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Capítulo I NOÇÕES GERAIS DE ECONOMIA Passos, Carlos Roberto Martins, 1951- Princípios de economia / Carlos Roberto Martins Passos, Otto Nogami. São Paulo Pioneira Thomson Learning, 2002. ( Biblioteca de administração e negócios) PRÓLOGO Os assuntos de natureza econômica têm atormentado, desde remotas épo- cas, reis, imperadores, presidentes, ministros, políticos, filósofos, leigos, enfim, os mais variados tipos de pessoas. Isso porque princípios e práticas econô- micas têm, ao longo do tempo, moldado a vida diária dos cidadãos e, por conseguinte, da sociedade. Atualmente, conhecimento sobre assuntos econômicos se faz mais neces- sário do que nunca, uma vez que a Economia está atrelada à maior parte dos complexos problemas das sociedades modernas, tais como o desemprego, a inflação, a pobreza, a questão do meio ambiente e o papel do governo no controle da atividade econômica, a globalização, problemas esses que afetam a todos. Entretanto, apesar de a maioria das pessoas participar de atividades de natureza econômica, poucos possuem conhecimento a respeito de Economia. Não obstante, a cada dia que passa somos solicitados a dar opinião sobre fatos econômicos, quer por meio do voto, quer participando de discussões nas escolas, nos lares, etc. Esse é, sem dúvida, o grande motivo pelo qual devemos estudar Econo- mia. seu estudo nos proporcionará um conjunto de conhecimentos que nos ajudará a formar opiniões sobre os grandes problemas de nosso tempo, tornan- do-nos cidadãos de fato em nossa sociedade.CARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 5 1 PROBLEMA DA ESCASSEZ Em Economia, por sua vez, estudamos as maneiras pelas quais os diferentes tipos de sistemas econômicos administram seus limitados recursos A escassez é o problema econômico central de qualquer sociedade. Não com a finalidade de produzir bens e serviços objetivando satisfazer as houvesse escassez não haveria necessidade de se estudar Economia. necessidades da população. "Se objetivo é o de atender ao máximo as Mas, por que existe a escassez? ilimitadas necessidades da população e se os recursos são limitados, então A escassez existe porque as necessidades humanas a serem satisfeitas a administração desses recursos tem que ser feita de maneira cuidadosa, através do consumo dos mais diversos tipos de bens (alimentos, roupas, casas econômica (parcimoniosa), racional e eficiente." Em outras palavras, temos etc.) e serviços (transporte, assistência médica etc.) são ilimitadas, ao passo que que "economizar" recursos. os recursos produtivos (máquinas, fábricas, terras agricultáveis, matérias-pri- mas etc.) à disposição da sociedade, e que são utilizados na produção dos mais diferentes tipos de produtos são insuficientes para se produzir o volume de 3 o QUE É UM "SISTEMA bens necessários para satisfazer as necessidades de todas as pessoas. O fenômeno da escassez está presente em qualquer sociedade, seja ela rica Sistema econômico é a forma como a sociedade está organizada para ou pobre. É verdade que para países como os Estados Unidos e a Suécia ela não desenvolver as atividades econômicas de produção, circulação, distribuição e é um problema tão grave como para a Somália e a Etiópia, em que sequer as consumo de bens e serviços. necessidades básicas da população são satisfeitas. Mesmo assim, a escassez Toda economia opera segundo um conjunto de regras e regulamentos. continua sendo um problema uma vez que as aspirações das pessoas por bens Exemplificando, as empresas devem ter licenças específicas a fim de que pos- e serviços em geral superam a quantidade de bens e serviços produzidos pela sam produzir e vender seus produtos, os trabalhadores devem ser registra- sociedade. dos em carteira, os economistas, a fim de que possam exercer sua profissão Da dura realidade da escassez decorre a necessidade da escolha. Já que não devem ser formados em escolas oficialmente reconhecidas, além de terem de ser se pode produzir tudo o que as pessoas desejam, devem ser criados mecanis- filiados ao órgão de classe (no caso, o Conselho Regional de Economia mos que de alguma forma auxiliem as sociedades a decidir quais bens serão CORECON). Faz-se o mesmo tipo de exigência para os profissionais de diversas produzidos e quais necessidades serão atendidas. categorias tais como médicos, engenheiros, advogados etc. Pelo exposto, podemos então dizer que a escassez é a preocupação básica Essas são apenas algumas das muitas regras existentes em nossa economia. da Ciência Econômica. Somente devido à escassez de recursos em relação às Assim, todas as leis, regulamentos costumes e práticas tomados em conjunto, e ilimitadas necessidades humanas que devem ser atendidas é que se justifica a suas relações com os componentes de uma economia (empresas, famílias que preocupação de utilizá-los da forma mais racional e eficiente quanto possível. são unidades domiciliares de consumo e governo) constituem um "Sistema 2 QUE É ECONOMIA? 4 POR QUÊ A ECONOMIA É CONSIDERADA UMA "CIÊNCIA SOCIAL"? Uma vez entendido o sentido econômico da escassez, podemos passar para a definição de Economia. Em termos etimológicos a palavra "economia" vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei). Teríamos, então, a palavra A Economia é considerada uma Ciência Social porque a ciências sociais oikonomia que significa a "administração de uma unidade habitacional estudam a organização e funcionamento da sociedade. A Sociologia, a Antropo- (casa)" podendo também ser entendida como "administração da coisa logia, a Psicologia, e as Ciências Políticas são ciências sociais, uma vez que cada pública" ou de um Estado. qual estuda o funcionamento da sociedade a partir de um determinado ponto Assim, quando nos referimos a uma pessoa dizendo que ela é econômica, de vista. A Economia ocupa-se do comportamento humano, e estuda como as estamos querendo dizer que ela é cuidadosa e parcimoniosa no gasto de dinhei- pessoas e as organizações na sociedade se empenham na produção, troca e consumo de bens e serviços. ro ou na utilização de materiais, ou seja, que ela é cuidadosa na administração dos seus recursos. Na realidade, existem muitas definições da Economia como ciência, e elas têm evoluído ao longo da história, desde as primeiras escolas econômicas,CARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 7 6 datadas do século XVIII, até o presente. Vejamos, então, as definições de três 5 RACIOCINANDO COM TEORIAS E MODELOS autores contemporâneos: Myron H. Umbreit, Elgin F. Hunt e Charles V. Kinter:¹ 5.1 Teorias e Modelos "A economia é estudo da organização social através da qual homens satisfazem suas Como qualquer outra ciência, a Economia preocupa-se com a previsão e a necessidades de bens e serviços escassos." explicação de fenômenos. Para tanto, utiliza-se de teorias. E o que significa construir teorias? Stonier e Hague:² Em economia, construir teorias significa extrair conhecimentos sobre o funcionamento do sistema econômico. Uma teoria pode ser apresentada sob a forma de um modelo. Um mo- "Não houvesse escassez nem necessidade de repartir os bens entre os homens, não existi- delo é a representação simplificada da realidade ou das principais ca- riam tampouco sistemas econômicos nem Economia. A Economia é, fundamentalmente, o racterísticas de uma teoria. Ele é composto por um conjunto de relações que estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes." podem ser expressas sob a forma de palavras, diagramas, tabelas de dados, gráficos, equações matemáticas ou qualquer combinação desse elementos, o Paul A. Samuelson:³ que possibilita a simulação de fenômenos, observados empiricamente ou não. Imaginemos, como exemplo, um guia da cidade de São Paulo. De certa "A economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade decidem empregar recursos forma, esse guia nada mais é do que um mapa e é útil porque simplifica. Ele nos escassos, que poderiam ter utilizações alternativas, para produzir bens variados e para os distribuir para consumo, agora ou no futuro, entre várias pessoas e grupos da sociedade." mostra as ruas da cidade, as mãos existentes, as linhas de ônibus, por onde tais ônibus circulam, etc., de tal forma que um indivíduo consegue, a partir das informações nele contidas orientar-se, ir de um ponto a outro da cidade poden- Depreende-se dessas definições que a Economia é uma Ciência Social que do, inclusive, prever o tempo necessário para efetuar seus deslocamentos. Esse tem por objetivo de estudo a questão da escassez. guia (ou modelo), entretanto, não mostra determinados aspectos da cidade Cabe, então, à Ciência Econômica, através do seu corpo teórico fornecer porque a maneira pela qual foi desenhado, omitindo certos detalhes, faz com respostas, ainda que parciais, para questões do tipo: que ele ganhe clareza em função da finalidade para a qual foi produzido, que é O que é inflação? Quais suas causas? Como baixá-la? a de orientar pessoas em seus deslocamentos pela cidade. Se mostrasse cada Por que existe uma distribuição tão desigual de renda? Como minorar prédio, cada casa, cada semáforo existente, haveria uma confusão incompreen- sível de detalhes, o que tornaria o guia inútil. esse problema? que é desemprego? Por que ocorre esse fenômeno? Como fazer para Um modelo é mais fácil de manipular do que a realidade representada por ele, uma vez que apenas as características relevantes ou as propriedades impor- que o nível de emprego aumente ? tantes da realidade são nele retratadas. Em outras palavras, uma teoria, ou um Qual o papel do Governo no bem-estar da população? modelo denotam aproximadamente, e não exatamente os fatos observados, Como se determinam os preços? uma vez que são simplificações da realidade. que determina a existência de relações econômicas internacionais? 1. Umbreit, Myron, Hunt, Elgin F. & Kinter, Charles V. Economics Na "Introduction 5.2 Métodos de Análise to principles and Nova York, McGraw-Hill, 1957. 2. Stonier, Alfred W. & Hague, Douglas C. Teoria Econômica, Rio de Janeiro, Zahar, Os métodos científicos caracterizam-se pelo raciocínio lógico e classificam- 1971. 3. Samuelson, Paul Anthony, Nordhaus, William D. Economia. ed. Portugal, 1988. se em Indutivo e Dedutivo.CARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 9 8 5.2.1 Método Indutivo "juízos de valor" sobre o que deve ser, tais argumentos não podem ser confron- tados com fatos objetivos da realidade. Vejamos, então, um exemplo: É um método de raciocinar que parte de fatos particulares para se chegar a conclusões gerais. Aprendemos pela experiência do dia a dia, ao classificar eles "O combate ao desemprego deveria ser uma prioridade em relação ao combate da inflação". observações ou fatos específicos e, em seguida, ao descobrir de que modo nos levam a uma generalização. Vejamos, então, um exemplo: Assim, se duas pessoas estiverem discutindo sobre desemprego e inflação pode ser que, dependendo do que cada uma pensa em relação ao assunto, não "O sol se levantou hoje. consigam chegar a um acordo sobre o mesmo. sol tem se levantado todos os dias. Quanto à análise econômica, propriamente dita, a análise econômica positiva Por conseguinte, o sol se levantará tem por objetivo maior a compreensão e previsão dos fenômenos econômicos do mundo real, sem que haja qualquer intenção de julgar essa realidade, ou de alterar o curso dos acontecimentos. Já a análise econômica normativa preocupa-se em compreender e prever a realidade, tendo por meta atingir determinados 5.2.2 Método Dedutivo objetivos. Para tanto, utiliza-se de formulação de políticas econômicas para É um método de raciocinar que parte de premissas gerais para conclusões intervir no mundo real. específicas. Tais premissas são afirmações que, acredita-se, sejam verdadeiras para um problema em particular. Vejamos, então, um exemplo: 6 ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS "Toda empresa tenta maximizar o lucro. A IBM é uma empresa. Logo, ela tenta maximizar seu lucro". 6.1 Necessidades Humanas É importante notar que uma conclusão pode ser válida sem que seja Entende-se por necessidade humana a sensação da falta de alguma coisa necessariamente verdadeira. unida ao desejo de satisfazê-la. Sabemos, por experiência própria, que as pessoas necessitam de ar, água, alimentos, roupas e abrigo para que possam sobreviver. Sabemos, também, que não há limite à variedade e número das necessidades humanas. 5.3 A Distinção entre Argumentos Positivos e Normativos Para exemplificar, suponhamos, que o leitor seja presenteado com uma "Lâmpada de Aladim" capaz de atender todos os seus desejos. Se o leitor for Os "argumentos" que compõem a teoria econômica classificam-se em um cidadão que tenha um padrão de comportamento semelhante ao da maioria "positivos" e "normativos". das pessoas, com certeza irá imediatamente preparar uma lista impressionante Os argumentos positivos procuram entender e explicar os fenômenos de coisas que deseja. econômicos como eles realmente são; assim, qualquer rejeição a esses argumen- E o que conterá tal lista? tos pode ser confrontada com a realidade. Vejamos, então, um exemplo: Inicialmente, talvez o leitor deseje coisas materiais. Por exemplo, roupas mais finas e variadas de grifes sofisticadas e caras, que jamais sonhou possuir; "São Paulo é o primeiro estado na produção industrial brasileira." por certo, também desejará melhores tipos de alimentos, comparativamente àqueles que esteja habituado a consumir. E esse seria apenas o começo, uma vez Assim, se duas pessoas discordarem em relação a essa questão, devem que seu apetite terá apenas sido despertado. Passará então a desejar uma estar em condições de dirimir a divergência à vista dos fatos. magnífica mansão, com belos jardins, piscinas, quem sabe até uma sauna e, na Os argumentos normativos, por sua vez, dizem respeito ao que "deveria garagem, os mais modernos tipos de carros, prontos para serem utilizados. ser". Os argumentos normativos são pontos de vista influenciados por fatores do Prosseguindo, com certeza também irá querer uma casa na praia, com todo o filosóficos, sociais e culturais; dependem de nossos julgamentos a respeito conforto que a vida moderna pode proporcionar e, é claro, um belo iate. que é certo e do que é errado, do que é bom e do que é ruim. Por envolverem Naturalmente, o leitor não se esquecerá de um avião e de um helicóptero, queCARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 11 10 certamente agilizarão seus deslocamentos, evitando que perca tempo ao se Podemos então dizer que as necessidades que podem ser satisfeitas com transportar de um lado para outro. Viajar, freqüentar restaurantes sofisticados bens que não podem ser produzidos ou com bens que não precisam ser produ- e badaladas casas noturnas figurarão, é claro, entre os desejos listados pelo zidos são denominadas de necessidades não-econômicas. leitor. fato é, que quanto mais desejar leitor, mais descobrirá coisas capazes Assim sendo, interessa ao economista o atendimento das necessidades de tornar a vida mais agradável, confortável, e por que não dizer, bela. humanas que possam ser satisfeitas por bens que não sejam gratuitos, mas que Entretanto, isso não é tudo. leitor poderá desejar também outras coisas o homem precisa fornecer. Essas necessidades são denominadas de necessida- pessoais e imateriais, e que são igualmente importantes em matéria de qualida- des econômicas e os bens que as satisfazem são chamados de "Bens Econômi- de de vida: sabedoria, autoconfiança, prestígio, paz, liberdade, amor. cos", e são aqueles que têm preço. Assim, se pedirmos para qualquer pessoa considerada "normal" por nossa sociedade uma lista do que desejaria ter ou ser, a extensão da lista ficaria além da nossa compreensão e cresceria dia a dia, desafiando a capacidade de contar 6.2 Bens e Serviços de qualquer um. Por essa razão é que os economistas dizem que as necessidades humanas são ilimitadas. De modo geral, pode-se dizer que Bem é tudo aquilo que permite satisfazer Além disso, não podemos nos esquecer de que as necessidades biológicas uma ou várias necessidades humanas. Por essa razão um bem é procurado: do ser humano renovam-se dia a dia, exigindo da sociedade a produção contí- porque é útil. nua de bens com a finalidade de atendê-las. Paralelamente, a perspectiva de Os bens são classificados, quanto à raridade, em Bens Livres e Bens elevação do padrão de vida e a evolução tecnológica fazem com que "novas" necessidades apareçam, o que demonstra o fato de que as necessidades huma- Os Bens Livres, como já dissemos no tópico anterior, são aqueles que nas são, realmente, ilimitadas. existem em quantidade ilimitada e podem ser obtidos com pouco ou nenhum Por essa razão sabemos que nem todas as necessidades humanas podem esforço humano. Nessa categoria estão a luz solar, o ar, o mar etc., que são bens ser satisfeitas. E é esse fato que explica a existência da economia, cabendo ao porque satisfazem necessidades, mas cuja utilização não implica em relações economista estudo do modo de satisfazer, tanto quanto possível, tais neces- de ordem econômica. A principal característica dos Bens Livres é a de que não possuem preço (têm preço zero). sidades. Os Bens Econômicos, ao contrário, são relativamente escassos e supõem a Por outro lado, sabemos que os economistas não se preocupam com ocorrência de esforço humano na sua obtenção. Tais bens apresentam como atendimento de todas as necessidades humanas, porque algumas delas situam- característica básica o fato de terem um preço. se além de sua habilidade, além do seu ramo de conhecimento. Entretanto, não lhes negam importância; simplesmente o atendimento desse tipo de necessida- Quanto à natureza, os Bens Econômicos são classificados em dois grupos: Bens Materiais, ou bens propriamente ditos, e Bens Imateriais ou Serviços. des é colocado além da Economia. Exemplificando, o amor e a sabedoria são necessidades extremamente importantes, mas sabemos que não fazem parte do Os primeiros são de natureza material sendo, portanto, tangíveis, e a eles campo de preocupação dos economistas, uma vez que ninguém é capaz de podemos atribuir características como peso, altura etc. Alimentos, roupas, li- vros etc. são exemplos de bens materiais. produzir bens capazes de satisfazê-las. Os Serviços, ao contrário, são intangíveis, ou seja, não podem ser tocados. Existe ainda um grupo de necessidades que podem ser satisfeitas por bens Fazem parte dessa categoria de bens os cuidados de um médico, os serviços de claramente identificáveis, mas que também estão fora da esfera de preocupação um advogado, os serviços de transporte etc., que acabam no mesmo momento dos economistas. São aquelas que todos os indivíduos satisfazem dispensando de sua produção. Isso significa que a prestação de serviços e sua utilização são a interferência de qualquer pessoa. Exemplificando, o desejo de respirar exige praticamente instantâneas. Outra característica dos bens imateriais é a de que o fornecimento da mercadoria "ar". Acontece que na terra o ar é "oferecido" eles não podem ser estocados. Exemplificando, pode-se estocar bilhetes de para todas as pessoas em quantidades maiores do que as desejadas por todos metrô que dão ao seu possuidor o direito de viajar nesse meio de transporte; as os indivíduos. Esses tipos de bens, que o homem não precisa prover são viagens de metrô, entretanto, que são a própria prestação de serviços, não chamados de "Bens Livres" (ou bens gratuitos), e não têm preço (ou seja, seu podem ser estocadas. preço é zero), não fazendo, portanto, parte do campo de preocupação dos Quanto ao destino, os Bens Materiais classificam-se em Bens de Consumo economistas. e Bens de12 CARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 13 Bens de Consumo são aqueles diretamente utilizados para a satisfação das trabalho, a terra, matérias-primas, combustíveis, energia e equipamentos são, necessidades humanas. Podem ser de uso não-durável, ou seja, que desapare- entre outros, exemplos de recursos produtivos. cem uma vez utilizados (alimentos, cigarros, gasolina etc.) ou de uso durável, que têm como característica o fato de que podem ser usados por muito tempo (móveis, eletrodomésticos etc.). 6.3.1 Classificação dos Recursos Produtivos Os Bens de Capital (ou Bens de Produção), por sua vez, são aqueles que permitem produzir outros bens. São exemplos de Bens de Capital as máquinas, Os Recursos Produtivos podem ser classificados em quatro grandes gru- computadores, equipamentos, instalações, edifícios etc. pos: Terra, Trabalho, Capital e Capacidade Empresarial. Tanto os Bens de Consumo quanto os Bens de Capital são classificados como Bens Finais, uma vez que já passaram por todos processos de transforma- 6.3.1.1 Terra (ou Recursos Naturais) ção possíveis, significando que estão acabados. Além dos Bens Finais existem ainda os Bens Intermediários, que são É o nome dado pelos economistas para designar os recursos naturais aqueles que ainda precisam ser transformados para atingir sua forma definiti- existentes, ou dádivas da natureza, tais como florestas, recursos minerais, va. Eles são produtos utilizados no processo de produção de outros produtos, recursos hídricos etc. Compreende não só o solo utilizado para fins agrícolas, sendo, também, classificados como bens de capital. A título de exemplo pode- mas também o solo utilizado na construção de estradas, casas etc. mos citar o fertilizante usado na produção de arroz, ou o aço, o vidro e a Na verdade, toda a natureza, a energia do Sol, os ventos, as marés, a borracha usados na produção de carros. gravidade da Terra, são utilizados na produção de bens econômicos. A utilidade Os bens podem ser classificados ainda em Bens Privados e Bens Públicos. desses elementos irá variar em função de fatores como facilidade de extração, Os Bens Privados são os produzidos e possuídos privadamente. Como refino e transporte. que devemos destacar é que a quantidade de recursos exemplo temos os automóveis, aparelhos de televisão etc. naturais, ou Terra, é limitada, até mesmo para as nações consideradas ricas. Os Bens Públicos referem-se ao conjunto de bens gerais fornecidos pelo setor público: educação, justiça, segurança, transportes etc. 6.3.1.2 Trabalho É o nome dado a todo esforço humano, físico ou mental, despendido na produção de bens e serviços. Assim, constitui trabalho no sentido econômico o 6.3 Recursos Produtivos serviço prestado por um médico, o trabalho de um operário empregado na construção civil, a supervisão de um gerente de banco, o trabalho de um Vimos, até agora, que as necessidades humanas são ilimitadas. agricultor no campo. Algumas são não-econômicas seja porque não podemos produzir bens que as tamanho da população estabelece para esse fator de produção um limite satisfaçam (necessidade de amor, por exemplo), seja porque não precisamos em termos de quantidade. Entretanto, importa também a qualidade do traba- produzir bens que as satisfaçam (necessidade de respirar, por exemplo). lho. Todos sabemos que duas pessoas que trabalham oito horas por dia não são, As necessidades remanescentes, que são as necessidades econômicas, ca- necessariamente, igualmente produtivas. Por essa razão, em qualquer país, a racterizam-se, também, por serem ilimitadas. A fim de satisfazê-las necessitaría- qualidade e o tamanho da força de trabalho são limitados, o que implica dizer mos de um conjunto infinitamente grande de bens econômicos. Isso, por seu que a quantidade total do recurso denominado Trabalho também o é. lado, exigiria um conjunto infinitamente grande de recursos capaz de produzir tais bens. Entretanto, essa quantidade infinita de recursos não existe. Levanta- 6.3.1.3 Capital (ou Bens de Capital) se daí o desafio que ser humano tem forçosamente de enfrentar: desafio da escassez. Pode ser definido como o conjunto de bens fabricados pelo homem e que Vejamos, agora, no que consistem tais recursos. não se destinam à satisfação das necessidades através do consumo, mas que são Os Recursos Produtivos (também denominados fatores de produção) são utilizados no processo de produção de outros bens. capital inclui todos os elementos utilizados no processo de fabricação dos mais variados tipos de edifícios, todos os tipos de equipamentos e todos os estoques de materiais dos mercadorias as quais, por sua vez, serão utilizadas para satisfazer necessidades. produtores, incluindo bens parcial ou completamente acabados, e que podemCARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 14 15 ser utilizados na produção de bens. Exemplos de capital são matérias-primas, 6.3.3 Remuneração dos Proprietários dos Recursos Produtivos computadores, máquinas, usinas, estradas de ferro, instalações fabris, mobiliá- rios de escritórios e todos os tipos de equipamentos utilizados na fabricação de Qualquer que seja a empresa agrícola, industrial ou de serviços neces- bens e serviços. sita, para operar, do concurso de recursos produtivos. Ela necessita por exem- É usual que, ao falarmos de capital, pensemos em coisas tais como dinhei- plo, de um pedaço de terra; necessita também de bens de capital, que são bens ro, ações, certificados etc. Tais instrumentos, entretanto, devem ser considera- utilizados para produzir outros bens; além disso, muitas vezes o empresário dos como Capital Financeiro e não constituem realmente riqueza e sim, direitos a ela. pode ter necessidade de dinheiro de terceiros para a compra de máquinas, Não haverá aumento de riqueza na sociedade se esses direitos de papel aumen- matérias-primas etc.; necessita, finalmente, de mão-de-obra ou força de traba- tarem sem que ocorra aumento correspondente de edifícios, equipamentos, lho para operar os bens de capital de modo a transformar os bens intermediá- estoques etc. rios em novos produtos. preço pago pela utilização dos serviços dos fatores de produção irá se constituir na renda dos proprietários desses fatores. De modo geral, diz-se que os indivíduos, ao fornecerem recursos produti- 6.3.1.4 Capacidade Empresarial vos, recebem na qualidade de trabalhadores salários; na de proprietários da terra e de seus recursos, aluguéis; na de capitalistas que emprestam dinheiro, juros e na de proprietários de empresas, os lucros. Alguns economistas consideram a "Capacidade Empresarial" como sendo também um fator de produção. Isto porque empresário exerce funções fundamentais para processo produtivo. É ele que organiza a produção, reunindo Remuneração dos Proprietários de Recursos e combinando demais recursos produtivos assumindo, assim, todos os Terra Aluguel riscos inerentes à elaboração de bens e serviços. É ele quem colhe os ganhos do sucesso (lucro) ou as perdas do fracasso (prejuízo). Em algumas empresas Trabalho Salário o empresário pode ter uma dupla função e ser também o gerente; em outras, Capital Juros tal fato não ocorre. De qualquer maneira, a função empresarial é necessária Capacidade Empresarial Lucro na economia. 6.3.2 Os Recursos Produtivos são Limitados 6.4 Agentes Econômicos De maneira geral, pode-se dizer que os recursos produtivos apresentam Agentes econômicos são pessoas de natureza física ou jurídica que, através de como característica básica o fato de serem limitados ou escassos, ou seja, não suas ações, contribuem para o funcionamento do sistema econômico. São eles: existem em quantidade suficiente para produzir todos os bens desejados pela a) as Famílias (ou unidades familiares); sociedade. Os recursos naturais, tais como recursos petrolíferos, terras adequa- das para agricultura etc. não existem em quantidades infinitas. Por essa razão, b) as Empresas (ou unidades produtivas); e até mesmo as nações mais ricas se ressentem da limitação de seus recursos c) Governo naturais. Da mesma forma, em dado período de tempo, a quantidade de capital disponível para a produção também é limitada pelo número de máquinas, As incluem todos os indivíduos e unidades familiares da econo- tratores, usinas, fábricas etc. existentes. Mesmo o trabalho, que é o fator de mia e que, no papel de consumidores, adquirem os mais diversos tipos de bens produção mais abundante e mais importante em qualquer sistema econômico, e serviços objetivando o atendimento de suas necessidades de consumo. Por está limitado pelo número e pela qualidade de pessoas disponíveis para essa outro lado, as famílias, na qualidade de "proprietárias" dos recursos produti- atividade. Isso tudo evidencia, como já dissemos, fato de que os recursos vos, fornecem às empresas os diversos fatores de produção: Trabalho, Terra, produtivos são limitados. Capital e Capacidade Empresarial.16 CARLOS ROBERTO M. PASSOS & OTTO NOGAMI PRINCÍPIOS DE ECONOMIA 17 Como pagamento elas recebem salários, aluguéis, juros e lucro e é com essa 6.6 Fluxos e Estoques renda que compram os bens e serviços oferecidos pelas empresas. Tanto na compra desses bens como na venda dos serviços dos fatores de produção, as decisões da unidade econômica familiar são guiadas pelo propósito de maximi- Geralmente, em Economia, tratamos de coisas que podem ser mensuradas. Podemos, a título de exemplo, mensurar o preço de um produto, o volume de zar a satisfação das necessidades. mercadorias produzido por uma fábrica ou o número de pessoas empregadas As Empresas são unidades encarregadas de produzir e/ou comercializar em um país. bens e serviços. A produção é realizada através da combinação dos fatores Definiremos, então, como variável qualquer mensuração capaz de variar. produtivos adquiridos juntos às famílias. Tanto na aquisição de recursos produ- Assim o preço de um produto será considerado variável se puder aumentar ou tivos quanto na venda de seus produtos, as decisões das empresas são guiadas diminuir, ou seja, caso não seja tabelado; da mesma forma, a produção de uma pelo objetivo de se conseguir o máximo lucro. fábrica será considerada variável se puder expandir-se ou contrair-se; ou ainda, Governo, por sua vez, inclui todas as organizações que, direta ou indi- nível de emprego será considerado uma variável caso o número de pessoas retamente, estão sob o controle do Estado, nas suas esferas federais, estaduais e empregadas possa sofrer uma elevação ou um decréscimo. Devemos observar municipais. Muitas vezes o governo intervém no sistema econômico atuando também que o fato de essas magnitudes serem variáveis não implica que como empresário e produzindo bens e serviços através de suas empresas esta- deverão mudar, mas apenas que podem mudar. tais, como por exemplo, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos EBCT; Faremos, agora, a distinção entre variáveis fluxo e variáveis estoque. em outras, ele age como comprador quando, além de contratar serviços, As variáveis fluxo são medidas dentro de intervalos de tempo. As variá- adquire materiais, equipamentos etc. tendo em vista a realização de suas veis estoque, por sua vez, são medidas em pontos (ou momentos, ou instantes tarefas; outras vezes, ainda, o governo intervém no sistema econômico por meio específicos) do tempo. de regulamentos e controles com a finalidade de disciplinar a conduta dos Para o entendimento adequado desses conceitos, vamos considerar alguns demais agentes econômicos. exemplos. Experimentemos, então, perguntar a um indivíduo o quanto ele gasta em bens e serviços, ou o quanto ele ganha. A resposta terá de vir acompa- nhada de uma dimensão temporal, senão carecerá de sentido. Assim, se a 6.5 Mercado pergunta for feita em termos mensais, o indivíduo poderá responder que ele gasta 400,00 em bens e serviços por mês, ou que ganha R$ 600,00 por mês. Entendemos por mercado um local ou contexto em que compradores (o Esses valores foram medidos em um período de tempo (um mês) sendo, por- lado da procura) e vendedores (o lado da oferta) de bens, serviços ou recursos tanto, variáveis fluxos. estabelecem contato e realizam transações. Experimentemos agora perguntar a esse mesmo indivíduo qual a sua lado dos compradores é constituído tanto de consumidores, que são riqueza em determinada data, por exemplo, em 31/12/1996. A resposta poderá compradores de bens e serviços quanto de empresas, que são compradoras de ser a seguinte: 200,00 em dinheiro, $ 300,00 em títulos e R$ 400,00 em ativos recursos (trabalho, terra, capital e capacidade empresarial) utilizados na produ- físicos, perfazendo um total de $ 900,00. Todos esses ativos foram medidos em um ponto no tempo sendo, portanto, variáveis estoques. ção de bens e serviços. Já o lado dos vendedores é composto pelas empresas, que vendem bens e Objetivando o entendimento adequado desses conceitos, vamos exem- serviços aos consumidores e pelos proprietários de recursos (trabalho, terra, plificar ainda mais. Imaginemos, então, um indivíduo que mantenha um certo capital e capacidade empresarial) que os vendem (ou arrendam) para as empre- número de cervejas na geladeira. A quantidade de cervejas existentes na geladeira é uma variável estoque. Devemos observar que o estoque pode sas em troca de remuneração (salários, aluguéis etc.). Para fins de análise econômica o conceito de mercado não implica, neces- variar de um dia para o outro, ou de uma semana para outra, mas em qualquer momento o indivíduo poderá abrir a geladeira e contar quantas sariamente, na existência de um lugar geográfico em que as transações se realizem. Na realidade, as mercadorias são vendidas segundo os mais diferen- garrafas tem, se duas, se 6, 8 ou qualquer outro número. Por outro lado, se perguntarmos quantas cervejas ele bebe, sua resposta, para ter sentido, deverá tes dispositivos institucionais tais como feiras, lojas, bolsas de valores etc., vir acrescida de uma dimensão temporal. Assim, ele poderá responder que podendo o termo mercado aplicar-se a qualquer um deles, bastando para isso bebe duas, 6 ou 8 cervejas intervalo de uma semana (ou por semana). que compradores e vendedores de qualquer bem, serviço ou recurso entrem em Logo, a quantidade de cervejas que indivíduo do nosso exemplo bebe contato para comercializá-lo. semanalmente é uma variável fluxo.

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