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PORTUGUÊS
C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 03/03/2020 16:21 Página I
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1. (UNIV. EST. DE GOIÁS) – Reescreva os textos abai xo, retirados
de obras indicadas para leitura, subs tituindo as formas verbais
destacadas pelas que são apresentadas entre parênteses, fazendo as
adaptações necessárias:
a) “Se fosse agora, ainda pegaria o seriado, mas per deria metade do
filme.” (pegará)
(Luiz Vilela)
RESOLUÇÃO: 
Se for agora... pegará... perderá... 
b) “Eu sabia que ele esperava que eu olhasse pra ele e dissesse
alguma coisa.” (espera)
(Luiz Vilela)
RESOLUÇÃO: 
Eu sei que espera que eu olhe para ele e diga alguma coisa.
c) “Não se passa um só dia em que se não tenha de lamentar alguma
travessura desse moço.” (passava)
(Martins Pena)
RESOLUÇÃO: 
Não se passava... tivesse de lamentar...
d) “A perda de consciência era instantânea e, se o aço penetrasse os
oito centímetros apropriados, a morte ocorreria em dois
segundos.” (é)
(Rubem Fonseca)
RESOLUÇÃO: 
A perda de consciência é.... penetrar... ocorrerá.
Na construção de períodos compostos por subor dinação com orações
subordinadas adverbiais condi cionais, finais e concessivas, é preciso
observar a correlação correta dos tempos verbais.
Examine os quadros seguintes.
Observação:
As conjunções finais ainda permi tem, dependendo do contexto, correla -
cionar o pre térito perfeito do indicativo com o presente do subjuntivo.
Exemplo:
Enviamos a correspondência ontem para que (a fim de que) ele a
receba amanhã.
oração principal
oração iniciada com as conjunções 
condicionais se, salvo se
presente do indicativo (vou) –
usado na lin guagem co loquial
futuro do subjuntivo (for)
futuro do presente do 
indi cativo (irei)
futuro do subjuntivo (for)
futuro do pretérito do 
indi cativo (iria)
imperfeito do subjun ti vo (fosse)
oração principal
oração iniciada com 
as conjunções condicionais 
caso, contanto que, 
des de que, a menos que
presente do indicativo (vou) –
usado na lin guagem co loquial
presente do subjuntivo (vá)
futuro do presente do indi cativo (irei) presente do subjuntivo (vá)
futuro do pretérito 
do indi cativo (iria)
imperfeito do 
subjun ti vo (fosse)
oração principal
oração iniciada com as
conjunções concessivas
embora, ainda que, se bem
que, conquanto e com as 
conjunções finais
presente do indicativo (vou) presente do subjuntivo (vá)
pretérito perfeito do indi cativo (fui) presente do subjuntivo (vá)
pretérito imperfeito do indi cativo
(ia)
imperfeito do subjun ti vo
(fosse)
futuro do presente do indi cativo (irei) presente do subjuntivo (vá)
futuro do pretérito do indi cativo
(iria)
imperfeito do subjunti vo
(fosse)
MÓDULO 19 Correlação verbal nas orações subordinadas
FRENTE 1Gramática
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Examine este anúncio de uma instituição financeira, cujo nome foi
substituído por X, para responder às questões 2 e 3.
(Valor Setorial, junho de 2014. Adaptado.)
2. (FUVEST) – Compare os diversos elementos que compõem o
anúncio e atenda ao que se pede.
a) Considerando o contexto do anúncio, existe alguma relação de
sentido entre a imagem e o slogan “É DIFERENTE QUANDO VOCÊ
CONHECE”? Explique.
RESOLUÇÃO:
Sim, existe. A relação de sentido encontra-se no fato de que a
pegada do sapato indica que a instituição bancária está presente
no campo de soja e assim conhece o negócio do seu cliente. Daí o
slogan: “É diferente quando você conhece”.
b) A inclusão, no anúncio, dos ícones e algarismos que prece dem o
texto escrito tem alguma finalidade comunicativa? Explique.
RESOLUÇÃO:
Sim. Tais ícones e algarismos indicam latitude e longitude,
referentes à localização exata onde o cliente está estabelecido.
Com isso, a instituição financeira demonstra ter ciência das
atividades comerciais de seus clientes.
3. (FUVEST) – Com base na parte escrita do anúncio, responda.
a) Qual é a relação temporal que se estabelece entre os ver bos
“conhecer”, “oferecer”, “proporcionar” e “alcançar”? Explique.
RESOLUÇÃO:
O verbo “conhecer” indica tempo anterior aos outros verbos,
porque é imprescindível que “o primeiro passo” seja “conhecer”
os clientes.
“Oferecer” e “proporcionar” indicam tempo simultâneo e
posterior a “conhecer”, visto que ambos se referem ao serviço a
ser proporcionado pela empresa. O verbo “alcançar” se refere aos
resultados que serão obtidos pelo cliente que utilizar a instituição
do anúncio.
b) Complete a frase impressa na página de resposta, flexionando de
forma adequada os verbos “oferecer”, “proporcionar” e
“alcançar”.
RESOLUÇÃO:
Conhecer pronfundamente os negócios de nossos clientes é só o
primeiro passo que permite que ofereçamos sempre respostas
mais rápidas, proporcionemos decisões mais assertivas e
alcancemos melhores resultados.
Para manter a correlação verbal, é necessário que os verbos das
lacunas estejam no presente do subjuntivo, indicando
possibilidade, em função da forma verbal “permite” (presente do
indicativo) da oração anterior.
Conhecer profundamente os negócios de nossos clientes é só
o primeiro passo que permite que ___________________________
sempre respostas mais rápidas, ___________________________
decisões mais assertivas e _______________________________
melhores resultados.
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4. (Santa Casa-2018)
a) “Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados
pela insegurança.”
Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de
modo que, no período resultante, a última oração expresse uma
consequência. Faça ajustes, se necessário.
RESOLUÇÃO:
Temos dúvidas, ficamos tão cheios de perplexidade que somos
tomados pela insegurança.
b) “O espanto e a admiração nos fazem querer saber o que não
sabemos e criam o desejo de superar a incerteza.”
Reescreva o trecho, selecionando uma conjunção adequada, de
modo que, no período resultante, a oração centrada no verbo
“criar” expresse uma finalidade. Faça ajustes, se necessário.
RESOLUÇÃO:
O espanto e a admiração nos fazem saber o que não sabemos, a
fim de criarmos o desejo de superar a incerteza.
Ou:
O espanto e a admiração nos fazem saber o que não sabemos,
para que criemos o desejo de superar a incerteza.
Ou:
O espanto e a admiração nos fazem saber o que não sabemos,
para criar o desejo de superar a incerteza.
5. (ESPM) – Em sua coluna diária no jornal Folha de S.Paulo, o escritor
e ensaísta Carlos Heitor Cony comenta sobre o fato de a ci da de do Rio
de Janeiro possuir duas datas de aniversário: 20 de janeiro e 1.o de
março. E afirma:
A forma verbal destacada
a) traduz ideia de condição e equivale ao pretérito mais-que-perfeito
composto tinha havido.
b) traduz ideia de condição e equivale ao pretérito imperfeito do
subjuntivo houvesse.
c) traduz ideia de desejo e equivale ao presente do subjuntivo haja.
d) traduz ideia de concessão e equivale ao futuro do subjuntivo
houver.
e) traduz ideia de concessão e equivale ao pretérito imperfeito do
subjuntivo houvesse.
Resposta: B
6. (FUVEST) – Considerando a necessidade de cor relação entre
tempos e modos verbais, assinale a alternativa em que ela foge às
normas da língua escrita padrão.
a) A redação de um documento exige que a pessoa conheça uma
fraseologia complexa e arcaizante. 
b) Para alguns professores, o ensino de língua portu guesa será sem -
pre melhor, se houver o domínio das regras de sintaxe.
c) O ensino de Português tornou-se mais dinâmico depois que textos
de autores modernos foram introduzidos no currículo.
d) O ensino de Português já sofrera profundas modi ficações, quando
se organizou um Simpósio Nacio nal para discutir o assunto.
e) Não fora coerção exercida pelos defensores do purismo lin guístico,
todos teremos liberdade de expressão.
RESOLUÇÃO: Observar que fora foi empregado no lugar de fosse,
o que está correto. Essa correlação é clássicae pode ser
encontrada em Camões. Resposta: E (teríamos)
Como carioca radical e livre (estão em moda os radicais livres),
gosto de comemorar as duas datas como se fossem uma só – e
mais houvera pretexto, mais comemoraria.
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Aplicações
1. (FUVEST) – A única frase em que as formas verbais estão cor -
retamente empregadas é:
a) Especialistas temem que órgãos de outras espécies podem trans -
mitir vírus perigosos.
b) Além disso, mesmo que for adotado algum tipo de ajuste fiscal
imediato, o Brasil ainda estará muito longe de tornar-se um par -
ticipante ativo do jogo mundial.
c) O primeiro-ministro e o presidente devem ser do mesmo partido,
embora nenhum fará a sociedade em que eu acredito.
d) A inteligência é como um tigre solto pela casa e só não causará
problema se o suprir de carne e o manter na jaula.
e) O nome secreto de Deus era o princípio ativo da criação, mas dizê-lo
por completo equivalia a um sacrilégio, ao pecado de saber mais
do que nos convinha.
RESOLUÇÃO
Os erros são: em a, podem por possam; em b, for por seja; em c, fará
por faça ou venha a fazer; em d, manter por mantiver. Resposta: E 
2. (FUVEST) – A única frase em que a correlação de tempos e
modos não foi corretamente observada é:
a) Segundo os Correios, se a greve terminar amanhã, as entregas
serão normalizadas em 13 dias. 
b) Para que o agricultor não se limitasse aos recursos oficiais, as fá -
bricas também criaram suas próprias linhas de crédito.
c) Um dos seus projetos de lei exigia que os profes sores e servidores
das universidades fizes sem exa mes antidoping.
d) Na discussão do projeto, o deputado duvidou que o colega era o
autor da emenda.
e) A Câmara Municipal aprovou a lei que concede descontos a multas
e juros que estão em atraso.
RESOLUÇÃO
Não ocorre a necessária correlação modo-temporal em "...o deputado
duvidou que o colega era o autor da emenda." O pretérito perfeito do
indicativo na oração principal deve correlacionar-se com o pretérito
imperfeito do subjuntivo: em lugar de era, deveria usar-se fosse.
Resposta: D
Texto para a questão 3.
3. (FUVEST) – A correlação de tempos que, nesse texto, se verifica
entre as formas verbais existia, descortinassem e comentasse,
mantém-se apenas em:
a) não existe; não descortinem; não comente.
b) não existiu; não teriam descortinado; não teria comentado.
c) não existira; não tinham descortinado; não tinha comen tado.
d) não existirá; não tiverem descortinado; não tiver comen tado.
e) não existiria; não descortinavam; não comentava.
RESOLUÇÃO
Os verbos estão todos no tempo imperfeito, alternando-se os modos
indicativo (existia) e subjuntivo (descortina s sem, comen tasse). Por -
tanto, os tempos são conco mitantes e a alter nância de modos
exprime ou reali da de (indicativo) ou possibilidade, supo sição
(subjuntivo). Se transpuséssemos o relato em questão para o
presente, os modos se alternariam da mesma maneira, como ocorre
na alternativa a. Resposta: A
4. (UFSCar-virtual) – Assinale a alternativa que completa
corretamente a frase – A lei demorará para ser implementada
a) se medidas urgentes não serem tomadas e a comunidade não
inter vier rapidamente.
b) se medidas urgentes não forem tomadas e a comunidade não
inter vier rapidamente.
c) se medidas urgentes não serem tomadas e a comunidade não
inter vir rapidamente.
d) se medidas urgentes não forem tomadas e a comunidade não
inter vierem rapidamente.
e) se medidas urgentes não forem tomadas e a comunidade não
inter visse rapidamente. Resposta: B
5. (FUVEST) – Assinale a alternativa em que a cor relação de tempos
e modos verbais não é adequada ao contexto.
a) Ainda aparecerá no Congresso alguém disposto a apresentar um
projeto que fixe consequências para aqueles que enganem a
sociedade.
b) Tudo leva a crer que, nesses cruzamentos de culturas, a situação
das áreas coloniais apresente um convívio de extremos.
c) Não há dúvida de que, nos traumas sociais, os sujeitos da cultura
popular sofrem abalos graves.
d) More alguém nos bairros pobres da periferia de uma cidade grande
e verá no que resultou essa condição do migrante.
e) A sua conduta será de inconformismo e violência, até que um dia
certas condições poderiam reconstituir sua vida familiar.
RESOLUÇÃO
(possam) Resposta: E
Texto para a questão 6.
6. (FUVEST-transferência) – Alterando-se os tempos verbais do
parágrafo acima, estará correta a seguinte articulação entre eles:
a) quando eu fosse chamado – que podia afirmar – talvez me ocorrerá
b) quando eu vier a ser chamado – que pudesse afirmar – talvez me
ocorra
c) se eu fora chamado – que posso afirmar – talvez me ocorra
d) quando eu fosse chamado – que poderia afirmar – talvez me
ocorresse
e) se eu fora chamado – que poderei afirmar – talvez me ocorre
Resposta: D
As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gárrulas como
cigarras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas as esqua dri nha -
doras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as male di cências,
as tecedeiras de todas as intrigas. E na desditosa cidade, não existia
nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido, algibeira arrasada,
janela entreaberta, poeira a um canto, vulto a uma esquina, bolo
encomendado nas Matildes, que seus olhinhos fu rantes de
azeviche sujo não descortinassem e que sua solta língua, entre os
dentes ralos, não comentasse com malícia estridente.
(Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires)
Um dia, quando eu for chamado a dar testemunho sobre a
minha jornada na face da terra, que poderei afirmar sobre os
homens e as coisas do meu tempo? Talvez me ocorra apenas isto,
no meio de tantas fatigadas lembranças: “cascas de barba timão
secando ao sol”.
(Rubem Braga)
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1. As orações a seguir são reduzidas de infinitivo, gerúndio ou par ti -
cí pio. Desenvolva-as e, para tanto, utilize as conjunções ou os prono -
mes relativos ade qua dos, conjugando os verbos no modo indicativo ou
no subjuntivo.
a) Convém abrir todas as janelas. 
b) Tenho a impressão de estarmos sendo enganados.
c) Sinto uma grande felicidade invadir meu coração.
d) “Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria.”
(Graciliano Ramos)
Resumindo:
RESOLUÇÃO:
Convém que se abram todas as janelas.
(O. S. S. Subjetiva)
RESOLUÇÃO:
Tenho a impressão de que estamos sendo enganados.
(O. S. S. Completiva Nominal)
RESOLUÇÃO:
Sinto que uma grande felicidade invade meu coração.
(O. S. S. Objetiva Direta)
RESOLUÇÃO:
Se (ou caso) responsabilizasse qualquer deles, meu pai me es -
que ceria.
(O. S. Adverbial Condicional)
Orações Desenvolvidas Orações Reduzidas
são iniciadas por con -
junção ou pronome re -
la tivo (conectivos);
não são iniciadas por
conjunção ou pronome
relativo;
apresentam verbo 
fle xio nado.
apresentam verbo nu ma 
forma nominal.
ORAÇÃO SUBORDINADA
SUBSTANTIVA REDUZIDA
apresenta verbo no infinitivo pessoal ou impessoal.
ORAÇÃO SUBORDINADA
ADJETIVA REDUZIDA
apresenta verbo no infinitivo, gerúndio ou particípio.
ORAÇÃO SUBORDINADA
ADVERBIAL REDUZIDA
apresenta verbo no infinitivo, gerúndio ou particípio.
O indicativo, o subjuntivo e o imperativo cons tituem as
formas modais do verbo, isto é, indicam os diferentes modos
de um fato reali zar-se.
As formas nominais do verbo – infinitivo (pes soal e impes -
soal), gerúndio e particípio –, como o próprio nome indica,
além de terem valor verbal, podem ter a função de nomes
(subs tantivo ou adjetivo).
Exemplos:
É proibido entrar.
É proibida a entrada.
(O infinitivo entrar tem a mesma função do subs tantivo “a
entrada”, ou seja, de sujeito de “é proibido”.)
Ela desenhou um mapa abrangendo tudo.
Ela desenhou um mapa abrangente de tudo.
(O gerúndio abrangendo tem a mesma função do adjetivo
“abrangente”, ou seja, de adjunto adnominal de “mapa”.)
Concluída a tarefa, dedicou-se a outras atividades.
Pronta a tarefa, dedicou-se a outras atividades.(O particípio concluída tem a mesma função do adje tivo
“pronta”.)
As formas nominais, sozinhas, não exprimem nem o tempo
nem o modo. Seu valor temporal e modal sem pre depende
da frase em que aparecem.
MÓDULO 20 Orações reduzidas
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2. Reduza as orações sublinhadas, empregando infi ni tivo (pessoal
ou impessoal), gerúndio ou particípio. Em alguns casos, mais de uma
construção é possível. Consulte os quadros, se necessário.
a) Quando concluiu o mestrado, o professor passou a lecionar em
universidades.
b) Como queria reconhecimento, abandonou o cargo.
3. (UNIFESP-2018) – “De acordo com essa teoria, não cabia aos
homens modificar a ordem social.” (1.° parágrafo)
O trecho destacado exerce a função sintática de
a) objeto indireto.
b) objeto direto.
c) adjunto adnominal.
d) sujeito.
e) adjunto adverbial.
RESOLUÇÃO:
A oração “modificar a ordem social” funciona como sujeito
(oração subordinada substantiva subjetiva) da principal. Assim o
trecho poderia ser reescrito da seguinte forma: “De acordo com
essa teoria, modificar a ordem social não cabia aos homens”.
Resposta: D
Texto para a questão 4.
4. (2016) – A coesão textual é responsável por
estabelecer relações entre as partes do texto.
Analisando o trecho “Acontecendo de o cientista
provocar um dano em um local específico no cérebro”, verifica-se que
ele estabelece com a oração seguinte uma relação de
a) finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade
provocar a falta de vocalização dos ratos.
b) oposição, visto que o dano causado em um local específico no
cérebro é contrário à vocalização dos ratos.
c) condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro
para que não haja vocalização dos ratos.
d) consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização
dos ratos é o dano causado no cérebro.
e) proporção, já que a medida que se lesiona o cérebro não é mais
possível que haja vocalização dos ratos.
RESOLUÇÃO: 
A oração reduzida de gerúndio indica condição: Se o cientista
provocar um dano no cérebro de um rato, ele deixará de produzir
vocalizações ultrassônicas.
Resposta: C
RESOLUÇÃO:
Concluindo o mestrado, ...
Concluído o mestrado, ...
Ao concluir o mestrado, ...
(O. S. Adverbial Temporal)
RESOLUÇÃO:
Querendo reconhecimento, abandonou o cargo.
(O. Subordinada Adverbial Causal Reduzida de Gerúndio)
Por querer reconhecimento, abandonou o cargo.
(O. Subordinada Adverbial Causal Reduzida de Infinitivo)
O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir.
Isso não é verdade?
Não. O riso básico – o da brincadeira, da diversão, da expressão
física do riso, do movimento da face e da vocalização – nós
compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram
observadas vocalizações ultrassôni cas – que nós não somos
capazes de perceber – e que eles emitem quando estão brincando
de “rolar no chão”. Acontecendo de o cientista provocar um dano
em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa
vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa
que está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não
temos apenas esse mecanismo básico. Temos um outro mais
evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas
não têm senso de humor. O córtex, a parte superficial do cérebro
deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos
corticais que nos permitem, por exemplo, interpretar uma piada.
Disponível em: http://globonews.globo.com. 
Acesso em: 31 maio 2012 (adaptado).
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Leia a crônica de Clarice Lispector, publicada no Jornal do Brasil em 29 de
março de 1969, para responder às questões 5 e 6.
5. (FAMERP-2019) – “A sugestão “seja você mesma” deixou a
autora “perplexa e desamparada” porque
a) mostrou que seus leitores não eram capazes de compreender o que
ela queria expressar em seus textos.
b) fez com que ela percebesse que não sabia como ser, no jornal, uma
escritora tão boa quanto nos livros. 
c) provocou questionamentos de ordem existencial, para os quais não
encontrou resposta.
d) levou-a a se perguntar se seria capaz de evitar as temidas concessões
ao escrever para o jornal.
e) gerou dúvidas quanto à sua identidade, pois se viu dividida em duas
escritoras com estilos antagônicos.
6. (FAMERP-2019) – “Os trechos “por estar escrevendo em jornal”
(1o parágrafo) e “ao ouvir um ‘seja você mesma’” (2o parágrafo) expri -
mem, respectivamente, circunstância de
a) consequência e tempo.
b) causa e condição.
c) causa e tempo.
d) finalidade e condição.
e) consequência e finalidade.
Texto para a questão 7.
7. (FUVEST)
a) Considerando o que o texto conceitua, explique bre vemente qual a
diferença essencial entre a percepção do contrário e o sen ti mento
do contrário.
b) Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma
respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso (...).
Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, rees creva-o, substi -
tuindo se perceber e produz-se por formas verbais cujo sujeito seja
nós e é o oposto por não corresponde. Faça as adaptações neces -
sárias.
Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção do con trá -
 rio”, como no famoso exemplo de uma velha já decrépita que se
cobre de maquiagem, veste-se como uma moça e pinta os cabelos.
Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma
respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso, que nasce da
ruptura das expectativas, mas sobretudo do sentimento de
superioridade. A “per cep ção do contrário” pode, porém, transfor -
mar-se num “sentimento do contrário” — quando aquele que ri pro -
cura entender as razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão de
reconquistar a juventude perdida. Nesse passo, a velha da anedota
não mais está distante do sujeito que percebe, porque este pensa
que também poderia estar no lugar da velha — e seu riso se mistura
com a compreensão piedosa e se transforma num sorriso. Para
passar da atitude cômica para a atitude humorística, é pre ci so
renunciar ao distanciamento e ao sentimento de superioridade.
(Adaptado de Elias Thomé Saliba, Raízes do riso)
RESOLUÇÃO: 
A diferença essencial entre percepção do contrário e sentimento
do contrário é que a primeira expres são sugere a ideia de
distanciamento e superioridade do observador da ce na cômica, e
a segunda remete à identificação e à com paixão do observador,
que ge ram humor e não pro pria mente comicidade.
RESOLUÇÃO: 
Ao percebermos que aquela senhora velha não cor responde ao
que uma respeitável velha senhora deveria ser, produzimos o riso
(rimos).
Perguntas grandes
Pessoas que são leitoras de meus livros parecem ter receio de
que eu, por estar escrevendo em jornal, faça o que se chama de
concessões. E muitas disseram: “Seja você mesma.”
Um dia desses, ao ouvir um “seja você mesma”, de repente
senti-me entre perplexa e desamparada. É que também de repente
me vieram então perguntas terríveis: quem sou eu? como sou? o
que ser? quem sou realmente? e eu sou?
Mas eram perguntas maiores do que eu.
(A descoberta do mundo, 1999.)
RESOLUÇÃO: 
Clarice Lispector começou a questionar a própria existência, não
encontrando resposta satisfatória, depois que seus leitores
pediram para que essa autora fosse ela mesma, sem fazer
concessões literárias ao escrever para a imprensa.
Resposta: C
RESOLUÇÃO: 
A oração “por estar escrevendo em jornal” é subordinada
adverbial reduzida de infinito e exprime circunstância de causa
em relação à principal “o que se chama”. No segundo parágrafo,
há circunstância de tempo na oração subordinada adverbial
reduzida de infinito.
Resposta: C
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Aplicações
Texto para o teste 1.
1. O texto acima possui elementos coesivos que
promo vem sua manutenção temática. A partir
dessa perspectiva, conclui-se quea) a palavra mas, na linha 3, contradiz a afirmação inicial do texto:
linhas 1, 2 e 3.
b) a palavra embora, na linha 5, introduz uma explicação que não
encontra complemento no restante do texto.
c) as expressões: consequências calamitosas, na linhas 2 e 3, e
efeitos incalculáveis, na linha 8, reforçam a ideia que perpassa o
texto sobre o perigo do efeito estufa.
d) o uso da palavra cientistas, na linha 4, é desnecessário para dar
cre di bilidade ao texto, uma vez que se fala em estudo no título do
texto.
e) a palavra gás, na linha 7, refere-se a combustíveis fósseis e quei -
madas, na linha 2, reforçando a ideia de catástrofe.
Resposta: C
Texto para os testes 2 e 3.
2. (UFSCar) – No texto apresentado, Saint-Exupéry defende
a) o esclarecimento das tarefas a serem realizadas.
b) a posição de que aquele que manda não precisa saber fazer.
c) a delegação de tarefas, sem demasiadas expli ca ções.
d) a motivação das pessoas para fazer seu trabalho.
e) o planejamento estratégico na elaboração de um trabalho.
RESOLUÇÃO
Ao falar antes sobre a grandeza e a imensidão do mar, procura-se
estimular as pessoas a se inte ressarem pe la cons trução do navio.
Resposta: D
3. (UFSCar) – Uma outra versão do início do texto, mantendo seu
sentido original, é:
a) Querendo construir um navio...
b) Construído um navio...
c) À medida que construir um navio...
d) Por querer construir um navio...
e) Ainda que queira construir um navio...
RESOLUÇÃO
Em “querendo construir um navio...”, ocorre circuns tância de
condição, idêntica à oração subordinada ad verbial condicional: “Se
você quer construir um navio...”.
Resposta: A
4. (PUC) – Assinale a opção em que a oração sublinhada é uma ora -
ção adverbial com valor de consequência.
a) A psiquiatria tem repensado a noção de cura, sem que obtenha
resultados mais eficazes.
b) A psiquiatria tem repensado a noção de cura, para obter re sul tados
mais eficazes.
c) A psiquiatria tem repensado a noção de cura, obtendo, assim,
resultados mais eficazes.
d) Como a psiquiatria tem repensado a noção de cura, tem obtido
melhores resultados.
e) Sempre que a psiquiatria repensa a noção de cura, obtém re sul -
tados mais eficazes. 
Resposta: C
Texto para a questão 5.
5. A primeira oração aparece modificada, sem prejuízo do sentido,
em:
a) Ao ser cada homem uma redução de Humanitas [...].
b) A fim de ser cada homem uma redução de Humanitas [...].
c) Por ser cada homem uma redução de Humanitas [...].
d) Mesmo sendo cada homem uma redução de Humanitas [...].
e) Se for cada homem uma redução de Humanitas [...].
RESOLUÇÃO
A primeira oração indica circunstância de causa, como a oração da
alternativa c. Em a, a circunstância é de tempo; em b, finalidade;
em d, concessão; em e, condição.
Resposta: C
Se você quer construir um navio, não peça às pessoas que
consigam madeira, não dê a elas tarefas e trabalhos. Fale, antes, a
elas, longamente, sobre a grandeza e a imensidão do mar.
(Saint-Exupéry)
Aumento do efeito estufa ameaça plantas, diz estudo
O aumento de dióxido de carbono na atmosfera, resultante do
uso de combustíveis fósseis e das queimadas, pode ter conse -
quên cias calamitosas para o clima mundial, mas também pode
afetar diretamente o crescimento das plantas. Cientistas da
Universidade de Basel, na Suíça, mostram que, embora o
dióxido de carbono seja essencial para o crescimento dos
vegetais, quantidades excessivas desse gás prejudicam a saúde
das plantas e têm efeitos incalculáveis na agricultura de vários
países. 
(O Estado de S. Paulo, 20/9/1992)
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Sendo cada homem uma redução de Humanitas, é claro que
nenhum homem é fundamentalmente oposto a outro homem,
quaisquer que sejam as aparências contrárias.
(Machado de Assis, 
Memórias Póstumas de Brás Cubas)
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Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem as
poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas não
forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que prejudique a
eufonia da frase.
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia
da frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso
do pronome antes do verbo – próclise. No entanto, há
casos em que a norma culta prescreve o emprego do
pronome no meio – mesó clise – ou após o verbo – ênclise.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se
inicia um período com pronome oblíquo átono. Assim,
se na linguagem falada diz-se Me encontrei com ele, na
linguagem escrita, formal, usa-se Encontrei-me com ele.
CASOS DE PRÓCLISE
Palavra de sentido negativo
Não me falou a verdade.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo
Aqui te espero pacientemente.
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise.
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Pronomes indefinidos
Ninguém o chamou aqui.
Pronomes demonstrativos
Aquilo lhe desagrada.
Orações interrogativas
Quem lhe disse tal coisa?
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito
anteposto ao verbo
Deus lhe pague, Senhor!
Orações exclamativas
Quanta honra nos dá sua visita!
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde
que não sejam reduzidas.
Percebia que o observavam.
Este é o homem que te procura.
Caso me ausente, cuide dos nossos negócios.
Verbo no gerúndio, regido de preposição em.
Em se plantando, tudo dá.
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição.
Seus intentos são para nos prejudicarem.
CASOS DE ÊNCLISE
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro
do indicativo.
Trago-te flores.
CASOS DE MESÓCLISE
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente
ou no futuro do pretérito que iniciam a oração.
Dir-lhe-ei toda a verdade.
Far-me-ias um favor?
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise.
Eu lhe direi toda a verdade.
Tu me farias um favor?
Verbo no imperativo afirmativo
Amigos, digam-me a verdade!
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela
preposição em. 
Saí, deixando-a aflita.
Verbo no infinitivo impessoal regido da prepo sição a. Com
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise.
Apressei-me a convidá-los.
Estava para dizer-lhe a verdade. /
Estava para lhe dizer a verdade.
COLOCAÇÃO DO PRONOME ÁTONO NAS
LOCUÇÕES VERBAIS
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio
Se a locução verbal não vier precedida de um fator de
próclise, o pronome átono deverá ficar depois do auxiliar
ou depois do verbo principal.
Devo-lhe dizer a verdade.
Devo dizer-lhe a verdade.
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar
antes do auxiliar ou depois do principal.
Não lhe devo dizer a verdade.
Não devo dizer-lhe a verdade.
Verbo principal no particípio
Se não houver fator de próclise, o pronome átono ficará
depois do auxiliar.
Havia-lhe dito a verdade.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes
do auxiliar.
Não lhe havia dito a verdade.
Haver de e ter de + infinitivo
Pronome átono deve ficar depois do infinitivo.
Hei de dizer-lhe a verdade.
Tenho de dizer-lhe a verdade.
Observação
Não se deve omitir o hífen nas seguintes cons truções:
Devo-lhe dizer tudo.
Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo.
MÓDULO 21 Sintaxe de colocação – Colocação pronominal
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1. (UNISAL) – A gramática normativa determina que os pronomes
oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, se, nos, vos) apareçam antes do
verbo quando houver palavras negativas, advérbios, conjunções
subordi nativas, prono mes relativos, indefinidos ou demons tra tivos
antes dele. Verifique a aplicação dessa regra nas frases seguintes:
I. Luís jamais me olhou de novo.
II. Nós esperávamos que nos dissessem toda a ver dade. 
III. Agora escute-me, por favor.
IV. Avisaram-me sobre o acidente.
Estão corretas, segundo a gramática normativa, as frases:
a) I e IV. b) I, II, III e IV. c) I, II e IV.
d) I,II e III. e) III e IV.
2. (FGV) – Assinale a alternativa em que a posição dos pro nomes áto -
nos, na frase, está de acordo com a norma-padrão do português escrito.
a) A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que cerca vam-no...
b) As obscuras determinações das coisas acertadamente o haviam
erguido até ali.
c) Ele julgava-se e só o que parecia-lhe grande entrava nesse julga mento.
d) ... uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase
falavam-lhe.
e) As obscuras determinações das coisas, acertadamente, mais alto
levariam-no.
RESOLUÇÃO:
Nas demais alternativas há ênclises indevidas: em a e c porque os
verbos são antecedidos por pronomes relativos; em d porque
antes vem um advérbio; em e porque se trata de futuro do
pretérito. 
Resposta: B
3. (FGV) – Assinale a alternativa correta quanto à colocação pro no -
minal e à pontuação.
a) Falou-lhe com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa
nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!”
b) Falou-lhe, com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa
nenhuma, repetindo: “Já disse que me mato!”
c) Falou-lhe, com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa
nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!”
d) Lhe falou, com bondade minha mãe, mas ele não atendia a coisa
nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!”
e) Lhe falou com bondade minha mãe, mas ele não atendia a coisa
nenhuma, repetindo: “Já disse que me mato!” 
RESOLUÇÃO: 
De acordo com a norma culta, não se inicia período com pronome
oblíquo átono, daí “Falou-lhe”. Em “Já disse que me mato”, o
pronome “me” proclítico está corretamente colo ca do. Na
alternativa b, as vírgulas foram empregadas corretamente para:
(1) destacar o adjunto adverbial (“com bondade”) no meio da
primeira oração; (2) separar a oração coordenada assindética
(“Falou-lhe... minha mãe”) da coordenada sindética adversativa
(“mas ele não atendia...”); (3) separar a oração reduzida de
gerúndio (“repetindo...”). 
Resposta: B
4. (ESPM) – A colocação pronominal foge ao que se recomenda para
o padrão culto em: 
a) Não se sabia ao certo, sem os resultados da pesquisa, quantos
beneficiariam-se com a distribuição de alimentos. 
b) Tratava-se de um procedimento normal, informou a secretária, pois
a dispensa de funcionários decorria da queda de arrecadação. 
c) Quem se dispuser a trabalhar em benefício das pessoas carentes
da comunidade deve apresentar-se ao coordenador, amanhã cedo,
no Centro de Solidariedade.
d) Não houve quebradeira de empresas e de bancos, porque já se
sabia dos riscos de uma desvalorização e as companhias se
protegeram, comprando dólares.
e) Presumo que o erro foi causado pelo fato de muitos economistas
terem deduzido que a história se repete, e não foi o que se
observou, nesse caso.
5. (CEFET-MG) – A posição do pronome oblíquo destacado na frase
está de acordo com o que preconiza a norma padrão em:
a) “A velhice nos lembra da proximidade do fim (...)”
b) “Me sentirei honrada com o reconhecimento da minha força.”
c) “Quando chegar a minha hora, por favor, me chamem de velha.”
d) “(...) em um programa de TV, o entrevistador me perguntou sobre
a morte.”
e) “(...) se alguém me disser (...) que estou na ‘melhor idade’, vou
romper meu pacto pessoal de não violência.”
Resposta: E
6. (TOLEDO) – Para as questões seguintes, assinale:
A) quando somente a I estiver correta;
B) quando I e II estiverem corretas.
a) I. O gado ia finar-se, até os espinhos secariam.
II. O gado ia-se finar, até os espinhos secariam.
b) I. Compadre, eu não lhe quero dizer coisa alguma.
II. Compadre, eu não quero dizer-lhe coisa algu ma.
c) I. Preciso contar, senhor delegado, como se foi formando entre
nós esse espírito de briga.
II. Preciso contar, senhor delegado, como foi for mando-se entre
nós esse espírito de briga.
d) I. As visões da caatinga tinham-se dissipado.
II. As visões da caatinga tinham dissipado-se.
(Graciliano Ramos. Vidas secas. Ed. Martins, pp. 30, 36.)
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a) B / B / A / A b) A / B / A / B c) B / B / B / A
d) A / A / A / B e) B / A / A / A 
RESOLUÇÃO: No item III, o correto é: Agora me escute...
Resposta: C
RESOLUÇÃO: Na passagem ...quantos beneficiariam-se... existe
um erro de colocação pronominal, porque o pronome interroga -
tivo quantos atrai o pronome se para antes do verbo, havendo
assim próclise: “...quantos se beneficiariam com...” 
Resposta: A
RESOLUÇÃO: A frase As visões da caatinga tinham dissipado-se
está er rada porque não se prende pronome oblíquo átono ao
parti cípio. Resposta: C
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7. (FGV) – O emprego e a colocação do prono me estão de acordo
com a norma culta na alternativa:
a) Trata-se, evidentemente, de material muito simples, mas muitos dos
que são alfabetizados não conse guem lê-lo, nem compreendê-lo.
b) Pensemos na desobediência, na heresia e nas seitas e em como o
conhecimento lhes introduziu no mundo.
c) Lembre-se das rodas dentadas da pobreza, da igno rância, da falta
de esperança e da baixa autoestima e de como usam-as para criar
um tipo de máquina do fracasso perpétuo.
d) Temos dilemas que nos perseguem e inteligências brilhantes, que
poderiam ajudar a solucionar eles rapida mente.
e) Existe a ideia de que a capacidade de ler, o conheci mento, os livros
e os jornais são potencialmente peri go sos; os tiranos e os
autocratas sempre compreenderam-na.
RESOLUÇÃO: Em lê-lo, compreendê-lo, houve fusão do pronome
oblí quo o, na função de objeto direto, com a terminação verbal (ler
+ o = lê-lo; compreender + o = compreendê-lo); em b, a forma
pronominal lhes deve ser trocada por as (introduziu-as); em c e e,
deve haver próclise (como as usam), (sempre a com preenderam);
em d, solucionar eles é variante popular; deveria ser regis trada a
forma solucioná-los. Resposta: A
8. (CEFET-MG) – A alteração na ordem da palavra em desta que
promoveu um desvio da norma-padrão, exceto em:
a) Já não se encolhe...
Já não encolhe-se...
b) ...as pessoas nunca se comunicaram tanto quanto na internet...
...as pessoas nunca comunicaram-se tanto quanto na internet...
c) ...que se abre de par em par, passando para o outro lado, e se
entregando...
...que se abre de par em par, passando para o outro lado, e en -
tregando-se...
d) ...a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que se alastra...
...a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que alastra-se...
e) Encontram-se, em bibliotecas monumentais como a do Congresso
americano...
Se encontram, em bibliotecas monumentais como a do Congresso
americano...
Resposta: C
9. (FGV) – Reescreva os trechos a seguir, extraídos e adaptados da
matéria Fabrique você mesmo (Época, 14.04.2014), adequando-os à
norma-padrão da língua portuguesa, considerando as informações
entre parênteses.
a) A evolução que trouxe-nos das cavernas para o mundo conectado
pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se
valeram de um conserto de novas tecnologias e ideias. (Ortografia
e colocação pronominal)
RESOLUÇÃO:
A evolução que nos trouxe das cavernas para o mundo conectado
pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais
se valeram de um concerto de novas tecnologias e ideias.
b) Com as tecnologias e ideias abriu-se um universo de possibilidades
foi assim com o arado que aumentou a produção agrícola gerou
excedentes e permitiu a criação de Estados e impérios (Pontuação)
RESOLUÇÃO:
Com as tecnologias e ideias, abriu-se um universo de
possibilidades. Foi assim com o arado, que aumentou a produção
agrícola, gerou excedentes e permitiu a criação de Estados e
impérios.
10. (FGV-2018-adaptado) – Com base na passagem “Alguns me
olham com um sor riso irônico, outros com ar respeitoso; pouco me
importa. Justifique a colocação dos pronomes destacados nas duas
primeiras ocorrências.
RESOLUÇÃO:
Os pronomes destacados estão em próclise devido à presença de
fatores de atração. Na primeira oração, o pronome indefinido“alguns” atrai o pronome oblíquo, assim como o advérbio de
intensidade “pouco” na segunda oração.
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As questões de 1 a 4 tomam por base uma passagem de uma palestra
de Amadeu Amaral (1875-1929) proferida em São Paulo, em 1914, e
uma charge de Dum.
(www.dumilustrador.blogspot.com)
1. (UNESP) – “Ele vê a árvore sob os aspectos da beleza e sob o
ângulo antropomórfico”
A quem o autor do texto atribui tal perspectiva? Identi fique os dois
pontos de vista inerentes a esta perspectiva, explicando-os. 
RESOLUÇÃO:
O autor atribui ao poeta a capacidade de observar tanto a
natureza de maneira objetiva, a partir de valores estéticos, como
também de forma subjetiva, conside rando o que ela representa
para o observador e para a humanidade. A natureza, nesse
sentido, ganha uma dimensão que transcende quais quer outras
representações meramente descritivas, já que se torna um
arquétipo, inerente à memória coletiva, incorporando os atributos
relativos à vida.
2. (UNESP) – “O botânico estuda-lhe o nascimento, o crescimento,
a reprodução, a nutrição, a morte”
Do ponto de vista sintático, que relação os termos sublinhados
estabelecem com o verbo? Do ponto de vista semântico, a organização
dos substantivos sublinhados aparenta seguir um determinado critério;
um desses substantivos, contudo, romperia tal organização. Identifique
qual seria esse critério e o substantivo que romperia sua organização.
RESOLUÇÃO:
Em relação ao verbo estudar, os termos “o nascimento, o
crescimento, a reprodução, a nutrição, a morte” funcionam como
complemento verbal, são o objeto direto composto.
Do ponto de vista semântico, os substantivos apresen tam uma
gradação em clímax que diz respeito ao ciclo de vida vegetal
observável visualmente: “o nasci men to”, “o crescimento”, “a
reprodução” [flores, frutos] e “a morte”. O substantivo que rompe
tal sequência é “a nutrição”, cujo processo é constante, mas não
visível a olho nu.
ÁRVORES E POETAS 
Para o botânico, a árvore é um vegetal de grande altura, composto
de raiz tronco e fronde subdividindo-se cada uma dessas partes numa
certa quantidade de elementos: – reduz-se tudo a um esquema. O
botânico estuda-lhe o nascimento, o crescimento, a reprodução, a
nutrição, a morte; descreve-a; classifica-a. Não lhe liga porém maior
importância do que aquela que empresta ao mais microscópico dos
fungos ou ao mais desinteressante dos cogumelos. O carvalho, com
toda a sua corpulência e toda a sua beleza, vale tanto como a relva que
lhe cresce à sombra ou a trepadeira desprezível e teimosa que lhe
enrosca os sarmentos1 colubrinos2 pelas rugosidades do caule. Por via
de regra vale até menos, porque as grandes espécies já dificilmente
deparam qualquer novidade. Para o jurista, a árvore é um bem de raiz,
um objeto de compra e venda e de outras relações de direito, assim
como a paisagem que a enquadra – são propriedades particulares, ou
terras devolutas E há muita gente a quem a vista de uma grande
árvore sugere apenas este grito de alma: – “Quanta lenha!...” 
O poeta é mais completo. Ele vê a árvore sob os aspectos da
beleza e sob o ângulo antropomórfico3: encara-a de pontos de vista
comuns à humanidade de todos os tempos. Vê-a na sua graça, na sua
força, na sua formosura, no seu colorido; sente tudo quanto ela
lembra, tudo quanto ela sugere, tudo quanto ela evoca, desde as
impressões mais espontâneas até as mais remotas, mais vagas e
mais indefiníveis. Dá-nos, assim, uma noção “humana”, direta e viva
da árvore, – pelo menos tão verdadeira quanto qualquer outra. 
(Letras Floridas, 1976.) 
1 sarmento: ramo delgado, flexfvel. 
2 colubrino: com forma de cobra, sinuoso. 
3 antropomórfico: descrito ou concebido sob forma humana ou com
atributos humanos.
MÓDULO 22 Estudos linguísticos – VII
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3. (UNESP) – De acordo com a concepção de Amadeu Amaral, qual
seria a diferença fundamental entre o ponto de vista do botânico e o
do poeta? Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO:
O ponto de vista do botânico subordina-se ao método científico,
que descreve e classifica os elementos da natureza, buscando
reduzir o processo analisado a um esquema ordenado dos
fenômenos conforme determi na das leis naturais. O ponto de vista
do poeta é subje tivo, pois ele projeta na natureza atributos
humanos, personificando-a para que ela revele sua magnifi cência
e ofereça uma dimensão “tão verdadeira quanto qualquer outra”,
embora ficcional. O botânico tem uma visão relativa, não vai além
do seu campo de conhecimento, enquanto o poeta tem uma visão
ampla, incorporando à natureza múltiplos significados.
4. (UNESP) – Qual a intenção da personagem da charge ao se valer
do argumento de que a floresta invadiu suas terras? Analise tal
argumento sob os pontos de vista lógico e ético.
RESOLUÇÃO:
A intenção da personagem é promover a adesão dos membros da
bancada ruralista à ideia do desmata mento florestal. O objetivo
desse grupo, conforme a charge, é lucrar com a expansão da
produção agrícola e da pecuária nas terras preservadas pelo
código florestal vigente. Para alcançar esse intento, o grupo
deseja um novo código que atenda a seus interesses. Os argu -
mentos do personagem, portanto, ferem a lógica, são infundados
e falaciosos. Além disso, a ética da sociedade é desrespeitada,
pois atualmente há uma grande preocupação mundial com a
preservação dos ecossistemas.
5. (2018)
Entre as estratégias argumentativas utilizadas para sustentar a tese
apresentada nesse fragmento, destaca-se a recorrência de 
a) estruturas sintáticas semelhantes, para reforçar a velocidade das
mudanças da vida. 
b) marcas de interlocução, para aproximar o leitor das experiências
vividas pela autora. 
c) formas verbais no presente, para exprimir reais possibilidades de
concretização das ações. 
d) construções de oposição, para enfatizar que as expectativas são
afetadas pelo inesperado. 
e) sequências descritivas, para promover a identificação do leitor com
as situações apresentadas. 
RESOLUÇÃO:
A estratégia argumentativa usada na construção desse texto é a
da contraposição entre a expectativa da realização do desejo e a
sua não concretização.
Resposta: D
ENQUANTO ISSO, NOS BASTIDORES DO UNIVERSO 
PVocê planeja passar um longo tempo em outro país, trabalhando
e estudando, mas o universo está preparando a chegada de um amor
daqueles de tirar o chão, um amor que fará você jogar fora seu atlas e
criar raízes no quintal como se fosse uma figueira. 
Você treina para a maratona mais desafiadora de todas, mas não
chegará com as duas pernas intactas na hora da largada, e a primeira
perplexidade será esta: a experiência da frustração. 
O universo nunca entrega o que promete. Aliás, ele nunca
prometeu nada, você é que escuta vozes. 
No dia em que você pensa que não tem nada a dizer para o
analista, faz a revelação mais bombástica dos seus dois anos de
terapia. O resultado de um exame de rotina coloca sua rotina de
cabeça para baixo. Você não imaginava que iriam tantos amigos à sua
festa, e tampouco imaginou que justo sua grande paixão não iria.
Quando achou que estava bela, não arrasou corações. Quando saiu
sem maquiagem e com uma camiseta puída, chamou a atenção. E
assim seguem os dias à prova de planejamento e contrariando nossas
vontades, pois, por mais que tenhamos ensaiado nossa fala e
estejamos preparados para a melhor cena, nos bastidores do universo
alguém troca nosso papel de última hora, tornando surpreendente a
nossa vida. 
(MEDEIROS. M. O Globo. 21 jun. 2015. )
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Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio
Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira, para responder às
questões de 6 a 10.
6. (UNESP) – Ao escrever a seu colegadizendo que “o que produzira
o habilitaria a ser ‘internado em um hospício’” (3.° parágrafo), Einstein
reconhece, em relação ao artigo de 1917, seu caráter
a) irracional.
b) literário.
c) divertido.
d) confuso.
e) pioneiro.
RESOLUÇÃO:
Einstein reconhece, ao afirmar que poderia ser “internado em um
hospício”, que a teoria construída por ele seria de difícil aceitação
na época por apresentar um caráter inédito e distante da tradição
científica. A cosmologia de Einstein é, como afirma o texto, “um
ponto fora da reta”.
Resposta: E
7. (UNESP) – Em “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu
mesmo percorri, árdua e sinuosa.” (1.° parágrafo), o termo destacado
exerce a mesma função sintática do trecho destacado em:
a) “[...] o derradeiro traço alimentaria debates e traria
arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.” (4.° parágrafo)
b) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes [...].”
(10.° parágrafo)
c) “[...] o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo
usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes [...].” 
(5.° parágrafo)
d) “Seguiu debilitado até o final daquela década.” (9.° parágrafo)
e) “Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem
ser facilmente vistos como um ponto fora da reta.” (10.° parágrafo)
RESOLUÇÃO:
O pronome relativo que foi empregado como objeto direto do
verbo percorrer, mesma função sintática de “a teoria deriva dos
continentes”, que é objeto direto do verbo citar.
Resposta: B
8. (UNESP) – Em “A façanha intelectual levava as digitais de Albert
Einstein (1879-1955).” (2.° parágrafo), o termo destacado pode ser
substituído de modo mais adequado, tendo em vista o contexto, por:
a) proeza.
b) ousadia.
c) concretude.
d) debilidade.
e) petulância.
RESOLUÇÃO:
Façanha significa sucesso notável, feito heroico, ato de valor ou
proeza.
Resposta: A
“Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri,
árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico
A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert
Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem
anos, cujo teor constitui um marco histórico da civilização.
Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens
deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanidade
era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura
conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de
Albert Einstein (1879-1955).
Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã
escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser
“internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço
teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”.
O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três
características básicas: era finito, sem fronteiras e estático – o
derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein
nas décadas seguintes.
Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade
Geral”, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real
Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual)
seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes:
a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já
classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à
cultura humana.
Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada
mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais.
Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um
buraco negro devora avidamente luz e matéria.
Com a introdução da relatividade geral, a teoria da gravitação do
físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso
específico da primeira, para situações em que massas são bem
menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos é
muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s).
Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917),
impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma
pequena joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual
populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual
mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o
tempo, dilatar.
Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram
seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e
úlcera. Seguiu debilitado até o final daquela década.
Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser
facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a historiadora
da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de
“cosmologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por
exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred
Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra.
Fara dá a entender que várias áreas da ciência, naquele início de
século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um
prisma mais amplo, buscando dados e hipóteses em outros campos
do conhecimento.
(Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.)
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9. (UNESP)
Verifica-se a ocorrência de vírgula para indicar a elipse do verbo no
seguinte trecho:
a) “Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917),
impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma
pequena joia [...]” (8.° parágrafo)
b) “[...] em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo,
dilatar.” (8.° parágrafo)
c) “[...] a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema
teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma
só pessoa à cultura humana.” (5.° parágrafo)
d) “[...] Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e
úlcera.” (9.° parágrafo)
e) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do
geólogo alemão Alfred Wegener [...]” (10.° parágrafo)
RESOLUÇÃO:
No enunciado, ocorre a elipse do verbo sair em “eu saio logo
mais”. Trata-se de zeugma, em que a omissão do verbo é marcada
pela vírgula. O mesmo ocorre com o verbo poder em “o tempo
pode dilatar”.
Resposta: B
10.(UNESP) – Em “O Universo que saltou dos cálculos de Einstein
tinha três características básicas [...]” (4.° parágrafo), a oração
destacada encerra sentido de
a) consequência.
b) explicação.
c) causa.
d) restrição.
e) conclusão.
RESOLUÇÃO:
O pronome relativo que introduz uma oração subordinada
adjetiva restritiva, pois ela limita o sentido de “universo”.
Resposta: D
11.(UNICAMP-2018)
(Disponível em http://www.psyche.com.br/taxonomy/term/4.
Acessado em 02/06/2017.)
No contexto deste grafite, as frases “menos presos políticos” e “mais
políticos presos” expressam
a) uma relação de contradição, uma vez que indicam sentidos
opostos.
b) uma relação de consequência, já que a diminuição de um grupo
conduz ao aumento de outro.
c) uma relação de contraste, pois reivindicam o aumento de um tipo
de presos e a redução de outro.
d) uma relação de complementaridade, porque remetem a subcon -
juntos de uma mesma categoria.
RESOLUÇÃO
A reivindicação é evidente na exigência de que haja “menos
presos políticos” e “mais políticos presos”.
Resposta: C
Emprega-se a vírgula para indicar, às vezes, a elipse do verbo:
“Ele sai agora: eu, logo mais.”
(Evanildo Bechara. Moderna gramática 
portuguesa, 2009. Adaptado.)
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As questões 1 e 2 tomam por base o “Soneto LXVII” (“Considera a
vantagem que os brutos fazem aos homens em obedecer a Deus”) de
Dom Francsco Manuel de Melo (1608-1666).
1. (UNESP) – Que contraste é explorado pelo poema como base da
argumentação? Justifique sua resposta. Considerando também outros
aspectos, em que movimento literário o poema se enquadra? 
RESOLUÇÃO:
No texto, o eu lírico opõe o comportamento do animal ao do ser
humano. O primeiro, em decorrência de sua irracionalidade, é
obediente às leis divinas, enquanto o homem, “racionale
resoluto”, questiona as determinações de Deus, desobedecendo
às leis divinas. O eu poemático, consciente de seu desrespeito ao
Senhor, pede-lhe que o transforme em animal irra cional, pois,
dessa maneira, ainda haveria possi bilidade de obediência e
respeito a Deus.
Dom Francisco Manuel de Melo, autor do Barroco português, vale-
se de recursos típicos desse movimento literário como o jogo de
oposições (“homem x fera”), a inversão sintática, a temeridade às
leis divinas, a insignificância do homem frente a Deus,
evidenciando-se, assim, o conflito desse contexto: a pressão
teocên trica da Contrarreforma sobre os valores antro po cên tricos.
2. (UNESP) – No primeiro verso, a que classe de palavras pertence
o termo “que” e qual sua função na frase? No quarto verso, a que
classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase?
RESOLUÇÃO:
No primeiro verso, que é uma conjunção integrante que introduz
oração subordinada substantiva objetiva direta, que completa
sintaticamente o verbo ver da oração principal. No quarto verso,
que é pronome relativo, introduz oração adjetiva restritiva, refere-
se à expressão antecedente “o alto estatuto das leis” e funciona
sintaticamente como objeto direto do verbo pôr.
3. (FUVEST) – Examine este cartaz, cuja finalidade é divulgar uma
exposição de obras de Pablo Picasso.
http://institutotomieohtake.org.br
Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que compõem o
texto do anúncio, os adjetivos “erudita” e “selvagem” sugerem que as
obras do referido artista conjugam, respectivamente,
a) civilização e barbárie.
b) requinte e despojamento.
c) modernidade e primitivismo.
d) liberdade e autoritarismo.
e) tradição e transgressão.
RESOLUÇÃO:
Picasso é um artista que incorpora a tradição da pintura, mas
compõe quadros que transgridem a arte acadêmica, portanto,
tem um olhar selvagem.
Resposta: E
Quando vejo, Senhor, que às alimárias1
Da terra, da água do ar, – peixe, ave, bruto –
Não lhe esquece jamais o alto estatuto 
Das leis que lhes pusestes ordinárias;
E logo vejo quantas artes2 várias 
O homem racional, próvido3 e astuto, 
Põe em obrar, ingrato e resoluto, 
Obras que a vossas leis são tão contrárias;
Ou me esquece quem sois ou quem eu era;
Pois do que me mandais tanto me esqueço, 
Como se a vós e a mi não conhecera. 
Com razão logo por favor vos peço 
Que, pois homem tal sou, me façais fera, 
A ver se assi melhor vos obedeço. 
(A Tuba de Caliope, 1988.) 
1 alimária: animal irracional.
2 arte: astúcia, ardil.
3 próvido: providente, que se previne, previdente, precavido.
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MÓDULO 23 Estudos linguísticos – VIII
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4. (FGV-Direito-2019) – Leia o título e o subtítulo de uma resenha
sobre o livro cuja capa está reproduzida na imagem.
* Frase inspirada em uma anedota bastante popular no Brasil que costuma ser
usada para amenizar, de forma jocosa, uma notícia ruim.
“cama de gato”: (por extensão de sentido) trama, armadilha.
a) Qual a relação de sentido entre o título e o subtítulo da resenha e os
elementos que compõem a capa do livro citado?
RESOLUÇÃO:
O título “Quando o mundo subiu no telhado” remete a uma
conhecida piada em que, para atenuar a notícia sobre a morte de
alguém querido, o emissor diz que a pessoa subiu ao telhado, por
extensão, caiu dele e morreu. Assim, o trecho do subtítulo
“apocalíptico fim da condição humana” refere-se ao fim da
existência humana, reiterando o título “quando o mundo subiu no
telhado”. A capa apresenta a ilustração de uma bomba em queda
livre, sugerindo que a destruição do mundo está próxima,
confirmando, portanto, o título e o subtítulo da resenha.
b) Sem alterar o sentido, reescreva o trecho do subtítulo “mesmo diante
do apocalíptico fim da condição humana”, substituindo a palavra
“mesmo” por “ainda que” e “apocalíptico” por um sinônimo. Depois
de “ainda que”, introduza um verbo que seja adequado ao contexto.
RESOLUÇÃO:
Livro de Kurt Vonnegut é a prova literária de como o humor se faz
presente ainda que seja diante do catastrófico (aterrorizante) fim
da condição humana.
Leia o poema de Manuel Bandeira para responder às questões de 5 a 7.
5. (FAMEMA) – O poema faz referência
a) à pobreza do campo, quando comparada à riqueza das cidades.
b) à possibilidade de as cidades se expandirem em direção ao campo.
c) à beleza que surge do crescimento e da modernização dos
ambientes urbanos.
d) à importância do jovem na construção de uma sociedade melhor.
e) à desumanização dos indivíduos no processo de homogeneização
das cidades.
RESOLUÇÃO:
Os versos que confirmam a “homogeneização” dos indivíduos
nas cidades são os seguintes: “Nas cidades todas as pessoas se
parecem/ Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente” .
Resposta: E
6. (FAMEMA) – O poema se desenvolve em acordo com uma carac -
terís tica típica da poesia de Manuel Bandeira:
a) a reflexão sobre questões abrangentes, por vezes abstratas, a partir
de elementos pontuais, simples e cotidianos.
b) o elogio à contenção das emoções e ao regramento, o que é
adequado a uma vida disciplinada, sem lugar para ações
intempestivas.
c) a defesa de uma atitude humana libertária em face das questões do
mundo, o que tem paralelo na utilização de métrica variada e versos
livres.
d) a visão positiva a respeito dos homens, como indiví duos, e de suas
organizações sociais.
e) a crítica aos avanços da modernidade em uma visão saudosista que
se consolida na recuperação dos forma tos clássicos da poesia.
RESOLUÇÃO:
A poética de Manuel Bandeira faz abordagem de pequenos fatos
da vida cotidiana e os transpõe para o geral. A descrição que o
poeta faz de uma cidade de interior abrange todas as pequenas
povoações rurais e ganha maior dimensão. 
Resposta: A
Quando o mundo subiu no telhado*
Livro de Kurt Vonnegut é a prova literária de como o humor se faz
presente mesmo diante do apocalíptico fim da condição humana.
Galileu, 01.2018
A estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
[bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
[dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
(Estrela da vida inteira, 2009.)
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7. (FAMEMA) – “Estes cães da roça parecem homens de
negócios”.
A função sintática do termo destacado no excerto é a mesma do termo
destacado em:
a) “cada um traz a sua alma.”
b) “E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:”
c) “Cada criatura é única.”
d) “Nem falta o murmúrio da água,”
e) “Nas cidades todas as pessoas se parecem.”
RESOLUÇÃO:
No enunciado, “homens de negócios” funciona sintaticamente
como predicativo do sujeito “Estes cães da roça”. A mesma
função, predicativo do sujeito, ocorre em “única”, como
característica de “Cada criatura”. 
Resposta: C
Texto para as questões de 8 a 10.
8. (FUVEST) – Depreende-se do texto que uma determinada língua
é um
a) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança
maior valor social e passa a ser consi de rada exemplar.
b) sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo
grupo de maior prestígio social.
c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela
norma culta.
d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funciona mento é pre -
judicado pela heterogeneidade social.
e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são
dotadas de normas e outras não o são.
RESOLUÇÃO:
A alternativa de resposta coincidecom o que se afirma no terceiro
período do texto: “A língua padrão... embora seja uma entre as
muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa,
porque atua como modelo...”
Resposta: A
9. (FUVEST) – De acordo com o texto, em relação às demais
variedades do idioma, a língua padrão se comporta de modo
a) inovador. b) restritivo. c) transigente.
d) neutro. e) aleatório.
RESOLUÇÃO:
O último período do texto se refere à “função coer ci tiva” da
linguagem padrão, pois ela restringiria a tendência da língua à
variação.
Resposta: B
10. (FUVEST) – Considere as seguintes afirmações sobre os quatro
perío dos que compõem o texto:
Está correto apenas o que se afirma em
a) I e II.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.
RESOLUÇÃO:
O erro da afirmação I está em que não há relação causal entre os
dois primeiros períodos do texto, pois o segundo introduz um
aspecto ausente do primeiro.
A escolha da alternativa e para resposta deste teste resul ta da
anulação das demais, em razão do erro evi dente da afirmação I,
que torna erradas as alter nativas a, b e d, e da correção
indiscutível da afir mação II, que torna errada a alternativa c.
Ocorre, porém, que a afirmação III, dada como correta na
alternativa e, só pode ser aceita com muita concessão. Com
efeito, o segundo período do texto não constitui propriamente
desenvolvimento do primeiro, ao qual formula, na verdade, uma
restrição, acrescentando um novo aspecto da questão tratada,
aspecto de que o período seguinte fornece um exemplo
confirmador. O último período, por sua vez, acrescenta uma infor -
mação nova, que não decorre, como conclusão, do que foi
formulado nos períodos anteriores. Portanto, trata-se de teste de
formulação defeituosa, muito de lamentar numa prova criteriosa
e bem feita como esta.
Resposta: E
Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspon -
dem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus
usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estru tu ra
social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma ava -
liação distinta das características das suas diversas modalidades
regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo,
embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é
sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma,
como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo
decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o
que se torna uma ponderável força contrária à variação.
(Celso Cunha. Nova Gramática do 
Português Contemporâneo. Adaptado.)
I. Tendo em vista as relações de sentido constituídas no texto, o
primeiro período estabelece uma causa cuja consequência
aparece no segundo período.
II. O uso de orações subordinadas, tal como ocorre no terceiro
perío do, é muito comum em textos disserta tivos.
III. Por formarem um parágrafo tipicamente dissertativo, os quatro
períodos se organizam em uma sequência constituída de in -
trodu ção, desenvolvimento e con clusão.
IV. O procedimento argumentativo do texto é dedutivo, isto é, vai
do geral para o particular.
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Cartum as questões 11 e 12.
Robert Mankoff, New Yorker/Veja.
11. (FUVEST) – Para obter o efeito de humor presente no cartum, o
autor se vale, entre outros, do seguinte recurso: 
a) utilização paródica de um provérbio de uso corrente. 
b) emprego de linguagem formal em circunstâncias informais. 
c) representação inverossímil de um convívio pacífico de cães e gatos. 
d) uso do grotesco na caracterização de seres humanos e de animais. 
e) inversão do sentido de um pensamento bastante repetido. 
RESOLUÇÃO:
O discurso da personagem emite um juízo de valor contrário ao
seguinte pensamento contemporâneo: os bichos não passam de
substitutos patéticos para as pessoas que não podem ter
crianças.
Resposta: E
12. (FUVEST) – No contexto do cartum, a presença de numerosos
animais de estimação permite que o juízo emitido pela persona gem
seja considerado 
a) incoerente. 
b) parcial. 
c) anacrônico.
d) hipotético. 
e) enigmático. 
RESOLUÇÃO:
A personagem que profere a frase foi parcial ao manifestar uma
opinião que vai ao encontro da situação que ela vivencia, cercada
de animais.
Resposta: B
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MÓDULO 24 Concordância nominal
Há casos especiais, que não obedecem à regra geral. Eles são apresentados no quadro seguinte. Observe que, em
sua maioria, são casos que admitem mais de uma possibilidade de concordância: uma que obedece à regra geral (espe -
ci ficada geralmente na coluna do meio) e outra que contraria essa regra ou foge ao uso corrente (especificada na última
coluna).
Concordância nominal é a concordância, em gênero
e número, entre o substantivo e seus determinantes –
adjetivos, artigos, pronomes adjetivos e numerais.
Exemplos:
Cidade morta.
Quinhentos gramas de café.
Regra geral: O adjetivo, ou palavra com valor de adje -
tivo – adjunto adnominal ou predicativo –, con cor da em
gênero e número com o substantivo a que se refere.
A inclusão de preposição entre o substantivo e o
adjetivo não impede a concordância.
Exemplos:
Pobres dos homens.
Desgraçadas das mulheres.
ADJETIVO POSPOSTO 
A DOIS OU MAIS 
SUBSTANTIVOS
Adjetivo no plural e no gênero dos
substantivos (facultativo).
No caso de gêneros diferentes, preva lece o
mas cu lino.
Consciência e dignidade humanas.
Dor e prazer intensos.
Adjetivo concorda com o subs tantivo
mais próximo (facul tativo).
Talento e disciplina rara.
Com substantivos sinônimos, o adje tivo
con cor da com o mais pró ximo.
Povo e gente brasileira.
ADJETIVO ANTEPOSTO 
A DOIS OU MAIS 
SUBSTANTIVOS
Adjetivo fica no plural quando ele fun cio -
nar como predicativo do ob jeto.
Encontrei tristonhos a mulher e o jovem.
Adjetivo, funcionando como adjunto ad -
no mi nal, concorda com o subs tan tivo
mais próxi mo.
Rara disciplina e talento.
Adequado lugar e momento.
SUBSTANTIVO 
MODIFICADO 
POR DOIS OU MAIS 
ADJETIVOS NO 
SINGULAR
O substantivo vai para o plural e não se
repete o artigo antes de cada ad je tivo.
As bandeiras italiana e brasileira.
O substantivo fica no singular e repe te-se
o artigo antes de cada adjetivo.
A bandeira italiana e a brasileira.
O substantivo fica no singular e não se
repete o artigo antes de cada adjetivo.
A bandeira italiana e brasileira.
ADJETIVO 
COMPOSTO
Normalmente se flexiona só o último
elemento.
Problemas político-econômicos.
Guerra sino-nipo-soviética.
Exceções: 
a) Flexionam-se os dois ele mentos:
surdas-mudas.
b) Não se flexiona nenhum elemento:
azul-marinho, azul-celeste e verde-gaio.
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UM E OUTRO, UM
OU OUTRO, NEM UM
NEM OUTRO
SEGUIDOS
DE SUBSTANTIVO
O substantivo fica no singular.
Nem um nem outro caso.
Um ou outro caso.
Nem uma nem outra coisa.
Se em seguida vier um adjetivo, este ficará no
plural.
Um e outro caso paralelos.
No caso de um ou outro, o adjetivo
ficará no singular.
Um ou outro caso paralelo..
SUJEITO EM GRAU
ABSOLUTO
Se houver artigo ou pronome demons tra ti vo, o
adjetivo concorda em gênero com o sujeito.
É proibida a entrada.
Esta cerveja é boa. 
Se não houver artigo ou pronome de -
mons tra tivo, o adjetivo fica no mascu lino.
É proibido entrada.
Cerveja é bom.
SUBSTITUIÇÃO DO
PREDICATIVO
DO SUJEITO POR
UM PRONOME
PESSOAL ÁTONO
Se houver artigo ou pronome demons trativo, o
pronome concorda em gênero com o
predicativo.
És a enfermeira daqui? Sou-a.
Se não houver artigo ou pronome de -
mons trativo, emprega-se o pronome
mas culino.
És enfermeira? Sou-o.
POSSÍVEL
Vai para o plural no emprego de “os mais”,
“os menos”, “os piores”, “os melhores”.
Visitei praias as mais tentadoras possíveis.
Fiz os maiores esforços possíveis.
Escolhi os melhores aposentospos síveis.
Mantém-se invariável no emprego de
“o mais”, “o pior”, “o melhor”.
Visitei praias o mais possível tentadoras.
Fiz os esforços o mais pesados possível.
Escolhi aposentos o melhor possível.
SÓ, MEIO,
BASTANTE
Se adjetivos, concordam com o subs tan tivo a
que se referem.
Não fale com meios termos.
Não suporto meias palavras.
Há problemas bastantes. (suficientes)
Estamos sós.
Se advérbios (significando somente, um
tanto, um pouco e muito), ficam
invariáveis.
Compramos só duas entradas.
As portas estavam meio abertas.
Estão bastante cansados.
LESO, PRÓPRIO, 
MESMO, 
JUNTO, ANEXO,
INCLUSO, 
QUITE, OBRIGADO
Concordam com o nome a que se referem.
Crime de lesa-pátria. 
Crime de lesos-direitos.
Nós próprios faremos o trabalho.
Elas mesmas escreveram as cartas.
Os recibos seguem juntos.
As crianças voltaram juntas.
O comprovante segue anexo.
As declarações seguem anexas.
Estão inclusas as taxas e impostos.
Já estou quite com o clube.
Muito obrigada, disse Maria.
Mesmo como advérbio:
Eles escreveram mesmo as cartas?
Junto com e junto de e
em anexo são invariáveis.
MENOS E ALERTA
São invariáveis.
Havia menos alunas naquela sala.
Os soldados caminhavam alerta.
Alerta como adjetivo é variável.
Os soldados alertas caminhavam.
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1. Complete os espaços, efetuando a concordância ou concordâncias
possíveis:
a) Talento e disciplina ___________________ caracterizavam aquele
artista. (rara / raros)
b) ___________________ dor e prazer acompanharam-no a vida toda.
(Intensa / intensos)
c) Encontrei ___________________ o pai e a filha. (abatido / abatidos).
d) ___________________ pessoas visitaram o museu. (bastante /
bastantes)
RESOLUÇÃO:
a) rara ou raros b) Intensa c) abatidos
d) bastantes
2. Como no exercício anterior:
a) Minha irmã estava ___________________ chateada com o noivo.
(meio / meia)
b) É ___________________ a entrada de estranhos. (proibido / proibida)
c) Visitei praias o mais tentadoras ___________________ (possível /
possíveis)
d) Muito ___________________, disseram as irmãs de caridade.
(obrigado / obrigadas)
RESOLUÇÃO:
a) meio b) proibida c) possível
d) obrigadas
Texto para a questão 3.
3. (FUVEST) – Comparando o segmento sublinhado, no texto I, com
a informação de natureza gramatical do texto II:
a) reescreva esse segmento, substituindo causas por processos;
RESOLUÇÃO:
... se perdesse os dois milhões de processos que tramitam contra
ela e tivesse de pagá-los.
b) explique por que, em relação à norma culta, a concordância no
segmento destacado deve ser considerada incorreta.
RESOLUÇÃO:
A concordância é incorreta, pois o sujeito tem como núcleo o
substantivo masculino plural milhões. Logo, o artigo (os), o
numeral (dois) que o determinam devem concordar com ele em
gênero (masculino) e número (plural). O pronome (los) que
substitui milhões também deve ser masculino plural.
Texto para a questão 4.
4. (INSPER) – O diálogo acima foi construído com base nas regras
de concordância nominal, opondo as variantes linguísticas. A
incredulidade da personagem diante da correção feita pelo seu
interlocutor decorre do fato de que ela não reconhece, nesse contexto,
que o termo “meio” fica invariável por ser uma)
a) numeral. b) adjetivo. c) pronome.
d) conjunção. e) advérbio.
RESOLUÇÃO:
“Meio”, com sentido de “um pouco”, “um tanto”, é advérbio de
intensidade, portanto invariável. Já “meio”, com sentido de
“metade”, é adjetivo e deve concordar com o substantivo a que
se refere. Resposta: E
Texto para a questão 5.
5. (UNIFOR-adaptado) – Como no exemplo acima, em qual das
alternativas abaixo foram observadas adequadamente as regras de
concordância?
a) Ficaram muitos felizes com o casamento.
b) Quero menas tristeza.
c) Houve vários problemas comigo.
d) Não se poupou esforços para mudar de vida.
e) Houve passeatas-monstro este ano.
RESOLUÇÃO:
Houve: verbo impessoal (sentido de existir); logo, oração sem
sujeito.
I. Segundo levantamento feito, se perdesse as duas milhões de
causas que tramitam contra ela e tivesse de pagá-las, a União
seria obrigada a desembolsar a bagatela de US$ 68 bilhões.
II. Milhão, bilhão, trilhão etc. comportam-se como substantivos e
variam em número: dois milhões, vinte trilhões.
– Você acha que estou meia gordinha?
– Não é meia, é meio.
– Como é que é?
– Não é meia gordinha que se diz. É meio gordinha.
– MEIO gordinha? Imagina. Meio gordinha... Não acre dito.
– Se você fosse meia gordinha, significaria que você é só meia,
só metade, entende? Só metade gordinha. A outra metade magrinha.
– Qual parte? A de cima ou a de baixo?
(PRATA, Mario. Diário de um magro. 
Rio de Janeiro: Editora Globo, 1997.)
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Texto para a questão 6.
6. (BARRO BRANCO) – De acordo com a norma-padrão, as lacunas
do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com:
a) Menos discutida – cidadões – prioritários
b) Menas discutida – cidadães – prioritário
c) Menos discutido – cidadões – prioritária
d) Menas discutido – cidadãos – prioritárias
e) Menos discutida – cidadãos – prioritárias
Resposta: E
7. (FATEC) – Assinale a alternativa que preenche cor retamente as
lacunas da frase, na sequência.
a) meia; à; as; anexo; às; meia.
b) meia; à; as; anexas; as; meia.
c) meio; a; às; anexo; às; meio.
d) meia; a; às; em anexo; as; meio.
e) meio; a; as; anexas; às; meia.
RESOLUÇÃO: 
“Meio indecisa”: meio é invariável, pois é usado como advér bio;
“a mandar”: a é apenas preposição, não ocorrendo cra se, porque
o regido mandar (verbo) não admite artigo; “as faturas anexas”:
as, artigo, e anexas, adjetivo, concordam em gênero e número
com o substantivo faturas, a que se re fe rem; “às notas fiscais”:
crase da preposição a, regida por ane xas, e do artigo as,
determinante do substantivo feminino notas; “meia folha”: meia,
adjetivo, concorda em gênero e número com o substantivo fatura,
a que se refere. Resposta: E
8. (CÁSPER LÍBERO) – Qual das alternativas abaixo não apre senta
incorreções gramaticais?
a) Compramos duzentas e cinquenta gramas de con dimentos e espe -
ciarias importados.
b) Se for para mim fazer, eu me nego.
c) Hoje, a reunião começará ao meio-dia e meio, du rando até as três
horas.
d) Entre mim e você não existirão acordos.
e) Devem fazer cinco anos que não a vejo...
RESOLUÇÃO: 
Em a, duzentos e cinquenta gramas; em b, eu fazer; em c, meio-
dia e meia; em e, deve fazer. Resposta: D
9. (MACKENZIE)
Há uma concordância inaceitável de acordo com a gramática nor ma -
tiva:
a) em I e II. b) em II, III e V. c) apenas em II.
d) apenas em III. e) apenas em IV.
RESOLUÇÃO: 
No item I, ocorre silepse, que é considerada uma concor dância
excepcional, porém aceitável. Resposta: E
10. (INSPER) – Assinale a alternativa que preenche corretamente as
lacunas do texto abaixo:
a) Proibido, haja, bastantes, necessária, inclusos.
b) Proibida, haja, bastante, necessário, inclusas.
c) Proibida, hajam, bastantes, necessário, inclusas.
d) Proibido, haja, bastantes, necessário, inclusas.
e) Proibida, haja, bastante, necessária, inclusas.
Resposta: D
Texto para a questão 11.
11. (UNIFOR) – Em relação aos vícios textuais, o fenômeno
evidenciado na placa acima é
a) o estrangeirismo. b) a tautologia.
c) a verbosidade. d) a ambiguidade.
e) a cacofonia.
RESOLUÇÃO:
Tautologia/redundância/pleonasmo: uso de unidades idênticas
do ponto de vista semântico. Expressamente repete a ideia de
proibida que já está no texto, o que implica uma tautologia.
Resposta: B
12. (VUNESP-BARRO BRANCO) – Assinale a alternativa em que os
termos preenchem corretamente as lacunas do texto:
a) milhão – há – cujo. b) milhões – a – que o
c) milhão – fazem – de que o d) milhões – faz – que o
e) milhão – à – cujo o
Resposta: A
O combate à corrupção entrou na agenda pública ocupando boa
parte dos noticiários e das discussões políticas nas redes sociais.
____________________ e cidadãs na gestão pública para monitoraros
gastos de dinheiro público, orientar investimentos, definir políticas
____________________, entre outros. As novas tecnologias têm um
papel crucial na agenda anticorrupção e na promoção da
transparência e participação.
(http://politica.estadao.com.br/ Adaptado.)
Regina estava __________ indecisa quanto _______ mandar ________
faturas ________ _________ notas fiscais e se _________ folha
bastaria para o bilhete.
I. Os brasileiros somos todos eternos sonhadores.
II. Muito obrigadas! – disseram as moças.
III. Sr. Deputado, V. Exa. está enganado.
IV. A pobre senhora ficou meia confusa.
V. São muito estudiosos os alunos e as alunas des te curso.
É terminantemente __________ entrada de pessoas alcoolizadas
neste ambiente de trabalho. Ainda que
__________________________ pessoas insatis feitas com o
andamento da empresa, não há motivos para afrontas. Liberdade é
__________________, respeito também.
________________ nos comprovantes de pagamento deste mês
estão as cópias dos documentos requeridos para o cadastramento
no programa de demissão voluntária.
É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A
ENTRADA DE ALUNOS!
A Lei da Ficha Limpa é uma prova da evolução do processo
democrático no País. As coisas estão andando na direção correta e
numa velocidade até razoável.
O movimento contra a corrupção tomou corpo. A Lei da Ficha
Limpa teve o apoio de 1,6 ________________ de assinaturas. Ayres
Britto, chamado de ingênuo __________ quatro anos, ontem
comemorava: “Como disse Victor Hugo, ‘não há nada mais pode ro -
so do que a força de uma ideia ______________ tempo chegou’”.
(Folha de S.Paulo, 12/6/2010. Adaptado)
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1. Antecedentes
Nos primeiros anos do século XX,
iniciou-se em São Paulo o pro cesso
de industrialização do País. Produzi -
ram -se, além de manufa turados, con -
tin gentes de trabalha dores operários:
homens, mulheres e crianças, que,
sub metidos às con dições mais avil -
tan tes de trabalho, ocupavam as fi lei -
ras das linhas de produção. En quan to
isso, a deca dente elite do café, já de -
ficitária, ostentava um alto padrão de
vida, sustentado pela política dos go -
ver nadores, que, para evitar a que da
do preço do produto, com pra vam os
excedentes, socializando ape nas os
prejuízos. A grande pa ra li sa ção de
operários, em 1907, a Re vol ta dos 18
do Forte de Copa ca ba na, o Te nen -
tismo, em 1922, somados aos ecos
da Primeira Guerra Mun dial (1914-18),
evidenciavam o esgo ta mento da es -
tru tura de poder no pri mei ro quarto
do século XX no Brasil. 
Junto com a estrutura socio po lí ti -
ca, esgotara-se também a arte que ela
sustentava, de modo que, conco -
mitantemente àqueles aconteci men -
tos, os próprios artistas denuncia vam a
crise da cultura e da arte bra si leiras e a
necessidade de sua trans for mação.
Assim, antes mesmo da Se ma na de
22, são notáveis os se guintes even tos:
• 1912: Oswald de Andrade vol ta
da Europa e começa a divulgar o Fu -
turismo, de Marinetti, e a técnica do
verso livre. Já no ano anterior fun da ra,
com Emílio de Meneses, o jornal
humo rís tico O Pirralho, em que Juó
Bananere (Alexandre Marcondes
Machado) paro diava, no português
dos ítalo-paulistanos, poemas céle bres
do Romantismo e do Parna sia nismo.
No seguinte poema, Juó Ba na ne -
re satiriza o famoso soneto XII de Via-
Láctea, de Olavo Bilac (“Ora, direis,
ouvir estrelas…”):
UVI STRELLA
Che scuitá strella, né meia strella!
Vucê stá maluco! e io ti diró intanto,
Chi pra iscuitalas moltas veiz livan to,
I vô dá una spiada na gianella.
I passo as notte acunversáno c’oella,
Inguanto che as otra lá d’un canto
Sto mi spiano. I o sol come un briglianto
Nasce. Oglio p’ru çeu — Cadê strella?!
Direis intó: — Ó migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quanto illas viéro acunversá contigo?
E io ti diró: — Studi pra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia
É capaiz de intendê istas strella.
(Juó Bananere, 
La Divina Increnca)
“O satírico aparece em estágios
complexos e saturados de vida urba -
na; momentos em que a consciência
do homem culto já se re la com as
contradições entre o co ti diano real e
os valores que o en leiam. E a paró dia,
‘canto paralelo’, só se faz pos sível
quando uma for ma ção literária e um
gosto, outrora só lidos, entram em
crise, isto é, so brevivem apesar do
cotidiano, so bre vivem como disfarce,
como véu i de ológico.”
(Alfredo Bosi)
• 1913: Lasar Segall realiza a pri -
 meira exposição de pintura mo der na
em São Paulo. Expõe quadros ex pres -
sionistas e é totalmente ig no ra do.
• 1914: Anita Malfatti faz sua pri -
mei ra exposição de pintura não aca -
dêmica. Uma série de artigos sobre o
Futurismo sai em O Estado de S.
Paulo.
• 1915: Fundação da revista
Orpheu, que introduz o Modernismo
em Portugal. Ronald de Carvalho, que
participaria da Semana, e Luís de
Montalvor organizam no Rio o pri -
meiro número da revista.
• 1917: Publicação de livros de
estreia de futuros participantes da
Semana:
– Há uma Gota de Sangue em
Cada Poema, de Mário de Andrade,
protesto pacifista contra a Primeira
Guerra Mundial.
– Cinza das Horas, de Manuel
Bandeira, “queixume de um doente de -
senganado”, segundo o próprio autor.
No seu livro seguinte, Carnaval (1919),
apareceria o poema satírico “Os Sa -
pos”, que seria recitado na segunda
noite da Semana de Arte Moderna.
– Moisés e Juca Mulato, de
Menotti del Picchia.
– Nós, de Guilherme de Almeida,
ainda parnasiano e decaden tista.
– A Frauta de Pã, de Cassiano
Ricardo, com sonetos parnasianos.
Outros eventos
• Na música erudita, Villa-Lobos
compõe o balé Amazonas, incluindo
elementos do folclore brasileiro, in -
fluenciado por Stravinsky; na música
popular, é pela primeira vez gravado
em disco um samba, Pelo Telefone,
de Donga.
• Exposição de 53 quadros de
Anita Malfatti (1917), que provocou a
dura crítica “Paranoia ou Mistifica ção?”,
de Monteiro Lobato, em O Es tado de
S. Paulo (20/12/1917). Se gue-se trecho
da crítica:
(...) Estas considerações são pro-
vocadas pela exposição da Sra. Mal fatti,
onde se notam acentuadíssimas
tendências para uma atitude estética
forçada no sentido das extravagân cias de
Picasso e companhia. Essa artista possui
talento vigoroso, fora do comum. Poucas
vezes, atra vés de uma obra torcida para
má di re ção, se notam tantas e tão pre cio -
sas qualida des latentes. (...)
MÓDULO 37 Semana de Arte Moderna
FRENTE 2Literatura
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Nos anos seguintes, houve o sur -
gimento de Victor Brecheret, a publi ca -
ção de Carnaval, de Manuel Ban deira, a
exposição de Di Caval can ti, a publi cação
dos artigos “Mestres do Pas sa do”, em
que Mário de Andrade ana li sa e critica,
duramente, a poesia par na siana.
Pietá (déc. 1910), Victor Brecheret, ma dei ra,
40x50cm.
2. A Semana de Arte Moderna
Patrocinada pela elite letrada dos
quatrocentões paulistanos, a Sema na
“foi, ao mesmo tempo, o ponto de
encontro das diversas tendências mo -
 dernas que desde a Primeira Guerra se
vi nham firmando em São Paulo e no
Rio, e a plataforma que permitiu a con -
solidação de grupos, a pu bli ca ção de
livros, revistas e manifestos, nu ma
palavra, o seu desdobrar-se em viva
realidade cultural” (BOSI, Alfredo.
História Concisa da Literatura Bra sileira.
São Paulo: Cultrix, 3. ed., 1987. p. 385).
O correu em três noites, 13, 15 e
17 de fevereiro de 1922, no Teatro
Mu nicipal de São Paulo. Na primeira
noite, Graça Aranha, que, como
membro da Academia Bra sileira de
Letras, conferia ao e ven to um ar
de respeitabilidade, pro fe re a confe -
rência “A Emoção Es té tica da Arte
Moderna”, ilustrada com poe mas
declamados por Gui lher me de
Almeida e Ronald de Car valho, acom -
panhados por Ernâni Bra ga ao pia no,
executando, de Eric Satie, a pa ródia
da Marcha Fúnebre de Chopin.
Na segunda noite, há a con fe rên -
cia de Menotti del Picchia, ilustrada
com vários textos,entre os quais “Os
Sapos”, de Manuel Bandeira, vaia dos
to dos pelo público. Segue-se um
trecho da conferência:
Queremos lua, ar, ventiladores,
aeropla nos, reivindicações obreiras,
idea lismos, mo to res, chaminés de fá -
bricas, sangue, velocidade, sonho na
nossa arte. E que o rufo do auto mó -
vel, nos trilhos de dois versos, es pan -
te da poesia o último deus ho mé ri co,
que ficou, anacroni ca mente, a dor mir
e a sonhar, na era do jazz band e do
cinema, com a frauta dos pastores da
Arcádia e dos seios de Helena!
Mário de Andrade, sob vaias, lê
poe mas que constituiriam o livro A
Es crava que não é Isaura. Renato de
Al meida critica o Parnasianismo e
Villa-Lobos entra no palco de chi nelos
(pois teria um calo no pé) e guar da-
chuva, indignando o público.
A terceira noite tem apenas pro-
gra ma musical e Villa-Lobos rege com -
posições conhecidas do reduzi do
público, que aplaudiu, sem es cân dalos.
Capa do primeiro número da revista Klaxon.
� Klaxon
A revista Klaxon, Mensário de Ar -
te Moderna, durou de maio de 1922 a
fevereiro de 1923. Reunindo os
modernistas da fase heroica, não
sobreviveu à divisão entre a corrente
dinamista, adepta do futurismo, da
técnica, da velocidade, da expe ri men -
tação de uma linguagem nova, e a
primitivista, chegada ao expres sio nis -
mo e à exploração do folclore bra -
sileiro. Dividida entre a ânsia de mo -
dernização do Brasil e a convic ção de
que nossas raízes indígenas e ne gras
precisavam de tratamento es té tico
adequado, a revista, in congru en te na
aparência, é o fundamento de obras
como Macunaíma, Pau-Brasil, Cobra
Norato, Martim Cererê, Revista de
Antropofagia, Memórias Sen ti men -
tais de João Miramar etc.
� Estética
A revista Estética, dirigida por
Sérgio Buarque de Holanda e Pru den te
de Morais Neto, foi lançada em 1924
e teve três números fartos de
material teórico. Nessa revista, a dis -
puta era entre “arte interessada” e
“arte autônoma”.
3. As correntes modernistas
� Corrente nacionalista
Representada pelos grupos
“Ver de-Amarelo” (1924), “Anta”
(1929) e “Bandeira” (1936). Reuni -
ram-se principalmente em torno de
Menotti del Picchia, Cassiano Ri car do
e Plínio Salgado. Tinham visão ufa -
nista e propunham a exaltação da
terra, do homem, do folclore e dos
heróis nacionais. Aproximavam-se do
Inte gralismo, doutrina que defendia
um regime político totalitário, corpo ra -
tivista e nacionalista. Os manifestos
des sa corrente estão em Curupira e o
Carão, de Plínio, Menotti e Cassiano,
e no Nhengaçu Verde-Amarelo. Mar -
 tim Cererê, de Cassiano Ricardo, é a
melhor realização poética dos 
i deais dessa vertente:
NHENGAÇU VERDE-AMARELO 
(trechos)
A descida dos tupis do planalto
central no rumo do Atlântico foi uma
fatalidade histórica pré-cabralina, que
preparou o ambiente para as en tradas
no sertão pelos aventureiros brancos
desbravadores do oceano. (…)
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Os tupis desceram para serem ab -
sorvidos, para se diluírem no san gue
da gente nova. Para viver subje tiva -
mente e transformar numa prodi giosa
força a bondade brasileira e o seu
grande sentimento de huma ni dade.
Seu totem não é carnívoro: Anta.
É este animal que abre caminhos, e aí
parece estar indicada a predes ti na ção
da gente tupi. (…)
� Corrente primitivista
Representada pelos grupos “Pau-
 Brasil” (1924) e “Antropofagia”
(1928). Tiveram a liderança marcante
de Oswald de Andrade e a par ti ci pa -
ção de Tarsila do Amaral, Raul Bopp,
Antônio de Alcântara Machado (só na
“Antropofagia”) e de Mário de An dra -
de, na fase de Macunaíma e Clã do
Ja buti. Os ideais da corrente foram
ex pressos no Manifesto Antro pó fa go,
publicado no primeiro número da Re -
vista de Antropofagia, em 1928. Essa
revista foi publicada em duas “denti -
ções”: de maio de 1928 a ja nei ro de
1929, mensal mente, e de mar ço a
agosto de 1929, semanal mente. 
Pre tendendo “reintegrar o ho -
mem na li vre expansão dos seus ins -
tintos vi tais”, essa corrente pro pu nha,
não uma aceitação passiva do lega do
eu ro peu à cultura brasileira, mas a de -
vo ração crítica desse lega do e sua
trans formação em algo no vo, com
iden tida de própria e alcance uni ver sal.
Antropofagia (1929), Tarsila do Amaral
(1886-1973), óleo sobre tela, Fundação
Nemirovsky, São Paulo.
MANIFESTO ANTROPÓFAGO
(trechos)
Só a antropofagia nos une. So cial -
mente. Economicamente. Filo so -
 ficamente.
•
Única lei do mundo. Expressão
mas carada de todos os indi vi dua lis -
mos, de todos os coletivismos. De to -
das as religiões. De todos os tratados
de paz.
•
Tupi or not tupi, that’s the question.
(...)
Nunca fomos catequizados.
Vivemos através de um direito
sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na
Bahia. Ou em Belém do Pará.
•
Mas nunca admitimos o nasci -
men to da lógica entre nós.
(...)
Somos concretistas. As ideias to -
mam conta, reagem, queimam gen te
nas praças públicas. Su pri ma mos as
ideias e as outras paralisias. Pelos
roteiros. Acreditar nos sinais, a cre -
ditar nos instrumentos e nas es trelas.
(...)
Contra a realidade social, vesti da e
opressora, cadastrada por Freud — a
realidade sem comple xos, sem lou -
cura, sem prostituições e sem pe ni ten -
ciárias do matriarcado de Pin dorama.
OSWALD DE ANDRADE
Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha.
(Revista de Antropofagia, 
Ano I, n. 1, maio de 1928)
Retrato de Oswald de Andrade (1923),
Tarsila do Amaral (1886-1973), óleo sobre
tela, Museu de Arte Brasileira – FAAP,
São Paulo.
� Definição e características
da linguagem modernista
• Rejeição das normas e
estéticas consagradas 
– antiacademismo, anti con for -
mis mo;
– perseguição incessante de
três princípios:
1. direito à pesquisa estética;
2. atualização da inteligência artís ti -
ca brasileira;
3. estabilização de uma consciên cia
criadora nacional.
• Inovações na linguagem
poética
– novos ritmos: versos livres, no -
 vo fraseado;
– aproximação entre poesia e
prosa;
– nova concepção do mundo e
do homem (civilização moderna, o co -
tidiano, o nacional, o sub cons cien te)
— surgimento de novos temas;
– irreverência, humorismo — o
“poema-piada”;
– síntese, simultaneísmo, ima -
gens vívidas, fusão de elementos di -
ver sos, expressão elíptica. 
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POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de 
[ponto expediente protocolo e 
[manifesta ções de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no 
[dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo 
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos
[universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes 
[de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer 
[que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos
[secretário do amante exemplar com 
[cem modelos de cartas e as diferentes
[maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não 
[é libertação.
(Manuel Bandeira, 
Libertinagem, 1930)
OS SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”Urra o sapo-boi:
— “Meu pai foi rei” — “Foi!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— “Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
(Manuel Bandeira, 
Carnaval, 1919) 
Observações
“Os Sapos”, poema declamado
por Ronald de Carvalho na segunda
noite da Semana de Arte Moderna,
em 15 de fevereiro de 1922, satiriza a
preocupação parnasiana com as
rimas, com a métrica, com o voca bu -
lário precioso. Aproxima-se, paro dis -
tica mente, do poema “Profis são de
Fé”, de Olavo Bilac:
Invejo o ourives quando escrevo
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
O sapo-tanoeiro (v. 9) é uma alu -
são a Bilac (tanoeiro é o artesão que,
com martelo, enverga a madei ra, pa ra
a construção ou barricas). O sa po-
cururu simboliza a poesia au tên tica,
despida de artificialismo.
Nos versos 23 e 24 — “Reduzi
sem danos / A fôrmas a forma” —, há
um trocadilho, ironizando o fato de que
a rigidez das regras par nasianas era tão
forte que reduzia a forma (ó) em forma
(ô), ou seja, reduzia a for ma da poesia a
um molde, modelo obri gatório.
TEXTOS
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Texto para a questão 1.
Abaporu, Tarsila do Amaral
(Disponível em: <artedescrita.blogspot.com.br/2012/08/
abaporu-de-tarsila-do-amaral.html>.
Acesso em: 15 maio 2019.)
1. (FGV-SP-DIREITO) – O quadro é representativo de qual movimento
artístico? Quais elementos presentes na obra justificam essa
classificação?
RESOLUÇÃO:
O título do quadro sugere a sua filiação ao “Movimento
Antropófago” (abaporu: palavra de origem tupi-guarani que
significa “homem que come gente”), lançado por Oswald de
Andrade no mesmo ano da pintura (1928). Oswald era então
marido da pintora e lhe teria sugerido o título. São características
básicas da Antropofagia: (1) primitivismo (entendido no sentido
em que foi tomado por movimentos da vanguarda artística do
início do século XX: recu pe ração do olhar primitivo, pré-cultural,
e inspiração em obras da arte dita “primitiva”, a arte de culturas
distantes, “exóticas”, especialmente o surpreendente engenho da
escultura africana); (2) enfoque crítico do nacional, com amplo
recurso à ironia e à sátira, e (3) incorporação seletiva e criativa do
elemento estrangeiro (a atitude “antropofágica” defendida no
Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade: “devoração” e
assimilação de valores alheios com a finalidade de produzir com
eles algo próprio e original). A esse programa correspondem os
elementos compositivos desse quadro que é, ao mesmo tempo,
brasileiro e tributário do Modernismo europeu de então. Quanto
ao aspecto crítico e irônico, essencial à obra e ao programa do
autor de Serafim Ponte Grande (uma das produções centrais de
Oswald e da Antropofagia), é de notar que, apesar do desagrado
manifestado privadamente por Mário de Andrade, sua rapsódia
Macunaíma, publicada também em 1928, foi desde logo associada
ao movimento, sendo que nela o “herói da nossa gente” é
coincidentemente representado com pés enormes e cabeça
diminuta.
Texto para o teste 2.
Morro da Favela (1924), de Tarsila do Amaral,
óleo sobre tela, 64x76cm, Coleção Particular.
(Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2324/morro-da-favela>.
Acesso em: 6 maio 2019.)
2. (modificado) – O Modernismo brasileiro teve forte
influência das vanguardas europeias. A partir da
Sema na de Arte Moderna, esses conceitos
passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando
como referência o quadro Morro da Favela, identifica-se que, nas artes
plásticas, a
a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas.
b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano.
c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico.
d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada.
e) forma apresenta contornos e detalhes humanos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2010] No quadro Morro da Favela, é notória a
geometrização das formas, observando-se construções em cuja
figuração predominam linhas retas. O tema é uma cena do
cotidiano, representando uma paisagem local brasileira (uma
favela, hoje em dia chamada aglomerado ou comunidade), com
suas casas coloridas e seus moradores.
Resposta: B
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Texto para o teste 3.
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. [...] A língua sem
arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica.
A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como
somos.
(Trecho do Manifesto da Poesia Pau-Brasil,
lançado por Oswald de Andrade em 1924.)
3. (MACKENZIE-SP-2019 – modificado) – Analise as afirmações
sobre o texto:
I. Ao criticar o “gabinetismo” e enfatizar o que chama de “prática
culta da vida”, o manifesto exige dos poetas que se mantenham
distantes de questões mundanas e tomem os clássicos
portugueses como referência criativa.
II. O Manifesto da Poesia Pau-Brasil é considerado um ponto fora da
curva na história do Modernismo brasileiro, pois a escrita de
manifestos foi prática pouco comum na época.
III. Percebe-se a ideia programática para uma literatura brasileira
menos artificial e mais dinâmica, buscando-se a identidade nacional
e linguística.
Assinale a alternativa correta.
a) A afirmação I está correta.
b) A afirmação II está correta.
c) A afirmação III está correta.
d) Todas as afirmações estão corretas.
e) Nenhuma das afirmações está correta.
RESOLUÇÃO:
O Modernismo combateu o academicismo da arte tradicional e
procurou incorporar o cotidiano e a linguagem das vanguardas
europeias. Rompeu com a ideia do artista isolado na sua torre de
marfim, isto é, a ideia de arte apartada da realidade social. Além
do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, houve vários manifestos
polêmicos na década de 20 do século XX propondo uma arte que
reinterpretasse a cultura brasileira com mais dinamismo e
atualidade.
Resposta: C
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1. Mário de Andrade
(São Paulo, 1893-1945)
� Vida
“Sou trezentos, sou trezentos-e-
cinquenta, / mas um dia afinal toparei
comigo...”
Fez o curso secundário no Gi násio
Nossa Senhora do Carmo e di plomou-se
no Conservatório Dra má tico e Musical,
onde viria a ser pro fes sor de História da
Música. Tendo si do um dos respon sá -
veis pela Se mana de Arte Moderna,
animou as prin ci pais revistas do movi -
mento na sua fa se de afirmação
polêmica: Klaxon, Es tética, Terra Roxa
e Ou tras Terras. Sou be conjugar uma
vi da de intensa cria ção literária com o
estudo apai xo nado da música, das artes
plásticas e do fol clore bra sileiro. De
1934 a 1937 diri giu o Departa mento de
Cul tura da Pre feitura de São Paulo, fun -
dou a Dis coteca Pública, promoveu o
Primei ro Con gresso de Língua Nacio nal
Can ta da e dina mizou a excelente
Revista do Arquivo Municipal.
De 1938 a 1940 lecionou Estéti ca
na Universidade do Distrito Fe de ral.
Voltando a São Paulo, pas sou a tra ba -
lhar no Serviço do Patri mônio His tó rico.
Faleceu na sua ci da de aos cin quenta e
um anos de idade.
� Obra
• Poesia
Há uma Gota de Sangue em Ca da
Poema (1917)
Pauliceia Desvairada (1922)
Losango Cáqui (1926)
Clã do Jabuti (1927)
Remate de Males (1930)
Poesias (1941)
Lira Paulistana (1946)
O Carro da Miséria (1946)
Poesias Completas (1955)
• Conto
Primeiro Andar (1926)
Belazarte (1934)
Contos Novos (1947)
• Romance
Amar, Verbo Intransitivo (1927)
Macunaíma – Rapsódia (1928)
• Ensaio
A Escrava que não é Isaura (1925)O Aleijadinho e Álvares de Aze vedo
(1935)
A Música e a Canção Populares no
Brasil (1936)
O Baile das Quatro Artes (1943)
Aspectos da Literatura Brasileira
(1943)
O Empalhador de Passarinhos
(1944)
O Banquete (1978)
• Crônica
Os Filhos da Candinha (1943)
• Musicologia e Folclore
Ensaio sobre a Música Brasileira
(1928)
Compêndio de História da Músi ca
(1929)
Modinhas e Lundus Imperiais (1930)
Música, Doce Música (1933)
Namoros com a Medicina (1939)
Música do Brasil (1941)
Danças Dramáticas do Brasil
(3 vols., 1959)
Música e Feitiçaria no Brasil (1963)
• História da Arte
Padre Jesuíno do Monte Carmelo
(1946) e um grande número de opús -
culos, folhetos etc., reunidos em vo -
lumes nas Obras Completas.
• Correspondência
Há centenas de cartas escritas para
inúmeros ami gos, artistas, intelectuais
etc. Desta cam-se as para Manuel
Bande ira, Drummond, Murilo Mendes,
Sérgio Milliet, Paulo Duarte.
2. Considerações críticas
� Poesia
A poesia de Mário de Andrade
segue dois ca mi nhos, muito ligados ao
tipo de assunto que abordam. 
Quando fala de São Paulo, o poeta
incorpora várias téc ni cas da poesia
futurista euro peia, porque a cidade, pre -
cisamente a metrópole, foi o eixo
principal de toda a arte moderna. É o que
Mário de Andrade realiza prin ci palmente
em Pauliceia Desvairada (1922).
A outra vertente é folclórica, fin -
cada nas lendas bra si leiras, inspi ra da
em nossa formação cul tural. Es sa poe -
sia aparece sobre tu do em Clã do Jabuti
(1927).
Mas a partir de 1930, a poesia de
Mário de Andrade vai mostrando evo -
lução e maturidade. Em Remate de
Males (1930), ele já abandona mui tos
maneirismos e mo dis mos futu ristas
para criar uma poesia que con se gue
fundir o pessoal e o coletivo.
� Prosa 
A prosa literária de Mário de An -
drade apresenta tam bém duas ten dên -
cias:
• A prosa mítica e folclórica de
Macunaíma
Macunaíma é uma revolução na
linguagem da nar ra tiva. Mário de An -
drade une tom oral a um vocabulário re -
gional inédito na prosa de ficção.
Macunaíma é “o herói sem nenhum
MÓDULO 38 Primeira Geração Modernista (I): Mário de Andrade (I)
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ca ráter”, é o índio nascido no Ama zo -
nas, que vem para São Paulo buscar
sua “muiraquitã” (pedrinha mágica, em
forma de jacaré), roubada por um
gigante de dupla identidade: por um
lado é índio antropófago (o gigante
Piaimã), por outro é de origem italia na
e mora em São Paulo (Venceslau
Pietra). Macunaíma consegue vencê-lo
e recuperar a pedra. De volta à sua terra
natal, não encontra mais sua tribo, que
fora destruída. Fica sozinho na floresta,
sempre triste por ter per di do a mulher
que amava, Ci, mãe do mato, rainha das
Icamiabas (tribo ama zônica).
Macunaíma pas sa o tem po contando
suas histórias (e men tindo muito) a um
papagaio, seu único com panheiro na
solidão e nar rador presu mível do livro.
Morto pelo abraço des truidor de Yara
(espécie de sereia dos índios), sobe ao
céu, transformado numa estrela da
Ursa Maior. Trata-se de uma fábula
múlti pla, ou rap só dia, porque reúne
várias lendas brasi leiras, tendo no cen -
tro a lenda de Macunaí ma, que Mário
de Andrade ex traiu de um livro sobre os
mitos indígenas do norte do Amazo nas.
A narrativa reúne supers ti ções, fra ses
fei tas, pro vérbios e modismos de lin -
gua gem, tudo sistematizado e
intencio nal mente en tre te ci do.
• A prosa pessoal urbana
A prosa urbana de Mário de An -
drade recolhe vários falares paulis ta nos
do dia a dia, seja a fala mais po lida,
como aparece nos Contos No vos
(1947), seja a orali da de dos bair ros de
imigrantes italianos, como Be la zar te
(1934). No primeiro, Mário descarrega
muita dose de psicolo gismo, que cul -
mina no célebre conto “Peru de Natal”,
o mais conhecido dos contos de Mário.
Apoian do-se em Freud (To tem e Tabu),
desmis ti fica as rela ções familiares.
Em Belazarte, com muita graça e
compa de cimen to cristão, Mário fala da
gente pobre e oprimida das clas ses
médias de São Paulo. 
Em Amar, Verbo Intransitivo, Má rio
de Andrade dá tratamento literá rio a
processos psi canalíticos freu dia nos,
como fixações, recalques e su bli ma -
ções. Neste romance, narra-se a his -
tória de uma jovem alemã, Fräulein,
cha mada por uma família de bur gue ses
paulistanos para ini ciar Carlos, filho
mais velho, na vida sexual.
I
Quando sinto a impulsão lírica escrevo
sem pensar tudo o que meu inconsciente me
grita. Penso depois: não só para corrigir, como
para jus tificar o que escrevi. Daí a razão des te
Prefácio Interes santíssimo.
(…)
Escrever a arte moderna não sig nifica
jamais para mim representar a vida atual no
que tem de exterior: auto móveis, cinema,
asfalto. Si estas palavras frequen tam-me o livro
não é porque pense com elas escrever mo -
derno, mas porque, sendo meu livro moderno,
elas têm nele razão de ser. 
(…)
Chove?
Sorri uma garoa cor de cinza,
muito triste, como um tristemente 
[longo...
A casa Kosmos não tem impermeáveis
[em liquidação...
Mas neste largo do Arouche 
posso abrir o meu guarda-chuva 
[paradoxal, 
este lírico plátano de rendas mar...
Ali em frente... — Mário, põe a máscara!
— Tens razão, minha Loucura, tens razão.
O rei de Tule jogou a taça ao mar...
Os homens passam encharca dos...
Os reflexos dos vultos curtos
mancham o petit-pavé...
As rolas da Normal 
esvoaçam entre os dedos da garoa...
(E si pusesse um verso de Crisfal
No De Profundis?...)
De repente
um raio de Sol arisco
risca o chuvisco ao meio.
(Mário de Andrade, 
Pauliceia Desvairada)
II
(…)
Então Macunaíma percebeu que não era
assombração nada, era mas o monstro Oibê
minhocão temível. Criou coragem pegou no
brinco da orelha esquerda que era a máquina
revólver e deu um tiro na assom bra ção. Porém
Oibê não fez caso e veio vindo. O herói tornou
a ter medo. Pu lou na rede agarrou a gaiola e
esca fedeu pela janela, jogando baratas no
caminho todo. Oibê correu atrás. Mas era só de
brinca deira que ele que ria comer o herói.
Macunaíma de sembestara agreste fora mas
isso ia que ia aco chado pelo minhocão. En tão
botou o furabolo na goela, fez cos quinha e
lançou a farinha engo lida. A farinha virou num
areão e en quanto o mons tro pelejava pra atra -
vessar aquele mundo de areia escor regando,
Macu naíma fugia. Tomou pe la direita, des ceu o
morro do Es trondo que soa de sete em sete
anos seguiu por uns caponetes e depois de
cortar um travessão encapelado fez o Sergipe
de ponta a ponta e parou ofegante num agar -
rado muito pe dregoso. Na frente havia uma
lapa grande furada por uma furna com um
altarzinho dentro. Na bo ca da so ca va um frade.
Macunaíma per gun tou pro frade:
— Como se chama o nome de você?
O frade pôs no herói uns olhos frios e
secundou com pachorra:
— Eu sou Mendonça Mar pintor.
Desgostoso da injustiça dos homens faz três
séculos que afastei-me deles me tendo cara no
sertão. Descobri esta gruta ergui com minhas
mãos este altar do Bom Jesus da Lapa e vivo
aqui per doando gente muda do em frei Fran -
cisco da Soledade.
— Está bom, Macunaíma falou. E partiu
na chis pa da.
(…)
(Mário de Andrade, Macunaíma, cap. XV)
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Texto para o teste 1.
DESCOBRIMENTO
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! 
[Muito longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
(ANDRADE, M. Poesias Completas.
São Paulo: Edusp, 1987.)
1. O poema “Descobrimento”, de Mário de Andrade,
marca a postura nacionalista manifestada pelos
escritores modernistas. Recuperando o fato histó ri-
co do “descobrimento”, a construção poética problematiza a repre sen -
tação nacional a fim de
a) resgatar o passado indígena brasileiro.
b) criticar a colonização portuguesa no Brasil.
c) defender a diversidade social e cultural brasileira.
d) promover a integração das diferentes regiões do país.
e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016 – 2.a aplic.] Os escritores da Primeira Geração Moder -
nista revalorizaram os diversos elementos da formação da
brasilidade. Essa tendência nacionalista está presente no poema
“Descobrimento”, pois o eu lírico percebe e defende a multipli -
cidade sociocultural do nosso País.
Resposta: C 
Texto para o teste 2.
O TROVADOR
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras...
As primaveras de sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal...
Intermitentemente...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
(ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.)
Poesias Completas de Mário de Andrade.
Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.)
2. Cara ao Modernismo, a questão da identidade
nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário
de Andrade. Em “O Trovador”, esse aspecto é
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como
“coração arlequinal”, que, evocando o carnaval, remete à
brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos,
estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas
folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “sen ti -
men tos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente”
(v. 7), como pelo som triste do alaúde — “dlorom” — (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado),
apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto
Antropófago, de Oswald de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das
primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes
indígenas.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2012] A questão da identidade nacional aparece na síntese
de elementos opostos: tupi e alaúde. O primeiro remete ao
elemento nativo do Brasil; o segundo, ao proveniente do
estrangeiro. A proposta de assimilação crítica da cultura europeia
aparece também no Manifesto Antropófago (1928), de Oswald de
Andrade.
Resposta: D
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Texto para o teste 3.
O nosso primeiro Natal em família, depois da morte de meu pai
acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a
felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse
sentido muito abstrato de felicidade: gente honesta, sem crimes, lar
sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, por
causa principalmente da natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido
de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no
medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele
gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de
águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom
errado, quase dramático, o puro sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai, sentimos muito, etc....
(Mário de Andrade,
“O Peru de Natal”, in Contos Novos)
3. No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom
confessional do narrador em primeira pessoa revela
uma concepção das relações humanas marcada por
a) distanciamento de estados de espírito, acentuado pelo papel das
gerações.
b) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade
moderna.
c) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise.
d) consumo de bens materiais por parte de jovens adultos e idosos.
e) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2015 – 2.a aplic.] A visão que o narrador expressa sobre o
falecido pai revela distância “de estados de espírito” entre ambos,
já que o filho julga ter sido excessiva a austeridade do pai, avesso
aos pequenos prazeres da mesa e da vida.
Resposta: A
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1. Macunaíma
Em 1928, Mário de Andrade pu bli -
cou sua obra-prima, a rapsódia Ma cu -
naíma. Escrita em poucos dias em
dezembro de 1926, a obra foi re vi sada
três vezes antes de ser edi tada. Para
escrevê-la, o autor passou vários anos
pesquisando a mitologia indíge na, o fol -
clore nacional, os cos tu mes e a lin -
guagem dos bra sileiros. Numa ten ta ti va
de mapear o Brasil, regis tran do sua
história, seus costu mes, seus falares,
os ritmos das can ções e das danças
populares, o livro, num clima surrea lista
e mí tico, acu mula um exagero de len -
das, supers tições, frases feitas, pro vér -
bios e modismos de linguagem.
Rapsódia, na antiga Grécia, iden ti -
fi cava cada trecho cantado de um
poema épico. Em música, segundo o
dicionário Aurélio, é uma “fantasia ins -
 tru mental que utiliza melodias tira das
dos cantos tradicionais ou popu lares”.
São também rapsódias os ve lhos ro -
mances versificados e mu sica dos, as
canções de gesta de Ro lando, a En can -
tada Branca-Flor e, nos dias atuais, as
gestas dos can ga ceiros, en toadas nas
feiras do Nor deste pelos canta do res.
O livro segue o mesmo processo
de composição ou construção da rap -
 sódia, justa pon do vários trechos que
ganham unida de no conjunto da obra.
Assim, tomando como fio con dutor a
perso na gem Macunaíma, o autor faz
uma colagem de diversos fragmen tos,
mis tu rando as lendas dos índios com a
vi da urbana das cidades do Su des te, as
anedotas da história bra si lei ra com os
costumes do Nor deste etc. 
� Tempo e espaço
Criando uma narrativa fantástica e
picaresca, há subver são do tempo e do
espaço geográfico, que não obe de cem
às regras de verossimi lhan ça, de tal
forma que o “herói sem ne nhum
caráter” pode, num mesmo ca pítulo,
estar em São Paulo, en contrar o mi nho -
 cão Oibê, assom bra ção, e fugir de le
cor rendo por Ser gipe, Campinas, Bahia,
deparando-se em todo esse percurso
com per so na gens reais e len dárias.
Assim, as sucessivas traquina gens
de Macunaíma são vividas num espa ço
mágico, próprio da atmos fera fan tástica
e maravilhosa em que se desen volve a
narrativa. 
� Linguagem
A linguagem também é cons truí da
pelo processo de colagem, pe la com bi -
nação de vocábulos e tor neios sin tá ticos
colhidos dos mais va ria dos fala res do
Brasil. Com isso, o autor criou um estilo
muito pessoal e expressivo, capaz de
transmitir li ris mo, humor, deboche,
comicidade, re velando ma turidade lite -
rária e do mínio estilís tico.
� Foco narrativo
O foco narrativo predominante é o
de terceira pessoa, mas Mário de
Andrade inova ao utilizar uma téc nica
cinematográfica de cortes bruscos no
discurso do narrador para dar lu gar à
fala das personagens.
2. Estilos de narração
A narrativa de Macunaíma apoia-se
na ideia de que tudo vira tudo e na
capaci da de de compor e recom por
configu ra ções a partir de con teú dos dís -
pares, esva ziados de suas pri mitivas
funções. Daí a técnica calei dos có pica,
por meio da qual as ideias e imagens se
pro jetam arbi tra ria mente, inclusive nos
modos de con tar, nos estilos nar rativos.
Alfredo Bosi destaca três estilos de
narrar:
� Um estilo de lenda, 
épico-lí rico, solene
No fundo do mato-virgem nasceu
Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto
retinto e filho do medo da noite. Houve um
momento em que o silên cio foi tão grande
escutando o mur mu rejo do Uraricoera, que a índia
tapa nhu mas pariu uma criança feia. Essa crian ça
é que chamaram de Ma cunaíma.
(Mário de Andrade, Macunaíma, cap. I)
� Um estilo de crônica, 
cômi co, despachado, solto
Já na meninice fez coisas de sa rapantar.
De primeiro passou mais de seis anos não
falando. Si o incitavam a falar, exclamava:
— Ai! que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da
maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiandoo
trabalho dos ou tros e principalmente os dois
manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê
na força de homem. O di ver timento dele era
decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si
punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dan -
dava pra ga nhar vintém. E também espertava
quan do a família ia tomar banho no rio, todos
juntos e nus. (...)
Quando era pra dormir trepava no macuru
pequeninho sempre se es que cendo de mijar.
Como a rede da mãe estava por debaixo do
berço, o herói mijava quente na velha, es -
pantando os mosquitos bem. Então adormecia
sonhando pala vras feias, imora lidades estram -
bóli cas e dava patadas no ar. 
(...)
(Mário de Andrade, Macunaíma, cap. I)
� Um estilo de paródia
Retoma, satiricamente, a lin gua -
gem empolada e pedante dos par na -
sianos e dos cul tores de Rui Bar bosa e
Coelho Neto. É o que se vê na “Carta
pras Icamiabas”, que o herói es creve
no capítulo IX, foca li zando a dupli ci dade
no uso de nossa língua:
(...) Mas cair-nos-iam as faces, si ocul -
táramos no silêncio uma curio sidade original
deste povo. Ora sabe reis que a sua riqueza de
expressão intelec tual é tão prodi gio sa, que
falam numa língua e escre vem nou tra. (...) Nas
MÓDULO 39
Primeira Geração Modernista (II): 
Mário de Andrade (II) e Oswald de Andrade (I)
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conversas, utilizam-se os pau listanos dum
linguajar bárbaro e multi fá rio, crasso de feição
e impuro na ver naculidade, mas que não deixa
de ter o seu sabor e força nas após trofes, e
tam bém nas vozes do brin car. Destas e
daquelas nos in teira mos, solícito; e nos será
grata em presa vô-las ensi narmos aí chegado.
Mas si de tal despre zível língua se utili zam na
conversação os naturais desta terra, logo que
tomam da pena, se des pojam de tanta asperi -
dade, e sur ge o Homem Latino de Lineu, expri -
mindo-se numa outra lin gua gem, mui próxima
da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo
idioma, que, com imperecível galhardia, se
intitula: língua de Camões! 
(Mário de Andrade, Macunaíma, cap. IX)
3. Oswald de Andrade
(São Paulo, 1890-1954)
� Vida
Viajei, fiquei pobre, fiquei rico, ca sei,
enviuvei, casei, divorciei, via jei, casei... já disse
que sou conjugal, gre mial e ordeiro. O que não
me im pe diu de ter brigado diversas vezes à
por tuguesa e tomado parte em al gu mas
batalhas campais. Nem ter si do preso 13
vezes. Tive também gran des fugas por motivos
políticos. Te nho três filhos e três netos e sou
ca sado, em últimas núpcias, com Maria Anto -
nieta d’Alkimin. Sou livre -do cente de lite ratura
na Faculdade de Filo sofia da Universi dade de
São Paulo.
(Oswald de Andrade, 
de um artigo publicado pelo 
Diá rio de Notícias, em 1950.)
O mal foi ter eu medido o meu avan ço
sobre o cabresto metrificado e na cio nalista de
duas remotas ali má rias — Bilac e Coelho Neto.
O erro foi ter cor rido na mesma pista ine xis ten -
te. (...)
A situação “revolucio ná ria” desta bosta
mental sul-americana apresen ta va-se assim: o
contrário do bur guês não era o proletário — era
o bo ê mio! As massas, ignora das no ter ri tó rio e,
como hoje, sob a completa de vas sidão eco -
nômica dos políticos e dos ricos. Os inte -
lectuais brin can do de roda.
(Oswald de Andrade, 
prefácio de Serafim Ponte Grande)
O mais radical dos mo der nistas de
22 teve sua vida marcada por uma cria -
tiva von tade de transgredir, por um fe -
cun do anar quis mo, fazendo de Os wald
uma per sonagem em per pé tua revolta,
guiado por uma infi nita cu rio sidade:
“En cai xo tudo, so mo, in cor poro”.
Das memórias da infância, uma das
mais marcantes foi a des coberta do
circo, que plasmou a vi são cir cen se do
mundo, a car nava lização da vi da, tão
marcantes na ironia, no hu mor e nas
paródias de Oswald, que se di zi a “um
palhaço da burguesia”.
Aos 22 anos parte para a Europa,
in corporando em sua bagagem, no re -
gresso, os “ismos” da vanguarda do
velho mundo: as lembranças de Landa
Kosbach, dançarina, “flor de car ne
musculosa e doirada”, e Ka mi á, ex-
rainha dos estudantes de Mont martre,
que lhe dá o primeiro fi lho, Nonê
(síntese de “nosso nenê”).
Conhece também lsadora Dun can,
de quem foi muito amigo e com quem
escandalizou a sociedade da época. 
Dessas relações, a mais intensa se -
rá com Deise, apelidada “Miss Ci clo -
ne”, moça de uma garçonnière da Rua
Líbero Badaró, com quem Oswald
passa a viver em 1917. Deise morre
tragicamente de um abor to malsu ce -
dido, e Oswald ca sa-se com ela in
extremis, no leito do hospital em que
estava interna da.
As marcas dessa relação vão rea -
parecer no primeiro romance, Os Con -
denados. Em seu livro de me mó ri as,
Oswald fala dessa fase:
“Sinto-me só, perdido numa i men sa noite
de orfandade.
A amada que me deu a vida par ti u sem
me dizer adeus.
A francesa que trouxe de Paris veio buscar
o dinheiro para outro ho mem.
Landa, que foi o primeiro sonho vi vo que
me ofuscou, tornou-se a es tá tua de sal da
lenda bíblica. Olhou pa ra o passado.
lsadora Duncan estrondou como ra io e
passou. A que encontrei, en fim, para ser toda
minha, meu ciúme ma tou...
Estou só e a vida vai custar a re flo rir.
Estou só.”
Mais tarde, já no auge do mo vi -
men to modernista (1926), casa-se com
Tarsila do Amaral, formando o ele gan -
tíssimo casal Tarsiwald, fun da dor do
Movimento Antropófago. Entra em
con tato com alguns artistas eu ro peus,
co mo Blaise Cendrars e Leger. Neste
pe ríodo pro move concorridas reuniões
etíli co -gastronômico-cul tu rais. Em Pa ris,
Oswald lança seu pri meiro livro de poe -
sias, Pau-Brasil, ilustrado por Tar si la.
Com a crise internacional em 1929,
Oswald vai à falência, depen du rando-se
nos reis da vela, ape li do dos agiotas da
zona bancária do cen tro velho de São
Paulo. Perde tu do, transforma-se num
“vira-latas do Mo dernismo”, mas
adquire uma vi go ro sa experiência das
misérias do mun do das finanças,
matéria-prima que vai transpor em O
Rei da Vela.
No início dos anos de 1930, passa a
vi ver com Patrícia Galvão (Pagu), ati vís -
sima mulher que foi res ga tada para a
memória nacional por Augusto de
Campos, em trabalho pu blicado no ano
de 1982.
Com Pagu, Oswald realiza uma gui -
nada ideológica para a esquer da, filian -
do-se ao Partido Comunista e fun dando
o jornal O Homem do Povo, pas quim
humo rís tico-pan fle tá rio, que foi em pas -
telado por es tudan tes da Fa cul dade de
Direito do Largo São Fran cis co. Serafim
Ponte Gran de é o ro mance que pro jeta
essa fase de ra di ca li dade cria tiva e ideo -
ló gica.
Fiel à sua proposta de “mo noga mia
su ces siva”, Oswald casa-se, em 1936,
com a poe tisa Julieta Bár bara e, em
1942, com Maria Anto nieta d’Alkimin,
sua rela ção mais es tá vel, do cu men ta da
nos poe mas de Cân tico dos Cânti cos,
para Flauta e Violão e no livro de
memórias.
Nas décadas de 1940 e 1950,
Oswald de di ca-se à vida acadê mica, in -
cli nan do-se para a pro ble má tica es pi ri -
tu al e para os temas es senciais da vi da.
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Textos para os testes 1 e 2.
Texto 1
O CANTO DO GUERREIRO
Aqui na floresta 
Dos ventos batida, 
Façanhas de bravos 
Não geram escravos, 
Que estimem a vida 
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros, 
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra 
Quem há, como eu sou? 
Quem vibra o tacape 
Com mais valentia? 
Quem golpes daria 
Fatais, como eu dou? 
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
(Gonçalves Dias)
Texto 2
Acabou-se a história e morreu a vitória. 
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolo-mângolo na tribo
Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais
ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadeuros
arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era
solidão do deserto… Um silêncio imenso dormia à beira do rio
Uraricoera. Nenhumconhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo
nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?
(Mário de Andrade, Macunaíma)
1.
A leitura comparativa dos dois textos indica que 
a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada
de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo
romântico.
b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é
discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil. 
c) as perguntas “Quem há, como eu sou? (texto 1) e “Quem podia
saber do Herói?” (texto 2) expressam diferentes visões da
realidade indígena brasileira.
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos
povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. 
e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam
expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela
colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo
texto. 
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2007] Erros: a) o texto 1 não é realista nem o 2 apresenta
o indígena como heroico, apesar de o chamar “Herói”, ou o toma
como “símbolo máximo do nacionalismo romântico”; b) não há,
nos versos de Gonçalves Dias, “abordagem… discriminatória” em
relação aos indígenas brasileiros; d) no texto 1, a colonização é
um tema ausente, referindo-se o poema pura e simplesmente ao
universo indígena; e) nem a colonização, nem o silenciamento dos
indígenas são assuntos do texto 1. [Para o professor: quanto à
alternativa c, dada como correta pelo examinador, cabe uma
ressalva: a pergunta extraída dos versos de Gonçalves Dias
implica uma visão heroica do índio, ao passo que a pergunta
formulada no encerramento de Macunaíma sugere a extinção da
sociedade e da cultura indígenas, assim como dos próprios índios;
o problema é que não há incompatibilidade entre essas duas
visões, sendo, portanto, estranho, e talvez um pouco forçado,
deduzir daí que se trate de “diferentes visões da realidade
indígena brasileira”.]
Resposta: C
2.
Considerando-se a linguagem destes dois textos,
verifica-se que 
a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no
primeiro quanto no segundo texto. 
b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto no
segundo predomina a linguagem formal.
c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra
de origem indígena. 
d) a função da linguagem, no primeiro texto, se centra na forma de
organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações
reais. 
e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante
no segundo texto, será ausente no primeiro.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2007] São tupinismos: tacape (texto 1) e Tapanhumas e
Uraricoera (texto 2). Erros: a) há função conativa (centrada no
receptor) nos vocativos, imperativos e frases interrogativas do
texto 1; b) nem a linguagem do texto 1 é coloquial, nem a do 2 é
formal; o oposto seria verdadeiro; d) tanto no texto 1 como no
texto 2, está presente a função poética (centrada na organização
da mensagem) e, no texto 2, a função referencial associa-se ao
relato de fatos fictícios, não reais; e) a função emotiva (centrada
nas emoções do emissor da mensagem) predomina no texto 1 e
está ausente do texto 2.
Resposta: C
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3. (UNIFESP-2019 – modificado) – Os ________________ haviam
“civilizado” a imagem do índio, injetando nele os padrões do
cavalheirismo convencional. Os __________________, ao contrário,
procuraram nele e no negro o primitivismo, que injetaram nos padrões
da civilização dominante como renovação e quebra das convenções
acadêmicas.
(Antônio Cândido,
Iniciação à Literatura Brasileira, 2010 – adaptado.)
As lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, por:
a) realistas – modernistas
b) árcades – modernistas
c) modernistas – românticos
d) românticos – modernistas
e) modernistas – simbolistas
RESOLUÇÃO:
O nacionalismo romântico brasileiro atribuiu ao índio
características típicas do herói cavalheiresco, idealizando-o na
imagem do bom selvagem de Rousseau. Já o Modernismo,
segundo o texto de Antônio Cândido, buscou nas figuras do índio
e do negro o primitivismo que rompeu com convenções
acadêmicas. Inverteu, portanto, o polo, já que transformou o índio
sublime e heroico do Romantismo no “mau selvagem”, no
antropófago, no ser primitivo comandado pelo irracional.
Resposta: D
Textos para o teste 4.
Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de
encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência
como em mostrar o rosto.
(Carta de Caminha)
AS MENINAS DA GARE
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
(Oswald de Andrade)
4. (UFV-MG – modificado) – Assinale a alternativa incorreta.
a) Oswald de Andrade parodia o texto de Caminha, imprimindo-lhe um
sentido diferente.
b) O poema de Oswald reflete a visão crítica do mundo e da arte,
proposta pelo Modernismo.
c) O texto de Caminha tem, predominantemente, caráter informativo.
d) Caminha limitou-se à descrição do que observou nos indígenas;
Oswald recriou fragmentos da carta de 1500, conferindo-lhe
estatuto artístico.
e) Oswald e Caminha expressam os mesmos objetivos na elaboração
de seus textos.
RESOLUÇÃO:
Paródia é uma recriação geralmente irônica e com propósitos
críticos. Um texto do século XX que parodia outro, escrito em
1500, não pode expressar “os mesmos objetivos” que o original.
Resposta: E
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� Obra
• Romance
Os Condenados, I – Alma; II – A
Es trela de Absinto; III – A Es ca da
Vermelha (1941; ree di ção, num
único volu me, de A Trilo gia do
Exílio ou Ro man ces do Exílio, escri -
tos entre 1922 e 1934)
Memórias Senti men tais de João
Mi ramar (1924)
Serafim Ponte Gran de (1933)
Marco Zero, I – A Revo lução Me -
lancólica (1943) 
Marco Zero, lI – Chão (1945)
• Poesia
Pau-Brasil (1925)
Primeiro Caderno do Aluno de Poe -
 sia Oswald de Andrade (1927)
Poesias Reunidas (edição pós tu ma)
• Manifestos, Teses e 
Ensaios
Manifesto da Poesia Pau-Brasil
(1924)
Manifesto Antropófago (1928)
Ponta de Lança (1945)
A Arcádia e a Inconfidência (1945)
A Crise da Filosofia Mes siânica
(1950)
A Marcha das Utopias (póstuma,
1966)
• Teatro
O Homem e o Cavalo (1934)
O Rei da Vela (1937)
A Morta (1937)
O Rei Floquinhos (infantil, 1953)
• Memórias
Um Homem sem Profissão (1954)
• Crônicas
Telefonemas (edição póstuma)
� Considerações gerais
a) Oswald chega a vivenciar uma
São Paulo ainda provinciana, des per -
tan do para o seu processo de in dus tria -
lização. Ele está no meio de duas for -
ças: a do patriarcalismo agrá rio, já pas -
sada, e a do início da tec nologia ur bana.
“Nossos pais vinham do pa tri ar cado
rural, nós inaugurá vamos a era da
indústria”, ele afirma com lu ci dez na
mirada retrospectiva de sua vi da.
Assim, os meios de comuni ca ção
de massa — como o cinema, o rádio, a
lin guagem da propaganda — são ra pi da -
mente assimilados pelo poeta. “Pos tes
da Light”, em Poesia Pau-Bra sil, é um
exemplo de poema cujo es tilo vem
contaminado pela síntese ver tiginosa
causada pela nova pai sa gem urbana;
suas prin cipais per so na gens são a
multidão, os novos meios de
transporte, o fonógrafo, o ci ne ma etc.
Exemplo vivo desta fas ci na ção pelo
moderno é o famoso Ca di llac ver de que
Oswald possuía nessa é poca.
Segundo Antonio Candido:
“Oswald de Andrade foi um dos
mais vivos en saís tas e panfle tários de
nossa literatu ra, com uma rara ca pa -
cidade de tor nar suges tiva a ideia, pe la
violên cia cor rosiva das afir ma ções, o
hu mo ris mo e o ful gor dos tro pos. Na
obra propria men te cria dora, mostrou a
im portância das ex pe riên cias se mân -
ticas e o relevo que apa la vra ad quire,
quando ma ni pu la da com o duplo apoio
de imagem sur pre endente e da sin taxe
desca ma da. Des te modo, que brou as
bar rei ras en tre poesia e prosa, para
atingir a uma espécie de fonte comum
de lin gua gem artística. Po de-se dizer
que a sua importância his tórica de reno -
va dor e agitador (no mais alto sen ti do)
foi decisiva para a for mação da nos sa
literatura con tem porâ nea.”
Alfredo Bosi iden tifi ca, na obra de
Oswald, três níveis:
I – O mais inferior: a prosa de Os
Con denados, A Estrela de Absinto e A
Es cada Vermelha, novelas meio mun da -
nas, meio psicológicas, nas quais há
sempre um artista atribu lado pe las
exigências de sua perso nali da de.
lI – O trânsito para a expe riência do
romance “informal” de Memórias Sen -
timentais de João Miramar, seu pon to
alto, e de Serafim Ponte Gran de.
Ambas as obras correm pa ra le la mente
às poé ticas do Pau-Brasil e da Antro po -
fagia, no sentido de sa ti ri zar o Brasil.
III – A “nova revolução formal”: o
te legrafismo das rupturas sintáticas, o
simultaneísmo, as ordens do sub cons -
ciente, os neologismos. A com po sição
do romance é revolu cio ná ria: ca pítulos-
instantes; capítulos-re lâm pa gos; capí -
tulos-sensa ções (capí tu los -flash).
Oswald, leitor dos futu ristas e afe -
tado pela técnica do cinema — a co -
lagem rá pida de sig nos, os pro ces sos
diretos “sem compa ra ções de ap oio”,
“as pala vras em liber da de” —, vai além
do verso livre. Desarticulação total da
frase — o que pro du zirá também um
modo no vo de dispor o texto, uma nova
es pa ci a lização do material lite rário.
� Pau-Brasil
Composto em Paris, Oswald cria
nes te livro aquilo que ele chamaria de
poesia de exportação.
O projeto visava a um desli ga men -
to dos modelos poéticos im por ta dos,
pondo fim à grandiloquência e à serie -
dade. Composto de poemas-pí lulas,
mistura a linguagem antiga dos cro nis -
tas e jesuítas da época do des co bri -
mento do Brasil com o falar coloquial de
seu tempo; reinventa com po si ções
consa gradas do Romantismo em paró -
dias irônicas.
MÓDULO 40 Primeira Geração Modernista (III): Oswald de Andrade (II)
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ESCAPULÁRIO
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia
(Oswald de Andrade, 
“Por Ocasião da Descoberta do Brasil”) 
Note como Oswald de Andrade pa -
rodia a lingua gem religiosa, subs ti tuin -
do o termo “pão”, do Pai-Nosso, por
“Pão de Açúcar” e “Poe sia”. Com isto,
o poeta sub verte a ordem li túr gi ca para
introduzir o elemento bra si lei ro e refletir
sobre o caráter da poe sia. São traços
moder nos do poe ma o seu humor, seu
caráter sin té tico, assim como a ausên -
cia total de pontuação.
A DESCOBERTA
Seguimos nosso caminho por este mar 
[de longo 
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
(Oswald de Andrade, 
“História do Brasil”)
OS SELVAGENS
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
(Oswald de Andrade, 
“História do Brasil”)
AS MENINAS DA GARE
Eram três ou quatro moças bem moças 
[e bem gentis 
Com cabelos mui pretos pelas espáduas 
E suas vergonhas tão altas e tão 
[saradinhas 
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
(Oswald de Andrade, 
“História do Brasil”)
Oswald recria, poeticamente, a
Car ta de Caminha a D. Manuel. Veja em
“As Meninas da Gare” a jus ta po si ção
do histórico ao moderno: as in dí ge nas a
que Pero Vaz se refere são vis tas como
as meninas da gare (ga re: pa la vra
francesa que significa “es ta ção”).
VÍCIO NA FALA
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
(Oswald de Andrade, 
“História do Brasil”)
PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(Oswald de Andrade, 
“Postes da Light”)
Nos dois poemas se manifesta a
pro posta de reduzir a distância entre a
linguagem falada e a escrita, rene gan do
o passadismo acadêmico e abo lindo
“as alfândegas culturais”, co mo diria
Oswald.
NOTURNO
Lá fora o luar continua
E o trem divide o Brasil
Como um meridiano
(Oswald de Andrade,
“São Martinho”)
DITIRAMBO
Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade
(Oswald de Andrade, “rp 1”)
Temos aqui dois exem plos da for -
 ça expressiva que Oswald retira de sua
lin gua gem elíptica, alusi va, con den -
sada. O “Notur no” evi den cia a téc nica
cubista, preva le cendo as for mas
geométri cas: o círculo da lua e as re tas
do trem e do meridiano. O tí tu lo é
ambíguo, remetendo-nos tan to a um
tipo de com posição musical ro mân tica
(os noturnos de Chopin) quan to à
desig nação de um trem no tur no.
ESCOLA BERLITES
Todos os alunos têm a cara ávida 
Mas a professora sufragete 
Maltrata as pobres datilógrafas bonitas 
E detesta
The spring
Der Frühling
La primavera scapigliata
Há uma porção de livros pra ser com pra dos 
A gente fica meio esperando 
As campainhas avisam
As portas se fecham
É formoso o pavão?
De que cor é o Senhor Seixas?
Senhor Lázaro traga-me tinta
Qual é a primeira letra do alfabeto?
Ah!
(Oswald de Andrade, 
“Postes da Light”)
RECLAME
Fala a graciosa atriz
Margarida Perna Grossa
Linda cor — que admirável loção
Considero lindacor o complemento
Da toalete feminina da mulher
Pelo seu perfume agradável
E como tônico do cabelo garçone
Se entendam todas com Seu Fagundes
Único depositário 
Nos E. U. do Brasil
(Oswald de Andrade, 
“Postes da Light”)
Nos dois poemas, dois as pec tos
“cosmopolitas” de São Paulo: a es cola
de línguas (“berlites”) e a so ci edade de
consumo (“reclame”).
TEXTOS
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Texto para os testes 1 e 2.
BRASIL
O Zé Pereira chegou de caravela
E perguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Terê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
(Oswald de Andrade, Pau-Brasil)
1. Este texto apresenta uma versão humorística da
formação do Brasil, mostrando-a como uma junção
de elementos diferentes. Considerando-se esse
aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é
a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação
nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo,
acaba bem.
b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras — portu -
gueses, negros e índios — pouco contribuíram para a formação da
identidade brasileira.
c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação
cristã do Brasil como causa da predominância de elementos
primitivos e pagãos.
d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros,
representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo
com as caravelas.
e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e
defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2004] Segundo o poema de Oswald de Andrade, a mistura
de portugueses, índios e negros — que não se entenderam em
diversas línguas (português, línguas indígenas e línguas africanas)
— teria resultado numa cultura híbrida e anárquica, cujo símbolo
seria o Carnaval, visto, porém, de modo positivo pelos
modernistas.
Resposta: A
2. A polifonia — ou, no caso, a combinação simultânea
de vozes — presente no poema resulta da
manifestação do 
a) poeta e do colonizador apenas.
b) colonizador e do negro apenas.
c) negro e do índio apenas.d) colonizador, do poeta e do negro apenas.
e) poeta, do colonizador, do índio e do negro.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2004] Além do emissor do poema (o poeta, ou, mais
precisamente, o eu lírico), que narra a historieta e estabelece sua
perspectiva, os outros actantes (= figuras que atuam) do texto são
o Zé Pereira (o português colonizador), o índio e o negro.
Resposta: E
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Texto para o teste 3.
brasilidade em construção
(MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA.
Oswald de Andrade: o culpado de tudo.
27 set. 2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof. Gráfica, 2012.)
3. O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de
que a brasilidade está relacionada ao futebol.
Quanto à questão da identidade nacional, as
anotações em torno dos versos constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados his tó -
rico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura
poética.
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das
originais.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2013] As anotações em torno dos versos são
encaminhamentos que possibilitam uma leitura crítica de dados
histórico-culturais do Brasil, como a que explica, no verso 1: Brasil
= país do futebol. Observa-se, no título e nas anotações, que a
supremacia no futebol é vista como representação da brasilidade.
Resposta: A
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1. Manuel Bandeira
(Recife, 1886 – Rio de Janei ro, 1968)
� Vida
Feitos os estudos primários na ci da -
de natal, em 1896 muda-se com a famí -
lia para o Rio de Janeiro, onde se matri -
cula no Colégio Pedro II. Termi na do o
curso secundário, vai para São Paulo
estudar en genharia, mas ado e ce grave -
mente e abandona o pro jeto de ser ar -
qui teto (1904). Inicia-se, então, uma de -
mo rada peregrina ção em bus ca de me -
lhoras, o que fi nal mente o leva a Clavadel,
na Suíça (1913). Com a deflagração da
Pri mei ra Grande Guer ra, regressa ao
Brasil e, em 1917, publica seu primeiro
livro: A Cinza das Horas. Integrado no
mo vi mento reno vador de 1922, con tinua
a escrever e publicar poesia, en quan to
colabora com a imprensa. Em 1935, é
nomea do inspetor do ensino secun dário,
três anos mais tarde, pro fessor de Lite -
ra tura no Colégio Pedro II e, em 1943, é
nomeado professor de Filo sofia, car go
em que se aposentou em 1956. Per ten -
ceu à Aca de mia Bra silei ra de Le tras e
faleceu no Rio de Janeiro em 13 de
outubro de 1968.
� Obra
• Poesia
A Cinza das Horas (1917)
Carnaval (1919)
O Ritmo Dissoluto (1924)
Libertinagem (1930)
Estrela da Manhã (1936)
Lira dos Cinquent’Anos (1940)
Belo, Belo (1948)
Mafuá do Malungo (1948)
Opus 10 (1952)
Estrela da Tarde (1958)
Estrela da Vida Inteira (1966)
• Prosa
Itinerário de Pasárgada (1954)
Andorinha, Ando ri nha (1966)
(textos inéditos, selecio na dos por
Carlos Drummond de Andrade)
Também escreveu crítica lite rá ria,
crônicas etc.
� Considerações gerais
A poesia de Manuel Bandeira ca -
racteriza-se pela amplitude do âm bi to,
testemunho de uma varie da de cri adora
que vem do Parnasia nis mo cre puscular
até as experiên cias con cre tistas, do
soneto às for mas mais au dazes de
expressão. Dou tro lado, con servou e
adaptou ao es pí rito mo der no os ritmos
e formas mais re gu la res, de tal maneira
que ne nhum ou tro con temporâneo
revela tão acen tu a da mente a herança
do mais puro li ris mo português, trans -
fundido na mais autên tica pesqui sa da
nossa sen sibilidade. Sob este aspecto,
a sua obra lembra a de Gonçalves Dias.
Em toda ela, com timbre in con fun -
 dível, corre a nota da ternura ar den te da
paixão pela vida, que vem des de os
versos da mocidade até os de hoje,
como força humani zadora. Graças a
isso, a confidência e a no ta ção exte rior
se unem numa ex pres são poética ao
mesmo tempo fami li ar e requin tada,
pito resca e essen ci al, unificando o que
há de melhor no lirismo inti mista e no
re gistro do es pe táculo da vida. Daí uma
sim pli ci da de que em muitos
modernistas pa rece afetada, mas que
nele é a pró pria marca da ins piração.
São frequentes, em sua poesia, os
seguintes temas: a morte, a re cor da ção
da infância, o cotidiano sim ples, a
melancolia, o erotismo. Como po eta da
morte, é dos maiores de nos sa língua.
O mais célebre de seus poemas de
recordação da in fân cia é “Evocação do
Recife”. Tal vez sua mais famosa com -
posição se ja “Vou-me embora pra
Pasárgada”, na qual constrói uma uto -
pia como com pen sação emocional.
Sua linguagem poética carac te ri za-se
pela musicalidade, que sem pre se
conserva próxima do colo quial. É um
exemplar artesão da for ma poé tica,
tanto das formas tra di cio nais da poe sia,
quanto da forma moderna do verso livre
e da com posição, não obe diente a
padrões esta belecidos. (Antonio
Candido)
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente 
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro bravo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banhos de mar
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
(...)
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Manuel Bandeira, 
Libertinagem)
DESENCANTO
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
TEXTOS
MÓDULO 41 Primeira Geração Modernista (IV): Manuel Bandeira
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E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira, 
A Cinza das Horas)
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise1, dispneia2 e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
— Respire.
..........................................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão
[esquerdo e o pulmão
[direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o 
[pneumotórax3?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
[argentino. 
(Manuel Bandeira, 
Libertinagem)
Vocabulário
1 – Hemoptise: expectoração de sangue prove -
niente dos pulmões.
2 – Dispneia: dificuldade de respirar.
3 – Pneumotórax: forma de tratamento da tu -
ber culose.
TERESA
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que
[o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos
[esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a
[face das águas.
(Manuel Bandeira, 
Libertinagem)
PROFUNDAMENTE
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quandoO ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo 
Profundamente
* 
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
(Manuel Bandeira, 
Libertinagem)
AUTORRETRATO
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico1 profissional.
(Manuel Bandeira, 
Outros Poemas)
Vocabulário
1 – Tísico: tuberculoso.
PREPARAÇÃO PARA A MORTE
A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu voo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
— Bendita a morte, que é o fim de todos os 
[milagres.
(Manuel Bandeira, 
Estrela da Tarde)
NAMORADOS
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu 
[corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e 
[de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece 
[louca.
(Manuel Bandeira, 
Libertinagem)
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Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder às
questões de 1 a 3:
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
[Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Libertinagem & Estrela da Manhã, 1993)
1. (UNESP-2019 – adaptada) – Cite uma característica distintiva da
poesia lírica que não se encontra no poema.
RESOLUÇÃO:
No poema, constata-se a ausência de um eu lírico que manifesta
seus sentimentos, como é comum na tradição da poesia lírica.
Não há a expressão de uma interioridade emotiva, mas sim um
enunciador que relata uma situação do cotidiano num estilo
jornalístico, em que se impõe a objetividade.
2. (UNESP-2019 – adaptada) – Cite duas características, uma de
natureza temática e outra de natureza formal, que afastam esse poema
da tradição parnasiano-simbolista.
RESOLUÇÃO:
“Poema Tirado de uma Notícia de Jornal” tematiza o cotidiano de
uma personagem de extração popular. Essa característica opõe-se
às estéticas da poesia parnasiana e simbolista, as quais tinham
como doutrina a exclusão do cotidiano. Quanto ao aspecto
formal, a linguagem simples, coloquial (“chegou no bar”), e os
versos livres (sem métrica regular) e brancos (sem rima) opõem-
se à linguagem elevada e ao rigor formal do Parnasianismo e do
Simbolismo.
3. (UNESP-2019 – adaptada) – De que modo o fato de morar “num
barracão sem número” contribui para a caracterização de João
Gostoso?
RESOLUÇÃO:
O fato de morar num barracão sem número contribui para
caracterizar socioeconomicamente João Gostoso, personagem
pobre que reside numa sub-habitação. Essa precariedade material
é reforçada pelo subemprego, o de carregador de feira livre.
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Texto para o teste 4.
A ESTRADA
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho 
[manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E a mocidade vai acabar.
(BANDEIRA, M. O Ritmo Dissoluto.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.)
4. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão
de significados profundos a partir de elementos do
cotidiano. No poema “Estrada”, o lirismo presente
no contraste entre campo e cidade aponta para
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros
urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela
observação da aparente inércia da vida rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de
meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera
insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da
morte.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2011] A alternativa dada como correta pela banca
examinadora poderia gerar alguma objeção, já que fala em
“inércia da vida rural”. Porém, note-se que a alternativa fala em
“aparente inércia”, pois, de fato, o que se observa na pequena
cidade interiorana é o oposto da inércia. Leia-se, por exemplo, o
verso “E quanta gente vem e vai!”, que indica um aspecto
dinâmico daquele espaço. Há também a sugestão de que, no
espaço descrito, a vida é mais intensa, pois os seres (as almas)
estão mais presentes, a natureza mais perceptível, tudo, portanto,
é mais “vivo” e impressivo. Por fim, da apreensão desse cenário e
da sua dinâmica, emerge a consciência do caráter efêmero da
vida.
Resposta: B
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1. Conceito e âmbito
O segundo tempo modernista
mar ca, simultaneamente, a consoli -
da ção de algumas propostas da “fa -
se heroica” ou “de demolição”
(1922-1930) e certo recuo quanto às
pro pos tas mais radicais da “Semana”
e dos seus desdobramentos. Propõe-
se, pas sada a fase de ruptura, um
mo der nismo moderado, com o
aban dono, por exemplo, do radi ca lis -
mo ex peri men talista de Oswald e a
re to ma da de certas linhas do pas sa do
(o Simbo lismo na corrente espiri tu a -
lista, as formas clássicas, a tra di ção
lírica por tuguesa e brasileira etc.).
� O contexto histórico
O período de 1930-1945 foi ma r -
ca do, entre outros, pelos seguintes e -
ven tos:
– os efeitos da crise econômica
ocorrida em 1929 com o crack da Bol sa
de Nova York;
– a radicalização política: nazismo,
fascismo, in tegra lismo e co mu nismo;
– as esperanças com a Re vo lu ção
de 1930, logo frus tradas pelo Es ta do
Novo e pela Ditadura Vargas;
– o rompimento da do minação in -
conteste das oligar quias regionais e a
ascensão da nova burguesia in dus tri al;
– a aliança do tenentismo liberal e
da política getuliana com as oli gar -
 quias, provo can do a ra dicali za ção
política de intelectuais, margi na li za -
dos no pro cesso; daí as aproxi ma -
ções de Rachel de Queirós, Jorge
Amado, Graciliano Ramos e outros ao
Parti do Comunista, no qual milita ram;
– a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) fecha o período, pro je -
tan do no país a tensão externa.
� Plano estético
No plano estético, destacam-se:
– o predomínio de um “projeto
ideológico” sobre um “projeto es -
 tético”;
– a consolidação das con quis tas
de 1922, mas com o recuo quantoàs
propostas mais radicais da “fase
heroica”;
– o cessar da oposição ao Moder -
nis mo;
– o desejo de denúncia da rea li da -
 de social do Brasil.
� Poesia
Na poesia são identificáveis es tas
constantes:
– estabilização das conquistas no vas;
– ampliação de temas;
– caminho para o universal;
– equilíbrio no uso do material
linguístico, em termos de normas de
lin guagem.
Há, na poesia, três direções bá si cas:
• a poesia de tensões ide o ló -
gicas: Carlos Drummond de An drade;
• a poesia de preocupação re -
ligiosa e filosófica (o grupo “Fes ta”,
de tendência espiri tua lista): Cecília
Meireles, Tasso da Silveira, Augusto
Frederico Schmidt, Jorge de Lima e
Vinicius de Moraes;
• a poesia de dimensão sur -
realista: Murilo Mendes.
2. Carlos Drummond de Andrade
(Itabira, MG, 1902 –
Rio de Janeiro, 1987)
� Vida
Era descendente de fazendei ros e
mi neradores da cidade mineira de
Itabira (jazidas de ferro). Na infância,
foi expulso de um colégio de pa dres.
Mais tarde, estudou Farmácia em
Belo Hori zonte.
Foi funcionário público no Rio de
Janeiro e também autor de crônicas
jorna lísticas bastante populares.
� Obra
• Poesia
Alguma Poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
Poesias (1942)
A Rosa do Povo (1945)
Poesia até Agora (1948)
Claro Enigma (1951)
Viola de Bolso (1952)
Fazendeiro do Ar & Poesia até
Agora (1953)
Viola de Bolso Novamente
En cor do a da (1955)
Poemas (1959)
A Vida Passada a Limpo (1959)
Lição de Coisas (1962)
Versiprosa (1967)
Boitempo (1968)
Menino Antigo (1973)
As Impurezas do Branco (1973)
Discurso da Primavera & Algu mas
Sombras (1978)
A Paixão Medida (1980)
Corpo (1984)
Amar se Aprende Amando (1985)
Tempo Vida Poesia (1986)
Poesia Errante (1988)
O Amor Natural (1992)
Farewell (1996)
• Prosa
Confissões de Minas (ensaios e
crônicas, 1944)
Contos de Aprendiz (1951)
Passeios na Ilha (ensaios e crô -
nicas, 1952)
Fala, Amendoeira (1957)
A Bolsa e a Vida (crônicas e poe -
mas, 1962)
Cadeira de Balanço (crô ni cas e
poemas, 1970)
O Poder Ultrajovem e mais 79
Tex tos em Prosa e Verso (1972)
MÓDULO 42
Segunda Geração Modernista – Poesia (I): 
Carlos Drummond de Andrade (I)
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Os Dias Lindos (1977)
70 Historinhas (1978)
Boca de Luar (1984)
O Observador no Escritório (1985)
Moça Deitada na Grama (1987)
O Avesso das Coisas (1987)
� Apreciação
Nos primeiros livros são cons tan -
tes a ironia, a atitude mineira -
 mente desconfiada de refl e tir, o
pessimismo, a autone ga ção, as
reminiscências da in fân cia ita bi -
rana. Drummond pa re ce buscar a si
mesmo, posi cio nan do -se como
espec tador de um mun do que não
aceita e que tenta des cre ver e
encontrar.
No “Poema de Sete Faces”, que
abre o primeiro livro, Alguma Poe sia
(1930), a confissão do poeta que se
sente gauche (= sem jeito, ina -
daptado) e a ironia, sob a forma in -
tencional de um antilirismo:
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
(...)
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Na “Confidência do Itabi ra no”, a
infância e a vida, mode lan do a pro ver -
 bial “secura” do poe ta, o alhea men -
to, o poeta que se sente de fer ro,
que se diz ilha, mas que es con de sob
essa apa rente indiferença u ma indis -
far çá vel solidariedade, um pro fun do
senso do humano e do so cial:
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é 
[porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o 
[trabalho, 
vem de Itabira, de suas noites brancas, 
[sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
Drummond manteve es trei tos la -
ços de amizade com o gru po dos mo -
dernistas de 1922 (Mário, Oswald e
Bandeira). Sob inspiração dos i de a is da
Semana de 22, funda, em 1925,
A Revista, ponta de lança do Mo dernis -
mo em Minas Gerais. Em 1928, publi ca
o arquifa moso “No Meio do Cami nho”,
na Revista de Antro po fagia.
A partir de Sentimento do Mun do
(1940) e especialmente em A Rosa do
Po vo (1945), a poesia de Drummond
centra-se na dimensão social, no coti -
di ano, na denúncia da estu pi dez, da
incom preensão; na luta con tra o me -
do (“que esteriliza os abraços”) e con -
tra a consciência da im pos si bilidade
da luta (“eu tenho a pe nas duas mãos /
e o sentimento do mun do”).
Em “Mãos Dadas”, o com pro mis -
so com o homem, a solida rie da de:
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
(...)
(...)
O tempo é a minha matéria, o tempo 
[presente, os homens presentes,
a vida presente.
A poesia social de Drummond
faz desabrochar o “sentimento do
mun do”, marcado pela cons ciência
da solidão, da impotência do homem
di ante de um mundo frio e mecânico
que o reduz a objeto. “Os Mortos de
So bre casaca”, “Congresso In ter na -
cio nal do Medo”, “A Noite Dissolve
os Ho mens”, “Mundo Grande”, “O
Lu ta dor”, “Mão Suja”, “A Morte do
Lei tei ro”, “A Flor e a Náusea” e
“José” in clu em -se nessa ver tente.
Em Claro Enigma (1951) pas sa a
predominar a esca va ção do real, me -
 diante um pro ces so de in ter ro ga ções
e nega ções que acaba revelan do o va -
zio à espreita do homem. O mun do
define-se como “um vá cuo a tor men -
ta do” (exis ten cialis mo ni ilis ta). A
abo lição de toda crença e o apagar-se
de toda esperança tra zem con si go o
autofe cha mento do es pírito.
Essa negatividade traduz-se pela
ex pre s são de dor, do va zio, da angústia,
da cons ciência da queda que aprisiona
to do ser vivo, daí o autofechamento:
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma
[ausência.
(“O Enterrado Vivo”)
Lição de Coisas (1962) marca a
op ção concreto-formalista do poeta.
Es sa poe sia objetual de Drummond é
u ma radi caliza ção de processos es tru -
 turais que já estavam presentes des -
de Alguma Poesia, na opção pe lo
prosai co, pelo irô nico, pelo antirre tó -
rico, pelo antili ris mo intencional e que
predis pu nham, pela recusa e pe la
contenção, ao poema-objeto, tí pi co
da Geração de 1950.
A ruptura com a sintaxe, a rima
final ou interna, a assonância, a alite -
ra ção e o eco, a repetição com pulsó -
ri a do som-coisa, aproximam, con tu -
do, Drummond das opera ções técni -
cas das vanguar das de 1950/60:
O fácil o fóssil
o míssil o físsil
a arte o infarte
o ocre o canopo
a urna o farniente
a foice o fascículo
a lex o judex
o maiô o avô
a ave o mocotó
o só o sambaqui
(“Isso é Aquilo”)
A poe sia metalinguística, que
se pen sa e se interroga, a meta poe sia
são cons tantes no poeta:
Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
(...)
(“Consideração do Poema”)
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Texto para os testes 1 e 2.
CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem 
[horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
(Carlos Drummond de Andrade,
Sentimento do Mundo)
1. Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes
do movimento modernista brasileiro. Com seus
poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e
trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua
poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular,
como se percebe claramente na construção do poema “Confidência do
Itabirano”. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto
literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o
poema acima
a) representa a fase heroica do Modernismo, devido ao tom contes -
tatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da
oralidade.
b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a
apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o eu e a sua comunidade, por
intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade
e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do
poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de
Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da
individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal,
por meio de recursos retóricos pomposos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2009] O poema trata da relação/tensão do eu lírico com o
seu meio de origem e ressalta a influência que o segundo (a
sociedade, o mundo) tem sobre o primeiro (o indivíduo).
Resposta: C
2. (FUVEST-SP) – No texto de Drummond, o eu lírico 
a) considera sua origem itabirana como causadora de deficiências que
ele almeja superar.
b) revela-se incapaz de efetivamente comunicar-se, dado o caráter
férreo de sua gente.
c) ironiza a si mesmo e satiriza a rusticidade de seu passado
semirrural mineiro.
d) dirige-se diretamente ao leitor, tornando assim patente o caráter
confidencial do poema.
e) critica, em chave modernista, o bucolismo da poesia árcade
mineira.
RESOLUÇÃO:
O primeiro verso da terceira estrofe (“De Itabira trouxe prendas
diversas que ora te ofereço [grifo nosso]”) prova que o eu lírico se
dirige diretamente ao leitor, como evidencia o pronome “te”,
justificando-se, assim, o título do poema, “Confidência do
Itabirano”.
Resposta: D
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Texto para o teste 3.
ANOITECER
A Dolores
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
(...)
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz — morte — mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho1, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
(ANDRADE, C. D. A Rosa do Povo.
Rio de Janeiro: Record, 2005.)
1 – Gasalho: o mesmo que agasalho.
3. Com base no contexto da Segunda Guerra Mundial,
o livro A Rosa do Povo revela desdobramentos da
visão poética. Nos versos transcritos, a expressivi -
dade lírica revela a(o)
a) defesa da esperança como forma de superação das atrocidades da
guerra.
b) desejo de resistência às formas de opressão e medo produzidas
pela guerra.
c) olhar pessimista das instituições humanas e sociais submetidas ao
conflito armado.
d) exortação à solidariedade para a reconstrução dos espaços urbanos
bombardeados.
e) espírito de contestação capaz de subverter a condição de vítima
dos povos afetados.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016 – 2.a aplic.] Em “Anoitecer”, o eu lírico mostra-se sem
esperança, pessimista quanto ao fim da guerra; sente-se sufocado
e oprimido diante dela. Mesmo nos momentos de descanso, em
que se procura a paz, ou a morte, ainda se ouve a continuidade da
guerra, sugerida metonimicamente por diversos vocábulos do
texto, como “sino” (igreja), “buzinas” (automóveis), “sirenes”
(ambulâncias). As instituições humanas, representadas por essas
metonímias, permanecem submetidas à agitação e ao caos do
conflito armado.
Resposta: C
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MÓDULO 43
Segunda Geração Modernista – Poesia (II): 
Carlos Drummond de Andrade (II)
1. Temática drummondiana
Na Antologia Poética, que pu bli -
cou em 1962, Carlos Drummond de
Andra de classificou tematicamente
sua poe sia, distribuindo os seus poe -
mas por nove comparti mentos, con -
siderados “pontos de partida ou ma -
téria de poesia”. A seguir, enu me ra mos
e comen tamos breve mente esses
nove núcleos temáticos da poesia
drummondiana, colocando ao lado de
cada um, entre aspas, o título da seção
correspondente da Antologia.
O próprio poeta adverte sobre a
existência de poemas seus que po de -
riam ser associados a mais de um dos
temas seguintes. Pode-se acres cen -
tar que há também entre seus
poemas alguns — bem poucos, é ver -
dade — cuja temática não correspon -
de a nenhum de tais temas. Ainda
assim, o quadro discernido pelo poe -
ta oferece uma visão abrangente das
preocu pações que frequentaram a
sua obra ao longo de todo o seu de -
senvolvimento.
� 1. O indivíduo: 
“um eu todo retorcido”
O indivíduo, na poesia de
Drummond, é complicado, torturado,
fragmentado. O “Poema de Sete
Faces”, primeiro texto do primeiro
livro de Drummond (Alguma Poesia,
1930), é um célebre exemplo deste
tema (ver frag mentos do poema na
aula anterior, no item “Aprecia ção”).
As in quietações do indivíduo
drummon dia no envolvem, por exem -
plo, preo cu pa ção com a velhice,
como em “Denta duras Duplas”:
Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída,
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica?...)
A morte e o sentido (ou falta de
sentido) da existência, a consciência
culpada, a busca de sabedoria são
outros dos temas que frequentam os
poemas do indivíduo na poesia de
Drummond.
� 2. A terra natal: 
“uma pro vín cia: esta”
A profunda, dura, triste relação
com o lugar de origem, que o indi víduo
aban dona, mas que não o aban dona,
carac teriza o tema da “terra natal”.
Um dos mais célebres poemas sobre
o assunto é “Confi dência do
Itabirano” (ver frag mento do texto na
aula an te rior). Mas o tema pode ser
tratado também de forma bem
humorada e crítica, como em
“Cidadezinha Qualquer”:
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
� 3. A família: 
“a família que me dei”
Sem qualquer sentimentalismo
— bem ao contrário — o indivíduo
inter roga, sem alegria, a misteriosa
reali dade da família, que existe nele,
em seu corpo, é parte de suas
emoções e de seu ima ginário. Os
antepas sados e a relação com eles
consti tuem um proble ma inquietante,
que põe em questão os fundamentos
de nossa existência, como se
constata no poema “Convívio”:
Cada dia que passa incorporo mais esta
[verdade, de que eles não 
[vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco; tão
[intervalado; tão débil.
(...)
Ou talvez existamos somente neles, que
[são omissos, e nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio,
[que preferiram.
� 4. Amigos: 
“cantar de amigos” 
O título atribuído pelo poeta à
seção de sua Antologia Poética dedi -
cada aos amigos joga com os “can ta -
res” ou “cantigas de amigo” medie -
vais. São homenagens a figu ras ad -
miradas,próximas ou dis tan tes,
como Machado de Assis, Charles
Chaplin, Mário de Andrade ou Manuel
Bandeira, em poe mas às vezes de
grande penetração crítica. O poema
dedicado a Machado de Assis, “A um
Bruxo, com Amor”, con tém as
seguintes ilumina ções:
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da
[monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?
(...)
Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas
[onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.
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� 5. O choque social: 
“na praça de convites” 
Aqui os poemas se voltam para o
es pa ço social, onde o indivíduo se ex -
põe ao apelo dos outros e vive os dra -
mas coletivos. Os grandes poe mas
de temá tica político-social de
Drummond abor dam os horrores da
guerra, da opres são, da injustiça, da
violência. Durante os anos marcados
pela Segunda Guerra Mundial e, no
Brasil, pela ditadura de Getúlio Vargas
(épo ca em que Drummond ade riu,
breve mente, ao credo socialista), o
poeta pro duziu alguns de seus mais
inflama dos poemas “parti cipantes”,
como “Elegia 1938” (também refe -
rente ao tema do indi víduo), que
termina assim:
Coração orgulhoso, tens pressa de 
[confessar tua derrota 
e adiar para outro século a felicidade 
[coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego 
[e a injusta distribuição 
porque não podes, sozinho, dinamitar a 
[ilha de Manhattan.
� 6. O conhecimento 
amo ro so: “amar-amaro”
Amaro é “amargo”. A parono má -
sia (trocadilho) que descreve este tema
exprime um elemento básico da con -
cep ção drummondiana do amor. Numa
visão nada romântica ou sen timental, o
amor é entendido como uma forma pri -
vilegiada e incontor nável de explo ra ção
da exis tência e, portanto, de conhe -
cimento — conhe cimen to de si e do
outro. Mas se trata de algo “amar go”
porque impõe sofri mento, sendo uma
sede insaciável, um desejo impos sível
de satisfazer, uma necessidade que
não encontra correspondência:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
(...)
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na
[secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a
[sede infinita.
(“Amar”)
� 7. A própria poesia: 
“poesia contemplada” 
Trata-se das “artes poéticas” de
Drummond: poemas sobre o quê e o
como da poesia. Podem ser poemas de
circunstância, singelos como “Poesia”:
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo. 
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Esse poema trata da incapaci dade
de expressão (a poesia intuída que
não chega às palavras), que revela
uma ideia “romântica” de poesia (co -
mo algo que existe na alma do poeta,
para a qual ele pode “não encontrar
pala vras”). Diferentes são as grandes
“artes poé ticas” de Drummond,
como “Procura da Poesia”:
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os
[incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável
[corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de
[dor no escuro 
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam
[a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é
[poesia.
(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser
[escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero, 
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Trata-se de uma “arte poéti ca”
por que é um poema que contém
uma con cepção do que seja a poesia
e de como ela deva ser feita. A con -
cep ção expressa neste texto é
bastante dife rente da que antes
apareceu no poe ma “Poesia”, pois
aqui a ideia é de que o poema é um
objeto de pala vras e, portanto, que a
poesia se faz com palavras, não
sendo algo que possa existir
“dentro” do poeta, inde pen den -
temente das palavras.
 
� 8. Exercícios lúdicos: 
“uma, duas argolinhas”
Aqui temos os jogos com as pala -
vras — atividade aparentemen te infantil,
mas poética em sua essên cia, e res pon -
sável por alguns dos mais espan tosos e
complexos poe mas de Drummond,
como “Áporo” ou “Isso é Aquilo”. As
“brincadeiras” podem ter, por exemplo,
sentido crítico, de criticism of life, como
no divertido e malicioso quadro da artifi -
cialidade da vida moder na, em “Os
Materiais da Vida”:
Drls? Faço meu amor em vidrotil
nossos coitos são de modernfold
até que a lança de interflex
vipax nos separe
em clavilux
camabel camabel o vale ecoa
sobre o vazio de ondalit
a noite asfáltica
plkx
� 9. Uma visão, ou tentativa de,
da existência: “tenta ti va de
explo ração e de inter pre tação
do estar-no-mundo”
Trata-se de poemas em torno de
questões e conjecturas sobre a exis -
tência, o “estar-aqui”, sobre o que há
“no meio do caminho”:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
[caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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Leia o poema a seguir, extraído de Claro Enigma, de Carlos Drummond
de Andrade, para responder aos testes 1 e 2:
A INGAIA CIÊNCIA
A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela1,
a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.
A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência
e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro Enigma.
4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 18.)
1 – Estela: coluna de pedra onde os antigos faziam inscrições funerárias.
1. (PUC-SP-2019) – Em “A Ingaia Ciência”, o eu lírico revela-se
a) revoltado contra a alienação imposta pelo amadurecimento, que
aprisiona o ser humano em uma realidade ilusória.
b) resignado em face da madureza, que afasta o ser humano dos
prazeres e impõe a triste constatação do vazio da existência.
c) engajado em combater os efeitos nocivos do envelhecimento,
fenômeno responsável por enclausurar o ser humano em uma
“cela”.
d) perplexo, ao compreender que a madureza, apesar de consistir no
envelhecimento do corpo, liberta o ser humano dos prazeres
mundanos.
RESOLUÇÃO:
A análise sobre as consequências da maturidade, que aniquila no
homem o “sabor gratuito de oferenda” e revela-lhe o vazio
existencial, é resignada. Aceita-se a madureza como um estágio
natural, cético e irreversível da condição humana.
Resposta: B
2. (PUC-SP-2019) – A publicação de Claro Enigma, em 1951, marca
uma série de mudanças em relação à lírica desenvolvida por Carlos
Drummond de Andrade nas décadas de 1930 e 1940. Dentre essas
mudanças, a análise do poema“A Ingaia Ciência” permite destacar:
a) a adoção de imagens poéticas herméticas e ilógicas, característica
da vanguarda surrealista, como comprovam os excertos “sabor
gratuito de oferenda” e “glacialidade de uma estela”.
b) a fusão, no plano formal do discurso, das poéticas clássica e
modernista, por meio do emprego de versos brancos, que
conjugam regularidade métrica e ausência de rimas.
c) a recuperação de procedimentos formais da tradição clássica da
literatura em língua portuguesa, como o emprego do soneto em
versos decassílabos.
d) a valorização da estética barroca, evidenciada pela presença de
pares antitéticos como “mundo” e “cela”.
RESOLUÇÃO:
José Guilherme Merquior classificou a terceira fase da poesia de
Carlos Drummond de Andrade, na qual se insere Claro Enigma
(1951), como a do “modernismo classicizante”, em virtude da
adoção de formas fixas, como o soneto e o verso decassílabo, o
que se constata em “A Ingaia Ciência”.
Resposta: C
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Texto para o teste 3.
MEMÓRIA
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro Enigma. 
Rio de Janeiro: Record, 1991.)
3. (ITA-SP – adaptado) – Sobre este poema, é correto afirmar:
a) A passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente
todas as lembranças humanas; quase nada permanece.
b) A memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles
fatos de grande impacto emocional; tudo o mais se perde.
c) A passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva
registra as coisas que emocionalmente têm importância; essas
permanecem.
d) A passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma
forma que envelhece e destrói o mundo material; nada permanece.
e) O homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o
tempo apaga tudo; a memória nada pode; tudo se perde.
RESOLUÇÃO:
O antológico poema “Memória” fala, com sutil melancolia, da
condensação do passado, por obra da memória, que faz perenes
os momentos vividos ou sentidos com intensidade.
Resposta: C
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1. Murilo Mendes (Juiz de Fora, MG,
1901 – Estoril, Portugal, 1975)
� Vida
Estudou na sua cidade e em Ni te -
rói, começou o curso de Direito, mas
logo o interrompeu. Foi sempre um
homem inquieto passando por ati -
vidades díspares: auxiliar de gua r da -
livros, prático de dentista, te le gra fis ta
aprendiz e, em melhores dias, no tário
e Inspetor Federal de Ensino. Não
menos rica de experiência foi a sua
vida espiritual e literária: tendo es -
treado em revistas do Modernis mo,
Ter ra Roxa e Outras Terras e Antro po -
fa gia, conheceu de perto a poética pri -
mitivista e surrealista que as ani ma va;
em 1934, converteu-se ao cato licismo,
partilhando com o pintor Ismael Nery o
fervor por uma arte que trans mitisse
conteúdos reli gio sos em có digos
radicalmente novos. (...) A par tir de
1953 viveu quase ex clu si va men te na
Europa e, desde 57, em Ro ma, onde
ensinou Literatura Bra si lei ra. Em todos
esses anos, M. Mendes re velou-se um
dos nossos escritores mais afins à van -
guarda ar tística eu ro pe ia, o que, no
entanto, não o a par tou das imagens e
dos sentimentos que o prendiam às
suas origens bra si leiras e, estrita men -
te, mineiras.
(BOSI, Al fredo.
História Concisa da Lite ratura Brasileira.
São Paulo: Cultrix, 1994, p. 446.)
� Obra
Considerado um poe ta “difícil”,
pela liberdade criadora, pela multi pli ci -
dade de temas sobre os quais ver sou e
pela den sidade que impregna sua visão
de mundo, é autor, entre ou tros, dos li -
vros: História do Brasil (1932), Tem po e
Eter nidade (em parceria com Jorge de
Lima, 1935), A Poesia em Pânico
(1938), O Vi sionário (1941), As Me ta -
mor fo ses (1944), Mun do Enigma
(1945), Poesia Liber da de (1947), Jane la
do Caos, Con tem pla ção de Ouro Pre to
(1954), além de Transís tor, A Idade do
Serrote (prosa, 1969) e de vários inédi -
tos.
� Evolução e características
• Iniciou-se reali zan do uma po e sia
in fluen cia da pelo espírito de “de mo -
lição” dos mo der nis tas de 1922 (Mário
e Os wald), por meio de paró dias de tex -
 tos con sa gra dos e de de nún cia da colo -
ni za ção física e cul tu ral do Brasil. Na
“Can ção do Exílio”, obser ve a pro xi mi -
dade com a ati tude ir re ve ren te dos mo -
vi mentos Pau-Bra sil e Antro pofá gi co :
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos1 de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas2,
[cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
(...)
Vocabulário
1 – Gaturamo: designação comum a várias es -
pé cies de aves.
2 – Monista: que crê na doutrina monista,
segun do a qual tudo pode ser re du zi do à
uni da de.
• Em Tempo e Eternidade, bus ca,
convertido ao cato li cis mo, “res taurar
a poe si a em Cris to”, inte grando, com
Jor ge de Li ma, Is ma el Nery, Otá vio
de Faria, Tas so da Silveira, Augus to
Frederico Schmidt, a cor rente dos
poetas cató licos, mar cados pela in -
fluên cia dos au tores franceses (Péguy,
Claudel, Bernanos, Mari ta in) e pela
atuação de Jackson de Figuei redo e Al -
ceu de Amoroso Lima (Tristão de
Ataíde), pensadores ca tó li cos que
aglutinaram em tor no de si esse
“renascimento” da vi são mís tica e do
catolicismo mi litante.
• De sua vertente surrealista, des -
tacamos:
O PASTOR PIANISTA
Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento1 os pianos que gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
Que reclamando a contemplação
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
Vocabulário
1 – Apascentar: pastorear.
• Depois de 1950, em livros como
Tem po Espanhol (1959) e Con ver gên cia
(1970), sua poesia ten de à obje tividade
e ao des car na men to da escri ta, apro xi -
man do-se da poesia expe ri mental da
épo ca (o concre tismo). É elo quen te o
seguinte de poimento de João Cabral de
Melo Neto: “a poe sia de Murilo me foi
sempre maes tra, pela plasticidade e no -
vi dade da imagem. Sobretudo foi ela
quem me ensinou a dar pre ce dên cia à
imagem sobre a men sa gem, ao plástico
sobre o dis cur sivo”. Um exem plo
dessa ver ten te é o poema que integra o
ci clo “A Lua de Ouro Preto”:
Lua, luar,
Não confundamos:
Estou mandando
A Lua luar.
Luar é verbo,
Quase não é
Substantivo.
(...)
E tu és cíclica,
Única, onírica,
Envolverônica,
Musa lunar.
(...)
MÓDULO 44
Segunda Geração Modernista – Poesia (III): 
Murilo Mendes e Cecília Meireles
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METADE PÁSSARO
A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio,
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos,
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.
A MARCHA DA HISTÓRIA
Eu me encontrei no marco do horizonte
Onde as nuvens falam,
Onde os sonhos têm mãos e pés
E o mar é seduzido pelas sereias.
Eu me encontrei onde o real é fábula,
Onde o sol recebe a luz da lua,
Onde a música é pão de todo dia
E a criança aconselha-se com as flores,
Onde o homem e a mulher são um,
Onde espadas e granadas
Transformaram-se em charruas1,
E onde se fundem verbo e ação.
Vocabulário
1 – Charrua: instrumentousado no cultivo do solo.
O PROFETA
A Virgem deverá gerar o Filho
Que é seu Pai desde toda a eternidade.
A sombra de Deus se alastrará pelas eras 
[futuras.
O homem caminhará guiado por uma 
[estrela de fogo.
Haverá música para o pobre e açoites para 
[o rico.
Os poetas celebrarão suas relações com o 
[Eterno.
Muitos mecânicos sentirão nostalgia do 
[Egito.
A serpente de asas será desterrada na lua.
A última mulher será igual a Eva.
E o Julgador, arrastando na sua marcha as
[constelações,
Reverterá todas as coisas ao seu princípio.
2. Cecília Meireles
(Rio de Janeiro, 1901-1964) 
� Vida
Passou a infância no Rio junto à
avó materna, açoriana. Formando-se
pro fessora primária, dedicou-se por
lon gos anos ao magistério (...). No
iní cio da sua carreira literária, aproxi -
mou -se do grupo de Festa, dirigido
por Tas so da Silveira. Anos depois,
pre fe ri ria trilhar caminhos pessoais,
mais mo dernos. Ensinou Literatura
Bra si lei ra nas Uni ver si dades do Dis -
tri to Fe deral (1936-38) e do Texas
(1940). Via jou longa mente pelos paí -
ses de sua predileção, México, Índia
e so bre tudo Portugal, onde viu re co -
nhe ci do o seu mérito antes mesmo
de con sa grar-se no Brasil como uma
das ma io res vozes poéticas da lín gua
por tuguesa contemporânea.
(Alfredo Bosi, História Concisa
da Literatura Brasileira)
� Obra
• Espectros (1919), Nunca Mais
e Poe ma dos Poemas (1923), Ba ladas
para El-Rei (1925), livros mais
marcados por res so nân cias parna sia -
nas e sim bo listas.
• Viagem (1939), pre miado pela
Academia Bra sileira de Letras, mar ca
a consagração da poeta e a sua ade -
são à moderni da de, sem o radicalis -
mo ex pe rimen ta lis ta dos moder nistas
da gera ção de 1922, numa poesia que
har mo niza, com dicção moder na, os
velhos clássicos, pas sando pe los ro -
mân ti cos, pelos par na sia nos e espe -
cialmente pelos sim bolis tas, do que
resulta a va rie dade de técnicas e te -
mas e a uni ver sali da de. Va ga Mú si -
ca (1942), Mar Abso luto (1945) e Re -
tra to Natural (1949) são desdo bra -
 mentos des sa pro pos ta.
• Doze Noturnos da Holanda,
Ro man ceiro da Inconfidência, Metal
Ro sicler, Poemas Escritos na Ín dia,
Solombra, Ou Isto ou Aquilo são
alguns dos títulos que publi cou entre
1952 e 1965. 
• Deixou ainda: prosa de fic ção
— Olhinhos de Gato; prosa poé ti ca
— Gi roflê, Giroflá; crô ni ca, teatro e
poesia in fanto-juvenil — Ou Is to ou
Aquilo.
� Características
• É a representante mais carac -
te rís tica da vertente espi ri tu a lis ta
ou intimista do Mo der nis mo. Ce cí lia
parte de um certo dis tan ci a men to do
real imediato e dirige os processos
imagéticos pa ra a som bra, o in de fi -
ni do, o senti mento da ausência e
do nada. Nas pa lavras da pró pria
Cecília: “a poesia é grito, mas trans -
figurado”. A trans fi gu ra ção faz-se no
plano da ex pres são.
• É herdeira do Simbo lis mo,
re to mando aspectos temáticos e
for mais dos simbolistas (é sen sí vel a
aproximação a Alphonsus de
Guimaraens). É uma poesia de “de -
sencanto e renúncia, nos tal gia do
Além e mística an sie da de”. A fuga,
a fluidez, a me lan co lia, a se re ni dade,
os tons fu ma ren tos de ne bulosidade
im pre g nam toda a sua obra,
marcada pelo sentido da transi to -
rie da de, oscilando en tre o efê me ro
e o eterno, se gundo afirma a
própria escritora: “Nasci aqui mes -
mo no Rio de Janeiro, três me ses
depois da morte de meu pai, e perdi
minha mãe antes dos três anos.
Essas e outras mortes o cor ridas na
família acar retaram mui tos contra -
tem pos ma teriais, mas, ao mesmo
tempo, me de ram, desde pequena,
uma tal in ti midade com a Morte que
do ce men te aprendi essas relações
en tre o Efêmero e o Eterno. (...) A
no ção ou sentimento da transito ri -
edade de tudo é o fun damento mes -
mo da minha perso nalida de.”
(MEIRELES, Cecília.
Literatura Comentada. São Paulo: 
Abril Educação, 1982, p. 6.)
• Há três constantes funda men -
 tais: o oceano, o espaço e a so li -
dão. Trabalhando elementos mó veis
e etéreos, povoados de fan ta sias —
forma, som e cor —, a poe ta projeta
a desintegração de si mes ma ou
busca seu próprio re co nhecimento.
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• A rigor, não pertenceu a ne -
nhu ma corrente literária, mas sua
poesia de cunho uni ver sa lista e es pi -
ritualista identifica-se com a ver tente
dos “poetas ca tólicos” (Vinicius de
Moraes, Jor ge de Lima, Augusto Fre -
de rico Schmidt e o Grupo Fes ta, do
Rio de Janeiro), opon do-se ao na -
cionalismo ver de-ama re lista ou an -
tropofágico da Ge ra ção de 1922.
• Expressa uma visão própria do
mun do, por meio de um intenso cro -
matismo, de associa ções sen so riais
(o visual-auditivo = si nes te sia), da
musicalidade, do mis ti cis mo líri co,
do culto da beleza i material e da
preferência pela abs tração.
• Vale-se, de preferência, do
verso cur to, de ritmo leve e ligeiro,
que a companha a fluência das im -
pres sões vagas, esbatidas. A mu si -
calidade de sua poe sia apoia-se em
rit mos naturais (re dondilhas), mar ca -
dos por es tri bi lhos, que acen tu am o
caráter can tante. Essa a liança entre a
poesia e a música já se expressa no
título de várias com po sições, como
“Música”, “Sere nata”, “A Última
Cantiga”, “Can ção”, “Can tiguinha”,
“Som”, “Guitar ra”, “No tur no”, “Pau -
sa”, “Valsa”, “Rea le jo”, “Can tar”,
“Cantiga”, “Mar cha”, “Assovio”
(“Não Tenho In ve ja às Cigarras: Tam -
bém Vou Mor rer de Cantar”).
MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias1,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa rit ma da.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
(Viagem)
Vocabulário
1 – Fugidio: que foge. 
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida 
a minha face?
(Viagem)
1.o MOTIVO DA ROSA
Vejo-te em seda e nácar1,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.
Meus olhos te ofereço:
espelho para a face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.
Então, da seda e nácar,
toda de orvalho trêmula,
serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho... E frágil.
(Mar Absoluto)
Vocabulário
1 – Nácar: tom rosado ou carmim (vermelho).
O ÚLTIMO ANDAR
No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.
O último andar é muito longe:
custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar:
(...)
De lá se avista o mundo inteiro:
tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:
no último andar.
(Ou Isto ou Aquilo)
� Romanceiro da Inconfidência
No Romanceiro da Inconfidên cia,
publicado em 1953, Cecília Mei reles
cria uma poesia social a partir de um
fato histórico, pes qui sado mi nu cio sa -
mente. A Incon fidên cia Minei ra é
evo cada com suas lendas e tra di ções,
com seus enfor cados, sui ci das e des -
terrados, na atmosfera mis te rio sa dos
cenários mineiros do sé cu lo XVIII.
Para esta obra, Cecília empre gou
diver sos tipos de versos, te tras sí la -
bos, redondilhos menores e maio res,
hexassílabos, octossíla bos, de cassí la -
bos, tudo em varia do ar ranjo estró -
fico, que resulta em uma nar rativa ágil
e matizada. Essa di ver sidade per mite,
ao mesmo tem po, que a au to ra con -
fira sua pró pria subje ti vi dade, seu pró -
 prio liris mo, aos fatos que narra,
realizan do uma ho me na gem, muitas
vezes inter textual, à poe sia e aos
poe tas inconfidentesde Minas.
O poema divide-se em “roman -
ces”, aqui entendidos co mo os poe -
mas épico-líricos da tra dição me die -
val, e desenvolve-se em cinco par tes:
I) a descrição do ambiente em que
se vai dar a ação (do romance I ao
XIX);
II) o desenvolvimento da trama e a
des coberta dos planos (do ro -
man ce XX ao XLVII);
III) a morte de Cláudio Manuel da
Cos ta e de Tiradentes (do ro man -
ce XLVIII ao LXIV);
IV) o destino de Tomás Antônio Gon -
za ga e Alvarenga Peixoto (do ro -
man ce LXV ao LXXX);
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V) a presença, no Brasil, da rainha D.
Maria, responsável pela con fir ma -
ção das penas dos inconfi dentes
(do romance LXXXI ao LXXXV).
Na abertura, no final e entre as
par tes, há poemas intercalados, que a
autora chama de “falas”. Também
en tre cada parte e, por vezes, no in te -
rior delas, há outros poemas, de sig -
nados como “cenários”:
FALA INICIAL
Não posso mover meus passos
por esse atroz1 labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e ódios vão:
— pois sinto bater os sinos,
percebo o roçar das rezas,
vejo o arrepio da morte,
à voz da condenação;
— avisto a negra masmorra2
e a sombra do carcereiro
que transita sobre angústias,
com chaves no coração;
— descubro as altas madeiras
do excessivo cadafalso3
e, por muros e janelas,
o pasmo da multidão.
Batem patas de cavalo.
Suam soldados imóveis.
Na frente dos oratórios,
que vale mais a oração?
Vale a voz do Brigadeiro
sobre o povo e sobre a tropa,
louvando a augusta Rainha,
— já louca e fora do trono —
na sua proclamação.
Ó meio-dia confuso,
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem ordena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
Cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados...
— liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentira e verdade estão.
Aqui, além, pelo mundo,
ossos, nomes, letras, poeira...
Onde, os rostos? onde, as almas?
Nem os herdeiros recordam
rastro nenhum pelo chão.
(...)
Vocabulário
1 – Atroz: cruel. 2 – Masmorra: cela de cadeia.
3 – Cadafalso: forca.
• Da Primeira Parte
ROMANCE I OU
DA REVELAÇÃO DO OURO
Nos sertões americanos,
anda um povo desgrenhado1:
gritam pássaros em fuga
sobre fugitivos riachos;
desenrolam-se os novelos
das cobras, sarapintados;
espreitam, de olhos luzentes,
os satíricos macacos.
Súbito, brilha um chão de ouro:
corre-se — é luz sobre um charco.
A zoeira dos insetos
cresce, nos vales fechados,
com o perfume das resinas
e desse mel delicado
que se acumula nas flores
em grãos de veludo e orvalho.
(Por onde é que andas, ribeiro,
descoberto por acaso?)
Grossos pés firmam-se em pedras:
sob os chapéus desabados,
O olhar galopa no abismo,
vai revolvendo o planalto;
descobre os índios desnudos,
que se escondem, timoratos;
calcula ventos e chuvas;
mede os montes, de alto a baixo;
(...)
(...)
E, atrás deles, filhos, netos,
seguindo os antepassados,
vêm deixar a sua vida,
caindo nos mesmos laços,
perdidos na mesma sede,
teimosos, desesperados,
por minas de prata e de ouro
curtindo destino ingrato,
emaranhando seus nomes
para a glória e o desbarato2,
quando, dos perigos de hoje,
outros nascerem, mais altos.
Que a sede de ouro é sem cura,
e, por ela subjugados,
os homens matam-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos.
(Ai, Ouro Preto, Ouro Preto, 
e assim foste revelado!)
Vocabulário
1 – Desgrenhado: desordenado, confuso.
2 – Desbarato: ruína.
• Da Segunda Parte
ROMANCE XXIV OU
DA BANDEIRA DA INCONFIDÊNCIA
Através de grossas portas,
sentem-se luzes acesas,
— e há indagações minuciosas
dentro das casas fronteiras:
olhos colados aos vidros,
mulheres e homens à espreita,
caras disformes de insônia,
vigiando as ações alheias.
(...)
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.
(...)
ROMANCE LXXXI OU
DOS ILUSTRES ASSASSINOS
Ó grandes oportunistas,
sobre o papel debruçados,
que calculais mundo e vida
em contos, doblas, cruzados,
que traçais vastas rubricas
e sinais entrelaçados,
com altas penas esguias
embebidas em pecados!
Ó personagens solenes
que arrastais os apelidos
como pavões auriverdes
seus rutilantes vestidos,
— todo esse poder que tendes 
confunde os vossos sentidos:
a glória, que amais, é desses
que por vós são perseguidos.
Levantai-vos dessas mesas,
saí das vossas molduras,
vede que masmorras negras,
que fortalezas seguras,
que duro peso de algemas,
que profundas sepulturas
nascidas de vossas penas,
de vossas assinaturas!
Considerai no mistério
dos humanos desatinos
e no polo sempre incerto
dos homens e dos destinos!
Por sentenças, por decretos
pareceríeis divinos:
e hoje sois, no tempo eterno,
como ilustres assassinos.
Ó soberbos titulares
tão desdenhosos e altivos!
Por fictícia austeridade,
vãs razões, falsos motivos,
inutilmente matastes:
— vossos mortos são mais vivos;
e, sobre vós, de longe abrem
grandes olhos pensativos. 
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Texto para o teste 1.
QUINZE DE NOVEMBRO
Deodoro todo nos trinques
Bate na porta de Dão Pedro Segundo.
— Seu imperadô, dê o fora
que nós queremos tomar conta desta bugiganga.
Mande vir os músicos.
O imperador bocejando responde:
— Pois não meus filhos não se vexem
me deixem calçar as chinelas
podem entrar à vontade:
só peço que não me bulam nas obras completas de Victor Hugo.
(MENDES, M. Poesia Completa e Prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
1. A poesia de Murilo Mendes dialoga com o ideário
poético dos primeiros modernistas. No poema, essa
atitude manifesta-se na
a) releitura irônica de um fato histórico.
b) visão ufanista de um episódio nacional.
c) denúncia implícita de atitudes autoritárias.
d) isenção ideológica do discurso do eu lírico.
e) representação saudosista do regime monárquico.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016 – 3.a aplic.] A releitura irônica de um fato histórico do
Brasil (a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889)
é evidente nos versos, seja pelo registro linguístico adotado pelo
eu lírico, seja pelo aspecto caricatural das personalidades de
Marechal Deodoro da Fonseca e do Imperador Dom Pedro II,
sendo o primeiro excessivamente insolente e rude, e o segundo,
excessivamente passivo e cortês.
Resposta: A
2. (UNESP-2019 – adaptado) – A influência (...) [do Surrealismo] se
encontra nos seguintes versos do poeta modernista Murilo Mendes:
a) No fim de um ano seu Naum progrediu,
já sabe que tem Rui Barbosa, Mangue, Lampião.
Joga no bicho todo dia, está ajuntando pro carnaval,
depois do almoço anda às turras com a mulher.
As filhas dele instalaram-se na vida nacional.
Sabem dançar o maxixe
conversam com os sargentos em bom brasileiro.
(“Família Russa no Brasil”)
b) Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
(“Modinha do Empregado de Banco”)
c) Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.
(“O Utopista”)
d) A costureira, moça, alta, bonita,
ancas largas,
os seios estourando debaixo do vestido,
(os olhos profundos faziam a sombra na cara), 
morreu.
Desde então o viúvo passa os dias no quarto olhando pro 
[manequim.
(“Afinidades”)
e) O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo
que invade a sombra das casas no espaço elástico.
Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas
que retomam seu lugar na série do planeta.
Os homens largam a ação na paisagem elementar
e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito.(“O Mundo Inimigo”)
RESOLUÇÃO:
O Surrealismo é perceptível no fato de o eu lírico imergir no
ilógico, no onírico, nas associações inusuais, como se nota, por
exemplo, em “Ao sinal do sonho a vida move direitinho as
estátuas / que retomam seu lugar na série do planeta”.
Resposta: E
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Texto para o teste 3.
CÂNTICO VI
Tu tens um medo de 
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
(MEIRELES, C. Antologia Poética.
Rio de Janeiro: Record, 1963.)
3. A poesia de Cecília Meireles revela concepções
sobre o homem em seu aspecto existencial. Em
“Cântico VI”, o eu lírico exorta seu interlocutor a
perceber, como inerente à condição humana,
a) a sublimação espiritual graças ao poder de se emocionar.
b) o desalento irremediável em face do cotidiano repetitivo.
c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes humanas.
d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado adolescente.
e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade das coisas.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2015] O verso final sugere que a “sublimação espiritual”
ocorre como término de uma trajetória de vida em que os
sentimentos passam por ciclos de morte e renovação.
Resposta: A
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1. Jorge de Lima (União, AL, 1895 –
Rio de Janeiro, 1953)
� Vida
Estudou Humanidades em Ma ceió
e Medicina em Salvador e no Rio de
Janeiro. Interessou-se pelas artes plás -
ticas, foi professor de Literatura na
Universidade do Brasil e in gres sou na
política como deputado estadual. Em
1925, entrou em con ta to com o Mo -
dernismo, divulgando-o no Nordeste,
com os livros Poemas (1927) e Novos
Poemas (1929).
Em 1930, mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde exerceu a profissão de
médico. Seu consultório tornou-se um
ponto de encontro de artistas e inte lec tuais.
Em 1935, converteu-se ao cato licismo.
Além de poeta, foi pintor, fotó grafo,
ensaísta, biógrafo, historiador e prosador.
� Obra e características
• Estreia em 1914 com XIV Ale -
xan drinos, livro ainda preso aos mol des
parnasianos e sim bolis tas, lavra do
em ver sos longos e constituído de so -
netos, entre os quais o co nhe cido “O
Acendedor de Lam piões”. O livro
seguinte, O Mun do do Menino Impos -
sível, retoma essa linha.
• Em Poemas Negros, nota-se a
in fluência dos grupos regio na lis tas
nor des ti nos (Gil ber to Freyre, José
Lins do Rego, Rachel de Queirós). Rea -
 liza uma poesia apoia da nas re cor -
dações da infância, de “me ni no de
en genho”, e nas sugestões do folclo -
re a fri cano. Nos Poemas Ne gros des -
cortinam-se as múlti plas di reções que
o poeta irá tri lhar: a poesia social, o ca -
to li cis mo militante, a poe sia o ní ri ca,
surreal, tudo trans fundido na própria
afe ti vidade e va za do numa lingua gem
múltipla e po derosa.
• A partir de Tempo e Eter ni da de
(1935), que escreveu com Murilo
Mendes, e em A Túnica In consútil (1938)
e Anun ci a ção e Encontro de Mira-Celi,
in corpora à sua temática a poe sia
mística e católica, a lém de novos pro -
ces sos cons tru tivos.
Apoiado nos arquétipos bí bli cos,
na simbologia das es cri tu ras,
associa esses e le men tos bar rocos à
visão sur re alista e alu ci nató ria, o
que resulta em uma poe sia de gran de
complexidade de for ma e conteúdo.
As suges tões bíbli cas e as idealizações
sur realistas ali mentam uma po e sia
densa e figu ra tiva, na qual é constante
a sim bo lo gi a marinha (peixes, algas,
flo res aquá ticas, me du sas), as so ciada
a suges tões de as sas sinatos, afoga -
mentos, ex ter mínios, numa vi são apo -
ca líp tica de condenação do mun do e
bani mento total.
• Em Livro de Sonetos (1949) e In -
venção de Orfeu (1952), a no ção es -
tetizante da poesia (vista como ofício de
tratar com palavras) opera uma bar ro -
 quização da verten te sur realista, que se
ma ni fes ta pelo em prego das formas fi xas
(so neto, oitava-rima, sex ti nas), modu lan do
a atmos fe ra aluci natória e surreal.
� Invenção de Orfeu (1952)
Invenção de Orfeu realiza uma es -
 tranha e bizarra paródia de Os Lu sí adas,
jogando com alguns motivos re cor -
rentes: a viagem, o desco bri men to da
ilha, a profundeza da vida e do ins tinto,
os círculos do inferno e do paraí so,
Orfeu, a Musa amada (Beatriz, Inês) de
Dante Alighieri e Ca mões.
Propõe uma espécie de teo dis seia
(= odisseia para Deus), cen trada na
busca, pelo homem, de uma ple ni tu de
sensível e espiritual. Res salta a com ple -
 xidade do estilo, vaza do num imen so
leque de metros, ritmos e es tro fa ções
e em formas de difícil ela bo ra ção: oita -
vas clássicas, terce tos, sex tinas etc.
Observe, no fragmento, a alusão
pa rodística a Os Lusíadas (Inês de
Castro), os decassílabos, a oitava- ri ma:
CANTO SEGUNDO
SUBSOLO E SUPERSOLO
XIX
Estavas linda Inês posta em repouso
mas aparentemente bela Inês;
pois de teus olhos lindos já não ouso
fitar o torvelinho que não vês,
o suceder dos rostos cobiçoso
passando sem descanso sob a tez;
que eram tudo memórias fugidias,
máscaras sotopostas que não vias.
� Poesia nordestina
De Poemas Negros (poesia nor des -
tina folclórica, afro-pernam bu ca na e
memorialista), destacamos os frag men -
tos de:
BANGUÊ1
Cadê você meu país do Nordeste
que eu não vi nessa Usina Central Leão de 
[minha terra?
Ah! Usina, você engoliu os banguezinhos do
[país das Alagoas!
Você é grande, Usina Leão!
Você é forte, Usina Leão!
As suas turbinas têm o diabo no corpo!
Vocabulário
1 – Banguê: engenho.
ESSA NEGRA FULÔ
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
— Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar 
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
� Poesia mística
De Tempo e Eternidade, A Túnica
Inconsútil e Anunciação e Encontro de
Mira-Celi (poesia mística, surreal, apo -
calíptica), destacamos:
POEMA DO CRISTÃO
Porque o sangue de Cristo
jorrou sobre os meus olhos,
a minha visão é universal
e tem dimensões que ninguém sabe.
Os milênios passados e os futuros
não me aturdem, porque nasço e nascerei,
porque sou uno com todas as criaturas,
com todos os seres, com todas as coisas
que eu decomponho e absorvo com os sentidos
e compreendo com a inteligência
transfigurada em Cristo.
A DIVISÃO DE CRISTO
Dividamos o Mundo em duas partes iguais:
uma para portugueses, outra para es panhóis.
Vêm quinhentos mil escravos no bojo das 
[naus:
a metade morreu na viagem do oceano.
Dividamos o Mundo entre as pátrias.
Vêm quinhentos mil escravos no bojo das 
[guerras:
a metade morreu nos campos de batalha.
Dividamos o mundo entre as máquinas:
Vêm quinhentos mil escravos no bojo das 
[fábricas,
a metade morreu na escuridão, sem ar.
Não dividamos o mundo.
Dividamos Cristo:
todos ressuscitarão iguais.
MÓDULO 45 Segunda Geração Modernista – Poesia (IV): Jorge de Lima
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1. (FAAP-SP) – Jorge de Lima também escreveu poesia surrealista,
como neste exemplo extraído do livro A Túnica Inconsútil:
a) Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.
b) Não dividamos o mundo.
Dividamos Cristo:
todos ressuscitarão iguais.
c) O Rochedo do sono é tão fechado
tão pedra de Esaú, tão existido,
que ele cumpre na vida um grande fado,
— o de acolher um Édipo impunido.
d) Ai! Bahia-de-Todos-os-Santos,
até nos pecados das suas comidas
você botou nome santo?
Papos-de-anjo,
Peitinhos-de-freira,
Quindins-de-convento,
Fatias-da-sé!
e) Domingos Fernandes Calabar
eu te perdoo
tu não sabias
decerto oque fazias
filho cafuz
de sinhá Ângela do Arraial do Bom Jesus.
RESOLUÇÃO:
A estética surrealista inspirou-se nos procedimentos e nas
questões trazidas pela Psicanálise, como se nota em: “O Rochedo
do sono...” (imagem onírica) e “Édipo” (alusão ao mito e ao
chamado “complexo de Édipo”).
Resposta: C 
Texto para o teste 2.
OLÁ! NEGRO
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações, quando apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro iorubá,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreenda agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
(LIMA, J. de. Obras Completas.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1958.)
2. O conflito de gerações e de grupos étnicos repro -
duz, na visão do eu lírico, um contexto social
assinala do por
a) modernização dos modos de produção e consequente enrique -
cimento dos brancos.
b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia
cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de
valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores
pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de heredi -
tariedade.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2013] Nos versos, a preservação da cultura ancestral dos
negros está assegurada, por mais que se tente renegá-la. A
musicalidade dessa cultura persiste e contrapõe-se ao tédio, à
apatia dos brancos.
Resposta: B
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Texto para o teste 3. 
MARIA DIAMBA
Para não apanhar mais
falou que sabia fazer bolos:
virou cozinha.
Foi outras coisas para que tinha jeito.
Não falou mais:
Viram que sabia fazer tudo,
até molecas para a Casa-Grande.
Depois falou só,
só diante da ventania
que ainda vem do Sudão;
falou que queria fugir
dos senhores e das judiarias deste mundo
para o sumidouro.
(LIMA, J. de. Poemas Negros.
Rio de Janeiro: Record, 2007.)
3. O poema de Jorge de Lima sintetiza o percurso de
vida de Maria Diamba e sua reação ao sistema
opressivo da escravidão. A resistência dessa figura
feminina é assinalada no texto pela relação que se faz entre
a) o uso da fala e do desejo de decidir o próprio destino.
b) a exploração sexual e a geração de novas escravas.
c) a prática na cozinha e a intenção de ascender socialmente.
d) o prazer de sentir os ventos e a esperança de voltar à África.
e) o medo da morte e a vontade de fugir da violência dos brancos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016 – 3.a aplic.] Maria Diamba, para mudar o seu destino
e deixar de apanhar, declara que sabe fazer bolos, para poder
trabalhar na cozinha da casa-grande. Cala-se mediante a
exploração sexual que passa a sofrer, mas fala a si mesma,
“diante da ventania” vinda do Sudão, do seu desejo de fugir “dos
senhores e das judiarias [daquele] mundo”.
Resposta: A
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1. Vinicius de Moraes 
(Rio de Janeiro, 1913-1981)
� Vida
Formou-se em Letras e em Direi to.
Foi censor e crítico cine mato grá fi co e
estudou Literatura Inglesa em Ox ford.
Em 1943, ingressou na car rei ra
diplomática, servindo nos Esta dos Uni -
dos, na Espanha, no Uruguai e na Fran -
ça, mas sem nunca perder o con tato
com a vida literária e artís tica do Rio de
Janeiro. No final da década de 1950,
passou a compor le tras para can ções
populares, con sa grando-se co mo um
dos funda dores do mo vi men to musical
conhe cido por Bos sa Nova.
� Obra
• Poesia
O Caminho para a Distância (1933)
Forma e Exegese (1935)
Ariana, a Mulher (1936)
Novos Poemas (1938)
Cinco Elegias (1943)
Poemas, Sonetos e Baladas (1946)
Pátria Minha (1949)
Livro de Sonetos (1956)
O Mergulhador (1965)
A Arca de Noé (infantil, 1970)
• Teatro
Orfeu da Conceição (tra gé dia ca -
rioca em três atos, escrita em
ver sos, 1954)
Pobre Menina Rica (co mé dia mu -
sicada, 1962)
• Prosa
O Amor dos Homens (crô nicas,
1960)
Para Viver um Grande Amor (crô -
ni cas, 1962)
Para uma Menina com uma Flor
(crô nicas, 1966)
� Evolução e
características
• Os primeiros livros, até Cinco
Ele gi as, marcam-se pela aproxi ma ção
com a poesia católica fran ce sa, com o
sim bolismo mís ti co e, como em
Augusto Fre de ri co Schmidt, pelo uso
do ver sí cu lo bíblico, pelo gosto do
poe ma longo, de tom grave e exal ta -
do, cheio de ressonâncias.
• A partir de Cinco Elegias, a ade -
são à modernidade é prenun cia da pela
contenção formal, pe la liberdade
temática e de ex pres são, pela incor -
po ra ção poé tica do cotidiano e da
experiência direta da vi da, que
subs tituem a busca do trans cen dente,
do sublime, e a ten dência mística e
me tafísica da primeira fase.
• Poemas, Sonetos e Ba ladas
(1946) é considerado o livro mais ex -
pres sivo de sua obra, impreg na do de
ternura, de humor, de i ro nia, nu ma
poesia de grande co municabili da de,
em que con vivem a lin gua gem
clássica, nos sone tos de fei ção ca -
mo niana (Sonetos: “da Se pa ra ção”,
“da Fidelidade”, “do Amor To tal” etc.);
os versos cur tos in ci si vos e a in ten -
si da de da vi são lí rica/realista do
amor, que re to ma elementos tro va -
dorescos e ro mân ticos, acres cidos da
concepção do amor como expe riên cia-
limite (o amor louco dos surrea listas).
• Além de ser um lírico ex cepcio -
nal, Vinicius versou tam bém so bre a
temática so cial (“O Operário em
Cons trução”, “A Ro sa de Hiroxima”,
“A Bomba”), so bre o cotidiano; fez
poesia in fantil (A Arca de Noé), além
dos poemas que o cancioneiro po pular
consa grou: “Serenata do A deus”,
“Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”,
“Se Todos Fossem I guais a Você” etc.
A ROSA DE HIROXIMA
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
(...)
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado 
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de re pente.
POÉTICA
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
— Meu tempo é quando.
TEXTOS
MÓDULO 46 Segunda Geração Modernista – Poesia (V): Vinicius de Moraes
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Texto para o teste 1.DO AMOR À PÁTRIA
São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria
amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o
esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e
habitual — uma cuja terra se comeu em criança, uma onde se foi
menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos e
esperanças plantando canções, amores e filhos ao sabor das estações.
(MORAES, V. de. Poesia Completa e Prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987.)
1. O nacionalismo constitui tema recorrente na litera tu ra
romântica e na modernista. No trecho, a repre sen -
tação da pátria ganha contornos peculiares porque
a) o amor àquilo que a pátria oferece é grandioso e eloquente.
b) os elementos valorizados são intimistas e de dimensão subjetiva.
c) o olhar sobre a pátria é ingênuo e comprometido pela inércia.
d) o patriotismo literário tradicional é subvertido e motivo de ironia.
e) a natureza é determinante na percepção do valor da pátria.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016 – 2.a aplic.] No texto, Vinicius de Moraes relaciona a
pátria a memórias íntimas de infância, valorizando elementos
nacionais ligados à sua subjetividade.
Resposta: B
Texto para o teste 2.
A ROSA DE HIROXIMA
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
5 Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
10 Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
15 A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
(Vinicius de Moraes, Antologia Poética)
2. (FUVEST-SP) – No poema,
a) a referência a um acontecimento histórico, ao privilegiar a
objetividade, suprime o teor lírico do texto.
b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem
tradicionalmente positiva da rosa a atributos negativos, ligados à
ideia de destruição.
c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua
despreocupação com a elaboração formal.
d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito
originalmente como letra de canção popular.
e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em
boa medida, pelo caráter concreto do texto e pelo vigor de sua
mensagem.
RESOLUÇÃO:
A imagem da rosa costuma ser associada, na tradição literária, a
sentidos positivos, como beleza, delicadeza e semelhantes. Neste
poema, a associação da rosa a sentidos negativos — destruição,
horror — é responsável por “parte da força poética do texto”.
Resposta: B
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Texto para o teste 3.
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
3. (PUC-SP – modificado) – Sobre o poema transcrito, de Vinicius de
Moraes, assinale a alternativa incorreta.
a) A anáfora, em virtude da sua estrutura, imprime cadência melódica.
b) A métrica é regular, com versos decassílabos.
c) As rimas são, em todas as estrofes, cruzadas ou alternadas.
d) As antíteses expressam as mudanças radicais das emoções.
e) A locução “de repente” indica ruptura temporal e mudança de
estados anímicos.
RESOLUÇÃO:
As rimas são intercaladas ou interpoladas (ABBA) no primeiro
quarteto, cruzadas ou alternadas (CDCD) no segundo e
misturadas (EFE-FFE) nos tercetos.
Resposta: C
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1. O ciclo nordestino –
o realismo regionalista
Ainda no primeiro tempo moder -
nista, enquanto no Sul as querelas lite -
rárias cindiam os modernistas (nacio- 
nalismo x primitivismo, revo lu ção
esté tica x revolução social, futu rismo,
cu bis mo, dadaísmo, surrealis mo), no
Nor deste, Gilberto Freyre, José Lins
do Rego e José Américo de Almeida
organizavam, em 1926, o Congres so
Regiona lista do Recife, cuja proposta
era a de uma literatura com prometida
com a pro ble mática nor des tina (o lati -
fúndio; a seca; as institui ções arcai -
cas = sobre vi vências colo niais; a
explo ra ção da mão de obra; a
violência social = jagun cis mo,
canga cei rismo, misti cis mo fa na ti -
zan te; a famí lia pa triarcal e as con -
 se quên cias de sua de sa grega ção; a
corrup ção e o co ronelis mo; os con -
trastes so ciais — o ser tane jo e o ho -
mem da Zona da Mata, as ca sas-
gran des e as senza las).
Propunha-se uma literatura
empe nhada e realista na denúncia
dos en traves culturais. Nessa
proposta, in cluem-se: José Américo
de Almei da, Jo sé Lins do Rego,
Graciliano Ramos, Rachel de Queirós,
entre outros.
2. José Américo de Almeida
(Areia, PB, 1887 – 
João Pessoa, 1980)
Autor de A Bagaceira, 1928, mar co
inicial do romance nordesti no
modernista, deixou também O
Boqueirão e Coiteiros.
Sua obra tematiza o retirante da
seca e lança sementes do ciclo da
cana-de-açúcar, funda do por José
Lins do Rego.
� A Bagaceira
Conta a saga dos reti rantes Va len -
tim Pereira, sua filha Soledade e seu
afilhado Pirunga, que, tangidos pela
seca, abandonam a zona do ser tão e
vão para a região dos enge nhos, no
brejo, onde são acolhidos pelo En -
genho de Marzagão, de pro prie dade
de Dagoberto Marçau e seu filho
Lúcio. A ação decor re entre dois
períodos da seca, o de 1898 e o de
1915, cen trando-se na violência e na
opressão.
A Bagaceira concretiza os propó -
sitos do Primeiro Con gres so de
Regionalistas do Recife (1926).
Quanto à lin gua gem, aproxima-se da
prosa elíptica, incisiva e epigramá tica
de Oswald de Andrade. Realiza
cortes frequentes na narrativa, dando
igual importância ao humano e ao
social. Nesse sentido, afastou-se do
caráter de depoimento e da ho ri -
zon ta li dade próprios dos autores
nor des tinos que o prece de ram.
Tem intenção de crítica social,
descambando, às vezes, para o
panfletário, para o enfático demagó -
gico. O título do romance alude ao
local onde, no engenho, se juntam os
bagaços de cana. Figuradamente,
aproxima o bagaço da cana à con -
dição miserável do ser tanejo.
O romance procura confrontar,
em termos de relações humanas e de
contrastes sociais, o homem do ser -
tão e o homem do brejo (dos
engenhos). Aproximando o serta nejo
e o brejeiro, na paisagem nordestina,
o autor condiciona os ele mentos
dramáticos aos ciclos perió dicos da
seca, os quais delimi tam a pró pria
existência do sertanejo.
Quanto ao estilo, ao lado de res -
sonâncias naturalistas, há aproxima -
ções com o Modernismo de 1922,
sem o radicalismo experimentalista.
A fra se enxuta, os períodos curtos
coorde nados ou justapostos e as
expres sões nominais de extrema
especifi ca ção da cor local modulam
um ex pres sionismo descritivo vigoro -
so e uma expressão musical cuja
força e aspereza remetem o leitor à
melopeia (= propriedade musical —
som, ritmo — que orienta o signi fi -
cado das palavras) de Euclides da
Cunha.
Há alguma discrepância entre o
registro da fala dos sertanejos (diale -
tal, folclórica) e a linguagem do escri -
tor e dos seus narradores (culta e
sentenciosa). É indispensável o esfor -
ço do escritor (nem sempre bem-
suce dido) de não se afastar em
demasia da linguagem das persona -
gens. (A adequação da fala do nar -
rador à das personagens é um dos
proble mas compositivos centrais de
todo o regionalismo brasileiro.)
3. Rachel de Queirós
(Fortaleza, 1910 –
Rio de Janeiro, 2003)
� Obra
• Romance
O Quinze (1930)
João Miguel (1932)
Caminho de Pedras (1937)
As Três Marias (1939)
O Galo de Ouro (1985), folhetim
no jornal O Cruzeiro (1950)
Obra Reunida (1989)
Memorial de Maria Moura (1992)
• Teatro
Lampião(1953)
A Beata Maria do Egito (1958)
Teatro (1995)
A Sereia Voadora (inédita)
O Padrezinho Santo
MÓDULO 47
Segunda Geração Modernista – Prosa (I): 
Regionalismo Nordestino – Romance Neorrealista (I)
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• Crônica
A Donzela e a Moura Torta (1948)
Cem Crônicas Escolhidas (1958)
O Brasileiro Perplexo – Histórias
e Crônicas (1963)
etc.
• Literatura infantil
O Menino Mágico (1969)
Cafute & Pena-de-Prata (1986)
Andira (1992)
“Cenas Brasileiras” – Para Gostar
de Ler 17
� Apreciação
Os quatro romances editados em
livro exprimem intensa preocu pação
social. Mas a romancista se apoia na
análise psicológica dos persona gens,
sobretudo na natureza do ho mem
nordestino, sob a pressão das forças
atávicas e a aceitação fatalista do
destino, como é o caso dos dois
primeiros — O Quinze e João Miguel.
(…) Estes romances apre sentam uma
nova tomada de posição na temática
do romance nordestino — da seca, do
corone lismo e dos im pulsos pas -
sionais — em que o psico lógico se
harmoniza com o social.
(CÂNDIDO, A.; CASTELLO, J. A.
Presença da Literatura Brasileira, vol.
III – Modernismo. São Paulo:
DIFEL, 1983, p. 236-7.)
O Quinze (1930), romance pu bli -
 cado quando Rachel de Queirós tinha
apenas 19 anos, tem parte da ação
decorrida em Fortaleza e parte no
sertão cearense. Apre senta simul -
taneamente a história de três famílias
que habitam fazendas do sertão: a da
avó de Conceição, jovem profes sora,
a de Vicente, primo dela, e de Chico
Bento, va quei ro da terceira fazenda.
Despedido do trabalho e despojado
de tudo, Chico parte com sua família
para outras terras. A nar rativa focaliza
sua trágica condi ção de retirante, ao
mesmo tempo em que descreve a
vida de Concei ção e da avó na Capital,
para onde Chico agora se dirige,
fugindo da seca. Enquanto isso, o
narrador acom panha a luta de
Vicente, que perma neceu no ser tão,
lutando obstinada mente con tra aque -
la natureza hostil.
4. José Lins do Rego 
(Engenho Corredor, PB, 1901 –
Rio de Janeiro, 1957)
� Vida
Passou a infância no engenho do
avô materno. Fez os estudos se cun -
dários em ltabaiana e na Paraíba (atual
João Pessoa) e Direito no Recife.
Aqui se aproxima de in te lec tuais que
seriam os responsáveis pelo clima
modernista-regionalista do Nordeste:
José Américo de Al mei da, Olívio
Montenegro e, sobretudo, Gilberto
Freyre, de quem receberia estímulo
para dedicar-se à arte de raízes lo cais.
Poucos anos depois liga-se, em
Maceió, a Jorge de Lima e a Graci -
liano Ramos. Transferiu-se, em 1935,
para o Rio de Janeiro, onde par tici pou
ativamente da vida li te rá ria, de -
fenden do com vigor polêmico o tipo
do escritor voltado para a re gião de
onde proveio.
(Alfredo Bosi)
� Obra
• Romance
I – Ciclo da cana-de-açúcar
Menino de Engenho (1932)
Doidinho (1933)
Banguê (1934)
Usina (1936)
Fogo Morto (1943)
II – Ciclo do cangaço,
misti cismo e seca
Pedra Bonita (1938)
Cangaceiros (1953)
III – Obras independentes
– Com implicação nos dois ciclos
indi cados:
O Moleque Ricardo (1934)
Pureza (1937)
Riacho Doce (1939)
– Desligados desses ciclos:
Água-Mãe (1941)
Eurídice (1947)
• Memórias
Meus Verdes Anos (1956). Ela bo -
ra da como uma narrativa memoria lis -
ta, a obra tem por base as recor da -
ções da infância do autor no En ge nho
Santa Rosa, a figura mítica de seu
avô, coronel Zé Paulino, as histórias
contadas pelas escravas e amas de
leite, compondo um amplo painel do
mundo rural do Nordeste, mais espe -
cificamente da região cana vieira da
Paraíba e de Per nam bu co.
O ciclo da cana-de-açúcar,
formado por Menino de Engenho,
Doidinho, Banguê, Usina e Fogo
Morto, é, segundo o autor, a história
de uma decadência e de uma ascen -
são: a decadência do engenho e a
ascen são da usina. Como afirma o
crítico Otto Maria Carpeaux, “o gran -
de valor lite rá rio da obra de José Lins
do Rego resi de nisto: o seu assunto e
o seu estilo correspondem à deca -
dência do pa triar calismo no Nordeste
do Brasil, com as suas inúmeras tra -
gédias e misé rias humanas e uns
raros raios de graça e de humor”.
O escritor inspirou-se nos can -
tadores de feira, os quais apon tou
como fontes de sua arte nar rativa.
Daí a linguagem de forte e poética
oralidade e a grande carga afetiva,
que a revivescência dos verdes anos
provoca. É um escritor espontâneo e
intuitivo.
“Os cegos cantadores, amados e
ouvidos pelo povo, porque tinham o
que contar. Dizia-lhes então: quan do
imagino meus romances, tomo sem -
pre como modo de orientação o di zer
as coisas como elas surgem na
memória, com o jeito e as maneiras
simples dos cegos poetas (…) gosto
que me chamem de te lú rico e muito
me alegra que des cu bram em todas
as minhas atividades li terárias forças
que dizem de puro instinto.”
• Menino de Engenho: narrado
na primeira pessoa, por Carlos Melo,
focaliza a infância do nar rador, dos 4
aos 12 anos, detendo-se na vida do
engenho, na paisagem, nos escra vos,
nos tipos regionais (os bandi dos, os
cangaceiros) e nas re la ções do
menino com o universo da cana-de-
açúcar.
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A figura central é o coronel Zé
Paulino, avô de Carlos Melo, típico
patriarca dos engenhos.
• Doidinho: narrado também
pela personagem Carlos Melo,
focaliza a sua experiência num colé -
gio interno, de onde foge, voltando
para o Engenho Santa Rosa.
• Banguê: narrado ainda por
Carlos Melo, que, formado em
Direito, dez anos após deixar o
Santa Rosa, retorna ao engenho,
onde, me lancoli camente, rememora
a infância e assiste à decadência do
coronel Zé Paulino e do Engenho,
ameaçado pela Usina São Félix.
• Usina: na primeira parte, re -
toma a história do Moleque Ricardo,
a partir de sua prisão como grevista e
de seu regresso ao engenho. Na
segunda parte, enfoca a decadência
do Santa Rosa, que se transforma na
Usina Bom Jesus, por fim incor -
 porada à Usina São Félix. Uma
enchente do Paraí ba destrói a antiga
propriedade do engenho Santa Rosa,
simbolizando o fim do ciclo. Os pro -
blemas sociais decor rentes da “revo -
lução industrial” são o centro da
narrativa, agora em terceira pessoa.
• Fogo Morto: é considerado a
obra-prima de José Lins do Rego. Es -
pécie de síntese de toda a sua obra
ficcional, o romance retoma a ascen -
são e queda de um engenho, agora o
Santa Fé, por meio de três per so na -
gens cujos destinos se en tre cru zam
na decadência da economia ca na -
vieira nordestina. O romance des -
dobra-se em três partes:
Na primeira parte — “O Mestre
José Amaro” — surge a figura do
velho seleiro, José Amaro, homem
frustrado que mora com a mulher e
a filha em terras do Engenho Santa
Fé. O dono do Santa Fé, Lula de
Holanda, ordena que José Amaro
abandone o engenho. O romance
re trata, pois, as brigas com o
senhor de engenho e as desilusões
do seleiro com sua profissão, com a
vida fami liar e com sua filha solteira.
A segunda parte — “O Engenho
de Seu Lula” — trata da história do
Engenho Santa Fé, que prosperou
com seu primeiro dono, capitão
Tomás Cabral de Melo, mas decaiu
nas mãos do genro Luís César de
Holanda Chacon, seu Lula, casado
com D. Amélia.
A terceira parte — “O Capitão
Vitorino” — enfoca a figura do
compa dre de José Amaro, espécie de
herói que vive lutando e brigando por
justiça e igualdade, defendendo os
humildes contra os poderosos da
terra; é, por isso, ridicularizado. É a
úni ca personagem que se mantém
firme até o fim, já que o mestre Zé
Amaro se suicida e o coronel Lula,
doente, fica entrevado.
Cada uma das três personagens
“representa ou sintetiza uma classe
da população. José Amaro, o seleiro,
sim boliza o trabalhador, o mundo do
tra balho. E vibra com o cangaço (…).
Lula é a nobreza arruinada, a deca -
dente aristocracia rural. Mergulha no
pas sado e num certo misticismo, isto
é, na sua interioridade. (…) E Vitorino
é o opo sitor, o quixotesco, o tagarela,
mis tura de povo e nobreza, admi rável
de coragem e gene rosidade militan -
te”. (Antônio Carlos Villaça)I
Lúcio sentou-se debaixo da latada de
rainha-do-prado que pa re cia sangrar ferida
pelos próprios espinhos.
E os moradores começaram a juntar-se.
Formavam um círculo silen cioso em torno dele,
como numa amostra de solidariedade con so -
lativa.
Quando chegou o último, Latomia tomou a
palavra.
Vinham protestar contra a admissão dos
novos retirantes: So le dade e o filho. Tinham
assimilado todas as fórmulas de emanci pação:
— O caminho da felicidade que nos
ensinastes vai além dos vossos domínios!
Lúcio espiou para baixo e viu a estrada
coalhada de sertanejos expulsos de suas
plagas pelo clima revoltado.
Voltou-se para a população amotinada:
— A vossa submissão era filha da ignorân -
cia e da miséria. Eu vos dei uma consciência e
um braço forte para que pudésseis ser livres.
Relanceou a vista pela paisagem do
trabalho organizado. Só a terra era dócil e fiel.
Só ela se afeiçoara ao seu cunho de bem-estar
e de beleza. Só havia ordem nessa nova face
da natureza educada por sua sensibilidade
construtiva.
E recolheu-se com um travo de criador
desiludido:
— Eu criei o meu mundo; mas nem Deus
pôde fazer o homem à sua imagem e
semelhança...
(José Américo de AImeida, A Bagaceira)
II
Depois de se benzer e de beijar duas vezes
a medalhinha de São José, Dona Inácia
concluiu: 
“Dignai-vos ouvir nossas súplicas, ó
castíssimo esposo da Virgem Maria, e alcançai
o que rogamos. Amém.” 
Vendo a avó sair do quarto do santuário,
Conceição, que fazia as tranças sentada numa
rede ao canto da sala, interpelou-a: 
— E nem chove, hein, Mãe Nácia? Já
chegou o fim do mês... Nem por você fazer
tanta novena... 
Dona Inácia levantou para o telhado os
olhos confiantes: 
— Tenho fé em São José que ainda chove!
Tem-se visto inverno começar até em abril. 
Na grande mesa de jantar onde se esticava,
engomada, uma toalha de xadrez vermelho,
duas xícaras e um bule, sob o abafador
bordado, anunciavam a ceia: 
— Você não vem tomar o seu café com
leite, Conceição? 
A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-
se a cear, calada, abstraída. 
A velha ainda falou em alguma coisa, bebeu
um gole de café e foi fumar no quarto.
— A bênção, Mãe Nácia! — E Conceição,
com o farol de querosene pendendo do braço,
passou diante do quarto da avó e entrou no
seu, ao fim do corredor. 
Colocou a luz sobre uma mesinha, bem junto
da cama — a velha cama de casal da fazenda —
e pôs-se um tempo à janela, olhando o céu. E ao
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fechá-la, porque soprava um vento frio que lhe
arrepiava os braços, ia dizendo: 
— Eh! A lua limpa, sem lagoa! Chove
não!... 
Foi à estante. Procurou, bocejando, um
livro. Escolheu uns quatro ou cinco, que pôs na
mesa, junto ao farol. 
Aqueles livros — uns cem, no máximo —
eram velhos companheiros que ela escolhia ao
acaso, para lhes saborear um pedaço aqui,
outro além, no decorrer da noite. 
Deitou-se vestida, desapertando a roupa
para estar à vontade. 
Pegou no primeiro livro que a mão
alcançou, fez um monte de travesseiros ao
canto da cama, perto da luz, e, fincando o
cotovelo neles, abriu à toa o volume. 
Era uma velha história polaca, um romance
de Sienkiewicz, contando casos de heroísmos,
rebeliões e guerrilhas. 
Conceição o folheou devagar, relendo
trechos conhecidos, cenas amorosas, duelos,
episódios de campanha. Largou-o, tomou os
outros — um volume de versos, um romance
francês de Coulevain. 
E ao repô-los na mesa, lastimava-se: 
— Está muito pobre essa estante! Já sei
quase tudo decorado! 
Levantou-se, foi novamente ao armário. E
voltou com um grosso volume encadernado
que tinha na lombada, em letras de ouro, o
nome de seu finado avô, livre-pensador,
maçom e herói do Paraguai. 
Era um tratado em francês, sobre religiões.
Bocejando, começou a folheá-lo. Mas, pouco a
pouco, qualquer coisa a interessou. E, deitada,
à luz vermelha do farol, que ia enegrecendo o
alto da manga com a fumaça preta, na calma da
noite sertaneja, enquanto no quarto vizinho a
avó, insone como sempre, mexia as contas do
rosário, Conceição ia se embebendo nas
descrições de ritos e na descritiva mística, e
soletrava os ásperos nomes com que se
invocava Deus, pelas terras do mundo. 
Até que Dona Inácia, ouvindo o cuco do
relógio cantar doze horas, resmungou de lá: 
— Apaga a luz, menina! Já é meia-noite!
(Rachel de Queirós, O Quinze)
III
A palavra da velha conduzia o filho como se
empurasse um cego na estrada. O Santo
gritava, gritava com um vozeirão de roqueira.
Aparício e os cabras chegavam para ele. E ele
que tinha aos seus pés milhares de criaturas
parecia não enxergar os cangaceiros de chapéu
na cabeça. De repente, porém, como se os
seus olhos se abrissem, olhou fixamente para
Aparício e os seus homens. E manso, tal uma
ventania que se abrandasse numa brisa
mansinha, fixou no terror das caatingas a sua
atenção. Com a voz de homem para homem,
não mais de santo para impuros, foi dizendo:
— Deus do céu e o meu santo mártir
S. Sebastião te mandou para perto de mim.
E marchou para o meio dos cangaceiros,
rompendo por entre os romeiros que caíam a
seus pés, com a cabeça erguida e as barbas
açoitadas pelo vento. Aparício, quando viu-o de
perto, ajoelhou-se. O rifle caiu-lhe das mãos,
enquanto o Santo punha-lhe na cabeça os
dedos magros. Podia-se escutar os rumores
dos bichos da terra naquele silêncio de mundo
parado. E soturno, com a voz que saía de uma
furna, o Santo ergueu para o céu o seu canto.
E as ladainhas irromperam de todos os
recantos do arraial. Muitos cangaceiros co -
meçaram a chorar. Aparício, porém, possuiu-se
de fúria, e era uma fera acuada, com milhares
de cachorros na boca da toca. E ergueu-se. E já
com o rifle na mão esquerda fitou o Santo, cara
a cara, e com a mão direita cheia de anéis
puxou o punhal da bainha e disse aos berros:
— Povo, eu não tenho medo.
(José Lins do Rego, Cangaceiros)
IV
TERCEIRA PARTE
CAPITÃO VITORINO
A velha deixou o quarto e saiu para o fundo
da casa. Vitorino fechou os olhos, mas estava
muito bem acor dado com os pensamentos
voltados para a vida dos outros. Ele muito tinha
que fazer ainda. Ele tinha o Pilar para tomar
conta, ele tinha o seu elei tora do, os seus adver -
sá rios. Tudo isso pre cisava de seus cui da dos,
da força do seu braço, de seu tino. (…) A sua
velha Adriana quisera aban do ná-lo para correr
atrás do filho. Desistiu para ficar ali com uma
pobre. Podia ter ido. Ele, Vito rino Carneiro da
Cunha, não precisava de ninguém para viver.
Se lhe tomassem a casa onde morava, armaria
a sua rede por debaixo dum pé de pau. Não
temia a desgraça, não queria a riqueza. (…) Um
dia to maria conta do município. 
(…) A vila do Pilar teria cal çamen to,
cemitério novo, jar dim, tudo que ltabaiana tinha
com o novo Pre feito. (…) Aí levantou-se. (...)
Ele, chefe político do Pilar, não teria inveja do
Dr. Heráclito de lta baiana. Todos pagariam
impostos. Por que José Paulino não queria pa -
gar impostos? Ele próprio iria com os fiscais
cobrar os dízimos no Santa Rosa. Queria ver o
ricaço espernear. Ah! Dava gritos.
— Tem que pagar, primo José Paulino, tem
que pagar, sou eu o Prefeito Vitorino que estou
aqui para cumprir a lei. Tem que pagar!
E gritou na sala com toda a força.
Apareceu a velha Adriana, as sus tada.
— O que há, Vitorino?
E quando viu que não havia ninguém na
sala:
— Estavas sonhando?
— Que sonhando, que coisa nenhuma. Vai
para a tua cozinha e me deixa na sala. (…)
Levantou-se outra vez e saiu para a fren te
da casa. (…)
— Entra para dentro, Vitorino, está muito
frio. A friagem da lua te faz mal.
Ele não respondeu. No outro dia sairia pelo
mundo para trabalhar pelo povo. (…) Quando
entrasse na casa da Câmara sa cu diriam flores
em ci ma dele. Dariam vi vas, gritando pelo che -
fe que tomava a di re ção do mu nicí pio.
Mandaria abrir as por tas da cadeia. Todos
ficariam con ten tes com o seu triunfo.(…) Ah,
com ele não havia grandes mandando em
peque nos. Ele de cima quebraria a goga dos
parentes que pensavam que a vila fosse
bagaceira de en ge nho.
— Vitorino, vem dormir.
— Já vou.
E, escorado no portal da casa de taipa, de
chão de barro, de paredes pre tas, Vi to rino era
dono do mundo que via, da terra que a lua
branquea va, do povo que precisava de sua
proteção.
— Tem cuidado com o sereno.
— Cala esta boca, vaca velha. Já ouvi.
Depois, com as portas fechadas, estirado
na rede, com o corpo doído, con tinuou a fazer
e a desfazer as coisas, a comprar, a levantar, a
destruir com as mãos trêmulas, com o seu
coração puro.
(José Lins do Rego, Fogo Morto)
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Texto para os testes de 1 a 3.
A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um
acontecimento para a meninada. Ela vivia de contar histórias de
Trancoso. Pequenina e toda engelhada1, tão leve que uma ventania
poderia carregá-la, andava léguas e léguas a pé, de engenho a
engenho, como uma edição viva das histórias de As Mil e uma Noites.
Que talento ela possuía para contar suas histórias, com jeito admirável
de falar em nome de todos os personagens! Sem nenhum dente na
boca e com uma voz que dava todos os tons às palavras! (...) era uma
grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio.
Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa,
como notas explicativas. (...) 
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações.
O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha
nos seus descritivos. (...) Os rios e as florestas por onde andavam os
seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo.
O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. 
(José Lins do Rego, Menino de Engenho)
1 – Engelhado: enrugado.
1. Na construção da personagem “velha Totonha”, é
possível identificar traços que revelam marcas do
processo de colonização e de civilização do País.
Considerando-se o texto, infere-se que a velha Totonha
a) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas
condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta
situação econômica muito adversa.
b) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história
do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não
representativos da realidade nacional.
c) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana
europeia em concomitância com a representação literária de
engenhos, rios e florestas do Brasil.
d) se aproxima, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio
romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma
tão grandiosa quanto a europeia.
e) imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como
modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia
universalizada. 
RESOLUÇÃO: 
[ENEM-2008] Totonha representa a constituição identitária e
cultural de nosso país, ao misturar personagens, valores e
cenários europeus e locais. Essa mistura é característica do
“processo de colonização e de civilização do país”, constituindo
marca de toda a formação da cultura brasileira, popular e erudita.
Em outras palavras, a cor local é uma expressão que indica
elementos que caracterizam a realidade geográfica e social do
Brasil.
Resposta: E
2. A cor local que a personagem velha Totonha
colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na
seguinte passagem:
a) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e
adivinhações.”
b) “era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de
prodígio.”
c) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva de As Mil e
uma Noites.”
d) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.”
e) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de
prosa, como notas explicativas.” 
RESOLUÇÃO: 
[ENEM-2008] A cor local que a velha Totonha punha em suas
descrições corresponde ao meio físico e social em que ela se
movia, a região nordestina. 
Resposta: D
3. (UDESC-SC – modificado) – Assinale a alternativa correta.
a) O tratamento que o autor dá a Totonha é irônico, quando se refere
à altura dela (“pequenina”) e, mais adiante, ao fato de ela não ter
dentes (“sem nenhum dente”).
b) Ao referir-se a As Mil e uma Noites, o autor estabelece um diálogo
entre essa obra e o trecho de Menino de Engenho, num processo
chamado intertextualidade.
c) A velha Totonha falava com uma voz doce, quando contava suas
histórias, para que a meninada adormecesse logo.
d) As histórias de Trancoso eram acontecimentos apenas para os
meninos da casa-grande.
e) Enquanto lia os versos, a velha Totonha também fazia comentários,
equivalentes a notas explicativas.
RESOLUÇÃO:
Resposta: B
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1. Graciliano Ramos
(Quebrângulo, AL, 1892 –
Rio de Janeiro, 1953)
� Vida
Fez estudos secundários em
Maceió, mas não cursou nenhu ma
faculdade. Em 1910 estabeleceu-se
em Palmeira dos Índios, onde o pai
vivia de comércio. Após uma breve
estada no Rio de Janeiro, como revi -
sor do Correio da Manhã e de A Tarde
(1914), regressou a Palmeira dos
Índios. Passa a fazer jornalismo e polí -
tica, exercendo a prefeitura da cida de -
zinha entre 1928 e 1930. Aí tam bém
redige, a partir de 1925, seu primeiro
ro mance, Caetés. De 30 a 36 viveu
quase todo o tempo em Maceió, onde
dirigiu a Imprensa Oficial do Estado.
Data desse período a sua amizade
com escrito res que for ma vam a van -
guarda da literatura nor destina: José
Lins do Rego, Rachel de Queirós,
Jorge Amado, Waldemar Cavalcanti; é
tam bém a época em que redige São
Bernardo e Vidas Secas. Em março de
1936 é preso como sub ver sivo. Em -
bora sem pro vas de acu sa ção, levam-
no a diversos presí dios, su jei tam-no a
mais de um vexa me e só o libe ram em
janeiro do ano se guin te: as Memórias
do Cár cere serão o depoi men to exa to
dessa ex pe riência. (…) Em 1945 in -
gres sou no Partido Co munista Brasi -
leiro. Em 1951, foi eleito presiden te da
Asso cia ção Brasi lei ra de Es cri tores; no
ano se guin te via jou para a Rússia e os
paí ses socia lis tas, rela tan do o que viu
em Viagem. Graciliano fa le ceu no Rio
aos ses senta anos de idade.
(Alfredo Bosi)
� Obra
• Romance
Caetés (1933)
São Bernardo (1934)
Angústia (1936)
Vidas Secas (1938)
• Conto
Insônia (1947)
• Obra memorialística
Infância (1945)
Memórias do Cárcere (1953)
Viagem (Checoslováquia–URSS –
1954)
Linhas Tortas (Crônicas, 1962)
Viventes das Alagoas (Quadros e
costumes do Nordeste – 1962)
• Literatura infantil
Histórias de Alexandre (1944)
Dois Dedos (1945)
Histórias Incompletas (1946)
� Características
• Pode-se dividir a obra de Gra ci -
liano Ramos em três séries:
– a série dos romances es cri tos
em 1.a pessoa — Caetés, São
Bernardo, Angús tia — que cons -
ti tuem uma progressiva aná li se
psicoló gica da alma humana;
– a série das narrativas es critas
em 3.a pessoa — Vidas Secas,
os contos de Insônia — em
que o autor se fixa nas
condições de existên cia das
personagens;
– a série das obras autobio grá -
 fi cas — lnfância, Memórias do
Cárcere — nas quais o autor
expressa a sua subjetivi da de,
dispensando a fantasia.
Isto permite supor que houve nele
uma rotação de atitude literária, tendo
a necessidade de inventar cedido o
passo, em certo mo men to, à ne ces -
sidade de depor. E o mais interes -
sante é que a transi ção não se apre -
senta como rup tura, mas como con -
se quência na tu ral, sendo que nos
dois planos a sua arte con seguiu
trans mitir visões igualmente válidas
da vida e do mundo.
(Antônio Cândido)
• O realismo de Graciliano Ramos
tem sempre caráter crítico. O
“herói” é sem pre problemá ti co
e não acei ta o mundo, nem os
outros, nem a si mesmo.
• Não há predomínio do re gio na lis -
mo, da paisagem. Esses as pec -
tos só interessam na me dida em
que interagem com o ele men to
humano.• Os traços mais característicos do
estilo de Graciliano Ramos são a
economia voca bular, a pala vra
incisiva, que “corta como faca”; o
uso restrito do adjetivo e a sin -
taxe clássica que o apro xima de
Machado de Assis e o distan cia
do “à vontade” dos modernis tas,
quanto ao as pec to gramatical. 
• Graciliano situa-se no polo opos to
do populismo dos au tores que
exploram a vitali da de do homem
simples na busca do pitoresco e do
melodramático. Sua opção é pelo
despojamento, pelo ten so e
profundo. Sua mo der ni da de pou co
deve aos mo der nistas e às modas
literá rias, perante as quais foi visto
como inatual e conservador.
� Obras centrais
• Caetés
Narrado em primeira pessoa, por
João Valério, a ação de sen volve-se
em Palmeira dos Índios. João Valério,
a perso nagem principal, introver tida e
fan tasiosa, apaixona-se por Luísa,
mulher de Adrião, dono da firma
comercial onde trabalha. O caso
amoroso é denunciado por uma carta
anônima, levando o marido traído ao
suicídio.
Arrependido, e arrefecidos os
sentimentos, João Valério afasta-se
de Luísa, continuando, porém, como
sócio da firma.
O título do livro, Caetés, é a apro-
ximação que faz o autor com o
selvagem caeté, que devo rou o bispo
Sardinha (1602-1656), numa
correspondência simbólica com a
antropofagia social de João Valério,
que “devora” Adrião, o rival.
João Valério é, ao mesmo tempo,
homem e selvagem:
MÓDULO 48
Segunda Geração Modernista – Prosa (II): Regionalismo 
Nordestino – Romance Neorrealista (II): Graciliano Ramos (I)
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“Não ser selvagem! Que sou eu
senão um selvagem, ligeira mente poli do,
com uma tênue camada de verniz por fora?
Qua trocentos anos de civili zação, outras
raças, outros costu mes. E eu disse que
não sabia o que se passava na alma de um
caeté! Pro vavelmente o que se passa na
minha com algumas diferenças.”
• São Bernardo
Publicado em 1934, São Ber nardo
representa a maturi da de literária de
Graciliano Ramos.
Sobre esta obra, escreveu Antô -
nio Cândido:
“Acompanhando a natureza do
per sonagem, tudo em São Bernardo é
seco, bruto e cortante. Talvez não haja
em nossa lite ratura outro livro tão
reduzido ao essencial, capaz de ex pri -
mir tanta coisa em resumo tão es trei -
to. Por isso é ines gotável o seu fas cínio,
pois poucos darão, quanto ele, seme -
lhan te ideia de perfeição de ajus te ideal
entre os elementos que com põem
um romance.” (Tese e Antítese)
O narrador
O livro é narrado em pri meira
pessoa pelo protagonista Paulo
Honório, que, movido por uma im po -
si ção psicológica, busca uma jus -
tificativa para o desmoronamento da
vida e de seu fracassado casa men to
com Madalena.
A narração, o diálogo (que não sur -
ge como conversa, mas como duelo) e
o monólogo interior fun dem-se na
unidade dos 36 capí tulos da obra.
Em seu primeiro romance, Cae tés,
Graciliano Ramos seguiu os dita mes
da estética naturalista, situando a per -
 so nagem em seu contexto so cial. Ago -
ra, em São Bernardo, todo o contexto
social é submetido ao dra ma íntimo
do protagonista Paulo Ho nó rio.
A técnica da narrativa em pri mei -
ra pessoa faz com que todos os fa tos,
personagens e coisas sejam apre -
 sentados de acordo com a visão pes -
soal do narrador.
O enredo
É a história de um enjeitado, Paulo
Honório, dotado de vontade in tei riça
e da ambição de se tornar fa zen dei ro.
Depois de uma vida de lu tas e bru -
talidade, atinge o alvo, as senhorean -
do-se da propriedade on de fora tra ba -
 lhador de enxada, e que dá nome ao
livro. Aos quarenta e cinco anos casa
com uma mulher boa e pura, mas,
como está habi tua do às rela ções de
domínio e vê em tudo, quase obses -
sivamente, a resis tência da presa ao
apre sador, não percebe a dignidade
da esposa nem a essência de seu pró -
prio senti mento. Tiraniza-a sob a for ma
de um ciú me agres sivo e degradante.
Ma da lena se suicida, cansada de lutar,
deixando-o só e, tarde demais, clari vi -
dente. Corroído pelo sentimen to de
frus tração, sente a inutilidade da sua
vida, orientada exclusiva mente para
coisas exterio res, e procura se equi -
librar escre ven do a nar rativa da tra -
gédia conjugal.
(Antônio Cândido, Tese e Antítese)
• Vidas Secas
Vidas Secas é a história de uma
família de retirantes, que, paradoxal -
mente, não chega a constituir pro pria -
 men te uma história. A dura an dan ça,
sob a implaca bilidade da se ca, de
certa forma justifica a inu ti lidade da
comunicação entre os membros da
fa mília, o fato de os me ninos não
apre sentarem nome, as di fi culdades
linguís ticas de Fabiano, a inquietação
cons tante. E também jus ti fica o
sacrifício do papagaio, que tinha
acompanhado a família, e que veio a
transformar-se em alimento pro -
videncial. Como se não bastas sem
tais infortúnios, Fabiano vem a ser
preso pelo soldado amarelo, sím bolo
do autoritarismo local. Ao con trá rio de
Fabiano, que se mostra ma tuto em
tudo, Sinha Vitória apresenta sinais de
ter vindo de um meio social menos
duro. Baleia, a cachorra, con se gue
sentir e reagir com inteligência 
superior à média dos animais. Sua
“hu mani zação” progressiva acompa -
nha a também progressiva “anima li -
zação” dos membros da família. Fa -
bia no teve de sacrificar a cachorra,
por suspeitar que ela estivesse pade -
 cendo de raiva. Embora se revolte
contra as contas do patrão, Fabiano
tem de aceitá-las, para não perder o
emprego. Seu reencontro com o sol -
da do amarelo, depois, em plena caa -
tinga, faz-lhe reconhecer sua própria
superioridade. Acaba perdoan do, en -
si nando ao soldado o caminho de
volta. Mas a temida seca enfim está
chegando. As árvores se enchem de
aves de arribação. Fabiano recome ça
a analisar sua vida. Quem lhe dá
ânimo é Sinha Vitória. Os retirantes
dei xam a casa da fazenda, e reto mam
o caminho de sempre. No pen sa men to
de Fabiano brilha uma certa esperan -
ça, mate ria lizada pelas pro mes sas de
chegar ao sul do país. Mas a pers -
pectiva que vem do narra dor é a da
contínua andança, sem definição e
sem destino certo.
• Angústia
Tecnicamente, o romance mais
complexo de Graci liano Ramos. É a
história de um frustrado, Luís da
Silva, homem tímido e solitário, que
vive entre dois mundos com os quais
não se identifica. Produto de uma
sociedade rural em decadência, Luís
da Silva alimenta um nojo impotente
dos outros e de si mesmo. Apaixo -
nado por uma vizinha, Marina, pede-a
em casa mento e lhe entrega as
parcas economias para um enxoval
hipotético. Surge Julião Tavares, que
tem tudo o que falta a Luís: ousadia,
dinheiro, posição social, euforia e
uma tranquila inconsciência. A fútil
Marina se deixa seduzir sem
dificuldades e Luís, amargurado, vai
nutrindo impulsos de assassínio que
o levam, de fato, a estrangular o rival.
Em certo sentido, a morte de
Julião Tavares represen ta para Luís da
Silva a desforra que tira contra todos,
mas que em seguida perde o
aparente significado de vitória.
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Texto para o teste 1.
E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governador do Estado] a serraria,
o descaroçador e o estábulo. Expliquei em resumo a prensa, o dínamo,
as serras e o banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola
poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que
eu tencionava solicitar.
— Pois sim senhor. Quando V. Ex.a vier aqui outra vez, encontrará
essa gente aprendendo cartilha.
(RAMOS, G. São Bernardo.
Rio de Janeiro: Record, 1991.)
1. (2018-2.a aplic.) – O fragmento do romance de
Graciliano Ramos dialoga com o contexto da
Primeira República no Brasil, ao focalizar o(a)
a) derrocada de práticas clientelistas.
b) declínio do antigo atraso socioeconômico.
c) liberalismo desapartado de favores do Estado.
d) fortalecimento de políticas públicas educacionais.
e) aliança entre a elite agrária e os dirigentes políticos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018-2.a aplic.] É evidente no trecho a proximidade entre a
“elite agrária”, representadapor Paulo Honório, e os “dirigentes
políticos”. A “aliança” entre essa elite e o poder político local fica
sugerida na passagem: “De repente supus que a escola poderia
trazer a benevolência do governador para certos favores que eu
tencionava solicitar.”
Resposta: E
2. (FMABC-SP-2019) – Em São Bernardo, Graciliano Ramos denuncia 
a) o convênio de mútua colaboração entre coronéis e cangaceiros para
lucrar em uma região castigada pela seca.
b) as práticas de enriquecimento ilícito e as relações de favor típicas
do capitalismo rural brasileiro.
c) a ação predatória da burguesia ascendente ao se apropriar de terras
reservadas à reforma agrária.
d) a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar devido a políticas
públicas que privilegiavam a cafeicultura.
e) o ciúme excessivo que pode acometer algumas pessoas que se
deixam guiar por impulsos românticos.
RESOLUÇÃO:
[FMABC-SP-2019] Por meio de negócios ilícitos, da violência e de
acordos irregulares, Paulo Honório enriquece e torna-se proprie -
tário da Fazenda São Bernardo. Para o narrador-personagem, a
ascensão socioeconômica é meta constante, transformando tudo
ao seu redor em objeto, revelando, assim, características do
capitalista selvagem.
Resposta: B
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Textos para o teste 3.
Texto 1
Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a
família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando
ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o
pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria
continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os
meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem,
guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados,
maltratados, machucados por um soldado amarelo.
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas.
23. ed. São Paulo: Martins, 1969, p. 75.)
Texto 2
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático,
impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação
dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de
fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma
linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador
em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em
grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade
brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado
em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda
categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos
demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso
não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma
riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.
(GUIMARÃES, Luís Bueno. Clarice e Antes.
In Teresa. n. 2. São Paulo: USP, 2001, p. 254.)
3. A partir do trecho de Vidas Secas (texto 1) e das
informações do texto 2, relativas às concepções
artísticas do romance social de 1930, avalie as
seguintes afirmativas.
I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo
regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado
do romance social de 30. 
II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a
tendência da ficção brasileira da década de 30 de tentar superar a
grande distância entre o intelectual e as camadas populares.
III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30
conseguiram, com suas obras, modificar a posição social do
sertanejo na realidade nacional.
É correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II. 
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2007] O que se afirma em I é compatível com a tentativa
de incorporação da figura do roceiro pobre no campo da ficção,
como expresso no texto crítico. A incorporação do pobre e de
outros marginalizados na ficção brasileira da década de 1930 e a
tentativa de superação da grande distância entre o intelectual e as
camadas populares, como se afirma em II, reproduz a
consideração de Luís Bueno segundo a qual o que se colocava ao
intelectual brasileiro, naquele momento, era a inserção do pobre
na ficção de natureza regional e neorrealista. O erro da afirmação
III está em que as obras literárias que focalizaram o sertanejo, na
década de 1930, alteraram a sua posição no quadro da literatura
brasileira, não sua posição social na realidade nacional. 
Resposta: D
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Texto para as questões de 1 a 6.
— Toda a vida. Na hora de um boi partir na gente, os olhos mudam
de jeito e ficam maiores, parecendo que não vão caber mais nos
buracos das vistas...
— Pois eu juro, seô Major, que aquilo foi de supetão... Eu vi o
Calundu abaixar a cabeça... Parecia que ele ia querer mais sal... E, aí,
de testada e de queixo, ele deu com o menino no chão, do jeito
mesmo de que um cachorro derruba uma lata. Seu Vadico caiu
debruço, com a cabecinha para dentro das patas do touro... E ele nem
pôs o pé em cima: deu uma passada para trás, e foi uma chifrada só...
Depois, o Calundu sungou a cabeça, e o sangue subiu atrás, num
repuxo desta altura:...!...
— Muito triste, Raymundão.
— Nós corremos, todos, mas não foi preciso tirar o zebu, porque
ele deu as costas, e foi andando para longe, vagaroso, que nem que
não quisesse ver o crime que tinha feito... Aquilo era sangue por todo
lado, e o pessoal gritando... Seu Neco Borges virou um demônio,
puxou o revólver... Mas seu Vadico, antes de morrer, falou
determinado, que nem pessoa grande: — “Não mata o Calundu, pai,
pelo amor de Deus! Não quero que ninguém judie com o Calundu!”...
— Um-hum!
— Seu Borges mandou levar para o seu Lourenço, na Vista-Alegre,
para ser vendido ou dado de graça... Aí eu disse que levava, porque só
eu era quem sabia fazer a simpatia do cambará. O senhor conhece?
Pois eu juntei o bicho com um terno de vacas mansas, montei no meu
quartão castanho, e joguei um raminho de cambará, para trás: aquilo, o
zebu me acompanhou, que nem um bezerrinho correndo para o úbere
da mãe... Eu falava: — Vamos para adiante, assassino!... — Mas falava
baixo, para ele não me entender... Não me deu trabalho nenhum.
Agora, quando chegamos lá no Saco-do-Sobre, então foi que eu tive
medo, porque a simpatia do cambará só serve para quando a gente
está indo na estrada... Fui gritando: — Abram as porteiras dos dois
lados, abrir logo!... — E emboquei e atravessei o curral, de galope,
saindo da outra banda. Ele e as vacas entraram atrás, e os vaqueiros
fecharam tudo. Mas, de noite... Eu pernoitei lá, e vi a coisa, seô Major.
Ninguém não pôde pegar no sono, enquanto não clareou o dia. O
Calundu, aquilo ele berrava um gemido rouco, de fazer piedade e
assustar... Uivava até feito cachorro, ou não sei se eram os cachorros
também uivando, por causa dele. Leofredo, que era de lá naquele
tempo, disse: — “Ele está arrependido, por ter matado o menino”... —
Mas o velho Valô Venâncio, vaqueiro cego que não trabalhava mais,
explicou para a gente que era um espírito mau que tinha se entrado no
corpo do boi... Parecia que ele queria mesmo era chamar alguma
pessoa. Fomos lá todos juntos. Quando ele nos viu, parou de urrar e
veio, manso, na beira da cerca... Eu vi o jeito de que ele queria contar
alguma coisa, e eu rezava para ele não poder falar... De manhã cedo,
no outro dia, ele estava murcho, morto, no meio do curral...
— Às vezes veem coisas dessas, que a gente não sabe, Raymundão.
— Isso, agora, eu acredito, seô Major. Sei de um caso que se
passou, há muitos anos, contado por meu pai, que quando moço foi
campeiro de um tal Leôncio Madurera, no sertão. Leôncio Madurera
era um homem herodes, que vendia o gado e depois mandava cercar
os boiadeiros na estrada, para matar e tornar a tomar os bois. Pois meu
pai contava que, quando ele morreu, e os parentes estavam fazendo
quarto ao corpo, as vacas de leite começaram a berrar feio, de repente,
no curral. Coisa que o garrote preto urrava:— Madurera!... Madurera!...
E as vacas respondiam, caminhando:
— Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!...
... Tiveram de soltar tudo e de enxotar para o pasto, porque eles não
queriam sair de de-perto da casa. E meu pai contou que, de longe, a
gente ainda escutava a maldição deles, que subiam o caminho do
morro, sem parar de berrar:
— Madurera!... Madurera!...
— Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!...
... Arrepia as costas, mesmo para se contar...
(GUIMARÃES ROSA, J. O Burrinho Pedrês,
in Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 2001, p. 71-73.)
1. Pode-se afirmar que, em João Guimarães Rosa, ocorre o registro
fiel da fala do sertanejo? Explique.
RESOLUÇÃO:
Não, isso não ocorre, pois, no regionalismo universal de
Guimarães Rosa, ao contrário da tradição regionalista que
buscava o registro documental do jagunço e sua paisagem, ocorre
a estilização da fala do sertanejo, a partir do apuro formal de
caráter experimentalista que dá à sua prosa/fala elementos da
poesia.
MÓDULO 19 Análise de Texto
FRENTE 3Análise de Textos
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2. Na visão dos vaqueiros, a simples condição de animal do boi
Calundu é fator determinante para explicar sua agressão a seu Vadico?
RESOLUÇÃO:
Não, não basta a condição animal, pois, para os vaqueiros, a
explicação para a agressão inesperada do boi Calundu está na
crença de que o boi tem em si a presença de um espírito mau:
“Valô Venâncio, vaqueiro cego que não trabalhava mais, explicou
para a gente que era um espírito mau que tinha entrado no corpo
do boi... Parecia que ele queria mesmo era chamar alguma
pessoa. Fomos lá todos juntos. Quando ele nos viu, parou de urrar
e veio, manso, na beira da cerca... Eu vi o jeito de que ele queria
contar alguma coisa, e eu rezava para ele não poder falar...”
3. Por que Raymundão se prontifica a transportar Calundu depois do
acidente com seu Vadico?
RESOLUÇÃO:
Porque somente Raymundão sabia fazer a “simpatia do
cambará”: “Aí eu disse que levava, porque só eu era quem sabia
fazer a simpatia do cambará O senhor conhece? Pois eu juntei o
bicho com um terno de vacas mansas, montei no meu quartão
castanho, e joguei um raminho de cambará para trás: aquilo, o
zebu me acompanhou, que nem um bezerrinho correndo para o
úbere da mãe...” 
4. Transcreva do excerto:
a) uma aliteração:
RESOLUÇÃO:
“Velho Valô Venâncio, vaqueiro”; “murcho, morto, no meio”,
entre outras.
b) uma onomatopeia:
RESOLUÇÃO:
“Urrava”, “enxotar”.
5. No segundo “causo”, história de encaixe, há uma figura de lin gua -
gem que explica o fato de as vacas responderem “Foi p’r’os infernos!...
Foi p’r’os infernos!...”, ao urro do garrote preto. Identifique-a.
RESOLUÇÃO:
A figura de linguagem que explica o fato de Leôncio Madurera ser
amaldiçoado depois da morte pelo gado no curral é “homem
herodes” que compara a malvadeza de Leôncio com a
personagem bíblica Herodes, que mandou matar todos os
meninos abaixo de dois anos quando do nascimento de Jesus:
“Leôncio Madurera era um homem herodes, que vendia o gado e
depois mandava cercar os boiadeiros na estrada, para matar e
tornar a tomar os bois. Pois meu pai contava que, quando ele
morreu, e os parentes estavam fazendo quarto ao corpo, as vacas
de leite começaram a berrar feio, de repente, no curral.”
6. Em: “Eu falava: — Vamos para adiante, assassino!... — Mas falava
baixo, para ele não me entender...”, passe o trecho em que se nota o
emprego do discurso direto para o discurso indireto. Faça os ajustes
necessários de modo a manter a clareza do texto original.
RESOLUÇÃO:
“Eu falava para o boi Calundu para que fôssemos para adiante,
chamando-o de assassino. Mas falava baixo para ele não me
entender.”
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Texto para a questão 7.
BOI SOBERANO
Me alembro e tenho saudade 
do tempo que vai ficando
do tempo de boiadeiro 
que eu vivia viajando;
Eu nunca tinha tristeza
vivia sempre cantando
mês e mês cortando estrada
no meu cavalo ruano;
Sempre lidando com gado
desde a idade de quinze ano
não me esqueço de um transporte
seiscentos boi cuiabano;
No meio tinha um boi preto
por nome de Soberano.
Na hora da despedida 
o fazendeiro foi falando
cuidado com este boi
que nas guampas é leviano;
Esse boi é criminoso
já me fez diversos danos
Tocamo pelas estradas
naquilo sempre pensando;
Na cidade de Barretos
na hora que eu fui chegando
a boiada estourou ai
só via gente gritando;
Foi mesmo uma tirania na frente ia,
o Soberano.
O comércio da cidade 
as portas foram fechando
na rua tinha um menino 
decerto estava brincando;
Quando ele viu que morria
de susto foi desmaiando
coitadinho debruçou 
na frente do Soberano.
O Soberano parou ai
em cima ficou bufando
rebatendo com o chifre 
os boi que ia passando
naquilo o pai da criança, 
de longe, vinha gritando.
Se este boi matar meu filho
eu mato quem vai tocando
e quando viu seu filho vivo
e o boi por ele velando.
Caiu de joelho por terra
e para Deus foi implorando
salvai meu anjo da guarda 
deste momento tirano;
Quando passou a boiada
o boi foi se retirando
veio o pai desta criança 
me comprou o Soberano.
Este boi salvou meu filho
ninguém mata, o Soberano.
(Carreirinho / Izaltino G. de Paula / 
Pedro Lopes de Oliveira)
7. A letra transcrita pertence a uma “moda de viola” em que se narra
um “causo” cujo protagonista é um boi chamado Soberano. A partir da
comparação da canção com a história do boi Calundu, presente em “O
Burrinho Pedrês”, de Guimarães Rosa, faça um breve comentário:
a) sobre as diferenças e as aproximações entre as ações dos bois
Calundu e Soberano em suas respectivas histórias.
RESOLUÇÃO:
As duas histórias têm por protagonista um boi humanizado que
comete uma ação inesperada. Em “O Burrinho Pedrês”, o boi
Calundu comete um crime, mesmo não tendo um passado que
justificasse o ataque a Vadico; na moda de viola, o boi Soberano
salva um menino em meio a um estouro de boiada, contradizendo
seu histórico de braveza. Ambos os bois serão transportados e
terão seus destinos modificados após suas ações: o Calundu terá
um fim trágico que foge ao entendimento e à explicação realista;
o Soberano, um final feliz, pois escapa do abate ao ser comprado
pelo pai cujo filho foi salvo pelo boi. 
b) sobre o tipo de linguagem empregado em cada texto. 
RESOLUÇÃO:
Enquanto em “O Burrinho Pedrês” a fala do sertanejo é recriada
por meio de estilização que lhe confere poeticidade particular
(“Nós corremos, todos,”; “era um homem herodes”; “eles não
queriam sair de de-perto”; “para o úbere da mãe”), em o “Boi
Soberano”, nota-se o registro mimético da fala coloquial do
vaqueiro, com seus desvios sistemáticos em relação à
norma-padrão da língua (“Me alembro”; seiscentos boi
cuiabano”; “quinze ano”; “tocamo”).
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Texto para os testes 1 e 2.
UM BOI VÊ OS HOMENS
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm 
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos 
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes 
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, 
até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes 
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se 
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade, 
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que 
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez, 
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido 
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos 
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemosnós?) sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.
(Carlos Drummond de Andrade)
1. No poema “Um Boi Vê os Homens”, da obra Claro Enigma,
Drummond traz uma representação do ser humano pelo olhar animal:
suas peculiaridades e questionamentos. Segundo o conteúdo do
poema, podemos afirmar que
a) o Homem e o boi têm as mesmas características e habilidades de
sobrevivência.
b) o Homem seria tão resistente quanto um boi.
c) o Homem não sabe viver de forma harmônica nem perceber os
sons e cheiros que o envolvem.
d) Homem e boi se completam dentro do quadro de existência
natural.
e) o Homem, quando triste, não muda sua postura.
RESOLUÇÃO:
O eu lírico, um boi, compara as habilidades bovinas às humanas.
Percebe-se que o ser humano não reconhece coisas naturais,
como o cheiro do feno, ou não sabe fazer sons que transmitam
senti mentos, ou, ainda, não sabe viver de forma calma como os
bois.
Resposta: C
2. Considerando-se que o eu lírico do poema é um boi, é possível
fazer uma associação com um dos contos de Sagarana, de Guimarães
Rosa, cujas características são evidenciadas em uma das seguintes
alternativas:
a) “Conversa de Bois”, no qual os bois do carro fazem uma reflexão
sobre os bois que são abatidos pelos homens — nem parecem
bois; mas eximem-se da vingança.
b) “O Burrinho Pedrês”, porque Sete-de-Ouros ri da ignorância dos
homens durante a cheia.
c) “A Hora e Vez de Augusto Matraga”, porque o burro que leva
Matraga conscientiza-o de que precisa ser uma pessoa melhor.
d) “Conversa de Bois”, no qual Brilhante e os outros bois do carro
resolvem vingar-se de Agenor Soronho.
e) “Conversa de Bois”, quando os bois do carro cogitam matar o
carroceiro, mas acabam perdoando-lhe.
RESOLUÇÃO:
Resposta: D
Texto para o teste 3.
SER
O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa, 
sem carne, sem nome.
Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apoia em meu ombro
seu ombro nenhum.
Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?
Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste,
contudo chamava-te
como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.
O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.
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MÓDULO 20 Análise de Texto
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3. No poema “Ser”, de Claro Enigma, Drummond faz referência direta
a seu filho Carlos, que morreu meia hora depois de nascer. Assinale a
alternativa falsa sobre o texto e o livro em que ele está inserido.
a) Mesmo com a passagem do tempo, o filho vive na memória do poeta.
b) Apesar de não ter vingado fisicamente, o filho permanece íntimo do
eu lírico.
c) O poema contrasta com a poesia engajada que aparece em Claro
Enigma.
d) O poeta divaga muitas vezes pensando em seu filho.
e) O poeta manifesta amor a esse filho.
RESOLUÇÃO:
Em Claro Enigma não há a poesia engajada de Drummond. 
Resposta: C
Texto para as questões 4 e 5.
CONFISSÃO
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.
Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem 
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro — vinha azul e doido — 
que se esfacelou na asa do avião.
(Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma)
4. Pode-se dizer que a linguagem deste poema se aproxima do estilo
dos livros iniciais de Drummond, como Alguma Poesia e Brejo das
Almas? Por quê?
RESOLUÇÃO:
O estilo de Claro Enigma não apresenta as rupturas típicas da
primeira fase de Drummond, em que se nota a influência do
primeiro tempo modernista, como os cortes bruscos, a linguagem
coloquial, o humor e o estilo próximo de vanguardas europeias.
Em “Confissão”, os versos, apesar de heterométricos, têm estilo
discursivo, certa solenidade sem o humor amargo e a iconoclastia
da primeira fase de Drummond.
5. O poema aproxima-se do niilismo machadiano? Por quê?
RESOLUÇÃO:
Sim, esse poema aproxima-se do niilismo machadiano, pois é
visível a nulidade do eu lírico em relação ao outro e a si mesmo.
A frustração e o autoisolamento estéril percorrem o poema.
Ressalve-se que o niilismo machadiano é permeado pelo tom
galhofeiro.
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Texto para as questões de 6 a 9.
OFICINA IRRITADA
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
(Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma)
6. Este poema manifesta um desejo do eu lírico. Que desejo é esse?
RESOLUÇÃO:
O eu lírico quer criar um poema, um soneto endurecido, que há de
fazer sofrer, incomodar.
7. O desejo do eu lírico é alcançado? Justifique.
RESOLUÇÃO:
Sim, é alcançado, pois ele elabora um soneto, com 14 versos,
divididos em dois quartetos e dois tercetos. O vocabulário contém
verbos agressivos (pungir, sofrer, mijar) e a abordagem é negativa
(“Ninguém o lembrará: tiro no muro”; “Não desperte em ninguém
nenhum prazer”). A rima a partir da vogal u (duro / escuro /
futuro / imaturo etc.) também contribui sonoramente para o tom
sombrio, já que a vogal u é fechada quanto ao timbre.
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8. O poema menciona uma estrutura clássica: o soneto. Há alguma
outra marca dessa estrutura clássica?
RESOLUÇÃO:
Sim, nota-se estrutura clássica, seja pela metrificação — o verso é
o decassílabo heroico, com tonicidade nas 6.a e 10.a sílabas —,
seja pela presença de rimas, alternadas (ABAB) nos quartetos e
com esquema ABA-AAB nos tercetos. A rima alternada remete
aos sonetos camonianos. Ressalve-se, porém, que o poema não
tem a retórica do Classicismo.
9. Faça a escansão dos versos:
Não desperte em ninguém nenhum prazer.
E, que no seu maligno ar imaturo,
RESOLUÇÃO:
Não / des / per / te em / nin / guém / ne / nhum / pra / zer
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
E, / que / no / seu / ma / lig / no ar / i / ma / tu / ro,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
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Texto para o teste 1.
FAREJADOR DE PLÁGIO: 
UMA FERRAMENTA CONTRA A CÓPIA ILEGAL
No mundo acadêmico ou nos veículos de comunicação, as cópias
ilegais podem surgir de diversas maneiras, sendo integrais, parciais ou
paráfrases. Para ajudar a combater esse crime, o professor
Maximiliano Zambonatto Pezzin, engenheiro de computação,
desenvolveu junto com os seus alunos o programa Farejador de Plágio. 
O programa é capaz de detectar: trechos contínuos e fragmen -
tados, frases soltas, partes de textos reorganizadas, frases reescritas,
mudanças na ordem dos períodos e erros fonéticos e sintáticos. 
Mas como o programa realmente funciona? Considerando o texto
como uma sequência de palavras, a ferramenta analisa e busca trecho
por trecho nos sites de busca, assim como um professor desconfiado
de um aluno faria. A diferença é que o programa permite que se
pesquise em vários buscadores, gerando assim muito mais resultados.
(Disponível em: <http://reporterunesp.jor.br>.
Acesso em: 19 mar. 2018.)
1.
(2018) – Segundoo texto, a ferramenta Farejador de
Plágio alcança seu objetivo por meio da 
a) seleção de cópias integrais.
b) busca em sites especializados.
c) simulação da atividade docente.
d) comparação de padrões estruturais.
e) identificação de sequência de fonemas.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O texto define a ferramenta Farejador de Plágio
como capaz de detectar trechos contínuos e fragmentados. Isso
só é possível pelo fato de o texto ser considerado como uma
“sequência de palavras” que permite a “comparação de padrões
estruturais”.
Resposta: D
Texto para o teste 2.
ABL LANÇA NOVO CONCURSO CULTURAL:
“CONTE O CONTO SEM AUMENTAR UM PONTO”
Em razão da grande repercussão do concurso de Microcontos do
Twitter da ABL, o Abletras, a Academia Brasileira de Letras lançou no
dia do seu aniversário de 113 anos um novo concurso cultural intitulado
“Conte o conto sem aumentar um ponto”, baseado na obra
A Cartomante, de Machado de Assis.
“Conte o conto sem aumentar um ponto” tem como objetivo dar
um final distinto do original ao conto A Cartomante, de Machado de
Assis, utilizando-se o mesmo número de caracteres — ou inferior —
que Machado concluiu seu trabalho, ou seja, 1.778 caracteres. 
Vale ressaltar que, para participar do concurso, o concorrente
deverá ser seguidor do Twitter da ABL, o Abletras.
(Disponível em: <www.academia.org.br>.
Acesso em: 18 out. 2015 – adaptado.)
2. (2018) – O Twitter é reconhecido por promover o
compartilhamento de textos. Nessa notícia, essa
rede social foi utilizada como veículo/suporte para
um concurso literário por causa do(a)
a) limite predeterminado de extensão do texto.
b) interesse pela participação de jovens.
c) atualidade do enredo proposto.
d) fidelidade a fatos cotidianos.
e) dinâmica da sequência narrativa.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O Twitter estabelece um limite de caracteres por
postagem, sendo 280 atualmente e 140 à época da notícia do
concurso. Como o concurso literário da Academia Brasileira de
Letras também limita o número de caracteres para as publicações,
justifica-se a escolha dessa rede social para a divulgação desse
concurso.
Resposta: A
MÓDULO 21 Análise de Texto
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Texto para o teste 3.
Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi por vezes tratado como
cordial e hospitaleiro, mas não é isso o que acontece nas redes sociais:
a democracia racial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do
que acontece diariamente nas comunidades virtuais do país.
Levantamento inédito realizado pelo projeto Comunica que Muda [...]
mostra em números a intolerância do internauta tupiniquim. Entre abril
e junho [de 2016], um algoritmo vasculhou plataformas [...] atrás de
mensagens e textos sobre temas sensíveis, como racismo,
posicionamento político e homofobia. Foram identificadas 393.284
menções, sendo 84% delas com abordagem negativa, de exposição
do preconceito e da discriminação.
(Disponível em: <https://oglobo.globo.com>.
Acesso em: 6 dez. 2017 – adaptado.)
3. (2018) – Ao abordar a postura do internauta
brasileiro mapeada por meio de uma pesquisa em
plataformas virtuais, o texto 
a) minimiza o alcance da comunicação digital.
b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro.
c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito.
d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na sociologia.
e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal comportamento.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O texto apresenta, em seu início, a visão consagrada
do brasileiro, na literatura e na sociologia, como “cordial e
hospitaleiro”, para rebatê-la a partir de dados pesquisados,
segundo os quais, de 393.284 menções sobre posicionamento
político, homofobia e racismo, 84% continham abordagens
preconceituosas e discriminatórias. Logo, a análise desses dados
“refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro” como homem
cordial e hospitaleiro. [PARA O PROFESSOR: O texto de Sérgio
Matsuura, escrito em agosto de 2016, ainda afirma que “[c]omo
resultado do panorama político gerado a partir das eleições de
2014, ‘coxinhas’ e ‘petralhas’ realizam intenso debate nas redes,
na maioria das vezes com xingamentos e discursos rasos, que
incentivam o ódio e a divisão.”] 
Resposta: B
Texto para o teste 4.
PARA QUE SERVE A TECNOLOGIA
Computador
“Com os computadores e a internet, mudei muito. A Lian de hoje
é totalmente diferente daquela de antes da informática. Me abriu
portas e, além de tudo, fui aceita por pessoas que achava que não iriam
me aceitar. Com a internet, viajei o mundo. Fui até Portugal e à África.
Eu nem sabia que lá a realidade era tão forte. Perto deles, estamos até
muito bem.” — Tânia “Lian” Silva, 26, índia pankararu.
TV
“Eu gosto muito de televisão. Assisto às novelas, me divirto muito.
Mas, ao mesmo tempo, sei que aquilo tudo que passa lá não é
verdade. É tudo uma ilusão.” — Valentina Maria Vieira dos Santos, 89,
índia fulni-ô da aldeia Xixi a cla.
MP3 Player
“Cuido do meu tocador de MP3 como se fosse um tesouro. É um
pen drive simples, mas é muito especial para mim. Nele ouço músicas
indígenas e bandas da própria aldeia. Ele vive emprestado porque
acaba sendo a diversão da aldeia inteira. Uso até para exibir uns vídeos
que baixo da internet. Basta colocar no aparelho de DVD com entrada
USB que tenho.” — Jailton Pankararu, 23, índio pankararu.
(Disponível em: <www2.uol.com.br>. 
Acesso em: 1 ago. 2012.)
4. (2018-2.a aplic.) – Os depoimentos apresentados
no texto retratam o modo como diferentes gerações
indígenas relatam suas experiências com os
artefatos tecnológicos. Os comentários revelam 
a) uma preferência pela possibilidade de uso do computador.
b) um elogio à utilidade da tecnologia no cotidiano indígena.
c) uma crítica à própria identidade antes da inclusão digital.
d) o gosto pela ilusão em telenovelas transmitidas na TV.
e) o desejo de possuir um aparelho importado. 
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018-2.a aplic.] Nos três comentários, o modo como os
três indígenas se referem ao uso de tecnologias (no caso, o
computador e a internet, a TV e o MP3 player) permite a
conclusão de que eles fazem “um elogio à utilidade da
tecnologia” no seu cotidiano.
Resposta: B
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Texto para o teste 5.
Não há dúvidas de que, nos últimos tempos, em função da
velocidade, do volume e da variedade da geração de informações,
questões referentes à disseminação, ao armazenamento e ao acesso
de dados têm se tornado complexas, de modo a desafiar homens e
máquinas. Por meio de sistemas financeiros, de transporte, de
segurança e de comunicação interpessoal — representados pelos mais
variados dispositivos, de cartões de crédito a trens, aviões,
passaportes e telefones celulares —, circulam fluxos informacionais
que carregam o DNA da vida cotidiana do indivíduo contemporâneo.
Para além do referido cenário informacional contemporâneo, percebe-
se, nos contextos governamentais, um esforço — gerado por leis e
decretos, ou mesmo por pressões democráticas — em disseminar
informações de interesse público. No Brasil, está em vigor, desde maio
de 2012, a Lei de Acesso à Informação n. 12.527. Em linhas gerais, a
legislação regulamenta o direito à informação, já garantido na
Constituição Federal, obrigando órgãos públicos a divulgarem os seus
dados.
(SILVA JR., M. G. Vigiar, Punir e Viver. 
Minas Faz Ciência, n. 58, 2014 – adaptado.)
5. (2018-2.a aplic.) – As Tecnologias de Informação e
Comunicação propiciam à sociedade contem po râ -
nea o acesso a grande quantidade de dados públicos
e privados. De acordo com o texto, essa nova realidade promove
a) questionamento sobre a privacidade.
b) mecanismos de vigilância de pessoas.
c) disseminação de informações individuais.
d) interferência da legislação no uso dos dados.
e) transparência na relação entre governo e cidadãos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018-2.a aplic.] Segundo o texto, “percebe-se, nos
contextos governamentais, um esforço — gerado porleis e
decretos, ou mesmo por pressões democráticas — em disseminar
informações de interesse público”, fato que, pode-se concluir,
promove a “transparência na relação entre governo e cidadãos”.
Resposta: E
Texto para o teste 6.
Até que ponto replicar conteúdo é crime? “A internet e a pirataria
são inseparáveis”, diz o diretor do instituto de pesquisas americano
Social Science Research Council. “Há uma infraestrutura pequena para
controlar quem é o dono dos arquivos que circulam na rede. Isso
acabou com o controle sobre a propriedade e tem sido descrito como
pirataria, mas é inerente à tecnologia”, afirma o diretor. O ato de
distribuir cópias de um trabalho sem a autorização dos seus produtores
pode, sim, ser considerado crime, mas nem sempre essa distribuição
gratuita lesa os donos dos direitos autorais. Pelo contrário. Veja o caso
do livro O Alquimista, do escritor Paulo Coelho. Após publicar, para
download gratuito, uma versão traduzida da obra em seu blog, Coelho
viu as vendas do livro em papel explodirem.
(BARRETO, J.; MORAES, M.
A Internet Existe sem Pirataria?
Veja, n. 2.303, 13 fev. 2013 – adaptado.)
6.
De acordo com o texto, o impacto causado pela
internet propicia a
a) banalização da pirataria na rede.
b) adoção de medidas favoráveis aos editores.
c) implementação de leis contra crimes eletrônicos.
d) reavaliação do conceito de propriedade intelectual.
e) ampliação do acesso a obras de autores reconhecidos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016] O texto apresenta questionamentos sobre o
conceito de propriedade intelectual na internet.
Resposta: D 
Texto para o teste 7.
O hoax, como é chamado qualquer boato ou farsa na internet, pode
espalhar vírus entre os seus contatos. Falsos sorteios de celulares ou
frases que Clarice Lispector nunca disse são exemplos de hoax. Trata-se
de boatos recebidos por e-mail ou compartilhados em redes sociais.
Em geral, são mensagens dramáticas ou alarmantes que acompanham
imagens chocantes, falam de crianças doentes ou avisam sobre falsos
vírus. O objetivo de quem cria esse tipo de mensagem pode ser
apenas se divertir com a brincadeira (de mau gosto), prejudicar a
imagem de uma empresa ou espalhar uma ideologia política.
Se o hoax for do tipo phishing (derivado de fishing, pescaria, em
inglês), o problema pode ser mais grave: o usuário que clicar pode ter
seus dados pessoais ou bancários roubados por golpistas. Por isso é
tão importante ficar atento.
(VIMERCATE, N. 
Disponível em: <www.techtudo.com.br>.
Acesso em: 1 maio 2013 – adaptado.)
7.
Ao discorrer sobre os hoaxes, o texto sugere ao
leitor, como estratégia para evitar essa ameaça,
a) recusar convites de jogos e brincadeiras feitos pela internet.
b) analisar a linguagem utilizada nas mensagens recebidas.
c) classificar os contatos presentes em suas redes sociais.
d) utilizar programas que identifiquem falsos vírus.
e) desprezar mensagens que causem comoção.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016] Segundo o texto, em geral o hoax “são mensagens
dramáticas ou alarmantes que acompanham imagens chocantes,
falam de crianças doentes ou avisam sobre falsos vírus.” Pode-se,
portanto, concluir que uma “estratégia para evitar essa ameaça”,
sugere o texto, é “analisar a linguagem utilizada nas mensagens
recebidas”.
Resposta: B 
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Texto para as questões de 1 a 4.
Quinta-feira, 4 de maio [de 1893]
(...)
No dia da Santa Cruz não descansamos um instante. Cada um quer
trabalhar e ajudar mais do que o outro. (...)
(...)
Para nós este é um dia alegre. Todos os meus tios e primos se
reúnem na Chácara de vovó. As negras fazem para nós um judeu1 de
frangos de molho pardo, lombo de porco, arroz e angu.
Na Chácara moram ainda muitos negros e negras do tempo do
cativeiro, que foram escravos e não quiseram sair com a Lei de 13 de
Maio. Vovó sustenta todos. Só Tomé é que vovó mandou embora
porque diz que é feiticeiro e estava aprontando2 Andresa com um chá
de raízes para ela casar com ele. As negras, as que não bebem, são
muito boas, e para terem seus cobres fazem pastéis de angu, sonhos
e carajés para as festas de igreja e para a porta do teatro. Vovó compra
delas muitas dessas coisas e nós comemos a noite inteira.
O dia pior para mim é o dia seguinte a qualquer festa. Mamãe é que
tem pena de mim porque diz que eu não vou ser feliz com este gênio
de querer aproveitar tudo; que a vida é de sofrimentos. Mas eu é que
não serei tola de fazer de uma vida tão boa uma vida de sofrimentos.
(Helena Morley, Minha Vida de Menina)
1 – Judeu: ceia.
2 – Aprontar: dar chás de raízes para conseguir a benquerença de uma pessoa.
1. O diário Minha Vida de Menina é um registro abrangente da
sociedade brasileira logo após a abolição da escravatura e a
Proclamação da República. Considerando esse contexto e o excerto,
responda aos itens a seguir: 
a) Pode-se dizer que esse contexto trouxe a independência
econômica para os ex-escravos?
RESOLUÇÃO:
Não se pode afirmar isso, pois a Lei Áurea não teve como conse -
quên cia a emancipação econômica dos que viviam como es cra -
vos. No Brasil, o relacionamento entre senhores e ex-escravos era
de aparente solidariedade, entretanto tratava-se do paternalismo
da ideologia do favor: os recém-libertos tinham onde morar, mas
continuavam trabalhando sem receber salário, como agregados
ao proprietário e submissos moral e existencialmente, como se
nota na passagem: “Na chácara moram ainda muitos negros e
negras do tempo do cativeiro, que foram escravos e não quiseram
sair com a Lei de 13 de Maio”; “As negras fazem para nós um
judeu de frangos de molho pardo, lombo de porco, arroz e angu.”
b) Como os ex-escravos conseguiam arranjar algum dinheiro?
RESOLUÇÃO:
Para eles ganharem algum dinheiro, as mulheres faziam algumas
comidas e vendiam para a proprietária ou para os eventos de
Diamantina: “As negras, as que não bebem, são muito boas, e
para terem seus cobres fazem pastéis de angu, sonhos e carajés
para as festas de igreja e para a porta do teatro. Vovó compra
delas muitas dessas coisas e nós comemos a noite inteira.”
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MÓDULO 22 Análise de Texto
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2. a) A convivência de pessoas de origens étnicas diferentes
resultou num sincretismo de elementos culturais e religiosos
sem maiores tensões. Você concorda com essa afirmação?
Justifique concisamente.
RESOLUÇÃO:
Embora no contexto do diário haja referência às superstições de
dona Teodora e práticas fetichistas, a velha senhora dispensa
Tomé por não aceitar as práticas religiosas do ex-escravo em sua
propriedade, tachando-o de feiticeiro. Portanto, há tensão entre
os elementos culturais e religiosos de indivíduos de etnias
diferentes, como se comprova na seguinte passagem: “Só Tomé é
que vovó mandou embora porque diz que é feiticeiro e estava
aprontando Andresa com um chá de raízes para ela casar com
ele.”
b) Faça um comentário sobre a importância do aspecto socioeco nô -
mico na atitude de dona Teodora em relação a Tomé.
RESOLUÇÃO:
O texto mostra o poderio dos senhores brancos contra as práticas
religiosas de origem africana consideradas inapropriadas. Assim,
quem tem o poder socioeconômico tacha uma outra crença como
feitiçaria, punindo o praticante com a exclusão da proteção
paternalista. 
3. a) A sociedade brasileira no início da colonização recebeu os
jesuítas, que tiveram fortíssima influência na propagação da
ideologia contrarreformista e na consequente visão da
existência como penitência. Pode-se afirmar que, no diário de
Helena, há personagens com essa cosmovisão? Justifique sua
resposta com base no texto. 
RESOLUÇÃO:
A mãe de Helena lamenta o fato de a filha gostar de festas e
sintetiza o legado do pensamento contrarreformista a respeito da
existência — “a vida é de sofrimentos” — como uma verdade de
resignação absoluta.
b) Helena define-se como “impaciente, rebelde, respondona,
passeadeira, incapaz de obedecer”.Essa definição é corroborada
no excerto?
RESOLUÇÃO: 
Sim, é corroborada, pois Helena não aceita o sofrimento como
regra. Diverge do ponto de vista da mãe. A adolescente, além de
gostar de festas, rejeita, no diário, a frase que a mãe tenta lhe
impor como verdade e afirma: “Mas eu é que não serei tola de
fazer de uma vida tão boa uma vida de sofrimentos.”
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4. O livro Minha Vida de Menina apresenta o registro da vida cotidiana
e do linguajar corrente da época. A partir dessa informação, reescreva
o trecho “... e para terem seus cobres fazem pastéis de angu”,
substituindo o termo popular cobres por outro, adequado ao nível
formal da linguagem. 
RESOLUÇÃO:
Algumas possibilidades: “... e para terem seu dinheiro fazem
pastéis de angu”; “... e para terem suas moedas fazem pastéis de
angu”. 
Texto para o teste 5.
Segunda-feira, 14 de outubro [de 1893]
Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de tia Clarinha e foi
visitar tia Agostinha no Jogo da Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se
muito bem. (...) Ficaram as tias todas admiradas da beleza da moça e
de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito
correto. Dizia “você” em vez de “ocê”. Palavra que eu nunca tinha
visto ninguém falar tão bem; tudo como se escreve, sem engolir um s
nem um r. (...) Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe
perguntou se ela gostava de uvas. Ela respondeu: “Aprecio
sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha.” Essas palavras nos
fizeram ficar de queixo caído. (...) Depois ela foi passear com outras e
Iaiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia:
“Vocês não tiveram inveja de ver uma moça (...) falar tão bonito como
ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem.” (...) 
Na hora do jantar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar
Iaiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”, “aprecio sobremaneira
uma coxa de galinha.” 
(MORLEY, H. Minha Vida de Menina: 
cadernos de uma menina provinciana nos fins do século XIX. 
Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.)
5. Neste texto, no que diz respeito ao vocabulário
empregado pela moça de Montes Claros, a
narradora expõe uma visão indicativa de
a) descaso, uma vez que desaprova o uso formal da língua empregado
pela moça.
b) ironia, uma vez que incorpora o vocabulário formal da moça na
situação familiar.
c) admiração, pelo fato de deleitar-se com o vocabulário empregado
pela moça.
d) antipatia, pelo fato de cobiçar os elogios de Iaiá sobre a moça.
e) indignação, uma vez que contesta as atitudes da moça.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2016 – 3.a aplic.] Diante dos elogios de Iaiá dirigidos à
moça de Montes Claros, em virtude da correção linguística e da
formalidade no seu modo de expressar-se, a diarista reage com
ironia à situação, imitando a moça elogiada: “Na hora do jantar eu
e as primas começamos a dizer, para enfezar Iaiá: ‘Aprecio
sobremaneira as batatas fritas’, ‘aprecio sobremaneira uma coxa
de galinha.’”
Resposta: B
Texto para o teste 6.
Terça-feira, 30 de maio [de 1893]
Eu gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando
são na igreja do Rosário, que é quase pegada à chácara de vovó, eu
gosto ainda mais. Até parece que a festa é nossa. E este ano foi
mesmo. 
Foi sorteada para rainha do Rosário uma ex-escrava de vovó
chamada Júlia e para rei um negro muito entusiasmado que eu não
conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há muito tempo ajuntando
dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou
devendo. 
Agora é que eu vi como fica caro para os pobres dos negros
serem reis por um dia. Júlia com o vestido e a coroa já gastou muito.
Além disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha tem uma
caudatária que vai atrás segurando na capa que tem uma grande cauda.
Esta também é negra da chácara e ajudou no jantar. Eu acho graça é
no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Nenhum rejeita o
cargo, mesmo sabendo a despesa que dá!
(MORLEY, H. Minha Vida de Menina.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 57.)
6. O trecho acima apresenta marcas textuais que jus ti -
fi cam o emprego da linguagem coloquial. O tom in -
for mal do discurso se deve ao fato de que se trata de 
a) uma narrativa regionalista, que procura reproduzir as características
mais típicas da região, como as falas das personagens e o contexto
social a que pertencem.
b) uma carta pessoal, escrita pela autora e endereçada a um
destinatário específico, com o qual ela tem intimidade suficiente
para suprimir as formalidades da correspondência oficial.
c) uma narrativa de memórias, na qual a grande distância temporal
entre o momento da escrita e o fato narrado impõe o tom informal,
pois a autora tem dificuldade de se lembrar com exatidão dos
acontecimentos narrados.
d) um registro no diário da autora, conforme indicam a data, o
emprego da primeira pessoa, a expressão de reflexões pessoais e
a ausência de uma intenção literária explícita na escrita.
e) uma narrativa oral, em que a autora deve escrever como se
estivesse falando para um interlocutor, isto é, sem se preocupar
com a norma-padrão da língua portuguesa e com referências exatas
aos acontecimentos mencionados.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2009] Este teste explicita as características do gênero
diário, no qual se enquadra a obra Minha Vida de Menina. 
Resposta: D
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Texto para as questões de 1 a 6.
(...) Contentemo-nos, portanto, ao menos por agora, com saber que
Raimundo Silva, na manhã seguinte à sua ida à editora, e após uma
noite de inconciliável espertina, entrou no escritório, agarrou no
escondido frasco de tinta do cabelo e, depois de um brevíssimo
instante, lugar para a última hesitação, verteu-o inteiro no lava-louças,
fazendo em seguida correr águas abundantes que em menos de um
minuto fizeram desaparecer da face da terra, literalmente, o artificioso
líquido malamente denominado Fonte de Juventa.
(...)
A História do Cerco de Lisboa está sobre a mesa de cabeceira.
Raimundo Silva segurou o livro, deixou que ele se abrisse por si
próprio, as páginas são as que sabemos, não haverá outra leitura. Foi
sentar-se à secretária, onde o está esperando o inacabado livro de
poemas, inacabada a revisão dele, quer dizer, e também, lido só até
um terço, corrigidas algumas faltas de concordância, propostas
algumas aclarações, e até, discretamente, emendados certos erros de
ortografia, o romance que veio por mão do Costa e não tinha urgência.
Raimundo Silva afastou para um lado as obrigações do dever, e, com a
História do Cerco de Lisboa diante de si, descansou a testa dos dedos
dispostos em arco, olhando fixamente o livro, mas logo sem o ver,
como se percebia pela expressão de ausência que pouco a pouco se
lhe alastrava pelo rosto. A História do Cerco de Lisboa não tardou a ir
fazer companhia ao romance e ao livro de poesia, o tampo da
secretária é uma superfície lisa, limpa, uma tábua rasa, para falar com
plena propriedade de linguagem, o revisor ficou assim durante longos
minutos, ouve-se o rumor vago da chuva lá fora, nada mais, a cidade é
como se não existisse. Então Raimundo Silva puxou uma folha de
papel branco, também ela lisa, limpa, também ela uma tábua rasa, e,
ao alto, com a sua clara e cuidada caligrafia de revisor, escreveu
História do Cerco de Lisboa. Sublinhou duas vezes, retocou uma e
outra letra, e no instante seguinte a folha estava rasgada, rasgada
quatro vezes, que menos do que isto não é inutilização suficiente e
mais do que isso entende-se como precaução maníaca. Colocou outra
folha de papel, mas não para escrever nela, porquanto a dispôs
rigorosamente de modo a ficarem paralelos os seus quatro lados com
os quatro lados da secretária, teria de torcer o corpo todo, o que ele
quer é algo a que possa perguntar, Que vou eu escrever, e depois
esperar uma resposta, esperar até se lhe confundirem os olhos e não
ver mais a branca, estérilsuperfície, mas uma confusão de palavras
surdindo da profundidade como corpos afogados que logo tornam a
afundar-se, não tinham visto bastante do mundo, vieram só para isso,
não voltam mais.
Que vou eu escrever, não é a única pergunta, uma outra logo lhe
ocorreu, também ela imperiosa, e tão imediata de urgências que se
tornaria quase irresistível tomá-la como efeito reflexo instantâneo,
porém determina a prudência que não regressemos ao debate em que
nos perdemos anteriormente, e que de mais exigiria, para que não
recaíssemos outra vez em confusões conceptuais, a distinção entre
relações íntimas e essenciais e relações acidentais, isto pelo mínimo,
o que finalmente importará ao caso é saber que Raimundo Silva,
depois de ter perguntado, Que vou eu escrever, perguntou, Por onde
devo começar. Dir-se-ia ser a primeira pergunta a mais importante das
duas, porquanto ela é que vai decidir sobre os objetivos e as lições do
futuro escrito, mas, não podendo e não querendo Raimundo Silva
remontar tanto que acabasse por ter de redigir uma História de
Portugal, felizmente curta, por há tão poucos anos ter começado e por
tão à vista estar o seu limite próximo, que é, como está dito, o Cerco
de Lisboa, e carecendo de suficiente enquadramento narrativo um
relato que principiasse apenas no momento em que os cruzados
responderam, Negativo, ao pedido do rei, então a segunda pergunta
perfila-se como uma referência factual e cronológica incontornável, o
que equivale a perguntar, usando palavras do povo comum, Por que
ponta vou eu pegar nisto.
(SARAMAGO, J. História do Cerco de Lisboa.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011, pp. 107-8.)
1. No excerto, é possível identificar, ainda que sutilmente, as histórias
que permeiam a História do Cerco de Lisboa? Comente sucintamente.
RESOLUÇÃO:
Em História do Cerco de Lisboa, há o entrecruzamento de três
narrativas: a historiográfica oficial sobre a tomada de Lisboa aos
mouros em 1147, cujo texto coube à personagem Raimundo Silva
revisar; a trajetória literária e afetiva de Raimundo Silva, que
procura aproximar-se de Maria Sara e vice-versa. Nota-se que o
revisor vai à editora, onde trabalha Maria Sara, e decide mudar de
aparência, não tingir mais o cabelo. Além desses núcleos
narrativos, há a “Nova História do Cerco de Lisboa”, esta, no
excerto, ainda na possibilidade de ser escrita, conforme se
percebe nas indagações de Raimundo Silva.
MÓDULO 23 Análise de Texto
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2. Em suas indagações, Raimundo Silva tenta estabelecer critérios
metodológicos para a sua narrativa. Que critérios são esses?
RESOLUÇÃO:
Os critérios da narrativa de Raimundo Silva reduzem-se a dois: a
definição do que será escrito e qual será o fato que servirá de base
para o início de sua historiografia.
3. Na construção de sua obra, Raimundo Silva revela uma
preocupação que serve de elemento fundamental para diferenciar a
narrativa historiográfica da narrativa de ficção. Qual é essa
preocupação?
RESOLUÇÃO:
Trata-se do cuidado em se ater às referências verossímeis e,
consequentemente, à reconstrução simbólica dos fatos. Essa
preocupação ilustra uma das principais diferenças entre a
narrativa historiográfica e a ficcional. A primeira legitima-se pelo
evento testemunhado, documentado, enquanto a segunda se
constrói pela criação imaginativa, é a meta-historiografia.
Raimundo Silva preocupa-se com a necessidade de um
“enquadramento narrativo” depois do Não dos cruzados para
Afonso Henriques na conquista de Lisboa.
4. No final do excerto, há referência ao impulso concretizado pelo
revisor Raimundo Silva que dá início à intriga do romance. Aponte-o e
faça um comentário sucinto.
RESOLUÇÃO:
A resposta “Negativo”, dada pelos cruzados ao rei D. Afonso
Henriques e a que o excerto faz referência, remete à alteração
feita por Raimundo Silva, que consiste no fato de acrescentar um
não ao texto, quando revisava uma obra intitulada “História do
Cerco de Lisboa”. O advérbio de negação foi colocado na frase
“Os cruzados ajudaram no Cerco de Lisboa”.
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5. No texto transcrito e na obra, pode-se dizer que há metalinguagem
e intertextualidade? Por quê?
RESOLUÇÃO:
Sim, pode-se dizer que há metalinguagem e intertextualidade. O
fato de Raimundo Silva refletir sobre o que vai escrever evidencia
a metalinguagem. A reescrita da “História do Cerco de Lisboa” dá
o caráter intertextual ao que Raimundo escreve.
6. José Saramago faz um uso exclusivo da letra maiúscula, de modo
a romper com os padrões oficiais da língua. Explique qual a função
desse recurso no excerto em questão.
RESOLUÇÃO:
O uso heterodoxo de letras maiúsculas, empregadas após a
vírgula, serve para introduzir um outro discurso no discurso do
narrador. No excerto em questão, esse recurso introduz tanto o
monólogo interior de Raimundo (“Que vou eu escrever”; “Por
onde devo começar”), quanto o discurso direto dos cruzados
(“Negativo”).
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Texto para o teste 1. 
O trabalho não era penoso: colar rótulos, meter vidros em caixas,
etiquetá-las, selá-las, envolvê-las em papel celofane, branco, verde,
azul, conforme o produto, separá-las em dúzias... Era fastidioso. Para
passar mais rapidamente as oito horas havia o remédio: conversar. Era
proibido, mas quem ia atrás de proibições? O patrão vinha? Vinha o
encarregado do serviço? Calavam o bico, aplicavam-se ao trabalho. Mal
viravam as costas, voltavam a taramelar. As mãos não paravam, as
línguas não paravam. Nessas conversas intermináveis, de linguagem
solta e assuntos crus, Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália,
Jurete, Deolinda — foram mestras. O mundo acabou de se desvendar.
Leniza perdeu o tom ingênuo que ainda podia ter. Ganhou um jogar de
corpo que convida, um quebrar de olhos que promete tudo, à toa,
gratuitamente. Modificou-se o timbre de sua voz. Ficou mais quente.
A própria inteligência se transformou. Tornou-se mais aguda, mais
trepidamente.
(REBELO, M. A Estrela Sobe.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.)
1. (2018) – O romance, de 1939, traz à cena tipos e
situações que espelham o Rio de Janeiro daquela
década. No fragmento, o narrador delineia esse
contexto centrado no
a) julgamento da mulher fora do espaço doméstico.
b) relato sobre as condições de trabalho no Estado Novo.
c) destaque a grupos populares na condição de protagonistas.
d) processo de inclusão do palavrão nos hábitos de linguagem.
e) vínculo entre as transformações urbanas e os papéis femininos.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] No texto, evidencia-se a relação entre as mudanças
urbanas e os papéis femininos desempenhados. O narrador
apresenta um cenário típico da década de 30 do século XX no Rio
de Janeiro, utilizando personagens femininas em um ambiente
profissional em que as mulheres representam a força de trabalho.
Resposta: E 
Texto para o teste 2.
Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na
silenciosa baixada que se perde de vista. Somente uma árvore, grande
e esgalhada mas com pouquíssimas folhas, abre-se em farrapos de
sombra. Único ser nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto
está lanhado de vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano
desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele — tudo é de uma aridez
sufocante. Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode.
Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela
baixada largando para trás suas noções de si mesma. Não tem retratos
na memória. Desapossada e despojada, não se abate em
autoacusações e remorsos. Vive.
Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se
derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a
claridade esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se
cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado.
Mas os traços de sua sombracaminham e, tornando-se mais longos e
finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore,
com os quais se enlaçam.
(FRÓES, L. Vertigens: obra reunida.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998.)
2. (2018) – Na apresentação da paisagem e da
personagem, o narrador estabelece uma correlação
de sentidos em que esses elementos se
entrelaçam. Nesse processo, a condição humana configura-se
a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão.
b) fortalecida pela adversidade extensiva à terra e aos seres vivos.
c) redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local.
d) imersa num drama existencial de identidade e de origem.
e) imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O enunciado descreve uma mulher magra, ossuda,
“desapossada e despojada” que está “largando para trás suas
noções de si mesma”. Essa figura é colocada em uma paisagem
de “tufos secos de capim empedrados” e com uma única árvore
“esgalhada mas com pouquíssimas folhas”. Constrói-se, assim,
uma fusão, um amálgama entre personagem e ambiente, pois
ambos são marcados por desertificação, ausência, carência,
solidão.
Resposta: A 
MÓDULO 24 Análise de Texto
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Texto para o teste 3.
DIA 20/10
É preciso não beber mais. Não é preciso sentir vontade de beber e
não beber: é preciso não sentir vontade de beber. É preciso não dar de
comer aos urubus. É preciso fechar para balanço e reabrir. É preciso
não dar de comer aos urubus. Nem esperanças aos urubus. É preciso
sacudir a poeira. É preciso poder beber sem se oferecer em
holocausto. É preciso. É preciso não morrer por enquanto. É preciso
sobreviver para verificar. Não pensar mais na solidão de Rogério, e
deixá-lo. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso enquanto é
tempo não morrer na via pública.
(TORQUATO NETO. 
In: MENDONÇA, J. (Org.). Poesia (Im)popular Brasileira. 
São Bernardo do Campo: Lamparina Luminosa, 2012.)
3. (2018) – O processo de construção do texto formata
uma mensagem por ele dimensionada, uma vez que
a) configura o estreitamento da linguagem poética.
b) reflete as lacunas da lucidez em desconstrução.
c) projeta a persistência das emoções reprimidas.
d) repercute a consciência da agonia antecipada.
e) revela a fragmentação das relações humanas.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O emprego da expressão anafórica “é preciso”
revela a permanência de sentimentos reprimidos e a necessidade
de continuar a reprimi-los.
Resposta: C
Texto para o teste 4.
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a 
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás 
de casa. 
Passou um homem e disse: Essa volta que o 
rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
(BARROS, M. O Livro das Ignorãças.
Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.)
4. (2018) – O sujeito poético questiona o uso do
vocábulo “enseada” porque a
a) terminologia mencionada é incorreta.
b) nomeação minimiza a percepção subjetiva.
c) palavra é aplicada a outro espaço geográfico.
d) designação atribuída ao termo é desconhecida.
e) definição modifica o significado do termo no dicionário.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O eu lírico questiona a minimização da “percepção
subjetiva” que se manifesta na expressão “cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa”. Tal minimização ocorre quando um
homem denomina tecnicamente (“enseada”) o espaço geográfico
mencionado no poema.
Resposta: B
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Texto para o teste 5.
A CASA DE VIDRO
Houve protestos.
Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas
aprenderam malabarismos incríveis e algumas viajavam pelo mundo
exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a maioria,
não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor
prender essa gente — havia quem dissesse.) 
Houve protestos. 
Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e
abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que
sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! 
Houve protestos. 
Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de
assaltos) porque precisamos combater a inflação e, como se sabe,
quando os salários estão acima do índice de produtividade eles se
tornam altamente inflacionários, de modo que. 
Houve protestos.
Proibiram os protestos.
E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de
Vidro, para acabar com aquele ódio.
(ÂNGELO, I. A Casa de Vidro.
São Paulo: Círculo do Livro, 1985.)
5. (2018) – Publicado em 1979, o texto compartilha
com outras obras da literatura brasileira escritas no
período as marcas do contexto em que foi
produzido, como a
a) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de
liberdade de expressão característica da época.
b) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos
de revolta em relação ao governo instituído.
c) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em
relação à situação social e política do país.
d) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama
da população brasileira durante o Regime Militar.
e) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial
para destacar o autoritarismo do momento histórico.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] O texto vai ao encontro de outras obras da literatura
brasileira que empregam também metáforas e ironias para
retratar a repressão política e cultural desse período da história do
Brasil.
Resposta: C
Texto para o teste 6.
Eu sobrevivi do nada, do nada
Eu não existia
Não tinha uma existência
Não tinha uma matéria
Comecei a existir com quinhentos milhões e quinhentos mil anos
Logo de uma vez, já velha
Eu não nasci criança, nasci já velha
Depois é que eu virei criança
E agora continuei velha
Me transformei novamente numa velha
Voltei ao que eu era, uma velha
(PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org.). 
Reino dos Bichos e dos Animais É Meu Nome. 
Rio de Janeiro: Azougue, 2009.)
6. (2018) – Nesse poema de Stela do Patrocínio, a
singularidade da expressão lírica manifesta-se na 
a) representação da infância, redimensionada no resgate da memória.
b) associação de imagens desconexas, articuladas por uma fala
delirante.
c) expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências de
alteridade.
d) incorporação de elementos fantásticos, explicitada por versos
incoerentes.
e) transgressão à razão, ecoada na desconstrução de referências
temporais.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018] A singularidade do poema manifesta-se por meio da
quebra da expectativa contida nas referências temporais não
plausíveis.
Resposta: E
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Texto para o teste 7.
QUEBRANTO
às vezes sou o policial que me suspeito
me peço documentos
e mesmo de posse deles
me prendo e me dou porrada
às vezes sou o porteiro
não me deixando entrar em mim mesmo
a não ser
pela porta de serviço
(...)
às vezes faço questão de não me ver
e entupido com a visão deles
sinto-me a miséria concebida como um eterno
começo
fecho-me o cerco
sendo o gesto que me nego
a pinga que me bebo e me embebedo
o dedo que me aponto
e denuncio
o ponto em que me entrego.
às vezes!...
(CUTI. Negroesia.
Belo Horizonte: Mazza, 2007.)
7. (2018) – Na literatura de temática negra produzida
no Brasil, é recorrente a presença de elementos que
traduzem experiências históricas de preconceito e
violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico
a) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.
b) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
d) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
e) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária.
RESOLUÇÃO:
[ENEM-2018]Por meio da anáfora “às vezes”, o eu poemático, um
afrodescendente, enumera atitudes que seleciona no decorrer do
tempo e que pertencem ao discurso do seu opressor: suspeitar do
negro e agir com violência contra ele, interditar-lhe o acesso a
caminhos de entrada e tratá-lo como invisível.
Resposta: A
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1. (FUVEST-2019) – Examine o cartum.
ITURRUSGARAI, Adão. A vida como ela yeah. 
Folha de S. Paulo, ago.2018.
O efeito de humor que se obtém no cartum decorre, principalmente,
a) da expressão facial da personagem.
b) do uso de uma ferramenta fora de contexto.
c) da situação rotineira exposta pela imagem.
d) da ambiguidade presente na expressão “quebre a cara”.
e) do emprego de linguagem popular.
RESOLUÇÃO:
A tirinha de Adão Iturrusgarai constrói o sentido de humor através
da quebra de expectativa e da ambi guidade. A quebra da
expectativa ocorre em função da alteração do aviso comum que
alerta para o uso de recursos de segurança: “Em caso de
emergência, quebre o vidro”, para “em caso de emergência, quebre
a cara”. A ambiguidade está na expressão “quebrar a cara”, que
denotativamente significa “estraçalhar o rosto” e conotativamente
significa “decepcionar-se”. 
Resposta: D
Texto para a questão 2.
2. (FUVEST)
a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto
emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta.
RESOLUÇÃO:
O trecho que apresenta duplo sentido é “Não posso me queixar”,
que pode ser entendido de duas formas: “não tenho de que me
queixar, estou satisfeito”, ou “não tenho permissão para me
queixar, pois posso ser punido caso me manifeste”.
b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até “queixar”),
pondo no plural a palavra “cidadão” e fazendo as modificações
necessárias.
RESOLUÇÃO:
Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o
que acham de seu país, eles respondem, sem hesitação: Não
podemos nos queixar.
3. (FGV-2019) – Das frases abaixo, a única a que NÃO se aplica o
defeito de redação indicado entre parênteses é:
a) No Chile, há tolerância zero com o consumo de álcool e dirigir. (Falta
de paralelismo)
b) A obra não será interrompida em hipótese alguma, a menos que
ocorra uma catástrofe. (Incoerência)
c) Em nota, a empresa afirmou que preza o compromisso com a
preservação da natureza. (Desvio de regência)
d) O ministro declarou que tem uma alternativa ao voto impresso na
manga. (Ambiguidade)
e) Ninguém pode negar que é notório a presença de preconceito
étnico em nosso país. (Desvio de concor dância)
RESOLUÇÃO:
O único período a não apresentar um desvio da norma culta
ocorre na alternativa C, na qual afirma-se conter erroneamente
um desvio de regência. O verbo “prezar”, no sentido de valorizar,
é transitivo direto e, portanto, não rege preposição. 
Resposta: C
DITADURA / DEMOCRACIA
A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que
numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito.
Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que
acha de seu país, ele responde, sem hesitação: “Não posso me
queixar”.
(Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos)
MÓDULO 19 Ambiguidade
FRENTE 4Morfologia e Redação
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4. (FUVEST-TRANSF-2019) – Das frases abaixo, a única a que não
se aplica o defeito de redação indicado entre parênteses é:
a) O livro sobre o compositor Adoniran Barbosa está infestado de
fotos raras. (Inadequação vocabular).
b) Em vários países, inclusive o Brasil, o desenvolvimento econômico
sobrepõe-se, com frequência, sobre o progresso social.
(Redundância).
c) É fácil perceber que, na sociedade brasileira, o descaso com o
próximo nunca foi tão patente como agora. (Incoerência).
d) Lista de vídeos reúne buldogue expulsando urso e outros animais
corajosos. (Ambiguidade).
e) A ideologia de nosso partido, como a concebo, basear-se-á no
interesse do povo. (Cacofonia ou som desagradável).
RESOLUÇÃO:
Em a, “infestado” tem conotação negativa, o que não se aplica ao
contexto; em b, a redundância ocorre em “sobrepõe-se...sobre”:
em d, não é possível saber se “outros animais corajosos” refere-
se a “buldogue” ou “urso”; em e, o trecho “como a concebo”
forma a cacofonia “como-a com sebo”. Resposta: C
Leia a tira para responder à questão 5.
(Adão Iturrusgarai. A vida como ela yeah. 
Folha de São Paulo, 23.09.2017)
5. (BARRO BRANCO) – Entre os fatores determinantes do humor
da tira, está
a) a crítica ao descaso dos presos, quando a personagem usa sua
esperteza para viver o sentido pleno da palavra “liberdade”.
b) a impossibilidade de a personagem conseguir fugir e, assim, dar o real
sentido ao título da tira.
c) a oposição entre a ideia transmitida pela palavra “levar” e a atitude da
personagem ao final da história.
d) a quebra da expectativa ao final da história, considerando-se o sentido
ambíguo presente no título da tira.
e) o entendimento da palavra “conhecimento”, como equivalente à ideia
de privação de liberdade.
RESOLUÇÃO:
O título da tira e o primeiro quadrinho sugerem um sentido amplo
para a palavra liberdade, obtido por meio do conhecimento adquirido
pela leitura. No segundo quadrinho, essa expectativa é quebrada,
uma vez que os livros servem como escada para o prisioneiro fugir e
alcançar, assim, a sua desejada liberdade. 
Resposta: D
6. (FUVEST) – Leia a seguinte mensagem publicitária de uma
empresa da área de logística: 
a) Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título da
mensagem, ao emprego de expressão com duplo sentido. Indi que
essa expressão e explique sucintamente. 
RESOLUÇÃO:
A expressão que apresenta duplo sentido é “andar na linha”, que
tanto pode referir-se a transportar sobre trilhos, quanto a agir
corretamente, res pei tando os princípios éticos e morais.
b) Segundo o anúncio, uma das vantagens do produto (transporte
ferroviário) nele oferecido é o fato de esse produto ser
“sustentável”. Cite um motivo que justi fique tal afirmação. 
RESOLUÇÃO:
A sustentabilidade está relacionada com o desen vol vi mento
econômico e material, minimizando a agressão ao meio
ambiente. Dessa forma, o modal ferroviário é sustentável porque
a quanti dade de CO2 liberada é menor do que a de outros meios
de transporte. 
Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto
alimentício:
7. (FUVEST) – Procurando dar maior expressividade ao texto, seu autor
a) serve-se do procedimento textual da sinonímia.
b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos.
c) explora o caráter polissêmico das palavras.
d) mescla as linguagens científica e jornalística.
e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos contrários.
RESOLUÇÃO:
A polissemia ocorre com a palavra natureza, empre ga da no
sentido de “conjunto de elementos do mundo natural” (“o
melhor da natureza”) e “conjunto de ten dências que regem o
comportamento do indivíduo”.
Resposta: C
A gente anda na linha para levar sua empresa mais longe 
Mudamos o jeito de transportar contêineres no Brasil e Mercosul.
Através do modal ferroviário, oferecemos soluções logísticas
econômicas, seguras e sustentáveis. 
EM RESPEITO A SUA NATUREZA, SÓ TRABALHAMOS 
COM O MELHOR DA NATUREZA
Selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até
a sua casa. Porque faz parte da natureza dos nossos consumidores
querer produtos saborosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis.
(www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado.)
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8. (FGV-ECON-2018) – Leia a tira.
(Fernando Gonsales. Níquel Náusea. 
Folha de S.Paulo, 05.09.2017)
O efeito de humor na tira decorre, entre outros fatores,
a) do emprego figurado do termo “magníficos”, para reforçar o
entusiasmo do homem diante de sua descoberta.
b) do fato de o homem expressar seu desconhecimento em relação
aos ossos por meio de uma fraseinterrogativa.
c) do fato de o homem empregar a palavra “animal” diante da ossada,
sem saber se, realmente, ela era parte de algum.
d) da agressividade do cão, cujo rosnar não é compreendido, embora
represente uma ameaça à segurança dos dois homens.
e) do duplo sentido do verbo “pertencer”, revelado pela reação do cão
ao gesto de apropriação do osso pelo homem.
RESOLUÇÃO:
A tirinha tem como personagens dois paleontólogos e um deles
encontra ossos em uma escavação. Ao perguntar ao outro a quem
deveria “pertencer” o osso que tinha nas mãos, aparece um
cachorro que rosna, reivindicando o osso. O estudioso decide
rapidamente que o osso “pertence” ao cão. Assim, o humor da
tirinha consiste no emprego ambíguo do verbo “pertencer”.
Resposta: E
TEXTO I
Criatividade em publicidade: teorias e reflexões
Resumo: O presente artigo aborda uma questão pri mor dial na
publicidade: a criatividade. Apesar de acla mada pelos departamentos
de criação das agências, devemos ter a consciência de que nem todo
anúncio é, de fato, criativo. A partir do resgate teórico, no qual os con -
ceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se esta belecer a com -
preensão dos temas. Para elucidar tais ques tões, é ana lisada uma
campanha impressa da marca XXXX. As re flexões apontam que a
publicidade criativa é essen cialmente simples e apresenta uma
releitura do cotidiano.
DEPEXE, S.D. Travessias: Pesquisas em Educação. Cultura,
Linguagem e Artes, n. 2, 2008.
TEXTO II 
Homenagem ao Dia das Mães 2012. Disponível em:
www.comunicacao.com. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado).
9. (2017) – Os dois textos apresentados versam
sobre o tema cria tividade. O Texto I é um resumo
de caráter científico e o Texto II, uma homenagem
promovida por um site de publicidade. De que maneira o Texto II
exemplifica o conceito de criatividade em publicidade apresentado no
Texto l?
a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus filhos.
b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu
trabalho de criar os filhos.
c) Explorando a polissemia do termo “criação”.
d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples.
e) Utilizando recursos gráficos diversificados.
RESOLUÇÃO:
O texto II explora a polissemia da palavra “criação”, tanto na
acepção de “originalidade de algo”, quanto no sentido de
“geração materna” (gerar, criar).
Resposta: C
13 de maio dia das mães
NÍQUEL NÁUSEA - Fernando Gonsales
QUE OSSOS MAGNÍFICOS!
A QUE ANIMAL ELES PERTENCEM?
GRRR
NÃO PRECISA
RESPONDER!
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LLeeiittuurraa
OObbrriiggaattóórriiaa
Tema de redação: ENEM 2018
TEXTOS MOTIVADORES
TEXTO I
Às segundas-feitas pela manhã, os usuários de um serviço de música digital recebem uma lista personalizada de
músicas que lhes permite descobrir novidades. Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, este
cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma máquina de
sugestões que não costuma falhar. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evolução e usos aplicados ao
consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de vídeo on-line começam a desenhar suas
séries de sucesso rastreando o banco de dados gerado por todos os movimentos dos usuários para analisar o que
os satisfaz. O algoritmo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor,
que pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis. Dessa forma, a filtragem de informação feita pelas
redes sociais ou pelos sistemas de busca pode moldar nossa maneira de pensar. E esse é o problema principal: a
ilusão de liberdade de escolha que muitas vezes é gerada pelos algoritmos.
Verdú, Daniel. O gosto na era do algoritmo. Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 jun. 2018 (Adaptado).
TEXTO II
Nos sistemas dos gigantes da internet, a filtragem de dados é transferida para um exército de moderadores em
empresas localizadas do Oriente Médio ao Sul da Ásia, que têm um papel importante no controle daquilo que
deve ser eliminado da rede social, a partir de sinalizações dos usuários.
Mas a informação é então processada por um algoritmo, que tem a decisão final. Os algoritmos são literais. Em
poucas palavras, são uma opinião embrulhada em código. E estamos caminhando para um estágio em que é a
máquina que decide qual notícia deve ou não ser lida. 
PEPE ESCOBAR. A silenciosa ditadura do algoritmo. Disponível em: http://outraspalavras.net. Acesso em: 5 jun. 2017. (Adaptado).
TEXTO III
TEXTO IV 
Mudanças sutis nas informações às quais somos expostos
podem transformar nosso comportamento. As redes tem
selecionado as notícias sob títulos chamativos como
“trending topics” ou critérios como “relevância”. Mas nós
praticamente não sabemos como isso tudo é filtrado.
Quanto mais informações relevantes tivermos nas pontas
dos dedos, melhor equipados estamos para tomar decisões.
No entanto, surgem algumas tensões fundamentais: entre a
conveniência e a deliberação; entre o que o usuário deseja
e o que é melhor para ele; entre a transparência e o lado
comercial. Quanto mais os sistemas souberem sobre você
em comparação ao que você sabe sobre eles, há mais riscos
de suas escolhas se tornarem apenas uma série de reações a “cutucadas” invisíveis. O que está em jogo não é tanto a
questão “homem versus máquina”, mas sim a disputa “decisão informada versus obediência influenciada”. 
CHATFIELD, Tom. Como a Internet infuencia secretamente nossas escolhas. Disponivel em: www. bbc.com .
Acesso em 3 jun 2017 (adaptado)
Utilização da Internet
64,7% das pessoas de 10 anos ou mais de idade utilizaram a internet.
63,8% 65,5%
Cerca de85% dos jovens de 18 a 24 anos de idade e 25%das pessoas
de 60 anos ou mais de idade utilizaram a internet.
Finalidade do acesso à Internet (%)
94,2
73,3
76,4
69,3
Enviar ou receber
mensagens de texto,
voz ou imagens por
aplicativos diferentes
de e-mail
Conversar por
chamada de voz
ou vídeo
Assistir a vídeos,
inclusive programas,
séries e filmes
Enviar ou
receber e-mails
(correio eletrônico)
@
Internet no Brasil em 2016. Disponível em:www.ibge.gov.br.
Acessio em 18 jun. 2018 adaptado.
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O tema de redação do ENEM 2018 convidou os candidatos a escrever sobre “Manipulação do comportamento do
usuário pelo controle de dados na internet”, assunto muito divulgado recentemente pela mídia. 
O participante contou com quatro textos motivadores que deveriam estimular sua reflexão. O primeiro versava sobre
aplicativos e redes sociais com cérebro artificial que conseguem traçar um perfil cultural do seu usuário e, a partir dessa
análise, selecionar um universo cultural adequado a seu gosto. Questiona-se, assim, a liberdade de escolha do indivíduo,
uma vez que algoritmos selecionam previamente o conteúdo que molda sua maneira de pensar. Já no segundo texto, é
apresentado o modo como as informações são eliminadas das redes sociais, por meio de análise realizada por funcionários
de empresas estrangeiras, contudo são algoritmos que detêm a decisão final de quais informações são mantidas ou
retiradas. O terceiro texto é um infográfico que traça o perfil dos usuários da rede: a maioria são mulheres jovens, na faixa
de 18 a 24 anos de idade, e os recursos mais utilizados são os destinados à troca de mensagens e ao acesso a vídeos. Por
fim, o último texto retoma a necessidade de o indivíduo se instruir mais, pois, quanto mais conhecimento detiver sobre o
sistema de informação, mais equipado ele estará para tomar “decisões informadas” e não apenas obedecer de forma
“influenciada”.
PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema
“Manipulaçãodo comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.
INSTRUÇÕES: 
• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado. 
• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas. 
• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de
linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção. 
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que: 
• tiver até 7 (sete) linhas escritas. sendo considerada “texto insuficiente”. 
• fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo. 
• apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos. 
• apresentar parte do texto deliberadamente desconec tada do tema proposto.
Nome ______________________________________________________________________________________________ 
Unidade ____________________________________________________________ 3.ª Série – Turma: ______________
Manhã Tarde Matrícula 
Prática de Redação 9
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múltiplos recursos, sendo um exemplo os jogos de questionários (quiz), que traçam perfil dos usuários com perguntas que
são respondidas ingenuamente, sem que se tenha cons ciência de sua utilização.
Seria possível relembrar que, a princípio, esse recurso foi desenvolvido para fins comerciais, com o intuito de
direcionar publicidade de produtos e serviços ao público alvo. Essa coleta de dados compor tamentais serviu
posteriormente para correlacionar o uso dos algoritmos à manipulação política e ideo lógico-cultural. 
Um caso emblemático foi o vazamento de dados coletados pelo Facebook e analisados pela empresa Cambridge
Analytca, que direcionou conteúdo para influenciar as eleições presidenciais norte-ame ricanas em 2016.
Os escândalos se difundiram pelo mundo, inclusive no Brasil, com a divulgação não autorizada de dados pessoais de
milhões de clientes. Muitos se aproveitaram desses dados para divulgação de notícias falsas a usuários que
demonstrassem um perfil comportamental passível de ser influenciado pelas “Fake News”, o que acarretou uma crise de
confiabilidade nas fontes de informações, inclusive na mídia tradicional.
O desafio para o candidato era não tangenciar o te ma, discutindo apenas “Fake News” ou a manipulação, sem
mencionar ou analisar o papel da internet no problema. Possíveis propostas de intervenção poderiam considerar o Marco
Civil da Internet de 2014 e mecanismos para fazer valer a legislação que consta nesse documento; estratégias para
responsabilizar os provedores pela proteção dos dados de seus usuários; ampliação do número de delegacias para crimes
virtuais, assim como aumentar a contratação de funcionários para torná-las mais efetivas. Ainda seria possível apontar a
necessidade da formação crítica do cidadão, capacitando-o a discer nir a vera cidade do que é postado na rede, como
também as consequências desse compartilhamento para a socie dade. 
Competência Critério Peso Nota atribuída
1 Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita. 2
2
Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das 
várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro 
dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
2
3 Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. 2
4 Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticosnecessários para a articulação das ideias (coesão e coerência). 2
5 Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado,demonstrando respeito aos direitos humanos. 2
Nome do(a) corretor(a): _______________________________________________
Critérios ENEM
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A vírgula é usada para indicar a separação entre termos inde pen dentes entre si, quer no período, quer na oração.
Por indicar o que já está se parado, a vírgula não pode ser em pregada entre os termos que mantêm entre si uma estreita
ligação. Seria erro grave, portanto, colocá-la entre
• o sujeito e o verbo:
Cada instante da vida é um passo rumo à morte. (Corneille)
sujeito verbo
• o verbo e seu complemento:
A prosperidade faz poucos amigos. (Vauvenargues)
verbo complemento 
verbal
• o nome e seu adjunto adnominal ou complemento nominal:
A mais nobre missão do ser humano é prestar sua ajuda ao semelhante... (Sófocles)
adjunto nome adjunto nome complemento 
adnominal adnominal nominal
• a oração subordinada substantiva e a oração principal:
O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. (Almirante Barroso)
oração principal oração subordinada substantiva
Quem não gosta do Brasil não me interessa. (Gilberto Amado)
oração subordinada oração principal
substantiva
MÓDULOS 20 e 21 Pontuação – I e II
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1. USA-SE VÍRGULA PARA 
SEPARAR:
a) termos que exercem a
mesma função sintática: “Ela tem
sua clarici da de, seus caminhos, suas
escadas, seus andaimes.” (Ce cí lia
Meireles);
b) orações coordenadas as -
sindéticas: “Examinou o pol va rinho
e o chumbeiro, pensou na via gem,
estremeceu.” (Graciliano Ra mos);
c) orações coordenadas sin dé -
ticas, salvo as in tro du zi das pela
conjunção e: “Ces saram as buzinas,
mas prosseguia o alarido nas ruas.”
“O último (amor) é que é o
verdadeiro, porque é o único que não
muda.” (Manuel Antônio de Almeida);
d) aposto explicativo: “Co nhe -
cia também o marido, seu Ra malho,
sujeito calado, sério, as má tico,
eletricista da Nordeste.” (Gra ciliano
Ramos);
e) pleonasmo, polissíndeto e
repetições: “Tornou a andar, a andar,
a andar.” (Machado de Assis);
f) Vocativo: “Dom Casmurro,
do mingo vou jantar com você.” (Ma -
chado de Assis);
g) orações subordinadas ad -
jetivas explica tivas: “Cal ça va
sapatos de duraque, rasos e ve lhos, a
que ela mesma dera alguns pontos.”
(Machado de Assis);
h) orações intercala das: “A
rosa, disse o Gênio, é a tua infância.”
(Augusto Meyer);
i) orações subordinadas ad -
verbiais des lo cadas: “Assim como
a abelha fabrica mel no co ra ção negro
do jacarandá, a doçura es tá no peito
do mais valente guer reiro.” (José de
Alencar);
j) nas datas, o nome do lugar:
“São Paulo, 11 de dezembro de
1977.”;
l) partículas e expressões de
explicação, correção, con tinuação,
conclusão, conces são: “Sairá
amanhã, aliás, depois de amanhã.”;
m) para indicar, às vezes, a
elipse do verbo: “Em frente, um
gramal vastíssimo.” (Raul Pompeia).
2. DOIS-PONTOS
Usam-se:
a) em enumerações expli -
cativas: “De vez em quan do o olhar
distraído esbarra numa novidade:
ban ga lô em construção, obras na
calçada, ou apenas um pa pel na vi -
draça...” (Augusto Meyer);
b) para anunciar citações:
“Murmura a relva: ‘que suave raio!;’ /
Responde o ramo: ‘como a luz é
meiga!’” (Castro Alves);
c) para indicar esclare ci mento,
síntese, con se quência do que foi
dito: “Não és bom, nem és mau: és
triste e humano...” (Olavo Bilac).
3. PONTO-E-VÍRGULA
Usa-se:
a) para anunciar pausas mais
fortes: “Os dois primeiros al vitres
foram desprezados por im pra ticáveis;
Ernesto não tinha dinheiro nem
crédito tão alto.” (Machado de Assis); 
b) para separar as adver sa -
tivas, enfati zan do o contraste:
“Não se disse mais nada; mas de
noite Lobo Neves insistiu no
projeto.” (Machado de Assis);
c) para separar os diversos
itens de enun cia dos enume rativos
(em leis, decretos, por ta rias,
regula men tos etc.).
4. PONTO FINAL
Usa-se para:
— denotar maior pausa,
encerramento, períodos que
terminem por oração que não se ja
interrogativa direta ou
exclamativa:
“O retratomostra uns olhos re -
dondos, que me acompanham para
todos os lados, efeito de uma pintura
que me assombrava em pequeno.”
(Ma chado de Assis, Dom Casmurro).
5. PONTO DE INTERROGAÇÃO
Usa-se:
a) nas orações interroga ti vas
diretas: “Quem sou? Para onde vou?
Qual minha origem?” (Augusto dos
An jos);
b) no diálogo, sozinho ou
acompanhado de excla ma ção para
expressar dúvida:
“– Conheceu, gente, o que é
sangue de Peixoto?!” (Guimarães
Rosa).
6. RETICÊNCIAS
Usam-se para denotar hesitação,
interrupção do pen samento:
“Sei que você fez promessa...
mas uma promessa assim... não
sei... Creio que, bem pensado... Você
acha que, prima Justina?” (Machado
de Assis).
7. ASPAS
Usam-se para ressaltar expres -
sões ou apontar vo cá bu lo com es -
tran geirismo ou gíria e nas citações:
– “Me passe” os cobres... é a
fórmula de uma co bran ça amigável.
(Júlio Ribeiro).
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MÓDULO 20
1. Faça a associação correta, considerando o emprego da vírgula,
para separar:
a) termos de mesma função (coordenados entre si, enumeração);
b) vocativo;
c) aposto explicativo;
d) adjunto adverbial deslocado;
e) complemento verbal anteposto e pleonástico;
f) palavras e expressões explicativas, corretivas;
g) as palavras sim e não no início da frase;
h) elipse de verbo já empregado (zeugma).
( c ) “O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz...”
(Guimarães Rosa)
( d ) “Na claridade do primeiro alvorecer, levantou-se.” (José
Saramago) 
( b ) “D. Glória, a Senhora persiste na ideia de meter o nosso
Bentinho no seminário?” (Machado de Assis)
( g ) “Sim, ela estava mais elegante...” (Rubem Braga)
( a ) “Quaresma convalesce longamente, demoradamente,
melancolicamente.” (Lima Barreto)
( h ) “A inocência é transparente; a malícia, opaca e tene -
brosa.” (Aníbal Machado)
( f ) “Será uma boa mãe de família segundo a doutrina de
alguns padres-mestres da civilização, isto é, fecunda e
ignorante.” (Machado de Assis)
( e ) “Os sinos, já não há mais quem os toque.” (Alexandre
Herculano)
( h ) “Poeta sou; pai, pouco; irmão mais.” (Manuel Bandeira)
( g ) “Não, não direi que assisti às alvoradas do romantismo...”
(Machado de Assis)
( a ) “Nulo passado, escasso presente, tristíssimo por vir.”
(Machado de Assis) 
( b ) “Não nos censures, piloto de má sorte, não se navegam
corações como os outros mares deste mundo.” (Machado
de Assis)
( d ) “A verdade é que, sem acomodações com o céu, este
mundo seria insuportável.” (Machado de Assis)
2. Faça a associação correta, considerando o emprego da vírgula,
para separar:
a) oração coordenada assindética;
b) oração coordenada sindética;
c) oração adverbial deslocada;
d) oração subordinada adjetiva explicativa;
e) oração reduzida;
f) oração intercalada;
g) polissíndeto.
( b ) “Não és filha, mas hóspede da terra.” (Olavo Bilac)
( a ) “Emagreceu, adoeceu, perdeu a mãe, enterrou-a por
subscrição...” (Machado de Assis)
( e ) “O alienista, vendo o efeito de suas palavras, reco nhe ceu
que era amigo do Quincas Borba...” (Machado de Assis)
( c ) “Quando a cavalgada chegou à margem da clareira, aí
se passava uma cena curiosa.” (José de Alencar)
( d ) “O retrato mostra uns olhos redondos, que me acompa -
nham para todos os lados, efeito de uma pintura que me
assombrava em pequeno.” (Machado de Assis)
( g ) “Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a
política que julgava existir, havia.” (Lima Barreto)
( b ) “O último [amor] é que é o verdadeiro, porque é o único
que não muda.” (Manuel Antônio de Almeida)
( g ) “Mas, infelizmente, para a quietação do Silvério, Jacinto
lançara raízes, e rijas, e amorosas raízes na sua rude
serra.” (Eça de Queirós)
( f ) “—É a ânsia de combater o tupinambá que volve o passo
do guerreiro para as bordas do mar, respondeu o cristão.”
(José de Alencar)
3. (ESPM) – Assinale a frase que apresente o melhor uso das
vírgulas:
a) Com o desenvolvimento econômico a participação dos serviços
sofisticados, aumenta e, em consequência, a participação da indús -
tria de transformação cai.
b) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços
sofisticados aumenta, e em consequência, a participação da indús -
tria de transformação cai.
c) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços
sofisticados aumenta, e, em consequência, a participação da indús -
tria de transformação cai.
d) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços
sofisticados aumenta, e, em consequência a participação da indús -
tria de transformação cai.
e) Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços
sofisticados aumenta e em consequência, a participação da indús -
tria de transformação, cai.
RESOLUÇÃO:
Resposta: C
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MÓDULO 21
1. (FUVEST)
a) Nos poemas transcritos, as preposições para e por estabelecem o
mesmo tipo de relação de sentido? Justifique sua resposta.
b) Sem alterar o sentido do texto de Mário Lago, trans creva-o em prosa,
em um único período, utilizando os sinais de pontuação adequa dos.
2. (FUVEST) – Considere a imagem abaixo, extraída da
apresentação do filme A Amazônia, que faz parte da campanha “A
natureza está falando”.
a) Por estar em primeira pessoa, o texto constitui exemplo de uma
determinada figura de linguagem. Identifique essa figura e explique
seu uso, tendo em vista o efeito que o filme visa alcançar.
RESOLUÇÃO:
O texto em primeira pessoa dá voz à floresta amazônica, o que
configura personificação ou prosopopeia. Seu discurso visa a
denunciar a destruição de seu ecossistema, sendo um expediente
retórico que promove a empatia com o leitor, tentando persuadi-
lo a posicionar-se a favor da proteção desse bioma. 
Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
(...)
(Marina Colasanti, Gargantas abertas)
Gosto e preciso de ti
Mas quero logo explicar
Não gosto porque preciso
Preciso sim, por gostar.
(Mário Lago, <www.encantosepaixoes.com.br>)
RESOLUÇÃO:
Não; nos textos transcritos, para indica finalidade e por, causa.
RESOLUÇÃO:
“Gosto e preciso de ti, mas quero logo explicar: não gosto
porque preciso; preciso, sim, por gostar.”
No áudio desse filme, a atriz Camila Pitanga interpreta o seguinte
texto:
Eu sou a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Eu
mando chuva quando vocês precisam. Eu mantenho seu clima
estável. Em minhas florestas, existem plantas que curam suas
doenças. Muitas delas vocês ainda nem descobriram. Mas vocês
estão tirando tudo de mim. A cada segundo, vocês cortam uma das
minhas árvores, enchem de sujeira os meus rios, colocam fogo, e eu
não posso mais proteger as pessoas que vivem aqui. Quanto mais
vocês tiram, menos eu tenho para oferecer. Menos água, menos
curas, menos oxigênio. Se eu morrer, vocês também morrem, mas
eu crescerei de novo...
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b) No referido áudio, é possível perceber, no final da locução da atriz,
uma entonação especial, representada na transcrição por meio de
reticências. Tendo em vista que uma das funções desse sinal de
pontuação é sugerir uma ideia não expressa que cabe ao leitor
inferir, identifique a ideia sugerida, neste caso.
RESOLUÇÃO:
As reticências são empregadas para suspender o pensamento e,
nesse caso, têm a função de deixar subentendida a ideia de que o
ser humano não sobreviverá sem a natureza. Ela, porém, tem a
capacidade de se recuperar.
3. (2018 – 2.a APLICAÇÃO)
Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados para organizar a
escrita e ajudar na compreensão da mensagem. No texto, o sentido
não é alterado em caso de substituição dos travessões por
a) aspas, para colocar em destaque a informação seguinte.
b) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de Davi Akkerman.c) reticências, para deixar subentendida a formação do especialista.
d) dois-pontos, para acrescentar uma informação introduzida
anteriormente.
e) ponto e vírgula, para enumerar informações fundamentais para o
desenvolvimento temático.
RESOLUÇÃO:
Os travessões, que podem ser substituídos por vírgulas sem
alterar o sentido, isolam o aposto, ou seja, uma expressão que
explica quem é Davi Akkman.
Resposta: B
4. (IBMEC) – Compare estes períodos:
A respeito do emprego de vírgulas, é correto afirmar:
a) Em I, a ausência de vírgulas cria o pressuposto de que ainda há
pessoas investindo na Bolsa de Valores.
b) Em II, a presença de vírgulas indica que somente alguns
investidores temiam ser vítimas da crise financeira.
c) A análise dos períodos permite afirmar que as vírgulas têm apenas
a função de demarcar pausas na leitura.
d) Em I, subentende-se que todos os investidores deixaram de aplicar
seu dinheiro no mercado de ações.
e) Em II, as vírgulas foram usadas para destacar a ideia de restrição,
presente na oração subordinada adjetiva.
Resposta: A
5. (UNIFESP) – A questão abaixo baseia-se no texto extraído de
Formação da Literatura Brasileira, de Antônio Cândido. 
Os espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com
a) indeterminados – síntese das informações prece dentes.
b) idênticos – ratificação das informações precedentes.
c) inexistentes – retificação de informação mal definida anteriormente.
d) distintos – explicação de informação anterior.
e) ocultos – citação.
6. (ESPM-2018) – A vírgula, antes do conetivo E, foi utilizada de
modo inadequado na opção:
a) Dólar encosta em R$3,17, e Bolsa encerra o dia perto da
estabilidade, após dúvida sobre arrecadação do governo.
b) Depois da desistência da ESPN Brasil de negociar com a Globo, os
canais SporTV, e agora também o canal da Fox, transmitirão a Copa
do Mundo da Rússia para o Brasil.
c) A Lua bloqueia a luminosidade do astro-rei; numa faixa que cruza os
Estados Unidos, esse alinhamento será perfeito, e o eclipse será total.
d) O comediante Jerry Lewis colecionou polêmicas, principalmente
relacionadas à comunidade gay, e uma fama de rabugento
incorrigível.
e) Procurador Geral da República denuncia senador acusado de
corrupção passiva, e lavagem de dinheiro na operação Zelotes.
Resposta: E
Física com a boca
Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do ventilador?
Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras. Quando você
não tem mais o que fazer e fica falando na frente dele, as ondas da
voz se propagam na direção contrária às do ventilador. Davi
Akkerman – presidente da Associação Brasileira para a Qualidade
Acústica – diz que isso causa o mismatch, nome bacana para o
desencontro entre as ondas. “O vento também contribui para a
distorção da voz, pelo fato de ser uma vibração que influencia no
som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a influência do vento na
propagação das ondas contribuem para distorcer sua bela voz.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).
I. Os investidores que temiam ser vítimas da crise global financeira
abandonaram o mercado de ações.
II. Os investidores, que temiam ser vítimas da crise global
financeira, abandonaram o mercado de ações.
Em – No Brasil, o homem de estudo, de ambição e de sala, que
provavelmente era, encontrou condições inteiramente novas. Ficou
talvez mais disponível, e o amor por Doroteia de Seixas o iniciou em
ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da prima vera
no outono. – a vírgula, no último período, separa orações coorde na -
das com sujeitos gramaticais ______________________; os dois-
pontos introduzem uma ___________________________ .
RESOLUÇÃO:
A vírgula foi empregada antes da conjunção coorde nativa e
porque o sujeito da oração por ela intro du zida (“o amor por
Doroteia de Seixas”) é diferente do sujeito da oração anterior
(“o homem de estudo”). Os dois-pontos foram empregados
porque a metáfora “o clássico flores cimento da primavera no
outono” explica a expressão “ordem nova de sentimentos”.
Resposta: D
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Texto para o teste 7.
7. (2016) – Os sinais de pontuação são elementos
com importantes funções para a progressão
temática. Nesse miniconto, as reticências foram
utilizadas para indicar 
a) uma fala hesi tante.
b) uma informação implícita.
c) uma situação incoerente.
d) a eliminação de uma ideia.
e) a interrupção de uma ação.
RESOLUÇÃO:
As reticências foram empregadas com o intuito de suspender uma
informação que ficou implícita: o policial se equivocou e matou
um inocente.
Resposta: B
Texto para a questão 8.
8. (UFAL) – Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos
formais da língua padrão culta.
a) O termo “vê-la-íamos” é traduzido por “vimos a verdade”.
b) O termo “Basta-nos” pode ser substituído por “Nos basta”.
c) A expressão “não se compreende” pode ser substituída por “não
compreende-se”.
d) O ponto e vírgula utilizado após a expressão “vê-la-íamos” pode ser
substituído por um ponto, sem causar mudança de sentido ao
texto.
e) O trecho “ser homem é saber que não se compreende” pode ser
reescrito da seguinte forma: “ser homem é saber, que não se
compreende”.
RESOLUÇÃO:
Pode ocorrer a substituição porque a oração seguinte “Tudo o
mais é sistema e arredores” é independente (coordenada).
Resposta: D
INSTRUCÃO: As questões de números 9 e 10 baseiam-se na tirinha.
9. (UNIFESP) – Considerando-se o texto de Walcyr Carrasco e
observando-se o comentário que a personagem Liberdade faz na
tirinha, é certo afirmar que ela se revoltará contra uma velhice que seja
a) semelhante àquela que o narrador concebera a partir de sua
educação, contrária ao que se viu na expo sição.
b) oposta à vivida pelas pessoas que se aposentam e passam a
lamentar pelo que não fizeram.
c) do mesmo tipo daquela vivenciada pela mãe de um amigo do
narrador, depois de enviuvar.
d) animada, como a da senhora na exposição, que comentou sobre o
vestido de veludo bordado.
e) cheia de ocupações e tarefas, como a da senhora de cabelos
grisalhos, disposta ainda a aprender.
RESOLUÇÃO: 
A personagem Liberdade almeja uma velhice que seja semelhante
àquela constatada nos idosos da expo sição e contrária àquela a
que o narrador do texto estava habituado.
Resposta: A
10. (UNIFESP) – No último quadrinho, obser vando-se a expressão de
Liberdade e o que ela diz — seja pela pontuação (???), seja pela
reiteração do verbo (sabe) —, sua atitude revela
a) medo e desespero.
b) ironia e melancolia.
c) indignação e agressividade.
d) humor e surpresa.
e) espanto e tristeza.
RESOLUÇÃO: 
O último quadrinho vale-se do recurso da repe tição – tanto do
sinal de pontuação quanto do verbo – para indicar a indignação e
agressividade da personagem Liberdade diante dos efeitos do
tempo.
Resposta: C
L.J.C.
— 5 tiros?
— É.
— Brincando de pegador?
— É. O PM pensou que...
— Hoje?
— Cedinho.
COELHO, M ln: FREIRE, M. (Org). Os cem menores contos
brasileiros da século. São Paulo: Ateliê Editorial. 2004.
Se conhecêssemos a verdade, vê-la-íamos; tudo o mais é
sistema e arredores. Basta-nos, se pensarmos, a incompreensi bi -
lidade do universo; querer compreendê-lo é ser menos que
homens, porque ser homem é saber que não se compreende.
PESSOA, Fernando. O livro do desassossego. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 117.
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Aplicações
1. (PUC)
As três primeiras vírgulas no trecho em destaque foram empregadas
para separar elementos que
a) não exercem a mesma função sintática. No caso, esses
elementos são, respectivamente, objeto direto, objeto indireto e
adjuntos adver biais – um de tempo e um de lugar.
b) não exercem a mesma função sintática. No caso, esses
elementos são, respectivamente, adjuntos adverbiais – um de
modo, um de lugar e dois de tempo.
c) exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos
são, respectivamente,adjuntos adverbiais – um de lugar e três de
tempo.
d) exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos
são, respectivamente, adjuntos adverbiais – um de tempo e três
de lugar.
e) exercem a mesma função sintática. No caso, esses elementos
são, respectivamente, adjuntos adverbiais de tempo.
RESOLUÇÃO:
As circunstâncias indicadas pelos adjuntos adverbiais em questão são
evidentemente de tempo (quando: “ontem”) e de lugar (onde: “em
Dungeons, na Cidade do Cabo, na África do Sul”).
Resposta: D
Texto para a questão 2.
2. (FGV) – Reescreva a frase, conforme as orientações: inicie-a
com “Eugênio”; introduza entre o sujeito e o verbo a oração indicativa
de tempo, substituindo o verbo “haver” por “fazer”. Realize os
ajustes necessários.
RESOLUÇÃO:
Eugênio, fazia já quatro anos, achava-se no seminário sem visitar sua
família.
3. (FGV) – Reescreva os trechos a seguir, extraídos e adaptados da
matéria Fabrique você mesmo (Época, 14.04.2014), adequando-os à
norma-padrão da língua portuguesa, considerando as informações
entre parênteses.
a) A evolução que trouxe-nos das cavernas para o mundo conectado
pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais
se valeram de um conserto de novas tecnologias e ideias.
(Ortografia e colocação pronominal)
RESOLUÇÃO:
A evolução que nos trouxe das cavernas para o mundo conectado
pela internet foi uma sequência de eventos complexos, os quais se
valeram de um concerto de novas tecnologias e ideias.
b) Com as tecnologias e ideias abriu-se um universo de
possibilidades foi assim com o arado que aumentou a produção
agrícola gerou excedentes e permitiu a criação de Estados e
impérios (Pontuação)
RESOLUÇÃO:
Com as tecnologias e ideias, abriu-se um universo de possibilidades.
Foi assim com o arado, que aumentou a produção agrícola, gerou
excedentes e permitiu a criação de Estados e impérios.
Texto para a questão 4.
4. (FATEC) – A organização sintática, na construção desse período,
foi possível porque as vírgulas empregadas separam 
a) o vocativo, termo que chama, evoca o interlocutor. 
b) o aposto, termo que explica o termo anterior. 
c) os predicativos do sujeito presentes na frase. 
d) os adjuntos adnominais e os vocativos. 
e) os termos de mesmo valor sintático. 
RESOLUÇÃO:
As vírgulas separam “termos de mesmo valor sintá tico”: adjuntos
adverbiais de assunto.
Resposta: E
5. (INSPER – MODELO ENEM) – Para divulgar a oferta de um plano
de ligações ilimitadas, uma operadora de telefonia móvel apresentou,
em seu anúncio publi citário, a seguinte frase:
Dentre as opções a seguir, a melhor substituição, no anúncio, para
“ASPAS” é 
a) trapaças. 
b) cobranças. 
c) frescuras. 
d) burocracia. 
e) limite.
Resposta: A
Água perigosa
O surfista sul-africano Frank Solomon participou de evento em
ondas gigantes realizado ontem, em Dungeons, na Cidade do
Cabo, na África do Sul, até o ano passado palco do principal
torneio da modalidade no continente.
Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário sem
visitar sua família.
E eu não quero ficar ouvindo falar de identidade cor po rativa,
marco regulatório, desenvolvimento organi za cio nal, demanda de
mercado, sinergia, estratégia, parâ metros, metas, foco, valores...
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Aplicações
Com base no texto, responda às questões 6 e 7.
6. (PUC) – Em relação ao sentido estabelecido por determi nadas
escolhas de palavras, é válido considerar que
a) o adjetivo claro com valor circunstancial de opinião e os substan -
tivos tibum e galera assi nalam informalidade para estabelecer
apro ximação com o leitor.
b) a escolha do adjetivo claro e dos substantivos tibum e galera
deve-se à idade de quem escreve e de quem lê.
c) a interjeição claro e os substantivos tibum e galera são empre -
gados para distanciar-se da informalidade.
d) a interjeição claro e os substantivos tibum e galera conferem
formalidade ao texto e estabelecem aproximação com o leitor.
e) o adjetivo claro, a onomatopeia tibum e o subs tantivo galera per -
tencem ao registro formal e conferem clareza ao texto.
RESOLUÇÃO: 
Claro (forma reduzida da expressão é claro), tibum e galera são
coloquia lismos típicos da língua portuguesa falada por jovens em
registro informal. A utilização desse tipo de léxico na escrita visa,
evidentemente, a conferir informalidade ao texto e, assim, “estabe -
lecer aproximação com o leitor”.
Resposta: A
7. (PUC) – Em relação ao emprego da conjunção e [subli nhada no
texto] e da pontuação, é correto afirmar que essa conjunção
a) assume valor de elemento meramente somatório e introduz
oração com sujeito igual ao da oração anterior; portanto a
colocação da vírgula antes da conjunção está errada.
b) liga duas orações e introduz oração com ideia de concessão;
portanto a vírgula antes da conjunção e está correta.
c) introduz oração com sujeito diferente do da oração anterior e,
além de adição, confere à segunda oração valor de conse quência;
portanto a vírgula antes da conjunção e está correta.
d) introduz oração com sujeito diferente do da oração anterior e
interliga duas orações com ideia de finalidade; a vírgula deveria
estar colocada depois da conjunção e.
e) estabelece valor meramente somatório e introduz oração com
sujeito igual ao da anterior; portanto a vírgula deveria estar
assinalada depois da conjunção e.
RESOLUÇÃO: 
O emprego da vírgula antes do e se justifica pelas razões expostas na
alternativa c: além da mudança de sujeito (o da primeira oração
coordenada pelo e é “autodepuração natural do rio”, o da segunda é
“a galera”), há o sentido de consequência na relação entre a limpeza
do rio (1.a oração) e a possibilidade de nadar nele (2.a oração). (Se o
sujeito das duas orações fosse o mesmo e se a relação da segunda
com a primeira fosse puramente aditiva, a vírgula não se justificaria.)
Resposta: C
Texto para o teste 8.
8. A literatura brasileira contemporânea tem abor -
dado, sob diferentes perspectivas, questões
relacionadas ao universo feminino. No frag men -
to, entre os recursos expressivos utilizados na construção da
narrativa, destaca-se a
a) repetição de “você”, que se refere ao interlocutor da personagem.
b) ausência de vírgulas, que marca o discurso irritado da personagem.
c) descrição minuciosa do espaço do trabalho, que se opõe ao da casa.
d) autoironia, que ameniza o sentimento de opressão da personagem.
e) ausência de metáforas, que é responsável pela objetividade do
texto.
Resposta: B
VAI DAR PRA NADAR NO TIETÊ UM DIA?
Provavelmente, não. Mesmo que a despoluição seja um
sucesso, dar um tibum no Tietê continuará sendo uma aventura
arriscada. Estamos falando, claro, da região em que o rio é um
tremendo nojo, próximo à cidade de São Paulo. Depois de
300 quilômetros, em Barra Bonita, a autodepuração natural do rio
já consegue eliminar boa parte das impurezas, e a galera nada no
Tietê sem problemas. Pelas bandas da capital, as braçadas
seguirão proibidas por uma razão bem simples: sairia muito caro
limpar o rio para a natação.
(Giovana Tizian, portal de perguntas Mundo Estranho da revista
SUPERMUNDO. Trecho adaptado e disponível em 
http://mundoestranho. abriI. com.
br/ambiente/pergunta_287238.shtm; 
acesso em 12/5/2009.)
AS DOZE CORES DO VERMELHO
Você volta para casa depois de ter ido jantar com sua amiga dos
olhos verdes. Verdes. Às vezes quando você sai do escritório você
quer se distrair um pouco. Você não suporta mais tem seu trabalho
de desenhista. Cópias plantas réguas milímetros nanquim compasso
360º. de cercado cerco. Antes de dormir você quer estudar para a
prova de história da arte mas sua menina menor tem febre e chama
você. A mão dela na sua mão é um peixe sem sol em irradiações
noturnas. Quentes ondas. Seu marido se aproxima os pés calçados
de meias nos chinelos folgados. Ele olha as horas nos dois relógios
de pulso. Ele acusa você de ter ficado fora de casa o dia todo até
tarde da noite enquanto a menina ardia em febre. Ponto e ponta. Dorperfume crescente...
(CUNHA, H. P. As doze cores do vermelho. 
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.)
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LLeeiittuurraa
OObbrriiggaattóórriiaa
Papel da Educação no Século XXI
Quanto mais progresso se cria, mais
se aumenta a desigualdade, e, a menos
que se declare uma moratória no avanço
tecnológico, o futuro promete a multipli -
cação acelerada de desiguais. Hoje as
revoluções industriais se sucedem mais
depressa que as fases da Lava Jato; na
verdade, ninguém sabe direito em qual
revolução, exatamente, estamos hoje.
Quarta? Quinta? O certo é que a cada
avanço mais gente se vê excluída dos
benefícios do progresso; nem todos têm
capacidade para ocupar um emprego no
Vale do Silício ou seus equivalentes
através do mundo. Os que não têm cacife
para isso se veem, cada vez mais,
relegados às ocupações menos atraentes,
mais frustrantes, mais mal remuneradas.
Profissões inteiras vão se tornando
obsoletas, em razão dos avanços da
inteligência artificial, da impressão em
terceira dimensão, da robotização e outras
mudanças desagregadoras do mundo
profissional como ele é hoje. Para que
pilotos de jato se os aviões voarão
sozinhos, e com muito maior segurança,
de Nova York a Tóquio? Para que médicos,
se o computador vai fazer um transplante
de coração melhor do que eles? Para que
marceneiros, se a impressão em 3D lhe
entrega sua cadeira pronta e sem nenhum
defeito?
É um mundo no qual só as pessoas
com alto grau de conhecimento serão
realmente cidadãos de primeira classe. Por
mais que as leis digam que todos são
iguais, e por mais que as elites pensantes
escrevam programas estabelecendo
regras de igualdade, as diferenças estarão
cada vez mais evidentes. 
(J. R. Guzzo, Veja, 16/01/2019). 
Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a
educação [no século XXI] deve organizar-se em torno de
quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a
vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do
conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os
instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder
agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim
de participar e cooperar com os outros, em todas as
atividades humanas; e, finalmente, aprender a ser, via
essencial que integra as três precedentes.
(OEIORS. J. Educação: um tesouro a descobrir. 
Relatório para a UNESCO da Comissão 
Internacional sobre Educação para o século XXI. 
São Paulo: Cortez, 1998, p. 89-90. Adaptado.)
A educação é instrumento de melhoria salarial e de
mobilida de social, mas isso não é automático. Não basta
simplesmente mais anos de escolaridade para assegurar a
mobilidade.
Vejamos o que está ocorrendo no Brasil: o nível médio de
escolaridade da população adulta é de pouco menos de
7 anos de estudo. Mas hoje mais de 80% dos jovens
concluem pelo menos o ensino fundamental, cuja duração é
de 9 anos, ou seja, as gerações já começam com uma
vantagem em relação às gerações anteriores. A cada ano,
quase 2 milhões de jovens concluem o ensino médio. Isso
significa que, para avançar, não basta caminhar com os
outros, é preciso algum diferencial.
(João Batista Oliveira. “Educação e mobilidade social”.
https://veja.abril.com.br, 18/12/2017. Adaptado.)
No Brasil, apesar da valorização do ensino técnico, mais da
metade dos alunos formados não atua na área em que se
especializou. É uma distorção que não se vê na Alemanha,
onde existe uma agência federal para identificar e antecipar
necessidades do mercado e assim direcionar de forma precisa
a oferta de cursos nas escolas técnicas, em vez de deixar que
essa tarefa complexa fique a cargo do próprio jovem. 
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Mas o que deve conter um plano nacional de inteli gência artificial? Ao menos quatro coisas. 
A primeira é um programa amplo de capacitação para lidar com inteligência artificial. É preciso formar uma geração de pessoas
capazes de pensar e implementar projetos nesse campo. Esse esforço vai do fundamental ao ensino superior. 
O segundo é institucionalizar essa política, em parceria com o setor privado e a comunidade científica. O Reino Unido, por exemplo,
criou agências de inovação para promover a integração entre os diversos setores, de forma ética e segura. Um exemplo é o Centre For
Data Ethics and Innovation.
O terceiro ponto é criar uma política nacional de gestão de dados, especialmente dados públicos. A matéria-prima que move a
inteligência artificial são volumes avassaladores de dados. Nesse sentido, trabalhar na interoperabilidade das bases de dados, na criação
de “data lakes” públicos e em uma estratégia para o tema é essencial. Tudo isso sem deixar de lado segurança e privacidade.
Por fim, é preciso trabalhar em “reskilling”, isto é, preparar o contingente de pessoas que podem perder seu emprego para novas
funções. 
Estamos vivendo uma primavera da inteligência artificial. Que irá se converter em inverno para todos os países despreparados para
lidar com o tema.
Ronaldo Lemos, advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
O aluno é convidado a escrever sobre o compromisso da escola na formação do jovem, preparando-o para o novo mercado de
trabalho e como fator determinante para a mobilidade social.
Cabe ao aluno questionar o papel da escola como formadora dos futuros profissionais, levando em consideração as grandes
transformações tecnológicas que podem tornar conteúdos obsoletos, o que dificultaria o ingresso dos jovens no mercado de trabalho.
Considerando as ideias apresentadas nos textos, como também outras informações que julgar perti -
nentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema: Qual o
papel da escola na formação do jovem para o mercado de trabalho do século XXI?
Instruções:
• A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
• Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível, e não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.
• Dê um título à sua redação.
Nome ______________________________________________________________________________________________ 
Unidade ____________________________________________________________ 3.ª Série – Turma: ______________
Manhã Tarde Matrícula 
Prática de Redação 10
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base nessa constatação, o candidato deveria repensar a escola conteudista, como a maioria das instituições de ensino atuais, e a
necessidade de estimular o jovem a se desenvolver intelectualmente, “aprender a conhecer”, a se relacionar socialmente com os outros
e consigo, de modo a promover o seu próprio bem estar e o da comunidade, tendo uma visão crítica que lhe permita ser um cidadão
consciente de suas necessidades. 
Critérios de correção UNESP/UNIFESP Peso Nota atribuída
Tema 3,5
Estrutura (gênero/tipo de texto e coerência) 3,5
Expressão (coesão e modalidade: aspectos
gramaticais e escolha lexical) 3,0
Nome do corretor: ___________________________________________
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A descrição é um texto, literário ou não, em que se
caracterizam seres, coisas e paisagens. A pormenorização
que individualiza o ser descrito é obtida pelo uso de
adjetivos, figuras de linguagem e verbos de estado ou
condição. A caracterização obedece a uma delimitação
espacial. Quase sempre a descrição vem mesclada a outras
modalidades, caracterizando uma personagem, detalhando
um cenário, um ambiente ou paisagem, dentro de um
romance, conto, crônica ou novela. A descrição pura
aparece geralmente como parte de um relatório técnico,
como no caso da descrição de peças de máquinas, órgãosdo corpo humano, funcionamento de determinados
aparelhos (descrição de processos ou funcional).
Elementos predominantes na descrição
• Frases nominais (sem verbo) ou orações em que
predominam verbos de estado ou condição (ser, estar,
ficar, permanecer etc.). 
Sol já meio de esguelha, sol das três horas. A areia, um
borralho de quente. A caatinga, um mundo perdido. Tudo,
tudo parado: parado e morto.
(Mário Palmério)
Efetivamente a rua era aquela; e o velho palácio estava
na minha frente. Era um palácio de trezentos anos, cor de
barro, que me parecia muito familiar quanto ao desenho de
sua alta porta, aos ornatos das colunas e ao lançamento da
escada do vestíbulo.
(Cecília Meireles)
• Frases enumerativas: sequência de nomes, geralmente
sem verbo:
A cama de ferro; a colcha branca, o travesseiro, com
fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro.
Uma mesa de pau, uma cadeira de pau, o tinteiro, papéis,
uma caneta. Quadro na parede.
(Érico Veríssimo)
• Figuras de linguagem: recursos expressivos,
geralmente em linguagem conotativa. As mais usadas na
descrição são a metáfora, a comparação, a prosopopeia, a
onomatopeia e a sinestesia.
O rio era aquele cantador de viola, em cuja alma se
refletia o batuque das estrelas nuas, perdidas no vácuo
milenarmente frio do espaço... Depois ele ia cantando isso
de perau em perau, de cachoeira em cachoeira...
(Bernardo Élis)
• Sensações: uso dos cinco sentidos, ou seja, das
percepções visuais, auditivas, gustativas, olfativa e táteis.
Os sons se sacodem, berram... Dentro dos sons
movem-se cores, vivas, ardentes... Dentro dos sons e das
cores, movem-se cheiros, cheiro de negro. Dentro dos
cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais... Tatos,
sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre...
(Graça Aranha)
DESCRIÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA
A descrição objetiva é a reprodução fiel do objeto. É
a visão das características do objeto (tamanho, cor, forma,
espessura, consistência, volume, dimensões etc), segundo
uma percepção comum a todos, de acordo com a realidade.
Na descrição objetiva, há grande preocupação com a
exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. O observador
descreve o objeto tal qual ele se apresenta na realidade.
Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de
abril. Muita luz e pouco calor.
As tinas estavam abandonadas; os coradouros despidos.
Tabuleiros e tabuleiros de roupa engomada saiam das
casinhas, carregados na maior parte pelos filhos das próprias
lavadeiras que se mostravam agora quase todas de fato
limpo; os casaquinhos brancos avultavam por cima das saias
de chita de cor. (...)
(Aluísio Azevedo)
A descrição subjetiva é a apreensão da realidade
interior , isto é, o modo particular e pessoal de o escritor ou
redator sentir e interpretar o que descreve, traduzindo as
impressões que tem da realidade exterior.
Na descrição subjetiva, não deve haver preocupação quanto
à exatidão do objeto descrito. O que importa é transmitir a
impressão que o objeto causa ao observador:
Há um pinheiro estático e extático, há grandes salso-chorões
derramados para o chão, e a graça menina de uma cerejeira
cor de vinho, que o sol oblíquo acende e faz fulgurar; mas o
álamo junto do portão tem um vigor e uma pureza que me
fazem bem pela manhã, como se toda manhã, ao abrir a
janela, eu visse uma jovem imersa, muito clara, de olhos
verdes, de pé, sorrindo para mim.
(Rubem Braga)
MÓDULO 22 Descrição
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Tirinhas para a questão 1.
(Adão Iturrusgarai. Folha de S.Paulo. 12.17.2013)
1. (UNIVAG) – Os quadrinhos que compõem a tirinha são
a) dissertativos, pois o leitor recebe informações precisas sobre a
velocidade dos seres apresentados.
b) descritivos, visto que há uma sequência de ações que leva as
personagens a uma interação mútua.
c) descritivos, pois aos elementos comparados são atribuídas
características que os especificam.
d) narrativos, visto que a linguagem verbal complementa a linguagem
não verbal, dando sentido ao texto.
e) narrativos, porque o intuito da tirinha é provocar o riso, conduzindo
o leitor ao anticlímax.
RESOLUÇÃO:
Trata-se de elementos descritivos pois cada um dos quadros
apresenta a ilustração de cada dado apresentado. Resposta: C
Texto para a questão 2.
2. (3a. aplicação) – A descrição, subjetiva ou objetiva,
permite ao leitor visualizar o cenário onde uma
ação se desenvolve e os personagens que dela
participam. O fragmento do romance caracteriza-se como uma
descrição subjetiva porque
a) constrói sequências temporais pelo emprego de expressões
adverbiais.
b) apresenta frases curtas, de ordem direta, com elementos
enumerativos.
c) recorre a substantivos concretos para representar um ambiente
estático.
d) cria uma ambiência própria por meio de nomes e de verbos
metaforizados.
e) prioriza construções oracionais de valor semântico de oposição.
RESOLUÇÃO: 
A linguagem metafórica é característica da descrição subjetiva,
que, nesse texto, tem a função de apresentar um ambiente
captado em sua singularidade. Resposta: D
Texto para as questões 3 e 4.
3. (FUVEST) – Traduz corretamente uma relação espacial expressa no
texto o que se encontra em:
a) A prensa é paralela aos tipitis.
b) A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros.
c) As duas camarinhas são transversais à cozinha.
d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço.
e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio.
RESOLUÇÃO:
O trecho que faz referência ao espaço no fragmento é “casa de
fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros”, considerando que
adjacente significa “posto ao lado de, contíguo, que está situado
nas proximidades”.
Resposta: B
4. (FUVEST) – Além de “tipitis”, constituem contribuição indígena
para a língua portuguesa do Brasil as seguintes palavras empregadas
no texto:
a) “cardápio” e “roceiros”. b) “alpendre” e “fogão”.
c) “mandioca” e “Ipiranga”. d) “sítio” e “forno”.
e) “prensa” e “quintal”.
RESOLUÇÃO:
São palavras de origem indígena “mandioca”, que significa “casa
de Mani (mani + oca) e “Ipiranga”, “água vermelha” (y + pyrang).
Resposta: C
Um cachorro cor de carvão dorme no azul etéreo de uma rede de
pesca, enrolada sobre a grama da Praça Vinte e Um de Abril. O sol
bate na frente dos degraus cinzentos da escadaria, que sobe a
encosta do morro até a Igreja da Matriz. A ladeira de paralelepípedos
curta e íngreme, ao lado da igreja, passa por um galpão de barcos e
por uma casa de madeira pré-mol dada. Acena para a velhinha marrom
que toma sol na varanda sentada numa cadeira de praia colorida. O
vento nordeste salgado tumultua as árvores e as ondas. Nuvens
esparramadas avançam em formação do mar para o continente,
como um exército em transe. A ladeira faz uma curva à esquerda,
passando em frente a um predinho do século dezoito, com paredes
brancas descascadas e janelas recém-pin tadas de azul-cobalto.
(D. Galera. Barba ensopada de sangue. 
São Paulo: Cia. das Letras, 2012.)
A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas
de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos no
Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer
mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a
menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo,
efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com
seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no
dito sítio” que deveria comprimir nos tipitis toda a massa
proveniente do mandiocal também inventariado. Mas a farinha não
exigia somente a prensa — pedia, também, raladores, cochos de
lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer farinha,
no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha.
Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.
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Texto para as questões de 5 a 7.
5. (FUVEST – transferência) – Para expor as condições em que viviam
os índios, Anchieta introduziu, emseu relato, as seguintes marcas de
descrição:
a) formas verbais no futuro, progressão temporal das ações e
discussão abstrata da situação dos índios.
b) formas verbais no presente, a maioria das ações sem progressão
temporal e exposição detalhada da situação dos índios.
c) formas verbais no passado, relação de anterioridade e posterio -
ridade das ações e exposição detalhada da situação dos índios.
d) formas verbais no futuro e no passado, relato de fatos concretos e
discussão de conceitos genéricos sobre os índios.
e) formas verbais no presente e no passado, relato das ações em
progressão temporal e discussão de conceitos específicos sobre o
estado dos índios.
RESOLUÇÃO:
O uso do presente do indicativo (está, hão, são), na caracterização
dos índios, no primeiro período, compõe a descrição das
condições de vida dos “naturais do Brasil”. Resposta: B
6. (FUVEST – adaptada) – No trecho: “... e alguns poucos, (...), são
tão oprimidos, que em pouco tempo se gastarão.”, verifica- se entre as
orações uma relação de
a) causa e consequência. b) finalidade.
c) proporção. d) comparação.
e) condição.
RESOLUÇÃO:
A expressão tão ... que estabelece uma relação de causa e
consequência. Serem tão oprimidos é a causa, em pouco tempo
se gastarem é a consequência. Resposta: A
7. (FUVEST– transferência) – “Porque bem se deixa ver e os
portugueses assim o confessam, que sem eles [os índios] mal se
poderá conservar este Estado do Brasil.”
Nesse trecho, Anchieta evidencia que os portugueses
a) confessam a Anchieta que os índios não influenciam na defesa do Brasil.
b) deixam ver que os índios mal podem ajudar a con servar o Brasil.
c) revelam que sem os índios é provável que o Brasil se conserve mal.
d) reconhecem que sem os índios é quase impossível conservar-se o Brasil.
e) afirmam, ao confessar-se, que os índios poderão conservar o Brasil.
RESOLUÇÃO:
No trecho, Padre Anchieta afirma que os portugueses
reconhecem a importância dos índios para que o Estado Brasileiro
seja conservado. Sem o índios, o Brasil mal se poderá conservar,
o que não indica que o país se conservará mal, mas que terá
poucas chances de se conservar. Resposta: D
Texto para as questões 8 e 9.
8. (UNIFESP) – A construção de sentido no texto assenta-se,
sobretudo, na evidente contradição do personagem Romualdo, que
a) fora mal cuidado pelos pais, mas ainda assim subiu na vida.
b) era gordo, o que era incompatível com um magistrado.
c) tinha aparência física respeitável, mas era ignorante.
d) assumiu um cargo importante em que usava a língua do povo.
e) fazia serviços simples, opostos a sua elegância verbal.
RESOLUÇÃO: 
Romualdo tinha aparência física respeitável, “…mais parecia um
magistrado”, porém ao falar essa ilusão se desfazia, parecia um
capadócio, ou seja, um sujeito de inteligência curta, ignorante.
Resposta: C
9. (UNIFESP) – Assinale a alternativa em que a reescrita do
trecho altera o sentido do texto.
a) ... e, depois de obtida a sua baixa, contínuo de secretaria. = ... e,
depois de obtida a sua dispensa, contínuo de secretaria.
b) Releva dizer que o Romualdo só deixou crescer as barbas... =
Convém ressaltar que o Romualdo só deixou crescer as barbas...
c) ... com aquelas opulentas suíças brancas a emol durar-lhe a cara... =
... com aquelas opulentas suíças brancas a emoldurar a sua cara...
d) ... e essa ilusão só se desfazia quando ele falava... = ... e essa ilusão
se desfazia quando só ele falava...
e) ... por mais que compusesse a sua fisionomia austera e veneranda...
= ... embora compusesse a sua fisio nomia austera e veneranda...
RESOLUÇÃO: 
Na primeira construção do trecho, o advérbio só modifica o verbo
desfazer; na segunda, a mesma palavra funciona como adjetivo e
se refere ao pronome ele.
Resposta: D
Porque a maior parte dos índios, naturais do Brasil, está consumi -
da, e alguns poucos, que se hão conservado com diligência e
trabalhos da Companhia, são tão oprimidos, que em pouco tempo
se gastarão. Pelo que têm muita necessidade de particular favor de
Vossa Majestade. Assim para que os já convertidos se conservem
na Fé, como para que os outros venham do sertão para recebê-la de
novo. E juntamente haja quem ajude a defender a terra. Porque bem
se deixa ver e os portugueses assim o confessam, que sem eles
mal se poderá conservar este Estado do Brasil. E com tudo isso vai
a coisa de manei ra que, em caso de servir-se dos índios, cada um
tem respeito a seu próprio interesse, mais que ao bem comum da
terra, nem à utilização e conversão deles. 
(Padre José de Anchieta, Trecho de Carta)
O Romualdo tinha nascido, talvez, para os mais altos destinos;
mas como os pais se esqueceram de mandar educálo, e ele mal
sabia ler e escrever, o mais que arranjou foi ser soldado do exército,
e, depois de obtida a sua baixa, contínuo de secretaria.
Releva dizer que o Romualdo só deixou crescer as barbas depois
de contínuo; se as usasse quando era soldado e guerreava no
Paraguai, chegaria a capitão pelo menos.
Mas que contínuo! Alto, gordo, ereto, com aquelas opulentas
suíças brancas a emoldurar-lhe a cara, sem bigodes, mais parecia
um magistrado, cuja figura estava ao pintar para presidir a um júri
sensacional, e essa ilusão só se desfazia quando ele falava, porque
o Romualdo, benza-o Deus! por mais que compusesse a sua
fisionomia austera e veneranda, tinha o estilo e a prosápia do “povo
da lira”. Calado era um juiz; falando, um capadócio.
(Arthur Azevedo. As Barbas do Romualdo, em:
www.releituras.com.br/aazevedo_barbas.asp)
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C3_3ANO_CONV_LILAS_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK 15/05/2020 19:13 Página 115
Narrar é contar uma história real ou fictícia. O fato
narrado apresenta uma sequência de ações envolvendo
personagens em determinado espaço de tempo.
São exemplos de narrativas a novela, o romance, o conto e
também uma crônica, uma notícia de jornal, uma piada, um
poema, uma letra de música, uma história em quadrinhos,
desde que apresentem uma sucessão de acontecimentos,
de fatos. Situações narrativas podem aparecer até mesmo
numa única frase.
Exemplos
O menino caiu.
Minha sogra ficou avó (Oswald de Andrade).
Repare que a última frase resume ações que envolvem o
casamento, a maternidade, a transformação da sogra em avó.
São elementos básicos da narração: enredo (ação),
personagem, tempo e espaço. Quando a história é curta,
como na narração escolar, são imprescindíveis enredo e
personagens. A perspectiva de quem escreve é dada pelo
foco narrativo (de 1.a ou 3.a pessoa). Os discursos (direto,
indireto e indireto livre) representam a fala da personagem.
Quanto à sua estrutura narrativa convencional, acompanhe
a sequência de ações que compõem o enredo:
• O QUÊ? – fato(s) que determina(m) a história;
• QUEM? – personagem ou personagens;
• COMO? – enredo, modo como se tecem os fatos;
• ONDE? – lugar ou lugares da ocorrência;
• QUANDO? – momento ou momentos em que se
passam os fatos;
• POR QUÊ? – causa do acontecimento;
• POR ISSO? – consequência dos fatos.
O enredo ou trama corresponde à maneira como a
história se desenrola, aos “arranjos” narrativos que
cercam as personagens e às situações que as envolvem.
Essa articulação pode revelar o núcleo temático da matéria
narrada, seja ela real, seja ficcional; assim falamos em
enredo cujas temáticas podem ser conflitos passionais,
casos de mistério ou terror, dramas sociais, experiências
existenciais, ficção científica etc. Esse enovelamento de
ações a que chamamos enredo abrange as etapas já
explicadas na estrutura narrativa: exposição, desenvolvi -
mento (complicação – ponto de tensão – e clímax – ponto
de maior tensão) e desfecho.
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MÓDULO 23 Narração
Texto para o teste 1. 1. (2018 – 2ª Aplicação) – Entre os elementos
constitutivos dos gêneros está a sua própria
estrutura composicional, que pode apresentar um
ou mais tipos textuais, considerando-se o objetivo do autor. Nesse
fragmento, a sequência textual que caracteriza o gênero conto é a
a) expositiva, em que se apresentam as razões da atitude

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