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Razão e Conhecimento
Você vai compreender as principais teorias modernas sobre o conhecimento, analisando as contribuições
do racionalismo de Descartes e do empirismo inglês, além de refletir sobre os limites da razão e da
experiência na construção do saber.
Profa. Clara Maria Cavalcante Brum de Oliveira
1. Itens iniciais
Propósito
O estudo das teorias do conhecimento é fundamental para a formação crítica de profissionais das áreas de
educação e ciências humanas, pois desenvolve a capacidade de refletir sobre a origem, validade e limites do
saber, habilidades essenciais para a análise de discursos, práticas pedagógicas e construção de argumentos
fundamentados.
Objetivos
Compreender a problematização do conhecimento, sua relação com a razão e a tese fundamental do
Racionalismo.
 
Analisar a contribuição de René Descartes para a Filosofia moderna por meio das obras Discurso do
Método e Meditações à Primeira Filosofia.
 
Reconhecer a tese central e as características da doutrina empirista no contexto da Filosofia moderna.
Introdução
O conhecimento é um dos temas centrais que marcaram o início da Filosofia moderna. Em um período de
intensas transformações sociais, científicas e religiosas, muitas ideias antes consideradas absolutas e até de
origem divina passaram a ser questionadas. Diante desse cenário, os filósofos modernos voltaram sua
atenção para os limites do entendimento humano e para a possibilidade de alcançar um conhecimento
verdadeiro. Surgiram, então, questões fundamentais: como saber se algo é realmente verdadeiro? O que
significa conhecer?
 
Essas perguntas levaram à formulação de novas abordagens filosóficas, nas quais a verdade deixou de ser um
dado absoluto e passou a ser um problema a ser investigado. A relação entre razão e conhecimento tornou-se
um dos principais focos de reflexão, inaugurando correntes filosóficas distintas que buscavam responder a
essas inquietações.
 
Entre os pensadores mais influentes desse período está René Descartes, considerado o pai da Filosofia
moderna. Seu pensamento racionalista propôs que a razão humana, quando bem orientada, seria capaz de
alcançar verdades seguras e universais. Suas obras, como Discurso do Método e Meditações, marcaram
profundamente o desenvolvimento do pensamento crítico ocidental.
 
Em contraposição ao racionalismo cartesiano, surgiu a doutrina do empirismo, que defendia que todo
conhecimento verdadeiro tem origem na experiência sensível. Filósofos como John Locke, George Berkeley e
David Hume foram expoentes dessa corrente, especialmente na tradição filosófica inglesa dos séculos XVII e
XVIII.
 
Este conteúdo propõe uma análise comparativa entre essas duas grandes correntes — racionalismo e
empirismo —, permitindo compreender como diferentes concepções de conhecimento moldaram a Filosofia
moderna e influenciam até hoje o modo como pensamos.
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1. Razão e conhecimento
A razão e o Racionalismo
Em nossas experiências mais corriqueiras, no cotidiano, percebemos a importância do conhecimento
verdadeiro. Como seria a nossa vida se tudo fosse motivo de descrédito, desconfiança e insegurança?
 
Assista ao video para aprender sobre rzão e racionalismo.
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Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Frequentemente, acreditamos nos dados fornecidos pelos sentidos e formulamos juízos sobre todas as coisas
da vida. Evidenciamos a textura de uma pedra, a liquidez da água, sentimos o frio, o calor e o quente.
 
Sabemos, também, que o nosso pensamento não fica limitado apenas à experiência sensível, ao empírico.
Temos uma dimensão empírica, mas nosso pensamento vai mais longe e especulamos ideias abstratas.
 
Se identificamos fumaça em algum lugar, acreditamos que há a possibilidade de que algo esteja em chamas,
não é mesmo? Por que pensamos assim? Qual a relação entre fumaça e fogo? Quem faz essa conexão?
O pensamento estabelece uma relação de causalidade.
Essa ideia de causalidade nos permite evidenciar que “o nosso juízo apresenta um elemento que não está
contido na experiência” (HESSEN, 1987, p. 59), e esse elemento é a própria ideia de relação causal entre
fumaça e fogo.
 
Essa relação entre dois elementos distintos, por exemplo, é algo que só acontece em nosso pensar.
Exemplo
a) Imagine que duas pessoas travam uma grande discussão e uma delas agride fisicamente a outra, mas
ninguém viu. Como reação típica, a pessoa agredida resolve revidar com um soco. Essa segunda
agressão, como reação à primeira, foi vista por alguns transeuntes. Você é um desses transeuntes. O
que vai pensar da cena desagradável? Que a pessoa que desferiu um soco é má e está agredindo a
outra. Possivelmente, você não saberá que ela estava reagindo a uma injusta agressão. O seu ponto de
vista permitiu a formulação de um juízo. Mas será que ele é verdadeiro? b) Suponha que alguém conta
um episódio; será que está trazendo uma informação verdadeira? Essa pessoa vivenciou o fato ou ouviu
de outro? É claro que há um pressuposto de veracidade, mas é apenas um pressuposto. E cada um
conta a sua versão do que viu ou ouviu. 
Os filósofos modernos enfrentaram um momento histórico muito interessante em que os valores se
modificaram, algumas supostas verdades perderam sua força diante da realidade. Algumas teorias foram
derrubadas, outras ocuparam seus lugares. Esse tipo de vivência nos coloca diante de uma grande
desconfiança em relação a tudo e a todos.
 
Então, qual seria a origem para o conhecimento? A experiência que fornece dados ou o pensamento que
estabelece relações, nexos, conexões?
Essa é a questão filosófica que ressurge no período moderno: qual a fonte do conhecimento
verdadeiro? Como alcançá-lo de maneira segura?
De acordo com Hesse (1987), na fase moderna:
Razão
Segundo Bonjour; Backer (2010), na problematização do ato de conhecer, devemos observar três conceitos:
Crença
É a aceitação de algo, ou seja, a afirmação mental de alguma coisa.
Verdade
Pode ser pensada como a correspondência ou concordância de uma alegação sobre um objeto com
ele mesmo, na tese dos modernos.
Justificação
Significa apresentar boas razões ou um aval para se pensar que determinada ideia ou alegação é
verdadeira.
No âmbito do conhecimento, naturalmente, esses três conceitos estão presentes. Em um diálogo, há, ainda,
uma ideia compartilhada entre os interlocutores de que ambos estão sendo verdadeiros um com o outro.
 
Sob o ponto de vista epistemológico , a corrente de pensamento que identifica a razão como a origem
fundamental do conhecimento é o Racionalismo. O termo decorre da palavra razão, do latim ratio. Essa
corrente do conhecimento humano observa que o conhecimento deve ser necessário e válido universalmente.
Razão 
A razão seria a única fonte para
conhecimento, fortalecendo a concepção de
que somos sujeitos pensantes e que a nossa
consciência é um dado originário.
Conhecimento 
A origem do conhecimento estaria na
experiência sensível, a que existe a partir
dos sentidos grosseiros, afastando-se da
ideia de uma consciência cognoscente,
ou seja, um sujeito capaz de conhecer
em seu pensamento.
Ratio
Teoria do conhecimento, ponto de vista científico. 
Isso significa que se a razão identifica determinada coisa, esta coisa será necessariamente deste modo
e não de outro e sempre será assim em qualquer circunstância.
(Hessen, 1987)
Os juízos que nascem da experiência não apresentam rigor e validade universal, porque cada experiência é
singular e apresenta um resultado diferente.
 
Nem tudo que é ideal é real e vice-versa. Quando estudamos a questão do conhecimento, estamos no campo
da relação entre sujeito cognoscente e objeto conhecido. Nessa seara, designamos pelo termo real aquilo que
nos é fornecido pela experiência sensível e como ideal os objetos meramente pensados.
 
O sujeito cognoscente, ou seja, um sujeito que conhece, é também um ser que sente e tem desejos e tudo
isso interfere no seu ato de conhecer. Nesse processo, gostamos de acreditar que o nosso conhecimento é
sempre verdadeiroe que nos afastamos daquilo que é falso, daquilo que nos leva ao erro ou à ilusão (HESSEN,
1987).
 
Segundo Abbagnano (1982, p. 792) no verbete razão, o termo decorre do grego logos e apresenta quatro
significados fundamentais. Vamos conhecê-los!
 
É o mais comum, aquele que identifica o ser humano diferente dos animais, portanto, a razão é
percebida como uma faculdade específica do ser humano. Aristóteles já dizia que o homem é um ser
racional.
 
Liga-se ao termo essência ou substância, pois usa-se a ideia de razão de algo como essência ou
substância de algo, de clara inspiração aristotélica.
 
Liga o termo ao significado de prova, de argumento. Se alguém apresentou suas razões, esse alguém
provou algo, argumentou algo e, também à ideia de ter razão.
 
É a razão como ideia de relação. Em matemática é frequente o uso da expressão razão inversa ou
razão direta.
O significado que mais nos interessa é o primeiro, quando se coloca a razão como um guia para o
ser humano, norteadora de sua conduta, como algo que traz lucidez ou capacidade para se
conseguir um conhecimento seguro.
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De acordo com Abbagnano (1982 p. 792), nesse sentido, ainda podemos vislumbrar dois modos para razão:
 
Como uma faculdade geral de guia.
 
Como procedimento específico de conhecimento.
 
Como faculdade, Abbagnano (1982) observa que a razão nos fortalece contra o erro, o engano, os
preconceitos, nos permite perceber o critério de universalidade e nos torna livres do determinismo da
natureza.
 
Essa dupla possibilidade da razão, que permite-nos afastarmos do erro e nos tornar livres, vem sendo
afirmada na história da Filosofia por diferentes pensadores em épocas distintas.
 
Heráclito e Parmênides, por exemplo, denunciaram a importância da razão contra as crenças, colocando-a
como o único caminho para todos os seres humanos — guiar-se pela razão é a recomendação de ambos.
 
Platão e Aristóteles opuseram a razão à sensibilidade e “aos apetites que o homem tem em comum com os
animais” (ABBAGNANO, 1982, p. 792).
De um modo geral, até o senso comum nos adverte sobre os perigos de não se seguir a razão.
Segundo Nicola Abbagnano (1982), foram os estoicos que fortaleceram a tese de que a razão é o único guia
para o ser humano como um elemento distintivo do nosso status ontológico. Somos diferentes de todos os
demais seres da criação em razão de sermos seres racionais.
 
O lema dos estoicos era que deveríamos viver segundo a natureza, ou seja, viver segundo a razão. Descartes,
considerado o pai da Filosofia moderna, posteriormente fortalecerá essa ideia quando mencionar na primeira
parte do Discurso do Método que a razão é um guia para o ser humano.
O bom senso é a coisa mais bem repartida deste mundo, porque cada um de nós pensa ser dele tão bem
provido, que mesmo aqueles que são mais difíceis de se contentar com qualquer outra coisa não
costumam desejar mais do que o que têm. Não é verossímil que todos se enganem; ao contrário, isto
mostra que o poder de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso, que é o propriamente o que se
chama bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens.
(Descartes, 1973a, p. 37)
Nessa citação, Descartes recoloca no cenário moderno o sentido antigo de razão como um condutor para o
bom julgamento, para a busca pela verdade. Estabelece um vínculo entre razão e verdade.
 
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Desse modo, a palavra razão nos liga ao sentido de algo ordenado, claro, compreensível, que poderá
organizar a realidade opondo-se aos sentimentos de paixão, ao ilusório, às crenças e preconceitos.
Por isso, é muito frequente em nosso cotidiano mencionarmos que algo irracional não é bom, que pessoas
insensatas perdem a razão e cometem erros, não é verdade?
Racionalismo
Segundo Nicola Abbagnano (1982), o termo Racionalismo, em geral, expressa a ideia de que se poderá confiar
nos procedimentos da razão, ou seja, há um predomínio da razão como o caminho para explicação da
realidade e busca pelo conhecimento. E mais. O termo poderá, em um sentido filosófico, designar o
pensamento de Descartes a Leibniz.
 
Conforme destaca Abbagnano (1982, p.790), Hegel teria sido o primeiro “a caracterizar como Racionalismo, a
corrente que vai de Descartes a Espinosa e Leibniz, opondo-se ao Empirismo da orientação que nasce em
Locke”. As duas doutrinas ou correntes, Racionalismo e Empirismo, por meio de seus expoentes, apresentaram
soluções diferentes para o problema do conhecimento.
O Racionalismo,
de certo modo
limita o ser
humano ao
âmbito da razão,
considerando
que a
experiência faz
parte de nossa
existência, mas
pode nos
conduzir a erros.
Há uma
confiança no
poder da razão
para se alcançar
a verdade.
 O Racionalismo,
como uma posição
epistemológica
importante, afirma
que o
conhecimento só
poderá ser
considerado como
tal quando for
necessário e
válido
universalmente.
Como já
mencionamos, é
aquele que não
pode ser diferente
e vale para todos.
 Um exemplo desse tipo de
conhecimento é a frase: o
todo é maior que as partes.
Nessa afirmação, que virou
exemplo clássico para a
corrente do Racionalismo,
identificamos que não
podemos sustentar uma ideia
contrária do que está sendo
dito. Não posso sustentar
que as partes de um todo
podem ser mais extensas
que o todo. Então, temos
aqui um juízo universal e 
necessário (HESSEN, 1987).
 Assista ao
vídeo e
aprende um
pouco mais
sobre o
conceito de
Conhecimento.
 Friederich Hegel.
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No entanto, quando mencionamos que a água ferve à temperatura de 100 graus já não podemos sustentar a
mesma necessidade lógica da frase anterior, porque a água poderá ferver em temperatura diferente, não
necessariamente a 100 graus. Podemos comprovar isso em nossas atividades cotidianas.
 
Nesse caso, precisamos da experiência para certificar a afirmação. Para o Racionalismo, os juízos que nascem
da razão são juízos que apresentam necessidade e universalidade e, por isso, seria a verdadeira fonte do
conhecimento. O conhecimento para ser conhecimento, ressalte-se, precisa da necessidade lógica e da 
validez universal (HESSEN, 1987).
 
Você já deve estar pensando no conhecimento matemático. É claro que o conhecimento matemático,
conhecimento conceitual e dedutivo, foi o modelo para construção do pensamento racionalista. Então, os
juízos matemáticos não se vinculam com a experiência. E mais. Não foi por acaso que os expoentes do
Racionalismo também eram matemáticos (HESSEN, 1987).
 Platão.
É possível afirmar que o Racionalismo mais antigo tenha sido o de Platão e dos eleáticos, porque se afastaram
dos sentidos como o lugar do erro. A dicotomia platônica dos dois mundos, mundo sensível e mundo
inteligível, colocou o conhecimento verdadeiro no inteligível, no suprassensível ou mundo das ideias.
 
Platão também dizia que o conhecimento matemático era um pressuposto para fazer Filosofia. Assim,
construiu uma teoria das ideias ou formas puras em que o mundo está dividido em duas dimensões: a
dimensão sensível e a inteligível.
Eleáticos
“Os eleáticos ou eleatas eram pensadores seguidores da Escola Eleática, doutrina segundo a qual o
conhecimento verdadeiro é aquele que decorre da razão e não dos sentidos” (ABBAGNANO, 1982). 
O mundo sensível, mundo material, lugar dos seres singulares é perecível, está em constante mudança. E
essa ideia de alteração e mudança se afasta do verdadeiro, da perfeição porque o que é perfeito não se
modifica. Então esse mundo perecível é cópia de um mundo real, lugar das ideias ou formas puras."
(Platão, 1996)
Na teoria da Anamnese, ou rememoração das ideias, Platão explica que o conhecimento, na verdade, é
reminiscência. Como almas, contemplamos as ideias ou formas puras e nos recordamos delas em nossa
existência no mundo sensível (PLATÃO, 1996).
 
Estudiosos designam o Racionalismo de Platão um Racionalismo transcendente, em razão de colocar a
verdade, a realidade no mundo das ideias, no transcendente (HESSEN, 1987).
Plotino Agostinho de HiponaOs filósofos Plotino e Agostinho de Hipona igualmente inserem-se na corrente do Racionalismo, mas
um Racionalismo teológico. As ideias ou formas puras platônicas encontram-se agora no espírito do universo e
no sentido cristão de Agostinho em Deus.
O Racionalismo considera a razão como fundamento e fonte do conhecimento, sem a interferência da
experiência. Para essa corrente, o conhecimento perfeito é aquele que decorre apenas da razão. E a dimensão
sensível? A experiência sensorial fica subordinada à razão.
 
Assista ao vídeo para continuar aprendendo sobre Conhecimento.
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Veja o que diz Chauí sobre o Racionalismo.
Para o Racionalismo, o modelo perfeito de conhecimento verdadeiro é a matemática, que depende
exclusivamente do uso da razão e que usa a percepção sensível sob o controle da atividade do intelecto.
(Chauí, 2010, p. 145)
No campo da teoria do conhecimento ou epistemologia, o entendimento humano está no centro do problema
filosófico, ou seja, da reflexão filosófica. Assim, partimos do pressuposto de que a nossa condição racional
nos permite conhecer o mundo e a nós mesmos. Somos sujeitos de conhecimento, sujeitos pensantes,
sujeitos cognoscentes. Nossa consciência é a percepção de nossa própria identidade, do nosso eu.
 
Esse eu pode ser visto como:
 
Na dimensão do conhecimento, um sujeito que conhece.
 
Um eu de vivências singulares.
 
Um eu inserido em uma dimensão ético-moral.
Verificando o aprendizado
Iluminação 
Como o nosso espírito humano decorre do
Espírito cósmico ou Deus, a contemplação
mencionada por Platão dá lugar à
iluminação. A nossa dimensão racional da
alma é iluminada por esse ser superior.
Conhecimento 
A verdade e os conceitos verdadeiros
são emanados por Deus para os seres
humanos. O conhecimento é
iluminação divina para a vertente
Plotino-agostiniana (HESSEN, 1987).
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Questão 1
A Filosofia moderna provoca o advento de uma nova forma de investigar o conhecimento e seus limites.
Assim, problematiza o sujeito que pensa, o objeto pensado e o conhecimento que deriva desta relação. A
categoria central dessa fase da Filosofia foi a:
A Razão
B Sensibilidade
C Credulidade
D Fé
E mística
A alternativa A está correta.
Na Filosofia moderna encontramos uma nova forma de investigar o conhecimento e seu limites. Nesse
aspecto, a categoria central foi a razão.
Questão 2
No período moderno, algumas doutrinas filosóficas passaram a indagar sobre os limites do conhecimento.
Nesse horizonte, a doutrina que compreendeu a razão como fundamento e fonte do conhecimento é:
A Empirismo
B Criticismo
C Ceticismo
D Hedonismo
E Racionalismo
A alternativa E está correta.
A doutrina que considera a razão como fundamento e fonte do conhecimento, sem a interferência da
experiência é o Racionalismo.
Questão 3
A doutrina do Racionalismo, como uma posição epistemológica importante, parte de um lugar privilegiado para
a razão e afirma a tese de que o conhecimento só poderá ser considerado como tal quando for:
A Necessário e universal.
B Necessário e contingente.
C Singular e universal.
D Contingente e universal.
E Imanente e transcendente.
A alternativa A está correta.
O Racionalismo, como uma posição epistemológica importante, afirma que o conhecimento só poderá ser
considerado como tal quando for necessário e universal.
Questão 4
A Filosofia moderna promoveu uma aproximação entre razão e conhecimento. Qual a importância que a
racionalidade assume na fase moderna nos estudos sobre o conhecimento?
Chave de resposta
Para os filósofos modernos, a razão nos fortalece contra o erro, o engano, os preconceitos, nos permite
perceber o critério de universalidade e nos torna livres do determinismo da natureza. Essa dupla
possibilidade da razão possibilita o afastamento do erro e nos torna livres.
2. René Descartes e a dúvida metódica
A dúvida metódica
Para começar, assista ao vídeo e conheça um pouco mais sobre René Descartes.
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René Descartes (1596-1650) foi um destacado filósofo, matemático e físico, conhecido, também, pela
construção de um sistema designado como coordenadas cartesianas.
A sua Filosofia
foi denominada
também de 
cartesianismo,
pensamento
cartesiano,
sabe por quê?
Porque
cartesiano vem
de cartesius
que é a palavra
latina para
Descartes, seu
sobrenome. Em
sua época, os
eruditos só
escreviam em
latim, não
usavam a
língua vulgar
que, no caso
de Descartes,
seria o francês.
 Na primeira
parte do 
Discurso do
Método,
Descartes
narra um
pouco sua vida
e sua
formação no
colégio jesuíta
em La Flèche,
uma educação
enraizada nos
conhecimentos
escolásticos,
baseada em
dogmas e
argumentos de
autoridade,
sufocando o
uso livre da
razão
(DESCARTES,
1973a).
 Como era um
sujeito inquieto
e questionador,
buscou outros
saberes
diferentes do
conteúdo
estudado em
seu colégio. Em
1618, alistou-se
no exército de
Maurício de
Nassau, depois
uniu-se a tropas
na Baviera. Essa
fase foi seguida
de inúmeras
viagens e maior
aprofundamento
nos estudos
matemáticos e
na elaboração
de seus livros.
 Suas obras
mais
importantes
são:
 Discurso
do
Método
(1637).
 Meditações
à Primeira
Filosofia
(1641).
 Princípios
de
Filosofia
(1644).
 Tratado
das
Paixões
(1649),
além de
algumas
obras
póstumas.
 Descartes viveu em
uma época muito
interessante, de
grande
efervescência
intelectual,
momento em que
as ideias medievais
estavam em
crescente
descrença e sendo
afastadas por
novas ideias,
principalmente por
causa da revolução
científica que
começava a se
configurar.
Descartes
experimentou uma
época em que as
concepções que
havia estudado no
colégio jesuíta
estavam sendo
declaradas como
falsas (BONJOUR;
BACKER, 2010).
René Descartes.
Descartes é considerado o pai da Filosofia Moderna.
Os problemas centrais da Filosofia Moderna apareceram, pela primeira vez, em suas obras.
 
Esses problemas abordavam: A questão epistemológica, o conhecimento do mundo exterior e a relação
mente-corpo.
 
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Na Primeira Parte do Discurso do Método, Descartes mostra como estava desiludido em uma época muito
especial de mudança de paradigmas, de falseamento de antigas verdades medievais.
Nutri-me de letras desde a minha infância, e, como me persuadissem de que, por meio delas, era
possível adquirir-se um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, tinha grande desejo de
as aprender. Mas, logo que terminei todo esse curso de estudos, no fim do qual é costume sermos
recebidos no número dos doutos, mudei inteiramente de opinião; porque encontrei-me embaraçado por
tantas dúvidas e erros, que pareceu-me não haver tirado outro proveito, procurando instruir-me, a não
ser o de haver descoberto cada vez mais a minha ignorância. E, no entanto, estivera numa das mais
célebres escolas da Europa, onde pensava que existiam homens sábios, se é que os há em algum lugar
da Terra.
(Descartes, 1973a, p. 38)
A época de Descartes é a época do desafio de novos saberes, é a época que reivindica o pensamento crítico,
a busca pela liberdade de raciocinar.
 
Por isso, o filósofo afirma que, após essa fase de formação em que foi nutrido na letras, procurou
experimentar novos olhares no livro do mundo, em viagens, cortes e exércitos.
 
Descartes estava decepcionado quando, ao final de sua formação, deparou-se com uma multiplicidade de
ideias, muitas delas contrárias aos dogmas estudados. Essa decepção o ajudou a buscar a verdade em seus
próprios pensamentos. (ALQUIÉ, 1993).
Uma das ideias fundamentais do cartesianismo é a de que devemos conduzir nosso pensamento
segundo uma ordem.
Essa ordem pode ser evidenciada em suas obras como a dúvida e a consciência das implicações dessa dúvida
metódica, ou seja, a afirmação de nossa existência pelo pensar, a certeza de um Deus que não pode nos
enganar e a possibilidade de fundamentação de uma ciência humana a partir de ideias claras e distintas.
 
Na carta prefácio da obra Princípios de Filosofia,Descartes utiliza a imagem de uma árvore para pensar a
Filosofia. Em seu modo de ver:
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abaixo.
É nesse sentido de uma ordem que o pensamento de Descartes clama por um rigoroso sentido lógico. Para
ele, a Filosofia é pensamento e, nesse horizonte, busca-se a sabedoria.
 
Descartes descobriu a Filosofia por seu próprio movimento do pensar diante do mundo e das lições de seus
mestres. Em sua Filosofia, Deus é colocado como o criador do eu e dos objetos e, por conseguinte, o
pensamento está subordinado a Ele — está no princípio, mas só será alcançado pelo mundo.
 
O cogito (eu penso) é o elemento primordial na ordem do conhecimento e, por isso, para Descartes, o
absoluto surge ao final, depois da reflexão que revela o cogito como fonte da sua própria ciência.
O pensamento cartesiano está inserido em uma área da Filosofia designada por epistemologia e
apresenta uma abordagem racionalista.
Método da dúvida
Ao elaborar a obra Meditações à Primeira Filosofia, o filósofo desejou investigar como seria possível afastar-se
de crenças equivocadas e, para tanto, desenvolveu o método da dúvida.
 
Com esse método, ele pretendia observar as crenças, afastar as ideias sem justificação possível, as crenças
falsas, e só conservar crenças indubitáveis.
 
As crenças indubitáveis são as que podem ser justificadas e, por conta disso, evidenciou que o conhecimento
verdadeiro é aquele que pode ser justificado, ou seja, existem razões capazes de fundamentar aquela ideia.
 
Vamos conhecer os pontos mais importantes de suas obras Discurso do Método e Meditações à Primeira
Filosofia?
Discurso do método
Assista ao vídeo e aprenda sobre o Discurso do Método de Descartes.
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Nesta obra, encontramos seis partes em que o autor nos convida a uma jornada conjunta para vivenciarmos o
que experimentou: a demolição de um conhecimento que não se justificava mais em seu tempo.
A obra é uma
narrativa
sobre sua
trajetória de
vida e um
método para
o
conhecimento
verdadeiro.
 Descartes
(1973a, p. 37)
começa a
primeira parte
chamando
atenção para a
suposta ideia
de que o bom
senso ou a
razão estariam
presentes em
todos os seres
humanos.
 O texto
apresenta
uma sincera
crítica
quando
afirma que
todos nós
acreditamos
que temos
bom senso
na medida
certa e para
todas as
coisas.
 Nesse início,
podemos pensar
na ideia de o
autor estar
clamando por
uma certa
laicização do
saber porque se
percebeu longe
de uma
perfeição e
envolvido em
tantas dúvidas.
 Colocando em
dúvida todo o
conhecimento
que herdou dos
mestres
jesuítas,
Descartes
apresentou, na
segunda parte,
um método
organizado em
quatro
princípios:
Primeiro
Jamais acolher alguma coisa como verdadeira que ele não conhecesse evidentemente como tal; isto
é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em seus juízos que não se
apresentasse tão clara e tão distintamente a seu espírito, que ele não tivesse nenhuma ocasião de
pô-lo em dúvida.
Segundo
Dividir cada uma das dificuldades que ele examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e
quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
Terceiro
Conduzir por ordem seus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de
conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e
supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
Quarto
Fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que ele tivesse a certeza de
nada omitir. (DESCARTES, 1973a, p. 45-6)
É evidente a sua proposta. Devemos desconfiar das ideias que não são claras e evidentes. Devemos afastar a
passividade de aceitar tudo sem questionar.
 
Se estamos diante de uma situação complexa, precisamos dividi-la em partes para uma análise cuidadosa e
seguir partindo das mais simples às mais complexas, supondo sempre a importância de uma ordem das
razões. E, por fim, retornar sempre que necessário ao ponto de partida e fazer revisões para evitar omissões.
Comentário
Descartes nos traz uma advertência bem interessante sobre nossas ideias. Você consegue pensar em
situações em que aceitou passivamente alguma ideia? Tomou como verdade uma opinião, sem
investigar? Será que, intuitivamente, não utilizamos esse método da dúvida em certos momentos da
vida? 
Muitas ideias expressas por Descartes, inaugurando problemas filosóficos em seu tempo, conquistas de seu
pensamento, podem hoje nos parecer como lugares-comuns em nossa existência contemporânea.
Observe o que diz Descartes.
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, quis supor que não havia coisa alguma que
fosse tal como eles nos fazem imaginar.
(Descartes, 1973b, p. 54)
Como fica a verdade se podemos imaginar que nossos pensamentos quando despertos são iguais aos que
temos quando dormimos? Quantas vezes sonhamos e os sonhos nos parecem reais?
Discurso do Método 
É no conteúdo das Meditações que Descartes
aprofunda seus estudos sobre a dúvida, mas,
antes, inicia sua reflexão na quarta parte do
Discurso do Método, mencionando que, às
vezes, consideramos verdadeiras opiniões
“que sabemos ser muito incertas” (1973a, p.
54).
Meditações Segundas 
Assim, apresenta o seu cogito, que será
reencontrado nas Meditações Segundas
e esse ponto interliga as duas obras.
Ainda no Discurso do Método, propõe o
exercício mental de considerarmos
como falso tudo o que poderá conter
alguma dúvida, mesmo que diminuta, e
ressalta que nossos sentidos podem nos
engana
Resolvi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais
verdadeiras que as ilusões de meus sonhos.
(Dedcartes, 1973b, p. 54)
Adiante constata que nessa experimentação mental uma verdade despontava: “sou o autor dos pensamentos.
Nem tudo é falso, mas o meu eu não é”. O eu pensante é a primeira verdade.
 
Descartes afirma (1973a, p. 54) “enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria
necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa”. E, acrescenta: “julguei que podia aceitá-la, sem
escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava”.
 
Ao analisar a dúvida, Descartes pensava nas opiniões diversas sobre todas as coisas, e que podemos
nos enganar com frequência, tomando tais opiniões como verdadeiras. Assim, duvidou de tudo.
 
Foi nesse aspecto que sua dúvida foi designada como hiperbólica, excessiva, exagerada. Tudo ao
nosso redor pode ser falso, exceto o nosso eu que está no comando do pensamento.
 
O cogito, penso, logo existo, é a primeira verdade que alcançamos. A dúvida exagerada prepara o
caminho para alcançarmos a certeza.
A dúvida é, para Descartes, um processo para se chegar
à verdade, à certeza.
A expressão cartesiana penso, logo existo, que em latim é cogito ergo sum, também indicada penas pela
palavra latina cogito, tornou-se para o filósofo uma verdade segura.
 
Que implicação podemos identificar aqui? A de que o pensamento ou consciência é mais certo
que a dimensão corporal. Nesse horizonte, filósofos posteriores assumiram o que se
denomina por uma visão idealista.
 
O que significa o idealismo? Uma concepção que valoriza a atividade do sujeito pensante e
não do objeto que está sendo pensado. A corrente do idealismo concede lugar especial ao
sujeito, pois é ele que constrói a realidade, os objetos são construídos pelo sujeito e, nesse
aspecto, o que existe é representação.
 
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Eu penso significa dizer que tenho consciência de algo que equivale ao sentido de eu represento objetos. São
realidades pensadas por mim, não são objetos em si mesmos.
 
Nessa representação, o que ocorre é que torno presente para minha consciência conteúdos que se opõem a
mim como sujeito — porque sou eu quem pensa. São realidades na minha consciência.
 
São apenas objetos porque são pensados ou podem ter existência independentemente de minha
representação?
Meditações à Primeira FilosofiaNas Meditações à Primeira Filosofia (1973b), Descartes aprofunda o seu método da dúvida e podemos
verificar que em sua primeira meditação apresenta-nos um momento de desconstrução e não de
estabelecimento de verdades.
 
Assista ao vídeo e aprenda sobre o cogito de Descartes.
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Assim, coloca o princípio da dúvida hiperbólica, o argumento do erro dos sentidos, tratando como falso o que
é duvidoso, o argumento do sonho e a função de um deus enganador e do gênio maligno para radicalizar
ainda mais a dúvida.
No item 1, da Primeira Meditação Descartes informa que:
Há algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões
como verdadeiras.
(Descartes, 1973b, p. 93)
E qual é o caminho para lidar com isso? Começar novamente e destruir as antigas opiniões, não confiar em
quem já nos enganou.
 
E mais, tentar superar aquela comodidade de se confortar com tais opiniões que trazem ilusões agradáveis.
 
Na Meditação Segunda, Descartes analisa a natureza do espirito humano para se alcançar a primeira certeza,
o cogito, primeira proposição:
Eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em
meu espírito. Mas não conheço ainda bastante claramente o que sou (item 5) Mas que é o homem? (item
6)
(Descartes, 1973b, p. 100)
Nesta parte da obra, Descartes problematiza o sujeito pensante como pessoa, como razão, como substância
que pensa, duvida, afirma e nega, mas que também imagina e sente.
 
Observa-se aqui:
 
1. A conquista da primeira verdade com o cogito.
 
2. A segunda verdade na determinação da essência do eu, no exemplo da cera.
 
3. A terceira verdade que afirma que o espírito é mais fácil de se conhecer que o corpo. Nesta terceira
colocação, Descartes não está pensando no conhecimento do senso comum, mas se referindo ao
conhecimento científico.
O cogito não elimina em momento algum a existência da dúvida.
O cogito é uma exceção à dúvida e permite a construção de um critério de verdade: as ideias claras e
distintas. Esse critério será fundamental na correspondência entre as ideias e as coisas. A dúvida persiste e é
importante caminho para exigir que a razão legitime suas operações. Demonstra que é necessário e não
contingente às justificações. Preciso justificar minhas opiniões com base em argumentos racionais.
 
Na Meditação Terceira, Descartes trabalha a ideia de Deus como dotada de um valor objetivo. Busca provar
que há um Deus e que ele não é enganador. Essa substância infinita é a causa do ser finito. Observe todo o
item 22 desta parte da obra:
22. Portanto, resta tão somente a ideia de Deus, na qual é preciso considerar se há algo que não possa
ter provindo de mim mesmo? Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável,
independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são (se é verdade que
há coisas que existem) foram criadas e produzidas. 
(Descartes, 1973b, p. 115-6)
Na Meditação Quarta, Descartes observa a relação entre o verdadeiro e o falso e indaga o motivo do erro.
Nesta parte enfrenta duas questões:
 
O ser finito como fruto de um Ser infinito e que não é enganador. 
 
O reconhecimento que o sujeito é passível de erro.
 
Para Descartes, a causa do erro está na nossa liberdade, a liberdade de poder errar, de tomar o falso como
verdadeiro. O eu pensante é um ser finito passível de erro, mas o Ser infinito é um ser completo e perfeito.
 
Como o ser finito não é um ser soberano que o criou, está exposto a uma infinidade de falhas. Por isso,
Descartes afirma o erro como privação, mau uso do livre arbítrio:
Ora, se me abstenho de formular meu juízo sobre uma coisa, quando não a concebo com suficiente
clareza e distinção, é evidente que o utilizo muito bem e que não estou enganado; mas, se me determino
a negá-la ou a assegurá-la, então não me sirvo como devo de meu livre arbítrio; (...). E é neste mau uso
do livre arbítrio que se encontra a privação que constitui a forma do erro.
(Descartes, 1973b, p. 128)
Na Meditação Quinta, Descartes tematiza a questão das evidências, rememora o que já mencionou sobre
evidência e verdade e compara uma evidência atual com uma passada.
 
A questão é se a memória de premissas que foram tidas como evidentes é suficiente para considerá-las como
atualmente evidentes. Nesta parte, ele discute a continuidade da evidência. Primeiramente, do conceito de
evidência não há como se chegar à ideia de estabilidade da evidência.
 
No final do parágrafo 15 da Meditação Quinta, Descartes estabelece a veracidade divina na sua amplitude, por
isso, essa parte foi intitulada Da essência das coisas materiais; e, novamente, de Deus, que Ele Existe.
• 
• 
O que mais poderão, pois, objetar-me? Que talvez eu durma (como eu mesmo me objetei acima) ou que
todos os pensamentos que tenho atualmente não são mais verdadeiros do que os sonhos que
imaginamos ao dormir? Mas, mesmo que estivesse dormindo, tudo o que se apresenta a meu espírito
com evidência é absolutamente verdadeiro. E, assim, reconheço muito claramente que a certeza e a
verdade de toda ciência dependem do tão só conhecimento do verdadeiro Deus: de sorte que, antes
que eu o conhecesse, não podia saber perfeitamente nenhuma outra coisa. E, agora que o conheço,
tenho o meio de adquirir uma ciência perfeita no tocante a uma infinidade de coisas, não somente das
que existem nele, mas também das que pertencem à natureza corpórea. 
(Descartes, 1973b, p. 136)
A verdade que Descartes estabelece nesta meditação é a de que temos certeza de que as propriedades das
essências são as propriedades das coisas e no que tange à essência de Deus, uma existência necessária e
eterna. Deus é necessário e eterno.
 
Em sua Meditação Sexta, sob o título Da existência das coisas materiais e da distinção real entre a Alma e o
Corpo do homem, Descartes examina a existências das coisas materiais. Nesta meditação, verifica o problema
da existência das coisas.
Só me resta agora examinar se existem coisas materiais; e certamente, ao menos, já sei que as pode
haver, na medida em que são consideradas como objeto das demonstrações de Geometria, visto que,
dessa maneira, eu as concebo mui clara e distintamente.
(Descartes, 1973b, p. 137)
O filósofo reconhece a possibilidade de conhecê-las já que é possível ter ideias claras e distintas de suas
essências e, por conseguinte, se tem acesso a esse tipo de ideias, pode afirmar a possibilidade de sua
existência.
 
Assim, investiga a imaginação, nossa recordação dos objetos, retoma as verdades anteriores e acrescenta a
verdade da distinção da alma em relação ao corpo. A substância corpórea precisa existir para viabilizar as
faculdades de deslocamento, por exemplo.
 
A existência das sensações também fortalecem a existência corpórea.
E esta substância é ou um corpo, isto é, uma natureza corpórea, na qual está contida formal e
efetivamente tudo o que existe objetivamente e por representação nas ideias.
(Descartes, 1973b, p. 143)
Nesta última meditação, Descartes observou que somos falíveis, mas nossa natureza racional nos oportuniza
todos os meios para evitarmos o erro que decorre da nossa finitude, distinguindo o que é vigília e o que é
sonho.
 
A dúvida é um recurso, ou melhor, uma estratégia para que a razão legitime suas operações. Assim, o filósofo
moderno tematizou a razão que não se limita apenas à ideia de rigor ou não contradição, mas também
evidencia a necessidade de distinguir o erro da verdade.
O ser humano como ser pensante, ao pensar, ao
duvidar, encontra a si mesmo numa verdade sem
mediações.
Somos o que Descartes chamou de res cogitans, uma substância pensante que é o pensamento e este
pensamento é a realidade pensante. Pela clareza e distinção, que são dois elementos da lógica, o ser humano
é uma realidade pensante consciente de si.
Com essa ideia, clareza e distinção se tornam elementos fundamentais para a busca da verdade porque a
certezado cogito foi alcançada graças a esses dois elementos.
Com base na clareza e distinção chegamos à verdade indubitável do cogito.
Então, a Filosofia passa a ser uma doutrina do conhecimento, uma gnosiologia. E se para a percepção da res
cogitans é preciso apenas clareza e distinção, da mesma forma serão suficientes para qualquer verdade.
Ademais, podem ser: imediatas pela intuição ou mediatas quando decorrem do silogismo dedutivo.
O método de Descartes nos conduz à ideia de um recta ratio, ou seja, uma faculdade de julgar bem e
distinguir o falso do verdadeiro e que o filósofo designou por razão ou bom senso, naturalmente igual em
todos os seres humanos.
O ser pensante experimenta uma multiplicidade de ideias e deve analisá-las com todo rigor. O ser
humano é o responsável por seu erro.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Com base nos estudos de Descartes, lei o texto a seguir:
 
René Descartes, filósofo francês do século XVII, questionava a realidade e a veracidade de tudo o que
percebia, inclusive se sua própria existência não seria um sonho ou ilusão criada por um "gênio maligno".
Essas reflexões levaram-no à famosa conclusão: “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum), marco inicial de sua
filosofia baseada na razão e na subjetividade como caminhos para o conhecimento seguro. Ele rompeu com a
tradição escolástica subordinada à Igreja e propôs uma nova forma de pensar baseada na dúvida metódica:
duvidar de tudo até encontrar uma verdade indubitável. Acreditava que a razão, presente em todos, era o
caminho para alcançar a verdade, e que cada indivíduo deveria pensar por si mesmo. Descartes nasceu em
1596 na França, estudou em colégio jesuíta, formou-se em Direito e serviu como voluntário na Guerra dos
Trinta Anos. Viveu mais de 20 anos na Holanda e morreu em Estocolmo, como filósofo da corte da rainha
Cristina da Suécia. Influenciado por Galileu e por seu amigo Isaac Beekman, adotou métodos matemáticos e
geométricos para criar um sistema de conhecimento baseado em leis físicas e no raciocínio analítico. No 
"Discurso do Método" (1637), propôs princípios como evidência, análise, ordem e enumeração como
fundamentos para a construção do saber. Ele via o conhecimento como uma árvore: a física seria o tronco que
sustentava os demais ramos das ciências. Seu método propunha rejeitar qualquer ideia que não fosse clara e
distinta, organizar o pensamento do simples ao complexo e revisar tudo cuidadosamente. Sua visão de mundo
ficou conhecida como dualismo cartesiano, que separava a realidade em dois domínios: Res cogitans – a
mente pensante, consciente e imaterial e Res extensa – a matéria extensa, mensurável e mecânica. Para
Descartes, Deus era o elo entre o pensamento subjetivo e a verdade objetiva. A razão, quando clara e
evidente, refletia a verdade criada por Deus. Sua maior evidência foi perceber que, mesmo duvidando de tudo,
o ato de pensar provava sua existência: "Enquanto penso, existo." (Texto baseado no vídeo Filosofia da
Educação - Descartes, disponível no canal UNIVESP no YouTube).
Agora, responda: Por que Descartes foi considerado o pai da Filosofia moderna?
Chave de resposta
Descartes evidencia uma forma de filosofar que se baseia no pensar por si mesmo e, assim, inaugurou um
novo método para a Filosofia, cuja verdade não estaria mais vinculada às escrituras e sim na mente do
filósofo. Desse modo, criou o paradoxo da objetividade na subjetividade com a exigência da certeza e a
isenção da dúvida para a investigação científica. Assim, os problemas filosóficos centrais da Filosofia
Moderna apareceram, pela primeira vez, em suas obras.
Questão 2
Qual a importância do recurso da dúvida no pensamento cartesiano?
Chave de resposta
Em Descartes, a dúvida é um recurso, uma estratégia para que a razão legitime suas operações mentais. O
filósofo tematizou a necessidade de distinguir o erro da verdade. O ser humano como ser pensante, ao
pensar, ao duvidar, encontra a si mesmo em uma verdade sem mediações.
Questão 3
O caminho que Descartes percorreu para a investigação sobre a verdade é a marca de seu sistema filosófico,
portanto, sua teoria está inserida em uma área da Filosofia designada por:
A Metafísica
B Lógica
C Epistemologia
D Romantismo
E Fenomenologia do espírito
A alternativa C está correta.
De um ponto de vista filosófico, o pensamento cartesiano está inserido em uma área da Filosofia designada
por epistemologia ou teoria do conhecimento.
Questão 4
René Descartes elaborou algumas regras para bem conduzir o pensamento, na busca pelo conhecimento
verdadeiro. Assinale a opção que contém a primeira regra do método apresentada pelo autor na obra Discurso
do Método como forma para bem conduzir o pensar.
A Evitar precipitações e não considerar como verdadeiro o que não é claro e distinto, duvidar de tudo.
B Dividir os problemas em partes menores para analisá-los.
C Enumerar e analisar o conjunto para evitar omissões.
D Seguir a ordem das razões, partir do simples ao complexo.
E Partir dos elementos simples para os compostos.
A alternativa A está correta.
Descartes elaborou quatro princípios do método para bem conduzir o pensamento; o princípio 1 é aquele
que orienta nos afastarmos das precipitações e não considerar como verdadeiro o que não é claro e
distinto. Enfim, duvidar de tudo.
Questão 5
Descartes organizou a dúvida metódica e, nessa construção, uma verdade desponta de maneira clara e
distinta: nem tudo o que penso é falso, pois o meu eu não é falso — eu existo enquanto penso, essa é a
certeza que tenho. Essa ideia ganhou o nome de:
A Transcendental
B Metafísico
C Cogito
D Método
E Interioridade
A alternativa C está correta.
Descartes realizou uma experimentação mental de duvidar de tudo e todos e, nessa vivência, uma verdade
poderia despontar: nem tudo é falso, o meu eu não é — eu existo enquanto penso. Essa ideia ganhou o
nome de cogito.
3. O empirismo e a experiência
A experiência e o empirismo
Quando pequenos ouvimos com frequência frases do tipo:
 
“Não coloque o seu dedo na tomada, vai levar choque!”
 
“Não fique perto do ferro de passar roupas, você vai se queimar!”
 
Muitas vezes, teimosamente, experimentamos a desagradável sensação de choque ou queimadura porque
não seguimos a advertência. E depois dessa experiência, lição compreendida, não mais ousamos colocar os
dedos na tomada, nem mexemos no ferro de passar.
 
O que isso tem a ver com a doutrina do empirismo?
 
O que é empirismo e por que se chama empirismo?
 
Quando focalizamos o campo das investigações sobre a fonte do conhecimento, além da corrente do
racionalismo, podemos identificar a doutrina do empirismo, corrente de pensamento que afirma a ideia
segundo a qual a única fonte de conhecimento provém da experiência sensorial.
 
Assista ao vídeo e aprenda sobre Empirismo.
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Veja o que Marcondes diz sobre o Empirismo:
Empirismo significa uma posição filosófica que toma a experiência como guia e critério e validade de
suas afirmações.
(Marcondes, 1997, p. 176)
Como identificamos nas aulas anteriores, a história das ideias aborda questões que, em Filosofia, são
denominadas de questões perenes. 
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A indagação sobre qual a fonte do conhecimento é uma questão perene que passou pelo olhar do
racionalismo e agora estudamos sob a ótica do empirismo.
 
Por que é perene? Porque são questões que formulamos e que atravessam gerações, em todas as épocas,
não são questões momentâneas ou temporárias e que promovem grandes debates. Até hoje indagamos: Qual
a fonte do conhecimento?
 
Para os empiristas, o conhecimento decorre especificamente da experiência sensível. Liga-se, portanto, ao
termo empírico que pode assumir alguns significados.
 
Os gregos designavam por empeiria a palavra experiência, por isso os defensores do empirismo sustentaram,
e ainda sustentam, que o conhecimento somente seria/é possível por meio da experiência sensível.
A razão cartesiana passou a estar limitada àexperiência
dos sentidos.
O processo do conhecimento acontece na ordem inversa do que foi preconizado na tese do racionalismo. O
procedimento parte da experiência sensível e particular em direção a generalizações. E essa passagem é
possível graças à verificação.
Processo do conhecimento
Lembramos também da velha ideia segundo a qual se colocarmos a mão no fogo irá queimar - todos que
colocarem a mão no fogo sofrerão queimaduras. E assim caminha a humanidade, uma geração alertando
a outra sobre essa experiência sensível. A vivência de uma criança em seu desenvolvimento evidencia
essa dimensão empírica, de percepções e impressões sensíveis sobre o mundo real. 
A corrente do empirismo faz uma crítica interessante à visão racionalista e a sua confiança supostamente
ingênua no poder do sujeito cognoscente para acessar a verdade.
 empirismo
A palavra empírico pode designar uma espécie de saber que se adquire com a prática, ou seja, a
repetição e memória, no sentido de experiência, opondo-se ao termo racional. Pode vincular-se ao
sentido de algo intuitivo ou sensível e o seu oposto, o termo intelectual (ABBAGNANO, 1982). 
Os empiristas apontaram um limite para a razão humana no campo do conhecimento: antes de
buscarmos a verdade, precisamos analisar os elementos desse conhecimento.
Os elementos que integram o processo do conhecimento são:
 
O objeto a ser conhecido.
 
O sujeito do conhecimento e suas limitações.
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Lalande (1993) observa que o termo empírico apresenta três oposições. Pode opor-se ao sentido de:
Sistemático
Quando é percebido como resultado imediato
da experiência.
Racional
Que também requer o concurso da experiência
e refere-se ao método.
Puro
Conforme kant observou.
O que decorre da experiência, é imposto de fora, é empírico, sensível, e não puro.
Empírico
A intuição de um triângulo geométrico é sensível, mas pura; a de um cartão branco triangular é sensível e
empírica” (LALANDE, 1993). O que passa necessariamente pelos meus sentidos grosseiros é algo
empírico. 
Saiba mais
Na doutrina kantiana chamamos de a priori o que é puro e a posteriori o que decorre da experiência
sensível. 
Para os defensores do pensamento empírico, a consciência cognoscente, a consciência que pensa, ou seja, o
ser pensante busca seus conteúdos na experiência sensível e não na razão que seria o pensamento puro.
 
De acordo com Zilles (1994): 
 
Se o conhecimento é constituído por ideias, juízos, raciocínio no puro pensar, estamos diante de um
saber racional e regras lógicas podem ser invocadas e gerar novos conhecimentos, por dedução.
Se os conhecimentos visam uma realidade empiricamente apreensível, precisamos da experiência para
verificar nossos enunciados, por indução.
Nessa seara, desenvolveram-se as ciências empírico-formais que foram construídas segundo o modelo
da física, porque seus enunciados precisam da verificabilidade (ZILLES, 1994). Se não há nenhum
patrimônio em nossa razão, nascemos vazios. O que significa nascer vazio para a Filosofia empirista?
Assista ao vídeo e aprenda mais sobre Empirismo.
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Consciência cognoscente
É uma ideia que já estava presente em Heráclito, na Filosofia pré-socrática, que defendia a tese de que o
mundo se explicava por causa das transformações e contradições, em uma tensão perene na
natureza. Para Sócrates, o mundo é um perene fluir como um rio que flui e não me permite duas vezes
mergulhar na mesma água. “Eis o célebre fragmento deste pré-socrático: Um homem não pode banhar-
se duas vezes no mesmo rio. Por que pensou assim? Porque tudo flui, tudo se move, tudo se transforma
- água do rio corre e não é a mesma água que me recebe. De onde Heráclito tirou essa ideia? Ele parte
do dado da experiência, do movimento constante de tudo o que existe e do sujeito cognoscente,
inaugurando a antítese entre experiência e razão” (ZILLES, 1994). 
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Significa que o ser humano nasce tábula rasa, ou seja, vazio ou como na metáfora de uma folha em branco e,
somente por meio da experiência, será possível acrescentar conteúdos a esta folha. E tudo decorre dessa
experiência, nossos conceitos e ideias sobre todas as coisas procedem da experiência sensível de uma
vivência efetiva.
 
Como na área das ciências naturais, a experiência exerce papel importante, a utilização desse método para a
teoria do conhecimento tende a valorizar o empírico como fonte do conhecimento.
 
Podemos, enfim, designar pelo termo empirismo uma palavra genérica que designa as doutrinas filosóficas
que afirmam o valor da experiência e que, portanto, negam a existência de axiomas que se colocam como
princípios do conhecimento distintos da experiência (LALANDE, 1993). 
 
Essa doutrina se opõe ao pensamento de Descartes, que admite a existência de princípios claros e distintos.
Como doutrina gnosiológica, o empirismo afirma que o conhecimento verdadeiro somente é possível se
resultar da experiência.
Experiência sensível
Nossos conceitos, ideias, juízos procedem da experiência, de fatos concretos ou percepções concretas
no mundo da vida. Segundo Johannes Hessen (1987, p. 69), a experiência torna-se a fonte possível para
o conhecimento, segundo o empirismo. “A criança começa por ter percepções concretas. Com base
nessas percepções chega, paulatinamente, a formar representações gerais e conceitos. Estes nascem,
por conseguinte, organicamente da experiência” (HESSEN, 1987). Curioso perceber que a história do
empirismo revela que seus expoentes procedem de um modo geral da área das ciências naturais em que
a experiência ocupa lugar central. Já os racionalistas, como vimos, procedem, em regra, da
matemática. “Para o filósofo matemático, a razão é a única fonte do conhecimento e, para o filósofo
empirista, a experiência é a base de todo o conhecimento. Duas formas distintas com vivências distintas,
buscando a fonte para o conhecimento verdadeiro” (HESSEN, 1987). 
Empirismo, portanto, é o nome genérico para as doutrinas e o termo empirista para os pensadores
que admitem sua tese como fonte do conhecimento.
Características do empirismo
Segundo Abbagnano (1987), podemos destacar algumas características dessa matriz filosófica do
conhecimento, a saber:
 
A negação do caráter absoluto da verdade disponível ao ser humano.
 
A necessidade de se pôr à prova para que a informação seja corrigida ou eventualmente abandonada.
 
Além dos dois traços fundamentais do empirismo podemos inserir outros em razão do caminhar histórico
dessa diretriz filosófica:
 
A negação do conhecimento inato.
 
A negação do suprassensível, ou seja, a negação de toda realidade que não pode ser verificada,
testada. O que significa dizer que esta tese se opõe ao pensamento platônico.
 
Com esta doutrina ganha destaque aquilo que pode ser medido, verificado, os fatos e os dados, por exemplo.
Matriz filosófica
O empirismo não nega a existência da razão, mas nega a sua pretensão de estabelecer verdades
inquestionáveis ou infalíveis. 
O empirismo rejeita para fora da Filosofia, e de toda pesquisa legítima, os problemas que se referem a
coisas não acessíveis aos instrumentos de que o homem dispõe.
(Abbagnano, 1987, p. 310)
O empirismo não renuncia aos instrumentos racionais ou lógicos, nem à possibilidade de generalizações, mas
observa a necessidade de verificação, confirmação, de se pôr à prova determinado conhecimento para que
seja confirmado ou negado.
 
De acordo com a tradição da história da Filosofia, os sofistas e, posteriormente, os estoicos e epicuristas
teriam desenvolvido algumas ideias que estão na base do empirismo.
Estoicos e epicuristas
Os estoicos, por exemplo, teriam sido os primeiros a relacionar a alma com a figura de uma tábua em
branco e essa imagem se perpetua em muitos pensadores posteriores – a ideia de tábula rasa. De um
modo geral, estoicos e epicuristas trabalharam o sentido das sensações ou sensismo. No período
medieval, Guilherme de Ockham pode ser considerado uma boa referência aoempirismo ao reconhecer
um papel importante para experiência (ABBAGNANO, 1987). 
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Ocorre que o empirismo como doutrina que investiga a fonte do conhecimento é um fenômeno moderno,
especificamente da Filosofia inglesa dos séculos XVII e XVIII, no pensamento de Francis Bacon (1561-1626),
Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume
(1711-1776). Além dos grandes expoentes, temos Condillac (1715-1780) e, no século XIX, John Stuart Mill
(1806-1873).
 
O que se acentua nessa fase são ideias sobre os limites e as imperfeições do ato de conhecer, observando os
perigos das crenças, da tradição, relativizando ideias e sobretudo teses sobre a origem dos nossos
conhecimentos nas sensações. Tudo decorre da experiência sensível. O que sabemos, de uma maneira ou de
outra, provém dos sentidos.
Assista ao vídeo e aprenda sobre a contribuição da classe burguesa na filosofia empirista.
XVII
O século XVII foi intenso na transformação para um novo projeto, o projeto burguês que imprime valores
inéditos e uma atividade filosófica, igualmente original, que coloca o ser humano no centro do
conhecimento. Centralizado no sujeito, os pensadores buscaram qual seria o critério para o
conhecimento verdadeiro, ou seja, o conhecimento que observa a relação entre o pensamento e o objeto
pensado. A revolução científica havia rompido com o modelo aristotélico-ptolomaico, provocando uma
busca por métodos novos, mais seguros, capazes de afastar o erro. 
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A tese empirista provoca uma verdadeira reviravolta no pensamento filosófico que até então valorizava as
ideias e não as sensações. Inúmeros pensadores anteriores foram concordes em dizer que o sentido nos
engana. Agora, o empirismo, inversamente, alega que as sensações são mais importantes.
 
Como a perspectiva da doutrina do empirismo difere da perspectiva do racionalismo, pode-se pensar em
agrupar os filósofos empiristas, tais como Locke, Berkeley e Hume como três autores modernos que
representaram a doutrina do empirismo, apesar de cada um ter apresentado teorias diferentes entre si, com
conceitos igualmente distintos sobre o conhecimento. Estão agrupados como empiristas porque partem da
tese da experiência como base de todo conhecimento.
O axioma de base do empirismo é: Nihil est in intellectu
quid non fuerit, prius in sensu, que expressa, em latim
que nada há no entendimento que antes não tenha
passado pelos sentidos.
Todas as nossas ideias decorrem da experiência. As nossas impressões reúnem as percepções que temos,
sensações presentes na vida concreta cotidiana. Sentimos o sabor de algo e nomeamos como sabor doce ou
sabor amargo e, a seguir, comunicamos esse ideia. 
 
A corrente do empirismo, portanto, de maneira radical promove uma reviravolta na perspectiva filosófica
anterior que desprezava as sensações e valorizava apenas as ideias de uma consciência como um dado
original. 
 
Nesse horizonte, ao lado da doutrina do racionalismo, formou um dos paradigmas da Filosofia moderna em
sua fase inicial e limitou o conhecimento científico ao conhecimento fenomênico por meio da percepção,
preparando o terreno de uma Filosofia crítica que assevera a impossibilidade de um saber de verdades
absolutas.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Com base nos estudos sobre o empirismo como doutrina moderna, que afirma que na base de todo
conhecimento está a experiência sensível. Leia o texto a seguir!
 
O empirismo é uma corrente filosófica que defende a experiência sensorial como base fundamental de todo
conhecimento. Isso significa que só conhecemos o mundo a partir das informações captadas pelos sentidos
(visão, tato, audição, olfato e paladar). Experiências internas, como sonhos, imaginação e emoções, não são
consideradas válidas como fonte de conhecimento empírico. O empirismo valoriza apenas o que pode ser
percebido sensivelmente. A palavra "empirismo" vem do grego empeiria, que significa "experiência". O lema
central do empirismo, inspirado em Aristóteles, é: “Nada existe no intelecto que não tenha passado antes
pelos sentidos.” Para o empirismo, embora o conhecimento exija atividade racional, como o raciocínio, essa
atividade só pode operar sobre as evidências sensoriais. Ou seja, primeiro sentimos, depois pensamos sobre
isso — e assim construímos o conhecimento. Descartes, por exemplo, apesar de reconhecer a importância da
experiência sensorial, acreditava em ideias inatas (presentes desde o nascimento), o que o coloca fora da
tradição empirista, que nega a existência de ideias inatas. O empirismo se desenvolveu principalmente na
Inglaterra, nos séculos XVII e XVIII, em oposição à filosofia metafísica e abstrata. Valorizava a observação, a
experiência concreta e a aplicação prática do saber. Ele teve forte ligação com a criação da Royal Society de
Londres (1660), uma sociedade científica voltada para pesquisas com aplicações técnicas, como a melhoria
da navegação e a comunicação com povos de outras culturas. (Texto baseado no vídeo Empirismo, disponível
no canal Didatics no YouTube).
 
Agora, responda à pergunta: Considerando essa doutrina, quem é o filósofo empirista?
Chave de resposta
O empirismo é uma doutrina que ganhou fôlego no período moderno com a ideia de que todo o
conhecimento provém da experiência e, neste horizonte, o empirista é aquele que considera a experiência
sensorial como a base de todos os conhecimentos, ou seja, o conhecimento não existiria sem a evidência
sensorial. A experiência seria o alicerce para o conhecimento.
Questão 2
A corrente do empirismo faz uma reviravolta no pensamento racionalista e a sua confiança no poder do sujeito
cognoscente para acessar a verdade. Nesse horizonte, o empirismo não aceita a teoria:
A Das ideias inatas.
B Da experimentação.
C Das impressões sensíveis.
D Da indução.
E Da evidência sensorial.
A alternativa A está correta.
O empirismo não aceita a teoria das ideias inatas, pois o conhecimento decorre da experiência sensível.
Questão 3
A palavra empirismo é genérica e designa as doutrinas filosóficas que afirmam o valor da:
A Racionalidade
B Experiência
C Substancia pensante
D Consciência
E Coisa em si
A alternativa B está correta.
Podemos evidenciar pelo termo empirismo, uma palavra genérica que designa as doutrinas filosóficas que
afirmam o valor da experiência.
Questão 4
A tese empirista provoca uma verdadeira reviravolta no pensamento filosófico que, até então, valorizava as
ideias decorrentes da simples razão e não as sensações ligadas aos sentidos grosseiros. Desse modo, pode-
se dizer que o empirismo renunciou à importância da razão no âmbito do conhecimento? 
Chave de resposta
A doutrina do empirismo não renunciou aos instrumentos racionais ou lógicos, nem à possibilidade de
generalizações, mas observou que o conhecimento nasce da experiência sensível e que há a necessidade
de verificação, confirmação, de se pôr à prova determinado conhecimento para que seja confirmado ou
negado. É preciso provar, surge a necessidade de experimentação.
Questão 5
O axioma: “Nada há no entendimento que antes não tenha passado pelos sentidos” pertence à doutrina do:
A Criticismo
B Racionalismo
C Idealismo
D Romantismo alemão
E Empirismo
A alternativa E está correta.
O axioma: “Nada há no entendimento que antes não tenha passado pelos sentidos” pertence à doutrina do
empirismo.
4. Conclusão
Considerações finais
Neste conteúdo, foi explorado um dos temas centrais da Filosofia moderna: o conhecimento.
 
Partindo do contexto de intensas transformações sociais, científicas e religiosas, analisamos como os filósofos
modernos passaram a questionar ideias antes consideradas absolutas, transformando a verdade em um
problema filosófico. A partir disso, investigamos os limites do entendimento humano e a relação entre razão e
conhecimento, que se tornaram questões fundamentais para o pensamento moderno.
 
Destacamos a contribuição de René Descartes, consideradoo pai da Filosofia moderna, cuja proposta
racionalista defende que a razão é o caminho seguro para alcançar verdades universais. Suas obras, como 
Discurso do Método e Meditações, foram analisadas como marcos do pensamento crítico e da busca por
fundamentos sólidos para o conhecimento.
 
Em contraposição ao racionalismo cartesiano, estudamos a doutrina do empirismo, que afirma que todo
conhecimento verdadeiro tem origem na experiência sensível. Filósofos como Locke, Berkeley e Hume foram
apresentados como representantes dessa corrente, especialmente no contexto da Filosofia inglesa dos
séculos XVII e XVIII.
 
A análise comparativa entre racionalismo e empirismo permitiu compreender como essas duas correntes
ofereceram respostas distintas às mesmas questões filosóficas, moldando profundamente a Filosofia
moderna. Ao final, foi possível perceber como essas reflexões continuam influenciando o modo como
pensamos sobre o conhecimento, a verdade e os limites da razão humana.
Explore +
Assista aos filmes que trazem a atmosfera do humanismo:
 
O Nome da rosa. Dir.: Jean-Jacques Annaud. Alemanha, Itália, França, 1986. 130 min.
 
A guerra do fogo. Dir.: Jean-Jacques Annaud. Canadá, França, 1981. 100 min.
 
Cube. Dir.: Vincenzo Natali. Canadá, 1997. 90 min.
 
Blade Runner: o caçador de androides. Dir.: Ridley Scott. Estados Unidos, Hong Kong, 1982. 117 min.
 
Enigma, de Kaspar Hauser. Dir.: Werner Herzog. Alemanha, 1974. 100 min.
 
Sociedade dos poetas mortos. Dir.: Peter Weir. Estados Unidos, 1989. 128 min.
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Leia o livro Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas, de Leonard Mlodinow, editora Zahar.
 
Assista ao filme DESCARTES. Dir.: Roberto Rossellini. Itália, França, 1974. 140min.
 
Leia o livro Tratado sobre a Trindade, livro X, de Agostinho de Hipona, que já trazia a ideia do deslocamento
que Descartes operou do ser para o conhecimento.
 
Leia os livros Discurso do método e Meditações à Primeira Filosofia, de René Descartes da Coleção Os
Pensadores da Abril Cultural, porque possui uma introdução de Gilles-Gaston Granger, bem como prefácio e
notas de Gerard Lebrun, grandes comentadores do pensamento cartesiano.
 
Assista aos filmes que trazem algumas ideias do pensamento empirista:
 
Laranja mecânica. Dir.: Stanley Kubrick. Reino Unido, Estados Unidos, 1971. 136 min.
 
O show de Truman. Dir.: Peter Weir. Estados Unidos, 1998. 103 min.
 
A experiência. Dir.: Oliver Hirschbiegel. Alemanha, 2001. 120 min.
 
Experimentos. Dir.: Michael Almereyda. Estados Unidos, 2015. 98 min.
 
Ex Machina. Dir.: Alex Garland. Reino Unido, 2015. 108 min.
Leia os livros:
 
Empirismo e subjetividade, de Gilles Deleuze, Editora 34.
 
Empirismo, de Robert G. Meyers, Editora Vozes.
 
Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana, de Steven Pinker, Companhia das Letras.
Referências
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CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010.
 
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Prefácio e notas de Gerard Lebrun.
 
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ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994.
	Razão e Conhecimento
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. Razão e conhecimento
	A razão e o Racionalismo
	Conteúdo interativo
	O pensamento estabelece uma relação de causalidade.
	Exemplo
	Razão
	Crença
	Verdade
	Justificação
	Racionalismo
	Conteúdo interativo
	Plotino
	Agostinho de Hipona
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. René Descartes e a dúvida metódica
	A dúvida metódica
	Conteúdo interativo
	Descartes é considerado o pai da Filosofia Moderna.
	Conteúdo interativo
	Método da dúvida
	Discurso do método
	Conteúdo interativo
	Primeiro
	Segundo
	Terceiro
	Quarto
	Comentário
	A dúvida é, para Descartes, um processo para se chegar à verdade, à certeza.
	Que implicação podemos identificar aqui? A de que o pensamento ou consciência é mais certo que a dimensão corporal. Nesse horizonte, filósofos posteriores assumiram o que se denomina por uma visão idealista.
	O que significa o idealismo? Uma concepção que valoriza a atividade do sujeito pensante e não do objeto que está sendo pensado. A corrente do idealismo concede lugar especial ao sujeito, pois é ele que constrói a realidade, os objetos são construídos pelo sujeito e, nesse aspecto, o que existe é representação.
	Meditações à Primeira Filosofia
	Conteúdo interativo
	O ser humano como ser pensante, ao pensar, ao duvidar, encontra a si mesmo numa verdade sem mediações.
	Verificando o aprendizado
	3. O empirismo e a experiência
	A experiência e o empirismo
	Conteúdo interativo
	A razão cartesiana passou a estar limitada à experiência dos sentidos.
	Sistemático
	Racional
	Puro
	Saiba mais
	Conteúdo interativo
	Características do empirismo
	Conteúdo interativo
	O axioma de base do empirismo é: Nihil est in intellectu quid non fuerit, prius in sensu, que expressa, em latim que nada há no entendimento que antes não tenha passado pelos sentidos.
	Verificando o aprendizado
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Explore +
	Referências

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