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BRODBECK, Maria de Souza Lima. Vivenciando a história: metodologia do ensino de história – Curitiba: Base Editorial, 2012. “Os estudos históricos são fundamentais para a construção da identidade social do indivíduo, uma vez que podem possibilitar a percepção dele como sujeito e agente da História ao identificar as relações dos diferentes grupos humanos em tempos e espaços diversos.” (p.5). “Não podemos perder de vista a História como um processo, algo em construção permanente, do qual participamos. Todos nós somos sujeitos da História, por isso nos voltamos para a experiência do aluno. Partimos da realidade que lhes é mais próxima, espaço em que a socialização tem seu início, quer seja em casa, na escola ou mesmo no bairro. É importante ressaltar que essa história vivenciada não é um fim, mas um princípio de reflexão, que usa a pesquisa como instrumento valioso para a formação do aluno.” (p.5). “O ensino da História deve oferecer ao aluno um estímulo para a compreensão da realidade. É importante que ele seja motivado a falar, expor suas ideias sobre variados assuntos, debatê-los com os colegas, reformulá-los. Dessa maneira, perceberá que existem abordagens e opiniões diferentes das suas e poderá passar a respeitá-las. Como consequência disso, aumentará o número de informações que possui, construindo e ampliando cada vez mais o próprio conhecimento.” (p.5). “Entendemos que ensinar, estudar e aprender História exige reflexão diante dos fatos apresentados, uma vez que o conhecimento histórico nunca estará pronto, à medida que novos dados e enfoques contribuirão constantemente para a sua construção.” (p.5). Considerações gerais sobre o ensino da História - procedimentos de ensino no campo do conhecimento histórico escolar. “Debate-se [...] o papel da escola no desenvolvimento [...] de alunos críticos, autônomos e participantes. A sala de aula não pode mais ser vista apenas como um espaço onde há transmissão de informações e conteúdos, mas como o ambiente onde a troca entre os alunos pode e deve construir novos sentidos para a vida. Tornou-se, pois, fundamental refletir e debater sobre os objetivos do estudo da História e o seu processo de ensino e aprendizagem na escola, uma vez que, ao longo do tempo, a disciplina cumpriu diferentes papéis na formação escolar. Ensinar História passa a ser, então, fornecer condições para que o aluno possa participar do processo de fazer história, principalmente pela valorização da diversidade dos pontos de vista.” (p.6). ”O ensino e o estudo da História como disciplina escolar foi fortemente influenciado pelo contexto histórico. Até metade do século passado, as aulas de História eram baseadas na memorização e na repetição oral dos textos escritos. Quase não existiam materiais didáticos, e a transmissão dos conteúdos ficava unicamente sob a responsabilidade do professor.” (p.6). - A História enquanto matéria escolar exercia o papel de disciplina civilizatória e patriótica que integrava o povo brasileiro, respectivamente, à civilização mundial e à sua própria nacionalidade. “Desse modo, o papel da disciplina de História no ensino regular ficou marcado durante quase todo o século XX por um ensino de fatos históricos pontuais e centralizados em personagens e símbolos nacionalistas [...] com forte caráter de formação ideológica. A História tradicional apresentava características positivistas, as análises apoiavam-se em documentos e ocupavam-se em estudar principalmente fatos e acontecimentos de ordem política [...] e desconsiderava-se a história das pessoas comuns [...]. Contudo, na década de 1920, surgiu na França uma corrente de pensamento que buscava novos caminhos para a História buscando a interdisciplinaridade e uma aproximação geral entre todas as ciências humanas [...] referentes ao viver coletivo e às estruturas sociais [...].” (p.7). - Novo modelo de historiografia, Nova História. História dos Annales. Revista Les Annales, 1929. Lucien Febvre e Marc Bloch. “Enquanto esse movimento crescia no exterior com relação a novos rumos da historiografia, no Brasil a política educacional da década de 1970 caminhou no sentido contrário, quando houve a criação de matérias esvaziadas de conteúdos, como os Estudos Sociais – disciplina que, no antigo primeiro grau (1.ª a 8.ª séries) [...] deveria abarcar conteúdos de História e Geografia – e outras disciplinas como Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira (OSPB), privilegiando uma visão nacionalista dos conteúdos.” (p.7). “A maior parte dos currículos aplicados nas escolas nesse período, principalmente nas públicas, não favorecia a reflexão e os conteúdos da disciplina de História, pois privilegiavam a sucessão de acontecimentos históricos de forma que valorizavam o fato isoladamente, sem contextualização e a História comemorativa. Propagava-se a ideia de que a História era uma disciplina pronta e acabada porque se tratava do que já aconteceu. A construção do conhecimento histórico, o estudo das ações humanas, as relações entre os grupos sociais, o tempo e o espaço eram desprezados [...].” (p.8). “Com o fim da ditadura militar, uma série de mudanças educacionais começou a acontecer com a volta do ensino de História e Geografia nas séries iniciais. As mudanças sociais e políticas na década de 1980 que geraram maior liberdade e possibilidades de reflexão e críticas sobre os acontecimentos, levaram a um questionamento e à retomada dos conteúdos de História e Geografia separadamente, preservando assim o objeto de estudo de cada disciplina. Ensinar História, teoricamente, deixou de ser a memorização de datas e nomes, a disciplina passou a oferecer ao aluno a possibilidade de construir conhecimento a partir de próprias experiências e bagagem cultural. Reforçaram-se os diálogos entre pesquisadores, o saber acadêmico e as práticas em sala de aula. [...] Na atualidade, as características que prevalecem estão ligadas ao desenvolvimento de capacidades de observação, reflexão, análise e posicionamentos diante da realidade social. Assim, a disciplina de História vem se integrando cada vez mais com outras ciências sociais, como a Antropologia, a Sociologia e a psicologia social [...].” (p.8-9). Ver: PCN, 1998, p.27 “[...] capacidade de o aluno se sentir na condição de sujeito comum, parte integrante e agente da História ...”. “Na atualidade foram importantes as definições ditadas pela legislação brasileira quanto aos princípios norteadores da disciplina de História, que deveriam estar preentes nos documentos oficiais e nos manuais didáticos. Entre os mesmos podemos destacar: - o cumprimento da Lei n. 10639/03, que inclui no currículo oficial a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’, definida nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e Cultura Afro-Brasileira e Africana. - o cumprimento da Lei n.11.645/08, que inclui no currículo oficial a obrigatoriedade do ensino de história e da cultura dos povos indígenas do Brasil.” (p.10). “[...] é fundamental que os alunos participem do processo de aprendizagem de forma ativa, incorporando aos conhecimentos que já possuem novas abordagens e relações, rompendo com a ideia de que não são sujeitos históricos. O ensino da história pode assim contribuir para a formação de cidadãos conscientes da importância da participação social, preocupados em resgatar e respeitar o patrimônio histórico [...] bem como a consciência da realidade em que vive para o reconhecimento de sua herança cultural e coletiva [...]. Assim, o ensino da História deve ter como ponto de partida a compreensão da vida cotidiana de cada aluno, para que ele possa, pelas experiências, entender a dimensão destas experiências na vida de todos os homens. [...] criar uma relação entre a vida do aluno e sua história com o papel de todos os indivíduos na construção da História, procurando fazer com que aprendam a olhar a realidade, entendendo a historicidade do que vivem, relacionando-a com outras experiências do passado e dopresente.” (p.10). Objetivos do ensino da História “Marc Bloch foi um dos pioneiros a se levantar contra a forma tradicional de entender a História como a ciência que se ocupa em estudar o passado. [...] argumentava que a História deve ocupar-se em estudar também o tempo presente [...]. Para esse autor a História só poderia ser considerada como uma ‘Ciência dos homens no tempo’. Bloch defendia que o tempo da História deveria ser pensado em termos de articulação que envolve espaço e tempo e pela ideia de que o presente é importante para a compreensão do passado e vice-versa.” (p.11). “No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (5ª a ª séries) preconizam alguns objetivos gerais do ensino de História no Ensino Fundamental: Ver os do 9º ano. - identificar relações sociais no seu próprio grupo de convívio, na localidade, na região e no país, e outras manifestações estabelecidas em outros tempos e espaços; - situar acontecimentos históricos ... CONTEÚDOS “Na escolha dos conteúdos, os docentes devem considerar para a formação social e intelectual dos alunos: - a importância da construção de relações de transformação, permanência, semelhança e diferença entre o presente, o passado e os espaços local, regional e mundial; - a construção de articulações históricas como decorrência das problemáticas selecionadas; - o estudo de contextos específicos e de processos, sejam eles contínuos ou descontínuos. (PCN. História. 1998, p.46).” (p.12). Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História (PCN. História. 1998, p.66) estabelecem que ao final do quarto ciclo (7ª e 8ª séries), atualmente 8º e 9º anos, os alunos estejam capacitados para: “- utilizar conceitos para explicar relações sociais, econômicas e políticas de realidades históricas singulares, com destaque para a questão da cidadania; - reconhecer as diferentes formas de relações de poder inter e intragrupos sociais; - identificar e analisar lutas sociais, guerras e revoluções na História do Brasil e do mundo; - conhecer as principais características do processo de formação e das dinâmicas dos Estados Nacionais; - refletir sobre as grandes transformações tecnológicas e os impactos que elas produzem na vida das sociedades; - localizar acontecimentos no tempo, dominando padrões de medidas e noções para compará-los por critérios de anterioridade, posterioridade e simultaneidade. - debater ideias e expressá-las por escrito e por outras formas de comunicação; - utilizar fontes históricas em suas pesquisas escolares; - ter iniciativas e autonomia na realização de trabalhos individuais e coletivos.” (p.13). OS TEMAS TRANSVERSAIS (PCN. História.1998, p.48). “Os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam [...] que [...] para compreender e procurar soluções para os problemas abordados nos temas transversais é preciso que se faça uma abordagem interdisciplinar [...]. Desse modo [...] é essencial que os estudos históricos estejam articulados com os temas transversais, privilegiando: - as relações de trabalho existentes entre os indivíduos e as classes; (o mundo do trabalho e as transformações da tecnologia). - as diferenças culturais; - as lutas e as conquistas políticas [...] por indivíduos, por classes e por movimentos sociais; - as relações entre os homens e a natureza, numa dimensão individual e coletiva, contemporânea e histórica [...]; - reflexões sobre a constituição da cidadania, em diferentes sociedades e tempos [...]; - as imagens e os valores em relação ao corpo, à [...] sexualidade, dos tabus coletivos, da constituição das famílias [...] e da distribuição de papéis entre os gêneros nas diferentes sociedades historicamente constituídas; - os acordos ou desacordos que favorecem ou desfavorecem convivências humanas mais igualitárias e pacíficas [...] no respeito à paz, à vida [...].” (p.14). “Assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais propõem a discussão de temas transversais, tais como: ética, orientação sexual, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural e trabalho e consumo, que devem ser trabalhados de forma que envolvam as demais disciplinas, buscando a realidade vivencial do aluno. [...] Pode-se trabalhar de forma contextualizada e evitar a compartimentalização dos conteúdos e temas, [...] de forma coordenada.” (p.14-15). “A partir dos temas transversais o aluno terá uma visão mais ampla da realidade e, portanto, deverá desenvolver atitudes de cidadania, respeito ao próximo e ao ambiente, segundo uma visão crítica, de modo que possa interagir na realidade e transformá-la.” (p.15). 3 O ensino da História na construção da cidadania e na leitura do mundo: teoria e prática “É através da percepção de suas experiências de vida que o aluno pode incorporar [...] os saberes escolares de forma crítica e contínua, melhorando sua compreensão do mundo e ampliando sua ação e interação social. Desse modo, o estudo da História deve partir da compreensão e reconstituição da vida cotidiana para que seja possível entender essa dimensão na vida das outras pessoas e perceber que o homem, vivendo em sociedade, cria desde costumes pessoais até grandes ideias. O conhecimento e a percepção dessa dinâmica possibilitam ao aluno buscar o entendimento da experiência humana no tempo, através da capacidade de análise, interpretação crítica, síntese e manejo de fontes informativas. Os objetivos da disciplina – de forma cidadãos críticos [...] – não são novos. A constituição do pensamento crítico é uma meta necessária e já está presente nas propostas curriculares, principalmente nas ultimas três décadas.” (p.15). “[...] o ensino da História no Ensino Fundamental pode se beneficiar de novas abordagens como [...] aquelas incorporadas pela ‘História Nova Cultural’ [...] que trabalha com a micro-história e a história do cotidiano, valorizando a diversificação de documentos, como imagens, canções, objetos arqueológicos [...] na construção do conhecimento histórico. Tal diversidade permite relações interdisciplinares com outras áreas do conhecimento.” (p.15). “O ensino de História, teoricamente, tem como fundamento sua ciência de referência: a História ou a Ciência Histórica. Contudo a relação entre a História e seu ensino na prática não é tão simples. [...] A inovação surgida relaciona-se ao aluno sentir-se um sujeito histórico, pois dessa forma o ensino da História teria um papel formativo para uma cidadania crítica e atuante [...].” Ver: HOBSBAWM, Eric. Sobre história. 1995, p.13. BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 2008, p.20. “[...] de que maneira entender o passado, buscando interpretá-lo da forma mais adequada possível? [...] deve-se evitar o anacronismo [...]. [...] Cada tempo histórico tem também a linguagem que lhe é própria [...]. [...] até a linguagem (a maneira de falar e escrever) varia no decorrer do tempo. É fundamental, também, que se considere que o aluno já tem certos saberes acerca de alguns conteúdos de História, que foram elaborados no seu convívio familiar, social e escolar. [...] Por isso, é tão importante para a formação integral dos alunos que encontrem [...] na escola, as condições e os espaços necessários para a ampliação de conhecimentos sobre fatos e fenômenos sociais sobre a história [...].” (p.17). “O professor deve sempre procurar transpor as questões abordadas em sala de aula, com a realidade dos alunos, considerando os conhecimentos deles como uma contribuição para o estudo dos temas trabalhados.” (p.17). “Assim a escola deve buscar viabilizar, socializar e sistematizar os conhecimentos do aluno, ampliando suas potencialidades de manejo e aquisição do saber elaborado, possibilitando o estabelecimento da relação entre as estruturas econômicas, políticas e culturais da sociedade em que está inserido.” (p.17). “A aprendizagem da História [...] passa pela construção e pelo domínio de conceitos que vão se formando, se ampliando e ganhando novos significados numa relação dinâmica com outros conceitos e processos históricos.” (p.17). 4 – A interdisciplinaridade “Todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, quepodem ser questionamentos, confirmações, complementações, negações, ampliações, iluminações de aspectos não distinguidos. Assim, além de reconhecer as diferenças entre as áreas do conhecimento, é preciso identificar onde se encontram as zonas de interseção entre elas para localizar os pontos em comum.” (p.18). “A interdisciplinaridade busca [...] um ensino que concilie diferentes conceitos, de diferentes áreas. Desse modo, pode-se substituir a fragmentação pela interação, permitindo que o aluno aprenda a relacionar conceitos e, consequentemente, construa novos conhecimentos com muito mais autonomia e criatividade. A interdisciplinaridade [...] exige que o território de cada campo do conhecimento – suas particularidades e especialidades – seja compreendido e respeitado.” (p.18-19). “É fundamental [...] que os professores se preocupem, desde o Ensino Fundamental, em incentivar os alunos a construírem relações entre os diferentes conteúdos presentes nas diversas disciplinas do currículo [...] possibilitando assim uma visão não fragmentada de conteúdos. [...] Superar essa fragmentação, tornando a aprendizagem um processo significativo para o aluno é [...] o grande desafio da educação [...] na atualidade, devido à rapidez da circulação da informação e da enorme dificuldade das pessoas em trabalhar com esse processo de forma produtiva. A falta de comunicação entre as diferentes áreas leva à fragmentação do conhecimento, tornando difícil para o aluno fazer as associações, uma vez que essa habilidade só é adquirida quando se aprende a buscar a visão global dos fatos.” (p.19-20). “A organização compartimentada das disciplinas é um obstáculo para [...] o aluno [...]. Contudo [...] a interdisciplinaridade [...] continua [...] uma experiência de exceção dentro da escola, porque de alguma forma torna-se um desafio engendrar uma organização que viabilize a interação entre os docentes das diferentes disciplinas para desenvolver o trabalho interdisciplinar. [...] Recentemente, a estratégia de ensino mais utilizada para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico interdisciplinar é o projeto didático [...]. Os projetos didáticos podem envolver várias disciplinas [...]. Eles são importantes porque abrem novas possibilidades de aprendizagem aos estudantes [...].” (p.20-21). 5 – O trabalho com projetos interdisciplinares de pesquisa “A superação da educação tradicional passa pela busca de uma prática pedagógica que integra os conteúdos, ultrapassando o conhecimento fragmentado e descontextualizado para privilegiar o conhecimento interdisciplinar. Sabemos que a prática de trabalhar com projetos de pesquisa é de grande valor para a integração e desenvolvimento dos conhecimentos e competências dos alunos, pois favorece a reelaboração de conteúdos já apreendidos. [...] os alunos são encorajados a explorar com mais profundidade um determinado tema [...] partilhar decisões e administrar etapas, além de expressar resultados através de varias formas como palavras ditas e escritas, [...] dramatizações, pinturas, desenhos e colagens, musicas e outras [...] formas de representações.” (p.21). “O objetivo geral do trabalho com projetos é estabelecer uma relação de contextualização do conteúdo abordado no livro didático com o saber apreendido pelos alunos. [...] é preciso definir um campo de atuação comum, que determine quais professores se envolverão nessa atividade interdisciplinar. [...] Entre os objetivos específicos de um projeto interdisciplinar estão: desenvolver a prática da pesquisa, de procedimentos para a coleta de dados, de organização do trabalho e de síntese; explorar a potencialidade no desenvolvimento da aprendizagem significativa e a fixação de conceitos por parte dos alunos [...]. (p.22). 6 - Práticas no ensino da História O trabalho com textos e documentos históricos “Depois da leitura, é importante que o conteúdo seja trabalhado, procurando desenvolver a captação e a interpretação através da compreensão do vocabulário, identificação do tema central, interpretação e sistematização do conhecimento. Na atualidade, o trabalho com fontes ou documentos históricos é considerado um dos procedimentos fundamentais em sala de aula, pois amplia o conhecimento sobre o trabalho do historiador, estimula a observação e permite uma reflexão sobre os conteúdos através dos documentos.” (p.34). “Deste modo, o estudo e a análise de fontes históricas pode ser um ponto de partida do que entendemos como ‘o fazer histórico’ na sala de aula, ajudando o aluno a desenvolver o espírito crítico, a interpretação e o significado de fonte histórica assim como possibilita ao aluno a percepção sobre o ofício do historiador e sobre o trabalho de escrever a História a partir das fontes. Com o exercício e a prática da análise das fontes, permitimos ao aluno estabelecer a distinção entre documentos propriamente ditos, usados com finalidades didáticas (ex: Carta de Pero Vaz de Caminha) e aqueles como textos e filmes que auxiliam a construção do saber, mas que foram produzidos a partir de olhares e questões de quem os produziu (ex: textos de jornais, um quadro, um mapa, livros, enciclopédias, entre outros).” (p.35). “[...] A utilização de um filme para trabalhar um tema ou um conceito, por exemplo, é um recurso didático. Os recursos didáticos são, pois, ferramentas utilizadas para a ação didática.” (p.35). “As estratégias de ensino se referem às formas de se organizar no fazer didático como a utilização de meios como aulas expositivas, trabalhos em grupo, debates e jogos para dinamizar e efetivar o ensino-aprendizagem.” (p.35). “Com relação à transposição didática do procedimento histórico, o que se busca é a realização na sala de aula da própria atividade do historiador, ou seja, fazer com que o conhecimento histórico seja ensinado de forma a possibilitar a participação do processo de fazer a História.” (p.35). O trabalho com imagens “Assim como se procede com outras fontes históricas [...] as gravuras não podem somente ilustrar o texto, mas também ampliar as informações sobre ele. Além de compor um acervo extenso de retratos e cenas históricas diversas, as obras artísticas são recursos que podem tornar mais concretos os conteúdos abordados em sala de aula. [..] As gravuras podem ilustrar o texto, ampliar as informações como também trazer informações no lugar do texto. Assim como se procede com outras fontes históricas [...] é importante que se conheça o autor, como se deu a produção da obra e em que época foi produzida.” (p.36). “[...] Os estudos e trabalhos sobre as imagens, sejam elas pinturas, ilustrações ou fotografias, têm também importante papel na proposta reflexiva do estudo da História. [...] Assim, é fundamental o desenvolvimento de um processo de construção do saber que exercite a prática de leitura de imagens articuladas ao texto escrito e representativas de uma determinada época. A escola pode contribuir [...] para o refinamento do olhar dos alunos através de atividades de exploração, de reflexão e de formulação de hipóteses sobre diferentes imagens. É também importante que coloquem em prática a ação de fazer perguntas e refletir sobre elas [...].” (p.38-39). O trabalho com mapas “O uso de mapas nas aulas de História é uma prática pedagógica obrigatória, contudo como os mapas constituem uma linguagem específica, existe uma dificuldade por parte dos alunos e professores na habilidade em lê-los [...] para o bom aproveitamento da imagem e conteúdos ali fornecidos. Os mapas podem nos fornecer informações variadas que vão desde o aspecto físico de um determinado local até informações múltiplas sobre produtos, população e inúmeros outros elementos.” (p.40). “Para o historiador, além de um instrumento de localização, o mapa é também um documento de uma época, uma fonte histórica. [...] Sempre que se apresenta um mapa no material didático é importante que o professor faça uma abordagem sobre os detalhes que ele contém, principalmente quando se tratam de mapas com referência a períodos ou acontecimentos históricos do passado, buscando fazerrelações com o presente [...].” (p.41). A formação de conceitos “Como em todas as ciências, a história trabalha com conceitos próprios e conceitos gerais, produzidos pela experiência humana. No desenvolvimento da disciplina em sala de aula, o professor não deve buscar o privilégio da informação, mas o desenvolvimento de habilidades, principalmente aquelas pertinentes a conceitos das ciências humanas [...] pela leitura de textos e resolução de questões nas quais esses conceitos são utilizados de forma mais operacional e reflexiva.” (p.42). “É fundamental propiciar aos alunos a compreensão de que os acontecimentos históricos não podem ser explicados de maneira simplista, como causa-acontecimento-consequência. Para o Ensino Fundamental considera-se [...] que o aluno precise estruturar e desenvolver conteúdos e noções básicas do ‘pensar historicamente’, ou seja, buscar trabalhar as relações e noções básicas do ensino de História, relacionadas [...] a partir do entorno do aluno, ao que ele percebe. É importante ressaltar que todo trabalho com a formulação de conceitos deva respeitar as etapas de desenvolvimento dessa competência buscando desse modo selecionar os conteúdos dentro de uma perspectiva mais próxima do mundo do qual faz parte, tornando o ensino significativo e estimulante.” (p.42). “Assim, é essencial o trabalho com as noções básicas de dimensão de tempo e espaço do ensino de História, tais como os conceitos de mudança e permanência [...] ,ou seja, buscar situar o aluno ao quando e onde as coisas aconteceram ou estão acontecendo [...] como forma de qualificar a compreensão, tanto do passado quanto do presente, acerca das relações humanos-sociais e na dinâmica da histórica. Mais importante que as determinações causais é a percepção, desenvolvida pelos alunos, das mudanças e permanências, das continuidades e descontinuidades.” (p.43). Historicidade dos conceitos, ver: SCHMIDT, Maria Auxiliadora. O saber histórico na sala de aula. 2008, p.61. “[...] a construção de conceitos como ‘Renascimento’, ‘democracia’, ‘trabalho’, ou qualquer outro, fazem parte do trabalho de análise, interpretação e comparação dos fatos históricos em que o aluno pode fazer a sua própria síntese.” (p.43). “O trabalho através de noções temporais como ordenação, duração, simultaneidade e sucessão é o primeiro passo para a compreensão da relação do passado com o presente. Em seguida, essas noções devem ser utilizadas como meios para a análise de contextos e períodos da História. Desse modo, o conceito de tempo (histórico) é um dos principais que precisa ser desenvolvido no estudo e compreensão da História. [...] A temporalidade deve ser tratada visando a compreensão da relação passado/presente em um progressivo domínio da produção de textos, da leitura e da interpretação de diferentes documentos e fontes.” (p.43-44). Tempo Histórico → Historicidade do Tempo. “As noções de tempo, diferença/semelhança, permanência/mudança normalmente irão sendo aprofundadas ao longo das séries, através da reelaboração constante das noçoes assimiladas, a qual leva a novos significados e dimensões, pois os dados se alteram de forma qualitativa em relação ao conhecimento anterior e a apreensão de um determinado conceito evolui em complexidade e abstração, sendo incorporada ao raciocínio e à linguagem do aluno.” (p.45). Redação de textos “Na realização de atividades em sala de aula, é importante que o professor fique atento às dificuldades de alguns de seus alunos, pois muitas vezes eles apresentam uma certa compreensão do tema, mas sua elaboração oral e escrita torna-se confusa, com ideias desconexas entre si. Nesse momento é fundamental que o professor conduza o processo, fazendo um trabalho coletivo de leitura e entendimento do proposto para as atividades, verbalizando a direção em que se pode encaminhar a resposta e principalmente ajudando-os a superar os possíveis obstáculos que os impedem de trabalhar nas proposições.” (p.45). “A correção coletiva das questões também se constitui em importante exercício de socialização do conhecimento [...] entre os alunos, pois permite que compartilhem saberes e reflexões.” (p.45). “Na produção e redação de textos em grupo, os alunos podem ser orientados a seguir alguns passos como: ler, analisar e debater sobre o tema proposto; organizar os dados disponíveis; desenvolver a produção efetiva do texto, com introdução, desenvolvimento e introdução; ler o texto e, se necessário, reescrevê-lo.” (p.46). O trabalho de pesquisa “É importante trabalhar com os alunos o significado da pesquisa e interpretação das fontes ou documentos históricos, através de diferentes atividades de ensino que revelem o estudo e a compreensão dos fatos históricos a partir do enfoque e da leitura que se faz deles, É fundamental que eles superem a noção de que um documento , seja qual for a sua origem, nos traduz uma visão acabada de um acontecimento.” (p.46). “Para o desenvolvimento do ensino crítico e analítico do aluno, é necessário distinguir e considerar os dados, as informações, as opiniões e interpretações feitas sobre o documento histórico. Nesse processo é fundamental que o professor acompanhe e oriente cada fase da pesquisa levando à realização de um trabalho ou atividade que rompa com o vício de apenas copiar textos de livros. [...] É fundamental desenvolver a reflexão, a descoberta e a elaboração do conhecimento pelos alunos através de exposições orais, análises e debates do tema, propiciando a reelaboração a partir das pesquisas.” (p.46-47). A possibilidade do trabalho com o jornal na sala de aula “A atividade com jornal em sala de aula pode variar de acordo com a série dos alunos. O jornal retrata [...] o universo do aluno e o cotidiano da localidade, que vai possibilitar [...] um importante mecanismo para o desenvolvimento de sua formação como leitor.” (p.48). “A metodologia de trabalho com jornais em sala de aula pode ser desenvolvida em várias etapas: 1ª etapa – Distribuir o jornal entre os alunos, deixando que folheiem [...]. [...] O objetivo desta etapa é colocar os alunos em contato com este meio de comunicação. 2ª etapa – [...] após distribuir os jornais o professor pode conduzir uma atividade de exploração da composição de um jornal, verificando com os alunos[...]: periodicidade; [...] utilidades do jornal; [...] recortes de imagens [...] fotos ou mapas e em grupo fazer novas montagens e textos, criando novas notícias. 3ª etapa – Em uma nova etapa, o professor pode explorar diferentes tipos de jornal [...] e os alunos podem comparar: nome, seções [...] e também estabelecer comparações entre [...] títulos, tratamento dispensado às mesmas notícias, [...] anúncios publicitários, etc.” (p.48-49). “As atividades com jornal possibilitam um trabalho integrado com outras disciplinas, uma vez que exigem do aluno o entendimento de palavras no seu contexto [...]. [...] A leitura de gráficos, de índices, assim como [...] dos artigos [...] podem ser utilizados como recurso didático pelo professor.” (p.49). A dinâmica de debates “As situações de debate e a troca de opiniões através da leitura de textos produzidos pelos alunos são sugeridas [...] como uma possibilidade de socialização e melhoria do aprendizado. Através dos debates e das apresentações orais podem ser trabalhadas as capacidades de falar, ouvir e argumentar. Sugerimos [...] que a prática seja [...] planejada pelo professor e as regras definidas e explicadas [...] para que todos possam participar e para que a atividade seja produtiva, considerando o tempo disponível, o respeito às diversas opiniões e os objetivos propostos para a dinâmica de trabalho.” (p.49). Entrevistas “As atividades que recorrem a conversas e entrevistas são importantes, pois auxiliam no conhecimento da história uns dos outros, no diálogo com a família e com as pessoas mais velhas, levando assim à percepção da história de vida e das memórias. [...] As entrevistas podem ser uma boa oportunidade para os alunos perceberem que existem diferentes formas de compreender uma mesma realidade,estabelecendo um confronto entre os ponto de vista.” (p.50). “Além do conhecimento obtido através deste trabalho de resgate da memória e do conceito de interpretação dos fatos, o professor pode comentar sobre a importância das vivências em família e de como elas podem variar no tempo e entre os grupos humanos, auxiliando.” (p.50). Visita a museus “Para atingir o caráter de uma atividade externa como a visitação a um museu, é fundamental seguir alguns passos. Primeiramente é necessário entender os objetivos propostos pelas atividades que serão então desenvolvidas, propiciando dessa forma não apenas uma visita, mas a busca de novas interpretações para o mesmo.” (p.51). Quando visitamos um museu entramos [...] em contato com uma exposição [...] de objetos [...]. [...] Entre os itens apresentados pelos museus para orientação durante a visitação monitorada está a explicação e a compreensão de como ocorre a pesquisa do material apresentado, possibilitando assim uma leitura crítica da exposição. [...] O professor deve desenvolver seu próprio roteiro de visita, focando os aspectos ligados ao tema de seu trabalho em sala de aula. Sugerimos [...] alguns procedimentos [...] para a realização da visita ao museu ou a outra exposição: Definir os objetivos; Selecionar o museu ou a exposição mais adequada para trabalhar o tema escolhido; [...] Verificar as atividades educativas disponíveis [...]; [...] visitação com enfoque no conteúdo e nos conceitos que estão sendo estudados; Elaborar atividades de continuidade à visita, como: [...] relatório [...] e autoavaliação dos alunos sobre sua participação durante a visita.” (p.51-52). Confecção de maquetes “A confecção de maquetes é uma atividade em que os alunos se envolvem bastante, o que melhora significativamente a aprendizagem e o interesse pelo tema trabalhado. [...] Após escolher o aspecto que será retratado na maquete, os alunos vão enriquecer seu conhecimento sobre o tema através de pesquisas em outras fontes como bibliotecas, pinturas [...]. Seguido da realização das pesquisas os alunos devem debater em grupo sobre o tema, contextualizar [...] produzir [...] texto, com o objetivo de tornar o trabalho [...] o mais concreto possível.” (p.52). “Com alguma antecedência, o professor deve pedir para que os alunos separem materiais como caixas, [...] embalagens, [...] ou qualquer outro material que possa ser utilizado na confecção da maquete [...]. [...] Por se tratar de uma atividade coletiva, é fundamental que todos trabalhem na sua execução e que exista planejamento [...]. [...] A realização de uma avaliação conjunta sobre a execução [...] além da avaliação sobre os conhecimentos obtidos, ajuda a dimensionar a atividade realizada.” (p.52).