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AMÓS
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 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 4 Capítulo 7 
 Capítulo 2 Capítulo 5 Capítulo 8 
 Capítulo 3 Capítulo 6 Capítulo 9 
 
INTRODUÇÃO 
 
I. O FUNDO HISTÓRICO 
 Amós, um dos maiores dos chamados profetas "menores" (Cornill 
o chama de uma das mais maravilhosas aparições na história do espírito 
humano), profetizou durante os dias de Uzias, rei de Judá e de Jeroboão 
II, rei de Israel. É impossível determinar o ano exato de sua profecia, 
mas provavelmente foi cerca de 760 A. C. A referência ao terremoto 
(1.1), que evidentemente tinha sido memorável (cf. a alusão de Zacarias 
ao mesmo, em Zc 14.5, muito tempo depois), não nos ajuda muito a fixar 
uma data absolutamente certa. 
 Em 803 A. C., Adade-Nirari III, da Assíria, infligiu uma 
esmagadora derrota sobre a confederação síria. Esse enfraquecimento do 
vizinho nortista de Israel e subseqüente preocupação da Assíria com 
outros locais, deu a Jeoás e a seu filho, Jeroboão II, uma supremacia na 
parte norte da Palestina e na Síria provavelmente desconhecida por 
qualquer de seus predecessores. Israel estava novamente livre para 
apropriar-se de novos territórios e isso fez com o maior zelo, 
particularmente, às expensas da Síria. Todas as principais estradas 
estavam em suas mãos e Samaria, a capital, se tornou ponto de encontro 
dos mercadores que viajavam entre a Mesopotâmia e o Egito. Ali se 
juntavam as caravanas vindas de várias partes do mundo oriental e 
Samaria se tornou o empório de mercadorias de toda espécie. As 
crescentes atividades comerciais trouxeram a Israel enormes lucros e 
Amós (Comentário da Bíblia) 2 
uma poderosa classe comerciante se desenvolveu, o que teve largas 
repercussões sobre o resto dos habitantes. 
 Essa prosperidade comercial deu origem a um grande programa de 
edificação de "casa de inverno" e "casa de verão" (3.15), bem como 
"casa de marfim". Samaria contava com muitos palácios (3.10) que 
pertenciam não só ao próprio rei, mas aos ricos príncipes-comerciantes 
que se tinham enriquecido no comércio. Essas grandes casas se 
tornaram, antes de muito tempo, depósitos de toda espécie de luxos 
(3.12; 6.4). A oportunidade de enriquecer tornou os comerciantes 
ansiosos para aumentar seus lucros, tanto por meios honestos como por 
artifícios desonestos. Mostravam-se impacientes para com os sábados e 
as luas novas (8.5). Nesse tráfico mundano eram impelidos por suas 
mulheres, que exigiam luxos cada vez maiores (4.1). 
 O ditado que "o dinheiro corrompe" foi verdadeiramente 
exemplificado no reino do norte durante os dias de Jeroboão II. O desejo 
de riquezas teve resultados desastrosos, tanto para o comerciante como 
para o pobre aldeão. Os ricos príncipes-comerciantes se tornaram 
desmoralizados, corruptos e injustos; os pobres eram oprimidos, 
roubados e maltratados. Amós pertencia à classe pobre dos aldeões e 
provavelmente sabia, por amarga experiência própria, a que indignidades 
haviam sido sujeitados os pobres e oprimidos. Os ricos ficavam cada vez 
mais ricos e os pobres tornavam-se cada vez mais empobrecidos. 
Qualquer propriedade possuída pelo pequeno proprietário tinha de ser 
vendida, devido à força bruta de circunstâncias adversas. Para Amós, 
pois, não havia justiça na terra. Os que emprestavam dinheiro tomavam 
as próprias roupas das pessoas para servirem de garantia pela dívida. Os 
juízes eram influenciados pelo suborno e isso significava vitória para a 
injustiça e derrota para a verdade (8.6). Nenhuma testemunha honesta 
podia ser encontrada nos tribunais. "O homem honesto perdia o direito 
da verdade, da propriedade e da vida". A piedade tornou-se uma 
qualidade rara e os pobres eram mantidos com as costas na parede (2.6). 
O pequeno proprietário independente e o proprietário aldeão, lutavam 
Amós (Comentário da Bíblia) 3 
numa batalha perdida. As áreas menores de terreno eram absorvidas nas 
propriedades mais vastas. 
 No que dizia respeito à religião, os santuários de Betel e de Gilgal, 
especialmente o de Betel, estavam apinhados de adoradores. A adoração 
a Baal certamente havia sido suprimida por Jeú, o sucessor de Acabe, 
mas o espírito, se não a forma, havia permanecido nos santuários 
autorizados, onde supostamente Jeová era adorado. Ali o opressor do 
pobre, o rico a regalar-se em seus luxos, adorava com uma consciência 
embotada ou morta. Externamente tudo era feito de conformidade com a 
regra, mas não havia verdadeira adoração segundo a compreendemos 
hoje. Israel tinha cessado de viver perante Deus, tal como havia 
acontecido no deserto, sob Moisés, e agora estava meramente existindo 
para Deus. Os santuários talvez estivessem apinhados de adoradores, 
mas Deus não se achava presente. A superstição e a imoralidade tinham 
tomado o lugar da piedade e da sinceridade. A religião estava totalmente 
divorciada da conduta e passou-se algum tempo antes que Israel pudesse 
entender que essas duas coisas devem seguir paralelas. (Ver Apêndice I 
de Reis, pág. 391, "A Religião de Israel sob a Monarquia"). 
 O reino de Jeroboão, portanto, era uma terra de extremos 
contrastantes: os ricos eram muito ricos e os pobres eram muito pobres. 
Sob tais condições era inevitável que crescessem a insatisfação e o 
desassossego. Conforme ficou demonstrado pelos acontecimentos 
subseqüentes, o país estava maduro para a guerra civil. Após a morte de 
Jeroboão houve três reis no espaço de um ano. Revolução seguia-se a 
revolução e no período de alguns poucos anos uma parte do reino de 
Israel havia desaparecido, enquanto que o restante se mantinha numa 
independência precária, dependendo da boa vontade da Assíria. Tais 
condições sociais não podiam prolongar-se indefinidamente; de fato, 
tinham em si mesmas a sentença de morte. Amós foi um daqueles 
homens que perceberam o fato. Ele percebeu a negra nuvem de 
julgamento surgir no horizonte. Havia forças sociais, morais e políticas 
em operação que realizariam a vontade de Deus e executariam o juízo 
Amós (Comentário da Bíblia) 4 
que já tinha sido decretado. Israel, efetivamente, "um cesto de frutos de 
verão" (qayits), e seu fim (qeyts) não podia ser adiado (8.2). 
 
II. O PROFETA 
 Amós era nativo de Tecoa, uma pequena cidade cerca de dez 
quilômetros de Belém. Não era cortesão como Isaías, nem sacerdote 
como Jeremias, mas pastor e cultivador de sicômoros. Por meio das 
comparações que ele freqüentemente empregou, fica claro que ele estava 
plena e pessoalmente familiarizado com as dificuldades e perigos da vida 
de boieiro. A vida lhe era difícil e havia pouco luxo. Por outro lado, seu 
negócio o levava certamente a cidades e mercados importantes onde, 
sem dúvida, se encontrava com caravanas de muitas terras. Um homem 
de seu calibre sempre mantém os ouvidos abertos para as notícias sobre 
homens e seus feitos em outros lugares. Isso explica seu surpreendente 
conhecimento sobre outras terras e outros povos. Conforme mostram os 
capítulos iniciais de seu livro, ele sabia muita coisa sobre a história, as 
origens e feitos das nações circunvizinhas. Devido a tais experiências e 
moldado por sua observação pessoal e condições na terra desenvolveu-se 
ele como homem duro e severo, grande combatente, legítimo campeão 
dos pobres. 
 Embora não pertencesse à linha de profetas, nem à escola de 
profetas, foi chamado, à semelhança de Eliseu, das atividades diárias de 
seus deveres para a dignidade do ministério profético. Não havia dúvidas 
em sua mente, nem deixava ele qualquer dúvida na mente de outros 
homens, que havia sido chamado por Deus, assim como Moisés tinha 
sido chamado, quando ocupado em tarefa semelhante à sua. Para Amós 
seu caso não foi que se tornou profeta a fim de ganhar a vida; mas se 
tratava de abandonar suas atividades para tornar-se profeta. Ele não fazia 
tentativa para esconder sua vida passada ou emprego e não se 
envergonhava detornar conhecido seu nascimento humilde. O fogo de 
Deus queimava em sua alma e, à semelhança do apóstolo Paulo, séculos 
mais tarde, bem poderia ele ter dito "Ai de mim se eu não falar". Ele via 
Amós (Comentário da Bíblia) 5 
a corrupção, o pecado e a vergonha do povo a quem Deus havia tirado do 
Egito e não podia fazer silêncio. A vereda para a qual foi chamado a 
palmilhar não era de sua escolha. O Deus das extremidades da terra, com 
Quem ele tinha comungado freqüente e longamente na solidão do 
deserto de Tecoa, tinha uma mensagem a Seu povo rebelde do norte e 
era por intermédio de Amós que essa mensagem de justiça e julgamento 
devia ser anunciada. 
 
III. A MENSAGEM DO PROFETA 
 A mensagem de Amós era de julgamento e punição quase sem 
alívio. Embora nos últimos poucos versículos do livro relampejem 
algumas notas de otimismo, revelando a largueza da misericórdia de 
Deus através do trono davídico restaurado, a mensagem inteira, todavia, 
desse intrépido mensageiro de Deus, precisa ser incrustada no contexto 
de desastre iminente. Certamente que ele não agradava aos ouvidos 
populares, mas mantinha os olhos na mensagem divina que lhe cumpria 
proclamar. Pecado nacional conduz a julgamento nacional e quanto 
maiores o privilégio e a oportunidade de uma nação, maior também deve 
ser seu julgamento. 
 Tanto quanto dizia respeito ao Israel de Jeroboão, externamente 
tudo parecia estar em ordem, mas a condenação estava prestes a cair 
sobre todos. Assim como um leão se prepara para saltar sobre a presa, 
igualmente Jeová estava pronto para visitar Seu povo com julgamento. A 
terra inteira sentiria o impacto desse julgamento. Por muitas e muitas 
vezes Israel havia sido advertida, mas sem o menor proveito. Quando o 
povo continua a desviar os ouvidos da vontade de Deus, então tem de 
arcar com as conseqüências. 
 Em adição à corrupção moral que havia resultado em opressão 
social e em injustiça legal, havia a questão dos falsos santuários de Betel 
e Gilgal. Pois Deus abomina tão asquerosos rituais. Ele não tolerava suas 
festas, seus festivais e suas ricas ofertas. Pois tudo não passava de 
zombaria; tudo era estranho para Ele. No deserto, nos dias passados, 
Amós (Comentário da Bíblia) 6 
nada disso havia. Qual a dose de influência era exercida sobre Amós, 
para ele ser contrário à adoração em Betel e Gilgal, pelo fato de ser ele 
do sul, não precisamos interrogar agora. Pouca dúvida pode haver, 
contudo, que tais santuários, estabelecidos pouco depois da divisão do 
reino salomônico, eram considerados, por todos verdadeiros "ortodoxos" 
do reino do sul, como abominações contra o Senhor. Tais santuários, 
anuncia o profeta, serão totalmente destruídos. Jeová já se encontrava ao 
pé do altar (9.1-4) e arruinaria totalmente o local. 
 Para esses pecados - expressos para com o homem por meio da 
opressão social e da injustiça, e para com Deus por meio das 
abomináveis práticas de Betel e Gilgal - só podia haver um resultado - 
Israel ser completamente rejeitada. Se o privilégio é a medida da 
responsabilidade, então a rebelião de Israel era imperdoável. Deus havia 
tirado Israel do Egito, tinha-o guiado pelo deserto e havia-lhe dado 
possessão de uma terra boa, além de ter posto profetas em seu meio. O 
castigo para sua transgressão devia ser proporcional à sua gravidade; 
portanto, Israel seria totalmente rejeitado. O fato que Jeová tinha tirado 
Israel do Egito agora não significaria mais que os outros fatos que 
retirara os filisteus de Creta e os sírios de Quir. A sentença já havia sido 
decretada e o julgamento seria executado prontamente. Como o carro de 
uma eira, assim Ele esmagaria a nação inteira (2.13-16). 
 A mensagem de Amós se fundamenta na firme convicção que 
Jeová é Deus de justiça. Essa justiça está em conflito com a injustiça do 
homem e havia-lhe declarado guerra. O resultado desse conflito seria o 
juízo mais severo possível contra o homem. O ensino de Amós é de 
caráter ético, mas, tal como os outros profetas do oitavo século antes de 
Cristo, ele não baseava seu ensino sobre o que havia de bom e reto no 
homem, mas sobre o que sabia sobre a natureza de Deus. Para Amós, 
portanto, o "pecado" é mais que a mera transgressão, mais que o mero 
lapso moral em vista de algum código estabelecido; é rebelião contra 
Deus. Israel estava em relação de aliança com Jeová. Essa relação 
impunha-lhe deveres e seu pecado consistia em haver repudiado os 
Amós (Comentário da Bíblia) 7 
deveres inerentes a essa relação divino-humana. Israel se havia rebelado 
contra Jeová. 
 Embora cidadão do reino do sul, a mensagem de Amós era 
dirigida para e contra o reino do norte. De fato, ele foi o último profeta 
enviado ao reino do norte. No todo, bem pouco ele diz sobre seu próprio 
povo. Esse silêncio, contudo, não deve ser entendido como a querer 
ensinar que o reino do sul estava livre daqueles pecados que o profeta via 
no norte e que tão veementemente denunciava. Ele fora chamado para 
falar a Israel, que estava maduro para o juízo e se confinou quase 
exclusivamente a essa parte da nação. 
 Mas Amós também tinha algo a dizer sobre as nações 
circunvizinhas. Se condenava Israel por pecar contra uma lei que Deus 
lhe tinha tornado conhecida, por outro lado aplicava um padrão bem 
diferente para as nações que não estavam em relação de aliança com 
Deus. O que Amós via nas nações circunvizinhas era o espetáculo, capaz 
de partir o coração, de uma crueldade que ignorava todos os direitos 
humanos, que negava toda compaixão e que tornava as relações entre as 
nações semelhantes às lutas entre as feras. Para qualquer lado para onde 
o profeta olhasse, havia sempre algo ausente - a piedade natural do 
homem para com seu semelhante. E o que tornava pior a situação era a 
vantagem trivial que tal conduta proporcionava. Gaza vendeu uma vila 
inteira à escravidão para ganhar algum dinheiro. O rei de Moabe queima 
os ossos de um inimigo para satisfazer seus desejos de vingança. E assim 
continua a história. O senso de amizade do homem com o homem havia 
desaparecido. Tal mundo não podia continuar, pois a própria base de sua 
continuação já não existia. 
 Embora Amós não tivesse treinamento acadêmico, não foi 
ultrapassado por nenhum de seus sucessores no que diz respeito a 
vivacidade, vigor e simplicidade de linguagem. Seu estilo é simples, mas 
cheio de energia e elegância. O professor Robertson Smith defende 
Amós como mestre de puro estilo hebraico. Os termos que empregou 
eram todos familiares para seus contemporâneos, pois suas observações 
Amós (Comentário da Bíblia) 8 
são todas derivadas da vida diária. Nenhum outro profeta nos forneceu 
tais metáforas tiradas da natureza com uma variedade tão fresca, vívida e 
variada. Ele se refere aos trilhos de ferro de debulhador (1.3), à 
tempestade (1.14); aos cedros e carvalhos com suas profundas raízes 
(2.9); ao leão faminto a rugir na floresta (3.4); à ave apanhada ao laço 
(3.5); ao pastor que sai em socorro da ovelha (3.12); aos anzóis e redes 
do pescador (4.2); às chuvas parciais (4.7); ao bolor e à ferrugem, às 
colinas e ventos ao nascer do sol, às estrelas, aos criadores lamentosos, 
aos terremotos, aos eclipses, ao grão peneirado numa peneira, ao refugo 
do trigo, às tendas consertadas, etc. 
 Tal foi esse grande profeta "menor". Vivendo perto de Deus ele 
conhecida a vontade do Senhor e tinha Sua mensagem. Embora não 
gozasse de popularidade, como de fato aconteceu a quase todo profeta de 
Israel, ele proclamava com zelo imorredouro a mensagem que Jeová lhe 
tinha confiado, pois, juntamente com Martinho Lutero, Amós poderia ter 
dito: "Não posso fazer outra coisa; portanto, ajuda-me, ó Deus". 
 
PLANO DO LIVRO 
 
I. PRÓLOGO - 1.1-2 
 
II. DECLARAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DAS NAÇÕES - 1.3-2.16 
 
 a. Damasco (Síria) (1.3-5) 
 b. Gaza (Filístia) (1.6-8) 
 c. Tiro (1.9-10) 
 d. Edom (1.11-12) 
 e. Amom (1.13-15) 
 f. Moabe (2.1-3) 
 g. Judá (2.4-5) 
 h. Israel (2.6-16) 
 
Amós (Comentário da Bíblia)9 
 
III. PROCLAMAÇÃO DA MENSAGEM DO PROFETA - 3.1-6.14 
 
 a. Primeiro discurso (3.1-15) 
 b. Segundo discurso (4.1-13) 
 c. Terceiro discurso (5.1-6.14) 
 
IV. REVELAÇÃO DO DESÍGNIO DE DEUS - 7.1-9.10 
 
 a. A visão do gafanhoto devorador (7.1-3) 
 b. A visão do fogo consumidor (7.4-6) 
 c. A visão do prumo perscrutador (7.7-9) 
 d. Interlúdio histórico (7.10-17) 
 e. A visão do cesto de frutas de verão (8.1-14) 
 f. A visão do Senhor sobre o altar (9.1-10) 
 
V. EPÍLOGO - 9.11-15 
 
COMENTÁRIO 
 
Amós 1 
I. PRÓLOGO - 1.1-2 
 
 As palavras de Amós (1). Há apenas um Amós no Antigo 
Testamento e esse é o escritor deste livro. Sua ocupação era a de boieiro 
e pastor. A palavra empregada não é a usual roeh, mas noqed, que 
significa criador de uma espécie peculiar de ovelha do deserto, dotada de 
pernas curtas e cara feia, mas altamente valiosa devido à sua lã. Essa 
palavra só se encontra novamente em 2Rs 3.4, onde é traduzida como 
"contratador de gado". Até hoje há um provérbio árabe que expressa 
desprezo: "Vil como um naqqad". O que ele viu (1). A palavra chaxah 
era usada para a visão profética específica. O escopo dessa mensagem 
Amós (Comentário da Bíblia) 10 
era a respeito de Israel. Amós foi profeta de Deus para o reino do norte 
e foi o último profeta enviado a esse reino. O profeta recebeu sua visão 
nos dias de Uzias (cerca de 791-740 A. C.), rei de Judá, e de Jeroboão II 
(cerca de 793-753 A. C.), rei de Israel. Na sentença seguinte essa 
profecia é limitada a dois anos antes do terremoto. É impossível, 
contudo, fixar o ano exato desse terremoto particular, mas que havia 
deixado uma profunda impressão é testificado pelo fato que, após muitas 
décadas, Zacarias se refere a ele (14.5). 
O Senhor bramará... (2). Deus estava prestes a falar de modo 
dramático e quando Ele fala seguem-se certas conseqüências. A palavra 
bramar (sha'ag) tem o sentido do rugido do leão, quando salta sobre a 
presa. O julgamento de Deus, conforme Amós o via, não estava distante, 
mas já estava a caminho e logo se revelaria com todas suas espantosas 
conseqüências. Além disso, não viria de Betel ou de Gilgal, mas de Sião, 
o centro da autoridade religiosa, e de Jerusalém, o próprio lugar da 
habitação de Jeová, é que Sua voz seria ouvida. 
 Uma das conseqüências previstas é que secar-se-á o cume do 
Carmelo (2). O Carmelo, um promontório sobre o mar, com 400 metros 
de altura, ao sul da baía de Acre e cena dos grandes prodígios de Elias, é 
considerado como a mais frutífera e notável colina do norte. Seu nome, 
que quer dizer "terra-ajardinada", testifica quanto à sua fertilidade. Não 
admira, pois, que os pastores lamentar-se-ão, pois, se o Carmelo haveria 
de ressecar-se com a seca, que outras pastagens poderiam ser 
encontradas na terra? 
 Esses versículos iniciais nos fornecem a substância da mensagem 
de Amós. Não importa quão segura pareça a ovelha em seu suculento 
pasto, o rugido do leão indica quão enganosas podem ser as aparências. 
Israel estava-se alimentando em ricas pastagens e, pelo menos 
externamente, tudo parecia seguro; mas não era essa a realidade. O 
julgamento era iminente e, além disso, inescapável. 
 
 
Amós (Comentário da Bíblia) 11 
II. DECLARAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DAS NAÇÕES - 1.3-2.16 
 
 À semelhança da maioria dos outros profetas, Amós tinha oráculos 
que eram contra determinadas nações estrangeiras. Mas, diferentemente 
dos outros profetas, porém, ele introduz esses oráculos para que 
precedam e conduzam à acusação contra seu próprio povo. Uma a uma 
são citadas pelo nome, são alistados seus pecados, e são condenadas. Em 
cada caso a fórmula seguida é a mesma: primeiramente seus crimes são 
nomeados e então são proclamadas as conseqüências. Os pecados, em 
quase cada caso, são pecados de relações estrangeiras - guerra arbitrária, 
massacre e sacrilégio. 
 A ocupação de Amós sem dúvida o levava a muitos mercados, 
onde se encontrava com caravanas vindas de muitas terras e assim ele 
deve ter aprendido muita coisa sobre as nações que rodeavam Israel e 
Judá. Ao expor e denunciar esses bárbaros ultrajes, Amós prepara o 
caminho para a verdadeira palavra de julgamento, que é dirigida contra 
Israel, cujos pecados são maiores que os daquelas nações, pois eram 
pecados não tanto contra outros povos, mas contra seu próprio povo e 
parentela. Outrossim, o pecado de Israel era mais grave que o das nações 
circunvizinhas em vista de seus privilégios e de sua luz recebida terem 
sido muito maiores. 
 
a) Damasco (Síria) (1.3-5) 
 
 Por três transgressões... e por quatro... (3). Desde os tempos 
mais antigos têm sido feitas tentativas para encontrar significação 
simbólica para esses números, mas provavelmente se trata de tradução 
literal de uma expressão idiomática que significa "por muitos crimes". 
Moffatt traduz como "crime sobre crime", e T. H. Robinson como "por 
tantos crimes". A Síria inteira é abarcada por esta referência à sua 
capital, Damasco. A Síria era o vizinho mais importante de Israel e 
ficava na linha das conquistas da Assíria. Durante muitos anos, antes de 
Amós (Comentário da Bíblia) 12 
Jeroboão II, Israel esteve engajada em guerra mortal contra a Síria e a 
menção de Damasco certamente chamava imediatamente a atenção. A 
fórmula não retirarei o castigo (lit., "não o farei voltar") é repetido em 
1.6,9,11,13; 2.1,4,6. 
 Trilhos de ferro (3). Eram e continuam sendo, no oriente, e em 
muitos outros lugares, tábuas entalhadas e dotadas de dentes de ferro, 
puxadas por cavalos ou mulas sobre o grão amontoado. Dessa maneira, a 
palha era cortada em pequenos pedaços e o grão era libertado. De algum 
modo semelhantemente cruel a Síria havia tratado (trilharam) Gileade. 
Quando foi perpetrada essa barbaridade não é esclarecido, mas 
provavelmente foi praticada por Hazael, quando conquistou Gileade, 
nos dias de Jeú e Joacaz (2Rs 10.32 e segs.). 
 Porei fogo... (4). Fogo é, aqui, símbolo da guerra. O julgamento 
envolveria tanto a dinastia como o povo da Síria. Hazael e Ben-Hadade 
foram os dois mais cruéis opressores de Israel. A profecia que sua 
dinastia pereceria deve ter dado um prazer peculiar a Israel. 
 Quebrarei o ferrolho (5); isto é, Damasco seria aberta ao inimigo 
(cf. Dt 3.5). Biqueate-Áven (lit., "vale de idolatria") tem sido 
identificada de diversos modos. O prof. G. A. Smith a identifica com 
Baalbeque; outros pensam que a referência é ao largo e fértil oásis da 
própria Damasco. 
 Bete-Éden (5). Havia um lugar chamado Bit-adini (assírio para 
"casa de Éden") no médio Eufrates, e alguns eruditos bíblicos mantêm 
que esta é uma referência àquele lugar. O contexto, entretanto, exige 
algum lugar na região de Damasco, que até hoje é o paraíso do mundo 
árabe. Será levado em cativeiro (5), provavelmente se refere à 
orientação assíria no que diz respeito aos povos nativos que eram 
subjugados. Quir permanece não-identificada (a Vulgata tem "Cirene"). 
Segundo Am 9.7 essa era a pátria original dos sírios. Haveriam de 
retornar a ela quando deixassem de ser nação. 
 
 
Amós (Comentário da Bíblia) 13 
b) Gaza (Filístia) (1.6-8) 
 
 Do extremo norte o profeta se volta em seguida para o sul. Gaza 
era a cidade mais sulista dos filisteus na beira do deserto, e na junção de 
rotas de caravanas. Provavelmente era sua posição estratégica que a fazia 
envolver-se profundamente no tráfico de escravos. Embora este oráculo 
seja dirigido particularmente contra Gaza, sem dúvida se refere também 
à Filístia inteira. 
 Levaram em cativeiro... (6). Uma instância típica de brutalidade. 
Não é dito aqui quais foram os cativos e nem a ocorrência é datada, mas 
os cativos foram vendidos aos edomitas. Assaltos dessa espécie, sem 
dúvida, eram suficientemente freqüentes naqueles dias (cf. 2Cr 21.16). 
Tal como no caso de Damasco, o julgamento cairia não apenas contra 
Gaza mas contra os baluartes dos filisteus também e o país inteiro seria 
visitado e assolado pelo fogo da guerra. 
 
c) Tiro (1.9-10) 
 
 Oscrimes de Tiro (representando a Fenícia inteira, como Gaza 
representava a Filístia) eram vender escravos e esquecer-se da aliança 
dos irmãos (9). O tráfico de escravos florescia não apenas entre os 
filisteus, mas igualmente entre os fenícios. É difícil dizer o que significa 
a aliança dos irmãos. Talvez se refira ao pacto entre Hirão e Salomão 
(1Rs 5.12; 9.13), ou, talvez, a algum outro pacto posterior. O castigo 
seria novamente o fogo, isto é, a guerra (10). Tiro foi destruída pelos 
assírios e mais tarde, outra vez, por Nabucodonosor. Alexandre, o 
Grande, a capturou e vendeu 30.000 de seus habitantes como escravos. 
 
d) Edom (1.11-12) 
 
 Edom já foi mencionada duas vezes (1.6,9) como participante dos 
crimes de outras nações: agora a tempestade se abate contra ela. 
Amós (Comentário da Bíblia) 14 
 Perseguiu a seu irmão (11); isto é, Israel. Baniu toda a 
misericórdia (11; lit., "endureceu sua compaixão"). É salientada a 
natureza perpétua e incansável desse ódio. Sempre houve grande 
inimizade entre Israel e Edom, particularmente após o exílio. O castigo 
aqui, como nos demais lugares, é novamente o fogo (guerra). 
 Temã (12; Ob 9), aparentemente, era um distrito ao norte de 
Edom, e Bozra era uma cidade de alguma importância. 
 
e) Amom (1.13-15) 
 
 O crime de Amom (13) é particularmente brutal e revoltante, mas 
parecia ser bastante comum nas guerras semitas (cf. 2Rs 8.12; Os 13.16; 
Na 3.10), e não é totalmente desconhecido até os nossos dias. Para 
alargar suas fronteiras faziam guerra contra as crianças ainda não 
nascidas. As conseqüências seriam que Rabá, sua capital, cidade cerca 
de quarenta quilômetros ao nordeste do extremo norte do mar Morto 
seria assaltada e destruída (14) e o rei e os príncipes iriam para o 
cativeiro (15). 
 
Amós 2 
f) Moabe (2.1-3) 
 
 Se os amonitas eram culpados do crime de declarar guerra contra 
as crianças ainda não nascidas, os moabitas eram culpados do crime de 
declarar guerra contra um cadáver (1). O crime de Moabe foi contra o 
figadal inimigo de Israel, os edomitas; não obstante, o profeta condena-o 
por ter sido um crime vergonhoso contra a humanidade. A profanação do 
corpo era um grande sacrilégio aos olhos do mundo antigo. A alma 
(nephesh), no pensamento semítico, estava tão identificada com o corpo 
que queimar este era o mesmo que destruir aquela. A conseqüência seria 
que o fogo (guerra) ... consumirá os palácios de Queriote (lit., "das 
cidades"). Tem sido sugerido que Queriote, a capital de Moabe, talvez 
Amós (Comentário da Bíblia) 15 
tenha consistido de diversas vilas absorvidas, como Londres, o que 
explica seu nome estar no plural, no original. Moabe pereceria em meio 
a tumulto, em meio ao ruído e fragor da batalha, e seu juiz, ou 
governante, provavelmente um rei vassalo nomeado por Jeroboão, 
juntamente com seus príncipes e nobres, igualmente pereceria. 
 
g) Judá (2.4-5) 
 
 O crime de Judá deve se observar não era, como no caso das 
outras nações, contra o homem; mas era contra Deus (4). Rejeitaram a 
lei e, em conseqüência, não guardaram os seus mandamentos. Suas 
próprias mentiras (4); isto é seus deuses falsos. O castigo seguiria o 
padrão dos outros oráculos. Fogo (guerra) seria enviado contra todo o 
Judá, mas particularmente contra Jerusalém, onde os seus palácio 
(provavelmente todas as casas grandes) seriam destruídos. 
 
h) Israel (2.6-16) 
 
 Tendo preparado o caminho, chamando a atenção de Israel para 
certos pecados cruéis de que seus vizinhos eram culpados, e tendo 
presumivelmente, despertado sua justa indignação contra eles, o profeta, 
agora, chega àquele que era seu propósito principal, a saber, denunciar 
os próprios pecados e crimes de Israel. Uma lista mais completa sobre 
estes é dada no caso de Israel do que no de qualquer das outras nações. 
 O primeiro crime é o da escravidão; vendem o justo por dinheiro 
(6). A lei permitia que um homem pobre vendesse a si mesmo como 
escravo (Lv 25.39; Dt 15.12), mas não sancionava a venda de um 
devedor insolvente, o que, evidentemente, está em foco aqui (2Rs 4.1; 
Ne 5.5). O pobre era vendido em troca de um par de sapatos (6) ou, 
como diríamos "por um nada". Outro de seus pecados é a cobiça. Os 
ricos se mostravam tão gananciosos que chegavam a suspirar pelo pó da 
terra sobre a cabeça dos pobres (7). O homem pobre (em heb., dallim, 
Amós (Comentário da Bíblia) 16 
isto é, "fraco", "desfalecido", "magro") lançava sobre a cabeça um 
punhado de poeira, como sinal de sua miséria, mas o ganancioso senhor 
de terras desejava até mesmo aquela poeira, tão grande era a fome de 
terra dos ricos. A iniqüidade da injustiça vem em seguida. 
Os poderosos e ambiciosos ricos pervertem o caminho dos 
mansos (7; em heb. anawim); isto é, os humildes seguidores de Jeová 
(Is 11.4), e para eles não havia justiça nos tribunais. Em adição a todos 
esses crimes, havia o mal da imoralidade. A prostituição no santuário era 
uma característica regular dos cultos cananeus e evidentemente fora 
introduzida nos santuários de Israel. Dt 23.17 proíbe estritamente essa 
prática iníqua. Sobre roupas empenhadas (8). A referência parece ser a 
penhores perdidos e aqui vemos novamente a acusação contra a 
ganância. À ganância e à desumanidade é adicionado o mal da 
intemperança (8b,12a). Os versículos 9-12 apresentam o pecado da 
indiferença de Israel para com tudo quanto Jeová tinha feito aos 
amorreus, a quem Ele desapossara, e a Israel, que Ele tinha tirado do 
Egito, guiara pelo deserto e fizera entrar na Terra Prometida. Em adição, 
havia levantado no seio da nação, profetas e nazireus - vidas consagradas 
e ascéticas. Quanto à lei dos nazireus ver Nm 6.1-21. Eles eram os 
separados, os consagrados, e faziam voto de total abstinência de bebidas 
alcoólicas. O maior pecado de Israel, porém, era o da intimidação (12b); 
diz Deus que aos profetas ordenastes (intimidastes) para que não 
profetizassem, para que suas consciências calejadas não fossem 
perturbadas. 
Eis que eu vos apertarei (13). Segundo algumas versões, isso 
significaria que Jeová estava pressionado e sobrecarregado sob o peso 
dos graves e multiformes pecados de Seu povo (Is 43.24), ou ,seguindo 
esta versão, pode significar que Deus trilharia a nação como "um carro 
de trilhar pressionava os feixes que enchiam a eira" (N. H. Snaith). 
Porém, talvez a primeira interpretação seja a melhor, pois o pecado tem 
conseqüência não apenas para o pecador; mas afeta profundamente o 
próprio Deus. 
Amós (Comentário da Bíblia) 17 
Os versículos 14-16 descrevem o inescapável julgamento que cairia 
sobre todos. Nem o lépido de pés, nem o forte, nem o guerreiro e nem o 
cavaleiro conseguiriam escapar. Essa fuga inútil seria resultado da 
severidade da tempestade de vingança que havia rolado por cima dos 
países circunvizinhos e que agora estava atingindo Israel em toda a sua 
fúria. A predição foi cumprida na invasão assíria. 
 
 
III. PROCLAMAÇÃO DA MENSAGEM DO PROFETA - 3.1-6.14 
 
 Nos quatro capítulos seguintes, Amós proclama, com maiores 
detalhes, a mensagem vital que Deus lhe tinha dado para transmitir a 
Israel. A substância dessa mensagem já havia sido dada no Prólogo e, 
mais especialmente, em 2.6-16. Aqui o tema é desenvolvido em detalhes 
maiores. A mensagem, que expressa condenação quase sem alivio, toma 
a forma de três discursos, que são iniciados com as palavras Ouvi esta 
palavra (3.1; 4.1 e 5.1). 
 
Amós 3 
a) Primeiro Discurso (3.1-15) 
 
 1. AMÓS JUSTIFICA SUA REIVINDICAÇÃO DE SER 
OUVIDO (3.1-8). Após um anúncio tão ousado e revolucionário de 
julgamento, nos versículos 1 e 2, atacando todo o orgulho e vanglória de 
um povo privilegiado, Amós prossegue para explicar seu aparecimento 
na cena. Palavras tão ousadas exigem alguma autenticação sobre a 
autoridade do profeta e, nos versículos 3-8, ele fornece, numa série de 
breves comparações, a base sobre a qual ele reivindicava ser ouvido. 
Todo efeito tem sua causa; seu aparecimento em Israel também tinha sua 
causa. As ilustraçõesapresentadas são quase todas tiradas da vida do 
deserto e da agricultura. 
Amós (Comentário da Bíblia) 18 
Alguns eruditos têm sugerido que a expressão De todas as famílias 
da terra (2; em heb., adamah; lit. "solo") foi usada propositadamente 
para "frisar a perversidade e mortalidade de todos eles". 
 Andarão dois juntos...? (3). Não é provável que dois homens se 
encontrem num deserto sem caminhos. Caso estejam andando juntos, 
pode-se concluir com segurança que assim está acontecendo por terem 
feito essa combinação. 
Bramará o leão...? (4). O rugido de um leão significa que o leão 
saltou sobre sua presa, pois o leão, quando caça, faz silêncio até que sua 
presa tenha sido avistada. A inferência é que a voz de Amós era um sinal 
de que o julgamento de Jeová havia chegado. 
 Cairá a ave...? (5). O laço é a armadilha que se solta e prende o 
pássaro quando este toca no chamariz e o que a imagem quer salientar é 
que, assim como a ave capturada prova a existência do laço, igualmente 
a voz condenatória do profeta é uma indicação do desígnio de Deus. 
Tocar-se-á a buzina...? (6). Quando a shophar (buzina de chifre) 
era tocada, o povo sabia que havia algo de significativo naquilo. O 
mesmo era verdade a respeito de alguma calamidade que sobreviesse a 
uma cidade: era um sinal que Jeová havia permitido a calamidade por 
algum motivo justo. 
 Por meio desses golpes interrogativos, Amós prepara o terreno 
para o verdadeiro ponto que queria fazer: Falou o Senhor Jeová, quem 
não profetizará? (8). Eis aqui o clímax desta seção. O aparecimento de 
Amós como profeta em Israel tinha a sua causa: Deus havia falado à sua 
alma; ele não podia deixar de falar. "Um homem não escolhe para ser 
profeta; é escolhido". 
 
 2. O APELO POR TESTEMUNHO (3.9-10). 
 Ajuntai-vos... e vede... (9). Os vizinhos pagãos são chamados 
para testemunhar a contenda dentro de Samaria, provocada pela brutal 
ganância e rapacidade dos ricos. Havia violência e furto, e as vítimas, 
sem dúvida, são os pobres indefesos. Os ricos, que viviam entesourado 
Amós (Comentário da Bíblia) 19 
nos seus palácios a violência e a destruição (10), eram tão vis que 
pareciam incapazes de fazer o que era direito. 
 
 3. O ANÚNCIO DE JULGAMENTO (3.11-15). O agente desse 
julgamento é descrito como um inimigo que cercará a tua terra, 
bloqueando-a por todos os lados. Cerca de 734 A. C., Tiglate-Pileser 
pilhou Gileade e a Galiléia e, cerca de 724 A. C., Salmaneser pilhou o 
norte de Israel. Samaria foi cercada por três anos e, finalmente, foi 
conquistada. Os palácios foram pilhados e os ricos e delicados foram 
levados ao cativeiro. A natureza desse julgamento incluía a diminuição 
das forças (11) e a deportação do povo (12). Este último ponto é 
vividamente ilustrado pelo profeta-pastor. Samaria seria quase 
totalmente destruída. Assim como um pastor às vezes pouco pode fazer, 
senão talvez recuperar os últimos restos de uma ovelha, assim também 
ninguém, executando alguns poucos pobres sobreviventes, escapariam da 
destruição em geral. 
 A menção de Damasco, no fim do versículo 12, levanta um ponto 
difícil. Damasco era, naturalmente, a capital da Síria, e o profeta já havia 
tratado a respeito dela. Alguns traduzem essa passagem como: "Assim os 
filhos de Israel, que habitam em Samaria, escaparão com o canto da 
liteira ou com a fazenda de Damasco de um divã" (conforme Ehrlich e 
outros). O quadro inteiro retrata miséria total para os poucos 
sobreviventes de Samaria. Os dois últimos versículos deste capítulo 
indicam a extensão do julgamento. Os santuários sagrados de Betel, 
edificados por Jeroboão I depois da divisão do reino, compartilharão da 
condenação de Samaria: haveria completa e total profanação do altar. A 
sorte que caberia aos ricos também caberia às suas mansões. A casa de 
inverno (provavelmente edificada para ser habitada durante o frio), 
juntamente com as casas de marfim (provavelmente com incrustações 
de marfim; mas cf. 1Rs 22.39), perecerão. Para o profeta-pastor, que 
conhecia as tribulações dos pobres, e que dormia debaixo do céu aberto 
Amós (Comentário da Bíblia) 20 
de Deus, essas habitações elaboradas devem ter parecido como a própria 
encarnação do orgulho, da auto-indulgência e do desvio de Deus. 
 
Amós 4 
b) Segundo discurso (4.1-13) 
 
 1. AS MULHERES DE SAMARIA (4.1-3). Este discurso começa 
com uma feroz e rigorosa denúncia contra as mulheres ricas de Samaria. 
O sarcasmo é sem paralelo. Aquelas mulheres opulentas e gananciosas 
são comparadas com vacas gordas e nédias de Basã, lugar famoso por 
suas pastagens e por suas raças de gado e ovelhas (cf. Dt 32.14; Ez 
39.18). Não se importavam com outra coisa senão com suas vidas fáceis 
e seu preguiçoso luxo. Em sua louca carreira atrás de mais alimentos e 
bebidas, pisavam sobre tudo quanto era frágil e excelente. Os pobres 
eram oprimidos e os necessitados eram esmagados. Talvez isso não fosse 
feito diretamente, mas era-o indiretamente – por meio de seus maridos – 
pois luxo ocioso num dos extremos significa opressão e pobreza no 
outro. 
 Porém, como em todos os outros oráculos, esta denúncia contra o 
crime é imediatamente seguida por um anúncio a respeito de temíveis 
conseqüências. 
 Jurou o Senhor Jeová, pela sua santidade (2). A idéia 
transmitida pelo vocábulo santidade (qodesh) era reservada 
exclusivamente para Jeová. Portanto, essa expressão é equivalente a "por 
Si mesmo". O castigo seria o cativeiro. As mulheres de Samaria seriam 
levadas através de brechas abertas no muro; e, além disso, como gado 
bravo é levado com anzóis e seus descendentes (provavelmente filhas) 
com anzóis de pesca, isto é, argolas semelhantes a anzóis. Nos 
monumentos assírios os cativos são pintados arrastados com anzóis 
presos à boca. 
 A expressão vos lançareis para Hermom (3) tem causado 
bastante dificuldade aos comentadores. Pois, em algumas versões, em 
Amós (Comentário da Bíblia) 21 
lugar de Hermom aparece "palácio", noutras, "Armênia", e noutras 
ainda, "monte Rimom". De qualquer modo, é indicada alguma sorte 
desagradável. 
 
 2. A ADORAÇÃO DE SAMARIA (4.4-5). Neste oráculo o 
profeta ataca com mordente sarcasmo o vazio ritualismo dos santuários 
cismáticos de Israel. Os adoradores eram muito observantes dos detalhes 
na realização do ritual, ainda que a realidade moral e espiritual tivesse 
desaparecido inteiramente. A denúncia é semelhante à repreensão de 
Isaías contra Judá (Is 1.10 e segs.). 
 Tal zombaria, vazia e sem significado, divorciada de toda 
moralidade, pode apenas multiplicar as transgressões (4). 
 Cada manhã trazei os vossos sacrifícios, e de três em três dias 
os vossos dízimos (4b). Agiam com correção ao trazer seus sacrifícios 
matinais, mas, quanto ao trazerem dízimos de três em três dias, a 
sugestão é que usavam de três dias para trazer seus dízimos, um em cada 
uma das três grandes festividades; isto é, as festas dos pães asmos, da 
colheita e do armazenamento. A cena inteira, em Betel e Gilgal, era de 
febril atividade e intenso zelo - disso gostais (5). Os adoradores usavam 
de correção em tudo quanto pertencia à sua adoração, porém suas mãos 
estavam poluídas e seus corações eram perversos. 
 
 3. A IMPENITÊNCIA DE ISRAEL (4.6-13). Nos próximos 
poucos versículos temos uma série de cinco oráculos, cada qual falando 
sobre algum desastre que sobreviera a Israel no mundo natural, e cada 
qual termina com o mesmo refrão que fala sobre a impenitência de Israel 
- contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor. O primeiro 
oráculo trata da fome. 
 Vos dei limpeza de dentes (6); isto é, por não haver nada para 
comer, os dentes não tinham ficado sujos de comida. Algumas versões 
antigas falam também em "embotar", sugerindo que os dentes tinham 
ficado sem corte devido ao desuso. 
Amós (Comentário da Bíblia) 22 
 O segundo oráculo trata da seca (7-8). A palavra para chuva é 
geshem e, assim sendo, deve significar as chuvas pesadas de outono que 
ainda não tinham chegado quando as chuvasmais leves da primavera 
deveriam chegar; isso significava desastre para o país inteiro. 
Os versículos 7b e 8, entretanto, parecem implicar que a seca não 
fora universal. Thomson, em certa ocasião, encontrou o terreno ao redor 
do vale do Jordão como um deserto, enquanto que em Tiberíades o 
terreno todo era como um paraíso de ervas e flores (The Land and the 
Book, pág. 395). Essas chuvas parciais parecem ser uma característica da 
Palestina. 
 Vagabundas (8); mais exatamente, "tropeçando" (como um 
bêbado), na fraqueza da sede. O terceiro oráculo tem como tema as 
pragas vegetais (9). As pragas aqui mencionadas eram suficientemente 
freqüentes na Palestina para servirem de lembrete sobre o julgamento. 
Em seguida vem a praga (10), que se diz ter sido originada no Egito (cf. 
Is 10.24,26). 
 Vossos mancebos matei à espada (10) pode referir-se a alguma 
invasão local, por parte de um adversário não identificado. A matança 
dos jovens, provavelmente deixados insepultos durante algum tempo (cf. 
o fedor dos vossos exércitos), bem poderia ter sido a causa da 
pestilência. De qualquer modo, a aflição fora terrível, ainda que tenha 
deixado Israel completamente impenitente. O último oráculo fala sobre o 
terremoto (11). Bem pode ser que esse tenha sido o terremoto referido 
em 1.1. Era suficientemente recente e ainda estava bem fresco nas 
mentes do povo. Muitos haviam perecido no terremoto, de Sodoma e 
Gomorra (Gn 19.24-28), como quando por ocasião da destruição e 
outros, como tições, foram arrebatados do incêndio. 
 Todas essas visitações não tinham conseguido seu alvo. Portanto, 
Deus iria fazer algo novo e Israel é exortado a: prepara-te... para te 
encontrares com o teu Deus. 
 O portanto, do versículo 12, evidentemente se refere ao que foi 
dito em 3.11. O último versículo é uma doxologia. O Deus que Israel 
Amós (Comentário da Bíblia) 23 
teria do enfrentar é o Criador do visível (montes) e do invisível (vento); 
o qual sabe o que está no mundo; que pode alterar a ordem das coisas 
existentes; e que é superior a todos os altos da terra. Ninguém pode 
brincar com tal Deus. 
 
c) Terceiro discurso (5.1-6.14) 
 
Amós 5 
 1. A TRÁGICA QUEDA DE ISRAEL (5.1-3). O terceiro discurso 
de Amós começa com uma breve lamentação, em forma poética, na qual 
ele entoa a trágica queda de Israel. 
 A virgem (2) (que em Isaías representa Jerusalém e 
ocasionalmente alguma outra cidade, mas que aqui é aplicada à nação 
inteira de Israel), a quem Jeová amava, caiu, ou "se precipitou" (em heb., 
nitshah) contra o solo. E não apenas ela se despedaçara no solo; mas 
ficara abandonada. Não pode levantar-se novamente, pois ninguém 
existe que possa erguê-la. 
 A cidade da qual saem... (3); uma frase regular acerca do sair à 
guerra. Aparentemente, neste período, o exército saíra, não como nos 
tempos antigos, por tribos e famílias, mas por cidades e aldeias. Não 
admira que o profeta se lamente, pois que terra pode continuar existindo 
quando nove décimos de seus habitantes homens são destruídos na 
batalha? 
 
 2. O APAIXONADO APELO DE JEOVÁ (5.4-15). Por mais 
trágica que possa ter sido a queda de Israel e além de qualquer ajuda 
humana, ainda havia esperança em Jeová, que pode fazer algo surgir do 
nada (cf. 4.13), contanto que a nação de Israel O busque (4). O apelo é 
lançado de forma negativa e positiva. 
 Não busqueis a Betel... Gilgal... Berseba... (5). Esses lugares 
nenhuma ajuda poderiam prestar. Não eram capazes de salvar a si 
mesmos; e, por implicação, como poderiam salvar a outros? "Gilgal 
Amós (Comentário da Bíblia) 24 
provará o fel do exílio" (G. A. Smith) e Betel tornar-se-á iniqüidade (em 
heb. aven). Em realidade, Oséias chama o lugar de Bete-Áven (Os 4.15), 
isto é, "casa de iniqüidade". 
 Porém, Buscai ao Senhor (6). O motivo para esse apelo é dado 
em seguida - e vivei e para que não se lance na casa de José como um 
fogo. O fogo é o julgamento de Deus, e ai da casa de José (Efraim e 
Manassés) se esse fogo irrompesse, pois então consumiria a todos e 
ninguém seria capaz de apagá-lo (6). 
 Vós que converteis... (7); isto é, o povo em geral. Alosna 
(amargura) é uma planta da Palestina, regularmente empregada como 
sinônimo de amargura. Poucas coisas podem ser mais amargas que o 
arbítrio de um tribunal corrupto e comprado. 
 Esse mesmo tema prossegue nos versículos 10-13, mas ele exorta 
esses homens e mulheres a: Procurai (ao Criador) (8), ao mesmo tempo 
que introduz uma majestosa descrição, na forma de doxologia (cf. 4.13), 
Àquele que lança esse apelo. Os lábios são os do profeta Amós, mas a 
voz é a voz do próprio Jeová. Ele é o Criador das coisas enumeradas 
acima, o Transformador das coisas ao derredor (8), e o Defensor dos 
explorados (9). 
 Aborrecem... (10). A porta era o grande local de encontro, o 
centro dos negócios, como o "fórum" romano, e era o lugar onde os 
anciãos costumavam assentar-se para ministrar justiça (Dt 21.19). Tanto 
Jeremias (17.19; 19.2) como Isaías (29.21) repreenderam o povo estando 
no portão e indubitavelmente Amós fez a mesma coisa. Tais 
testemunhas, entretanto eram odiadas e abominadas. O versículo 11 
descreve, quase numa sentença, o pecado e o castigo dos ricos. 
Roubando aos pobres seu próprio pão e esmagando-os, os ricos tinham 
sido capazes de edificar ótimas casas e plantar agradáveis vinhedos. 
Porém, o julgamento os alcançaria e não seriam nem capazes de habitar 
em suas casas nem de desfrutar do fruto de seus vinhais. Os pecados dos 
ricos não eram apenas numerosos, mas eram imensos (12). Não só os 
pobres eram esmigalhados e furtados, mas os justos eram afligidos e 
Amós (Comentário da Bíblia) 25 
atacados. Que oportunidade tinha nesse caso a justiça? Peitas eram dadas 
por aqueles que podiam fazê-lo e os juízes corruptos se deixavam 
influenciar por elas. Portanto, o homem prudente ou sábio sentia que era 
mais aconselhável guardar silêncio; assim eram aqueles maus tempos 
(13). Os resultados pela busca do bem são indicados em seguida (14-15). 
A vida e a certeza da presença de Jeová se seguiriam. Acima de tudo, se 
a busca fosse acompanhada, como era necessário, por uma indignação 
genuína contra o mal e por um profundo amor pelo que é bom, 
resultando em justiça, então Jeová seria gracioso para com o resto de 
José (15). 
 
 3. O NEGRO DIA DE JEOVÁ (5.16-20). Tendo descrito a trágica 
queda de Israel e apaixonado apelo de Deus, Amós descreve em seguida 
o negro dia de Jeová. O profeta sabia que a única esperança para Israel 
dependia de uma conversão genuína do povo ao Senhor, mas, durante 
todo o tempo, parece que ele sentia que não havia muita possibilidade 
que isso acontecesse. O mal estava por demais profundamente enraizado. 
Embora o julgamento pudesse ser desviado, sob certas condições, não 
era provável que isso sucedesse. 
 O dia do Senhor (18) estava a caminho e, quando ele chegasse, 
não traria luz, mas antes, trevas. Haveria lamentações nas ruas (das vilas 
e cidades) e em todos os caminhos (do interior). As carpideiras 
profissionais seriam chamadas para lamentar e o lavrador, que não tinha 
habilidade profissional para lamentar-se, não obstante seria convocado 
para juntar-se a elas (16). Na cidade, no interior, nos vinhais - tudo seria 
a mesma coisa. Ninguém poderia escapar dessas coisas (19). 
 
 4. O CULTO VAZIO DE ISRAEL (5.21-27). Os cultos profanos 
dos santuários do reino do norte eram, evidentemente, praticados com 
grande assiduidade. 
 As festas (21; em heb., haggim; isto é, as três festividades em 
que todo homem deveria estar presente - cf. Êx 23.14,17), os 
Amós (Comentário da Bíblia) 26 
holocaustos, as ofertas de manjares e as ofertas pacíficas (22), 
estavam todas presentes, mas faltava a justiça. A perversidade dessa 
separação fazia na separação entre a religião e a moralidade. 
 A mensagem do profeta, em sua pura essência, é sumarizada no 
versículo 24. Toda a paixão profética acha-se aqui encerrada. Era a 
mensagem suprema de Deus para uma época de corruptamoralidade 
social. No deserto, cuja idade áurea do passado era olhada com grande 
saudade pelos profetas, não tinha havido coisa alguma daquele elaborado 
ritualismo, segundo Amós parece deixar subentendido; não obstante, foi 
um período quando Deus vivia com o Seu povo. 
 Vosso Moloque, e o altar das vossas imagens (26), ou, mais 
provavelmente, "Sacute e Quevan", eram deuses assírios. Por meio de 
seu pecado e maus caminhos Israel tinha, por implicação, tornado seus 
os deuses da Assíria. O profeta contempla o futuro cativeiro de Israel na 
Assíria, além de Damasco (27). Ela acabaria aceitando esses ídolos na 
terra de seu cativeiro e assim tornaria explícito aquilo que antes tinha 
sido apenas implícito. 
 
Amós 6 
 5. OS CALEJADOS RICOS DE ISRAEL (6.1-6). A prosperidade 
e a paz relativa do país, juntamente com a adoração florescente em Betel 
e em outros santuários, tinham engendrado uma falsa segurança política. 
O povo, e particularmente os ricos comerciantes, estavam seguros (1). 
Essa mortal "segurança" se tinha espalhado, aparentemente, pelo reino 
do sul também, pois Sião (1) é emparelhada com Samaria na acusação 
do profeta. Porém, excetuando essa breve menção de Sião, o ataque do 
profeta se concentrava contra os calejados ricos de Samaria, os quais, por 
causa da posição social que a riqueza lhes proporcionava, se 
consideravam numa posição entre as primeiras nações, e aos quais vem 
a casa de Isarel! (1); ou seja, homens notáveis, os quais como quase 
sempre, estabeleciam os padrões, e aos quais o resto do povo procurava 
imitar. 
Amós (Comentário da Bíblia) 27 
 Em seguida o profeta convida o povo a dar uma olhada para 
Calne, Hamate e Gate, três dos reinos vizinhos sobre os quais tinha 
sobrevindo o juízo (2). Àqueles calejados, indiferentes e iludidos ricos o 
profeta pergunta: pensais realmente que sois melhores que esses reinos e 
que podeis escapar ao julgamento? Vossas fronteiras são mais extensas 
que as fronteiras do resto do povo? Pensais efetivamente que estais em 
segurança, quando todos os demais, dentro e fora de Israel, correm 
perigos? Então, segue-se uma terrível exposição dos pecados dos ricos. 
 Os dias maus são postos à distância, fora de suas mentes; recusam-
se a pensar a respeito, porém, tal atitude só lhes traria o lugar da 
violência, o dia de crise e julgamento, para mais perto, tornando-o ainda 
mais certo (3). Dormiam em camas de marfim e se deitavam em divãs - 
costumes esses que o profeta-pastor só podia considerar com o maior 
desprezo (4). A lassidão nos gestos acompanha a lassidão na moral 
(Horton). O alimento dos ricos consistia de "cordeiros novos e bezerros 
cevados" (Moffatt). Acusa o profeta: Vós cantais (em heb. parat; lit. 
"ululais") como bêbados que tentam cantar para suas orquestras. Assim 
como Davi havia introduzido a música na adoração divina, igualmente 
aqueles bêbados haviam inventado instrumentos para acompanhar suas 
vociferações em suas bebedeiras (5). Bebiam vinho em taças cheias e se 
ungiam com os melhores ungüentos, mas permaneciam indiferentes e 
não se incomodavam com a aflição de Israel - a aflição de todos os 
pobres oprimidos ao derredor e a aflição maior que já ia surgindo para 
eles no horizonte. Aqueles ricos possuíam tudo quanto queriam - 
riquezas, descanso, luxo, religião; porém, não tinham a única coisa de 
que realmente precisavam - um coração misericordioso e compassivo. 
Política e economicamente, Israel era próspera, mas moralmente, estava 
apodrecendo. 
 
 6. O IMINENTE JULGAMENTO CONTRA ISRAEL - (6.7-14). 
O versículo 7 anuncia a natureza do julgamento - o cativeiro. Nesse 
julgamento os ricos reteriam sua proeminência; ir-se-iam entre os 
Amós (Comentário da Bíblia) 28 
primeiros cativos (7). O resultado de seu julgamento seria cessação de 
todos os banquetes (7). Todavia, embora os ricos fossem os primeiros a 
sentir o impacto do julgamento; este não seria limitado a eles. Samaria 
inteira ficaria livre do povo, pois Deus abominava a cidade com todos os 
seus palácios, que eram o orgulho de Israel (8) - "a vanglória que havia 
substituído a verdadeira glória" (Prof. M.A. Canney). 
Os versículos seguintes dão os resultados da queda de Samaria. O 
castigo seria tão severo que dificilmente restaria algum sobrevivente. 
Um parente visita uma casa na companhia de um amigo, a fim de 
sepultar os ossos de um parente seu. À pergunta: "Há ainda mais alguns 
ai?" a resposta do amigo, que estivera procurando a casa, será "Não". 
"Cala-te!", responde o parente. Deus estava irado; isso é claro bastante. 
Tal devastação só poderia ser provocada por Sua ira. Não deveria ser 
mencionado o Seu nome (10). Por mandamento de Jeová a casa grande 
(do rico) seria reduzida a fragmentos, e a casa pequena (do pobre), 
estando também no caminho do tufão, não podia escapar inteiramente do 
golpe, e seria fendida (11). 
 O versículo 12 apresenta novamente a razão para esse julgamento 
– a perversão da justiça. É falta de bom senso esperar que cavalos se 
atirassem precipício abaixo e igualmente falta de bom senso esperar 
lavrar a rocha, com bois: ambas as coisas terminariam em desastre. A 
palavra traduzida como bois é o único exemplo do plural de um 
substantivo coletivo que normalmente aparece no singular (isto é, 
b'qarim, em lugar do costumeiro baqar). 
A terminação plural, entretanto, pode ser destacada para que se leia 
yam (mar), deixando bqr receber os pontos vocálicos ordinários. Nesse 
caso a sentença leria: "Pode-se lavrar ao mar com bois"? (isto é, babaqar 
yam em lugar de b'qarim) e algumas versões seguem essa possibilidade. 
Israel era culpada de um comportamento assim louco. Havia transformado 
a justiça em veneno e a retidão em alosna. Agora, tinha de agüentar as 
conseqüências - o julgamento (12). A iniqüidade, tal como aquela de que 
Israel era culpada, não era coisa de somenos, para ser desprezada; não 
Amós (Comentário da Bíblia) 29 
obstante, era justamente assim que essa culpa era por eles considerada (13). 
Israel também se vangloriava de seu poder (13), mais Jeová estava 
levantando um povo (a Assíria) contra ela, e nenhum poder dos israelitas 
valeria alguma coisa contra os assírios naquele dia (14). 
De nada (em heb. Lo-debar) e poderosos (em heb. Karnaim) 
eram cidades de Gileade, e muitos comentadores acreditam que esse 
versículo (13) se refere àquelas duas cidades que Jeroboão II conquistara 
da Síria. Israel estava-se regozijando e se vangloriando acerca de seus 
sucessos. Qualquer que seja o modo pelo qual interpretemos, a Assíria 
estava vingada contra Israel e a afligiria desde a entrada (isto é, 
fronteira) de Hamate até ao ribeiro da planície. Em outras palavras, a 
Assíria oprimiria Israel desde sua fronteira mais ao norte (Hamate) até o 
rio da planície, provavelmente o ribeiro do Egito, o limite tradicional de 
Israel, ao sul; sumarizando, a terra inteira. 
 
IV. REVELAÇÃO DO DESÍGNIO DE DEUS - 7.1-9.10 
 
 A terceira parte do livro de Amós consiste de uma série de cinco 
visões, que em sua natureza, são uma revelação do desígnio de Deus 
com respeito a Israel, em vista de sua rebeldia e impenitência. A terceira 
visão é seguida por um interlúdio histórico (7.10-17). O desígnio de 
Jeová, conforme o profeta já havia indicado mais de uma vez, era o 
julgamento. A princípio, devido à intercessão de Amós, tal julgamento é 
desviado (7.1-6), mas, conforme as visões se vão desdobrando, torna-se 
cada vez mais óbvio que tal julgamento era inevitável (7.7-9); além 
disso, era iminente (7.1-14) e inescapável (9.1-10). 
 
Amós 7 
a) A visão do gafanhoto devorador (7.1-3) 
 
 O Senhor Jeová assim me fez ver (1). A revelação, da parte de 
Deus, se tornara visão, da parte do profeta. Gafanhotos (1); isto é, 
Amós (Comentário da Bíblia) 30 
locustas, que têm sido uma das mais freqüentes e mais destruidoras 
pragas da Palestina. Erva serôdia (1). A primeira "erva" tem início em 
outubro e prossegue por todo o inverno; por conseguinte, a erva serôdia 
surge na primavera,após as "últimas chuvas". Era essa erva mais tardia e 
mais rica que as locustas haviam devorado. Fora uma terrível 
calamidade, pois o próximo pasto não estaria pronto senão no próximo 
outono. A segada do rei (1) era, evidentemente, um tributo imposto 
pelos reis de Israel. 
 A visão da praga é seguida pela oração do profeta solicitando 
perdão, e essa oração, por sua vez, é seguida pelo perdão de Deus: Não 
acontecerá (3). O que não aconteceria, evidentemente, conforme tantas 
vezes é referido no capítulo primeiro, era a invasão assíria. 
 
b) A visão do fogo consumidor (7.4-6) 
 
 A segunda visão do profeta foi sobre um grande incêndio 
consumidor que não apenas destruiria uma porção da terra (isto é, a terra 
prometida por Jeová a Israel), mas que também devoraria o grande 
abismo (4; em heb. tehom). Trata-se do abismo primevo da criação, o 
vasto acúmulo de águas sobre as quais se supunha que a terra flutuava, a 
fonte de todas as fontes e rios. Segue-se que se esse abismo fosse 
devorado a origem do todas as fontes e cabeceiras dos rios haveria de 
desaparecer. Isso significaria a seca, e a terra não aguada logo haveria de 
perecer. 
 Tal como em 7.1-3, a visão do profeta sobre a praga é seguida por 
uma oração, e essa oração conduz ao perdão de Jeová. 
 
c) A visão do prumo perscrutador (7.7-9) 
 
 As duas primeiras visões versam sobre calamidade na esfera da 
natureza, mas esta jaz na esfera da religião e da política. O tecido inteiro 
da nação estava tão apodrecido que o colapso final era inevitável. O 
Amós (Comentário da Bíblia) 31 
próprio Deus colocara o prumo. Israel fora medido, fora pesado, e fora 
achado em falta. Tão convencido estava o profeta da inevitabilidade do 
julgamento, que nem ao menos pôde orar pedindo um adiamento. 
 Os altos (9), isto é, os lugares sagrados da Palestina geralmente 
usados por Israel para uma mistura entre os ritos pagãos originais com a 
adoração a Jeová tornar-se-iam desolados; assim também sucederia aos 
santuários oficiais em Betel, Gilgal, etc. Os pilares, que sustentavam o 
edifício religioso de Israel, foram encontrados totalmente tortos pela 
linha de medir de Jeová e a tempestade do julgamento haveria de 
derrubar a todos por terra. O mesmo se aplicava à estrutura política; 
estava irreparavelmente torta e instável e inevitavelmente cairia, no dia 
da ira de Jeová - levantar-me-ei... contra a casa de Jeroboão (9). 
 
d) Interlúdio histórico (7.10-17) 
 
 É provável que a terceira visão tenha sido entregue por Amós ao 
povo, no santuário de Betel. E foi nessa altura que Amazias, o sacerdote 
de Betel, o interrompeu. "O sacerdote, que não tinha consciência de 
qualquer poder espiritual com o qual fazer oposição ao profeta, 
alegremente se aproveitou da oportunidade fornecida pela menção ao rei 
e se valeu do invariável recurso de um estéril e invejoso sacerdotalismo: 
"Ele fala contra César" (G. A. Smith). Primeiramente Amazias se volta 
para o rei: Amós tem conspirado contra ti (10). Relembrando-se, 
talvez, de que a própria dinastia de Jeroboão, no tempo de Jeú, cerca de 
cem anos antes, havia sido elevada ao poder pelos grêmios proféticos 
sob Eliseu, não admira que Amazias tenha ficado apreensivo. Mas dessa 
vez a situação era mais séria. Não apenas o rei do país haveria de cair, 
mas o próprio país do rei também cairia - a nação inteira iria para o 
cativeiro (11). Não admira que a terra, segundo o sacerdote de Betel, não 
pudesse tolerar a gravidade desse oráculo. Mas, quaisquer que sejam os 
motivos, quer um senso de sua própria segurança quer apenas mero 
desprezo pela mensagem daquele profeta-pastor, o fato é que Jeroboão 
Amós (Comentário da Bíblia) 32 
evidentemente não se incomodou com Amós. Amazias em seguida se 
volta contra o profeta (7.12-13). Amós é ordenado a voltar à sua própria 
nação e para ali ganhar o seu pão, pois Amazias julgou que Amós fosse 
um profeta profissional. Parece que Amazias empregou a palavra 
vidente (12; em heb., hozeh) em sentido desprezível: "Desaparece, 
visionário!" Betel era a capela e o palácio do rei; ali não queriam um 
profeta vindo de Judá. 
 Tendo Amazias terminado suas acusações contra Amós, chega a 
vez do profeta passar a responder ao sacerdote (14-15). Ele não tem tido 
qualquer conexão com quaisquer profetas; ele tinha sido pastor e 
cultivador de sicômoros. Deus o tinha chamado de entre o gado e o havia 
comissionado para dirigir-se ao próprio rebanho de Jeová. Porém, o 
homem que não tinha tido qualquer conexão com outros profetas, estava 
destinado a ter uma conexão bem definida e vital com os profetas, no 
futuro. Em seguida vem uma dupla declaração (16-17): uma dela diz 
respeito a Amazias e sua família, e a outra diz respeito à nação de 
Amazias. 
 A ordem para que o profeta não profetizasse, Não profetizarás 
(16), é contrastada com o mandamento de Jeová, assim diz o Senhor 
(17). Com amarga e penetrante ênfase, o profeta descreve as 
conseqüências da invasão e da derrota sobre a família do sacerdote. Sua 
esposa seria uma prostituta naquela mesma cidade onde por tanto tempo 
fora a dama principal, seus filhos seriam mortos e o próprio sacerdote 
pereceria numa terra imunda, ou seja, solo impuro, isto é, uma terra 
estrangeira. Quanto à própria nação, seria dividida, e seus habitantes 
seguiriam para o cativeiro. 
 
Amós 8 
e) A visão do cesto de frutas de verão (8.1-14) 
 
 Nesta visão o profeta retorna para a iminência do julgamento. 
Talvez tenha sido a palavra fim (em heb., qeyts), que levou Amós a ter 
Amós (Comentário da Bíblia) 33 
esta visão sobre os frutos de verão (em heb., qayits). Israel se 
assemelhava a um cesto cheio de frutas maduras demais de verão, 
prontas para apodrecer. 
 Chegou o fim sobre o meu povo (2). Deus havia freqüentemente 
demonstrado piedade e fora paciente para com o Seu povo. O julgamento 
havia sido adiado por muitas vezes, mas desta vez a decisão era final e 
irrevogável. Nunca mais passarei por ele (2). Alguns dos resultados 
desse julgamento são indicados no versículo 3. Em lugar de cânticos 
haveria gritos no templo (ou «palácio») heykhal é ocasionalmente usada 
para designar um palácio real, e esse poderia ser seu sentido aqui. Do 
lado de fora estão os cadáveres dos mortos, espalhados, e esses seriam 
deixados em silêncio, sem sepultamento. 
 Amós volta então ao tema principal de sua profecia - a ganância 
sem paralelo dos ricos, a opressão insuportável contra os pobres, e o 
julgamento inevitável vindo do céu. 
 Os gananciosos e ricos senhores de terra buscavam destruir os 
miseráveis (4). Isso, provavelmente, significa que estavam a comprar as 
pequenas propriedades dos mais pobres, tornando-os assim 
inevitavelmente seus escravos. Tão gananciosos eram, que dificilmente 
podiam esperar até o sábado e a lua nova passarem. Balanças falsas e 
medidas falsas eram usadas para vender seus produtos, dando o mínimo 
possível pelo máximo que podiam extrair (5), "fazendo muito dinheiro", 
comprando o homem pobre em troco "de nada", e vendendo-o como 
escravo. 
 Não apenas isso, mas as cascas do trigo eram vendidas como se 
fosse bom produto (6). 
 Após a breve denúncia contra ganância tão sem paralelo, por parte 
dos ricos comerciantes, vem o anuncio - desta vez com grande 
inexorabilidade - sobre a certeza, a totalidade e as conseqüências do 
julgamento (7-14). A certeza do julgamento jaz no fato que Jeová, que 
havia jurado pela glória de Jacó (provavelmente um sinônimo para o 
nome sagrado) não perdoaria suas obras perversas (7). 
Amós (Comentário da Bíblia) 34 
 A totalidade do julgamento é indicada nas palavras levantar-se-á 
toda como o grande rio (8). O julgamento assolaria a terra como um rio 
que transborda e inunda as suas margens. Israel seria rejeitada, seria 
varrido para fora de sua terra, e seria engolfado, isto é, desapareceria 
num país estrangeiro, como o Nilo inunda suas margens e carrega para o 
mar todos os objetos soltos (8). 
 O resto do capítulo trata de algumas das conseqüências dessejulgamento. Primeiro, haveria trevas (9). Um eclipse do sol teve lugar 
em 763 A. C., e bem poderia ter inspirado esta passagem. Mas o 
profeta, obviamente, estava pensando em um dia ainda futuro. O dia de 
juízo, tão próximo e inevitável, seria realmente um dia sombrio para o 
povo de Israel. Seria um dia de trevas mais densas que qualquer eclipse 
do sol poderia produzir. 
 Em seguida, haveria lamentações (10). O julgamento que 
sobreveio produziu efetivamente essas lamentações (cf. Sl 137.1: "Junto 
aos rios de Babilônia nos assentamos e choramos, lembrando-nos de 
Sião"). 
Essa lamentação também não foi ordinária, mas foi como luto de 
filho único. Nenhuma linguagem pode expressar a agudeza e amargura 
dessa tristeza. 
 A fome foi outra das conseqüências do julgamento de Jeová (11). 
Somente que dessa vez não foi fome de pão, nem sede de água; mas 
seria uma fome espiritual - uma fome da Palavra de Deus, aquela mesma 
palavra que Israel havia desprezado e rejeitado. 
 Porém, seu pão não seria achado, não importando onde fosse 
rebuscado (12). "Na fome pela Palavra de Deus, os jovens são os que 
mais sofrem" (Horton). As pessoas idosas, olhando para o passado, 
podem viver das memórias; outro é o caso dos jovens: desmaiam e coisa 
alguma há para fazê-los reviver e muito menos para alimentar o homem 
íntimo (13). A conseqüência final do julgamento seria destruição 
completa dos idólatras. 
Amós (Comentário da Bíblia) 35 
 Aqueles que juram pelo delito de Samaria, isto é, pelo bezerro 
de ouro estabelecido por Jeroboão I, ou, como dizem outras versões 
"pelo caminho de Berseba", como os muçulmanos juram pelo "sagrado 
caminho para Meca", cairão e não se levantarão mais (14). Seus ídolos 
seriam totalmente incapazes de ajudá-los naquele negro e espantoso dia 
de julgamento. 
 
Amós 9 
f) A visão do Senhor sobre o altar (9.1-10) 
 
 Nesta última visão o profeta contempla um julgamento final e 
inescapável. Amós viu Jeová, não como Isaías, "alto e sublime", rodeado 
por anjos e arcanjos, a transmitir uma mensagem de esperança para os 
impuros, mas antes, sozinho, em pé sobre o altar, e o mandamento que 
deu foi: Fere (1). Durante todo o tempo o julgamento vinha sendo 
declarado e estava iminente. Agora chegara o instante crucial. O 
julgamento, nesta visão, começa pela casa de Deus - o santuário de 
Betel, o centro da adoração nacional de Israel, e o próprio local que os 
israelitas religiosos consideravam como o lugar da habitação de Jeová, 
sagrado e inviolável. Isso demonstraria que Jeová não se encontra ali de 
modo algum. Fere o capitel (1; lit., "capitéis"). 
 Visto que o telhado de uma casa era sustentado pelas colunas, os 
capitéís das colunas seriam feridos em primeiro lugar, para assegurar o 
colapso do edifício inteiro. O quadro é de um templo repleto de 
adoradores: subitamente rui o edifício inteiro sobre eles. Alguns, que por 
acaso estejam do lado de fora no momento, fogem aterrorizados, mas, 
quem assim fizer, não escapará; e qualquer que tiver conseguido fugir, 
não se salvará (1). 
 O julgamento os alcançará mesmo que cavem profundamente a 
terra ou subam até os próprios céus (2). Nem o cume do Carmelo, que 
era o asilo onde o gado era protegido por sanções religiosas (cf. 
Robertson Smith, Religion of the Semites), nem a profundeza dos 
Amós (Comentário da Bíblia) 36 
mares, onde se encontra o temido leviatã ou monstro marinho 
(serpente), poderão escondê-los das mãos de Deus (3). Mesmo no 
cativeiro - "para Israel, uma distância da face de Deus tão terrível como 
o próprio Seol" (G. A. Smith) - não estariam em segurança, pois a espada 
do julgamento tinha ordens de matá-los ali. Tal era o julgamento 
inescapável, pois os olhos de Jeová já não estavam mais sobre eles para 
bem (4). 
 Nos versículos seguintes a ênfase é alterada, desviando-se do 
julgamento para o próprio Juiz. O julgamento seria e deveria ser 
conforme tinha sido pintado por causa da onipotência do Juiz: Ele é o 
Senhor dos Exércitos (5). Quando Deus tocar na terra, então o 
julgamento cairia conforme já tinha sido descrito em 8.8, como um 
poderoso e assolador dilúvio, como as águas inundantes do Nilo (5). O 
versículo 6 é um quadro do palácio de muitos andares de Jeová, que, 
"terraço após terraço chega até o céu". Porém, embora Sua habitação 
esteja tão lá em cima, Ele opera na terra e para o bem estar do homem. 
Tão longe quanto os olhos podem ver, Ele estabelecera Sua abóbada 
(em heb., aggudah, isto é, "côncavo", ou seja, algo encurvado na vasta 
abóbada hemisférica dos céus, como uma enorme cúpula, por sobra a 
terra. As águas do mar são por Ele chamadas (cf. 5.8), e Ele torna a 
derramá-las sobre a terra na forma de chuva. 
 O versículo seguinte deixa claro que, embora o Juiz de Israel 
esteja em relação especial para com a nação, essa relação depende, para 
sua continuação, da lealdade e da fidelidade da Israel. É verdade que 
Israel tinha sido tirado do Egito para ser povo especial a Deus, mas essa 
relação particular se baseava não tanto sobre esse fato como sobre a 
aliança que mais tarde foi estabelecida no deserto. 
 Afinal de contas, Deus também havia tirado os odiados filisteus da 
ilha de Creta (Caftor) e os sírios de Quir, de além de Damasco (7). O 
universalismo do profeta se origina em sua concepção de moralidade 
universal. Visto que Jeová era exaltado em retidão, era Ele o Governante 
e Juiz de toda a humanidade. Mas o Deus de toda a terra, que observava 
Amós (Comentário da Bíblia) 37 
os destinos de todas as nações, não podia desculpar os pecados da Israel 
à base da uma relação de aliança. Seus olhos estavam contra este reino 
pecador (8), e os pecados cometidos contra a luz tinham da ser 
severamente punidos. O reino seria totalmente destruído, ainda que 
tivesse de ficar um remanescente (8). Essa é uma nota tão inesperada na 
profecia de Amós que muitos eruditos estão mais dispostos a não admitir 
esta seção final como genuína. Porém, nada de incoerente existe aqui. O 
julgamento proclamado, de princípio a fim, é duro, severo, todo-
inclusivo, inescapável; porém, o céu negríssimo tinha algumas poucas 
estrelas. O julgamento de Israel seria da natureza de um processo de 
seleção. 
 Sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se 
sacode grão no crivo (9). 
 Toda a palha haveria de perecer (Todos os pecadores do meu 
povo morrerão), mas o grão bom seria salvo (10). 
 
V. EPÍLOGO - 9.11-15 
 
 O tema desta seção final é restauração. Note-se as frases chaves: 
Tornarei a levantar, removerei e plantarei. Os poucos raios de luz, 
dos dois ou três últimos versículos, dão lugar ao nascer do sol de um 
novo dia, quando a profecia termina. Negra, realmente, foi a meia-noite 
desta mensagem, porém, o raiar do dia está próximo. O remanescente do 
cativeiro tornar-se-ia a ponta de lança da uma nova nação. Haveria uma 
grande restauração; e, antes de mais nada, uma restauração da casa de 
Davi (11). 
 Aquela seria a glória de um reino não dividido, quando o norte e o 
sul novamente estariam debaixo de um só rei, como nos dias de Davi. As 
brechas seriam consertadas e as ruínas seriam reconstruídas. Isso seria 
seguido pela restauração do reino (12). Israel viria a possuir uma vez 
mais o que restasse (o restante) de Edom a de todas as outras nações que 
Jeová conquistasse. 
Amós (Comentário da Bíblia) 38 
 As nações que são chamadas pelo meu nome (12) é, 
provavelmente, uma referência a todos os países que Davi tinha 
conquistado. A restauração da família davídica e da nação também 
significaria a restauração da terra (13). Tão fértil seria seu solo que o que 
lavra alcançará ao que sega, preparando o solo para a colheita seguinte. 
Em outras palavras, o tempo da semeadura e a colheita se seguiriam em 
rápida sucessão, e nenhuma interrupção nesse processo, por meio de seca 
ou qualquer outra praga, é contemplada. 
 As colinas, normalmente estéreis, também fariam sua 
contribuição para a prosperidade do povo, pois produziriam sua colheitade uvas - destilarão mosto (13). 
 E finalmente e acima de tudo, haveria a restauração do cativeiro 
(14-15). Cidades seriam reedificadas e habitadas; vinhedos e jardim 
seriam plantados e o povo desfrutaria de seu fruto; o próprio Israel seria 
plantado qual árvore na terra que lhe fora dada por Jeová, e nenhum 
desastre o desenraizaria novamente. A noite de tragédia e julgamento 
passaria para sempre da face da terra, pois Jeová, o Deus de Israel uma 
vez mais (teu Deus), havia assim desejado e declarado. 
 
 O. Bussey. 
 
 
 
 
 
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