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I PROVA DE BROMATOLOGIA por Isadora T. Quintino O que são os alimentos? “É toda substância ou mistura de substâncias, no estado sólido, líquido e pastoso destinadas a fornecer ao organismo humano os elementos (nutrientes) necessários à sua formação, manutenção e desenvolvimento” Decreto de Lei N°986 de 21 de outubro de 1969. Ex: Quando você come uma banana, está ingerindo carboidratos (fonte de energia), vitaminas e minerais. Os alimentos são compostos por nutrientes e outras substâncias químicas que cumprem papéis específicos no corpo. O que são nutrientes? São substâncias químicas que, quando consumidas, têm três principais funções: ➔ Fornecem energia ➔ Ajudam no crescimento e desenvolvimento: as proteínas, por exemplo, formam músculos, enzimas e hormônios. ➔ Mantêm a saúde e a vida: vitaminas e minerais regulam reações químicas e protegem o corpo. Quando há carência de nutrientes, o organismo mostra alterações químicas ou fisiológicas, como fadiga, queda de cabelo, anemia etc. Tipos de nutrientes Eles são divididos em macronutrientes e micronutrientes. 🍞 Macronutrientes São necessários em grande quantidade e fornecem energia. Incluem: ➔ Carboidratos: principal fonte de energia (ex: pães, massas, frutas); ➔ Proteínas: essenciais para construção e reparo dos tecidos (ex: carne, ovos, leguminosas); ➔ Lipídios (gorduras): reserva energética e composição de membranas celulares (ex: azeite, castanhas). Ex: Um prato com arroz, feijão e frango contém todos os macronutrientes: carboidrato (arroz), proteína (frango) e lipídio (óleo usado no preparo). 🧂 Micronutrientes Necessários em pequenas quantidades, mas fundamentais para o equilíbrio do corpo. Incluem: ➔ Vitaminas: regulam reações metabólicas (Ex: vitamina C, B12, D...); ➔ Minerais: participam de funções estruturais e químicas (Ex: cálcio nos ossos, ferro no sangue). Ex: A falta de ferro causa anemia. Classificação dos nutrientes nos alimentos: Classificação Função ou categoria Descrição Energética Relaciona-se à produção de energia para o funcionament o do corpo. Ex: carboidratos e lipídios. Específicas Plástica Envolve a formação e o reparo de tecidos corporais, como músculos e órgãos. Ex: proteínas. Reguladora Atua na regulação das funções vitais e metabólicas do organismo. Ex: vitaminas e minerais. Prazer Ligada à sensação agradável e satisfação ao se alimentar. Ex: alimentos doces ou saborosos. Paraespecífic as Saciedade Refere-se à sensação de estar satisfeito, controlando a fome. Ex: alimentos ricos em fibras e proteínas. Imunização Relaciona-se ao fortalecimento do sistema imunológico. Ex: alimentos com antioxidantes e vitaminas. Fisiológica Envolve efeitos diretos no funcionament o do corpo, como digestão e metabolismo. Ex: probióticos, fibras e água. Alimentos funcionais e nutracêuticos: 🍓 Alimentos funcionais: Segundo o Ministério da Saúde são aqueles que fazem parte da alimentação diária e que, devido ao seu valor nutritivo e constituição química, melhoram o estado de saúde e reduzem o risco de doenças. Ou seja: são alimentos comuns (não pílulas ou cápsulas), mas que têm efeito benéfico comprovado no organismo. Ex: ➔ Iogurte com probióticos → melhora a flora intestinal. ➔ Aveia → ajuda a controlar o colesterol. ➔ Peixes ricos em ômega-3 → coração. OBS: Eles não tratam doenças, mas ajudam a preveni-las. 💊 Nutracêuticos: O termo vem da junção de “nutriente” + “farmacêutico” e são alimentos ou partes de alimentos que trazem benefícios à saúde e ajudam na prevenção ou tratamento de doenças, sendo administrados em forma farmacêutica, como cápsulas ou comprimidos. (10 pastilhas de coenzima q10 não é refeição tá Miss e Lara? #Melhorem) Ex: ➔ Cápsulas de óleo de peixe (ômega-3 concentrado); ➔ Suplementos colágeno. 💡 Licopeno O licopeno, exemplo de nutracêutico, é um carotenóide, pigmento natural que dá cor vermelha a frutas como tomate, melancia e goiaba. Ele tem forte ação antioxidante, combatendo os radicais livres (moléculas que causam envelhecimento celular e podem levar a doenças crônicas). No artigo que a professora colocou no slide fala que o consumo frequente de molho de tomate cozido (que libera mais licopeno) está associado à redução do risco de câncer de próstata e doenças cardiovasculares. O que é Bromatologia? A Bromatologia é a ciência que estuda os alimentos, incluindo: ➔ Sua composição química; ➔ Ação no organismo; ➔ Valor calórico; ➔ Suas propriedades físicas, químicas, toxicológicas, biológicas e sensoriais (como sabor, textura, cor e odor); ➔ Métodos de análise usados para avaliar qualidade e segurança. Ela analisa tudo o que compõe um alimento, desde nutrientes até contaminantes, aditivos e conservantes. A bromatologia se relaciona diretamente com: ➔ Química: identifica os componentes e suas reações nos alimentos; ➔ Biologia e microbiologia: estuda micro-organismos que causam deterioração ou doenças; ➔ Nutrição: avalia o valor nutritivo dos alimentos; ➔ Saúde pública: garante segurança alimentar e prevenção de intoxicações. Ela também é essencial na indústria de alimentos, vigilância sanitária e pesquisa de novos produtos alimentares. O papel do biomédico na bromatologia: De acordo com o Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), o biomédico pode atuar em: ➔ Controle de qualidade de alimentos e bebidas; ➔ Análises laboratoriais para verificar contaminações, adulterações ou composição; ➔ Pesquisa e desenvolvimento de novos produtos alimentares; ➔ Inspeção sanitária e boas práticas de fabricação. Ex: Um biomédico pode analisar amostras de queijos artesanais para verificar se estão livres de microrganismos patogênicos e se seguem padrões de segurança alimentar. ____________ Como os alimentos são classificados? → Classificação dos alimentos quanto sua origem natural: 🍖 Alimentos de origem animal: derivados de animais, como carne, leite, ovos, peixe e mel. Ex: carne bovina, frango, leite e derivados, ovos, manteiga. 🍚 Alimentos de origem vegetal: provenientes de plantas, como frutas, legumes, verduras, grãos e sementes. Ex: feijão, arroz, milho, banana, alface, soja. 🧂 Alimentos de origem mineral: vêm do meio inorgânico, sem origem vegetal ou animal. Ex: água, sal, alguns tipos de minerais comestíveis. → Classificação dos alimentos quanto ao processamento: Essa é uma das classificações mais importantes e segue o modelo do Guia Alimentar do Ministério da Saúde, que divide os alimentos em quatro grupos principais: 🥦 In natura: obtidos diretamente da natureza, sem qualquer modificação industrial. Ex: frutas frescas, verduras, ovos, leite cru, carnes frescas. 🍼 Minimamente processados: passam por pequenos processos físicos (como lavagem, moagem, pasteurização, congelamento ou embalagem), mas sem adição de ingredientes. Ex: arroz polido, legumes embalados, leite pasteurizado, frutas congeladas. OBS: O processamento serve apenas para facilitar o consumo e aumentar a durabilidade sem mudar sua composição essencial. 🧈 Ingredientes culinários processados: São substâncias extraídas de alimentos in natura por processos físicos simples, como prensagem, moagem, trituração ou centrifugação. Servem para temperar, cozinhar e preparar alimentos. Ex: sal, açúcar, óleos vegetais, manteiga, azeite. OBS: Esses ingredientes devem ser usados em pequenas quantidades, pois sozinhos não fornecem nutrição adequada. 🧀 Alimentos processados: Feitos a partir de alimentos in natura ou minimamente processados, comadição de ingredientes do grupo anterior (sal, açúcar, óleo, etc). O objetivo é aumentar a durabilidade e melhorar o sabor. Ex: queijos, pães, frutas em calda, conservas, carnes salgadas (como presunto ou peixe salgado). OBS: Esses produtos ainda mantêm a base do alimento original, mas já sofrem mudanças no valor nutricional, geralmente com mais sódio, açúcar ou gordura. 🥤 Alimentos e bebidas ultraprocessados: São formulações industriais complexas feitas de substâncias extraídas ou sintetizadas a partir de alimentos naturais, como açúcares, óleos, amidos modificados e proteínas isoladas. ➔ Possuem aditivos químicos (corantes, aromatizantes, emulsificantes, conservantes) para dar textura, sabor e aparência atrativos; ➔ São altamente palatáveis, duráveis e convenientes, mas nutricionalmente pobres. Ex: refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos, macarrão instantâneo, salsicha, nuggets, produtos “sabor morango” etc. → Classificação dos alimentos quanto o tipo predominante de nutriente: 🍠 Energéticos: São responsáveis por fornecer energia para as atividades corporais. ➔ Principais nutrientes: carboidratos e lipídios. Ex: arroz, massas, pães, óleo, manteiga, açúcar, batata. 🥚 Plásticos ou construtores: formam e reparam tecidos (como músculos, pele e órgãos). ➔ Principal nutriente: proteínas. Ex: carnes, ovos, leite, feijão, soja. Reguladores ou protetores: regulam as funções do corpo e protegem contra doenças. ➔ Nutrientes principais: vitaminas, minerais e água. Ex: frutas, verduras, legumes, água mineral. Uma alimentação equilibrada deve incluir os três tipos, energéticos, plásticos e reguladores. 💡 Apesar das alegações publicitárias (rico em fibras, com vitaminas, fit), a porcentagem de alimentos naturais é mínima ou inexistente. A indústria os desenvolve buscando lucro, praticidade e apelo sensorial extremo, o que os torna muito consumidos, mas prejudiciais à saúde se ingeridos em excesso. → Classificação dos alimentos quanto a preservação e durabilidade: Os alimentos também podem ser categorizados segundo a necessidade de conservação: 🍒 Perecíveis: ➔ Estragam rapidamente. ➔ Necessitam de refrigeração ou congelamento. Ex: carnes, leite, frutas frescas, verduras, queijos. 🥕 Semi-perecíveis: ➔ Duram um pouco mais, mas também requerem condições específicas. ➔ Passam por algum método de conservação, como secagem, adição de sal ou açúcar. Ex: pães, batata, cenoura, frutas secas. 🥫 Não perecíveis: ➔ Contêm pouca umidade, o que impede a multiplicação de microrganismos. ➔ Podem ser armazenados à temperatura ambiente por longos períodos. Ex: arroz, feijão, farinhas, açúcar, macarrão seco, enlatados. ____________ Rotulagem e tabela nutricional: A rotulagem de alimentos é um instrumento de saúde pública. Ela garante transparência sobre o que consumimos, permitindo ao consumidor: ➔ Fazer escolhas conscientes, ➔ Compreender a origem e composição do alimento, ➔ Identificar suas características nutricionais, ➔ Rastrear o produto até o fabricante. Em resumo, o rótulo traz informações que ajudam a avaliar sua qualidade, segurança e valor nutricional. Conceitos importantes: → Rotulagem nutricional: É toda informação declarada no rótulo com o objetivo de informar as propriedades nutricionais de um alimento. Inclui: ➔ Tabela de informação nutricional (geralmente no verso ou lateral da embalagem); ➔ Rotulagem nutricional frontal (selos visuais de alerta); ➔ Alegações nutricionais (como “rico em fibras”, “sem açúcar”, “fonte de ferro”). 💡 As alegações (como “sem adição de açúcar”, “rico em cálcio”, “light”, “fit”) são opcionais, mas reguladas. Para usá-las, a empresa deve cumprir os critérios da legislação (Anexos XX e XXI da IN nº 75). Exemplo: Um produto só pode declarar “fonte de fibra” se realmente possuir pelo menos 2,5 g de fibra por porção. → Rotulagem nutricional frontal É a declaração padronizada e simplificada que aparece no painel principal da embalagem, indicando se o produto tem alto teor de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio. É o que facilita uma leitura rápida, sem precisar analisar toda a tabela. Informações obrigatórias no rótulo: De acordo com as normas da ANVISA, todo rótulo de alimento embalado deve conter: 1. Nome do produto (Ex.: “Biscoito sabor chocolate”); 2. Medida caseira correspondente à porção (Ex.: 1 unidade = 30g); 3. Lista de ingredientes em ordem decrescente de quantidade; 4. Peso líquido (em gramas ou mililitros); 5. Prazo de validade; 6. Número do lote; 7. Identificação do fabricante/origem (nome, CNPJ, endereço). Legislação e órgãos responsáveis O órgão responsável por regulamentar e fiscalizar rotulagem de alimentos no Brasil é a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O Brasil foi pioneiro mundial na adoção da rotulagem, com o Decreto-Lei nº 986, de 21 de outubro de 1969, que já previa a rotulagem obrigatória para alimentos embalados. ⚖ Principais legislações: ➔ Portaria nº 42 (1998) – primeiros regulamentos de rotulagem. ➔ RDC nº 259 (2002) – define o regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos embalados. ➔ RDC nº 360 (2003) – torna obrigatória a rotulagem nutricional, definindo a tabela padrão. 💡 Esses selos devem ser aplicados quando o produto ultrapassa os limites do Anexo XV da IN nº 75, calculados por 100g ou 100mL, independentemente do tamanho da porção. Isso evita truques de marketing, como reduzir a porção apenas para “esconder” valores altos. ➔ RDC nº 429 (2020) e IN nº 75 (2020) – atualizam e modernizam as regras de rotulagem e as porções de referência. Por que a legislação mudou? Antes da RDC 429/20, as tabelas nutricionais eram: ➔ Difíceis de visualizar, com letras pequenas; ➔ Complexas, exigindo tempo e conhecimento técnico para entender. A nova legislação busca simplificar a leitura e facilitar a decisão do consumidor, com: ➔ Design mais claro,linguagem padronizada, símbolos de alerta frontal (rotulagem frontal). Produtos dispensados da rotulagem nutricional: Alguns produtos não precisam conter tabela nutricional, pois não se enquadram como alimentos processados embalados: ● Sal ● Especiarias (pimenta, orégano, etc.) ● Vinagres ● Águas minerais ● Café ● Chá e erva-mate ● Bebidas alcoólicas ● Aditivos alimentares ● Frutas, vegetais e carnes in natura, refrigerados ou congelados ● Produtos preparados em restaurantes ou padarias (quando embalados no local) ● Produtos fracionados no ponto de venda (como queijos e frios cortados na hora) Tabela nutricional A tabela nutricional é obrigatória nos rótulos e mostra os valores por porção do alimento. Informações principais: ➔ Valor energético (kcal e kJ) ➔ Carboidratos ➔ Proteínas ➔ Gorduras totais, saturadas e trans ➔ Fibra alimentar ➔ Sódio Esses valores devem ser declarados com base em 100 gramas (para sólidos) ou 100 mililitros (para líquidos), além da porção indicada na embalagem. Como são determinados os valores nutricionais? → Análise bromatológica: Mede químicamente os nutrientes no produto. Ex: enviar amostras de iogurte para determinar o teor real de proteínas. → Cálculo indireto: Usa tabelas de composição de alimentos e fichas técnicas de receitas. Ex: calcular as calorias de um bolo com base nas tabelas TACO ou USDA. As principais tabelas de referência: ➔ TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – UNICAMP) ➔ Tabela TACO Online ➔ Tabela TABNUT (EPM/USP) Como calcular o percentual do Valor Diário (VD)? O %VD indica quanto uma porção doalimento fornece de determinado nutriente em relação às necessidades diárias médias. Ex com Cálcio: Valor diário recomendado (VD) = 1000 mg. 1 copo (200 mL) de leite = 295 mg de cálcio. Cálculo: 295 ÷ 1000 × 100 = 29,5% → arredonda para 30% VD. Ou seja, um copo de leite fornece 30% do cálcio diário recomendado. 🚫 Expressões proibidas nos rótulos Determinadas expressões não podem aparecer nos rótulos, especialmente aquelas que: ➔ Induzem o consumidor a erro, ➔ Atribuem propriedades medicinais, ou não têm comprovação científica. Ex: “cura o colesterol”, “produto 100% natural” (sem comprovação), “sem conservantes” quando há aditivos. ____________ O que é a Análise de Alimentos A análise de alimentos é o processo que permite determinar a composição química e física de um alimento, identificando seus componentes, como proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas, minerais, fibras e água. → Indústrias (para controle de qualidade e rotulagem); → Órgãos governamentais (como vigilância sanitária); → Universidades e institutos de pesquisa. Ex: Para saber a composição de 100g de pão de forma, usam-se tabelas como a TACO (UNICAMP) ou a TBCA (USP), que mostram valores de energia, proteínas, gorduras, carboidratos etc. → Isso garante que o rótulo reflita de forma precisa o que o consumidor vai ingerir. Tipos de Análises Existem duas grandes categorias: Análise Qualitativa: Serve para verificar a presença ou ausência de um componente. Ex: testar se um alimento contém glúten. Resultado: “positivo” ou “negativo”. 📊 Análise Quantitativa: Mede quanto de uma substância existe no alimento. Ex: determinar a porcentagem de proteína no leite. Resultado: número com unidade (ex: 3,2 g/100g). 🧪 Métodos de Análise Métodos Convencionais: ➔ Usam vidrarias e reagentes simples. ➔ Exigem mais tempo e podem gerar erros acumulativos. Ex: titulação para medir acidez. ➔ Vantagem: baixo custo. ➔ Desvantagem: menor precisão e sensibilidade. Métodos Instrumentais: ➔ Utilizam equipamentos modernos como cromatógrafos, espectrofotômetros e pHmetros. Ex: uso do espectrofotômetro para medir teores de ferro em um alimento. ➔ Vantagem: mais rápidos, precisos e exatos. ➔ Desvantagem: custo elevado e necessidade de pessoal qualificado. Fontes Oficiais de Métodos Os métodos padronizados podem ser consultados em compêndios e instituições reconhecidas: ➔ AOAC: métodos gerais de análise de alimentos. ➔ AACC: métodos específicos para cereais. ➔ AOCS: métodos para óleos e gorduras. ➔ IAL: métodos físico-químicos do Instituto Adolfo Lutz. ➔ INMETRO: regula a metrologia e qualidade no Brasil. A escolha do método depende do tipo de alimento, legislação, exatidão desejada e recursos disponíveis. Etapas de Controle de Qualidade 1. Coleta da amostra 1. Preparação da amostra 2. Escolha e execução do método de análise 3. Controle de erros (instrumento e analista) Essas etapas garantem que o resultado seja representativo e confiável. 🧫 Amostragem e Preparo de Amostra O que é Amostragem? A amostragem é o processo que garante que a amostra retirada represente o todo do alimento. É uma sequência de etapas operacionais padronizadas para obter uma amostra representativa. Ex: Se uma fábrica produz 1000 latas de milho, não é possível analisar todas. Então, escolhe-se uma parte representativa que mantenha as mesmas características do conjunto. Etapas da Amostragem → Coleta da amostra bruta: É a primeira retirada, geralmente um volume grande (kg). Ex: de 20 kg de trigo, podem ser coletados 1 a 2 kg de amostra bruta. → Preparo da amostra de laboratório: Reduz o tamanho da amostra (de kg para gramas), mantendo a representatividade. Ex: moer, misturar e dividir para obter porções menores. → Preparo da amostra para análise: É a parte que realmente será usada no teste, chamada de porção de ensaio. A amostra deve ser: ➔ Identificada corretamente (tipo, data, lote, fabricante etc.); ➔ Coletada conforme plano de amostragem; ➔ Mantida livre de contaminações e deterioração. Como coletar amostras por tipo de alimento: Coleta de amostra bruta: Essa é a primeira etapa do processo de amostragem. O objetivo é retirar uma quantidade de alimento suficiente para realizar todas as análises necessárias com segurança e representatividade, ou seja, a amostra precisa refletir exatamente as características do lote inteiro. ➔ Fluidas (Líquidas e pastosas): Agitar bem, coletar de diferentes alturas do recipientes (topo, meio e fundo) e misturar antes da análise. Ex: Amostras de farinha ou arroz. ➔ Sólidas: Coletar porções de vários pontos, moer e homogeneizar. Ex: Amostras de farinha ou arroz. A quantidade coletada depende do tamanho do lote: ➔ Lotes pequenos:Quando o lote é pequeno (por exemplo, poucas embalagens), pode-se usar toda a embalagem como amostra bruta. Ex: se você tiver um pote único de iogurte ou um pacote pequeno de biscoito, o conteúdo inteiro pode ser usado. ➔ Lotes grandes: É necessário coletar apenas uma fração representativa. A norma recomenda: - 10 a 20% do número de embalagens, ou 5 a 10% do peso total do lote. Ex: - Se o lote tiver 20 embalagens de trigo, devem ser coletadas de 2 a 4 embalagens para formar a amostra bruta. - Se o lote tiver 20 kg de trigo a granel, deve-se coletar entre 1 e 2 kg para análise. Cuidados durante e após a coleta → Inspecionar e registrar a amostra: Anotar todas as informações relevantes, como: ➔ Marca e código do produto; ➔ Rótulos e descrições; ➔ Aspectos físicos (cor, odor, textura, presença de gases); ➔ Condição da embalagem (rachada, estufada, enferrujada, amassada etc.). Ex: Em alimentos enlatados, devem ser observados amassamentos, estufamento das tampas e o estado interno da lata, qualquer sinal de alteração é suspeito. → Identificação correta da amostra Registrar: ● Tipo de produto (ex: “leite UHT integral”); ● Peso líquido; ● Datas de colheita, fabricação e/ou validade; Endereço da indústria, fábrica ou estabelecimento; ● Nome dos responsáveis pela amostragem. Essas informações garantem a rastreabilidade da amostra, ou seja, se algo der errado, é possível saber de onde veio o problema. Riscos e problemas possíveis Durante a coleta, é fundamental rejeitar qualquer amostra suspeita de contaminação. Um risco muito sério é o Clostridium botulinum, uma bactéria formadora de esporos que podem produzir toxinas extremamente perigosas. Essas toxinas causam paralisia muscular e podem levar à morte, é o famoso botulismo. ⚠ Cuidados importantes: ➔ Não consumir alimentos de latas amassadas, enferrujadas ou estufadas. ➔ Descartar qualquer embalagem com sinais de ferrugem, vazamento ou perfuração. Essas alterações indicam comprometimento do fechamento da lata, o que permite a entrada de microrganismos e o desenvolvimento da bactéria. Preparo da Amostra de Laboratório Após a coleta, a amostra bruta é reduzida de tamanho mantendo suas características. → Métodos de redução: 1. Manual (quarteamento): dividir em quatro partes e escolher duas opostas. 2. Equipamentos: ➔ Riffle (divisor de amostras em funis alternados); ➔ Boerner (para grãos). 💧 Amostras líquidas: misturar bem, retirar de várias alturas (fundo, meio e topo) e eliminar gases se necessário. 🧀 Semi-sólidas: Queijos, chocolates: ralar e quartear. 🍖 Úmidas: Carnes, peixes, vegetais: picar, moer, misturar, refrigerar e quartear se preciso. 🥣 Semi-viscosas/pastosas: iogurte, requeijão: homogeneizar bem 🧈 Emulsões: manteiga, margarina:aquecer a 35 °C e agitar. 🍓 Frutas: ➔ Grandes → cortar em 4 partes, triturar e quartear. (Homogeneizada em liquidificador) ➔ Pequenas → triturar inteiras no liquidificador. Preparo da Amostra para Análise Essa é a porção efetivamente usada na análise, a porção de ensaio. Muitas vezes é necessário desintegrar a amostra para facilitar a extração dos componentes: Armazenamento da Amostra Quando a análise não é imediata, a amostra deve ser armazenada para preservar suas características originais. → Métodos de preservação: ● Inativação enzimática: choque térmico. Controle de oxidação lipídica: refrigeração/congelamento. ● Controle do ataque oxidativo: uso de nitrogênio líquido. ● Controle microbiológico: congelamento, secagem e/ou uso de conservantes. Fatores que Influenciam na Composição de Alimentos → De origem vegetal: ● Genética (variedade) Tipo de desintegraçã o Exemplo Finalidade Mecânica Moagem Determinar umidade Enzimática Uso de protease e amilase Solubilizar proteínas e polissacarídeos (fibras alimentares) Química Ácidos ou bases Determinar proteínas e lipídios ● Tipo de solo, clima, irrigação, fertilização ● Estado de maturação ● Parte analisada (casca, polpa) ● Condições de armazenamento e pós-colheita De origem animal: ● Conteúdo de gordura ● Parte do corpo analisada ● Idade, raça e alimentação do animal Esses fatores explicam por que dois alimentos do mesmo tipo podem apresentar valores nutricionais diferentes. Métodos para Análise de Alimentos A análise de alimentos é uma das áreas mais importantes da bromatologia. Ela permite compreender a composição química dos produtos, garantir a segurança alimentar e assegurar que as informações dos rótulos sejam verdadeiras. Os principais motivos para realizar análises de alimentos são: 1. Conhecer a composição da matéria-prima e do produto acabado. Ex: identificar quanto de proteína há em um leite em pó ou se um biscoito realmente contém fibras. 2. Determinar o padrão de identidade e qualidade (PIQ) São normas que definem o que um produto deve conter e como deve se apresentar. Ex: a margarina precisa ter um teor mínimo de gordura vegetal. 3. Controlar e garantir a qualidade da matéria-prima e do produto final. Evita a entrada de matérias contaminadas ou adulteradas no processo. 4. Estabelecer a composição nutricional dos rótulos. Garante que os valores apresentados (calorias, proteínas, carboidratos etc.) correspondam à realidade. 5. Fornecer dados para planejamento dietético e segurança alimentar. Ex: calcular o teor de sódio em alimentos hospitalares. 6. Criar bancos de dados e validar processos de produção: Permite padronizar resultados e comparar lotes diferentes. 7. Desenvolver novos produtos e padrões de qualidade: Essencial para inovação na indústria alimentícia. 8. Avaliar os efeitos do processamento e da estocagem Ex: medir quanto de vitamina C um suco perde durante o armazenamento. A análise é aplicada em diversos setores: Setor Finalidade Indústria Controle de qualidade de matérias-primas, produtos acabados, embalagens, tempo de prateleira e desenvolvimento de novos produtos. Centros de pesquisa Desenvolvimento de metodologias, controle de processos, prestação de serviços e estudos científicos. Órgãos governa mentais Fiscalização da produção e distribuição de alimentos, controle de qualidade e padronização para registro de produtos. Tipos de Análises Químicas → Análise qualitativa: Verifica a presença ou ausência de um componente. Ex: detectar se um alimento contém glúten (positivo ou negativo). → Análise quantitativa: Mede quanto do componente existe no alimento (massa, concentração, porcentagem). Ex: determinar 2,5 g de proteína em 100 g de iogurte. ⚗ Métodos Convencionais e Instrumentais Métodos Convencionais ➔ Não exigem equipamentos sofisticados. ➔ Usam materiais comuns de laboratório (balança, vidrarias, reagentes). Normalmente baseiam-se em gravimetria (peso) e volumetria (volume). Quando usar: ➔ Quando a legislação exige esse método; ➔ Quando o laboratório não tem equipamentos modernos; ➔ Quando se deseja reduzir custos. Vantagem: baixo custo. Desvantagem: processo mais demorado e maior chance de erro humano. Ex: Determinar a acidez de um vinagre usando titulação ácido-base. Métodos Instrumentais ➔ Utilizam equipamentos modernos e precisos, como: ◆ Espectrofotômetro, ◆ Cromatógrafo (HPLC, GC), pHmetro, entre outros. ➔ Oferecem maior exatidão e rapidez. ➔ Reduzem o erro humano e automatizam etapas do processo. Vantagens: alta sensibilidade, precisão e rapidez. Desvantagem: custo alto de aquisição, calibração e manutenção, além da necessidade de pessoal especializado. Como escolher o método analítico adequado? A escolha depende de vários fatores, incluindo: ● Precisão e exatidão desejadas; ● Custo da análise; ● Velocidade e segurança do método; ● Sensibilidade e especificidade (capacidade de detectar o analito); ● Reconhecimento por órgãos oficiais (como INMETRO, ANVISA, AOAC); ● Recursos disponíveis: equipamentos, reagentes, equipe técnica; ● Composição química da amostra; ● Quantidade de componente a ser analisado. Quantidade relativa do componente Os componentes de um alimento podem ser classificados pelo quanto representam em relação ao peso total da amostra: Composição química da amostra A amostra pode conter substâncias interferentes que afetam o resultado, por isso são necessárias etapas de: → Extração: separar o analito do restante da matriz; → Purificação: eliminar impurezas; → Separação: isolar o componente de interesse. Ex: para medir lipídios em chocolate, é preciso primeiro extrair a gordura da matriz sólida usando solventes. Recursos disponíveis O sucesso da análise depende também dos recursos do laboratório: Categoria Percentual Exemplo Maiores > 1% Água, carboidratos, proteínas Menores 0,01 – 1% Minerais MicroÉ calculada pelo coeficiente de variação (CV%) ou desvio padrão. Sensibilidade É a menor quantidade que o método consegue detectar sem erro. Métodos instrumentais, como espectrofotometria, são muito mais sensíveis que os convencionais. Tipos de Erros → Erros Sistemáticos (Determinados) Aparecem em todas as repetições de forma semelhante. São previsíveis e podem ser corrigidos. Tipos: ● Erro de método: escolha errada do reagente ou técnica; ● Erro operacional: falhas no preparo, diluição ou limpeza; ● Erro instrumental: equipamentos descalibrados; ● Erro pessoal: falhas humanas (leitura incorreta, erro de cálculo, distração). → Erros Aleatórios (Indeterminados) Acontecem de forma irregular, variando entre repetições. Não podem ser eliminados, mas podem ser corrigidos estatisticamente (usando média e desvio padrão). 🌊 A importância da água nos alimentos A água é o principal componente dos alimentos e exerce papel essencial em diversos aspectos da nutrição, da textura e da conservação dos produtos. Ela está presente em quase todos os alimentos, seja naturalmente (como em frutas, verduras e carnes) ou adicionada durante o processamento (como em bebidas, caldos e molhos). Funções da água: ➔ Matéria-prima: é base para bebidas como cervejas e refrigerantes. ➔ Nutrição: alimentos com muita água geralmente têm menos nutrientes por grama, já que o conteúdo sólido é diluído (exemplo: o pepino é 95% água e tem poucos nutrientes comparado a castanhas, que contêm menos de 5% de água). ➔ Estabilidade: a remoção ou imobilização da água impede muitas reações químicas e o crescimento de microrganismos — aumentando a vida útil do alimento. ➔ Textura: a interação da água com proteínas, polissacarídeos, lipídios e sais influencia a maciez, suculência e elasticidade. Ex: o pão fresco é macio porque contém água livre que interage com o glúten; quando seca, essa água evapora e o pão fica duro. ➔ Fator econômico: durante armazenamento e transporte, alimentos podem perder ou absorver umidade, alterando peso, textura e valor comercial. Estrutura da molécula de água A água (H₂O) é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio ligados covalentemente. ➔ Sua forma é angular, e o oxigênio possui pares de elétrons livres que empurram os átomos de hidrogênio, formando um ângulo de aproximadamente 104,5°. ➔ Essa estrutura torna a água uma molécula polar, com carga parcial negativa no oxigênio e positiva nos hidrogênios. ➔ A polaridade explica muitas de suas propriedades, como alto ponto de ebulição, capacidade de dissolver substâncias e formação de pontes de hidrogênio. Propriedades físicas e químicas da água Propriedade Valor/Característica Fórmula química H₂O Massa molar 18,015 g/mol Ponto de fusão 0 °C Ponto de ebulição 100 °C Densidade (a 4°C) 1,00 g/cm³ Viscosidade (a 25°C) 0,89 cP pH (puro a 25°C) 7,0 Polaridade Molécula polar Condutividade elétrica Baixa, mas aumenta com íons Essas características fazem da água um solvente universal, essencial para processos biológicos e químicos em alimentos. Ligações de hidrogênio e estados físicos ➔ No gelo, cada molécula forma quatro pontes de hidrogênio, criando uma estrutura aberta e menos densa. ➔ Na água líquida, as moléculas ainda estão ligadas, mas em média a 3,4 outras moléculas, o que a torna mais densa que o gelo. ➔ No estado gasoso, quase todas as pontes de hidrogênio são quebradas, permitindo que as moléculas fiquem muito afastadas. Água e estabilidade dos alimentos A água é o principal solvente dos metabolismos e está envolvida em alterações químicas, biológicas e microbiológicas nos alimentos. Assim, controlar sua quantidade e disponibilidade é essencial para garantir qualidade e conservação. Umidade dos alimentos A umidade representa a quantidade total de água presente em um alimento. Ela é determinada por diferença entre o peso total da amostra e os sólidos totais (ou seja, tudo que não é água). Ex: Se 100 g de fruta secam e sobram 20 g de matéria seca, a umidade era de 80%. Tipos de água nos alimentos Nem toda água presente em um alimento tem o mesmo comportamento. Ela pode estar livre, ligada ou absorvida, e isso influencia diretamente na textura e conservação do produto. Água livre ● Fracamente ligada às substâncias. ● Pode ser congelada e eliminada facilmente. ● Possui propriedades semelhantes à água pura. ● Encontra-se nos espaços entre partículas ou poros. ● Permite o crescimento microbiano, atividade enzimática e deterioração. Ex: suco de fruta fresco, com alta quantidade de água livre, deteriora rapidamente. Água ligada (ou de hidratação) ➔ Cada molécula de alimento atrai uma camada fina de água em volta (monocamada). ➔ Essa água não congela, não se move e não atua como solvente. ➔ Ajuda a preservar a textura e a estrutura do alimento. ➔ Não é removida facilmente por métodos comuns de secagem. Ex: no chocolate, a água de hidratação mantém a estrutura sem deixá-lo pegajoso. Água absorvida (ou de estrutura) ➔ Fortemente presa à estrutura molecular (ex: amido, celulose, proteínas). ➔ Difícil de remover. ➔ Apresenta baixa mobilidade molecular. ➔ Ainda pode permitir alguma atividade enzimática e microbiana, mas em proporção menor. Ex: mesmo em pães secos, ainda resta um pouco de água absorvida, que mantém a estrutura. Atividade de Água (Aw) A atividade de água (Aw) indica quanto da água total está disponível para reações químicas e crescimento microbiano, ou seja, mede a água livre. Fórmulas: Aw=P/P0 → pressão parcial de vapor d’água no alimento / pressão parcial do vapor d’água pura Aw = UR/ 100 onde: ➔ P = pressão parcial do vapor d’água no alimento ➔ P₀ = pressão do vapor da água pura ➔ UR = umidade relativa Como controlar a Aw: ➔ Adicionar solutos (sal, açúcar) → diminui Aw ➔ Remover água (secagem, evaporação) → diminui Aw ➔ Imobilizar moléculas de água (congelamento) → diminui Aw Quanto maior a Aw, mais rápido o alimento se deteriora. Faixas de Aw e desenvolvimento microbiano Faixa de Aw Exemplo de alimento Microrganism os que se desenvolvem 0,98 e acima Carnes frescas, leite, verduras Crescem quase todos os microrganismo s, incluindo patógenos. 0,98 – 0,93 Leite evaporado, pão, embutidos cozidos Crescem enterobactérias (como Salmonella) e bactérias ácido-lácticas. 0,93 – 0,85 Carne seca, leite condensado Crescem Staphylococcu s aureus, leveduras e fungos produtores de micotoxinas. 0,85 – 0,60 Farinhas, cereais, vegetais desidratados Apenas microrganismo s resistentes à secura (xerófilos, halófilos, osmófilos). alimentar, da precisão desejada e do tempo disponível. A AOAC (Association of Official Agricultural Chemists) define padrões para análises: Código AOAC Método Aplicação 948.12 Estufa com ventilação forçada Queijos e alimentos úmidos 926.08 Estufa a vácuo Produtos termossensíveis 977.11 Micro-ondas Análises rápidas 969.19 Destilação Alimentos gordurosos Método gravimétrico, perda por dessecação Baseia-se na remoção da água por aquecimento. O ar quente passa por uma camada fina do alimento, promovendo a evaporação da água. ⚠ Limitações: ➔ Se o tempo for curto → remoção incompleta da água. ➔ Se for longo demais → superestimação, pois compostos voláteis também evaporam. É o método mais simples, mas pode gerar erros em alimentos com açúcares ou gorduras. Método Karl Fischer Um dos métodos químicos mais precisos. Baseia-se na reação entre água, dióxido de enxofre e iodo em presença de piridina e metanol. O ponto final é detectado por titulação. ➔ Muito usado para alimentos com baixo teor de água, como óleos, chocolates e farinhas. Umidade relativa e conservação A umidade relativa do ar afeta diretamente a estabilidade e qualidade dos alimentos armazenados. ➔ Alta umidade → proliferação de fungos e bactérias. ➔ Baixa umidade → ressecamento, perda de textura e peso. Ex: Grãos armazenados com alta umidade podem desenvolver fungos que produzem aflatoxinas, compostos tóxicos e cancerígenos. Embalagem e processamento A embalagem e o tipo de processamento devem ser escolhidos conforme a umidade e Aw do produto, para evitar absorção de água durante o armazenamento. Ex: Biscoitos exigem embalagens herméticas para impedir que absorvam umidade e amoleçam. Carnes frescas precisam de refrigeração constante para evitar o aumento da Aw. Métodos de Conservação dos Alimentos Os métodos de conservação de alimentos têm como principal objetivo impedir ou retardar a deterioração causada por microrganismos, enzimas e reações químicas. A escolha do método depende do tipo de alimento, da vida útil desejada e do custo de produção. Conservação pelo uso do frio → Importância O uso do frio é um dos métodos mais comuns e eficientes, pois mantém as características sensoriais e nutricionais dos alimentos. A conservação a baixas temperaturas retarda as reações químicas e biológicas, mas não destrói microrganismos e enzimas, apenas os inibe temporariamente. Por isso, é essencial manter a cadeia do frio até o consumo. Métodos de conservação pelo frio → Refrigeração ➔ Baseia-se na redução da temperatura e manutenção acima do ponto de congelamento. ➔ Temperaturas entre –1°C e 8°C. ➔ É considerada um método brando (leve) de conservação. ➔ Não altera as características organolépticas (sabor, cor, textura, aroma). ➔ Prolonga a vida útil, mas por tempo limitado — dias ou semanas. Ex: frutas, legumes, carnes frescas, leite e queijos. Como funciona: A refrigeração retarda a multiplicação microbiana e reduz a velocidade das reações químicas, mantendo o alimento fresco por mais tempo. → Congelamento ➔ Reduz a temperatura abaixo do ponto de congelamento (≤ –18°C). ➔ Parte da água se transforma em gelo, diminuindo a atividade de água (Aw). ➔ Permite armazenamento a longo prazo — de meses a anos. Ex: carnes, peixes, frutas e vegetais congelados, refeições prontas. Como funciona: A baixa temperatura inibe enzimas e microrganismos, mas não os destrói. Se a temperatura aumentar, o alimento pode voltar a se deteriorar rapidamente. ⚠ Cuidado: a formação de cristais de gelo grandes pode danificar as células e alterar textura e aparência do alimento. Por isso, o congelamento deve ser rápido (freezer ou ultracongelamento). Conservação pelo controle da atividade de água (Aw) A atividade de água (Aw) é um dos fatores mais importantes na conservação. Quanto menor a Aw, mais difícil é o crescimento microbiano. ➔ Microrganismos precisam de água livre para se multiplicar. ➔ Diminuindo a Aw, as reações de deterioração são retardadas. Métodos usados para reduzir a Aw: ➔ Concentração (para alimentos líquidos) ➔ Desidratação (secagem, osmose ou liofilização) ➔ Adição de solutos (como sal e açúcar) Concentração ➔ Consiste em remover parte da água por ebulição, aumentando o teor de sólidos. ➔ Reduz a Aw e melhora a estabilidade. Ex: sucos concentrados, leite condensado, polpa e extrato de tomate, geleias. Como funciona: a ebulição aumenta a concentração de sólidos totais e dificulta o crescimento microbiano. Desidratação Remove a maior parte da água do alimento até atingir umidade menor que 5%. Objetivos: ➔ Aumentar a vida de prateleira; ➔ Reduzir custos de embalagem, transporte e armazenamento; ➔ Facilitar o uso e diversificar produtos. Ex: frutas secas, leite em pó, carne seca, café solúvel. → Secagem ao sol ➔ Método simples e barato. ➔ Depende do clima e condições ambientais. ➔ Pouco controle de temperatura e umidade. ➔ Produz alimentos de qualidade inferior, sujeitos a contaminação. Usado tradicionalmente em regiões quentes e secas (ex: carne de sol, banana passa artesanal). → Secagem artificial (com secadores) ➔ Permite controle da temperatura, velocidade e umidade do ar, gerando produtos de melhor qualidade. ➔ Maior custo, mas maior eficiência e segurança. Usada em: leite em pó, temperos, café instantâneo, cereais. → Desidratação osmótica ➔ O alimento é imerso em soluções concentradas de açúcar ou sal. ➔ A água sai do alimento para a solução, e parte do soluto entra nele. ➔ Mantém cor, sabor e textura mais agradáveis que a secagem comum. Ex: frutas cristalizadas, legumes em salmoura. → Liofilização ➔ A água é removida por sublimação (do gelo direto para o vapor). ➔ O alimento é primeiro congelado e depois submetido à pressão reduzida. ➔ Mantém características sensoriais e nutricionais quase intactas. ➔ É caro, usado em produtos de alto valor agregado (como café solúvel, frutas para astronautas, alimentos infantis e farmacêuticos). Conservação pelo controle do oxigênio A presença de oxigênio acelera reações de oxidação (rancificação, escurecimento, perda de sabor) e favorece microrganismos aeróbios. Reduzir o contato com o oxigênio aumenta muito a vida útil dos alimentos. Métodos: → Vácuo ➔ Retira o ar do interior da embalagem. ➔ Inibe oxidação e crescimento microbiano. ➔ Usado em carnes, queijos, embutidos, cafés. → Atmosfera modificada ➔ O ar é retirado e substituído por mistura gasosa específica (menos O₂ e mais CO₂ ou N₂). ➔ Muito usada em produtos como pães, saladas prontas e carnes fatiadas. ➔ Mantém cor, sabor e textura por mais tempo. → Atmosfera controlada ➔ Semelhante à modificada, mas usada em câmaras de armazenamento grandes. ➔ A composição gasosa é mantida constante durante todo o período. ➔ Ideal para frutas e vegetais, retardando a maturação e senescência. Conservação pelo controle do pH A acidez natural ou artificial impede o crescimento de muitas bactérias patogênicas. Modificar o pH do alimento é uma forma eficaz de conservação. ● Feita por adição de ácidos (como ácido acético, cítrico ou lático). ● Altera o sabor e características sensoriais. ● Usada em picles, molhos, conservas e vinagres. Ex: o vinagre conserva cebolas, pepinos e pimentas, pois reduz o pH e inibe microrganismos. Conservação por aditivos químicos A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) define aditivo alimentar como: “Uma substância não nutritiva, adicionada intencionalmenteem pequenas quantidades, para melhorar aparência, sabor, textura e propriedades de armazenamento.” Vitaminas e sais minerais não são aditivos, pois têm função nutritiva. Funções e vantagens dos aditivos ➔ Aumentam a estabilidade e conservação, reduzindo perdas. ➔ Tornam os alimentos mais atrativos, sem enganar o consumidor. ➔ Ajudam no processamento industrial (como estabilizantes, emulsificantes e antioxidantes). Ex: o sorbato de potássio (conservante) impede o crescimento de fungos em queijos e iogurtes. Quando o uso não é justificado O uso de aditivos não deve mascarar problemas do produto. É proibido quando: ➔ Há suspeita ou evidência de toxicidade; ➔ Interfere no valor nutritivo; ➔ Encobre falhas de processamento ou matéria-prima; ➔ Induz o consumidor a erro; ➔ Não atende à legislação vigente. Rotulagem obrigatória Todo aditivo deve constar na lista de ingredientes, com sua função ou número INS (International Numbering System). Exemplos: ➔ Estabilizante: tartarato de sódio ➔ Conservante: sorbato de potássio ➔ Acidulante: INS 338 ➔ Antioxidante: INS 316 ➔ Estabilizante: INS 405 Conservação por irradiação A irradiação de alimentos usa radiações ionizantes (como raios gama ou elétrons acelerados) para destruir microrganismos e parasitas, retardar a maturação e impedir brotações. Efeitos: ➔ Destrói bactérias e fungos; ➔ Inibe a germinação (batatas, cebolas, alho); ➔ Controla maturação (banana, manga, mamão); ➔ Evita infestações (cereais e grãos); ➔ Descontamina temperos e peixes. ⚠ Importante: o alimento irradiado não se torna radioativo. A indicação no rótulo é obrigatória. Conservação pelo uso do calor O calor é amplamente usado para destruir microrganismos e enzimas. A escolha da temperatura e tempo depende do alimento e do equilíbrio entre segurança e preservação das propriedades sensoriais. Métodos térmicos: 1. Branqueamento 2. Pasteurização 3. Esterilização Branqueamento: ➔ Temperaturas entre 70 e 100°C, por 1 a 5 minutos, seguido de resfriamento rápido. ➔ Usado principalmente em vegetais antes do congelamento. Funções: ➔ Reduz microrganismos contaminantes; ➔ Aumenta maciez; ➔ Elimina ar dos tecidos; Fixa a cor; ➔ Preserva compostos bioativos. Pasteurização Criada por Louis Pasteur (1864). Usa temperaturas menores que 100°C, suficientes para eliminar microrganismos patogênicos, mas preservando o sabor e nutrientes. Aplicações: leite, creme de leite, sucos, sorvetes e embutidos. Tipos: ➔ Lenta (LTLT – Low Temperature Long Time): 63°C por 30 minutos. Adequado para pequenos volumes, porém caro e demorado. ➔ Rápida (HTST – High Temperature Short Time): 72°C por 15 segundos. Muito usada industrialmente, rápida, eficaz e segura. Esterilização ➔ Elimina todos os microrganismos (inclusive esporos). ➔ Temperaturas acima de 100°C. ➔ Requer embalagens resistentes e fechamento hermético. Métodos: ➔ Apertização: esterilização de produtos já embalados (ex: enlatados). ➔ Tindalização: várias aquecidas sucessivas (60–90°C, de 20 a 30 min, por 3–12 vezes). Mantém sabor e nutrientes, mas é cara e demorada. A esterilização industrial usa autoclaves (115–125°C por 15 min). Sistema UHT (Ultra High Temperature) ➔ Temperaturas muito altas (135–150°C) por 2–5 segundos. ➔ O produto é esterilizado antes de ser embalado (processamento asséptico). Mantém-se sem refrigeração por meses. Ex: leite longa vida, cremes e sucos UHT. Não se aplica a alimentos sólidos.