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REVISÃO DA LITERATURA Alterações Degenerativas da Articulação Temporomandibular. Conceitos Relacionados à Etiologia e Controle Degenerative Disease of Temporomandibular Joint. Concepts Related to Etiology and Management Paulo César Rodrigues CONTI* Accácio Lins do VALLE** Juliano Milczewsky SCOLARO*** CONTI, P.C.R.; VALLE, A.L. do; SCOLARO, J.M. Alterações degenerativas da articulação temporomandibular. Conceitos relacionados à etiologia e controle. JBA, Curitiba, v.1, n.4, p.308-313, out./dez. 2001. Os processos degenerativos da articulação temporomandibular (ATM) são condições patológicas de origem multifatorial e indefinida. Apesar de existirem diversas patologias capazes de levar à degradação tecidual, a osteoartrite associada aos desarranjos internos é a forma mais comum de alterações degenerativas que afetam a ATM. Seus estágios iniciais de desenvolvimento são, na maioria das vezes, subclínicos, impedindo o diagnóstico preciso tanto clínico como principalmente radiográfico. Muitas teorias tentam explicar o curso deste tipo de alterações internas, com a finalidade de aprimorar os procedimentos diagnósticos e melhorar o tratamento dos pacientes afetados por esses processos. Como parte dos métodos para tratamento e controle estão todos os procedimentos que restaurem a qualidade de vida dos pacientes, devolvendo-os um quadro de normalidade ou, principalmente, de remodelação tecidual e adaptação assintomática à degeneração. Uma vez realizado o correto diagnóstico, deve-se direcionar o tratamento para a melhoria dos sintomas e prevenção de maiores danos à ATM e oclusão dentária. Fazem parte desse controle a redução dos esforços não-fisiológicos e a promoção da capacidade adaptativa dos tecidos envolvidos, pois a evolução das degenerações pode ter como conseqüências o surgimento de alterações oclusais irreversíveis. UNITERMOS: Articulação temporomandibular; Síndrome da disfunção da articulação temporomandibular; Osteoartrite. INTRODUÇÃO A osteoartrite é a forma mais comum de artrite que afeta o esqueleto humano e está geralmente relacionada com o aumento de carga mecânica, tensão e traumatismos das articulações. É uma doença degenerativa focal, crônica e não-inflamatória, que afeta primariamente a cartilagem de articulações sinoviais, estando associada a processos de remodelação do osso subcondral e envolvimento do tecido sinovial (DE BONT & STEGENGA, 1993). O termo osteoartrose também tem sido utilizado para caracterizar esse processo. A osteoartrite que afeta a ATM encontra-se classificada entre as doenças articulares degenerativas, as quais podem ocorrer na forma generalizada ou localizada, sendo esta última a mais comum. Como conseqüência da doença degenerativa, podem surgir processos secundários em estruturas adjacentes, caracterizados por incongruências mecânicas localizadas, que interferem com os movimentos suaves naturais da ATM. Os deslocamentos do disco articular para anterior constituem um quadro freqüentemente associado às de- generações. Tendo em vista a existência destes desarranjos internos, criou-se muita polêmica sobre a necessidade de um desloca- mento de disco articular como fator etiológico primário da osteoartrite. O que se observa é que o processo degenerativo * Professor Doutor do Departamento de Prótese/Faculdade de Odontologia de Bauru - USP ** Professor Livre Docente do Departamento de Prótese/Faculdade de Odontologia de Bauru - USP *** Mestre e Doutorando em Reabilitação Oral/Faculdade de Odontologia de Bauru - USP Alterações Degenerativas da Articulação Temporomandibular. Conceitos Relacionados à Etiologia e Controle 309 - Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial - Ano 1 - v.1 - n.4 - out./dez. 2001 pode acontecer mesmo em pacientes que não tenham os discos articulares deslocados ou tenham sofrido algum tipo de traumatismo sobre as articulações (DE BONT et al., 1986). Devido ao quadro sintomatológico ser muito se- melhante a outras Disfunções Temporomandibulares (DTM), a observação e o entendimento dos processos degenerativos da ATM por parte do profissional torna-se importante, pois permite a elaboração de um plano de tratamento realista frente às características próprias da doença. Etiologia A osteoartrite é considerada uma doença multifa- torial, com vários fatores contribuintes. Sabe-se que a quantidade de proteases, citocinas, fatores de cresci- mento e produtos do ácido araquidônico têm um papel importante na patogenia da osteoartrite (AXELSSON, 1993; DE BONT et al., 1986; DIJKGRAAF et al., 1995; HAMERMAN, 1989; STEGENGA et al., 1991). Contudo, um fator único de iniciação, se é que existe, não foi ainda identificado (STEGENGA et al., 1991). Acredita-se que a etiologia da osteoartrite esteja relacionada a uma falta de adaptação do organismo à demanda funcional, isto é, sobrecargas, macrotraumas ou microtraumas (AXELSSON, 1993; AXELSSON et al., 1987; AXELSSON et al., 1992; DE BONT et al., 1986; DIJKGRAAF et al., 1995; STEGENGA et al., 1991). Como todo o sistema biológico, a ATM mantém sua integridade enquanto as cargas não excedam os limites funcionais e sua capacidade adaptativa. Caso isto ocorra, adaptações naturais ocorrem com o objetivo de aumentar a capacidade tecidual à demanda funcional. Porém, com uma sobrecarga mais severa e persistente, mecanismos compensatórios atuam por meio de processos de reparo ou regeneração. Contudo, há um ponto em que a capacidade de reparo é ultrapassada e o tecido sofre alterações irrever- síveis ou danos irreparáveis. A osteoartrite resulta do desequilíbrio nos processos metabólicos mediados por condrócitos e é caracterizada por uma degradação progressiva dos componentes da matriz extracelular da fibrocartilagem, associada ou não a fatores inflamatórios secundários (DIJKGRAAF et al., 1995; STEGENGA et al., 1991). Existem, a princípio, três teorias que descrevem a etiopatogenia da osteoartrite. Na primeira, as sobrecar- gas articulares excederiam a capacidade adaptativa do tecido normal, ocasionando uma falha biomaterial na rede de colágeno da matriz extracelular. A partir deste ponto, poderiam acontecer vários processos destrutivos, como o rompimento das fibrilas colágenas e falha nas proteínas de ancoragem, ocasionando acúmulo de água nas proteoglicanas e subseqüente perda das mesmas. Outra teoria prega a ocorrência de uma falha no sistema interno de remodelamento controlado pelos con- drócitos. A injúria inicial pode ser mecânica, bioquímica, inflamatória ou imunológica, e provocaria o desequilíbrio entre síntese e degradação de matriz extracelular pelos condrócitos. Uma terceira baseia-se em fatores extra cartila ginosos, como por exemplo, a redução na quantidade/qualidade do líquido sinovial, alterações na membrana sinovial, mi- crofraturas do osso subcondral e alterações vasculares. Existem, ainda, outros fatores que contribuem para perpetuação da osteoartrite, como a idade, alterações na matriz extracelular e atividade metabólica dos con- drócitos. Um fato extensamente discutido e ainda sem res- postas convincentes é a necessidade ou não da presença prévia de deslocamentos de disco articular para que se inicie o processo de degeneração. Considerado por muitos como um fator obrigatoriamente presente para as degenerações (AXELSSON, 1993; DE BONT & STE- GENGA, 1993; TEGELBERG et al., 1987), atualmente, sabe-se que os deslocamentos do disco articular da ATM estão presentes em grande parte de uma população assintomática e, portanto, não se indica tratamentos de reposição de disco articular com vistas à prevenção de processos degenerativos. Ainda, processos degenerativos foram encontrados em ATMs com um relacionamento côndilo-disco normal (DE BONT et al., 1991). Existe, portanto, a hipótese de que as degenerações poderiam causar um desequilíbrio mecânico entre as estruturas intra-articulares, levando a deslocamentos subseqüentes do disco articular. Essa perda da capacidade de assen- tamento própriodo disco articular poderia explicar a maior prevalência de degenerações em articulações com deslocamentos. Porém, a real participação dos desarranjos internos nas osteoartrites ainda é motivo de controvérsia. Estágio de Remodela mento e Reparo Estágio de equilíbrio Quando uma injúria mecânica, bioquímica, inflama- tória ou imunológica afeta a cartilagem, há uma estimu- lação e uma tentativa de reparo através da proliferação celular com alta atividade metabólica. Este estágio é caracterizado pela síntese de matriz extracelular mediada por fatores de crescimento (IGF-1). Um equilíbrio pode ser alcançado entre a degradação e a síntese de tecido fibrocartilaginoso, podendo perdurar por anos. Alterações Degenerativas da Articulação Temporomandibular. Conceitos Relacionados à Etiologia e Controle 310 - Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial - Ano 1 - v.1 - n.4 - out./dez. 2001 Estágio inicial da osteoartrite Nesta etapa, a síntese de matriz extracelular é exce- dida por uma maior degradação, a qual gera defeitos nas superfícies articulares e a rede de colágeno demonstra sinais de desorganização (DIJKGRAAF et al., 1995; STE- GENGA et al., 1991). Apesar da extensa deposição de matriz, há a presença de grande quantidade de enzimas proteolíticas que desencadeiam uma maior destruição. Ao mesmo tempo, as proteoglicanas recém-formadas são anormais e incapazes de ligar-se ao ácido hialurônico. Como via de regra, os componentes neoformados da matriz são alterados em qualidade ou quantidade. Na progressão do processo de degradação teci- dual, ocorre perda de água da fibrocartilagem, que perde suas características de resiliência e elasticidade. O tecido fica sujeito, então, a grandes esforços, que aceleram o processo. Os produtos de degradação difundem-se pelo líquido sinovial, onde serão meta- bolizados ou destruídos. Devido à presença destes produtos metabólicos em meio ao líquido sinovial, a osteoartrite pode tornar-se cli- nicamente sensível quando ocorre uma sinovite secundá- ria, ocasionando dor articular e limitação de movimentos. Mais do que isso, o envolvimento da membrana sinovial no processo inicia uma cascata de efeitos secundários, incluindo a presença de mediadores de inflamação, de dor e enzimas proteolíticas. A sinovite provoca um aumento da temperatura intra-articular, potencializando a ação enzimática (DIJK- GRAAF et al., 1995; STEGENGA et al., 1991). A degra- dação da fibrocartilagem na osteoartrite ocorre devido a um aumento na atividade proteolítica, sendo mediada externa e internamente por fatores que estimulam os condrócitos a produzir e liberar estas enzimas. Estágio intermediário Caracterizado por falhas na síntese de componentes da matriz extracelular, ao mesmo tempo em que a síntese de proteases permanece elevada. Conseqüentemente, o conteúdo desses componentes (água e proteoglicanas) é diminuído, ocorrendo a fibrilação da cartilagem. Nesse processo, a fibrocartilagem perde sua integridade e lisura superficial e a membrana sinovial parece hipervasculari- zada, hipertrófica e fibrótica. Este estágio é caracterizado clinicamente pela pre- sença de dor e limitação de movimentos. Ruídos podem estar presentes se ocorrer um deslocamento de disco, associado à degradação tecidual. Estágio avançado Neste estágio, o conteúdo dos componentes da matriz (água, proteoglicanas e colágeno) está muito reduzido. Histologicamente, há uma extensa fibrilação da cartilagem e eventual exposição do osso subcondral. A rede de colágeno apresenta-se bastante desorganizada e desintegrada, além de apresentar uma severa diminuição na quantidade de proteoglicanas, sendo que continua a acontecer uma grande síntese de proteases. Os com- ponentes da matriz extracelular estão muito reduzidos. A exposição do osso subcondral é freqüentemente visí- vel, podendo ocorrer também uma neovascularização, acompanhada de deslocamento do disco ou perfuração do mesmo (Figura 1). Clinicamente, observa-se a presença de dor e li- mitação de movimentos, bem como a possibilidade de ruídos, já caracterizados nessa fase como crepitação. Neste estágio, a crepitação difere daquele ruído cau- sado por deslocamento de disco. Observa-se um som de menor amplitude e maior freqüência, sendo que o paciente normalmente se refere à presença de “areia” dentro do ouvido. Osteoartrite e estruturas adjacentes Com a progressão da degeneração, praticamente todas as estruturas articulares são afetadas. A membrana sinovial tem um papel importante, pois, quando ativada pelos subprodutos da matriz extracelular degenerada, produz citocinas que influenciam processos anabólicos e catabólicos nos estágios subseqüentes (DE BONT & STEGENGA, 1993). A cápsula articular é afinada e capsulites podem estar presentes com a presença de infiltrados inflamatórios localizados. O controle neuromuscular entre função articular e atividade muscular pode ser afetado pelo quadro pato- lógico. Contrações musculares protetoras podem estar presentes para estabilizar a articulação afetada e prevenir a movimentação. Características Clínicas e Radiográficas Os achados caracterizam-se principalmente por crepitação, devido à incongruência das superfícies arti- culares, provocada pela degeneração, e dor, provocada pelo envolvimento da membrana sinovial, que sofre um processo inflamatório com liberação de substâncias algógenas (TEGELBERG & KOPP, 1987). A sensibilidade articular está presente devido à inflamação secundária e, em determinados casos, pode ocorrer uma contração muscular protetora com o objetivo de proteção da articulação envolvida. Sendo assim, esse paciente pode apresentar também sensibilidade muscular à palpação. Alterações Degenerativas da Articulação Temporomandibular. Conceitos Relacionados à Etiologia e Controle 311 - Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial - Ano 1 - v.1 - n.4 - out./dez. 2001 Em casos mais avançados, o processo degenerativo pode ser tão desenvolvido a ponto de reduzir o compri- mento do ramo mandibular, ocasionando uma alteração oclusal e, em casos extremos, provocar o aparecimento de mordida aberta anterior ou lateral. Radiograficamente, observa-se achatamento do côndilo e da eminência articular, esclerose e erosão da camada óssea cortical e alterações na forma (Figuras 2 e 3). Encurtamento do ramo ascendente e “pescoço” do côndilo podem estar presentes em casos mais avançados (ÅKERMAN et al., 1988; ISBERG et al., 1985; UOTILA, 1964). Controle O tratamento e controle da osteoartrite baseiam-se na recuperação clínica e funcional do quadro de normali- dade (BOERING et al., 1990; DE BONT & STEGENGA, 1993; STEGENGA et al., 1993). Isto é conseguido através de procedimentos clínicos, fisioterápicos e farmacoló- gicos, com o objetivo de diminuição da dor, melhoria da movimentação mandibular e controle do processo degenerativo. Levando as respostas teciduais em consideração, o profissional deve gerenciar diretamente a redução dos esforços não-fisiológicos e promover a capacidade adaptativa dos tecidos envolvidos. A redução da carga pode ser conseguida por meio de alteração de hábitos deletérios e aconselhamento, descanso, exercícios, placas oclusais (Figura 4) e fisioterapia (BOERING et al., 1990a; 1990b; DE BONT & STEGENGA, 1993; STEGENGA et al., 1993), que promoverão uma maior coordenação e força muscular. Após a obtenção destes objetivos, o controle da homeostasia obtida deve ser feito, assim como a prevenção da recorrência dos sintomas por meio de controle dos fatores de sobrecarga, devido à capacidade reduzida desses tecidos para suportar cargas excessivas. A utilização de antiinflamatórios não-este- róides também está indicada para diminuição da dor e controle periférico de mensagens nociceptivas do sistema nervoso central (SNC). Outra modalidade freqüentemen- te utilizada para controle das degenerações da ATM é a infiltração intra-articular com drogas antiinflamatórias esteroidais(KOPP et al., 1991; SAXNE et al., 1985). Tem sido demonstrado que tal procedimento provoca uma liberação de proteoglicanas no líquido sinovial, coinci- dindo com a diminuição da dor (SAXNE et al., 1993). Benefícios em curto prazo (quatro semanas) também têm sido relatados (KOPP et al., 1991). Atualmente, tem-se estudado o desenvolvimento de drogas específicas para o controle das enzimas que levam à destruição da carti- lagem articular. Porém, essas chamadas drogas inibidoras de metaloproteases ainda encontram-se em fase de testes para uso específico na ATM. Viscossuplementação Esta modalidade alternativa de tratamento tem como objetivo restaurar o ambiente normal do líquido sinovial e tecido sinovial, restabelecendo a proteção, lubrificação e o efeito de absorção de esforços (BALAZ & DENLINGER, 1993). Em outras palavras, é a suplementação e aumento das propriedades reativas do líquido sinovial, suprindo a barreira viscoelástica, sob a qual a regeneração tecidual e função ocorrem. Isto é conseguido através de infiltrações intra-articulares de hialuronato de sódio. De um modo geral, o efeito da viscossuplementação é a restauração da homeostasia fisiológica na articulação. Esse processo é dividido em três componentes: • Macro-homeostasia – O ácido hialurônico que foi diluído pela incorporação de água é reposto pela injeção de um material de grande viscoelasticidade. Este tipo de homeostasia envolve a manutenção de um ambiente apropriadamente viscoelástico, para a estabilização e proteção da rede de colágeno, células e receptores para a dor. • Mini-homeostasia – Compreende o fluxo interno de metabólitos no líquido sinovial. A viscos suple mentação aumenta a viscoelasticidade do fluido e restaura a home- ostasia do fluxo transinovial na articulação. • Micro-homeostasia – Representa o microam- biente de células e fibras sensoriais. A presença de fluído circundando esses elementos influencia a atividade de fibroblastos, além de inúmeros eventos celulares que compreendem migração e secreção de substâncias. Quando a substância altamente concentrada é injetada, as células que sintetizam ácido hialurônico são estimu- ladas a sintetizá-lo. Este, eventualmente, repõe os níveis originais de viscosidade, restaurando a micro-homeos- tasia. Efeitos em longo prazo devem ser esperados, pois a alteração que causa restauração temporária da homeostasia leva a alterações posteriores na articu- lação. Um dos resultados do processo de viscossuple- mentação na osteoartrite é a diminuição da dor articular e, conseqüentemente, aumento na mobilidade que perdura por semanas ou meses, além do tempo de eliminação do fluido injetado. Isto cria uma “memória” transitória de homeostasia nos tecidos. A restauração temporária da macro, mini e micro-homeostasia promove um ambiente favorável para as células que produzem o ácido hialurônico. Estudos recentes demonstraram in vivo que as fibras sensoriais aferentes e os nociceptores, localizados nos tecidos sinoviais e sub-sinoviais, são influenciados de Alterações Degenerativas da Articulação Temporomandibular. Conceitos Relacionados à Etiologia e Controle 312 - Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial - Ano 1 - v.1 - n.4 - out./dez. 2001 forma que as descargas de estímulos são diminuídas em cerca de 50% nas fibras (DIJKGRAAF et al., 1995). Com a homeostasia, as células podem ter um am- biente mais saudável, os metabólitos são removidos, o espaço articular é mantido e a articulação move-se mais facilmente, devido à ausência de dor. As células também começam a produzir ácido hialurônico, o que forma um ciclo positivo. Apesar de testado em diversos trabalhos, tal processo ainda não tem sido utilizado clinicamente em grande escala. Conclusão Como observado, a detecção e controle dos proces- sos degenerativos da ATM ainda constituem um grande desafio para a Odontologia. Sabe-se que alterações de remodelação das estruturas articulares acontecem durante toda a vida do indivíduo, sem necessariamente levar à dor e disfunção (CHENITZ, 1992; DE BONT & STEGENGA, 1993; STEGENGA et al., 1991). Assim, o Cirurgião-dentista deve ser extre- mamente cauteloso quando julgar imagens de côndilos que apresentam “achatamentos”. Este dado pode ser a FIGURA 1: Doença articular degenerativa da ATM. Note as alterações morfológicas e rompimento dos ligamentos colaterais. FIGURA 3: Ressonância magnética da ATM. Note a presença do disco articular deslocado, associado a alterações de forma do côndilo. FIGURA 2: Planigrafi a lateral da ATM. Achatamento do côndilo e erosões estão freqüentemente presentes. FIGURA 4: Placa oclusal estabilizadora em posição na boca, como forma auxiliar no controle. expressão de um processo normal, principalmente em idosos, que não necessitam de terapêutica. Mais uma vez, a anamnese e a avaliação clínica devem ser soberanas na definição da necessidade ou não de tratamento. Ainda, deve ficar claro que as pato- logias da ATM não necessariamente são progressivas, ou seja, não se indica tratamento para deslocamentos de disco articular assintomáticos somente com vistas à prevenção de futura osteoartrite. Essa doença, uma vez instalada e corretamente diagnosticada, deve ser contro- lada com o objetivo de melhora dos sintomas e prevenção de maiores danos à ATM e oclusão dentária, uma vez que a evolução das degenerações e possível diminuição do ramo mandibular pode ter como conseqüência o surgimento de alterações oclusais irreversíveis. Alterações Degenerativas da Articulação Temporomandibular. Conceitos Relacionados à Etiologia e Controle 313 - Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial - Ano 1 - v.1 - n.4 - out./dez. 2001 CONTI, P.C.R.; VALLE, A.L. do; SCOLARO, J.M. Degenerative disease of temporomandibular joint. Concepts related to etiology and management. JBA, Curitiba, v.1, n.4, p.308-313, Oct./Dec. 2001. The degenerative disease (DJD) of temporomandibular joint (TMJ) is a pathological condition caused by several and not well known factors. There are several pathologies able to lead to the tecidual degradation. Osteoarthritis, associated to an internal derangement, is the most common form of degenerative alteration affecting the TMJ. The initial stages of DJD are usually subclinical, preventing an accurate clinical and radiographic diagnosis. There are different theories trying to explain the course of these internal alterations. All attempts have the purpose of finding a model and developing methods to improve the diagnostic procedures and management of patients. As part of the treatment and management are procedures that restore patients’ life quality, bringing them back to a normal stage of tissue remode- ling and assymptomatic adaptation to the degenerative disease. Since accomplished the correct diagnosis, the management strategy will be directed to the improvement of symptoms and prevention of further damage to TMJ and dental occlusion. As part of management procedures are the reduction of non-physiologic loading and obtainance of adaptation. UNITERMS: Temporomandibular joint; Temporomandibular joint dysfunction syndrome; Osteoarthritis. ÅKERMAN, S. et al. Relationship between clinical and radiological fi ndings of temporomandibular joint in rheumatoid arthritis. Oral Surg, v.66, p.639-643, 1988. AXELSSON, S. Human and experimental osteoarthrosis of the temporomandibular joint: morphological and biochemical studies. Swed Dent J, v.92, p.1-45, 1993. AXELSSON, S. et al. Arthrotic changes and deviation in form of the temporomandibular joint: an autopsy study. Swed Dent J, v.11, p.195-200, 1987. AXELSSON, S.; HOLMLUND, A.; HJERPE, A. An experimental model of osteoarthrosis in the temporomandibular joint of the rabbit. 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