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Planejamento estratégico ii Janaína Maria Bueno *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autora, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autora a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Copyright Universidade Positivo 2014 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 Superintendente Reitor Pró-Reitora Acadêmica Diretor de EAD Coordenadora Editorial Coordenadora Pedagógica Autoria Supervisão Editorial Análise de Conteúdo Análise de Qualidade Edição de Texto Design Instrucional Design de Atividades Layout de Capa Imagem de Capa Edição de Arte Diagramação Design Gráfico Estágio de Design Gráfico Revisão Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Profa. Márcia Teixeira Sebastiani Prof. Roberto de Fino Bentes Profa. Manoela Pierina Tagliaferro Profa. Adriana Pelizzari Profa. Janaína Maria Bueno Josiane Cristina Rabac Stahl Francine Ozaki Betina Dias Ferreira Climene de Moraes Favero e Ignácio Dotto Neto Lucelí de Souza Fabro e Wagner Gonçalves da Silva Gilmar Tsalikis e Mariana Moschkovich Athayde Valdir de Oliveira Juliano Henrique Denis Kaio Tanaami Bruno Sato Thiago Sihvenger Bernardo Beghetto, Débora Allana Zimmermann, Guilherme Ruffato, Rafael Crosewski e Willian Batista Adriana Gallego Mateos, Ana Raquel Cruz, Dayene Correia Castilho, Joanice Andrade e Yohan Barczyszyn Ícones Afirmação Contexto Biografia Conceito Esclarecimento Dicas Assista Curiosidade Exemplo Sumário Apresentação ....................................................................................................................7 A autora .............................................................................................................................8 Capítulo 1 Formulação de estratégias: estratégias competitivas .......................................................9 1.1 Modelo de análise de forças competitivas .................................................................14 1.1.1 Poder de barganha dos clientes ............................................................................................................................. 16 1.1.2 Poder de barganha dos fornecedores .....................................................................................................................18 1.1.3 Rivalidade entre concorrentes .................................................................................................................................19 1.1.4 Ameaça de novos entrantes ................................................................................................................................... 20 1.1.5 Ameaça de produtos ou serviços substitutos ........................................................................................................ 22 1.2 Definição das estratégias competitivas .....................................................................22 1.2.1 Estratégia de liderança pelo custo total .................................................................................................................24 1.2.2 Estratégia de diferenciação ................................................................................................................................... 26 1.2.3 Estratégia de enfoque ou de foco ......................................................................................................................... 28 Referências ......................................................................................................................31 Capítulo 2 Formulação de estratégias: estratégias corporativas ......................................................33 2.1 Modelo de análise de visão baseada em recursos .....................................................34 2.1.1 O modelo VRIO ....................................................................................................................................................... 37 2.1.2 Identificação das competências essenciais .............................................................................................................41 2.1.3 Identificação dos fatores críticos de sucesso ......................................................................................................... 43 2.2 Definição das estratégias corporativas ......................................................................45 Referências ......................................................................................................................53 Capítulo 3 Fase de implementação das estratégias .........................................................................53 3.1 Indicadores: escolha e elaboração .............................................................................59 3.2 Elaboração do plano de ação ....................................................................................61 3.3 Execução do plano de ação .......................................................................................65 3.4 Verificação de possíveis problemas na execução do plano .......................................70 Referências ......................................................................................................................74 Capítulo 4 Controle e aprendizagem ................................................................................................75 4.1 O processo de controle estratégico ............................................................................76 4.2 Ferramentas de controle e monitoramento de resultados ........................................83 4.3 Aprendizagem organizacional ..................................................................................87 Referências ......................................................................................................................97 Entender a estratégia como um processo organizacional permite a identificação dos fatores externos e internos que impactam a ação organizacional e os seus resul- tados. Portanto, a administração estratégica é um processo de gestão que tem por finalidade definir, de forma sistematizada e consistente, os caminhos que uma or- ganização tomará para alcançar os seus objetivos. Nesses caminhos, além de serem analisados os ambientes interno e externo, será preciso estabelecer as diretrizes orga- nizacionais (o que se quer fazer, aonde se quer chegar) e usar modelos já consolidados para auxiliar na escolha das melhores estratégias possíveis. A partir daí, será preciso transformar pensamento em ação, com a implementação dos planos e políticas que garantirão o desempenho e os resultados projetados. Apresentação A autora Janaína Maria Bueno é Doutora em Administração de Empresas (Estudos Organizacionais) pela Fundação Getúlio Vargas, Mestre em Administração (Estratégia) pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Especialista em Administração e Planejamento e Gestão de Negócios pela FAE – Business School e Bacharel em Sistemas de Informação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ministra as disciplinas Estratégia, Gestão Empresarial e Análise Organizacional para cursos de Graduação e Pós-Graduação em Administração. É avaliadora de ar- tigos dos eventos da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Administração (Anpad). Apresentou e publicou trabalhos em anais de eventos e perió- dicos brasileiros, atuou como consultora na área de gestão e gerenciou equipes na área de sistemas de informações. Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/9091229487265299> A todos aqueles que sempre estiveram, de alguma forma, presentes durante este trabalho, especialmente ao meu querido esposo, Carlos. 1 Formulação de estratégias: estratégias competitivasPara auxiliar na compreensão do contexto no qual a organização está inserida e na identifi- cação das melhores estratégias, foram desenvol- vidos modelos e ferramentas de análise e escolha estratégica. Cada modelo tem características e vi- são de negócios próprias, as quais um bom gestor deve conhecer e saber usar. Decorrentes do levan- tamento e da análise de fatores dos ambientes externo e interno, esses modelos complementam a análise dos pontos fortes e fracos, das ameaças e oportunidades identificadas na matriz SWOT, e indicam quais estratégias apresentam potencial de êxito para as organizações. Segundo Rodrigues et al. (2000), a estratégia está firmada desde o início em duas principais fontes de informação: conhecimento do contexto no qual está inserida a or- ganização e avaliação das forças desta. Tradicionalmente, os estudos sobre análise estratégica deram mais preferência à análise das forças da organização, pois os ele- mentos da conjuntura econômica dos países não estimulavam os gestores a manifesta- rem interesse mais profundo no que ocorria fora de seus domínios. Para os autores, os anos de 1970 evidenciaram a ascensão gradual das organiza- ções até então afastadas do poder dominante: sindicatos, organizações de consumido- res e diversos tipos de associações de defesa de direitos, que passaram a mostrar que as organizações de negócios, principalmente as empresas, são sistemas abertos que precisam estar em sintonia com o entorno. Os anos de 1980 mostraram o fracasso de muitas políticas econômicas nacionais. O registro de altas taxas de inflação, proteção e abertura de mercado interno, o abalo na confiança da população e os erros cometidos por excesso de confiança nos mecanismos de mercado são alguns exemplos. Nos anos de 1990, os excessos cometidos contra a na- tureza e o consumo exagerado dos insumos naturais não renováveis começaram a ser reconhecidos. Foi a década do reconhecimento da globalização dos mercados como fe- nômeno mundial marcante com consequências extremas. Esses fatos reforçaram o papel das empresas e organizações de negócios e a necessidade de interação destas com seu meio, sob risco de encolhimento e até encerramento das atividades. O início da década de 2000 registrou a emergência dos chamados tigres asiáticos, que invadiram o mercado mundial. Recentemente, os holofotes estão voltados para os países emergentes da vez, representados pelos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (RODRIGUES et al., 2000). © R aw pi xe l / / Fo to lia Planejamento estratégico ii 12 A administração estratégica firmou-se, durante muito tempo, nos conceitos de- senvolvidos nas últimas três décadas do século XX, nas quais as principais inclinações estratégicas eram voltadas para o crescimento, a internacionalização e a diversifica- ção. O estudo da concorrência estava restrito à distribuição de participação de merca- do e o objetivo latente das organizações era a posição de domínio em setores de forte crescimento. Paulatinamente, apareceram conceitos mais ricos e o direcionamento es- tratégico orientou-se para uma reflexão aprofundada do contexto competitivo, ba- seada, em grande parte, na contribuição da economia industrial, concretizada pelos trabalhos de Michael Porter. Assim, uma importante diferenciação deve ser feita em termos de tipos de estratégia que auxiliará na formulação da melhor estratégia e, consequentemente, na sua implanta- ção e controle. A diferenciação consiste em entender o que são estratégias no nível de ne- gócios e o que são estratégias corporativas. Neste capítulo será detalhada a estratégia no nível de negócios, bem como seu modelo de análise e escolha de estratégia. A estratégia no nível de negócios é um conjunto integrado e coordenado de com- promissos e ações, cujo objetivo é gerar valor para o cliente e alcançar uma vantagem competitiva por meio da exploração das competências essenciais em mercados de pro- dutos/serviços específicos e individuais (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Ela deve espelhar a convicção de uma organização, de onde e como possuir uma vantagem em relação a seus rivais. Ela é vinculada ao ambiente externo e às interações entre a orga- nização e esse ambiente. Toda organização deve criar sua estratégia no nível de negó- cios e definir, com isso, seu posicionamento estratégico no mercado. Nesse tipo de estratégia, os clientes são a base e, portanto, é preciso conhecê-los e analisá-los levando-se em consideração o grau de relevância e influência na escolha da estratégia. Quando a escolha é bem feita, a organização consegue determinar quem é o cliente-alvo, quais são suas necessidades e como suas demandas serão atendidas. O objetivo de uma estratégia no nível de negócios é estabelecer diferenças entre a posição de uma organização em relação a seus concorrentes e, para isso, será preciso de- cidir entre executar as mesmas atividades de forma diferente ou atividades diferentes. A análise que cada empresa faz de seu ambiente externo e as decisões que toma em relação ao seu posicionamento no mercado estimulam a rivalidade competitiva. Para entender melhor a diferenciação dos tipos de estratégia (competitiva e corporativa) leia: HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo Futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus, 1995. Pode-se dizer que rivalidade competitiva é o conjunto de ações e reações que ocorre entre concorrentes de um mercado específico quando direcionam seus esforços Planejamento estratégico ii 13 em busca de uma posição de vantagem. A rivalidade resulta da iniciativa das organi- zações em colocar em prática ações próprias e das reações delas diante das ações dos concorrentes (HOSKISSON et al., 2009). Quando a organização precisa criar ou modificar sua estratégia no nível de negócios, deve procurar modelos de análise e ferramentas que privilegiem a leitura de seu cenário externo, pois o conhecimento da concorrência, dos clientes, dos fornecedores, do governo e demais agentes externos é essencial para definir o melhor posicionamento no mercado. Uma estratégia deve ser criada levando-se em consideração o contexto da organização. O con- texto atual de negócios demanda estratégias inovadoras e capazes de marcar a presença da empresa no mercado. Por ter surgido na economia industrial, a análise do contexto competitivo utiliza o termo indústria ou setor de atividade. Ainda que as definições sejam numerosas e varia- das, Rodrigues et al. (2000) destacam três dimensões da cadeia produtiva que ajudam a compreender sua importância para a administração estratégica: dimensão técnica, econômica e relacional. Uma cadeia produtiva pode ser vista como: D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Um conjunto de operações técnicas que compreende desde a obtenção da matéria- -prima até a disponibilização do produto final para o respectivo consumidor. Um conjunto de relações econômicas e de transações comerciais entre as organizações situadas em estágios complementares de suas atividades econômicas. Um conjunto de organizações com uma hierarquia mais ou menos estabelecida, que coordena as operações técnicas e as transações comerciais. Planejamento estratégico ii 14 Normalmente, as organizações de um setor de atividade têm certa dependência de outros setores, como o fornecedor de insumos e recursos e o cliente, exceto quan- do há integração total da operação (a mesma organização extrai a matéria-prima, transforma-a em produto e disponibiliza-o diretamente ao consumidor). Fornecedor e cliente exercem pressão de formas variadas, que intensificam a disputa compe- titiva entre as organizações de determinado setor (RODRIGUES et al., 2000; HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). As organizações também são pressionadas pela maior ou menor dificuldade de entrar em um setor ou de sair dele. O grau de atratividade do setor também é uma va- riável determinante do grau de concorrênciaexistente e indica a possibilidade de pro- dutos e/ou serviços similares oriundos de outros setores de atividades substituírem os produtos e/ou serviços de um setor específico. Com efeito, essas variáveis determinam o nível de competitividade de um setor e são a base para o modelo de Michael Porter, que vai orientar a escolha da estratégia de negócios. 1.1 Modelo de análise de forças competitivas O modelo de organização industrial (cinco forças competitivas) foi desenvolvi- do por Michael Porter na década de 1980 e tem por objetivo analisar o setor de atua- ção no qual uma empresa está inserida, com base em cinco elementos principais, que influenciam o cenário do setor e as escolhas estratégicas das organizações que nele atuam (PORTER, 2004). Em português, o termo indústria pode gerar confusão. Em inglês, industry significa “setor de atividade” e é utilizado nesse sentido por Michael Porter. Por isso, “indústria” ou “organização industrial” se referem a um setor de atividade. Segundo Hoskisson et al. (2009), esse modelo leva em consideração a grande in- fluência do ambiente externo nas ações estratégicas das organizações e tem alguns pressupostos: • muitas vezes, o controle de recursos e estratégias é similar entre concorrentes; • existe mobilidade de recursos para implantar estratégias e as decisões devem ser racionais; • deve-se buscar o comprometimento com o resultado. A pesquisa sobre análise de setores de atividades e da concorrência mos- trou como um sistema de forças, dentro e fora de um setor, influencia coletivamen- te a natureza, o nível da competição no setor e, em última análise, o potencial de Planejamento estratégico ii 15 lucratividade deste. A figura a seguir, bastante conhecida e difundida nos livros de es- tratégia, retrata as cinco forças analisadas e suas inter-relações e pressões: Modelo das forças competitivas Fonte: PORTER, 2004, p. 4. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: R af ae l C ro se w sk i Ameaça de novos entrantes Poder de negociação dos compradores Ameaça de serviços ou produtos substituídos Poder de negociação dos fornecedores Entrantes potenciais Compradores Substitutos Fornecedores Concorrentes na indústria Rivalidade entre empresas existentes O conjunto dessas forças determina o potencial de lucro final no setor que é medido em termos de retorno de longo prazo sobre o capital investido. Os setores diferem em seu potencial de lucro final à medida que o conjunto das forças de compe- titividade entre suas organizações variam de setor para setor (PORTER, 2004). Para o autor, clientes, fornecedores, potenciais novos concorrentes e produtos substitutos são todos competidores que podem exercer maior ou menor pressão sobre as organizações do setor. As próprias organizações concorrem entre si e são a quin- ta força competitiva a ser analisada. Juntas, essas cinco forças formam um conjunto que dirige a concorrência em cada setor de atividade específico. Em seguida, cada uma dessas forças será analisada e terá explicada suas características e o tipo de pressão que exercem no ambiente competitivo. O modelo das cinco forças competitivas ainda é utilizado e referenciado tan- to no mundo acadêmico quanto no ambiente empresarial. No fim do capítulo, serão Planejamento estratégico ii 16 1.1.1 Poder de barganha dos clientes Compradores de produtos e/ou servi- ços de um setor podem exercer pressão com- prando produtos substitutos ou diminuindo o consumo para baixar o preço (PORTER, 2004; HOSKISSON et al., 2009). Com isso, podem di- minuir o potencial de lucratividade do setor,o que demanda aumento da qualidade e colo- ca uma organização contra a outra (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000). Segundo Porter (2004), o poder dos clientes é maior quando: • O grau de concentração dos clientes supera o da organização vendedora. Nesse caso, há menos clientes que organizações vendendo determinado pro- duto ou serviço. Assim, as organizações terão que disputar a atenção dos pou- cos clientes e oferecer vantagens para vencer a concorrência. Se alguns poucos clientes adquirem um volume considerável das vendas do setor, eles terão um grande poder para negociar vantagens. apresentadas algumas críticas a respeito dele. Contudo, uma delas precisa ser comentada aqui para facilitar a compreensão do modelo e o motivo de ele permanecer sem alterações. Depois de mais de 20 anos de uso e após receber muitos elogios e críticas, o pró- prio Michael Porter comenta sobre uma sexta força: o governo. Essa força exerce pressão sobre as demais e contribui para o aumento ou a diminuição da competição e o fortalecimento ou enfraquecimento de uma ou mais forças por meio de regula- mentação e fiscalização dos agentes envolvidos em cada setor de atividades. Alguns setores recebem maior pressão do governo, presença que deve ser levada em consi- deração. Mas Porter (2004) reluta em acrescentá-la ao seu modelo, pois alega que o governo não é uma natureza competitiva, uma vez que seu papel é de regulação e mo- nitoramento, e não de competição. Por isso, ele advoga que a instância governamen- tal age pressionando as cinco forças e seu papel e influência devem ser entendidos por meio delas, e não como uma ação direta e específica para a organização. Michael Porter é doutor em Economia, professor da Universidade de Harvard e importante fi- gura para os interessados em estratégia. Recomenda-se a leitura de seu livro: Estratégia Competitiva: técnicas para análise das indústrias e da concorrência. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. © v eg e / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 17 • Os produtos comprados das organizações do setor representam uma parce- la importante dos custos do cliente. Nessa situação, os clientes vão lutar por preços mais favoráveis e mais vantagens. • Os produtos comprados das empresas do setor não são diferenciados. A falta de diferenciação permite que os clientes comparem as vantagens e des- vantagens oferecidas pelas organizações e escolham o produto que for mais atrativo. Nesses casos, os clientes podem jogar uma organização contra outra ao optarem mudar sua escolha caso outra organização ofereça algo em troca, como maior prazo de pagamento ou desconto. • Os clientes têm baixos lucros, o que os torna mais sensíveis aos preços dos produtos adquiridos. Quanto menor a lucratividade, mais o cliente procurará reduzir custos e tentará negociar descontos. • Existe ameaça de integração para trás, ou seja, os clientes já são, pelo me- nos, parcialmente integrados ou existe a possibilidade de integração com a aquisição, por parte deles, de organizações do setor. Como exemplo, pode ser citada uma rede de supermercado que compra a organização produtora e pas- sa a comandar toda a operação. • O custo para os clientes mudarem seus fornecedores é baixo, ou seja, os clientes têm várias opções para comprar e não há muita dificuldade em mudar de uma organização fornecedora para outra. Quanto maior o custo e a dificul- dade de mudança, mais os clientes permanecerão fiéis à organização. • O produto do setor tem pouca relevância para os produtos e/ou serviços do cliente, ou seja, se o cliente depender da qualidade do produto adquirido nesse setor, ele dependerá mais das organizações e terá menos força para barganhar e pressioná-las. • Os clientes são bem informados. O acesso à informação tem aumentado o poder de negociação dos clientes. Além do poder da informação, hoje ao alcance da maioria, a instância governa- mental também pode exercer papel relevante no aumento do poder de negociação dos clientes de um setor. As leis de proteção do consumidor são um exemplo de como o governo pode interferir na relação de negócios e equilibrar ou não as forças de de- terminados ambientes de negócios. A redução ou isenção de tarifas de determinados setores no Brasil também exemplifica essa atuação, o que permite às organizações se- rem mais competitivas e estimula o consumo, que é uma das molasda economia. Planejamento estratégico ii 18 © J ul ie nE ic hi ng er / / F ot ol ia 1.1.2 Poder de barganha dos fornecedores Os fornecedores podem exercer poder de bar- ganha sobre determinado setor mediante o au- mento dos preços ou da reduçãoda qualidade de mercadorias e serviços (PORTER, 2004). Eles podem pressionar a lucratividade de um setor quando as or- ganizações desse setor são incapazes de repassar au- mentos de custos aos seus preços (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000). O poder de barganha dos fornecedores é semelhante ao poder dos clientes, só que em sentido inverso. De acordo com Porter (2004), a força dos fornecedores será maior quando: • Os fornecedores são mais concentrados do que o setor considerado. Conseguir vender para um grande número de organizações do setor favorece o controle de alguns poucos fornecedores sobre o preço, a qualidade e demais condições de comercialização. • Inexistência de bons substitutos para seus produtos ou serviços. Nesse caso, as organizações de um setor não têm alternativa a não ser comprar dos fornecedores disponíveis, que têm a vantagem e podem decidir o que, como, quanto e quando vender seus produtos ou prestar seus serviços. • O produto e/ou serviço do fornecedor é importante para o produto do setor. Se eles são os elementos-chave no processo produtivo das organizações, estas terão que se sujeitar a esses fornecedores, pois dependem da produção e da qua- lidade deles para atender às demandas do seu mercado. • O produto do fornecedor é diferenciado. Nessa situação, é difícil para as or- ganizações de um setor encontrar um substituto, o que aumenta a dependên- cia desse fornecedor. • Custos elevados para a substituição de fornecedor. O custo de abandonar o fornecedor atual será maior do que continuar sofrendo a pressão existente no momento. Isso pode ocorrer em casos de necessidade de mudança de equipa- mentos específicos, por exemplo, ou no caso de substituição de software, pois o tempo e os recursos envolvidos na mudança podem ser maiores do que o in- vestimento na melhoria do fornecedor atual. • Ameaça de integração para frente. Os fornecedores já são, pelo menos, par- cialmente integrados ou há a forte possibilidade de tornarem-se também parti- cipantes do setor cliente. • As organizações do setor não são clientes significativos para os fornecedores. Isto é, o setor terá pouco poder de pressão sobre os fornecedores. Planejamento estratégico ii 19 O resultado da pressão de fornecedores com poder de negociação pode ser a di- minuição da lucratividade da organização. Estabelecer uma relação de parceria com fornecedores pode ser uma estratégia para sair de uma situação de pressão que possa comprometer a operação e a continuidade da organização. 1.1.3 Rivalidade entre concorrentes A intensidade da rivalidade entre os concor- rentes nada mais é do que a busca incessante pela melhor posição por meio de táticas como competi- ção de preços, lançamentos de produtos e estraté- gias de publicidade (PORTER, 2004). A concorrência pode aumentar quando uma ou mais organizações percebem que é possível melhorar seu posiciona- mento no setor ou sentem a pressão da competição, que pode instigar movimentos, como a melhoria no atendimento (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000). Para Porter (2004), o grau de intensidade da rivalidade está relacionado a diver- sas situações, dentre as quais se destacam: • Os concorrentes são numerosos ou são muito semelhantes em tamanho e influência. O número de organizações, a semelhança ou diferença de tama- nho e a influência exercida no setor podem equilibrar ou acirrar a concorrência. Setores com poucas organizações, muito semelhantes em tamanho e influên- cia, tendem a ser menos competitivos. • O crescimento do setor é lento. Nesse caso, o aumento de participação de uma empresa no mercado implica a diminuição de participação de outra, o que pode provocar conflitos. • O produto ou serviço não tem diferenciação ou custos de mudança. Isso faz com que os clientes troquem de organização a qualquer momento e pressio- nem as organizações por maiores descontos ou benefícios, uma vez que o pro- duto e/ou serviço em si não faz a diferença. • Os custos fixos são altos, o produto é perecível ou apresenta altos custos de armazenagem. Essa condição cria uma forte pressão para reduzir preços, o que intensifica a concorrência. • Aumentar a capacidade exige grandes incrementos. Isso significa que, para aumentar a capacidade produtiva, a organização terá que fazer altos investi- mentos financeiros e de tempo. • As barreiras para saída do setor de atividade são elevadas. A organiza- ção terá que arcar com despesas elevadas ou a incapacidade de transferir o © o lly / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 20 conhecimento e a tecnologia para outro setor, tendo que desperdiçar o que já tem e começar do zero. Essas barreiras, que podem ser de origem econômica, estratégica, logística ou emocional, impedem ou dificultam a saída da organi- zação, o que a torna mais sujeita à competição do setor. • Os rivais são divergentes em estratégias, origens e “personalidades”. Eles têm diferentes ideias acerca de como competir e continuamente se chocam com os demais. Isso pode significar dificuldade em entrar em consenso sobre quais serão “as regras do jogo” competitivo, além de ser mais difícil estabele- cer estratégias de parceria e cooperação. • Os interesses estratégicos são altos. Se as organizações têm grande interesse em obter êxito no setor, elas vão competir mais acirradamente pelo seu domínio e po- der, sacrificando, pelo menos em alguns momentos, a própria lucratividade. A organização de um setor pode significar ganhos para seus participantes. Setores que têm entidades de classe estabelecidas e com força para aglutinar e articu- lar interesses envolvidos, podem obter mais ganhos e vantagens com os setores forne- cedores ou com a instância governamental. 1.1.4 Ameaça de novos entrantes A entrada de novas organizações em um setor de atividade pode acarretar mudanças importantes na competição e nas estratégias, pois as organizações entrantes podem trazer novas capacidades e desejo de ganhar partici- pação de mercado, além de operar com subs- tanciais recursos (PORTER, 2004). Para Wright, Kroll e Parnell (2000), se um setor não estiver em franco crescimen- to, a entrada de novos concorrentes acirrará a disputa por participação no mercado. O grau de ameaça de entrantes depende das barreiras atuais, da reação dos concorren- tes existentes e das expectativas dos entrantes em relação ao mercado. Se as barreiras aos entrantes forem altas, provavelmente um recém-chegado en- frentará duras retaliações dos concorrentes já estabelecidos e, certamente, não cons- tituirá uma séria ameaça ao entrar no setor. Os concorrentes já estabelecidos podem impor barreiras por já trabalharem em larga escala, conhecerem o mercado e as tec- nologias. O governo também pode estabelecer ou derrubar barreiras ao impor regras para proteção ou abertura de mais concorrência em determinado setor. Veja alguns exemplos de barreiras aos novos entrantes (PORTER, 2004): © a pi na n / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 21 • Economias de escala já conquistadas pelas empresas do setor. Pode signifi- car que os custos dos atuais concorrentes serão mais baixos que os custos de entrantes que não iniciem com o mesmo volume de produção. Isso pode afetar o preço final, diminuindo o percentual de lucratividade, de modo a pressionar os potenciais entrantes a desistirem desse mercado. • A diferenciação do produto vai requerer maiores esforços de marketing. As organizações já estabelecidas desfrutam de uma identificação da marca e da lealdade de seus clientes. Um entrante precisará construir tudo isso, despen- dendo tempo e recursos para atingir o objetivo. • Dificuldade de acesso aos canais de distribuição. Muitos distribuidores já atendem às organizações do setor.Será necessário, portanto, negociar e ofe- recer-lhes vantagens para que deixem de atender a outras organizações e pas- sem a atender ao novo concorrente. Muitas instituições estabelecem parcerias com seus distribuidores, construindo uma relação abrangente e profunda que cria uma barreira difícil de ser rompida pelo entrante. • Necessidade de altos investimentos iniciais. Para ter capacidade de competir com a estrutura e a tecnologia que o setor demanda, grandes somas de capital podem ser demandadas para a construção de instalações, compra de equipa- mentos, contratação de profissionais especializados, pesquisa e desenvolvi- mento de tecnologia. • Custos de mudança para os clientes. Interromper as relações comerciais com o fornecedor atual e passar a comprar do novo concorrente pode significar cus- tos adicionais para os clientes. Se for necessário treinamento de pessoal, subs- tituição de máquinas e equipamentos, por exemplo, será mais difícil para o entrante conquistar uma carteira de clientes. • Desvantagens de custos não relacionados à escala. Algumas organizações po- dem ter tecnologias exclusivas, acesso a insumos, localização privilegiada e já ter desenvolvido sua curva de experiência e aprendizagem, que pode fazer toda a di- ferença para que um potencial novo entrante desista de operar no setor. • Políticas governamentais. As instâncias governamentais podem decidir sobre o acesso de potenciais concorrentes a determinados setores de seu interesse, impondo exigências de licenciamento (ambiental, por exemplo). Em alguns se- tores, isso é mais presente e pode encarecer a operação para uma nova orga- nização, pois adequações à legislação podem significar investimentos que não estavam previstos e custos adicionais de produção. Além das barreiras de entrada, as organizações já atuantes em um setor podem adotar posturas de retaliação com os novos entrantes (PORTER, 2004). Esses mo- vimentos são mais esperados em setores que possuem um histórico desse tipo de Planejamento estratégico ii 22 atitude por terem alto interesse envolvido (grandes investimentos, uso intensivo de tecnologia etc.) ou em setores de crescimento muito lento, nos quais a entrada de um novo concorrente significa a perda de espaço de uma empresa já estabelecida. Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) comentam que uma forma de evitar as barrei- ras de entrada é buscar nichos de mercado atualmente não atendidos pelas organi- zações do setor. Pequenas empresas muitas vezes têm potencial e flexibilidade para atender a esse perfil de demanda, oferecendo produtos e/ou serviços altamente customizados. 1.1.5 Ameaça de produtos ou serviços substitutos Nesse caso, as organizações de um setor sofrem a concorrência dos fabricantes de produtos substitutos, o que faz com que aquelas tenham seus preços limitados de acordo com o nível de substituição. De acordo com Porter (2004), as organizações de um setor sempre sofrerão pressão de produtos e/ou serviços substitutos. Quanto mais atrativa for a relação entre preço e desempenho de um substituto, maiores as possibi- lidades de ele diminuir a lucratividade do setor do produto substituído. O nível da ameaça é alto quando: • A evolução tecnológica leva à queda de custo e de preço dos produtos subs- titutos. Esse fator aumenta a sua atratividade. • Os setores que produzem os produtos substitutos operam com elevada mar- gem de lucro. Isso possibilita reduções de preço. • Há baixos custos de mudança para os clientes. Assim, eles podem optar por utilizar um produto substituto sem nenhum prejuízo ou problema. A criação de produtos diferenciados, que apresentam características únicas, pode ser uma forma de evitar a substituição (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Para Porter (2004), uma saída é o trabalho conjunto entre as organizações do setor, por meio de campanhas de marketing, que reforce os diferenciais dos produtos e/ou servi- ços e mostre que são melhores (em preço, qualidade, desempenho, tecnologia, atribu- tos etc.) que os substitutos. 1.2 Definição das estratégias competitivas A definição do posicionamento que a organização deseja assumir depende de como ela se encontra perante as forças competitivas do setor e de acordo com seus pontos fortes e fracos (PORTER, 2004). Os gestores precisam se perguntar: • Qual é a pressão que os concorrentes estão fazendo? © W on de rf ul Pi xe l / / Fo to lia Planejamento estratégico ii 23 • Como a organização pode responder a ela? • Onde se posicionar em relação aos produtos substitutos? • Como atuar contra as barreiras impostas ou impor barreiras para evitar novos concorrentes? • Qual é a pressão dos fornecedores? Ela é uma ameaça à organização? E os clientes? Para escolher a melhor estratégia competitiva, Porter (2004) defende que a organi- zação determine, primeiramente, se será uma ação ofensiva ou defensiva em relação às cinco forças competitivas, o que implica a adoção de algumas das seguintes abordagens: • Posicionamento da organização utilizando suas capacidades como defesa contra o desenho atual das forças competitivas. Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2008), o po- sicionamento da empresa depende do conhecimento de suas capacitações e das causas das forças competitivas do setor. Esse conhecimento ajudará na escolha das áreas nas quais a empresa deve confrontar a competição e onde deve evitá-la. • Influência no balanço entre forças, utilizando movimentos estratégicos para saltar para uma posição relativa (e melhorada) no setor. Hitt, Ireland e Hoskisson (2008) comentam que, ao lidar com as forças que impulsionam a competição entre setores de atividades, uma empresa pode projetar uma es- tratégia que parta para a ofensiva. Essa atitude pretende mais do que mera- mente lidar com essas forças: ela tem a intenção de modificar suas causas e assim exercer influência sobre o setor e seus movimentos. • Antecipação das mudanças nos fatores que influenciam as forças competitivas, assumindo nova posição com estratégia apropriada à nova configuração do am- biente competitivo antes que os concorrentes a identifiquem. Segundo Hitt, Ireland e Hoskisson (2008), a evolução nos setores de atividades é estrategica- mente importante, porque naturalmente traz mudanças às fontes de competi- ção. Essas mudanças podem significar vantagens competitivas para as empresas que saírem na frente ou não demorarem a reagir quando elas acontecerem. Com base na análise das forças competitivas de um setor, a empresa precisará decidir seu posicionamento nesse mercado (PORTER, 2004). Porter sugere três estra- tégias, chamadas de genéricas, uma vez que podem ser adotadas pelos mais variados tipos de organizações, com diferentes portes e segmentos de mercado: D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Liderança pelo custo total. Diferenciação. Enfoque ou foco. Planejamento estratégico ii 24 Nessa fase do processo de estratégia, o ponto de partida são as informações le- vantadas no diagnóstico estratégico (feito nos ambientes interno e externo) e nas di- retrizes organizacionais (missão, visão e objetivos), de maneira a escolher o melhor caminho para a organização, dadas suas condições de criação de diferenciais e de com- petição do setor. O processo de escolha das melhores estratégias deve levar em consideração a expectativa dos grupos de interesse da organização, ou seja, os objetivos de seus stakeholders. Como qualquer grupo heterogêneo, as demandas nem sempre são coin- cidentes e caberá ao gestor decidir as estratégias que atendam, da melhor forma, a todo o conjunto desses interesses. De acordo com Hoskisson et al. (2009), cada estratégia pode auxiliar a organiza- ção a estabelecer e aproveitar uma vantagem competitiva. Para os autores, os ges- tores devem ponderar sobre dois tipos principais de vantagens competitivas – custo menor que o dos concorrentes ou capacidade de diferenciação – e que muitas vezes permitem praticar um preço acima da média. Resultadosacima da média são aqueles que excedem o resultado médio obtido pelos concor- rentes. Eles podem ser financeiros ou de participação no mercado, índice de satisfação e fideli- zação de clientes (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). 1.2.1 Estratégia de liderança pelo custo total © C ol ou re s- Pi c / / F ot ol ia D es ig n G rá fic o: B er na rd o B eg he tt o Qualidade Agilidade Eficiência Custo Planejamento estratégico ii 25 A estratégia de liderança pelo custo total consiste no domínio de um setor por meio de uma série de políticas orientadas para a obtenção do menor custo total da operação. Para colocar essa estratégia em prática, é preciso investir em instalações eficientes, profissionais qualificados, melhoria nos processos internos, redução dos custos e controle rigoroso das despesas gerais e administrativas (PORTER, 2004). No entanto, investimentos em pesquisa e desenvolvimento são mínimos. O foco é a venda de produtos e serviços padronizados com baixa sofisticação e tendo como público-alvo os clientes mais típicos do setor (HOSKISSON et al., 2009). Custo baixo é o principal objetivo dessa estratégia, embora a qualidade e o aten- dimento aos clientes não devam ser ignorados. Assumir a posição de liderar pelo baixo custo permite que a organização obtenha retornos acima da média, mesmo em mer- cados muito competitivos. Companhias aéreas de baixo custo são um exemplo dessa estratégia. A Ryanair, segundo Hoskisson et al. (2009, p. 159), pode ser considerada uma das líderes em custo baixo. A frase do principal executivo da companhia resume sua estratégia: “Você quer luxo? Procure outra empresa”. É importante esclarecer que essa estratégia está relacionada com custo, e não com preço. Seu foco é ter uma estrutura com custo baixo que permita margens de lu- cros superiores aos concorrentes. A organização poderá ou não oferecer aos clientes um preço mais baixo e obter ganhos de escala por meio de um alto volume de vendas (PORTER, 2004; HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Dessa forma, a estratégia de liderança em custo pode ser usada também para a organização se defender das forças competitivas (como seus concorrentes), de com- pradores com alto poder de barganha, que pressionam por preços mais baixos, e de fornecedores poderosos que pressionam por aumento dos insumos. Barreiras de en- trada também podem ser erguidas contra novos entrantes, que entrarão no mercado competindo com ganhos de escala. Custos mais baixos também permitem que a orga- nização se defenda de alguns produtos substitutos. Para que essa estratégia tenha êxito, quase sempre a organização terá que atin- gir uma alta parcela de mercado e ter acesso às matérias-primas de menor custo. Para Porter (2004), essa estratégia pode demandar investimento alto em equipamentos de ponta, estabelecimento de preços baixos e prejuízos iniciais para a organização adqui- rir uma parcela significativa do mercado. Ao adotar a estratégia de liderança em custo, talvez a organização precise bancar sua entrada no mercado praticando um preço competitivo, ao mesmo tempo em que investe em sua infraestrutura inicial. Isso para que, desde o começo, possa ser reco- nhecida pelos clientes como a empresa que oferece os preços mais atraentes. Planejamento estratégico ii 26 Alguns riscos, apontados por Porter (2004), são inerentes à estratégia de lideran- ça total em custos: • mudanças tecnológicas que podem anular o investimento feito ou o aprendizado anterior; • o custo pode ser baixo para organizações entrantes, que podem apresentar grande capacidade de imitação ou de investimento em instalações modernas; • se concentrar seu foco demasiadamente no custo, a organização pode ser incapaz de ver as mudanças necessárias em seus produtos ou em sua relação com os consumidores; • inflação em custos que diminuam a capacidade da organização de manter seu diferencial de preço para compensar a imagem da marca em relação aos preços de seus concorrentes. De acordo com Hoskisson et al. (2009), é preciso cuidar da estratégia de liderança total em custos para não chegar a um ponto em que os preços finais fiquem muito bai- xos, com margens pouco satisfatórias, de modo que isso cause mudança na percepção do valor do produto para os clientes. Depois de alterada, essa percepção poderá ser di- fícil de ser revertida. 1.2.2 Estratégia de diferenciação A segunda estratégia genérica é a diferenciação. Ao utilizá-la, a organização deve criar algo único e diferente para seu produto ou serviço, conforme o mercado de sua área de atuação. Há várias formas para alcançar a diferenciação: imagem da marca, tecnologia embutida no produto ou processo, peculiaridades do produto ou serviço, personalização e rede de fornecedores ou de distribuidores (PORTER, 2004). Obtida a diferenciação, ela pode ser uma forma de enfrentar as forças competi- tivas do setor e distanciar a organização de seus concorrentes devido à fidelização de clientes. Esse tipo de cliente pode ter menos sensibilidade aos preços. A fidelidade dos clientes pode servir também como barreira a novos entrantes, que precisarão de mais esforço para conquistar clientes fiéis a outras empresas. © d es ti lla t / / Fo to lia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Planejamento estratégico ii 27 A diferenciação pode permitir margens maiores, que dão mais força para a orga- nização negociar com fornecedores. Ela dificulta a substituição, devido à falta de al- ternativas para comparação, uma vez que os produtos ou serviços são diferenciados. A organização que consegue se diferenciar estará mais bem posicionada em relação aos produtos substitutos, pois é mais difícil substituir aquilo que é diferenciado (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Quando opta pela estratégia de diferenciação, a organização talvez não consiga uma parcela tão grande do mercado, pois diferenciar, muitas vezes, significa dar um toque de exclusividade ao produto ou serviço que é incompatível com a obtenção de uma grande parcela do mercado. É o caso de uma parte dos usuários de determinada marca de jeans, dispostos a pagar mais por alguns modelos diferenciados. Algumas organizações conseguem diferenciar seus produtos ou serviços e, mes- mo assim, atingir grande parcela de clientes. É possível trabalhar com diferenciação investindo em pesquisa e desenvolvimento que permitam o lançamento de novos pro- dutos com características que muitos consumidores desejam obter e estejam dispostos a pagar mais por isso. Segundo Hoskisson et al. (2009), para que uma estratégia de di- ferenciação tenha êxito e cobre o preço adicional pelo diferencial de seus atributos, é essencial que seus clientes percebam que o custo adicional é mais do que compensado pelas características diferenciadas que o produto e/ou serviço oferece. Os constantes lançamentos de aparelhos celulares diferenciados que, mesmo com um preço pouco acessível, atingem parcela considerável de consumidores, que buscam adquirir o que os atributos desses aparelhos oferecem, mais tecnologia ou outra característica que só determi- nada marca pode oferecer. Mesmo apresentando várias vantagens para as organizações, alguns riscos são inerentes à estratégia de diferenciação (PORTER, 2004). © g ar ri fr ot to / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to O diferencial de custos entre os concorrentes que têm baixo custo e a organização é muito grande para que ela consiga manter a lealdade dos clientes à marca. Nessa situação, os consumidores abrem mão de certas características dos produtos em troca de grande economia, pois, para eles, os diferenciais não justificam a diferença dos preços. A demanda dos compradores pelos fatores de diferenciação diminui quando os clientes aumentam seu nível de exigência ou deixam de valorizar pequenas diferenças. Planejamento estratégico ii 28 A imitação pode reduzir a diferenciação percebida,o que é comum em setores mais maduros, nos quais as organizações são muito semelhantes nos processos e nas tecnologias empregadas. Falsificação de produtos. Apesar da tentativa de combater esse tipo de situação, muitos países convivem com a concorrência desleal de produtos contrabandeados ou falsificações. © g ar ri fr ot to / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Organizações que adotam a estratégia de diferenciação precisam ajustar sua es- trutura organizacional de forma que sejam mais flexíveis para atender a uma operação mais complexa, com a formação de equipes multifuncionais envolvendo diversas áreas da organização (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). 1.2.3 Estratégia de enfoque ou de foco A terceira estratégia genérica é a de enfoque (ou foco), que consiste em focar um gru- po específico de clientes ou um segmento de produtos ou, ainda, um mercado geográfico. Do mesmo modo que a diferenciação, a estratégia de foco pode assumir várias formas. Segundo Porter (2004), visando atender muito bem ao mercado determinado, essa estratégia obedece à condição de que a organização pode atender ao segmento específico de forma mais efetiva e eficiente que concorrentes, que competem de forma mais ampla. A ideia é atender seus clientes de forma mais personalizada. Nesse sentido, é mais espe- cífica do que a diferenciação, pois pode (ou pelo menos, pretende) atender melhor às ne- cessidades dos clientes do segmento específico. Essa estratégia pode oferecer preços mais baixos do que a concorrência, ou ainda, oferecer diferenciação e baixo custo. Ainda segundo Porter (2004), a organização que desenvolver com êxito a estra- tégia de foco pode obter retornos acima da média para seu setor ao atender às neces- sidades específicas de um segmento do público-alvo. Os ganhos podem vir por preços diferenciados ou pela fidelidade dessa parcela de clientes. Nesse tipo de estratégia, a organização adota uma estratégia de baixo custo ou de alta diferenciação (ou ambas) para um segmento específico. Assim como as outras estra- tégias genéricas, a estratégia de foco pode ser usada para se defender das forças com- petitivas. Além disso, ela pode ser utilizada para desenvolver o produto ou serviço, de modo a evitar o aparecimento de produtos substitutos, ou para atuar com determinados tipos de clientes, que não são atendidos pela concorrência (HOSKISSON et al., 2009). Planejamento estratégico ii 29 Atualmente, percebe-se uma tendência para a utilização da estratégia genérica de foco, visto que há cada vez mais consumidores que querem produtos e serviços que atendam as suas necessidades específicas. Um exemplo desse tipo de estratégia são as empresas de viagem especializadas em atender cidadãos aposentados que querem pacotes de viagem voltados para sua faixa etária, que in- cluam cuidados específicos e respeitem seu momento de vida. Porter (2004) salienta que, mesmo oferecendo inúmeras vantagens, alguns riscos podem ser evidenciados nesse tipo de estratégia: O diferencial de custos entre os concorrentes, que atuam em todo o mercado, e a organização, que usa a estratégia de foco, pode ampliar-se de tal forma que sejam eliminadas as vantagens de custos adquiridas ao optar-se por atender uma parcela menor do mercado ou anulada a diferenciação alcançada pelo foco. Um exemplo dessa situação são os produtos voltados para diabéticos e pessoas que querem emagrecer, pois muitas empresas adaptaram seus produtos tradicionais para atender também às necessidades desses públicos. As diferenças percebidas nos produtos ou serviços pelo setor específico se reduzem, assim como o mercado, o que não justifica a escolha da organização ou o preço cobrado por ela. © g ar ri fr ot to / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Planejamento estratégico ii 30 © g ar ri fr ot to / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Os concorrentes encontram submercados dentro do segmento específico escolhido pela organização e, com isso, levam seus clientes e tiram seu foco estratégico. O segmento de produtos diet, por exemplo, pode se subdividir em vários submercados: chocolates especiais, sobremesas prontas, chás e refrescos. Cada um tem apelo e estratégia diferente de fidelização do cliente. Para Hoskisson et al. (2009), é importante salientar que, apesar de a amplitude do mercado-alvo poder variar, a essência da estratégia de foco é aproveitar as diferen- ças limitadas de um público-alvo em relação ao restante do setor, o que significa tra- balhar com uma parcela de clientes (pequena, muitas vezes). Planejamento estratégico ii 31 Referências HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo Futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus, 1995. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração Estratégica. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2008. HOSKISSON, R. E. et al. Estratégia Competitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2009. PORTER, M. Estratégia Competitiva: técnicas para análise das indústrias e da concorrên- cia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. RODRIGUES, M. J. et al. (Org.). Strategor: política global da empresa. 3. ed. Lisboa: 2000. WRIGHT, P. L.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração Estratégica: conceitos. São Paulo: Atlas, 2000. 2 Formulação de estratégias: estratégias corporativas © R aw pi xe l / / Fo to lia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Estratégia AnáliseVe nd a Obje tivo Para colocar em prática a administração estratégica, não basta fazer a análi- se do ambiente e das forças competitivas do setor de atividade. É preciso, também, analisar os recursos e as habilidades internas para se criar valor, gerar conhecimento e aprendizagem, que propiciarão a atuação em mais de um negócio. Como argumentam Rodrigues et al. (2000), a criação de vantagem competitiva ocorre com base nas carac- terísticas do ambiente de competição em resposta dada pela organização por meio de seus recursos, de acordo com a sua cadeia de valor. Entretanto, não basta ter identificado as fontes de vantagem competitiva para conseguir êxito. É preciso concretizar o posicionamento da empresa no setor, inves- tir os recursos e organizar as operações da organização para beneficiar-se de uma real vantagem sobre os concorrentes. Para Rodrigues et al. (2000), quando se fala de estra- tégia, não basta que ela seja boa, é preciso buscar sempre a melhor. Assim, o modelo da visão baseada em recursos é utilizado pelas organizações que querem gerar competências únicas, as quais ajudarão a distinguir a empresa no merca- do e diversificar as operações desta em mais de um setor de negócios. Para isso, é fei- ta uma análise do ambiente interno da empresa, aproveitando-se o que foi levantado e apurado na análise SWOT para potencializar os recursos existentes e direcionar os es- forços na criação de competências e na aprendizagem organizacional. Com a difusão dos conceitos da visão baseada em recursos, críticas e elogios sur- giram, a abordagem sobreviveu, prosperou, e o próprio Barney (um dos precursores Planejamento estratégico ii 34 desse modelo) afirmou que as abordagens de foco externo (como a análise das cinco forças) e de foco interno (visão baseada em recursos) devem ser utilizadas em conso- nância (RIMOLI; NORONHA, 2012). 2.1 Modelo de análise de visão baseada em recursos Nessa abordagem, a gestão da organização é feita com base em seus recursos. Conhecida como RBV – sigla em inglês de resource based view –, ela surgiu no início da década de 1960 em um livro sobre a teoria da firma, da economista Edith Penrose. Essa teoria analisou o crescimento das organizações como caracterizado por opor- tunidades externas e internas criadas com base nos recursos de cada organização(MINTZBERG; LAMPEL; GHOSHAL, 2006). Em 1991, Jay Barney apresentou um artigo no qual sistematizou os conheci- mentos sobre recursos e capacitações das organizações. Nesse trabalho, ele comen- ta que, apesar do impacto e do uso da análise SWOT, a partir da década de 1980 foi dada ênfase quase que exclusiva às análises do ambiente externo, em especial à aná- lise de setor. Em 1984, Birger Wenerfelt apresentou novas e importantes contribui- ções sobre o tema e usou a denominação visão baseada em recursos da organização (RIMOLI; NORONHA, 2012). A visão baseada em recursos é uma linha de análise estratégica focada no al- cance de vantagens competitivas por meio dos recursos internos da organização. Conforme Rimoli e Noronha (2012), ela difere dos modelos com base na análise ex- terna do ambiente, uma vez que estes condicionam os resultados da organização ao seu posicionamento no mercado, como o modelo das cinco forças competitivas, e não tratam com igual ênfase os aspectos internos da organização. Desse modo, Rimoli e Noronha (2012) criticam os pressupostos nos quais se baseiam as aborda- gens com foco externo: © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to As organizações pertencentes a um setor são equivalentes em relação aos recursos que empregam nas estratégias que adotam. Planejamento estratégico ii 35 © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Qualquer característica distintiva que possa surgir não durará, visto que poderá ser obtida ou desenvolvida pela concorrência. Segundo os autores, a partir dos anos de 1990, alguns pesquisadores trouxeram à tona a busca por vantagens competitivas, baseadas nas diferenças entre organizações, levando-se em consideração o ambiente interno. Esse pensamento tem como eixo de sustentação duas suposições, opostas às anteriores: © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Esses recursos não são facilmente imitáveis e não estão disponíveis para compra. Organizações de um mesmo setor podem controlar individualmente os recursos estratégicos diferenciados. Dessas suposições, depreende-se que o ambiente setorial é o mesmo para todas as organizações e a vantagem competitiva estará nas diferenças internas entre elas. Desse modo, só será possível aproveitar oportunidades externas com o uso e o conhe- cimento de recursos internos necessários para explorá-las. Os defensores de abordagem de foco mais externo ressaltam as vantagens des- se tipo de visão e reclamam de períodos anteriores, quando o foco estava na visão Planejamento estratégico ii 36 interna. Os defensores de abordagens de foco mais interno fazem a reclamação ao contrário. O importante é reconhecer que ambas as visões são relevantes e necessárias para compreender de forma mais completa e profunda o que uma organização pode fazer com aquilo que possui, como é o contexto em que atua e o quanto este impacta na atuação e nos resultados da empresa. Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2008), os mo- delos da organização industrial e da visão baseada em recursos são complementares, pois propiciam visões mais profunda tanto do ambiente externo quanto do interno e municiam as organizações para a construção de suas diretrizes e a escolha mais ade- quada de estratégias. A seguir, são citadas algumas das premissas básicas do modelo de visão baseada em recursos: • a organização é um conjunto único de recursos e capacitações; • a singularidade de seus recursos e de suas capacidades é a base para sua estratégia; • os recursos são insumos do processo produtivo da organização, como equi- pamentos, habilidades dos empregados, patentes, finanças e talento dos gestores. Os recursos podem ser físicos, humanos e de capital organizacional. Recursos físicos podem ser relacionados à infraestrutura, ao maquinário, ao espaço físico etc. Os recursos humanos são as pessoas e seu capital humano (inteligência, experiência, criatividade), uti- lizado para criar e melhorar processos organizacionais, aprender e replicar conhecimen- tos, buscar soluções para problemas e prospectar/projetar produtos e serviços por meio da tecnologia disponível. O capital organizacional diz respeito às ferramentas de gestão em- pregadas, à inteligência utilizada na tomada de decisões, ao desenho e desempenho de processos e rotinas, ao conhecimento gerado e ao ciclo de inovação e criatividade imple- mentado (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008; RIMOLI; NORONHA, 2012). Segundo Hoskisson et al. (2009), os recursos de uma organização formam um alicerce para a criação de estratégias. Por meio de um conjunto único e valorizado de recursos, a organização consegue alcançar uma posição sólida para desenvolver vanta- gens competitivas, o que gera riqueza aos seus grupos de interesses. Recursos são fonte de vantagem competitiva quando integrados em uma capa- citação. A capacitação pode ser definida como a condição de um conjunto de recur- sos de executar determinada tarefa ou atividade de forma integrada. Essa capacidade é fundamental para a criação das competências essenciais da organização (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008).A capacitação é o fator que une uma organização, que surge ao longo do tempo com as interações complexas que ocorrem entre os recursos tangíveis e os intangíveis (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Planejamento estratégico ii 37 Compreender a natureza dos recursos organizacionais quanto a sua tangibilidade e como estes estão relacionados às capacitações é essencial para entender o núcleo do que é a visão baseada em recursos: o modelo VRIO. 2.1.1 O modelo VRIO A visão baseada em recursos tem suporte em duas premissas básicas sobre como os recursos e as capacitações são usados para criar vantagem competitiva sustentável ao longo do tempo, que também ancoram o modelo VRIO: heterogeneidade e imobili- dade (RIMOLI; NORONHA, 2012). A primeira premissa, heterogeneidade, afirma que organizações diferentes atuantes no mesmo setor podem possuir conjuntos diferentes de recursos e capaci- tações. Ela indica que algumas organizações podem ser mais competentes do que ou- tras. Já a segunda premissa, imobilidade, declara que algumas diferenças de recursos e capacitações entre as organizações podem ser duradouras. A Harley-Davidson existe desde 1903 e, durante seu crescimento, acompanhou vários even- tos sociais e históricos norte-americanos, inclusive as duas guerras mundiais, nas quais suas motos tiveram papel de destaque. Na década de 1950, a marca se consolidou como um ativo intangível. De acordo com Rimoli e Noronha (2012), o modelo VRIO diz respeito aos quatro atri- butos que devem ser analisados sobre os recursos e as capacitações das organizações, cujas iniciais dão o nome ao modelo: Valor, Raridade, Imitabilidade e Organização. A figura a seguir mostra o funcionamento do modelo VRIO com base nos pressu- postos de heterogeneidade e imobilidade. Planejamento estratégico ii 38 Pressupostos Heterogeneidade. Imobilidade. Resultados Vantagens competitivas sustentáveis Recursos e capacitações • Valiosos. • Raros. • Imperfeitamente imitáveis: - condições históricas únicas; - ambiguidade causal; - complexidade social; - patentes. • Organização (contexto). Esquema básico do modelo VRIO Fonte: RIMOLI; NORONHA, 2012, p. 142. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to O primeiro requisito para transformar recursos e capacitações em vantagem compe- titiva é que eles gerem valor ao aproveitar oportunidades ou evitar as ameaças do ambien- te externo. Recursos e capacitações não têm valor em si, pois dependem do contexto. Para determinar o valor de um recurso ou capacitação, são necessárias informações operacio- nais detalhadas, o que muitas vezes demanda tempo. Para Hoskisson et al. (2009), quantomais uma organização utiliza seus recursos e capacidades de maneira satisfatória para os clientes, mais percepção de valor é agregada a seus produtos ou serviços. De acordo com Rimoli e Noronha (2012), uma das formas de identificação do efeito positivo ou negativo de recursos e capacitações é verificar custos e receitas lí- quidas relacionados a eles. Se seu uso leva ao aumento das receitas líquidas e/ou à re- dução de custos, isso é um indicativo de que são valiosos. Outra forma de estimar o valor dos recursos e das capacitações é por meio do exa- me da cadeia produtiva na qual a organização está inserida (RIMOLI; NORONHA, 2012). Cada elo da cadeia demanda o uso de recursos e capacitações diferentes por organizações Planejamento estratégico ii 39 diferentes. Assim, cada uma pode analisar, desenvolver e aperfeiçoar seus recursos e ca- pacitações para executar as atividades dentro de um mesmo setor. No entanto, algumas organizações do mesmo setor podem desenvolver recursos e capacitações diferentes para atender às demandas de sua cadeia produtiva. Por exemplo, uma empresa pode optar por se especializar em vender o produto para o mercado atacadista ou para o varejo. No pri- meiro caso, a capacidade de trabalhar com grandes volumes será uma vantagem; já no se- gundo caso, a empresa pode adotar um estilo de venda personalizado e sofisticado para atender a uma parcela de consumidores finais com esse perfil. O segundo requisito do modelo VRIO, a raridade, significa que a criação de van- tagem competitiva precisa que os recursos e as capacidades sejam acessíveis a um número restrito de organizações (RODRIGUES et al., 2000). Para Rimoli e Noronha (2012), só o valor do recurso ou da capacitação não garantem vantagem competitiva se estes estão disponíveis a todos os concorrentes do setor, pois esta seria uma situa- ção de paridade competitiva que anularia o efeito do valor. Isso não significa que pos- suir recursos e capacitações de valor, mesmo não sendo raros, seja algo ruim. Segundo Rodrigues et al. (2000), a paridade competitiva pode ser desejada, pois os recursos e as capacitações de valor são essenciais à sobrevivência das organizações. Mesmo que não garantam vantagem competitiva, eles garantem a sua perpetuação e funcionam como precondição para novos concorrentes, o que pode se constituir em uma impor- tante barreira de entrada. Conforme Rodrigues et al. (2000), a raridade pode vir de situações impossíveis de reproduzir, como a localização geográfica de uma organização exportadora perto de um importante porto que, atualmente, não tenha mais nenhum endereço próximo dis- ponível. Desse modo, outras organizações terão que se estabelecer em localizações mais distantes, o que pode significar aumento de custos e de complexidade da ope- ração de descarga no porto. Um recurso raro também pode pertencer à cultura da or- ganização. Rimoli e Noronha (2012) questionam o quão raro deve ser um recurso ou uma capacitação. Isso dependerá de cada situação. O ideal é que uma organização seja a única a possuir certo recurso ou capacitação diante de um grupo de concorrentes atuais e potenciais. Entretanto, é mais provável encontrar um grupo pequeno de orga- nizações que dominam recursos ou capacitações valiosas, fato que o faz ter determina- do nível de vantagem competitiva perante os outros. As empresas de televisão que oferecem canais pagos exemplificam um caso de paridade com- petitiva, pois oferecem vários canais comuns. É difícil imaginar a comercialização dessas em- presas sem a oferta desses canais, que funcionam como um requisito básico. Planejamento estratégico ii 40 © p es hk ov / / F ot ol ia Organizações com recursos valiosos e raros geralmente fazem inovações, visto que oferecem soluções que outras organizações não podem ofe- recer. No entanto, as organizações só conseguirão gerar vantagem competitiva sustentável se, além de valiosos e raros, esses recursos e essas capaci- tações forem de obtenção difícil e demorada para seus concorrentes. Essa é a característica da imi- tabilidade imperfeita (RODRIGUES et al., 2000; RIMOLI; NORONHA, 2012). Quanto mais difícil de imitar, maior é o valor de um recurso ou capacitação. A dificuldade em imitar pode vir do fato de o produto ou serviço ter um custo alto ou envolver altos níveis de complexidade na obtenção ou execução. Já a impossibilidade de substituição ocor- re quando os produtos ou serviços não possuem equivalentes estratégicos. Isso signifi- ca que a impossibilidade de imitar não está relacionada somente ao recurso em si, mas também aos seus resultados estratégicos (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Os custos implicados na tentativa de imitar ou substituir um recurso ou capacitação é que vão definir o quanto será possível criar uma vantagem competitiva duradoura para quem os possui. Esses custos podem ser classificados em condições históricas únicas, am- biguidade causal, complexidade social e patentes (RIMOLI; NORONHA, 2012). As condições históricas únicas podem significar que o momento propício para se ob- ter ou usar determinado recurso ou desenvolver uma capacitação já passou e, portanto, será difícil outras organizações conseguirem fazer o mesmo. Um exemplo é a empresa 3M, líder mundial em inovação, que conquistou essa reputação por ser sido (de forma aciden- tal, algumas vezes) pioneira em lançar produtos que se tornaram rapidamente utilizados e permitiram a criação de outros seguindo a mesma esteira, ou seja, uma inovação abriu ca- minho para outras, ajudada pelo fato de ter poucos concorrentes nesses momentos, o que permitiu que ela abrisse uma grande vantagem em seus setores de atuação. A ambiguidade causal é uma barreira à imitação, porque é difícil, muitas vezes, compreender a relação entre os recursos e as capacitações usadas. Não é muito claro, dado o entrelaçamento de recursos e capacitações utilizados, identificar o que está ge- rando a vantagem competitiva. Para Rodrigues et al. (2000), a ambiguidade da relação de causalidade gera muitas dúvidas entre os concorrentes, o que reforça a necessida- de de uma aferição muito precisa. Mas, para que a vantagem seja duradoura, é preci- so que a ambiguidade seja um mistério para o conjunto de concorrentes, pois, uma vez descoberta pela concorrência, rapidamente os demais serão capazes de mensurar e in- corporar as mudanças nos produtos e/ou serviços. Planejamento estratégico ii 41 A complexidade causal refere-se aos relacionamentos interpessoais ligados aos recursos e às capacitações, que podem ser caros e difíceis de imitar, pois se trata de redes sociais criadas entre gestores e suas equipes, com características contextuais, sociais e pessoais únicas. Os elementos presentes na cultura organizacional também podem influenciar a criação de vantagem competitiva. Um exemplo disso são empre- sas de tecnologia da informação, como a Google, que investem em um modo de ser e agir coletivo, com vantagens, desafios e benefícios que colaboram para a criação de um clima propício para inovação e melhoria de produtos e serviços. As patentes são instrumentos legais criados para proteger indivíduos e organiza- ções que desenvolveram algum tipo de inovação ou tecnologia. Durante o período de vigência da patente, outras organizações não podem usar a mesma tecnologia ou pro- duzir produto e/ou serviço semelhante, a não ser que paguem a seu inventor por isso (RIMOLI; NORONHA, 2012). Para que as três condições de geração de vantagem competitiva vistas até aqui (valor, raridade e imitabilidade) possam de fato se concretizar, a organização deve es- tar preparada para explorar seus recursos e suas capacitações. Para isso, os vários ele- mentos organizacionais como estrutura, sistema de gestão, políticas de gestão de pessoas, sistemas de controle e desempenho, entre outros, devem ser consistentes e estar integrados. Esses elementos são considerados recursos e capacitações comple- mentares, pois sozinhos não geram vantagem competitiva; porém, reunidose organi- zados, podem propiciar que outros recursos e outras capacitações mais valiosos sejam utilizados em todo o seu potencial. 2.1.2 Identificação das competências essenciais Competências essenciais são o conjunto de recursos e capacitações considera- do fonte de vantagem competitiva (HAMMEL; PRAHALAD, 1995). No modelo da visão baseada em recursos, a diferença no desempenho das organizações, ao longo do tem- po, deve-se aos seus recursos e as suas capacitações, e não somente às características do setor de negócios. O termo competências essenciais foi utilizado pela primeira vez por Hamel e Prahalad, na dé- cada de 1980, para designar as competências específicas e difíceis de imitar que uma empresa tem e que a tornam única em seu ambiente de competição. As competências essenciais estão relacionadas ao conhecimento e à tecnologia, porém não dependem deles, pois podem estar localizadas em funções administrativas. De acordo com Rimoli e Noronha (2012), para o desenvolvimento de competências Planejamento estratégico ii 42 essenciais em longo prazo, a organização preci- sa de um processo de aprendizagem de inova- ção. As competências essenciais estão ligadas à aprendizagem coletiva da organização, prin- cipalmente à capacidade de usar, simultanea- mente, diversas habilidades como prospecção, desenvolvimento de produtos, produção, logís- tica e atendimento aos clientes. As competências necessárias para o acesso a novas oportunidades podem estar espalhadas por várias unidades de negócios, e cabe aos gestores reunir e utilizar essas competências no momento apropriado para inovar e gerar conhecimento em um am- biente de aprendizagem. As competências essenciais surgem ao longo do tempo como resultado do acúmulo de aprendizagem organizacional sobre o uso de recursos e capa- cidades diferentes (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). De acordo com Hammel e Prahalad (1995), as competências essenciais apresen- tam quatro características principais: abrangência organizacional, estabilidade no tempo, aprendizagem ao fazer e locus competitivo. Isso significa que uma competência essencial pode ser aplicada a vários produtos, serviços e negócios, sem pertencerem a uma área ou profissão específica. Ela é mais estável e duradoura que os produtos e processos da organi- zação e evolui mais lentamente que os produtos e serviços baseados nela. A competência essencial é gerada e aperfeiçoada cotidianamente como resultado do trabalho operacio- nal e gerencial, por isso pode ser aprimorada ao longo do tempo. O ambiente competitivo na relação produto-mercado é apenas uma expressão superficial de uma competição mais profunda relacionada às competências essenciais entre organizações. Para caracterizar as competências essenciais de uma organização, é preciso asse- gurar que elas permitam o acesso potencial a vários mercados, que contribuem signifi- cativamente para proporcionar benefícios percebidos aos clientes, e que sejam geridas com base no aprendizado (RIMOLI; NORONHA, 2012). De acordo com Porter (2004), as competências de uma organização são os pila- res para a construção de vantagens competitivas, as quais necessitam de recursos para que possam criar valor. Por isso, usar o conceito de cadeia de valor de Porter pode ser útil para separar as atividades que geram mais valor e que fundamentarão as compe- tências essenciais, que farão a distinção da organização no seu ambiente de competi- ção. A compreensão da cadeia de valor de uma organização propicia o entendimento da dimensão funcional das competências e a suas inter-relações. A cadeia de valor apresentada por Porter (2004) permite fazer a distinção entre atividades principais e funções de apoio. Cada parte corresponde a uma função que necessita de um conjunto de competências pertencente aos recursos e às capacita- ções da organização. © p re ss m as te r / / Fo to lia Planejamento estratégico ii 43 Cadeia de valor de uma organização Fonte: PORTER, 2004. D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to A ti vi da de s de a po io Infraestrutura da empresa Gerência de recursos humanos Atividades primárias Logística interna Operações Logística externa Marketing e vendas Serviço Desenvolvimento de tecnologia Aquisição M argem Segundo Rodrigues et al. (2000), é possível agrupar essas competências seguindo três grupos de natureza diferentes: • Competências econômicas – podem ser aplicadas em diferentes estágios da cadeira de valor, a fim de melhorar o funcionamento desta. Podem estar rela- cionadas, por exemplo, à tecnologia, à criação de produto, à produção (capaci- dade, custos, qualidade), ao marketing (mix, fidelidade), à distribuição (custos, qualidade) e ao pós-venda. • Competências de gestão – são adquiridas em algumas áreas funcionais, como finanças (fontes de financiamento, níveis de endividamento, tesouraria), ges- tão de pessoas (políticas de treinamento, capacidade de atrair e reter bons pro- fissionais) e gestão em geral (estrutura, tomada de decisão, controle, sistema de comunicação). • Competências psicológicas – estão relacionadas ao entendimento do compor- tamento humano no ambiente organizacional, às atitudes, ao relacionamento interpessoal, à administração de conflitos, à forma de trabalho das equipes. 2.1.3 Identificação dos fatores críticos de sucesso Os fatores críticos de sucesso podem ser definidos como as variáveis ou atividades exercidas por uma organização que são decisivas para o êxito competitivo em determinado setor de atividade. Podem ser considerados como fatores críticos de sucesso as estratégias Planejamento estratégico ii 44 específicas, os atributos exclusivos de um produto, os recursos específicos de uma organi- zação, suas competências e sua capacidade de competir (RODRIGUES et al., 2000). Fatores críticos de sucesso estão relaciona- dos à forma pela qual a organização se posiciona em seu mercado e a sua relação com clientes, for- necedores e concorrentes. Eles são condições fun- damentais que precisam ser atendidas para que a organização tenha êxito em seu setor de atuação. Os fatores são definidos pelo ambiente externo. A análise conjunta da matriz SWOT e das forças com- petitivas do setor deve identificar os requisitos básicos, dada a posição atual da organiza- ção, para que ela alcance a posição desejada, que deve estar alinhada aos seus objetivos e à execução de sua missão, e atender às expectativas dos stakeholders. A identificação dos fatores determinantes para o sucesso de uma organização ajuda na escolha de sua estraté- gia e na criação de vantagens competitivas duradouras que garantem os melhores resulta- dos e a permanência da organização em seu mercado de atuação. Assim, o posicionamento da organização será o resultado da soma de suas van- tagens e desvantagens no ambiente de competição. Para Rodrigues et al. (2000), uma vantagem corresponde a um grau de domínio superior de um fator crítico de sucesso. O posicionamento será, então, seu grau relativo de domínio dos fatores críticos de su- cesso. Para medir o posicionamento da organização no seu ambiente de competição, é preciso seguir algumas etapas: • Determinar os fatores críticos de sucesso específicos do setor de atividade analisado. Esses fatores estão relacionados às competências, aos recursos e aos “trunfos” que uma organização deve possuir para alcançar seu êxito. Veja algumas categorias de fatores: I. posição no mercado; II. posição da empresa em relação a custos; III. imagem da empresa; IV. competências técnicas e domínio tecnológico; V. rentabilidade e capacidade financeira. • Avaliar o peso dos fatores críticos. Cada fator tem um valor específico. Alguns são determinantes para que uma organização domine o seu mercado, enquanto outros terão que ser considerados essenciais em fases mais avançadas do ciclo de vida organizacional. Para fazer essa avaliação, é importante que o número de fato- res críticos não seja excessivo e que a análisepossa ser validada por dados objeti- vos e em conformidade com o ambiente de concorrência. © li an na 20 13 / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 45 • Avaliar o grau de domínio da organização. Significa avaliar o desempenho da or- ganização e de cada um dos principais concorrentes em relação aos fatores críticos de sucesso selecionados. A avaliação deve ser simples e pode utilizar o critério de notas (de 0 a 5, por exemplo). Para a avaliação dos concorrentes são necessárias in- formações precisas ou estar ciente de que a análise apresenta um grau de subjeti- vidade que afetará sua precisão. Essa etapa é importante também para fazer com que os analistas do processo justifiquem sua evolução e, para isso, tentem obter maior volume de dados confiáveis. • Avaliação global. Multiplicar as notas dadas pelos pesos atribuídos para cada fator crítico e, em seguida, somar as notas obtidas para cada organização avaliada. O re- sultado é a avaliação global de cada concorrente, o que permitirá uma classificação das posições no mercado. Se a classificação não corresponder às posições de mer- cado, será preciso rever o processo de avaliação e ponderação dos fatores críticos. A avaliação pode ser superior à posição no mercado de determinado concorrente por ele ser novo no mercado e ainda não ter desenvolvido todo seu potencial. A análise pode subsidiar a elaboração de um plano de ação destinado a diminuir a distância entre aposição atual e aquela desejada. De acordo com Rodrigues et al. (2000), para cada fonte de desvantagem competitiva deve ser elaborado um plano de ação específico. Para tanto, a estratégia pode ser a de corrigir os pontos que tenham maior impacto no posicionamento de mercado da organização, uma vez que a tenta- tiva de corrigir todos os seus pontos fracos de uma só vez poder ser dispendiosa e, em alguns casos, muito difícil de realizar. Essa análise subsidiará a escolha das melhores estratégias corporativas e de negócios para a organização em um dado momento. 2.2 Definição das estratégias corporativas As estratégias nascidas do modelo de visão baseada em recursos são chamadas de estra- tégias corporativas e especificam as ações que uma organização toma para obter vantagem competitiva. Isso é feito ao selecionar e admi- nistrar um grupo de competências que ajuda na criação de valor e propicia a diversificação em vários negócios que competem em mercados (HOSKISSON et al., 2009). Com isso, a organi- zação pode diversificar seus negócios, por meio da criação de unidades de negócios específicos, mas que compartilham recursos e competências. © k an tv er / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 46 As capacitações evoluem e demandam um gerenciamento dinâmico voltado para a criação de valor e de competências únicas de determinada organização. Quando o valor criado for único, ele pode ser utilizado em vários mercados. A estratégia corpora- tiva deve apontar como atingir as possibilidades de diversificação de negócios. Esse tipo de estratégia faz o todo corporativo ser maior do que a soma de suas partes unitárias de negócios. Segundo Hoskisson et al. (2009), uma estratégia no ní- vel corporativo responde a duas questões-chave: com quais mercados de produtos/ serviços a empresa deve competir e como administrar esses negócios. Para isso, a es- tratégia corporativa deverá atuar sobre a estruturação de um portfólio de produtos/ serviços, a estruturação de seus processos, a busca de melhoria contínua e a reinven- ção de suas áreas e setores. Criado o portfólio, é preciso identificar as oportunidades entre os diferentes mercados nos quais a organização pode se inserir e oferecer dife- renciais que outras organizações tenham dificuldade em oferecer. Para criar ou remodelar uma estratégia corporativa, os gestores da organiza- ção devem utilizar modelos de análise e ferramentas que permitam a identificação e a classificação de seus recursos e de suas capacidades. Trata-se de uma análise do am- biente interno que leva em consideração não só os recursos e as capacitações, mas como eles se transformam em competências únicas, difíceis de imitar, e como é sua di- nâmica de inovação e aprendizagem. As organizações podem criar valor para seus clientes à medida que usam suas ha- bilidades essenciais para alcançar o padrão exigido pelo ambiente de competição. O valor pode ser medido pelas características do desempenho de um produto ou serviço e por seus atributos. Quanto maior a disposição do cliente para pagar pelo desempe- nho e atributos de um produto, mais valor foi criado (HOSKISSON et al., 2009). Em um ambiente de economia globalizada, os elementos tradicionais do ambien- te externo, como custo de mão de obra, acesso à matéria-prima e a recursos financei- ros, continuam sendo uma fonte de vantagem competitiva. No entanto, como alertam Hitt, Ireland e Hoskisson (2008), isso ocorre em grau menor do que no passado, e uma das razões é que essas fontes de vantagens competitivas podem ser repetidas e copia- das com maior facilidade do que antes, pois o fluxo de recursos (capital, pessoas, tec- nologia etc.) é relativamente livre na economia global. Por consequência, os gestores passaram a dar maior atenção aos elementos do ambiente interno de suas empresas para depender menos dos elementos externos, como a proteção de um governo local ou aspectos culturais, por exemplo. Mesmo assim, há o desafio e a dificuldade de to- mar decisões mais acertadas, pois metade dessas decisões fracassa. Contudo, o erro não deve ser desprezado, pois as organizações crescem apesar de seus erros, e eles podem gerar aprendizagem organizacional, importante na criação Planejamento estratégico ii 47 de valor e de vantagens competitivas. Ao optar por determinados recursos e capacida- des que não produzem vantagens competitivas, o gestor deve ter a confiança de admitir seu erro e tomar ações corretivas o mais breve possível. Assim, afirmam Hoskisson et al. (2009), os recursos, as capacitações e as competências essenciais são as características que determinam a criação de vantagem competitiva. Recursos fundamentam as capaci- tações da organização que, por sua vez, são fontes das competências essenciais que vão formar as vantagens competitivas. De modo semelhante às estratégias no nível de negócios, as estratégias corporati- vas ajudam na criação de valor para a organização, resultando em alto desempenho. A estratégia de diversificação de produto e/ou serviço está relacionada ao círculo de ação dos setores e mercados nos quais a organização consegue concorrer bem com o uso, a adaptação e a integração de suas aptidões, visando reduzir a variabilidade da lucrativi- dade ou dos resultados. Dessa forma, seus múltiplos recursos, suas capacitações e suas competências podem ser usados em diferentes escopos, unidades de negócios ou divi- sões internas que diluem os riscos e potencializam os ganhos (HOSKISSON et al., 2009). A definição do conjunto ideal de atividades ou unidades de negócio da organiza- ção deve ser feita pela alta administração, ouvindo as diversas partes da organização e seus stakeholders. Ela constitui uma das mais importantes decisões estratégicas. A estratégia de diversificação pode ser feita de formas diferentes e variar de acordo com o grau de diversificação e as conexões entre as diversas unidades de negó- cios (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). É possível pensar em três graus de diversifi- cação: reduzida, moderada a elevada e muito elevada. No nível de diversificação reduzido, a organização pode ter uma unidade de ne- gócios única ou uma unidade dominante. Uma organização é considerada de um único negócio quando mais de 95% de sua receita, mesmo quando diversificada, provêm de um único negócio. Essa é a situação da maioria das organizações pequenas e médias, das que iniciaram suas atividades recentemente ou daquelas que ainda estão se conso- lidando no mercado e aperfeiçoando capacitações e competências. O nível de diversificação moderadoa elevado pode ser de dois tipos: relaciona- da restrita e relacionada ligada. A diversificação relacionada restrita ocorre quando menos de 70% da receita vêm do negócio predominante e os negócios compartilham elos relacionados de produtos, tecnologia e distribuição. Nesse caso, os elos entre as atividades ou unidades de negócios são bem diretos. É preciso tomar cuidado com as traduções, pois muitos conceitos foram usados primeiramente em inglês. Aqui, a palavra restrita significa fechada e indica uma interação e vinculação maior entre as unidades do que na diversificação relacionada ligada. Planejamento estratégico ii 48 A estratégia de diversificação relacionada ligada ocorre quando menos de 70% da receita vêm do negócio predominante e existem elos limitados entre as unidades de negócios. Isso significa que as atividades ou unidades de negócio compartilham menos recursos e ativos entre si, concentrando-se na transferência de conhecimento e com- petências essenciais. Já a estratégia de diversificação muito elevada só pode ser do tipo não relacio- nada quando menos de 70% da receita vêm do negócio predominante e não existem elos comuns entre as atividades ou unidades de negócios. As organizações que ado- tam esse tipo de estratégia de diversificação são conhecidas como conglomerados, (HOSKISSON et al., 2009). O quadro a seguir procura sintetizar os tipos e subtipos de diversificação de negócios: Diversificação reduzida Unidade de negócios única Mais de 95% da receita vêm de um único negócio. Unidade de negócios predominante Entre 70 e 95% da receita vêm de um único negócio. Diversificação moderada a elevada Relacionada restrita Menos de 70% da receita vêm da unidade dominante; todas as unidades estão relacionadas. Relacionada ligada Menos de 70% da receita vêm da unidade dominante e existem elos limitados entre as unidades. Diversificação muito elevada Unidades de negócios não relacionadas Menos de 70% da receita vêm da unidade dominante e não existem vínculos entre elas. Fonte: HOSKISSON et al., 2009, p. 251. (Adaptado). Tipos e níveis de diversificação. Para Rodrigues et al. (2000), a especialização em uma atividade ou setor deve continuar até que a organização atinja uma posição que lhe garanta vantagem decisi- va e duradoura. A “pulverização” de recursos pode ser considerada inimiga para uma atividade em consolidação, pois ela ainda não atingiu o grau de maturidade suficien- te para internalizar a expertise necessária e, assim, agregar valor as suas capacitações e competências essenciais. Além disso, se a organização já estiver madura o suficien- te, existem incentivos do ambiente externo e interno para a diversificação, além da necessidade óbvia de criação de valor e de vantagens competitivas. Os incentivos ex- ternos incluem a regulamentação governamental e as leis tributárias, por exemplo. Os incentivos internos podem vir de desempenho ruim, situação financeira futura incerta e necessidade de diminuição geral do risco. O quadro a seguir demonstra algumas razões para uma organização usar a estra- tégia de diversificação (HOSKISSON et al., 2009, p. 254). Planejamento estratégico ii 49 RAZÃO PARA DIVERSIFICAR DESCRIÇÃO Criar valor Economias de escopo (diversificação relacionada) • Atividades partilhadas • Transferência de competências essenciais Poder de mercado (diversificação relacionada) • Bloqueio dos concorrentes por meio da concorrência multimercados • Integração vertical Economias financeiras (diversificação não relacionada) • Alocação interna de capital eficiente • Reestruturação empresarial Diversificação de valor neutro Regulação antitruste Leis tributárias Desempenho inadequado Fluxos de caixa futuros incertos Diminuição do risco para a empresa Recursos tangíveis Recursos intangíveis Diversificação para redução de valor Diversificação de risco representado pelos gerentes Aumento da remuneração dos gerentes Fonte: HOSKISSON et al., 2009, p. 254. (Adaptado). Razões para diversificação. Geralmente, a estratégia de diversificação é usada para aumentar o valor da organi- zação e melhorar o seu desempenho geral (diversificação para criação de valor). Segundo Hoskisson et al. (2009), o valor é gerado por meio da diversificação relacionada quando a estratégia permite que as atividades ou unidades de negócio aumentem receitas ou redu- zam custos ao mesmo tempo em que implementam suas estratégias no nível de negócios. Outra razão é conquistar poder de mercado diante dos concorrentes, o que pode ser alcançado, muitas vezes, com a concorrência multimercados ou a integração verti- cal. Além disso, uma organização pode tentar alocar seus recursos, suas capacitações e suas competências de forma mais eficiente nas atividades ou unidades de negócio que possuem o maior potencial de desempenho ou, ainda, como parte de um plano de reestruturação organizacional. Seguindo a explicação de Hoskisson et al. (2009), a diversificação de valor neutro não dirige a organização para qualquer tipo de estratégia de diversificação. As razões para Planejamento estratégico ii 50 a diversificação de valor neutro comportam estímulos induzidos pela instância governa- mental, como regulamentação antitruste e a leis tributárias, assim como as preocupações específicas que os gestores podem ter sobre o desempenho inadequado ou ruim da incer- teza dos fluxos de caixa futuros e de outros riscos a que a organização está à mercê. Adicionalmente, a organização pode ter recursos tangíveis ou intangíveis disponí- veis que facilitariam a diversificação. Complementando o argumento de Rodrigues et al. (2000), segundo Hoskisson et al. (2009), a lógica para o uso da diversificação deve ser a di- versificação em outros mercados quando a organização possui recursos e capacitações ex- cedentes e competências essenciais com múltiplas aplicações para criação de valor. Por mais contraditório que possa parecer, considerando o que foi dito até aqui, algumas razões para a escolha da estratégia de diversificação podem não aumentar o valor de uma organização. Conforme Hoskisson et al. (2009), além de a diversificação poder ter efeitos neutros, ela pode aumentar custos ou reduzir a receita e o valor de uma empresa (diversificação para redução de valor). Essas razões podem estar rela- cionadas à tentativa de se igualar a um concorrente e, com isso, neutralizar seu poder de mercado, ou podem estar voltadas à expansão de um conjunto de unidades de ne- gócio para diminuir o risco de perda de emprego dos executivos e profissionais alta- mente qualificados. Caso uma das unidades não tenha sucesso, os profissionais podem continuar trabalhando em outras unidades com mais potencial. O vínculo operacional e o vínculo corporativo são estratégias de diversifica- ção que operam nos dois sentidos e podem criar valor, como mostra a tabela a seguir (HOSKISSON et al., 2009, p. 255). Compartilhamento: vínculo operacional entre unidades de negócio Elevada Diversificação limitada e relacionada Integração vertical (po- der de mercado) Vínculo operacional e corporativo (capacidade rara e possibilidade de criação de “deseconomias” de esfera de ação) Reduzida Diversificação não re- lacionada (economias financeiras) Diversificação vinculada e relaciona- da (economias de esfera de ação) Vínculo corporativo: transferência de conhecimentos e expertise para as unidades de negócio por meio da matriz Fonte: HOSKISSON et al., 2009, p. 255. (Adaptado). Estratégias de diversificação: dimensão operacional e corporativa. O estudo dessas dimensões mostra a importância dos recursos e das princi- pais competências de uma organização. A dimensão vertical indica as atividades Planejamento estratégico ii 51 compartilhadas (vínculo operacional) e a dimensão horizontal mostra as capacitações corporativas para transferência de conhecimento (vínculo corporativo). A organização com grande capacidade de gerenciamento de sinergia operacional, principalmente no aproveitamentodos ativos entre suas unidades de negócio, estará posicionada no quadrante superior esquerdo, o qual também representa a divisão ver- tical dos ativos por meio da integração vertical. O quadrante inferior direito representa uma capacitação corporativa bem desenvolvida para a transferência de uma aptidão às unidades de negócio, sendo essa capacitação localizada na matriz. O uso do vínculo operacional ou do vínculo corporativo baseia-se em um ativo de conhecimento que a organização pode compartilhar ou transferir. A diversificação não relacionada também é mostrada no quadrante inferior esquerdo. A estratégia de diver- sificação não relacionada agrega valor por meio de economias financeiras diferente- mente do vínculo operacional ou do vínculo corporativo entre as unidades de negócio, explicam Hoskisson et al. (2009). Uma organização pode ainda escolher entre outros tipos de estratégias corporati- vas, como definir estratégias de concentração, de estabilidade, de crescimento, de re- dução de despesas ou optar por estratégias combinadas (CERTO et al.,2009). A estratégia de concentração enfoca uma única linha de negócios. Ela pode ser usada para obter vantagem competitiva por meio do conhecimento especializado e eficiente, além de simplificar a administração de muitos negócios. Porém, se o setor começar a diminuir ou competidores agressivos passarem a dominar o mercado, a or- ganização que se concentrou em uma única especialidade corre o risco de fechar. A organização que adota uma estratégia de estabilidade se concentra em pre- servar a posição atual. Pode ser o caso de uma organização de grande porte, que do- mine seu(s) mercado(s) para evitar controles governamentais ou penalidades pelo fato de monopolizar o setor. Nesse casso, ela pode optar por entrar em outros países ou diversificar seus produtos/serviços para outros setores mantendo-se estável no se- tor atual. Outro caso é uma organização considerar que o crescimento é dispendioso e afeta negativamente a lucratividade. É uma opção também para quem não tem recur- sos disponíveis para investir em crescimento ou diversificação. As estratégias de crescimento podem ser alcançadas com o uso de recursos vindos de uma integração vertical ou horizontal, fusões e parcerias com outras organizações. Quando a sobrevivência de uma organização está ameaçada, geralmente são ne- cessárias estratégias de redução de despesas. Os três tipos básicos de redução de des- pesas são rotatividade, desinvestimento e liquidação. A estratégia de rotatividade implica tornar a organização mais eficiente e iden- tificar os produtos e serviços que não são lucrativos e deixar de oferecê-los. Já o Planejamento estratégico ii 52 desinvestimento é a venda de negócios ou transferência para organizações separadas. Essa estratégia é usada quando um negócio não está sendo bem conduzido ou não atinge os objetivos especificados para ele. Também pode ser usado para melhorar a posição financeira da organização. Na estratégia de liquidação, o negócio é dissolvido e seus ativos, vendidos. A li- quidação deve ser a última estratégia de redução de despesas, porque pode resultar em perdas para acionistas e empregados. Finalmente, Certo et al. (2009) comentam que as grandes e diversificadas em- presas podem usar muitas combinações dessas estratégias. Por exemplo, uma organização pode procurar crescer por meio de aquisições de novos negócios e, simul- taneamente, adotar uma estratégia de estabilidade para um de seus negócios e optar por descapitalizar outros. É óbvio que formular uma estratégia corporativa consistente em organizações grandes e diversificadas é muito complexo, visto que são necessárias várias estratégias diferentes em nível de negócios para que se atinjam plenamente os objetivos organizacionais desejados. Planejamento estratégico ii 53 Referências CERTO, S. et al. Administração Estratégica: planejamento e implantação da estratégia. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2009. HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo Futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus, 1995. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração Estratégica. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2008. HOSKISSON, R. E. et al., Estratégia Competitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2009. PORTER, M. Estratégia Competitiva: técnicas para análise das indústrias e da concorrên- cia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. RIMOLI, C. A.; NORONHA L. E. P. Visão baseada em recursos (RBV) e competências es- senciais. In: SIQUEIRA, J. P. L.; BOAVENTURA, J. M. G. Estratégia para Corporações e Empresas: teorias atuais e aplicações. São Paulo: Cengage Learning, 2012. p. 137-165. RODRIGUES, M. J. et al. (Org.). Strategor: política global da empresa. 3. ed. Lisboa: 2000. 3 Fase de implementação das estratégias A partir do momento em que o gestor e sua equipe têm nas mãos as informações sobre os fa- tores internos e externos que influenciam a em- presa, é preciso decidir que rumo tomar para o posicionamento no mercado e a criação de dife- renciais competitivos que assegurem não apenas a permanência da organização em seu setor de atuação, mas também seu crescimento e sua con- solidação. Para tanto, os modelos estudados aqui oferecem perspectivas e direcionamentos que au- xiliam na tomada de decisão de estratégias ado- tadas para alcançar os objetivos estipulados. Escolhidas as estratégias, um dos problemas que surge para boa parte das orga- nizações é não fazer um planejamento. Outro problema é apresentar um planejamen- to que não se transforme em ações! De nada adianta analisar o cenário à sua frente, ponderar sobre os fatores positivos e negativos do ambiente interno e externo, utilizar ferramentas de análise e escolher a estratégia se o gestor não conseguir concretizar o pensamento estratégico em ações estratégicas. Por esse motivo, serão focadas as pre- missas e os instrumentos que podem sustentar as escolhas estratégicas e as ações da or- ganização, bem como o monitoramento de resultados em curto, médio e longo prazo. A implantação da estratégia é composta por subatividades que envolvem, basica- mente, aspectos administrativos. A literatura não é muito enfática ao tratar da fase da implantação, visto que muitos autores dão demasiada atenção aos aspectos de análise e escolha de estratégias e deixam de lado essa fase crucial para o processo de adminis- tração estratégica. Certo et al. (2009) e Oliveira (2003), em contrapartida, demonstram preocupa- ção com essa etapa e enumeram uma série de cuidados que precisam ser levadas em consideração para a criação de planos de ações voltados às áreas específicas da orga- nização, os quais decorrem do desdobramento das estratégias gerais para estratégias funcionais e, destas, para os planos de ações. Certo et al. (2009) trabalham com um modelo que apresenta as principais tarefas envolvidas no processo, apresentadas a seguir, e que serão objeto de estudo durante todo este capítulo. © C ol ou re s- pi c / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 56 Tarefas da etapa de implementação de estratégia Fonte: CERTO et al., 2009, p. 103. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: R af ae l C ro se w sk i Análise da estrutura organizacional Análise da estrutura organizacional Seleção de uma abordagem de implementação Implementação e avaliação da estratégia Análise das mudanças estratégicas Percebe-se que a análise das mudanças provocadas pelas estratégias ocorre na primeira etapa dessa fase. Ela é importante para informar o nível de mudança ao qual a empresa estará sujeita. A alteração desse nível determina se, a demanda sobre as mudanças poderá ser maior ou menor. As demais análises são realizadas de forma dinâmica; não há uma sequência exata ou um passo a passo que possam dar conta dessa tarefa. Assim que essa aná- lise tenha sido realizada, caberá aos gestores avaliar e determinar quais recursos da empresa podem sermobilizados. Uma estrutura organizacional apropriada deve ser disponibilizada para que o desempenho eficiente das tarefas exigidas seja concretizado. Percebe-se que, caso haja necessidade de uma revisão da estrutura para suportar o processo de imple- mentação, ela deve ser feita. Planejamento estratégico ii 57 Todos os processos organizacionais – que envolvem desempenho e suas métricas, remuneração e desenvolvimento gerencial – estão entrelaçados aos sistemas de incen- tivos e controles que devem ser dirigidos para o perfil do gestor exigido pelo propósito organizacional. O papel da liderança diante da equipe é extremamente importante e, às vezes, decisivo para a realização da estratégia (MINTZBERG, 2006, p. 60). Outros autores, como Schwarz (2000, p. 3), tratam a implementação da estraté- gia como mobilização dos recursos (humanos, financeiros, tecnológicos, físicos etc.) e capacidades que devem ser utilizados da forma mais eficiente de acordo com o direcio- namento da estrutura organizacional dada. Esse direcionamento precisa ser apropria- do para ser efetivo e evitar desperdícios e mau uso dos recursos e capacitações. Dessa forma, deve haver uma substancial preocupação com avaliação para de- terminar se o que foi planejado está sendo realizado. Isso demandará a elaboração de indicadores para demonstrar, de forma clara e com o menor nível possível de con- taminação, a velocidade da implementação das estratégias, as pessoas envolvidas e responsáveis pela implantação delas, quais são os valores consumidos, e o desdobra- mento desses indicadores para a gestão de remuneração e performance. Portanto, os indicadores de desempenho individual e organizacional poderão alimentar os proces- sos de remuneração e desenvolvimento de pessoas. Escolhida a estratégia e definidos os indicadores que os nortearão sua implanta- ção, alguns dos problemas que surgem para uma boa parte das empresas são planejar ações e colocá-las em prática. Outro problema também é transformar esse planeja- mento em ações. De nada adianta analisar o cenário, ponderar os fatores positivos e negativos dos ambientes interno e externo, utilizar ferramentas de análise, escolher a estratégia e construir indicadores se o gestor não consegue concretizar e transformar o pensamento estratégico em ações estratégicas. Desse modo, um ponto fundamental é a liderança do gestor para direcionar es- forços no caminho certo e pontuar possíveis desvios para que tudo que envolve essa fase seja bem-sucedido. A liderança estratégica pode ser entendida como a capacida- de de antecipar, vislumbrar, manter a flexibilidade e capacitar os demais para promo- ver mudanças estratégicas sempre que necessário. A capacidade de gerenciar o capital humano é a mais crítica das habilidades do gestor. Planejamento estratégico ii 58 Qual é a missão da empresa? FRAMEWORK DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Onde estamos agora e onde que- remos estar daqui a “x” período de tempo? Como traduzir a visão e a estratégia em um conjunto de objetivos, metas e indicadores? Qual é o nosso ambiente competitivo? Como podemos descrever o nosso mercado? Como construir e desdobrar o balanced scorecard?MONITORAMENTO ESTRATÉGIA EM AÇÃO Como construir um programa de ações baseados nos objetivos, me- tas e indicadores? Atualização de metas. Macro plano de implementação: plano de ação projetos priorizados. Descrição do mercado. Monitoramento e controle da estratégia. Contexto competitivo. Identificação e seleção dos objetivos estratégicos. Análise SWOT. Razão de ser. Definição de metas e planos de ação. Visão. Estratégias. Quais são os nossos pontos for- tes e fracos, quais são nossas ameaças e oportunidades? Como podemos alcançar a nossa visão de futuro? Preparação para utilização do balanced scorecard Etapas do planejamento estratégico Fonte: SCHWARZ, 2000, p. 3. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Uma visão interessante é proposta por Schwarz (2000, p. 3) em sua representa- ção sobre as etapas do planejamento estratégico: Esse esquema pode ajudar a disseminar as intenções da organização e qual o processo estratégico adotado para atingir a prioridade definida. Ao se entender que o planejamento estratégico é uma ferramenta da administração estratégica e ao Planejamento estratégico ii 59 visualizá-lo como um processo, com a especificação de suas etapas e atividades de- mandadas, será possível que mais pessoas compreendam sua dimensão e o papel que assumem nesse processo. 3.1 Indicadores: escolha e elaboração No século XIX, quando as empresas tinham que produzir para suprir um merca- do em constante demanda, o que se controlava era a matéria-prima, uma vez que a posse dela era importante. Ao longo do tempo, percebeu-se que, com a diminuição da demanda, outros elementos também precisavam ser controlados: os aspectos finan- ceiros e as consequências deles para a organização, como custos e preços. Atualmente, somam-se a essas demandas de controles os aspectos relacionados ao cliente, como inovação, atendimento, percepção. Enfim, as organizações abrem seus olhos para o “mundo encantado dos clientes” (CAMPOS, 1998). Uma das formas mais usadas para controle e avaliação das ações estratégicas é a criação de indicadores de desempenho, índices formados por elementos mensurá- veis que indicam se determinado resultado atingiu as expectativas ou se ficou abaixo ou acima delas. Um exemplo de indicador de desempenho empresarial é o índice de faturamento com vendas. A organização pode estipular o percentual de aumento nas vendas que pretende alcançar em determinado período de tempo e monitorar esse in- dicador, mês a mês, para verificar se ele está atingindo ou não o percentual estipulado (CAMPOS, 1998; KAPLAN; NORTON, 2002). Embora pareça óbvio que, diante dessas demandas, as empresas tenham adotando diferentes indicadores de acordo com a situação em que se encontravam, isso não corres- ponde à verdade. As organizações evoluíram ao longo do tempo; entretanto, seus indi- cadores pararam nos indicadores financeiros. Não houve uma preocupação em ampliar o conjunto de indicadores e ter uma forma mais abrangente de medir a organização. A mudança ocorreu quando, em meados dos anos de 1990, Robert Kaplan e David Norton, professores da Harvard Business School, e consultores, ao pesquisarem um grande número de empresas de diferentes setores, perceberam que algumas delas utilizavam outros indicadores além dos financeiros, uma vez que estes não davam con- ta de mensurar o sucesso ou fracasso das estratégias. Ao final de suas pesquisas, com- pilaram esses indicadores e os agruparam em diferentes perspectivas, denominando esse método de balanced scorecard– BSC (KAPLAN; NORTON, 2002). Para os autores, o termo balanced scorecard é usado para mostrar a característica principal desse método de criação e monitoramento de indicadores: a busca pelo equi- líbrio entre os indicadores de desempenho. O BSC fornece à empresa uma visão de de- sempenho integrada, visto que engloba e interconecta indicadores de desempenho da Planejamento estratégico ii 60 organização utilizando quatro perspectivas diferentes: finanças, cliente, processos in- ternos, aprendizado e crescimento. As perspectivas do balanced scorecard D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Perspectivas Perspectivas financeiras Perspectiva interna da empresa Perspectiva de inovação e aprendizado Perspectiva dos clientes Na perspectiva financeira, as medidas financeiras são valiosas e demonstram as consequências econômicas imediatas de ações consumadas. Deve-se compreender que, dessa forma, os acionistas terão uma clara percepção da gestão da empresa. Os indicadores de desempenho financeiro mostram se a implementação e a exe- cução da estratégia da empresa estão contribuindo para a melhoria dos resultados. A perspectiva de clientes permite que as empresas alinhem as medidas essen- ciaisde resultados relacionadas aos clientes – satisfação, fidelidade, retenção, capta- ção e lucratividade – com segmentos específicos de clientes e mercado. É preciso que os gerentes traduzam a declaração de missão ampla sobre os serviços em indicadores específicos que reflitam fatores efetivamente importantes para os clientes. Na perspectiva dos processos internos, as atividades internas devem estar di- recionadas para o atendimento das demandas originadas pelos indicadores voltados aos clientes. Afinal, o desempenho excelente do ponto de vista do cliente decor- re de processos, decisões e ações em todo o âmbito da organização. Os gerentes de- vem concentrar-se nessas operações internas críticas que os capacitam para satisfazer as necessidades dos clientes. O balanced scorecard proporciona aos gerentes essa Planejamento estratégico ii 61 perspectiva interna. Dessa forma, os indicadores internos do BSC devem refletir os processos organizacionais que exercem o maior impacto sobre a satisfação do cliente via atividades internas. Os objetivos da perspectiva de aprendizado e crescimento são os vetores de re- sultados excelentes nas três primeiras perspectivas do scorecard. Dessa forma, essa perspectiva e seus objetivos oferecem a infraestrutura que possibilita a consecução de objetivos ambiciosos em outras perspectivas. Os indicadores voltados para os clientes e para os processos organizacionais in- ternos do balanced scorecard identificam os parâmetros que a empresa considera mais importantes para o sucesso competitivo. 3.2 Elaboração do plano de ação Quando se fala da elaboração dos planos de ação, é necessário que tanto pen- sar como agir de forma estratégica já estejam incorporados na equipe. De acordo com Oliveira (2003), a maioria das empresas tem alguma forma de estabelecer decisões e ações estratégicas de maneira estruturada, mesmo que de modo informal e apresen- tando metodologias diferentes. No entanto, as organizações apresentam alguns pon- tos em comum que seguem a seguinte ordem: © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Necessidade de avaliar o contexto no qual a empresa está inserida e de identificar os pontos positivos e negativos que auxiliam ou atrapalham o crescimento organizacional. Instrumentos de monitoramento e avaliação de resultados das ações executadas. Escolha das melhores estratégias que levem aos objetivos. Planejamento estratégico ii 62 © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Elaboração de planos de ação que detalhem as atividades de acordo com as estratégias escolhidas. Necessidade de definição de objetivos acessíveis de acordo com o contexto estudado. Da mesma forma, outros autores sugerem metodologias semelhantes e que re- petem alguns pontos observados nas empresas (OLIVEIRA, 2003; FERNANDES; BERTON, 2012; HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). É preciso transformar a estratégia em processos e atividades organizacionais. Com al- gumas ferramentas, como plano de ação e indicadores de desempenho, será possível tra- duzir o pensamento do nível macro em ações específicas. Também é preciso estabelecer uma forma de monitorar o que está sendo feito e comparar com o que se planejou para corrigir possíveis desvios de percurso. Os resultados dos indicadores de desempenho pre- cisam ser monitorados e avaliados para demonstrar quanto os esforços foram satisfatórios ou o quanto ainda é preciso melhorar para atingir os objetivos. É nessa fase que são criados os planos de ação usados para identificar, estrutu- rar e administrar as atividades necessárias para colocar em prática a(s) estratégia(s) escolhida(s). O plano de ação é um instrumento de conexão entre o pensamento e a ação estratégica, e é por meio dele que são determinados os recursos a serem aloca- dos ao longo do tempo, compatibilizando-os com o orçamento financeiro da empresa. Há várias técnicas para elaborar um plano de ação. O importante é saber que al- guns itens serão sempre necessários para a implementação das ações: • o período de realização de cada atividade; • o responsável pela execução de cada tarefa; • os recursos necessários; • o resultado esperado; • o modo de mensurar esse resultado. Planejamento estratégico ii 63 Para Campos (1998) e Kaplan e Norton (2002), com base na escolha da(s) melhor(es) estratégia(s) e do seu agrupamento conforme os indicadores do BSC, a em- presa precisa envolver o maior número possível de profissionais. Sem envolvimento o planejamento é visto como um projeto da diretoria, o que faz com que os demais em- pregados não se sintam participantes e corresponsáveis pelo planejamento. O balanced scorecard é uma ferramenta que proporcionará a tradução da estraté- gia da organização em termos operacionais, isto é, desdobrará essa estratégia em ob- jetivos, indicadores, metas e iniciativas (CAMPOS, 1998; KAPLAN; NORTON, 2002). BSC e o desdobramento da estratégia Fonte: KAPLAN; NORTON, 2002, p. 10. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: R af ae l C ro se w sk i Processos Internos Finanças Visão e estratégia Para alcançarmos nossa visão, como deveríamos ser vistos pelos nossos clientes? Clientes Para satisfazermos nossos acionistas e clientes, em que processos de negócios deveremos alcançar a excelência? Para alcançamos nossa visão, como sustentaremos nossa capacidade de mudar e melhorar? Aprendizado e Crescimento Ob jeti vos Me tas Inic iati vas Ind ica dor es Ob jeti vos Me tas Inic iati vas Ind ica dor es Ob jeti vos Me tas Inic iati vas Ind ica dor es Ob jeti vos Me tas Inic iati vas Ind ica dor es Planejamento estratégico ii 64 Isso só é possível se os gerentes envolverem suas equipes. Para tanto, devem re- unir-se com seus subordinados e identificar o nível de conhecimento que cada um tem sobre o tema e, se necessário, realizar um programa de nivelamento. Entretanto, nesse momento não se deve desconsiderar que algumas situações, inerentes às novidades contidas nas estratégias, poderão vir à tona, pois a implantação de um planejamento estratégico implica mudanças. A visão e os objetivos da empresa serão alcançados à medida que a empresa sair de sua situação atual e atingir um novo patamar. Por isso, é importante saber o quanto a empresa terá que mudar para sair do âmbito do pensamento e chegar à ação da estratégia escolhida. Esse não é um proces- so fácil e envolve muita habilidade gerencial. Em seguida, deve-se efetuar o desdobramento das estratégias em termos opera- cionais que, conforme explicam Campos (1998), Kaplan e Norton (2002), consistem nos seguintes processos: inicialmente, são estabelecidos os objetivos e os indicadores que orientarão todos os envolvidos. Em seguida, são estabelecidas as metas, sempre que possível de forma quantitativa, que traduzem a evolução de um fato, processo, e devem ter também um componente de desafio. Por fim, é elencada uma série de iniciativas que deve ser tomada pelos membros da equipe para que a estratégia seja realizada. Todo o processo de implementação da estratégia, independentemente do caminho que venha a ser executado, demandará que o gestor esteja sempre à frente e atento a mu- danças nos contextos interno e externo para que possa realizar os ajustes necessários. Mudanças nos ambientes externos e internos tendem a desviar o foco e deman- dam ações isoladas que usam recursos e necessitam da atenção dos gestores. É mui- to frequente a instituição continuar “apagando incêndios” do cotidiano organizacional e não conseguir concretizar as ações previstas no planejamento estratégico. Isso é um aspecto que, além de drenar energia, provoca um descompasso entre as diferentes áreas das empresas, principalmente quando uma área está adiantada na implementa- ção da estratégia. Para evitar essa situação, é necessário contarcom uma boa dose de persistência e foco nos objetivos inicialmente traçados. Além de energia e foco para realizar as atividades previstas para a implementa- ção de uma estratégia, também é necessário monitoramento e mensuração cons- tantes das atividades decorrentes da própria estratégia. Para pensar e agir de forma estratégica, é necessário estabelecer um processo no qual a análise e a execução este- jam concatenadas e os resultados possam ser monitorados e medidos, o que permitirá a avaliação destes e possíveis correções dos erros e desvios que possam ocorrer. Uma vez detectado que uma ação não está surtindo o efeito previsto, torna-se necessário rever o planejamento e mudar o rumo das ações. Essas ações exigem que os gestores desenvolvam o hábito de controlar se os objeti- vos estão sendo alcançados, em que velocidade e quantidade, o que demanda a criação de Planejamento estratégico ii 65 indicadores. Contudo, conforme a situação, deve-se ficar atento para que não sejam cria- dos muitos indicadores, que em muitos casos se mostram desnecessários. Esse cuidado pode reduzir o número de mudanças e, assim, diminuir os níveis de resistência interna. Quando os planos de ação demandam investimentos, é natural o desenvolvimen- to de diferentes tipos de controles e indicadores financeiros. Existem áreas nas empre- sas que dominam esses indicadores (área financeira, contabilidade ou controladoria) e podem ou não estar no mesmo ambiente e sob a mesma hierarquia. 3.3 Execução do plano de ação A execução do plano de ação é um momento muito delicado para toda a em- presa. Se tudo correu, até então, de forma adequada, é neste momento que a situação pode se tornar muito complicada. É a partir da necessidade de executar tudo o que foi planejado que toda a estrutura da empresa será colocada à prova. A execução do planejamento estraté- gico é formada por um conjunto de planos de ação que são implementados durante determinado período de tempo. Esse con- junto possui algumas características que precisam ser observadas e levadas em consideração pelas pessoas envolvidas nas dife- rentes áreas da organização. Oliveira (2003, p. 227) destaca algumas dessas características: © p es hk ov a / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 66 Equilíbrio entre os planos de ação de curto, médio e longo prazos, visto que eles podem se sobrepor e necessitar de recursos semelhantes. Programação para evitar a ociosidade dos equipamentos e instalações utilizados nas ações previstas. Adequação entre as especialidades dos profissionais envolvidos e a demanda das áreas e das ações previstas para que não ocorram atrasos e problemas de má execução das atividades. Ajuste entre objetivos organizacionais a serem alcançados e objetivos e pretensões que os envolvidos julguem mais válidos e pertinentes. Flexibilidade para ampliar e rever o campo de atuação do plano de ação. Como as organizações e seus mercados são dinâmicos, é preciso contar com certa dose de flexibilidade para que um plano de ação não se torne descolado da realidade atual e deixe de ser executado, ou ainda, seja executado, mas apresente resultados que não tragam nenhum valor para a organização. Observação da perspectiva da duração da execução das atividades consideradas em cada plano para que os envolvidos saibam, antes mesmo de começar a ação, o período em que seu trabalho estará comprometido com o plano. © Ig ar ts / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . © v ec to r i co n / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . © J ut / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . © C ol or lif e / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . © A rt co / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . © p re m iu m de si gn er / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to No que tange especificamente aos gestores, Peters e Waterman afirmam que os gestores eficazes normalmente trabalham entre a formulação e a implementação da estratégia (CERTO et al., 2009). Na maioria das organizações que conseguem implan- tar suas estratégias, nem todos os aspectos inerentes são desdobrados e planejados detalhadamente antes da implantação. Planejamento estratégico ii 67 Contrariando o pensamento linear, observou-se que há casos em que alguns as- pectos são parcialmente formulados, implementados, reformulados e ampliados, a fim de capitalizar rapidamente as oportunidades que vão surgindo. Assim, deve-se consi- derar que tanto a formulação quanto a implementação influenciam-se mutuamente e, com frequência, evoluem juntas. Oliveira (2003, p. 224), ao enfocar a estrutura, considera que o plano de ação pode ser tipificado como uma série de atividades com datas de início e término pre- viamente definidas em que o coordenador responsável tem um papel muito importan- te. Cabe a ele explanar o plano, de forma mais clara possível para toda a equipe, bem como o de ratificar alguns acordos. Quando se afirma que a estrutura deve dar suporte para a implementação das ações, não está se referindo, apenas, ao organograma, mas também à qualificação técnica dos profissionais que compõem a estrutura. Muitas vezes, os profissionais não estão habilitados tecnicamente para desempenhar determinadas funções que, a par- tir de determinado momento, serão parte das suas atividades diárias. Nesse caso, exis- tem duas saídas, ambas envolvendo valores: a substituição e a elaboração de um plano de treinamento e desenvolvimento. Essa decisão muitas vezes é tomada depois de al- gum fracasso na implementação das ações, o que afeta diretamente o fator tempo de implementação de uma estratégia. Outra questão que só emerge na implementação dos planos de ação é a quanti- dade de energia que as pessoas estarão dispostas a dedicar ao processo. Não é raro as pessoas acenarem que estão comprometidas com o planejamento, mas seu compro- metimento anteriormente verbalizado não passa para a ação quando necessário. Existem vários motivos que levam a essa situação: © g ar ri fr ot to / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Resistência à mudança. Ausência de comprometimento por parte dos superiores e dos subordinados. Canais de comunicação obstruídos. Planejamento estratégico ii 68 © g ar ri fr ot to / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Dificuldades financeiras da empresa para arcar com os custos de novos processos. Dificuldades de trabalhar sob pressão. Alta capacidade de improvisar sem medir as consequências para todo o projeto. A resistência à mudança é um dos elementos mais presentes nas organizações e aflora quando a empresa faz algum movimento. Mesmo quando são pequenos ou vi- sam a melhores resultados, os movimentos despertam nas pessoas inseguranças e medos que são externalizados como resistência. Ignorar que tal fato ocorra ou não sa- ber como trabalhar com ele certamente trará grandes consequências ao processo. A ausência de comprometimento por parte dos superiores e dos subordinados ocorre quando não houve o envolvimento adequado desses profissionais na concepção ou no desenho das estratégias. Uma fala frequente que ilustra muito bem essa situação é: “Lá atrás, quando era para pensar nisto, não me chamaram, agora que tenho que fa- zer todo o trabalho eu sou exigido ao extremo”. Sabe-se que é impossível envolver todos os funcionários em todas as fases do planejamento estratégico, mas deve-se tomar mui- to cuidado com o não envolvimento de algumas pessoas para evitar consequências ruins. Quando os canais de comunicação formais estão obstruídos, a empresa, por uma necessidade de sua natureza, adotará os canais de comunicação informais. Durante a implementação de um plano de ação, deve-se verificar quais são os canais de comuni- cação formais mais usuais, o seu desempenho atual e a capacidade de atender às ne- cessidades futuras. Nãose trata aqui de tecnologia de informática: um bom mural é um canal de comunicação tão eficiente quanto a intranet. De acordo com as estratégias, haverá a exigência de se trabalhar sob pressão. A pres- são é algo que não envolve somente a atividade, mas também o grau de resiliência (capaci- dade de sofrer pressão e responder a ela sem sofrer danos) e maturidade dos envolvidos. É evidente que uma equipe que vem trabalhando de forma única e bem estruturada durante muito tempo terá menor capacidade de trabalhar sob a pressão inerente a mudanças. Planejamento estratégico ii 69 Tanto as empresas que estão em situação financeira confortável como aquelas que não estão e passam a trabalhar com o planejamento estratégico constatam que este demanda investimentos muitas vezes no curto prazo. Com base nisso, costuma-se repetir que sem dinheiro não há a menor possibilidade de implantar algo. Em alguns casos, essa afirmação é a pura verdade, porém, em outros, ela apenas disfarça a resis- tência a se investir em algo duvidoso, um estilo de gerenciar com o risco de arcar com os custos que envolvem os novos processos. Também na fase de execução, segundo Oliveira (2003), outros aspectos devem ser considerados: • supervisão da equipe de trabalho; • acompanhamento e controle das atividades; • avaliação final dos trabalhos executados. Em alguns casos, esses elementos exercem tanta influência que as empresas abortam todo o projeto; em outros, mesmo presentes, não são fatores impeditivos, e a execução das ações ocorre de forma adequada. Além disso, é preciso considerar constantemente as mudanças radicais nos am- bientes interno e externo, que devem ser constantemente monitoradas. A leitura do entorno durante a execução das ações permite que gestores e demais envolvidos to- mem decisões mais rápidas. É difícil conceber um planejamento estratégico e executar seus planos de ação sem ter em mente o êxito que se pretende obter. O sucesso de um planejamento es- tratégico, porém, não é tão fácil de mensurar, pois primeiramente é necessário com- preender que o sucesso é uma medida diferente para cada indivíduo, relacionada às expectativas e aos anseios individuais, e apresenta um grau de relatividade também no que concerne às organizações. No entanto, é possível elencar alguns fatores que ajudam a mensurar o sucesso alcançado no cumprimento das etapas envolvidas na execução do plano de ação. Segundo Oliveira (2003, p. 228), alguns aspectos que podem apontar o sucesso na execução de um plano de ação são: © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Cumprimento dos prazos previstos. Enquadramento nos custos preestabelecidos. Planejamento estratégico ii 70 © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Manutenção de equilíbrio operacional nas atividades da empresa. Aumento e/ou manutenção da rentabilidade normal da empresa. Cumprimento das exigências de viabilidade. Cumprimento da qualidade técnica esperada. Cumprimento de equilíbrio financeiro durante e/ou após a conclusão. Manutenção de equilíbrio financeiro nas atividades financeiras. Aumento e/ou manutenção da captação de oportuni- dades de negócios. 3.4 Verificação de possíveis problemas na execução do plano Para uma empresa atingir os objetivos de implementação de suas estratégias, ao trabalhar com os planos de ação, os gestores devem ter em mente que, se uma dessas tarefas for executada, é provável que o resultado produza uma falha na estratégia glo- bal (CERTO et al., 2009). Na figura a seguir, Certo et al. (2009) demonstram a importância que deve ser dada aos problemas na formulação e na implantação do plano de ação. Existe a possi- bilidade de se obter quatro combinações: sucesso, roleta-russa, problemas e fracasso. Planejamento estratégico ii 71 FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIA BOA RUIM IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA BOA Sucesso Roleta-russa RUIM Problema Fracasso Fonte: CERTO et al., 2009, p. 101. (Adaptado). Matriz de problemas na formulação e implementação de estratégia. Quando se obtém o sucesso, ele é fruto de uma empresa que tem tanto a estra- tégia como a implementação desta feita de forma adequada, com o mínimo de pro- blemas possíveis. Observa-se que foram realizadas muitas intervenções para garantir o sucesso. Entretanto, sabe-se que o grau de controle sobre o processo só é obtido no ambiente interno. Os fatores externos poderão impedir ou prejudicar muito o sucesso da implanta- ção da estratégia, pois basta um movimento dos concorrentes, do governo ou dos con- sumidores para impedir o sucesso da implementação. De qualquer forma, os objetivos organizacionais tendem a ser atingidos quando a empresa está nesse quadrante. O quadrante roleta-russa aponta situações em que as estratégias mal formuladas são bem implantadas. As consequências podem ser a salvação da estratégia, por meio de uma boa execução, e a indicação de problemas advindos da estratégia mal conce- bida ou possíveis fracassos. Outra possibilidade é que haja a adequação dos profissio- nais à busca de alternativas para salvar o projeto. Porém, em ambos os casos, há sérias possibilidades de que o fracasso venha a ser um resultado próximo. Essa impossibilida- de de previsão é bem caracterizada pelo nome dado a esse quadrante. O quadrante problema é caracterizado pela implementação de uma boa estratégia de forma inadequada. Essa situação é muito recorrente, uma vez que o bom gestor tem como característica sua capacidade de planejar. Assim, o processo de implementar é fre- quentemente deixado em segundo plano. Assim, a falha da implementação da estratégia normalmente não é diagnosticada e, quando algo sai errado, é normal que os gestores re- formulem as estratégias. Raramente há uma discussão sobre o processo de implementa- ção: é comum que a nova estratégia não seja tão adequada quanto a anterior e, mesmo assim, também seja mal implementada, em um processo moto-contínuo. O quadrante fracasso envolve uma estratégia mal formulada que não é sequer im- plementada. Essa situação é muito complicada, visto que traz à tona que o problema está nos gestores e relacionado muitas vezes à competência destes. Percebe-se, por exemplo, que o gestor se torna indiferente caso haja a implantação da estratégia, pois ela já é ruim. Quando ocorre essa situação, seu diagnóstico é muito complexo, pois existe a possibilidade de, em vez de buscar soluções, o gestor tentar encontrar culpa- dos, e quem sai perdendo é a empresa. Planejamento estratégico ii 72 Uma situação interessante, observada por Certo et al. (2009), é que, ao formu- larem as estratégias, os gestores pressupõem que elas serão implementadas e não há a menor possibilidade de que uma estratégia recém-formulada tenha a qualidade de seus resultados avaliada sem ter sido implementada. Para Certo et al. (2009), toda a implementação demanda um cuidado específico, que é a mudança na rotina, o que afeta tanto a equipe interna quanto alguns agentes externos (cliente, fornecedores e sociedade). Em alguns casos, essas mudanças devem ser comunicadas ao público em geral, o que requer muito cuidado e confidencialidade por parte dos fornecedores de serviços. Já na execução do plano de ação, alguns cuidados devem ser tomados pelo gestor e pelos demais envolvidos no processo, como recomenda Oliveira (2003, p. 226). Para o autor, os esforços devem ser concentrados nos resultados esperados com o plano, pois assim se constrói na organização um senso de importância: • Ser flexível para fazer os ajustes necessários ao plano na medida em que sur- gem mudanças no cenário previsto. Esse aspecto auxilia a equipe a compreen- der que a pressão pode ser gerenciada na busca por melhoria ou na consecução do trabalho sem que as pessoas se tornem reféns da inflexibilidade. • Envolver a cúpula estratégica,a fim de conseguir apoio para a implantação das ações, visto que provavelmente causarão mudanças na organização. Em mui- tos casos, a cúpula estratégica não considera determinados aspectos, e é nesse momento que o apoio político se faz necessário. Manter contatos diretos com as pessoas envolvidas no projeto, além de auxiliar no processo de acompanha- mento, estreita os laços de confiança e minimiza forças contrárias. • Distribuir de forma adequada as atividades e as tarefas contidas no plano para evitar sobrecarregar determinadas áreas em detrimento de outras. Manter a racionalidade nos dispêndios inerentes ao projeto, gastando no que realmen- te for necessário; o controle sobre o orçamento pode demonstrar que os custos para certas atividades podem inviabilizar parte de um projeto, mas não todo ele. Isso só será identificado se houver um acompanhamento racional, e não somente voltado para os custos. • Manter-se realista, sem ser muito otimista ou pessimista, e fazer planos viá- veis de serem implementados conforme os recursos existentes. Toda equipe que percebe uma carga demasiada de entusiasmo passará a ter muitas dúvidas ou criar um espírito de que tudo é tão simples a ponto de o espírito de urgência e qualidade ficar comprometido. Já no caso de pessimismo, ele será um poten- cializador da resistência, bem como da propensão à inércia por parte das equi- pes, por ser um excelente alimento para a comunicação informal. Incentivar Planejamento estratégico ii 73 críticas e debates dos funcionários quanto ao desenvolvimento do projeto é fa- tor positivo se bem gerenciado, pois, se houver uma polarização de ideias, a ação tenderá à criação de vencedores e perdedores, o que gerará uma acirrada disputa interna. É muito comum, nesse caso, a perda de foco e energia para se retomar o processo inicial; em muitos casos, isso se torna impossível. • Analisar os projetos quanto à viabilidade de conteúdo e de recurso de ampli- tude (o que envolve) para evitar fracassos e desânimos diante de potenciais fracassos pelo porte do trabalho. É necessário levar em consideração que um projeto é um sistema aberto e, por isso, deve ser tratado como tal (input; pro- cessamento; output e o constante feedback). • Levar em consideração que toda a equipe cobrará de seus gestores para que mantenham a coerência nas atitudes e nas decisões para resolver os conflitos que surgirem ao longo da implementação. Caso contrário, a reação da equipe perante o abandono ou em relação a uma chefia leniente é muito desagradá- vel, uma vez que os membros poderão recorrer a outras chefias ou não cumprir o combinado, de modo a criar uma agenda paralela. Outra questão premente é que um projeto deve considerar que haverá problemas relacionados ao presen- te e que outros surgirão no decorrer do processo. Planejamento estratégico ii 74 Referências CAMPOS, J. A.; Cenário Balanceado: painel de indicadores para a gestão estratégica dos negócios. São Paulo: Aquariana, 1998. CERTO, S. et al. Administração Estratégica: planejamento e implantação da estratégia. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2009. FERNANDES, B. H. R.; BERTON, L. H. Administração Estratégica: da competência em- preendedora à avaliação de desempenho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração Estratégica. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2008. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A Estratégia em Ação: balanced scorecard. 13. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; GHOSHAL, S. Processo de Estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2006. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003. SCHWARZ, F. Management Scorecard: alinhando indicadores de desempenho à estraté- gia empresarial. [S.I.]: Symnetics Business Transformation, 2000. Disponível em: <http:// www.supplychainonline.com.br/arquivos/bscorecard.pdf>. Acesso em: 20/10/2013. 4 Controle e aprendizagem Após a implementação das ações estratégicas, estas precisam ser monitoradas e avaliadas: © fo to ge st oe be r / / Fo to lia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Essas são algumas das perguntas que o gestor e sua equipe de trabalho precisam responder para reunir informações suficientes e, dependendo do caso, manter a estra- tégia ou redirecioná-la. Essa fase encerra a implantação do planejamento estratégico e propicia informações que serão utilizadas para retroalimentação do processo de admi- nistração estratégica. De acordo com Horneaux Junior (2012), não há nenhuma garantia de que tudo que foi planejado será realizado. A maneira de descobrir o quanto foi possível realizar e os desvios que ocorreram é avaliando seus resultados. A aferição dos resultados e feedback, além de necessária para decidir os próxi- mos passos, é um importante momento de aprendizagem organizacional. Essa é uma Planejamento estratégico ii 76 das vantagens da administração estratégica: gerar oportunidades de criação de conhe- cimento e saltos de aprendizagem para todos os envolvidos, processo contínuo que permite que a organização cresça, supere seus limites e agregue conhecimento e expe- riências a seus profissionais. A fase de controle e avaliação dos resultados reflete a ação principalmente dos gestores e responsáveis pela implementação do planejamento estratégico e da admi- nistração estratégica de forma mais abrangente. Não se trata somente de leitura e análise dos indicadores de resultados, mas também de perceber como a operação da organização está dando respostas ao seu ambiente externo e como as relações inter- pessoais e a cultura organizacional estão sendo ou não fortalecidas. Com base nos resultados obtidos, a organização pode rever sua posição no mer- cado e como o uso de recursos e capacitações está propiciando a geração ou manu- tenção de competências essenciais. Isso confirmará se houve manutenção ou criação de vantagem competitiva, o que determinará se o próximo passo será dar prossegui- mento à estratégia atual ou se o processo de administração estratégica voltará para a fase de levantamento de dados dos ambientes interno e externo para descobrir pontos fracos e fortes, ameaças e oportunidades, iniciando um novo ciclo estratégico. Só que agora a organização tem uma base de experiência que pode aumentar suas possibili- dades de acerto. É um ciclo que nunca se encerra. 4.1 O processo de controle estratégico Para Certo et al. (2009), o controle estratégico tem como foco o monitoramento e a avaliação da administração estratégica para garantir seu funcionamento. Os auto- res alertam que, apesar de a definição parecer simples, ele é bastante complexo, desa- fiador e intrincado. De acordo com Oliveira (2003), as funções de controle e avaliação em um proces- so de administração estratégica, especificamente durante a implantação do planeja- mento estratégico, têm algumas finalidades: Planejamento estratégico ii 77 © th ek ai ko ro / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to • Identificar problemas, falhas e erros que ocorreram durante as fases anteriores e que se transformaram em desvios do que foi planejado, com os objetivos de analisar cada situação e corrigi-las e evitar que ocorram novamente. • Comparar os resultados da execução das atividades estipuladas nos planos de ações com a projeção de resultados para que possam ser tomadas as medidas necessárias. Dessa forma, é possível avaliar se o resultado está muito distante do planejado ou administrar melhor os resultados para alcançar os objetivos conforme planejado. • Verificar, de acordo com as situações existentes, se as estratégias e as políticas estão proporcionando os resultados esperados. • Suprir os tomadores de decisão com informações gerenciais periódicas para possibilitar uma rápida intervenção no desempenho do processo. Certo et al. (2009) apontam três etapas gerais do processode controle e avalia- ção que estão de acordo com as finalidades citadas: • mensuração do desempenho da organização; • comparação do desempenho medido com os objetivos e os padrões estabelecidos; • determinação de ações corretivas necessárias para garantir a concretização das atividades previstas no planejamento. Os autores alertam para o fato de que essas etapas são recomendações e abran- gentes para atender a toda a organização. Outros autores, como Oliveira (2003), suge- rem um esquema parecido. A figura a seguir apresenta um esquema de como as etapas do processo de con- trole estão encadeadas e se relacionam: Planejamento estratégico ii 78 Medição de desempenho Comparar os padrões medidos Tem início uma nova situação de trabalho Tomar ação corretiva: mudar os planos, a orga- nização ou os métodos de influência Não é necessária ação corretiva O trabalho continua Desempenho equivalente aos padrões Desempenho equivalente aos padrões O controle começa Modelo geral do processo de controle Fonte: CERTO et al., 2009, p. 133. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Antes de iniciar a mensuração do desempenho organizacional, primeira eta- pa do controle estratégico, é preciso que algumas medidas já tenham sido tomadas (CERTO et al., 2009). Também é necessário ter definidos o modo de proceder da audi- toria estratégica e os métodos para avaliá-la. A auditoria estratégica é uma avaliação das áreas que sofrerão os efeitos, de al- guma forma, do processo de administração estratégica. Ela pode ser ampla ou con- centrada em determinada parte ou fase do processo. Pode ser mais formal, restrita às regras e a procedimentos estabelecidos, ou mais informal, com abertura para a deci- são dos gestores sobre quando e quais medidas organizacionais devem ser tomadas. Os métodos para medir a auditoria estratégica podem ser divididos em qualitati- vos ou quantitativos. A organização pode usar um desses tipos ou uma combinação de ambos. As mensurações qualitativas resultam em dados subjetivos que precisam ser organizados e analisados antes de qualquer conclusão. Questões qualitativas podem versar sobre a consistência da estrutura, do ambiente externo, dos recursos e do grau de risco percebido das estratégias. Os métodos quantitativos também precisam ser or- ganizados e analisados. São os que mais auxiliam o processo de controle estratégico e podem trazer informações sobre quantidade produzida por período de tempo, cus- to da produção, grau de eficiência da produção, indicadores de rotatividade, índices de vendas, valor do lucro líquido, rentabilidade, participação no mercado, entre dezenas de outros (CERTO et al., 2009). Para Oliveira (2003), uma organização deve procurar homogeneidade e integra- ção entre seus critérios de mensuração de desempenho, sob o risco de seu controle estratégico e sua administração estratégica ficarem prejudicados. Planejamento estratégico ii 79 O desempenho organizacional, segundo Horneaux Junior (2012), é um parâmetro utilizado para quantificar a eficiência e/ou a efetividade de uma ação executada. Pode ser entendido como a ha- bilidade da organização de atingir seus objetivos usando seus recursos de forma eficiente e eficaz. A segunda etapa do controle estratégico é comparar o desempenho organiza- cional com os objetivos e os padrões estabelecidos. Isso é feito utilizando os resul- tados das mensurações feitas na primeira etapa para compará-las com dois elementos preestabelecidos: objetivos e padrões organizacionais. Os objetivos foram estabeleci- dos na fase de definição de diretrizes organizacionais e já foram aceitos pelas instân- cias de decisão da organização. Os padrões são desenvolvidos como forma de garantir que os objetivos sejam realizados. De acordo com Certo et al. (2009), eles são “mar- cos” que indicam níveis aceitáveis de desempenho das ações executadas em relação ao que se espera dos objetivos organizacionais. Cada organização estabelece seus padrões de acordo com sua realidade e seu contexto. A regra é que todas as áreas que desempenham atividades ligadas à estraté- gia conheçam os padrões a serem seguidos. Para Oliveira (2003), os padrões resultam dos objetivos, dos desafios, das estratégias, das políticas e dos projetos, bem como das normas e dos procedimentos que já vigoram na organização. Podem ser tangíveis ou intangíveis, explícitos ou implícitos e se referir à quantidade, à qualidade e ao tem- po. Geralmente, os padrões são estabelecidos na definição dos planos de ação. Oliveira (2003) afirma que, dependendo dos resultados das comparações, algu- mas situações podem surgir. © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh em e R uf at to Se o desvio exceder em muito os limites estabelecidos, o gestor deverá interromper as ações até que as causas sejam identificadas, analisadas e eliminadas. Se o desvio apresentado estiver conforme o limite esperado, os gestores não precisam se preocupar. Se o desvio exceder um pouco o esperado, o gestor deverá continuar a sua ação, mas com alguns ajustes que possibilitem alcançar a situação adequada. Planejamento estratégico ii 80 A terceira etapa é determinar a ação corretiva necessária. Isso significa que, apesar dos esforços, na maior parte das vezes nem tudo sai conforme o desejado ou atende aos padrões estabelecidos. As razões são muitas, desde mudanças no ambien- te geral ou no de competição até deficiências internas. Por isso, é importante que as ações corretivas observem o momento mais apropriado e que sejam feitas de forma clara e transparente para que todos os envolvidos entendam as ações tomadas e os motivos e aprendam com os erros. Segundo Oliveira (2003), durante essa fase, o ges- tor precisa estar ciente de que o processo de controle e avaliação deve: © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Estar focado em pontos crí- ticos para não perder tempo nem recursos. Ser claro para facilitar seu en- tendimento e aceitação. Ser preciso, mas apresentar al- guma flexibilidade, visto que o ambiente normalmente é in- certo e dinâmico. Ser realista e passível de ser operacionalizado, pois deve produzir informações para o processo decisório. Ter custo compatível com seus benefícios. Ser ágil e proporcionar medidas de correção rápida. Ter objetividade. Planejamento estratégico ii 81 Segundo Oliveira (2003), é possível separar o controle e a avaliação dos resultados em níveis de acordo com o que foi desenvolvido na fase de implementação, ou seja, é pos- sível efetuar o controle do desempenho de toda a organização e de cada uma das áreas funcionais ou de aplicações bem mais específicas em cada área funcional. O controle estratégico envolve principalmente as relações da organização com o ambiente e controla todo o desempenho. No caso do controle tático, os padrões de controle são estabelecidos com base em objetivos funcionais (por áreas ou departa- mentos) para avaliar os resultados de cada área e dos sistemas administrativos. Nesse caso, o foco do controle é o resultado geral da área mediante visão integrada de todas as operações. O controle operacional é realizado sobre a execução das operações de forma localizada e específica. Segundo Certo et al. (2009), o controle e a avaliação do processo de implementa- ção no nível estratégico são uma função gerencial, e seus resultados podem ser utiliza- dos para a melhoria da administração estratégica de forma geral e como instrumento de gestão para o feedback das atividades realizadas, do comportamento e das atitu- des observados e da construção e do reforço da cultura organizacional. Assim, Oliveira (2003) enumera algumas atividades de cunho gerencial que o processo de controle e avaliação pode contemplar: • fazer as correções de um desempenho ruim ou reforçar o desempenho positivoapresentado; • detectar e informar a necessidade de mudança nas funções administrativas de planejamento quando a organização e a direção não estiverem em conformida- de com os objetivos organizacionais; • proteger os recursos financeiros, tecnológicos, humanos e materiais da organi- zação contra o desperdício, o mau uso, furtos e roubos; • estimular a manutenção ou o aumento de eficiência e eficácia na consecução das atividades e nos processos organizacionais por meio de parâmetros previa- mente acordados; • informar se programas, projetos e planos de ação estão sendo desenvolvidos de acordo com o planejamento e se apresentam os resultados desejados; • informar se os recursos da organização estão sendo utilizados da melhor ma- neira possível. No entanto, de acordo com Oliveira (2003), é difícil mensurar a eficiência porque pode haver diferentes interpretações sobre como os recursos foram utilizados. Para o autor, alguns fatores podem prejudicar a obtenção de eficiência, efetividade e eficácia: • O processo de obtenção e confirmação das informações é lento, o que cria um intervalo muito grande entre a realização das ações e o controle e avaliação. Planejamento estratégico ii 82 • Insuficiência de informações para montar os indicadores previamente criados. Outro problema que pode aparecer são as informações não confiáveis, que po- dem comprometer todo o processo de controle e avaliação. • Sistemas de controle complicados. Apesar de os indicadores terem o objetivo de sintetizar as ações e os seus resultados, dependendo da complexidade da operação e do nível de sofisticação que se queira empregar, o sistema de con- trole pode se tornar tão difícil de ser operado que não seja possível verificar e entender a comparação entre o que foi planejado e o realizado. • Planos mal elaborados e implantados. Mesmo que o planejamento estratégi- co contemple vários pontos de verificação e validação, se eles não forem fei- tos com muito cuidado e responsabilidade, alguns problemas podem ficar evidentes apenas no momento do controle (falhas, falta de comprometimen- to de gestores e de equipes, falta de alinhamento entre as áreas e entre a hierarquia). • Estrutura organizacional inadequada pelo fato de as estratégias estarem dan- do resultado tanto positivo quanto negativo. O que ocorre é que a estrutura é um dos elementos mais sensíveis à implementação de estratégias, pois ela, no início da implementação, pode ter sido adequada, mas com o desenrolar dos acontecimentos, a utilização de recursos e o desenvolvimento de competên- cias, pode ter se tornado ineficiente. • Incapacidade das pessoas para executar todas as atividades planejadas. São di- versas as razões para isso ocorrer. Uma delas é potencializar o desempenho de alguém, de uma equipe ou de uma área sem o conhecimento prévio de quanto realmente as pessoas conseguirão produzir e desempenhar conforme o espera- do. Também pode ser pelo fato de ter havido pouco treinamento e adequação às demandas do planejamento. Outra possibilidade é a falta de comprometi- mento devido a atritos, conflitos de vários tipos ou descrença nos resultados da estratégia ou da gestão. Segundo Oliveira (2003), o controle estratégico pode ser feito em três estágios ou momentos: Planejamento estratégico ii 83 © A le ks an dr B ry lia ev / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to são as atividades efetuadas após a ocorrência das ações que se pretende controlar. Portanto, avalia os desvios ocorridos, determina suas causas e corrige o rumo. são as atividades executadas antes da implementação da estratégia. Podem ser feitas durante a elaboração dos planos de ação e da divisão de responsabilidades, atuando de forma preventiva, a fim de garantir que não haja distorções no planejamento. são as atividades de controle feitas durante a execução de cada plano de ação. A intenção é corrigir o problema assim que ele surja e evitar custos com retrabalho, bem como atrasos no cumprimento do planejamento. Controle preliminar ou prévio: Controle corrente ou em tempo real: Pós-controle: Normalmente, esses diferentes estágios de controle são independentes, e os critérios e os padrões estabelecidos podem ser divergentes entre si, o que não invalida o processo, pois os gestores necessitam de vários instrumentos para um controle mais eficaz. 4.2 Ferramentas de controle e monitoramento de resultados Para fazer o controle e a avaliação do processo de administração estratégica, muitas organizações utilizam sistemas de informação para auxiliar no monitoramento, na mensuração e na avaliação dos resultados. As ferramentas podem ser muito sim- ples, como uma planilha eletrônica, ou mais sofisticadas, como sistemas integrados de Planejamento estratégico ii 84 gestão. Independentemente da sofisticação ou complexidade de um sistema, um dos pontos mais críticos do seu uso no controle estratégico está relacionado às informa- ções necessárias ao processo. Sobre essa questão, é preciso considerar os tipos e as fontes de informações, sua frequência e qualidade. Com relação aos tipos de informações, Oliveira (2003) salienta que eles são variados e que se deve levar em consideração a quantidade de atividades executadas ao longo do tempo, bem como o momento de ocorrência de eventos significativos, como entrega de relatórios de progresso, de objetivos e metas, por exemplo. Além disso, é necessário ob- servar os valores envolvidos, como os custos realizados, os custos compromissados, as ho- ras de trabalho aplicadas e os dados sobre a qualificação do trabalho. Não é fácil estabelecer uma frequência de informações, pois elas dependem de uma série de fatores para serem geradas. Mas é possível determinar, como o autor su- gere, que o controle estratégico observe uma frequência de três a seis meses; o nível tático, a cada dois ou três meses; sendo que para controles operacionais, a frequência pode ser semanal ou mensal. © a le xm ill os / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Entretanto, se as informações geradas não forem corretas ou confiáveis, de nada vale garantir a frequência delas. É preciso dispensar atenção para a qualidade do con- teúdo, a forma, os canais, a periodicidade, a velocidade e a precisão das informações. O grau de detalhamento pode variar de acordo com o nível de análise, visto que quan- to maior a exigência de visão global da organização, mais sintetizadas devem ser as in- formações. Além disso, quanto maior a quantidade de controles operacionais, maior o nível de detalhamento. De acordo com Oliveira (2003), as fontes de informação para controle e avaliação de estratégias podem ser internas, externas, relacionadas ao passado, ao presente e ao futuro da organização e do ambiente no qual está inserida. É possível haver divergência Planejamento estratégico ii 85 entre informações vindas de fontes diferentes, por isso é necessário analisar o conteúdo e o contexto dessas informações, além de observar os interesses de suas fontes. Uma das formas mais utilizadas para controle e avaliação das ações estratégicas é o monitoramento de indicadores de desempenho, que são índices formados por ele- mentos mensuráveis que assinalam em que medida determinado resultado correspon- de às expectativas. Um exemplo de indicador de desempenho empresarial é o índice de faturamento com vendas. A organização pode estipular o percentual de aumen- to nas vendas pretendido em determinado período e monitorar esse indicador, mês a mês, para ver se ele está atingindo ou não essa meta. É preciso estabelecer indicadores de desempenho para as estratégias e os seus des- dobramentos em estratégias funcionais. Na etapa de controle estratégico, é de res- ponsabilidade dos gestores coordenar o monitoramento dos indicadores criados para o planejamento estratégico. Além disso, alguns indicadores financeiros da organizaçãopo- dem demonstrar os efeitos das estratégias e dos rumos que a organização está tomando. Alguns autores, como Oliveira (2003) e Gitman (2010), sugerem a análise conjun- ta dos indicadores específicos criados para as estratégias (que podem seguir a meto- dologia do balanced scorecard ou outra) com os indicadores financeiros amplamente reconhecidos e utilizados por organizações de vários setores e tamanhos. Eles reco- mendam a utilização dos seguintes indicadores: Para aprofundar o conhecimento sobre indicadores de desempenho financeiro, leia o livro de GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Education, 2010. • Período de payback ou período de recuperação do capital: é o resultado da apuração do período necessário para a organização recuperar o capital investido em determinada ação ou aquisição de um ativo fixo. É obtido por meio da soma algébrica dos saldos de fluxos líquidos de caixa no final de cada período. Devido à maneira como esse índice é expresso, o gestor deve considerar o que é de curto, médio e longo prazo. Outra característica do payback é que ele pode ser médio, isto é, calculado pela relação do investimento inicial com as entradas médias em caixa, ou ser calculado pelo método dedutivo, chamado de payback efetivo. • Taxa interna de retorno: a TIR, como é comumente conhecida, expressa, por meio dos fluxos líquidos de caixa no fim de cada período, a taxa de juros com a qual o investimento está sendo remunerado. Sua análise ocorre por meio de percentagens de juros e é expressa no período definido pelo gestor como o mais apropriado para demonstrar o resultado. Para o gestor, esta é uma taxa Planejamento estratégico ii 86 comparativa, pois identifica a taxa de retorno de uma estratégia e a compara com uma taxa de retorno do mesmo capital aplicado em uma instituição finan- ceira nas mesmas circunstâncias, por exemplo. Assim, baseado na compara- ção das duas taxas, o gestor terá mais elementos para avaliar se o investimento que está sendo proposto é interessante ou não para a organização. • Taxa média de retorno de investimento: é a taxa obtida por meio da divisão da geração interna de caixa média anual (lucro líquido ajustado ao regime de caixa) pelo valor do desembolso inicial de caixa (com ativo permanente e capi- tal de giro) previsto para o projeto a ser investido. Com isso, o gestor poderá comparar se o investimento na estratégia será mais atrativo que os investimen- tos históricos da organização. Tal situação demanda que a contabilidade regis- tre as operações do projeto separadamente. Caso contrário, a comparação será muito difícil de ser realizada. • Valor atual líquido: consiste em trazer para o momento os valores esperados das entradas e das saídas de caixa que serão decorrentes das alternativas de in- vestimentos. Essas futuras operações de caixa devem ser descontadas a uma taxa mínima de retorno aceitável. A essência dessa técnica é estabelecer a di- ferença entre os valores atuais de entradas e saídas de caixa, denominada valor atual líquido. Quando esse valor é maior ou igual a zero, significa que as estraté- gias, nessa condição, poderão ser selecionadas pelo gestor para a organização. • Valor atual líquido anualizado: técnica que faz a correção do valor atual e traz para o momento presente as entradas e as saídas de caixa de estratégias com temporalidades diferentes. Nesse caso, para o gestor, o que importa é trazer tudo para o momento presente, para que sua análise se torne mais efetiva. • Índice de lucratividade: essa técnica, que também está relacionada à corre- ção do valor para o momento atual, é recomendável quando a empresa se de- para com estratégias excludentes e, ao mesmo tempo, não dispõe de capital para investir em duas estratégias ao mesmo tempo. Ela correlaciona os valores atuais das entradas de caixa com os valores de saída de caixa. Isso proporciona ao gestor uma visão comparada do nível de lucratividade que o projeto poderá proporcionar em relação ao investimento. O importante é analisar de forma integrada os diversos tipos de indicadores que uma organização pode ter e montar um mapa estratégico com todos eles para alinhar as ações e os seus indicadores com as estratégias organizacionais. Assim, esse mapa pode servir como referência para a comunicação da estratégia para todos da organiza- ção (HORNEAUX JUNIOR, 2012). O controle estratégico e a avaliação de resultados constituem a última etapa de um planejamento estratégico. Contudo, ao pensar em estratégia como um processo Planejamento estratégico ii 87 contínuo, que é um dos princípios básicos da administração estratégica, gerir uma or- ganização de forma estratégica é uma atividade que, ao contrário do planejamento, não tem começo, meio e fim. Por isso, a fase de controle estratégico e avaliação de re- sultados torna-se uma das fontes de informações para o monitoramento estratégico do ambiente. E é esse monitoramento que definirá se um novo ciclo de diagnóstico, escolha e implementação de estratégias precisa começar. Pensar a administração estratégica como forma de impulsionar a criação e o com- partilhamento de conhecimento e experiências é um dos grandes diferenciais para gestores e organizações e uma das formas mais eficazes de promover o crescimento organizacional e profissional. 4.3 Aprendizagem organizacional A aprendizagem organizacional sem- pre teve grande importância no campo da teoria das organizações. No início do século XX, os gestores que seguiam as concepções de Taylor sobre administração faziam a divi- são das tarefas específicas de cada trabalha- dor com foco na especialização e, com isso, perdiam a visão global do processo. Os tra- balhadores eram capacitados para executar atividades repetitivas e metódicas, de cunho específico, o que levava a um processo de alienação dos indivíduos (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Décadas depois, começou-se a perceber que essa sistemática de trabalho preju- dicava a aprendizagem nas organizações, pois limitava o desenvolvimento das habili- dades individuais e não proporcionava a troca e o compartilhamento de conhecimento e experiências. O modelo taylorista foi uma inovação para a época e trouxe importan- tes contribuições para a área de administração. Ele foi seguido durante anos e ainda é utilizado em vários setores e tipos de organizações. Porém, com o passar das décadas, foram detectados vários problemas e agregadas importantes melhorias. Isso demons- tra como a evolução depende do processo de aprendizagem. A percepção de que a administração estratégica é um processo que se retroali- menta vem da necessidade de continuidade das atividades organizacionais, ou seja, a ideia de que a estratégia é algo que primeiro é planejado e depois implementado de forma estanque tornou-se obsoleta com o planejamento estratégico per si. A crítica ao planejamento estratégico se deve justamente à sua inflexibilidade e desconexão com o cotidiano organizacional, dinâmico e flexível. © B lu eS ky Im ag es / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 88 O conceito de aprendizagem no ambiente organizacional vem da evolução des- ses pensamentos e tenta agregar tentativas e erros, desvios e correções de rumo na obtenção de conhecimento e na adição de expertise que a prática da administração es- tratégica traz. Entretanto, um dos insumos da administração estratégica é justamente a aprendizagem organizacional e a oportunidade de saber como decidir e o que fazer baseando-se no que já foi experimentado. A aprendizagem está ligada não apenas aos aspectos formais, mas muito mais aos aspectos informais de uma organização. Vários estudos organizacionais confirmam a separação, nas organizações, entre estrutura formal e estrutura informal. Outros estudos mostram que, quando as nor- mas são seguidas literalmente, a operação da organização não funciona por falta de flexibilidade. Tanto que uma das formas mais eficazes de protesto é seguir exatamen-te o que dizem as normas e os regulamentos, pois assim os processos não funcionam (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). De acordo com Motta e Vasconcelos (2006), apesar dessas descobertas, muitas organizações ainda se baseiam na supervisão direta, no controle burocrático e na redu- ção da autonomia dos indivíduos e, por consequência, da aprendizagem. Aos poucos, no entanto, o modelo mais mecanicista e rígido de administração tem sido questiona- do e surgem novos modelos com base na valorização da aprendizagem e em valores como autonomia, flexibilidade e mudança. Isso é demonstrado pelo fato de muitas or- ganizações utilizarem, em um contexto global, a administração estratégica e o plane- jamento estratégico como ferramenta desta. Além disso, a partir da década de 1980, o desenvolvimento informacional possi- bilitou maior circulação de bens e capitais. Novas tecnologias permitiram um proces- samento de informações melhor e mais rápido, o que contribuiu para o aumento de produtividade (MOTTA; VASCONCELOS, 2006; HOSKISSON et al., 2009). O uso da tecnologia da informação faz com que os sistemas de comunicação tenham um al- cance nunca visto, que propicia a integração global de produção e distribuição de pa- lavras, sons e imagens. Indivíduos em qualquer lugar do mundo que partilham os mesmos interesses e valores, além das mesmas visões de mundo, podem trocar infor- mações, comunicar-se e construir redes multiculturais interativas. Por isso, também nos anos de 1980, Peter Senge formulou os conceitos de apren- dizagem organizacional e organizações em aprendizagem e os apresentou como re- sultantes das mudanças tecnológicas e sociais que proporcionam a formação da sociedade informacional e pós-industrial. Esse tipo de organização seria adaptado a uma era do conhecimento, em que a capacidade de interpretar rapidamente as in- formações complexas, dar sentido a elas e agir passam a ser fonte de criação de valor (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000; MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Planejamento estratégico ii 89 Segundo essa linha de argumentação, na sociedade pós-industrial, as organiza- ções teriam um interesse real, de ordem financeira, no desenvolvimento da capaci- dade de aprendizagem de seus membros. Isso significa que o indivíduo tem o “dever de discordar” e questionar os pressupostos básicos do sistema de gestão. Motta e Vasconcelos (2006) comentam que a partir da adoção de um modelo de gestão com base na valorização do indivíduo e de sua capacidade de aprendizado, será possível al- cançar um número cada vez maior de pessoas que “pensam” na organização. Desse modo, valorizar a capacidade de reflexão e o processamento de informações dos indi- víduos pode aumentar a capacidade de processamento em toda a organização, o que leva ao aumento de sua produtividade. Para vários pesquisadores da psicolo- gia, a aprendizagem que mais influencia o indivíduo é a obtida por meio da própria ex- periência, baseada nas próprias impressões e descobertas. Dessa forma, o aprendiza- do adulto ocorre por meio de um processo de tentativa e erro. Com base nos elementos que incorpora em seu aprendizado, o indivíduo constrói os critérios de escolha que influencia- rão suas atitudes e seu comportamento futuro e também ajudarão a definir sua identidade (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Para os autores, o conceito de aprendizagem organizacional relaciona-se à inova- ção social e tecnológica nas organizações e está ligada, desse modo, à institucionaliza- ção de regras, aos procedimentos e aos estilos gerenciais que promovem a captação e o processamento rápido de informações. Tudo isso permite o questionamento contí- nuo dos padrões técnicos e de aprendizagem predominantes na organização em dado momento. O questionamento dos padrões atuais, baseado em informações novas, leva à correção das ações, à invenção e à implantação de novos padrões e novas normas de referência em um sentido de evolução contínua. A aprendizagem seria uma “mola” propulsora da organização, principalmente para a administração estratégica, que depende do crescimento e da melhoria dos to- madores de decisão, pois administrar estrategicamente é tomar decisões conforme as informações dos ambientes interno e externo rumo ao objetivo projetado. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) identificam um problema: a maioria dos auto- res organizacionais vê o aprendizado como processo, com seu foco principal no gerencia- mento de mudanças, e não na estratégia. Por isso, recomendam que os gestores reflitam, de forma crítica, sobre seu comportamento para identificar as maneiras pelas quais, mes- mo de forma inconsciente, estão colaborando com os problemas da organização para, © fr es hi de a / / F ot ol ia Planejamento estratégico ii 90 então, mudar seu modo de agir. Essa forma de incentivar as pessoas a refletirem sobre o próprio comportamento é um modo eficaz de desbloquear o aprendizado. Um impulso importante diz respeito às pesquisas e aos trabalhos sobre criação de conhecimento, pois os gestores perceberam que o conhecimento não é adquiri- do somente com treinamento baseado em manuais, livros ou palestras (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). É preciso prestar atenção em modos menos formais e sistemáticos de gerar conhecimento. Para isso, Nonaka e Takeuchi (2008) falam sobre o significado de se reconhecer a importância do conhecimento tácito e a forma como é gerado o conhecimento explícito em uma organização. Para entender a aprendizagem organizacional, é preciso saber di- ferenciar conhecimento tácito de conhecimento explícito (NONAKA; TAKEUCHI, 2008): © H ap py A rt / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Conhecimento explícito Conhecimento t ácito Conhecimento tácito é tudo aquilo que se conh ece de forma implícita. Mu itas vezes, o indivíduo não tem consciência de que tem de- terminado conhecimen to ou, caso tenha, não con - segue explicar como o ad- quiriu. É o conhecimen to pessoal, difícil de ser fo rma- lizado e comunicado. Conhecimento explícito ou codificado é tudo aqui-lo que se sabe formalmen-te. Pode ser transmitido em linguagem formal e sistemática. Planejamento estratégico ii 91 Para o ambiente organizacional, é fundamental a conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito. Os gestores de nível médio (tático) têm papel es- sencial nesse processo, pois são eles quem sintetizam o conhecimento tácito de seus subordinados da “linha de frente” e também dos gestores da cúpula estratégica. De acordo com Nonaka e Takeuchi (2008), existe uma “espiral do aprendizado” que é essencial, composta por quatro fases que interagem de forma dinâmica. Desse modo, a es- tratégia precisa desenvolver a capacidade organizacional de adquirir, criar, acumular e ex- plorar o conhecimento gerado por esse processo de aprendizagem. No entanto, como o conhecimento é criado por indivíduos, o papel da organização é facilitar o aprendizado in- dividual, dar apoio e estímulos de forma a amplificá-lo, concretizá-lo e sintetizá-lo coletiva- mente por meio de diálogos, debates, trocas de experiência e observações. A figura a seguir apresenta a “espiral do conhecimento”, com seus quatro modos de conversão de conhecimento tácito em explícito. A espiral do conhecimento Fonte: NONAKA; TAKEUCHI, 2008, p. 71. (Adaptado). D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Conhecimento tácito para pa ra C on he ci m en to t ác it o Conhecimento explícito C on he ci m en to e xp líc it o SOCIALIZAÇÃO INTERIORIZAÇÃO EXTERIORIZAÇÃO COMBINAÇÃO Planejamento estratégico ii 92 Segundo Nonaka e Takeuchi (2008), a socialização é o processo de conversão de conhecimento no qual ocorre a partilha implícita de conhecimento tácito, muitas ve- zes até mesmo sem o uso de linguagem, por exemplo, por meio da experiência, de um comportamento que induz colegas de trabalho a aprenderem e agirem de forma seme- lhante. É predominante nocomportamento organizacional japonês. A exteriorização é uma forma de conversão de conhecimento tácito em explíci- to que utiliza, com frequência, instrumentos e formas especiais da linguagem, como as metáforas e a análise. A combinação, bastante comum em organizações ocidentais, combina e passa conhecimento formalmente codificado de um indivíduo para outro. Os modelos for- mais de aquisição de conhecimento são um exemplo disso. A interiorização é uma forma de transformar o conhecimento explícito em co- nhecimento tácito. Esse processo ocorre à medida que os indivíduos interiorizam o co- nhecimento, em um processo de “aprender fazendo”, isto é, aprendem com a prática. Assim, o aprendizado ocorre com o corpo e a mente. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), a espiral do conhecimento pode ser utilizada para as diferentes formas de criação de estratégia. A estratégia como plano e como posicionamento pode ser relacionada com a combinação, pois essas perspectivas usam o conhecimento explícito associado a procedimentos explícitos de mapeamento, análise e escolha de melhor estratégia. A visão de estratégia, entretanto, como é em- preendedora, pode estar mais próxima da exteriorização, ou seja, uma forma de expor uma visão ou um projeto que estava somente na mente de uma ou de poucas pessoas. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) citam o trabalho de Crossan, Lane e White, bastante criterioso e profundo, que explorou a ideia de como o aprendizado individual promove o aprendizado coletivo, como mostra o quadro a seguir. Planejamento estratégico ii 93 Estrutura unificante da aprendizagem organizacional Fonte: CROSSAN; LANE; WHITE apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 159. (Adaptado.) D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to De acordo com esse quadro, o aprendizado ocorre nos níveis individual, grupal e organizacional, que se estimulam mutuamente. Os quatro processos básicos ligam es- ses níveis e envolvem mudanças comportamentais e de aprendizado. Essas mudanças são chamadas de intuição, interpretação, integração e institucionalização. Intuição, nível em que se inicia o aprendizado, é um processo subconsciente que ocorre com o indivíduo. Em seguida, a interpretação seleciona elementos conscien- tes do aprendizado individual e os comunica ao grupo. Depois, a integração muda a NÍVEL Imagens Individual Organização Grupo Intuição Metáforas Interpretação Linguagem Mapa cognitivo Conversação/ Diálogo Integração Ajuste mútuo Sistemas interativos Institucionalização Sistemas de diagnóstico Regras e procedimentos PROCESSO INSUMOS/ RESULTADOS Experiências Compreensões comuns Planos/Rotinas/ Normas Planejamento estratégico ii 94 compreensão coletiva no nível do grupo e une-a ao nível da organização. Por último, a institucionalização incorpora esse aprendizado por toda a organização, o qual será absorvido pelos sistemas, pelas estruturas e pelas práticas. Aprendizagem organizacional significa questionar e mudar padrões de ação e formas de comportamento, o que pode estimular e gerar a inovação (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Motta e Vasconcelos (2006) citam o trabalho de Peter Senge sobre o assunto, no qual o autor integra os conceitos de aprendizagem organizacional e sistemas. Os autores explicam que, para Senge, o pensamento sistêmico é a quinta disciplina a ser levada em consideração depois que as demais disciplinas – como o do- mínio de si, a visão compartilhada, o aprendizado coletivo e os modelos mentais – fo- rem analisadas. Dessa forma, ao se considerar a organização como um sistema com diversas partes interconectadas e interdependentes que interagem com o ambiente, cria-se um ambiente propício ao aprendizado e à mudança nos comportamentos e nas práticas sociais. Os conceitos de aprendizagem de circuito simples e de circuito duplo, desenvolvi- dos por Chris Argyris, podem ajudar a compreender o processo de aprendizagem orga- nizacional. A aprendizagem de circuito simples está baseada na detecção do erro e em sua correção, de modo a preservar os valores de base que inspiraram o funcionamento do sistema (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Relacionada aos processos administrati- vos ou de produção, é possível afirmar que ela trata da melhoria contínua desses proces- sos, na qual a sua eficiência é gradualmente aprimorada, aperfeiçoando sua execução. A aprendizagem de circuito simples ocorre com o indivíduo que incorpora novas práticas na medida em que elas não contradigam seus pressupostos e valores de base. Já a aprendizagem de circuito duplo ocorre com o processo de percepção e explo- ração das possibilidades do ambiente. Em primeiro lugar, o indivíduo tem acesso a novas informações e, depois, compara-as com as normas de funcionamento de dado sistema ou processo. Em seguida, questiona a pertinência dessas normas e inicia ações corretivas apropriadas, que podem envolver a mudança nas práticas, nos valores e nos pressupostos do sistema ou processo. No ambiente organizacional, ela ocorre com o questionamento dos modos de produzir, atender ao cliente, fazer uma análise financeira, o que leva a uma nova configuração do processo produtivo, de uma tecnologia ou da organização. Para Motta e Vasconcelos (2006, p. 346), a aprendizagem de circuito simples está relacionada à “melhoria contínua de processos”, voltada para o desenvolvimento da efi- ciência e o aperfeiçoamento de sua prática até um nível ótimo. No entanto, não há o ques- tionamento dos valores de base do sistema organizacional ou de alguma de suas etapas. Pode ocorrer na aprendizagem de circuito duplo uma mudança de identidade, com a adoção de novos valores e comportamentos pelo indivíduo. Como valores e ação Planejamento estratégico ii 95 constituem um sistema não linear, não há necessariamente entre eles uma relação de cau- sa e efeito. A possibilidade de mudança de comportamento pode significar a aprendiza- gem de uma nova forma de pensar, com novos critérios de decisão e solução de problemas. Assim, a aprendizagem significa mudança sistêmica, ou seja, alteração nas mais variadas partes que compõem o todo inter-relacionado. A aprendizagem significa con- flito e ruptura com o sistema anterior e a consolidação de um sistema novo. No am- biente organizacional, a aprendizagem significará uma ruptura com o sistema antigo, sem chances de retornar a ele, pois já serão implementados novos comportamentos, novas práticas, novos valores e hábitos. Por isso, a aprendizagem organizacional de- pende de um processo de mudança, pois é ela que gera contradições, o que causa a ruptura com o antigo sistema. A nova organização surge da organização anterior, mes- mo com a necessidade de conflitos e rupturas. O novo sistema traz inovações, mas não deixa de incorporar elementos do sistema anterior (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Para que ocorra o aprendizado de circuito duplo, muitas vezes fundamental para o processo de administração estratégica, são necessárias a mudança de identidade e a su- peração de atitudes defensivas ou que geram resistência à mudança. É preciso que os indivíduos e a organização superem seus medos e suas ansiedades diante do novo, do des- conhecido, porque senão todos voltarão para suas áreas de conforto e o que foi definido e formalmente tratado no escopo do planejamento estratégico ficará relegado à alguma gaveta. Isso requer mudar o comportamento, e não somente o discurso, para que a estra- tégia não passe de uma boa intenção de um grupo de pessoas que, na prática, continuam fazendo as mesmas atividades e dando desculpas dos mais variados tipos sobre não ter sido possível fazer essa atividade ou implantar aquela mudança. A aprendizagem organizacional vai ocorrer quando for implantado na organiza- ção um circuito duplo de aprendizagem por meio de um círculo virtuoso, no qual as in- formações que surgem serão utilizadas para desafiar ideias e conceitos aceitos e bem estabelecidos. É assim que são estimuladas e desenvolvidas novas perspectivaspara o futuro, afirmam Motta e Vasconcelos (2006). Para que uma organização se torne um ambiente de aprendizagem, os autores sugerem que sejam desenvolvidas algumas condições: Planejamento estratégico ii 96 © T an yu sh ka / / F ot ol ia . ( A da pt ad o) . D es ig n G rá fic o: G ui lh er m e R uf at to Identificar e gerenciar a resistência orga- nizacional e seus bloqueios afetivos gera- dos pelos mecanismos de defesa e pelas contradições que envolvem a mudança em um modelo dinâmico de intervenção. Integrar as pessoas na nova estrutura or- ganizacional proposta e criar condições para que elas se desenvolvam e adquiram novas habilidades com base em seus co- nhecimentos anteriores; esse desenvolvi- mento foi reconhecido e valorizado pela organização. Promover a análise crítica dos procedimentos e dos pressupostos que formam a base da operação e da cultura organizacional. Estimular e colocar em prática a comu- nicação horizontal entre grupos de pro- fissionais de diversas áreas, além de implantar a transparência nos proce- dimentos e nas decisões, o que garan- te que as pessoas tenham acesso às informações. Incorporar um sentido comum à ação, com a criação de uma visão comparti- lhada da qual deverá surgir a nova iden- tidade organizacional, relacionada com as definições das diretrizes organizacionais e seu encaminhamento estratégico. Dessa forma, a organização estará caminhando rumo à consolidação de seu mo- delo de gestão baseado na administração estratégica e garantirá que todos os esforços despendidos nesse processo não sejam em vão. Planejamento estratégico ii 97 Referências CERTO, S. et al. Administração Estratégica: planejamento e implantação da estratégia. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2009. GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Education, 2010. HORNEAUX JUNIOR, F. Controle da estratégia e balanced scorecard (BSC). In: SIQUEIRA, J. P. L.; BOAVENTURA, J. M. G. Estratégia para Corporações e Empresas: teorias atuais e aplicações. São Paulo: Cengage Learning, 2012. p. 167-189. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000. MOTTA, F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. Teoria Geral da Administração. 3. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2006. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de Conhecimento na Empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica de inovação. Rio de Janeiro: Campus, 2008. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003.