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TRANSFERÊNCIA DE EMPREGADO A possibilidade de transferência do empregado decorre do princípio do jus variandi do empregador, segundo o qual o empresário, como decorrência do poder de direção que tem sobre seus negócios, possui a prerrogativa de fazer pequenas modificações no contrato de trabalho, desde que atendidas as condições previstas em lei. A CLT só considera transferência o ato pelo qual o empregado passa a trabalhar em outra localidade, diferente da estipulada em contrato, e desde que importe em mudança de domicílio (art. 469). Desse modo, o elemento fundamental para se verificar a caracterização, ou não, da transferência é a circunstância de o empregado necessitar efetivamente mudar de domicílio em razão de seu novo local de trabalho. Deve-se entender domicílio como a residência do trabalhador. Não haverá transferência caso o seu local de trabalho passe a ser na mesma rua, no mesmo bairro, ou até no mesmo município, desde que não implique mudança obrigatória de seu domicílio. A doutrina tem entendido que, mesmo na hipótese de passar o trabalhador a exercer suas atividades em município diverso daquele em que anterioimente trabalhava, somente será considerada ocorrida sua transferência se ele precisar mudar sua residência para deslocar-se até seu novo local de trabalho. Se o empregado passa a trabalhar na mesma região metropolitana - p. ex., saindo do Rio de Janeiro para prestar serviços para a empresa em Nova Iguaçu — não haverá transferência, desde que não haja mudança d domicílio, ou seja, desde que o empregado não precise alterar a localidade de sua residência. Se o empregado for transferido, por ato unilateral do empregador, para local mais distante de sua residência, implicando aumento nos gastos decorrentes do deslocamento a seu novo local de trabalho, fará jus a suplemento salarial correspondente ao acréscimo da despesa de transporte (TST, Súmula n.° 29). É o caso, por exemplo, de o empregado ser deslocado dentro da mesma região metropolitana, sem caracterizar jurídica e propriamente “transferência”, mas com acréscimo em suas despesas de transporte até o novo local de trabalho. Nessa situação, não há que se falar em pagamento do adicionai de transferência, mas o empregado fará jus a suplemento salarial correspondente ao acréscimo da despesa de transporte. Em regra, a CLT exige a anuência do empregado para que seja considerada lícita sua transferência, dispondo que “ao empregador é vedado transferir o empregado sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio” (art. 469). No mesmo dispositivo, entretanto, a Consolidação excepciona essa regra, ao estabelecer que “não estão compreendidos nessa proibição os empregados que exerçam cargos de confiança e aqueles cujos contratos tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência, quando esta decorra de real necessidade de serviço” (CLT, art. 469, § 1.°). Os empregados que exerçam cargo de confiança (gerentes, diretores etc.) podem ser livremente transferidos pelo empregador, em razão das peculiaridades inerentes ao desempenho dessas funções. A transferência do empregado que exerce cargo de confiança não depende do requisito “real necessidade de serviço”. Essa expressão, constante da parte final do § 1.° do art. 469 da CLT, aplica-se somente aos casos de transferência do empregado em decorrência de cláusula explícita ou implícita constante do contrato de trabalho. Caso a transferência do empregado que exerce cargo em comissão seja provisória, deverá ser pago o adicional de transferência de 25% sobre o salário percebido na nova localidade. Essa é a orientação jurisprudencial do TST, segundo o qual “o fato de o empregado exercer cargo de confiança ou a existência de previsão de transferência no contrato de trabalho não exclui o direito ao adicional. O pressuposto legal apto a legitimar a percepção do mencionado adicional é a transferência provisória” (TST, SBDI-Í, Orientação 113). Diz a CLT que o empregado pode ser transferido pelo empregador se houver cláusula explícita ou implícita no contrato prevendo essa possibilidade. Em ambos os casos, porém, exige-se a comprovação da real necessidade de serviço, a fim de se evitar a transferência arbitrária, determinada por motivos pessoais, de mera perseguição ao trabalhador. A cláusula explícita deve ser entendida como expressa, escrita. A mera existência de cláusula explícita, no entanto, não basta: é preciso que a transferência ocorra por real necessidade do serviço. Presume-se abusiva a transferência sem a comprovação da necessidade do serviço, ainda que sua possibilidade conste expressamente do contrato (TST, Súmula n.° 43). Considera-se existente cláusula implícita quando as características intrínsecas da atividade desempenhada permitem que se presuma subtendida a necessidade de transferência. É o caso, por exemplo, do aeronauta, do motorista rodoviário, do vendedor viajante, do artista de teatro, do artista circense etc. Nesses casos, por óbvio, a necessidade de mudança de local de trabalho é inerente à própria atividade. Ressaltamos, entretanto, que mesmo em face de cláusula implícita, a transferência só será lícita se comprovada a real necessidade de serviço. Em verdade, a doutrina e a jurisprudência têm atribuído maiores créditos às cláusulas implícitas, sendo vistas com restrições as chamadas cláusulas explícitas, quando não há uma correspondência entre estas e as reais necessidades da empresa. Isso porque a simples inserção no contrato de trabalho de cláusula permissiva de transferência unilateral, muitas vezes já pré-impressa formulários de admissão, não tem o dom de legalizar o uso irregular ou abusivo do poder de transferir o trabalhador. Enfim, mesmo diante de cláusula expressa, a necessidade do serviço não se presume, cabendo à empresa o ônus de provar sua efetiva existência em cada caso. Se a transferência do empregado em decorrência de cláusula explícita ou implícita for provisória, deverá ser pago o adicional de transferência de 25% sobre o salário percebido na localidade de origem. É lícita a transferência do empregado no caso de extinção do estabelecimento em que trabalha. A transferência, nessa hipótese, prescinde da anuência do empregado, ou seja, será legítima mesmo que determinada contra a sua vontade. A expressão “extinção do estabelecimento” tem sentido amplo, alcançando situações como o fechamento de apenas uma das filiais da empresa ou mesmo a mudança da empresa de uma cidade para outra. No caso de trabalhador da construção civil, por exemplo, a conclusão de uma obra em determinada localidade autoriza sua transferência definitiva para outra obra empreendida pelo mesmo empregador, equiparando-se o fim da primeira obra à extinção de estabelecimento, para esse efeito. Na hipótese de extinção do estabelecimento, por óbvio, não há que se falar em real necessidade de serviço. A transferência nesse caso deve ser considerada uma conduta até mesmo favorável ao empregado, pois o empregador o transfere para preservar-lhe o emprego, em face da extinção da atividade na localidade. Não há, também, necessidade de anuência do empregado para a transferência. Existe presunção legal de que a movimentação é lícita, em face da extinção do estabelecimento. Não está o empregador obrigado ao pagamento do adicional de transferência, uma vez que este só é devido nas transferências provisórias. O adicional de transferência corresponde a um acréscimo de 25% sobre o valor do salário que o empregado recebia na origem. Esse adicional é devido quando a transferência for provisória. Além do requisito necessidade de serviço, o adicional só será devido na transferência provisória. Se a transferênciaé definitiva, não há que se falar em pagamento de adicional. Essa a inteligência do § 3.° do art. 469, uma vez que o dispositivo prescreve que o adicional será devido “enquanto durar essa situação”. A lei não fixa um prazo limite a partir do qual a transferência deixaria de ser considerada provisória. O princípio da razoabilídade, diante de cada caso concreto, é que irá determinar o caráter provisório ou definitivo da transferência. Tanto o empregado que exerce função de confiança, quanto aquele que é transferido em decorrência de cláusula contratual explícita ou implícita, têm direito ao adicional de transferência, desde que esta possua natureza provisória. Não será devido o adicional se a transferência for resultante de ato de promoção do empregado, com o seu consentimento e com aumento do salário na nova localidade. O adicional não se incorpora ao salário do empregado. No término do período da transferência, poderá ser normalmente suprimido pela empresa. Da mesma forma, não é devido o pagamento de adicionais cumulativos, na hipótese de transferências sucessivas. O adicional só é devido enquanto perdurar a transferência, numa dada localidade. Não há pagamento cumulativo a cada transferência efetivada pelo empregador. Portento, se o trabalhador tem salário de R$ 1.000,00 no Município “X” e é temporariamente transferido para o Município “Y”, sendo de 25% o adicional, deverá receber R$ 1.250,00 em “Y”. Na hipótese de ser ele sucessivamente transferido, em caráter também provisório, para o Município “Z”, o adicional continuará sendo de R$ 250,00. Não incidirão os 25% sobre a remuneração do empregado em “Y”, mas sobre seu salário em sua localidade original, “X”. As despesas que o empregado necessitar efetuar em razão de sua transferência serão pagas pelo empregador, seja a transferência provisória ou definitiva, pois em ambos os casos haverá ônus para o empregado. Todas as despesas decorrentes do deslocamento correrão por conta do empregador, incluídas as despesas com a mudança, com o transporte do empregado e seus familiares, a multa por rescisão antecipada de contrato de aluguel residencial, se for o caso etc. Se o empregado for dispensado na nova localidade, não há previsão legal de pagamento pelo empregador das despesas de retomo. A CLT impede a transferência de empregados eleitos para cargo de administração sindical ou de representação profissional para localidades que dificultem ou impeçam o desempenho de suas atribuições sindicais (art. 513). O empregado nessas condições perderá o mandato se a transferência for por ele solicitada ou voluntariamente aceita (art. 513, § 1.°). O empregado estável também não pode ser transferido. A CLT possui dispositivo específico (art. 659, IX) destinado a coibir as transferências ilícitas, outorgando competência à Justiça do Trabalho para conceder medida liminar, até decisão final do processo, em reclamações trabalhistas que visem a tomar sem efeito transferência disciplinada pelos parágrafos do seu art. 469. A Lei n.° 7.064/1982 disciplinou a contratação de empregado no Brasil e sua transferência para outro país, por empresas prestadoras de serviços de engenharia, inclusive consultoria, projetos e obras, montagens, gerenciamento e congêneres. Esse diploma normativo não se aplica aos empregados designados para serviços transitórios, por período não superior a 90 dias, desde que tenham ciência expressa da transítoriedade, e recebam passagem de ida e volta e diárias. O conceito de transferência plasmado nessa Lei abrange também a cessão de empregado a empresa sediada no estrangeiro, desde que mantido vínculo com o empregador brasileiro, e a admissão de trabalhador no Brasil para serviço no exterior. A legislação trabalhista aplicável ao empregado será aquela de que constem as normas que lhe sejam mais favoráveis, devendo ser analisado separadamente cada conjunto de normas relativas a uma matéria específica. Assim, cada diferente matéria (prescrição, férias, repouso etc.) poderá ser regida pela legislação brasileira ou pela estrangeira no local da prestação do serviço, prevalecendo aquela que conferir tratamento mais favorável ao trabalhador. Nesse caso a lei excepciona o princípio da territorialidade na aplicação da lei trabalhista. A contratação de trabalhador por empresa estrangeira, para trabalhar no exterior, depende de prévia autorização do Ministério do Trabalho e Emprego, não podendo ser superior a 3 anos, salvo quando assegurado ao empregado o direito de gozar férias anuais no Brasil, com despesas de viagem pagas pela empresa estrangeira. São assegurados ao empregado transferido para o exterior: * previdência social e FGTS; * reajustes salariais coletivos fixados pela legislação de política salarial; * após 2 anos de permanência no exterior, o direito a férias anuais no Brasil, correndo por conta do empregador o custo da viagem do empregado, cônjuge e demais dependentes com ele residentes; * o custeio do retomo sob responsabilidade do empregador; * o cômputo do período de transferência no tempo de serviço do empregado para todos os efeitos da legislação brasileira, ainda que a lei do local da prestação dos serviços considere essa prestação como resultante de um contrato autônomo; seguro de vida e de acidentes pessoais cobrindo o período compreendido entre o embarque para o exterior e o retomo ao Brasil; * assistência médica e social; * o adicional de transferência de 25% sobre o salário, enquanto perdurar a permanência no exterior.