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Definição O termo “desenvolvimento” tem sido o mais utilizado para abranger os vários aspectos interligados que caracterizam a evolução dinâmica do ser humano a partir de sua concepção. Outros termos, como “maturação”, por exemplo, também concorrem para definir o significado desse processo de construção que resulta da interação entre a influência biológica da própria espécie e do próprio indivíduo e a sua história e seu contexto sociocultural. É importante enfatizar que, embora a carga genética seja fator determinante, o desenvolvimento humano emerge a partir da interação com os fatores ambientais, portanto, é fundamental que ocorra uma ampla e adequada variação de estímulos e experiências, para favorecer todo o seu potencial. Do ponto de vista biológico, o sucesso do desenvolvimento depende da integridade dos vários órgãos e sistemas que concorrem para lhe condicionar, principalmente o sistema nervoso, que participa de toda ordenação funcional que o indivíduo irá experimentar. Neste aspecto, é importante salientar que o tecido nervoso cresce e amadurece sobretudo nos primeiros anos de vida, portanto, nesse período, é mais vulnerável aos agravos de natureza diversa e às adversidades das condições ambientais que podem ocasionar prejuízos relacionados aos processos em desenvolvimento. Por outro lado, por sua grande plasticidade, é também nessa época que a criança melhor responde aos estímulos que recebe e às intervenções, quando necessárias. O estudo do desenvolvimento compreende alguns domínios de função interligados, quais sejam: sensorial, motor (geralmente subdividido em habilidades motoras grosseiras e habilidades motoras finas), da linguagem, social, adaptativo, emocional e cognitivo. Esses domínios influenciam-se entre si e têm como eixo integrador a subjetividade, função de dimensão psíquica que se particulariza e possibilita a singularidade de cada um dos seres humanos Seis primeiros anos acontecem em 3 etapas, de acordo com Freud: 0-1 ano: fase oral – boca, língua e gengivas 1-3 anos: fase anal- retenção e excreção fecal 3-6 anos: fase fálica- genitais Teoria da Aprendizagem ou Behaviorista - Explora a relação entre o estímulo ou ação e a resposta, que é a reação comportamental. Teoria Cognitiva de Jean Piaget: 2 períodos desenvolvimento cognitivo: 0 a 2 anos: sensoriomotor, quando crianças usam seus sentidos e habilidades motoras para compreender o mundo, não havendo pensamento conceitual ou reflexivo. 2 a 6 anos: a criança usa o pensamento simbólico e a linguagem para compreender o mundo. 2005- Teoria dos Sistemas Epigenéticos Enfatiza a interação entre os genes e o ambiente de forma dinâmica e recíproca; refere- se a todos os fatores que afetam a expressão das instruções genéticas. Avaliação A avaliação do desenvolvimento deve ser um processo contínuo de acompanhamento das atividades relativas ao potencial de cada criança, com vistas à detecção precoce de desvios ou atrasos. Essa verificação pode ser realizada de forma sistematizada por meio de alguns testes e/ou escalas elaboradas para tal finalidade. Como exemplos, citam-se o teste de Gesell, o teste de triagem Denver II, a escala de desenvolvimento infantil de Bayley, o Albert Infant Motor Scale, entre vários outros. Vale ressaltar que essas sistematizações apresentam peculiaridades e limitações relativas ao método utilizado, às faixas de idade avaliadas e à validação para cada população. Entretanto, na prática clínica diária, o fato de não se utilizar um método sistematizado não significa que o atendimento não tenha qualidade, sobretudo para o pediatra experiente que já sistematizou sua própria rotina de avaliação. Por outro lado, para o médico generalista e para outros profissionais de saúde, o uso de uma ferramenta sistematizada pode facilitar a lembrança das diferentes áreas que precisam ser abordadas. No Brasil, a Caderneta de Saúde da Criança, utilizada para o registro dos atendimentos nos serviços de saúde, disponibiliza uma sistematização para a vigilância do desenvolvimento infantil até os 3 anos de idade. Essa ferramenta permite acompanhar a aquisição dos principais marcos do desenvolvimento. Além disso, com base na presença ou ausência de alguns fatores de risco e de alterações fenotípicas, a caderneta orienta para tomadas de decisão. Sendo um processo dinâmico, as avaliações do desenvolvimento devem acontecer em todas as visitas de puericultura, de forma individualizada e compartilhada com a família. É fundamental o conhecimento do contexto familiar e social no qual a criança está inserida: desde quando foi gerada, se planejada ou não; as fantasias da mãe durante a gestação; quem é o responsável pelos seus cuidados; como é a rotina da criança; e quais mudanças ocorreram nas relações familiares após o seu nascimento. Além disso, é importante obter dados relacionados a possíveis fatores de risco para distúrbios do desenvolvimento, como ausência de pré-natal, dificuldades no nascimento, baixo peso ao nascer, prematuridade, intercorrências neonatais, uso de drogas ou álcool, infecções e depressão durante a gestação. Também é fundamental indagar sobre a opinião da mãe em relação ao processo de desenvolvimento de seu filho. A análise processa-se por toda a duração do atendimento, observando o comportamento da família e da criança: quem traz a criança, como ela é carregada, sua postura, o seu interesse pelo ambiente e a interação com as pessoas. Além disso, como um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento da criança é a reciprocidade estabelecida na relação com sua mãe ou substituta, é interessante observar o vínculo entre ambas. Quanto às aquisições motoras, reconhece-se no recém-nascido um padrão motor muito imaturo, com a presença do reflexo tônico cervical assimétrico, que lhe confere uma postura assimétrica, com predomínio do tônus flexor nos membros e intensa hipotonia na musculatura paravertebral. Seus movimentos são, geralmente, reflexos, controlados por partes primitivas do cérebro. Assim, reflexos como sucção, preensão palmar, plantar e da marcha passarão em poucos meses a ser atividades voluntárias. Outros, como o de Moro e o tônico cervical assimétrico, desaparecerão em breve, sendo que, dentro do padrão de desenvolvimento normal, não devem persistir no 2º semestre de vida.1. Continuando a evolução do sistema motor, durante os primeiros meses, há uma diminuição progressiva do tônus flexor e substituição pelo padrão extensor. Esse amadurecimento se faz na direção craniocaudal, sendo o quadril e os membros inferiores os últimos a adquiri-lo. A partir do 2º semestre, não ocorre mais predomínio de padrão flexor ou extensor, e assim, a criança, por meio de alternância entre os tônus, consegue, primeiramente, rolar e, posteriormente, já tendo dissociado os movimentos entre as cinturas escapular e pélvica, consegue mudar da posição deitada para sentada.1 A regra do desenvolvimento motor é que ocorra no sentido craniocaudal e proximodistal e, por meio de aquisições mais simples para mais complexas. Assim, a primeira musculatura a ser controlada é a ocular. Depois, há o controle progressivo da musculatura para a sustentação da cabeça e depois do tronco. Finalmente, durante o 3º trimestre, a criança adquire a posição ortostática. O apoio progressivo na musculatura dos braços permite o apoio nos antebraços e as primeiras tentativas de engatinhar. No entanto, algumas crianças andam sem ter engatinhado, sem que isso indique algum tipo de anormalidade. O desenvolvimento motor fino se dá no sentido proximodistal. Ao nascimento, a criança fica com as mãos fechadas na maior parte do tempo. Por volta do 3o mês, em decorrência da redução do tônus flexor,as mãos ficam abertas por período maior e as crianças conseguem agarrar os objetos, embora ainda sejam incapazes de soltá-los. Entre o 5o e o 6º mês, conseguem apreender um objeto voluntariamente e iniciam o movimento de pinça, que será aprimorado progressivamente até se tornar completo, polpa com polpa... A partir dos dois anos idade, o contexto cultural em que a criança se insere passa a ter uma influência maior e, consequentemente, também há maior variação entre os marcos. A avaliação do sistema sensorial, principalmente da audição e da visão, deve ser feita desde os primeiros atendimentos. É importante indagar os familiares se a criança focaliza objetos e os segue com o olhar, e se prefere o rosto materno. Isto porque, desde os primeiros dias de vida, o recém-nascido é capaz de focalizar um objeto a poucos centímetros de seu campo visual e detém nítida preferência pelo rosto humano. No exame dos olhos, deve-se estar atento ao tamanho das pupilas, pesquisar o reflexo fotomotor bilateralmente, assim como o reflexo vermelho que avalia a transparência dos meios e, no caso da suspeita de opacidades, encaminhar para um exame oftalmológico minucioso. A audição inicia-se por volta do 5o mês de gestação, portanto, ao nascimento, a criança já está familiarizada com os ruídos do organismo materno e com as vozes de seus familiares. Deve-se perguntar se o bebê se assusta, chora ou acorda com sons intensos e repentinos, se é capaz de reconhecer e se acalmar com a voz materna e se procura a origem dos sons. A avaliação objetiva da audição pode ser feita com várias frequências de estímulos sonoros, mas no Brasil, desde 2010, tornou- se obrigatória a realização da triagem auditiva neonatal, para todos os recém-nascidos, por meio de emissões otoacústicas evocadas, comumente denominado “teste da orelhinha”. Quanto à interação social, o olhar e o sorriso, presentes desde o nascimento, representam formas de comunicação, mas, entre a 4a e a 6a semana de vida surge o “sorriso social” desencadeado por estímulo, principalmente pela face humana. no 2º semestre de vida, a criança não responde mais com um sorriso a qualquer adulto, pois passa a distinguir o familiar do estranho. Assim, a criança pode manifestar um amplo espectro de comportamentos que expressam o medo e a recusa de entrar em contato com o estranho. Relativo à linguagem, durante os primeiros meses de vida, o bebê expressa-se por meio de sua mímica facial e, principalmente, pelo choro. Entre o 2o e o 3 o mês, a criança inicia a emissão de arrulhos e, por volta do 6o mês, de balbucio ou sons bilabiais, cujas repetições são realizadas pelo simples prazer de se escutar. Entre 9 e 10 meses, emite balbucios com padrão de entonação semelhantes à linguagem de seu meio cultural. A primeira palavra, na maioria dos idiomas, corresponde a um encontro silábico reconhecido que se inicia com sons de m, n, p, d ou t, como “mama”, “papa” e “dada”. A linguagem gestual também aparece no 2º semestre de vida e é fruto da significação dada pelos adultos do seu meio. Nessa fase, é comum a criança apontar e obedecer aos comandos verbais como bater palmas, acenar e jogar beijinhos. Por volta dos 12 meses de idade, surgem as primeiras palavras denominadas palavras-frase. Aos 18 meses, a criança inicia frases simples e, a partir daí, ocorre um grande aumento em seu repertório de palavras. Nessa fase, também começa o diálogo com troca de turnos, isto é, a criança fala e depois aguarda a resposta do outro para nova interferência. Comportamento: Modo de se comportar, de proceder, de agir diante de algo ou algum conjunto de ações de um indivíduo observáveis objetivamente, tendo em conta seu meio social. Tipos de desenvolvimentos • Motor: Controle dos movimentos do corpo • Adaptativo: Desenvolvimento de atividades com maior complexidade (sensação, percepção, planejamento execução) • Linguagem: Envolve meios de comunicação verbais e não verbais (gestos, vocalizações, palavras) • Pessoal-social: Desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais frente ao meio sociocultural • 0-3 meses: Padrão alternado sono e vigília; aparentemente desorganizado- adaptativo • 3-6 meses: Sono mais previsível e individualizado. Os aprendizados motor e cognitivo estão totalmente voltados para aprender a usar as mãos e se senta. • 6- 9 meses: Crítica, pois a criança entende a permanência ou não de objetos e traz consigo ansiedade de separação. ✓ Neuromotor: Gira em torno do sentar e explorar usando o polegar e o indicador em forma de pinça. • 9- 12 meses: Objetivo é o movimento: andar e explorar. Percebe-se como indivíduo. • 3 anos: Laringe, pernas, mãos, pés e esfíncteres estão ficando sob controle cortical. Parece inquieta, ações intermitentes. • 2-3 anos: intensos acessos de fúria. • 3 anos: Término dos processos primários de desenvolvimento humano. A criança efetua uma dissociação entre a palavra falada, os movimentos corporais e as posturas correspondentes • 4-6 anos: fase pré-escolar • Escolar: Nessa fase, as crianças passam quase metade do seu tempo na companhia de crianças de mesma idade. Com isso, ocorre a formação de grupos e surge uma estrutura social na qual existem várias categorias de crianças: as populares e as rejeitadas, as introvertidas e aquelas que são vitimizadas. • Adolescência: Desafios: ✓ Desenvolvimento gradual de independência ✓ Produção mental de uma imagem satisfatória e realista de seu corpo ✓ Controle e manifestação apropriada de sua sexualidade ✓ Expansão dos relacionamentos fora de casa ✓ Implementação de um plano real para alcançar a estabilidade social e financeira ✓ Transição do pensamento concreto para conceitos abstratos ✓ ntegração do sistema de valores aplicável aos eventos de sua cultura Reflexos primitivos Reflexo primitivo de apoio (0 a 2 meses): Resposta: Aumento do tônus extensor dos membros inferiores provocando extensão de joelho e quadril. Reflexo de marcha (0 a 2 meses): Resposta: Passos curtos e ritmados sem haver extensão de joelho e quadril Reflexo de busca (0 a 2 meses): Resposta: Língua, lábios e cabeça movem-se em direção ao estímulo Reflexo de sucção (0 a 5 meses): Resposta: Desencadeará uma reação de sucção Reflexo de preensão palmar (0 a 4 meses): Resposta: flexão em massa dos dedos, persistindo até a retirada do estímulo Reflexo de preensão plantar (0 a 10meses): Resposta: flexão plantar dos artelhos Reflexo de Moro (0 a 3 meses): Estímulo: queda cefálica 30º Resposta: Abdução-extensão seguida de adução-flexão de membros superiores Reflexo de Gallant (até 2meses): Estímulo realizado na lateral do dorso. Resposta: flexão do tronco para o lado estimulado Reflexo tônico cervical (0 a 4 meses): Estímulo: rotação da cabeça 90º Resposta: Extensão dos membros ipsilaterais e flexão dos contralaterais Reflexo de Landau (a partir 3 meses até 1 ano) É desencadeado quando o bebê é suspenso na posição prona. Observa-se elevação da cabeça acima do tronco. Em seguida o tronco é retificado e as pernas estendidas. Quando o examinador flete a cabeça, as pernas se fletem.