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C u rr íc u lo s e P ro g ra m a s Maria de Lourdes Mazza de Farias 1Capa.indd 1 29/12/2009 14:58:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 1ª PROVA - 29/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas Maria de Lourdes Mazza de Farias Curitiba 2010 curriculos_programas.indd 1 28/12/2009 17:51:18 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ educacional da lapa diretor acadêmico Osíris Manne Bastos diretor administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro diretor de expansão e Qualidade acadêmica Alfredo Angelo Pires diretor de expansão em ead Alex Rosenbrock Teixeira coordenadora do curso de pedagogia ead Vívian de Camargo Bastos Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro SiStema educacional eadcon diretor executivo Julián Rizo diretores administrativo-Financeiros Ademilson Vitorino Júlio César Algeri diretora de operações Cristiane Andrea Strenske diretora de marketing Ana Cristina Gomes coordenadora Geral Dinamara Pereira Machado editora Fael coordenador editorial William Marlos da Costa edição Lisiane Marcele dos Santos revisão Jaqueline Nascimento projeto Gráfico e capa Denise Pires Pierin diagramação Kátia Cristina Oliveira dos Santos Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Siderly Almeida CRB9/1022 Farias, Maria de Lourdes Mazza de F224c Currículos e programas / Maria de Lourdes Mazza de Farias. – Curitiba: Editora Fael, 2010. 96 p. Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1. Currículos. I. Título. CDD 375 Direitos desta edição reservados à Faculdade Educacional da Lapa – Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. curriculos_programas.indd 2 28/12/2009 18:43:16 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 6ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ apresentação A autora desta obra apresentou, em 2000, um projeto de pesquisa para realizar seu Doutorado em Educação na PUC-SP. Acolhi-o como orientador e acompanhei sua realização até a defesa da tese, em junho de 2004. Em sua trajetória de pesquisa ela revelou qualidades surpreendentes como pessoa, educadora e pesquisadora. Destaco, ao lado de sua respon- sabilidade acadêmica e científica para com a pesquisa, a sua sensibilidade e inteligência social e cultural. Estudando, em sua tese, os intrincados per- cursos pelos quais os adolescentes constroem sua identidade afetivo-sexual na escola pública, ela se deparou com um lamentável obstáculo: a enorme dificuldade dos próprios educadores (gestores e professores) em lidar com esse delicado processo de construção da identidade dos adolescentes, difi- culdade que termina custando a eles muito sofrimento psíquico e uma corro- siva atitude de desconfiança para com a escola. Tal achado permitiu a ela lan- çar uma nova luz, ainda que a partir do “avesso”, sobre aquilo que realmente interessa na ação escolar: como fazer com que a escola seja uma instituição positivamente contributiva na formação dos alunos e alunas como pessoas íntegras, além de profissionais competentes e cidadãos responsáveis. A autora volta a público trazendo oportuna e importante contribuição para a construção do currículo escolar para a Educação Infantil e o Ensi- no Fundamental: a obra Currículos e programas. A marcação histórica é referência primeira de todo o livro e a ela é dedicado o primeiro capítulo: apresentação curriculos_programas.indd 3 28/12/2009 18:22:44 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 5ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ apresentação apresentação “História do currículo no Brasil”. O segundo movimento fecha o arco das referências fundamentais ao inserir os estudos sobre currículo no cam- po do conhecimento e da cultura, sob a dinâmica do “poder do saber”. A partir daí, o texto dirige-se aos dois objetos de sua atenção: a infân- cia e a puberdade na escola. São oferecidas aos professores preciosas indicações para a seleção de conteúdos e para suas práticas didático- pedagógicas pertinentes. O texto encerra sua trajetória crítica focando o que não poderia efetivamente faltar em tal projeto: a questão do planejamento e da ava- liação, dois temas que geram as práticas talvez mais vulneráveis em nossas escolas, devido à sua incontornável complexidade. A autora os enfrenta com clareza e praticidade, sem comprometer a percepção do pesado desafio que eles representam. Torço para que esta obra chegue a muitas mãos docentes, de pro- fessores e futuros educadores, como forma de subsidiar suas práticas escolares. Com isso, estou certo, muito valor pedagógico se agregará às nossas escolas, o que será uma força a mais para manter as instituições e os professores em um movimento em direção ao ponto de chegada complementar ao da tese de doutorado da autora: que a escola seja uma instituição positivamente contributiva para a formação dos alunos e alunas como profissionais competentes e cidadãos responsáveis, além de pessoas íntegras. Alípio Marcio Dias Casali* * É pós-doutor em Educação pela Universidade de Paris e professor titular do curso de pós-gra- duação em Educação/Currículo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atua na área de Educação, com ênfase em Epistemologia, Currículo, Cultura e Ética. curriculos_programas.indd 4 28/12/2009 18:22:44 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 5ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ sumário Prefácio.......................................................................................7 1 História do currículo no Brasil .................................................11 2 Considerações sobre conhecimento, cultura e poder no currículo .................................................................21 3 Currículo e infância ..................................................................31 4 Seleção e organização dos conteúdos curriculares na Educação Infantil ............................................37 5 Abordagem pedagógica dos conteúdos nas creches e nas pré-escolas .......................................................53 6 Seleção e organização dos conteúdos nos anos iniciais do Ensino Fundamental .......................................69 7 Planejamento e avaliação do currículo no Ensino Fundamental .................................................................81 Referências...............................................................................93 sumário apresentação curriculos_programas.indd 5 28/12/2009 18:47:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 6ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ prefácio curriculos_programas.indd 6 28/12/2009 17:51:18 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 7 prefácio prefácio O presente trabalho apresenta um panorama da história do Currículo no Brasil, do período que vai desde o descobrimento até os nossos dias. Nesse espaço de tempo, o ensino brasileiro sofreu de cisiva influência no modo de ver o processo educacional, que, na verdade, é um modo de ver o mundo com uma resposta educacional relacionada a essa visão. A questão central da discussão sobre Currículo perpassa o pro cesso de organização e seleção dos conteúdos trabalhados nas escolas. Ao debater as escolhas feitas pelos professores e professoras, não se discute apenas as opções, mas as concepções acerca de uma determi nada sociedade e de como se percebe seu desenvolvimento. O Currículo é uma construção social que está diretamente ligada a um momento histórico, a uma determinada sociedade e às relações que ela estabelece com o conhecimento. Assim, teremos, nas diversas realidades, uma pluralidade de objetivos acerca do que ensinarmos, no sentido de que os conteúdospropostos compõem um quadro bas tante diversificado e ao mesmo tempo peculiar. Dessa maneira, o Currículo é um processo histórico e estrutura do por meio do social, não sendo possível, de uma hora para outra, deixar para trás todas as experiências passadas. Ao percorrer o proces so histórico do ensino no Brasil, não se pode ignorar como os conteú dos eram trabalhados nos diversos momentos nem como eram sua organização e seleção, compreendendo, assim, como eles interferem na atual realidade. curriculos_programas.indd 7 28/12/2009 17:51:18 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 8 prefácio prefácio prefácio prefácio No contexto específico das escolhas e referenciais que compõem o Currículo, a identidade do fazer pedagógico é tratada como algo que está em diversos lugares, mas com características diferentes entre si. A imagem inicial que uma criança apresenta de si mesma, na maio- ria das vezes, é dada por meio da escola, das relações com os colegas, professores e professoras e nas relações intergrupais e interpessoais que se produzem no espaço-escola. Portanto, é nesse ambiente que, repeti- damente, a representação do fracasso ou do sucesso é introjetada pela criança desde o maternal. Pensar sobre os diferentes espaços da infância permite redimensio- nar nosso modo de ver as possibilidades físicas e ambientais que esta- belecemos como as mais apropriadas para as crianças, esquecendo-nos, muitas vezes, que em outros espaços também acontecem encontros, de- sencontros, descobertas e trocas. Nesse sentido, refletiremos se, de fato, os espaços construídos e planejados pelos adultos têm assegurado que as relações humanas sejam baseadas em sentimentos de respeito e solidarie- dade pela diversidade e pluralidade da infância. Assim, os estudos curriculares se tornam um poderoso componente de observação, reflexão e intervenção no espaço e no tempo escolar. É dessa forma que a escola pode compreender e assimilar os vínculos entre o que se vive no ambiente escolar e a comunidade na qual ela está inserida. Então, a escola pode criar condições para romper os limites entre o que lhe é atribu- ído como “próprio” e o que “pertence” ao conhecimento da sociedade. Em suma, quando analisamos a Educação Infantil e o Currículo, devemos tomar a criança como ponto de partida da proposta pedagógica, curriculos_programas.indd 8 28/12/2009 18:25:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 5ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 9 prefácio prefácio prefácio compreendendo que, para conhecer o mundo, ela envolve o afeto, o prazer, o desprazer, a fantasia, o brincar, o movimento, a poesia, as ciências, as artes plásticas e dramáticas, a linguagem, a música e a ma- temática de forma integrada, pois a vida é algo que se experimenta por inteiro. Para finalizar, gostaria de ressaltar que, na redação do texto, pro- curei refletir sobre as questões referentes às relações de gênero, com o objetivo de aumentar o debate sobre o papel secundário do gêne- ro feminino na nossa língua. Trata-se, na verdade, de um convite às alunas e aos alunos a experimentarem aquilo que Peter McLaren se refere como o “atravessar de fronteiras simbólicas”. Portanto, vocês encontrarão sempre o masculino e o feminino. Espero que essa experiência nos ajude a colocar em discussão o quanto as mulheres têm sido silenciadas, evadidas e não referenciadas nos modos de representação verbal dominantes, construídos na nossa língua. Não seria diferente com o Currículo. Bom proveito! A autora.* * É doutora em Educação, na área de Currículo, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atua como assessora técnica da Secretaria de Estado da Educação do Paraná e como coordenadora dos cursos de pós-graduação em Educação da Faculda- de Educacional da Lapa (FAEL). curriculos_programas.indd 9 28/12/2009 18:25:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 5ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ curriculos_programas.indd 10 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 11 O currículo, na sua versão mais tradicional, sempre significou um elenco de disciplinas a serem ministradas aos alunos e às alunas. Assim constituído, sua postura era claramente voltada para a distin ção entre as pessoas das classes altas e das classes baixas. Enquanto o povo tinha suas próprias formas de transmitir habilidades técnicas e artesanais necessárias para o trabalho, a nobreza dedicavase ao estudo das “artes liberais”, que era mais voltado para a transmissão do status hereditário do que para o exercício de profissões. História e teoria do currículo No período que vai desde o descobrimento até o início do século XX, o ensino brasileiro sofreu decisiva influência no modo de ver o processo educacional, que, na verdade, é um modo de ver o mundo com uma res posta educacional, relacionada a essa nova visão. Nossa educação colonial, herdeira do espírito da contrareforma, importado da metrópole, tinha uma postura marcada pelo obscurantismo místico, pela repulsa às ciências e às tecnologias e por qualquer ocupação que envolvesse habilidades ma nuais ou artesanais, ou seja, tarefas que lembrassem o trabalho escravo. Com o advento da Independência e da República, novas ativida des econômicas começaram a surgir, o que deu origem principalmente ao aparecimento de uma crescente classe média. Alguns grupos sociais passaram a pleitear uma estrutura educacional mais voltada à ciência, à tecnologia e às habilitações profissionalizantes. Após a Primeira Grande Guerra (19141918), a crise oriunda do debate de pensamentos entre as elites rurais e as classes intermediárias, História do currículo no Brasil 1 curriculos_programas.indd 11 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 12 traduziuse em um acirrado conflito de ideias educacionais. De um lado, os defensores do ensino voltado à erudição, à importação de va lores europeus e à cristalização das tradições. De outro, os defensores do ensino voltado à ciência e à tecnologia, favorecendo o desenvolvi mento industrial e a urbanização do país. O tipo de ser humano que a educação se propunha a formar a partir do modelo colonial estava em conflito com as aspirações dos novos grupos sociais em ascensão. O exemplo histórico nos leva a consolidar a convicção de que o subsistema educacional se insere, de maneira intensamente comprome tida, no sistema mais amplo que configura a sociedade de dado lugar e tempo, nos seus aspectos econômicos, na sua estrutura de poder e nos movimentos de mudança. A educação, portanto, é uma resposta das instituições escolares às exigências da sociedade; à expectativa de alunos e alunas, também de correntes das expectativas que seu meio social e familiar alimenta em relação a eles e elas; às disputas de posições dirigentes almejadas por di versos agrupamentos sociais; ao estágio do desenvolvimento produtivo de um povo, bem como ao tipo de sua organização econômica. Dessa forma, concluímos que qualquer postura educacional tem subjacente uma “visão de mundo”. O currículo é entendido como programa de ensino, conteúdos ou matriz curricular por muitos professores e professoras. Na realidade, existe uma pluralidade de definições e cada uma pressupõe valores e concepções implícitas. A palavra curriculum, de origem latina, significa o curso, a rota, o ca minho da vida ou das atividades de uma ou um grupo de pessoas. O cur rículo educacional representa a síntese dos conhecimentos e valores que caracterizam um processo social expresso pelo trabalho pedagógico desen volvido nas escolas. Para Goodson (1996), o currículoé definido como um percurso a ser seguido e como conteúdo apresentado para estudo. Os primeiros estudos, de origem norteamericana, no campo do currículo, foram influenciados pelo modelo tecnicista de natureza pres critiva, baseados nas categorias de controle e eficiência social. Nesse sentido, destacase Ralph Tyler (1949), o qual mostra preo cupação com o estabelecimento de objetivos educacionais e com a ava curriculos_programas.indd 12 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 1 Currículos e Programas 13 liação. O currículo era visto como uma atividade neutra, instrumento de racionalização da atividade educativa e controle do planejamento. Segundo Tyler, para o desenvolvimento de um currículo existem quatro tarefas fundamentais: a definição e seleção dos objetivos; a seleção e criação das experiências de aprendizagem; a organização das experiências para alcançar o máximo efeito cumulativo; a avaliação do currículo com vistas ao seu contínuo aproveita mento (TYLER apud TABA, 1984). O pensamento de Tyler influenciou os estudos sobre currículo no Brasil e foi adotado como fundamento teórico na organização curricu lar do ensino na década de 1970. A nova sociologia da educação busca discutir os aspectos internos da escola e a relação entre a educação e as desigualdades sociais. O desvela mento das implicações do currículo com a estrutura de poder político e econômico na sociedade inseriu a problemática curricular no interior da discussão políticosociológica. Michael Apple, em Ideologia e Currículo (1982), colocou em destaque a relação entre a dominação econômica e cultural e o currículo escolar. Baseado na abordagem neomarxista, o autor trabalhou a noção de currículo oculto, buscando demonstrar como as escolas produzem e reproduzem a desigualdade social. A discussão socio lógica do currículo, a crítica ao reducionismo e estruturalismo tem sido feita por autores como Young (1989), Apple (1989) e Silva (1988). Além da teoria crítica do currículo de natureza sociológica, os es tudos nesse campo tiveram outros desdobramentos. Kemis (1996) tem assinalado a necessidade de uma reformulação da teoria do currículo com base na articulação teóricoprática. Stenhouse (1991) e Schwab (1983) sugerem o estudo do currículo em uma perspectiva processual e prática. Sacristán (1998) defende o modelo de interpretação que con cebe o currículo como algo construído no cruzamento de influências e campos de atividades diferenciadas e interrelacionadas, permitindo analisar o curso de objetivação e concretização do currículo em vários níveis, assinalando suas múltiplas transformações. Apple, (1982) utiliza o termo tradição seletiva “(...) a questão é a seletividade, a forma que, de todo um campo possível de passado curriculos_programas.indd 13 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 14 e presente, escolhemse como importantes (...) significados e práticas, (...) outros são negli genciados e excluídos”. Efetivamente, como assi nala Forquim (1992, p. 35), “aquilo que as escolas transmitem da cultura é sempre uma escolha de elementos considerados socialmente válidos e legítimos”. Estudos críticos do currículo apontam que a seleção cultural so fre determinações políticas, econômicas, sociais e culturais. Nesse sen tido, a seleção do conhecimento escolar não é um ato desinteressado e neutro, e sim resultado de lutas, conflitos e negociações. Assim, entendese que o currículo é culturalmente determinado, historica mente situado e não pode ser desvinculado da totalidade do social. Para Silva e Moreira (2000, p. 42) “... nas escolas não se aprendem apenas conteúdos sobre o mundo natural e social, adquirese também consciência, (...) que comanda relações e comportamentos sociais”. Os estudos que analisam os efeitos do currículo para além da aquisição de conhecimentos formais se voltam para a concepção de currículo oculto e apontam que, por meio dele, são transmitidas ideo logias, concepções de mundo pertencentes a determinados grupos he gemônicos na sociedade e que serve para reproduzir as desigualdades sociais. Para Silva (1995, p. 21), currículo oculto são (...) todos os efeitos de aprendizagem não intencionais que se dão como resultado de certos elementos presentes no am biente escolar. A relevância desse conceito está na explicação que ele oferece para a compreensão de muitos aspectos que ocorrem no universo escolar. Silva (2000, p. 27) também acrescenta currículo oculto como “conjunto de atitudes, valores e comportamentos que não fazem par te explícita do currículo, mas que são implicitamente ‘ensinados’ por meio das relações sociais, dos rituais, das práticas e da configuração espacial e temporal da escola”. No campo do currículo, a literatura crítica tem argumentado a favor de uma teoria que leve em consideração a sua dimensão prática. Tratase de uma perspectiva que busca compreender o currículo em ação, ou Entende-se por tradição seletiva um processo no qual “nos termos de uma cultura domi- nante efetiva, é sempre dissimulado com a tradição, o passado significativo”. Saiba mais curriculos_programas.indd 14 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 1 Currículos e Programas 15 seja, os seus contextos de concre tização, desde a prescrição até a efetivação nas salas de aulas. Sacristán (1998) aponta para essa perspectiva quando foca a atenção para os condi cionantes administrativos, ins titucionais e pedagógicos que afetam o desenvolvimento do currículo nas escolas. A perspectiva teóricoprática ressalta as circunstâncias do traba lho docente com o conhecimento e com o processo de ensinoapren dizagem, contexto curricular com plexo e problemático. Nesse sentido, afirma Sacristán (1998, p. 63): “aos microespaços sociais de ação, às responsabilidades de deliberação dos pro fessores sobre seu próprio trabalho e a compreensão de como o currículo se converte em cultura real para professores e alunos”. A seleção e organização dos conteúdos curriculares A questão central da discussão sobre currículo perpassa o pro cesso de organização e seleção dos conteúdos trabalhados nas escolas. Ao se discutir as escolhas feitas pelos professores e professoras, dis cutese não só as opções, mas as concepções acerca de uma determi nada sociedade e de como se percebe seu desenvolvimento. Segundo Santos e Moreira (1996, p. 33), “em parte, por meio do currículo, diferentes sociedades procuram desenvolver os processos de conser vação, transformação e renovação dos conhecimentos historicamente acumulados”. Pensando na função do currículo, percebemos porque esse foco de discussão é tão significativo. A palavra currículo apre senta e aparece com dois sentidos claros no meio pedagógico: conhe cimento escolar ou experiência de aprendizagem. Mesmo com enfo ques diferentes, os dois sentidos estão presentes no currículo escolar, dessa forma, um completa o outro, visto que “todo currículo envolve O livro Documentos de identidade, de Tomaz Tadeu da Silva, apresenta uma síntese relevan- te das discussões sobre as teorias do currículo decorridas no século XX. O autor utiliza-se da classificação das teorias tradicionais, críticas e pós-críticas, centrando-se, na maior parte da obra, na análise das teorias pós-críticas. O estudo registra as preocupações das teorias críticas e pós-críticas com as conexões entre saber, identidade e poder. Essa é uma obra que traz a discussão de qual conhecimento da sociedade (e relações de poder) o currículo desenvolve por meio daeducação, no contexto da pós-modernidade. Saiba mais curriculos_programas.indd 15 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 16 apresentação de conhecimentos e inclui um conjunto de experiências que visam a favorecer a assimilação e reconstrução desses conheci mentos” (SANTOS; MOREIRA, 1996, p. 35). Percebese que o currículo é uma construção social que está dire tamente ligada a um momento histórico, a uma determinada socieda de e às relações que ela estabelece com o conhecimento. Assim, tere mos, nas diversas realidades, uma pluralidade de objetivos acerca do que ensinarmos no sentido de que os conteúdos propostos compõem um quadro bastante diversificado e ao mesmo tempo peculiar. Dessa maneira, o currículo é um processo histórico e estruturado por meio do social, não sendo possível, de uma hora para outra, deixar para trás todas as experiências passadas. Ao percorrer o processo histórico do ensino no Brasil, não se pode ignorar que os conteúdos eram trabalha dos nos diversos momentos nem como eram sua organização e seleção, compreendendo, assim, como eles interferem na atual realidade. Para pensar na questão do conteúdo, apontase uma frase de Sacristán (1998, p. 52): “sem conteúdo não há ensino, qualquer proje to educativo acaba se concretizando na aspiração de conseguir alguns efeitos nos sujeitos que se educam”. Falar de conteúdo, um tempo atrás, parecia algo proibido. De certa maneira, até saiu do espaço escolar, devido aos movimentos progressistas das últimas décadas, que via nisso uma maneira de reproduzir a cultura dominante. Porém, é importante pensar nesse conteúdo para que se possa falar de sua seleção, organização e como a cultura pode ou não ser reproduzi da no cotidiano escolar. Para tanto, o conteúdo nos faz percorrer diver sos momentos da história, principalmente aquele tradicional, o qual era visto como algo estático, nunca como um elemento que pode ser ques tionado e transformado. Nesse sentido, as ideias de Popkewitz (1995, p. 39) são fundamentais para entender o conceito de conteúdo do en sino como uma construção social e não lhe dar um significado estático nem universal: “A escolaridade e o ensino não tiveram sempre os mes mos conteúdos, nem qualquer um deles – a linguagem, a ciência ou o conhecimento – foi entendido da mesma forma através dos tempos.” Assim, é possível compreender que os conteúdos não são sempre os mesmos e, historicamente, eles são transformados mediante a rea lidade em que se está vivendo. Em cada época e sociedade, a escola curriculos_programas.indd 16 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 1 Currículos e Programas 17 assume funções sociais diferentes, refletindo, dessa maneira, um olhar acerca do conhecimento e de cultura diferenciada. O processo de sele ção e organização dos conteúdos é por si só um elemento de escolha e decisão, nenhuma dessas ações são neutras, pois elas regulam e distri buem o que se ensina. Para Sacristán (1998) é uma decisão política. No processo de seleção do que ensinar, podemos, segundo Santos e Moreira (1996), encontrar diversos estudos que discutem esse foco. De certa forma, todos apontam para a questão dos conflitos que per meiam esse processo, que se apresenta por meio de lutas e negociações. Esse processo de seleção envolve um comprometimento político que visa a garantir a hegemonia de determinados saberes, perpetuandose visões de mundo por meio de sua cultura. Sobre a organização, numa abordagem tradicional, está em questão o tipo de conhecimento, a sequência que pode ser ensinado e para quem pode. Para tal, levase em conta a estrutura lógica da disciplina e o nível de desenvolvimento cognitivo do aprendiz. Nesse sentido, todo conhe cimento possui uma lógica, que só traduzindo em uma linguagem mais simples pode ser acessível a alunos e alunas. Em função disso, discutese como o conhecimento se torna um con teúdo escolar, pensando nos mecanismos pelos quais a escola não ape nas transmite saberes, mas também os produz (SANTOS; MOREIRA, 1996). Parece que o conhecimento discutido na escola é diferente ou tem função diferenciada daquele utilizado, estruturado e aplicado no nosso cotidiano. É presente na escola a ideia de que é preciso um conteúdo an tes do outro, de maneira crescente. Assim, o saber da sociedade é diferen te do saber escolar, no qual eles são recontextualizados. Segundo Santos e Moreira (1996, p. 33), “podese dizer que a organização do conteúdo curricular está relacionada com a produção dos saberes escolares”. Todo esse processo é delicado para ser pensado de maneira tão am pla, visto que cada realidade tem suas características particulares, po rém nenhuma está isenta das relações que engendram nossa sociedade referente às lutas sociais nos mais diversos níveis. Nesse sentido, falar das escolhas dos professores e professoras, por meio dos processos de seleção e organização curricular, é buscar compreender um pouco desses caminhos pelos quais passam suas experiências e como elas se manifestam na realidade em que estão inseridas. curriculos_programas.indd 17 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 18 Pensando nas escolhas como elementos de identidade As escolhas dos profissionais da educação, ao desempenhar sua função, baseiamse nas experiências como alunos e profissionais e no universo em que historica e socialmente esse profissional está inserido. Pensando assim, o currículo constitui significativo instrumento utilizado por diferentes sociedades, tanto para desenvolver os processos de conservação, transformação e renovação dos conhecimentos historicamente acumulados como para socializar as crianças e os jovens segundo valores tidos como desejáveis (SANTOS; MOREIRA, 1996, p. 38). Ao pensarmos nesses valores, os profissionais trabalham a par tir do que acreditam ser importante para seus alunos aprenderem e experimentarem. Baseados em suas próprias experiências, o pro fissional da educação envolve seus alunos no que ele acredita ser o melhor para compor as aprendizagens na escola. Olhar para esses elementos tidos como pessoais pode até, de certa maneira, represen tar para o leitor como se eles dependessem unicamente do professor ou da professora. Alguns até dependem, porém esse profissional não está inserido em um espaço neutro, isento de lutas e disputas. Afinal, o currículo é uma prática social, é um elemento produzido e pro dutor de identidades. Segundo Silva (2001, p. 47), “um dos efeitos mais importantes das práticas culturais é o de produção das identi dades culturais”. Assim, buscamos compreender identidade como um fenômeno produzido e não acabado dentro das práticas sociais, que são vistas como comuns em um determinado grupo social. Para pensar na pos sibilidade de uma identidade no espaço escolar, partese do princípio de que as pessoas, na escola, constroem ideias e representações acerca das disciplinas e dos rituais que compõe esse universo. Uma definição de identidade: “relação de semelhança absoluta e completa entre duas coisas, possuindo as mesmas características essenciais”. Como afirma Silva (1999), se o currículo é documento de iden tidade, como pensar nas escolhas dos profissionais da escola deixando de lado essa questão? Pensar em identidade é pensar em dinamicida curriculos_programas.indd 18 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 1 Currículos e Programas 19 de e, no contexto escolar,é perceber que ela pode ser um elemen to construído e estruturado em um grupo social com representa ções utilizadas para forjar sua identidade e identidades dos outros grupos sociais. No contexto específico das escolhas e referenciais que compõem o currículo, a identidade do fazer pedagógico é tratada como algo que está em diversos lugares, mas com características diferentes em cada lugar e, mesmo assim, diferentes entre si. Segundo Silva (2001, p. 48), “a identidade só faz sentido em uma cadeia discursiva de di ferenças: aquilo que ‘é’ é inteiramente dependente daquilo que não ‘é’. Em outras palavras, a identidade e a diferença são construídas na e pela representação, pois não existem fora dela”. Partindo dessa afirmação, a identidade é construída pelo próprio grupo, e não por um elemento que existe naturalmente. Para pensar na identidade em nossa realidade escolar, precisamos nos remeter às diversas realidades curriculares presentes nas escolas. Portanto, esse é um elemento inserido em um currículo escolar que está em constante transformação e dentro de uma guerra de forças na qual os sujeitos nem sempre percebem esse movimento ligado às relações estabelecidas de poder. Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Vimos que, no período que vai desde o descobrimento do Brasil até início do século XX, o ensino brasileiro sofreu decisiva influência no modo de ver o processo educacional, que, na verdade, é um modo de ver o mundo com uma resposta educacional relacionada a essa visão. Neste estudo, compreendemos que a educação, portanto, é uma resposta das instituições escolares: às exigências da sociedade; à expec tativa de alunos e alunas, também decorrentes das expectativas que seu meio social e familiar alimenta, em relação a eles e elas; às disputas de posições dirigentes almejadas por diversos agrupamentos sociais; ao estágio do desenvolvimento produtivo de um povo, bem como ao tipo de sua organização econômica. curriculos_programas.indd 19 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ curriculos_programas.indd 20 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 21 Neste capítulo, estudaremos a ideia de que a diferença cultural nos currículos só pode ser compreendida numa perspectiva relacional que problematize os sistemas de representação em que a diferença é construída, de modo a promover uma reflexão sobre como, ideologi camente, são representados grupos dominantes e subordinados em di versos espaços culturais formais e informais, entre eles o currículo. A produção sobre currículo tem frequentemente mantido a centralidade da categoria conhecimento o que dificulta a percepção do currículo como espaçotempo de produção cultural. Currículo e cultura Os estudos acerca do currículo, na perspectiva cultural, apontam para discussões que nos proporcionam vislumbrar a compreensão das relações entre a cultura, o conhecimento e o poder no espaço escolar. Os estudos culturais se compõem em um campo que compreende a cultura como uma prática de significação, centrado na linguagem e no discurso da constituição social. Assim, “cultura é um campo de luta em torno da construção e da imposição de significados sobre o mundo social” (SILVA, 2001, p. 42). São significados que estão no interior das práticas sociais estruturadas e que na escola se constituem em cam pos de saber. Neles, os elementos ativos no processo escolar, isto é, os professores, professoras, alunos, alunas e estruturas educacionais, são importantes para compor os tempos e espaços escolares. Nesse sentido, alguns conhecimentos são tidos como o mais legítimos, como conhe cimento oficial. Considerações sobre conhecimento, cultura e poder no currículo 2 curriculos_programas.indd 21 28/12/2009 17:51:19 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 22 Desse modo, para determi nado grupo, esse conhecimen to é tido como o ideal para ser trabalhado no espaço escolar, pois o conhecimento de outros grupos dificilmente chegará na escola. O currículo é visto como uma tradição seletiva (APPEL, 2000) de significações que en volvem a cultura e a identidade dos grupos sociais. Assim, podemos inserir na discussão o poder, que, a partir das análises pósestruturalistas inspiradas em Foucault, é concebido como descentralizado, horizontal e difuso. Utilizase essa definição, porque é a mais próxima das teorias que dão suporte à compreensão do currículo como um elemento no espaço escolar que não está isento das lutas que envolvem o poder nos mais diversos tempos e espaços. O currículo não é simplesmente uma montagem neutra de co nhecimentos. Ele é produzido pelos conflitos, tensões e compromis sos culturais, políticos e econômicos que organizam e desorganizam um povo. A partir disso, podemos iniciar nossa relação com o poder e as definições curriculares presentes na escola, partindo dos elementos que culturalmente estruturam e identificam um grupo social. O poder como um elemento descentralizado e horizontal aponta para que as escolhas nem sempre sejam elementos de domínio único de professores e professoras, pois formas e conteúdos culturais funcionam como ele mentos distintivos de classe (APPEL, 2000). Ao ponderarmos sobre as questões educacionais, uma pergunta é inevitável; será que a escola é uma transmissora de conhecimentos ou de ideologias? A escola faz as duas coisas: tanto difunde os valores ideo lógicos da classe dominante como também tem a função de transmis são e socialização dos conhecimentos historicamente acumulados. Outras questões importantes são colocadas. Muitos pais pergun tam para nós, professoras e professores “por que o meu filho não con segue aprender nada na escola?” É comum os alunos estudarem muito para uma prova e acharem que internalizaram tudo, porém, se avaliar mos eles sobre o mesmo conteúdo algum tempo depois, provavelmen O poder na teorização neomarxista está centralizado nas instituições do Estado, tendo um status derivado relativamente das relações sociais de produção. Para Pierre Bourdieu, o poder está relacionado à luta pelas diversas modalidades de capital nos vários campos sociais (SILVA, 2000). Saiba mais curriculos_programas.indd 22 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 2 Currículos e Programas 23 te, eles já terão esquecido tudo. Por exemplo, depois das férias, é sempre a mesma coisa, esquecem tudo o que “aprenderam no ano anterior”. Por que será que essas coisas acontecem? Essas perguntas poderão ser respondidas a partir do momento que analisamos a verdadeira função da escola. Afirmamos, no início, que a escola é ao mesmo tempo transmissora de conhecimentos e difusora de valores ideológicos. Vamos considerar que em uma sociedade dividida em classes há duas classes: a dos que trabalham, que é a maioria, e a dos que se apropriam do trabalho produzido por aqueles que trabalham. Assim, na sociedade capitalista, o trabalho está destinado às classes pro dutoras, às classes trabalhadoras. Quem se apropria desse trabalho é a burguesia. Da mesma forma, o conhecimento se produziu nas relações entre os seres humanos, nas relações sociais (de trabalho, familiar, cul tural etc.). Acontece que, nas sociedades típicas de exploração, como é o caso da sociedade capitalista, o produto do trabalho gerado pelos seres humanos nas suas relações mútuas é expropriado pela classe detentora do poder. Assim, o conhecimento é um meio de produção, visto que é apropriado pela classe dominante que o reelabora para transmitilo por meiode uma instituição adequada: a escola. Para as relações de exploração serem capazes de se perpetuar na sociedade, é indispensável que, ao transmitir o conhecimento elabo rado para a classe trabalhadora, a burguesia o faça de modo seletivo. Isso quer dizer que nem todos aqueles que frequentam a escola têm a possibilidade de se apropriar do conhecimento da mesma maneira e na mesma proporção. Na apresentação que se segue sobre o problema do ensino oficial, das relações da escola com a sociedade que se estende aos problemas da democracia e às liberdades escolares, há, também, um ensaio de resposta às questões colocadas inicialmente. A escola, por conseguinte, tem um norte ideológico e, por isso, a questão do conteúdo escolar é importantíssima: questões como a da metodologia, da sua orientação em relação às correntes pedagó gicas, entre outras. Se esses conteúdos são conservadores, irão inten sificar, naturalmente, as discriminações sociais, sexuais e raciais, a divisão do trabalho, a importância da autoridade do professor ou da professora. Se são inovadores, irão ampliar o respeito à identidade curriculos_programas.indd 23 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 24 de cada indivíduo, e a escola, seguramente, estará voltada para as necessidades dos alunos e alunas. Em uma sociedade dividida em classes como a nossa, ou seja, em que o trabalho é dividido fundamentalmente em manual e intelec tual, ou entre o campo e a cidade, o ensino também aparece dividido como dois termos oposto. A escola, enquanto destinada aos interesses das classes dominantes, deixa de existir para as demais classes. Apenas as classes detentoras têm o direito a essa instituição específica. Somen te há pouco tempo, no início da Revolução Industrial, começou a se converter em perspectiva, ou seja, em algo para toda a sociedade. As instituições para a formação do trabalhador só surgem com o aparecimento da Revolução Industrial. A particularidade desse proces so é que a estrutura educativa das classes privilegiadas, consolidada du rante muitos anos, estendeuse às classes subordinadas, levandolhes o seu tipo de organização, a sua tradição e os seus métodos. É, portanto, no interior da sociedade histórica que podemos iden tificar a emergência da ideologia. A ideologia se constitui em represen tações por meio das quais os agentes sociais e políticos pensam em si próprios, nas instituições, nas relações de poder e nas relações de do minação. Essas representações explicam as formas da desigualdade, dos conflitos, da exploração e da dominação como sendo “naturais”, isto é, gerais e inevitáveis. Distinguise o discurso ideológico exatamente pelo ocultamento da divisão, da diferença e da incoerência, na medida em que oferece a homens e mulheres a representação de uma sociedade homogênea, sem divisões e sem antagonismos, ainda que, de fato, encontrese to talmente dividida. As ideias e discursos dominantes de uma época, surgem no meio das classes privilegiadas desse período. A ideologia é a tentativa de conceber o universo do ponto de vista particular dessa classe. Essa forma de pensar tem por objetivo escamotear as divisões sociais, isto é, a divisão do traba lho, a divisão entre as raças, a divisão entre os sexos, a divisão política, a divisão do conhecimento, etc. Quando falamos da nossa escola, isto é, da escola brasileira, ela se modificou muito nas últimas décadas devido a vários elementos, entre curriculos_programas.indd 24 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 2 Currículos e Programas 25 eles as misturas sociais. Hoje em dia podemos notar que nas escolas encontramos o filho ou a filha do operário, a classe média e o burguês. Isso pode até nos dar a ilusão de que todo mundo tem as mesmas chances e as mesmas oportunidades educacionais. No entanto, o que podemos verificar é que isso não é verdadeiramente real, e se deve, sobretudo, a mecanismos ideológicos que são produzidos no interior da escola, cujo objetivo é eternizar as desigualdades e as diferenças de classes existentes na sociedade. Um desses mecanismos é aquilo que chamamos de currículo oculto. A imagem inicial que uma criança apresenta de si mesma, na maio ria das vezes, lhe é dada por meio da escola, das relações com os colegas, professores e professoras e nas relações intergrupais e interpessoais que se produzem no espaçoescola. Portanto, é nesse ambiente que, repeti damente, a representação do fracasso ou do sucesso é introjetada pela criança desde o maternal. A maioria dos filhos dos trabalhadores não está preparada para ingressar e se desenvolver nessa escola tal qual ela é concebida. Entretanto, os filhos das elites, porque estão desde cedo, ainda no contexto familiar, já entraram, por exemplo, em relação com o conhecimento abstrato desvinculado da prática, e já aprenderam a privilegiar a linguagem verbal nas suas comunicações. As crianças de poder aquisitivo mais elevado já se habituaram a ser elogiadas toda vez que fazem um desenho bonito, cantam uma música ou dizem um ver sinho de maneira original, enquanto as crianças filhas de trabalhadores e trabalhadoras vivem em outra realidade e aprendem outras coisas. Assim sendo, quando essas crianças de procedência de classes diferentes entram no mundo da escola, encontram uma realidade que privilegia determinados valores como, por exemplo, a competição. A principal forma de trabalho na escola é a expressão da palavra na sua variante culta; em outras palavras, a forma de se expressar das elites. Essa forma trabalha os conteúdos de raciocínio abstrato total mente desligados da prática, da realidade de alunos e alunas etc. A criança da classe popular encontra nessa escola um professor ou pro fessora que valoriza apenas um determinado código de comunicação, de comportamento e de valores. Percebese logo que essa escola, que de início parecia tão democrática, na verdade, não é. Vamos verificar que muitas professoras e professores, logo de saída, já formam uma opinião dos seus alunos e alunas. Ou ele(a) é “bom” ou é “mau”. O que curriculos_programas.indd 25 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 26 nos preocupa é que raramente essa opinião muda ao longo do tempo. Sendo assim, as crianças que são mais valorizadas pela escola tendem a melhor se adequar e conseguir relativo sucesso, ao passo que as outras, que, aliás, são a maioria, acabam sendo eliminadas brutalmente e nada obtendo dessa escola. É desse modo que a marca do fracasso se mani festa de tal forma na maioria dessas crianças, fazendo elas passarem a se comportar de acordo com a expectativa que a instituição tem em relação a elas, ou seja, a de crianças “fracas”, mal resolvidas, com pro blemas, de péssimo rendimento e até mesmo incapazes. A escola, por conta disso, acaba reforçando para essas pessoas o mito de que são cul padas pelo seu próprio fracasso e, à medida que esses futuros trabalha dores ingressam no exército de mão de obra disponível na exploração capitalista, serão cada vez mais acomodados, achando que receberam da escola o que deveriam receber, pois são “inferiores” e “incapazes”. Professores e professoras, muitas vezes, formam um juízo nega tivo de seus alunos e alunas baseados nessas premissas que se ma nifestam de duas maneiras: objetiva e subjetivamente. De um lado, por meio das notas, conceitos e classificações e, de outro, por meio de comentários, mímicas de desagrado, impaciência, intransigência, desprezo e desrespeito que demonstram aos alunos ealunas. Não as piramos martirizar professores e professoras, mas tirar a culpa do sis tema educacional, como um todo, pelo fracasso da maioria das nossas crianças é um equívoco. O que estamos querendo demonstrar com essas argumentações é que o currículo oculto usa como critério ideológico o “esforço pessoal”, ajudando, portanto, a preparar os alunos e alunas para serem domi nados ou para serem dominantes no meio social em que vivemos. Por isso que, em uma sociedade cheia de competições como a nossa, a es cola também tem esse perfil, pois nela só se dão bem os considerados “melhores”, e é nesse tipo de escola que os filhos das classes privilegia das desvendaram muito cedo a sua “superioridade”, enquanto as outras classes descobriram sua “inferioridade”. Ao experimentar um método permanente de crítica e autocríti ca das práticas escolares (currículo real e oculto), poderemos viver os conflitos e as diferenças como forma de desenvolvimento individual e social, além de construir um espaço constante de participação na ela boração do currículo. curriculos_programas.indd 26 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 2 Currículos e Programas 27 Os professores devem ficar atentos aos valores e conceitos que eles próprios incorporaram, pois eles determinam a seleção dos conteúdos, estratégias, a metodologia, as habilidades e as avaliações escolhidas. Às vezes, o próprio questionamento está impregnado de ideologia. Ainda sobre os currículos escolares, cabe enfatizar vários aspectos importantes na transmissão do currículo oculto: os professores e professoras não têm assegurado o pleno co ● nhecimento do novo currículo antes de sua implementação; muitos professores e professoras não têm uma posição crítica ● em relação ao currículo oculto; inúmeros professores e professoras não têm consciência dos ● direitos dos grupos oprimidos na sociedade; os currículos não são voltados para a transformação social, tendo ● em vista formar um cidadão consciente, crítico e participante; os currículos não são representantes dos grupos desprivilegia ● dos, pessoas de raças diferentes, mulheres, etc.; os currículos excluem os valores culturais e históricos presen ● tes no cotidiano; os currículos não ensinam os alunos e alunas a superar a situa ● ção de marginalidade, nem os conscientizam cultural e politi camente acerca desse assunto; a própria concepção dos currículos é ideológica, pois é frag ● mentária e desarticulada, não avançando, na prática, para uma verdadeira interdisciplinaridade e transdisciplinaridade; os currículos valorizam o supérfluo, contribuindo para am ● pliar a marginalidade do conhecimento das mulheres, dos trabalhadores e das pessoas de raças não brancas; os currículos são montados de forma a perpetuar e legitimar ● as desigualdades econômicas, as divisões de classe, gênero e raça, tanto nos empregos como nas riquezas; os textos didáticos falam sobre ideologia e não são, via de re ● gra, trabalhados criticamente por professores e especialistas. curriculos_programas.indd 27 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 28 Dessa maneira, a escola está fundamentalmente implicada no fra casso escolar, na conservação da classe baixa no mesmo nível social e na fabricação de trabalhadores submissos e conformistas. A educação serve para reforçar e reproduzir as divisões e injustiças sociais, não se revelan do, portanto, democrática, apesar de enfatizar (só em nível de discur so) a permanência e o êxito no sistema escolar. Posto isso, chegamos à conclusão de que a seleção do conhecimento escolar é arbitrária, por que exclui as tradições culturais de classes e grupos subordinados para priorizar as memórias culturais dos grupos e classes dominantes. Tanto o currículo real, oficial (explícito) e o oculto (implícito) têm competên cias socializadoras, pois certos aprendizados e rituais escolares moldam e fabricam consciências. A escola corrobora para a divisão social, racial e sexual do trabalho, uma vez que o conhecimento escolar é distribuído de forma desigual entre os diferentes grupos e classes sociais. A distribuição dos currículos ocultos também é diferenciada de acordo com a classe so cial, sexo, raça ou etnia. Assim, dependendo dos grupos e classes sociais, demonstramse diferentes atitudes e características de personalidade. O que queremos deixar evidente é que a escola efetivamente não tem desempenhado a sua função social, que é transmitir os conheci mentos historicamente construídos, habilidades e valores como os de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. A escola tem sido, nesse sentido, muito mais reprodutora da ideologia das elites do que produtora e difusora do conhecimento. Urge, portanto, uma mudança de atitude, primeiramente de caráter ideológico e, depois, de caráter pedagógico. Essa alteração implica uma modificação de postura que possa, efetivamente, encarar os filhos e as fi lhas de trabalhadores e trabalhadoras como um componente fundamen tal para o nosso desenvolvimento. É necessário que se reconheça o direito de adquirir conhecimentos e que o professor e a professora não tenham preconceito em relação a esses alunos e alunas e percebam que é fundamental para o processo de transformação da nossa sociedade que os filhos e as filhas de tra balhadores e trabalhadoras tenham acesso, de forma crítica, ao saber elaborado da escola. É imperativo que haja uma alteração quanto à forma de se transmitir os conteúdos tanto pedagógico quanto ideológico. O próprio conteúdo curriculos_programas.indd 28 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 2 Currículos e Programas 29 deve mudar para atender às reais necessidades dos alunos e da sociedade na qual estão inseridos. O conteúdo transmitido não pode ser desligado da prática, mas sim partir da realidade, da vivência, da experiência dos educandos e das educandas. A escola deve ensinar, sobretudo, a pensar, ra ciocinar, desenvolver o juízo crítico, conhecer a realidade em que se vive e suas contradições. Aceitando que diferença não é inferioridade, uma nova pedagogia terá de ser formulada. Ela não sairá de gabinetes nem de cabe ças iluminadas, mas da diversidade de ideias, saberes e experiências. O professor e a professora são induzidos continuamente a optarem: contra ou a favor dos alunos e alunas. Essa opção não implica somente uma visão pedagógica, mas, sobretudo, uma visão ideológica diferente. A ideologia do currículo oculto é uma faca de dois gumes, pois tanto pode levar à passividade como também à revolta. A revolta individu al nós, professores e professoras, conhecemos bem: é aquele aluno ou aluna que depreda a escola, é antisocial, agressivo; frequentemente, a raiz desses comportamentos está na maneira como a escola trata esse indivíduo. Sabemos que essa revolta pode ser canalizada de uma forma positiva, desde que o aluno tenha uma consciência crítica dos seus pro blemas: por que a escola funciona assim? A que interesses serve? Qual o papel dos trabalhadores e trabalhadoras no contexto da escola e da sociedade? Que sociedade temos? Que sociedade queremos? Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Neste capítulo, tivemos a oportunidade de perceber que os estudos acerca do currículo, na perspectiva cultural, apontam para discussões que nos proporcionam vislumbrar a compreensão das relações entre a cultura, o conhecimento e o poder no espaço escolar. Sendo assim, buscamos compreender a identidade como um fenô meno produzido e não acabado dentro das práticas sociais, que sãovis tas como comuns em um determinado grupo social. Para pensarmos na possibilidade de uma identidade no espaço escolar, partimos do prin cípio de que, na escola, as pessoas constroem ideias e representações acerca das disciplinas e dos rituais que compõe esse universo. curriculos_programas.indd 29 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ curriculos_programas.indd 30 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 31 Neste capítulo, entenderemos por que as propostas curriculares precisam considerar a criança e sua heterogeneidade, de modo a criar espaços das crianças e não apenas para as crianças. Elas são sujeitos de direito e cultura. Essa ideia de direito à educação está vinculada à visão de que o desenvolvimento humano acontece a partir da interação com os outros e com o ambiente onde se vive. As crianças não são mais como antigamente Nas conversas sobre infância sempre surge o assunto: as crianças não são mais como antigamente. E não são mesmo! O papel que desem penham, as expectativas em relação a elas, sua maneira de brincar e de se relacionar com o mundo; tudo isso está em constante transformação. Na Idade Média, período demarcador e regulador dos valores e da moral, a organização da escola era multietária, pois a escola medieval era indiferente à distinção e separação das idades, uma vez que não se destinava a educar a infância. A Igreja Católica que ocupava um impor tante espaço nas relações de poder e estabeleceu o término da infância aos sete anos, pois se entendia que a partir desse período se iniciava a idade da razão. Na época, não existia uma preocupação com o tempo da infância, assim como não havia o conceito de adolescência nem o respeito às diferenças. A escola, no decorrer da história, legitima tal condição, uma vez que coloca a idade de sete anos como própria para a alfabetização. Ariès (1981) sugere que essas classificações das fases da vida têm certa correspondência com os fenômenos naturais e cósmicos: o número de planetas, os signos do zodíaco, as estações do ano, etc. Currículo e infância 3 curriculos_programas.indd 31 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 32 Atualmente, vários organismos delimitam as idades da infância. A Convenção dos Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, considera como criança “todo ser humano com menos de dezoito anos de idade”. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu Artigo 2º, considera criança “a pessoa com até doze anos incompletos”. Ainda que seja fundamental reconhecermos a autoridade das convenções internacionais e nacionais, sem dúvida, é o mundo do trabalho e da escola que acaba, em última instância, dando legitimidade para as diferentes idades. Nos seus modos de representação, as crianças manifestam e se apro priam de expressões que referenciam o mundo dos adultos, por exemplo, “quando eu crescer”, “gente grande”, como se isso fosse referência para demarcar os tempos e os espaços escolares. No entanto, é bom lembrar que a organização dos diferentes tempos e espaços da infância não se restringem somente à forma pela qual os adultos constituem o mundo. A creche, a préescola, o jardim de infância, as escolas infantis, os espaços de lazer, todos são lugares destinados à trajetória de socialização da criança, considerando sua idade e o nível econômico e cultural dos pais. Pensar sobre os diferentes espaços da infância permite redimensio nar nosso modo de ver as possibilidades físicas e ambientais que esta belecemos como as mais apropriadas para as crianças, esquecendonos, muitas vezes, que em outros espaços também acontecem encontros, desencontros, descobertas e trocas. Nesse sentido, refletiremos se, de fato, os espaços construídos e planejados por nós adultos têm assegura do que as relações humanas sejam baseadas em sentimentos de respeito e solidariedade pela diversidade e pelas pluralidades da infância. Sabemos que sozinha a escola não pode mudar o mundo, mas ela se movimenta com o mundo e pode ajudar a mudálo. Não é preciso ir lon ge para saber que as experiências escolares transformam as pessoas e, por isso, é importante entender que o currículo escolar deve se constituir em um campo fundamental de debates que incorpora os diversos “fazeres” e as diferentes formas de “pensar” que ressoam no interior da escola. Nesse sentido, os estudos curriculares se tornam um poderoso componente de observação, reflexão e intervenção no espaço e no tem po escolar. É dessa forma que a escola pode compreender e assimilar os vínculos entre o que se vive no ambiente escolar e a comunidade na curriculos_programas.indd 32 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 3 Currículos e Programas 33 qual ela está inserida. Assim, a escola pode criar condições para romper os limites entre o que lhe é atribuído como “próprio” e aquilo que “per tence” ao conhecimento da sociedade. De um modo geral, o currículo tem sido pensado e constituído com os seguintes pontos: pressupostos e princípios da proposta educacional; ● objetivos; ● conteúdos; ● atividades e procedimentos de avaliação; ● espaço físico e recursos materiais. ● De forma didática, um currículo e seus elementos devem respon der às seguintes questões: o quê? ● para quê? ● com quem ? ● onde? ● como educar? ● a favor de quem se educa? ● Os educadores e as educadoras que trabalham nesses níveis de en sino têm a responsabilidade de orientar as propostas curriculares para uma educação inclusiva, que reconheça e valorize as diferenças de gêne ro, raça, etnia, competências físicas, mentais e as diferenças etárias, em permanente debate. A diferença etária na relação de professores e professoras com seus alunos e alunas se traduz na relação de adultocriança. É preciso lembrar que a escola acolhe crianças – que têm uma história pessoal, familiar, social, cultural –, e que são histórias diversas, assim como a sociedade brasileira. As propostas curriculares precisam considerar a criança e sua hete rogeneidade de modo a criar espaços das crianças e não apenas para as crianças. As crianças são sujeitos de direito e cultura. Essa ideia de direi to à educação está vinculada à visão de que o desenvolvimento humano acontece a partir da interação com os outros e o ambiente onde se vive. curriculos_programas.indd 33 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 34 Crescimento, desenvolvimento e afetividade Nessa fase da vida a dimensão corporal, se desenvolve intensamen te. O crescimento e o desenvolvimento ósseo, muscular, neurológico, acontecem por meio de uma escala crescente, e quanto mais oportu nidades a criança tiver de se movimentar e explorar suas muitas possi bilidades de ação, de preferência em contato com a natureza, melhor será seu desenvolvimento. No entanto, essa dimensão do corpo e da evolução da criança não se limita apenas a aspectos físicos e orgânicos. A afetividade também se entrelaça às experiências corporais das crianças e com quem elas se relacionam no seu universo social. Nas situações e nas relações cotidianas, aprendemos a reconhe cer nossos afetos e como expressálos. O modo como nossas mani festações de satisfação e frustração são acolhidas, nos ensinam sobre o lugar das emoções e dos afetos na sociedade em que vivemos, como também nos mostram nossa importância no mundo. As representações seestruturam na criança por meio de uma rela ção mediada pelo outro. A linguagem permite a comunicação, mas é também uma ferramenta de organização do pensamento e um impor tante canal de trocas afetivas, possibilitando a sua constituição enquan to sujeito. A dimensão cognitiva se estrutura via linguagem, sendo um processo sociocultural. A capacidade de pensar e operar com conceitos é um processo, no qual, em um primeiro momento, a criança pensa por meio dos chamados conceitos cotidianos. O desenvolvimento das capacidades cognitivas acontece por in termédio das relações estabelecidas pelas crianças com outras crianças e com os adultos, em situações de interação com os objetos do mundo físico, social e cultural. As linguagens verbais (oral e escrita) e não verbais (gesto, desenho, brincadeiras de construção e de faz de conta) têm grande importância no desenvolvimento do pensamento e na formação da própria subjeti vidade da pessoa. As linguagens integram um sistema de representação do real, do qual a criança se apropria e passa a elaborálo por meio de diversas atividades simbólicas, nas quais tudo está interligado, como o gesto, o desenho, a brincadeira e a escrita. Hoje, podemos dizer que existe um corpo de saberes e fazeres que possibilita tanto a construção social do conceito de infância como a cons curriculos_programas.indd 34 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 3 Currículos e Programas 35 tituição de instituições de educação infantil e de pedagogias para educar e cuidar das crianças. É possível afirmar que os grandes temas em torno dos discursos políticos e técnicos sobre as pedagogias da Educação Infantil podem ser resumidamente definidos como: a existência de um discurso que institui um estatuto para a ● infância; a constituição e a organização de espaços sociais adequados ● para a educação e cuidado das crianças; a formação e o reconhecimento da necessidade de um profis ● sional para atuar na Educação Infantil; a definição de valores para a socialização das crianças resultan ● tes de algum tipo de compreensão sobre a educação; a criação de instrumentos de trabalho e alternativas de inter ● venções; a seleção de metodologias e de conteúdos; ● a produção de materiais didáticos e equipamentos educacionais; ● as decisões sobre a organização espacial; ● as discussões sobre os usos do tempo; ● a organização da vida cotidiana das instituições e das pessoas ● sob a forma de rotina. Ao longo dos séculos, vários discursos sobre vida, educação e infância vêm, pleiteando, na sociedade, o seu lugar como verdade absoluta, com a intenção de definir a natureza das crianças e a forma como elas devem ser cuidadas e educadas. Esta contradição pesa so bre a cabeça dos educadores e educadoras: por um lado, eles defen dem a concepção de que é preciso assumir o papel de exercer sobre as crianças a transmissão das ideias, dos usos e dos costumes que lhes permitam melhor se adaptarem à sociedade; por outro lado, temse a ideia de que é melhor desenvolver as potencialidades e as suas apti dões para que elas tenham sucesso no futuro, desenvolvendose pes soalmente e criativamente. Dessas concepções, irão surgir diferentes projetos pedagógicos. curriculos_programas.indd 35 28/12/2009 17:51:20 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 36 Resumo Resumo Resumo ResumoResumo Resumo Resumo Resumo Neste capítulo, aprendemos que os educadores e as educadoras que trabalham nesses níveis de ensino têm a responsabilidade de orientar as propostas curriculares para uma educação inclusiva, que reconheça e valorize as diferenças de gênero, raça, etnia, competências físicas, men tais e diferenças etárias, em permanente debate. Vimos também que o desenvolvimento das capacidades cognitivas acontece por intermédio das relações estabelecidas pelas crianças com outras crianças e com os adultos, em situações de interação com os objetos do mundo físico, social e cultural. curriculos_programas.indd 36 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 37 Neste capítulo, estudaremos a Lei de Diretrizes e Bases da Edu cação Nacional (LDB n. 9.394/96), que trata da função da Educação Infantil e seu funcionamento; o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu cação Infantil (Resolução CEB 1/99), que orientam a organização das instituições que se dedicam a essa etapa de ensino. Tais diretrizes esta belecem exigências quanto às orientações curriculares e à elaboração dos projetos políticopedagógicos institucionais. As Diretrizes Curriculares e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Vimos que a organização curricular expressa uma concepção de ser humano, de mundo, de ensino, de aprendizagem, de sociedade, de poder, de cultura, enfim, de vida e, em última instância, do pa pel da educação na sociedade. Nas propostas destinadas à Educação Infantil e aos primeiros anos do Ensino Fundamental, a organização curricular expressa, também, uma determinada visão de infância e o seu lugar no mundo. A Educação Infantil é dever e obrigação do Estado e respon sabilidade política e social da sociedade e não apenas daqueles que vivenciam a realidade escolar, utilizandose dos préstimos da escola ou exercendo nela suas funções profissionais. Cabe, portanto, ao Es tado, à família e à sociedade responderem pela Educação Infantil, resguardando suas especificidades manifestadas na indissociabilidade das ações de educar, cuidar e brincar. Seleção e organização dos conteúdos curriculares na Educação Infantil 4 curriculos_programas.indd 37 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 38 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n. 9.394/96) firma a função da Educação Infantil e o seu funcionamento. Posteriormente, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, p. 27) define o brincar ao lado do educar e do cuidar, considerando que “nas brincadeiras, as crianças transformam os conheci mentos que já possuem anteriormente em conceitos gerais com os quais brincam”. Em função dessas premissas, o Conselho Nacional de Educa ção (CNE), por meio da Câmara de Educação Básica (CEB), definiu, em 1999, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Re solução CEB 1/99), orientando a organização das instituições que se de dicam a essa etapa de ensino. Tais diretrizes estabelecem exigências quanto às orientações curriculares e elaboração dos projetos políticopedagógicos institucionais. Esse documento contempla os seguintes princípios: éticos: autonomia, responsabilidade, solidariedade e respeito ● ao bem comum; políticos: direitos e deveres do cidadão, exercício da critici ● dade e respeito à ordem democrática; estéticos: sensibilidade, criatividade, ludicidade e diversida ● de de manifestações artísticas e culturais. Ressaltamse também aspectos organizacionais, como a adoção de metodologia do planejamento participativo e a afirmação da autono mia das escolas na definição da abordagem curricular a ser adotada. Para garantir o direito à Educação Infantil, são explicitadas as cor responsabilidades entre as três esferas governamentais (federal, estadual, municipal) e a família, consonantes com a legislação atual: Constituição Federal de 1988, inciso IV do Art. 208; ● Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069/90; ● Lei sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), n. 8.080/90;● Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), n. 8.742/93; ● Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) ● n. 9.394/96; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ● (DCNEI/99); curriculos_programas.indd 38 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 39 Plano Nacional de Educação (PNE), Lei n. 10.172/01; ● Constituições Estaduais e Municipais; ● Planos Estaduais e Municipais de Educação; ● Política Nacional de Educação Infantil (2005). ● A legislação existente representa as conquistas da sociedade no sentido de assegurar os direitos da população infantil. No entanto, ga rantir os direitos das crianças é responsabilidade social. Sendo assim, a educação das crianças, além de direito social, constituise em direito humano, em condição de existência. Antes da LDB n. 9.394/96, a Constituição Federal havia defini do a Educação Infantil como sendo responsabilidade dos municípios, assim como a obrigatoriedade de aplicar 25% dos orçamentos em educação. Entretanto, não houve definições claras entre dependência administrativa e o financiamento dos níveis de ensino entre União, estados e municípios, gerando o que ficou conhecido como compe tências concorrentes. Educação Infantil na LDB Com um capítulo próprio, a Educação Infantil recebe tratamento igual ao do Ensino Fundamental e Médio e é definida como primeira etapa da Educação Básica. Sua finalidade é desenvolver integralmente a criança, nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Além disso, deve complementar a ação da família e da comunidade no desen volvimento da criança, sendo, portanto, necessária a integração escola famíliacomunidade. A avaliação da criança deve ser realizada sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental. A Educação Infantil é oferecida em: creches ou entidades equivalentes para crianças de zero a 3 ● anos; préescolas para crianças de 4 a 5 anos. ● A abertura para o atendimento em entidades equivalentes a creches se justifica pela necessidade de reconhecer a realidade preexistente da nova legislação, na qual esse atendimento tem sido oferecido de maneira curriculos_programas.indd 39 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 40 diversificada em entidades comunitárias, empresas públicas ou privadas, entidades filantrópicas ou confessionais e, ainda, em casas de família, como no caso das “mães crecheiras”. Os referenciais para a Educação Infantil foram feitos para orientar os projetos políticopedagógicos, subsidiando os diversos saberes e fazeres que circulam no dia a dia escolar. O documento instrui as ações educati vas dos profissionais da Educação Infantil e define que, para desenvolver essas atividades, é preciso intencionalidade, sistematização e comprome timento com a integridade e o desenvolvimento das crianças. Para a implementação do projeto políticopedagógico, os referen ciais indicam que os educadores e educadoras devem desenvolver uma intenção educativa, organizando o ambiente onde atuam e planejando as situações de aprendizagem, seja sozinho, com seus pares ou envol vendo a participação das crianças. Mais importante do que a definição de áreas de conhecimento está a compreensão acerca do mundo in fantil. Isso quer dizer que a criança deve ser o foco de todo o trabalho pedagógico para a tomada de decisões, planejamento, execução e ava liação das ações educativas desenvolvidas na escola. Os referenciais destacam, ainda, que a função das professoras e dos professores de Educação Infantil é mediar o processo de ensinoapren dizagem, propondo atividades e lançando desafios ajustados às carac terísticas, potencialidades, expectativas, desejos e necessidades infan tis. O referencial avaliativo adotado deve ser o da criança em relação a ela mesma, de modo que os professores e as professoras observem, registrem e reflitam continuamente, em caráter diagnóstico e proces sual, tudo o que ocorre com cada criança. Essa avaliação orientará as decisões pedagógicas, especialmente acerca de quais atividades pode rão favorecer uma aprendizagem mais prazerosa e significativa para o desenvolvimento infantil, em seus aspectos individuais e sociais, assim, reforçando as especificidades biológicas, afetivas, emocionais, sociais, culturais, linguísticas, lúdicas e cognitivas das crianças. Ainda segundo os Referenciais Curriculares para a Educação In fantil, o currículo abrange um âmbito de interações, nas quais se en trecruzam processos e agentes diversos que compõem um verdadeiro e complexo tecido social. São as relações estabelecidas nesse contexto que moldam o que se pode chamar de currículo real, ainda que um curriculos_programas.indd 40 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 41 currículo para a Educação Infantil necessite ter explícito em sua elabo ração e desenvolvimento a concepção de crianças reais e diversas, que interagem com o meio em que vivem e aprendem a resolver problemas, especialmente em contato com outras crianças ou pelas informações que os adultos lhes oferecem. Os parâmetros de qualidade para a Educação Infantil especificam que as crianças, desde que nascem, são: cidadãos de direitos; ● indivíduos únicos, singulares; ● seres sociais e históricos; ● seres competentes e produtores de cultura; ● indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e ● mineral. E que, por sua vez, precisam ser cuidadas e educadas, o que implica: serem auxiliadas nas atividades que não puderem realizar ● sozinhas; serem atendidas em suas necessidades básicas físicas e psico ● lógicas; terem atenção especial do adulto em momentos peculiares de ● sua vida. Além disso, para que a sobrevivência das crianças estejam garanti das, seu crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos e para que o cuidar/educar sejam efetivados, é necessário oferecer às crianças dessa faixa etária condições de usufruírem plenamente as possibilidades de apropriação e de produção dos significados no mundo, da natureza e da cultura. As crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espon tâneas e incentivadas a: brincar; ● movimentarse em espaços amplos e ao ar livre; ● expressar sentimentos e pensamentos; ● desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de ● expressão; curriculos_programas.indd 41 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 42 ampliar permanentemente os conhecimentos a respeito do ● mundo da natureza e da cultura, apoiadas por estratégias pe dagógicas apropriadas; diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação ● em creches, préescolas e centros de Educação Infantil. Os parâmetros apontam ainda que a criança tem direito a: dignidade e respeito; ● autonomia e participação; ● felicidade, prazer e alegria; ● individualidade, tempo livre e convívio social; ● diferença e semelhança; ● igualdade de oportunidades; ● conhecimento e educação; ● profissionais com formação específica; ● espaços, tempos e materiais específicos. ● Diferentemente do referencial, que se constitui apenas em um do cumento orientador do trabalho pedagógico, as diretrizes têm caráter mandatório para todos os sistemas municipais e/ou estaduais de edu cação. A resolução que instituiu essas diretrizes foi precedida por um parecer que trata de várias questões relativas à qualidade (Parecer CNE/ CEB n. 22/98,de 17 de dezembro de 1998). Na relação adultocriança, por exemplo, o parecer indica a proporção apresentada a seguir: 1 professor para 6 a 8 bebês de 0 a 2 anos; ● 1 professor para 15 crianças de 3 anos; ● 1 professor para 20 crianças de 4 a 5 anos. ● O Conselho Nacional de Educação (CNE) também se ocupou da questão da formação dos professores que atuam com crianças de 0 até 6 anos. Em 1999, foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal (Re solução CNE/CEB n. 2, de 19 de abril de 1999a), as quais se aplicam aos professores da Educação Infantil, das quatro primeiras séries do En curriculos_programas.indd 42 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 43 sino Fundamental, da Educação de Jovens e Adultos, da Educação nas Comunidades Indígenas e da Educação Especial. Considerando a di ficuldade de contemplar, no mesmo documento, uma orientação para os cursos de formação de professores e professoras que trabalham com alunos e alunas tão diferentes quanto à faixa etária, contextos sociais e modalidades de ensino que frequentam, o relatório que introduz esse documento traz uma concepção de formação atualizada, no que diz respeito aos fundamentos teóricos, abrangente quanto à visão de educa ção, e coerente com os princípios de cidadania definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. No ano seguinte, foram aprovadas as Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB n. 04/00, de 16 de fevereiro de 2000), as quais deliberaram sobre a vinculação das instituições de Edu cação Infantil aos sistemas de ensino e sobre vários aspectos que afetam a qualidade do atendimento: proposta pedagógica, regimento escolar, formação de professores e outros profissionais, espaços físicos e recur sos materiais. Essas diretrizes definem, também, a responsabilidade de avaliar, supervisionar e autorizar com validade limitada as instituições de Educação Infantil. Para definir parâmetros de qualidade à Educação Infantil, não é suficiente consultar a legislação específica para essa etapa de ensino, especialmente quando se trata de contemplar temas referentes à diver sidade étnica, racial, de gênero ou as disparidades entre cidade e campo. As resoluções e os pareceres do CNE adquirem importância relevante ao tocarem em matérias ainda não suficientemente esclarecidas pela legislação anterior aplicáveis à educação das crianças de 0 até 5 anos. Em nível federal, cabe ao Ministério da Educação (MEC), vi sando definir e implementar a Política Nacional de Educação Infantil (BRASIL, 2005a): articularse com secretarias estaduais e municipais, órgãos, or ● ganismos, organizações, áreas, programas, poderes Legislativo e Judiciário para propiciar uma gestão integrada e colabora tiva entre os três níveis de governo e entre os diversos setores das políticas sociais; participar com o Conselho Nacional de Educação (CNE) da ● elaboração de pareceres, normas e regulamentações que vise curriculos_programas.indd 43 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 44 ao cumprimento da legislação e considerem as necessidades identificadas na área; estabelecer diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a área; ● divulgála por meio de distribuição de documento impresso e ● disponibilizála na internet; responsabilizarse, juntamente com os sistemas de ensino, ● pela qualidade da Educação Infantil; garantir o cuidado e a educação das crianças de 0 até 6 anos de ● idade e a promoção da qualidade nas instituições de Educação Infantil em âmbito nacional. Cabe ao Conselho Nacional de Educação, visando a garantir o cumprimento da legislação vigente no que diz respeito ao desenvol vimento da Educação Infantil em âmbito nacional e de acordo com a Lei n. 9.131/95: assessorar o Ministério da Educação no diagnóstico dos pro ● blemas relativos à Educação Infantil; deliberar sobre medidas para aperfeiçoar os sistemas de en ● sino, especialmente no que diz respeito à integração dos seus diferentes níveis e modalidades; emitir pareceres sobre assuntos relativos à Educação Infantil ● por iniciativa de seus conselheiros ou quando solicitado pelo ministro de Estado da Educação; manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos estados e ● do Distrito Federal; analisar e emitir pareceres sobre questões relativas à aplicação ● da legislação educacional no que diz respeito à Educação In fantil e à formação do professor para a área; examinar os problemas da Educação Infantil e da formação do ● professor que atua na área e oferecer sugestões para sua solução; analisar e emitir pareceres sobre os resultados dos processos de ● avaliação da Educação Infantil e dos cursos de formação do professor que atua na área; curriculos_programas.indd 44 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 45 deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Mi ● nistério da Educação; colaborar na preparação do Plano Nacional de Educação e ● acompanhar sua execução no âmbito de sua atuação; manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos estados e ● do Distrito Federal, acompanhando a execução dos respectivos Planos de Educação. Cabe às secretarias de educação dos estados e do Distrito Federal, visando a definir e a implementar a política estadual para a área, em consonância com a legislação vigente e com os princípios expressos na Política Nacional de Educação Infantil: articularse com o Ministério da Educação, secretarias mu ● nicipais, órgãos, organismos, organizações, áreas, programas, poderes Legislativo e Judiciário para propiciar uma gestão in tegrada e colaborativa entre os três níveis de governo e entre os diversos setores das políticas sociais em assuntos que dizem respeito à criança de 0 até 5 anos de idade (mudança conforme Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006); estabelecer diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a área; ● divulgála por meio de distribuição de documento impresso e ● disponibilizála na internet; ampliar progressivamente, em colaboração com os siste ● mas municipais, o atendimento às crianças de 0 até 5 anos de idade, com objetivo de atingir toda a demanda em âm bito estadual; responsabilizarse, juntamente com os sistemas municipais ● de ensino, pela qualidade da Educação Infantil, principal mente no que diz respeito à formação dos profissionais; garantir o cuidado e a educação das crianças de 0 até 5 anos de ● idade e a promoção da qualidade nas instituições de Educação Infantil em âmbito estadual; articularse aos outros níveis (fundamental, médio e superior) ● e às modalidades de ensino (jovens e adultos, educação espe cial, educação indígena) do sistema educacional; curriculos_programas.indd 45 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 46 articularse com organizações representativas da sociedade ● civil: sindicatos, movimentos sociais, ONGs, visando ao de senvolvimento e à progressiva consistência do campo da Edu cação Infantil. Para o desenvolvimento de uma Política de Educação Infantil é ne cessário que as Secretarias Estaduais de Educação e do Distrito Federal: incluam a Educação Infantil no Plano Estadual de Educação ● em consonância com a política local definida para a área; disponibilizemprofissionais e recursos para exercer o apoio ● técnico e financeiro aos municípios; mantenham uma sistemática de coleta, análise, armazenagem ● e divulgação de dados do seu sistema educacional, disponibi lizandoos ao público em geral; desenvolvam metodologias para localizar e incorporar dados ● sobre instituições e/ou redes que funcionam à margem do sis tema educacional, visando à sua inclusão nas estatísticas nacio nais, estaduais e municipais; colaborem com a realização de estudos sobre o custo/criança ● atendida; acompanhem e avaliem de que forma a legislação e a política ● estadual vigentes estão sendo incorporadas pelo sistema e pe las instituições de Educação Infantil estaduais; credenciem e autorizem o funcionamento das instituições de ● Educação Infantil nos municípios que integram o Sistema Es tadual de Ensino; credenciem, autorizem, supervisionem e avaliem o funciona ● mento das instituições de ensino para a formação dos pro fissionais de Educação Infantil vinculadas ao seu sistema, a fim de garantir que os conteúdos necessários a essa formação contemplem a faixa etária de 0 até 5 anos na íntegra, com especial atenção ao trabalho com bebês; realizem um programa de acompanhamento das instituições ● de Educação Infantil, auxiliandoas a estabelecer os planos e as metas para a melhoria permanente da qualidade do cuida curriculos_programas.indd 46 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 47 do e da educação oferecida nos sistemas educacionais esta duais e municipais; adotem medidas, em articulação com os municípios, para as ● segurar que todas as instituições de Educação Infantil formu lem e avaliem suas propostas pedagógicas com a participação da comunidade escolar, orientandoas nesse processo. Para garantir o cumprimento da legislação vigente no que diz res peito ao desenvolvimento da Educação Infantil em âmbito estadual, cabe aos conselhos estaduais de educação e do Distrito Federal: estabelecer normas e regulamentações para o credenciamento ● e o funcionamento das instituições de Educação Infantil; subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano Es ● tadual de Educação no que diz respeito à Educação Infantil e à formação dos profissionais que atuarem na área; manifestarse sobre questões relativas à Educação Infantil e à ● formação dos profissionais da área; assessorar a Secretaria de Educação no diagnóstico dos proble ● mas e deliberar sobre medidas para aperfeiçoar a melhoria do cuidado e da educação da criança de 0 até 5 anos de idade; emitir pareceres sobre assuntos da área educacional por iniciati ● va de seus conselheiros ou quando solicitado pela Secretaria de Educação ou pelos sistemas municipais no âmbito do estado; articularse com o CNE e os conselhos municipais de edu ● cação; analisar e emitir pareceres sobre questões relativas à aplicação ● da legislação educacional no que diz respeito à Educação In fantil e sua articulação com os outros níveis. Em consonância com a legislação vigente e com os princípios ex pressos na Política Nacional e Estadual de Educação Infantil, cabe às secretarias municipais de educação, visando a definir e a implementar a política municipal para a área: articularse com o Ministério da Educação, secretarias esta ● duais, órgãos, organismos, organizações, áreas, programas, poderes Legislativo e Judiciário para propiciar uma gestão curriculos_programas.indd 47 28/12/2009 17:51:21 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 48 integrada e colaborativa entre os três níveis de governo e entre os diversos setores das políticas sociais; estabelecer diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a área ● no que se refere à organização, ao financiamento e à gestão do sistema educacional como um todo, à garantia das vagas demandadas pela população, à formação dos profissionais, ao credenciamento das instituições de Educação Infantil única e exclusivamente para o cuidado e a educação das crianças de 0 até 5 anos de idade; divulgála por meio de distribuição de documento impresso e ● disponibilizála na internet; articularse com organizações representativas da sociedade ● civil: sindicatos, movi mentos sociais, organizações não go vernamentais, visando ao desenvolvi mento e à progressiva consistência do campo da Educação Infantil; ampliar progressivamente o atendimento às crianças de 0 ● até 6 anos de idade para atingir toda a demanda em âmbito municipal; responsabilizarse pela qualidade do atendimento nas institui ● ções de Educação Infantil em âmbito municipal; articularse aos outros níveis (Fundamental, Médio e Supe ● rior) e às modalidades de ensino (Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Indígena) do sistema educacional. Para o desenvolvimento de uma Política de Educação Infantil, em conformidade com a legislação nacional, é necessário que as secretarias municipais de educação: incluam a Educação Infantil no Plano Municipal de Educa ● ção em consonância com a política local definida para a área; criem um setor de Educação Infantil, disponibilizando uma ● equipe de profissionais e recursos para exercer suas funções no município; mantenham uma sistemática de coleta, análise, armazenagem ● e divulgação de dados do seu sistema educacional, disponibi lizandoos ao público em geral; curriculos_programas.indd 48 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 49 desenvolvam metodologias para localizar e incorporar dados ● sobre instituições e/ou redes de Educação Infantil que funcio nam à margem do sistema educacional, visando a sua inclusão nas estatísticas nacionais, estaduais e municipais; adotem medidas visando a garantir vagas no sistema educa ● cional a todas as crianças até os 6 anos de idade residentes no município, de acordo com a demanda de suas famílias; apoiem financeira e/ou tecnicamente as instituições de Educação ● Infantil conveniadas, filantrópicas, confessionais e comunitárias para que atinjam padrões compatíveis com as exigências legais; realizem estudos sobre o custo/criança atendida; ● adotem medidas para suprir vagas em locais de alta vulnerabi ● lidade e para populações em situação de risco social iminente; adotem medidas para garantir que o acesso às vagas respeite ● o critério de equidade social sempre que a demanda superar a oferta de matrículas nas instituições municipais de Educa ção Infantil; garantam a inclusão de crianças com necessidades educacio ● nais especiais; não autorizem a matrícula de crianças com idade superior a 6 ● anos na Educação Infantil; não autorizem a matrícula de crianças com idade inferior a 5 ● anos (completos no início do respectivo ano letivo) no Ensino Fundamental; adotem medidas para garantir uma transição pedagógica ade ● quada na passagem das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental; adotem medidas para não permitir que se realizem avaliações ● que levem à retenção de crianças na Educação Infantil; r ● ealizem programas municipais de formação de todos os profis sionais de Educação Infantil de modo contínuo e articulado; articulemse com as instituições formadoras a fim de garantir ● que os conteúdos necessários à formação dos profissionais de curriculos_programas.indd 49 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 50 Educação Infantil contemplem a faixa etária de 0 até 5 anos, com especial atençãoao trabalho com bebês; autorizem apenas a contratação, nas instituições de Educação ● Infantil, de professores, diretores e coordenadores com a for mação exigida; promovam a admissão de professores na rede pública somente ● por meio de concurso; implementem plano de cargos e salários para os profissionais ● da Educação Infantil; promovam a habilitação exigida pela legislação para os profis ● sionais que ainda não a possuem; promovam a formação continuada dos professores e de outros ● profissionais que atuam nas instituições de Educação Infantil; promovam o credenciamento das instituições de Educação ● Infantil de acordo com as normas e as regulamentações defi nidas pelos conselhos municipais de educação; realizem um programa de acompanhamento e avaliação do ● credenciamento e do funcionamento de todas as instituições de Educação Infantil, auxiliandoas a estabelecer os planos e as metas para a melhoria permanente da qualidade do cuidado e da educação oferecida no sistema educacional municipal; garantam a supervisão de todas as instituições de Educação ● Infantil; adotem medidas para assegurar que todas as instituições de ● Educação Infantil formulem e avaliem suas propostas peda gógicas com a participação da comunidade escolar; elaborem padrões de infraestrutura para as instituições de ● Educação Infantil, de acordo com os parâmetros nacionais e com a Lei de Acessibilidade; adotem medidas para garantir que os imóveis onde funcionam ● as instituições de Educação Infantil estejam em conformidade com os padrões municipais de infraestrutura estabelecidos e de acordo com a Lei de Acessibilidade; curriculos_programas.indd 50 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 4 Currículos e Programas 51 garantam a gestão democrática com a implantação de conse ● lhos nas instituições públicas de Educação Infantil, aprimo rando as formas de participação da comunidade; garantam a alimentação escolar para as crianças atendidas nas ● instituições de Educação Infantil, públicas e conveniadas, complementando os recursos recebidos do governo federal, em caráter permanente; garantam o fornecimento anual e a reposição de materiais pe ● dagógicos, livros, CDs e brinquedos para as instituições de Educação Infantil. Cabe aos Conselhos Municipais de Educação, visando a desen volver ações específicas para garantir a normatização da legislação em âmbito municipal: estabelecer normas e regulamentações para o credenciamen ● to e o funcionamento das instituições de Educação Infantil no âmbito do município, em consonância com a legislação e as diretrizes nacionais e estaduais; subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano ● Municipal de Educação no que diz respeito à Educação In fantil e à formação dos profissionais que vão atuar na área; manifestarse sobre questões relativas à Educação Infantil e à ● formação dos profissionais da área; assessorar a Secretaria de Educação no diagnóstico dos proble ● mas e deliberar sobre medidas para aperfeiçoar a melhoria do cuidado e da educação da criança de 0 até 5 anos de idade; emitir pareceres sobre assuntos da área educacional por inicia ● tiva de seus conselheiros ou quando solicitado pela Secretaria Municipal de Educação; analisar e emitir pareceres sobre questões relativas à aplicação ● da legislação educacional no que diz respeito à Educação In fantil e sua articulação com os outros níveis; articularse com o CEE e o CNE. ● Resumindo as últimas três gerações de políticas educacionais, a Edu cação Infantil oferece conquistas enormes no sentido de ampliar a oferta curriculos_programas.indd 51 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 52 de matrículas. Com a aprovação do FUNDEB, a Educação Infantil passa a contar com uma política de financiamento, o que até então não exis tia. Pesquisas nacionais indicam que o acesso a esse nível de educação tem efeito positivo no desempenho dos alunos em testes de proficiência. Araújo (2006) mostra que, no Brasil, as crianças que iniciam seus estudos já na préescola têm, em média, um desempenho escolar melhor. Além disso, o autor destaca que a grande maioria dos alunos que iniciam os estudos após a primeira série do Ensino Fundamental não chegam ao terceiro ano do Ensino Médio, devido ao alto índice de repetência para esse grupo. Klein (2006), a partir dos dados do SAEB de 2003, mostra uma associação positiva entre o desempenho em matemática e a entrada do aluno da 4ª série na préescola ou creche, mesmo após considerar as características relacionadas ao nível socioeconômico médio dos alunos que frequentam as diferentes redes de ensino. Resumo Resumo Resumo ResumoResumo Resumo Resumo Resumo Neste capítulo, aprendemos que a legislação existente representa as conquistas da sociedade no sentido de assegurar os direitos da população infantil. No entanto, garantir os direitos das crianças é responsabilidade social. Sendo assim, a educação das crianças, além de direito social, constituise um direito humano em condição de existência. Além disso, para que a sobrevivência das crianças esteja garantida, seu crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos e o cuidar/educar seja efetivado, é necessário oferecer às crianças dessa faixa etária condições de usufruí rem plenamente das possibilidades de apropriação e de produção dos significados no mundo, da natureza e da cultura. curriculos_programas.indd 52 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 53 Neste capítulo, estudaremos as abordagens pedagógicas para os conteúdos nas creches e nas préescolas priorizando a formação pessoal e social (identidade, autonomia, brincar, movimento e conhecimento de si e do outro) e o conhecimento do mundo (diferentes formas de linguagem e expressão, artes, música, linguagem oral e escrita, mate mática, conhecimento da natureza e sociedade). Destacaremos a im portância de observar as brincadeiras das crianças como elementos de conhecimento delas quanto às suas maneiras próprias de pensar e agir sobre o mundo. Observar é um momento de ação. O fundamental é que os educadores e educadoras compartilhem das brincadeiras das crianças, propiciandolhes espaço, tempo e artefatos adequados e con vidativos para o brincar, e ajudandoas quando forem solicitados. Direito de ser criança A construção de uma pedagogia para a Educação Infantil enfatiza o direito de ser criança, poder brincar, viver experiências significativas de forma lúdica e informal e o direito de ir à escola e aprender de for ma mais sistematizada. Esse caminho busca a superação da dicotomia entre tratamentoassistência que ainda vigora em muitas instituições de ensino especializado. Assim, educar significa: propiciar contextos de cuidados, brin cadeiras e aprendizagens dirigidas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de acei tação, respeito, confiança e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos Abordagem pedagógica dos conteúdos nas creches e nas pré-escolas 5 curriculos_programas.indd 53 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 54 mais amplos da realidade social e cultural. Cuidar significa: ajudar o outro a se desenvolver como ser humano, valorizar e ajudar a desenvol ver capacidades (RCEI, 1998, p. 2324). Quando analisamos a Educação Infantil e o Currículo, devemostomar a criança como ponto de partida da proposta pedagógica, com preendendo que para conhecer o mundo ela envolve o afeto, o prazer, o desprazer, a fantasia, o brincar, o movimento, a poesia, as ciências, as artes plásticas e dramáticas, a linguagem, a música e a matemática de forma integrada, pois a vida é algo que se experimenta por inteiro (FARIA ,1999). A organização e estruturação do Currículo na Educação Infantil compreende dois eixos de experiências: formação pessoal e social (identidade, autonomia, brincar, ● movimento e conhecimento de si e do outro); conhecimento do mundo (diferentes formas de linguagem e ● expressão, artes, música, linguagem oral, escrita e matemática, conhecimento da natureza e sociedade). Atualmente, como podemos refletir sobre uma proposta para a Educação Infantil que esteja apta a encarar as questões que afetam as relações entre a criança e a sociedade? Não devemos imaginar que seja possível a existência de um modelo único, adequado a todas as crianças e realidades, pois isso será contrário a tudo o que sabemos sobre as dife renças que constituem as crianças, famílias e educadores, fruto de suas diferentes inserções históricas e culturais na sociedade. Podemos e deve mos, contudo, ponderar sobre alguns eixos orientadores da organização das práticas pedagógicas que necessitam ser priorizados, no sentido de garantir às crianças a possibilidade de construírem seus conhecimentos de forma crítica, criativa e consistente. Diante das questões colocadas até aqui, apontamos dois grandes eixos a serem considerados: a brincadeira como atividade cultural que deve ser incorporada ao currículo da Educação Infantil; o papel media dor do professor e da professora na ideia da construção do conhecimen to em rede como orientadora do planejamento pedagógico e da seleção e tratamento dos conteúdos curriculares. Segundo Vygotsky (1987b), no princípio da vida da criança, suas ações sobre o mundo são motivadas pelo contexto perceptual e pelos curriculos_programas.indd 54 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 55 objetos nele contidos. Contudo, quando se iniciam os jogos de faz de conta, há um novo e importante processo psicológico para a criança – o processo de imaginação – que lhe deixa se desprender das restrições impostas pelo ambiente imediato. A criança é agora capaz de modificar o significado dos objetos, transformando uma coisa em outra. Assim, o campo de significado se impõe sobre o campo perceptual. Esse processo tem implicações importantes no desenvolvimento da criança, particularmente naquilo que se refere à construção de significa dos sobre o mundo que a cerca. Existe uma ampliação da flexibilidade em usar os objetos, a partir da possibilidade de atribuirlhes novos signi ficados pelo processo de imaginação. Essa nova forma de operação com significados abre um novo campo de apreensão e invenção da realidade. Podemos afirmar que, para as crianças, um pedaço de madeira se torna um cavalo e, com ele, ela pode galopar para outros universos; pedrinhas viram comidinhas e com elas deliciosos e saborosos pratos são feitos; um pedaço de tecido consegue transformálas em príncipes e princesas ou heróis e heroínas, conduzindoas aos castelos, campos e outros tempos e lugares. Quando a criança cria sua narrativa de faz de conta, extrai os elementos de sua criação das experiências reais vividas anteriormente, combinando esses elementos ela produz algo novo. Essa capacidade de compor e combinar o antigo com o novo é a base da atividade criadora do ser humano (VYGOTSKY, 1987). O brincar é, portanto, uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento das crianças, pois, por meio das brincadeiras, elas po dem ampliar algumas competências importantes, tais como: a atenção, a imitação, a memória, a imaginação etc. Brincando as crianças desco brem e refletem sobre a realidade da cultura na qual vivem, incorporan do e, ao mesmo tempo, questionando regras e papéis sociais. Isso quer dizer que nas brincadeiras as crianças podem extrapolar a realidade e transformála por meio da imaginação. Ainda que o jogo de faz de con ta seja marcado pela dimensão fantasiosa, é preciso, segundo Vygotsky, argumentar que, ao lado do desprendimento possibilitado pela imagi nação, encontrase a subordinação às regras impostas pela realidade. A origem do processo do brincar se localiza naquilo que a criança conhece e vivencia; é apoiada nesse conhecimento que ela elabora e reelabora situações de sua vida cotidiana; ajusta e cria novas realidades; exerce papéis que vivencia no cotidiano (filha) e curriculos_programas.indd 55 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 56 também papéis que ainda não pode ser (mãe, pai, motorista de ôni bus, professora etc.); papéis que aspira ser (cantora, bombeiro etc.) e papéis que a sociedade censura (ladrão, bêbado etc.). Refletindo sobre suas relações com essas situações e papéis e os vivenciando, a criança toma consciência de si e do mundo, construindo significa dos sobre a realidade. Rocha (2000) aponta uma contradição vivenciada no processo de brincar. Essa contradição está na relação dialética entre o já dado e o novo, entre o vivido/conhecido e o imaginado. Para exemplificar essas relações contraditórias, podemos notar o uso dos artefatos pela criança: objetos usados de acordo com suas funções reais (panelinha para fazer comidinha) e objetos usados com novos significados (pane linha usada como tambor); ações concretas e literais (mexer com uma colher a comidinha imaginada) e ações substitutivas (vira a panelinha para baixo e bate com a colher, imitando o som do tambor). Essa flexibilidade se apoia no conhecimento, na vivência que a criança tem do objeto e na habilidade que ela possui para ignorar certas ca racterísticas, ao mesmo tempo em que deve considerálas para que a ação substitutiva seja possível (um pedaço de pano não serviria como tambor, uma vez que não produziria som). Do mesmo modo, pode mos identificar essas relações dialéticas entre o imaginado e o real: o convívio do “eu” real da criança com o “eu” dos papéis imaginados; papéis e relações já vividos e papéis e relações não vivenciados; ações repetidas e ações antecipadas/criadas; o uso da linguagem nas nar rativas das circunstâncias imaginadas, como falas dos papéis e sua utilização como instrumento de planejamento, de negociações, de ex plicitações, instruções; as formulações em tempo passado daquilo que se vai fazer no amanhã (“agora eu era cavaleiro”); o desenvolvimento do jogo em dois planos simultâneos: o tempo e o espaço físico real e o tempo e o espaço físico figurado. O processo de imaginação, estritamente pertinente ao brincar, é o alicerce de qualquer atividade criadora, sendo condição para a criação artística, científica e técnica. O universo da cultura é produzido pela atividade fecunda do ser humano que, por sua vez, não é uma capaci dade inata, mas sim construída historicamente nas relações sociais. São essas construções que tornam vivas e constituem as relações do sujeito com o mundo e que permeiam a produção humana no campo das ar tes, das ciências e das técnicas. curriculos_programas.indd 56 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 57 O processo de criação ocorre quando o sujeito imagina, combina e modifica a realidade. Assim sendo, não se reduz às grandes obra da humanidade ou às obras de arte etc., mas se refere à capacidade do ser humano de imaginar, descobrir, combinar e ultrapassar a experiênciaimediata. Em se tratando da atividade criativa, imaginação e realidade constituem uma unidade dialética, relacionandose reciprocamente e possibilitando a expansão e a transformação da experiência sensível do ser humano na sua relação com o mundo (VYGOTSKY, 1987a). Quan to mais plenas forem as experiências que as crianças vivenciam, mais probabilidade elas terão de desenvolver a imaginação e a criatividade em suas atividades, especialmente por meio de suas brincadeiras e, quanto mais possibilidades lhe forem apresentadas para ampliar sua imaginação, mais fecundas serão nas suas ações/interações com o mundo. O brincar é um processo histórico e socialmente construído, ou seja, as crianças aprendem a brincar com os diferentes membros de sua cultura, e suas brincadeiras são carregadas dos hábitos, valores e conhe cimentos de seu grupo social. Os familiares ou indivíduos responsáveis pelos cuidados com os bebês lhes auxiliam a brincar desde cedo, quan do, por meio dos vínculos afetivos constituídos, interagem com eles, criando diferentes situações que poderíamos identificar como o início desse processo. As conhecidas brincadeiras que os adultos costumam fazer, por exemplo, esconder e achar os próprios bebês ou objetos atrás de panos ou cobertas. Essas brincadeiras ajudam a estreitar as conexões afetivas adultosbebês, além de auxiliar as crianças na elaboração da imagem mental do objeto ou pessoa distante, o que servirá de apoio para suas construções de sistemas de representação. Por meio da interação com os artefatos e brinquedos apresentados pelos adultos, a criança, desde pequena, entra em relação com as ca racterísticas e os usos sociais dos objetos, o que a ajuda a compreender as formas culturais de atividades do seu grupo social. Desse modo, as brincadeiras não devem ser vistas como algo biológico, que brota naturalmente, mas sim como uma aprendizagem social, produto das relações entre os indivíduos de um mesmo grupo social. Esse modo de abordar a atividade infantil se baseia no ponto de vista da con cepção históricocultural do desenvolvimento, que atribui à Educação Infantil uma função fundamental na organização e no planejamento de condições favoráveis ao desenvolvimento e à aprendizagem do pro cesso do brincar. curriculos_programas.indd 57 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 58 Temos visto, na Educação Infantil, diferentes formas de se conce ber a brincadeira. Uma delas é a concepção estruturalista e organicista do brincar, baseada em uma visão de natureza infantil biologicamente determinada, segundo a qual a brincadeira é vista como uma atividade natural e espontânea, originada na própria essência da criança. As prá ticas de Educação Infantil, baseadas nessa visão, encaram a brincadeira apenas como atividade recreativa, que permite que as crianças relaxem e liberem energias contidas. Nos métodos mais tradicionais, notamos a restrição ou o impedi mento de seu acontecimento no ambiente escolar, pois é considerado um obstáculo para a aprendizagem; as oportunidades de brincar se li mitam à hora do recreio e, quando possível, nos momentos de chegada e saída da instituição. Uma outra tendência, talvez a mais comum, é a utilização da brincadeira como instrumento didático. O brincar, nessa perspectiva, é concebido como preparação para a escolaridade futura, por meio da sua transformação em exercícios e treinamentos. O educa dor ou a educadora usa a brincadeira para ensinar noções e habilidades, como cores, formas, partes do corpo, numerais, entre outras. Além dis so, serve como forma de sedução e treinamento para a aprendizagem. Acreditamos que, por meio das atividades recreativas ou de brinca deiras instrucionais, as crianças podem ser favorecidas, tanto no aspecto lúdico, de diversão e prazer como no aspecto da aprendizagem, uma vez que se podem aprender muitas noções e habilidades por intermédio de brincadeiras, como “seu mestre mandou”, brincadeiras cantadas, brin cadeiras de faz de conta de compra e venda etc. Porém, é importante que o educador e/ou a educadora saibam que as maiores contribuições do brincar ficam em segundo plano, sobretudo, naquelas brincadeiras que evidenciam apenas os objetivos instrucionais. Pensamos que a brincadeira deve se constituir em um dos eixos da organização do trabalho pedagógico, especialmente nos dias de hoje, quando as crianças se acostumaram a se isolar em suas casas e viven ciam tão pouco as brincadeiras coletivas; seja pelas agendas cheias de atividades de formação (inglês, música, natação etc.), seja pelo trabalho precoce ou simplesmente pelo medo da violência nas ruas. Sob o ponto de vista históricocultural, a inclusão da brincadeira nas práticas peda gógicas tem como objetivo desenvolver distintas formas de jogos e brin cadeiras que cooperam para múltiplas aprendizagens e para o aumento da rede de significados construídos pelas crianças. curriculos_programas.indd 58 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 59 Em meio a essas diversas modalidades de brincadeiras que podem acontecer nas creches e préescolas, fazemos referência: às brincadeiras de faz de conta organizadas pelas próprias crianças; à difusão e à recria ção das brincadeiras tradicionais da nossa história e cultura; aos jogos de construção e aos jogos educativos propiciadores de aprendizagens em di ferentes áreas do saber. A brincadeira de faz de conta, corriqueira na faixa etária que envolve a Educação Infantil, mostrase como atividade essen cial, pois nela as crianças reconstroem suas experiências socioculturais e refletem criticamente sobre a realidade em que vivem, desenvolvendo seus conhecimentos sobre si e sobre o mundo ao seu redor. Ao constituir suas brincadeiras as crianças fazem opções, negociam suas ações, organizam as situações, criam regras e se submetem a elas ou as negociam e as reconstroem, simulam e representam diferentes papéis, ocupam posições distintas nas relações de poder (ora mãe/pai, ora filho/ filha, ora professor/professora, ora aluno/aluna, ora herói/heroína, ora vilão/vilã etc.), modificam os significados dos objetos, atribuindolhes novos nomes e funções. Por meio do faz de conta, as crianças aprendem a manusear os objetos e lidar com as situações no plano mental, intro duzindose no espaço das ideias e representações. Cabe aos educadores e às educadoras prepararem atividades de brincar de forma diversifica da, proporcionando às crianças a possibilidade de elegerem diferentes opções e ordenar de forma pessoal suas ações e conhecimentos. O ambiente físico da creche ou da préescola precisa ser um convite à imaginação das crianças, devendo existir em todas as salas, por exemplo, um lugar arrumado para a brincadeira de faz de conta, contendo pinturas, pirucas, bonecas, roupas e acessórios, fantasias, utensílios domésticos de cozinha e lazer, objetos do mundo do traba lho, miniaturas de animais e tudo que as crianças e seus professores e professoras acharem importante. Uma ideia interessante, sobretu do para pequenos espaços, é organizar kits temáticos de brincadeiras, que podem ser caixa de teatro, baú ou cesto que tenham artefatos relacionados a um tema específico: escritório, médico, cabeleireiro, escola, parque etc. Esses materiais precisarão ficar em um lugar aces sível às crianças, para que elas possam escolher livremente os temas e as situações imaginárias que optaram desenvolver. Em se tratando do lugar onde os bebês ficam, é imprescindível que eles tenham acesso a artefatos e brinquedos variados, que possibilitem a exploração de curriculos_programas.indd 59 28/12/2009 17:51:2202 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 60 características e propriedades distintas (sons, cores, formas, texturas, odores) e suas possibilidades associativas (empilhar, rolar, encaixar...). Além disso, é fundamental a presença de brinquedos, como bonecas, paninhos, mamadeiras, pratinhos e móveis para incentivar as primei ras ações de imitação de papéis sociais. Uma outra esfera do brincar que, em geral, se articula às brinca deiras de faz de conta, são os jogos de construção. Brincar com elemen tos da natureza, de construção, de sucata (areia, massa, argila, pedras, papel, folhas, flores, objetos com estruturas de encaixe próprios para a construção etc.) possibilita a exploração dos predicados e características associativas dos objetos, assim como seus usos sociais e simbólicos. A brincadeira com regras também tem importante valor no desen volvimento da criança, pois esse tipo de brincadeira tem início com os primeiros experimentos do brincar dos bebês e penetram no faz de conta, nos jogos e construções. As normas demarcam um campo de ação a ser adotado, com base no qual as crianças regulam seu comportamento. Além das regras subentendidas nos jogos de faz de conta, é fundamental que a criança aprenda a brincar com regras explícitas. Os jogos que podem ajudar nesse sentido são: amarelinha, jogos com peteca ou bola, jogos de linguagem (adivinhas, travalínguas, parlendas), jogos tradicionais como rodar pião, bola de gude, pular corda, soltar pipa e outros como dama, xa drez, dominó, quebracabeça, trilha e muitos outros jogos construídos nas diferentes culturas ou transformados/criados a partir dos já conhecidos. O que os educadores e educadoras devem fazer na hora das brin cadeiras? Qual é a sua função? Primeiramente, é imperativo salientar a importância de observar as brincadeiras das crianças como elementos de conhecimento delas quanto às suas maneiras próprias de pensar e agir sobre o mundo. Observar é um momento de ação. O fundamen tal é que os educadores e educadoras compartilhem das brincadeiras das crianças, propiciandolhes espaço, tempo e artefatos adequados e convidativos para o brincar, e ajudandoas quando forem solicitados. Muitas vezes, o educador ou a educadora é convidado a participar da brincadeira e a desempenhar um papel. A forma de participação do professora ou da professora deve ser pautada na observação e na escuta cuidadosa das crianças e de como decidem o desenrolar da situação de faz de conta. É preciso que o educador ou a educadora não imponha seus desejos e vontades, pois ele ou ela poderá destruir a brincadeira. curriculos_programas.indd 60 28/12/2009 17:51:22 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 61 Por meio do respeito às decisões e escolhas das crianças, a educadora poderá ser uma participante (não uma orientadora) que busca enri quecer a brincadeira, trazendo novas indicações e relações que poderão ser estabelecidas. A chave para uma boa intervenção de educadores nas brincadeiras é a observação e o respeito pelas escolhas das crianças, o que só é possível pelo conhecimento do jogo da criança, do que e como brincam de sua cultura e de sua lógica própria. Dessa forma, se ambicionamos formar indivíduos criativos e cons trutores de sua própria história, tornase indispensável compartilhar as brincadeiras com as crianças. Devemos colocar à sua disposição nossas vivências, as brincadeiras que conhecemos desde pequenos, combinan do, assim, o novo e o velho, construindo um presente mais rico. O planejamento de projetos e a importância da mediação das professoras e dos professores Sob o ponto de vista históricocultural, o sujeito e o objeto de conhe cimento se relacionam de forma dialética, não sendo, portanto, uma rela ção direta, linear, não há predominância de um sobre o outro, e sim uma relação entre eles, mediada por um outro sujeito (VYGOTSKY, 1991). Dessa maneira, o entendimento da relação epistemológica tem muito a acrescentar na organização curricular, especialmente, no que concerne à construção do conhecimento, ao papel do professor e da professora e da criança na relação pedagógica. A compreensão de que a aprendizagem acontece desde que o indiví duo nasce, a partir de um processo em que o desenvolvimento e a apren dizagem se constituem mutuamente em uma unidade dialética, à medida que o sujeito interage com o mundo, confere à educação papel funda mental. Não se pode entender, então, segundo essa visão, que a Educação Infantil seria apenas um lugar de recreação, de cuidados ou de preparação para a aprendizagem futura, mas sim um espaço de construção de conhe cimentos e de ampliação do universo simbólico das crianças. As formas mais tradicionais de educação apregoam a aquisição dos conteúdos de maneira regular e homeopática, com pequenas doses do mais simples para o mais complexo, sem excessos que alterariam todo o sistema. Percursos novos e diferentes precisam ser evitados. Os curriculos_programas.indd 61 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 62 professores ou as professoras são sempre aqueles que sabem, o aluno e a aluna aprendem. O conteúdo é eterno e inquestionável. Atualmente, os ambientes de acesso à informação estão cada vez mais disponíveis (internet, TV, livros, jornais, revistas etc.). Pade cemos, desde a mais tenra idade, com o excesso de informações que nos invadem pela rede a todo momento. O complicado é escolher e incorporálas de forma crítica. Como ponderar acerca da apreensão do conhecimento escolar em rede de maneira diferenciada, interdisciplinar e contextualizada? De que maneira o educador e a educadora infantil podem auxiliar nesse processo? Sob o ponto de vista históricocultural, o professor e a professora passam a atuar como mediadores ou mediadoras entre a criança e os conteúdos elaborados. Não é nem “observador(a) do amadurecimento da criança” nem aquele(a) cuja responsabilidade principal é apenas re passar informações a serem absorvidas. Como mediador ou mediadora, precisa colocar a criança em contato com os diferentes conhecimentos ou as muitas formas de encontrálos, e deve auxiliar a processar esse co nhecimentos criticamente. O professor ou a professora precisa, então, atuar como aquele(a) que possibilita a relação entre a criança e o conhe cimento, indicando, a cada momento, suas possibilidades de interagir com outros campos do saber. Essa é uma das formas de se construir o conhecimento em rede. O que implica, fundamentalmente, considerar o indivíduo que aprende como um ser envolvido em permanente trans formação e que se modifica a cada nova interação. Essa concepção de construção do conhecimento em rede e do papel mediador do profes sor e da professora implica compreender que as crianças desenvolvem diversas estratégias de apreensão e de ação sobre o real, resultado das suas diferentes condições sociais e culturais, o que interfere na sua ma neira de se desenvolver. Pela riqueza de pontos de vista e de experiên cias que podem ser trocadas, essas diversidades devem ser ponderadas e utilizadas como geradoras de novos conteúdos. É, principalmente, no espaço das diferenças entre as crianças e entre as crianças e os adultos que se pode almejar que elas se capacitem para criticar, argumentar, transformar, criar e inventar. Vamos criar, portanto, condições para que as crianças construam linguagens e conhecimentos, digam suas próprias palavras, sintonizan do sua voz como tantas outras presentes no espaço escolar. curriculos_programas.indd 62 28/12/200917:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 63 A organização de projetos interdisciplinares com as crianças pode ser considerada uma estratégia pedagógica importante para integrar os diversos conhecimentos curriculares, propiciando a criação do conheci mento em rede. As interações da criança com os conteúdos trabalhados acontecerá na busca coletiva de informações em torno de um tema ge rador de interesse do grupo. Sob essa perspectiva, a construção dos projetos precisa estar vin culada a conhecimentos que incorporem os fatos sociais que as crian ças por ora vivenciam, ainda que sejam definidos e planejados pelas crianças e/ou pelos professores e professoras. Essa forma de organizar os projetos de trabalho permite, ao contrário das atividades fragmentadas e em etapas, que a criança estabeleça relações entre as diferentes áreas de conhecimento e as realidades vividas na escola e na sua vida. Numa perspectiva interdisciplinar, os projetos de trabalho têm como finalidade relacionar conhecimentos de diferentes áreas, de manei ra a propiciar às crianças a possibilidade de fazer múltiplas relações, esten dendo sua ideia sobre um determinado tema e até mesmo a formação de conceitos, costumes e valores culturais básicos para a vida em sociedade. Os projetos precisam partir das questões consideradas importantes para as crianças, questões que deverão ser respondidas a partir do tra balho coletivo e mediado sempre pela professora. Por isso, é essencial que a escola esteja conectada com o que as crianças já sabem, com suas formas de apropriação dos conhecimentos e suas teorias diante dos te mas a serem abordados. É bom lembrar que a memória, os relatos escritos e os trabalhos ela borados pelas crianças, como desenhos, murais, cartazes, fotos das ativida des etc., são registros fundamentais para o acompanhamento e a avaliação pelos professores. Essa é uma forma de avaliação que pode prever novas trajetórias e é fundamental para o sucesso de um projeto de trabalho. Nos projetos de trabalho é essencial que as crianças, os professores e as professoras saibam pesquisar, interpretar e busquem o entendimen to dos diversos problemas que os cercam. O que queremos dizer é que os professores e as professoras devem criar um clima de curiosidade e de prazer com o conhecimento, de modo que as crianças se envolvam de forma apaixonada com as experiências, com os objetos e materiais pedagógicos utilizados. curriculos_programas.indd 63 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 64 Segundo Hernandez (1998, p. 13), os projetos devem ser um convite a soltar a imaginação, a paixão e o risco por explorar novos caminhos que permitam que as escolas deixem de ser formadas por compartimentos fechados, faixas horárias frag mentadas, arquipélagos de docentes e passem a se converter em uma comunidade de aprendizagem, na qual a paixão pelo conhecimento seja a divisa, e a educação de melhores cidadãos o horizonte ao qual se dirige. Para um melhor entendimento desse tema, vale reforçar algumas características gerais dos projetos de trabalho, tais como: percurso por um tema problema que facilita a análise, a inter ● pretação e a crítica; predominância da atitude de cooperação; o professor é um ● aprendiz e não um especialista; percurso que busca estabelecer conexões entre os fenômenos e ● que questiona a ideia de uma visão única da realidade; cada percurso é singular e é trabalhado com diferentes tipos ● de informações; o professor ensina a escutar e a aprender por meio da vivência ● com os outros; há diferentes formas de aprender o que o professor quer ensi ● nar; há várias fontes de informação que não apenas professor; aproximação atualizada aos problemas das disciplinas e dos ● saberes; forma de aprendizagem em que se leva em conta que todas ● as crianças podem aprender e encontram um papel para de sempenhar; não se esquecer de que a aprendizagem é vinculada ao fazer, ● à atividade manual, à intelectual e a outras modalidades de atividades. Existem outras questões importantes para as práticas pedagógicas na Educação Infantil, como, por exemplo, o que é ser criança hoje. Por isso a importância do diálogo e do trabalho constante com a lingua gem. A linguagem não é apenas uma ferramenta de comunicação, ela curriculos_programas.indd 64 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 65 constrói nossa forma de pensar no mundo e, portanto, constitui nossa identidade histórica e cultural. Ao concluir esse tópico, é importante reafirmar a convicção de que o conhecimento deve ser vivenciado no espaço escolar de forma prazerosa e que precisa ser vivido de forma apaixonada. Para que os conteúdos tenham significados na vida das pessoas, é essencial que a aprendizagem aconteça no experimento do encontro entre as crianças e entre elas e os adultos (educadores, famílias). Aprendemos com os livros, com a música, com a arte, com a lin guagem, com as histórias e com as brincadeiras, mas são as crianças que podem nos ensinar a inverter a velha lógica, a transgredir as ordens, a não temer o novo, a refazer a história. Podemos também aprender com os poetas: Tenho um livro sobre águas e meninos Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito Porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que car regar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviço, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto no final na frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. curriculos_programas.indd 65 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 66 O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o filho com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. Manoel de Barros Planejamento e avaliação do currículo na Educação Infantil O planejamento é a atividade intencional pela qual se projetam fins e se estabelecem meios para atingilos. Por isso, o planejamento não é neutro, mas ideologicamente comprometido. Por esse motivo é importante a discussão a respeito do real significado social e político da ação que se está planejando. Devese perguntar sobre as determi nações sociais que estão na base do problema a ser enfrentado, assim como devese discutir as suas possíveis consequências e seus compro metimentos. Segundo Cipriano Carlos Luckesi (1992, p. 115), [...] planejar, nas escolas em geral, tem sido um modo de opera cionalizar o uso de recursos – materiais, financeiros, humanos, didáticos. [...] usualmente (com exceções no cotidiano escolar, é claro) essa semana deplanejamento redunda no preenchimento de um formulário em colunas, no qual o professor deve fazer du rante o ano letivo na disciplina ou área de estudos que trabalha. [...] Essa é uma forma de fazer do ato de planejar um ato neutro, como desejavam nossos exministros e como desejam todos os que defendem uma perspectiva conservadora para a sociedade. Na contemporaneidade, os novos pressupostos da administração escolar trazem com a autonomia a indicação da gestão colegiada, com responsabilidades compartilhadas entre escola e comunidade. Essa forma de gestão requer que se propicie espaços para a iniciativa e par ticipação de todos os envolvidos no processo educativo. Essa parti cipação, compromissos e responsabilidades, devem estar visivelmente enunciadas no plano da escola, que deve estabelecer a sua filosofia, sua finalidade, assim como seus principais objetivos devem ser reavaliados constantemente para adequálos à realidade. curriculos_programas.indd 66 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 5 Currículos e Programas 67 A avaliação deveria ser compreendida como uma crítica do percur so de uma ação, seja ela curta ou prolongada. Enquanto o planejamen to dimensiona o que vai ser feito na escola, a avaliação fundamenta essa caminhada, visto que fornece elementos para a tomada de decisões. A avaliação funciona como um sistema de crítica do projeto que elabora mos na escola. Uma proposta de organização do trabalho pedagógico só estará com pleta ao anunciar sua compreensão sobre avaliação. Portanto, a maneira como os educadores e educadoras exercem suas avaliações sobre alunas e alunos indica, em último grau, a sua concepção de educação. Seja como uma educação repressora e bancária, em que o alunado é depositário do conhecimento e deve reproduzilo, ou como uma educação progressista e democratizadora, voltada para o integral desenvolvimento do ser hu mano, de sua consciência crítica, de sua capacidade de ação e reação em sua criatividade. Nessa concepção, a avaliação não tem a função de aferir, conferir, classificar e aprovar/reprovar, eliminando aqueles que não che garam aos padrões preestabelecidos. A avaliação tem a função de pro porcionar ao professor e à professora uma melhor compreensão sobre a aprendizagem de alunos e alunas, verificando constantemente o trabalho pedagógico que oferece aos alunos(as), a fim de poder superar as dificul dades encontradas. Essa é a concepção considerada mais apropriada. Quando falamos da Educação Infantil, essa atitude avaliativa ex pressa a adoção de uma conduta que não apenas examine e registre os resultados obtidos pela criança a partir de ações conduzidas, mas que procura, fundamentalmente, ser coerente à dinâmica do seu proces so de desenvolvimento, a partir do acompanhamento permanente da ação da criança e da confiança na evolução do seu pensamento. Tal postura avaliativa e mediadora parte do princípio de que cada mo mento de sua vida representa uma etapa altamente significativa e ante cede as próximas conquistas, devendo ser analisada no seu significado próprio e individual em termos de estágio evolutivo de pensamento e de suas relações interpessoais. A partir daí, poderemos abandonar lista gens de comportamentos uniformes, padronizados e buscar estratégias de acompanhamento da história que cada criança vai constituindo ao longo de sua descoberta do mundo. Esse acompanhamento deve ser no sentido de mediar a sua ação, favorecendolhe desafios, tempo, es paço e segurança em suas experiências (HOFFMANN, 1996). curriculos_programas.indd 67 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 68 Essa proposta de avaliação reconhece o professor/adulto como um mediador. Isso quer dizer que a criança não deve apenas reproduzir os con teúdos que o professor ou a professora transmitiu, pois essa não é a única possibilidade de conhecimento. A relação com o conhecimento depende da relação que a criança constitui com as outras crianças (de diferentes ida des), com os pais, professores, com o meio ambiente e com a cultura. Isso quer dizer que não há como avaliar uma criança apenas a partir das nossas experiências e expectativas como adultos. Não basta, rechear listas, relató rios ou boletins, uma vez que isso tudo expressa a comparação à medição e à classificação das crianças. O registro da avaliação deve ser a memória da história vivida pela criança em um determinado período. Dessa forma, podem ser utilizados relatórios descritivos e portfólios, por exemplo. Os relatórios descritivos devem ser elaborados de maneira que ao mesmo tempo que refaz e registra a história do seu proces so dinâmico de construção do conhecimento, sugere, encami nha, aponta possibilidades da ação educativa para pais, educa dores e para a própria criança. Diria até mesmo que apontar caminhos possíveis e necessários para trabalhar com ela é o essencial em um relatório de avaliação, não como lições de atitudes à criança ou sugestões de procedimentos aos pais, mas sob a forma de atividades a oportunizar, materiais a lhe serem oferecidos, jogos, posturas pedagógicas alternativas na relação com ela (HOFFMANN, 1996, p. 53, grifo nosso). Nessa proposta, todo o trabalho pedagógico será avaliado, repensado e alterado sempre que necessário. Não se trata de uma avaliação pronta, precisa e acabada, mas sim de uma avaliação em processo, que está preo cupada com o avanço constante da criança em relação ao conhecimento. Resumo Resumo Resumo ResumoResumo Resumo Resumo Resumo Neste capítulo, aprendemos que, quando analisamos a Educação Infantil e o Currículo, devemos tomar a criança como ponto de partida da proposta pedagógica, compreendendo que, para conhecer o mundo, ela envolve o afeto, o prazer, o desprazer, a fantasia, o brincar, o movi mento, a poesia, as ciências, as artes plásticas e dramáticas, a linguagem, a música e a matemática de forma integrada, pois a vida é algo que se experimenta por inteiro. curriculos_programas.indd 68 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 69 Neste capítulo, poderemos perceber que o exercício da cida dania exige o acesso de todos aos recursos culturais relevantes para a intervenção e a participação responsável na vida social: o domínio da língua falada e escrita; os princípios da reflexão matemática; as coorde nadas espaciais e temporais que organizam a percepção do mundo; os princípios da explicação científica; as condições de fruição da arte e das mensagens estéticas; os domínios do saber tradicionalmente presentes nas diferentes concepções do papel da educação no mundo democráti co, até outras exigências que se impõem no mundo contemporâneo. Formação dos educadores e sua atuação no processo curricular Atualmente, ao debatermos as políticas públicas para o Ensino Fundamental, o que parece mais surpreendente não é o empenho do governo federal em implementálas, mas o seu baixo impacto na reali dade escolar. Seria lícito arrazoar que, depois de definido um currículo nacional, selecionados os livros didáticos a serem adotados pelas escolas, treinados professores e professoras de forma mais funcional, com vistas à ampliação das competências consideradas fundamentais para o exercício da docência, acontecesse uma evolução na performance do sistema pú blico do ensino básico, considerando que esse também é avaliado com base em preceitos definidos pelo próprio sistema. Assim, consideramos, nesse momento, que o que merece uma análise mais aprofundada é a própria consistência interna dessas políticas, uma vez que sua compati bilidade com os objetivos mais amplos deuma educação genuinamente Seleção e organização dos conteúdos nos anos iniciais do Ensino Fundamental 6 curriculos_programas.indd 69 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 70 democrática tem sido elemento de estudo e de reflexões em grande parte dos trabalhos acadêmicos no campo das políticas públicas. Ivor Goodson (1995), um dos estudiosos da história do currícu lo, enfatiza em seu livro Currículo: teoria e história a necessidade de se discutir as propostas curriculares ou o que é chamado de Currículo Prescrito, lembrando que aquilo “que está prescrito não é necessaria mente o que é aprendido, e o que se planeja não é necessariamente o que acontece” (p. 78). Ponderando sobre a aceitação de certas ideias em um determinado contexto, o referido autor quer evidenciar a se riedade dos fatores e das relações de poder que permitiram a cons trução de uma determinada proposta. O que podemos perceber é que as propostas pedagógicas são resultado de debates e de disputas de diferentes naturezas também no campo do currículo. Logo, ainda que organizado por um grupo que compartilha dos mesmos ideais, um currículo representa sempre um consenso precário em torno de algumas ideias. Examinando com cuidado as novas propostas curriculares, pode mos perceber que grande parte das ideias que elas contêm já vem sendo discutidas no campo do currículo há várias décadas. Por que, em um de terminado momento histórico, uma determinada proposta ganha pres tígio e se torna hegemônica? Isso acontece em função de vários fatores, por exemplo: se pessoas que pensam da mesma forma obtêm alguma posição na hierarquia de poder constituída, como um cargo público re levante no campo da educação, isso, com certeza, reforça a concepção de currículo que elas defendem, tornandoa uma proposta aceitável. Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram organizados por um grupo, com a colaboração de intelectuais dos diferentes campos do saber. Os PCN inevitavelmente irão apresentar inconsistências ou divergências implícitas, mesmo que seus redatores tenham procurado atenuálas ou suprimilas. Os indivíduos que não concordaram, que se rebelaram contra sua orientação ou contra a forma como foram elaborados, estão atuan do em outros lugares, sejam eles estaduais ou municipais, e articulando propostas mais compatíveis com suas ideias. Dessa forma, a pretensão a um projeto nacional, além de depender de todas as questões discutidas, configurase quase como inviável, não porque vivemos em um país de di mensões continentais, mas porque o próprio processo de elaboração cur curriculos_programas.indd 70 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 6 Currículos e Programas 71 ricular só pode ser pensado em uma dinâmica constante de construção e reconstrução que se inviabiliza quando se cristaliza. Ao analisarmos os Parâmetros Curriculares, tornase necessário fazer referência a um artigo de Michael Apple (1994) intitulado A po- lítica do conhecimento oficial: faz sentido a ideia de um currículo nacio- nal?. Temos que reconhecer que suas análises subsidiaram grande parte das publicações sobre essa temática. Em meio a várias considerações discutidas pelo autor, é essencial a referência que ele faz a um texto de Richard Johnson (1991) sobre um aspecto central na discussão dos currículos nacionais. Johnson aponta que essa ideia de coesão nacio nal em que se baseiam os currículos nacionais é completamente equi vocada, pois parte do pressuposto que alunos e alunas de diferentes posições sociais e pertencentes a diferentes grupos sociais vivenciam o currículo da mesma maneira. Para Correia (1991, p. 2) “nem sempre [os PCN] produzem mu danças nas práticas pedagógicas e nas relações sociais estabelecidas en tre os agentes implicados na ação educativa”. O autor ressalta, ainda, que as alterações como metodologias inovadoras exigiriam uma ruptura com práticas instaladas, tornandose, portanto, indispensável analisar o grau e o poder de decisão dos agentes nela envolvidos. Nos processos de mudanças, suscitados nos e pelos órgãos centrais do sistema educativo, os professores e as professoras são tomados como consumidores(as) das mudanças e como agentes potenciais de resistência. Nos Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental esse re curso de convencimento aparece no documento oficial, principalmente, no Documento Introdutório (1997). Primeiramente, são apresentados dados sobre a performance do sistema. Com base em dados estatísticos sobre taxa de promoção, repetência e evasão, são enfatizados os pro blemas das distorções idade/série e o baixo desempenho dos alunos, em relação às habilidades de leitura e de matemática. O documento procura, ainda, apresentarse como um meio de superar as contradi ções dos currículos estaduais e municipais. Podemos destacar alguns progressos na parte que trata dos Princípios e fundamentos dos Parâ metros Curriculares Nacionais, no qual é afirmado o caráter inovador dos parâmetros por se fundamentar em recentes tendências no campo da educação. Vejamos. curriculos_programas.indd 71 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 72 O exercício da cidadania exige o acesso de todos aos recursos cul turais relevantes para a intervenção e a participação responsável na vida social: o domínio da língua falada e escrita; os princípios da reflexão matemática; as coordenadas espaciais e temporais que organizam a percepção do mundo; os princípios da explicação científica; as con dições de fruição da arte e das mensagens estéticas; os domínios do saber tradicionalmente presentes nas diferentes concepções do papel da educação no mundo democrático, até outras tantas exigências que se impõem no mundo contemporâneo. Tais exigências apontam a rele vância de discussões sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas de discriminação e a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural. Hoje, mais do que nunca, apresentase para a escola a necessidade de se assumir como espaço social de construção dos significados éticos necessários e constituídos de toda e qualquer ação de cidadania (PCN, 1997). As deliberações tomadas pelo núcleo do sistema são reinterpre tadas pelos fatores que se colocam nos diversos níveis intermediários, que no caso dos parâmetros seriam representados pelos técnicos das secretarias estaduais e municipais de educação e de seus diversos ór gãos regionais, chegando até as supervisoras ou coordenadoras peda gógicas das escolas, apesar de os parâmetros considerarem que elas não se apresentam como tabulas rasas, prontas para assimilar o que lhes é apresentado. Sendo elaborados de forma centralizada, os parâmetros se confrontam com inovações singulares, gerando, muitas vezes, conflitos com as práticas em desenvolvimento nas escolas. Por um lado, os pro fessores e professoras, mesmo quando concordam com suas propostas, buscam interpretálas e adequálas conforme o contexto institucional do local em que trabalham, o que faz, em determinadas situações, a adotarem formas diferenciadas entre si. Por outro lado, as inovações trazem indecisão e inquietação porque se propõem a romper com as práticas já cristalizadas. Portanto, é fundamental que os professores entendam os padrões e critérios que definem o discurso pedagógico, bem como os processos de transformações por meio dos quaisos discursos ou os conhecimentos das várias áreas vão sendo reorganizados e transformados, até se torna curriculos_programas.indd 72 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 6 Currículos e Programas 73 rem conhecimento escolar. Assim, as propostas curriculares, como par te do processo de deslocamento de um discurso de uma área, se consti tuem no primeiro elo de uma cadeia de recontextualizações sucessivas no processo de produção do conhecimento escolar, na qual interferem desde interesses editoriais até critérios pedagógicos. É importante destacar, também, que as experiências sociais são elementos definidores das práticas escolares e que uma proposta cur ricular, como os Parâmetros Curriculares Nacionais, será transformada de tal maneira no seu processo de implantação que pouca similaridade haverá entre suas propostas e o que é, de fato, feito nas escolas. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), ela borado nos anos 1980 e respaldado posteriormente pela Lei de Diretri zes e Bases da Educação Nacional, estabelece como responsabilidade da União a avaliação do rendimento escolar em nível nacional. Para Franco e Bonamino (2001, p. 15), o objetivo do SAEB “é gerir e organizar informações sobre a qualidade, a equidade e a eficiên cia da educação nacional”. No Ensino Fundamental, por meio de uma pesquisa por amostragem, o SAEB vem avaliando a performance esco lar dos alunos e alunas matriculados no 5º e 9º anos (4ª e 8ª séries) das redes públicas e privadas. Popkewitz e Lindblad (2001), em um artigo sobre as estatísticas educacionais, demonstram que elas podem ser manipuladas, portanto podem ser boas ou ruins. Para os autores, o problema é que as estatís ticas oferecem dados que são aceitos como espelhos da realidade. Para eles, na educação, a estatística tem função descritiva, mostrando núme ro de alunos e alunas matriculados em cada nível e modalidade de ensi no, taxas de repetência, índices de analfabetismo etc. Eles afirmam que as estatísticas buscam expressar aspectos da população que precisam ser administrados, estabelecendo relações entre tipos de família, condições econômicas, formação de profissionais e situação de fracasso escolar. Para os autores, o agrupamento das pessoas por meio de agregados estatísticos é uma forma de normalização. Os indivíduos são espalhados em grupos, a partir dos quais são monitorados e supervisionados. Dessa forma, “as estatísticas constroem classes de pessoas, inventários ou per fis de pessoas que podem ser geridas” (POPKEWITZ; LINDBLAD, curriculos_programas.indd 73 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 74 2001, p. 126). As estatísticas relacionam fracasso escolar com arranjos familiares, com poder econômico e com as possibilidades de acesso a bens culturais. E ainda, relacionam a educação com o número de alunos e alunas em sala, com a qualificação docente e com material disponível nas escolas. Para Bourdie (1998), as novas formas de inclusão propostas pelas reformas educacionais terminam por incluir excluindo. O autor aponta que a expansão do ensino e a permanência na escola de crianças e ado lescentes que antes não tinham acesso à educação criam um novo fenô meno. A entrada dessa população na escola e a possibilidade de conquis tarem um diploma não oferecem nenhum tipo de garantia de melhoria na sua qualidade de vida. O autor demonstra que na atual sociedade, em uma cultura exacerbada de consumo, sejam de bens materiais ou simbólicos, há uma intenção constante em se dar tudo a todos, “mas sob as espécies fictícias de aparência, do simulacro ou da imitação, como se fosse esse o único meio de reservar para uns a posse real e legítima desses bens exclusivos” (BOURDIE, 1998, p. 49). Então, podemos considerar que precisamos avaliar o sistema de ensino e construir políticas públicas para a educação, a partir das re lações sociais com o conhecimento produzido historicamente e por quem vive o cotidiano escolar. A formação dos educadores e educadoras e sua atuação no processo curricular Quando nos questionamos sobre a aquisição/construção dos sa beres profissionais dos professores e das professoras, devemos ter em mente que tais saberes não se desenvolvem e solidificam no seu período de formação inicial, mas durante e, principalmente, no desempenho das suas atividades como docente. Ao desenvolver sua função, ao longo dos anos, o professor e a pro fessora elaboram determinados saberes que só podem ser construídos a partir da própria experiência profissional. O constante trabalho com os conteúdos curriculares e disciplinares permitem aos professores e às pro fessoras terem um conhecimento mais elaborado desses assuntos traba lhados. Um maior domínio torna os professores mais competentes para curriculos_programas.indd 74 28/12/2009 17:51:23 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 6 Currículos e Programas 75 lidarem com os conhecimentos. Desse modo, eles estarão mais preocupa dos em procurar maneiras de incentivar seus alunos e alunas, inovar suas metodologias, propor novos questionamentos, relacionar conteúdos, ou seja, possibilitar um processo de ensinoaprendizagem mais eficaz. Geralmente, os professores e professoras iniciantes encontram maiores dificuldades em relação aos saberes disciplinares e sua adequa ção, mas, com o tempo irão adquirir maior segurança para elaborar suas aulas, organizando os conteúdos em consonância com as reais deman das dos seus alunos e alunas. De acordo com Tardif (2005), no trabalho docente, professores e professoras incorporam diversos conhecimentos, como: saberes da formação profissional; ● saberes curriculares; ● saberes disciplinares; ● saberes experienciais. ● Para ele, esses saberes de ordem profissional são os transmitidos pe las instituições de formação e se refletem na prática docente. Os saberes disciplinares têm especificidades, pois estão relacionados aos diversos “campos do conhecimento, aos saberes de que dispõe a nossa sociedade, tais como se encontram nas universidades sob a forma de disciplinas, no interior de faculdades e de cursos distintos” (TARDIF, 2005, p. 38). Já os saberes curriculares dizem respeito aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos, a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais de finidos e selecionados por ela como modelo da cultura erudita e de formação para essa cultura, sob a forma de programas es colares que os professores devem aprender e aplicar (TARDIF, 2005, p. 38). O autor ainda observa que “o corpo docente não é responsável pela definição nem pela seleção dos saberes que a escola e a universidade transmitem”. Isso ocorre porque esses [...] já se encontram consideravelmente determinados em sua forma e conteúdo, produtos oriundos da tradição cultural e dos grupos produtores de saberes sociais e incorporados à prática docente através das disciplinas, programas escolares, matérias e conteúdos a serem transmitidos (TARDIF, 2005, p. 40). curriculos_programas.indd 75 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 76 Entretanto, à medida que os professores constroem os saberes da sua prática, vão incorporando os demais saberes em uma forma pessoal de ensino, validados pela experiência. Segundo Tardif (2005, p. 19), os conhecimentos da experiência são resultantes da experiência do professor e da professora e se incluem ao conjunto de saberes acumulados e adquiridosna prática do trabalho do cente, servindo de referencial para sua orientação profissional. Eles e elas estão “[...] na confluência entre várias fontes de saberes provenientes da história de vida individual, da sociedade, da instituição escolar, dos outros fatores educativos, das universidades, etc.” Os saberes de professores e professoras abordados por Tardif, são retomados por Gauthier (1998) ao oferecer um resumo de suas análises que apontam um elenco de conteúdos próprios para o ensino. O autor acredita que é indispensável um conhecimento teórico sobre o ensino e que uma parte desse conhecimento deve ser extraída da prática na sala de aula e comprovada pela pesquisa. Podemos entender, então, que a pesquisa tem a intenção de identificar os saberes utilizados pelos pro fessores e professoras no seu trabalho pedagógico, permitindo a criação de um elenco de conhecimentos acerca da atividade docente, capaz de colaborar para a formação inicial e continuada de outros profissionais. Gauthier (1998, p. 29) concebe o ensino como a “mobilização de vários saberes que formam uma espécie de reservatório, no qual o pro fessor se abastece para responder às exigências específicas de sua situação concreta de ensino”. O autor entende esse reservatório como: os saberes disciplinares; os saberes curriculares; os saberes da ciência da educação; os saberes da tradição pedagógica; os saberes experienciais e os saberes da ação pedagógica. Tardif (2005, p. 255) denomina esse modo de abordar a formação de professores e professoras que privilegia os conhecimentos originários da experiência como “epistemologia da prática”, a qual ele especifica como “estudo do conjunto de saberes utilizados realmente pelos pro fissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas”. Aqui, podemos nos reportar a outro autor que coloca a questão de forma similar quando afirma que a formação de professores não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas, sim, através curriculos_programas.indd 76 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 6 Currículos e Programas 77 de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas de re(construção) permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1997, p. 25). Com a intenção de concluir o pensamento dos autores quanto à educação desses profissionais, seria indispensável que tanto a formação inicial como a continuada apresentassem, como prioridade, o desen volvimento de uma atitude reflexiva. Tomando como possibilidade essa perspectiva, os professores e as professoras teriam construído a capaci dade de conduzir seu próprio desenvolvimento profissional, buscando “[...] competências e saberes novos ou mais profundos a partir de suas aquisições e de sua experiência” (PERRENOUD, 2002, p. 24). Para Gauthier (1998), de outro modo, os professores e professoras que são avaliados como eficientes, cuidam de forma particular do plane jamento das atividades, buscando “atender às necessidades imediatas dos alunos” para chegar aos objetivos propostos. Consequentemente, esses profissionais procuram “alcançar outros fins e objetivos que não aqueles relativos aos resultados escolares”, o que poderia envolver o amparo de to das as diferenças entre alunos(as), em classe, que têm chegado na escola nos últimos anos, proporcionandolhes um aprendizado efetivo e significativo. Nesse sentido, para esse autor, os professores e as professoras considerados eficientes, “conhecem a matéria de um modo que lhes permite planejar a criação de aulas que ajudarão os alunos a relacionar os conhecimentos no vos com os que já possuem e que integram conteúdos de diferentes campos do conhecimento” (GAUTHIER, 1998, p. 202). Para tanto, realça que as atividades da aula devem ser preparadas com antecedência e escrita nítida, a fim de que possam ser entendidas pelos alunos e alunas de forma mais clara, aplicando estratégias que possam provocálos, de forma positiva, por meio das motivações chamadas pelo autor de “intrínsecas”. Gauthier (1998, p. 204) aponta dez meios pelos quais podemos es timular nossos alunos e alunas de maneira positiva, visando a um desem penho aceitável: adaptar a tarefa aos interesse dos alunos; incluir um pouco de variedade e de novidade; permitir que os alunos escolham ou tomem decisões de modo autônomo; fornecer aos alunos ocasiões para responder ativamente; curriculos_programas.indd 77 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 78 proporcionar retroação imediata às respostas dos alunos; permitir que os alunos criem um produto acabado; incluir um pouco de fantasia e elementos de estimulação; incorporar às aulas situações lúdicas; prever objetivos de alto nível e questões divergentes; fornecer aos alunos ocasiões para interagir com outros. Para Gauthier (1998, p. 208), os profissionais eficientes, são aqueles que procuram fazer com que seus alunos se envolvam de forma ativa para recorrer a um conjunto de atividades de aprendi zagem, tais como círculos de leitura, o trabalho individual, a aula expositiva sozinha ou com suporte audiovisual, a leitura silenciosa, o jogo, a conversa informal etc. Outra questão colocada pelo autor faz referência à nitidez na expo sição do conteúdo por parte de professores e professoras. Quando eles e elas “dão instruções claras, explícitas, redundantes e compreendidas por todos os alunos, eles se aplicam mais às suas tarefas durante o trabalho in dividual”. Por isso, o professor ou professora deve apresentar um conteú do claramente definido, o que implica “enfatizar os aspectos importantes do conteúdo, utilizar exemplos para explicar e avaliar a compreensão paulatinamente” (GAUTHIER, 1998, p. 216). Entretanto, o que se ob serva na prática é que os professores e professoras, em particular os mais novos na profissão, não conseguem trabalhar os conteúdos de maneira adequada, enfatizando os seus elementos mais importantes, pois ainda não dominam as capacidades indispensáveis à gestão da turma e não possuem a desenvoltura necessária para trabalhar com os conhecimentos empregados em sala de aula. É fundamental que o professor ou a professora mantenha uma certa familiaridade com os conhecimentos pedagógicos de sua disciplina, evi denciando mais eficiência em utilizarse de perguntas com vistas a motivar os alunos e alunas, com a intenção de manter a sua atenção e, também, verificar se compreenderam as explicações. Outro fator que colabora para o professor saber se o método pe dagógico utilizado na explicação dos conteúdos está sendo positivo é a avaliação da fase de gestão da matéria. Para tanto, Gauthier (1998, p. 234) aponta que “as avaliações curtas e rápidas são superiores aos exames finais”. Nesse momento, os professores podem refletir a fim curriculos_programas.indd 78 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 6 Currículos e Programas 79 de perceber se a forma como trabalham o conteúdo em sala de aula está alcançando os resultados esperados. Embora que faça parte de um ambiente coletivo e que tenha pos sibilidade de refletir coletivamente sobre sua prática, compreendese pelo exposto que, para atingir a eficiência profissional assinalada por Gauthier, o professor ou a professora precisa estar em um processo con tínuo de reflexão sobre sua própria prática pedagógica. Esse processo colabora para que o professor ou a professora compreenda melhor seu trabalho, entendendo os resultados de suas decisões eações em sala de aula, visando a aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem, bem como seu desenvolvimento profissional. Quando nos reportamos à eficiência do professor e da professora em classe, ainda precisamos conside rar qual é o conhecimento que o profissional tem do conteúdo pedagógico, ou seja, deve haver uma combinação entre o conhe cimento da disciplina e a manei ra de ensinála. Estamos falando do conhecimento que abarcar o entendimento sobre o que signi fica lecionar um tema particular, bem como o conhecimento sobre as metodologias necessárias para refazêlo, quer dizer, a maneira de conceber e ordenar o conte údo para tornálo acessível para alunos e alunas. No andamento das aulas, os professores e as professoras observam de forma continuada, como componente do ensino, o entendimento ou não de seus alunos, avaliando também seu próprio desempenho por meio do processo de aprendizagem. Essa reflexão se faz a partir da Assista ao filme A língua das mariposas, de José Luis Corda, que nos remete a duas outras grandes obras da filmografia europeia, as produções italianas A Vida é Bela, de Roberto Begnini e Cinema Paradiso, de Giuseppe Tor- natore. Além disso, o filme mostra a intensa relação que se define entre Moncho e seu ve- lho professor Don Gregório (Fernando Fernán- Gomes) e nos fazem lembrar das parcerias estabelecidas entre Giosué e Guido (A Vida é Bela) e entre Totó e Alfredo (Cinema Paradiso). O Filme A Língua das Mariposas Moncho (Manuel Lozano) tem apenas sete anos e se prepara para o maior desafio de sua vida. Ele está a apenas algumas horas de seu primeiro dia de aula. Alertado por alguns meninos, ele acredita que o professor poderá castigá-lo ao menor erro. O menino pensa, inclusive, em fugir para a América, como alter- nativa para não ir à escola. Você poderá encontrar dicas e comentários de filmes no sítio: <http://www.planetaeducação. com.br>. Saiba mais curriculos_programas.indd 79 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 80 experiência, analisando o processo de ensino e a aprendizagem que aconteceu e a partir desse entendimento, refaz a caminhada. Cada profissional concebe os conteúdos de ensino de uma ma neira pessoal, implicando a forma como são escolhidos, configurados didaticamente e problematizados em sala de aula. Com o intuito de aperfeiçoar sua atuação em sala de aula, o professor ou a professo ra precisa considerar tanto o domínio do conteúdo quanto a reflexão epistemológica. Nesse sentido, tornase indispensável que o professor ou a professora tenha um profundo conhecimento dos conteúdos que ministra, bem como dos métodos capazes de favorecer uma melhor compreensão por parte dos alunos. Resumo Resumo Resumo ResumoResumo Resumo Resumo Resumo Neste capítulo, aprendemos que a aquisição/construção dos sa beres dos professores e das professoras não se desenvolvem nem se solidificam no seu período de formação inicial, mas durante e, princi palmente, no desempenho das suas atividades como docentes. Ainda que faça parte de um ambiente coletivo e que tenha possibilidade de refletir coletivamente sobre sua prática, compreendese pelo texto que, para atingir a eficiência profissional assinalada, o professor ou a pro fessora precisa estar em um processo contínuo de reflexão sobre sua própria prática pedagógica. curriculos_programas.indd 80 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 81 Neste capítulo, veremos que o processo de ensinoaprendi zagem ocorre em situações concretas, internas e externas à escola. A aprendizagem não ocorre apenas na sala de aula, mas nela a metodo logia de ensinoaprendizagem precisa ser intencional, ter finalidades, objetivos e atividades que possibilitem a construção/desconstrução do conhecimento e da busca de novas formas de utilizálo. Abordagem pedagógica dos conteúdos nos anos iniciais do Ensino Fundamental O grande número de propostas curriculares que norteiam o tra balho pedagógico dos professores e das professoras de educação básica tem nos conteúdos acadêmicos tradicionais sua fonte central de orga nização dos conhecimentos disciplinares. Já nos primeiros anos do Ensino Fundamental, as crianças têm au las de Matemática, Ciências, História, Artes e assim por diante. Ainda que todas essas aulas sejam dadas pela mesma professora, cada uma tem seus tempos e maneiras particulares. Essas vivências escolares ensinam aos alunos e às alunas, desde a mais tenra idade, que os conteúdos en contramse sistematizados em compartimentos que, geralmente, não se relacionam. Na aula de Matemática fazemos contas; na aula de Língua Portuguesa lemos e escrevemos; na aula de História aprendemos a data dos principais fatos históricos e assim sucessivamente. Por isso, os(as) professores(as) necessitam ter a preocupação de, já no princípio do Ensino Fundamental, impulsionar os alunos e as alunas a construírem relações entre os distintos conteúdos presentes Planejamento e avaliação do currículo no Ensino Fundamental 7 curriculos_programas.indd 81 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 82 nas diversas disciplinas do currículo, ou seja, os professores têm que conversar com alunos e alunas de forma que eles e elas entendam que a ciência também tem uma história, assim como o país, o estado ou a comunidade; apontar que as questões ambientais são, ao mesmo tem po, problemas de saúde, de química e de física; além de abarcarem a ecologia e a biologia como um todo. Atualmente, a forma de ensino mais utilizada para a ampliação e efetivação de um trabalho pedagógico interdisciplinar são os projetos de trabalho, por meio dos quais os professores e as professoras podem inserir o estudo de temas que não dizem respeito a uma disciplina espe cífica, mas que envolvem duas ou mais delas. Os projetos de trabalho são feitos com a finalidade de estabelecer boas situações de aprendiza gem, nas quais se evita colocar em compartimentos o conhecimento. Os projetos de trabalho podem abarcar várias disciplinas, porém, isso não deve ser obrigatório. Eles são importantes porque abrem novas possibilidades de aprendizagem aos alunos e alunas, tais como: viver situações em que é necessário tomar uma decisão sobre ● que caminho seguir; aprender a fazer um cronograma, considerando uma meta e as ● condições para realizar o projeto; decidir que estudos realizar para resolver um problema; ● compreender um processo e analisar uma situação mais ● complexa. É importante destacar que a avaliação de um projeto de trabalho precisa levar em consideração, principalmente, as aprendizagens ob tidas pelos alunos e alunas durante sua concretização. Um projeto é significativo na medida em que proporciona aprendizagens, não pela qualidade pontual de seu produto final. São as realizações das aprendi zagens que justificam o projeto, seja ele de um professor ou professora que usa sua matéria ou faz uma interdisciplinaridade. Em um projeto de trabalho interdisciplinar, cada professor(a) que participa precisa determinar os objetivos específicos, isto é, aqueles próprios da disciplina, núcleo ou área com a qual trabalha. No caso dos anos iniciais do Ensino Fundamental, uma forma de abordar esses projetos é utilizarmos os temas transversais, que são determinados pelas curriculos_programas.indd 82 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 7 Currículos e Programas 83questões de relevância social e não podem ser elaborados e trabalhados somente por uma única disciplina ou por um único profissional de forma particular. É importante destacar que a avaliação de um projeto de trabalho precisa levar em consideração, principalmente, as aprendizagens obti das pelos alunos e alunas durante sua concretização. Quer dizer, para entender e buscar saídas para os problemas trazidos pelos temas trans versais é preciso fazer uma abordagem interdisciplinar. Uma educação comprometida com o entendimento da realidade social, com os direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal e coletiva e a afirmação do princípio da participação política deve ter, por princípio, a construção da cidadania. Nesse aspecto é que foram elencadas como temas transversais as questões da ética, da plurali dade cultural, do meio ambiente, da saúde, da orientação sexual, do trabalho e consumo. A seguir temos os quatro pontos apresentados como definidores da proposta de transversalidade nos PCNEF: os temas não constituem novas áreas, pressupondo um trata ● mento integrado nas diferentes áreas; a proposta de transversalidade traz a necessidade de a esco ● la refletir e atuar conscientemente na educação de valores e atitudes em todas as áreas, garantindo que a perspectiva polí ticosocial se expresse no direcionamento do trabalho pedagó gico, influencie a definição de objetivos educacionais e oriente eticamente as questões epistemológicas mais gerais das áreas, seus conteúdos e mesmo as orientações didáticas; a perspectiva transversal aponta uma transformação na prática ● pedagógica, pois rompe a limitação da atuação dos professores às atividades formais e amplia a sua responsabilidade quanto a formação dos alunos. Os temas transversais permeiam neces sariamente toda a prática educativa que abarca relações entre os alunos, entre professores e alunos e entre diferentes mem bros da comunidade escolar; a inclusão dos temas indica a necessidade de um trabalho sis ● temático e contínuo no decorrer de toda a escolaridade, o que possibilitará um tratamento cada vez mais aprofundado das questões eleitas (BRASIL, 1997, p. 3839). curriculos_programas.indd 83 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 84 O processo ensinoaprendizagem ocorre em situações concretas, internas e externas à escola. A aprendizagem não ocorre apenas na sala de aula, mas nela a metodologia de ensinoaprendizagem precisa ser intencional, ter finalidades, objetivos e atividades que possibilitem a construção/desconstrução do conhecimento e da busca de novas for mas de utilizálo. Os profissionais da educação, independente do nível de ensino em que atuam, devem entender que a sala de aula está ligada à co munidade, à sociedade, ao mundo e à cultura. Nessa perspectiva, o trabalho com projetos e temas geradores permite a concretização dessas possibilidades, pois facilitam as abordagens dos assuntos de forma mais abrangente. As atividades desenvolvidas pelos alunos e mediadas pelo professor são priorizadas, no entendimento de que suas observações e problematizações são fundamentais na construção da sua autonomia. É necessário, portanto, trabalhar com o conhecimento de forma processual e aberta. Aprender significa que podemos elaborar esquemas e projetos cada vez mais complexos. O ensino deve fundarse na pesquisa, na investigação, nas problematizações, na cooperação e na participação. Para Vygotsky (1991), o ser humano é único e se edifica enquanto tal por meio de seus processos internos, no qual o pensamento e a lin guagem se desenvolvem mutuamente a partir de inclinações, interesses, impulsos, afetos e emoções. A linguagem estabelece os conceitos e as diversas maneiras de organização do real, que servem de mediações en tre o sujeito e o objeto de conhecimento e entre o sujeito que conhece e o mundo real. O aprendizado, para Vygotsky (1991), inicia com o nascimento da criança, que vai construindo sua história pessoal em uma história social já em desenvolvimento. No entanto, o autor adverte que o aprendizado escolar produz algo essencialmente novo ao desenvolvi mento: a zona de desenvolvimento proximal, a qual define as funções que ainda não estão maduras e se encontram em processo de amadure cimento e devem ser potencializadas. Portanto, o bom aprendizado e o bom ensino são aqueles que se antecipam ao desenvolvimento, que deixam interligar reciprocamente; desenvolvimento e aprendizagem. Durante a aprendizagem, vários processos internos são despertados e desenvolvidos e tornamse parte das aquisições de desenvolvimento independente, responsável pela construção da subjetividade dos indi víduos. Trabalhar com o conhecimento também pressupõe superar o curriculos_programas.indd 84 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 7 Currículos e Programas 85 senso comum, embora partindo dele, o que não é uma tarefa fácil. É necessário incorporar o ensino e a pesquisa de forma sistematizada, rea lizando, assim, as atividades sugeridas, problematizando e questionando a realidade, procurando conteúdos históricos que proporcionem o co nhecimento das experiências humanas. Ao trabalhar com os conteúdos devemos percebêlos como histo ricamente construídos, e não cópias fiéis do real; compreendêlos como registros de relações coletivas, que descrevem o modo de viver, as visões de mundo, as dimensões materiais e simbólicas de determinadas conjun turas. Sendo assim, os conteúdos devem ser explicados e compreendidos enquanto visões construídas da realidade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais recomendam questionar os textos e conversar com eles: em que contexto histórico o texto foi produzido? Quem fala, como fala e para quem fala? Outros sujeitos e outros contextos poderiam ter sido escolhidos? Como o tempo está organizado, por quem, pra quem? Quais são os argumentos escolhidos pelo autor ou autora? Como se organiza o seu ponto de vista? Existem outras pessoas que defendem as mesmas ideias? Existem pessoas que pensam de outras formas? O que você pensa sobre o que o autor de fende? Ao trabalhar com a história da comunidade, podese conferir os dados coletados verificálos com os textos históricos e indagar por que determinados fatos acontecem. Os PCN também indicam que uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho em grupo, o diálogo e a cooperação; que armários trancados não ajudam a desenvolver a autonomia de alunos e alunas, como também não favorecem o aprendizado da preservação do bem coletivo. A disposição do espaço reflete o entendimento metodológico adotado pela escola e pelos profissionais que nela trabalham. Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras sejam móveis, que as crianças te nham acesso aos materiais de uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposição de trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais etc. Nessa organização, é preciso considerar a possibilidade de alunos e alunas assumirem a responsabilidade pela decoração, ordem e limpeza da classe. Quando o espaço é tratado dessa maneira passa a ser objeto de aprendizagem e respeito, o que somente ocorrerá por meio de inves timentos sistemáticos ao longo da escolaridade. curriculos_programas.indd 85 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 86 Gostaríamos de observar, também, que o espaço de aprendizagem não se restringe à escola, sendo indispensável propor atividades que aconteçam fora dela. O programadeve contar com passeios, viagens, teatros, cinemas, visitas a fábricas, marcenarias, padarias, enfim, com as possibilidades existentes em cada local e as necessidades de realização do trabalho escolar. Devemos aproveitar os espaços externos para desempenhar ativi dades cotidianas, como ler, contar histórias, fazer desenho de observa ção, buscar materiais para coleções etc. Devido à pouca infraestrutura de algumas escolas, é necessário contar com espaços alternativos para desenvolver atividades específicas de teatro, laboratório, artes, música, esportes etc. A utilização e a organização do espaço e do tempo refle tem no nosso entendimento pedagógico e interferem inteiramente na construção da autonomia. A decorrência mais expressiva dessas proposições é aspirar ao con texto da sala de aula enquanto interação entre professores(as), alunos(as) e o conhecimento, oportunizando o desenvolvimento de aprendizagens significativas de indivíduos que vão se construindo nesse processo. Planejamento e avaliação do currículo no Ensino Fundamental O ato de avaliar é uma constante na vida do ser humano, pois de forma consciente ou inconsciente estamos sempre nos avaliando e quei ramos ou não, somos avaliados pelos outros a partir de nossas atitudes. A avaliação é um processo de descrever, conseguir e fornecer dados úteis para um procedimento de tomada de decisão. No campo da educação escolar, a prática avaliativa só tem sentido se estiver a serviço da apren dizagem de alunos e alunas. Existe um considerável número de textos que acentuam os aspec tos políticos e históricosociais da avaliação, levandose em conta que os aspectos políticos da educação têm a ver com o exercício da cidada nia. Esses textos propõem uma estratégia de formação de sujeitos so ciais, dotados de competências para se autodefinirem, para construírem o seu destino histórico, de tal modo que logrem conceber e determinar sua emancipação política e econômica, bem como o seu projeto de desenvolvimento como povo. curriculos_programas.indd 86 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 7 Currículos e Programas 87 Demo (1995), após afirmar que a quantidade e a qualidade com põem aspectos complementares e indissociáveis da educação, na tenta tiva de definir conceitos e critérios de avaliação da qualidade, distingue a qualidade formal (ligada ao domínio tecnológico) da qualidade política (voltada para a cidadania), entendendo que uma não pode ser entendi da sem a outra, tampouco pode ser substituída pela outra. Referindose a conhecimentos históricos, a qualidade política é de teor prático e decisivamente ideológico e, desse modo, de organização metodológica distinta daquela que a ciência clássica abrange, habitualmente, em seus cânones. Ela toca a face social dos valores e compromissos, da consciên cia social crítica que é capaz de revelar sujeitos autônomos, que não são facilmente manipulados e que estão aptos a fazerem opções sobre o uso alternativo das instrumentações tecnológicas. O autor julga ne cessário recolocar a pesquisa como princípio educativo, que inicia com a tomada de consciência crítica e a capacidade de dizer não. Demo (1995) caracteriza, ainda, o compromisso educativo da avaliação esco lar e a define como um processo permanente de acompanhamento do ensinoaprendizagem. Saul (1992) propõe como paradigma alternativo a avaliação emancipatória, que se realiza a partir de três eixos: avaliação demo crática, crítica institucional, construção coletiva. Sugere, ainda, uma categorização política dos estudos avaliativos, propondo a construção de uma avaliação democrática, cujos elementos constitutivos são sigi lo, negociação e acessibilidade, que toca o direito das pessoas à infor mação e à utilização dos resultados da avaliação para aperfeiçoar ou redirecionar as próprias atividades. A crítica institucional e a criação coletiva realizamse por meio de três momentos: expressão e descrição da realidade, isto é, elaboração de um diagnóstico institucional e des crição dos dados obtidos; crítica do material expressa pela análise do projeto pedagógico da escola; criação coletiva, isto é, esboço das novas ações do grupo de trabalho. Essa abordagem abarca a pesquisa parti cipante, a qual implica o compromisso do pesquisador(a) com a causa em questão, contribuindo para uma ruptura metodológica profunda. O novo paradigma permitiria ao avaliador assumir o papel de coor denador dos trabalhos de avaliação e/ou de orientador dessas ações, favorecendo o diálogo, a discussão, a busca e a análise crítica sobre o funcionamento de um programa. curriculos_programas.indd 87 28/12/2009 17:51:24 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 88 André (1990) recomenda que se implante nas escolas uma sistemá tica de trabalho mais socializadora, com espaços coletivos de reflexão, em que professores(as) e orientadores(as) possam analisar conjuntamen te o fazer pedagógico, espaços que sejam utilizados para acompanha mento, avaliação e reelaboração do processo de ensinoaprendizagem visando ao seu aperfeiçoamento. Só assim as práticas se tornarão mais democráticas. Nesse sentido, uma avaliação mais democrática implica trabalhar nos campos da didática, das relações interpessoais da organi zação pedagógica da escola de forma integrada. Os PCN orientam os professores e as professoras a realizarem a avaliação por meio de: observação sistemática – consiste no acompanhamento do ● processo de aprendizagem dos alunos, utilizando alguns ins trumentos, como registro em tabelas, listas de controle, diário de classe e outros; análise das produções dos alunos – considera a variedade de ● produções realizadas pelos alunos, para que se possa ter um quadro real das aprendizagens conquistadas. Por exemplo: se a avaliação se dá sobre a competência dos alunos na produção de textos, devese considerar a totalidade dessa produção, que envolve desde os primeiros registros escritos no caderno, até os registros das atividades de outras áreas, além das atividades realizadas para o aprendizado escolhido e o texto produzido pelos alunos para fins específicos dessa avaliação; atividades específicas para a avaliação – os alunos devem ter ● objetividade ao expor sobre um tema e ao responder um ques tionário. Para isso é importante, em primeiro lugar, garantir que sejam semelhantes às situações de aprendizagem comu mente estruturadas em sala de aula, isto é, que não se dife renciam, em sua estrutura, das atividades que já foram reali zadas; em segundo lugar, deixar claro para os alunos o que se pretende avaliar, pois, inevitavelmente, os alunos estarão mais atentos a esses aspectos. Os conhecimentos disciplinares e curriculares devem ser domi nados e mediados por professores e professoras, visando a propiciar uma aprendizagem mais segura para alunos e alunas. Muitos profis curriculos_programas.indd 88 28/12/2009 17:51:25 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 7 Currículos e Programas 89 sionais, além de não compartilharem da discussão, elaboração e es- colha desses conteúdos, são incapazes de reelaborá-los conforme as suas próprias necessidades e as de seus alunos e alunas, tornando a prática pedagógica acrítica, ahistórica e estática, carente de significa- dos para educandos e educadores, representando, assim, o que Paulo Freire denominou de “educação bancária”, que só reproduz um saber cristalizado. Sua elaboração é vista como um retalho de conteúdos considerados próprios a cada ciclo ou série, especialmente por meio do livro didático, que traz ao professor o melhor modo de repassá-lo,valorizando a memorização e a soma de conhecimentos. Outros fato- res a considerar são as diferenças de gênero, étnicas, culturais, sociais e cognitivas, de modo a possibilitar a construção da identidade de cada aluno e aluna para a efetivação de sua autonomia. Essas diferen- ças que determinam a individualidade e a identidade necessitam ser consideradas e trabalhadas no currículo. Extensão do Ensino Fundamental no contexto nacional O Brasil aprovou recentemente a Lei Federal n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que instituiu o Ensino Fundamental de nove anos para todos os sistemas, alterando artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional (LDBEN). A matrícula nesse nível de ensino passa a incluir a criança de 6 anos de idade e foi definido um período de transição de quatro anos, até 2010, quando todas as escolas públicas e privadas deverão se adequar à legislação. Meses antes, em maio de 2005, o mesmo Congresso Nacional havia aprovado a Lei n. 11.114, que instituía a obrigatoriedade escolar para crianças de 6 anos de idade, sem, no entanto, alterar a duração do Ensino Fundamental, mantendo-a, no mínimo, de oito anos. Essa medida concretiza uma das propostas educacionais do governo Lula, que desde 2003 estabeleceu a ampliação da obrigatoriedade esco- lar para a criança de 6 anos como uma de suas metas (Programa “Toda Criança Aprendendo”, 2003). Nesse intuito, o Ministério da Educação promoveu, ao longo de 2004, uma série de encontros regionais sobre o assunto, culminando em um encontro nacional, além de divulgar orien- tações quanto à organização das escolas e às propostas pedagógicas (MEC, 2004 e 2006). curriculos_programas.indd 89 28/12/2009 18:33:33 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 5ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 90 No âmbito do Conselho Nacional de Educação (CNE), o debate sobre o tema foi retomado em março de 2004, sendo o ponto de partida a aprovação da Indicação CNE/CEB n. 1/2004, resultando na aprovação dos Parece- res CNE/CEB n. 6/2005 e n. 18/2005, bem como da Resolução CNE/CEB n. 3/2005, respectivamente em junho, setembro e agosto do ano passado. O primeiro parecer reexamina, por solicitação do MEC, o Parecer CNE/CEB n. 24/2004 e estabelece normas para a ampliação do Ensino Fundamental de nove anos a partir dos 6 anos de idade. O segundo parecer tratou das orientações para a matrícula das crianças de 6 anos no Ensino Fundamen- tal obrigatório, em atendimento à Lei n. 11.114/2005. A Resolução redefi- niu as faixas etárias para a Educação Infantil, crianças até 5 anos, e para o Ensino Fundamental, crianças de 6 a 14 anos. É importante destacar que nos últimos dez anos, mesmo antes da promul- gação da LDBEN/1996, a discussão de propostas de ingresso de crianças de 6 anos no ensino obrigatório tem ganhado cada vez mais evidência. Tal questão levou o CNE a se pronunciar no Parecer CEB n. 20/1998, que res- pondia a consulta feita pela INEP sobre a duração do Ensino Fundamental. Ao se posicionar favoravelmente à possibilidade de acolher matrículas de crianças de 6 anos no Ensino Fundamental com duração de nove anos, o Parecer ressalvava que essa medida não deveria resultar em uma “dispo- nibilidade média de recursos por aluno da educação básica, na respectiva rede, abaixo da atualmente praticada, de modo a preservar ou mesmo au- mentar a qualidade do ensino” e que “nas redes municipais a oferta e a qualidade da Educação Infantil não sejam sacrificadas, preservando-se a identidade pedagógica”. Fonte: SANTOS, Lucíola Licínio de Castro Paixão; VIEIRA, Lívia Maria Fraga. Agora seu filho entra mais cedo na escola: a criança de seis anos no Ensino Fundamental de nove anos em Minas Gerais. Educ. Soc., Campinas, v. 27, n. 96. Especial, p. 775-796, out. 2006. Para saber mais sobre o Ensino Fundamental com duração de 9 anos, você pode pesquisar os seguintes documentos: BRASIL. Lei n. 9.394, 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996. curriculos_programas.indd 90 28/12/2009 18:33:33 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 5ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 7 Currículos e Programas 91 BRASIL. Lei n. 9.424, 24 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o fundo de manutenção e desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no Art. 60, § 7º, do ato das disposições constitucionais transitórias, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 26 dez. 1996. ______. Lei n. 10.172, 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2001. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. ______. Lei n. 11.114, 16 de maio de 2005. Altera os Arts. 6, 30, 32 e 87 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Fundamental aos seis anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, 17 maio 2005. Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. ______. Lei n. 11.274, 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos Arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, 7 fev. 2006. Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. ______. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB n. 020/1998. Con- sulta relativa ao ensino fundamental de nove anos. Disponível em: <http:// www.mec.gov.br>. ______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Pare- cer CNE/CEBn. 18/2005. Orientações para a matrícula das crianças de 6 (seis) anos de idade no Ensino Fundamental obrigatório, em atendimento à Lei n. 11.114, de 16 de maio de 2005, que altera os Arts. 6, 32 e 87 da Lei n. 9.394/1996. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. ______. Ministério da Educação. 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A concretização dessas possibilidades facilita as abordagens dos assuntos de forma mais abrangente. As ativi dades desenvolvidas por alunos e alunas e mediadas pelo professor ou professora são priorizadas, no entendimento de que suas observações e problematizações são fundamentais na construção da sua autonomia. . curriculos_programas.indd 92 28/12/2009 17:51:25 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas 93 ANDRÉ, M. E. D. A. de. A avaliação na escola e da escola. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 74, p. 6870, ago. 1990. ______. Avaliação escolar: além da meritocracia e do fracasso. Cader- nos de Pesquisa, São Paulo, n. 99, p.1620, nov. 1996. APPLE, M. W. A Política do conhecimento oficial: faz sentido a ideia de um currículo nacional? In: MOREIRA, A.F. B.; SILVA, T. T. Cur- rículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. ______. Política cultural e educação. São Paulo: Cortez, 2000. ARIÈS, P. 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Referências curriculos_programas.indd 93 28/12/2009 17:51:25 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 4ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Currículos e Programas FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 94 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Pa- râmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2006. v. 1 e 2. ______. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamen tal. Referencial Curricular para Educação Infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. RCNI: estratégias e orientações para a Educação de crianças com NEE na Educação Infantil. Brasília: MEC/SEESP, 2001. CARVALHO, C. R. de; GRIGOLI, J. A. G. 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A EaD pode desenhar em seus cursos uma nova organização curricular, em que pode- remos esboçar uma arquitetura curricular que rompa com a disciplinarização dos saberese suas relações de poder, para comprometer-se com a transversalidade entre os conheci- mentos que compõem o currículo. 4Capa.indd 1 28/12/2009 14:35:47 02 PEDAGOGIA - 3º PERÍODO - 1ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________