Auguste Comte nasceu em Montpellier, na França, a 19 de janeiro de 1798, filho de um fiscal de 
impostos. Suas relações familiares foram sempre conflituosas e, por isso, explicam o desenvolvimento 
de sua vida e até mesmo do conteúdo de suas obras. Com frequência, culpava os pais por sua situação 
econômica instável. Tão complexos eram os laços familiares, rompidos por Comte, que lhe deixaram 
marcas pro fundas.
Aos 16 anos, ingressou na Escola Poli técnica de Paris, o que teria significativa influência na 
orientação posterior do seu pensamento filosófico. Embora tenha permanecido apenas dois anos 
nessa escola, Comte recebeu a influência do trabalho intelectual de cientistas como o físico Sadi 
Carnot, o matemático Lagrange e o astrônomo Pierre Simon de Laplace. Na mecânica analítica de 
Lagrange, Comte teria encontrado inspiração para abordar os princípios de cada ciência segundo uma 
perspectiva histórica.
Em 1816, Comte deixou a Politécnica e, apesar da insistência da família, resolveu continuar na 
França. Nesse período, sofreu influências dos chama dos “ideólogos”, como Destutt de Tracy, Cabanis e 
Volney. Também leu os teóricos da economia política, como Adam Smith e Jean-Baptiste Say, filósofos e 
historiadores como David Hume e William Robertson. No entanto, o fator mais decisivo para a formação 
de seu pensamento filosófico foi o estudo do esboço do Quadro histórico dos progressos do espírito 
humano, de Condor cet, ao qual se referiria, mais tarde, como “meu imediato predecessor”. A obra de 
Condorcet traça um retrato do desenvolvimento humano, no qual os descobrimentos e as invenções 
científicas e tecnológicas desempenham um papel preponderante, fazendo o homem caminhar rumo a 
uma era em que a organização social e política seria o produto final das luzes da razão, ideia que iria se 
transformar em um dos pontos cruciais da filosofia comtiana.
Logo após o idealismo que predominou na primeira metade do século XIX, surge o positivismo, 
que ocupa a segunda metade do mesmo século, espalhado em todo o mundo civilizado. Trata-se de 
um pensamento que representa uma reação contrária ao apriorismo, ao formalismo, ao idealismo, 
priorizando o estudo da experiência prática e dos dados positivos. Podemos considerar como a diferença 
fundamental entre idealismo e positivismo o fato de que o primeiro procura uma interpretação, uma 
unificação da experiência mediante a razão, enquanto o segundo, pelo contrário, quer limitar-se à 
experiência imediata, pura, sensível, como já havia ocorrido com o empirismo. Vem desse aspecto sua 
superficialidade filosófica, mas também seu valor como descrição e análise da experiência por meio da 
história e da ciência, considerando o idealismo, que altera a experiência, a ciência e a história.
O positivismo também ganha impulso graças ao grande progresso das ciências naturais, em especial 
das biológicas e fisiológicas do século XIX. Tenta-se aplicar os princípios e os métodos daquelas ciências 
à filosofia, como forma de solucionar os problemas do mundo e da vida, com o intuito de conseguir bons 
resultados. O positivismo ainda ganhou força devido ao desenvolvimento dos problemas econômico-
sociais que predominaram no século XIX. Por ser altamente valorizada a atividade econômica, que 
produz bens materiais, é compreensível que se busque uma perspectiva filosófica positiva, naturalista e 
materialista para as ideologias no campo das atividades econômico-sociais.
Grosso modo, o positivismo admite, como fonte única de conhecimento e de critério de verdade, 
a experiência, os fatos positivos, além dos dados sensíveis. Nenhuma metafísica, portanto, como 
80
Unidade III
interpretação, justificação transcendente ou imanente da experiência, possui espaço nesse campo de 
reflexão. Nesse sentido, a filosofia é reduzida à metodologia e à sistematização das ciências, e a lei, 
única e suprema, domina o mundo concebido positivisticamente, promovendo a evolução necessária 
à energia naturalista. O nome de Auguste Comte está indissociavelmente ligado ao positivismo, 
corrente filosófica fundada por ele com a intenção de reorganizar o conhecimento humano, que teve 
grande influência no Brasil.
Figura 17 – Detalhe da bandeira do Brasil
Figura 18
Comte também é considerado o grande sistematizador da sociologia. Vale destacar que ele 
viveu em um período da história francesa em que se alternavam o despotismo e as revoluções, o 
que levou a sociedade a uma turbulência e a um desencanto geral com a política e a uma crise dos 
valores tradicionais.
81
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Ele buscou dar uma resposta a esse estado de ânimo pela união de elementos da obra de pensadores 
anteriores a ele e também de alguns contemporâneos, o que resultou em uma teoria denominada por 
ele de positivismo. “Ele reviu as ciências para definir o que, nelas, decorria da realidade dos fatos e 
permitia a formulação de leis naturais, que orientariam os homens a agir para modificar a natureza”, diz 
Arthur Virmond de Lacerda, professor da Faculdade Internacional de Curitiba.
Um dos fundamentos do positivismo está na ideia de que tudo o que diz respeito ao homem pode 
ser sistematizado de acordo com a adoção de princípios como o critério de verdade para as ciências 
exatas e biológicas. Isso deveria ser aplicado também aos fenômenos sociais, que seriam reduzidos a leis 
gerais como as da física ou da matemática.
Para Comte, a análise científica aplicada à organização social é o centro da questão sociológica, cujo objetivo 
seria o planejamento da organização social e política. De acordo com os positivistas, só é possível afirmar que 
uma teoria é correta se ela puder ser comprovada por intermédio de métodos científicos válidos, em detrimento 
dos conhecimentos relacionados às crenças, à superstição ou a qualquer outro que não reúna condições de ser 
comprovado cientificamente. Para eles, o progresso da humanidade depende unicamente dos avanços da ciência.
 Observação
“O grande instrumento do Iluminismo é a consciência individual, 
autônoma em sua capacidade de conhecer o real” (Danilo Marcondes).
 Saiba mais
Assista Danton, filme que narra a história da Revolução Francesa, que 
marca o início do pensamento filosófico moderno.
Danton. Dir. Andrzej Wajda, França/Polônia, 131 minutos, 1982.
8 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
Pode ser considerada como contemporânea a filosofia que compreende a segunda metade do século 
XIX até o início do século XXI, e o positivismo permanece como presença constante na história do 
pensamento dessa fase. Apesar das suas notáveis diferenças na maneira de lidar com os problemas, é 
possível reconhecer essa conduta empirista do século XVIII no positivismo do século XIX e no positivismo 
lógico ou empirismo lógico do século XX. 
O empirismo lógico ou positivismo lógico do século XX consiste num dos movimentos integrantes 
da corrente analítica dos nossos dias, cuja originalidade está em ter conseguido transformar o próprio 
conceito de filosofia. Para a corrente analítica, a filosofia não tem por objeto a realidade, mas sim a 
análise da linguagem que envolve a realidade, seja a linguagem ordinária, comum ou científica.
82
Unidade III
Outras correntes da filosofia contemporânea tomaram como objeto principal de consideração o 
fenômeno da história, da vida e da irredutibilidade da existência pessoal: as filosofias historicistas, 
existencialistas e personalistas.
O existencialismo constitui, originalmente, umareação a favor da individualidade, colocando em 
primeiro plano a categoria de singularidade, preferida pelo sistema dialético de Hegel. Quanto ao 
vitalismo de Nietzsche, representa uma reação não apenas contra Hegel, mas contra toda a tradição 
intelectualista-religiosa que se opôs à vida e aos valores vitais, desde que se verificou a aliança do 
platonismo com o cristianismo.
Podemos afirmar que a característica externa mais notável da filosofia contemporânea consiste na 
diversidade dos enfoques, dos sistemas e das escolas frente ao desenvolvimento. Os responsáveis por 
essa disseminação de opiniões e de escolas divergentes foram os fatores socioculturais, como a crise 
dos sistemas políticos e o avanço das ciências naturais e lógico-formais, além do desenvolvimento 
das ciências humanas. O mundo atual, rodeado pelas telecomunicações, dominado pela internet e 
formulador dos programas espaciais, da física quântica e da medicina biomolecular, parece não ter mais 
espaço para o pensamento filosófico. Qual seria então, hoje, a função da filosofia? O filósofo inglês 
Bertrand Russel, em Os problemas da filosofia, refletiu sobre essa questão:
A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar ao 
conhecimento. O conhecimento a que ela aspira é o tipo de conhecimento 
que dá unidade e sistematiza o corpo das ciências, e que resulta de um 
exame crítico dos fundamentos de nossas convicções, preconceitos e crenças 
(RUSSEL, 2008).
Com certeza, essa é uma das definições de filosofia. Trata-se de uma disciplina que estuda os 
fundamentos das convicções humanas. Porém, enquanto as ciências estabelecem um corpo sólido de 
conhecimentos e verdades a partir do qual passam a se desenvolver, a filosofia não alcança os mesmos 
resultados, pois não dá respostas definitivas a nenhuma questão. O próprio Bertrand Russell, também 
em Os problemas da filosofia, explicou por que ocorre esse descompasso:
Isto se deve em parte ao fato de que, assim que o conhecimento definitivo 
a respeito de qualquer assunto torna-se possível, esse assunto deixa de ser 
chamado de filosofia, e torna-se uma ciência independente. O estudo total 
dos céus, que agora pertence à astronomia, foi um dia incluído na filosofia; 
a grande obra de Newton chamava-se Princípios matemáticos de filosofia 
natural. Do mesmo modo, o estudo da mente humana, que fazia parte da 
filosofia, agora foi separado da filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. 
Assim, em grande medida, a incerteza da filosofia é mais aparente que real: 
as questões que são capazes de ter respostas definitivas são abrigadas nas 
ciências, enquanto aquelas para as quais, até o presente, não podem ser 
dadas respostas definitivas, continuam a formar o resíduo que é chamado 
de filosofia (RUSSEL, 2008). 
83
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
8.1 Conhecimento e ciência
Vivemos em um mundo que não para de introduzir novas questões no campo da filosofia e, por essa 
razão, torna-se difícil reconhecer o que é a filosofia contemporânea. Certamente, é possível compreender 
a filosofia da antiguidade de forma mais clara e coerente do que a filosofia contemporânea, que tem 
como base uma série de pressupostos que foram elaborados no final do século XIX. 
Um deles seria em relação à história, atribuído a Hegel, que se identifica com os ideais de totalidade 
e de processo. Nesse sentido, passamos a compreender o homem como um ser histórico, semelhante à 
sociedade da qual faz parte. Um dos conceitos mais conhecidos dessa maneira de conceber o mundo foi 
a ideia de progresso, que teve no filósofo Auguste Comte seu grande teórico. Na visão dele, tanto a razão 
quanto a ciência caminham sempre juntas rumo ao desenvolvimento do futuro do homem. Isso faz com 
que as utopias do século XIX, como o anarquismo, o socialismo e o comunismo, também contenham essa 
noção de progresso como prerrogativa básica na condução de uma sociedade justa e harmoniosa.
Apesar da repercussão desse conceito, a ideia de que a história fosse uma trajetória progressiva em 
termos de avanço para a humanidade recebeu severas restrições no decorrer do século XX. Com isso, 
surgiu a noção de que o progresso é algo descontínuo, ou seja, não se dá por meio de etapas que vão 
se sucedendo. Assim, a história da humanidade não pode ser considerada como um conjunto de várias 
civilizações em etapas diferentes de desenvolvimento, pois cada sociedade possui sua própria história, 
sua cultura e valores próprios. 
Foi essa visão de mundo que viabilizou o desenvolvimento de ciências como a etnologia, a antropologia 
e as ciências sociais, uma vez que a confiança no saber científico foi uma das posturas filosóficas que 
se desenvolveram no século XIX, acreditando ser possível que a natureza pudesse ser controlada pela 
ciência e pela técnica. Além disso, com o desenvolvimento da ciência e da técnica, o progresso foi levado 
a vários setores da vida humana.
Com o objetivo de estudar essa nova realidade, um grupo de intelectuais alemães elaborou a teoria 
crítica, segundo a qual as transformações sociais, políticas e culturais poderiam acontecer apenas se 
tivessem como finalidade maior a libertação total do homem em detrimento do tecnicismo e do domínio 
da ciência sobre a vida humana.
Trata-se, portanto, de um pensamento que diferencia a razão instrumental da razão crítica, sendo 
a razão instrumental aquela que transforma as ciências e as técnicas num meio de intimidação do 
homem, e não de libertação, enquanto a razão crítica estuda as fronteiras e os riscos da aplicação da 
razão instrumental. Jean-Paul Sartre também elaborou as questões humanas em relação à liberdade e ao 
seu compromisso com a história. Associando as contribuições do marxismo e da psicanálise, ele criou um 
pensamento sistemático que prioriza o conceito de existência no lugar da essência:
Assim que começamos a filosofar, achamos que mesmo as coisas mais 
cotidianas levam a problemas para os quais só podem ser dadas respostas 
muito incompletas. A filosofia, embora incapaz de nos dizer com certeza 
quais são as respostas verdadeiras às dúvidas que ela suscita, está apta 
84
Unidade III
a sugerir muitas possibilidades que ampliam nossos pensamentos e os 
libertam da tirania do hábito. Assim, embora diminuindo nosso sentimento 
de certeza a respeito do que as coisas são, ela aumenta enormemente nosso 
conhecimento em direção ao que as coisas podem ser (RUSSEL, 2008).
8.2 Nietzsche: revolução e conhecimento
O pensador entre os séculos
Figura 19 – Friedrich Wilhelm Nietzsche
Nascido em uma época de paz na Alemanha de 1844, Friedrich Nietzsche profetizou as grandes 
guerras que iriam acontecer no século XX, afirmando que chegaria o dia em que os homens lutariam 
no confronto pelo poder. No entanto, ele conhecia os campos de batalha do espírito e, no fundo, queria 
conhecer apenas esses. Porém, sua obra contém o caos, assim como o impulso que deveria desencadeá-
lo no decorrer da história da humanidade, podendo ser considerado como o primeiro precursor do 
conceito de pós-modernidade amplamente utilizado hoje. 
Na vanguarda da sociedade que preconizava, ele colocava o espírito de altivez, afirmando que a 
consciência de si próprio precede qualquer criação. Por ser de família luterana, já tinha seu destino 
traçado como pastor, assim como o pai e o avô. Nietzsche, que perdeu a fé durante a adolescência, 
queria ser aquele que deveria superar seu tempo e, em razão da sua consciência, assumiu o papel de 
“pensador entre os séculos”. Pode-se afirmar que teve a audácia que não se repete de rever tudo aquilo 
que a cultura ocidental conservava moralmente e mantinha-se unido desde o desaparecimento do 
mundo pagão.
Além da subversão, a que atribuía uma importância tão grande, sua maior contribuição filosófica 
está no fundamento da ética que dominou. Ele sabia perfeitamente que não bastava quebrar as tábuas 
da lei. Estas deveriam ser desmanteladas com frequência e durante muito tempo, até serem substituídas 
por outras. Nietzsche tomoupara si essa tarefa, sem indagar sobre essa necessidade. Para ele, não era 
85
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
a necessidade dos homens que decidia, mas sim a ordem do legislador que deveria dominar. Como 
consequência, o filósofo deveria considerar-se esse legislador. Em 1879, problemas de saúde o afastaram 
da docência e dos alunos. Parte então para uma vida dedicada ao pensamento errante em locais de 
clima mais ameno. Começou Assim falou Zaratustra quando estava em Nice, na França, e não parou 
de produzir sua obra intelectual. Essa fase, porém, termina de forma abrupta em 3 de janeiro de 1889, 
quando entra em estado de loucura, levando-o à morte.
Assim falou Zaratustra
Ao lado de Marx e de Freud, Nietzsche pode ser considerado um dos autores mais controversos 
da história da filosofia moderna. Foi o único que exigiu uma imortalidade exclusivamente terrena. “O 
pensador entre os séculos” tinha a convicção de não preparar uma época destinada a desaparecer, mas 
sim de dispor de todo o futuro reservado ao planeta. Esse foi o motivo pelo qual se chama de “o último 
homem”. No entanto, o “super-homem” que pregou só o frequentou sob o aspecto de sombra, por 
carregar o peso do destino humano em sua essência filosófica. Nietzsche achou possível que um dia a 
ciência reinasse no mundo, o que o coloca ao lado, na posição de herói, de Deus e distante dos homens. 
Seria de fato divino fazer da ciência, concebida como objeto de paixão, a soberana do mundo. Porém, o 
mundo nunca esteve tão afastado dessa soberania como hoje.
No que diz respeito à religião, Nietzsche concebia o cristianismo e o budismo da mesma forma, 
como “as duas religiões da decadência”, apesar de enfatizar que havia uma grande diferença entre essas 
duas crenças, pois, na visão dele, o budismo era mais realista. Por essa razão, dizia ser ateu por instinto. 
A crítica de Nietzsche contra o idealismo metafísico focava-se nas categorias e nos valores morais que 
o constituem, e sugeria outra abordagem, que seria a genealogia dos valores. Na verdade, ele sempre 
quis ser o maior destruidor de toda forma de preconceito e ilusão da humanidade, ou seja, aquele que 
se atreveu a olhar, sem temor, aquilo que está oculto nos valores aceitos por todos, incluindo todas as 
verdades, assim como os ideais que fundamentaram a civilização e que direcionaram o rumo da história 
do homem. Nesse sentido, ele acreditava que a moral tradicional, as religiões e os sistemas políticos 
eram apenas disfarces de uma realidade mutante e cruel, cuja simples visão seria insuportável para 
qualquer indivíduo.
Nietzsche questionou de maneira radical a moral que impede a revolta dos indivíduos 
considerados inferiores e das classes subalternas contra a aristocracia. Ele considerava essa moral 
como algo que limita à ilusão a realidade humana e ainda pretende impor uma racionalidade 
pura que não passa de uma ficção. Nesse processo, Nietzsche buscou tirar todas as máscaras que 
o fluir da própria existência humana se encarrega de colocar. Nesse sentido, ele concebia que a 
vida poderia ser mantida apenas por meio de eternos embates entre os seres vivos, pela luta entre 
vencidos que almejam ser vencedores e vencedores que podem, de um momento para o outro, ser 
vencidos. Portanto, a vida humana para Nietzsche consiste na vontade de poder ou de domínio, 
mas os disfarces possuem a capacidade de torná-la mais suportável, mesmo a deformando e 
ameaçando-a de ser destruída.
Não existe nuance, segundo Nietzsche, entre a aceitação da vida e a sua renúncia. Para salvá-
la, torna-se necessário arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é, não para aceitá-la com 
86
Unidade III
resignação, mas para restituir-lhe a exaltação e sua alegria. Por ser filho do “húmus”, o ser humano 
possui a capacidade inerente de sobreviver e de vencer. Nietzsche mostrou-se contrário a qualquer 
tipo de igualitarismo que atente o bom senso por meio de uma lei rígida e universal, ou seja, o 
imperativo categórico. Para ele, o homem é uma individualidade irredutível, a qual os limites e as 
imposições de uma razão que tolhem a vida permanecem alheios a ela, parecida com as máscaras das 
quais ele precisa se libertar. Ao contrário de Kant, para o qual o mundo não é desordenado em termos 
de estrutura e de inteligência. Nele, todas as coisas “dançam nos pés do acaso”, e apenas a arte 
tem o poder de transformar esse caos em beleza e tornar suportável o que há de mais tenebroso na 
condição humana. Apesar de todas as oposições, é preciso reconhecer que existe uma matriz comum 
e ativa entre Kant e Nietzsche.
Essa matriz comum seria o espírito do romantismo do século XIX, com sua ansiedade de infinito 
e com sua revolta contra os limites e os condicionamentos impostos pela sociedade. Da mesma 
forma que Platão, Nietzsche defendia que a humanidade fosse governada por filósofos. Na obra 
nietzscheana, a ideia de uma nova moral contrapõe-se de forma radical à utopia de uma nova 
humanidade. Para Nietzsche, a liberdade reside na aceitação consciente de um destino que se faz 
necessário, uma vez que o homem libertado e senhor de si mesmo será capaz de refutar qualquer 
verdade estabelecida, estando preparado para expressar a vida em todas as suas ações. Este era 
o cenário ideal vislumbrado por Nietzsche, como também a realidade que ele próprio buscava 
personificar. É interessante perceber que, sem se dar conta, ele contrói seu próprio imperativo 
categórico, fundamentado na liberdade total do ser humano e na ausência completa de leis, pois 
se trata de uma libertação subjugada pela razão, que também impõe limitações à vida do homem 
à sua maneira.
Além disso, Nietzsche também criticava a vida e a cultura moderna, assim como o neonacionalismo 
alemão. Na visão dele, os ideais da modernidade não passavam de sintomas e exemplos da decadência 
do homem. Sua figura foi promovida e valorizada pela Alemanha nazista, e sua irmã era simpatizante 
do regime totalitário de Hitler, incrementado por essa associação. Em A minha luta, o líder nazista 
descreve-se como a encarnação do super-homem. Segundo relato dos estudiosos, o livro Assim 
falou Zaratustra era fornecido como leitura para os soldados no campo de batalha com o intuito de 
incentivar o exército.
Apesar disso, Nietzsche era declaradamente contra o movimento antissemita promovido por Adolf 
Hitler e seus partidários. Sua obra foi muito mais longe e sobreviveu além da apropriação feita pelo 
regime nazista. Ainda hoje, ele é considerado um dos filósofos mais estudados da história. Muitas de suas 
frases ganharam fama e repercutiram nos mais diversos campos de estudo, criando várias distorções em 
termos de entendimento. Ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, 
e muitos aspectos relacionados a ela puderam ser compreendidos por meio da obra de Nietzsche como 
forma de pesquisa filológica, uma vez que em seus textos existem associações de palavras que não 
poderiam estar próximas por causa da sua essência contraditória.
Todo o legado da obra de Nietzsche foi e permanece, ainda hoje, de difícil e contraditória 
compreensão. Existem aqueles que associam suas ideias ao niilismo, defendendo que, para ele, a 
moral não tem importância e os valores morais não possuem qualquer validade, que Deus está morto 
87
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
e que a história não é finalista, pois não há progresso nem objetivo. Outros, porém, não pensam 
nele como o autor do niilismo; ao contrário, um crítico do niilismo, uma vez que o homem pode ser, 
além de destruidor, um criador de valores a serem destruídos. Essa constatação baseia-se na obra 
Assim falou Zaratustra, na qual ele destaca a necessidade da vinda do super-homem para ser e criar. 
Em que pese todo tipo de dicotomia, pode-se dizer que Nietzsche buscou desvendar as formas de 
renúncia da existência e da vontade. Nesse contexto, o próprio mito do eterno retorno representa o 
trágico-dionisíaco dizendo sim à vida, no auge da sua plenitude, como umaafirmação incondicional 
da existência humana.
Pode-se atribuir a falta de consenso na apreciação da obra de Nietzsche aos paradoxos contidos 
na essência do seu próprio pensamento. Essa constatação está disponível em Fragmentos finais, obra 
baseada na reestruturação desses manuscritos. O mais importante é que Nietzsche nem sempre tinha 
o sentimento de ser o verdadeiro herói da eternidade, considerando-se, por vezes, apenas aquele que 
representava a figura histórica do herói. Nesse sentido, acabou falando do “clown das eternidades”, 
que visava ao Nietzsche trágico. Não estava louco ao confessar o papel que representava quando se 
aproximou do fim e quando chegou o momento de arrancar os disfarces e voltar para dentro de si. 
Isso não só nos impede de levantar suspeitas sobre ele, como demonstra a sua completa honestidade, 
mais elevada e profunda do que qualquer verdade pensada com sua contradição em busca de um 
destino.
8.3 Freud: os enigmas do inconsciente
Figura 20 – Sigmund Freud (1856-1939)
Médico especializado em doenças mentais, Sigmund Freud desenvolveu a psicanálise, uma 
teoria do funcionamento da mente humana e um método exploratório de sua estrutura, destinado 
a tratar os comportamentos compulsivos e muitas doenças de natureza psicológica supostamente 
sem motivação orgânica. Ele recolheu de várias fontes os elementos por meio dos quais compôs a 
88
Unidade III
sua teoria, a partir das descobertas do médico austríaco Josef Breuer, da doutrina platônica e do 
pensamento filosófico de Schopenhauer, consolidando, pela longa prática clínica, os postulados da 
teoria que denominou Psicanálise.
Sigmund Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg, Morávia, no império austro-húngaro 
(hoje Pribor, Checoslováquia). Filho de Jacob Freud, um comerciante judeu, e de sua jovem segunda 
esposa, Amalia Nathanson. Para se decidir sobre a futura carreira, estudou primeiro filosofia; mas 
acabou optando depois pela medicina, especializando-se em fisiologia nervosa, uma área em 
que a prática diária permitiria-lhe dar vazão à sua curiosidade em conhecer a natureza humana. 
Impressionado com a propriedade terapêutica da conversa no estado de hipnose, em 1885 Freud 
utilizou uma bolsa de estudos obtida do governo para passar um tempo na Salpetriere, em Paris, 
onde aprendeu técnicas com o psiquiatra Jean-Martin Charcot, que fazia experiências com doentes 
mentais por meio de sessões hipnóticas. Ele chegou até a relatar ao médico francês o sucesso obtido 
na conversa com o paciente, como substituição à hipnose, mas Charcot não demonstrou interesse. 
Ainda em 1885, Freud escreveu o Projeto para uma psicologia científica e, no ano seguinte, iniciou a 
especialidade em “doenças nervosas”.
No começo dos anos 1890, ele passou a anotar seus próprios sonhos, convencido de que isso poderia 
fornecer pistas para a atuação do inconsciente, uma ideia que já existia no romantismo da literatura 
e em parte do conhecimento psicológico do século XIX, como no livro A filosofia do inconsciente, de 
Karl von Hartmann, publicado em 1893. Sua intenção com a autoanálise era utilizar tanto o material 
colhido em suas análises clínicas quanto o que obtinha por sua própria introspecção. Joseph Breuer 
compartilhou com Freud seu método terapêutico, que designou catarsis. Consistia basicamente em 
fazer o paciente recordar, pela hipnose ou por diálogo, o trauma psicológico sofrido, até provocar uma 
descarga emocional que conduzia à cura.
Entre os anos de 1892 e 1895, desistiu aos poucos da hipnose, que acabou sendo substituída 
pelo divã, para que o paciente, colocado numa posição confortável, fizesse esforço para lembrar os 
traumas que originaram seus conflitos internos. Com esse relaxamento, Freud conduzia uma livre 
associação de ideias, por meio da qual acabava encontrando lembranças “escondidas” pelo paciente 
e causadoras dos distúrbios. Ele então formulou o princípio de que os sintomas histéricos possuem 
origem no fluxo dos processos mentais, que, impedidos de chegar à consciência, são direcionados 
para o corpo e transformados em sintomas. Em função da natureza das experiências traumáticas 
recordadas pelos pacientes, Freud convenceu-se de que o sexo era parte essencial da origem das 
neuroses. Portanto, passou a considerar o desejo sexual, direta ou indiretamente, como motivação 
única do comportamento humano.
Entre os anos de 1895 e 1899, Freud esteve envolvido na preparação do seu estudo Die Traumdeutung 
(A interpretação dos sonhos), publicado em 1900 e considerado como sua obra principal, por causa 
das análises dos sonhos, da autobiografia, da teoria da mente e de outras visões da vida vienense 
contemporânea. Ele também descreve o processo de “condensação”, de “deslocamento” e de “elaboração 
secundária”, debatendo ainda o conteúdo estrutural dos sonhos, além de explicar como estes representam 
a concretização do imaginário dos desejos humanos. Ao explicar o Complexo de Édipo, Freud destacou a 
importância da infância para o engajamento na vida adulta. O sétimo capítulo tem a exposição da teoria 
89
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
da mente. O princípio ativo de seu modelo da mente é a “inércia neurônica” ou princípio de constância, 
de acordo com o qual a mente trabalha no sentido da redução de qualquer tensão proveniente do 
acúmulo de “energia”, que podia ser de natureza sexual ou psíquica.
Em 1902, Freud passou a se reunir em casa com médicos neurologistas e psiquiatras para discutir e 
opinar a respeito da sua teoria psicanalítica. Entre eles, estavam Alfred Adler e Carl Gustav Jung. O grupo 
evoluiu para a constituição, em 1908, da Sociedade Psicanalítica de Viena, que, em 1910, se tornaria 
a Associação Internacional de Psicanálise. Em 1904, publicou Zur Psychopathologie des Alltagslebens 
(Psicopatologia da vida cotidiana), em que demonstra evidências simples da atividade do inconsciente e 
do subconsciente nas pessoas saudáveis. Seriam os chamados “atos sintomáticos”, como, por exemplo, 
o inexplicável esquecimento súbito de um nome conhecido ou a troca involuntária de palavras no 
meio de uma frase. Esses acontecimentos revelam a luta do consciente com o subconsciente e com 
o inconsciente. Por meio deles, ele conseguiu a revelação da “repressão” inconsciente pelo método da 
livre associação, inspirado nos atos falhados ou sintomáticos, bem como a identificação de símbolos e a 
interpretação dos sonhos como forma de substituir as técnicas de hipnotismo.
No ano de 1910, Freud publicou Über Psychoanalyse (Sobre a psicanálise). Porém, suas ideias 
escandalizavam cada vez mais o meio médico vienense, fazendo com que vários de seus colegas se 
retirassem da Associação Internacional de Psicanálise. A principal razão do escândalo estava na forma 
como ele divulgava seu conhecimento, ainda em estágio de acabamento, sobre a questão sexual das 
crianças, que ele afirmava estarem sujeitas ao desejo sexual e que o objeto desse desejo estava associado 
aos próprios pais. Além do Complexo de Édipo, em que o filho deseja sexualmente a mãe, Freud admitia 
também o Complexo de Eletra, como a inveja que a menina tem do pênis do menino, e chamou a 
criança de um “perverso polimorfo”. Ele ainda classificou a sexualidade humana em três fases: oral, anal 
e genital, que costumam se suceder nessa ordem, mas com casos de regressão e fixação.
No término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, Freud perdeu todas suas economias, que havia 
aplicado em bônus do governo austríaco. Retirando sua ênfase do instinto sexual como força propulsora 
do comportamento, ele se dedicou à formulação do conceito de “Princípio do prazer e desprazer”, 
estudando o equilíbrio entre o impulso pelo prazer e a dura realidade do mundo externo. Pouco depois, 
elaborou outras ideias metafísicas que aparecem em Jenseits des Lustprinzips (Além do princípio do 
prazer), de 1920. 
Em 1922, trabalhou na redação de Uma neurose demoníaca do século XVIII e, em 1923, publicou 
Das Ich and das Es (O Ego e o Id), no qual expõe sua teoriatripartite da mente, constituída por Id, Ego 
e Superego. O conceito do Id, o reservatório dos impulsos instintivos, é uma cópia da parte da alma na 
doutrina de Platão. Já o Ego trata da realidade do mundo exterior, enquanto o Superego funciona como o 
inibidor dos instintos, sendo a parte sábia e a parte vigilante da alma da mesma doutrina platônica. Porém, 
como ateu e materialista convicto, Freud acreditava que o homem era apenas um produto da evolução 
natural, sujeito às leis da física e da química. Portanto, nada do que uma pessoa diz ou faz é casual ou 
acidental, pois o homem não é livre nem racional, uma vez que obedece a causas do inconsciente.
Para ele, a força que orienta o comportamento inconsciente era o instinto sexual, que não se 
apresentava de forma consciente por causa da “repressão” social tornada também inconsciente. Freud 
90
Unidade III
argumentou de maneira enfática que o comportamento humano é comandado pelo instinto sexual e 
pelo instinto de sobrevivência e que os motivos sexuais, se não são evidenciados, estão sublimados em 
um motivo aparente. Como criador da Psicanálise, por meio da qual é possível o estudo do consciente 
e do inconsciente humano, Freud é considerado um dos pensadores mais revolucionários de sua época, 
cujos reflexos repercutem até os dias atuais.
Sua visão de que repressões de ordem sexual estão na origem de todos os conflitos humanos foi 
denominada de pansexismo, sendo a causa do rompimento com alguns de seus adeptos, entre eles 
Carl Jung, que utilizou a ideia freudiana do inconsciente; mas lhe acrescentou a condição de “coletivo” 
para explicar a origem dos distúrbios psíquicos. Jung substituiu o sexo como motor pelos arquétipos 
universais, que são situações comuns a todos os homens, independente de suas etnias, geografias e 
épocas. São mitos, lendas, tradições que compõem a estrutura mental básica de todos os indivíduos, 
restando a cada qual o espaço onde acrescentam suas biografias pessoais, que, no final, são delimitadas 
pelas grandes linhas do inconsciente coletivo.
Voltando a Freud e à sua principal teoria, observa-se o quanto seu pensamento provocou impacto 
na filosofia vigente da época. Além da questão relacionada à moralidade, sua tese sobre a existência 
do inconsciente como um “depósito” de desejos e recalques sexuais, bem como a origem dos sonhos 
e a fonte do imaginário, causou um verdadeiro abalo nas convicções racionalistas que dominavam o 
panorama filosófico. A certeza de que o homem se diferenciava dos demais animais pela capacidade 
de raciocinar caiu por terra quando argumenta que o raciocínio não poderia ser considerado absoluto, 
pois estava a serviço das intenções nascidas no inconsciente do sujeito. Freud desenvolveu estudo 
detalhado sobre um aspecto da personalidade humana, que, de modo quase geral, não recebeu a devida 
atenção por parte da filosofia. Graças a ele, o estudo do homem adquiriu complexidade, forçando uma 
grande revisão nos conceitos filosóficos, tanto em termos da consciência, da vontade, quanto do próprio 
pensamento humano.
Convém lembrar, no entanto, que nessa tese é possível encontrar semelhanças com 
outras escolas filosóficas, como, por exemplo, o Determinismo. Nesse, o tirano inexorável é o 
destino, enquanto no pensamento de Freud é o inconsciente. O freudomarxismo é a corrente 
filosófica que teve origem na aproximação feita por alguns filósofos contemporâneos, como 
Herbert Marcuse e Wilhelm Reich, entre as teses de Marx e Freud sobre cultura e civilização. 
Eles estudaram especialmente a análise marxista da ideologia e usaram as teses de Freud para 
invalidar e desmistificar o pensamento burguês.
No aspecto freudiano, o inconsciente consiste em uma das qualidades psíquicas que, juntamente 
com o pré-consciente e o consciente, formam a configuração espacial do aparelho psíquico. Sendo 
assim, a “região” do cérebro que armazena memórias, sentimentos, emoções e outros resquícios 
intelectuais buscados para o emprego no cotidiano quando o indivíduo está em estado de alerta 
ou acordado. Pode também se manifestar sem a permissão consciente e racional do indivíduo, 
causando-lhe aborrecimentos e doenças mentais. Em geral, poderia ser comparado a uma espécie 
de arquivo cujo acesso é limitado, servindo para preservar os elementos mais íntimos dos indivíduos, 
em especial aqueles que lhe causariam maiores constrangimentos no meio social em que vivem. 
Trata-se, portanto, da essência intelectual, emocional e espiritual do homem, que comanda, mesmo 
91
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
que indiretamente, as ações exteriores praticadas pelos indivíduos, repassando “suas ordens” para 
o consciente, que, por sua vez, desencadeia o processo fundamental para o cumprimento daquilo 
que foi desencadeado.
8.4 Sartre: o existencialista
Figura 21 – Jean Paul Sartre
O filósofo e escritor Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, em 1905, dois anos antes do falecimento 
do pai. Ao ficar viúva, a mãe, Anne-Marie Schweitzer, mudou-se para a casa de seus pais em Meudon, 
nos arredores da capital francesa. Outro elemento marcante na formação intelectual de Sartre foi a 
imaginação criativa, estimulada pela leitura precoce e intensiva de grandes obras literárias. Em 1924, 
aos 19 anos, ele ingressou no curso de filosofia da Escola Normal Superior, onde se mostrou um aluno 
muito interessado, principalmente pelas aulas de Alain (1868/1951), que dedicava atenção especial à 
questão da liberdade. No ambiente acadêmico, Sartre conheceu Simone de Beauvoir (1908/1986), que 
lhe disse: “A partir de agora, eu tomo conta de você”. Desde então, nunca mais se separaram.
Foi na Alemanha que Sartre começou a redigir Melancolia, romance que posteriormente foi 
concluído e recebeu o título de A náusea. Ao voltar para a França, ele publicou, em 1936, A imaginação 
e A transcendência do ego, trabalhos fortemente influenciados pela fenomenologia. Em 1938, foi 
editada A náusea e, um ano depois, uma coletânea de contos, O Muro, e o ensaio Esboço de uma 
teoria das emoções; em 1940, mais um ensaio, O imaginário, que, como o anterior, utilizava o método 
fenomenológico. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Sartre foi chamado para servir como 
meteorologista em Lorena. No entanto, em junho de 1940, foi preso no campo de concentração de 
Trier, na Alemanha. Um ano mais tarde, conseguiu escapar do cativeiro e se encontrou em Paris com 
Simone de Beauvoir. Também na capital francesa foi responsável pela fundação do grupo Socialismo e 
Liberdade, com o intuito de auxiliar a Resistência, produzindo panfletos clandestinos contra a ocupação 
alemã e contra os colaboracionistas franceses. Em março de 1943, encenou sua primeira peça teatral, As 
moscas, na qual todos os elementos funcionavam de forma simbólica.
No término da Segunda Guerra, Sartre desarticulou o movimento Socialismo e Liberdade e 
lançou a publicação Os tempos modernos, juntamente com Merleau-Ponty, Raymond Aron e outros 
92
Unidade III
intelectuais. Um ano depois, como resposta às críticas à sua filosofia existencialista, expostas em O 
ser e o nada, publicou O existencialismo é um humanismo, no qual procura explicar o significado 
do existencialismo do ponto de vista ético. No mesmo ano, publicou duas peças, Mortos sem 
sepultura e A prostituta respeitosa, além do ensaio Reflexões sobre a questão judaica, em que 
defende a tese de que a emancipação judaica seria viável apenas em uma sociedade sem classes. 
Em 1948, encenou As mãos sujas e, três anos depois, O Diabo e o bom Deus. No campo da política, 
essa fase também foi marcante pelo envolvimento de Sartre com o Partido Comunista, ao qual se 
filiou em 1952.
Nos anos que se seguiram, continuou sendo, simultaneamente, um intelectual ativista. Em 1960, 
publicou a Crítica da razão dialética, precedido pelo ensaio Questão de método. Ambas as obras trazem 
reflexões no sentido de associar o existencialismo ao marxismo. A verve literária também não parou 
e, no mesmo ano, estreiou a peça Sequestrados de Altona,cujo tema central consiste nos problemas 
causados pelo colonialismo francês na Argélia, mesmo com a ação se passando na Alemanha de Hitler. Em 
1964, surpreendeu as rodas de intelectuais com a publicação de As palavras, uma análise do significado 
psicológico e existencial de sua própria infância. Nesse ano, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, mas 
o recusou, pois aceitá-lo implicaria o reconhecimento da autoridade de um comitê julgador, o que 
considerava inadmissível. No entanto, em 1971, lançou a primeira parte de um longo estudo sobre 
Flaubert, intitulado L’Idiot de Famille. Em termos filosóficos, a trajetória do pensamento de Sartre teve 
início com A transcendência do ego, A imaginação, Esboço de uma teoria das emoções e O Imaginário, 
todos publicados entre 1936 e 1940.
De acordo com o pensamento de Sartre, o tempo pode ser considerado como a expressão da síntese 
entre o em-si e o para-si e esta constitui a existência humana. A partir dessa perspectiva, o passado 
deixa de existir, a não ser que esteja associado ao presente de alguma forma. Enquanto o homem tem 
consciência de si mesmo, no presente, ele vive segundo o modo do para-si. No entanto, o seu passado 
possui todas as peculiaridades do em-si. Nesse sentido, a existência humana é formada, principalmente, 
pela espontaneidade da consciência, mas encontra atrás de si um ser que possui toda a característica de 
fiação de qualquer outro elemento do mundo.
Ele ainda observou ser impossível ver na consciência algo distinto do corpo, uma vez que este não se 
liga exteriormente a ela. Pelo contrário, faz parte inerente da constituição da própria consciência, que é 
estruturada de maneira intencional; por isso, o corpo expressa a imersão no mundo como a característica 
da existência do homem. O corpo seria, então, um centro em relação ao qual são organizadas todas as 
coisas e, por isso, consiste em uma estrutura perene que viabiliza a consciência. Sartre estendeu sua 
interpretação afirmando que o corpo é a própria condição da liberdade humana. Como não existe 
liberdade sem escolha e o corpo é a necessidade de que ocorra a escolha de que o homem não seja a 
total idade do ser no ato. Por consequência, temos a condição da consciência humana como consciência 
do mundo e fundamento enquanto liberdade.
Nesse sentido, o homem como ser-em-situação, assim como a necessidade de engajamento, a 
responsabilidade pessoal pelas ações e pelos projetos de vida e, em especial, a liberdade como fundamento 
individual, desenha as linhas gerais do pensamento existencialista de Sartre. As obras puramente teóricas 
expõem seus fundamentos filosóficos, e o teatro, o romance e o conto revelam de forma concreta essas 
93
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
ideias. As posições filosóficas iniciais de Sartre sofreram transformações, na medida em que o filósofo 
buscou inserir o existencialismo numa concepção mais abrangente de mundo. Essas transformações 
derivaram, por um lado, do próprio existencialismo sartreano, que constitui uma filosofia “aberta”, e, por 
outro, do engajamento social e político do filósofo. Do ponto de vista da fundamentação teórica, essa 
nova concepção de Sartre encontra-se em Questão de método e em Crítica da razão dialética, ambas 
publicadas em 1960.
Nessas obras, a questão crucial levantada pelo autor está em saber se é possível constituir 
uma antropologia ao mesmo tempo estrutural e histórica. Ou seja, o objetivo visado por Sartre 
é saber se há possibilidade de reencontrar uma compreensão unitária do homem para além das 
várias teorias, das várias técnicas, das várias ciências que o investigam. Sartre, contudo, não 
pretende inventar esse novo saber do homem. Não se trata de opor à tradição uma nova filosofia, 
capaz de fornecer soluções para os problemas que as antigas doutrinas sobre o homem não 
conseguiram resolver. 
Esse novo saber já existe segundo Sartre e circula anonimamente entre os homens: o marxismo. 
O marxismo, para ele, é a filosofia insuperável do século XX, “é o clima de nossas ideias, o meio 
no qual estas se nutrem... a totalização do saber contemporâneo”, porque reflete a práxis que a 
engendrou. Na mesma linha de ideias, Sartre afirma que, depois da morte do pensamento burguês, 
o marxismo é, por si só, “a cultura, pois é o único que permite compreender as obras, os homens e 
os acontecimentos”.
Sartre, porém, fez referência ao marxismo oficial, e nem sequer pretendia transcender a obra 
de Marx, pois, para ele, o marxismo era capaz de superar a si mesmo, por ser uma filosofia que 
acaba se adequando às transformações econômicas e sociais. Tomando como base a concepção 
sartreana de que o marxismo consiste na “filosofia de nosso tempo”, é possível afirmar que o 
existencialismo foi pensado como “um território encravado no próprio marxismo”, que, ao mesmo 
tempo, o abrange e o exclui. 
Outro aspecto da doutrina de Sartre está na maneira pela qual ele tentava solucionar a questão das 
relações materiais de produção pelo projeto existencial. Ao afirmar que o marxismo era insuperável, 
ele não quis dizer que se tratava de uma filosofia eterna, mas sim que deveria ser suplantada quando 
houvesse para todos a garantia da liberdade e das condições de produção da vida. 
Diante dessa perspectiva, pode-se imaginar um mundo de fartura guiado por uma corrente 
filosófica que prioriza a liberdade. Infelizmente, a experiência atual não permite nem ao menos que 
esse cenário seja idealizado.
 Lembrete
Hoje, com a inexistência de grandes projetos para a humanidade, torna-
se necessário descobrir caminhos de ação que tragam um sentido legítimo 
à essência do processo civilizatório na construção do social.
94
Unidade III
8.5 Michel Foucault: conhecimento e biopolítica
Figura 22 – Michel Foucault (1926-1984)
Considerado como um dos filósofos e professores mais importantes da cátedra de História dos 
sistemas de pensamento no Collège de France, de 1970 a 1984, Michel Foucault Poitiers nasceu em 
15 de outubro de 1926 em Paris. Seu trabalho foi desenvolvido como uma espécie de arqueologia 
do saber filosófico, partindo da experiência com a literatura e da análise do discurso com base nas 
teorias da linguagem, focando-se na relação entre poder e governo, incluindo todas as formas de 
subjetivação. Em 1954, ele publicou seu primeiro livro, Doença mental e personalidade. Em 1969, 
lançou A arqueologia do saber, como uma resposta às críticas que recebera. Ficou bastante conhecido 
pelas suas reflexões sobre as instituições sociais, especialmente no campo da psiquiatria, e também 
por suas ideias a respeito da evolução da história da sexualidade, além das suas teorias gerais relativas 
à energia e à complexa relação entre poder e conhecimento. Por isso, mais do que em análises da 
“identidade”, definidas como estáticas e objetivadas, Foucault se preocupou em estudar a vida e os 
variados processos de subjetivação.
Suas teorias sobre o saber, o poder e o sujeito abalaram profundamente o significado moderno 
desses termos, razão pela qual é considerado um pós-moderno. Os primeiros trabalhos (História da 
loucura, O nascimento da clínica, As palavras e as coisas e A arqueologia do saber) seguem uma linha 
pós-estruturalista, mas não impedem que ele seja classificado como um estruturalista, em virtude de 
obras posteriores, como Vigiar e punir e A história da sexualidade. Foucault ficou famoso também por 
ressaltar a semelhança na maneira de tratar ou de cuidar dos grandes grupos de indivíduos que estão 
situados nos limites do grupo social, como os loucos, os prisioneiros, certos grupos de estrangeiros, 
soldados e crianças. Ele acreditava que esses agrupamentos específicos apresentavam em comum a 
característica de serem excluídos pelo confinamento em instalações especializadas e organizadas em 
modelos estruturados, como asilos, presídios, quartéis e escolas, todos inspirados no que ele denominou 
de “instituição disciplinar”.
95
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Ele procurou, ainda, refletir sobre problemasconcretos como a insanidade em um contexto bastante 
restrito do ponto de vista geográfico e histórico. No entanto, suas observações contribuíram para a 
identificação dos conceitos superiores a esses limites temporais e espaciais, mantendo, dessa forma, 
uma vasta abrangência em muitos campos do saber. No segundo semestre de 1970, ele demonstrou 
interesse no que parecia uma nova forma de exercer o poder, denomidada de “biopoder”, mostrando 
como a sexualidade afeta a saúde e o lazer como produtividade econômica, além dos mecanismos de 
poder, transformando-se em uma questão crucial para a política.
Foucault pensou filosoficamente investigando a história, mas não escreveu uma “história da filosofia”. 
Porém, não excluiu a abordagem dos filósofos, permeando os escritos sobre diferentes “objetos”, 
inscrevendo-se, como que “em meio a eles”, a leitura das filosofias. Na verdade, aquilo que Foucault 
problematiza nos seus escritos sobre biopolítico é justamente a funcionalização do desconhecido, que 
torna própria a forma de ser do homem. Com essa funcionalização, o homem não está mais exposto ao 
conhecimento de si, que permanece, ainda, inalcançável na sua completude, mas totalmente descrito 
como dado estrutural de uma sociedade voltada para objetivos determinados. Mesmo que a vida humana 
não seja integrada em técnicas que a dominem e a gerem, o biopoder surge como uma intervenção 
na forma de viver dos sujeitos de direito. O biológico reflete-se diretamente no político, e o limiar de 
modernidade biológica de uma sociedade surge no momento em que a própria espécie entra em jogo 
nas estratégicas políticas.
Nesse aspecto, qualquer forma de política se torna uma luta pelo espaço que o sujeito tem no 
controle da própria vida, ou seja, de um lado, o biopoder enquanto instância de controle do como viver 
e da estrutura biológica do homem, e do outro, a exigência, por parte dos sujeitos, por um direito a 
ter direito sobre o próprio corpo, e a forma de fruir deste; um direito de “encontrar o que se é e tudo 
o que se pode ser”. Nesse sentido, o controle do sexo surge com uma função simbólica na formação 
da identidade de uma população a partir do século XVIII, normativamente. Essa normalização do sexo, 
como um controle de uma população, faz a sexualidade surgir como dispositivo do poder soberano. 
O controle do sexo é, portanto, a forma mais eficaz de conter uma população, mantendo, com isso, o 
caráter homogêneo de um país/nação.
Podemos identificar, então, três características fundamentais da biopolítica para 
Foucault: em primeiro lugar, existe um controle sobre o corpo, uma espécie de domesticação 
dos corpos por parte do controle médico-jurídico, que permite que o homem seja tomado 
enquanto ente para um conhecimento científico – e nisto a estrutura duplo empírico-
transcendental fica mais clara: ao mesmo tempo, o homem é tomado enquanto objeto 
empírico, que só é possível a partir de um conhecimento que é afirmado de um ponto de 
partida transcendental, o qual o mesmo homem, enquanto sujeito, participa. Em segundo 
lugar, a partir desta domesticação, os corpos dóceis dos homens são objetos de uma 
regulamentação política, que vai implicar em um poder disciplinar do qual o homem é 
objeto. Assim, temos como terceira característica da biopolítica uma relação permanente de 
poder-saber que permeia todas as estruturas anteriores – o controle da estrutura biológica 
do homem, feito a partir de um controle médico da população (primeira característica 
aqui identificada) implica em uma delimitação do campo de saber empírico ao qual este 
mesmo homem terá acesso; assim como a regulamentação e o controle disciplinar de uma 
96
Unidade III
população a partir da estrutura jurídica vai implicar diretamente nos saberes possíveis-
disponíveis para uma determinada população. Fica, portanto, claro como a relação poder-
saber está implicada em toda biopolítica – a partir da neutralização do saber científico, 
quem tem o controle de um determinado saber científico pode legitimar seu uso a partir 
da suposta “neutralidade” de sua prática (FOUCAULT apud KELLY, 1994, p. 44-45). A ideia 
de dispositivo, portanto, está ligada a esta relação entre saber-poder, onde o dispositivo de 
poder controla uma articulação entre um saber e sua aplicação – e, na biopolítica, a aplicação 
de um determinado saber no próprio corpo de uma população, ou na determinação de uma 
população homogênea (PONTIN, 2007, p. 62).
8.6 Questões Atuais em Filosofia
No atual estágio em que se encontram as relações humanas, mediadas ou não pelas tecnologias 
da informação, é preciso contextualizá-las e compreendê-las a partir do cenário pós-moderno, que 
configura um novo estado de ser e de estar no mundo. Hoje, com a inexistência de grandes projetos 
para a humanidade e dos ideais positivistas que faziam crer na ciência como a grande trajetória a ser 
percorrida para alcançar o progresso como a solução de todos os conflitos gerados pela tensão provocada 
pelo homem na sua luta de engajamento político, econômico e social, torna-se necessário descobrir 
caminhos inusitados de ação que tragam um sentido legítimo à essência do processo civilizatório na 
construção original de outra ordem social.
Com a derrocada do socialismo, da Guerra Fria e o esfacelamento da polarização dos ideais político-
partidários, a abstração entre esquerda e direita fez com que os indivíduos realmente dispostos a 
contribuir com ações conjuntas para as mudanças de ordem social e econômica repensassem sobre 
novas formas de representatividade e de indagações capazes de garantir tanto a permanência quanto 
a eficácia de atuações cívicas pertinentes às esferas do poder. Nessa conjuntura de fatores nunca antes 
vivenciados na trajetória humana, a concepção de espaço público, de pertencimento a uma realidade ao 
mesmo tempo globalizada pela economia e fragmentada pelo multiculturalismo, que prescinde do ideal 
de um futuro comum a todos, é necessário avaliar de que maneira os indivíduos estão se organizando 
tanto em nível local quanto em mundial para a troca de informações e de reflexões críticas, tendo em 
vista a concepção de movimentos estratégicos para o fortalecimento dos elos sociais, imprescindíveis a 
qualquer noção de mudança efetiva na esfera pública.
A pluralidade de estudos que contemplam as influências das tecnologias de informação e de 
comunicação, especialmente a internet, as comunidades virtuais e os blogs políticos com relação 
ao capital social, entendido como a capacidade de os indivíduos assumirem uma posição cívica de 
mobilização em torno dos problemas em termos de discussão e de ações direcionadas para solucioná-
los, revela ainda a existência de muitos aspectos a serem aprofundados que devem transcender os limites 
da avaliação quantitativa, uma vez que esse tipo de abordagem pouco acrescenta sobre o potencial 
representativo da rede em suas múltiplas possibilidades de interação.
Antes de tecer os comentários iniciais sobre as articulações filosóficas permeadas pelas novas 
tecnologias de comunicação, faz-se necessário lembrar que esses meios ratificam ainda mais as 
desigualdades sociais, permitindo que apenas uma minoria da população do planeta possa usufruir desses 
97
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
benefícios, em detrimento de uma maioria que se encontrará por tempo ainda indefinido totalmente 
alijada dessa forma de poder. Embora a repercussão dos efeitos das interações proporcionadas pela rede 
possa até mesmo vir a beneficiar esse número imenso de indivíduos de alguma forma, esse modelo 
continua refletindo a realidade já estabelecida off-line, na qual uma minoria articulada às atividades 
sociais determina as condições de vida de uma imensa maioria, carente de necessidades básicas, que se 
encontra totalmente à margem das decisões relativas à esfera pública.
Certamente, a rede tem proporcionado grandes possibilidades para aqueles que antes se achavam 
isolados em nível local ou regional, permitindo maior abrangência em termosde fonte de pesquisa e 
de interatividade pessoal e coletiva. No entanto, a relação dessas ferramentas com a ascensão ou com 
o declínio do capital social como instrumento de transformação deve ser analisada com cautela, uma 
vez que a tendência ao individualismo e a falta de comprometimento e de interesse pelas decisões da 
esfera pública evidenciam fortemente a constituição do sujeito em pleno século XXI. No cenário atual, 
nem mesmo a total liberdade de acesso e de divulgação de informações e opiniões por meio da rede via 
comunidades virtuais como Orkut e YouTube podem fazer com que esses espaços sejam considerados 
um avanço em termos de contribuição para o engajamento às causas públicas.
Para efeito qualitativo, no que se refere ao conteúdo online, esses novos canais de comunicação ainda 
permanecem sob o domínio da estrutura fora da rede e, como novidade que são, ainda se encontram 
presos intrinsecamente à inevitável tentação da exposição de formas de expressão reprimidas que ganham 
vazão, como uma criança solta em um gigantesco parque de diversões. Portanto, qualquer tentativa 
de colocar parâmetros para medir ou avaliar a relação dos agentes dessas mensagens com a atual 
capacidade de mobilização social deve levar em consideração todos esses elementos comprometedores 
das informações veiculadas no mundo virtual.
Apesar da crescente evolução das tecnologias de informação e de comunicação em todo o mundo, 
que não podem ser ignoradas sob hipótese alguma, em função das inusitadas formas de interatividade 
que irão fazer parte estrutural do universo coletivo das próximas gerações, é cedo para identificar a 
dinâmica efetiva da influência da rede com relação ao capital social. Mesmo por que a maioria dos 
internautas de hoje que demonstram preocupação de utilizar essa ferramenta como instrumento 
efetivo de mobilização nasceu e cresceu em uma realidade desprovida desses aparatos. Portanto, o que 
se pode concluir até o presente momento é que esses sujeitos mobilizadores encontram-se em fase 
de adaptação e de experimentação no que se refere ao potencial dessa nova forma de construção da 
sociedade pelo consumo midiático virtual.
A própria necessidade de acrescentar o prefixo pós ao termo modernidade pelos críticos e 
teóricos contemporâneos já indica uma alteração de sentido que merece atenção enquanto objeto 
de estudo. Aliás, o termo aldeia global, do canadense Marshall McLuhan, adquiriu um significado 
peculiar agora que as distâncias se encurtam cada vez mais, provocando uma “onda” de unificação, 
sobretudo no campo da economia e das comunicações. A informática, que revolucionou a 
operacionalidade de numerosas atividades humanas, e, mais recentemente, a invasão das televisões 
a cabo e das redes virtuais pela internet podem ser consideradas agentes potencializadores dessa 
mudança estrutural.
98
Unidade III
Em meio a tantas novidades, do CD-ROM às teleconferências, virou uma espécie de modismo 
estar conectado a tudo e a todos. A introdução do controle remoto, que transformou a televisão 
numa “colagem de imagens” de autoria individual, bem como o advento do videocassete e do DVD, 
foram responsáveis pela ruptura da noção de instantaneidade, possibilitando a concepção isolada 
e fragmentada da realidade. Atualmente, já é possível conhecer os principais museus do planeta, 
como o Louvre, em Paris, o Prado, em Madri, e o Museu Britânico, em Londres, sem sair de casa, 
emitir e receber mensagens para todas as partes de forma imediata, criar e recriar um universo 
virtual inteiro na tela de um computador, além de ter à disposição uma quantidade tão grande 
de informações que seria necessário mais de um milênio para que alguém pudesse acessá-las e 
assimilá-las.
Nesse vasto cenário, onde tudo, em tese, parece estar ao alcance do homem, a relação entre novo 
e antigo, entre homogêneo e heterogêneo, tornou-se um desafio talvez mais intrincado e complexo 
do que povoar a Lua. O avanço desigual da tecnologia tem levado o ser humano a experimentar 
a estranha e angustiante sensação de estar vivendo uma realidade virtual, constituída por visões 
fragmentadas da sua própria condição. Tamanha é a ausência de referências simbólicas diante de 
tanta inovação que se torna cada vez mais complicada a tarefa de elaborar previsões de qualquer 
espécie, seja a curto ou longo prazo.
Como observa o estudioso da pós-modernidade Stuart Hall (1997, p. 68) citando Harvey (1989):
À medida que o espaço se encolhe para se tornar uma aldeia global de 
telecomunicações e uma espaçonave planetária de interdependências 
econômicas e ecológicas – para usar apenas duas imagens familiares 
e cotidianas e, à medida que os horizontes temporais se encurtam até 
o ponto em que o presente é tudo que existe, temos que aprender a 
lidar com um sentimento avassalador de compressão de nossos mundos 
espaciais e temporais.
Essas alterações encontram-se intimamente vinculadas à noção de identidade no final do milênio, 
partindo do princípio de que as identidades modernas estão sendo descentradas, quer dizer, deslocadas. 
Stuart Hall (1997, p. 9) argumenta que:
Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades 
modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens 
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no 
passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. 
Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, 
abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. 
Esta perda de um sentido de si estável é chamada, algumas vezes, de 
deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento – 
descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural 
quanto de si mesmos – constitui uma crise de identidade para o indivíduo.
99
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Também para mascarar a complexa realidade da situação dos “pobres do mundo”, a mídia utiliza-
se de contextos inter-relacionados, pautando e editando as notícias, de modo a reduzir o problema da 
miséria e da privação apenas à questão da fome. Com isso, a verdadeira escala da pobreza (800 milhões 
de pessoas são permanentemente subnutridas, mas cerca de 4 bilhões – dois terços da população 
mundial – vivem na pobreza) é omitida, e a tarefa a ser enfrentada restringe-se somente à obtenção de 
comida para os famintos, como destaca o filósofo alemão Zigmunt Bauman (1998 p. 82):
Acrescentemos que toda associação das horrendas imagens da fome 
apresentadas na mídia com a destruição do trabalho e dos postos de trabalho 
(isto é, com as causas globais da pobreza local) é cuidadosamente evitada. 
As pessoas são mostradas com sua fome, mas, por mais que os espectadores 
agucem a visão, não verão um único instrumento de trabalho, uma única 
faixa de terra arável ou uma só cabeça de gado nas imagens, nem ouvirão 
qualquer referência a nada disso. Como se não houvesse ligação entre o 
vazio das exortações rotineiras para que se ‘levantem e façam alguma coisa’, 
dirigidas aos pobres num mundo que não precisa mais da força de trabalho, 
pelo menos não nas terras onde as pessoas mostradas pela televisão 
morrem de fome, e o sofrimento de pessoas oferecidas como escoadouro 
carnavalesco, em ‘feira de caridade’, para um impulso moral contido.
De certa forma, o mundo nunca esteve tão acessível ao homem, proporcionando-lhe a ilusão sobre-
humana de estar em vários lugares ao mesmo tempo. Em grandes cidades como Nova Iorque, Tóquio, 
Londres, Paris e São Paulo, cadeias imensas de restaurantes fast-food, sempre moldados de forma 
padronizada, exibem ininterruptamente telões onde se alternam imagens de desenhos animados novos 
e antigas competições esportivas, videoclips e comerciais ao som de músicas estridentes do universo 
pop. O que importa aqui não é o conteúdo da mensagem, mas sim proporcionar ao cliente a sensação 
de estar conectado de alguma maneira à sociedade global. 
Como verdadeiros artefatos decorativos, esses programassão veiculados com o objetivo de criar um 
ambiente familiar de reconhecimento e identificação para o sujeito descentrado da era pós-industrial. 
Ao mesmo tempo em que a tecnologia coloca o planeta ao alcance do apertar de teclas, produz 
também a angústia dilacerante da overdose de informações, que reflete a falta de significado de uma 
realidade virtual nem um pouco tangível. Essa situação chega a provocar um efeito quase paralisante da 
capacidade crítica e reflexiva do indivíduo, para o qual a novidade, quando existe, permanece desprovida 
de referenciais em um contexto fictício e artificioso.
 Observação
“O homem deve ser inventado a cada dia” (Sartre).
Por outro lado, um reconfortante ideal de união e igualdade, sempre presente no imaginário da 
coletividade humana como o mito da civilização perfeita, ressoa como uma cantiga de ninar, embotando 
a sensibilidade para a percepção nada agradável da existência conflitante e paralela dos graves problemas 
100
Unidade III
sociais que assolam o mundo. Afinal, um cenário marcado pela miséria, pela fome, pela intolerância e 
pela violência contrasta de maneira constrangedora com a sofisticada tecnologia das imagens plurais 
responsáveis pela interconexão de todas as partes do globo terrestre. Para o homem, significa, em última 
instância, a assinatura do atestado de fracasso e de incompetência em sua tentativa de melhorar o 
mundo na entrada do terceiro milênio, época projetada ao logo de toda a história do pensamento 
moderno como um tempo de realização pleno e satisfatório diante das adversidades naturais e daquelas 
impostas por sistemas de governo inadequados ao bem-estar social supostamente atingível. Nesse jogo 
sutil de identidades, não existem vítimas indefesas, e muito menos vilões maquiavélicos que programam 
computadores para manter corações e mentes sob permanente controle. A ênfase na primazia do avanço 
tecnológico da nossa era pode ser considerada mais como um instrumento de defesa individual contra o 
sentimento de abandono e ausência de perspectivas favoráveis, despertado pela falência das ideologias 
e pela ausência de grandes projetos para a humanidade.
Figura 23 
Nesse acordo silencioso selado pelas estruturas de poder, torna-se necessário avaliar até que ponto a 
mídia, enquanto forma e conteúdo, está comprometendo seu papel atuante na construção do intrincado 
fenômeno da opinião pública, que se apresenta como coletivo, embora tenha como base a realidade 
individual vivenciada em sociedade. Portanto, a complexidade reside no fato de o comportamento 
dos indivíduos nos grupos ser diferente do seu comportamento pessoal e isolado, esclarecendo que a 
opinião pública vem determinada por um mundo onde se multiplicam de forma incessante os agentes 
determinantes da vida política, social e filosófica. 
Não se pode negar que, seja nas sociedades centrais, seja nas periféricas, os descolamentos de 
identificações estão provocando mudanças de costumes e de comportamentos. Entretanto, a contribuição 
maior atualmente consiste em desvendar a origem dessas tendências, bem como das suas influências 
de fato nas esferas sociais pertencentes aos mais diferentes níveis de evolução e de desenvolvimento 
de uma nação.
O filósofo francês Pierre Bourdieu alerta para a existência de uma estrutura invisível que permeia 
a interface entre a produção intelectual na área acadêmica, fornecendo outro recorte na esfera da 
101
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
comunicação, tendo em vista as pressões de mercado nas empresas que trabalham com a difusão de 
informações, seja em nível informativo, interpretativo e, principalmente, de caráter opinativo. Para ele, 
nem mesmo os próprios pensadores da atualidade, com raras exceções, percebem que estão sujeitos 
de forma permanente à ilusão de que estão divulgando e legitimando o conhecimento da forma mais 
adequada, selecionando as melhores fontes dos mais variados campos do saber para a exposição e para a 
formação da “opinião pública”. Ainda na visão dele, os jornais impressos, que dominaram a era da imprensa 
escrita com propostas sérias de provocar reflexões críticas na sociedade por meio de depoimentos de 
fontes consagradas por seus pares, perderam seu poder e tiveram que se adaptar aos noticiários falados, 
que mantêm o foco no fait-divers1, nos esportes e na agenda oficial dos representantes do poder público, 
para atingir um número cada vez maior de indivíduos, aumentando com isso seu capital simbólico com 
aquilo de Bourdieu chama de assuntos-ônibus, que não levantam problemas.
Essa forma de expressão midiática, apesar do extraordinário alcance proporcionado por ela, faz com 
que a configuração dos temas hoje debatidos pela sociedade ceda à tendência de homogeneização da 
informação e do pensamento filosófico e à desarticulação das possibilidades de engajamento no campo 
político. No entanto, ele enfatiza também que essa opção pela banalização não foi algo planejado 
por alguém ou por um grupo reacionário comprometido com alguma forma de poder específica. Vale 
lembrar que essa fórmula fácil de falar em nome da moral burguesa e da lógica da concorrência convém 
a todos os espectros sociais, confirmando realidades reconhecidas sem ter que recorrer às mudanças de 
mentalidade que poderiam subverter a ordem já estabelecida.
 Saiba mais
Assista ao filme Ponto de mutação, para conhecer as visões de mundo 
contemporâneas por meio do diálogo entre um político, uma cientista e 
um poeta.
Ponto de mutação. Dir. Bernt Capra, EUA,112 minutos, 1990.
 Resumo
É possível afirmar que a filosofia moderna liberta a razão das exigências 
da fé na Idade Média e a coloca na dependência do homem, o que permite 
1 O fait-divers é uma informação total, ou mais exatamente, imanente; ele contém em si todo o seu saber: não é 
preciso conhecer nada do mundo para consumir um fait-divers; ele não remete formalmente a nada além dele próprio; 
evidentemente, seu conteúdo não é estranho ao mundo: desastres, assassinatos, raptos, agressões, acidentes, roubos, 
esquisitices, tudo isso remete ao homem, à sua história, à sua alienação, a seus fantasmas, a seus sonhos, a seus medos... 
no nível da leitura, tudo é dado num fait-divers: suas circunstâncias, suas causas, seu passado, seu desenlace; sem duração 
e sem contexto, ele constitui um ser imediato que não remete a nada de implícito (BARTHES. Crítica e Verdade. São Paulo: 
Perspectiva, 1999, p. 59).
102
Unidade III
seu esclarecimento e coloca o conhecimento ao alcance de todos. Na Europa 
Ocidental, ocorre uma retomada do pensamento da antiguidade, assim 
como a libertação do conhecimento do controle da Igreja Medieval. Mesmo 
sendo considerada um retorno do pensamento racional à supremacia e, 
em especial, uma releitura do pensamento platônico, a filosofia moderna 
mostra seu valor ao promover a acessibilidade do saber, sem distinção entre 
o mundo sensível das coisas e o mundo intangível das ideias.
René Descartes acreditava ter sido escolhido para unificar todos os 
conhecimentos humanos, partindo de bases sólidas certificadas pelo 
conhecimento científico para construir um modo de pensar focado na 
verdade e permeado somente pelas certezas racionais. Na condição de 
matemático e filósofo francês, ele se mostrou contrário a qualquer ideia 
de subjetividade, o que o levou a escrever a célebre frase: penso, logo 
existo. Na visão cartesiana, o universo material poderia ser explicado 
pelas leis da física e da matemática, que resultaram na concepção da 
geometria analítica como forma de definir e de manipular as formas 
geométricas por meio de expressões algébricas. Essa postura filosófica 
originou as coordenadas cartesianas, por intermédio das quais os pontos 
são representados nesse sistema, marcando para sempre o nome de 
Descartes na história da humanidade.
George Wilhelm Friedrich Hegel concebeu o modelo de análise da 
realidade que mais influenciou pensadores como Nietzsche, Marx e 
Jean-Paul Sartre, por se tratar de um pensamento que refuta a filosofiade Kant. Para tanto, Hegel procurou discutir vários, como a lógica, o 
direito, a religião, a arte, a moral, a ciência e a própria história da filosofia. 
Em todos esses campos do saber, ele vislumbrou a manifestação do 
espírito absoluto, capaz de materializar e de se revelar por intermédio 
da história. A filosofia hegeliana, portanto, parte do fundamento de 
que a negatividade é um dado estrutural do real e que o positivo 
realiza-se apenas por meio do negativo. Essa postura dialética, então, 
seria o procedimento metodológico que torna possível compreender a 
racionalidade do real.
No pensamento filosófico elaborado por Karl Marx, a realidade material 
será sempre a maior responsável por todas as condições da vida humana, 
expondo o homem à sua condição existencial. Também dela devem ser 
pensadas todas formas de ideologia, ou seja, as visões de mundo. Diante 
dessa formulação, é possível afirmar que não é a ideia que produz a realidade, 
mas sim o contrário, o que estabelece um correlacionando dialético que 
modela as sociedades. Como parte do contexto do pensamento alemão 
que originou o racionalismo e o romantismo, resultando no “materialismo 
contemplativo”, Marx era defensor da prática de um materialismo ativo. 
103
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Porém, seu materialismo não pôde ser colocado em prática, porque ele 
acreditava que o racionalismo era muito abstrato em comparação ao 
materialismo dialético, já que matéria e ideia constituem categorias opostas 
que se inter-relacionam, mantendo uma unidade.
O pensamento positivista admite, como fonte única de saber e de critério 
de verdade, a experiência e os fatos positivos, incluindo os dados sensíveis. 
Sendo assim, nenhum conhecimento metafísico como a interpretação ou 
a justificação transcendente da experiência possui validade nesse terreno 
filosófico. Portanto, a filosofia passa a ser reduzida à metodologia, à 
sistematização das ciências e à lei, única e suprema, que comanda o mundo 
concebido pelo positivismo, fomentando a força necessária à energia 
naturalista. Auguste Comte é o grande formulador do positivismo, corrente 
filosófica fundada por ele com o intuito de reorganizar o conhecimento 
humano e que teve forte influência no Brasil. Comte ainda é considerado 
o grande sistematizador da sociologia. Com relação à sua concepção de 
mundo, vale destacar que ele viveu em um período da história francesa em 
que se alternavam o despotismo e as revoluções, o que levou a sociedade à 
crise dos valores tradicionais.
Pode ser considerada como contemporânea a filosofia que compreende 
a segunda metade do século XIX até o início do século XXI, e o positivismo 
permanece como presença constante na história do pensamento dessa 
fase. Apesar das suas notáveis diferenças na maneira de lidar com os 
problemas, é possível reconhecer essa conduta empirista do século XVIII no 
positivismo do século XIX e no positivismo lógico ou empirismo lógico do 
século XX. O empirismo lógico ou positivismo lógico do século XX consiste 
num dos movimentos integrantes da corrente analítica dos nossos dias, 
cuja originalidade está em ter conseguido transformar o próprio conceito 
de filosofia. Para a corrente analítica, a filosofia não tem por objeto a 
realidade, mas sim a análise da linguagem que envolve a realidade, seja a 
linguagem ordinária, comum ou científica.
Outras correntes da filosofia contemporânea tomaram como 
objeto principal de consideração o fenômeno da história, da vida e 
da irredutibilidade da existência pessoal – as filosofias historicistas, 
existencialistas e personalistas. Podemos conceituar a filosofia como 
uma disciplina que estuda os fundamentos das convicções e dos valores 
humanos. No entanto, enquanto as ciências fixam um saber sólido a 
partir do qual passam a desenvolver suas teorias, a filosofia não produz 
os mesmos resultados, uma vez que não existem respostas definitivas às 
questões humanas. Freud revolucionou a psicologia ao introduzir a noção 
de inconsciente como sendo o poder que foge do controle da consciência. 
Para complementar, a ideia de progresso como percurso racional foi abalada 
104
Unidade III
definitivamente com a ascensão dos regimes totalitários, como o nazismo, 
o fascismo e o stalinismo.
Friedrich Nietzsche profetizou as grandes guerras do século XX, 
afirmando que chegaria o dia em que os homens lutariam no confronto 
pelo poder. No entanto, ele conhecia os campos de batalha do espírito e, 
no fundo, queria conhecer apenas esses. Porém, sua obra contém o caos, 
assim como o impulso que deveria desencadeá-lo no decorrer da história 
da humanidade, podendo ser considerado como o primeiro precursor do 
conceito de pós-modernidade amplamente utilizado hoje. Na vanguarda 
da sociedade que preconizava, ele colocava o espírito de altivez, afirmando 
que a consciência de si próprio precede qualquer criação. Em Nietzsche, 
o mundo é uma espécie de caos e apenas a manifestação artística pode 
transformar a desordem em beleza e tornar aceitável aquilo que há de mais 
aterrador na condição humana.
Médico especializado em doenças mentais, Sigmund Freud desenvolveu 
a psicanálise, uma teoria do funcionamento da mente humana e um método 
exploratório de sua estrutura, destinado a tratar os comportamentos 
compulsivos e muitas doenças de natureza psicológica supostamente 
sem motivação orgânica. Ele recolheu de várias fontes os elementos por 
meio dos quais compôs a sua teoria, a partir das descobertas do médico 
austríaco Josef Breuer, da doutrina platônica e do pensamento filosófico 
de Schopenhauer, consolidando, pela longa prática clínica, os postulados 
da teoria que denominou Psicanálise.
Freud acreditava que o homem era apenas um produto da evolução 
natural, sujeito a leis da física e da química. Portanto, nada do que uma 
pessoa diz ou faz é casual ou acidental, pois o homem não é livre nem 
racional, uma vez que obedece a causas do inconsciente. Para ele, a força 
que orienta o comportamento inconsciente era o instinto sexual, que não 
se apresentava de forma consciente por causa da “repressão” social tornada 
também inconsciente. Freud argumentou, de maneira enfática, que o 
comportamento humano é comandado pelo instinto sexual e pelo instinto 
de sobrevivência e que os motivos sexuais, se não são evidenciados, estão 
sublimados em um motivo aparente. Como criador da psicanálise, por meio 
da qual é possível o estudo do consciente e do inconsciente humano, Freud 
é considerado um dos pensadores mais revolucionários de sua época, cujos 
reflexos repercutem até os dias atuais.
Para Jean-Paul Sartre, a liberdade vem do nada, o que obriga o ser humano 
a fazer-se em vez de apenas ser. De acordo com a doutrina de Sartre, o 
homem é totalmente responsável por aquilo que é, uma vez que não é válido 
para as pessoas atribuir seus erros a circunstâncias externas. Essa concepção 
105
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
autônoma da liberdade, como determinação radical do ser, faz da doutrina 
existencialista uma filosofia que refuta a ideia de Deus. Portanto, Sartre retira 
desse ateísmo qualquer fundamento sobrenatural para a construção dos 
valores universais, pois é o homem quem os cria. Sendo assim, a vida não 
possui sentido, independentemente do fato de o homem existir, e seu valor 
consiste no sentido que cada um estabelece para si próprio.
Foucault também ficou conhecido por ter evidenciado as formas de 
algumas práticas das instituições em relação aos indivíduos, chamando 
a atenção para a grande semelhança que existe na maneira de tratar 
grandes grupos de indivíduos que estão nos limites do grupo social, mais 
especificamente os loucos, os prisioneiros, alguns estrangeiros, os soldados 
e as crianças. Ele acreditava que todos possuem em comum o fato de 
serem vistos com desconfiança e, por isso, excluídos por confinamento em 
instalações especializadas e organizadas em modelos parecidos, como asilos, 
presídios, quartéis e escolas, que ele chamou de “instituição disciplinar”. 
Foucaulttambém buscou, por meio da sua obra, discutir temas concretos 
como a loucura humana em um contexto muito específico do ponto de 
vista geográfico e histórico.
No cenário atual, a rede tem proporcionado grandes possibilidades 
para aqueles que antes se achavam isolados em nível local ou regional, 
permitindo maior abrangência em termos de fonte de pesquisa e de 
interatividade pessoal e coletiva. No entanto, a relação dessas ferramentas 
com a ascensão ou com o declínio do capital social como instrumento de 
transformação deve ser analisada com cautela, uma vez que a tendência ao 
individualismo e a falta de comprometimento e de interesse pelas decisões 
da esfera pública evidenciam fortemente a constituição do sujeito em pleno 
século XXI. No cenário atual, nem mesmo a total liberdade de acesso e de 
divulgação de informações e opiniões por meio da rede via comunidades 
virtuais como Orkut e YouTube podem fazer com que esses espaços sejam 
considerados um avanço em termos de contribuição para o engajamento 
nas causas públicas. Mas, apesar do alcance extraordinário proporcionado 
pela expansão midiática, as novas formas de tecnologia da comunicação 
fazem com que a configuração dos temas hoje debatidos pela sociedade 
ceda à tendência da homogeneização da informação, à fragmentação do 
pensamento filosófico e à desarticulação das possibilidades de engajamento 
no campo político.
106
Unidade III
 Exercícios
Questão 1 (prova de Pedagogia, Enade, 2008) A racionalidade científica, forma dominante de pensar e de 
agir na Modernidade, transformou o homem e sua ação em objetos de investigação. Passaram a ser tratados da 
mesma forma que as “coisas” e os fenômenos da natureza, como “objetos” fixos, imutáveis. O historicismo veio a 
se opor a essa perspectiva positivista, chamando a atenção para a dimensão histórica da existência, do mundo e 
da sociedade. As vertentes da pesquisa em educação que acompanharam essa discussão incorporaram ideias do 
historicismo e trouxeram para a prática da investigação o pressuposto de que:
A) a pesquisa educacional supõe a existência de métodos previamente definidos.
B) a objetividade e a universalidade do conhecimento são garantidas pelos métodos de pesquisa.
C) a metodologia da pesquisa determina a produção dos conhecimentos histórico-educacionais.
D) o conhecimento da realidade só é possível por meio do controle do fenômeno educacional.
E) o conhecimento educacional depende da compreensão dos processos sócio-históricos.
Resposta correta: alternativa E.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa. A alternativa não é correta, pois a atual concepção de pesquisa educacional se pauta 
numa pluralidade de métodos, numa postura aberta, consciente da riqueza e da complexidade do seu 
campo de pesquisa numa busca da variedade e da articulação de instrumentos mais adequados ao 
trabalho de desvendamento das práticas educacionais.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa. A alternativa não é correta, pois a concepção historicista na qual se baseia a pesquisa em 
educação na atualidade não mais vê (como na concepção cientificista-positivista) a compreensão da realidade 
como algo estanque e linear que possa ser aprendido com objetividade e universalidade absolutas.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa. A alternativa não é correta, pois na concepção historicista os contextos histórico-
educacionais é que determinam a metodologia da pesquisa. Vale lembrar que a determinação nessa 
visão é múltipla, complexa, pois tenta apreender toda a riqueza e complexidade das ideias e das práticas 
educacionais e sociais de um determinado período.
107
HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
D) Alternativa incorreta.
Justificativa. A alternativa não é correta, pois a ideia de controle dos fenômenos faz parte do 
universo do cientificismo, da razão cartesiana, que acreditava no poder da ciência de explicar para 
prever e controlar. Mas a concepção historicista de pesquisa em educação dá conta de que o universo 
das ações humanas é muito mais complexo e imponderável, pautado numa multideterminação de 
fatores e agentes.
E) Alternativa correta.
Justificativa. A alternativa é correta porque ressalta a importância da tentativa de compreensão dos 
processos sócio-históricos na busca do conhecimento educacional. A ideia de processo é fundamental na 
concepção historicista, pois ela dá a dimensão da complexidade e da riqueza dos fenômenos humanos 
e sociais (nos quais estão inseridas as práticas educacionais), que são resultado das contradições, dos 
impasses, das rupturas e das intersecções entre diferentes tempos e espaços.
Questão 2 (adaptada de prova de Pedagogia, Enade, 2005):
Mas a “verdade”, da qual nossos professores tanto falam, parece ser 
seguramente uma coisa bem mais modesta, da qual não se pode recear 
nada de desordenado ou excêntrico: ela é uma criatura de humor fácil e 
benevolente, que não se cansa de assegurar a todos os poderes estabelecidos 
que ela não quer criar aborrecimentos a ninguém; pois, afinal de contas, não 
se trata aqui apenas de “ciência pura”?.
(NIETZSCHE, F. Escritos sobre educação. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: 
Loyola, 2003, p.151).
Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, faz uma crítica irônica a uma concepção naturalizada e 
abstrata da ciência e da verdade. Pensando na relação de um professor com o conhecimento, qual das 
seguintes afirmações acerca da atuação do professor dá sentido à crítica do autor?
A) Convencer os seus alunos a consolidar o saber científico.
B) Preservar os fundamentos das pesquisas já feitas na escola.
C) Ser um bom transmissor dos saberes instituídos cientificamente.
D) Colocar em questão os saberes instituídos cientificamente.
E) Transmitir verdades que ampliem os conhecimentos estabelecidos.
Resposta correta: alternativa D. 
108
Unidade III
Análise das alternativas
a) Alternativa incorreta.
Justificativa: na perspectiva da filosofia de Nietzsche, o saber científico na escola não deve ser 
consolidado, e sim questionado.
b) Alternativa incorreta.
Justificativa: na perspectiva da filosofia como um todo e, sobretudo, na de Nietzsche, deve-se refletir 
criticamente sobre os fundamentos das pesquisas.
c) Alternativa incorreta.
Justificativa: na perspectiva de Nietzsche, o professor deve ser um questionador dos saberes 
instituídos cientificamente.
d) Alternativa correta. 
Justificativa: na perspectiva da filosofia como um todo e, sobretudo, na de Nietzsche, deve-se refletir 
criticamente e questionar os saberes instituídos cientificamente.
e) Alternativa incorreta.
Justificativa: na perspectiva da filosofia como um todo e, sobretudo, na de Nietzsche, não existem 
verdades absolutas.
109
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Os quatro elementos. Arquivo UNIP Interativa.
Figura 2
MUSEI CAPITOLINI. Herm depicting “Pythagoras”. Multimedia: hall of the philosophers. 1 fotografia. 
Disponível em: <http://tourvirtuale.museicapitolini.org/#en>. Acesso em: 5 set. 2011.
Figura 3
DAVID, J. La mort de Socrate. 1787. 1 original de arte, óleo sobre tela. The Metropolitan Museum of 
Art, New York. Disponível em: <http://goo.gl/NNIvS>. Acesso em: 3 set. 2011.
Figura 4
SANZIO, R. La scuola di Atene. Detalhe do afresco. Disponível em: <http://mv.vatican.va/3_EN/pages/x-
Schede/SDRs/SDRs_03_02_020_big.html>. Acesso em: 3 set. 2011.
Figura 5
SANZIO, R. La scuola di Atene. Detalhe do afresco. Disponível em: <http://mv.vatican.va/3_EN/pages/x-
Schede/SDRs/SDRs_03_02_020_big.html>. Acesso em: 3 set. 2011.
Figura 6
KENNETH, C. The romantic rebellion. Nova Iorque: Harper, 1972, p. 52. Disponível em: <http://www.
mlahanas.de/Greeks/images/JesusGeometer.jpg>. Acesso em: 3 set. 2011.
Figura 7
BIBLIOTHÈQUE PUBLIQUE ET UNIVERSITAIRE, NEUCHATEL, SUISSE. Saint-Augustin. 1 gravura. s/d. 
Disponível em: <http://bpun.unine.ch/icono/JPG02/POET5.133.jpg>. Acesso em: 3 set. 2011.
Figura 8
BOTTICELLI, S. Sant’Agostino nello studio. 1480. Afresco. Disponível em: <http://www.
museumsinflorence.com/foto/cenacoloognissanti/image/Sant’Agostino-.jpg>.Acesso em: 3. set. 2011.
Figura 9
BROOKLYN MUSEUM. San Thomas Aquino. Século XVIII. 1 original de arte, óleo sobre tela. Disponível em: <http://
cdn.brooklynmuseum.org/opencollection/images/objects/size3/41.1275.188.jpg>. Acesso em: 3 set. 2011.
110
Figura 10
MENZEL, A. Voltaire in the court of Frederick II of Prussia. 1750. 1 original de arte. Disponível em: 
<http://static.newworldencyclopedia.org/e/e6/Adolph-von-Menzel-Tafelrunde.jpg>. Acesso em: 15 set. 
2011.
Figura 11
EDELINCK, G. René Descartes chevalier seigneur du Perron. 1691. 1 gravura. Disponível em: <http://
www.britishmuseum.org/collectionimages/AN00496/AN00496978_001_l.jpg>. Acesso em: 28 ago. 
2011.
Figura 12
CARROGIS, L. David Hume (1711 – 1776), historian and philosopher. 1 original de arte: lápis, 
giz vermelho e aquarela sobre papel. Disponível em: <http://www.nationalgalleries.org/media_
collection/18/PG%202238.jpg>. Acesso em: 12 set. 2011.
Figura 13
IMMANUAL_KAN_22044LG.GIF. 1 ilustração. In: HOLST, B. P. The teachers’ and pupils’ cyclopaedia. 
Kansas: The Bufton Book Company, 1909. vol. III. p. 945 Disponível em: <http://etc.usf.edu/
clipart/22000/22044/immanual_kan_22044.htm>. Acesso em: 10 jul. 2011.
Figura 14
ESCHER, M. C. Drawing hands. 1948. 1 litografia. Disponível em: <http://www.bocamuseum.org/
clientuploads/Podcasts1/29_Drawing%20Hands%20by%20Escher.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.
Figura 15
MARX, K. 1 fotografia p&b. Disponível em: <http://www.marxists.org/archive/marx/photo/marx/
images/82km1.jpg>. Acesso em: 3 mai. 2011.
Figura 16
ANOTHER_PICTURE_OF_AUGUSTE_COMTE.JPG. Disponível em: <http://www.bolender.com/
Sociological%20Theory/Comte,%20Auguste/Another%20Picture%20of%20Auguste%20Comte.jpg>. 
Acesso em: 5 jul. 2011.
Figura 17
DETALHE DA BANDEIRA DO BRASIL. Disponível em: <http://infoseg.gov.br/infoseg/imagens/estadosII.
JPG/image_view_fullscreen>. Acesso em: 16 mai. 2011.
111
Figura 18
BRAZIL_EYE_FLAG176X220.jpg. Disponível em: <http://www.kespia.com/pictures/Brazil_Eye_
Flag_176x220.jpg>. Acesso em: 15 set. 2011.
Figura 19
PAN MAGAZINE. Alemanha, n. 4, ano 5 (1899/1900), p. 233.
Figura 20
3B19621R.JPG. Sigmund Freud (1938). 1 fotografia p&b. Disponível em: <http://lcweb2.loc.gov/pnp/cp
h/3b10000/3b19000/3b19600/3b19621r.jpg>. Acesso em: 15 set. 2011.
Figura 21
SARTRE_1_SHOW.JPG. 1 fotografia p&b. Disponível em: <http://img.rtvslo.si/upload/Kultura/drugo/
sartre_1_show.jpg>. Acesso em: 15 set. 2011.
Figura 22
FOUCAULT.JPG. 1 fotografia p&b. Disponível em: <http://marxsite.com/images/foucault.jpg>. Acesso 
em: 15 set. 2011.
Figura 23
CASAL JR, M. Tablets (computadores portáteis). 2011. 1 fotografia. Disponível em: p://agenciabrasil.
ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/26/gallery_assist678505/Agencia%20Brasil060911_
mca6376.jpg>. Acesso em: 5 set. 2011.
REFERÊNCIAS
Audiovisual
PONTO de mutação. Direção: Bernt Capra. Estados Unidos: Paramount Pictures, 1990.
DANTON. Direção Andrzej Wajda. França, Polônia, Alemanha: Gaumount International, 1982.
Textuais
ALTERNER, B.; STUIBER A. Patrologia. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004.
ARANHA, M. L. A. Temas de filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998.
112
ARISTÓTELES. Tópicos e Dos argumentos sofísticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
BARTHES, R. Crítica e verdade. São Paulo: Perspectiva, s/d.
BAUMAN, Z. O mal-estar na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
 
CHALITA, G. Vivendo a filosofia. 2. ed. São Paulo: Ática, 2005.
CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997.
___. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
COMTE-SPONVILLE, A. Apresentação da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
CORDI, C. et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
COTRIM, G. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. São Paulo: Contraponto, 1997.
DROBNER, H. Manual de patrologia. Petrópolis: Vozes, 2003.
ECO, U. O nome da rosa. Rio de Janeiro: Record, 2009.
FERNANDES, V. A contribuição da Filosofia das Formas Simbólicas para a Filosofia Clínica. 2015. 
74 p. Pesquisa de conclusão do curso: Especialização em Filosofia Clínica. Instituto Interseção. 
São Paulo, 2015.
GAARDER. J. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia. das Letras, 2005.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
HAMMAN, A. G. Para ler os padres da Igreja. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997.
HARVEY, D. The conditions of post-modernity. Oxford: OUP. 1989.
HIRSCHBERGER, J. História da filosofia na Idade Média. Tradução de Alexandre Correia. São Paulo: 
Herder, 1966.
KANT, I. Crítica da razão pura. 3. ed. Trad. Valério Rohden e Udo B. Moosburger. São Paulo: Nova 
Cultural, 1987.
113
___. Crítica da razão prática. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
LEFEBVRE, H. Lógica formal e lógica dialética. Tradução de Carlos N. Coutinho. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 1979, p. 192.
MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
MARITAIN, J. Elementos de filosofia I: introdução geral à filosofia. Tradução de Ilza das Neves e Heloísa 
de Oliveira Penteado. 18. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2001.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 1998.
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.
PONTIN, F. Biopolítica, eugenia e ética: uma análise dos limites da intervenção genética em Jonas, 
Habermas, Foucault e Agamben. 2007. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia e 
Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
REALE, M. Introdução à filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
RUSSEL, B. Os problemas da filosofia. 1. ed. Lisboa: Edições 70, 2008.
SAVIANI, D. Educação: do senso comum a consciência filosófica. 13. ed. Campinas, SP: Cortez; Autores 
Associados, 2000.
SEVERINO, A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1994.
TARNAS, R. A epopeia do pensamento ocidental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
114
115
116
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

Mais conteúdos dessa disciplina