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PORTUGUÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página I C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página II – 1 P O R T U G U ÊS 1. (UNIV. EST. DE GOIÁS) – Reescreva os textos abai xo, retirados de obras indicadas para leitura, subs tituindo as formas verbais destacadas pelas que são apresentadas entre parênteses, fazendo as adaptações necessárias: a) “Se fosse agora, ainda pegaria o seriado, mas per deria metade do filme.” (pegará) (Luiz Vilela) RESOLUÇÃO: Se for agora... pegará... perderá... b) “Eu sabia que ele esperava que eu olhasse pra ele e dissesse alguma coisa.” (espera) (Luiz Vilela) RESOLUÇÃO: Eu sei que espera que eu olhe para ele e diga alguma coisa. c) “Não se passa um só dia em que se não tenha de lamentar alguma travessura desse moço.” (passava) (Martins Pena) RESOLUÇÃO: Não se passava... tivesse de lamentar... d) “A perda de consciência era instantânea e, se o aço penetrasse os oito centímetros apropriados, a morte ocorreria em dois segundos.” (é) (Rubem Fonseca) RESOLUÇÃO: A perda de consciência é.... penetrar... ocorrerá. Na construção de períodos compostos por subor dinação com orações subordinadas adverbiais condi cionais, finais e concessivas, é preciso observar a correlação correta dos tempos verbais. Examine os quadros seguintes. Observação: As conjunções finais ainda permi tem, dependendo do contexto, correla - cionar o pre térito perfeito do indicativo com o presente do subjuntivo. Exemplo: Enviamos a correspondência ontem para que (a fim de que) ele a receba amanhã. oração principal oração iniciada com as conjunções condicionais se, salvo se presente do indicativo (vou) – usado na lin guagem co loquial futuro do subjuntivo (for) futuro do presente do indi cativo (irei) futuro do subjuntivo (for) futuro do pretérito do indi cativo (iria) imperfeito do subjun ti vo (fosse) oração principal oração iniciada com as conjunções condicionais caso, contanto que, des de que, a menos que presente do indicativo (vou) – usado na lin guagem co loquial presente do subjuntivo (vá) futuro do presente do indi cativo (irei) presente do subjuntivo (vá) futuro do pretérito do indi cativo (iria) imperfeito do subjun ti vo (fosse) oração principal oração iniciada com as conjunções concessivas embora, ainda que, se bem que, conquanto e com as conjunções finais presente do indicativo (vou) presente do subjuntivo (vá) pretérito perfeito do indi cativo (fui) presente do subjuntivo (vá) pretérito imperfeito do indi cativo (ia) imperfeito do subjun ti vo (fosse) futuro do presente do indi cativo (irei) presente do subjuntivo (vá) futuro do pretérito do indi cativo (iria) imperfeito do subjunti vo (fosse) MÓDULO 19 Correlação verbal nas orações subordinadas FRENTE 1Gramática C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 1 2 – P O R T U G U ÊS Examine este anúncio de uma instituição financeira, cujo nome foi substituído por X, para responder às questões 2 e 3. (Valor Setorial, junho de 2014. Adaptado.) 2. (FUVEST) – Compare os diversos elementos que compõem o anúncio e atenda ao que se pede. a) Considerando o contexto do anúncio, existe alguma relação de sentido entre a imagem e o slogan “É DIFERENTE QUANDO VOCÊ CONHECE”? Explique. RESOLUÇÃO: Sim, existe. A relação de sentido encontra-se no fato de que a pegada do sapato indica que a instituição bancária está presente no campo de soja e assim conhece o negócio do seu cliente. Daí o slogan: “É diferente quando você conhece”. b) A inclusão, no anúncio, dos ícones e algarismos que prece dem o texto escrito tem alguma finalidade comunicativa? Explique. RESOLUÇÃO: Sim. Tais ícones e algarismos indicam latitude e longitude, referentes à localização exata onde o cliente está estabelecido. Com isso, a instituição financeira demonstra ter ciência das atividades comerciais de seus clientes. 3. (FUVEST) – Com base na parte escrita do anúncio, responda. a) Qual é a relação temporal que se estabelece entre os ver bos “conhecer”, “oferecer”, “proporcionar” e “alcançar”? Explique. RESOLUÇÃO: O verbo “conhecer” indica tempo anterior aos outros verbos, porque é imprescindível que “o primeiro passo” seja “conhecer” os clientes. “Oferecer” e “proporcionar” indicam tempo simultâneo e posterior a “conhecer”, visto que ambos se referem ao serviço a ser proporcionado pela empresa. O verbo “alcançar” se refere aos resultados que serão obtidos pelo cliente que utilizar a instituição do anúncio. b) Complete a frase impressa na página de resposta, flexionando de forma adequada os verbos “oferecer”, “proporcionar” e “alcançar”. RESOLUÇÃO: Conhecer pronfundamente os negócios de nossos clientes é só o primeiro passo que permite que ofereçamos sempre respostas mais rápidas, proporcionemos decisões mais assertivas e alcancemos melhores resultados. Para manter a correlação verbal, é necessário que os verbos das lacunas estejam no presente do subjuntivo, indicando possibilidade, em função da forma verbal “permite” (presente do indicativo) da oração anterior. Conhecer profundamente os negócios de nossos clientes é só o primeiro passo que permite que ___________________________ sempre respostas mais rápidas, ___________________________ decisões mais assertivas e _______________________________ melhores resultados. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 2 4. (Santa Casa-2018) a) “Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança.” Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de modo que, no período resultante, a última oração expresse uma consequência. Faça ajustes, se necessário. RESOLUÇÃO: Temos dúvidas, ficamos tão cheios de perplexidade que somos tomados pela insegurança. b) “O espanto e a admiração nos fazem querer saber o que não sabemos e criam o desejo de superar a incerteza.” Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de modo que, no período resultante, a oração centrada no verbo “criar” expresse uma finalidade. Faça ajustes, se necessário. RESOLUÇÃO: O espanto e a admiração nos fazem saber o que não sabemos, a fim de criarmos o desejo de superar a incerteza. Ou: O espanto e a admiração nos fazem saber o que não sabemos, para que criemos o desejo de superar a incerteza. Ou: O espanto e a admiração nos fazem saber o que não sabemos, para criar o desejo de superar a incerteza. 5. (ESPM) – Em sua coluna diária no jornal Folha de S.Paulo, o escritor e ensaísta Carlos Heitor Cony comenta sobre o fato de a ci da de do Rio de Janeiro possuir duas datas de aniversário: 20 de janeiro e 1.o de março. E afirma: A forma verbal destacada a) traduz ideia de condição e equivale ao pretérito mais-que-perfeito composto tinha havido. b) traduz ideia de condição e equivale ao pretérito imperfeito do subjuntivo houvesse. c) traduz ideia de desejo e equivale ao presente do subjuntivo haja. d) traduz ideia de concessão e equivale ao futuro do subjuntivo houver. e) traduz ideia de concessão e equivale ao pretérito imperfeito do subjuntivo houvesse. Resposta: B 6. (FUVEST) – Considerando a necessidade de cor relação entre tempos e modos verbais, assinale a alternativa em que ela foge às normas da língua escrita padrão. a) A redação de um documento exige que a pessoa conheça uma fraseologia complexa e arcaizante. b) Para alguns professores, o ensino de língua portu guesa será sem - pre melhor, se houver o domínio das regras de sintaxe. c) O ensino de Português tornou-se mais dinâmico depois que textos de autores modernos foram introduzidos no currículo. d) O ensino de Português já sofrera profundas modi ficações, quando se organizou um Simpósio Nacio nal para discutir o assunto. e) Não fora coerção exercida pelos defensores do purismo lin guístico, todos teremos liberdade de expressão. RESOLUÇÃO: Observar que fora foi empregado no lugar de fosse, o que está correto. Essa correlação é clássicae pode ser encontrada em Camões. Resposta: E (teríamos) Como carioca radical e livre (estão em moda os radicais livres), gosto de comemorar as duas datas como se fossem uma só – e mais houvera pretexto, mais comemoraria. – 3 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 3 4 – P O R T U G U ÊS Aplicações 1. (FUVEST) – A única frase em que as formas verbais estão cor - retamente empregadas é: a) Especialistas temem que órgãos de outras espécies podem trans - mitir vírus perigosos. b) Além disso, mesmo que for adotado algum tipo de ajuste fiscal imediato, o Brasil ainda estará muito longe de tornar-se um par - ticipante ativo do jogo mundial. c) O primeiro-ministro e o presidente devem ser do mesmo partido, embora nenhum fará a sociedade em que eu acredito. d) A inteligência é como um tigre solto pela casa e só não causará problema se o suprir de carne e o manter na jaula. e) O nome secreto de Deus era o princípio ativo da criação, mas dizê-lo por completo equivalia a um sacrilégio, ao pecado de saber mais do que nos convinha. RESOLUÇÃO Os erros são: em a, podem por possam; em b, for por seja; em c, fará por faça ou venha a fazer; em d, manter por mantiver. Resposta: E 2. (FUVEST) – A única frase em que a correlação de tempos e modos não foi corretamente observada é: a) Segundo os Correios, se a greve terminar amanhã, as entregas serão normalizadas em 13 dias. b) Para que o agricultor não se limitasse aos recursos oficiais, as fá - bricas também criaram suas próprias linhas de crédito. c) Um dos seus projetos de lei exigia que os profes sores e servidores das universidades fizes sem exa mes antidoping. d) Na discussão do projeto, o deputado duvidou que o colega era o autor da emenda. e) A Câmara Municipal aprovou a lei que concede descontos a multas e juros que estão em atraso. RESOLUÇÃO Não ocorre a necessária correlação modo-temporal em "...o deputado duvidou que o colega era o autor da emenda." O pretérito perfeito do indicativo na oração principal deve correlacionar-se com o pretérito imperfeito do subjuntivo: em lugar de era, deveria usar-se fosse. Resposta: D Texto para a questão 3. 3. (FUVEST) – A correlação de tempos que, nesse texto, se verifica entre as formas verbais existia, descortinassem e comentasse, mantém-se apenas em: a) não existe; não descortinem; não comente. b) não existiu; não teriam descortinado; não teria comentado. c) não existira; não tinham descortinado; não tinha comen tado. d) não existirá; não tiverem descortinado; não tiver comen tado. e) não existiria; não descortinavam; não comentava. RESOLUÇÃO Os verbos estão todos no tempo imperfeito, alternando-se os modos indicativo (existia) e subjuntivo (descortina s sem, comen tasse). Por - tanto, os tempos são conco mitantes e a alter nância de modos exprime ou reali da de (indicativo) ou possibilidade, supo sição (subjuntivo). Se transpuséssemos o relato em questão para o presente, os modos se alternariam da mesma maneira, como ocorre na alternativa a. Resposta: A 4. (UFSCar-virtual) – Assinale a alternativa que completa corretamente a frase – A lei demorará para ser implementada a) se medidas urgentes não serem tomadas e a comunidade não inter vier rapidamente. b) se medidas urgentes não forem tomadas e a comunidade não inter vier rapidamente. c) se medidas urgentes não serem tomadas e a comunidade não inter vir rapidamente. d) se medidas urgentes não forem tomadas e a comunidade não inter vierem rapidamente. e) se medidas urgentes não forem tomadas e a comunidade não inter visse rapidamente. Resposta: B 5. (FUVEST) – Assinale a alternativa em que a cor relação de tempos e modos verbais não é adequada ao contexto. a) Ainda aparecerá no Congresso alguém disposto a apresentar um projeto que fixe consequências para aqueles que enganem a sociedade. b) Tudo leva a crer que, nesses cruzamentos de culturas, a situação das áreas coloniais apresente um convívio de extremos. c) Não há dúvida de que, nos traumas sociais, os sujeitos da cultura popular sofrem abalos graves. d) More alguém nos bairros pobres da periferia de uma cidade grande e verá no que resultou essa condição do migrante. e) A sua conduta será de inconformismo e violência, até que um dia certas condições poderiam reconstituir sua vida familiar. RESOLUÇÃO (possam) Resposta: E Texto para a questão 6. 6. (FUVEST-transferência) – Alterando-se os tempos verbais do parágrafo acima, estará correta a seguinte articulação entre eles: a) quando eu fosse chamado – que podia afirmar – talvez me ocorrerá b) quando eu vier a ser chamado – que pudesse afirmar – talvez me ocorra c) se eu fora chamado – que posso afirmar – talvez me ocorra d) quando eu fosse chamado – que poderia afirmar – talvez me ocorresse e) se eu fora chamado – que poderei afirmar – talvez me ocorre Resposta: D As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gárrulas como cigarras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas as esqua dri nha - doras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as male di cências, as tecedeiras de todas as intrigas. E na desditosa cidade, não existia nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido, algibeira arrasada, janela entreaberta, poeira a um canto, vulto a uma esquina, bolo encomendado nas Matildes, que seus olhinhos fu rantes de azeviche sujo não descortinassem e que sua solta língua, entre os dentes ralos, não comentasse com malícia estridente. (Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires) Um dia, quando eu for chamado a dar testemunho sobre a minha jornada na face da terra, que poderei afirmar sobre os homens e as coisas do meu tempo? Talvez me ocorra apenas isto, no meio de tantas fatigadas lembranças: “cascas de barba timão secando ao sol”. (Rubem Braga) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 4 – 5 P O R T U G U ÊS 1. As orações a seguir são reduzidas de infinitivo, gerúndio ou par ti - cí pio. Desenvolva-as e, para tanto, utilize as conjunções ou os prono - mes relativos ade qua dos, conjugando os verbos no modo indicativo ou no subjuntivo. a) Convém abrir todas as janelas. b) Tenho a impressão de estarmos sendo enganados. c) Sinto uma grande felicidade invadir meu coração. d) “Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria.” (Graciliano Ramos) Resumindo: RESOLUÇÃO: Convém que se abram todas as janelas. (O. S. S. Subjetiva) RESOLUÇÃO: Tenho a impressão de que estamos sendo enganados. (O. S. S. Completiva Nominal) RESOLUÇÃO: Sinto que uma grande felicidade invade meu coração. (O. S. S. Objetiva Direta) RESOLUÇÃO: Se (ou caso) responsabilizasse qualquer deles, meu pai me es - que ceria. (O. S. Adverbial Condicional) Orações Desenvolvidas Orações Reduzidas são iniciadas por con - junção ou pronome re - la tivo (conectivos); não são iniciadas por conjunção ou pronome relativo; apresentam verbo fle xio nado. apresentam verbo nu ma forma nominal. ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA REDUZIDA apresenta verbo no infinitivo pessoal ou impessoal. ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA REDUZIDA apresenta verbo no infinitivo, gerúndio ou particípio. ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL REDUZIDA apresenta verbo no infinitivo, gerúndio ou particípio. O indicativo, o subjuntivo e o imperativo cons tituem as formas modais do verbo, isto é, indicam os diferentes modos de um fato reali zar-se. As formas nominais do verbo – infinitivo (pes soal e impes - soal), gerúndio e particípio –, como o próprio nome indica, além de terem valor verbal, podem ter a função de nomes (subs tantivo ou adjetivo). Exemplos: É proibido entrar. É proibida a entrada. (O infinitivo entrar tem a mesma função do subs tantivo “a entrada”, ou seja, de sujeito de “é proibido”.) Ela desenhou um mapa abrangendo tudo. Ela desenhou um mapa abrangente de tudo. (O gerúndio abrangendo tem a mesma função do adjetivo “abrangente”, ou seja, de adjunto adnominal de “mapa”.) Concluída a tarefa, dedicou-se a outras atividades. Pronta a tarefa, dedicou-se a outras atividades.(O particípio concluída tem a mesma função do adje tivo “pronta”.) As formas nominais, sozinhas, não exprimem nem o tempo nem o modo. Seu valor temporal e modal sem pre depende da frase em que aparecem. MÓDULO 20 Orações reduzidas C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 5 2. Reduza as orações sublinhadas, empregando infi ni tivo (pessoal ou impessoal), gerúndio ou particípio. Em alguns casos, mais de uma construção é possível. Consulte os quadros, se necessário. a) Quando concluiu o mestrado, o professor passou a lecionar em universidades. b) Como queria reconhecimento, abandonou o cargo. 3. (UNIFESP-2018) – “De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social.” (1.° parágrafo) O trecho destacado exerce a função sintática de a) objeto indireto. b) objeto direto. c) adjunto adnominal. d) sujeito. e) adjunto adverbial. RESOLUÇÃO: A oração “modificar a ordem social” funciona como sujeito (oração subordinada substantiva subjetiva) da principal. Assim o trecho poderia ser reescrito da seguinte forma: “De acordo com essa teoria, modificar a ordem social não cabia aos homens”. Resposta: D Texto para a questão 4. 4. (2016) – A coesão textual é responsável por estabelecer relações entre as partes do texto. Analisando o trecho “Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro”, verifica-se que ele estabelece com a oração seguinte uma relação de a) finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade provocar a falta de vocalização dos ratos. b) oposição, visto que o dano causado em um local específico no cérebro é contrário à vocalização dos ratos. c) condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro para que não haja vocalização dos ratos. d) consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização dos ratos é o dano causado no cérebro. e) proporção, já que a medida que se lesiona o cérebro não é mais possível que haja vocalização dos ratos. RESOLUÇÃO: A oração reduzida de gerúndio indica condição: Se o cientista provocar um dano no cérebro de um rato, ele deixará de produzir vocalizações ultrassônicas. Resposta: C RESOLUÇÃO: Concluindo o mestrado, ... Concluído o mestrado, ... Ao concluir o mestrado, ... (O. S. Adverbial Temporal) RESOLUÇÃO: Querendo reconhecimento, abandonou o cargo. (O. Subordinada Adverbial Causal Reduzida de Gerúndio) Por querer reconhecimento, abandonou o cargo. (O. Subordinada Adverbial Causal Reduzida de Infinitivo) O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir. Isso não é verdade? Não. O riso básico – o da brincadeira, da diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da vocalização – nós compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram observadas vocalizações ultrassôni cas – que nós não somos capazes de perceber – e que eles emitem quando estão brincando de “rolar no chão”. Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa que está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não temos apenas esse mecanismo básico. Temos um outro mais evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas não têm senso de humor. O córtex, a parte superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos corticais que nos permitem, por exemplo, interpretar uma piada. Disponível em: http://globonews.globo.com. Acesso em: 31 maio 2012 (adaptado). 6 – P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 6 Leia a crônica de Clarice Lispector, publicada no Jornal do Brasil em 29 de março de 1969, para responder às questões 5 e 6. 5. (FAMERP-2019) – “A sugestão “seja você mesma” deixou a autora “perplexa e desamparada” porque a) mostrou que seus leitores não eram capazes de compreender o que ela queria expressar em seus textos. b) fez com que ela percebesse que não sabia como ser, no jornal, uma escritora tão boa quanto nos livros. c) provocou questionamentos de ordem existencial, para os quais não encontrou resposta. d) levou-a a se perguntar se seria capaz de evitar as temidas concessões ao escrever para o jornal. e) gerou dúvidas quanto à sua identidade, pois se viu dividida em duas escritoras com estilos antagônicos. 6. (FAMERP-2019) – “Os trechos “por estar escrevendo em jornal” (1o parágrafo) e “ao ouvir um ‘seja você mesma’” (2o parágrafo) expri - mem, respectivamente, circunstância de a) consequência e tempo. b) causa e condição. c) causa e tempo. d) finalidade e condição. e) consequência e finalidade. Texto para a questão 7. 7. (FUVEST) a) Considerando o que o texto conceitua, explique bre vemente qual a diferença essencial entre a percepção do contrário e o sen ti mento do contrário. b) Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso (...). Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, rees creva-o, substi - tuindo se perceber e produz-se por formas verbais cujo sujeito seja nós e é o oposto por não corresponde. Faça as adaptações neces - sárias. Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção do con trá - rio”, como no famoso exemplo de uma velha já decrépita que se cobre de maquiagem, veste-se como uma moça e pinta os cabelos. Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso, que nasce da ruptura das expectativas, mas sobretudo do sentimento de superioridade. A “per cep ção do contrário” pode, porém, transfor - mar-se num “sentimento do contrário” — quando aquele que ri pro - cura entender as razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão de reconquistar a juventude perdida. Nesse passo, a velha da anedota não mais está distante do sujeito que percebe, porque este pensa que também poderia estar no lugar da velha — e seu riso se mistura com a compreensão piedosa e se transforma num sorriso. Para passar da atitude cômica para a atitude humorística, é pre ci so renunciar ao distanciamento e ao sentimento de superioridade. (Adaptado de Elias Thomé Saliba, Raízes do riso) RESOLUÇÃO: A diferença essencial entre percepção do contrário e sentimento do contrário é que a primeira expres são sugere a ideia de distanciamento e superioridade do observador da ce na cômica, e a segunda remete à identificação e à com paixão do observador, que ge ram humor e não pro pria mente comicidade. RESOLUÇÃO: Ao percebermos que aquela senhora velha não cor responde ao que uma respeitável velha senhora deveria ser, produzimos o riso (rimos). Perguntas grandes Pessoas que são leitoras de meus livros parecem ter receio de que eu, por estar escrevendo em jornal, faça o que se chama de concessões. E muitas disseram: “Seja você mesma.” Um dia desses, ao ouvir um “seja você mesma”, de repente senti-me entre perplexa e desamparada. É que também de repente me vieram então perguntas terríveis: quem sou eu? como sou? o que ser? quem sou realmente? e eu sou? Mas eram perguntas maiores do que eu. (A descoberta do mundo, 1999.) RESOLUÇÃO: Clarice Lispector começou a questionar a própria existência, não encontrando resposta satisfatória, depois que seus leitores pediram para que essa autora fosse ela mesma, sem fazer concessões literárias ao escrever para a imprensa. Resposta: C RESOLUÇÃO: A oração “por estar escrevendo em jornal” é subordinada adverbial reduzida de infinito e exprime circunstância de causa em relação à principal “o que se chama”. No segundo parágrafo, há circunstância de tempo na oração subordinada adverbial reduzida de infinito. Resposta: C – 7 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 7 8 – P O R T U G U ÊS Aplicações Texto para o teste 1. 1. O texto acima possui elementos coesivos que promo vem sua manutenção temática. A partir dessa perspectiva, conclui-se quea) a palavra mas, na linha 3, contradiz a afirmação inicial do texto: linhas 1, 2 e 3. b) a palavra embora, na linha 5, introduz uma explicação que não encontra complemento no restante do texto. c) as expressões: consequências calamitosas, na linhas 2 e 3, e efeitos incalculáveis, na linha 8, reforçam a ideia que perpassa o texto sobre o perigo do efeito estufa. d) o uso da palavra cientistas, na linha 4, é desnecessário para dar cre di bilidade ao texto, uma vez que se fala em estudo no título do texto. e) a palavra gás, na linha 7, refere-se a combustíveis fósseis e quei - madas, na linha 2, reforçando a ideia de catástrofe. Resposta: C Texto para os testes 2 e 3. 2. (UFSCar) – No texto apresentado, Saint-Exupéry defende a) o esclarecimento das tarefas a serem realizadas. b) a posição de que aquele que manda não precisa saber fazer. c) a delegação de tarefas, sem demasiadas expli ca ções. d) a motivação das pessoas para fazer seu trabalho. e) o planejamento estratégico na elaboração de um trabalho. RESOLUÇÃO Ao falar antes sobre a grandeza e a imensidão do mar, procura-se estimular as pessoas a se inte ressarem pe la cons trução do navio. Resposta: D 3. (UFSCar) – Uma outra versão do início do texto, mantendo seu sentido original, é: a) Querendo construir um navio... b) Construído um navio... c) À medida que construir um navio... d) Por querer construir um navio... e) Ainda que queira construir um navio... RESOLUÇÃO Em “querendo construir um navio...”, ocorre circuns tância de condição, idêntica à oração subordinada ad verbial condicional: “Se você quer construir um navio...”. Resposta: A 4. (PUC) – Assinale a opção em que a oração sublinhada é uma ora - ção adverbial com valor de consequência. a) A psiquiatria tem repensado a noção de cura, sem que obtenha resultados mais eficazes. b) A psiquiatria tem repensado a noção de cura, para obter re sul tados mais eficazes. c) A psiquiatria tem repensado a noção de cura, obtendo, assim, resultados mais eficazes. d) Como a psiquiatria tem repensado a noção de cura, tem obtido melhores resultados. e) Sempre que a psiquiatria repensa a noção de cura, obtém re sul - tados mais eficazes. Resposta: C Texto para a questão 5. 5. A primeira oração aparece modificada, sem prejuízo do sentido, em: a) Ao ser cada homem uma redução de Humanitas [...]. b) A fim de ser cada homem uma redução de Humanitas [...]. c) Por ser cada homem uma redução de Humanitas [...]. d) Mesmo sendo cada homem uma redução de Humanitas [...]. e) Se for cada homem uma redução de Humanitas [...]. RESOLUÇÃO A primeira oração indica circunstância de causa, como a oração da alternativa c. Em a, a circunstância é de tempo; em b, finalidade; em d, concessão; em e, condição. Resposta: C Se você quer construir um navio, não peça às pessoas que consigam madeira, não dê a elas tarefas e trabalhos. Fale, antes, a elas, longamente, sobre a grandeza e a imensidão do mar. (Saint-Exupéry) Aumento do efeito estufa ameaça plantas, diz estudo O aumento de dióxido de carbono na atmosfera, resultante do uso de combustíveis fósseis e das queimadas, pode ter conse - quên cias calamitosas para o clima mundial, mas também pode afetar diretamente o crescimento das plantas. Cientistas da Universidade de Basel, na Suíça, mostram que, embora o dióxido de carbono seja essencial para o crescimento dos vegetais, quantidades excessivas desse gás prejudicam a saúde das plantas e têm efeitos incalculáveis na agricultura de vários países. (O Estado de S. Paulo, 20/9/1992) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sendo cada homem uma redução de Humanitas, é claro que nenhum homem é fundamentalmente oposto a outro homem, quaisquer que sejam as aparências contrárias. (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 8 – 9 P O R T U G U ÊS Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que prejudique a eufonia da frase. A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do pronome antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesó clise – ou após o verbo – ênclise. De acordo com a norma culta, no português escrito não se inicia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na linguagem falada diz-se Me encontrei com ele, na linguagem escrita, formal, usa-se Encontrei-me com ele. CASOS DE PRÓCLISE Palavra de sentido negativo Não me falou a verdade. Advérbios sem pausa em relação ao verbo Aqui te espero pacientemente. Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise. Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. Pronomes indefinidos Ninguém o chamou aqui. Pronomes demonstrativos Aquilo lhe desagrada. Orações interrogativas Quem lhe disse tal coisa? Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito anteposto ao verbo Deus lhe pague, Senhor! Orações exclamativas Quanta honra nos dá sua visita! Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não sejam reduzidas. Percebia que o observavam. Este é o homem que te procura. Caso me ausente, cuide dos nossos negócios. Verbo no gerúndio, regido de preposição em. Em se plantando, tudo dá. Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição. Seus intentos são para nos prejudicarem. CASOS DE ÊNCLISE Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do indicativo. Trago-te flores. CASOS DE MESÓCLISE É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no futuro do pretérito que iniciam a oração. Dir-lhe-ei toda a verdade. Far-me-ias um favor? Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. Eu lhe direi toda a verdade. Tu me farias um favor? Verbo no imperativo afirmativo Amigos, digam-me a verdade! Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela preposição em. Saí, deixando-a aflita. Verbo no infinitivo impessoal regido da prepo sição a. Com outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise. Apressei-me a convidá-los. Estava para dizer-lhe a verdade. / Estava para lhe dizer a verdade. COLOCAÇÃO DO PRONOME ÁTONO NAS LOCUÇÕES VERBAIS Verbo principal no infinitivo ou gerúndio Se a locução verbal não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deverá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. Devo-lhe dizer a verdade. Devo dizer-lhe a verdade. Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes do auxiliar ou depois do principal. Não lhe devo dizer a verdade. Não devo dizer-lhe a verdade. Verbo principal no particípio Se não houver fator de próclise, o pronome átono ficará depois do auxiliar. Havia-lhe dito a verdade. Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do auxiliar. Não lhe havia dito a verdade. Haver de e ter de + infinitivo Pronome átono deve ficar depois do infinitivo. Hei de dizer-lhe a verdade. Tenho de dizer-lhe a verdade. Observação Não se deve omitir o hífen nas seguintes cons truções: Devo-lhe dizer tudo. Estava-lhe dizendo tudo. Havia-lhe dito tudo. MÓDULO 21 Sintaxe de colocação – Colocação pronominal C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 9 1. (UNISAL) – A gramática normativa determina que os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, se, nos, vos) apareçam antes do verbo quando houver palavras negativas, advérbios, conjunções subordi nativas, prono mes relativos, indefinidos ou demons tra tivos antes dele. Verifique a aplicação dessa regra nas frases seguintes: I. Luís jamais me olhou de novo. II. Nós esperávamos que nos dissessem toda a ver dade. III. Agora escute-me, por favor. IV. Avisaram-me sobre o acidente. Estão corretas, segundo a gramática normativa, as frases: a) I e IV. b) I, II, III e IV. c) I, II e IV. d) I,II e III. e) III e IV. 2. (FGV) – Assinale a alternativa em que a posição dos pro nomes áto - nos, na frase, está de acordo com a norma-padrão do português escrito. a) A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que cerca vam-no... b) As obscuras determinações das coisas acertadamente o haviam erguido até ali. c) Ele julgava-se e só o que parecia-lhe grande entrava nesse julga mento. d) ... uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase falavam-lhe. e) As obscuras determinações das coisas, acertadamente, mais alto levariam-no. RESOLUÇÃO: Nas demais alternativas há ênclises indevidas: em a e c porque os verbos são antecedidos por pronomes relativos; em d porque antes vem um advérbio; em e porque se trata de futuro do pretérito. Resposta: B 3. (FGV) – Assinale a alternativa correta quanto à colocação pro no - minal e à pontuação. a) Falou-lhe com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!” b) Falou-lhe, com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que me mato!” c) Falou-lhe, com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!” d) Lhe falou, com bondade minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!” e) Lhe falou com bondade minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que me mato!” RESOLUÇÃO: De acordo com a norma culta, não se inicia período com pronome oblíquo átono, daí “Falou-lhe”. Em “Já disse que me mato”, o pronome “me” proclítico está corretamente colo ca do. Na alternativa b, as vírgulas foram empregadas corretamente para: (1) destacar o adjunto adverbial (“com bondade”) no meio da primeira oração; (2) separar a oração coordenada assindética (“Falou-lhe... minha mãe”) da coordenada sindética adversativa (“mas ele não atendia...”); (3) separar a oração reduzida de gerúndio (“repetindo...”). Resposta: B 4. (ESPM) – A colocação pronominal foge ao que se recomenda para o padrão culto em: a) Não se sabia ao certo, sem os resultados da pesquisa, quantos beneficiariam-se com a distribuição de alimentos. b) Tratava-se de um procedimento normal, informou a secretária, pois a dispensa de funcionários decorria da queda de arrecadação. c) Quem se dispuser a trabalhar em benefício das pessoas carentes da comunidade deve apresentar-se ao coordenador, amanhã cedo, no Centro de Solidariedade. d) Não houve quebradeira de empresas e de bancos, porque já se sabia dos riscos de uma desvalorização e as companhias se protegeram, comprando dólares. e) Presumo que o erro foi causado pelo fato de muitos economistas terem deduzido que a história se repete, e não foi o que se observou, nesse caso. 5. (CEFET-MG) – A posição do pronome oblíquo destacado na frase está de acordo com o que preconiza a norma padrão em: a) “A velhice nos lembra da proximidade do fim (...)” b) “Me sentirei honrada com o reconhecimento da minha força.” c) “Quando chegar a minha hora, por favor, me chamem de velha.” d) “(...) em um programa de TV, o entrevistador me perguntou sobre a morte.” e) “(...) se alguém me disser (...) que estou na ‘melhor idade’, vou romper meu pacto pessoal de não violência.” Resposta: E 6. (TOLEDO) – Para as questões seguintes, assinale: A) quando somente a I estiver correta; B) quando I e II estiverem corretas. a) I. O gado ia finar-se, até os espinhos secariam. II. O gado ia-se finar, até os espinhos secariam. b) I. Compadre, eu não lhe quero dizer coisa alguma. II. Compadre, eu não quero dizer-lhe coisa algu ma. c) I. Preciso contar, senhor delegado, como se foi formando entre nós esse espírito de briga. II. Preciso contar, senhor delegado, como foi for mando-se entre nós esse espírito de briga. d) I. As visões da caatinga tinham-se dissipado. II. As visões da caatinga tinham dissipado-se. (Graciliano Ramos. Vidas secas. Ed. Martins, pp. 30, 36.) Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a) B / B / A / A b) A / B / A / B c) B / B / B / A d) A / A / A / B e) B / A / A / A RESOLUÇÃO: No item III, o correto é: Agora me escute... Resposta: C RESOLUÇÃO: Na passagem ...quantos beneficiariam-se... existe um erro de colocação pronominal, porque o pronome interroga - tivo quantos atrai o pronome se para antes do verbo, havendo assim próclise: “...quantos se beneficiariam com...” Resposta: A RESOLUÇÃO: A frase As visões da caatinga tinham dissipado-se está er rada porque não se prende pronome oblíquo átono ao parti cípio. Resposta: C 10 – P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 10 7. (FGV) – O emprego e a colocação do prono me estão de acordo com a norma culta na alternativa: a) Trata-se, evidentemente, de material muito simples, mas muitos dos que são alfabetizados não conse guem lê-lo, nem compreendê-lo. b) Pensemos na desobediência, na heresia e nas seitas e em como o conhecimento lhes introduziu no mundo. c) Lembre-se das rodas dentadas da pobreza, da igno rância, da falta de esperança e da baixa autoestima e de como usam-as para criar um tipo de máquina do fracasso perpétuo. d) Temos dilemas que nos perseguem e inteligências brilhantes, que poderiam ajudar a solucionar eles rapida mente. e) Existe a ideia de que a capacidade de ler, o conheci mento, os livros e os jornais são potencialmente peri go sos; os tiranos e os autocratas sempre compreenderam-na. RESOLUÇÃO: Em lê-lo, compreendê-lo, houve fusão do pronome oblí quo o, na função de objeto direto, com a terminação verbal (ler + o = lê-lo; compreender + o = compreendê-lo); em b, a forma pronominal lhes deve ser trocada por as (introduziu-as); em c e e, deve haver próclise (como as usam), (sempre a com preenderam); em d, solucionar eles é variante popular; deveria ser regis trada a forma solucioná-los. Resposta: A 8. (CEFET-MG) – A alteração na ordem da palavra em desta que promoveu um desvio da norma-padrão, exceto em: a) Já não se encolhe... Já não encolhe-se... b) ...as pessoas nunca se comunicaram tanto quanto na internet... ...as pessoas nunca comunicaram-se tanto quanto na internet... c) ...que se abre de par em par, passando para o outro lado, e se entregando... ...que se abre de par em par, passando para o outro lado, e en - tregando-se... d) ...a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que se alastra... ...a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que alastra-se... e) Encontram-se, em bibliotecas monumentais como a do Congresso americano... Se encontram, em bibliotecas monumentais como a do Congresso americano... Resposta: C 9. (FGV) – Reescreva os trechos a seguir, extraídos e adaptados da matéria Fabrique você mesmo (Época, 14.04.2014), adequando-os à norma-padrão da língua portuguesa, considerando as informações entre parênteses. a) A evolução que trouxe-nos das cavernas para o mundo conectado pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se valeram de um conserto de novas tecnologias e ideias. (Ortografia e colocação pronominal) RESOLUÇÃO: A evolução que nos trouxe das cavernas para o mundo conectado pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se valeram de um concerto de novas tecnologias e ideias. b) Com as tecnologias e ideias abriu-se um universo de possibilidades foi assim com o arado que aumentou a produção agrícola gerou excedentes e permitiu a criação de Estados e impérios (Pontuação) RESOLUÇÃO: Com as tecnologias e ideias, abriu-se um universo de possibilidades. Foi assim com o arado, que aumentou a produção agrícola, gerou excedentes e permitiu a criação de Estados e impérios. 10. (FGV-2018-adaptado) – Com base na passagem “Alguns me olham com um sor riso irônico, outros com ar respeitoso; pouco me importa. Justifique a colocação dos pronomes destacados nas duas primeiras ocorrências. RESOLUÇÃO: Os pronomes destacados estão em próclise devido à presença de fatores de atração. Na primeira oração, o pronome indefinido“alguns” atrai o pronome oblíquo, assim como o advérbio de intensidade “pouco” na segunda oração. – 11 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 11 12 – P O R T U G U ÊS As questões de 1 a 4 tomam por base uma passagem de uma palestra de Amadeu Amaral (1875-1929) proferida em São Paulo, em 1914, e uma charge de Dum. (www.dumilustrador.blogspot.com) 1. (UNESP) – “Ele vê a árvore sob os aspectos da beleza e sob o ângulo antropomórfico” A quem o autor do texto atribui tal perspectiva? Identi fique os dois pontos de vista inerentes a esta perspectiva, explicando-os. RESOLUÇÃO: O autor atribui ao poeta a capacidade de observar tanto a natureza de maneira objetiva, a partir de valores estéticos, como também de forma subjetiva, conside rando o que ela representa para o observador e para a humanidade. A natureza, nesse sentido, ganha uma dimensão que transcende quais quer outras representações meramente descritivas, já que se torna um arquétipo, inerente à memória coletiva, incorporando os atributos relativos à vida. 2. (UNESP) – “O botânico estuda-lhe o nascimento, o crescimento, a reprodução, a nutrição, a morte” Do ponto de vista sintático, que relação os termos sublinhados estabelecem com o verbo? Do ponto de vista semântico, a organização dos substantivos sublinhados aparenta seguir um determinado critério; um desses substantivos, contudo, romperia tal organização. Identifique qual seria esse critério e o substantivo que romperia sua organização. RESOLUÇÃO: Em relação ao verbo estudar, os termos “o nascimento, o crescimento, a reprodução, a nutrição, a morte” funcionam como complemento verbal, são o objeto direto composto. Do ponto de vista semântico, os substantivos apresen tam uma gradação em clímax que diz respeito ao ciclo de vida vegetal observável visualmente: “o nasci men to”, “o crescimento”, “a reprodução” [flores, frutos] e “a morte”. O substantivo que rompe tal sequência é “a nutrição”, cujo processo é constante, mas não visível a olho nu. ÁRVORES E POETAS Para o botânico, a árvore é um vegetal de grande altura, composto de raiz tronco e fronde subdividindo-se cada uma dessas partes numa certa quantidade de elementos: – reduz-se tudo a um esquema. O botânico estuda-lhe o nascimento, o crescimento, a reprodução, a nutrição, a morte; descreve-a; classifica-a. Não lhe liga porém maior importância do que aquela que empresta ao mais microscópico dos fungos ou ao mais desinteressante dos cogumelos. O carvalho, com toda a sua corpulência e toda a sua beleza, vale tanto como a relva que lhe cresce à sombra ou a trepadeira desprezível e teimosa que lhe enrosca os sarmentos1 colubrinos2 pelas rugosidades do caule. Por via de regra vale até menos, porque as grandes espécies já dificilmente deparam qualquer novidade. Para o jurista, a árvore é um bem de raiz, um objeto de compra e venda e de outras relações de direito, assim como a paisagem que a enquadra – são propriedades particulares, ou terras devolutas E há muita gente a quem a vista de uma grande árvore sugere apenas este grito de alma: – “Quanta lenha!...” O poeta é mais completo. Ele vê a árvore sob os aspectos da beleza e sob o ângulo antropomórfico3: encara-a de pontos de vista comuns à humanidade de todos os tempos. Vê-a na sua graça, na sua força, na sua formosura, no seu colorido; sente tudo quanto ela lembra, tudo quanto ela sugere, tudo quanto ela evoca, desde as impressões mais espontâneas até as mais remotas, mais vagas e mais indefiníveis. Dá-nos, assim, uma noção “humana”, direta e viva da árvore, – pelo menos tão verdadeira quanto qualquer outra. (Letras Floridas, 1976.) 1 sarmento: ramo delgado, flexfvel. 2 colubrino: com forma de cobra, sinuoso. 3 antropomórfico: descrito ou concebido sob forma humana ou com atributos humanos. MÓDULO 22 Estudos linguísticos – VII C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 12 3. (UNESP) – De acordo com a concepção de Amadeu Amaral, qual seria a diferença fundamental entre o ponto de vista do botânico e o do poeta? Justifique sua resposta. RESOLUÇÃO: O ponto de vista do botânico subordina-se ao método científico, que descreve e classifica os elementos da natureza, buscando reduzir o processo analisado a um esquema ordenado dos fenômenos conforme determi na das leis naturais. O ponto de vista do poeta é subje tivo, pois ele projeta na natureza atributos humanos, personificando-a para que ela revele sua magnifi cência e ofereça uma dimensão “tão verdadeira quanto qualquer outra”, embora ficcional. O botânico tem uma visão relativa, não vai além do seu campo de conhecimento, enquanto o poeta tem uma visão ampla, incorporando à natureza múltiplos significados. 4. (UNESP) – Qual a intenção da personagem da charge ao se valer do argumento de que a floresta invadiu suas terras? Analise tal argumento sob os pontos de vista lógico e ético. RESOLUÇÃO: A intenção da personagem é promover a adesão dos membros da bancada ruralista à ideia do desmata mento florestal. O objetivo desse grupo, conforme a charge, é lucrar com a expansão da produção agrícola e da pecuária nas terras preservadas pelo código florestal vigente. Para alcançar esse intento, o grupo deseja um novo código que atenda a seus interesses. Os argu - mentos do personagem, portanto, ferem a lógica, são infundados e falaciosos. Além disso, a ética da sociedade é desrespeitada, pois atualmente há uma grande preocupação mundial com a preservação dos ecossistemas. 5. (2018) Entre as estratégias argumentativas utilizadas para sustentar a tese apresentada nesse fragmento, destaca-se a recorrência de a) estruturas sintáticas semelhantes, para reforçar a velocidade das mudanças da vida. b) marcas de interlocução, para aproximar o leitor das experiências vividas pela autora. c) formas verbais no presente, para exprimir reais possibilidades de concretização das ações. d) construções de oposição, para enfatizar que as expectativas são afetadas pelo inesperado. e) sequências descritivas, para promover a identificação do leitor com as situações apresentadas. RESOLUÇÃO: A estratégia argumentativa usada na construção desse texto é a da contraposição entre a expectativa da realização do desejo e a sua não concretização. Resposta: D ENQUANTO ISSO, NOS BASTIDORES DO UNIVERSO PVocê planeja passar um longo tempo em outro país, trabalhando e estudando, mas o universo está preparando a chegada de um amor daqueles de tirar o chão, um amor que fará você jogar fora seu atlas e criar raízes no quintal como se fosse uma figueira. Você treina para a maratona mais desafiadora de todas, mas não chegará com as duas pernas intactas na hora da largada, e a primeira perplexidade será esta: a experiência da frustração. O universo nunca entrega o que promete. Aliás, ele nunca prometeu nada, você é que escuta vozes. No dia em que você pensa que não tem nada a dizer para o analista, faz a revelação mais bombástica dos seus dois anos de terapia. O resultado de um exame de rotina coloca sua rotina de cabeça para baixo. Você não imaginava que iriam tantos amigos à sua festa, e tampouco imaginou que justo sua grande paixão não iria. Quando achou que estava bela, não arrasou corações. Quando saiu sem maquiagem e com uma camiseta puída, chamou a atenção. E assim seguem os dias à prova de planejamento e contrariando nossas vontades, pois, por mais que tenhamos ensaiado nossa fala e estejamos preparados para a melhor cena, nos bastidores do universo alguém troca nosso papel de última hora, tornando surpreendente a nossa vida. (MEDEIROS. M. O Globo. 21 jun. 2015. ) – 13 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 13 14 – P O R T U G U ÊS Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira, para responder às questões de 6 a 10. 6. (UNESP) – Ao escrever a seu colegadizendo que “o que produzira o habilitaria a ser ‘internado em um hospício’” (3.° parágrafo), Einstein reconhece, em relação ao artigo de 1917, seu caráter a) irracional. b) literário. c) divertido. d) confuso. e) pioneiro. RESOLUÇÃO: Einstein reconhece, ao afirmar que poderia ser “internado em um hospício”, que a teoria construída por ele seria de difícil aceitação na época por apresentar um caráter inédito e distante da tradição científica. A cosmologia de Einstein é, como afirma o texto, “um ponto fora da reta”. Resposta: E 7. (UNESP) – Em “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” (1.° parágrafo), o termo destacado exerce a mesma função sintática do trecho destacado em: a) “[...] o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.” (4.° parágrafo) b) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes [...].” (10.° parágrafo) c) “[...] o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes [...].” (5.° parágrafo) d) “Seguiu debilitado até o final daquela década.” (9.° parágrafo) e) “Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta.” (10.° parágrafo) RESOLUÇÃO: O pronome relativo que foi empregado como objeto direto do verbo percorrer, mesma função sintática de “a teoria deriva dos continentes”, que é objeto direto do verbo citar. Resposta: B 8. (UNESP) – Em “A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955).” (2.° parágrafo), o termo destacado pode ser substituído de modo mais adequado, tendo em vista o contexto, por: a) proeza. b) ousadia. c) concretude. d) debilidade. e) petulância. RESOLUÇÃO: Façanha significa sucesso notável, feito heroico, ato de valor ou proeza. Resposta: A “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem anos, cujo teor constitui um marco histórico da civilização. Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955). Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser “internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”. O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três características básicas: era finito, sem fronteiras e estático – o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes. Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana. Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matéria. Com a introdução da relatividade geral, a teoria da gravitação do físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso específico da primeira, para situações em que massas são bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos é muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s). Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar. Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera. Seguiu debilitado até o final daquela década. Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a historiadora da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de “cosmologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra. Fara dá a entender que várias áreas da ciência, naquele início de século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipóteses em outros campos do conhecimento. (Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 14 9. (UNESP) Verifica-se a ocorrência de vírgula para indicar a elipse do verbo no seguinte trecho: a) “Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia [...]” (8.° parágrafo) b) “[...] em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar.” (8.° parágrafo) c) “[...] a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana.” (5.° parágrafo) d) “[...] Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera.” (9.° parágrafo) e) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener [...]” (10.° parágrafo) RESOLUÇÃO: No enunciado, ocorre a elipse do verbo sair em “eu saio logo mais”. Trata-se de zeugma, em que a omissão do verbo é marcada pela vírgula. O mesmo ocorre com o verbo poder em “o tempo pode dilatar”. Resposta: B 10.(UNESP) – Em “O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três características básicas [...]” (4.° parágrafo), a oração destacada encerra sentido de a) consequência. b) explicação. c) causa. d) restrição. e) conclusão. RESOLUÇÃO: O pronome relativo que introduz uma oração subordinada adjetiva restritiva, pois ela limita o sentido de “universo”. Resposta: D 11.(UNICAMP-2018) (Disponível em http://www.psyche.com.br/taxonomy/term/4. Acessado em 02/06/2017.) No contexto deste grafite, as frases “menos presos políticos” e “mais políticos presos” expressam a) uma relação de contradição, uma vez que indicam sentidos opostos. b) uma relação de consequência, já que a diminuição de um grupo conduz ao aumento de outro. c) uma relação de contraste, pois reivindicam o aumento de um tipo de presos e a redução de outro. d) uma relação de complementaridade, porque remetem a subcon - juntos de uma mesma categoria. RESOLUÇÃO A reivindicação é evidente na exigência de que haja “menos presos políticos” e “mais políticos presos”. Resposta: C Emprega-se a vírgula para indicar, às vezes, a elipse do verbo: “Ele sai agora: eu, logo mais.” (Evanildo Bechara. Moderna gramática portuguesa, 2009. Adaptado.) – 15 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 15 As questões 1 e 2 tomam por base o “Soneto LXVII” (“Considera a vantagem que os brutos fazem aos homens em obedecer a Deus”) de Dom Francsco Manuel de Melo (1608-1666). 1. (UNESP) – Que contraste é explorado pelo poema como base da argumentação? Justifique sua resposta. Considerando também outros aspectos, em que movimento literário o poema se enquadra? RESOLUÇÃO: No texto, o eu lírico opõe o comportamento do animal ao do ser humano. O primeiro, em decorrência de sua irracionalidade, é obediente às leis divinas, enquanto o homem, “racionale resoluto”, questiona as determinações de Deus, desobedecendo às leis divinas. O eu poemático, consciente de seu desrespeito ao Senhor, pede-lhe que o transforme em animal irra cional, pois, dessa maneira, ainda haveria possi bilidade de obediência e respeito a Deus. Dom Francisco Manuel de Melo, autor do Barroco português, vale- se de recursos típicos desse movimento literário como o jogo de oposições (“homem x fera”), a inversão sintática, a temeridade às leis divinas, a insignificância do homem frente a Deus, evidenciando-se, assim, o conflito desse contexto: a pressão teocên trica da Contrarreforma sobre os valores antro po cên tricos. 2. (UNESP) – No primeiro verso, a que classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase? No quarto verso, a que classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase? RESOLUÇÃO: No primeiro verso, que é uma conjunção integrante que introduz oração subordinada substantiva objetiva direta, que completa sintaticamente o verbo ver da oração principal. No quarto verso, que é pronome relativo, introduz oração adjetiva restritiva, refere- se à expressão antecedente “o alto estatuto das leis” e funciona sintaticamente como objeto direto do verbo pôr. 3. (FUVEST) – Examine este cartaz, cuja finalidade é divulgar uma exposição de obras de Pablo Picasso. http://institutotomieohtake.org.br Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que compõem o texto do anúncio, os adjetivos “erudita” e “selvagem” sugerem que as obras do referido artista conjugam, respectivamente, a) civilização e barbárie. b) requinte e despojamento. c) modernidade e primitivismo. d) liberdade e autoritarismo. e) tradição e transgressão. RESOLUÇÃO: Picasso é um artista que incorpora a tradição da pintura, mas compõe quadros que transgridem a arte acadêmica, portanto, tem um olhar selvagem. Resposta: E Quando vejo, Senhor, que às alimárias1 Da terra, da água do ar, – peixe, ave, bruto – Não lhe esquece jamais o alto estatuto Das leis que lhes pusestes ordinárias; E logo vejo quantas artes2 várias O homem racional, próvido3 e astuto, Põe em obrar, ingrato e resoluto, Obras que a vossas leis são tão contrárias; Ou me esquece quem sois ou quem eu era; Pois do que me mandais tanto me esqueço, Como se a vós e a mi não conhecera. Com razão logo por favor vos peço Que, pois homem tal sou, me façais fera, A ver se assi melhor vos obedeço. (A Tuba de Caliope, 1988.) 1 alimária: animal irracional. 2 arte: astúcia, ardil. 3 próvido: providente, que se previne, previdente, precavido. 16 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 23 Estudos linguísticos – VIII C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 16 4. (FGV-Direito-2019) – Leia o título e o subtítulo de uma resenha sobre o livro cuja capa está reproduzida na imagem. * Frase inspirada em uma anedota bastante popular no Brasil que costuma ser usada para amenizar, de forma jocosa, uma notícia ruim. “cama de gato”: (por extensão de sentido) trama, armadilha. a) Qual a relação de sentido entre o título e o subtítulo da resenha e os elementos que compõem a capa do livro citado? RESOLUÇÃO: O título “Quando o mundo subiu no telhado” remete a uma conhecida piada em que, para atenuar a notícia sobre a morte de alguém querido, o emissor diz que a pessoa subiu ao telhado, por extensão, caiu dele e morreu. Assim, o trecho do subtítulo “apocalíptico fim da condição humana” refere-se ao fim da existência humana, reiterando o título “quando o mundo subiu no telhado”. A capa apresenta a ilustração de uma bomba em queda livre, sugerindo que a destruição do mundo está próxima, confirmando, portanto, o título e o subtítulo da resenha. b) Sem alterar o sentido, reescreva o trecho do subtítulo “mesmo diante do apocalíptico fim da condição humana”, substituindo a palavra “mesmo” por “ainda que” e “apocalíptico” por um sinônimo. Depois de “ainda que”, introduza um verbo que seja adequado ao contexto. RESOLUÇÃO: Livro de Kurt Vonnegut é a prova literária de como o humor se faz presente ainda que seja diante do catastrófico (aterrorizante) fim da condição humana. Leia o poema de Manuel Bandeira para responder às questões de 5 a 7. 5. (FAMEMA) – O poema faz referência a) à pobreza do campo, quando comparada à riqueza das cidades. b) à possibilidade de as cidades se expandirem em direção ao campo. c) à beleza que surge do crescimento e da modernização dos ambientes urbanos. d) à importância do jovem na construção de uma sociedade melhor. e) à desumanização dos indivíduos no processo de homogeneização das cidades. RESOLUÇÃO: Os versos que confirmam a “homogeneização” dos indivíduos nas cidades são os seguintes: “Nas cidades todas as pessoas se parecem/ Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente” . Resposta: E 6. (FAMEMA) – O poema se desenvolve em acordo com uma carac - terís tica típica da poesia de Manuel Bandeira: a) a reflexão sobre questões abrangentes, por vezes abstratas, a partir de elementos pontuais, simples e cotidianos. b) o elogio à contenção das emoções e ao regramento, o que é adequado a uma vida disciplinada, sem lugar para ações intempestivas. c) a defesa de uma atitude humana libertária em face das questões do mundo, o que tem paralelo na utilização de métrica variada e versos livres. d) a visão positiva a respeito dos homens, como indiví duos, e de suas organizações sociais. e) a crítica aos avanços da modernidade em uma visão saudosista que se consolida na recuperação dos forma tos clássicos da poesia. RESOLUÇÃO: A poética de Manuel Bandeira faz abordagem de pequenos fatos da vida cotidiana e os transpõe para o geral. A descrição que o poeta faz de uma cidade de interior abrange todas as pequenas povoações rurais e ganha maior dimensão. Resposta: A Quando o mundo subiu no telhado* Livro de Kurt Vonnegut é a prova literária de como o humor se faz presente mesmo diante do apocalíptico fim da condição humana. Galileu, 01.2018 A estrada Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um [bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz [dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar. (Estrela da vida inteira, 2009.) – 17 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 17 7. (FAMEMA) – “Estes cães da roça parecem homens de negócios”. A função sintática do termo destacado no excerto é a mesma do termo destacado em: a) “cada um traz a sua alma.” b) “E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:” c) “Cada criatura é única.” d) “Nem falta o murmúrio da água,” e) “Nas cidades todas as pessoas se parecem.” RESOLUÇÃO: No enunciado, “homens de negócios” funciona sintaticamente como predicativo do sujeito “Estes cães da roça”. A mesma função, predicativo do sujeito, ocorre em “única”, como característica de “Cada criatura”. Resposta: C Texto para as questões de 8 a 10. 8. (FUVEST) – Depreende-se do texto que uma determinada língua é um a) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser consi de rada exemplar. b) sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo grupo de maior prestígio social. c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela norma culta. d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funciona mento é pre - judicado pela heterogeneidade social. e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são dotadas de normas e outras não o são. RESOLUÇÃO: A alternativa de resposta coincidecom o que se afirma no terceiro período do texto: “A língua padrão... embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo...” Resposta: A 9. (FUVEST) – De acordo com o texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão se comporta de modo a) inovador. b) restritivo. c) transigente. d) neutro. e) aleatório. RESOLUÇÃO: O último período do texto se refere à “função coer ci tiva” da linguagem padrão, pois ela restringiria a tendência da língua à variação. Resposta: B 10. (FUVEST) – Considere as seguintes afirmações sobre os quatro perío dos que compõem o texto: Está correto apenas o que se afirma em a) I e II. b) I e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) II, III e IV. RESOLUÇÃO: O erro da afirmação I está em que não há relação causal entre os dois primeiros períodos do texto, pois o segundo introduz um aspecto ausente do primeiro. A escolha da alternativa e para resposta deste teste resul ta da anulação das demais, em razão do erro evi dente da afirmação I, que torna erradas as alter nativas a, b e d, e da correção indiscutível da afir mação II, que torna errada a alternativa c. Ocorre, porém, que a afirmação III, dada como correta na alternativa e, só pode ser aceita com muita concessão. Com efeito, o segundo período do texto não constitui propriamente desenvolvimento do primeiro, ao qual formula, na verdade, uma restrição, acrescentando um novo aspecto da questão tratada, aspecto de que o período seguinte fornece um exemplo confirmador. O último período, por sua vez, acrescenta uma infor - mação nova, que não decorre, como conclusão, do que foi formulado nos períodos anteriores. Portanto, trata-se de teste de formulação defeituosa, muito de lamentar numa prova criteriosa e bem feita como esta. Resposta: E Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspon - dem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estru tu ra social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma ava - liação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação. (Celso Cunha. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Adaptado.) I. Tendo em vista as relações de sentido constituídas no texto, o primeiro período estabelece uma causa cuja consequência aparece no segundo período. II. O uso de orações subordinadas, tal como ocorre no terceiro perío do, é muito comum em textos disserta tivos. III. Por formarem um parágrafo tipicamente dissertativo, os quatro períodos se organizam em uma sequência constituída de in - trodu ção, desenvolvimento e con clusão. IV. O procedimento argumentativo do texto é dedutivo, isto é, vai do geral para o particular. 18 – P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 18 Cartum as questões 11 e 12. Robert Mankoff, New Yorker/Veja. 11. (FUVEST) – Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso: a) utilização paródica de um provérbio de uso corrente. b) emprego de linguagem formal em circunstâncias informais. c) representação inverossímil de um convívio pacífico de cães e gatos. d) uso do grotesco na caracterização de seres humanos e de animais. e) inversão do sentido de um pensamento bastante repetido. RESOLUÇÃO: O discurso da personagem emite um juízo de valor contrário ao seguinte pensamento contemporâneo: os bichos não passam de substitutos patéticos para as pessoas que não podem ter crianças. Resposta: E 12. (FUVEST) – No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela persona gem seja considerado a) incoerente. b) parcial. c) anacrônico. d) hipotético. e) enigmático. RESOLUÇÃO: A personagem que profere a frase foi parcial ao manifestar uma opinião que vai ao encontro da situação que ela vivencia, cercada de animais. Resposta: B – 19 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 19 20 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 24 Concordância nominal Há casos especiais, que não obedecem à regra geral. Eles são apresentados no quadro seguinte. Observe que, em sua maioria, são casos que admitem mais de uma possibilidade de concordância: uma que obedece à regra geral (espe - ci ficada geralmente na coluna do meio) e outra que contraria essa regra ou foge ao uso corrente (especificada na última coluna). Concordância nominal é a concordância, em gênero e número, entre o substantivo e seus determinantes – adjetivos, artigos, pronomes adjetivos e numerais. Exemplos: Cidade morta. Quinhentos gramas de café. Regra geral: O adjetivo, ou palavra com valor de adje - tivo – adjunto adnominal ou predicativo –, con cor da em gênero e número com o substantivo a que se refere. A inclusão de preposição entre o substantivo e o adjetivo não impede a concordância. Exemplos: Pobres dos homens. Desgraçadas das mulheres. ADJETIVO POSPOSTO A DOIS OU MAIS SUBSTANTIVOS Adjetivo no plural e no gênero dos substantivos (facultativo). No caso de gêneros diferentes, preva lece o mas cu lino. Consciência e dignidade humanas. Dor e prazer intensos. Adjetivo concorda com o subs tantivo mais próximo (facul tativo). Talento e disciplina rara. Com substantivos sinônimos, o adje tivo con cor da com o mais pró ximo. Povo e gente brasileira. ADJETIVO ANTEPOSTO A DOIS OU MAIS SUBSTANTIVOS Adjetivo fica no plural quando ele fun cio - nar como predicativo do ob jeto. Encontrei tristonhos a mulher e o jovem. Adjetivo, funcionando como adjunto ad - no mi nal, concorda com o subs tan tivo mais próxi mo. Rara disciplina e talento. Adequado lugar e momento. SUBSTANTIVO MODIFICADO POR DOIS OU MAIS ADJETIVOS NO SINGULAR O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo antes de cada ad je tivo. As bandeiras italiana e brasileira. O substantivo fica no singular e repe te-se o artigo antes de cada adjetivo. A bandeira italiana e a brasileira. O substantivo fica no singular e não se repete o artigo antes de cada adjetivo. A bandeira italiana e brasileira. ADJETIVO COMPOSTO Normalmente se flexiona só o último elemento. Problemas político-econômicos. Guerra sino-nipo-soviética. Exceções: a) Flexionam-se os dois ele mentos: surdas-mudas. b) Não se flexiona nenhum elemento: azul-marinho, azul-celeste e verde-gaio. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 20 – 21 P O R T U G U ÊS UM E OUTRO, UM OU OUTRO, NEM UM NEM OUTRO SEGUIDOS DE SUBSTANTIVO O substantivo fica no singular. Nem um nem outro caso. Um ou outro caso. Nem uma nem outra coisa. Se em seguida vier um adjetivo, este ficará no plural. Um e outro caso paralelos. No caso de um ou outro, o adjetivo ficará no singular. Um ou outro caso paralelo.. SUJEITO EM GRAU ABSOLUTO Se houver artigo ou pronome demons tra ti vo, o adjetivo concorda em gênero com o sujeito. É proibida a entrada. Esta cerveja é boa. Se não houver artigo ou pronome de - mons tra tivo, o adjetivo fica no mascu lino. É proibido entrada. Cerveja é bom. SUBSTITUIÇÃO DO PREDICATIVO DO SUJEITO POR UM PRONOME PESSOAL ÁTONO Se houver artigo ou pronome demons trativo, o pronome concorda em gênero com o predicativo. És a enfermeira daqui? Sou-a. Se não houver artigo ou pronome de - mons trativo, emprega-se o pronome mas culino. És enfermeira? Sou-o. POSSÍVEL Vai para o plural no emprego de “os mais”, “os menos”, “os piores”, “os melhores”. Visitei praias as mais tentadoras possíveis. Fiz os maiores esforços possíveis. Escolhi os melhores aposentospos síveis. Mantém-se invariável no emprego de “o mais”, “o pior”, “o melhor”. Visitei praias o mais possível tentadoras. Fiz os esforços o mais pesados possível. Escolhi aposentos o melhor possível. SÓ, MEIO, BASTANTE Se adjetivos, concordam com o subs tan tivo a que se referem. Não fale com meios termos. Não suporto meias palavras. Há problemas bastantes. (suficientes) Estamos sós. Se advérbios (significando somente, um tanto, um pouco e muito), ficam invariáveis. Compramos só duas entradas. As portas estavam meio abertas. Estão bastante cansados. LESO, PRÓPRIO, MESMO, JUNTO, ANEXO, INCLUSO, QUITE, OBRIGADO Concordam com o nome a que se referem. Crime de lesa-pátria. Crime de lesos-direitos. Nós próprios faremos o trabalho. Elas mesmas escreveram as cartas. Os recibos seguem juntos. As crianças voltaram juntas. O comprovante segue anexo. As declarações seguem anexas. Estão inclusas as taxas e impostos. Já estou quite com o clube. Muito obrigada, disse Maria. Mesmo como advérbio: Eles escreveram mesmo as cartas? Junto com e junto de e em anexo são invariáveis. MENOS E ALERTA São invariáveis. Havia menos alunas naquela sala. Os soldados caminhavam alerta. Alerta como adjetivo é variável. Os soldados alertas caminhavam. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 21 22 – P O R T U G U ÊS 1. Complete os espaços, efetuando a concordância ou concordâncias possíveis: a) Talento e disciplina ___________________ caracterizavam aquele artista. (rara / raros) b) ___________________ dor e prazer acompanharam-no a vida toda. (Intensa / intensos) c) Encontrei ___________________ o pai e a filha. (abatido / abatidos). d) ___________________ pessoas visitaram o museu. (bastante / bastantes) RESOLUÇÃO: a) rara ou raros b) Intensa c) abatidos d) bastantes 2. Como no exercício anterior: a) Minha irmã estava ___________________ chateada com o noivo. (meio / meia) b) É ___________________ a entrada de estranhos. (proibido / proibida) c) Visitei praias o mais tentadoras ___________________ (possível / possíveis) d) Muito ___________________, disseram as irmãs de caridade. (obrigado / obrigadas) RESOLUÇÃO: a) meio b) proibida c) possível d) obrigadas Texto para a questão 3. 3. (FUVEST) – Comparando o segmento sublinhado, no texto I, com a informação de natureza gramatical do texto II: a) reescreva esse segmento, substituindo causas por processos; RESOLUÇÃO: ... se perdesse os dois milhões de processos que tramitam contra ela e tivesse de pagá-los. b) explique por que, em relação à norma culta, a concordância no segmento destacado deve ser considerada incorreta. RESOLUÇÃO: A concordância é incorreta, pois o sujeito tem como núcleo o substantivo masculino plural milhões. Logo, o artigo (os), o numeral (dois) que o determinam devem concordar com ele em gênero (masculino) e número (plural). O pronome (los) que substitui milhões também deve ser masculino plural. Texto para a questão 4. 4. (INSPER) – O diálogo acima foi construído com base nas regras de concordância nominal, opondo as variantes linguísticas. A incredulidade da personagem diante da correção feita pelo seu interlocutor decorre do fato de que ela não reconhece, nesse contexto, que o termo “meio” fica invariável por ser uma) a) numeral. b) adjetivo. c) pronome. d) conjunção. e) advérbio. RESOLUÇÃO: “Meio”, com sentido de “um pouco”, “um tanto”, é advérbio de intensidade, portanto invariável. Já “meio”, com sentido de “metade”, é adjetivo e deve concordar com o substantivo a que se refere. Resposta: E Texto para a questão 5. 5. (UNIFOR-adaptado) – Como no exemplo acima, em qual das alternativas abaixo foram observadas adequadamente as regras de concordância? a) Ficaram muitos felizes com o casamento. b) Quero menas tristeza. c) Houve vários problemas comigo. d) Não se poupou esforços para mudar de vida. e) Houve passeatas-monstro este ano. RESOLUÇÃO: Houve: verbo impessoal (sentido de existir); logo, oração sem sujeito. I. Segundo levantamento feito, se perdesse as duas milhões de causas que tramitam contra ela e tivesse de pagá-las, a União seria obrigada a desembolsar a bagatela de US$ 68 bilhões. II. Milhão, bilhão, trilhão etc. comportam-se como substantivos e variam em número: dois milhões, vinte trilhões. – Você acha que estou meia gordinha? – Não é meia, é meio. – Como é que é? – Não é meia gordinha que se diz. É meio gordinha. – MEIO gordinha? Imagina. Meio gordinha... Não acre dito. – Se você fosse meia gordinha, significaria que você é só meia, só metade, entende? Só metade gordinha. A outra metade magrinha. – Qual parte? A de cima ou a de baixo? (PRATA, Mario. Diário de um magro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1997.) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 22 Texto para a questão 6. 6. (BARRO BRANCO) – De acordo com a norma-padrão, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com: a) Menos discutida – cidadões – prioritários b) Menas discutida – cidadães – prioritário c) Menos discutido – cidadões – prioritária d) Menas discutido – cidadãos – prioritárias e) Menos discutida – cidadãos – prioritárias Resposta: E 7. (FATEC) – Assinale a alternativa que preenche cor retamente as lacunas da frase, na sequência. a) meia; à; as; anexo; às; meia. b) meia; à; as; anexas; as; meia. c) meio; a; às; anexo; às; meio. d) meia; a; às; em anexo; as; meio. e) meio; a; as; anexas; às; meia. RESOLUÇÃO: “Meio indecisa”: meio é invariável, pois é usado como advér bio; “a mandar”: a é apenas preposição, não ocorrendo cra se, porque o regido mandar (verbo) não admite artigo; “as faturas anexas”: as, artigo, e anexas, adjetivo, concordam em gênero e número com o substantivo faturas, a que se re fe rem; “às notas fiscais”: crase da preposição a, regida por ane xas, e do artigo as, determinante do substantivo feminino notas; “meia folha”: meia, adjetivo, concorda em gênero e número com o substantivo fatura, a que se refere. Resposta: E 8. (CÁSPER LÍBERO) – Qual das alternativas abaixo não apre senta incorreções gramaticais? a) Compramos duzentas e cinquenta gramas de con dimentos e espe - ciarias importados. b) Se for para mim fazer, eu me nego. c) Hoje, a reunião começará ao meio-dia e meio, du rando até as três horas. d) Entre mim e você não existirão acordos. e) Devem fazer cinco anos que não a vejo... RESOLUÇÃO: Em a, duzentos e cinquenta gramas; em b, eu fazer; em c, meio- dia e meia; em e, deve fazer. Resposta: D 9. (MACKENZIE) Há uma concordância inaceitável de acordo com a gramática nor ma - tiva: a) em I e II. b) em II, III e V. c) apenas em II. d) apenas em III. e) apenas em IV. RESOLUÇÃO: No item I, ocorre silepse, que é considerada uma concor dância excepcional, porém aceitável. Resposta: E 10. (INSPER) – Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto abaixo: a) Proibido, haja, bastantes, necessária, inclusos. b) Proibida, haja, bastante, necessário, inclusas. c) Proibida, hajam, bastantes, necessário, inclusas. d) Proibido, haja, bastantes, necessário, inclusas. e) Proibida, haja, bastante, necessária, inclusas. Resposta: D Texto para a questão 11. 11. (UNIFOR) – Em relação aos vícios textuais, o fenômeno evidenciado na placa acima é a) o estrangeirismo. b) a tautologia. c) a verbosidade. d) a ambiguidade. e) a cacofonia. RESOLUÇÃO: Tautologia/redundância/pleonasmo: uso de unidades idênticas do ponto de vista semântico. Expressamente repete a ideia de proibida que já está no texto, o que implica uma tautologia. Resposta: B 12. (VUNESP-BARRO BRANCO) – Assinale a alternativa em que os termos preenchem corretamente as lacunas do texto: a) milhão – há – cujo. b) milhões – a – que o c) milhão – fazem – de que o d) milhões – faz – que o e) milhão – à – cujo o Resposta: A O combate à corrupção entrou na agenda pública ocupando boa parte dos noticiários e das discussões políticas nas redes sociais. ____________________ e cidadãs na gestão pública para monitoraros gastos de dinheiro público, orientar investimentos, definir políticas ____________________, entre outros. As novas tecnologias têm um papel crucial na agenda anticorrupção e na promoção da transparência e participação. (http://politica.estadao.com.br/ Adaptado.) Regina estava __________ indecisa quanto _______ mandar ________ faturas ________ _________ notas fiscais e se _________ folha bastaria para o bilhete. I. Os brasileiros somos todos eternos sonhadores. II. Muito obrigadas! – disseram as moças. III. Sr. Deputado, V. Exa. está enganado. IV. A pobre senhora ficou meia confusa. V. São muito estudiosos os alunos e as alunas des te curso. É terminantemente __________ entrada de pessoas alcoolizadas neste ambiente de trabalho. Ainda que __________________________ pessoas insatis feitas com o andamento da empresa, não há motivos para afrontas. Liberdade é __________________, respeito também. ________________ nos comprovantes de pagamento deste mês estão as cópias dos documentos requeridos para o cadastramento no programa de demissão voluntária. É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A ENTRADA DE ALUNOS! A Lei da Ficha Limpa é uma prova da evolução do processo democrático no País. As coisas estão andando na direção correta e numa velocidade até razoável. O movimento contra a corrupção tomou corpo. A Lei da Ficha Limpa teve o apoio de 1,6 ________________ de assinaturas. Ayres Britto, chamado de ingênuo __________ quatro anos, ontem comemorava: “Como disse Victor Hugo, ‘não há nada mais pode ro - so do que a força de uma ideia ______________ tempo chegou’”. (Folha de S.Paulo, 12/6/2010. Adaptado) – 23 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 23 24 – P O R T U G U ÊS 1. Antecedentes Nos primeiros anos do século XX, iniciou-se em São Paulo o pro cesso de industrialização do País. Produzi - ram -se, além de manufa turados, con - tin gentes de trabalha dores operários: homens, mulheres e crianças, que, sub metidos às con dições mais avil - tan tes de trabalho, ocupavam as fi lei - ras das linhas de produção. En quan to isso, a deca dente elite do café, já de - ficitária, ostentava um alto padrão de vida, sustentado pela política dos go - ver nadores, que, para evitar a que da do preço do produto, com pra vam os excedentes, socializando ape nas os prejuízos. A grande pa ra li sa ção de operários, em 1907, a Re vol ta dos 18 do Forte de Copa ca ba na, o Te nen - tismo, em 1922, somados aos ecos da Primeira Guerra Mun dial (1914-18), evidenciavam o esgo ta mento da es - tru tura de poder no pri mei ro quarto do século XX no Brasil. Junto com a estrutura socio po lí ti - ca, esgotara-se também a arte que ela sustentava, de modo que, conco - mitantemente àqueles aconteci men - tos, os próprios artistas denuncia vam a crise da cultura e da arte bra si leiras e a necessidade de sua trans for mação. Assim, antes mesmo da Se ma na de 22, são notáveis os se guintes even tos: • 1912: Oswald de Andrade vol ta da Europa e começa a divulgar o Fu - turismo, de Marinetti, e a técnica do verso livre. Já no ano anterior fun da ra, com Emílio de Meneses, o jornal humo rís tico O Pirralho, em que Juó Bananere (Alexandre Marcondes Machado) paro diava, no português dos ítalo-paulistanos, poemas céle bres do Romantismo e do Parna sia nismo. No seguinte poema, Juó Ba na ne - re satiriza o famoso soneto XII de Via- Láctea, de Olavo Bilac (“Ora, direis, ouvir estrelas…”): UVI STRELLA Che scuitá strella, né meia strella! Vucê stá maluco! e io ti diró intanto, Chi pra iscuitalas moltas veiz livan to, I vô dá una spiada na gianella. I passo as notte acunversáno c’oella, Inguanto che as otra lá d’un canto Sto mi spiano. I o sol come un briglianto Nasce. Oglio p’ru çeu — Cadê strella?! Direis intó: — Ó migno inlustre amigo! O chi é chi as strellas ti dizia Quanto illas viéro acunversá contigo? E io ti diró: — Studi pra intendela, Pois só chi giá studô Astrolomia É capaiz de intendê istas strella. (Juó Bananere, La Divina Increnca) “O satírico aparece em estágios complexos e saturados de vida urba - na; momentos em que a consciência do homem culto já se re la com as contradições entre o co ti diano real e os valores que o en leiam. E a paró dia, ‘canto paralelo’, só se faz pos sível quando uma for ma ção literária e um gosto, outrora só lidos, entram em crise, isto é, so brevivem apesar do cotidiano, so bre vivem como disfarce, como véu i de ológico.” (Alfredo Bosi) • 1913: Lasar Segall realiza a pri - meira exposição de pintura mo der na em São Paulo. Expõe quadros ex pres - sionistas e é totalmente ig no ra do. • 1914: Anita Malfatti faz sua pri - mei ra exposição de pintura não aca - dêmica. Uma série de artigos sobre o Futurismo sai em O Estado de S. Paulo. • 1915: Fundação da revista Orpheu, que introduz o Modernismo em Portugal. Ronald de Carvalho, que participaria da Semana, e Luís de Montalvor organizam no Rio o pri - meiro número da revista. • 1917: Publicação de livros de estreia de futuros participantes da Semana: – Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, de Mário de Andrade, protesto pacifista contra a Primeira Guerra Mundial. – Cinza das Horas, de Manuel Bandeira, “queixume de um doente de - senganado”, segundo o próprio autor. No seu livro seguinte, Carnaval (1919), apareceria o poema satírico “Os Sa - pos”, que seria recitado na segunda noite da Semana de Arte Moderna. – Moisés e Juca Mulato, de Menotti del Picchia. – Nós, de Guilherme de Almeida, ainda parnasiano e decaden tista. – A Frauta de Pã, de Cassiano Ricardo, com sonetos parnasianos. Outros eventos • Na música erudita, Villa-Lobos compõe o balé Amazonas, incluindo elementos do folclore brasileiro, in - fluenciado por Stravinsky; na música popular, é pela primeira vez gravado em disco um samba, Pelo Telefone, de Donga. • Exposição de 53 quadros de Anita Malfatti (1917), que provocou a dura crítica “Paranoia ou Mistifica ção?”, de Monteiro Lobato, em O Es tado de S. Paulo (20/12/1917). Se gue-se trecho da crítica: (...) Estas considerações são pro- vocadas pela exposição da Sra. Mal fatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagân cias de Picasso e companhia. Essa artista possui talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, atra vés de uma obra torcida para má di re ção, se notam tantas e tão pre cio - sas qualida des latentes. (...) MÓDULO 37 Semana de Arte Moderna FRENTE 2Literatura C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 24 – 25 P O R T U G U ÊS Nos anos seguintes, houve o sur - gimento de Victor Brecheret, a publi ca - ção de Carnaval, de Manuel Ban deira, a exposição de Di Caval can ti, a publi cação dos artigos “Mestres do Pas sa do”, em que Mário de Andrade ana li sa e critica, duramente, a poesia par na siana. Pietá (déc. 1910), Victor Brecheret, ma dei ra, 40x50cm. 2. A Semana de Arte Moderna Patrocinada pela elite letrada dos quatrocentões paulistanos, a Sema na “foi, ao mesmo tempo, o ponto de encontro das diversas tendências mo - dernas que desde a Primeira Guerra se vi nham firmando em São Paulo e no Rio, e a plataforma que permitiu a con - solidação de grupos, a pu bli ca ção de livros, revistas e manifestos, nu ma palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade cultural” (BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Bra sileira. São Paulo: Cultrix, 3. ed., 1987. p. 385). O correu em três noites, 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Mu nicipal de São Paulo. Na primeira noite, Graça Aranha, que, como membro da Academia Bra sileira de Letras, conferia ao e ven to um ar de respeitabilidade, pro fe re a confe - rência “A Emoção Es té tica da Arte Moderna”, ilustrada com poe mas declamados por Gui lher me de Almeida e Ronald de Car valho, acom - panhados por Ernâni Bra ga ao pia no, executando, de Eric Satie, a pa ródia da Marcha Fúnebre de Chopin. Na segunda noite, há a con fe rên - cia de Menotti del Picchia, ilustrada com vários textos,entre os quais “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, vaia dos to dos pelo público. Segue-se um trecho da conferência: Queremos lua, ar, ventiladores, aeropla nos, reivindicações obreiras, idea lismos, mo to res, chaminés de fá - bricas, sangue, velocidade, sonho na nossa arte. E que o rufo do auto mó - vel, nos trilhos de dois versos, es pan - te da poesia o último deus ho mé ri co, que ficou, anacroni ca mente, a dor mir e a sonhar, na era do jazz band e do cinema, com a frauta dos pastores da Arcádia e dos seios de Helena! Mário de Andrade, sob vaias, lê poe mas que constituiriam o livro A Es crava que não é Isaura. Renato de Al meida critica o Parnasianismo e Villa-Lobos entra no palco de chi nelos (pois teria um calo no pé) e guar da- chuva, indignando o público. A terceira noite tem apenas pro- gra ma musical e Villa-Lobos rege com - posições conhecidas do reduzi do público, que aplaudiu, sem es cân dalos. Capa do primeiro número da revista Klaxon. � Klaxon A revista Klaxon, Mensário de Ar - te Moderna, durou de maio de 1922 a fevereiro de 1923. Reunindo os modernistas da fase heroica, não sobreviveu à divisão entre a corrente dinamista, adepta do futurismo, da técnica, da velocidade, da expe ri men - tação de uma linguagem nova, e a primitivista, chegada ao expres sio nis - mo e à exploração do folclore bra - sileiro. Dividida entre a ânsia de mo - dernização do Brasil e a convic ção de que nossas raízes indígenas e ne gras precisavam de tratamento es té tico adequado, a revista, in congru en te na aparência, é o fundamento de obras como Macunaíma, Pau-Brasil, Cobra Norato, Martim Cererê, Revista de Antropofagia, Memórias Sen ti men - tais de João Miramar etc. � Estética A revista Estética, dirigida por Sérgio Buarque de Holanda e Pru den te de Morais Neto, foi lançada em 1924 e teve três números fartos de material teórico. Nessa revista, a dis - puta era entre “arte interessada” e “arte autônoma”. 3. As correntes modernistas � Corrente nacionalista Representada pelos grupos “Ver de-Amarelo” (1924), “Anta” (1929) e “Bandeira” (1936). Reuni - ram-se principalmente em torno de Menotti del Picchia, Cassiano Ri car do e Plínio Salgado. Tinham visão ufa - nista e propunham a exaltação da terra, do homem, do folclore e dos heróis nacionais. Aproximavam-se do Inte gralismo, doutrina que defendia um regime político totalitário, corpo ra - tivista e nacionalista. Os manifestos des sa corrente estão em Curupira e o Carão, de Plínio, Menotti e Cassiano, e no Nhengaçu Verde-Amarelo. Mar - tim Cererê, de Cassiano Ricardo, é a melhor realização poética dos i deais dessa vertente: NHENGAÇU VERDE-AMARELO (trechos) A descida dos tupis do planalto central no rumo do Atlântico foi uma fatalidade histórica pré-cabralina, que preparou o ambiente para as en tradas no sertão pelos aventureiros brancos desbravadores do oceano. (…) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 25 26 – P O R T U G U ÊS Os tupis desceram para serem ab - sorvidos, para se diluírem no san gue da gente nova. Para viver subje tiva - mente e transformar numa prodi giosa força a bondade brasileira e o seu grande sentimento de huma ni dade. Seu totem não é carnívoro: Anta. É este animal que abre caminhos, e aí parece estar indicada a predes ti na ção da gente tupi. (…) � Corrente primitivista Representada pelos grupos “Pau- Brasil” (1924) e “Antropofagia” (1928). Tiveram a liderança marcante de Oswald de Andrade e a par ti ci pa - ção de Tarsila do Amaral, Raul Bopp, Antônio de Alcântara Machado (só na “Antropofagia”) e de Mário de An dra - de, na fase de Macunaíma e Clã do Ja buti. Os ideais da corrente foram ex pressos no Manifesto Antro pó fa go, publicado no primeiro número da Re - vista de Antropofagia, em 1928. Essa revista foi publicada em duas “denti - ções”: de maio de 1928 a ja nei ro de 1929, mensal mente, e de mar ço a agosto de 1929, semanal mente. Pre tendendo “reintegrar o ho - mem na li vre expansão dos seus ins - tintos vi tais”, essa corrente pro pu nha, não uma aceitação passiva do lega do eu ro peu à cultura brasileira, mas a de - vo ração crítica desse lega do e sua trans formação em algo no vo, com iden tida de própria e alcance uni ver sal. Antropofagia (1929), Tarsila do Amaral (1886-1973), óleo sobre tela, Fundação Nemirovsky, São Paulo. MANIFESTO ANTROPÓFAGO (trechos) Só a antropofagia nos une. So cial - mente. Economicamente. Filo so - ficamente. • Única lei do mundo. Expressão mas carada de todos os indi vi dua lis - mos, de todos os coletivismos. De to - das as religiões. De todos os tratados de paz. • Tupi or not tupi, that’s the question. (...) Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. • Mas nunca admitimos o nasci - men to da lógica entre nós. (...) Somos concretistas. As ideias to - mam conta, reagem, queimam gen te nas praças públicas. Su pri ma mos as ideias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, a cre - ditar nos instrumentos e nas es trelas. (...) Contra a realidade social, vesti da e opressora, cadastrada por Freud — a realidade sem comple xos, sem lou - cura, sem prostituições e sem pe ni ten - ciárias do matriarcado de Pin dorama. OSWALD DE ANDRADE Em Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha. (Revista de Antropofagia, Ano I, n. 1, maio de 1928) Retrato de Oswald de Andrade (1923), Tarsila do Amaral (1886-1973), óleo sobre tela, Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo. � Definição e características da linguagem modernista • Rejeição das normas e estéticas consagradas – antiacademismo, anti con for - mis mo; – perseguição incessante de três princípios: 1. direito à pesquisa estética; 2. atualização da inteligência artís ti - ca brasileira; 3. estabilização de uma consciên cia criadora nacional. • Inovações na linguagem poética – novos ritmos: versos livres, no - vo fraseado; – aproximação entre poesia e prosa; – nova concepção do mundo e do homem (civilização moderna, o co - tidiano, o nacional, o sub cons cien te) — surgimento de novos temas; – irreverência, humorismo — o “poema-piada”; – síntese, simultaneísmo, ima - gens vívidas, fusão de elementos di - ver sos, expressão elíptica. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 26 – 27 P O R T U G U ÊS POÉTICA Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de [ponto expediente protocolo e [manifesta ções de apreço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no [dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos [universais Todas as construções sobretudo as sintaxes [de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer [que seja fora de si mesmo. De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de cossenos [secretário do amante exemplar com [cem modelos de cartas e as diferentes [maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare — Não quero mais saber do lirismo que não [é libertação. (Manuel Bandeira, Libertinagem, 1930) OS SAPOS Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: — “Meu pai foi à guerra!” — “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!” O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: — “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A fôrmas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas…”Urra o sapo-boi: — “Meu pai foi rei” — “Foi!” — “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!” Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: — “A grande arte é como Lavor de joalheiro. Ou bem de estatuário. Tudo quanto é belo, Tudo quanto é vário, Canta no martelo.” Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas: — “Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!” Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita Verte a sombra imensa; Lá, fugido ao mundo, Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é Que soluças tu, Transido de frio, Sapo-cururu Da beira do rio… (Manuel Bandeira, Carnaval, 1919) Observações “Os Sapos”, poema declamado por Ronald de Carvalho na segunda noite da Semana de Arte Moderna, em 15 de fevereiro de 1922, satiriza a preocupação parnasiana com as rimas, com a métrica, com o voca bu - lário precioso. Aproxima-se, paro dis - tica mente, do poema “Profis são de Fé”, de Olavo Bilac: Invejo o ourives quando escrevo Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor. O sapo-tanoeiro (v. 9) é uma alu - são a Bilac (tanoeiro é o artesão que, com martelo, enverga a madei ra, pa ra a construção ou barricas). O sa po- cururu simboliza a poesia au tên tica, despida de artificialismo. Nos versos 23 e 24 — “Reduzi sem danos / A fôrmas a forma” —, há um trocadilho, ironizando o fato de que a rigidez das regras par nasianas era tão forte que reduzia a forma (ó) em forma (ô), ou seja, reduzia a for ma da poesia a um molde, modelo obri gatório. TEXTOS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 27 28 – P O R T U G U ÊS Texto para a questão 1. Abaporu, Tarsila do Amaral (Disponível em: <artedescrita.blogspot.com.br/2012/08/ abaporu-de-tarsila-do-amaral.html>. Acesso em: 15 maio 2019.) 1. (FGV-SP-DIREITO) – O quadro é representativo de qual movimento artístico? Quais elementos presentes na obra justificam essa classificação? RESOLUÇÃO: O título do quadro sugere a sua filiação ao “Movimento Antropófago” (abaporu: palavra de origem tupi-guarani que significa “homem que come gente”), lançado por Oswald de Andrade no mesmo ano da pintura (1928). Oswald era então marido da pintora e lhe teria sugerido o título. São características básicas da Antropofagia: (1) primitivismo (entendido no sentido em que foi tomado por movimentos da vanguarda artística do início do século XX: recu pe ração do olhar primitivo, pré-cultural, e inspiração em obras da arte dita “primitiva”, a arte de culturas distantes, “exóticas”, especialmente o surpreendente engenho da escultura africana); (2) enfoque crítico do nacional, com amplo recurso à ironia e à sátira, e (3) incorporação seletiva e criativa do elemento estrangeiro (a atitude “antropofágica” defendida no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade: “devoração” e assimilação de valores alheios com a finalidade de produzir com eles algo próprio e original). A esse programa correspondem os elementos compositivos desse quadro que é, ao mesmo tempo, brasileiro e tributário do Modernismo europeu de então. Quanto ao aspecto crítico e irônico, essencial à obra e ao programa do autor de Serafim Ponte Grande (uma das produções centrais de Oswald e da Antropofagia), é de notar que, apesar do desagrado manifestado privadamente por Mário de Andrade, sua rapsódia Macunaíma, publicada também em 1928, foi desde logo associada ao movimento, sendo que nela o “herói da nossa gente” é coincidentemente representado com pés enormes e cabeça diminuta. Texto para o teste 2. Morro da Favela (1924), de Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, 64x76cm, Coleção Particular. (Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2324/morro-da-favela>. Acesso em: 6 maio 2019.) 2. (modificado) – O Modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Sema na de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro Morro da Favela, identifica-se que, nas artes plásticas, a a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas. b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano. c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico. d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada. e) forma apresenta contornos e detalhes humanos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2010] No quadro Morro da Favela, é notória a geometrização das formas, observando-se construções em cuja figuração predominam linhas retas. O tema é uma cena do cotidiano, representando uma paisagem local brasileira (uma favela, hoje em dia chamada aglomerado ou comunidade), com suas casas coloridas e seus moradores. Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 28 Texto para o teste 3. Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. [...] A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (Trecho do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, lançado por Oswald de Andrade em 1924.) 3. (MACKENZIE-SP-2019 – modificado) – Analise as afirmações sobre o texto: I. Ao criticar o “gabinetismo” e enfatizar o que chama de “prática culta da vida”, o manifesto exige dos poetas que se mantenham distantes de questões mundanas e tomem os clássicos portugueses como referência criativa. II. O Manifesto da Poesia Pau-Brasil é considerado um ponto fora da curva na história do Modernismo brasileiro, pois a escrita de manifestos foi prática pouco comum na época. III. Percebe-se a ideia programática para uma literatura brasileira menos artificial e mais dinâmica, buscando-se a identidade nacional e linguística. Assinale a alternativa correta. a) A afirmação I está correta. b) A afirmação II está correta. c) A afirmação III está correta. d) Todas as afirmações estão corretas. e) Nenhuma das afirmações está correta. RESOLUÇÃO: O Modernismo combateu o academicismo da arte tradicional e procurou incorporar o cotidiano e a linguagem das vanguardas europeias. Rompeu com a ideia do artista isolado na sua torre de marfim, isto é, a ideia de arte apartada da realidade social. Além do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, houve vários manifestos polêmicos na década de 20 do século XX propondo uma arte que reinterpretasse a cultura brasileira com mais dinamismo e atualidade. Resposta: C – 29 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 29 30 – P O R T U G U ÊS 1. Mário de Andrade (São Paulo, 1893-1945) � Vida “Sou trezentos, sou trezentos-e- cinquenta, / mas um dia afinal toparei comigo...” Fez o curso secundário no Gi násio Nossa Senhora do Carmo e di plomou-se no Conservatório Dra má tico e Musical, onde viria a ser pro fes sor de História da Música. Tendo si do um dos respon sá - veis pela Se mana de Arte Moderna, animou as prin ci pais revistas do movi - mento na sua fa se de afirmação polêmica: Klaxon, Es tética, Terra Roxa e Ou tras Terras. Sou be conjugar uma vi da de intensa cria ção literária com o estudo apai xo nado da música, das artes plásticas e do fol clore bra sileiro. De 1934 a 1937 diri giu o Departa mento de Cul tura da Pre feitura de São Paulo, fun - dou a Dis coteca Pública, promoveu o Primei ro Con gresso de Língua Nacio nal Can ta da e dina mizou a excelente Revista do Arquivo Municipal. De 1938 a 1940 lecionou Estéti ca na Universidade do Distrito Fe de ral. Voltando a São Paulo, pas sou a tra ba - lhar no Serviço do Patri mônio His tó rico. Faleceu na sua ci da de aos cin quenta e um anos de idade. � Obra • Poesia Há uma Gota de Sangue em Ca da Poema (1917) Pauliceia Desvairada (1922) Losango Cáqui (1926) Clã do Jabuti (1927) Remate de Males (1930) Poesias (1941) Lira Paulistana (1946) O Carro da Miséria (1946) Poesias Completas (1955) • Conto Primeiro Andar (1926) Belazarte (1934) Contos Novos (1947) • Romance Amar, Verbo Intransitivo (1927) Macunaíma – Rapsódia (1928) • Ensaio A Escrava que não é Isaura (1925)O Aleijadinho e Álvares de Aze vedo (1935) A Música e a Canção Populares no Brasil (1936) O Baile das Quatro Artes (1943) Aspectos da Literatura Brasileira (1943) O Empalhador de Passarinhos (1944) O Banquete (1978) • Crônica Os Filhos da Candinha (1943) • Musicologia e Folclore Ensaio sobre a Música Brasileira (1928) Compêndio de História da Músi ca (1929) Modinhas e Lundus Imperiais (1930) Música, Doce Música (1933) Namoros com a Medicina (1939) Música do Brasil (1941) Danças Dramáticas do Brasil (3 vols., 1959) Música e Feitiçaria no Brasil (1963) • História da Arte Padre Jesuíno do Monte Carmelo (1946) e um grande número de opús - culos, folhetos etc., reunidos em vo - lumes nas Obras Completas. • Correspondência Há centenas de cartas escritas para inúmeros ami gos, artistas, intelectuais etc. Desta cam-se as para Manuel Bande ira, Drummond, Murilo Mendes, Sérgio Milliet, Paulo Duarte. 2. Considerações críticas � Poesia A poesia de Mário de Andrade segue dois ca mi nhos, muito ligados ao tipo de assunto que abordam. Quando fala de São Paulo, o poeta incorpora várias téc ni cas da poesia futurista euro peia, porque a cidade, pre - cisamente a metrópole, foi o eixo principal de toda a arte moderna. É o que Mário de Andrade realiza prin ci palmente em Pauliceia Desvairada (1922). A outra vertente é folclórica, fin - cada nas lendas bra si leiras, inspi ra da em nossa formação cul tural. Es sa poe - sia aparece sobre tu do em Clã do Jabuti (1927). Mas a partir de 1930, a poesia de Mário de Andrade vai mostrando evo - lução e maturidade. Em Remate de Males (1930), ele já abandona mui tos maneirismos e mo dis mos futu ristas para criar uma poesia que con se gue fundir o pessoal e o coletivo. � Prosa A prosa literária de Mário de An - drade apresenta tam bém duas ten dên - cias: • A prosa mítica e folclórica de Macunaíma Macunaíma é uma revolução na linguagem da nar ra tiva. Mário de An - drade une tom oral a um vocabulário re - gional inédito na prosa de ficção. Macunaíma é “o herói sem nenhum MÓDULO 38 Primeira Geração Modernista (I): Mário de Andrade (I) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 30 – 31 P O R T U G U ÊS ca ráter”, é o índio nascido no Ama zo - nas, que vem para São Paulo buscar sua “muiraquitã” (pedrinha mágica, em forma de jacaré), roubada por um gigante de dupla identidade: por um lado é índio antropófago (o gigante Piaimã), por outro é de origem italia na e mora em São Paulo (Venceslau Pietra). Macunaíma consegue vencê-lo e recuperar a pedra. De volta à sua terra natal, não encontra mais sua tribo, que fora destruída. Fica sozinho na floresta, sempre triste por ter per di do a mulher que amava, Ci, mãe do mato, rainha das Icamiabas (tribo ama zônica). Macunaíma pas sa o tem po contando suas histórias (e men tindo muito) a um papagaio, seu único com panheiro na solidão e nar rador presu mível do livro. Morto pelo abraço des truidor de Yara (espécie de sereia dos índios), sobe ao céu, transformado numa estrela da Ursa Maior. Trata-se de uma fábula múlti pla, ou rap só dia, porque reúne várias lendas brasi leiras, tendo no cen - tro a lenda de Macunaí ma, que Mário de Andrade ex traiu de um livro sobre os mitos indígenas do norte do Amazo nas. A narrativa reúne supers ti ções, fra ses fei tas, pro vérbios e modismos de lin - gua gem, tudo sistematizado e intencio nal mente en tre te ci do. • A prosa pessoal urbana A prosa urbana de Mário de An - drade recolhe vários falares paulis ta nos do dia a dia, seja a fala mais po lida, como aparece nos Contos No vos (1947), seja a orali da de dos bair ros de imigrantes italianos, como Be la zar te (1934). No primeiro, Mário descarrega muita dose de psicolo gismo, que cul - mina no célebre conto “Peru de Natal”, o mais conhecido dos contos de Mário. Apoian do-se em Freud (To tem e Tabu), desmis ti fica as rela ções familiares. Em Belazarte, com muita graça e compa de cimen to cristão, Mário fala da gente pobre e oprimida das clas ses médias de São Paulo. Em Amar, Verbo Intransitivo, Má rio de Andrade dá tratamento literá rio a processos psi canalíticos freu dia nos, como fixações, recalques e su bli ma - ções. Neste romance, narra-se a his - tória de uma jovem alemã, Fräulein, cha mada por uma família de bur gue ses paulistanos para ini ciar Carlos, filho mais velho, na vida sexual. I Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para jus tificar o que escrevi. Daí a razão des te Prefácio Interes santíssimo. (…) Escrever a arte moderna não sig nifica jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: auto móveis, cinema, asfalto. Si estas palavras frequen tam-me o livro não é porque pense com elas escrever mo - derno, mas porque, sendo meu livro moderno, elas têm nele razão de ser. (…) Chove? Sorri uma garoa cor de cinza, muito triste, como um tristemente [longo... A casa Kosmos não tem impermeáveis [em liquidação... Mas neste largo do Arouche posso abrir o meu guarda-chuva [paradoxal, este lírico plátano de rendas mar... Ali em frente... — Mário, põe a máscara! — Tens razão, minha Loucura, tens razão. O rei de Tule jogou a taça ao mar... Os homens passam encharca dos... Os reflexos dos vultos curtos mancham o petit-pavé... As rolas da Normal esvoaçam entre os dedos da garoa... (E si pusesse um verso de Crisfal No De Profundis?...) De repente um raio de Sol arisco risca o chuvisco ao meio. (Mário de Andrade, Pauliceia Desvairada) II (…) Então Macunaíma percebeu que não era assombração nada, era mas o monstro Oibê minhocão temível. Criou coragem pegou no brinco da orelha esquerda que era a máquina revólver e deu um tiro na assom bra ção. Porém Oibê não fez caso e veio vindo. O herói tornou a ter medo. Pu lou na rede agarrou a gaiola e esca fedeu pela janela, jogando baratas no caminho todo. Oibê correu atrás. Mas era só de brinca deira que ele que ria comer o herói. Macunaíma de sembestara agreste fora mas isso ia que ia aco chado pelo minhocão. En tão botou o furabolo na goela, fez cos quinha e lançou a farinha engo lida. A farinha virou num areão e en quanto o mons tro pelejava pra atra - vessar aquele mundo de areia escor regando, Macu naíma fugia. Tomou pe la direita, des ceu o morro do Es trondo que soa de sete em sete anos seguiu por uns caponetes e depois de cortar um travessão encapelado fez o Sergipe de ponta a ponta e parou ofegante num agar - rado muito pe dregoso. Na frente havia uma lapa grande furada por uma furna com um altarzinho dentro. Na bo ca da so ca va um frade. Macunaíma per gun tou pro frade: — Como se chama o nome de você? O frade pôs no herói uns olhos frios e secundou com pachorra: — Eu sou Mendonça Mar pintor. Desgostoso da injustiça dos homens faz três séculos que afastei-me deles me tendo cara no sertão. Descobri esta gruta ergui com minhas mãos este altar do Bom Jesus da Lapa e vivo aqui per doando gente muda do em frei Fran - cisco da Soledade. — Está bom, Macunaíma falou. E partiu na chis pa da. (…) (Mário de Andrade, Macunaíma, cap. XV) TEXTOS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 31 32 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 1. DESCOBRIMENTO Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De supetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! [Muito longe de mim, Na escuridão ativa da noite que caiu, Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu... (ANDRADE, M. Poesias Completas. São Paulo: Edusp, 1987.) 1. O poema “Descobrimento”, de Mário de Andrade, marca a postura nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando o fato histó ri- co do “descobrimento”, a construção poética problematiza a repre sen - tação nacional a fim de a) resgatar o passado indígena brasileiro. b) criticar a colonização portuguesa no Brasil. c) defender a diversidade social e cultural brasileira. d) promover a integração das diferentes regiões do país. e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016 – 2.a aplic.] Os escritores da Primeira Geração Moder - nista revalorizaram os diversos elementos da formação da brasilidade. Essa tendência nacionalista está presente no poema “Descobrimento”, pois o eu lírico percebe e defende a multipli - cidade sociocultural do nosso País. Resposta: C Texto para o teste 2. O TROVADOR Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras... As primaveras de sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal... Intermitentemente... Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo... Cantabona! Cantabona! Dlorom... Sou um tupi tangendo um alaúde! (ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias Completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.) 2. Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em “O Trovador”, esse aspecto é a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal”, que, evocando o carnaval, remete à brasilidade. b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas. c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “sen ti - men tos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde — “dlorom” — (v. 9). d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade. e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. RESOLUÇÃO: [ENEM-2012] A questão da identidade nacional aparece na síntese de elementos opostos: tupi e alaúde. O primeiro remete ao elemento nativo do Brasil; o segundo, ao proveniente do estrangeiro. A proposta de assimilação crítica da cultura europeia aparece também no Manifesto Antropófago (1928), de Oswald de Andrade. Resposta: D C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 32 Texto para o teste 3. O nosso primeiro Natal em família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato de felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, por causa principalmente da natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro sangue dos desmancha-prazeres. Morreu meu pai, sentimos muito, etc.... (Mário de Andrade, “O Peru de Natal”, in Contos Novos) 3. No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por a) distanciamento de estados de espírito, acentuado pelo papel das gerações. b) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna. c) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise. d) consumo de bens materiais por parte de jovens adultos e idosos. e) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido. RESOLUÇÃO: [ENEM-2015 – 2.a aplic.] A visão que o narrador expressa sobre o falecido pai revela distância “de estados de espírito” entre ambos, já que o filho julga ter sido excessiva a austeridade do pai, avesso aos pequenos prazeres da mesa e da vida. Resposta: A – 33 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 33 34 – P O R T U G U ÊS 1. Macunaíma Em 1928, Mário de Andrade pu bli - cou sua obra-prima, a rapsódia Ma cu - naíma. Escrita em poucos dias em dezembro de 1926, a obra foi re vi sada três vezes antes de ser edi tada. Para escrevê-la, o autor passou vários anos pesquisando a mitologia indíge na, o fol - clore nacional, os cos tu mes e a lin - guagem dos bra sileiros. Numa ten ta ti va de mapear o Brasil, regis tran do sua história, seus costu mes, seus falares, os ritmos das can ções e das danças populares, o livro, num clima surrea lista e mí tico, acu mula um exagero de len - das, supers tições, frases feitas, pro vér - bios e modismos de linguagem. Rapsódia, na antiga Grécia, iden ti - fi cava cada trecho cantado de um poema épico. Em música, segundo o dicionário Aurélio, é uma “fantasia ins - tru mental que utiliza melodias tira das dos cantos tradicionais ou popu lares”. São também rapsódias os ve lhos ro - mances versificados e mu sica dos, as canções de gesta de Ro lando, a En can - tada Branca-Flor e, nos dias atuais, as gestas dos can ga ceiros, en toadas nas feiras do Nor deste pelos canta do res. O livro segue o mesmo processo de composição ou construção da rap - sódia, justa pon do vários trechos que ganham unida de no conjunto da obra. Assim, tomando como fio con dutor a perso na gem Macunaíma, o autor faz uma colagem de diversos fragmen tos, mis tu rando as lendas dos índios com a vi da urbana das cidades do Su des te, as anedotas da história bra si lei ra com os costumes do Nor deste etc. � Tempo e espaço Criando uma narrativa fantástica e picaresca, há subver são do tempo e do espaço geográfico, que não obe de cem às regras de verossimi lhan ça, de tal forma que o “herói sem ne nhum caráter” pode, num mesmo ca pítulo, estar em São Paulo, en contrar o mi nho - cão Oibê, assom bra ção, e fugir de le cor rendo por Ser gipe, Campinas, Bahia, deparando-se em todo esse percurso com per so na gens reais e len dárias. Assim, as sucessivas traquina gens de Macunaíma são vividas num espa ço mágico, próprio da atmos fera fan tástica e maravilhosa em que se desen volve a narrativa. � Linguagem A linguagem também é cons truí da pelo processo de colagem, pe la com bi - nação de vocábulos e tor neios sin tá ticos colhidos dos mais va ria dos fala res do Brasil. Com isso, o autor criou um estilo muito pessoal e expressivo, capaz de transmitir li ris mo, humor, deboche, comicidade, re velando ma turidade lite - rária e do mínio estilís tico. � Foco narrativo O foco narrativo predominante é o de terceira pessoa, mas Mário de Andrade inova ao utilizar uma téc nica cinematográfica de cortes bruscos no discurso do narrador para dar lu gar à fala das personagens. 2. Estilos de narração A narrativa de Macunaíma apoia-se na ideia de que tudo vira tudo e na capaci da de de compor e recom por configu ra ções a partir de con teú dos dís - pares, esva ziados de suas pri mitivas funções. Daí a técnica calei dos có pica, por meio da qual as ideias e imagens se pro jetam arbi tra ria mente, inclusive nos modos de con tar, nos estilos nar rativos. Alfredo Bosi destaca três estilos de narrar: � Um estilo de lenda, épico-lí rico, solene No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silên cio foi tão grande escutando o mur mu rejo do Uraricoera, que a índia tapa nhu mas pariu uma criança feia. Essa crian ça é que chamaram de Ma cunaíma. (Mário de Andrade, Macunaíma, cap. I) � Um estilo de crônica, cômi co, despachado, solto Já na meninice fez coisas de sa rapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar, exclamava: — Ai! que preguiça!... e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiandoo trabalho dos ou tros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O di ver timento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dan - dava pra ga nhar vintém. E também espertava quan do a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. (...) Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se es que cendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, es - pantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando pala vras feias, imora lidades estram - bóli cas e dava patadas no ar. (...) (Mário de Andrade, Macunaíma, cap. I) � Um estilo de paródia Retoma, satiricamente, a lin gua - gem empolada e pedante dos par na - sianos e dos cul tores de Rui Bar bosa e Coelho Neto. É o que se vê na “Carta pras Icamiabas”, que o herói es creve no capítulo IX, foca li zando a dupli ci dade no uso de nossa língua: (...) Mas cair-nos-iam as faces, si ocul - táramos no silêncio uma curio sidade original deste povo. Ora sabe reis que a sua riqueza de expressão intelec tual é tão prodi gio sa, que falam numa língua e escre vem nou tra. (...) Nas MÓDULO 39 Primeira Geração Modernista (II): Mário de Andrade (II) e Oswald de Andrade (I) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 34 – 35 P O R T U G U ÊS conversas, utilizam-se os pau listanos dum linguajar bárbaro e multi fá rio, crasso de feição e impuro na ver naculidade, mas que não deixa de ter o seu sabor e força nas após trofes, e tam bém nas vozes do brin car. Destas e daquelas nos in teira mos, solícito; e nos será grata em presa vô-las ensi narmos aí chegado. Mas si de tal despre zível língua se utili zam na conversação os naturais desta terra, logo que tomam da pena, se des pojam de tanta asperi - dade, e sur ge o Homem Latino de Lineu, expri - mindo-se numa outra lin gua gem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua de Camões! (Mário de Andrade, Macunaíma, cap. IX) 3. Oswald de Andrade (São Paulo, 1890-1954) � Vida Viajei, fiquei pobre, fiquei rico, ca sei, enviuvei, casei, divorciei, via jei, casei... já disse que sou conjugal, gre mial e ordeiro. O que não me im pe diu de ter brigado diversas vezes à por tuguesa e tomado parte em al gu mas batalhas campais. Nem ter si do preso 13 vezes. Tive também gran des fugas por motivos políticos. Te nho três filhos e três netos e sou ca sado, em últimas núpcias, com Maria Anto - nieta d’Alkimin. Sou livre -do cente de lite ratura na Faculdade de Filo sofia da Universi dade de São Paulo. (Oswald de Andrade, de um artigo publicado pelo Diá rio de Notícias, em 1950.) O mal foi ter eu medido o meu avan ço sobre o cabresto metrificado e na cio nalista de duas remotas ali má rias — Bilac e Coelho Neto. O erro foi ter cor rido na mesma pista ine xis ten - te. (...) A situação “revolucio ná ria” desta bosta mental sul-americana apresen ta va-se assim: o contrário do bur guês não era o proletário — era o bo ê mio! As massas, ignora das no ter ri tó rio e, como hoje, sob a completa de vas sidão eco - nômica dos políticos e dos ricos. Os inte - lectuais brin can do de roda. (Oswald de Andrade, prefácio de Serafim Ponte Grande) O mais radical dos mo der nistas de 22 teve sua vida marcada por uma cria - tiva von tade de transgredir, por um fe - cun do anar quis mo, fazendo de Os wald uma per sonagem em per pé tua revolta, guiado por uma infi nita cu rio sidade: “En cai xo tudo, so mo, in cor poro”. Das memórias da infância, uma das mais marcantes foi a des coberta do circo, que plasmou a vi são cir cen se do mundo, a car nava lização da vi da, tão marcantes na ironia, no hu mor e nas paródias de Oswald, que se di zi a “um palhaço da burguesia”. Aos 22 anos parte para a Europa, in corporando em sua bagagem, no re - gresso, os “ismos” da vanguarda do velho mundo: as lembranças de Landa Kosbach, dançarina, “flor de car ne musculosa e doirada”, e Ka mi á, ex- rainha dos estudantes de Mont martre, que lhe dá o primeiro fi lho, Nonê (síntese de “nosso nenê”). Conhece também lsadora Dun can, de quem foi muito amigo e com quem escandalizou a sociedade da época. Dessas relações, a mais intensa se - rá com Deise, apelidada “Miss Ci clo - ne”, moça de uma garçonnière da Rua Líbero Badaró, com quem Oswald passa a viver em 1917. Deise morre tragicamente de um abor to malsu ce - dido, e Oswald ca sa-se com ela in extremis, no leito do hospital em que estava interna da. As marcas dessa relação vão rea - parecer no primeiro romance, Os Con - denados. Em seu livro de me mó ri as, Oswald fala dessa fase: “Sinto-me só, perdido numa i men sa noite de orfandade. A amada que me deu a vida par ti u sem me dizer adeus. A francesa que trouxe de Paris veio buscar o dinheiro para outro ho mem. Landa, que foi o primeiro sonho vi vo que me ofuscou, tornou-se a es tá tua de sal da lenda bíblica. Olhou pa ra o passado. lsadora Duncan estrondou como ra io e passou. A que encontrei, en fim, para ser toda minha, meu ciúme ma tou... Estou só e a vida vai custar a re flo rir. Estou só.” Mais tarde, já no auge do mo vi - men to modernista (1926), casa-se com Tarsila do Amaral, formando o ele gan - tíssimo casal Tarsiwald, fun da dor do Movimento Antropófago. Entra em con tato com alguns artistas eu ro peus, co mo Blaise Cendrars e Leger. Neste pe ríodo pro move concorridas reuniões etíli co -gastronômico-cul tu rais. Em Pa ris, Oswald lança seu pri meiro livro de poe - sias, Pau-Brasil, ilustrado por Tar si la. Com a crise internacional em 1929, Oswald vai à falência, depen du rando-se nos reis da vela, ape li do dos agiotas da zona bancária do cen tro velho de São Paulo. Perde tu do, transforma-se num “vira-latas do Mo dernismo”, mas adquire uma vi go ro sa experiência das misérias do mun do das finanças, matéria-prima que vai transpor em O Rei da Vela. No início dos anos de 1930, passa a vi ver com Patrícia Galvão (Pagu), ati vís - sima mulher que foi res ga tada para a memória nacional por Augusto de Campos, em trabalho pu blicado no ano de 1982. Com Pagu, Oswald realiza uma gui - nada ideológica para a esquer da, filian - do-se ao Partido Comunista e fun dando o jornal O Homem do Povo, pas quim humo rís tico-pan fle tá rio, que foi em pas - telado por es tudan tes da Fa cul dade de Direito do Largo São Fran cis co. Serafim Ponte Gran de é o ro mance que pro jeta essa fase de ra di ca li dade cria tiva e ideo - ló gica. Fiel à sua proposta de “mo noga mia su ces siva”, Oswald casa-se, em 1936, com a poe tisa Julieta Bár bara e, em 1942, com Maria Anto nieta d’Alkimin, sua rela ção mais es tá vel, do cu men ta da nos poe mas de Cân tico dos Cânti cos, para Flauta e Violão e no livro de memórias. Nas décadas de 1940 e 1950, Oswald de di ca-se à vida acadê mica, in - cli nan do-se para a pro ble má tica es pi ri - tu al e para os temas es senciais da vi da. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 35 36 – P O R T U G U ÊS Textos para os testes 1 e 2. Texto 1 O CANTO DO GUERREIRO Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. — Ouvi-me, Guerreiros, — Ouvi meu cantar. Valente na guerra Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? — Guerreiros, ouvi-me; — Quem há, como eu sou? (Gonçalves Dias) Texto 2 Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolo-mângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadeuros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto… Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhumconhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? (Mário de Andrade, Macunaíma) 1. A leitura comparativa dos dois textos indica que a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico. b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil. c) as perguntas “Quem há, como eu sou? (texto 1) e “Quem podia saber do Herói?” (texto 2) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira. d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto. RESOLUÇÃO: [ENEM-2007] Erros: a) o texto 1 não é realista nem o 2 apresenta o indígena como heroico, apesar de o chamar “Herói”, ou o toma como “símbolo máximo do nacionalismo romântico”; b) não há, nos versos de Gonçalves Dias, “abordagem… discriminatória” em relação aos indígenas brasileiros; d) no texto 1, a colonização é um tema ausente, referindo-se o poema pura e simplesmente ao universo indígena; e) nem a colonização, nem o silenciamento dos indígenas são assuntos do texto 1. [Para o professor: quanto à alternativa c, dada como correta pelo examinador, cabe uma ressalva: a pergunta extraída dos versos de Gonçalves Dias implica uma visão heroica do índio, ao passo que a pergunta formulada no encerramento de Macunaíma sugere a extinção da sociedade e da cultura indígenas, assim como dos próprios índios; o problema é que não há incompatibilidade entre essas duas visões, sendo, portanto, estranho, e talvez um pouco forçado, deduzir daí que se trate de “diferentes visões da realidade indígena brasileira”.] Resposta: C 2. Considerando-se a linguagem destes dois textos, verifica-se que a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto. b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto no segundo predomina a linguagem formal. c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena. d) a função da linguagem, no primeiro texto, se centra na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais. e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, será ausente no primeiro. RESOLUÇÃO: [ENEM-2007] São tupinismos: tacape (texto 1) e Tapanhumas e Uraricoera (texto 2). Erros: a) há função conativa (centrada no receptor) nos vocativos, imperativos e frases interrogativas do texto 1; b) nem a linguagem do texto 1 é coloquial, nem a do 2 é formal; o oposto seria verdadeiro; d) tanto no texto 1 como no texto 2, está presente a função poética (centrada na organização da mensagem) e, no texto 2, a função referencial associa-se ao relato de fatos fictícios, não reais; e) a função emotiva (centrada nas emoções do emissor da mensagem) predomina no texto 1 e está ausente do texto 2. Resposta: C C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 36 3. (UNIFESP-2019 – modificado) – Os ________________ haviam “civilizado” a imagem do índio, injetando nele os padrões do cavalheirismo convencional. Os __________________, ao contrário, procuraram nele e no negro o primitivismo, que injetaram nos padrões da civilização dominante como renovação e quebra das convenções acadêmicas. (Antônio Cândido, Iniciação à Literatura Brasileira, 2010 – adaptado.) As lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, por: a) realistas – modernistas b) árcades – modernistas c) modernistas – românticos d) românticos – modernistas e) modernistas – simbolistas RESOLUÇÃO: O nacionalismo romântico brasileiro atribuiu ao índio características típicas do herói cavalheiresco, idealizando-o na imagem do bom selvagem de Rousseau. Já o Modernismo, segundo o texto de Antônio Cândido, buscou nas figuras do índio e do negro o primitivismo que rompeu com convenções acadêmicas. Inverteu, portanto, o polo, já que transformou o índio sublime e heroico do Romantismo no “mau selvagem”, no antropófago, no ser primitivo comandado pelo irracional. Resposta: D Textos para o teste 4. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. (Carta de Caminha) AS MENINAS DA GARE Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha (Oswald de Andrade) 4. (UFV-MG – modificado) – Assinale a alternativa incorreta. a) Oswald de Andrade parodia o texto de Caminha, imprimindo-lhe um sentido diferente. b) O poema de Oswald reflete a visão crítica do mundo e da arte, proposta pelo Modernismo. c) O texto de Caminha tem, predominantemente, caráter informativo. d) Caminha limitou-se à descrição do que observou nos indígenas; Oswald recriou fragmentos da carta de 1500, conferindo-lhe estatuto artístico. e) Oswald e Caminha expressam os mesmos objetivos na elaboração de seus textos. RESOLUÇÃO: Paródia é uma recriação geralmente irônica e com propósitos críticos. Um texto do século XX que parodia outro, escrito em 1500, não pode expressar “os mesmos objetivos” que o original. Resposta: E – 37 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 37 38 – P O R T U G U ÊS � Obra • Romance Os Condenados, I – Alma; II – A Es trela de Absinto; III – A Es ca da Vermelha (1941; ree di ção, num único volu me, de A Trilo gia do Exílio ou Ro man ces do Exílio, escri - tos entre 1922 e 1934) Memórias Senti men tais de João Mi ramar (1924) Serafim Ponte Gran de (1933) Marco Zero, I – A Revo lução Me - lancólica (1943) Marco Zero, lI – Chão (1945) • Poesia Pau-Brasil (1925) Primeiro Caderno do Aluno de Poe - sia Oswald de Andrade (1927) Poesias Reunidas (edição pós tu ma) • Manifestos, Teses e Ensaios Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) Manifesto Antropófago (1928) Ponta de Lança (1945) A Arcádia e a Inconfidência (1945) A Crise da Filosofia Mes siânica (1950) A Marcha das Utopias (póstuma, 1966) • Teatro O Homem e o Cavalo (1934) O Rei da Vela (1937) A Morta (1937) O Rei Floquinhos (infantil, 1953) • Memórias Um Homem sem Profissão (1954) • Crônicas Telefonemas (edição póstuma) � Considerações gerais a) Oswald chega a vivenciar uma São Paulo ainda provinciana, des per - tan do para o seu processo de in dus tria - lização. Ele está no meio de duas for - ças: a do patriarcalismo agrá rio, já pas - sada, e a do início da tec nologia ur bana. “Nossos pais vinham do pa tri ar cado rural, nós inaugurá vamos a era da indústria”, ele afirma com lu ci dez na mirada retrospectiva de sua vi da. Assim, os meios de comuni ca ção de massa — como o cinema, o rádio, a lin guagem da propaganda — são ra pi da - mente assimilados pelo poeta. “Pos tes da Light”, em Poesia Pau-Bra sil, é um exemplo de poema cujo es tilo vem contaminado pela síntese ver tiginosa causada pela nova pai sa gem urbana; suas prin cipais per so na gens são a multidão, os novos meios de transporte, o fonógrafo, o ci ne ma etc. Exemplo vivo desta fas ci na ção pelo moderno é o famoso Ca di llac ver de que Oswald possuía nessa é poca. Segundo Antonio Candido: “Oswald de Andrade foi um dos mais vivos en saís tas e panfle tários de nossa literatu ra, com uma rara ca pa - cidade de tor nar suges tiva a ideia, pe la violên cia cor rosiva das afir ma ções, o hu mo ris mo e o ful gor dos tro pos. Na obra propria men te cria dora, mostrou a im portância das ex pe riên cias se mân - ticas e o relevo que apa la vra ad quire, quando ma ni pu la da com o duplo apoio de imagem sur pre endente e da sin taxe desca ma da. Des te modo, que brou as bar rei ras en tre poesia e prosa, para atingir a uma espécie de fonte comum de lin gua gem artística. Po de-se dizer que a sua importância his tórica de reno - va dor e agitador (no mais alto sen ti do) foi decisiva para a for mação da nos sa literatura con tem porâ nea.” Alfredo Bosi iden tifi ca, na obra de Oswald, três níveis: I – O mais inferior: a prosa de Os Con denados, A Estrela de Absinto e A Es cada Vermelha, novelas meio mun da - nas, meio psicológicas, nas quais há sempre um artista atribu lado pe las exigências de sua perso nali da de. lI – O trânsito para a expe riência do romance “informal” de Memórias Sen - timentais de João Miramar, seu pon to alto, e de Serafim Ponte Gran de. Ambas as obras correm pa ra le la mente às poé ticas do Pau-Brasil e da Antro po - fagia, no sentido de sa ti ri zar o Brasil. III – A “nova revolução formal”: o te legrafismo das rupturas sintáticas, o simultaneísmo, as ordens do sub cons - ciente, os neologismos. A com po sição do romance é revolu cio ná ria: ca pítulos- instantes; capítulos-re lâm pa gos; capí - tulos-sensa ções (capí tu los -flash). Oswald, leitor dos futu ristas e afe - tado pela técnica do cinema — a co - lagem rá pida de sig nos, os pro ces sos diretos “sem compa ra ções de ap oio”, “as pala vras em liber da de” —, vai além do verso livre. Desarticulação total da frase — o que pro du zirá também um modo no vo de dispor o texto, uma nova es pa ci a lização do material lite rário. � Pau-Brasil Composto em Paris, Oswald cria nes te livro aquilo que ele chamaria de poesia de exportação. O projeto visava a um desli ga men - to dos modelos poéticos im por ta dos, pondo fim à grandiloquência e à serie - dade. Composto de poemas-pí lulas, mistura a linguagem antiga dos cro nis - tas e jesuítas da época do des co bri - mento do Brasil com o falar coloquial de seu tempo; reinventa com po si ções consa gradas do Romantismo em paró - dias irônicas. MÓDULO 40 Primeira Geração Modernista (III): Oswald de Andrade (II) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 38 – 39 P O R T U G U ÊS ESCAPULÁRIO No Pão de Açúcar De Cada Dia Dai-nos Senhor A Poesia De Cada Dia (Oswald de Andrade, “Por Ocasião da Descoberta do Brasil”) Note como Oswald de Andrade pa - rodia a lingua gem religiosa, subs ti tuin - do o termo “pão”, do Pai-Nosso, por “Pão de Açúcar” e “Poe sia”. Com isto, o poeta sub verte a ordem li túr gi ca para introduzir o elemento bra si lei ro e refletir sobre o caráter da poe sia. São traços moder nos do poe ma o seu humor, seu caráter sin té tico, assim como a ausên - cia total de pontuação. A DESCOBERTA Seguimos nosso caminho por este mar [de longo Até a oitava da Páscoa Topamos aves E houvemos vista de terra (Oswald de Andrade, “História do Brasil”) OS SELVAGENS Mostraram-lhes uma galinha Quase haviam medo dela E não queriam pôr a mão E depois a tomaram como espantados (Oswald de Andrade, “História do Brasil”) AS MENINAS DA GARE Eram três ou quatro moças bem moças [e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão [saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha (Oswald de Andrade, “História do Brasil”) Oswald recria, poeticamente, a Car ta de Caminha a D. Manuel. Veja em “As Meninas da Gare” a jus ta po si ção do histórico ao moderno: as in dí ge nas a que Pero Vaz se refere são vis tas como as meninas da gare (ga re: pa la vra francesa que significa “es ta ção”). VÍCIO NA FALA Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados (Oswald de Andrade, “História do Brasil”) PRONOMINAIS Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro (Oswald de Andrade, “Postes da Light”) Nos dois poemas se manifesta a pro posta de reduzir a distância entre a linguagem falada e a escrita, rene gan do o passadismo acadêmico e abo lindo “as alfândegas culturais”, co mo diria Oswald. NOTURNO Lá fora o luar continua E o trem divide o Brasil Como um meridiano (Oswald de Andrade, “São Martinho”) DITIRAMBO Meu amor me ensinou a ser simples Como um largo de igreja Onde não há nem um sino Nem um lápis Nem uma sensualidade (Oswald de Andrade, “rp 1”) Temos aqui dois exem plos da for - ça expressiva que Oswald retira de sua lin gua gem elíptica, alusi va, con den - sada. O “Notur no” evi den cia a téc nica cubista, preva le cendo as for mas geométri cas: o círculo da lua e as re tas do trem e do meridiano. O tí tu lo é ambíguo, remetendo-nos tan to a um tipo de com posição musical ro mân tica (os noturnos de Chopin) quan to à desig nação de um trem no tur no. ESCOLA BERLITES Todos os alunos têm a cara ávida Mas a professora sufragete Maltrata as pobres datilógrafas bonitas E detesta The spring Der Frühling La primavera scapigliata Há uma porção de livros pra ser com pra dos A gente fica meio esperando As campainhas avisam As portas se fecham É formoso o pavão? De que cor é o Senhor Seixas? Senhor Lázaro traga-me tinta Qual é a primeira letra do alfabeto? Ah! (Oswald de Andrade, “Postes da Light”) RECLAME Fala a graciosa atriz Margarida Perna Grossa Linda cor — que admirável loção Considero lindacor o complemento Da toalete feminina da mulher Pelo seu perfume agradável E como tônico do cabelo garçone Se entendam todas com Seu Fagundes Único depositário Nos E. U. do Brasil (Oswald de Andrade, “Postes da Light”) Nos dois poemas, dois as pec tos “cosmopolitas” de São Paulo: a es cola de línguas (“berlites”) e a so ci edade de consumo (“reclame”). TEXTOS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 39 40 – P O R T U G U ÊS Texto para os testes 1 e 2. BRASIL O Zé Pereira chegou de caravela E perguntou pro guarani da mata virgem — Sois cristão? — Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê Terê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu — Sim pela graça de Deus Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval (Oswald de Andrade, Pau-Brasil) 1. Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem. b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras — portu - gueses, negros e índios — pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira. c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos. d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas. e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade. RESOLUÇÃO: [ENEM-2004] Segundo o poema de Oswald de Andrade, a mistura de portugueses, índios e negros — que não se entenderam em diversas línguas (português, línguas indígenas e línguas africanas) — teria resultado numa cultura híbrida e anárquica, cujo símbolo seria o Carnaval, visto, porém, de modo positivo pelos modernistas. Resposta: A 2. A polifonia — ou, no caso, a combinação simultânea de vozes — presente no poema resulta da manifestação do a) poeta e do colonizador apenas. b) colonizador e do negro apenas. c) negro e do índio apenas.d) colonizador, do poeta e do negro apenas. e) poeta, do colonizador, do índio e do negro. RESOLUÇÃO: [ENEM-2004] Além do emissor do poema (o poeta, ou, mais precisamente, o eu lírico), que narra a historieta e estabelece sua perspectiva, os outros actantes (= figuras que atuam) do texto são o Zé Pereira (o português colonizador), o índio e o negro. Resposta: E C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 40 Texto para o teste 3. brasilidade em construção (MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set. 2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof. Gráfica, 2012.) 3. O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados his tó - rico-culturais. b) forma clássica da construção poética brasileira. c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol. d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética. e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais. RESOLUÇÃO: [ENEM-2013] As anotações em torno dos versos são encaminhamentos que possibilitam uma leitura crítica de dados histórico-culturais do Brasil, como a que explica, no verso 1: Brasil = país do futebol. Observa-se, no título e nas anotações, que a supremacia no futebol é vista como representação da brasilidade. Resposta: A – 41 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 41 42 – P O R T U G U ÊS 1. Manuel Bandeira (Recife, 1886 – Rio de Janei ro, 1968) � Vida Feitos os estudos primários na ci da - de natal, em 1896 muda-se com a famí - lia para o Rio de Janeiro, onde se matri - cula no Colégio Pedro II. Termi na do o curso secundário, vai para São Paulo estudar en genharia, mas ado e ce grave - mente e abandona o pro jeto de ser ar - qui teto (1904). Inicia-se, então, uma de - mo rada peregrina ção em bus ca de me - lhoras, o que fi nal mente o leva a Clavadel, na Suíça (1913). Com a deflagração da Pri mei ra Grande Guer ra, regressa ao Brasil e, em 1917, publica seu primeiro livro: A Cinza das Horas. Integrado no mo vi mento reno vador de 1922, con tinua a escrever e publicar poesia, en quan to colabora com a imprensa. Em 1935, é nomea do inspetor do ensino secun dário, três anos mais tarde, pro fessor de Lite - ra tura no Colégio Pedro II e, em 1943, é nomeado professor de Filo sofia, car go em que se aposentou em 1956. Per ten - ceu à Aca de mia Bra silei ra de Le tras e faleceu no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968. � Obra • Poesia A Cinza das Horas (1917) Carnaval (1919) O Ritmo Dissoluto (1924) Libertinagem (1930) Estrela da Manhã (1936) Lira dos Cinquent’Anos (1940) Belo, Belo (1948) Mafuá do Malungo (1948) Opus 10 (1952) Estrela da Tarde (1958) Estrela da Vida Inteira (1966) • Prosa Itinerário de Pasárgada (1954) Andorinha, Ando ri nha (1966) (textos inéditos, selecio na dos por Carlos Drummond de Andrade) Também escreveu crítica lite rá ria, crônicas etc. � Considerações gerais A poesia de Manuel Bandeira ca - racteriza-se pela amplitude do âm bi to, testemunho de uma varie da de cri adora que vem do Parnasia nis mo cre puscular até as experiên cias con cre tistas, do soneto às for mas mais au dazes de expressão. Dou tro lado, con servou e adaptou ao es pí rito mo der no os ritmos e formas mais re gu la res, de tal maneira que ne nhum ou tro con temporâneo revela tão acen tu a da mente a herança do mais puro li ris mo português, trans - fundido na mais autên tica pesqui sa da nossa sen sibilidade. Sob este aspecto, a sua obra lembra a de Gonçalves Dias. Em toda ela, com timbre in con fun - dível, corre a nota da ternura ar den te da paixão pela vida, que vem des de os versos da mocidade até os de hoje, como força humani zadora. Graças a isso, a confidência e a no ta ção exte rior se unem numa ex pres são poética ao mesmo tempo fami li ar e requin tada, pito resca e essen ci al, unificando o que há de melhor no lirismo inti mista e no re gistro do es pe táculo da vida. Daí uma sim pli ci da de que em muitos modernistas pa rece afetada, mas que nele é a pró pria marca da ins piração. São frequentes, em sua poesia, os seguintes temas: a morte, a re cor da ção da infância, o cotidiano sim ples, a melancolia, o erotismo. Como po eta da morte, é dos maiores de nos sa língua. O mais célebre de seus poemas de recordação da in fân cia é “Evocação do Recife”. Tal vez sua mais famosa com - posição se ja “Vou-me embora pra Pasárgada”, na qual constrói uma uto - pia como com pen sação emocional. Sua linguagem poética carac te ri za-se pela musicalidade, que sem pre se conserva próxima do colo quial. É um exemplar artesão da for ma poé tica, tanto das formas tra di cio nais da poe sia, quanto da forma moderna do verso livre e da com posição, não obe diente a padrões esta belecidos. (Antonio Candido) VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro bravo Subirei no pau de sebo Tomarei banhos de mar E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada (...) E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. (Manuel Bandeira, Libertinagem) DESENCANTO Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. TEXTOS MÓDULO 41 Primeira Geração Modernista (IV): Manuel Bandeira C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 42 – 43 P O R T U G U ÊS E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. — Eu faço versos como quem morre. (Manuel Bandeira, A Cinza das Horas) PNEUMOTÓRAX Febre, hemoptise1, dispneia2 e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três... trinta e três... trinta e três... — Respire. .......................................................................... — O senhor tem uma escavação no pulmão [esquerdo e o pulmão [direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o [pneumotórax3? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango [argentino. (Manuel Bandeira, Libertinagem) Vocabulário 1 – Hemoptise: expectoração de sangue prove - niente dos pulmões. 2 – Dispneia: dificuldade de respirar. 3 – Pneumotórax: forma de tratamento da tu - ber culose. TERESA A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que [o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos [esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a [face das águas. (Manuel Bandeira, Libertinagem) PROFUNDAMENTE Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam errantes Silenciosamente Apenas de vez em quandoO ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente * Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. (Manuel Bandeira, Libertinagem) AUTORRETRATO Provinciano que nunca soube Escolher bem uma gravata; Pernambucano a quem repugna A faca do pernambucano; Poeta ruim que na arte da prosa Envelheceu na infância da arte, E até mesmo escrevendo crônicas Ficou cronista de província; Arquiteto falhado, músico Falhado (engoliu um dia Um piano, mas o teclado Ficou de fora); sem família, Religião ou filosofia; Mal tendo a inquietação de espírito Que vem do sobrenatural, E em matéria de profissão Um tísico1 profissional. (Manuel Bandeira, Outros Poemas) Vocabulário 1 – Tísico: tuberculoso. PREPARAÇÃO PARA A MORTE A vida é um milagre. Cada flor, Com sua forma, sua cor, seu aroma, Cada flor é um milagre. Cada pássaro, Com sua plumagem, seu voo, seu canto, Cada pássaro é um milagre. O espaço, infinito, O espaço é um milagre. O tempo, infinito, O tempo é um milagre. A memória é um milagre. A consciência é um milagre. Tudo é milagre. Tudo, menos a morte. — Bendita a morte, que é o fim de todos os [milagres. (Manuel Bandeira, Estrela da Tarde) NAMORADOS O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: — Antônia, ainda não me acostumei com o seu [corpo, com a sua cara. A moça olhou de lado e esperou. — Você não sabe quando a gente é criança e [de repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: — A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: — Antônia, você parece uma lagarta listrada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: — Antônia, você é engraçada! Você parece [louca. (Manuel Bandeira, Libertinagem) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 43 44 – P O R T U G U ÊS Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder às questões de 1 a 3: POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da [Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Libertinagem & Estrela da Manhã, 1993) 1. (UNESP-2019 – adaptada) – Cite uma característica distintiva da poesia lírica que não se encontra no poema. RESOLUÇÃO: No poema, constata-se a ausência de um eu lírico que manifesta seus sentimentos, como é comum na tradição da poesia lírica. Não há a expressão de uma interioridade emotiva, mas sim um enunciador que relata uma situação do cotidiano num estilo jornalístico, em que se impõe a objetividade. 2. (UNESP-2019 – adaptada) – Cite duas características, uma de natureza temática e outra de natureza formal, que afastam esse poema da tradição parnasiano-simbolista. RESOLUÇÃO: “Poema Tirado de uma Notícia de Jornal” tematiza o cotidiano de uma personagem de extração popular. Essa característica opõe-se às estéticas da poesia parnasiana e simbolista, as quais tinham como doutrina a exclusão do cotidiano. Quanto ao aspecto formal, a linguagem simples, coloquial (“chegou no bar”), e os versos livres (sem métrica regular) e brancos (sem rima) opõem- se à linguagem elevada e ao rigor formal do Parnasianismo e do Simbolismo. 3. (UNESP-2019 – adaptada) – De que modo o fato de morar “num barracão sem número” contribui para a caracterização de João Gostoso? RESOLUÇÃO: O fato de morar num barracão sem número contribui para caracterizar socioeconomicamente João Gostoso, personagem pobre que reside numa sub-habitação. Essa precariedade material é reforçada pelo subemprego, o de carregador de feira livre. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 44 Texto para o teste 4. A ESTRADA Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho [manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E a mocidade vai acabar. (BANDEIRA, M. O Ritmo Dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.) 4. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema “Estrada”, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural. c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude. d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte. RESOLUÇÃO: [ENEM-2011] A alternativa dada como correta pela banca examinadora poderia gerar alguma objeção, já que fala em “inércia da vida rural”. Porém, note-se que a alternativa fala em “aparente inércia”, pois, de fato, o que se observa na pequena cidade interiorana é o oposto da inércia. Leia-se, por exemplo, o verso “E quanta gente vem e vai!”, que indica um aspecto dinâmico daquele espaço. Há também a sugestão de que, no espaço descrito, a vida é mais intensa, pois os seres (as almas) estão mais presentes, a natureza mais perceptível, tudo, portanto, é mais “vivo” e impressivo. Por fim, da apreensão desse cenário e da sua dinâmica, emerge a consciência do caráter efêmero da vida. Resposta: B – 45 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 45 46 – P O R T U G U ÊS 1. Conceito e âmbito O segundo tempo modernista mar ca, simultaneamente, a consoli - da ção de algumas propostas da “fa - se heroica” ou “de demolição” (1922-1930) e certo recuo quanto às pro pos tas mais radicais da “Semana” e dos seus desdobramentos. Propõe- se, pas sada a fase de ruptura, um mo der nismo moderado, com o aban dono, por exemplo, do radi ca lis - mo ex peri men talista de Oswald e a re to ma da de certas linhas do pas sa do (o Simbo lismo na corrente espiri tu a - lista, as formas clássicas, a tra di ção lírica por tuguesa e brasileira etc.). � O contexto histórico O período de 1930-1945 foi ma r - ca do, entre outros, pelos seguintes e - ven tos: – os efeitos da crise econômica ocorrida em 1929 com o crack da Bol sa de Nova York; – a radicalização política: nazismo, fascismo, in tegra lismo e co mu nismo; – as esperanças com a Re vo lu ção de 1930, logo frus tradas pelo Es ta do Novo e pela Ditadura Vargas; – o rompimento da do minação in - conteste das oligar quias regionais e a ascensão da nova burguesia in dus tri al; – a aliança do tenentismo liberal e da política getuliana com as oli gar - quias, provo can do a ra dicali za ção política de intelectuais, margi na li za - dos no pro cesso; daí as aproxi ma - ções de Rachel de Queirós, Jorge Amado, Graciliano Ramos e outros ao Parti do Comunista, no qual milita ram; – a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) fecha o período, pro je - tan do no país a tensão externa. � Plano estético No plano estético, destacam-se: – o predomínio de um “projeto ideológico” sobre um “projeto es - tético”; – a consolidação das con quis tas de 1922, mas com o recuo quantoàs propostas mais radicais da “fase heroica”; – o cessar da oposição ao Moder - nis mo; – o desejo de denúncia da rea li da - de social do Brasil. � Poesia Na poesia são identificáveis es tas constantes: – estabilização das conquistas no vas; – ampliação de temas; – caminho para o universal; – equilíbrio no uso do material linguístico, em termos de normas de lin guagem. Há, na poesia, três direções bá si cas: • a poesia de tensões ide o ló - gicas: Carlos Drummond de An drade; • a poesia de preocupação re - ligiosa e filosófica (o grupo “Fes ta”, de tendência espiri tua lista): Cecília Meireles, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Jorge de Lima e Vinicius de Moraes; • a poesia de dimensão sur - realista: Murilo Mendes. 2. Carlos Drummond de Andrade (Itabira, MG, 1902 – Rio de Janeiro, 1987) � Vida Era descendente de fazendei ros e mi neradores da cidade mineira de Itabira (jazidas de ferro). Na infância, foi expulso de um colégio de pa dres. Mais tarde, estudou Farmácia em Belo Hori zonte. Foi funcionário público no Rio de Janeiro e também autor de crônicas jorna lísticas bastante populares. � Obra • Poesia Alguma Poesia (1930) Brejo das Almas (1934) Sentimento do Mundo (1940) Poesias (1942) A Rosa do Povo (1945) Poesia até Agora (1948) Claro Enigma (1951) Viola de Bolso (1952) Fazendeiro do Ar & Poesia até Agora (1953) Viola de Bolso Novamente En cor do a da (1955) Poemas (1959) A Vida Passada a Limpo (1959) Lição de Coisas (1962) Versiprosa (1967) Boitempo (1968) Menino Antigo (1973) As Impurezas do Branco (1973) Discurso da Primavera & Algu mas Sombras (1978) A Paixão Medida (1980) Corpo (1984) Amar se Aprende Amando (1985) Tempo Vida Poesia (1986) Poesia Errante (1988) O Amor Natural (1992) Farewell (1996) • Prosa Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944) Contos de Aprendiz (1951) Passeios na Ilha (ensaios e crô - nicas, 1952) Fala, Amendoeira (1957) A Bolsa e a Vida (crônicas e poe - mas, 1962) Cadeira de Balanço (crô ni cas e poemas, 1970) O Poder Ultrajovem e mais 79 Tex tos em Prosa e Verso (1972) MÓDULO 42 Segunda Geração Modernista – Poesia (I): Carlos Drummond de Andrade (I) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 46 – 47 P O R T U G U ÊS Os Dias Lindos (1977) 70 Historinhas (1978) Boca de Luar (1984) O Observador no Escritório (1985) Moça Deitada na Grama (1987) O Avesso das Coisas (1987) � Apreciação Nos primeiros livros são cons tan - tes a ironia, a atitude mineira - mente desconfiada de refl e tir, o pessimismo, a autone ga ção, as reminiscências da in fân cia ita bi - rana. Drummond pa re ce buscar a si mesmo, posi cio nan do -se como espec tador de um mun do que não aceita e que tenta des cre ver e encontrar. No “Poema de Sete Faces”, que abre o primeiro livro, Alguma Poe sia (1930), a confissão do poeta que se sente gauche (= sem jeito, ina - daptado) e a ironia, sob a forma in - tencional de um antilirismo: Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. (...) Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Na “Confidência do Itabi ra no”, a infância e a vida, mode lan do a pro ver - bial “secura” do poe ta, o alhea men - to, o poeta que se sente de fer ro, que se diz ilha, mas que es con de sob essa apa rente indiferença u ma indis - far çá vel solidariedade, um pro fun do senso do humano e do so cial: Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é [porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o [trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, [sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. Drummond manteve es trei tos la - ços de amizade com o gru po dos mo - dernistas de 1922 (Mário, Oswald e Bandeira). Sob inspiração dos i de a is da Semana de 22, funda, em 1925, A Revista, ponta de lança do Mo dernis - mo em Minas Gerais. Em 1928, publi ca o arquifa moso “No Meio do Cami nho”, na Revista de Antro po fagia. A partir de Sentimento do Mun do (1940) e especialmente em A Rosa do Po vo (1945), a poesia de Drummond centra-se na dimensão social, no coti - di ano, na denúncia da estu pi dez, da incom preensão; na luta con tra o me - do (“que esteriliza os abraços”) e con - tra a consciência da im pos si bilidade da luta (“eu tenho a pe nas duas mãos / e o sentimento do mun do”). Em “Mãos Dadas”, o com pro mis - so com o homem, a solida rie da de: Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. (...) (...) O tempo é a minha matéria, o tempo [presente, os homens presentes, a vida presente. A poesia social de Drummond faz desabrochar o “sentimento do mun do”, marcado pela cons ciência da solidão, da impotência do homem di ante de um mundo frio e mecânico que o reduz a objeto. “Os Mortos de So bre casaca”, “Congresso In ter na - cio nal do Medo”, “A Noite Dissolve os Ho mens”, “Mundo Grande”, “O Lu ta dor”, “Mão Suja”, “A Morte do Lei tei ro”, “A Flor e a Náusea” e “José” in clu em -se nessa ver tente. Em Claro Enigma (1951) pas sa a predominar a esca va ção do real, me - diante um pro ces so de in ter ro ga ções e nega ções que acaba revelan do o va - zio à espreita do homem. O mun do define-se como “um vá cuo a tor men - ta do” (exis ten cialis mo ni ilis ta). A abo lição de toda crença e o apagar-se de toda esperança tra zem con si go o autofe cha mento do es pírito. Essa negatividade traduz-se pela ex pre s são de dor, do va zio, da angústia, da cons ciência da queda que aprisiona to do ser vivo, daí o autofechamento: É sempre nos meus pulos o limite. É sempre nos meus lábios a estampilha. É sempre no meu não aquele trauma. Sempre no meu amor a noite rompe. Sempre dentro de mim meu inimigo. E sempre no meu sempre a mesma [ausência. (“O Enterrado Vivo”) Lição de Coisas (1962) marca a op ção concreto-formalista do poeta. Es sa poe sia objetual de Drummond é u ma radi caliza ção de processos es tru - turais que já estavam presentes des - de Alguma Poesia, na opção pe lo prosai co, pelo irô nico, pelo antirre tó - rico, pelo antili ris mo intencional e que predis pu nham, pela recusa e pe la contenção, ao poema-objeto, tí pi co da Geração de 1950. A ruptura com a sintaxe, a rima final ou interna, a assonância, a alite - ra ção e o eco, a repetição com pulsó - ri a do som-coisa, aproximam, con tu - do, Drummond das opera ções técni - cas das vanguar das de 1950/60: O fácil o fóssil o míssil o físsil a arte o infarte o ocre o canopo a urna o farniente a foice o fascículo a lex o judex o maiô o avô a ave o mocotó o só o sambaqui (“Isso é Aquilo”) A poe sia metalinguística, que se pen sa e se interroga, a meta poe sia são cons tantes no poeta: Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. (...) (“Consideração do Poema”) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 47 48 – P O R T U G U ÊS Texto para os testes 1 e 2. CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem [horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo) 1. Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema “Confidência do Itabirano”. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima a) representa a fase heroica do Modernismo, devido ao tom contes - tatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade. b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos. c) evidencia uma tensão histórica entre o eu e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo. d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira. e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2009] O poema trata da relação/tensão do eu lírico com o seu meio de origem e ressalta a influência que o segundo (a sociedade, o mundo) tem sobre o primeiro (o indivíduo). Resposta: C 2. (FUVEST-SP) – No texto de Drummond, o eu lírico a) considera sua origem itabirana como causadora de deficiências que ele almeja superar. b) revela-se incapaz de efetivamente comunicar-se, dado o caráter férreo de sua gente. c) ironiza a si mesmo e satiriza a rusticidade de seu passado semirrural mineiro. d) dirige-se diretamente ao leitor, tornando assim patente o caráter confidencial do poema. e) critica, em chave modernista, o bucolismo da poesia árcade mineira. RESOLUÇÃO: O primeiro verso da terceira estrofe (“De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço [grifo nosso]”) prova que o eu lírico se dirige diretamente ao leitor, como evidencia o pronome “te”, justificando-se, assim, o título do poema, “Confidência do Itabirano”. Resposta: D C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 48 Texto para o teste 3. ANOITECER A Dolores É a hora em que o sino toca, mas aqui não há sinos; há somente buzinas, sirenes roucas, apitos aflitos, pungentes, trágicos, uivando escuro segredo; desta hora tenho medo. (...) É a hora do descanso, mas o descanso vem tarde, o corpo não pede sono, depois de tanto rodar; pede paz — morte — mergulho no poço mais ermo e quedo; desta hora tenho medo. Hora de delicadeza, gasalho1, sombra, silêncio. Haverá disso no mundo? É antes a hora dos corvos, bicando em mim, meu passado, meu futuro, meu degredo; desta hora, sim, tenho medo. (ANDRADE, C. D. A Rosa do Povo. Rio de Janeiro: Record, 2005.) 1 – Gasalho: o mesmo que agasalho. 3. Com base no contexto da Segunda Guerra Mundial, o livro A Rosa do Povo revela desdobramentos da visão poética. Nos versos transcritos, a expressivi - dade lírica revela a(o) a) defesa da esperança como forma de superação das atrocidades da guerra. b) desejo de resistência às formas de opressão e medo produzidas pela guerra. c) olhar pessimista das instituições humanas e sociais submetidas ao conflito armado. d) exortação à solidariedade para a reconstrução dos espaços urbanos bombardeados. e) espírito de contestação capaz de subverter a condição de vítima dos povos afetados. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016 – 2.a aplic.] Em “Anoitecer”, o eu lírico mostra-se sem esperança, pessimista quanto ao fim da guerra; sente-se sufocado e oprimido diante dela. Mesmo nos momentos de descanso, em que se procura a paz, ou a morte, ainda se ouve a continuidade da guerra, sugerida metonimicamente por diversos vocábulos do texto, como “sino” (igreja), “buzinas” (automóveis), “sirenes” (ambulâncias). As instituições humanas, representadas por essas metonímias, permanecem submetidas à agitação e ao caos do conflito armado. Resposta: C – 49 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 18/05/2020 13:20 Página 49 50 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 43 Segunda Geração Modernista – Poesia (II): Carlos Drummond de Andrade (II) 1. Temática drummondiana Na Antologia Poética, que pu bli - cou em 1962, Carlos Drummond de Andra de classificou tematicamente sua poe sia, distribuindo os seus poe - mas por nove comparti mentos, con - siderados “pontos de partida ou ma - téria de poesia”. A seguir, enu me ra mos e comen tamos breve mente esses nove núcleos temáticos da poesia drummondiana, colocando ao lado de cada um, entre aspas, o título da seção correspondente da Antologia. O próprio poeta adverte sobre a existência de poemas seus que po de - riam ser associados a mais de um dos temas seguintes. Pode-se acres cen - tar que há também entre seus poemas alguns — bem poucos, é ver - dade — cuja temática não correspon - de a nenhum de tais temas. Ainda assim, o quadro discernido pelo poe - ta oferece uma visão abrangente das preocu pações que frequentaram a sua obra ao longo de todo o seu de - senvolvimento. � 1. O indivíduo: “um eu todo retorcido” O indivíduo, na poesia de Drummond, é complicado, torturado, fragmentado. O “Poema de Sete Faces”, primeiro texto do primeiro livro de Drummond (Alguma Poesia, 1930), é um célebre exemplo deste tema (ver frag mentos do poema na aula anterior, no item “Aprecia ção”). As in quietações do indivíduo drummon dia no envolvem, por exem - plo, preo cu pa ção com a velhice, como em “Denta duras Duplas”: Dentaduras duplas! Inda não sou bem velho para merecer-vos... Há que contentar-me com uma ponte móvel e esparsas coroas. (Coroas sem reino, os reinos protéticos de onde proviestes quando produzirão a tripla dentadura, dentadura múltipla, a serra mecânica, sempre desejada, jamais possuída, que acabará com o tédio da boca, a boca que beija, a boca romântica?...) A morte e o sentido (ou falta de sentido) da existência, a consciência culpada, a busca de sabedoria são outros dos temas que frequentam os poemas do indivíduo na poesia de Drummond. � 2. A terra natal: “uma pro vín cia: esta” A profunda, dura, triste relação com o lugar de origem, que o indi víduo aban dona, mas que não o aban dona, carac teriza o tema da “terra natal”. Um dos mais célebres poemas sobre o assunto é “Confi dência do Itabirano” (ver frag mento do texto na aula an te rior). Mas o tema pode ser tratado também de forma bem humorada e crítica, como em “Cidadezinha Qualquer”: Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. � 3. A família: “a família que me dei” Sem qualquer sentimentalismo — bem ao contrário — o indivíduo inter roga, sem alegria, a misteriosa reali dade da família, que existe nele, em seu corpo, é parte de suas emoções e de seu ima ginário. Os antepas sados e a relação com eles consti tuem um proble ma inquietante, que põe em questão os fundamentos de nossa existência, como se constata no poema “Convívio”: Cada dia que passa incorporo mais esta [verdade, de que eles não [vivem senão em nós e por isso vivem tão pouco; tão [intervalado; tão débil. (...) Ou talvez existamos somente neles, que [são omissos, e nossa existência, apenas uma forma impura de silêncio, [que preferiram. � 4. Amigos: “cantar de amigos” O título atribuído pelo poeta à seção de sua Antologia Poética dedi - cada aos amigos joga com os “can ta - res” ou “cantigas de amigo” medie - vais. São homenagens a figu ras ad - miradas,próximas ou dis tan tes, como Machado de Assis, Charles Chaplin, Mário de Andrade ou Manuel Bandeira, em poe mas às vezes de grande penetração crítica. O poema dedicado a Machado de Assis, “A um Bruxo, com Amor”, con tém as seguintes ilumina ções: Olhas para a guerra, o murro, a facada como para uma simples quebra da [monotonia universal e tens no rosto antigo uma expressão a que não acho nome certo (das sensações do mundo a mais sutil): volúpia do aborrecimento? ou, grande lascivo, do nada? (...) Todos os cemitérios se parecem, e não pousas em nenhum deles, mas [onde a dúvida apalpa o mármore da verdade, a descobrir a fenda necessária; onde o diabo joga dama com o destino, estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro, que resolves em mim tantos enigmas. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 50 – 51 P O R T U G U ÊS � 5. O choque social: “na praça de convites” Aqui os poemas se voltam para o es pa ço social, onde o indivíduo se ex - põe ao apelo dos outros e vive os dra - mas coletivos. Os grandes poe mas de temá tica político-social de Drummond abor dam os horrores da guerra, da opres são, da injustiça, da violência. Durante os anos marcados pela Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, pela ditadura de Getúlio Vargas (épo ca em que Drummond ade riu, breve mente, ao credo socialista), o poeta pro duziu alguns de seus mais inflama dos poemas “parti cipantes”, como “Elegia 1938” (também refe - rente ao tema do indi víduo), que termina assim: Coração orgulhoso, tens pressa de [confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade [coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego [e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a [ilha de Manhattan. � 6. O conhecimento amo ro so: “amar-amaro” Amaro é “amargo”. A parono má - sia (trocadilho) que descreve este tema exprime um elemento básico da con - cep ção drummondiana do amor. Numa visão nada romântica ou sen timental, o amor é entendido como uma forma pri - vilegiada e incontor nável de explo ra ção da exis tência e, portanto, de conhe - cimento — conhe cimen to de si e do outro. Mas se trata de algo “amar go” porque impõe sofri mento, sendo uma sede insaciável, um desejo impos sível de satisfazer, uma necessidade que não encontra correspondência: Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? (...) Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na [secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a [sede infinita. (“Amar”) � 7. A própria poesia: “poesia contemplada” Trata-se das “artes poéticas” de Drummond: poemas sobre o quê e o como da poesia. Podem ser poemas de circunstância, singelos como “Poesia”: Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Esse poema trata da incapaci dade de expressão (a poesia intuída que não chega às palavras), que revela uma ideia “romântica” de poesia (co - mo algo que existe na alma do poeta, para a qual ele pode “não encontrar pala vras”). Diferentes são as grandes “artes poé ticas” de Drummond, como “Procura da Poesia”: Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os [incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável [corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de [dor no escuro são indiferentes. Nem me reveles teus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam [a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é [poesia. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser [escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Trata-se de uma “arte poéti ca” por que é um poema que contém uma con cepção do que seja a poesia e de como ela deva ser feita. A con - cep ção expressa neste texto é bastante dife rente da que antes apareceu no poe ma “Poesia”, pois aqui a ideia é de que o poema é um objeto de pala vras e, portanto, que a poesia se faz com palavras, não sendo algo que possa existir “dentro” do poeta, inde pen den - temente das palavras. � 8. Exercícios lúdicos: “uma, duas argolinhas” Aqui temos os jogos com as pala - vras — atividade aparentemen te infantil, mas poética em sua essên cia, e res pon - sável por alguns dos mais espan tosos e complexos poe mas de Drummond, como “Áporo” ou “Isso é Aquilo”. As “brincadeiras” podem ter, por exemplo, sentido crítico, de criticism of life, como no divertido e malicioso quadro da artifi - cialidade da vida moder na, em “Os Materiais da Vida”: Drls? Faço meu amor em vidrotil nossos coitos são de modernfold até que a lança de interflex vipax nos separe em clavilux camabel camabel o vale ecoa sobre o vazio de ondalit a noite asfáltica plkx � 9. Uma visão, ou tentativa de, da existência: “tenta ti va de explo ração e de inter pre tação do estar-no-mundo” Trata-se de poemas em torno de questões e conjecturas sobre a exis - tência, o “estar-aqui”, sobre o que há “no meio do caminho”: No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do [caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 51 52 – P O R T U G U ÊS Leia o poema a seguir, extraído de Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade, para responder aos testes 1 e 2: A INGAIA CIÊNCIA A madureza, essa terrível prenda que alguém nos dá, raptando-nos, com ela, todo sabor gratuito de oferenda sob a glacialidade de uma estela1, a madureza vê, posto que a venda interrompa a surpresa da janela, o círculo vazio, onde se estenda, e que o mundo converte numa cela. A madureza sabe o preço exato dos amores, dos ócios, dos quebrantos, e nada pode contra sua ciência e nem contra si mesma. O agudo olfato, o agudo olhar, a mão, livre de encantos, se destroem no sonho da existência. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro Enigma. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 18.) 1 – Estela: coluna de pedra onde os antigos faziam inscrições funerárias. 1. (PUC-SP-2019) – Em “A Ingaia Ciência”, o eu lírico revela-se a) revoltado contra a alienação imposta pelo amadurecimento, que aprisiona o ser humano em uma realidade ilusória. b) resignado em face da madureza, que afasta o ser humano dos prazeres e impõe a triste constatação do vazio da existência. c) engajado em combater os efeitos nocivos do envelhecimento, fenômeno responsável por enclausurar o ser humano em uma “cela”. d) perplexo, ao compreender que a madureza, apesar de consistir no envelhecimento do corpo, liberta o ser humano dos prazeres mundanos. RESOLUÇÃO: A análise sobre as consequências da maturidade, que aniquila no homem o “sabor gratuito de oferenda” e revela-lhe o vazio existencial, é resignada. Aceita-se a madureza como um estágio natural, cético e irreversível da condição humana. Resposta: B 2. (PUC-SP-2019) – A publicação de Claro Enigma, em 1951, marca uma série de mudanças em relação à lírica desenvolvida por Carlos Drummond de Andrade nas décadas de 1930 e 1940. Dentre essas mudanças, a análise do poema“A Ingaia Ciência” permite destacar: a) a adoção de imagens poéticas herméticas e ilógicas, característica da vanguarda surrealista, como comprovam os excertos “sabor gratuito de oferenda” e “glacialidade de uma estela”. b) a fusão, no plano formal do discurso, das poéticas clássica e modernista, por meio do emprego de versos brancos, que conjugam regularidade métrica e ausência de rimas. c) a recuperação de procedimentos formais da tradição clássica da literatura em língua portuguesa, como o emprego do soneto em versos decassílabos. d) a valorização da estética barroca, evidenciada pela presença de pares antitéticos como “mundo” e “cela”. RESOLUÇÃO: José Guilherme Merquior classificou a terceira fase da poesia de Carlos Drummond de Andrade, na qual se insere Claro Enigma (1951), como a do “modernismo classicizante”, em virtude da adoção de formas fixas, como o soneto e o verso decassílabo, o que se constata em “A Ingaia Ciência”. Resposta: C C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 52 Texto para o teste 3. MEMÓRIA Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro Enigma. Rio de Janeiro: Record, 1991.) 3. (ITA-SP – adaptado) – Sobre este poema, é correto afirmar: a) A passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças humanas; quase nada permanece. b) A memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles fatos de grande impacto emocional; tudo o mais se perde. c) A passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que emocionalmente têm importância; essas permanecem. d) A passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma forma que envelhece e destrói o mundo material; nada permanece. e) O homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o tempo apaga tudo; a memória nada pode; tudo se perde. RESOLUÇÃO: O antológico poema “Memória” fala, com sutil melancolia, da condensação do passado, por obra da memória, que faz perenes os momentos vividos ou sentidos com intensidade. Resposta: C – 53 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 53 54 – P O R T U G U ÊS 1. Murilo Mendes (Juiz de Fora, MG, 1901 – Estoril, Portugal, 1975) � Vida Estudou na sua cidade e em Ni te - rói, começou o curso de Direito, mas logo o interrompeu. Foi sempre um homem inquieto passando por ati - vidades díspares: auxiliar de gua r da - livros, prático de dentista, te le gra fis ta aprendiz e, em melhores dias, no tário e Inspetor Federal de Ensino. Não menos rica de experiência foi a sua vida espiritual e literária: tendo es - treado em revistas do Modernis mo, Ter ra Roxa e Outras Terras e Antro po - fa gia, conheceu de perto a poética pri - mitivista e surrealista que as ani ma va; em 1934, converteu-se ao cato licismo, partilhando com o pintor Ismael Nery o fervor por uma arte que trans mitisse conteúdos reli gio sos em có digos radicalmente novos. (...) A par tir de 1953 viveu quase ex clu si va men te na Europa e, desde 57, em Ro ma, onde ensinou Literatura Bra si lei ra. Em todos esses anos, M. Mendes re velou-se um dos nossos escritores mais afins à van - guarda ar tística eu ro pe ia, o que, no entanto, não o a par tou das imagens e dos sentimentos que o prendiam às suas origens bra si leiras e, estrita men - te, mineiras. (BOSI, Al fredo. História Concisa da Lite ratura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994, p. 446.) � Obra Considerado um poe ta “difícil”, pela liberdade criadora, pela multi pli ci - dade de temas sobre os quais ver sou e pela den sidade que impregna sua visão de mundo, é autor, entre ou tros, dos li - vros: História do Brasil (1932), Tem po e Eter nidade (em parceria com Jorge de Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), O Vi sionário (1941), As Me ta - mor fo ses (1944), Mun do Enigma (1945), Poesia Liber da de (1947), Jane la do Caos, Con tem pla ção de Ouro Pre to (1954), além de Transís tor, A Idade do Serrote (prosa, 1969) e de vários inédi - tos. � Evolução e características • Iniciou-se reali zan do uma po e sia in fluen cia da pelo espírito de “de mo - lição” dos mo der nis tas de 1922 (Mário e Os wald), por meio de paró dias de tex - tos con sa gra dos e de de nún cia da colo - ni za ção física e cul tu ral do Brasil. Na “Can ção do Exílio”, obser ve a pro xi mi - dade com a ati tude ir re ve ren te dos mo - vi mentos Pau-Bra sil e Antro pofá gi co : Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos1 de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas2, [cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. (...) Vocabulário 1 – Gaturamo: designação comum a várias es - pé cies de aves. 2 – Monista: que crê na doutrina monista, segun do a qual tudo pode ser re du zi do à uni da de. • Em Tempo e Eternidade, bus ca, convertido ao cato li cis mo, “res taurar a poe si a em Cris to”, inte grando, com Jor ge de Li ma, Is ma el Nery, Otá vio de Faria, Tas so da Silveira, Augus to Frederico Schmidt, a cor rente dos poetas cató licos, mar cados pela in - fluên cia dos au tores franceses (Péguy, Claudel, Bernanos, Mari ta in) e pela atuação de Jackson de Figuei redo e Al - ceu de Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), pensadores ca tó li cos que aglutinaram em tor no de si esse “renascimento” da vi são mís tica e do catolicismo mi litante. • De sua vertente surrealista, des - tacamos: O PASTOR PIANISTA Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus pianos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras Apascento1 os pianos que gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrastes, Comunica-se com os deuses. Vocabulário 1 – Apascentar: pastorear. • Depois de 1950, em livros como Tem po Espanhol (1959) e Con ver gên cia (1970), sua poesia ten de à obje tividade e ao des car na men to da escri ta, apro xi - man do-se da poesia expe ri mental da épo ca (o concre tismo). É elo quen te o seguinte de poimento de João Cabral de Melo Neto: “a poe sia de Murilo me foi sempre maes tra, pela plasticidade e no - vi dade da imagem. Sobretudo foi ela quem me ensinou a dar pre ce dên cia à imagem sobre a men sa gem, ao plástico sobre o dis cur sivo”. Um exem plo dessa ver ten te é o poema que integra o ci clo “A Lua de Ouro Preto”: Lua, luar, Não confundamos: Estou mandando A Lua luar. Luar é verbo, Quase não é Substantivo. (...) E tu és cíclica, Única, onírica, Envolverônica, Musa lunar. (...) MÓDULO 44 Segunda Geração Modernista – Poesia (III): Murilo Mendes e Cecília Meireles C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 54 – 55 P O R T U G U ÊS METADE PÁSSARO A mulher do fim do mundo Dá de comer às roseiras, Dá de beber às estátuas, Dá de sonhar aos poetas. A mulher do fim do mundo Chama a luz com um assobio, Faz a virgem virar pedra, Cura a tempestade, Desvia o curso dos sonhos, Escreve cartas ao rio, Me puxa do sono eterno Para os seus braços que cantam. A MARCHA DA HISTÓRIA Eu me encontrei no marco do horizonte Onde as nuvens falam, Onde os sonhos têm mãos e pés E o mar é seduzido pelas sereias. Eu me encontrei onde o real é fábula, Onde o sol recebe a luz da lua, Onde a música é pão de todo dia E a criança aconselha-se com as flores, Onde o homem e a mulher são um, Onde espadas e granadas Transformaram-se em charruas1, E onde se fundem verbo e ação. Vocabulário 1 – Charrua: instrumentousado no cultivo do solo. O PROFETA A Virgem deverá gerar o Filho Que é seu Pai desde toda a eternidade. A sombra de Deus se alastrará pelas eras [futuras. O homem caminhará guiado por uma [estrela de fogo. Haverá música para o pobre e açoites para [o rico. Os poetas celebrarão suas relações com o [Eterno. Muitos mecânicos sentirão nostalgia do [Egito. A serpente de asas será desterrada na lua. A última mulher será igual a Eva. E o Julgador, arrastando na sua marcha as [constelações, Reverterá todas as coisas ao seu princípio. 2. Cecília Meireles (Rio de Janeiro, 1901-1964) � Vida Passou a infância no Rio junto à avó materna, açoriana. Formando-se pro fessora primária, dedicou-se por lon gos anos ao magistério (...). No iní cio da sua carreira literária, aproxi - mou -se do grupo de Festa, dirigido por Tas so da Silveira. Anos depois, pre fe ri ria trilhar caminhos pessoais, mais mo dernos. Ensinou Literatura Bra si lei ra nas Uni ver si dades do Dis - tri to Fe deral (1936-38) e do Texas (1940). Via jou longa mente pelos paí - ses de sua predileção, México, Índia e so bre tudo Portugal, onde viu re co - nhe ci do o seu mérito antes mesmo de con sa grar-se no Brasil como uma das ma io res vozes poéticas da lín gua por tuguesa contemporânea. (Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira) � Obra • Espectros (1919), Nunca Mais e Poe ma dos Poemas (1923), Ba ladas para El-Rei (1925), livros mais marcados por res so nân cias parna sia - nas e sim bo listas. • Viagem (1939), pre miado pela Academia Bra sileira de Letras, mar ca a consagração da poeta e a sua ade - são à moderni da de, sem o radicalis - mo ex pe rimen ta lis ta dos moder nistas da gera ção de 1922, numa poesia que har mo niza, com dicção moder na, os velhos clássicos, pas sando pe los ro - mân ti cos, pelos par na sia nos e espe - cialmente pelos sim bolis tas, do que resulta a va rie dade de técnicas e te - mas e a uni ver sali da de. Va ga Mú si - ca (1942), Mar Abso luto (1945) e Re - tra to Natural (1949) são desdo bra - mentos des sa pro pos ta. • Doze Noturnos da Holanda, Ro man ceiro da Inconfidência, Metal Ro sicler, Poemas Escritos na Ín dia, Solombra, Ou Isto ou Aquilo são alguns dos títulos que publi cou entre 1952 e 1965. • Deixou ainda: prosa de fic ção — Olhinhos de Gato; prosa poé ti ca — Gi roflê, Giroflá; crô ni ca, teatro e poesia in fanto-juvenil — Ou Is to ou Aquilo. � Características • É a representante mais carac - te rís tica da vertente espi ri tu a lis ta ou intimista do Mo der nis mo. Ce cí lia parte de um certo dis tan ci a men to do real imediato e dirige os processos imagéticos pa ra a som bra, o in de fi - ni do, o senti mento da ausência e do nada. Nas pa lavras da pró pria Cecília: “a poesia é grito, mas trans - figurado”. A trans fi gu ra ção faz-se no plano da ex pres são. • É herdeira do Simbo lis mo, re to mando aspectos temáticos e for mais dos simbolistas (é sen sí vel a aproximação a Alphonsus de Guimaraens). É uma poesia de “de - sencanto e renúncia, nos tal gia do Além e mística an sie da de”. A fuga, a fluidez, a me lan co lia, a se re ni dade, os tons fu ma ren tos de ne bulosidade im pre g nam toda a sua obra, marcada pelo sentido da transi to - rie da de, oscilando en tre o efê me ro e o eterno, se gundo afirma a própria escritora: “Nasci aqui mes - mo no Rio de Janeiro, três me ses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes o cor ridas na família acar retaram mui tos contra - tem pos ma teriais, mas, ao mesmo tempo, me de ram, desde pequena, uma tal in ti midade com a Morte que do ce men te aprendi essas relações en tre o Efêmero e o Eterno. (...) A no ção ou sentimento da transito ri - edade de tudo é o fun damento mes - mo da minha perso nalida de.” (MEIRELES, Cecília. Literatura Comentada. São Paulo: Abril Educação, 1982, p. 6.) • Há três constantes funda men - tais: o oceano, o espaço e a so li - dão. Trabalhando elementos mó veis e etéreos, povoados de fan ta sias — forma, som e cor —, a poe ta projeta a desintegração de si mes ma ou busca seu próprio re co nhecimento. TEXTOS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 55 56 – P O R T U G U ÊS • A rigor, não pertenceu a ne - nhu ma corrente literária, mas sua poesia de cunho uni ver sa lista e es pi - ritualista identifica-se com a ver tente dos “poetas ca tólicos” (Vinicius de Moraes, Jor ge de Lima, Augusto Fre - de rico Schmidt e o Grupo Fes ta, do Rio de Janeiro), opon do-se ao na - cionalismo ver de-ama re lista ou an - tropofágico da Ge ra ção de 1922. • Expressa uma visão própria do mun do, por meio de um intenso cro - matismo, de associa ções sen so riais (o visual-auditivo = si nes te sia), da musicalidade, do mis ti cis mo líri co, do culto da beleza i material e da preferência pela abs tração. • Vale-se, de preferência, do verso cur to, de ritmo leve e ligeiro, que a companha a fluência das im - pres sões vagas, esbatidas. A mu si - calidade de sua poe sia apoia-se em rit mos naturais (re dondilhas), mar ca - dos por es tri bi lhos, que acen tu am o caráter can tante. Essa a liança entre a poesia e a música já se expressa no título de várias com po sições, como “Música”, “Sere nata”, “A Última Cantiga”, “Can ção”, “Can tiguinha”, “Som”, “Guitar ra”, “No tur no”, “Pau - sa”, “Valsa”, “Rea le jo”, “Can tar”, “Cantiga”, “Mar cha”, “Assovio” (“Não Tenho In ve ja às Cigarras: Tam - bém Vou Mor rer de Cantar”). MOTIVO Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias1, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa rit ma da. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. (Viagem) Vocabulário 1 – Fugidio: que foge. RETRATO Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face? (Viagem) 1.o MOTIVO DA ROSA Vejo-te em seda e nácar1, e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera, toda a Beleza em lágrimas por ser bela e ser frágil. Meus olhos te ofereço: espelho para a face que terás, no meu verso, quando, depois que passes, jamais ninguém te esqueça. Então, da seda e nácar, toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero o rosto meu, nas lágrimas do teu orvalho... E frágil. (Mar Absoluto) Vocabulário 1 – Nácar: tom rosado ou carmim (vermelho). O ÚLTIMO ANDAR No último andar é mais bonito: do último andar se vê o mar. É lá que eu quero morar. O último andar é muito longe: custa-se muito a chegar. Mas é lá que eu quero morar: (...) De lá se avista o mundo inteiro: tudo parece perto, no ar. É lá que eu quero morar: no último andar. (Ou Isto ou Aquilo) � Romanceiro da Inconfidência No Romanceiro da Inconfidên cia, publicado em 1953, Cecília Mei reles cria uma poesia social a partir de um fato histórico, pes qui sado mi nu cio sa - mente. A Incon fidên cia Minei ra é evo cada com suas lendas e tra di ções, com seus enfor cados, sui ci das e des - terrados, na atmosfera mis te rio sa dos cenários mineiros do sé cu lo XVIII. Para esta obra, Cecília empre gou diver sos tipos de versos, te tras sí la - bos, redondilhos menores e maio res, hexassílabos, octossíla bos, de cassí la - bos, tudo em varia do ar ranjo estró - fico, que resulta em uma nar rativa ágil e matizada. Essa di ver sidade per mite, ao mesmo tem po, que a au to ra con - fira sua pró pria subje ti vi dade, seu pró - prio liris mo, aos fatos que narra, realizan do uma ho me na gem, muitas vezes inter textual, à poe sia e aos poe tas inconfidentesde Minas. O poema divide-se em “roman - ces”, aqui entendidos co mo os poe - mas épico-líricos da tra dição me die - val, e desenvolve-se em cinco par tes: I) a descrição do ambiente em que se vai dar a ação (do romance I ao XIX); II) o desenvolvimento da trama e a des coberta dos planos (do ro - man ce XX ao XLVII); III) a morte de Cláudio Manuel da Cos ta e de Tiradentes (do ro man - ce XLVIII ao LXIV); IV) o destino de Tomás Antônio Gon - za ga e Alvarenga Peixoto (do ro - man ce LXV ao LXXX); TEXTOS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 56 – 57 P O R T U G U ÊS V) a presença, no Brasil, da rainha D. Maria, responsável pela con fir ma - ção das penas dos inconfi dentes (do romance LXXXI ao LXXXV). Na abertura, no final e entre as par tes, há poemas intercalados, que a autora chama de “falas”. Também en tre cada parte e, por vezes, no in te - rior delas, há outros poemas, de sig - nados como “cenários”: FALA INICIAL Não posso mover meus passos por esse atroz1 labirinto de esquecimento e cegueira em que amores e ódios vão: — pois sinto bater os sinos, percebo o roçar das rezas, vejo o arrepio da morte, à voz da condenação; — avisto a negra masmorra2 e a sombra do carcereiro que transita sobre angústias, com chaves no coração; — descubro as altas madeiras do excessivo cadafalso3 e, por muros e janelas, o pasmo da multidão. Batem patas de cavalo. Suam soldados imóveis. Na frente dos oratórios, que vale mais a oração? Vale a voz do Brigadeiro sobre o povo e sobre a tropa, louvando a augusta Rainha, — já louca e fora do trono — na sua proclamação. Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho houve em tua formação? Quem ordena, julga e pune? Quem é culpado e inocente? Na mesma cova do tempo Cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças e o sangue dos enforcados... — liras, espadas e cruzes pura cinza agora são. Na mesma cova, as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados, mentira e verdade estão. Aqui, além, pelo mundo, ossos, nomes, letras, poeira... Onde, os rostos? onde, as almas? Nem os herdeiros recordam rastro nenhum pelo chão. (...) Vocabulário 1 – Atroz: cruel. 2 – Masmorra: cela de cadeia. 3 – Cadafalso: forca. • Da Primeira Parte ROMANCE I OU DA REVELAÇÃO DO OURO Nos sertões americanos, anda um povo desgrenhado1: gritam pássaros em fuga sobre fugitivos riachos; desenrolam-se os novelos das cobras, sarapintados; espreitam, de olhos luzentes, os satíricos macacos. Súbito, brilha um chão de ouro: corre-se — é luz sobre um charco. A zoeira dos insetos cresce, nos vales fechados, com o perfume das resinas e desse mel delicado que se acumula nas flores em grãos de veludo e orvalho. (Por onde é que andas, ribeiro, descoberto por acaso?) Grossos pés firmam-se em pedras: sob os chapéus desabados, O olhar galopa no abismo, vai revolvendo o planalto; descobre os índios desnudos, que se escondem, timoratos; calcula ventos e chuvas; mede os montes, de alto a baixo; (...) (...) E, atrás deles, filhos, netos, seguindo os antepassados, vêm deixar a sua vida, caindo nos mesmos laços, perdidos na mesma sede, teimosos, desesperados, por minas de prata e de ouro curtindo destino ingrato, emaranhando seus nomes para a glória e o desbarato2, quando, dos perigos de hoje, outros nascerem, mais altos. Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos. (Ai, Ouro Preto, Ouro Preto, e assim foste revelado!) Vocabulário 1 – Desgrenhado: desordenado, confuso. 2 – Desbarato: ruína. • Da Segunda Parte ROMANCE XXIV OU DA BANDEIRA DA INCONFIDÊNCIA Através de grossas portas, sentem-se luzes acesas, — e há indagações minuciosas dentro das casas fronteiras: olhos colados aos vidros, mulheres e homens à espreita, caras disformes de insônia, vigiando as ações alheias. (...) Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, entre sigilo e espionagem, acontece a Inconfidência. (...) ROMANCE LXXXI OU DOS ILUSTRES ASSASSINOS Ó grandes oportunistas, sobre o papel debruçados, que calculais mundo e vida em contos, doblas, cruzados, que traçais vastas rubricas e sinais entrelaçados, com altas penas esguias embebidas em pecados! Ó personagens solenes que arrastais os apelidos como pavões auriverdes seus rutilantes vestidos, — todo esse poder que tendes confunde os vossos sentidos: a glória, que amais, é desses que por vós são perseguidos. Levantai-vos dessas mesas, saí das vossas molduras, vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! Considerai no mistério dos humanos desatinos e no polo sempre incerto dos homens e dos destinos! Por sentenças, por decretos pareceríeis divinos: e hoje sois, no tempo eterno, como ilustres assassinos. Ó soberbos titulares tão desdenhosos e altivos! Por fictícia austeridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: — vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe abrem grandes olhos pensativos. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 57 58 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 1. QUINZE DE NOVEMBRO Deodoro todo nos trinques Bate na porta de Dão Pedro Segundo. — Seu imperadô, dê o fora que nós queremos tomar conta desta bugiganga. Mande vir os músicos. O imperador bocejando responde: — Pois não meus filhos não se vexem me deixem calçar as chinelas podem entrar à vontade: só peço que não me bulam nas obras completas de Victor Hugo. (MENDES, M. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.) 1. A poesia de Murilo Mendes dialoga com o ideário poético dos primeiros modernistas. No poema, essa atitude manifesta-se na a) releitura irônica de um fato histórico. b) visão ufanista de um episódio nacional. c) denúncia implícita de atitudes autoritárias. d) isenção ideológica do discurso do eu lírico. e) representação saudosista do regime monárquico. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016 – 3.a aplic.] A releitura irônica de um fato histórico do Brasil (a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889) é evidente nos versos, seja pelo registro linguístico adotado pelo eu lírico, seja pelo aspecto caricatural das personalidades de Marechal Deodoro da Fonseca e do Imperador Dom Pedro II, sendo o primeiro excessivamente insolente e rude, e o segundo, excessivamente passivo e cortês. Resposta: A 2. (UNESP-2019 – adaptado) – A influência (...) [do Surrealismo] se encontra nos seguintes versos do poeta modernista Murilo Mendes: a) No fim de um ano seu Naum progrediu, já sabe que tem Rui Barbosa, Mangue, Lampião. Joga no bicho todo dia, está ajuntando pro carnaval, depois do almoço anda às turras com a mulher. As filhas dele instalaram-se na vida nacional. Sabem dançar o maxixe conversam com os sargentos em bom brasileiro. (“Família Russa no Brasil”) b) Eu sou triste como um prático de farmácia, sou quase tão triste como um homem que usa costeletas. Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher mas só ouço o tectec das máquinas de escrever. Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda. Quantas meninas pela vida afora! E eu alinhando no papel as fortunas dos outros. (“Modinha do Empregado de Banco”) c) Ele acredita que o chão é duro Que todos os homens estão presos Que há limites para a poesia Que não há sorrisos nas crianças Nem amor nas mulheres Que só de pão vive o homem Que não há um outro mundo. (“O Utopista”) d) A costureira, moça, alta, bonita, ancas largas, os seios estourando debaixo do vestido, (os olhos profundos faziam a sombra na cara), morreu. Desde então o viúvo passa os dias no quarto olhando pro [manequim. (“Afinidades”) e) O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo que invade a sombra das casas no espaço elástico. Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas que retomam seu lugar na série do planeta. Os homens largam a ação na paisagem elementar e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito.(“O Mundo Inimigo”) RESOLUÇÃO: O Surrealismo é perceptível no fato de o eu lírico imergir no ilógico, no onírico, nas associações inusuais, como se nota, por exemplo, em “Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas / que retomam seu lugar na série do planeta”. Resposta: E C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 58 Texto para o teste 3. CÂNTICO VI Tu tens um medo de Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. (MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Record, 1963.) 3. A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o homem em seu aspecto existencial. Em “Cântico VI”, o eu lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente à condição humana, a) a sublimação espiritual graças ao poder de se emocionar. b) o desalento irremediável em face do cotidiano repetitivo. c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes humanas. d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado adolescente. e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade das coisas. RESOLUÇÃO: [ENEM-2015] O verso final sugere que a “sublimação espiritual” ocorre como término de uma trajetória de vida em que os sentimentos passam por ciclos de morte e renovação. Resposta: A – 59 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 59 60 – P O R T U G U ÊS 1. Jorge de Lima (União, AL, 1895 – Rio de Janeiro, 1953) � Vida Estudou Humanidades em Ma ceió e Medicina em Salvador e no Rio de Janeiro. Interessou-se pelas artes plás - ticas, foi professor de Literatura na Universidade do Brasil e in gres sou na política como deputado estadual. Em 1925, entrou em con ta to com o Mo - dernismo, divulgando-o no Nordeste, com os livros Poemas (1927) e Novos Poemas (1929). Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de médico. Seu consultório tornou-se um ponto de encontro de artistas e inte lec tuais. Em 1935, converteu-se ao cato licismo. Além de poeta, foi pintor, fotó grafo, ensaísta, biógrafo, historiador e prosador. � Obra e características • Estreia em 1914 com XIV Ale - xan drinos, livro ainda preso aos mol des parnasianos e sim bolis tas, lavra do em ver sos longos e constituído de so - netos, entre os quais o co nhe cido “O Acendedor de Lam piões”. O livro seguinte, O Mun do do Menino Impos - sível, retoma essa linha. • Em Poemas Negros, nota-se a in fluência dos grupos regio na lis tas nor des ti nos (Gil ber to Freyre, José Lins do Rego, Rachel de Queirós). Rea - liza uma poesia apoia da nas re cor - dações da infância, de “me ni no de en genho”, e nas sugestões do folclo - re a fri cano. Nos Poemas Ne gros des - cortinam-se as múlti plas di reções que o poeta irá tri lhar: a poesia social, o ca - to li cis mo militante, a poe sia o ní ri ca, surreal, tudo trans fundido na própria afe ti vidade e va za do numa lingua gem múltipla e po derosa. • A partir de Tempo e Eter ni da de (1935), que escreveu com Murilo Mendes, e em A Túnica In consútil (1938) e Anun ci a ção e Encontro de Mira-Celi, in corpora à sua temática a poe sia mística e católica, a lém de novos pro - ces sos cons tru tivos. Apoiado nos arquétipos bí bli cos, na simbologia das es cri tu ras, associa esses e le men tos bar rocos à visão sur re alista e alu ci nató ria, o que resulta em uma poe sia de gran de complexidade de for ma e conteúdo. As suges tões bíbli cas e as idealizações sur realistas ali mentam uma po e sia densa e figu ra tiva, na qual é constante a sim bo lo gi a marinha (peixes, algas, flo res aquá ticas, me du sas), as so ciada a suges tões de as sas sinatos, afoga - mentos, ex ter mínios, numa vi são apo - ca líp tica de condenação do mun do e bani mento total. • Em Livro de Sonetos (1949) e In - venção de Orfeu (1952), a no ção es - tetizante da poesia (vista como ofício de tratar com palavras) opera uma bar ro - quização da verten te sur realista, que se ma ni fes ta pelo em prego das formas fi xas (so neto, oitava-rima, sex ti nas), modu lan do a atmos fe ra aluci natória e surreal. � Invenção de Orfeu (1952) Invenção de Orfeu realiza uma es - tranha e bizarra paródia de Os Lu sí adas, jogando com alguns motivos re cor - rentes: a viagem, o desco bri men to da ilha, a profundeza da vida e do ins tinto, os círculos do inferno e do paraí so, Orfeu, a Musa amada (Beatriz, Inês) de Dante Alighieri e Ca mões. Propõe uma espécie de teo dis seia (= odisseia para Deus), cen trada na busca, pelo homem, de uma ple ni tu de sensível e espiritual. Res salta a com ple - xidade do estilo, vaza do num imen so leque de metros, ritmos e es tro fa ções e em formas de difícil ela bo ra ção: oita - vas clássicas, terce tos, sex tinas etc. Observe, no fragmento, a alusão pa rodística a Os Lusíadas (Inês de Castro), os decassílabos, a oitava- ri ma: CANTO SEGUNDO SUBSOLO E SUPERSOLO XIX Estavas linda Inês posta em repouso mas aparentemente bela Inês; pois de teus olhos lindos já não ouso fitar o torvelinho que não vês, o suceder dos rostos cobiçoso passando sem descanso sob a tez; que eram tudo memórias fugidias, máscaras sotopostas que não vias. � Poesia nordestina De Poemas Negros (poesia nor des - tina folclórica, afro-pernam bu ca na e memorialista), destacamos os frag men - tos de: BANGUÊ1 Cadê você meu país do Nordeste que eu não vi nessa Usina Central Leão de [minha terra? Ah! Usina, você engoliu os banguezinhos do [país das Alagoas! Você é grande, Usina Leão! Você é forte, Usina Leão! As suas turbinas têm o diabo no corpo! Vocabulário 1 – Banguê: engenho. ESSA NEGRA FULÔ Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no banguê dum meu avô uma negra bonitinha chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! — Vai forrar a minha cama, pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô! � Poesia mística De Tempo e Eternidade, A Túnica Inconsútil e Anunciação e Encontro de Mira-Celi (poesia mística, surreal, apo - calíptica), destacamos: POEMA DO CRISTÃO Porque o sangue de Cristo jorrou sobre os meus olhos, a minha visão é universal e tem dimensões que ninguém sabe. Os milênios passados e os futuros não me aturdem, porque nasço e nascerei, porque sou uno com todas as criaturas, com todos os seres, com todas as coisas que eu decomponho e absorvo com os sentidos e compreendo com a inteligência transfigurada em Cristo. A DIVISÃO DE CRISTO Dividamos o Mundo em duas partes iguais: uma para portugueses, outra para es panhóis. Vêm quinhentos mil escravos no bojo das [naus: a metade morreu na viagem do oceano. Dividamos o Mundo entre as pátrias. Vêm quinhentos mil escravos no bojo das [guerras: a metade morreu nos campos de batalha. Dividamos o mundo entre as máquinas: Vêm quinhentos mil escravos no bojo das [fábricas, a metade morreu na escuridão, sem ar. Não dividamos o mundo. Dividamos Cristo: todos ressuscitarão iguais. MÓDULO 45 Segunda Geração Modernista – Poesia (IV): Jorge de Lima C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 60 – 61 P O R T U G U ÊS 1. (FAAP-SP) – Jorge de Lima também escreveu poesia surrealista, como neste exemplo extraído do livro A Túnica Inconsútil: a) Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no banguê dum meu avô uma negra bonitinha chamada negra Fulô. b) Não dividamos o mundo. Dividamos Cristo: todos ressuscitarão iguais. c) O Rochedo do sono é tão fechado tão pedra de Esaú, tão existido, que ele cumpre na vida um grande fado, — o de acolher um Édipo impunido. d) Ai! Bahia-de-Todos-os-Santos, até nos pecados das suas comidas você botou nome santo? Papos-de-anjo, Peitinhos-de-freira, Quindins-de-convento, Fatias-da-sé! e) Domingos Fernandes Calabar eu te perdoo tu não sabias decerto oque fazias filho cafuz de sinhá Ângela do Arraial do Bom Jesus. RESOLUÇÃO: A estética surrealista inspirou-se nos procedimentos e nas questões trazidas pela Psicanálise, como se nota em: “O Rochedo do sono...” (imagem onírica) e “Édipo” (alusão ao mito e ao chamado “complexo de Édipo”). Resposta: C Texto para o teste 2. OLÁ! NEGRO Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor tentarão apagar a tua cor! E as gerações dessas gerações, quando apagarem a tua tatuagem execranda, não apagarão de suas almas a tua alma, negro! Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi, negro-fujão, negro cativo, negro rebelde negro cabinda, negro congo, negro iorubá, negro que foste para o algodão de USA para os canaviais do Brasil, para o tronco, para o colar de ferro, para a canga de todos os senhores do mundo; eu melhor compreenda agora os teus blues nesta hora triste da raça branca, negro! Olá, Negro! Olá, Negro! A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro! (LIMA, J. de. Obras Completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958.) 2. O conflito de gerações e de grupos étnicos repro - duz, na visão do eu lírico, um contexto social assinala do por a) modernização dos modos de produção e consequente enrique - cimento dos brancos. b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos. c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados. d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza. e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de heredi - tariedade. RESOLUÇÃO: [ENEM-2013] Nos versos, a preservação da cultura ancestral dos negros está assegurada, por mais que se tente renegá-la. A musicalidade dessa cultura persiste e contrapõe-se ao tédio, à apatia dos brancos. Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 61 62 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 3. MARIA DIAMBA Para não apanhar mais falou que sabia fazer bolos: virou cozinha. Foi outras coisas para que tinha jeito. Não falou mais: Viram que sabia fazer tudo, até molecas para a Casa-Grande. Depois falou só, só diante da ventania que ainda vem do Sudão; falou que queria fugir dos senhores e das judiarias deste mundo para o sumidouro. (LIMA, J. de. Poemas Negros. Rio de Janeiro: Record, 2007.) 3. O poema de Jorge de Lima sintetiza o percurso de vida de Maria Diamba e sua reação ao sistema opressivo da escravidão. A resistência dessa figura feminina é assinalada no texto pela relação que se faz entre a) o uso da fala e do desejo de decidir o próprio destino. b) a exploração sexual e a geração de novas escravas. c) a prática na cozinha e a intenção de ascender socialmente. d) o prazer de sentir os ventos e a esperança de voltar à África. e) o medo da morte e a vontade de fugir da violência dos brancos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016 – 3.a aplic.] Maria Diamba, para mudar o seu destino e deixar de apanhar, declara que sabe fazer bolos, para poder trabalhar na cozinha da casa-grande. Cala-se mediante a exploração sexual que passa a sofrer, mas fala a si mesma, “diante da ventania” vinda do Sudão, do seu desejo de fugir “dos senhores e das judiarias [daquele] mundo”. Resposta: A C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 62 – 63 P O R T U G U ÊS 1. Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro, 1913-1981) � Vida Formou-se em Letras e em Direi to. Foi censor e crítico cine mato grá fi co e estudou Literatura Inglesa em Ox ford. Em 1943, ingressou na car rei ra diplomática, servindo nos Esta dos Uni - dos, na Espanha, no Uruguai e na Fran - ça, mas sem nunca perder o con tato com a vida literária e artís tica do Rio de Janeiro. No final da década de 1950, passou a compor le tras para can ções populares, con sa grando-se co mo um dos funda dores do mo vi men to musical conhe cido por Bos sa Nova. � Obra • Poesia O Caminho para a Distância (1933) Forma e Exegese (1935) Ariana, a Mulher (1936) Novos Poemas (1938) Cinco Elegias (1943) Poemas, Sonetos e Baladas (1946) Pátria Minha (1949) Livro de Sonetos (1956) O Mergulhador (1965) A Arca de Noé (infantil, 1970) • Teatro Orfeu da Conceição (tra gé dia ca - rioca em três atos, escrita em ver sos, 1954) Pobre Menina Rica (co mé dia mu - sicada, 1962) • Prosa O Amor dos Homens (crô nicas, 1960) Para Viver um Grande Amor (crô - ni cas, 1962) Para uma Menina com uma Flor (crô nicas, 1966) � Evolução e características • Os primeiros livros, até Cinco Ele gi as, marcam-se pela aproxi ma ção com a poesia católica fran ce sa, com o sim bolismo mís ti co e, como em Augusto Fre de ri co Schmidt, pelo uso do ver sí cu lo bíblico, pelo gosto do poe ma longo, de tom grave e exal ta - do, cheio de ressonâncias. • A partir de Cinco Elegias, a ade - são à modernidade é prenun cia da pela contenção formal, pe la liberdade temática e de ex pres são, pela incor - po ra ção poé tica do cotidiano e da experiência direta da vi da, que subs tituem a busca do trans cen dente, do sublime, e a ten dência mística e me tafísica da primeira fase. • Poemas, Sonetos e Ba ladas (1946) é considerado o livro mais ex - pres sivo de sua obra, impreg na do de ternura, de humor, de i ro nia, nu ma poesia de grande co municabili da de, em que con vivem a lin gua gem clássica, nos sone tos de fei ção ca - mo niana (Sonetos: “da Se pa ra ção”, “da Fidelidade”, “do Amor To tal” etc.); os versos cur tos in ci si vos e a in ten - si da de da vi são lí rica/realista do amor, que re to ma elementos tro va - dorescos e ro mân ticos, acres cidos da concepção do amor como expe riên cia- limite (o amor louco dos surrea listas). • Além de ser um lírico ex cepcio - nal, Vinicius versou tam bém so bre a temática so cial (“O Operário em Cons trução”, “A Ro sa de Hiroxima”, “A Bomba”), so bre o cotidiano; fez poesia in fantil (A Arca de Noé), além dos poemas que o cancioneiro po pular consa grou: “Serenata do A deus”, “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”, “Se Todos Fossem I guais a Você” etc. A ROSA DE HIROXIMA Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO (...) E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martírios Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado De pedidos de perdão Um silêncio apavorado Com o medo em solidão. Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão. E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão. Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido Razão porém que fizera Em operário construído O operário em construção. SONETO DE SEPARAÇÃO De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de re pente. POÉTICA De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: — Meu tempo é quando. TEXTOS MÓDULO 46 Segunda Geração Modernista – Poesia (V): Vinicius de Moraes C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 63 64 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 1.DO AMOR À PÁTRIA São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e habitual — uma cuja terra se comeu em criança, uma onde se foi menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos e esperanças plantando canções, amores e filhos ao sabor das estações. (MORAES, V. de. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987.) 1. O nacionalismo constitui tema recorrente na litera tu ra romântica e na modernista. No trecho, a repre sen - tação da pátria ganha contornos peculiares porque a) o amor àquilo que a pátria oferece é grandioso e eloquente. b) os elementos valorizados são intimistas e de dimensão subjetiva. c) o olhar sobre a pátria é ingênuo e comprometido pela inércia. d) o patriotismo literário tradicional é subvertido e motivo de ironia. e) a natureza é determinante na percepção do valor da pátria. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016 – 2.a aplic.] No texto, Vinicius de Moraes relaciona a pátria a memórias íntimas de infância, valorizando elementos nacionais ligados à sua subjetividade. Resposta: B Texto para o teste 2. A ROSA DE HIROXIMA Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas 5 Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam 10 Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida 15 A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. (Vinicius de Moraes, Antologia Poética) 2. (FUVEST-SP) – No poema, a) a referência a um acontecimento histórico, ao privilegiar a objetividade, suprime o teor lírico do texto. b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem tradicionalmente positiva da rosa a atributos negativos, ligados à ideia de destruição. c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua despreocupação com a elaboração formal. d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito originalmente como letra de canção popular. e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em boa medida, pelo caráter concreto do texto e pelo vigor de sua mensagem. RESOLUÇÃO: A imagem da rosa costuma ser associada, na tradição literária, a sentidos positivos, como beleza, delicadeza e semelhantes. Neste poema, a associação da rosa a sentidos negativos — destruição, horror — é responsável por “parte da força poética do texto”. Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 64 Texto para o teste 3. SONETO DE SEPARAÇÃO De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. 3. (PUC-SP – modificado) – Sobre o poema transcrito, de Vinicius de Moraes, assinale a alternativa incorreta. a) A anáfora, em virtude da sua estrutura, imprime cadência melódica. b) A métrica é regular, com versos decassílabos. c) As rimas são, em todas as estrofes, cruzadas ou alternadas. d) As antíteses expressam as mudanças radicais das emoções. e) A locução “de repente” indica ruptura temporal e mudança de estados anímicos. RESOLUÇÃO: As rimas são intercaladas ou interpoladas (ABBA) no primeiro quarteto, cruzadas ou alternadas (CDCD) no segundo e misturadas (EFE-FFE) nos tercetos. Resposta: C – 65 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 65 66 – P O R T U G U ÊS 1. O ciclo nordestino – o realismo regionalista Ainda no primeiro tempo moder - nista, enquanto no Sul as querelas lite - rárias cindiam os modernistas (nacio- nalismo x primitivismo, revo lu ção esté tica x revolução social, futu rismo, cu bis mo, dadaísmo, surrealis mo), no Nor deste, Gilberto Freyre, José Lins do Rego e José Américo de Almeida organizavam, em 1926, o Congres so Regiona lista do Recife, cuja proposta era a de uma literatura com prometida com a pro ble mática nor des tina (o lati - fúndio; a seca; as institui ções arcai - cas = sobre vi vências colo niais; a explo ra ção da mão de obra; a violência social = jagun cis mo, canga cei rismo, misti cis mo fa na ti - zan te; a famí lia pa triarcal e as con - se quên cias de sua de sa grega ção; a corrup ção e o co ronelis mo; os con - trastes so ciais — o ser tane jo e o ho - mem da Zona da Mata, as ca sas- gran des e as senza las). Propunha-se uma literatura empe nhada e realista na denúncia dos en traves culturais. Nessa proposta, in cluem-se: José Américo de Almei da, Jo sé Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, entre outros. 2. José Américo de Almeida (Areia, PB, 1887 – João Pessoa, 1980) Autor de A Bagaceira, 1928, mar co inicial do romance nordesti no modernista, deixou também O Boqueirão e Coiteiros. Sua obra tematiza o retirante da seca e lança sementes do ciclo da cana-de-açúcar, funda do por José Lins do Rego. � A Bagaceira Conta a saga dos reti rantes Va len - tim Pereira, sua filha Soledade e seu afilhado Pirunga, que, tangidos pela seca, abandonam a zona do ser tão e vão para a região dos enge nhos, no brejo, onde são acolhidos pelo En - genho de Marzagão, de pro prie dade de Dagoberto Marçau e seu filho Lúcio. A ação decor re entre dois períodos da seca, o de 1898 e o de 1915, cen trando-se na violência e na opressão. A Bagaceira concretiza os propó - sitos do Primeiro Con gres so de Regionalistas do Recife (1926). Quanto à lin gua gem, aproxima-se da prosa elíptica, incisiva e epigramá tica de Oswald de Andrade. Realiza cortes frequentes na narrativa, dando igual importância ao humano e ao social. Nesse sentido, afastou-se do caráter de depoimento e da ho ri - zon ta li dade próprios dos autores nor des tinos que o prece de ram. Tem intenção de crítica social, descambando, às vezes, para o panfletário, para o enfático demagó - gico. O título do romance alude ao local onde, no engenho, se juntam os bagaços de cana. Figuradamente, aproxima o bagaço da cana à con - dição miserável do ser tanejo. O romance procura confrontar, em termos de relações humanas e de contrastes sociais, o homem do ser - tão e o homem do brejo (dos engenhos). Aproximando o serta nejo e o brejeiro, na paisagem nordestina, o autor condiciona os ele mentos dramáticos aos ciclos perió dicos da seca, os quais delimi tam a pró pria existência do sertanejo. Quanto ao estilo, ao lado de res - sonâncias naturalistas, há aproxima - ções com o Modernismo de 1922, sem o radicalismo experimentalista. A fra se enxuta, os períodos curtos coorde nados ou justapostos e as expres sões nominais de extrema especifi ca ção da cor local modulam um ex pres sionismo descritivo vigoro - so e uma expressão musical cuja força e aspereza remetem o leitor à melopeia (= propriedade musical — som, ritmo — que orienta o signi fi - cado das palavras) de Euclides da Cunha. Há alguma discrepância entre o registro da fala dos sertanejos (diale - tal, folclórica) e a linguagem do escri - tor e dos seus narradores (culta e sentenciosa). É indispensável o esfor - ço do escritor (nem sempre bem- suce dido) de não se afastar em demasia da linguagem das persona - gens. (A adequação da fala do nar - rador à das personagens é um dos proble mas compositivos centrais de todo o regionalismo brasileiro.) 3. Rachel de Queirós (Fortaleza, 1910 – Rio de Janeiro, 2003) � Obra • Romance O Quinze (1930) João Miguel (1932) Caminho de Pedras (1937) As Três Marias (1939) O Galo de Ouro (1985), folhetim no jornal O Cruzeiro (1950) Obra Reunida (1989) Memorial de Maria Moura (1992) • Teatro Lampião(1953) A Beata Maria do Egito (1958) Teatro (1995) A Sereia Voadora (inédita) O Padrezinho Santo MÓDULO 47 Segunda Geração Modernista – Prosa (I): Regionalismo Nordestino – Romance Neorrealista (I) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 66 – 67 P O R T U G U ÊS • Crônica A Donzela e a Moura Torta (1948) Cem Crônicas Escolhidas (1958) O Brasileiro Perplexo – Histórias e Crônicas (1963) etc. • Literatura infantil O Menino Mágico (1969) Cafute & Pena-de-Prata (1986) Andira (1992) “Cenas Brasileiras” – Para Gostar de Ler 17 � Apreciação Os quatro romances editados em livro exprimem intensa preocu pação social. Mas a romancista se apoia na análise psicológica dos persona gens, sobretudo na natureza do ho mem nordestino, sob a pressão das forças atávicas e a aceitação fatalista do destino, como é o caso dos dois primeiros — O Quinze e João Miguel. (…) Estes romances apre sentam uma nova tomada de posição na temática do romance nordestino — da seca, do corone lismo e dos im pulsos pas - sionais — em que o psico lógico se harmoniza com o social. (CÂNDIDO, A.; CASTELLO, J. A. Presença da Literatura Brasileira, vol. III – Modernismo. São Paulo: DIFEL, 1983, p. 236-7.) O Quinze (1930), romance pu bli - cado quando Rachel de Queirós tinha apenas 19 anos, tem parte da ação decorrida em Fortaleza e parte no sertão cearense. Apre senta simul - taneamente a história de três famílias que habitam fazendas do sertão: a da avó de Conceição, jovem profes sora, a de Vicente, primo dela, e de Chico Bento, va quei ro da terceira fazenda. Despedido do trabalho e despojado de tudo, Chico parte com sua família para outras terras. A nar rativa focaliza sua trágica condi ção de retirante, ao mesmo tempo em que descreve a vida de Concei ção e da avó na Capital, para onde Chico agora se dirige, fugindo da seca. Enquanto isso, o narrador acom panha a luta de Vicente, que perma neceu no ser tão, lutando obstinada mente con tra aque - la natureza hostil. 4. José Lins do Rego (Engenho Corredor, PB, 1901 – Rio de Janeiro, 1957) � Vida Passou a infância no engenho do avô materno. Fez os estudos se cun - dários em ltabaiana e na Paraíba (atual João Pessoa) e Direito no Recife. Aqui se aproxima de in te lec tuais que seriam os responsáveis pelo clima modernista-regionalista do Nordeste: José Américo de Al mei da, Olívio Montenegro e, sobretudo, Gilberto Freyre, de quem receberia estímulo para dedicar-se à arte de raízes lo cais. Poucos anos depois liga-se, em Maceió, a Jorge de Lima e a Graci - liano Ramos. Transferiu-se, em 1935, para o Rio de Janeiro, onde par tici pou ativamente da vida li te rá ria, de - fenden do com vigor polêmico o tipo do escritor voltado para a re gião de onde proveio. (Alfredo Bosi) � Obra • Romance I – Ciclo da cana-de-açúcar Menino de Engenho (1932) Doidinho (1933) Banguê (1934) Usina (1936) Fogo Morto (1943) II – Ciclo do cangaço, misti cismo e seca Pedra Bonita (1938) Cangaceiros (1953) III – Obras independentes – Com implicação nos dois ciclos indi cados: O Moleque Ricardo (1934) Pureza (1937) Riacho Doce (1939) – Desligados desses ciclos: Água-Mãe (1941) Eurídice (1947) • Memórias Meus Verdes Anos (1956). Ela bo - ra da como uma narrativa memoria lis - ta, a obra tem por base as recor da - ções da infância do autor no En ge nho Santa Rosa, a figura mítica de seu avô, coronel Zé Paulino, as histórias contadas pelas escravas e amas de leite, compondo um amplo painel do mundo rural do Nordeste, mais espe - cificamente da região cana vieira da Paraíba e de Per nam bu co. O ciclo da cana-de-açúcar, formado por Menino de Engenho, Doidinho, Banguê, Usina e Fogo Morto, é, segundo o autor, a história de uma decadência e de uma ascen - são: a decadência do engenho e a ascen são da usina. Como afirma o crítico Otto Maria Carpeaux, “o gran - de valor lite rá rio da obra de José Lins do Rego resi de nisto: o seu assunto e o seu estilo correspondem à deca - dência do pa triar calismo no Nordeste do Brasil, com as suas inúmeras tra - gédias e misé rias humanas e uns raros raios de graça e de humor”. O escritor inspirou-se nos can - tadores de feira, os quais apon tou como fontes de sua arte nar rativa. Daí a linguagem de forte e poética oralidade e a grande carga afetiva, que a revivescência dos verdes anos provoca. É um escritor espontâneo e intuitivo. “Os cegos cantadores, amados e ouvidos pelo povo, porque tinham o que contar. Dizia-lhes então: quan do imagino meus romances, tomo sem - pre como modo de orientação o di zer as coisas como elas surgem na memória, com o jeito e as maneiras simples dos cegos poetas (…) gosto que me chamem de te lú rico e muito me alegra que des cu bram em todas as minhas atividades li terárias forças que dizem de puro instinto.” • Menino de Engenho: narrado na primeira pessoa, por Carlos Melo, focaliza a infância do nar rador, dos 4 aos 12 anos, detendo-se na vida do engenho, na paisagem, nos escra vos, nos tipos regionais (os bandi dos, os cangaceiros) e nas re la ções do menino com o universo da cana-de- açúcar. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 67 68 – P O R T U G U ÊS A figura central é o coronel Zé Paulino, avô de Carlos Melo, típico patriarca dos engenhos. • Doidinho: narrado também pela personagem Carlos Melo, focaliza a sua experiência num colé - gio interno, de onde foge, voltando para o Engenho Santa Rosa. • Banguê: narrado ainda por Carlos Melo, que, formado em Direito, dez anos após deixar o Santa Rosa, retorna ao engenho, onde, me lancoli camente, rememora a infância e assiste à decadência do coronel Zé Paulino e do Engenho, ameaçado pela Usina São Félix. • Usina: na primeira parte, re - toma a história do Moleque Ricardo, a partir de sua prisão como grevista e de seu regresso ao engenho. Na segunda parte, enfoca a decadência do Santa Rosa, que se transforma na Usina Bom Jesus, por fim incor - porada à Usina São Félix. Uma enchente do Paraí ba destrói a antiga propriedade do engenho Santa Rosa, simbolizando o fim do ciclo. Os pro - blemas sociais decor rentes da “revo - lução industrial” são o centro da narrativa, agora em terceira pessoa. • Fogo Morto: é considerado a obra-prima de José Lins do Rego. Es - pécie de síntese de toda a sua obra ficcional, o romance retoma a ascen - são e queda de um engenho, agora o Santa Fé, por meio de três per so na - gens cujos destinos se en tre cru zam na decadência da economia ca na - vieira nordestina. O romance des - dobra-se em três partes: Na primeira parte — “O Mestre José Amaro” — surge a figura do velho seleiro, José Amaro, homem frustrado que mora com a mulher e a filha em terras do Engenho Santa Fé. O dono do Santa Fé, Lula de Holanda, ordena que José Amaro abandone o engenho. O romance re trata, pois, as brigas com o senhor de engenho e as desilusões do seleiro com sua profissão, com a vida fami liar e com sua filha solteira. A segunda parte — “O Engenho de Seu Lula” — trata da história do Engenho Santa Fé, que prosperou com seu primeiro dono, capitão Tomás Cabral de Melo, mas decaiu nas mãos do genro Luís César de Holanda Chacon, seu Lula, casado com D. Amélia. A terceira parte — “O Capitão Vitorino” — enfoca a figura do compa dre de José Amaro, espécie de herói que vive lutando e brigando por justiça e igualdade, defendendo os humildes contra os poderosos da terra; é, por isso, ridicularizado. É a úni ca personagem que se mantém firme até o fim, já que o mestre Zé Amaro se suicida e o coronel Lula, doente, fica entrevado. Cada uma das três personagens “representa ou sintetiza uma classe da população. José Amaro, o seleiro, sim boliza o trabalhador, o mundo do tra balho. E vibra com o cangaço (…). Lula é a nobreza arruinada, a deca - dente aristocracia rural. Mergulha no pas sado e num certo misticismo, isto é, na sua interioridade. (…) E Vitorino é o opo sitor, o quixotesco, o tagarela, mis tura de povo e nobreza, admi rável de coragem e gene rosidade militan - te”. (Antônio Carlos Villaça)I Lúcio sentou-se debaixo da latada de rainha-do-prado que pa re cia sangrar ferida pelos próprios espinhos. E os moradores começaram a juntar-se. Formavam um círculo silen cioso em torno dele, como numa amostra de solidariedade con so - lativa. Quando chegou o último, Latomia tomou a palavra. Vinham protestar contra a admissão dos novos retirantes: So le dade e o filho. Tinham assimilado todas as fórmulas de emanci pação: — O caminho da felicidade que nos ensinastes vai além dos vossos domínios! Lúcio espiou para baixo e viu a estrada coalhada de sertanejos expulsos de suas plagas pelo clima revoltado. Voltou-se para a população amotinada: — A vossa submissão era filha da ignorân - cia e da miséria. Eu vos dei uma consciência e um braço forte para que pudésseis ser livres. Relanceou a vista pela paisagem do trabalho organizado. Só a terra era dócil e fiel. Só ela se afeiçoara ao seu cunho de bem-estar e de beleza. Só havia ordem nessa nova face da natureza educada por sua sensibilidade construtiva. E recolheu-se com um travo de criador desiludido: — Eu criei o meu mundo; mas nem Deus pôde fazer o homem à sua imagem e semelhança... (José Américo de AImeida, A Bagaceira) II Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José, Dona Inácia concluiu: “Dignai-vos ouvir nossas súplicas, ó castíssimo esposo da Virgem Maria, e alcançai o que rogamos. Amém.” Vendo a avó sair do quarto do santuário, Conceição, que fazia as tranças sentada numa rede ao canto da sala, interpelou-a: — E nem chove, hein, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês... Nem por você fazer tanta novena... Dona Inácia levantou para o telhado os olhos confiantes: — Tenho fé em São José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril. Na grande mesa de jantar onde se esticava, engomada, uma toalha de xadrez vermelho, duas xícaras e um bule, sob o abafador bordado, anunciavam a ceia: — Você não vem tomar o seu café com leite, Conceição? A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs- se a cear, calada, abstraída. A velha ainda falou em alguma coisa, bebeu um gole de café e foi fumar no quarto. — A bênção, Mãe Nácia! — E Conceição, com o farol de querosene pendendo do braço, passou diante do quarto da avó e entrou no seu, ao fim do corredor. Colocou a luz sobre uma mesinha, bem junto da cama — a velha cama de casal da fazenda — e pôs-se um tempo à janela, olhando o céu. E ao TEXTOS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 68 – 69 P O R T U G U ÊS fechá-la, porque soprava um vento frio que lhe arrepiava os braços, ia dizendo: — Eh! A lua limpa, sem lagoa! Chove não!... Foi à estante. Procurou, bocejando, um livro. Escolheu uns quatro ou cinco, que pôs na mesa, junto ao farol. Aqueles livros — uns cem, no máximo — eram velhos companheiros que ela escolhia ao acaso, para lhes saborear um pedaço aqui, outro além, no decorrer da noite. Deitou-se vestida, desapertando a roupa para estar à vontade. Pegou no primeiro livro que a mão alcançou, fez um monte de travesseiros ao canto da cama, perto da luz, e, fincando o cotovelo neles, abriu à toa o volume. Era uma velha história polaca, um romance de Sienkiewicz, contando casos de heroísmos, rebeliões e guerrilhas. Conceição o folheou devagar, relendo trechos conhecidos, cenas amorosas, duelos, episódios de campanha. Largou-o, tomou os outros — um volume de versos, um romance francês de Coulevain. E ao repô-los na mesa, lastimava-se: — Está muito pobre essa estante! Já sei quase tudo decorado! Levantou-se, foi novamente ao armário. E voltou com um grosso volume encadernado que tinha na lombada, em letras de ouro, o nome de seu finado avô, livre-pensador, maçom e herói do Paraguai. Era um tratado em francês, sobre religiões. Bocejando, começou a folheá-lo. Mas, pouco a pouco, qualquer coisa a interessou. E, deitada, à luz vermelha do farol, que ia enegrecendo o alto da manga com a fumaça preta, na calma da noite sertaneja, enquanto no quarto vizinho a avó, insone como sempre, mexia as contas do rosário, Conceição ia se embebendo nas descrições de ritos e na descritiva mística, e soletrava os ásperos nomes com que se invocava Deus, pelas terras do mundo. Até que Dona Inácia, ouvindo o cuco do relógio cantar doze horas, resmungou de lá: — Apaga a luz, menina! Já é meia-noite! (Rachel de Queirós, O Quinze) III A palavra da velha conduzia o filho como se empurasse um cego na estrada. O Santo gritava, gritava com um vozeirão de roqueira. Aparício e os cabras chegavam para ele. E ele que tinha aos seus pés milhares de criaturas parecia não enxergar os cangaceiros de chapéu na cabeça. De repente, porém, como se os seus olhos se abrissem, olhou fixamente para Aparício e os seus homens. E manso, tal uma ventania que se abrandasse numa brisa mansinha, fixou no terror das caatingas a sua atenção. Com a voz de homem para homem, não mais de santo para impuros, foi dizendo: — Deus do céu e o meu santo mártir S. Sebastião te mandou para perto de mim. E marchou para o meio dos cangaceiros, rompendo por entre os romeiros que caíam a seus pés, com a cabeça erguida e as barbas açoitadas pelo vento. Aparício, quando viu-o de perto, ajoelhou-se. O rifle caiu-lhe das mãos, enquanto o Santo punha-lhe na cabeça os dedos magros. Podia-se escutar os rumores dos bichos da terra naquele silêncio de mundo parado. E soturno, com a voz que saía de uma furna, o Santo ergueu para o céu o seu canto. E as ladainhas irromperam de todos os recantos do arraial. Muitos cangaceiros co - meçaram a chorar. Aparício, porém, possuiu-se de fúria, e era uma fera acuada, com milhares de cachorros na boca da toca. E ergueu-se. E já com o rifle na mão esquerda fitou o Santo, cara a cara, e com a mão direita cheia de anéis puxou o punhal da bainha e disse aos berros: — Povo, eu não tenho medo. (José Lins do Rego, Cangaceiros) IV TERCEIRA PARTE CAPITÃO VITORINO A velha deixou o quarto e saiu para o fundo da casa. Vitorino fechou os olhos, mas estava muito bem acor dado com os pensamentos voltados para a vida dos outros. Ele muito tinha que fazer ainda. Ele tinha o Pilar para tomar conta, ele tinha o seu elei tora do, os seus adver - sá rios. Tudo isso pre cisava de seus cui da dos, da força do seu braço, de seu tino. (…) A sua velha Adriana quisera aban do ná-lo para correr atrás do filho. Desistiu para ficar ali com uma pobre. Podia ter ido. Ele, Vito rino Carneiro da Cunha, não precisava de ninguém para viver. Se lhe tomassem a casa onde morava, armaria a sua rede por debaixo dum pé de pau. Não temia a desgraça, não queria a riqueza. (…) Um dia to maria conta do município. (…) A vila do Pilar teria cal çamen to, cemitério novo, jar dim, tudo que ltabaiana tinha com o novo Pre feito. (…) Aí levantou-se. (...) Ele, chefe político do Pilar, não teria inveja do Dr. Heráclito de lta baiana. Todos pagariam impostos. Por que José Paulino não queria pa - gar impostos? Ele próprio iria com os fiscais cobrar os dízimos no Santa Rosa. Queria ver o ricaço espernear. Ah! Dava gritos. — Tem que pagar, primo José Paulino, tem que pagar, sou eu o Prefeito Vitorino que estou aqui para cumprir a lei. Tem que pagar! E gritou na sala com toda a força. Apareceu a velha Adriana, as sus tada. — O que há, Vitorino? E quando viu que não havia ninguém na sala: — Estavas sonhando? — Que sonhando, que coisa nenhuma. Vai para a tua cozinha e me deixa na sala. (…) Levantou-se outra vez e saiu para a fren te da casa. (…) — Entra para dentro, Vitorino, está muito frio. A friagem da lua te faz mal. Ele não respondeu. No outro dia sairia pelo mundo para trabalhar pelo povo. (…) Quando entrasse na casa da Câmara sa cu diriam flores em ci ma dele. Dariam vi vas, gritando pelo che - fe que tomava a di re ção do mu nicí pio. Mandaria abrir as por tas da cadeia. Todos ficariam con ten tes com o seu triunfo.(…) Ah, com ele não havia grandes mandando em peque nos. Ele de cima quebraria a goga dos parentes que pensavam que a vila fosse bagaceira de en ge nho. — Vitorino, vem dormir. — Já vou. E, escorado no portal da casa de taipa, de chão de barro, de paredes pre tas, Vi to rino era dono do mundo que via, da terra que a lua branquea va, do povo que precisava de sua proteção. — Tem cuidado com o sereno. — Cala esta boca, vaca velha. Já ouvi. Depois, com as portas fechadas, estirado na rede, com o corpo doído, con tinuou a fazer e a desfazer as coisas, a comprar, a levantar, a destruir com as mãos trêmulas, com o seu coração puro. (José Lins do Rego, Fogo Morto) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 69 70 – P O R T U G U ÊS Texto para os testes de 1 a 3. A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. Ela vivia de contar histórias de Trancoso. Pequenina e toda engelhada1, tão leve que uma ventania poderia carregá-la, andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de As Mil e uma Noites. Que talento ela possuía para contar suas histórias, com jeito admirável de falar em nome de todos os personagens! Sem nenhum dente na boca e com uma voz que dava todos os tons às palavras! (...) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. (...) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. (...) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. (José Lins do Rego, Menino de Engenho) 1 – Engelhado: enrugado. 1. Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do País. Considerando-se o texto, infere-se que a velha Totonha a) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa. b) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional. c) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil. d) se aproxima, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia. e) imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada. RESOLUÇÃO: [ENEM-2008] Totonha representa a constituição identitária e cultural de nosso país, ao misturar personagens, valores e cenários europeus e locais. Essa mistura é característica do “processo de colonização e de civilização do país”, constituindo marca de toda a formação da cultura brasileira, popular e erudita. Em outras palavras, a cor local é uma expressão que indica elementos que caracterizam a realidade geográfica e social do Brasil. Resposta: E 2. A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem: a) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações.” b) “era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio.” c) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva de As Mil e uma Noites.” d) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.” e) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas.” RESOLUÇÃO: [ENEM-2008] A cor local que a velha Totonha punha em suas descrições corresponde ao meio físico e social em que ela se movia, a região nordestina. Resposta: D 3. (UDESC-SC – modificado) – Assinale a alternativa correta. a) O tratamento que o autor dá a Totonha é irônico, quando se refere à altura dela (“pequenina”) e, mais adiante, ao fato de ela não ter dentes (“sem nenhum dente”). b) Ao referir-se a As Mil e uma Noites, o autor estabelece um diálogo entre essa obra e o trecho de Menino de Engenho, num processo chamado intertextualidade. c) A velha Totonha falava com uma voz doce, quando contava suas histórias, para que a meninada adormecesse logo. d) As histórias de Trancoso eram acontecimentos apenas para os meninos da casa-grande. e) Enquanto lia os versos, a velha Totonha também fazia comentários, equivalentes a notas explicativas. RESOLUÇÃO: Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 70 – 71 P O R T U G U ÊS 1. Graciliano Ramos (Quebrângulo, AL, 1892 – Rio de Janeiro, 1953) � Vida Fez estudos secundários em Maceió, mas não cursou nenhu ma faculdade. Em 1910 estabeleceu-se em Palmeira dos Índios, onde o pai vivia de comércio. Após uma breve estada no Rio de Janeiro, como revi - sor do Correio da Manhã e de A Tarde (1914), regressou a Palmeira dos Índios. Passa a fazer jornalismo e polí - tica, exercendo a prefeitura da cida de - zinha entre 1928 e 1930. Aí tam bém redige, a partir de 1925, seu primeiro ro mance, Caetés. De 30 a 36 viveu quase todo o tempo em Maceió, onde dirigiu a Imprensa Oficial do Estado. Data desse período a sua amizade com escrito res que for ma vam a van - guarda da literatura nor destina: José Lins do Rego, Rachel de Queirós, Jorge Amado, Waldemar Cavalcanti; é tam bém a época em que redige São Bernardo e Vidas Secas. Em março de 1936 é preso como sub ver sivo. Em - bora sem pro vas de acu sa ção, levam- no a diversos presí dios, su jei tam-no a mais de um vexa me e só o libe ram em janeiro do ano se guin te: as Memórias do Cár cere serão o depoi men to exa to dessa ex pe riência. (…) Em 1945 in - gres sou no Partido Co munista Brasi - leiro. Em 1951, foi eleito presiden te da Asso cia ção Brasi lei ra de Es cri tores; no ano se guin te via jou para a Rússia e os paí ses socia lis tas, rela tan do o que viu em Viagem. Graciliano fa le ceu no Rio aos ses senta anos de idade. (Alfredo Bosi) � Obra • Romance Caetés (1933) São Bernardo (1934) Angústia (1936) Vidas Secas (1938) • Conto Insônia (1947) • Obra memorialística Infância (1945) Memórias do Cárcere (1953) Viagem (Checoslováquia–URSS – 1954) Linhas Tortas (Crônicas, 1962) Viventes das Alagoas (Quadros e costumes do Nordeste – 1962) • Literatura infantil Histórias de Alexandre (1944) Dois Dedos (1945) Histórias Incompletas (1946) � Características • Pode-se dividir a obra de Gra ci - liano Ramos em três séries: – a série dos romances es cri tos em 1.a pessoa — Caetés, São Bernardo, Angús tia — que cons - ti tuem uma progressiva aná li se psicoló gica da alma humana; – a série das narrativas es critas em 3.a pessoa — Vidas Secas, os contos de Insônia — em que o autor se fixa nas condições de existên cia das personagens; – a série das obras autobio grá - fi cas — lnfância, Memórias do Cárcere — nas quais o autor expressa a sua subjetivi da de, dispensando a fantasia. Isto permite supor que houve nele uma rotação de atitude literária, tendo a necessidade de inventar cedido o passo, em certo mo men to, à ne ces - sidade de depor. E o mais interes - sante é que a transi ção não se apre - senta como rup tura, mas como con - se quência na tu ral, sendo que nos dois planos a sua arte con seguiu trans mitir visões igualmente válidas da vida e do mundo. (Antônio Cândido) • O realismo de Graciliano Ramos tem sempre caráter crítico. O “herói” é sem pre problemá ti co e não acei ta o mundo, nem os outros, nem a si mesmo. • Não há predomínio do re gio na lis - mo, da paisagem. Esses as pec - tos só interessam na me dida em que interagem com o ele men to humano.• Os traços mais característicos do estilo de Graciliano Ramos são a economia voca bular, a pala vra incisiva, que “corta como faca”; o uso restrito do adjetivo e a sin - taxe clássica que o apro xima de Machado de Assis e o distan cia do “à vontade” dos modernis tas, quanto ao as pec to gramatical. • Graciliano situa-se no polo opos to do populismo dos au tores que exploram a vitali da de do homem simples na busca do pitoresco e do melodramático. Sua opção é pelo despojamento, pelo ten so e profundo. Sua mo der ni da de pou co deve aos mo der nistas e às modas literá rias, perante as quais foi visto como inatual e conservador. � Obras centrais • Caetés Narrado em primeira pessoa, por João Valério, a ação de sen volve-se em Palmeira dos Índios. João Valério, a perso nagem principal, introver tida e fan tasiosa, apaixona-se por Luísa, mulher de Adrião, dono da firma comercial onde trabalha. O caso amoroso é denunciado por uma carta anônima, levando o marido traído ao suicídio. Arrependido, e arrefecidos os sentimentos, João Valério afasta-se de Luísa, continuando, porém, como sócio da firma. O título do livro, Caetés, é a apro- ximação que faz o autor com o selvagem caeté, que devo rou o bispo Sardinha (1602-1656), numa correspondência simbólica com a antropofagia social de João Valério, que “devora” Adrião, o rival. João Valério é, ao mesmo tempo, homem e selvagem: MÓDULO 48 Segunda Geração Modernista – Prosa (II): Regionalismo Nordestino – Romance Neorrealista (II): Graciliano Ramos (I) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 71 72 – P O R T U G U ÊS “Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeira mente poli do, com uma tênue camada de verniz por fora? Qua trocentos anos de civili zação, outras raças, outros costu mes. E eu disse que não sabia o que se passava na alma de um caeté! Pro vavelmente o que se passa na minha com algumas diferenças.” • São Bernardo Publicado em 1934, São Ber nardo representa a maturi da de literária de Graciliano Ramos. Sobre esta obra, escreveu Antô - nio Cândido: “Acompanhando a natureza do per sonagem, tudo em São Bernardo é seco, bruto e cortante. Talvez não haja em nossa lite ratura outro livro tão reduzido ao essencial, capaz de ex pri - mir tanta coisa em resumo tão es trei - to. Por isso é ines gotável o seu fas cínio, pois poucos darão, quanto ele, seme - lhan te ideia de perfeição de ajus te ideal entre os elementos que com põem um romance.” (Tese e Antítese) O narrador O livro é narrado em pri meira pessoa pelo protagonista Paulo Honório, que, movido por uma im po - si ção psicológica, busca uma jus - tificativa para o desmoronamento da vida e de seu fracassado casa men to com Madalena. A narração, o diálogo (que não sur - ge como conversa, mas como duelo) e o monólogo interior fun dem-se na unidade dos 36 capí tulos da obra. Em seu primeiro romance, Cae tés, Graciliano Ramos seguiu os dita mes da estética naturalista, situando a per - so nagem em seu contexto so cial. Ago - ra, em São Bernardo, todo o contexto social é submetido ao dra ma íntimo do protagonista Paulo Ho nó rio. A técnica da narrativa em pri mei - ra pessoa faz com que todos os fa tos, personagens e coisas sejam apre - sentados de acordo com a visão pes - soal do narrador. O enredo É a história de um enjeitado, Paulo Honório, dotado de vontade in tei riça e da ambição de se tornar fa zen dei ro. Depois de uma vida de lu tas e bru - talidade, atinge o alvo, as senhorean - do-se da propriedade on de fora tra ba - lhador de enxada, e que dá nome ao livro. Aos quarenta e cinco anos casa com uma mulher boa e pura, mas, como está habi tua do às rela ções de domínio e vê em tudo, quase obses - sivamente, a resis tência da presa ao apre sador, não percebe a dignidade da esposa nem a essência de seu pró - prio senti mento. Tiraniza-a sob a for ma de um ciú me agres sivo e degradante. Ma da lena se suicida, cansada de lutar, deixando-o só e, tarde demais, clari vi - dente. Corroído pelo sentimen to de frus tração, sente a inutilidade da sua vida, orientada exclusiva mente para coisas exterio res, e procura se equi - librar escre ven do a nar rativa da tra - gédia conjugal. (Antônio Cândido, Tese e Antítese) • Vidas Secas Vidas Secas é a história de uma família de retirantes, que, paradoxal - mente, não chega a constituir pro pria - men te uma história. A dura an dan ça, sob a implaca bilidade da se ca, de certa forma justifica a inu ti lidade da comunicação entre os membros da fa mília, o fato de os me ninos não apre sentarem nome, as di fi culdades linguís ticas de Fabiano, a inquietação cons tante. E também jus ti fica o sacrifício do papagaio, que tinha acompanhado a família, e que veio a transformar-se em alimento pro - videncial. Como se não bastas sem tais infortúnios, Fabiano vem a ser preso pelo soldado amarelo, sím bolo do autoritarismo local. Ao con trá rio de Fabiano, que se mostra ma tuto em tudo, Sinha Vitória apresenta sinais de ter vindo de um meio social menos duro. Baleia, a cachorra, con se gue sentir e reagir com inteligência superior à média dos animais. Sua “hu mani zação” progressiva acompa - nha a também progressiva “anima li - zação” dos membros da família. Fa - bia no teve de sacrificar a cachorra, por suspeitar que ela estivesse pade - cendo de raiva. Embora se revolte contra as contas do patrão, Fabiano tem de aceitá-las, para não perder o emprego. Seu reencontro com o sol - da do amarelo, depois, em plena caa - tinga, faz-lhe reconhecer sua própria superioridade. Acaba perdoan do, en - si nando ao soldado o caminho de volta. Mas a temida seca enfim está chegando. As árvores se enchem de aves de arribação. Fabiano recome ça a analisar sua vida. Quem lhe dá ânimo é Sinha Vitória. Os retirantes dei xam a casa da fazenda, e reto mam o caminho de sempre. No pen sa men to de Fabiano brilha uma certa esperan - ça, mate ria lizada pelas pro mes sas de chegar ao sul do país. Mas a pers - pectiva que vem do narra dor é a da contínua andança, sem definição e sem destino certo. • Angústia Tecnicamente, o romance mais complexo de Graci liano Ramos. É a história de um frustrado, Luís da Silva, homem tímido e solitário, que vive entre dois mundos com os quais não se identifica. Produto de uma sociedade rural em decadência, Luís da Silva alimenta um nojo impotente dos outros e de si mesmo. Apaixo - nado por uma vizinha, Marina, pede-a em casa mento e lhe entrega as parcas economias para um enxoval hipotético. Surge Julião Tavares, que tem tudo o que falta a Luís: ousadia, dinheiro, posição social, euforia e uma tranquila inconsciência. A fútil Marina se deixa seduzir sem dificuldades e Luís, amargurado, vai nutrindo impulsos de assassínio que o levam, de fato, a estrangular o rival. Em certo sentido, a morte de Julião Tavares represen ta para Luís da Silva a desforra que tira contra todos, mas que em seguida perde o aparente significado de vitória. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 72 – 73 P O R T U G U ÊS Texto para o teste 1. E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governador do Estado] a serraria, o descaroçador e o estábulo. Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar. — Pois sim senhor. Quando V. Ex.a vier aqui outra vez, encontrará essa gente aprendendo cartilha. (RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1991.) 1. (2018-2.a aplic.) – O fragmento do romance de Graciliano Ramos dialoga com o contexto da Primeira República no Brasil, ao focalizar o(a) a) derrocada de práticas clientelistas. b) declínio do antigo atraso socioeconômico. c) liberalismo desapartado de favores do Estado. d) fortalecimento de políticas públicas educacionais. e) aliança entre a elite agrária e os dirigentes políticos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018-2.a aplic.] É evidente no trecho a proximidade entre a “elite agrária”, representadapor Paulo Honório, e os “dirigentes políticos”. A “aliança” entre essa elite e o poder político local fica sugerida na passagem: “De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar.” Resposta: E 2. (FMABC-SP-2019) – Em São Bernardo, Graciliano Ramos denuncia a) o convênio de mútua colaboração entre coronéis e cangaceiros para lucrar em uma região castigada pela seca. b) as práticas de enriquecimento ilícito e as relações de favor típicas do capitalismo rural brasileiro. c) a ação predatória da burguesia ascendente ao se apropriar de terras reservadas à reforma agrária. d) a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar devido a políticas públicas que privilegiavam a cafeicultura. e) o ciúme excessivo que pode acometer algumas pessoas que se deixam guiar por impulsos românticos. RESOLUÇÃO: [FMABC-SP-2019] Por meio de negócios ilícitos, da violência e de acordos irregulares, Paulo Honório enriquece e torna-se proprie - tário da Fazenda São Bernardo. Para o narrador-personagem, a ascensão socioeconômica é meta constante, transformando tudo ao seu redor em objeto, revelando, assim, características do capitalista selvagem. Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 73 74 – P O R T U G U ÊS Textos para o teste 3. Texto 1 Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo. (RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 23. ed. São Paulo: Martins, 1969, p. 75.) Texto 2 Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes. (GUIMARÃES, Luís Bueno. Clarice e Antes. In Teresa. n. 2. São Paulo: USP, 2001, p. 254.) 3. A partir do trecho de Vidas Secas (texto 1) e das informações do texto 2, relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas. I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30. II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendência da ficção brasileira da década de 30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares. III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a posição social do sertanejo na realidade nacional. É correto apenas o que se afirma em a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III. RESOLUÇÃO: [ENEM-2007] O que se afirma em I é compatível com a tentativa de incorporação da figura do roceiro pobre no campo da ficção, como expresso no texto crítico. A incorporação do pobre e de outros marginalizados na ficção brasileira da década de 1930 e a tentativa de superação da grande distância entre o intelectual e as camadas populares, como se afirma em II, reproduz a consideração de Luís Bueno segundo a qual o que se colocava ao intelectual brasileiro, naquele momento, era a inserção do pobre na ficção de natureza regional e neorrealista. O erro da afirmação III está em que as obras literárias que focalizaram o sertanejo, na década de 1930, alteraram a sua posição no quadro da literatura brasileira, não sua posição social na realidade nacional. Resposta: D C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 74 – 75 P O R T U G U ÊS Texto para as questões de 1 a 6. — Toda a vida. Na hora de um boi partir na gente, os olhos mudam de jeito e ficam maiores, parecendo que não vão caber mais nos buracos das vistas... — Pois eu juro, seô Major, que aquilo foi de supetão... Eu vi o Calundu abaixar a cabeça... Parecia que ele ia querer mais sal... E, aí, de testada e de queixo, ele deu com o menino no chão, do jeito mesmo de que um cachorro derruba uma lata. Seu Vadico caiu debruço, com a cabecinha para dentro das patas do touro... E ele nem pôs o pé em cima: deu uma passada para trás, e foi uma chifrada só... Depois, o Calundu sungou a cabeça, e o sangue subiu atrás, num repuxo desta altura:...!... — Muito triste, Raymundão. — Nós corremos, todos, mas não foi preciso tirar o zebu, porque ele deu as costas, e foi andando para longe, vagaroso, que nem que não quisesse ver o crime que tinha feito... Aquilo era sangue por todo lado, e o pessoal gritando... Seu Neco Borges virou um demônio, puxou o revólver... Mas seu Vadico, antes de morrer, falou determinado, que nem pessoa grande: — “Não mata o Calundu, pai, pelo amor de Deus! Não quero que ninguém judie com o Calundu!”... — Um-hum! — Seu Borges mandou levar para o seu Lourenço, na Vista-Alegre, para ser vendido ou dado de graça... Aí eu disse que levava, porque só eu era quem sabia fazer a simpatia do cambará. O senhor conhece? Pois eu juntei o bicho com um terno de vacas mansas, montei no meu quartão castanho, e joguei um raminho de cambará, para trás: aquilo, o zebu me acompanhou, que nem um bezerrinho correndo para o úbere da mãe... Eu falava: — Vamos para adiante, assassino!... — Mas falava baixo, para ele não me entender... Não me deu trabalho nenhum. Agora, quando chegamos lá no Saco-do-Sobre, então foi que eu tive medo, porque a simpatia do cambará só serve para quando a gente está indo na estrada... Fui gritando: — Abram as porteiras dos dois lados, abrir logo!... — E emboquei e atravessei o curral, de galope, saindo da outra banda. Ele e as vacas entraram atrás, e os vaqueiros fecharam tudo. Mas, de noite... Eu pernoitei lá, e vi a coisa, seô Major. Ninguém não pôde pegar no sono, enquanto não clareou o dia. O Calundu, aquilo ele berrava um gemido rouco, de fazer piedade e assustar... Uivava até feito cachorro, ou não sei se eram os cachorros também uivando, por causa dele. Leofredo, que era de lá naquele tempo, disse: — “Ele está arrependido, por ter matado o menino”... — Mas o velho Valô Venâncio, vaqueiro cego que não trabalhava mais, explicou para a gente que era um espírito mau que tinha se entrado no corpo do boi... Parecia que ele queria mesmo era chamar alguma pessoa. Fomos lá todos juntos. Quando ele nos viu, parou de urrar e veio, manso, na beira da cerca... Eu vi o jeito de que ele queria contar alguma coisa, e eu rezava para ele não poder falar... De manhã cedo, no outro dia, ele estava murcho, morto, no meio do curral... — Às vezes veem coisas dessas, que a gente não sabe, Raymundão. — Isso, agora, eu acredito, seô Major. Sei de um caso que se passou, há muitos anos, contado por meu pai, que quando moço foi campeiro de um tal Leôncio Madurera, no sertão. Leôncio Madurera era um homem herodes, que vendia o gado e depois mandava cercar os boiadeiros na estrada, para matar e tornar a tomar os bois. Pois meu pai contava que, quando ele morreu, e os parentes estavam fazendo quarto ao corpo, as vacas de leite começaram a berrar feio, de repente, no curral. Coisa que o garrote preto urrava:— Madurera!... Madurera!... E as vacas respondiam, caminhando: — Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!... ... Tiveram de soltar tudo e de enxotar para o pasto, porque eles não queriam sair de de-perto da casa. E meu pai contou que, de longe, a gente ainda escutava a maldição deles, que subiam o caminho do morro, sem parar de berrar: — Madurera!... Madurera!... — Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!... ... Arrepia as costas, mesmo para se contar... (GUIMARÃES ROSA, J. O Burrinho Pedrês, in Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 2001, p. 71-73.) 1. Pode-se afirmar que, em João Guimarães Rosa, ocorre o registro fiel da fala do sertanejo? Explique. RESOLUÇÃO: Não, isso não ocorre, pois, no regionalismo universal de Guimarães Rosa, ao contrário da tradição regionalista que buscava o registro documental do jagunço e sua paisagem, ocorre a estilização da fala do sertanejo, a partir do apuro formal de caráter experimentalista que dá à sua prosa/fala elementos da poesia. MÓDULO 19 Análise de Texto FRENTE 3Análise de Textos C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 75 76 – P O R T U G U ÊS 2. Na visão dos vaqueiros, a simples condição de animal do boi Calundu é fator determinante para explicar sua agressão a seu Vadico? RESOLUÇÃO: Não, não basta a condição animal, pois, para os vaqueiros, a explicação para a agressão inesperada do boi Calundu está na crença de que o boi tem em si a presença de um espírito mau: “Valô Venâncio, vaqueiro cego que não trabalhava mais, explicou para a gente que era um espírito mau que tinha entrado no corpo do boi... Parecia que ele queria mesmo era chamar alguma pessoa. Fomos lá todos juntos. Quando ele nos viu, parou de urrar e veio, manso, na beira da cerca... Eu vi o jeito de que ele queria contar alguma coisa, e eu rezava para ele não poder falar...” 3. Por que Raymundão se prontifica a transportar Calundu depois do acidente com seu Vadico? RESOLUÇÃO: Porque somente Raymundão sabia fazer a “simpatia do cambará”: “Aí eu disse que levava, porque só eu era quem sabia fazer a simpatia do cambará O senhor conhece? Pois eu juntei o bicho com um terno de vacas mansas, montei no meu quartão castanho, e joguei um raminho de cambará para trás: aquilo, o zebu me acompanhou, que nem um bezerrinho correndo para o úbere da mãe...” 4. Transcreva do excerto: a) uma aliteração: RESOLUÇÃO: “Velho Valô Venâncio, vaqueiro”; “murcho, morto, no meio”, entre outras. b) uma onomatopeia: RESOLUÇÃO: “Urrava”, “enxotar”. 5. No segundo “causo”, história de encaixe, há uma figura de lin gua - gem que explica o fato de as vacas responderem “Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!...”, ao urro do garrote preto. Identifique-a. RESOLUÇÃO: A figura de linguagem que explica o fato de Leôncio Madurera ser amaldiçoado depois da morte pelo gado no curral é “homem herodes” que compara a malvadeza de Leôncio com a personagem bíblica Herodes, que mandou matar todos os meninos abaixo de dois anos quando do nascimento de Jesus: “Leôncio Madurera era um homem herodes, que vendia o gado e depois mandava cercar os boiadeiros na estrada, para matar e tornar a tomar os bois. Pois meu pai contava que, quando ele morreu, e os parentes estavam fazendo quarto ao corpo, as vacas de leite começaram a berrar feio, de repente, no curral.” 6. Em: “Eu falava: — Vamos para adiante, assassino!... — Mas falava baixo, para ele não me entender...”, passe o trecho em que se nota o emprego do discurso direto para o discurso indireto. Faça os ajustes necessários de modo a manter a clareza do texto original. RESOLUÇÃO: “Eu falava para o boi Calundu para que fôssemos para adiante, chamando-o de assassino. Mas falava baixo para ele não me entender.” C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 76 Texto para a questão 7. BOI SOBERANO Me alembro e tenho saudade do tempo que vai ficando do tempo de boiadeiro que eu vivia viajando; Eu nunca tinha tristeza vivia sempre cantando mês e mês cortando estrada no meu cavalo ruano; Sempre lidando com gado desde a idade de quinze ano não me esqueço de um transporte seiscentos boi cuiabano; No meio tinha um boi preto por nome de Soberano. Na hora da despedida o fazendeiro foi falando cuidado com este boi que nas guampas é leviano; Esse boi é criminoso já me fez diversos danos Tocamo pelas estradas naquilo sempre pensando; Na cidade de Barretos na hora que eu fui chegando a boiada estourou ai só via gente gritando; Foi mesmo uma tirania na frente ia, o Soberano. O comércio da cidade as portas foram fechando na rua tinha um menino decerto estava brincando; Quando ele viu que morria de susto foi desmaiando coitadinho debruçou na frente do Soberano. O Soberano parou ai em cima ficou bufando rebatendo com o chifre os boi que ia passando naquilo o pai da criança, de longe, vinha gritando. Se este boi matar meu filho eu mato quem vai tocando e quando viu seu filho vivo e o boi por ele velando. Caiu de joelho por terra e para Deus foi implorando salvai meu anjo da guarda deste momento tirano; Quando passou a boiada o boi foi se retirando veio o pai desta criança me comprou o Soberano. Este boi salvou meu filho ninguém mata, o Soberano. (Carreirinho / Izaltino G. de Paula / Pedro Lopes de Oliveira) 7. A letra transcrita pertence a uma “moda de viola” em que se narra um “causo” cujo protagonista é um boi chamado Soberano. A partir da comparação da canção com a história do boi Calundu, presente em “O Burrinho Pedrês”, de Guimarães Rosa, faça um breve comentário: a) sobre as diferenças e as aproximações entre as ações dos bois Calundu e Soberano em suas respectivas histórias. RESOLUÇÃO: As duas histórias têm por protagonista um boi humanizado que comete uma ação inesperada. Em “O Burrinho Pedrês”, o boi Calundu comete um crime, mesmo não tendo um passado que justificasse o ataque a Vadico; na moda de viola, o boi Soberano salva um menino em meio a um estouro de boiada, contradizendo seu histórico de braveza. Ambos os bois serão transportados e terão seus destinos modificados após suas ações: o Calundu terá um fim trágico que foge ao entendimento e à explicação realista; o Soberano, um final feliz, pois escapa do abate ao ser comprado pelo pai cujo filho foi salvo pelo boi. b) sobre o tipo de linguagem empregado em cada texto. RESOLUÇÃO: Enquanto em “O Burrinho Pedrês” a fala do sertanejo é recriada por meio de estilização que lhe confere poeticidade particular (“Nós corremos, todos,”; “era um homem herodes”; “eles não queriam sair de de-perto”; “para o úbere da mãe”), em o “Boi Soberano”, nota-se o registro mimético da fala coloquial do vaqueiro, com seus desvios sistemáticos em relação à norma-padrão da língua (“Me alembro”; seiscentos boi cuiabano”; “quinze ano”; “tocamo”). – 77 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 77 Texto para os testes 1 e 2. UM BOI VÊ OS HOMENS Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente, falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se a um simples baixar de cílios, a uma sombra. Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade, e como neles há pouca montanha, e que secura e que reentrâncias e que impossibilidade de se organizarem em formas calmas, permanentes e necessárias. Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem perdoar a agitação incômoda e o translúcido vazio interior que os torna tão pobres e carecidos de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme (que sabemosnós?) sons que se despedaçam e tombam no campo como pedras aflitas e queimam a erva e a água, e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade. (Carlos Drummond de Andrade) 1. No poema “Um Boi Vê os Homens”, da obra Claro Enigma, Drummond traz uma representação do ser humano pelo olhar animal: suas peculiaridades e questionamentos. Segundo o conteúdo do poema, podemos afirmar que a) o Homem e o boi têm as mesmas características e habilidades de sobrevivência. b) o Homem seria tão resistente quanto um boi. c) o Homem não sabe viver de forma harmônica nem perceber os sons e cheiros que o envolvem. d) Homem e boi se completam dentro do quadro de existência natural. e) o Homem, quando triste, não muda sua postura. RESOLUÇÃO: O eu lírico, um boi, compara as habilidades bovinas às humanas. Percebe-se que o ser humano não reconhece coisas naturais, como o cheiro do feno, ou não sabe fazer sons que transmitam senti mentos, ou, ainda, não sabe viver de forma calma como os bois. Resposta: C 2. Considerando-se que o eu lírico do poema é um boi, é possível fazer uma associação com um dos contos de Sagarana, de Guimarães Rosa, cujas características são evidenciadas em uma das seguintes alternativas: a) “Conversa de Bois”, no qual os bois do carro fazem uma reflexão sobre os bois que são abatidos pelos homens — nem parecem bois; mas eximem-se da vingança. b) “O Burrinho Pedrês”, porque Sete-de-Ouros ri da ignorância dos homens durante a cheia. c) “A Hora e Vez de Augusto Matraga”, porque o burro que leva Matraga conscientiza-o de que precisa ser uma pessoa melhor. d) “Conversa de Bois”, no qual Brilhante e os outros bois do carro resolvem vingar-se de Agenor Soronho. e) “Conversa de Bois”, quando os bois do carro cogitam matar o carroceiro, mas acabam perdoando-lhe. RESOLUÇÃO: Resposta: D Texto para o teste 3. SER O filho que não fiz hoje seria homem. Ele corre na brisa, sem carne, sem nome. Às vezes o encontro num encontro de nuvem. Apoia em meu ombro seu ombro nenhum. Interrogo meu filho, objeto de ar: em que gruta ou concha quedas abstrato? Lá onde eu jazia, responde-me o hálito, não me percebeste, contudo chamava-te como ainda te chamo (além, além do amor) onde nada, tudo aspira a criar-se. O filho que não fiz faz-se por si mesmo. 78 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 20 Análise de Texto C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 78 3. No poema “Ser”, de Claro Enigma, Drummond faz referência direta a seu filho Carlos, que morreu meia hora depois de nascer. Assinale a alternativa falsa sobre o texto e o livro em que ele está inserido. a) Mesmo com a passagem do tempo, o filho vive na memória do poeta. b) Apesar de não ter vingado fisicamente, o filho permanece íntimo do eu lírico. c) O poema contrasta com a poesia engajada que aparece em Claro Enigma. d) O poeta divaga muitas vezes pensando em seu filho. e) O poeta manifesta amor a esse filho. RESOLUÇÃO: Em Claro Enigma não há a poesia engajada de Drummond. Resposta: C Texto para as questões 4 e 5. CONFISSÃO Não amei bastante meu semelhante, não catei o verme nem curei a sarna. Só proferi algumas palavras, melodiosas, tarde, ao voltar da festa. Dei sem dar e beijei sem beijo. (Cego é talvez quem esconde os olhos embaixo do catre.) E na meia-luz tesouros fanam-se, os mais excelentes. Do que restou, como compor um homem e tudo que ele implica de suave, de concordâncias vegetais, murmúrios de riso, entrega, amor e piedade? Não amei bastante sequer a mim mesmo, contudo próximo. Não amei ninguém. Salvo aquele pássaro — vinha azul e doido — que se esfacelou na asa do avião. (Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma) 4. Pode-se dizer que a linguagem deste poema se aproxima do estilo dos livros iniciais de Drummond, como Alguma Poesia e Brejo das Almas? Por quê? RESOLUÇÃO: O estilo de Claro Enigma não apresenta as rupturas típicas da primeira fase de Drummond, em que se nota a influência do primeiro tempo modernista, como os cortes bruscos, a linguagem coloquial, o humor e o estilo próximo de vanguardas europeias. Em “Confissão”, os versos, apesar de heterométricos, têm estilo discursivo, certa solenidade sem o humor amargo e a iconoclastia da primeira fase de Drummond. 5. O poema aproxima-se do niilismo machadiano? Por quê? RESOLUÇÃO: Sim, esse poema aproxima-se do niilismo machadiano, pois é visível a nulidade do eu lírico em relação ao outro e a si mesmo. A frustração e o autoisolamento estéril percorrem o poema. Ressalve-se que o niilismo machadiano é permeado pelo tom galhofeiro. – 79 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 79 80 – P O R T U G U ÊS Texto para as questões de 6 a 9. OFICINA IRRITADA Eu quero compor um soneto duro como poeta algum ousara escrever. Eu quero pintar um soneto escuro, seco, abafado, difícil de ler. Quero que meu soneto, no futuro, não desperte em ninguém nenhum prazer. E que, no seu maligno ar imaturo, ao mesmo tempo saiba ser, não ser. Esse meu verbo antipático e impuro há de pungir, há de fazer sofrer, tendão de Vênus sob o pedicuro. Ninguém o lembrará: tiro no muro, cão mijando no caos, enquanto Arcturo, claro enigma, se deixa surpreender. (Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma) 6. Este poema manifesta um desejo do eu lírico. Que desejo é esse? RESOLUÇÃO: O eu lírico quer criar um poema, um soneto endurecido, que há de fazer sofrer, incomodar. 7. O desejo do eu lírico é alcançado? Justifique. RESOLUÇÃO: Sim, é alcançado, pois ele elabora um soneto, com 14 versos, divididos em dois quartetos e dois tercetos. O vocabulário contém verbos agressivos (pungir, sofrer, mijar) e a abordagem é negativa (“Ninguém o lembrará: tiro no muro”; “Não desperte em ninguém nenhum prazer”). A rima a partir da vogal u (duro / escuro / futuro / imaturo etc.) também contribui sonoramente para o tom sombrio, já que a vogal u é fechada quanto ao timbre. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 80 8. O poema menciona uma estrutura clássica: o soneto. Há alguma outra marca dessa estrutura clássica? RESOLUÇÃO: Sim, nota-se estrutura clássica, seja pela metrificação — o verso é o decassílabo heroico, com tonicidade nas 6.a e 10.a sílabas —, seja pela presença de rimas, alternadas (ABAB) nos quartetos e com esquema ABA-AAB nos tercetos. A rima alternada remete aos sonetos camonianos. Ressalve-se, porém, que o poema não tem a retórica do Classicismo. 9. Faça a escansão dos versos: Não desperte em ninguém nenhum prazer. E, que no seu maligno ar imaturo, RESOLUÇÃO: Não / des / per / te em / nin / guém / ne / nhum / pra / zer 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 E, / que / no / seu / ma / lig / no ar / i / ma / tu / ro, 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 – 81 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 81 82 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 1. FAREJADOR DE PLÁGIO: UMA FERRAMENTA CONTRA A CÓPIA ILEGAL No mundo acadêmico ou nos veículos de comunicação, as cópias ilegais podem surgir de diversas maneiras, sendo integrais, parciais ou paráfrases. Para ajudar a combater esse crime, o professor Maximiliano Zambonatto Pezzin, engenheiro de computação, desenvolveu junto com os seus alunos o programa Farejador de Plágio. O programa é capaz de detectar: trechos contínuos e fragmen - tados, frases soltas, partes de textos reorganizadas, frases reescritas, mudanças na ordem dos períodos e erros fonéticos e sintáticos. Mas como o programa realmente funciona? Considerando o texto como uma sequência de palavras, a ferramenta analisa e busca trecho por trecho nos sites de busca, assim como um professor desconfiado de um aluno faria. A diferença é que o programa permite que se pesquise em vários buscadores, gerando assim muito mais resultados. (Disponível em: <http://reporterunesp.jor.br>. Acesso em: 19 mar. 2018.) 1. (2018) – Segundoo texto, a ferramenta Farejador de Plágio alcança seu objetivo por meio da a) seleção de cópias integrais. b) busca em sites especializados. c) simulação da atividade docente. d) comparação de padrões estruturais. e) identificação de sequência de fonemas. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O texto define a ferramenta Farejador de Plágio como capaz de detectar trechos contínuos e fragmentados. Isso só é possível pelo fato de o texto ser considerado como uma “sequência de palavras” que permite a “comparação de padrões estruturais”. Resposta: D Texto para o teste 2. ABL LANÇA NOVO CONCURSO CULTURAL: “CONTE O CONTO SEM AUMENTAR UM PONTO” Em razão da grande repercussão do concurso de Microcontos do Twitter da ABL, o Abletras, a Academia Brasileira de Letras lançou no dia do seu aniversário de 113 anos um novo concurso cultural intitulado “Conte o conto sem aumentar um ponto”, baseado na obra A Cartomante, de Machado de Assis. “Conte o conto sem aumentar um ponto” tem como objetivo dar um final distinto do original ao conto A Cartomante, de Machado de Assis, utilizando-se o mesmo número de caracteres — ou inferior — que Machado concluiu seu trabalho, ou seja, 1.778 caracteres. Vale ressaltar que, para participar do concurso, o concorrente deverá ser seguidor do Twitter da ABL, o Abletras. (Disponível em: <www.academia.org.br>. Acesso em: 18 out. 2015 – adaptado.) 2. (2018) – O Twitter é reconhecido por promover o compartilhamento de textos. Nessa notícia, essa rede social foi utilizada como veículo/suporte para um concurso literário por causa do(a) a) limite predeterminado de extensão do texto. b) interesse pela participação de jovens. c) atualidade do enredo proposto. d) fidelidade a fatos cotidianos. e) dinâmica da sequência narrativa. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O Twitter estabelece um limite de caracteres por postagem, sendo 280 atualmente e 140 à época da notícia do concurso. Como o concurso literário da Academia Brasileira de Letras também limita o número de caracteres para as publicações, justifica-se a escolha dessa rede social para a divulgação desse concurso. Resposta: A MÓDULO 21 Análise de Texto C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 82 Texto para o teste 3. Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi por vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não é isso o que acontece nas redes sociais: a democracia racial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do que acontece diariamente nas comunidades virtuais do país. Levantamento inédito realizado pelo projeto Comunica que Muda [...] mostra em números a intolerância do internauta tupiniquim. Entre abril e junho [de 2016], um algoritmo vasculhou plataformas [...] atrás de mensagens e textos sobre temas sensíveis, como racismo, posicionamento político e homofobia. Foram identificadas 393.284 menções, sendo 84% delas com abordagem negativa, de exposição do preconceito e da discriminação. (Disponível em: <https://oglobo.globo.com>. Acesso em: 6 dez. 2017 – adaptado.) 3. (2018) – Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapeada por meio de uma pesquisa em plataformas virtuais, o texto a) minimiza o alcance da comunicação digital. b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro. c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito. d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na sociologia. e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal comportamento. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O texto apresenta, em seu início, a visão consagrada do brasileiro, na literatura e na sociologia, como “cordial e hospitaleiro”, para rebatê-la a partir de dados pesquisados, segundo os quais, de 393.284 menções sobre posicionamento político, homofobia e racismo, 84% continham abordagens preconceituosas e discriminatórias. Logo, a análise desses dados “refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro” como homem cordial e hospitaleiro. [PARA O PROFESSOR: O texto de Sérgio Matsuura, escrito em agosto de 2016, ainda afirma que “[c]omo resultado do panorama político gerado a partir das eleições de 2014, ‘coxinhas’ e ‘petralhas’ realizam intenso debate nas redes, na maioria das vezes com xingamentos e discursos rasos, que incentivam o ódio e a divisão.”] Resposta: B Texto para o teste 4. PARA QUE SERVE A TECNOLOGIA Computador “Com os computadores e a internet, mudei muito. A Lian de hoje é totalmente diferente daquela de antes da informática. Me abriu portas e, além de tudo, fui aceita por pessoas que achava que não iriam me aceitar. Com a internet, viajei o mundo. Fui até Portugal e à África. Eu nem sabia que lá a realidade era tão forte. Perto deles, estamos até muito bem.” — Tânia “Lian” Silva, 26, índia pankararu. TV “Eu gosto muito de televisão. Assisto às novelas, me divirto muito. Mas, ao mesmo tempo, sei que aquilo tudo que passa lá não é verdade. É tudo uma ilusão.” — Valentina Maria Vieira dos Santos, 89, índia fulni-ô da aldeia Xixi a cla. MP3 Player “Cuido do meu tocador de MP3 como se fosse um tesouro. É um pen drive simples, mas é muito especial para mim. Nele ouço músicas indígenas e bandas da própria aldeia. Ele vive emprestado porque acaba sendo a diversão da aldeia inteira. Uso até para exibir uns vídeos que baixo da internet. Basta colocar no aparelho de DVD com entrada USB que tenho.” — Jailton Pankararu, 23, índio pankararu. (Disponível em: <www2.uol.com.br>. Acesso em: 1 ago. 2012.) 4. (2018-2.a aplic.) – Os depoimentos apresentados no texto retratam o modo como diferentes gerações indígenas relatam suas experiências com os artefatos tecnológicos. Os comentários revelam a) uma preferência pela possibilidade de uso do computador. b) um elogio à utilidade da tecnologia no cotidiano indígena. c) uma crítica à própria identidade antes da inclusão digital. d) o gosto pela ilusão em telenovelas transmitidas na TV. e) o desejo de possuir um aparelho importado. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018-2.a aplic.] Nos três comentários, o modo como os três indígenas se referem ao uso de tecnologias (no caso, o computador e a internet, a TV e o MP3 player) permite a conclusão de que eles fazem “um elogio à utilidade da tecnologia” no seu cotidiano. Resposta: B – 83 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 83 84 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 5. Não há dúvidas de que, nos últimos tempos, em função da velocidade, do volume e da variedade da geração de informações, questões referentes à disseminação, ao armazenamento e ao acesso de dados têm se tornado complexas, de modo a desafiar homens e máquinas. Por meio de sistemas financeiros, de transporte, de segurança e de comunicação interpessoal — representados pelos mais variados dispositivos, de cartões de crédito a trens, aviões, passaportes e telefones celulares —, circulam fluxos informacionais que carregam o DNA da vida cotidiana do indivíduo contemporâneo. Para além do referido cenário informacional contemporâneo, percebe- se, nos contextos governamentais, um esforço — gerado por leis e decretos, ou mesmo por pressões democráticas — em disseminar informações de interesse público. No Brasil, está em vigor, desde maio de 2012, a Lei de Acesso à Informação n. 12.527. Em linhas gerais, a legislação regulamenta o direito à informação, já garantido na Constituição Federal, obrigando órgãos públicos a divulgarem os seus dados. (SILVA JR., M. G. Vigiar, Punir e Viver. Minas Faz Ciência, n. 58, 2014 – adaptado.) 5. (2018-2.a aplic.) – As Tecnologias de Informação e Comunicação propiciam à sociedade contem po râ - nea o acesso a grande quantidade de dados públicos e privados. De acordo com o texto, essa nova realidade promove a) questionamento sobre a privacidade. b) mecanismos de vigilância de pessoas. c) disseminação de informações individuais. d) interferência da legislação no uso dos dados. e) transparência na relação entre governo e cidadãos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018-2.a aplic.] Segundo o texto, “percebe-se, nos contextos governamentais, um esforço — gerado porleis e decretos, ou mesmo por pressões democráticas — em disseminar informações de interesse público”, fato que, pode-se concluir, promove a “transparência na relação entre governo e cidadãos”. Resposta: E Texto para o teste 6. Até que ponto replicar conteúdo é crime? “A internet e a pirataria são inseparáveis”, diz o diretor do instituto de pesquisas americano Social Science Research Council. “Há uma infraestrutura pequena para controlar quem é o dono dos arquivos que circulam na rede. Isso acabou com o controle sobre a propriedade e tem sido descrito como pirataria, mas é inerente à tecnologia”, afirma o diretor. O ato de distribuir cópias de um trabalho sem a autorização dos seus produtores pode, sim, ser considerado crime, mas nem sempre essa distribuição gratuita lesa os donos dos direitos autorais. Pelo contrário. Veja o caso do livro O Alquimista, do escritor Paulo Coelho. Após publicar, para download gratuito, uma versão traduzida da obra em seu blog, Coelho viu as vendas do livro em papel explodirem. (BARRETO, J.; MORAES, M. A Internet Existe sem Pirataria? Veja, n. 2.303, 13 fev. 2013 – adaptado.) 6. De acordo com o texto, o impacto causado pela internet propicia a a) banalização da pirataria na rede. b) adoção de medidas favoráveis aos editores. c) implementação de leis contra crimes eletrônicos. d) reavaliação do conceito de propriedade intelectual. e) ampliação do acesso a obras de autores reconhecidos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016] O texto apresenta questionamentos sobre o conceito de propriedade intelectual na internet. Resposta: D Texto para o teste 7. O hoax, como é chamado qualquer boato ou farsa na internet, pode espalhar vírus entre os seus contatos. Falsos sorteios de celulares ou frases que Clarice Lispector nunca disse são exemplos de hoax. Trata-se de boatos recebidos por e-mail ou compartilhados em redes sociais. Em geral, são mensagens dramáticas ou alarmantes que acompanham imagens chocantes, falam de crianças doentes ou avisam sobre falsos vírus. O objetivo de quem cria esse tipo de mensagem pode ser apenas se divertir com a brincadeira (de mau gosto), prejudicar a imagem de uma empresa ou espalhar uma ideologia política. Se o hoax for do tipo phishing (derivado de fishing, pescaria, em inglês), o problema pode ser mais grave: o usuário que clicar pode ter seus dados pessoais ou bancários roubados por golpistas. Por isso é tão importante ficar atento. (VIMERCATE, N. Disponível em: <www.techtudo.com.br>. Acesso em: 1 maio 2013 – adaptado.) 7. Ao discorrer sobre os hoaxes, o texto sugere ao leitor, como estratégia para evitar essa ameaça, a) recusar convites de jogos e brincadeiras feitos pela internet. b) analisar a linguagem utilizada nas mensagens recebidas. c) classificar os contatos presentes em suas redes sociais. d) utilizar programas que identifiquem falsos vírus. e) desprezar mensagens que causem comoção. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016] Segundo o texto, em geral o hoax “são mensagens dramáticas ou alarmantes que acompanham imagens chocantes, falam de crianças doentes ou avisam sobre falsos vírus.” Pode-se, portanto, concluir que uma “estratégia para evitar essa ameaça”, sugere o texto, é “analisar a linguagem utilizada nas mensagens recebidas”. Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 84 Texto para as questões de 1 a 4. Quinta-feira, 4 de maio [de 1893] (...) No dia da Santa Cruz não descansamos um instante. Cada um quer trabalhar e ajudar mais do que o outro. (...) (...) Para nós este é um dia alegre. Todos os meus tios e primos se reúnem na Chácara de vovó. As negras fazem para nós um judeu1 de frangos de molho pardo, lombo de porco, arroz e angu. Na Chácara moram ainda muitos negros e negras do tempo do cativeiro, que foram escravos e não quiseram sair com a Lei de 13 de Maio. Vovó sustenta todos. Só Tomé é que vovó mandou embora porque diz que é feiticeiro e estava aprontando2 Andresa com um chá de raízes para ela casar com ele. As negras, as que não bebem, são muito boas, e para terem seus cobres fazem pastéis de angu, sonhos e carajés para as festas de igreja e para a porta do teatro. Vovó compra delas muitas dessas coisas e nós comemos a noite inteira. O dia pior para mim é o dia seguinte a qualquer festa. Mamãe é que tem pena de mim porque diz que eu não vou ser feliz com este gênio de querer aproveitar tudo; que a vida é de sofrimentos. Mas eu é que não serei tola de fazer de uma vida tão boa uma vida de sofrimentos. (Helena Morley, Minha Vida de Menina) 1 – Judeu: ceia. 2 – Aprontar: dar chás de raízes para conseguir a benquerença de uma pessoa. 1. O diário Minha Vida de Menina é um registro abrangente da sociedade brasileira logo após a abolição da escravatura e a Proclamação da República. Considerando esse contexto e o excerto, responda aos itens a seguir: a) Pode-se dizer que esse contexto trouxe a independência econômica para os ex-escravos? RESOLUÇÃO: Não se pode afirmar isso, pois a Lei Áurea não teve como conse - quên cia a emancipação econômica dos que viviam como es cra - vos. No Brasil, o relacionamento entre senhores e ex-escravos era de aparente solidariedade, entretanto tratava-se do paternalismo da ideologia do favor: os recém-libertos tinham onde morar, mas continuavam trabalhando sem receber salário, como agregados ao proprietário e submissos moral e existencialmente, como se nota na passagem: “Na chácara moram ainda muitos negros e negras do tempo do cativeiro, que foram escravos e não quiseram sair com a Lei de 13 de Maio”; “As negras fazem para nós um judeu de frangos de molho pardo, lombo de porco, arroz e angu.” b) Como os ex-escravos conseguiam arranjar algum dinheiro? RESOLUÇÃO: Para eles ganharem algum dinheiro, as mulheres faziam algumas comidas e vendiam para a proprietária ou para os eventos de Diamantina: “As negras, as que não bebem, são muito boas, e para terem seus cobres fazem pastéis de angu, sonhos e carajés para as festas de igreja e para a porta do teatro. Vovó compra delas muitas dessas coisas e nós comemos a noite inteira.” – 85 P O R T U G U ÊS MÓDULO 22 Análise de Texto C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 85 86 – P O R T U G U ÊS 2. a) A convivência de pessoas de origens étnicas diferentes resultou num sincretismo de elementos culturais e religiosos sem maiores tensões. Você concorda com essa afirmação? Justifique concisamente. RESOLUÇÃO: Embora no contexto do diário haja referência às superstições de dona Teodora e práticas fetichistas, a velha senhora dispensa Tomé por não aceitar as práticas religiosas do ex-escravo em sua propriedade, tachando-o de feiticeiro. Portanto, há tensão entre os elementos culturais e religiosos de indivíduos de etnias diferentes, como se comprova na seguinte passagem: “Só Tomé é que vovó mandou embora porque diz que é feiticeiro e estava aprontando Andresa com um chá de raízes para ela casar com ele.” b) Faça um comentário sobre a importância do aspecto socioeco nô - mico na atitude de dona Teodora em relação a Tomé. RESOLUÇÃO: O texto mostra o poderio dos senhores brancos contra as práticas religiosas de origem africana consideradas inapropriadas. Assim, quem tem o poder socioeconômico tacha uma outra crença como feitiçaria, punindo o praticante com a exclusão da proteção paternalista. 3. a) A sociedade brasileira no início da colonização recebeu os jesuítas, que tiveram fortíssima influência na propagação da ideologia contrarreformista e na consequente visão da existência como penitência. Pode-se afirmar que, no diário de Helena, há personagens com essa cosmovisão? Justifique sua resposta com base no texto. RESOLUÇÃO: A mãe de Helena lamenta o fato de a filha gostar de festas e sintetiza o legado do pensamento contrarreformista a respeito da existência — “a vida é de sofrimentos” — como uma verdade de resignação absoluta. b) Helena define-se como “impaciente, rebelde, respondona, passeadeira, incapaz de obedecer”.Essa definição é corroborada no excerto? RESOLUÇÃO: Sim, é corroborada, pois Helena não aceita o sofrimento como regra. Diverge do ponto de vista da mãe. A adolescente, além de gostar de festas, rejeita, no diário, a frase que a mãe tenta lhe impor como verdade e afirma: “Mas eu é que não serei tola de fazer de uma vida tão boa uma vida de sofrimentos.” C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 86 4. O livro Minha Vida de Menina apresenta o registro da vida cotidiana e do linguajar corrente da época. A partir dessa informação, reescreva o trecho “... e para terem seus cobres fazem pastéis de angu”, substituindo o termo popular cobres por outro, adequado ao nível formal da linguagem. RESOLUÇÃO: Algumas possibilidades: “... e para terem seu dinheiro fazem pastéis de angu”; “... e para terem suas moedas fazem pastéis de angu”. Texto para o teste 5. Segunda-feira, 14 de outubro [de 1893] Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de tia Clarinha e foi visitar tia Agostinha no Jogo da Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se muito bem. (...) Ficaram as tias todas admiradas da beleza da moça e de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito correto. Dizia “você” em vez de “ocê”. Palavra que eu nunca tinha visto ninguém falar tão bem; tudo como se escreve, sem engolir um s nem um r. (...) Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela gostava de uvas. Ela respondeu: “Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha.” Essas palavras nos fizeram ficar de queixo caído. (...) Depois ela foi passear com outras e Iaiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia: “Vocês não tiveram inveja de ver uma moça (...) falar tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem.” (...) Na hora do jantar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar Iaiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”, “aprecio sobremaneira uma coxa de galinha.” (MORLEY, H. Minha Vida de Menina: cadernos de uma menina provinciana nos fins do século XIX. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.) 5. Neste texto, no que diz respeito ao vocabulário empregado pela moça de Montes Claros, a narradora expõe uma visão indicativa de a) descaso, uma vez que desaprova o uso formal da língua empregado pela moça. b) ironia, uma vez que incorpora o vocabulário formal da moça na situação familiar. c) admiração, pelo fato de deleitar-se com o vocabulário empregado pela moça. d) antipatia, pelo fato de cobiçar os elogios de Iaiá sobre a moça. e) indignação, uma vez que contesta as atitudes da moça. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016 – 3.a aplic.] Diante dos elogios de Iaiá dirigidos à moça de Montes Claros, em virtude da correção linguística e da formalidade no seu modo de expressar-se, a diarista reage com ironia à situação, imitando a moça elogiada: “Na hora do jantar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar Iaiá: ‘Aprecio sobremaneira as batatas fritas’, ‘aprecio sobremaneira uma coxa de galinha.’” Resposta: B Texto para o teste 6. Terça-feira, 30 de maio [de 1893] Eu gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando são na igreja do Rosário, que é quase pegada à chácara de vovó, eu gosto ainda mais. Até parece que a festa é nossa. E este ano foi mesmo. Foi sorteada para rainha do Rosário uma ex-escrava de vovó chamada Júlia e para rei um negro muito entusiasmado que eu não conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há muito tempo ajuntando dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou devendo. Agora é que eu vi como fica caro para os pobres dos negros serem reis por um dia. Júlia com o vestido e a coroa já gastou muito. Além disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha tem uma caudatária que vai atrás segurando na capa que tem uma grande cauda. Esta também é negra da chácara e ajudou no jantar. Eu acho graça é no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Nenhum rejeita o cargo, mesmo sabendo a despesa que dá! (MORLEY, H. Minha Vida de Menina. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 57.) 6. O trecho acima apresenta marcas textuais que jus ti - fi cam o emprego da linguagem coloquial. O tom in - for mal do discurso se deve ao fato de que se trata de a) uma narrativa regionalista, que procura reproduzir as características mais típicas da região, como as falas das personagens e o contexto social a que pertencem. b) uma carta pessoal, escrita pela autora e endereçada a um destinatário específico, com o qual ela tem intimidade suficiente para suprimir as formalidades da correspondência oficial. c) uma narrativa de memórias, na qual a grande distância temporal entre o momento da escrita e o fato narrado impõe o tom informal, pois a autora tem dificuldade de se lembrar com exatidão dos acontecimentos narrados. d) um registro no diário da autora, conforme indicam a data, o emprego da primeira pessoa, a expressão de reflexões pessoais e a ausência de uma intenção literária explícita na escrita. e) uma narrativa oral, em que a autora deve escrever como se estivesse falando para um interlocutor, isto é, sem se preocupar com a norma-padrão da língua portuguesa e com referências exatas aos acontecimentos mencionados. RESOLUÇÃO: [ENEM-2009] Este teste explicita as características do gênero diário, no qual se enquadra a obra Minha Vida de Menina. Resposta: D – 87 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 87 88 – P O R T U G U ÊS Texto para as questões de 1 a 6. (...) Contentemo-nos, portanto, ao menos por agora, com saber que Raimundo Silva, na manhã seguinte à sua ida à editora, e após uma noite de inconciliável espertina, entrou no escritório, agarrou no escondido frasco de tinta do cabelo e, depois de um brevíssimo instante, lugar para a última hesitação, verteu-o inteiro no lava-louças, fazendo em seguida correr águas abundantes que em menos de um minuto fizeram desaparecer da face da terra, literalmente, o artificioso líquido malamente denominado Fonte de Juventa. (...) A História do Cerco de Lisboa está sobre a mesa de cabeceira. Raimundo Silva segurou o livro, deixou que ele se abrisse por si próprio, as páginas são as que sabemos, não haverá outra leitura. Foi sentar-se à secretária, onde o está esperando o inacabado livro de poemas, inacabada a revisão dele, quer dizer, e também, lido só até um terço, corrigidas algumas faltas de concordância, propostas algumas aclarações, e até, discretamente, emendados certos erros de ortografia, o romance que veio por mão do Costa e não tinha urgência. Raimundo Silva afastou para um lado as obrigações do dever, e, com a História do Cerco de Lisboa diante de si, descansou a testa dos dedos dispostos em arco, olhando fixamente o livro, mas logo sem o ver, como se percebia pela expressão de ausência que pouco a pouco se lhe alastrava pelo rosto. A História do Cerco de Lisboa não tardou a ir fazer companhia ao romance e ao livro de poesia, o tampo da secretária é uma superfície lisa, limpa, uma tábua rasa, para falar com plena propriedade de linguagem, o revisor ficou assim durante longos minutos, ouve-se o rumor vago da chuva lá fora, nada mais, a cidade é como se não existisse. Então Raimundo Silva puxou uma folha de papel branco, também ela lisa, limpa, também ela uma tábua rasa, e, ao alto, com a sua clara e cuidada caligrafia de revisor, escreveu História do Cerco de Lisboa. Sublinhou duas vezes, retocou uma e outra letra, e no instante seguinte a folha estava rasgada, rasgada quatro vezes, que menos do que isto não é inutilização suficiente e mais do que isso entende-se como precaução maníaca. Colocou outra folha de papel, mas não para escrever nela, porquanto a dispôs rigorosamente de modo a ficarem paralelos os seus quatro lados com os quatro lados da secretária, teria de torcer o corpo todo, o que ele quer é algo a que possa perguntar, Que vou eu escrever, e depois esperar uma resposta, esperar até se lhe confundirem os olhos e não ver mais a branca, estérilsuperfície, mas uma confusão de palavras surdindo da profundidade como corpos afogados que logo tornam a afundar-se, não tinham visto bastante do mundo, vieram só para isso, não voltam mais. Que vou eu escrever, não é a única pergunta, uma outra logo lhe ocorreu, também ela imperiosa, e tão imediata de urgências que se tornaria quase irresistível tomá-la como efeito reflexo instantâneo, porém determina a prudência que não regressemos ao debate em que nos perdemos anteriormente, e que de mais exigiria, para que não recaíssemos outra vez em confusões conceptuais, a distinção entre relações íntimas e essenciais e relações acidentais, isto pelo mínimo, o que finalmente importará ao caso é saber que Raimundo Silva, depois de ter perguntado, Que vou eu escrever, perguntou, Por onde devo começar. Dir-se-ia ser a primeira pergunta a mais importante das duas, porquanto ela é que vai decidir sobre os objetivos e as lições do futuro escrito, mas, não podendo e não querendo Raimundo Silva remontar tanto que acabasse por ter de redigir uma História de Portugal, felizmente curta, por há tão poucos anos ter começado e por tão à vista estar o seu limite próximo, que é, como está dito, o Cerco de Lisboa, e carecendo de suficiente enquadramento narrativo um relato que principiasse apenas no momento em que os cruzados responderam, Negativo, ao pedido do rei, então a segunda pergunta perfila-se como uma referência factual e cronológica incontornável, o que equivale a perguntar, usando palavras do povo comum, Por que ponta vou eu pegar nisto. (SARAMAGO, J. História do Cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, pp. 107-8.) 1. No excerto, é possível identificar, ainda que sutilmente, as histórias que permeiam a História do Cerco de Lisboa? Comente sucintamente. RESOLUÇÃO: Em História do Cerco de Lisboa, há o entrecruzamento de três narrativas: a historiográfica oficial sobre a tomada de Lisboa aos mouros em 1147, cujo texto coube à personagem Raimundo Silva revisar; a trajetória literária e afetiva de Raimundo Silva, que procura aproximar-se de Maria Sara e vice-versa. Nota-se que o revisor vai à editora, onde trabalha Maria Sara, e decide mudar de aparência, não tingir mais o cabelo. Além desses núcleos narrativos, há a “Nova História do Cerco de Lisboa”, esta, no excerto, ainda na possibilidade de ser escrita, conforme se percebe nas indagações de Raimundo Silva. MÓDULO 23 Análise de Texto C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 88 2. Em suas indagações, Raimundo Silva tenta estabelecer critérios metodológicos para a sua narrativa. Que critérios são esses? RESOLUÇÃO: Os critérios da narrativa de Raimundo Silva reduzem-se a dois: a definição do que será escrito e qual será o fato que servirá de base para o início de sua historiografia. 3. Na construção de sua obra, Raimundo Silva revela uma preocupação que serve de elemento fundamental para diferenciar a narrativa historiográfica da narrativa de ficção. Qual é essa preocupação? RESOLUÇÃO: Trata-se do cuidado em se ater às referências verossímeis e, consequentemente, à reconstrução simbólica dos fatos. Essa preocupação ilustra uma das principais diferenças entre a narrativa historiográfica e a ficcional. A primeira legitima-se pelo evento testemunhado, documentado, enquanto a segunda se constrói pela criação imaginativa, é a meta-historiografia. Raimundo Silva preocupa-se com a necessidade de um “enquadramento narrativo” depois do Não dos cruzados para Afonso Henriques na conquista de Lisboa. 4. No final do excerto, há referência ao impulso concretizado pelo revisor Raimundo Silva que dá início à intriga do romance. Aponte-o e faça um comentário sucinto. RESOLUÇÃO: A resposta “Negativo”, dada pelos cruzados ao rei D. Afonso Henriques e a que o excerto faz referência, remete à alteração feita por Raimundo Silva, que consiste no fato de acrescentar um não ao texto, quando revisava uma obra intitulada “História do Cerco de Lisboa”. O advérbio de negação foi colocado na frase “Os cruzados ajudaram no Cerco de Lisboa”. – 89 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 89 90 – P O R T U G U ÊS 5. No texto transcrito e na obra, pode-se dizer que há metalinguagem e intertextualidade? Por quê? RESOLUÇÃO: Sim, pode-se dizer que há metalinguagem e intertextualidade. O fato de Raimundo Silva refletir sobre o que vai escrever evidencia a metalinguagem. A reescrita da “História do Cerco de Lisboa” dá o caráter intertextual ao que Raimundo escreve. 6. José Saramago faz um uso exclusivo da letra maiúscula, de modo a romper com os padrões oficiais da língua. Explique qual a função desse recurso no excerto em questão. RESOLUÇÃO: O uso heterodoxo de letras maiúsculas, empregadas após a vírgula, serve para introduzir um outro discurso no discurso do narrador. No excerto em questão, esse recurso introduz tanto o monólogo interior de Raimundo (“Que vou eu escrever”; “Por onde devo começar”), quanto o discurso direto dos cruzados (“Negativo”). C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 90 – 91 P O R T U G U ÊS Texto para o teste 1. O trabalho não era penoso: colar rótulos, meter vidros em caixas, etiquetá-las, selá-las, envolvê-las em papel celofane, branco, verde, azul, conforme o produto, separá-las em dúzias... Era fastidioso. Para passar mais rapidamente as oito horas havia o remédio: conversar. Era proibido, mas quem ia atrás de proibições? O patrão vinha? Vinha o encarregado do serviço? Calavam o bico, aplicavam-se ao trabalho. Mal viravam as costas, voltavam a taramelar. As mãos não paravam, as línguas não paravam. Nessas conversas intermináveis, de linguagem solta e assuntos crus, Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália, Jurete, Deolinda — foram mestras. O mundo acabou de se desvendar. Leniza perdeu o tom ingênuo que ainda podia ter. Ganhou um jogar de corpo que convida, um quebrar de olhos que promete tudo, à toa, gratuitamente. Modificou-se o timbre de sua voz. Ficou mais quente. A própria inteligência se transformou. Tornou-se mais aguda, mais trepidamente. (REBELO, M. A Estrela Sobe. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.) 1. (2018) – O romance, de 1939, traz à cena tipos e situações que espelham o Rio de Janeiro daquela década. No fragmento, o narrador delineia esse contexto centrado no a) julgamento da mulher fora do espaço doméstico. b) relato sobre as condições de trabalho no Estado Novo. c) destaque a grupos populares na condição de protagonistas. d) processo de inclusão do palavrão nos hábitos de linguagem. e) vínculo entre as transformações urbanas e os papéis femininos. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] No texto, evidencia-se a relação entre as mudanças urbanas e os papéis femininos desempenhados. O narrador apresenta um cenário típico da década de 30 do século XX no Rio de Janeiro, utilizando personagens femininas em um ambiente profissional em que as mulheres representam a força de trabalho. Resposta: E Texto para o teste 2. Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa baixada que se perde de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada mas com pouquíssimas folhas, abre-se em farrapos de sombra. Único ser nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele — tudo é de uma aridez sufocante. Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode. Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela baixada largando para trás suas noções de si mesma. Não tem retratos na memória. Desapossada e despojada, não se abate em autoacusações e remorsos. Vive. Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a claridade esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. Mas os traços de sua sombracaminham e, tornando-se mais longos e finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam. (FRÓES, L. Vertigens: obra reunida. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.) 2. (2018) – Na apresentação da paisagem e da personagem, o narrador estabelece uma correlação de sentidos em que esses elementos se entrelaçam. Nesse processo, a condição humana configura-se a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão. b) fortalecida pela adversidade extensiva à terra e aos seres vivos. c) redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local. d) imersa num drama existencial de identidade e de origem. e) imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O enunciado descreve uma mulher magra, ossuda, “desapossada e despojada” que está “largando para trás suas noções de si mesma”. Essa figura é colocada em uma paisagem de “tufos secos de capim empedrados” e com uma única árvore “esgalhada mas com pouquíssimas folhas”. Constrói-se, assim, uma fusão, um amálgama entre personagem e ambiente, pois ambos são marcados por desertificação, ausência, carência, solidão. Resposta: A MÓDULO 24 Análise de Texto C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 91 92 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 3. DIA 20/10 É preciso não beber mais. Não é preciso sentir vontade de beber e não beber: é preciso não sentir vontade de beber. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso fechar para balanço e reabrir. É preciso não dar de comer aos urubus. Nem esperanças aos urubus. É preciso sacudir a poeira. É preciso poder beber sem se oferecer em holocausto. É preciso. É preciso não morrer por enquanto. É preciso sobreviver para verificar. Não pensar mais na solidão de Rogério, e deixá-lo. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso enquanto é tempo não morrer na via pública. (TORQUATO NETO. In: MENDONÇA, J. (Org.). Poesia (Im)popular Brasileira. São Bernardo do Campo: Lamparina Luminosa, 2012.) 3. (2018) – O processo de construção do texto formata uma mensagem por ele dimensionada, uma vez que a) configura o estreitamento da linguagem poética. b) reflete as lacunas da lucidez em desconstrução. c) projeta a persistência das emoções reprimidas. d) repercute a consciência da agonia antecipada. e) revela a fragmentação das relações humanas. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O emprego da expressão anafórica “é preciso” revela a permanência de sentimentos reprimidos e a necessidade de continuar a reprimi-los. Resposta: C Texto para o teste 4. O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem. (BARROS, M. O Livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.) 4. (2018) – O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” porque a a) terminologia mencionada é incorreta. b) nomeação minimiza a percepção subjetiva. c) palavra é aplicada a outro espaço geográfico. d) designação atribuída ao termo é desconhecida. e) definição modifica o significado do termo no dicionário. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O eu lírico questiona a minimização da “percepção subjetiva” que se manifesta na expressão “cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa”. Tal minimização ocorre quando um homem denomina tecnicamente (“enseada”) o espaço geográfico mencionado no poema. Resposta: B C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 92 Texto para o teste 5. A CASA DE VIDRO Houve protestos. Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incríveis e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente — havia quem dissesse.) Houve protestos. Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! Houve protestos. Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos combater a inflação e, como se sabe, quando os salários estão acima do índice de produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que. Houve protestos. Proibiram os protestos. E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele ódio. (ÂNGELO, I. A Casa de Vidro. São Paulo: Círculo do Livro, 1985.) 5. (2018) – Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no período as marcas do contexto em que foi produzido, como a a) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de liberdade de expressão característica da época. b) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação ao governo instituído. c) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em relação à situação social e política do país. d) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama da população brasileira durante o Regime Militar. e) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o autoritarismo do momento histórico. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] O texto vai ao encontro de outras obras da literatura brasileira que empregam também metáforas e ironias para retratar a repressão política e cultural desse período da história do Brasil. Resposta: C Texto para o teste 6. Eu sobrevivi do nada, do nada Eu não existia Não tinha uma existência Não tinha uma matéria Comecei a existir com quinhentos milhões e quinhentos mil anos Logo de uma vez, já velha Eu não nasci criança, nasci já velha Depois é que eu virei criança E agora continuei velha Me transformei novamente numa velha Voltei ao que eu era, uma velha (PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org.). Reino dos Bichos e dos Animais É Meu Nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009.) 6. (2018) – Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade da expressão lírica manifesta-se na a) representação da infância, redimensionada no resgate da memória. b) associação de imagens desconexas, articuladas por uma fala delirante. c) expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências de alteridade. d) incorporação de elementos fantásticos, explicitada por versos incoerentes. e) transgressão à razão, ecoada na desconstrução de referências temporais. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018] A singularidade do poema manifesta-se por meio da quebra da expectativa contida nas referências temporais não plausíveis. Resposta: E – 93 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 93 94 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 7. QUEBRANTO às vezes sou o policial que me suspeito me peço documentos e mesmo de posse deles me prendo e me dou porrada às vezes sou o porteiro não me deixando entrar em mim mesmo a não ser pela porta de serviço (...) às vezes faço questão de não me ver e entupido com a visão deles sinto-me a miséria concebida como um eterno começo fecho-me o cerco sendo o gesto que me nego a pinga que me bebo e me embebedo o dedo que me aponto e denuncio o ponto em que me entrego. às vezes!... (CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza, 2007.) 7. (2018) – Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico a) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor. b) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento. c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças. d) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento. e) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018]Por meio da anáfora “às vezes”, o eu poemático, um afrodescendente, enumera atitudes que seleciona no decorrer do tempo e que pertencem ao discurso do seu opressor: suspeitar do negro e agir com violência contra ele, interditar-lhe o acesso a caminhos de entrada e tratá-lo como invisível. Resposta: A C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 94 – 95 P O R T U G U ÊS 1. (FUVEST-2019) – Examine o cartum. ITURRUSGARAI, Adão. A vida como ela yeah. Folha de S. Paulo, ago.2018. O efeito de humor que se obtém no cartum decorre, principalmente, a) da expressão facial da personagem. b) do uso de uma ferramenta fora de contexto. c) da situação rotineira exposta pela imagem. d) da ambiguidade presente na expressão “quebre a cara”. e) do emprego de linguagem popular. RESOLUÇÃO: A tirinha de Adão Iturrusgarai constrói o sentido de humor através da quebra de expectativa e da ambi guidade. A quebra da expectativa ocorre em função da alteração do aviso comum que alerta para o uso de recursos de segurança: “Em caso de emergência, quebre o vidro”, para “em caso de emergência, quebre a cara”. A ambiguidade está na expressão “quebrar a cara”, que denotativamente significa “estraçalhar o rosto” e conotativamente significa “decepcionar-se”. Resposta: D Texto para a questão 2. 2. (FUVEST) a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta. RESOLUÇÃO: O trecho que apresenta duplo sentido é “Não posso me queixar”, que pode ser entendido de duas formas: “não tenho de que me queixar, estou satisfeito”, ou “não tenho permissão para me queixar, pois posso ser punido caso me manifeste”. b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até “queixar”), pondo no plural a palavra “cidadão” e fazendo as modificações necessárias. RESOLUÇÃO: Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o que acham de seu país, eles respondem, sem hesitação: Não podemos nos queixar. 3. (FGV-2019) – Das frases abaixo, a única a que NÃO se aplica o defeito de redação indicado entre parênteses é: a) No Chile, há tolerância zero com o consumo de álcool e dirigir. (Falta de paralelismo) b) A obra não será interrompida em hipótese alguma, a menos que ocorra uma catástrofe. (Incoerência) c) Em nota, a empresa afirmou que preza o compromisso com a preservação da natureza. (Desvio de regência) d) O ministro declarou que tem uma alternativa ao voto impresso na manga. (Ambiguidade) e) Ninguém pode negar que é notório a presença de preconceito étnico em nosso país. (Desvio de concor dância) RESOLUÇÃO: O único período a não apresentar um desvio da norma culta ocorre na alternativa C, na qual afirma-se conter erroneamente um desvio de regência. O verbo “prezar”, no sentido de valorizar, é transitivo direto e, portanto, não rege preposição. Resposta: C DITADURA / DEMOCRACIA A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha de seu país, ele responde, sem hesitação: “Não posso me queixar”. (Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos) MÓDULO 19 Ambiguidade FRENTE 4Morfologia e Redação C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 95 4. (FUVEST-TRANSF-2019) – Das frases abaixo, a única a que não se aplica o defeito de redação indicado entre parênteses é: a) O livro sobre o compositor Adoniran Barbosa está infestado de fotos raras. (Inadequação vocabular). b) Em vários países, inclusive o Brasil, o desenvolvimento econômico sobrepõe-se, com frequência, sobre o progresso social. (Redundância). c) É fácil perceber que, na sociedade brasileira, o descaso com o próximo nunca foi tão patente como agora. (Incoerência). d) Lista de vídeos reúne buldogue expulsando urso e outros animais corajosos. (Ambiguidade). e) A ideologia de nosso partido, como a concebo, basear-se-á no interesse do povo. (Cacofonia ou som desagradável). RESOLUÇÃO: Em a, “infestado” tem conotação negativa, o que não se aplica ao contexto; em b, a redundância ocorre em “sobrepõe-se...sobre”: em d, não é possível saber se “outros animais corajosos” refere- se a “buldogue” ou “urso”; em e, o trecho “como a concebo” forma a cacofonia “como-a com sebo”. Resposta: C Leia a tira para responder à questão 5. (Adão Iturrusgarai. A vida como ela yeah. Folha de São Paulo, 23.09.2017) 5. (BARRO BRANCO) – Entre os fatores determinantes do humor da tira, está a) a crítica ao descaso dos presos, quando a personagem usa sua esperteza para viver o sentido pleno da palavra “liberdade”. b) a impossibilidade de a personagem conseguir fugir e, assim, dar o real sentido ao título da tira. c) a oposição entre a ideia transmitida pela palavra “levar” e a atitude da personagem ao final da história. d) a quebra da expectativa ao final da história, considerando-se o sentido ambíguo presente no título da tira. e) o entendimento da palavra “conhecimento”, como equivalente à ideia de privação de liberdade. RESOLUÇÃO: O título da tira e o primeiro quadrinho sugerem um sentido amplo para a palavra liberdade, obtido por meio do conhecimento adquirido pela leitura. No segundo quadrinho, essa expectativa é quebrada, uma vez que os livros servem como escada para o prisioneiro fugir e alcançar, assim, a sua desejada liberdade. Resposta: D 6. (FUVEST) – Leia a seguinte mensagem publicitária de uma empresa da área de logística: a) Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título da mensagem, ao emprego de expressão com duplo sentido. Indi que essa expressão e explique sucintamente. RESOLUÇÃO: A expressão que apresenta duplo sentido é “andar na linha”, que tanto pode referir-se a transportar sobre trilhos, quanto a agir corretamente, res pei tando os princípios éticos e morais. b) Segundo o anúncio, uma das vantagens do produto (transporte ferroviário) nele oferecido é o fato de esse produto ser “sustentável”. Cite um motivo que justi fique tal afirmação. RESOLUÇÃO: A sustentabilidade está relacionada com o desen vol vi mento econômico e material, minimizando a agressão ao meio ambiente. Dessa forma, o modal ferroviário é sustentável porque a quanti dade de CO2 liberada é menor do que a de outros meios de transporte. Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto alimentício: 7. (FUVEST) – Procurando dar maior expressividade ao texto, seu autor a) serve-se do procedimento textual da sinonímia. b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos. c) explora o caráter polissêmico das palavras. d) mescla as linguagens científica e jornalística. e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos contrários. RESOLUÇÃO: A polissemia ocorre com a palavra natureza, empre ga da no sentido de “conjunto de elementos do mundo natural” (“o melhor da natureza”) e “conjunto de ten dências que regem o comportamento do indivíduo”. Resposta: C A gente anda na linha para levar sua empresa mais longe Mudamos o jeito de transportar contêineres no Brasil e Mercosul. Através do modal ferroviário, oferecemos soluções logísticas econômicas, seguras e sustentáveis. EM RESPEITO A SUA NATUREZA, SÓ TRABALHAMOS COM O MELHOR DA NATUREZA Selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até a sua casa. Porque faz parte da natureza dos nossos consumidores querer produtos saborosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis. (www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado.) 96 – P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 96 8. (FGV-ECON-2018) – Leia a tira. (Fernando Gonsales. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo, 05.09.2017) O efeito de humor na tira decorre, entre outros fatores, a) do emprego figurado do termo “magníficos”, para reforçar o entusiasmo do homem diante de sua descoberta. b) do fato de o homem expressar seu desconhecimento em relação aos ossos por meio de uma fraseinterrogativa. c) do fato de o homem empregar a palavra “animal” diante da ossada, sem saber se, realmente, ela era parte de algum. d) da agressividade do cão, cujo rosnar não é compreendido, embora represente uma ameaça à segurança dos dois homens. e) do duplo sentido do verbo “pertencer”, revelado pela reação do cão ao gesto de apropriação do osso pelo homem. RESOLUÇÃO: A tirinha tem como personagens dois paleontólogos e um deles encontra ossos em uma escavação. Ao perguntar ao outro a quem deveria “pertencer” o osso que tinha nas mãos, aparece um cachorro que rosna, reivindicando o osso. O estudioso decide rapidamente que o osso “pertence” ao cão. Assim, o humor da tirinha consiste no emprego ambíguo do verbo “pertencer”. Resposta: E TEXTO I Criatividade em publicidade: teorias e reflexões Resumo: O presente artigo aborda uma questão pri mor dial na publicidade: a criatividade. Apesar de acla mada pelos departamentos de criação das agências, devemos ter a consciência de que nem todo anúncio é, de fato, criativo. A partir do resgate teórico, no qual os con - ceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se esta belecer a com - preensão dos temas. Para elucidar tais ques tões, é ana lisada uma campanha impressa da marca XXXX. As re flexões apontam que a publicidade criativa é essen cialmente simples e apresenta uma releitura do cotidiano. DEPEXE, S.D. Travessias: Pesquisas em Educação. Cultura, Linguagem e Artes, n. 2, 2008. TEXTO II Homenagem ao Dia das Mães 2012. Disponível em: www.comunicacao.com. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado). 9. (2017) – Os dois textos apresentados versam sobre o tema cria tividade. O Texto I é um resumo de caráter científico e o Texto II, uma homenagem promovida por um site de publicidade. De que maneira o Texto II exemplifica o conceito de criatividade em publicidade apresentado no Texto l? a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus filhos. b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu trabalho de criar os filhos. c) Explorando a polissemia do termo “criação”. d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples. e) Utilizando recursos gráficos diversificados. RESOLUÇÃO: O texto II explora a polissemia da palavra “criação”, tanto na acepção de “originalidade de algo”, quanto no sentido de “geração materna” (gerar, criar). Resposta: C 13 de maio dia das mães NÍQUEL NÁUSEA - Fernando Gonsales QUE OSSOS MAGNÍFICOS! A QUE ANIMAL ELES PERTENCEM? GRRR NÃO PRECISA RESPONDER! – 97 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página 97 98 – P O R T U G U ÊS LLeeiittuurraa OObbrriiggaattóórriiaa Tema de redação: ENEM 2018 TEXTOS MOTIVADORES TEXTO I Às segundas-feitas pela manhã, os usuários de um serviço de música digital recebem uma lista personalizada de músicas que lhes permite descobrir novidades. Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, este cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma máquina de sugestões que não costuma falhar. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evolução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de vídeo on-line começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando o banco de dados gerado por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algoritmo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis. Dessa forma, a filtragem de informação feita pelas redes sociais ou pelos sistemas de busca pode moldar nossa maneira de pensar. E esse é o problema principal: a ilusão de liberdade de escolha que muitas vezes é gerada pelos algoritmos. Verdú, Daniel. O gosto na era do algoritmo. Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 jun. 2018 (Adaptado). TEXTO II Nos sistemas dos gigantes da internet, a filtragem de dados é transferida para um exército de moderadores em empresas localizadas do Oriente Médio ao Sul da Ásia, que têm um papel importante no controle daquilo que deve ser eliminado da rede social, a partir de sinalizações dos usuários. Mas a informação é então processada por um algoritmo, que tem a decisão final. Os algoritmos são literais. Em poucas palavras, são uma opinião embrulhada em código. E estamos caminhando para um estágio em que é a máquina que decide qual notícia deve ou não ser lida. PEPE ESCOBAR. A silenciosa ditadura do algoritmo. Disponível em: http://outraspalavras.net. Acesso em: 5 jun. 2017. (Adaptado). TEXTO III TEXTO IV Mudanças sutis nas informações às quais somos expostos podem transformar nosso comportamento. As redes tem selecionado as notícias sob títulos chamativos como “trending topics” ou critérios como “relevância”. Mas nós praticamente não sabemos como isso tudo é filtrado. Quanto mais informações relevantes tivermos nas pontas dos dedos, melhor equipados estamos para tomar decisões. No entanto, surgem algumas tensões fundamentais: entre a conveniência e a deliberação; entre o que o usuário deseja e o que é melhor para ele; entre a transparência e o lado comercial. Quanto mais os sistemas souberem sobre você em comparação ao que você sabe sobre eles, há mais riscos de suas escolhas se tornarem apenas uma série de reações a “cutucadas” invisíveis. O que está em jogo não é tanto a questão “homem versus máquina”, mas sim a disputa “decisão informada versus obediência influenciada”. CHATFIELD, Tom. Como a Internet infuencia secretamente nossas escolhas. Disponivel em: www. bbc.com . Acesso em 3 jun 2017 (adaptado) Utilização da Internet 64,7% das pessoas de 10 anos ou mais de idade utilizaram a internet. 63,8% 65,5% Cerca de85% dos jovens de 18 a 24 anos de idade e 25%das pessoas de 60 anos ou mais de idade utilizaram a internet. Finalidade do acesso à Internet (%) 94,2 73,3 76,4 69,3 Enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes de e-mail Conversar por chamada de voz ou vídeo Assistir a vídeos, inclusive programas, séries e filmes Enviar ou receber e-mails (correio eletrônico) @ Internet no Brasil em 2016. Disponível em:www.ibge.gov.br. Acessio em 18 jun. 2018 adaptado. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 98 – 99 P O R T U G U ÊS O tema de redação do ENEM 2018 convidou os candidatos a escrever sobre “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, assunto muito divulgado recentemente pela mídia. O participante contou com quatro textos motivadores que deveriam estimular sua reflexão. O primeiro versava sobre aplicativos e redes sociais com cérebro artificial que conseguem traçar um perfil cultural do seu usuário e, a partir dessa análise, selecionar um universo cultural adequado a seu gosto. Questiona-se, assim, a liberdade de escolha do indivíduo, uma vez que algoritmos selecionam previamente o conteúdo que molda sua maneira de pensar. Já no segundo texto, é apresentado o modo como as informações são eliminadas das redes sociais, por meio de análise realizada por funcionários de empresas estrangeiras, contudo são algoritmos que detêm a decisão final de quais informações são mantidas ou retiradas. O terceiro texto é um infográfico que traça o perfil dos usuários da rede: a maioria são mulheres jovens, na faixa de 18 a 24 anos de idade, e os recursos mais utilizados são os destinados à troca de mensagens e ao acesso a vídeos. Por fim, o último texto retoma a necessidade de o indivíduo se instruir mais, pois, quanto mais conhecimento detiver sobre o sistema de informação, mais equipado ele estará para tomar “decisões informadas” e não apenas obedecer de forma “influenciada”. PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Manipulaçãodo comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. INSTRUÇÕES: • O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado. • O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas. • A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção. Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que: • tiver até 7 (sete) linhas escritas. sendo considerada “texto insuficiente”. • fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo. • apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos. • apresentar parte do texto deliberadamente desconec tada do tema proposto. Nome ______________________________________________________________________________________________ Unidade ____________________________________________________________ 3.ª Série – Turma: ______________ Manhã Tarde Matrícula Prática de Redação 9 – C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 18/05/2020 13:07 Página 99 100 – P O R T U G U ÊS múltiplos recursos, sendo um exemplo os jogos de questionários (quiz), que traçam perfil dos usuários com perguntas que são respondidas ingenuamente, sem que se tenha cons ciência de sua utilização. Seria possível relembrar que, a princípio, esse recurso foi desenvolvido para fins comerciais, com o intuito de direcionar publicidade de produtos e serviços ao público alvo. Essa coleta de dados compor tamentais serviu posteriormente para correlacionar o uso dos algoritmos à manipulação política e ideo lógico-cultural. Um caso emblemático foi o vazamento de dados coletados pelo Facebook e analisados pela empresa Cambridge Analytca, que direcionou conteúdo para influenciar as eleições presidenciais norte-ame ricanas em 2016. Os escândalos se difundiram pelo mundo, inclusive no Brasil, com a divulgação não autorizada de dados pessoais de milhões de clientes. Muitos se aproveitaram desses dados para divulgação de notícias falsas a usuários que demonstrassem um perfil comportamental passível de ser influenciado pelas “Fake News”, o que acarretou uma crise de confiabilidade nas fontes de informações, inclusive na mídia tradicional. O desafio para o candidato era não tangenciar o te ma, discutindo apenas “Fake News” ou a manipulação, sem mencionar ou analisar o papel da internet no problema. Possíveis propostas de intervenção poderiam considerar o Marco Civil da Internet de 2014 e mecanismos para fazer valer a legislação que consta nesse documento; estratégias para responsabilizar os provedores pela proteção dos dados de seus usuários; ampliação do número de delegacias para crimes virtuais, assim como aumentar a contratação de funcionários para torná-las mais efetivas. Ainda seria possível apontar a necessidade da formação crítica do cidadão, capacitando-o a discer nir a vera cidade do que é postado na rede, como também as consequências desse compartilhamento para a socie dade. Competência Critério Peso Nota atribuída 1 Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita. 2 2 Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. 2 3 Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. 2 4 Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticosnecessários para a articulação das ideias (coesão e coerência). 2 5 Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado,demonstrando respeito aos direitos humanos. 2 Nome do(a) corretor(a): _______________________________________________ Critérios ENEM C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 100 – 101 P O R T U G U ÊS A vírgula é usada para indicar a separação entre termos inde pen dentes entre si, quer no período, quer na oração. Por indicar o que já está se parado, a vírgula não pode ser em pregada entre os termos que mantêm entre si uma estreita ligação. Seria erro grave, portanto, colocá-la entre • o sujeito e o verbo: Cada instante da vida é um passo rumo à morte. (Corneille) sujeito verbo • o verbo e seu complemento: A prosperidade faz poucos amigos. (Vauvenargues) verbo complemento verbal • o nome e seu adjunto adnominal ou complemento nominal: A mais nobre missão do ser humano é prestar sua ajuda ao semelhante... (Sófocles) adjunto nome adjunto nome complemento adnominal adnominal nominal • a oração subordinada substantiva e a oração principal: O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. (Almirante Barroso) oração principal oração subordinada substantiva Quem não gosta do Brasil não me interessa. (Gilberto Amado) oração subordinada oração principal substantiva MÓDULOS 20 e 21 Pontuação – I e II C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 101 102 – P O R T U G U ÊS 1. USA-SE VÍRGULA PARA SEPARAR: a) termos que exercem a mesma função sintática: “Ela tem sua clarici da de, seus caminhos, suas escadas, seus andaimes.” (Ce cí lia Meireles); b) orações coordenadas as - sindéticas: “Examinou o pol va rinho e o chumbeiro, pensou na via gem, estremeceu.” (Graciliano Ra mos); c) orações coordenadas sin dé - ticas, salvo as in tro du zi das pela conjunção e: “Ces saram as buzinas, mas prosseguia o alarido nas ruas.” “O último (amor) é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda.” (Manuel Antônio de Almeida); d) aposto explicativo: “Co nhe - cia também o marido, seu Ra malho, sujeito calado, sério, as má tico, eletricista da Nordeste.” (Gra ciliano Ramos); e) pleonasmo, polissíndeto e repetições: “Tornou a andar, a andar, a andar.” (Machado de Assis); f) Vocativo: “Dom Casmurro, do mingo vou jantar com você.” (Ma - chado de Assis); g) orações subordinadas ad - jetivas explica tivas: “Cal ça va sapatos de duraque, rasos e ve lhos, a que ela mesma dera alguns pontos.” (Machado de Assis); h) orações intercala das: “A rosa, disse o Gênio, é a tua infância.” (Augusto Meyer); i) orações subordinadas ad - verbiais des lo cadas: “Assim como a abelha fabrica mel no co ra ção negro do jacarandá, a doçura es tá no peito do mais valente guer reiro.” (José de Alencar); j) nas datas, o nome do lugar: “São Paulo, 11 de dezembro de 1977.”; l) partículas e expressões de explicação, correção, con tinuação, conclusão, conces são: “Sairá amanhã, aliás, depois de amanhã.”; m) para indicar, às vezes, a elipse do verbo: “Em frente, um gramal vastíssimo.” (Raul Pompeia). 2. DOIS-PONTOS Usam-se: a) em enumerações expli - cativas: “De vez em quan do o olhar distraído esbarra numa novidade: ban ga lô em construção, obras na calçada, ou apenas um pa pel na vi - draça...” (Augusto Meyer); b) para anunciar citações: “Murmura a relva: ‘que suave raio!;’ / Responde o ramo: ‘como a luz é meiga!’” (Castro Alves); c) para indicar esclare ci mento, síntese, con se quência do que foi dito: “Não és bom, nem és mau: és triste e humano...” (Olavo Bilac). 3. PONTO-E-VÍRGULA Usa-se: a) para anunciar pausas mais fortes: “Os dois primeiros al vitres foram desprezados por im pra ticáveis; Ernesto não tinha dinheiro nem crédito tão alto.” (Machado de Assis); b) para separar as adver sa - tivas, enfati zan do o contraste: “Não se disse mais nada; mas de noite Lobo Neves insistiu no projeto.” (Machado de Assis); c) para separar os diversos itens de enun cia dos enume rativos (em leis, decretos, por ta rias, regula men tos etc.). 4. PONTO FINAL Usa-se para: — denotar maior pausa, encerramento, períodos que terminem por oração que não se ja interrogativa direta ou exclamativa: “O retratomostra uns olhos re - dondos, que me acompanham para todos os lados, efeito de uma pintura que me assombrava em pequeno.” (Ma chado de Assis, Dom Casmurro). 5. PONTO DE INTERROGAÇÃO Usa-se: a) nas orações interroga ti vas diretas: “Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?” (Augusto dos An jos); b) no diálogo, sozinho ou acompanhado de excla ma ção para expressar dúvida: “– Conheceu, gente, o que é sangue de Peixoto?!” (Guimarães Rosa). 6. RETICÊNCIAS Usam-se para denotar hesitação, interrupção do pen samento: “Sei que você fez promessa... mas uma promessa assim... não sei... Creio que, bem pensado... Você acha que, prima Justina?” (Machado de Assis). 7. ASPAS Usam-se para ressaltar expres - sões ou apontar vo cá bu lo com es - tran geirismo ou gíria e nas citações: – “Me passe” os cobres... é a fórmula de uma co bran ça amigável. (Júlio Ribeiro). C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 102 – 103 P O R T U G U ÊS MÓDULO 20 1. Faça a associação correta, considerando o emprego da vírgula, para separar: a) termos de mesma função (coordenados entre si, enumeração); b) vocativo; c) aposto explicativo; d) adjunto adverbial deslocado; e) complemento verbal anteposto e pleonástico; f) palavras e expressões explicativas, corretivas; g) as palavras sim e não no início da frase; h) elipse de verbo já empregado (zeugma). ( c ) “O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz...” (Guimarães Rosa) ( d ) “Na claridade do primeiro alvorecer, levantou-se.” (José Saramago) ( b ) “D. Glória, a Senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário?” (Machado de Assis) ( g ) “Sim, ela estava mais elegante...” (Rubem Braga) ( a ) “Quaresma convalesce longamente, demoradamente, melancolicamente.” (Lima Barreto) ( h ) “A inocência é transparente; a malícia, opaca e tene - brosa.” (Aníbal Machado) ( f ) “Será uma boa mãe de família segundo a doutrina de alguns padres-mestres da civilização, isto é, fecunda e ignorante.” (Machado de Assis) ( e ) “Os sinos, já não há mais quem os toque.” (Alexandre Herculano) ( h ) “Poeta sou; pai, pouco; irmão mais.” (Manuel Bandeira) ( g ) “Não, não direi que assisti às alvoradas do romantismo...” (Machado de Assis) ( a ) “Nulo passado, escasso presente, tristíssimo por vir.” (Machado de Assis) ( b ) “Não nos censures, piloto de má sorte, não se navegam corações como os outros mares deste mundo.” (Machado de Assis) ( d ) “A verdade é que, sem acomodações com o céu, este mundo seria insuportável.” (Machado de Assis) 2. Faça a associação correta, considerando o emprego da vírgula, para separar: a) oração coordenada assindética; b) oração coordenada sindética; c) oração adverbial deslocada; d) oração subordinada adjetiva explicativa; e) oração reduzida; f) oração intercalada; g) polissíndeto. ( b ) “Não és filha, mas hóspede da terra.” (Olavo Bilac) ( a ) “Emagreceu, adoeceu, perdeu a mãe, enterrou-a por subscrição...” (Machado de Assis) ( e ) “O alienista, vendo o efeito de suas palavras, reco nhe ceu que era amigo do Quincas Borba...” (Machado de Assis) ( c ) “Quando a cavalgada chegou à margem da clareira, aí se passava uma cena curiosa.” (José de Alencar) ( d ) “O retrato mostra uns olhos redondos, que me acompa - nham para todos os lados, efeito de uma pintura que me assombrava em pequeno.” (Machado de Assis) ( g ) “Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia.” (Lima Barreto) ( b ) “O último [amor] é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda.” (Manuel Antônio de Almeida) ( g ) “Mas, infelizmente, para a quietação do Silvério, Jacinto lançara raízes, e rijas, e amorosas raízes na sua rude serra.” (Eça de Queirós) ( f ) “—É a ânsia de combater o tupinambá que volve o passo do guerreiro para as bordas do mar, respondeu o cristão.” (José de Alencar) 3. (ESPM) – Assinale a frase que apresente o melhor uso das vírgulas: a) Com o desenvolvimento econômico a participação dos serviços sofisticados, aumenta e, em consequência, a participação da indús - tria de transformação cai. b) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados aumenta, e em consequência, a participação da indús - tria de transformação cai. c) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados aumenta, e, em consequência, a participação da indús - tria de transformação cai. d) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados aumenta, e, em consequência a participação da indús - tria de transformação cai. e) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados aumenta e em consequência, a participação da indús - tria de transformação, cai. RESOLUÇÃO: Resposta: C C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 18/05/2020 13:07 Página 103 104 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 21 1. (FUVEST) a) Nos poemas transcritos, as preposições para e por estabelecem o mesmo tipo de relação de sentido? Justifique sua resposta. b) Sem alterar o sentido do texto de Mário Lago, trans creva-o em prosa, em um único período, utilizando os sinais de pontuação adequa dos. 2. (FUVEST) – Considere a imagem abaixo, extraída da apresentação do filme A Amazônia, que faz parte da campanha “A natureza está falando”. a) Por estar em primeira pessoa, o texto constitui exemplo de uma determinada figura de linguagem. Identifique essa figura e explique seu uso, tendo em vista o efeito que o filme visa alcançar. RESOLUÇÃO: O texto em primeira pessoa dá voz à floresta amazônica, o que configura personificação ou prosopopeia. Seu discurso visa a denunciar a destruição de seu ecossistema, sendo um expediente retórico que promove a empatia com o leitor, tentando persuadi- lo a posicionar-se a favor da proteção desse bioma. Preciso que um barco atravesse o mar lá longe para sair dessa cadeira para esquecer esse computador e ter olhos de sal boca de peixe e o vento frio batendo nas escamas. (...) (Marina Colasanti, Gargantas abertas) Gosto e preciso de ti Mas quero logo explicar Não gosto porque preciso Preciso sim, por gostar. (Mário Lago, <www.encantosepaixoes.com.br>) RESOLUÇÃO: Não; nos textos transcritos, para indica finalidade e por, causa. RESOLUÇÃO: “Gosto e preciso de ti, mas quero logo explicar: não gosto porque preciso; preciso, sim, por gostar.” No áudio desse filme, a atriz Camila Pitanga interpreta o seguinte texto: Eu sou a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Eu mando chuva quando vocês precisam. Eu mantenho seu clima estável. Em minhas florestas, existem plantas que curam suas doenças. Muitas delas vocês ainda nem descobriram. Mas vocês estão tirando tudo de mim. A cada segundo, vocês cortam uma das minhas árvores, enchem de sujeira os meus rios, colocam fogo, e eu não posso mais proteger as pessoas que vivem aqui. Quanto mais vocês tiram, menos eu tenho para oferecer. Menos água, menos curas, menos oxigênio. Se eu morrer, vocês também morrem, mas eu crescerei de novo... C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 18/05/2020 13:07 Página 104 – 105 P O R T U G U ÊS b) No referido áudio, é possível perceber, no final da locução da atriz, uma entonação especial, representada na transcrição por meio de reticências. Tendo em vista que uma das funções desse sinal de pontuação é sugerir uma ideia não expressa que cabe ao leitor inferir, identifique a ideia sugerida, neste caso. RESOLUÇÃO: As reticências são empregadas para suspender o pensamento e, nesse caso, têm a função de deixar subentendida a ideia de que o ser humano não sobreviverá sem a natureza. Ela, porém, tem a capacidade de se recuperar. 3. (2018 – 2.a APLICAÇÃO) Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados para organizar a escrita e ajudar na compreensão da mensagem. No texto, o sentido não é alterado em caso de substituição dos travessões por a) aspas, para colocar em destaque a informação seguinte. b) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de Davi Akkerman.c) reticências, para deixar subentendida a formação do especialista. d) dois-pontos, para acrescentar uma informação introduzida anteriormente. e) ponto e vírgula, para enumerar informações fundamentais para o desenvolvimento temático. RESOLUÇÃO: Os travessões, que podem ser substituídos por vírgulas sem alterar o sentido, isolam o aposto, ou seja, uma expressão que explica quem é Davi Akkman. Resposta: B 4. (IBMEC) – Compare estes períodos: A respeito do emprego de vírgulas, é correto afirmar: a) Em I, a ausência de vírgulas cria o pressuposto de que ainda há pessoas investindo na Bolsa de Valores. b) Em II, a presença de vírgulas indica que somente alguns investidores temiam ser vítimas da crise financeira. c) A análise dos períodos permite afirmar que as vírgulas têm apenas a função de demarcar pausas na leitura. d) Em I, subentende-se que todos os investidores deixaram de aplicar seu dinheiro no mercado de ações. e) Em II, as vírgulas foram usadas para destacar a ideia de restrição, presente na oração subordinada adjetiva. Resposta: A 5. (UNIFESP) – A questão abaixo baseia-se no texto extraído de Formação da Literatura Brasileira, de Antônio Cândido. Os espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com a) indeterminados – síntese das informações prece dentes. b) idênticos – ratificação das informações precedentes. c) inexistentes – retificação de informação mal definida anteriormente. d) distintos – explicação de informação anterior. e) ocultos – citação. 6. (ESPM-2018) – A vírgula, antes do conetivo E, foi utilizada de modo inadequado na opção: a) Dólar encosta em R$3,17, e Bolsa encerra o dia perto da estabilidade, após dúvida sobre arrecadação do governo. b) Depois da desistência da ESPN Brasil de negociar com a Globo, os canais SporTV, e agora também o canal da Fox, transmitirão a Copa do Mundo da Rússia para o Brasil. c) A Lua bloqueia a luminosidade do astro-rei; numa faixa que cruza os Estados Unidos, esse alinhamento será perfeito, e o eclipse será total. d) O comediante Jerry Lewis colecionou polêmicas, principalmente relacionadas à comunidade gay, e uma fama de rabugento incorrigível. e) Procurador Geral da República denuncia senador acusado de corrupção passiva, e lavagem de dinheiro na operação Zelotes. Resposta: E Física com a boca Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do ventilador? Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras. Quando você não tem mais o que fazer e fica falando na frente dele, as ondas da voz se propagam na direção contrária às do ventilador. Davi Akkerman – presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – diz que isso causa o mismatch, nome bacana para o desencontro entre as ondas. “O vento também contribui para a distorção da voz, pelo fato de ser uma vibração que influencia no som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a influência do vento na propagação das ondas contribuem para distorcer sua bela voz. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado). I. Os investidores que temiam ser vítimas da crise global financeira abandonaram o mercado de ações. II. Os investidores, que temiam ser vítimas da crise global financeira, abandonaram o mercado de ações. Em – No Brasil, o homem de estudo, de ambição e de sala, que provavelmente era, encontrou condições inteiramente novas. Ficou talvez mais disponível, e o amor por Doroteia de Seixas o iniciou em ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da prima vera no outono. – a vírgula, no último período, separa orações coorde na - das com sujeitos gramaticais ______________________; os dois- pontos introduzem uma ___________________________ . RESOLUÇÃO: A vírgula foi empregada antes da conjunção coorde nativa e porque o sujeito da oração por ela intro du zida (“o amor por Doroteia de Seixas”) é diferente do sujeito da oração anterior (“o homem de estudo”). Os dois-pontos foram empregados porque a metáfora “o clássico flores cimento da primavera no outono” explica a expressão “ordem nova de sentimentos”. Resposta: D C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 105 106 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 7. 7. (2016) – Os sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão temática. Nesse miniconto, as reticências foram utilizadas para indicar a) uma fala hesi tante. b) uma informação implícita. c) uma situação incoerente. d) a eliminação de uma ideia. e) a interrupção de uma ação. RESOLUÇÃO: As reticências foram empregadas com o intuito de suspender uma informação que ficou implícita: o policial se equivocou e matou um inocente. Resposta: B Texto para a questão 8. 8. (UFAL) – Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos formais da língua padrão culta. a) O termo “vê-la-íamos” é traduzido por “vimos a verdade”. b) O termo “Basta-nos” pode ser substituído por “Nos basta”. c) A expressão “não se compreende” pode ser substituída por “não compreende-se”. d) O ponto e vírgula utilizado após a expressão “vê-la-íamos” pode ser substituído por um ponto, sem causar mudança de sentido ao texto. e) O trecho “ser homem é saber que não se compreende” pode ser reescrito da seguinte forma: “ser homem é saber, que não se compreende”. RESOLUÇÃO: Pode ocorrer a substituição porque a oração seguinte “Tudo o mais é sistema e arredores” é independente (coordenada). Resposta: D INSTRUCÃO: As questões de números 9 e 10 baseiam-se na tirinha. 9. (UNIFESP) – Considerando-se o texto de Walcyr Carrasco e observando-se o comentário que a personagem Liberdade faz na tirinha, é certo afirmar que ela se revoltará contra uma velhice que seja a) semelhante àquela que o narrador concebera a partir de sua educação, contrária ao que se viu na expo sição. b) oposta à vivida pelas pessoas que se aposentam e passam a lamentar pelo que não fizeram. c) do mesmo tipo daquela vivenciada pela mãe de um amigo do narrador, depois de enviuvar. d) animada, como a da senhora na exposição, que comentou sobre o vestido de veludo bordado. e) cheia de ocupações e tarefas, como a da senhora de cabelos grisalhos, disposta ainda a aprender. RESOLUÇÃO: A personagem Liberdade almeja uma velhice que seja semelhante àquela constatada nos idosos da expo sição e contrária àquela a que o narrador do texto estava habituado. Resposta: A 10. (UNIFESP) – No último quadrinho, obser vando-se a expressão de Liberdade e o que ela diz — seja pela pontuação (???), seja pela reiteração do verbo (sabe) —, sua atitude revela a) medo e desespero. b) ironia e melancolia. c) indignação e agressividade. d) humor e surpresa. e) espanto e tristeza. RESOLUÇÃO: O último quadrinho vale-se do recurso da repe tição – tanto do sinal de pontuação quanto do verbo – para indicar a indignação e agressividade da personagem Liberdade diante dos efeitos do tempo. Resposta: C L.J.C. — 5 tiros? — É. — Brincando de pegador? — É. O PM pensou que... — Hoje? — Cedinho. COELHO, M ln: FREIRE, M. (Org). Os cem menores contos brasileiros da século. São Paulo: Ateliê Editorial. 2004. Se conhecêssemos a verdade, vê-la-íamos; tudo o mais é sistema e arredores. Basta-nos, se pensarmos, a incompreensi bi - lidade do universo; querer compreendê-lo é ser menos que homens, porque ser homem é saber que não se compreende. PESSOA, Fernando. O livro do desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 117. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 106 – 107 P O R T U G U ÊS Aplicações 1. (PUC) As três primeiras vírgulas no trecho em destaque foram empregadas para separar elementos que a) não exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos são, respectivamente, objeto direto, objeto indireto e adjuntos adver biais – um de tempo e um de lugar. b) não exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos são, respectivamente, adjuntos adverbiais – um de modo, um de lugar e dois de tempo. c) exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos são, respectivamente,adjuntos adverbiais – um de lugar e três de tempo. d) exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos são, respectivamente, adjuntos adverbiais – um de tempo e três de lugar. e) exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos são, respectivamente, adjuntos adverbiais de tempo. RESOLUÇÃO: As circunstâncias indicadas pelos adjuntos adverbiais em questão são evidentemente de tempo (quando: “ontem”) e de lugar (onde: “em Dungeons, na Cidade do Cabo, na África do Sul”). Resposta: D Texto para a questão 2. 2. (FGV) – Reescreva a frase, conforme as orientações: inicie-a com “Eugênio”; introduza entre o sujeito e o verbo a oração indicativa de tempo, substituindo o verbo “haver” por “fazer”. Realize os ajustes necessários. RESOLUÇÃO: Eugênio, fazia já quatro anos, achava-se no seminário sem visitar sua família. 3. (FGV) – Reescreva os trechos a seguir, extraídos e adaptados da matéria Fabrique você mesmo (Época, 14.04.2014), adequando-os à norma-padrão da língua portuguesa, considerando as informações entre parênteses. a) A evolução que trouxe-nos das cavernas para o mundo conectado pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se valeram de um conserto de novas tecnologias e ideias. (Ortografia e colocação pronominal) RESOLUÇÃO: A evolução que nos trouxe das cavernas para o mundo conectado pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se valeram de um concerto de novas tecnologias e ideias. b) Com as tecnologias e ideias abriu-se um universo de possibilidades foi assim com o arado que aumentou a produção agrícola gerou excedentes e permitiu a criação de Estados e impérios (Pontuação) RESOLUÇÃO: Com as tecnologias e ideias, abriu-se um universo de possibilidades. Foi assim com o arado, que aumentou a produção agrícola, gerou excedentes e permitiu a criação de Estados e impérios. Texto para a questão 4. 4. (FATEC) – A organização sintática, na construção desse período, foi possível porque as vírgulas empregadas separam a) o vocativo, termo que chama, evoca o interlocutor. b) o aposto, termo que explica o termo anterior. c) os predicativos do sujeito presentes na frase. d) os adjuntos adnominais e os vocativos. e) os termos de mesmo valor sintático. RESOLUÇÃO: As vírgulas separam “termos de mesmo valor sintá tico”: adjuntos adverbiais de assunto. Resposta: E 5. (INSPER – MODELO ENEM) – Para divulgar a oferta de um plano de ligações ilimitadas, uma operadora de telefonia móvel apresentou, em seu anúncio publi citário, a seguinte frase: Dentre as opções a seguir, a melhor substituição, no anúncio, para “ASPAS” é a) trapaças. b) cobranças. c) frescuras. d) burocracia. e) limite. Resposta: A Água perigosa O surfista sul-africano Frank Solomon participou de evento em ondas gigantes realizado ontem, em Dungeons, na Cidade do Cabo, na África do Sul, até o ano passado palco do principal torneio da modalidade no continente. Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário sem visitar sua família. E eu não quero ficar ouvindo falar de identidade cor po rativa, marco regulatório, desenvolvimento organi za cio nal, demanda de mercado, sinergia, estratégia, parâ metros, metas, foco, valores... C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 107 108 – P O R T U G U ÊS Aplicações Com base no texto, responda às questões 6 e 7. 6. (PUC) – Em relação ao sentido estabelecido por determi nadas escolhas de palavras, é válido considerar que a) o adjetivo claro com valor circunstancial de opinião e os substan - tivos tibum e galera assi nalam informalidade para estabelecer apro ximação com o leitor. b) a escolha do adjetivo claro e dos substantivos tibum e galera deve-se à idade de quem escreve e de quem lê. c) a interjeição claro e os substantivos tibum e galera são empre - gados para distanciar-se da informalidade. d) a interjeição claro e os substantivos tibum e galera conferem formalidade ao texto e estabelecem aproximação com o leitor. e) o adjetivo claro, a onomatopeia tibum e o subs tantivo galera per - tencem ao registro formal e conferem clareza ao texto. RESOLUÇÃO: Claro (forma reduzida da expressão é claro), tibum e galera são coloquia lismos típicos da língua portuguesa falada por jovens em registro informal. A utilização desse tipo de léxico na escrita visa, evidentemente, a conferir informalidade ao texto e, assim, “estabe - lecer aproximação com o leitor”. Resposta: A 7. (PUC) – Em relação ao emprego da conjunção e [subli nhada no texto] e da pontuação, é correto afirmar que essa conjunção a) assume valor de elemento meramente somatório e introduz oração com sujeito igual ao da oração anterior; portanto a colocação da vírgula antes da conjunção está errada. b) liga duas orações e introduz oração com ideia de concessão; portanto a vírgula antes da conjunção e está correta. c) introduz oração com sujeito diferente do da oração anterior e, além de adição, confere à segunda oração valor de conse quência; portanto a vírgula antes da conjunção e está correta. d) introduz oração com sujeito diferente do da oração anterior e interliga duas orações com ideia de finalidade; a vírgula deveria estar colocada depois da conjunção e. e) estabelece valor meramente somatório e introduz oração com sujeito igual ao da anterior; portanto a vírgula deveria estar assinalada depois da conjunção e. RESOLUÇÃO: O emprego da vírgula antes do e se justifica pelas razões expostas na alternativa c: além da mudança de sujeito (o da primeira oração coordenada pelo e é “autodepuração natural do rio”, o da segunda é “a galera”), há o sentido de consequência na relação entre a limpeza do rio (1.a oração) e a possibilidade de nadar nele (2.a oração). (Se o sujeito das duas orações fosse o mesmo e se a relação da segunda com a primeira fosse puramente aditiva, a vírgula não se justificaria.) Resposta: C Texto para o teste 8. 8. A literatura brasileira contemporânea tem abor - dado, sob diferentes perspectivas, questões relacionadas ao universo feminino. No frag men - to, entre os recursos expressivos utilizados na construção da narrativa, destaca-se a a) repetição de “você”, que se refere ao interlocutor da personagem. b) ausência de vírgulas, que marca o discurso irritado da personagem. c) descrição minuciosa do espaço do trabalho, que se opõe ao da casa. d) autoironia, que ameniza o sentimento de opressão da personagem. e) ausência de metáforas, que é responsável pela objetividade do texto. Resposta: B VAI DAR PRA NADAR NO TIETÊ UM DIA? Provavelmente, não. Mesmo que a despoluição seja um sucesso, dar um tibum no Tietê continuará sendo uma aventura arriscada. Estamos falando, claro, da região em que o rio é um tremendo nojo, próximo à cidade de São Paulo. Depois de 300 quilômetros, em Barra Bonita, a autodepuração natural do rio já consegue eliminar boa parte das impurezas, e a galera nada no Tietê sem problemas. Pelas bandas da capital, as braçadas seguirão proibidas por uma razão bem simples: sairia muito caro limpar o rio para a natação. (Giovana Tizian, portal de perguntas Mundo Estranho da revista SUPERMUNDO. Trecho adaptado e disponível em http://mundoestranho. abriI. com. br/ambiente/pergunta_287238.shtm; acesso em 12/5/2009.) AS DOZE CORES DO VERMELHO Você volta para casa depois de ter ido jantar com sua amiga dos olhos verdes. Verdes. Às vezes quando você sai do escritório você quer se distrair um pouco. Você não suporta mais tem seu trabalho de desenhista. Cópias plantas réguas milímetros nanquim compasso 360º. de cercado cerco. Antes de dormir você quer estudar para a prova de história da arte mas sua menina menor tem febre e chama você. A mão dela na sua mão é um peixe sem sol em irradiações noturnas. Quentes ondas. Seu marido se aproxima os pés calçados de meias nos chinelos folgados. Ele olha as horas nos dois relógios de pulso. Ele acusa você de ter ficado fora de casa o dia todo até tarde da noite enquanto a menina ardia em febre. Ponto e ponta. Dorperfume crescente... (CUNHA, H. P. As doze cores do vermelho. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.) C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 108 – 109 P O R T U G U ÊS LLeeiittuurraa OObbrriiggaattóórriiaa Papel da Educação no Século XXI Quanto mais progresso se cria, mais se aumenta a desigualdade, e, a menos que se declare uma moratória no avanço tecnológico, o futuro promete a multipli - cação acelerada de desiguais. Hoje as revoluções industriais se sucedem mais depressa que as fases da Lava Jato; na verdade, ninguém sabe direito em qual revolução, exatamente, estamos hoje. Quarta? Quinta? O certo é que a cada avanço mais gente se vê excluída dos benefícios do progresso; nem todos têm capacidade para ocupar um emprego no Vale do Silício ou seus equivalentes através do mundo. Os que não têm cacife para isso se veem, cada vez mais, relegados às ocupações menos atraentes, mais frustrantes, mais mal remuneradas. Profissões inteiras vão se tornando obsoletas, em razão dos avanços da inteligência artificial, da impressão em terceira dimensão, da robotização e outras mudanças desagregadoras do mundo profissional como ele é hoje. Para que pilotos de jato se os aviões voarão sozinhos, e com muito maior segurança, de Nova York a Tóquio? Para que médicos, se o computador vai fazer um transplante de coração melhor do que eles? Para que marceneiros, se a impressão em 3D lhe entrega sua cadeira pronta e sem nenhum defeito? É um mundo no qual só as pessoas com alto grau de conhecimento serão realmente cidadãos de primeira classe. Por mais que as leis digam que todos são iguais, e por mais que as elites pensantes escrevam programas estabelecendo regras de igualdade, as diferenças estarão cada vez mais evidentes. (J. R. Guzzo, Veja, 16/01/2019). Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação [no século XXI] deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros, em todas as atividades humanas; e, finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. (OEIORS. J. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1998, p. 89-90. Adaptado.) A educação é instrumento de melhoria salarial e de mobilida de social, mas isso não é automático. Não basta simplesmente mais anos de escolaridade para assegurar a mobilidade. Vejamos o que está ocorrendo no Brasil: o nível médio de escolaridade da população adulta é de pouco menos de 7 anos de estudo. Mas hoje mais de 80% dos jovens concluem pelo menos o ensino fundamental, cuja duração é de 9 anos, ou seja, as gerações já começam com uma vantagem em relação às gerações anteriores. A cada ano, quase 2 milhões de jovens concluem o ensino médio. Isso significa que, para avançar, não basta caminhar com os outros, é preciso algum diferencial. (João Batista Oliveira. “Educação e mobilidade social”. https://veja.abril.com.br, 18/12/2017. Adaptado.) No Brasil, apesar da valorização do ensino técnico, mais da metade dos alunos formados não atua na área em que se especializou. É uma distorção que não se vê na Alemanha, onde existe uma agência federal para identificar e antecipar necessidades do mercado e assim direcionar de forma precisa a oferta de cursos nas escolas técnicas, em vez de deixar que essa tarefa complexa fique a cargo do próprio jovem. C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 109 110 – P O R T U G U ÊS Rascunho C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 110 – 111 P O R T U G U ÊS Mas o que deve conter um plano nacional de inteli gência artificial? Ao menos quatro coisas. A primeira é um programa amplo de capacitação para lidar com inteligência artificial. É preciso formar uma geração de pessoas capazes de pensar e implementar projetos nesse campo. Esse esforço vai do fundamental ao ensino superior. O segundo é institucionalizar essa política, em parceria com o setor privado e a comunidade científica. O Reino Unido, por exemplo, criou agências de inovação para promover a integração entre os diversos setores, de forma ética e segura. Um exemplo é o Centre For Data Ethics and Innovation. O terceiro ponto é criar uma política nacional de gestão de dados, especialmente dados públicos. A matéria-prima que move a inteligência artificial são volumes avassaladores de dados. Nesse sentido, trabalhar na interoperabilidade das bases de dados, na criação de “data lakes” públicos e em uma estratégia para o tema é essencial. Tudo isso sem deixar de lado segurança e privacidade. Por fim, é preciso trabalhar em “reskilling”, isto é, preparar o contingente de pessoas que podem perder seu emprego para novas funções. Estamos vivendo uma primavera da inteligência artificial. Que irá se converter em inverno para todos os países despreparados para lidar com o tema. Ronaldo Lemos, advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro. O aluno é convidado a escrever sobre o compromisso da escola na formação do jovem, preparando-o para o novo mercado de trabalho e como fator determinante para a mobilidade social. Cabe ao aluno questionar o papel da escola como formadora dos futuros profissionais, levando em consideração as grandes transformações tecnológicas que podem tornar conteúdos obsoletos, o que dificultaria o ingresso dos jovens no mercado de trabalho. Considerando as ideias apresentadas nos textos, como também outras informações que julgar perti - nentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema: Qual o papel da escola na formação do jovem para o mercado de trabalho do século XXI? Instruções: • A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma padrão da língua portuguesa. • Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível, e não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação. • Dê um título à sua redação. Nome ______________________________________________________________________________________________ Unidade ____________________________________________________________ 3.ª Série – Turma: ______________ Manhã Tarde Matrícula Prática de Redação 10 – C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 18/05/2020 13:07 Página 111 112 – P O R T U G U ÊS base nessa constatação, o candidato deveria repensar a escola conteudista, como a maioria das instituições de ensino atuais, e a necessidade de estimular o jovem a se desenvolver intelectualmente, “aprender a conhecer”, a se relacionar socialmente com os outros e consigo, de modo a promover o seu próprio bem estar e o da comunidade, tendo uma visão crítica que lhe permita ser um cidadão consciente de suas necessidades. Critérios de correção UNESP/UNIFESP Peso Nota atribuída Tema 3,5 Estrutura (gênero/tipo de texto e coerência) 3,5 Expressão (coesão e modalidade: aspectos gramaticais e escolha lexical) 3,0 Nome do corretor: ___________________________________________ C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 112 – 113 P O R T U G U ÊS A descrição é um texto, literário ou não, em que se caracterizam seres, coisas e paisagens. A pormenorização que individualiza o ser descrito é obtida pelo uso de adjetivos, figuras de linguagem e verbos de estado ou condição. A caracterização obedece a uma delimitação espacial. Quase sempre a descrição vem mesclada a outras modalidades, caracterizando uma personagem, detalhando um cenário, um ambiente ou paisagem, dentro de um romance, conto, crônica ou novela. A descrição pura aparece geralmente como parte de um relatório técnico, como no caso da descrição de peças de máquinas, órgãosdo corpo humano, funcionamento de determinados aparelhos (descrição de processos ou funcional). Elementos predominantes na descrição • Frases nominais (sem verbo) ou orações em que predominam verbos de estado ou condição (ser, estar, ficar, permanecer etc.). Sol já meio de esguelha, sol das três horas. A areia, um borralho de quente. A caatinga, um mundo perdido. Tudo, tudo parado: parado e morto. (Mário Palmério) Efetivamente a rua era aquela; e o velho palácio estava na minha frente. Era um palácio de trezentos anos, cor de barro, que me parecia muito familiar quanto ao desenho de sua alta porta, aos ornatos das colunas e ao lançamento da escada do vestíbulo. (Cecília Meireles) • Frases enumerativas: sequência de nomes, geralmente sem verbo: A cama de ferro; a colcha branca, o travesseiro, com fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau, uma cadeira de pau, o tinteiro, papéis, uma caneta. Quadro na parede. (Érico Veríssimo) • Figuras de linguagem: recursos expressivos, geralmente em linguagem conotativa. As mais usadas na descrição são a metáfora, a comparação, a prosopopeia, a onomatopeia e a sinestesia. O rio era aquele cantador de viola, em cuja alma se refletia o batuque das estrelas nuas, perdidas no vácuo milenarmente frio do espaço... Depois ele ia cantando isso de perau em perau, de cachoeira em cachoeira... (Bernardo Élis) • Sensações: uso dos cinco sentidos, ou seja, das percepções visuais, auditivas, gustativas, olfativa e táteis. Os sons se sacodem, berram... Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes... Dentro dos sons e das cores, movem-se cheiros, cheiro de negro. Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais... Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre... (Graça Aranha) DESCRIÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA A descrição objetiva é a reprodução fiel do objeto. É a visão das características do objeto (tamanho, cor, forma, espessura, consistência, volume, dimensões etc), segundo uma percepção comum a todos, de acordo com a realidade. Na descrição objetiva, há grande preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. O observador descreve o objeto tal qual ele se apresenta na realidade. Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de abril. Muita luz e pouco calor. As tinas estavam abandonadas; os coradouros despidos. Tabuleiros e tabuleiros de roupa engomada saiam das casinhas, carregados na maior parte pelos filhos das próprias lavadeiras que se mostravam agora quase todas de fato limpo; os casaquinhos brancos avultavam por cima das saias de chita de cor. (...) (Aluísio Azevedo) A descrição subjetiva é a apreensão da realidade interior , isto é, o modo particular e pessoal de o escritor ou redator sentir e interpretar o que descreve, traduzindo as impressões que tem da realidade exterior. Na descrição subjetiva, não deve haver preocupação quanto à exatidão do objeto descrito. O que importa é transmitir a impressão que o objeto causa ao observador: Há um pinheiro estático e extático, há grandes salso-chorões derramados para o chão, e a graça menina de uma cerejeira cor de vinho, que o sol oblíquo acende e faz fulgurar; mas o álamo junto do portão tem um vigor e uma pureza que me fazem bem pela manhã, como se toda manhã, ao abrir a janela, eu visse uma jovem imersa, muito clara, de olhos verdes, de pé, sorrindo para mim. (Rubem Braga) MÓDULO 22 Descrição C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 113 Tirinhas para a questão 1. (Adão Iturrusgarai. Folha de S.Paulo. 12.17.2013) 1. (UNIVAG) – Os quadrinhos que compõem a tirinha são a) dissertativos, pois o leitor recebe informações precisas sobre a velocidade dos seres apresentados. b) descritivos, visto que há uma sequência de ações que leva as personagens a uma interação mútua. c) descritivos, pois aos elementos comparados são atribuídas características que os especificam. d) narrativos, visto que a linguagem verbal complementa a linguagem não verbal, dando sentido ao texto. e) narrativos, porque o intuito da tirinha é provocar o riso, conduzindo o leitor ao anticlímax. RESOLUÇÃO: Trata-se de elementos descritivos pois cada um dos quadros apresenta a ilustração de cada dado apresentado. Resposta: C Texto para a questão 2. 2. (3a. aplicação) – A descrição, subjetiva ou objetiva, permite ao leitor visualizar o cenário onde uma ação se desenvolve e os personagens que dela participam. O fragmento do romance caracteriza-se como uma descrição subjetiva porque a) constrói sequências temporais pelo emprego de expressões adverbiais. b) apresenta frases curtas, de ordem direta, com elementos enumerativos. c) recorre a substantivos concretos para representar um ambiente estático. d) cria uma ambiência própria por meio de nomes e de verbos metaforizados. e) prioriza construções oracionais de valor semântico de oposição. RESOLUÇÃO: A linguagem metafórica é característica da descrição subjetiva, que, nesse texto, tem a função de apresentar um ambiente captado em sua singularidade. Resposta: D Texto para as questões 3 e 4. 3. (FUVEST) – Traduz corretamente uma relação espacial expressa no texto o que se encontra em: a) A prensa é paralela aos tipitis. b) A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros. c) As duas camarinhas são transversais à cozinha. d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço. e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio. RESOLUÇÃO: O trecho que faz referência ao espaço no fragmento é “casa de fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros”, considerando que adjacente significa “posto ao lado de, contíguo, que está situado nas proximidades”. Resposta: B 4. (FUVEST) – Além de “tipitis”, constituem contribuição indígena para a língua portuguesa do Brasil as seguintes palavras empregadas no texto: a) “cardápio” e “roceiros”. b) “alpendre” e “fogão”. c) “mandioca” e “Ipiranga”. d) “sítio” e “forno”. e) “prensa” e “quintal”. RESOLUÇÃO: São palavras de origem indígena “mandioca”, que significa “casa de Mani (mani + oca) e “Ipiranga”, “água vermelha” (y + pyrang). Resposta: C Um cachorro cor de carvão dorme no azul etéreo de uma rede de pesca, enrolada sobre a grama da Praça Vinte e Um de Abril. O sol bate na frente dos degraus cinzentos da escadaria, que sobe a encosta do morro até a Igreja da Matriz. A ladeira de paralelepípedos curta e íngreme, ao lado da igreja, passa por um galpão de barcos e por uma casa de madeira pré-mol dada. Acena para a velhinha marrom que toma sol na varanda sentada numa cadeira de praia colorida. O vento nordeste salgado tumultua as árvores e as ondas. Nuvens esparramadas avançam em formação do mar para o continente, como um exército em transe. A ladeira faz uma curva à esquerda, passando em frente a um predinho do século dezoito, com paredes brancas descascadas e janelas recém-pin tadas de azul-cobalto. (D. Galera. Barba ensopada de sangue. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.) A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no dito sítio” que deveria comprimir nos tipitis toda a massa proveniente do mandiocal também inventariado. Mas a farinha não exigia somente a prensa — pedia, também, raladores, cochos de lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha. Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc. 114 – P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 114 Texto para as questões de 5 a 7. 5. (FUVEST – transferência) – Para expor as condições em que viviam os índios, Anchieta introduziu, emseu relato, as seguintes marcas de descrição: a) formas verbais no futuro, progressão temporal das ações e discussão abstrata da situação dos índios. b) formas verbais no presente, a maioria das ações sem progressão temporal e exposição detalhada da situação dos índios. c) formas verbais no passado, relação de anterioridade e posterio - ridade das ações e exposição detalhada da situação dos índios. d) formas verbais no futuro e no passado, relato de fatos concretos e discussão de conceitos genéricos sobre os índios. e) formas verbais no presente e no passado, relato das ações em progressão temporal e discussão de conceitos específicos sobre o estado dos índios. RESOLUÇÃO: O uso do presente do indicativo (está, hão, são), na caracterização dos índios, no primeiro período, compõe a descrição das condições de vida dos “naturais do Brasil”. Resposta: B 6. (FUVEST – adaptada) – No trecho: “... e alguns poucos, (...), são tão oprimidos, que em pouco tempo se gastarão.”, verifica- se entre as orações uma relação de a) causa e consequência. b) finalidade. c) proporção. d) comparação. e) condição. RESOLUÇÃO: A expressão tão ... que estabelece uma relação de causa e consequência. Serem tão oprimidos é a causa, em pouco tempo se gastarem é a consequência. Resposta: A 7. (FUVEST– transferência) – “Porque bem se deixa ver e os portugueses assim o confessam, que sem eles [os índios] mal se poderá conservar este Estado do Brasil.” Nesse trecho, Anchieta evidencia que os portugueses a) confessam a Anchieta que os índios não influenciam na defesa do Brasil. b) deixam ver que os índios mal podem ajudar a con servar o Brasil. c) revelam que sem os índios é provável que o Brasil se conserve mal. d) reconhecem que sem os índios é quase impossível conservar-se o Brasil. e) afirmam, ao confessar-se, que os índios poderão conservar o Brasil. RESOLUÇÃO: No trecho, Padre Anchieta afirma que os portugueses reconhecem a importância dos índios para que o Estado Brasileiro seja conservado. Sem o índios, o Brasil mal se poderá conservar, o que não indica que o país se conservará mal, mas que terá poucas chances de se conservar. Resposta: D Texto para as questões 8 e 9. 8. (UNIFESP) – A construção de sentido no texto assenta-se, sobretudo, na evidente contradição do personagem Romualdo, que a) fora mal cuidado pelos pais, mas ainda assim subiu na vida. b) era gordo, o que era incompatível com um magistrado. c) tinha aparência física respeitável, mas era ignorante. d) assumiu um cargo importante em que usava a língua do povo. e) fazia serviços simples, opostos a sua elegância verbal. RESOLUÇÃO: Romualdo tinha aparência física respeitável, “…mais parecia um magistrado”, porém ao falar essa ilusão se desfazia, parecia um capadócio, ou seja, um sujeito de inteligência curta, ignorante. Resposta: C 9. (UNIFESP) – Assinale a alternativa em que a reescrita do trecho altera o sentido do texto. a) ... e, depois de obtida a sua baixa, contínuo de secretaria. = ... e, depois de obtida a sua dispensa, contínuo de secretaria. b) Releva dizer que o Romualdo só deixou crescer as barbas... = Convém ressaltar que o Romualdo só deixou crescer as barbas... c) ... com aquelas opulentas suíças brancas a emol durar-lhe a cara... = ... com aquelas opulentas suíças brancas a emoldurar a sua cara... d) ... e essa ilusão só se desfazia quando ele falava... = ... e essa ilusão se desfazia quando só ele falava... e) ... por mais que compusesse a sua fisionomia austera e veneranda... = ... embora compusesse a sua fisio nomia austera e veneranda... RESOLUÇÃO: Na primeira construção do trecho, o advérbio só modifica o verbo desfazer; na segunda, a mesma palavra funciona como adjetivo e se refere ao pronome ele. Resposta: D Porque a maior parte dos índios, naturais do Brasil, está consumi - da, e alguns poucos, que se hão conservado com diligência e trabalhos da Companhia, são tão oprimidos, que em pouco tempo se gastarão. Pelo que têm muita necessidade de particular favor de Vossa Majestade. Assim para que os já convertidos se conservem na Fé, como para que os outros venham do sertão para recebê-la de novo. E juntamente haja quem ajude a defender a terra. Porque bem se deixa ver e os portugueses assim o confessam, que sem eles mal se poderá conservar este Estado do Brasil. E com tudo isso vai a coisa de manei ra que, em caso de servir-se dos índios, cada um tem respeito a seu próprio interesse, mais que ao bem comum da terra, nem à utilização e conversão deles. (Padre José de Anchieta, Trecho de Carta) O Romualdo tinha nascido, talvez, para os mais altos destinos; mas como os pais se esqueceram de mandar educálo, e ele mal sabia ler e escrever, o mais que arranjou foi ser soldado do exército, e, depois de obtida a sua baixa, contínuo de secretaria. Releva dizer que o Romualdo só deixou crescer as barbas depois de contínuo; se as usasse quando era soldado e guerreava no Paraguai, chegaria a capitão pelo menos. Mas que contínuo! Alto, gordo, ereto, com aquelas opulentas suíças brancas a emoldurar-lhe a cara, sem bigodes, mais parecia um magistrado, cuja figura estava ao pintar para presidir a um júri sensacional, e essa ilusão só se desfazia quando ele falava, porque o Romualdo, benza-o Deus! por mais que compusesse a sua fisionomia austera e veneranda, tinha o estilo e a prosápia do “povo da lira”. Calado era um juiz; falando, um capadócio. (Arthur Azevedo. As Barbas do Romualdo, em: www.releituras.com.br/aazevedo_barbas.asp) – 115 P O R T U G U ÊS C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 115 Narrar é contar uma história real ou fictícia. O fato narrado apresenta uma sequência de ações envolvendo personagens em determinado espaço de tempo. São exemplos de narrativas a novela, o romance, o conto e também uma crônica, uma notícia de jornal, uma piada, um poema, uma letra de música, uma história em quadrinhos, desde que apresentem uma sucessão de acontecimentos, de fatos. Situações narrativas podem aparecer até mesmo numa única frase. Exemplos O menino caiu. Minha sogra ficou avó (Oswald de Andrade). Repare que a última frase resume ações que envolvem o casamento, a maternidade, a transformação da sogra em avó. São elementos básicos da narração: enredo (ação), personagem, tempo e espaço. Quando a história é curta, como na narração escolar, são imprescindíveis enredo e personagens. A perspectiva de quem escreve é dada pelo foco narrativo (de 1.a ou 3.a pessoa). Os discursos (direto, indireto e indireto livre) representam a fala da personagem. Quanto à sua estrutura narrativa convencional, acompanhe a sequência de ações que compõem o enredo: • O QUÊ? – fato(s) que determina(m) a história; • QUEM? – personagem ou personagens; • COMO? – enredo, modo como se tecem os fatos; • ONDE? – lugar ou lugares da ocorrência; • QUANDO? – momento ou momentos em que se passam os fatos; • POR QUÊ? – causa do acontecimento; • POR ISSO? – consequência dos fatos. O enredo ou trama corresponde à maneira como a história se desenrola, aos “arranjos” narrativos que cercam as personagens e às situações que as envolvem. Essa articulação pode revelar o núcleo temático da matéria narrada, seja ela real, seja ficcional; assim falamos em enredo cujas temáticas podem ser conflitos passionais, casos de mistério ou terror, dramas sociais, experiências existenciais, ficção científica etc. Esse enovelamento de ações a que chamamos enredo abrange as etapas já explicadas na estrutura narrativa: exposição, desenvolvi - mento (complicação – ponto de tensão – e clímax – ponto de maior tensão) e desfecho. 116 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 23 Narração Texto para o teste 1. 1. (2018 – 2ª Aplicação) – Entre os elementos constitutivos dos gêneros está a sua própria estrutura composicional, que pode apresentar um ou mais tipos textuais, considerando-se o objetivo do autor. Nesse fragmento, a sequência textual que caracteriza o gênero conto é a a) expositiva, em que se apresentam as razões da atitude